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ELENCO E PERSONAGENS:
Alexandre: Mateus
Samuel: Judá, Espia 1, Urias, Servo 3, Josué
Maria Carolina: Raabe, Serva 2, Adina
Ana Beatriz: Rute, Abia
Ana Luiza: Noemi, Conselheira 1, Serva 1, Isabel
Alice: Conselheira 2, Maria
Hannah: Raquel, Serva 4
Alex: Isaque, Rúben, Boaz, Joabe, Zorobabel
João: Aser, Hira, Davi, Sacerdote
Tiago: Jacó, Guarda, Obede, Ezequias, Matã
Giovanna: Tamar, Bate-seba
Marcelinho: Abrão, José, Espia 2, Jessé, Acaz
PERSONAGENS
Mateus: Alexandre Josué: Samuel
Abrão: Marcelinho Adina: Maria Carolina
Isaque: Alex Zorobabel: Alex
Jacó: Tiago Benjamim: Daniel
Judá: Samuel Matã: Tiago
Aser: João Maria: Alice
Rúben: Alex Isabel: Ana Luiza
José: Marcelinho
Tamar: Giovana
Hira: João
Raabe: Maria Carolina
Guarda: Tiago
Espia 1: Marcelinho
Espia 2: Samuel
Noemi: Ana Luiza
Rute: Ana Beatriz
Boaz: Alex
Obede: Tiago
Jessé: Marcelinho
Bate-Seba: Alice
Raquel: Hannah
Davi: João
Urias: Samuel
Joabe: Alex
Conselheira 1: Ana Lu
Conselheira 2: Giovanna
Abia: Ana Beatriz
Acaz: Marcelinho
Serva 1: Ana Luiza
Serva 2: Alice
Servo 3: Samuel
Ezequias: Tiago
Serva 4: Hannah
Sacerdote: João
A Aliança que nasceu
Cena 1: Introdução
MATEUS: (Entra no palco lentamente, senta-se à sua mesa, muito meticuloso, muito calmo, é
alguém que carrega experiência nos lombos). Há uma premissa básica que você, meu caro, minha
cara, precisa ter para compreender tudo que vai ver no dia de hoje. A premissa é: Jesus é o Rei
esperado. Essa é a verdade fundamental sobre tudo que verão hoje. Um Soberano, que traçou seu
caminho entre pequenos e pecadores para que se cumprisse a promessa de Deus a todas as famílias
da terra. Sim, meus caros, Jesus é a promessa de Deus a todas as famílias da terra. Mas onde estão
as provas dessa afirmação tão… Tão… Aguda? Onde as provas de algo tão sério? Tão retumbante?
Eu? Eu sou homem, vestindo esses trajes (audiodescrição). Sou pó feito vocês, meus caros. Chamo-
me Mateus, outrora cobrador de impostos, nem dos mais ricos, tampouco entre os mais tristes,
chamado a caminhar ao lado dele, que se fez homem, feito eu, nascendo de uma linhagem
complicada que remonta aos tempos de nosso pai Abraão. Estão aqui as anotações acerca da
genealogia desse Rei, que deixam claro quem ele é, nascido de mulher, como cada um de nós.
Cantemos enquanto organizo as histórias que embalarão nossa noite…
Cena 2: Abraão
MATEUS: (Abrão já em cena, encolhido, cheio de incertezas - Gn 15) Não temam se reconhecerem
na face dessas pessoas antigas algo como um espelho que aponta para vocês mesmos, meus caros.
Digo porque a genealogia de nosso rei é um caminho espinhento, percorrido em meio ao pecado de
tantos e tantas. É evidencia para nós de como ele foi generoso para conosco, como foi com nosso
pai Abraão, nessa época ainda Abrão.
ABRÃO: (chorando copiosamente) Eu morrerei… Toda minha família morrerá… Nós não somos
nada… Que presunção! Que presunção! (Treme de medo) E se… Eu nunca tivesse ido embora…
Permanecido onde nasci, na minha terra…
MATEUS: Não tenha medo, Abrão, disse Deus. Eu sou o seu escudo; grande será a sua recompensa.
ABRÃO: (assustado) É… É o Soberano? Oh, oh, soberano Senhor! (rosto no pó, exibe amargura) O
que me dará? Eu, velho, sem herdeiro algum! O Senhor permitiu isso! Agora um servo de minha
casa é quem será meu herdeiro! Se era para ser assim… Por que o Senhor prometeu o que
prometeu? (Para si) Ah, meus dias estão contados, morrerei e serei esquecido… Eu e minha família
teremos nosso nome extinguido da terra.
MATEUS: Abrão… Saia da tua tenda.
ABRÃO: Oh, Senhor…
MATEUS: Abrão… Confie em mim, disse Deus. E Abrão saiu. Ao encarar o céu…
ABRÃO: Oh, Senhor Deus, são tão lindas, são tão lindas, eu sei que jamais cansarei de olhar para
elas, pois nelas tenho noção do tamanho de tua beleza e infinitude.
MATEUS: Abrão, te digo que teus descendentes serão como essas estrelas. Incontáveis e brilhantes
como elas. E, através de tua descendência, todos os povos da terra serão abençoados.
ABRÃO: Senhor, sou tão fraco… O que fiz para merecer isso?
MATEUS: Eu te escolhi. Contigo estabeleci a minha aliança (Abrão levanta o anel, que vai ser a
Aliança, de forma dramática). Observe como Abrão olha para essa aliança com gratidão e temor!
Ah, nosso querido irmão Paulo de Tarso nos lembra: Quem conheceu a mente do Senhor? Quem foi
o seu conselheiro? Quão insondáveis são os seus juízos! Quem é capaz de entender? Ah, antes que
eu me esqueça, devo me desculpar por ousar ser a voz de Deus para vocês. Mas de qual outra forma
poderíamos trazer a voz do Todo Poderoso sem que todos nós caíssemos prostrados, cantando em
lágrimas… Ou correndo em desespero diante de um som tão temível? Não me pergunte como
Abrão se sentiu ao ouvir. Talvez, na realidade, ele tenha ouvido tal qual brisa suave… Eu não sei…
O que importa é que nosso pai Abrão ouviu a promessa. E creu.
Música: Promessas
JUDÁ: (Sentado num banquinho, encarando a Aliança, seu cajado na mão) Acho que já não sou o
mesmo… Essa promessa da qual nosso pai tanto falava tem uma cara de piada. Estou farto da vida!
Meus dois filhos morreram, minha esposa morreu! Minha nora, Tamar, ainda mora com o pai…
Que diacho, eu enganei a pobrezinha, disse que a daria em casamento para meu outro filho quando
ele crescesse (Suspira fundo). Me resta continuar a vida… (Caminhando vê a Tamar, toda
encoberta) Uma meretriz cultual… Nunca a vi por aqui… Ei, venha cá! Demando seus serviços!
TAMAR: Saudações, meu senhor. Acaso o senhor tem com o que me pagar?
JUDÁ: (Para si) Que insolência… (Para Tamar) Te darei um de meus cabritinhos de meu rebanho.
TAMAR: E que garantia tenho? Se o senhor me entregar seu selo com o cordão e seu cajado como
garantias, irei com o senhor sem hesitar mais uma vez.
JUDÁ: Ora, mulher, tome, tome. Apenas venha logo. (Saem de cena. Judá volta sozinho logo
depois) Ei, Hira, meu velho amigo, vá e leve um jumentinho para a meretriz cultual que fica no
caminho de Enaim.
(O homem sai e volta. Judá incomodado)
HIRA: Judá, não há nenhuma prostituta cultual no caminho de Enaim.
JUDÁ: Ah, ela que fique com as coisas que dei a ela então, para que ninguém zombe de nós. (Judá
senta e observa a aliança) Por que nós somos tão complicados, Senhor? Como fomos ficar tão
complicados? Achava que viver era mais simples…
HIRA: Judá… Tenho péssimas notícias, notícias escandalizantes, Judá!
JUDÁ: O que há, Hira?
HIRA: Sua nora, Tamar! Prostituiu-se!
JUDÁ: Prostituiu-se?
HIRA: E o pior! Está grávida!
JUDÁ: (Irado) Grávida! Tragam ela para fora de sua tenda e queimem ela viva! Isso é uma ordem!
(Hira e outros trazem Tamar e jogam aos pés de Judá)
TAMAR: Senhor… Antes que faças qualquer outra coisa, quero que o senhor reconheça quem é o
pai de meu filho. Diga-me, o senhor sabe a quem pertencem este selo, este cordão e este cajado?
Pois pertencem ao homem que me engravidou.
JUDÁ: (Em absoluto choque. Senta-se novamente no banquinho. A cena se desfaz ao seu redor.) Ela
é mais justa do que eu. Deixem Tamar em paz.
MATEUS: Apesar de todos os seus pecados, no leito de morte de seu pai Jacó, o patriarca o chamou
para lhe revelar uma profecia promissora.
JACÓ: Judá, seus irmãos o louvarão… Judá, você é um leão novo… O cetro não se apartará de
Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence e
as nações o obedecerão…
MATEUS: Por meio de Judá, a promessa estava viva. Um dia essa profecia se cumpriu. Sim, se
cumpriu, pois já aconteceu. O cetro não se apartou de Judá.
JUDÁ: (Na frente do palco segurando a Aliança, choroso) Como pode, Senhor Deus? Alguém como
eu…
RAABE: (Para fora de cena, voz baixa) Escondam-se! Eu vou atender a porta. (Abre a porta)
GUARDA: Raabe! A prostitutinha! Andas a receber muitos homens?
RAABE: (Fria) Não. Apenas o de sempre.
GUARDA: Não me faças de bobo, Raabe. Sei bem de dois homens que tu recebeste hoje! Lance-os
para fora, pois são espiões da parte daqueles israelitas! Vieram espionar nossa terra!
RAABE: (Dissimulada) Não me diga uma coisa dessas! Vieram mesmo dois homens em minha
casa, mas eu não sabia de onde eles tinham vindo! Céus e terra, céus e terra! Bem que eu reparei
que tinham um jeito engraçado… Guarda, faça o seguinte, mobilize as tropas, corra, corra atrás
deles, eles não podem ter ido longe! Vocês ainda conseguem alcançá-los! Vá!
GUARDA: (Acreditando nela) Ah… Sim, sim… Eles partiram há quanto tempo?
RAABE: Há uma ou duas horas. Ande! Não temos tempo a perder!
GUARDA: Certo! E… (insinuante) Você, por acaso…
RAABE: Vá! (o guarda sai embora e ela fecha a porta com força e tranca. Muda de expressão, vai
até os dois homens e os puxa pra cena) Vejam bem, vocês dois, sei que o Senhor deu toda essa terra
a vocês. Todos na cidade estão apavorados por tudo que Ele fez. Abrir o mar ao meio para que
passassem em terra seca? Toda aquela confusão no Egito? Isso foi demais para nossos ouvidos,
sabemos que o Senhor é com vocês e estamos todos apavorados. Pois bem, é o seguinte. Sejam fiéis
comigo, assim como serei com vocês, sejam bons comigo e poupem a mim e a minha família
quando conquistarem essa cidade, pois eu reconheço que esse Deus é Deus nos céus, e também
sobre a terra.
ESPIAS: Seremos fiéis a ti. Tu e tua família serão guardados.
RAABE: Vamos. Deixe-me descê-los pelo muro.
MATEUS: (Enquanto narra a história, Raabe joga a corda e os espias descem pelo muro, que vai ser
o púlpito da igreja) Raabe amarrou um cordão vermelho na janela de sua casa, o sinal de que era
para os israelitas preservarem a vida dos que ali dentro estivessem. Quando a cidade foi
conquistada, Raabe e os seus saíram incólumes, e passaram a viver entre os israelitas. E ela,
prostituta e estrangeira, foi chamada a carregar também essa aliança. (Raabe recebendo da mão dos
espias a aliança). Mais tarde, ela se casou, teve um filho, que recebeu o nome Boaz (Aparece Boaz,
mas fica de canto). Talvez, meus caros, vocês se recordem desse Boaz de uma outra narrativa.
(Raabe senta. Aparecem Rute e Noemi).
NOEMI: Minha filha, você vai me fazer insistir com você, minha filha? Eu estou velha, não terei
outro filho que possa ser seu marido. Oh, Rute, Rute, minha filha, não chore. Sou muito agradecida
ao Senhor pela lealdade que você teve comigo e com meu filho. Mas agora eles morreram, Rute,
volte pra sua terra e você terá segurança.
RUTE: (Embargada pelo choro) Noemi, minha sogra, não insistas comigo que te deixe e que não
mais te acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus
será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com
todo o rigor se outra coisa que não a morte me separar de ti!
MATEUS: E esse Deus que Rute escolheu, glórias sejam dadas, é Deus gracioso. Quando Rute
colhia espigas, veio ao seu encontro a Providência.
BOAZ: Então você é a famosa moabita que veio junto da sogra. Tá aqui colhendo espigas na minha
plantação, tudo bem, tudo bom…
RUTE: Oh, mil perdões, meu senhor…
BOAZ: Nah! Que nada! Todo mundo vem comentando sobre o que você fez, Rute. É admirável.
Deixar seu povo, sua famíla e vir morar no meio de um povo que você não conhece. Eu não teria
essa coragem, Rute… (Rolando um clima já) Que o Senhor te retribua, o Deus de Israel. É debaixo
das asas dele que você veio buscar refúgio.
RUTE: Muito obrigado, meu Senhor.
BOAZ: E fica à vontade. Colha o quanto você quiser por aqui. Em outros lugares pode ser meio
perigoso, sabe como é, os homens podem te importunar. Fica por aqui que vou dar ordens para que
te deixem em paz.
RUTE: (Toda feliz) Muito, muito obrigada, meu senhor.
BOAZ: Deus foi bom contigo, Rute. Apesar de toda amargura sobre sua família, ele agora vai te dar
descanso (Os dois sorriem um pro outro).
MATEUS: Essa história, logo mais, foi dar em casamento. Boaz tomou para si a responsabilidade
de cuidar da viúva Rute, e também de sua sogra Noemi. O que é curioso nessa história? Observem
atentamente como a aliança passa entre as gerações: (Raabe volta pra cena. Se posicionam lado a
lado e vão passando a aliança um para o outro) Raabe gerou Boaz, com quem Rute se casou. Rute
teve um filho, Obede, pai de Jessé, pai de Davi. Sim, o rei Davi. (Obede, Jessé e Davi se sentam).
Eis os mistérios do Deus Altíssimo! Como uma prostituta e uma viúva, ambas estrangeiras,
tornaram-se trisavó e bisavó do Rei Davi, o Rei mais proeminente da história de Israel, e são
contadas na linhagem de Jesus!? Mulheres pequenas, as mais frágeis das sociedades daqueles
tempos, receberam esse doce privilégio.
RAQUEL: Você está com uma cara horrível, Bate-seba! Diz logo, o que aconteceu?
BATE-SEBA: Eu estou grávida, Raquel…
RAQUEL: (Maravilhando-se) Que graça! Urias não perdia por esperar. Ele vivia tagarelando como
queria um boneco pra chamar de seu, onde quer que ia, tagarelava, ai, quero ser pai, ai, quando eu
tiver uma criança, ai, isso, ai, aquilo… Ei, ei, você tá bem, amiga? Não chora, Bate-seba, você vai
ver, criar um filho é muita responsabilidade, mas um pequeno sempre enche a casa de alegria. Sei
que nessa hora a gente fica nervosa que só o Senhor para nos ajudar, no meu primeiro filho eu não
parava de pensar nas tantas coisas horríveis que poderiam acontecer, mas você vai ver…
BATE-SEBA: Não é dele… (Lamento) Não é dele, minha amiga.
RAQUEL: (Desconfiada) O que você tá querendo dizer?
BATE-SEBA: O filho não é de Urias! (Chora)
RAQUEL: Você adulterou? (Exasperada) Bate-seba, bate seba, você… Bate-seba… Você…
BATE-SEBA: Eu não tive muita escolha, Raquel. Foi o rei.
RAQUEL: O rei?
BATE-SEBA: O rei de Israel!
RAQUEL: Davi? (Incrédula) Mas que conversa! Se eu não te conhecesse desde menina, eu ia dizer
que você está inventando lorota. Davi é o homem mais justo desse reino, como ele poderia?
BATE-SEBA: Mas foi o que aconteceu, juro pelos céus, amiga. Vieram guardas aqui em casa, eu
me assustei, eles disseram que o rei requisitava a minha presença.
RAQUEL: (Hesitando) O que significa "requisitava"?
BATE-SEBA: Eu também não sabia, mas logo descobri… O rei me desejava…
RAQUEL: Oh, céus…
BATE-SEBA: E ele é o rei, entende? Quem sou eu para negar um pedido do rei?
RAQUEL: Estou em choque, minha amiga. Não esperava isso do rei Davi. E o que vai acontecer
agora? E Urias? Quando ele volta da guerra?
BATE-SEBA: Eu não sei… Eu não sei o que faço quando Urias chegar…
RAQUEL: O rei já sabe?
BATE-SEBA: Eu ainda não tive a coragem… Mas quero avisar o rei o quanto antes.
RAQUEL: Ah, pois me permita ir lá. Fica aqui e descansa. Agora já aconteceu, Bate-seba, agora
vamos caminhar a próxima légua.
BATE-SEBA: (Comovida) Obrigada, Raquel. Isso vale muito vindo de você.
RAQUEL: Você conhece minha história, amiga. Sabe de onde eu vim e as coisas que passei. Ainda
assim, O Senhor Todo-poderoso me chamou de volta. Lembra da história de Hagar? Grávida e
sozinha no deserto. Ele é o Deus que nos vê.
MATEUS: Davi, o grande rei Davi, o bravo, o salmista, o guerreiro, agiu como mais um covarde,
insensível e desertor. Resolveu a situação à sua própria maneira.
DAVI: (Em um banquete com Urias) Urias, Urias! Grande homem! Valoroso! Muito me admirou o
fato de que te recusaste a dormir em tua casa na última noite.
URIAS: (Bêbado): Meu senhor, como disse antes, como eu poderia comer e beber em minha casa e
dormir com minha esposa, enquanto meus companheiros de guerra e meu capitão estão acampados
ao ar livre?
DAVI: Pois esta é uma atitude de honra verdadeira, Urias. (Invejoso) Além disso, bom que
mencionaste o capitão Joabe, tenho uma mensagem para enviar-lhe e gostaria que lhe entregasse.
Aqui está. (Passando o pergaminho) Entregue às mãos de Joabe apenas, ouviste?
URIAS: Conte com teu servo, meu senhor.
DAVI: Muito bem. Agora, beba mais um pouco, não economize o vinho do palácio, amanhã é dia
de lutas, aproveite para regalar-se hoje.
(Davi levanta, olha pra aliança e exibe um certo desprezo, um dar de ombros, mas culpa ao mesmo
tempo. Urias, ao se levantar, caminha meio tonto, meio fraco, até chegar em Joabe)
MATEUS: Não demorou para que os mensageiros viessem com a notícia de que o plano de Davi
fora bem-sucedido. Urias estava morto (Davi em cena segurando um pergaminho e sorrindo
aliviado). Mas o que Davi fez desagradou ao Senhor.
BATE-SEBA: Urias está morto? Urias está morto? (Chora)
MATEUS: E a injustiça de Davi retornou a ele próprio em sua justa medida.
BATE-SEBA: (Agarrada a Raquel, um bebê no colo, do lado esquerdo do palco, sofrendo)
AAAAAAAAAH!!!
RAQUEL: Aguenta, amiga, aguenta!
BATE-SEBA: Meu filho, Raquel! Meu filho!! AAAAAAAH!!! (chora copiosamente)
RAQUEL: Eu tô contigo, aguenta firme!
BATE-SEBA: Ai, ai, que dor! Que dor! AAAAAAH!
DAVI: (Vindo ao lado direito do palco e se prostrando) Tem misericórdia de mim, Senhor, por teu
amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e
purifica-me do meu pecado.
BATE-SEBA: Meu bebê, Raquel… (ficando sem forças) Meu bebê…
RAQUEL: Bate-seba? Ei, acorda, amiga! Amiga! (Pra fora) Alguém pode ajudar aqui? Será que não
tem ninguém nesse palácio? Alguém! Por favor!
DAVI: Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me
expulses de tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito!
(Fica tudo silencioso. Raquel se retira com Bate-seba. Um par de conselheiros se aproxima)
DAVI: O quê? A criança?
CONSELHEIRA 1: A criança está morta…
MATEUS: Deus, porém, derramou mais uma vez sua chuva de graça sobre a vida de Davi, homem
segundo o seu coração. Davi converteu-se de seus caminhos (Davi erguendo Bate-Seba e andando
com ela até a frente do palco e sorrindo para ela. Os dois sorriem. Davi ergue a aliança e passa para
seu filho Salomão, que aparece em seguida) E daquela família, que começou com tantas máculas,
nasceu um novo menino, Salomão, a quem Deus amou. É o Senhor quem fez a terra sem forma e
vazia tornar-se em um jardim. É ele quem faz ossos secos ganharem carne, pele, sangue e coração.
É ele quem faz a alegria nascer, do ventre de Bate-Seba ou do ventre de uma virgem pobre nos
arredores de Belém.
Música: É Natal
(Acaz está de costas para os dois observando a aliança com desprezo. O servo segura o bebê)
ABIA: Leve a criança!
SERVA 1: O meu senhor tem certeza?
ABIA: Leve a criança!
SERVA 1: Meu senhor, perdão, mas trata-se de seu próprio filho…
ACAZ: Não ouviu o que disse a esposa do seu rei? Leve a criança para ser sacrificada no fogo e não
pergunte outra vez. O próximo poderá ser você mesmo.
SERVA 1: (Em submissão) Meu senhor… (Sai)
ABIA: Quanta insolência!
MATEUS: O tempo passa…
(Os dois mudam de lugar e posição no palco. Entra o servo 2)
SERVO 2: Meu senhor, os artífices chegaram.
ACAZ: Eles deveriam ter chegado mais cedo, agora não atenderei.
SERVA 2: O que devo dizer a eles, meu senhor?
ACAZ: (Impaciente) Diga que Acaz, o rei de Judá, soberano sobre esta terra, ordena que construam
imagens e altares para adoração em cada esquina de Jerusalém.
SERVA 2: Seja feita a tua vontade, ó rei. (servo 2 sai)
ACAZ: Estou de saída, mulher.
ABIA: Onde vai, Acaz?
ACAZ: Queimar incenso nas colinas.
ABIA: Acaz, hoje também? Esta gravidez está me matando. Fique comigo.
ACAZ: (Confiante) Você ficará bem. Viu o que tem acontecido a Israel, nosso irmãozinho do Norte,
como está sofrendo sob o peso dos Assírios? Não deixarei que isso aconteça conosco.
ABIA: Acaz, você ainda tem tanta certeza assim?
ACAZ: Enquanto os deuses das outras nações estiverem do nosso lado, nós sobreviveremos. Se
faço o que faço, é por você, por nosso filho e por esse povo.
MATEUS: O tempo passa…
(Mudam de lugar de novo. Agora a esposa segura um novo bebê. Acaz faz que está chegando, chega
com o Servo 3)
ABIA: Finalmente retornou.
ACAZ: Não me incomode, mulher. (Para o servo) Veja se minha vontade foi cumprida, homem.
SERVO 3: (Em reverência) Meu senhor. (Sai)
ABIA: O que foi dessa vez?
ACAZ: Há um altar belíssimo no palácio do rei da Assíria, onde passei todo esse tempo com ele.
Mandei que construíssem um igual no templo do Senhor.
ABIA: Não bastava ter pegado os tesouros do templo e entregado à Assíria, Acaz?
ACAZ: (Irado) O que quer dizer com isso, mulher?
ABIA: (Preocupada e relutante) Acaz, você tem ouvido o que Isaías, filho de Amós, tem apregoado?
ACAZ: Sim. (Contido) Eu tenho. E não quero ouvir nenhuma das palavras daquele vidente saindo
de tua boca.
ABIA: Apenas estou preocupada, Acaz. E se…
ACAZ: E se…
ABIA: O povo está sofrendo, todo o reino de Judá está passando por um momento de escassez… E
se isso tudo tiver a ver com sua devoção aos deuses dessas terras?
ACAZ: (Gargalha) Enlouqueceste? (Irado) Tu mesmo quem deu essas ideias, mulher. Tu me
acompanhou em quantos sacrifícios? E todo o povo também tem adorado e sacrificado. Como seria
minha culpa? E se o Senhor é assim tão poderoso, por que não nos auxiliou até agora?
ABIA: Estou preocupada com o futuro de Ezequias, Acaz…
ACAZ: Enquanto você se preocupa com esse teu filho, eu me preocupo com todo o bem-estar de
Judá.
ABIA: Ele é teu filho também.
ACAZ: Seria melhor que também o sacrificássemos.
ABIA: (Ultrajada) Você diz que se preocupa com o reino, mas só se preocupa consigo mesmo.
ACAZ: (Irado. Esbofeteia a mulher com a criança no colo) Calada! (Servo 3 entra)
SERVO 3: Senhor, o altar foi construído conforme suas ordens.
(Acaz, soltando fumaça pelo nariz, sai com o servo. Abia caminha até o meio do palco)
ABIA: (Para o bebê Ezequias) Meu filho… Seja diferente, meu filho…
MATEUS: O tempo correu, Acaz morreu, e esse seu filho Ezequias ocupou seu lugar (Ezequias vem
até o meio do palco e observa a aliança em suas mãos, dando muito valor a ela). Com esse
semblante devoto em seu rosto ao olhar para a aliança, fez diferente do que seu pai desde o primeiro
mês de seu reinado.
EZEQUIAS: (Olhando para as portas do templo do senhor. Sacerdotes e levitas ao seu lado)
Sacerdotes, levitas, escutem: reabram as portas do templo do senhor e purifiquem o templo por
completo (com autoridade). Retirem de lá todo objeto impuro, tudo que não for segundo a vontade
do Senhor. Não seremos como nossos pais, não daremos as costas ao Deus de nossos antepassados,
faremos diferente. Não sejam negligentes, pois Deus os escolheu para ministrarem diante dele,
somente Ele.
EZEQUIAS: (Maravilhado olhando em volta) Glórias sejam dadas ao Deus dos céus eternamente.
SERVA 4: Não esperava por isso, meu senhor.
SACERDOTE: Foi muito além do que qualquer um estava esperando.
SERVA 4: A quantidade de sacrifícios que o povo ofertou…
SACERDOTE: E as canções, e o momento em que todos estávamos prostrados louvando ao Deus
de nossos antepassados.
SERVA 4: Ah, ainda há Deus em Israel! Ainda há Deus em Judá!
EZEQUIAS: (Caminhando até a frente com a aliança nas mãos) Ainda há… (Para o mensageiro)
Mensageiro, venha comigo, tenho uma missão de suma importância! Essa alegria dos céus não pode
arrefecer em nosso peito.
SACERDOTE: O que o senhor tem em mente?
EZEQUIAS: Celebraremos a Páscoa do Senhor, do jeito que está escrito que devemos celebrar!
Venha, mensageiro. Escreverei cartas para serem enviadas por todo Israel e Judá, e até a Manassés e
Efraim! Jerusalém celebrará a Páscoa do Senhor como nunca antes! Porque ainda há Deus em
Israel!
MATEUS: Desde os tempos de Salomão não ocorria algo assim na cidade. Judá, Israel, e mesmo os
estrangeiros que viviam em meio ao povo celebraram aquela festa com a alegria que apenas o
Senhor concede. A festa deveria durar sete dias, porém decidiram prolongá-la por mais sete. Ao fim
da celebração, todo o povo percorreu as ruas das cidades derrubando as pedras e postes sagrados
(Todos saem correndo do palco, em alegria, celebrando pela igreja), pondo fim aos altares idólatras
construídos por Acaz e tantos outros. Ezequias ainda teria bons desafios para enfrentar depois
desses eventos. Não obstante, sua fidelidade ao único Deus garantiu que teria paz em seu reinado
até o fim de seus dias. Sim, Ezequias, como tudo que é pó, voltou ao pó. Ainda não era hora da
aliança nascer no mundo, e ela prosseguiu seu caminho.
Cena 7: Zorobabel
MATEUS: Apesar dos lampejos de sabedoria em Israel, sua desobediência e rebeldia ocasionaram
sua própria queda. Veio o juízo. Quando o povo começou a retornar da Babilônia, o templo havia
sido destruído há anos, muitos mortos e a cidade incendiada. Dentre os que se juntaram à difícil
tarefa de reconstruir esses muros estava Zorobabel, da linhagem de Judá, herdeiro da aliança; esse
homem que a observa desanimado.
ZOROBABEL: (Olhando a aliança, abatido, cansado. Adina e Josué observam ao fundo) Por quê,
Deus? Nós trabalhamos tanto. Reconstruir sua casa não é tarefa fácil, ó Senhor…
JOSUÉ: São tempos difíceis, governador.
ADINA: Muita gente vem falando como esse segundo templo não se compara ao esplendor do
templo que Salomão construiu. Acho que isso também acaba com a motivação de todos.
ZOROBABEL: O falatório não seria um problema… Nós já construímos muita coisa, o altar, os
alicerces, já fizemos holocaustos, já louvamos, mas nossos inimigos… Nossos inimigos…
(Exausto) Eles nunca permitirão que terminemos essa obra!
JOSUÉ: Estamos vulneráveis, governador. (Zorobabel não tira os olhos da aliança)
ADINA: Isso aqui jamais será como já foi um dia, no tempo de nossos antepassados (Zorobabel
olha amargurado, frustrado)
ZOROBABEL: Eu sonhava que fosse… Quando Ciro nos permitiu retornar para construir a casa do
Senhor, nosso coração transbordou… Voltamos a Jerusalém cantando, carregados de ouro e de
tantos dos utensílios da casa do Senhor, lembra, Josué?
JOSUÉ: Sim, governador.
ZOROBABEL: Como pode terminar assim?
ADINA: Deus tem seu tempo, homens. Vai ver ainda não chegou o tempo certo de reconstruir a
casa do Senhor, Zorobabel. Vamos nos preocupar em fazer o que conseguirmos, edificar nossas
casas, plantar nos nossos campos. O tempo virá.
ZOROBABEL: Só espero que não demore… (Zorobabel coloca a aliança junto ao coração)
MATEUS: E a palavra do Senhor, mais uma vez, trouxe ânimo aos espíritos abatidos.
ZOROBABEL: (Correndo para acordar Josué) Josué! Josué! Venha aqui! O profeta Ageu está aqui,
Deus está do nosso lado! Acorda, Josué!
JOSUÉ: Calma, homem! Controle-se!
ZOROBABEL: Como vou me controlar? É o sinal de que precisávamos! Nós reconstruiremos o
templo, Josué! Acorda, Josué! Venha ouvir o profeta! (Os dois saem)
MATEUS: E o profeta confrontou e animou aqueles dois e a todo povo a trabalharem com afinco.
Deus queria que o povo construísse sua casa e que se empenhassem nisso. E o mais importante de
tudo…
(Zorobabel, Josué e Adina. Os dois homens contando pra ela o que o profeta disse e ela em choque)
ZOROBABEL: Deus está conosco! Desde quando saímos do Egito, seu Espírito nos acompanha!
ADINA: Essas notícias são maravilhosas!
ZOROBABEL: Sim, Adina! E Deus citou o meu nome! Meu nome certinho!
JOSUÉ: E o meu também!
ZOROBABEL: E o de Josué também!
ADINA: O quê? Como assim?
ZOROBABEL: "Coragem, Zorobabel!", ele disse! "Coragem, Zorobabel!" Deus conhece o meu
nome! Ele falou comigo assim, com essas palavras!
JOSUÉ: E comigo também!
ZOROBABEL: Sim! Ele falou "Coragem, sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque!" Ele falou
assim!
ADINA: Essas são coisas maravilhosas demais!
ZOROBABEL: São… Mas o que o profeta disse em seguida… (Contemplativo) Aquilo mexeu
comigo, não foi Josué?
ADINA: E o que foi?
ZOROBABEL: Ele falou do templo que estamos construindo… (Se levanta, pega aliança, sorriso
radiante no rosto) Ele disse que a glória deste segundo templo será maior que a do primeiro
(Levanta a aliança, olha comovido) E que nesse lugar ele estabelecerá a paz.
MATEUS: Os presentes na cena tinham apenas um pequeno vislumbre do que essas palavras
verdadeiramente significavam. Séculos mais tarde, invasões e reformas depois, esse templo singelo,
construído com muito menos pompa que o de Salomão, receberia em seus átrios um descendente de
Zorobabel, o próprio Jesus, príncipe da paz. Meus caros, quem há de se importar com o ouro e a
prata do templo de Salomão quando quem caminhou nesses átrios foi o próprio Messias aguardado?
Zorobabel terminou sua participação nessa história ouvindo de Ageu que Deus faria dele um anel de
selar, porque o tinha escolhido. (Abre os braços) Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles
é o Reino dos céus.
MATEUS: E esse anônimo, que passou pela existência sem grandes registros, como a maioria de
nós, é contado hoje entre os agraciados que trouxeram o Messias ao mundo.
Cena 9: Maria
MATEUS: E enfim chegamos à conclusão dessa história, quando essa promessa de Deus ganhou
carne e osso no ventre da jovem Maria.
Música: Maria
(Alguém começa a cantar, lentinho: "Ó, não temais, pois trago boas novas", outras vozes se juntam:
"Cantai nos altos céus, dai glória" e assim sucessivamente até todos terminarem de cantar o refrão)
Ó, não temais, pois trago boas novas/ Cantai nos altos céus, dai glória/ Hoje nos nasceu Cristo, o
nosso salvador/ Deus se fez homem, nasce uma criança/ Natal, nasceu nossa esperança/ Terra e céus
se prostram ao bebê Jesus/ Emanuel
Música: Emanuel