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práticas informadas por evidência
Judy Sebba
Sir Derek Raynor, um importante funcionário dos governos Heath e Thatcher, consi-
derava a atitude de evitar o fracasso o traço dominante da cultura de Whitehall: "o
funcionário público tende a ser julgado pelo fracasso. Isso [...} leva à criação de um
número desnecessário de grandes comitês, todos os quais atrasam a tomada de decisões
e obscurecem as responsabilidades", O resultado inevitável é que as informações são
distorcidas em todos os níveis, porque ninguém quer comunicar "más notícias" ou se
expor à possibilidade de ser responsabilizado. (Chaprnan, 2002, p.59)
INTRODUÇÃO
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48· Gary Thornas, Richard Pring & cols. Educação baseada em evidências 49
tenham consultado antes de começar sua pesquisa. Somente com informações Sendo assim, é um meio de avançar de uma postura reativa para uma
quase completas é que o sistema pode possibilitar que as evidências cumulativas que seja pró-ativa. O presente perfil de pesquisa em educação deve ser avalia-
sejam construídas e se evitem sobreposições involuntárias. do em relação às necessidades futuras identificadas por meio de previsões, de
Segundo, como concluiu o estudo DEITA (2001), estudos individuais forma que planejamentos futuros possam ser mais bem informados, substan-
deveriam ter menos impacto do que revisões de literatura e artigos que sin- tiva e teoricamente.
tetizem a pesquisa em uma forma acessível aos profissionais. A contribuição
das revisões à base de evidências cumulativa é, portanto, central, e as pers-
pectivas dos usuários do EPPI, que são sumários preparados por usuários para TORNANDO AS EVIDÊNCIAS DE PESQUISA MAIS ACESSÍVEIS
os grupos que o constituem, são um passo importante nesse sentido. Embora
as revisões sistemáticas possam ser desejáveis onde for possível, deve-se reco- Em outra parte deste volume, David Gough descreve o desenvolvimento
nhecer a contribuição dada por outros tipos de revisões, especialmente onde a e o suporte para revisar o trabalho do EPPI-Centre. Nos Estados Unidos (Via-
literatura é muito limitada. ~. dera, 2002) e no relatório da revisão de pesquisa educacional na Inglaterra
Em terceiro lugar, a construção de uma base de evidências cumulativa é pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD,
prejudicada pela falta de replicações e de relatórios de resultados negativos 2002), esses acontecimentos são tidos como de ponta em termos mundiais, os
de pesquisa, em que a metodologia não atingiu as expectativas originais. Coo- primeiros a fornecer métodos de integrar estudos quantitativos e qualitativos
per e colaboradores (1997) concluíram que, de todos os estudos aprovados em revisões sistemáticas e envolver de forma importante os usuários durante
por um comitê de revisão de temas das áreas humanas, os pesquisadores sub- o processo. Todavia, na Inglaterra, os críticos têm mais destaque. Hammersley
meteram à publicação 74% dos que tiveram conclusões significativas, mas (Capítulo 10) descreve o processo de revisão sistemática como sendo linear,
apenas 4% dos que apresentaram resultados não-significativos. Os autores baseado em uma visão positivista da prática e priorizando testes controlados
"
50 Gary Thomas, Richard Pring & cols. Educação baseada em evidências 91
exemplos estão a iniciativa Research of the Month, do General Teaching isso que possibilita que o sistema faça coisas novas ou faça as coisas de maneira
Council, que resume uma pesquisa que seja de interesse particular à pro- melhor). Como as estratégias para aumentar a capacidade raramente são ava-
fissão do ensino (http://www.gtce.org.uk/research/romhome.asp), e a ini- liadas, não há indicações de quais são as abordagens mais eficazes.
ciativa Research into Practice, do DfES (http://ww.standards.dfes.gov. uk/re- O artigo de Dyson e Desforges identifica três temas em torno dos quais se
search/}, que proporciona artigos acadêmicos reescritos e resumidos, prepa- pode construir capacidade de pesquisa. O primeiro são as oportunidades de
rados por jornalistas para uso leigo, mas revisados em conjunto com os pes- desenvolvimento para que os pesquisadores se atualizem, renovem sua for-
quisadores para certificar sua autenticidade. Abordagens mais inovadoras mação ou suas habilidades por meio de cursos, instrução, cedências tempo-
em relação à comunicação da pesquisa por meio de vídeo ou televisão tam- rárias a outros órgãos e outros meios. O segundo é o desenvolvimento de
bém estão sendo exploradas pelo DfES e pelo Teaching and Learning Re- infra-estrutura para alavancar a capacidade por meio de centros de pesquisa
search Programme do ESRC (http://www.tlrp.org). específicos, redes de pesquisa, financiamento para tecnologia de informação e
outros tipos de apoio. Isso inclui maior desenvolvimento de pesquisa em in-
~ terdisciplinaridade, que dá a oportunidade de se tratarem de questões de pes-
CONSTRUINDO A CAPACIDADE DE PESQUISA quisa complexas a partir de vários ângulos diferentes, com benefícios mútuos
PARA TRATAR DE QUESTÕES COMPLEXAS para cada disciplina envolvida.
A terceira área que eles identificam é a crescente capacidade para que os
Algumas preocupações têm sido expressas em relação ao fato de que o profissionais e formuladores de políticas produzam e utilizem a pesquisa.
"sistema" de pesquisa carece de recursos humanos, intelectuais e materiais Muitas das iniciativas nessa área são discutidas em outros momentos deste
para garantir que se produza pesquisa de escala e qualidade suficientes vol- capítulo, corno as evoluções relacionadas à internet descritas anteriormente,
tada a questões prioritárias, e ela possa ser usada para informar as políticas e que visam a tornar a pesquisa relevante mais acessível. As iniciativas descritas
as práticas. A Commission on the Social Sciences (2003) dá forte apoio para a para desenvolver melhor entendimento entre formuladores de políticas e pes-
contribuição de pesquisas multidisciplinares/interinstitucionais, mas observa quisadores também são relevantes para aumentar a capacidade de usar a pes-
que não há muitas evidências disso atualmente. Também se observam que a quisa. As oportunidades para os profissionais realizarem pesquisa por meio de
necessidade de que algumas pesquisas integrem técnicas quantitativas e qua- bolsas e cursos certificados aumentaram, mas ainda atingem apenas uma por-
litativas, para tratar de questões de pesquisas fundamentais, é prejudicada ção mínima da profissão. O estabelecimento de cedências temporárias de pro-
pela falta de conhecimento sobre como fazê-lo. fessores profissionais para organizações de pesquisa e de pesquisadores pro-
Dyson e Desforges (2002) revisam a evidência de falta de capacidade fissionais para faculdades, universidades e organizações formuladoras de po-
para entender e usar as pesquisas. Os autores observam que pode ser mais útil líticas estão todos dando uma contribuição ao desenvolvimento de capacida-
pensar em termos de capacidade de pesquisa no plural do que como uma des relacionadas à pesquisa. As comunidades de aprendizes em rede, estabe-
capacidade única. Essas, sugerem, incluem a capacidade de produzir pesqui- lecidas pelo National College of School Leadership (2002), são um processo
sas acadêmicas para construir conhecimento, a capacidade de os formula- inovador para construir aptidão para a pesquisa nas faculdades.
dores de políticas utilizarem essas pesquisas e a capacidade de os profissio-
nais produzirem ou utilizarem pesquisas para informar sua prática. Essa visão
multidimensional sugere que não existe resposta única para aumentar a USANDO AS EVIDÊNCIAS DE PESQUISA
capacidade do sistema. NO PROCESSO DAS POLÍTICAS
Os autores vão mais além. Observam que a capacidade deve ser vista não
apenas em termos de o que o sistema pode fazer, mas também em termos de o Em 2000, o National Educational Research Forum publicou o relatório de
que ele deveria fazer. Isso implica uma necessidade de estratégias que estejam seu subgrupo sobre o impacto da pesquisa educacional nas políticas e nas
mais relacionadas com a alavancagem da capacidade em novas formas, bem práticas. Fez-se a distinção entre disseminação e impacto, afirmando-se que,
como a manutenção e o desenvolvimento da atual capacidade. Eles fazem ainda seja qual for o termo utilizado, o processo descrito geralmente é dissemina-
uma distinção entre estratégias que ampliam a capacidade (é isso que possi- ção, ou seja, a difusão de informações sobre a pesquisa e seus resultados para
bilita que o sistema faça "mais da mesma coisa") e aquelas que a aprofundam (é pessoas de fora da equipe de pesquisa. Isso, observa-se, costuma ser feito
52' .Gary Thomas, Richard Pring & cols.
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depois que a pesquisa é concluída; é possível de ser observado publicamente e O uso da pesquisa pode ser indireto, por exemplo, via educadores que
pode envolver conferências e publicações. Dessa forma, a disseminação pode formam professores, em lugar de direto, e os formuladores de políticas podem
ser eficaz sem ter um impacto. Walter e colaboradores (2003) afirmam que ser informados pela pesquisa sem que mudem de direção, ou seja, a pesquisa
são necessárias estratégias explícitas e ativas para garantir que a pesquisa pode sugerir que eles não deveriam adotar uma determinada política ou ação.
realmente tenha um impacto. Eles descrevem uma taxonomia de intervenções Eles podem não estar cientes da fonte de informação que usaram, e pode
para garantir o impacto da pesquisa sobre as políticas e as práticas do setor haver múltiplas fontes sendo usadas simultaneamente. Dessa forma, as políti-
público desenvolvidas na Unit for Research Utilisation da Universidade de cas que não tenham sido explicitamente informadas pela pesquisa podem,
St. Andrews. Ela é intersetorial e inclui formas de estimular usos mais con- ainda assim, ter sido influenciadas por ela. Mais além, pressões de natureza
ceituais da pesquisa, a fim de contribuir para mudar o conhecimento, as cren- política, econômica e outras entrarão em jogo quando os formuladores de
ças e as atitudes, em lugar de se limitar a intervenções comportamentais, que políticas tomarem decisões que resultem em dificuldades de identificar a con-
Hammersley (Capítulo 10) e outros (por exemplo, Bates, 2002) têm criticado tribuição precisa dada pela pesquisa. Os pesquisadores, em geral, não estão
como demasiadamente racionais. "
familiarizados com o processo de formulação de políticas e podem interpretar
Hodkinson (Capítulo 11) também afirma que aqueles que promovem po- equivocadamente o resultado como se ele tivesse ignorado a pesquisa. Como
líticas informadas por evidências supõem uma relação linear entre pesquisa e a metodologia para avaliar impacto é subdesenvolvida, é difícil estabelecer
seus usuários, mas o relatório do subgrupo do fórum deixou claro que os precisamente como esses processos ocorrem no presente.
modelos lineares representam de forma equivocada o processo de pesquisa.
Eles e outros (por exemplo, DETYA, 2001) sugerem que o processo é mais bem
descrito por uma abordagem interativa de produzir, disseminar e usar novos ESTIMULANDO OS FORMULADORES DE POLÍTICAS
conhecimentos, que requer um processo transformador para superar os riscos E OS PROFISSIONAIS A UTILIZAR A PESQUISA
de transferência e aplicação. O conhecimento pode não ser transferido devido à
forma como é expresso ou à receptividade do recipiente. A transferência bem- Os formuladores de políticas e os profissionais trabalham em contextos e
sucedida de conhecimento não garante a aplicação eficaz de-vido, por exemplo, culturas que podem não conduzir ao uso da pesquisa. A citação no início deste
à falta de oportunidade ou recursos, à manutenção de crenças arraigadas ou à capítulo era sobre as dificuldades experimentadas pelos primeiros para reco-
dificuldade de traduzir conhecimento teórico em aplicações práticas. nhecer erros e os utilizar de forma construtiva. O desenvolvimento de um diá-
Hargreaves (2003) sugere que algumas pesquisas tiveram um impacto logo aberto entre eles e os pesquisadores pode lhes proporcionar experiências
no envolvimento de pesquisadores e profissionais como co-criadores de novos positivas no potencial do uso de pesquisa e ajudar os pesquisadores a melhor
conhecimentos que possam ser validados e transferidos. Ele cita como exem- entender o processo das políticas. A Commission on the Social Sciences reco-
plo o trabalho sobre avaliação para aprendizagem de Paul Black, Dylan nheceu o crescente envolvimento de acadêmicos nos grupos coordenadores de
Wiliam e outros (ver, por exemplo, Wiliam e Lee, 2001), que envolveu uma pesquisas, grupos consultivos e outras atividades de governo. Mais além, reco-
forte parceria entre pesquisadores e professores, proporcionando um modelo mendou aumentar o programa de cedências temporárias em ambas as direções,
de "desenvolvimento e pesquisa" em lugar de "pesquisa e desenvolvimento". entre os funcionários que estão na academia e os que estão no governo, como
. :
':1 Hargreaves sugere que a formulação "desenvolvimento e pesquisa" coloca a forma de criar mais compreensão mútua e transferência de conhecimento.
prática inovadora na frente e, portanto, é potencialmente transformadora. Dentro do DfES, fez-se muito mais investimento em projetos de pesquisa
O desenvolvimento profissional de professores envolvidos nesse processo maiores e de mais longo prazo e em conjuntos de dados longitudinais e nas
se baseia em capital intelectual para gerar novos conhecimentos, capital social análises desses dados. Como as decisões sobre políticas em qualquer área com
para dar sustentação a aprendizado profissional profundo por meio de experi- freqüência precisam ser tomadas durante os períodos de quatro ou cinco anos
mentação em um contexto de confiança e capital organizacional para garantir a nos quais essas análises são completadas, é importante que os pesquisadores
disseminação de novos conhecimentos. Enquanto a pesquisa sobre avaliação estejam dispostos e sejam capazes de dar seu melhor "palpite", em um deter-
para aprendizagem é apenas uma das muitas áreas de pesquisa educacional que minado momento, sobre o que acham que as evidências podem significar.
influenciaram as políticas e as práticas, a análise de como isso pode ter ocorrido Para isso, é necessário haver confiança em ambos os lados, o que não pressu-
possibilita que se compreenda melhor o processo de impacto.
põe, como sugerem os críticos neste livro, que a hipótese seja sempre pes-
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quisável, que as evidências sejam infalíveis ou que os trabalhos estejam dispo- iniciativa sobre comunidades aprendizes em rede (National College of School
níveis. O fato de que nem todas as políticas podem ser informadas por evidên- Leadership, 2002) proporciona um meio de envolver os profissionais funda-
cias não deve nos impedir de tentar estimular o uso de pesquisa quando a mentado em escutar e co-pesquisar em lugar de dizer e dirigir. O diálogo entre
alternativa for tomar decisões que não sejam informadas por qualquer evi- formuladores de políticas, profissionais e pesquisadores deve estar embuti-
dência. do no processo de pesquisa desde o início, para garantir que as hipóteses da
Uma análise semelhante pode ser aplicada aos profissionais da educa- pesquisa, o desenho, a coleta de dados, a interpretação e a disseminação
ção. Os professores têm trabalhado tradicionalmente em isolamento. Assim sejam todos influenciados por múltiplas perspectivas. Iniciativas como o
como os funcionários públicos, o reconhecimento de um erro é considerado National Teacher Research Panel estão ajudando. Muitos projetos de pesquisa
fraqueza. Hargreaves (1996, com base no trabalho de William Taylor, 1993) têm agora professores em tempo parcial em suas equipes, mas poucos são
;
observou que os que citam a pesquisa em uma discussão de sala de professo- capazes de envolver também os formuladores, de forma que é necessário
res seriam tomados como alguém que estuda para um curso mais elevado, encontrar outros meios de estabelecer diálogo permanente.
ensaia para uma inspeção Ofsted ou, mais geralmente, "exibe-se". A falta de Por mais que os procedimentos e processos sejam alterados para aumen-
uma expectativa sobre o uso de evidências de pesquisa no ensino ou no ser- tar a capacidade de formuladores de políticas e profissionais de utilizar a pes-
viço público está profundamente arraigada na cultura, e, apesar do discurso quisa, a sustentabilidade de longo prazo de seu uso só se produzirá se estiver
de se desenvolverem políticas e práticas informadas por evidências e de se embutida em suas crenças e seus valores: "o impacto da pesquisa nas escolas
"modernizar o governo", muitos continuarão a ser resistentes à mudança. O e na formulação de políticas depende em muito da valorização da pesqui-
trabalho do National Teacher Research Panel (www.standards.dfes.gov.ul</ntrp) sa por parte dos educadores e de sua capacidade de aplicá-Ia e criticá-Ia"
e as iniciativas voltadas a estimular as escolas a se engajar mais no uso e, em (DETYA,2001, sumário, p.8).
alguns casos, na geração de pesquisa (por exemplo, Essex County Council, Assim como em outras áreas de educação, o valor da pesquisa será au-
2003) estão contribuindo para tratar dessa questão. A experiência de maior i mentado por meio de experiências positivas. O que os pesquisadores, os po-
abertura e mais debate sobre quais evidências existem e o que elas significam i líticos, os forrnuladores de políticas estão fazendo para garantir que essas
deveria certamente ser bem-recebida. experiências positivas aconteçam?
\
CONCLUSÃO
I
Do que precisamos, no processo de formulação de políticas, para me-
lhorar o uso da pesquisa? É necessária uma maior ênfase na melhoria im-
pulsionada pelos usuários, em lugar dos fornecedores (pesquisadores e finan-
ciadores) da pesquisa. Isso significa identificar necessidades percebidas para
tratar de um problema real e proporcionar apoio adequado aos formuladores
de políticas a fim de ajudá-los a expressar suas necessidades na forma de
I:·, questões pesquisáveis. Para tratar de muitas das questões complexas enfrenta-
1 ' , das por formuladores e profissionais, os dados quantitativos e qualitativos
"
! podem ter de ser integrados para fornecer informações sobe o que fazer e
como fazê-lo. As evidências existentes devem ser resumidas claramente e
apresentadas de forma acessível, e se devem adotar abordagens flexíveis para
tratar de inadequações de momento entre decisões tomadas em termos de
políticas e os resultados de pesquisa disponibilizados.
Chapman (2002) afirma que precisamos de intervenções que introdu-
zam processo de aprendizagem e apoio, em lugar de especificar metas. A atual