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O PAINEL SIMBÓLICO DO GRAU DE COMPANHEIRO

cidade maçônica

“Daí não sabemos o porquê de se colocar Três Painéis num Ritual do Rito Escocês,
do Segundo Grau, se não se ensina nada sobre eles – com a agravante ainda maior,
quase não se faz Sessões no Grau de Companheiro”. Assis Carvalho (04/10/1934 –
03/11/2002)

I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A ausência de um Painel entapetado no centro do piso mosaico torna incompleta


uma L∴M∴. A sua presença é indispensável durante a realização da Reunião. Não é
para menos, porquanto o Painel representa um estandarte, ou insígnia, no qual os
símbolos apropriados ao respectivo Grau estão gravados para serem estimados,
compreendidos e respeitados. É, pois, ritual inevitável estendê-lo no início da
sessão e enrolá-lo no final dos trabalhos.

Esta preocupação provém dos idos tempos da Mac∴. A bem da verdade, quiça nesta
época, a representatividade do Painel fosse ainda mais significativa, pois os
primitivos maçons desenhavam os símbolos do Painel no chão, vivificando-os a
cada início do encontro e ocultando-os, para sua preservação, ao final. Isto
porque, nesta ocasião, inexistiam os Templos M∴, assim 1º Experto era obrigado a
riscar no centro dos Varandões dos canteiros de obras, a giz ou a carvão, o
desenho das ferramentas dos MM.'. Operativos e das Colunas e Pórtico encontrados
nas ruínas do Templo do Rei Salomão. Paulatinamente, estes Símbolos foram sendo
desenhados, pintados ou bordados permanentemente em um pedaço de pano, lona e
tapetes que receberam o nome de Painel.

Há 262 anos, de acordo com fontes históricas confiáveis, pôde-se, pela primeira
vez, ver impresso nos livros do Abade Gabriel Luiz Calabre Perau (1700-1767) o
mais antigo Painel Maçônico. Este guardava características peculiares, porquanto
reunia símbolos e ferramentas tanto de Aprendiz, como de Companheiro. Por este
motivo, era identificado como Painel Misto (Aprendiz-Companheiro) ou conjugado,
tal como publicado no Livro de Revelações (Exposures): primeiro, com o título de
“Les Secretes des Francs-Maçons” (Os Segredos dos Franco Maçons, 1742 - 1a.
Edição, Amsterdã) e, em 1745, numa 2a Edição do mesmo livro, com o título de
“L’Ordre des Francs-Maçons Trahi” (A Ordem dos Franco Maçons Traída). Este
Painel já contava com a presença de: Est∴Flam∴, Letra “G”, Trolha, Globo, Pedra
de Afiar, Luminárias (Sol e Lua) e as Letras J e B.

É certo que o Grau de Comp∴ conta com o maior número de Painéis, comparado com
os demais Graus. Apenas a título de exemplo, além do Simbólico do 2º Grau que é
objeto deste trabalho, podemos mencionar ainda outros dois: Painel de Harris
(Alegórico), no qual observa-se a Fonte de Água Corrente e a Espiga, as Duas
CCol∴ Vestibulares, a Escada em Caracol e a Câmara do Meio; e Painel da Loja de
Com.'., no qual estão representadas as Sete Artes, as Ciências Liberais e as
Cinco Nobres Ordens de Arquitetura.

No entanto, optamos por elaborar um estudo comparativo entre o Painel Conjugado


e o Simbólico do Grau de Comp∴ atualmente praticado em nossa Ordem. Objetivamos
com isto confrontar o passado com o presente, na tentativa de produzir efeitos
instrutivos relevantes com elevado conteúdo explicativo.

III. ANÁLISE COMPARATIVA


Assim, comparando os Painéis Misto e Simbólico do 2º. Grau, é possível traçar o
seguinte quadro:

No Painel Simbólico, consta uma orla denteada que contorna todo o retângulo que
o constitui, presente também no Painel Conjugado. Esta orla simboliza a união
fraterna que deve existir entre os homens. No ponto médio de cada uma de suas
faces, encontramos as marcas dos quatro pontos cardeais. Em suas junções, também
observamos uma Trolha – vista no interior tanto do Painel Misto, como do Painel
Simbólico; porém, neste na Col∴ do N∴ e naquele na Col∴ do S∴, simbolizando a
indulgência e o perdão;

Na parte superior do retângulo que compõe ambos os Paineis, há representação de


uma corda com três (ao invés de cinco) nós, terminada por uma borla. Somente na
Maç∴ Especulativa é que apresenta significado, como, por exemplo, os “três laços
de amor” ou a imagem da união fraterna entre IIr∴; As Sete estrelas, que
representam as sete Ciências Liberais, são representadas apenas no Painel
Simbólico;

Ainda na parte superior e à direita do Painel Simbólico, há o desenho da


Prancheta de traçar ou Prancheta da L∴, que constitui uma das três jóias fixas
da L∴ de M∴. Diferentemente, no Painel Conjugado, não a observamos representada
da mesma maneira que a anterior, isto é, pelas cruzes quadruplas e de Santo
André;

As duas luminárias (Sol e Lua) estão representadas de forma semelhante nos dois
Painéis. Ou seja, o Sol à esquerda e Lua à direta (como no R∴ E∴ A∴ A∴).
Entretanto, pode haver Painel que os representem posicionados de forma
diferente. Isto quer dizer que há Painéis diferentes para Ritos distintos;

No Painel Misto, o Esquadro está presente na parte inferior do retângulo e o


Compasso na parte superior; portanto, não sobrepostos. No Painel atual do grau
de companheiro e no nosso rito os vemos entrelaçados com a haste esquerda livre
direcionada à Col∴ do S∴. Outra diferença é a presença, no Conjugado, da letra
“G” em destaque, no centro do retângulo e distanciada da Est∴ Flam∴; ao passo
que, hoje, em nosso Ritual, estão representadas formando um único conjunto;

Do lado direito, na parte superior, média e inferior do retângulo que compõe o


Painel Misto observamos três janelas: uma entre o Comp∴ e a Est∴, outra abaixo
do Pórtico e acima do Esq∴ Ambas alinhadas medial e longitudinalmente. A
terceira janela é observada na Col∴ do S∴ (no seu ponto médio). De forma um
pouco diferente, no Painel Simbólico, uma das três janelas se encontra na parte
superior do retângulo, alinhada com a Col∴ do S∴. As duas outra são vistas, uma
na parte média desta Col.'. e outra na parte inferior do retângulo.
Simbolicamente temos qu a luz forte que vem do o Oc∴ (acima do quinto degrau).
De forma pouco diferente, no Painel Simbólico, a terceira janela está no início
da Col∴ do S∴. Simbolicamente temos que a Luz forte que vem do Or∴ é fraca na
Col∴ do S∴ e escassa no Oc∴, mas ausente a luminosidade solar na Col∴ do N∴,
onde estão os AApr∴;

Ainda na Col∴ do S∴ do Painel Simbólico vemos uma espada simbolizando a 5ª


viagem. Ferramenta não encontrada no Painel Conjugado. Observa-se, ainda neste
último, superior e inferiormente, três tocheiros ou candelabros: dois na parte
inferior direita e esquerda do retângulo e um terceiro em sua parte superior
direita;

Inferiormente, delimitando o Pórtico do T∴ no Painel Misto, encontramos duas


CCol∴ com as letras “J” e “B” externamente ao lado. No Painel Simbólico, ao
contrário, estas letras se encontram grafadas nas CCol∴ e de forma invertida,
isto é, “B” à esquerda e “J” à direita;

Em ambos os Painéis vê-se o Pórtico do T∴ ao fundo e entre as CCol∴. Entretanto,


no Painel Misto, esta representação se dá de forma um pouco diferente, ou seja,
em uma linha central do retângulo inferiormente à letra “G”, centralizada e
abaixo de um triângulo suspenso por quatro CCol∴ Curiosamente, aqui também se
encontra a representação de três portas: uma logo acima dos sete degraus, outra
no ponto médio da borda lateral do retângulo e ainda uma no ponto médio da linha
superior desse retângulo à frente do trono do V∴ M∴;

Na extremidade inferior do retângulo, vemos a representação sobre o chão da L∴,


reproduzida pelo Pav∴ Mos∴, ao lado de cada uma das CCol∴, da P∴B∴ e da P∴C∴.
Estas P∴ são observadas no Painel Conjugado alinhadas na Col∴ do N∴, sendo que
a P∴B∴ está superior e a P∴C∴ inferior;

O Maço (Malho) e o Cinzel (Escopro) são representados em uma peça única quando
se observa o Painel Misto, posicionados inferiormente junto e medialmente à Col∴
do N∴ Diferentemente, no Painel Simbólico, os vemos como peças individuais, mas
postados entre si de forma cruzada, e posicionados inferior e lateralmente à
Col∴ do N∴;

O Nível e o Prumo encontram-se representados, respectivamente, nas CCol∴ do N∴ e


do S∴ do Painel Misto. Já, no Painel Simbólico, os vemos no centro do Painel,
mas com a mesma correspondência; ou seja, Nível à direita e Prumo à esquerda.

Em ambos os Painéis, o chão da L∴ está representado por um Pav∴ Mos∴ em


diagonal;

Uma Alavanca entrecruzada com uma Régua é representada na Col∴ do N∴. Não sendo
observada, assim como a Régua, no Painel Conjugado;

No Painel Misto, podemos ver a representação de uma Esfera medialmente alinhada


com outros símbolos. Entretanto, no Painel Simbólico, encontramos duas Esferas
posicionadas no topo de cada uma das CCol∴ “J” e “B”: uma, representando a Terra
(Col∴ “B”) e a outra representando o Céu (Col∴ “J”).

Na parte inferior de ambos os Painéis estão representados os degraus: cinco no


Painel Simbólico e sete no Painel Misto.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eis essencialmente as comparações possíveis de se formular entre o Painel Misto


e o Simbólico, dos quais nota-se pontos de contato e diferenças. Procuramos esta
linha de pesquisa, pois sabíamos que surtiriam efeitos pretendidos; e, de fato,
surtiram. A contribuição proporcionada por este trabalho comparativo à nossa
cultura maçônica foi significativa, já que alcançamos algumas conclusões de suma
relevância. Sem esgotar todas, três nos parece importantes para, por ora, nos
atermos.
A primeira delas nos ensina a evolução dos símbolos sem desconciliar-se com a
tradição. Do Painel Misto ao Simbólico, nota-se claramente o enriquecimento
simbólico, tanto assim é que houve a desvinculação dos Graus. Os AAp∴ e os
CComp∴ conquistaram seu próprio Painel; por conseguinte, os respectivos símbolos
tornaram-se mais ricos e detalhados, sem, contudo, perder a essência da tradição
simbólica destes Graus.

Notamos ainda o poder de criação do homem para ampliar as representatividades do


Painel. No Misto, inexistem, por exemplo, as sete estrelas. No entanto, quão os
M∴ se desenvolvem no estudo deste símbolo? É imensurável; e hoje, no Painel
Simbólico, temos à disposição o poder desta imensidão de significados. Por meio
destes símbolos, podemos estudar a representação das Ciências Liberais, com toda
sua extensão de valores.

Este ensinamento nos leva a outro, tão ou mais relevante: “Símbolo estático é
símbolo superado na Maçonaria” (Trolha, 2002, p.45). De fato, a simbologia é
rica em significados, e são estes que, a nosso ver, influem diretamente na
necessária vivacidade dos símbolos, propulsando a evolução, com o cuidado - a se
ter sempre - de não romper com as tradições.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário de Maçonaria e Simbologia. Londrina/PR, Ed. A


Trolha, 1996, 4v.

BELTRÃO, Carlos Alberto Baleeiro. As Abreviaturas na Maçonaria. São Paulo:


Madras Editora, 1999.

CARVALHO, Assis. Companheiro Maçom, 2a ed., Londrina/PR, Ed. A Trolha, 1996.

CARVALHO, Assis. Símbolos Maçônicos e Suas Origens. Londrina/PR, Ed. A Trolha,


1996.

CARVALHO, Assis. Instruções para Loja de Companheiro: REAA. 4a ed., Londrina/PR,


Ed. A Trolha, 2002.

CASTELLANI, José e RODRIGUES, Raimundo. Cartilha do Companheiro, 2a ed.,


Londrina/PR, Ed. A Trolha, 2002.

GRANDE ORIENTE do BRASIL Ritual – 2o Grau – Companheiro. Brasília, DF, 2001.

Fonte: cidademaconica.

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