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Cuidados paliativos; Enfermagem; RESUMO
Cuidados de enfermagem; Objetivo: Avaliar o conhecimento dos profissionais de enfermagem inseridos em enfermarias de clínica sobre cuidados
paliativos (CP).
Conhecimento; Humanização da Métodos: Estudo descritivo, transversal e quantitativo. A amostra foi constituída por 42 profissionais de enfermagem de
assistência três enfermarias de clínica de um hospital universitário no estado do Rio de Janeiro. Estabeleceu-se como variável desfecho
o conhecimento sobre CP avaliado a partir do número de acertos sobre o assunto. Cruzou-se a variável desfecho com as
Descriptors explanatórias por meio do teste de X2 considerando um p <0,05.
Palliative care; Nursing; Nursing Resultados: O nível de conhecimento sobre CP entre os profissionais de enfermagem foi considerado parcialmente
care; Knowledge; Humanization of satisfatório. Quanto à autopercepção dos profissionais, observou-se que a maioria tinha pouco conhecimento (78,6%). Não
houve diferença estatisticamente significativa entre as classes profissionais (p=0,63), entre a formação (p=0,66), tempo de
assistance formação (p=0,09), tempo de serviço no setor (p=0,537), capacitação em cuidados paliativos (p=0,065) com o número de
acertos. Houve diferença estatisticamente significativa entre os profissionais que avaliaram seu conhecimento em cuidados
Descriptores
paliativos como suficiente e aqueles que nunca ouviram falar (p = 0,031).
Cuidados paliativos; Enfermería; Conclusão: conclui-se que é premente estudos envolvendo essa temática, considerando o número crescente de pacientes
Atención de enfermería; que necessitam desta abordagem.
Conocimiento; Humanización de la
ABSTRACT
atención Objective: To assess the knowledge of nursing professionals working in clinical wards about palliative care (PC).
Methods: Descriptive, transversal, quantitative study. The sample consisted of 42 nursing professionals from three clinical
Submetido wards of a university hospital in the state of Rio de Janeiro. Knowledge about PC was established as an outcome variable,
17 de setembro de 2021 assessed based on the number of correct answers on the subject. The outcome variable was crossed with the explanatory
ones using the X2 test, considering p <0.05.
Aceito Results: The level of knowledge about PC among nursing professionals was considered partially satisfactory. As for the
20 de outubro de 2021 professionals’ self-perception, it was observed that the majority had little knowledge (78.6%). There was no statistically
significant difference between professional classes (p=0.63), between training (p=0.66), time since training (p=0.09), length
Conflitos de interesse:
of service in the sector (p=0.537), training in palliative care (p=0.065) with the number of correct answers. There was a
nada a declarar.
statistically significant difference between professionals who rated their knowledge of palliative care as sufficient and those
Autor Correspondente who had never heard of it (p = 0.031).
Livia Fajin de Mello Conclusion: it is concluded that studies involving this theme are urgently needed, considering the growing number of
E-mail: liviafajin@gmail.com patients who need this approach.
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil.
Como citar:
Nascimento JL, Mello LF, Martins ER, Peres EM, Rebello CV, Pires BM, et al. Conhecimento dos profissionais de
enfermagem sobre os cuidados paliativos. Enferm Foco. 2023;14:e-202351.
DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2023.v14.e-202351
Tabela 1. Caracterização da amostra anos de formação (4,6 ±1,3), 11-20 anos (4,6 ±1,3) e 21-30
Variáveis n(%) anos (5,3±1,5). Não houve diferença estatística entre o tem-
Sexo
po de formação e número de acertos (p=0,09). Em relação
Feminino 33(78,6)
Masculino 9(21,4) aos profissionais que receberam a capacitação sobre cui-
Idade dados paliativos e entre aqueles que não receberam tam-
< 30 anos 7(16,7)
bém não houve diferença estatística (p=0,065).
30 a 40 anos 22(52,4)
41 a 50 anos 9(21,4) Houve diferença estatisticamente significativa entre os
51 a 60 anos 3(7,1) profissionais que avaliaram seu conhecimento em cuidados
>60 anos 1(2,4)
Religião
paliativos como suficiente e aqueles que nunca ouviram fa-
Católica 16(38,1) lar (p = 0,031), ou seja, aqueles que declaram ter conheci-
Evangélica 16(38,1)
mento suficiente tiveram maior número de acertos.
Espírita 4(9,5)
Candomblé 1(2,4) Na tabela 3 encontram-se as nove questões sobre cuida-
Umbanda 1(2,4) dos paliativos e o número de acertos dos profissionais de en-
Judaísmo -
fermagem para cada questão. Dentre as questões com mais
Não possui 4(9,5)
Formação acertos destacam-se sobre o local de assistência a pacientes
Doutorado 1(2,4)
em CP (97,6%) e se o cuidado paliativo deveria ser feito apenas
Mestrado 1(2,4)
Especialização 13(30,9)
em pacientes oncológicos (78,6%). Quase todos responderam
Ensino superior 15(35,7) que deve ser feito em casa ou no hospital e que os CP podem
Ensino médio 12(28,6)
ser feitos também em pacientes com doenças crônicas.
Tempo de formação
Até 5 anos 12(28,6) Já as perguntas que os participantes tiveram menor
5 a 10 anos 14(33,5) número de acertos foram sobre quem deve decidir sobre
11 a 20 anos 13(30,9)
21 a 30 anos 3(7,1)
o tratamento paliativo e se os CP devem ser combinados
Trabalha apenas nesse hospital com tratamentos curativos. Apenas 11% acertaram que a
Sim 21(50,0)
equipe profissional é responsável pela decisão do paciente
Não 21(50,0)
Cargo ocupado no hospital
entrar em CP, não apenas o médico. Na segunda pergunta,
Técnico de Enfermagem 23(54,8) apenas 11% dos participantes acertaram que os CP são ini-
Enfermeiro 19(45,2)
ciados quando não existe mais proposta curativa.
Escala de serviço
Plantão SD 28(66,7)
Plantão SN 9(21,4) Tabela 3. Número de acertos dos 42 profissionais de Enfermagem
Diarista manhã 3(7,1) por questão sobre cuidados paliativos
Diarista tarde 2(4,8)
Perguntas n(%)
Tempo de serviço no setor
Qual a definição de Cuidados paliativos segundo a OMS*? 30(71,4)
Até 1 ano 9(21,4)
Quem deve decidir sobre o tratamento paliativo? 11(26,2)
1 a 5 anos 25(59,5)
Os cuidados paliativos só devem ser prestados a
6 a 10 anos 7(16,7) 20(47,6)
pacientes que não dispõe de tratamento curativo?
Mais de 10 anos 1(2,4)
Os cuidados paliativos só são feitos em paciente oncológicos? 33(78,6)
Preparação para lidar com pacientes em CP
Onde dever ser feito a assistência de pacientes em cuidados paliativos? 41(97,6)
Sim 8(19,0)
Os cuidados paliativos podem devem ser
Não 34(80,9) 11(26,2)
combinados com tratamentos curativos?
SD - serviço diurno; SN – serviço noturno; CP – cuidados paliativos. Os pacientes com doenças que ameaçam a continuidade
da vida devem ser sempre informados da verdade, 25(59,5)
para que possam preparar-se para a morte?
Tabela 2. Porcentagem de acertos das nove perguntas sobre cui- A filosofia dos cuidados paliativos preconiza que não sejam
13(30,9)
realizadas quaisquer intervenções destinadas a prolongar a vida?
dados paliativos
O tratamento médico tem sempre prioridade nos cuidados paliativos? 15(35,7)
Porcentagem de acertos n(%)
*OMS – Organização Mundial da Saúde.
Menos de 50% 19(45,2)
51% a 75% 23(54,8)
76% a 100% -
DISCUSSÃO
Total 42(100,0)
O nível de conhecimento em CP entre os profissionais de
estatística (p=0,537), o profissional que tem mais tempo no enfermagem foi parcialmente satisfatório, uma vez que a
setor não possui mais conhecimento sobre CP comparado mediana do número de acertos foi de 4,7 em nove ques-
ao quem tem menos tempo. tões. Quanto à autopercepção dos profissionais em rela-
Os profissionais com até cinco anos de formação tive- ção ao conhecimento sobre CP, observou-se que a maioria
ram a média de 4,7 ± 1,2 acertos, profissionais entre 5-10 tinha pouco conhecimento.
Os resultados evidenciaram que poucos receberam constituída por enfermeiro, psicólogo, médico, assistente
capacitação sobre o tema ao logo da sua vida acadêmi- social, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoau-
ca, embora o conceito de cuidados paliativos tenha tido o diólogo, terapeuta ocupacional, dentista e assistente espi-
maior número de acertos (97,6%). Os oito profissionais que ritual.(1,6)
tiveram a capacitação, referem que foi oferecida durante Os profissionais, quando questionados sobre o tipo de
o curso técnico e graduação. Isso mostra que os profis- paciente que deve receber os cuidados paliativos, 47,6 %
sionais que possuem especialização, mestrado e doutorado concordaram que devem ser prestados a pacientes que
não tiveram esse conhecimento na pós-graduação. não dispõem de tratamento curativo. Os CP são cuidados
Vale frisar que não houve diferença significativa quando dirigidos a pacientes em que a cura não é mais possível,
comparada as classes profissionais e o nível de formação visto que a patologia já está avançada e sem resposta aos
com o número de acertos. Entretanto, houve diferença en- recursos terapêuticos curativos, tendo como finalidade
tre os profissionais que avaliaram seu conhecimento como proporcionar qualidade de vida na terminalidade.(6,11)
suficiente e aqueles que nunca ouviram falar (p = 0,031). Todos os pacientes portadores de doenças graves, pro-
Observou-se poucas pesquisas sobre cuidados palia- gressivas e incuráveis deveriam receber a abordagem dos
tivos direcionadas ao conhecimento dos profissionais de CP desde o seu diagnóstico. Foram estabelecidos critérios
enfermagem e lacunas sobre a opinião e o posicionamento de indicação para iniciar o CP: pacientes que cessarem
desses profissionais. Apesar de sua analogia com ações de todas as probabilidades de tratamento de continuidade
cuidar, os profissionais de enfermagem nem sempre apre- ou prolongamento da vida, que apresentarem sofrimento
sentam condições físicas e emocionais para lidar com os moderado a intenso e que escolherem por conservação de
indivíduos que necessitam do processo de paliação. Desta (7)
conforto e dignidade da vida.(6) Um número significativo de
maneira, os profissionais podem não saber o que falar ou profissionais (52,4%) não possuía conhecimento do que,
agir diante dessa situação, reprimem-se ou guardam o so- tais ações são preconizadas pela OMS.
frimento para si. Mais da metade dos participantes (78,6 %) acertaram
Existe uma iminente necessidade da atualização em CP, que os Cuidados Paliativos não são exclusivos de pacientes
visto que com o desenvolvimento da ciência e o desenvolvi- oncológicos, ainda que, essa clientela seja tradicionalmen-
mento de tecnologias relacionadas a saúde, e consequen- te direcionada a este setor. Todavia, qualquer paciente com
temente o aumento da expectativa das pessoas, cresceu doença crônica tem esse direito.(6)
também o número de pessoas idosas e de pessoas com do- Entre as opções para o atendimento do paciente que
enças crônicas que necessitam receber esses cuidados.(3) requer cuidados paliativos, os profissionais de enfermagem
A capacitação do profissional de saúde para inter-re- entrevistados reconhecem que a combinação preferida é
lacionar-se e prestar cuidado ao paciente em processo de casa/hospital (97,6%; n=41). Em uma pesquisa, realizada no
fim de vida tem sido ignorado desde sua graduação ou cur- Paraná,(12) evidenciou que aplicação de CP deve ser no domi-
so de formação técnico, consequentemente a aprendiza- cílio, ambulatórios, hospitais-dia, hospitais gerais e/ou ins-
gem desses profissionais acontecem no dia a dia durante tituições de longa-permanência (ILP). No entanto, a prática
o cuidado do paciente em CP.(1,7) A carência de disciplinas dos CP ainda não é institucionalizada no sistema de saúde,
voltadas aos CP nos cursos de graduação em enfermagem se tornando limitada para a continuidade desta abordagem
e a baixa frequência com que o assunto é discutido também entre os diferentes serviços ou níveis de atenção.
foram identificadas em estudo. (10)
Foi identificado que isso No que diz respeito ao direito do paciente terminal sa-
faz com que os enfermeiros e sua equipe sintam dificulda- ber seu prognóstico e possível desfecho em morte, 59,5%
des na condução desses cuidados e como lidar com os de- dos profissionais possuem ciência desse direito. É direito
safios que possam emergir dessa modalidade assistencial. do paciente conhecer a verdade sobre sua doença e seu
Neste estudo apenas 26,2% dos participantes conhe- prognóstico, além disso é dever do profissional deixá-lo
cem que para a implementação dos CP é necessária uma ciente quanto a isso. Com a negação da morte, a equipe
equipe multiprofissional para tomada de decisões e de- que o assiste em sua terminalidade pode acabar ignorando
signação de condutas. A maioria dos profissionais (73,8%) particularidades imprescindíveis para que o paciente con-
acreditaram que cabe apenas ao profissional médico esse siga entender e exercer seu direito de escolhas e signifi-
poder. O cuidado multiprofissional é necessário por ser cância do processo da morte.(1)
tratar de uma ação complexa cujo propósito é abranger Embora a filosofia dos cuidados paliativos preconize que
toda as necessidades do paciente e seus familiares, sendo não sejam realizadas quaisquer intervenções destinadas
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