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A PERCEPÇÃO DA ENFERMAGEM SOBRE OS CUIDADOS PALIATIVOS DO RN

COM MALFORMAÇÃO CONGÊNITA NA UTIN

Everlyn Cristina Torres Vaz¹, Thais Lelis Cândido¹, Conrado Augusto Ferreira de Oliveira²,
Carolina Saiberth Carfesan³.

1. Graduandas em Enfermagem na Faculdade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC,


Uberlândia – MG – Brasil. 2023.

2. Enfermeiro. Mestre em Saúde Coletiva. Professor Orientador de Trabalho de Conclusão de


Curso na Faculdade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC, Uberlândia – MG – Brasil. 2023.
3. Enfermeira. Mestre em Educação. Professora Coorientadora de Trabalho de Conclusão de
Curso na Faculdade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC, Uberlândia – MG – Brasil. 2023.

RESUMO

OBJETIVO: Descrever a percepção da enfermagem em relação aos cuidados paliativos em


unidade de terapia intensiva neonatal nos casos de malformação congênita. MÉTODO:
Revisão bibliográfica sistemática, que consiste em uma revisão integrativa da literatura
relacionada à temática abordada. Os dados foram coletados nas seguintes bases: Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed (National Library
of Medicine), BDENF e MEDLINE. Selecionaram-se sete artigos. RESULTADOS: Com
base na análise dos estudos, nomearam-se duas classes com seus respectivos sentidos:
Desafios vivenciados pela enfermagem na implantação dos CPN e Desafios de enfermagem
nas práticas assistenciais ao RN e família inseridos nos CPN. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Os resultados evidenciaram se tratar de uma experiência difícil, potencialmente agravada no
ambiente investigado, em virtude das barreiras para implantação desses cuidados e das
dificuldades vivenciadas nas práticas assistenciais paliativas.

DESCRITORES: Cuidados Paliativos; Enfermagem Neonatal; UTIN; Malformação


Congênita.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To describe the perception of nursing in relation to palliative care in the


neonatal intensive care unit in cases of congenital malformation. METHOD: Systematic
literature review, which consists of an integrative review of the literature related to the theme
addressed. Data were collected in the following databases: Latin American and Caribbean
Health Sciences Literature (LILACS), PubMed (National Library of Medicine), BDENF and
MEDLINE. Seven articles were selected. RESULTS: Based on the analysis of the studies,
two classes were named with their respective meanings: Challenges experienced by nursing in
the implementation of the neonatal palliative care and Nursing challenges in newborn and
family care practices inserted in neonatal palliative care. FINAL REMARKS: The results
showed that this was a difficult experience, potentially aggravated in the investigated
environment, due to the barriers to the implementation of this care and the difficulties
experienced in palliative care practices.

DESCRIPTORS: Palliative Care; Neonatal Nursing; NICU; Congenital Malformations.

INTRODUÇÃO

Cuidado paliativo (CP) é uma abordagem terapêutica que visa atender às necessidades
de pacientes com doenças graves, crônicas, progressivas e que ameacem a continuidade da
vida. Durante muito tempo, não havia esse cuidado, já que o modelo de tratamento priorizava
a doença em detrimento do doente (PINHO et al., 2022).
Apenas em 1960, no Reino Unido, tendo a médica Cicely Saunders como precursora,
foram introduzidos os cuidados paliativos. A partir do trabalho dessa médica (que também era
assistente social e enfermeira), foram estabelecidas as bases dos cuidados paliativos, que
incluem a assistência, o ensino e a pesquisa (GOMES e OTHERO, 2016).
CP é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um conjunto de
medidas para promoção da qualidade de vida de pacientes com doenças sem prognósticos.
Essa abordagem é realizada por meio da identificação precoce, da correta avaliação e do
alívio do sofrimento, englobando as dimensões biopsicosocioespirituais do paciente (OMS,
2020).
Segundo a Resolução n.º 41, de 31 de outubro de 2018, que dispõe sobre as diretrizes
para a organização dos CP, à luz dos cuidados continuados integrados, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), estes devem ser ofertados para toda pessoa afetada por uma doença,
aguda ou crônica, que ameace a continuidade da vida (BRASIL, 2018).
Na neonatologia, tais cuidados surgem como consequência dos progressos
tecnológicos e científicos, bem como das inovações na área da saúde, que têm permitido a
sobrevivência de recém-nascidos (RNs) cada vez mais prematuros e com malformações
graves. Os cuidados paliativos neonatais (CPN) são focados na melhoria da qualidade de vida,
conforto, alívio dos sintomas físicos do RN e diminuição do sofrimento emocional e espiritual
da família (MARÇOLA et al., 2017).
Embora a mortalidade infantil tenha reduzido em decorrência dos avanços na
neonatologia, a morte contínua presente em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).
Em todo o mundo, a percentagem de mortes por anomalias congênitas que limitam a vida é de
11,3% para neonatos. Em 2017, 5.110 crianças morreram no Brasil com anomalias
congênitas, entre 0 e 27 dias de vida (OMS, 2018). Os RNs criticamente enfermos podem
possuir a morbidade e a mortalidade associadas à sua condição clínica, o que suscita ponderar
o limite da terapêutica com esses pacientes (MARÇOLA et al., 2017).
Algumas condições clínicas podem ser beneficiadas com a utilização dos CP, tais
como: prematuridade e baixo peso extremo; trissomia dos cromossomos 13 e 18; agenesia
renal; doença policística renal bilateral; anencefalia; holoprosencefalia; lesão anóxica grave;
hidrocefalia congênita, mielomeningocele; hidropsia fetal com anasarca; gêmeos xifópagos;
agenesia traqueal; malformação adenomatosa cística e epidermólise bolhosa (SANTANA et
al., 2019).
A morte de um bebê é um momento no qual ocorre a inversão do ciclo natural da vida,
o que dificulta sobremaneira a aceitação desse evento, tanto por parte dos familiares quanto
dos profissionais de saúde. Nesse cenário, a equipe multiprofissional desempenha um
importante papel para o bebê e a família, que está inserida no CPN. Embora a implantação de
CPN na UTIN ainda seja pouco discutida, considera-se valoroso conhecer a percepção da
enfermagem a respeito desses cuidados nesse cenário (PINHO et al., 2022).
Dessa forma, o presente estudo é relevante, por ampliar o conhecimento sobre o tema.
O objetivo é descrever a percepção da enfermagem em relação aos CPN na UTIN. Nesse
sentido, questiona-se: qual a percepção da enfermagem a respeito dos CPN na UTIN?

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica sistemática, que consiste em uma revisão


integrativa da literatura relacionada à temática abordada. A revisão bibliográfica tem como
principais objetivos contextualizar o problema e analisar as possibilidades presentes na
literatura consultada para elaboração do referencial teórico da pesquisa (ALVES-MAZZOTTI,
2012).
O tema e a pergunta de pesquisa foram definidos por meio da estratégia Patient-
Intervention-Comparison-Outcomes (PICO). Destacaram-se, do acrônimo em questão: “P”
(População-alvo), a equipe de enfermagem neonatal; “I” (Intervenção ou Interesse), cuidados
paliativos no RN com malformação congênita na UTIN; “C” (Comparação) não foi aplicado;
e o item “O” (desfecho), representado pela percepção da enfermagem em relação aos
cuidados paliativos do RN com malformação congênita na UTIN (NOBRE; BERNARDO;
JATENE, 2004).
Com base na questão norteadora, estabeleceram-se os seguintes critérios de inclusão:
artigos publicados nos últimos seis anos (de 2017 a 2023), completos, de acesso aberto, nos
idiomas português, inglês e espanhol. A seleção dos estudos incluiu análise do título, resumo e
texto completo, a fim de identificar os trabalhos mais relevantes e que contribuíssem para a
compreensão do tema proposto. Excluíram-se artigos incompletos, de acesso restrito, em
outros idiomas e que não tratassem do tema abordado.
A busca dos artigos foi realizada entre março e maio de 2023, por meio de consulta
nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), PubMed (National Library of Medicine), BDENF e MEDLINE, pela relevância
que apresentam na área da saúde e dada a ampla cobertura de periódicos científicos em
diversas regiões do mundo.
A busca e a seleção dos artigos foram realizadas por dois pesquisadores
simultaneamente e de modo independente, sendo utilizados os seguintes Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS): Cuidados Paliativos, Enfermagem Neonatal, Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal e Malformação Congênita, os quais estão apresentados no Quadro 1,
abaixo.

Quadro 1 – Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)

Descritores Inglês Espanhol Português

Termo 1 Palliative Care Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos

Enfermagem
Termo 2 Neonatal Nursing Enfermería Neonatal
Neonatal

Termo 3 NICO UCIN UTIN


Congenital Malformación Malformação
Termo 4
Malformations Congénita Congênita

Fonte: Elaboração das autoras, 2023.

Empregou-se a estratégia de busca de dados por meio do operador booleano AND,


utilizando os descritores “Cuidados Paliativos” AND “Enfermagem Neonatal”, “Cuidados
Paliativos” AND “UTIN”, “Cuidados Paliativos” AND “Malformação Congênita”,
“Enfermagem Neonatal” AND “UTIN”, “Enfermagem Neonatal” AND “Malformação
Congênita”, “Malformação Congênita” AND “UTIN” e “Cuidados Paliativos” AND
“Enfermagem Neonatal” AND “UTIN” AND “Malformação Congênita”, os quais estão
representados na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Descritores pesquisados nas bases de dados com o termo booleano AND

BASE DE DADOS PESQUISADAS


Descritores LILACS PubMed BDENF MEDLINE Total

Cuidados Paliativos AND 7 0 1 29 37


Enfermagem Neonatal

Cuidados Paliativos AND 4 1 3 38 46


UTIN

Cuidados Paliativos AND 3 0 0 56 59


Malformação Congênita

Enfermagem Neonatal AND 0 0 0 0 0


UTIN

Enfermagem Neonatal AND 0 0 0 0 0


Malformação Congênita

Malformação Congênita AND 0 0 0 0 0


UTIN

Cuidados Paliativos AND 0 0 0 0 0


Enfermagem Neonatal AND
UTIN AND Malformação
Congênita

TOTAL 14 1 4 123 142


Fonte: Elaboração das autoras, 2023.
Os estudos encontrados foram importados para o aplicativo/website Web Rayyan
QCRI-Qatar Computing Research Institute, para identificação e exclusão dos duplicados e
gerenciamento do processo de seleção de amostra final. Em seguida, com a aplicação da
metodologia e dos descritores supracitados, foram identificados 142 artigos. Após a aplicação
dos filtros e dos critérios de inclusão e exclusão, obteve-se um total de 15 publicações.
Posteriormente, efetuou-se a etapa de leitura e análise minuciosa dos estudos em
conformidade com os objetivos desta pesquisa, compondo uma amostra de 7 artigos.

Apresentam-se, no fluxograma abaixo (Figura 1), os cruzamentos entre os descritores


“Cuidados Paliativos” AND “Enfermagem Neonatal”, “Cuidados Paliativos” AND “UTIN”,
“Cuidados Paliativos” AND “Malformação Congênita”, “Enfermagem Neonatal” AND
“UTIN”, “Enfermagem Neonatal” AND “Malformação Congênita”, “Malformação
Congênita” AND “UTIN” e “Cuidados Paliativos” AND “Enfermagem Neonatal” AND
“UTIN” AND “Malformação Congênita” que resultaram na identificação dos 142 artigos
distribuídos nas bases de dados LILACS (14); PubMed (1); BDENF (4) e MEDLINE (123).
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos

Fonte: Fluxograma da seleção dos estudos segundo Preferred Reporting Items for Systematic
Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (MOHER et al., 2009).
A síntese dos dados foi realizada sistematicamente considerando a construção das
categorias.

RESULTADOS

Estão inseridos na revisão integrativa da literatura deste estudo 7 artigos que atendiam
a todos os critérios de inclusão preestabelecidos. Destes, dois foram publicados no ano de
2017, dois em 2018, um em 2019, um no ano de 2020 e outro em 2021.
Registraram-se, quanto aos idiomas, cinco estudos em inglês (71%) e dois em
português (29%). Os estudos foram realizados na Austrália (1), Brasil (4), Portugal (1) e
Turquia (1). Classificam-se, com relação à metodologia utilizada, em estudos qualitativos
descritivos (5) e qualitativos fenomenológicos (2).
Os dados dos artigos incluídos nesta revisão foram reunidos e apresentados na tabela
2, com o código de cada um, título com (os) nome (s) do (s) respectivo(s) autor(es), ano da
publicação e o(s) objetivos. Na tabela 3, estão descritos o código de cada artigo,
metodologia(s), periódico(s), estado(s) e níveis de evidência.

Tabela 2 - Dados dos artigos utilizados na pesquisa


Cód. Autores/Ano Título Objetivos
A1 SILVA et al. Knowing nursing team Understand the care practices
2017 care practices in relation experiences of nursing staff in relation to
to newborns in end-of-life providing end-of-life care to newborns
situations. and their families in neonatal intensive
care units (NICU).
A2 SILVA et al. Perception of health To identify the perception of health
2019 professionals about professionals about neonatal palliative
neonatal palliative care. care.
A3 TAPLAK et al. Nurses’ Perceptions of the This study aimed to determine the
2020 Palliative Care Needs of opinions of NICU nurses regarding the
Neonates with Multiple palliative care needs of neonates with
Congenital Anomalies. multiple congenital anomalies as well as
their experiences and feedback related to
EOL care for neonates and their families.
A4 KILCULLEN, Palliative care in the The current study qualitatively explored
M., IRELAND, neonatal unit: neonatal perceptions of neonatal nurses about
S. 2017 nursing staff perceptions facilitators and barriers to delivery of
of facilitators and barriers palliative care and the impact of the
in a regional tertiary regional location of the unit.
nursery.
A5 ALVES.A. M. Entre o nascer e o morrer: Compreender como os profissionais de
F.; FRANÇA, cuidados paliativos na saúde de uma unidade de terapia
M. L. R.; experiência dos intensiva neonatal (UTIN), em um
MELO, A. K. profissionais de saúde. hospital- maternidade de alto risco,
2018 experienciam os cuidados paliativos
neonatais.
A6 FERNANDES Concepções da equipe de Descrever a percepção da equipe de
et al. 2021 enfermagem sobre enfermagem acerca dos cuidados
cuidados paliativos em paliativos ao recém-nascido em uma
recém-nascidos. unidade de terapia intensiva neonatal.
A7 OLIVEIRA et Brazilian Neonatal The objective of this study was to
al. 2018 Nurses' Palliative Care explore the PC experiences of Brazilian
Experiences. NICU nurses.
Fonte: Elaboração das autoras, 2023.

Ressalta-se que, na análise crítica da metodologia dos artigos, empregou-se a


classificação dos níveis de evidência científica da Agency for Healthcare Research and
Quality (AHRQ): I- revisão sistemática ou metanálise; II- ensaios clínicos randomizados; III-
ensaios sem randomização; IV- estudos de cortes e de caso-controle; V- revisão sistemática de
estudos descritivos e/ou qualitativos; VI- estudo descritivo ou qualitativo; e VII- opinião de
autoridades e/ou relatórios de comitês de especialidades (MELNYK e FINEOUT-
OVERHOLT, 2010). Esses dados são apresentados a seguir, na Tabela 3.

Tabela 3 – Abordagem metodológica dos artigos, cidade, estado e níveis de evidência


Cód. Metodologia Periódico Cidade/Estado Níveis de
evidência
A1 Estudo de abordagem qualitativa, Revista de São Paulo-SP VI
descritivo, com a participação de 8 Enfermagem
profissionais da equipe de enfermagem Escola Anna
que atuam em UTIN. Nery
A2 Estudo qualitativo fenomenológico, Revista Espinho-PT VI
com amostra não probabilística de 15 Brasileira de
profissionais da equipe de saúde de Enfermagem
uma UTIN.
A3 Estudo de abordagem qualitativa, Journal of Central VI
descritivo, com a participação de 20 Hospice & Províncias da
enfermeiros (a) que trabalham na Palliative Anatólia-TR
UTIN. Nursing
A4 Estudo qualitativo, fenomenológico, BMC Palliative Townsville-AU VI
com amostra intencional de 8 Care
enfermeiras atuantes em UTI Neonatal.

A5 Estudo qualitativo, realizado com Revista Fortaleza-CE VI


método fenomenológico crítico, tendo Brasileira em
como instrumento uma entrevista não Promoção da
estruturada. Participaram do estudo 8 Saúde
profissionais de uma UTIN.
A6 Estudo qualitativo, de caráter Revista de Rio de Janeiro- VI
descritivo-exploratório, realizado a Enfermagem RJ
partir de um roteiro de entrevista UERJ
semiestruturado com 16 profissionais
de enfermagem.
A7 Estudo exploratório, qualitativo e The Journal of São Paulo-SP VI
descritivo, realizado por meio de Perinatal &
entrevistas individuais semiestruturadas Neonatal
com enfermeiros (a) de UTIN. Nursing
Fonte: Elaboração das autoras, 2023.

DISCUSSÃO

A análise dos estudos revelou que o ambiente e a rotina da UTIN dificultam a


implantação dos CPN. A estrutura física da UTIN não é apropriada para essa abordagem, pois,
limitam a privacidade dos pais e familiares e a convivência com o bebê. Além disso, a rotina
da UTIN constitui uma barreira para as práticas de cuidado consideradas relevantes pela
equipe de enfermagem, uma vez que a grande demanda e a necessidade de lidar com as
questões burocráticas da instituição inviabilizam a prestação adequada de cuidados.
A partir da identificação e análise dos domínios textuais e da interpretação dos
significados, nomearam-se duas classes com seus respectivos sentidos: Desafios vivenciados
pela enfermagem na implantação dos CPN e Desafios de enfermagem nas práticas
assistenciais ao RN e família inseridos nos CPN.

Categoria A – Desafios vivenciados pela enfermagem na implantação dos CPN

A implantação dos cuidados paliativos no contexto da UTIN ainda é pouco abordada e


estruturada. Os estudos revelaram que a falta de compreensão conceitual, a necessidade de
discussão sobre essa prática entre os diferentes profissionais da equipe de saúde, bem como a
ausência de comunicação no processo de tomada de decisão entre eles e a inexistência de um
protocolo têm se tornado barreiras para implantação desses cuidados.
Em A1, A2, A3, A4 e A6, evidencia-se que o conceito de cuidado paliativo não está
claro para a enfermagem. A compreensão conceitual dos CPN apresenta-se como um
problema, uma vez que os membros da equipe associam essa abordagem ao fato de não haver
mais o que fazer pelo paciente. De acordo com A6, os CP devem ser ofertados a partir do
diagnóstico de uma doença progressiva e incurável e de forma simultânea com o tratamento
curativo.
Ainda em A6, destaca-se que a falta de compreensão conceitual dos profissionais a
respeito do tema colabora para insegurança na assistência e dificulta o reconhecimento do
paciente elegível ao paliativo, assim como do momento oportuno para mudança de conduta e
interrupção do tratamento terapêutico para neonatos.
Outro aspecto importante ressaltado em A1, A2 e A4 é o processo de decisão e
reflexão compartilhada entre a equipe, também visto como um desafio na implantação dos
CPN, que resulta não só da pobreza na comunicação e de conflitos entre profissionais, como
também da falta de apoio institucional. Conforme destacado em A1, os profissionais de saúde
atuantes na UTIN reconhecem a existência de uma relação hierarquizada, sem espaço para o
diálogo e participação nas decisões, o que impõe barreiras de comunicação entre as equipes
médica e de enfermagem.
Ainda em A1, observa-se que manter as decisões centradas na figura do médico é uma
situação prejudicial para o bebê, visto que cada profissional envolvido no cuidado tem uma
percepção diferente e condições de contribuir para que a situação seja avaliada de forma
completa e integral. Desse modo, faz-se necessário que a equipe multiprofissional de saúde
compartilhe o cuidado e seus saberes, posicionando o paciente e família no centro do cuidado.
Nesse contexto, os autores de A2 afirmam que os protocolos orientam a tomada de
decisão e a padronização de procedimentos, além de facilitarem a prestação de CPN. Em A2,
A4, A6 e A7, alerta-se que a ausência de protocolos padronizados na unidade também é vista
como uma barreira na prestação da assistência paliativa entre os enfermeiros.
No que se refere ao aspecto institucional, segundo A4, os enfermeiros percebem que a
falta de contribuição na elaboração do protocolo da unidade, a ausência de avaliação da
unidade e a necessidade de atualizar ideias e valores acerca da assistência paliativa dificultam
as práticas assistenciais paliativas.
Em praticamente todos os artigos, enfatizou-se que a adoção de um referencial para
nortear a conduta profissional, e não somente da enfermagem, somada à busca por
qualificação e capacitação na área, teria um impacto positivo na assistência prestada, na
satisfação das famílias e na promoção de mais conforto para o RN.

Categoria B – Desafios de enfermagem nas práticas assistenciais ao RN e família


inseridos nos CPN

Ao examinar a percepção de enfermagem sobre os CPN é possível constatar que lidar


com a doença e a morte de um bebê é um processo complexo para a equipe, pois os
profissionais estabelecem vínculo com o paciente e sofrem com a morte dele. A terminalidade
do bebê é considerada ainda mais difícil de lidar que a do adulto, devido à conotação de
tragédia pela brevidade do tempo de vida.
Em A7, a morte de um RN é relatada pela enfermagem como um momento
desconfortável, confuso e incompreensível, uma vez que associam a morte prematura a uma
modificação do curso natural da vida. Vale ressaltar em A1 que, embora a equipe tenha
ciência de que a morte é, muitas vezes, inevitável, a aceitação desse fato na neonatologia
apresenta-se como um processo ainda mais difícil e problemático, na qual estão envolvidas
diversas questões.
De acordo com o discutido em A5, a maneira de lidar com o luto está relacionada a
três dimensões: a vivência pessoal (mortes já experienciadas, perdas sentidas e processos de
lutos anteriores); a cultura (representações de morte, espaço para expressão da dor e visão
acerca do luto); e a formação acadêmica e capacitação profissional. Nesse sentido, o estudo
relata que o modelo curativo de formação, no qual o profissional da saúde é responsável por
reverter o quadro de doença do paciente, atua como uma barreira para assistência paliativa.
Nessa lógica, é crucial destacar que a obstinação terapêutica, por vezes, propicia sentimentos
de sofrimento, frustração e fracasso em toda a equipe.
Em A7, as enfermeiras descrevem que fornecer o CP pode se tornar tão desgastante
emocionalmente para elas, a ponto de criarem barreiras para se proteger da dor, tais como
desligamento emocional, repressão de sentimentos e evitação. Além disso, sentem-se
emocionalmente despreparadas e desprovidas das competências necessárias para prestar
cuidados de saúde aos bebês e às suas famílias e consideram que a falta de apoio institucional
é um fator agravante.
Conforme analisado em A6, as dificuldades profissionais e pessoais em lidar com o
luto são consequência das nossas vivências e acabam por interferir na assistência prestada, por
provocarem sentimentos como impotência e incapacidade, que impedem o adequado exercício
profissional.
Ainda em A6, é mencionado que os enfermeiros atuantes em UTIN permanecem ao
lado do RN de forma mais intensa e contínua e, por isso, devem receber capacitação para
assistência paliativa e para acompanhar a finitude do paciente, bem como oferecer apoio aos
familiares. Dignificar e humanizar a terminalidade da vida e a morte torna-se, portanto, um
desafio para esses profissionais de saúde.
Dos estudos analisados, 58% sublinham o déficit no preparo emocional dos
profissionais como um fator que interfere na qualidade da assistência paliativa. De modo
geral, eles também alertam para uma lacuna na formação acadêmica dos cursos de saúde no
que refere ao fornecimento de suporte em fim de vida e cuidados paliativos e enfatizam que a
qualificação profissional deve ser construída por meio de atualizações constantes e educação
permanente em saúde nessas instituições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo evidenciam as experiências e os desafios da equipe de


enfermagem no contexto da assistência paliativa. Essa experiência se dá de forma difícil e é
potencialmente agravada no ambiente da UTIN, em consequência das barreiras na
implantação dos CPN e das dificuldades vivenciadas nas práticas assistenciais paliativas. As
vivências da equipe de enfermagem revelam que os CPN são pouco abordados e discutidos,
tanto na formação acadêmica quanto no contexto de atuação, o que expressa a necessidade de
aprofundamento do tema, elaboração de princípios que integrem toda a equipe no processo de
cuidado e adoção de um referencial capaz de nortear adequadamente a conduta profissional
não somente da enfermagem, mas de toda a equipe multidisciplinar.
A enfermagem enfrenta desafios e reconhece demandas para compartilhar o cuidado
de maneira plena, desenvolver mais independência e estabelecer diálogos sobre seus
conhecimentos. Além disso, são necessidades fundamentais a capacitação constante sobre os
cuidados paliativos e a criação de um espaço para que o profissional possa expressar suas
apreensões. Nesse sentido, as palestras informativas e a educação permanente com foco nos
CPN para capacitação dos profissionais de saúde que atuam nesse contexto são de extrema
importância e estratégicas para a melhoria dos serviços prestados. Dessa forma, é essencial
ouvir a voz da equipe de enfermagem que atua em UTIN, a fim de compreender suas
vivências e as necessidades da equipe e, com isso, elaborar propostas pertinentes e eficientes,
que possam, de fato, favorecer o desenvolvimento das competências necessárias e qualificar a
assistência e as relações de cuidado nesse contexto.
REFERÊNCIAS

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retorno. In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Neto (Org.). A bússola do escrever: desafios e
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4. GOMES, A. L. Z.; OTHERO, M. B. Cuidados paliativos. Estudos Avançados, São Paulo-SP, v. 30, n. 88, p.
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5. KILCULLEN, M.; IRELAND, S. Palliative care in the neonatal unit: neonatal nursing staff perceptions of
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6. MARÇOLA et al. Análise dos óbitos e cuidados paliativos em uma unidade de terapia intensiva neonatal.
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8. Ministério da Saúde (BRASIL). Gabinete do Ministro. Resolução nº 41, de 31 de outubro de 2018. Dispõe
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11. OLIVEIRA et al. Brazilian Neonatal Nurse's Palliative Care Experiences. The Journal of Perinatal &
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