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Dulce N.

Sitoe

Leusa A. Langa

Nelton Gabriel

Luciano M. dzimba

Olinda J. Chemane

Sumail M. Vilanculo.

JOGOS OLÍMPICOS NA FASE DE CONFLITOS, 1940 E 1984.

Faculdade de educação física e disporto.

Universidade Pedagógica

Maputo

2023
Dulce N. Sitoe

Leusa A. Langa

Nelton Gabriel

Luciano M. dzimba

Olinda J. Chemane

Sumail M. Vilanculo.

JOGOS OLÍMPICOS NA FASE DE CONFLITOS, 1940 E 1984.

Faculdade de educação física e disporto.

Trabalho de carácter avaliativo, a ser entregue


e apresentado na Faculdade de Educação
Física e Desporto, disciplina de História de
Educação Física e Desporto, 2o Ano, 1o
Semestre, sob a orientação dos Docente: Prof.
Dr. Pedro Pessúla.

Universidade Pedagógica

Maputo

2023
Fase de conflito nas olimpíadas e jogos.

Se no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial os Jogos Olímpicos se afirmaram


como um grande evento mundial, capaz de superar as diferenças políticas e sobreviver a elas,
a fase posterior à guerra colocaria o Movimento Olímpico frente às dificuldades de um
mundo dividido em dois grandes blocos: os países capitalistas e os países socialistas.

As tensões geradas entre esses dois blocos levaram o mundo a viver um período chamado de
Guerra Fria, em que o conflito armado em terra foi substituído por um forte jogo de
espionagem e de corrida pelo desenvolvimento de tecnologia bélica para o desafio de um
possível novo conflito generalizado.

Conforme HOBSBAWM (1995) a Guerra Fria foi quase uma extensão da Segunda Guerra
Mundial, que teve seu fim com a derrota de alemães, japoneses e italianos e deixou o mundo
dividido em dois grandes blocos políticos de poder. O pós-guerra foi marcado por uma
reconfiguração de alianças e aproximações políticas, cujo elemento norteador da formação de
blocos se deu pela ideologia e os interesses políticos e económicos subjacentes a ela.

Protagonistas da Guerra Fria, Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS), aliados durante a Segunda Guerra Mundial, diante da
necessidade de união de forças contra um inimigo comum, protagonizaram ao longo da
segunda metade do século XX batalhas sem sangue utilizando para isso diferentes recursos
para a afirmação de superioridade.

O desporto foi um deles, em meio a esse quadro os Jogos Olímpicos foram manipulados
como mais uma forma de demonstração de poder político e força social. As medalhas
passaram a ser contadas como pontos a favor de seus respectivos regimes, afirmando um tipo
de superioridade não pretendida pelo Movimento Olímpico.
As competições desportivas tornaram-se uma das manifestações públicas de maior
divulgação desse conflito. Grandes nações obviamente deveriam produzir grandes atletas que
demonstrariam ao mundo o verdadeiro potencial de construção de domínio de uma ordem
mundial binária.
De acordo com LÓPEZ (1992), já em 1948 a política havia ocupado no Olímpico um
protagonismo que não lhe cabia. A condição de isolamento imposta pelos burocratas ingleses
que dominavam o Movimento Olímpico à Alemanha e ao Japão, derrotados na guerra, era um
indicador de que as questões do mundo político arranhavam a aura independente do
Olímpico.

A Alemanha não chegou a ser convidada a participar. Também na condição de derrotado, o


Japão chegou a receber convite, mas preferiu não se manifestar quanto a sua presença.
A União Soviética, apesar da condição de aliada, não participou porque segundo o relato de
Lorde Burghley (depois presidente da Federação Internacional de Atletismo) esse país não
contava com Comité Olímpico estruturado. Ainda assim enviou um grupo de observadores
porque a aventura olímpica estava nos planos soviéticos. Os Jogos de Helsin que seriam essa
prova.

Em 1948 a então União Soviética participou dos Jogos Olímpicos de Londres na condição de
observadora, surgindo em Helsinque 1952 com uma delegação completa conquistando 69
medalhas contra 76 dos Estados Unidos. ESPY (1988) aponta que não foi tarefa fácil para os
filandeses, anfi triões dos Jogos de Helsinque 1952, uma vez que a invasão sofrida pela
antiga Rússia, o que levou inclusive ao cancelamento dos Jogos da XII Olimpíada, ainda
permanecia viva na memória local.

Agora a Finlândia recebia pela primeira vez na história a União Soviética que participou dos
Jogos como nação e se apresentou com uma delegação de mais de 300 atletas. Alegando os
mais variados motivos para não compartilhar da Vila Olímpica, espaço ocupado pelos países
do bloco capitalistas, soviéticos e seus aliados comunistas alojaram-se em uma base militar
soviética, em território filandês, no Mar Báltico.

Era apenas o início de muitas hostilidades que ainda estavam por vir, contrariando o ideal
olímpico de Pierre de Coubertin de que o Movimento Olímpico fosse apolítico, supra
nacional e supra partidário.

Alemanha e Japão voltavam a participar dos Jogos Olímpicos e a edição de Helsin que batia
um novo recorde de participações nacionais com 4.925 atletas de 69 nações. GUTTMANN
(1982) afirma que a partir do final da Segunda Guerra Mundial a esfera desportiva
compactuou dos dilemas oriundos da presença de uma nova e forte ideologia socialista.
A aristocracia presente no COI esteve dividida entre a retórica da congregação e a efectiva
antipatia em relação ao comunismo.

Por sua vez os Jogos de Melbourne 1956 representaram o palco para os conflitos relacionados
com a invasão soviética da Hungria, o que levaria Espanha, França e Suíça a se ausentarem
dos Jogos. De outro Líbano, Iraque e Egipto manifestaram seu repúdio com as atitudes
israelitas e também deixaram de competir. Quando os governantes da China nacionalista
souberam que Taiwan participaria na condição de Estado Nacional, também resolveram
impedir a presença de seus atletas às vésperas do embarque da delegação, frustrando a
expectativa de centenas deles que haviam se preparado para a competição.

 GARRIGOU (2001) afirma que em meio a inúmeros conflitos políticos muitos


atletas viram suas carreiras frustradas, impedidos de competir e apresentar suas
habilidades publicamente, mais uma consequência da interferência das questões
internacionais no mundo olímpico.

As questões relacionadas com a Alemanha, a Coreia e a China tornaram-se um grande


problema sem solução para o COI ao longo de várias décadas. No caso da Alemanha a
estratégia envolveu, a princípio, a escolha dos atletas por critério numérico. Isso favorecia,
obviamente, a Alemanha Ocidental até os Jogos Olímpicos de 1964, quando então os atletas
da Alemanha Oriental representaram a maioria da delegação. Estavam dadas as condições
para a formação de duas delegações a partir da edição seguinte que ocorreria no México em
1968. No caso da China optou-se por duas delegações desde sempre, embora a China tentasse
de diversas maneiras excluir Taiwan dos Jogos Olímpicos (KRÜGER, 1999).

A fase de conflito não é denominada assim apenas pela co-existência com a Guerra Fria, mas
com os diferentes tipos de conflito que existiram ao longo desses anos. A década de 60, na
qual ocorreram os Jogos Olímpicos de Roma 1960, Tóquio 1964 e México 1968 é a prova
dessas divergências. Se em Tóquio o Japão desejou mostrar ao mundo que havia superado as
sequelas da Segunda Guerra, promovendo uma edição dos Jogos repleta de inovações
tecnológicas, quatro anos depois era a vez da primeira nação latino-americana mostrar que
era capaz dessa proeza. Naquele momento o mundo não se dividia apenas entre capitalistas e
socialistas, mas havia também uma discriminação entre ricos e pobres, desenvolvidos e
subdesenvolvidos.
LÓPEZ (1992) aponta que os países de língua inglesa protestaram diante da possibilidade da
celebração olímpica ir parar no terceiro mundo. Já os países fora do circuito do
desenvolvimento apoiavam essa possibilidade com o argumento de expansão do Movimento
Olímpico e da prática verdadeira de seu ideal.

O México, mas grande parte do mundo, vivia a ebulição de um momento histórico marcado
pela invasão da Tchecoslováquia por tanques soviéticos, pelos protestos estudantis em Paris
que se espalharam por muitos outros países, pelos anos mais difíceis do regime militar no
Brasil e pelo crescimento do movimento racial norte-americano que ganhava projecção
mundial a partir da morte de Martin Luther King e da organização dos Panteras Negras.
Essas manifestações não passariam desapercebidas pelos Jogos de 1968.

Tommie Smith e John Carlos, dois atletas negros norte-americanos que utilizaram o pódio
para protestar contra a discriminação racial sofrida em seu país foram banidos para sempre
das competições desportivas. Já a ginástica tcheca, Vera Caslavská, ganhadora de quatro
medalhas de ouro e duas de prata, aproveitou o momento da premiarão para não
cumprimentar suas concorrentes soviéticas como forma de protesto contra a invasão de
Praga. Além de não cumprir o protocolo olímpico, imprimiu seu protesto e escapou ilesa da
punição sofrida pelos americanos, indicando a parcialidade com que essas questões foram
historicamente tratadas (LÓPEZ, 1992).

No mesmo período o COI anulou a restrição à racista África do Sul de ser afastada dos Jogos
Olímpicos. Diante da possibilidade da reintegração sul-africana protestos veementes das
demais nações africanas, acompanhadas da União Soviética, levaram os dirigentes a rever sua
posição e recuar na confirmação do convite. Os Jogos Olímpicos de Munique representaram
um dos principais marcos da Fase de Conflito.

 HARGREAVES (1992) aponta que com os Jogos Olímpicos de 1972 a Alemanha


buscava apagar as marcas que os Jogos de Berlim tinham deixado na memória do
Ocidente como os Jogos do nazismo.

A Alemanha mudara, o mundo havia superado o drama da Segunda Guerra, mas não as
diferenças geradas por ela. Uma vez mais a trégua olímpica contemporânea era posta à prova
com a invasão da Vila Olímpica de Munique por membros do grupo palestino Setembro
Negro, um dos braços armados da Organização para Libertação da Palestina, que exigia a
libertação de 250 presos palestinos.

No momento inicial da operação de sequestro foram mortos dois membros da delegação


israelita e outros nove foram mantidos como reféns e mortos posteriormente, durante a
invasão do aeroporto da cidade, em uma acção policial que provocou a morte dos nove
atletas, de cinco terroristas, de um piloto e de um policial alemão.

Os desdobramentos da dimensão que o espetáculo olímpico conquistou ao longo do século


foram invocados pelos dirigentes do COI quando questionados a respeito da continuidade das
competições. E mesmo diante da comoção internacional decidiram por manter as
competições após guardar um dia de luto em homenagem aos falecidos no atentado. Não
restava dúvidas sobre a lógica que prevalecia sobre as competições olímpicas: nada seria
capaz de impedir o maior espetáculo do planeta. Eram muitos os interesses envolvidos em
sua realização e as concessões pareciam crescer de maneira proporcional aos investimentos
governamentais e privados. No âmbito internacional as tensões geopolíticas continuavam a
interferir nas participações nacionais.

A OUA (Organização para a Unidade Africana) posicionou-se contra o convite do COI à


recém-independente Rodésia, acusada de racismo. Essa atitude durou até dias antes da
abertura dos Jogos quando enfim, a própria Rodésia se retirou dos Jogos dizendo que os
acordos firmados não haviam sido respeitados.

Foi exactamente a questão racial que motivou o grande boicote aos Jogos Olímpicos de 1976,
em Montreal. Na ocasião, 23 nações africanas deixaram de ir aos Jogos em protesto contra a
presença da Nova Zelândia, que havia disputado uma partida de hóquei contra a selecção da
África do Sul, banida dos Jogos Olímpicos em virtude do emprego de políticas de segregação
racial. Quatro anos mais tarde, pela primeira vez os Jogos Olímpicos seriam realizados em
um país socialista.

LICO (2007) aponta que esse fato, se isolado, já seria digno de destaque considerando que
no ano de 1980 a Guerra Fria ainda não havia terminado, mas não foi apenas isso que marcou
os Jogos de 1980. Processos políticos soviéticos resultariam na invasão do Afeganistão em 23
de Dezembro de 1979 e a partir daí uma série de desdobramentos ocorreram com grandes
consequências nos Jogos Olímpicos que seriam realizados no meio de 1980.

O boicote norte-americano, ensaiado em outras ocasiões, encontrou razões concretas para


acontecer e no dia 19 de Julho de 1980 aconteceu o desfile de abertura dos Jogos Olímpicos
de Moscou, com apenas 81 dos 142 países inicialmente inscritos. Quatro anos depois
aconteceria a revanche. Alegando falta de segurança para seus atletas, a participação de
atletas profissionais e a instalação de mísseis na Europa, 16 países não foram a Los Angeles:
União Soviética, Bulgária, Alemanha Oriental, Vietname, Laos, Mongólia, Afeganistão,
Hungria, Polónia, Cuba, Iêmen do Sul, Etiópia, Coréia do Norte, Angola e por fim Líbia.
Ainda assim, os Jogos Olímpicos de Los Angeles cresceram em número de participantes
chegando a 7.078 atletas de 141 países, Era o recorde absoluto até então.

Apesar da determinação soviética Roménia e Iugoslávia não se furtaram participar,


representando um nível mais elevado de competitividade em provas como a ginástica
olímpica e o basquete. E finalmente a China comunista, ausente desde 1936, retomou sua
participação. Diante da ausência dos principais adversários os atletas norte-americanos
ganharam três vezes mais medalhas que o segundo colocado, a Roménia. Anos mais tarde,
parte deles seria acusada de conquistar altos níveis de rendimento a custas de substâncias
proibidas.

Los Angeles já havia sido escolhida como cidade sede quando os Jogos de Moscou, foram
realizados. Foi a única cidade a apresentar candidatura, uma vez que muitas candidatas
potenciais reviram seus planos e recuaram dessa intenção diante dos prejuízos que Montreal
amargara em 1976. O governo bancou a candidatura mesmo sabendo disso e montou um
Comité Organizador com o firme propósito de obter os fundos necessários junto à iniciativa
privada para sua realização sem prejuízos para o comité ou para a comunidade. Inaugurava-se
um novo modelo de gerênciamento e organização dos Jogos Olímpicos. O empreendedor foi
Peter Ueberroth e levou os Jogos a renderam lucros de 250 milhões de dólares. Foram os
primeiros Jogos Olímpicos comercializados da história que isentaram o governo e a cidade de
qualquer custo. Os dois grandes boicotes e a profissionalização, tanto da realização dos Jogos
quanto dos atletas, marcam o fim do período de conflito.
Considerações finais:

A vontade de estudar e melhor compreender os componentes políticos no desporto trouxe


destaque natural à fase de conflito, por nela os Jogos Olímpicos terem tomado rumos
definitivos no que diz respeito ao alcance e importância em todo o mundo. Pouco antes do
início da fase de conflito, os Jogos já haviam sido usados politicamente de maneira efectiva.

Em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlin, o regime nazista usou o esporte e o evento
olímpico de maneira efectiva, redobrando os esforços na organização para que tudo saísse
perfeito e aqueles fossem lembrados, e avaliados por Pierre de Coubertin, como os Jogos
mais bem organizados até aquele momento. Seria o triunfo da Alemanha e o triunfo dos
nazistas.

Mais do que a excelência organizacional, nos Jogos de Berlim houve um enorme esforço por
parte dos alemães em superar a todos no quadro de medalhas, na tentativa de com isso
transmitir a mensagem da superioridade da raça ariana em relação às demais. Antes mesmo
do mundo polarizado e dos regimes ideológicos usarem esse artifício para manifestar
superioridade, em 1936 isso já havia sido feito, situação que se repetiu ao longo da Guerra
Fria e que permanece inalterada até os dias actuais.
Bibliografia:
1. KATIA Rubino, memoria e imaginário de atletas medalhistas olímpicos
brasileiros, são Paulo, 2004;
2. KÁTIA Rubio*, Jogos Olímpicos da Era Moderna: uma proposta de periodização,
Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo.

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