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Heaven (Portuguese)
Jeffrey R. Holland, Patricia Holland
© 1989 .
All rights reserved. No part of this book may be reproduced in any form or by any means without
permission in writing from the publisher, Deseret Book Company, P.O. Box 30178, Salt Lake City
Utah 30178. This work is not an official publication of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints.
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Company.
Tradução: Jales Josino da Rocha Filho Revisão e Coordenação do Projeto: Reynaldo Pagura
ISBN 1-57345-482-6
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
A Matt, Mary e Duff
Por criarem nosso céu na Terra
Table of Contents
PREFÁCIO
AGRADECIMENTOS
PPERCEPÇÕES EE REFLEXÕES: Patricia T. Holland
CUMPRIR A MEDIDA DE NOSSA CRIAÇAÕ
A UM SUSSURRO DO CÉU
TUDO A VER COM O CORAÇÃO
OS FRUTOS DA PAZ
A CONSOLAÇÃO COM QUE SOMOS CONSOLADOS
A PERSPECTIVA DE UMA MULHER SOBRE O SACERDÓCIO
AS MUITAS FACES DE EVA
COM O ROSTO VOLTADO PARA O FILHO
UMA CONVERSA: COM JEFFREY R. HOLLAND E PATRICIA T.
HOLLAND
ALGUMAS COISAS QUE APRENDEMOS JUNTOS
GARANTIAS E AFIRMAÇÕES: JEFFREY R. HOLLAND
LEVANTAI OS VOSSOS OLHOS
A VONTADE DO PAI EM TODAS AS COISAS
Ó SENHOR, MANTÉM FIRME O MEU LEME
A TAÇA AMARGA E O BATISMO DE SANGUE
AO ALCANCE DE SEUS BRAÇOS
QUEM SOMOS E O QUE DEUS ESPERA QUE FAÇAMOS
ALMAS, SÍMBOLOS E SACRAMENTOS
ASSOMBRO ME CAUSA
PREFÁCIO
A vida aqui na mortalidade apresenta um número generoso de
dificuldades para cada um de nós, e muitas vezes nos vemos ansiando por um
pouco da paz e segurança do céu. O Salvador expressou não só o desejo de
Seu coração, mas também o de cada um de Seus discípulos, quando orou a
Seu Pai: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu”. Até podermos estar em segurança no céu novamente, com Deus e
nossos entes queridos, certamente não há nada mais grandioso a que
possamos aspirar do que ver Sua vontade, influência e Seus desígnios serem
plenamente sentidos na Terra.
Uma sociedade de tal pureza e força talvez só seja possível durante o
reino milenar de Cristo como Rei dos reis e Senhor dos senhores, mas isso
não é desculpa para não tentarmos, sempre que possível, fazer com que
“venha o [Seu] reino” mais depressa. E embora condições celestiais talvez
não nos advenham ampla e indistintamente até a segunda vinda, há maneiras
profundas pelas quais elas podem vir a nós pessoalmente, a nossa família e a
grupos de fiéis que vivem o evangelho no coração, no lar e na comunidade.
A chave para qualquer sucesso no tempo e na eternidade é certamente a
obediência ao evangelho do Filho de Deus, a mesma obediência que Ele
demonstrou à vontade do Pai em “todas as coisas”. Este livro, uma coletânea
de alguns de nossos discursos e ensaios, dedica-se aos aspectos da vida em
que efetivamente podemos fazer da vontade de Deus a nossa vontade e de
Seus caminhos os nossos caminhos. Dedica-se ao ideal de tornar a vida aqui
na Terra tanto quanto possível como a no céu.
AGRADECIMENTOS
Queremos agradecer a muitos, principalmente aos alunos da
Universidade Brigham Young, que se dispuseram a ouvir essas idéias bem
antes de elas surgirem em forma de livro. Foi um privilégio único em nossa
vida trabalhar com jovens tão talentosos e participativos.
Somos gratos por várias secretárias que tivemos ao longo dos anos,
principalmente Jan Nelson e Shauna Brady, que produziram inúmeros
rascunhos destes manuscritos. Jan Nelson também produziu a versão final
deste livro. Fazemos ainda um agradecimento especial a Eleanor Knowles,
diretora executiva da Deseret Book, que teve a idéia inicial deste projeto e
cuja paciência levou à sua publicação.
PERCEPÇÕES E REFLEXÕES: Patricia T. Holland
Capítulo 1
Quando minha filha, Mary, era ainda uma menininha, ela recebeu a
designação de fazer uma apresentação em um concurso patrocinado pela
Associação de Pais e Mestres da escola. Aqui está a experiência conforme
relatada por ela mesma, aos sete anos:
“Um dia eu estava estudando piano, mas estava tocando tão mal que
comecei a chorar. Então decidi treinar balé e mais uma vez acabei chorando:
também estava péssima. Aí decidi fazer um desenho, porque sabia que pelo
menos isso eu fazia bem, mas saiu horrível. E é claro que chorei de novo.
Aí topei com meu irmãozinho de três anos e perguntei: ‘Duffy, o que
posso ser? O que posso ser? Não posso ser pianista, artista nem bailarina. O
que posso ser?’ Ele veio para perto de mim e sussurrou: ‘Pode ser minha
irmã’.”
Em um momento importante, aquelas quatro palavrinhas mudaram a
perspectiva e trouxeram consolo ao coração de uma menina ansiosa. Naquele
mesmo instante, a vida tornou-se mais bela e, como sempre, o amanhã
reservava ainda novas surpresas.
Todos nós em um momento ou outro nos deparamos com perguntas
semelhantes às de Mary, sobre nosso papel, propósito e rumo na vida. E isso
acontece até mesmo bem depois de nossa infância. Converso com muitas
mulheres, o que me permite perceber que várias, talvez a maioria delas,
passam por momentos em que se sentem confusas ou derrotadas, pelo menos
temporariamente. Nessas situações, indagamos: “O que serei? Quando vou-
me formar? Com quem vou-me casar? Qual é o meu futuro? Como vou
ganhar meu sustento? Como posso fazer uma contribuição significativa?
Resumindo, o que posso ser?”
Não fiquem desanimados se ainda estiverem fazendo-se esse tipo de
pergunta, pois acontece com todos nós. Nós até devemos preocupar-nos com
nossos propósitos fundamentais na vida. Todos os filósofos do passado e do
presente certamente concordariam que, por mais importantes que sejam, a
comida e o abrigo não são o suficiente. Queremos saber o que está além.
Qual é o significado? Qual é o meu propósito?
Ao fazer-me essas indagações, conforta-me recordar que uma das
verdades mais importantes e fundamentais ensinadas nas escrituras e no
templo é que “toda forma de vida [cumprirá] a medida de sua criação”.
Devo admitir que quando ouvi essa frase pela primeira vez, achei que
ela se referia apenas a procriar, ter filhos, deixar descendência. E tenho
certeza de que esse é o significado principal. Contudo, como boa parte da
cerimônia do templo é simbólica, pode haver também múltiplos sentidos
nessa declaração. Um significado adicional que agora vejo nesse
mandamento é que cada elemento da criação tem seu próprio propósito e
função; cada um de nós recebeu um papel e missão divinos. Creio que se
nossos desejos e obras estiverem de acordo com o que nossos pais celestiais
planejaram para nós, vamos sentir-nos parte de seu plano. Reconheceremos a
plena “medida de nossa criação”, e nada poderá trazer-nos maior paz.
Certa vez, li uma analogia maravilhosa das limitações que nossa
perspectiva atual nos impõe. A mensagem ensinada era que no processo
contínuo da criação — nossa criação e a criação de tudo o que nos cerca —
nossos pais celestiais estão preparando uma bela tapeçaria com primorosas
cores, matizes e motivos. Eles estão fazendo isso com todo o amor, cuidado e
maestria. E cada um de nós desempenha um papel — o nosso papel — na
elaboração dessa obra de arte magnífica e eterna.
Nesse processo, contudo, precisamos lembrar-nos de que é muito difícil
para nós avaliar com precisão nossa própria contribuição. Vemos o rico tom
de vermelho da linha do vizinho e pensamos: “Essa é a cor que quero ter”.
Em seguida, admiramos o azul ou bege suave e repousante de outro
companheiro e pensamos: “Não, essas cores é que são melhores que as
minhas”. Mas em tudo isso, não vemos nossa tapeçaria da maneira que o
Senhor a vê, nem percebemos que outras pessoas desejariam ter nossas cores,
posição e textura da mesma forma que desejamos as delas.
Talvez o mais importante a se lembrar é que, durante a maior parte do
período criativo, estamos confinados à visão limitada da parte inferior da
tapeçaria, onde tudo às vezes é meio confuso, borrado e pouco nítido. Se
nada faz muito sentido desse ponto de vista é porque ainda estamos no
processo de criação, em uma fase inacabada. Mas nossos pais celestiais têm a
visão geral, do alto, e um dia vamos saber o que eles sabem: que todas as
partes do todo artístico são iguais em importância, equilíbrio e beleza. Eles
conhecem nosso propósito e potencial e deram-nos a oportunidade ideal de
fazermos a contribuição perfeita nessa obra divina.
O Senhor garantiu-nos que a única exigência para participarmos desse
plano magnífico é ter “o desejo de trazer à luz e estabelecer esta obra”. (D&C
12:7) “Sim, aquele que lançar sua foice e ceifar será chamado por Deus.
Portanto, se me pedires, receberás; se bateres, ser-te-á aberto”. (D&C 14:4–5)
Às vezes, em nosso plantar, colher e peneirar, parece que Deus diz
“não”, “agora não” ou “acho que não” quando o que queremos ouvir, quando
o que desejamos que nossa tapeçaria receba é um “sim”, “certamente, agora
mesmo” ou “claro que vou dar-lhe”. No decorrer dos anos, tenho vivido
decepções e esperas, mas tenho percebido que quando continuo a buscar com
fé inabalável e persisto com paciência — esperando no Senhor e Seu próprio
calendário — os “nãos” do Senhor revelam-se meros prelúdios para “sins”
ainda mais grandiosos. Tenho aprendido que as próprias demoras e recusas
com que mais nos preocupamos, ou as diferenças entre nós que mais abalam
nossa auto-estima, são as diferenças e atrasos que se revertem em maior bem
para nossa felicidade e realização.
Sempre tentei imaginar as lutas que devem ter-se travado na mente de
Moisés quando o Senhor pediu-lhe que deixasse seus privilégios e posição
reais para servi-Lo na mais abjeta escassez e pobreza. Contraste a missão de
Moisés com os desígnios do Senhor para José, de ficar no Egito e usar sua
influência e prestígio com propósitos justos. Jeremias aparentemente não
desfrutou as bênçãos do casamento ou filhos, enquanto Jacó contava com a
reconfortante companhia de quatro esposas e uma prole numerosa. Josué
parece ter sido um líder extremamente confiante, carismático e decidido,
enquanto Moisés estava sempre relutante, hesitante e às vezes tinha de pedir
instruções várias vezes ao Senhor. Cada um deles teve um papel essencial,
ainda que bem distinto, a cumprir.
Além do mais, a idade não parece fazer muita diferença na diversidade
dessa tapeçaria. Davi era apenas um menino quando habilmente derrotou
Golias, mas Abraão tinha oitenta anos de idade quando nos deu o supremo
exemplo mortal de fé e obediência. Ester tinha a riqueza e atenção de reis, o
que lhe deu a oportunidade de ajudar a salvar uma nação, enquanto Rute era
uma moabita pobre e desprezada. Ironicamente, foi pelo sangue de Rute que
saiu a linhagem real do próprio Filho de Deus. O Senhor usa-nos por causa
de nossas personalidades e diferenças únicas, e não apesar delas. Ele precisa
de cada um de nós, com todas as nossas imperfeições, fraquezas e limitações.
Então o que eu posso ser? O que eu posso ser? Todos nós, vocês e eu,
podemos ser o que nossos pais celestiais pretenderam, planejaram e ajudam
que sejamos. Como podemos cumprir a medida de nossa criação? Lançando a
foice, ceifando com todo o vigor e regozijando-nos em nossas especificidades
e diferenças. Para alcançarmos nosso potencial, precisamos apenas (1)
apreciar nosso curso e deleitar-nos em nossa unicidade, (2) afastar vozes
conflitantes e ouvir a voz interior, que é a voz de Deus dizendo quem somos
e quem podemos tornar-nos e (3) libertar-nos do amor à profissão, posição
social ou opiniões alheias e lembrar que o que Deus realmente deseja é que
sejamos o irmão de alguém, o amigo de alguém.
Cada um de nós tem um propósito. E para cada um de nós esse propósito
é diferente, é distinto, é divino. Deus vive e ama-nos como somos e como
ainda vamos tornar-nos. Ele vai ajudar-nos a cumprir a medida de nossa
criação.
Capítulo 2
A UM SUSSURRO DO CÉU
Todo filho tem de praticar em sua mãe, e de uma forma ainda mais
importante, toda mãe tem de praticar em seu filho. Essa é a maneira que
Deus criou para pais e filhos se prepararem para a salvação. Mas algo
que pode ajudar-nos é lembrarmos que esses filhos, além de nossos, são
também de Deus, e que quando precisarmos de ajuda, poderemos
buscá-la além do véu.
OS FRUTOS DA PAZ
O Senhor disse: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu
nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (João 15:5)
Ele disse também, por intermédio de Paulo, “O fruto do Espírito é: amor,
gozo, paz”. (Gálatas 5:22) É sobre o fruto de nosso esforço que desejo falar
— o fruto do amor e do gozo, que por fim será o fruto da paz. É a colheita
que somente pode vir à maneira do Senhor. Suas raízes estão profundamente
fincadas no evangelho de Jesus Cristo.
Infelizmente, parece-me que as próprias mulheres são na maioria das
vezes suas piores inimigas, quando deveriam ser aliadas, apoiando e
fortalecendo umas às outras. Todas sabemos o quanto pode significar a
opinião de um homem a nosso respeito, mas creio que em geral, nosso valor
como mulheres reflete-se melhor nos olhos de outras mulheres. Quando as
outras mulheres nos respeitam, respeitamos a nós mesmas. É comum que só
depois de sermos consideradas agradáveis e dignas por outras mulheres que
assim nos consideremos. Se exercemos esse efeito umas sobre as outras, por
que não demonstramos mais generosidade e amor umas para as outras?
Já pensei muito a respeito disso. Finalmente cheguei à conclusão de que
parte dos problemas está no coração. Temos receio — receio de estender a
mão, receio de envolver-nos, receio de confiar e ser dignas de confiança,
principalmente em nossa interação com outras mulheres. Em suma, não
amamos o suficiente. Não exercemos plenamente o maior dom e poder que
Deus concedeu às mulheres.
O Dr. Gerald G. Jampolsky, psiquiatra da Universidade da Califórnia,
afirma que o amor é uma característica inata. Já está presente em todos. Mas
muitas vezes ele é obscurecido pelo medo que adquirimos ao longo de nossas
experiências na vida. Ele diz: “Quando sentimos amor por todos — não só as
pessoas de nossa escolha, mas todos com quem venhamos a deparar-nos —
sentimos paz. Quando temos medo de todos com quem entramos em contato,
queremos defender a nós mesmos e atacar os outros, e aí surgem os
conflitos”. (Love Is Letting Go of Fear [New York: Bantam Books, 1981], p.
2)
Obviamente, podemos fazer nossa escolha. Se o Dr. Jampolsky estiver
certo, poderemos escolher o amor e sentir paz, ou escolher o medo e viver
conflitos. “Para experimentarmos paz em vez de conflitos, é necessário que
mudemos nossa percepção. Em vez de ver as pessoas como se estivessem
prontas a atacar-nos, podemos vê-las como receosas. Afinal, estamos sempre
tendo sentimentos de amor ou medo. O medo é na verdade um pedido de
ajuda e, portanto, um pedido de amor. Assim, é evidente que para termos paz
só precisamos fazer nossa escolha, determinar a maneira com que vamos
olhar as coisas.”
Morôni fez a mesma observação. Ele declarou que conseguia sobrepujar
o medo porque estava cheio de caridade, que é o amor eterno. “Eis que falo
ousadamente, tendo autoridade de Deus; e não temo o que o homem possa
fazer; porque o perfeito amor lança fora todo o medo.” (Morôni 8:16)
Se o medo de outras mulheres ou dos homens nos causa conflitos e
nosso amor incondicional por eles nos traz a paz que tanto almejamos, não
deveríamos pois dedicar nossa vida inteira a oferecer amor a todos em todos
os lugares? Isso não faz com que queiram empregar toda a energia que
possuem na prática e busca do amor perfeito?
Mas só querer amar não faz necessariamente com que consigamos amar.
E as que mais se empenharem serão as que mais terão consciência de falhar
em suas tentativas. Incentivo-as a não desanimarem. Em certas ocasiões em
que orei para amar mais alguém, às vezes o que aconteceu foi justamente uma
grande divisão entre nós temporariamente, mas a partir da qual, com muito
trabalho, veio posteriormente um amor mais terno e profundo. Erich Fromm
escreveu: “Por não verem que o amor é uma atividade, uma faculdade da
alma, alguns crêem que o que precisam é achar o objeto certo — e tudo mais
virá como conseqüência. Essa atitude pode ser comparada com a de um
homem que deseja pintar, mas em vez de aprender a arte, afirma que precisa
apenas esperar pelo objeto certo, e então fará belas pinturas quando o
encontrar”. (Citado em Secrets to Share, sel. Lois Daniel [New York:
Hallmark, 1971], p. 59) O amor é como qualquer outro talento, arte, técnica
ou virtude. Exige prática, suor, conhecimento e muito tempo. A disposição
não traz consigo o domínio da arte, mas significa que estamos desejosos de
tentar.
Em minha juventude, eu acalentava o doce sonho de tornar-me uma
exímia pianista algum dia. Atingir tal meta exige exercícios diários, audições,
recitais, erros e acertos, tentativas e mais tentativas ao longo de anos a fio.
Podemos encarar a busca do amor duradouro da mesma forma — lembrando,
contudo, que o Senhor ensinou que a caridade é o maior de todos os talentos,
dons e virtudes. E, conforme Mórmon ensinou: “Se não tendes caridade, nada
sois”. (Morôni 7:46) Essa escritura contém uma observação clássica e crucial
a respeito do valor individual de todos nós. Para sermos alguém, precisamos
amar a todos.
Agora, voltando à “prática” do amor, eu gostaria de sugerir três
exercícios básicos que nos ajudarão a desenvolver esse dom.
O primeiro exercício é o perdão. O perdão é a chave para a paz nos
relacionamentos humanos. Se de alguma forma conseguirmos esquecer o
passado e ver todas as pessoas imaculadas, começaremos a ver a nós mesmos
imaculados. Recordem a observação do Dr. Jampolsky sobre o medo e amor.
Poderia ser útil em nossos esforços de perdoar às pessoas lembrar que suas
ofensas e ataques a nós foram motivados pelo medo e não por más intenções.
Certa vez trabalhei com uma mulher na presidência de uma organização
em uma das muitas alas por que já passamos. Ela muitas vezes tecia
comentários em tom de brincadeira que me depreciavam e diminuíam, mas
como ela não levava a sério o que dizia, achava que não estava magoando-
me. Contudo, isso acabou tornando-se uma fonte de grande dor e irritação
para mim. Ao tentar aplicar esse conceito de perdão, percebi que todas as
alfinetadas jocosas de que eu era vítima originavam-se de fraquezas que
aquela irmã tinha dentro de si mesma. Creio realmente que ela era uma
mulher amedrontada. Em sua vida particular, longe de meu campo de visão e
audição, ela estava tão envolvida em suas próprias mágoas que simplesmente
não era capaz de perceber as alheias. Por algum triste motivo, creio que ela
achava que tinha tão pouco a oferecer que qualquer elogio ou agrado que
fizesse a outra pessoa iria de alguma forma rebaixá-la.
O Presidente Spencer W. Kimball garantiu-nos que ao tentarmos
esquecer o mal feito a nós, começaremos a livrar-nos de tudo que for difícil
de perdoar em nós mesmos. Teremos uma sensação de paz e realização e nos
lembraremos de que o Senhor sofreu por nossos pecados para que
pudéssemos experimentar um sentimento de unidade com Ele, com nosso
próximo e, também, com nós mesmos. (Ver Faith Precedes the Miracle [Salt
Lake City: Deseret Book, 1972], pp. 190–196.)
O segundo exercício é a aceitação incondicional das pessoas. O que
queremos acima de tudo é a aprovação, o reconhecimento e o amor das outras
pessoas. Devemos dar a elas menos do que desejamos para nós mesmos?
Em certa ocasião, uma vizinha magoou-me profundamente. Sentindo
que naquele momento tinha o todo o direito de entregar-me à
autocomiseração, fechei-me em meu quarto e, com o coração em pedaços,
comecei a orar. Lembro-me em particular de ter pedido: “Querido Pai
Celestial, por favor, ajude-me a encontrar uma amiga em que possa confiar,
alguém que eu vá amar”. Ele realmente me abençoou — concedeu-me, por
um instante, uma percepção nítida que só poderia vir por intermédio do
Espírito. Ele ajudou-me a ver que eu estava orando por uma amiga perfeita,
quando ele generosamente já me havia cercado de amigas cujas fraquezas
eram semelhantes às minhas.
Um bom relacionamento não é o caracterizado pela perfeição e sim por
uma perspectiva saudável que nos leva a simplesmente minimizar as falhas
alheias.
Aqui apresento uma maneira específica de praticar esse exercício. Por
um dia, tomem nota de cada vez que fizerem uma crítica a alguém. Não é
preciso que seja um comentário oral (embora isso também deva ser levado
em consideração), mas é importante anotar cada vez que vocês fizerem um
julgamento, ainda que mental. Esses julgamentos podem ser dirigidos a vocês
mesmas, seus próprios filhos, seu marido, uma vizinha ou uma amiga. Então,
no dia seguinte, tentem passar o dia inteiro sem fazer críticas ou comentários
negativos sobre ninguém.
Esse pequeno exercício trará grandes surpresas. Meu marido ajuda-me
muito em meus esforços conscientes de nunca falar mal de ninguém. Trata-se
de uma virtude que busco sinceramente, pois considero-a parte fundamental
do verdadeiro cristianismo. Assim, quando me propus a fazer esse exercício,
fiquei assustada com a freqüência com que julgava as pessoas, ainda que
mentalmente. Fiquei ainda mais espantada ao perceber como me sentia tão
bem comigo mesma quando conseguia passar um dia inteiro mantendo essa
tendência sob controle. Lembrem-se de que tudo que emitirem mental ou
verbalmente voltará a vocês de acordo com o plano de compensação de Deus:
“Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida que
com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”. (Mateus 7:2) Um
comentário crítico, mesquinho ou maldoso é simplesmente um ataque a nosso
próprio valor individual. Por outro lado, se nossa mente buscar
constantemente o lado bom das pessoas, isso também voltará a nós, e nos
sentiremos verdadeiramente bem com nós mesmos.
O terceiro exercício é a doação sem interesse de retorno. Ao dizer isso,
não estou propondo de forma alguma que sejamos mártires. Mas para
aceitarmos totalmente as pessoas, precisamos reconhecer o fato de que elas
não podem satisfazer a todos os nossos desejos. As pessoas só podem ser o
que são — pelo menos por ora. Elas só podem oferecer o que têm no
momento. Talvez elas não tenham tanto conhecimento ou prática do amor
como nós. Contudo, ao desejarmos que elas nos dêem algo que não podem
dar, sentimo-nos frustradas, zangadas, desanimadas, infelizes, rejeitadas ou
atacadas.
Durante muito tempo de minha vida, havia uma mulher que eu admirava
muito e cujo amor incondicional eu gostaria de conquistar. Tentei aproximar-
me dela de todas as formas que conhecia, mas nada parecia funcionar. Então,
um dia li que o primeiro princípio para uma boa saúde mental é aceitar o que
não pode ser mudado. Finalmente entendi que essa mulher amava o máximo
que sua capacidade permitia e, de repente, nosso relacionamento mudou
completamente. Ainda era mais formal e contido do que eu gostaria, mas era
um relacionamento. Se eu tivesse continuado exigindo mais do que ela
poderia oferecer, esse relacionamento certamente murcharia e morreria. De
certa forma, eu estava cultivando aquela planta em um vaso pequeno demais.
Então, transferi-a para um recipiente mais adequado a seu tamanho, dei-lhe
mais espaço para crescer e assim ela começou a vicejar. Percebi que esse
relacionamento merecia ser nutrido, ainda que unilateralmente, e agora me
contento em esperar até que esteja pronto para produzir frutos.
Quero que saibam que quando pratiquei esses exercícios de maneira
eficiente, eles produziram milagres.
Eu era muito tímida. Era muito penoso para mim mudar a cada dois anos
como exigia a carreira do meu marido. Cada mudança era marcada pelo
medo. Será que eu seria aceita? Será que iríamos viver em um local onde as
pessoas eram mais capacitadas do que eu? Em muitas de nossas primeiras
mudanças, morávamos em uma nova área apenas alguns meses (e eu ainda
estava lutando para criar uma nova identidade) antes de eu ser chamada como
presidente da Sociedade de Socorro da ala. Deus deve ter sorrido ao ver que
foram necessárias várias repetições dessa mesma experiência para que eu
percebesse que no preciso momento em que eu começava a praticar meu
amor pelas irmãs e as famílias daquelas alas, eu imediatamente perdia todo o
medo. Presto testemunho de que, se em vez de enxergarmos a vida pelas
lentes mesquinhas do que podemos receber, mudarmos nosso foco para doar
irrestritamente, esqueceremos o medo e o conflito e começaremos a conhecer
uma paz verdadeira e duradoura.
Esses são os meus três exercícios. Contudo, embora eu as incentive a
praticá-los, vocês devem estar cientes de que a vida real pode colocá-las em
situações inesperadas. As sugestões que ofereço para pequenos conflitos,
mágoas ou irritações podem não ser de muito ajuda se alguém tirou a vida de
um filho seu, roubou o afeto de seu marido ou intencionalmente lhe causou
mágoas de uma forma injusta ou outra.
Com relação a essas necessidades maiores, presto o seguinte
testemunho: há muito neste mundo que só pode ser realizado com a ajuda de
Deus. Se Ele pede que amemos, Ele nos dará forças para fazê-lo.
Talvez vocês já tenham lido o livro The Hiding Place, de Corrie Ten
Boom. Já nos foi pedido que passássemos pelas revoltantes injustiças que ela
descreve? Já experimentamos o pavor da guerra, dos campos de concentração
ou da morte de familiares ou amigos? A seguir está um trecho de seu livro,
no qual ela relata uma experiência já do fim da guerra. Ela já tinha sido
libertada da prisão e seu único desejo era ensinar a seu povo que a única
maneira de reconstruir a vida é por meio do amor. Então, ela depara-se com
um desafio inesperado e desconcertante:
“Foi em uma reunião religiosa em Munique que o vi, o antigo soldado
do exército de Hitler que servia de guarda na entrada do banheiro da prisão
de Ravensbruck. Ele era o primeiro dos nossos carcereiros que eu via desde
aquela época. E, de repente, era como se tudo estivesse voltando — todos
aqueles homens em atitude de zombaria, nossas roupas empilhadas, o rosto
de Betsie, pálido de medo.
Ele veio até mim quando a igreja começou a esvaziar-se, radiante e
reverente. ‘Como sou grato por sua mensagem, Fräulein’, disse ele. ‘Pensar
que, como você disse, Ele pagou por meus pecados!’
Então, ele estendeu a mão para apertar a minha. E eu, que tinha pregado
tanto ao povo de Bloemendaal sobre a necessidade de perdoar, não estendi a
mão.
Embora pensamentos inflamados e vingativos borbulhassem dentro de
mim, percebi que constituiria um pecado alimentá-los. Jesus Cristo morrera
por esse homem, e eu ainda queria pedir mais? Senhor, eu orei, perdoe-me e
ajude-me a perdoá-lo.
Tentei sorrir e esforcei-me para levantar a mão. Não conseguia. Não
sentia nada, nem a menor porção de afeto ou caridade. Então fiz outra oração
silenciosa. Senhor, não consigo perdoá-lo. Dá-me o Teu perdão.
Ao tocar a mão dele, algo incrível aconteceu. De meu ombro,
percorrendo o braço e a mão, uma corrente pareceu passar de mim para ele,
enquanto ardia em meu coração por esse desconhecido um amor que quase
me envolveu por completo.
Naquele dia, descobri que não é de nosso perdão e bondade que depende
a cura do mundo, mas do perdão e bondade de Deus. Quando Ele pede que
amemos nossos inimigos, Ele concede, junto com o mandamento, o próprio
amor.” (The Hiding Place [New York: Bantam Books, 1974], p. 238)
Morôni ensinou o mesmo princípio: “Portanto, meus amados irmãos,
rogai ao Pai, com toda a energia de vosso coração, que sejais cheios desse
amor que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu
Filho, Jesus Cristo”. (Morôni 7:48)
Esse amor perfeito, do tipo que traz a verdadeira paz, é uma dádiva. É
um dom concedido por nosso Pai Celestial em resposta à oração da fé. Não
teremos nenhum poder ou capacidade maior do que nossa capacidade de
suplicar a ajuda de Deus.
Gostaria de concluir descrevendo uma relação de irmãs que talvez seja a
mais sagrada de todas as escrituras. Nunca antes ou depois duas mulheres —
amigas, vizinhas e do mesmo círculo familiar — foram incumbidas de
responsabilidades tão grandiosas. Suas raízes tinham de ser profundas, pois o
fruto de seus lombos traria paz ao mundo inteiro.
Sempre me chamou a atenção o fato de, em seu momento de maior
necessidade, confusão, assombro e temor, Maria ter procurado outra mulher.
Ela sabia que podia contar com Isabel. Algo que também sempre me
impressionou nesse episódio foi ver que a diferença de idade entre elas não
representava uma barreira; no amor de Deus não há conflito de gerações.
Maria era muito jovem — provavelmente no meio da adolescência — e
Isabel já passara da idade fértil havia muito tempo. As escrituras informam-
nos que ela já estava na velhice. (Lucas 1:7) Contudo, essas duas mulheres
encontraram-se e saudaram-se de uma forma que só as mulheres conhecem.
De fato, foi o próprio fato de serem mulheres que Deus usou para Seus santos
propósitos. E nos papéis especiais que elas estavam destinadas a
desempenhar, essas duas mulheres amadas — representando o velho e o
novo, tanto em âmbito pessoal como de dispensação — cantaram uma para a
outra, enquanto o bebê no ventre de uma saltava ao reconhecer a divindade
do outro.
Isabel não era medrosa, mesquinha, ou invejosa. Seu filho não teria a
fama, o papel ou a divindade que haviam sido preparados para o Filho de
Maria; mas seus únicos sentimentos eram de amor e devoção. Para essa
parente jovem e atônita, ela disse apenas: “Bendita és tu entre as mulheres, e
bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha
visitar-me a mãe do meu Senhor?” (Lucas 1:42–43, grifo do autor) E para
Isabel, o cântico de Maria dizia: “A minha alma engrandece ao Senhor. (…)
Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações”. (Lucas 1:46, 51)
Esse diálogo entre essas mulheres diferentes, porém semelhantes,
parece-me conter a essência do amor, da paz e da pureza. Certamente, o
desafio para os nossos dias é sermos igualmente puras em nossa feminilidade.
Quando maculamos nosso rico potencial de amor com nossos temores e
mesquinhez, o desassossego substitui o bem-estar emocional e o desânimo
toma o lugar da paz.
Como mulheres, temos a escolha e o privilégio de ligar-nos a Deus
invocando Seu amor revigorador ao mais profundo de nosso ser. Tal paz e
poder podem ser estendidos às outras pessoas. Como Maria, cuja alegria e e
terrível fardo precisavam ser partilhados, cada uma de nós poderá encontrar
uma Isabel a quem poderemos voltar-nos, se cultivarmos tal relacionamento.
Como os ciclos das plantas e da natureza, o amor de uma mulher pode
ser um círculo eterno. Quando amamos o Senhor, amamos uns aos outros; e
quando amamos uns aos outros, amamos a nós mesmos. Então a colheita é de
fato o fruto da paz.
Fazendo apenas uma adaptação de pronomes, gostaria de terminar com o
seguinte pensamento de George MacDonald:
“Esse amor a [Deus e] ao próximo é a única porta que pode libertar-nos
da prisão de nós mesmas. Ter a si mesma, conhecer a si mesma, apreciar a si
mesma, a isso ela chama vida; contudo, se ela esquecer a si mesma, dez vezes
mais abundante será sua vida em Deus e em seu próximo. A região da vida da
mulher é uma região espiritual. Deus, seus amigos, vizinhos e irmãs são o
vasto mundo no qual o espírito dela pode achar seu lugar. Sua prisão é dentro
dela mesma.
[Ao dar de si para os outros] a mulher nunca perderá a consciência de
seu próprio bem-estar. Com muito mais profundidade e intensidade, Deus e o
próximo a devolverão a ela, em toda a sua pureza. Ela não mais padecerá para
ter tal consciência, pois saberá que a glória de seu próprio ser repousa junto a
Deus e suas irmãs.” (George MacDonald, Creation in Christ [Wheaton, Ill.:
Harold Shaw, 1976], p. 304)
Capítulo 5
Uma pessoa desleal talvez não tenha más intenções. Ela pode estar
até convencida de estar fazendo o bem com suas ações. Nesses casos,
vale lembrar que alguns tipos de traição têm o poder de produzir
resultados fora de nosso controle. Talvez não tenhamos pretendido
prejudicar alguém com nossas palavras e atos, mas, por vezes, vemos
mais tarde que as conseqüências foram desastrosas.
Hinos, nº 42
Hinos, nº 180
Capítulo 13
Deus quer que sejamos mais fortes do que somos, mais firmes em
nosso propósito, mais seguros em nossos compromissos, cada vez menos
dependentes Dele, demonstrando mais disposição de carregar parte de
Seu pesado fardo. Em poucas palavras, Ele deseja que sejamos como
Ele.
Parecia eu
ASSOMBRO ME CAUSA