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ARTIGO ORIGINAL

CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE


ENFERMAGEM SOBRE OS CUIDADOS PALIATIVOS
KNOWLEDGE OF NURSING PROFESSIONALS ABOUT THE PALLIATIVE CARE
CONOCIMIENTOS DE LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA SOBRE EL CUIDADOS PALIATIVOS
Jaqueline Lima do Nascimento1 (https://orcid.org/0000-0002-0777-2551)
Livia Fajin de Mello1 (https://orcid.org/0000-0002-5613-7976)
Elizabeth Rose Costa Martins1 (https://orcid.org/0000-0001-5947-5535)
Ellen Marcia Peres1 (https://orcid.org/0000-0003-4262-6987)
Clícia Vieira Cunha Rebello2 (https://orcid.org/0000-0002-7582-5096)
Bruna Maiara Ferreira Barreto Pires3 (https://orcid.org/0000-0002-5584-8194)
Carolina Cabral Pereira da Costa1 (https://orcid.org/0000-0002-0365-7580)
Antonio Marcos Tosoli Gomes1 (https://orcid.org/0000-0003-4235-9647)

Descritores
Cuidados paliativos; Enfermagem; RESUMO
Cuidados de enfermagem; Objetivo: Avaliar o conhecimento dos profissionais de enfermagem inseridos em enfermarias de clínica sobre cuidados
paliativos (CP).
Conhecimento; Humanização da Métodos: Estudo descritivo, transversal e quantitativo. A amostra foi constituída por 42 profissionais de enfermagem de
assistência três enfermarias de clínica de um hospital universitário no estado do Rio de Janeiro. Estabeleceu-se como variável desfecho
o conhecimento sobre CP avaliado a partir do número de acertos sobre o assunto. Cruzou-se a variável desfecho com as
Descriptors explanatórias por meio do teste de X2 considerando um p <0,05.
Palliative care; Nursing; Nursing Resultados: O nível de conhecimento sobre CP entre os profissionais de enfermagem foi considerado parcialmente
care; Knowledge; Humanization of satisfatório. Quanto à autopercepção dos profissionais, observou-se que a maioria tinha pouco conhecimento (78,6%). Não
houve diferença estatisticamente significativa entre as classes profissionais (p=0,63), entre a formação (p=0,66), tempo de
assistance formação (p=0,09), tempo de serviço no setor (p=0,537), capacitação em cuidados paliativos (p=0,065) com o número de
acertos. Houve diferença estatisticamente significativa entre os profissionais que avaliaram seu conhecimento em cuidados
Descriptores
paliativos como suficiente e aqueles que nunca ouviram falar (p = 0,031).
Cuidados paliativos; Enfermería; Conclusão: conclui-se que é premente estudos envolvendo essa temática, considerando o número crescente de pacientes
Atención de enfermería; que necessitam desta abordagem.
Conocimiento; Humanización de la
ABSTRACT
atención Objective: To assess the knowledge of nursing professionals working in clinical wards about palliative care (PC).
Methods: Descriptive, transversal, quantitative study. The sample consisted of 42 nursing professionals from three clinical
Submetido wards of a university hospital in the state of Rio de Janeiro. Knowledge about PC was established as an outcome variable,
17 de setembro de 2021 assessed based on the number of correct answers on the subject. The outcome variable was crossed with the explanatory
ones using the X2 test, considering p <0.05.
Aceito Results: The level of knowledge about PC among nursing professionals was considered partially satisfactory. As for the
20 de outubro de 2021 professionals’ self-perception, it was observed that the majority had little knowledge (78.6%). There was no statistically
significant difference between professional classes (p=0.63), between training (p=0.66), time since training (p=0.09), length
Conflitos de interesse:
of service in the sector (p=0.537), training in palliative care (p=0.065) with the number of correct answers. There was a
nada a declarar.
statistically significant difference between professionals who rated their knowledge of palliative care as sufficient and those
Autor Correspondente who had never heard of it (p = 0.031).
Livia Fajin de Mello Conclusion: it is concluded that studies involving this theme are urgently needed, considering the growing number of
E-mail: liviafajin@gmail.com patients who need this approach.

Editor Associado (Avaliação pelos pares): RESUMEN


Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda Objetivo: Evaluar el conocimiento de los profesionales de enfermería que laboran en salas clínicas sobre cuidados paliativos
Cavalcanti (CP).
(https://orcid.org/0000-0003-2325-4647) Métodos: Estudio descriptivo, transversal. La muestra estuvo constituida por 42 profesionales de enfermería de tres salas
Centro de Ciências da Saúde, Universidade clínicas de un hospital universitario del estado de Río de Janeiro. Se estableció como variable de resultado el conocimiento
Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, Brasil sobre CP, evaluado en función del número de aciertos sobre el tema. La variable de resultado se cruzó con las explicativas
mediante la prueba X2, considerando p <0,05.
Resultados: El nivel de conocimiento sobre CP entre los profesionales de enfermería se consideró parcialmente
satisfactorio. En cuanto a la autopercepción de los profesionales, se observó que la mayoría tenía poco conocimiento
(78,6%). No hubo diferencia estadísticamente significativa entre clases profesionales (p = 0,63), entre formación (p = 0,66),
tiempo desde la formación (p = 0,09), antigüedad en el sector (p = 0,537), formación en cuidados paliativos (p = 0.065) con el
número de respuestas correctas. Hubo una diferencia estadísticamente significativa entre los profesionales que calificaron
sus conocimientos sobre CP como suficientes y los que nunca habían oído hablar de ellos (p = 0,031).
Conclusión: se concluye que se necesitan con urgencia estudios que involucren este tema, considerando el creciente
número de pacientes que necesitan este abordaje.

1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil.

Como citar:
Nascimento JL, Mello LF, Martins ER, Peres EM, Rebello CV, Pires BM, et al. Conhecimento dos profissionais de
enfermagem sobre os cuidados paliativos. Enferm Foco. 2023;14:e-202351.

DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2023.v14.e-202351

Enferm Foco. 2023;14:e-202351 1


CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SOBRE OS CUIDADOS PALIATIVOS
Nascimento JL, Mello LF, Martins ER, Peres EM, Rebello CV, Pires BM, et al.

INTRODUÇÃO pacientes e familiares, cujos prognósticos indiquem doen-


Na área da saúde, em especial, no mundo ocidental é possível ças potencialmente ameaçadoras à vida.(4)
observar uma cultura de refutação da morte, pois ela é vista É importante ressaltar que o profissional de saúde de-
como um mal a ser combatido, ao contrário de um proces- sempenha sobre o paciente uma relação de poder, não
so natural e inevitável. Muitos profissionais da área, inclusive, indispensavelmente com a renúncia da liberdade desse,
esquivam-se de conversar sobre a possibilidade da morte. A porém com a habilidade de influenciar vigorosamente as
omissão para um paciente que sua morte pode estar próxima suas escolhas. Deste modo, esse profissional desempenha
torna-se uma das formas que o profissional encontra para o papel representado da produção da saúde e do bem-es-
ampará-lo. Contudo, essa é uma forma fictícia de amparo, já tar, contendo a habilidade de controle sobre os corpos, a
que sucede do empecilho de expor a verdade claramente. (1)
vida e a morte dos sujeitos, que impassívelmente permitem
Assim, ocorrem fragilidades na abordagem do paciente que seus comportamentos sejam guiados, ainda que não
e de seus familiares quando o assunto é a eventualidade tenham sido afastados do poder da tomada de ação.(1)
da morte. Além disso, pelo distanciamento com o tema, fa- Os CP englobam o sofrimento no fim da vida de forma
lar sobre isso pode acarretar o sentimento de impotência multidimensional (físico, psicossocial e espiritual), o que im-
diante da impossibilidade de cura provocando o falso senti- plica a indispensabilidade de um cuidado que atenda todos
mento de que nada mais pode ser feito pelo paciente e que esses aspectos. Dessa forma, os procedimentos em CP po-
o cuidado findaria naquele momento.(1) dem ser realizados por uma equipe multiprofissional com-
Compreende-se que o fim da vida é tema complexo, posta por: enfermeiro, psicólogo, médico, assistente social,
além de todas as perdas simbólicas relacionadas ao pro- farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo,
cesso de adoecimento pelo indivíduo, como por exemplo: terapeuta ocupacional, dentista e assistente espiritual.(6)
mudanças fisicas, supressão e substituição de papéis so- Dentre os membros da equipe que assiste os pacientes
ciais e familiares, impacto sobre a vida financeira e dimi- hospitalizados, a enfermagem evidencia-se por sua per-
nuição ou mesmo restrição da autonomia; a morte é um manência e ininterrupção na prestação de cuidados, pre-
assunto que afeta todos aqueles que o cercam. (2)
senciando suas angústias e padecer no processo de morte
Muitas vezes o acontecimento da morte vem acompa- e morrer. Contudo, esses profissionais nem sempre pos-
nhado de grande pesar e dor, tanto para o paciente quanto suem conhecimento adequado quanto aos aspectos físicos
para as pessoas ao seu redor, sejam familiares, cuidadores e emocionais necessários para lidar com os pacientes e fa-
ou profissionais da saúde. Entretanto, mesmo diante dela miliares que vivenciam o processo de morrer.(7)
ainda existem cuidados que podem aliviar o sofrimento, Além da falta de formação profissional voltada para o
proporcionando qualidade de vida e respeito à dignidade ao Cuidado Paliativo percebe-se que a prestação de cuida-
ser humano até os últimos momentos de sua existência.(3) do da equipe multiprofissional não acontece em conjunto,
Esse tipo de cuidado anunciado pelo autor está na essência Muitas vezes ada profissional, presta os cuidados de forma
do que propõem os Cuidados Paliativos (CP). individual, sem interação com as demais áreas, fragmen-
Em 2002, o conceito de CP foi redefinido pela tando desta forma o paciente. Isso reforça a necessidade
Organização Mundial de Saúde (OMS): de uma formação em saúde integrada, compreendendo
que os cuidados paliativos transcendem o modelo de assis-
[...] promover a qualidade de vida de pacientes e tência tradicional, logo pauta-se numa abordagem aos pa-
seus familiares diante de doenças que ameaçam a con- cientes de forma holística, interdisciplinar e humanizada.(1,8)
tinuidade da vida, através da prevenção e alívio do so- Os CP devem ser prestados conforme a Lei No. 52/2012
frimento, o que requer a identificação precoce, avalia- que trata das Bases dos Cuidados Paliativos. A lei estabele-
ção e tratamento impecável da dor e outros problemas ce que essa modalidade de cuidados necessita ser realiza-
de natureza física, psicossocial e espiritual. (4)
da por profissionais preparados e treinados, que garantam
a promoção do bem-estar e a qualidade de vida, com aten-
É importante diferenciar CP de cuidados de fim de vida, ção sobre as doenças que ameacem a vida. Recomenda-
que é aquele do qual o prognóstico alcança uma sobrevida se que sejam respeitadas a autonomia, a individualidade, a
de 72 horas a uma semana antes do falecimento. Além dis- (5)
dignidade e os desejos do paciente.(9)
so, os CP estabelecem um tipo de tratamento que se opõe O objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento dos
a distanásia, aos procedimentos e intervenções desneces- profissionais de enfermagem inseridos em enfermarias de
sários no fim de vida, através da procura pelo bem-estar de clínica de cuidados paliativos.

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Nascimento JL, Mello LF, Martins ER, Peres EM, Rebello CV, Pires BM, et al.

MÉTODOS estatisticamente significante. Utilizou-se para análise o


Trata-se de um estudo descritivo, tranversal, com aborda- software Jamovi versão 1.2.27
gem quantitativa, desenvolvido em três unidades clínicas Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
de um hospital universitário do Estado do Rio de Janeiro, Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto, sob
cenário de prática da residência de Enfermagem Clínica. Certificado de Apresentação e Apreciação Ética nº
O perfil de pacientes atendidos nessas unidades, foram 16427419300005259.
adultos e idosos de ambos os sexos com afecções clíni-
cas. Dentre os motivos de internação encontravam-se as RESULTADOS
neoplasias, doenças cardíacas, renais, doença pulmonar Na tabela 1 encontram-se as variáveis que caracterizam a
obstrutiva cronica (DPOC) e diabetes. amostra. Participaram deste estudo 42 profissionais, com
A população do estudo foi composta por profissionais idades entre 37,8 ± 8,5 anos, destacou-se o gênero femini-
de enfermagem que atuavam diretamente na assistência, no (33-78,6%) e as crenças religiosas católica (16 – 38,1%) e
ou seja, enfermeiros e técnicos de enfermagem. A amostra evangélica (16 - 38,1%).
contou com 42 profissionais de enfermagem, sendo 19 en- Em relação ao cargo ocupado no hospital a maioria
fermeiros e 23 técnicos de enfermagem. Cabe destacar que eram técnicos de enfermagem (23 -54,7%) com o nível de
desses 19 enfermeiros, 13 são residentes de enfermagem. escolaridade superior completo (15 - 35,7%) e especiali-
Utilizaram-se os seguintes critérios para a inclusão dos zação (13 - 30,9%) predominantes. Os dados sugerem que
sujeitos: idade igual ou superior a 18 anos, com três meses esses profissionais possuem uma maior qualificação aca-
ou mais de atuação no setor. Como critérios de exclusão: dêmica em relação ao cargo ocupado.
consideraram-se os profissionais em férias ou de licença Destaca-se que entre os profissionais de enfermagem
médica, e que se recusaram a participar da pesquisa. (14 - 33,5%) possuíam entre cinco e dez anos de formação,
Os profissionais elegíveis e que aceitaram participar da (21- 5,0%) trabalhavam apenas no referido hospital, en-
pesquisa foram orientados sobre seus objetivos, o caráter quanto a outra metade (21 – 50,0%) possuíam pelo menos
voluntário da participação, sigilo, anonimato e sobre a as- mais de um vínculo empregatício. Houve predomínio de
sinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido plantonistas do serviço diurno (28 - 66,7%) e 25 profissio-
(TCLE). nais (59,5%) já atuavam nas enfermarias específicas entre
Para a coleta de dados, foi utilizado um instrumento um e cinco anos.
elaborado pelos autores, composto por perguntas para ca- Apenas oito profissionais (19,0%) referiram ter capaci-
racterização da amostra e para avaliação do conhecimento tação prévia em cuidados paliativos, destes quatro tiveram
sobre cuidados paliativos. Os participantes responderam no curso técnico e os outros quatro na graduação.
ao instrumento proposto individualmente. O número de acertos das nove perguntas sobre cuida-
O instrumento foi composto por 17 questões elabora- dos paliativos pelos profissionais de enfermagem apresen-
das após leituras de material publicados pela OMS sobre tou o valor médio de 4,7 ± 1,4 acertos. De acordo com a
o tema. Formado por dez questões que avaliam o conheci- tabela 2, em relação a porcentagem de acertos (23 – 54,8%)
mento dos participantes sobre a temática e sete questões tiveram entre 51,0 % a 75,0 % dos acertos.
que abordavam a percepção deles sobre o assunto. A abor- Em relação a categoria profissional, entre os técnicos
dagem aos participantes foi realizada durante a jornada de de enfermagem a média do número de acertos foi de 4,4 ±
trabalho, eles respondiam o instrumento e devolviam ime- 1,3 e entre os enfermeiros foi de 5,0 ± 1,4. Profissionais com
diatamente ao pesquisador. ensino médio tiveram 5,2 ± 1,2 de acertos, ensino superior
A variável desfecho, foi o conhecimento sobre cuidados incompleto (3,2 ±1,25), ensino superior completo (4,3 ± 1,5)
paliativos avaliado a partir do número de acertos das ques- e especialização (6,3 ± 1,3). Não houve diferença estatistica-
tões contidas no instrumento. As variáveis explanatórias mente significativa entre as classes profissionais (p=0,63) e
foram: formação profissional, tempo de formação, tempo entre a formação (p=0,66) com o número de acertos, evi-
de trabalho no setor, cargo ocupado, conhecimento e ca- denciando que profissionais que possuem uma maior qua-
pacitação em CP. lificação acadêmica não apresentaram um maior conheci-
Como a maioria das variáveis explanatórias eram mento sobre CP.
qualitativas, assumiu-se a não normalidade dos dados. Os profissionais com até um ano de trabalho no setor
Cruzou-se a varíavel desfecho com as explanatórias por especifico apresentaram a média de 4,4 ±1,5 de acertos
meio do teste de X2 considerando um p <0,05 para ser e entre 6-10 a média de 2,8 ± 0,3. Não houve relevância

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Tabela 1. Caracterização da amostra anos de formação (4,6 ±1,3), 11-20 anos (4,6 ±1,3) e 21-30
Variáveis n(%) anos (5,3±1,5). Não houve diferença estatística entre o tem-
Sexo
po de formação e número de acertos (p=0,09). Em relação
Feminino 33(78,6)
Masculino 9(21,4) aos profissionais que receberam a capacitação sobre cui-
Idade dados paliativos e entre aqueles que não receberam tam-
< 30 anos 7(16,7)
bém não houve diferença estatística (p=0,065).
30 a 40 anos 22(52,4)
41 a 50 anos 9(21,4) Houve diferença estatisticamente significativa entre os
51 a 60 anos 3(7,1) profissionais que avaliaram seu conhecimento em cuidados
>60 anos 1(2,4)
Religião
paliativos como suficiente e aqueles que nunca ouviram fa-
Católica 16(38,1) lar (p = 0,031), ou seja, aqueles que declaram ter conheci-
Evangélica 16(38,1)
mento suficiente tiveram maior número de acertos.
Espírita 4(9,5)
Candomblé 1(2,4) Na tabela 3 encontram-se as nove questões sobre cuida-
Umbanda 1(2,4) dos paliativos e o número de acertos dos profissionais de en-
Judaísmo -
fermagem para cada questão. Dentre as questões com mais
Não possui 4(9,5)
Formação acertos destacam-se sobre o local de assistência a pacientes
Doutorado 1(2,4)
em CP (97,6%) e se o cuidado paliativo deveria ser feito apenas
Mestrado 1(2,4)
Especialização 13(30,9)
em pacientes oncológicos (78,6%). Quase todos responderam
Ensino superior 15(35,7) que deve ser feito em casa ou no hospital e que os CP podem
Ensino médio 12(28,6)
ser feitos também em pacientes com doenças crônicas.
Tempo de formação
Até 5 anos 12(28,6) Já as perguntas que os participantes tiveram menor
5 a 10 anos 14(33,5) número de acertos foram sobre quem deve decidir sobre
11 a 20 anos 13(30,9)
21 a 30 anos 3(7,1)
o tratamento paliativo e se os CP devem ser combinados
Trabalha apenas nesse hospital com tratamentos curativos. Apenas 11% acertaram que a
Sim 21(50,0)
equipe profissional é responsável pela decisão do paciente
Não 21(50,0)
Cargo ocupado no hospital
entrar em CP, não apenas o médico. Na segunda pergunta,
Técnico de Enfermagem 23(54,8) apenas 11% dos participantes acertaram que os CP são ini-
Enfermeiro 19(45,2)
ciados quando não existe mais proposta curativa.
Escala de serviço
Plantão SD 28(66,7)
Plantão SN 9(21,4) Tabela 3. Número de acertos dos 42 profissionais de Enfermagem
Diarista manhã 3(7,1) por questão sobre cuidados paliativos
Diarista tarde 2(4,8)
Perguntas n(%)
Tempo de serviço no setor
Qual a definição de Cuidados paliativos segundo a OMS*? 30(71,4)
Até 1 ano 9(21,4)
Quem deve decidir sobre o tratamento paliativo? 11(26,2)
1 a 5 anos 25(59,5)
Os cuidados paliativos só devem ser prestados a
6 a 10 anos 7(16,7) 20(47,6)
pacientes que não dispõe de tratamento curativo?
Mais de 10 anos 1(2,4)
Os cuidados paliativos só são feitos em paciente oncológicos? 33(78,6)
Preparação para lidar com pacientes em CP
Onde dever ser feito a assistência de pacientes em cuidados paliativos? 41(97,6)
Sim 8(19,0)
Os cuidados paliativos podem devem ser
Não 34(80,9) 11(26,2)
combinados com tratamentos curativos?
SD - serviço diurno; SN – serviço noturno; CP – cuidados paliativos. Os pacientes com doenças que ameaçam a continuidade
da vida devem ser sempre informados da verdade, 25(59,5)
para que possam preparar-se para a morte?
Tabela 2. Porcentagem de acertos das nove perguntas sobre cui- A filosofia dos cuidados paliativos preconiza que não sejam
13(30,9)
realizadas quaisquer intervenções destinadas a prolongar a vida?
dados paliativos
O tratamento médico tem sempre prioridade nos cuidados paliativos? 15(35,7)
Porcentagem de acertos n(%)
*OMS – Organização Mundial da Saúde.
Menos de 50% 19(45,2)
51% a 75% 23(54,8)
76% a 100% -
DISCUSSÃO
Total 42(100,0)
O nível de conhecimento em CP entre os profissionais de
estatística (p=0,537), o profissional que tem mais tempo no enfermagem foi parcialmente satisfatório, uma vez que a
setor não possui mais conhecimento sobre CP comparado mediana do número de acertos foi de 4,7 em nove ques-
ao quem tem menos tempo. tões. Quanto à autopercepção dos profissionais em rela-
Os profissionais com até cinco anos de formação tive- ção ao conhecimento sobre CP, observou-se que a maioria
ram a média de 4,7 ± 1,2 acertos, profissionais entre 5-10 tinha pouco conhecimento.

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Os resultados evidenciaram que poucos receberam constituída por enfermeiro, psicólogo, médico, assistente
capacitação sobre o tema ao logo da sua vida acadêmi- social, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoau-
ca, embora o conceito de cuidados paliativos tenha tido o diólogo, terapeuta ocupacional, dentista e assistente espi-
maior número de acertos (97,6%). Os oito profissionais que ritual.(1,6)
tiveram a capacitação, referem que foi oferecida durante Os profissionais, quando questionados sobre o tipo de
o curso técnico e graduação. Isso mostra que os profis- paciente que deve receber os cuidados paliativos, 47,6 %
sionais que possuem especialização, mestrado e doutorado concordaram que devem ser prestados a pacientes que
não tiveram esse conhecimento na pós-graduação. não dispõem de tratamento curativo. Os CP são cuidados
Vale frisar que não houve diferença significativa quando dirigidos a pacientes em que a cura não é mais possível,
comparada as classes profissionais e o nível de formação visto que a patologia já está avançada e sem resposta aos
com o número de acertos. Entretanto, houve diferença en- recursos terapêuticos curativos, tendo como finalidade
tre os profissionais que avaliaram seu conhecimento como proporcionar qualidade de vida na terminalidade.(6,11)
suficiente e aqueles que nunca ouviram falar (p = 0,031). Todos os pacientes portadores de doenças graves, pro-
Observou-se poucas pesquisas sobre cuidados palia- gressivas e incuráveis deveriam receber a abordagem dos
tivos direcionadas ao conhecimento dos profissionais de CP desde o seu diagnóstico. Foram estabelecidos critérios
enfermagem e lacunas sobre a opinião e o posicionamento de indicação para iniciar o CP: pacientes que cessarem
desses profissionais. Apesar de sua analogia com ações de todas as probabilidades de tratamento de continuidade
cuidar, os profissionais de enfermagem nem sempre apre- ou prolongamento da vida, que apresentarem sofrimento
sentam condições físicas e emocionais para lidar com os moderado a intenso e que escolherem por conservação de
indivíduos que necessitam do processo de paliação. Desta (7)
conforto e dignidade da vida.(6) Um número significativo de
maneira, os profissionais podem não saber o que falar ou profissionais (52,4%) não possuía conhecimento do que,
agir diante dessa situação, reprimem-se ou guardam o so- tais ações são preconizadas pela OMS.
frimento para si. Mais da metade dos participantes (78,6 %) acertaram
Existe uma iminente necessidade da atualização em CP, que os Cuidados Paliativos não são exclusivos de pacientes
visto que com o desenvolvimento da ciência e o desenvolvi- oncológicos, ainda que, essa clientela seja tradicionalmen-
mento de tecnologias relacionadas a saúde, e consequen- te direcionada a este setor. Todavia, qualquer paciente com
temente o aumento da expectativa das pessoas, cresceu doença crônica tem esse direito.(6)
também o número de pessoas idosas e de pessoas com do- Entre as opções para o atendimento do paciente que
enças crônicas que necessitam receber esses cuidados.(3) requer cuidados paliativos, os profissionais de enfermagem
A capacitação do profissional de saúde para inter-re- entrevistados reconhecem que a combinação preferida é
lacionar-se e prestar cuidado ao paciente em processo de casa/hospital (97,6%; n=41). Em uma pesquisa, realizada no
fim de vida tem sido ignorado desde sua graduação ou cur- Paraná,(12) evidenciou que aplicação de CP deve ser no domi-
so de formação técnico, consequentemente a aprendiza- cílio, ambulatórios, hospitais-dia, hospitais gerais e/ou ins-
gem desses profissionais acontecem no dia a dia durante tituições de longa-permanência (ILP). No entanto, a prática
o cuidado do paciente em CP.(1,7) A carência de disciplinas dos CP ainda não é institucionalizada no sistema de saúde,
voltadas aos CP nos cursos de graduação em enfermagem se tornando limitada para a continuidade desta abordagem
e a baixa frequência com que o assunto é discutido também entre os diferentes serviços ou níveis de atenção.
foram identificadas em estudo. (10)
Foi identificado que isso No que diz respeito ao direito do paciente terminal sa-
faz com que os enfermeiros e sua equipe sintam dificulda- ber seu prognóstico e possível desfecho em morte, 59,5%
des na condução desses cuidados e como lidar com os de- dos profissionais possuem ciência desse direito. É direito
safios que possam emergir dessa modalidade assistencial. do paciente conhecer a verdade sobre sua doença e seu
Neste estudo apenas 26,2% dos participantes conhe- prognóstico, além disso é dever do profissional deixá-lo
cem que para a implementação dos CP é necessária uma ciente quanto a isso. Com a negação da morte, a equipe
equipe multiprofissional para tomada de decisões e de- que o assiste em sua terminalidade pode acabar ignorando
signação de condutas. A maioria dos profissionais (73,8%) particularidades imprescindíveis para que o paciente con-
acreditaram que cabe apenas ao profissional médico esse siga entender e exercer seu direito de escolhas e signifi-
poder. O cuidado multiprofissional é necessário por ser cância do processo da morte.(1)
tratar de uma ação complexa cujo propósito é abranger Embora a filosofia dos cuidados paliativos preconize que
toda as necessidades do paciente e seus familiares, sendo não sejam realizadas quaisquer intervenções destinadas

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a prolongar a vida, menos da metade dos profissionais Contribuições para a prática


(30,9%) concordaram com essa afirmativa. O objetivo dos Acredita-se que os dados apresentados nesta pesquisa po-
CP não é buscar por um tratamento curativo muito menos dem colaborar para evidenciar a necessidade de valorizar
para estender a vida ou atrasar a morte do paciente, já que os profissionais de enfermagem no processo da assistên-
o foco é o controle dos sinais e sintomas físicos e psico- cia ao paciente em cuidados paliativos. É fundamental que
lógicos característicos do avanço progressivo da doença sejam realizadas mais pesquisas e treinamentos sobre essa
ameaçadora da vida, tendo como consequência a melhora- temática com a equipe de enfermagem com vistas a contri-
da qualidade de vida dos doentes. (13)
buir para a melhoria do desempenho profissional na oferta
Estudo evidenciou que controle da dor se tornou prio- desse cuidado tão essencial e necessário.
ridade nos CP em virtude de sua alta prevalência em rela-
ção aos outros sintomas.(14) Os profissionais de enferma- CONCLUSÃO
gem devem buscar o alívio da dor e também do sofrimento Conclui-se que há necessidade de ofertar e aprimorar
emocional através de técnicas adequadas. Através de uma conhecimentos sobre Cuidados Paliativos de forma geral
abordagem multidimensional a equipe de enfermagem para os profissionais de enfermagem das enfermarias clíni-
pode favorecer um cuidado diferenciado ao paciente para cas. Esta necessidade de melhoria do conhecimento é uma
garantir bem-estar e respeito da sua dignidade. constatação real e urgente, considerando o número cres-
Quando questionados sobre o fato de o tratamento mé- cente de pacientes que necessitam desse apoio.
dico ter sempre prioridade nos cuidados paliativos, apenas A complexidade do lidar com pacientes em Cuidados
35,7% responderam que está correta essa afirmativa. O Paliativos é desafiadora, sobretudo, porque os profissionais
papel do profissional médico tem destaque por prescrever que prestam esse cuidado tiveram dificuldades para identificar
tratamentos (medicamentosos ou não) conciliáveis com o as reais necessidades do paciente e sua família. É fundamental
momento de vida do paciente. Esse profissional deve asse- que os profissionais estejam capacitados para atuarem e se-
gurar não apenas alívio de sintomas desconfortáveis, mas rem multiplicadores desse conhecimento, ajudando promover
também a dignidade de vida do paciente até o fim através da a humanização do cuidado do paciente nessa fase da vida.
garantia de evitar procedimentos desnecessários que pode-
riam acarretar o sofrimento do paciente sejam realizados.(6) Contribuições
Concepção e/ou desenho do estudo: Nascimento JL, Mello
Limitações do estudo LF, Martins ERC; Coleta, análise e interpretação dos dados:
As limitações deste estudo relacionam-se ao número reduzi- Nascimento JL; Redação e/ou revisão crítica do manuscrito:
do de participantes, dificultando a significância estatística de Nascimento JL, Mello LF, Martins ERC, Peres EM, Rebello CVC,
algumas variáveis, levando-se em conta que a pandemia da Pires BMFB, Costa CCP, Gomes AMT; Aprovação da versão
COVID-19 acarretou em adoecimento e afastamento de mui- final a ser publicada: Nascimento JL, Mello LF, Martins ERC,
tos profissionais justamente no período da coleta de dados. Peres EM, Rebello CVC, Pires BMFB, Costa CCP, Gomes AMT.

REFERÊNCIAS

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