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Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Presidente Ministro Ricardo Lewandowski
Corregedor Nacional de Justiça Ministra Nancy Andrighi
Conselheiros Ministro Lelio Bentes Corrêa
Ana Maria Duarte Amarante Brito
Flavio Portinho Sirangelo
Deborah Ciocci
Saulo José Casali Bahia
Rubens Curado Silveira
Luiza Cristina Fonseca Frischeisen
Gilberto Valente Martins
Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira
Gisela Gondin Ramos
Emmanoel Campelo de Souza Pereira
Fabiano Augusto Martins Silveira
EXPEDIENTE
Secretaria de Comunicação Social
Secretária de Comunicação Social Giselly Siqueira
Projeto gráfico Eron Castro
Revisão Carmem Menezes
2015
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
Seja bem‑vindo(a)!
Esta coletânea Dicas de Português nasceu a partir do material publi‑
cado pela Comunicação Interna do Conselho Nacional de Justiça na
intranet e está agora disponível para você!
Aqui, você encontrará dicas reunidas em cinco livretos temáticos –
Morfologia e Fonologia; Sintaxe; Redação Oficial; Produção de Texto e
Variados – lançados como parte das celebrações dos 10 anos do CNJ.
O foco é língua portuguesa padrão, apresentada segundo a teoria
gramatical e acompanhada de prática em exercícios.
Este material foi uma ideia concebida pela Secretaria de Comunica‑
ção Social em 2010 para o aprimoramento linguístico dos servidores
e colaboradores. De lá pra cá, revisoras de texto abraçaram a causa,
que, atualmente, possui espaço específico na intranet, além de ser
enviada por e‑mail semanalmente a todos do CNJ!
Assim como o CNJ aproxima a Justiça do cidadão, esperamos que
você se regale com nossos livretos e que eles aproximem você da
língua portuguesa padrão!
Rejane Rodrigues
Chefe de Seção de Comunicação Institucional
Giselly Siqueira
Secretária de Comunicação Social
Sumário
Variedade de plural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Especialidades de particípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Regras básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Hibridismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Acentuação e Assimilação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
A substância do substantivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
A língua do Nhem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Artigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Pronomes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Pronome relativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Pronomes interrogativos e indefinidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Conjugar um verbo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Gerúndio e particípio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Advérbio ............................................................................................ 37
Advérbio ............................................................................................ 38
Preposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Uso de conjunções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Os palhaços Os palhaços
apresentam‑se
sempre com seus
apresentam‑se
sempre com seu
Como usar o
narizes pintados. nariz pintado. pronome “todo”
O pronome “todo” é cheio de lero. Ora vem
Os nadadores Os nadadores
tinham os seus tinham o seu no singular, ora no plural. Ora acompanha
corpos inteiramente corpo inteiramente substantivo com artigo, ora sem artigo. Em
mergulhados. mergulhado. cada frase, o recado é diferente.
No singular, com substantivo sem artigo,
Todos estão com as Todos estão com a
“todo” significa “cada, qualquer”:
barrigas vazias. barriga vazia.
»» Todo (qualquer) homem é mortal.
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dade das pessoas e dos representantes de »» Os verbos não aceitam voz passiva
determinada categoria, grupo ou espécie: (ex.: bebeu‑se da água);
»» O Brasil quer todas as crianças (a tota‑ »» Verbos transitivos indiretos (ex.: pre‑
lidade delas) na escola. cisa‑se de moças);
»» No Recife, todos os alunos foram »» Verbos de ligação com predicativo do
matriculados. sujeito (ex.: aqui se é feliz);
»» Todos os brasileiros com mais de 18 »» Verbos intransitivos sem sujeito (ex.:
anos e menos de 70 são obrigados a morre‑se de amores);
votar.
»» Verbos transitivos diretos com o ele‑
»» Vejo o Fantástico todos os domingos. mento paciente preposicionado (ex.:
amar a Deus).
»» Trabalho todos os dias da semana.
E, atenção! Mais um pleonasmo: Todos Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
foram unânimes. Unânime é relativo a
todos.
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
pegou, mas o ideal é que se use preferen‑ Os prefixos são partículas formadoras de
cialmente “pegado”, sem medo de que adjetivos e modificadoras de verbos. O
esteja falando errado. estudo exige profunda análise.
Fonte: ACADEMIA Brasileira de Letras. Dicionário escolar da língua Fonte: ALI, M. Said. Gramática histórica da língua portuguesa. 8. ed.
portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 2008. rev. e atual. por Mário Eduardo Viaro. São Paulo: Melhoramentos, 2001.
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Regras básicas a) Quando os elementos já existirem,
isoladamente, e foram de largo uso no
Orto – regrinhas básicas vernáculo: alcoômetro (árabe e grego),
mineralogia (latim e grego), polivalente
Assim como na nossa vida há regras para
(grego e latim);
tudo, no idioma não pode ser diferente.
Quando se trata de ortografia, para a par‑ b) Quando um dos elementos, por ser
tição de palavras no fim da linha devem ser muito usado em outros compostos,
respeitadas algumas normas. tiver perdido o caráter estrangeiro:
sociologia (latim e grego), colorímetro
Não se separam:
(latim e grego), pluviômetro (latim e
»» ditongos e tritongos, além dos grupos grego), televisão (grego e português);
“ia, ie, io, ao, ua, eu, uo”, que, formando
c) Quando um dos elementos não puder
átonos finais, soam normalmente
de forma nenhuma ser trocado por ter
numa sílaba (ditongo crescente),
sentido especial: burocracia (já chegou
mas podem ser pronunciados em
à língua portuguesa formado do fran‑
duas (hiato). Ex.: a‑guen‑tar/ Má‑rio/
cês: bureau, escritório, em francês, e
com‑tí‑guo;
cracia, governo, em grego); e
»» encontros consonantais que iniciam
d) Quando de todo consagrada: centíme‑
sílaba e os dígrafos “ch, lh e nh”. Ex.:
tro (latim e grego).
pneu‑má‑ti‑co/ a‑bro‑lhos/ Ra‑char/
mne‑mô‑nico. ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica de língua
portuguesa. 44. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p.403‑4.
Mas isso não é só. As regrinhas continuam.
Algumas curiosidades
sobre os sufixos
Hibridismo
Na derivação sufixal, como na derivação
Quando os elementos de um composto prefixal, também não é fácil determinar a
proveem de idiomas diferentes, a palavra linha tênue que a separa do processo de
se diz híbrida, como automóvel (do grego, composição.
autos, do latim, móbile). O hibridismo deve
Imaginem vocês o que promovem esses
ser evitado sempre que possível.
sufixos a respeito de uma propaganda de
Só é aceitável uma palavra híbrida: linha de TVs:
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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Experiente pronunciar as vogais na quais há variação de pronúncia segundo
seguinte ordem: a, é, ê, i; e também a, ó, a variante regional. Assim, todos nós que
ô, u. Viu como a boca vai se fechando? Viu já ouvimos um pernambucano e um pau‑
como o som sai dos lábios e vai lá para o lista, por exemplo, falar, logo percebemos
fundo da boca? que a pronúncia de palavras como “leite”
é diferente. Também há neste país pelo
Sob o olhar da fonologia, há cinco vogais
menos umas três formas diferentes de se
tônicas nasais e três vogais átonas orais.
pronunciar o erre. Aqui em Brasília, o erre
Isso resolve aquele velho problema que
de grande parte da população identificada
começa também na alfabetização: por que
por nós como sem sotaque é o mais neutro
a gente escreve “menino” e fala /mininu/?
para nossos ouvidos acostumados a tanta
Porque no nosso português brasileiro só há
variação regional. Importante: não há pro‑
/a/, /i/ e /u/ átonos no final das palavras...
núncia certa ou errada quando se trata de
Se quiser saber muito mais, com um dos variação, OK?
maiores linguistas brasileiros, leia aqui.
Cada consoante tem uma classificação
Mais links interessantes para você: segundo critérios universais, como você
http://www.radames.manosso.nom.br/ pode ver aqui. São eles: ponto e modo de
gramatica/vogais.htm articulação e papel das cordas vocais. As
cordas vocais ficam no nosso pescoço.
http://cvc.instituto‑camoes.pt/cpp/aces‑ Ponha seus dedos da mão sobre o “gogó”,
sibilidade/capitulo3_2.html a parte móvel na frente do pescoço, e pro‑
http://www.sk.com.br/sk‑voga.html nuncie as consoantes, sem as vogais, como
você aprendeu no link acima. Você vai
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_
perceber que, às vezes, há vibração (“tre‑
fon%C3%A9tico_internacional
medeira”) dessa região e, às vezes, não. Da
Uma ótima semana! próxima vez que você quiser ensinar uma
brincadeira divertida para uma criança,
fale com ela enquanto dá repetida batidas
de leve com a mão nessa região do pescoço.
As dezenove Ela vai gostar!
consoantes da língua O problema dos fonemas consonantais
portuguesa existe só na grafia, quando, para alguns
deles, não há correspondência biunívoca.
Sob o ponto de vista da fonologia, nos‑ Assim, o fonema /s/ pode ser grafado s,
sas consoantes são 19, em algumas das ss, sc, c, ç...; o fonema /z/ pode ser gra‑
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
fado z, x, s. Por isso, você e eu podemos uma sílaba, que deveria ser acentuada.
ter dúvida de como as palavras são Mas não é. O acento gráfico não ocorre
escritas quando esses fonemas estão nesta palavra porque a nasalidade da
presentes... sílaba seguinte desfaz o possível ditongo,
inexistindo, na nossa língua, ditongo
As mães, normalmente, reclamam
seguido de consoante nasal. A força na
que seus bebês falam “papai” antes de
nasalidade separa o ditongo e exige o
“mamãe”... A resposta está na fonologia! E
hiato. Como isso sempre vai acontecer
se você quiser saber o que é variante regio‑
nesse contexto, não há o acento agudo.
nal, correspondência biunívoca, outras
Quer saber mais? Há dois textos sobre
relações grafema/fonema, escreva‑nos isso: um aqui e outro, em resposta ao pri‑
também! meiro, aqui.
Sabia que fonologia serve para música? Há outra mudança na grafia bem inte‑
Veja que interessante aqui. ressante explicada pela fonologia. As
Semana que vem: por que “rainha” não tem formas verbais terminadas em “r”, ao
acento, se há hiato? se juntarem aos pronomes átonos “o,
a, os, as”, perdem o erre final, ganham
Até mais!
acento agudo e o pronome ganha um “l”.
Assim, cantar + o = cantá‑lo. E por quê?
Porque /l/ e /r/ são fonemas muito pró‑
Acentuação e ximos. Ambos são sonoros e alveolares e
Assimilação só há uma única diferença entre eles: /l/
é lateral e /r/ é vibrante. Portanto, ao se
Com base também na fonologia, algumas juntar o pronome ao verbo, recupera‑se
palavras da língua portuguesa recebem a forma arcaica do pronome que faz o
acento gráfico. As regras de acentuação /r/ desaparecer, justamente por causa
são propostas com o objetivo de indicar da semelhança que há entre esses dois
e marcar a pronúncia mais rara. Assim, fonemas. A esse processo dá‑se o nome
como normalmente duas vogais contíguas de assimilação.
formam ditongo, quando há hiato haveria Mais:
acento. Então, escrevemos: saída, Peruíbe,
»» sobre ditongos;
baú, saúda. Mas, e rainha?
»» sobre ortografia.
A separação de sílaba desta palavra é
ra‑i‑nha. Então, há uma vogal sozinha em Uma boa semana de trabalho!
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A substância do agulha, linha, camisa, calça, ferro de passar.
Janta, marido, filhos, sala, televisão, família
substantivo reunida, dinheiro, discussão, cozinha, mesa,
louça, pia, armário. Filhos, sono, escova,
Substantivo é a palavra com que desig‑ creme dental, cama, beijo, durmam com os
namos ou nomeamos os seres em geral. anjos. Portas chaveadas, janelas fechadas,
Classifica‑se como concreto e abstrato, banho, sabonete, água, toalha, creme no
próprio e comum e coletivo. Flexiona‑se corpo, camisola, renda, escova, cabelo, per‑
em número e gênero, que se subdivide em fume, dentes limpos, cama, marido, sexo,
sono, boa‑noite, Lua. (www.pucrs.br/gpt/
epiceno, sobrecomum e comum de dois
substantivos.php)
gêneros. Na sintaxe, emprega‑se como
sujeito, predicativo, objeto, complemento, Deu para imaginar a cena?
adjunto adnominal, agente da passiva, Destaque para a flexão de gênero, aquela
aposto e vocativo. em que o substantivo masculino não é
Ufa! Ele é tudo isso. Por isso causa tanta marcado e o feminino o é. Então, menino/
preocupação nos falantes de uma língua. menina. E também homem/mulher,
Ele é tanta substância que há um texto bode/cabra. Mas há os substantivos epi‑
chamado “Dona de Casa”, de Carine Vergas, cenos, em que o gênero gramatical é só
escrito só com substantivos: um, para marcar um e outro sexo, como
a mosca, a cobra. Diz a gramática que
Sol. Bom‑dia, dentes, filhos, uniforme,
“Quando há necessidade de especificar o
merenda, café, carro, escola, carro, super‑
mercado, carne, pão, banana, refrigerante, sexo do animal, juntam‑se as palavras
alface, cebola, tomate. Carro, casa, cama, macho e fêmea”.
lençol, travesseiro, colcha, roupa, lavande‑
Você já se perguntou o porquê dessas dife‑
ria, máquina, sabão, sala, almofada, pano,
renças na marcação morfológica do gênero
pó, cortina, tapete, feiticeira. Banheiro,
descarga, balde, água, desinfetante, toalha dos substantivos? Fique sabendo: a língua
molhada, lavanderia, arame, prendedor. é um bem cultural de um povo e registra,
Cozinha, pia, tábua, faca, panela, fogão, nas palavras, o que é importante para ela
bife, arroz, molho, feijão, salada, mesa, toa‑ e diferencia com muita clareza a impor‑
lha, pratos, talheres, copos, guardanapos, tância das coisas do mundo. Assim, subs‑
carro, escola, filhos, carro, almoço, mesa, tantivos como menino/menina nomeiam
pia, louça, armário, fogão, piso. Televisão,
seres que precisam ser discriminados,
jornal, filhos, tema, lanche, leite, nescau,
mas, em muitos contextos, tanto faz. A
pão, margarina, banana, louça, pia, armário.
Carro, filhos, natação, futebol, mensalidade, prova é que existe a palavra “criança”,
espera, revista, filhos, carro, casa. Vizinha, substantivo sobrecomum. Quando o
conversa rápida, lavanderia, arame, roupas, masculino e o feminino são formados por
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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hífen, no primeiro e‑mail enviado para um Assim, “buquê” ou “ramalhete” sempre são
colega do CNJ e faça isso sempre de agora de FLORES; “cardume” sempre é formado
em diante! Ou “boa‑tarde”, ou “boa‑noite”. por PEIXES; “caravana” sempre é de PES‑
Quer saber o motivo? Atenção: mesmo que SOAS QUE VIAJAM; “alcateia” é de LOBOS;
a internet e o Google digam o contrário, e “matilha” é de CÃES.
vale o que está no dicionário impresso da Por fim, uma das palavras mais faladas
língua, como o Houaiss, e, principalmente, escritas da imprensa das últimas semanas:
no Vocabulário Ortográfico da Língua Por‑ “conclave”. Diz a Gramática Metódica da
tuguesa (VOLP). Língua Portuguesa, na p. 88, que o coletivo
Uma ótima semana! de cardeais reunidos para a eleição de um
novo papa é um “conclave”. Assim, o trecho
“conclave para eleger novo papa”, lido em
um portal de notícias hoje, é pleonástico,
Coletivos e pleonasmos porque repete ideias.
Aqui você encontra uma lista de substan‑
Nesta semana, no âmbito da classe de
tivos com os respectivos coletivos.
palavras Substantivo, o assunto é coletivo.
Uma semana rica para você!
Coletivo é um tipo de substantivo comum
que, embora empregado no singular,
refere‑se a mais de um indivíduo. Assim,
em um “bando” sempre haverá mais
de uma pessoa ou de um animal, assim
A língua do Nhem
como “mobília” faz referência ao conjunto Nesta semana, enfocamos alguns detalhes
de móveis de uma habitação. Então, é bom desta classe de palavra tão pequenininha,
ter atenção com a concordância verbal mas que pode dar um trabalhão.
quando houver um coletivo como núcleo
Uma característica ímpar dos artigos é a
do sujeito: a concordância é sintática (sin‑
determinação. Muito diferente é alguém
gular), nunca com a ideia (plural).
dizer que “encontrou uma menina” ou
Outro cuidado importante quando se trata “encontrou a menina”. Também é incrível
de coletivo é com o pleonasmo. Pleonasmo a capacidade de uma palavra tão exígua
é a superabundância de palavras para transformar no importante substantivo
enunciar uma ideia. Os clássicos exem‑ qualquer palavra ou expressão que lhe
plos são “subir para cima” ou “entrar para subsiga: um amanhecer, o sim, o quê. Arti‑
dentro” em que três palavras significam o gos também marcam o gênero e o número
mesmo que apenas “subir” ou “entrar”. dos substantivos.
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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variações “uma, uns, umas”) que se ante‑ Que esta coluna não
põem aos substantivos para indicar que
se trata de um ser já conhecido ao qual seja paupérrima
já se fez menção anterior ou de um sim‑
Adjetivo é, essencialmente, um modifica‑
ples representante de uma dada espécie
dor do substantivo, caracterizando os seres
ao qual não se fez menção anterior. No
e indicando‑lhes qualidade, modo de ser,
primeiro caso, trata‑se de artigo definido
aspecto ou estado; ou também estabele‑
e, no segundo, de artigo indefinido.
cendo com o substantivo relação de tempo,
Esta é uma classe de palavras com número espaço, matéria, finalidade etc.
determinado e imutável de elementos: ape‑
Adjetivo pode ser substantivado (se a ele se
nas oito, dos quais quatro dão mais traba‑
antepor um artigo) ou funcionar ora como
lho aos usuários da língua portuguesa,
substantivo, ora como adjetivo.
porque apresentam exatamente a mesma
forma de membros de outras classes de Há adjetivos pátrios como “brasileiro”,
palavra. Assim, “o/a” são artigos e prono‑ “espírito‑santense”, “fluminense” e, tam‑
mes e apenas o contexto é que determina a bém, “nipo‑brasileiro”, “teuto‑brasileiro”,
classe de palavra a que pertencem. No caso “sino‑japonês”.
do “a”, também há coincidência com a pre‑
Adjetivos, como os substantivos, flexio‑
posição. Dessa economia linguística grafa
nam‑se em número e gênero e têm deri‑
“a” advém fenômeno fonológico muito inte‑
vação em grau, na qual encontramos,
ressante a que fizemos referência semana
além dos adjetivos que abrem esta coluna,
passada: crase, marcada na fusão da prepo‑
outras palavras ímpares como “sapientís‑
sição com o artigo pelo acento grave.
simo”, “crudelíssimo”, “nigérrimo” ou “libér‑
Outra característica interessante dos arti‑ rimo”. Por que esses superlativos não se
gos definidos é a propriedade de se combi‑ parecem com o adjetivo‑base “sábio”,
nar com proposições e dar origem a formas “cruel”, “negro” ou “livre”, respectivamente?
gráficas bem diferentes do original. Assim,
em + o = no, per + o = pelo. Para terminar, Caetano Veloso e Maria
Bethânia catam trecho do poema Navio
Preposição “per”? É uma forma antiga, que Negreiro, de Castro Alves, em que se ouve
se perdeu e deixou espaço vago para a con‑ “musa libérrima, audaz”, prova de que
corrente preposição “por”. superlativos, então e agora, fazem parte
Dúvidas? Perguntas? Pode falar em dicas‑ da nossa língua e podem ser usados. Cor‑
deportugues@cnj.jus.br. retamente, claro.
Uma boa semana para você! Uma semana ilustrada!
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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»» “Isso”: refere‑se a algo não determi‑ »» A pessoa com quem se fala: “tu” (no
nado, que está próximo à outra pes‑ singular) e “vós” (no plural);
soa com que a pessoa que disse a frase »» A pessoa/a coisa de que se fala: “ele/
está falando; ela” (singular) e “eles/elas” (plural).
»» “meu”: indica a relação de posse que Lindo, não?
há entre o objeto não determinado e a
pessoa que está falando; Na prática diária da língua portuguesa
do Brasil, os pronomes pessoais são um
»» “o”: indica que o objeto não determi‑ pouco diferentes... “Tu” e “vós” só existem
nado que será entregue à pessoa que com frequência em algumas traduções
está falando é o mesmo a que se referiu; da Bíblia, e surge um pronome de trata‑
»» “mim”: indica que a pessoa que rece‑ mento – “você” – para ocupar o espaço dei‑
berá o objeto não determinado é a xado pelos dois pronomes desaparecidos.
mesma que está falando. Assim, a sequência de pronomes seria:
“eu, você, ele/ela, a gente, vocês, eles/elas”.
Assim, se X estiver falando com Y sobre W, Ainda há a inclusão da locução “a gente”
a frase poderia ser reescrita da seguinte no lugar do pronome “nós”. Essa modifi‑
forma: W é de X; Y entregue W a X. Essas cação dos pronomes retos, com a inclusão
incógnitas são totalmente relacionadas ao de outras palavras, tem várias implicações
momento da enunciação e aos atores do na conjugação verbal, por exemplo... mas
discurso em um instante T. Se T mudar, X, essa é outra história. Essa simplificação
Y, W também podem se modificar. vale só para a fala e não para ser usada
por você na sua dissertação de concurso
Muito bom, não?
público, certo?
Uma semana hercúlea!
Importante saber que há três tipos de pro‑
nome, sempre relacionados às pessoas do
discurso:
Eu, tu, ele, nós, vós, eles »» reto: “eu; tu; ele/ela; nós; vós; eles/
elas”. São os que ocupam a função
Além de serem dêiticos, os pronomes sintática de sujeito na oração; nunca
em geral, e especialmente os pessoais, podem ocupar o espaço de comple‑
fazem referência às pessoas do discurso, mento do verbo.
que são três:
»» oblíquo átono: “me; te; o/a, lhe; nos;
»» A pessoa que fala: “eu” (no singular) e vos; os/as, lhes”. São os que ocupam
“nós” (no plural); (ou deveriam ocupar) a função sintá‑
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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E com locução verbal? Para verbo + infi‑ número de pessoas representadas no pos‑
nitivo ou verbo + gerúndio, use ênclise suidor. São eles:
ao infinitivo. Se for verbo + particípio, use
»» 1ª pessoa do singular: meu(s),
ênclise ao verbo.
minha(s);
Ok. Mas essa é a verdade verdadeira?
»» 2ª pessoa do singular: teu(s), tua(s);
É a verdade da gramática normativa tra‑
»» 3ª pessoa do singular: seu(s), sua(s);
dicional que rege os textos escritos for‑
mais em língua portuguesa. Verdade que »» 1ª pessoa do plural: nosso(s), nossa(s);
vale para a comunicação oficial do CNJ, os »» 2ª pessoa do plural: vosso(s), vossa(s);
relatórios e processos internos e externos e,
também, textos acadêmicos e de processos »» 3ª pessoa do plural: seu(s), sua(s).
seletivos. Fora desses contextos, a história Importa destacar aqui mais uma conse‑
é bem diferente, tanto na fala quanto na quência da inclusão do pronome de tra‑
escrita, porque, neste nosso país, os prono‑ tamento “você” no rol dos pronomes pes‑
mes átonos estão ficando tônicos... soais retos: a ambiguidade do “seu”. Veja
Uma semana bem colocada! os exemplos: “Ana comprou a sua camisa”,
em que o pronome pode referir‑se a “Ana”
ou “camisa”. Já em “Você comprou a sua
mesa?”, “Você” e “sua” têm o mesmo refe‑
O meu é este; o seu é rente. Para resolver essa ambiguidade,
o falante pode lançar mão de “dele(s)/
esse; o dele é aquele dela(s)”.
Nesta semana, vamos enfocar duas outras Quanto ao valor, segundo Cunha e Cintra,
categorias de pronomes: os possessivos e os possessivos podem acentuar um senti‑
os demonstrativos. mento: a) de deferência, respeito, polidez;
b) de intimidade, amizade; c) de ironia,
Os pronomes possessivos estabelecem
malícia, sarcasmo.
relação de posse entre as pessoas do
discurso e um objeto qualquer. Ocorrem Já os pronomes demonstrativos situam
com ou sem artigo à esquerda (“o meu/ a pessoa ou a coisa designada, tanto no
meu”) sem haver nisso valor linguístico, espaço quanto no tempo, em relação às
mas apenas regional. Também são rela‑ pessoas do discurso. Essa função, bem
cionados às pessoas do discurso e com característica dessa categoria de prono‑
elas devem combinar‑se tanto em gênero mes, é a velha e boa função dêitica. Além
e número da coisa possuída quanto em dessa função, os demonstrativos também
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
25
corretamente em referência a lugar Pronomes
em que se pode entrar e de que se
possa sair. Nos seus textos, sempre
interrogativos e
que aparecer o “onde” verifique se a indefinidos
referência dele é lugar. Você pode se
São os pronomes interrogativos e indefini‑
surpreender.
dos, nosso assunto desta semana.
O terceiro pronome relativo invariável
São quatro os pronomes interrogativos:
“que” é daquelas palavras coringas na
“que, quem, qual, quanto”, sempre pre‑
nossa língua, porque não tem restrição de
sentes apenas na formulação de pergun‑
uso e, na sintaxe, desempenha várias fun‑ tas diretas ou indiretas, como, por exemplo,
ções. Além disso, ocorre em orações adjeti‑ “Diga‑me que trabalho está fazendo” ou
vas, tanto restritivas (sem vírgula) quanto “Qual dos livros preferes?”. Você saberia
explicativas (com vírgula), qualificando dizer quais deles são variáveis e quais são
algum substantivo. A ideia de restrição invariáveis?
ou de explicação é reconhecida segundo
São 51 os pronomes indefinidos e sem‑
a semântica do texto em si ou até mesmo
pre se aplicam à terceira pessoa grama‑
por informações fora do texto, sendo capaz
tical, quando considerada de modo vago
de mudar significados.
e indeterminado. E ainda há as locuções
Uma última lembrança: preposições que pronominais indefinidas, como “cada um,
precedem pronomes relativos podem com seja quem for”, entre outras. Destaque para
eles se fundir, ou não. Assim: algumas características de alguns desses
pronomes:
»» “O lugar aonde fui é incrível.”, em que
a preposição “a” regida pelo verbo »» “alguém, ninguém, outrem, algo e
“ir” funde‑se com o pronome relativo nada” só ocorrem como pronomes
“onde”. substantivos, ou seja, são núcleo.
»» “Esse assunto de que tratei é funda‑ »» “certo” só ocorre como pronome adje‑
mental.”, em que a preposição “de” tivo, ou seja, sempre acompanha um
regida pelo verbo “tratar” marca que substantivo e não é o núcleo.
o pronome relativo é objeto indi‑ Há algumas oposições bastante nítidas
reto desse verbo e o antecedente é entre esses pronomes:
“assunto”.
»» “algum / alguém / algo”: apresenta
Uma semana excelente! caráter afirmativo.
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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número que está à esquerda da vírgula: 1,3 Quando tempo, modo
bilhão, 2,9 milhões. Tanto faz usar “catorze”
ou “quatorze”.
e aspecto se juntam
Todos os ordinais variam em gênero e
à língua
número. A forma latina “primo” con‑ O estudo da língua portuguesa é interes‑
serva‑se, hodiernamente, em palavras sante, porque sempre há uma novidade
como “obra‑prima” ou expressões como que deixa tudo mais surpreendente. A
“números primos”. Os ordinais são usados classe de palavras que nos vai acompanhar
na designação de papas, soberanos, sécu‑ por quatro semanas – verbos – traz mar‑
los e partes de obra até o décimo apenas; cas morfológicas e semânticas exclusivas
depois, são os cardinais, como, por exem‑ muito, muito motivadoras.
plo: “Dom Pedro I” (primeiro), “João Paulo II”
Tradicionalmente, verbos são definidos
(segundo), “século III” (terceiro), “Bento XVI”
como palavras que indicam ação. Ok,
(dezesseis). Em artigos de leis, decretos e
mas... qual é a ação que há em “ser”? ou em
portarias, deve‑se usar o ordinal até o nono
“parar”? Então, definamos verbo não como
apenas: “art. 1º”, “artigo 9º”, “artigo 10”.
a gramática tradicional escolar o faz, mas,
Os numerais multiplicativos são invariá‑ sim, como uma palavra que exprime algo
veis quando equivalerem a substantivos localizado no tempo e que é, preferencial‑
ou flexionam‑se quando funcionam como mente, o núcleo do predicado.
adjetivos.
A classe de palavra dos verbos é for‑
Quanto aos fracionários, importante des‑ mada por incontáveis palavras. Não dá
tacar que “meio” concorda com o seu refe‑ para saber quantas há, porque todos os
rente, por exemplo: “três quilos e meio de dias novos verbos são criados em língua
carne” ou “três léguas e meia”. Portanto, portuguesa e outros deixam de ser usa‑
é correto apenas “meio‑dia e meia”, com dos, tendendo ao desaparecimento. Se
hífen e a elipse de “hora”. considerarmos a conjugação completa
de cada um desses verbos no infinitivo,
Por fim, lembramos que há algarismos
aí é que perdemos a conta mesmo. Sem
arábicos e romanos para representação de
dúvida, é a maior classe de palavras e
numerais. Você ainda lembra que número
divide com os substantivos o número
é XCIX? Ou ainda MCMLXXXVII? Quer
1 em importância linguística. Não há
aprender números em outras línguas?
mundo significado por uma língua sem
Veja aqui.
substantivo e sem verbo, mas há sem
Uma semana bem contada! numeral ou pronome.
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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modos, tempos, pessoas, números e vozes, Há também três formas nominais – infini‑
seguindo ordem predeterminada. tivo flexionado, gerúndio e particípio –, que
têm dupla existência na língua portuguesa
Há três modos em português: o indicativo
e apresentam características de verbos e
(aquele que indica certeza), o subjuntivo (o
também de nomes, o que é relevante, por
da dúvida) e o imperativo (o da ordem). Há exemplo, na colocação pronominal.
tanto mais nessa história que mais deta‑
lhes ficam para o futuro próximo nesta Por fim, há três tempos primitivos (dos
quais outros tempos são formados) e dez
coluna.
derivados. Cada tempo de cada modo tem
Há três tempos verbais: o presente (o uma desinência específica, segundo a
momento em que se fala), o pretérito, ou conjugação do verbo, conforme mostrado
passado (o momento anterior ao instante a seguir.
em que se fala) e o futuro (o momento pos‑ »» Tempo primitivo: presente do indica‑
terior ao instante em que se fala). À exce‑ tivo (sem desinência). Tempos deriva‑
ção do presente, os tempos se subdividem dos: presente do subjuntivo (‑e‑ e ‑a‑)
no indicativo em: e imperativo.
»» pretérito imperfeito, pretérito per‑ »» Tempo primitivo: pretérito perfeito
feito simples e composto e pretérito do indicativo (desinência apenas na
mais‑que‑perfeito simples e composto. 3ª pessoa do plural, ‑m). Tempos deri‑
vados: pretérito mais‑que‑perfeito do
»» futuro do presente simples e composto
indicativo (‑ra‑), pretérito imperfeito
e futuro do pretérito simples e com‑
do subjuntivo (‑sse‑) e futuro do sub‑
posto.
juntivo (‑r‑).
No subjuntivo, a divisão dos tempos ver‑ »» Tempo primitivo: infinitivo impessoal.
bais é a seguinte: Tempos derivados: pretérito imperfeito
»» pretérito imperfeito, pretérito perfeito do indicativo (desinências ‑va‑ ou ‑ia‑),
e pretérito mais‑que‑perfeito. futuro do presente do indicativo (‑rá‑),
futuro do pretérito do indicativo (‑ria),
»» futuro simples e composto. infinitivo pessoal, gerúndio (‑ndo) e
Só para lembrar: são três pessoas – pri‑ particípio (‑do).
meira, segunda e terceira (como os prono‑ Saber se um tempo é primitivo ou derivado
mes) e dois números – singular e plural. ajuda na conjugação dos verbos irregula‑
E são três conjugações – primeira (‑a‑), res e/ou defectivos. Mas ajuda mais ainda
segunda (‑e‑) e terceira (‑i‑). ter à disposição um dicionário eletrônico
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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casa quando o cachorro entrou todo Irregulares, defectivos
sujo.” absolutamente normal, você
é uma prova de que, atualmente, no
e abundantes
Brasil, só ocorre a versão composta Nesta semana, o foco volta‑se para os ver‑
desse tempo verbal. bos irregulares, os verbos defectivos e os
verbos abundantes.
»» A polidez do futuro do pretérito: ape‑
sar de muitos quererem atentar contra Verbos irregulares são aqueles que não
seguem o padrão já apresentado nas sema‑
o bom uso do português, ao solicitar
nas anteriores. Essa regularidade pode
algo, faça o certo e diga: “Você pode‑
estar tanto na flexão quanto no radical.
ria me ajudar?” ou “Eu gostaria de um
Para conseguir prever as regularidades,
cento de doces.”, mesmo que seu inter‑ é bom saber aquela história de tempos
locutor venha com gracinhas como primitivos e derivados, pelos quais a irre‑
“queria? não quer mais?”. gularidade transita. A irregularidade não
impede que haja formas perfeitamente
»» Uso do subjuntivo nas orações subor‑
regulares. Alguns exemplos de verbos
dinadas: o correto é “Você quer que
irregulares:
eu faça isso?” e “Embora eu tivesse
»» da primeira conjugação: dar, passear,
dinheiro, não comprei o carro.”, por
anunciar, miar etc.;
exemplo. As versões erradas desses
exemplos são muito frequentes no »» da segunda conjugação: haver, ser, ter,
nosso dia a dia, você não acha? caber, ler, dizer etc.;
»» da terceira conjugação: ir, ouvir, vir,
»» A perda das formas do futuro do pre‑
reduzir etc.
sente: como consequência de mudan‑
ças pelas quais nossa língua vem pas‑ Verbos defectivos, em sua maioria per‑
sando, as formas‑padrão desse tempo tencentes à 3ª conjugação, são aqueles
que não têm todas as pessoas ou todos os
vêm sendo perdidas, restando em seu
números de certo tempo verbal. Quando
lugar uma perífrase verbal com “ir”:
falta a primeira pessoa do presente do indi‑
“você vai me encontrar?” no lugar
cativo, por exemplo, todos os tempos deri‑
de “você me encontrará?”. Aqui não vados dele não existem. Alguns exemplos:
há valor, apenas indício de mudança “banir, falir, adequar, precaver‑se”.
linguística.
Verbos abundantes são aqueles que pos‑
Uma boa semana! suem duas ou mais formas equivalentes,
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
33
em uma frase com “Se você vier, para Saiamos um pouco da gramática tradicio‑
o que der e vier”, emprega‑se correta‑ nal que apresenta essa nomenclatura. Em
mente o verbo “vir”, assim como “Se outras línguas, como o inglês e o francês,
você a vir, avise‑me imediatamente” por exemplo, há um pronome neutro que
emprega corretamente o verbo “ver”. ocorre com esses verbos. Temos, então:
“Chove. It rains. Il pleut.” Uma teoria
5) Quando se tem de empregar o futuro
linguística chamada de gerativa diz que
do subjuntivo, a irregularidade salta
verbos de fenômenos da natureza, nas
aos olhos. Então, nada de “Se eu pôr”
línguas conhecidas, podem ter sujeito
ou “Quando ele trazer” ou ainda “Se
expresso e marcado (como em inglês,
eu fazer”. A forma correta de cada
com “it”, ou em francês, com “il”) ou terem
uma dessas orações é: “Se eu puser”,
uma marca nula (como o português) para
“Quando ele trouxer”, “Se eu fizer”.
a posição de sujeito – nada é falado, mas
Atenção: você deve ensinar seu filho
o espaço do sujeito está lá: tanto está
essas exceções. Ele nasce sabendo de
que o verbo aparece flexionado. Essa
várias coisas. Mas isso ele vai errar.
explicação provavelmente ajuda você a
Uma semana criativa! compreender um paradoxo da aula de
português escolar: se o sujeito é termo
essencial da oração, como pode haver ora‑
ção sem sujeito? Resposta: não há. Toda
Verbos impessoais e oração tem sujeito, mesmo que ele não
34
Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
35
Bem resumidamente, é possível racio‑ Particípios que terminam em ‑ado deri‑
cinar assim: o infinitivo está em uma vam‑se de verbos da 1ª conjugação, e
locução verbal? Se está sim, ocorre sem aqueles terminados em ‑ido advêm de
flexão. Se não está, pode se flexionar caso verbos da 2ª e da 3ª conjugação, como
haja necessidade de pôr em evidência “cantado, bebido, partido”, respectiva‑
o agente da ação, como Said Ali já nos mente. Há verbos que são abundantes
ensina. e aqueles que apresentam apenas a
forma irregular, como “dito, escrito, feito,
Se você quiser expandir sua mente,
comece pela “Gramática Metódica da visto”. Quando uma criança pequena que
Língua Portuguesa”, de Napoleão Mendes está aprendendo a falar diz “mamãe, eu
de Almeida. E continue por um estudo tinha fazido bagunça”, ao contrário do
sobre as origens do infinitivo flexionado, que muitos pensam, ela não é burra. A
podendo, até, retroceder ao período renas‑ criança demostra, bem cedo, que já apren‑
centista. deu como é o processo de formação dos
particípios. Está com a regra geral 100%
Uma semana flexionada! dominada. O que não sabe ainda – e cabe
aos pais corrigirem – é que, neste caso
específico, vale uma regra exclusiva que
obriga a ela dizer: “mamãe, eu tinha feito
Gerúndio e particípio bagunça”. Se você quiser se aprofundar,
uma ponta do iceberg está aqui.
Serão nosso foco nesta semana as formas
nominais particípio e gerúndio. Particípios flexionam‑se em gênero e
número e concordam com o termo a que
A primeira característica a ser abordada é
se referem – “A menina está cansada”; “As
o nome: como um verbo pode ser nome (=
pessoas alocadas aqui ficaram conten‑
forma de nome)? Simples: “nome” é a cate‑
tes”; “Embaraçado, Paulo pediu para sair”
goria gramatical que, nas gramáticas mais
– quando são adjetivos. Quando são ver‑
antigas, englobava substantivos e adjeti‑
bos, permanecem invariáveis: “Os meninos
vos. Assim, dizer que o particípio e tam‑
tinham participado do sorteio”.
bém o gerúndio e o infinitivo são formas
nominais equivale a dizer que os três têm Uma pitada histórica: havia, no latim, três
dois comportamentos morfossintáticos: particípios: presente, passado e futuro
ora são verbos, ora são nomes. No grupo (ativo e passivo). Do particípio presente
dos verbos, apenas essas três apresentam latino, originam‑se as nossas palavras
essa “vida dupla”, que não é novidade na terminadas em “‑ante/ente”, como, por
nossa língua. exemplo, “estudante, presidente, falante”,
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
em que esse sufixo indica aquele que faz »» ir; exemplo: “O sol vai raiando nesta
a ação expressa pelo verbo. O nosso atual manhã”;
particípio é derivado do particípio passado »» vir; exemplo: “A noite vem chegando
latino. E o particípio futuro passivo latino de mansinho”.
deixa sua marca na língua portuguesa
Uma semana crescente!
atual em palavras como “doutorando,
mestrando”, cuja ideia original era de
obrigatoriedade e de dever ser, algo que
está em processo.
Advérbio
Um verbo conjugado no gerúndio sem‑
pre termina em ‑ndo e nunca se flexiona. “Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure
para sempre! Tudo é vário. Temporário. Efêmero.
Normalmente, indica uma ação em curso
Nunca somos, sempre estamos. Por que alguns
no momento em que se fala: “Maria está sentimentos (diga‑se de passagem os mais ridí‑
correndo”, por exemplo. Seu uso indis‑ culos) demoram tanto a passar? Por que olhar pra
criminado para indicar processo gerou ele reaviva esperanças perdidas e suscita lágri‑
fenômeno linguístico muito forte há uma mas quentes até então contidas? Por que o cérebro
ainda não inculcou no coração que esquecer faz
década, conhecido como gerundismo,
bem à saúde? Por que tudo não pode ser como um
presente em construções como “Vou estar bonito filme francês?” Chico Buarque
enviando o documento” ou “Senhora, vou
estar transferindo sua ligação”. Feliz‑ Como nada dura para sempre, acabou‑se o
mente, as forças de conservação da lín‑ tema verbos. Começamos, nesta semana,
a tratar de advérbios, uma classe de pala‑
gua portuguesa e o repúdio dos falantes
vras especial, em que muito se abriga.
a essas construções esdrúxulas conse‑
Advérbios são, fundamentalmente, modi‑
guiram conter o avanço delas na nossa
ficadores do verbo. Mas não só do verbo:
língua. Sobre o uso correto do gerúndio
modificam muito mais, de adjetivos a um
nos textos da vida profissional, leia aqui
texto inteiro. Pode ser dêiticos também,
ou aqui.
como os pronomes. Fazem a diferença
Nas locuções verbais, o gerúndio pode entre o sim e o não, o perto e o longe, a
combinar‑se com os auxiliares: certeza e a dúvida. Quanto à colocação na
frase, podem ocupar vários lugares. Como
»» estar; exemplo: “Eles estavam dor‑
diz o dicionário Houaiss, “advérbios são
mindo na casa”;
uma classe de palavras de difícil defini‑
»» andar; exemplo: “Andei buscando ção pela variedade de comportamentos
esses dias com intensidade”; sintáticos, peculiaridades semânticas,
37
divergências de funções e classificações E se quiser um bonito filme francês, tem‑se
duvidosas que abrange”. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
38
Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
Advérbios também marcam a passagem semântico ou não, pode ser única ou ocor‑
do tempo como na música João e Maria, rer em uma locução. Preposições ligam
de Chico Buarque, em que “Agora” marca palavras, tanto para estabelecer relações
momentos distintos da história narrada na de regência e completar o sentido de uma
música: “Agora eu era herói”, “Agora eu era palavra quanto só para marcar a transiti‑
o rei”, “[...] agora eu era o seu brinquedo”, vidade do verbo.
“Agora era fatal”. Você pode ouvir Chico e
Preposições se contraem, como “dentre”,
Nara cantarem e ver uma ilustração aqui.
por exemplo, a soma de “de” e “entre”. Para
Quanto a estudos acadêmicos sobre advér‑ que ocorra corretamente, é necessário que
bios, há um sobre os advérbios terminados algo “peça” a preposição “de”: “Saí da moita
em ‑mente, outro sobre “aí, assim, então”, ‑> Saí de entre as folhas ‑> Saí dentre as
o terceiro sobre “assim, tipo e tipo assim”. folhas”. Em 99% das ocorrências contem‑
E, se você quiser estudar a expressão da porâneas, você vai usar só “entre”.
opinião por meio de advérbios, clique aqui.
Preposições desaparecem na sua forma
Por fim, a gramática normativa ensina que pura, como “per”, e permanecem na sua
há as locuções adverbiais, conjunto de forma contraída como artigo, como “pelo”
duas ou mais palavras que funciona como
e “pela”. Ou você achava que isso era uma
advérbio, formado por preposição e subs‑
dificuldade da nossa língua? E a preposi‑
tantivo ou adjetivo ou advérbio. E a gra‑
ção “por”? Existe só em sua forma pura,
mática também diz que há adjetivos que,
já que suas formas contraídas desapare‑
ao permanecerem invariáveis, tornam‑se
ceram com o tempo. Como se sabe disso?
advérbios, como em “Ela falou claro na
Lembra que “pólo” tinha acento? Esse
hora da sua defesa”, em que “claro” equi‑
acento diferencial existia justamente
vale a “claramente”.
para marcar qual palavra era preposição
Uma semana ricamente vivida! (polo) e qual era substantivo (pólo). Mas,
nossa nova grafia acabou com essa dis‑
tinção, certo?
As preposições simples e essenciais são
Preposição essencial e aqueles que sabemos de cor: “a, ante, até,
acidental após; com, contra; de, desde; em, entre;
para, perante, por; sem, sob, sobre; trás”.
Vamos analisar nova classe de palavras:
preposição. Preposição é uma palavra As preposições acidentais são palavras
interessante... sempre invariável, pode que, apesar de pertencerem a outras
ser essencial ou acidental, pode ter valor classes de palavra, podem funcionar
39
como preposições. Alguns exemplos são: você, falei sobre você, falei por você, falei
“durante, exceto, menos, segundo, senão, para você, falei após você, falei contra você,
tirante”. Tirante? “Tirante: exceto, salvo. falei perante você. Cada uma delas, em que
Ex. era tal qual o pai, tirante a cor dos a única diferença sintática é a preposição
olhos”. empregada, tem um sentido diferente. E de
onde vem essa diferença? Essa diferença
Antes de terminar, vale dizer que, entre
vem do valor da preposição que ocorre na
as locuções prepositivas (normalmente
frase. Percebeu a diferença e as nuanças
terminadas em “de”), “face a” é conside‑
semânticas?
rada galicismo e, por isso mesmo, deve ser
substituída por “em face de”. Também cabe Cunha e Cintra apresentam alguns valores
dizer que “ao invés de” significa “ao contrá‑ das preposições:
rio de” e “em vez de” significa “no lugar de”. »» “a”: indica direção a um limite, coinci‑
Portanto, o uso de uma é distinto do uso da dência, concomitância.
outra. Atenção ao uso escorreito.
»» “ante”: anterioridade relativa a um
Uma semana essencial! limite.
»» “desde”: afastamento de um limite
com insistência no ponto de partida.
Preposição
»» “sobre”: posição de superioridade em
Nesta semana, o foco é no valor da pre‑ relação a um limite (figurado ou con‑
posição, que ora está presente, ora se faz creto), com contexto de aproximação
ausente. ou alguma distância.
De um lado, o verbo “gostar”, por exemplo, E por aí vai. Consulte a gramática de Cunha
em língua portuguesa, sempre ocorre com e Cintra e veja mais detalhes. Ou ainda
a preposição “de”; assim como o verbo neste artigo.
“simpatizar” sempre se junta a “com”. Essas Você também pode descobrir como o
preposições são apenas relacionais, ausen‑ variacionismo analisa algumas preposi‑
tes que são de conteúdo significativo con‑ ções aqui. Ou estudar como as palavras
temporâneo. São preposições que marcam tornaram‑se preposição e como as prepo‑
a transitividade do verbo a que se referem sições estão se gramaticalizando aqui, sob
e introduzem termo cuja função sintática o ponto de vista do funcionalismo.
é essencial à frase.
Uma palavra final sobre a preposição nes‑
Por outro lado, observe a seguinte sequ‑ tes dois verbos: “dis‑cordar de” e “con‑cor‑
ência de orações: Falei de você, falei com dar com”. Você percebeu que em ambos há
40
Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
palavras semelhantes? “Dis” e “de”, “con” as chaves”. Atenção quando vier palavra
e “com”. Em latim, a preposição ocorria masculina: não haverá crase.
antes do verbo, algo como “dis cordar”.
Atenção também à grafia: “a fim de”,
Com o tempo, passou‑se a escrever tudo “acerca de”, “embaixo de”, “em cima de”,
junto: discordar. E surgiu a necessidade de são alguns exemplos que podem causar
replicar a preposição: “discordar de”. Sabe dúvida de grafia.
esse “cordar”? É o mesmo que deu origem
à palavra “coração”. Assim, “discordar de” Algumas locuções são com frequência
alguém é estar com o coração afastado do usadas de forma inadequada, como “ao
coração do outro, e “concordar com” é estar mesmo tempo que”, “apesar que”, “de
modo a”, “a longo prazo”, “em vias de”,
com o coração juntinho ao do outro.
“de vez que”. A forma correta, respectiva‑
Uma semana agradável! mente, é “ao mesmo tempo em que”, “ape‑
sar de que”, “de modo que”, em longo prazo,
“em via de”, “uma vez que”.
Uma semana firme e forte!
Preposição: palavras
que ligam
Preposição é uma palavra invariável (não se
flexiona nem em gênero, nem em número),
Conjunções: palavras
sem referente no mundo extralinguístico que ligam orações
(não há nada concreto que represente a
“Muitas coisas não ousamos empreender por
ideia), que estabelece uma relação entre parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque
dois termos de uma oração. não ousamos empreende‑las”. (Sêneca)
As locuções prepositivas são formadas por Nesta semana, listaremos as conjunções.
mais de uma palavra e ocorrem com várias
Conjunções são palavras invariáveis que
funções sintáticas. São elas, por exemplo:
ligam orações. Assim, ocorrem em trechos
“em face de”, “dentro de”, “perto de”, “junto
de texto que começam com letra maiús‑
a”, “em vez de”, “graças a”, “depois de”,
cula, terminam com ponto‑final em que
“atrás de”, “em torno de”, e por aí vai.
há mais de um verbo conjugado (um verbo
Importante atentar que, às locuções pre‑ que não esteja em alguma das três formas
positivas terminadas em “a”, pode caber nominais). Conjunções sempre ligam uma
acento grave, como em “graças à menina, oração à outra, ora com função sintática
fui salva” ou “junto à cabeceira, estavam definida – as chamadas conjunções subor‑
41
dinativas –, ora apenas estabelecendo rela‑ Uso de conjunções
ção semântica – as chamadas conjunções
coordenativas. Nesta semana, continuamos nosso cami‑
nho pelo mundo das conjunções.
As conjunções coordenativas são de cinco
tipos: aditivas, adversativas, alternativas, Antes de descrever alguns usos de algumas
conclusivas e explicativas. As mais fre‑ conjunções, é necessário, sob demanda
quentes são, respectivamente, “e, mas, ou, desde a semana passada, explicar o uso
logo, porque”. de “ter de fazer”. Embora a frequência de
uso de “ter que” seja de 60%, segundo pes‑
As conjunções subordinativas são de oito quisas da área linguística, isso não justifica
tipos: causais, concessivas, condicionais, nem abona o uso dessa locução no lugar de
finais, temporais, comparativas, concessi‑ “ter de”. A forma modalizadora de necessi‑
vas e integrantes. Lá vai um exemplo de dade ou obrigação deve ser usada sempre:
cada tipo, na ordem respectiva: “porque, “Eu tenho de escrever”, “O ministro terá
embora, se, para que, quando, do que, de de estar naquela reunião”, “Os servidores
forma que, que”. Entre elas, as conjunções têm de responder ao Censo”. Respondendo
integrantes (“que, se”) introduzem orações à pergunta da coluna da semana passada,
com função substantiva; os outros tipos a forma correta é “Eu tenho de fazer isso”.
todos introduzem oração com função Quanto ao uso de algumas conjunções:
adverbial.
»» “enquanto”: essa conjunção pode
Quando as crianças aprendem a escrever, dar ideia de tempo ou proporção ou
o texto que produzem é deserto de con‑ conformidade. Sendo conjunção – e,
junções. Apenas com o passar do tempo por isso mesmo, devendo ligar duas
e com o aumento da complexidade dos orações –, seu uso em orações como
textos que elas leem e escrevem é que as “O professor enquanto responsável
conjunções aparecem. Desde então, e por pelos alunos está atento a eles” é ina‑
muito tempo, descobrir usos das conjun‑ dequado, porque essa conjunção não
ções, especialmente das conjunções subor‑ pode ser usada nesse contexto de uma
dinativas, se torna frequente. única oração. A forma correta envolve
a troca de “enquanto” por “como”:
Pergunta: se as conjunções ligam orações
“O professor como responsável...”. A
e as preposições ligam palavras, a forma
segunda ressalva importante é que
correta é “Eu tenho de fazer isso” ou “Eu
não é correto escrever “enquanto que”.
tenho que fazer isso”?
Inexiste justificativa para a presença
Uma semana coordenada! deste “que”.
42
Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
»» “posto que”: é uma conjunção conces‑ uso dessa classe de palavras que contribui
siva, da família de “embora”, e indica decisivamente com a tessitura do texto.
uma circunstância existente, mas que As considerações sobre as conjunções são
não foi suficiente para fazer algo acon‑ as que se seguem:
tecer. Apesar de muitas pessoas usa‑
rem‑na como da família de “porque”, »» “e”: em 90% das ocorrências atuais,
ou seja, explicativa, esse uso é inade‑ mais ou menos, essa conjunção liga
duas orações com o mesmo sujeito e,
quado. Exemplo: “Cheguei rápido, posto
por isso, ocorre sem vírgula antes: “As
que o trânsito estivesse carregado”.
pessoas listadas na relação ficam à
»» “à medida que” e “na medida em que”: direita e esperam atendimento”.
há muita confusão no uso dessas
»» “porém, no entanto”: são conjunções
locuções, tendo‑se formado até ver‑
que podem ocupar dois lugares dis‑
sões híbridas erradas: “à medida em
tintos na oração em que ocorrem: ou
que” ou “na medida que”. A locução
antes ou depois do sujeito:
conjuntiva proporcional é “à medida
que”, usada como neste exemplo: “À a) Maria estava cansada, no entanto
medida que fui crescendo, desconfiei eu não.
que o país que ela amava não existia”. b) Maria estava cansada; eu, no
A locução “na medida em que” não entanto, não.
aparece na lista das conjunções e tem,
A depender de onde você escolher colocar
como um de seus significados, “ter em
a conjunção, haverá vírgula ou não: ou
vista que”.
nenhuma ou duas vírgulas, marcando a
Quer mais? Estudos acadêmicos aqui e intercalação da conjunção, com mudança
aqui. também na pontuação entre as duas ora‑
ções. Observe os exemplos a) e b) acima.
Uma semana espetacular!
»» “por isso, pois”: ambas não devem
ocorrer após ponto‑final, mas sempre
após vírgula, no mesmo período da
Conjunções: valores correspondente oração principal: “O
tempo estava bom, por isso decidimos
e usos fazer a festa aqui fora”.
Nesta semana, encerramos a conversa »» “se”: ocorre com o verbo no subjuntivo,
sobre conjunções coordenativas e subordi‑ no pretérito imperfeito ou no futuro; é
nativas com o foco voltado para o valor e o fator de próclise e pode ocorrer ime‑
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diatamente antes do pronome pessoal quais podem ser escritas igual ou dife‑
homófono: “Se se sentar, ficará mais rentemente, sempre com significados
confortável”. distintos. Assim, cessão/sessão, conserto/
concerto, bucho/buxo, chá/xá, do lado das
»» “embora”: usada, de regra, com verbo
homônimas homófonas, e boa, gravar, real
sempre no subjuntivo, apesar de usos
e mente, por exemplo, do lado das homô‑
não ortodoxos frequentes: “Embora
nimas homógrafas, mas com significados
tivesse dinheiro, preferiu comprar o
diferentes. Exemplificando:
carro usado ao carro zero quilômetro”.
»» O fato real (verdadeiro) foi verificado.
»» “por causa que”: expressão inade‑
/ A carruagem real (do rei) foi refor‑
quada aos registros formais da língua
mada.
portuguesa, oriunda de “por causa de
que”. »» Temos de cuidar da mente (pensa‑
mento). / Meu irmão mente (do verbo
Uma semana bem conjuntiva!
mentir) para mim.
Vamos a outros exemplos, só com as pala‑
vras:
Palavras iguais, »» acender (pôr fogo) / ascender (elevar)
significados diferentes: »» acento (sinal gráfico) / assento (lugar)
homonímia, paronímia »» caçar (perseguir) / cassar (anular)
e polissemia »» censo (pesquisa) / senso (juízo)
No universo dos estudos da linguagem, »» tacha (prego) / taxa (imposto)
existe uma parte que se preocupa com as
Também há palavras em que diferentes
palavras e seu significado: a lexicologia.
significados são motivados por vogais aber‑
E, ao se estudarem as palavras, é possível
tas ou fechadas, como:
descrever semelhanças de forma e diver‑
gências de significado e divergências de »» O começo dos trabalhos será amanhã.
forma e semelhança no significado e tam‑ / Eu começo o dia cedo.
bém múltiplos significados dependentes do
»» É preciso esperar para colher. / Utilize
contexto. Esse é o assunto desta semana
uma colher para mexer o suco.
curtíssima.
Então, é preciso estar atento ao signifi‑
Há palavras que são homônimas, ou seja,
cado das palavras e à respectiva forma
são pronunciadas da mesma forma, as
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Dicas de Português
MORFOLOGIA E FONOLOGIA
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