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05/02/24, 14:22 Anne Frank - A história do diário que comoveu o mundo (Francine Prose)

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RES ENHAS

Anne Frank – A história do diário que comoveu o


mundo (Francine Prose)
BY ALEX SENS FUZIY 2  148  8 MINS READ

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Resenha do livro Anne Frank – A história do diário que comoveu o mundo,


lançamento da Editora Zahar, por Alex Sens.

Em junho de 1942 uma menina alemã ganhou em seu décimo terceiro aniversário um
caderno axadrezado branco e vermelho. Dele fez seu primeiro e único diário, mais
tarde reiniciado em outros dois cadernos de exercícios; em 1944 foi reescrito e revisado
em mais 324 folhas avulsas de papel colorido, quando, já com quinze anos, esta menina
veio a ser presa, deportada e morta num campo de concentração em Bergen-Belsen.
Três anos depois este diário foi publicado como uma narrativa do Holocausto.

O diário, a princípio um feliz presente para alguém que desejava dar vazão às suas
proclividades literárias, tornou-se um dos livros mais vendidos no mundo, um emblema
da história moderna e um testemunho ocular de uma época de terror. Nada disso por

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acaso, afinal foram o desejoso ardoroso e a paixão criativa desta menina chamada
Anne Frank, de ser reconhecida como uma escritora e de querer até mesmo sobreviver
de alguma forma à morte, que a fizeram transformar um simples relato de seu
trancafiado cotidiano em um romance histórico intitulado de “O Anexo Secreto”. Em
“Anne Frank – A História do Diário que Comoveu o Mundo” (292 páginas, Editora Zahar,
tradução de Maria Luiza X. de A. Borges), Francine Prose, uma das maiores críticas,
ensaístas e ficcionistas americanas atuais, ex-professora em grandes universidades
como Harvard e Columbia, fez um laborioso estudo sobre o famoso diário,
mergulhando profundamente na vida de Anne e analisando seu registro não apenas
como histórico, mas também artístico, encarando-o como verdadeira obra de arte.

Prose, além de fazer o leitor conviver com Anne Frank em seus últimos anos, mostra
como a menina de temperamento difícil e humor instável sofria em seu processo
criativo, escrevendo fervorosamente semanas antes de ser presa com outros sete
judeus, criando rascunhos e editando continuamente seu trabalho literário; como ela se
transformou de criança em adolescente e em escritora decidida pelo jornalismo; como
sua letra sofreu mudanças enquanto esteve reclusa no anexo secreto do número 263 da
Prisengracht, Amsterdam, por 25 meses; além de, é claro, como e porque o diário foi e
ainda é tão superestimado, sendo publicado em todos os continentes, adaptado de
forma discutível para o teatro e para o cinema, estudado em escolas, destrinchado por
admiradores e ferozmente criticado por quem vê em Anne uma garota banal
eternizada tão somente por sua trágica morte.

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O livro, a vida e a sobrevida


O subtítulo original, “The Book, the Life, the Afterlife”, ou “O Livro, a Vida, a
Sobrevida”, refere-se ao irretocável e bem estruturado esquema de organização que
Francine Prose fez no livro, dividindo-o nestas três partes e numa quarta intitulada
“Anne Frank nas escolas”. Foi por meio desta divisão que a autora produziu uma espécie
de biografia crítica da vida de Anne, colocando-a como narradora de seu presente e
causadora indireta de um futuro do qual não fez parte, mas que pulsa o peso de seu
nome, de sua obra e história, após mais de meio século.

Leia mais sobre Anne Frank aqui

“A vida”, parte que abre o ensaio biográfico, recupera muito das lembranças e das
informações que grande parte dos leitores do diário tem da família Frank e dos que
com ela dividiram o anexo. Prose começa a pequena — embora rica — biografia
mostrando a necessidade que Anne tinha de um diário bem-feito para o caso,
consciente ou inconsciente, de alguém o ler. Ela aponta que um dos maiores problemas
que os escritores enfrentam é a questão dos antecedentes, ou seja, o quanto é preciso

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contar para que o leitor compreenda o que está sendo transmitido. Essa necessidade de
fazer um resumo da própria vida e da vida de sua família num diário pessoal revela a
veia literária de Anne, colocando seu caderno axadrezado de capa dura num outro
patamar que nada tem de pessoal ou privado, mas de romanesco, criativo e genial;
revela a vontade de uma aspirante à escritora de ser lida, embora negasse a princípio,
uma vez que o primeiro passo da adolescência é comumente o passo do orgulho.
Excetuando o próprio resumo de Anne no diário, temos mais informações da vida dos
Frank, desde sua mudança de Frankfurt para Amsterdam, na Holanda, em 1933,
quando as tropas de assalto nazistas começaram a boicotar o comércio judaico, até sua
deportação de Westerbork para a morte em Bergen-Belsen. Com o estabelecimento de
uma filial que fornecia pectina, a Opekta, os Frank foram mudando aos poucos:
primeiro Otto, pai de Anne, depois sua mulher Edith, em seguida Margot, irmã mais
velha, e finalmente, em 1934, a própria Anne se juntou à família em sua casa na
Merwedeplein 37, endereço anterior ao anexo. Prose passa pela infância de uma Anne
rabugenta, temperamental, ora sociável, ora tímida, que desencaixava o cotovelo para
chamar a atenção dos amigos, que aprendeu a nova língua muito mais rápido do que a
mãe (com quem tinha uma tensa relação), e que aos poucos foi criando seu caráter de
liderança, decisivo, até mudar-se, em 1942, quase dois anos após a invasão da
Alemanha, para o anexo secreto onde então estava instalada a Opekta, e de onde
escreveria sua última versão do diário nos poucos meses de vida que lhe restavam.

Dividida em três subpartes, a segunda parte intitulada “O livro” mostra ao leitor o olhar
atento de Francine como crítica literária. Aqui temos o diário destrinchado em sua
versão “a”, os primeiros rascunhos com algumas entradas em formato epistolar para
amigas — algumas reais, outras imaginárias —, sempre numa espécie de conversa com
Kitty, o fantasma da comunicação, para a qual Anne se volta como se fosse uma leitora
vivendo dentro do diário. Também a versão “b”, fruto do desejo e de uma oportunidade
de Anne de transformar o diário num registro histórico publicado, quando em março de
1944, ela e os outros moradores do anexo ouviram o discurso radiofônico de Gerrit
Bolkestein, ministro da Educação, Arte e Ciência do governo holandês (no exílio),
reivindicar o estabelecimento de um arquivo nacional para proteger os “documentos
comuns” escritos por cidadãos holandeses durante a guerra, como diários, cartas e
sermões. Inspirada pelas palavras do ministro de que aqueles documentos “ajudariam
gerações futuras a compreender o que o povo da Holanda havia sofrido e superado”,
Anne Frank se debruçou na nova versão do diário, melhorando o estilo literário da
narrativa, acrescentando fatos, dramatizando outros, excluindo outros mais.
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Finalmente Prose acrescenta outra comparação citando a versão “c”, ou seja, aquela
versão do diário criada por Otto Frank para futura publicação, em que ele suprimiu o
que pudesse afetar a imagem da filha, assim como a de sua própria e de seu
casamento, que sob os olhos de Anne era frio e não tinha qualquer romance. Otto
também cortou partes em que Anne se mostra mais ácida e má, quando critica os
vizinhos ou sente vontade de esbofetear a mãe, assim como aquelas em que se revela
curiosa sobre o sexo, o próprio corpo e em especial sobre a genitália feminina,
descrevendo-a como um “buraquinho tão pequeno que mal consigo imaginar como a
coisa de um homem poderia entrar ali, e muito menos como um bebê pode sair”.
Francine não fica somente nas versões, mas compara (como faz a edição crítica do
diário), desde a primeira até a definitiva, lançada somente em 1995 com cinco páginas
a mais, o quanto de preocupação estilística havia no projeto de Anne. Seus
“personagens” ganharam melhor forma, diálogos mais refinados, os cenários bem
detalhados levam o leitor ao anexo, e toda dramatização, suspense ou intriga enriquece
o caráter literário do diário. Além das comparações e da observação do
amadurecimento de Anne como escritora, a autora passa outra vez para a história dos
cadernos e das folhas, guardados por mais de um ano antes de serem lidos por Otto,
quando sua criadora já estava morta.

Antes da quarta parte, “Anne Frank nas escolas”, um rápido olhar sobre o diário
ensinado em algumas instituições, proibido em outras, contextualizando seu sentido
histórico, o antissemitismo, discutindo genocídios e a condição humana daquela época,
“A sobrevida”, terceira parte do livro, é a mais curiosa. Nela, Francine discorre sobre o
problemático, emblemático, melodramático e célebre momento de Anne pós-morte,
desde a casa em que ficou escondida transformada num museu visitado por milhões de
pessoas até hoje, passando pela produção do diário na Broadway, cujas alterações no
roteiro foram tantas e tão amargas quanto as pessoas nele envolvidas, algumas
chegando à loucura, até a adaptação cinematográfica dirigida por George Stevens,
indicada a oito Oscar. Em seguida surgem as muitas teorias que negam tanto a
originalidade do diário, analisado por especialistas forenses em caligrafia e que mais
tarde provaram ser verdadeiro, quanto as que negam a existência do próprio
Holocausto.

Mais do que uma biografia crítica da obra e da pós-vida de uma menina que escreveu
um diário inspirando muitos jovens, “Anne Frank — A História do Diário que Comoveu o

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Mundo” é o exemplo estudado e muito bem analisado de uma escritora sobre outra, de
que o passado continua presente através da linguagem e da criação artística
documental; uma brilhante peça que também pode ser tanto luz nas sombras deixadas
por quem leu o diário, como faísca para quem não o leu e deseja descobrir, a título de
curiosidade, interesse ou conhecimento, o calor que dela se desprende.

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