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40 melhores artigos científicos para


entender tudo sobre a tática no futebol

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Artigos científicos
40 melhores artigos científicos para entender tudo sobre tática no
futebol

Lista

1. A tática enquanto objeto de estudos em revistas científicas brasileiras sobre futebol

2. Conhecimento tático declarativo e o tempo de reconhecimento visual em situações de


jogo de jogadores de futebol de diferentes contextos

3. Desempenho técnico e tático de jogadores de futebol em jogos reduzidos conceituais

4. A escolha da tática de jogo no futebol de campo

5. A escolha do sistema tático nas categorias de base do futebol goiano

6. A marcação defensiva no Futebol de campo

7. A organização do treino baseado nos princípios fundamentais do jogo de futebol e


sua relação com o desempenho tático de jogadores da categoria sub 13

8. A superfície de jogo pode influenciar o desempenho tático de jogadores de futebol?

9. A tática do 4-1-4-1 no futebol: as suas variações e utilização pela seleção da Alemanha


na copa do mundo de futebol de 2014

10. Análise da evolução dos esquemas táticos do futebol brasileiro

11. Análise da variabilidade na medição de posicionamento tático no futebol

12. Análise das metodologias de treinamento tático no futebol

13. Análise do comportamento tático dos jogadores de futebol de categoria de base

14. Análise e avaliação do comportamento tático no futebol

15. Análise tático-técnica no futebol: comparação do campeão europeu 2018-19 com o


campeão sul-americano 2019

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40 melhores artigos científicos para entender tudo sobre tática no
futebol

Lista

16. Avaliação do desempenho tático no futebol: concepção e desenvolvimento da grelha


de observação do teste “gr3-3gr”

17. Comparação do conhecimento tático declarativo de jogadores de futebol de


diferentes categorias e posições

18. Comparação do desempenho tático entre resultados finais dos jogos reduzidos de
futebol

19. Comportamento e desempenho táticos: estudo comparativo entre jogadores de


futebol e futsal

20. Conhecimento tático processual, desempenho físico e nível de maturidade somática


em jovens jogadores de futebol

21. Desempenho tático de jovens jogadores de futebol: comparação entre equipes


vencedoras e perdedoras em jogo reduzido

22. Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol

23. Evolução dos esquemas táticos no futebol

24. Evolução dos sistemas táticos no futebol de campo: uma revisão de literatura

25. Futebol: um estudo sobre a capacidade tática no processo de ensinoaprendizagem–


treinamento

26. Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas em pequenos


jogos no futebol

27. Influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo reduzido de futebol

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Artigos científicos
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futebol

Lista

28. Influência do efeito da idade relativa e do comportamento tático sobre o desempenho


tático de jogadores de futebol da categoria sub-17

29. Influência do treinamento baseado em princípios no desempenho tático de jovens


jogadores de futebol

30. Motivação e desempenho tático em jovens jogadores de futebol: uma análise a partir
da teoria da autodeterminação

31. O conhecimento tático declarativo e processual em jogadores de futebol de


diferentes escalões

32. O ensino da tática e da técnica no futebol: concepção de treinadores das categorias


de base

33. O estatuto posicional pode influenciar o desempenho tático ente jogadores da


Categoria Sub-13?

34. Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação

35. Proposta de avaliação do comportamento tático de jogadores de Futebol baseada em


princípios fundamentais do jogo

36. Proposta de sistematização de ensino do futebol baseada em jogos: desenvolvimento


do conhecimento tático em jogadores com 10 e 11 anos de idade

37. Quais comportamentos táticos de jogadores de futebol da categoria sub-14 podem


melhorar após 20 sessões de treino?

38. Qual a importância dos esquemas táticos no futebol jovem?

39. Sistemas táticos: análise da utilização e eficácia nos jogos da copa américa de
futebol 2011

40. Uso da realidade virtual na demonstração de táticas de futebol de campo

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33
“ A tática enquanto objeto de
estudos em revistas científicas
brasileiras sobre futebol

Lopes Marcelo Santos


UVV

Murilo Eduardo dos Santos Nazário


UVV

Artigo original publicado em: 2017.


Revista Brasileira de Futsal e Futebol - ISSN 1984-4956.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/201102310
RESUMO

O estudo teve como objetivo realizar uma pesquisa do tipo estado do conhecimento em
dois periódicos científicos da área de futebol. Para tanto, as fontes selecionadas foram
artigos publicados em dois periódicos específicos da área do futebol, “Revista Brasileira
de Futebol” e “Revista Brasileira de Futsal e Futebol”, com intuito de investigar como a
questão da tática no futebol é discutida na área acadêmica. A partir dos Palavras-chave
optados na busca das respectivas revistas: “tática” e “tático”, foram elencados 30 artigos
científicos ligados à tática no futebol entre os anos de 2008 a 2015. O levantamento tam-
bém identificou 30 instituições envolvidas com a produção destes artigos. Dentre eles,
a análise tática, a inteligência tática e a valorização do treinamento técnico-tático foram
os aspectos mais abordados pelos autores. Já em relação aos pesquisadores consul-
tados nos artigos, os professores Greco, Garganta, Mesquita, Paoli e Costa constaram
como as fontes mais citadas que mais selecionadas para estudos sobre o aspecto tático
no futebol. Apesar disso, a tática enquanto objeto de estudo no campo acadêmico, nas
fontes selecionadas, apresenta uma condição incipiente quando se compara com ou-
tras estruturas componentes do futebol, tais como técnica, preparação física e iniciação
esportiva. A partir deste panorama, a aplicação de testes de avaliação da inteligência
tática no futebol brasileiro pode oferecer elementos fundamentais na busca de respostas
para corrigir deficiências no padrão de jogo dos atletas desde a base e contribuir para a
melhoria de desempenho do futebol brasileiro.

Palavras-chave: Futebol, Tática, Estado do Conhecimento.


INTRODUÇÃO

O futebol assume representações singulares no amalgama social atual, para além


de uma simples modalidade esportiva conferindo-lhe um status de fenômeno polis-
sêmico e secular.
Nesse sentido, é possível realizar empreendimentos reflexivos e analíticos por diferentes
veredas epistemológicos, desde sua inserção nos campos brasileiros, da várzea às arenas
da copa do mundo, à sua relação com a identidade nacional até a sua utilização enquanto
ferramenta político-econômica.
Assim, quando tratamos do assunto no Brasil é preciso compreendê-lo como parte
da sociedade, pois assim como o Carnaval, a arte, a música e a religião, característicos de
cada região, o futebol é uma manifestação cultural construída através dos tempos por nossa
sociedade (Rinaldi, 2000).
Por isso mesmo quando discutimos regras, técnicas e táticas principalmente, estruturas
específicas dentro do esporte, é preciso situá-las dentro deste panorama social e cultural
(Ribeiro, 2004).
O futebol brasileiro, representado pela seleção nacional, historicamente na perspectiva
do alto rendimento, conquistou cinco títulos mundiais, fazendo dele o maior vencedor de
Copas do Mundo. E consequentemente tornando-se referência para outros países.
Apesar disso, os últimos resultados, como a campanha na Copa do Mundo de 2014,
perdendo na semifinal por 7 x 1 para a Alemanha e 3 x 0 para a Holanda na disputa pelo
terceiro lugar, a derrota para o Paraguai nos pênaltis ainda nas quartas de final da Copa
América 2015 e a recente derrota para o Peru por 1 x 0 ainda na fase de grupos da Copa
América 2016, que resultou na eliminação da equipe na competição, levantaram questiona-
mentos sobre a qualidade do futebol no país.
Com isso discussões sobre gestão, formação de base do atleta, formação do treinador
desportivo e necessidades de inovações do treinamento com ênfase na estrutura técnico-
-tática, tem ocorrido nos diferentes campos, desde o esportivo, passando pelo político e o
midiático até alcançar o acadêmico.
O esporte que mobiliza milhares de pessoas ao redor do mundo encontra-se em cons-
tante transformação e ao longo dos anos modificou bastante a forma de se jogar devido a
muitos estudos na área, como os de Greco (2006) e de Garganta (2001).
Porém esta realidade de atualização e de utilizar a ciência a favor da modernização
do esporte é algo mais atual, principalmente no Brasil.
Esta modernização e avanço em diversas áreas, como as da medicina e psicologia
esportiva e do desenvolvimento do treinamento técnico-tático do futebol contribuíram para o

464 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


jogo sair de uma condição empirista, saudosista e romântica, que se convencionou chamar
de futebol-arte para algo mais sistematizado (Ribeiro, 2004).
A partir dos anos oitenta segundo Garganta (2001), tomaram-se diversas iniciativas no
intuito de sistematizar o conhecimento do futebol, o que se traduziu em diversos congressos
internacionais sobre o tema.
A sistematização no futebol surge então nesse embate envolvendo um cientificismo por
vezes cego, negando a subjetividade e a qualidade do jogador, assim como num praticismo
exacerbado, considerando os resultados e nuances do futebol apenas fruto do acaso, com
os atores do futebol confiando plenamente no seu conhecimento original, de ter nascido
para o esporte (Garganta, 2001).
Ribeiro (2004) afirma que um dos grandes entraves ao desenvolvimento de uma maior
produção científica do futebol no Brasil ou mesmo que dá maior credibilidade desta, é parte
de uma literatura cheia de subjetividades e mitos, levando a um viés muito mais ficcional
que o crítico/científico, além de certo preconceito no meio acadêmico que considera o es-
porte um grande produto de massa da sociedade, por muitas vezes usado no jogo de ma-
nipulação política.
A ciência encontra bastante resistência em alguns personagens no contexto do fu-
tebol por procurar a evolução constante das ideias do jogo, saindo das velhas respostas
definitivas de profissionais que repetem as mesmas práticas desde o início de suas ativida-
des profissionais.
Apesar desta certa resistência é notória a crescente preocupação em se utilizar a
ciência no futebol no Brasil e no mundo.
Às pessoas que procuram rotineiramente fórmulas variadas em suas práticas e estão
abertas a novas contribuições para a melhoria do futebol, compreendem a ciência como
uma grande aliada (Garganta, 2001).
Partindo do pressuposto que devemos nos alicerçar pela ciência em busca da evolu-
ção do nosso futebol, é notório que a pesquisa científica necessita de ser estimulada para
o desenvolvimento do esporte.
Dentre os principais elementos que compõem uma grave deficiência do esporte no país,
citada por diversos personagens do futebol nacional e estrangeiro, está o comportamento
tático brasileiro, tanto de clubes como dos próprios jogadores.
As demandas táticas são partes fundamentais na estrutura dinâmica do esporte atual,
porque durante uma partida, segundo Garganta (1997), surgem situações imprevistas que
exigirão dos jogadores a utilização da capacidade de adaptação em busca de respostas
imediatas às ações da partida.

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 465


Para agregar informações e elementos adequados que possibilitarão uma melhor deci-
são a respeito de tudo o que acontece durante uma partida de futebol é preciso conhecimento
sistêmico do jogo, conhecê-lo como um todo, diagnosticando todas as ações previstas ou
imprevistas dentro de uma partida, para poder responder da forma mais eficaz em campo,
como explica Garganta e Gréhaigne (1999).
De acordo com Greco (2006), que buscou embasamento na Psicologia cognitiva, exis-
tem dois tipos de conhecimento, o Declarativo, em que dentro de um grupo organizado de
informações e fatos, se determina a melhor escolha, ou o que fazer e o Processual, que são
procedimentos possíveis de serem executados e concretizados através da função motora,
determinando o melhor gesto e decisão que deverá ser executada em uma situação de
jogo, ou como fazer.
Dentro do Conhecimento Processual Greco (2006) acrescenta ainda que existem dois
parâmetros: o divergente, neste caso a criatividade tática, quando o jogador produz diversas
alternativas para uma determinada situação, e o convergente, que seria a inteligência tática,
em que o jogador seleciona entre as diversas alternativas, uma única, considerada ótima.
Como aponta Castelo (2002), o ritmo dos jogos de futebol está se tornando cada vez
mais intenso e é necessário que o jogador reaja e tome decisões de maneira adequada.
Com isso, ter um bom raciocínio tático é essencial para ser bem-sucedido.
Considerando que sem o estudo e aplicação do conhecimento tático estamos fadados
a estagnar no futebol, foi realizada uma pesquisa do tipo estado do conhecimento em dois
periódicos científicos da área de futebol.
Para tanto, as fontes selecionadas foram artigos publicados em dois periódicos es-
pecíficos da área do futebol, “Revista Brasileira de Futebol” e “Revista Brasileira de Futsal
e Futebol”, com intuito de responder a seguinte problemática: como a questão da tática no
futebol é discutida na área acadêmica? Com isso espera-se identificar e mapear os alcances,
as redundâncias, as lacunas, as recorrências e os tensionamentos existentes em relação a
esse objeto de estudo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho é uma Pesquisa documental, amparada na Cientometria e pela Bibliometria,


com direcionamentos a partir da análise bibliométrica dos dados encontrados.
A Cientometria e a Bibliometria se correlacionam, porém, Spinak (1998) define as di-
ferenças entre os dois termos.
Enquanto a Bibliometria envolve a aplicação de análise estatística, estudos quantitati-
vos e métodos matemáticos para a produção de material científico, a Cientometria já é um
estudo mais amplo, utilizando-se, por exemplo, da Bibliometria para o estudo da Ciência.

466 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


Fato que confere à Cientometria a capacidade de estabelecer comparações entre as
políticas de investigação científica dos países, analisando os aspectos econômicos e sociais.
A avaliação da produção científica nesta pesquisa segue os parâmetros e objetivos do
estado do conhecimento, como aponta Romanowski e Ens (2006), um estudo que aborda
um setor específico, neste caso os periódicos, do tema a ser estudado (tática no futebol),
O estado de conhecimento revela-se como importante meio de investigação, pois
pretende contribuir no campo teórico de uma área de estudo apontando as restrições de
pesquisa neste campo, lacunas, alternativas e soluções para os problemas da prática, con-
tribuindo para a construção de um conhecimento mais amplo em cada universo de estudo
(Romanowski e Ens, 2006).
Além disso, a pesquisa também propôs analisar a ênfase dos trabalhos realizados na
área escolhida, a relação do pesquisador com o método ou pesquisa de campo definida
para cada estudo, para não se restringir a identificar uma produção, mas analisá-la, catego-
rizá-la e revelar os múltiplos enfoques e perspectivas, o que confere ao estudo este caráter
de estado do conhecimento.
Outro aspecto relevante que move a pesquisa é a busca por mais informações, por conta
de um não conhecimento a respeito da totalidade dos estudos como cita Ferreira (2002).
A fim de contribuir para uma visão global de uma área de estudos, e oferecer ele-
mentos importantes para a produção científica nacional, como citam Mugnaini, Carvalho e
Campanatti-Ostiz (S/D) a respeito de estudos quantitativos, adentrei neste trabalho a fim
de elaborar um levantamento de artigos científicos que possuíam como objeto de estudo a
tática no futebol.
Como cenário de pesquisa optou-se pela Revista Brasileira do Futebol1 e Revista
Brasileira do Futsal1 e do Futebol2, justifica esse procedimento devido ao conteúdo espe-
cífico que circula nesses periódicos, ou seja, o futebol e seus diferentes desdobramentos.
Em seguida foram utilizados, nas ferramentas de busca das respectivas revistas, os
descritores: “tática” e “tático”, e com isso foram elencados 30 artigos científicos ligados à tática
no futebol entre os anos de 2008 a 2015, que passam a compor a amostra desse estudo.

1 A Revista Brasileira de Futebol (The Brazilian Journal of Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu do Departamento de Educação
Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV), cuja missão é divulgar informações científicas para a comunidade acadêmica na-
cional e mundial, bem como para profissionais e/ou estudantes que pretendam aprimorar o conhecimento técnico-científico nesta
modalidade. 2 Revista Brasileira de Futsal e Futeb
2 Revista Brasileira de Futsal e Futebol (RBFF) é uma publicação do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exer-
cício (IBPEFEX), é de periodicidade quadrimestral, com publicação de artigos científicos, fruto de pesquisas e estudos de cientistas,
professores, estudantes e profissionais que lidam com o Futsal, o Futebol e a Pedagogia do Esporte no sentido da aprendizagem, da
iniciação e do alto rendimento no âmbito do esporte, da educação e da sociedade.

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 467


RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ano de 2013 foi o de maior produção científica, com 8 publicações. Dentre uma das
possíveis explicações podemos inferir que este ano, por ser anterior à Copa do Mundo,
estimulou o interesse de pesquisadores da área em escrever artigos específicos para o
universo do futebol.
Outro resultado que pode ser ressaltado é a constância do número de publicações,
sobre tática nos anos de 2010 a 2012, com o total de 4 artigos, assim como 2014, revelando
que o tema mantém seu espaço nas discussões científicas acerca do futebol.
Contudo deve se salientar que quando se compara a temática em questão com outros
temas abordados nas revistas nota se que tática não tem se configurado como um dos
principais interesses dos pesquisadores da área, pois temáticas como técnica, iniciação e
preparação física têm maior recorrência de publicação.
Este levantamento identificou 30 instituições envolvidas com a produção de artigos,
sendo elas universidades (23 no total, com uma estrangeira, a FADEUP, de Portugal), clubes
(3), uma Instituição e uma Secretaria Estadual. Também foi encontrada uma publicação com
o autor sem vínculo com uma instituição específica.
Quanto ao número de autores que publicaram artigos pelas instituições, observa- se
quantidade significativa na Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, com 15 pesquisa-
dores escrevendo por suas universidades, assim como na Universidade Federal de Viçosa,
de Minas Gerais, onde 12 pesquisadores estiveram envolvidos com artigos no universo da
tática no futebol.
Um ponto de interrogação em relação a este levantamento é o fechamento da
Universidade Gama Filho, de onde 15 autores estavam vinculados. Fato que gera certa
preocupação na quantidade de futuras pesquisas não apenas na parte tática do futebol,
como também no universo deste esporte como um todo.

Figura 1. Número de publicações por ano.

468 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


Figura 2. Número de autores por instituições.

Em relação às outras instituições que compõem a pesquisa, pode-se destacar a relação


de clubes com Universidades, como a Universidade Federal de Viçosa, em três trabalhos,
que envolveram clubes de menor expressão como o Centro Esportivo Ubaense e clubes de
expressão nacional, como Ponte Preta, Novorizontino, Coritiba e Flamengo.
Isso demonstra que algum clube tem buscado ampliar o conhecimento a partir do
embasamento cientifico.
Outro ponto a ser ressaltado é a diversidade de instituições pelo Brasil, desde a
Universidade de São Paulo (USP) ou a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e
outras que representam quatro regiões brasileiras (Nordeste, Sul, Centro Oeste e Sudeste),
excetuando apenas a Região Norte.
Pesquisas de outros países, como as que foram feitas em Portugal, também contribuem
bastante para a discussão bem fundamentada da tática do futebol em nosso país.
A quantidade de instrumentos de pesquisa revela uma boa diversidade de formas de
se buscar respostas para as perguntas propostas pelos pesquisadores.
Verifica-se que a revisão bibliográfica ainda é encontrada com certa representatividade
(5 ao todo), o que dá 16% dos 30 trabalhos encontrados.
Ocorrência que pode demonstrar uma necessidade por mais pesquisas de cam-
po na área tática.
Outras formas de pesquisa identificadas foram Análise de Vídeo (5), Coleta de Dados
de site (3), Questionário (2) e outras 27 formas de pesquisa, em sua maioria pesquisas de
campo, o que demonstra uma boa quantidade nesse aspecto.
A ressalva à quantidade de pesquisas de campo é verificar que em apenas um trabalho
foi encontrado 12 métodos para se diagnosticar as perguntas propostas pelos pesquisadores,
ou seja, se por um lado observa-se um trabalho qualificado, com excelente diversidade de

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 469


pesquisas, por outro sobram apenas 15 outras formas de pesquisa para outros 29 trabalhos,
apresentando quantidade limitada de trabalhos de campo neste aspecto.

Figura 3. Quantidade de Formas / Instrumentos de Pesquisa.

Figura 4 - Aspectos Abordados na Pesquisa.

Sobre os resultados encontrados nos artigos pesquisados, verificou-se uma pre-


dominância na Análise Tática, com 15 ocorrências, o que significou exatamente a meta-
de dos trabalhos.
Apesar disso, cada um destes estudos elaborou formas diferentes de chegar
à uma conclusão.
Na pesquisa de Braz e Marcelino (2014), a opção dos autores foi analisar a posse de
bola das seleções que participaram da Copa do Mundo de Futebol na África do Sul em 2010
com base em estatísticas desses times.
Esta opção de investigação também foi utilizada por outros autores que analisaram
vídeos ou montaram scouts para chegar aos resultados, como no trabalho de Bezerra
e Navarro (2012).
Já no artigo de Cavalcante e Trindade (2015), optou-se por investigar a semiose tática,
a que os autores denominaram de triângulo de finalização, encontrando como resultado o
fato de que 40% dos gols da seleção holandesa em 1974 foram provenientes dessa ação.

470 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


Outros estudos com linhas de investigação diferente para fazer-se uma análise tática
seguiram o caminho da revisão de literatura ou análise crítica, como o trabalho de Guimarães
e colaboradores (2012).
Neste estudo também houve o momento de experiência prática dos autores, assim
como a execução da proposta.
Como resultado verificou-se que a tática individual e de grupo favorecem o treino da
tomada de decisões dos jogadores, incrementando a inteligência tática nos atletas. Seguindo
a mesma linha, Braz (2013) identificou que a análise dos componentes técnicos-táticos nos
jogos não tem a mesma relevância que a parte física em uma partida de futebol.
Ponto que reforça a necessidade do trabalho tático no esporte, tanto que o autor orienta
para a necessidade de se observar quais ações são realizadas, seu nível de eficácia, além
de compreender o momento que esta decisão foi tomada e os fatores que influenciaram
para a escolha de determinada ação.
A tática revela-se um fator de tal relevância nas partidas que, segundo os resultados da
pesquisa de Kaid e colaboradores (2010), pode ser determinante para a vitória de uma equipe.
Tanto que no trabalho de Garcia e Araújo (2012), em que foram analisados os siste-
mas táticos utilizados pelo Fluminense, campeão brasileiro de 2010, a escolha do sistema
tático 4x4x2, pelo então treinador Muricy Ramalho, foi responsável pelo maior número de
pontos da equipe. Outro destaque neste quesito de opção tática foi identificado no estudo
de Macedo e Leite (2009), evidenciando a importância do treinamento tático nas equipes a
ponto de sugerir a uma equipe uma formação tática até por observar a limitação na variedade
de opções táticas no jogo do time em questão.
Apesar de a Análise Tática ser a mais optada pelos pesquisadores, é de se destacar
positivamente a quantidade de trabalhos que investigaram a Inteligência Tática, com 10 ao
todo, o que significou um terço dos artigos pesquisados. A variedade dos instrumentos para
se chegar aos resultados apresentou dados importantes a serem destacados.
Sobre Conhecimento Tático Declarativo (CTD), foram encontrados três trabalhos com
esta opção para se investigar a inteligência tática.
Nas pesquisas de Aburachid e colaboradores (2013) e Macedo (2013) apontam para
uma maior inteligência tática com o decorrer da idade dos atletas.
Já no trabalho de Ferreira Júnior e colaboradores (2010) os resultados indicaram que
a definição da melhor escolha é relevante, porém a tomada de decisão do atleta em uma
situação específica e como este irá executar a ação é mais determinante devido a imprevi-
sibilidade de um jogo de futebol.
Assim como a investigação do CTD, também foi analisado o Conhecimento Tático
Processual, com destaque para os artigos de Costa e colaboradores (2009), com o teste

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 471


“GR3-3GR”, Gonzaga e colaboradores (2014), utilizando o método FUT-SAT, e Bezerra e
colaboradores (2013), com a utilização do teste de KORA O.O.
No método “GR3-GR”, os resultados das pesquisas não indicaram uma diferença muito
significativa do início para o fim do teste.
Quanto ao teste FUT-SAT, a diferença de desempenho em relação a posição dos joga-
dores não apresentou grandes discrepância. Porém no estudo em que o teste de KORA O.O.
foi utilizado, os resultados indicaram para autores que é necessário um maior cientificismo
na seleção de jovens jogadores para que diminua a forma subjetiva como são analisados
atletas mais novos.
Como curiosidade na categoria que a avaliou a tática para se chegar aos resultados,
cabe a citação do trabalho de Marcon e Saad (2013), concluindo em seus estudos que os
treinadores de futebol de futsal avaliados tiveram as melhores tomadas de decisão em rela-
ção aos de futebol de campo. Porém precisa-se de mais estudos em relação ao tema para
podermos tirar conclusões mais concretas.
O destaque positivo para os artigos pesquisados é encontrar estudos indicando para
além do estudo quantitativo ou da análise de ações isoladas em uma partida de futebol, como
se pode observar no trabalho de Braz (2013). O autor alerta sobre a prevalência do aspecto
físico no esporte em detrimento dos aspectos técnico-táticos, mesmo o futebol tendo uma
natureza tática bem definida em sua dinâmica. Outro fator identificado pelo pesquisador é a
constatação de que há poucos estudos com foco na análise do jogo no futebol.
Para Braz, a compreensão das ações do futebol não pode ser isolada, devendo ser ob-
servados todos os fatores que interferem nos resultados das ações em uma partida de futebol.
A partir dos resultados pode-se notar a importância do treinamento tático para a cons-
trução de um jogador de futebol criativo e dinâmico, sendo essencial para um técnico passar
métodos adequados que favoreçam a tomada de decisões e autonomia de seus jogadores.

472 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


Tabela 1. Autores/Obras mais citadas.

Legenda: * OC = Ocorrências.

Dentre os autores mais citados nos artigos destaca-se Pablo Juan Greco, com 66
ocorrências, sendo 15 do livro Iniciação Esportiva Universal, com seus diferentes volumes
e títulos, em que o pesquisador aborda a importância da formação esportiva desde a esco-
la, desenvolvendo a criança no seu aspecto motor através da escolha mais adequada do
método de ensino que mais facilite a aprendizagem técnica e tática.
Dentro destes volumes, a obra mais citada pelos pesquisadores, com 8 ocorrências,
foi “Iniciação esportiva universal: metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube”.
Neste estudo, Greco propõe um modelo de treinamento técnico-tático em diversas
modalidades esportivas, dentre elas o futebol, no intuito de ofertar aos jogadores um co-
nhecimento mais abrangente que apenas a execução do gesto técnico empregado em uma
situação, explicando o que fazer e como fazer, desenvolvendo sua capacidade de jogo.
O outro título, “Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento
técnico” também foi bem mencionado, com 5 citações ao todo.
Nessa obra, Greco enfatiza os diferentes princípios que norteiam a ação pedagógica
no processo de ensino- aprendizagem-treinamento no intuito de desenvolver as capacidades
psíquicas, técnica, socioambiental, biotipológica, tática e física do indivíduo, cuidando para
que seja respeitada nesse processo tanto a individualidade biológica quanto os conteúdos
psicossociais da criança.

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 473


Ainda sobre Greco, foram identificados 3 estudos do autor nos artigos pesquisados,
todos sobre tática no futebol, considerando que a obra “Futebol: um estudo sobre a capaci-
dade tática no processo de ensino- aprendizagem-treinamento”, artigo em que o professor
participa, é citado 4 vezes nas obras pesquisadas neste trabalho.
O artigo em questão aborda a importância da inteligência tática neste esporte, en-
fatizando a relação da percepção e da tomada de decisão durante as situações de jogo,
tanto nas ações individuais quanto nas de pequenos grupos de jogadores e táticas da
equipe como um todo.
O autor português Júlio Garganta também conta com muitas menções dos pesquisa-
dores, com 51 no total.
Dentre seus trabalhos, sua tese de doutorado, com 4 ocorrências, discute sobre a com-
plexidade da modelação tática ofensiva no jogo de futebol, procurando identificar as caracte-
rísticas mais comuns e preferenciais das equipes. O autor aponta que apesar das imprevisi-
bilidades contidas em um jogo de futebol é possível identificar uma constância nas decisões.
Já no artigo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos”, com 4 menções, Garganta
comenta sobre os jogos desportivos coletivos (JDC), discutindo além das relações de coo-
peração e oposição que definem estes jogos, sobre a quantidade de ações que acontecem
nestas partidas, o que exige dos jogadores uma consciência tática para resolver as situações
imprevisíveis e aleatórias que lhes são impostas.
O outro artigo em que Garganta é citado, “Inteligência e conhecimento específico em
jovens futebolistas de diferentes níveis competitivos”, com a participação de Costa, Fonseca
e Botelho (2002), trouxe a análise do conhecimento declarativo de jogadores de futebol em
diferentes estágios de profissionalismo, procurando identificar qual o conhecimento deles a
respeito do esporte e a inteligência de maneira geral.
O grupo com maior nível competitivo apresentou resultados melhores em relação aos
outros jogadores no conhecimento do jogo, porém pouco significativo no tocante à dife-
rença dos números.
Apesar disso, a inteligência de forma geral obteve ótimos resultados dos atletas menos
competitivos em relação aos de maior competitividade.
Mesmo assim, não é possível afirmar com exatidão que estes atletas menos experientes
têm uma inteligência tática maior em relação ao outro grupo com um nível de competição
mais elevado ou com outros, tanto que no estudo de Giacomini e colaboradores (2011), por
exemplo, os resultados foram mais favoráveis para os atletas com maior experiência.
A professora Isabel Mesquita é outra pesquisadora com grande número de obras
citadas, com 16 ao todo. O artigo “Princípios táticos do jogo de futebol: Conceitos e aplica-
ção”, com 2 ocorrências, em que a pesquisadora participou juntamente com Costa, Siva e

474 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


Greco (2009), propôs um plano conceitual de dois novos princípios táticos no jogo de futebol
(Concentração e Unidade Defensiva), colocando-os em prática no intuito de contribuir tanto
para a parte ofensiva quanto a defensiva do jogo.
Já Próspero Brum Paoli, com 15 citações, também contribui na confecção dos artigos
pesquisados neste trabalho. Entre suas obras, o artigo “O desenvolvimento do processo de
treinamento das ações táticas ofensivas no futebol na categoria infantil”, com 3 ocorrências,
desenvolvido juntamente com Melo, Paoli e Silva (2007), optou por proporcionar a técnicos
e profissionais responsáveis pelo treinamento de jogadores, ações a serem trabalhadas,
como saídas e inversões de bola, ultrapassagens e jogadas de bola parada, para agregar
ao ensino da tática. O autor já relatava da necessidade de estudos mais aprofundados no
universo tático do futebol.
Mais um autor bastante utilizado nas referências dos trabalhos foi Israel Teoldo da Costa
com 13 citações. Juntamente com Garganta, Greco, Mesquita e Maia (2011), o pesquisador
desenvolveu o artigo “Sistema de avaliação táctica no Futebol (FUT-SAT): Desenvolvimento
e validação preliminar”, que apresentou o método de pesquisa FUT-SAT, um sistema de
avaliação tática no Futebol de bastante confiabilidade, o que o autor explicita em sua obra,
além da importância de se poder contar com um instrumento de grande valia para a inves-
tigação da inteligência tática em jogadores de futebol.
Este último artigo também fez parte da série de obras publicadas pelos pesquisado-
res Greco, Garganta, Costa e Mesquita, todos doutores em suas áreas, que juntos foram
responsáveis por 10 artigos publicados na área do futebol focando principalmente sobre a
questão tática e sua importância na dinâmica do esporte.

CONCLUSÃO

A tática enquanto objeto de estudo no campo acadêmico, nas fontes selecionadas,


apresenta uma condição incipiente quando se compara com outras estruturas componentes
do futebol, tais como técnica, preparação física e iniciação esportiva.
Isso está na contramão ao cenário atual que evoca a necessidade de ampliação das
questões que envolvem a tática no contexto do futebol.
Pois é recorrente nos artigos pesquisados e em estudos como os de Garganta (2001),
Moreira (2009) e Greco (2002), de que o futebol está mais dinâmico e que requer tomada
de decisões cada vez mais rápidas e eficazes.
Nesse sentido, é necessário que as capacidades individuais do jogador estejam atrela-
das à melhora dos processos de percepção e tomada de decisão, principalmente na questão
tática (Filgueira e Greco, 2008).

Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2 475


Logo, ter um eficiente conhecimento tático auxilia bastante para o desenvolvimen-
to de um atleta de futebol, e de forma mais evidente ainda se pensarmos no âmbito do
alto rendimento.
Aplicar este conhecimento desde a base do futebol tende a agregar positivamente na
construção deste jogador que pretende ascender ao profissional.
A partir desta lacuna na produção científica brasileira e pela necessidade de buscar
dados que possam identificar indícios do panorama atual da inteligência tática no futebol
brasileiro, a aplicação de mais testes como o FUT SAT, validado por Costa e colaborado-
res (2011), que foi desenvolvido para possibilitar aos treinadores e professores uma forma
específica de avaliar qual o nível de performance tática de seus atletas, podem oferecer
elementos fundamentais na busca de respostas para corrigir deficiências no padrão de jogo
dos atletas desde a base e contribuir para a melhoria de desempenho do futebol brasileiro.
Todavia, a pesquisa realizada fornece um breve panorama da produção científica
acerca da tática no futebol brasileiro.
Um dos pontos que podem ser mais bem explorados em estudos futuros relaciona- se
ao modo como o treinador sistematiza o treinamento tático no cotidiano do futebol e como
o jogador brasileiro domina a questão tática.

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478 Educação Física e Ciências do Esporte: Uma Abordagem Interdisciplinar - Volume 2


312
Motriz, Rio Claro, v.21 n.3, p.312-320, July/Sept. 2015 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-65742015000300013

Original article (short paper)


Technical and tactical soccer players’
performance in conceptual small-sided games

Cristian Javier Ramirez Lizana


Universidade de Campinas, UNICAMP, Limeira, Brazil

Riller Silva Reverdito


René Brenzikofer
Denise Vaz Macedo
Universidade de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brazil

Milton Shoiti Misuta


Universidade de Campinas, UNICAMP, Limeira, Brazil

Alcides José Scaglia


Universidade de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brazil

Abstract––Conceptual small-sided games (CSSGs) may be interesting as a methodology for training soccer players
given its connection to the unpredictability that is inherent to soccer. Our aim was investigate, through videogrammetry,
if the technical and tactical principles promoted through the adoption of distinct rules from two distinct CSSGs
(maintaining ball possession; and progression to the target) would actually be achieved. The study included 24 athletes
assigned to 6-player teams. Our data showed that the CSSGs’ organising principles create situations with differing
levels of difficulty that obey the propositions of maintaining ball possession and progression to the target, i.e., CSSGs
permit systematic training on technical and tactical components in order to emphasize the concepts adopted in this
study in games context. Our data credit the CSSGs for teaching technical and tactical lessons that, when coupled with
adequate physical conditioning, can facilitate a player’s capacity to merge thoughts and events in different situations.
Keywords: soccer, conceptual small-sided games, technical, tactical

Resumo––“Desempenho técnico e tático de jogadores de futebol em jogos reduzidos conceituais.” A utilização de


jogos reduzidos conceituais (JRC) pode ser uma metodologia de treino interessante para treinar a imprevisibilidade
inerente ao jogo de futebol. Nosso objetivo no presente estudo foi investigar por videogrametria os princípios técnico-
táticos adotados em resposta as respectivas regras de dois jogos reduzidos conceituais distintos (manutenção de posse
de bola e progressão ao alvo). Participaram do estudo 24 atletas separados em equipes de 6 jogadores. Nossos dados
comprovaram que os princípios organizadores dos JRC criam situações distintas com graus de dificuldade diferentes.
Ou seja, é possível sistematizar o treinamento dos componentes técnicos e táticos de forma a enfatizar os conceitos
adotados neste estudo e inseridos no contexto do jogo. Nossos dados credenciam os JRC para o aprendizado de situações
técnico táticas que, aliadas ao condicionamento físico adequado podem contribuir para produzir um jogador treinado
para aproximar cada vez mais pensamentos e ações em situações diversificadas.
Palavras-chave: futebol, jogos reduzidos conceituais, técnica, tática

Resumen––“Rendimiento técnico y táctico de jugadores de fútbol en juegos reducidos conceptuales.” El uso de los
juegos reducidos conceptuales (JRC) puede ser una interesante metodología para entrenar a la imprevisibilidad inherente
en el juego de fútbol. Nuestro objetivo en este estudio fue investigar por videogrametría los principios técnico-tácticos
adoptadas en respuesta a las respectivas reglas de dos JRC distintos (posesión del balón y la progresión a la meta).
El estudio incluyó a 24 atletas divididos en equipos de 6 jugadores. Nuestros datos muestran que los principios de
organización de los JRC crean diferentes situaciones con diferentes grados de dificultad. Es decir, es posible sistematizar
el desarrollo de los componentes técnicos y tácticos de una manera a enfatizar los conceptos adoptados para este estudio
en el contexto del juego. Nuestros datos acreditan JRC para el aprendizaje de situaciones técnicas tácticas que, junto
con la preparación física adecuada puede ayudar a producir jugadores capacitados a unir cada vez más pensamientos
y acciones en diferentes situaciones.
Palabras claves: fútbol, juegos reducidos conceptuales, técnica, táctica

312
Soccer players’ performance

Introduction adopted in response to the respective rules of each CSSG (Costa,


Garganta, Greco, & Mesquita, 2009b) were respected.
Among the myriad of factors on which soccer performance
depends are the requirement of good conditioning and excellent
physical capacities, including strength, speed and endurance Methods
(Castagna, Manzi, Impellizzeri, Weston, & Barbero Alvarez,
2010; Helgerud, Engen, Wisloff, & Hoff, 2001; Helgerud, Participants
Rodas, Kemi, & Hoff, 2011; McMillan, Helgerud, Macdonald,
& Hoff, 2005). At the same time, soccer requires players to be The study included 24 soccer players of the under-20 catego-
highly adaptable to new and unpredictable situations (Garganta ry from a federated club team in São Paulo, Brazil, with at least
& Gréhaigne, 1999; Mamassis & Doganis, 2004; Scaglia, 2003; five years of experience in competitions. They were divided into
Scaglia & Reverdito, 2011). To play “smarter,” it is important to teams by the responsible technical committee, so that the teams
train with an eye to tactical awareness in response to the constant were balanced regarding the positions of the players (defenders,
and unavoidable demands that occur during games. midfielders, and attackers). This precaution was taken to allow
The use of conceptual small-sided games (CSSGs) is the teams to maintain a high level of competitiveness and con-
presented as an interesting training methodology for this centration during the games. To reduce variability between the
purpose because CSSGs respect the inherent complexity participants, the same teams faced off in Games 1 and 2. This
of the game and allow a range of options for teaching and study was approved by the Ethics Committee of the Faculty
coaching soccer. In CSSGs, the structural (ball, targets, field of Medical Sciences, UNICAMP on 07/19/2012 (Report #.
size) and functional references (the fulfilment of technical and 62368/2012 and CAAE: 03276612.2.0000.5404).
tactical training) allow develop specific soccer game concepts
(Scaglia, Reverdito, Leonardo, & Lizana, 2013). Thus, using
this methodology, it is possible to change the field size, the Experimental design
number of players, and the technical and tactical constraints
to highlight different technical and tactical capabilities. This The experimental design and the CSSGs protocol were
methodology is applied according to the organising principle specifically created for this study. For both games, the field was
of the training session, which is defined by specific rules 52 m long by 32 m wide, corresponding to 1/4 of the training
(Leonardo, Reverdito, & Scaglia, 2009; Reverdito & Scaglia, field, and it included official-size goal posts. The teams were
2007; Scaglia & Reverdito, 2011). composed of six players plus the goalkeeper, and the games
The development of videogrammetry for the analysis of lasted 30 minutes. This study did not analyse the performance
this sport has allowed advances in the scrutiny of games, espe- of the goalkeepers. The games were preceded by 15 minutes
cially during official competitions (Barros et al., 2007; Moura of standardised warm up and were conducted at the same time
et al., 2013). Studies that investigate the training sessions that in the afternoon.
primarily emphasise reduced games are mainly concerned with We used two different types of conceptual small-sided
the physical components that are involved (Coutts, Rampinini, games. The first conceptual game (Game 1: maintaining ball
Marcora, Castagna, & Impellizzeri, 2009; Hill-Haas, Rowsell, possession) was conducted under the following set of rules:
Coutts, & Dawson, 2008; Hill-Haas, Dawson, Impellizzeri, & only two touches of the ball were permitted, with each extra
Coutts, 2011; Rampinini et al., 2007). Thus, it is important to touch yielding a point to the opponent; carrying the ball from
evaluate whether the technical and tactical concepts present one field line to the other resulted in one point; exchanging five
in the organising principles of a CSSG are actually achieved passes in the offensive field without returning the ball to the
(Halouani et al., 2014). same teammate from whom the pass was received resulted in
Our aim in this study was to investigate two conceptual two points; and a goal (allowed only after exchanging 5 passes)
small-sided games with different organising principles (main- resulted in 8 points.
taining possession of the ball and progression to the target) The second conceptual game (Game 2: progression to the
from kinematic data obtained by videogrammetry. The specific target) was governed by the following rules: passes could only
objectives were as follows: a) to analyse the technical offensive be made towards the opposing goal; backward passes resulted
events (passes, releases, crosses, goals completed with the foot, in one point for the opponent; after regaining possession of the
goals completed with the head, and angles of passes—see Figure ball, the athletes could perform a free pass in any direction;
1) used in each of the conceptual small-sided games; b) to anal- invasion of the penalty box resulted in three points; goals with
yse the tactical principles with respect to the intervals of time backward passes resulted in five points; and goals scored using
occurring between the studied actions. These intervals allow the only forward passes resulted in ten points.
analysis of the players’ movements because the athletes have
enough time to show the impact of decisions made in situations
provided by the game (Araujo, 2003, 2005; Raab, Masters, & Data collection
Maxwell, 2005); and c) to analyse the players’ movements in the
time unit (an interval of technical action). With these records, Each of the games was filmed with one camera (Casio EX-
we seek to infer whether the technical and tactical principles FH 25, 640x480 resolution, and acquisition frequency at 30

Motriz, Rio Claro, v.21 n.3, p.312-320, July/Sept. 2015 313


C.J.R. Lizana, R.S. Reverdito, R. Brenzikofer, D.V. Macedo, M.S. Misuta & A.J. Scaglia

Hz) positioned at the highest point of the bleachers; afterward, between two subsequent technical events; and b) all players’
the video sequences were transferred to a computer (Intel® positions on the field in the moment of each technical event.
Core™ i7-2600k, 3.40 GHz processor, 16 GB, NVIDIA
GeForce 9500 GT).
In the reference system associated with the field (the X-axis Analysed variables
corresponding to the touch line and the Y-axis corresponding
to the goal line, as defined using a Bosch GPL 5C Professional The data’s processing and treatment as well as the creation
Point Laser), approximately 16 control points were established of matrices (primary and secondary) were performed with
directly by measurement of the field using laser distance me- Matlab. The secondary matrices were structured to include
tre (Leica Disto™ D5 that measure to the nearest 0.001 m). the following: a) the total number of passes; b) percentage of
The control points were used to calculate the image-object correct passes; c) the main trend of the direction of movement
transformation for the calibration process and to produce a (forward or backward) based on the α angle (Figure 1) asso-
two-dimensional reconstruction using the DLT method (Direct ciated with the pass line derived from the action taken by a
Linear Transformation) (Abdel-Aziz & Karara, 1971). The player; d) the total number of shots; e) percentage of correct
system accuracy in the determination of athlete position on the shots; f) the total number of time intervals between each
field was 0.3 m (Misuta et al., 2005). identified technical event; g) the duration in seconds of the
The DVideo System (Figueroa, Leite, & Barros, 2003) on time intervals between each identified technical event; h) the
manual tracking mode was used to measure the 2D positions situations of offensive and defensive superiority and numerical
of all players and to record each event that occurred during the equality that were created during the games. For this latter
game with the position on the field of each athlete involved. variable, the number of players—opponents and teammates
Six matches (three of each CSSG) were filmed. Each week alike—ahead of the ball line at the beginning of each interval
was performed one CSSG, changing Game 1 and Game 2. were counted, recognising that the ball carrier was also con-
Before each match the participants had a rest period of 72 hours. sidered to be a participant. This information was organised in
The total number of technical events was 3086 for Game 1 and the primary and secondary matrix structure to form the basis
2154 for Game 2. Two primary matrices were created from upon which inferences about the tactical concepts present in
the 2D kinematic variables of each game, and registration of conceptual small-sided games were drawn. These variables
each event that occurred in the field at the instant in which the can be observed in Table 1.
technical events occurred was created as well. The first matrix All variables were measured by one researcher and the data
stored the information from the instant that the events occurred: quality was confirmed by the reliability test (intra-observer
The player who performed the action, which action was taken, correlation). Thus, the observer analysed a game twice, at an
and whether it was right or wrong. The second matrix contained interval of 15 days. The intraclass coefficient values ranged
a) the interval between technical events, defined as the interval from .95 to .99.

Figure 1. Examples of three situations for the α angle. P0 is the position on the field of the player with the ball. P0 P1, P0 P2, and P0 P3 are vectors
indicating the direction of the ball after the player passes it.

314 Motriz, Rio Claro, v.21 n.3, p.312-320, July/Sept. 2015


Soccer players’ performance

Table 1. Variables analyzed.


a Number of passes Passes Technical Analysis
b Percentage of correct passes
c The α angle of each pass
d Number of shots Shots
e Percentage of correct shots
f Number of intervals that occurred between the all technical events Time to decision making Tactical Analysis
g Duration of intervals that occurred between the all technical events
h The number of cases of offensive superiority, numerical equality, and Relationship of Attack/Defence
defensive superiority

Results

Statistical analysis Technical analysis

The statistical analyses were performed in Matlab. A one- The offensive technical events (e.g., passing and finishing
way ANOVA for independent samples was used for the analysis with the feet or the head, their respective percentages of hits,
of possible differences between Games 1 and 2. A 5% signifi- and angles of actions) in each of the conceptual small-sided
cance level was adopted for all cases. games are shown in Figure 2.

Figure 2. Box plot of the number of passes that occurred in Games 1 and 2 (a); Box plot of the number of shots that occurred in Games 1 and 2
(b); Box plot of the correct passes percentage in Games 1 and 2 (c); Box plot of the correct shots percentage in Games 1 and 2 (d); Box plot of
the α angle, measured in degrees, of exchanged possessions of the ball during Games 1 and 2 (e).

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C.J.R. Lizana, R.S. Reverdito, R. Brenzikofer, D.V. Macedo, M.S. Misuta & A.J. Scaglia

The two games presented different characteristics in relation event. These intervals represent the time allowed by players for
to passes and shots (Figures 2a and 2b). In Game 1, an average the analysis of the situation and the planning of their events;
of 487 ± 42 passes was performed, twice that of Game 2 (207 ± a new problem situation is presented to the players at the
20 passes, (p < .001). In contrast, the average number of shots beginning of each of these intervals, with a different range of
using the feet in Game 1 was 10 ± 0.6. This value was much possible solutions. This measurement was important to analyse
lower compared to Game 2 (49 ± 6 shots), with statistical dif- decision-making abilities. Figure 4 shows these results through
ference (p < .001). Regarding the percentages of correct passes the number and duration of the intervals (Figures 3a and 3b,
(Figure 2d), the result was an inverse association such that the respectively). The game centre analysis verified the players’
hit-rate from the shots was greater in Game 1. movements both inside and outside the game centre (Figure
In Game 1, the percentage of correct passes was 85 ± 2.3%, 3c) and the participation of each player within the game centre
statistically higher than the values from Game 2 (79 ± 2.0%) (Figure 3d), which was also important for evaluating deci-
with p < .05. The opposite association was found with the num- sion-making abilities.
ber of shots. Although the total number of shots was lower in We observed that the number of intervals was significantly
Game 1, the rate of accurate shots was higher (59 ± 10.3 %). higher in Game 1 (1029 ± 51) than in Game 2 (718 ± 24). The
However, the completion rate in Game 2 was 36 ± 1.5 %, with p duration of the intervals (1.7 ± 0.08s and 2.5 ± 0.8s for Games
< .05. Moreover, the α angle associated with each action from the 1 and 2, respectively) justifies the larger number of intervals
ball’s transmission (passes, launches, and crossings) occurred observed in Game 1. Interestingly, the average number of players
in both Games 1 and 2 and showed significant differences (with within the game centre in every technical action did not differ
p < .05) in terms of average values (Figure 2e). In Game 1, the between the two games (Figure 3c). However, the average rates
value was 4.7 ± 11.8°, whereas in Game 2, this figure was 33 ± of participation of each player inside the game centre were
3.8°. It also was observed that 75% of the samples from Game significantly different (Figure 3d). The athletes in Game 1 had
2 were above the average for Game 1. an average of 237 ± 25 participatory events inside the game
centre, whereas only 161 ± 5 events were recorded for Game 2.
Figure 4 shows data on the offensive and defensive supe-
Tactical analysis riority and numerical equality situations created during the
two games, which reflect the conditions from the defensive
The methodology used in this study allowed for measure- system at the beginning of each time interval between the
ment of the time intervals that occurred between each technical technical events.

Figure 3. Box plot of the number of intervals that occurred between the technical events (a); Box plot of the intervals duration that occurred be-
tween the technical events (b); Box plot of the number of players within the game centre (GC) during each technical action (c); and Box plot of
number of participatory events by each player within the GC (d).

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Soccer players’ performance

Figure 4. Box plot of the number of cases of offensive superiority, numerical equality, and defensive superiority during Games 1 and 2.

Game 1 promoted more situations of numerical equality 24 such situations. Moreover, 372 ± 48 moments of defensive
and defensive superiority, with cases of equality occurring on superiority were found in Game 1 against 247 ± 57 in Game 2
392 ± 40 occasions. In contrast, Game 2 presented only 288 ± (in both cases p < .05).

Table 2. Mean ± SD of each variable analysed in both games and their respective p value.
Variable Game 1 Game 2 p value
Number of passes 487 ± 42 207 ± 20 < .001
Percentage of correct passes (%) 85 ± 2.3 79 ± 2.0 < .05
The α angle of each pass (°) 4.7 ± 11.8 33 ± 3.8 < .05
Number of shots 10 ± 0.6 49 ± 6 < .001
Percentage of correct shots (%) 59 ± 10.3 36 ± 1.5 < .05
Number of intervals that occurred between the all technical events 1029 ± 51 718 ± 24 < .001
Duration of intervals that occurred between the all technical events (s) 1.7 ± 0.08 2.5 ± 0.8 < .001
Number of players within the game centre (GC) during each technical action 2.86 ± 0.17 2.79 ± 0.12 = .60
Number of participatory events by each player within the GC 237 ± 25 161 ± 5 < .01
Cases of offensive superiority 267 ± 55 187 ± 41 = .11
Cases of numerical equality 392 ± 40 288 ± 24 < .05
Cases of defensive superiority 372 ± 48 247 ± 57 < .05

Discussion ball. Thus, they only progressed to goal-scoring situations when


they were able to create safer options for the plays. The rules for
The retention of ball possession and rapid progression to the Game 1 induced athletes to circulate the ball among one another
target operating principles (Bayer, 1994) were emphasized in until they reached clear completion positions. Consequently, the
Games 1 and 2, respectively. About this, the data presented in passes that occurred in Game 1 happened in greater numbers
this study demonstrate that the rules governed the CSSG proto- and with greater ease.
col was efficient to emphasize the concepts adopted in this study. Progression to the target was more evident in Game 2. An
Kinematic analysis by videogrammetry showed that the average of five more shots occurred during this type of game,
differences found in the two games were associated with the suggesting wider pursuit by the opponents. Because the rules
players’ adopting different events to solve the problems posed for Game 2 forced the players to constantly seek completion
by the distinct rules of the games. In Game 1, the players had of a goal, the level of difficulty of the passes was higher. In
action rules that guided them to maintain ball possession. The this case, the passes should have reflected a preference to take
far greater number of passes and the much higher percentage of the ball closer to the opposing danger zone, which, owing to
correct passes observed in Game 1 relative to Game 2 suggest opposition by the other team, led to reduced pass utilisation.
that the players preferred to pass the ball more safely rather than A greater number of shots (associated with low pass utili-
risk losing possession with moves that might lead to faster goals sation) reinforces the proposition that, when the rules favour
scored by the opposing team. rapid progression towards the opposing team’s defensive zone,
The rules from Game 1 enabled greater utilisation of passes the result may be increased pressure from the opponent and a
because players were encouraged to maintain possession of the lower utilisation (Garganta & Gréhaigne, 1999; Leonardo et al.,

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C.J.R. Lizana, R.S. Reverdito, R. Brenzikofer, D.V. Macedo, M.S. Misuta & A.J. Scaglia

2009; Reverdito & Scaglia, 2007). It is important to note that games shows that the different manifestations of the logic of
off-target shots allow for counterattack situations, which in turn the conceptual small-sided games studied are not related to the
favour progression towards the target. The verticalness of the proximity of the opponents or teammates in the events that were
passes observed in Game 2 (Figure 2e) also demonstrates this analysed (Figure 3c). These manifestations seem to be associated
increased degree of difficulty because the players had to take with the demand for their own solutions to the problems imposed
the ball closer to the opposing penalty area, which thus hinders by the rules of the games (Bayer, 1994; Scaglia, Reverdito,
the decision-making process. Leonardo, & Lizana, 2013).
The results presented in this study show that the changes in In this study, we conceptualised a structured defence as
organisational rules from Game 1 to Game 2 facilitate charac- one that had numerical superiority over the opponent’s attack
teristic behaviours from the players that interfere directly with because such an arrangement facilitates tactical events sup-
their decision-making processes. Each situation required prior porting defensive coverage (Costa, 2010; Costa et al., 2009a,
organisation from the teams to encourage certain behaviours, 2009b). It was similarly proposed that, when the ratio is of
corroborating the predominance of one or another structural numerical equality, the defence is balanced. However, it is
operating principle of the conceptual small-sided games studied. necessary to emphasise that, in these moments, the defensive
From the methodology used in this study, it was possible to organisation becomes more complex and vulnerable in relation
measure the time interval that occurred between one technical to the attack. When numerical superiority is in the attackers’
event and the next (Figure 3). This interval represents the time favour, the defence is understood to be unstructured because
the players have to analyse the situation and to plan their re- this critical situation allows the attacker to have a wider
sponses. Thus, during these intervals, the athletes must make range of possible events of offensive tactics with which to
the decision that they consider the most appropriate; this deci- set up shots. Our characterisation of the games showed that
sion-making process is performed not only by the ball carrier Game 1 presented more situations of numerical equality and
but also by all other participating players because the systemic defensive superiority and highlighted the occurrence of more
organisational process of the collective game depends on the structured and balanced defence situations. We can conclude
events and movements of all players (Freire & Venâncio, 2005; that better defensive systems from the teams allowed fewer
Scaglia, 2003). opportunities for the opponents to complete their shots, and
The decisions made by each of the players in each of these because of that, the players of the team in possession were led
moments, in turn, had a direct influence on the following in- to choose plays that offered a lower risk of losing possession
terval by allowing the players to evaluate the results of earlier (Travassos, Vilar, Araújo, & McGarry, 2014)Vilar, Araújo,
decisions and to make new decisions for solving the problems &amp; McGarry, 2014.
that arose within the games. Such a dynamic happens constantly
and is present in all group games (Garganta & Gréhaigne, 1999;
Grehaigne, Bouthier, & David, 1997; Gréhaigne, Wallian, & Conclusions
Godbout, 2005), especially in ball-based games played with
the feet (Scaglia, 2003, 2011). The data presented in this study confirm that it is possible to
Our results corroborate data previously presented in the systematise training through the use of games. Rules imposed in
literature (Araujo, 2003; K. Davids, Araújo, Correia, & Vilar, conceptual small-sided games enable the training of technical
2013; Keith Davids, Araújo, Vilar, Renshaw, & Pinder, 2013; and tactical components in order to emphasize the concepts
Vilar, Araújo, Davids, & Button, 2012). They also confirm that adopted in this study. Offering new problem situations to players
the decisions players make are related to the manifestation of increase the number of times that they are challenged to make
the logic that each game requires to approach the goal (Scaglia new decisions. Different rules also permit the quality of stimuli
& Reverdito, 2011), not only regarding the decision made but to be controlled through events of varying difficulty levels. It
also regarding the time available to make a certain decision. We was possible to observe a relationship between the difficulty of
must also take into account the difficulty of this decision-mak- the situation and the time needed to make a decision.
ing. The higher rate of errors made in Game 2 compared to In summary, our data support the efficacy of CSSGs in cre-
Game 1 demonstrates that there was a smaller range of possible ating different situations with different difficulties that facilitate
solutions to the requirements of Game 2. Thus, due to Game 2 it the instruction of technical tactics situations that, coupled with
is possible to stimulate the ability to anticipate game situations, adequate physical conditioning, can help produce players who
and consequently increase the successful decision-making rate are trained to think and behave more flexibly in a broader range
(Williams, Ford, Eccles, & Ward, 2011). of situations.
The analysis of participation in the game centre (GC) also
allows us to make inferences about the possibility of making
decisions. The GC is conceptually understood as a circle with References
a 5 m radius around the ball’s location (Costa, 2010; Costa,
Garganta, Greco, & Mesquita, 2009a; Costa et al., 2009b). Abdel-Aziz, Y.I., & Karara, H.M. (1971). Direct linear transforma-
Games with larger numbers of technical events allow for more tion from comparator coordinates into object-space coordinates
opportunities for players to participate within the GC. The fact Synposium Onclosee-Rane Photogrammetrry (pp. 1-18). Urbana:
that the number of players within the GC was similar in both ASP/UI.

318 Motriz, Rio Claro, v.21 n.3, p.312-320, July/Sept. 2015


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C.J.R. Lizana, R.S. Reverdito, R. Brenzikofer, D.V. Macedo, M.S. Misuta & A.J. Scaglia

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Authors’ note
Cristian Javier Ramirez Lizana (crlizana1@gmail.com) and Alcides
José Scaglia (alcides.scaglia@fca.unicamp.br) are affiliated with the
Laboratory of Sports Pedagogy Studies, School of Applied Sciences,
University of Campinas, UNICAMP, Limeira, SP, Brazil.

Riller Silva Reverdito (rsreverdito@gmail.com) is affiliated with the


Sports Science Department, College of Physical Education, Universi-
ty of Campinas, UNICAMP, Campinas, SP, Brazil.

René Brenzikofer (rene@fef.unicamp.br) and Milton Shoiti Misuta


(milton.misuta@fca.unicamp.br) are affiliated with the Laboratory
of Instrumentation for Biomechanics, College of Physical Education,
University of Campinas, UNICAMP, Campinas, Brazil.

Denise Vaz Macedo (denisevm@unicamp.br) is affiliated with the


Laboratory of Biochemistry of Exercise, Biology Institute, Universi-
ty of Campinas, UNICAMP, Campinas, Brazil.

Corresponding author
Cristian Javier Ramirez Lizana
Laboratory of Sports Pedagogy Studies, School of Applied Sciences,
University of Campinas - UNICAMP
1300, Pedro Zaccaria St, Jd. Sta Luiza 13.484-350, Limeira, SP,
Brazil
Phone: +55 (19) 37016689
E-mail: crlizana1@gmail.com

Manuscript received on July 23, 2014


Manuscript accepted on June 7, 2015

Motriz. The Journal of Physical Education. UNESP. Rio Claro, SP, Brazil
- eISSN: 1980-6574 – under a license Creative Commons - Version 3.0

320 Motriz, Rio Claro, v.21 n.3, p.312-320, July/Sept. 2015


753
Revista Brasileira de Futsal e Futebol
ISSN 1984-4956 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b f f . c o m . b r

CONHECIMENTO TÁTICO DECLARATIVO E O TEMPO DE RECONHECIMENTO VISUAL


EM SITUAÇÕES DE JOGO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE DIFERENTES CONTEXTOS

João Marcelo Niquini Caríssimo1, José Marcelo Alves Cassimiro1


Marcella de Castro Campos Velten1,2, Siomara Aparecida da Silva1

RESUMO ABSTRACT

Introdução: O futebol está em constante Declarative tactical knowledge and visual


evolução técnico-tática, o que demanda recognition time in game situations of football
rápidas e assertivas leituras de jogo e tomada players from different contexts
de decisão dos atletas. Objetivo: Levantar
reflexões sobre o conhecimento tático Introduction: Football is in constant technical-
declarativo e o tempo de reconhecimento tactical evolution, which requires fast and
visual em situações de jogo de jogadores de assertive game readings and decision-making
futebol em diferentes contextos (categorias, from athletes. Objective: To raise reflections
posições e experiências) presentes no Brasil. regarding declarative tactical knowledge and
Materiais e Métodos: Pesquisa qualitativa de visual recognition time in football players'
cunho descritiva. Participaram do estudo cinco game situations in different contexts
atletas de diferentes categorias, experiências e (categories, positions and experiences)
posições que realizaram uma avaliação online present in Brazil. Materials and Methods:
do TacticUP. O tempo de experiência Qualitative descriptive research. Five athletes
futebolística dos atletas é de 16±3,67 anos. from different categories, experiences and
Resultado: O desempenho dos atletas foi positions participated in the study by
qualitativamente similar; O atleta do sub-17 performing an online assessment of TacticUP.
apresentou o menor tempo de resposta, Athletes' experience in football was 16 ± 3.67
sugerindo que o fator experiência não foi years. Result: the athletes' performance was
decisivo para o resultado. O nível competitivo qualitatively similar; The under-17 athlete had
não foi identificado como parâmetro para o the shortest response time, suggesting that the
melhor desempenho, visto que o atleta experience factor was not decisive for the
universitário se sobressaiu em relação ao result. The competitive level was not identified
atleta profissional. As especificidades das as a parameter of better performance, since
posições foram identificadas no desempenho, the university athlete stood out in relation to
por exemplo, posições mais ofensivas the professional athlete. Specific positions
desempenharam melhor ações ofensivas. were identified in performance, i.e., players of
Conclusão: Foram identificados indícios de more offensive positions performed better
que os atletas em suas diferentes categorias offensive actions. Conclusion: The results
obtiveram diferenças no conhecimento tático indicates that athletes from different categories
declarativo e no tempo de reconhecimento may have differences in declarative tactical
visual em situações de jogo, embora essa knowledge and visual recognition time in game
diferença não tenha demostrado nível mais situations, although this difference did not
alto dos atletas de categorias superiores. demonstrate a higher level of athletes from
Outra consideração é referente ao tempo de higher categories. Another consideration
experiência que não foi um quesito decisivo. concerns the length of experience, which was
Como analisado também, atletas de diferentes not a decisive issue. As also analyzed, athletes
posições, sendo ou não da mesma categoria, from different positions, belonging or not to the
apresentaram características específicas das same category, presented specific
suas posições. characteristics of their positions.

Palavras-chave: Futebol. Conhecimento Key words: Football. Declarative tactical


Tático Declarativo. Tomada de decisão. knowledge. Decision making.

1 - Laboratório de Metodologia do Ensino dos


Esportes-LAMEES, Universidade Federal de E-mail dos autores:
Ouro Preto, Ouro Preto-MG, Brasil. joaomarceloniquini@gmail.com
2 - Instituto Federal do Espírito Santo, Venda josecassimiro.m@gmail.com
Nova do Imigrante-ES, Brasil. marcella.velten@ifes.edu.br

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INTRODUÇÃO (Garganta, 1997; Matias e Greco, 2010;


Afonso, Garganta e Mesquita, 2012), ou seja,
Os jogos esportivos coletivos (JEC), é fundamental juntamente com as execuções
especificamente o futebol, tem um papel motoras (ação), os processos
importante na cultura desportiva táticos/cognitivos para a qualidade da decisão
contemporânea, sendo um campo de tomada, pois a tática é dependente de certa
aplicação científica, além de um espetáculo realização técnica (Bunker e Thorpe, 1982).
desportivo (Garganta, 1998). O conhecimento tático no âmbito dos
De acordo com Guimarães e JEC segundo Praça e Greco (2020) se
colaboradores (2012), esses jogos são manifesta quando jogadores baseiam suas
constituídos por uma diversidade de fatores decisões em pontos relevantes que foram
que se relacionam e influenciam no percebidos na situação de jogo e no seu
desempenho dos jogadores que são os comportamento típico dentro do jogo.
quesitos físicos, técnicos, administrativos, Tal conhecimento é analisado tanto de
clínicos, psicológicos, e que sobrecarregam as maneira processual, que ocorre por meio das
tomadas de decisões no quesito tático. ações decididas em cada situação de jogo
A tática em si pode ser retratada, (operacionalização), quanto de forma
seguindo o pensamento de Teoldo, Guilherme declarativa, que se refere à capacidade do
e Garganta (2015), como a gestão do espaço jogador em sustentar as decisões tomadas
de jogo pelos jogadores e, também, pelas (verbalização).
equipes. Esta última tem uma relação com a
Com isso, a tática se manifesta em qualidade da tomada de decisão dos
princípios táticos que são regras de ação jogadores, sendo o nível de experiência
induzidas pelo treinador e executadas pelos apontado como um dos fatores decisivos para
jogadores no campo de jogo em diferentes o conhecimento declarativo.
níveis hierárquicos (Teoldo, Guilherme e Visto a importância do conhecimento
Garganta, 2015; Reis, Vasconcellos e tático declarativo, pois se o jogador não
Almeida, 2017). entender como deve se comportar taticamente
Dentre esses princípios, emergem-se no jogo, ele não atingirá um bom desempenho
os princípios táticos fundamentais que é importante identificar se atletas profissionais
demonstram um conjunto de regras de base e experientes têm um conhecimento tático
as quais auxiliam na compreensão das ações declarativo realmente mais rápido que atletas
dos jogadores e da equipe nas fases do jogo, de níveis inferiores e menos experientes, já
facilitando com isso a gestão do espaço de que a rapidez de decisão do jogador se
jogo (Teoldo, Guilherme e Garganta, 2015). manifesta como um fator fundamental na
Na prática, segundo Praça e Greco análise do seu nível de sucesso competitivo
(2020), os princípios táticos fundamentais são (Williams e Davids, 1995). É também
as maneiras para atingir decisões eficientes e fundamental identificar se atletas apresentam
eficazes na partida, sendo necessário que os um desempenho melhor nas situações, pois
jogadores executem positivamente os outros na lógica defendida por Garganta (2001), os
princípios táticos (Gerais, Operacionais e JEC praticados em alto nível exigem um ritmo
Específicos), por exemplo, que progridam no muito elevado não somente na velocidade de
campo de jogo de maneira eficiente (Princípio realização, mas na qualidade das escolhas.
tático operacional) e que busquem a Essas informações do nível de
superioridade numérica (Princípio tático conhecimento tático declarativo dos jogadores
Geral). poderão auxiliar em maiores conhecimentos
Os processos cognitivos (atenção, das diferenças encontradas entre atletas de
percepção, memória) são essenciais na diferentes grupos muito presente no contexto
performance dos atletas para a tomada de brasileiro e no planejamento metodológico.
decisão (Matias e Greco, 2010). Essa vantagem ocorreria desde a
A importância do conhecimento tático iniciação esportiva, em virtude de algumas
ou leitura de jogo nos JEC é devida à problemáticas da mesma, tais como no
imprevisibilidade e à variabilidade em que as ensino-aprendizagem-treinamento com
situações/contextos se apresentam, sendo predomínio de gestos técnicos
caracterizada como a capacidade mais descontextualizados (Balzano, 2014),
importante no rendimento do futebol, e permitindo elaborar os treinos de maneira
analisadas pela qualidade da decisão específica com base em dificuldades e

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potencialidades dos atletas (Rodrigues e Os participantes envolvidos no estudo


colaboradores, 2017). foram cinco jogadores de futebol de diferentes
O presente estudo tem como objetivo categorias, experiência futebolística e
levantar reflexões sobre o conhecimento tático posições, escolhidos com base nas categorias
declarativo e o tempo de reconhecimento em que jogam. Estes foram contactados por
visual em situações de jogo de jogadores de rede social, via whatsapp e E-mail, pelo qual,
futebol em diferentes contextos (categorias, também, foi enviado o TCLE. Além disso, os
posições e experiências) presentes no Brasil. atletas desta pesquisa foram questionados
sobre o seu tempo de prática futebolística.
MATERIAIS E MÉTODOS Em relação aos aspectos éticos, todos
concordaram e assinaram o termo de
Para realização desta pesquisa, foi consentimento livre esclarecido (TCLE) para
adotada uma metodologia de cunho qualitativo participar da pesquisa. Ademais, este trabalho
descritivo (Denzin e Lincoln, 2008) e uma possui aprovação pelo comitê de ética da
revisão literária sobre conhecimento tático Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
declarativo e tempo de tomada de decisão de dado pelo parecer número 4.144.34.
diferentes categorias, tempo de experiência e
posição de atletas futebolísticos.

Tabela 1 - Descrição dos participantes.


Idade/
Categoria Posição
Tempo de Experiência
Profissional Meia de contenção (mc) 20 anos/16 anos
Serie B Meia de Armação (ma) 19 anos/14 anos
Sub-17 Meia de Armação (ma) 16 anos/11 anos
Amador Meia de Armação (ma) 23 anos/19 anos
Universitário Meia de Contenção (mc) 24 anos/20 anos
Média/idade 16±3,67 anos

O instrumento utilizado foi o Tacticup, Com isso, o avaliado deverá marcar a


que proporciona inferências sobre o melhor opção de solução para a jogada e
conhecimento tático declarativo dos atletas. É responder o mais rápido possível.
um teste já validado que tem como principal Os atletas foram submetidos a uma
objetivo identificar a capacidade de leitura de seção de avaliação online no programa
jogo e tomada de decisão do jogador a partir TacticUP. Antes da execução final foi feito um
dos princípios táticos fundamentais do futebol teste piloto para melhor apropriação da
(Teoldo, Guilherme e Garganta, 2015; plataforma com cada um dos participantes,
Machado e Costa, 2020). visto que a execução do teste é gratuita.
Este teste permite avaliar situações de A análise dos dados foi realizada
jogo tanto próximas quanto distantes da bola, observando e discutindo os resultados do
ofensivo e defensivamente. desempenho tático declarativo e do tempo de
O TacticUP é composto por tomada de decisão ao tempo de experiência,
sequências de vídeo defensivo e ofensivo de categoria e posição dos jogadores.
situações 11x11 do futebol, em que os Segundo Gonçalves, Rezende e
participantes devem escolher a alternativa Teoldo (2017), essa análise da performance
mais apropriada para cada sequência de vídeo tática por posição específica disponibiliza
utilizando um computador para a execução do fatores fundamentais para planejar os treinos
teste. de todas as categorias, explicitando as
O teste tem duração média de 20 potencialidades e dificuldades (características)
minutos e antes de iniciar cada cena, um dos atletas dentro das posições.
ponto vermelho indicará onde a bola se
encontra e um círculo vermelho indicará o RESULTADOS E DISCUSSÃO
jogador que o avaliado deve observar.
Após a passagem da cena, 4 figuras No presente estudo, foi identificado
aparecerão na tela descrevendo a que os meias de contenção apresentaram
movimentação do jogador observado através melhor desempenho em ações defensivas
de setas.

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gerais quando comparadas às ações ofensivas desempenhou de maneira declarativa melhor


gerais. os índices táticos ofensivos, entretanto
Em contrapartida, os meias de demorou para tomar tais decisões em relação
armação obtiveram melhor nível de aos demais.
desempenho em ações ofensivas gerais, Costa e colaboradores (2002)
mostrando indícios específicos das posições. observaram que atletas de melhor nível
Este resultado vai ao encontro dos achados competitivo lidam melhor e mais rapidamente
por Gonçalves, Rezende e Teoldo (2017), que com as informações que são apresentadas a
os defensores e meias apresentaram eles em relação as situações ofensivas.
performance tática ofensiva melhor que a Demonstrando similaridade em relação à
defensiva, divergindo em relação aos achados aptidão ofensiva desses atletas, entretanto o
deste estudo que, como, os meias de tempo de tomada de decisão que é um fator
contenção que são teoricamente mais fundamental no futebol foi percebido diferença
defensivos realmente desempenharam melhor entre os estudos.
os princípios táticos defensivos no geral. Ainda em relação ao quesito da
Já os atacantes do estudo de ofensividade, a eficácia na execução dos
Gonçalves, Rezende e Teoldo (2017) seguem princípios táticos fundamentais, os jogadores
a ideia deste estudo, sendo que apresentaram das categorias de base do futebol brasileiro
características de performance tática apresentam melhor desempenho tático
tendenciadas pela posição, realizando de ofensivo do que defensivo, o que indica uma
maneira mais eficiente os princípios táticos da cultura de valorização do jogo ofensivo no
fase ofensiva. Brasil (Reis, Vasconcellos e Almeida, 2017;
A influência da especificidade de cada Santos e colaboradores, 2013).
posição nas características táticas dos atletas Estes pensamentos apresentam
foi confirmada neste estudo. Isso significa que similaridade com o presente estudo, visto que
atletas de posições mais defensivas, no caso o atleta de categoria de base foi melhor no
os meias de contenção, demonstraram geral nas ações ofensivas em relação com as
efetivamente melhores decisões táticas nas ações defensivas.
situações mais defensivas; da mesma forma, Os níveis inferiores (amador e
os atletas de posições mais ofensivas (meia universitários) do presente estudo tiveram um
de armação) se sobressaem em ações mais tempo de resposta mais rápido do que os
ofensivas (para um aprofundamento sobre as níveis superiores (profissional e série B), ou
especificidades das posições, ver Guimarães, seja, levaram menos tempo para visualizarem
Oliveira e Paoli, 2020). e tomarem as decisões táticas declarativas ao
Tais características demandam longo do teste.
atenção pelo fato de o futebol estar evoluindo Costa e colaboradores (2002)
e exigindo atletas cada vez mais versáteis, isto apontam que atletas de níveis inferiores
é, que executem mais funções no campo, não apresentam velocidade perceptiva melhor,
se limitando à posição em que se especializou. assemelhando-se com este estudo.
Neste mesmo pensamento, Francisco Seguindo tais pensamentos, Allard
e colaboradores (2020) e Almeida e (1993) identificou que o nível o qual o atleta
colaboradores (2016) retrataram as exigências está/joga, não implicou em um melhor
com base na modernidade do futebol na desempenho ou tempo de resposta mais curto.
necessidade de o atleta ser cada vez mais Já Miragaia (2001) concluiu que atletas com
polivalente. melhor nível de prática competitiva tomam
Sobre essa característica específica melhores decisões, divergindo com os
ou mais utilizada nas posições, Ruschel e achados anteriores.
colaboradores (2011) acreditam que as Na mesma linha, Ruschel e
principais diferenças entre jogadores de colaboradores (2011), não encontraram
posições e categorias diferentes têm relação diferença significativa entre categorias
com estratégias em um nível de complexidade amadoras e profissionais em relação ao tempo
maior, isto é, de captar e utilizar a informação de reação visual.
visual em situações específicas da Por outro lado, os profissionais tiveram
modalidade. o tempo de reação auditiva menor que os
Sobre o nível competitivo foi amadores. Interessantemente, pois no
observado no presente estudo que o atleta presente estudo percebeu-se que o atleta
que atua no mais alto nível (Série B) amador levou menos tempo para tomar as

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decisões do que a média entre o atleta de decisão (Allard, 1993; Costa e colaboradores,
Série B e Profissional. 2002; Giacomini e colaboradores, 2011a,b).
Demonstrando que as categorias de Nessa mesma perspectiva, o tempo de
maneira geral talvez não signifiquem tomadas prática é destacado como crucial para
de decisão mais rápida ou lenta, visto que desenvolver o conhecimento tático declarativo
alguns estudos apresentam as tomadas de de jogadores de futebol (Moreira e
decisões dos atletas profissionais mais colaboradores, 2014) já que jogadores que
velozes e outros o amador com a tomada de apresentam maior nível de conhecimento
decisão mais rápida. tático declarativo são tipicamente os de
A explicação para tais divergências, categorias mais experientes (Willians e
pode ser explicada pela falta de um processo Davids, 1995; Matias e Greco, 2013).
de seleção de atletas citado por Paoli, Silva e
Soares (2008); Guimarães, Oliveira e Paoli CONCLUSÃO
(2020), visto que, a maneira de escolha
segundo os autores ainda é de forma subjetiva Assim, identificamos indícios de que
seguindo o bom senso dos técnicos e/ou dos os atletas em suas diferentes categorias
profissionais. obtiveram diferenças no conhecimento tático
Outro fator que pode ser declarativo e no tempo de reconhecimento
compreendido que afeta/influência essa visual em situações de jogo, embora essa
diferença no desempenho entre os atletas, é o diferença não tenha demostrado nível mais
fator do ambiente-sociocultural que pode alto dos atletas de categorias superiores.
influenciar no desempenho (Dias, 2005). Outra consideração é referente ao
Neste estudo, foi identificado também tempo de experiência que não foi um quesito
que quatro dos cinco atletas desempenham decisivo.
melhor as ações próximas da bola - Como analisado também, atletas de
contenção, cobertura defensiva, penetração, diferentes posições, sendo ou não da mesma
cobertura ofensiva, espaço com bola e categoria, apresentaram características
equilíbrio de recuperação. específicas das suas posições: Os meias de
Todavia, somente o atleta profissional armação com melhores resultados que os
e o amador têm uma tomada de decisão mais meias de contenção nas situações mais
rápida em ações próximas da bola do que as ofensivas, e o contrário nas situações mais
distantes da bola - Unidade defensiva, defensivas.
concentração, equilíbrio defensivo, mobilidade, Por fim, sugere-se novos estudos,
espaço sem bola e unidade ofensiva (Para transversal e longitudinal, analisando
mais informações sobre tais ações Teoldo, taticamente o atleta tanto de maneira
Guilherme e Garganta, 2015). processual quanto declarativo com este
Este é um fator digno de ser analisado mesmo viés com categorias, posições e
em futuros estudos, pois as ações próximas da experiências diferentes.
bola demandam um tempo de reação mais Sugere-se também estudos
curto na maioria das vezes, já que são ações quantitativos com um número maior de atletas,
realizadas no centro de jogo, ou seja, onde para que assim, a ciência possa contribuir
está a bola. cada vez mais não só com a produção de
O tempo de resposta do atleta de conhecimento, mas no trabalho dos
categoria de base, que era o menos treinadores e clubes no âmbito tático dentro do
experiente entre os analisados, demonstrou processo metodológico da iniciação ao
tomadas de decisões rápidas, conseguindo profissional.
manter o desempenho.
Observamos assim, que ter mais REFERÊNCIAS
experiência aparentemente não foi um fator
decisivo para melhores resultados neste 1-Afonso, J.; Garganta, J.; Mesquita, I.
estudo. Decision-making in sports: the role of attention,
Pesquisas com objetivos similares têm anticipation and memory. Revista Brasileira de
demonstrado que os jogadores com mais Cineantropometria e Desempenho Humano.
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conhecimento de base da modalidade mais 2-Allard, F. Cognition, expertise and motor
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Autor para correspondência:


Siomara Aparecida da Silva
siomarasilva.lamees@gmail.com
Escola de Educação Física da UFOP.
Rua Dois, Sala 20.
Morro do Cruzeiro, Bairro Bauxita, Ouro Preto-
MG, Brasil. CEP: 35400-000.
Recebido para publicação em 18/08/2021
Aceito em 20/12/2021

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A TÁTICA DO 4-1-4-1 NO FUTEBOL: AS SUAS VARIAÇÕES E UTILIZAÇÃO PELA SELEÇÃO


DA ALEMANHA NA COPA DO MUNDO DE FUTEBOL DE 2014

Carlos Eduardo Nemitz1


Jonathan Rocha de Oliveira2
André Mendes Capraro3

RESUMO ABSTRACT

A tática fundamentou-se com um papel The 4-1-4-1 tactic on football: Its use and
significativo no futebol com o passar dos anos, variations by the Germany selection during the
imbuída por diversas variações. O objetivo do 2014 Football World Cup.
estudo é investigar a utilização do esquema 4-
1-4-1, sobretudo o uso pela seleção alemã em The tactic has been based on a significant role
determinadas partidas durante a Copa do in football over the years, presenting many
Mundo de futebol em 2014. Para alcançar changes with it. The purpose of this study is to
essa proposta utilizou-se um método investigate the use of the scheme “4-1-4-1”,
qualitativo sustentado por uma análise especially when used by the German National
imagética que descreve como o 4-1-4-1 era Team in certain matches during the Football
utilizado pela seleção da Alemanha nessas World Cup in 2014. To achieve this proposal, a
partidas. Foram perceptíveis alguns aspectos qualitative method was used and it was
do sistema tático 4-1-4-1, por exemplo, as supported by an image analysis that describes
suas variações táticas com poucas trocas de how the 4-1-4-1 scheme was applied by the
posição durante uma partida, além dos German Team during such matches. It was
aspectos ofensivos e defensivos que possible to notice some aspects of the tactical
acompanham essa forma de se posicionar e system 4-1-4-1 and its possibilities of tactical
caracterizam o esquema como uma opção variations during the matches and with a few
equilibrada, dependendo também das position changes, besides the offensive and
características dos atletas. Foi possível defensive aspects that accompany this position
observar uma relação do 4-1-4-1 com o 4-3-3 and characterize the scheme as a balanced
e apontar comparações por conta da option, depending on the characteristics of the
semelhança das funções que os dois sistemas athletes, as well. It was possible to notice a
levam ao campo. Com isso, conclui-se que o relation between “4-1-4-1” and “4-3-3” and
4-1-4-1 se caracteriza por ser uma forma pointed out possibilities due to the similarity of
equilibrada de se postar em uma partida e the functions that the two ideas lead to the
que, consequentemente, foi importante para a field. With all that has been presented, it is
conquista do tetra alemão em 2014. concluded that “4-1-4-1” is characterized by
being a balanced way to post a match and was
Palavras-chave: Futebol. Tática - 4-1-4-1. therefore important for the conquest of the
Variações táticas. German fourth championship. in 2014.

Key words: Football. Tactics - 4-1-4-1.


Tactical variations.

1-Acadêmico em Educação Física pela


Universidade Federal do Paraná-UFPR,
Curitiba, Brasil.
2-Mestrando em Educação Física pela
Universidade Federal do Paraná-UFPR, E-mail dos autores:
Curitiba, Brasil. carlosenemitz@gmail.com
3-Doutor em História pela Universidade jonathan.cwb3@gmail.com
Federal do Paraná-UFPR, Curitiba, Brasil. andrecapraro@onda.com.br

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INTRODUÇÃO partidas de futebol com um número menor de


gols, Herbert Chapman, então treinador do
O futebol de alto rendimento é Arsenal da Inglaterra, teria colocado em
constituído por princípios técnicos, físicos e prática o W-M, um esquema que buscava já
táticos. um equilíbrio defensivo, se iniciava assim o
Neste sentido, Costa e Nascimento uso de três zagueiros.
(2004) entendem que a tática no futebol é a Chapman - ainda segundo Wilson
forma como os atletas se posicionam durante (2016) pode ser considerado um dos primeiros
o jogo. Isso leva a perspectiva de que a tática técnicos resultadistas1, isto é, o treinador não
acontece a todo momento do jogo e que suas se importava com uma exibição de notória de
variações se devem aos diferentes momentos suas equipes.
que existem dentro de uma partida de futebol. O 4-1-4-1 pode ser confundido com o
Segundo Wilson (2016), nos 4-3-3, cujo o posicionamento dos atletas é
primórdios do futebol, a tática não tinha seus parecido. O uso do 4-1-4-1 e as suas
formatos definidos e sequer era relevante. variações podem ter se tornado mais comuns
Para o referido autor, a tática, como após seleção da Alemanha tê-lo utilizado
algo mais próximo do que se conhece hoje, só durante à Copa do Mundo de futebol de 2014
começou a se consolidar na estrutura deste e conquistado o título – o quarto mundial do
esporte por volta de 1920. Porém, desde o país – e nos principais momentos adotaram
final do século XIX já existia a consciência de esse modo de se posicionar. Com isso, o
que organizar os atletas era importante no esquema tático 4-1-4-1 pode ter se
futebol. popularizado, tornando-se uma referência nos
Para pensar nas primeiras últimos anos. Assim sendo, instiga-se
composições táticas é possível observar compreender as motivações acerca da
indicativos de um esporte verticalizado, utilização deste esquema na prática, bem
caracterizado por ser ofensivo, marcar gols e como suas relações com o 4-3-3.
uma preocupação secundária com a defesa. Esta pesquisa foi pautada na utilização
Por volta do ano de 1870, a maneira deste esquema tática pela seleção da
como as equipes se colocavam em campo era Alemanha em determinadas partidas. Partindo
bem desorganizada. dessa perspectiva, questiona-se: como
O que mais se parecia com um funciona o esquema 4-1-4-1 e por que a
esquema em campo era o 2-3-5, no qual Alemanha foi vencedora usando esse
somente dois atletas se preocupavam em um sistema?
momento defensivo, enquanto três tinham a Com o surgimento das perguntas que
missão de levar a bola até os cinco que teriam apresentam um norte ao trabalho, é possível
a missão de finalizar as jogadas. Assim os pensar seus objetivos, sendo esses
atletas se movimentavam e alternavam suas organizados para elencar algumas metas.
posições, mas era assim que, geralmente, Sendo assim, o objetivo geral será:
uma equipe costumava se postar (Wilson, Investigar a utilização do esquema 4-
2016). 1-4-1, sobretudo, o uso pela seleção alemã em
Por outro lado, Almeida, Lauria e Lima determinadas partidas durante a Copa do
(2016) indicam outra perspectiva acerca desse Mundo de futebol em 2014.
início das concepções táticas. A partir do objetivo geral, destaca-se
Para os autores, a organização alguns objetivos específicos, a fim de
consistia em um atleta como zagueiro, um responder algumas questões acerca do tema:
outro atleta seria o meio-campista e os oito Analisar o esquema 4-1-4-1 e
atletas restantes seriam atacantes, formando identificar algumas de suas variações táticas.
então um 1-1-8. Isso caracteriza dois atletas Compreender algumas relações que o referido
que teriam responsabilidades defensivas e oito esquema apresenta quando comparado ao 4-
com responsabilidades ofensivas. 3-3.
A tática sofreu diversas alterações, na Identificar quais foram as variações e
maneira de pensar as partidas, que envolve as os pontos positivos do sistema tático da
análises e as características físicas dos Alemanha nas quartas de final, semifinal e,
atletas.
Ainda por volta de 1925, como aponta
Wilson (2016), por conta de mudanças nas 1
Técnicos que buscam o resultado a qualquer custo, em
regras de impedimento que deixavam as detrimento da qualidade da atuação.

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principalmente, na final da Copa do Mundo de partidas na Copa do Mundo de futebol de 2014


futebol de 2014. foram retiradas e adaptadas de veículos online
O futebol é um esporte que possibilita por meio de print screen (captura de tela do
várias alternativas táticas, consequentemente, computador) em um notebook.
existem vários sistemas que simplificam o
entendimento do posicionamento em campo. A Tática: Conhecendo o Esquema Tático 4-
Um estudo a respeito da tática em um 1-4-1
esporte tão difundido quanto o futebol deveria
ser algo comum, no entanto, a literatura Quatro defensores, três meio
acerca dessa temática apresenta-se incipiente campistas, dois pontas e um centroavante. A
nos periódicos científicos. princípio, pode-se pensar que se trata do 4-3-
O principal motivo para a realização 3, entretanto, nos últimos anos essas funções
dessa pesquisa, é a incipiência de estudos podem ser associadas a outros sistemas de
acadêmicos publicados a respeito desse tema. jogo. Um dos principais é o 4-1-4-1,
Este trabalho pode, portanto, contribuir principalmente por conta do ano de 2014, o
ainda para o conhecimento de estudiosos da qual a Alemanha, campeã da Copa do Mundo
área que buscam por materiais a fim de tratar de futebol realizada no Brasil, usou esse modo
de temáticas como a tática ou um esquema de se postar em campo e obteve grande êxito,
tático específico. levantando o troféu.
Esse pode ter sido um dos motivos
MATERIAIS E MÉTODOS que levou o esquema a ser mais visualizado e
se difundir por várias ligas e países.
Foi realizada uma pesquisa de Segundo Marques Junior (2015, p.81)
metodologia qualitativa, com ênfase na análise “[...] os aspectos positivos que acontecem em
da performance tática da seleção da uma Copa do Mundo, tornam-se um
Alemanha, principalmente durante a Copa do referencial para o futebol mundial no aspecto
Mundo de 2014. tático e técnico”. Isso fica claro, porém não é
Segundo Creswell (2007 p.184) “[...] uma regra, mas após a Copa do Mundo de
os procedimentos qualitativos se baseiam em 2014, algumas equipes utilizaram esse modo
dados de texto e imagem, têm passos únicos de se postar influenciadas, direta e
na análise de dados e usam estratégias indiretamente, pela Alemanha.
diversas de investigação”. Por exemplo, equipes como o Bayern
Seguindo esse conceito, foram de Munique adotaram o esquema já na
analisadas imagens acerca do posicionamento temporada seguinte, o Sport Club Corinthians
da Alemanha no 4-1-4-1, desvelando algumas Paulista do técnico Adenor Leonardo Bacchi
características desse sistema. (Tite) em 2015, que publicamente admite a
Para compreender tais imagens, a inspiração na seleção alemã. O mesmo Tite
pesquisa foi pautada em uma análise utilizou o esquema ao assumir o comando da
imagética que, segundo Godoi e Uchoa seleção brasileira em 2016 e, assim,
(2016), traz à tona a necessidade de classificou o país antecipadamente à Copa do
compreensão do todo, buscando descrever e Mundo da Rússia em 2018.
destrinchar o foco a partir das visualidades. A maior intenção desse modo de se
Deste modo, é possível estabelecer posicionar é buscar uma forte defesa e um
descrições sobre o sistema de jogo a partir de ataque com fluidez, porém, isso depende das
imagens de partidas e da postura da equipe características dos atletas, do treinador e da
em campo. mentalidade coletiva de jogo.
As imagens que foram usadas para De acordo com Carlos Alberto Parreira
exemplificar o 4-1-4-1 e suas variações foram (2005), a ideia de um sistema tático implica em
formatadas pelos autores por meio do diversos aspectos do jogo, pois deve
aplicativo de estudo tático de futebol Football evidenciar o trabalho em equipe ao estimular a
Board. participação coletiva nas ações e as manobras
Após organizados, os esquemas executadas.
táticos foram capturados por meio de O autor aponta ainda que se deve
screenshots (captura de tela do celular) em um considerar a técnica e habilidade individual
smartphone com sistema operacional Android. para selecionar quais atletas participam, bem
As imagens que ajudaram a mostrar as como a forma e o momento em que estes
variações da seleção alemã em determinadas entram em ação. Portanto não é possível

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apontar qual o é melhor ou pior sistema de é tentar surpreender o adversário e conseguir


jogo, a ideia do 4-1-4-1 é ter com todos esses os objetivos definidos em relação à partida. As
quesitos mencionados um domínio das ações experiências táticas devem ser orientadas,
da partida, assim com esse controle fica mais inicialmente, a partir da análise da estrutura do
acessível para a equipe buscar um resultado jogo e, assim, configurar as especificidades e
positivo. realizar o planejamento de acordo com os
objetivos (Costa, Nascimento, 2004, p. 51).
Variações do Esquema 4-1-4-1 O que acontece no campo depende
das estratégias e do posicionamento pensado
Após conhecer o esquema, é para cada jogo, algo planejado a partir do
necessário entender que os sistemas táticos contexto de trabalho, atletas, estrutura,
são números, e eles determinam os lugares adversário, entre outras variáveis.
que os atletas ocupam no gramado em Os esquemas táticos podem
diferentes situações de uma partida. apresentar dificuldades de observação por
Todavia, escolher de maneira correta conta de vários modelos numéricos, como: 4-
a tática pode interferir no resultado, com isso 3-3, 3-2-3-1, 4-1-4-1, 4-4-2.
impactar nos resultados das partidas de Isso gera grande variedade de
futebol, segundo Müller-Budack e sistemas, que, no entanto, mostram maneiras
colaboradores (2019). parecidas de se posicionar, para Müller-
Esses números podem sofrer Budack e colaboradores (2019) interpretar
alterações: um time pode mudar sua postura esquemas é algo muito subjetivo, podendo
no campo de uma partida para outra ou de um atrapalhar análises principalmente de modelos
momento do jogo para outro. Para acontecer é ofensivos. Isso acontece devido a grande
necessário treino, para que os atletas saibam quantidade de mutação tática existente no
executar as ações pré-determinadas. futebol.
Todas essas alternâncias são
chamadas de variações. A finalidade principal

Figura 1 - 4-1-4-1 VARIANDO PARA O 4-3-3.


Fonte: os autores via Football Board (2020).

As demais variações necessitam de equipe. Esta variação pode, sobretudo, ser


algumas mudanças mais consistentes nos usada para “fechar”, ou seja, jogar passando
posicionamentos. Uma dessas variações é mais pelo meio de campo.
para o 3-4-3, onde um exemplo seria um recuo Outra variação é para um 4-2-3-1,
do volante para a linha de zagueiros e um como já citado. Para acontecer, um dos meias
adiantamento dos laterais, tornando-os meias recua formando uma dupla de volantes e o
abertos pelos lados do campo, com tal ajuste outro meia avança se tornando um meia
ocorre mais liberdade ofensiva aos pontas da armador mais ofensivo (e solitário) da equipe.

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Figura 2 - 4-1-4-1 VARIANDO PARA O 3-4-3.


Fonte: os autores via Football Board (2020).

Figura 3 - 4-1-4-1 VARIANDO PARA O 4-2-3-1.


Fonte: os autores via Football Board (2020).

Figura 4 - 4-2-3-1 VARIANDO PARA O 4-4-2.


Fonte: os autores via Football Board (2020).

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Figura 5 - 4-1-4-1 VARIANDO PARA O 5-4-1.


Fonte: os autores via Football Board (2020).

Caso esse meia avance tanto que maturidade, na qual se concebe que é
chegue ao ataque e os pontas recebam necessário entender e dominar todas as fases
funções de armação, torna-se então um 4-4-2 da partida para vencê-la.
no campo, conforme observado na figura 4.
Segundo Almeida, Lauria e Lima Características Ofensivas e Defensivas
(2016), recuperar a bola é mais fácil que
trabalhar a bola e criar, assim, a maioria das Os sistemas podem ser os mais
equipes de alto rendimento, hoje, joga de diversos, mas quando se trata de postura
maneira defensiva, buscando o resultado da ofensiva ou defensiva a questão depende
maneira mais pragmática. muito mais da postura dos atletas e da
Não foram encontradas pesquisas que estratégia que a equipe utiliza. Para Vendite e
indiquem se isto agrada ou não ao público Moraes (2006), a tática do futebol tem
espectador e telespectador. passado por diversas modificações por conta
Por outro lado, compreende-se que as da dualidade entre defensores e atacantes.
equipes técnicas valorizam demasiadamente a Isso faz com que aconteça uma disputa no
tática associada a movimentos defensivos. campo entre os que atacam e os que
Tendo em vista a necessidade de se tornar defendem, possibilitando pensar alguns
mais defensiva, por exemplo, na situação de aspectos que caracterizam as fases ofensivas,
sustentar um resultado que interessa à equipe, neste caso do 4-1-4-1.
é possível caracterizar mais uma variação de A evolução da condição física dos
sistema, o 5-4-1. atletas permitiu uma maior versatilidade,
Para tanto, o volante recuaria, deixando o jogo mais dinâmico e justamente
formando uma linha de três zagueiros, junto por causa desse dinamismo o futebol está
com os laterais, que teriam postura defensiva, cada vez mais dependente da força física e da
formando uma base de cinco atletas na velocidade dos jogadores. E isso irá refletir
primeira linha; os meio campistas teriam o nas opções relativas ao sistema tático
apoio dos pontas, formando a linha de quatro (Almeida, Lauria e Lima, 2016).
no meio campo e mais avançado um atacante. As evoluções na preparação física
Como sugere Wilson (2016), é nesse influenciam, principalmente, as questões
momento que os primórdios da tática se ofensivas das equipes, com transições rápidas
invertem, já que nos seus primeiros passos a da defesa para o ataque e com jogadas em
tática era absolutamente ofensiva, e agora – velocidade pelas laterais do campo. Não
praticamente um século e meio após a sua obstante, as possibilidades de triangulações
formalização como esporte – os técnicos que o 4-1-4-1 oferece com a posse de bola e
buscam quase sempre soluções sua amplitude com os “extremos” ou “pontas”
conservadoras, adicionando atletas às linhas – atacantes ou meias que jogam pelos lados –
defensivas. Como uma questão de potencializam a explosão física com o controle

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da bola. Também é necessário levar em conta possibilidade de que o número 1 do sistema


a quantidade de atletas que podem apoiar um tático, o mais avançado atacante, não seja tão
ataque, com pelo menos seis, tendo uma presente nos combates defensivos, é possível
cobertura de quatro atletas, dando um bom que a defesa seja composta por ao menos
suporte defensivo. nove atletas. Isso dificulta a superioridade
Quando não se tem a posse de bola, numérica da equipe adversária, diminuindo o
no mínimo, a marcação se ajustará com 8 espaço para que criem jogadas em sua
atletas. O referido esquema tático possibilita defesa.
que o time se defenda com ao menos oito
jogadores e ataque com, no mínimo, menos Relação e/ou comparação com o 4-3-3
seis, assim a equipe fica menos exposta
defensivamente (Machado, 2017). Esse As variações táticas podem seguir
mínimo de atletas ao ataque aumenta a variados modelos, mas não há uma regra. Um
variedade de jogadas, quando a equipe em exemplo disso é a seleção holandesa de 1974,
questão tem repertório para criar chances, ela uma equipe que não venceu a Copa do
possivelmente conseguirá no que depender Mundo, mas ficou tão lembrada quanto a
das possibilidades oferecidas pelo 4-1-4-1. campeã daquele ano, a Alemanha Ocidental.
Para defender no futebol, pode-se O motivo desta lembrança pela Holanda
tentar várias estratégias. O objetivo sempre daquele ano foi à sua maneira “inédita” de
será o mesmo: evitar que o adversário com a jogar futebol, com uma movimentação
posse da bola chegue na região que permite constante e entre os atletas (sem uma posição
finalizações e faça o gol. Tentando bloquear o fixa), tornando aquela seleção conhecida
ataque adversário, o que mais acontece no como “Laranja Mecânica” e/ou “Carrossel
futebol nos tempos atuais é a busca por uma Holandês”. A Holanda foi a vice-campeã
marcação compacta, visando deixar a equipe daquele ano, mas é difícil de ser esquecida
sem a posse de bola com os atletas mais pelos que contemplam a beleza do esporte.
próximos. Esta estratégia de defesa pode ser De acordo com Lima (2017, p.14), “Isso
realizada com várias maneiras de marcação, ocorreu pelo fato de que a seleção holandesa
as mais comuns são: por zona ou individual. se apresentou com um estilo de jogo
A escolha depende dos atletas que completamente inovador durante a
estarão em campo e na proposta que competição, uma maneira de jogar jamais vista
prepararam para encarar o adversário. Um daquela forma”.
treinador que pode servir de exemplo para as Mas há outro motivo para usar este
questões defensivas do 4-1-4-1 é Tite. exemplo, a Holanda se posicionava em campo
Machado (2017) comenta que Tite utiliza um seguindo um sistema tático e, em seguida,
conceito baseado no posicionamento, e, por utilizava muitas variações para confundir os
isso, prefere e busca uma marcação por zona, adversários e buscar os espaços para criar
que segue a posição da bola, com os atletas suas oportunidades. “A Holanda se camuflava
fechando os espaços e desfocados em um no esquema tático 4-3-3, mas, na verdade,
adversário específico, como na marcação não obedecia a nenhum esquema” (Lima,
individual. 2017, p.14), e essa forma de se “camuflar”
Partindo dessa premissa, conforme as usando o 4-3-3, foi um dos possíveis motivos
estratégias que são estabelecidas antes das do sistema ter destaque nos anos seguintes,
partidas, os atletas sabem onde se deve conseguindo um bom equilíbrio e grande
pressionar os oponentes. Isso também auxilia potência ofensiva; à primeira vista, facilmente
a pensar que a defesa não ocorre somente se confunde o 4-3-3 holandês e o 4-1-4-1.
com os zagueiros, volantes, laterais e com o No trabalho de Lima (2017) não se
goleiro. De acordo com as orientações do observou apenas a seleção holandesa. O
treinador, a defesa, inclusive, pode ser iniciada autor também apresenta dados sobre a
no ataque, já que tais possibilidades partem campeã em 1974, a Alemanha Ocidental,
desde uma pressão dos atacantes para Polônia e a seleção brasileira. O autor afirma
recuperar a bola. ainda que uma das curiosidades principais
No 4-1-4-1, além do seu equilíbrio já sobre estas equipes é o fato de jogarem todas
ressaltado, são notáveis as suas linhas no 4-3-3 (Lima, 2017).
formadas no momento de defesa, fazendo Apesar da visibilidade da Holanda de
com que a equipe toda participe dos 1974, outra seleção utilizou o sistema 4-3-3
momentos defensivos. Pensando na com destaque na década anterior, a Inglaterra,

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campeã da Copa do Mundo de 1966. Além


disso, a Copa do Mundo de futebol de 1962 O 4-1-4-1 e as Variações da Alemanha
fornece indícios do desuso do WM, já que o
Brasil, o campeão daquela edição, No dia 13 de julho de 2014, com o
surpreendeu com o reforço no meio de campo. Maracanã lotado, Nicola Rizzoli apita o fim de
Seu 4-2-4 passou para algo como um 4-3-3, uma prorrogação e sentencia a vitória da
sendo visível que cada vez mais ocorria uma seleção alemã. Uma partida equilibrada que
intensa movimentação dentro de campo durou 120 minutos, na qual as duas equipes
(Vendite, Moraes, 2006). tiveram chances para colocar o marcador a
A seleção do Brasil conquistou seu seu favor, porém graças a um gol de Mario
segundo título de Copa do Mundo, um Gotze, aos sete minutos do segundo tempo da
bicampeonato, já que era o campeão na Copa prorrogação, a taça ficou com os europeus.
do Mundo de 1958, disputada na Suécia. A Alemanha atuou de forma regular
O país foi fundamental para a inserção em toda a competição. Alguns jogos foram
do 4-2-4 no futebol e, na sequência, trouxe bem convincentes em termos de atuação
uma variação que se concebia como o coletiva, principalmente pensando em
precursor do 4-3-3. O Brasil ficaria uma edição questões táticas.
sem vencer a Copa, até 1970, quando Em momentos de relevantes, o
novamente chamaria a atenção por conta de selecionado alemão usou do 4-1-4-1 e
sua maneira de atuar. algumas de suas variações. Algumas das mais
Vendite e Moraes (2006) acentuam emblemáticas partidas foram contra França 2
que houve novamente um êxito do 4-3-3 na nas quartas de final, contra o Brasil 3 na
Copa do Mundo de futebol no México, em semifinal e, sobretudo, contra a Argentina4 na
1970. Nesta edição, o Brasil conquistaria o seu grande decisão.
terceiro título. Nas quartas de final, contra os
Na forma de atuar proposta por Mario franceses, a Alemanha se deparou com uma
Lobo Zagallo, existia então um goleiro, quatro partida de extrema dificuldade e equilíbrio,
defensores, três atletas formando o meio de sendo decidida na bola parada, uma cobrança
campo, além dos três mais ofensivos. de falta da intermediária que resultou no gol do
O Brasil inovou, com um grupo de zagueiro Mats Hummels.
atletas reconhecido por sua excelência técnica Além do equilíbrio, o que chamou a
e inteligência e aplicação tática: Carlos Alberto atenção foram as fortes marcações, pelo lado
Torres, o defensor e capitão da equipe, da Alemanha uma grande compactação e
responsável pelo gol do título na final. variação na marcação do 4-1-4-1 para o 4-2-3-
Jairzinho que foi um grande destaque no ‘tri’ já 1.
que marcou gol em todas as partidas da Copa;
e Pelé, para muitos o melhor de toda a
história, que dava um toque de gênio a cada
lance em que participava.
Com os apontamentos mencionados
acerca do 4-1-4-1 e alguns indícios da sua
relação com o 4-3-3, o próximo passo é
perceber algumas das semelhanças desses
dois modos de se postar em campo, tão
parecidos à primeira vista.
O motivo de o 4-1-4-1 confundir-se
com o 4-3-3 é que, geralmente, as duas
maneiras contam com as mesmas funções em
campo. É comum, por exemplo, que ambas
usem: goleiro, lateral direito, dois zagueiros,
lateral esquerdo, três meio campistas 2
Ver mais em:
(independente se ofensivos ou defensivos) e
https://www.youtube.com/watch?v=aQTz0sdSybY.
três atacantes (um atacante centralizado, Acessado em: 09/10/2019.
podendo ser mais fixo no ataque ou de maior 3
Ver mais em: https://www.youtube.com/watch?v=-
movimentação e dois atacantes mais abertos, cmlVUQ5L4A. Acessado em: 09/10/2019.
4
Ver mais em:
jogando pelos lados do campo, sendo os
https://www.youtube.com/watch?v=pnlrWBHJVVU&t=1026
“pontas” ou “extremos”). s. Acessado em: 09/10/2019.

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Figura 6 - Posicionamento defensivo e compactação da Alemanha na variável 4-2-3-1 contra a


França.
Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Figura 7 - Posicionamento defensivo da alemanha no 4-1-4-1 contra o brasil.


Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Na imagem (Figura 6) só não aparece um equilibrado confronto, porém, a Alemanha


o atacante, porque, mais adiantado, ele espera conseguiu um triunfo fácil, um 7 a 1. Os
uma retomada da posse da bola. Mas é motivos da fácil vitória foram muitos, porém
possível ver os quatro defensores muito algo evidente foi a organização tática dos
próximos, o volante e um dos meio campistas alemães, mais uma vez no 4-1-4-1.
dando um suporte logo à frente, oferecendo Nessa imagem (Figura 7) se
assim liberdade para que o outro meio caracteriza o 4-1-4-1, a variação prestes a
campista quebrasse a linha, para fazer uma ocorrer com um meia avançado para
marcação com mais pressão no atleta com a pressionar, algo que foi constante de acordo
bola. Os pontas abertos cuidavam dos que com a estratégia adotada pelos alemães nesta
podem tentar uma infiltração por aquele setor. partida. Uma Alemanha que pressionava perto
Somado a uma movimentação constante das da área do Brasil, levando perigo ao roubar a
linhas, ficaria muito difícil para que os bola perto da meta, conseguindo assim,
franceses encontrassem espaços vazios e inclusive, alguns de seus gols nessa partida.
criassem situações de perigo (possibilidade de Após eliminar casão Brasil com uma
finalização). Nota-se, ao ver o placar mínimo goleada, os alemães enfrentariam a Argentina.
para uma vitória, 1 a 0 para a Alemanha, como Após uma partida de disputa de força
uma boa postura defensiva. defensiva com a França e uma consistente
Na semifinal, os anfitriões da Copa vitória contra o Brasil, houve então uma
enfrentaram a Alemanha. A imprensa partida equilibrada e aberta na final. Duas
especializada acreditava que deveria ser mais

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P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b f f . c o m . b r

equipes com forte marcação e que criaram vez pautada no 4-1-4-1, dando as mínimas
oportunidades de marcar durante o confronto. condições para os argentinos finalizarem.
A Alemanha mais uma vez fez o uso Os alemães postaram linhas
do 4-1-4-1 e algumas variações que ajudaram compactas e próximas, o oponente poderia
no êxito final. Para começar a fase defensiva, estar perto da sua área, mas não tinha espaço
a Alemanha buscou em diversos momentos para fazer infiltrações ou finalizar a gol.
marcar a Argentina perto de sua própria área, Quando recuperava a bola a
trazendo dificuldades na saída de bola do rival. Alemanha contava com trocas de posição para
Com linhas bem posicionadas, o criar superioridade numérica nos setores e,
selecionado alemão dificultava para que seus consequentemente, regularmente ter opção de
adversários encontrassem espaços para passe para fazer a progressão da defesa ao
progredir com trocas de passes, mas perto de ataque.
sua área a postura da Alemanha foi mais uma

Figura 8 - Poscionamento defensivo da Alemanha no 4-1-4-1 com marcação pressão contra a argentina.
Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Figura 9 - Posicionamento defensivo e compactação da Alemanha no 4-1-4-1 contra a Argentina.


Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Figura 10 - Saída de bola da Alemanha contra a argentina: laterais auxiliam o meio de campo contra a argentina.
Fonte: adaptado do YouTube (2020).

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Figura 11 - Volante recuado para ajudar na criação de jogadas, caracterizando o 3-4-3 contra a argentina.
Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Figura 12 - Organização alemã para atacar no 4-1-4-1 contra a Argentina.


Fonte: adaptado do YouTube (2020).

Nesse caso os laterais ajudavam o com cinco atletas, com velocidade, trocas de
volante na criação e saída de bola. É possível posição e infiltrações rápidas. Assim, era
perceber que para manter a amplitude e possível levar perigo eminente ao gol
sempre ter uma zona de escape o ponta se argentino.
mantém bem aberto, assim, a Argentina É possível notar claramente o 4-1-4-1
dificilmente conseguiria eliminar todas as desenhado, com os meias mais avançados.
opções de criação dos alemães. Ao progredir Neste caso, o último 4-1 do sistema,
com a bola, a situação posicional mudava, que estava posicionado defensivamente e
com mais movimentações que permitiam a aos numa retomada da posse e tentativa de
jogadores ocupar bem todos os setores do ataque rápido, manteve as linhas que
campo. permitiam boas possibilidades de criação de
O volante recuava para perto dos jogadas e assim uma possível finalização.
zagueiros, dessa vez os laterais tomam
posições mais abertas e os pontas se CONCLUSÃO
aproximam do atacante. O time alcança a
variação 3-4-3, permitindo boas opções para A tática no futebol se mostra bastante
atacar o adversário. E, por fim, quando não ampla, pois se trata de um dos esportes mais
havia uma possibilidade de criação com tal dinâmicos já criados. Uma das propostas de
cadência, os alemães atacavam de maneira se colocar no campo para a prática do futebol
rápida, mantendo uma estrutura bem próxima é o 4-1-4-1.
ao 4-1-4-1 nos momentos de marcação, tendo Neste sistema observa-se variações
assim um ataque bem ocupado e posicionado táticas que podem ser realizadas com poucas

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trocas de posição, dando mais opções para as 3-Creswell, J. W. Projeto de pesquisa:


equipes que utilizam desta forma de se métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2ª
posicionar. edição. Porto Alegre. Artmed. 2007.
Fica evidente que, com tantas
variações, o 4-1-4-1 é um modo de jogar que 4-Godoi, C. K. Metodologia qualitativa
proporciona equilíbrio, com possíveis discursivo-imagética: do contexto da produção
mudanças que deixam a equipe mais ofensiva às possibilidades de recepção da imagem. IV
ou defensiva, de acordo com as necessidades Congresso Brasileiro de Estudos
decorrentes da partida e/ou do próprio Organizacionais. Anais. Porto Alegre. 2016.
campeonato.
Observa-se certas semelhanças do 4- 5-Lima, T. R. L. A. O futebol total e o tiki-taka:
1-4-1 com o 4-3-3, por conta de os atletas análise comparativa entre a seleção
ocuparem praticamente as mesmas posições Holandesa de futebol de 1974 e o Fútbol Club
no momento da partida. Barcelona da Espanha de 2015. TCC.
Salienta-se que a diferença entre eles Graduação em Educação Física. UFPE. Vitória
são as suas variações e propostas, o qual o 4- de Santo Antão. 2017.
1-4-1 apresenta um maior equilíbrio nas
questões de defesa e ataque, enquanto o 4-3- 6-Machado, L. Análise: Tite e o 4-1-4-1 - O
3 se mostra essencialmente mais ofensivo e Esquema que fez do Brasil a Fênix do Futebol.
menos equilibrado por estes aspectos. 2017. Disponível em: <https://medium.com/o-
Identificou-se que o 4-1-4-1 apareceu contra-ataque/tite-e-o-4-1-4-1-69506db6afd7>
de maneira mais atrativa com a seleção alemã Acesso em: 20/04/2020.
em 2014, por conta da sua utilização em
diversas partidas. 7-Marques Junior, N. K. Copa do Mundo de
Foi notório que nesse uso do esquema 2014: dados estatísticos das quatro melhores
houve a ocorrência de suas variações. Sendo equipes. Revista Brasileira de Futsal e
possível observar a equipe alternando durante Futebol. São Paulo. Vol. 7. Num. 25. 2015. p.
as partidas para formas de posicionamento 297-326. Disponível em:
como o 4-2-3-1 e o 3-4-3. <http://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/vi
A equipe europeia obteve êxito na ew/342>.
competição, com atuações que apresentaram
as principais características do sistema, 8-Müller-Budack, E.; Theiner, J.; Rein, R.;
principalmente o equilíbrio, já que Ewerth, R. "Does 4-4-2 exist?" – An Analytics
conseguiram conciliar uma equipe com defesa Approach to Understand and Classify Football
sólida e compacta e ataque forte e de muita Team Formations in Single Match Situations. II
criatividade. ACM International workshop on multimedia
Portanto, conclui-se que o sucesso da content analysis in sports. Nice. 2019. p. 25-
Alemanha na Copa do Mundo de futebol de 33.
2014, principalmente nas quartas de final,
semifinais e final da competição, deve-se 9-Parreira, C. A. Evolução Tática e estratégias
também a maneira com a qual a equipe se de jogo. Brasília. EBF. 2005.
portou taticamente, ou seja, o 4-1-4-1 e suas
variações, surpreendendo, assim, os 10-Vendite, C.; Moraes, A. C. Sistema,
adversários e mantendo-se estruturada. Estratégia e Tática de Jogo no Futebol:
Análise do Conhecimento dos Profissionais
REFERÊNCIAS que Atuam no Futebol. XXVII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Porto
1-Almeida, C. E. S.; Lauria, V. T.; Lima, C. A Alegre. 2004. p. 1-10.
evolução dos esquemas táticos no futebol.
Revista acadêmica Interinstitucional. Vol. 9. 11-Wilson, J. A pirâmide invertida: a história da
Num. 20. 2016. tática no futebol. 1ª edição. Campinas. Grande
Área. 2016.
2-Costa, L. C. A.; Nascimento, J. V. O ensino
da técnica e da tática: novas abordagens
metodológicas. Journal of Physical Education. Recebido para publicação em 26/11/2019
Vol. 15. Num. 2. 2004. p. 49-56. Aceito em 21/04/2020

Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo. v.12. n.48. p.218-229. Maio/Jun./Jul./Ago. 2020. ISSN 1984-4956
Artigo Original

Influência da alteração do adversário nas respostas


táticas e físicas em pequenos jogos no futebol

Influence of changing the opponent in tactical and


physical demands in soccer small-sided games

PRAÇA GM, FAGUNDES LHS, BRAGA W, FOLGADO H, MORALES JC, Gibson Moreira Praça1
CHAGAS MH et al. Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e Leonardo H. Silva Fagundes¹
físicas em pequenos jogos no futebol. R. bras. Ci. e Mov 2016;24(4):44-54. Wladimir de O. Braga
Hugo Folgado²
Juan Carlos P. Morales¹
RESUMO: Observa-se na literatura que o desempenho durante o jogo de futebol varia com a mudança Mauro Heleno Chagas¹
dos jogadores adversários. Contudo, desconhece-se se este efeito é observado durante treinos de futebol André G. Pereira de Andrade¹
com pequenos jogos, embora estes se apresentem em importante meio para o treinamento nesta Pablo Juan Greco¹
modalidade. Este estudo objetivou investigar a influência da alteração da equipe adversária no 1
comportamento tático coletivo e no desempenho físico durante pequenos jogos no futebol. Selecionaram- Universidade Federal de Minas
se 18 atletas, divididos em 6 equipes com três jogadores cada, compostas por um defensor, um meio- Gerais
campista e um atacante. As equipes foram balanceadas a partir da capacidade tática individual dos atletas ²Departamento de Desporto e
e enfrentaram-se ao longo do protocolo de pesquisa jogando na configuração 3vs3. Avaliou-se a demanda Saúde, Escola de Ciências e
física – acelerações e distâncias percorridas em intervalos de velocidade - e o comportamento tático Tecnologia, Universidade de
coletivo – largura, profundidade, razão entre largura e profundidade e a distância entre os centroides - por Évora, Portugal
meio do uso de dispositivos de GPS de 15 Hz. Os dados foram analisados por meio do teste t pareado.
Não se observaram alterações no desempenho tático das equipes. Contudo, para os aspectos físicos,
observaram-se diferenças em relação às distâncias percorridas e acelerações. Conclui-se que a alteração da
composição da equipe adversária implica em modificações comportamentais dos jogadores durante
pequenos jogos, nomeadamente na demanda física, devendo esta variável ser considerada na utilização
deste meio de treinamento.

Palavras-chaves: Pequenos jogos; Demanda física; Comportamento tático.

ABSTRACT: According to the literature, soccer specific performance varies when changing the opponent
players. However, it is still unknown if this effect is also showed during soccer training sessions with
small-sided games, although these are important training tools. This study aimed to investigate the
influence of changing the opponents on the tactical behavior and physical demands during soccer small-
sided games. Eighteen male soccer players, divided into 6 teams with 3 players each participated in study.
Teams, balanced in relation to the tactical performance, faced each other during the research in a 3vs3
configuration. Physical demands and tactical behavior were assessed through a 15Hz GPS device. Data
were analyzed by the paired t test. No differences were observed regarding the tactical behavior. However,
regarding the physical demands, total distance traveled and accelerations were different when changing the
opponent. It was concluded that changing the opponent implies in behavioral changes of players during
small-sided games, and this variable must be considered when using these training tool.

Key Words: Small-sided games; Physical demands; Tactical behavior.

Recebido: 03/11/2015
Contato: Gibson Moreira Praça - gibson_moreira@yahoo.com.br Aceito: 02/08/2016
45 Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas

Introdução

O desenvolvimento de programas de treinamento que possibilitem o aumento do desempenho dos atletas é um


interesse comum de diferentes profissionais das Ciências do Esporte. Reforçando esta afirmação, pesquisas recentes
demonstram o interesse científico em aumentar o nível de entendimento de meios de treinamento para jogadores de
futebol, como por exemplo, os pequenos jogos. Neste contexto, estudos no futebol apontam que pequenos jogos são
meios úteis para treinar, de maneira integrada, os componentes técnicos, táticos, físico-fisiológicos e psicológicos
inerentes ao desempenho desta modalidade esportiva1.
Na literatura, estudos investigam a alteração de componentes estruturais dos pequenos jogos2 como o tamanho
do campo3, número de jogadores4,5, limitação de toques na bola6, tipo de marcação7 e presença de goleiros8 nas
respostas técnicas9, táticas10,11, físicas e fisiológicas6 de jogadores de futebol. Embora estes estudos forneçam algumas
informações sobre a influência da manipulação destes componentes e sua possibilidade de escolha das configurações
atrelada às intencionalidades da comissão técnica para a preparação dos jogadores 12, poucos dados estão disponíveis a
respeito do entendimento concomitante do comportamento tático e da demanda física durante pequenos jogos.
Originalmente, equipamentos de GPS foram utilizados para a caracterização da demanda física durante
pequenos jogos e jogos oficiais de futebol13, permitindo a coleta de dados referentes às distâncias (totais e parciais por
intervalos de velocidade) e, mais recentemente, das ações de aceleração. Contudo, entende-se que as movimentações
dos jogadores, além do impacto físico, representam a manifestação motora do processo decisional no futebol, sendo,
portanto, uma manifestação do comportamento tático dos jogadores. Ademais, este comportamento representa, tanto no
jogo quanto em situações de treino, um processo de relação interpessoal com os companheiros de equipe, sendo
compreendido como uma manifestação coletiva do processo decisional. Considerando-se o comportamento tático
coletivo, investigações acerca da largura, profundidade e centro de massa (centroide) fornecem importantes dados
acerca da coordenação interpessoal em situações de pequenos jogos 10,14. Estas últimas variáveis referem-se aos padrões
de organização espacial dos jogadores durante o jogo formal e/ou pequenos jogos, sendo a análise é realizada a partir
das coordenadas polares obtidas manualmente ou por meio de equipamentos de GPS 10.
Tais comportamentos táticos e físicos foram previamente investigados em relação ao jogo formal. Observa-se
na literatura que fatores situacionais como o local do jogo 15, placar momentâneo16 e o nível do adversário17-19 incidem
na performance das equipes durante a competição. Especificamente, espera-se que o nível de rendimento do adversário
seja suficiente para alterar o perfil da posse de bola17 e o comportamento tático coletivo19 durante o jogo formal.
Contudo, em uma abordagem sistêmica do jogo de futebol, espera-se que o comportamento dos jogadores seja resultado
das ações individuais e das relações estabelecidas entre os indivíduos no macrossistema jogo – tanto em relação aos
companheiros de equipe quanto em relação aos adversários20,21. Espera-se assim que a alteração dos adversários em
confronto, conforme previamente reportado em relação ao jogo formal 19, seja um estímulo à modificação do
comportamento dos jogadores tanto no nível individual quanto coletivo. Até o presente momento, tal hipótese não foi
verificada em situações de pequenos jogos.
Folgado et al. (2014) reportaram redução na demanda física de equipes de futebol durante o jogo formal
quando o nível de rendimento dos adversários era inferior. Assim, espera-se que as relações interpessoais estabelecidas
pelos jogadores no contexto do jogo 22,23 dependam tanto das capacidades (táticas, físicas, técnicas e fisiológicas) dos
atletas quanto das interações cooperação-oposição entre as equipes24. Nos pequenos jogos, espera-se que a alteração das
equipes em confronto incida nas interações cooperação-oposição estabelecidas, demande dos atletas um comportamento
específico em resposta à condição estabelecida. Assim, respostas relativas às demandas tática e física de uma
determinada equipe poderão ser diferentes na dependência da equipe adversária. Essa expectativa baseia-se também no
entendimento de que as demandas tática e física impostas a uma equipe resultam da cooperação de aspectos
R. bras. Ci. e Mov 2016;24(4):44-54.
PRAÇA et al. 46

relacionados ao conhecimento do jogo 25,26 (i.e., relativo aos indivíduos pertencentes às equipes em confronto), assim
como, ao próprio pequeno jogo (relativo à tarefa). O entendimento da influência da modificação da equipe adversária no
comportamento dos jogadores durante pequenos jogos apresenta importante impacto no planejamento das sessões de
treino no futebol na medida em que treinadores e preparadores físicos podem ajustar a distribuição dos atletas nas
equipes em função de objetivos – físicos e/ou táticos – específicos. Contudo, o impacto da alteração das equipes em
confronto não foi investigado durante a prática de pequenos jogos. Neste contexto, este estudo tem como objetivo
analisar a influência da alteração dos adversários nos comportamentos táticos e físicos de jogadores de futebol durante a
realização de pequenos jogos no futebol.

Materiais e métodos

Sujeitos
Selecionaram-se 18 atletas (idade: 16,4 ± 0,4 anos; massa: 68,4 ± 8,0 Kg) de uma equipe de Futebol da cidade
de Belo Horizonte que participa de competições a nível nacional e realiza em média sete sessões de treino semanais.
Destes atletas, optou-se por selecionar o mesmo número de defensores (n=6), meio-campistas (n=6) e atacantes (n=6),
dadas as diferenças nas características do jogo previamente reportadas na literatura 27,28 e a necessidade de considerar
este critério na composição das equipes dada a influência do estatuto posicional previamente reportada.

Procedimentos
Inicialmente, realizou-se a divisão dos 18 atletas em seis equipes compostas por três jogadores. O Teste de
Conhecimento Tático Processual (TCTP) foi utilizado para o processo de estratificação29. O teste compreende a
realização de um jogo reduzido, com duas equipes compostas por três jogadores cada (3vs.3) em um campo de 9x9m no
qual as equipes devem manter a posse de bola durante o maior tempo possível, sendo a duração total do teste
compreendida em quatro minutos. Durante a realização do teste, as cenas são gravadas para posterior análise. Esta
análise, conduzida por peritos no teste, avalia a incidência de ações táticas no ataque – com bola e sem bola – e na
defesa – na marcação do portador da posse de bola e na marcação do atacante sem bola previamente validadas para o
futebol29. Para a realização do TCTP, os 18 atletas foram divididos em três grupos de seis atletas de mesmo estatuto
posicional, i.e. seis zagueiros, seis meio-campistas e seis atacantes. Em cada grupo foram formadas duas equipes com
três atletas de mesmo estatuto posicional. A alocação de cada atleta para uma das duas equipes ocorreu por meio de
sorteio. Uma vez dividida as duas equipes, as mesmas realizaram dois jogos entre si que foram filmados com câmera
digital JVC HD Everio GZ-HD520 para posterior análise do desempenho relacionado ao conhecimento tático
processual de cada atleta. A partir dos resultados do TCTP elaborou-se um ranking de desempenho dos atletas dentro de
cada estatuto posicional. Após a organização do ranking, foi possível dividir a amostra em dois grupos: Grupo 1 (G1) -
composto pelos três atletas com maior desempenho no TCTP de cada estatuto posicional (N=9) e Grupo 2 (G2) -
composto pelos três atletas com menor desempenho no TCTP de cada estatuto posicional (N=9). Após a estratificação
dos atletas em G1 (atletas com maior desempenho no TCTP) e G2 (atletas com menor desempenho no TCTP), o
seguinte procedimento foi adotado: dentro de cada grupo (G1 e G2) foram formadas três equipes (A, B e C – grupo 1;
D, E e F – grupo 2) de três atletas (um defensor, um meio-campista e um atacante). Para esta formação das equipes,
outro critério adotado foi que uma determinada equipe não poderia ter dois atletas com o mesmo nível no ranking de
desempenho com o intuito de manter as equipes equilibradas.
Após a formação das equipes dentro de cada grupo (G1 e G2), as equipes A, B, C de um determinado grupo
jogaram entre si. Na literatura é reportada a influência da alteração do nível do adversário nas respostas dos jogadores

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(4):44-54.


47 Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas

durante o jogo formal19. Assim, a divisão dos atletas em dois grupos permitiu que atletas de nível semelhante se
enfrentassem, minimizando a influência do nível do adversário no comportamento observado. As sessões de coleta de
dados envolvendo os pequenos jogos foram balanceadas de forma que todas as equipes de um mesmo grupo realizassem
o mesmo número de jogos entre si. Todos os jogos foram realizados em um mesmo horário do dia para padronizar as
influências do ciclo circadiano.
A configuração 3vs.3 (goleiro mais três jogadores de linha por equipe) garante que os atletas tenham à
disposição todos os meios táticos coletivos, tanto na defesa como no ataque30. Assim os pequenos jogos nessa
configuração apresentam-se como uma possibilidade para o treinamento de componentes táticos 30, além de permitir
permanente envolvimento dos atletas no jogo. Assim, utilizou-se durante toda a coleta de dados a configuração 3vs.3. O
tamanho do campo foi mantido em 36x27 27,30, com balizas de 5m de largura por 2m de altura. Todas as regras inerentes
ao jogo formal, incluindo o impedimento, foram adotadas. Adotou-se permanente encorajamento externo por parte de
treinadores, além do posicionamento de 4 bolas auxiliares ao redor do campo de jogo 31.
A coleta de dados teve a duração de três semanas. Na primeira foram realizados os procedimentos para
composição das equipes e uma sessão de familiarização com a configuração de jogo. Nas duas semanas seguintes,
conduziram-se seis dias de coleta, separados por no mínimo 48h, garantindo que todas equipes se enfrentassem uma vez
dentro do grupo de nível tático semelhante, observando-se assim os confrontos AxB, AxC e BxC (aplicando-se o
mesmo ao grupo 2). Conforme observado, cada equipe realizou dois confrontos, sendo a análise efetuada a partir dos
pares equipe adversária 1 (ADV1) e equipe adversária 2 (ADV2). Em cada sessão realizaram-se duas séries de
pequenos jogos com quatro minutos de duração e tempo igual de pausa passiva. Todas as regras do jogo formal foram
mantidas, incluindo o impedimento. A figura abaixo apresenta todos os confrontos entre as equipes (com os respectivos
pareamentos) e representa o tamanho amostral (n) do estudo para cada grupo de variáveis (físicas e táticas).

Figura 1. Apresentação dos confrontos e do tamanho amostral do estudo.

Instrumentos
Avaliação da demanda física:
Para o registro da demanda física durante os pequenos jogos praticados com diferentes adversários utilizou-se
o sistema de posicionamento global (GPS) da marca GPSports Systems modelo SPI Pro X 2 com taxa de amostragem
de 15Hz e acelerômetro triaxial de 100Hz. Cada atleta utilizou uma unidade do dispositivo de GPS (massa: 76g;
dimensão: 48 mm x 20 mm x 87 mm) alocado junto ao tronco, na altura das vértebras torácicas, por meio de um colete

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(4):44-54.


PRAÇA et al. 48

elástico específico. O dispositivo foi ligado cinco minutos antes de se iniciar a sessão de treinamento e desligado
imediatamente após o final da atividade. Depois de gravados, os dados foram transferidos para um computador e
analisados por meio do software GPSports Team AMS 2012, fornecido pelo fabricante do dispositivo. A confiabilidade
e validade do dispositivo utilizado foram reportadas em estudos prévios (MACLEOD; SUNDERLAND, 2007; GRAY
et al., 2010). As variáveis “distância total percorrida, distâncias percorridas em diferentes extratos de velocidade e
número de acelerações”, que caracterizam a demanda física, foram utilizadas no presente estudo. Um maior
detalhamento das variáveis relacionadas à demanda física foi apresentado no quadro 1.

Quadro 1. Variáveis relativas à demanda física e suas caracterizações e abreviaturas.


Variáveis Caracterização Abreviaturas
Distância Total Percorrida Distância Total (m) DT
Nível 1 (0 - 7,2 km/h) Distância total percorrida entre 0 e 7,2 Km/h D1
Distâncias Nível 2 (7,3 - 14,3 km/h) Distância total percorrida entre 7,3 e 14,3 Km/h D2
Nível 3 (14,4 - 21,5 km/h) Distância total percorrida entre 14,4 e 21,5 Km/h D3
Nível 4 (> 21,5 km/h) Distância total percorrida acima de 21,5 Km/h D4
Total de ações de aceleração a partir de 2 m/s² NAcel1
Nível 1
Distância total percorrida em acelerações a partir de 2 m/s² DistAcel1
Acelerações
Total de ações de aceleração a partir de 2,5 m/s² NAcel2
Nível 2
Distância total percorrida em acelerações a partir de 2,5 m/s² DistAcel2

Essas variáveis foram investigadas em estudos prévios4,32,33. No presente estudo, os valores de velocidade
acima de 21,5 Km/h foram agrupados em um único extrato de acordo com o procedimento adotado por Owen, Wong34.

Avaliação do Comportamento Tático Coletivo:


O comportamento tático coletivo foi avaliado com base no cálculo dos valores de largura (distância transversal,
em metros, entre os atletas mais lateralmente posicionados em uma dada equipe), profundidade (distância longitudinal,
em metros entre os atletas mais lateralmente posicionados em uma dada equipe), distância entre os centroides (distância
no eixo X, em metros, entre as posições médias dos jogadores de cada equipe) e LPWratio (razão entre profundidade e
largura, sem unidade) conforme utilizado em outros estudos no Futebol 10,19,35,36. Estas variáveis posicionais, medidas
por meio da posição relativa dos jogadores no campo de jogo, relacionam-se com princípios ofensivos e defensivos do
jogo e permitem a identificação de diferentes estilo de jogo – baseados na circulação da bola em largura ou no rápido
alcance do campo de ataque (jogo em profundidade) 10. Os dados posicionais (latitude e longitude) de cada atleta durante
os Pequenos Jogos foram obtidos a partir de equipamentos de GPS de 15 Hz (SPI Pro, GPSports, Canberra, Austrália),
posicionados no tórax dos atletas com vestimenta específica. O software Team AMS foi utilizado para extrair as
informações armazenadas no GPS, bem como sincronizar os tempos de início e fim das séries de Pequenos Jogos. A
figura abaixo exemplifica as variáveis investigadas.
Os dados do GPS foram processados no software MATLAB 2011b (The MathWorks Inc., Natick, MA, USA).
Inicialmente, os dados de latitude e longitude foram convertidos em metros através do protocolo de UTM (Universal
Transverse Mercator coordinate system). Após, uma matriz rotacional foi calculada para cada jogo a partir das posições
do campo, alinhando a profundidade do campo de jogo com o eixo x e a largura com o eixo y. Todos os procedimentos
encontram-se em consonância com a metodologia adotada em outros trabalhos na área 10,19.

Cuidados éticos
Este estudo recebeu parecer favorável do Comité de ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais, registrado sob o número 29215814.8.0000.5149. Todos participantes e responsáveis deram consentimento por
escrito antes do início das coletas.

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(4):44-54.


49 Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas

Figura 2. Variáveis táticas. a e a’: profundidade; b e b’: largura; estrela: posição do centroide das equipes A (triângulos pretos) e B (círculos brancos).

Análise estatística
Para a análise dos dados, consideram-se os dados de cada série de pequeno jogo separadamente, independente
do fator grupo. Os dados foram inicialmente analisados com estatística descritiva. Verificou-se a distribuição através do
teste de normalidade de Shapiro-Wilk, recomendado para amostras pequenas. Observou-se não haver indícios de
desvios significativos à normalidade, procedendo-se então a uma análise de variância para o fator confronto com 12
níveis de resposta (12 diferentes confrontos observados neste estudo). Dessa forma, se a equipe A joga inicialmente
contra a equipe B, tem-se o confronto AxB que posteriormente em função da mudança de adversário seria denominado
confronto AxC. Dessa forma, as médias das 12 combinações possíveis de confrontos entre as 6 equipes foram
comparadas, totalizando 6 diferentes pares. Em caso do teste F da ANOVA ser significativo, utilizou-se o post hoc de
Tukey. Essa análise foi realizada tanto para as variáveis físicas quanto para as táticas. O nível de significância adotado
foi de p<0,05, e todos os cálculos foram realizados no pacote estatístico SPSS 20.0.

Resultados
A tabela 1 apresenta os valores médios, desvios padrão e p-valor para as variáveis relacionadas ao
comportamento tático coletivo. Variáveis largura e profundidade são apresentadas em metros, enquanto valores de
distância centroide e LPWRatio não apresentam unidade de medida.
Resultados apontam ausência de diferenças significativas no comportamento tático coletivo com a alteração do
adversário durante a realização de pequenos jogos (p>0,05). Na tabela 2 estão apresentados os resultados referentes às
demandas físicas. Dados de distância (distâncias percorridas e distâncias em aceleração) são apresentados em metros.
Para as ações de aceleração apresenta-se a frequência de observações em cada um dos dois níveis.
Em relação às demandas físicas, foram observadas diferenças significativas na distância percorrida entre 0 e
7,2 km/h (DT1) nos pares de confrontos 2 e 6 (p=0,047). Ainda, observaram-se diferenças na incidência de acelerações
acima de 2ms² (p=0,009) nos confrontos 1 e 2. De maneira geral, observou-se um reduzido impacto da alteração do
adversário nas respostas físicas dos jogadores.

Discussão
Este estudo objetivou investigar a influência da alteração do adversário nas demandas físicas e táticas durante a
realização de pequenos jogos no futebol. De maneira geral, não se observaram diferenças no comportamento tático a
partir da alteração das equipes adversárias e reportou-se baixo impacto da alteração dos adversários na demanda física
durante os pequenos jogos.
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PRAÇA et al. 50
Tabela 1. Comparação do comportamento tático coletivo entre os jogos com diferentes adversários.

Largura (m) Profundidade (m) LPWRatio Distância Centroide


AxB 7,98 (2,22) 7,435 (4,41) 1,745 (0,98) 13,05 (0,03)
Par 1
AxC 9,35(0,15) 7,325 (0,39) 0,91 (0,01) 11,35 (2,25)
BxA 10,765 (1,17) 7,94 (1,46) 0,92 (0,34) 13,17 (0,35)
Par 2
BxC 10,195 (0,91) 7,215 (0,45) 0,845 (0,001) 13,29 (1,34)
CxA 10,55 (0,01) 6,07 (0,06) 0,645 (0,01) 11,57 (2,50)
Par 3
CxB 11,105 (1,59) 7,84 (0,78) 0,86 (0,24) 13,12 (1,51)
DxE 10,00 (1,3) 7,16(0,15) 0,87(0,12) 16,71(4,97)
Par 4
DxF 9,17 (0,3) 7,92 (0,76) 0,98(0,04) 13,53(1,75)
ExD 9,91 (3,07) 6,39 (0,50) 0,81 (0,05) 17,45 (5,18)
Par 5
ExF 11,37 (1,60) 7,67 (1,22) 0,805 (0,25) 19,61 (0,76)
FxD 11,87 (1,67) 6,65 (1,00) 0,725 (0,32) 13,82 (2,29)
Par 6
FxE 10,5 (0,24) 6,515 (0,08) 0,695 (0,02) 19,12 (0,73)
p-valor 0,802 0,158 0,455 0,235
Legenda: LPWRatio – razão profundidade/largura.

Tabela 2. Comparação das demandas físicas entre os jogos com diferentes adversários.

DT DT1 DT2 DT3 DT4 NAcel1 DistAcel1 NAcel2 DistAcel2

AxB 423,05 (37,1) 170,35 (13,6) 178,58 (38,4) 68,15 (21,2) 5,5 (8,5) 4,66* (1,0) 85,48 (18,1) 4,66 (1,0) 49,33 (10,0)
Par 1

AxC 395,4 (53,4) 182,75 (8,1) 153,76 (37,2) 53,35 (23,3) 5,51 (6,9) 7,66* (1,9) 71,13 (27,6) 3,83 (1,2) 39,13 (12,5)

BxA 436,25 (35,9) 152,8* (19,5) 209,83 (32,6) 67,13 (24,4) 6,3 (6,9) 3,33* (2,1) 87,38 (35,1) 3,33 (2,1) 37,91 (25,0)
Par 2

BxC 411,35 (49,5) 181,38* (28,5) 181,38 (28,5) 57,28 (37,5) 8,38 (7,7) 9,16* (3,9) 85,33 (41,0) 4 (2,6) 38,98 (26,2)

CxA 411,06 (27,7) 178,71 (10,7) 178,85 (31,3) 53,31 (21,3) 0,18 (0,4) 6,83 (2,3) 59,96 (23,3) 3,41 (1,8) 33,71 (9,0)
Par 3

CxB 399,73 (28,2) 178,76 (24,5) 175,13 (24,8) 47,83 (17,0) 4,03 (3,9) 7,91 (1,8) 72,21 (29,7) 4,33 (1,0) 26,15 (6,8)

DxE 462,2 (48,9) 168,93 (19,4) 199,43 (47,2) 85,88 (31,8) 6,58 (6,4) 9,33 (2,9) 98,06 (42,9) 5,33 (2,1) 59,06 (21,9)
Par 4

DxF 421,51 (51,4) 172,4 (10,6) 188,25 (45,0) 58,38 (18,2) 2,28 (3,1) 7,83 (1,7) 73,81 (24,4) 3,83 (1,2) 34,26 (16,0)

ExD 449,38 (50,7) 157,6 (13,4) 209,75 (60,7) 66,2 (14,7) 5,36 (6,2) 9,16 (3,3) 87,28 (33,4) 4,83 (1,7) 49,56 (24,7)
Par 5

ExF 418,71 (60,4) 158,7 (17,0) 189,5 (68,3) 61,95 (18,0) 7,65 (9,1) 7,83 (2,6) 85,43 (34,0) 3,33 (1,0) 41,06 (23,1)

FxD 462,01 (54,6) 162,75* (14,6) 200,96 (45,6) 88,65 (30,5) 9,38 (13,3) 9,16 (2,9) 90,26 (22,6) 4,0 (1,3) 47,63 (25,8)
Par 6

FxE 417,6 (60,1) 173,26* (17,1) 183,11 (43,7) 59,13 (32,8) 2,15 (4,7) 7,16 (1,2) 64,64 (21,7) 4,0 (1,8) 38,38 (17,0)

p-valor 0,241 0,047 0,633 0,167 0,576 0,009 0,593 0,576 0,284

Post-Hoc - Par 2 e Par 6 - - - Par 1 e Par 2 - - -


Legenda: DT: Distância total percorrida; DT1, DT2, DT3 e DT4:Distância total percorrida respectivamente entre 0 e 7,2 km/h, 7,3 e 14,3 km/h, 14,4 e 21,5 km/h e acima de 21,5 km/h. NAcel1 e
NAcel2: incidência de ações de aceleração acima de, respectivamente, 2m/s² e 2,5 m/s². DistAcel1 e DistAcel2: Distância percorrida em acelerações acima de, respectivamente, 2m/s² e 2,5 m/s². *
diferenças significativas entre os pares.

Reportam-se na literatura alterações comportamentais de jogadores e equipes de futebol com a mudança do


nível de rendimento e de características dos adversários no que se refere à sincronização dos comportamentos táticos
coletivos19 e às ações técnicas realizadas pelos atletas17,18. Neste sentido, foi esperado que os atletas se adaptassem à

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51 Influência da alteração do adversário nas respostas táticas e físicas

nova dinâmica das interações interpessoais22 e solucionassem as tarefas-problema propostas no jogo de maneira
diferenciada. Contudo, tal adaptação não foi observada nas variáveis relacionadas ao comportamento tático coletivo no
presente estudo. As equipes em confronto apresentavam devido ao teste realizado para composição das equipes (TCTP)
níveis táticos semelhantes. Ademais, o desempenho tático coletivo no futebol orienta-se pelo estabelecimento de
princípios de jogo inerentes à modelação tática operacionalizada pela comissão técnica 37,38. Assim, na medida em que
os atletas deste estudo pertencem a um mesmo clube, espera-se que possuam um conhecimento similar sobre os
princípios que regem a ação coletiva da equipe. Assim, entende-se que a simples alteração das equipes em confronto
não se apresentou suficiente para modificar o comportamento tático coletivo durante a prática de pequenos jogos
considerando a similaridade na capacidade tática dos jogadores e o conhecimento compartilhado acerca dos princípios
táticos estabelecidos durante o processo de treino na equipe em questão.
Além disso, espera-se, a performance no jogo de futebol é caracterizada pelo contexto de cooperação e
oposição com colegas de equipe e adversários39. Assim, espera-se que as ações táticas analisadas na escala individual
amparem (e sejam amparadas) pelas respostas táticas no macrossistema equipe, ou seja, nas relações estabelecidas entre
os colegas de time20,40. Respostas adaptativas que coletivamente apresentaram-se estáveis no presente estudo, podem
representar um conjunto de ajustes individuais, amparados em Princípios Táticos 41 e no conhecimento tático
processual42 e declarativo43 dos jogadores. Assim, embora não tenham sido observadas diferenças no presente estudo no
comportamento tático coletivo dos atletas, entende-se que adaptações podem ter ocorrido, as quais, contudo, não foram
analisadas. Investigações com esta finalidade tendem a permitir a identificação de possíveis ajustes comportamentais
em função da alteração das relações de cooperação-oposição oriundas da alteração das equipes adversárias e contribuir
para a correta utilização dos pequenos jogos no processo de E-A-T no futebol.
Por outro lado, variáveis como a capacidade aeróbica e resistência de velocidade, importantes para o
desempenho de jogadores de futebol44,45 não foram controladas entre as equipes no atual procedimento experimental.
Recentemente, observou-se na literatura que pequenos jogos com atletas de nível físico superior apresentam aumento na
demanda física (associada às distâncias percorridas) em relação a outras propostas para composição das equipes 46.
Assim, hipotetiza-se que a alteração dos níveis físicos das equipes em confronto possa interferir, ao nível individual, nas
respostas físicas durante pequenos jogos, bem como gerar a necessidade de novas tomadas de decisão, modificando
também o comportamento tático. Tal hipótese pode ser testada em investigações futuras.
Dados deste estudo podem auxiliar treinadores e preparadores físicos no planejamento das sessões de
treinamento ao longo da temporada esportiva12. Sugere-se, de forma a reduzir a variabilidade das respostas físicas
observadas, que confrontos entre as mesmas equipes sejam adotados durante a utilização de pequenos jogos do ponto de
vista do treinamento das capacidades físicas. Além disso, de posse das caraterísticas dos diferentes confrontos possíveis
em uma equipe, treinadores e preparadores físicos podem optar pela redução ou elevação da demanda física da sessão
de treino sem alterar as respostas táticas dos jogadores apenas pela modificação das equipes em confronto. Contudo,
sugerem-se novos estudos com ampliação do número de pequenos jogos analisados e a investigação de novas
configurações de jogo de maneira a permitir a generalização deste resultado a outras possibilidades de utilização de
pequenos jogos no treinamento de jogadores de futebol.

Conclusões
Conclui-se que a alteração dos adversários, mesmo com a manutenção do mesmo nível tático entre as equipes
em confronto, não implica em modificações na demanda física e no comportamento de jogadores durante pequenos
jogos 3vs.3 no futebol.
Na medida em que o comportamento tático apresenta característica adaptativa nos jogos esportivos coletivos,
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PRAÇA et al. 52

incluindo o futebol, o pequeno tempo observado durante as séries de pequenos jogos (4 minutos) pode não representar
um contexto suficientemente adequado para o aparecimento de novos comportamentos face às alterações nas equipes
adversárias. Neste ponto, sugere-se que investigações adotem séries de pequenos jogos com maiores durações (entre 4 e
8 minutos) caso o objetivo incida na avaliação do comportamento tático.
Por fim, de forma a permitir avanço na investigação acerca de pequenos jogos no futebol, sugerem-se novos
aportes que busquem o entendimento das interações estabelecidas entre componentes técnicos, táticos, físicos e
psicológicos em situações de treino. Dada as permanentes interações que tais variáveis apresentam durante o
treinamento6, entende-las em seu contexto real apresenta-se fundamental à correta interpretação dos fenômenos
investigados.

Agradecimentos
Aos profissionais do Clube Atlético Mineiro pelo apoio logístico e técnico para a realização da coleta de dados.
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
pelo suporte financeiro.

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Comparação do desempenho tático entre resultados finais dos jogos reduzidos


de futebol

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Marcelo Andrade Israel Teoldo da Costa


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COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO TÁTICO
ENTRE RESULTADOS FINAIS DOS JOGOS
REDUZIDOS DE FUTEBOL

Marcelo Odilon Cabral de Andrade / UFV


Israel Teoldo da Costa / UFV
marcelo.andrade@ufv.br

ոո Palavras-chave: Tática, Desempenho Tático, Resultado Final.

INTRODUÇÃO

No futebol, diversos são os estudos que avaliam os indicadores de de-


sempenho das equipes, verificando a relação desses indicadores com os re-
sultados finais das partidas (HUGHES; FRANKS, 2005; LAGO-PEÑAS et al.,
2010)2010. Os resultados dessas pesquisas apontam variáveis técnicas (chutes
a gol, sequência de passes, assistências e impedimentos) como diferenciadores
de equipes vencedoras e perdedoras. No entanto, esses indicadores não possi-
bilitam analisar de que forma as equipes se organizam, sendo a tática, fator que
permite examinar tal processo (GARGANTA, 1997).
Uma das variáveis utilizadas para investigação da componente tática é
o desempenho tático, que de acordo com Mesquita (1998) é definido como a

708 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 708-714, 2013


execução das ações no jogo e o resultado que esta ação provoca no jogo e nas
ações coletivas da equipe.
No que se refere à investigação do desempenho tático, o estudo de Silva
et al., (2013) comparou o desempenho tático de jovens jogadores de futebol
das categorias sub-11 à sub-17, verificando de forma geral, as diferenças de
desempenho tático entre equipes vencedoras e perdedoras. Os resultados da
pesquisa identificaram diferentes características entre equipes vencedoras e
perdedoras no que se refere o desempenho tático.
A partir dessa constatação, a investigação do desempenho tático dos
jogadores de acordo com os resultados finais da partida poderá apresentar in-
formações importantes sobre a organização dos jogadores no campo de jogo.
Com isso, a pesquisa pauta-se no avanço do estudo da tática como indicador
de desempenho no futebol, especificamente nas fases de formação do jogador.
Assim, o objetivo do presente estudo é comparar o desempenho tático
de jogadores entre os resultados finais dos jogos reduzidos de futebol.

MÉTODOS

Amostra

A amostra foi composta por 6640 ações táticas realizadas por 108 joga-
dores de futebol da categoria Sub-15 de clubes e escolinhas do estado de Minas
Gerais. Os resultados foram compostos por 23 jogos com a seguinte distribui-
ção: 9 Vitórias, 9 Derrotas e 5 Empates. Para critério de seleção da amostra, os
clubes e escolinhas deveriam participar de treinamentos regulares (três vezes
por semana) e de torneios de nível regional.

Instrumentos

Para coleta e análise de dados foi utilizado o Sistema de Avaliação Tática


no Futebol – FUT-SAT (TEOLDO et al., 2011). Este sistema permite avaliar as
ações táticas com base em dez princípios táticos fundamentais de jogo, sendo
cinco para a fase ofensiva: i) penetração; ii) cobertura ofensiva; iii) mobilidade;
iv) espaço; v) unidade ofensiva; e cinco para a fase defensiva: i) contenção;
ii) cobertura defensiva; iii) equilíbrio; iv) concentração; v) unidade defensiva.

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 708-714, 2013 709


Procedimentos

Como forma de avaliar os princípios táticos, foi realizado o teste de cam-


po “GR+ 3 vs. 3+GR”. A estrutura do teste consiste em um jogo em campo redu-
zido (36 metros de comprimento por 27 metros de largura) onde duas equipes
compostas por três jogadores cada, mais os goleiros, com coletes devidamente
numerados, são orientados a jogar por quatro minutos seguindo as regras do
Futebol, à exceção da regra do impedimento. Anteriormente ao início do teste,
são concedidos aos jogadores 30 segundos para familiarização com a tarefa.

Procedimentos Éticos

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos da Universidade Federal de Viçosa (CEPH) sob o seguinte protocolo:
Of. Ref. N° 099/2012/CEPH, e atende as normas estabelecidas pelo Conselho
Nacional em Saúde (CNS 466/2012) e pelo Tratado de Ética de Helsinque (1996).

Materiais

Para a gravação dos jogos utilizou-se uma câmera digital SONY mode-
lo HDR-XR100. Os vídeos obtidos foram transferidos para um computador
portátil modelo POSITIVO Premium 4A015RX8T, processador Intel Pentium
Dual core ™, sendo convertidos para ficheiros “avi” através do programa For-
mat Factory for Windows®. Para a análise dos jogos após a coleta, utilizou-se o
software Soccer Analyzer.

Análise Estatística

Para caracterização da amostra foi utilizada análise descritiva (média e


desvio padrão). A variável dependente do estudo foi o Índice de Performan-
ce Tática (IPT), sendo divididos em Índice de Performance Tática Ofensiva
(IPTO), o Índice de Performance Defensiva (IPTD) e o Índice de Performance
de Jogo (IPTJ). As variáveis independentes do estudo foram os Resultados
das partidas do teste de campo. Para verificar a normalidade dos dados, foi
utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov. Para comparação das médias, foram
utilizados os testes ANOVA One-Way (post hoc de Tukey) e Kruskal-Wallis,
adotando-se um nível de significância de p<0,05. Para a análise estatística dos

710 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 708-714, 2013


dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) for
Windows®, versão 18.0.
Para o cálculo da fiabilidade foi adotado o método de teste-reteste, utili-
zando os valores do teste de Kappa de Cohen para descrição dos resultados. De
um total de 6440 ações, foram reanalisadas 1260 ações, que representam 19,56%
da amostra. Neste procedimento participaram dois avaliadores e os valores de
fiabilidade encontrados situaram entre o mínimo 0,885 (ep=0,009) e o máxi-
mo 0,929 (ep=0,009) para a fiabilidade intra-avaliador, e entre o mínimo 0,847
(ep=0,033) e o máximo 0,958 (ep=0,014) para a fiabilidade inter-avaliadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do estudo podem ser observados na Tabela 1. As compa-


rações realizadas foram entre o IPTO, IPTD e IPTJ e os Resultados Finais das
partidas (Vitória, Empate e Derrota). Foram encontradas diferenças estatisti-
camente significativas nas comparações entre Vitória e Derrota para o Índice
de Performance Tática Ofensiva (IPTO), entre Empate e Derrota para o Índice
de Performance Tática Defensiva (IPTD) e entre Vitória e Derrota, Empate e
Derrota para o Índice de Performance de Jogo (IPTJ).

Tabela 1 - Média e Desvio Padrão do IPT por Resultado Final.

Vitória Empate Derrota p


IPTO 48,56 + 6,88 47,59 + 7,17 44,78 + 6,96 2*(0,045)
IPTD 32,62 + 5,78 33,20 + 7,86 29,42 + 4,91 3*(0,041)

IPTJ 37,02 + 3,88 38,40 + 3,96 34,66 + 3,94 2*,3*(0,013;<0,01)

*Diferenças
estatisticamente
significativas
(p<0,05); 1 = Vitória
x Empate; 2 = Vitória
x Derrota; 3 =
Empate x Derrota.

No que se refere à fase de jogo ofensiva, os resultados apontaram di-


ferenças entre vencedores e perdedores quanto ao desempenho tático dos

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 708-714, 2013 711


jogadores. Os resultados corroboram os achados de Silva et al., (2013) onde foi
verificado superioridade do desempenho tático de equipes vencedores quan-
do comparadas com as perdedoras. Estas diferenças na fase ofensiva podem
ser explicadas pela organização espacial dos jogadores nesta idade, uma vez
que diferenças em princípios táticos ofensivos podem acarretar em alterações
nos desempenhos dos jogadores (GARGANTA; PINTO, 1994; GRÉHAIGNE;
GODBOUT; BOUTHIER, 1997).
Quanto ao desempenho tático de jogo, os achados mostraram que as
equipes que saíram derrotadas possuíram menor desempenho comparado
com os outros resultados. Esse resultado poderia ser explicado pela melhor
organização ofensiva em campo das equipes vencedoras, que possuíram me-
lhor construção de sequências de jogo, acarretando em um maior desempenho
tático de jogo (GARGANTA; PINTO, 1994; TEOLDO, 2010).
No que se refere à fase de jogo defensiva, observou-se diferenças entre
equipes que empataram e as equipes derrotadas. As equipes vencedoras e perde-
doras não foram diferentes quanto à fase defensiva. Esses resultados poderiam
ser explicados pela dificuldade dos jogadores das equipes vencedoras e perdedo-
ras em realizar os princípios táticos da fase defensiva, uma vez que no processo
de organização das equipes, o desenvolvimento dos aspectos defensivos muitas
vezes não é considerado pelo treinador (GARGANTA; PINTO, 1994).
Os resultados deste estudo mostraram a importância da organização tá-
tica no futebol, identificando que o resultado da partida de futebol apresenta
diferentes valores de desempenho tático dos jogadores. Através dessa infor-
mação, pretende-se direcionar os treinadores de futebol da categoria sub-15
quanto à organização da componente tática, tanto na fase ofensiva quanto na
fase defensiva, uma vez que desempenhos táticos menores parecem estar liga-
dos às derrotas nos jogos.

CONCLUSÃO

Conclui-se que houve diferenças de desempenho tático dos jogado-


res entre os resultados finais dos jogos, diferenciando equipes vencedoras
e perdedoras quanto ao Índice de Performance Tática Ofensivo e Índice de
Performance Tática de Jogo.

712 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 708-714, 2013


Sendo assim, sugere-se o desenvolvimento deste tipo de estudo em cada
categoria de formação e em outras regiões com clubes e escolinhas de futebol,
objetivando identificar características específicas para o processo de ensino/
treino de jovens jogadores, direcionando treinadores e pesquisadores da área
do futebol.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve o apoio da FAPEMIG, da SEEJMG através da LIE,


da CAPES, do CNPq, da FUNARBE, da Reitoria, Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Federal de Viçosa.

REFERÊNCIAS

GARGANTA, J. Modelação táctica do jogo de futebol: estudo da organização da fase


ofensiva em equipas de alto rendimento. 1997. 312 f. (Doutorado). Faculdade de Ciên-
cias do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, Universidade do
Porto, Porto, 1997.

GARGANTA, J.; PINTO, J. O ensino do futebol. In: A. GRAÇA; J. OLIVEIRA (Ed.). O


ensino dos jogos desportivos. Porto: 1994.

GRÉHAIGNE, J., F.; GODBOUT, P.; BOUTHIER, D. Performance assessment in team


sports. Journal of Teaching in Physical Education, v. 16, n. 4, p. 500-516, 1997.

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LAGO-PEÑAS, C.; LAGO-BALLESTEROS, J.; DELLAL, A.; GÓMEZ, M. Game-related


statistics that discriminated winning, drawing and losing teams from the Spanish soc-
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MESQUITA, I. The multidimensionality in the domain of the Volleyball Skills. In: M.


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TEOLDO, I. Comportamento tático no futebol: contributo para a avaliação do de-


sempenho de jogadores em situações de jogo reduzido. 2010. 244 f. (Doutorado). Fa-
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TEOLDO, I.; GARGANTA, J.; GRECO, P. J.; MESQUITA, I.; MAIA, J. Sistema de ava-
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INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO BASEADO EM PRINCÍPIOS NO DESEMPENHO TÁTICO


DE JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL

INFLUENCE OF PRINCIPLES-BASED TRAINING IN YOUTH SOCCER PLAYERS TACTICAL


PERFORMANCE

Ygor Vieira da Costa


Departamento de Educação Física,
Especialização em Futebol, Universidade Federal de Viçosa

Felipe Dambroz
Departamento de Educação Física, Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol (NUPEF),
Universidade Federal De Viçosa

Felippe da Silva Leite Cardoso


Departamento de Educação Física, Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol (NUPEF),
Universidade Federal De Viçosa

Endereço de correspondência:
Ygor Costa
Rua Soares da Costa, 345/1002
CEP: 20520-100 – Rio de Janeiro – RJ
Celular: +1 443 901 8871
Contato: coachygorcosta@gmail.com

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO BASEADO EM PRINCÍPIOS NO DESEMPENHO TÁTICO


DE JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL

RESUMO

Introdução: Os princípios táticos são um conjunto de normas sobre o jogo que proporcionam
aos jogadores a possibilidade de atingirem rapidamente soluções táticas para os problemas
advindos da situação que defrontam. Sendo assim, durante o processo de formação, os
treinadores devem buscar estruturar o treino com base na lógica do jogo. Dessa maneira,
compreender o efeito do treinamento estruturado sobre o desempenho tático de jovens
jogadores de futebol se faz importante visando qualificar o processo de avaliação e
desenvolvimento dos jogadores.

Objetivo: Verificar a influência do treinamento com base nos princípios táticos fundamentais
do jogo de futebol sobre o desempenho tático de jovens jogadores de diferentes posições.

Método: Uma amostra de conveniência de 22 jogadores da categoria Sub-13 categorizados de


acordo com o estatuto posicional: defensores (n = 7), meio campistas (n = 8) e atacantes (n =
7), todos de uma mesma equipe de base de um clube de futebol formador dos Estados Unidos.
Os jogadores foram submetidos a dez sessões de treinamento com base nos princípios táticos
fundamentais. Em sessões de treino de 90 minutos com diversas atividades os princípios
táticos foram trabalhados na seguinte proporção: penetração (120 min); cobertura ofensiva
(205 min); mobilidade (140 min), espaço (280 min), unidade ofensiva (115 min); contenção
(180 min), cobertura defensiva (220 min), equilíbrio (230 min), concentração (95 min), unidade
defensiva (155 min). O desempenho tático foi avaliado pré e pós o periodo de intervenção
através do FUT-SAT. Foram realizados o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov, o Teste t
pareado e Wilcoxon para análise estatística. O nível de significância adotado foi p < 0,05.

Resultado: Os resultados mostraram que após 10 sessões de treinamento, os defensores


apresentaram diminuição no percentual de erro na realização dos princípios táticos equilíbrio
defensivo, concentração e unidade defensiva. Por outro lado, os meio campistas e atacantes
não apresentaram nenhuma diferença significativa nos princípios táticos avaliados.

Conclusão: O desempenho tático de jovens jogadores de futebol dos Estados Unidos não se
mostrou suscetivel à alteração após dez sessões de treinamento baseado nos princípios táticos
fundamentais do jogo de futebol. De modo geral, apenas os defensores apresentaram
aumento no desempenho tático, não havendo alterações no desempenho tático nos demais
jogadores.

Palavras-chaves: análise de desempenho; princípios táticos; performance; estatuto posicional

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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INFLUENCE OF PRINCIPLES-BASED TRAINING IN YOUTH SOCCER PLAYERS TACTICAL


PERFORMANCE

ABSTRACT

Introduction: The tactical principles are a set of rules that provide the players the ability to
quickly get tactical solutions to the problems faced in the soccer game. Therefore, the youth
coaches should base their training in the game logic. The understanding of the principles-based
sessions is important in order to improve and optimize the quality of the assessment and
development of soccer players.

Objective: The aim of this study was to verify the influence of soccer training based on the
core tactical principles in the tactical performance of different position youth soccer players.

Method: The sample was comprised of 22 U-13 players from a youth club, they were divided
according to their game positional status: defenders (n = 7), midfielders (n = 8) and attackers (n
= 7). The tactical performance was assessed using FUT-SAT. The players have gone through 10
training sessions based on the core tactical principles with the following distribution:
Penetration (120 min); offensive coverage (205 min); depth mobility (140 min); width and
length (280 min), offensive unity (115 min); delay (180 min); defensive coverage (220 min);
balance (230 min); concentration (95 min); defensive unity (155 min). The normal distribution
of the data was verified by the test of Kolmogorov-Smirnov, the paired T-test and Wilcoxon
were used for statistical analysis. A statistical significance of p < 0,05 was set.

Results: The results indicate that after 10 training sessions, there was a decrease in the
percentage of mistakes performed by the defenders of the following tactical principles:
Balance, concentration, and defensive unity. In the other hand, no significant difference was
found for the midfielders and attackers.

Conclusion: After 10 training sessions based on the core tactical principles with a youth
American club only the defenders showed improvement on the tactical performance.

Key words: Match analysis; tactical principles; performance; position

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, grande parte dos estudos sobre futebol centraram-se na
componente tática do jogo [1]. O interesse dos pesquisadores por essa componente parece
ocorrer devido à relação dos aspectos táticos com o desempenho de jogadores e equipes [2].
Na literatura, o conceito de tática pode ser entendido de maneira simples como sendo a
gestão do espaço de jogo através do posicionamento e das movimentações dos jogadores pelo
campo, visando à ocupação de áreas estratégicas para que o objetivo do jogo seja alcançado
[3].
Para que a gestão do espaço de jogo ocorra de maneira eficiente, os comportamentos
dos jogadores devem ser coordenados e orientados a fim de promover um equilíbrio nas ações
realizadas [4]. Um dos fatores que possibilita a organização eficiente do jogador durante uma
partida é o conhecimento acerca dos princípios táticos [5,6]. Os princípios táticos são normas
estruturais que possibilitam aos jogadores atingirem rapidamente soluções táticas para os
problemas advindos da situação de jogo que defrontam [7]. Dessa maneira, os princípios
táticos podem auxiliar, sobretudo na organização do treinamento [3].
Outro aspecto que deve ser considerado para o desenvolvimento de programas de
treinamento diz respeito às características individuais dos jogadores [8]. Essas características
tendem a ser determinantes para a definição da posição do jogador no campo visando o maior
rendimento esportivo do mesmo. Nesse cenário, o rendimento do jogador é melhor conforme
o seu nível de adaptação para atuar em determinada posição [9]. Além disso, as pesquisas
apontam que o comportamento tático dos jogadores difere de acordo com o estatuto
posicional [10,11].
Os construtos teóricos relacionados aos modelos de desenvolvimento sugerem que à
especialização dos jogadores em determinada posição deve ocorrer de maneira cautelosa e
progressiva [12]. Por exemplo, os jogadores experts acumulam maior tempo em atividades
estruturadas e orientadas na fase inicial de desenvolvimento [13]. Desta maneira, a literatura
indica que durante o processo de formação, os treinadores devem estruturar o treino
elaborando atividades com base na lógica do jogo e possibilitando a vivência do jogador nas
diferentes posições [14,15]. Portanto, para o desenvolvimento do jogador é importante
deliberar as diretrizes de formação. Com isso, visando qualificar o processo de avaliação,
treinamento e possibilidades de futuras intervenções, se faz importante identificar parâmetros
de desempenho de jovens jogadores de diferentes posições.
Para isso é necessária a utilização de instrumentos que permitam mensurar o
desempenho tático dos jogadores no contexto de jogo. Dentre os instrumentos, o sistema de

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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avaliação tática (FUT-SAT) tem sido amplamente utilizado por pesquisadores [10,16,17]. O
FUT-SAT permite avaliar o desempenho tático dos jogadores em situações de jogo através dos
principios táticos fundamentais do jogo de futebol3. Por exemplo, as informações obtidas
através do FUT-SAT têm sido utilizadas para mensurar o desempenho tático dos jogadores em
jogos reduzidos e condicionado [16] e comparar o desempenho tático de jogadores de
diferentes estatuto posicional [10, 17]. Assim, considerando que ao longo do processo de
formação os treinadores buscam mitigar as carências e potencializar as qualidades dos
jogadores, acompanhar o desempenho tático durante o período de treinamento é importante
fornecer parâmetros de comparação sobre o desenvolvimento e caracteristicas dos jogadores.
Com base nisso, o objetivo do presente estudo é verificar a influência do treinamento
com base nos princípios táticos fundamentais do jogo de futebol sobre o desempenho tático
de jovens jogadores de diferentes posições.

2. METODOLOGIA

a. Amostra
A amostra foi composta por 22 jogadores de futebol do sexo masculino da categoria
Sub-13 (12,27 ± 0,32 anos) de escolinhas de formação dos EUA. A amostra foi categorizada de
acordo com o estatuto posicional: defensores (n = 7), meio campistas (n = 8) e atacantes (n =
7). Como critério de inclusão, todos os jogadores deveriam participar de rotinas de
treinamento em clube, com pelo menos duas sessões semanais de 90 minutos cada, participar
de competições regionais e estarem presentes em todos os dias de avaliação.
Para participar da pesquisa, os voluntários com idade inferior a 18 anos assinaram o
termo de assentimento e os seus responsáveis legais assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisas com
seres humanos (CAAE, no 01903818.7.0000.5153), e atende às normas estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Saúde (CNS 466/2012) e pelo Tratado de Ética de Helsinque (2013).

b. Instrumentos e procedimento de coleta de dados/Desempenho tático


O Sistema de Avaliação Tática no Futebol (FUT-SAT) foi utilizado para avaliar o
desempenho tático dos jogadores [16]. O FUT-SAT permite avaliar as ações táticas dos
jogadores e classificá-las de acordo com os princípios táticos fundamentais do jogo de futebol,
fornecendo informações acerca dos comportamentos e do desempenho tático dos jogadores
nas fases defensiva e ofensiva do jogo, e nas ações com e sem a bola (para mais informações
ver Teoldo et al., 2017)

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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Os jogadores realizaram aquecimento de forma livre com duração de 15 minutos


previamente ao início do teste. Na sequência foi realizado o teste de campo do FUT-SAT na
configuração de três jogadores de linha e um goleiro (G+3 vs. G+3), em um campo com
medidas de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura, com duração de 4 minutos e
seguindo as regras formais do jogo de futebol. Após a coleta, a análise dos dados seguiu os
procedimentos propostos por Teoldo et al. (2011).

c. Desenho experimental
O processo de avaliação ocorreu em dois momentos distintos. No primeiro momento
pré-intervenção (M0), os jogadores realizaram o teste de campo do FUT-SAT. Na sequência, os
jogadores foram submetidos a dez sessões de treinamento contextualizadas que priorizavam o
desenvolvimento dos princípios táticos fundamentais do futebol [3] e após as dez sessões de
treinamento foi realizado o segundo momento de avaliação tática dos jogadores pós
intervenção (M1).
Cada sessão de treinamento teve duração de 90 minutos, totalizando 900 minutos de
treinamento. Os principios táticos fundamentais do jogo de futebol foram trabalhados de
forma separada e o tempo de treinamento para cada princípio foi dividido como descrito a
seguir: princípios ofensivos (total de 860 min) penetração (120 min); cobertura ofensiva (205
min); mobilidade (140 min), espaço (280 min), unidade ofensiva (115 min); e princípios
defensivos (total de 880 min) – contenção (180 min), cobertura defensiva (220 min), equilíbrio
(230 min), concentração (95 min), unidade defensiva (155 min). O segundo momento de
avaliação (M1) foi realizado após as dez sessões de treinamento. Na oportunidade, os
jogadores foram novamente avaliados através do teste de campo do FUT-SAT. Todos os
procedimentos realizados no (M0) foram mantidos.

d. Análise estatística
Para a estatística descritiva dos dados utilizou-se a análise da frequência, percentual,
média e desvio-padrão. A normalidade dos dados foi verificada através do teste Kolmogorov-
Smirnov. Na sequência, o Teste t pareado e Wilcoxon foram utilizados para comparar as
variáveis entre os momentos M0 e M1. O método teste-reteste foi adotado para o cálculo da
fiabilidade, e os valores do teste Kappa de Cohen foram utilizados para a descrição dos
resultados.
As análises de confiabilidade intra-avaliador foram realizadas respeitando o intervalo
de três semanas a fim de garantir a ausência de familiaridade com a tarefa [17]. De um total de
2097 ações táticas, foram analisadas 1176 ações, o que representam 39,5% da amostra, valor

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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superior ao de referência (10%) apontado pela literatura [18]. Dois avaliadores participaram
deste procedimento. Os valores de confiabilidade encontrados situaram-se entre o mínimo
77% e o máximo 88% para a confiabilidade intra-avaliador, e entre o mínimo 83% e o máximo
91% para a confiabilidade inter-avaliadores, o que demonstra um alto nível de concordância
entre os avaliadores [19].
Para mensurar o tamanho do efeito, foi adotado d de Cohen, com posterior
classificação de sua força: nulo (< 0,20), pequeno (0,21 a 0,60), médio (0,61 a 1,20) e grande (>
1,20) [20]. Para todos os testes adotou-se o nível de significância de p < 0,05. O tratamento dos
dados foi realizado através do software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) for
Windows®, versão 24.0.

3. RESULTADOS

Em relação ao Índice de Performance Tática, os defensores apresentaram diferença


significativas na realização do princípio “contenção” (p = 0,04) após a realização das dez
sessões de treinamento (Tabela 1). Além disso, os defensores apresentaram diminuição no
percentual de erro na realização dos princípios táticos “equilíbrio” (p = 0,047), “concentração”
(p = 0,028) e “unidade defensiva” (p = 0,028) (Tabela 1).

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
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Tabela 1: Média e desvio padrão do Índice de Performance Tática e percentual de erro na realização dos
princípios fundamentais nos momentos M0 e M1.

Defensores Meio campistas Atacantes

Princípios Táticos M0 M1 M0 M1 M0 M1
M DP M DP M DP M DP M DP M DP
(%erros) (%erros) (%erros) (%erros) (%erros) (%erros)
Ofensivos
54,6 ± 26,4 56,7 ± 29,2 51,5 ± 26,1 46,7 ± 16,6 51,1 ± 26,3 51,2 ± 30,4
Penetração
(17,5%) (11,9%) (21,%) (34,2%) (40,9%) (19,5%)
Cobertura 48,5 ± 18,2 61,6 ± 18,1 57,2 ± 11,2 52,4 ± 8,3 50,1 ± 13,2 54,8 ± 15,1
Ofensiva (1,2%) (6,1%) (5,2%) (3,1%) (6,8%) (3,2%)
53,7 ± 28,7 45,6 ± 35,9 61,3 ± 29,9 62,9 ± 23,9 45,5 ± 33,7 48,6 ± 24,1
Mobilidade
(0,7%) (1,4%) (8,9%) (4,7%) (1,8%) (1,4%)
44,3 ± 6,8 43,1 ± 17,9 43,9 ± 5,6 47,9 ± 9,7 44,9 ± 5,7 42,2 ± 4,6
Espaço
(1,0%) (5,2%) (9,4%) (6,7%) (4,3%) (7,1%)
51,8 ± 27,2 60,5 ± 23,0 48,3 ± 20,4 49,0 ± 24,2 71,9 ± 23,6 53,3 ± 18,0
Unidade Ofensiva
(28,8%) (9,1%) (31,1%) (4,7%) (3,8%) (3,6%)
Defensivos
23,8 ± 9,6 33,6 ± 9,7* 26,5 ± 7,1 23,0 ± 10,2 29,6 ± 14,8 31,8 ± 21,6
Contenção
(63,5%) (51,0%) (68,9%) (61,9%) (59,9%) (21,6%)
Cobertura 36,4 ± 19,3 17,8 ± 17,9 30,3 ± 23,2 25,5 ± 29,0 32,5 ± 37,5 36,4 ± 23,5
Defensiva (26,4%) (25,0%) (19,4%) (18,1%) (32,1%) (21,4%)
22,8 ± 8,9 29,8 ± 12,0 30,9 ± 18,0 29,7 ± 17,3 30,1 ± 14,1 30,2 ± 10,6
Equilíbrio
(68,1%) (51,8%)* (51,3%) (56,8%) (56,7%) (51,6%)
27,9 ± 7,0 39,2 ± 18,6 27,5 ± 12,4 27,1 ± 8,9 30,4 ± 6,8 34,0 ± 14,1
Concentração
32,00% (9,1%)* (40,1%) (28,9%) (19,7%) (12,4%)
Unidade 23,9 ± 8,6 31,0 ± 8,3 27,7 ± 12,8 31,9 ± 7,1 29,8 ± 8,9 32,8 ± 5,9
Defensiva (35,3%) (9,9%)* (47,1%) (28,9%) (26,5%) (14,1%)
* Diferenças significativas p<0,05.

No momento M1, os defensores apresentaram valores superiores no Índice de Performance


Tática Defensiva – IPTD (p = 0,045; d = 2,01) e nos Índices de Performance Tática de Jogo – IPTJ (p =
0,010; d = 3,05) comparado ao M0 (Tabela 2).

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
93

Tabela 2: Média e desvio padrão do IPTO, IPTD e IPTJ nos momentos M0 e M1.
Estatuto M0 M1
Variáveis p d
posicional M DP M DP
Defensor 25,6 ± 6,0 32,1 ± 3,6 0,045* 2,01
IPTD Meio Campista 28,0 ± 7,6 29,0 ± 55,7 0,756 0,25
Atacante 31,2 ± 6,7 32,1 ± 2,9 0,750 0,12
Defensor 52,3 ± 5,8 54,1 ± 6,6 0,564 0,47
IPTO Meio Campista 52,2 ± 3,6 52,1 ± 4,1 0,953 0,05
Atacante 53,8 ± 8,8 50,6 ± 7,1 0,468 0,57
Defensor 37,3 ± 6,3 43,8 ± 3,3 0,010* 3,05
IPTJ Meio Campista 40,1 ± 2,1 41,4 ± 0,8 0,210 1,09
Atacante 43,1 ± 2,8 40,0 ± 3,0 0,078 1,77
* Diferenças significativas p<0,05; IPTD – Índice de Performance Tática Defensiva; IPTO –
Índices de Performance Tática Ofensiva; IPTJ – Índice de Performance Tática de Jogo.

4. DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi verificar a influência do treinamento com base nos
princípios táticos fundamentais do jogo de futebol sobre o desempenho tático de jovens
jogadores de diferentes posições. De modo geral, o desempenho tático de jovens jogadores de
futebol dos Estados Unidos não se mostrou suscetivel à alteração após dez sessões de
treinamento baseado nos princípios táticos fundamentais do jogo de futebol. Com relação ao
estatuto posicional dos jogadores, apenas os defensores apresentaram aumento no
desempenho tático, não havendo alterações no desempenho tático dos meio-campistas e
atacantes. Os achados do presente estudo de certa forma surpreendem, pois, considerando os
resultados encontrados em estudos sobre o efeito do treinamento tático sobre o desempenho
dos jogadores [23,24] esperávamos que os jogadores de diferente estatuto posicional
apresentassem melhora no desempenho tático após o período de intervenção [11]. Contudo,
esse não foi o padrão observado como resposta dos jovens jogadores americanos de
diferentes posições.
Embora a fase defensiva seja caracterizada como a fase de maior complexidade, as
diferenças significativas só foram observadas nos princípios táticos defensivos dos defensores.
Esses resultados podem ser atribuídos ao fato de que os defensores tendem a apresentar
habilidades perceptivo-cognitivas mais eficientes nas ações defensivas gerais, mas

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
94

principalmente nas ações defensivas próximas a bola [22]. Além disso, é importante
destacarmos que aspectos culturais do país (Estados Unidos) podem ter influenciado nas
respostas dos jogadores. Os esportistas americanos nas idades inicias sofrem constantes
pressão dos pais, da torcida e dos treinadores para evitarem ao máximo cometer erros. Dessa
maneira, os jogadores, principalmente os defensores, acabam optando por realizar ações mais
simples e que representem menor risco de sofrer um remate e/ou gol em caso de erro
cometido [25]. Esse comportamento parece acarretar em um aumento do percentual de
acerto nas ações táticas dos defensores.
Os resultados apresentados pelos defensores corroboram com os achados da
literatura que mostram que o treino baseado na componente tática apresenta relação positiva
com o desenvolvimento e desempenho do jogador [14,21]. Outro aspecto importante a ser
considerado na interpretação dos resultados é que a amostra utilizada neste estudo (jogadores
da categoria Sub-13) encontram-se na fase final da maturação cognitiva e no período inicial da
assimilação dos princípios táticos fundamentais [3,12]. Portanto, os jogadores da categoria
Sub-13 estão começando a compreender a lógica abstrata do jogo de futebol e,
aparentemente, o treinamento contextualizado permitiu que os defensores apresentassem
melhoras significativas no desempenho tático. Cabe destacar ainda que os jogadores da
categoria Sub-13 mostraram maior facilidade na compreensão dos princípios táticos
defensivos que ocorrem próximos ao centro de jogo (contenção e equilibrio defensivo).
Portanto, embora o período de treinamento tenha sido de apenas dez sessões, a incorporação
e o aprendizado pareceram ser mais efetivos nos princípios táticos defensivos que ocorrem
próximos à bola, os quais exigem menor grau de pensamento abstrato [23].
Tendo em vista que os jogadores da categoria Sub-13 tendem a executar mais ações
no meio-campo [28] e participarem mais efetivamente no jogo em ações próximo a bola [29],
a melhora no desempenho dos defensores pode ter aumentado a dificuldade dos meio-
campistas e atacantes na realização das suas ações, pois geram uma limitação de tempo e
espaço para o portador da bola e os jogadores próximos ao centro de jogo, desta forma
dificultando a realização de ações [25]. Nessa conjectura, isso pode ser um indicativo de
porque a melhora esperada dos meio-campistas e atacantes não ter sido expressa em valores
quantitativos.
O fato de terem sido observadas diferenças significativas apenas para defensores após
as dez sessões de treinamento parece ser um indicativo importante sobre as características da
amostra do estudo, principalmente ao considerarmos a especialização por posição dos
jogadores. A literatura preconiza que a especialização em determinada posição deve ocorrer a
partir da categoria Sub-15 [12], logo espera-se um padrão de desenvolvimento e
Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
95

comportamento semelhante entre os jogadores de diferentes posição durante a fases iniciais


de formação.
Contudo, esse padrão não foi encontrado nos resultados do presente estudo. Isso
parece ser um indicativo importante ao qual os treinadores devem levar em consideração na
hora de planejarem e observarem a temporada, buscando variar os estímulos dados aos
jogadores de diferentes estatutos posicionais garantindo aos mesmos a oportunidade de
aprendizagem mesmo ela não sendo um processo linear e que haja diferenças devido a idade e
maturação [30].
Os resultados encontrados no presente estudo sugerem que independente da posição
ocupada pelo jogador, o desempenho nos princípios táticos ofensivos tende a ser superior em
relação aos defensivos. Esse resultado pode ser entendido a partir da diferença na
complexidade das fases de jogo. Na fase ofensiva, onde o time detém a posse de bola, a
velocidade de realização das ações é determinada por essa equipe [7]. Assim, os jogadores
podem resolver os problemas que surgem a partir do conhecimento e da habilidade de tomar
decisões [5,6]. Por outro lado, na fase defensiva a recuperação da posse de bola depende de
fatores mais complexos como a qualidade e a imprevisibilidade das ações do adversário,
fatores esses de difícil previsão [3]. Com isso, como a amostra está na fase inicial de formação
e os processos cognitivos ainda não se encontram completamente maduros, quanto menor a
complexidade das ações, maior tende a ser o desempenho dos jogadores. Nessa conjecutura,
parece plausivel inferir que a dinâmica de treino e a composição das equipes durante as
sessões podem ter influenciado as mudanças significativas de desempenho tático defensivo e
a manutenção nos índices ofensivos do jogadores. Uma vez que, ao enfrentar jogadores com
níveis superiores, o nível de exigência pode ter otimizado o processo pedagógico dos
defensores [30,31]. Como esse aspecto não foi controlado no presente estudo, é necessário
mais investigação sobre o tema a fim de verificarmos se o nível de desempenho da equipe
adversária e a divisão das equipes durante os treinos influenciam o dempenho tático dos
jogadores.
Uma limitação do estudo refere-se ao período curto de intervenção (de dez sessões).
Para estudos futuros sugere-se aumentar o número de sessões de treinamento a fim de
verificar se maior tempo de prática dos princípios táticos pode acarretar em diferenças nos
padrões de assimilação dos conteúdos e de respostas dos jogadores. Além disso, também é
sugerida a utilização de diferentes categorias de idade, dado que estudos anteriores apontam
diferença no desempenho tático entre jogadores de diferente estatuto posicional com idades
mais elevadas [10,11].

Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
96

5. CONCLUSÃO

O desempenho tático de jovens jogadores de futebol dos Estados Unidos não se


mostrou suscetivel à alteração após dez sessões de treinamento baseado nos princípios táticos
fundamentais do jogo de futebol. De modo geral, apenas os defensores apresentaram
aumento no desempenho tático, não havendo alterações no desempenho tático nos demais
jogadores.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Brazilian United Soccer Academy e as crianças pela


participação na pesquisa.

7. REFERÊNCIAS

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Costa et al. Influência do treinamento no desempenho tático. Rev Bras Futebol 2021; v. 14, n. 2, 85 – 98.
Artigo Original ISSN: 1983-7194

A organização do treino baseado nos princípios fundamentais do jogo de futebol e


sua relação com o desempenho tático de jogadores da categoria sub 13
The organization of training based on the fundamental principles of football game and its relation to tactical
performances of football players in the category u-13

Lima, RC1,3; Cardoso, FSL2,3; Vecchi, P2,3; Teoldo, IC2,3; Paoli, PB3
1 Clube de Regatas Flamengo.
2 Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol - NUPEF
3 Universidade Federal de Viçosa

Resumo
Objetivo: O presente estudo teve por objetivo verificar se a sistematização do treinamento
baseado nos princípios táticos fundamentais do jogo de futebol na categoria Sub-13 propicia
melhora no desempenho tático de jogadores de futebol.
Amostra: Uma amostra de conveniência foi composta por 19 jogadores de futebol da categoria
Sub-13 com média de idade de 12,1 ± 0,9 anos e em torno de 4,7 ± 2,1 anos de prática na
modalidade participantes de um programa sistemático de treinamento com no mínimo três
sessões de treino semanais e inscritos em campeonatos de nível estadual ou nacional.
Métodos: O instrumento utilizado foi o FUT-SAT para avaliar o desempenho tático dos jogadores
de futebol. Foram realizadas as avaliações dos jogadores durante 20 dias, totalizando 20 seções
de treino. As avaliações foram realizadas em dois momentos, antes do treinamento e após os 20
dias de treinamentos estruturados com base nos princípios táticos fundamentais do jogo. Foi
realizada estatística descritiva, e os testes inferenciais de Kolmogorov-Smirnov, Teste-T de
medidas repetidas e Kappa de Cohen.
Resultados: apontam para diferenças significativas nos desempenho tático dos jogadores em
todas as fases do jogo, Índice de performance tática ofensiva (de 44,92±5,80 para 52,11±7,82);
Índice de performance tática defensiva (de 33,91±4,35 para 37,24±3,88) e Índice de performance
tática no jogo (de 37,44±3,29 para 42,89±3,85). Indicando que os valores do desempenho tático
aumentaram após os 20 dias de treino.
Conclusões: atletas de futebol da categoria Sub-13 apresentaram melhorias no desempenho
tático quando submetidos a uma sequência pedagógica de conteúdos táticos com ênfase nos
princípios fundamentais do jogo de futebol.
Palavras chave: Futebol; Tática; Desempenho tático; Princípios táticos; Treinamento.

Endereço:
Ramon Cardoso Lima
Telefone: 021-9-8075-2504
E-mail: ramonclima88@yahoo.com.br

30 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Abstract
Objective: The present study aims to verify if systematized training on the basis of core tactical
contents improves the tactical performance of Under-13 soccer players.
Sample: A convenience sample consisted of 19 football players of U- 13 category with a mean age
of 12.1 ± 0.9 years and around 4.7 ± 2.1 years of practice in the participant’s form of systematic
program training with at least three weekly training sessions and enrolled at the state or national
championships.
Methods: The instrument used was the FUT-SAT to assess the tactical performance of football
players. Evaluations of players were held for 20 days totaling 20 training sessions. The evaluations
were carried out in two stages before training and after 20 days of training structured based on
fundamental tactical principles of the game. Descriptive statistics were performed and the
inferential test Kolmogorov –Smirnov, Test -T for repeated measures and Cohen's kappa.
Results: Significant differences in the tactical performance of the players were verified in all the
phases of the play as assessment values increased after 20 training sessions tactical offensive
performance index ( of 44.92 ± 5.80 to 52.11 ± 7.82 ) ; Defensive tactic performance index ( to
33.91 ± 4.35 to 37.24 ± 3.88 ) and tactical performance level in the game ( of 37.44 ± 3.29 to 42.89
± 3.85).
Conclusion: Under-13 soccer players presented improvements in their tactical behavior as they
experimented a pedagogical sequence of tactical contents emphasized on the core tactical
principles.
Keywords: Soccer; Tactics; Tactical performance; Tactical principles; Training

Introdução Contudo para que a formação do


jogador, e consequentemente o seu
O futebol possui um rentável acesso ao alto rendimento possa
mercado consumidor de produtos e ocorrer de maneira natural e
serviços relacionados a este esporte, qualificada, o processo de treinamento
comercializando jogadores por valores deve ser bem estruturado, sobretudo
altíssimos antes mesmo que estes baseado nos aspectos táticos 2. No que
atletas se profissionalizarem 1. Este se refere ao conceito de tática, Teoldo
mercado fez com que as categorias de e Cardoso 3 afirmam que ele pode ser
base dos clubes tradicionais entendido como sendo a gestão do
recebessem uma atenção e espaço de jogo, que se dá através do
investimento especial por parte de seus posicionamento e das movimentações
dirigentes e investidores. Além do mais, dos jogadores em campo, visando à
o atleta oriundo da base do clube pode ocupação de áreas estratégicas para
compor o elenco profissional com se atingir o objetivo (marcar gols na
redução significativa das despesas dos equipe adversária). Para que este
clubes e com laços afetivos com a espaço de jogo seja bem gerido, a
instituição, tornando-se historicamente equipe coletivamente deve estar bem
a principal fonte de riqueza das orientada e em sincronia. Um dos
entidades. Tal fato pode ser observado fatores que possibilita ao jogador uma
nos lucros conseguidos recentemente melhor organização de seus
por São Paulo FC e Santos FC com as comportamentos durante uma partida é
vendas de Lucas Moura e Neymar Jr. o conhecimento acerca dos princípios
táticos de jogo 3.

31 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Os princípios táticos são normas não há uma sequência de conteúdos a


estruturais através das quais os ser aplicada respeitando a evolução e
jogadores individualmente, em grupo, maturação do atleta.
ou coletivamente, baseiam-se para Assim este estudo tem por
realizar os seus comportamentos objetivo verificar se a sistematização do
durante as fases do jogo (ofensiva e treinamento baseado nos princípios
defensiva) 4. Para o futebol, os táticos fundamentais do jogo de futebol
princípios táticos são subdivididos em na categoria Sub-13 propicia melhora
quatro categorias: i) princípios gerais, no desempenho tático de jogadores de
que se relacionam aos aspectos mais futebol.
globais do jogo 5; ii) princípios
operacionais, que dizem respeito a Métodos
alguns critérios e comportamentos pré-
definidos para as fases defensiva e Amostra
ofensiva 4; iii) princípios fundamentais, Uma amostra de conveniência foi
que são as regras básicas que composta por 19 jogadores de futebol
orientam as ações dos jogadores e da da categoria Sub-13 com média de
equipe nas duas fases do jogo (i.e idade de 12,1 ± 0,9 anos e em torno de
ofensiva e defensiva)6, e por fim, iv) 4,7 ± 2,1 anos de prática na
princípios específicos, que se modalidade. Para inclusão na amostra
caracterizam como sendo a forma os jogadores deveriam participar de um
específica de se jogar de uma equipe e programa sistemático de treinamento
são desenvolvidos a partir da ideia de com no mínimo três sessões de treino
jogo do treinador 3. semanais e estarem inscritos em
Além dos princípios táticos, outro campeonatos de nível estadual ou
fator que deve ser considerado para o nacional.
desenvolvimento de programas de
Instrumento
treinamento para o futebol diz respeito
O Instrumento utilizado para a
às características individuais dos
recolha e análise de dados foi o
jogadores, considerando sua qualidade
Sistema de Avaliação Tática no Futebol
técnica, física e tática 7.
(FUT-SAT) 9.
De acordo com Guimarães 8, o
O teste de campo deste
papel real da categoria de base deveria
instrumento utilizado neste estudo foi o
ser a formação completa do atleta para
“GR3-3GR” (goleiro + 3 jogadores vs. 3
que ele possa chegar à idade adulta
jogadores + goleiro) é aplicado num
em condições de atuar no profissional.
campo reduzido de 36 metros de
No entanto, existe uma exigência para
comprimento por 27 metros de largura,
que se conquistem resultados e títulos,
durante 4 minutos de jogo. Durante a
o que afeta o processo de formação.
sua aplicação é solicitado aos
Neste sentido vê-se a
jogadores avaliados que joguem de
necessidade de um planejamento
acordo com as regras oficiais do jogo,
prévio das equipes envolvendo uma
com exceção da regra do
sistematização e padronização dos
“impedimento” no teste especifico
conteúdos aplicados nas categorias de
realizado.
base, já que, sem tal sistematização,

32 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

O teste visa avaliar as ações teste ocorreu no primeiro treino do ano


táticas desempenhadas por cada um e posteriormente após um período de
dos jogadores participantes, com e sem 20 dias/seções de treinamento foram
bola, de acordo com dez princípios realizadas as avaliações pós-teste.
táticos fundamentais do jogo de Primeiramente os jogadores
Futebol, tendo em conta a localização realizaram o teste de campo do FUT-
da ação no campo de jogo e o SAT para avaliar os seus
resultado final da mesma. comportamentos e desempenho
Os princípios fundamentais do táticos. Com base nesta avaliação
jogo de futebol levam em consideração foram estruturadas 20 sessões de
cinco princípios para a fase ofensiva do treino e, ao término das mesmas, foi
jogo, sendo: i) penetração; ii) cobertura realizada outra avaliação dos
ofensiva; iii) espaço; iv) mobilidade de jogadores.
ruptura e v) unidade ofensiva, e cinco Os testes do FUT-SAT foram
princípios para a fase defensiva: i) realizados sempre no período da tarde,
contenção; ii) cobertura defensiva; iii) acompanhando o horário normal das
equilíbrio defensivo; iv) concentração e seções de treinos. Todos os jogadores
v) unidade defensiva 6. Desta amostra, foram avaliados no mesmo dia e as
foram analisadas as 4321 ações táticas equipes formadas no pré-teste foram
realizadas pelos jogadores. às mesmas do pós-teste, a fim de
evitar discrepância nos resultados das
Procedimentos avaliações. O teste foi conduzido por
Os participantes assinaram o pesquisadores com treinamento e
termo de consentimento livre e capacitação para aplicação de todo o
esclarecido informando estarem cientes procedimento experimental, os
de sua participação na pesquisa. Todos mesmos foram auxiliados pelos
os procedimentos da pesquisa foram integrantes das comissões técnicas da
conduzidos de acordo com as normas equipe.
estabelecidas pela Resolução do O campo utilizado para o pré e
Conselho Nacional de Saúde pós-teste tinham a mesma condição
(466/2012) e pelo tratado de Ética de (grama natural) e os jogadores
Helsinque (1996) para pesquisas utilizavam os equipamentos normais
realizadas com seres humanos. O em jogos de futebol. Foram concedidos
projeto foi aprovado pelo Comitê de 30 segundos de familiarização para os
Ética em pesquisas com seres jogadores antes de iniciar o teste.
humanos da Universidade Federal de As sessões de treino estruturadas
Viçosa e consta sob o Nº (430.614). e o tempo de treinamento para cada
A coleta de dados aconteceu em princípio tático podem ser vistas na
dois momentos: i) avaliação pré-teste e Tabela 1 a seguir.
ii) avaliação pós teste. A avaliação pré-

Tabela 1: Tempo de treinamento dos princípios táticos fundamentais do jogo de futebol


Princípios Tempo de Treino (min)
Ofensivos
Penetração 948min
Cobertura Ofensiva 1173min

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Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Mobilidade de Ruptura 984min


Espaço com bola 664min
Espaço sem bola 973min
Unidade Ofensiva 745min
Total: 5487 min
Defensivos
Contenção 1067min
Cobertura Defensiva 915min
Equilíbrio Defensivo 905min
Equilíbrio de Recuperação 794min
Concentração 697min
Unidade Defensiva 664min
Total: 5042 min

As seções de treino foram O quadro abaixo apresenta


planejadas com base nos resultados da alguns modelos de treinamentos
primeira avaliação, e o intervalo entre realizados para aprimorarão dos
as seções era de 24 horas. princípios táticos fundamentais do jogo.

Exemplos de treinamento por


princípio tático fundamental

Quadro 1: Exemplos de treinamentos baseados nos princípios táticos fundamentais do jogo.


Princípio Exemplo Objetivos/Descrição
Tático
trabalhado
Penetração Proporcionar situações de 1x1 com um foco no
princípio da penetração, fazendo com que o
jogador realize movimentações em direção ao
gol.

 O jogador parte de um local pré-determinado


em posse de bola e deverá transpor o seu
adversário a fim de marcar o gol. A cada 3’
invertesse o jogador atacante e o defensor.

Cobertura Manutenção da posse de bola. Eficácia de passe


Ofensiva e movimentação dos companheiros de equipe
para criar espaço e possibilitar apoio a portador
da bola.

 Cada jogador ficará posicionado em um


quadrado. E cada coluna será defendida por uma
equipe.
A equipe atacante poderá ter 2 jogadores
dentro de um mesmo quadrado e a equipe
defensora apenas um defensor. A dupla atacante
deverá trocar no mínimo 5 passes para poder
avançar para o próximo quadrado e assim
sucessivamente. Quando a equipe defensora
recuperar a bola retorna ao seu primeiro
quadrado e passar a atacar.

34 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


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Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Espaço : Movimentações ofensivas que visem à busca


por espaços.

 Cada zona demarcada contará com 2


jogadores de cada equipe. As equipes
posicionadas nas zonas das extremidades
deverão trocar passes, os jogadores sem a posse
da bola deverão se movimentar para que possam
receber o passe. A equipe do centro deverá
interceptar os passes, a cada interceptação a
dupla que errou o passe vai ao centro e a dupla
do centro vai à extremidade. Se o jogador
dominar a bola fora do espaço determinado ou a
bola sair do espaço esta dupla troca com a dupla
posicionada ao centro.

Mobilidade Movimentações que possibilitem que o jogador


receba a bola atrás do último defensor.

 A equipe atacante terá o auxílio de um curinga


ofensivo. A equipe atacante deverá levar a bola
até a zona na extremidade, porém o jogador só
poderá entrar na zona para receber o passe.

Unidade Movimentação de avanço ou apoio ofensivo do


Ofensiva último jogador da equipe atacante.

 A equipe atacante deverá transitar do campo


defensivo para o ofensivo e depois voltar para o
campo defensivo, sempre passando a bola para o
curinga na extremidade para que possa avançar
ou retroceder. Ao chegar ao campo ofensivo à
equipe só poderá retornar ao defensivo após
trocar no mínimo 10 passes, podendo utilizar os
curingas do fundo. Limite de 3 toques por jogador
que está em posse da bola.

Contenção Realização de ações de recuperação da posse de


bola.

 A equipe com posse da bola deverá fazer com


que a bola passe por todas as 4 zonas. A equipe
que defende a partir do momento que recupera a
posse de bola deverá passar fazer com que a
bola chegue o mais rápido possível a uma das
extremidades.

35 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


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Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Cobertura Apoio rápido ao jogador defensor que realiza uma


Defensiva contenção ao portador da bola.

 A equipe atacante deve marcar o gol. A equipe


defensora deverá marcar o portador da bola
sempre com dois jogadores, tendo 3 segundos
para que esses dois jogadores se aproximem do
portador da bola, a equipe defensora terá o
auxilio de um jogador curinga.

Equilíbrio Condicionar o jogo para zonas de menor pressão.

 A equipe atacante tem por objetivo fazer o gol.


Por sua vez, a equipe defensora deverá buscar
recuperar a posse da bola (sempre em situação
de 1x1), porém, sempre que a equipe atacante
tiver a posse em uma zona à equipe defensora
terá 3 segundos para que um jogador defensor
entre na zona subsequente.

Concentração Procurar realizar a concentração a frente da linha


do gol

 Os jogadores da equipe atacante podem


finalizar em qualquer gol. Somente 1 atacante e 1
defensor poderão entrar na área demarcada.

Unidade Aumentar a pressão ao portador, obstruir linhas


Defensiva de passe e marcar potenciais jogadores a receber
a bola.

 Haverá um curinga defensivo e um ofensivo


que em todas as jogadas defenderão e atacarão,
respectivamente. Haverá duas equipes com 2
jogadores atrás de cada gol. A equipe atacante
dentro do campo deverá buscar a finalização no
gol adversário, após a finalização a equipe sairá
de campo e a equipe defensora deverá atacar e
dois jogadores atrás do gol que recebeu a
finalização deverão sair em velocidade para
tentar recuperar a posse de bola. Se a equipe
defensora dentro do campo recuperar a posse
antes da finalização passa a atacar.
“FUT-SAT”, que permite inserir as
Material referências espaciais do teste no vídeo
Para o tratamento das imagens e e possibilita a avaliação dos
análise do jogo foi utilizado os Software comportamentos dos jogares durante
Soccer Analyser construído os jogos. Este instrumento já foi
especificamente para dar suporte ao

36 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


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Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

anteriormente utilizados em outros respeitando-se um intervalo de 21 dias


trabalhos 6, 10-12 14
. Os resultados da fiabilidade intra-
avaliadores exibiram valores de Kappa
Análise Estatística de Cohen entre 0,822 (ep=0,012) para
Para a avaliação da distribuição o menor valor e de 0,888 (ep= 0,008)
dos dados recorreu-se a utilização do para o maior valor. Para a fiabilidade
teste de Shapiro Wilk. Após esta inter avaliador, os valores situaram-se
análise foi caracterizado que os entre 0,769 (ep=0,012 para o menor
resultados apresentaram uma valor e 1 para o maior valor, portanto
distribuição de normalidade. Para a superiores aos valores de referência
estatística descritiva dos dados utilizou- (0,75) apontados pela literatura 15.
se a análise de média e desvio-padrão. Para todos os testes adotou-se o
Foi utilizado o Teste-T de medidas nível de significância de p<0,05. O
repetidas para comparação das médias tratamento dos dados foi realizado
do desempenho tático dos jogadores através do software SPSS (Statistical
nos dois momentos distintos: Pré-teste Package for Social Sciences) for
(antes do treinamento) e Pós-teste Windows®, versão 18.0.
(após o treinamento).
Para aferir as fiabilidades intra e Resultados
inter avaliadores foram reavaliadas 519
ações táticas desempenhadas pelos A Tabela 2 apresenta os
jogadores, o que representa 12,2% da resultados da comparação entre os
amostra, ou seja, um valor superior ao Índices de Performance Tática das
fases ofensiva (IPTO), defensiva
de referência (10%) apontado pela
(IPTD) e de jogo (IPTJ) obtidos antes e
literatura 13. Para a fiabilidade intra- após o período de treinamento.
avaliador, as ações foram reanalisadas

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Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

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Tabela 2: Índice de Performance Tática ofensiva (IPTO), defensiva (IPTD) e de jogo (IPTJ)
comparação entre os momentos: inicial (M0) e final (M1).

PRINCÍPIOS TÁTICOS Pré-Teste Pós-Teste P


Ofensivos
Penetração 44,82±16,19 55,32±17,59 0,087
Cobertura Ofensiva 46,67±15,96 51,59±13,03 0,579
Espaço 43,22±9,83 47,37±8,51 0,096
Mobilidade de Ruptura* 31,22±33,08 56,59±29,72 0,025
Unidade Ofensiva 47,14±11,14 53,67±15,11 0,215
Defensivos
Contenção 28,13±10,13 31,79±6,85 0,118
Cobertura Defensiva 29,93±30,55 41,56±30,64 0,172
Equilíbrio Defensivo 33,36±9,75 38,11±13,28 0,056
Concentração 29,50±12,89 31,02±15,30 0,953
Unidade Defensiva 37,67±6,51 38,65±5,85 0,683
Índice de Performance
IPTO* 44,92±5,80 52,11±7,82 0,004
IPTD* 33,91±4,35 37,24±3,88 0,019
IPTJ* 37,44±3,29 42,89±3,85 0,001
Nivel de significância adotado P<0,05
* Diferenças entre os grupos pré e pós teste
do treinamento baseado nos princípios
Os valores absolutos de média e táticos fundamentais do jogo de futebol
desvio padrão apontam para melhoras na categoria Sub-13 propicia melhora
em todos os princípios após o no desempenho tático de jogadores de
treinamento. Estas melhoras tendem a futebol.
serem maiores nos princípios ofensivos A formação desportiva dos
do jogo. jogadores, sobretudo aqueles no inicio
Contudo, foram verificadas do processo de formação (i.e, de 11 a
diferenças significativas apenas para 13 anos) necessita de uma abordagem
os Índices de Performance Tática do pedagógica com ampla sustentação na
principio de mobilidade, além das fases literatura científica 16. Além de uma
defensiva, ofensiva e de jogo; Também organização dos conteúdos (técnicos,
foi possível observar melhoras em táticos, físicos, etc) a serem
todas as fases do jogo, além do desenvolvidos 6, 11
. Estas intervenções
princípio de mobilidade, sendo que os são determinantes e condicionantes a
valores da performance aumentaram fim de garantir aos jovens jogadores
após as sessões de treino. das categorias de base condições de
atuarem futuramente nas equipes
Discussão profissionais 16.
A realização de um programa de
O presente artigo teve por
treinamento sistematizado e pautado
objetivo verificar, se a sistematização

38 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

no desenvolvimento do desempenho princípios táticos fundamentais do jogo,


tático é de grande valia no contexto do tanto na parte ofensiva, quanto na
futebol moderno, uma vez que, defensiva 19. Isto é importante, pois
jogadores tecnicamente limitados, mas essa organização permite aos
com uma formidável compreensão treinadores e comissões técnicas
tática do jogo conseguem jogar futebol fragmentarem o processo de ensino-
no alto rendimento, já o contrário não aprendizagem em relação à
acontece 17, 18. Neste artigo, baseado complexidade de entendimento e
nestas observações, utilizaram-se os execução desses princípios 3, 6, 19.
conteúdos de uma proposta Outro resultado bastante
sistematizada baseado nos princípios relevando do presente trabalho, trata-
táticos fundamentais do jogo de futebol se do desenvolvimento dos jogadores
6
e sua aplicação nos treinos. da categoria Sub-13 no jogo coletivo.
Os resultados do estudo, De acordo com os resultados deste
sugerem que a partir da aplicação trabalho, as ações coletivas são as que
didática destes conteúdos houve apresentam maiores probabilidades de
melhoras significativas na performance ganhos em desempenho na categoria
dos jogadores, principalmente de Sub-13 dessa forma deve-se dar maior
maneira coletiva (índice de ênfase a estas ações nos treinos 19-21.
performance ofensiva - IPTO, defensiva A partir da observação dos
- IPTD e de jogo - IPTJ). resultados, torna-se plausível propor
Tal fato reforça a importância de que, para o processo de ensino-
aprendizagem-treinamento, a utilização
pensar o processo de formação e
dos conteúdos táticos para o ensino
desenvolvimento esportivo dos com ênfase nos princípios táticos
jogadores a partir do ensino em fundamentais de jogo apresenta
“blocos” de atividades, ou seja, melhoras significativas no desempenho
baseado em conteúdos, no presente dos jogadores (vide Tabela 2). Além do
trabalho, conteúdos táticos. Esses mais, a utilização dos princípios
conteúdos táticos devem ser fundamentais do jogo de futebol
propostos por Teoldo et al 6. No
trabalhados em situações de jogo
processo de ensino-aprendizagem-
reduzido, desde que contextualizadas treinamento permitirá a uniformização
com o jogo formal. Além de trabalhos das nomenclaturas dentro do
integrados ao contexto técnico-tático clube/escola de futebol. Desta forma,
visando o desenvolvimento da tática facilitará a orientação didática para/com
seja ela individual, grupal ou coletiva 5, os atletas e também a sistematização
18
. desses conteúdos na proposta
pedagógica do clube, para a categoria
Para o desenvolvimento destes
sub 13.
conteúdos táticos, é importante que o
ensino seja pautado através dos

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Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

Tabela 3: Proposta de conteúdos táticos na categoria sub 13


1 x Goleiro DES
Tática Individual 1 x1 DES
2 x1 (aspecto defensivo) DES
Igualdade (2x2; 3x3) DES
Tática De Grupo Superioridade (ofensiva e defensiva) DES
Inferioridade (ofensiva e defensiva) DES
Organização ofensiva (a partir de 4x4) IN
Organização defensiva (a partir de 4x4) IN
Tática Coletiva
Transição defensiva IN
Transição ofensiva IN
Mobilidade de ruptura DES
Cobertura ofensiva DES
Espaço com bola IN
Princípios Ofensivos
Espaço sem bola IN
Penetração IN
Unidade ofensiva IN
Contenção DES
Equilíbrio defensivo IN
Equilíbrio de recuperação DES
Princípios Defensivos
Cobertura defensiva DES
Concentração IN
Unidade defensiva IN
Tabelas IN
Ações Ofensivas Ultrapassagens IN
Triangulações IN
Marcação individual por setor com flutuação IN
Ações Defensivas Quebra da linha de passe IN
Linha de impedimento IN
Legenda: IN (iniciação), DES (desenvolvimento), NT (não trabalhar)
indicadores no processo de ensino-
O desenvolvimento da equipe a aprendizagem e treinamento dos
partir do treinamento baseado nos atletas, pois demonstra a importância
conteúdos táticos propostos acima do treinamento contextualizado nos
(tabela 3) representa também um conteúdos de jogo, o que promove uma
importante indicativo para o processo evolução técnica aliada à compreensão
de treinamento, uma vez que, quando tática e da logica do jogo, facilitando a
os conteúdos são bem definidos e aprendizagem. Sugere-se para estudos
sistematizados, a aquisição do posteriores, que seja considerado um
conhecimento acontece de forma mais período maior de treinamento entre os
natural 22. Assim, acontece a melhora testes e com a utilização de outras
no desempenho tático, relacionada a metodologias visando o
maior compreensão da lógica do jogo 2, desenvolvimento tático individual dos
9, 19
. jogadores, além de se investigar a
Deste modo, os resultados influência do treinamento baseado nos
encontrados são importantes

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Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

princípios táticos fundamentais do jogo Coletivos: investigação e prática


em outras categorias etárias. pedagógica. Florianopolis: UFSC; 2013. p.
Como limitação do trabalho, 107-30.
pode-se citar o fato de não ter sido 4. Teodorescu L, Curado J.
utilizado um grupo controle para Problemas de teoria e metodologia nos
comprovar que o método de jogos desportivos. Lisboa: Livros Horizonte;
treinamento em forma de conteúdos 1984.
táticos baseados nos princípios 5. Garganta J, Pinto J. O ensino do
fundamentais do jogo de futebol futebol. In: Graça A, Oliveira J, editors. O
realmente é o responsável pela ensino dos jogos desportivos. Porto: Centro
melhoria do desempenho. Dessa de Estudos dos Jogos Desportivos; 1994.
forma, para trabalhos posteriores p. 97-137.
recomenda-se também que o desenho 6. Teoldo I, Garganta J, Greco PJ,
experimental contemple essa limitação Mesquita I. Princípios Táticos do Jogo de
do presente estudo. Futebol: Conceitos e Aplicação. Revista
Motriz. 2009;15(3):657-68.
Conclusões 7. Silva MV, Greco PJ. A influência
dos métodos de ensino-aprendizagem-
Conclui-se que os atletas de treinamento no desenvolvimento da
futebol da categoria Sub-13 inteligência e criatividade tática em atletas
apresentaram melhorias no de futsal. Revista Brasileira de Educação
desempenho tático quando submetidos Física e Esporte, São Paulo.
a uma sequência pedagógica de 2009;23(3):297-307.
conteúdos táticos com ênfase nos 8. Guimarães MB. Características
princípios fundamentais do jogo de apontadas como critérios para o
futebol. Verificou-se, principalmente treinamento técnico-tático dos jogadores
uma melhora significativa nos Índices por posição na percepção dos técnicos de
de Performance Tática das fases categorias de base do futebol [Trabalho de
ofensiva (IPTO), defensiva (IPTD) e de Conclusão de Curso]. Viçosa: Universidade
Federal de Viçosa; 2009.
jogo (IPTJ).
9. Teoldo I, Garganta J, Greco PJ,
Referências Mesquita I, Maia J. Sistema de avaliação
táctica no Futebol (FUT-SAT):
1. Santos LT. Futebol empresa e a Desenvolvimento e validação preliminar.
democracia corinthiana: uma administração Motricidade. 2011;7(1):69-84.
que deu dribling na crise: Dissertação de
10. Cardoso F, Teoldo I. Análise do
Mestrado, Campinas, UNICAMP; 1990.
efeito da idade relativa sobre o índice de
2. Teoldo I, Greco P, Garganta J, performance tática defensiva de jogadores
Costa V, Mesquita I. Ensino-aprendizagem de futebol sub-12 Revista Mineira de
e treinamento dos comportamentos tático- Educação Físíca. 2012;3(1):2107-16.
técnicos no futebol. Revista Mackenzie de
11. Teoldo I, Garganta J, Greco PJ,
Educação Física e Esporte. 2011;9(2).
Mesquita I, Afonso J. Assessment of
3. Teoldo I, Cardoso F. Formação no tactical principles in youth soccer players of
futebol: ensino e avaliação do different age groups. Rev Port Cien Desp.
comportamento tático. In: Ramos V, Saad 2010;10(1):147-57.
MA, Milistetd M, editors. Jogos Desportivos

41 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Lima, Cardos, Vecchi, Teoldo, Paoli
Princípios táticos e sua relação com o desempenho

Artigo Original

12. Teoldo I, Garganta J, Greco PJ, um Futebol com pés… e cabeça. In: Araújo
Mesquita I, Seabra A. Influence of Relative D, editor. O contexto da decisão A acção
Age Effects and Quality of Tactical táctica no Desporto. Lisboa: Visão e
Behaviour in the Performance of Youth Contextos, Lda; 2005. p. 179-90.
Soccer Players. International Journal of
18. Garganta J, Gréhaigne JF.
Performance Analysis of Sport. 2010;10:82-
Abordagem sistêmica do jogo de futebol:
97.
moda ou necessidade? Movimento.
13. Tabachnick BG, Fidell LS. Using 1999;5(10):40-50.
multivariate statistics. New York: Harper &
19. Teoldo I, Garganta J, Greco P,
Row Publishers; 2001.
Mesquita I. Avaliação do desempenho
14. Robinson G, O'Donoghue P. A tático no futebol: Concepção e
weighted kappa statistic for reliability testing desenvolvimento da grelha de observação
in performance analysis of sport. do teste “GR3-3GR”. Revista Mineira de
International Journal of Performance Educação Física. 2009;17(2):36-64.
Analysis in Sport. 2007;7(1):12-9.
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15. Landis JR, Koch GG. The táctico do jogo. Lisboa: Universidade
measurement of observer agreement for Técnica de Lisboa; 1994.
categorical data. biometrics. 1977:159-74.
21. Greco PJ, Benda R. Iniciação
16. Williams AM, north JS. Some esportiva universal: da aprendizagem
constraints on recognition performance in motora ao treinamento técnico. Belo
soccer. In: Araújo D, Ripoll H, Raab M, horizonte: UFMG. 1998;1:230.
editors. Perspectives on cognition and
22. Konzag I. A formação técnico-tática
action in Sport: Nova Science Publishers;
nos jogos desportivos. 1985;14(1):41-5.
2009.
17. Garganta J. Dos constrangimentos
da acção à liberdade de (inter) acção, para

42 Rev Bras Futebol 2015 jan-jul 08(1):30-42


Artigo Original

Conhecimento tático processual, desempenho


físico e nível de maturidade somática em jovens
jogadores de futebol
Tactical knowledge process, physical performance and level of
somatic maturation in young soccer players

BORGES, PH; AVELAR, A; RINALDI, W. Conhecimento tático processual, Paulo Henrique Borges1
Ademar Avelar1
desempenho físico e nível de maturidade somática em jovens jogadores de futebol. R. Wilson Rinaldi1
bras. Ci. e Mov 2015;23(3):88-96.
1
Universidade Estadual de
Maringá
RESUMO: O entendimento dos fatores que afetam o conhecimento tático processual (CTP) dos jogadores
é fundamental para um correto planejamento das sessões de treinamento. Nesse sentido, o objetivo deste
estudo foi verificar a relação entre variáveis funcionais, maturacionais e de CTP. Fizeram parte do estudo
29 jogadores de futebol (15,38 ± 1,20anos), divididos em duas categorias, sub-15 e sub-17, pertencentes a
um projeto de extensão da Universidade Estadual de Maringá. Foi realizada uma bateria de testes físicos e
antropométricos. O CTP foi obtido por meio do Game Performance Assessment Instrument (GPAI). Para
verificar as diferenças entre as categorias, utilizou-se o teste U-Mann Whitney. Já para correlação entre as
variáveis, foi realizada Correlação de Spearman.Os resultados indicaram diferença significativa entre as
categorias na massa corporal, estatura, estatura adulta alcançada, salto horizontal e tempo de corrida em
50m. Foram verificadas correlações significativas entre CTP e tempo de corrida em 50m (-0,40) e Yo-Yo
test (0,37), assim como entre tomada de decisão e Yo-Yo test (0,39) e tempo de corrida em 50m (-0,48).
Portanto, tanto a capacidade aeróbica quanto o tempo de corrida em 50m são atributos importantes na
manifestação do CTP e da tomada de decisão no futebol.
Palavras-chave: Futebol; Conhecimento; Maturação.

ABSTRACT: Understanding the factors that affect the procedural tactical knowledge of the players is
crucial for adequate planning of training sessions. In this sense, the aim of this study was to investigate the
relationship between functional maturation and procedural tactical knowledge variables. Study participants
were 29 soccer players (15.38 years ± 1.20), divided into two categories, under-15 and under-17,
belonging to an extension project at the State University of Maringá. A battery of physical and
anthropometric testing was performed. The procedural tactical knowledge was obtained through the
“Game Instrument Performance Assessment” (GPAI). To investigate the differences between the
categories, we used the Mann-Whitney U test. As for correlation between variables, Spearman Correlation
was performed. The results indicated significant differences between categories of body mass, height,
adult height achieved, horizontal jump and the running time in 50m. Significant correlations between CTP
and running time were observed (-0.40) and Yo-Yo test (0.37), as well as between decision making and
Yo-Yo test (0.39) and the running time in 50m (-0.48). Therefore, both the aerobic capacity and the
running time in 50m are important attributes in the manifestation of CTP and decision making in football.
Key Words: Soccer; Knowledge; Maturation.

Recebido: 11/08/2014
Aceito: 10/06/2015

Contato: Paulo Henrique Borges - paulo.borges.proesporte@gmail.com


89 Jovens jogadores de futebol

Introdução
A monitorização das mudanças ocorridas nos avaliar essa componente por meio de duas competências
jovens ao longo do processo de formação esportiva é básicas: o conhecimento tático declarativo e processual. O
fundamental para o constante acompanhamento de sua conhecimento tático declarativo (CTD) refere-se
evolução. As informações provenientes dos testes àmanifestação verbal ou escrita do jogador sobre a melhor
antropométricos, maturacionais, físicos, assim como das decisão a ser tomada em situações específicas de jogo. Já
avaliações tático-técnicas podem auxiliar os professores e no conhecimento tático processual (CTP), o jogador
treinadores a direcionar corretamente esse complexo operacionaliza de forma prática (motora) as respostas
processo. julgadas apropriadas aos problemas ocorridos nas
Grande parte dos estudos realizados até aqui, tem situações de jogo. Para McPherson11 o CTP é um
priorizado a análise do futebol e do treino de jovens a processo mais complexo quando comparado ao CTD, pois
1,2
partir de variáveis físicas e maturacionais . A avaliação além de selecionar a ação, o jogador deve realizá-la
do desenvolvimento das características fisiológicas de através de uma habilidade técnica diante de um
jovens jogadores a partir da performance física nos testes determinado contexto.
de campo tem sido realizada com o intuito de explicar e Embora a dimensão tática seja importante para o
3
acompanhar a evolução dessa variável . Diferentes desempenho esportivo, não está esclarecido na literatura
protocolos relacionados à avaliação do componente físico se as diferenças interindividuais provenientes dos
são utilizados para mensurar as capacidades funcionais diferentes estágios maturacionais estão associadas ao
como força, velocidade e resistência. Diversos autores desempenho tático manifestado pelos jogadores em
sustentam a ideia de que essas capacidades devem ser formação. Essas informações podem auxiliar os
bem desenvolvidas para que os jogadores melhorem seu profissionais envolvidos com o processo de formação
4-6
desempenho . Essas constatações revelam ainda outra esportiva a entender quais variáveis estão relacionadas
variável a ser considerada quando o assunto é treinamento com a manifestação de habilidades específicas da
de jovens: o nível de maturidade somática. Sabe-se que a modalidade e com o CTP. Portanto, frente à lacuna
maturidade somática influencia as capacidades funcionais apresentada, este trabalho tem por objetivo verificar a
em decorrência das alterações hormonais e fisiológicas, relação entre os indicadores maturacionais, funcionais e
sendo fator determinante na evolução do desempenho de CTP em jogadores das categorias sub-15 e sub-17.
7,8
motor dos adolescentes .
Mais recentemente a análise do futebol a partir dos Materiais e Métodos
aspectos tático-técnicos tem sido realizada visando obter Foram pré-selecionados a participar do estudo 55
informações que auxiliem os treinadores a melhorar o jogadores com idade entre 14 e 17 anos, agrupados em
desempenho individual e coletivo de suas equipes. De duas categorias de jogo: infantil (sub-15) e juvenil (sub-
9
acordo com Garganta , a avaliação da componente tática 17). Os infantis referem-se aos jogadores nascidos em
torna-se pertinente porque o jogo de futebol possui 1999, 2000 e 2001. Já os juvenis são nascidos em 1997 e
elevada imprevisibilidade, aleatoriedade e variabilidade, 1998, todos pertencentes ao projeto de extensão da
que solicitam do participante a manifestação de Universidade Estadual de Maringá denominado Centro de
comportamentos táticos para se jogar. Assim, entende-se Formação em Futebol (Proc. 8849/2010), estabelecido no
que o futebol deve ter como núcleo diretor a dimensão Departamento de Educação Física (DEF). Foram adotados
tática do jogo, uma vez que é nela e através dela que se os seguintes critérios de inclusão: (1) participar de
consubstanciam os comportamentos que ocorrem ao treinamento sistematizado na modalidade por pelo menos
10
longo de uma partida. A esse respeito, Eysenck e Keane dois anos; (2) participar de competições regionais e (3)
relatam que os programas de ensino dos esportes podem assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

R. bras. Ci. e Mov 2015;23(2): 88-96.


BORGES, AVELAR & RINALDI 90

(TCLE). Dessa forma, a amostra final foi constituída por A agilidade com bola dos futebolistas foi avalida
29 jogadores de futebol (15,38 ± 1,20 anos). por meio do teste Shutte Run com Bola (SRB), realizado
Para a coleta de dados, foi realizado um contato no campo de futebol. Para isso, foram marcadas duas
inicial com o coordenador do Centro de Formação em linhas com distância de 9,14 metros uma da outra,
Futebol, o qual autorizou a realização da pesquisa. Após utilizando duas bolas de futebol oficiais e um relógio com
esta etapa, foram entregues aos jogadores o TCLE. Todos escala centesimal. O teste consiste em conduzir a primeira
os que atenderam aos critérios de inclusão foram bola até o outro lado, retornar à posição inicial e conduzir
convidados a comparecer no campo de futebol para a a segunda bola até o outro lado novamente no menor
realização dos testes. O estudo foi aprovado pelo Comitê tempo possível. O avaliado realiza o teste duas vezes,
de ética local (parecer nº 653.698). sendo anotado o menor tempo, conforme descrito por
Caicedo14.
Antropometria Para avaliar a componente motora associada à
Medidas antropométricas de massa corporal e velocidade de deslocamento, utilizou-se do teste corrida
estatura foram obtidas com uma balança de leitura digital de 50m. O avaliado inicia-se na posição parada e, ao sinal
calibrada, com carga máxima de 180 kg e escala de 0,1 kg sonoro do avaliador, deve se deslocar em linha reta por
e um estadiômetro de madeira com escala de 0,1 cm. Com 50m no menor tempo possível. Para a realização do teste,
base nessas informações foi obtido o índice de massa utilizou-se um cronômetro com definição centesimal e
corporal (IMC). cones plásticos para demarcação da distância percorrida.
O teste foi realizado no campo de futebol sem nenhum
Capacidades Funcionais tipo de obstáculo13.
Para avaliar o desempenho aeróbio dos jogadores,
foi utilizado o Yo-Yo Intermittent Recovery Test level1. O Maturidade somática
teste solicita do jogador avaliado uma série de corridas de A predição da estatura final adulta foi realizada
20m com uma cadência pré-estabelecida por um tendo como base o Método de Khamis-Roche15. A
metrômetro de áudio com descansos de 10 segundos a predição tem como base a estatura dos jovens no
cada 40m percorridos, com incrementos de velocidade a momento da recolha dos dados (X1), assim como do peso
12
cada intervalo . O objetivo do teste é percorrer a maior (X2), da média de estatura dos pais (X3) e da idade
distância possível, até que o jogador não consiga manter- decimal (X4). A estatura predita (Y) corresponde a uma
se na velocidade requerida. O teste foi realizado no campo equação de reta cujos valores de “m” são lidos nas tabelas
de futebol onde ocorrem os treinamentos. de referência para cada variável X, tendo em consideração
Foi utilizado o teste de salto em distância parado a idade cronológica dos jovens. O valor de “b” refere-se a
para avaliar a componente motora associada à potência uma constante que tem leitura direta na tabela. Portanto, a
muscular dos membros inferiores. O teste consiste em predição seguiu a fórmula: “Y=mx1+mx2+mx3+mx4+b”.
saltar à frente sem corrida de aproximação. Cada avaliado Após o cálculo da predição da estatura adulta do
teve três tentativas para executar o movimento, sendo indivíduo, foi obtida a Estatura Adulta Alcançada (EAA)
registrado para análise o melhor salto. A força/resistência do sujeito dividindo a estatura atual pela estatura predita e
dos músculos da região abdominal foi obtida por meio do multiplicando por 100 para o cálculo percentual desse
teste Abdominal modificado, com movimento de elevação nível.
do tronco quando posicionado em decúbito dorsal. Para
isso, os jogadores foram orientados a realizar o maior Conhecimento tático processual - CTP
número de movimentos abdominais durante um minuto, O CTP foi avaliado por meio do Game
conforme padronização de Guedes13. Performance Assessment Instrument (GPAI) proposto por

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91 Jovens jogadores de futebol

Oslin e colaboradores16. Este instrumento foi criado para 18.0 megapixels de resolução, colocada a 2m do chão e
avaliar o desempenho tático e a capacidade dos jogadores posicionada em diagonal em relação às linhas de fundo e
em resolver os problemas do jogo utilizando habilidades lateral, capaz de filmar toda a extensão da área de jogo. A
adequadas. O GPAI possui sete componentes de análise. estrutura de cada equipe foi 3x3 (goleiro + 3 jogadores vs
Entretanto, optou-se neste estudo pelo uso de três goleiro + 3 jogadores), uma vez que conforme relatos de
componentes do jogo para avaliar o desempenho dos Mesquita18, as situações em jogos reduzidos possuem
jogadores de futebol, tal como sugere Oslin16: tomada de características essenciais da unidade do jogo, como
decisão (subdividido em apropriada (A) e inapropriada (I) cooperação, oposição e finalização. De acordo com
de acordo com a situação do jogo), execução de Garganta19, essa estrutura revela-se como sendo a
habilidade (subdividido em Eficaz (E) e Ineficaz (I) de configuração mínima que garante a ocorrência de todos os
acordo com sua execução) e apoio (subdividido em princípios táticos inerentes ao jogo formal. Os jogadores
apropriada e inapropriada). foram enumerados de 1 a 6 (1 a 3 de uma cor e 4 a 6 de
As tomadas de decisão são ações realizadas pelo outra cor) cujo objetivo era facilitar a identificação dos
jogador ao longo do jogo que sejam benéficas para a sua jogadores no vídeo. A dimensão do campo utilizada foi
equipe mediante o contexto, como por exemplo, fazer um 36mx27m.
passe a um companheiro desmarcado. A execução de
habilidade diz respeito à utilização dos fundamentos Análise estatística
técnicos adequados para jogar uma partida de futebol, Foi utilizado o pacote estatístico IBM SPSS 20.0
como chutar, passar e dominar com qualidade. Já o apoio para realização dos testes estatísticos. Para verificar a
é toda ação realizada visando mostrar-se para o normalidade dos dados, utilizou-se o teste Shapiro-Wilk.
companheiro de equipe que possui a bola, criando uma Identificada a necessidade de se utilizar estatística não
linha de passe. paramétrica, aplicou-se o teste U-Mann Whitney para
Durante a avaliação, cada jogador começou com comparação dos grupos infantil e juvenil. Para verificar se
zero pontos e ganhou um ponto por tomada de decisão houve diferença na maturidade somática do grupo com os
apropriada/Execução de habilidade eficaz/apoio valores de referência, utilizou-se o teste dos sinais em
apropriada e um ponto por tomada de decisão postos de Wilcoxon. Já para a correlação entre as
inapropriada (I)/Execução de habilidade ineficaz/apoio variáveis de desempenho tático, capacidades funcionais e
inapropriado. Após este procedimento, foi possível chegar de maturidade, utilizou-se o Coeficiente de Correlação de
a três índices de acordo com Memmert e colaboradores17: Spearman.Para avaliar a fidedignidade inter-avaliadores
Índice de Tomada de Decisão, ITD=[A/(A+I)], Índice de (1, 2 e 3), foi utilizado o Índice Kappa. Os valores obtidos
Execução de habilidade, IEH=[A/(A+I)] e Índice de entre 1 e 2 (0,93), 1 e 3 (0,94) e 2 e 3(0,87) revelam boa
Apoio, IA=[A/A+I)]. Portanto, o desempenho no jogo concordância inter-avaliadores. O valor de significância
(DJ) de cada jogador varia de 0 a 1 e pode ser conseguido adotado foi P≤0,05.
da seguinte maneira, DJ=ITD+IEH+IA/3. Sendo assim,
cada jogador foi avaliado por três professores de Resultados
Educação Física especialistas em futebol (1, 2 e 3). Após Os dados da tabela 1 mostram as comparações das
as avaliações, foi realizada a média dos valores de cada medianas das variáveis de tamanho corporal, capacidades
índice. funcionais e desempenho em jogo entre os futebolistas
infantis e juvenis.
Procedimentos experimentais Nota-se diferença significativa entre os grupos na
Os jogos tiveram duração de 5 minutos e foram massa corporal (P=0,02), estatura (P=0,01), salto
filmados por uma filmadora digital Canon EOS Rebel horizontal (P=0,02) e tempo de corrida em 50m (P=0,02),

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BORGES, AVELAR & RINALDI 92

tendo a categoria juvenil apresentado maiores valores das menor percentual da estatura adulta predita (Md=92,38%)
três primeiras variáveis mencionadas e menor tempo no em relação aos juvenis (Md=97,73%). Não foram
teste de corrida em 50m. Também é possível notar encontradas diferenças significativas entre os grupos nas
diferenças na maturidade somática (P<0,01), indicando variáveis relacionadas ao CTP.
que, conforme esperado, a categoria infantil atingiu

Tabela 1.Comparação do tamanho corporal, capacidades funcionais e desempenho em jogo de futebolistas infantis e
juvenis
Infantil (n=11) Juvenil (n=18)
Variáveis
Md (Q1-Q3) Md (Q1-Q3)

Massa corporal (kg) 60,00 (56,60 – 62,88) 65,60 (55,67 – 75,55)*

Estatura (m) 1,69 (1,64 – 1,73) 1,74 (1,71 – 1,78)*

EAA (%) 92,38 (91,10 – 95,46) 97,73 (96,74 – 98,30)*

IMC (kg/m2) 20,25 (19,15 – 21,27) 21,26 (19,18 – 24,19)

Salto horizontal (m) 2,04 (1,78 – 2,10) 2,10 (2,02 – 2,22)*

Shuttle run com bola (s) 11,75 (11,47 – 12,47) 11,62 (11,26 – 11,85)

Yo-Yo test (m) 840,00 (560,00 – 1000,00) 840,00 (660,00 – 880,00)

TC 50 m (s) 6,97 (6,70 – 7,33) 6,67 (6,59 – 6,82)*

Abdominal (rep) 39,00 (37,00 – 49,00) 43,50 (39,00 – 49,50)

Tomada de decisão 0,76 (0,67 – 0,84) 0,85 (0,73 – 0,88)

Execução de habilidade 0,77 (0,71 – 0,82) 0,75 (0,68 – 0,83)

Apoio 0,82 (0,73 – 0,88) 0,77 (0,72 – 0,80)

CTP 0,78 (0,72 – 0,83) 0,81 (0,69 – 0,84)


*P<0,05: Valores estão apresentados em mediana (Md) e intervalo interquartil.
NOTA: EAA = Estatura Adulta Alcançada; IMC = Índice de Massa corporal; TC 50 m= Tempo de Corrida em 50m; CTP = Conhecimento tático processual.

Tabela 2.Comparação entre Estatura Adulta Alcançada (EAA) da amostra e a referência para a idade
EAA (%) Referência1 (%)
n Md (Q1-Q3) Md (Q1-Q3)
Infantil 11 92,38 (91,10 – 95,46) 92,00 (92,00 – 94,60)
Juvenil 18 97,73 (96,74 – 98,30) 98,80 (97,57 – 99,40)*
Total 29 96,75 (94,40 – 98,21) 97,90 (94,60 – 98,80)*
*P<0,05; Valores estão apresentados em mediana (Md) e intervalo interquartil.
1
Nota: O valor de referência utilizado segue tabela apresentada por Tanner (1978 apud GUEDES14); EAA = Estatura Adulta Alcançada.

A tabela 2 mostra a EAA de ambas as categorias e apresentados, é possível notar que o grupo sub-17
compara os valores apresentados com valores de (Md=97,73%) está com o crescimento significativamente
referência para a idade. Nota-se diferença significativa atrasado quando comparado aos valores referenciais para
entre a EAA e a referência para a idade da categoria esta população (Md=98,80%).
juvenil (P=0,02). Com os valores de tendência central

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93 Jovens jogadores de futebol

Os dados contidos na tabela 3 indicam as menor tempo e mais resistentes aerobicamente


correlações realizadas entre a maturidade somática – por apresentaram melhores tomadas de decisão e melhor CTP.
meio da estatura adulta predita, as capacidades funcionais Apesar das correlações supracitadas terem sido
e o desempenho tático dos futebolistas. As principais estatisticamente significantes (P<0,05), as forças das
correlações encontradas foram entre a capacidade aeróbia mesmas demonstraram variar de fracas a moderadas20.
dos jogadores expressa por meio do Yo-Yo test e a Não foram identificadas correlações significativas entre as
tomada de decisão (0,39) e com o CTP (0,37), assim capacidades funcionais e de CTP com a maturidade
como entre o Tempo de Corrida em 50m e a tomada de somática.
decisão (-0,48) e com o CTP (-0,40), indicando que os
jogadores que percorreram o percurso de 50 metros em

Tabela 3.Correlação entre capacidades funcionais, desempenho tático e maturidade somática de futebolistas infantis e
juvenis
Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1
SH - -0,19 0,16 -0,40* 0,21 -0,07 -0,29 0,01 -0,12 0,33
2
Shuttle-run - -0,32 0,55* -0,16 -0,24 -0,29 0,06 -0,24 0,21
3
Yo-Yo - -0,37* 0,36* 0,39* 0,21 0,29 0,37* -0,12
4
TC50 m - -0,19 -0,48* -0,28 -0,03 -0,40* -0,29
5
ABD - 0,23 0,29 0,04 0,23 0,24
6
TD - 0,61* 0,29 0,84* 0,27
7
EH - 0,14 0,80* 0,14
8
Apoio - 0,55* -0,26
9
CTP - 0,08
10
EAA -
*P<0,05.
NOTA: SH = Salto Horizontal; Shuttle-run = Shuttle-run com bola; TC 50 m = Tempo de corrida em 50 metros; ABD = Teste Abdominal modificado; TD = Tomada de Decisão; EH = Execução de
Habilidade; CTP = Conhecimento tático processual; EAA = Estatura Adulta Alcançada.

Discussão explicadas porque a força muscular e a velocidade são


O presente estudo teve como objetivo verificar a capacidades que interagem entre sí e estão relacionadas à
relação entre os indicadores maturacionais, funcionais e maturação neuromuscular e de experiência no
de CTP em jogadores das categorias sub-15 e sub-17. Os desempenho em tarefas motoras, sofrendo influência da
resultados evidenciaram correlações significativas, porém idade, nível de maturidade, tamanho e composição
fracas e moderadas, entre o tempo de corrida em 50m e a corporal22. Já o CTP não apresentou melhora em função
capacidade aeróbia coma tomada de decisão e com o CTP do aumento do nível maturacional. Esses resultados vão
e diferenças significativas da massa corporal, estatura, de encontro ao estudo de Giacomini e Greco23, que
estatura adulta alcançada, salto horizontal e tempo de verificou aumento do CTP nos jogadores sub-17 em
corrida em 50m entre as categorias sub-15 e sub-17. relação aos sub-15 e sub-14.
21
Nascimento em seu estudo encontrou diferenças Quanto às relações entre a variável de
nessas variáveis, onde os jogadores juvenis (n=30) conhecimento tático e funcionais (tabela 3), foi observada
apresentaram maior massa corporal, estatura, desempenho correlação significativa entre CTP e Yo-Yo test (0,37) e
nos testes de aptidão aeróbia, velocidade e capacidade de tempo de corrida em 50m (-0,40), assim como entre
repetir sprints quando comparados à categoria infantil tomada de decisão e Yo-Yo test (0,39) e tempo de corrida
(n=34). No presente estudo, a variável que diferiu dos em 50m (-0,48), indicando que os jogadores com melhor
21
achados de Nascimento foi a aptidão aeróbia, onde não capacidade aeróbia e mais rápidos apresentaram maior
foram identificadas diferenças entre os grupos. As desempenho na tomada de decisão e no CTP. Dessa
diferenças observadas entre as categorias podem ser maneira, pode-se inferir que a solicitação dos

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BORGES, AVELAR & RINALDI 94

comportamentos táticos está intimamente relacionada aos demais dimensões, favorecendo os jogadores adiantados
aspectos físicos, uma vez que essas capacidades são no processo maturacional26. Contudo, os resultados do
solicitadas em interação durante uma partida de futebol. presente estudo demonstraram fracas associações entre a
A respeito das relações encontradas nessa componente maturacional e o desempenho tático-técnico.
investigação, alguns treinadores têm procurado treinar o Como aplicação prática desses achados, sugere-se que os
componente físico e técnico do jogo de futebol por meio clubes e profissionais do futebol selecionem os jogadores
de jogos reduzidos. Hill-Haas24 relata que os jogos não apenas pelas vantagens físicas e maturacionais
reduzidos, além de promoverem adaptações fisiológicas durante as etapas iniciais de formação, mas também
específicas para a modalidade, desenvolvem habilidades avaliem o desempenho tático e técnico dos praticantes,
táticas e técnicas em situações similares ao jogo formal. uma vez que as vantagens proporcionadas pela
Portanto, acredita-se que as metodologias que precocidade maturacional durante as etapas iniciais de
fragmentam as capacidades funcionais e as trabalham de formação nem sempre se mantém na idade adulta27.
forma isolada devem ser superadas por aquelas que
consideram a aleatoriedade, a imprevisibilidade e a Conclusões
complexidade da modalidade, reproduzindo no treino a Conclui-se que o CTP dos jogadores sub-15 e sub-
especifidade tática-técnica-física-psicológica que se 17 não está relacionado ao nível de maturidade somática
pretende fazer emergir na equipe. Dessa maneira, como os dos jogadores e associa-se moderadamente com variáveis
jogadores estarão permanentemente expostos a contextos funcionais. Ressalta-se a importância de se considerar as
táticos de jogo, possivelmente haverá o aumento do CTP capacidades funcionais atreladas ao aprendizado e
dos jogadores em simultâneo às adaptações fisiológicas, desempenho tático-técnico do jogador, já que a
potencializando as relações encontradas no presente manifestação dessas variáveis em jogo acontece em
estudo. interação.Sendo assim, sugere-se a adoção de
Relativamente ao nível de maturidade somática, metodologias que trabalhem o componente físico atrelado
apesar da diferença na EAA entre as categorias, apenas os a tarefas tático-técnicas, para aumentar a força dessas
jogadores sub-15 não apresentaram diferença significativa relações.
com relação à referência, o que demostra ser Como limitações do estudo, destaca-se a baixa
aparentemente um processo normal. Quanto ao relativo quantidade de participantes do estudo (n=29), o que pode
atraso na maturidade somática apresentada pela categoria representar um baixo poder de representação para
sub-17 em relação ao grupo de referência, existem vários população de jovens futebolistas.
fatores que poderiam explicar tal atraso, tais como
genéticos, hormonais, nutricionais, condições sociais,
base étnica e clima22 que não foram contemplados no
presente estudo. Ademais, o método utilizado para
avaliação da predição da estatura adulta foi desenvolvido
e validado com base em jovens americanos e não
brasileiros, o que poderia contribuir para explicar essa
diferença.
Embora o futebol seja uma modalidade constituída
pelas dimensões psico-cognitiva, tático-técnica, tático-
individual e fisiológica25, por ser um esporte com intenso
contato físico, muitos clubes têm sobrevalorizado a
dimensão física na captação de talentos em detrimento das

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95 Jovens jogadores de futebol

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R. bras. Ci. e Mov 2015;23(2): 88-96.


Artigo Original

Comportamento e desempenho táticos: estudo


comparativo entre jogadores de futebol e futsal

Tactical behaviour and performance: comparative study between


soccer and futsal players

MÜLLER, E; GARGANTA, J; SANTOS, R de M M; TEOLDO, I. Comportamento e Ezequiel Müller1


Júlio Garganta2
desempenho táticos: estudo comparativo entre jogadores de futebol e futsal. R. bras. Rodrigo de Miranda Monteiro
Ci. e Mov 2016;24(2):100-109. Santos3
Israel Teoldo3
1
Instituto Federal de Educação,
RESUMO: O objetivo deste estudo foi verificar a influência da especificidade da modalidade sobre o Ciência e Tecnologia de Alagoas
2
comportamento e desempenho táticos de jogadores de futsal e futebol em situações de jogo reduzido. Faculdade de Desporto da
Foram avaliados 96 jogadores, sendo 48 de futsal e 48 de futebol, das categorias sub-13, sub-15, sub-17 e Universidade do Porto
3
sub-20. O instrumento utilizado no estudo foi o Sistema de avaliação tática no Futebol (FUT-SAT), que Universidade Federal de Viçosa
permite avaliar as ações táticas realizadas por cada um dos jogadores, com base nos dez princípios táticos
fundamentais do jogo de futebol. Para a análise dos dados foi utilizado o software SPSS for Windows®,
versão 17.0. Foram realizadas análises descritivas (frequência absoluta e relativa), variação percentual,
média e desvio padrão. Também foram utilizados os testes Kolmogorov-Smirnov, qui-quadrado (χ²), -t
para medidas independentes e Mann-Whitney U. Para o cálculo da fiabilidade intra e interobservadores
recorreu-se ao teste Kappa de Cohen. Os resultados indicaram que os jogadores de futsal realizaram
número significativamente maior de ações táticas e realizaram com maior frequência ações dos princípios
da “cobertura ofensiva”, “contenção”, “cobertura defensiva” e “concentração”. Já no futebol, foram
realizadas com maior frequência que no futsal ações dos princípios do “espaço” e da “unidade defensiva”.
A partir dos resultados pode-se concluir que os jogadores de futsal apresentaram desempenho tático
defensivo superior, e os jogadores de futebol evidenciaram maior percentual de erros. Mais
especificamente, o maior percentual de erros cometidos pelos jogadores de futebol está relacionado aos
princípios da “unidade ofensiva” e “contenção”. A discrepância entre as dimensões da área de jogo e nas
dinâmicas distintas observadas nas duas modalidades podem ser fatores que justificam os resultados
encontrados.
Palavras-chave: Futebol; Futsal; Tática; Princípios Táticos.

ABSTRACT: This study aimed to identify potential differences regarding tactical behaviour and
performance between futsal and soccer players. A total of 96 players were assessed (48 futsal players and
48 soccer players), from U-13, U-15, U-17 and U-20 age groups. Twelve players from each age group
were assessed. The instrument used was the System of tactical assessment in Soccer (FUT-SAT) that
enables the assessment of tactical actions performed by each player, according to the ten core tactical
principles of soccer. For statistical procedures, it SPSS software (Statistical Package for Social Science)
for Windows®, version 17.0 was used. Descriptive analyses of absolute and relative frequencies,
percentage variation, means and standard deviation were performed. Kolmogorov-Smirnov, chi-squared
(χ²), t- and Mann-Whitney U tests were performed. Reliability was calculated through Cohen's Kappa test.
It was observed that besides enabling a higher number of tactical actions, futsal players performed more
frequently the principles of “offensive coverage”, “delay”, “defensive coverage” and “concentration”. In
soccer, they performed with significant higher frequency, actions related to the principles of “width and
length” and “defensive unity”. Therefore, it is concluded that during the defensive phase, futsal players
displayed better performance and soccer players displayed higher error percentage. More specifically, the
higher error percentage observed for soccer players is related to the principles of "offensive unity" and
"delay". The discrepancy between the playing areas and the different dynamics observed in both sports
might be factors that explain the findings of the present study.
Recebido: 05/08/2015
Key Words: Soccer; Futsal; Tactics; Tactical Principles.
Aceito: 10/03/2016

Contato: Ezequiel Müller - zekmuller@gmail.com


101 Comportamento e desempenho táticos no futebol e futsal

Introdução
O futsal e o futebol se caracterizam pelo confronto sua alta interferência contextual e grande variabilidade de
entre duas equipes que se movimentam de forma ações proporcionadas14,15. Todavia, grande parte das
complexa, com o objetivo de vencer a partida, alternando- investigações existentes relativas aos jogos reduzidos em
1,2
se em situações de ataque e defesa . As ações de ambas as modalidades, concentram-se na análise de
oposição e cooperação conferem a estes jogos de invasão variáveis de fisiológicas ou técnicas, sem relacioná-las à
uma constante atitude tático-estratégica, que se associa componente tática16,17. Logo, as investigações devem
aos processos cognitivos relacionados à percepção e à emergir com a finalidade de contribuir para o processo de
3
tomada de decisão . ensino e treino, a partir da observação e análise do
Assim, em função da aleatoriedade, comportamento e desempenho táticos dos jogadores, para
imprevisibilidade e variabilidade dos comportamentos no que seja possível identificar como as peculiaridades das
futebol e futsal, as ações dos jogadores em uma partida duas modalidades exercem influência sobre estes
são caracterizadas por decisões táticas, baseadas em aspectos.
4-6
princípios táticos de jogo . De acordo com Garganta e Assim, o objetivo deste artigo é verificar a
7
Pinto , estes princípios compreendem um conjunto de influência da especificidade da modalidade sobre o
normas sobre o jogo e proporcionam a possibilidade de comportamento e desempenho táticos de jogadores de
atingir soluções táticas rápidas e eficazes para as futsal e futebol em situações de jogo reduzido.
múltiplas situações que o jogo apresenta aos jogadores.
Para estudar estas ações executadas pelos Materiais e Métodos
jogadores durante uma partida, treinadores e Amostra
investigadores têm recorrido à análise de jogo, que diz Avaliou-se 96 jogadores (48 de futsal e 48 de
respeito ao processo de obtenção e registro de futebol), das categorias sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20
informações relativas aos eventos do jogo8,9. Este tipo de de dois clubes portugueses que disputam campeonatos
análise tem por objetivo ampliar o conhecimento sobre o nacionais da primeira liga das respectivas modalidades.
jogo e/ou no suporte à modelação do treinamento, já que Avaliou-se 12 jogadores em cada uma das categorias,
grande parte dos dados acerca do comportamento dos sendo que no futsal os jogadores realizaram 3347 ações
jogadores durante o jogo e treino incidem sobre gestos táticas, sendo 1573 ofensivas e 1774 defensivas enquanto
10,11
técnicos e ações individuais ou coletivas isoladas . que no futebol os jogadores realizaram 2830 ações, das
As dimensões da bola, superfície de jogo e balizas, quais 1325 ofensivas e 1305 defensivas durante os
além das regras e do tipo de piso parecem tornar o futsal e respectivos testes de campo.
o futebol modalidades distintas. Entretanto, através da
observação de determinados gestos técnicos, movimentos Instrumento
e comportamentos, pode ser possível identificar certa O instrumento utilizado neste estudo, o FUT-
semelhança entre estas duas modalidades. Assim, tanto no SAT, foi desenvolvido e validado por Teoldo et al.18, e
futsal quanto no futebol, treinadores têm lançado mão da permite avaliar as ações táticas realizadas por cada
utilização de jogos reduzidos, o que lhes permite modelar jogador, com base nos dez princípios táticos fundamentais
o comportamento de seus jogadores com maior eficiência, do jogo de futebol, na localização da ação no campo de
quando comparados a exercícios analíticos ou que jogo e seu resultado5,19.
incluam a configuração formal do jogo (11x11 e 5x5)12,13. Este instrumento possui 77 variáveis dependentes
Este tipo de prática de treino, avaliação e monitoramento distribuídas em sete categorias e duas macro categorias.
das capacidades dos jogadores pode ser verificado através Na macro categoria "observação" estão as variáveis das
de estudos que investigam esta classe de exercícios, por categorias: "princípios táticos", "localização da ação no

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MÜLLER et al. 102

campo de jogo", "resultado da ação"; e na macro categoria segundos de familiarização, tempo tido como suficiente
"produto" estão as variáveis das categorias: "índice de para que os jogadores apreendessem as demandas do
performance tática" (IPT), "percentual de erros", "ações teste14,22,23. Todos os jogadores utilizaram coletes
táticas" e "localização da ação relativa aos princípios" numerados para facilitar sua identificação.
(LARP). Neste estudo as variáveis independentes estão
relacionadas às modalidades futsal e futebol. Materiais
Para gravação dos vídeos das sessões de tese
Procedimentos Éticos utilizou-se uma câmera digital PANASONIC modelo NV
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da – DS35EG. O material de vídeo obtido foi introduzido em
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto formato digital em um computador portátil (HP DV6-
(Processo CEFADE 16/2013) e atende às normas do 1050EP processador Intel P8600) via cabo (IEEE 1394) e
Tratado de Helsinque (1996) para pesquisas com seres convertido em arquivos “.avi”.
humanos. Para tratamento das imagens e análise do jogo
Tanto no futsal como no futebol a coleta de dados foram utilizados os softwares Utilius VS® e Soccer
foi realizada com prévia autorização dos responsáveis Analyser®. O primeiro destina-se ao registro e arquivo das
pelos clubes. ações observadas. O segundo permite inserir as
referências espaciais do teste no vídeo e avaliar a posição
Procedimentos de Coleta de Dados e movimentação dos jogadores.
No futebol, o teste de campo “GR+3x3+GR” (duas
equipes compostas por 1 goleiro e 3 jogadores de linha Análise Estatística
cada), que integra o FUT-SAT, foi conduzido em uma Realizou-se análise descritiva (frequência absoluta
área de 36 metros de comprimento e 27 metros de largura. e relativa, variação percentual, média e desvio padrão) das
O centro de jogo possui 5 metros de raio, tendo em conta categorias "princípios táticos", "localização da ação no
o intervalo dos valores das constantes, encontrado entre a campo de jogo" e "resultado da ação", "IPT", "percentual
razão do menor e do maior valor. Na aplicação do teste de erros", "ações táticas" e "LARP".
solicita-se aos jogadores que joguem de acordo com as Para as variáveis das categorias "IPT", "percentual
regras oficiais do jogo, com exceção da regra do de erros", "ações táticas" e "LARP", utilizou-se o teste de
impedimento. O teste tem duração de quatro minutos não normalidade Kolmogorov-Smirnov para verificar a
cronometrados18. distribuição dos dados. Para as variáveis paramétricas, a
No futsal, o teste “GR+3x3+GR” foi aplicado em comparação entre as modalidades foi realizada a partir do
área de 28 metros de comprimento por 15 metros de teste t para medidas independentes (p≤0,05). Já para os
3
largura . O centro de jogo determinado foi de 5 metros de dados não paramétricos recorreu-se ao teste Mann-
raio, em respeito à regra para cobranças de faltas, que Whitney (p≤0,05).
determina que os jogadores adversários posicionem-se no Para comparação das frequências das variáveis
20,21
mínimo a 5 metros da bola . Durante a aplicação do pertencentes às categorias "princípios táticos",
teste, foi solicitado aos jogadores avaliados que jogassem "localização da ação no campo de jogo" e "resultado da
de acordo com as regras oficiais do jogo, com exceção à ação", utilizou-se o teste qui-quadrado (χ²), com nível de
utilização do goleiro linha. Esta alteração deve-se ao fato significância de p≤0,05. Para os procedimentos
de aumentar o número de ações táticas com a bola dos estatísticos, utilizou-se o software SPSS (Statistical
jogadores de linha. Package for Social Sciences) for Windows®, versão 17.0.
Tanto no futebol quanto no futsal, os jogadores
receberam informações sobre o teste e realizaram 30 Análise da Fiabilidade

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):100-109


103 Comportamento e desempenho táticos no futebol e futsal

Para avaliação da fiabilidade dos dados, foram "princípios táticos", "localização da ação no campo de
reanalisadas 480 ações táticas (14,34%) no futsal, e 408 jogo" e "resultado da ação" e, posteriormente, os
ações táticas (14,42%) no futebol. O número de ações resultados das categorias "IPT", "percentual de erros",
reavaliadas nas duas modalidades é superior ao de "ações táticas" e "LARP".
24
referência (10%) apontado pela literatura . A Tabela 1 apresenta as frequências, os
Para a análise da fiabilidade intra-observador, percentuais e a variação percentual das variáveis das
respeitou-se um intervalo de 20 dias entre as categorias "princípios táticos", localização da ação no
25
observações . Para o cálculo da fiabilidade intra- campo de jogo" e "resultado da ação", no futsal e futebol.
avaliador recorreu-se ao teste Kappa de Cohen. Os A partir da Tabela 1 verifica-se que no total de
resultados revelaram valores de fiabilidade intra- ações táticas realizadas pelos jogadores há diferenças
observador de 0,94, (ep=0,01) no futsal, sendo significativas entre o futsal e o futebol, demonstrando que
26
classificada como “quase perfeitos” pela literatura . Já no o futsal permite efetuar maior quantidade de ações.
futebol, as observações foram realizadas por três Nas variáveis da categoria "princípios táticos"
observadores treinados que apresentaram concordância verifica-se que os comportamentos táticos dos jogadores
interobservadores superior a 0,81 e obtiveram valores de de futsal e futebol foram diferenciados em seis dos dez
fiabilidade intra-observador entre 0,79 e 0,88 (ep=0,01, princípios que compõem a grelha de avaliação. Dentre as
em todos os casos). diferenças encontradas verificou-se que nos princípios da
“cobertura ofensiva”, “contenção”, “cobertura defensiva”
Resultados e “concentração” a frequência das ações foram superiores
Os resultados estão apresentados de acordo com as no futsal. Já para os princípios do “espaço” e da “unidade
macro categorias de variáveis. Assim, serão defensiva”, a ocorrência de ações foi maior no futebol.
primeiramente descritos os resultados das categorias

Tabela 1. Frequências (absoluta e relativa) e variação percentual das variáveis das categorias "princípios táticos",
"localização da ação no campo de jogo" e "resultado da ação", no futsal e futebol.
Futsal Futebol
Categorias e Variáveis Variação Percentual**
N % N %
Princípios Táticos
Ofensivo
Penetração 158 4,72 142 5,02 6,29
Cobertura Ofensiva* 613 18,31 321 11,34 -38,07
Espaço* 476 14,22 557 19,68 38,39
Mobilidade 123 3,67 135 4,77 29,81
Unidade Ofensiva 203 6,07 170 6,01 -0,96
Defensivo
Contenção* 356 10,64 276 9,75 -8,31
Cobertura Defensiva* 382 11,41 52 1,84 -83,90
Equilíbrio 243 7,26 241 8,52 17,30
Concentração* 416 12,43 282 9,96 -19,83
Unidade Defensiva* 377 11,26 654 23,11 105,17
Localização da Ação no Campo de Jogo
Ofensiva
Meio Campo Ofensivo* 589 17,60 473 16,71 -5,02
Meio Campo Defensivo* 911 27,22 754 26,64 -2,11
Defensiva
Meio Campo Ofensivo* 985 29,43 852 30,11 2,30
Meio Campo Defensivo* 862 25,75 751 26,54 3,04
Resultado da Ação
Ofensiva
Realizar finalização ao gol 156 4,66 155 5,48 17,51
Continuar com a posse de bola* 1103 32,95 984 34,77 5,51
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 58 1,73 41 1,45 -16,40

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MÜLLER et al. 104

Cometer falta, ceder lateral ou escanteio* 72 2,15 42 1,48 -31,01


Perder a posse de bola* 184 5,50 103 3,64 -33,80
Defensiva
Recuperar a posse de bola* 187 5,59 123 4,35 -22,21
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio* 88 2,63 55 1,94 -26,08
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio* 67 2,00 42 1,48 -25,86
Continuar sem a posse de bola* 1266 37,82 1113 39,33 3,98
Sofrer finalização ao gol 166 4,96 172 6,08 22,54
TOTAL* 3347 2830
*Diferenças significativas: Princípios Táticos: Ofensivo: Cobertura Ofensiva (p<0,01, χ²=91,29) e Espaço (p<0,01, χ²=6,35); Defensivo: Contenção (p<0,01, χ²=10,13), Cobertura Defensiva
(p<0,01, χ²=250,92), Concentração (p<0,01, χ²=25,73) e Unidade Defensiva (p<0,01, χ²=74,42). Localização da Ação no Campo de Jogo: Ofensiva: Meio Campo Ofensivo (p<0,01, χ²=12,67) e
Meio Campo Defensivo (p<0,01, χ²=14,80); Defensiva: Meio Campo Ofensivo (p<0,01, χ²=9,63) e Meio Campo Defensivo (p<0,01, χ²=7,64). Resultado da Ação: Ofensiva: Continuar com a posse
de bola (p<0,01, χ²=6,78), Cometer falta, ceder lateral ou escanteio (p<0,01, χ²=7,90) e Perder a posse de bola (p<0,01, χ²=22,86); Defensiva: Recuperar a posse de bola (p<0,01, χ²=13,21), Sofrer
falta, ganhar lateral ou escanteio (p<0,01, χ²=7,62), Cometer falta, ceder lateral ou escanteio (p=0,02, χ²=5,73) e Continuar sem a posse de bola (p<0,01, χ²=9,84). TOTAL (p<0,01, χ²=43,27). ** A
variação percentual foi calculada do Futsal para o Futebol.

Nos princípios táticos ofensivos verificou-se que e "perder a posse de bola". Nas variáveis defensivas as
as maiores variações percentuais são relativas aos valores diferenças se situaram em "recuperar a posse de bola",
das variáveis “cobertura ofensiva” e “espaço”, e as "sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio", "cometer falta,
menores, aos das variáveis “penetração” e “unidade ceder lateral ou escanteio" e "continuar sem a posse de
ofensiva”. Para os princípios táticos defensivos as maiores bola". Em todos os casos as frequências foram superiores
variações percentuais foram identificadas para os no futsal.
princípios da “cobertura defensiva” e da “unidade Verifica-se que a maior variação percentual na fase
defensiva”, enquanto as menores dizem respeito aos ofensiva deu-se na variável "perder a posse de bola", e a
princípios da “contenção” e do “equilíbrio”. menor, em "continuar com a posse de bola". Na fase
Na "localização da ação no campo de jogo" defensiva, a maior variação percentual diz respeito à
observou-se maiores frequências no futsal, em relação ao variável "sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio",
futebol. No entanto, a partir dos resultados de frequência enquanto a menor foi observada na variável "continuar
relativa e variação percentual, dois grupos apresentaram sem a posse de bola".
distribuições semelhantes de ações no campo de jogo. A Tabela 2 apresenta as médias e desvios padrões
No resultado da ação observou-se diferenças das variáveis das categorias "IPT" e "percentual de erros"
significativas nas variáveis ofensivas "continuar com a no futsal e futebol.
posse de bola", "cometer falta, ceder lateral ou escanteio"

Tabela 2. Médias e desvios padrão das variáveis das categorias "IPT" e "percentual de erros" no futsal e futebol.
IPT Percentual de Erros
Futsal Futebol Futsal Futebol
Ofensivos
Penetração 52,85±24,69 53,85±23,03 15,49±20,68 13,25±22,53
Cobertura Ofensiva 44,83±10,39* 50,27±14,74* 8,76±9,84* 5,08±15,46*
Mobilidade 55,02±29,27 55,57±28,99 6,87±18,59* 1,40±7,77*
Espaço 41,40±11,13 43,24±9,00 8,25±11,91* 2,91±5,61*
Unidade Ofensiva 53,86±24,48 50,6±25,38 18,92±27,64* 35,08±32,69*
Defensivos
Contenção 30,04±9,18* 23,99±9,31* 41,35±24,95* 55,41±24,57*
Cobertura Defensiva 31,38±10,85 17,83±15,19 20,04±19,48 29,58±40,00
Equilíbrio 30,01±11,73* 24,85±11,74* 47,78±29,12 48,85±30,13
Concentração 27,20±8,10 28,79±8,73 20,44±20,52 13,28±15,87
Unidade Defensiva 27,71±9,46 25,74±8,12 40,04±24,94 47,18±27,1
Fase do Jogo
Fase Ofensiva 46,78±9,90 48,12±9,58 11,21±8,31 8,57±6,88
Fase Defensiva 28,49±6,31* 26,10±5,86* 32,68±17,69* 42,44±16,91*
Jogo 37,03±6,45 36,35±6,18 22,24±10,48 26,45±10,09
*Diferenças significativas (p<0,05). IPT: Cobertura Ofensiva (p=0,03), Contenção (p<0,01), Equilíbrio (p<0,01) e Fase Defensiva (p=0,04). Percentual de Erros: Cobertura Ofensiva (p<0,01),
Mobilidade (p<0,01), Espaço (p<0,01), Unidade Ofensiva (p<0,01), Contenção (p<0,01) e Fase Defensiva (p=0,02).

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105 Comportamento e desempenho táticos no futebol e futsal

Em relação aos "IPTs" verificam-se quatro ofensiva”, “mobilidade”, “espaço”, “unidade ofensiva”,
diferenças significativas entre os grupos. As diferenças "contenção" e "fase defensiva". Os jogadores de futsal
significativas se situaram nas variáveis "cobertura cometeram mais erros na realização dos princípios da
ofensiva", "contenção", "equilíbrio" e na fase defensiva. “cobertura ofensiva”, “mobilidade” e “espaço”, e no
Nestes casos, verificou-se "IPT" superior no futebol futebol, houve mais erros nas ações de “unidade
somente para o princípio da "cobertura ofensiva", ofensiva”, "contenção" e "fase defensiva".
enquanto nas outras variáveis os jogadores de futsal A Tabela 3 apresenta as médias e os desvios
obtiveram melhores índices. padrões das variáveis das categorias "ações táticas" e
Na categoria "percentual de erros", seis variáveis "LARP" dos quatro escalões avaliados.
apresentaram diferenças significativas: “cobertura

Tabela 3. Médias e desvios padrões das variáveis das categorias "ações táticas" e "LARP" no futsal e futebol.
Ações Táticas LARP
Futsal Futebol Futsal Futebol
Ofensivos
Penetração 3,19±1,82 2,97±1,62 2,10±1,44* 1,46±1,25*
Cobertura Ofensiva 12,57±4,8* 6,65±3,63* 3,57±2,63 4,76±3,59
Mobilidade 2,32±2,12 2,88±3,58 2,31±2,16* 0,44±0,88*
Espaço 9,98±5,08 11,62±5,07 2,02±1,99* 9,36±4,85*
Unidade Ofensiva 4,31±2,41 3,57±2,83 2,20±1,74 1,97±2,36
Defensivos
Contenção 7,40±2,95* 5,68±2,93* 4,22±2,55 3,38±2,55
Cobertura Defensiva 7,94±4,24* 1,05±1,20* 3,67±3,18* 0,57±0,73*
Equilíbrio 5,03±2,35 5,04±2,69 1,70±1,72 2,26±1,96
Concentração 8,62±3,13* 5,88±3,16* 5,9±3,36* 3,45±2,60*
Unidade Defensiva 7,91±3,98* 13,45±4,11* 3,47±2,06* 5,87±3,52*
Fase do Jogo
Fase Ofensiva 32,17±8,37* 27,47±6,49* 11,85±5,81* 17,99±6,43*
Fase Defensiva 36,75±9,92* 30,95±7,99* 18,86±8,37* 15,24±7,00*
Jogo 68,81±14,09* 58,34±11,46* 30,67±12,53 33,1±8,32
*Diferenças significativas (p≤0,05). Ações Táticas: Cobertura Ofensiva (p<0,01), Contenção (p<0,01), Cobertura Defensiva (p<0,01), Concentração (p<0,01), Unidade Defensiva (p<0,01), Fase
Ofensiva (p<0,01), Fase Defensiva (p<0,01) e Jogo (p<0,01). LARP: Penetração (p=0,02), Mobilidade (p<0,01), Espaço (p<0,01), Cobertura Defensiva (p<0,01), Concentração (p<0,01), Unidade
Defensiva (p<0,01) e Fase Ofensiva (p<0,01).

Dentre as 13 variáveis da categoria "ações táticas"


Discussão
verificou-se em oito delas diferenças significativas entre
O objetivo deste estudo foi verificar a influência da
os grupos. Nas variáveis “cobertura ofensiva”,
especificidade da modalidade sobre o comportamento e
“contenção”, “cobertura defensiva”, “concentração”,
desempenho táticos de jogadores de futsal e futebol em
"fase ofensiva", "fase defensiva" e "jogo", os jogadores
situações de jogo reduzido. Através dos resultados, pôde-
de futsal realizaram um número significativamente maior
se constatar que os jogadores destas duas modalidades
de ações. Somente no princípio “unidade defensiva”
apresentaram diferenças significativas entre si em 43 das
verificou-se diferenças significativas favoráveis ao
77 variáveis avaliadas pelo FUT-SAT.
futebol.
O maior número de ações táticas executadas pelos
Na categoria "LARP" verificou-se diferenças
jogadores de futsal, em decorrência do jogo mais
significativas em oito variáveis. No futsal, as médias
fragmentado (ações que resultaram em falta, lateral,
foram significativamente superiores nas variáveis
escanteio ou tiro de metas) e da quantidade superior de
“penetração”, “mobilidade”, “cobertura defensiva”,
ações de posse de bola, pode ser explicado por algumas
“concentração” e "fase defensiva", enquanto no futebol
características inerentes à essa modalidade. A literatura
foram superiores em “espaço”, “unidade defensiva” e
indica que áreas de jogo com dimensões reduzidas (como
"fase ofensiva".
no caso do futsal) podem exercer efeito sobre o número

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):100-109


MÜLLER et al. 106

de passes e contatos com a bola realizados e, do fator associado à diferença nas dimensões do campo
supostamente, facilitar ações de desarme por parte dos que facilitam as ações defensivas dos jogadores de futsal,
27,28
defensores . Também o piso e a bola do futsal tendem pode-se mencionar os tipos de treinamento e as
a proporcionar aos jogadores melhor controle sobre a características dos jogadores, em relação à posição
bola, fazendo com que o número de ações táticas seja ocupada e a função exercida por cada um como um fator
superior, uma vez que a superfície do campo de futebol é potencialmente explicativo para este fenômeno30. No
sabidamente mais irregular e a bola de futsal é futsal, jogadores de todas as posições participam
proporcionalmente mais pesada, tornando mais fácil seu ativamente de ambas as fases de jogo, enquanto no
29
manejo . futebol os jogadores que ocupam posições mais
Os princípios realizados em maior número pelos adiantadas possuem menor influência durante a fase
jogadores de futsal, tanto na fase ofensiva quanto defensiva. No futsal há também uma intensa troca de
defensiva, são caracterizados pela aproximação ao posições durante o jogo, o que proporciona aos jogadores
portador da bola (“cobertura ofensiva”, “contenção”, melhor adaptação a funções diferentes daquelas relativas
“cobertura defensiva” e “concentração”), enquanto no à sua posição de origem6.
futebol as ações dos jogadores que apresentaram A partir desta investigação verificou-se maior
frequências superiores aos demais são efetuadas distantes número de ações táticas no futsal, supostamente devido à
do jogador em posse da bola (“espaço” e “unidade maior facilidade no controle e circulação da bola por parte
defensiva”). Uma possível razão para estes achados é a dos jogadores, resultado que pode ser atribuído às
diferença entre as dinâmicas de jogo das duas características desta modalidade (dimensão e tipo da
modalidades, o que poderá gerar influência significativa superfície, tipo de bola, intensidade do jogo, etc.) que
30,31
sobre a tomada de decisão e ações subsequentes . possuem papel central sobre sua dinâmica. O futsal
Observa-se no futsal uma propensão por parte dos também exige que os jogadores realizem maior número de
jogadores a aproximarem-se do centro de jogo, tanto em ações próximas ao centro de jogo, enquanto no futebol
ações ofensivas, com o objetivo de oferecer linhas de mais jogadores realizam ações táticas distantes do centro
passe, como em ações defensivas, para cobrir o jogador de jogo, devido às dinâmicas relativas às duas
em oposição direta ao portador da bola. Já no futebol, modalidades. Além disso, os métodos de treino e as
espera-se que um número menor de jogadores ofereça funções dos jogadores podem explicar o fato de se ter
linhas de passe nas proximidades e dentro do centro de observado desempenho tático defensivo superior no
jogo e realize pressão sobre o portador da bola. futsal, e desempenho tático ofensivo equivalente entre
Não foram encontradas diferenças percentuais ambas as modalidades3.
significativas entre o futsal e futebol nas variáveis da Deste modo, é possível destacar a importância da
categoria "localização da ação no campo de jogo". Em se ter em conta a especificidade de cada uma das
ambas as modalidades observou-se mais ações defensivas modalidades para os processos de treino e aprendizagem
no meio campo ofensivo e mais ações ofensivas no setor dos princípios táticos, uma vez que, por possuírem
defensivo que proporcionam o aumento do espaço de jogo características singulares, deve-se promover, tanto no
efetivo e assim permitem aos jogadores explorar espaços futebol quanto no futsal, conteúdos que sejam trabalhados
livres e propiciar melhores opções de passe ao portador da a partir do reconhecimento da dinâmica inerente a ambas,
1
bola. bem como da faixa etária dos respectivos
Os jogadores de futsal obtiveram melhores valores jogadores/alunos32.
no "índice de performance tática" (IPT), bem como Apesar da escassez de investigações que
valores inferiores de percentual de erro nas ações comparem o futsal e futebol, relativamente às variáveis
defensivas, em comparação aos atletas de futebol. Além referentes à componente tática, o presente estudo

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):100-109


107 Comportamento e desempenho táticos no futebol e futsal

apresenta importantes achados, dos quais treinadores e Graduação e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
preparadores poderão se beneficiar para o planejamento da Universidade Federal de Viçosa.
de treinos mais adequados às características particulares
de ambas as modalidades, a partir das diferenças
observadas. Entretanto, é preciso levar em conta que uma
das limitações desta investigação diz respeito ao reduzido
tamanho amostral observado nas diferentes categorias
etárias em ambas as modalidades. Futuros estudos devem
utilizar maior número de jogadores por categoria, em cada
uma das modalidades, de modo a elevar a possibilidade de
generalização dos resultados.

Conclusões
Constatou-se que o comportamento tático dos
jogadores desta amostra foi influenciado pela dinâmica
relativa às duas modalidades. Na fase defensiva, os
jogadores de futsal apresentaram performance superior
em relação aos jogadores de futebol. Por sua vez, os
jogadores de futebol apresentaram maior média de erros
na realização de ações táticas, quando comparados aos
jogadores de futsal. As diferenças entre as superfícies
(tipo e dimensão), dinâmicas e intensidades de jogo
relativas às duas modalidades podem justificar os
resultados encontrados, uma vez que essas características
são, em grande parte, influenciadoras da tomada de
decisão e do comportamento resultante por parte dos
jogadores.
Para futuros estudos, recomenda-se que jogadores
de futsal e futebol sejam avaliados em superfície inversa
àquela da modalidade praticada (jogadores de futsal em
campo gramado e jogadores de futebol em
ginásio/quadra), para que se possa verificar qual das
modalidades tem maior efeito sobre a evolução esportiva
do jogador e quais capacidades táticas necessitam de
desenvolvimento, no caso de uma possível transição entre
elas.

Agradecimentos
Este trabalho teve o apoio da FAPEMIG, da
SETES através da LIE, da CAPES, do CNPq, da
FUNARBE, da Reitoria, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):100-109


MÜLLER et al. 108

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R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):100-109


Artigo Original

O estatuto posicional pode influenciar o


desempenho tático ente jogadores da Categoria
Sub-13?

Can positional statute influence tactical performance of U-13 youth


soccer players?

PADILHA MB, MORAES JC, COSTA IT. O estatuto posicional pode influenciar o Maickel B. Padilha1,2,
desempenho tático ente jogadores da Categoria Sub-13? R. bras. Ci. e Mov José C. Moraes3,
2013;21(4): 73-79. Israel T. da Costa1
1
RESUMO: Com a importância do processo de formação dos jogadores de Futebol, as características Universidade Federal de Viçosa,
peculiares em diferentes estatutos posicionais podem apresentar desempenhos táticos distintos quando Núcleo de Pesquisa e Estudos
consideradas as diferentes fases de jogo (defensiva e ofensiva). Este trabalho tem por objetivo verificar se em Futebol - NUPEF
2
o estatuto posicional pode influenciar o desempenho tático entre jogadores da Categoria Sub-13. A Universidade do Porto
3
amostra foi composta por 100 jogadores de futebol da Categoria Sub-13, divididos em 27 Defensores, 38 Universidade Federal do Rio
Meio Campistas e 35 Atacantes. Foram analisadas um total de 5213 ações Ofensivas e Defensivas, com a Grande do Sul
seguinte distribuição por princípios: Ofensivos: “Penetração” [n=319; (12,99%)]; “Cobertura Ofensiva”
[n=692; (28,19%)]; “Mobilidade” [n=182; (7,42%)]; “Espaço” [n=929; (37,84%)] e “Unidade Ofensiva”
[n=333; (13,56%)]; Defensivos: “Contenção” [n=664; (24,07%)]; ”Cobertura Defensiva” [n=220;
(7,98%)]; “Equilíbrio” [n=639; (23,17%)]; “Concentração” [n=340; (12,33%)] e “Unidade Defensiva”
[n=895; (32,45%)]. O instrumento utilizado para coleta e análise dos dados foi o FUT-SAT, Os resultados
foram tratados através da estatística descritiva e os testes de Kolmogorov-Smirnov, ANOVA One Way,
Kruskal Wallis e Post Hoc de Tukey. Para o cálculo da fiabilidade recorreu-se ao teste Kappa de Cohen .
Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS for Windows, versão 18.0. Adotou-se um nível
de significância de p <0,05. Os resultados demonstraram diferenças estatisticamente significativas entre o
Índice de Performance Tática e os estatutos posicionais para o princípio tático ofensivo “Unidade
Ofensiva” entre Meio Campistas e Atacantes. Para os demais princípios táticos não foram encontradas
diferenças estatísticas. Conclui-se com este estudo, que o estatuto posicional influencia no desempenho
tático por parte dos Meio Campistas em relação aos Atacantes. Sobretudo, em movimentações ofensivas
afastadas do centro de jogo e em apoios ofensivos que ocorrem atrás da linha da bola. Desta forma, os
Meio Campistas da categoria Sub-13 apresentam desempenho superior para o princípio tático “Unidade
Ofensiva”.

Palavras-chave: Futebol, Desempenho, Avaliação.

ABSTRACT: With the importance of the process of formation of the Football players, the peculiar
characteristics in different positional statutes may provide distinct tactical performances when considering
the different phases of the game (defensive and offensive).This paper aims to verify whether positional
role can influence the tactical performance of U-13 youth soccer players. The sample comprised 100 U-13
youth soccer players divided into 27 defenders, 38 midfielders and 35 forwards. 5213 offensive and
defensive actions were analyzed, with the following distribution: Offensive Principles: “Penetration”
[n=319; (12,99%)]; “Offensive Coverage” [n=692; (28,19%)]; “Mobility” [n=182; (7,42%)]; “Width and
Length” [n=929; (37,84%)] and “Offensive Unity” [n=333; (13,56%)]; Defensive: “Delay” [n=664;
(24,07%)]; “Defensive Coverage” [n=220; (7,98%)]; “Balance” [n=639; (23,17%)]; “Concentration”
[n=340; (12,33%)] and “Defensive Unity” [n=895; (32,45%)]. FUT-SAT was used to data collection and
analysis. Results were processed through descriptive statistics and Kolmogorov-Smirnov, ANOVA One
Way, Kruskal Wallis and Tukey’s Post Hoc tests. For data processing the software SPSS for Windows,
version 18.0 was used. The significance level was set to p<0.05. Results presented significant differences
between the Tactical Performance Index and positional roles for the tactical principle “Offensive Unity”
among midfielders and forwards. For the remaining tactical principles no significant differences were
found. It is concluded with the present study that the positional role influences the tactical performance of
midfielders in comparison with forwards, mainly in offensive movements away from the game center and
offensive supports occurred behind the ball line. Thereby, U-13 midfielders showed higher performance
for the tactical principle “Offensive Unity”.

Key Words: Performance, Evaluation, Soccer.

Contato: Maickel Bach Padilha - maickel.bpadilha@gmail.com


PADILHA et al. 74

Introdução conformidade com o estatuto posicional e em resposta às


A dinâmica do jogo de Futebol está diretamente peculiaridades táticas dentro de um modelo de jogo
1
relacionada com o desempenho tático dos jogadores , ao proposto11- 12.
vivenciarem contínuas situações de cooperação e Em conformidade com o modelo de jogo proposto,
oposição devido à interação entre o adversário e a própria treinamentos que alterem a estrutura funcional do jogo,
2- 3
equipe . Com a consequente interação entre as equipes, possibilitam aos jogadores condições para a evolução em
a relação entre o desempenho e as exigências táticas de busca da excelência em sua prestação esportiva. Tais
uma partida, destacam a importância das ações táticas dos condições ocorrem em decorrência dos
jogadores frente às funções exercidas em campo diante do estímulos/exercícios treinados, de forma que os jogadores
4- 5
adversário . tenham condições para realizar um bom desempenho
As funções exercidas pelos jogadores dentro de tático em suas posições em resposta ao ambiente de
campo se caracterizam em virtude da especificidade de jogo13-15.
cada jogador em relação ao estatuto posicional, definidos Para a melhoria e direcionamento da formação do
6
em Defesa, Meio Campo e Ataque . Alguns estudos têm jogador de Futebol, destaca-se a importância da
buscado verificar o desempenho através do estatuto identificação e do desenvolvimento do desempenho
posicional, destacando as dimensões físicas e técnicas dos tático dos jogadores em função das demandas reais do
7- 8
jogadores durante os jogos de Futebol . No entanto, jogo e em cada estatuto posicional. Ao mesmo tempo que,
estes indicadores não fornecem informações suficientes possibilite a tranferência do conhecimento adquirido pelos
para verificar se os jogadores são capazes de solucionar as jogadores durante os treinamentos para os
situações complexas, envolvendo a dimensão tática em constrangimentos do jogo, em resposta às exigências reais
um jogo de Futebol9- 10. do jogo de Futebol nas fases iniciais da formação16- 17
.
Com a necessidade de solucionar os problemas Este trabalho tem por objetivo verificar se o estatuto
táticos durante a prática do jogo, os estatutos posicionais posicional pode influenciar o desempenho tático entre
podem influenciar e determinar as estratégias adotadas jogadores da Categoria Sub-13.
pelos jogadores ao executar uma ação tática, uma vez que
em distintos estatutos posicionais os desempenhos dos Materiais e Métodos
jogadores podem corresponder às exigências táticas
apresentadas em diferentes situações das fases do jogo, Amostra
assim como em diferentes locais do campo. Ao mesmo A amostra foi composta por 100 jogadores da
tempo a melhoria das capacidades táticas individuais Categoria Sub-13 de quatro diferentes clubes de Minas
auxiliam os jogadores na adaptação dos constrangimentos Gerais, sendo 27 Defensores, 38 Meio Campistas e 35
que o jogo de Futebol apresenta, proporcionando Atacantes. Os critérios adotados para selecionar os
subsídios no enfrentamento das diversidades encontradas sujeitos que compuseram a amostra foram os seguintes:
em cada estatuto posicional ou em aspectos gerais da estar inserido em programas de treinamentos
11
modalidade . sistematizados, com no mínimo de três sessões de treino
Diante das inúmeras situações táticas, as semanais e a participação em campeonatos regionais e
exigências enfrentadas pelos jogadores em relação às nacionais de futebol.
posições ocupadas em campo, são determinadas através Para a realização da coleta de dados os
da execução dos princípios táticos (gerais, operacionais e pesquisadores entraram em contato com os representantes
fundamentais), defensivos e/ou ofensivos1. Estes dos clubes, e treinadores responsáveis pela categoria Sub-
princípios auxiliam os jogadores na gestão do campo de 13. Inicialmente os contatos foram realizados através de
jogo, evidenciando as caracaterísticas dos jogadores em visitas técnicas e/ou telefonemas, objetivando o convite e

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


75 Desempenho tático em diferentes estatutos posicionais

as devidas explicações em relação aos procedimentos da de um valor mínimo de 0 (zero) a um valor máximo de
pesquisa. 100 (cem).

Procedimentos éticos Procedimentos de coleta de dados


Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Antecedendo ao teste, os participantes foram
em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade divididos aleatoriamente independentemente do estatuto
Federal de Viçosa (CEPH) (Of. Ref. Nº 130/2011/Comitê posicional (Defesa – Meio Campo – Ataque) com a
de Ética) e atende às normas estabelecidas pelo Conselho seguinte formação GR3 vs. 3GR (goleiro + 3 jogadores
Nacional em Saúde (1996) e pelo tratado de Ética de vs. 3 jogadores + goleiro), Para facilitar a identificação na
Helsinki (1996) para pesquisas realizadas com seres análise dos vídeos os jogadores utilizaram coletes de
humanos. Para a participação nesta pesquisa os cores e números distintos. Em seguida, todos os jogadores
responsáveis pelo clube e os responsáveis dos jogadores foram devidamente informados sobre o procedimento e
assinaram um Termo de Consentimento Livre e objetivo do teste e instruídos a jogarem de acordo com as
Esclarecido, autorizando a realização da pesquisa. regras do futebol exceto a regra do impedimento. Por fim,
oportunizou-se 30 segundos de “familiarização” antes do
Instrumentos início efetivo do teste com a duração de quatro minutos.
O instrumento utilizado para a pesquisa foi o
Sistema de Avaliação Tática no Futebol, FUT-SAT12, que Materiais
permite avaliar as ações táticas, com e sem bola, Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmera
realizadas pelos jogadores, baseado nos dez princípios digital SONY modelo HDR-XR100. O material de vídeo
táticos fundamentais do jogo de futebol, classificados em foi introduzido, em formato digital, em um computador
defensivos (Contenção, Cobertura defensiva, Equilíbrio, portátil (DELL modelo Inspiron N4030 processador Intel
Concentração e Unidade defensiva) e ofensivas Core™ i3) via cabo USB, e convertido em arquivo “avi.”
(Penetração, Cobertura ofensiva, Mobilidade, Espaço e através do software Prism Video Converter. Inc. Para o
1
Unidade ofensiva . Este instrumento possui sete tratamento das imagens e análise dos jogos foi utilizado o
categorias divididas em duas Macro categorias, a software Soccer Analyzer®.
Obsevação (Princípios táticos, Localização da ação no
campo de jogo e Resultado da ação) e Produto (Índice de Análise estatística
Performance Tática, Ações táticas, Percentual de erro e Foi realizada a análise descritiva de frequência,
12
Localização da Ação Relativa ao Princípio (Ler Teoldo ). percentual, média e desvio padrão. Utilizou-se o teste
O teste de campo deste sistema é aplicado em um Kolmogorov-Smirnov para verificar a aderência à
espaço reduzido de 36 metros de comprimento por 27 normalidade da distribuição dos dados. Para as variáveis
metros de largura, com a configuração de goleiro + 3 que apresentaram distribuição normal recorreu-se ao teste
jogadores vs. 3 jogadores + goleiro durante quatro paramétrico ANOVA One Away, e post-hoc de Tukey
minutos de jogo. O Índice de Performance Tática de cada para verificar a diferença entre os grupos e, para as
princípio tático é calculado através de quatro variáveis que não apresentaram (Penetração, Contenção e
componentes: i) Realização do princípio tático; ii) Cobertura defensiva) foi aplicado o teste não paramétrico
Qualidade da realização do princípio tático; iii) Kruskal-Wallis. Foi adotado um nível de significância de
Localização da ação no campo de jogo, iv) Resultado da 5% ou p<0,05.
ação. Diante dos componentes supracitados, são Foi utilizado o método teste-reteste para verificar a
atribuídos aos jogadores um valor final, que pode variar confiabilidade das observações respeitando um intervalo
de três semanas para a reanálise, evitando problemas de

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


PADILHA et al. 76

familiaridade com a tarefa18. Para o cálculo da A Tabela 1 apresenta médias e desvios-padrão


confiabilidade recorreu-se ao teste Kappa de Cohen. dos Defensores, Meio Campistas e Atacantes, relacionado
Participaram do procedimento três avaliadores que se com o Índice de Performance Tática (IPT) dos princípios
basearam nos critérios da grelha de observação do FUT- táticos ofensivos e defensivos e para o Índice de
SAT, que permite analisar, avaliar e classificar as ações Performance Tática ofensivo (IPTO) e Índice de
táticas realizadas pelos jogadores Para aferição das Performance Tática Defensivo (IPTD).
análises foram reavaliadas 17.34% (906 ações) da amostra Os resultados apresentados indicam que o Índice
apontando um valor superior (10%) ao indicado pela de Performance Tática em função dos estatutos
19
literatura . Os valores para intra-avaliador indicaram o posicionais apresentou diferença estatisticamente
mínimo de 0,814 (ep=0.005) e o máximo de 0.987 significativa para o princípio tático “Unidade Ofensiva”
(ep=0.006). No processo inter-avaliadores os avaliados (F=3,196(2), p=0.04), entre os Meio Campistas e
apresentaram o mínimo de 0.881 (ep=0.015) e o máximo Atacantes. Para os demais princípios táticos não foram
de 0.987 (ep=0.005). encontradas diferenças estatisticamente significativas no
Para o tratamento dos dados foi utilizado o Índice de Performance Tática entre os estatutos
software SPSS (Statistical Package for Social Science) posicionais.
for Windows, versão 18.0.

Resultados

Tabela 1. Médias e desvios-padrão das variáveis da categoria índice de performance tática por estatuto posicional
IPT princípios Defensores Meio Campistas Atacantes
OFENSIVO
Penetração 48,34+19,93 49,83+19,74 55,09+20,65
Cobertura Ofensiva 46,40+11,97 48,98+12,35 47,44+10,35
Mobilidade 57,84+23,36 58,65+19,34 53,66+23,80
Espaço 41,88+7,50 45,55+7,69 42,37+8,24
Unidade Ofensiva 48,63+11,46 57,03+24,53* 44,03+18,52
DEFENSIVO
Contenção 31,61+13,30 30,79+10,40 31,79+11,12
Cobertura Defensiva 39,31+13,83 35,11+18,96 41,30+18,80
Equilíbrio 36,92+13,72 30,98+12,65 32,24+10,27
Concentração 38,55+13,47 31,67+10,75 32,61+13,45
Unidade Defensiva 36,05+8,83 34,74+8,17 35,82+11,70
FASES DO JOGO
IPTO 46,50+6,98 49,91+7,14 47,42+6,50
IPTD 36,02+6,57 33,32+6,21 34,39+6,37
* Diferença estatísticamente significativa (p<0,05). IPT “Unidade Ofensiva” em relação aos Atacantes (F=3,196 (2); p=0,04)

Discussão o índice de performance tática no princípio tático


Este trabalho teve por objetivo verificar se o “Unidade Ofensiva” para jogadores Meio Campistas em
estatuto posicional pode influenciar o desempenho tático relação aos Atacantes. Não foram encontradas diferenças
entre jogadores da Categoria Sub-13. Os resultados estatísticamente significativas para o índice de
apresentaram diferença estatísticamente significativa para performance tática dos demais princípios táticos.

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


77 Desempenho tático em diferentes estatutos posicionais

Os resultados dos Meio Campistas encontrados no relacionada com a dificuldade de adaptação dos jogadores
presente estudo podem ser explicados em consequência deste estatuto posicional durante as alterações das
das zonas de campo que geralmente ocupam em estruturas do jogo, considerando que estes jogadores estão
comparação aos Atacantes, uma vez que os Meio em direta busca pela marcação de um gol para a equipe e
Campistas exercem funções de organização ofensiva para priorizam não se afastar da baliza7.
as ações da equipe. Estas funções ocorrem durante a O estudo de Amaral e Garganta25 indica que em
progressão ofensiva entre defesa e ataque, quando os situações em que os Atacantes procuram um jogo mais
jogadores buscam ocupar e criar espaços livres para a objetivo, estes jogadores buscam a finalização ao gol, se
equipe, intervindo indiretamente no centro de jogo e ao aproximam do centro de jogo e evitam movimentações
aproximar os jogadores e proporcionar equilíbrio entre as mais afastadas da bola. Estas características apresentam
20
linhas (transversais e longitudinais) . Em um estudo ser um indicativo que corresponde ao baixo índice de
realizado com o estatuto posicional na categoria Sub-11, performance tática dos atacantes no princípio tático
foram encontradas diferenças significativas para o índice “Unidade Ofensiva”, de forma que em momentos que
de performance tática nos princípios táticos “Mobilidade” estes jogadores optam pelas ações mais afastadas do
entre Atacantes e Meio Campistas e “Contenção” entre centro de jogo, o desempenho das ações pode ser
21
Meio Campistas e demais estatutos posicionais . comprometido em comparação aos meio campistas, que
Já em um estudo relacionado com a categoria Sub- oferecem apoio às organizações ofensivas da equipe e
14 não foi identificado diferença significativa do índice de exploram as movimentações mais afastadas do centro de
22
performance tática entre os estatutos posicionais . Estes jogo25.
resultados mostram uma similaridade com os resultados Outro indicativo que explica os resultados do
verificados no presente estudo realizado com jogadores da presente estudo ao não encontrar diferenças para os
categoria Sub-13. Neste sentido, é possível destacar que demais princípios táticos, está na fase de prestação
tal similaridade é explicada em função das faixas etárias esportiva que encontram-se os jogadores que compuseram
dos jogadores de ambos os estudos estarem em um esta amostra avaliada. Conforme Greco e Benda23 a
processo de transição durante a formação, entre as fases formação dos jogadores deve ser direcionada para o
de Orientação e de Direção. Nesta transição os jogadores aprimoramento das capacidades táticas em resposta a
encontram-se no processo de iniciação esportiva, devendo qualquer situação do jogo, seja ela ocorrida no setor
obter experiências em diversas funções, buscando o defensivo, de meio campo ou ataque. Ainda é indicado
aperfeiçoamento das capacidades táticas de forma que o processo de ensino e treino nesta faixa etária esteja
globalizada, ao vivenciar as exigências específicas da direcionado para proprocionar aos jogadores um maior
modalidade através de subsídios para as soluções táticas conhecimento específico do jogo e para as necessidades e
em resposta à diversidade do jogo independente do exigências da modalidade26.
estatuto posicional13- 23. Através dessas informações, este estudo procurou
Com os valores encontrados no índice de fornecer resultados que propiciem explorar a influência
performance tática do princípio tático “Unidade do estatuto posicional no desempenho dos jogadores da
Ofensiva” atribuídos aos Meio Campistas, é possível categoria Sub-13, ao possibilitar a formação dos
observar tal eficácia das ações, devido à intensa jogadores em suas características e em distintos estatutos
movimentação exercida no campo de jogo em posicionais. Assim como, procurando auxiliar treinadores
24
comparação com os Atacantes . Outra possível e professores na aplicabilidade e direcionamento das
explicação para o valor obtido pelos Atacantes na orientações dos treinamentos, em função de um melhor
diferença do princípio para um menor desempenho em rendimento de cada jogador em resposta às exigências
movimentações afastadas do centro de jogo, está táticas em um jogo de futebol27.

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


PADILHA et al. 78

Para melhor embasamento dos resultados 2.Gréhaigne JF, Bouthier D, Davids B. Dynamic-system
analyses of opponent relationship in collective action in
encontrados, é indicado complementá-lo com o percentual
soccer. J Sports Sci. 1997;15(2):137-49.
de acerto dos jogadores, assim como o número de ações
3.Szwarc A. The Efficiency Model of Soccer Player´s
realizadas. Com tais informações os resultados do estudo Actions in Cooperation With Other Team Players at The
FIFA Word Cup. Hum Mov 2008;9(1):56-61.
podem direcionar em um outro viés as informações sobre
4.Garganta J, Gréhaigne JF. Abordagem sistêmica do jogo
os estatutos posicionais do jogadores.
de futebol: moda ou necessidade? Mov. 1999;5(n.10).
5.Grehaigne JF, Godbout P, Bouthier D. The teaching and
Conclusões learning of decision making in team sports. Quest
(00336297). 2001;53(1):59-76.
Conclui-se com este estudo que o estatuto
posicional influencia o desempenho tático por parte dos 6.Bayer C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa:
Dinalivro; 1994.
Meio Campistas em relação aos Atacantes. Com destaque
7.Bradley PS, Carling C, Archer D, Roberts J, Dodds A,
para as movimentações ofensivas afastadas do centro de Di Mascio M, et al. The effect of playing formation on
jogo e em apoios ofensivos que ocorrem atrás da linha da high-intensity running and technical profiles in English
FA Premier League soccer matches. J Sports Sci.
bola. Desta forma, os Meio Campistas apresentam 2011;29(8):821-30.
desempenho superior para o princípio tático “Unidade 8.Dellal A, Owen A, Wong DP, Krustrup P, van Exsel M,
Ofensiva”. Mallo J. Technical and physical demands of small vs.
large sided games in relation to playing position in elite
Entretanto, em aspectos gerais, conclui-se com este soccer. Hum Mov Sci. 2012 Feb 16.
estudo que os jogadores dos diferentes estatutos 9.Oliveira JGG. Conhecimento Específico em Futebol.
posicionais podem executar de forma similar o Contributos para a definição de uma matriz dinâmica do
processo ensino-aprendizagem/treino do jogo
desempenho nas jogadas enfrentadas no jogo de futebol, [Dissertação]. Porto: Universidade do Porto; 2004.
exceto em jogadas mais afastadas do centro de jogo. Com 10.Memmert D, Harvey S. Identification of non-specific
a possibilidade de resolver os problemas com eficácia em tactical task in invasion games. Phys Educ Sport Ped.
2010.
diversos locais do campo ou, em situações, que devam
11.Garganta J. Modelação táctica do jogo de futebol-
cumprir a função de outro estatuto posicional. estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto
Com essas informações, treinamentos através de rendimento. Faculdade de Ciências do Desporto e de
Educação Física da Universidade do Porto, Porto.
exercícios que envolvam o estatuto posicional na 1997:312.
categoria investigada, podem proporcionar aos jogadores 12.Teoldo; I, Garganta J, Greco PJ, Mesquita I, Maia J.
a vivência em mais funções, evitando a limitação Sistema de avaliação tática no futebol (FUT-SAT):
Desenvolvimento e validação preliminar. Motricidade.
posicional e oferecendo estímulos que permitam o 2011;7(1):69-84.
jogador se adaptar aos disintos momentos do jogo. Logo, 13.Lee M, Ward P. Generalization of tactics in tag rugby
se destaca a importância de futuros estudos envolvendo o from practice to games in middle school physical
education. Phis Educ Sport Ped. 2009;14(2):189-207.
estatuto posicional englobando o processo da formação
14.Holt NL, Strean WB, Bengochea EG. Expanding the
por meio dos métodos de treinos, assim como, a Teaching Games for Understanding Model: New Avenues
identificação dos comportamentos táticos mais for Future Reserch and Practice. J Teach Phys Educ.
2002;21:162-76.
característicos em cada estatuto posicional e percentual de
15.Willians AM, Reilly T. Talent identification and
acerto dos jogadores. development in soccer. J Sports Sci. 2000;18(9):657-67.
16.Greco PJ. Iniciação esportiva universal 2:
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Escola de Educação Física da UFMG, Belo Horizonte.
1.Teoldo I, Garganta J, Greco PJ, Mesquita I. Princípios 1998.
Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação.
Motriz. 2009;15(3):657-68. 17.Hughes MD, Bartlett RM. The use of performance
indicators in performance analysis./Utilisation des
indicateurs de performance pour analyse de cette
performance. J Sports Sci. 2002;20(10):739-54.

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


79 Desempenho tático em diferentes estatutos posicionais

18.Robinson G, O'Donoghue PG. A weighted kappa


statistic for reliability testing in performance analyses of
sport. Int J Perform Anal Sport. 2007;7(1):12-9.
19.Tabachnick BG, Fidell LS. Using Multivariate
Statistics. Harper e Row Publishers, New York.
2007;5:p.17-30.
20.Garganta J, Pinto J. Contributo da modelação da
competição e do treino para a evolução do nível do
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Portugal: Faculdade de Desporto da Universidade do
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22.Souza CR. Análise do comportamento tático no
futebol: estudo em função do estatuto posicional e análise
da eficácia das sessões de treino sobre o aprendizado de
jogadores [Dissertação de Mestrado]. Porto: Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto; 2010.
23.Greco PJ, Benda RN. Iniciação Esportiva Universal
1: da aprendizagem motora ao treinamento técnico.
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Silva JPS. Compreendendo o desenvolvimento motor:
bebês, crianças, adolescentes e adultos: Phorte; 2005.
27.Ford PR, Yates I, Williams AM. An analysis of
practice activities and instructional behaviours used by
youth soccer coaches during practice: Exploring the link
between science and application. J Sports Sci. 2010;28.
5:483-95.

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(4): 73-79.


DOI: 10.4025/reveducfis.v24.2.17965

A SUPERFÍCIE DE JOGO PODE INFLUENCIAR O DESEMPENHO TÁTICO DE


JOGADORES DE FUTEBOL?

DOES PLAYING SURFACE INFLUENCE THE TACTICAL PERFORMANCE OF SOCCER


PLAYERS?

*
Rodrigo de Miranda Monteiro Santos
**
Carlos Miguel Morais Coelho Dias
***
Júlio Manuel Garganta da Silva
****
Israel Teoldo da Costa

RESUMO
Este artigo objetiva comparar o desempenho tático de jogadores de futebol em três superfícies distintas de jogo (grama
artificial, grama natural e terra) e verificar as diferenças entre o desempenho tático ofensivo e defensivo nessas superfícies. A
amostra integra 3.999 ações táticas realizadas por 84 jogadores sub-13, sendo 1.136 ações realizadas no campo de grama
natural, 2.183 no campo de grama artificial e 680 no campo de terra. O instrumento utilizado para coleta e análise dos dados
foi o FUT-SAT, que avalia o desempenho tático dos jogadores. Para aferir as diferenças entre as variáveis, recorreu-se aos
testes one-way Anova e Kruskal-Wallis. Não foram verificadas diferenças no desempenho tático para as distintas superfícies
de jogo, apesar do desempenho defensivo ter se revelado inferior ao ofensivo (p<0,001). Logo, conclui-se que a superfície de
jogo não parece influenciar o desempenho tático dos jogadores.
Palavras-chave: Superfície de Jogo. Futebol. Desempenho Tático.

INTRODUÇÃO rua, notoriamente praticado em superfícies


irregulares, como os campos de terra – afigura-se
A literatura tem indicado que o tipo de importante para promover a adaptação e a
superfície sobre qual o jogo de Futebol é realizado plasticidade das habilidades técnicas dos jogadores
pode afetar a natureza e a dinâmica do jogo (LEES; (FONSECA; GARGANTA, 2006).
LAKE, 2003; GIBBS; ADAMS; BAKER, 1993). A prática do futebol de rua ou em superfícies
Logo, a interação do jogador com o campo de jogo irregulares não assegura, no entanto, que um
parece ser relevante para o desempenho esportivo. jogador alcance o alto nível no futuro, já que se ele
Nomeadamente, a natureza das superfícies dos não souber utilizar a informação adquirida neste
terrenos de jogo pode condicionar a realização de contexto para atingir os objetivos do jogo de
comportamentos em função da regularidade da Futebol, seu aprendizado terá parca utilidade
trajetória imprimida e a imprimir à bola (LEES; (FONSECA; GARGANTA, 2006). Estes autores
LAKE, 2003). acrescentam ainda que um jogador que consegue
A variabilidade nas condições de prática do fazer uso de tal informação de forma objetiva,
Futebol era desencorajada no passado, e alguns certamente se desenvolverá de modo significativo,
autores chegavam a considerar sua redução ou até pois estará fortalecendo a conexão entre o
mesmo eliminação como alternativas para que se conhecimento e a ação. Isso sugere que embora os
conseguisse maior solidez na realização de ações jovens possam se desenvolver a partir da prática
por parte dos jogadores (FONSECA; informal do Futebol, nem sempre atingem idêntico
GARGANTA, 2006). Todavia, essa variabilidade - nível de desempenho no futuro (MOMBAERTS,
que é a característica proeminente do futebol de 1999).

*
Graduado. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.
**
Graduado. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
***
Doutor. Professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
****
Doutor. Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 2, p. 247-252, 2. trim. 2013


248 Santos et al.

Alguns estudos foram conduzidos no intuito de abrangente para o treinamento e otimização da


avaliar as condições das superfícies de jogo, tanto performance tática, tanto ao nível profissional
para uso comunitário quanto para utilização em quanto para a identificação de talentos (CARLING;
competições profissionais (FIFA, 2001; THE WILLIAMS; REILLY, 2005).
FOOTBALL ASSOCIATION, 2005). Esses A partir da análise da literatura, é possível
trabalhos foram realizados de forma a garantir à perceber que as condições da superfície onde o
população em geral e aos profissionais do esporte, jogo de futebol é praticado têm merecido especial
uma boa prática do jogo de futebol em campos de atenção de pesquisadores nas últimas décadas,
grama natural e artificial. A partir de pesquisas assim como outras variáveis que podem, em maior
como essas, as superfícies do jogo de Futebol ou menor grau, alterar os comportamentos
foram aperfeiçoadas em resposta às exigências de desempenhados em campo. Do mesmo modo, os
segurança e dinâmica do jogo (LEES; LAKE, dados obtidos a partir da análise do desempenho
2003). Outro trabalho recente sobre os tipos de tático têm se mostrado fundamentais para que se
superfície no Futebol revelou a significativa consiga aperfeiçoar o próprio desempenho, pois
influência da superfície de jogo sobre a intensidade facultam informações preciosas para o treinamento,
do exercício em jogos reduzidos (BRITO; cuja função deve ser a de reproduzir as variáveis
KRUSTRUP; REBELO, 2012). No entanto, especificadoras do processo competitivo ao qual
nenhum dos estudos citados avaliou o desempenho tem de servir (GARGANTA, 2009). A relevância
tático dos jogadores em função das superfícies do presente estudo vai ao encontro das
estudadas. Além disso, presume-se que por terem necessidades de se comparar o desempenho tático
sido realizados em países europeus (onde a de jogadores de futebol em diferentes superfícies.
incidência de campos de grama artificial e natural é Sendo assim, o objetivo deste artigo é comparar o
reconhecidamente maior do que em países menos desempenho tático de jogadores deste jogo
desenvolvidos), estes estudos não consideraram os esportivo em três diferentes tipos de superfície,
campos de terra ou terrenos irregulares (cuja bem como verificar se houve diferenças entre o
incidência é, por outro lado, reconhecidamente desempenho tático ofensivo e defensivo para cada
maior em países menos desenvolvidos) entre as uma das superfícies.
superfícies avaliadas.
Outros estudos destacaram, por sua vez, os
benefícios da prática do Futebol na rua ou em MATERIAIS E MÉTODOS
superfícies irregulares para a formação das
habilidades motoras e cognitivas inerentes ao jogo
Amostra
de Futebol (MICHELS, 2001; FONSECA;
GARGANTA, 2006; ARAÚJO et al., 2010). A amostra deste estudo compõe-se de 3.999
Alguns trabalhos relevantes foram desenvolvidos ações táticas realizadas por 84 jogadores da
no intuito de avaliar a qualidade das superfícies categoria sub-13, sendo 1.136 ações realizadas no
usadas nesta modalidade esportiva, no que diz campo de grama natural (538 ofensivas e 598
respeito às suas implicações sobre fatores alheios defensivas), 2.183 no campo de grama artificial
ao desempenho tático, tais como a determinação de (1.041 ofensivas e 1.142 defensivas) e 680 no
padrões para os campos de jogo em diferentes campo de terra (322 ofensivas e 358 defensivas).
categorias e os principais equipamentos utilizados
pelos jogadores na prática do Futebol (BAKER; Instrumento
BELL, 1986; LEES; LAKE, 2003; O instrumento utilizado para a observação e
WINTERBOTTOM, 1985). análise do desempenho tático dos jogadores foi o
A importância do desempenho tático no jogo Sistema de Avaliação Tática no Futebol (FUT-
de Futebol tem sido destacada por vários autores SAT), desenvolvido e validado por Teoldo et al.
que vêm estudando e relatando dados referentes à (2011). O teste foi realizado em um campo com
análise de jogos (REEP; BENJAMIN, 1968; uma área de 36 m de comprimento por 27 m de
GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1997; largura e possui duração de 4 min. Cada uma das
MOMBAERTS, 1997; PACHECO, 2005). Estes duas equipes que realizam o teste é formada por
dados têm sido utilizados de forma cada vez mais três jogadores de linha mais um goleiro, que

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 2, p. 247-252, 2. trim. 2013


A superfície de jogo pode influenciar o desempenho tático de jogadores de futebol? 249

defende uma baliza de 6 m de largura por 2 m de (IPTO), utilizou-se o teste t pareado, com nível de
altura. Todas as regras do jogo de futebol se significância de 0,05. Para o tratamento dos dados
aplicam ao teste, à exceção da regra do foi utilizado o software SPSS (Statistical Package
impedimento. As análises das ações táticas foram for Social Science) for Windows®, versão 17.0.
realizadas através do software Soccer Analyser®.
Os dados obtidos foram inseridos em uma planilha Análise da Fiabilidade
ad hoc do programa Microsoft Excel®, que permite As observações referentes ao FUT-SAT foram
a realização automática do cálculo dos Índices de realizadas por três observadores treinados que
Performance Tática Ofensivo (IPTO) e Defensivo revelaram concordância interobservadores superior
(IPTD), a fim de quantificar o desempenho tático a 0,80. A fiabilidade intraobservador foi também
dos jogadores em cada uma das superfícies. verificada, apresentando valores de 0,95 (erro-
padrão=0,014), 0,89 (erro-padrão=0,022) e 0,92
(erro-padrão=0,018) para o primeiro, o segundo e o
PROCEDIMENTOS
terceiro avaliadores, respectivamente. Esses valores
Todos os sujeitos que participaram da são superiores ao apontado como de referência
realização do estudo assinaram um termo de (0,75) pela literatura (BAKEMAN; GOTTMAN,
consentimento, declarando estarem de acordo com 1997). Para a análise da fiabilidade, foram
os procedimentos dos testes, bem como com a reavaliadas 563 ações táticas realizadas pelos
utilização e publicação dos resultados. O estudo foi jogadores, ou 14,07% da amostra, uma
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do porcentagem mais elevada do que a apontada como
Porto, através do protocolo de código CEFADE referência (10%) por Tabachnick e Fidell (2012). A
15/2013. análise das fiabilidades foi realizada através do
Após a distribuição dos jogadores em equipes teste Kappa de Cohen.
e a entrega de coletes numerados, os atletas foram
orientados acerca do objetivo do teste e, após as RESULTADOS
devidas explanações, foram concedidos 30
segundos de familiarização. Na Tabela 1 são mostrados os dados
referentes ao desempenho tático geral dos
jogadores em cada uma das superfícies de
MATERIAL
jogo. Os campos de grama sintética e de terra
Para a gravação dos jogos referentes ao teste proporcionaram valores absolutos mais
foi utilizada uma câmera filmadora digital elevados para o Índice de Performance Tática
SAMSUNG modelo H106. Os arquivos de vídeo Ofensivo (IPTO) em relação ao campo de grama
obtidos a partir das gravações foram inseridos em natural que, por sua vez apresentou valor absoluto
formato digital em um computador portátil LG superior no Índice de Performance Tática
modelo E500 com processador Intel T2370, através Defensivo (IPTD). Todavia, as diferenças
de um cabo IEEE 1394, e convertidos para o mencionadas não se mostraram estatisticamente
formato “avi”. Para edição e armazenamento dos significativas (p>0,05).
vídeos foi utilizado o software Utilius VS®.
Tabela 1 - Média e desvio-padrão do valor dos Índices
de Performance Tática Ofensivo e
Análise Estatística
Defensivo em função de cada uma das
Análises descritivas foram realizadas superfícies.
(Frequência, Média e Desvio-Padrão). O teste de Superfície IPTO IPTD Sig.
normalidade Kolmogorov-Smirnov foi aplicado Grama 54,13±9,24 26,37±6,18 p<0,001*
para verificar a distribuição dos dados. Os testes de Artificial
one-way Anova e Kruskal-Wallis foram utilizados Terra 54,04±8,65 26,05±4,43 p<0,001*
para verificar diferenças entre as variáveis, ambos Grama Natural 51,00±10,41 28,16±6,13 p<0,001*
com um nível de significância de 0,05. Para a Global 53,22±9,50 26,83±5,95 p<0,001*
Sig. 0,404 0,523
comparação entre os valores do Índice de
*Diferença significativa (p<0,05).
Performance Tática Defensivo (IPTD) e Ofensivo

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 2, p. 247-252, 2. trim. 2013


250 Santos et al.

É possível, contudo, notar que os valores de Em futuros estudos, afigura-se recomendável


IPTO e IPTD revelaram diferenças entre si, com os avaliar o impacto que a natureza da superfície do
valores de IPTO mostrando-se significativamente terreno pode ter nos tipos de habilidades técnicas
mais elevados do que os de IPTD para todas as utilizadas e a interação destas com os
superfícies (p<0,001), demonstrando que o comportamentos táticos adotados.
desempenho tático ofensivo dos jogadores foi Entretanto, apesar de os resultados não
superior ao defensivo para todas as superfícies. mostrarem alterações significativas no desempenho
tático dos jogadores em relação às três superfícies,
naquilo que diz respeito, principalmente, ao campo
DISCUSSÃO de terra, o que parece exercer alguma influência é a
diversidade de experiências motoras e cognitivas às
O objetivo deste artigo consiste em comparar o quais os jogadores estão sujeitos neste tipo de
desempenho tático de jogadores de Futebol da superfície. Essa diversidade é produto da prática
categoria sub-13 em três diferentes tipos de informal do Futebol, pois, no futebol de rua a
superfície, bem como verificar diferenças entre o liberdade de ação não está limitada a um modelo de
desempenho tático ofensivo e defensivo para cada jogo coletivo pré-determinado (FONSECA;
uma das superfícies consideradas. GARGANTA, 2006). Esses autores destacam
Os desempenhos táticos ofensivo, defensivo e ainda que ao praticarem o Futebol sobre estas
global dos jogadores não mostraram variações superfícies, os jogadores são, frequentemente,
significativas em decorrência da superfície de jogo dirigidos por um professor ou treinador, e,
utilizada. Logo, foi possível verificar que o portanto, estão condicionados pelas determinações
desempenho tático dos jogadores não foi de comportamento tático pré-estabelecidas, opinião
influenciado pelo tipo de superfície onde se também evidenciada por Lopes e Silva (2009).
realizaram os testes. O estudo de Teoldo et al. Ainda neste contexto, é possível afirmar que os
(2009), que avaliou a relevância do tipo de jogadores podem beneficiar de uma prática não
superfície, dimensão da baliza e tempo de jogo na estruturada, porque têm liberdade para criar,
aplicação do teste de campo do FUT-SAT, já havia modificar e aplicar as regras, bem como para
revelado que os campos de terra e de grama natural encontrar soluções para as diferentes situações de
não parecem exercer influência significativa sobre jogo próprias deste ambiente e que podem ser
o comportamento tático dos jogadores. Os incrementadas pela variabilidade proporcionada
resultados desse artigo estão em consonância com pela superfície (WEIN, 2007; ARAÚJO et al.,
os do presente estudo e evidenciam que o tipo de 2010).
superfície onde se realiza o jogo de Futebol não A premissa de que a maior variabilidade de
parece influenciar o desempenho tático dos experiências motoras e cognitivas a que os
jogadores. No que concerne ao processo de jogadores estão sujeitos em um campo de terra
treinamento no Futebol, fica evidenciado através influenciaria em seu desempenho também não foi
dos resultados obtidos que a habilidade tática dos evidente no presente estudo. Algumas
jogadores pode ser desenvolvida de igual forma em características do campo de terra, como a
quaisquer das superfícies mencionadas nesses irregularidade do piso e da trajetória da bola, e
estudos. como consequência, da dinâmica de jogo,
Em estudo que avaliou a qualidade de campos deveriam, pelo menos em teoria, suscitar uma
de grama artificial e de grama natural em função de ampliação do repertório de habilidades motoras e
características referentes ao jogo de Futebol, foram cognitivas dos jogadores - principalmente no que
encontradas diferenças em relação ao quique e diz respeito à plasticidade de habilidades técnicas -
rolagem da bola, tração estática e intensidade de e como resultado, influenciar o seu desempenho
impacto (BAKER; BELL, 1986). Porém, de acordo tático (FONSECA; GARGANTA, 2006). A
com o presente artigo, as diferenças observadas no opinião de Michels (2001), sobre a influência do
estudo citado não se mostraram relevantes para o futebol praticado nesse contexto, parece estar em
desempenho tático dos jogadores, já que não se conformidade com a dos autores acima citados, já
observaram quaisquer alterações significativas nos que este declara haver vantagem por parte dos
valores dos Índices de Performance Tática no que jogadores africanos e sul-americanos em
diz respeito às superfícies avaliadas.

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 2, p. 247-252, 2. trim. 2013


A superfície de jogo pode influenciar o desempenho tático de jogadores de futebol? 251

comparação com os europeus em termos de de cada atleta, seja na fase defensiva ou ofensiva,
agilidade, coordenação e velocidade, graças às durante o jogo de 3 x 3, em comparação com o 11
condições favoráveis à prática informal do Futebol x 11. Por conseguinte, um dos aspectos que
presentes nestes continentes e, principalmente, à também parece digno de nota ao se considerar as
irregularidade dos terrenos onde se pratica o diferenças encontradas entre os desempenhos
esporte. táticos ofensivos e defensivos, é o fato de que se
Ciente desta realidade e considerando o torna necessária a introdução de uma cultura
processo de ensino-aprendizagem próprio deste defensiva em uma equipe, desde que essa esteja
contexto, é recomendável que a escola de futebol - clara a todos os jogadores e que seja abordada de
cujo surgimento remonta à extinção do futebol de forma específica no processo de treinamento
rua - anteveja a importância do sincronismo entre o (AMIEIRO, 2006). Todavia, novas pesquisas
ensino das habilidades técnicas esportivas, o podem fornecer mais interpretações para a razão de
aprimoramento das capacidades cognitivas e o tal diferença, de modo a confirmar ou refutar a
trabalho com as formas básicas de movimento, hipótese de que há maior dificuldade por parte dos
visando o desenvolvimento da motricidade e do jogadores na realização de ações táticas defensivas.
comportamento tático do jogador (FREIRE, 2006).
Foram observadas diferenças entre os Índices
de Performance Tática Ofensivo (IPTO) e CONCLUSÃO
Defensivo (IPTD). O IPTO dos jogadores
avaliados em todas as superfícies foi Os resultados obtidos neste estudo revelaram
significativamente maior do que o IPTD, não haver diferenças significativas no desempenho
demostrando que o desempenho tático na parte tático de jogadores de Futebol da categoria sub-13
defensiva foi pior quando comparado ao em função das três superfícies de jogo avaliadas:
desempenho tático na parte ofensiva. Há campo de grama artificial, campo de terra e campo
condicionantes que podem explicar essa de grama natural. No entanto, foi possível notar
ocorrência, como por exemplo a suposição de que diferenças significativas entre os Índices de
um jogador deverá defender bem individualmente a Performance Tática Ofensivo (IPTO) e Defensivo
fim de que possa defender bem coletivamente, (IPTD) para todas as superfícies, tendo o IPTO
além de possuir certo nível de qualidades técnicas, obtido valores estatisticamente mais elevados em
táticas e mentais importantes para gerir esta fase do relação ao IPTD. Portanto, conclui-se que o
jogo (HUGHES, 1994). Considerando tais desempenho tático dos jogadores não foi
exigências, é evidente a necessidade, face ao influenciado pela superfície de jogo e que esses
número reduzido de jogadores e às transições mais atletas apresentaram desempenho tático ofensivo
rápidas e frequentes, de maior cooperação por parte superior ao defensivo para todas as superfícies.

DOES PLAYING SURFACE INFLUENCE THE TACTICAL PERFORMANCE OF SOCCER PLAYERS?

ABSTRACT
This paper aims to compare the tactical performance of soccer players in three different playing surfaces (artificial grass, natural grass
and gravel), as well as to check for differences between offensive and defensive tactical performance. The sample comprised 3,999
tactical actions performed by 84 U-13 players, being 1,136 actions on natural grass field, 2,183 on artificial grass field and 680 on
gravel field. The instrument used for data collection and analysis was FUT-SAT, which assesses the tactical performance of players. In
order to check for differences between variables, one-way ANOVA and Kruskal-Wallis were run. Tactical performance was not
different between playing surfaces. However, in general, the defensive tactical performance proved to be poorer than the offensive one
(p<0.001). Therefore, it is concluded that the playing surface had no influence on the tactical performance and players evidenced
better offensive tactical performance rather than a defensive one.
Keywords: Playing Surface. Soccer. Tactical Performance.

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p.120-135. Aceito em 22/03/2013

Endereço para correspondência: Rodrigo de Miranda Monteiro Santos. Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol,
Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av. P.H.
Rolfs, S/N. Campus Universitário, CEP: 36.570-000, Viçosa - MG, Brasil. E-mail:
mirandamonteiro@globo.com

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 2, p. 247-252, 2. trim. 2013


DOI: 10.4025/reveducfis.v26i2.23952

INFLUÊNCIA DO EFEITO DA IDADE RELATIVA E DO COMPORTAMENTO


TÁTICO SOBRE O DESEMPENHO TÁTICO DE JOGADORES DE FUTEBOL DA
CATEGORIA SUB-17

INFLUENCE OF THE RELATIVE AGE EFFECT AND TACTICAL BEHAVIOR ON THE TACTICAL
PERFORMANCE OF U-17 YOUTH SOCCER PLAYERS

Guilherme Figueiredo Machado*


Alcides José Scaglia**
Israel Teoldo da Costa***

RESUMO
O objetivo deste estudo é verificar as associações entre o período do ano de nascimento dos jogadores e a eficiência do
comportamento tático sobre o desempenho tático em jogadores de futebol da categoria sub-17. A amostra foi composta por
6308 ações táticas, realizadas por 100 jogadores. O instrumento utilizado foi o Sistema de Avaliação Tática no Futebol (FUT-
SAT). Utilizou-se a Regressão Logística Multinomial para verificação da associação entre o desempenho tático com a
eficiência do comportamento dos princípios táticos e a data de nascimento dos jogadores. Verificaram-se associações positivas
entre a eficiência do comportamento tático e o desempenho tático para os princípios Espaço, Penetração e Contenção. Foram
encontradas associações positivas entre o período do ano de nascimento e o desempenho tático para os jogadores nascidos no
2º e 3º quartil. Conclui-se que para esta amostra, a eficiência do comportamento tático e a data de nascimento influenciaram o
desempenho tático.
Palavras-chave: Futebol. Tática. Efeito da Idade Relativa.

INTRODUÇÃO (MUSCH; HAY, 1999; HELSEN; WINCKEL;


WILLIANS, 2005; DELORME; BOICHÉ;
As capacidades táticas vêm sendo RASPAUD, 2010). Tais achados são explicados
consideradas como as mais importantes para o por alguns fatores, tais como o maior
rendimento no âmbito do futebol (GARGANTA, desenvolvimento físico e cognitivo dos atletas
1997). A tática no contexto do futebol é definida (MUSCH; GRONDIN, 2001). Essas qualidades
como a gestão do espaço de jogo através do são fundamentais no contexto do futebol, onde a
posicionamento e movimentações do solução dos problemas advindos do jogo
jogador/equipe (TEOLDO; GARGANTA; necessita tanto de qualidades físicas bem
GUILHERME). Outras variáveis que parecem desenvolvidas, quanto de respostas cognitivas
interferir no rendimento desta modalidade são o bem elaboradas.
período de nascimento e a eficiência do Outro ponto em que os atletas mais velhos
comportamento tático (TEOLDO et al., 2010). O apresentam vantagem é o maior tempo de prática
comportamento tático é a sequência de ações que na modalidade, fator que também influencia no
devem ser selecionadas e adequadas de acordo rendimento dos mesmos (BAKER et al., 2003).
com os constrangimentos de tempo, espaço e Estas vantagens que atletas nascidos no começo
tarefa impostas pelo jogo (BOULOGNE, 1972). do ano apresentam em relação aos seus pares
Vários estudos demonstram que há uma nascidos no final do ano é conhecida como
maior frequência de atletas nascidos no começo Efeito da Idade Relativa (EIR) (BARNSLEY;
do ano do que atletas nascidos no final do ano THOMPSON; BARNSLEY, 1985).

*
Graduado. Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.
**
Doutor. Curso de Ciências do Esporte, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, Brasil.
***
Doutor. Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


224 Machado et al.

Em estudo recente, realizado por Teoldo et al. Participaram deste estudo 100 jogadores de
(2010), foi encontrado relação entre a data de futebol da categoria Sub-17. Foi utilizado como
nascimento e o desempenho tático de jogadores critério da seleção da amostra: participação em
de futebol das categorias de base. Foram programa de treinamento, com no mínimo três
observadas associações positivas entre o sessões de treino por semana e participação em
desempenho tático defensivo e o nascimento nos campeonatos em nível regional ou estadual.
primeiros meses do ano. Isto é um indicativo de Os jogadores tiveram suas datas de
que o EIR influencia não só nas capacidades nascimento divididas em quartis: 1º (Janeiro-
físicas e cognitivas dos jogadores, mas também Março); 2º (Abril-Junho); 3º (Julho-Setembro);
nas capacidades táticas. Segundo este mesmo 4º (Outubro-Dezembro), com a seguinte
estudo, encontrou-se relações positivas entre a distribuição por quartil: 1º [n=27 (27,0%)]; 2º
eficiência do comportamento e o desempenho [n=30 (30,0%)]; 3º [n=25 (25,0%)] e 4º [n=18;
tático de jogadores de futebol. Portanto, o (18,0%)].
treinamento a partir dos princípios táticos, que Foram observadas 6308 ações táticas. Sendo
podem modular o comportamento no jogo, para os Princípios Ofensivos: Penetração
parece ser pertinente para o desenvolvimento do [n=326; (5,16%)]; Cobertura Ofensiva [n=796;
atleta, uma vez que esta é uma variável que (12,61%)]; Mobilidade [n=152; (2,40%)];
influencia diretamente no desempenho do Espaço [n=1208; (19,15%)] e Unidade Ofensiva
mesmo. [n=546; (8,65%)]; e para os Princípios
Um fator que deve-se levar em conta no Defensivos: Contenção [n=645; (10,22%)];
desenvolvimento e avaliação do atleta são as Cobertura Defensiva [n=207; (3,28%)];
fases de desenvolvimento esportivo, que abrange Equilíbrio [n=676; (10,71%)]; Concentração
conteúdos específicos para cada fase. Como [n=508; (8,05%)] e Unidade Defensiva [n=1244;
atletas da categoria Sub-17 estão no final da fase (19,72%)].
de direção e início da fase de especialização, Instrumentos
segundo Greco e Benda (1998), é necessário
identificar quais princípios táticos tem maior O instrumento utilizado para recolha e análise
influência no desempenho nesta fase, focando o dos dados foi o Sistema de Avaliação Tática no
treinamento destes princípios. Futebol (FUT-SAT). No FUT-SAT são
Portanto, entender como o EIR influencia no observados e avaliados os dez princípios táticos
desempenho tático auxilia na verificação da fundamentais do futebol, sendo cinco princípios
melhor idade biológica/fases sensíveis de táticos da fase ofensiva, que são: Penetração,
aprendizagem dos jovens para um processo de Cobertura Ofensiva, Espaço, Mobilidade e
formação esportivo que possibilite as melhores Unidade Ofensiva, e cinco princípios táticos da
condições de desenvolvimento esportivo do fase defensiva: Contenção, Cobertura Defensiva,
atleta. Também é necessário saber quais são os Equilíbrio, Concentração e Unidade Defensiva.
princípios táticos que apresentam maior Com este sistema é possível avaliar as ações
influência no desempenho tático dos jogadores táticas realizadas pelos jogadores, levando em
de futebol da categoria Sub-17, para buscar a consideração a qualidade da ação, o princípio
melhora destes princípios a partir do tático realizado, a localização do jogador no
treinamento. campo de jogo no momento em que realiza a
O objetivo deste estudo é analisar a influência ação e o resultado final desta ação (TEOLDO et
da data de nascimento e da eficiência do al., 2011).
comportamento tático sobre o desempenho tático O FUT-SAT é aplicado em um campo
de jogadores de futebol da categoria Sub-17. reduzido de 36 metros de comprimento por 27
metros de largura, com uma configuração de
“GR+3 vs. 3+GR” (goleiro + 3 jogadores vs. 3
MATERIAIS E MÉTODOS jogadores + goleiro), durante 4 minutos de jogo.
Os jogadores são orientados a jogar de acordo
com as regras do futebol, com exceção à regra de
Amostra impedimento.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


Influência do efeito da idade relativa e do comportamento tático sobre o desempenho tático de jogadores de futebol da categor ia sub-17 225

Procedimentos Éticos Materiais


Para a gravação dos jogos foi utilizada uma
O presente trabalho foi submetido e aprovado
câmera digital (SONY® modelo HDR-XR100). O
pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
material de vídeo obtido foi introduzido, em
Humanos da Universidade Federal de Viçosa
formato digital, num computador portátil
(CEPH) (Of. 169/2012/CEP//06-12-10) e atende
(TOSHIBA® modelo Satellite L755 processador
às normas estabelecidas pelo Conselho Nacional
Intel Core™ i3) via cabo USB, convertendo-os em
em Saúde (Resolução: 466/2012) e pelo tratado
ficheiros “avi” através do software Prism Video
de Ética de Helsinki (1996) sobre pesquisas com
Converter Inc®. Para o tratamento das imagens e
seres humanos. Os testes foram realizados após
análise dos jogos foi utilizado o software Soccer
assinatura do consentimento livre e esclarecido
Analyzer®. Este software possibilita a inserção das
por parte dos responsáveis legais pelos
referências espaciais do teste no vídeo e viabiliza a
participantes da pesquisa.
avaliação fidedigna das ações táticas baseando-se
Procedimentos de Coleta de Dados nas movimentações e posicionamento dos
jogadores no campo de jogo.
Para o início da coleta de dados os
pesquisadores entraram em contato prévio com Análise Estatística
os responsáveis pelos clubes e com os Para caracterização da amostra foi utilizada
treinadores da categoria Sub-17. O contato foi análise descritiva, quantificando média, desvio-
feito através do telefone ou por visitas técnicas padrão e frequência para as variáveis (quartil e
aos clubes para explicação dos objetivos, princípios táticos). O teste Kolmogorov-Smirnov
procedimentos e benefícios da pesquisa. foi utilizado para a análise da distribuição.
Os testes ocorreram com os praticantes sendo Utilizou-se o teste paramétrico Anova e o teste
divididos em duas equipes distintas, com três não paramétrico Kruskal-Wallis para comparar
jogadores em cada equipe, mais goleiros. se houveram diferenças significativas entre a
Antecedendo cada teste foi concedido aos eficiência do comportamento dos princípios
avaliados 30 segundos de familiarização com o táticos e os diferentes quartis.
teste. Para facilitar a identificação, os jogadores Utilizou-se a Regressão Logística Multinomial
tinham os seus coletes numerados e com cores para verificação da associação entre os Índices de
distintas entre as duas equipes. Durante a Performance Tática com a eficiência do
realização do teste foi requisitado aos comportamento dos princípios táticos e a data de
participantes que jogassem de acordo com as nascimento dos jogadores (1º quartil, 2º quartil, 3º
regras oficiais do jogo, com exceção à regra do quartil e 4º quartil). Considerou-se o Odds Ratio
impedimento. Um formulário de dados foi (OR) (ajustado) com intervalo de confiança de
utilizado antes do teste para recolha dos dados 95% para cada correlação.
referentes à data e ao local de nascimento dos O teste Kappa de Cohen foi utilizado para
jogadores que realizaram o teste. medir a fiabilidade, sendo reavaliadas 1158
Para o cálculo do Índice de Performance ações táticas, que correspondem a 18,35% da
Tática Ofensiva e do Índice de Performance amostra, um valor superior ao de referência
Tática Defensiva foi usado como critério a (10%) indicado pela literatura (TABACHNICK;
realização do princípio tático, por parte do FIDELL, 2001). Neste procedimento
jogador, a qualidade de realização do princípio participaram dois avaliadores treinados que
tático, a localização no campo de jogo e o apresentaram valores situados entre o mínimo
resultado da ação. O cálculo da eficiência do 0,823 (ep=0,015) e o máximo 0,875 (ep=0,012)
comportamento tático levou em consideração a para fiabilidade intra-avaliador. Para a
qualidade de realização de cada princípio tático fiabilidade inter-avaliador os valores situaram-se
que os jogadores realizaram. As variáveis Índice entre o mínimo 0,851 (ep= 0,013) e o máximo
de Performance Tática e eficiência do 0,858 (ep= 0,013).
comportamento dos princípios táticos foram Para o tratamento estatístico dos dados
divididos em tercis (baixo, médio e alto), à fim utilizou-se o software SPSS (Statistical Package
de categorizar os jogadores. for Social Science) for Windows®, versão 18.0.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


226 Machado et al.

RESULTADOS de baixo para moderado do que os nascidos no


último quartil. Também foi encontrada
associação positiva entre a eficiência do
Comparação entre os Índices de Performance comportamento tático para o princípio
Tática Ofensiva (IPTO) moderado e baixo Penetração e o IPTO moderado (Tabela 1).
Observou-se que a data de nascimento está Constatando-se que, jogadores que obtiveram
associada positivamente com o IPTO moderado eficiência moderada para este princípio possuem
(Tabela 1). Sendo que, os jogadores que entre 1,2 a 13,8 vezes mais chances de
nasceram no segundo quartil (Abril-Junho) aumentarem o seu IPTO de baixo para moderado
apresentam de 1,0 a 93,5 vezes mais chances de do que os jogadores que tiveram uma baixa
aumentarem seu IPTO de baixo para moderado eficiência na realização deste princípio. A
do que os jogadores que nasceram no último eficiência do comportamento tático para os
quartil. Os jogadores que nasceram no terceiro princípios Cobertura Ofensiva, Espaço,
quartil (Julho-Setembro) apresentaram 1,2 a Mobilidade e Unidade Ofensiva não foram
123,4 vezes mais chances de elevarem seu IPTO associados com o IPTO moderado.
Tabela 1 - Porcentagem de moderado e alto do Índice de Performance Tática Ofensiva (IPTO) e fatores
associados ao IPTO.
Índice de Performance Tática Ofensiva
Moderado Alto
Variáveis
% Baixo % Moderado % Alto
Explicativas OR Ajustadoa p OR Ajustadoa P
IPT IPT IPT
Penetração
Alto 7 (21,2%) 5 (15,2%) 4,1 (1,2-13,8) 0,023* 19 (57,6%) 2,5 (0,8-7,8) 0,108
Moderado 5 (15,2%) 3 (9,1%) 2,1 (0,3-12,8) 0,422 22 (66,7%) 2,5 (0,5-12,3) 0,261
Baixob 14 (42,4%) 4 (12,1%) - 0,048 15 (45,5%) - 0,134
Cobertura Ofensiva
Alto 6 (18,2%) 6 (18,2%) 1,0 (0,3-3,4) 0,971 21 (63,6%) 1,4 (0,4-5,0) 0,536
Moderado 7 (21,2%) 9 (27,3%) 1,7 (0,4-7,2) 0,466 17 (51,5%) 1,3 (0,2-6,2) 0,716
Baixob 8 (24,2%) 6 (18,2%) - 0,796 19 (57,6%) - 0,594
Mobilidade
Alto 5 (15,2%) 1 (3,0%) 1,2 (0,2-5,4) 0,766 20 (60,6%) 2,0 (0,5-7,6) 0,309
Moderado 4 (12,1%) 4 (12,1%) 3,5 (0,4-28,4) 0,241 10 (30,3%) 0,7 (0,0-10,0) 0,793
Baixob 7 (21,2%) 2 (6,1%) - 0,372 14 (42,2%) - 0,566
Espaço
Alto 14 (42,4%) 7 (21,2%) 2,0 (0,5-7,8) 0,275 12 (36,4%) 0,9 (0,2-3,2) 0,954
Moderado 7 (21,2%) 13 (39,4%) 1,0 (0,3-3,5) 0,944 13 (39,4%) 0,2 (0,0-0,9) 0,042*
Baixob 9 (27,3%) 16 (48,5%) - 0,618 8 (24,2%) - 0,301
Unidade Ofensiva
Alto 2 (6,1%) 1 (3,0%) 1,9 (0,3-11,4) 0,471 30 (90,9%) 2,2 (0,3-13,1) 0,378
Moderado 2 (6,1%) 4 (12,1%) 4,0 (0,3-44,1) 0,258 26 (78,8%) 1,0 (0,0-18,9) 1,000
Baixob 4 (12,1%) 2 (6,1%) - 0,423 27 (81,8%) - 0,423
Data de Nascimento
Jan – Mar 9 (27,3%) 10 (30,3%) 8,8 (0,9-85,6) 0,059 8 (24,2%) 0,7 (0,2-3,0) 0,732
Abr – Jun 9 (27,3%) 11 (33,3%) 9,7 (1,0-93,4) 0,048* 9 (27,3%) 0,8 (0,2-3,3) 0,862
12,5 (1,2-
Jul – Set 7 (21,2%) 11 (33,3%) 0,030* 7 (21,2%) 0,8 (0,2-3,6) 0,870
123,4)
Out – Dezb 8 (24,2%) 1 (3,0%) - 0,050 9 (27,3%) - 0,808
*Diferença estatisticamente significativa (p<0,05). aOdsRatio Ajustado para todas as variáveis do modelo (principiais efeitos);
b
Referência Categórica: Baixo e Out - Dez.
Fonte: Os autores.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


Influência do efeito da idade relativa e do comportamento tático sobre o desempenho tático de jogadores de futebol da categor ia sub-17 227

Comparação entre os Índices de Performance Comparação entre os Índices de Performance


Tática ofensiva (IPTO) alto e baixo Tática defensiva (IPTD) alto e baixo
Os resultados indicaram que a eficiência do Foi observado que para o princípio tático
comportamento tático para o princípio Espaço Contenção há associação positiva entre a
foi associada positivamente com o IPTO alto eficiência do comportamento tático e o IPTD
(Tabela 1). Sendo que, os jogadores que alto (Tabela 2). Sendo que os jogadores que
obtiveram eficiência moderada para este obtiveram eficiência alta para este princípio
princípio, possuem entre 0,1 a 0,9 vezes mais possuem entre 1,1 a 17,7 vezes mais chances de
chances de aumentarem o seu IPTO de baixo aumentarem seu IPTD de baixo para alto quando
para alto quando comparado com os jogadores comparados aos jogadores com baixa eficiência
que tiveram baixa eficiência na realização do na realização deste princípio. A eficiência do
Espaço. A eficiência do comportamento tático comportamento tático para os princípios
para os princípios Penetração, Cobertura Cobertura Defensiva, Concentração, Equilíbrio,
Ofensiva, Mobilidade e Unidade Ofensiva e os Unidade Defensiva e os quartis de nascimento
quartis de nascimento dos jogadores não foram dos jogadores não foram associados com o IPTD
associados com o IPTO alto. alto.

Tabela 2 - Porcentagem de moderado e alto do Índice de Performance Tática Defensiva (IPTD) e fatores
associados ao IPTD.
Índice de Performance Tática Defensiva
Moderado Alto
Variáveis
% Baixo % Moderado
Explicativas OR Ajustadoa p % Alto IPT OR Ajustadoa p
IPT IPT
Contenção
Alto 6 (18,2%) 16 (48,5%) 0,5(0,1-1,7) 0,292 11 (33,3%) 4,4(1,0-17,6) 0,037*
Moderado 16 (48,5%) 11 (33,3%) 1,0(0,3-3,0) 1,000 9 (27,3%) 2,5(0,5-10,4) 0,209
Baixob 11 (33,3%) 6 (18,2%) - 0,435 13 (39,4%) - 0,830
Cobertura Defensiva
Alto 13 (39,4%) 23 (69,7%) 1,4(0,3-5,7) 0,567 20 (60,6%) 2,1 (0,4-9,8) 0,338
Moderado 5 (15,2%) 3 (9,1%) 1,5(0,2-8,8) 0,654 3 (9,1%) 1,0 (0,1-8,9) 1,000
Baixob 6 (18,2%) 3 (9,1%) - 0,723 5 (15,2%) - 0,327
Equilíbrio
Alto 10 (30,3%) 12 (36,4%) 1,2(0,3-4,1) 0,677 11 (33,3%) 2,1 (0,6-7,4) 0,219
Moderado 10 (30,3%) 12 (36,4%) 0,7(0,2-2,4) 0,674 9 (27,3%) 0,8 (0,2-3,0) 0,853
Baixob 13 (39,4%) 9 (27,3%) - 0,695 13 (39,4%) - 0,514
Concentração
Alto 22 (66,7%) 25 (75,8%) 0,7(0,1-3,5) 0,688 23 (69,7%) 0,3 (0,1-1,6) 0,190
Moderado 7 (21,2%) 1 (3,0%) 2,6(0,3-22,9) 0,383 5 (15,2%) 1,0 (0,1-8,9) 1,000
Baixob 2 (6,1%) 6 (18,2%) - 0,706 5 (15,2%) - 0,327
Unidade Defensiva
Alto 7 (21,2%) 11 (33,3%) 1,8(0,5-6,2) 0,319 16 (48,5%) 3,4(0,9-12,5) 0,063
Moderado 16 (48,5%) 10(30,3%) 0,9(0,3-2,8) 0,889 8 (24,4%) 1,1(0,3-4,1) 0,790
Baixob 10 (30,3%) 12 (36,4%) - 1,000 9(27,3%) - 0,257
Data de Nascimento
Jan – Mar 10 (31,3%) 13 (35,1%) 1,6(0,3-7,6) 0,540 4 (13,3%) 0,2(0,45-1,1) 0,064
Abr – Jun 9 (28,1%) 13 (35,1%) 1,8(0,3-8,6) 0,459 7 (23,3%) 0,4(0,1-1,8) 0,264
Jul – Set 8 (25%) 7 (18,9%) 1,0(0,2-5,7) 0,916 10 (33,3%) 0,6(0,1-2,9) 0,618
Out – Dezb 5 (15,6%) 4 (10,8%) - 0,739 9 (30%) - 0,292
* a
Diferença estatisticamente significativa (p<0,05). Ods Ratio Ajustado para todas as variáveis do modelo (principais efeitos);
b
Referência Categórica: Baixo e Out - Dez.
Fonte: Os autores.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


228 Machado et al.

DISCUSSÃO propicia a criação de um maior número de linhas


de passes, tanto em largura, quanto em
O objetivo deste estudo foi analisar a profundidade, necessários para aumentar as
influência da data de nascimento e da eficiência opções ofensivas da equipe.
do comportamento tático sobre o desempenho Jogadores da categoria Sub-17, que estão no
tático de jogadores de futebol da categoria Sub- início da fase de especialização, já apresentam
17. um conhecimento tático do jogo bem
Os resultados indicaram associações positivas consolidado, em relação à tática de grupo. Em
entre a eficiência do comportamento tático e o relação à tática coletiva, este conhecimento ainda
Índice de Performance Tática Ofensiva para os está em desenvolvimento, o que está relacionado
princípios táticos Espaço e Penetração. Para o com a capacidade de realização do princípio de
Índice de Performance Tática Defensiva foram Espaço segundo Greco e Benda, (1998). Com
verificadas associações positivas entra a isso, a busca pela melhor realização deste
eficiência do comportamento tático para o princípio está relacionado à fase de treinamento
princípio tático Contenção. Em relação ao Efeito em que os atletas se encontram, onde a gestão do
da Idade Relativa, foram verificadas associações espaço torna-se fundamental na organização das
positivas entre a data de nascimento e o equipes. Portanto a realização eficiente do
desempenho tático de jogadores nascidos no princípio de Espaço torna-se necessário para
segundo e terceiro quartil referente ao Índice de alcançar bom desempenho no jogo.
Performance Tática Ofensiva. Estudo realizado por Teoldo et al. (2010),
Pode-se entender que os princípios encontrou resultados diferentes dos que foram
ofensivos Espaço e Penetração são aqueles que expostos acima. Todos os princípios táticos
podem modificar de maneira significativa a ofensivos, com exceção do Espaço foram
performance tática ofensiva dos jogadores da relacionados positivamente com o Índice de
categoria Sub-17, se realizados de maneira mais Performance Tática Ofensiva. Entretanto este
eficiente. Isso é um importante indicativo de que estudo englobou da categoria Sub-11 à categoria
eles devem ser treinados com maior ênfase ao Sub-17, o que pode ter influenciado neste
longo desta categoria, para uma evolução na resultado, por não avaliar a especificidade de
realização dos mesmos e consequente melhora cada categoria. Este mesmo autor sugeriu que
no desempenho do jogo. fossem feitas mais pesquisas em relação a cada
Estes dois princípios apresentam um caráter categoria, a fim de verificar se os resultados
organizacional diferente, sendo que para a seriam semelhantes.
realização do princípio tático Espaço, há uma Em relação ao princípio tático Penetração há
demanda de maior conhecimento do espaço de uma congruência nos resultados em relação ao
jogo. Este princípio é caracterizado por ser estudo citado acima, onde este princípio foi
realizado sem a posse de bola, o que gera uma associado positivamente ao Índice de
maior solicitação tática e cognitiva no processo Performance Tática Ofensiva. O princípio da
de tomada de decisão do jogador Penetração é caracterizado pela evolução do
(GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, jogo, onde o portador da bola consegue
1997). Enquanto que a realização do princípio progredir em direção à baliza ou à linha de fundo
tático de Penetração exige uma maior capacidade adversária, com a posse de bola, na busca de
técnica, devido ao contato direto com a bola, áreas de maior risco ao adversário, possibilitando
além da busca pela desorganização da defesa a finalização ou a marcação do gol. Os dribles e
adversária a fim de conseguir uma situação progressões rápidas são características deste
favorável para a finalização ao gol. princípio tático, na maioria das vezes em
O princípio tático Espaço se estabelece a confrontos de 1x1.
partir da necessidade dos atletas, sem a posse de Estes resultados são coerentes, uma vez que o
bola, buscarem posicionamento mais distante do princípio da Penetração está bastante ligado ao
portador da bola. Isto gera uma dificuldade para princípio de Espaço. A realização deste princípio
a equipe adversária, que deverá optar por marcar cria espaços para os companheiros de equipe se
o adversário ou o espaço vital de jogo beneficiar de corredores livres em direção à
(WORTHINGTON, 1974). Este princípio baliza adversária e facilitar a ocorrência de

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


Influência do efeito da idade relativa e do comportamento tático sobre o desempenho tático de jogadores de futebol da categor ia sub-17 229

situações de 1x1, com vantagem clara para o Como a categoria Sub-17 encontra-se em uma
jogador de ataque (CASTELO, 1996). Portanto fase final de desenvolvimento esportivo a
parece lógico que a realização eficiente de ambos capacidade de tomada de decisão nesta categoria
os princípios, acarretem um melhor desempenho parece estar relacionada mais às experiências na
tático dos jogadores. modalidade e em menor proporção aos fatores
Já o princípio defensivo da Contenção refere- maturacionais. Estudos mostram que atletas com
se à ação de oposição do jogador de defesa sobre experiência tem melhor tomada de decisão no
o portador da bola, na busca de diminuir o esporte (COSTA et al., 2002; HOLT; STREAM;
espaço de ação ofensiva, as linhas de passe e BENGOECHEA, 2002). Além disso, para esta
evitar o drible em situação de 1x1 (CASTELO, idade as diferenças das capacidades físicas e
1996). O Índice de Performance Tática cognitivas entre os jogadores são mínimas, pelo
Defensiva ter sido relacionado com o princípio fato de estarem na fase final de maturação. Outro
da Contenção, parece fazer sentido, uma vez que fator que pode ter influenciado nos resultados é o
este é o princípio da fase defensiva opositor ao agrupamento por idade não ocasionar uma
princípio de Penetração. Portanto parece vantagem aos jogadores mais velhos,
pertinente que ao se alcançar eficiência alta neste considerando os aspectos táticos, pelo fato dos
princípio, evitando uma boa realização de jogadores nascidos no segundo semestre, que
Penetração do adversário, o atleta consiga um chegaram a essa categoria, terem se beneficiado
maior desempenho na fase defensiva. de um processo de treinamento e competição
Estudo recente mostra que em situações de similar ao dos jogadores mais velhos.
oposição 1x1 entre jogadores da categoria Sub-18, A literatura aponta que o pico de velocidade
são identificadas variáveis que estão intimamente de crescimento ocorre entre os 13 e 15 anos de
ligadas ao sucesso da tarefa, tanto da perspectiva idade (MALINA et al., 2005; PHILIPPAERTS et
do atacante, quanto do defensor. Entre essas al., 2006). Assim, sugere-se que para estudos
variáveis estão a distância entre os adversários, a futuros seja realizada a avaliação do
velocidade de progressão, o equilíbrio e a desenvolvimento maturacional dos jogadores,
capacidade de detectar informações relevantes do incluindo estudos com outras faixas etárias,
ambiente. Também foi constatado que a orientação como categorias Sub-13 e Sub-15. O processo de
dos técnicos e professores é fundamental para o treino também pode ser uma informação valiosa
melhor rendimento do atleta na situação de 1x1 na compreensão do comportamento e
(CLEMENTE et al., 2013). A melhora no desempenho tático dos atletas, sendo uma
desempenho nessa situação específica parece levar variável importante a ser recolhida em estudos
ao aumento na eficiência da realização de futuros. Outra informação a ser coletada é o
princípios táticos como Contenção e Penetração. tempo de prática na modalidade, pois parece ser
Portanto, parece pertinente que na categoria Sub-17 um fator que influencia no desempenho dos
sejam criados exercícios que trabalhem situações atletas (WILLIAMS et al., 1993).
de 1x1, a fim de melhorar a eficiência tática dos
princípios de Penetração e Contenção e
CONCLUSÃO
consequentemente elevar o Índice de Performance
Tática dos jogadores tanto na fase ofensiva quanto
na defensiva. Os achados deste estudo parecem ter
Além dos comportamentos táticos, os implicações relevantes para os profissionais
resultados do estudo mostraram que apenas os envolvidos na formação e desenvolvimento de
jogadores nascidos no segundo e terceiro jogadores de futebol da categoria Sub-17. Esses
trimestre do ano apresentaram vantagens no que dados podem auxiliar no processo de
se refere ao Índice de Performance Tática sistematização de treino por identificarem quais
Ofensiva em relação aos jogadores nascidos em princípios estão mais associados com o
outros períodos do ano. Para o Efeito da Idade desempenho tático desta categoria, além de
Relativa era esperado que o primeiro e segundo direcionar no processo de agrupamento dos
trimestre fossem os períodos onde houvesse jogadores nesta fase de formação.Os resultados
maior vantagem dos jogadores, diferentemente demonstraram que tanto os jogadores que
do encontrado. apresentaram melhor eficiência para os

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230 Machado et al.

princípios táticos Espaço, Penetração e apresentarem o Índice de Performance Tática


Contenção, quanto àqueles que nasceram no 2º e mais elevado, quando comparado com os demais
3º quartil do ano, possuem maiores chances de jogadores da categoria Sub-17.

INFLUENCE OF THE RELATIVE AGE EFFECT AND TACTICAL BEHAVIOR ON THE TACTICAL
PERFORMANCE OF U-17 YOUTH SOCCER PLAYERS

ABSTRACT
This study aimed to assess the associations between the birth period of soccer players and tactical behavior efficiency on the
tactical performance in soccer players of Under-17. The sample comprised 6308 tactical actions, performed by 100 players.
The instrument used to collect and analyze data was the System of Tactical Assessment in Soccer (FUT-SAT). Multinomial
Logistic Regression was used to assess the association between the tactical performance and behavior efficiency of tactical
principles and players birthdate. Results displayed positive associations between the tactical behavior efficiency and tactical
performance of the principles of Width and Length, Penetration and Delay. Positive associations were also found between the
birth period and tactical performance of players born within the 2nd and 3rd quartile. It is concluded that for this sample,
tactical behavior efficiency and birth period influenced tactical performance.
Keywords: Soccer. Tactics. Relative Age Effect.

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76, no. 2, p. 579-593, 1993. Revisado em 31/07/2014
Aceito em 14/01/2015
Endereço para correspondência: Guilherme Figueiredo Machado, Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol – NUPEF
– Universidade Federal de Viçosa, Av. PH. Rolfs, S/N. Campus Universitário, Viçosa-
MG, CEP - 36570-000, E-mail: guilherme.machado19@hotmail.com.

Rev. Educ. Fís/UEM, v. 26, n. 2, p. 223-231, 2. trim. 2015


DOI: http://dx.doi.org/10.17058/cinergis.v16i2.6320

ISSN 2177-4005

Revista do Departamento de Educação Física e Saúde e do Mestrado em


Promoção da Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul / Unisc
>> Ano 16 - Volume 16 - Número 2 - Abril/Junho 2015

ARTIGO ORIGINAL

Motivação e desempenho tático em jovens


jogadores de futebol: uma análise a partir da
teoria da autodeterminação
Motivation and tactical performance in young soccer players: an
analysis from the theory of self-determination
Paulo Henrique Borges1, Deisy de Oliveira Silva1, Edielson Frigeri Leite Ciqueira1, Ieda Parra Barbosa Rinaldi1,
Wilson Rinaldi1, Lenamar Fiorese Vieira1
1
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.

Recebido em: junho 2015 / Aceito em: agosto 2015


paulo.borges.proesporte@gmail.com

RESUMO crucial to support the activities of the coaches during


the training process. Objective: analyze and correlate
O entendimento dos fatores motivacionais que the motivational levels with the tactical performance of
interferem no desempenho tático dos jogadores de young soccer players. Method: the sample consisted of
futebol é fundamental para auxiliar as intervenções dos 29 soccer players (15.38 years ± 1.20) belonging to an
treinadores, durante o processo de treinamento. Obje- extension project at the State University of Maringá. To
tivo: analisar as relações dos níveis motivacionais com assess motivation was used Scale Motivation for Sport
o desempenho tático de jogadores de futebol. Método: (SMS). To assess the tactical performance, we used
fizeram parte da amostra 29 jogadores de futebol (15,38 the Game Performance Assessment Instrument (GPAI).
anos ± 1,20), pertencentes a um projeto de extensão da To investigate the differences between the categories
Universidade Estadual de Maringá. Para avaliar a motiva- and correlate variables, the Mann-Whitney U test and the
ção, foi utilizada a Escala de Motivação para o Esporte Spearman correlation coefficient was used. Results: that
(SMS); para avaliar o desempenho tático, foi utilizado o juvenile players had higher motivation towards children
Game Performance Assessment Instrument (GPAI). Para (p=0,03) and moderate correlation between running
analisar os dados, foi utilizado o teste U-Mann Whitney e ability (r=0,53) and tactical performance (r=0,43) with
o Coeficiente de Correlação de Spearman. Resultados: os intrinsic motivation. Closing remarks: that players with hi-
jogadores juvenis apresentaram maior desmotivação em gher level of intrinsic motivation have better performance
relação aos infantis (p=0,03). Foram identificadas correla- and tactical execution of specific skills of the sport. Thus,
ções moderadas entre execução de habilidade (r=0,53) e it is suggested that intrinsic motivation is a factor that can
desempenho tático (r=0,43) com a motivação intrínseca. contribute to the manifestation of technical and tactical
Considerações finais: os jogadores com maior nível de qualities in young soccer players.
motivação intrínseca apresentam melhor desempenho tá- Keywords: Evaluation; Tactics; Motivation; Young.
tico e execução de habilidades específicas da modalidade.
Assim, sugere-se que a motivação intrínseca é um fator
que pode contribuir para a manifestação das qualidades INTRODUÇÃO
técnicas e táticas em jovens jogadores de futebol.
Palavras-chave: Avaliação; Tática; Motivação; Jovens. A avaliação do desempenho tático de jovens joga-
dores é de suma importância para o processo de ensino
ABSTRACT do esporte, sobretudo no que diz respeito ao treinamen-
to das categorias de base, onde o processo de ensino-
Understanding the motivational factors that inter- -aprendizagem se dá de forma mais intensa e também
fere with the tactical performance of soccer players is onde ocorrem as seleções dos talentos esportivos.1

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não para fins de citação
MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO TÁTICO EM JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO
Paulo Henrique Borges, Deisy de Oliveira Silva, Edielson Frigeri Leite Ciqueira, Ieda Parra Barbosa Rinaldi, Wilson Rinaldi, Lenamar Fiorese Vieira.

Treinadores e técnicos, de diferentes modalidades local (parecer nº 653.698). Trata-se de uma pesquisa
esportivas, buscam por instrumentos que possam au- transversal de caráter descritivo exploratório, com a
xiliar nos procedimentos de avaliação e que sejam, ao intenção de proporcionar maior familiaridade com a pro-
mesmo tempo, aplicáveis de acordo com os objetivos e blemática em questão, realizando descrições precisas
fases de periodização dos treinos e das competições. Tal acerca dos fatos em busca de propiciar uma nova visão
realidade se dá também no Futebol e, destarte, a avaliação sobre o mesmos.11-14
tática, nesse esporte, tem sido objeto de estudo de mui- Foram pré-selecionados a participar do estudo 55
tas pesquisas na busca pela construção de instrumentos jogadores com idade entre 14 e 17 anos, agrupados
capazes de avaliar de forma adequada o desempenho em em duas categorias de jogo infantil (n=11) e juvenil
jogo dos atletas e seus desdobramentos.2 (n=18), pertencentes ao projeto de extensão da Uni-
Costa3 aponta que os instrumentos para avaliar versidade Estadual de Maringá denominado Centro de
o comportamento tático se distinguem com base em Formação em Futebol (Proc. 8849/2010), estabelecido
dois tipos de conhecimento avaliado: o conhecimento no Departamento de Educação Física (DEF). Adotaram-
declarativo e o processual. O conhecimento declarativo -se os seguintes critérios de inclusão: (1) participar
trata-se da revelação verbal e/ou escrita do jogador de treinamento sistematizado na modalidade por pelo
sobre a melhor decisão a ser tomada em situações es- menos dois anos; (2) ter assiduidade nos treinamentos
pecíficas de jogo ou treino, enquanto no conhecimento semanais relatada pelo treinador (3x por semana); (3)
processual o jogador operacionaliza, de forma prática participar de competições regionais e (4) assinar o Ter-
(motora), respostas julgadas apropriadas aos problemas mo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Dessa
ocorridos das situações de jogo e treino. forma, a amostra final foi constituída por 29 jogadores
Na avaliação da componente tática, outros fatores de futebol (15,38 anos ± 1,20).
estão relacionados ao desempenho em jogo dos atletas, Para a coleta de dados, foi realizado um contato
como as componentes técnicas, físicas e psicológicas. inicial com o coordenador do Centro de Formação em
Pesquisas, da área da Psicologia Esportiva, investigam Futebol, o qual autorizou a realização da pesquisa. Após
os fatores psicológicos determinantes e que influenciam esta etapa, foram entregues aos jogadores o TCLE. To-
a prática esportiva e/ou de exercícios físicos, dentre dos os que atenderam aos critérios de inclusão foram
os quais a motivação aparece de forma significativa, convidados a comparecer no campo de futebol para a
caracterizada como um processo ativo, intencional e di- realização dos testes.
rigido a uma meta, dependente da interação de fatores Para avaliar o nível motivacional dos jogadores
pessoais (intrínsecos) e ambientais(extrínsecos). utilizou-se a Escala de Motivação para o Esporte (SMS
Atualmente, a teoria que melhor aborda a motivação in- – Sport Motivation Scale), proposto por Brière e colabo-
trínseca e extrínseca é a Teoria da Autodeterminação (TAD), radores15 e validada para a lingua portuguesa por Barra
de Deci e Ryan,4 que tem como base, a relação dialética en- e colaboradores.16 A escala consiste em 28 questões
tre o organismo vivo e o contexto social e, diferentemente de divididas em sete subescalas avaliadas em uma escala
algumas percepções anteriores que tomavam a motivação Likert de sete pontos. A Escala de Motivação para o Es-
extrínseca e intrínseca como constructos independentes. Es- porte avalia a motivação de acordo com pressupostos da
sa abordagem propõe a motivação como um continuum ca- Teoria da Autodeterminação de Ryan e Deci.4 Divide-se a
racterizado por níveis de autodeterminação, desde o menos escala em desmotivação (sentimento de desesperança e
autodeterminado (desmotivação e motivação extrínseca) ao incompetência, falta de interesse, de controle e vontade
mais autodeterminado (motivação intrínseca). em realizar determinada tarefa), motivação extrínseca
Pesquisas assinalam que em níveis mais elevados de de motivação externa (comportamento motivado por
motivação os atletas tendem a melhorar o seu desempenho, ameaças, recompensas e pressão familiar), motivação
frente a sentimentos de desafio, prazer e autoconfiança, extrínseca de introjeção (pressões internas para reali-
direcαionam suas energias em prol dos seus objetivos e zar uma tarefa), motivação extrínseca de identificação
também dos objetivos da equipe em esforço máximo para se (comportamento percebido como pessoalmente impor-
alcançar o melhor resultado.5-10 tante e útil, tal como praticar esporte para melhorar
Entretanto, apesar da relevância e dos inúmeros es- a saúde), motivação intrínseca para atingir objetivos
tudos que abordam a motivação e o desempenho tático, (relacionados a fatores em que o atleta sente prazer na
percebe-se que há uma carência na literatura em relação busca de objetivos e habilidades esportivas), motivação
a pesquisas que relacionem estas temáticas no tocante ao intrínseca para experiências estimulantes (busca de ex-
treinamento de adolescentes no futebol. periências no esporte que possam proporcionar prazer e
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar diversão) e motivação intrínseca para conhecer (ligada
as relações entre os níveis motivacionais e de desempe- a curiosidade e busca para compreender os fatores
nho tático de jogadores de futebol de campo. Com base esportivos por desejo próprio).
no suporte teórico, acredita-se que os resultados apon- Para melhor tratamento dos dados, as subcate-
tem relações significativas entre a motivação intrínseca gorias “motivação externa, introjeção e identificação”
e o ótimo desempenho em jogo, enquanto níveis de mo- foram agrupadas e formaram a categoria motivação
tivação extrínseca e a desmotivação assinalem baixos extrínseca. Já, as subcategorias “motivação para
níveis de desempenho. atingir objetivos, para experiências estimulantes e para
conhecer” foram agrupadas e representadas apenas por
motivação intrínseca. A categoria desmotivação tam-
MÉTODO bém foi contabilizada. O valor do alfa de Cronbach para
todas as dimensões foi considerado forte (α=0,81).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de ética

Cinergis 2015;16(2):120-124 Páginas 02 de 05


não para fins de citação
MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO TÁTICO EM JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO
Paulo Henrique Borges, Deisy de Oliveira Silva, Edielson Frigeri Leite Ciqueira, Ieda Parra Barbosa Rinaldi, Wilson Rinaldi, Lenamar Fiorese Vieira.

O desempenho tático foi avaliado por meio do campo utilizada foi 36mx27m.
Game Performance Assessment Instrument (GPAI) pro-
posto por Oslin e colaboradores.17 Este instrumento foi Análise estatística
desenvolvido para mensurar o desempenho em jogo e os Foi utilizado o pacote estatístico SPSS 20.0. Para
comportamentos que demonstram entendimento tático verificar a normalidade dos dados, utilizou-se o teste
na modalidade, assim como a capacidade dos jogadores Shapiro-Wilk. Identificada a necessidade de se utilizar
resolverem os problemas do jogo utilizando habilidades estatística não paramétrica, aplicou-se o teste U-Mann
adequadas. Embora o GPAI possua sete componentes Whitney para comparação dos grupos sub-15 e sub-17
de análise, optou-se, neste estudo, pelo uso de três entre as subescalas motivacionais. Já, para a correlação
componentes do jogo para estimar o desempenho dos das variáveis de desempenho em jogo e de motivação,
jogadores, tal como sugerem Oslin e colaboradores17 para utilizou-se o Coeficiente de Correlação de Spearman.
análise do jogador de futebol: tomada de decisão (subdi- Após verificar a esfericidade dos dados, foi utilizado
vidido em apropriada (A) e inapropriada (I) de acordo com o teste Friedman para verificar se houve diferença entre
a situação do jogo), execução de habilidade (subdividido as subescalas de motivação, seguido pelas comparações
em Eficaz (E) e Ineficaz (I), de acordo com sua execução) e aos pares do teste Wilcoxon. Para avaliar a fidedignidade
apoio (subdividido em apropriada e inapropriada). inter-avaliadores (A, B e C), foi utilizado o Índice Kappa.
A tomada de decisão refere-se a decisões que o Os valores obtidos entre AB (0,93), AC (0,94) e BC (0,87)
jogador escolhe ao longo do jogo que sejam benéficas revelaram boa concordância inter-avaliadores. O valor de
para a sua equipe mediante o contexto, como por exem- significância adotado foi p≤0,05.
plo, fazer um passe a um companheiro desmarcado.
A execução de habilidade diz respeito à utilização de
técnicas adequadas para jogar o jogo, como chutar, RESULTADOS
passar e dominar com qualidade. Já, o apoio é toda
Os dados da Tabela 1 apontam as comparações
ação realizada para desmarcar-se, visando receber a bo-
das medianas e do primeiro e terceiro quartis das subes-
la, mostrar-se para o companheiro de equipe que possui
calas de motivação dos jogadores de futebol de campo
a bola, criando uma linha de passe.
de ambas categorias, sub-15 e sub-17.
Durante a avaliação, cada jogador começa com
zero pontos e ganha um ponto por tomada de decisão
apropriada/Execução de habilidade eficaz/apoio apro- Tabela 1 - Comparação entre as subescalas de motiva-
priada e um ponto por tomada de decisão inapropriada ção dos jogadores de futebol de campo das categorias
(I)/Execução de habilidade ineficaz/apoio inapropriado. infantil e juvenil.
Após este procedimento, é possível chegar a três índi- Subescala de motivação Md (Q1-Q3)
ces de acordo com Memmert e colaboradores:18 Índice Motivação intrínseca 5,66a/b (5,00-6,33)
de Tomada de Decisão, ITD=[A/(A+I)], Índice de Exe- Motivação extrínseca 4,75ª/c (4,29-5,41)
Desmotivação 2,75b/c (1,62-3,75)
cução de habilidade, IEH=[A/(A+I)] e Índice de Apoio,
a: Diferença significativa entre motivação intrínseca e extrínseca; b: Diferença sig-
IA=[A/A+I)]. Portanto, o desempenho no jogo (DJ) de nificativa entre motivação intrínseca e desmotivação; c: Diferença significativa entre
cada jogador varia de 0 a 1 e pode ser conseguido da motivação extrínseca e desmotivação. *Diferença significativa p<0,05.
seguinte maneira, DJ=ITD+IEH+IA/3. Sendo assim,
cada jogador foi avaliado por três professores de Educa-
Nota-se que a subescala de motivação intrínseca
ção Física. Após as avaliações, foi realizada a média dos
foi a mais evidenciada entre os jogadores de futebol
valores de cada índice.
(p=0,001), uma vez que apresentou maiores media-
nas. Já, a desmotivação foi a dimensão com menores
Procedimentos
índices, apresentando diferença significativa com as
Os jogadores, primeiramente responderam à Esca-
subescalas de motivação intrínseca e extrínseca.
la de Motivação para o Esporte (SMS). Posteriormente,
A seguir, a Tabela 2 apresenta as comparações
foram para o campo de futebol e foram orientados a
das medianas e do primeiro e terceiro quartis relativas
realizar um aquecimento prévio, em torno de 10 minu-
às subescalas de motivação de jogadores de futebol de
tos. Após o aquecimento, os jogadores foram divididos
campo, das categorias infantil (sub-15) e juvenil (sub-
pelo treinador em equipes de três jogadores, agrupados
17). Os valores da subescala desmotivação apresentou
de acordo com o seu nível de jogo.
diferença significativa entre as categorias (p=0,03),
Os jogos tiveram duração de 5 minutos e foram
revelando que a categoria sub-17 (Md=2,87) apresenta
filmados por uma filmadora digital Canon EOS Rebel
maior nível de desmotivação em relação à categoria
18.0 megapixels de resolução, colocada a 2m do chão e
sub-15 (Md=1,75).
posicionada em diagonal, em relação às linhas de fundo
e lateral, capaz de filmar toda a extensão da área de
jogo. A estrutura de cada equipe foi 3x3 (goleiro + 3 Tabela 2 - Comparação entre as variáveis motivacionais
jogadores vs goleiro + 3 jogadores), uma vez que confor- entre os grupos sub-15 e sub-17.
me relatos de Garganta19 essa estrutura revela-se como Sub-15 (n=11) Sub-17 (n=18)
sendo a configuração mínima que garante a ocorrência Dimensões Md (Q1-Q3) Md (Q1-Q3) p
de todos os princípios táticos inerentes ao jogo formal. Motivação Intrinseca 5,66 (5,33 – 6,16) 5,54 (4,91 – 6,45) 0,88
Os jogadores foram enumerados de 1 a 6 (1 a 3 de uma Motivação Extrinseca 4,75 (4,00 – 5,33) 4,83 (4,31 – 5,41) 0,87
cor e 4 a 6 de outra cor), cujo objetivo era facilitar a Desmotivação 1,75 (1,25 – 3,25) 2,87 (2,18 – 4,00) 0,03*
identificação dos jogadores no vídeo. A dimensão do *Diferença significativa, adotando p≤0,05.

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MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO TÁTICO EM JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO
Paulo Henrique Borges, Deisy de Oliveira Silva, Edielson Frigeri Leite Ciqueira, Ieda Parra Barbosa Rinaldi, Wilson Rinaldi, Lenamar Fiorese Vieira.

Tabela 3 - Correlação entre as variáveis motivacionais e de desempenho tático em jogadores de futebol das
categorias sub-15 e sub-17.
Motivação Intrínseca Motivação Extrinseca Desmotivação
r (p) r (p) r (p)
Tomada de decisão 0,28 (0,14) -0,02 (0,91) 0,18 (0,34)
Execução de Habilidade 0,53 (0,03)* 0,32 (0,08) -0,16 (0,39)
Apoio 0,04 (0,83) 0,15 (0,44) -0,08 (0,68)
Desempenho tático 0,43 (0,02)* 0,24 (0,21) -0,02 (0,90)
*Correlação significativa, adotando p≤0,05.

Percebe-se, ao correlacionar as variáveis motiva- cou que estes estavam altamente (e intrinsecamente)
cionais e de desempenho em jogo, correlações signifi- motivados, durante toda a fase da adolescência, não
cativas entre os componentes execução de habilidade e havendo diferença significativa entre as idades.
desempenho em jogo com a motivação intrínseca (r =0,53 No mais, não foram encontradas pesquisas que
e r=0,43, respectivamente), como assinala a Tabela 3. venham ao encontro dos achados no presente estudo
sobre a desmotivação entre as categorias. Estima-se
que tais resultados sobre a desmotivação dos jogadores
DISCUSSÃO da categoria juvenil possam estar relacionados a fatores
como a diminuição e/ou inexistência de maiores expec-
Este estudo teve por objetivo analisar as relações
tativas de avançar como atleta na modalidade, uma vez
entre os níveis motivacionais e o desempenho tático de
que até então não houve grandes avanços e convites
jogadores de futebol de campo, embasando-se na Teoria
de clubes, enquanto os jogadores da categoria infantil
da Autodeterminação.4 Apesar das pesquisas publicadas
ainda têm um caminho maior a percorrer e a esperança
sobre a TAD, não foram encontrados estudos que relacio-
e chances de evolução ainda se fazem maiores.
nassem o desempenho em jogo, com a teoria em questão.
Foi demonstrada correlação significativa entre
Observou-se que os jogadores de ambas as ca-
a motivação intrínseca com a execução de habilidade
tegorias pesquisadas se mostraram autodeterminados
(r=0,53) e o desempenho tático (r=0,43) dos jogado-
para a prática do futebol. Tal constatação fica evidente
res, indicando que os atletas com maior interesse e pra-
na tabela 1, ao analisarmos os valores elevados de moti-
zer pela tarefa apresentam melhores índices, tanto ao
vação intrínseca (Md=5,66), sobressaindo-se, tanto em
executar habilidades específicas da modalidade como
relação à motivação extrínseca quanto à desmotivação
chutar, passar e dominar, quanto com o desempenho
que, por sua vez, foi a menos evidenciada (Md=2,75).
tático global na modalidade, demonstrando melhor
Tais resultados sugerem que os jogadores sentem
resolução dos problemas frente ao contexto tático que
prazer pela prática do futebol e gostam de fazê-lo, cor-
o jogo apresenta (Tabela 3). As variáveis Tomada de de-
roborando com as achados de Vieira e colaboradores20
cisão e Apoio não demonstraram correlações significa-
que, num estudo acerca da relação entre os estilos de
tivas. Contudo, num estudo realizado com jogadores de
suporte parental e a motivação de atletas de futebol de
futebol com idades entre 12 e 16 anos na Espanha por
campo de categorias infantil e juvenil, também apontou
Álvarez e colaboradores,23 verificou-se que jogadores
menor aparição da desmotivação e maior evidência da
adolescentes com maior motivação autodeterminada
motivação intrínseca nesta população, bem como com
possuem melhor engajamento e relação interpessoal
o estudo de Garcia-Mas,21 no qual foram identificados
bem como se sentem mais competentes em seu esporte
os mesmos resultados. Isso demonstra que a motivação
e mais autônomos em suas ações, uma vez que estas
dos jogadores das categorias pesquisadas tem origem
características estão diretamente ligadas ao apoio e
em fatores internos ao executar a tarefa, envolvendo
a atmosfera criada por figuras de autoridade - como
sentimentos como a satisfação e o divertimento ineren-
os treinadores - e à satisfação de suas necessidades
te à modalidade.
psicológicas básicas. Outros autores indicam ainda que
Já, no que diz respeito à desmotivação, não se
níveis elevados de motivação intrínseca contribuem pa-
podem fazer as mesmas relações com tais autores su-
ra a melhora do desempenho, uma vez que os jogadores
pra citados. Enquanto no estudo de Vieira20 não foram
canalizam suas energias em prol de seus objetivos,
encontradas diferenças significativas nas variáveis
buscando atingir resultados cada vez melhores.5-7
motivacionais entre as categorias infantil e juvenil e, em
Garcia-Mas,15 a motivação dos jogadores da categoria
juvenil foi identificada como intrínseca, nossos resul-
tados apontam outra realidade, quando comparadas às
CONSIDERAÇÕES FINAIS
categorias sub-15 e sub-17, haja vista que verificou-se A motivação intrínseca se mostrou significati-
que a categoria juvenil se apresentou mais desmotivada vamente correlacionada ao desempenho tático dos
em relação à categoria infantil, apontando diferença jogadores, confirmando as hipóteses iniciais do estudo
estatisticamente significativa (p≤0,05). de que sujeitos intrinsecamente motivados têm melhor
Os resultados encontrados também contradizem desempenho em jogo, do que os extrinsecamente
aos do estudo de Balbinotti e colaboradores,22 no qual motivados ou desmotivados. Os resultados obtidos
buscaram descrever o comportamento do fator Prazer confirmam os pressupostos da Teoria da Autodetermi-
para a atividade física em adolescentes do sexo mas- nação, sugerindo que pessoas mais autodeterminadas
culino com idades entre 13 e 19 anos, em que verifi- tem maiores probabilidades de engajamento em deter-

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MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO TÁTICO EM JOVENS JOGADORES DE FUTEBOL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO
Paulo Henrique Borges, Deisy de Oliveira Silva, Edielson Frigeri Leite Ciqueira, Ieda Parra Barbosa Rinaldi, Wilson Rinaldi, Lenamar Fiorese Vieira.

minados comportamentos e/ou práticas do que pessoas atributos morais no esporte. Revista da Educação Física/
com baixa autodeterminação e, portanto, confirmam a UEM Maringá 2008; 19(2): 173-182. DOI: http://dx.doi.
legitimidade da utilização da TAD, em estudos sobre o org/10.4025/reveducfisv19n2p173-182.
desempenho tático de atletas. 9. Massa M, Uezu R, Böhme MTS. Judocas olímpicos brasileiros:
Esta pesquisa aponta algumas limitações tais fatores de apoio psicossocial para o desenvolvimento do
como a amostra restrita a apenas um local de treina- talento esportivo. Rev Bras Educ Fís Esporte, São Paulo
mento e também pertencentes a um único município, 2010; 24(4): 471-81. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1807-
decorrentes do tipo de estudo e também de parte dos 55092010000400005.
instrumentos utilizados, os quais dificultam a realização 10. Ferreira RM, Penna EM, Costa VT, Moraes LCCA. Nadadores
em grandes escalas num curto período de tempo. medalhistas olímpicos: contexto do desenvolvimento brasileiro.
Os resultados encontrados e discutidos nesse Motriz, Rio Claro 2012; 18(1): 130-142.
trabalho aparecem como subsídio teórico para que os 11. Cervo AL, Bervian PA, Silva R. Metodologia científica. 6. ed.
envolvidos na preparação de jovens jogadores de fute- São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
bol possam levar em consideração as implicações e a 12. Lakatos, EM, Marconi MA. Fundamentos de metodologia
importância da motivação no desempenho tático e na científica. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001.
resolução de tarefas motoras. 13. Hair Jr JF, Babin B, Money AH, Samouel P. Fundamentos
Sugere-se ainda, a partir deste estudo, que fu- de métodos de pesquisa em Administração. Porto Alegre:
turas pesquisas avancem em relação à esta temática e Bookman, 2005.
investiguem mais afundo as questões, causas e fatores 14. Gil, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São
relacionados à motivação e ao desempenho em jogo de Paulo: Atlas, 2008.
atletas de futebol de campo nas diferentes categorias 15. Brière N, Vallerand R, Blais N, Pelletier L. Développement
e apontem suas implicações para o contexto esportivo. et validation d’une mesure de motivation intrinsèque,
extrinsèque et d’amotivation en contexte sportif : l’Échelle de
motivation dans les sports (ÉMS). J of Sport Psychol 1995;
26(1): 465-489.
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a lógica do jogo em meio ao processo operacional sistêmico. DOI: 1657-9267(201108)10:2<557:PVOSMS>2.0.TX;2-Z.
Movimento (Porto Alegre) 2013; 19(4): 227-249. 17. Oslin JL, Mitchell SA, Griffin LL. The Game Performance
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Method for Team Match Performance Analysis in Professional validation. J. of Teach. in Phys. Educ 1998; 17(2): 231-243.
Soccer and Testing its Reliability. Int. J. of Perf. Anal. Sport 18. Memmert D, Harvey S. The Game Performance Assessment
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a avaliação do Desempenho de Jogadores em situações 19. Garganta J. Competências no ensino e treino de jovens
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Profissional. Psicologia: Reflexão e crítica 2002; 15(2): 447-460. relacionada ao prazer em adolescentes do sexo masculino.
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Cinergis 2015;16(2):120-124 Páginas 05 de 05


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Artigo Original

Desempenho tático de jovens jogadores de


futebol: comparação entre equipes vencedoras
e perdedoras em jogo reduzido

Tactical performance of youth soccer players: comparison between


winners and losers teams in small sized games

SILVA RNB, COSTA IT, GARGANTA JM, MULLER ES, CASTELÃO DP, Roberto N. B. da Silva1
SANTOS J. Desempenho tático de jovens jogadores de futebol: comparação entre Israel T. da Costa2
equipes vencedoras e perdedoras em jogo reduzido. R. bras. Ci. e Mov Julio M. Garganta3
Ezequiel S. Muller3
2013;21(1):75-90.
Daniel P. Castelão4,5
RESUMO: O objetivo deste estudo foi verificar quais comportamentos táticos diferem as equipes Julio W. dos Santos1
vencedoras das perdedoras no jogo em campo reduzido em jovens jogadores de futebol. O desempenho 1
tático de equipes vitoriosas e derrotadas foi comparado através do Sistema de Avaliação Tática no Futebol UNESP
2
(FUT-SAT). Três mil, oitocentos e dez ações táticas foram realizadas por 72 jogadores das categorias sub- Universidade Federal de Viçosa
3
11 (n=12), sub-13 (n=12) sub-15 (n=30) e sub-17 (n=18), de diferentes clubes portugueses. Vinte e quatro Faculdade de Desporto da
equipes foram compostas para a análise, cada equipe disputou um jogo (12 jogos analisados). Cada equipe Universidade do Porto
4
foi composta por três jogadores de linha, mais o goleiro, não analisado no teste. A análise estatística foi Secretaria de Estado de Esporte
realizada através do software SPSS 17.0 for Windows. Uma análise descritiva e os testes de Kolmogorov- e da Juventude
5
Smirnov, Qui-quadrado, Mann-Whitney U e o T-teste para amostras independentes foram realizados, e o Universidade Federal de Minas
teste Kappa de Cohen para determinação da confiabilidade da amostra. Considerando 76 variáveis Gerais
analisadas, 12 apresentaram diferenças significantes entre os jogadores das equipes vitoriosas e derrotadas.
Os jogadores das equipes vencedoras apresentaram superioridade na Macro-categoria Ação, nos Princípios
táticos defensivos, Equilíbrio e Unidade Defensiva. Na categoria Local da ação no campo de jogo, as
equipes vencedoras apresentaram superioridade no número de Ações defensivas realizadas no meio campo
defensivo. Na categoria Resultado da ação, nas variáveis Continuar sem a posse de bola, Recuperar a
posse de bola e Realizar finalização ao gol as equipes vencedoras apresentaram resultados superiores,
enquanto que nas variáveis Perder a posse de bola e Sofrer finalização ao gol a equipes derrotadas
apresentaram maiores valores. Na Macro-categoria Performance, a superioridade dos jogadores
vencedores foi demonstrada pelo melhor Índice de Performance Tática (IPT) nos princípios Penetração,
Unidade Ofensiva e na Fase ofensiva do jogo. Os resultados demonstraram que os jogadores das equipes
vencedoras apresentaram superioridade em ambas as fases de jogo.
Palavras-chave:Futebol; Tática; Princípios Táticos; FUT-SAT.

ABSTRACT: The aim of study was to verify what tactical behaviors differ winner from loser teams in
small sized games in youth soccer players. The tactical performance of winners and losers teams was
compared through of System of Tactical Assessment in Soccer (FUT-SAT). Three thousand eight hundred
and eight tactical actions were carried out by seventy-two youth soccer players from the under-11 (n=12),
under-13 (n=12), under-15 (n=30) and under-17 (n=18) categories of Portuguese teams. Twenty four
teams were composed to analyze, each team carried out one match (12 match analyzed). Each team was
composed by three line players with goalkeeper which was not analyzed in test. The statistical analysis
was performed thought the SPSS 17.0 software for Windows. A descriptive analyze and the Kolmogorov-
Smirnov, Chi-square, Mann-Whitney U and T-Test tests to the independent samples was carried out, and
the Cohen’s Kappa test to determining of the sample reability. Considering 76 variables analyzed, 12
presented significant differences among players of winners and loses teams. The players of the winner
teams presented superiority in Macro-Category Action, in the Defensive tactical principles, Equilibrium
and Defensive Unity. In the category Local of action in the Field, the winner teams presented superiority in
the number of defensive actions performed in the defensive midfielder. In the category Result of the action,
the variables Keep without the ball, Retrieving the ball possession and Shots on goal the winner teams
presented higher results, while in variables Losing the ball possession and Suffering shot on goal the loser
teams presented higher results. In the Performance Macro-Category, the superiority of the winners was
showed by better Tactical Performance Index (TPI) in the Penetration principles, Offensive Unity, and in
the Offensive phase of the game. The results demonstrated that the winner players presented superiority in
both stages of the game.
Enviado em: 03/10/2012
Key Words: Soccer; Tactics; Tactical Principles; FUT-SAT. Aceito em: 17/01/2013

Contato: Roberto Nascimento Braga da Silva - rob-braga@hotmail.com


SILVA et al. 76

Introdução de 1996/97 da primeira divisão inglesa. Low, Taylor


O futebol pertence ao grupo dos esportes e Williams16 utilizaram as partidas da Copa do
coletivos, sendo caracterizado como um jogo de Mundo de 2002 para avaliarem a diferença entre
cooperação/oposição, no qual duas equipes realizam equipes consideradas de sucesso (semifinalistas) e as
ações simultâneas sobre a bola em contexto sem sucesso (eliminadas na primeira fase da
1
aleatório . Estas características conferem competição). Foram analisados, dribles,
imprevisibilidade às ações, o que implica em cruzamentos, chutes a gol, entre outros aspectos que
constante necessidade de adaptação tática, técnica e contribuíram ou não para o alcance da vitória em
2
física dos jogadores ao contexto apresentado . Em uma partida.
comunhão com esta lógica, constata-se que os Este tipo de análise torna-se importante na
estudos relativos ao futebol se centram cada vez medida em que facilita o acesso à informação sobre
mais na dimensão tática, com o intuito de melhor se os eventos da partida, possibilitando uma posterior
compreender os processos inerentes à tomada de reflexão e uma melhor adequação do treino aos
decisão bem como ao modo como os jogadores e as objetivos delineados em relação ao modo de jogar 17.
equipes entendem o jogo3-7. Estas análises assumem Deste modo, a análise do jogo ocupa um papel
8
elevada relevância, já que, segundo Teodorescu central para a modelação do treino e do modelo de
todas as decisões tomadas pelos jogadores durante jogo desejado pelo treinador para a sua equipe18-19.
uma partida, com ou sem a bola, na relação Apesar da referida importância, é possível
individual ou coletiva, de cooperação ou oposição, perceber que muitos estudos se restringem a uma
são de ordem tática. Como tal, esta dimensão análise fragmentada, focando-se apenas os
desempenha o papel de matriz unificadora dos resultados das ações que ocorrem na presença da
comportamentos manifestados, dado que é através bola, isto limita a compreensão dos processos
da ação tática que as vertentes, psicológica, técnica e ofensivos e defensivos de um confronto
física adquirem o devido sentido9. futebolístico. Para Garganta e Gréhaigne20, tal tipo
Nos últimos anos, alguns estudos vêm de análise revela-se insuficiente para explicitar as
buscando analisar performances de sucesso a fim de razões que induzem um desempenho de sucesso das
identificar fatores responsáveis pela diferenças entre equipes, dado que o futebol é um fenômeno não
10-13
vencedores e vencidos no âmbito do futebol . linear cuja complexidade decorre da interação dos
Estes trabalhos visam contribuir para o aumento de fatores que emergem no jogo, e não de cada um
conhecimentos e competências de jogadores e deles quando entendido per se. Isso pode ser
treinadores, na busca por melhores resultados. Neste constatado empiricamente, por exemplo, através da
14
sentido, Grant et.al. analisaram 36 jogos da Copa observação de jogos nos quais nem sempre a equipe
do Mundo de Futebol de 1998, tendo avaliado a com maior número de passes certos, chutes a gol,
frequência de chutes, escanteios, faltas, corridas com posse de bola, entre outros, é a vencedora da partida.
bola, dribles, cruzamentos, entre outros, com o Além disso, existe uma escassez de estudos dessa
intuito de diferenciar as equipes desclassificadas na dimensão nas categorias de base, uma vez que a
primeira fase, das equipes semifinalistas da maior parte contempla campeonatos profissionais,
15
competição. Já o estudo de Grant e Williams nos quais atua a elite do futebol mundial. Este fator
comparou as características da posse de bola em limita o conhecimento do processo na formação e
equipes bem e mal sucedidas, durante a temporada

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


77 Análise tática de jovens jogadores de futebol

diminui a possibilidade da atuação significativa dos participou dos jogos, mas não foi considerado na
profissionais envolvidos neste contexto. análise. Os jogadores analisados pertenciam a cinco
Neste sentido, o Sistema de Avaliação Tática diferentes clubes do futebol português. Todos os
21
no Futebol, FUT-SAT, validado por Costa busca indivíduos analisados praticavam sistematicamente o
suprir uma lacuna deixada pela avaliação e a análise futebol por no mínimo seis meses com uma
fragmentada do futebol. O teste é alicerçado em uma frequência semanal de dois treinos (sub-11) e
concepção sistêmica e específica dos esportes progredindo até cinco treinos semanais (sub-17),
coletivos. O autor procurou, a partir de um jogo disputando amistosos e competições de caráter
reduzido com a duração de quatro minutos, em que regional. Cada jogador realizou apenas um jogo
duas equipes compostas por três jogadores mais reduzido, de um total de 12 jogos analisados. Foram
goleiro se enfrentam, realizar uma análise holística, descartados os jogos nos quais o resultado final foi o
a partir da avaliação de princípios táticos específicos empate. Os jogadores e seus responsáveis foram
ofensivos e defensivos do futebol. Esta ferramenta esclarecidos sobre os objetivos e procedimentos do
também se faz significante uma vez que os jogos estudo e deram seu consentimento (Processo nº.
reduzidos podem ser incorporados nos mais diversos 15449/46/01/11).
objetivos de treino, pois permitem a avaliação e o
desenvolvimento das qualidades globais e Instrumentos e procedimentos para coleta de dados
específicas inerentes ao jogo22-24, sendo possível, a O instrumento utilizado para a análise tática
partir destes, avaliar e desenvolver as vertentes foi o teste FUT-SAT21, que consiste em um jogo
táticas25-28, técnicas29-31 e físicas32-34. reduzido, projetado em uma área de 36 metros de
A partir do contexto apresentado, o presente comprimento por 27 metros de largura, no qual cada
estudo teve como objetivo analisar o desempenho equipe dispõe de três jogadores mais o goleiro, que
tático de jovens jogadores de futebol e verificar defende uma baliza de Futebol de Sete (6 metros de
quais os comportamentos táticos que diferiram as largura por 2 metros de altura). O teste tem a
equipes vencedoras das equipes perdedoras no jogo duração de 4 minutos e é solicitado aos jogadores
em campo reduzido. Sendo assim, o presente estudo que joguem de acordo com as regras do futebol, com
possibilita um maior entendimento da vertente tática exceção do impedimento35. Após a divisão das
em jogadores de futebol jovens e abre um caminho equipes, os jogadores receberam coletes numerados
para compreender melhor quais ações táticas são de 1 a 6 para posterior análise. Os jogadores
determinantes para o melhor desempenho, o que receberam uma breve explicação acerca do teste e,
possibilita uma ação mais ajustada e eficaz no posteriormente, foram-lhes concedidos 30 segundos
processo de treino por parte dos profissionais de adaptação ao mesmo, findos os quais se deu
envolvidos neste contexto. início à avaliação.
O FUT-SAT tem como objetivo avaliar as
Materiais e Métodos ações táticas executadas pelos jogadores (com e sem
Amostra a posse de bola) de acordo com os dez princípios
Foram avaliados 72 jogadores de futebol das táticos fundamentais do futebol, sendo cinco
categorias: sub-11 (n=12), sub-13 (n=12), sub-15 ofensivos (Penetração, Cobertura Ofensiva, Espaço,
(n=30) e sub-17 (n=18) que formaram 24 equipes de Mobilidade e Unidade Ofensiva) e cinco defensivos
três jogadores cada, uma vez que o goleiro (Contenção, Cobertura Defensiva, Equilíbrio,

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


SILVA et al. 78

Concentração e Unidade Defensiva) apresentados princípio tático (RP), 2) Qualidade da realização da


por Costa, et. al.36. A não aplicação da regra do ação tática (QR), 3) Localização da realização da
impedimento no teste se apresenta como uma ação tática no campo de jogo (LA) e 4) Resultado da
limitação no que diz respeito à análise das ação (RA)37. A partir desta análise é calculado o
movimentações de Unidade Defensiva, pois estas Índice de Performance Tática (IPT) referente aos
sofrem influencia da referida regra, contudo é princípios táticos, fases de jogo e jogo, com base na
possível se ter a noção de compactação defensiva da seguinte equação:
equipe mesmo sem esta importante referência. Não Índice de Performance Tática (IPT) = ∑ ações
foram avaliadas as ações em que o jogador táticas (RP x QR x LA x RA)/número de ações
permaneceu sem movimentação, bem como táticas
cobranças de faltas, laterais ou escanteios.
As análises dos jogos são realizadas em
referência ao protocolo de observação do teste que
leva em conta quatro fatores: 1) Realização do
Quadro 1. Componentes e valores considerados para o cálculo do Índice de Performance Tática20
Componentes Valores
1) Realização do Princípio (RP)
Fez 1
Não fez 0
2) Qualidade da Realização do Princípio (QR)
Bem sucedido 10
Mal sucedido 5
3) Localização da Ação no Campo de Jogo (LA)
- Meio Campo Ofensivo
Ações Táticas Ofensivas 2
Ações Táticas Defensivas 2
- Meio Campo Defensivo
Ações Táticas Defensivas 1
Ações Táticas Ofensivas 1
4) Resultado da Ação (RA)
- Ofensiva
Realizar finalização à baliza 5
Continuar com a posse de bola 4
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 3
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 2
Perder posse de bola 1
- Defensiva
Recuperar a posse de bola 5
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 4
Cometer falta, ganhar lateral ou escanteio 3
Continuar sem posse de bola 2
Sofrer finalização à baliza 1

Análise dos Jogos processador Intel Dual-Core) via cabo (IEEE 1394),
Para a gravação dos jogos foi utilizada uma convertendo-os em ficheiros “.avi”.
câmara digital PANASONIC modelo NV – Para o tratamento das imagens e análise
DS35EG. O material de vídeo gravado foi foram utilizados os softwares, Soccer Analyser®,
introduzido, em formato digital num computador específico para o teste, que se destina ao
portátil (marca Positivo modelo Positivo Móbile, arquivamento das gravações e permite a projeção
das referências espaciais sobre o campo de jogo,

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


79 Análise tática de jovens jogadores de futebol

facilitando a avaliação rigorosa do posicionamento e Social Science) for Windows (versão 17.0). Neste
movimentação dos atletas, e, Utilius VS®, destinado estudo foi seguida a classificação apresentada por
a análise e arquivamento do material coletado. Landis e Koch39 indicando seguintes valores de
fiabilidade: 0,00 – pobre; 0,01 a 0,020 – leve; 0,21 a
Análise estatística 0,40 – regular; 0,41 a 0,60 – moderada; 0,61 a 0,80 –
Os dados recolhidos foram tratados com o substancial; 0,81 a 100 – perfeita. Todos avaliadores
auxílio do software SPSS (Statistical Package for testados obtiveram resultado acima de 0,81.
Social Science) for Windows®, versão 17.0. Foram Também foram reavaliadas 387 ações táticas,
realizadas as análises descritivas, de frequência, obtendo um número de ações reavaliadas maior que
percentual e variação percentual, média e desvio- 10% da amostra, valor superior ao apontado pela
padrão. literatura para a confirmação da confiabilidade intra-
Para facilitar a apresentação dos resultados, os dados avaliador40.
foram divididos em duas Macro-Categorias,
denominadas Ação e Performance. Na Macro- Resultados
categoria Ação para a análise das categorias: Os resultados estão apresentados em duas
Princípio tático, Localização da ação no campo de Macro-Categorias, sendo elas: Ação e Performance.
jogo e Resultado da ação, foi utilizado o teste Qui- A Macro-Categoria Ação, composta por três tabelas,
quadrado (χ²) (não paramétrico) com nível de refere-se à frequência e diferença percentual entre os
significância p≤,0,05 por se tratarem de dados grupos na análise das categorias Princípios táticos
categóricos, possibilitando observar a relação entre (tabela 1), Localização da ação no campo de jogo
estas variáveis por parte de vencedores e perdedores. (tabela 2) e Resultado da ação (tabela 3). Já a
Para a Macro-categoria Performance, nas categorias Macro-Categoria Performance apresenta os
Índice de performance tática (IPT), Número de resultados a partir da média e desvio padrão das
ações por princípio (NAP), Percentual de erros categorias: Índice de performance tático (IPT),
(%E) e Localização da ação relativa ao princípio Número de ações por princípio (NAP), Percentual
(LARP) foi utilizado o teste de normalidade de erro (%E) e Localização da ação referente ao
Kolmogorov-Smirnov para verificar a distribuição princípio (LARP). Foram realizadas 3810 ações
dos dados. Para as variáveis que assumiram táticas, nos 12 jogos analisados, das quais 1994
distribuição normal foi utilizado o teste T-Test para foram realizadas pelos jogadores que pertenciam às
amostras independentes com nível de significância equipes vencedoras (886 ofensivas e 1108
p≤0,05. Já para as medidas que assumiram defensivas) e 1816 foram realizadas pelos jogadores
distribuição não normal foi utilizado o teste de que atuaram nas equipes derrotadas (905 ofensivas e
Mann-Whitney U com nível de significância 911 defensivas), os jogos que terminaram empatados
p≤0,0538. foram descartados. (Tabela 1).
No número Total de ações táticas realizadas
Análise da confiabilidade pelos jogadores foram encontradas diferenças
Para verificar a confiabilidade intra e inter- significativas a favor dos vencedores (p=0, 0039), o
avaliadores foram testados três avaliadores, que indica uma participação mais ativa por parte
recorrendo-se aos valores do teste Kappa de Cohen a destes.
partir do software SPSS (Statistical Package for

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SILVA et al. 80

Tabela 1. Princípios Táticos referentes a vencedores e perdedores na realização do FUT-SAT

Vencedores Perdedores
Categorias e Variáveis Variação Percentual
N % N %
PRINCÍPIOS TÁTICOS
Ofensivo
Penetração 118 5,92 110 6,06 2,36
Cobertura Ofensiva 233 11,69 241 13,27 13,57
Espaço 317 15,9 326 17,95 12,92
Mobilidade 85 4,26 103 5,67 33,05
Unidade Ofensiva 133 6,67 126 6,94 4,02
Defensivo
Contenção 218 10,93 185 10,19 -6,82
Cobertura Defensiva 56 2,81 44 2,42 -13,73
Equilíbrio 189* 9,48 148 8,15 -14,02
Concentração 186 9,33 163 8,98 -3,78
Unidade Defensiva 459* 23,02 370 20,37 -11,49
TOTAL 1994* 1816
*Diferença Significativa (p≤0,05): Princípios Táticos: Equilíbrio (p=0,0255, χ²=4,988); Unidade Defensiva (p=0,0020, χ²=9.555); Total (p=0,0039, χ²=8,316

Em relação aos princípios táticos, foram mais direta com maior número de finalizações e
encontradas diferenças significativas nos princípios roubadas de bola (Tabela 3).
táticos defensivos Equilíbrio (p=0, 0255) e Unidade Na categoria, Resultado da ação, as equipes
Defensiva (p=0, 0020), com superioridade dos vencedoras obtiveram superioridade significativa
vencedores, que realizaram mais ações de marcação nas variáveis: Realizar finalização ao gol (p=0,
nas zonas laterais a da bola, bem como 0038), Recuperar a posse de bola (p=0,0069) e
movimentações com o intuito de aproximar os Continuar sem a posse da bola (p<0,0001). Já as
jogadores mais distantes da bola. derrotadas obtiveram maiores valores nas variáveis
Quanto à Localização das ações no campo Perder a posse de bola (p=0, 0064) e Sofrer
de jogo, novamente foram encontradas diferenças finalização ao gol (p=0, 0460), o que indica
significativas apenas em relação às ações defensivas possíveis fatores que contribuíram para obtenção do
(Tabela 2). resultado negativo por parte destas equipes.
As equipes perdedoras realizaram um maior Na Macro-categoria Performance, composta
número de Ações defensivas no campo ofensivo pelas tabelas 4, 5, 6 e 7 são apresentados os valores
(p=0, 0303), enquanto as vencedoras obtiveram de IPT, NAP, %E e LARP respectivamente nos dois
superioridade na realização das Ações defensivas no diferentes grupos.
campo defensivo (p<0,0001), indicando diferentes Os resultados apresentados na Tabela 4
posturas defensivas entre as equipes que realizaram mais uma vez demonstram os possíveis “porquês” de
o teste. os vencedores terem alcançado resultados positivos
Na categoria, Resultado da ação, as equipes no teste.
vencedoras obtiveram superioridade significativa
nas variáveis que demonstraram uma movimentação

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81 Análise tática de jovens jogadores de futebol

Tabela 2. Localização da Ação no campo de jogo referente a vencedores e perdedores na realização do FUT-
SAT
Vencedores Perdedores
Categorias e Variáveis Variação Percentual
N % N %
LOCALIZAÇÃO DA AÇÃO NO CAMPO DE JOGO
Meio Campo Ofensivo
Ações Táticas Ofensivas 413 20,71 363 19,99 -3,49
Ações Táticas Defensivas 473 23,72 542* 29,85 25,82
Meio Campo Defensivo
Ações Táticas Ofensivas 544 27,28 543 29,9 9,6
Ações Táticas Defensivas 564* 28,28 368 20,26 -28,36
TOTAL 1994* 100 1816 100
*Diferença S
ignificativa (p≤0,05): Localização da Ação no Campo de Jogo: Ações Táticas Defensivas no meio campo ofensivo (p=0,0303, χ²=4,691); Ações Táticas Defensivas no meio campo
defensivo (p<0,0001, χ²=41,219)

Tabela 3. Resultado da Ação referente a vencedores e perdedores na realização do FUT-SAT

Vencedor Perdedor
Categorias e Variáveis Variação Percentual
N % N %
RESULTADO DA AÇÃO
Ofensiva
Realizar finalização ao gol 121* 6,07 80 4,41 -27,4
Continuar com a posse de bola 630 31,59 669 36,84 16,6
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 45 2,26 32 1,76 -21,92
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 37 1,86 40 2,2 18,7
Perder a posse de bola 53 2,66 85* 4,68 76,1
Defensiva
Recuperar a posse de bola 91* 4,56 58 3,19 -30,02
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 44 2,21 35 1,93 -12,66
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 34 1,71 44 2,42 42,1
Continuar sem a posse de bola 841* 42,18 645 35,52 -15,79
Sofrer finalização ao gol 98 4,91 128* 7,05 43,41
TOTAL 1994 100 1816 100
*Diferença Significativa (p≤0,05): Resultado da Ação: Realizar Finalização ao gol (p=0,0038, χ²=8,363); Perder posse de bola (p=0,0064, χ²=7,42); Recuperar a posse de bola
(p=0,0069, χ²=7,309); Continuar sem a posse de bola (p<0,0001, χ²=25,852); Sofrer Finalização ao gol (p=0,0460, χ²=3,982)

Tabela 4. Médias e desvio padrão - Índice de Performance Tática


IPT
Princípios Táticos
Vencedores perdedores

Ofensivo
Penetração 59,54±16,95* 49,24±20,81
Cobertura Ofensiva 55,28±12,04 48,82±13,11

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SILVA et al. 82

Mobilidade 69,73±19,31 64,00±17,88


Espaço 46,91±10,50 43,72±7,34
Unidade Of. 56,25±17,99* 46,73±22,32
Defensivo
Contenção 25,22±8,46 25,07±8,44

Cobertura Defensiva 35,06±23,36 33,99±20,29


Equilíbrio 27,02±13,02 24,5±16,29
Concentração 27,04±9,58 28,01±9,57
Unidade Def. 25,24±7,35 23,06±6,40
Fase de Jogo

Fase Ofensiva 53,62±7,94* 48,62±8,26


Fase Defensiva 25,61±5,17 24±3,99
Jogo 38,9±6,54 35,92±4,05
*Diferença Significativa (p<0,05): Índice de Performance Tática: Penetração (p=0,036; t=-1,828); Unidade Ofensiva (p=0,012; t=-2,290); Fase Ofensiva (p=0,003; t=-2,770)

Os IPTs referentes aos princípios ofensivos


Na tabela 5 é possível obervar que os
Penetração (p=0,036), Unidade Ofensiva
valores de NAP não apresentaram diferenças
(p=0,012) e Fase ofensiva de jogo (p=0,003),
significativas
apresentam diferenças significativas a favor dos
A tabela 6 apresenta o percentual de erros
vencedores. Estes resultados indicam que os
de cada princípio tático realizado por vencedores
jogadores destas equipes obtiveram êxito nas
e perdedores.
ações de progressão do portador da bola, e uma
O %E dos dois grupos analisados
melhor compactação ofensiva, aproximando os
apresentou maiores valores dos perdedores em
jogadores do centro de jogo nas ações ofensivas.
todos os princípios táticos com exceção do
Estes fatores contribuíram para o alcance do
princípio da Mobilidade, contudo, não foram
maior IPT na Fase ofensiva de jogo.
encontradas diferenças significativas, sendo
São apresentados abaixo os Números de
possível afirmar que o %E não foi decisivo na
ações por princípio (tabela 5).
obtenção da vitória.
Tabela 5. Médias e desvio padrão – Número de ações por princípio
NAP
Princípios Táticos
vencedores Perdedores
Ofensivo
Penetração 3,28±1,95 3,08±1,93
Cobertura Ofensiva 6,47±3,31 6,26±40
Mobilidade 2,36±1,93 3,03±3,30
Espaço 8,81±3,91 10,24±6,16
Unidade Of. 3,69±2,94 3,21±2,96
Defensivo
Contenção 6,06±2,94 4,73±2,61
Cobertura
1,56±1,36 1,26±1,14
Defensiva
Equilíbrio 5,25±2,56 4,03±2,04

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83 Análise tática de jovens jogadores de futebol

Concentração 5,17±3,24 4,42±2,91


Unidade Def. 12,75±4,99 12,08±3,90
Fase de Jogo
Fase Ofensiva 24,61±5,25 25,82±9,53
Fase Defensiva 30,78±10,73 26,52±5,64
Jogo 55,39±11,23 52,33±9,85

Tabela 6. Médias e desvio padrão – Percentual de Erros


%E
Princípios Táticos
Vencedor perdedor
Ofensivo
Penetração 9,76±20,92 14,18±29,21
Cobertura Ofensiva 6,96±14,68 7,64±17,53
Mobilidade 0,81±4,49 0
Espaço 4,73±10,85 8,93±15,30
Unidade Of. 33,47±30,96 40,9±35,88
Defensivo
Contenção 60,98±24,75 69,02±21,74
Cobertura Defensiva 36,31±41,40 48,76±43,94
Equilíbrio 56,00±30,86 67,02±31,92
Concentração 28,56±24,61 36,36±29,29
Unidade Def. 49,90±29,45 62,62±26,93
Fase de Jogo
Fase Ofensiva 11,09±8,36 12,48±9,57
Fase Defensiva 49,44±14,43 60,48±14,22
Jogo 31,23±8,35 35,73±6,95

Na análise da Tabela 7, a LARP também entre equipes vencedoras e perdedoras na


não apresentou nenhuma diferença significativa realização do teste.

Tabela 7. Médias e desvio padrão – Localização da Ação em Relação ao Princípio


LARP
Princípios Táticos
vencedor perdedor
Ofensivo
Penetração 1,52±1,48 1,56±1,41
Cobertura Ofensiva 3,60±2,86 4,38±3,50
Mobilidade 0,45±0,72 0,48±0,97
Espaço 6,47±3,48 8,09±5,39
Unidade Of. 1,47±1,56 1,85±2,24
Defensivo
Contenção 3,40±2,40 2,23±2,16
Cobertura Defensiva 0,71±0,90 0,51±0,51
Equilíbrio 2,08±1,96 1,53±1,76
Concentração 3,44±2,55 2,44±2,67
Unidade Def. 5,89±3,82 4,86±2,36
Fase de Jogo

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


SILVA et al. 84

Fase Ofensiva 13,51±5,80 16,22±7,89


Fase Defensiva 15,08±8,51 11,14±6,00
Jogo 28,22±10,33 26,62±9,12

Discussão buscar, em sua defesa, cobrir e reforçar


O presente estudo teve como objetivo permanentemente o eixo central do campo, além
verificar quais comportamentos táticos diferiram de “enviar” o ataque adversário para as zonas
entre as equipes vencedoras e as perdedoras no laterais, e de menos perigo no campo, além de
jogo em campo reduzido, em jovens jogadores de possuir um número ideal de jogadores entre a bola
futebol. A partir dos resultados verificou-se que e a baliza. Além disso, as ações de Unidade
12 das 76 variáveis analisadas apresentaram Defensiva tem como intuito a aproximação das
diferenças significativas. Apesar da validade do linhas defensivas da equipe. Essa aproximação
teste, a não utilização da regra do impedimento, não apenas diminui o espaço entre as linhas de
duração e o número de jogadores podem ser defesa dificultando o ataque, como possibilita que
vistos como limitações do estudo no que se refere os jogadores estejam mais próximos ao portador
à generalização para o jogo oficial. No entanto, da bola, possibilitando uma ação mais efetiva dos
quando comparamos o comportamento tático dos mesmos42. Estas movimentações exigem um auto
jogadores no teste, é possível distinguir diferenças nível de organização da equipe, pois por serem
sutis no desempenho tático entre os jogadores e realizadas pelos jogadores mais distantes do
21
equipes . No entanto, as análises de jogos de 5x5, centro de jogo torna-se necessária a existência de
7x7 e 11x11 a partir dos princípios táticos aqui uma consciência coletiva em relação aos
36
apresentados, fornecerão ainda mais informações mesmos . O FUT-SAT, composto pelo jogo
sobre o desempenho tático de jogadores de reduzido de 3x3 jogadores mais goleiros facilita
futebol. estas ações uma vez que, exige uma coordenação
Na categoria Princípios táticos, analisada coletiva entre 3 jogadores de uma mesma equipe e
na Macro-Categoria Ação, observa-se que as não 11 como em um jogo de futebol oficial,
equipes derrotadas realizaram um menor número contudo, a não aplicação da regra do impedimento
de ações em todos os princípios táticos dificulta esta ação dos jogadores, uma vez que o
defensivos, sendo que nos princípios Equilíbrio e benefício de compactar as linhas defensivas está
Unidade Defensiva foram encontradas diferenças implícito no jogo e não explícito pela regra.
significativas a favor das equipes vencedoras. As Apesar desta limitação, este processo de análise
ações do princípio Equilíbrio evidenciam que as se torna relevante em categorias de formação e no
equipes vencedoras realizaram movimentações presente estudo permitiu observar a superioridade
que buscam a igualdade ou superioridade apresentada na organização defensiva por parte
numérica nas zonas laterais a da bola, com o das equipes vencedoras.
intuito de aumentar a segurança em relação à O resultado encontrado na categoria
própria baliza e transmitir confiança aos Localização da ação no campo de jogo se
jogadores que realizam a Contenção e Cobertura assemelha ao encontrado no estudo de Costa et
37
Defensiva . As ações apresentadas pelos al.43 que compararam duas equipes sub-15 na
jogadores das equipes vencedoras estão de acordo realização do teste FUT-SAT. Porém, ao contrário
41
com Garganta , segundo o qual, uma equipe deve do estudo citado, o presente trabalho registrou-se

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


85 Análise tática de jovens jogadores de futebol

superioridade da defesa em bloco baixo em foram os mais significativos. Estes parecem ser
relação à defesa em bloco alto. Este tipo de fatores decisivos que permitem a organização
disposição defensiva pode ter obtido melhores defensiva da equipe, bem como possibilitam
resultados devido à ineficácia das movimentações organizar uma transição ofensiva adequada de
defensivas no campo do adversário, além da não modo a aproveitar os espaços concedidos pelo
realização de movimentações defensivas em adversário para criar situações de gol. Quanto ao
42
bloco, que segundo Garganta e Pinto maior número de ações sem a posse de bola, o
caracterizam um modelo de jogo avançado. Como estudo de Lago e Martin46 permite constatar que
os jogadores estão posicionados longe da baliza, as equipes têm maior posse de bola quando estão
as movimentações necessitam de uma perdendo ou empatando, e não quando estão à
coordenação maior, caso contrário haverá lugar a frente no placar, comportamento este também
uma ampliação expressiva do espaço efetivo de encontrado no presente estudo. Percebe-se,
44
jogo , o que dificulta as movimentações e portanto, que as equipes vencedoras optaram por
marcações por parte dos jogadores que defendem. uma postura centrada em uma defesa eficaz
Este tipo de marcação pode também facilitar a utilizando-se das conquistas de bola para se
utilização das jogadas em profundidade pela organizarem em transições ofensivas objetivas
equipe atacante, devido ao maior espaço entre o buscando a finalização ao gol. A eficácia deste
último jogador da equipe que defende e a comportamento tático é reforçada pelo estudo
14
respetiva linha de fundo. Grant et. al. apontam realizado por Hughes e Franks47 no qual as
para esta perspectiva, quando observam que mais movimentações diretas resultaram em um maior
gols são marcados quando a bola é recuperada em número de finalizações em comparação com o
uma área defensiva, devido ao maior espaço para jogo de posse de bola. Segundo Garganta41, este
organização das movimentações ofensivas. tipo de comportamento deve ser incentivado nas
Porém, em grande parte, tal é determinado pelo categorias de base, buscando evitar “abuso” do
modelo de jogo da equipe e pela proficiência dos jogo indireto e a perda do foco no objetivo
seus jogadores. Repare-se, por exemplo, que para central, o gol. Deve referir-se, contudo, que este
uma defesa em bloco alto é condição fundamental autor destaca a importância maior de se conseguir
uma noção apurada de marcação dos jogadores um equilíbrio entre as movimentações diretas e
mais adiantados da equipe, atributo não indiretas, em função dos problemas que vão
facilmente encontrado nas categorias de ocorrendo em uma partida e que implicam numa
formação. gestão inteligente, fase a fase e momento a
Na categoria Resultado da ação, a momento.
superioridade das equipes vencedoras nas A análise da Macro-categoria Ação
variáveis Continuar sem a posse, Recuperar a evidencia uma importante relação entre as suas
posse de bola e Realizar finalização ao gol, se três subcategorias. Todas apresentaram diferenças
45
assemelha ao estudo de Szwarc , que, de uma significativas entre vencedores e perdedores,
série de fatores analisados, apresenta que a sendo estas mais evidentes na fase defensiva do
freqüência e precisão dos chutes a gol, as jogo. A superioridade das equipes vencedoras na
recuperações de bola em situações diretas contra o realização dos princípios Equilíbrio e Unidade
oponente, e a proteção efetiva da própria baliza Defensiva pode ter sido induzida pela defesa em

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


SILVA et al. 86

bloco baixo realizada por estas equipes, o que Ofensiva também são criadas um maior número
permite supor que estes resultados influenciaram de linhas de passe seguras, sendo possível que a
diretamente o maior número de recuperações de equipe que detém a bola canalize o ataque para os
bolas e o maior número de finalizações a gol por espaços mais vulneráveis na defesa adversária
parte destas equipes. característica estas que, segundo Garganta41
Na análise da Macro-Categoria constituem regras de ação para tornar mais eficaz
Performance, os resultados apresentados apontam a fase ofensiva de uma equipe.
novamente para a superioridade das equipes Por fim, a partir da análise da Tabela 2,
vencedoras na realização do FUT-SAT. A para a Macro-Categoria Performance, é possível
superioridade no IPT Penetração por parte dos perceber que os jogadores das equipes vencedoras
vencedores indica que apesar do número apresentam um maior IPT em todos os princípios
semelhante de ações táticas realizadas pelos dois táticos com exceção a Concentração, além de um
grupos analisados, as equipes vencedoras menor %E em todos os princípios com exceção à
obtiveram maior sucesso na realização deste Mobilidade. Apesar do baixo número de variáveis
princípio. Neste aspecto o estudo apresentado que apresentam diferenças significativas nesta
proporciona uma mais-valia em relação ao estudo Tabela, quando “somadas”, estas pequenas
16
de Low, Taylor e Williams que ao analisar as diferenças podem vir a influenciar de maneira
equipes de sucesso na copa do mundo de 2002, efetiva o resultado final dos jogos20.
encontraram superioridade no número de dribles, Em conjunto, os resultados observados
corridas verticais com bola e penetrações na contribuem para investigadores, treinadores e
defesa adversária por parte das equipes de jogadores na compreensão dos comportamentos
sucesso. Porém, os mesmos não levam em táticos intervenientes nos resultados de jogo
consideração o resultado final e o sucesso ou não reduzido. Isto culmina em uma atuação mais
das jogadas, primando pela analise quantitativa eficiente e eficaz dos profissionais envolvidos
em detrimento da análise qualitativa. Estes neste contexto que podem organizar o processo de
resultados também permitem supor que esta treino tendo como referencia as virtudes e
superioridade induziu um maior número de deficiências táticas de seus jogadores em jogos
finalizações por parte dos vencedores, fator este condicionados e de como estas influenciam no
também encontrado no estudo citado. resultado final das partidas.
Já a superioridade encontrada no IPT
Unidade Ofensiva remete a uma movimentação Conclusões
ofensiva conjunta, que facilita a troca de bola Os jogadores das equipes vencedoras
entre os jogadores. Este índice indica que os apresentaram superioridade em relação aos
jogadores se movimentaram em “bloco”, perdedores em princípios táticos específicos da
diminuindo a distância entre suas linhas fase defensiva e ofensiva de jogo, além de uma
longitudinais e transversais, movimentações que postura tática distinta. Os vencedores optaram
tendem a aumentar a confiança dos jogadores pela defesa em bloco baixo, indicado pelo maior
presentes no centro de jogo para a criação de número de Ações defensivas no meio campo
desequilíbrios e instabilidades na organização defensivo, postura esta que apresentou maior
defensiva adversária37. A partir da Unidade eficácia neste estudo. Quanto à frequência de

R. bras. Ci. e Mov 2013;21(1):75-89.


87 Análise tática de jovens jogadores de futebol

realização, as equipes vencedoras apresentaram ofensiva em equipas de alto rendimento.


Porto1997.
superioridade nos princípios defensivos
6. Giacomini DS, Greco PJ. Comparação
Equilíbrio e Unidade Defensiva, o que refletiu no
do conhecimento tático processual em jogadores
maior número de Recuperação da posse de bola de futebol de diferentes categorias e posições.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto.
por parte destas. Também houve diferenças
2008;8:126-
significativas em favor das equipes vencedoras
7. Memmert D. Testing of tactical
nas variáveis Continuar sem a posse de bola e performance in youth elite soccer. J Sport Sci
Med 2010;9(2):199-205.
Realizar finalização ao gol, o que indica que estas
8. Teodorescu L. Problemas da teoria e
equipes optaram por movimentações diretas
metodologia nos jogos desportivos. Lisboa:
quando na posse da bola. Na fase ofensiva, a Livros Horizontes Lta; 1984.
superioridade das equipes vencedoras foi 9. Oliveira J. Conhecimento específico em
constatada pelos maiores IPTs nos princípios futebol. Contributos para a definição de uma
matriz dinâmica do processo ensino-
ofensivos Penetração, Unidade Ofensiva e Fase aprendizagem do jogo. Porto2004.
ofensiva de jogo. 10. Horn R, Williams AM. A look ahead to
Tomando todos os resultados em conjunto, world cup 2002: what do the last 40 years tell us.
Coaching. 2002;5(2).
as equipes vencedoras apresentaram superioridade
11. Carron A, Bray SR, Eys MA. Team
no comportamento e desempenho tático em cohesion and team success in sport. Journal of
relação às derrotadas em ambas as fases de jogo. Sports Sciences. 2002;1(2):119-26.

Como limitações do estudo e a possibilidade de 12. Lago C. Are winners different from
losers? Performance and chance in the FIFA
desenvolvimento em futuro estudos podemos World Cup Germany 2006. International
destacar a inclusão da regra do impedimento, bem Journal of Performance Analysis in Sport.
2007;7(2):36-47.
como a análise de jogos de 5x5, 7x7 e 11x11 a
13. Ostojic SM. Characteristics of elite and
partir dos princípios táticos empregados no FUT- non-elite Yugoslav soccer players: Correlates of
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DOI: 10.4025/jphyseduc.v27i1.2710  

Artigo Original

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO TÁTICO DOS JOGADORES DE FUTEBOL DE


CATEGORIA DE BASE

ANALYSIS OF THE TACTICAL BEHAVIOR IN SOCCER PLAYERS OF DIFFERENT AGE


LEVELS
1 1 1
Henrique Bueno Américo , Felippe da Silva Leite Cardoso , Guilherme Figueiredo Machado , Marcelo
1 1 1
Odilon Cabral de Andrade , Elton Ribeiro Resende e Israel Teoldo da Costa
1
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.

RESUMO
O objetivo do estudo foi comparar a eficiência do comportamento tático entre os jogadores de futebol de diferentes categorias
etárias. A amostra foi composta por 400 jogadores divididos em quatro categorias (sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17), que
realizaram no total 23.855 ações táticas. Para avaliação da eficiência do comportamento tático dos jogadores foi utilizado o
FUT-SAT. Para o tratamento estatístico, foram realizadas análises descritivas, os testes Kolmogorov-Smirnov, Kruskal-
Wallis, Mann-Whitney e foi considerado um nível de significância de p<0,05. Os resultados indicam que a eficiência do
comportamento tático tende a aumentar ao longo do tempo, com exceção da categoria Sub-15 que apresenta uma queda
acentuada em relação às demais. Assim é possível concluir que existem variações na eficiência do comportamento tático de
jogadores de futebol de diferentes categorias etárias.
Palavras-chave: Futebol. Comportamento tático. Categorias etárias.

ABSTRACT
The aim of this study was to compare the efficiency of tactical behavior between soccer players across different age levels.
The sample was comprised of 400 players divided into four age groups (Under-11, -13, -15, and -17), which performed
23,855 tactical actions. To assess the tactical behavior efficiency of players was used the FUT-SAT. For statistical treatment
descriptive analysis was performed. The tests Kolmogorov-Smirnov, Kruskal-Wallis, Mann-Whitney were conducted, and the
level of significance of p<0,05 was adopted. The results indicated that the efficiency of tactical behavior tends to increase
over time, except for the U-15 category that has a sharp drop in relation to the others. It is concluded that the efficiency of
tactical behavior of the players in soccer show differences across different age levels.
Keywords: Soccer. Tactical behavior. Training categories.

Introdução

No futebol, a componente tática é essencial para o jogo, pois diz respeito ao


posicionamento e movimentações realizadas pelos jogadores no espaço de jogo, promovendo
uma organização para a construção das ações táticas1. Esta organização permite que os
jogadores realizem ações com ou sem bola nas fases ofensivas, defensivas e nos fragmentos
de jogo, evidenciando assim seu comportamento tático2.
O comportamento tático é a resposta dada pelos jogadores, diante diferentes situações
que ocorrem no jogo3. Esse comportamento pode ser categorizado em princípios táticos
fundamentais, os quais são um conjunto de regras que orientam as movimentações dos
jogadores, para solucionar os constrangimentos surgidos numa partida de futebol4-7.
A partir da avaliação dos princípios táticos, torna-se possível verificar a qualidade da
realização das ações, ou eficiência do comportamento tático dos jogadores8. A eficiência do
comportamento tático leva em consideração a frequência das ações realizadas pelos jogadores
e seu respectivo percentual de acerto, caracterizando assim, se a ação foi bem ou mal
sucedida2,9. Identificar este aspecto no jogo possibilita reconhecer ganhos ou perdas
substancias do jogador na componente tática ao longo do tempo, sendo, portanto uma variável

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Página 2 de 9 Américo et al.

que pode auxiliar no controle desta componente durante o processo de formação dos
jogadores10.
Recentemente, estudos vêm apresentando diferença na eficiência do comportamento
tático entre as diferentes categorias etárias. Teoldo e colaboradores11 compararam a eficiência
do comportamento tático de jogadores das categorias Sub-11, Sub-13, Sub-15 e Sub-19. Os
autores observaram que os jogadores da categoria mais avançada realizam maior frequência
de ações, comparado às outras categorias e, foram mais eficientes. Tal fato foi relacionado à
capacidade de entendimento da lógica de jogo que vai sendo adquirida ao longo dos anos,
influenciado por aspectos cognitivos, como o conhecimento de jogo, e motores, devido à
melhora das capacidades técnicas e habilidades motoras13.
Ainda nesta linha, um estudo realizado por Giacomini e Greco14, foi evidenciada que
quanto mais avançada à categoria (em termos cronológicos), maior o conhecimento tático
processual dos jogadores. Posteriormente, os mesmos autores verificaram resultados
parecidos para o conhecimento tático declarativo, onde os jogadores de categorias etárias mais
novas obtiveram menor conhecimento que os jogadores das categorias mais velhas15. Os
autores justificam estes achados uma vez que jogadores das categorias mais avançada
apresentam maior tempo de prática e experiência adquirida em treinamento específico da
modalidade.
Sendo assim, percebe-se que os jogadores necessitam do desenvolvimento do processo
cognitivo para melhor compreender e desempenhar suas funções durante o jogo de futebol16 e
cada categoria apresenta suas próprias especificidades17. Dessa forma, torna-se importante
avaliar a eficiência do comportamento tático nas diferentes categorias etárias para entender
como esta variável se comporta durante o processo de formação e identificar características a
serem desenvolvidas e aprimoradas para a práxis. Com isso, se torna plausível propor uma
orientação metodológica de ensino no futebol, levando em consideração as alterações de
comportamentos ocorridas em cada categoria17-18.
Visando auxiliar nestes aspectos citados anteriormente, o objetivo do presente estudo é
comparar a eficiência do comportamento tático entre os jogadores de futebol nas diferentes
categorias etárias.
Métodos
Amostra
A amostra foi composta por 400 jogadores de futebol do sexo masculino, pertencentes
às categorias Sub-11 (n=100), Sub-13 (n=100), Sub-15 (n=100) e Sub-17 (n=100) de clubes
de formação do interior do estado de Minas Gerais. Esses jogadores realizaram 23.292 ações
táticas [Sub-11 (5.179); Sub-13 (5.269); Sub-15 (5.996) e Sub-17 (6.848)].
Como critério de inclusão no estudo, os jogadores deveriam participar de programas
sistematizados de formação esportiva visando o rendimento, com no mínimo três sessões de
treinos específicos no futebol por semana e disputar campeonatos de nível regional e/ou
estadual. Os jogadores deveriam participar destes programas de treino por no mínimo um ano
para categoria Sub-11, dois anos para Sub-13 e três anos para as demais categorias.

Procedimentos éticos
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos da Universidade Federal de Viçosa (CEPH. Of. 132/2012). Atende às normas
estabelecidas pela resolução do Conselho Nacional em Saúde (466/2012) e do tratado de Ética
de Helsinque (2008). As coletas foram realizadas com o consentimento dos responsáveis
pelos clubes. Os jogadores e seus responsáveis legais assinaram um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.

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Análise do comportamento tático dos jogadores de futebol de categoria de base Página 3 de 9

Instrumento de coleta de dados


Para avaliação da eficiência do comportamento tático dos jogadores, foi utilizado o
Sistema de Avaliação Tática no Futebol (FUT-SAT)8. Este instrumento permite avaliar as
ações táticas dos jogadores, com e sem bola, tomando por base os dez princípios táticos
fundamentais do jogo de futebol. Os princípios táticos fundamentais do jogo de futebol são
divididos em cinco princípios para a fase ofensiva e cinco princípios para a fase defensiva,
como é possível observar na Figura 119.
Categoria Sub-categorias Variáveis Definições
Redução da distância entre o portador da bola e a
Penetração
baliza ou a linha de fundo adversária.
Oferecimento de apoios ofensivos ao portador da
Cobertura Ofensiva
bola.
Criação de instabilidade na organização defensiva
Mobilidade
Ofensivo adversária.
Utilização e ampliação dos espaços de jogo
Espaço
efetivo em largura e profundidade.
Movimentação de avanço ou apoio ofensivo do(s)
Princípios
Unidade Ofensiva jogador(es) que compõe(m) a(s) última(s) linha(s)
táticos
transversais da equipe.
fundamentais
Contenção Realização de oposição ao portador da bola.
Oferecimento de apoios defensivos ao jogador de
Cobertura Defensiva
contenção.
Estabilidade ou superioridade numérica nas
Equilíbrio
Defensivo relações de oposição.
Aumento da proteção defensiva na zona de maior
Concentração
risco à baliza.
Redução do espaço de jogo efetivo da equipe
Unidade Defensiva
adversária.
Figura 1. Princípios táticos fundamentais do jogo de futebol.
Fonte: Teoldo et al.7.

Procedimento de coleta de dados


O teste de campo do FUT-SAT (GR+3 vs. 3+GR) ocorreu em um campo de 36 metros
de comprimento por 27 metros de largura, durante quatro minutos. Os jogadores foram
divididos aleatoriamente em equipes com três jogadores (para tentar equilibrar a qualidade
das equipes, o treinador responsável auxiliou nesta divisão) e os confrontos foram realizados
entre equipes da mesma categoria. Cada equipe utilizou coletes de cores diferentes e
numerados, com o objetivo de facilitar a identificação desses jogadores no vídeo.
Durante o jogo foi solicitado aos jogadores que jogassem de acordo com as regras
oficiais do futebol. Antes de iniciar a tarefa experimental, os procedimentos de teste foram
devidamente explicados. Foram concedidos 30 segundos de familiarização dos jogadores com
o teste antes de iniciá-lo.

Material
Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmara digital (SONY® modelo
HDRXR100). O vídeo obtido foi introduzido, em formato digital, através de um computador
portátil (DELL® modelo Inspiron N4030 processador Intel Core™ i3) via cabo USB, sendo
convertidos em arquivo “avi”, através do software Fortmat Factory para Windows®. Para o
tratamento das imagens e análise dos jogos foi utilizado o software Soccer Analyser®. Este
software possibilita a inserção das referências espaciais do teste no vídeo e viabiliza a
avaliação confiável das ações táticas, baseando-se nas movimentações e posicionamento dos
jogadores no campo de jogo.

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Página 4 de 9 Américo et al.

Análise estatística
Foi utilizada estatística descritiva (média e desvio padrão). Para verificar a
normalidade de distribuição dos dados foi aplicado o teste Kolmogorov-Smirnov, apontando
que os dados apresentaram uma distribuição não paramétrica. Para comparar a eficiência do
comportamento tático na realização dos princípios táticos entre as categorias etárias foi
utilizado o teste Kruskal-Wallis. O teste Mann-Whitney foi utilizado para localizar entre quais
categorias ocorreram as diferenças.
Para todas as análises foi utilizado o software SPSS para Windows® versão 20.0. Para
corrigir o nível de significância, devido às múltiplas comparações, foi utilizada a correção de
Bonferroni. Deste modo, foi considerado um nível de significância corrigido de p<0,0083.

Análise da fiabilidade
A fiabilidade foi realizada através do método de teste-reteste. Foi respeitado o prazo
mínimo de três semanas entre as avaliações para evitar uma possível familiaridade com os
dados20. Para o cálculo da fiabilidade foi utilizado o teste Kappa de Cohen. Foram reavaliadas
4.290 ações táticas, que representa 17,98% do total das ações realizadas pelos jogadores. Esse
valor é superior ao valor de referência (10%) apontado pela literatura21. Os resultados do
reteste apresentaram fiabilidade intra-avaliador com valores situados entre o mínimo 0,823
(ep=0,015) e máximo 0,987 (EP=0,006). Para a fiabilidade inter-avaliador, os resultados
situaram-se entre o mínimo 0,847 (EP=0,033) e o máximo 0,987 (EP=0,005).

Resultados

A Figura 1 apresenta os resultados referentes à eficiência do comportamento tático


ofensivo (avaliado pelo percentual de acerto dos princípios táticos fundamentais) nas
diferentes categorias etárias.

Figura 1. Percentual de acerto dos Princípios Táticos Ofensivos.


*Diferenças significativas: Sub-11 x Sub-13: Espaço (p=0,001) e Total Ofensivo (p<0,001); Sub-11 x Sub-15: Unidade
Ofensiva (p<0,001) e Total Ofensivo (p=0,002); Sub-11 x Sub-17: Unidade Ofensiva (p<0,001) e Total Ofensivo (p<0,001);
Sub-13 x Sub-15: Cobertura Ofensiva (p<0,001), Espaço (p=0,001), Unidade Ofensiva (p<0,001) e Total Ofensivo
(p<0,001);Sub-13 x Sub-17: Unidade Ofensiva (p=0,001); Sub-15 x Sub-17: Penetração (p=0,008), Cobertura Ofensiva
(p=0,005), Unidade Ofensiva (p<0,001) e Total Ofensivo (p<0,001).
Fonte: Os autores.

Ao observar os resultados, percebe-se que os jogadores da categoria Sub-17 e Sub-13


foram mais eficientes na realização dos princípios táticos ofensivos (Ttof) (90,32 ± 7,86 e

J. Phys. Educ. v, 27, e2710, 2016.


Análise do comportamento tático dos jogadores de futebol de categoria de base Página 5 de 9

89,25 ± 8,32, respectivamente), seguidos pelos jogadores das categorias Sub-11 (83,59 ±
10,54) e Sub-15 (79,29 ± 9,20).
É possível observar ainda que os princípios ofensivos realizados de maneira mais
eficiente foram a cobertura ofensiva (Cbof) e o espaço (Esp). Já o princípio de mobilidade de
ruptura (Mbru) obteve os menores valores de eficiência de realização.
A Figura 2 apresenta os resultados referentes à eficiência do comportamento tático
defensivo nas diferentes categorias etárias.

Figura 2. Percentual de acerto dos Princípios Táticos Defensivos.


*Diferenças significativas: Sub-11 x Sub-13: Cobertura Defensiva (p=0,003), Equilíbrio (p=0,008), Unidade Defensiva
(p<0,001) e Total Defensivo (p<0,001); Sub-11 x Sub-15: Contenção (p<0,001), Equilíbrio (p=0,007), Concentração
(p<0,001) e Total Defensivo (p<0,001); Sub-11 x Sub-17: Contenção (p<0,001), Equilíbrio (p=0,002), Unidade Defensiva
(p<0,001) e Total Defensivo (p<0,001); Sub-13 x Sub-15: Contenção (p<0,001), Cobertura Defensiva (p<0,001), Equilíbrio
(p<0,001), Concentração (p<0,001), Unidade Defensiva (p<0,001) e Total Defensivo (p<0,001); Sub-15 x Sub-17: Contenção
(p<0,001), Cobertura Defensiva (p<0,001), Equilíbrio (p<0,001), Concentração (p<0,001), Unidade Defensiva (p<0,001) e
Total Defensivo (p<0,001).
Fonte: Os autores.

Percebe-se que os jogadores da categoria Sub-17 (82,26 ± 10,81) e Sub-13 (80,44 ±


11,92) foram mais eficientes na realização dos princípios táticos defensivos (Ttdef), seguidos
pelos jogadores das categorias Sub-11 (71,39 ± 14,85) e Sub-15 (62,11 ± 13,96).
É possível observar ainda que o princípio defensivo realizado de maneira mais
eficiente foi à concentração (Conc). Já os princípios de cobertura defensiva (Cdef) e
contenção (Cont) obtiveram os menores valores de eficiência de realização.
De modo geral, os resultados permitem observar um aumento da eficiência do
comportamento tático dos jogadores da categoria Sub-11 (77,49±14,23) para a Sub-13 (88,85
±11,17), um declínio na categoria Sub-15 (70,71 ±14,59) e novamente um aumento na
categoria Sub-17 (86,29 ± 10,26).

Discussão

O objetivo do presente estudo foi comparar a eficiência do comportamento tático entre


jogadores de futebol de diferentes categorias etárias.
Os resultados evidenciam que os jogadores da categoria Sub-11 são menos eficientes
na realização do comportamento tático que os jogadores da Sub-13 e Sub-17, o que pode ser
explicado pelo fato deles estarem numa fase inicial de compreensão da lógica do jogo de
futebol16. Esses achados corroboram com o estudo de Teoldo et al.10, onde foi comparada a
eficiência do comportamento tático entre jogadores das categorias Sub-11 à Sub-20. Nesse
estudo foi encontrado que os jogadores mais novos são menos eficientes que os jogadores das

J. Phys. Educ. v, 27, e2710, 2016.


Página 6 de 9 Américo et al.

categorias mais avançadas, pois, à medida que o jogador vai progredindo no processo de
formação ele estará aprendendo através dos constrangimentos, dos treinamentos e das
exigências da competição.
É possível inferir ainda, que esses jogadores mais novos podem apresentar
dificuldades na gestão do espaço e na realização dos princípios táticos fundamentais, levando
em consideração que esses princípios requerem pensamento abstrato e testagem de hipóteses
para melhor ocupação e movimentação dos jogadores no espaço de jogo22-23,16. Tendo em
vista que os jogadores dessa categoria ainda não têm o desenvolvimento cognitivo
completamente desenvolvido, o treinamento visando à melhora dos princípios fundamentais
deve ser iniciado por volta dos 12/13 anos de idade, período em que o desenvolvimento
cognitivo do jogador estará desenvolvido ou em fase final de desenvolvimento22,24,23.
Na categoria Sub-13, os jogadores apresentaram uma melhora na eficiência do
comportamento tático em detrimento da categoria Sub-11, fato este, que já era esperado e é
corroborado por estudos como o de Teoldo et al.12 e Vaeyens et al.25. Os autores apontam que
jogadores dessa categoria etária apresentam maior conhecimento tático do jogo e procuram se
situar atrás da linha da bola quando sua equipe está atacando, facilitando assim, a realização
de passes. Com isso, eles diminuem a dificuldade da realização dos princípios táticos
fundamentais e apresentam melhores resultados na eficiência do comportamento tático.
Já na categoria Sub-15, os resultados apontam para um declínio da eficiência do
comportamento tático. Estes achados indicam uma necessidade de atenção especial com esta
categoria, uma vez que além das mudanças corporais que estão ocorrendo devido ao pico de
velocidade de crescimento que podem interferir nos gestos técnicos e nas habilidades
motoras26, ocorre ainda uma modificação no ambiente social. Neste período os jovens
começam a se interessar por outros “atrativos sociais” tendo uma queda acentuada do foco, o
que aparentemente interfere no aspecto esportivo27. Além disso, Greco e Benda17, e Barth28,
indicam que nessa idade é necessário uma adaptação, pois, os jogadores estão entrando na
fase de direção, período em que aumenta o número de competições e consequentemente
aumenta a pressão sobre os jogadores. Assim é necessário que os treinadores e profissionais
que trabalham na área tenham uma atenção especial com esta categoria.
Por fim, os resultados da categoria Sub-17 apontam que estes jogadores foram mais
eficientes quando comparados aos jogadores das categorias Sub-11 e Sub-15. Um dos fatores
que pode ter interferido neste resultado trata-se dos jogadores já estarem adaptados ao
treinamento e iniciado a fase de especialização, tendo já consolidado o conhecimento tático de
jogo17. Nos estudos de Giacomini et al.29-30, foi evidenciado que os jogadores da categoria
Sub-17 apresentam maior conhecimento tático processual e declarativo em relação aos
jogadores das categorias mais novas. Já Machado et al.13 apresentam que os jogadores dessa
categoria melhoram a performance realizando de forma mais eficiente os princípios de
“espaço” e “penetração”. Esses princípios demandam maior conhecimento do espaço do jogo
e melhor capacidade técnica, necessitando de uma melhor estrutura cognitiva para tomar
decisões mais apropriadas.
Além disso, é provável que os jogadores da categoria Sub-17 dispuseram de um maior
tempo de prática no treinamento específico da modalidade, apresentando maior conhecimento
acerca da organização do espaço no jogo31-32. Dessa forma, os jogadores dessa categoria etária
são capazes de compreender melhor os princípios táticos de jogo, mesmo tendo aumentado a
dificuldade imposta pelos adversários. Isso favorece para que eles tomem melhores decisões
e, consequentemente, melhorem a eficiência do seu comportamento tático no jogo33-34.
Futuras pesquisas podem estender esses resultados, comparando outros grupos e níveis
competitivos, com o objetivo de verificar se a eficiência do comportamento tático é igual ou
diferente, quando executadas por outros jogadores. Além disso, sugere-se realizar uma

J. Phys. Educ. v, 27, e2710, 2016.


Análise do comportamento tático dos jogadores de futebol de categoria de base Página 7 de 9

pesquisa longitudinal para acompanhar o desenvolvimento de um mesmo grupo de jogadores


desde o início do processo de formação até quando esse grupo chegar à equipe profissional,
com o intuito de verificar o desenvolvimento durante todo o processo de formação.

Conclusão

Com base nesses resultados, pode-se concluir que existem diferenças da eficiência do
comportamento tático entre os jogadores das categorias de base. Observa-se que houve uma
evolução geral das categorias mais novas para as categorias mais velhas. A exceção foram os
jogadores da categoria Sub-15, onde os resultados mostram um declínio da eficiência do
comportamento tático.
De acordo com esses achados, é aconselhável que a comissão técnica introduza de
forma gradual o ensino dos princípios táticos fundamentais do jogo na categoria Sub-11, com
exercícios menos complexos. Esses exercícios podem focar em princípios táticos que ocorrem
dentro do centro de jogo, como a penetração e cobertura ofensiva, na fase ofensiva, e
contenção e cobertura defensiva, na fase defensiva, por serem menos complexos. Na categoria
Sub-13 já é possível aprofundar no ensinamento dos princípios táticos fundamentais, pois, os
jogadores já apresentam um pensamento abstrato do jogo de futebol. Com isso, são indicados
exercícios que trabalhem os princípios táticos próximos ao centro de jogo, como espaço, na
fase ofensiva, e concentração e equilíbrio defensivo, na fase defensiva.
Para os jogadores da categoria Sub-15 é sugerido uma progressão gradativa na
complexidade do treinamento, paciência para uma possível queda de rendimento devido às
alterações corporais acentuadas nessa faixa etária e também atentar com os problemas sociais
que geralmente ocorrem nessa idade. Além disso, os princípios táticos longe do centro de jogo
podem ser trabalhados com maior ênfase nesta faixa etária, sendo a mobilidade e unidade
ofensiva, na fase ofensiva, e unidade defensiva, na fase defensiva. Já na categoria Sub-17 é
importante treinar com mais ênfase os princípios que irão melhorar significativamente o
desempenho dos jogadores, como a criação de espaços na fase ofensiva, redução do espaço
efetivo do jogo na fase defensiva e aprimoramento das habilidades técnicas para obter melhor
desempenho nos princípios táticos através do contato com a bola. Outra especificidade desta
categoria é a possibilidade de se trabalhar princípios táticos fundamentais diferentes de acordo
com o estatuto posicional dos jogadores, uma vez que estes jogadores já se encontram numa
fase final de desenvolvimento esportivo. Dessa forma, será possível formar jogadores mais
inteligentes e que sejam capazes de tomar a melhor decisão diante das dificuldades
encontradas dentro do jogo durante todo o processo de formação.

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Recebido em 06/05/15.
Revisado em 23/11/15.
Aceito em 20/12/15.

Autor para correspondência: Henrique Bueno Américo, Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol – NUPEF - Universidade Federal de
Viçosa. Av. PH. Rolfs, S/N. Campus Universitário. Viçosa-MG. CEP- 36570-000. E-mail:
henriquebamerico@hotmail.com

J. Phys. Educ. v, 27, e2710, 2016.


DOI: 10.4025/reveducfis.v24.3.18902

Influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo


reduzido de futebol1

Influence of tactical performance over the final score of small-sided soccer


matches

Felipe Moniz Carvalho*


Alcides José Scaglia**
Israel Teoldo da Costa***

Resumo
O estudo teve como objetivo verificar a influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo reduzido de futebol. A
amostra foi composta por 32 resultados da categoria sub-13, distribuídas em: 12 vitórias, 12 derrotas e 8 empates. Para obter o
desempenho tático dos jogadores, foram analisadas 5004 ações táticas. O instrumento utilizado para recolha e análise dos dados foi
o Sistema de Avaliação Tática no Futebol “FUT-SAT”. Foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov para análise da distribuição dos
dados e teste Anova one-way para comparação dos resultados obtidos, com nível de significância de 0,05. Foi verificada diferença
significativa do Empate sobre Derrota e Vitória. Os menores valores de desempenho ofensivo e maior valor de Contenção podem
ter influenciado o Empate. O maior valor de Mobilidade e Unidade Ofensiva pode ter determinado a Vitória. Concluiu-se que o
desempenho tático influenciou os resultados de Empate e Vitória.
Palavras-chave: Futebol. Desempenho tático. Resultado.

INTRODUÇÃO internacionais utilizaram indicadores de ordem


técnica como parâmetro de diferenciação entre
A avaliação do desempenho no futebol equipes, através do resultado final da partida.
é utilizada para ilustrar a capacidade que (LAGO-BALLESTEROS; LAGO-PEÑAS,
jogador e equipe possuem na realização de 2010; LAGO-PEÑAS et al., 2010; LAGO-
ações perante o adversário em uma partida PEÑAS; LAGO-BALLESTEROS; REY, 2011;
(GREHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, CASTELLANO; CASAMICHANA; LAGO,
1997). Desse modo, a seleção ou combinação 2012). Nesses estudos, os autores indicam que
de variáveis denominadas indicadores de as ações técnicas, como passe, finalização ao
desempenho configuram um importante gol, cruzamentos e posse de bola, são decisivas
instrumento de identificação das aptidões dos para que as equipes saiam vencedoras ou
jogadores, que, por sua vez, estão intimamente perdedoras.
ligadas ao resultado da partida (HUGHES; A realização dessas ações, denominada
BARTLETT, 2002). técnica, é responsável por executar
Pesquisas que avaliaram o desempenho determinados movimentos específicos diante
de jogadores em campeonatos nacionais e das situações que ocorrem na partida (GRECO;

1
Apoio: FAPEMIG
*
Especialista. Núcleo de Estudos e Pesquisa em Futebol da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.
**
Doutor. Curso de Ciências do Esporte, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, Brasil.
***
Doutor. Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 393-400, 3. trim. 2013


394 Carvalho, Scaglia e Costa

BENDA, 1998). Entretanto, de forma isolada, de treinamento adequada, de acordo com


não apresenta importância para o contexto o desempenho tático ofensivo e defensivo
do futebol. Dessa forma, a componente tática (GARGANTA; GRÉHAIGNE, 1999;
se configura como a que apresenta maior GARGANTA, 2009).
importância para os resultados possíveis Desse modo, a influência do desempe-
(GARGANTA, 2001). nho tático sobre o resultado final em jogo redu-
Indicadores de ordem tática zido de futebol deve ser enfatizada na avaliação
demonstram como uma equipe realiza ações de jogadores da equipe, devido à sua importân-
motoras expressas por comportamentos, a fim cia no contexto de jogo. O presente estudo tem
de organizar-se no campo de jogo na busca pela como objetivo verificar a influência do desem-
realização dos objetivos, por conseguinte o gol penho tático sobre o resultado final em jogo re-
(GRECO; BENDA, 1998). Essa organização duzido de futebol.
é necessária, pois, no futebol, as situações são
imprevisíveis e aleatórias, exigindo do jogador
conhecimento acerca do jogo para realizar MATERIAIS E MÉTODOS
comportamentos eficientes (GARGANTA;
GRÉHAIGNE, 1999; COSTA et al., 2002). Amostra
Esses comportamentos são embasa-
dos em regras de ação, que podem ser enten- A amostra foi composta por 32
didas como princípios táticos que auxiliam os resultados da categoria sub-13, com a seguinte
jogadores durante o jogo, de maneira eficien- distribuição: 12 vitórias, 12 derrotas e 8
te, resultando em melhor desempenho tático empates. Foram realizadas 5004 ações táticas
(BAYER, 1994; TEOLDO et al., 2009). Esse por 96 jogadores (exceto goleiros), que foram
desempenho pode ser utilizado para comparar utilizadas para realizar o cálculo do desempenho
jogadores e equipes que se enfrentam, demons- tático de 32 equipes.
trando sua possível influência no resultado final Como critério de seleção da amostra,
da partida (HUGHES; BARTLETT, 2002). os jogadores deveriam estar inscritos em
Dessa forma, identificar essa influência programas sistemáticos de formação esportiva
pode permitir aos treinadores a seleção (escolinhas ou clubes) com, no mínimo,
qualificada dos jogadores, mediante o seu três sessões de treino por semana, além de
desempenho no resultado, para atuarem nos participarem de campeonatos de futebol em
jogos (GARGANTA, 1996). Além disso, nível regional ou estadual.
possibilitaria a compreensão do processo
organizacional sistêmico do jogo pelos Instrumentos
treinadores, com intuito de melhorar os
treinamentos, facilitando o aprendizado O instrumento utilizado para avaliar os
durante a formação do jogador (REVERDITO; jogadores foi o Sistema de Avaliação Tática no
SCAGLIA, 2007; LEONARDO; SCAGLIA; Futebol “FUT-SAT” (TEOLDO et al., 2011),
REVERDITO, 2009; SCAGLIA, 2011). que permite avaliar as ações táticas, com e sem
Assim sendo, é possível que essas informações bola, realizadas no teste de campo GR+3 vs.
sirvam para selecionar e programar sessão 3+GR (goleiro + 3 jogadores vs. 3 jogadores +

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 393-400, 3. trim. 2013


Influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo reduzido de futebol 395

goleiro), durante 4 minutos de jogo em espaço do impedimento. Foram concedidos trinta


reduzido de 36 metros de comprimento por 27 segundos para a familiarização dos jogadores
metros de largura. com o teste, antes do início deste.
O “FUT-SAT” avalia dez princípios
táticos fundamentais do futebol, sendo Materiais
cinco para a fase ofensiva: i) penetração, ii)
cobertura ofensiva, iii) mobilidade, iv) espaço Para a gravação dos jogos, foi
e v) unidade ofensiva; e cinco para a fase utilizada uma câmera digital SONY modelo
defensiva: i) contenção, ii) cobertura defensiva, HDR-XR100. O material de vídeo obtido
iii) equilíbrio, iv) concentração e v) unidade foi introduzido, em formato digital, em um
defensiva (TEOLDO et al., 2009). computador portátil (DELL modelo Inspiron
N4030 processador Intel Core™ i3) via cabo
Procedimento Ético USB e convertido em arquivos “avi.” por meio
do software Prism Video Converter. Inc. Para o
O presente estudo foi aprovado pelo tratamento das imagens e a análise dos jogos,
Comitê de Ética em Pesquisas com Seres foi utilizado o software Soccer Analyzer.
Humanos, sob protocolo de número 130 (Of.
Ref. Nº 130/2011/Comitê de Ética) e atende Análise Estatística
às normas do tratado de Helsinki de 1996. O
estudo foi realizado com o consentimento dos Para caracterização da amostra, foi
responsáveis legais dos clubes e dos jogadores, utilizada análise descritiva (média e desvio
que preencheram um termo de consentimento padrão) para o Índice de Performance Tática
livre e esclarecido, permitindo a participação (IPT) dos Princípios Táticos da fase Ofensiva
dos jogadores que compõem esta amostra. e Defensiva que usaram a equação: ∑ ações
táticas (RP × QR × LA × RA) / número de ações
Procedimento de Coleta de Dados táticas, sendo considerados: a realização do
princípio (RP), a qualidade da realização (QR),
Para a realização da coleta de dados, a localização da ação (LA) e o resultado da ação
os pesquisadores entraram em contato com (RA) (TEOLDO et al., 2011). Para verificação
os representantes de cada clube e com os da distribuição dos dados, foi utilizado o teste
treinadores responsáveis pela categoria Sub-13. Kolmogorov-Smirnov. Para verificar a diferença
Os primeiros contatos foram feitos por telefone das médias do Índice de Performance Tática
e/ou visitas técnicas para convidar o clube e (IPT) dos Princípios Táticos entre os resultados,
dar explicações a respeito dos procedimentos foi utilizado o ANOVA one way. Foi utilizado o
de pesquisa. post hoc de Tukey para verificar a ocorrência de
Para a realização do teste de campo diferenças significativas entre grupos. Adotou-
do FUT-SAT, os praticantes foram divididos se o nível de significância de p<0,05.
em duas equipes, com três jogadores de linha Para verificar a fiabilidade, foi utilizado
e um goleiro. Cada equipe utilizava um jogo o método teste-reteste. As sessões para
de coletes numerados e de cores diferentes. determinar a fiabilidade foram realizadas,
Durante a aplicação do teste, foi solicitado aos respeitando um intervalo de três semanas
jogadores para que jogassem de acordo com as para evitar problemas de familiaridade com
regras oficiais do jogo, com exceção da regra a tarefa (ROBINSON; O’DONOGHUE,

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 393-400, 3. trim. 2013


396 Carvalho, Scaglia e Costa

2007). A fiabilidade foi calculada, utilizando- resultados de Vitória, Derrota e Empate.


se o teste Kappa de Cohen. Para sua análise, Verificou-se que, nos resultados de
foram reavaliadas 867 ações táticas, que vitória e derrota, os maiores valores de média
representaram 17,34% da amostra, um valor foram observados durante a fase ofensiva.
superior ao de referência (10%), apontado pela Foram observadas diferenças significativas
literatura (TABACHNICK; FIDELL, 2007). nos princípios táticos entre os resultados de
Nesse procedimento, participaram três jogo, sendo: i) entre os resultados de empate
avaliadores treinados. Os resultados do reteste e vitória/ empate e derrota: [Penetração F(2,93)
apresentaram fiabilidade intra-avaliadores = 18,09, Cobertura Ofensiva F(2,93) = 85,36,
com valores situados entre o mínimo 0,814 Espaço F(2,93) = 62,99, e Unidade Ofensiva
(ep=0,028) e o máximo 0,987 (ep=0,006). F(2,93) = 16,87, Cobertura Defensiva F(2,93) =
Para a fiabilidade interavaliadores, os valores 4,82, Concentração F(2,93) = 19,96 e Unidade
situaram-se entre o mínimo 0,881 (ep=0,015) e Defensiva F(2,93) = 25,34]; ii) somente entre
o máximo 0,987 (ep=0,005). Para o tratamento os resultados de empate e vitória: Mobilidade
estatístico dos dados, utilizou-se o software F(2,93) = 3,59.
SPSS (Statistical Package for Social Science) A Tabela 2 apresenta os valores de
for Windows®, versão 18.0. média do Índice de Performance Tática
Ofensivo (IPTO), Defensivo (IPTD) e de Jogo
(IPTJ). Foi observado que o IPTO apresentou
RESULTADOS os maiores valores e não houve diferença
significativa dos IPT entre os resultados IPTO
A Tabela 1 apresenta os valores de média [F(2,93) = 0,092], IPTD [F(2,93) = 1,692] e IPTJ
e desvio padrão do Índice de Performance [F(2,93) = 0,081].
Tática (IPT) dos Princípios Táticos entre os

Tabela 1 - Média e desvio padrão do Índice de Performance Tática dos princípios táticos entre os resulta-
dos do jogo.
IPT Vitória Derrota Empate p
Ofensivo
Penetraçãoab 45,92±23,18 50,25±24,51 13,54±26,55 0,001
Cobertura Ofensiva ab
46,04±11,32 47,59±11,36 10,96±12,54 0,001
Mobilidade ab
41,93±34,30 40,27±33,91 19,58±34,28 0,031
Espaçoab 42,92±7,28 43,33±5,45 17,43±15,98 0,001
Unidade Ofensivaab 48,05±26,34 38,52±27,34 9,94±20,00 0,001
Defensivo
Contenção 30,89±10,22 30,91±11,23 40,07±32,06 0,114
Cobertura Defensivaab 27,85±23,60 30,18±21,27 12,08±25,83 0,001
Equilíbrio 32,96±12,61 29,46±13,27 23,56±25,51 0,115
Concentração ab
32,42±15,55 30,79±14,62 9,12±15,27 0,001
Unidade Defensiva ab
33,92±8,88 34,04±8,20 14,79±17,49 0,001
(a) Diferença entre Empate e Vitória; (b) Diferença entre Empate e Derrota.

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Influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo reduzido de futebol 397

Tabela 2 - Média e desvio padrão do Índice de Performance Tática Ofensivo, Defensivo e de Jogo entre os
resultados do jogo.
Índices Vitória Derrota Empate p
IPTO 48,37±7,53 47,74±7,47 47,70±6,26 0,912
IPTD 33,52±5,86 33,65±5,55 36,38±8,3 0,190
IPTJ 38,50±4,87 38,39±4,62 46,27±4,52 0,922

DISCUSSÃO dificultar as ações ofensivas do adversário.


Não obstante, pode indicar que esses jogadores
O objetivo do presente estudo foi necessitam qualificar a realização das ações,
verificar a influência do desempenho tático que podem ser desenvolvidas nas sessões de
sobre o resultado final em jogo reduzido de treinamento através de situações que não sejam
futebol. O menor desempenho, evidenciado complexas, estimulando os comportamentos
na fase ofensiva do resultado de empate, táticos eficazes na fase ofensiva e defensiva
pode indicar capacidade de jogo reduzida em diferentes estruturas do jogo de futebol
dos jogadores, considerado fator importante (BAYER, 1994; GARGANTA; PINTO, 1994;
para resolução das situações impostas, de FREIRE, 2003; SCAGLIA, 2011).
ordem tática, no jogo (TAVARES; FARIA, Cada estrutura deve ser organizada
1996). Provavelmente, essas equipes não em situações específicas de jogo por meio da
estruturam suas ações para se aproximarem do prática deliberada, que pode contribuir para a
gol; assim, não produziram instabilidade na formação de sucesso do jogador de futebol ao
defesa adversária, considerada característica longo da sua formação (FORD et al., 2009).
importante durante a fase ofensiva (TEOLDO Essa abordagem deve ser realizada com o intuito
de estimular os jogadores a serem capazes
et al., 2009).
Além disso, o maior desempenho de de resolver os problemas de ordem tática,
contenção e equilíbrio dificulta a progressão possibilitando desenvolvimento da autonomia
do portador da bola para o campo adversário, das decisões, que pode implicar melhora no
e marca os jogadores sem bola, posicionados desempenho (WERNER; THORPE; BUNKER,
em linhas de passe (TEOLDO et al., 2009). Na 1996; SOUZA; MITCHELL, 2010; CASARIN
cobertura defensiva, concentração e unidade et al., 2011).
defensiva, os menores valores apresentam No que se refere ao resultado de
ineficácia na realização de superioridade vitória e derrota, os valores de média das
numérica, indução do jogo para zonas de equipes foram similares, o que possivelmente
menor risco e garantir segurança aos demais indica que ambas tentaram vencer ou reverter
para estruturar ações fora do centro de jogo uma situação de derrota parcial. A possível
(TEOLDO et al., 2009). explicação para a vitória pode ser relatada
É possível estabelecer, neste estudo, através dos princípios de Mobilidade e Unidade
que o menor desempenho dos princípios táticos Ofensiva, que apresentaram os maiores valores
ofensivos e o maior desempenho na contenção de média sobre a derrota.
e no equilíbrio podem ter determinado Esses princípios são responsáveis,
o resultado de empate, demonstrando a respectivamente, por realizar movimentações
importância que esses princípios possuem para em direção ao gol para possível finalização

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 393-400, 3. trim. 2013


398 Carvalho, Scaglia e Costa

e se posicionar próximo aos companheiros, Uma limitação do estudo foi o fato


permitindo que a equipe não perca a posse de não ter verificado se houve diferença do
da bola (TEOLDO et al., 2009). Nesse desempenho tático das equipes, de acordo com
aspecto, as equipes que possuem a bola e a marcação dos gols durante os jogos. Essa
têm possibilidade de realizar maior número informação demonstra ser interessante, pois
de finalizações no gol podem conseguir a equipes que marcam o primeiro gol ou fazem
vitória (LAGO-PEÑAS et al., 2010; LAGO- mais que um durante o jogo apresentam maior
PEÑAS; LAGO-BALLESTEROS; REY, 2011; número de vitórias (DUPRAT; BIRMELÉ;
CASTELLANO; CASAMICHANA; LAGO, PARIS, 2011).
2012).
Os achados desse estudo corroboram
os resultados de Teoldo et al. (2010), que CONCLUSÃO
relataram na sua pesquisa que os maiores
valores de desempenho tático da fase ofensiva O desempenho tático influenciou
foram Mobilidade e Unidade Ofensiva; o resultado final dos jogo reduzido neste
além disso, foi evidenciado associação com estudo. Dessa forma, o menor desempenho
os maiores valores de eficiência desses tático dos jogadores no resultado de empate
indica a necessidade de treinamentos que
princípios. Nesse sentido, esses princípios
não sejam complexos para promover o seu
podem ser considerados importantes e podem
desenvolvimento. A organização das situações
ser trabalhados nos treinamentos de forma
deve estar estruturada com ações ofensivas
qualificada, possibilitando a chance de êxito no
e defensivas que caracterizam os princípios
resultado final.
táticos fundamentais.
Além disso, o desempenho similar em
No que diz respeito ao resultado de
ambas as equipes possivelmente indica que
vitória e derrota, o desempenho dos princípios
foram impostas dificuldades na realização
táticos apresentou similaridade entre as equipes,
das ações entre jogadores durante o jogo. Isso
o que configura equilíbrio no confronto,
pode servir para verificar se a organização possibilitando uma forma de controle do
dos confrontos no treinamento apresenta treinamento, quando forem realizados
dificuldade que seja semelhante à de jogo para confrontos que contenham situações de jogo.
compreender se determinado objetivo proposto Dessa forma, os jogadores dessa categoria
foi atingido (GARGANTA; GRÉHAIGNE, podem confrontar companheiros que possuam
1999). desempenhos táticos semelhantes para induzir
No IPTO, IPTD e IPTJ, foi verificado dificuldade específica de jogo, o que implica
que os valores foram similares e não foram induzir uma situação real de confronto para o
evidenciadas diferenças significativas entre os treinamento.
resultados. Mesmo avaliando o desempenho Nesse sentindo, verificar o desempenho
geral de cada fase, não é possível determinar que tático entre resultados atua como forma de
os valores encontrados influenciem o resultado controle no treinamento para identificar se os
final da partida. Dessa forma, essas variáveis jogadores conseguiram apresentar desempenho
não foram determinantes, neste estudo, para tático capaz de obter êxito no confronto. Essa
diferenciar os resultados. A possível explicação informação pode demonstrar a importância
para esse achado é o pequeno número de jogos desse fator durante a formação dos jogadores
analisados. de futebol nas categorias de base.

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Influência do desempenho tático sobre o resultado final em jogo reduzido de futebol 399

Abstract
The study aimed to examine the influence of tactical performance over the final score of small-sided soccer matches. The sample
comprised 32 U-13 level final scores, divided into: 12 wins, 12 defeats and 8 draws. In order to obtain players’ tactical performance,
5004 tactical actions were analyzed. FUT-SAT was used for data collection and analysis. The Komolgorov-Smirnov test was used
to analyze data distribution and One-Way ANOVA was applied to compare the obtained results, with a significance level of 0.05.
Significant differences were found between “Draw” over “Defeat” and “Win”. The lower value of Mobility and Offensive Unity
may have determined “Win”. It is concluded that tactical performance influenced the final scores of “Draw” and “Win”.
Keywords: Soccer. Tactical performance. Final score.

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Recebido em 19/10/2012
Revisado em 15/02/2013
Aceito em 28/05/2013

Endereço para correspondência: Felipe Moniz Carvalho - Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol
(NUPEF) - Universidade Federal de Viçosa - Av. PH. Rolfs, S/N. - Campus
Universitário - Viçosa-MG - CEP - 36570-900 - E-mail: felipe.moniz@ufv.br

Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 393-400, 3. trim. 2013


COMPARAÇÃO DO CONHECIMENTO
TÁTICO DECLARATIVO DE JOGADORES
DE FUTEBOL DE DIFERENTES
CATEGORIAS E POSIÇÕES

MS. DIOGO SCHÜLER GIACOMINI


Mestre em Treinamento Esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Escola de Educação Física Fisioterapia e Terapia Ocupacional, EEFTO-UFMG.
(Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil)
e-mail: diogosgiacomini@gmail.com

ESP. ERICK GODINHO SILVA


Especialista em Treinamento Esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Escola de Educação Física Fisioterapia e Terapia Ocupacional, EEFTO-UFMG.
(Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil)
e-mail: erickgodinho@hotmail.com

DR. PABLO JUAN GRECO


Professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional /UFMG- Brasil
Membro da Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Esporte/UFMG
Coordenador do Centro de Estudos de Cognição e Ação / Centro de Multimídia
Centro de Excelência Esportiva Escola de Educação Física, Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil)
Universidade Federal de Minas Gerais
e-mail: grecopj@ufmg.br

RESUMO
O objetivo do estudo foi avaliar e comparar o nível de conhecimento tático declarativo
(CTD) de jogadores de Futebol de diferentes categorias e posições. A amostra deste estudo
foi constituída por 221 jogadores de Futebol de campo do sexo masculino. A partir dos
resultados encontrados, chegou-se às seguintes considerações: na comparação do CTD por

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categoria, as diferenças apresentadas foram da categoria Pré-infantil para as categorias Infantil
(p=0,001) e Juvenil (p=0,002), porém não foram encontradas diferenças significativas entre
as categorias Infantil e Juvenil para essa variável. Quando agrupou-se os jogadores por posição
específica, não registraram-se diferenças significativas de CTD entre os mesmos, apesar de
uma vantagem nos escores descritivos para os meias e atacantes. Portanto, pode-se concluir
que próximo dos 14 anos de idade o CTD é um fator que diferencia os atletas por categoria,
porém a partir dos 15 anos de idade, esse conhecimento provavelmente já está assimilado
de forma processual pelo praticante, quando se submete a um treinamento sistematizado e
uma prática constante ao longo dos anos.

PALAVRAS CHAVE: Jogos esportivos coletivos; cognição e ação; tomada de decisão; conhe-
cimento tático declarativo.

INTRODUÇÃO

O conhecimento declarativo refere-se às estruturas de conhecimento que


podem ser representadas por meio de uma rede de conceitos e suas relações, ou
seja, é a capacidade de associação entre os conceitos. Portanto, saber mais significa
ter uma maior rede de ligação entre os conceitos, relacionando cada elemento
(CHI; GLASER, 1980).
No esporte, o conhecimento tático declarativo (CTD) é entendido como
a capacidade do atleta de “conhecer o que”, ou seja, saber “o que fazer” em uma
determinada situação de jogo (GARGANTA, 1998).
French e Thomas (1987) em estudo realizado com crianças praticantes de
basquetebol encontraram uma relação positiva e significativa entre o conhecimento
declarativo e a componente de decisão da performance.
Já Mangas (1999) comparou o nível de conhecimento tático declarativo entre
jogadores de futebol federados e escolares e entre federados de elevado nível e nível
reduzido de rendimento. A amostra do estudo foi constituída de duzentos e setenta e
sete sujeitos, sendo setenta de dois praticantes de futebol em nível escolar e duzentos
e cinco praticantes de futebol em nível federado. O autor construiu um protocolo de
avaliação que contemplou onze imagens de ações técnico-táticas ofensivas. No referido
estudo concluiu-se que: os praticantes federados demonstraram maior conhecimento
declarativo do que os escolares; os federados de elevado nível demonstraram maior
conhecimento declarativo do que os federados de nível reduzido; os atletas que ocu-
pam posições ofensivas não demonstraram maior conhecimento declarativo do que
seus colegas que ocupam outras posições no campo de jogo, mesmo considerando
que as cenas apresentadas eram de situações ofensivas.
Miragaia (2001), utilizando o protocolo construído por Mangas (1999), realizou
estudo com trinta e seis jogadores com idades entre vinte e dois e trinta e cinco anos da

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Liga de Futebol Profissional de Portugal (1ª e 2ª liga e 2ª divisão “B”). Os jogadores foram
analisados de acordo com a posição específica ocupada no campo de jogo. O autor
concluiu que os jogadores que atuam em competições de nível mais elevado decidiram
melhor do que os jogadores que atuam em competições de nível inferior.
Costa et al. (2002) também utilizaram o instrumento de Mangas (1999) e
compararam jovens praticantes de futebol de nível competitivo superior e inferior,
com médias de idade de 16.00+0.53 e 16.13+0.63 respectivamente. Apesar das
diferenças não se revelarem estatisticamente significativas, os resultados apontaram
para um maior conhecimento declarativo dos praticantes de nível competitivo su-
perior em relação aos praticantes de nível competitivo inferior.
Além de relacionar o conhecimento declarativo com a qualidade de deci-
são dos jogadores, outros estudos têm demonstrado que os anos de prática da
modalidade, ou seja, o nível de experiência também é fator determinante para o
conhecimento declarativo dos jogadores (ALLARD, 1993; BRITO; MAÇÃS, 1998;
BANKS; MILLWARD, 2007; COSTA, 2010; ERICSSON, 1996; FRENCH et al.,
1996; FRENCH; HOUSNER, 1994; FRENCH; THOMAS, 1987; GARGANTA,
2006; GRECO, 2006; GIACOMINI; GRECO, 2008; GIACOMINI et al. 2011;
IROKAWA et al., 2011; KIOUMOURTZOGLOU et al., 1998; KONZAG, 1990;
MENDES, 1999; MANN et al., 2007; MCPHERSON; VICKERS, 2004; MATIAS,
2009; PINTO, 1995; RIPOLL, 1987; RODRIGUES, 1998; TAVARES, 1993;
TAVARES, 2006; TENENBAUM et al., 1993; TENENBAUM, 2003; WILLIAMS
et al., 1993; WILLIAMS; DAVIDS, 1995).
Segundo Eysenck e Keane (1994), uma das características padrão do
desempenho cognitivo humano é que as pessoas melhoram o seu desempenho
com a experiência.
Williams et al. (1993), num estudo com jogadores de futebol, demonstraram
que os atletas mais experientes possuem um conhecimento de base da modalidade
mais amplo, o que lhes permite identificar melhor os sinais relevantes e, conse-
qüentemente, decidir melhor.
No estudo de Ward e Williams (2003), jogadores de futebol foram divididos
em dois grupos: elite e sub-elite. Analisando sequências de imagens em vídeo, os
jogadores assinalaram a “melhor opção de passe” do jogador em posse da bola. Os
resultados mostraram que os jogadores de elite identificavam melhor quem estava
numa posição mais adequada para receber o passe, em comparação com os atletas
de subelite, bem como foram mais eficientes na seleção da hierarquia de soluções
das situações, em relação a esses últimos.
Williams e Davids (1995), porém, realizaram um estudo apenas com jogado-
res de futebol experientes. O objetivo do trabalho era verificar até que ponto o co-

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 447
nhecimento declarativo é resultado da experiência acumulada ou característica intrínseca
aos melhores jogadores. Os jogadores foram divididos em três subgrupos: a) atletas de
elite; b) atletas com bastante experiência e anos de prática, mas com um nível de jogo
mais fraco; c) espectadores com bastante prática na observação de jogos de futebol. Os
resultados demonstraram um maior conhecimento específico por parte dos jogadores
de alto nível. Com base nesses resultados, os autores concluíram que o conhecimento
declarativo é um pressuposto importante dos jogadores de elite e não resultado de
elevada experiência (2º grupo) ou exposição ao contexto esportivo (3º grupo).
Essas conclusões, entretanto, devem ser tratadas com cautela, pois de acordo
com Williams, Ward e Smeeton (2004), as diferenças entre os grupos podem ter
sido causadas tanto pela qualidade quanto pela quantidade de exposição à prática
esportiva (ERICSSON, 1996; ERICSSON et al., 1993).
Levando-se em consideração os aspectos abordados anteriormente, o
objetivo do presente estudo foi avaliar e comparar o nível de conhecimento tático
declarativo (CTD) de jogadores de Futebol em função da categoria a que o jogador
pertence e à posicao que o mesmo ocupa no campo de jogo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) mediante
o parecer número ETIC502/O5.
Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pais
e atletas, participaram deste estudo, duzentos e vinte e um jogadores de Futebol
de campo do sexo masculino, sendo oitenda da categoria sub-14, sessenta e nove
da categoria sub-15 e setenta e dois da categoria sub-17, todos pertencentes aos
principais clubes da cidade de Belo Horizonte-MG, participantes de campeonatos
em nível estadual, nacional e internacional.
Para avaliar o CTD dos jogadores, foi utilizado o instrumento construído por
Mangas (1999) em sua dissertação de mestrado, apresentada na Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto (FADEUP), sob a orientação do Prof. Dr. Júlio Garganta.
Para criação do teste de CTD, Mangas (1999) selecionou trinta e uma imagens
de situações ofensivas de jogos de futebol de alto nível dos principais campeonatos
europeus (Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha). As imagens têm a duração de
oito a doze segundos e a ação é paralisada no momento em que o portador da
bola deve tomar uma decisão.
Essas imagens foram apresentadas a um conjunto de seis peritos, sendo os
mesmos treinadores de futebol em atividade e docentes da disciplina de futebol
da FADEUP.

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Foi solicitado aos peritos que analisassem as imagens quantas vezes fossem
necessárias para definirem qual a solução mais adequada para a jogada, assim como
as outras possíveis soluções para as mesmas. Através das respostas dos peritos, foi
possível delimitar quatro soluções para cada jogada. Os peritos foram coincidentes para
a melhor e a pior solução da jogada em onze delas. Portanto, o instrumento original
de Mangas (1999) se constitui de onze cenas que permitem avaliar o voluntário de
acordo com o número de respostas corretas e erradas nas cenas apresentadas.
Para se aplicar o teste, as imagens são apresentadas aos participantes via pro-
jeção, com aparelho data show anexado no computador (Figura 1). A cena-situação
de jogo é apresentada ao jogador e paralisada durante dois segundos no momento
em que o portador da bola vai decidir “o que fazer”. A partir disso, surgem na tela do
computador quatro fotografias com quatro possíveis soluções para a jogada. Além
disso, está descrita em cada imagem a ação do jogador com bola. As fotografias estão
numeradas de um a quatro para melhor compreensão do voluntário. O jogador tem
o tempo que achar necessário para decidir qual seria sua resposta, anotando em
uma ficha individual qual a solução, no seu entender, mais adequada para a jogada,
oportunizando assim a análise do nível de conhecimento tático declarativo.

Figura 1 – Exemplo da imagem no computador

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 449
Para o presente estudo, porém, foram realizadas pequenas adaptações
que julgaram-se pertinentes no instrumento de Mangas (1999). Primeiramente,
utilizaram-se somente oito cenas que obtiveram a concordância estatisticamente
satisfatória para todos os peritos para, além da escolha da melhor solução, a hie-
rarquia das três respostas subsequentes. Julgou-se que o jogador que escolhe a
segunda melhor solução para a jogada não pode ser avaliado (em quantidade de
pontos) da mesma forma que o jogador que escolhe a terceira ou a pior solução,
pois isto contradiz o princípio hierárquico do pensamento convergente, bem como
a escolha da melhor a pior alternativa de decisão.
Com o objetivo de constituir um novo escore para o instrumento, através
da análise da literatura (PASQUALI, 1996; THOMAS; NELSON, 2002), optou-se
por estabelecer escores para cada solução apresentada. No novo escore, portanto,
o jogador foi avaliado de acordo com os seguintes critérios:
- Melhor solução: 100% de acerto = 1 ponto no escore final
- Segunda melhor solução: 75% de acerto = 0,75 pontos no escore final
- Terceira melhor solução: 50% de acerto = 0,50 pontos no escore final
- Pior solução: 25% de acerto = 0,25 pontos no escore final
Com essas adaptações do instrumento desenvolvido por Mangas (1999),
pretendeu-se obter uma avaliação mais objetiva e fidedigna do CTD dos joga-
dores.
Após o aceite da carta-convite e da assinatura da concordância da instituição
por parte dos clubes que compõem a amostra, entregou-se um Formulário de
Consentimento Livre e Esclarecido para a assinatura por parte dos atletas e dos
respectivos pais. Foi garantido, tanto aos clubes convidados quanto aos inquiridos,
o anonimato e a confidencialidade dos dados.

TRATAMENTO ESTATÍSTICO

- Para a descrição das características dos sujeitos desta amostra utilizou-se a


estatística descritiva;
- Kruskal-Wallis para diferenças de CTD entre as três categorias, com Mann-
Whitney para identificar onde se encontram as diferenças;
- Kruskal-Wallis para diferenças de CTD entre as posições específicas ocu-
padas no campo de jogo, com Mann-Whitney para identificar onde encontram-se
as diferenças;
- O nível de significância foi mantido em p<0,05.

450 Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011
RESULTADOS

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Para uma melhor compreensão dos resultados encontrados no estudo,


apresenta-se na Tabela 1 a caracterização da amostra, considerando as variáveis:
• Tempo de prática da modalidade;
• Número de treinos semanais;
• Duração das sessões de treino.

Tabela 1 – Dados descritivos para as variáveis: tempo de prática da modalidade, número de treinos
semanais e duração das sessões de treino.

Variável N Média Desvio padrão Variância Mínimo Máximo

Tempo de prática (anos) 221 6,38 2,16 5,5 0,5 9

Número de treinos semanais 221 6,04 1,18 1,41 5 8

Duração da sessão de treino 221 2 ,00 ,00 2 2


(horas)

Observa-se que os duzentos e vinte e um jogadores da amostra apresentam


um tempo de prática médio de 6,38 anos, sendo que o atleta com menos experi-
ência treina a 6 meses e o atleta com o maior tempo de prática treina a nove anos.
Ressalta-se que nesse estudo, na variável “tempo de prática”, considerou-se apenas
o treinamento sistematizado, organizado, regular, em clubes ou escolinhas.
Quanto aos treinos semanais, registra-se um número médio de aproxi-
madamente seis treinos por semana, sendo a categoria que treina menos realiza
um número de cinco sessões por semana e a categoria que treina mais, o faz em
número de oito sessões por semana.
A duração da sessão de treino apresentou-se igual para todas as catego-
rias estudadas, com uma duração de aproximadamente duas horas para cada
sessão de treino.
Considerando os objetivos do trabalho, os quais se referem às diferenças
de conhecimento tático entre as categorias em estudo, ou seja, dentro das faixas
etárias inerentes a cada grupo, torna-se importante a caracterização da amostra em
função da respectiva categoria.

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 451
A Tabela 2 apresenta os valores médios e desvios padrão para as variáveis:
tempo de prática, número de sessões de treinos por semana e duração do treino,
em função da categoria.

Tabela 2 – Dados descritivos para as variáveis tempo de prática, número de sessões de treinos por
semana e duração das sessões de treino, por categoria.
Tempo de prática Número de trei- Duração da sessão de trei-
Categoria N
(anos) nos semanais no (horas)
Pré-infantil
(sub-14) 80 5,22 + 1,85 5a6 2
Infantil
(sub-15) 69 6,78 + 2,25 6a7 2
Juvenil
(sub-17) 72 7,28 + 1,93 7a8 2

De acordo com a Tabela 2 observa-se um aumento dos treinos semanais e


também do tempo de prática (anos) em função das categorias (sub-14 - sub-15 -
sub-17) mas, com a duração da sessão dos treinos(horas) permanecendo a mesma
nas três categorias, de duas horas por sessão.

COMPARAÇÃO DO NÍVEL DE CTD COM A CATEGORIA

Um dos objetivos do estudo foi avaliar o nível de CTD dos jogadores e


comparar os resultados levando-se em consideração a categoria a qual o atleta
pertence. Assim recorreu-se ao protocolo validado por Mangas (1999), para testar
o nível de CTD dos jogadores.
A Tabela 3 apresenta os dados descritivos dos resultados obtidos na avaliação
do CTD dos jogadores em relação à categoria.

Tabela 3 – Dados descritivos do CTD por categoria

Desvio Erro Limite Limite


Categoria N Média Mínimo Máximo
padrão padrão inferior superior
Pré-infantil
80 6,63* ,75 ,08 6,46 6,80 4,00 8,00
(sub-14)
Infantil
69 7,00 ,47 ,05 6,88 7,11 5,75 7,75
(sub-15)
Juvenil
72 6,97 ,60 ,07 6,83 7,11 5,25 8,00
(sub-17)
Geral 221 6,85 ,65 ,04 6,77 6,94 4,00 8,00
* diferenças estatisticamente significativas para p<0,05

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Na Tabela 3 verifica-se que a categoria Pré-infantil obteve uma pontuação
média de 6,63 no teste de CTD. Já a categoria Infantil obteve uma pontuação média
de 7,00 e a categoria Juvenil obteve uma pontuação média de 6,97. Percebe-se,
portanto, que há diferenças de CTD entre as categorias em estudo. Porém, para
verificar se essas diferenças são estatisticamente significativas, foi aplicado o teste
não paramétrico de Kruskal-Wallis para comparações de mais de dois grupos, com
Mann-Whitney para verificar onde se encontram essas diferenças. De acordo com
os resultados dos testes estatísticos, verifica-se que houve diferenças significativas da
categoria Pré-infantil para a categoria Infantil (p=0,001) e da categoria Pré-infantil para
a categoria Juvenil (p=0,002). Porém, da categoria Infantil para a categoria Juvenil,
neste estudo, as diferenças não apresentaram-se significativas (p=0,786).

COMPARAÇÃO DO NÍVEL DE CTD COM A POSIÇÃO

Foi objetivo do estudo, além de comparar o nível de CTD em função da


categoria a qual o atleta pertence, verificar se existem diferenças de CTD em relação
à posição ocupada pelo jogador no campo de jogo.
A nomenclatura utilizada nesse estudo em relação às posições ocupadas pelos
jogadores no campo de jogo levou em consideração os sistemas táticos prepon-
derantes no Futebol brasileiro, sendo essa também mencionada por treinadores,
estudiosos, jornalistas e pelo público de uma forma geral.
A Tabela 4 traz os dados descritivos do CTD dos jogadores por posição.

Tabela 4 – Dados descritivos do CTD por posição

Posição N Média Desvio Erro padrão Limite Limite Mínimo Máximo


padrão inferior superior
Goleiro 25 6,86 ,58 ,11 6,61 7,10 5,75 8,00
Lateral/ala 37 6,79 ,69 ,11 6,56 7,02 4,50 7,75
Zagueiro 37 6,83 ,65 ,10 6,61 7,05 5,25 8,00
Volante 40 6,83 ,76 ,12 6,58 7,07 4,00 8,00
Meia 43 6,91 ,60 ,09 6,72 7,10 5,25 8,00
Atacante 39 6,91 ,58 ,09 6,72 7,10 5,75 8,00
Geral 221 6,85 ,65 ,04 6,77 6,94 4,00 8,00

Os resultados apresentados demonstram que os jogadores que ocupam a


posição de meias e os atacantes foram os que obtiveram a melhor média no teste
de CTD.
Na Tabela 4 verificou-se que há diferenças de CTD entre jogadores de diferen-
tes posições. Para analisar, porém, se essas diferenças apresentam-se estatisticamente
significativas foi aplicado novamente o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis para

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 453
comparações de mais de dois grupos. E de acordo com os resultados encontrados
dos testes estatísticos, verifica-se que as diferenças citadas não são estatisticamente
significativas para a amostra participante desse estudo, sendo o valor do nível de
significância obtido nesta análise de (p=0,985).

DISCUSSÃO

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Percebe-se na Tabela 2 que, em média, o tempo de prática da modalidade


é maior quanto mais elevada a categoria. Esse é um dado importante na medida
em que na literatura alguns autores consideram o tempo de prática da modalidade
como um fator determinante para o conhecimento tático dos jogadores, bem como
para a formação da expertise (ALLARD, 1993; BRITO; MAÇÃS, 1998; BANKS;
MILLWARD, 2007; COSTA, 2010; ERICSSON, 1996; FRENCH et al., 1996;
FRENCH; HOUSNER, 1994; FRENCH; THOMAS, 1987; GARGANTA, 2006;
GRECO, 2006; GIACOMINI; GRECO, 2008; GIACOMINI et al. 2011; IROKAWA
et al., 2011; KIOUMOURTZOGLOU et al., 1998; KONZAG, 1990; MENDES,
1999; MANN et al., 2007; MCPHERSON; VICKERS, 2004; MATIAS, 2009;
PINTO, 1995; RIPPOL, 1987; RODRIGUES, 1998; TAVARES, 1993; TAVARES,
2006; TENENBAUM et al., 1993; TENENBAUM, 2003; WILLIAMS et al., 1993;
WILLIAMS; DAVIDS, 1995).
Num estudo de Williams e Davids (1995), os autores sugerem que o maior
nível de CTD dos jogadores mais experientes deve-se também à prática do esporte,
e não apenas ao seu nível de instrução e conhecimento geral, resultado também
corroborado pelo presente estudo e nos estudos de Costa et al. (2002), Giacomini
et al. (2011) e Irokawa et al. (2011), onde concluíram que o tempo de prática
dos atletas, influencia diretamente no nível de CTD, uma vez que nos resultados
encontrados, a equipe com o melhor desempenho apresentou a média do tempo
de prática superior a outra.
O número de treinos semanais também é maior quanto mais elevada for à
categoria, fator este importante no desenvolvimento do conhecimento tático do
jogador, pois quando se apresenta um número maior de treinamentos, aumenta o
contato do atleta com a modalidade (MANGAS, 1999).
Como já mencionado anteriormente, a duração das sessões de treinamentos
apresentaram-se iguais para todas as categorias, tendo o treino sempre uma duração
aproximada de duas horas, estando à diferença de carga de treinamento para cada
categoria apenas no número de treinos semanais.

454 Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011
COMPARAÇÃO DO NÍVEL DE CTD COM A CATEGORIA

Num estudo de Brito e Maçãs (1998), com vinte e um futebolistas de dife-


rentes categorias (sub-18, sub-16 e sub-14) foram também comparados os níveis
de CTD entre as categorias. Os resultados desse trabalho demonstraram que os
jogadores de categorias mais elevadas decidiam, em média, melhor do que os
jogadores de categorias inferiores.
Deve-se ponderar, porém, que a amostra do referido estudo foi pequena,
pois participaram apenas sete jogadores de cada categoria, inviabilizando outras
análises estatísticas de maior porte preditivo.
No estudo de Mangas (1999), com duzentos e setenta e sete jogadores da
categoria Pré-infantil (sub-14), divididos em dois grupos (federados e escolares),
foram encontradas diferenças significativas de CTD entre os dois grupos em questão,
tanto para o número de respostas corretas (p=0,0103), quanto para o número de
respostas erradas (p=0,0059).
Costa et al. (2002) também utilizaram o protocolo de avaliação do conheci-
mento específico do jogo construído por Mangas (1999), aplicado com quarenta e
quatro jogadores de futebol da categoria Juvenil (sub-17), também divididos em dois
grupos distintos: nível competitivo superior e nível competitivo inferior. Apesar dos
autores verificarem um maior conhecimento do jogo por parte dos jogadores de
nível competitivo superior, as diferenças não foram estatisticamente significativas.
Williams et al. (1993) e Giacomini et al. (2011) demonstraram que atletas
mais experientes possuem um conhecimento de base da modalidade mais amplo,
fazendo com que os mesmos identifiquem melhor os sinais relevantes e conse-
qüentemente, decidam melhor.
Para Garganta (2006) e Greco (2006), a natureza complexa dos jogos es-
portivos coletivos exige dos jogadores uma permanente atitude tático-estratégica
para superarem a imprevisibilidade das situações de jogo, portanto a capacidade de
decisão ocupa um lugar central em relação à categoria a que o jogador pertence.
Assim, jogadores de elite antecipam as ações que pretendem realizar no jogo,
superando os iniciantes ao regularem as suas execuções, detectarem os possíveis
erros e corrigirem as suas estratégias no decorrer da ação (MCPHERSON; VICKERS,
2004; MANN et al., 2007; GIACOMINI, et al. 2011).
Morales e Greco (2007) ainda citam que a aquisição do conhecimento
tático declarativo é feita pela influência mútua dos processos cognitivos: estruturas
de recepção (percepção, antecipação, atenção) e processamento da informação
(memória, pensamento e inteligência). No qual, segundo Matias; Greco (2009),
Casanova et al. (2010) e Costa et al. (2010) essa influencia dos processos cognitivos

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 455
poderão ser breves ou longas, sequenciais ou em paralelo, de acordo com o nível de
habilidade e/ou acúmulo de experiência, sabendo o atleta organizar as informações
deste conhecimento de modo eficiente.
Desta forma, os resultados do presente estudo podem apoiar-se na literatura
citada acima, no qual foram encontrados melhores resultados no teste de CTD
para as categorias sub-17 e sub-15 frente à categoria sub-14. Isso implica que o
CTD deva ser desenvolvido nas categorias iniciais do futebol, de modo a aumentar
a fonte de informação (percepção de estímulos relevantes) que o jogador detém
para tomar decisões adequadas. Ainda que diferenças não tenham sido encontradas
entre as categorias sub-15 e sub-17, subentende-se que o processo de ensino-
aprendizagem-treinamento tático específico à modalidade deva ser melhor aplicado.
Pois no estudo de Morales e Greco (2007), jogadores que foram treinados pelo
processo de ensino-aprendizagem-treinamento apresentaram melhorias nos seus
resultados de tomada de decisão e consequentemente do conhecimento tático.
Os estudos de Helsen e Pauwels (1987), Konzag (1990), Mangas (1999), Mendes
(1999), Rippol (1987), Tavares (1993) e Tenenbaum et al. (1993) inferem também que
a qualidade de decisão está correlacionada com a experiência e anos de prática.
Outros estudos (ALLARD, 1993; FRENCH; HOUSNER, 1994; FRENCH;
THOMAS, 1987; PINTO, 1995; RODRIGUES, 1998) verificaram um maior
conhecimento específico da modalidade por parte dos atletas mais experientes,
comprovando que os mesmos identificam melhor os problemas do jogo e tomam
as melhores decisões.
Devido à escassez de estudos que comparassem atletas de diferentes cate-
gorias no âmbito do Futebol, pois na maioria dos estudos citados acima os atletas
são da mesma idade, diferenciando-se apenas pelo nível competitivo, recorreu-se
a trabalhos de outros esportes para pontuar algumas questões.
Abernethy (1994) comparando jogadores de Badminton de doze, quinze e
dezoito anos, mostrou que a habilidade de antecipar as ações do adversário me-
lhorou com o aumento da idade. Os mesmos resultados foram encontrados por
Tenenbaum (2003) com jogadores de Tênis divididos em grupos de oito a dez,
onze a treze, quatorze a dezesete e dezoito anos de idade. Esses achados, porém,
foram pouco conclusivos em relação às idades nas quais essas melhoras ocorrem,
bem como aos motivos das mesmas.
Com base nos estudos apresentados, principalmente nos trabalhos de Mangas
(1999), Costa et al. (2002), Irokawa et al. (2011) e Giacomini et al. (2011) e nos
resultados encontrados no presente trabalho em relação ao CTD, pode-se observar
que o CTD é um fator diferenciador entre as categorias até os quatorze anos de
idade. Nesse estudo, após os quinze anos, os resultados apontam para uma igualdade

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nos escores do teste, talvez considere-se não ser mais esse o fator preponderante
para o conhecimento tático dos jogadores e sim o aspecto processual da ação.

COMPARAÇÃO DO NÍVEL DE CTD COM A POSIÇÃO

Na comparação do nível de CTD por posição, através da estatística descritiva,


os meias e os atacantes apresentaram melhores resultados em relação às outras
posições (Tabela 4).
Acredita-se que dois motivos principais possam ter contribuído para esses
achados: as cenas apresentadas são de ações ofensivas, portanto os atacantes
estariam mais familiarizados com as mesmas; e os meias, jogam em uma faixa de
campo que proporciona frequentes situações de jogo que solicitam a tomada de
decisão, sendo muitas vezes chamados de “cérebro da equipe” devido e esse fato,
que também é apontado por Costa (2010). Segundo o autor, jogadores que são
acostumados a jogar no “centro do campo”, têm mais facilidade para executar as
ações técnicos-taticas ofensivas e maior possibilidade de criar situações rápidas
gerando uma instabilidade na organização defensiva.
No estudo de Mangas (1999), no qual os jogadores foram divididos em dois
grupos (desporto escolar e desporto federado), no grupo do desporto escolar tam-
bém foram os atacantes os jogadores com maior número de acertos (6,2+1,8) no
teste de CTD. No grupo do desporto federado, porém, os goleiros (7,00+1,62)
e os zagueiros (7,00+1,73) obtiveram os melhores escores.
Resultados também encontrados no estudo de Irokawa et al. (2011) entre
dois clubes de futebol profissional da cidade de Belo Horizonte, na categoria juvenil
(sub-17) com uma amostra de quarenta e oito jogadores do gênero masculino, onde
não foram encontradas diferenças significativas em relação ao CTD dos jogadores por
posição específica e também através da correlação entre as posições dos jogadores
em campo e o CTD a partir do goleiro até o atacante.
Interessante perceber, no presente estudo, que os jogadores que jogam
nas laterais do campo obtiveram a menor média no teste de CTD. Esse resultado
específico também foi encontrado por Mangas (1999). Em ambas as pesquisas, os
laterais foram os jogadores que apresentaram o nível de CTD mais baixo em relação
a todas as outras posições.
Isso se explica, talvez, pelo fato desses atletas jogarem em uma faixa do campo
na qual se apresenta um número mais restrito de alternativas para elaboração e
decisão das jogadas, pois os participantes estarão limitados em suas ações ao ter
que respeitar a delimitação do campo (linha lateral).
Os resultados desse estudo também corroboram o trabalho de Mangas
(1999) e Irokawa et al. (2011) no qual, apesar das considerações realizadas anterior-

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 457
mente nos resultados descritivos, não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas em relação ao CTD dos jogadores por posição específica.

CONCLUSÃO

A partir dos resultados apresentados e discutidos anteriormente, chegou-se


às seguintes conclusões:
Os resultados do teste de CTD demonstraram que as diferenças apre-
sentadas foram da categoria Pré-infantil para as categorias Infantil e Juvenil, porém
não foram observadas diferenças significativas entre as categorias Infantil e Juvenil,
para essa variável.
Em relação à posição especifica ocupada pelo jogador no campo de jogo,
não registraram-se diferenças significativas entre os jogadores, apesar de uma pe-
quena vantagem nos escores descritivos para os meias e atacantes.
Sendo assim, relacionando esses resultados com aqueles encontrados na
analise do CTD, parece viável sugerir que, de uma forma geral, próximo dos
quatorze anos de idade o CTD é um fator que diferencia os atletas por categoria,
porém a partir dos quinze anos de idade, esse conhecimento provavelmente já
está assimilado de forma processual pelo praticante, quando se submete a um trei-
namento sistematizado e uma prática constante ao longo dos anos. Isto representa
um desafio para os professores/treinadores em relação aos métodos de ensino,
pois essas diferenças não podem ser negligenciadas na estruturação dos processos
de ensino-aprendizagem-treinamento.

Declarative tactical knowledge in soccer: a comparison study between


soccer players of different categories and positions
ABSTRACT: The main objective of this work was to validate and compare the level of Declarative
Tactical Knowlwdge (DTK) of soccer players of different categories and positions. 221 male soc-
cer players were part of this work. Taking the results into account we can take into consideration
the following aspects: from the comparison of the DTK per category, the differences shown by
the sub-14 category, for the sub-15 category (p=0,001) and category sub-14 (p=0,003),
however significant differences between the sub-15 category (p=0,001) and the sub-17
category were not found. When soccer players got into groups for specific positions, significant
differences of DTK were not found between them, even though there was an advantage by the
descriptive scores for middle-field players and forward players. Therefore, it can be concluded
that about 14 years, the CTD is a factor that differentiates the athletes in each category, but

458 Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011
after 15 years, this knowledge is probably already assimilated procedurally by the player when
it undergoes a systematized training and constant practice over the years.
KEY WORDS: Collective sports games; cognition and action; decision making; declarative
tactical knowlwdge.

Comparación de los declarativa conocimientos tacticos los jugadores


de fútbol de diferentes categorías y posiciones
RESUMEN: El estudio fue evaluar y comparar el nivel de conocimiento declarativo táctico
(CTD) de los jugadores de fútbol de diferentes categorías y lugares. La muestra del estudio
consistió de 221 jugadores de fútbol en el campo de los hombres. De los resultados,
fue la siguiente: la comparación de la CTD, por categoría, las diferencias se presentaron
en la categoría Pre-Zona de juegos infantil para las categorías (p = 0,001) y menores
(p = 0,002), pero no se encontraron diferencias significativas entre los niños y las
categorías de la Juventud para esta variable. Cuando se unió a los jugadores por
posición específica, no informaron de diferencias significativas entre el CTD de la
misma, a pesar de una ventaja en las puntuaciones de los calcetines descriptivo
y los atacantes. Por lo tanto, se puede concluir que cerca de 14 años de edad, el
CCD es un factor que diferencia a los atletas en cada categoría, pero después de 15
años de edad, este conocimiento es, probablemente, ya asimilados procesalmente
por el jugador cuando se sufre una formación sistematizada y la práctica constante
a lo largo de los años.
PALABRAS CLAVE: Juegos de deportes colectivos; cognición y acción; de la toma de
decisiones; conocimiento declarativo táctico.

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GES, N. J. Skill Acquisition in Sport: Research, Theory and Practice. 1. ed. Londres: Routledge,
2004. p. 328-347.

HODGES, N. J.; DAVIDS, K. Declarative knowledge in sport: a by-product of experience or a


characteristic of expertise. Journal of Sport and Exercise Psychology, v. 17, p. 258-275, 1995.

HODGES, N. J. et al. DAVIDS, K.; BURWITZ, L.; WILLIAMS, J. Cognitive knowledge and
soccer performance. Perceptual Motor Skills, v. 76 (2), p. 579-593, 1993.

Recebido: 09 mar. 2010


Aprovado: 12 maio 2011

Endereço para Correspondência:


Diogo Schüler Giacomini
Rua Maria de Souza Alves, 379, apto.304
Bairro Manacás / CEP: 30810-640
Belo Horizonte-MG / Brasil

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 445-463, abr./jun. 2011 463
QUAIS COMPORTAMENTOS TÁTICOS DE
JOGADORES DE FUTEBOL DA CATEGORIA
SUB-14 PODEM MELHORAR APÓS 20
SESSÕES DE TREINO?

Ms. CARLOS RAPHAEL BRAGA CORRÊA DE SOUZA


Programa de Pós-graduação em Ciências do Desporto,
Faculdade de Desporto, Universidade do Porto
(Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil)
E-mail: souza11@gmail.com

Ms. EZEQUIEL STECKLING MÜLLER


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense –
Campus Luzerna (Luzerna – Santa Catarina – Brasil)
E-mail: zekmuller@gmail.com

Dr. ISRAEL TEOLDO COSTA


Departamento de Esportes, Universidade Federal de Viçosa
(Viçosa – MG – Brasil)
E-mail: israelteoldo@gmail.com

Dr. AMÂNDIO BRAGA SANTOS GRAÇA


Departamento de Pedagogia, Faculdade de Desporto,
Universidade do Porto (Porto – Porto – Portugal)
E-mail: agraca@fade.up.pt

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar quais os comportamentos táticos podem ser alterados
após 20 sessões de treino. A amostra foi composta por 18 jogadores da categoria sub-14. O
instrumento utilizado para a avaliação dos comportamentos táticos foi o FUT-SAT e as sessões
de treino foram baseadas no Teaching Games for Understanding. Verificaram-se diferenças
significativas em quatro variáveis: no Princípio Tático “unidade defensiva”, no total de ações
táticas realizadas, no Índice de Performance Tática de Jogo e no Percentual de Erros do
Princípio Tático “espaço”. Concluiu-se que os treinos foram eficazes, especialmente, no que
diz repeito ao aumento do Índice de Performance Tática do Jogo.
PALAVRAS-CHAVE: Futebol; tática; treino; Teaching Games for Understanding.

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INTRODUÇÃO

O futebol pertence ao grupo dos jogos esportivos coletivos de invasão, sendo


caracterizado como um jogo de cooperação/oposição em que duas equipes reali-
zam ações simultâneas sobre a bola em contexto aberto (REVERDITO; SCAGLIA,
2007). Estas características conferem imprevisibilidade, o que implica em constante
necessidade de adaptação das ações táticas dos jogadores ao contexto apresentado
no momento (CASTELO, 1994; GARGANTA; PINTO, 1994; GRAÇA, 1994). O
conceito de tática abrange todas as decisões tomadas pelos jogadores em uma
partida, com ou sem a bola, na relação individual ou coletiva, de cooperação ou opo-
sição (TEODORESCU, 1984). Uma vez que os fatores táticos são de fundamental
importância para o desempenho das equipes nos jogos, as respostas escolhidas para
a resolução dos problemas inerentes ao jogo estão condicionadas ao entendimento
e conhecimento que os jogadores apresentam (GARGANTA, 1998). Deste modo,
os estudos no futebol centram-se cada vez mais na vertente tática e na tomada de
decisão como seu principal enfoque (COSTA; NASCIMENTO, 2004; GARGANTA,
1997; GIACOMINI; GRECO, 2008; SISTO; GRECO, 1995).
Em função da evolução das metodologias de ensino dos jogos esportivos
coletivos, os jogos reduzidos passaram a ocupar papel de destaque no treinamento
de equipes já que estes permitem o desenvolvimento global das qualidades inerentes
a cada modalidade (VELEIRINHO, 1999). Sendo assim, é possível atingir adaptações
específicas que emergem do contexto do jogo (CASTELO, 2000). A partir deles, é
possível desenvolver as vertentes táticas (COSTA et al., 2009b; GARGANTA, 1997;
FIGUEIRA; GRECO, 2008;), técnicas (GRANT et al., 1999; MATTA; GRECO, 1996;
PLATT et al., 2001) e físicas (RAMPININI et al., 2007; REILLY, 2005). Para isso os
treinadores optam pela utilização de variadas formatações, alterando-se o tamanho
do campo, tempo e número de jogadores, permitindo a incorporação deste mé-
todo aos mais diversos objetivos de treino (GRAÇA, 1994; VELEIRINHO, 1999).
Normalmente as atividades propostas nos treinamentos e as instruções
repassadas nos jogos são baseadas em uma metodologia estruturada que se funde
às concepções de jogo e de treino do treinador. Deste modo, o modelo de ensino
adotado pelos treinadores influencia o processo de ensino-aprendizagem das ações
táticas. Em função disso, já se verificam vários estudos que focam as atenções nos
modelos de treinamento, procurando encontrar a forma mais eficaz de ensinar as
modalidades esportivas (CHANDLER; MITCHELL, 1990; HOLT; STREAN;
BENGOECHEA, 2002; MITCHELL; OSLIN, 1999; RINK, 1996; THORPE;
BUNKER; ALMOND, 1986; TURNER; MARTINEK, 1995).
Dentre as diversas abordagens de ensino e treino, o Teaching Games for
Understanding (TGfU) tem ganhado mais notoriedade, devido à ênfase da valência
tática e da sua interação complexa com a técnica, o conhecimento, a compreensão,
a tomada de decisão e a capacidade de ação em situação de jogo (COSTA et al.,

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2010). Nesta abordagem, os alunos são ensinados a apreciar a forma avançada de
jogo através da participação num contexto modificado, que será apropriado para o
seu estágio de desenvolvimento físico, social e cognitivo. Esta apreciação convida
os alunos a tornarem-se taticamente conscientes de como jogar, de forma a ganhar
vantagem sobre os seus oponentes (THORPE; BUNKER; ALMOND, 1986). Com
a tomada de consciência tática, o aluno é capaz de tomar decisões apropriadas
acerca do que fazer e como o fazer. Quando os alunos tomam decisões de executar
determinada habilidade técnica, fazem-na porque estão taticamente conscientes da
necessidade dessa habilidade (HOPPER, 2002).
Os investigadores que apoiam este modelo de ensino sugerem que no
processo de ensino-aprendizagem a exposição constante das crianças a situações
de jogo ajuda na aquisição e desenvolvimento de conhecimento tático declarativo
e processual e, consequentemente, na melhoria das decisões táticas tomadas
(THORPE; BUNKER; ALMOND, 1986). Griffin, Mitchell e Oslin (1997) fornecem
três argumentos de peso que justificam o emprego deste modelo de ensino. O pri-
meiro refere-se ao interesse e entusiasmo dos alunos no jogo e nas formas jogadas,
utilizando-os como um fator positivo de motivação e como tarefas predominantes
na estrutura do modelo. O segundo argumento defende que o conhecimento
é fator estruturante na forma de jogar, permitindo aos alunos serem melhores
jogadores a partir da melhoria da sua compreensão do jogo, e, simultaneamente,
menos dependentes do professor nas tomadas de decisões e na sua participação.
Terceiro, os alunos podem transferir a sua compreensão e execução entre vários
jogos desportivos com as mesmas características.
Partindo destes pressupostos, e com o intuito de contribuir no processo
de ensino-aprendizagem no futebol, este estudo teve por objetivo avaliar quais os
comportamentos táticos podem ser alterados após 20 sessões de treino.

MATERIAL E MÉTODOS

AMOSTRA

Foram avaliados 18 jogadores de futebol do sexo masculino da categoria


sub-14. Os jogadores executaram 2067 ações táticas, sendo 986 no teste, antes
do período de treinos, e 1081 no reteste, após período de treinos.

PROCEDIMENTOS ÉTICOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com


Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (CEPH) (Of. Ref. Nº 132/2012/
Comitê de Ética) e respeita as normas instituídas pelo Conselho Nacional em Saúde
(1996) e pelo Tratado de Ética de Helsinki (1996) para pesquisas realizadas com seres

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humanos. A recolha de dados foi efetuada com o consentimento dos responsáveis
legais do clube, dos pais e dos jogadores, a partir do preenchimento do termo de
consentimento livre e esclarecido antes da realização dos testes e treinos.

PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

A recolha de dados foi realizada em três etapas: Na primeira etapa foi feita
uma avaliação diagnóstica dos comportamentos táticos dos jogadores, utilizando-se
o FUT-SAT (COSTA et al., 2011).
A segunda etapa refere-se ao processo de treino no qual os jogadores foram
submetidos. Este período de treino foi composto por 20 sessões com duração total
de 1255 minutos, baseada na abordagem Teaching Games for Understanding (TGfU)
(THORPE; BUNKER; ALMOND, 1986). As sessões de treino foram planejadas pelo
treinador e tinham como objetivo principal qualificar as capacidades defensivas da
equipe a partir de atividades que priorizassem uma melhoria no posicionamento
dos jogadores entre as linhas longitudinais e transversais da equipe. Deste modo,
para as ações defensivas, optou-se por desenvolver um maior número de ativida-
des voltadas aos princípios “Cobertura Defensiva”, “Equilíbrio” e “Concentração”.
Todavia, para treinar estes princípios defensivos primou-se também por realizar um
maior número de atividades com ênfase nas ações ofensivas vinculadas aos princípios
“Cobertura Ofensiva” e “Espaço”, uma vez que as ações vinculadas a estes princípios
requerem dos jogadores a realização de comportamentos relacionados aos três
princípios da fase defensiva treinados (COSTA et al., 2009c). O tempo gasto nas
atividades relacionadas aos princípios estão demonstradas no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1. Informações sobre o tempo total de treinamento dos princípios táticos nas 20 sessões de treino
Princípio Tático Sessões de treino utilizadas Tempo (minutos)
Ofensivos
Penetração 18 13
Cobertura Ofensiva 1, 3, 5, 7, 8, 11, 14, 16 e 17 231
Espaço 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 11, 12, 13, 14, 15 e 20 322
Mobilidade 2, 6, 12 e 18 42
Unidade Ofensiva 10, 13, 17, 18 e 19 67
Defensivos
Contenção 3, 4, 9 e 20 97
Cobertura Defensiva 5, 8, 10, 12, 13, 18 e 19 140
Equilíbrio 2, 3, 4, 6, 9, 12 e 15 185
Concentração 2, 3, 10, 13, 16 e 19 101
Unidade Defensiva 16 e 17 57
TOTAL 1255

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Na terceira etapa efetuou-se a reaplicação do FUT-SAT, seguindo exatamente
o mesmo protocolo da primeira etapa.

INSTRUMENTO DE RECOLHA E ANÁLISE DOS DADOS

O instrumento utilizado para a recolha de dados foi o FUT-SAT, validado por


Costa e colaboradores (2011). O teste de campo deste sistema é aplicado em um
espaço reduzido de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura, com uma
configuração de GR3 vs. 3GR (goleiro + 3 jogadores vs. 3 jogadores + goleiro),
durante 4 minutos de jogo.
O FUT-SAT leva em conta dez princípios táticos fundamentais do futebol,
sendo cinco para a fase ofensiva: i) penetração, ii) cobertura ofensiva, iii) mobilida-
de, iv) espaço e v) unidade ofensiva; e cinco para a fase defensiva: i) contenção, ii)
cobertura defensiva, iii) equilíbrio, iv) concentração e v) unidade defensiva (COSTA,
2010). As variáveis relacionadas a estes princípios se organizam em duas macroca-
tegorias e sete categorias. Na Macrocategoria Observação avalia-se as variáveis das
categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e Resultado
da Ação; e na Macrocategoria Produto avalia-se as variáveis das categorias Índice de
Performance Tática – IPT, Percentual de Erros e Localização da Ação Relativa aos
Princípios – LARP.
Para gravação dos comportamentos desempenhados no teste de campo
utilizou-se uma câmara digital PANASONIC modelo NV – DS35EG. O material
de vídeo foi repassado em um computador portátil (marca Toshiba Satellite modelo
A300-1Co processador Intel T9300) via cabo (IEEE 1394) para conversão em
arquivo “.avi”. Para tratamento das imagens e análise dos jogos foram utilizados os
softwares Utilius VS e Soccer Analyser (COSTA et al., 2009a).

PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS

A análise descritiva das categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no


Campo de Jogo e Resultado da Ação baseou-se em análises de frequência, percentual
e variação percentual. Já para as variáveis das categorias IPT, Percentual de Erros,
Ações Táticas e LARP realizou-se análises de média e desvio padrão.
Para comparar as frequências das variáveis das categorias Princípios Táticos,
Localização da Ação no Campo e Resultado da Ação utilizou-se o teste Qui-quadrado
(c²), com p≤0,05. Para as categorias IPT, Percentual de Erros, Ações Táticas e LARP

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 36, n. 1, p. 71-86, jan./mar. 2014 75


foi realizado o teste de normalidade de Shapiro Wilk para verificar a distribuição dos
dados das variáveis. Nas variáveis com distribuição normal a comparação entre o
teste e reteste foi efetuada a partir do teste T de medidas independentes (p≤0,05)
e para os dados não paramétricos utilizou-se o teste de Mann-Whitney U (p≤0,05).
Para a realização destas análises recorreu-se ao software SPSS (Statistical
Package for Social Science) for Windows®, versão 17.0.

ANÁLISE DA FIABILIDADE

A fiabilidade foi aferida com a reavaliação de 306 ações táticas (14,81%), que
atende o valor de 10% recomendado por Tabachnick e Fidell (2007). As avaliações
foram realizadas por três observadores treinados e respeitando um intervalo de
21 dias (ROBINSON; O’DONOGHUE, 2007). Recorreu-se ao teste de Kappa
de Cohen para os cálculos e verificou-se que as fiabilidades intra e inter avaliadores
situaram-se entre 0,90 e 0,94 com erro padrão inferior a 0,02; sendo classificada
pela literatura como “perfeita” (LANDIS; KOCH, 1977).

RESULTADOS

Os resultados serão expostos em função das macrocategorias de variáveis


dependentes do estudo. Assim, serão primeiramente relatados os resultados das
categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e Resultado
da Ação e, posteriormente, os resultados das categorias Índice de Performance
Tática - IPT, Percentual de Erros e Localização da Ação Relativa aos Princípios - LARP.

MACROCATEGORIA OBSERVAÇÃO

A Tabela 1 apresenta as frequências, os percentuais e a variação percentual das


variáveis das categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo
e Resultado da Ação no teste e reteste. Das 25 variáveis apresentadas na Tabela,
três apresentaram diferenças significativas entre o teste e reteste.
A partir da Tabela 1 verifica-se que no “Total” de ações táticas realizadas pelos
jogadores há diferenças significativas entre o teste e o reteste, demonstrando que
no reteste os jogadores efetuaram maior número de ações.

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Tabela 1. Frequência, percentual e variação das variáveis das categorias Princípios Táticos,
Localização da Ação no Campo de Jogo e Resultado da Ação no teste e reteste

Teste Reteste Variação


Categorias e Variáveis
Percentual**
N % N %
PRINCÍPIOS TÁTICOS
Ofensivos
Penetração 58 5,88 74 6,85 16,50
Cobertura Ofensiva 143 14,50 131 12,12 -16,41
Espaço 148 15,01 179 16,56 10,33
Mobilidade 48 4,87 53 4,90 0,62
Unidade Ofensiva 63 6,39 81 7,49 17,21
Defensivos
Contenção 119 12,07 100 9,25 -23,36
Cobertura Defensiva 30 3,04 32 2,96 -2,63
Equilíbrio 93 9,43 104 9,62 2,01
Concentração 106 10,75 93 8,60 -20,00
Unidade Defensiva* 178 18,05 234 21,65 19,94
LOCALIZAÇÃO DA AÇÃO NO CAMPO DE JOGO
Ofensiva
Meio Campo Ofensivo (MCO) 199 20,18 236 21,83 8,18
Meio Campo Defensivo (MCD) 260 26,37 247 22,85 -13,35
Defensiva
Meio Campo Ofensivo (MCO) 261 26,47 282 26,09 -1,44
Meio Campo Defensivo (MCD)* 266 26,98 316 29,23 8,34
RESULTADO DA AÇÃO
Ofensiva
Realizar finalização ao gol 51 5,17 72 6,66 28,82
Continuar com a posse de bola 327 33,16 359 33,21 0,15
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 12 1,22 20 1,85 51,64
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 20 2,03 22 2,04 0,49
Perder a posse de bola 50 5,07 45 4,16 -17,95
Defensiva
Recuperar a posse de bola 58 5,88 52 4,81 -18,20
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 21 2,13 27 2,50 17,37
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 12 1,22 21 1,94 59,02
Continuar sem a posse de bola 382 38,74 390 36,08 -6,87
Sofrer finalização ao gol 53 5,38 73 6,75 25,46
Total* 986 1081
*Possuem diferenças significativas: PRINCÍPIOS TÁTICOS: Defensivos: Unidade Defensiva (p<0,001). LOCALIZAÇÃO
DA AÇÃO NO CAMPO DE JOGO: Defensivo: Meio Campo Defensivo (p<0,001). TOTAL (p<0,001).
** A variação de percentual foi calculada do teste para o reteste. Portanto, os resultados positivos expressam que os
percentuais no reteste foram superiores ao teste e, em contrapartida, os resultados negativos demonstram que no
teste os percentuais foram superiores ao reteste.

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Nas variáveis da categoria Princípios Táticos verificaram-se diferenças signifi-
cativas entre o teste e o reteste em um dos dez princípios que compõem a grelha
de avaliação, nomeadamente a “Unidade Defensiva”. Já em função da variação
percentual entre as duas avaliações observa-se maior disparidade nas ações ofen-
sivas na variável “Unidade Ofensiva” e nas ações defensivas associadas à variável
“Contenção”. Verificaram-se também as menores variações percentuais nas ações
ofensivas e defensivas para as variáveis “Mobilidade” e “Equilíbrio”, respectivamente.
Para as variáveis da categoria Localização da Ação no Campo de Jogo foram
encontradas diferenças significativas nas ações defensivas efetuadas no “Meio Campo
Defensivo”. A partir dos resultados de variação percentual, verifica-se que a maior
disparidade entre o teste e reteste encontra-se nas ações ofensivas executadas em
“Meio Campo Defensivo”. Já a menor variação entre as avaliações decorre nas
ações defensivas em “Meio Campo Ofensivo”.
Na categoria Resultado da Ação não foram encontradas diferenças significa-
tivas. Em função das variações percentuais verifica-se maior distinção entre as duas
avaliações nas ações defensivas associadas à variável “Cometer falta, ceder lateral ou
escanteio”. A menor variação de percentual situa-se nas ações ofensivas na variável
“Cometer falta, ceder lateral ou escanteio”.

MACROCATEGORIA OBSERVAÇÃO

A Tabela 2 apresenta a média e o desvio padrão das variáveis das categorias


IPT, Percentual de Erros e LARP no teste e reteste. Das trinta e nove variáveis
expostas na tabela, duas apresentaram diferenças significativas.

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Tabela 2. Médias e desvios padrões das variáveis das categorias Índice de Performance Tática (IPT),
Percentual de Erros e Localização da Ação Relativa aos Princípios (LARP) no teste e reteste

Localização da Ação
Índice de Performance Tática Percentual de Erros
Relativa aos Princípios
Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste
Ofensivos
Penetração 50,91±17,13 59,22±20,91 25,85±37,51 17,16±16,53 1,44±1,20 1,47±1,42
Cobertura
53,00±10,91 52,59±10,70 5,16±9,62 5,42±12,95 5,00±2,69 4,33±3,03
Ofensiva
Mobilidade 64,29±18,20 63,67±14,68 4,64±12,16 3,56±7,40 0,43±0,65 0,47±1,06
Espaço 42,92±5,86 44,11±8,05 3,50±10,60* 7,34±9,39* 6,11±3,07 7,76±2,02
Unidade
55,08±20,52 59,08±17,07 20,67±29,22 6,94±11,87 2,00±1,84 2,22±1,56
Ofensiva
Defensivos
Contenção 26,03±10,62 29,25±20,58 58,44±24,92 55,19±29,014,00±2,61 2,83±1,50
Cobertura
35,36±22,19 39,44±22,35 32,14±38,38 26,11±30,350,43±0,51 0,67±0,90
Defensiva
Equilíbrio 30,55±15,67 30,70±14,81 50,50±28,20 56,17±19,031,94±1,76 1,89±1,57
Concentração 30,65±10,41 31,53±13,06 25,90±30,04 14,59±15,433,22±1,35 2,56±1,15
Unidade
29,30±12,07 31,82±6,60 28,58±32,13 16,19±16,154,94±2,39 5,89±2,87
Defensiva
Fase do jogo
Fase Ofensiva 49,48±5,83 52,01±6,55 9,54±8,53 7,83±5,80 14,50±4,88 15,67±3,56
Fase
29,02±7,80 30,70±5,43 38,04±18,07 32,48±9,94 14,44±4,80 13,72±4,43
Defensiva
Jogo 38,55±3,50* 41,31±4,03* 24,54±8,74 20,40±5,68 28,94±5,64 29,39±4,79
Possuem diferenças significativas (p<0,05). IPT: Total (p=0,03). Percentual de Erros: Espaço (p=0,02).

Verificaram-se diferenças significativas na categoria IPT entre os momentos


na variável “Jogo”, sendo que no reteste a média foi maior que no teste.
Na categoria Percentual de Erros a variável “Espaço” apresentou diferenças
significativas entre as etapas de aplicação do teste. No teste os jogadores erraram
menos que no reteste.
Na categoria LARP não foram encontradas diferenças significativas entre o
teste e o reteste.

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 36, n. 1, p. 71-86, jan./mar. 2014 79


DISCUSSÃO

Este trabalho teve por objetivo avaliar quais os comportamentos táticos


podem ser alterados após 20 sessões de treino. Através dos resultados pode-se
constatar que o desempenho tático dos jogadores foi alterado em quatro das 64
variáveis avaliadas neste estudo.
A partir das diferenças significativas encontradas nas variáveis da categoria
Princípios Táticos da fase defensiva, verifica-se que os jogadores efetuaram mais ações
de “Unidade Defensiva” no reteste em relação ao teste. O princípio da “Unidade
Defensiva” possui uma forte relação com a compreensão de jogo por parte dos
jogadores e do modelo de jogo preconizado pela equipe. Deste modo, os resultados
encontrados na variável Localização da Ação no Campo de Jogo na fase defensiva
podem traduzir o aumento da realização do princípio “Unidade Defensiva”, uma
vez que os jogadores marcaram mais recuados e, consequentemente, promoveram
um maior número de ações características desse princípio. A concepção unitária de
defesa de uma equipe passa pela consciência de todos os jogadores sobre a impor-
tância das suas movimentações, dos seus limites e das suas posições em relação aos
companheiros, a bola e os adversários (HAINAUT; BENOIT, 1979; TESSIE, 1969).
Nas sessões de treino onde foi abordado o princípio de “Unidade Defensiva”, o
objetivo das atividades era de garantir a coesão, efetividade e equilíbrio funcional
entre as linhas longitudinais e transversais da equipe. De acordo com Garganta e
Pinto (1994) para conseguir isto, os jogadores responsáveis por cumprir o princípio
da “Unidade Defensiva”, necessitam organizar os seus deslocamentos, em função
da variabilidade das situações momentâneas de jogo e do conhecimento das capa-
cidades e possibilidades de movimentação dos seus companheiros.
Verificou-se que no reteste os jogadores marcaram mais recuados em relação
ao teste, uma vez que, a partir dos resultados da categoria Localização da Ação no
Campo de Jogo foram encontradas diferenças significativas nas ações defensivas
executadas no meio campo defensivo. Apesar disso, o padrão de marcação manteve-se
semelhante, pois tanto no teste como no reteste foram efetuadas mais ações ofensivas e
defensivas no meio campo defensivo, ou seja, optou-se por marcar mais vezes em
bloco baixo e efetuar mais ações ofensivas no setor defensivo para supostamente
aumentar o espaço de jogo efetivo, e assim favorecer a exploração de espaços livres
e oferecer melhores condições ao portador da bola.
Estes achados revelam-se importantes para esta categoria, porque as ações táticas
destes princípios estão relacionados com a utilização eficiente do espaço de jogo e à
noção espacial do jogo que, de acordo com a literatura, ainda encontra-se em formação
entre jogadores da categoria Sub-14 (GARGANTA; PINTO, 1994; GRECO, 1998).

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Na categoria Percentual de Erros foram encontradas diferenças significativas
na variável “Espaço”. Os resultados indicam que os jogadores de ataque tiveram mais
dificuldades em realizar as ações relativas a este princípio no reteste. Isto demonstra
que a equipe adversária, ou seja, a equipe defensora, criou mais dificuldades para a
ocupação e exploração de espaços importantes para a continuidade da ação ofensiva
(SOLOMENKO, 1982).
Na categoria Índice de Performance Tática que transcreve o desempenho
dos jogadores, observa-se que não foram encontradas diferenças significativas
nos princípios avaliados. Além disso, as sessões de treino não proporcionaram
melhoria significativa na performance dos princípios defensivos priorizados pelo
treinador (“Cobertura Defensiva”, “Equilíbrio” e “Concentração”). Duas possíveis
explicações para este resultado residem no fato do tempo destinado nas atividades
não ter sido suficiente para qualificar as ações táticas destes princípios, e no fato de
que os jogadores da equipe adversária melhoram o seu desempenho ofensivo, o
que provoca, como consequência, mais dificuldades para a organização defensiva.
Estas hipóteses são subsidiadas pelos resultados encontrados no Índice de Per-
formance Tática de “Jogo”, onde pode ser verificada uma melhoria na performance
tática dos avaliados, quando todos os princípios táticos são avaliados em conjunto.
Assim, apesar do treino proposto não ter proporcionado melhorias específicas nos
princípios táticos fundamentais do jogo, observou-se que os jogadores obtiveram
uma progressão na execução dos comportamentos táticos e, consequentemente,
na compreensão do jogo coletivo.
Verificaram-se também diferenças significativas entres as duas avaliações no
total de ações táticas realizadas, onde no reteste os jogadores executaram mais ações
que no teste. O fato de o TGfU ser um modelo centrado no jogo e no aluno, propõe
como ação inicial a escolha de uma forma de jogo que permite aos jogadores com
dificuldades de realizar ações técnicas, a possibilidade de encarar as situações de jogo
de uma maneira inteligente, impulsionando a capacidade de interpretar situações,
perceber possibilidades de ações e de agir com intencionalidade de acordo com
os objetivos do jogo (GRAÇA, 2007). Uma vez que o TGfU permite potencializar
as capacidades de percepção e tomada de decisão dos jogadores, o número de
ações táticas preconizadas pelo teste tendem a aumentar (HOPPER, 2002). Neste
caso, as sessões de treino demonstraram tais resultados e, além disso, estimularam
o aumento de ações que resultam em finalização ao gol.
De acordo com Metzler (2000), a potencial riqueza do processo de ensino
aprendizagem resulta do cuidado na adequação das atividades e métodos de ins-
trução promovidos às características e vulnerabilidades dos alunos, em consonância
com os objetivos a alcançar. Deste modo, os resultados verificados e discutidos

Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 36, n. 1, p. 71-86, jan./mar. 2014 81


anteriormente destacam que o treinamento fundamentado a partir do modelo TGfU
pode garantir melhorias nos comportamentos táticos dos jogadores de futebol. Este
modelo coloca o aluno perante situações-problema que impulsionam a necessidade
de encontrar a solução mais eficaz, onde a tomada de decisão assume uma crucial
importância e onde o desenvolvimento das habilidades do jogo ocorre dentro
do seu contexto ecológico como meio para a progressão da capacidade de jogo
(GRAÇA, 2003). Nesse sentido, a vivência esportiva deve ser abordada como um
momento em que o aluno está inserido em um contexto complexo, em uma rede
de elementos que possibilitam uma multiplicidade de ação e reflexão.

CONCLUSÕES

Através dos resultados pode-se constatar que o desempenho tático dos jo-
gadores avaliados apresentou alteração em quatro das 64 variáveis táticas avaliadas
pelo FUT-SAT. Os resultados revelaram que os jogadores efetuaram maior número
de ações táticas no reteste e também desempenharam mais ações do princípio
“unidade defensiva”.
Também verificou-se que no reteste os jogadores efetuaram mais ações
defensivas no meio campo defensivo, demonstrando que os jogadores marcaram
mais recuados na avaliação posterior às sessões de treinamento. Apesar disso, o
padrão de marcação manteve-se semelhante nos dois testes, onde optou-se por
marcar mais vezes em bloco baixo e efetuar mais ações ofensivas no setor defensivo.
Já em relação ao Índice de Performance Tática verificou-se que as sessões de
treino baseadas no TGfU proporcionaram melhorias no desempenho tático global
dos jogadores avaliados, mostrando que elas foram importantes para a melhoria da
compreensão de jogo coletivo.

Which Tactical Behaviors from Under-14 Youth Soccer


Players Might be Improved After 20 Training Sessions?
ABSTRACT: The aim of this paper was to assess which tactical behaviors might be modified
after 20 training sessions. The sample comprised 18 U-14 youth soccer players. The instrument
used to assess the tactical behaviors was FUT-SAT and the training sessions were based on
the Teaching Games for Understanding. Significant differences were verified in four variables:
the Tactical Principle “defensive unity”, the total amount of tactical actions performed, the
Tactical Performance Index and the Percentage of Errors in the Tactical Principle “width and
length”. It was concluded that the training sessions were effective, especially regarding the
increase of the Game’s Tactical Performance Index.
KEYWORDS: Soccer; Tactics; Training; Teaching Games for Understanding.

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¿Qué comportamientos tácticos de jugadores de fútbol del u-14 se
pueden modificar después de 20 sesiones de entrenamiento?
RESUMEN: El objetivo de este trabajo fue evaluar qué comportamientos tácticos se pueden
modificar después de 20 sesiones de entrenamiento. La muestra constó de 20 jugadores del
U-14. El instrumento usado para evaluación de los comportamientos tácticos fue el FUT-SAT
y las sesiones de entrenamiento fueron basadas en el Teaching Games for Understanding.
Fueron verificadas diferencias significativas en cuatro variables: el Principio Táctico “unidad
defensiva”, el total de acciones tácticas realizadas, el Indicador de Desempeño Táctico de
Juego y el Porcentual de Errores en el Principio Táctico “espacio”. Se concluyó que los entrenamientos
fueron eficaces, especialmente en lo que respecta el aumento del Indicador de Desempeño
Táctico del Juego.
PALABRAS CLAVES: Fútbol; táctica; entrenamiento; Teaching Games for Understanding.

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Recebido em: 4 mai. 2012


Aprovado em: 11 jun. 2013
Endereço para Correspondência:
Prof. Israel Teoldo Costa
Universidade Federal de Viçosa
Departamento de Educação Física
Núcleo de Pesquisas e Estudos em Futebol
Av. PH Rolfs, s/n - Campus Universitário
Viçosa-MG. CEP: 36570-000
E-mail: israel.teoldo@ufv.br
Fone/Fax: 0XX (31) 3899-2249

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2018, Retos, 33, 112-117
© Copyright: Federación Española de Asociaciones de Docentes de Educación Física (FEADEF) ISSN: Edición impresa: 1579-1726. Edición Web: 1988-2041 (www.retos.org)

O ensino da tática e da técnica no futebol: concepção de treinadores das categorias de base


La enseñanza de táctica y técnica en el fútbol: conocimientos de entrenadores de categorías de formación
Teaching tactics and technique in football: conceptions of basic categories coaches
*Otávio Bettega, *Alcides Scaglia, **Juarez Nascimento, ***Sérgio Ibáñez, *Larissa Galatti
*Universidade Estadual de Campinas (Brasil), ** Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil), ***Universidad de Extremadura (España)

Resumo. O desenvolvimento de conteúdos tático-técnicos no processo de ensino-treino do futebol é atribuição fundamental do treinador, buscando
coordenar e orientar possíveis ações de jogo dos atletas. Assim, o artigo objetiva analisar a concepção de treinadores das categorias de base de um clube
de elite do futebol brasileiro sobre aspectos técnicos e táticos do plano, do treino e do jogo. Participaram de entrevista semiestruturada oito treinadores
do sub-10 ao sub-17, sendo o tratamento das informações realizado por meio da análise de conteúdo. Nas temáticas de plano e treino, sete treinadores
investigados visualizam e desenvolvem a técnica de forma descontextualizada da tática. Contraditoriamente, na temática referente ao jogo os
treinadores avaliam o contexto tático do jogo, não atribuindo relevância para o aspecto técnico. Portanto, torna-se relevante o treinador ter coerência
e compreender o processo de planejar, treinar e jogar de forma complementar, contextualizando o desenvolvimento da técnica e da tática.
Palavras-Chaves: Futebol; Treinador; Categorias de Base; Formação de jogadores; Tática e Técnica.

Resumen. El desarrollo de los contenidos táctico-técnicos en el proceso de enseñanza-entrenamiento del fútbol configura tarea central del entrenador,
objetivando coordinar y orientar posibles acciones de juego de sus deportistas. Como un paisaje complejo que incluye constantemente el afrontamiento
a los problemas tácticos-técnicos. En este sentido, se hace necesario que el entrenador comprenda estos problemas para que pueda guiar acciones
tomadas por los jugadores. Así, esta investigación tiene como objetivo analizar la concepción de los entrenadores de las categorías inferiores de un club
de elite del fútbol brasileño en los aspectos técnicos y tácticos del plan, el entrenamiento y el partido. Participaron de una entrevista semiestructura ocho
entrenadores (del sub-10 al sub-17), y el tratamiento de datos realizados por el análisis de contenido. En las categorías plan y entrenamiento predominó
la percepción y enseñanza de la técnica descontextualizada de la táctica. Contradictoriamente, en la categoría juego los entrenadores evalúan el contexto
táctico del juego, sin valorar al aspecto técnico. Por lo tanto, se hace importante para el entrenador tener consistencia y comprender el proceso de
planificación, entrenamiento y el juego de una manera complementaria, contextualizando el desarrollo de la técnica y la táctica.
Palabras clave: Fútbol; Entrenador; Categorías de Formación; Formación de Jugadores; Táctica y Técnica.

Abstract. Coaching tactical-technical competences is a central task for soccer coaches, as it aims to better organize athletes’ actions during games. In
this sense, it becomes necessary for coaches to understand such problems, to stimulate players’ better decision-making processes. Therefore, this paper
aims to analyze youth category soccer coaches´ conceptions about tactical and technical issues in planning, training, and competition, in an elite
Brazilian soccer club. Semi-structured interviews were conducted with eight coaches (from U-10 to U-17); data analysis was performed through content
analysis. In planning and training topics, most of the coaches view and develop technical training separated form tactical aspects. Contradictorily, in
the theme referring to competition coaches evaluated the tactical context of games, whereas they considered technical aspects as non-relevant.
Therefore, being coherent and understanding the processes of planning, coaching and playing in a complementary way, contextualizing the development
of tactical and technical, becomes essential for any youth category coach.
Keywords: Soccer; Coach; Youth Sport; Players Education; Tactical and Technical.

Introdução possibilidades de resolução dos problemas.


O processo de formação tático-técnico de jovens jogadores no
Treinar crianças e jovens no esporte representa uma tarefa complexa, futebol deve configurar-se na diversificação das formas de jogar, estimu-
que deve ser compreendida e desenvolvida em longo prazo. Santos et al lando os jogadores na procura de soluções para os diferentes problemas
(2016) destacam a importância do papel do treinador de jovens e que os do jogo e não direcionando a repetição de exercícios com ações e respostas
estudos nessa linha vêm aumentando. No futebol, o treinador de preestabelecidas (Bettega, Scaglia, Morato & Galatti, 2015). Isso posto,
categorias de base necessita planejar, aplicar e avaliar os cenários de enfatiza-se que a formação do jogador de futebol deve repousar em
treino e jogo (competição), de maneira que seu comportamento expresse práticas com elevada variabilidade de constrangimentos, gerando cons-
sua concepção, sendo coerente com o que desenvolve e o que cobra de tantes adaptações, possibilidades de descoberta, auto aprendizado e
seus jogadores (Santos, Lopes, Rodrigues, 2016). Nessa perspectiva, contextualizando a técnica com a tática (Araújo, Fonseca, Davids, Gar-
Riola e D’Isanto (2015) evidenciam a periodização dos conteúdos ganta, Volossovicth, Brandão & Krebs, 2010).
desenvolvidos no futebol e sua contextualização a partir dos aspectos Apesar da literatura da área recomendar a necessária contextualização
físicos, psicológicos e tático-técnicos. tática do treino técnico nas modalidades coletivas e, em especial, no
No caso dos conteúdos tático-técnicos, o treinador precisa consi- futebol, poucas investigações têm se concentrado sobre como os
derar a compreensão dos jogadores sobre o jogo, bem como a forma treinadores estruturam esse processo em clubes formadores de jovens
como interagem no jogo. Os treinadores devem conceber o processo de jogadores. Todavia, em outras modalidades e contextos, já se observam
ensino-treino do futebol como um sistema não linear, dependente das estudos nessa linha, como no vitorioso basquetebol espanhol (Cañadas,
interações internas e externas ao jogo, sendo que a construção das Parejo, Ibáñez, Garcia & Feu, 2009; Cañadas, Ibáñez, Leite, 2015).
atividades não deve centrar-se na aplicação de tarefas fechadas e com Dada a carência observada em nosso contexto, o objetivo do estudo foi
respostas prontas, mas na busca constante por diferentes caminhos analisar a concepção de treinadores das categorias de base de um clube
(Lee, Chow, Komar, Tan & Button, 2014). Chow, Davids, Button e de elite do futebol brasileiro sobre os aspectos técnicos e táticos ao
Renshaw (2013) ressaltam a necessidade da concepção do treinador e planejar as sessões de treino, ao comandar os treinamentos e durante
sua abordagem pedagógica ser dinâmica e não linear, atribuindo fatores partidas oficiais (competição).
como: a) busca por soluções com base na percepção motora, restrições
estruturais e interação entre indivíduo e ambiente; b) consideração da Procedimentos Metodológicos
variabilidade na aquisição de novos padrões de movimento; e c)
compreensão das instruções para interpretar corretamente as diferentes A seleção da temática origina-se nas experiências de vida dos
pesquisadores, ou seja, as escolhas circunstanciais surgem a partir da
aprendizagem instituída ao longo da vida, permitindo aos indivíduos a
Fecha recepción: 16-02-17. Fecha de aceptación: 14-05-17 exploração espontânea dos acontecimentos e interações (Duarte &
Otávio Bettega Culver, 2014). Todos os autores atuaram como treinadores em categorias
otavio.b.bettega@gmail.com
de base de modalidades coletivas e o primeiro autor ainda exerce essa

- 112 - Retos, número 33, 2018 (1º semestre)


função no futebol; todos têm vasta experiência com pesquisa qualitativa, o momento de criação, o treino compreende o momento de construção
no uso de entrevista semiestruturada e na análise de dados dessa e o jogo envolve o momento de reflexão. Para cada tema gerador, foram
procedência. Os autores têm vasta assim como relevante produção estabelecidos 10 subtemas, que versavam sobre as concepções do
acadêmica em revistas indexadas (Bettega et al., 2015; González, Ibáñez, treinador referentes aos elementos táticos, técnicos, modelo de jogo,
Feu & Galatti, 2017; Galatti et al., 2016; Galatti, Bettega, Paes & metodologia de treino e critérios de avaliação tático-técnica.
Scaglia, 2016). Como instrumento de pesquisa auxiliar, um diário de campo foi
Após a escolha da temática, organizado o desenho metodológico da elaborado ao longo da coleta de dados, no qual o investigador contemplou
pesquisa, que se classifica como um estudo empírico qualitativo. De anotações de algumas sessões de treinamento e jogos das equipes dos
forma específica é um estudo descritivo não estruturado, que analisa treinadores investigados, com ênfase na observação de conteúdos tático-
uma única amostra, um grupo de treinadores, portanto é um estudo de técnicos (Cordes, Lamb, Lames, 2012). No diário foram relatados a
caso (Montero & León, 2007). A compreensão do contexto investigado organização e objetivos das atividades de treino, bem como
e dos dados obtidos foi realizada a partir da perspectiva sistêmica, em acontecimentos relevantes relacionados ao comportamento do treinador
que o objeto se configura com base nos elementos de natureza e relações e jogadores quanto ao treinamento tático-técnico.
pertinentes às propriedades do sistema (Bertalanffy, 2013). A figura 1
representa de forma objetiva o percurso de vida dos pesquisadores, Procedimentos
seus diferentes papéis e seus contextos de aprendizagem até a seleção Com a realização do projeto piloto foi possível a organização dos
da temática de estudo e imersão no campo de pesquisa. temas geradores e definição das questões a serem abordadas. Desse
modo, possibilitou a imersão no campo de pesquisa e operacionalização
da coleta de dados, que ocorreu durante o período competitivo, no qual
as equipes dos treinadores investigados disputavam o campeonato
estadual de futebol. As entrevistas foram realizadas individualmente
com cada treinador nas dependências do clube, utilizando-se de um
gravador digital.
O investigador ficou quarenta dias acompanhando a rotina do clube,
conversando com treinadores e outros profissionais e também regis-
trando situações ocorridas no ambiente de treino através do diário de
campo. Posteriormente o período de coleta dos dados, ocorreu à
transcrição de todas as entrevistas e o envio aos treinadores para validação
das declarações.
Figura 1. Trajetória de vida do investigador até a escolha da temática de pesquisa.

Análise dos Dados


Participantes Na análise das informações foram empregados os procedimentos
A seleção da amostra foi intencional, pois foi escolhido um clube. de análise de conteúdo com base na proposta de Bardin (2011),
Além disso, a amostra é sistematizada, visto que as categorias escolhidas estruturada em três etapas: (i) Pré-análise; (ii) Exploração do material;
se deram a partir da sistematização das etapas de formação realizada no (iii) Tratamento e interpretação dos resultados. A validez interpretativa
estudo de Bettega et al (2015). Participaram oito treinadores pertencentes foi obtida a partir das análises complementares de dois investigadores
às equipes de base de um clube de elite do futebol brasileiro. Além de com experiência acumulada em investigações desta natureza.
fornecer atletas para as seleções de base e adulta, o clube é reconhecido Todos os dados foram codificados por um analista e submetidos a
no cenário nacional e internacional na formação de jogadores de futebol. um processo de análise de concordância intra-avaliador. O’Donoghue
No momento da escolha do clube a ser estudado em 2014, este se (2010) indica que o índice Kappa de Cohen (Cohen, 1960) é o estatístico
apresentava como primeiro no ranking de categorias de base no país válido para comprovar a concordância entre observadores para dados
(Sports21, 2014). A escolha dos treinadores das respectivas categorias qualitativos. Os resultados de índice Kappa de Cohen intra-avaliador
faz referência com classificações encontradas em diferentes estudos da mostraram valores superiores à ,80, considerados por Landis e Koch
literatura consultada (Balyi, 2001; Bettega et al., 2015; Côté, 1999). Tal (1977) como quase perfeitos.
proposta se organiza nas seguintes etapas do processo de formação:
Iniciação; Transição; Especialização, sendo que: Resultados
Iniciação: corresponde ao período inicial da prática esportiva
(categorias sub 10 e sub 11), em que se busca desenvolver aspectos A sistematização dos resultados levou em consideração os três
tático-técnicos básicos para atuação nas fases de ataque e defesa. temas geradores das entrevistas: (i) Plano; (ii) Treino; (iii) Jogo. Além
Transição: caracteriza-se pela fase (categorias sub 12, sub 13, sub disso, o quadro 1 aponta a organização dos temas geradores relacionada
14) de aquisição e progressão do conhecimento do jogo e do com aspectos da teoria dos sistemas ecológicos, como: tempo,
comportamento tático-técnico. envolvimento pessoal em atividades, qualidade dos relacionamentos e
Especialização: pressupõe ao momento de sustentação e cenário apropriado (Bronfrenbrenner, 1977; Côté, Strachan & Fraser-
aperfeiçoamento dos aspectos tático-técnicos do jogo (categorias sub Thomas, 2008).
15, sub 16, sub 17).
Quadro 1.
Organização dos temas geradores relacionada com os aspectos da teoria dos sistemas
ecológicos.
Instrumentos de coleta de dados Envolvimento pessoal em
Temas Tempo Qualidade das relações Cenário apropriado
O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi a entrevista atividades
Ação de criação Casa, próprio
semiestruturada, que foi realizada no formato aberto, permitindo liberdade Plano Antes
(das partes para o todo)
Treinador, comissão técnica,
clube.
para o entrevistado responder os questionamentos realizados. A entre- Treino Durante
Ação de operacionalização (das Treinador, comissão técnica,
Próprio clube
partes para o todo) jogadores.
vista semiestruturada permite ao entrevistador a manutenção no foco Ação de reflexão (visualização
Treinador, comissão técnica,
Próprio clube,
Jogo Depois jogadores, torcida,
da discussão, delineando os questionamentos com base em um roteiro do todo integrado)
adversários, árbitros.
clubes adversários.
preestabelecido, que geralmente é baseado em temas geradores (Rathwell,
Bloom & Loughead, 2014). O quadro 1 contempla os temas geradores alicerçados em aspectos
A elaboração da entrevista obteve a participação de pesquisadores da teoria dos sistemas ecológicos. Ou seja, o plano é apontado como o
experientes na área da Pedagogia do Esporte, a partir de três temas «antes», a ação de criação, que geralmente é elaborada pelo treinador e
geradores: o plano, o treino e o jogo. Enquanto que o plano contempla pela comissão técnica, em casa ou no próprio clube. O treino contempla

Retos, número 33, 2018 (1º semestre) - 113 -


o «durante», a ação de operacionalização, que geralmente é conduzida ne bem os fundamentos para ser efetiva quando criar as chances [...]»
pelo treinador, comissão técnica e concretizada pelos jogadores no am- (Treinador H).
biente do clube. A temática de jogo refere-se ao «depois», a ação de Com relação a temática de treino, os relatos dos treinadores foram
reflexão, que geralmente é realizada pelo treinador e comissão técnica a diversificados, embora sete valorizem a qualificação da técnica (gesto
partir da interação estabelecida entre jogadores, adversários, árbitros na motor) como forma de auxílio ao trabalho tático. Enquanto que quatro
esfera do clube e em outros clubes. Ressalta-se que o processo é dinâmico, treinadores relataram que procuram concentrar o desenvolvimento da
logo, as ações são sucessivas e complementares, sendo que o plano fundamentação técnica do jogador no período inicial da temporada,
pode ser realizado antes, durante e depois, bem como o treino e o jogo. outros treinadores destacaram que, em uma sessão de treino,
Assim, o recorte dos resultados refere-se à visão inicial do investigador primeiramente enfatizam aspectos técnicos para depois abordarem as-
e procura identificar condições em que os treinadores relatam suas pectos táticos, independentemente do período da temporada esportiva.
intervenções. Um treinador que enfatiza somente os aspectos táticos, embora seja
A figura 2 representa a organização dos temas geradores (plano, observada a preocupação de alguns treinadores com a componente
treino, jogo), das categorias (técnica, tática) e das subcategorias (técnica técnica contextualizada na esfera tática. Sobre a temática de treino, os
– técnica individual, gesto motor, forma analítica, execução de treinadores comentaram:
movimento, correção de movimento; tática – tática individual, tática «A gente trabalha exclusivamente a técnica básica de forma analí-
setorial, tática coletiva, tomada de decisão, cognição). Salienta-se que tica, para ensinar os movimentos, para mostrar como é que funciona a
os resultados são organizados a partir dos temas geradores e que a execução de forma correta [...]» (Treinador A).
descrição das categorias e subcategorias acontece de forma contextual. «Essa idade até os treze, quatorze anos a parte técnica tem que
estar em evidência, os meninos têm que ter correção de movimentos
[...]» (Treinador B).
«Acho que a forma analítica em uma forma sem oposição, de uma
forma complexa na evolução daquele mesmo exercício de uma forma
com oposição e depois sim contextualizada [...]» (Treinador C).
«Que a gente estabeleça o jogo pela posse, que a gente qualifique a
parte técnica, passe, domínio, que são os fundamentos básicos para
isso [...]» (Treinador D).
«Eu vou introduzindo a tática individual, a tática setorial e a tática
coletiva vou complementando e dando uma sequência ao treinamento»
(Treinador E).
«O primeiro treino é sempre com ênfase na questão técnica e
Figura 2. Organização dos temas geradores, categorias e subcategorias
cognitiva que eu vou usar no treino principal, que daí tem uma carac-
No que diz respeito à temática de plano, os resultados indicam que terística um pouco mais tática e coletiva [...]» (Treinador F).
os treinadores investigados não procuram distinguir o desenvolvimento «Contextualiza a parte do modelo de jogo com a questão analítica
da técnica de acordo com as etapas de formação que trabalham (iniciação, que nós vamos utilizar e também a gente procura utilizar com essa
transição e especialização). De fato, todos os treinadores enfatizam o mesma situação com jogos de tomada de decisão [...]» (Treinador G).
componente técnico aliado à tática, mas acreditam também no «Fazer com que ele primeiro entenda o gesto que vai isola um
planejamento de conteúdos técnicos descontextualizados do jogo, sendo pouquinho a atividade para ajudar ele na parte global também [...]»
que somente um treinador enfatiza a tática, sem atribuir importância ao (Treinador H).
gesto motor. Na temática de treino algumas informações do diário de campo vêm
Quanto ao plano de treinamento, os treinadores investigados para auxiliar e fortalecer os relatos realizados pelos treinadores:
relataram: «Segunda Atividade: jogadores em trios (duas filas) com troca de
«Das partes técnicas do jogo, o passe, o cabeceio, a condução, o passes e movimentações para trocar de fila» (Treino: Treinador A).
drible, o chute, são os princípios que envolvem o jogo, os fundamentos «Primeira Atividade: Jogadores em filas passando por circuitos
que envolvem o jogo [...]. Então esses são os mais importantes na (escada de agilidade, saltando cones, mudando de direções) « (Treino:
categoria que eu atuo» (Treinador A). Treinador B).
«A gente trabalha o primeiro semestre, assim, não na totalidade «Segunda Atividade: Jogadores em um retângulo com quatro
do primeiro semestre, mais voltado para a técnica individual de cada cones, sendo que o jogador tem que ir ao próximo cone, receber a bola
um [...]» (Treinador B). escorada pelo companheiro e realizar um passe para o jogador que
«Eu divido os momentos em parte ofensiva e defensiva, atacando está no próximo cone» (Treino: Treinador C).
principalmente a tática individual e a parte técnica do atleta [...]» «Terceira Atividade: Trabalho de posse e quebra de pressão (6x6).
(Treinador C). A bola saí no goleiro e os jogadores (2 laterais, 2 zagueiros e 2 volan-
«Eu acho que consegue trabalhar com todas as idades o mesmo tes) necessitam trocar 5 passes e assim tem como objetivo ultrapassar
conteúdo técnico/tático o que varia de uma idade para a outra é a ênfase o meio campo com posse da bola» (Treino: Treinador D).
que tu dás [...]» (Treinador D). «Segunda Atividade: Jogo de 4x2 em círculo com dois toques,
«Duas coisas que eu prezo muito são as tomadas de decisões, a busca de manutenção da posse pelo ataque e interceptação de passe
parte cognitiva do atleta e a velocidade da execução do movimento, ter pela defesa» (Treino: Treinador E).
velocidade no jogo, velocidade que eu digo no jogo não é velocidade «Primeira Atividade: Dois jogadores, um de frente para o outro,
física do atleta, velocidade cognitiva na tomada de decisões [...]» sendo que a tarefa dos jogadores é conduzir a bola e entregar a mesma
(Treinador E). para o companheiro» (Treino: Treinador F).
«Todos os treinos são planejados para que o menino tome decisão «Terceira Atividade: Início com passe longo e cabeceio dos
e também para que ele tenha uma parte técnica boa, um gesto motor zagueiros, na sobra do cabeceio inicia uma situação de 3x2» (Treino:
bom [...]» (Treinador F). Treinador G).
«Alguma coisa de tática individual, como postura corporal da «Segunda Atividade: Dois jogadores, um de frente para o outro,
marcação de um para um, o joelho flexionado, o centro de gravidade sendo que um atira a bola com a mão e o outro realiza o cabeceio»
mais próximo do chão, evita a progressão do adversário [...]» (Treino: Treinador H).
(Treinador G). Diferentemente das temáticas anteriores, todos os treinadores in-
«Uma equipe que consiga trabalhar muito bem a bola, que domi- vestigados consideram o contexto tático do jogo nas suas avaliações na

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temática de jogo. Enquanto que alguns treinadores ressaltaram a treinadores investigados predispõe a busca de um «corpo» controlável,
preocupação com as escolhas individuais dos jogadores, outros que atue em território conhecido (Cunha e Silva, 1999). Além disso, tal
treinadores demonstraram maior ênfase na tática coletiva. Alguns modelação corresponde a mínima variabilidade e adaptabilidade,
treinadores destacaram a análise da técnica na relação com a tática, do atribuindo pouco significado às relações estabelecidas ou originadas no
individual para o coletivo, ou seja, onde um gesto predispõe ou não um próprio jogo (Chow, Davids, Button, Renshaw, Shutleworth & Uehara,
padrão tático. 2009; Seifert, Button & Davids, 2013).
De modo geral, os treinadores investigados relataram sobre a temá- A preocupação dos treinadores em qualificar o componente técnico
tica de jogo: como forma de auxílio ao componente tático tende a potencializar o
«A gente avalia sempre o coletivo, mas avalia também o indivi- gesto, mas descontextualiza a ocorrência simultânea e complementar
dual, as escolhas que os meninos têm que ter dentro do campo [...]» entre técnica e tática. Para tanto, a ação do jogador decorre em um
(Treinador A). ambiente caótico, imprevisível e não linear, logo, o domínio de uma série
O que acontece muito é que de ter se treinado muito uma coisa e se de habilidades motoras não assegura a eficácia das ações. Assim, o
executar uma coisa diferente do que se treinou [...] eles tomam decisões planejamento deve priorizar o desenvolvimento da técnica em condições
por conta deles, o correto seria eles tomarem as decisões conforme se táticas que representem a variabilidade e aleatoriedade do jogo (Davids,
treina [...]» (Treinador B). Araújo, Shuttlerworth, 2005; Gréhaigne, Caty, Godbout, 2010).
«Os dados que a gente colhe é muito da parte individual, mas não Embora algumas observações realizadas e contempladas no diário
deixa da gente ter alguma parte coletiva, são vários dados de parte de campo destaquem a realização de trabalhos com a técnica e a tática
coletiva que tem, mas basicamente a parte mais individual [...]» contextualizadas, alguns treinadores investigados planejam o
(Treinador C). desenvolvimento técnico desconexo dos aspectos táticos. Tais treinadores
«A gente deve estar fazendo uma avaliação constante, coletiva e atribuem relevância ao aperfeiçoamento e correção do gesto técnico,
individual, coletiva porque a gente tenta dentro de cada categoria justificando também pela etapa formativa que atuam (categorias iniciais).
estabelecer o seu modelo de jogo [...]» (Treinador D). Contudo, o período de iniciação ao esporte e, nesse caso, ao futebol,
«Procuro passar em 5 fases nossas do jogo, que é a organização deve congregar a diversidade de experiências e aprendizados, não se
defensiva, organização ofensiva, as transições ofensivas e defensivas e concentrando apenas na aquisição de gestos estereotipados, mas explo-
as nossas bolas paradas ofensivas e defensivas [...]» (Treinador E). rando a criatividade tática (Memmert, 2014).
«Eu brigo quando acontece alguma situação, quando o guri toma As evidências referentes ao treino ressaltaram ainda que alguns
a decisão errada e é executada errada, se ele tomar a decisão certa e treinadores conferem significância à qualificação e ao domínio da técnica
errar eu dou força para ele [...]» (Treinador F). como forma de aumentar o nível de eficácia das ações realizadas no jogo.
«Onde uma posição corporal não se adequo aquilo que o modelo Em contraponto, outros treinadores procuram desenvolver a técnica em
de jogo está pedindo [...]» (Treinador G). jogos de tomada de decisão, ou seja, fomentam a busca de respostas
«Quando eu analiso um jogo eu não me preocupo tanto com a motoras às situações do jogo. A potencialização da ação motora deve
parte técnica, eu me preocupo mais com a parte coletiva, com a estimular os processos cognitivos, desenvolvendo habilidades
inteligência dele, com as tomadas de decisões que ele fez [...]» (Treinador perceptivas, de planejamento, antecipação, levando os jogadores a bus-
H). ca de decisões mais adequadas ao jogo (Broadbent, Causer, Williams &
De maneira geral, os temas geradores de plano e treino foram Ford, 2014; Paterson, Kamp, Bressan & Savelsbregh, 2013).
visualizados das partes para o todo, ou seja, concebendo em parte a Apesar de a progressão do treinamento partindo do trabalho frag-
técnica individual (partes isoladas) para a tática coletiva (todo integra- mentado da técnica para a contextualização tática seja a mais frequente
do) e o tema de jogo foi percebido com base no todo integrado, com entre os treinadores investigados, um deles destacou-se dos demais por
ênfase na tática coletiva, conforme mostra a figura 3. enfatizar a progressão complexa em atividades contextualizadas, com
ênfase na tática individual, setorial e coletiva.Ao acreditarem na linearidade
no aprendizado dos jogadores para atuarem no jogo, os treinadores
partem do princípio que a soma dos desempenhos individuais resulta
um produto exato do coletivo, bem como que o desenvolvimento da
técnica de forma analítica permita uma aplicação eficaz nas circunstâncias
de jogo. Estudos atuais relacionados com o desempenho de jogo avançam
os métodos analíticos tradicionais analisando os padrões de jogo a partir
da evolução complexa de comportamentos, considerando situações
dinâmicas do jogo, interações com companheiros e adversários e
condições competitivas (Gréhaigne & Godbout, 2014).
Um aspecto a destacar é que a progressão linear instituída pelos
Figura 3. Percepção sistêmica dos treinadores no plano, no treino e no jogo.
treinadores da técnica para a tática tem sido questionada, considerando
a sequência acíclica e complexa do próprio jogo. Nesse sentido, Ibáñez,
A figura 3 apresenta o treinador, os temas geradores (plano, treino Feu, Antúnez e Cañadas (2013) propõem o modelo ondulatório, no
e jogo) e as ações (criação, operacionalização e reflexão) com linhas qual as tarefas do treinamento são desenvolvidas de forma não linear e
pontilhadas, pois visualiza-se como relações e não objetos. Entretanto, progressiva, alternando a priorização entre as fases de ataque e defesa,
os jogadores circulados individualmente são em algumas circunstâncias bem como entre a técnica e a tática. Assim, um treinador investigado
percebidos como objetos (plano e treino), enquanto na temática de jogo apresentou uma percepção alinhada à compreensão sistêmica e não
são vistos a partir das relações. linear dos conteúdos tático-técnicos do futebol como apontam alguns
estudos (Balague, Torrents, Hristovski, Davids & Araújo, 2013; Davids,
Discussão Araújo, Seifert & Orth, 2015; Serra-Olivares & Garcia-Rubio, 2017).
Os resultados referentes à temática de jogo mostraram que os
Independentemente da etapa do processo de formação esportiva treinadores enfatizam a avaliação no individual e no coletivo, atribuindo
que atuam (iniciação, transição e especialização), sete treinadores inves- relação entre ambos. Ao considerarem que a ação do jogador em meio ao
tigados ressaltaram na temática do plano o domínio do gesto técnico jogo é justificada pelas interações estabelecidas com o contexto, ou seja,
como preponderante para a condição tática, ou seja, enfatizaram o o objeto é determinado pelo sujeito (Hessen, 2000, p.51), tais treinadores
trabalho técnico descontextualizado como importante para atuação do ressaltaram a importância da análise com base nas escolhas realizadas
jogador no contexto tático do jogo. Esse olhar objetivo por parte dos pelos jogadores, considerando o «sujeito», suas interações com

Retos, número 33, 2018 (1º semestre) - 115 -


companheiros, adversários e com as condições de jogo. Desse modo, forma complementar e com princípios pedagógicos delineados às
torna-se condizente os treinadores estimularem a autonomia dos atletas condições estabelecidas no contexto de prática. No caso do presente
nas escolhas, criando um ambiente favorável para a tomada de decisão, estudo, a busca centrou-se na relação entre os aspectos táticos e técni-
aproximando as condições de treino com base nas disposições encon- cos explorados no processo de ensino-treino, a partir das concepções
tradas no jogo (Gréhaigne et al., 2010). dos treinadores e nas observações de sessões de treinamento registradas
Todos treinadores destacaram a avaliação do jogo concentrada na no diário de campo.
técnica contextualizada com a tática, assim como no individual relacio- As evidências encontradas com referência ao plano mostraram que
nado com o coletivo. Além de concordarem que a ação do jogador sete dos treinadores investigados atribuem importância à qualificação
representa um processo tático-técnico singular que não separa a execução técnica (gesto motor), apesar de também considerarem a componente
das razões para executar (Thelen & Smith, 2006), esses treinadores tática. A perspectiva tecnicista também foi observada na temática de
analisam as movimentações dos jogadores com base na exploração das treino, porque os treinadores enfatizam o desenvolvimento de aspectos
diversas possibilidades do jogo (Stolz & Pill, 2014). A análise da tomada técnicos para depois progredir aos aspectos táticos, ou seja, parecem
de decisão deve considerar o conhecimento já adquirido pelos jogadores, priorizar o trabalho com vistas à eficiência técnica como forma de auxi-
principalmente a partir das situações desenvolvidas no treinamento, liar na resolução das questões táticas. Entretanto, os resultados referen-
mas ressalta-se que o processo se sustenta também nas informações do tes ao jogo evidenciaram que os treinadores procuram direcionar suas
ambiente, tornando a ação complexa e adaptável as condições do con- avaliações para a técnica contextualizada com a tática, no comportamento
texto (Davids,Araújo, Villar, Renshaw & Pinder, 2013;Araújo & Davids, individual relacionado com o coletivo, reportando importância não para
2011). Desta forma, a relação da técnica com a tática, assim como do o gesto motor, mas para as escolhas realizadas pelos jogadores.
individual com o coletivo, torna-se relevantes nas apreciações desses Em síntese, os resultados obtidos no estudo mostraram que nas
treinadores, pois a ação do jogador condicionada por informações inter- temáticas de plano e treino sete dos treinadores investigados, mesmo
nas e externas não representa somente um gesto motor, mas cria signi- trabalhando de forma contextualizada, ainda busca o desenvolvimento
ficados para o âmbito tático coletivo do jogo. do aspecto técnico de forma fragmentada, concebendo o processo de
A avaliação do jogo foi ressaltada por alguns treinadores também ensino-treino na perspectiva que o objeto determina o sujeito. Entretan-
com base na organização coletiva da equipe. Nesse caso, a análise de to, os resultados referentes à temática de jogo evidenciam que os
padrões coletivos da equipe necessita reconhecer o comportamento dos treinadores consideram o contexto tático do jogo, não direcionando
jogadores como fontes de interação que constituem uma totalidade relevância para o aspecto técnico. Assim, constata-se que o pensamento
organizada, no qual se auto organiza as condições momentâneas (Lebed, objetivo estabelecendo relação de causa/efeito entre técnica e tática ainda
2013). O comportamento coletivo orienta-se a partir das regras de ação predomina na construção do processo de ensino-treino nas categorias
estabelecidas no modelo de jogo da equipe, da adaptação ao adversário de base do futebol. Além disso, o pensamento subjetivo, com perspec-
e às condições de jogo, assim, a análise coletiva conferida pelos treinadores tivas reflexivas e complexas, concentra-se apenas nas avaliações dos
torna-se relevante, pois irá dar pistas se os padrões de ação treinados jogos, daquilo que está construído, porém não ganha relevância na
estão ocorrendo nas situações de jogo (Malta & Travassos, 2014). Para reconstrução constante do processo de ensino-treino.
tal análise, Ballesta Castells et al (2015) destacam métodos atuais de A pesquisa obteve como fator limitante a falta de instrumentos de
avaliação, realizados por meio de GPS e que trazem maior fiabilidade pesquisa para investigar as situações do treinamento e comportamentos
nos dados, bem como possibilidade do cruzamento de diferentes variáveis do treinador e jogadores com maior profundidade, tal qual filmagem das
(físicas, técnicas, táticas). sessões de treinamento e jogos. Vemos que este é ainda um limitador
De maneira geral, enquanto que na temática de jogo predomina uma para investigações no esporte, já que é comum os clubes buscarem
visão contextualizada entre a técnica e a tática, ou seja, os treinadores «proteger» informações de treino, dificultando o acesso de agentes ex-
percebem o jogo na sua totalidade organizada, nas temáticas de plano e ternos (como pesquisadores) a registros do processo de treino. Desta
treino os resultados sinalizam perspectivas tecnicistas dos treinadores forma, este estudo se centrou nas concepções dos treinadores, sendo
investigados, que visam à técnica também de forma fragmentada às recomendado a futuros estudos maior investimento em investigar o
condições táticas do jogo. Considerando que o planejamento, o treino e treino, dada a relevância desse momento para compreensão do processo
o jogo devem ocorrer de forma complementar e coerente, as evidências de desenvolvimento do jovem jogador. Também são recomendados
encontradas no estudo apontam que neste clube de referência na formação esforços em investigar a aprendizagem do treinador e dos jogadores.
de atletas brasileiros a aprendizagem dos jogadores carece de um processo
complexo, contínuo e que acompanhe as mudanças do indivíduo e a Agradecimentos
dinâmica do contexto (Light, 2008; Orozco, Pérez, Sierra, 2017).
Os relatos dos treinadores sobre como planejam e aplicam os Este estudo foi realizado com o apoio da Fundação de Amparo à
treinamentos se aproximam, pois, obtêm preocupação com a melhora Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo número 2015/
do gesto técnico descontextualizado para assim buscar ações táticas 01599-9. Este trabalho também foi parcialmente financiado pela ajuda
eficazes, embora em algumas situações os treinadores procurem relacio- dos Grupos de investigação (GR15122) da Junta de Extremadura
nar tais conteúdos. No entanto, ao avaliarem os jogos de suas equipes, (Consergería de Economía e Infreastructuras con la aportación de la
os treinadores privilegiam os aspectos táticos. Assim, há o Unión Europea) através dos FEDER.
questionamento se os aspectos táticos que compreendem o conteúdo
predominante na avaliação do processo não deveriam também ser pre- Referências
ponderantes ao planejar e conceber o treino. Além disso, destaca-se a
relevância dos conhecimentos de Pedagogia do Esporte na construção Araújo, D., Fonseca, C., Davids, K., Garganta, J., Volossovicth, A., Brandão,
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A condução do percurso formativo do jogador de futebol sustenta-
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se, em grande parte, na estruturação do processo de ensino-treino.
Revista Internacional de Medicina y Ciencias de la Actividad Física
Nesse sentido, a condução do plano, do treino e do jogo deve ocorrer de y el Deporte, 15(60), 785-803.

- 116 - Retos, número 33, 2018 (1º semestre)


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Retos, número 33, 2018 (1º semestre) - 117 -


Motriz, Rio Claro, v.17 n.3, p.511-524, jul./set. 2011 doi:

Artigo Original

Proposta de avaliação do comportamento tático de jogadores de


Futebol baseada em princípios fundamentais do jogo

Israel Teoldo da Costa 1


Júlio Garganta 3,4
Pablo Juan Greco 2
Isabel Mesquita 3,4
1
Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
MG, Brasil
2
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.
3
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal.
4
Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto, Portugal.

Resumo: Os instrumentos disponíveis para a avaliação do conhecimento tático processual em Futebol têm
resultado de uma abordagem vaga, no que respeita à especificidade do jogo. O presente artigo tem por
objetivo fundamentar conceitualmente a construção de um modelo de avaliação dos comportamentos
táticos de jogadores, com base em princípios táticos fundamentais do jogo. A proposta aqui detalhada
busca evidenciar a essencialidade tática do jogo e estabelecer um vínculo entre a informação proveniente
da avaliação do jogador e suas implicações na transformação positiva do processo de ensino e treino.
Palavras-chave: Futebol. Princípios táticos. Avaliação. Tática. Conhecimento tático processual.

Proposal for tactical assessment of Soccer player’s behaviour, regarding core principles
of the game
Abstract: The tactical procedural knowledge assessment has displayed scarce approach concerning
characteristics of Soccer game, specially, in the teaching context. This paper aims to show a proposal of
tactical behavior evaluation of soccer player which takes account fundamentals tactical principles of Soccer
game. This proposal tries to reflect specificity of the Soccer context and to establish a connection between
the contents of training sections and assessment of the tactical development of players in all formations
stages.
Key Words: Soccer. Tactical Principles. Evaluation. Tactics. Tactical procedural knowledge.

Introdução jogo, estando intimamente ligado a ação motora


A avaliação tática no âmbito do Futebol tem (WILLIAMS; DAVIDS, 1995; KIRKHART, 2001).
sido objeto de estudo de muitos pesquisadores Os estudos realizados para avaliar o
que objetivam construir instrumentos capazes de conhecimento tático declarativo do praticante se
avaliar adequadamente os constrangimentos consubstanciam, principalmente, na apresentação
relacionados com o desempenho dos jogadores de diapositivos com situações pré-definidas de
durante o jogo (TENGA et al., 2009). Os jogo e na utilização de questionários e entrevistas
instrumentos para a avaliação do comportamento (FRENCH; THOMAS, 1987; MANGAS;
tático, descritos na literatura, se distinguem com GARGANTA; FONSECA, 2002). A realização de
base em dois tipos de conhecimento avaliados: o estudos com este cariz tem contribuído para a
conhecimento declarativo e o conhecimento avaliação do conhecimento que suporta a
processual. O conhecimento declarativo refere-se realização da ação em situações de jogo (BARD;
à capacidade do praticante em declarar de forma FLEURY, 1976). Todavia, as limitações desses
verbal e/ou escrita qual a melhor decisão a ser instrumentos decorrem da dificuldade de simular
tomada em uma determinada situação de treino com fidedignidade o comportamento do jogador
ou de jogo e o porquê desta decisão em cenários reais de jogo ou de treino, nos quais
(TENENBAUM; LIDOR, 2005). Já o conhecimento os aspectos ambientais influenciariam as suas
processual está relacionado à capacidade do decisões. Por esse motivo, alguns autores têm
jogador em operacionalizar respostas apropriadas considerado que os testes de conhecimento
aos problemas advindos das situações de treino e declarativo, recorrentemente utilizados, não
permitem obter informação representativa acerca
I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

da capacidade de pensamento e de tomada de consideração das interações de jogo e de


decisão do praticante em função de uma situação avaliação dos comportamentos relacionados a
real de jogo (BLOMQVIST; VÄNTTINEN; fase defensiva.
LUHTANEN, 2005).
Em face destas limitações, torna-se evidente a
No que reporta a avaliação do conhecimento necessidade de se conceber instrumentos de
tático processual destacam-se três instrumentos avaliação capazes de retratar a essencialidade do
que estão diretamente relacionados com o jogo e de estabelecer uma conexão entre a
processo de ensino e treino: o Game Performance avaliação do jogador e os conteúdos
Assessment Instrument - GPAI (OSLIN; desenvolvidos no processo de ensino e treino
MITCHELL; GRIFFIN, 1998), o Team Sports (GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1998; TENGA et al.,
Performance Assessment Procedure – TSAP 2009). Diante deste contexto, o presente artigo
(GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1997) e tem por objetivo fundamentar conceitualmente a
a bateria de testes KORA (MEMMERT, 2002). O construção de um modelo de avaliação dos
GPAI, apropriado especificamente para ser comportamentos táticos desempenhados pelos
utilizado em níveis mais elementares de prática, jogadores de Futebol, com base nos princípios
permite identificar os comportamentos dos táticos fundamentais de jogo.
jogadores no jogo, incluindo não só os
indicadores de natureza técnica, mas Necessidade de confluência entre a
prioritariamente os de natureza tática. O TSAP foi especificidade do jogo e a estrutura
desenvolvido para providenciar informações sobre do processo de ensino e treino no
o desempenho dos jogadores no que refere aos Futebol
comportamentos realizados durante a fase O Futebol se caracteriza pela existência
ofensiva do jogo. Já o KORA centra as suas simultânea de cooperação e oposição que a cada
análises em dois parâmetros táticos comuns as momento induz uma dinâmica relacional coletiva.
modalidades esportivas nas quais as estruturas A singularidade e a diversidade do fluxo de
do jogo se caracterizam pela invasão do campo acontecimentos de jogo, que permitem a
adversário (oferecer-se e orientar-se, reconhecer marcação de gols na baliza adversária e o seu
espaços de jogo); sendo a avaliação realizada impedimento na própria baliza, são construídas a
sob as perspectivas convergente e divergente, partir das ações e das interações dos jogadores
que se relacionam com a inteligência e a (JÚLIO; ARAÚJO, 2005). Para além dessas
criatividade de jogo. Os dois primeiros características, os constrangimentos gerados pelo
instrumentos (GPAI e TSAP), no sentido de obter 1
acaso (GARGANTA; CUNHA E SILVA, 2000) e
um índice de desempenho, têm recorrido a 2
as variáveis caóticas (LEBED, 2006) presentes
variáveis compostas na tentativa de ponderar as no jogo também contribuem para a evolução da
ações realizadas em função do contexto e das sua dinâmica e do seu resultado (WERNER,
especificidades do jogo. 1995).
A utilização desses instrumentos para a Diante de todos esses atributos, pode-se
avaliação do comportamento tático do praticante considerar o jogo de Futebol como um macro-
tem contribuído para a aproximação dos sistema constituído por diferentes subsistemas
resultados obtidos no teste com o desempenho (funcional, formal, organizacional, etc) que são
apresentado no jogo (LEE; WARD, 2009). Além influenciados e dependentes das condições de
disso, dois dos instrumentos apresentados oposição, pressão temporal, adaptabilidade e
(KORA e GPAI) representam avanços ao nível da cooperação (GARGANTA, 2001b). Nesse macro-
avaliação do comportamento tático do jogador no sistema as ações dos jogadores são integradas
jogo, no que diz respeito às interações de jogo e a em uma estrutura que segue um determinado
consideração das movimentações de todos os modelo, de acordo com certos princípios e regras
jogadores envolvidos, com e sem posse de bola. que se concretizam em duas fases opostas, a
Não obstante a essas contribuições, estes dois saber, o ataque e a defesa (TEODORESCU,
instrumentos não são sensíveis à identificação de 1984).
variáveis nucleares que representam a
especificidade do jogo de Futebol. Já o TSAP No que respeita ao subsistema organizacional,
apresenta uma avaliação mais próxima aos admite-se que os jogadores devem ser capazes
comportamentos desempenhados pelos
1
jogadores de Futebol, devido considerar os O acaso é designado por «sorte» quando nos é favorável e
por «azar» quando nos é desfavorável (EIGEN; WINKLER,
próprios ambiente e espaço de jogo e o estatuto 1989).
posicional dos jogadores. Entretanto a sua 2
Variáveis caóticas são circunstâncias através das quais se
debilidade recai sobre a ausência de pode atingir o objetivo (gol) de forma não planificada, casual
ou imprevisível (LEBED, 2006).

512 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Avaliação do Comportamento Tático no Futebol

de reconhecer as variáveis de jogo (jogadores, relação direta na unidade de movimentação da


bola, balizas, árbitros, demarcações físicas, etc.) equipe, em função dos acontecimentos da
e movimentarem-se em função de uma estratégia partida, do modelo de jogo da equipe e da
e organização tática coletiva. Acresce que o baixo compreensão de jogo por parte dos jogadores.
número de ações realizadas pelos jogadores com
Por sua vez, o processo de ensino e treino do
a bola suscita que as capacidades táticas e os
Futebol deve tomar em conta essas
processos cognitivos subjacentes à tomada de
características de forma a propiciar melhorias no
decisão sejam frequentemente solicitados, uma
desempenho dos jogadores e a proporcionar
vez que, as situações de jogo mudam
níveis superiores de organização coletiva. Para
constantemente ao longo do tempo e as ações
favorecer esse desenvolvimento torna-se
necessitam ser continuamente geradas, recriadas
fundamental que os jogadores consigam
e reconstruídas através da auto-organização da
reconhecer com celeridade e facilidade as
equipe (MCPHERSON, 1994).
situações de jogo, no sentido de emitir respostas
Ao assumir essa necessidade de auto- rápidas e eficazes as solicitações da partida
organização coletiva, passa-se a entender que a (GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1997).
preocupação dos jogadores de Futebol se centra,
Devido a essa necessidade de execução de
em larga medida, na gestão do espaço de jogo.
respostas rápidas e eficazes, associada à
Essa preocupação é legítima porque poderá
impossibilidade de padronizar seqüências de
exercer influência sobre outros componentes de
ações, que podem ser utilizadas nas sessões de
jogo como o tempo, a tomada de decisão e a
treino, parece ser importante e coerente que o
execução da ação (BUSCÀ; RIERA, 1999).
processo de ensino e o treino do Futebol seja
Desta forma, pode-se afirmar que, no plano baseado em princípios de jogo. Os princípios de
coletivo, a equipe que estiver mais bem jogo decorrem da construção teórica a propósito
3
organizada e posicionada no campo de jogo terá da lógica do jogo e se operacionalizam nos
melhores condições de conquistar os seus comportamentos dos jogadores (CASTELO,
objetivos, já que poderá “manipular” a velocidade 1994). Por isso, eles podem ser estabelecidos
e a precisão das ações através da gestão do com base na dinâmica do jogo e em fatores
espaço de jogo. Isso significa que a equipe que relacionados ao rendimento individual e coletivo.
conseguir coordenar as ações coletivas de Desta forma, faz todo sentido que o processo de
ocupação dos espaços de jogo poderá reduzir o ensino e treino tenha como orientação os
tempo de reação da equipe adversária em uma princípios táticos do jogo de Futebol (HOLT;
determinada situação, obrigando a que a mesma STREAN; BENGOECHEA, 2002).
jogue em “crise de tempo”, ou seja, diminuindo-
A adoção de princípios táticos no processo de
lhe a precisão nas ações. Esta conduz ao
ensino e treino é importante porque proporciona
aumento dos erros cometidos pelos jogadores e,
portanto, pela equipe, possibilitando a aos jogadores a possibilidade de conseguirem
recuperação da posse de bola com maior soluções táticas eficazes para as situações de
facilidade. Subsequentemente, ao ter a posse de jogo (COSTA et al., 2009). Coletivamente, a
bola, a equipe que conseguir ampliar o espaço de forma e a dinâmica das interações desses
jogo efetivo, terá maior probabilidade de chegar princípios e as suas aplicações no contexto de
ao seu objetivo e, conseqüentemente, dificultará a jogo operacionalizam e caracterizam o modelo de
tarefa de reconquista da bola pela equipe jogo de cada equipe. Por esse motivo, o preceito
adversária. do ensino e do treino baseado nos princípios
Essa forma de conceber a dinâmica do jogo de táticos do Futebol revela implicações positivas
Futebol confere destaque aos aspectos táticos para o desempenho do jogador e a organização
que implicam na disposição e na movimentação da equipe. A transmissão e operacionalização dos
efetiva dos jogadores no campo de jogo, com conceitos, assim como o desenvolvimento da
conscientização dos jogadores sobre esses
3
De acordo com Gréhaigne e Godbout (1995) a organização princípios através do processo de ensino e treino,
da equipe pode processar-se a dois níveis (de jogo e de
equipe) e em função das suas características estruturais e ajudam na seleção e na execução da ação tática
funcionais. Em relação ao nível de jogo ela se estabelece em necessária à situação de jogo (KIRK, 1983).
função das relações de oposição e das linhas de força
ofensiva e defensiva. Ao nível da equipe, ela se materializa O desenvolvimento de tais princípios táticos no
por meio da distribuição formal dos jogadores no campo de
jogo, de forma a permitir redes de comunicações e interações. processo de ensino e no treino pode ser obtido
Já em relação às características, enquanto as estruturais se por intermédio da alteração da estrutura formal e
associam a aspectos espaciais do campo de jogo, as
funcionais reportam-se às trocas, regulações e reorganização funcional do jogo (LEE; WARD, 2009). Através
dos elementos de jogo.

Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011 513


I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

dessas alterações pode-se manipular a Ao ter em conta essas necessidades de


complexidade do jogo de acordo com o retratação da especificidade do jogo e da conexão
conhecimento tático dos praticantes e com os da avaliação com os conteúdos desenvolvidos no
seus níveis de desempenho (MESQUITA, 2006). processo de ensino e treino, afigura-se plausível
Isso acontece quando o treinador ou professor afirmar que os instrumentos de avaliação no
promove modificações na estrutura do exercício, Futebol devem assumir um caráter mais
sejam elas para facilitar o fluxo de jogo, heurístico, de forma a suprir as exigências e
designada de modificação por representação, ou conseguir retratar o desenvolvimento e o
para induzir a ocorrência de ações relacionadas desempenho do jogador no jogo (TENGA et al.,
com as capacidades táticas, denominada de 2009). Adicionalmente a essa característica,
representação por exagero (HOLT; STREAN; Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1997) destacam
BENGOECHEA, 2002). a importância da objetividade da medida, de
forma que o teste consiga manter a sua
Fundamentos da Avaliação do capacidade de avaliação a partir do contexto de
Comportamento Tático de Jogadores jogo.
Segundo Veal (1993) as avaliações dos
comportamentos dos jogadores geralmente Proposta de Avaliação do
ocorrem com base em testes que estão Comportamento Tático no Futebol
dissociados dos aspectos que retratam o sucesso baseada nos Princípios Táticos
no jogo. Por causa dessa incongruência, a Fundamentais de jogo
principal desvantagem está associada à fraca A partir do conjunto de sugestões
relação dos seus resultados com a capacidade do apresentadas pela literatura em relação à
praticante em realizar a ação no local certo e no concessão de instrumentos de avaliação, admite-
tempo apropriado, quando confrontado com a se que a inclusão dos princípios táticos de jogo,
idêntica situação no jogo. em instrumentos de avaliação do comportamento
Por esse motivo, pesquisadores têm referido tático do jogador no Futebol, comporta benefícios
que os instrumentos de avaliação do no que refere à especificidade do jogo, à
comportamento tático no Futebol devem procurar avaliação do desempenho do praticante em
retratar os aspectos essenciais do jogo e do contexto de jogo, à sintonia com conteúdos
processo de ensino e treino, quando o objetivo desenvolvidos no processo de treino, à
desse processo é propiciar melhorias no objetividade da medida, à consideração da
desempenho dos jogadores (GRÉHAIGNE; oposição e à avaliação de jogadores de diferentes
GODBOUT, 1998; BLOMQVIST; VÄNTTINEN; níveis de formação.
LUHTANEN, 2005). Tentando apontar sugestões Com base nessas considerações, sugere-se
nesse caminho, Blomqvist, Vanttinen e Luhtanen que a avaliação dos comportamentos táticos dos
(2005) sustentam que a avaliação realizada jogadores de Futebol tenha como variáveis
4
através do jogo é a forma mais válida de avaliar o latentes os dez princípios táticos fundamentais
5
conhecimento dos praticantes, onde o da fase ofensiva e defensiva que são
desempenho pode ser inferido por meio dos apresentados no Quadro 1. A contemplação de
registros dos comportamentos apresentados todos esses princípios fundamentais na avaliação
durante o jogo e/ou através dos resultados das do comportamento tático dos jogadores Futebol
ações. se justifica devido às suas normatizações e
Essa forma de avaliação também tem sido referências espaciais permitirem aos jogadores a
advogada por outros pesquisadores que remetem gestão de todo o espaço de jogo, tanto para a
para a importância da contextualização dos testes fase ofensiva, quanto para a fase defensiva (vide
(ANASTASI, 1988; WIGGINS, 1993; OSLIN; Figura 1).
MITCHELL; GRIFFIN, 1998). Segundo Anastasi
(1988), a percepção de relevância do teste facilita 4
Para Pasquali (2007), a variável latente está relacionada ao
a participação efetiva dos praticantes e influencia constructo do teste e se posiciona como o objeto que o teste
a qualidade da informação, uma vez que os quer medir.
5
Mais informações sobre as definições e aplicações dos
avaliados estão empenhados em demonstrar o princípios táticos fundamentais do jogo de Futebol podem ser
seu repertório de habilidades. obtidas no trabalho publicado por Costa et al. (2009).
Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação.
Revista Motriz, 15(3), 657-668.

514 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Avaliação do Comportamento Tático no Futebol

Quadro 1. Categorias, sub-categorias, variáveis latentes e definições utilizadas para a avaliação do


comportamento tático de jogadores de Futebol.

Categoria Sub-categorias Variáveis Latentes Definições


Redução da distância entre o portador da bola e a baliza ou a linha
Penetração
de fundo adversária.
Cobertura Ofensiva Oferecimento de apoios ofensivos ao portador da bola.

Mobilidade Criação de instabilidade na organização defensiva adversária.


Ofensivo
Utilização e ampliação do espaço de jogo efetivo em largura e
Espaço
profundidade.
Princípios Movimentação de avanço ou apoio ofensivo do(s) jogador(es) que
Táticos Unidade Ofensiva
compõe(m) a(s) última(s) linha (s) transversais da equipe.
Fundamentais
do Jogo de Contenção Realização de oposição ao portador da bola.
Futebol
Cobertura Defensiva Oferecimento de apoios defensivos ao jogador de contenção.

Defensivo Equilíbrio Estabilidade ou superioridade numérica nas relações de oposição.

Concentração Aumento de proteção defensiva na zona de maior risco à baliza.

Unidade Defensiva Redução do espaço de jogo efetivo da equipe adversária.

Figura 1. Princípios Táticos Fundamentais do jogo de Futebol em função das fases (A - defensiva e B -
ofensiva) e da gestão do espaço de jogo.

Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011 515


I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

Quadro 2. Categorias, sub-categorias, variáveis latentes e variáveis observadas relacionados aos Princípios
Táticos Fundamentais do Futebol.
Sub- Variáveis
Categorias Variáveis Observadas
categorias Latentes
Condução da bola pelo espaço disponível (com ou sem defensores à frente).
Realização de dribles que colocam a equipe em superioridade numérica em ações de
ataque.
Penetração
Condução de bola em direção à linha de fundo ou ao gol adversário.
Realização de dribles que propiciam condições favoráveis a um passe/assistência para o
companheiro dar seqüência ao jogo.
Disponibilização de linhas de passe ao portador da bola.
Cobertura Apoios próximos ao portador da bola que permitem manter a posse de bola.
Ofensiva Realização de tabelas e/ou triangulações com o portador da bola. Apoios próximos ao
portador da bola que permitem assegurar superioridade numérica ofensiva.
Procura de espaços não ocupados pelos adversários no campo de jogo.
Movimentações de ampliação do espaço de jogo que proporcionam superioridade
numérica no ataque.
Espaço Drible ou condução para trás/linha lateral que permitem diminuir a pressão adversária
Ofensivo sobre a bola.
Movimentações que permitem (re)iniciar o processo ofensivo em zonas distantes daquela
onde ocorreu a recuperação da posse de bola.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor em
direção a linha de fundo ou ao gol adversário.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que
visem ganho de espaço ofensivo.
Mobilidade
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que
propiciem receber a bola.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que
visem a criação de oportunidades para a sequência ofensiva do jogo.
Avanço da última linha de defesa permitindo que a equipe jogue em bloco.
Saída da última linha de defesa dos setores defensivos e aproximação da mesma à linha
Unidade de meio-campo.
Ofensiva Avanço dos jogadores da defesa propiciando que mais companheiros participem das
Princípios ações no centro de jogo.
Táticos
Marcação ao portador da bola, impedindo a ação de penetração.
Ação de "proteção da bola" que impede o adversário de alcançá-la.
Contenção Realização da "dobra" defensiva ao portador da bola.
Realização de faltas técnicas para conter a progressão da equipe adversária, quando o
sistema defensivo está desorganizado.
Ação de cobertura ao jogador de contenção.
Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe para jogadores
adversários.
Cobertura
Marcação de adversário(s) que pode(m) receber a bola em situações vantajosas para o
Defensiva
ataque.
Posicionamento adequado que permite marcar o portador da bola sempre que o jogador
de contenção for driblado.
Movimentações que permitem assegurar estabilidade defensiva.
Movimentação de recuperação defensiva feita por trás da linha da bola.
Equilíbrio
Defensivo Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe longo.
Marcação de jogadores adversários que apoiam as ações ofensivas do portador da bola.
Movimentação que propicia reforço defensivo na zona de maior perigo para a equipe.
Marcação de jogadores adversários que buscam aumentar o espaço de jogo ofensivo.
Concentração Movimentações que propiciam aumento do número de jogadores entre a bola e o gol.
Movimentações que condicionam as ações de ataque da equipe adversária para as
extremidades do campo de jogo.
Organização dos posicionamentos defensivos após perda da posse de bola, com o
objetivo de reorganizar as linhas de defesa.
Movimentação dos jogadores, principalmente laterais e extremos, em direção ao corredor
Unidade central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Defensiva Compactação defensiva da equipe na zona do campo de jogo que representa perigo maior
perigo à baliza.
Movimentação dos jogadores que compõem a última linha de defesa de forma a reduzir o
campo de jogo do adversário (utilizando o recurso da lei do impedimento).

A partir da conjunção entre a avaliação do comportamento tático do jogador de


operacionalização dos princípios fundamentais do Futebol. O Quadro 2 mostra, em função das
jogo de Futebol e a gestão do espaço de jogo, categorias, sub-categorias e variáveis latentes,
algumas ações táticas podem ser observadas no quais ações táticas podem ser consideradas
jogo e descritas, permitindo que tais princípios como variáveis observadas em situações de jogo.
sejam identificados e possam fazer parte da

516 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Avaliação do Comportamento Tático no Futebol

Quadro 3. Categorias, sub-categorias, variáveis latentes e variáveis observadas relacionados à Localização


e ao Resultado da ação tática
Categorias Sub-categorias Variáveis Latentes Variáveis Observadas
Ações Táticas Ofensivas
Ofensivo Meio Campo Ofensivo
Localização da ação Ações Táticas Defensivas
no Campo de Jogo Ações Táticas Ofensivas
Defensivo Meio Campo Defensivo
Ações Táticas Defensivas
Realizar finalização ao gol
Continuar com a posse de bola
Ofensiva Eficácia Ofensiva Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio
Cometer falta, ceder lateral ou escanteio
Perder a posse de bola
Resultado da Ação
Recuperar a posse de bola
Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio
Defensiva Eficácia Defensiva Cometer falta, ceder lateral ou escanteio
Continuar sem a posse de bola
Sofrer finalização ao gol

Na justa medida que o comportamento dos princípios táticos fundamentais do jogo de Futebol
jogadores se adequada às sucessivas alterações para a avaliação dos comportamentos dos
produzidas no jogo ou no treino, alguns jogadores (WORTHINGTON, 1974; QUEIROZ,
6
indicadores de desempenho também podem ser 1983; CASTELO, 1994). Esse conceito visa
concebidos, na tentativa de ponderar e atender a demanda por um instrumento
7
compreender a eficiência e a eficácia das específico e voltado para o processo de ensino e
respostas em função das exigências da situação. treino do Futebol (GRÉHAIGNE; GODBOUT,
Os indicadores de desempenho para as ações 1998; BLOMQVIST; VÄNTTINEN; LUHTANEN,
táticas características dos princípios táticos 2005). Adicionalmente, a adoção dessa proposta
fundamentais do jogo de Futebol foram descritos também poderá ser útil para complementar outros
e podem ser consultadas no Anexo 1. Estes tipos de avaliações de desempenho de jogadores
indicadores contribuem para a compreensão da que estão focadas nos aspectos técnicos e
eficiência de realização da ação tática, assim fisiológicos (TESSITORE et al., 2006; JONES;
como as informações qualitativas advindas da sua DRUST, 2007; KELLY; DRUST, 2009) ou nos
localização no campo de jogo podem fornecer eventos de jogo (TAYLOR; MELLALIEU; JAMES,
informação adicional sobre a eficiência do 2005; FRENCKEN; LEMMINK, 2009).
comportamento desempenhado pelo jogador (vide Acresce que as categorias e variáveis
Quadro 3). No que refere à eficácia do presentes na proposta aqui apresentada têm
comportamento, dez possibilidades de resultados também por objetivo suprir algumas das
foram organizadas em função das fases de jogo e limitações evidenciadas pela literatura para os
dos seus objetivos e foram apresentadas no instrumentos de avaliação do comportamento
Quadro 3. Essas possibilidades compreendem as tático, nomeadamente: a avaliação integrada do
variáveis observadas em função das suas jogador ao contexto de jogo (BLOMQVIST;
categorias, sub-categorias e variáveis latentes VÄNTTINEN; LUHTANEN, 2005), a consideração
que compõem o instrumento de avaliação do da interação dos oponentes (TENGA et al., 2009),
comportamento tático do jogador de Futebol. a capacidade de avaliação do progresso do
praticante durante vários estágios do período de
Considerações Finais
formação (MEMMERT, 2002) e a conexão com os
O objetivo desse trabalho conflui na proposta
conteúdos ministrados no processo de ensino e
de novas categorias e variáveis baseadas nos
treino (GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1998).

6
De acordo com Hughes e Bartlett (2002) um indicador de
7
performance é uma seleção ou combinação de variáveis de Segundo Mesquita (1998) o conceito de eficiência está
ação que objetivam definir alguns ou todos os aspectos da relacionado com a execução do movimento e o conceito de
performance. eficácia com resultado obtido.

Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011 517


I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

Especificamente, a capacidade de estabelecer ser considerado em instrumentos dessa natureza,


conexão com os conteúdos ministrados nas porque permite aos pesquisadores, treinadores
sessões de treino afigura-se importante, uma vez e/ou professores a sua utilização, tanto em
que estudos realizados recentemente têm situações de avaliações “in loco” como em
evidenciado diferenças de conhecimento tático e situações de avaliações por videotapes. Além
de tomada de decisão entre os jogadores para as disso, a utilização de algumas ou de todas as
situações de jogo com a posse de bola e para as categorias do instrumento também é válida para
situações de jogo sem a posse de bola avaliar os comportamentos desempenhados pelos
(BLOMQVIST; VÄNTTINEN; LUHTANEN, 2005; jogadores, consoante os conteúdos desenvolvidos
LEE; WARD, 2009). nos treinos, os critérios de desempenho
estabelecidos pelo professor/treinador e os
A pesquisa realizada por Blomqvist, Vänttinen
objetivos da avaliação.
e Luhtanen (2005) mostrou que os resultados de
conhecimento tático e de tomada de decisão dos Por apresentar essas vantagens, a avaliação
jogadores em situações com a posse de bola baseada nos princípios táticos fundamentais do
foram superiores aos resultados obtidos pelos jogo de Futebol pode auxiliar os professores e
jogadores em situações sem a posse de bola. Em treinadores a melhorar e adequar a capacidade
função destes resultados os pesquisadores de diagnóstico, presunção e avaliação da
argumentaram que parecia haver uma focalização orientação didático-metodológica conferida no
do processo de ensino e treino no processo de ensino e treino. Além do mais, esse
desenvolvimento de habilidades específicas para tipo de instrumento permite a esses profissionais
as situações que se desenvolvem em contato avaliarem jogadores em diferentes equipes e
com a bola e que o ensino dos movimentos sem categorias, proporcionando a emergência de
bola era muito raro durante as sessões de treino. ilações sobre o modelo de jogo adotado por cada
uma delas a partir da dinâmica de interação dos
Lee e Ward (2009) também destacaram essa
princípios táticos de jogo expressados nas ações
debilidade no ensino da tática ao afirmarem que
desempenhadas pelos jogadores.
as sessões de treino parecem estar mais focadas
no ensino dos aspectos gerais da tática em Essa proposta visa ainda reduzir a
detrimento dos específicos. Em adição, esses subjetividade implícita nos indicadores de
pesquisadores se reportaram à importância da desempenho presentes em outros instrumentos
avaliação do comportamento do jogador ser de avaliação do comportamento tático,
realizada “in loco”, reforçando a importância especialmente no que concerne a avaliação do
ecológica dos instrumentos de avaliação, isto é, jogador sem a posse de bola (MEMMERT;
da sua desejável afinidade com os conteúdos HARVEY, 2008). A adoção dos dez princípios
ministrados nas sessões de treino. fundamentais do jogo de Futebol permite maior
especificidade na observação e identificação das
Diante desta constatação parece plausível
ações táticas desempenhadas pelos jogadores no
inferir que o acesso a instrumentos de avaliação
campo de jogo, uma vez que a sua normatização
que permitam registrar resultados fidedignos
e referências espaciais permitem a identificação
sobre o comportamento tático e a progressão dos
objetiva de todas as variáveis táticas relacionadas
praticantes pode permitir a valorização do
com a gestão do espaço de jogo feita pelos
processo de ensino e treino. Além disso, a
jogadores.
existência de instrumentos dessa natureza
potencializaria a realização de avaliações Por pretender ser objetiva e rigorosa esta
periódicas e permitiria aos proposta de avaliação também pode propiciar
professores/treinadores a focalização dos maior fiabilidade nas avaliações que, por ventura,
conteúdos das sessões de treino no sejam feitas por pares ou realizadas em períodos
desenvolvimento dos comportamentos táticos temporais distintos. Essa é uma característica
necessários para a formação do praticante. importante para um instrumento que permite
realizar avaliações longitudinais, uma vez que o
Outro aspecto importante a referir diz respeito
uso sistemático de avaliações ajuda a aumentar o
à flexibilidade de utilização das categorias e
controle e o conhecimento sobre o processo de
variáveis que compõem a proposta aqui
ensino e o desenvolvimento do praticante
apresentada. Segundo Oslin, Mitchell e Griffin
(RICHARD; GODBOUT; GRIFFIN, 2002). Por sua
(1998) esse é um aspecto positivo e importante a

518 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Avaliação do Comportamento Tático no Futebol

vez, esse controle auxilia na obtenção de grandes tendências evolutivas das equipas de
informações para a orientação metodológica do rendimento superior. Lisboa: Faculdade de
processo de ensino e treino, permitindo (i) a Motricidade Humana. 1994.
planificação e a organização do treino com maior
COSTA, I. T. et al. Princípios táticos do jogo de
especificidade atendendo a natureza das tarefas; futebol: conceitos e aplicação. Revista Motriz,
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dinâmica das interações dos princípios táticos e o EIGEN, M.; WINKLER, R. O Jogo: as leis
modelo de jogo da equipe; e (iii) a interpretação naturais que regulam o acaso. Lisboa: Gradiva,
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concorrem para a qualidade do jogo FRENCH, K.; THOMAS, J. The relation of
(GARGANTA, 2001a). Em adição, essa proposta knowledge development to children’s basketball
também pode auxiliar os praticantes no performance. Journal of Sport Psychology,
desenvolvimento dos seus conhecimentos e Nova Iorque, v. 9, p. 15-32, 1987.
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dos seus atributos e contributos terem em conta: NATIONAL ANALYSIS OF SPORT, 4., 2001,
(i) a especificidade da modalidade; (ii) a avaliação Porto. Proceedings... Porto: Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto, 2001b, p. 33-
integrada do jogador ao contexto de jogo; (iii) a
40.
presença do adversário; (iv) a redução da
subjetividade das medidas; (v) a conexão com os GARGANTA, J.; CUNHA E SILVA, P. O jogo de
conteúdos ministrados no treino; e (vi) a avaliação futebol: entre o caos e a regra. Horizonte Revista
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Apoio: Programa AlBan, Programa de bolsas de


alto nível da União Europeia para América Latina,
bolsa nº E07D400279BR.

Endereço:
Israel Teoldo da Costa
DEF-Universidade Federal de Viçosa
Av. PH Rolfs, s/n - Campus Universitário
Viçosa MG Brasil
36570-000
Telefone: (031) 3899.4394
Fax: (31) 3899.2249
e-mail: israel.teoldo@ufv.br

Recebido em: 10 de dezembro de 2009.


Aceito em: 21 de julho de 2011.

Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro,


SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - está licenciada sob
Creative Commons - Atribuição 3.0

Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011 521


I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

Anexo 1: Indicadores de desempenho dos Princípios Táticos Fundamentais do jogo de Futebol.


Penetração
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Propiciar remate, passe ou drible.
Mal sucedida (-)
a-Permite o desarme adversário / b-Dirigir jogo espaço ocupado.
Descrição dos Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do portador da bola propicia um remate, um passe ou um drible (ofensivo).
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do portador da bola permite ao adversário desarmá-lo.
b-Quando o portador da bola se dirige para um espaço já ocupado por outros jogadores, dificultando a ação ofensiva da própria equipe.
Cobertura Ofensiva
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Garantir linha de passe / b-Reduzir pressão portador / c-Permite possibilidade de remate.
Mal sucedida (-)
a-Não garantir linha de passe / b-Não reduzir pressão portador / c-Não permite possibilidade de remate.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador garante linha de passe ao portador da bola.
b-Quando a movimentação do jogador propicia a redução do número de adversários sobre o portador da bola.
c-Quando a movimentação do jogador permite possibilidade de remate, a partir de ações originadas na linha de fundo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não garante linha de passe ao portador da bola.
b-Quando a movimentação do jogador não propicia a redução do número de adversários sobre o portador da bola.
c-Quando a movimentação do jogador não permite possibilidade de remate, a partir de ações originadas na linha de fundo.
Espaço
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Ampliar largura EJE / b-Ampliar profundidade EJE / c-Criar espaços para movimentação dos colegas de equipe / d-Ir para pontos
menor pressão / e-Diminuir pressão (lado ou atrás do CJ) / f-Manter a posse de bola.
Mal sucedida (-)
a-Não ampliar largura EJE / b-Não ampliar profundidade EJE / c-Não criar espaços para movimentação dos colegas de equipe / d-Não
ir p/pontos menor pressão / e-Não diminuir pressão (lado ou atrás do CJ) / f-Permite o desarme adversário.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador propicia ampliação do espaço de jogo em largura da sua equipe, isto é, amplia o limite
transversal do espaço de jogo efetivo.
b-Quando a movimentação do jogador propicia ampliação do espaço de jogo em profundidade até a linha do último jogador de defesa,
isto é, amplia o limite longitudinal do espaço de jogo efetivo.
c-Quando a movimentação do jogador (mesmo para zona de maior pressão) propicia a criação de espaços para a movimentação de
outros jogadores da sua equipe ou um passe de sucesso.
d-Quando a movimentação do jogador lhe permite posicionar-se em pontos de menor pressão adversária (dentro do espaço de jogo
efetivo).
e-Quando a movimentação do portador da bola (deslocamentos laterais ou para trás) propicia redução de pressão sobre a bola e
assegura condições para dar sequência à ação ofensiva.
f-Quando a movimentação do portador da bola (deslocamentos laterais ou para trás) permite que a equipe mantenha a posse de bola.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não propicia ampliação do espaço de jogo em largura da sua equipe, isto é, não amplia o limite
transversal do espaço de jogo efetivo.
b-Quando a movimentação do jogador não propicia ampliação do espaço de jogo em profundidade até a linha do último jogador de
defesa, isto é, não amplia o limite longitudinal do espaço de jogo efetivo.
c-Quando a movimentação do jogador (mesmo para zona de maior pressão) não propicia criação de espaços para a movimentação de
outros jogadores da sua equipe ou um passe de sucesso.
d-Quando a movimentação do jogador não lhe permite posicionar em pontos de menor pressão adversária (dentro do espaço de jogo
efetivo).
e-Quando a movimentação do jogador (deslocamentos laterais ou para trás) não propicia redução de pressão sobre a bola nem
assegura condições para dar sequência à ação ofensiva.
f-Quando a movimentação do portador da bola permite um desarme por parte do adversário.
Mobilidade
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Possibilitar passe profundidade para colega / b- Amplia EJE “nas costas” da defesa.
Mal sucedida (-)
a-Não possibilitar passe profundidade para colega / b-Jogador fica em impedimento.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador cria ao portador da bola a possibilidade de passe em profundidade para um colega em ações de
ruptura em relação à defesa adversária.
b-Quando a movimentação do jogador possibilita o aumento do espaço de jogo efetivo da equipe “nas costas” da última linha de
defesa.

522 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Avaliação do Comportamento Tático no Futebol

Anexo 1: continuação
Mobilidade (cont.)
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não cria ao portador da bola a possibilidade de passe em profundidade para um colega em
ações de ruptura em relação à última linha de defesa adversária.
b-Quando a movimentação do jogador o coloca em situação de impedimento.
Unidade Ofensiva
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Aproximar a equipe ao CJ / b-Participar na ação subsequente / c-Contribuir p/ações ofensivas atrás da linha da bola / d-Auxiliar a
equipe avançar ao MCO.
Mal sucedida (-)
a-Não aproximar a equipe ao CJ / b-Não participar na ação subsequente / c-Não contribuir p/ações ofensivas atrás da linha da bola / d-
Não auxiliar a equipe avançar ao MCO.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador permite que outros companheiros participem das ações da equipe ou se aproximem do centro
de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador lhe faculta a possibilidade de participar de uma ação ofensiva/defensiva subsequente.
c- Quando a movimentação do jogador contribui para a realização de ações ofensivas da equipe atrás da linha da bola.
d- Quando a movimentação do jogador auxilia no avanço da equipe para o meio campo ofensivo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não permite que outros companheiros participem das ações da equipe ou se aproximem do
centro de jogo.
b-Quando a movimentação do jogador não lhe faculta a possibilidade participar de uma ação ofensiva/defensiva subsequente.
c- Quando a movimentação do jogador não contribui para a realização de ações ofensivas da equipe atrás da linha da bola.
d- Quando a movimentação do jogador não auxilia no avanço da equipe para o meio campo ofensivo.

Contenção
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Impedir o remate / b-Impedir progressão / c-Retardar ação oponente / d-Direcionar o portador da bola p/ zonas menor risco.
Mal sucedida (-)
a-Não impedir o remate / b-Não impedir progressão / c-Não retarda a ação oponente / d-Não direcionar o portador da bola p/zonas
menor risco.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação/oposição do jogador impede que o portador da bola remate à baliza.
b-Quando a movimentação do jogador impede que o portador da bola progrida em direção à baliza.
c-Quando a movimentação do jogador retarda a ação ofensiva adversária, permitindo que a sua equipe se organize defensivamente.
d-Quando a movimentação do jogador direciona o portador da bola para zonas de menor risco.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação/oposição do jogador não permite impedir o remate do portador da bola à baliza.
b- Quando a movimentação/oposição do jogador não permite conter a progressão do portador da bola em direção à baliza.
c- Quando a movimentação do jogador não permite retardar a ação ofensiva adversária, não permitindo que a sua equipe se organize
defensivamente.
d- Quando a movimentação do jogador não permite direcionar o portador da bola para zonas de menor risco.
Cobertura Defensiva
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Posicionar entre o jogador de contenção e a baliza / b-Possibilitar 2ª contenção / c-Obstruir linhas de passe.
Mal sucedida (-)
a-Não posicionar entre o jogador de contenção e a baliza / b-Não possibilitar 2ª contenção / c-Não obstruir linhas de passe.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador permite um posicionamento entre o jogador que realiza a contenção e a baliza, na metade mais
ofensiva do centro de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador permite que ele constitua um novo obstáculo ao portador da bola, caso o jogador que realiza a
contenção seja driblado.
c- Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não permite um posicionamento entre o jogador que realiza a contenção e a baliza, na metade
mais ofensiva do centro de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador não permite que ele constitua um novo obstáculo ao portador da bola, caso o jogador que
realiza a contenção seja driblado.
c- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário.
Equilíbrio
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Estabilizar zonas laterais CJ / b-Obstruir linhas de passe / c-Estabilizar M-OCJ / d-Interferir no portador M-OCJ / e-Obstruir linhas de
passe.
Mal sucedida (-)
a-Não estabilizar zonas laterais CJ / b-Não obstruir linhas de passe / c-Não estabilizar M-OCJ / d-Não interferir portador M-OCJ / e-Não
obstruir linhas de passe.

Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011 523


I. Teoldo, J. Garganta, P. J. Greco & I. Mesquita

Anexo 1: continuação
Equilíbrio (cont.)
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição nas zonas laterais em relação ao
centro de jogo(através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe), impedindo a
progressão ofensiva adversária.
b-Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário localizado
nas zonas laterais ao centro de jogo.
c-Quando a movimentação do jogador permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição na metade menos ofensiva do
centro de jogo, através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe.
d-Quando a movimentação de recuperação defensiva do jogador (metade menos ofensiva do centro de jogo) interfere na ação do
portador da bola criando dificuldades para a sequência ofensiva adversária ou facilitando a recuperação da bola por parte da sua
equipe.
e-Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário dentro da
metade menos ofensiva do centro de jogo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição nas zonas laterais em relação
ao centro de jogo (através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe), impedindo a
progressão ofensiva adversária.
b- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário
localizado nas zonas laterais ao centro de jogo.
c-Quando a movimentação do jogador não permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição na metade menos ofensiva do
centro de jogo, através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe.
d- Quando a movimentação de recuperação defensiva do jogador na metade menos ofensiva do centro de jogo não interfere na ação
do portador da bola, dificultando a recuperação da bola por parte da sua equipe.
e- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário
dentro da metade menos ofensiva do centro de jogo.
Concentração
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Diminuir profundidade adversária / b-Direcionar o jogo adversário p/ zonas de menor risco.
Mal sucedida (-)
a-Não diminuir profundidade adversária / b-Não direcionar o jogo adversário p/ zonas de menor risco.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária (ou espaço de jogo efetivo
adversário) na sua profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador auxilia a equipe a direcionar o jogo adversário para zonas do campo de jogo que representam
menor perigo à baliza.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária (ou espaço de jogo efetivo
adversário) na sua profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador não auxilia a equipe a direcionar o jogo adversário para zonas do campo de jogo que
representam menor perigo à baliza.
Unidade Defensiva
Indicadores de Desempenho
Bem sucedida (+)
a-Diminuir amplitude adversária / b-(Re)equilibrar a organização defensiva / c-Contribuir p/ações defensivas atrás da linha da bola / d-
Aproximar a equipe ao CJ / e-Participar ação subsequente.
Mal sucedida (-)
a-Não diminuir amplitude adversária / b-Não (re)equilibrar a organização defensiva / c-Não contribuir p/ações defensivas atrás da linha
da bola / d-Não aproximar a equipe ao CJ e-Não participar ação subsequente.
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador promove a diminuição da amplitude ofensiva adversária na sua largura e/ou profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador permite equilibrar ou reequilibrar constantemente a repartição de forças da organização
defensiva consoante às situações momentâneas de jogo (setor subsequente à metade mais ofensiva do centro de jogo).
c- Quando a movimentação do jogador contribui para a realização de ações defensivas da equipe atrás da linha da bola (através da
marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d- Quando a movimentação do jogador propicia que outro jogador de defesa participe das ações no centro de jogo.
e- Quando a movimentação do jogador lhe faculta a possibilidade de participar de uma ação defensiva/ofensiva subsequente.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não promove a diminuição da amplitude ofensiva adversária na sua largura e/ou profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador não permite equilibrar ou reequilibrar constantemente a repartição de forças da organização
defensiva consoante às situações momentâneas de jogo (setor subsequente à metade mais ofensiva do centro de jogo).
c- Quando a movimentação do jogador não contribui para a realização de ações defensivas da equipe atrás da linha da bola (através da
marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d- Quando a movimentação do jogador não propicia que outro jogador de defesa participe nas ações que ocorrem no centro de jogo.
e- Quando a movimentação do jogador não lhe faculta a possibilidade participar de uma ação defensiva/ofensiva subsequente.

524 Motriz, Rio Claro, v.17, n.3, p.511-524, jul./set. 2011


Motricidade
ISSN: 1646-107X
motricidade.hmf@gmail.com
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Portugal

Leal de Queiroz Thomaz de Aquino, Rodrigo; Rodrigues Marques, Renato Francisco;


Cruz Gonçalves, Luiz Guilherme; Palucci Vieira, Luiz Henrique; de Sousa Bedo, Bruno
Luiz; de Moraes, Camila; Pombo Menezes, Rafael; Pereira Santiago, Paulo Roberto; Fuini
Puggina, Enrico
Proposta de sistematização de ensino do futebol baseada em jogos: desenvolvimento do
conhecimento tático em jogadores com 10 e 11 anos de idade
Motricidade, vol. 11, núm. 2, 2015, pp. 115-128
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Vila Real, Portugal

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273040839011

Como citar este artigo


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Motricidade © Edições Desafio Singular
2015, vol. 11, n. 2, pp. 115-128 http://dx.doi.org/10.6063/motricidade.3724

Proposta de sistematização de ensino do futebol baseada em


jogos: desenvolvimento do conhecimento tático em jogadores
com 10 e 11 anos de idade
Proposal of teaching systematization of soccer based on games: devel-
opment of tactical knowledge in 10 to 11 years old players
Rodrigo Leal de Queiroz Thomaz de Aquino1,2*, Renato Francisco Rodrigues Marques3,4,
Luiz Guilherme Cruz Gonçalves1, Luiz Henrique Palucci Vieira1, Bruno Luiz de Sousa Be-
do1, Camila de Moraes3, Rafael Pombo Menezes3, Paulo Roberto Pereira Santiago1,3,
Enrico Fuini Puggina1,3
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
O objetivo do presente estudo foi aplicar e avaliar a eficácia de uma sistematização de ensino do futebol
centrada no uso de jogos sobre o conhecimento tático processual de jovens jogadores. Participaram 16
voluntários alunos de uma escola de futebol vinculada a um clube de futebol profissional do interior do
estado de São Paulo – Brasil. Para tal, os voluntários foram submetidos a 37 aulas organizadas em três
diferentes módulos, com conteúdos específicos. A análise quanto à evolução do aprendizado dos
participantes foi baseada no sistema de avaliação tática denominado FUT-SAT. Este instrumento considera a
ação tática realizada, a localização da ocorrência, assim como seu resultado prático, gerando um Índice de
Performance Tática (IPT) e um Número de Ações Táticas (NAT) para cada jogador analisado. Para avaliar e
comparar o desenvolvimento do aprendizado tático dos participantes foram realizadas quatro avaliações, uma
pré-intervenção (1ª), uma pós-intervenção (4ª) e duas intermediárias (2ª e 3ª). A 2ª e a 3ª avaliações foram
realizadas após a última aula do Módulo 1 e 2 respectivamente. Ao comparar os valores médios dos IPTs
ofensivos, defensivos e do jogo obtidos na 1ª avaliação, nomeada pré-intervenção, com os valores da 4ª
avaliação, ou pós-intervenção, observou-se um aumento significante (p ≤ 0,05). Face ao exposto, a
sistematização de ensino proposta neste estudo oportunizou um desenvolvimento significante na
aprendizagem tática dos jogadores participantes.
Palavras-chaves: Métodos de ensino, Aprendizagem tática, Futebol, Jogos Esportivos Coletivos, Pedagogia do
esporte.

ABSTRACT
The aim of this study was to implement and evaluate a based on games teaching systematization of soccer for
young players. The study was realized at a soccer school of a professional soccer club cited in São Paulo state
- Brazil. It has 16 volunteers, who underwent 37 lessons organized into three different modules, with specific
content. The analysis regarding the evolution of the participant’s learning was based on tactical assessment
system called FUT-SAT. This instrument considers the tactical action performed, the location of the occur-
rence, as well as its practical outcome, generating a Tactical Performance Index (IPT), and a number of Tacti-
cal Actions (NAT) for each player analyzed. To evaluate and compare the development of tactical learning of
the participants, four tests were performed, one as a control function, during the first class, and the other
three during the last class of each teaching module. Comparing the mean values of the offensive, defensive
and game IPT obtained in 1th recording, named pre -intervention, with the values of the 4th recording, or
post-intervention, there was a significant increase (p ≤ 0.05). From the data obtained, the systematization of
teaching proposed in this study provided an opportunity significant positive development in learning tactical
players involved.
Keywords: Teaching methods, learning tactics, Soccer, Sports Games Collective, Pedagogy of the sport

Artigo recebido a 07.04.2014; Aceite a 28.07.2014


1
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
2
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
3
Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
4
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
* Autor correspondente: Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Av. Bandeirantes, 3900,
14040-907, Monte Alegre, Ribeirão Preto-SP, Brasil E-mail: rodrigo.aquino@usp.br
116 | RL Thomaz de Aquino, RR Marques, LG Gonçalves, LP Vieira, BS Bedo, C de Moraes, RP Menezes, PR
Santiago, EF Puggina

INTRODUÇÃO entre concepções que centram o processo de


Os Jogos Esportivos Coletivos (JEC) con- ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) em
templam algumas características em comum, uma visão tecnicista e outras que enfatizam o
como a existência de um implemento central, contexto do jogo, com suas situações-
geralmente uma bola, movimentada com as problema, a partir de um ponto de vista
mãos, pés, raquetes, bastões ou algum outro holístico, que considera os componentes
aparelho; um terreno de jogo; alvo dinâmicos e complexos (Mesquita, 2013; Mes-
(gol/balizas/cestas), regras, parceiros e adver- quita, Pereira, & Graça, 2009).
sários (Bayer, 1994). Tradicionalmente, a busca pelo ensino dos
É possível apontar uma lógica de ação JEC centrou-se no princípio da simplificação
comum aos JEC, representada pelos princípios e/ou eliminação de sua natureza complexa
operacionais de ataque (posse de bola – (tecnicismo). Estas abordagens tradicionais
Conservação da posse de bola, Progressão ao têm por característica a redução dos elementos
campo adversário e Finalização à meta) e de constituintes da totalidade dos JEC em
defesa (Recuperação da posse de bola, Proteção procedimentos técnicos isolados e
do campo contra o avanço adversário e Defesa simplificados, e a partir disso buscava-se
do alvo). Tais princípios, juntamente com as compreender a totalidade do jogo pela soma
seis invariantes, seriam referências norteadoras das partes e separação de conceitos técnicos e
para ações táticas no jogo, que permitiriam a táticos (Mesquita, 2013; Mesquita et al., 2009;
interação de conhecimento e aprendizagem Reverdito & Scaglia, 2009).
entre diferentes jogos coletivos com estrutura O princípio analítico-sintético é uma forma
semelhante (Claude Bayer dá a essa inter- de manifestação desta abordagem tradicional,
relação o nome de Transfert) (Bayer, 1994). caracterizado principalmente pelo processo de
Os diferentes tipos de jogos podem ser clas- EAT realizado em partes, em etapas, no qual o
sificados entre diversas categorias. Uma delas aluno conhece, em primeiro lugar, os
compreende os Jogos Coletivos de Invasão componentes técnicos do jogo, através da
(JCI), caracterizados pelo confronto, tanto repetição e busca por padronização e
ofensivo quanto defensivo, entre os jogadores, automatização de cada fundamento técnico, os
tendo a bola (ou algum outro implemento) quais são inseridos em séries de exercícios
como referência e objeto de posse. A disputa é cada vez mais complexos. O objetivo deste
realizada em um espaço em comum entre as método é melhorar as ações motoras (ação
equipes e com ações simultâneas entre os su- técnica) de forma progressiva, como pré-
jeitos oponentes (Reverdito & Scaglia, 2009). requisito para se obter melhor desempenho
São muitas as suas modalidades, como alguns (Dietrich, Dürrwächter, & Schaller, 1984).
dos exemplos têm-se basquetebol, handebol, Garganta (1998) reporta que as abordagens
futsal e futebol. tradicionais não estimulam o desenvolvimento
Além dos JCI, Sadi, Costa, e Sacco (2008) da capacidade de resolver problemas e
apontam mais três categorias de jogos: a) re- compreensão tática, pelo fato de priorizar em
de/parede (voleibol, futevôlei); b) rebati- suas atividades a repetição mecânica,
da/campo (beisebol, cricket) e c) alvo (cur- ausentando o processo de percepção,
ling). antecipação e tomada de decisão frente aos
É recorrente, na área de conhecimento em problemas ocorridos no jogo. Frente a tal
Pedagogia do Esporte, a existência de circunstância, concepções de ensino dos JEC
discussões sobre procedimentos pedagógicos e centradas na utilização do jogo como
métodos de ensino dos JEC (Rufino & Darido, ferramenta e componente central (holísticas)
2011). É possível apontar certa polaridade têm ganhado espaço e valorização.
Sistematização de ensino do futebol | 117

As abordagens que oferecem uma no desenvolvimento da capacidade de


perspectiva holística sobre o ensino dos JEC adaptação e criação de tais soluções motoras.
passaram a tematizar a dimensão tática do jogo O método situacional enfatiza o
(Mesquita, 2013; Mesquita et al., 2009), com desenvolvimento da compreensão tática e dos
valorização no desenvolvimento cognitivo do processos cognitivos subjacentes à tomada de
praticante sobre as “razões de se fazer”, e não decisão, de modo a estimular o aprimoramento
só “como fazer” determinada ação técnico- técnico sem que os praticantes sejam
tática. condicionados a atividades fechadas e
É possível encontrar na literatura propostas descontextualizadas das situações de jogo
metodológicas sobre modelos de ensino dos (Greco & Benda, 1998). Este método se
JEC pautados em atividades com situações- diferencia do princípio global funcional pelas
problema a partir de jogos e situações divisões do jogo em estruturas funcionais, que
provenientes destes (que apresentam são constituídas por um ou mais jogadores
perspectiva holística): Global Funcional que, em uma determinada situação de jogo,
(Alemanha) (Dietrich et al., 1984); Teaching desenvolvem tarefas de ataque e defesa de
Games for Understanding (Inglaterra); Game acordo com a posse de bola. Este modelo
Sense (Austrália); Game Concept Approach compõe-se de ações extraídas de situações do
(Singapura); Tactical Approach (EUA); Tactical jogo, podendo não abranger a ideia total do
Decision Making Approach (França) (Graça & mesmo, mas contendo a sua estrutura
Mesquita, 2007); Método situacional com funcional (Greco, 2001).
processos cognitivos (Brasil) (Greco, 2001; O conhecimento relacionado ao ensino da
Greco & Benda, 1998). A preocupação destes tática e sua compreensão pode se manifestar e
modelos está na formação do jogador ser avaliado de duas maneiras: o conhecimento
inteligente, proporcionando atividades tático declarativo – CTD e o conhecimento
pautadas prioritariamente no desenvolvimento tático processual – CTP (Garganta, 2000; Gia-
tático, tomando os gestos técnicos como um comini, 2007; Greco, 1995). O CTD representa
componente de ação dependente da uma construção de uma rede de conceitos
compreensão tática das situações ocorrentes no elaborados, permitindo que o praticante saiba
jogo. “o que fazer” em determinada situação do jogo,
Dentre tais possibilidades de abordagens de demostrando de forma verbal e/ou escrita qual
ensino para a organização dos processos de a melhor decisão a ser tomada e a razão da
EAT dos JEC, este trabalho destaca o global mesma. Já o CTP representa o entendimento
funcional e o situacional com processos de “quando”, “como” e “onde” aplicar
cognitivos. determinada técnica para resolver as situações-
O princípio global-funcional caracteriza-se problema decorrentes dos JEC após a utilização
pela intenção de adequar toda a complexidade de processos cognitivos para a execução da
e imprevisibilidade do JEC através da mesma, representando a capacidade do
apresentação de uma sequência de jogos praticante em operacionalizar a ação (Giacomi-
acessíveis à capacidade do aluno. Neste ni, 2007).
processo de EAT, o desenvolvimento técnico A crítica em relação à utilização de meios e
ocorre em decorrência da compreensão dos métodos de avaliação do CTD consiste na
problemas táticos ocorridos no jogo e busca diferenciação e falta de especificidade do
por soluções motoras que sejam eficazes (Die- momento de avaliação em relação à situação
trich et al., 1984). Deste modo, o aprendizado real de jogo, e consequente pequena
se dá de maneira simultânea e dependente transferência do conhecimento e tomada de
entre conhecimento tático e técnico e baseia-se decisão para tal contexto. As principais
diferenciações residem no ponto de observação
118 | RL Thomaz de Aquino, RR Marques, LG Gonçalves, LP Vieira, BS Bedo, C de Moraes, RP Menezes, PR
Santiago, EF Puggina

do jogador, do tempo de elaboração de (Garganta & Pinto, 1998). Neste sentido,


respostas e a ação em si para a solução (não entende-se que os gestos motores (passes,
baseada em intervenções práticas). Desta finalizações, conduções de bola, domínios)
forma, a utilização de instrumentos de análise realizados pelos jogadores são produtos de
do CTP, como o FUT-SAT, proposto por Costa, uma escolha tática considerada pertinente à
Garganta, Greco, Mesquita, e Maia (2011), situação apresentada. Leitão (2009)
pode fornecer uma representação mais precisa complementa que a compreensão do jogador
da capacidade do jogador compreender os sobre o jogo pode transcender à estratégia e à
problemas, elaborar soluções e operacionaliza- tática propostas pelo treinador. Portanto, a
las no contexto do jogo, dispondo de imprevisibilidade da modalidade, as diferentes
indicadores fiáveis de seu desempenho. compreensões das ações por parte dos
É possível encontrar na literatura trabalhos jogadores e a coletividade do futebol justificam
empíricos a respeito da aplicação e avaliação da a necessidade de formar jogadores inteligentes,
eficácia de tais princípios em relação a capazes de compreender e responder com
processos de EAT em diversas modalidades de rapidez às demandas decorrentes do jogo.
JEC (Clemente & Rocha, 2013; Costa, Gargan- Entende-se como jogadores inteligentes
ta, Grego, Mesquita, & Muller, 2011; Daolio & aqueles que consigam tomar decisões
Marques, 2003; Lima, Martins-Costa, & Greco, adequadas ao contexto do jogo e apresentem
2011; Morales & Greco, 2007; Pinho, Alves, boa percepção dos elementos manifestados
Greco, & Schild, 2010). Alguns destes neste espaço, atenção às informações que são
trabalhos baseiam-se em comparações entre relevantes e antecipação de possíveis respostas
diferentes métodos, tendo em sua maioria, de seus companheiros e adversários na
resultados que indicam maior potencialidade dinâmica do jogo (Matias & Greco, 2010).
dos métodos global funcional e situacional para Este estudo propõe uma sistematização que
o desenvolvimento do conhecimento tático dos busca avanços relativos à organização de
praticantes (Daolio & Marques, 2003; Lima et conteúdos e atividades durante um processo de
al., 2011; Morales & Greco, 2007; Pinho et al., ensino do futebol, de modo a racionalizar o uso
2010). de jogos com o objetivo de integrar o
A utilização de jogos como estratégia aprendizado técnico e tático, contextualizado
pedagógica em processos de EAT de JEC é às situações reais da modalidade.
objeto de estudo a décadas e sua eficácia como Tal processo tem como referência
alternativa metodológica é defendida na norteadora os módulos de ensino propostos
literatura (Clemente & Rocha, 2013; Garganta, por Daolio e Marques (2003) para o ensino do
1997, 1998, 2000; Gray & Sproule, 2011; Gre- futsal e as estruturas funcionais expressas
co, 1995, 2001; Leonardo, Scaglia, & Reverdi- pelos níveis de relação sugeridos por Garganta
to, 2009; Mesquita, 2013; Mesquita et al., (1998).
2009). Porém, a organização e distribuição dos Frente ao exposto, o objetivo geral do
jogos durante processos de EAT são temas que presente estudo foi aplicar e avaliar a eficácia
merecem direcionamento da atenção, de modo de uma sistematização de ensino do futebol
a subsidiar professores/instrutores/treinadores centrada no uso de jogos sobre o conhecimento
na oferta e aplicação dos jogos como estratégia tático processual de jovens jogadores. O
pedagógica (Daolio & Marques, 2003). objetivo específico foi apontar quais
Existe no jogo de futebol uma variedade de capacidades táticas se manifestaram de modo
situações que necessitam ser compreendidas positivo ou negativo durante a sistematização,
pelos jogadores para que possam responder de por meio de um método de avaliação do CTP
forma eficaz às situações problema no jogo
Sistematização de ensino do futebol | 119

desenvolvido especificamente para esta Os participantes eram todos alunos


modalidade esportiva. regulares de uma escola de futebol vinculada a
A sistematização de um processo de EAT um clube de futebol profissional do interior do
centrado no uso de jogos envolve mais do que estado de São Paulo – Brasil. Todos iniciaram
o conhecimento das características da sua participação no mesmo dia (avaliação 1),
modalidade esportiva, mas também o domínio retornando de um período sem aulas de futebol
dos procedimentos mais adequados a cada devido a férias. O índice de evasão de alunos,
faixa etária e ao nível de experiência do aluno. ou seja, o percentual de participantes que se
Ou seja, o conhecimento sobre “o que desvincularam durante o processo de EAT, foi
ensinar”, deve acompanhar as “razões de se de 3,7%.
ensinar” e “como ensinar”, de modo a Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
estimular que o praticante aprenda a tomar Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia,
decisões, resolvendo as situações-problema Ciências e Letras de Ribeirão Preto-SP da
decorrentes do jogo. Neste sentido se justifica Universidade de São Paulo, Brasil, sob parecer
a sistematização aplicada e avaliada. nº. 133.230. Todos os responsáveis pelos
participantes assinaram um termo de
MÉTODO consentimento livre e esclarecido informando
Participantes os procedimentos e objetivos do estudo.
A intervenção pedagógica foi conduzida em
uma escola de futebol de um clube profissional Instrumentos
de futebol do interior do estado de São Paulo - A coleta dos dados, referente ao
Brasil. O número inicial de participantes foi 27. comportamento tático dos participantes
Porém, como critério de inclusão, adotou-se a respeitou as orientações do sistema de
necessidade dos jogadores participarem das avaliação tática do futebol (FUT-SAT)
quatro avaliações realizadas no decorrer da proposto e validado por Costa et al. (2011). Tal
sistematização (coleta dos dados referentes ao método é configurado na estrutura goleiro + 3
conhecimento tático) e como critério de jogadores versus 3 jogadores + goleiro (GR3-
exclusão considerou-se a ausência em mais de 3GR) e realizado com base em uma partida
20% das aulas. Portanto, do grupo inicial, 16 entre duas equipes de quatro jogadores, em
jogadores participaram das quatro avaliações e uma área de 36 metros de comprimento por 27
estavam presentes em mais de 80% das aulas metros de largura, por um período de quatro
(n = 16). A caracterização dos participantes minutos. O método orienta que haja um
está exposta na Tabela 1. período de jogo livre entre os participantes,
com 30 segundos de duração, destinados à
Tabela 1 familiarização dos mesmos à situação de jogo
Caracterização dos voluntários do presente estudo. oferecida. Com exceção da regra do
Variáveis Média ± Des-
impedimento, todas as regras oficiais de
vio Padrão
Idade Cronológica (anos) 10.73 ± 0.46 futebol são aplicadas. O teste tem como
Tempo de Prática (anos) 2.53 ± 0.52 objetivo avaliar as ações táticas executadas
Estatura (cm) 150.47 ± 8.13 pelos jogadores, com e sem a posse de bola,
Massa Corporal (kg) 44.79 ± 11.64
assim como seu local de realização e resultado
Índice de Massa Corporal 19.50 ± 3.20
(kg/cm2) prático, de acordo com 10 princípios táticos
Pico de Velocidade de Cresci- -1.79 ± 0.63 fundamentais do futebol, sendo cinco
mento defensivos (Contenção, Cobertura Defensiva,
% de Gordura 20.49 ± 7.63
Equilíbrio, Concentração, Unidade Defensiva)
e cinco ofensivos (Penetração, Cobertura
Ofensiva, Mobilidade, Espaço, Unidade
120 | RL Thomaz de Aquino, RR Marques, LG Gonçalves, LP Vieira, BS Bedo, C de Moraes, RP Menezes, PR
Santiago, EF Puggina

Ofensiva), apontados por Costa, Garganta, Procedimentos


Greco, e Mesquita (2009). A sistematização teve duração de 16
A média aritmética dos cinco princípios semanas, contendo de duas a três aulas por
táticos ofensivos gera o resultado da fase semana, totalizando 37 aulas com 1h15min de
ofensiva, enquanto que a média aritmética dos duração cada. Os jogos utilizados foram
cinco princípios táticos defensivos corresponde classificados como: a) formais (respeita de
à fase defensiva. Os valores representados forma integral os componentes estruturais,
como “jogo” condizem à média aritmética dos funcionais e as regras oficiais da modalidade de
valores da fase ofensiva e da fase defensiva. JEC praticada); b) reduzidos (mantém as
O protocolo de operacionalização do FUT- mesmas regras do jogo formal com
SAT é composto por três procedimentos (Cos- modificações funcionais e principalmente
ta, Garganta, Greco, et al., 2011). O primeiro estruturais, de forma a serem realizados em
consiste em analisar as ações táticas dos espaços menores e com menor número de
jogadores onde a unidade de análise é a posse participantes); e c) adaptados (possuem
de bola. Esta é considerada quando o jogador componentes estruturais, funcionais e regras
respeita ao menos uma das seguintes diferentes do jogo formal, mas compartilham
observações: 1) realiza pelo menos três alguns princípios operacionais dos JEC).
contatos consecutivos com a bola; 2) realiza O processo de EAT proposto foi divido em
um passe que mantêm a equipe com a posse de três módulos, adaptados do estudo realizado
bola; 3) executa um remate (Garganta, 1997). por Daolio e Marques (2003), e organizado
O segundo procedimento consiste em avaliar, com base nos níveis de relação propostos por
classificar e registrar as ações táticas Garganta (1998), de modo que a aprendizagem
executadas pelos jogadores. O terceiro dos voluntários deste estudo foi dividida em
procedimento refere-se ao cálculo das variáveis etapas de forma progressiva, do menos para o
contidas nas categorias Índice de Performance mais complexo, à medida que o participante
Tática (IPT), sendo elas: ações táticas; deve ter como referência as inter-relações entre
percentual de erros; e localização da ação as seis características invariantes citadas por
relativa ao princípio (LARP). Para apresentação Bayer (1994).
e discussão dos resultados deste estudo foram Os níveis de relação, propostos por
consideradas as variáveis IPT e Número de Garganta (Garganta, 1998, p. 21),
Ações Táticas. caracterizam-se por etapas de referência que
compõem um processo de ensino dos jogos.
São eles:
a) eu-bola: atenção sobre a familiarização
com a bola e seu controle;
b) eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do
jogo; finalização;
c) eu-bola-adversário: combinação de
habilidades; conquista e recuperação da
posse de bola (1x1); procura pela
finalização;
d) eu-bola-colega-adversário: jogo a 2; passa
Figura 1. Representação da estrutura física do e vai (desmarcação de ruptura); passa e
teste “GR3-3GR” (Adaptado de Costa, Garganta,
segue (desmarcação de apoio); contenção
Greco, et al., 2011).
e cobertura defensiva;
Sistematização de ensino do futebol | 121

e) eu-bola-colegas-adversários: jogo a 3; finalizações à meta. Os jogos aplicados nesta


criação e anulação de linhas de passe; etapa foram caracterizados pela necessidade de
penetração e cobertura ofensiva; resolução de situações-problema, não somente
f) eu-bola-equipe-adversários: do 3x3... ao em relação ao posicionamento e ações técnico-
jogo formal; assimilação e aplicação dos táticas individuais, mas também em relação às
princípios de jogo ofensivo e defensivo. ações da equipe. Tal módulo buscou valorizar
as ações coletivas, apresentando aos alunos
Módulo 1 – Relação com a bola de acordo com uma lógica que exige ações grupais, fazendo
situações-problema do jogo (11 aulas): com que o jogador perceba que faz parte de um
Este módulo teve como principal objetivo a todo que age coletivamente e possui objetivos
melhoria da capacidade técnica (relação entre em comum. Foram utilizados jogos reduzidos,
jogador e bola) a partir da compreensão e com número de participantes superior a 3 x 3,
resolução de problemas táticos do jogo. e jogos adaptados, utilizando grandes espaços
Buscou-se desenvolver a capacidade de como do campo e um número maior de participantes.
fazer, de modo consciente e relacionado com a Exemplo de Jogo: Passa Dez - divide-se o
percepção de quando fazer e por quê fazer cada grupo em duas equipes com 4 participantes
ação com a bola. Ou seja, a contextualização da cada. O objetivo central de cada equipe será
ação técnica coerente com as situações táticas fazer dez passes, sem nenhum toque do
em cada momento. Foram oferecidos jogos adversário na bola. Cada vez que uma equipe
adaptados e reduzidos que privilegiam os realizar dez passes, marca um ponto. Ganha a
seguintes níveis de relação: eu-bola, eu-bola- equipe que marcar mais pontos.
alvo, eu-bola-adversário, eu-bola-colega-
adversário. A resolução de situações-problema Módulo 3 – Tomadas de decisão em jogos
em espaços limitados objetiva também formais (11 aulas):
promover a capacidade dos jogadores aplicarem Neste módulo objetivou-se a retomada de
ações técnicas e táticas em função das conteúdos trabalhados nos anteriores (todos os
situações ocorrentes, além de aumentar as níveis de relação propostos por Garganta,
chances dos mesmos estarem em contato com 1998). Foram apresentadas situações-problema
a bola. aos alunos em jogos adaptados que ocupem
Exemplo de jogo: Em um espaço reduzido grandes dimensões do campo de futebol, com
de 20m de comprimento por 15m de largura e número de jogadores e espaço utilizado
dois alvos de 1 metro de largura cada, dois próximo às regras do jogo formal, além de
jogadores se enfrentam em formato de um maior quantidade de realizações de jogos
contra um, com cada jogador tendo que formais de futebol, objetivando o
defender seu alvo e atacar o do adversário. desenvolvimento do entendimento do jogo e
tomada de decisões. Dessa forma, os alunos
Módulo 2 – Percepção e compreensão tática do foram estimulados a realizarem a transferência
espaço de jogo (15 aulas): dos princípios operacionais e das regras de
Este segundo módulo teve íntima ligação ação desenvolvidos nos módulos anteriores
com os níveis de relação eu-bola-colegas- para situações de jogo formais (Transfert).
adversários, eu-bola-equipe-adversários. Foram Buscou-se desenvolver principalmente o nível
privilegiados o posicionamento e a de relação eu-bola-equipe-adversário.
movimentação dos jogadores, inclusive sem a Exemplo de Jogo: Jogo formal com
posse de bola, dando maior importância à contextos específicos, como uma situação de
ocupação de espaços, à marcação de uma equipe estar vencendo a outra e faltarem 5
adversários, à própria desmarcação, abertura de minutos para o final da partida.
linhas de passes entre os colegas de equipe e
122 | RL Thomaz de Aquino, RR Marques, LG Gonçalves, LP Vieira, BS Bedo, C de Moraes, RP Menezes, PR
Santiago, EF Puggina

Independente do módulo em aplicação, foram comparadas as médias da 3ª avaliação


todas as 37 aulas foram compostas por quatro com a 4ª avaliação.
momentos: Aquecimento (atividades de
preparação para o treino e jogos que Análise estatística
introduzam conteúdo a serem trabalhados na Para a caracterização da amostra –
sessão – menor proporção de tempo); Parte comparação entre as médias dos IPT e o
principal (aplicação de jogos característicos dos Número de Ações Táticas entre as quatro
módulos de ensino descritos – maior proporção avaliações, determinando a evolução do
de tempo durante as aulas dos dois primeiros aprendizado do jogador – foram realizadas
módulos); Jogo formal (menor duração nas análises descritivas de média e desvio padrão
aulas dos dois primeiros módulos e (dados contínuos - IPT) e distribuição de
predominância no último módulo de ensino); frequência (dados categóricos ou nominais -
Conversa final (momento de retomada de princípio tático, localização e resultado da ação
conteúdos trabalhados na aula através de tática). A distribuição normal dos dados foi
conversa e reflexão entre treinador/professor e verificada pelo teste Shapiro-Wilk. Foi
jogadores). utilizado o teste de análise de variância
Atividades do Módulo 1 também foram (ANOVA) para medidas repetidas, seguido,
aplicadas durante os momentos de quando necessário, do teste “post-hoc” de
aquecimento dos Módulos 2 e 3. Esta Tukey, já que os resultados do teste de
necessidade se justifica pelo motivo do aluno Shapiro-Wilk demonstraram que os dados são
estar em constante desenvolvimento das paramétricos. Foram considerados
habilidades técnicas a partir das respostas significativos os valores de p ≤ 0,05.
motoras como adaptações frente às imprevistas Foram analisadas 352 ações táticas por 2
situações do jogo. Ou seja, a partir da avaliadores diferentes, o que representa
compreensão dos problemas táticos do jogo 18,42% do total de ações processadas na
(Garganta, 2000). presente pesquisa. Este valor é superior ao de
Utilizando as determinações de medidas do referência (10%), conforme apontado pela
campo, regras e número de jogadores (GR3- literatura (Tabachnick & Fidell, 2001). Nas re-
3GR) propostas pelo método de análise de CTP análises das ações táticas, foi assegurado um
denominado FUT-SAT, foram realizadas quatro intervalo de quatro semanas, para evitar
avaliações, uma pré-intervenção (1ª), uma pós- possíves problemas de familiaridade com a
intervenção (4ª) e duas intermediárias (2ª e determinação da fidedignidade (Robinson &
3ª). A 2ª e a 3ª avaliações foram realizadas O’Donoghue, 2007). Os resultados de Kappa
após a última aula do Módulo 1 e 2 para confiabilidades intra e inter-observadores
respectivamente. Para tal, foi utilizado uma foram 0,91 (erro padrão 0,08) e 0,82 (erro
câmera de vídeo digital modelo Casio Exilim padrão 0,01) respectivamente, classificadas
EX-FH25, com frequência de registro de 30Hz, como “perfeitas” pela literatura (Landis &
posicionada de modo estático no mesmo local Koch, 1977). Foi utilizado o software SPSS
em todas as coletas, de forma a captar toda a (Statistical Package for Social Science) for
área de jogo, conforme exposto na Figura 1. Windows®, versão 17.0.
Deste modo, a eficácia do Módulo 1 foi
verificada a partir da comparação dos valores RESULTADOS
médios obtidos na 1ª avaliação com a 2ª Resultados referentes à variável Número de
avaliação. Na sequência, para avaliar o Módulo Ações Táticas
2 foram comparadas as médias da 2ª avaliação Os resultados referentes à variável Número
com a 3ª avaliação. Já na análise do Módulo 3, de Ações Táticas foram expressos por soma
Sistematização de ensino do futebol | 123

total dos 16 jogadores nas quatro avaliações, avaliação com a 4ª avaliação (p<0,001).
descritos na Tabela 2. Porém, na comparação da 2ª avaliação com a 3ª
Ao comparar o Número de Ações Táticas da avaliação (p=0,64), 2ª avaliação com a 4ª
fase ofensiva coletadas na 1ª avaliação com os avaliação (p=0,12) e 3ª avaliação com a 4ª
resultados da 2ª avaliação observou-se um avaliação (p=0,70) não se verificou diferenças
aumento significante (p<0,001). O mesmo significantes para a variável Número de Ações
ocorre quando comparados os índices da 1ª Táticas.
avaliação com a 3ª avaliação (p<0,001) e da 1ª

Tabela 2
Números de Ações Táticas relativos aos princípios táticos obtidos a partir do FUT-SAT nas quatro avaliações
coletadas.
Princípios Táticos 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação 4ª Avaliação
Penetração 32 58 69 75
Cobertura Ofensiva 43 60 78 62
Mobilidade 30 44 20 21
Espaço 48 65 85 69
Unidade Ofensiva 15 24 23 70
Fase Ofensiva (FO) 168a,bc 251 275 297
Contenção 53 60 67 60
Cobertura Defensiva 6 14 21 21
Equilíbrio 32 50 58 48
Concentração 13 23 30 28
Unidade Defensiva 59 96 85 85
Fase Defensiva (FD) 163d,e,f 243 261 242
Jogo (J) 331g,h,i 494 536 539
FO = a1ª Avaliação x 2ª Avaliação – p = .001; b1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p = .0001; c1ª Avaliação x 4ª Avaliação – p =
.0001.
FD = d1ª Avaliação x 2ª Avaliação – p = .001; e1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p = .0001; f1ª Avaliação x 4ª Avaliação – p =
.001.
J = g1ª Avaliação x 2ª Avaliação – p = .0001; h1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p = .0001; i1ª Avaliação x 4ª Avaliação – p =
.0001.

Tabela 3
Média e desvio padrão dos Índices de Performance Tática (IPT) relativos aos princípios táticos obtidos a partir
do FUT-SAT nas quatro avaliações coletadas.
Princípios Táticos 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação 4ª Avaliação
Penetração 4.58±3.17 6.94±3.78 9.27±4.83 11.33±5.12
Cobertura Ofensiva 5.30±3.03 6.37±4.48 9.50±3.51 7.86±4.11
Mobilidade 3.57±3.54 4.78±4.17 2.39±2.42 3.36±3.50
Espaço 4.99±3.13 6.36±3.43 9.51±5.18 10.48±5.59
Unidade Ofensiva 2.59±2.75 3.62±2.96 2.93±2.94 9.49±5.13
Fase Ofensiva (FO) 4.21±0.99 a.b 5.61±1.56 c 6.72±1.89 d 8.51±1.99
Contenção 4.48±3.00 6.66±3.92 7.60±3.57 8.02±5.07
Cobertura Defensiva 0.55±1.13 1.72±1.88 2.57±2.47 2.95±2.58
Equilíbrio 1.98±2.29 3.65±1.81 6.26±3.09 6.70±3.32
Concentração 0.82±1.04 2.71±2.57 3.58±2.05 3.59±2.56
Unidade Defensiva 5.31±2.19 7.93±4.33 9.01±6.20 12.30±7.90
Fase Defensiva (FD) 2.63±0.63 e.f.g 4.53±1.03 h.i 5.80±0.97 j 6.71±1.21
Jogo (J) 3.36±0.50 k.l.m 5.07±0.67 n.o 6.26±0.88 q 7.61±0.54
FO = a 1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p=0,0001; b 1ª Avaliação x 4ª Avaliação – p=0,0001; c 2ª Avaliação x 4ª Avaliação –
p=0,0001; d 3ª Avaliação x 4ª Avaliação – p=0,017.
FD = e 1ª Avaliação x 2ª Avaliação – p=0,0001; f 1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p=0,0001; g 1ª Avaliação x 4ª Avaliação –
p=0,0001; h 2ª Avaliação x 3ª Avaliação – p=0,003; i 2ª Avaliação x 4ª Avaliação – p=0,0001; j 3ª Avaliação x 4ª Avaliação –
p=0,05.
J = k 1ª Avaliação x 2ª Avaliação – p=0,0001; l 1ª Avaliação x 3ª Avaliação – p=0,0001; m 1ª Avaliação x 4ª Avaliação –
p=0,0001; n 2ª Avaliação x 3ª Avaliação – p=0,0001; o 2ª Avaliação x 4ª Avaliação – p=0,0001; q 3ª Avaliação x 4ª Avaliação
– p=0,0001.
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Na análise da fase defensiva, o comporta- apresentou semelhança aos resultados da fase


mento do Número de Ações Táticas assemelha- defensiva. As diferenças estatísticas obtiveram
se aos resultados da fase ofensiva descritos valores de p<0,001 em todas as comparações
anteriormente, as diferenças significantes ocor- entre as avaliações, representando melhoras
reram na comparação da 1ª avaliação com a 2ª nos IPT do jogo em todas as comparações.
avaliação (p<0,001), da 1ª avaliação com a 3ª
avaliação (p<0,001) e da 1ª avaliação com a 4ª DISCUSSÃO
avaliação (p<0,001). O presente estudo objetivou aplicar e
Referente ao jogo, as diferenças estatísticas avaliar a eficácia de uma sistematização de
foram observadas na comparação dos valores ensino do futebol centrada no uso de jogos
obtidos na 1ª avaliação com a 2ª avaliação sobre o CTP de jovens jogadores. Deste modo,
(p<0,001), na 1ª avaliação com a 3ª avaliação verificou-se que a sistematização proposta foi
(p<0,001) e na 1ª avaliação com a 4ª avaliação suficiente para promover melhoras
(p<0,001). Nas comparações das demais avali- significantes no CTP dos voluntários, em
ações não foram identificadas diferenças signi- relação às variáveis Número de Ações Táticas e
ficantes para a variável Número de Ações Táti- Índice de Performance Tática (IPT). Estes
cas na fase defensiva e no jogo. resultados indicam que o princípio global
funcional, organizado com base nos módulos
Resultados referentes à variável Índice de propostos, produziu efeitos positivos na
Performance Tática aprendizagem tática do grupo analisado,
As médias e desvio padrão dos Índices de contribuindo para a contextualização do
Performance Tática (IPT) obtidos nas aprendizado técnico-tático, na busca pela
avaliações estão representados na Tabela 3. formação de jogadores capazes de solucionar
Ao analisar os IPT da fase ofensiva entre as com rapidez e eficácia as situações-problema
avaliações coletadas, observou-se melhoras decorrentes de um jogo.
significantes quando comparada a 1ª avaliação É possível encontrar na literatura estudos
com a 3ª avaliação (p<0,001), a 1ª avaliação baseados em experiências empíricas frente aos
com a 4ª avaliação (p<0,001), a 2ª avaliação diferentes métodos de ensino dos JEC.
com a 4ª avaliação (p<0,001) e a 3ª avaliação Considerando os conceitos de invariantes,
com a 4ª avaliação (p=0,017). Não houve princípios operacionais dos esportes coletivos e
diferenças significantes quando comparada a principalmente de transfert (Bayer, 1994),
média do IPT da fase ofensiva da 1ª avaliação foram utilizados para a discussão dos
com a 2ª avaliação (p=0,87) e da 2ª avaliação resultados, trabalhos referentes a diferentes
com a 3ª avaliação (p=0,24). jogos coletivos de invasão (JCI), considerando
Em relação à fase defensiva, verificou-se um suas similaridades com o futebol e as
aumento significante quando comparada a possibilidades de aproximação entre os
média do IPT da 1ª avaliação com a 2ª avaliação processos de EAT entre estes diferentes JEC.
(p<0,001), da 1ª avaliação com a 3ª avaliação Daolio e Marques (2003) investigaram o
(p<0,001), da 1ª avaliação com a 4ª avaliação efeito de uma sistematização de ensino sobre a
(p<0,001), da 2ª avaliação com a 3ª avaliação aprendizagem tática de 29 jogadores de futsal
(p=0,003), da 2ª avaliação com a 4ª avaliação com idade entre 9 e 12 anos, similar à
(p<0,001) e da 3ª avaliação com a 4ª avaliação apresentada neste presente trabalho, durante
(p=0,05). Ou seja, na fase defensiva houve 28 aulas e composta apenas por jogos
melhora do IPT para todas as comparações. reduzidos, adaptados e formais. Os resultados
Nas comparações dos valores médios do indicaram que após o desenvolvimento do
jogo, o comportamento da variável IPT processo de EAT aplicado, foi observada maior
Sistematização de ensino do futebol | 125

capacidade de compreensão do jogo por parte apresentou melhora da inteligência do jogo, já


dos jogadores, agindo mais coletivamente, os grupos que foram submetidos ao método
defendendo e atacando de forma mais misto e situacional apresentaram melhora
organizada. A ferramenta utilizada pelos quanto à criatividade e inteligência de jogo.
autores para avaliação da capacidade de jogo foi Segundo os autores, as metodologias baseadas
a observação sistemática das fases do no desenvolvimento tático parecem ser mais
desenvolvimento dos jogos esportivos coletivos interessantes para a construção do
propostas por Garganta (1998) – Anárquica, conhecimento tático e da inteligência de jogo.
Descentralizada, Estruturada, Elaborada. A Quanto à comparação entre o método
presente pesquisa encontrou resultados global funcional com outras alternativas
semelhantes. Jogos fundamentados no metodológicas, pode-se citar resultados
princípio metodológico global funcional, discrepantes. Pinho, Alves, Greco e Schild
organizados sob os módulos propostos, (2010) verificaram a influência do método
parecem ser capazes de estimular de forma situacional sob o nível de CTP, avaliado por
positiva o conhecimento tático de jogadores de meio da bateria de testes KORA, em 35
futebol. escolares com faixa etária entre 10-12 anos, na
Outros estudos, em concordância com os modalidade handebol. Para tal, dividiu-se os
dados desta presente pesquisa, propõem que participantes em dois grupos: jogos
processos de EAT baseados em jogos e situacionais e controle (método misto -
situações de jogo (métodos global funcional e utilização tanto do princípio analítico quanto
situacional) produzem efeitos positivos sobre a do global) com duração de intervenção de 18
capacidade tática dos jogadores (Clemente & aulas cada. Os autores encontraram diferenças
Rocha, 2013; Garganta, 1997, 1998, 2000; significantes no sentido de ganho/melhora do
Gray & Sproule, 2011; Greco, 1995, 2001; Le- conhecimento tático processual apenas no
onardo et al., 2009). grupo que treinou apenas com os jogos
Morales e Greco (2007) investigaram a situacionais.
influência de diferentes processos de EAT sob Deste modo, pode-se sugerir que o método
o rendimento do CTP, por meio da bateria de analítico sintético apresenta piores índices de
testes KORA, em 40 jogadores de basquetebol desenvolvimento da capacidade tática em
com idade entre 10 e 12 anos e encontraram relação aos métodos global funcional e
que o grupo de praticantes que treinou com situacional. Em uma oportunidade em que o
ênfase na associação entre os métodos princípio global-funcional não apresentou
situacional e global oportunizou uma melhoria posição de destaque quanto ao
no desenvolvimento da inteligência tática desenvolvimento do conhecimento tático dos
processual quando comparado com o grupo jogadores foi quando implementado
que treinou com ênfase em atividades conjuntamente com o analítico-sintético (Pi-
analíticas. nho et al., 2010).
Silva e Greco (2009) objetivou comparar a Em relação à forma de organização e
aplicação de três possibilidades metodológicas distribuição de atividades nos módulos de
para o ensino do futsal, com 18 sessões de ensino propostos neste trabalho, percebeu-se
treino para cada: método analítico sintético, resultados positivos frente à estratégia de
misto (analítico sintético + global funcional) e oferecer, em um primeiro momento (módulo
situacional sobre o desenvolvimento do CTP, 1), atividades mais relacionadas a espaços e
avaliado por meio da bateria de testes KORA. situações reduzidas (número de jogadores e
A amostra foi composta por praticantes de terreno menores em comparação ao jogo
futsal da categoria mirim (12-13 anos). O formal), privilegiando maiores possibilidades
grupo que foi submetido ao método analítico de contato com a bola, para posteriormente
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(módulos 2 e 3) priorizar atividades mais produziu melhoras no contexto geral do jogo


voltadas às situações sem posse de bola em após todos os módulos de ensino. Assim, a
espaços maiores e com maior número de ausência de um resultado significante para a
jogadores. Estas considerações corroboram fase de ataque ao final do módulo 1 não
com as sugestões de Greco (Greco, 1995; Gre- representou, no quadro geral, uma influência
co & Benda, 1998) em relação ao planejamento determinante frente ao desenvolvimento da
dos treinos, que deve considerar a conexão capacidade de jogo por parte dos alunos.
entre as atividades, respeitando a Os resultados indicam que o processo de
complexidade das tarefas, partindo do fácil EAT proposto no presente estudo foi suficiente
para o difícil, do simples para o complexo. para produzir um aumento significante na
Quanto às situações de ataque, destaca-se variável número de ações táticas ao final do
as melhoras de desempenho principalmente processo de intervenção. Percebe-se que a
entre os módulos 2 e 3. Tais ocorrências variação destacável se dá entre o período pré-
podem relacionar-se ao fato do módulo 1 intervenção e o decorrer de todos os módulos
priorizar o desenvolvimento de níveis de de ensino. Isso indica um fator positivo frente
relação menos complexos e mais centrados na à sistematização proposta, visto que mesmo
relação do aluno com a bola em situações com sem um aumento do número de ações táticas
menos variáveis (eu-bola; eu-bola-alvo; eu- avaliadas entre os módulos, nota-se uma
bola-adversário, eu-bola-colega-adversário), melhora na qualidade das ações realizadas,
que subsidiariam ações posteriores. Como o como fica exposto frente à melhora do IPT dos
método de avaliação utilizado (FUT-SAT) jogadores no decorrer do processo de
considera, desde a primeira intervenção, intervenção.
conceitos complexos e abrangentes, que
exigem certo conhecimento de ações sem a CONCLUSÕES
posse de bola (Cobertura ofensiva; Mobilidade; A comparação dos resultados referentes às
Espaço; Unidade ofensiva), o fato de alguns variáveis Número de Ações Táticas e IPT entre
destes conceitos não terem sido abordados os momentos pré-intervenção (1ª Avaliação) e
com magnitude neste primeiro momento pode pós-intervenção (4ª Avaliação) demostrou um
ser uma explicação para os resultados aumento significante no sentido de
encontrados. ganho/melhora, concretizando que o processo
Tal proposição encontra reforço na análise organizado e sistematizado de forma
dos dados relacionados à fase defensiva. As sequencial e progressivo no que se refere ao
ações defensivas ocorridas nos jogos aplicados componente tático, utilizando unicamente os
no módulo 1 podem ter contribuído para o jogos, foi suficiente para promover um
aprendizado destas categorias, mesmo que em desenvolvimento significante no CTP dos
escalas e situações menos complexas. Percebe- voluntários estudados, de modo a promover
se que os alunos apresentaram melhoras na melhora na compreensão dos princípios táticos
fase defensiva em todos os módulos, o que ofensivos e defensivos. Estes resultados
pode ser uma consequência do fato de ações de indicam que a sistematização proposta,
desarme, contenção dos avanços do adversário baseada no princípio metodológico global
e proteção da meta (princípios operacionais funcional, foi eficiente para melhorar a
propostos por Bayer, 1994) serem diretamente capacidade tática dos voluntários deste estudo.
desenvolvidas tanto nos jogos apresentados no Os resultados e discussões apresentados no
módulo 1, quanto nos demais. presente estudo são importantes para fornecer
Frente a tais circunstâncias, pode-se informações sobre a organização de processos
destacar ainda, que a relação entre os dados de EAT de JEC centrados no desenvolvimento
Sistematização de ensino do futebol | 127

do CTP em três vertentes: 1) contribuir para a Costa, I. T., Garganta, J., Greco, P. J., Mesquita, I., &
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ARTIGO

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÁTICO NO FUTEBOL:


CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA GRELHA DE
OBSERVAÇÃO DO TESTE “GR3-3GR”*

Israel Teoldo da Costa1,3


Júlio Garganta3,4
Pablo Juan Greco2
Isabel Mesquita3,4

RESUMO
A avaliação do desempenho de jogadores vem sendo tema de
um número crescente de pesquisas no domínio dos jogos desportivos.
Contudo, os comportamentos táticos têm sido parca e superficialmente
abordados na maioria das pesquisas que descrevem e avaliam o
desempenho dos jogadores. Nesse sentido, os especialistas têm
procurado desenvolver instrumentos que permitam descrever os
acontecimentos mais importantes de uma partida e, paralelamente,
avaliar os comportamentos dos jogadores e das equipes.
Especificamente no contexto do futebol, a dificuldade em criar um
instrumento com tais características decorre do número e do tipo de
variáveis que interagem durante uma partida. No presente artigo,
pretendeu-se dar conta da forma como foi concebida e desenvolvida a
grelha de observação para um instrumento de avaliação do desempenho
tático, o teste GR3-3GR, o qual possibilita avaliar ações táticas
desempenhadas por cada jogador, com e sem bola, de acordo com
dez princípios táticos fundamentais do jogo de futebol, tendo em conta
a localização da ação no campo de jogo e o seu resultado final.
Palavras-chave: futebol, tática, avaliação, desempenho, princípios
táticos.

Recebido para publicação em 07/2009 e aprovado em 09/2009.


1
Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG-Brasil.
2
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG-Brasil.
3
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal.
4
Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção
em Desporto, CIFII, FADEUP, Porto, Portugal.
* Agradecimento: com o apoio do Programa AlBan, programa de bolsas de alto
nível da União Europeia para América Latina, bolsa nº E07D400279BR.

36 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


INTRODUÇÃO

O interesse de pesquisadores da área do treino desportivo e da


pedagogia do desporto por instrumentos de avaliação de desempenho
e do processo de ensino e treino tem aumentado nos últimos anos,
mostrando que esse é um campo que ainda carece de maior
sustentação teórica e prática que permita predizer informações
fidedignas sobre o rendimento dos jogadores e das equipes durante
uma partida (GRÉHAIGNE et al., 1997).
No contexto desportivo, os instrumentos existentes até o
momento se concentram, principalmente, na análise e na quantificação
de dados técnicos e biomecânicos do movimento, bem como no
desempenho obtido na execução das habilidades técnicas (NEVILL et
al., 2002; DI SALVO et al., 2007; RAMPININI et al., 2007), não se
mostrando suficientemente aplicáveis, em termos teóricos e
argumentativos, na avaliação das habilidades táticas individuais ou
coletivas em esportes de equipe (SUZUKI; NISHIJIMA, 2004).
No futebol essa situação se assemelha, uma vez que os
instrumentos existentes se reveem em variáveis de índole técnica ou
de simples descrição dos eventos do jogo, como seja o tempo de posse
de bola, ocorrência de passes, setor de origem da jogada, entre outros
(CASTELLANO PAULIS; HERNÁNDEZ MENDO, 2002). A literatura
evidencia poucos estudos relacionados com a com a componente tática
ou organizacional (GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1997; OSLIN et al., 1998;
GRÉHAIGNE et al., 2001; LAMES; HANSEN, 2001; MEMMERT, 2002;
TALLIR et al., 2003; FERREIRA et al., 2008), porquanto isso implica
integrar uma análise multidimensional dos eventos táticos correntes
do jogo em referência à configuração situacional emergente
(GRÉHAIGNE, 1992b; MCGARRY et al., 2002).
Referendando a gênese desse problema, outros pesquisadores
citam a segmentação das análises das ações realizadas no jogo como
um dos fatores limitantes dos instrumentos de avaliação (BAUER;
UEBERLE, 1988; GARGANTA, 1999; GRÉHAIGNE et al., 2001). Para
Bauer e Ueberle (1988), em sistemas de alta complexidade, como o
futebol, onde as tarefas dos jogadores se baseiam na cooperação e na
oposição, não parece desejável que a interpretação das ações se efetue
com base no somatório de eventos ocorridos no jogo. Para esses
autores, as competências dos jogadores e das equipes não podem se
restringir a aspectos pontuais, pois dessa forma corre-se o risco de a

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 37


avaliação ser inoperante. Para se ter uma avaliação mais adequada, é
necessário reportar à complexidade do jogo, na concorrência das
equipes por um objetivo comum e no antagonismo destas em função
das fases de jogo.
Entendendo que o desempenho tático se reveste de grande
significado para o estudo do comportamento dos jogadores e das equipes,
Garganta e Gréhaigne (1999) relatam que várias tentativas já foram
realizadas no sentido de descrever a modelação e o rendimento tático
no futebol, e os resultados mostraram tendência de avaliar a interação
dos fatores que compõem a estrutura de jogo das equipes. Esses autores
também afirmam que diversas conclusões de estudos fazem emergir a
necessidade de encontrar métodos que permitam reunir e organizar os
conhecimentos, a partir do reconhecimento da complexidade do jogo de
futebol e das propriedades de interação dinâmica das equipes, enquanto
conjuntos ou totalidades (GRÉHAIGNE, 1992a; BISHOVETS et al., 1993;
GODIK; POPOV, 1993; DELEPLACE, 1994; HUGHES, 1994, 1996a;
RIERA, 1995; MOMBAERTS, 1996; REILLY, 1996).
Outros constrangimentos que também vêm merecendo a atenção
de pesquisadores dizem respeito ao espaço de jogo efetivo1 das equipes
e aos centros de organização destas equipes2. Apesar da sua importância
e das implicações para o sucesso das ações dos jogadores, existem
poucos estudos que tenham contemplado esses aspectos na análise
de jogo (GRÉHAIGNE, 1989, 1992a; GRÉHAIGNE; BOUTHIER, 1994;
HUGHES, 1996b; GARGANTA, 1999; FRENCKEN; LEMMINK, 2009).
Nos últimos anos, alguns pesquisadores têm procurado definir
critérios de avaliação do desempenho que sejam adequados ao contexto
do jogo. Em 1998, Mitchell, Oslin e Griffin propuseram aos professores/
treinadores e investigadores um instrumento que permite observar e
codificar comportamentos ofensivos e defensivos dos jogadores nos
jogos desportivos coletivos. O instrumento proposto por esse autores,
denominado Game Performance Assessment Instrument (GPAI), possui
sete componentes do jogo: retorno à base, ajuste, tomada de decisão,
execução motora, suporte, cobertura e marcação. Dessas componentes
citadas que integram o GPAI, somente a componente “retorno à base”,

1
O espaço de jogo efetivo é a superfície poligonal que abarca a disposição de todos os
jogadores das duas equipes, tendo em conta os jogadores que se encontram nas partes mais
exteriores do seu conjunto, não incluindo os goleiros (GRÉHAIGNE et al., 2001)
2
O centro de organização de uma equipe é conhecido a partir de todas as movimentações de
avanço e recuo realizadas pelos jogadores no campo de jogo (FRENCKEN; LEMMINK, 2009).

38 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


devido à sua especificidade, não é importante para o desempenho no
futebol (MITCHELL et al., 1995; OSLIN et al., 1998).
Em 1997, Gréhaigne, Bouthier e Godbout divulgaram um
instrumento de avaliação de desempenho em esportes coletivos
denominado Team Sports Performance Assessment Procedure (TSAP).
A avaliação do desempenho do jogador realizada pelo TSAP é composta
por seis parâmetros, agrupados em duas categorias. Após fazer a
observação e o registro desses parâmetros, a avaliação do
desempenho do jogador é calculada com base em dois índices: “volume
de jogo” e “eficiência”. Estes dois índices estão dispostos nos extremos
de um nomograma de três escalas, no qual é possível valorizar o
desempenho do jogador.
Mais tarde, com o intuito de aperfeiçoar e especificar esse
instrumento de observação, Gréhaigne et al. (2001) apresentaram outra
proposta de avaliação do desempenho no futebol, que considerava o
jogo na sua totalidade. Para avaliar a variável que denominaram de
“espaço de jogo efetivo”, os autores apresentaram um mapeamento do
campo de jogo dividido em quatro áreas (defensiva, pré-defensiva, pré-
ofensiva e ofensiva), que permitiu configurar uma grelha de observação
específica. Para avaliar os dados quantitativos, os autores utilizaram o
nomograma desenvolvido no estudo anterior, porém introduziram
algumas modificações nas escalas utilizadas, de modo a ajustar a
avaliação de acordo com o posicionamento do jogador em campo.
Nesse mesmo ano, Lames e Hansen (2001), com base no
processo interpretativo de observação de jogo para alcançar objetivos
em esportes de rendimento, propuseram um método de análise de jogo
denominado Qualitative Game Analysis (QGA). O QGA é composto por
procedimentos de filmagens de jogos, de fragmentação e organização
das cenas coletadas, de análise qualitativa dos dados e comunicação
dos dados aos atletas e/ou comissão técnica. Os dois primeiros
procedimentos são de cunho quantitativo e, apoiados em um hardware e
um software, fornecem dados sobre o desempenho do jogo.
Por sua vez, no ano seguinte, a bateria de testes KORA foi
desenvolvida e validada pelo grupo de estudos da Universidade de
Heidelberg, na Alemanha (KRÖGER; ROTH, 2002; MEMMERT, 2002).
Os testes compreendem procedimentos que permitem avaliar dois
parâmetros inerentes às capacidades táticas: oferecer-se e orientar-
se (O.O) e reconhecer espaços (R.E.). O objetivo da avaliação é
determinar o nível da inteligência de jogo e da criatividade tática, por

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 39


isso ambos os testes consideram as perspectivas convergente e
divergente (GRECO et al., 2004).
Em 2003, Tallir e colaboradores propuseram um instrumento
baseado em imagens de vídeo para avaliar o desempenho individual
de crianças de 11-12 anos em exercícios de 3x3 no futebol e no
handebol. Esse instrumento avalia as execuções motoras e a tomada
de decisão em diferentes categorias e também as avalia em todas as
situações com bola e sem bola - características que o diferem do GPAI
e do TSAP. Os dois instrumentos possuem os seus componentes de
desempenho agrupados em três categorias. No caso do futebol, as
categorias são: decisões ofensivas com bola compostas pelas tentativas
de gols, passes, condução de bola e drible; decisões ofensivas sem
bola compostas por corte de ações e criação de espaço; e decisões
defensivas compostas pelas ações de defesa.
Entre esses instrumentos, o TSAP (GRÉHAIGNE; GODBOUT,
1997) afigura-se o mais específico para o contexto do futebol, uma vez
que a sua avaliação de desempenho considera o posicionamento do
jogador em campo, seis parâmetros do desempenho, as estruturas e
as configurações de jogo (GRÉHAIGNE et al., 2001).
Em análise pormenorizada desses instrumentos, pode-se
verificar que todos buscam transcender as análises convencionais
pautadas nos dados descritivos e quantitativos de ações isoladas do
jogo, passando a considerar os aspectos interativos do jogo, de onde
se salienta a importância dos aspectos táticos e organizacionais. No
nosso entendimento, esse salto qualitativo reveste-se de grande
significado para o estudo do comportamento dos jogadores e das
equipes; conclusões decorrentes de vários estudos realizados fazem
emergir a necessidade de encontrar instrumentos que permitam reunir
e organizar os conhecimentos a partir do reconhecimento da
complexidade do jogo de futebol e das propriedades de interação
dinâmica das equipes, enquanto conjuntos ou totalidades (BISHOVETS
et al.,1993; DELEPLACE, 1994; RIERA, 1995; HUGHES, 1996a;
REILLY, 1996; GRÉHAIGNE et al., 2001).
A partir dessa constatação, o mapeamento da lógica interna do
3
jogo emerge como uma condição basilar para a construção de um
3
Para Parlebas (1976), a lógica interna do jogo está relacionada a três fatores: i) a dinâmica sociomotora
configurada pelo desempenho dos jogadores, ii) tarefas que requerem interações motoras dos jogadores e
iii) estrutura institucional de contagem e as sequências de jogo definidas pelo regulamento. A partir desse
conceito, entendemos que a lógica interna traduz-se na estrutura funcional do jogo, i.é., o produto da
interação contínua entre as condicionantes intrínsecas e a sua expressão externa com as estruturas de
suporte, as funções e ações desempenhadas pelos jogadores.

40 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


instrumento que clarifique a estrutura de desempenho do jogo, no que
respeita aos aspectos táticos. Como resultado da construção e
aplicação de um instrumento com essas características, pode-se
destacar a possibilidade de analisar e estudar os aspectos que se
relacionam com as movimentações dos jogadores com e sem4 bola
(GARGANTA, 1997). A contemplação desses aspectos em um
instrumento de avaliação torna-se claramente relevante, uma vez que
as sequências e as condições de realização das ações durante o jogo
influenciam substancialmente o seu resultado final.
Além desses aspectos, as situações reduzidas de jogo reúnem
características essenciais da unidade do jogo, como a cooperação, a
oposição e a finalização, que lhes permitem ser utilizadas em situações
de ensino e treino para induzir a execução de ações que podem ocorrer
com maior probabilidade durante uma partida formal (MESQUITA, 2006).
Para que esse objetivo seja atingido, essas situações necessitam
permitir a escolha de diferentes soluções possíveis e satisfazer cinco
critérios: o objetivo do jogo deve sempre estar presente; todos os
elementos estruturais do jogo devem estar conservados; as ações de
ataque e defesa são sempre mantidas; uma transição natural do ataque
à defesa e vice-versa deverá ser possível; e as tarefas dos jogadores
não devem ser totalmente determinadas (MUSCH; MERTENS, 1991).
Entre todas as possibilidades de configuração numérica de
jogadores nas situações reduzidas, a configuração 3x3 revela-se como
a estrutura mínima que garante a ocorrência de todos os princípios
táticos inerentes ao jogo formal no futebol (GARGANTA, 2002). Isso
ocorre porque, em termos ofensivos, permite passar de uma escolha
binária a uma escolha múltipla e preserva a noção de jogo sem bola,
uma vez que reúne o portador da bola e dois recebedores potenciais.
Do ponto de vista defensivo, reúne um defensor direto ao portador da
bola (1° def.) para realizar a contenção e dois defensores (2° e 3°)
relativamente mais afastados do portador da bola, para concretizarem
eventuais coberturas, dobras e compensações, respeitando os outros
princípios defensivos: cobertura defensiva, equilíbrio, concentração e
unidade defensiva (COSTA et al., 2009a).
Em face do exposto, o presente artigo pretende descrever a
concepção e desenvolvimento da grelha de observação para um
instrumento de avaliação do desempenho tático em futebol em situação
4
Durante o jogo de futebol um jogador tem as ações limitadas devido ao seu tempo de permanência com a
bola ser no máximo por 2-3 minutos. No tempo restante, ele executa ações sem bola e se orienta
espacialmente em função do posicionamento dos colegas, do adversário e da bola (GARGANTA, 2002)

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 41


de jogo reduzido, 3x3 - o teste GR3-3GR; esse instrumento possibilita
a avaliação das ações táticas, com e sem bola, de acordo com dez
princípios táticos fundamentais do jogo, tendo em conta a localização
da ação no campo de jogo e o seu resultado final.

Concepção e Desenvolvimento da Grelha de Observação do


Teste GR3-3GR

O teste GR3-3GR foi concebido para que treinadores e


pesquisadores possam avaliar o desempenho tático de jogadores de
futebol em situações reduzidas de jogo. Aplicado em um campo reduzido
de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura, durante 4
minutos de jogo, o teste GR3-3GR permite avaliar as ações táticas
desempenhadas por cada um dos jogadores participantes de acordo
com quatro parâmetros: realização do princípio tático; qualidade de
realização das ações táticas; localização de realização da ação tática
no campo de jogo; e resultado da ação.
A configuração numérica do teste respeita a estrutura mínima
que garante a ocorrência de todos os princípios táticos inerentes ao
jogo formal (GARGANTA, 2002). As suas medidas foram calculadas
com base nas dimensões de campo de futebol permitidas pela
International Football Association Board (FIFA, 2008) e no cálculo de
rácio de utilização do espaço de jogo pelos jogadores. Utilizou-se para
esse cálculo a dimensão de 120 metros de comprimento por 90 metros
de largura. A quantidade de tempo foi estabelecida através de um estudo
piloto no qual se verificaram as ações desempenhadas pelos jogadores
em maior quantidade de tempo (COSTA et al., 2009b). Nesse estudo
verificou-se que quatro minutos é suficiente para que todos os jogadores
realizem ações relacionadas aos princípios táticos.
Para a realização do teste, os praticantes são divididos em duas
equipes de três jogadores cada, com coletes numerados de 1 a 6.
Cada equipe possui coletes de cores diferentes, sendo numerados de
1 a 3 para uma cor e de 4 a 6 para outra, com objetivo de facilitar a
identificação dos jogadores no vídeo. Durante a sua aplicação é
solicitado aos jogadores que joguem de acordo com as regras oficiais
do jogo, com exceção da regra do “impedimento”. As imagens são
gravadas por uma câmera de vídeo, que se localiza perpendicularmente
às linhas de fundo e lateral (Figura 1).

42 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Figura 1- Desenho representativo do teste GR3-3GR.

As concepções e as referências espaciais dos princípios


utilizados na grelha de observação do teste foram concebidas com
base na literatura (TEISSIE, 1969; WORTHINGTON, 1974; HAINAUT;
BENOIT, 1979; QUEIROZ, 1983; TEODORESCU, 1984; GARGANTA;
PINTO, 1994; CASTELO, 1996) e em consulta a professores e
treinadores de futebol. A grelha de observação integra dez princípios
táticos do jogo de futebol, sendo, para a fase ofensiva, penetração,
cobertura ofensiva, mobilidade, espaço e unidade ofensiva; e para a
fase defensiva, contenção, cobertura defensiva, equilíbrio, concentração
e unidade defensiva (COSTA et al., 2009a). O Quadro 1 apresenta as
categorias, subcategorias, variáveis, definições e códigos que são
utilizados na grelha de observação do teste GR3-3GR; e o Quadro 2
mostra as referências espaciais, as ações táticas e os indicadores de
performance de cada princípio tático.
As referências espaciais utilizadas na grelha de observação do teste
GR3-3GR e presentes na Figura 2 baseiam-se nos conceitos de
campograma, epicentro de jogo, linha da bola e centro de jogo.
1 - O campograma refere-se às linhas imaginárias traçadas sobre o campo
de jogo que permitem dividi-lo em 12 zonas, três corredores e quatro setores;
2 - O epicentro de jogo é o local onde a bola se encontra num determinado
instante “T”;
3 - A linha da bola é marcada transversalmente ao campo de jogo a partir do
epicentro;

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 43


4 - O centro de jogo é um círculo imaginário que possui cinco metros de raio
do epicentro de jogo e que, em função da linha da bola, pode ser dividido em
metade mais ofensiva e metade menos ofensiva.
do teste GR3-3GR.

Figura 2- Referências espaciais utilizadas na grelha de observação

Quadro 1- Categorias, subcategorias, variáveis, definições e códigos


utilizados na grelha de observação do teste GR3-3GR
Sub-
Categorias Variáveis Definições Códigos
categorias
Penetração Redução da distância entre o portador da bola e a baliza ou a PEN- / PEN+
Cobertura Ofensiva linha de fundode
Oferecimento adversária.
apoios ofensivos ao portador da bola. CBOF- / CBOF+
Espaço Utilização e ampliação do espaço de jogo efetivo em largura e EPSB- / EPSB+ /
Ofensivo
Mobilidade profundidade.
Criação de instabilidade na organização defensiva adversária. EPCB-
MBRU-/ /EPCB+
MBRU+
Unidade Ofensiva Movimentação de avanço ou apoio ofensivo do(s) jogador(es) UNOF- / UNOF+
Princípios
que compõe(m) a(s) última(s) linha (s) transversaeis da equipe.
Táticos Contenção Realização de oposição ao portador da bola. CONT- / CONT+
Cobertura Defensiva Oferecimento de apoios defensivos ao jogador de contenção. CDEF- / CDEF+
Defensivo Equilíbrio Estabilidade ou superioridade numérica nas relações de EDEF- / EDEF+ /
Concentração oposição.
Aumento de proteção defensiva na zona de maior risco à baliza. EREC-
CONC- // EREC+
CONC+
Unidade Defensiva Redução do espaço de jogo efetivo da equipe adversária. UDEF- / UDEF+
Localização Meio Campo Ações Táticas Realização de ações táticas ofensivas no meio campo ofensivo. MOF2
da ação no Ofensivo Ofensivas
Ações Táticas Realização de ações táticas defensivas no meio campo ofensivo. MOF1
Campo de Meio Campo Defensivas
Ações Táticas Realização de ações táticas ofensivas no meio campo defensivo. MDF1
Jogo Defensivo Ofensivas
Ações Táticas Realização de ações táticas defensivas no meio campo MDF2
Defensivas
Realizar finalização ao defensivo.
Quando um jogador consegue chutar a bola em direção ao gol
RBZ5
gol adversário e: (a) é gol; (b) o goleiro realiza uma defesa; (c) a
Continuar com a posse bola toca os
Quando em uma das traves
jogadores da ou no travessão.
equipe realizam passes positivos
EQP4
de bola (permitindo a manutenção da posse de bola).
Sofrer falta, ganhar Quando o jogo é interrompido (falta, escanteio ou lateral) mas a
Ofensiva EQPF3
lateral ou escanteio posse de bola CONTINUA a ser da equipe que estava atacando.
Cometer falta, ceder Quando o jogo é interrompido (falta, escanteio ou lateral) e
ADVF2
lateral ou escanteio MUDA a posse de bola. Passa a ser da equipe que estava
defendendo.
Quando a posse de bola passa a ser da outra equipe (estava
Perder a posse de bola ADV1
Resultado defendendo).
da Ação Recuperar a posse de
Quando a equipe consegue recuperar a posse de bola. EQP5
bola
Sofrer falta, ganhar Quando o jogo é interrompido (falta, escanteio ou lateral) e
EQPF4
lateral ou escanteio MUDA a posse de bola. Passa a ser da equipe que estava
Cometer falta, ceder defendendo.
Quando o jogo é interrompido (falta, escanteio ou lateral) mas a
Defensiva ADVF3
lateral ou escanteio posse de bola CONTINUA a ser da equipe que estava atacando.
Continuar sem a posse
Quando a equipe não consegue recuperar a posse de bola. ADV2
de bola
Sofrer finalização ao Quando a equipe sofre uma finalização no próprio gol e: (a) é
gol; (b) o goleiro realiza uma defesa; (c) a bola toca em uma das RBZ1
gol
traves ou no travessão.

44 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Quadro 2 - Referências espaciais, ações táticas e indicadores de
performanece dos princípios táticos da grelha de
observação do teste GR3-3GR
Penetração
Referências Espaciais
Progressões do portador da bola em direção à baliza ou à linha de fundo adversária.
Ações Táticas
Condução de bola pelo espaço disponível (com ou sem defensores a frente).
Realização de dribles que colocam efetivamente a equipe em superioridade numérica em ações de ataque.
Condução de bola em direção à linha de fundo ou ao gol adversário.
Realização de dribles que propiciam condições favoráveis a um passe/assistência para o companheiro dar sequência ao jogo.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Propiciar remate, passe ou drible
Mal sucedida (-)
a-Permite o desarme adversário / b-Dirigir jogo espaço ocupado
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do portador da bola propicia um remate, um passe ou um drible (ofensivo).
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do portador da bola permite ao adversário desarmá-lo.
b-Quando o portador da bola se dirige para um espaço já ocupado por outros jogadores, dificultando a acção ofensiva da própria equipa.
Cobertura Ofensiva
Referências Espaciais
Apoios ofensivos realizados:
-Dentro do centro de jogo;
-Fora do centro de jogo, na região demarcada pelo limite da metade menos ofensiva do centro de jogo e o corredor subsequente do sentido de
jogo.
Ações Táticas
Oferecimento constante de linhas de passe ao portador da bola.
Apoios próximos ao portador da bola que permitem manter a posse de bola.
Realização de tabelas e/ou triangulações com o portador da bola. Apoios próximos ao portador da bola que permitem superioridade numérica
ofensiva
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Garantir linha de passe / b-Reduzir pressão portador / c-Permite possibilidade de remate
Mal sucedida (-)
a-Não garantir linha de passe / b-Não reduzir pressão portador / c-Não permite possibilidade de remate
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador garante linha de passe ao portador da bola.
b-Quando a movimentação do jogador propicia a redução do número de adversários sobre o portador da bola.
c-Quando a movimentação do jogador permite possibilidade de remate, a partir de ações originadas na linha de fundo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não garante linha de passe ao portador da bola.
b-Quando a movimentação do jogador não propicia a redução do número de adversários sobre o portador da bola.
c-Quando a movimentação do jogador não permite possibilidade de remate, a partir de ações originadas na linha de fundo.
Mobilidade
Referências Espaciais
Movimentações executadas entre a linha do último defensor e a baliza ou a linha de fundo adversária.
Ações Táticas
Movimentações em profundidade ou largura "nas costas" do último defensor em direção a linha de fundo ou ao gol adversário.
Movimentações em profundidade ou largura "nas costas" do último defensor que visem ganho de espaço ofensivo.
Movimentações em profundidade ou largura "nas costas" do último defensor que propiciem receber a bola.
Movimentações em profundidade ou largura "nas costas" do último defensor que visem a criação de oportunidades para a sequência ofensiva
do jogo
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Possibilitar passe profundidade para colega / b- Amplia EJE nas costas da defesa
Mal sucedida (-)
a-Não possibilitar passe profundidade para colega / b-Jogador fica em impedimento
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador cria ao portador da bola possibilidade de passe em profundidade para um colega em ações de ruptura
em relação à defesa adversária.
b-Quando a movimentação do jogador possibilita aumento do espaço de jogo efetivo da equipe nas costas da defesa.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não cria ao portador da bola possibilidade de passe em profundidade para um colega em ações de
ruptura em relação à defesa adversária.
b-Quando a movimentação do jogador o coloca em situação de impedimento.
continua...

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 45


Quadro 2- Continuação
Espaço
Referências Espaciais
Movimentações realizadas fora do centro de jogo, entre a linha da bola e a linha do último defensor.
Movimentações do portador da bola realizadas em direção à linha lateral ou à própria baliza.
Ações Táticas
Busca por espaços não ocupados pelos adversários no campo de jogo.
Movimentações de ampliação do espaço de jogo que proporcionam superioridade numérica no ataque.
Drible ou condução para trás/linha lateral que permitem diminuir a pressão adversária sobre a bola.
Movimentações que permitem (re)iniciar o processo ofensivo em zonas distantes daquela onde houve a recuperação da posse de bola.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Ampliar largura EJE / b-Ampliar profundidade EJE / c-Criar espaços para movimentação dos colegas de equipe / d-Ir para pontos menor
pressão / e-Diminuir pressão (lado ou atrás do CJ) / f-Manter a posse de bola
Mal sucedida (-)
a-Não ampliar largura EJE / b-Não ampliar profundidade EJE c-Não criar espaços para movi-mentação dos colegas de equi-pe / d-Não ir
p/ pontos de menor pressão / e-Não diminuir pressão (lado ou atrás do CJ) / f-Permitir o desarme adversário
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador propicia ampliação do EJE em largura da sua equipe (amplia o limite transversal do espaço de jogo
efetivo – EJE).
b-Quando a movimentação do jogador propicia ampliação do espaço de jogo em profundidade até a linha do último jogador de defesa
(amplia o limite longitudinal do espaço de jogo efectivo – EJE).
c-Quando a movimentação do jogador (mesmo para zona de maior pressão) propicia criação de espaços para a movimentação de outros
jogadores da sua equipe ou um passe de sucesso (o jogador recebe a bola).
d-Quando a movimentação do jogador lhe permite posicionar em pontos de menor pressão adversária (dentro do EJE).
e-Quando a movimentação do portador da bola (deslocamentos laterais ou para trás) propicia redução de pressão sobre a bola e assegura
condições para dar sequência à acção ofensiva.
f-Quando a movimentação do portador da bola (deslocamentos laterais ou para trás) permite manter a equipe manter a posse de bola.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não propicia ampliação do EJE em largura da sua equipe.
b-Quando a movimentação do jogador não propicia ampliação do espaço de jogo em profundidade até a linha do último jogador de defesa
(amplia o limite longitudinal do espaço de jogo efectivo – EJE).
c-Quando a movimentação do jogador (mesmo para zona de maior pressão) não propicia criação de espaços para a movimentação de
outros jogadores da sua equipe ou um passe de sucesso (o jogador recebe a bola).
d-Quando a movimentação do jogador não lhe permite posicionar em pontos de menor pressão adversária (dentro do EJE).
e-Quando a movimentação do jogador (deslocamentos laterais ou para trás) não propicia redução de pressão sobre a bola nem assegura
condições para dar sequência à ação ofensiva.
f-Quando a movimentação do portador da bola permite ao adversário desarmá-lo.
Unidade Ofensiva
Referências Espaciais
Movimentações de apoio ofensivo realizadas fora do centro de jogo, tendo como referência:
-O limite da metade menos ofensiva do centro de jogo e a própria baliza;
-O limite da metade menos ofensiva do centro de jogo e a linha lateral oposta ao sentido de jogo;
-O corredor oposto ao de localização da metade menos ofensiva do centro de jogo.
Ações Táticas
Avanço da última linha de defesa, permitindo que a equipe jogue em bloco.
Saída da linha de defesa dos setores defensivos e aproximação da mesma à linha de meio campo.
Avanço dos jogadores de defesa, propiciando que mais jogadores participem das ações no centro de jogo.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Aproximar equipe do CJ / b-Participar ação subsequente / c-Contribuir atrás linha da bola / d-Auxiliar equipe avançar ao MCO
Mal sucedida (-)
a-Não aproximar equipe do CJ / b-Não participar ação subsequente / c-Não contribuir atrás linha da bola / d-Não auxiliar equipe avançar
ao MCO
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador permite que outros jogadores participem ou se aproximem do centro de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador lhe faculta a possibilidade de participar de uma ação ofensiva/defensiva subsequente.
c- Quando a movimentação do jogador contribui para a realização de ações ofensivas da equipa atrás da linha da bola.
d- Quando a movimentação do jogador auxilia no avanço da equipe para o meio campo ofensivo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não permite que outros jogadores participem ou se aproximem do centro de jogo.
b-Quando a movimentação do jogador não lhe faculta a possibilidade participar de uma ação ofensiva/defensiva subsequente.
c- Quando a movimentação do jogador não contribui para a realização de ações ofensivas da equipa atrás da linha da bola.
d- Quando a movimentação do jogador não auxilia no avanço da equipe para o meio campo ofensivo.
continua...

46 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Quadro 2- Continuação
Contenção
Referências Espaciais
Ações de oposição do jogador de defesa ao portador da bola, realizadas entre a bola e a baliza a defender.
Ações Táticas
Marcação ao portador da bola impedindo a ação de penetração.
Ação de "proteção da bola" que impede o adversário de alcançá-la.
Realização da "dobra" defensiva ao portador da bola.
Realização de faltas técnicas para conter a progressão da equipe adversária, quando o sistema defensivo está desorganizado.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Impedir o remate / b-Impedir progressão / c-Retardar ação oponente / d-Direcionar p/ zonas menor risco
Mal sucedida (-)
a-Não impedir o remate / b-Não impedir progressão / c-Não retardar a ação oponente / d-Não direcionar p/ zonas de menor risco
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação/oposição do jogador impede que o portador da bola remate à baliza.
b-Quando a movimentação do jogador impede que o portador da bola progrida em direção à baliza
c-Quando a movimentação do jogador retarda a ação ofensiva adversária, permitindo que a sua equipe se organize defensivamente.
d-Quando a movimentação do jogador direciona o portador da bola para zonas de menor risco.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação/oposição do jogador não permite impedir o remate do portador da bola à baliza.
b- Quando a movimentação/oposição do jogador não permite conter a progressão do portador da bola em direção à baliza.
c- Quando a movimentação do jogador não permite retardar a acção ofensiva adversária, não permitindo que a sua equipe se organize
defensivamente.
d- Quando a movimentação do jogador não permite direcionar o portador da bola para zonas de menor risco.
Cobertura Defensiva
Referências Espaciais
Apoio defensivo ao jogador de contenção realizado dentro da metade mais ofensiva do centro de jogo.
Ações Táticas
Ação de cobertura ao jogador de contenção.
Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe para jogadores adversários.
Marcação de adversário(s) que pode(m) receber a bola em situações vantajosas para o ataque.
Posicionamento adequado que permite marcar o portador da bola quando o jogador de contenção for driblado.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Posicionar entre contenção ou a baliza / b-Possibilitar 2ª contenção / c-Obstruir linhas de passe
Mal sucedida (-)
a-Não posicionar entre contenção ou a baliza / b-Não possibilitar 2ª contenção / c-Não obstruir linhas de passe
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador permite um posicionamento entre o jogador que realiza a contenção e a baliza na metade mais
ofensiva do centro de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador permite que ele seja um novo obstáculo ao portador da bola, caso o jogador que realiza a contenção
seja ultrapassado.
c- Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não permite um posicionamento entre o jogador que realiza a contenção e a baliza na metade mais
ofensiva do centro de jogo.
b- Quando a movimentação do jogador não permite que ele seja um novo obstáculo ao portador da bola, caso o jogador que realiza a
contenção seja ultrapassado.
c- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário.

continua...

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 47


Quadro 2- Continuação

Equilíbrio
Referências Espaciais
Movimentações de estabilidade na relação de oposição realizadas:
-Na(s) zona(s) lateral(is) à zona de localização da metade mais ofensiva do centro de jogo, delimitada pela linha da bola e o setor
subsequente;
-Na metade menos ofensiva do centro de jogo.
Ações Táticas
Movimentações que permitem assegurar estabilidade defensiva.
Movimentação de recuperação defensiva feita por trás do portador da bola.
Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe longo.
Marcação de jogadores adversários que apoiam as ações ofensivas do portador da bola.
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Estabilizar zonas laterais CJ / b-Obstruir linhas de passe / c-Estabilizar M-OCJ / d-Interferir no portador M-OCJ / e-Obstruir linhas de
passe
Mal sucedida (-)
a-Não estabilizar zonas laterais CJ / b-Não obstruir linhas de passe / c-Não estabilizar M-OCJ / d-Não interferir portador M-OCJ / e-Não
obstruir linhas de passe
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a-Quando a movimentação do jogador permite criar estabilidade defensiva nas zonas laterais ao centro do jogo (através da marcação de
adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe), impedindo a progressão ofensiva adversária.
b-Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário localizado nas
zonas laterais ao centro de jogo.
c-Quando a movimentação do jogador permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição na metade menos ofensiva do centro
do jogo (através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d-Quando a movimentação de recuperação defensiva do jogador (metade menos ofensiva do centro de jogo) interfere na ação do portador
da bola (criando dificuldades para a sequência ofensiva adversária ou facilitando a recuperação da bola por parte da sua equipe).
e-Quando a movimentação do jogador permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário dentro da
metade menos ofensiva do centro de jogo.
Mal sucedida (-)
a-Quando a movimentação do jogador não permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição nas zonas laterais ao centro do
jogo (através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe), impedindo a progressão ofensiva
adversária.
b- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário
localizado nas zonas laterais ao centro de jogo.
c-Quando a movimentação do jogador não permite criar estabilidade defensiva nas relações de oposição na metade menos ofensiva do
centro do jogo (através da marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d- Quando a movimentação de recuperação defensiva do jogador (metade menos ofensiva do centro de jogo) não interfere na ação do
portador da bola (dificultando a recuperação da bola por parte da sua equipe).
e- Quando a movimentação do jogador não permite obstruir ou interceptar linhas de passe do portador da bola a outro adversário dentro da
metade menos ofensiva do centro de jogo.
Concentração
Referências Espaciais
Movimentações de reforço defensivo na zona do campo onde se encontra a metade mais ofensiva do centro do jogo.
Ações Táticas
Movimentação que propicia reforço defensivo na zona de maior perigo para a equipe.
Marcação de jogadores adversários que buscam aumentar o espaço de jogo ofensivo.
Movimentações que propiciam aumento do número de jogadores entre a bola e o gol.
Movimentações que condicionam as ações de ataque da equipe adversária para as extremidades do campo de jogo
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Diminuir profundidade adversária / b-Direcionar zonas de menor risco
Mal sucedida (-)
a-Não diminuir profundidade adversária / b-Não direcionar zonas de menor risco
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária (ou EJE adversário) na sua
profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador auxilia a equipe a direcionar as ações ofensivas adversárias ou o portador da bola para zonas do
campo de jogo que representam menor perigo à baliza.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária (ou EJE adversário) na sua
profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador não auxilia a equipe a direcionar as ações ofensivas adversárias ou o portador da bola para zonas
do campo de jogo que representam menor perigo à baliza.

continua...

48 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Quadro 2 - Continuação
Unidade Defensiva
Referências Espaciais
Movimentações de apoio defensivo realizadas:
-Fora do centro do jogo, tendo como referência: a linha da bola e a baliza adversária;
-No(s) setor(es) subsequente(s) à zona de localização da metade mais ofensiva do centro do jogo e a baliza a defender;
-No corredor oposto à zona de localização da metade mais ofensiva do centro do jogo.
Ações Táticas
Organização dos posicionamentos após perda da posse de bola, com o objetivo de recriar as linhas de defesa.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Compactação defensiva da equipe na zona que representa perigo.
Movimentação dos jogadores que compõem as linhas transversais de defesa de forma a reduzir o campo de jogo do adversário (utilizando
o recurso da lei do impedimento).
Indicadores de Performance
Bem sucedida (+)
a-Diminuir amplitude adversária / b-(Re)equilibrar a organização defensiva / c-Contribuir atrás linha da bola d-Aproximar equipe do CJ /
e-Participar ação subsequente
Mal sucedida (-)
a-Não diminuir amplitude adversária / b-Não (re)equilibrar a organização defensiva / c-Não contribuir atrás linha da bola
d-Não aproximar equipe do CJ e-Não participar ação subsequente
Descrição dos Indicadores
Bem sucedida (+)
a- Quando a movimentação do jogador auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária na sua largura e/ou profundidade.
b- Equilibrar ou reequilibrar constantemente a repartição de forças da organização defensiva consoante as situações momentâneas de jogo
(setor subsequente à M+OCJ).
c- Quando a movimentação do jogador contribui para a realização de ações defensivas da equipe atrás da linha da bola (através da
marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d- Quando a movimentação do jogador propicia que outro jogador de defesa participe das ações no centro do jogo.
e- Quando a movimentação do jogador lhe faculta a possibilidade de participar de uma ação defensiva/ofensiva subsequente.
Mal sucedida (-)
a- Quando a movimentação do jogador não auxilia a equipe a diminuir a amplitude ofensiva adversária na sua largura e/ou profundidade.
b- Quando a movimentação do jogador não permite equilibrar ou reequilibrar constantemente a repartição de forças da organização
defensiva consoante as situações momentâneas de jogo (setor subsequente à M+OCJ).
c- Quando a movimentação do jogador não contribui para a realização de ações defensivas da equipe atrás da linha da bola (através da
marcação de adversários que podem receber a bola ou da obstrução de linhas de passe).
d- Quando a movimentação do jogador não propicia que outro jogador de defesa participe nas ações que ocorrem no centro do jogo.
e- Quando a movimentação do jogador não lhe faculta a possibilidade participar de uma ação defensiva/ofensiva subsequente.

Avaliação do conteúdo da grelha de observação do teste GR3-3GR

O conteúdo da grelha foi avaliado por um painel de sete peritos,


com o objetivo de assegurar que as variáveis incluídas no teste
correspondessem aos aspectos fundamentais do jogo na sua totalidade
e que as suas categorias fossem exaustivas e mutuamente exclusivas
(KERLINGER, 1986). A seleção desses peritos foi baseada em quatro
critérios relacionados às experiências prática e acadêmica. Para
cumprir tais requisitos, os peritos deveriam ter trabalhado em
comissões técnicas nas categorias de base e em equipes profissionais.
Adicionalmente, deveriam possuir curso de treinadores, mínimo nível

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 49


II, e ter grau acadêmico na área da Educação Física, com
especialização em futebol.
A todos os peritos foi concedido tempo necessário para analisar
as ações e fazer as sugestões relativas às definições em referência à
objetividade, inteligibilidade e clareza de todas as categorias e variáveis
da grelha de observação. O responsável pelo estudo se reuniu com os
peritos para explicar os objetivos do trabalho, esclarecer dúvidas e
registrar todas as sugestões. Para auxiliar o processo de avaliação
dos peritos, foram apresentadas cenas de jogo correspondentes às
variáveis da grelha.
Sempre que houve discordância entre os peritos sobre a
definição, a referência espacial ou a sobreposição de variáveis da grelha,
procedeu-se à revisão, à modificação e, em última instância, à
supressão da variável. Os peritos apresentaram 19 sugestões ao
responsável pela pesquisa, sendo todas relacionadas com o
aprimoramento do texto explicativo dos princípios e dos indicadores.
Todas as sugestões apresentadas pelos peritos foram aceitas e
incorporadas ao instrumento.

Familiarização com a grelha de observação do teste GR3-3GR

Antes de iniciar o período de treinamento propriamente dito, os


observadores tiveram explicações a respeito do teste e da grelha. Após
as explicações foi proporcionado um período de familiarização com a
grelha de observação. O objetivo desse procedimento foi obter
padronização do entendimento dos observadores sobre os conceitos
contidos na grelha de observação. Para isso, foram avaliadas 161 ações
táticas desempenhadas por jogadores de três categorias (sub-11, sub-
13 e sub-15). Esse número de ações representa 13,08% do total de
ações avaliadas e atende às recomendações literárias que sugerem
reavaliação de pelo menos 10% (TABACHNICK; FIDELL, 1989).
Durante esse período cada observador registrou, a partir da sua
análise, as dificuldades que experimentou no entendimento da grelha
de observação e no respectivo preenchimento quando da análise do
jogo. Após procederem às suas avaliações em separado, todos os
observadores se reuniram para expor as dificuldades e as limitações
que tiveram em relação ao registro e às referências contidas na grelha.
Durante todo o processo, o responsável pela pesquisa esteve presente
e moderou a apresentação das discussões e das dúvidas. Nesse

50 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


procedimento, todas as dúvidas foram dissipadas antes de se iniciar a
fase de treinamento. Isso assegurou um entendimento semelhante entre
todos os observadores acerca do conteúdo da grelha de observação e
da sua aplicação.

Precisão das medidas da grelha de observação do teste GR3-3GR

A precisão das medidas da grelha de observação do teste GR3-


3GR foi verificada durante o período de treinamento dos observadores,
sendo averiguada em relação a três pontos: estabilidade das avaliações
no decorrer do tempo; congruência das avaliações dos observadores
(padrão ouro); e estabilidade das avaliações no que se refere às
variáveis da fase ofensiva e defensiva. A Figura 1 mostra os objetivos e
as informações relativas ao número de observadores, de jogadores
avaliados, de categorias estudadas e de ações táticas avaliadas.

Figura 1 - Objetivos e informações relativas aos momentos de avaliação


da precisão das medidas da grelha de observação do teste
GR3-3GR.

Treinamento dos observadores

Fiabilidade das avaliações em função do tempo


Para determinar a fiabilidade das avaliações dos observadores,
o método teste-reteste foi utilizado (BAUMGARTNER; JACKSON, 1991).
A literatura tem recomendado um espaço de tempo entre 7 e 30 dias
para o teste-reteste (HILL; HILL, 2002) e de 10% de ações para o cálculo
da fiabilidade (TABACHNICK; FIDELL, 1989). Neste estudo optou-se
por realizar o teste-reteste em quatro diferentes momentos no tempo
(1, 7, 15 e 30 dias) e por reavaliar todas as ações no reteste. A opção
por esse desenho procedimental justifica-se pela possibilidade de

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 51


acompanhar o grau de entendimento dos observadores em relação às
variáveis da grelha de observação em função do tempo. Além disso,
esse procedimento permitiu verificar se o espaçamento do tempo entre
o teste e o reteste dos observadores exercia alguma interferência na
fiabilidade das suas avaliações. Além disso, os observadores
mostraram-se interessados em conhecer todas as avaliações das
ações táticas em dois momentos, uma vez que a sua quantidade de
ações táticas a serem avaliadas não demandaria muito tempo para
uma nova avaliação. A Tabela 1 incorpora informações relativas ao
número de observadores, de jogadores avaliados, de categorias e de
ações táticas avaliadas.
Para verificar a fiabilidade intra e interobservadores, recorreu-
se ao coeficiente de Kappa de Cohen (USABIAGA et al., 2004; HOPKINS,
2008) e utilizou-se o software SPSS (Statistical Package for Social
Science) for Windows® (versão 17.0). Neste estudo, seguimos a
classificação apresentada por Landis e Koch (1977), indicando as
seguintes classificações para os valores de fiabilidade: 0,00 - pobre;
0,01 a 0,20 - leve; 0,21 a 0,40 - regular; 0,41 a 0,60 - moderada; 0,61 a
0,80 - substancial; e 0,81 a 1,00 - perfeita.

Tabela 1- Informações relativas ao número de observadores, de


jogadores avaliados, de categorias estudadas e de ações
táticas avaliadas em função do tempo Fiabilidade 1 dia
Fiabilidade 7 dias
Fiabilidade 15 dias
Fiabilidade 30 dias

*1-sub-11; 2-sub-13; 3-sub-15; 4-sub-17; 5 sub-20.

As Tabelas 2 e 3 mostram os valores de fiabilidade intra e


interobservadores, respectivamente. Verifica-se que todos os
observadores tiveram valores de fiabilidade classificados como
substanciais ou perfeitos. Não houve um “padrão” de acréscimo ou de
queda nos valores de fiabilidade das avaliações à medida que houve
número de tempo entre o teste e o reteste.

52 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Tabela 2 - Valores de fiabilidade intraobservador em relação ao tempo
Observadores
1 2 3
Fiabilidade 1 dia 0,85 (0,02) 0,89 (0,03) 0,88 (0,03)
Fiabilidade 7 dias 0,91 (0,01) 0,93 (0,01) 0,93 (0,01)
Fiabilidade 15 dias 0,89 (0,02) 0,67 (0,03) 0,91 (0,01)
Fiabilidade 30 dias 0,88 (0,03) 0,95 (0,02) 0,76 (0,02)

Tabela 3 - Valores de fiabilidade interobservadores em relação ao tempo


Observadores
Aval. 1 2 3
1 1,00 0,70 (0,03) 0,72 (0,03)
Fiabilidade 1 dia 2 0,70 (0,03) 1,00 0,78 (0,03)
3 0,72 (0,03) 0,78 (0,03) 1,00
1 1,00 0,82 (0,03) 0,79 (0,03)
Fiabilidade 7 dias 2 0,82 (0,03) 1,00 0,83 (0,02)
3 0,79 (0,03) 0,83 (0,02) 1,00
1 1,00 0,82 (0,02) 0,82 (0,01)
Fiabilidade 15 dias 2 0,82 (0,02) 1,00 0,75 (0,02)
3 0,82 (0,01) 0,75 (0,02) 1,00
1 1,00 0,86 (0,01) 0,83 (0,01)
Fiabilidade 30 dias 2 0,86 (0,01) 1,00 0,77 (0,02)
3 0,83 (0,01) 0,77 (0,02) 1,00

Congruência das avaliações dos observadores: padrão ouro


Após realizarem as avaliações em função do tempo, foi solicitado
aos três observadores que se reunissem para discutir as discordâncias
entre as suas avaliações na “fiabilidade 15 dias” e na “fiabilidade 30
dias”. A opção por essas duas amostras pautou-se na quantidade de
categorias e jogadores avaliados. Essa análise realizada em conjunto
foi denominada de “padrão ouro”.
Do total de 343 ações táticas avaliadas na “fiabilidade 15 dias”,
35 apresentavam discordância entre dois observadores e seis entre
três observadores. Das 41 ações, 22 (53,65%) estavam relacionadas
aos princípios defensivos e 19 (46,34%) aos princípios ofensivos. Da
“fiabilidade 30 dias”, observou-se que, do total de 375 ações táticas, 42

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 53


apresentavam discordância entre dois observadores e oito entre três
observadores. Das 50 ações, 34 (68%) estavam relacionadas aos
princípios defensivos e 16 (32%) aos princípios ofensivos.
A Tabela 4 mostra os valores de fiabilidade que foram
encontrados entre o “padrão ouro” e os valores de fiabilidade que os
observadores tiveram na “fiabilidade 15 dias” e na “fiabilidade 30 dias”.
Observa-se que todos os valores de fiabilidade podem ser classificados
como substanciais ou perfeitos.

Tabela 4 - Valores de fiabilidade dos observadores em relação ao padrão


ouro

Observadores
1 2 3
Padrão Ouro15 dias 0,95(0,01) 0,89(0,01) 0,86(0,01)
Padrão Ouro 30 dias 0,83(0,01) 0,85(0,01) 0,78(0,02)

Fiabilidade das avaliações em relação às fases de jogo


O último procedimento de controle da qualidade da informação
consistiu em aferir o equilíbrio entre as avaliações dos observadores
no que diz respeito às variáveis das fases ofensiva e defensiva. A
realização desse passo justifica-se pela percepção dos observadores,
que durante o treinamento apontaram denotar mais facilidade em
identificar nos jogos as variáveis relacionadas à fase ofensiva do que
as variáveis relacionadas à fase defensiva. Como forma de verificar a
precisão dessa percepção, optou-se por utilizar a amostra da
“Fiabilidade 30 dias”. A opção por essa amostra baseou-se no fato de
as análises de fiabilidade dessa amostra terem apresentado menor
discordância entre os observadores.
A Tabela 5 mostra os valores de fiabilidade de cada observador
em função do jogo e das suas fases. Observa-se que os valores de
fiabilidade na fase defensiva são ligeiramente inferiores aos da fase
ofensiva, enquanto todos os valores das duas fases possuem a
classificação substancial ou perfeita. Esses resultados reforçam a
percepção que os observadores tinham, inicialmente, sobre a facilidade
em identificar as ações dos princípios táticos da fase ofensiva nos jogos.
Entretanto, como essa diferença não se mostra muito acentuada para

54 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


os valores de fiabilidade obtidos nas duas fases, pode-se afirmar que
existe um equilíbrio na contribuição desses dois valores para o valor
global da fiabilidade.

Tabela 5 - Valores de fiabilidade intraobservador em relação às fases


de jogo
Observadores Ofensiva Nº Ações Defensiva Nº Ações Jogo Nº Ações
1 0,90 (0,03) 168 0,84 (0,04) 207 0,88 (0,03) 375
2 0,96 (0,02) 168 0,92 (0,03) 207 0,95 (0,02) 375
3 0,80(0,04) 168 0,72(0,04) 207 0,76 (0,02) 375

A Tabela 6 mostra os valores de fiabilidade interobservadores


para o jogo e as suas fases. Ao analisá-la, constata-se que os valores
de fiabilidade dos observadores 1 e 2 são superiores para a fase
defensiva e que apenas o observador 3 apresentou valor superior na
fase ofensiva. Esses resultados mostram ser possível observar com
consistência e objetividade tanto as variáveis da fase defensiva quanto
as da fase ofensiva que compõem a grelha de observação do teste
GR3-3GR.

Tabela 6 - Valores de fiabilidade interobservadores em relação ao jogo


e às suas fases
Fases Observadores 1 2 3
1 1,00 0,62 (0,044) 0,81 (0,035)
Ofensiva 2 0,62 (0,044) 1,00 0,62 (0,044)
3 0,81 (0,035) 0,62 (0,044) 1,00
1 1,00 0,77 (0,036) 0,68 (0,041)
Defensiva 2 0,77 (0,036) 1,00 0,59 (0,044)
3 0,68 (0,041) 0,59 (0,044) 1,00
1 1,00 0,86 (0,01) 0,83 (0,01)
Jogo 2 0,86 (0,01) 1,00 0,77 (0,02)
3 0,83 (0,01) 0,77 (0,02) 1,00

Considerações finais

A construção do teste GR3-3GR foi pautada pela necessidade


de apresentar um instrumento que permitisse avaliar o desempenho

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do jogador de futebol tendo por base os aspectos táticos, que a literatura
apresenta como aspectos nucleares dos jogos desportivos coletivos
(TEISSIE, 1969; WORTHINGTON, 1974; HAINAUT; BENOIT, 1979;
MAHLO, 1980; QUEIROZ, 1983; TEODORESCU, 1984; GARGANTA;
PINTO, 1994; CASTELO, 1996).
Com base na avaliação do comportamento tático do jogador
em função da gestão do espaço de jogo, as variáveis da grelha de
observação do teste foram concebidas com o intuito de atender às
sugestões apresentadas em alguns estudos (FRENCH; THOMAS,
1987; TURNER; MARTINEK, 1992; OSLIN et al., 1998; GRÉHAIGNE et
al., 2001), que apontam para a necessidade de avaliar diferentes níveis
de jogo (VEAL, 1993; MEMMERT; HARVEY, 2008), bem como as ações
sem a posse de bola (MITCHELL et al., 1995; GARGANTA, 1997;
GRECO et al., 2004).
Os procedimentos de validação da grelha de observação do
teste GR3-3GR com relação às fases utilizadas neste estudo: “avaliação
do conteúdo da grelha de observação”, “familiarização à grelha de
observação” e “precisão das medidas da grelha de observação”
correspondem aos passos sugeridos pela literatura (CRONBACH, 1988;
VICKERS, 1990; HOPKINS, 2000; ROWE; MAHAR, 2006) e aplicados
em outros estudos (OSLIN et al., 1998; TENGA et al., 2009), tendo
evidenciado robustez na validação de construção e de conteúdo do
instrumento em questão.
Os resultados de fiabilidade das avaliações dos observadores
do presente estudo mostram valores classificados pela literatura como
substanciais e perfeitos, refletindo a precisão da medida das variáveis
presentes na grelha de observação do teste GR3-3GR (LANDIS; KOCH,
1977; HOPKINS; et al., 1999; HOPKINS, 2008). Esse resultado permite
afirmar que observadores treinados podem observar e avaliar as ações
táticas desempenhadas pelos jogadores durante o jogo de futebol com
base nessa grelha.
A grelha de observação do teste GR3-3GR pode também ser
utilizada para avaliar os comportamentos dos jogadores durante o
processo de ensino e treino, servindo como apoio ou instrumento para
caracterizar a autenticidade dos procedimentos. Nesse sentido, a
aplicação do teste pode auxiliar na obtenção de informações
fundamentais na orientação metodológica do processo de ensino e
treino, permitindo: a planificação e a organização do treino com maior

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especificidade, atendendo à natureza das tarefas, à estrutura das
cargas, às zonas de intervenção predominantes e às funções
prevalentes; a regulação da aprendizagem dos comportamentos
técnicos e táticos de acordo com a estrutura do movimento, o modelo
e a concepção de jogo; e a interpretação da organização das equipes
e das ações que concorrem para a qualidade do jogo (GRÉHAIGNE et
al., 1997; GARGANTA, 1998, 2001) e, como consequência, também
poderá induzir a elevação do nível de jogo e a evolução da modalidade
(ANGUERA, 1999; GARGANTA, 1999).
Tendo em vista que as avaliações das ações táticas
desempenhadas pelos jogadores de futebol e avaliadas com base na
grelha de observação do teste GR3-3GR se revelaram precisas entre
os observadores, é plausível afirmar que esse teste constitui um
instrumento fiável para a avaliação do comportamento tático dos
jogadores de futebol em situações reduzidas.

ABSTRACT

Tactical evaluation of performance in football: design and


development of grid observation test “GR3-3GR”

The players’ performance evaluation is increasing as researches


themes of the sport games domain. However, the tactical behavior has
been superficially focused in the most of the researches which describes
and evaluates player’s performance. Because of that, specialists are
searching to develop instruments which allow to describe the most
important moments of a game and, at the same time, evaluate the
behavior of players and crews. Specifically in soccer context, the difficulty
to create an instrument with this characteristics is due the number and
the type of variables which interact during a game. At the present article,
it has been mint to explain how was developed the observation grid to
an evaluation instrument of the tactical performance, the GR3-3GR test,
which makes possible to evaluate tactical actions made by each player,
with and without the ball, according to ten fundamental tactical principles
of soccer game, regarding action localization in game field and it’s final
result.
Keywords: soccer, tactic, evaluation, performance, tactical principles.

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009 57


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Endereço para correspondência:


Centro de Estudos em Cognição e Ação (CECA)
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG
Av. Presidente Antônio Carlos, 6627– Pampulha
Cep: 31.310-250 - Belo Horizonte – MG
Fone/Fax: 0XX (31) 3499-2325
e-mail: israelteoldo@gmail.com

64 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 17, n. 2, p. 36-64, 2009


Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2010, 9 (2): 41-61

ENSINO-APRENDIZAGEM E TREINAMENTO DOS


COMPORTAMENTOS TÁTICO-TÉCNICOS NO FUTEBOL
Israel Costa1,2,3
Pablo Greco2
Júlio Garganta3
Varley Costa1,2
Isabel Mesquita3
1
Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG-Brasil
2
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG-Brasil
3
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal- Brasil

Resumo: A evolução do nível tático-técnico no Futebol passa, inevitavelmente, por


processos de ensino-aprendizagem e treinamento cada vez mais ajustados às exigências da
modalidade e às necessidades de aperfeiçoamento dos praticantes. O jogo de Futebol é algo
construído pelo Homem e, logo, dependente de valores culturais concretos. O ponto de
vista sustentado no presente artigo concebe duas vertentes complementares: ensinar a jogar
o jogo com o objetivo de transmitir valores culturais e educativos, e, paralelamente,
perseguir o propósito de provocar melhorias no desempenho. Levando em consideração
essas vertentes, neste trabalho são apresentados subsídios a propósito de aspectos táticos e
técnicos considerados estruturantes na formação dos praticantes. Para tal, foram revisados
artigos com essa temática que apresentam impacto internacional definido pelo Qualis da
Capes. Os processos de ensino-aprendizagem e treinamento aqui referenciados têm como
eixo norteador os praticantes, nomeadamente no que diz respeito as suas experiências, bem
como aos processos volitivos e de maturação. Deste modo, advoga-se que os aspectos
cognitivos inerentes ao processo de ensino-aprendizagem se revestem de significativa
importância nas fases iniciais da prática. Além disso, pressupõe-se que durante a evolução,
nas diferentes fases de rendimento, tanto o conhecimento quanto a habilidade dos
praticantes vão se desenvolvendo à medida que as experiências são adquiridas, propiciando o
aperfeiçoamento dos comportamentos técnicos e táticos inerentes ao jogo de Futebol.

Palavras-Chave: futebol, ensino-aprendizagem, treinamento, tática, técnica.

TEACHING, LEARNING AND TRAINING TACTICAL AND


TECHNICAL GAME SKILLS IN SOCCER

Abstract: Soccer evolution is carried out through more and more appropriate teaching and
training practice. Soccer game is something built by humans and, therefore, dependent on
concrete cultural values. From this point of view it is feasible to set out two congruent
intentions: to teach Soccer with the purpose to improve cultural and educative values; to
teach it with the aim of improving game performance. This essay provides information about
the technical and tactical features that are essential for teaching, learning and training Soccer.

41
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Volume 9, número 2, 2010
Israel Costa, Pablo Greco, Júlio Garganta, Varley Costa e Isabel Mesquita

To accomplish this goal, many articles with international impact defined by the Qualis/Capes
were revised. The teaching, learning and training processes mentioned in this article take into
account the player’s experiences, motivation, biologic maturation and, mainly, cognition
constraints at the early stages of practice. Furthermore, it is presumed that during the
different steps of evolution, the awareness and skills of the game player’s develop according
to the acquired experiences, contributing to the improvement of the tactical and technical
Soccer skills.

Keywords: teaching, learning, training, soccer, game skills.

INTRODUÇÃO
Com uma popularidade cada vez maior, o Futebol promove o envolvimento direto e indireto de pessoas de todas as idades,
sexos e classes sociais, suscitando práticas culturais, mobilizando recursos financeiros e a mídia. No que respeita aspectos
institucionais e de desenvolvimento do esporte, observa-se que o Futebol possibilita o estabelecimento de estreitas relações
com vários setores da organização social, como a indústria, o comércio, o turismo, as políticas públicas, os setores de
organização e promoção de esportes em diferentes locais e com diferentes níveis de rendimento (clubes, federações, comitê
olímpico nacional e internacional órgãos municipais, estaduais, regionais e federais).
No âmbito do ensino, as metodologias e o conhecimento científico, paradoxalmente ao crescimento do interesse da
sociedade por este esporte, não apresentaram um avanço que suportasse toda a gama de possibilidade das práticas. Uma
explicação para a escassez de estudos e conhecimentos foi levantada por Garganta e Pinto (1998) que apontaram como
possível causa a resistência de muitas pessoas envolvidas no Futebol em receber e produzir novos conhecimentos, partindo do
pressuposto que no Futebol tudo já foi inventado.
Porém, no âmbito metodológico do treino o Futebol ainda necessita evoluir para promover um jogo ainda mais dinâmico e
espetacular. Nesse sentido, a respectiva evolução passa, inevitavelmente, por uma melhoria no processo pedagógico de ensino
dos aspectos técnico-táticos do jogo, que no ponto de vista aqui defendido, deve ser concebido sobre duas vertentes que se
complementam: ensiná-lo com o objetivo de transmitir valores culturais e educativos, e paralelamente ensiná-lo com o
propósito de provocar melhorias no desempenho. A primeira tem a ver com a intenção do professor em transmitir aos seus
alunos, através do ensino do Futebol, aspectos culturais relacionados com o tema, como origem e desenvolvimento do jogo e,
na sua prática, os valores educativos como respeito ao colega, espírito esportivo, solidariedade, cooperação, autonomia,
conhecimento das limitações, etc. Neste contexto, as atividades desenvolvidas objetivam educar e motivar para a prática.
Paralelamente, tem-se como objetivo, apresentar ao aluno desafios que gradativamente o capacitem a superar obstáculos e a
enfrentar as dificuldades – não só na prática, bem como nas situações que a própria vida apresenta. O Futebol nesta visão se
desenvolve a partir da coordenação de vontades, dos saberes, das destrezas, das estratégias, do poder de decisão e das
habilidades táticas e técnicas, na utilização dos materiais esportivos específicos e apropriados para cada faixa etária com os
quais lida na ocupação do tempo e do lugar. Esta face reúne nos seus objetivos o ensino do jogo de uma forma global, onde
todos os alunos terão acesso às informações importantes para o seu desenvolvimento, de forma a motivá-los para o
aprendizado e para uma prática sem discriminação.
A segunda concepção que se integra gradativamente no processo educativo se desenvolve na visão de um ensino do jogo
com a intenção deliberada de propiciar ao praticante o desenvolvimento do seu potencial técnico-tático, integrando-o com os
aspectos físicos e/ou psicológicos. Esta visão de ensino busca identificar os problemas mais pertinentes presentes no jogo
elementar e os indicadores de qualidade do jogo de elevado nível, para, a partir dessas informações, sistematizar os conteúdos

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Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol

de ensino, definir os objetivos e selecionar os exercícios para concretizar as fases de ensino e treino. Nesse contexto, o
praticante, já considerado um atleta, irá participar de sessões de treino que lhe propiciem a promoção de maneira sistemática e
graduada de melhores desempenhos técnicos e táticos, melhor resposta física e maior compreensão e entendimento tático-
estratégico do jogo.
Perante a análise das tendências do jogo em apresentar diferentes características que solicitam dos jogadores a
interiorização de diferentes atitudes e comportamentos, considerando que no futebol atual é necessário prever a utilização de
diferentes comportamentos tanto individuais quanto coletivos para a solução de problemas técnico-táticos - este artigo tem
como principal objetivo apresentar subsídios a propósito da importância dos aspectos táticos e técnicos para o desempenho no
esporte, assim como identificar pontos importantes para o processo de ensino-aprendizagem e treinamento dos
comportamentos técnico e tático no Futebol, especialmente para crianças e jovens. A concepção teórico-pedagógica que
sustenta a proposta deste trabalho baseia-se nas duas vertentes já citadas: ensiná-lo com o objetivo de transmitir valores
culturais e educativos, e paralelamente ensiná-lo com o propósito de provocar melhorias de desempenho técnico-tático nos
praticantes.

EXIGÊNCIAS DO JOGO DE FUTEBOL QUE SOLICITAM ATENÇÃO NA ELABORAÇÃO DE PROCESSOS DE


ENSINO-APRENDIZAGEM E TREINAMENTO
Ao longo dos anos o Futebol evoluiu técnica e taticamente consolidando-se, assim, alterações que foram determinantes
para o seu estabelecimento em diversos setores da sociedade como o turístico, o recreativo, o comercial, o científico, etc.
Dentre as suas mais diversas definições, que compreendem o interesse de cada setor mencionado, pode-se dizer que, o
Futebol integra o conjunto dos denominados jogos esportivos coletivos (JEC) na subcategorização de jogo de invasão, devido
ao jogo ocorrer no mesmo espaço ou terreno de jogo e ter simultaneamente ações de cooperação entre colegas da equipe, e
de oposição por parte da equipe adversária (MORENO, 1994).
Os JEC possuem características similares que são também peculiaridades entre si. Por exemplo, o móbil do jogo, o terreno
marcado com linhas que delimitam o campo de jogo, uma meta a atacar e outra a defender, companheiros, adversários,
árbitros e regras de comportamento dos participantes claramente definidas. Estes aspectos constituem um sistema integrado
de vários subsistemas, influenciados e dependentes das condições em que a oposição-colaboração, pressão temporal,
adaptabilidade ao espaço, ao material (bola), cooperação e organizações táticas que determinam a aplicação de técnicas
específicas de ação que se desenvolvem em um campo no qual os acontecimentos são aleatórios. Durante o confronto as duas
equipes objetivam articular e sintonizar ações técnicas e táticas com a finalidade principal de transpassar a bola na meta do
adversário (TEODORESCU, 1984; BAYER, 1986; GRECO, 2003).
Além de possuir todos esses atributos, o Futebol também se destaca pelas características que o diferencia dos outros
esportes que compõem o conjunto dos JEC como: maior espaço de jogo, tempo reduzido de ações do jogador com a bola,
regra do impedimento que limita as ações e decisões dos jogadores que se encontram no processo ofensivo, baixa interferência
do treinador na equipe durante a partida ocasionada pela ausência de tempos técnicos e pela distância a que o mesmo se
encontra de alguns jogadores, e a estabilidade psíquica devido ao baixo número de gols na partida (BAUER; UEBERLE, 1988;
JÚLIO; ARAÚJO, 2005).
O Futebol se desenvolve em um contexto complexo para a tomada de decisão, não apenas por causa da multiplicidade de
componentes que se interagem (p.ex., jogadores, bola, árbitros, dimensões, etc.), mas também em razão das suas características
dinâmicas, da sua natureza cooperativa e de oposição simultâneas, onde as condições e situações de jogo mudam

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Israel Costa, Pablo Greco, Júlio Garganta, Varley Costa e Isabel Mesquita

constantemente ao longo do tempo. Portanto, as ações dos participantes necessitam ser continuamente geradas, recriadas e
reconstruídas através da auto-organização e interação existente entre os diferentes agentes; ou seja, é um processo que está
dependente da componente situacional (GRECO, 1998; JÚLIO; ARAÚJO, 2005; ALVES, 2007). Certamente fatores como
alternância da atenção e desenvolvimento da capacidade de antecipação se constituem em aspectos fundamentais para a
correta tomada de decisão, o que pressupõe que atividades com essas exigências estejam presentes no processo de ensino-
aprendizagem e treinamento
Cientificamente, a expressão popular “caixinha de surpresas” utilizada pelos torcedores para mencionar a imprevisibilidade
do jogo de Futebol, pode ser explicada pelo fato do jogo de Futebol se desenvolver em um meio ambiente em que prevalece
uma relação aberta. Isto é, a ação de um jogador é consequência da interação de capacidades perceptivas, processuais, táticas,
técnicas, físicas, psicológicas e de tomada de decisão, que coordenadas juntamente com todas as ações de outros jogadores da
equipe possibilitará recuperar, conservar e mover a bola para atingir o objetivo do jogo, o gol.
O êxito da ação no jogo depende, em grande escala, da qualidade e da precisão com que o participante relaciona os
diferentes intervenientes com as distintas intenções táticas necessárias considerando a atuação dos participantes, das
características próprias do momento do confronto competitivo, do nível de conhecimento e de experiências similares vividas
até o momento da ação (GARGANTA, 1997; GRECO, 1998; BUSCÀ; RIERA, 1999; GARGANTA, 2006).
Assim, o desempenho motor e o recurso técnico utilizados pelo jogador durante uma partida são condicionados pela
simultaneidade das ações técnico-táticas individuais e coletivas realizadas em congruência com as ações dos adversários. Pelo
fato de reunirem muitos fatores interdependentes, torna- se difícil executar, em todo momento, as mesmas ações de sucesso
que levam ao gol. Isto implica, na maioria das vezes, uma supremacia da defesa sobre o ataque, pois a iniciativa da decisão
sempre é mais complexa que a reação.
Para Júlio e Araújo (2005) essa supremacia pode ser explicada pelo fato da organização defensiva se beneficiar dos erros e
das ações mal elaboradas pelo sistema ofensivo adversário e também pela defesa conseguir, às vezes, ser mais eficaz em suas
ações técnico-táticas coletivas. Para eles, seria também mais fácil atingir os objetivos se as equipes fossem encorajadas a serem
menos previsíveis e mais inventivas na procura da criação de maiores dificuldades à defesa adversária.
Por esses motivos, não é difícil assistir um jogo e perceber que a equipe que se sobressaiu técnica e taticamente durante o
mesmo foi a derrotada ou a equipe que passou maior parte do tempo com a posse de bola marcou menos gols. Por vezes é
possível observar uma equipe atingir a vitória no jogo com menos posse de bola e com um único remate, simplesmente porque
aproveitou o momento de desequilíbrio ou de perturbação na organização da equipe adversária.
O Futebol atual exige um ritmo acelerado, que requer dos jogadores um empenho permanente para se tomar decisões.
Assim, observa-se que são crescentes as exigências em relação a solicitar uma maior velocidade de processamento da
informação e da execução técnica (GARGANTA, 1999; RAMOS, 2006). Para os autores citados, essa velocidade deve ser
concebida na perspectiva de interligação da percepção, da tomada de decisão e das ações motoras, de forma que se
sobrevaloriza a importância da leitura e velocidade de jogo. É necessário entendê-la com uma grandeza tática e técnica,
perceptiva e informacional. Assim, qualitativamente, a velocidade no Futebol está relacionada com o ajustamento temporal e
espacial das execuções, onde a correspondência entre a velocidade física e mental é determinante na forma de se alternar
soluções inteligentes às exigências de jogo.
Essas exigências são tão elevadas que obrigam os jogadores a observarem, processarem e avaliarem as situações, e ao
mesmo tempo elegerem a melhor solução para surpreender o adversário tanto técnica, quanto taticamente. Um lapso de
tempo nessa tomada da decisão pode comprometer todo o resultado da ação. Por exemplo, um jogador que no momento de
recepção da bola se encontra em excelente posição para finalizar ou penetrar, se demorar a tomar a decisão, mesmo que esta
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Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol

seja correta, quando a executar já não será a mais ajustada ao enquadramento particular em que momentaneamente se
encontra.
Assim, os jogadores que se destacam no seu rendimento esportivo possuem um nível de conhecimento declarativo e
processual mais organizado, capacidades perceptivas mais eficientes, bem como um reconhecimento de padrões de jogo mais
rápido e eficaz. Estes parâmetros se traduzem a partir de um conhecimento tático superior, maior capacidade de leitura da
situação de jogo e, consequentemente, de antecipação dos acontecimentos do jogo. Ou seja, existe uma relação direta entre
um melhor conhecimento das probabilidades situacionais, capacidade de decisão mais rápida e eficaz e habilidades técnicas bem
apuradas para corresponder às exigências táticas (LÁZARO; OLIVEIRA, 2002; MESQUITA; GRAÇA, 2002; SILVA;
FIGUEIREDO; BRAL et al., 2002).
Contudo, o jogador de Futebol diferenciado no plano técnico e tático é aquele que possui melhor seleção e capacidade de
conexão das informações, reorganização sensorial de controle do movimento e conhecimento específico do jogo. A união
destas características vai permitir-lhe jogar de forma mais dinâmica e eficaz, possibilitando variações na velocidade e realização
do jogo, em conformidade com os requisitos táticos e técnicos.

A TÁTICA COMO ASPECTO NUCLEAR NO FUTEBOL


A tática não deve ser entendida apenas como uma das dimensões tradicionais do jogo, mas como a dimensão unificadora
que dá sentido e lógica a todas as outras. Ela oportuniza relacionar o conjunto de normas e comportamentos que permitem
utilizar de forma ótima os próprios meios condicionais, motores e psíquicos, aproveitando os conhecimentos adquiridos em
experiências anteriores, na observação, na captação e apreciação da situação de jogo; de forma a oportunizar a decisão mais
ajustada face às regras do jogo, às condições externas, e às capacidades, linhas de conduta e forma de jogar do adversário
(KONZAG, 1991; MESQUITA; GRAÇA, 2002; DUARTE, 2006).
A tática também pode ser considerada como uma capacidade senso-cognitiva, baseada em processos psicofisiológicos de
recepção, transmissão, análise de informações, elaboração de uma resposta até a execução da ação motora, concretizada com
o emprego de uma técnica específica, na qual se reflete a ação do jogador. Nesse instante, fatores cognitivos e físicos
influenciam a detecção e utilização das informações do jogo necessárias para uma orientação adequada das ações em direção a
um determinado objetivo (SOUZA; GRECO; PAULA, 2000; JÚLIO; ARAÚJO, 2005).
No Futebol, as capacidades táticas e os processos cognitivos subjacentes à tomada de decisão são considerados requisitos
essenciais para a excelência do desempenho esportivo. Durante uma partida surgem inúmeras situações cuja frequência, ordem
cronológica e complexidade não podem ser previstas, exigindo uma elevada capacidade de adaptação e de resposta imediata
por parte dos jogadores e das equipes (TAVARES, 1993; 1994; GARGANTA, 1997; 1998; WILLIAMS; REILLY, 2000;
GARGANTA, 2001; GRECO, 2003; MCPHERSON; KERNODLE, 2003; TAVARES; GRECO; GARGANTA, 2006).
Coletivamente poderão ser eficazes se a organização da equipe permitir o controle do jogo, manutenção da posse de bola,
variações na circulação da bola, alterações de ritmo, do tipo de passe e de táticas que propiciem romper o equilíbrio da equipe
adversária para se chegar mais facilmente ao gol (RIOS; MESQUITA, 2004; JÚLIO; ARAÚJO, 2005).
Assim, o comportamento dinâmico de uma equipe de Futebol é mais do que a soma de variáveis quantitativas e qualitativas
dos seus integrantes, é um processo de coordenação intra e inter pessoal altamente relevante para a compreensão da eficácia e
da dinâmica da equipe no jogo. Esses comportamentos, além de serem aprendidos incidentalmente (à revelia, sem saber que se
está aprendendo, nos jogos/brincadeiras de rua), também são aprendidos, de forma organizada e eficaz, nos processos de
ensino-aprendizagem reflexivos, onde as regras de estruturação do jogo estão relacionadas com a lógica da atividade,

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nomeadamente com a dimensão da área de jogo, com a repartição dos jogadores no terreno, com a distribuição de papéis e
alguns preceitos simples de organização que podem permitir a elaboração de estratégias (RAMOS, 2000). Para um determinado
confronto, a preparação do grupo se baseia em orientações específicas que definem a maneira de jogar de acordo com as
normas de conduta do adversário, as condições de jogo e as estratégias definidas pela equipe, considerando sempre o
conhecimento tático dos jogadores (JÚLIO; ARAÚJO, 2005).
Em relação ao conhecimento tático, nas ciências do esporte distinguem-se dois tipos: o conhecimento tático declarativo
(CTD) e o conhecimento tático processual (CTP). O CTD refere-se à capacidade do atleta de saber “o que fazer”, ou seja,
conseguir declarar de forma verbal e/ou escrita qual a melhor decisão a ser tomada e o porquê desta decisão. O CTP refere-se
a “como fazer”. É a capacidade do atleta de operacionalizar a ação sem, geralmente, ser capaz de descrevê-la verbalmente, ou
seja, está intimamente ligada a ação motora em si (FRENCH; THOMAS, 1987; ALLARD, 1993; THOMAS; THOMAS, 1994;
GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1995; TURNER; MARTINEK, 1995; GARGANTA, 1997; MESQUITA, 1998; GRECO, 1999;
TENEMBAUM; LIDOR, 2005).
É relevante salientar que os dois tipos de conhecimento se interagem, porque a forma como o jogador vai executar uma
ação no jogo está relacionada com a forma como ele compreende o mesmo (GARGANTA, 1997; MESQUITA, 1998;
MESQUITA; GRAÇA, 2002; GIACOMINI, 2007). Além disso, outros pesquisadores afirmam que para se atingir um elevado
nível tático, o jogador deve passar durante anos por uma experiência diversificada de forma aliar as suas capacidades de
avaliação ótico-motoras à capacidade de esforço e desenvolvimento técnico específico com as ações táticas (MAHLO, 1980;
GRECO et al., 1998; OLIVEIRA; PAES, 2004).

A TÉCNICA COMO ASPECTO ESSENCIAL PARA CONCRETIZAR O JOGO DE FUTEBOL


As habilidades técnicas têm sido referidas na literatura como sendo um recurso muito importante no contexto do
desempenho esportivo, pois é através delas que a inteligência e a intencionalidade tática vão se exteriorizar e materializar. Elas
adquirem grande importância nos escalões de rendimento mais elevado, pois, o jogador tecnicamente evoluído fica livre para
analisar as situações de jogo e, consequentemente, decidir melhor, prevalecendo na relação com a bola o controle sinestésico
em detrimento do visual (MESQUITA, 2008; NUNES; BRANDÃO; JANEIRA, 2004).
No Futebol, os recursos técnicos são imprescindíveis para um ótimo rendimento, dos praticantes. Para a concretização da
ação é exigida uma elevada capacidade de leitura de situações e tomada de decisão instantânea, mais, é necessário que da
leitura da situação seja “escrita” a solução. Por isso, quanto mais recursos motores específicos o jogador possui ou desenvolve,
mais probabilidade de obter o sucesso no momento de materializar a ação, de “escrever” a solução.
Devido à importância da técnica para o rendimento esportivo, alguns pesquisadores têm citado dois aspectos fundamentais
para o seu desenvolvimento desde as categorias de base: primeiro, por ser um fator decisivo que permite aos melhores
executantes desempenhos superiores em situações de jogo; segundo, porque os jogadores com repertório mais amplo, com
mais variabilidade técnica poderão alcançar no futuro níveis excelentes de rendimento esportivo. Não obstante é importante
destacar que o ensino não pode se transformar em uma aprendizagem mecânica de gestos técnicos, o ensino nas diferentes
formas da iniciação nas suas bases não se restringe aos componentes biomecânicos da execução, mas, sobretudo, à escolha e
ajuste do gesto à situação que se apresenta, uma vez que o contexto será relevante para o aprendizado (SILVA; FIGUEIREDO;
BRAL et al., 2002; NUNES; BRANDÃO; JANEIRA, 2004; OLIVEIRA, 2004).
O que se pretende a partir dessa ideia é que a aprendizagem das habilidades técnicas seja parte integrante de contextos
com tomada de decisão, onde o que importa está contido na situação de jogo. Somente assim os praticantes serão capazes de

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resolver os problemas que o contexto específico lhes coloca. Desde os primeiros momentos da aprendizagem, importa que os
praticantes assimilem um conjunto de princípios táticos, técnicos, que vão do modo como cada um se relaciona com a bola, até
a forma de comunicar com os colegas e “contra-comunicar” com os adversários, passando pela noção de ocupação racional do
espaço de jogo (TEODORESCU, 1984; GARGANTA, 1997; GARGANTA; PINTO, 1998).
Deste modo, aspira-se que o desenvolvimento das habilidades técnicas seja feito de forma qualitativa, no qual a técnica seja
caracterizada pela intenção tática que lhe solicita uma fusão da fase final do gesto precedente com a fase preparatória do gesto
que lhe sucede, a constituir-se em uma fase intermediária de antecipação do gesto seguinte, não só sobre o aspecto técnico-
motor, mas também sobre o aspecto mental e tático (GARGANTA, 1997).
No jogo de Futebol esse tipo de desenvolvimento é muito pertinente, uma vez que as posições veiculadas remetem para a
importância de se ensinar e treinar as técnicas do Futebol a partir do jogo, em uma lógica oposta à de ensinar e treinar o jogo a
partir das técnicas, a apontar para a necessidade de desenvolver a técnica situacional ou a técnica aplicada (treino integrado),
em detrimento das técnicas isoladas (método analítico), cuja aprendizagem e exercitação ocorrem à margem dos requisitos do
jogo (GARGANTA, 1997).
Esses métodos não são tão explorados e divulgados, porque como evidencia Garganta (1997), parece haver por grande
parte dos autores relacionados com a produção de conhecimento no Futebol uma concepção restritiva da técnica, porquanto a
circunscrevem ao conjunto de movimentos efetuados com a bola (passe, drible, recepção, finalização, etc.), ignorando as
atribuições táticas que se impõem nas ações técnicas que competem aos demais jogadores de defesa e de ataque, que não são
exclusivas do portador da bola.
Para esse autor todas as ações que são relativas ao jogo, que impliquem ou não a presença direta ou próxima da bola,
apelam para requisitos técnicos. Por assim ser, uma corrida rápida, uma finta, uma desmarcação, uma marcação a um adversário
direto, são técnicas utilizadas que dá sentido a todo o contexto do jogo de Futebol, o que faz com que este conceito possua
uma abrangência maior do que aquela que usualmente lhe é atribuída.
Assim, o progressivo refinamento técnico que prioriza a transferência da atenção visual da bola para os demais elementos
do jogo supera o mito da dificuldade de execução das ações técnicas no Futebol, que muita das vezes se resulta da necessidade
que os jogadores têm em identificar e prestar atenção, em simultâneo, às informações visuais proprioceptivas e cognitivas.
Importa deste modo que a execução de um gesto técnico em Futebol privilegie a interação com o contexto do jogo, de forma
a se buscar a estreita relação entre os aspectos técnicos e táticos do Futebol (LÁZARO; OLIVEIRA, 2002).

A EVOLUÇÃO DA DINÂMICA DO JOGO E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E TREINAMENTO


NO FUTEBOL DE ALTO NÍVEL
As décadas dos anos cinquenta e sessenta que ficaram marcadas pela maior abrangência de funções e ações dos jogadores
no campo de jogo, produziram formas diferentes de se enxergar e jogar o Futebol e, consequentemente, de se treinar. O
conceito de dinâmica de jogo, manifestado nesta época, permitiu novas ideias, novos entendimentos e conhecimentos das
funções e ações dos jogadores na partida, sendo então, decisivo para a promoção de numerosas modificações nos processos de
treinamento (OLIVEIRA, 2004). Contudo, no Brasil, as tentativas de desenvolver as valências inerentes ao rendimento
esportivo não produziram uma grande evolução no jogo porque se esbarravam nas limitações formativas dos responsáveis
pelos treinos que, conforme afirma Tani (2002), estava sob a orientação de antigos atletas cuja formação se relacionava com as
suas experiências e respectivos conhecimentos empíricos.

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A partir da década de setenta observou-se no âmbito do Futebol uma forte implementação de correntes de pensamentos
cujos objetivos eram a disjunção, a redução e a abstração da realidade e dos fenômenos inerentes ao jogo. As ideias que
estavam relacionadas a essas correntes buscavam a divisão e redução dos fenômenos em partes, para mais facilmente os
conhecer e atuar sobre eles. Assim, o processo de treino nesse período era dividido em técnico e em tático e cada um deles
também era subdividido, criando-se fases e etapas evolutivas das diferentes habilidades técnicas e comportamentos táticos, mas
a interação das relações que dão sentido ao jogo não era manifestada (OLIVEIRA, 2004; ALVES, 2007).
Essa década também ficou marcada pelas metodologias de treino que evidenciavam uma preparação específica dos aspectos
físicos e que foi bem aceita pelas equipes, tanto que se observou uma distinção dos membros da comissão técnica, onde o
treinador preparava a equipe em seus aspectos táticos e técnicos e o preparador físico cuidava da parte física (MATVÉIEV,
1986; TANI, 2002).
Esta metodologia de treino, baseada em conhecimentos das áreas da biologia, da fisiologia e da biomecânica, que concedia
grau elevado de importância à preparação física foi tão divulgada que as equipes adotaram essa forma de preparar os atletas.
Assim, observou-se que a forma de jogar o Futebol sob um prisma essencialmente tático-físico refletiu em um decréscimo de
desempenho técnico dos jogadores, enquanto que outras equipes que permaneceram sem fazer grandes alterações nos seus
treinamentos continuaram a jogar um Futebol que priorizava mais os aspectos técnicos em detrimento dos físicos.
O interesse da comunidade por essa nova forma de treino era tão grande que contribuiu para que outras correntes do
treinamento físico surgissem com o passar dos anos. Entre os fins dos anos setenta e no início dos anos oitenta, outra
metodologia caracterizada pela concentração do treino de força com o objetivo de proporcionar melhoria das capacidades
especiais, da velocidade e do rendimento técnico, surge e também tem muita aceitação da comunidade esportiva em geral,
chegando a ser adotada em muitas equipes européias de Futebol no final dos anos oitenta. Esta concepção propunha que o
processo de treino fosse estruturado inicialmente a partir do desenvolvimento de um bloco de força e que o treino das outras
capacidades condicionais e “técnico-táticas” se realizasse de acordo com as necessidades da modalidade. Porém, o precursor
dessa proposta salienta que os rendimentos elevados não se limitam apenas às capacidades físicas, mas também às técnicas e às
táticas. Dessa forma, preconiza a construção de blocos relacionados com essas componentes, embora sempre apoiadas pelo
treino da força (VERCHOSHANSKIJ, 1990; 2001; 2006).
Na década de noventa as propostas de utilização de meso ciclos e micro ciclos de choque e de distribuição uniforme das
cargas durante toda a época esportiva também chamaram a atenção dos diversos profissionais envolvidos com o rendimento
esportivo (TSCHIENE, 2001). A primeira propunha, essencialmente, variações significativas no volume, na intensidade e na
complexidade das cargas; e a segunda propunha manutenção dos níveis de volume, de intensidade e de complexidade das cargas
dentro de um intervalo de variabilidade reduzido. Outros fatores importantes que até então não se destacavam diz respeito ao
fato de se considerar a competição como o ponto de partida na preparação dos atletas e de se compreender o processo de
preparação do atleta como um processo adaptativo e que, como tal, destaca os problemas da fadiga e da recuperação após os
treinos de sobrecargas (SILVA, 1998; TSCHIENE, 2001; OLIVEIRA, 2004).
Contextualizar esse processo evolutivo do treinamento esportivo no alto rendimento para adultos faz sentido, uma vez
que, o processo de ensino-aprendizagem e treinamento presente nas escolinhas de esportes e na maioria dos clubes de futebol
profissional que possuem categoria de base, lamentavelmente, hoje reproduz as habilidades específicas da modalidade à maneira
dos adultos, desconsiderando o estágio de desenvolvimento, as particularidades, as experiências e a capacidade dos jovens
(LIMA, 1999; PEREIRA, 1999; FERREIRA, 2000; LIMA, 2000; BARBANTI; TRICOLI, 2004; OLIVEIRA; PAES, 2004; BARBANTI,
2005; BRITO, 2005; PACHECO, 2005; RELVAS, 2005; CARDOSO, 2007; LIMA JR.; MARCHIORI; CAMPESI, 2008). Para
Barbanti e Tricoli (2004) essa prática no Brasil é tão comum que para eles não há dúvida de que a iniciação esportiva, em todas
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as modalidades, se faz através do aprendizado das habilidades motoras específicas do esporte praticado. Segundo eles, “desde o
primeiro dia em que uma criança entra para uma ‘escolinha de futebol’ ela aprende o passe, o chute, o drible, o cabeceio e
controle da bola...” e desde os primeiros jogos a disputa ocorre sobre a base das habilidades motoras específicas do futebol
(BARBANTI; TROCOLI, 2004, p.209).
Por isso, apesar das tarefas de incidência técnica ou tática exigirem sempre na sua base componentes das capacidades
motoras tais como resistência, força, velocidade e/ou flexibilidade e do reconhecido avanço que as metodologias de treino
mencionadas nos parágrafos anteriores propiciaram à preparação dos atletas para as competições, percebe-se ainda hoje uma
falta de sincronismo entre a lógica do ensino utilizado hoje com a lógica funcional do jogo e a lógica pedagógica sugerida na
literatura, uma vez que, se constata baixa preocupação com os aspectos relacionados ao contexto do jogo, à tomada de
decisão, à aprendizagem dos gestos técnicos de forma situacional, ao desenvolvimento do raciocínio tático e à iniciativa
individual.
Os métodos de treino descritos parecem, de forma geral, conduzir os futebolistas para a dependência e a impossibilidade de
gestão da ação individual e coletiva, já que as situações de ensino e treino não confrontam o jogador com o novo, o inesperado
e nem exigem deles a capacidade criativa. Assim, ao se estruturar o treino nesses moldes, limita-se a aprendizagem dos
jogadores em situações de jogo que requerem as ações de cooperação/oposição e que serão imprescindíveis no entendimento
da filosofia do mesmo (FARIA; TAVARES, 1993; GRAÇA, 1998; MESQUITA, 1996; RAMOS, 2000; LÁZARO; OLIVEIRA, 2002).
Os debates a respeito do processo de ensino-aprendizagem e treinamento para a formação despontaram a partir do final da
década de 70 e começo da década de 80, porém só nos últimos quinze anos ganharam mais notoriedade. Nessa época,
congressos e seminários que tratavam esse tema como ponto central das discussões, buscavam superar as tendências
dominantes de corte analítico, mecanicista e técnico (MARQUES; OLIVEIRA, 2001; BARBANTI; TRICOLI, 2004).
Apoiada nessa tendência, nas teorias da psicologia cognitiva e nos modelos de execução, Bunker e Thorpe (1983)
propuseram uma nova metodologia denominada “Teaching Games for Understanding” (TGFU). Essa metodologia, inicialmente
pesquisada na década de oitenta (THORPE; BUNKER, 1982; BUNKER; THORPE, 1983; THORPE, 1983), ganhou mais
notoriedade científica em meados da década de noventa (OSLIN, 1996; WERNER; THORPE; BUNKER, 1996; GRIFFIN;
MITCHELL; OSLIN, 1997) com uma proposta que suporta o ensino dos jogos esportivos coletivos em função da sua
compreensão e concepção, ou seja, o ensino constituído por jogos táticos de complexidade adaptada ao nível qualitativo dos
alunos/jogadores, para que dessa forma eles possam assimilar e aprender o jogo de uma forma dinâmica.
Esta metodologia propicia ao jogador vivenciar situações práticas, nas quais a lógica do movimento é entendida de uma
forma progressiva, para que quando lhe seja apresentado o problema, na sua globalidade, tenha possibilidades de superá-lo com
êxito. Isto é feito através de jogos adaptados em função das regras, do espaço, da bola, das balizas e do número de jogadores,
de forma a criar um ambiente propício à melhoria da compreensão do jogo, da aquisição de conhecimentos específicos e das
habilidades técnicas requisitadas (COSTA, 2001; OLIVEIRA, 2004).
A opção por uma maior utilização de exercícios específicos parece ser uma tendência atual do treino de Futebol; tanto que,
vários pesquisadores reconhecem que as condições de treino devem aproximar-se ao máximo das condições reais do jogo,
quer na alta competição, quer nas fases de aprendizagem e formação do praticante, a proporcionar-lhe, desde o início da sua
atividade, uma tomada de decisão ativa, formulação de juízos, compreensão do contexto em que o jogo decorre e estímulo da
imaginação (TAVARES, 1994; GARGANTA; PINTO, 1998; GRAÇA, 1998; GRECO, 1998; PEREIRA, 1999; COSTA, 2001;
GRECO, 2003; NOGUEIRA, 2005).

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O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E TREINAMENTO PARA CRIANÇAS E JOVENS


Na literatura científica os documentos de registro dos processos metodológicos relacionados ao treinamento de crianças e
adolescentes são de difícil acesso o que limita as discussões sobre o tema. O conhecimento e a evolução das pesquisas sobre
os processos de formação desportiva de talentos e jogadores de destaque têm sido muito pouco sistematizados (LIMA, 1999;
PEREIRA, 1999; MARQUES; OLIVEIRA; PRISTA, 2000). De acordo com Marques e Oliveira (2001), os modelos explicativos
existentes, desenvolvidos desde a década de sessenta, apóiam-se muito nas experiências, no conhecimento empírico, em
orientações pedagógicas e normativas e menos, do que seria desejável, na explicação científica.
Atualmente, as discussões sobre essa temática se concentram sobre a organização e dinâmica da carga de treinamento, a
estrutura temporal, meios, métodos e conteúdos para o longo processo de formação dos mesmos (MARQUES; OLIVEIRA;
PRISTA, 2000; MARQUES, 2002; PUGNAIRE; NIETO, 2002; SILVA; FIGUEIREDO; GONÇALVES et al., 2002; BARBANTI;
TRICOLI, 2004; BARBANTI, 2005). Em particular, a exigência é maior na questão relativa à estrutura temporal, aos meios e
aos métodos que devem ser utilizados no treinamento a considerar o momento mais favorável para fazê-lo, as características
de crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens.
Ao abordar o ensino e aprendizagem para crianças e jovens alguns pesquisadores advertem sobre as diferenças que existem
entre eles e os adultos em todos os aspectos que permeiam o desenvolvimento esportivo. Greco e Benda (1998) e Cardoso
(2007) salientam que as crianças e os jovens não devem ser tratados como um adulto em miniatura durante o processo de
ensino e aprendizagem. O esporte para as crianças não deve se basear em meras adaptações das práticas, princípios e cargas
realizadas pelos adultos; mas sim, deve ser organizado em função dos praticantes, tratando os objetivos, os conteúdos, os
métodos, o desenvolvimento e os níveis de dificuldade de acordo com as idades e os níveis de maturação hormonal.
Outros pesquisadores, que comungam essa mesma forma de conceber o treino de formação, complementam a ideia ao
afirmar que o treino para crianças e jovens é um processo de exercitação sistemático em longo prazo, que oferece formas
motrizes multifuncionais e específicas da modalidade, a constituir-se numa etapa de desenvolvimento para os objetivos finais
que normalmente se situam nas idades adultas (HAHN, 1988; BRIGHTON, 1998; ADELINO; VIEIRA; COELHO, 2000;
MARQUES, 2002; ESTEVES, 2003; BRITO, 2005).
De acordo com alguns pesquisadores os problemas nesse processo surgem quando o treino e a participação competitiva de
crianças e jovens tendem a reproduzir e a adaptar os conhecimentos e as formas de organização do esporte de alto
rendimento, quando a valorização e o reconhecimento social dos mais jovens se preceituam através dos resultados
competitivos e quando a vitória nas competições continua a ser o objetivo principal para muitos treinadores, dirigentes e pais
(ALVES; RODRIGUES, 2000; SILVA; FIGUEIREDO; GONÇALVES et al., 2002; BRITO, 2005; NOGUEIRA, 2005; RELVAS,
2005). Nesses casos, há uma reversão da lógica da formação, porque a procura do rendimento imediato impõe estratégias de
treino que produzem resultados em curto prazo, comprometem os resultados futuros e frustram as expectativas de crianças e
jovens.
De acordo com Damásio e Serpa (2000) a preparação esportiva de crianças e jovens, desajustada às características do
processo de crescimento e maturação, tem sido apontada como uma razão determinante para maior abandono e menor
adesão de praticantes entre os 14 e os 18 anos nos desportos. Por esse motivo, é importante que as crianças e os jovens que
se encontram em fase de crescimento marcada por numerosas alterações no desenvolvimento físico, psíquico e social,
obtenham durante a sua formação desportiva o máximo de experiências motoras que lhes garantam um repertório motor rico,
um bom desenvolvimento das suas capacidades físicas e psicossociais para que possam no futuro, caso queiram, ter êxito no
desporto de rendimento (FERREIRA, 2000; MARQUES; OLIVEIRA; PRISTA, 2000; BARBANTI, 2005).

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Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol

Para que isto seja assegurado, três elementos estruturais do processo de ensino e aprendizagem, descritos por Hahn (1988),
parecem pertinentes: 1) especificidade de acordo com cada etapa de formação; 2) desenvolvimento de conteúdos nas aulas ou
treinos de acordo com os processos volitivos e de maturação; 3) periodização do processo de ensino e aprendizagem
orientados muito mais pelas necessidades específicas dos atletas jovens e muito menos pelos modelos de periodização do
universo da teoria do treinamento.
A aplicação desses três elementos permite a revalorização do sentido pedagógico da formação esportiva, do qual as crianças
e os jovens se beneficiarão de um processo educativo mais adequado, onde os treinos/aulas serão desenvolvidos de acordo
com o seu histórico social e a sua maturidade biológica, uma vez que, cada criança ou jovem possui a sua própria maturação
com diferenças sexuais e intra e interindividuais (HAHN, 1988; GRECO; BENDA, 1998; MARQUES, 1999; SOBRAL, 1999;
MARQUES; OLIVEIRA; PRISTA, 2000; MARQUES, 2002; CARDOSO, 2007; LIMA JR.; MARCHIORI; CAMPESI, 2008).
Na literatura parece haver certo consenso entre os pesquisadores quanto à preparação esportiva, nos anos iniciais, se
concentrar na formação multilateral embasada nas características do desporto e que, à medida que ocorra aumento da idade e
da experiência do praticante, ela passe a ser mais específica (GRECO, 1998; GRECO; BENDA, 1998; MARQUES, 1999;
FERREIRA, 2000; MARQUES; OLIVEIRA; PRISTA, 2000; VIOLANTE, 2000; MARQUES; OLIVEIRA, 2001; MARQUES, 2002;
SILVA; FIGUEIREDO; GONÇALVES et al., 2002; OLIVEIRA; PAES, 2004; BARBANTI, 2005; DOMINGUES, 2006). Alguns
estudos indicam que o início da especialização esportiva depende das características do desporto escolhido, dos fatores que
influenciam o desenvolvimento de crianças e jovens e, sobretudo, da cultura desportiva dominante (MARQUES, 1999;
MARQUES; OLIVEIRA, 2001; MARQUES, 2002). No Futebol preconiza-se que essa especialização seja obtida em um momento
mais tardio, por ser uma prática esportiva que consente uma variedade de gestos e solicitações bem mais rica que a dos
desportos baseados em estruturas gestuais, motoras, cíclicas, estreitas e fechadas. Porém, no futebol brasileiro o processo
sistematizado de treinamento e seleção de potenciais atletas para as categorias de base das equipes profissionais de futebol se
inicia na sua grande maioria na categoria sub-13 (mirim), entretanto nas escolinhas de esporte este processo começa por volta
da categoria sub-9 (chamada de iniciantes) o que acarreta uma iniciação muito precoce dos jovens à modalidade esportiva.
Consolidando esse referencial teórico, alguns pesquisadores têm apresentado estágios ou etapas para a formação
desportiva de crianças e jovens abordando aspectos temporais, metodológicos e de conteúdo. (MUSCH; MERTENS, 1991;
GRECO; BENDA, 1998; FERREIRA, 2000; LIMA, 2000; OLIVEIRA; PAES, 2004; BARBANTI, 2005; DOMINGUES, 2006;
DUARTE, 2006; GRAÇA et al., 2006).
Gallahue e Ozmun (2005) propõem uma abordagem desenvolvimentista que, ao ensinar as habilidades motoras (técnicas)
para a faixa etária de 7-10 anos, a aprendizagem deve ser totalmente aberta, ou seja, os conteúdos do ensino são aplicados pelo
professor e praticados pelos alunos, sem interferência e correções dos gestos motores. Para a faixa etária de 11-12 anos, o
ensino é parcialmente aberto, isto é, há breves correções na técnica dos movimentos. Na faixa de 13-14 anos, o ensino é
parcialmente fechado, pois se inicia o processo de especificidade dos gestos de cada modalidade na procura da especialização
esportiva, e somente após os 14 anos de idade deve acontecer o ensino totalmente fechado, específico de cada modalidade
coletiva, e também o aperfeiçoamento dos sistemas táticos que cada modalidade necessita.
Greco e Benda (1998) sugerem um modelo de desenvolvimento do nível de rendimento esportivo composto por nove
fases: pré-escolar, universal, orientação, direção, especialização, aproximação/integração, alto nível, recuperação/readaptação e
recreação/saúde. Cada uma dessas fases se caracteriza por acompanhar as faixas etárias de desenvolvimento, condicionando
através desses princípios a duração e frequência de treinamento.

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A fase pré-escolar se caracteriza por abranger crianças com idade entre 1 e 6 anos, ter uma perspectiva de duração de 4-5
anos, sendo a frequência de treinamento 2-3 vezes por semana na qual se concretizam os objetivos de aprendizado dos
movimentos fundamentais.
A fase universal é mencionada pelos autores como a mais ampla e rica dentro do processo de formação esportiva. Ela está
compreendida dos 6 aos 12 anos, possui duração de 6 anos e frequência de treinamento 2-3 vezes por semana. Nessa fase
procura-se desenvolver todas as capacidades condicionais e coordenativas de uma forma geral, a partir de jogos e brincadeiras,
resgatando as formas de jogo da cultura popular, criando assim uma base ampla e variada de movimentações que ressaltam o
aspecto lúdico.
Na fase da orientação (11-12 até 13-14 anos), os autores recomendam que as atividades curriculares e extracurriculares
sejam em média de três encontros semanais e que a duração esteja compreendida no intervalo de 60-90 minutos cada. Essa
fase, que tem duração de 2-4 anos, é a mais indicada para a iniciação e desenvolvimento dos gestos técnicos dos esportes, já
que a capacidade de atenção do praticante para a percepção de outros estímulos está bem apurada, o que permite ao mesmo a
automatização de grande parte dos movimentos.
A fase de direção (13-14 até os 15-16 anos) é marcada pelo início do aperfeiçoamento e da especialização técnica em uma
modalidade. Essa fase se concentra no “auge” da adolescência, por isso, os autores recomendam que as atividades, previstas
para acontecerem três vezes por semana, não entrem em conflito com os outros interesses dos jovens, porque isso pode levar
ao abandono da prática esportiva.
A fase de especialização (15-16 aos 17-18 anos) se caracteriza pelo aumento dos encontros semanais (3-4) e maior tempo
de duração (90-120 minutos cada). É nesse período que ocorre o ápice do processo de desenvolvimento e o desejo individual
em participar de uma atividade que possui um número limitado de movimentos. Os autores preconizam que nessa fase seja
objetivado o aperfeiçoamento e a otimização do potencial técnico e tático, que sirvam de base para o emprego de
comportamentos táticos de alto nível, e a estabilização das capacidades psíquicas.
A fase de aproximação/integração (18 e 21 anos) pode ser considerada como o momento mais importante na transição do
jovem para uma possível carreira esportiva no alto nível de rendimento e no esporte profissional. Nesta fase, juntamente com
o trabalho de aperfeiçoamento e otimização das capacidades técnicas, táticas e físicas, os autores recomendam, conceder um
grande espaço de tempo à otimização das capacidades psíquicas e sociais.
A fase de alto nível se caracteriza pela estabilização, aperfeiçoamento e domínio dos comportamentos técnico-táticos e das
capacidades físicas e psicológicas atingidas nas fases anteriores. Essa fase que geralmente se inicia aos 21 anos, não tem um
tempo previsto de duração, porque vai depender de muitas variáveis que vão interferir no rendimento esportivo.
A penúltima fase, denominada fase de recuperação/readaptação, começa no final da fase de alto nível, ou seja, quando o
atleta se aposentar; e terá por objetivo readaptar o ex-atleta à sociedade, bem como aplicar programas adequados que
contribuam para o “destreinamento” de maneira gradativa que o conduz ao esporte como forma de benefício à saúde.
A última fase citada pelos autores é a de recreação/saúde, na qual os objetivos se opõem a fase de rendimento. Essa fase
tem uma característica muito peculiar, porque ela pode se situar após a fase de recuperação/readaptação para as pessoas que
seguiram carreira esportiva, ou após a fase de direção para aquelas pessoas que não tiveram o interesse de se especializar em
nenhum desporto. Por conseguinte, essa fase poderá se iniciar em qualquer idade após os 15-16 anos e comportar os diversos
programas de atividades físicas que contemplam os diferentes interesses do público; por exemplo, perder peso, melhorar
estética, manter ou melhorar saúde, conquistar amigos, etc.
Ferreira (2000) foi outro pesquisador que também propôs um modelo de desenvolvimento da carreira esportiva do jovem.
Nesse modelo há menos etapas, porém as idades de entrada e permanência em cada uma delas estão diretamente associadas
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Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol

ao percurso efetuado anteriormente. Destarte, o autor preconiza quatro etapas: animação, iniciação, orientação e
especialização esportiva.
A etapa de animação é caracterizada por um contato inicial com a prática da modalidade e uma vivência primária das
relações sócio-motoras por ela proporcionadas. A iniciação é a etapa que contribui para o enriquecimento do repertório
motor dos jovens e para uma abordagem inicial aos fundamentos básicos da modalidade. A etapa de orientação destina-se para
a construção dos diversos pré-requisitos fisiológicos necessários e ao consequente aperfeiçoamento dos conteúdos técnico-
táticos específicos. A etapa de especialização está dirigida para o desenvolvimento das competências técnico-táticas em
concordância com os aspectos físicos e psicológicos necessários para se praticar a modalidade em alto nível. Nessa etapa há
também o compromisso com os primeiros resultados esportivos em busca do rendimento de alto nível.
Além dessa estrutura temporal e de conteúdos para o desenvolvimento do rendimento esportivo, outro ponto importante
do processo de ensino e aprendizagem é a forma didático-metodológica de se conceber o aprendizado das habilidades
inerentes ao esporte, nesse caso do Futebol. Sobre esse assunto, Garganta (1995) propõe uma abordagem dividida em três
formas: 1) centrada nas técnicas, 2) centrada no jogo formal e a 3) centrada nos jogos condicionados.
A forma centrada nas técnicas desmonta o jogo em habilidades técnicas que são ensinadas analiticamente, hierarquicamente
e descontextualizadas, relativamente ao jogo; promove um jogo pouco evoluído, em que os jogadores apresentam déficits de
conhecimentos específicos e, consequentemente, de compreensão do jogo.
A forma centrada no jogo formal utiliza o jogo como aspecto central do processo de ensino. O jogo não é desmontado
nem técnica nem taticamente. A abordagem é feita de uma forma global em que a tática surge como resposta aos problemas
que o jogo levanta e a técnica surge como concretização dessas respostas. Apesar desta metodologia de ensino do jogo
promover o desenvolvimento das capacidades e conhecimentos específicos dos jogadores ela não é satisfatória, uma vez que
não consegue proporcionar uma densidade de comportamentos desejados, tanto técnicos como táticos, que possibilitem
maximizar o desenvolvimento das capacidades e dos conhecimentos específicos individuais, setoriais, inter-setoriais, grupais e
coletivos dos jogadores e da equipe.
A forma centrada nos jogos condicionados caracteriza-se pela decomposição do jogo em unidades funcionais, que propiciam
o aprendizado e a vivência das mesmas interações presentes nos jogos oficiais entre as dimensões tática, técnica, psicológica e
fisiológica, porém em escalas inferiores de complexidade. A partir disto, o ensino é concebido através da apresentação e
interação dessas unidades funcionais, onde o jogo apresenta problemas que são direcionados através das situações criadas que
proporcionam comportamentos desejados através da intenção e compreensão do jogo promovida pelo professor/treinador.
Esta abordagem metodológica evidencia o desenvolvimento das capacidades, dos conhecimentos específicos dos jogadores, do
jogo contextualizado e direcionado para os comportamentos desejados.
Outra proposta, apresentada por Musch e Mertens (1991) e retomada por Graça et al. (2006) referencia uma ideia do jogo
no qual as situações de exercícios da técnica aparecem claramente nas situações táticas, simplificando o jogo formal para jogos
reduzidos e relacionando situações de jogo com o jogo propriamente dito. Eles preconizam que essa forma de ensino preserva
a autenticidade e a autonomia dos praticantes, respeitando o jogo formal, no qual as estruturas específicas de cada modalidade
são mantidas, como: a finalização, a criação de oportunidades para o drible, o passe, os lançamentos nas ações ofensivas, etc.
Nessa proposta, o posicionamento defensivo é almejado de forma generalizada, ou seja, busca-se dificultar a organização
ofensiva dos adversários, principalmente nas interceptações dos passes, de forma a estabelecer uma dinâmica entre as fases de
defesa-transição-ataque.
A concepção mencionada por Duarte (2006) baseia-se na perspectiva sistêmica do treino apresentada sob três modelos de
sistematização: analítico, integrado e o sistêmico. O modelo analítico presume a fragmentação dos vários fatores do
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rendimento (físico, técnico, tático e psicológico) para serem treinados em separado e, posteriormente, serem integrados à
situação de jogo. O modelo integrado é concebido pela presença da bola nos exercícios de forma a assegurar uma relação
entre os fatores de rendimento O modelo sistêmico, em que a bola também está presente desde o primeiro dia de trabalho,
pressupõe a modelação dos jogadores à forma de jogar idealizada pelo treinador.
Greco (1998) além de citar o método analítico referido no parágrafo anterior, também faz menção a cinco outros métodos:
global, de confrontação, parcial, “conceito recreativo do jogo esportivo” e o situacional. No método global o ensino é
desenvolvido a partir da “série de jogos” acessíveis às faixas etárias e às capacidades técnicas dos alunos no qual se busca
contemplar “a ideia central do jogo” ou as suas estruturas básicas. O método de confrontação se caracteriza pela ideia de que
a principal forma de se aprender o jogo é jogar o jogo do adulto, com suas regras e formas. No método parcial, cujo
entendimento do jogo perpassa alguns aspectos que devem ser desenvolvidos separadamente devido a sua complexidade, o
processo de ensino e aprendizagem é concebido pela repetição de séries de exercícios dirigidos ao domínio das técnicas,
consideradas como elementos básicos para a prática do jogo ou para se obter o êxito na ação. O método denominado
“conceito recreativo do jogo esportivo” busca, através das vivências motoras, conhecer as relações sociais, os objetivos e as
formas de se atingir esse objetivo, para posteriormente, inserir os padrões externos e as regras oficiais. O método situacional
preconiza o ensino através de situações isoladas dos jogos com números reduzidos de praticantes (1x0, 1x1, 2x1, etc.), nos
quais a inserção gradativa de elementos esportivos (técnicos, táticos, psicológico e físico) e de situações típicas do esporte
propiciará o aprendizado e a vivência do mesmo. Esse autor também defende que a técnica esportiva deve ser praticada na
iniciação sublimada aos conceitos da tática, buscando aliar "o que fazer" ao "como fazer". Não se trata de trabalhar os
conteúdos da técnica apenas pelo método situacional, mas sim de utilizá-lo como um importante recurso, evitando o ensino
somente pelos exercícios analíticos, os quais, podem não garantir sucesso nas tomadas de decisão frente às situações, por
exemplo, de antecipação, que ocorrem de forma imprevisível nos jogos esportivos coletivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Futebol afigura-se como um esporte de muito interesse por parte de espectadores e praticantes de todo o mundo. No
contexto científico, o interesse pelo esporte está centrado nas pesquisas que buscam esclarecer a melhor forma de ensiná-lo,
treiná-lo, aprendê-lo e, consequentemente, praticá-lo. O fato do Futebol se desenvolver em um ambiente imprevisível, em
função da posição da bola, dos adversários e da movimentação de todos os jogadores da equipe, exige dos jogadores elevada
capacidade de tomada de decisão, de processamento de informação e de execução do movimento, e requer das equipes
capacidade de sincronização e organização das ações para atingir o objetivo principal do jogo. Nesse contexto se acredita que
os aspectos cognitivos, táticos e técnicos assumem importância fundamental na aquisição das habilidades inerentes ao Futebol,
uma vez que os aspectos da percepção e de decisão estão presentes desde o primeiro contato do praticante com a
modalidade.
No presente artigo, o processo de ensino-aprendizagem e treinamento foi concebido em fases que consideram as
experiências, os processos volitivos e a maturação dos praticantes. Destacam-se os aspectos cognitivos em relação a sua
importância nos momentos iniciais do processo de ensino-aprendizado e treinamento. Portanto, o conhecimento sobre a
modalidade se desenvolve mais rapidamente do que as habilidades inerentes ao jogo. Presume-se também que durante a
evolução das fases e níveis de rendimento, tanto o conhecimento quanto a habilidade dos praticantes aumenta com a aquisição
de experiências propiciando o aperfeiçoamento dos comportamentos técnicos e táticos exigidos no Futebol.

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Ensino-aprendizagem e treinamento dos comportamentos tático-técnicos no futebol
Com esse argumento, defende-se a ideia da transmissão dos conteúdos de ensino das habilidades e de desenvolvimento das
capacidades motoras buscando uma participação ativa do praticante. Para isso, torna-se necessário que os princípios e os
modelos de ensino e aprendizagem esclareçam não só a obtenção de metas em cada etapa da formação, como também os
papéis dos professores/treinadores e dos alunos/jogadores, os recursos didáticos necessários, o envolvimento social e as
formas de organização da aula/treino. Com o esclarecimento de todos esses pontos esse processo realmente assumirá a sua
devida relevância na criação, no direcionamento e no desenvolvimento dos conhecimentos específicos para a prática do
Futebol.
Na formação e na preparação dos jovens jogadores os cuidados devem centrar-se nos aspectos pedagógicos dos exercícios
sendo devidamente orientados a fim de propiciar evolução do conhecimento e do nível de desempenho técnico e tático. Nesse
instante, a figura do professor/treinador exerce importante função, uma vez que é da sua responsabilidade a programação das
atividades adequadas para o desenvolvimento esportivo. Diante deste contexto, o profissional não pode tratar as atividades de
iniciação esportiva como uma mera adaptação ou redução da realidade esportiva dos adultos, porque se corre o risco de
fornecer uma experiência negativa que leve ao abandono da prática esportiva. Assim, este profissional deve buscar o equilíbrio
entre as necessidades de direção e apoio, de forma a criar as condições favoráveis para o estabelecimento do vínculo
duradouro entre o praticante e o esporte.
Para que esse vínculo duradouro seja assegurado o professor/treinador deve estar atento à vontade que os
alunos/jogadores demonstram em participar dos treinos e dos jogos. Pelo fato de muitos deles tratarem o esporte como uma
das atividades mais importantes de suas vidas, as aulas/treinos devem oferecer experiências prazerosas que os motivem a
permanecer interessados pela modalidade. Por isso, durante as aulas/treinos, em meio ao desenvolvimento dos princípios
orientadores de atitudes que conduzam ao gosto pelo esforço, superação e aperfeiçoamento dos aspectos técnicos e táticos do
jogo, deve-se dar ao praticante a oportunidade para brincar, jogar e desfrutar os momentos sublimes da prática.
No campo científico, os inúmeros modelos de ensino e aprendizagem e as constantes evoluções do conhecimento sobre os
aspectos pedagógicos relacionados à prática esportiva, obrigam as pesquisas científicas a buscarem respostas cada vez mais
adequadas às formas, métodos e meios que deem suporte à intervenção profissional. Diante de abordagens que consideram
diferentes aspectos do processo de desenvolvimento do rendimento esportivo é necessário que, tanto os profissionais
envolvidos na prática quanto a comunidade científica, valorizem e realizem mais as pesquisas aplicadas, que buscam dar
respostas significativas em relação ao método de ensino mais eficaz dos comportamentos técnico-táticos no Futebol.
No caso específico do Brasil, conforme afirma Tani, Santos, e Meira Júnior (2006), essa tarefa científica não é muito fácil,
porque as pesquisas relacionadas à investigação de assuntos e temas profissionalizantes que surgem da prática concreta da
intervenção profissional pouco evoluíram ao longo do tempo, proporcionando um atraso de conhecimentos nesta área. Além
disso, a Educação Física brasileira dedicou muitos anos da sua história para fortalecer e consolidar-se como área de
conhecimento acadêmico. Porém, mesmo diante da defasagem científica existente, os pesquisadores têm desenvolvido
pesquisas que buscam discutir e apresentar direções adequadas ao processo de ensino e aprendizagem dos aspectos inerentes
à iniciação e ao rendimento esportivo, abordando temas relacionados com a estrutura temporal, métodos, conteúdos, meios
de ensino em que se deve desenvolver uma adequada formação esportiva.

AGRADECIMENTO
Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Européia para América Latina, bolsa nº
E07D400279BR”.

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61
Motricidade
ISSN: 1646-107X
motricidade.hmf@gmail.com
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Portugal

Giacomini, D.S.; Soares, V.O.; Santos, H.F.; Matias, C.J.; Greco, P.J.
O conhecimento tático declarativo e processual em jogadores de futebol de diferentes escalões
Motricidade, vol. 7, núm. 1, 2011, pp. 43-53
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Vila Real, Portugal

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273019759006

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2011, vol. 7, n. 1, pp. 43-53 ISSN 1646−107X

O conhecimento tático declarativo e processual em jogadores


de futebol de diferentes escalões
Declarative and procedural tactical knowledge in soccer players of
different ages
D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

RESUMO
A qualidade na prestação esportiva, nos jogos esportivos coletivos, relaciona-se com as capacidades
cognitivas, especificamente com o conhecimento. Esse estudo verificou a associação entre o
conhecimento tático processual convergente e divergente, assim como as associações entre o
conhecimento tático processual e declarativo. Participaram do estudo 221 jogadores de futebol de
campo, do sexo masculino, do escalão sub-14, sub-15 e sub-17. O conhecimento tático processual foi
avaliado através da aplicação do teste KORA-OO no parâmetro “oferecer-se” e “orientar-se”. O
conhecimento tático declarativo foi avaliado através de cenas-situação do futebol. Os resultados
indicaram uma alta associação entre o conhecimento tático processual, convergente e divergente, geral
e especifico por escalão, além de uma baixa associação entre o conhecimento tático declarativo e
processual (convergente e divergente). Esses dados suportam a idéia de que os conhecimentos
progridem serialmente do declarativo ao processual.
Palavras-chave: conhecimento, tomada de decisão, escalões, futebol

ABSTRACT
The quality of the performance on collective games is related to cognitive capacities, specifically to
knowledge. This study verified the association between convergent and divergent procedural tactical
knowledge as well as the association between declarative and procedural tactical knowledge.
Participated in this study 221 male soccer players of U-14, U-15 and U-17 categories. The procedural
tactical knowledge was assessed by KORA-OO on the parameters “offer yourself” and "self-
orientation”. The declarative tactical knowledge was assessed by soccer videos. Results revealed a clear
association between convergent and divergent procedural tactical knowledge in general and per
category and a low association between procedural (convergent and divergent) and declarative tactical
knowledge. These data support the idea that knowledge progresses from declarative to procedural.
Keywords: knowledge, making decision, age, soccer

Submetido: 11.12.2009 | Aceite: 29.06.2010

Diogo Schüler Giacomini, Vinícius de Oliveira Soares, Humberto Felipe Santos, Cristino Julio Matias e Pablo Juan Greco.
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais,
Brasil.
Endereço para correspondência: Diogo Schüler Giacomini, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia
44 | D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

Os jogos esportivos coletivos (JEC) armazenados nas estruturas da memória


representam um sistema de ações complexas (Eysenck & Keane, 1994; Sternberg, 2000).
que unem funções e elementos simples das Existem dois tipos de conhecimento: o
mais diversas formas, representando uma conhecimento declarativo e o conhecimento
exigência nas áreas física, técnica, tática, processual (Anderson, 1982). Esses
cognitiva e motora do participante (Greco, conhecimentos organizados e estruturados são
1995). A identidade dos jogos materializa-se parâmetros cognitivos que identificam um
na variabilidade das constelações de ataque e jogador de qualidade nos JEC (Rink, French, &
defesa, nas características da velocidade de Granham, 1996). O conhecimento relaciona-se
jogo, na imprevisibilidade do contexto com o comportamento tático do jogador
ambiental e nas riquezas das variações táticas evitando erros ao nível de percepção e análise
(Tavares, Greco, & Garganta, 2006). da situação (Konzag, 1985; Sonnenschein,
Considerando a complexidade dos JEC faz- 1987).
se necessário interagir diferentes componentes O conhecimento declarativo refere-se às
no treino, a exemplo das capacidades estruturas de conhecimento que podem ser
cognitivas (Garganta & Pinto, 1995; Greco & representadas por meio de uma rede de
Chagas, 1992; Tavares, 1995). O conceitos e suas relações, ou seja, é a
desenvolvimento das capacidades cognitivas capacidade de associação entre os conceitos.
relaciona-se com uma elevada qualidade na Portanto, saber mais significa ter uma maior
prestação desportiva e permite, através do rede de ligação entre os conceitos,
conhecimento armazenado na memória, que as relacionando cada elemento (Chi & Glaser,
tomadas de decisões sejam adaptadas à 1980).
situação. O conhecimento tático declarativo é
O modelo pendular para a tomada de verbalizado através do conhecimento das
decisões baseia-se nas estruturas de recepção posições dos jogadores e das estratégias
(percepção, antecipação e atenção) e básicas de defesa e ataque (Thomas, French, &
processamento da informação (memória, Humphires, 1986). No desporto, esse
pensamento e inteligência) (Giacomini, 2007; conhecimento é entendido como a capacidade
Greco, 2006; Memmert & Perl, 2009; Morales do atleta de saber “o que fazer” em uma
& Greco, 2007). Especificamente, o determinada situação de jogo (Chi & Glaser,
pensamento está relacionado com as 1980; Greco, 2006; Oliveira, Beltrão, & Silva,
estratégias que os atletas podem utilizar na 2003).
solução dos problemas que emanam dos JEC Por outro lado, o conhecimento tático
(Greco, 2006). Quando a situação-problema processual é identificado nas ações que
demanda a execução de uma única solução envolvem alto grau de habilidade motora
correta utiliza-se o pensamento convergente, podendo ser definido através do conhecimento
ao passo que problemas com várias soluções de “como fazer as ações” (Chi & Glaser, 1980;
corretas exigem pensamento divergente Eysenck & Keane, 1994; Sternberg, 2000).
(Dorsch, Häcker, & Stapf, 2001; Greco, 2006; Diferentemente do conhecimento tático
Guilford, 1950). Essas formas de pensamento declarativo, o processual não pode ser
relacionam-se entre si oferecendo subsídio verbalizado, esse conhecimento é a ação
uma à outra (Greco, 1999). motora em si, solicita o uso de processos
O conhecimento representa informações cognitivos necessários a efetivação da mesma
mentais em um formato específico, (Chi & Glaser, 1980; Eysenck & Keane, 1994;
estruturadas ou organizadas, as quais Sternberg, 2000). O conhecimento tático
abrangem aspectos específicos e gerais de uma processual pode ser considerado, portanto,
determinada realidade ou fenômeno que estão mais complexo em relação ao declarativo, pois
O conhecimento tático dos jogadores de futebol | 45

inclui, além da seleção da ação, a ação O objetivo do presente estudo foi verificar a
propriamente dita. associação entre conhecimento tático
Alguns excelentes executantes de processual convergente e divergente por
habilidades técnicas no desporto podem não diferentes escalões. Ademais se associou o
conseguir operacionalizar a mesma, ou seja, conhecimento tático declarativo ao
utilizar a técnica de uma forma eficaz em conhecimento tático processual convergente e
situações de jogo, pois não sabem “como”, divergente em cada um dos escalões
“quando” e “onde” aplicar essas técnicas, investigados.
demonstrando assim uma falha no nível de
conhecimento tático processual (Matias & MÉTODO
Greco, 2010; Turner & Martinek, 1995). Amostra
No desporto, os anos de prática, a A amostra voluntária deste estudo foi
experiência em competições e a qualidade da constituída por 221 jogadores de futebol de
prática são fatores de influência no campo do sexo masculino: 80 do escalão sub-
desempenho esportivo (Campos, 1993; French 14 (faixa etária ≤ 14 anos), 69 do escalão sub-
& Housner, 1994; French & Thomas, 1987; 15 (faixa etária ≤ 15 anos) e 72 do escalão
Giacomini, 2007; Giacomini & Greco, 2008; sub-17 (faixa etária ≤ 17 anos). Todos os
Matias, 2009; Thomas, 1994). Assim, a indivíduos da amostra eram atletas inscritos na
experiência é a passagem do conhecimento Federação de Futebol do Estado de Minas
tático declarativo para o processual em direção Gerais (Brasil), participantes dos principais
ao melhor desempenho esportivo, e é campeonatos estaduais e nacionais das
denominada procedimentalização (Anderson, respectivas faixas etárias.
1982; Dantas & Manoel, 2005).

Quadro 1
Demonstrativo das variáveis em estudo
Identificação para
Variável Categoria Medidas utilizadas Escala análise dos dados
Pensamento Teste de CTD para o futebol
CTD Intervalar
Convergente (Adaptado de Mangas, 1999)
Insuficiente
1 (situação fácil)
Insuficiente
2
(situação difícil)
Pobre
3
(situação fácil)
Pensamento
Convergente Pobre
4 (situação difícil)
Suficiente
5 (situação fácil)
Teste KORA-OO
CTP Ordinal
(Memmert, 2002) Bom
6 (situação difícil)
Muito bom
Pensamento 7 (situação fácil)
Divergente Muito bom
8 (situação difícil)
Ótimo
9 (situação fácil)
Ótimo
10
(situação difícil)
46 | D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

Instrumentos computador (Figura 1). As cenas-situação de


Para avaliar o conhecimento tático jogo foram apresentadas e paralisadas durante
declarativo (CTD) dos jogadores foi utilizado o 2 segundos no momento em que o portador da
instrumento validado por Mangas (1999). O bola decidiria “o que fazer”. A partir disso,
instrumento constitui-se em 11 cenas surgiram na tela do computador quatro
ofensivas de futebol que permitem avaliar o fotografias, numeradas de 1 a 4, com possíveis
participante de acordo com número de soluções para a jogada. O jogador teve o tempo
respostas certas e erradas para cada situação. que achasse necessário para decidir e anotar
O conhecimento tático processual (CTP) sua resposta na ficha de avaliação.
dos jogadores foi avaliado através da aplicação Para o presente estudo, foram realizadas
do teste KORA-OO (Avaliação Orientada pequenas adaptações que julgaram-se
através do Conceito dos Peritos) no parâmetro pertinentes no instrumento de Mangas (1999).
“oferecer-se” e “orientar-se” (Memmert, Primeiramente, utilizaram-se somente as 8
2002). cenas que obtiveram a concordância
As categorias de cada uma das variáveis, estatisticamente satisfatória por todos os
CTD e CTP, podem ser visualizadas no Quadro peritos do teste de Mangas (1999) para, além
1. da escolha da melhor solução, a hierarquia das
3 respostas subsequentes. Julgou-se que o
Procedimentos jogador que escolhe a 2ª melhor solução para a
As imagens do teste de conhecimento tático jogada não pode ser avaliado (em quantidade
declarativo (Mangas, 1999) foram projetadas de pontos) da mesma forma que o jogador que
por um projetor multimídia anexado ao escolhe a 3ª ou a pior solução, pois isto

Figura 1. Exemplo de imagem no computador na aplicação do teste de CTD (Mangas, 1999)


O conhecimento tático dos jogadores de futebol | 47

contradiz o princípio hierárquico do coeficiente alpha de Cronbach. Para as


pensamento convergente, bem como a escolha variáveis estudadas, todos os valores foram
da melhor a pior alternativa de decisão. maiores do que o valor mínimo estabelecido na
Construiu-se assim um novo gabarito para literatura (alpha de Cronbach > .70), como
teste de conhecimento tático declarativo de aceitável para configurar que há consistência
Mangas (1999) com escores diferenciados para entre os avaliadores. Os peritos apresentaram
cada solução escolhida pelo avaliado, a citar: uma consistência interna (alpha de Cronbach)
− Melhor solução: 100% de acerto = 1.00 de .98 indicando a fidedignidade da avaliação
ponto no escore final; na aplicação do instrumento.
− 2ª melhor solução: 75% de acerto = .75 A pontuação do teste CTP (KORA-OO)
pontos no escore final; convergente e divergente pode ser visualizada
− 3ª melhor solução: 50% de acerto = .50 nos quadros 2 e 3.
pontos no escore final; A coleta dos dados deu-se nas dependências
− Pior solução: 25% de acerto = .25 pontos dos clubes com os seus respectivos atletas, e
no escore final. foi condicionada ao consentimento livre
Com essas adaptações do instrumento esclarecido por parte dos pais ou responsáveis
desenvolvido por Mangas (1999), pretendeu-se pelos atletas, mais os supervisores do clube e
obter uma avaliação mais objetiva e fidedigna os próprios atletas.
do CTD dos jogadores. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
Para a aplicação do teste de CTP (KORA- em Pesquisa com seres humanos da
OO) os voluntários foram divididos em dois Universidade Federal de Minas Gerais
grupos, com três jogadores cada, identificados (UFMG), pelo parecer n.º ETIC 502/05.
por coletes de duas cores diferenciadas e
numerados de 1 a 6. Análise Estatística
O teste consiste na filmagem das ações dos Para apresentar os resultados dos diferentes
atletas em um jogo de três atacantes contra escalões nos testes de conhecimento tático
três defensores num espaço quadrado de 9 m processual convergente e divergente e no teste
de lado. O teste é realizado com os pés tendo o de conhecimento tático declarativo utilizou-se
ataque o objetivo de manter a posse de bola a média, a mediana, a moda e o desvio-padrão.
frente aos defensores. Ao contrário, os A escolha da estatística apropriada para
defensores não podem desarmar o jogador em esse tipo de análise depende da escala de
posse de bola, devendo ainda manter-se a uma medida e da natureza dos dados.
distância de aproximadamente um metro do Considerando-se que os níveis de CTP dos
portador da bola. Podem, entretanto, antecipar testes KORA-OO (convergente e divergente)
posições defensivas e interceptar passes. são medidos por uma escala ordinal e os níveis
As 8 cenas de vídeo foram avaliadas de CTD são medidos por uma escala intervalar,
individualmente por três peritos treinados para empregou-se o coeficiente de correlação
esse objetivo em dois momentos distintos, em Kendall’s tau para a associação entre o CTP
análises subjacentes ao pensamento convergente e divergente. Já para associação
convergente e divergente das ações realizadas entre o CTP convergente e divergente com o
pelo avaliado. O critério de avaliação é a CTD utilizou-se o coeficiente de correlação de
procura adequada de posições no espaço, isso Spearman (Thomas & Nelson, 2002).
significa avaliar quem não está de posse de O software utilizado para o tratamento
bola. estatístico dos dados foi o SPSS 13.0 para
Para obter-se a consistência interna entre os Windows. O nível de significância foi mantido
observadores desse estudo foi utilizado o em p < .05.
48 | D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

Quadro 2
Oferecer-se e Orientar-se (convergente)
Qualidade da solução: Nível de
se oferecer se orientar, procurar definição Pontos Exemplo
a posição adequada para receber da
a bola situação
O atleta tem, apesar de estar em uma situação
Ótimo difícil, procurado sempre uma boa posição para dar
Difícil 10
Sempre Livre a quem tem a bola opção de passe.
O atleta tem, procurado sempre a posição ótima e
Ótimo oferecido ao colega a possibilidade de passe. No
Fácil 9
Sempre Livre entanto, a situação não era tão difícil.
O atleta tem apesar de estar em uma situação difícil
Muito bom procurado quase sempre achar a posição ótima para
Difícil 8
Quase Sempre que seu colega em posse de bola efetue o passe.
O atleta tem procurado quase sempre a posição
Muito bom ótima para que o colega em posse de bola tenha a
Fácil 7
Quase Sempre opção de passe no entanto a situação não era muito
difícil.
O atleta apesar de estar em uma posição difícil tem
Bom Difícil 6 procurado frequentemente uma posição ótima para
Frequentemente dar a possibilidade de passe.
O atleta tem de forma irregular procurado a posição
Suficiente Fácil 5 ótima e oferecido ao portador da bola quase sempre
Alternadamente a possibilidade de passe. A situação não era difícil.
O atleta não tem quase nunca procurado a posição
Pobre ótima de forma a oferecer ao portador da bola a
Difícil 4 opção de passe no entanto a situação de jogo era
Quase Nunca
difícil.
O atleta apesar de estar em uma situação fácil não
Pobre tem procurado quase nunca uma posição ótima para
Fácil 3
Quase Nunca oferecer ao colega portador da bola a opção de
passe.
O atleta não tem procurado quase nunca a posição
Insuficiente ótima para oferecer ao colega (portador da bola) a
Difícil 2
Nunca opção de passe. No entanto, era uma situação
difícil.
O atleta apesar de estar em uma situação fácil não
Insuficiente Fácil 1 tem procurado nunca uma ótima posição para
Nunca oferecer ao colega a opção de passe.

RESULTADOS E DISCUSSÃO categoria sub-17 (6.34) a maior de todas,


seguida pela média da categoria sub-15 (5.50)
Dados descritivos do conhecimento tático e da categoria sub-14 (4.08).
processual convergente e divergente e do
conhecimento tático declarativo por escalão Tabela 1
A Tabela 1 apresenta os dados descritivos Dados descritivos do CTP convergente por escalão
do conhecimento tático processual convergente Escalão n M DP Moda Mediana
para os escalões estudados. Sub-14 80 4.08 1.04 4 4
Na Tabela 1, verifica-se que há diferenças Sub-15 69 5.50 .98 5 5
nas médias dos escores obtidos pelas 3 Sub-17 72 6.34 1.17 6 6
categorias em estudo, sendo a média da Geral 221 5.26 1.43 5 5
O conhecimento tático dos jogadores de futebol | 49

Quadro 3
Oferecer-se e Orientar-se (divergente)
Originalidade da Flexibilidade nas
solução na situação soluções das Pontos Exemplo
de jogo: uso do espaço
situações de jogo
ou passe
O atleta mostra diferentes soluções originais,
pouco comuns ou pouco conhecidas / esperadas
Amplo acima da média Duas ou mais
10 várias vezes para resolver a situação. As procuras
(muito original) (ações originais) temporais de ótimas posições foram sempre
(completamente) excelentes.
O atleta mostra diferentes soluções originais / fora
Amplo acima da média Duas ou mais do comum, ou pouco conhecidas. As procuras
9
(original) (ações originais) temporais de ótimas posições foram sempre muito
boas.
Duas ações O atleta mostra duas diferentes soluções
(originais, raridade
Acima da média originais / fora do comum, ou pouco conhecidas.
que não aparecem 8 As procuras temporais de ótimas posições foram
(quase sempre) de forma pouco
sempre boas.
frequente)
O atleta mostra duas diferentes soluções que não
Duas ações novas foram originais / fora do comum, mas que
Bom, na média (que aparecem de aparecem de forma esporádica. As procuras
7
(algumas vezes) forma pouco temporais de ótimas posições foram sempre
frequente) surpresas.
O atleta mostra duas diferentes soluções que não
Na média Duas ações foram originais, mas que aparecem de forma
6 esporádica. As procuras temporais de ótimas
(ainda faz coisas novas) (pouco frequentes)
posições foram sempre surpresas.
O atleta mostra uma diferente solução que não são
Uma dentro do repertório padrão, mas que já
Suficiente (ainda
(ação pouco 5 apareceram. As procuras temporais de ótimas
consegue coisas novas) frequente)
posições tiveram sim novidade.
Pobre, próximo da O atleta mostra uma diferente solução que não são
Uma dentro do repertório padrão, mas que aparecem
média
(ação pouco 4
(com poucas coisas frequentemente. As procuras temporais de ótimas
frequente) posições tiveram sim ainda uma novidade.
novas)
O atleta mostra em regra gerais soluções, dentro do
Pobre, abaixo da média repertório padrão, que aparecem frequentemente.
Nenhuma 3 Ocasionalmente as procuras temporais de ótimas
(próximo do padrão)
posições tiveram um pouco de novidade.
O atleta mostra quase somente soluções dentro do
Insuficiente repertório padrão, que aparecem sempre. Muito
(quase somente Nenhuma 2
ocasionalmente as procuras temporais de ótimas
padrão) posições tiveram um pouco de novidade.
O atleta mostra somente soluções padrão, que
Muito Insuficiente aparecem sempre. As procuras temporais de ótimas
Nenhuma 1
(somente padrão) posições não tiveram novidade.

Observando os valores da média, mediana e de cada categoria em relação ao CTP


moda e recorrendo à escala da avaliação do (convergente).
teste de conhecimento tático processual Na categoria sub-14 os valores de medida
(KORA-OO: convergente), pode-se descrever de tendência central apontam como
como caracterizam-se a maioria dos jogadores característica predominante: “O jogador não
50 | D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

tem quase nunca procurado a posição ótima de característica predominante: “O jogador


forma a oferecer ao portador da bola a opção de mostra quase somente soluções dentro do
passe” (Memmert, 2002). repertório padrão, que aparecem sempre.
Na categoria sub-15 os valores de medida Muito ocasionalmente as procuras temporais
de tendência central registram o de ótimas posições tiveram um pouco de
comportamento tático: “O jogador tem de novidade” (Memmert, 2002).
forma irregular procurado a posição ótima e Na categoria sub-15 os valores de medida
oferecido ao portador da bola quase sempre a de tendência central registram o
possibilidade de passe” (Memmert, 2002). comportamento tático dos atletas: “O jogador
Já na categoria sub-17 os valores de medida mostra, em regra gerais, soluções dentro do
de tendência central caracterizam o repertório padrão, que aparecem frequen-
comportamento tático: “O jogador apesar de temente. Ocasionalmente as procuras
estar em uma posição difícil tem procurado temporais de ótimas posições tiveram um
frequentemente uma posição ótima para dar a pouco de novidade” (Memmert, 2002).
possibilidade de passe” (Memmert, 2002). Já na categoria sub-17 os valores de medida
Foi também objetivo do estudo verificar o de tendência central levam à seguinte
nível de CTP (divergente), considerando que característica na escala: “O jogador mostra uma
essa forma de manifestação do pensamento é diferente solução que não está dentro do
extremamente importante para o repertório padrão, mas que aparece
comportamento tático, na medida em que está frequentemente. As procuras temporais de
estritamente relacionada com a criatividade ótimas posições tiveram sim ainda uma
tática dos atletas. novidade” (Memmert, 2002).
A Tabela 2 mostra os dados descritivos do A Tabela 3 apresenta os dados descritivos
CTP (divergente) dos jogadores, em função da dos resultados obtidos na avaliação do CTD
categoria. dos jogadores em relação à categoria.

Tabela 2 Tabela 3
Dados descritivos do CTP divergente por escalão Dados descritivos do CTD por escalão
Escalão n M DP Moda Mediana Escalão n M DP Moda Mediana
Sub-14 80 2.43 .83 2 2 Sub-14 80 6.63 .75 6 6
Sub-15 69 3.46 .92 3 3 Sub-15 69 7.00 .47 7 7
Sub-17 72 4.18 1.04 4 4 Sub-17 72 6.97 .60 6 6
Geral 221 3.32 1.18 3 3 Geral 221 6.85 .65 6 6

Na Tabela 2, verifica-se que há diferenças De acordo com a Tabela 3 verifica-se que há


nas médias dos escores obtidos pelas 3 diferença de conhecimento tático declarativo
categorias em estudo, sendo a média da entre os escalões em estudo. O sub-14 obteve
categoria sub-17 (4.18) a maior de todas, uma pontuação média de 6.63. O sub-15
seguida pela média da categoria sub-15 (3.46) apresentou média de 7.00 enquanto o sub-17
e da categoria sub-14 (2.43). alcançou média 6.97.
Observando os valores da média, mediana e
moda e recorrendo à escala da avaliação do Associação entre os conhecimentos táticos
teste, pode-se descrever como caracterizam-se por escalão
a maioria dos jogadores de cada categoria em A Tabela 4 apresenta os resultados do
relação ao CTP (divergente). coeficiente de correlação entre o conhecimento
Na categoria sub-14 os valores de medida tático processual convergente e divergente,
de tendência central apontam como geral e específico, para cada uma dos escalões.
O conhecimento tático dos jogadores de futebol | 51

Tabela 4 Tabela 5
Associação entre CTP Convergente e CTP Divergente por Associação entre CTD e CTP Convergente por escalão
escalão Escalão n rho Spearman
Escalão n Kendall’s tau Sub-14 80 −.160
Sub-14 80 .785* Sub-15 69 −.990
Sub-15 69 .795* Sub-17 72 −.560
Sub-17 72 .805* Geral 221 .148*
Geral 221 .865* * p < .05
* p < .05

A Tabela 6 apresenta os resultados de


Observa-se na Tabela 4, em relação ao
correlação entre o conhecimento tático
coeficiente de correlação geral, um alto nível de
declarativo e processual divergente geral e
correlação entre os conhecimentos tático
especifico por escalão.
processual convergente e divergente (.865).
Essa correlação elevada é comprovada uma vez Tabela 6
que os escalões que obtiveram os melhores Associação entre CTD e CTP Divergente por escalão
resultados no teste de conhecimento Escalão n rho Spearman
processual convergente são os mesmos que Sub-14 80 .360
destacaram no teste de conhecimento Sub-15 69 .104
processual divergente. Sub-17 72 −.001
Os coeficientes de correlação entre os testes Geral 221 .153*
de conhecimento tático processual convergente * p < .05

e divergente elevaram-se do escalão mais novo


(sub-14) (.785) para o mais experiente (sub- Pela Tabela 6, o sub-14 obteve uma
17) (.805). Essa correlação mostra a correlação positiva (.360), ao contrário dos
importância da interação dos pensamentos demais escalões. Acrescenta-se ainda que todas
convergente e divergente para resolução dos as correlações foram baixas.
problemas apresentados no jogo. O resultado contradiz a alta correlação entre
Os resultados apresentados acima o conhecimento tático processual e declarativo
confirmam a tendência de que os jogadores que (Blomqvist, Vänttinen, & Luthanen, 2005;
demonstram maior inteligência de jogo são French & Thomas, 1987; Garganta, 1997;
também os mais criativos, corroborando a idéia Matias, 2009; Maxwell, Masters, & Eves, 2003;
apresentada no modelo pendular do Thomas, 1994). Entretanto, explica-se em
conhecimento técnico-tático nos JEC em que a parte os resultados a partir do exposto de que
ação criativa é também inteligente (Giacomini, o conhecimento é aprendido e codificado de
2007; Greco, 2006; Memmert & Perl, 2009; forma declarativa para então ser compilado em
Morales & Greco, 2007). uma forma processual (Anderson, 1982;
A Tabela 5 apresenta os resultados de Campos, 1993; Giacomini, 2007; Matias, 2009;
correlação entre o conhecimento tático Matias & Greco, 2010).
declarativo e processual convergente geral e Ao fim dessa discussão, em consonância
especifico por escalão. com os resultados apurados, verifica-se uma
De acordo com a Tabela 5 as correlações concordância com o estudo de Williams e
entre o conhecimento tático declarativo e Davids (1995). Em ambos o conhecimento
processual convergente foram negativas para tático declarativo demonstrou um baixo
todos os escalões. Importante ressaltar que o rendimento em praticantes não experientes no
sub-15 apresentou praticamente uma futebol. Sendo ainda que no estudo de
correlação negativa perfeita (−.990). Williams e Davids (1995) os praticantes não
52 | D.S. Giacomini, V.O. Soares, H.F. Santos, C.J. Matias, P.J. Greco

experientes tiveram resultados semelhantes Blomqvist, M., Vänttinen, T., & Luhtanen, P.
aos expectadores desta modalidade desportiva. (2005). Assessment of secondary school
Por fim, o presente estudo corrobora com o students' decision-making and game-play
ability in soccer. Physical Education & Sport
trabalho de Williams e Davids (1995), pois os
Pedagogy, 10, 107-119.
jogadores mais experientes demonstraram um
Campos, W. (1993). Effects of age and skill level on
conhecimento tático declarativo mais motor and cognitive components of soccer
elaborado. performance. Tese de doutorado, University of
Em relação ao conhecimento tático Pittsburgh, Estados Unidos da América.
processual, este estudo relaciona-se com a Chi, M. T., & Glaser, R. (1980). The measurement
investigação científica de Kannekens, Elferink- of expertise: Analysis of the development of
Gemser e Visscher (2009), com amostra knowledge and skill as a basis for assessing
composta por jogadores das seleções nacionais achievement. In E. L. Baker & E. L. Quellmalz
(Eds.), Educational testing and evaluation: Design,
de jovens da Alemanha e da Indonésia, pois no
analysis, and policy (pp. 37-48). Beverly Hills,
mesmo também foi encontrado uma correlação
CA: Sage Publications.
positiva entre habilidades táticas e o nível Dantas, L. E., & Manoel, E. J. (2005).
competitivo de jogadores de futebol. Conhecimento no desempenho de habilidades
motoras: O problema do especialista motor. In
CONCLUSÕES G. Tani (Ed.), Comportamento motor:
Em direção a verificar a associação entre o Aprendizagem e desenvolvimento (pp. 295-313).
conhecimento tático processual convergente e Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
divergente, por escalão, observou-se um alto Dorsch, F., Häcker, H., & Stapf, K. H. (2001).
nível de correlação entre esses conhecimentos. Dicionário de Psicologia. Petrópolis: Vozes.
Eysenck, M. W., & Keane, M. T. (1994). Psicologia
Por escalão os resultados foram semelhantes,
cognitiva: Um manual introdutório. Porto Alegre:
tendo como característica maior correlação
Artmed.
quanto mais elevado o escalão. Assim, French, K., & Housner, L. (1994). Expertise in
expondo a importância da interação dos learning, performance and instruction in sport
pensamentos convergente e divergente para and physical activity: Introduction. Quest, 46,
resolução dos problemas apresentados no jogo. 149-152.
Em direção a verificar a associação entre o French, K., & Thomas, J. (1987). The relation of
conhecimento tático declarativo e processual knowledge development to children's
basketball performance. Journal of Sport
(convergente e divergente) geral e especifico
Psychology, 9, 15-32.
por escalão, verificou-se uma baixa correlação
Garganta, J. (1997). Modelação tática do jogo de futebol:
entre esses conhecimentos. O processo de Estudo da organização da fase ofensiva em equipas de
ensino-aprendizagem-treinamento foi capaz de alto rendimento. Tese de Doutorado,
propiciar aos atletas um processo de tomada de Universidade do Porto, Portugal.
decisão inteligente e criativa, ocorrendo a Garganta, J., & Pinto, J. (1995). O ensino de futebol.
procedimentalização do declarativo para o In A. Graça & J. Oliveira (Eds.), O ensino dos
processual, diagnosticado pela investigação jogos desportivos (pp. 95-137). Porto: CEJD-UP.
desse estudo. Novas pesquisas científicas Giacomini, D. S. (2007). Conhecimento tático
declarativo e processual no futebol: Estudo
devem emergir com o presente estudo para
comparativo entre jogadores de diferentes categorias e
averiguar as metodologias de ensino que estão
posições. Dissertação de Mestrado, Universidade
a propiciar um eficaz processo decisório por Federal de Minas Gerais, Brasil.
parte do atleta nos jogos esportivos coletivos. Giacomini, D. S., & Greco, P. J. (2008). Comparação
do conhecimento tático processual em
REFERÊNCIAS jogadores de futebol de diferentes categorias e
Anderson, R. J. (1982). Acquisition of cognitive posições. Revista Portuguesa de Ciências do
skill. Psychological Review, 89, 369-406. Desporto, 8(1), 126-136.
O conhecimento tático dos jogadores de futebol | 53

Greco, P. J. (1995). O ensino do comportamento tático Morales, J. P., & Greco, P. J. (2007). A influência de
nos jogos esportivos coletivos: Aplicação no handebol. diferentes metodologias de ensino-
Tese de Doutorado, Universidade Estadual de aprendizagem-treinamento no basquetebol
Campinas, Brasil. sobre o nível de conhecimento tático
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Todo o conteúdo da revista Motricidade está licenciado sob a Creative Commons, excepto
quando especificado em contrário e nos conteúdos retirados de outras fontes bibliográficas.
Motriz, Rio Claro, v.15 n.3 p.657-668, jul./set. 2009

Artigo de Atualização/Divulgação

Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação

Israel Teoldo da Costa 1,3


Júlio Manuel Garganta da Silva 3,4
Pablo Juan Greco 2
Isabel Mesquita 3,4
1
Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG, Brasil
2
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil
3
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal
4
Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto, CIFII, FADEUP,
Porto, Portugal

Resumo: São raros os estudos científicos que se propõem a relacionar o conhecimento tático dos
jogadores aos princípios de jogo, devido à dificuldade de observá-lo e quantificá-lo. Observa-se na
literatura que as definições dos princípios de jogo encontram-se ainda em um plano conceptual, no qual os
autores utilizam variadas terminologias, referências e características para defini-los. Diante desse contexto
esse artigo tem por objetivos contribuir para a definição, no plano conceitual e operativo, dos princípios
táticos do jogo de Futebol, propor a adição de dois princípios táticos fundamentais e evidenciar as suas
aplicabilidades práticas nas fases ofensiva e defensiva do jogo.
Palavras-chave: Futebol. Tática. Princípios de Jogo.

Tactical Principles of Soccer Game: concepts and application


Abstract: There are few researches that study tactical knowledge of soccer players concerning games
principles. It occurs because it is difficult to observe and evaluate the tactical knowledge during the game.
Definitions of the games principles still are confused in the literature. The authors have used diverse
terminologies, references and characteristics to define them. The aims of this paper are to provide a review
about some concepts regarding soccer tactical principles, to purpose the addition of more two tactical game
principles and to show their practical applications on the offensive and defensive phase.
Key Words: Soccer. Tactics. Game Principles.

partida relativa às movimentações da bola e às


Introdução alternativas de ação, tanto dos companheiros
No Futebol, as capacidades táticas e os como dos adversários (DUPRAT, 2007). Essa
processos cognitivos subjacentes à tomada de forma de compreensão da tática confere um
decisão são considerados requisitos essenciais destaque especial para as movimentações e
para a excelência do desempenho esportivo. posicionamento no campo deixando perceber a
Durante uma partida surgem inúmeras situações capacidade do jogador para ocupar e/ou criar
cuja freqüência, ordem cronológica e espaços livres em função dos princípios táticos
complexidade não podem ser previstas, exigindo adequados para o momento.
uma elevada capacidade de adaptação e de
resposta imediata por parte dos jogadores e das Define-se princípios táticos como um conjunto
equipes a partir das noções de oposição de normas sobre o jogo que proporcionam aos
presentes em cada fase de jogo (GARGANTA, jogadores a possibilidade de atingirem
1997). rapidamente soluções táticas para os problemas
advindos da situação que defrontam
Essas situações de oposição são tão
(GARGANTA; PINTO, 1994). Por possuírem esse
evidentes no jogo de Futebol que se pode
caráter, os princípios táticos precisam ser
perceber a tática pela organização espacial dos
subentendidos e estar presentes nos
jogadores no campo face às circunstâncias da
comportamentos dos jogadores durante uma
I. T. Costa, J. M. Garganta da Silva, P. J. Greco & I. Mesquita

partida, para que sua aplicação facilite atingir jogo, e que são identificados como: princípios
objetivos que conduzem à marcação de um gol gerais, operacionais e fundamentais.
ou ao seu impedimento. Coletivamente, a
Os princípios gerais recebem essa
aplicação dos princípios táticos auxilia a equipe
denominação pelo fato de serem comuns as
no melhor controle do jogo, a manter a posse de
diferentes fases do jogo e aos outros princípios
bola, a realizar variações na sua circulação, a
(operacionais e fundamentais), pautando-se em
alterar o ritmo de jogo, e a concretizar ações
três conceitos advindos das relações espaciais e
táticas visando romper o equilíbrio da equipe
numéricas, entre os jogadores da equipe e os
adversária e, conseqüentemente, a alcançar mais
adversários, nas zonas de disputa pela bola, a
facilmente o gol (ZERHOUNI, 1980; ABOUTOIHI,
saber: (i) não permitir a inferioridade numérica, (ii)
2006). Por isso, quanto mais ajustada e
evitar a igualdade numérica e (iii) procurar criar a
qualificada for a aplicação dos princípios táticos
superioridade numérica (QUEIROZ, 1983;
durante o jogo, melhor poderá ser o desempenho
GARGANTA; PINTO, 1994).
da equipe ou do jogador na partida.
Os princípios operacionais são, segundo
Diante da importância dos princípios táticos
Bayer (1994, p.145), “... as operações
para a organização e desempenho da equipe no
necessárias para tratar uma ou várias categorias
campo de jogo, o presente artigo tem por objetivo
de situações”. Portanto, eles se relacionam a
contribuir para a definição, no plano conceitual e
conceitos atitudinais para as duas fases do jogo,
operativo, dos princípios táticos do jogo de
sendo na defesa: (i) anular as situações de
Futebol, propor a adição de dois princípios táticos
finalização, (ii) recuperar a bola, (iii) impedir a
fundamentais e evidenciar as suas aplicabilidades
progressão do adversário, (iv) proteger a baliza e
práticas nas fases ofensiva e defensiva do jogo.
(v) reduzir o espaço de jogo adversário; e no
ataque: (i) conservar a bola, (ii) construir ações
Os Princípios Táticos ofensivas, (iii) progredir pelo campo de jogo
Os princípios táticos decorrem da construção adversário, (iv) criar situações de finalização e (v)
teórica a propósito da lógica do jogo, finalizar à baliza adversária.
operacionalizando-se nos comportamentos tático-
técnicos dos jogadores. Solicita-se, portanto, a Já os princípios fundamentais representam um
conscientização dos jogadores sobre os mesmos, conjunto de regras de base que orientam as
para simplificar a transmissão e a ações dos jogadores e da equipe nas duas fases
operacionalização dos conceitos, ajudando na do jogo (defesa e ataque), com o objetivo de criar
seleção e na execução da ação necessária à desequilíbrios na organização da equipe
situação. Os princípios táticos possuem certo adversária, estabilizar a organização da própria
grau de generalização das movimentações e se equipe e propiciar aos jogadores uma intervenção
relacionam estreitamente com as ações dos ajustada no “centro de jogo”1. Na literatura
jogadores, com os mecanismos motores e com a observam-se propostas com quatro princípios
consciência e o conhecimento tático (CASTELO, para cada fase de jogo condizentes com os seus
1994). objetivos, sendo na defesa os princípios: (i) da
contenção, (ii) da cobertura defensiva, (iii) do
Na literatura especializada em Futebol tem-se equilíbrio e (iv) da concentração; e no ataque os
utilizado diferentes denominações para princípios: (i) da penetração, (ii) da mobilidade,
mencionar e caracterizar os princípios táticos. (iii) da cobertura ofensiva e do (iv) espaço
Entre a variedade de conceitos apresentada (WORTHINGTON, 1974; HAINAUT; BENOIT,
pelos diferentes autores (ZERHOUNI, 1980; 1979; QUEIROZ, 1983; GARGANTA; PINTO,
TEODORESCU, 1984; WRZOS, 1984; BAUER; 1994; CASTELO, 1999).
UEBERLE, 1988; MOMBAERTS, 1991; BAYER,
1994; CASTELO, 1994; GARGANTA; PINTO, Além desses princípios propomos a adição de
1994; PERENI; DI CESARE, 1998; RAMOS, dois outros que estão relacionados com a
2003; ABOUTOIHI, 2006; DUPRAT, 2007),
1
percebe-se certa congruência das idéias em volta O “centro de jogo” afigura-se em uma circunferência de
9,15m de raio a partir da localização da bola. Essa medida do
de três constructos teóricos os quais relacionam “centro de jogo” foi concebida com base nas regras oficiais do
a organização tática dos jogadores no campo de jogo de futebol (FIFA, 2008), porque parte-se do princípio que
os jogadores que se encontram a mais que 9,15m do portador
da bola, não conseguem interferir diretamente nas suas
ações.

658 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009


Princípios Táticos do Futebol

concepção de tática de jogo e com a de jogo”, garantindo efetividade e organização.


coordenação coletiva funcional2, designados de Com efeito, um jogador ao assumir outra posição
princípios da “unidade defensiva” e da “unidade ou função específica no jogo, conforme a
ofensiva”. Estes baseiam-se na coesão, na configuração momentânea do mesmo, espera
efetividade e no equilíbrio funcional entre as que outro companheiro supra as suas obrigações
linhas3 longitudinais e transversais da equipe, de
e a sua posição dentro do sistema de jogo da
modo a transmitir confiança e segurança aos
equipe (CASTELO, 1996).
companheiros de equipe e a propiciar intervenção
indireta no “centro de jogo” daqueles jogadores Existem também situações nas quais os
que estão mais afastados das zonas de disputa jogadores distantes do “centro de jogo” oferecem
da bola. condições para que os seus companheiros
A adição desses princípios reforça a diretamente envolvidos nas ações próximas da
importância da interação dos elementos inerentes bola possam pressionar, tanto ofensiva quanto
ao jogo bem como da idéia apresentada por defensivamente, a equipe adversária. Mas para
Garganta (2005, p. 181) quando afirma “...cada isso, conforme ressalta Castelo (1994), é
uma das equipes que se defrontam comporta-se necessário que cada jogador para além de tomar
como uma unidade cujas relações entre os seus consciência da superfície do campo de jogo, dos
elementos se sobrepõem às mais-valias seus limites e das suas funções específicas de
individuais.”. base, conheça igualmente as missões dos seus
companheiros e se prepare para ajudá-los em
De acordo com tal concepção, e por meio
quaisquer situações de jogo, apoiando ou
desses princípios que se orientam em função da
assumindo as suas funções.
compreensão de jogo por parte dos jogadores e
do modelo de jogo preconizado para a equipe, Além disso, a aplicação desses princípios e a
presume-se que os jogadores ocupem de forma compactação da equipe obrigam a equipe
racional o campo de jogo, em função das adversária a jogar sob uma forte pressão técnico-
configurações instantâneas da partida, evitando- tática e psicológica, o que pode elevar as
se o alongamento e a descompensação das possibilidades de erros em situações de jogo e a
linhas de atuação e permitindo que a equipe ajudar os jogadores a se prepararem para
jogue em bloco homogêneo4 (HAINAUT; BENOIT, intervirem diretamente no “centro de jogo”, a
1979). qualquer momento ou circunstância, seja pelo
Em termos práticos, a aplicação desses deslocamento do jogador em direção ao ponto
onde está a bola ou pela flutuação do “centro de
princípios se manifesta em situações em que o
jogo” na direção do jogador (TAVARES; GRECO;
jogador sente que a sua equipe dispõe de
GARGANTA, 2006).
organização de base que possibilite a ocorrência
de compensações ou apoios às ações no “centro A figura 1 mostra de forma esquemática os
princípios táticos gerais, operacionais e
2
fundamentais, assim como os seus objetivos em
Coordenação coletiva funcional refere-se a capacidade da
equipe se movimentar consoante o aproveitamento das cada fase de jogo. Observa-se que os princípios
qualidades e competências de cada jogador. fundamentais possuem uma relação dialética, ou
3
As linhas longitudinais e transversais da equipe se originam
a partir do posicionamento dos jogadores no campo de jogo. seja, para cada um dos cinco princípios do
Trata-se de linhas imaginárias formadas entre os ataque (penetração, cobertura ofensiva,
posicionamentos dos jogadores que se concebidas
perpendicularmente a linha de fundo são denominadas mobilidade, espaço e unidade ofensiva) existem
logitudinais, e se concebidas em paralelo à esse mesmo outros tantos da defesa (contenção, cobertura
referencial são denominadas transversais.
4
Neste contexto, a noção de "bloco homogêneo" deve ser defensiva, equilíbrio, concentração e unidade
reportada a um tipo de homogeneidade dinâmica, em defensiva) que possuem objetivos opostos. A
referência às finalidades do conjunto, ou seja, a uma
coordenação coletiva unitária. Trata-se de um fenômeno seguir a figura será apresentada as
sistêmico característico do comportamento coletivo, tal como especificações, as diretrizes e as ações
ocorre com os cardumes, os bandos, os enxames, quando se
movimentam, como se tratasse de um corpo único. Na busca características de cada um desses princípios
da homogeneidade organizativa, as equipes demandam o para cada fase de jogo.
equilíbrio posicional, para assegurarem a identidade e a
integridade do sistema coletivo, ao mesmo tempo que
procuram induzir o desequilíbrio/desorganização nos
adversários.

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I. T. Costa, J. M. Garganta da Silva, P. J. Greco & I. Mesquita

Figura 1. Fases de jogo, objetivos e princípios táticos gerais, operacionais e fundamentais do jogo de
Futebol (baseado em GARGANTA; PINTO, 1994)

tático-técnicos em prol dos objetivos da equipe,


Princípios Táticos Fundamentais da ou seja, conduzam a bola para as áreas vitais do
Fase Ofensiva campo de jogo e marquem gol (CASTELO, 1996).
Os princípios táticos fundamentais da fase
O cumprimento de tais princípios táticos
ofensiva de jogo contribuem para que os
permite à equipe obter condições favoráveis em
jogadores, tanto os mais distantes como os mais
termos de espaço e tempo para a realização da
envolvidos diretamente no “centro de jogo”,
tarefa, isto é, maior número de jogadores no
orientem suas atitudes e seus comportamentos
“centro de jogo”, maior facilidade para executar

660 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009


Princípios Táticos do Futebol

as ações tático-técnicas ofensivas e maior companheiros do portador da bola se posicionam


possibilidade de criar instabilidade na no campo de jogo de forma a receber a bola e a
organização defensiva da equipe adversária dar continuidade à jogada, realizando, por
(CASTELO, 1994). exemplo, tabelas e/ou triangulações com o
portador da bola. Considera-se que o jogador
Princípio da Penetração cumpriu o princípio da cobertura ofensiva quando
O princípio da penetração se caracteriza pela
ele se posiciona no “centro de jogo” e abre
evolução do jogo, em situações onde o portador
possibilidade de uma linha de passe ao portador
da bola consegue progredir em direção à baliza
da bola, permitindo-o passar-lhe a bola.
ou à linha de fundo adversária, em busca de
áreas do campo que oferecem maior risco ao Em termos práticos, pode-se verificar que a
adversário e são susceptíveis à continuidade da distância do jogador que faz a cobertura ofensiva
ação ofensiva, à finalização ou à marcação do ao portador da bola pode variar em função das
gol. características da equipe adversária (técnica,
tática, física, psicológica, etc), da estratégia
As diretrizes desse princípio se orientam na
adversária para o jogo (marcação meio campo,
busca da desorganização da defesa adversária,
marcação pressão, etc) das condições climáticas
criando situações vantajosas ao ataque em
(vento, chuva, neve, calor, frio etc), das
termos espaciais e numéricos, que permite ao(s)
condições do terreno de jogo (gramado, terra,
jogador(es) atacante(s) ascender(em) a uma
irregular, etc) e do local onde a bola se encontra
zona vital do campo de jogo, favorável à
no campo de jogo (terço defensivo, ofensivo ou
finalização.
intermédio). É necessário, então, que os
Como ações características do princípio da
jogadores que realizam a cobertura ofensiva
penetração podem-se considerar os dribles e
percebam essas variáveis e, assim, se
progressões que diminuem o espaço entre o
posicionem de forma adequada às situações de
portador da bola e a linha de fundo adversária,
jogo. Por exemplo, o jogador em cobertura
propiciando cruzamentos ou deslocamentos em
ofensiva pode posicionar-se um pouco mais
direção à área penal adversária; drible(s) ao(s)
afastado do portador da bola, quando a bola está
adversário(s) que favorece(m) o ganho de espaço
próxima do terço ofensivo, onde se subentende
e orienta o portador da bola em direção à baliza;
maior pressão da equipe adversária pela
drible(s) ao(s) adversário(s) que permite(m) ao
recuperação da posse de bola, ou quando as
portador da bola executar um passe/assistência
condições climáticas e do terreno de jogo forem
para um companheiro dar seqüência ao jogo ou
precárias, na medida em que é exigida maior
finalizar à baliza; ou ainda, em situação de 1X0
capacidade de domínio da bola, o que também
quando o atacante de posse da bola “ataca” o
pode demandar mais tempo para o controle da
espaço em direção à baliza adversária.
mesma. Já em situações, nas quais a bola se
Princípio da Cobertura Ofensiva encontra mais próxima do terço defensivo, lugar
O princípio da cobertura ofensiva está onde a pressão da equipe adversária é menor ou
relacionado com as ações de aproximação dos as condições climáticas e do terreno de jogo são
companheiros de equipe ao portador da bola, de mais favoráveis à execução de um melhor passe,
forma que ele tenha opções ofensivas para dar os jogadores podem fazer a cobertura ofensiva
seqüência ao jogo, através do passe ou por uma mais próxima do portador da bola para dar mais
ação de penetração na defesa adversária. ritmo e velocidade ao jogo (CASTELO, 1994).
As diretrizes desse princípio pressupõem a
Princípio da Mobilidade
simplificação da resposta tático-técnica do O princípio da mobilidade está relacionado à
portador da bola à situação de jogo, a diminuição iniciativa do(s) jogador(es) de ataque, sem a
da pressão dos adversários sobre o mesmo, o posse da bola, em buscar posições ótimas para
aumento oportuno de manutenção da posse de receber a bola. Dentre as várias movimentações
bola e, de certa forma, a formação do equilíbrio realizadas pelo jogador no campo de jogo,
coletivo que beneficia as primeiras ações denominamos de mobilidade de ruptura a
defensivas em caso do jogador perder a bola movimentação do atacante nas “costas” do último
para a equipe adversária. homem de defesa, de forma a criar instabilidade
As ações relacionadas com esse princípio nas ações defensivas da equipe adversária e a
podem ser percebidas no jogo quando os

Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009 661


I. T. Costa, J. M. Garganta da Silva, P. J. Greco & I. Mesquita

aumentar substancialmente as chances de Visualmente o sucesso das ações de


marcar um gol. Concebe-se também que essas mobilidade pode ser percebido quando o atleta
movimentações favorecem o aparecimento de consegue receber a bola em uma situação mais
novos espaços de jogo que propiciam melhores vantajosa ao ataque e a sua movimentação
condições ao portador da bola, para dar obriga o defensor a acompanhá-lo, deslocando-o
seqüência a ação ofensiva em direção à baliza do seu posicionamento de cobertura defensiva,
adversária e/ou para que outros jogadores da ou quando um passe é feito para o espaço criado
equipe se movimentem no espaço de jogo pela ação de mobilidade, propiciando criar
efetivo. ameaças ao sistema defensivo adversário.
As diretrizes desse princípio objetivam em
Princípio do Espaço
primeira instância a variabilidade das posições, a O princípio do espaço se configura a partir da
criação de linhas de passe em profundidade e a busca incessante dos jogadores, sem a posse da
ruptura da estrutura defensiva adversária, para bola, por posicionamentos mais distantes do
com o efeito pretendido aumentar o ritmo de jogo portador da bola, criando dificuldades defensivas
e alcançar o desequilíbrio defensivo adversário. à equipe adversária que diante da ampliação
Outro aspecto importante diz respeito às transversal e/ou longitudinal do campo de jogo,
dificuldades criadas pelos atacantes sem bola deverá optar por marcar um espaço vital de jogo
aos seus marcadores quando executam ações de ou o adversário (WORTHINGTON, 1974).
mobilidade que saem da sua amplitude de visão, As ações desse princípio iniciam-se após a
porque isso complica a percepção simultânea da recuperação da posse da bola, quando todos os
bola e do jogador. Além disso, os espaços jogadores da equipe buscam e exploram
criados por essas movimentações, quando posicionamentos que propiciam a ampliação do
devidamente explorados pelos outros espaço de jogo ofensivo, tendo como orientação
companheiros de equipe, fazem com que os os comportamentos técnico-táticos dos seus
jogadores adversários tenham dificuldade para companheiros e adversários em função da
marcar seus respectivos jogadores de ataque, localização da bola. Assim, o afastamento de
impossibilitando a cobertura defensiva mútua alguns jogadores do “centro de jogo” cria espaços
(WORTHINGTON, 1974). para os seus companheiros beneficiarem de
Por possuir essas vantagens, o autor corredores livres em direção à baliza adversária
supracitado, considera que esse seja um dos ou facilita a ocorrência de situações de 1X1, com
princípios mais importantes a ser desenvolvido no vantagem clara para o jogador de ataque
plano coletivo. Para tal, é necessário que todos (CASTELO, 1996).
os jogadores consigam compreender os As diretrizes desse princípio estão diretamente
deslocamentos dos seus companheiros em associadas aos conhecimentos teóricos que os
função do posicionamento escolhido pelo jogadores possuem sobre a tática do jogo,
portador da bola, o que em princípio não se porquanto a compreensão do espaço para o jogo,
reporta ao movimentar-se pura e simplesmente, em especial para uma determinada ação
mas sim a um movimentar com significado e ofensiva. Esse princípio será fundamental para
organização tática. ajudá-lo a ocupar e a explorar os espaços vitais,
As ações relativas a esse princípio podem ser que propiciam maiores e melhores oferecimentos
percebidas no jogo por meio dos deslocamentos de linhas de passe em profundidade e largura e
dos jogadores em relação à linha de fundo ou à que são importantes para a criação de um maior
baliza adversária. As movimentações em direção número de opções táticas ofensivas
à linha de fundo podem ser denominadas por (SOLOMENKO, 1982).
ações de mobilidade divergente, que em suma Além disso, o domínio das ações
buscam abrir linha de passe, ampliar o campo de características desse princípio é fundamental
jogo na sua profundidade e largura, e/ou para o sucesso no jogo, uma vez que o espaço
desestabilizar a defesa adversária. Além dessas, condiciona o tempo de realização da ação e da
existem as ações de mobilidade convergente que tomada de decisão em função da configuração
são movimentações que o atacante realiza em momentânea da partida. Assim, quanto mais
direção a baliza adversária com o intuito de obter espaço a equipe tiver para atacar, mais bem
espaço e condições extremamente favoráveis
para a consecução do gol.
662 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009
Princípios Táticos do Futebol

elaboradas poderão ser as suas respostas às Ao jogar de acordo com esse princípio, a
exigências e demandas da situação. equipe conseguirá em bloco estruturado ampliar,
No jogo as ações do princípio do espaço sem descompensar, as suas linhas de atuação e
podem ser percebidas quando os jogadores penetração na equipe adversária, de forma a
executam movimentações de dispersão, tanto na resolver situações táticas momentâneas de jogo
largura quanto na profundidade, buscando a com sentido pleno de equipe.
ampliação do espaço de jogo efetivo; como, por Durante uma partida, as ações características
exemplo, as movimentações individuais desse princípio podem ser verificadas a partir do
realizadas imediatamente após a equipe posicionamento dos jogadores no campo de jogo,
recuperar a posse de bola que, se executadas de forma a favorecer uma circulação contínua,
eficientemente no plano coletivo, proporcionam a fluente e eficaz da bola, evitando-se ao máximo a
criação e a exploração de espaços livres em sua interrupção (perda da posse de bola). Além
busca do gol. disso, o conjunto das ações da equipe irá
transmitir confiança e segurança aos
Princípio da Unidade Ofensiva companheiros situados no “centro de jogo”,
O princípio da unidade ofensiva está
permitindo a criação de contínua instabilidade e
estritamente relacionado com a compreensão de
conseqüentes desequilíbrios na organização
jogo obtida pelos jogadores e com o modelo de
defensiva adversária.
jogo concebido para a equipe. Esse princípio se
estabelece com base no conhecimento dos
Princípios Táticos Específicos da Fase
jogadores sobre a importância das suas
Defensiva
movimentações, dos seus limites e das suas
Os princípios táticos específicos da fase
posições em relação aos companheiros, à bola e
defensiva auxiliam todos os jogadores, sejam os
aos adversários (TEISSIE, 1969; HAINAUT;
mais distantes ou os mais diretamente envolvidos
BENOIT, 1979). Para se buscar a coesão, a
no “centro de jogo”, a coordenarem as suas
efetividade e o equilíbrio funcional entre as linhas
atitudes e os seus comportamentos tático-
longitudinais e transversais da equipe em ações
técnicos dentro da lógica de movimentações
ofensivas, os jogadores devem também possuir
preconizada para o método defensivo da equipe,
elevado entendimento tático com o objetivo de
buscando essencialmente, a execução rápida e
não desmembrar a solidez do conjunto,
efetiva das ações de defesa que levem a
permitindo jogar como um todo indissolúvel
consecução dos dois principais objetivos
(SILVA; RIAS, 1998).
defensivos: defesa da própria baliza e
As diretrizes desse princípio pressupõem uma recuperação da posse de bola (WORTHINGTON,
organização em função do espaço de jogo e das 1974).
funções específicas dos jogadores, na qual eles
O cumprimento desses princípios ajudará os
devem cumprir um conjunto de tarefas tático-
jogadores a orientarem os seus comportamentos
técnicas durante a fase ofensiva que ultrapassa
e posicionamentos em relação à bola, à própria
claramente a missão preponderante de cada
baliza, aos adversários, aos companheiros e aos
jogador na sua atividade real (CASTELO, 1996).
acontecimentos dinâmicos da partida.
Ao considerar as diretrizes desse princípio, as Proporcionando que a defesa consiga orientar as
ações de um ataque altamente organizado ações de ataque para áreas menos vitais do
suportam medidas preventivas asseguradas por campo de jogo e possa também restringir o
um ou mais jogadores que se colocam e agem na espaço e o tempo disponível para a realização
retaguarda dos jogadores atacantes. Por meio das ações de ataque por parte dos jogadores
desses comportamentos, inicia-se uma adversários (BANGSBO; PEITERSEN, 2002).
concepção de organização da equipe que será
responsável por fazer uma passagem organizada Princípio da Contenção
à defesa em caso de insucesso nas ações O princípio da contenção refere-se,
ofensivas e/ou a organização de uma defesa basicamente, à ação de oposição do jogador de
temporária em função da situação, até que todos defesa sobre o portador da bola visando diminuir
os companheiros se enquadrem as suas reais o espaço de ação ofensiva, restringindo as
posições no sistema defensivo da equipe possibilidades de passe a outro jogador atacante,
(TEODORESCU, 1984). evitando o drible que favoreça progressão pelo

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I. T. Costa, J. M. Garganta da Silva, P. J. Greco & I. Mesquita

campo de jogo em direção ao gol e, preocupação se foca basicamente no portador da


prioritariamente, impedindo a finalização à baliza bola. Já a cobertura defensiva realizada em
(CASTELO, 1996). situações de igualdade numérica (ex. 2X2)
As diretrizes desse princípio preconizam a implica outras preocupações ao jogador que a
marcação rigorosa e individual sobre o portador executa, uma vez que, para além de se
da bola, a parada ou atraso da ação ofensiva da preocupar com o portador da bola e o colega que
equipe adversária, a restrição das linhas de executa a contenção, ele tem que se atentar para
passe e de finalização à baliza, o impedimento da as movimentações feitas pelo atacante que
progressão longitudinal pelo campo de jogo, a executa a cobertura ofensiva.
indução do jogo para um determinado lado do Alguns fatores relativos aos aspectos
campo e o ganho de tempo para a organização extrínsecos e intrínsecos do jogo devem ser
defensiva de modo a aumentar a probabilidade considerados pelos jogadores no momento da
de defender eficazmente e a recuperar a bola realização da cobertura defensiva, em virtude de
(WORTHINGTON, 1974). influenciarem a distância e o ângulo entre o
As ações características desse princípio estão jogador de contenção e o jogador de cobertura,
presentes na abordagem frontal que ocorre determinando a eficiência das ações
geralmente no corredor central do campo de jogo desempenhadas. Esses fatores dizem respeito à
e/ou mais próximo da área defensiva, onde o zona do campo onde será realizada a cobertura,
defensor deverá obter um posicionamento entre a às condições do terreno de jogo, às condições
bola e a própria baliza; e na abordagem lateral climáticas, à comunicação entre os atletas e às
que geralmente acontece em situações mais capacidades táticas, técnicas, físicas e
próximas à linha lateral, onde o posicionamento psicológicas que os seus companheiros de
adotado pelo defensor se estabelece em função equipe e os seus adversários possuem e
da bola, da própria baliza, do atacante e da apresentam no jogo (WORTHINGTON, 1974;
intenção de direcionar as ações do ataque BANGSBO; PEITERSEN, 2002).
adversário para esse sentido/extremidade. Em relação às zonas do campo, a distância e
o ângulo da cobertura vão variar de acordo com
Princípio da Cobertura Defensiva duas concepções muito importantes que estarão
O princípio da cobertura defensiva está
implícitas e irão se estabelecer gradualmente de
relacionado às ações de apoio de um jogador “às
acordo com a localização da bola, que são: o
costas” do primeiro defensor, de forma a reforçar
significado de risco à baliza e a concessão de
a marcação defensiva e a evitar o avanço do
espaço para as manobras ofensivas. Assim, à
portador da bola em direção à baliza. Ao assumir
medida que o “centro de jogo” estiver mais
um posicionamento que evita descompensações
próximo do setor defensivo e do corredor central,
defensivas que implicam na abertura de espaços
mais risco a bola oferecerá à baliza e menor
propícios ao avanço adversário, o jogador, que
espaço deverá estar disponível para o atacante
executa as ações de cobertura defensiva, tem por
efetuar as manobras ofensivas. Em situações em
objetivo servir de novo obstáculo ao portador da
que o “centro de jogo” apresenta-se no corredor
bola, caso esse ultrapasse o jogador de
central e mais próximo à baliza, o jogador
contenção. Além disso, o jogador de cobertura
responsável pela cobertura defensiva deverá
defensiva também pode orientar o jogador de
aproximar-se do jogador da contenção, no
contenção sobre as movimentações tático-
sentido de reduzir as chances de finalização do
técnicas dos adversários, de forma a estimulá-lo
adversário e oferecer mais segurança ao setor
a tomar a iniciativa de combate às ações
defensivo da sua equipe. Na situação em que a
ofensivas do portador da bola (BANGSBO;
bola é jogada nos corredores laterais, mais
PEITERSEN, 2002). Esse tipo de atitude facilita o
distantes do setor defensivo, o jogador de
combate às ações do ataque, e também transmite
cobertura deverá manter-se mais afastado do
segurança e confiança ao primeiro defensor
jogador de contenção, porque com o advento de
(WORTHINGTON, 1974).
mais espaço para a execução da manobra
A cobertura defensiva quando é feita em
ofensiva, o portador da bola pode ultrapassar os
situação de superioridade numérica a favor da
dois marcadores de uma só vez, em função do
defesa (ex. 2X1), facilita as ações de apoio do
aumento de velocidade de execução. Além disso,
jogador que a executa, uma vez que a
nessas áreas os riscos à baliza são minimizados

664 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009


Princípios Táticos do Futebol

se comparados às outras áreas do campo de situações onde há predomínio de uma ou outra


jogo. capacidade. Pode-se afirmar que se o jogador de
Em relação às condições do terreno de jogo e cobertura defensiva perceber que o jogador de
do clima, o jogador de cobertura deve manter contenção tem debilidade em alguma dessas
uma menor distância em relação ao jogador de capacidades, em relação ao portador da bola, ele
contenção, à medida que as condições são mais deve se aproximar do mesmo. Contrariamente, se
adversas à equipe que está no ataque5. A adoção o jogador de contenção mostrar maior domínio
desse tipo de comportamento irá desencorajar o dessas capacidades do que o atacante que está
portador da bola de efetuar o drible, uma vez que marcando, a cobertura poderá ser feita a uma
ele terá maior dificuldade para manter a posse da maior distância, na medida em que haverá maior
bola, o que facilita a ação de defesa. Além disso, possibilidade do jogador de contenção recuperar
as ações de balanço defensivo também estarão a bola e, assim, esse jogador que estava na
facilitadas, caso o portador da bola realize um cobertura defensiva, passar a ser a primeira
passe a um companheiro que faz a cobertura opção ofensiva para a seqüência do jogo.
ofensiva; nesse momento, devido às condições Como exemplo dessa variabilidade do
adversas, ele poderá estar posicionado mais posicionamento no jogo de Futebol, destaca-se
distante, o que aumenta o tempo da trajetória da uma situação de prevalência técnica, onde o
bola e demanda maior tempo para o seu domínio. portador da bola pode optar pelo drible ou pelo
A comunicação entre os jogadores é outro passe. Nela, se o jogador que está na cobertura
fator que também determina o sucesso da defensiva, percebe que o portador da bola é um
cobertura defensiva, porque pode servir como um exímio driblador, este deverá aproximar-se do
guia para criar sintonia entre todas as jogador de contenção, uma vez que as chances
movimentações defensivas. As comunicações dele ser ultrapassado são maiores. Ao passo que,
podem se estabelecer de forma verbal e não se o jogador percebe que está fazendo a ação de
verbal. As denominadas verbais, que se cobertura em um portador da bola que possui
consolidam por meio dos sistemas auditivo e maior capacidade em passar a bola para zonas
vocal, se exprimem basicamente pelas perigosas do campo, este deverá posicionar-se
orientações fornecidas pelos jogadores a respeito mais afastado, por que a probabilidade de
dos seus próprios posicionamentos e dos execução de um passe é maior do que a de um
adversários. Já as comunicações não verbais, drible. Além disso, se o jogador de cobertura
percebidas principalmente pelo sistema visual, e perceber que o portador da bola não possui
algumas vezes pelo sistema tátil, se expressam nenhuma dessas características bem
através dos sinais corporais presentes nas ações desenvolvidas, ele pode se posicionar mais longe
dos próprios companheiros e dos adversários. do jogador de contenção, sendo a possibilidade
Associado a esse fator também pode-se dizer de recuperação da posse de bola aumentada, e
que o grau de entrosamento e confiança mútua assim ele passará a dar apoio à nova
na comunicação é fundamental para determinar o configuração da jogada.
sucesso das ações defensivas. As características das ações de cobertura
Dos fatores citados que influenciam as ações defensiva em situações de jogo podem ser
de cobertura defensiva, o último, e não por isso o percebidas quando o posicionamento do jogador
menos importante, está relacionado às de cobertura defensiva, que deverá estar
capacidades táticas, técnicas, físicas e posicionado entre o jogador de contenção e a
psicológicas que os jogadores apresentam própria baliza, oferece apoio e segurança ao
durante a partida (CASTELO, 1996). jogador de contenção.
Esse fator se relaciona aos conhecimentos Princípio do Equilíbrio
prévios adquiridos e à percepção que o jogador O princípio do equilíbrio está garantido a partir
de cobertura tem no jogo. Assim, estabelecendo do momento que os jogadores compreendem as
uma linha de raciocínio semelhante para todas as noções implícitas dos seus aspectos estruturais e
funcionais. O primeiro aspecto pauta-se na
5
No caso do vento, essa relação se inverte. Se a equipe premissa que a organização defensiva da equipe
atacante estiver com o vento a favor a cobertura deve estar deve possuir superioridade, ou no mínimo
mais próxima, se a equipe atacante estiver com o vento
contra, a distância entre o jogador de cobertura e de garantir igualdade numérica de jogadores de
contenção pode ser aumentada.

Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009 665


I. T. Costa, J. M. Garganta da Silva, P. J. Greco & I. Mesquita

defesa no “centro de jogo” posicionados entre a Sendo assim, as ações de concentração


bola e a própria baliza; já o segundo se associa podem ser feitas em qualquer zona do campo de
as ações de reajustamento do posicionamento jogo, bastando para isso, que todos os jogadores
defensivo em relação às movimentações dos envolvidos na ação tenham consciência da
adversários. importância da sua movimentação na redução do
Através da aplicação dessas noções o que se espaço e no incremento da pressão no “centro de
pretende é assegurar a estabilidade defensiva no jogo”.
“centro de jogo”, através do apoio desses Durante o jogo, as ações características desse
jogadores aos companheiros que executam as princípio podem ser observadas quando os
ações de contenção e cobertura defensiva. Ao jogadores de defesa posicionados mais distantes
assumir um posicionamento ajustado em relação do portador da bola conseguem se “aglutinar”,
a outros colegas, o jogador que realiza ações do adotando posicionamentos mais próximos entre
princípio do equilíbrio tem melhores condições de si, de forma a limitar as opções ofensivas do
transmitir aos seus companheiros segurança na ataque a uma determinada zona do campo.
criação de condições desfavoráveis ao portador
da bola e aos seus colegas, aumentando,
Princípio da Unidade Defensiva
O princípio da unidade defensiva possui uma
conseqüentemente, a previsibilidade do jogo
forte relação com a compreensão de jogo por
ofensivo adversário e a possibilidade de
parte dos jogadores e do modelo de jogo
recuperação da posse de bola (CASTELO, 1996).
preconizado para a equipe. A concepção unitária
As diretrizes desse princípio abrangem, de defesa de uma equipe passa pela consciência
portanto, a cobertura dos espaços e marcação de todos os jogadores sobre a importância das
dos jogadores livres sem posse da bola, suas movimentações, dos seus limites e das suas
cobertura de eventuais linhas de passe e, em posições em relação aos companheiros, a bola e
alguns casos, a redução do ritmo de jogo, aos adversários (TEISSIE, 1969; HAINAUT;
forçando o adversário a aceitar certa cadência de BENOIT, 1979).
jogo.
As diretrizes desse princípio visam assegurar
As ações do princípio de equilíbrio podem ser linhas orientadoras básicas que coordenam as
detectadas fundamentalmente a partir da atitudes e os comportamentos tático-técnicos dos
disposição equilibrada de jogadores de defesa jogadores que se posicionam fora do “centro de
entre a bola e a própria baliza, nas ações de jogo”. Essas diretrizes também permitem que a
marcação dos jogadores adversários sem posse equipe consiga equilibrar ou reequilibrar
de bola e de apoio aos outros companheiros de constante e automaticamente a repartição de
equipe que estão imbuídos de realizar as ações forças do método defensivo consoante as
de contenção e cobertura defensiva ao portador configurações momentâneas de jogo (CASTELO,
da bola. 1996).
Princípio da Concentração Nesse princípio, a regra do impedimento é
O princípio da concentração pauta-se nas uma importante aliada da equipe que defende,
movimentações dos jogadores em direção à zona porque através da sua efetiva exploração e
do campo de maior risco à baliza, com o intuito execução, a última linha de defesa consegue
de aumentar a proteção defensiva, de reduzir o reduzir o espaço de jogo efetivo adversário e
espaço disponível de realização das ações imprimir maior pressão no “centro de jogo”.
ofensivas do adversário no “centro de jogo” e de Assim, ao realizar movimentações efetivas e
facilitar a recuperação da posse de bola adequadas à regra do impedimento e
(BANGSBO; PEITERSEN, 2002). considerando as características do princípio da
As diretrizes desse princípio orientam-se na unidade defensiva, a equipe consegue pressionar
tentativa de direcionar o jogo ofensivo adversário o portador da bola e os colegas que o auxiliam
para zonas menos vitais do campo de jogo e de nas manobras ofensivas. O fato dessa ação de
minimizar a amplitude ofensiva na sua largura e pressão e redução do espaço diminuir o tempo
profundidade, evitando que surjam espaços que o portador da bola e os seus companheiros
livres, principalmente, nas costas dos jogadores tem para tomarem as decisões e efetuarem as
que realizam a contenção, a cobertura e o suas ações, pode levá-los a cometer erros táticos
equilíbrio defensivo. ou técnicos que beneficiam a recuperação da

666 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009


Princípios Táticos do Futebol

posse da bola ou a chegada de mais defensores importante, a fim de que se possa chegar a uma
para ajudar nas ações de defesa. resposta ou resultado que auxilie a compreender
Para conseguir garantir a coesão, a o comportamento tático do jogador no campo de
efetividade e o equilíbrio funcional entre as linhas jogo.
longitudinais e transversais da equipe em ações Como resultado da construção e aplicação de
defensivas, os jogadores responsáveis por um instrumento com essas características, pode-
cumprir o princípio da unidade defensiva, se ressaltar a possibilidade de observar e estudar
necessitam ser coerentes em seus o jogador em situações de jogo e de treino,
deslocamentos, em função da variabilidade das permitindo controlar a sua prestação esportiva e
situações momentâneas de jogo e do ajudando a detectar pontos de melhoria no
conhecimento das capacidades e possibilidades desempenho.
de movimentação dos seus companheiros
(PINTO, 1996). Referências
Durante o jogo, as ações características desse ABOUTOIHI, S. Football: guide de l'éducateur
princípio podem ser percebidas através da sportif. Paris: Editions ACTIO. 2006.
coordenação das movimentações dos jogadores
BANGSBO, J.; PEITERSEN, B. Defensive
fora do “centro de jogo” em consonância com a soccer tactics: how to stop players and teams
localização da bola, permitindo desenvolver o from scoring. Champaign, IL: Human Kinectics.
jogo de forma mais harmônica e eficiente, entre 2002.
as linhas longitudinais e transversais da equipe;
BAUER, G.; UEBERLE, H. Fútbol. Factores de
como por exemplo, a movimentação do jogador
redimiento, dirección de jugadores y del
lateral para o centro do campo para ajudar na equipo. Barcelona: Ediciones Martínez Roca S.A.
compactação da equipe, quando a ação do jogo 1988. 207 p.
está sendo desenvolvida no lado oposto.
BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos.
Considerações Finais Lisboa: Dinalivro. 1994.
Os princípios táticos contribuem para a
CASTELO, J. Futebol modelo técnico-táctico
organização e o desempenho dos jogadores no
do jogo: identificação e caracterização das
campo de jogo. O conhecimento das suas grandes tendências evolutivas das equipas de
diretrizes, objetivos e especificações constitui um rendimento superior. Lisboa: Faculdade de
importante auxílio para os profissionais de Motricidade Humana, v.1. 1994. 379 p.
Educação Física, professores de escolinhas e
treinadores na orientação do processo de ensino- CASTELO, J. Futebol a organização do jogo:
como entender a organização dinâmica de
aprendizagem e treinamento do Futebol. Por
uma equipa de futebol e a partir desta
outro lado, a compreensão desses princípios, por compreensão como melhorar o rendimento e
parte dos jogadores, tem como vantagem a a direcção dos jogadores e da equipa. s.l.:
estruturação das ações com objetivos, intenções Jorge Castelo. 1996. 541 p.
e sentido tático, que ajudam a regular e organizar
as ações tático-técnicas no jogo. CASTELO, J. Futebol - a organização do jogo. In:
F. Tavares (Ed.). Estudos 2 - estudo dos jogos
Além disso, o conhecimento sobre os desportivos. concepções, metodologias e
princípios táticos pode auxiliar o processo de instrumentos. Faculdade de Desporto da
avaliação tática do desempenho dos jogadores. Universidade do Porto: Multitema, 1999, p.41-49.
Concebendo que os comportamentos dinâmicos
DUPRAT, E. Enseigner le football en milieu
de uma equipe, assim como a sua eficácia no
scolaire (collèges, lycées) et au club. Paris:
jogo, podem ser apreciados a partir das variáveis Editions ACTIO. 2007.
quantitativas e qualitativas das ações dos
jogadores nas relações de cooperação e FIFA. Laws of the game 2008/2009. Zurich:
oposição, pressupõe-se que a compreensão dos Fédération Internationale de Football Association.
princípios táticos constitui-se uma ferramenta útil 2008.
para ajudar nessa avaliação. Para tal, a
GARGANTA, J. Modelação táctica do jogo de
elaboração, a construção e a validação de futebol – estudo da organização da fase
instrumentos capazes de quantificar ou avaliar a ofensiva em equipas de alto rendimento. 1997.
aplicação dos princípios táticos de jogo torna-se 312 p. (Doutorado). Faculdade de Ciências do

Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009 667


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à liberdade de (inter)acção, para um futebol com soccer skills. Califórnia: Hal Leighton Printing
pés... e cabeça. In: A. Duarte (Ed.). O contexto Company. 1974. 182 p.
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In: A. Graça e J. Oliveira (Ed.). O ensino dos contemporain. Fleury: Orges. 1980.
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Desporto e de Educação Física da Universidade
do Porto: Rainho & Neves Lda, v.1, 1994, p.95-
136. Agradecimento
Com o apoio do Programa AlBan, Programa de
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pratiques physiques spécifiques: le football América Latina, bolsa nº E07D400279BR”
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668 Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.657-668, jul./set. 2009


Artigo de Revisão
ISSN: 1983-7194

Futebol: um estudo sobre a capacidade tática no processo de ensino-


aprendizagem–treinamento
Soccer: a study on the development of tactic capacity in the process of teaching-learning-training

1
Filgueira FM; Greco PJ

1- Universidade Federal de Minas Gerais – MG/Brasil

Resumo

O futebol é um esporte complexo e dinâmico, com variabilidade de situações, trazendo importantes contribuições
para o desenvolvimento da personalidade das crianças e jovens, pois requer não só força e velocidade, mas também
coordenação e, sobretudo, inteligência tática, que se expressa na relação dos processos cognitivos de percepção e
tomada de decisão necessários a solução de problemas do jogo. Esses elementos aparecem durante os jogos nas ações
individuais, nas ações de pequenos grupos de jogadores e nas ações táticas da equipe como um todo. Estas últimas são
particularmente complexas, pois as ações dos indivíduos no conjunto solicitam estratégias dinâmicas da equipe, que
precisam ser ajustadas para contrapor às estratégias adotadas pela equipe adversária. Todas essas dimensões explicam
o encanto que o futebol exerce e a sua grande popularidade. Por outro lado, essas características do jogo também
impõem inúmeros desafios à pedagogia do treinamento de crianças e jovens atletas. Usualmente, os aspectos
desenvolvidos nas escolas de futebol enfatizam as capacidades físicas e as capacidades de técnica individual, bem
como coordenações táticas pré-estabelecidas. Pouca atenção é dedicada ao desenvolvimento dos processos de
percepção e tomada de decisão, particularmente, no contexto tático. Nessa resenha abordamos exatamente esses
temas pouco explorados.

Palavras-chave: Futebol; Tática; Tomada de Decisão.

Correspondência:
Fabrício Moreira Filgueira
Rua Dr. João Palma Travassos, 576 apt. 42
Jardim Palma Travassos – Ribeirão Preto/SP
Cep: 14.091-180
E-mail: fmfmoreira@terra.com.br

53 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65


Filgueira et al.
Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

Artigo de Revisão
Abstract

Soccer is a complex and dynamic sport, with diversity of situations, resulting in a lot of contributions for the
development of children's and young people's personality. It requires from them not only strength and velocity, but also
coordination and, particularly, that the behavior presents tactic intelligence. This one is expressed in the relation of
cognitive processes of perception and decision-making, necessary to the solution of match problem. These elements
appear during the matches in individual actions, in small groups' actions and in tactic equip actions as a whole. These last
are particularly complex, because individual actions in the group request dynamic strategies of the equip that need to be
rearranged to counter to the strategies adopted by the opponent equip. All these dimensions explain the charming that
soccer has and its popularity. On the other hand, these game characteristics also impose several challenges to training
pedagogy of children and young athletes. Usually, the aspects developed at soccer schools emphasize physical
capacities of individual technique, as well as tactic coordination previously established. Little attention is dedicated to the
development of perception and decision-making processes, especially in tactic context. In this review we deal with these
themes few explored before.

Key words: Soccer; Tactic; Decision-making.

Introdução A partir daí, este trabalho de revisão

Os jogos esportivos coletivos (JEC) são bibliográfica tem a intenção de apresentar uma

caracterizados pela necessidade que o jogador defronta abordagem da capacidade tática necessária a iniciação

na, sendo suas varições apresentadas de forma ao futebol (a partir de 09 anos). Nessa faixa etária a

organizada, porem aleatória, colaborando ou recebendo criança tem dificuldades em entender estratégias e

a colaboração dos seus companheiros e ainda com ações táticas complexas, ou “jogadas”, resulta–lhes

momentos de oposição de um jogador ou da equipe difícil perceber e antecipar situações de jogo com

adversária. Assim como em todos os esportes coletivos, precisão bem como se manter concentrados para captar

no futebol as ações do jogo caracterizam-se pela as muitas informações que se encontram no seu

necessidade de um comportamento tático, e sobre tudo ambiente -na situação de jogo ao mesmo tempo.

pela importância da capacidade cognitiva como Conforme os estudos de Bianco[2], o rendimento

elemento de base para o desenvolvimento desse esportivo é uma interação de vários aspectos, porém

comportamento tático. nos jogos esportivos coletivos é possível observar que

O sucesso nos jogos tácticos depende os jogadores devem estar habilitados a agir taticamente

largamente do nível de desenvolvimento das faculdades e de maneira correta frente às situações de jogo e que

perceptivas e intelectuais dos atletas, especialmente em isto demanda sobre tudo uma capacidade cognitiva

associação com outros fatores que determinam a desenvolvida, ou seja, devem ser capazes de perceber

performance[1]. as informações relevantes da situação, a fim de

54 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65


Filgueira et al.
Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

Artigo de Revisão
decidirem corretamente que gesto-motor executar. procedimentos que levem o aluno a compreender as
Para tanto, é preciso que o professor ou técnico próprias ações[7].
proponha métodos que estimulem a capacidade criativa Os jogos esportivos coletivos como, por
da criança – sua imaginação, desta forma estará exemplo, o futebol, tem baseado sua estratégia de
também contribuindo para a formação do jogador ensino no domínio das habilidades motoras e técnicas
inteligente taticamente. Alguns professores ou técnicos sem se preocupar na aplicação dessas capacidades nas
pressupõem a idéia de que a criança precisa aprender e diferentes situações no envolvimento e entendimento do
aperfeiçoar a técnica para poder jogar. Esse tipo de jogo.
crença, separando o que fazer (tática, motivo de agir) do As abordagens metodológicas preponderante
como fazer (técnica, meio de agir) deixa à criança a nas aulas de futebol têm se estruturado basicamente em
[3]
ingrata herança de automatizar movimentos . exercícios direcionados ao aquecimento, treinamento de
[4]
De acordo com Greco e Benda , as habilidades técnicas específicas e no jogo coletivo seja
capacidades táticas estão em direta relação de este de forma reduzida ou formal. Nesta perspectiva, o
interdependência e em interação com as capacidades treino se apresenta em uma organização altamente
cognitivas, técnicas e físicas. estruturada onde se enfatiza no ensino a técnica o
As capacidades táticas têm relação direta com “modo de se fazer” separadamente da tática “motivo de
as ações de jogo que se realizam em forma de se fazer”.
cooperação (companheiros) e oposição (adversários). É Portanto, o treinamento técnico e tático nos
na ação do jogo que se justifica a importância do jogos esportivos coletivos, neste caso no futebol, tem se
comportamento tático do jogador para o rendimento dado de maneira descaracterizada das situações reais
esportivo, salientada num conjunto de métodos ou do jogo sem considerar as interações entre técnica e
procedimentos de capacidades específicas para uma tática e entre esta e os processos cognitivos
organização situacional. Por isso, no esporte todas as subjacentes a mesma.
ações dos atletas estão condicionadas pelo parâmetro O professor deve estar atento ao
situacional, constituindo-se numa trilogia que abrange desenvolvimento dos processos cognitivos necessários
[5]
tempo-espaço-situação . a compreensão do jogo, aplicando meios de integração
Na medida em que as ações de jogo ocorrem das ações técnico-táticas nas suas atividades para
em contextos de elevada variabilidade, imprevisibilidade capacitar os jogadores com êxito para as exigências do
e aleatoriedade, aos jogadores são requeridas uma jogo.
[6] [2,4,6]
permanente atitude estratégico-tática . Alguns autores definem ser necessário
formar jogadores taticamente inteligentes, que tomem
O ensino dos jogos esportivos coletivos decisões corretas em situações difíceis. Os autores

Para atender os princípios da aprendizagem do afirmam ainda que, durante o processo de

futebol tecnicamente bem jogado e, além disso, ensino/aprendizagem da tática, deverão ser

aprender mais que futebol é necessário assumir considerados os seguintes aspectos:

55 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65


Filgueira et al.
Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

Artigo de Revisão
 Tática e processos de tomada de decisão se de selecionar o essencial do acessório – isto é de
interagem, com implicação, ou não, de uma técnica reconhecer os sinais relevantes necessários a solução
determinada; da ação, como o fazem os peritos, por exemplo - e,
 Os processos de tomada de decisão são conduzidos portanto, diminui a velocidade e adequação da resposta
pelo atleta em relação à situação do jogo percebida e motora.
emocionalmente avaliada, conforme sua própria O desenvolvimento da prática de uma
responsabilidade e reflete seu nível de capacidade tática modalidade esportiva deve estar de acordo com o nível
individual; de experiência dos alunos, a sua idade, bem como dos
 Na tomada de decisão se unem processos níveis de desenvolvimento motor (capacidades motoras:
psicológico-fisiológicos (percepção/transmissão de condicionais, coordenativas e mistas) e cognitivo.
informações e cognição ao elaborar a resposta); e, O desafio de professores e técnicos durante a
 “Os processos mencionados podem ser melhorados infância e adolescência na formação esportiva consiste
[9]
com o treinamento” . em selecionar estratégias para que o jogador aprenda a
Os professores e treinadores devem habilitar a tomar decisões rápidas e corretas (tomada de decisão e
formação de jogadores inteligentes capazes de conhecimento processual).
interpretar situações do jogo (interpretação e Reportando a revisão literária, diferentes
[4-6]
observação visual e atenção), escolher a solução autores defendem modificações estruturais no jogo:
motora mais adequada (gesto técnico) e executar a simplificação das regras, redução do nº. de jogadores,
tática e a técnica corretamente e adequadas à situação. no espaço de jogo, no material (bola, traves do gol, etc.)
Em outras palavras, os métodos de treinamento e jogos reduzidos com elementos e objetivos essenciais
tático exigem um treinamento técnico, que deverá do jogo formal.
apresentar uma relação estreita (inter-relacionarem-se) Professores devem proporcionar as crianças a
com o adequado desenvolvimento das capacidades vivencia do jogo em diferentes posições, ou seja, o
cognitivas. Portanto, o treinamento deve ter ligação jogador iniciante de futebol deve passar por todas as
direta com as situações imprevisíveis e variadas do jogo. posições, do goleiro ao atacante. Significa dizer que,
Quanto à forma progressiva do ensino do quanto mais capaz de ocupar mais que uma posição,
comportamento tático na abordagem dos jogos melhor será o jogador.
esportivos coletivos, destaca-se: a exercitação e Em relação à definição precoce de
combinação das habilidades simples sem oposição para posicionamento, algumas crianças, por exemplo, são
oposição simplificada, jogo reduzido de superioridade e especializadas na posição de zagueiros, por serem altos
igualdade numérica e situações semelhantes ao jogo e fortes, porém muitas vezes possuem uma idade
formal. biológica adiantada, e, portanto, já tiveram o estirão de
[10]
Segundo Tavares a transmissão demasiada crescimento. Sendo que nas categorias posteriores não
de informação pode contribuir para a realização de erros, irão apresentar uma altura suficiente, e
devido à capacidade limitada de processamento do conseqüentemente não possuirão habilidade e nem
aprendiz, além de que a criança apresenta dificuldades vivência para atuarem nas posições de lateral, meia ou

56 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65


Filgueira et al.
Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

Artigo de Revisão
atacante. tático –declarativo e processual – estão sendo
[11]
Segundo Garganta , o ensino dos jogos interligados na busca dos objetivos do jogo.
desportivos coletivos não deve ser direcionado A tática é a capacidade baseada em processos
essencialmente à transmissão de um repertório amplo cognitivos de recepção, transmissão, análise de
de habilidades técnicas (o passe, a recepção, o drible, informações, elaboração de resposta e execução da
etc.), nem à solicitação de capacidades condicionadas e ação motora, concretizada com uso de uma técnica
coordenativo-condicionais (resistência, velocidade, força, específica, implicando em tomada de decisão, a qual
etc.). reflete o nível da capacidade tática e experiência motora
[11]
O mesmo autor cita ainda que, importa-se, do atleta.
sobretudo desenvolver nos praticantes uma No caso do futebol, o espaço é compartilhado
disponibilidade motora e mental que transcenda por 22 jogadores sendo que na execução das ações,
largamente a simples automatização de gestos e se exige-se do jogador um tempo reduzido para resolver os
centre na assimilação de regras de ação e princípios de problemas e tarefas do jogo. O jogador deve saber inter-
gestão do espaço de jogo, bem como de formas de relacionar e organizar informações relevantes às ações
comunicação e contra comunicação entre os jogadores. de jogo, entre elas: o que fazer (situação); quando fazer
(tempo); onde fazer (espaço) e como fazer (forma),
A tática no contexto da iniciação sendo que o por que da decisão se reúne nas quatro

Para Bayer [12]


, tática é a inter-relação dos fatores questões anteriormente citadas.

do jogo: espaço, tempo, colega, bola, adversário em A grande variabilidade e complexidade de

cada situação, na dependência direta do objetivo final do situações de jogo apresentam-se como obstáculo para

esporte e dos objetivos táticos gerais e específicos da aqueles jogadores que não conseguem perceber e

ação. O jogo é constituído por situações, que são compreender os elementos presentes, como é o caso

irreprodutíveis, únicas, as ações táticas são tanto “em” dos iniciantes. Os iniciantes costumam ter dificuldades

quanto “na” situação. Nesse contexto os jogos maiores no que se refere a tomada decisão. Dificuldades

esportivos coletivos caracterizam-se pela sucessão de de perceber seus companheiros livres, o posicionamento

situações de jogo, nas quais o participante deve resolver dos adversários, o meio-ambiente, são elementos

problemas através de constantes tomadas de decisões, condicionantes, de pressão, das suas ações, o iniciante

decisões estas que envolvem um conteúdo tático, são deixa de reconhecer e selecionar as informações

delimitadas pelos objetivos táticos do jogo “em” e “na” relevantes e tomar decisões adequadas.

situação. As ações táticas são realizadas através da A inteligência tática de perceber o espaço, o

tomada de decisão e implicam em relacionar processos colega, o adversário, de decidir, de antecipar-se pode

cognitivos com processos motores. Isto é, quando um ser estimulada desde cedo[3]. Para tanto, é preciso que

atleta realiza uma técnica específica da modalidade, por as crianças sejam capazes de executarem esquemas

exemplo, um passe, ele tomou uma decisão tática táticos de forma consciente e autônoma, e ainda sem a

escolhendo essa ação motora como a mais adequada a preocupação de “jogadas” preestabelecidas, que

resolver a situação de jogo, nesse caso o conhecimento acabam por formar jogadores automatizados, sem

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criatividade e flexibilidade, ou seja, capacidade de se estabelecido, considerando as características dos
adaptar, de resolver problemas e de improvisar frente às jogadores e sua função nas situações de ataque ou
constantes situações novas dos jogos. E ainda, de defesa, para solucionar as tarefas-problemas durante
[2,3,4,7]
acordo com alguns autores que não acreditam em uma partida a fim de se obter êxito nos resultados dos
ensinar “jogadas”, mas sim em ensinar crianças e jogos.
[4]
jovens a jogar e compreender as dinâmicas e as Nesse contexto, de acordo Greco e Benda o
estruturas do jogo de forma a jogar para aprender a conjunto de ações a qual os jogadores devem recorrer
jogar. nos jogos esportivos coletivos relaciona-se com a
Cabe ao professor e aos técnicos planejar suas interpretação da capacidade de interação dos
aulas com conteúdos diferentes, com jogos: jogos parâmetros da tática baseada na função do jogador
adaptados, de espaços reduzidos, com inferioridade, (ações do jogador na situação de ataque ou defesa
superioridade, igualdade numérica, com demandas determinada pela posse ou não da bola) e característica
técnicas, defensivas e ofensivas. É preciso se da ação que estes realizam (ações do tipo individual, de
abandonar a idéia de aperfeiçoar o gesto técnico para grupo e coletiva):
poder jogar.  tática individual: ação isolada do jogador através das
No futebol, as técnicas constituem ações capacidades físicas, técnicas, táticas, teóricas e
motoras especializadas que permitem resolver as psicológicas, e capacidade de percepção da situação de
(6)
tarefas do jogo . O ensino da técnica perpassa pela jogo visando atingir um objetivo determinado. (ex: finta).
ação tática do jogador através da orientação e  tática de grupo: ações coordenadas entre dois ou três
construção de situações/exercícios nos processos de jogadores proporcionando a continuidade da ação e o
ensino-aprendizagem nas diversas situações de jogo. objetivo final do jogo. (ex: cruzamento visando finalizar a
O ensino e treino do futebol através duma gol).
pedagogia de situações-problema acabam por  tática coletiva: ações simultâneas de três ou mais
oportunizar que o jogador proceda a uma “leitura do jogadores estabelecida previamente por um plano de
jogo” o que implica em realizar permanentemente uma ação determinado, de acordo com as regras do jogo,
relação entre a técnica e a tática propiciando a relacionando as ações do adversário e as respostas
construção dos princípios do jogo de “o que fazer” para como situações ofensivas para atingir o objetivo
resolver o problema e “o como fazer”, que decorre de pretendido. (ex: triangulação por setor visando a
uma adequada capacidade de decisão, na procura da finalização).
eficácia (capacidade de alcançar os objetivos Na prática a tática também pode ser classificada
pretendidos). em: geral (ações observadas antes de uma competição)
e específica (ações relacionadas às situações na própria
Classificação da capacidade tática competição). Toda ação individual e coletiva deverá ser

A tática é representada pelas ações individuais intrigada numa técnica executada na situação de jogo

e coletivas dos jogadores de uma equipe organizada e com um objetivo geral ou específica determinado, ou

orientada por um plano de ações previamente seja, realizar uma ação que possibilite solucionar uma

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tarefa-problema por meio de uma técnica baseada no Ex: trote, sprint, salto, giro, rolamento, bloqueio, carrinho,
seu repertório motor visando obter êxito em um objetivo etc.
comum podendo atingir resultados ótimos individuais e A importância da técnica no comportamento
de conjunto. tático como a execução ideal de um movimento
Em se tratando de pedagogia do esporte, as adequado à situação de jogo. Então, entende-se que
questões de “o que fazer”, “quando fazer”, “onde fazer” nos jogos auxiliares esportivos coletivos a técnica é um
“por que fazer” e “como fazer” são decisões importantes requisito fundamental para a eficiência dos processos e
na ação de jogar, possibilitando a inteligência tática do estruturas da ação tática do esporte em questão.
jogador de perceber, antecipar-se e de decidir. Entende-se que as capacidades táticas têm uma
O conhecimento das opções táticas individuais relação direta com a formação das técnicas motoras,
(quando passar, driblar ou chutar) e das combinações constituindo uma unidade que devem ser trabalhas
táticas de grupo (tabela, bloqueio e cruzamento) vai conjuntamente, a fim de solucionar os problemas das
possibilitar uma conduta com maiores possibilidades de situações de jogo através da capacidade cognitiva.
êxito em qualquer situação, por mais nova e Não se pode desconsiderar capacidades e
[13]
diversificada que ela seja . habilidades perceptivas e cognitivas, as quais,
Em relação à importância da técnica no associadas às capacidades e habilidades físicas,
[2,4,5] [7]
comportamento tático, os autores ressaltam que o definem uma lógica para o futebol .
domínio de uma técnica extremamente variável só será Neste contexto, o valor das capacidades táticas
alcançada através da integração com elementos táticos é alto, e ainda, sobre a característica dos JEC, os
[2,14,15]
e elementos cognitivos, que exijam do jogador autores complementam que, todas as ações são
participação consciente, ou seja, o processo de determinadas do ponto de vista tático, e ainda, que todo
ensino/aprendizagem deve contemplar aspectos movimento esportivo, determinado predominantemente
psicológicos e cognitivos como as capacidades de pela tática, implica numa atividade cognitiva, pois devido
percepção, antecipação e tomada e decisão. E esse à continuidade, velocidade, amplitude, variabilidade e
aspecto muito importante citado acima, podemos número de mudanças, o atleta se vê obrigado a decidir
desenvolver através dos JEC de forma recreativa em e elaborar respostas rápidas, corretas e precisas,
crianças de 5-8 anos, em forma educacional nos jovens explicitando um comportamento cognitivo.
[7]
de 9-12 anos e de forma educacional e específica nos O futebol é um jogo coletivo, inteligente, tático .
jovens e adolescentes de 13 – 18 anos.
Deste modo, é importante ressaltar que temos a O componente tático na aprendizagem do
técnica com bola e técnica sem bola:
futebol
- técnica com bola: total feeling com a bola em todas as
A partir dos aspectos apresentados e discutidos pela
partes do corpo.
literatura neste estudo, constata-se que desde o início
Ex: passe, drible, cabeceio, amortecimento, cruzamento,
da aprendizagem do futebol, tem se fundamentado
chute, domínio, etc.
sobre tudo no desenvolvimento dos processos
- técnica sem bola:
cognitivos que permitem perceber corretamente as

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informações relevantes da situação, antecipar-se em Portanto, pressupõe-se que este estudo
relação às ações do adversário e, conseqüentemente, demonstra a importância de uma melhora na
tomar decisões corretas de forma rápida. Além disso, planificação do processo de ensino-aprendizagem-
desenvolver as habilidades técnicas e as capacidades treinamento nos aspectos pedagógicos, a fim de
coordenativas e funcionais através de tarefas abertas, proporcionar aos seus praticantes métodos adequados
que acabam por formar o jogador inteligente. e facilitadores para o aprendizado do futebol e formas
Entretanto em relação a participação de de motivação.
crianças de 7 a 12 anos no meio competitivo, tem-se
constatado uma filosofia e política de ação que cada vez
Capacidades cognitivas no comportamento
mais se assemelha às situações do esporte adulto,
tático
cometidos em erros de exigências de altos níveis de
Em diversos estudos publicados por vários
rendimento em idades precoces, culminando na
[2,3,4,7,13]
autores da área , defendem que a capacidade
especialização precoce.
[16] tática se relaciona com os processos cognitivos, e que o
Para Filgueira , iniciantes que jogam de
desenvolvimento de uma favorece a outra. Conforme
maneira sistemática, ou seja, de forma estereotipada
estudos da área serão discutidos os processos
com “jogadas” preestabelecidas, não se tornam
cognitivos e a conceituação de capacidade cognitiva.
jogadores autônomos, que pensam e agem por si
Os processos cognitivos têm uma relação direta
próprios, e ainda que quando um treinador ou professor
com o reconhecimento, elaboração e memorização das
fornece “soluções” aos alunos, ele está tomando
informações, distinguindo as essenciais das não
decisões por elas.
essenciais, em um dado momento específico da
Desta forma, faz-se necessário criar o jogador
situação de jogo. Estes processos são denominados de
inteligente, capaz de agir e criar suas ações de forma
diferenciação mental onde são desenvolvidas as ações
variável frente as diferentes situações de jogo, isto
de aprendizagem de execução das ações esportivas.
impõe uma pedagogia do esporte adequada às
Toda decisão nos jogos esportivos coletivos depende
necessidades e interesses da criança pelos professores
basicamente da percepção da situação de jogo e a
e técnicos que trabalham com o futebol na infância.
comparação de informações presentes nesta com os
Segundo Tiegel e Greco[17], adaptar essa
conhecimentos adquiridos armazenados na memória[13].
metodologia implica em otimizar as capacidades
A capacidade cognitiva no processo de
cognitivas desde idades precoces, para suprimir a
formação do jogador é definida como a capacidade do
divisão do processo de ensino-aprendizagem-
jogador de interpretar e organizar as informações
treinamento em técnica e tática, habilidades e
relevantes das situações dos jogos de forma consciente,
capacidades. Desta maneira, por formar jogadores de
com o objetivo de solucionar a demanda de problemas
qualidade que temos que dar liberdade para que ele
ocasionados durante os treinos e jogos.
possa criar e improvisar e ainda, com autonomia
A exigência do desenvolvimento da capacidade
participar do jogo.
cognitiva faz com que os jogadores se tornem mais

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inteligentes e perceptíveis, e consequentemente mais onde se completa o visto com o que se sabe, e se
[16]
rápidos e flexíveis nas suas decisões manifestando proporciona estabilidade a aquilo que não a tem . O
melhor desempenho nas ações táticas (percepção, olhar inteligente se deriva da compreensão tática do
[19]
antecipação e a tomada de decisão). jogo .
O jogador de futebol está sempre diante de
Percepção e antecipação muitas decisões nas diversas situações de ataque e

A percepção é um processo de redução e defesa no jogo, sendo que as respostas para essas

seleção de informação .
[5] decisões serão justamente a percepção que o mesmo

A capacidade de percepção consiste no jogador tem sobre o ambiente (situação de jogo).

selecionar um número de informações essenciais para A percepção e a antecipação têm uma grande

poder orientar suas ações nas situações de jogo, as importância na situação de jogo, em especial para as

quais requerem um reconhecimento e relacionamento ações táticas relacionadas aos movimentos da bola, dos

com o meio isto campo de jogo, podendo desta forma parceiros e dos adversários, nos seus deslocamentos

facilitar um comportamento adequado a modalidade. espaciais e na sua direção.

A propósito, nos treinamentos táticos em formas Deste modo, as decisões táticas que os

de JEC, os jogadores serão estimulados de forma jogadores serão submetidos, além de complexas, serão

natural a viver a real situação que será apresentada nos tomadas com base na percepção e antecipação da

jogos e também servirá para que o jogador perceba a situação de jogo.

intenção do adversário e desenvolva uma ação Na análise do jogo que o jogador realiza a sua

adequada a seu favor e de sua equipe. Portanto pode- percepção é determinada pelos fatores de amplitude do

se concordar com Marina[18] quando coloca que o campo visual (visão periférica), seleção das informações,

conhecimento se origina nos processos de percepção e precisão da percepção e momentos críticos do jogo

de pensamento, para este autor “conhecer é sempre (curto tempo na tomada de decisão).

referir o novo ou desconhecido com o velho ou Em relação à importância das informações

conhecido”; assim, oportuniza-se através do visuais nos jogos desportivos coletivos, o problema da

conhecimento a aquisição e compreensão dos liberação da atividade visual para compreensão da

processos psíquicos. Percebemos em base ao que realidade da situação de jogo trás problemas ao

conhecemos, a recepção de informação se compõe de iniciante, pois este tende a controlar a aprendizagem

uma tríade de processos cognitivos, percepção- dos gestos por meio das sensações oculares,
(12)
antecipação-atenção. “Toda informação que se torne concentrando-se no corpo e na bola .

consciente tem um conteúdo, sinais de identidade”, Nos iniciantes se reconhecem facilmente as

sendo seu uso decisivo para sua manutenção. O fases conscientes da ação, que podem ser melhoradas

mesmo autor afirma que não existe percepção sem com o aperfeiçoamento da técnica e do cálculo ótico-

estímulo, mas o estímulo não determina por completo a motor sincronizado (aspecto essencial para variabilidade

percepção, o jogo entre ambos é um olhar inteligente, da técnica)[2].

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Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

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Os jogadores iniciantes percebem um número ações o jogador requer a cada situação uma nova
menor de informações e objetos de estímulos fortes, solução, onde a ação é uma tomada de decisão.
como é o caso de crianças que praticamente se O objetivo da tomada de decisão consiste em
preocupam com a bola, porém aos poucos irão realizar a avaliação das informações relevantes,
percebendo outros aspectos da situação de jogo como o selecionar a melhor de forma rápida para se atingir um
companheiro de equipe e adversários. objetivo desejado concretizando uma ação motora.
[2]
Além da capacidade perceptiva, salienta-se a Para Bianco , dentre as capacidades que
antecipação como uma forma de anteceder implicam numa correta tomada de decisão, a
imediatamente a intenção tática do adversário e de seus capacidade do atleta de perceber corretamente as
próprios movimentos para compreensão das possíveis informações relevantes na situação, parece ser de suma
ações e conseqüências das condições primárias da importância para uma correta tomada de decisão. A
situação. capacidade de tomar decisões é uma das mais
Nesse sentido, a qualidade da percepção tem importantes capacidades do atleta, sendo extremamente
uma relação direta com o conhecimento e experiência de grande valor na organização do jogo. A qualidade e a
do jogador, além da concentração, dos processos velocidade na tomada de decisão são fatores que
motivacionais e volitivos, e estados emocionais do influenciam na eficácia da tomada de decisão do
jogador. jogador (tempo de reação).
A percepção depende da experiência do jogador A autora[2] afirma que, em relação aos iniciantes,
e conhecimentos específicos, pois iniciantes percebem com prática e treinamento os processos de percepção
um maior número de elementos insignificantes, e ainda se tornam mais rápidos e seguros. Jogadores mais
que os jogadores mais experientes possuam uma experientes “experts” percebem e recuperam
tomada de decisão mais rápida. informações mais rapidamente que os iniciantes.
[20]
É importante desenvolver a antecipação e a Segundo Alves e Araújo , acrescentam que
percepção desde a primeira infância, através de quanto mais complexas as decisões, mais os expertos
trabalhos multilaterais em formas de jogos infantis, se distinguem dos iniciados.
estímulos com bola, pois estes são fundamentais para Para Costa, Garganta, Fonseca e Botelho[1], o
aprendizagem dos jogos esportivos coletivos, desportista experiente utiliza duas grandes categorias
manifestando condições para um comportamento tático de estratégias:
por parte dos alunos.  Encontrar regularidades nas modificações do
envolvimento;
Tomada de decisão  Na construção de um repertório de esquemas que

A tomada de decisão consiste na capacidade de permitem ler a situação actual e de antecipar, a curto

tomar decisões rápidas e taticamente exatas, prazo, os acontecimentos numa base de tomada de

constituindo uma das mais importantes capacidades do informação, não sobre as ações do adversário, mas
[1]
atleta . Nos JEC, para inúmeras possibilidades de sobre as suas.

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A tomada de decisão também pode ser organizado de informações) de forma a oportunizar,
influenciada pelos fatores de conhecimento declarativo mais rapidez nas tomadas de decisões táticas por parte
(regras do jogo, posição dos jogadores e objetivos do dos jogadores, que devem ser capazes de tomar
jogo) e procedural (execução do movimento e ainda decisões diferentes em situações similares, dificultando
qual movimento executar na situação), habilidade a ação do adversário e evitando a indecisão, obtendo
específica e experiência na modalidade em questão. dessa maneira um maior controle sobre os
[13]
Segundo Souza , a qualidade da tomada de componentes da performance.
decisão do atleta depende: Em síntese, o jogador inteligente deva ser mais
 Conhecimento declarativo e processual específico; rápido e melhor, ao perceber, a encontrar soluções
 Capacidades cognitivas; corretas, e realizar uma ação no jogo propriamente dito.
 Capacidade (competência) no uso das capacidades O treinamento deva estar sempre próximo ao ambiente
cognitivas; da realidade do jogo para a formação do jogador
 Preferências pessoais; inteligente. O jogador inteligente não é apenas o de
 Fatores motivacionais. excelência técnica, mas aquele que tem fácil adaptação
Os autores complementam que quando crianças frente a novas situações. Ser inteligente perpassa por
iniciam uma modalidade esportiva, elas geralmente resolver problemas em todas as novas situações. E
possuem pouco conhecimento declarativo específico em essa competência tática deva ser construída no treino.
relação à mesma e isto pode reduzir a qualidade das A competência para resolver os problemas do
[2,6,13,16]
tomadas de decisão no contexto do jogo . jogo, que é o que todo treinador espera dos seus
[21]
Um melhor nível de conhecimento tático jogadores, é construída ou destruída no treino .
apresentado tem uma relação direta com o grau de
exigências competitivas em que o jogador esta Conclusões
submetido, e deve-se também pelo nível de importância Como forma de conclusão ao tema, o presente
do componente tático no treinamento e à prática tópico objetivou inter-relacionar a Teoria de Ação tal
desportiva. com formulada por Nitsch apud Samulski
[22]
com o
Para estudiosos da área a qualidade de decisão ensino-aprendizagem-treinamento no futebol,
está correlacionada com a experiência e anos de prática. apoiando a proposta em uma abordagem
Sendo que a experiência adquirida através de um alto cognitivista.
nível de realidade amplamente competitiva contribui Analisado o comportamento de uma equipe em
para a melhoria do conhecimento. um jogo de futebol, observa-se uma cadeia de ações
A aprendizagem-treinamento de uma inteligentes. Essa cadeia de ações é composta pelas
modalidade esportiva requer o conhecimento (corpo seguintes fases:

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A) planejamento tático coletivo (sitema de jogo): decisões que tenham um objetivo determinado durante
- 5-8 anos: GK + 5 X 5 + GK fase recreativa); uma partida. Sendo essas ações representadas
- 9-12 anos: GK + 6 X 6 + GK (fase educacional); hierarquicamente pelo objetivo da ação, programa motor
GK + 8 X 8 + GK; e, e comandos básicos do movimento.
- 13-18 anos: GK+10 X 10 + GK (fase educacional e O conjunto de posições táticas, assim como de
específica). jogadas para pequenos grupos de jogadores é limitada.
B) planejamento tático para pequenos grupos de Assim, a escolha desses elementos deve cobrir as
jogadores: circunstâncias do jogo da forma mais completa possível.
- grupo tático defensivo; e Ainda, elas devem levar em conta as habilidades dos
- grupo tático ofensivo. iniciantes e respeitar suas limitações para evitar sempre
C) planejamento de sequências de ações um overtraining.
individuais em situação defensiva e ofensiva: (ação Portanto, isso nos leva ao fato de que um
individual dentro do planejamento): jogador de futebol ou uma criança que pratica futebol,
- posicionamento defensivo em situação de 1 x 1; deve ser estimulado taticamente, principalmente nos
- cobertura e comunicação em situação de 1 atacante x JEC e com a seqüência de treinamentos, este seja
2 defensores – 1 x 2; capaz de escolher a melhor alternativa de decisão de
- mudança de jogo; e, forma antecipada e responder as exigências e situações
- pressão no jogador sem bola, etc. que apresentam nos jogos e treinamentos.
D) coordenação de sequências de ações A coordenação da sequência de ações e a
individuais execução das ações definem a qualidade da realização
(sincronização dos movimentos com e sem bola): das jogadas planejadas.
- penetração sem bola; A preparação de uma equipe, seja ela, nível 1
- cobertura; e, (5-8 anos) ou profissional requer um trabalho em cima
- contra ataque com o goleiro, entre outras. de um planejamento antecipadamente programado e
E) criação de ações individuais (habilidades tendo sempre como objetivo cada uma dessas cinco
técnicas com e sem bola): fases. O sucesso do desempenho da equipe vai
- chute com a parte interna do pé, dentro da pequena depender substancialmente da correção do
area; planejamento e da precisão do treinamento.
- voleio lateral, após cruzamento; Do ponto de vista da pedagogia do esporte, as
- antecipação; e, exigências do jogo nos levam ao desenvolvimento dos
- bloqueio lateral, e outras. diferentes processos inerentes à tomada de decisão, a
Deste modo, cada uma dessas fases é crucial fim de aperfeiçoar as capacidades cognitivas desde
para um bom desenvolvimento e requer sequências de idades precoces, isto é, adotar uma metodologia
treinamentos de forma programada. aplicada em técnica e tática, habilidades e capacidades,
As ações dos jogadores de futebol podem ser simultaneamente.
consideradas como a realização de tomadas de

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Capacidade Tática no Ensino-Aprendizagem-Treinamento

Artigo de Revisão
Entretanto, este é um tema inesgotável que 11. Garganta J. Para uma teoria dos jogos desportivos

requer um número significativo de pesquisas científicas coletivos. In: Graça A, Oliveira J. O ensino dos jogos

numa abordagem pedagógica da iniciação esportiva ao desportivos. Centro de Estudos dos Jogos Desportivos, 2 ed.
Porto, 1995. p. 11-25.
futebol.
12. Bayer C. La ensenanza de los juegos desportivos
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1. Costa JC, Garganta J, Fonseca A, Botelho M. Inteligência e 13. Souza PRC. Processo de validação de teste para avaliar a
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Desporto 2002; vol.2, nº. 4: 7-20. Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional], Belo
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Comportamento Tático dos Esportes Coletivos: uma 14. Sisto FF, Greco PJ. Comportamento tático nos jogos
abordagem no Basquetebol. In: I Prêmio INDESP de Literatura esportivos coletivos. Revista Paulista de Educação Física 1995;
Desportiva. Brasília, 1999. Instituto Nacional de 9(1): 63-68.
Desenvolvimento do Desporto; v. 2: 95-147. 15. Konzag I. A formação técnico-táctica nos jogos desportivos
3. Santana WC. Futsal: Apontamentos Pedagógicos na colectivos. Treino Desportivo 1991; Série II (19): 27-37.
Iniciação e na Especialização. Campinas, SP: Autores 16. Filgueira FM. Futebol: aspectos pedagógicos da iniciação
Associados, 2004. esportiva. [Monografia de Especialização em Futebol –
4. Greco PJ, Benda RN (org.). Iniciação Esportiva Universal 1: Departamento de Educação Física], Viçosa (MG):
da aprendizagem motora ao treinamento técnico. 1º Universidade Federal de Viçosa; 2005.
Reimpressão. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. 17. Tiegel G, Greco PJ. Teoria da Ação e Futebol. Revista
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da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Volume I. 1996. p. 361-388.
Belo Horizonte: UFMG, 1998. 21. Santana, WC. O raciocínio do treino está no jogo.
9. Greco PJ. (Org.). Iniciação Esportiva Universal Metodologia Pedagogia do Futsal. Disponível em:
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10. Tavares F. O processamento da informação nos jogos 22. Samulski, DM. Psicologia do esporte: teoria e aplicação
desportivos. In: Graça A, Oliveira J. O ensino dos jogos prática. Belo Horizonte: UFMG/Escola de Educação Física –
desportivos. Centro de Estudos dos Jogos Desportivos, 2 ed. Imprensa Universitária, 1992.
Porto, 1995. p. 35-46.

65 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65


66 Rev Bras Futebol 2008 Jul-Dez; 01(2): 53-65
Resumo de Monografia
ISSN: 1983-7194

A escolha do sistema tático nas categorias de base do futebol goiano


Silva TDA
Curso de especialização em futebol /Universidade Federal de Viçosa – MG/Brasil

Resumo

Este trabalho tem como objetivo mostrar como são feitas as escolhas dos sistemas táticos por parte dos
treinadores das categorias de base do futebol goiano, e se há influência do tamanho (estatura) dos atletas na hora da
escalação das equipes. O referencial teórico do trabalho foi dividido em três etapas. A primeira sobre sistemas táticos
(definição, como surgiram, evoluções), a segunda sobre os principais sistemas táticos utilizados atualmente e a terceira
sobre os novos modelos de sistema tático. A metodologia do estudo compreende uma entrevista com 21 treinadores de
categoria de base com idade entre 22 e 53 anos, com escolaridade variando entre primeiro grau e nível superior. Esses
profissionais trabalham em 12 distintas agremiações (clubes) de futebol. As categorias envolvidas nessa pesquisa foram:
sub-12 (mirim); sub-13 (infantil); sub-14 (pré -infanto); sub-15 (infanto-juvenil) e sub-17 (juvenil). Conclui-se nesse trabalho
que para se escolher um determinado sistema tático cada técnico leva alguns fatores em consideração, sendo o principal
deles as características dos jogadores que compõem o elenco, seguido do sistema tático da equipe adversária.
Observamos também que na hora da escalação dos atletas, um fator primordial é a estatura do jogador que aliada com a
técnica é fundamental para os técnicos escalarem suas equipes. A característica dos atletas do elenco foi citado como o
principal fator na hora da escolha do sistema tático por 81% dos técnicos, já 19% citaram o sistema tático da equipe
adversária. Levando-se em consideração a estatura dos atletas na hora da escalação, 61,9% dos técnicos responderam
que "sim" a estatura é levada em conta, já 38,1 afirmaram que "não" dizendo que o mais importante é a qualidade técnica.
Palavras-chaves: sistema, tática, característica.

Abstract

This work has as objective to show as they are made the choices of the tactical systems on the part of the trainers
of the categories of base of the soccer goiano, and influence of the size there is been (stature) of the athletes in the hour of
the escalação of the teams. The theoretical referencial of the work was divided in three stages. The first on tactical systems
(definition, as they appeared, evolutions), Monday on the main tactical systems used now and the third on the new models
of tactical system. The methodology of the study understands an interview with 21 trainers of base category with age
between 22 and 53 years, with escolaridade varying between first degree and superior level. Those professionals work in 12
different agremiações (clubs) of soccer. The categories involved in that research were: sub-12 (mirim); sub-13 (infantile);
sub-14 (pré -infanto); sub-15 (infanto-juvenile) and sub-17 (juvenile). It ends -if in that work that takes some factors in
consideration to choose a certain tactical system each technician, being the main of them the players' characteristics that
compose the cast, followed by the tactical system of the opposing team. We also observed that in the hour of the athletes'
escalação, a primordial factor is the player's stature that allied with the technique it is fundamental for the technicians to

81 Rev Bras Futebol 2009 Jan-Jun; 02(1): 81-82


Silva TDA
Sistema tático nas categorias de base no futebol goiano

Resumo de Monografia
climb its teams. The the cast's athletes' characteristic was mentioned as the main factor in the hour of the choice of the
tactical system for 81% of the technicians, 19% already mentioned the tactical system of the opposing team. Being taken in
consideration the athletes' stature in the hour of the escalação, 61,9% of the technicians answered that " yes " the stature is
taken into account, 38,1 already affirmed that " no " saying that the most important is the technical quality.
Key words: system; tactics; characteristic.

82 Rev Bras Futebol 2009 Jan-Jun; 02(1): 81-82


CDD. 20. ed796.334

ANÁLISE DA VARIABILIDADE NA MEDIÇÃO DE POSICIONAMENTO TÁTICO NO FUTEBOL

Sergio Augusto CUNHA*


Mônica Ribeiro BINOTTO*
Ricardo Machado Leite de BARROS**

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi analisar a variabilidade na medição de posicionamento tático de


jogadores de futebol. Para isto foram feitas 20 análises do primeiro tempo do jogo entre Corinthians e
Palmeiras, válido pela Taça Libertadores da América de 1999. Foram registrados os locais em que ocorreram
as ações do jogador Vampeta, do Corinthians, através de um “software” que simula um campo de jogo onde
são marcados os locais em que jogadores se encontram posicionados em cada uma de suas ações. Após
marcadas todas as ações do jogador, foi feita a construção de dois eixos principais, que substituem os locais
das ações, para cada vez que o jogo foi analisado. Os autovetores são ortogonais entre si e o ponto de
intersecção entre os dois eixos foi centrado nas medianas de X e de Y. O comprimento dos eixos principais
foi determinado pelos pontos mais distantes, depois de selecionada a porcentagem dos dados que seriam
utilizados na sua construção. Neste caso, os dados foram restritos ao nonagésimo percentil. A variabilidade
foi medida pelo intervalo interquartil do BOXPLOT, que é uma medida de dispersão resistente, ou seja, que é
pouco afetada por mudanças nas posições dos dados. Os resultados obtidos indicaram uma variabilidade de
2,42 graus entre os ângulos, 0,50 metros entre as medianas de X e 1,25 metros entre as medianas de Y. Assim,
pudemos concluir que não houve grande variabilidade entre as medições do jogador analisado, e a
metodologia utilizada é um meio preciso para a análise tática no futebol.

UNITERMOS: Análise tática no futebol; Variabilidade de medidas; Eixos principais.

INTRODUÇÃO

Quando se fala em futebol, esporte A evolução do futebol caracteriza-se


que no decorrer dos anos atingiu grande evolução, por uma alta exigência física, técnica e psicológica,
um alto nível de performance é exigido das equipes além do aspecto tático que vem se constituindo
e a necessidade e o interesse de estudos a respeito num fator decisivo para a obtenção de sucesso de
da modalidade são uma conseqüência natural. uma equipe (Fernandes, 1994).
Apesar de muitas pessoas ainda o O futebol moderno requer que os
considerarem um esporte onde a sorte ou o jogadores estejam em constantes deslocamentos,
aproveitamento das chances são determinantes dos estando com ou sem a posse de bola, e esse
resultado dos jogos e de muitos treinadores aumento considerável de suas funções lhes rendeu
continuarem a utilizar métodos conservadores em inclusive a denominação de jogadores “universais”
seus treinamentos, essa subjetividade, pouco a (Godik, 1996).
pouco, vem cedendo lugar a interpretações Isso transformou a preparação tática
fundamentadas cientificamente. específica numa área de crescente interesse e a

Departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista - Rio Claro - SP


Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas - SP

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 111-16, jul./dez. 2001
CUNHA, S.A. et alii
112

prova disso são os inúmeros sistemas de jogo que dividido em três áreas (defesa, meio e ataque) e
surgiram com a evolução do esporte. pelas séries de eventos do jogo (passes, chutes,
Com o objetivo de coletar o maior etc). A cada ação realizada, o analista registrava no
número de informações possíveis a respeito da campo do programa o local correspondente e o
movimentação de jogadores de futebol diversas evento realizado. Uma condução também pôde ser
metodologias foram sendo desenvolvidas e registrada com o analista movendo o dedo e
aperfeiçoadas através dos tempos. soltando quando o jogador soltava a bola. O
Godik (1996) atentou para a programa registrava automaticamente o local onde
importância de se obter informações seguras do cada ação ocorreu.
posicionamento dos atletas em campo e afirmou As informações do posicionamento
que estas, anteriormente, eram feitas utilizando-se do(s) jogador(es) em campo em cada uma de suas
registro manual e informação visual. ações, obtidas com a utilização de programas de
Ekblom citado por Ananias (1995) computador, podem posteriormente serem
aplicou um método de análise onde o jogador utilizadas em uma análise tática mais detalhada.
estudado foi observado por um analista Uma alternativa, que foi realizada neste trabalho, é
posicionado ao lado do campo. A cada dois a representação do posicionamento tático dos
minutos de partida o observador anotava a ação do jogadores, através da determinação de duas retas
jogador em uma planilha com representação do ortogonais (eixos principais), que melhor
campo numa escala de 1:400. Nessa planilha foi reproduzem o conjunto de pontos marcados,
anotado como o jogador se deslocava. Em outras descrevendo o local que os jogadores atuam com
palavras, a qual velocidade e quando o jogador maior freqüência durante a partida (Bergo, Anido,
realizava dribles e cabeceios. Após o final da Barros, Cunha & Freire, 1998). Porém, o
partida, a distância total percorrida, a proporção da observador faz uma estimativa do local em que o
relação de distâncias em alta velocidade e o jogador efetuou a ação. Se forem realizadas
número de cabeceios e dribles foram determinados. análises de um mesmo jogo várias vezes, nas
Posteriormente, foram desenvolvidos mesmas condições, ocorrerá uma variação na
métodos de controle automático de deslocamento marcação dos pontos e, consequentemente, uma
dos jogadores e, atualmente, a tecnologia variabilidade na determinação dos eixos principais,
computadorizada vem se constituindo no meio ou seja, uma diversificação no posicionamento
mais avançado para análise de performance no desses eixos, que se ajustam de acordo com os
futebol. pontos marcados.
Dufour (1991) relatou um Na literatura pesquisada
equipamento composto de três máquinas encontramos alguns “softwares” que registram os
conectadas (um painel gráfico digital, um teclado e locais em que ocorrem as ações dos jogadores, mas
um computador). O scout, método numérico que nenhum deles mostra algum sistema de
oferece dados das equipes nos jogos, como número representação desses dados (como os eixos
de passes, chutes e demais ações dos jogadores, foi principais) ou algum estudo que meça a
feito por duas pessoas treinadas, onde um variabilidade das medições, comprovando se o
observava o jogo, comentava as ações com bola e método é preciso.
digitava seu lugar no painel que continha a Como a importância dedicada ao
representação de um campo de jogo, e o outro estudo dos sistemas táticos no futebol é crescente,
anotava simultaneamente as ações no teclado com levando os profissionais envolvidos nessa área a
127 sensores, de acordo com um algoritmo procurarem os métodos mais avançadas de
desenvolvido (número do jogador, ação do jogo e obtenção de informações, nos interessamos em
seus valores táticos). Imediatamente após a entrada analisar a variabilidade desse sistema de medidas.
dos dados, todos os resultados foram tratados
conforme desejado.
Partridge, Mosher e Franks (1991) OBJETIVO
utilizaram um programa de computador para fazer
uma análise de todos os jogos da Copa de 90. A O objetivo desse trabalho foi analisar
metodologia envolvia um analista e um observador a variabilidade na medição do posicionamento
independente retratando as incidências e posições tático de jogadores de futebol a partir de dados da
de cada evento dos jogos. O programa era posição do campo em que o atleta executou cada
composto por um desenho de um campo de futebol uma de suas ações durante uma partida.

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 111-16, jul./dez. 2001
Análise da variabilidade na medição de posicionamento tático 113

METODOLOGIA proporção entre as medidas da tela e do campo e


dividir os valores de cada ponto obtido por esse
O “Skout” (Bergo et alii, 1998) é um valor. A proporção encontrada foi de 3
“software” para análise de desempenho no futebol. pixels/metro no eixo X e de 2.8 pixels! metro no
Este programa simula um campo de jogo onde são eixo Y. Todos os valores em pixels referentes ao
marcados os pontos estimados onde o(s) eixo X foram divididos por três e os referentes ao
jogador(es) se encontram posicionados quando eixo Y por 2.8.
estão de posse de bola executando qualquer Com todos os pontos referentes às
fundamento. ações do jogador distribuídos no campo, já
Utilizando esse “software” uma convertidos para a escala real em metros, a etapa
única pessoa fez 20 análises do lo. tempo do jogo seguinte foi a determinação dos eixos principais
entre Corinthians e Palmeiras (2o. jogo), válido para cada vez que o jogo foi analisado.
pela Taça Libertadores da América de 1999, A partir da matriz contendo todos os
registrando apenas os locais em que ocorreram as valores de X e de Y correspondentes à localização
ações do jogador Vampeta, do Corinthians. dos pontos, foi necessário calcular as variâncias e
A marcação dos pontos foi feita covariâncias entre as coordenadas para poder
enquanto o observador acompanhava a partida pela aplicar o cálculo dos autovetores e autovalores. Os
televisão, de modo a se fazer uma estimativa autovetores são ortogonais entre si e o ponto de
aproximada do local onde cada ação ocorreu e, intersecção entre os dois eixos foi centrado nas
acionando o mouse sobre o campo simulado na tela medianas dos eixos X (horizontal) e Y (vertical).
do computador, registrar o local correspondente. O comprimento dos eixos principais
Ao lado do campo simulado existia foi determinado pelos pontos mais distantes, depois
uma barra de botões com o nome do jogador e dos de selecionada a porcentagem dos dados que
fundamentos a serem analisados. Após registrar o seriam utilizados na sua construção. Neste caso, os
local estimado da ação, o observador acionava o dados foram restritos ao nonagésimo percentil
mouse sobre o fundamento realizado. (90% dos pontos marcados) para que se pudesse
Cada ação analisada foi registrada obter realmente o local que o jogador atua com
em uma planilha, localizada abaixo do campo na maior freqüência, evitando que pontos extremos
seguinte ordem: número do jogador que efetuou a influenciassem a determinação do seu
ação; fundamento realizado; valores numéricos das posicionamento.
coordenadas de tela X e Y correspondentes ao local Para a verificação da variabilidade
da ação; período do jogo (lo. ou 2o. tempos) e ocorrida, foi feito o BOXPLOT dos ângulos
minutos e segundos da ação (neste trabalho o (autovetores), das medianas de X e das medianas
relógio não foi acionado). de Y dos eixos principais das 20 análises. A
Após marcados todos os pontos variabilidade foi medida pelo intervalo interquartil
referentes às ações do jogador Vampeta, foi feita a (diferença entre o primeiro e o terceiro quartis) do
determinação dos eixos principais. diagrama apresentado, que é uma medida de
Inicialmente, foi construída uma dispersão resistente, ou seja, que é pouco afetada
matriz selecionando, entre os dados obtidos por mudanças nas posições dos dados (Bussab &
(número do jogador, fundamento, valores das Morettin, 1987).
coordenadas X e Y, período do jogo, e tempo da
ação), apenas os valores das coordenadas de tela X RESULTADOS E DISCUSSÃO
e Y correspondentes a cada ponto marcado (local
da ação), pois é a partir desses dados que serão A FIGURA 1 mostra uma ilustração
construídos os eixos principais. Como as gráfica dos vinte eixos principais sobrepostos no
dimensões do campo na tela do programa medem campo de jogo, facilitando a visualização da
330 pixels de comprimento (eixo X) por 210 pixels variabilidade ocorrida entre as análises e a
de largura (eixo Y) e as dimensões reais do campo comparação e interpretação dos resultados.
de futebol são de 110 metros de comprimento (eixo Pelo gráfico, podemos observar que
X) por 75 metros de largura (eixo Y), foi houve pouca variabilidade entre as medições, já
necessário fazer uma conversão de escala, já que que o ângulo de inclinação dos eixos e o
todos os pontos marcados tem como referência as posicionamento das medianas de X e de Y
medidas do programa (em pixels) e não as do apresentam pouca alteração, resultando na
campo (em metros). Para isto, foi preciso achar a proximidade do posicionamento dos eixos.

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 2001


Análise da variabilidade na medição de posicionamento tático 115

A FIGURA 3 mostra, também por 0,50 metros. Já entre as medianas de Y, a


meio do BOXPLOT, que as medianas de X dos variabilidade foi de 1,25 metros,
vinte eixos principais tiveram uma variabilidade de

VARIABILIDADES ENTRE AS POSIÇÕES DAS MEDIANAS

O
ai

m
oo

o
00

to
Tfr
o
N.

LO
CD

O
CD

x Y
FIGURA 3 - Variabilidade entre as posições das medianas.

A pequena variabilidade entre as O crescente desenvolvimento e


medições pode ser decorrente de alguns fatores: utilização dos avanços tecnológicos entre
O posicionamento dos eixos principais é centrado »
pesquisadores e profissionais do meio futebolístico
nas medianas de X e de Y. Sendo a mediana uma exige uma análise criteriosa das metodologias
medida de tendência central resistente, que não empregadas, para que seus resultados não sejam
recebe influência de valores extremos, uma duvidosos.
pequena variabilidade na marcação dos pontos não CONCLUSÃO
implica numa alteração acentuada no
Com a realização deste trabalho,
posicionamento dos eixos.
pudemos concluir que não houve grande
A realização de vinte medições pode
variabilidade entre as medições do jogador
ter levado o operador a ficar “viciado” no jogo,
analisado.
sabendo por antecipação o posicionamento
Os resultados obtidos indicaram que
estimado do jogador. Para evitar que este fator
a metodologia utilizada é um meio preciso para a
influenciasse de maneira decisiva nos resultados,
análise tática no futebol, tanto individual como
foram realizadas apenas cinco medições diárias.
coletivamente.
Na literatura pesquisada
A representação do posicionamento
encontramos alguns trabalhos que registram os
dos jogadores através dos eixos principais contribui
locais em que ocorrem as ações dos jogadores
para uma melhor reprodução e visualização dos
através de outros “softwares”, como Dufour (1991)
dados.
e Patridge, Mosher e Franks (1991), mas nenhum
Finalmente, a análise de futebol
deles analisou a variabilidade das medições para
através de programas de computador, oferece uma
que pudéssemos fazer a comparação dos
maior quantidade de informações para treinadores
resultados.
e jogadores que podem, a partir delas, montar
melhores estratégias em treinos e jogos.

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 111-16, jui/dez- 2001
116 CUNHA, S.A. et alii

ABSTRACT

ANALYSIS OF VARIABILITY IN MEASUREMENTS ON SOCCER TACTIC POSITIONS

The main goal of this study was to analyze the variability in the measurement of soccer players'
tactical positioning. Twenty analyses were made during the first half of the game between Corinthians and
Palmeiras, valid for the Libertadores of America 1999's Cup. The action places of the Corinthians team player
Vampeta were registered using a software that simulates a soccer pitch and marks the places on which the
players are positioned during each action. After marking all the players actions, two principal axes, which
substituted the action places, were built for every game analysed. The eigenvectors are ortogonal between
themselves and the intersection point between the two axes was centered in the median of X and Y. The
length of the principal axes was determined by the most distant points, after selecting the percentage of the
data used for its construction. In this case, the data were restricted to the ninetieth percentil. The variability
was measured by the BOXPLOT interquartil interval, which is a measure for the resisting dispersion, in other
words, that is little affected by changes in the data positions. The results indicated a variability of 2.42 degrees
between the angles, 0.50 meters between the X median, and 1.25 meters between the Y median. We could
therefore conclude that there was no great variability between the measurements of the player analysed, and
the methodology used is an accurate mean for soccer tactical analysis.

UNITERNS: Soccer tactical analysis; Variability measurement; Principal axes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUFOUR, W. Computer assisted scouting in soccer.


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Biociências, UNESP, Rio Claro. São Paulo: EPU, 1994. p.77-96.
BERGO, F.P.G.; ANIDO, R.; BARROS, R.M.L.; GODIK, M. A. Atividade competitiva dos futebolistas.
CUNHA, S.A.; FREIRE, J.B. Software para análise In: FUTEBOL: preparação dos futebolistas de alto nível.
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FOOTBALL, 2., Eindhoven, 1991. Anais... Eindhoven:
E. & FN Spon, 1991. p.221-31.

Recebido para publicação em: 14 ago. 2000


Revisado em: 30 out. 2001
Aceito em: 18 dez. 2001

ENDEREÇO: Sergio Augusto Cunha


Av. 24 A, 1515 - Bela Vista
13506-900 Rio Claro - SP - BRASIL
e-mail: scunha@rc.unesp.br

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 111-16, jul./dez- 2001
DOI: 10.4025/reveducfis.v21i3.8515

ARTIGOS ORIGINAIS

1
ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO TÁTICO NO FUTEBOL

ANALYSIS AND EVALUATION OF TACTICAL BEHAVIOR IN SOCCER

Israel Teoldo da Costa ∗


**
Júlio Garganta
***
Pablo Juan Greco
****
Isabel Mesquita

RESUMO
Pesquisas na área do treinamento esportivo vêm mostrando que os constrangimentos táticos são essenciais para o
desempenho de jogadores e equipes de futebol; porém, apesar dessa importância, a avaliação do desempenho do jogador
ainda tem se centrado em aspectos técnicos, fisiológicos e biomecânicos. O objetivo deste trabalho é revisar e analisar os
instrumentos disponíveis na literatura e apresentar sugestões para a análise e avaliação do comportamento de jogadores de
futebol com base nos princípios táticos de jogo. A proposta apresentada neste artigo engloba os dez princípios táticos
fundamentais do jogo de futebol, o local de realização da ação tática no campo e a eficácia dessa ação no jogo.
Palavras-chave: Futebol. Comportamento tático. Avaliação.

INTRODUÇÃO a compreender a dinâmica do futebol e,


consequentemente, a estabelecer exigências
Atualmente o jogo de futebol requer do quanto aos comportamentos da equipe e dos
jogador permanente empenho na tomada de jogadores, que, por sua vez, diante da
decisão, ao ponto de, ao mesmo tempo em que quantidade tempo sem a posse da bola, devem
ele tem de observar, processar e avaliar as saber como ocupar o espaço e se movimentar de
situações, também tem de eleger e executar as acordo com os objetivos e a tática coletiva
soluções táticas e técnicas adequadas para (LOW; TAYLOR; WILLIAMS, 2002).
determinada situação de jogo (GRECO, 2006). As exigências que se apresentam no jogo no
Estudos descritivos têm apontado que, na alto rendimento também influenciam os
maior parte do tempo útil de jogo, tanto o profissionais que trabalham fora das quatro
jogador quanto a equipe jogam sem ter a posse linhas. Tentando corresponder a elas,
da bola. Dos noventa minutos regulamentares, treinadores e pesquisadores têm utilizado vários
em média, um jogador e uma equipe passam, recursos para obter informações fidedignas
respectivamente, 97% e 50% do tempo sem a sobre o desempenho do(s) jogador(es) e/ou da(s)
bola (GARGANTA, 1997). Estes dados ajudam equipe(s) durante as partidas (HUGHES, 1996).

1
Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Europeia para América Latina, bolsa nº
E07D400279BR.

Mestre. Professor Adjunto I do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa.
**
Doutor. Professor Associado com Agregação da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
***
Doutor. Professor Associado da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade
Federal de Minas Gerais.
****
Doutora. Professora Associada com agregação da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 21, n. 3, p. 443-455, 3. trim. 2010


444 Costa et al.

O interesse por esse tipo de informação se e táticos são: inversões de bola, roubadas de
manifesta na medida em que o investigador bola, dribles, passes, posse de bola, duração do
busca aumentar os conhecimentos acerca do ataque, passes em profundidade, distribuição de
processo, do conteúdo e da lógica do jogo e o bola em função do espaço de jogo, entre outros
treinador procura obter informações que o (HUGHES, 1996; PETTIT; HUGHES, 2001;
ajudem a modelar as situações de treino para a HUGHES; BARTLETT, 2002).
aquisição da eficácia competitiva desejada Tais indicadores têm auxiliado na
(GRÉHAIGNE; BOUTHIER; DAVID, 1997; identificação dos problemas e da qualidade do
GARGANTA, 1998). jogo, contribuindo para sistematizar conteúdos,
Outro fator que também concorre para o definir objetivos, construir e selecionar
crescimento desse interesse é a dificuldade do exercícios para o ensino e o treino. Não
treinador em perceber a importância relativa das obstante, nos últimos anos alguns pesquisadores
variáveis presentes no contexto de jogo. têm concentrado suas atenções na análise de
Pesquisa realizada por Franks e Miller (1986) variáveis relacionadas com os aspectos táticos
evidenciou que mesmo os treinadores mais do jogo de futebol, com base na caracterização
experientes e de nível internacional têm dos comportamentos dos jogadores a partir da
dificuldade em memorizar e relembrar de forma observação de equipes (sistemas) em confronto
precisa as sequências de acontecimentos (GRÉHAIGNE; BOUTHIER, 1994;
complexos que ocorrem durante um longo GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1998;
período de tempo. Na maioria das vezes eles GARGANTA, 2001b; GRÉHAIGNE; MAHUT;
centram as suas observações em pequenas partes FERNANDEZ, 2001; PONCE; ORTEGA, 2003;
da ação, normalmente onde se encontra a bola GRÉHAIGNE; WALLIAN; GODBOUT, 2005;
ou em situações críticas, o que implica na perda FERREIRA; PAOLI; COSTA, 2008;
de muitas informações que ocorrem ao seu FRENCKEN et al., 2008; KANNEKENS;
ELFERINK-GEMSER; VISSCHER, 2008;
redor. Os resultados dessa pesquisa apontaram
FRENCKEN; LEMMINK, 2009; SHESTAKOV
um índice de retenção de apenas 30% dos
et al., 2009).
eventos de maior importância no jogo.
Diante da evolução dos métodos de análise
Uma vez reconhecida a importância de se
de jogo e da tendência a considerar o
analisar o jogo para se obterem informações a
componente tática, este artigo tem por objetivo
respeito do desempenho dos jogadores e das
revisar e analisar os instrumentos disponíveis na
equipes, direciona-se a atenção à busca do
literatura e apresentar sugestões para a análise e
melhor procedimento e recurso para concretizar
avaliação do comportamento de jogadores de
tal objetivo (LAMES; HANSEN, 2001). Neste
futebol com base nos princípios táticos de jogo.
sentido, alguns investigadores têm recorrido à
Para isso foi realizado, entre 2007 e 2010, um
Análise Notacional (HUGHES; FRANKS, 1997)
levantamento bibliográfico nas bases de dados
e à Metodologia Observacional (ANGUERA et
Scopus, Sport Discus, Lilacs, Scielo, Latindex,
al., 2000) para recolher e registrar os
A to Z, SAGE, Oxford University Press,
indicadores de desempenho mais relevantes de
Cambridge University Press e Digital
uma partida. Essas duas metodologias de
Dissertations & Theses da Faculdade de
observação e análise de jogo permitem o
Desporto da Universidade do Porto, com a
armazenamento das informações para posterior
utilização das palavras-chave futebol, tática,
interpretação e diagnóstico. Além disso, na
comportamento tático, instrumento de avaliação,
perspectiva da pesquisa ou de formação de
avaliação, e seus similares nas línguas inglesa,
banco de dados elas também fornecem
alemã, francesa e espanhola.
informações a respeito das tendências e das
características evolutivas do jogo (ANGUERA,
1992). SISTEMAS DE OBSERVAÇÃO E
Alguns dos indicadores comumente ANÁLISE DO JOGO
analisados para descrever o desempenho no jogo
são: gois, número de finalizações, escanteios, Os sistemas de observação e análise de jogo
cruzamentos, entre outros; e os aspectos técnicos evoluíram e se modificaram nas suas

R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 21, n. 3, p. 443-455, 3. trim. 2010


Análise e avaliação do comportamento tático no futebol 445

características conforme os avanços comportamentos dos jogadores ou da equipe,


tecnológicos e a capacidade de registro e como passes, controle e condução de bola,
memorização dos meios informáticos. interceptação, tempo de posse de bola e
Paralelamente, os métodos das pesquisas fragmentos do jogo; e o FARM - Football
realizadas foram se atualizando e marcando o Athletics Results Manager (BACCONI;
desenvolvimento da área (FRANKS; MARELLA, 1995), desenvolvido e utilizado por
GOODMAN, 1986; DUFOUR, 1989; um grupo de pesquisadores ligados à Federação
GROSGEORGE, 1990; GROSGEORGE; Italiana de Futebol para catalogar, cruzar e
DUPUIS; VÉREZ, 1991; DUFOUR, 1993; elaborar informações técnicas e táticas para os
DUFOUR; VERLINDEN, 1993). Em linhas treinadores em tempo real de jogo.
gerais, pode-se afirmar que o processo de Nos últimos anos, devido ao crescimento do
observação e análise de jogo evoluiu em etapas: interesse pela área e à maior disponibilidade de
iniciando-se nas anotações assistemáticas e recursos financeiros, o desenvolvimento de
subjetivas na folha de papel (REEP; sistemas de análise jogo deixou de ser tarefa
BENJAMIN, 1968), passou pela notação manual específica e estudada somente no âmbito
com relato oral para gravador (REILLY; científico e passou a ser realizado também por
THOMAS, 1976) até chegar à utilização do empresas de informática que se especializaram e
computador após a observação, para registro, apostaram no crescimento dessas novas
armazenamento e tratamento dos dados (ALI, oportunidades de negócio. Essas empresas
1988). Por meio desta tecnologia foi possível passaram a desenhar e aplicar novas tecnologias
utilizar o computador para registrar os dados de informação com o objetivo de fornecer
simultaneamente à observação (DUFOUR, informações precisas e rápidas sobre as ações do
1989) e para introduzir os dados por meio do jogo. Entre as novas tecnologias utilizadas para
reconhecimento de categorias veiculadas pela esse fim encontram-se a de rastreamento –
voz ‘voice-over’ (TAYLOR; HUGHES, 1988). Computer-Based Tracking System, a de
Tal avanço permitiu delinear sistemas posicionamento global – Global Positioning
tecnologicamente mais evoluídos, que permitem System - GPS, a de identificação por
digitalizar semiautomaticamente as ações radiofrequência - Radio-Frequency
realizadas pelos jogadores e pelas equipes, Identification - RFID, e a Bluetooth (ORTEGA
seguindo o jogo em tempo real e visualizando et al., 2007).
todo o terreno de jogo (GARGANTA, 2001a; Basicamente, todos esses sistemas
ORTEGA et al., 2007). informatizados de observação e análise de jogo
Especificamente no contexto esportivo, a procuram responder às seguintes questões sobre
evolução dos sistemas pautou-se pela as ações no jogo: (i) quem executa a ação?; (ii)
necessidade de registrar e fornecer informações qual ação é realizada?; (iii) como a ação é
precisas sobre os acontecimentos do jogo. No realizada?; (iv) que tipo de ação é realizado?; (v)
âmbito científico, um dos primeiros sistemas onde a ação se realiza?; (vi) quando a ação se
desenvolvidos foi o CASMAS - Computer realiza?; (vii) qual é o resultado da ação?.
Assisted Scouting-Match Analysis System A utilização desses sistemas de análise do
(DUFOUR; VERLINDEN, 1993). Este sistema jogo pode ser consumada em perspectivas de
possibilitou a observação sistemática do curto e longo prazo. A utilização em curto prazo
comportamento dos jogadores, principalmente tem relação direta com a competição, com o
no que se refere aos aspectos técnicos e motores. objetivo de analisar a própria equipe e a do
Posteriormente, outros sistemas também foram adversário, nomeadamente pela comparação de
criados, nomeadamente: o MEMOBSER rendimentos e estabelecimento de parâmetros de
(DOUCET, 1986), que permite registrar e progresso, pela obtenção de informações para
memorizar informações sobre três aspectos treinos e pelo conhecimento dos níveis dos
fundamentais do jogo: (1) ocupação de espaço; jogadores e das equipes. A utilização de longo
(2) circulação da bola; (3) recuperação ou perda prazo se relaciona com análise mais prolongada
da bola; o SAGE - Sport Analysis and Game de equipes e seus padrões de jogo, para conhecer
Evolution (LUHTANEN, 1996), que analisa os algumas características das competições, dos

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446 Costa et al.

perfis dos treinadores, ou para fazer uma base de um jogador em relação tanto aos aspectos
dados de informações de jogadores que possa técnicos quanto aos aspectos táticos.
ser utilizada em contratações (CALVO, 2007). A avaliação do desempenho do jogador
De fato, esses sistemas facilitam muito o realizada pelo TSAP é composta por seis
processo de obtenção e registro das informações parâmetros agrupados em duas categorias: a) a
do jogo; porém existem pontos cruciais a serem forma como o jogador tem a posse da bola; e b)
melhorados, principalmente no que diz respeito a forma como que o jogador encaminha a bola.
à quantidade e à relevância das informações que A primeira categoria se compõe de dois
serão repassadas. Esses programas, em especial parâmetros: (1) bolas conquistadas “BC” – as
os computadorizados, disponibilizam bolas interceptadas, as bolas roubadas e as bolas
informações em demasia, que em alguns casos recuperadas após chute ao gol ou passes errados;
dificultam a respectiva interpretação em curtos (2) bolas recebidas “BR” – bolas recebidas dos
períodos de tempo. Por isso, muitos deles são companheiros de time que ficam sob o controle
utilizados em momentos posteriores ao jogo para do jogador. A segunda categoria se constitui dos
que o treinador possa fazer uma interpretação outros quatro parâmetros: (3) passe neutro “PN”
correta dos dados, tomar decisões acertadas e – passe que não gera perigo para a equipe
fornecer informação substantiva aos jogadores. adversária; (4) perda da bola “PB” – quando a
bola é roubada pela outra equipe; (5) realização
SISTEMAS DE AVALIAÇÃO NO FUTEBOL de passe ofensivo “PO”– quando os passes
colocam a equipe em situação favorável para
A maior utilidade dos sistemas de análise e finalizar ao gol; (6) finalização ao gol “FG”–
observação de jogo se relaciona diretamente chute realizado em direção ao gol adversário.
com a capacidade de transcendência dos dados Após proceder à observação e ao registro
registrados sobre o próprio jogo. Essa crença desses parâmetros, a avaliação do desempenho
parte do pressuposto que a elevada quantidade do jogador é computada com base em dois
de dados registrados sobre os acontecimentos do índices: o volume de jogo e a eficiência. O
jogo deve ser mais bem processada, propiciando volume de jogo, que é representado pela
melhor avaliação da participação efetiva no primeira categoria, consiste na soma dos dados
jogo, ganho de tempo na análise dos dados e, se obtidos nos parâmetros bolas conquistadas e
possível, a utilização desses dados durante a bolas recebidas [volume de jogo= BC + BR]. O
partida. cálculo do índice de eficiência é obtido pelo
Além de ser útil durante os jogos, a resultado da soma das bolas conquistadas,
avaliação do desempenho é também muito realização do passe ofensivo e finalização ao gol
importante no processo de ensino e treino. dividido pelo somatório do número de bolas
Vários treinadores buscam instrumentos que perdidas mais dez [índice de eficiência=
auxiliem na caracterização da autenticidade dos (BC+PO+FG)/(PB+10)].
procedimentos e possam ser aplicados em A partir desses resultados é possível obter o
consonância com os objetivos e fases da nível de desempenho do jogador por meio de um
periodização do treino e da competição nomograma composto de três escalas, das quais
(GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1998). a que está do lado esquerdo representa o índice
Diante dessa necessidade, alguns de eficiência e possui valores que variam de 0 a
pesquisadores têm tentado definir, por meio dos 1,50, a do lado direito representa o volume de
seus estudos, critérios de avaliação do jogo e possui valores que variam de 0 a 30 e a
desempenho que sejam adequados ao seu central representa o nível de desempenho e
contexto de ocorrência. Nessa linha de pesquisa, possui valores que variam de 0 a 30. A
Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1997) pontuação do desempenho de um determinado
propuseram um instrumento de avaliação de jogador é estabelecida pelo ponto de intersecção
desempenho denominado Team Sports da linha de ligação entre os valores do índice de
Performance Assessment Procedure – TSAP. eficiência e de volume de jogo na escala central.
Este instrumento permite obter informações Após conceberem o TSAP, Gréhaigne,
quantificadas do desempenho global ofensivo de Mahut e Fernandez (2001) apresentaram outra

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Análise e avaliação do comportamento tático no futebol 447

proposta de avaliação do desempenho de pontos), menos eram as ações do jogador


jogadores, a qual considerava estruturas e avaliado naquele espaço.
configurações específicas do jogo de futebol. Para avaliar os dados quantitativos, os
Essa nova proposta foi construída na tentativa de autores se referiram ao nomograma utilizado no
obter indicações objetivas, confiáveis e válidas TSAP, porém fizeram algumas modificações nas
do desempenho. Para tal, os autores utilizaram escalas utilizadas para ajustar a avaliação de
uma metodologia que combinava o estudo de acordo com o posicionamento do jogador em
variáveis qualitativas e quantitativas das ações campo. A importância da adição dessa variável
do jogador em campo. As ferramentas de está em que a posição que o jogador assume em
observação qualitativa se basearam no espaço campo durante a partida pode oferecer-lhe
efetivo de jogo, na zona de ação e nas maiores ou menores oportunidades de receber a
configurações do jogo; e a avaliação quantitativa bola, o que, consequentemente, condiciona o seu
foi suportada pelo nomograma utilizado no volume de jogo e os seus índices de eficiência e
TSAP (GRÉHAIGNE; GODBOUT; desempenho. Para neutralizar esse efeito os
BOUTHIER, 1997). autores propuseram duas escalas de pontuação
Para avaliar o espaço efetivo de jogo, os para se avaliar o desempenho: uma para um
autores apresentaram uma divisão do campo em volume de jogo até 45 minutos e uma para um
quatro setores (defensiva, pré-defensiva, pré- volume de jogo superior a 45 minutos.
ofensiva e ofensiva), configurando uma grelha Outro instrumento de avaliação do
de observação estática. A partir disso, o espaço desempenho esportivo foi proposto por Oslin,
efetivo de jogo foi definido como uma área Mitchell e Griffin (1998) e é denominado Game
poligonal que faz a ligação de todos os Performance Assessment Instrument - GPAI, o
jogadores envolvidos na ação que estavam qual permite observar e codificar
localizados na periferia das linhas de comportamentos ofensivos e defensivos dos
jogadores realizados no jogo.
posicionamento naquele dado instante.
O GPAI foi projetado para ser um
Posteriormente, os autores definiram cinco
instrumento multidimensional e de observação
categorias de espaço efetivo de jogo
flexível que pode ser usado “ao vivo” ou por
considerando o posicionamento da bola no videotape para avaliar o desempenho em jogos
campo ofensivo, as quais foram denominadas de de invasão, de rede, de campo, ponto ou corrida.
B1 a B5, de acordo com as suas variações entre Por meio deste instrumento é possível avaliar as
as posições centrais e laterais do campo de jogo. habilidades demonstradas pelos jogadores para
Após esse procedimento, eles se reportaram aos solucionar problemas táticos do jogo, por meio
centros de gravidade das equipes, obtidos a de três componentes: tomada de decisão
partir de uma linha imaginária que liga os apropriada, movimentações adequadas e
posicionamentos dos jogadores dos dois habilidades motoras bem-executadas.
principais eixos de defesa, para verificar se O instrumento possui sete componentes do
havia indicações da noção de “defesa em bloco” jogo: 1) base: retorno apropriado do jogador à
ou de “busca pela defesa”. posição inicial ou recuperação entre as
Para avaliar a zona de ação dos jogadores, tentativas; 2) ajuste: movimentação do jogador,
os pesquisadores dividiram o campo em tanto ofensiva quanto defensiva, requerida para
quarenta quadrados de igual área (A1, A2, A5) e a sequência do jogo; 3) tomada de decisão:
registraram o posicionamento do jogador a cada escolhas apropriadas sobre o que fazer com a
trinta segundos de jogo, perfazendo o total de bola durante o jogo; 4) execução motora:
180 registros. A movimentação dos jogadores eficiente desempenho das habilidades
foi representada por meio de pontos nos selecionadas; 5) suporte: movimentação sem a
respectivos espaços de movimentação do bola, à procura de espaço para recebê-la; 6)
jogador. Assim, quanto mais escuro um espaço cobertura: apoio defensivo ao colega que marca
se apresentava (mais pontos), maior era a o portador da bola; e 7) marcação: defender um
frequência de aparecimento do jogador, e quanto adversário com ou sem a posse de bola. Destas
mais claro um espaço se apresentava (menos componentes, somente a “base” não é

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448 Costa et al.

importante para a avaliação de desempenho no dos dados, é feito com base em exemplos
futebol, devido à sua especificidade. teóricos e em análises de casos negativos e de
O GPAI pode ser usado para medir contraste. O último procedimento consiste em
componentes individuais de desempenho e o comunicar e discutir os resultados das análises
envolvimento no jogo. Para isso foram propostos com os atletas e/ou comissão técnica em busca
alguns índices de desempenho: de determinar linhas de ações comuns.
- no jogo: total de respostas apropriadas + Em outra proposta, pesquisadores alemães,
número de execuções motoras eficientes + coordenados pelo Prof. Dr. Klaus Roth,
número de execuções motoras ineficientes + propuseram a bateria de testes do KORA para
número de tomadas de decisão inapropriadas; avaliar o desempenho tático. Esses testes
- índice de tomada de decisão (DMI): número compreendem procedimentos de avaliação por
de tomada de decisões apropriadas / número meio do conceito de peritos que permitem
de tomada de decisões inapropriadas; avaliar dois parâmetros inerentes às capacidades
- índice de execução motora (SEI): número de táticas: oferecer-se e orientar-se (O.O.) e
execuções motoras eficientes / número de reconhecer espaços (R.E). No conjunto de
execuções motoras ineficientes; atividades e jogos que são aplicados para
- índice de suporte (SI): número de movimentos oportunizar tarefas táticas, o primeiro refere-se à
de apoio apropriados / número de movimentos percepção do jogador quanto a obter a ótima
de apoio inapropriados; posição no momento exato; e o segundo
corresponde à capacidade do jogador em
- desempenho de jogo: (DMI+SEI+SI)/3
reconhecer as chances para se chegar ao gol
As componentes de avaliação individual do (KRÖGER; ROTH, 2002).
desempenho presentes no GPAI foram O objetivo da avaliação é determinar o nível
desenvolvidas e avaliadas por peritos para de inteligência de jogo e de criatividade tática,
determinar a validade e a confiabilidade pelo que os dois parâmetros são avaliados nas
(OSLIN; MITCHELL; GRIFFIN, 1998). perspectivas dos pensamentos convergente e
Concebido, particularmente, para ser aplicado divergente e suas relações com a inteligência e a
em contexto escolar, o GPAI pode também criatividade tática, respectivamente (GRECO;
servir de instrumento para o treinador no âmbito ROTH; SCHÖRER, 2004).
da avaliação do desempenho em competição, No teste KORA (O. O.) os praticantes
não sendo necessário considerar todas as realizam um jogo com estruturação tática no
componentes, mas somente aquelas mais sistema três contra três, em um espaço de 9
específicas à situação de avaliação metros quadrados, com o objetivo de manter a
(MESQUITA, 2006). posse de bola, sendo a movimentação livre
Em 2001, Lames e Hansen também dentro da área demarcada. Já no teste KORA
propuseram um método de análise de jogo
(R.E), sete jogadores são divididos em três
denominado Qualitative Game Analysis – QGA.
grupos: (a) - dois jogadores; (b) - três
Esse método foi baseado no processo
jogadores; (c) - dois jogadores. Em uma área
interpretativo de observação de jogo para
alcançar objetivos em esportes de rendimento e total de 7m x 8m, dois jogadores de cada um
aplica os princípios da metodologia de pesquisa dos grupos – (a) e (c) - são posicionados em
qualitativa. uma área demarcada com espaço de 3m x 8m.
O QGA é composto por procedimentos de Os três jogadores do grupo (b) são
filmagem de jogos, de fragmentação e posicionados em uma área de 1m x 8m
organização das cenas coletadas, de análise localizada entre os espaços dos grupos (a) e
qualitativa dos dados e comunicação dos dados (c). Durante os dois minutos de duração do
aos atletas e/ou à comissão técnica. Os dois teste os jogadores dos grupos (a) e (c) devem
primeiros procedimentos são de cunho trocar passes entre si com os pés; os jogadores
quantitativo e fornecem dados sobre o do grupo (b) devem procurar interceptar estes
desempenho dos jogadores no jogo. O terceiro passes com qualquer região do corpo, exceto
procedimento, que se refere à análise qualitativa as mãos, respeitando a área limitada para cada

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Análise e avaliação do comportamento tático no futebol 449

grupo; e os jogadores dos grupos (a) e (c) não CONTRIBUTOS E LIMITAÇÕES DOS
podem conduzir a bola, podem apenas se INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
deslocar livremente e/ou passar a bola para o
A utilização de instrumentos de análise e
seu companheiro de grupo até surgir o
avaliação do rendimento esportivo tem se
momento de passar a bola para o outro setor
revelado vantajosa, na medida em que tem
da área do teste. No protocolo do teste
disponibilizado informações que permitem
também é estabelecida a altura máxima de prever as tendências evolutivas do jogo
1,50 metro em que a bola pode ultrapassar o (CASTELLANO PAULIS; PEREA
espaço defensivo. Toda vez que a bola RODRÍGUEZ; BLANCO-VILLASEÑOR,
ultrapassar essa altura a ação tática ficará 2009), aperfeiçoar as prestações desportivas dos
inválida. Sempre que houver a interceptação jogadores e das equipes (LEE; WARD, 2009),
do passe entre os grupos (a) e (c) pela equipe configurar modelos de jogo (GODIK; POPOV,
(b), a bola retornará para o grupo de origem 1993), bem como potenciar a construção de
do passe que foi interceptado. estratégias de trabalho mais profícuas
O processo de avaliação destes dois testes é (OLIVEIRA, 2004) e otimizar métodos de treino
realizado por três avaliadores e apoia-se no (FRANKS; GOODMAN; MILLER, 1983).
critério estabelecido por Memmert (2002), que Dentre os instrumentos descritos
apresenta uma escala ordinal de pontuação que anteriormente, o GPAI e o KORA têm
varia entre 0 e 10 pontos. A avaliação do apresentado avanços ao nível da avaliação do
desempenho dos praticantes é realizada a partir comportamento tático do jogador no que diz
do reconhecimento dos padrões formulados respeito às interações de jogo e à consideração
pelos peritos, sendo estabelecida uma escala de das movimentações dos jogadores envolvidos,
pontos atribuídos de acordo com as ações táticas com e sem posse de bola; já o TSAP tem
realizadas nos quesitos “oferecer-se e orientar- apresentado uma avaliação mais próxima aos
se” e “reconhecer espaços”, analisando as comportamentos desempenhados pelos
formas subjacentes de pensamento divergente e jogadores de futebol, por considerar o estatuto
convergente nas ações táticas realizadas. posicional e o próprio ambiente e espaço de jogo
Além desses pesquisadores, Tallir et al. (GRÉHAIGNE; GODBOUT, 1997).
(2004) também propuseram um instrumento Não obstante todas estas contribuições,
baseado em imagens de vídeo para avaliar o pesquisadores têm afirmado que tais
desempenho individual de crianças de 11 a 12 instrumentos e métodos possuem limitações no
anos em exercícios de 3x3 no futebol. Esse que se refere à descrição e quantificação dos
indicadores táticos que expressam o
instrumento avalia as execuções motoras e a
desempenho no futebol (OLSEN; LARSEN,
tomada de decisão em diferentes categorias, e
1997; TENGA et al., 2009). As críticas se
também as avalia em todas as situações com
referem ao fato de a maioria dos instrumentos
bola e sem bola.
avaliar variáveis técnicas ou, simplesmente,
Os dois instrumentos integram componentes
descrever os eventos de jogo, como o tempo de
de desempenho agrupados em três categorias: (i) posse de bola, a ocorrência de passes, o setor de
decisões ofensivas com bola, configuradas pelas origem da jogada e outros (ACAR et al., 2009;
ações de gol, passe, condução de bola ou drible; CASTELLANO PAULIS; PEREA
(ii) decisões ofensivas sem bola, definidas por RODRÍGUEZ; BLANCO-VILLASEÑOR,
meio da criação de espaço; e (iii) decisões 2009).
defensivas avaliadas a partir das ações de defesa No tocante aos instrumentos de análise de
realizadas. Ao observar essas variáveis em eventos de jogo, as críticas são dirigidas à falta
contexto de jogo, os avaliadores analisam o de critérios e de modelos teóricos de
desempenho do jogador com base em uma enquadramento e interpretação dos dados
apreciação qualitativa, a saber: boa = bola recolhidos (GRÉHAIGNE, 1992; MCGARRY et
facilmente recebida pelo companheiro; pobre = al., 2002). Segundo estes autores, a falta desses
passe errado; e neutra = a bola interceptada por critérios coloca o pesquisador e o
um defensor. professor/treinador diante de uma elevada

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450 Costa et al.

quantidade de números com fraco poder Acrescenta-se a isso a necessidade de qualificar


representativo e interpretativo ante a natureza os dados quantitativos, ou seja, de avaliar as
complexa e dinâmica dos eventos de jogo. ações no contexto em que elas ocorrem.
Em relação aos instrumentos de avaliação do A possibilidade de avaliar os dados
comportamento dos jogadores por meio de decorrentes de uma partida de acordo com o
declaração escrita ou verbal, pesquisadores têm modelo de jogo da equipe e os conteúdos
apontado que as suas limitações consistem na desenvolvidos nos treinamentos oferece
dificuldade de projetar com fidedignidade o vantagem para a contextualização do
comportamento que jogador apresenta quando se desempenho, pois permite conhecer as ações dos
defronta com idêntica situação no jogo ou no treino jogadores de acordo com um conjunto de
(PLACEK; GRIFFIN, 2001). Por esse motivo, referências que conferem ou que deixam de dar
pesquisadores têm considerado que estes testes não sentido aos comportamentos adotados. Deste
são, em sua totalidade, representativos da modo, é possível aceder à comparação entre o
capacidade de avaliação e de tomada de decisão do desempenho ideal e o desempenho efetivo do
praticante em função de uma situação real de jogo jogador e da equipe.
(BLOMQVIST; VÄNTTINEN; LUHTANEN, Nesse sentido, e conforme sugerem
2005; VAEYENS et al., 2010). Gréhaigne e Godbout (1995), seria conveniente
As críticas relativas aos instrumentos que que a construção de um instrumento com essas
permitem avaliar o comportamento tático por meio características considerasse as regras de ação e
de jogos residem na debilidade de identificação de de organização do jogo, porque são duas
variáveis representativas da especificidade do jogo categorias que se relacionam com o
de futebol, nomeadamente no que se refere às conhecimento do jogador e podem ser analisadas
interações de jogo e à avaliação dos para se obter informações sobre o seu
comportamentos relacionados com a fase defensiva desempenho. De acordo com esses
(TENGA et al., 2009). Além disso, pesquisadores pesquisadores, as regras de organização do jogo
têm salientado que os instrumentos de avaliação estão relacionadas com a lógica da atividade,
existentes não permitem estabelecer conexão entre nomeadamente com a dimensão da área de jogo,
os conteúdos ministrados no processo de ensino e com a repartição dos jogadores no terreno, com
treino e os comportamentos desempenhados pelos a distribuição de papéis e alguns preceitos
jogadores no jogo de futebol (GRÉHAIGNE; simples de organização que podem permitir a
GODBOUT, 1998; GIACOMINI; GRECO, 2008; elaboração de estratégias. Já as regras de ação
GARGANTA, 2009). configuram-se em noções básicas do
conhecimento tático do jogo que definem as
condições a respeitar e os elementos a ter em
RECOMENDAÇÕES PARA ANÁLISE E conta para que a ação seja eficaz. Essas regras
AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE podem ser observadas a partir dos princípios de
JOGADORES DE FUTEBOL COM BASE NOS
ação, isto é, de construções teóricas e
PRINCÍPIOS TÁTICOS DE JOGO
instrumentos operativos constitutivos de
Os poucos estudos sobre a componente referenciais macroscópicos que permitem
tática ou organizacional do jogo de futebol identificar e classificar os comportamentos dos
buscam integrar uma análise multidimensional jogadores.
dos eventos correntes do jogo em referência à Partindo-se desse pressuposto e
configuração situacional (GRÉHAIGNE; concebendo-se que os comportamentos
MAHUT; FERNANDEZ, 2001; SHESTAKOV dinâmicos de uma equipe, assim como a sua
et al., 2007; FERREIRA; PAOLI; COSTA, eficácia no jogo, podem ser conhecidos a partir
2008; SHESTAKOV et al., 2009). A das variáveis quantitativas e qualitativas das
contemplação desses aspectos em uma avaliação ações dos jogadores nas relações de cooperação
torna-se importante, uma vez que as sequências e oposição, presume-se que a observação e a
e as condições de realização das ações durante o análise dos princípios táticos são procedimentos
jogo influenciam substancialmente o resultado úteis para ajudar na avaliação do comportamento
final dessas ações (GARGANTA, 2009). individual e coletivo.

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Análise e avaliação do comportamento tático no futebol 451

A incorporação daqueles princípios em sistemas que podem ser observadas e analisadas em jogo. A
de observação, análise e avaliação do partir desses princípios e da sua operacionalização é
comportamento dos jogadores de futebol parece ser possível conceber indicadores de eficiência da ação
uma ideia sustentável e viável, uma vez que eles que permitam caracterizar a execução mal ou bem-
suportam as soluções dos jogadores para os sucedida.
problemas advindos da situação de jogo e podem ser A observação e análise das ações táticas que
identificados sem dificuldade durante uma partida caracterizam os princípios táticos ajudam a
(COSTA et al., 2009). compreender o desempenho esportivo dos
Na Tabela 1 estão referidos os princípios táticos jogadores, que, segundo Thomas, French e
da fase ofensiva (penetração, cobertura ofensiva, Humphries (1986), é um produto complexo do
mobilidade, espaço e unidade ofensiva) e da fase conhecimento cognitivo do jogador sobre as
defensiva (contenção, cobertura defensiva, situações passadas e a atual combinado com a
equilíbrio, concentração e unidade defensiva), assim habilidade do jogador de produzir resposta
como algumas ações táticas que os caracterizam e apropriada à exigência do momento.

Tabela 1 - Princípios de jogo e ações táticas.


Princípios Ações táticas
Condução da bola pelo espaço disponível (com ou sem defensores à frente).
Realização de dribles que colocam a equipe em superioridade numérica em ações de ataque.
Penetração
Condução de bola em direção à linha de fundo ou ao gol adversário.
Realização de dribles que propiciam condições favoráveis a um passe/assistência para o companheiro dar sequência ao jogo.
Disponibilização de linhas de passe ao portador da bola.
Apoios próximos ao portador da bola que permitem manter a posse de bola.
Cobertura Ofensiva
Realização de tabelas e/ou triangulações com o portador da bola.
Apoios próximos ao portador da bola que permitem assegurar superioridade numérica ofensiva.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor em direção a linha de fundo ou ao gol adversário.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que visem ganho de espaço ofensivo.
Mobilidade Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que propiciem receber a bola.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que visem a criação de oportunidades para a
sequência ofensiva do jogo.
Busca por espaços não ocupados pelos adversários no campo de jogo.
Movimentações de ampliação do espaço de jogo que proporcionam superioridade numérica no ataque.
Espaço Drible ou condução para trás/linha lateral que permitem diminuir a pressão adversária sobre a bola.
Movimentações que permitem (re)iniciar o processo ofensivo em zonas distantes daquela onde ocorreu a recuperação da posse de
bola.
Avanço da última linha de defesa, permitindo que a equipe jogue em bloco.
Saída da linha de defesa dos setores defensivos e aproximação da mesma. linha linha à linha de meio-campo.
Unidade Ofensiva
Avanço dos jogadores da defesa propiciando que mais companheiros participem das ações no centro de jogo.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Marcação ao portador da bola, impedindo a ação de penetração.
Ação de "proteção da bola" que impede o adversário de alcançá-la.
Contenção
Realização da "dobra" defensiva ao portador da bola.
Realização de faltas técnicas para conter a progressão da equipe adversária, quando o sistema defensivo está desorganizado.
Ação de cobertura ao jogador de contenção.
Cobertura Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe para jogadores adversários.
Defensiva Marcação de adversário(s) que pode(m) receber a bola em situações vantajosas para o ataque.
Posicionamento adequado que permite marcar o portador da bola quando o jogador de contenção for driblado.
Movimentações que permitem assegurar estabilidade defensiva.
Movimentação de recuperação defensiva feita por trás do portador da bola.
Equilíbrio
Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe longo.
Marcação de jogadores adversários que apoiam as ações ofensivas do portador da bola.
Movimentação que propicia reforço defensivo na zona de maior perigo para a equipe.
Marcação de jogadores adversários que buscam aumentar o espaço de jogo ofensivo.
Concentra ção
Movimentações que propiciam aumento do número de jogadores entre a bola e o gol.
Movimentações que condicionam as ações de ataque da equipe adversária para as extremidades do campo. de jogo.
Organização dos posicionamentos após perda da posse de bola, com o objetivo de reorganizar as linhas de defesa.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Unidade Defensiva Compactação defensiva da equipe na zona que representa perigo.
Movimentação dos jogadores que compõem as linhas transversais de defesa de forma a reduzir o campo de jogo do adversário
(utilizando o recurso da lei do impedimento).

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452 Costa et al.

Na exata medida em que o comportamento para a configuração de instrumentos de maior


dos jogadores se ajusta às sucessivas alterações especificidade e superior relevância quanto à
produzidas no jogo ou no treino, alguns possibilidade de dispor de informações que
indicadores de desempenho também podem ser reflitam os acontecimentos de jogo e de
concebidos na tentativa de ponderar e treino. Como resultado da construção e
compreender a eficiência e a eficácia das aplicação de um instrumento com tais
respostas em função das exigências da situação. características, pode-se destacar a
Os indicadores concebidos no presente possibilidade de observar e estudar o jogador
artigo consideram o conceito de Hughes e em situações de jogo e de treino, permitindo
Bartlett (2002), o qual se refere à seleção e/ou
controlar a sua prestação desportiva e
combinação de variáveis de ação que permitam
ajudando a detectar pontos de melhoria, além
definir o desempenho. São também tidos em
da possibilidade de ascender a um nível mais
conta os conceitos de eficiência e eficácia
propostos por Mesquita (1998), relacionados apurado de conhecimento do jogo.
com a execução do movimento e com o A avaliação da qualidade de interação do
resultado, respectivamente. oponente é outro argumento positivo desta
Destarte, os indicadores propostos nesse proposta, pois, como é um indicador importante
estudo englobam variáveis relacionadas com a do desempenho do jogador, fornece uma
localização da ação no campo de jogo e o seu representação mais precisa da sua capacidade no
resultado. A Tabela 2 mostra quatro contexto do jogo. Associada a esta
possibilidades de localização e dez de característica, a possibilidade de a avaliação ser
resultados, organizadas em categorias e integrada como uma atividade do treino e em
subcategorias que podem se associar a outras situações semelhantes às condições reais de jogo
variáveis para predizer alguns indicadores de facilita a participação efetiva dos praticantes,
desempenho do jogadores no jogo ou no treino. motivando-os a exibir o seu “repertório de
habilidades”.
Tabela 2 - Categorias, subcategorias e variáveis a Além disso, pressupondo-se que qualquer
serem consideradas na avaliação do
movimentação realizada pelo jogador deve
desempenho do jogador.
estar coordenada com a tática coletiva, as
Categorias Subcategorias Variáveis
análises de indicadores técnicos, fisiológicos
Ofensiva Setor ofensivo e de eventos de jogo podem adquirir maior
Localização da ação Setor médio ofensivo
no Campo de Jogo Setor médio defensivo pertinência se forem referenciadas aos
Defensiva
Setor defensivo constrangimentos de natureza tática,
Realizar finalização ao gol especificamente aos princípios táticos
Seguir com a posse de bola
Ofensiva Sofrer falta fundamentais do futebol. Desta forma, a
Cometer falta inclusão de categorias e variáveis
Perder a posse de bola
relacionadas com os princípios táticos, com a
Eficácia da ação Recuperar a posse de bola localização da ação tática no campo de jogo e
Sofrer falta
Defensiva Cometer falta com a respectiva eficácia, parece contribuir
Perder a bola para o para uma mais ajustada compreensão do
adversário
Sofrer finalização ao gol desempenho do jogador no jogo e no treino.
Acresce a essa proposta a possibilidade de
utilização de um instrumento flexível que
CONSIDERAÇÕES FINAIS possa atender às necessidades de avaliação do
desempenho de jogadores e equipes em
A proposta de inclusão de variáveis diferentes contextos e categorias
táticas como os princípios de jogo nos competitivas, de modo a garantir o aporte de
sistemas de observação, análise e avaliação do informação substantiva aos atletas e aos
desempenho de jogadores de futebol contribui respectivos treinadores/professores.

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Análise e avaliação do comportamento tático no futebol 453

ANALYSIS AND EVALUATION OF TACTICAL BEHAVIOR IN SOCCER

ABSTRACT
Researches about sports performance have been showing that the tactical constraints are vital to the performance of players
and teams in Soccer. However, the assessment tools of player behavior have been focused on technical and bio-mechanics
aspects. The aims of this paper are to review and to analyze evaluation tools proposed in the literature and to present
recommendations of inclusion of tactical principles in systems that seek the analysis and evaluation of the players' behavior
in Soccer. The proposal presented comprises ten fundamental tactical principles of Soccer game, the place of action and the
action’s outcome.
Keywords: Soccer. Tactical behavior. Assessment.

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Endereço para correspondência: Prof. Israel Teoldo da Costa. Universidade Federal Viçosa – UFV. Av. Departamento
de Educação Física. Av. PH Rolfs, S/N. Campus Universitário, Cep: 36.570-000,
Viçosa–MG, Brasil. E-mail: Israel.teoldo@ugv.br

R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 21, n. 3, p. 443-455, 3. trim. 2010


Artigo Original ISSN: 1983-7194

Análise das metodologias de treinamento tático no futebol


Analysis of tactical training methodologies in soccer

Dutra, LC¹; Silva, FS2; Guimarães, MB3; Paoli, PB4; Lima, RC5

1-Treinador de Futebol no Centro Esportivo Ubaense


2-Gerente de Captação das categorias de base do Clube de Regatas do Flamengo
3-Observador Técnico do Coritiba Foot Ball Club
4-Professor de Futebol pela Universidade Federal de Viçosa
5-Treinador de Futebol na Associação Atlética Ponte Preta

Resumo

Objetivos: O presente artigo tem como objetivo analisar as metodologias do treinamento tático
que são utilizadas no futebol atual, conceituando-as e contextualizando-as em seus aspectos
favoráveis e desfavoráveis.
Amostra: Composta por catorze profissionais da área que atuam no mercado com vivência nas
categorias de base. Todos formados em Educação Física e já atuaram ou atuam na formação de
atletas, ou seja, em categorias de base.
Métodos: No plano empírico, este estudo está caracterizado como uma pesquisa qualitativa.
Quanto à natureza descritiva, um estudo de campo. Com relação aos procedimentos técnicos foi
utilizada como instrumento uma entrevista semiestruturada, composta por quatro questões e
catorze entrevistados, construídas a partir dos indicadores encontrados na revisão crítica da
literatura referente à temática do treinamento tático no futebol.
Resultados: Os entrevistados souberam definir bem os métodos de treinamento tático justificando
a escolha de determinado método de acordo com as características individuais dos atletas, do
modelo de jogo adotado pela equipe e até mesmo com a posição na tabela do campeonato. Além
disso, todos os treinadores relacionaram a escolha do método com a capacidade cognitiva do
grupo. Quanto à lógica didática na escolha da ordem dos métodos, todos os entrevistados
entendem que o treinamento deve partir do mais simples para o mais complexo e que os
princípios que norteiam estes métodos são as necessidades da própria equipe, tais como, análise
do adversário, as especificidades de cada método, modelo de jogo e a aplicação dos princípios
táticos ofensivos e defensivos.
Conclusão: Pôde-se concluir que cada método possui sua particularidade e importância para se
trabalhar determinada situação tática. Dentre os métodos de treinamento tático o método em
forma de jogo foi definido pelos entrevistados como o que consegue aproximar melhor o
treinamento da realidade do jogo, possuindo assim mais aspectos favoráveis para o
desenvolvimento pleno do atleta.
Palavras-chave: Futebol; Treinamento tático; Metodologia.

Correspondência: leonardo.dutra@ufv.br

Leonardo Cherede

27
Rev Bras Futebol 2014 Jan-Jun; 06(2): 27-36
Cherede et. al.
Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

Abstract

Objective: This article aims to analyze the tactical training methodologies that are used in the
current soccer, conceptualizing and contextualizing them in their favorable and unfavorable
aspects.
Sample: Composed by professionals who work in the soccer business with experience in youth
teams. All graduates in Physical Education and has already acted or act in the formation of
athletes, that is, in youth teams.
Methodology: Empirical study plan, this is characterized as a qualitative research. Descriptive as
to the nature, a field study. With respect to technical procedures was used as an instrument of a
semi-structured interview, composed of four questions, built from of the indicators found in the
critical review of the literature on the subject of tactical training in soccer.
Results: Interviewees knew how to define well the tactical training methods justifying the choice of
a particular method according to the individual characteristics of athletes, the game model adopted
by the staff and even the position in the league table. Moreover, all coaches related the choice of
method with the cognitive capacity of group. As to the logical order of teaching in the choice of
methods, all respondents believe that training should start from the simplest to the most complex
and that the principles guide these methods are the needs of the team itself, such as analyzing the
opponent, the characteristics of each method, the game model and the application of principles
tactical offensive and defensive.
Conclusion: It was concluded that each method has its particularity and importance given to work
with the tactical situation. Among the methods of tactical training, the method as a game was
defined by respondents as to what training can better approximate the reality of the game, thus
having the most favorable aspects for the full development of the athlete.
Key-words: Soccer; Tactical Training; Methodology.
Introdução executar e treinar um repertório amplo de
opções táticas e a exercitação isolada e em
O futebol tem passado por uma diferentes tipos de ação em jogo.
evolução nas últimas décadas em todos os De acordo com Greco (1992) [1] é
componentes do treinamento esportivo e, necessária uma programação consciente,
especificamente no componente tático, o que metódica, progressiva e planificada de
torna necessário uma abordagem mais fatores a desenvolver a capacidade de
ampla no que se refere às suas metodologias percepção, antecipação e tomada de
de treinamento. decisão, assim como da análise de resultado
Paoli (2005)1 ao abordar a da ação ou gesto empregado e na tomada de
aprendizagem e o treinamento da tática consciência (nova percepção), que são
preconiza que este componente deva passar pilares básicos nos quais se estrutura,
por um processo de treinamento projeta e realiza um treinamento moderno.
metodológico semelhante ao Segundo Paoli (2000)2 para que o
condicionamento físico e técnico. Porém dois atleta obtenha êxito em sua ação tática, é
momentos são importantes neste processo:
2
Paoli, P. B., Treinamento Tático no Futebol:
1
Paoli, P.B. Como treinar uma equipe de Futebol - Sistemas de Jogo 4x4x2 e 3x5x2. [Filme-vídeo].
Vídeo-curso. BD Empreendimentos - Canal Quatro - Produção de BD Empreendimentos e Universidade
Universidade Federal de Viçosa, 2005. Federal de Viçosa, Setembro, 2000.

28
Rev Bras Futebol 2014 Jan-Jun; 06(2): 27-36
Cherede et. al.
Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

necessário que ele seja capaz de regular seu entender o jogo e suas variáveis, assim como
comportamento e suas decisões, através do os objetivos dos treinamentos.
sistema cognitivo. Através das questões abordadas
Compartilhando das mesmas ideias anteriormente, quais seriam os melhores
dos autores citados, é possível observar que métodos de treinamento tático utilizados no
o componente tático no futebol tem um planejamento de treinadores de futebol
significado cada vez mais decisivo para a atualmente? Os mais indicados por
obtenção de objetivos eficazes nas categoria? Qual trabalhar primeiro? Existe
competições, sendo considerado como um uma sequência lógica? Como definir qual
dos fatores mais amplos e ricos, quando se método a ser utilizado? Estas são questões
pretende alcançar índices positivos de forma que deveriam levar o treinador refletir na hora
objetiva. de planejar seus treinamentos, pois desta
Nessa linha de pensamento, os forma estaria consciente do que, como e
métodos a serem utilizados tornam-se porque estará fazendo, não simplesmente
fundamentais para o sucesso do trabalho aplicando exercícios para os atletas de forma
tático. Para Libâneo (2002) [2] método de não elaborada.
ensino é a ação do professor, ao dirigir e Cada categoria possui sua
estimular o processo de ensino em função da peculiaridade em relação aos conteúdos
aprendizagem dos alunos, quando utiliza trabalhados. Quando se fala em formação,
intencionalmente um conjunto de ações, trabalho de base ou projeção de atletas, não
passos, condições externas e procedimentos. podemos ignorar certos conteúdos físicos,
Entendemos que método é a forma técnicos e táticos.
como se desenvolve a prática do ensino.
Pelos métodos adotados, então, pode-se Metodologia
esperar um determinado resultado do
O plano teórico-metodológico foi
processo de ensino. Canfield (1981) [3]
construído a partir do debate acumulado pela
preconiza que os métodos de ensino supõem
literatura científica, para trabalhar conceitual
maneiras organizadas e sistemáticas de
e operacionalmente os conceitos de tática e
possibilitar e criar ambientes que, de modo
de treinamento da tática, onde procuramos
eficiente e científico, levem a resultados
realizar uma análise crítica da produção
favoráveis.
científica com o foco voltado às metodologias
Para Laville & Dionne (1999) [4],
do treinamento tático. Ainda neste plano,
método indica regras e propõe um
revisamos e realizamos um levantamento da
procedimento. Para obter o aumento da
literatura nacional e internacional, que trata
retenção do conhecimento é necessário,
do tema.
além da prática, colocar os atletas em
No plano empírico, este estudo está
discussão sobre o que foi passado para eles
caracterizado como uma pesquisa qualitativa,
em determinado treino. Com isso os atletas
de natureza descritiva.
não figuram apenas como “robôs”, recebendo
Pelos procedimentos técnicos
ordens a todo momento e repetindo
utilizados, esta pesquisa consiste em um
movimentos estereotipados e passam a
estudo de campo, sendo desenvolvida
através da observação direta das atividades
do grupo estudado (Centro Esportivo

29
Rev Bras Futebol 2014 Jan-Jun; 06(2): 27-36
Cherede et. al.
Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

Ubaense)3 e de entrevistas futebol, estruturado de forma a atingir o


4
semiestruturadas composta por quatro objetivo proposto.
questões. Roteiro da Entrevista
A pesquisa teve como fonte uma Semiestruturada:
entrevista semiestruturada com os 1) No seu planejamento tático, você
Treinadores de Categorias de Base e utiliza algum método? Por favor,
Profissional, todos formados em Educação defina os métodos que você utiliza.
Física, para captar suas explicações e 2) Em quê você se baseia na escolha
interpretações do processo de formação do dos seus métodos de treinamento
componente tático. tático?
Os dados foram coletados através de 3) Existe uma lógica didática na escolha
entrevistas, realizadas pelo próprio da ordem dos métodos?
pesquisador, nos centros de treinamento5, 4) Quais são os princípios que norteiam
gravadas, transcritas na íntegra, e depois estes métodos?
analisadas em triangulação com as Além da revisão literária e da
observações do trabalho de campo, com as entrevista semiestruturada, um estudo de
imagens e conteúdos das entrevistas caso foi realizado no Ubaense Esporte
realizadas com os Treinadores, com a Clube, a fim de confirmar o que está sendo
literatura técnica do futebol e com a proposto na teoria. O clube citado conta com
experiência do pesquisador como professor e as categorias Sub-11, Sub-12, Sub-13 e Sub-
treinador de futebol. 14. Em 2011, o clube contava com as
Com base no objetivo do trabalho, categorias Sub-15 e Sub-17 e alguns
identificar e analisar as metodologias do profissionais que lá estão hoje trabalharam
treinamento tático que são utilizadas no nelas, o que nos permite fazer uma reflexão
futebol atual, conceituando-as e sobre conteúdos e métodos de treinamento
contextualizando-as em seus aspectos tático em diferentes categorias, ressaltando a
favoráveis e desfavoráveis, elaborou-se um individualidade de cada atleta e fase de
questionário com quatro perguntas, maturação física e cognitiva, sendo
construído a partir dos indicadores necessário estar bem esclarecido com os
encontrados na revisão crítica da literatura conceitos de cada treinamento, seja ele
referente à temática do treinamento tático no físico, técnico ou tático.
3
Centro de formação de atletas de futebol localizado Resultados
na cidade de Ubá – MG.
4
A entrevista semiestruturada é um instrumento no
qual o entrevistador tem por objetivo obter informações
Elaboramos algumas perguntas e
do entrevistado relacionadas a um objetivo específico. entrevistamos 14 profissionais da área que
Pode ser caracterizada pela formulação da maioria das atuam no mercado com vivência nas
perguntas previstas com antecedência e sua
localização é provisoriamente determinada. Na categorias de base. Todos são formados em
entrevista semiestruturada o entrevistador tem uma Educação Física e já atuaram ou atuam na
participação ativa, apesar de observar um roteiro, ele
pode fazer perguntas adicionais para esclarecer
formação de atletas, ou seja, em categorias
questões para melhor compreender o contexto de base. O ano de conclusão do curso de
[5]
(Colognese, S.A.; Mélo, J.L.B., 1998) . Educação Física dos entrevistados varia
5
Estrutura de recursos físicos, humanos e materiais,
disponibilizada pelos Clubes para o processo de entre 2002 e 2011. Cinco entrevistados
formação de atletas de futebol. possuem Especialização Latu Sensu em

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Cherede et. al.
Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

Futebol, dois possuem título de mestre na treinamento deve partir do mais simples para
área do Futebol, um possui Pós-Graduação o mais complexo.
em Futebol e Futsal e todos já fizeram/fazem Desta forma, tentaram qualificar tais
cursos de atualização nas áreas que métodos, colocando-os, segundo os
compõem o futebol de forma periódica e entrevistados, como o Método Tático
aleatória. A média de idade dos entrevistados Posicional e o Método das Ações Táticas
é de 28,21 anos. O tempo de experiência que Específicas como mais simples, e o
os entrevistados trabalham com futebol varia treinamento em Forma de Jogo e o Coletivo
de 5 a 16 anos. como os mais complexos. Ainda citaram o
técnico situacional como sendo de simples
Entrevista execução, pois são fragmentos do jogo
isolados em determinadas ações. Porém,
A primeira pergunta da entrevista foi
todos os treinadores acreditaram não haver
questionando se o treinador utiliza algum
uma regra específica que determine a
método de treinamento tático e, caso
escolha da ordem dos métodos.
utilizasse, teria que definir tais métodos. Os
Na quarta e última pergunta os
entrevistados souberam definir bem os
treinadores responderam quais são os
métodos utilizados. Os mais citados foram os
princípios que norteiam estes métodos. As
métodos em Forma de Jogo, Posicional,
respostas foram mais voltadas para as
Ações Táticas Específicas e Coletivo. Um
necessidades do próximo jogo, atentando-se
dos treinadores também afirmou utilizar o
para: revisão das necessidades da própria
método Técnico Situacional como forma de
equipe e análise do adversário, preparando a
preparar a equipe taticamente.
equipe para o confronto.
Na segunda pergunta, os treinadores
Outra resposta encontrada foi
tiveram que justificar em que se baseiam
bastante explicativa para cada método. E o
para a escolha de determinados métodos. As
entrevistado colocou que “o princípio que
respostas foram bem variadas, desde
norteia o tático posicional é a ocupação de
características de atletas, capacidade
espaços no jogo”; nas situações de
técnica, capacidade física, comportamento
treinamento tático específico ele acredita que
tático, posição na tabela até o objetivo do
“seria a automatização de situações
treinamento, que está ligado ao modelo de
reduzidas de jogo, como as bolas paradas; já
jogo, que se resume ao modo em que o
com treinamento em forma de jogo é possível
treinador deseja que sua equipe jogue, com
trabalhar situações que o treinador deseja
funções táticas bem definidas para cada
que sejam executadas durante o coletivo ou
atleta. Entretanto, as respostas foram
jogo; o coletivo serve para fazer uma análise
compatíveis em termos de complexidade.
da forma como a equipe vem jogando para
Todos os treinadores relacionaram a escolha
detectar possíveis problemas que a equipe
do método com a capacidade cognitiva do
enfrenta”.
grupo.
Alguns treinadores relacionaram
A terceira pergunta levou os
também os princípios táticos ofensivos e
treinadores a refletirem se existe uma lógica
defensivos como norteadores na escolha dos
didática na escolha da ordem dos métodos.
métodos, além de escolher de acordo com o
Todos os entrevistados entendem que o
seu modelo de jogo, sobre a forma como
quer que a equipe jogue.

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Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

Discussão em igualdade, superioridade ou inferioridade


numérica; podendo utilizar duas ou mais
Métodos utilizados no treinamento tático equipes; com alternativa de comportamento e
Com relação à primeira pergunta da com jogadores neutros 7.
entrevista, quatro métodos foram os mais Quando se fala em formação do
citados como adotados no treinamento tático: jovem atleta, os exercícios em forma de jogo
Treinamento das Ações Táticas Específicas, contribuem bastante para seu
Treinamento Tático Posicional, Treinamento desenvolvimento, pois nestes, segundo Paoli
Tático em Forma de Jogo e o Treinamento (2000)6, são permitidos aos atletas maiores
Tático Coletivo. Além dos já citados, um tomadas de decisão e aumentam a
treinador considerou o método Técnico capacidade de perceber e antecipar as ações
Situacional, como um dos métodos de dos adversários. Este método permite a
treinamento tático. repetição de determinados momentos do
As Ações Táticas Específicas são as jogo, de maneira que cada jogador em
variáveis que fragmentam o jogo de futebol, particular terá maior contato com a bola e se
trabalhando então as saídas de bola por encontrará envolvido mais vezes na
baixo e por cima; as viradas de jogo e ou resolução de um desafio tático.
circulação da bola; manobras a partir do meio E o Treinamento Tático Coletivo
campo; as triangulações e ultrapassagens subsidia o técnico nas correções dos erros e
pelo meio e nas laterais do campo; as desenvolvimento visando o jogo, dando
jogadas de bola parada, como escanteio, ênfase no posicionamento e funções de cada
faltas de curta, média e longa distância, jogador, no encaixe de marcação à postura
laterais; contra-ataque e a transição ofensiva tática do adversário e no desempenho de
e defensiva 6. uma estrutura tática na equipe com vista a
O Treinamento Tático Posicional compromissos futuros. Como recursos para o
orienta o posicionamento correto dos atletas treinamento coletivo são criadas regras para
em campo, com e sem bola, procurando desenvolver alguns aspectos táticos
orientar os atletas quanto à ocupação dos específicos, como: limitar o número de
devidos espaços no campo de jogo de forma toques na bola por jogador, delimitar áreas
equilibrada nos diferentes setores, zonas e de chutes a gol, limitar o número de passes
lados 6. permitidos em determinados setores do
Já o Treinamento Tático em Forma de campo, aumentar o número de jogadores na
Jogo coloca em prática exatamente o que o equipe suplente para aprimorar o poder de
treinador deseja trabalhar com os atletas, marcação dos titulares, distribuir tarefas
constituindo-se nas inter-relações dos fatores táticas para as distintas estruturas da equipe
do jogo: espaço, tempo, situação, delimitando zonas de atuação ou não, reduzir
cooperação, adversário, oposição e bola, as dimensões do campo e reduzir o número
prioritariamente em campo reduzido, de jogadores da equipe titular 6.
delimitado e com zonas divididas, utilizando O Técnico Situacional, segundo Paoli
nenhum gol, um gol, dois gols e/ou mais gols; (2000)6, visa colocar o jogador para executar

6 7
Paoli, P. B, Componente Tático no Treinamento Tiegel, G., Curso de Futebol. Material Didático do
Esportivo. Material didático utilizado na Disciplina Curso de Mestrado em Ciências do Esporte. Escola de
Futebol II, do Curso de Graduação em Educação Física Educação Física da UFMG. Belo Horizonte, 1994.
da Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 2000.

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Metodologias de treinamento no futebol

Artigo Original

os fundamentos técnicos extraindo uma Deste modo, tem-se que a


situação do jogo de futebol, desenvolvendo capacidade cognitiva é o principal
capacidades técnicas em movimentações instrumento que auxilia o processo de
táticas pré-determinadas, tornando claro para entendimento e interação, tanto interna
o jogador em qual momento ele fará uso de quanto externa, de cada indivíduo nas
determinado fundamento e como irá utilizá-lo. atividades propostas. Assim, é de crucial
Como o próprio nome já diz, é um método de importância que o treinador conheça o nível
treinamento técnico, mas dentro deste cognitivo dos atletas antes de aderirem
método existem características táticas. determinado método de treinamento.
Não foi encontrado na literatura algo Filgueira & Greco (2008) [6] já
que reforce o técnico situacional como reforçavam esta ideia, ao afirmarem que o
método de treinamento tático, mas vejo que professor deve estar atento ao
tal método pode sim ser aliado ao desenvolvimento dos processos cognitivos
planejamento tático, dependendo do objetivo necessários a compreensão do jogo,
do exercício, pois o mesmo irá trazer um aplicando meios de integração das ações
padrão de movimentação dos jogadores que técnico-táticas nas suas atividades para
deverá ser executado durante a partida, ou capacitar os jogadores com êxito para as
seja, movimentações táticas. Como estamos exigências do jogo.
falando do treinamento tático, sugiro que a Além da capacidade cognitiva do
nomenclatura ideal para este método seria grupo, outros princípios que norteiam a
Treinamento Tático Situacional, quando o escolha de determinado método a ser
objetivo principal é trabalhar a parte tática e aplicado no treinamento, encontramos
Treinamento Técnico Situacional quando o algumas repostas variadas.
foco do trabalho é a parte técnica. Os pontos mais observados pelos
De uma forma positiva, foi possível treinadores foram: características físicas e
observar que todos os treinadores técnicas dos atletas do grupo,
conseguiram definir bem cada método por comportamento tático da equipe, posição na
eles utilizados, demonstrando conhecimento tabela de classificação do campeonato e
sobre o tema discutido. objetivo do treinamento, que está ligado ao
modelo de jogo adotado pelo treinador.
Variáveis que interferem na escolha de De acordo com Greco e Benda (2001)
determinado método de treinamento tático [7]
, as capacidades táticas estão em direta
Analisando as respostas dos
relação de interdependência e em interação
entrevistados, observou-se que todos os
com as capacidades cognitivas, técnicas e
treinadores relacionaram a escolha do
físicas.
método com a capacidade cognitiva do
Desta forma, os fatores citados
grupo, ou seja, existem métodos que exigem
devem também ser levados em consideração
maior capacidade cognitiva dos atletas para
no momento da escolha de determinado
serem trabalhados.
método. Por exemplo, se o treinador propõe
De acordo com Tiegel (1994)7 os
um trabalho onde os atletas não possuem
processos cognitivos nos esportes coletivos
capacidade física ou técnica para
estão na percepção, internalização, decisão,
desenvolvê-lo, o treinamento acaba sendo
ação e no controle das jogadas.

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prejudicado e o objetivo esperado acaba não perspicácia em reconhecer a situação


sendo atingido. presente e a resolução mais adequada.
Deste modo, é indispensável para o
Sequência didática dos métodos de atleta de futebol vivenciar o máximo de
treinamento tático experiências possíveis em treinamentos ou
Todos os entrevistados entendem que durante os jogos. Porém, existem formas de
o treinamento deve partir do mais simples otimizar esta vivência rica e ampla do atleta
para o mais complexo, ou seja, ao iniciar um de futebol no que diz respeito aos aspectos
trabalho com um grupo não é aconselhável cognitivos e motores. Trata-se de um
de cara já colocar um exercício com um grau controle, sistematização e organização prévia
de complexidade muito alto sem mesmo de determinadas ações, que fazem com que
antes fazer uma avaliação dos aspectos o treinamento em forma de jogo promova ao
técnicos, táticos, físicos e cognitivos. jogador toda a gama de experiência
Esta ideia já havia sido referendada necessária ao seu desenvolvimento,
por Scaglia et al (1996) [8], ao afirmarem que considerando principalmente os aspectos
não se faz interessante para qualquer técnico e tático.
processo de ensino-aprendizagem que se Apesar de todos os entrevistados
parta do complexo para o simples, pois, seria entenderem que o treinamento tático deve
como ensinar primeiro uma criança correr partir de métodos mais simples para os mais
para depois ensiná-la a andar. complexos, não foi possível identificar uma
Dos métodos de treinamento tático, sequência pedagógica ideal para se seguir,
segundo os entrevistados, os mais pois, dependerá muito do estado atual da
complexos são o Coletivo e o em Forma de equipe e do objetivo do treinamento.
Jogo, pois há uma enorme variedade de
estímulos, oposições, regras e quantidade de Princípios que norteiam os métodos de
atletas envolvidos nesses métodos de treinamento tático
treinamento. Os outros métodos possuem Encontramos respostas bastante
menos variáveis, pois são muitas das vezes diversas no que se refere a este item
situações isoladas do jogo, reduzindo assim analisado, pois a questão proposta deixa em
a complexidade. aberto o que os entrevistados acreditam
O treinador deve adequar as regras nortear seus métodos de treinamento tático.
de acordo com a capacidade cognitiva, É muito comum os treinadores
técnica e física para que o jogo flua. Tiegel prepararem a equipe taticamente, através
(1994)7 alerta que para iniciantes é das necessidades da próxima partida. Ou
necessário introduzir exercícios para o seja, analisando o adversário, as carências
aperfeiçoamento dos movimentos da própria equipe e a situação na competição
paralelamente, para que o atleta, mesmo é que será definido o que trabalhar com a
diante da velocidade e a ansiedade do jogo, equipe e a forma como essas necessidades
possam jogar corretamente. Atletas iniciantes serão trabalhadas, ou seja, os métodos
precisam de um treinamento que lhes adotados, preparando a equipe para o
garanta uma boa base técnica, de modo que confronto.
a sua velocidade de ação não seja composta Entretanto, além de ficarem atentos
apenas pela velocidade e capacidade de às necessidades da próxima partida, os
reação, mas, principalmente, pela treinadores também afirmaram que o modelo

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Metodologias de treinamento no futebol

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de jogo adotado por ele é fundamental no tecnicamente fraca, mas certamente tornará
momento de trabalhar a equipe independente uma equipe de jogadores tecnicamente fracos
do método de treinamento tático adotado. uma equipe melhor.
Segundo a maioria dos entrevistados, Um dos entrevistados detalhou bem a
o modelo de jogo adotado por eles partem da utilização de determinado método. Segundo
individualidade de cada treinador, da forma ele, a utilização do método posicional está
como cada um enxerga o jogo de futebol e voltada para a ocupação dos espaços no
como acreditam que a equipe renderá mais, jogo, ou seja, a orientação aos atletas de
sendo citado ainda, que o modelo de jogo como se posicionarem no campo de jogo
baseia-se na concepção dos princípios dada uma determinada situação.
táticos ofensivos e defensivos do futebol. O método das ações táticas
Paoli et al (2006)8, afirma que os específicas seria mais indicado para
princípios táticos devem ser de conhecimento trabalhar a automatização de situações
de todos os atletas envolvidos no reduzidas de jogo, como as bolas paradas,
treinamento. Seu domínio por parte do grupo saída de bola, triangulações, inversões, entre
aperfeiçoa o trabalho e o rendimento da outras.
equipe. Já com treinamento em forma de jogo
Parreira (2005) [9] diz que de um modo é possível trabalhar situações que o treinador
geral, os princípios de ataque e defesa se deseja que sejam executadas durante a
complementam e tem alguns pontos em partida, colocando os atletas para trabalhar a
comum como a posse de bola. Os princípios tomada de decisão em situações reais de
de ataque são: o apoio, a profundidade, a jogo.
abertura, a mobilidade, a penetração, a Segundo Garganta (2002)[10], o jogo
criatividade, a improvisação e a habilidade. deverá estar presente em todas as fases do
Enquanto que os princípios de defesa podem ensino-aprendizado, pelo fato de ser
ser considerados: o retardamento (a pressão simultaneamente o maior fator de motivação
na bola), a recuperação, a cobertura, o e o melhor indicador da evolução das
equilíbrio defensivo e a limitações que os praticantes vão revelando.
compactação/concentração. Por último, o método coletivo serve
De acordo com Paoli (2008)9, é para fazer uma análise da forma como a
fundamental que o treinador conheça, domine equipe vem jogando, para detectar possíveis
e entenda esses princípios e os aplique no problemas que a equipe enfrenta, analisando
seu treinamento. Sempre que uma equipe tem posicionamento, ações ofensivas e
um bom desempenho há certos pontos em defensivas, transições, entre outras.
comum que, provavelmente chamam a Outra forma encontrada, que norteia
atenção. O emprego dos princípios um dos treinadores entrevistados, está
fundamentais do ataque e da defesa em uma relacionada “às teorias da Psicologia da
partida não tornará campeã uma equipe Aprendizagem, onde o método parcial
(analítico) tem seus aportes na psicologia
8
Paoli, P.B et. al. Como treinar uma equipe de comportamentalista, sendo que cada gesto e
Futebol. Canal Quatro, Universidade Federal de ação são aprendidos por partes, segmentos;
Viçosa - Viçosa/MG. Ano: 2006.
9
Paoli, P.B. Os Princípios de Ataque e Defesa – o método global sugere uma abordagem
Material Didático da disciplina Futebol II, do curso de situada na teoria da Aprendizagem Social e
Graduação da Universidade Federal de Viçosa/MG.
Ano:2008. na própria Gestalt, onde a observação, ou

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Metodologias de treinamento no futebol

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seja, a ação é aprendida de forma completa definir as ações táticas da equipe, uma vez
e não segmentada; o método situacional é que há a fragmentação do jogo.
baseado na Teoria Cognitivista de Jean Conclui-se que, para que uma equipe
Piaget, na qual objetiva-se desenvolver os de futebol seja bem organizada deve se levar
processos cognitivos subjacentes à tomada em consideração os métodos de treinamento
de decisão”. tático que deverão ser aplicados de acordo
Desta forma, acreditamos que com a ideia de jogo do treinador e
independente dos princípios norteadores características dos jogadores. Uma boa
adotados, cabe à comissão técnica definir análise desses fatores e criatividade do
quais serão os métodos utilizados na treinador para elaboração dos treinamentos
periodização, analisando o contexto que está em todas as dimensões (técnica, tática, física
inserido, pois somente ela tem o pleno e psicológica) dará condições para que seus
conhecimento das características dos atletas atletas tenham o crescimento necessário
e o que está dando certo ou não. para atingir os objetivos finais.
Cada método tem sua particularidade
e traz benefícios para a equipe. A escolha de Referências
determinado método irá depender da ideia de
1. GRECO, P. J. O Ensino-Aprendizagem-Treinamento
jogo do treinador e consequentemente de dos Esportes Coletivos: Uma análise inter e
uma análise dos fatores que cercam sua transdisciplinar. Revista Eletrônica Portal da
Educação Física. Disponível em:
equipe, como capacidades físicas, cognitivas,
<http://www.educacaofisica.com.br/biblioteca/o-
técnicas e psicológicas. ensino-aprendizagem-treinamento-dos-esportes-
Não foi possível encontrar uma coletivos-uma-analise-inter-e-transdisciplinar.pdf>
Acesso em: 10 de abril de 2012.
sequência pedagógica lógica na escolha dos 2. LIBÂNEO, JOSÉ CARLOS. Didática. São Paulo:
métodos, mas os treinadores partem do Cortez, 2002.
princípio do mais simples para o mais 3. CANFIELD, J.T. Aprendizagem Motora. Santa
Maria: Universitária, 1981.
complexo na escolha dos métodos, e 4. LAVILLE, CRISTIAN; DIONNE, JEAN. A construção
classificaram os métodos das ações táticas do saber: manual da metodologia de pesquisa em
ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
específicas e situacional como mais simples
5. COLOGNESE, S. A., MELO, J. L. B. de. A Técnica
e em forma de jogo e coletivo mais de Entrevista na Pesquisa Social. In: Pesquisa
complexos. Além destes, o método tático Social Empírica: Métodos e Técnicas. Cadernos de
Sociologia, Porto Alegre, PPGS/UFRGS, v. 9, 1998.
situacional se encontra na categoria de 6. FILGUEIRA, F.M; GRECO, P.J. Futebol: um estudo
simples, por ser um fragmento isolado do sobre a capacidade tática no processo de ensino
jogo. aprendizagem–treinamento. Revista Brasileira de
Futebol, Viçosa, 2008.
7. GRECO P.J.; BENDA R.N. Iniciação Esportiva
Conclusão Universal 1: da aprendizagem motora ao
treinamento técnico. 1º Reimpressão. Belo
Os resultados apresentados mostram Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
8. SCAGLIA, J.A. et al. Escolinha de futebol: uma
que temos cinco métodos de treinamento questão pedagógica. Revista Motriz – Volume 2,
tático, sendo eles as Ações Táticas número 1, Junho/1996.
Específicas, o Posicional, o Em Forma de 9. Parreira, C.A. Evolução Tática e os Princípios do
Jogo. Brasília: Ed. EBF, 2005.
Jogo, o Coletivo e o Situacional, que foi 10. GARGANTA, J. Competências no ensino e treino de
incorporado por nós como um método de jovens futebolistas. Lecturas Educación Física y
Deportes, Revista Digital, Año 8, n° 45, 2002.
treinamento tático por ser utilizado para

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Revista Brasileira de Futsal e Futebol
ISSN 1984-4956 versão eletrônica
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ANÁLISE TÁTICO-TÉCNICA NO FUTEBOL:


COMPARAÇÃO DO CAMPEÃO EUROPEU 2018-19 COM O CAMPEÃO SUL-AMERICANO 2019

Gabriel Ramos Moraes1, Márcio Pereira Morato1

RESUMO ABSTRACT

O sistema de jogo, a tática, a técnica podem Tactical-technical analysis in football:


diferir equipes em seus diferentes modelos de comparison of european champion 2018-19
jogo. Equipes da mesma região se diferem with the champion south american 2019
dentro de seus contextos, objetivos,
estratégias e métodos de jogo, assim como The game system, the tactics, the technique
equipes de regiões diferentes, com filosofia de may differ teams in their different game
jogo, objetivo, estrutura, jogadores, comando models. Teams from the same region differ
técnico e ideias táticas. A discussão que within their contexts, objectives, strategies and
circunda o mundo do futebol a algum tempo é methods of play, as well as teams from
a diferença entre o futebol europeu e o futebol different regions, with game philosophy,
sul-americano, em seus diversos aspectos. O objective, structure, players, technical
objetivo deste estudo é analisar e comparar command and tactical ideas. The discussion
duas equipes representativas de ambos estilos that has surrounded the world of football for
de jogo nos quesitos táticos-técnicos. As some time is the difference between European
partidas analisadas foram compostas pelas and South American football, in its various
fases semifinais e finais dos campeões da aspects. The objective of this study is to
Copa Libertadores da América de 2019, da analyze and compare two teams representing
UEFA Champions League temporada 2018- both styles of play in tactical-technical issues.
2019 e do Mundial de Clubes da FIFA 2019. The matches analyzed were composed of the
As análises tático-técnicas foram feitas com a semifinals and finals of the champions of the
fórmula do Golden Index e através de uma Copa Libertadores 2019, the UEFA
matriz de adjacência e gráficos ponderados de Champions League 2018-2019 season and the
análise de redes sociais. Foi feito também uma FIFA Club World Cup 2019. The tactical-
análise do confronto entre as duas equipes, technical analyses were made with the Golden
levando em conta o Match-Status e o Index formula and through an adjacent matrix
resultado final da partida. Foi elaborada uma and weighted graphs of social network
tabela total com as ações de todas as partidas analysis. An analysis was also made of the
e aplicado um teste t para verificar a confrontation between the two teams, taking
significância estatística nas diferenças. A into account Match-Status and the final result
comparação entre esses resultados foi feita de of the match. A total table with the actions of all
maneira simples e direta. As equipes se matches was elaborated and a t test was
assemelham em índices táticos-técnicos não applied to verify the statistical significance in
apresentando diferenças gerais significativas. the differences. The comparison between
Eles se diferenciam na comparação tático these results was made in a simple and direct
tático-técnica por posição das equipes e nos way. The teams are similar in tactical-technical
fundamentos mais utilizados, conferindo a elas indexes and do not present significant general
características de concentração de jogo e differences. They differ in the tactical-technical
ocupação do campo em diferentes setores, comparison by position of the teams and in the
sendo a equipe europeia faixa central e a most used fundamentals, giving them
equipe sul-americana a faixa lateral de campo. characteristics of concentration of play and
occupation of the field in different sectors,
Palavras-chave: Futebol. Tática. Técnica. being the European team the central band and
Tático-Técnico. Análise de jogo. the South American team the lateral band of
the field.

1 - Universidade de São Paulo, Escola de Key words: Football. Tactical. Technique.


Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Technique-Tactical. Game Analysis.
Laboratório de Pedagogia do Esporte, Esporte
Paralímpico e Análise do jogo, Ribeirão Preto,
São Paulo, Brasil.

Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo. v.13. n.53. p.284-296. Maio/Jun./Jul./Ago. 2021. ISSN 1984-4956
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ISSN 1984-4956 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b f f . c o m . b r

INTRODUÇÃO ocorrem em uma partida, são elas de ordem


cronológica e complexidade não previstas.
Desde o amadorismo, campos de Esse processo pode ser definido como normas
várzea, categorias de base e alto rendimento a serem seguidas pelos jogadores para que
nos profissionais, o futebol é uma das consigam responder o mais rapidamente as
modalidades mais praticadas em todo o situações que o jogo impõe gerenciando
mundo. Seus primeiros indícios foram espaço e tempo (Garganta, 1997).
registrados na China e posteriormente na Sendo assim, equipes de maior
Inglaterra (Witter, 2003). sucesso são aquelas que conseguem
O futebol é uma modalidade responder essas situações problema geradas
predominantemente aeróbia tendo em seu durante a partida de maneira rápida na tomada
contexto ações que determinam o resultado do de decisão (Garganta, 1997).
jogo de característica anaeróbia, sendo A observação e análise tático-técnica
caracterizado como um esporte de estímulos de uma equipe pode ser feita de diversas
intermitentes e de alta intensidade (Drust e formas, uma delas traz uma análise de redes
colaboradores, 2000; Dupont e colaboradores, sociais e interações entre jogadores, com a
2004; Hoff, 2005; Reilly, 2005; Stølen e utilização de gráficos ponderados de redes
colaboradores, 2005; Svensson e sociais que quantificam o número de passe de
colaboradores, 2005). um atleta para outro através de uma matriz de
Ele entra no contexto de esporte adjacência.
coletivo de cooperação e oposição com duas Com essa análise é possível observar
equipes realizando ações simultâneas sobre a o aspecto comportamental de jogadores de
bola tornando a modalidade aleatória e uma mesma equipe e indica o direcionamento
imprevisível em seus acontecimentos durante de passes de uma equipe durante a partida
a partida. (Ribeiro e colaboradores, 2017).
Tal característica gera a necessidade Os gestos técnicos não são apenas
de uma rápida resposta tática, técnica e física mecânicos, são influenciados por fatores
aos jogadores apresentados em busca da como: percepção, cognição, intelectuais,
excelência no resultado, o que se torna objeto emocionais e psicológicos; ou ainda, por
de estudo na análise do jogo ao tentar fatores extrínsecos/ambientais que também
entender o processo de resposta tática de podem modificar a execução das ações
cada equipe (Garganta, 1997; Braz, 2013). (Lephart, Fu, 2000).
A análise de jogo não pode ser Desta forma, pode se definir técnica
realizada de maneira simplista trazendo como ação buscada ser realizada
apenas dados quantitativos preferencialmente de forma econômica e
descontextualizados e/ou isolados, o que de funcional, permitido por regra e que dê
certa forma pode tirar a complexidade das continuidade ao jogo (Voser e colaboradores,
ações do jogo (Boorie, Jonsson, Magnusson, 2010).
2002), ela deve ser específica e interativa Para complementação da análise
dentro dos fatores contextuais do jogo, já que tático-técnica de uma equipe existem diversas
o jogo é caracterizado pela sua aleatoriedade formas. Uma das formas mais atuais é o
de ações em um sistema que cria condições Golden Index, que consiste em uma equação
para manter ou mudar dependendo das através de técnicas estatísticas na sua
circunstâncias (Garganta, 2005). aplicabilidade que transforma valores
A análise de jogo pode reporta-se ao ponderados e unificados em um índice.
estudo do treino e da competição, de modo a Os valores utilizados nas variáveis da
quantificar e qualificar a efetividade de suas equação são compostos por 12 fundamentos
ações em todos seus aspectos (tático, técnico tático-técnicos ofensivos do futebol:
e físico), salientando os fatos e ações assistências, bolas perdidas, intermediações
relevantes que contribuem para otimizar o centrais, gols, influência central nas
desempenho esportivo. Identificando e proximidades da área, passes certos, passes
caracterizando as equipes (Carling, 2005; realizados, passes recebidos, cruzamentos
O’donoghue, 2010). positivos, condução de bola, chutes ao gol e
O jogo de futebol pode ser entendido dribles bem-sucedidos (Pereira e
em três aspectos sendo eles físicos, técnicos e colaboradores, 2019).
táticos. A tática no futebol, que será abordado O futebol assim como os jogos
neste trabalho, depende das situações que esportivos coletivos em geral, apresenta uma

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alta exigência cognitiva dos atletas, isso é No Campeonato Sul-americano de


decorrente dos problemas situacionais e das Futebol Sub-20, foram encontrados indícios de
exigências organizacionais das tarefas a que a maioria dos gols saíram nos últimos 15
serem realizadas (Garganta, 2004). minutos de partida (RissattI, 2018) indo ao
Desta forma, a tomada de decisão do encontro dos achados de Carelli e
atleta é dinâmica delimitada por um contexto colaboradores, (2017) analisando a Conmebol
situacional específico, assim os Libertadores de 2014.
comportamentos apresentados pelos atletas Isso pode ser explicado devido a
durante uma partida eminentemente táticos redução do nível físico nos últimos minutos,
(Garganta, 2004). com uma intensidade mais baixa em seus
Portanto, quando se trata do contexto momentos finais, consequentemente podendo
jogo, treino e até mesmo do ensino- resultar em respostas táticas mais lentas e
aprendizagem da modalidade, os aspectos erros técnicos ocasionados pela fadiga
táticos, técnicos e físicos caminham juntos e muscular (Junior, 2015; Mohr, Krustrup,
são interdependentes (Greco, 2006). Bangsbo, 2007).
O futebol europeu hoje em dia vem Uma comparação entre o futebol
sendo o sonho de qualquer jogador de futebol Europeu e o futebol Sul-Americano nos
e qualquer outra pessoa relacionada a esse aspectos técnicos (Tusset, 2018) com a
mundo. Um dos estudos recentes tratam de Champions League 2016-17 e a Libertadores
uma abordagem mista composta por uma da América 2017, traz que equipes da
abordagem tradicional observacional e competição europeia apresentam média de
entrevista para detectar padrões de jogo de passes por jogo maior do que equipes da
equipes europeias, sendo elas: Barcelona, competição Sul-Americana.
Manchester United e Internazionale de Milão. O mesmo se repete comparando
As equipes pertencentes todas ao equipes vencedoras e perdedoras em cada
continente europeu, apresentaram diferenças jogo dentro de ambas as competições.
tático-técnicas entre si. O Manchester United Equipes vencedoras europeias apresentam
teve um índice maior de contra-ataques que as médias maiores que equipes vencedoras Sul-
outras duas apresentando um padrão da americanas, e ambas as equipes vencedoras
retomada de bola com o goleiro e saída pelo apresentam média superior de passe em
setor defensivo medial e dando sequência comparação às equipes que foram derrotadas.
para o meio campo direito, enquanto No aspecto posse de bola, tanto em
Barcelona teve a maior média de passes com cada partida como na média total, os dados
jogo organizado com padrões que detectam apresentam pouca diferença na comparação,
uma concentração maior nas faixas centrais e sendo que em ambas as competições, as
lateral direita e a Inter de milão apresentou um equipes ganhadoras tiveram maior posse de
padrão de contra-ataque diferentes das bola que as perdedoras.
demais, visto que utilizaram amplamente da Nos resultados finais das partidas, as
bola longa do goleiro para o meio-campista equipes da competição europeia que trocaram
direito. mais passes, tiveram um aproveitamento
Através da entrevista isso foi maior do que as equipes Sul-Americanas que
explicado, chegando a conclusão de que tiveram mais passes dentro da competição. As
essas são diferenças que atribuem um modelo finalizações não se diferem, as equipes
de jogo ideal para aquela equipe europeias e sul-americanas vencedoras
especificamente com suas características finalizam mais do que as derrotadas, na
(Sarmento, 2014). comparação entre as duas competições a
Por outro lado, temos o futebol sul- diferença apresentada é mínima.
americano como uma potência do futebol A lacuna da pesquisa se encontra na
mundial, com diversos títulos internacionais e comparação tático-técnica de uma equipe
belíssimas apresentações atuais e do europeia que obteve sucesso com uma equipe
passado, tratado como um futebol com nível sul-americana que alcançou patamar
técnico considerável e um brio diferente dos semelhante em nível de títulos, visto que a
demais. Um recente estudo, nos traz alguns maioria dos estudos contemplam diferenças
dados que estão de acordo com pesquisas nos aspectos físicos, financeiros ou
anteriores que envolvem o futebol sul- comparações feitas com equipes da mesma
americano. região.

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O objetivo geral deste estudo é fases semifinais e finais da UEFA Champions


analisar e comparar as médias gerais táticos- League temporada 2018-2019, da Conmebol
técnicas de interações através de redes Libertadores 2019 e do Mundial de Clubes da
sociais por partida e o Golden Index médio FIFA 2019.
geral do campeão sul-americano de 2019 com
o campeão europeu 2018-19. Dados analisados
Quanto aos objetivos específicos,
buscamos: verificar e comparar a incidência Após a observação dos vídeos a
tático-técnica de ações ofensivas e suas análise tático-técnica foi feita a partir da
interações por posição em ambas as equipes. criação de uma matriz de adjacência entre os
Também procuramos analisar e comparar o jogadores e um gráfico ponderado de análise
confronto entre elas, levando em conta os de redes a partir do software Gephi (Figura 1).
diferentes momentos do jogo (match-status), As matrizes de adjacência quantificam
os índices gerais e as posições. o número de passe de um atleta para outro se
iniciando com a retomada da posse da bola
MATERIAIS E MÉTODOS com o primeiro passe.
Com essa análise foram gerados
Caracterização da amostra gráficos ponderados de análise de redes
sociais nos quais é possível observar o
Neste estudo foi utilizada uma aspecto comportamental de jogadores de uma
abordagem científica por meio da observação mesma equipe e indica o direcionamento de
sistemática sem a participação no contexto do passes entre posições durante a partida
jogo. (Ribeiro e colaboradores, 2017).
O método consiste na observação dos As análises de redes e as matrizes de
vídeos das partidas dos clubes campeões da adjacência foram realizadas obtendo média de
Europa e da América do Sul para serem interações gerais das partidas e divididos por
analisados e posteriormente interpretados, de posição. Sendo o confronto entre as equipes
acordo com os propósitos específicos da contemplado a partir dos diferentes momentos
investigação (Hughes, Bartlett, 2002). do jogo, isto é, quando a equipe está
A observação dos vídeos foi feita a ganhando, perdendo, empatando e a análise
partir do link < https://footballia.net/pt>, com as de toda a partida.

Figura 1 - Exemplo de figura da interação dos jogadores.


(Ribeiro e colaboradores, 2017).

A complementação da análise de que trasnformam valores ponderados e


redes sociais foi feita a partir do Golden Index unificados em um índice.
- GI (Figura 2), para que a fase ofensiva fosse Os valores utilizados nas variáveis da
quantificada em um índice relativo ao tempo equação são compostos por 12 fundamentos
jogado. Ele consiste de uma equação através táticos-técnicos ofensivos do futebol definidos
de técnicas estatísticas na sua aplicabilidade previamente pelo estudo: assistências, bolas

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perdidas, intermediações centrais, gols, linha condução de bola, chutes ao gol e dribles bem
de passe, passes certos, passes realizados, sucedidos (Pereira e colaboradores, 2019)
passes recebidos, cruzamentos positivos, (Tabela 1).
Figura 2 - Fórmula Golden Index (GI).

(Pereira e colaboradores, 2019).

Tabela 1 - Fundamentos ofensivos Golden Index e suas definições.


Um jogador atacante executa um passe ou um cruzamento
Assistências positivo para um companheiro de equipe que atira no gol do
adversário.
O portador da bola perde a bola através de (1) infração do jogo
Perdas de bola regras; (2) intervenção do oponente; (3) erro técnico; 4) jogando a
bola fora do campo; (5) ação do oponente goleiro.
Verifica o número de conexões de dois jogadores que passam
Centralidade nas através de um jogador. Conta o número de vezes que um jogador
intermediações atua como intermediário na conexão de dois jogadores na variável
de passe.
Um jogador atacante marca um gol. A bola passa por cima da
Gols linha de gol do oponente, entre os postes do gol e sob a barra
transversal, sem violação anterior das regras do jogo.
A distância pode ser verificada na rede entre os jogadores.
Linha de passe Observe que valores mais altos indicam que um jogador está
próximo de conectar com outros jogadores na variável de passe.
É dado um valor referente à participação de um jogador ao passar
Passes certos
a bola e mantendo a posse com sua equipe.
O portador da bola efetivamente transmite a bola a um
Passes realizados
companheiro de equipe, mantendo a posse de bola ou não.
O portador da bola passa a bola para um companheiro de equipe,
Passes recebidos
que controla a bola, proporcionando a continuidade do ataque.
O portador da bola colocado no caminho lateral do setor ofensivo
(quarto de ataque do campo) efetivamente transmite a bola a um
Cruzamentos positivos companheiro de equipe posicionado no caminho central (área
penal), pelo solo ou pelo ar, proporcionando a continuidade do
ataque.
O portador da bola realiza pelo menos três toques consecutivos
Correr com a bola com a bola, progredindo no espaço de campo, proporcionando a
continuidade do ataque.
Um jogador atacante atira no gol do adversário, causando uma
das quatro situações: (1) a bola passa pela linha do gol; (2) a bola
Finalizações acerta o alvo, com uma defesa do adversário. goleiro ou toca na
trave ou nas balizas; (3) tiro atinge um jogador adversário,
companheiro de equipe ou árbitro.

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O portador da bola dribla o (s) oponente (s) direto (s), ganhando


Dribles bem-sucedidos vantagem de tempo e espaço, proporcionando continuidade do
ataque.
(Pereira e colaboradores, 2019).

As análises foram feitas a fim de obter temporada 2019 utilizou-se do sistema de jogo
índices ofensivos gerais das equipes e entre 1-4-2-3-1, com goleiro, dois volantes, três meio
as diferentes posições. O confronto entre elas campistas e um atacante.
foi analisado utilizando-se do Match Status nos A equipe sul-americana apresentou
diferentes momentos do jogo e com o uma vantagem na média de número de
resultado final da partida, obtendo índices interações por partida (452,2 ± 87,3 vs. 443,6
ofensivos gerais para cada um deles e índices ± 159,4). Porém, não houve diferença
ofensivos para cada posição em cada significativa entre os índices (t8 = 0,106; p =
momento diferente. 0,918).
Ambos métodos de análise foram As interações gerais das cinco
verificados a diferença estatística significante. partidas analisadas conferem características
Para o confronto entre as equipes foi utilizado que distinguem as equipes por posições mais
o Teste t de amostras dependentes para cada influentes dentro da partida. O campeão
momento do jogo, e para a comparação de europeu apresenta maiores interações,
índices gerais médios e médias por posição respectivamente, de zagueiros, laterais, meio-
foi realizado um Teste t para amostras campistas, goleiro e atacantes, atribuindo à
independentes, ambas com o nível de equipe uma concentração maior de jogo nas
significância pré-fixado em p<0,05 no software faixas centrais do campo e atacantes
SPSS versão 24.0. definidores. O campeão sul-americano
evidencia maiores interações entre laterais,
RESULTADOS meio-campistas, zagueiros, goleiro e
atacantes, concedendo à equipe uma maior
A equipe campeã europeia da concentração de jogo nas faixas laterais e,
temporada 2018-19 utilizou o sistema de jogo semelhantemente ao campeão europeu,
1-4-3-3, com o goleiro, quatro defensores, um atacantes com características definidoras
volante, dois meio-campistas e três atacantes, (Figura 3).
enquanto a equipe campeã sul-americana da

Figura 3 - Gráfico de interações gerais das equipes.


Legenda: G: Goleiro; LD: Lateral direito; LE: Lateral esquerdo; ZD: Zagueiro direito; ZE: Zagueiro
esquerdo; VOL: Volante; VD: Volante direito; VE: Volante esquerdo; MC: Meio-campo central; MD:
Meio-campo direito; ME: Meio-campo esquerdo; AD: Atacante direito; AE: Atacante esquerdo; AC:
Atacante central.

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Nas comparações feitas entre média diferença significativa somente na comparação


de interações totais por posição por jogo, entre o atacante direito do campeão europeu
levando em conta que as equipes adotam com o meia direito do campeão sul-americano
sistemas táticos iniciais diferentes, houve (t8 = 2,948; p=0,018) (Figura 4).

Figura 4 - Média de interações totais por posição por jogo.


Legenda: * Diferença significativa de acordo com o Teste t para amostras independentes com o nível
de significância pré-fixado em p< 0,05.

A análise do confronto entre as duas sul-americana ter maiores interações devido a


equipes na final do campeonato mundial foi desvantagem no placar.
dividida em três partes. O campeão europeu apresentou 5,9 ±
O primeiro momento da partida 2,8 interações por posição com maior força de
consistiu de uma igualdade no placar e teve interações entre laterais e meio-campista
duração de 104 minutos não apresentando esquerdo enquanto a equipe campeã sul-
diferença significativa entre as equipes (t10 = - americana teve 10,5 ± 5,4 interações por
0,331; p=0,747), com o campeão europeu posição e interações predominantes entre
apresentando uma média de interações por meio-campistas e atacantes. Por fim, na
posição de 42,7 ± 21,4 e maiores interações análise de toda a partida (duração de 130
dos defensores e meio-campistas, e a equipe minutos) não houve diferenças
sul-americana apresentando 43,9 ± 19,9 estatisticamente significativa (t10 = -1,286; p =
interações por posição com maiores 0,227), a equipe campeã europeia teve uma
interações entre laterais, meio-campista direito média de interações por posição de 48,7 ±
e central e atacante esquerdo. 22,4 com maiores interações entre defensores
No segundo momento (duração de 26 e meio-campistas, e a equipe sul-americana
minutos), com uma diferença significativa entre com 54,4 ± 24,0 interações por posição com
as equipes (t10 = -2,975; p=0,014), a equipe maiores interações entre laterais e meio-
europeia apresentou um gol de diferença a campistas (Figura 5).
favor no placar, o que pode explicar a equipe

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Figura 5 - Gráfico de interações do confronto entre as equipes.


Legenda: G: Goleiro; LD: Lateral direito; LE: Lateral esquerdo; ZD: Zagueiro direito; ZE: Zagueiro
esquerdo; VOL: Volante; VD: Volante direito; VE: Volante esquerdo; MC: Meio-campo central; MD:
Meio-campo direito; ME: Meio-campo esquerdo; AD: Atacante direito; AE: Atacante esquerdo; AC:
Atacante central. Legenda: *Diferença significativa de acordo com o Teste T para amostras
dependentes com o nível de significância pré-fixado em p<0,05.

O Golden Index médio das cinco diferentes áreas do campo. A equipe campeã
partidas foi de 74,9 ± 28,7 para a equipe europeia levou vantagem nos seguintes
campeã europeia e de 73,4 ± 7,5 para a fundamentos tático-técnicos: assistências,
equipe campeã sul-americana. Entretanto, não correr com a bola, dribles, finalizações, linha
houve diferença significativa entre os índices de passe, passes certos, passes realizados e
(t8 = - 0,117; p = 0,909). perdas de bola.
As equipes apresentaram diferenças O campeão sul-americano apresentou
nas comparações entre as médias de ações maiores médias em: centralidade nas
ofensivas por jogo, oferecendo-lhes intermediações, cruzamentos positivos, gols e
características de jogo e influência em passes recebidos (Tabela 2).

Tabela 2 - Média de ações técnicas ofensivas por partida.


Campeão europeu Campeão Sul-americano
Assistências 10,8 8,8
Correr com a bola 52,0 44,0
Dribles 15,0 13,2
Finalizações 15,0 12,0
Linha de passe 411,0 404,8
Passes certos 446,8 445,0
Passes realizados 554,0 549,4
Perdas de bola 128,8 133,0
Centralidade nas intermediações 270,4 278,2
Cruzamentos positivos 3,2 4,0
Gols 1,8 2,2
Passes recebidos 443,0 444,2

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Houve diferença significativa na campeão europeu com o meia direito do


comparação das médias de Golden Index campeão sul-americano (t8 = 2,871, p=0,021)
totais por posição entre os goleiros (t8 = - (Figura 6).
2,488, p = 0,038) e entre o atacante direito do

Figura 6 - Comparação da média do Golden Index total por posição por jogo.
Legenda: * Diferença significativa de acordo com o Teste t para amostras independentes com o nível
de significância pré-fixado em p<0,05.

Na análise do confronto entre as duas com uma vantagem tático-técnica ofensiva,


equipes na final do campeonato mundial, o atingiu 7,0 ± 3,6 com as posições mais
campeão europeu e o campeão sul-americano ofensivas de laterais, meio-campista direito e
apresentaram semelhança na média do central, acusando uma diferença estatística
Golden Index por posição no primeiro significativa (t10 = 3,191; p = 0,010).
momento (antes do gol: 7,1 ± 3,3 vs. 7,1 ± Já em relação a análise de toda a
2,8), não apresentando diferença significativa partida, o campeão europeu apresentou média
(t10 = -0,063; p = 0,951) com destaque para os de Golden Index por posição de 6,4 ± 2,7 com
defensores e o volante central na equipe destaque para os defensores e o volante
europeia, enquanto para a equipe campeã sul- central, enquanto o campeão sul-americano
americana os destaques foram os defensores apresentou um índice técnico ofensivo por
e volantes. posição de 7,0 ± 2,7 com as posições mais
No segundo momento (após a influentes dos laterais, zagueiros, volantes e
ocorrência do gol), o campeão europeu teve meio-campista central, não havendo diferença
média de Golden Index por posição de 3,8 ± significativa entre as duas equipes (t10 = 1,03;
1,3 com destaque para os laterais e meio p = 0,327) (Figura 7).
campistas, e a equipe campeã sul-americana,

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Figura 7 - Média de Golden Index por posição no confronto entre as equipes.


Legenda: Goleiro; LD: Lateral direito; LE: Lateral esquerdo; ZD: Zagueiro direito; ZE: Zagueiro
esquerdo; VO: Volante; VD: Volante direito; VE: Volante esquerdo; MC: Meio-campo central; MD:
Meio-campo direito; ME: Meio-campo esquerdo; AD: Atacante direito; AE: Atacante esquerdo; AC:
Atacante central. Legenda: *Diferença significativa de acordo com o Teste t para amostras
dependentes com o nível de significância pré-fixado em p<0,05.

DISCUSSÃO um fator que influenciou as interações da


equipe campeã sul-americana, visto que, no
O objetivo deste estudo foi realizar confronto entre as equipes em momentos
uma análise e comparação tático-técnica entre desfavoráveis a equipe apresentou maior
o campeão europeu 2018-19 com o campeão média de interações, assim como maior índice
sul-americano 2019, verificando suas ofensivo médio em comparação ao seu
interações através da análise de suas redes adversário.
sociais e o Golden Index de cada equipe em A diferença significativa apresentada
geral e suas posições. O confronto entre as entre a média de ações entre meio-campo
equipes também foi analisado utilizando-se do direito e atacante direito se demonstram de
Match Status e o resultado da partida. modo que cada posição tem a sua função, no
Os índices gerais táticos-técnicos se caso do meio-campista, ele apresenta
assemelham não apresentando diferença característica de participar ativamente da
estatística semelhante, o que atribui as armação do jogo enquanto o atacante tem um
peculiaridades de cada equipe ao seu modelo perfil definidor de jogadas em direção ao gol
de jogo ideal para as características que (Guimarães e colaboradores, 2014), o que
apresentam (Sarmento, 2014). caracterizou uma das semelhanças entre as
Levando em conta as maiores equipes de apresentarem atacantes
interações entre as posições e as maiores definidores de jogadas.
médias de Golden Index, a equipe europeia se Nas análises do Golden Index, as
caracteriza por concentrar o jogo nas faixas equipes não apresentaram diferença
centrais do campo, enquanto, a equipe sul- estatística significante, entretanto a equipe
americana utiliza-se mais das faixas laterais, campeã europeia apresentou maior número de
onde encontram-se suas maiores interações, fundamentos ofensivos, corroborando o estudo
posições com maiores índices ofensivos e na de Tusset (2018), onde, equipes da
análise técnica domina o fundamento de competição europeia apresentaram maior
cruzamentos positivos. O placar da partida foi

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número de fundamentos ofensivos que eficiente às situações aleatórias que o jogo


equipes da competição sul-americana. impõe (Garganta, 1997).
Na comparação entre posições no O sucesso tático-técnico está muito
Golden Index, a significância se deu entre ligado a uma preparação multifatorial (Laphert,
atacante direito e meia direito e também entre Fu, 2000), que é perceptível quando as
goleiros, mostrando que o goleiro europeu é equipes são influenciadas somente pelo fator
mais exigido no contexto tático-técnico do que desvantagem no placar o que faz elas
o sul-americano, dando a ele papel relevante apresentarem maiores interações e índices
em atividades ofensivas, não sendo menos ofensivos. O que difere elas são as posições
importantes que as defensivas (Gallo e mais ofensivas o que lhes atribuem
colaboradores, 2010). características próprias.
O estudo de Giacomini, Greco, (2018)
realizado com categorias de base, mostrou CONCLUSÃO
uma diferença de noção tático-técnica de
goleiros para o restante do time, o que foi Ambas as equipes apresentaram
confirmado nos resultados do presente estudo sucesso nas competições disputadas sendo
visto que os goleiros apresentam menores campeãs em seus continentes e disputando o
médias de interações e Golden Index em troféu mundial.
relação à outras posições. Os meio-campistas Nos aspectos tático-técnicos as
também tiveram diferença favorável em equipes se assemelham e não apresentam
comparação com os zagueiros, o que não diferenças significativas em índices gerais.
aconteceu no presente estudo, pois zagueiros A diferença fica por conta da
apresentaram maior média de interações e comparação por posição que atribuem
Golden Index que meio-campistas. particularidades às equipes, tendo os
A América do Sul, mais atacantes apresentando aptidão de definidores
especificamente o Brasil, tornou-se um de jogadas.
mercado exportador de jogadores de futebol Considerando a média de interações e
principalmente para a Europa (Rodrigues, o Golden Index médio das equipes por
2009). Com essa característica, as equipes posição, a equipe europeia utiliza-se mais da
sul-americanas fundamentam a especificidade faixa central do campo. Enquanto, a equipe
Das sessões de treino para cada posição sul-americana apresenta uma maior ocupação
buscando atingir características europeias, em faixas laterais do território de jogo.
visto que Guimarães, Paoli (2011) em um Vale a pena destacar também a
estudo com categorias de base do futebol participação do goleiro europeu em
mineiro, percebeu que as características comparação com o sul-americano. Além de
procuradas em atletas em peneiras são exercer sua principal função na fase defensiva,
aquelas mais próximas do que apresentam o o goleiro europeu participa ativamente da fase
futebol europeu. Isso pode explicar a de ataque da equipe, dando início às jogadas
equiparidade das equipes em ambas as ou participando na manutenção da posse da
análises. bola.
Outro fator que pode explicar tal Na análise do confronto entre as
igualdade entre as equipes é a influência do equipes, os índices gerais demonstram um
treinador e sua formação na montagem do equilíbrio entre elas. Entretanto, fica evidente
modelo de jogo, preparação, análise e que a equipe sul-americana apresenta maior
jogadores com características adequadas número de interações e maior Golden Index
(Gonçalves, 2009), já que o treinador da médio, em relação ao campeão europeu,
equipe campeã sul-americana tem quando está em desvantagem no placar,
nacionalidade europeia e antes dessa equipe mantendo as características táticas e técnicas
só havia atuado em equipes do continente citadas anteriormente.
europeu, local que também teve sua formação Portanto, as diferenças entre as
profissional. equipes ficam por conta da construção de um
A semelhança entre médias de modelo de jogo ideal para cada uma delas,
interações gerais entre as equipes pode levando em conta suas características, as
explicar o sucesso em suas competições características de seus jogadores, a fim de
continentais, pois, as equipes em suas minimizar suas incapacidades e ressaltar suas
diferentes características de jogo e ocupação potencialidades.
do campo respondem de maneira rápida e

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SISTEMAS TÁTICOS:
ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO E EFICÁCIA NOS JOGOS DA COPA AMÉRICA DE FUTEBOL 2011
1,2,3
Cyro Garcia Soares Leães ,
4
Bruno de Castro Xavier ,
5,6
Ivana Guedes de Souza

RESUMO
ABSTRACT
Introdução e objetivo: A forma de organização
das equipes de futebol é um fator importante e Tactical Systems: Analysis of the Use and
influenciador de rendimento. Diferentes Effectiveness in the Games of Copa América
escolas futebolísticas desenvolvem formas of Football 2011
organizacionais e estratégicas peculiares,
caracterizando sua prática do jogo de forma Introduction and objective: The football teams
pontual e internacionalmente conhecida. organization forms is an important factor and
Desde o início da prática do futebol, inúmeras influences the performance. Different football
maneiras de distribuição dos jogadores em schools developed different systems of play
campo foram testadas e algumas, and strategical forms, being internationally
consolidadas até os dias atuais. A partir do known. Since the beginning of the football
WM, de Chapman, em 1925, modificações practice, various ways of distribution of players
estruturais foram feitas e sistemas táticos in field had been tested and some of it,
específicos foram criados. Este estudo tem consolidated until the current days. From the
como objetivo verificar qual sistema tático WM, of Chapman, in 1925, structural
utilizado obteve mais pontos disputados nos modifications had been made and specific
jogos da Copa América de Futebol 2011. tactical systems had been created. This study
Materiais e Métodos: o estudo trata-se de uma aims to verify the use of the tactical systems
análise estatística descritiva. Todas as and its effectiveness in the matches of the
partidas oficiais da Copa América de Futebol Copa America de Futebol 2011. Materials and
2011 foram analisadas e os dados obtidos Methods: this is a statistics descriptive analysis
através do software de análise de jogo Data study. All the official matches of Copa America
Factory (provedor oficial da Conmebol) de Futebol 2011 had been analyzed and the
computados em planilhas desenvolvidas no data gotten through the match analysis
software Microsoft Excel 2010. Resultados e software Data Factory (official analyser of
Discussão: observou-se que os sistemas South American Football Confederation -
defensivos foram pouco utilizados, mostrando Conmebol) computed in spread sheets
um estabelecimento de conceitos ofensivos de developed in software Mcrosoft Excel 2010.
jogo, e que os sistemas que se caracterizam Results and Discussion: it was observed that
por apresentarem maior concentração de the defensive systems had been less used,
jogadores nos setores defensivos do campo, showing an establishment of offensive
foram os que apresentaram maiores valores concepts of game, and that the systems that
percentuais para derrota, demonstrando que hás a great concentration of players in the
não há evidências de que sistemas táticos defensive sectors of the field, had been the
baseados em posicionamentos defensivos ones that presented biggers percentile values
sejam satisfatórios no que tange ao resultado for defeat, demonstrating that it does not have
do jogo. Conclusão: não existem evidências evidences that defensive tactical systems are
que comprovem a importância e relevância de satisfactory in what refers to the result of the
um fator exclusivo e independente para match. Conclusion: there is no evidences that
garantir o resultado de vitória. prove the importance and relevance of an
exclusive and independent factor to guarantee
Palavras-chave: sistemas táticos, análise de the victory result on football.
jogo, organização de equipes.
Key Words: tactical systems, match analysis,
football team organization.

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INTRODUÇÃO Os sistemas de jogo evoluíram de


acordo com a necessidade do contexto
A evolução natural do futebol como futebolístico de cada época e sua evolução
desporto desencadeou uma série de sempre buscou um melhor aproveitamento
mudanças organizacionais e filosóficas no que espacial e uma melhor organização das
tange à disputa do jogo. Desde o início de sua equipes, através da distribuição dos jogadores
prática, sistemas e táticas de jogo eram nos setores do campo. Como conseguinte, a
utilizados buscando maiores possibilidades de tática sofreu modificação nas suas formas de
vitória. Os sistemas – forma de distribuição manifestação, em função dos novos objetivos
dos jogadores no terreno de jogo (Melo, 2000) empregados pelos técnicos e das mudanças
– e as táticas – redirecionamento dos espaciais acometidas ao campo de jogo. O
fundamentos técnicos utilizados no jogo futebolista, que segundo Herbst (1999) é o
(Carravetta, 2001) – se modificaram, ponto principal de todo o jogo, foi obrigado a
adequando-se às novas tendências do futebol. se adaptar e modificar suas habilidades
Segundo Cano (1973), a tática se define como continuamente, sendo, ao mesmo tempo, o
a colocação dos jogadores em campo com a agente influenciador e o influenciado de todas
finalidade de melhor atacar e defender-se do as diversificações sistemáticas pelas quais o
adversário. Leães (2003) considera todas as futebol foi e sempre será submetido.
ações que o futebolista exerce dentro do O fator desencadeante das evoluções
campo como tática. De acordo com Godik táticas e dos sistemas de jogo do futebol foi a
(1996), tática individual, tática em pequenos mudança e implementação de novas regras.
grupos e tática coletiva são subdivisões da Dentre elas, constata-se que a criação da
tática. regra do impedimento tem grande
Leães (2003) define a tática individual responsabilidade e influência na modificação
como sendo composta por todas as organizacional das equipes (Melo, 2000). Isto
movimentações individuais que são porque esta mudança de regra forneceu um
executadas na partida de futebol. Sendo novo sistema para a organização das equipes
assim, constata-se que todos os movimentos e coincidiu com uma receptividade global à
realizados pelo futebolista com ou sem bola e diversidade tática no contexto futebolístico da
que visem a facilitar o desenvolvimento da época (Giulianotti, 2002).
jogada de sua equipe são formas táticas O estudo se justifica quando
individuais, tais como antecipação, buscamos entender se em diferentes
desmarcação, marcação, movimentações para distribuições táticas existem vantagens
abertura de espaços. A tática em pequenos consideráveis, em qual quantidade de
grupos é caracterizada pelas construções jogadores em cada setor do campo se tem
táticas, através de movimentações individuais, maior aproveitamento e maior uso pelos
realizadas por um número reduzido de treinadores. Baseado neste contexto, este
jogadores que têm um único objetivo e que estudo tem o objetivo de verificar qual sistema
executam ações coletivas e coordenadas de tático utilizado obteve mais pontos disputados
jogo, em conjunto. A formação destes nos jogos da Copa América de Futebol 2011.
pequenos grupos é aleatória e não constante
durante o jogo, pois eles formam-se visando a Breve histórico dos sistemas táticos
um objetivo e, em seguida, após o objetivo
alcançado ou as tentativas de alcance O Sistema WM - Entre as décadas de 1920 e
executadas separam-se (Godik, 1996). As 1930, Herbert Chapman distribuía seus
ações de tática coletiva são aquelas em que jogadores de uma forma até então
todos os jogadores da equipe são envolvidos e desconhecida, utilizando três atacantes e dois
constroem determinadas situações táticas meias ofensivos para as ações ofensivas, e
específicas, tanto de ataque quanto de defesa dois centromédios e três zagueiros para as
(Leães, 2003). A organização da equipe é fator ações defensivas. Este sistema de jogo foi
dependente da tática coletiva, uma vez que denominado de Sistema WM, pois o
esta permite que os setores da equipe – posicionamento dos jogadores no campo
defesa, meio de campo e ataque – estejam em lembra o desenho destas duas letras (Figura
harmonia de posicionamento e 1) (Giulianotti, 2002). Como conseqüência
movimentações. prática, este sistema possibilitou uma maior

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agressividade à equipe (Melo, 2000). O houvesse, normalmente, um confronto de


Sistema WM de Chapman revolucionou o quatro atacantes contra três defensores (Melo,
futebol, trazendo novas e polêmicas 2000). Visando a solução desta questão e o
discussões a respeito dos sistemas equilíbrio das ações ofensivas e defensivas, os
empregados pelas equipes e suas técnicos começaram a testar manobras
conseqüentes influências nas formas de jogo. diversificadas. Novamente o posicionamento
Seleções nacionais e clubes de futebol de todo dos jogadores foi modificado, sendo, desta
o mundo adotaram essa forma de jogar, vez, deslocado um centromédio defensivo
denominada na época como Sistema Moderno para a posição de zagueiro e um meia
(Cano, 1973). ofensivo para a posição de atacante (Figura
2). Assim, criou-se o sistema 4-2-4 (Figura 3),
Figura 1. que era composto por quatro zagueiros
defensores, dois centrocampistas e quatro
atacantes ofensivos (Cano, 1973). Esse
sistema, para Giulianotti (2002), representou a
sobrevivência e exaltação do compromisso
técnico e estético do futebol em marcar gols e
se tornar ofensivo.

Figura 2.

Sistema WM. Fonte: Santos, 1979

A filosofia do sistema WM foi adotada


por diversos clubes de futebol em diferentes
países. Este fato fez com que houvesse,
novamente, uma tendência ao equilíbrio no
jogo. Assim, variações do WM começaram a
ser experimentadas. Durante a temporada de
1945, o então técnico do Dínamo de Moscou, Mudança de posicionamento de um
Iakushin, apresentou uma variante do sistema meiocampista. Fonte: Santos (1979).
em que os seus atacantes eram encorajados a
manter uma constante troca de posição
durante o jogo, com objetivo principal de Figura 3.
dificultar a marcação adversária. Essa forma
de movimentação flexibilizou o então
revolucionário sistema de jogo, motivando os
técnicos da época a desenvolverem,
novamente, diferentes maneiras de atuação
tática (Giulianotti, 2002).

O Sistema 4-2-4 - A padronização do sistema


WM como sistema de jogo ideal e sua
utilização pelos técnicos de diferentes nações
fez com que houvesse a necessidade de
criação de diferentes formas de jogo para
corrigir algumas deficiências então verificadas.
Com a utilização dos meias ofensivos no WM,
muitas vezes a aproximação de um desses Sistema 4-2-4. Fonte: Parreira (2005).
meias no setor de ataque fazia com que

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O Sistema 4-3-3 - A tendência tática moderna Sistema 4-4-2 - O sistema de jogo utilizado
da época apontava para, em partidas jogadas em meados da década de 1980 foi o sistema
no campo do adversário, uma pequena 4-4-2 (Figura 6). Nele um atacante foi
modificação posicional nos setores do meio de deslocado para o setor de meio de campo e
campo e ataque. Dessa forma, um dos quatro tinha as funções de marcação e construção de
atacantes era deslocado para o meio do jogadas de ataque (Melo, 2000) Isto ocorreu
campo (Figura 4), fazendo com que este setor porque desde a criação do Sistema WM, as
ficasse mais protegido (Cano, 1973). Na Copa variações táticas objetivavam fortalecer o setor
do Mundo de 1966, o treinador da seleção da defensivo, tanto modificando a função de
Inglaterra, Alf Ramsey, inventou o sistema 4-3- determinados jogadores defensivos quanto
3 (Figura 5), que era considerado como recuando um jogador de ataque. Para Lauffer
“maravilha sem alas” (Giulianotti, 2002). Isto e Kater (2001), as vantagens do emprego do
porque a distribuição dos jogadores em campo sistema 4-4-2 são o fortalecimento defensivo
compreendia um goleiro, quatro zagueiros, da equipe, a liberdade para atacar dada aos
três meio campistas e três atacantes. A opção defensores e a habilidade e facilidade de
pela formação com três atacantes obrigou modificação do ponto de referência do ataque
esses jogadores do setor ofensivo a uma através da movimentação dos dois atacantes.
movimentação maior, em função do aumento A organização coletiva 4-5-1 (Figura 7)
do espaço decorrente da transformação de um aparece como uma variação do 4-4-2.
antigo atacante em centrocampista (Melo,
2000). Segundo Lauffer e Kater (2001), entre Figura 6
as vantagens do sistema 4-3-3 estão o
equilíbrio entre os setores de defesa e ataque
e a mentalidade ofensiva da tática.

Figura 4

Sistema 4-4-2. Fonte: Coelho (2006).

Figura 7

Modificação do posicionamento. Fonte: Coelho


(2006).

Figura 5

Sistema
4-3-3.
Fonte: Variação 4-5-1. Fonte: Tostão (1997).
Tostão
(1997).

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No início da década de 1990 MATERIAIS E MÉTODOS


novamente os técnicos de futebol começaram
a experimentar novas formas de jogar, Amostra
motivados pela vontade de incrementar a parte A amostra é constituída por todas as
defensiva. Dessa forma, a organização das partidas oficiais da Copa América de Futebol
equipes com três defensores posicionados em 2011.
triângulo, cinco jogadores no meio de campo –
sendo que dois atuando como alas, pelas Procedimentos
pontas – e dois atacantes passou a ser Os dados oficiais de análise de jogo
utilizada. Dessa forma, tendo a Europa como da Confederação Sulamericana de Futebol
origem, o sistema 3-5-2 (Figura 8) apareceu (Conmebol) foram considerados. Os dados de
como um sistema consistente defensivamente jogo foram coletados utilizando-se o software
em função do posicionamento dos três Data Factory, provedor oficial de dados da
defensores, e eficiente ofensivamente, uma Conmebol, disponível no site oficial da
vez que os alas se juntavam aos atacantes e a Conmebol (www.conmebol.com). Dentre os
um dos centrocampistas para a construção de dados coletados do jogo, foi considerado o
jogadas de ataque (Melo, 2000; Giulianotti, Sistema Tático de cada equipe. Os dados
2002). Algumas variações dessa forma coletados foram armazenados em uma
organizacional de jogo foram apresentadas em planilha de controle desenvolvida no software
diferentes partes do mundo, tais como o 3-6-1, Microsoft Excel 2010.
mas a base estrutural e a intencionalidade
formativa permaneceram as mesmas. Sistemas Táticos Considerados
Foram considerados os sistemas
Figura 8 táticos verificados pelo software Data Factory,
conforme descritos no Quadro 1:

Sistema 3-
5-2.
Fonte:
Coelho
(2006).

Quadro 1: Caracterização tática


Sistema Características Distribuição espacial no campo
Tático
Verificado
Quatro defensores alinhados;
Quatro meio campistas alinhados, ou
posicionados em forma de losango
4-4-2 ou quadrado;
Dois atacantes.

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Quatro defensores alinhados;


Três meiocampistas alinhados ou
posicionados em triângulo;
4-3-3 Três atacantes.

Três defensores, sendo dois de


marcação no atacante (stoppers) e
um defensor de cobertura (líbero);
3-5-2 Cinco meio campistas, sendo dois
alas (direito e esquerdo), um ou dois
volantes e um ou dois meias;
Dois atacantes.

Três defensores, sendo dois de


marcação no atacante (stoppers) e
um defensor de cobertura (líbero);
3-4-3 Quatro meio campistas alinhados ou
posicionados em forma de losango
ou quadrado;
Três atacantes, sendo um atacante
de referencia posicionado mais
centralizado (centroavante) e dois de
movimentação, ou os três de livre e
intensa movimentação.

Quatro defensores alinhados;


Cinco meio campistas alinhados ou
posicionados em duas linhas (2-3 ou
4-5-1 3-2);
Um atacante.

Cinco defensores alinhados ou


quatro defensores de marcação no
atacante (stoppers) e um defensor
5-3-2 de cobertura (líbero);
Três meio campistas alinhados ou
posicionados em forma de triângulo;
Dois atacantes.

Fonte: Data Factory ® 2011

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Análise Estatística apresentaram maiores valores percentuais


Os dados foram apresentados sob a para derrota. Isto demonstra que não há
forma de análise descritiva estatística. Os evidências de que sistemas táticos baseados
resultados foram apresentados em forma de em posicionamentos defensivos sejam
percentual. Na apresentação dos resultados satisfatórios no que tange ao resultado do
foi utilizado o gráfico de colunas simples. jogo. A formação defensivista permite que o
adversário avance territorialmente dentro do
RESULTADOS E DISCUSSÃO campo estando mais próximo da baliza
ofensiva, não demonstrando uma tendência
A Tabela 1 mostra a proporção de direta entre a concentração de jogadores nos
utilização de cada um dos sistemas táticos setores defensivos e a manutenção do
observados. resultado de vitória ou empate. Ferreira, Paoli
e Costa (2008) ressaltam que quando as
Tabela 1 - Sistemas táticos observados equipes se equivalem em condições físicas e
técnicas a parte tática torna-se fundamental
Sistema Utilização nos jogos para a decisão do confronto. Diante disto
4-3-3 17,3% pode-se inferir que ao atrair o adversário para
4-4-2 48,1%
4-5-1 11,5% seu campo e atuar de maneira defensiva a
3-5-2 9,6% equipe pode estar mais sujeita a derrota. Silva
3-4-3 7,7% e colaboradores (1997) ressaltam que mais
5-3-2 5,8% importante do que o esquema tático é a leitura
Valores apresentados em forma de percentual
dos atletas que estão em campo, sua
versatilidade e condição de mudança de
Verifica-se que o sistema 4-4-2 foi o
atitude diante do jogo aliadas à estratégia da
mais utilizado, demonstrando uma tendência
equipe.
de preferência por esta forma organizacional.
A tabela 3 mostra percentual de
É possível observar que os sistemas
pontos conquistados de cada um dos sistemas
prioritariamente defensivos foram pouco
observados.
utilizados, mostrando um provável
estabelecimento de conceitos ofensivos de
Tabela 3 - Pontos conquistados
jogo. Isto vai de encontro ao estudo de Rocha
(2010), que constatou que 43,3% dos técnicos Sistema Resultado
de futebol preferem o esquema 4-4-2, pois a Nº de Total de % de Pontos
equipe se distribui de maneira mais compacta Vezes Pontos Conquistados
e pronta para ações defensivas e ofensivas. Utilizado Disputados
Rocha (2010) verificou ainda uma preferência 4-3-3 9 27 44,4%
4-4-2 25 75 44%
de 40% dos torcedores por tal sistema. 4-5-1 6 18 50%
A tabela 2 mostra a relação entre o 3-5-2 5 15 60%
sistema tático utilizado e o resultado do jogo. 3-4-3 4 12 66,7%
5-3-2 3 9 66,7%
Tabela 2 - Sistema tático e resultados do jogo
Observa-se que os sistemas 5-3-2 e 3-
Sistema Resultado 4-3 foram os que apresentaram
Vitória Empate Derrota aproveitamento percentual mais alto.
4-3-3 22,2% 66,7% 11,1% Constata-se que, contraditoriamente, o
4-4-2 28% 48% 24% sistema 5-3-2, mesmo apresentado um dos
4-5-1 33,3% 50% 16,7%
3-5-2 60% 0% 40% maiores índices de derrota, teve o maior índice
3-4-3 50% 50% 0% de pontos conquistados. Diante de tal, pode-se
5-3-2 66,7% 0% 33,3% entender que isto ocorra pela maneira de
Valores apresentados em forma de percentual proposição de jogo de tais equipes, pois se
posicionarem inicialmente em um sistema tão
Pode-se observar que os sistemas 5- defensivo a equipe atrai o adversário a seu
3-2 e 3-5-2, que se caracterizam por serem campo, conseqüentemente o mesmo fica
sistemas nos quais há uma maior desguarnecido defensivamente por ter mais
concentração de jogadores nos setores jogadores na ação de ataque. Assim, se
defensivos do campo, foram os que depreende que o esquema pode propiciar

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situações de contra ataque que permitam 3- Coelho, P.V. Os 50 maiores jogos da copa
vitórias, quando bem executados assim como do mundo. São Paulo. Panda Books. 2006.
quando não corretamente executado atrai
demasiadamente o adversário ao seu campo e 4- Ferreira, R.B.; Paoli, P.B.; Costa, F.R.
aumenta o risco de derrota. O sistema mais Proposta de scout tático para o futebol.
utilizado nos confrontos analisados foi o 4-4-2. EFDeportes.com. Ano 12. Núm. 118. 2008.
Tendo em vista que em muitas partidas
ocorreram enfrentamentos táticos idênticos, 5- Giulianotti, R. Sociologia do Futebol.
este sistema apresentou, de forma aceitável, Dimensões históricas e socioculturais do
menor quantidade de pontos conquistados. esporte das multidões. São Paulo. Nova
Alexandria. 2002.
CONCLUSÃO
6- Godik, M. Futebol Preparação dos
Pode-se concluir que futebolistas de alto nível. Rio de Janeiro.
preferencialmente o sistema utilizado é o 4-4- Editora Grupo Palestra Sport. 1996.
2, porém este não se mostrou como o mais
eficaz nos jogos analisados. A predileção por 7- Herbst, D. Soccer. How to play the game.
este sistema pode ocorrer pela assimilação The official Playing and Coaching Manual of
deste pelos jogadores e profissionais. Tal the United States Soccer Federation. New
sistema permite melhor distribuição e York. Universe Publishing. 1999.
espaçamento do time em campo e permite
maior número de variações organizacionais no 8- Lauffer, R.; Kater, A. Women´s Soccer –
setor de meio campo, sob as formas techniques, tactics & teamwork. New York.
geométricas de linha, quadrado, losango, USA. Sterling Publishing Company. 2001.
triangulo.
A funcionalidade do futebolista 9- Leães, C. Futebol - Treinamento em Espaço
aparece como fator importante para que o Reduzido. Porto Alegre. Editora Movimento.
desenho tático adotado pela equipe tenha 2003.
mais possibilidades de êxito, visto que a o
desempenho tático individual constitui o 10- Melo, R. Sistemas e Táticas para Futebol.
alicerce fundamental para a correta execução 2ª edição. Rio de Janeiro. Sprint. 2000.
da estratégia de jogo proposta pelo treinador e
pelo desempenho tático coletivo. Assim sendo, 11- Parreira, C.A. Evolução Tática e
não existem evidências que comprovem a Estratégias de Jogo. 1ª Edição. Brasília.
importância e relevância de um fator exclusivo Escola Brasileira de Futebol. 2005.
e independente para garantir o resultado de
vitória. A interdependência de manifestações 12- Rocha, R.A.S.G. Análise da evolução dos
técnicas, táticas individuais, em pequenos sistemas táticos do futebol brasileiro. Revista
grupos e coletivas, a estratégia de jogo Brasileira de Ciências da Saúde. Vol.8.
adotada, o fator psicológico dos jogadores Núm.26. 2010.
constituem o complexo mecanismo que
envolve a construção do resultado no futebol, 13- Santos, E. Caderno técnico-didático:
sendo necessários mais estudos específicos futebol. Brasília. MEC. 1979.
sobre o assunto em questão.
14- Silva, P.R.S. e colaboradores. Avaliação
REFERÊNCIAS funcional multivariada em jogadores de futebol
profissional: uma metanálise. Acta Fisiátrica.
1- Cano, J.B. Manual Del Fútbol. Barcelona. Vol. 4. Núm. 2. p.65-81. 1997.
Editorial Hispano Europea. 1973.
15- Tostão. Tostão: Lembranças, Opiniões,
2- Carravetta, E. O jogador de futebol. Reflexões sobre Futebol. 1ª Edição. São
Técnicas, treinamento e rendimento. Porto Paulo. Dorea Books. 1997.
Alegre. Editorial Mercado Aberto. 2001.

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1 - Mestre em Ciências Aplicadas a La


Actividad Fisica y El Deporte - Universidad de
Cordoba (UCO), Espanha
2 - Mestre em Ciências da Saúde –
Universidade de Brasília (UnB)
3 - Coordenador do Departamento de
Atividade Física e Saúde do Centro Integrado
de Saúde - CISA
4 - Graduado em Educação Física (PUC-RS)
5 - Graduada em Educação Física (IPA)
6 - Especialista em Cinesiologia do Movimento
Humano

profcyro@cisa.med.br

Cyro Garcia Soares Leães


Rua Faria Santos 142 - Porto Alegre - RS
CEP: 90670-150
(51) 33313547/ (51) 30618814/ (51) 99681456

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A MARCAÇÃO DEFENSIVA NO FUTEBOL DE CAMPO

Marcelo de Abreu Brazão1

RESUMO ABSTRACT

Desde sua origem, o futebol de campo vem The defensive area on football field
apresentando, ao longo da sua história,
variações táticas em relação aos sistemas Since its origin, football has shown, throughout
ofensivos e defensivos, ou seja, sua evolução its history, tactics difference from the offensive
oportuniza inovações nos modelos dos treinos, and defensive systems, i.e. its evolution gives
nos comportamentos táticos e no opportunity to innovations in models of training,
conhecimento das regras. O método deste the tactical behavior and knowledge of the
estudo foi de pesquisa exploratória, descritiva rules. The method of this study was
e analítica, alicerçando-se numa revisão de exploratory, descriptive and analytical
literatura com base em livros e artigos research, building on a literature review based
científicos.Os comportamentos táticos no jogo on books and scientific articles. Tactical
de futebol são compreendidos como ações behaviors in the football game are understood
tomadas em função dos princípios de as actions taken on the basis of principles of
localização dos jogadores, de realização das location of the players, realization of tactical
ações táticas e do resultado destas ações actions and the result of these actions during
durante o desenrolar do jogo. Os esquemas de the course of the game. The set of schemes
jogo sofreram modificações com o tempo, have been altered over time, becoming more
tornando-se mais defensivos. Os defensives. Tactical behaviors that can be
comportamentos táticos que podem ser updated in dialing zone football field are:
atualizados na marcação por zona do futebol monitoring of back cooperation between
de campo são: o monitoramento da volta, a offense / defense, challenge for the ball and
cooperação entre ataque/defesa, o desafio space reduction. The purpose of using the
pela bola e a redução de espaço. O objetivo dialing area in the field of football is to optimize
da utilização da marcação por zona no futebol the best spatial occupation of players, leaving
de campo é otimizar a melhor ocupação the small field to the opponent that attacks,
espacial dos jogadores, deixando o campo requiring that every athlete should have broad
pequeno para o adversário que ataca, com view of the game. Therefore, it is essential the
necessidade que cada atleta deva ter ampla rapport between players; choice of technical as
visão do jogo. Para tanto, é fundamental o objectives to be achieved and the use of
entrosamento entre os jogadores; escolha do technology resources to facilitate analysis of
técnico conforme objetivos a serem results and identification of problems between
alcançados e a utilização dos recursos da technical and tactical behavior, since they are
tecnologia para facilitar análise de resultados e directly related to the weaknesses of the
identificação de problemas entre técnica e opponent that influence the various game
comportamento tático, uma vez que são situations. The most options adopted in tactical
relacionadas diretamente às deficiências do systems are 4-3-3, 4-4-2 and 3-5-2 with the
adversário que influenciam nas diversas types of defense: individual pairs; individual by
situações de jogo. As opções mais adotadas sector and region being the most currently
nos sistemas táticos são: 4-3-3, 4-4-2 e 3-5-2, used.
com os tipos de defesa: individual aos pares;
individual por setor e por zona sendo as mais Key words: Tactics. Defensive. Offensive.
utilizadas atualmente. Strategy.

Palavras-chave: Tática. Defesa. Ofensiva.


Estratégia.

1-Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, E-mail do autor:


Minas Gerais, Brasil. marcello2brazao@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO Mediante a este reconhecimento,


infere que o jogo de futebol como um sistema
Este estudo oportuniza uma reflexão dinâmico, que é organizado de forma a
sobre a marcação por zona no futebol de estabelecer padrões de comportamentos e
campo. Entende-se como sistema, a forma de regras compatíveis de elevada relevância para
distribuição dos jogadores no terreno de jogo, alcançar o sucesso competitivo e profissional.
que possam ocupar racionalmente todos os Porém, por ser dinâmico, isto sugere
setores do campo, e que consigam anular a que há uma evolução, tanto na maneira de
manobra de ataques dos adversários, com pensar dos jogadores sobre seus erros e
manobras predeterminadas pelo técnico, com acertos, como no condicionamento físico, bom
o objetivo de ludibriar o oponente. posicionamento em campo e, principalmente,
Em relação à tática (essencial mudanças em relação às regras. Há duas
instrumento de jogo), é entendido como uma décadas, o jogo de futebol não possui
inter-relação dos fatores que constituem uma organização e regras atuais.
partida de futebol, como por exemplo: espaço, Neste período já houve inúmeras
tempo, parceiro, bola, adversário. O jogo é mudanças, mas, hoje, é necessário que elas
composto por uma diversidade grande de sejam reavaliadas com urgência. No entanto, o
situações planejadas e inusitadas, de forma futebol é um jogo considerado simples, mas
que se torna algo irreprodutível, único não impede que sejam melhorados os
(Correia, 2011). comportamentos táticos da marcação por zona
Diante dessas e outras questões, para que os jogadores possam ter um melhor
pergunta-se: quais os comportamentos táticos desempenho numa partida.
podem ser destacados como mais atuais na A metodologia deste presente estudo
marcação zona do futebol de campo? será respaldada numa revisão de literatura
O objetivo geral deste presente estudo através da pesquisa exploratória, descritiva e
será realizar uma revisão de literatura com analítica, com base em livros e artigos
base em artigos científicos afim de analisar a acadêmico-científicos experimentais que
marcação por zona no futebol de campo por abordam a marcação por zona no futebol de
diferentes teóricos do futebol. campo.
Sendo assim, os objetivos específicos Entendendo-se por revisão de
serão: identificar o objetivo da utilização da literatura aquela baseada na análise de obras
marcação por zona no futebol de campo; publicadas como livros e artigos impressos ou
identificar características dos sistemas táticos eletronicamente disponibilizados na Internet. A
e dos sistemas defensivos mais utilizados pesquisa exploratória se dará mediante
atualmente no futebol; analisar os recuperação de conhecimentos científicos
comportamentos táticos que podem ser sobre a temática escolhida os quais
atualizados na marcação por zona do futebol proporcionarem maior familiaridade com o
de campo; analisar as alternativas de problema, com o objetivo de torná-lo mais
modificação das ações ofensivas do compreensível ou a constituir hipóteses. A
adversário sendo a mesma aplicada conforme pesquisa descritiva terá como objetivo
a tática e suas respectivas linhas. observar, registrar, analisar e correlacionar
Hipóteses a serem consideradas: as fatos ou fenômenos (variáveis) sem modificá-
possíveis atualizações dos comportamentos los. Já a pesquisa analítica trará profundidade
táticos na marcação por zona do futebol de de compreensão às informações coletadas, na
campo; as alternativas de atualização das pretensão de oportunizar reflexões sobre o
ações ofensivas do adversário sendo a mesma tema (Thomas, 2012).
aplicada conforme a tática e suas respectivas A coleta de dados feita nos bancos de
linhas. dados da internet: Literatura Latino-Americana
O presente estudo justifica-se pela em Ciências da Saúde (LILACS); Livraria
preocupação deste pesquisador em analisar a Eletrônica Científica on-line (SCIELO) sendo
marcação por zona do futebol de campo, a empregado como critério de inclusão artigos
qual não atende bem as necessidades atuais que apresentam aderência ao tema, e como
do futebol pois, alguns comportamentos táticos critério de exclusão artigos que não tenham
praticados na marcação por zona no futebol de ligação direta com o objeto de investigação.
campo merecem ser atualizados.

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A tabulação dos resultados será suíços. Era praticado por pessoas com tempo
apresentada em forma de quadro onde serão ocioso que logo passaram a amadoristas
expostos os autores das obras selecionadas, desse esporte (Honorato e colaboradores,
ordenados pelo ano de publicação, 2009).
evidenciando-se os principais resultados Mas foi Charles Muller (1874-1953),
apresentados em seus estudos. que após deixar o Brasil para estudar na
A classificação temporal do quadro Inglaterra, onde conheceu mais de perto o
serve para que sejam percebidas a evolução e futebol, trouxe uma boa de esporte e as regras
o desenvolvimento das ideias, através dos de jogo para implantar no Brasil em 1894. Ele
anos, com relação às táticas utilizadas para foi atacante. Em 1892, jogou no Corinthians;
defesa, até chegarmos à atual marcação de 1893 a 1894, jogou no St. Mary’s com 13
defensiva largamente utilizada por treinadores gols e, de 1984 a 1910, no São Paulo Athetic
de todo o mundo, a marcação defensiva por com 21 gols. Filho de um pai escocês
zona. chamado John Miller, que veio ao Brasil para
O primeiro tópico tratará de um breve trabalhar na São Paulo Railway Company, e
histórico do futebol no Brasil e a evolução dos uma mãe brasileira de
comportamentos táticos em partidas de ascendência inglesa chamada Carlota Fox,
futebol. nasceu perto da estação ferroviária da mesma
O segundo tópico fará menção à companhia em São Paulo. Aos dez anos foi
marcação por zona do futebol de campo, estudar na Inglaterra. Desembarcou
abordando as zonas de ações táticas e os em Southampton, no extrerno sul das ilhas
comportamentos táticos praticados hoje em britânicas, e aprendeu a jogar futebol na
dia, os quais podem ser atualizados para Bannister Court School. Atuando como
melhor desempenho dos jogadores. jogador, árbitro e dirigente desde o princípio -
Este estudo não tem a pretensão de e mais tarde apenas nas duas últimas funções
ser uma única referência na área do futebol de - foi um entusiasta do desporto em geral,
campo, mas deseja que estas reflexões sendo também fundador da Associação
possam incentivar futuros profissionais da área Paulista de Tênis. Sem sombra de dúvidas
a pesquisar ainda mais sobre este ponderoso Charles Miller, ao lado de Hans
tema. Nobiling, Arthur Friedenreich, Fritz Essenfelder
Honorato e colaboradores (2009, p. 32-33)
Breve Histórico sobre o Futebol no Brasil afirmam que o futebol “tem muitas dimensões
que se entrelaçam, formando um mosaico
Denomina-se futebol um esporte de amplo, variado e global podendo ser encarado
grupo que pertence aos jogos coletivos de como espetáculo, competição, ritual, metáfora,
invasão. Suas características são claras celebração, síntese e catarse”.
porque podem ser reconhecidas por qualquer E mais, ainda asseveram que (...) o
pessoa apenas pela observação, pois, trata-se papel que o futebol representa no Brasil é fruto
de um jogo de cooperação, ou seja, de de uma combinação entre exigências técnicas
oposição entre duas equipes que realizam e características socioculturais do povo
ações simultâneas sobre a bola em campo brasileiro, sendo o futebol, ao mesmo tempo,
aberto, o conhecido campo gramado de um modelo da sociedade brasileira e um
futebol (Reverdito e Scaglia, 2007). exemplo para ela se apresentar.
Porém, estas características oferecem Honorato e colaboradores (2009)
aos jogadores a imprevisibilidade, e isso exige ainda ressaltam cinco aspectos que
ajustes das ações táticas da marcação por consideram os mais importantes da cultura do
zona dos jogadores em cada contexto de cada futebol, esporte característico do povo
momento em jogo do futebol de campo. brasileiro:
O futebol teve início no território
brasileiro na última década do século passado 1. O futebol em si é um exercício de
como uma modernidade futurística de países igualdade, pois os times têm os mesmos
estrangeiros, junto com as estradas de ferro, números de jogadores, têm as mesmas
fábricas e indústrias consequência da condições durante a partida e cada
Revolução Industrial. Era um esporte equipe ocupa o mesmo espaço no campo
aristocrático, vindo de imigrantes ingleses e de jogo além de existir um árbitro que “em

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tese” segue as regras em forma de com o objetivo de desestabilizar a equipe


igualdade. Igualdade não sentida pelo adversária. O técnico oferece esse apoio aos
torcedor na sua vida cotidiana; jogadores que atuam na posição ofensiva
2. O futebol é jogado basicamente com os como aos da defensiva. Porém, o sistema não
pés, assim como o samba, a capoeira, e sofre alterações, mas as táticas sim.
certas danças e rituais indígenas de tribos Mas, Grando e Marcelino (2014)
brasileiras que nas suas práticas tem nos destacam diversas evoluções táticas no
pés o papel fundamental para a período de 1860 até 2002. O futebol evoluiu,
habilidade, explicando, portanto, a bem como os treinos foram inovados com
tamanha facilidade dos jogadores novas formulações, por exemplo, com o
brasileiros e a identificação com o futebol; objetivo de confundir o adversário.
3. O drible, a finta de corpo, a Mas, a principal e mais significativa
“malandragem” característica dos mudança ocorreu em relação aos esquemas
jogadores brasileiros como forma de de jogo, tornando-se mais defensivos. Por
“burlar” as defesas adversárias, exemplo, em 1860, o esquema era composto
“enganando-as”, comparável à por 8 jogadores, e atualmente, as equipes
“malandragem” ou “jeitinho brasileiro” trabalham com três atacantes, sobressaindo
para sobreviver apesar das adversidades; um jogo de futebol de competição, e deixando
4. A individualidade, apesar de ser o futebol a arte um pouco de lado.
um esporte coletivo permite-se jogadas
individuais, através delas desmontam-se Marcação por Zona do Futebol de Campo:
esquemas coletivos das equipes Os Sistemas Táticos
adversárias, um drible, um chute
inesperado, uma arrancada veloz, essas O futebol de campo de alto nível
habilidades individuais podem mudar a possui grande variação tática em termos
história de uma partida. Dessas ofensivos e defensivos, na marcação por zona.
habilidades individuais criam-se os Basicamente, existem o sistema tático
grandes ídolos das massas, que ofensivo e o defensivo: o ofensivo ocorre em
encantam a todos e levam os torcedores distribuir bem os jogadores para dificultar a
aos estádios; e, marcação dos dois marcadores; os jogadores
5. A superstição é outra característica muito sem a bola devem se movimentar para
marcante do povo brasileiro e que planejar uma situação de passe a frente da
também aparece no futebol. linha da bola, ou seja, infiltração, e atrás
funcionando como apoio; em uma situação de
Evolução dos Comportamentos Táticos em superioridade numérica, o ataque deve
Jogos de Futebol priorizar o passe fazendo 2x1 (Guimarães e
colaboradores, 2012).
Em relação à evolução dos Segundo Guimarães e colaboradores
comportamentos táticos em partidas de (2012, p. 36) o comportamento defensivo é
futebol, entende-se que houve mudanças, por compreendido como:
exemplo, mudanças nas regras do
impedimento e as dimensões do campo. No Aproximar ao máximo do
futebol, “as técnicas constituem ações motoras adversário reduzindo o seu campo de jogo;
especializadas que permitem resolver as observar o pé dominante do adversário;
tarefas do jogo” (Figueira, 2008, p. 58). induzir o adversário sempre para os
setores menos vantajosos, de menor
Segundo Bertei (2009, p. 10) tática é: perigo ao gol; esperar a ação do
“a ação de mover no terreno de jogo os adversário antes de reagir; posicionar-se
jogadores com a finalidade de ultrapassar ou sempre em postura de marcação entre a
travar os adversários, ou toda e qualquer ação bola e o gol; tomar a frente do adversário
inteligente [...], ou, forma organizada de aplicar em relação à bola (antecipação); tirar a
um sistema e seus esquemas táticos”. bola do raio de ação do adversário para
Grando e Marcelino (2014) afirmam depois dominá-la.
que os esquemas táticos são vistos como
métodos ou estratégias de jogo que o técnico Algumas características dos sistemas
tem a responsabilidade de montar, sempre táticos defensivos mais utilizados atualmente
no futebol são identificadas por Bettega, Fuke

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e Schmitz Filho (2010), por exemplo, o sistema (linha intermediária) e três mais avançados
4-3-3, o sistema 4-4-2, o sistema 3-5-2: numa linha de ataque (Bertei, 2009, p. 12). É
Observa-se que o sistema 4-3-3 tem como uma posição diferenciada que exige muito
base uma estrutura defensiva de quatro preparo físico dos jogadores porque precisam
defensores: um lateral direito, um zagueiro se movimentar rapidamente com a troca de
central (lado direito), um quarto zagueiro (lado posição constante.
esquerdo) e um lateral esquerdo. Na frente Na Figura 2 pode-se entender que no
dos quatro defensores posicionam-se três sistema 4-4-2 há uma distribuição dos
meio-campistas e na zona ofensiva mais três jogadores da seguinte forma: quatro jogadores
atacantes. definidos inicialmente como defensores, ou
Na Figura 1 pode-se entender a seja, um lateral direito, zagueiro central (lado
representação da disposição de quatro direito), um quarto zagueiro (lado esquerdo) e
jogadores em uma linha mais defensiva, três um lateral esquerdo.
jogadores situados a frente dos defensores

posicionam-se três meio-campistas e na zona ofensiva mais três atacantes.

Sistema 4-3-3 Sistema 4-3-3 Sistema 4-3-3 Sistema 4-4-2 Sistema 4-4-2 (quadrado) Sistema 4-4-2 (losango)
Sistema 4-3-3 Sistema 4-3-3 Sistema 4-3-3 Sistema 4-4-2 Sistema 4-4-2 (quadrado) Sistema 4-4-2 (losango)
com um volante
Com um volante
com dois volantes
Com dois volantes com duas com dois volantes com três volantes
Com duas linhas de Com dois volantes Com três volantes
e
Comdois meias
dois meias e umum
Com meia
meia linhas de campo
quatro e dois
Com doismeias
meias e um
Com ummeia
meia

Ilustração 2: Sistema 4-4-2


Fonte: Bettega,Ilustração
Fuke e1:Schmitz
Sistema 4-3-3
Filho (2010, p. 3).
Fonte: BETTEGA; FUKE; SCHMITZ FILHO (2010, p. 3).
Fonte: Bettega, Fuke e Schmitz Filho (2010, p. 4).
Fonte: BETTEGA; FUKE; SCHMITZ FILHO (2010, p. 4).

Figura 1 - Sistema 4-3-3. Figura 2 - Sistema 4-4-2.


2010).
Sistema Sistema 3-5-2 Sistema 3-5-2
Sistema 3-5-2
3-5-2 Sistema 3-5-2 Sistema 3-5-2 (losango)
com dois volantes
Com dois volantes
com um volante
Com um volante
e umum
Com meia
meia e dois
Com meias
dois meias DEFESA ATAQUE
6

11
4 9
5
1
1

8
7
3
10
2 bola
MEIO DE CAMPO

Ilustração 4: Tipos de defesa


Fonte: BETTEGA; FUKE; SCHMITZ FILHO (2010, p. 5).

Ilustração 3: Sistema 3-5-2


Fonte: Bettega, Fuke e Schmitz Filho (2010, p. 4).
Fonte: BETTEGA; FUKE; SCHMITZ FILHO (2010, p. 4). Fonte: Bettega, Fuke e Schmitz Filho (2010, p. 5).

Figura 3 - Sistema 3-5-2. Figura 4 - Tipos de defesa.

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DEFESA ATAQUE
6 11

4 9
5
1
1
7
8
3 bola
10
2 MEIO DE CAMPO

Ilustração
Fonte: Bettega, 4: Defesa
Fuke individualFilho
e Schmitz por setor
(2010, p. 5).
Fonte: BETTEGA; FUKE; SCHMITZ FILHO (2010, p. 5).

Figura 5 - Defesa individual por setor.


Já na defesa Individual por setor, observa-se que cada jogador assume o que
irá acontecer em um setor ou faixa do campo, e sempre atuará mediante decisão do

De acordo comtécnico.
a FiguraQuando um adversário invade determinado setor, o responsável deverá
3, observa-se individualmente (Bettega, Fuke, Schmitz Filho,
mercá-lo
que a distribuição desses individualmente
atletas (BETTEGA;
pode FUKE; SCHMITZ
2010).FILHO, 2010).
apresentar-se em diferentes formas, conforme Os comportamentos individuais, em
o objetivo da equipe. O sistema 3-5-2 é particular o drible e a condução de bola, foram
formado por: “uma linha de três zagueiros frequentemente utilizados pelas equipes de
(dois zagueiros e um líbero), cinco jogadores futebol de sucesso e revelaram-se indutores
no meio campo e dois atacantes. Principal de eficácia ofensiva. Os cruzamentos e os
característica o uso de alas presente no setor passes de ruptura ocasionaram, com elevada
de maio campo que auxiliam os jogadores de frequência, o desequilíbrio nas defesas
meio campo” (Bertei, 2009, p. 12). adversárias, proporcionando situações de
Os três zagueiros do sistema 3-5-2 finalização (Machado, Barreira, Garganta,
são considerados jogadores que conseguem 2013, p. 33).
realizar boas marcações (Bettega, Fuke, Em relação ao sistema de Defesa,
Schmitz Filho, 2010). consideram-se 3 tipos:
Na Figura 4 observa-se que cada 1. A defesa individual aos pares;
jogador da equipe que defende tem a 2. A defesa individual por setor; e
responsabilidade de fazer uma marcar 3. A defesa por zona.
individualizada de um adversário, e esta De acordo com Braz (2013) a análise
marcação é definida pelo técnico. É a de jogo no futebol, levando-se em
chamada defesa individual aos pares consideração o componente técnico tático, os
Já na defesa Individual por setor, planos de investigação, os estudos da
observa-se que cada jogador assume o que irá temática e as particularidades do controle das
acontecer em um setor ou faixa do campo, e ações competitivas nas seguintes tabelas os
sempre atuará mediante decisão do técnico. indicadores individuais quantitativos e
Quando um adversário invade determinado qualitativos dos modelos técnico-táticos.
setor, o responsável deverá mercá-lo

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Tabela 1 - Análise Individual Defensiva e Ofensiva.


Análise individual defensiva
- Posicionamento atrás da defesa, habilidade de lidar com chutes, cruzamentos, escanteios, um a um,
Goleiros tendência de socos na bola, encaixes, qualidade de desarme.
- Número de gols concedidos, salvos, bolas encaixadas e espalmadas, bolas de segurança, número de erros.
- Força no jogo aéreo, habilidade de desarme, leitura de jogo, capacidade de pressionar o adversário.
Defensores - Número de intercepções, desarmes, cabeceios, zona de posicionamento de defesa, número e
posicionamento de faltas concedidas.
- Os jogadores ajudam na marcação, existe algum jogador forte defensivamente, possuem autocontrole e
Meio disciplina?
Campistas - Número de duelos ganhos e perdidos, intercepções, posicionamento de defesa, posicionamento de faltas
cometidas, cartões.
- Quem volta para defender, desafios e interrupção da jogada do adversário.
Atacantes
- Número de duelos ganhos ou perdidos, mapa da zona de cobertura do posicionamento de defesa.
Análise individual ofensiva
- Lançamentos, chutes, pé de execução, zona objetivada, precisão, direção, jogador destinado.
Goleiros
- Número e porcentagem de sucesso de passes.
- Quem está confortável com a bola e quem leva a bola fora da defesa, overlaping com laterais, perigo na
área do adversário, realiza passes perigosos, distribuição longa ou curta?
Defensores
- Número de sucesso de passes, chutes e cabeceios na área do adversário, zona de cobertura de quem
ataca e defende.
- Marcação, quem corre com a bola, quem joga com segurança ou ofensivamente, quem toca mais na bola,
Meio quem realiza mais assistência de gols, chutes, cruzamentos, corrida para o fundo sem bola, drible?
Campistas - Número de passes, assistências, chutes a gol, dribles, cruzamentos, duelos, gols, quem vai para o ataque e
quem fica.
- Jogador decisivo, quem é mais forte na disputa de bola, no ar, proteção, chutes e habilidade de cruzamento,
obtenção de espaços, ir para laterais, correr atrás da defesa, forte na situação um contra um, drible, chega
Atacantes aos cruzamentos, primeiro toque bom?
- Número e sucesso de passes, assistência de gols, chutes no gol, dribles, cruzamentos, duelos, gols, mapa
da zona de cobertura para verificar quem fica mais ao centro ou lateral.

Tabela 2 - Análise por Zona (Indicadores Defensivos e Ofensivos).


Análise Por Zona (Indicadores Defensivos)
- Zona de marcação, cooperação goleiro/meio-campista, qualidade de desafios, redução de
Zona espaço, profundidade, largura.
Defensiva - Número de duelos vencidos ou perdidos, mapa da zona de cobertura de defesa e posições de
faltas e penalidades concedidas, advertências, decisões ganhas de impedimentos.
- Zona de marcação, monitoramento da volta, cooperação entre ataque/defesa, desafio pela bola,
Zona de Meio redução de espaço.
Campo - Número de duelos vencidos ou perdidos, bolas recuperadas no campo adversário, mapa da zona
de cobertura de posições de defesa, número e posicionamento de faltas cometidas.
- Contribuição com o jogo defensivo.
Zona
- Número de duelos ganhos ou perdidos, bolas recuperadas no campo adversário, mapa da zona
Ofensiva
de cobertura do posicionamento de defesa.
Análise por zona (indicadores ofensivos)
- Quais defensores avançam para a zona de ataque, qualidade de ligação com meio-campo e
Zona ataque, quem é perigoso no jogo aéreo.
Defensiva - Zona de cobertura, sucesso dos passes entre defesa, meio-campo e ataque, número de duelos
de ataque ganho e perdido.
- Os meio-campistas vão para o ataque, qualidade de ligação com o ataque, correm para o fundo,
cria espaço, habilidade de finalização, capacidade de tornar defesa em ataque e chances criativas.
Zona de Meio
- Zona de cobertura, sucesso de passe entre meio-campo e defesa/ataque, número de assistência
Campo
(última ação antes do gol), passes chaves (última ação antes de um chute), efetividade do chute,
número de duelos ganhos e perdidos.
- Qualidade de ligação com meio-campo, ações sem bola, criação de espaço, habilidade de
finalização, capacidade de receber faltas, duelos e criação de chances, dribles, finalizações a gol.
Zona
- Sucesso de passes entre defesa e meio-campo, número de assistência, passes chave,
Ofensiva
finalizações a gol, cruzamentos, duelos ganhos e perdidos, dribles com sucesso, impedimentos,
faltas sofridas.
Fonte: Braz (2013, p. 32).

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De acordo com Braz (2013) entende- Segundo Braz (2013) nas Tabelas 1, 2
se que a análise técnica-tática do jogo origina- e 3 observa-se que existem diferentes
se de várias dimensões do futebol. indicadores que auxiliam o técnico a controlar
Inicialmente, do plano individual do potencial a análise técnica-tática dos atletas de sua
do jogador até a complexa interação dos equipe. E cada um desses indicadores pode
atletas durante um jogo ou um campeonato. ser notado entre as funções táticas realizadas
Os resultados são obtidos no âmbito do jogo por cada jogador, pois são distintas e claras.
através de diferentes maneiras de indicadores Mas, existem diversas metodologias de
técnico-táticos. análise, e Braz (2013) afirma que tais métodos
Os Indicadores setoriais quantitativos têm sofrido modificações nas últimas décadas,
e qualitativos dos modelos técnico-táticos no principalmente, em se tratando da evolução da
futebol, por exemplo, podem ser tecnologia e dos meios de comunicação.
demonstrados na Tabela 2.

Tabela 3 - Sistema de Jogo.


Análise de sistema de jogo
- 4-4-2, 4-3-3, 4-5-1, 3-5-2, flexível ou rígido, mudança de sistema conforme posse da bola.
Sistema de jogo - Mapa da zona defensiva e ofensiva com ou sem posse de bola, posicionamento positivo
para definição da formação do time.
- Posicionamento de jogadores e zona de cobertura.
Formação do
- Mapa da zona defensiva e ofensiva contendo os locais de posse de bola ou sem a
Time
mesma, posicionamento positivo para definição da formação do time.
- Direção, reconstrução, contra-ataque.
Estilo de jogo
- Velocidade de ataque, números positivos de ações no ataque, tempo da posse de bola.
- Armadilha de impedimento, marcação por zona ou homem a homem, marcação afastada
ou pressão, contribuição de todos os jogadores?
Jogo defensivo
- Número de impedimentos ganhos, mapa da zona de cobertura, número de duelos ganhos
em diferentes zonas, intercepções, faltas concedidas.
- Quais chances de criação, usando qual caminho e quem está envolvido, quem passa para
quem, os ataques são alternados (jogo rápido ou lento)?
Jogo ofensivo - Número de gols, finalizações, cruzamentos, escanteios e faltas sofridas, tipo da última
ação antes da finalização, posse de bola nas áreas laterais ou centrais, mapa da zona de
cobertura de bola jogada, padrões de passe entre indivíduos.
- Organização, posicionamento, número de jogadores na defesa, quem irá na bola,
Bola parada contribuição do goleiro.
defensiva - Número de gols concedidos por chutes, cabeceios que resultaram em desarme de
sucesso, bolas defendidas ou desarmadas pelos goleiros.
- Envolvimento dos jogadores com a posse e recebimento da bola, reposição rápida,
número de ataques, entrega da bola, flutuações, distância da trave, escanteios curtos,
Bola parada
movimentos rápidos de reposição lateral, improvisação, qualidade do chute.
ofensiva
- Número de chutes ou gols marcados, chances criadas, número de bolas na trave ou
perto/longe, escanteios curtos, tempo médio gasto para cobrança da falta.
Fonte: Braz (2013, p. 33).

As zonas de ações táticas De acordo com Giacomini e Greco


(2008) “táticas” são as decisões que os
Tática é “o método para obter êxito em jogadores tomam durante um jogo, com ou
uma situação de jogo; força de dispor e sem bola, decisões de cooperação ou de
manobrar uma situação”, ou “conjunto de oposição. Entende-se que “o jogo de futebol é
meios ou recursos empregados para alcançar o mais rico entre os esportes coletivos em
um resultado favorável” (Aulete, 2009, p. 761). circunstâncias táticas” (Drubscky, 2014, p. 24).
“A eficácia da tática depende da capacidade Para Drubscky (2014, p. 191) as zonas
de percepção, antecipação, tomada de de ações táticas são: “faixas paralelas às
decisão e experiência prévia do atleta” linhas de fundo e de meio-campo, onde se
(Guimarães, e colaboradores, 2012, p. 41). protagonizam as clássicas situações de jogo
[...] quase tudo o que acontece numa faixa do

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campo está intimamente ligado e dependente dificuldade nas as ações ofensivas do


das ações táticas das outras faixas”. adversário.
A zona 1 chama-se “zona de Zona ofensiva – local onde o jogador
expectativa” - é a área em que a bola, deve ser veloz, deve surpreender o adversário,
geralmente está com o goleiro, ou no domínio deve improvisar com deslocamentos rápidos,
dele ou de um adversário defensor. Ainda, na dribles e tabelas. O jogador nesse local está
zona 1, quando o jogador de defesa está com focalizando o gol, por isso, na perda da posse
a bola, é orientado a ele tomar uma postura de bola, o jogador deve dificultar ao máximo
expectante aos atacantes. as ações da ofensiva, voltando-o para a
Segundo Grando e Marcelino (2014) o posição defensiva.
campo de futebol é dividido em zonas: zona Entende-se que quando alguns
defensiva, zona de construção e zona jogadores não cumprem o seu papel, pode
ofensiva. haver uma situação de marcação pressão na
Zona defensiva - este espaço se zona 2, por exemplo, podendo ocorrer o
caracteriza por uma marcação mais forte e por comprometimento em toda a ação.
uma constante cobertura. Quando não estão Existem três tipos de organização
com a posse de bola, o jogador tem a função defensiva: podemos defender à zona, sendo
de interceptar, antecipar e tomar a bola dos que aí o importante é o espaço, é cobrir os
adversários. Quando adquirirem a posse de espaços, é retirar espaço e tempo de exercício
bola, devem tentar começar o ataque à equipe adversária; podemos também marcar
rapidamente, se isso não é possível, seguram homem-a-homem a campo inteiro, e aqui já
a bola com segurança até conseguir iniciar a estamos a falar de marcações individuais,
construção de uma jogada ofensiva. porém, são hoje poucas as equipes que o
Zona de construção – localiza-se no fazem, a não ser, talvez, as equipes das
meio-campo. É denominada a área terceiras divisões e dos regionais; e depois
responsável pela criação de jogadas, ou seja, temos a defesa com marcação homem-a-
é o setor mais criativo da equipe porque é o homem onde o que acontece é que os
local onde são construídas as jogadas, com jogadores, ainda que normalmente não saiam
combinações coletivas. Nesta área em das suas zonas de intervenção, tem como
especial, o jogo pode ser melhor controlado, preocupação não os espaços, mas sim o
mantendo-se a posse de bola. Por exemplo, adversário (Amieiro, 2010, p. 89).
um jogador na posição defensiva irá fazer uma De acordo com Correia (2011, p 1): “a
marcação forte e principalmente ocupar os defesa é a junção ou síntese da defesa à zona
espaços do campo, objetivando colocar e marcação individual”.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4

Fonte: Drubscky (2014, p. 191). Fonte: Drubscky (2014, p. 194).


Figura 6 - As quatro zonas de campo sugerem uma forma
didática de se analisar o jogo. Figura 7 - Uma situação de marcação pressão na zona 2.

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Fonte: Drubscky (2014, p. 194). Fonte: Drubscky (2014, p. 198).

Figura 8 - Situação de marcação pressão na zona 2. Figura 9 - O contra-ataque como arma ofensiva poderosa.

Fonte: Drubscky (2014, p. 199). Fonte: Drubscky (2014, p. 201).

Figura 10 - Equipe com a posse da bola assume postura Figura 11 - Compactação da equipe favorece o jogo
ofensiva. ofensivo.

Na situação de marcação pressão na desequilibrar a equipe oponente com os


zona 2, observa-se segundo Drubscky (2014) balanços e viradas de jogo constantes.
que a saída da bola estaria corretamente No entanto, conforme Drubscky (2014)
pressionada se não fosse a desatenção ao uma equipe pode ficar o tempo que for com
lado contrário dos jogadores que está com a posse de bola, porém, pode ser ineficaz ou
posse de bola. inoperante em relação a postura ofensiva de
Observa-se na Figura 10 algo comum qualidade.
no jogo de futebol, quando a equipe se
defende com todos os jogadores no campo. Comportamentos Táticos
Observa-se que, segundo Drubscky
(2014, p.199): “o treinamento da posse de bola Ao tratarmos dos comportamentos
ofensiva é um elemento tático importante no táticos no jogo de futebol, se faz necessário o
favorecimento da equipe que joga sempre em seu entendimento, dessa forma, Costa e
postura ofensiva”. Nesta situação, a equipe colaboradores (2014, p. 39) define-os como:
com a posse da bola assume postura “ações táticas em função dos princípios;
nitidamente ofensiva ao adversário que arma localização de realização das ações táticas; e
ataque para recuperar a bola. resultado das ações táticas”
Entende-se que a posse de bola seja Primeiramente, vale ressaltar que
primeiramente definida como uma tática, foram criadas as categorias de base com o
porque através dela é possível criar espaços objetivo de organização. As categorias são
no campo, recuar o adversário e desgastá-lo divididas em faixas etárias, dessa forma, com
física e psicologicamente e, ainda o tempo, o atleta principiante pode continuar a
treinar, mudando de categoria te chegar num

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momento em que esteja apto a jogar em específica, implicando em tomada de decisão,


Campeonatos. a qual reflete o nível da capacidade tática e
Toda equipe de futebol, quando está experiência motora do atleta.
jogando, demonstra que existe uma Em relação aos comportamentos
organização mais ou menos elaborada visível, táticos de jogadores de futebol da categoria
fundamentada de acordo com a forma como sub-14, Souza e colaboradores (2014)
cada jogador se coloca no terreno de jogo e analisando treinos com a utilização de
como ataca e defende (Bertei, 2009, p. 9). propostas de métodos mais pedagógicos
Segundo Figueira (2008, p. 57) a como os jogos para facilitar a compreensão do
tática: jogo, chamados de Teaching Games for
É a capacidade baseada em Understanding (TGfU), afirmam o desempenho
processos cognitivos de recepção, tático dos jogadores apresentou algumas
transmissão, análise de informações, alterações em quatro das 64 variáveis táticas
elaboração de resposta e execução da ação aplicadas.
motora, concretizada com uso de uma técnica

Fonte: Drubscky (2014, p. 204).


Fonte: LID (2011).
Figura 12 - Equipe se defendendo com todos os
Figura 13 - Categorias de base.
atletas.

Constataram que os jogadores para a solução de conflitos entre técnica e


efetuaram mais as ações táticas defensivas no comportamento tático (Costa, e colaboradores,
meio de campo e mais ações do princípio da 2014).
unidade defensiva, demonstrando que eles No que se refere ao Índice de
marcaram mais recuados na avaliação Performance Tática (IPT), os autores
posterior às sessões de treinamento. Assim, constataram que as sessões de treino
concluíram que algumas táticas de jogo aplicadas no grupo de jogadores
podem ser melhoradas, por exemplo, fundamentadas no TGfU trouxeram melhorias
aperfeiçoando o entrosamento dos jogadores significativas no desempenho tático global de
e tendo boa percepção na hora de escolher o cada um, porque puderam também ter uma
técnico. Mas, as evoluções técnicas e físicas melhor visão do jogo (Souza, e colaboradores,
dos atletas também se tornaram importantes 2014).
no cenário do esporte em geral e do futebol. Para Barreira e colaboradores (2014,
Essas transformações que ocorrem de p. 25) a recuperação da bola é visto como o
épocas em épocas favorecem o objetivo mais importante da fase defensiva.
desenvolvimento tático do jogo e a maneira Entende-se que se trata de uma ação curta ou
como os técnicos lidam com as mudanças. até instantânea, sendo a primeira fase do
Hoje, o importante também é a utilização da ataque. Mas é complexo, porque uma
tecnologia como instrumento de análise de recuperação de bola de sucesso refere-se um
resultados, que ajudam na identificação de bom desempenho dos defensores, embora
problemas e de alternativas mais adequadas possa também resultar de atacar erros.

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Mas, entende-se que a questão das em atletas de futebol nos jogos da Copa do
categorias e faixas etárias correspondentes Mundo FIFA 2014, e constataram que há
não é tão simples como possa parecer. Por variáveis conforme a posição de jogo,
exemplo, Costa e colaboradores (2014) continente e país dos atletas.
analisaram os Efeitos da Idade Relativa (EIR)

Quadro 1 - Categorias e faixas etárias correspondentes.


Categorias Faixas etárias
Sub-17 Atletas de 15/16 e 17 anos
Sub-16 Atletas de 15 e 16 anos
Sub-15 Atletas de 13/14 e 15 anos
Sub-14 Atletas de 13 e 14 anos
Sub-13 Atletas de 11/12 e 13 anos
Sub-12 Atletas de 11 e 12 anos
Sub-11 Atletas que completam 9, 10 e 11 anos de idade no ano do campeonato
Fonte: LID (2011).

Costa e colaboradores (2014) afirmam 2014). Isto posto, entende-se que os


que: Pesquisadores de várias partes do comportamentos táticos podem sofrer
mundo têm encontrado evidências científicas alterações em função do EIR.
de que o mês de nascimento pode interferir na
chance do atleta de alcançar o esporte de alto Comparações entre as definições dos
nível, devido a um fenômeno conhecido como autores
efeito da idade relativa (EIR). O EIR tem sido
observado consistentemente no futebol, Após a apresentação das definições
gerando preocupação por parte da elaboradas pelos autores estudados, é
comunidade científica, em razão das possível criar um quadro onde são
consequências negativas que este fenômeno apresentadas as ideias dos autores em
pode acarretar a identificação, seleção e relação aos critérios de defesa.
formação de talentos esportivos. O quadro foi construído em ordem
Assim, sendo, entende-se que no cronológica, de forma que se evidencie a
futebol, o agrupamento dos atletas é um evolução do pensamento e a adaptação à
método realizado através da divisão por faixa realidade das competições pelo mundo.
etária, conforme Quadro 1. De maneira simples, pode-se observar
A finalidade é manter a hegemonia de as ideias de tática, os sistemas de defesa
condições dos atletas que jogam na mesma criados e a evolução para a divisão do campo
categoria. No entanto, pode haver uma de futebol em zonas onde as táticas podem
diferença de idade constatada de até 24 ser executadas, de forma a dominar-se
meses, em função do dia e do mês de apenas uma porção do campo (sem desprezar
nascimento, ou seja, uma diferença que pode o restante do espaço), pois, de acordo com a
significar vantagem ou desvantagem para uma posição da bola, dos jogadores da equipe e do
equipe e outra. O EIR já é estudo observado time adversário, podem-se aplicar táticas
em diferentes países como Alemanha, diferentes visando o melhor resultado.
Portugal, Suíça, Estados Unidos, Brasil, A seguir, o quadro comparativo criado
Bélgica e Espanha (costa, e colaboradores, explicitando esta evolução.

Quadro 2 - Autores e definições.


Ano Autor Definição
Giacomini e
2008 Táticas: são as decisões individuais dos jogadores dentro da equipe, durante os jogos.
Grego
Sistemas de Defesa:
Bettega e 4-3-3: 4 defensores, 3 meio-campos e 3 atacantes;
2010
colaboradores 4-4-2: 4 defensores, 4 meio-campos e 2 atacantes;
3-5-2: 3 zagueiros, 5 meio-campos (linha) e 2 atacantes.
Guimarães e Comportamento defensivo:
2012
colaboradores Bem próximo do adversário;

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Induzir o adversário para os setores menos vantajosos, de menor perigo ao gol;


Esperar a ação do adversário antes de reagir;
Posicionar-se sempre em postura de marcação entre a bola e o gol;
Tomar a frente do adversário em relação à bola (antecipação);
Tirar a bola do raio de ação do adversário para depois dominá-la.
Indicadores individuais: observar os indicadores quantitativos e qualitativos dos
2013 Braz
modelos técnico-táticos.
Comportamento individual:
Machado e
2013 Observar os dribles e condições de bola;
colaboradores
Observar os cruzamentos e passes de ruptura.
Divisão do campo em zonas táticas que se interligam em estratégias complementares:
2014 Drubsky “quase tudo o que acontece numa faixa do campo está intimamente ligado e
dependente das ações táticas das outras faixas”.
Grando e Divisão do campo em zonas de ações táticas: zona defensiva, zona de construção e
2014
Marcelino zona ofensiva.

CONCLUSÃO dependendo do treinamento ao qual se


submetem os atletas.
As principais características dos Sendo assim, consideramos que os
sistemas táticos são: 4-3-3, 4-4-2 e 3-5-2 e os comportamentos táticos que podem ser
tipos de defesa: individual aos pares; individual atualizados na marcação por zona do futebol
por setor e por zona; são os mais utilizados de campo são: o monitoramento da volta,
atualmente. O objetivo da utilização da cooperação entre ataque/defesa, desafio pela
marcação por zona no futebol de campo é bola e a redução de espaço.
otimizar a melhor ocupação espacial dos Mas, o que tem evoluído de forma
jogadores, deixando o campo pequeno para o notória nas últimas quatro décadas são os
adversário que ataca, e isso necessita que métodos de análise dos jogos de futebol, não
cada atleta deva ter ampla visão do jogo. desmerecendo o componente técnico-tático e
Consideramos que algumas táticas de os planos de investigação de indicadores
jogo no futebol podem ser melhoradas, com individuais defensivos e ofensivos.
um trabalho inicial no grupo de atletas
objetivando o entrosamento entre os REFERÊNCIAS
jogadores.
Outra consideração relevante na 1-Amieiro, N. Defesa à Zona no Futebol. Um
tomada de decisão, é a de uma melhor pretexto para refletir sobre “jogar”, ganhando!
escolha na contratação de um técnico, com Lisboa: Visão e Contexto. 2010.
perfil estabelecido pelo clube, e preparado
para as exigências atuais do futebol. E 2-Aulete. C. Mini Dicionário Contemporâneo
Este profissional deverá conhecer e da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Nova
fazer uso da tecnologia como ferramenta de Fronteira. 2009. Verbete: Tática. p.761.
análise dos resultados, ou seja, tal recurso
facilitará o trabalho do técnico nas tomadas de 3-Barreira, D.; Garganta, J.; Machado, J.;
decisões, na identificação dos problemas e Anguera, M. T. Effects of ball recovery on top-
assim oferecer alternativas mais adequadas e level soccer attacking patterns of play. Trad.
que ofereçam mais chances na solução dos Título: Repercussões da recuperação da
conflitos existentes entre técnica e posse de bola nos padrões de ataque de
comportamento tático e nos desequilíbrios futebol de elite. Rev. Bras. Cineantropom.
existentes entre técnica e tática. Desempenho Humano. Vol. 16. Núm. 1. p.23-
As sessões de treinamento aplicadas 38. 2014.
aos atletas de futebol também devem ser
revisadas e reavaliadas constantemente, em 4-Bertei, R. R. Organização no Futebol:
função, principalmente dos Efeitos da Idade sistemas e tipos de marcação no processo de
Relativa (EIR), que interferem de forma formação de jogadores. TCC de Graduação
significativa no desempenho tático global de em Educação Física. Universidade Federal do
cada jogador, influenciando também na visão Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2009.
do jogo de forma negativa ou positiva,

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EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS TÁTICOS NO FUTEBOL DE CAMPO:


UMA REVISÃO DE LITERATURA

Marcelo Rodrigues Francisco1


Davi Luiz Rodrigues Guimarães2
Eduardo Rahal Netto2
Maurício Rosa da Costa Junior2
Henrique Miguel3

RESUMO ABSTRACT

Introdução: O futebol de campo é um esporte Evolution of tactical systems in field football: a


coletivo que vem passando por mudanças ao literature review
longo dos anos. Avanços tecnológicos
juntamente com programas modernos Introduction: football is a team sport that has
monitoram o atleta durante a partida, been changing over the years. Technological
fornecendo dados precisos aos analistas de advances along with modern programs monitor
desempenho. Objetivo: Demonstrar as the athlete during the match, providing
evoluções das questões táticas no futebol de accurate data to performance analysts.
campo, no decorrer da história, explorando Objective: To demonstrate the evolution of
suas nuances que facilitam na performance tactical issues in field football throughout
esportiva. Materiais e Métodos: Este trabalho history, exploring its nuances that facilitate
consiste em uma revisão de literatura nas sports performance. Materials and Methods:
principais bases de dados Scielo, Google This work consists of a literature review in the
Acadêmico; Sportdiscus, levando em main databases Scielo, Google Scholar;
consideração a história do futebol de campo. Sportdiscus, considering the history of field
Resultados: O entendimento nos esportes football. Results: Understanding in team sports
coletivos deve estar associado ao must be associated with the development
desenvolvimento adquirido durante o processo acquired during the learning process, giving
de aprendizagem, dando prioridade a fatores priority to logical game factors such as
lógicos do jogo como: defesa, ataque, defense, attack, favorable and unfavorable
situações favoráveis e desfavoráveis, entre situations, among others, making the student
outros, fazendo com que o aluno adquira um acquire knowledge and transferring them up to
conhecimento e transferindo-os até o jogo the formal game. Conclusion: To play football
formal. Conclusão: Para se jogar o futebol through tactical principles, the player must
através dos princípios táticos, o jogador deve understand each one-off them and know the
ter o entendimento de cada um deles, e saber best time to put it into practice, combining
o melhor momento para colocá-lo em prática, technique with intelligence.
aliando técnica com inteligência.
Key words: Field football. Game. Tactics.
Palavras-chave: Futebol de Campo. Jogo.
Tática.

1-Doutorando em Ciências do Movimento


Humano UNIMEP-Piracicaba-SP Brasil;
Docente de Educação Física. Faculdade E-mail dos autores
Mogiana do Estado de São Paulo-Mogi marcelo.edufisica@hotmail.com
Guaçu-SP-UNIPINHAL, Espírito Santo do daviluiz.rguima@gmail.com
Pinhal-SP, Brasil. nettorahal@yahoo.com.br
2-Discente de Educação Física, Faculdade mauricio.rcj@hotmail.com
Mogiana do Estado de São Paulo-Mogi prhmiguel@gmail.com
Guaçu-SP, Brasil. marcelo.edufisica@hotmail.com
3-Doutorando em Promoção da Saúde-
UNIFRAN-SP, Brasil; Docente dos cursos de Autor para correspondência:
Educação Física-UNIPINHAL, Espírito Santo Marcelo Francisco Rodrigues
do Pinhal-SP, Brasil; FEUC São José do Rio UNIMOGI: Avenida Padre Jaime, 2.600.
Pardo-SP, Brasil. Jardim Serra Dourada, Mogi Guaçu-SP.

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INTRODUÇÃO infiltrar na equipe adversária, para assim, obter


êxito e chegar à marcação do gol.
O futebol teve sua origem na Inglaterra Os princípios táticos têm sido
no século XIX. Foi instituído como esporte por categorizados de diferentes formas por vários
volta de 1863, mas sabe-se que ele era autores, destacamos Bayer (1994), que os
praticado muito antes pela plebe no interior da define de três formas: Princípios gerais,
Inglaterra (Da Matta, 1982). princípios operacionais e princípios
O futebol chegou ao Brasil em outubro fundamentais.
de 1894 através de Charles Miller que havia Os princípios gerais ocorrem com mais
estudado na Inglaterra e, na sua volta trouxe frequência durante as partidas e é definido da
consigo o tal jogo (Aquino, 2002). seguinte forma: evitar inferioridade numérica,
Ao falar em preparação desportiva, igualdade numérica e obter superioridade
verifica-se que, o desempenho atlético pode numérica contra a equipe adversária.
ser melhorado com treinamento, visando o Já os princípios operacionais se
aprimoramento físico, técnico, tático e associam aos comportamentos dos jogadores
psicológico para o rendimento no esporte. em duas fases do jogo: fase defensiva, impedir
Atividades que se aproximem das finalização ao gol, retomar a posse de bola e
ações vividas no jogo em si são as mais defender a sua meta, já na fase ofensiva se
adequadas para tais condicionamentos (Reilly, sobressaem progredir no campo de ataque,
2005). finalizar ao gol, sustentar a posse de bola,
Visando aprimorar o trabalho na construir boas jogadas.
iniciação, Filho (2013) salienta que atualmente Por último, os princípios fundamentais
os métodos mais utilizados são os analíticos e têm como base instruírem os jogadores a
os globais. desestruturar a organização da equipe
Sendo o método analítico realizado de adversária, e manter sua equipe em um bom
forma fragmentada (por partes), e o global nível de organização durante o decorrer da
partindo do aprendizado a partir do jogo partida.
propriamente dito (Filgueiras, 2014). Diante o exposto, este trabalho de
O futebol atualmente exige muito a revisão tem como premissa demonstrar as
parte técnica e tática dos jogadores, os atletas evoluções das questões táticas no futebol de
que possuem uma técnica apurada campo, no decorrer da história, explorando
conseguem sobressair em relação aos outros suas nuances que facilitam na performance
e tem uma produtividade maior durante a esportiva.
partida (Bayer, 1986).
Através de seus estudos, Matveev MATERIAIS E MÉTODOS
(2001) destaca a técnica como um meio mais
rápido, inteligente e eficaz para que o Este trabalho foi realizado através de
esportista solucione as complicações que a uma pesquisa qualitativa que pretende obter
partida e os adversários lhe impõem. um olhar minucioso e detalhado em análises
Greco e Benda (2007) concordam com científicas realizadas pelos pesquisadores
os autores no sentido de que a técnica (Knechtel, 2014).
propicia ao atleta sair das adversidades que Foram buscados artigos nas bases de
são encontrados durante os jogos de forma dados Scientific Electronic Library Online
ágil e sensata. (SCIELO), Literatura Latino-americana e do
Sobre a questão tática, ela pode ser Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
entendida como o conjunto do desempenho Centro Latino-Americano e do Caribe de
individual e coletivo de toda a equipe. Uma Informação em Ciências da Saúde (BIREME),
tática pré-definida pelo treinador, quando bem sem uma data específica para as buscas dos
executada durante a partida, provavelmente mesmos, foram encontrados artigos em língua
trará êxito (Teodorescu, 2003). alemã, francesa, portuguesa, inglesa e
De acordo com Garganta e Pinto espanhola, com as palavras chaves: futebol de
(1994), os princípios táticos no futebol de campo, jogo e tática a fim de entender os
campo possibilitam aos jogadores atingirem princípios táticos no futebol de campo.
rápidas soluções para os problemas que Após a escolha das palavras chaves,
encontram durante a partida. Coletivamente os foram realizadas buscas cruzando as mesmas
princípios táticos ajudam a equipe a manter a nas bases de dados já mencionadas acima, à
posse de bola, controlar o ritmo do jogo, medida que os artigos foram encontrados

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iniciaram-se as leituras a partir do título, logo modalidades, justificando assim a discrepância


após, a leitura do resumo considerando entre artigos encontrados e utilizados.
assuntos pertinentes relacionados ao trabalho, A apresentaremos um organograma
posteriormente realizado a leitura do texto na que representa a dinâmica utilizada para a
integra para melhor entendimento e escolha dos artigos (Figura 1).
elaboração do trabalho com todos os No quadro 1 apresentamos, com o
resultados encontrados. total de artigos encontrados nesta pesquisa, e
Durante o trabalho foram encontrados quais foram utilizados para a discussão e
muitos artigos com pesquisas de campo e conclusão, com seus descritores em português
assuntos relacionados ao futsal e outras e inglês.

Figura 1 - Organograma ilustrativo do procedimento metodológico.

Quadro 1 - Resultados das buscas.


Soccer/Futebol de Campo Game/Jogo Tática/Tatic
Bases
Encontrados Utilizados Encontrados Utilizados Encontrados Utilizados
LILACS 30 1 54 2 46 2
BIREME 27 2 61 3 44 3
SCIELO 20 4 25 2 35 5

RESULTADOS Futebol e sua História

A seguir apresentaremos brevemente, Entre os séculos XVI e XIX jogar


numa sequência temporal, os artigos que futebol não era considerado um esporte. Com
retratam o interesse desta revisão. a revolução industrial, o ato de jogar se
popularizou entre a classe proletária dos

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grandes centros urbanos, trazendo consigo um Assim sendo, segundo Barbanti e


novo inimigo chamado burguesia, que era colaboradores (2004), as habilidades motoras
contra sua prática devido à diminuição da que se caracterizam pelos estímulos externos,
produtividade dos trabalhadores (Hobsbawn, apresentam uma necessidade de
1987). entendimento dentro da sua variabilidade de
Em 1835, o parlamento inglês instituiu resultados, que são de extrema relevância
uma lei que tinha como objetivo coibir a prática para os preparadores físicos.
do futebol nas ruas da Inglaterra, o que levou Já Carravetta (2012), diz que, após a
a população a resistir veementemente a tal lei. década de 90, surge no futebol, uma
Esta marginalização durou até meados concepção científica com uma abordagem
de 1870, quando os trabalhadores interdisciplinar, que rege, em função dos
conquistaram o direito à folga nas tardes de problemas que surgem dentro do campo de
sábado, momentos esses que poderiam ser jogo, os programas de treinamento com
utilizados para jogar o então novo esporte ênfase na autonomia dos atletas.
(Helal, 1997). Vaz e colaboradores (2014),
Assim que o futebol foi devidamente complementam citando que a variabilidade
disciplinado, os interesses se convergiram aos dinâmica das ações dentro do futebol são
propósitos dos pedagogos, que passaram a complexas em função das constantes
estimular a tal modalidade nas escolas, e decisões individuais e coletivas, onde não se
passaram a enxergar no referido esporte um pode separar a preparação de força junto a
novo aliado como ferramenta de doutrinação e atividades específicas dentro do campo de
formatação dos valores da burguesia. jogo.
Tal linha de pensamento é Neste sentido Vieira e Faria (2010),
fundamentada por Da Matta (1982), que vê o citam o grande treinador português, José
futebol como uma forte ferramenta doutrinária Mourinho, que acreditava que o trabalho de
do capitalismo. força servia somente para reabilitação de
No ano de 1894 o inglês Charles Miller possíveis lesões, já seu preparador físico, Rui
desembarcou no Brasil, trazendo em sua Faria, não era adepto das corridas em volta
bagagem, duas bolas, uma bomba para dos campos, nem do trabalho de força dentro
enchê-las, além de materiais como apito, um de ginásios, mas acredita que o uso de bolas
livro de regras e uniformes (Aquino, 2002). na preparação física é de extrema importância
No início sua prática atraiu para o desenvolvimento do atleta.
principalmente os jovens da elite das escolas e Acreditando que o desempenho dentro
clubes ligados às colônias de imigrantes e no do futebol é fruto de um domínio motor
meio industrial através da aristocracia associado à magnitude das capacidades
europeia (Helal e colaboradores, 2007). físicas, Carravetta (2012) cita que a
Não demorou muito para que o futebol complexidade dos processos motores e
contagiasse as camadas menos favorecidas perceptivos está sempre envolvida nas
da população brasileira, que se organizaram tomadas de decisões, controle, regulação e
precariamente em times pelos subúrbios e execução.
cidades pequenas, além das cidades Os princípios do treinamento
portuárias, como a cidade de Santos, que desportivo são extremamente importantes
acabou fundando o Santos Futebol Clube para o desenvolvimento do atleta, sendo que a
(Aidar, Leoncine, 2001). individualidade biológica, diz que somos seres
A primeira partida de futebol no Brasil humanos únicos, partindo do pressuposto de
foi realizada em 15 de abril de 1895 entre que possuímos características herdadas
funcionários de empresas inglesas que geneticamente através do genótipo.
atuavam em São Paulo (Freyre, 2004). Possuímos também o fenótipo que se refere
aos efeitos do treinamento ao longo da vida
Futebol e Ciência de Treinamento (Azevedo e colaboradores 2007).
O princípio da progressividade
O futebol de campo define-se como segundo Badillo e Ayestarán (2001), pode ser
uma atividade física, onde existe uma trabalhado de várias formas, por exemplo,
estruturação que envolve esforços vigorosos aumentando a frequência semanal de treinos,
em conjunção as habilidades motoras acréscimos graduais no volume e\ou
complexas e definidas através de motivações intensidade, orientações de cargas mais
externas e respostas internas.

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específicas e inclusão de novos métodos de aluno a aprender e reproduzir com excelência


treinamento. (Filgueiras, 2014).
A interdependência do volume Segundo Correia e colaboradores
(quantidade) e da intensidade (qualidade) se (2004), devido as suas repetições, o método
dá de forma antagonista, onde a aplicação das analítico mostra-se mais eficaz em
cargas nos seus devidos períodos acontece movimentos complexos.
com a redução do volume acompanhado pelo Vargas e colaboradores (2012)
aumento da intensidade. complementam que em escolinhas e
A especificidade segundo Weineck categorias de base, o método analítico foi o
(1999) relaciona-se as características e mais utilizado durante muito tempo.
exigências da modalidade praticada pelo Atualmente, continua sendo muito
atleta. aplicado no aprendizado, estimulando as
capacidades técnicas, fazendo com que os
Futebol e os Métodos de Ensino alunos evoluam.
Porém, por ser treinado sem
Durante a formação esportiva é oponentes durante os exercícios, em muitos
necessária uma diversidade de vivências, casos pode surpreender o aluno com ações
experimentando fatores que saem do imprevisíveis do adversário.
convencional, além dos aspectos de jogo em Armbrust e colaboradores (2010)
si. afirmam que o método analítico utiliza os
Nas categorias de base é viável o fundamentos do esporte de forma isolada, e
emprego de diferentes sistemas táticos para somente após o controle desses gestos
que se tenha um ambiente bem próximo do técnicos, o jogo se desenvolve.
jogo, sem deixar de lado os aspectos e Os autores complementam que o
objetivos pedagógicos que devem ser aluno em primeiro momento treina os
alcançados (Scaglia, e colaboradores 2013). componentes técnicos do jogo através da
Para Gonçalves (2012) buscar o repetição.
ensinamento dos jogos coletivos a partir do Esse treinamento tem como principal
seu aprendizado sempre foi uma grande característica o princípio do “simples para o
preocupação, pois a metodologia de complexo”, ou seja, parte de atividades mais
aprendizagem é um incessante desafio, e fáceis de serem assimiladas e a partir do
requer constante aprimoramento na busca de domínio destas aumenta o grau de dificuldade.
novos métodos, com o objetivo de desenvolver
a aprendizagem dos alunos no esporte. Método Global
Filho (2013) salienta que atualmente
os métodos mais utilizados durante a iniciação Também chamado de método “do
são os analíticos e os globais. todo”, o método global tem como principal
O método analítico foi um dos característica a reprodução do jogo
primeiros utilizados tempos atrás, propriamente dito (Tenroller, 2004).
principalmente nos esportes individuais, e logo Oliveira e colaboradores (2010)
trazidos aos esportes coletivos, já o global leva complementam dizendo que o objetivo do
em consideração todos os elementos do jogo, ensino através do método global ao invés de
e se da pela aprendizagem em situação única se prender em fundamentos pré-determinados,
de jogo. estimula o aprender através do “deixar jogar”.
Rezende (2007) relata que no método
Método Analítico global, o aluno aprende diretamente a partir da
própria experiência ao vivenciar o jogo, ficando
Pinto e Santana (2005) afirmam que o o professor com a incumbência de pequenos
método analítico é baseado em repetições de ajustes durante a evolução do aluno.
fundamentos até sua perfeição, encontrando- O método global busca desenvolver o
se completamente fora do contexto de jogo. aprendizado do esporte unificando todos os
Filho (2013) complementa que após o componentes (técnico, tático, físico e
aprendizado dos fundamentos no método emocional), dando relevância a complexidade
analítico, eles serão transferidos para e o improviso durante o jogo (Filgueiras,
situações de jogos. 2014).
O método analítico leva em conta Filho (2013) afirma que este método
movimentos mais tecnicistas, induzindo o se caracteriza pelo aprender jogando,

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utilizando-se inicialmente de jogos mais Quando se fala em princípios táticos,


simples. Destaca também que o método global Garganta e Pinto (1994) afirmam que eles se
vem sendo aplicado como uma ferramenta de caracterizam por um conjunto de normas que
interação dos aspectos da criatividade, regem e normatizam o jogo, proporcionando
imaginação e do pensamento tático dos aos jogadores a capacidade de atingirem
jogadores. soluções táticas rápidas para os problemas
Aquino e colaboradores (2015) que surgem durante as partidas.
ressaltam que o aprendizado a partir dos jogos Sendo assim, estes princípios
tem como desafio formar jogadores precisam ser muito bem entendidos e estarem
inteligentes e abertos a novas experiências presentes no comportamento do jogador
como por exemplo a resolução de problemas durante as partidas.
táticos que possam ocorrer no campo de jogo. Segundo Aboutoihi (2006),
coletivamente os princípios táticos auxiliam a
Futebol jogado a partir dos Princípios equipe no controle e ritmo de jogo bem como
Táticos na manutenção da posse de bola, para assim
desequilibrar a equipe adversária e,
Os princípios táticos são definidos consequentemente, alcançar o gol.
como conjunto de regras do jogo que Castelo (1994) afirma que os
proporcionam aos jogadores a oportunidade princípios táticos têm como ponto de partida a
de solucionar mais rapidamente problemas teoria do jogo para posterior aplicação na
que possam encontrar (Garganta, 1997). prática, baseando-se muito da inteligência dos
O Futebol caracteriza-se pela jogadores. Desta forma faz-se necessário a
existência e necessidade de cooperação bem simplificação do entendimento teórico e prático
como de uma oposição onde a cada momento do jogo.
existe uma dinâmica relacional coletiva e Os princípios táticos possuem certo
diante destes fatores, pode-se considerar o teor global em relação às ações dos
jogo como um macro sistema dividido por jogadores, os mecanismos motores e
diferentes subsistemas que são influenciados consciência dentro do campo de jogo e
e dependentes de uma série de condições complementa ainda que eles são definidos
como a oposição, a pressão temporal, a como: princípios gerais, operacionais e
adaptabilidade e a cooperação (Garganta, fundamentais.
2001). Os princípios gerais recebem este
Assim sendo, o processo de ensino e nome pelo fato de serem mais simples quando
treinamento dentro do Futebol deve levar em comparados aos outros princípios
consideração essas características para que (operacionais e fundamentais).
possa propiciar melhorias no desempenho dos Estão presentes nas diferentes fases
jogadores junto a um pensamento coletivo, e do jogo onde não se deve permitir a
para que esse progresso aconteça, faz-se inferioridade e igualdade numérica de
necessário um desenvolvimento destinado a jogadores, e buscar situações de
situações de jogo, onde se obtenham superioridade numérica nas transições defesa-
respostas rápidas e eficazes frente às ataque (Garganta, Pinto, 1994).
solicitações da partida (Gréhaigne e Em relação aos princípios
colaboradores 1997). operacionais Bayer (1994) destaca a
Completando esta fala Castelo (1994), necessidade de mais atitude dos jogadores
descreve que em função destas necessidades, durante as duas fases do jogo, sendo elas
é importante e coerente que os ensinamentos defesa e ataque.
bem como o treino do Futebol se baseiem nos Onde a defesa tem o objetivo de
princípios táticos do jogo, através de uma impedir finalizações, recuperar a bola, dificultar
construção teórica embasada na sua lógica e as ações progressivas do oponente, proteger o
no comportamento dos jogadores. alvo e reduzir o campo de jogo adversário.
Já Holt e colaboradores (2002), Já o ataque objetiva manter a posse
descrevem que em função destes fatores, os de bola, criação de jogadas, avançar no
ensinamentos podem ser estabelecidos tanto território do oponente e criar situações que
com base na dinâmica do jogo quanto nos levem ao gol.
fatores relacionados ao rendimento individual Finalizando os princípios, os
e coletivo. fundamentais representam um conjunto de
diretrizes de base que orientam os jogadores e

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as equipes em duas situações do jogo (defesa concentração; no ataque: princípio da


e ataque), com objetivo de constranger o infiltração, mobilidade, cobertura ofensiva e
adversário. obtenção de território (Garganta, Pinto, 1994).
Estudos relatam quatro princípios para A seguir apresentamos a figura 2,
cada fase do jogo de acordo com seus Fases de jogo, objetivos e princípios táticos
objetivos, sendo na defesa: princípio da gerais, operacionais e fundamentais do jogo
contenção, da cobertura defensiva, equilíbrio e de Futebol (Garganta, Pinto, 1994).

Figura 2 - Fases de jogo, objetivos e princípios táticos gerais, operacionais e fundamentais do jogo
de Futebol (Garganta, Pinto, 1994).

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Após a evolução do praticante, se faz Gréhaigne e Godbout (1998), complementam


necessária uma avaliação do desenvolvimento citando que o GPAI é um instrumento de
comportamental do atleta e existem formas observação “maleável”, que é utilizado para
específicas para isso. avaliar a performance real dos jogadores,
Para Oslin e colaboradores (1998), o através da observação direta (que acontece no
Game Performance Assessment Instrument - momento do jogo) ou indireta (utilizando
GPAI, corresponde a um sistema apropriado vídeos nas análises pós jogos), utilizando 7
para utilizar no início da prática futebolística, componentes do jogo como: base, ajuste,
permitindo a identificação do comportamento tomada de decisão, execução motora, suporte
dos jogadores durante o jogo, incluindo além e marcação.
da natureza técnica, os de natureza tática,

Base Retorno apropriado do jogador à posição inicial ou recuperação entre as tentativas.


Movimentação do jogador, tanto ofensiva quanto defensiva, requerida para a
Ajuste
sequência do jogo.
Tomada de Decisão Escolhas apropriadas sobre o que fazer com a bola durante o jogo.
Execução Motora Eficiente desempenho das habilidades selecionadas.
Suporte Movimentação sem a bola, à procura de espaço para recebê-la.
Cobertura Apoio defensivo ao colega que marca o portador da bola.
Marcação Defender um adversário com ou sem a posse de bola.
Fonte: Gréhaigne, Godbout (1998).

Quadro 2 - Componentes do jogo.


As bolas interceptadas, as bolas roubadas e as bolas recuperadas após chute ao
Primeira Bolas Conquistadas
gol ou passes errados.
Categoria
Bolas Recebidas Bolas recebidas dos companheiros de time que ficam sob o controle do jogador.
Passe Neutro Passe que não gera perigo para a equipe adversária.
Segunda Perda de Bola Quando a bola é roubada pela outra equipe.
Categoria Realização de Passe Ofensivo Quando os passes colocam a equipe em situação favorável para finalizar o gol.
Finalização Ao Gol Chute realizado em direção ao gol adversário.
Fonte: Harvey (2006).
Quadro 3 - Componentes do jogo.

Já para Gréhaigne e colaboradores e comportamentos dos jogadores durante as


(1997), o Team Sports Performance partidas é uma ideia viável e eficaz, pois
Assessment Procedure - TSAP, foi compreendem as rápidas movimentações que
desenvolvido para levantar informações são realizadas durante os jogos para
quanto ao desempenho dos jogadores em solucionar os problemas que são encontrados
situações ofensivas de jogo, tanto em (Costa e colaboradores 2009).
aspectos técnicos quanto aos táticos, Harvey
(2006) complementa dizendo que o TSAP tem Futebol e os Sistemas Táticos
como estratégia uma visão geral do jogo
dando ênfase aos momentos em que os Os avanços que ocorreram no futebol
jogadores recebem a bola ou desarmam de campo devem-se as mudanças ocorridas
recuperando-a do adversário, sendo assim a na regra de jogo (Vendite, Moraes, 2004).
avaliação é composta por seis parâmetros Para Silva e colaboradores (2002) um
agrupados em duas categorias: categoria 1 é a dos aspectos que configuram o futebol, é seu
forma como o jogador tem a posse de bola e conceito estratégico, que prioriza os sistemas
categoria 2 é a forma como que o jogador táticos.
encaminha a bola. Tais sistemas são utilizados em todo o
Os parâmetros utilizados são: bolas mundo para organização de uma equipe em
conquistadas, bolas recebidas, passe neutro, situação de jogo para sanar problemas e
perda da bola, realização de passe ofensivo e buscar os objetivos dentro da partida
finalização ao gol. (Azevedo, 2009).
A introdução dos princípios táticos No futebol moderno, concepções
juntamente com os programas de observação táticas, didáticas e novos estilos de

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treinamentos são mudanças presentes. Esta adversária, e fez com que a Holanda chegasse
modernidade exige dos jogadores constantes ao final da copa, sendo superada apenas na
deslocamentos com ou sem a posse de bola, e pela Alemanha que se consagrou campeã
devido as suas várias funções no campo de naquele ano.
jogo, são chamados de jogadores polivalentes Para Melo (2000) os sistemas táticos
(Leal, 2001). passavam por constantes mudanças, desde
Segundo Almeida e colaboradores antes da copa de 1974 e no pós-copa.
(2016), jogadores polivalentes caracterizavam- O mais utilizado era o 4-3-3, que é
se por aqueles que não guardavam posição e constituído por 4 defensores, 3 meio
desempenhavam várias funções dentro de campistas e 3 atacantes, e passou a dividir
campo. Uma amostra clássica surgiu em 1974 espaço em meados de 1982 com o esquema
com a seleção holandesa, apelidada de 4-4-2 que visava o preenchimento do meio
carrossel holandês. campo e ter mais posse de bola, com um
Liderados por Johan Cruyff, jogador a mais neste setor, como apresentam
executavam mais de uma função dentro das as figuras 3 e 4.
quatro linhas e com isso confundiam a equipe

Figura 3 - Sistema tático 4-3-3.

Figura 4 - Sistema tático 4-4-2.

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Figura 5 - Sistema tático 3-5-2.

Figura 6 - Sistema tático 4-2-3-1.

O sistema 4-4-2 é o mais popular entre mais 5 jogadores de meio-campo e com


todos, possui ampla variação tática dentro de grande velocidade nas transições até os 2
si, e geralmente é considerado mais defensivo atacantes fixos, como apresenta a figura 5.
que ofensivo devido a sua configuração inicial. O futebol vem sendo jogado nos
É distribuído no campo com 4 últimos anos em um esquema que possui
jogadores na defesa, 4 no meio campo e 2 grande aceitação pela elite de treinadores, que
atacantes (Leal, 2001). é o 4-5-1 ou como se dizem os mesmos, o
Giulianotti (2002) relata que o futebol chamado 4-2-3-1, que é constituído por 4
jogado no início dos anos 90 não era vistoso defensores, 5 jogadores compondo o meio
como de décadas anteriores, muito em função campo, onde 2 estarão mais recuados e 3
do esquema utilizado pela Dinamarca, e jogadores mais avançados, juntamente com 1
copiado por quase todas as seleções atacante (Santos Filho, 2002).
europeias que consistia no 3-5-2 que Leal (2001) defende que o sistema de
priorizavam a marcação com 3 zagueiros e jogo, além da disposição dos jogadores com

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uma base ordenada, existe uma correlação Salientando que o futebol é um


com funções pré-definidas, visando à esporte coletivo, toda a equipe deve trabalhar
economia de esforço e desgaste físico para unida para a obtenção de resultados positivos.
obtenção dos melhores resultados. Quanto aos sistemas táticos, não
existe um melhor ou mais eficaz, cada
CONCLUSÃO treinador utiliza seu método de trabalho que
julga ser o mais apropriado para determinado
O futebol de campo é um esporte jogo.
coletivo, de fácil entendimento e assimilação Os sistemas possuem ampla variação
técnica dos praticantes, sendo um dos tática dentro de si, podendo ser mais ofensivo
esportes mais populares, mas que vem ou defensivo durante as partidas de acordo
exigindo cada dia mais dos jogadores tanto em com as mudanças feitas pelo treinador,
parte física quanto na parte técnica. cabendo ao jogador saber desempenhar uma
Não existe uma idade exata para se ou mais funções dentro do jogo para alcançar
iniciar a prática do futebol, porém quanto mais o objetivo final.
cedo ocorrer à iniciação mais apurada será a
técnica, conseguindo desta forma se REFERENCIAS
sobressair em relação ao seu oponente,
principalmente se este estiver iniciado 1-Aboutoihi, S. Football: guide de l'éducateur
tardiamente. sportif. Paris. Editions ACTIO. 2006.
Não há evidências de um método mais
eficaz de iniciação ao futebol de campo, os 2-Aidar, J.J.O.; Leoncine, M. P. Evolução do
alunos devem vivenciar maneiras futebol e do futebol como negócio. A nova
diversificadas de aprendizado, apesar de o gestão do futebol. Rio de Janeiro. Editora
método global ser o mais utilizado, onde se FGV. 2001. p. 78-106.
aprende através do jogo em si, temos que
colocar em prática o analítico onde é 3-Almeida, C. E. S.; Lauria, V. T.; Lima, C.
trabalhada a técnica fora do âmbito de jogo Evolução dos esquemas táticos no futebol.
para corrigir deficiências que possam Revela. Num. 20. 2016.
atrapalhar o aluno ao se tornar um jogador de
alto nível, as deficiências cabe ao treinador 4-Aquino, R. S. L. Futebol Uma Paixão
identificar e utilizar a metodologia que acredita Nacional. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2002.
ser mais eficiente para a evolução de cada
jogador e de sua equipe de uma forma geral. 5-Aquino, R. L. Q. T.; Marques, R. F. R.;
Programas de análise de desempenho Gonçalves, L. G. C.; Vieira, L. H. P.; Sousa
têm sido utilizados com grande frequência por Bedo, B. L.; Moraes, C.; Menezes, R. P.;
equipes de alto nível com o objetivo de estudar Santiago, P. R. P.; Puggina, E. F. Proposta de
seus atletas e seus adversários, explorando as sistematização de ensino do futebol baseada
capacidades e as fraquezas respectivamente. em jogos: desenvolvimento do conhecimento
Hoje em dia antes mesmo de o jogo tático em jogadores com 10 e 11 anos de
acabar os analistas de desempenho já idade. Motricidade. São Paulo. Vol. 11. Núm.
possuem dados para analisar o jogador, isso é 2. 2015. p. 115-128.
possível graças às informações que são
enviadas aos mesmos através de um 6-Armbrust, M.; Silva, A. L. A.; Navarro, A. C.
equipamento que fica junto ao atleta durante Comparação entre método global e método
todo o jogo, cabendo à comissão técnica parcial na modalidade futsal com relação ao
identificar possíveis erros e fraquezas dentro fundamento passe. Revista Brasileira de
de campo. Futsal e Futebol. São Paulo. Vol. 2. Num.5.
Pode-se considerar que para jogar 2010. p. 77-81.
através dos princípios táticos, o jogador deve
levar consigo o entendimento de cada 7-Azevedo, P.H.S.M.; Oliveira, J.C.; Takehara,
princípio impondo-os no jogo. J.C.; Baldissera, V.; Perez, S.E.A. Atualidades
Não basta apenas a técnica, e sim o científicas sobre a avaliação e prescrição do
conjunto tornando os jogadores mais treinamento físico para atletas de alta
inteligentes e eficazes, auxiliando a equipe performance. Lecturas: Educación Física y
como um todo atingindo os objetivos do jogo Deportes. Buenos Aires. Año 12. Núm. 111.
com inteligência e satisfação. 2007.

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Education. Champaign. Vol. 17. Núm. 2. p. no futebol. In: XXIX Congresso Brasileiro de
231-243. 1998.

Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo. v.12. n.48. p.303-316. Maio/Jun./Jul./Ago. 2020. ISSN 1984-4956
316
Revista Brasileira de Futsal e Futebol
ISSN 1984-4956 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b f f . c o m . b r

Ciências da Comunicação. Anais... Brasília:


Intercom. 2004.

51-Vieira, M.P.; Faria, R. ¨Este método de


treinar é único porque é nosso¨. Record. 2 de
agosto de 2010.

52-Weineck, J. Treinamento ideal. Manole.


São Paulo. 1999.

Recebido para publicação em 09/01/2020


Aceito em 19/04/2020

Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo. v.12. n.48. p.303-316. Maio/Jun./Jul./Ago. 2020. ISSN 1984-4956
Uso da Realidade Virtual na Demonstração de Táticas de Futebol de Campo

Fabiano Cardoso de Assis1, Marcos Wagner Souza Ribeiro2, Eliane Raimann3, Fabrizzio
Alphonsus Soares2, Alexandre Carvalho Silva1, Ligia Christine Oliveira Sousa1, Lazaro
Fernandes Magalhães1 e Pedro Moises de Sousa1
1 – Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara
2 – Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí
3 – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Campus Jataí

Resumo may be the ideal instrument in this process with visual


and interactive features.
Todo treinador de futebol procura sempre a melhor
estratégia para surpreender o time adversário, ou seja,
um bom sistema tático de jogo visando sempre o
melhor posicionamento do seu time com ações para
surpreender a qualquer instante o adversário, seja 1. Introdução
uma jogada no meio do campo, nas laterais, faltas
ensaiadas ou ate então em cobrança de escanteios. De acordo com Crivelleti [2], pode-se entender que,
Todas essas ações são definidas como o esquema as táticas de futebol consistem em como distribuir os
tático imposto pelo treinador. Diante das várias jogadores no terreno de jogo, para que possam ocupar
características e especificidades e da grande de forma racional todas as partes do campo, elas não
quantidade de formação tática existente, existe uma podem ser modificadas toda hora pelo treinador, mas
dificuldade no repasse destas formações aos atletas. ele deve ter táticas diferentes para utilizar em função de
Esta dificuldade está diretamente relacionada aos cada adversário.
métodos utilizados para este intento. Quadro Negro ou Em 1863, foi oficializado o primeiro sistema tático
Branco, Prancheta são usados e nem sempre que poderia ser definido como hoje um ataque suicida,
propiciam aos atletas entender com a devida clareza porque as equipes entravam em campo com 10
as formações táticas e os possíveis desdobramentos. atacantes e atrás ficava somente um jogador no caso o
Desta forma a Realidade Virtual pode ser o goleiro chamado de vigia, com passar do tempo
instrumento ideal neste processo com características continuavam a preferência pelo ataque, mas já não
visuais e interativas. permanecia somente um jogador atrás com o goleiro e
sim um “beque” (back em inglês), e também um
Abstract homem no meio do campo nascendo assim o 1-1-8.
[10].
Every soccer coach always find the best strategy to Diante das varias características e especificidade das
surprise the opponent team, which is a good tactical grandes quantidades de jogadas táticas existentes, surge
system of play to where the best placement of your time um problema na má interpretação sobre a questão de
with actions at any time to surprise the opponent, is a visualização e no entendimento com o posicionamento
move in the middle of the field, on the side, or until dos jogadores em campo, para criação de jogadas
tested faults then corner kick. All these actions are táticas, nem sempre fica claro o que realmente o
defined as the tactical scheme imposed by the coach. técnico de futebol tenta passar para sua equipe às vezes
Considering the different characteristics and ambos tem visões e interpretações diferentes da mesma
specificities and the large amount of existing tactical formação tática e também diversos posicionamentos
training, there is a difficulty in the transfer of training nos diferentes espaços do campo de futebol.
to athletes. This difficulty is directly related to the Vários estudiosos dos esportes apontam que, o
methods used for this purpose. Black or White Table, atleta, o técnico, o preparador físico e o jornalista e/ou
Clipboard, and are used to not always provide athletes cronista esportivo, entre outros, apresentam
understand with clarity the appropriate training tactics interpretações diferentes para o mesmo objetivo
and possible developments. Thus the Virtual Reality [3],[11].
A evolução tecnológica constatada em diversas Figura 1. Imagem do Ambiente.
áreas permitiu o aparecimento de uma nova tecnologia,
a simulação e com o advento da Realidade Virtual 2.3 Objetos 3D em Sequência
(RV), os simuladores tornaram-se extremamente “Inserção de objetos 3D em seqüência de imagens
convincentes, chegando a se tornar mecanismos reais usando a OpenGL” O trabalho apresenta uma
indispensáveis nos treinamentos de algumas áreas. interação com transmissões esportivas com jogos de
Impulsionada pela indústria do entretenimento, a futebol, onde painéis virtuais de publicidade são
Realidade Virtual possui um grande potencial sobrepostos a imagens reais a todo o momento. Este
tecnológico emergente com o objetivo de propiciar trabalho apresenta uma metodologia que possibilita a
uma percepção da realidade de um modelo real ou interação entre objetos modelados por computador e
fictício, desta forma, RV é uma técnica avançada de uma seqüência de imagens reais. Foi adotado API
interface, onde o usuário pode realizar imersão, OpenGL e suas bibliotecas auxiliares (GLU e GLUT)
navegação e interação em um ambiente sintético juntamente com a linguagem C para o desenvolvimento
tridimensional gerado por computador, utilizando do aplicativo, como mostra a Figura 2 [6].
canais multi-sensoriais [5].
Tendo RV como suporte este trabalho tem como
objetivo a construção de um protótipo para visualizar e
interagir com posicionamentos e formações de sistemas
táticos para futebol de campo.
2. Trabalhos Relacionados

2.1 Critérios da análise Figuras 2. Algumas das utilizações da


Os critérios elaborados para analise dos projeção em perspectiva.
trabalhos relacionados são:
Tecnologia de apoio utilizada. 2.4 Passeio Ciclístico
Ferramenta de modelagem. “Construção de um Sistema Realidade Virtual para
Ambiente de visualização. simular passeio ciclístico” é um projeto para criação de
Tecnologia de interação. um protótipo com dispositivos que interligue o
ambiente virtual com o usuário, gerando e fazendo
2.2 Virtual 3D aquisição de seus estímulos. Utiliza uma bicicleta como
“Virtual 3D: Sistema Multi-Agente de Visualização navegação pelo mundo virtual. A Figura 3 mostra o a
com Controle Inteligente de Câmara”. É um sistema visão do usuário sobre a bicicleta [9].
multi-agente, em que cada câmara é modelada como
um agente inteligente autônomo, com agentes para o
realizador, jogadores e público. Dado as percepções de
posições e velocidades dos jogadores e da bola, os
agentes estão aptos a decidir qual a melhor perspectiva
em cada momento do jogo, enviando a informação para
o agente realizador que é o responsável por escolher a
melhor imagem e a mostrar aos espectadores (Figura 1)
[6].

Figura 3. Ponto de Vista do Usuário

2.5 Análise de Futebol


“Sistema para Analise de Futebol” é um sistema para
fornecer informações relativas a cenas de jogos de
futebol, não exigindo qualquer equipamento especial.
Os recursos proporcionados por Juiz Virtual incluem
medições e construção de cenas tridimensionais (Figura
4) [4].
Ambiente Virtual

Escolha
Movimentação da
Formação

Figura 5. ArquiteturaGUI
do sistema.

4. Funcionamento do Sistema
Figura 4. Ponto dos Posicionamentos No ambiente virtual encontram-se alguns objetos em
indicados pelo usuário. 3D: o campo de futebol e os jogadores. Existe uma
barra de navegação com botões, apesar da
3. Metodologia possibilidade de uma navegação livre via “mouse” e
3.1 Tecnologias de Apoio um painel de opções das formações táticas, como
Vários pesquisadores apontam que novas mostra a Figura 6.
tecnologias têm sido criadas para dar suporte ao
desenvolvimento de aplicações em Realidade Virtual
[8].
Sendo assim, no desenvolvimento desse projeto
foram utilizadas algumas dessas tecnologias para a
construção do protótipo.
3.1.1 OpenGL
OpenGL não é uma linguagem de programação e
sim uma poderosa biblioteca que possibilita a
configuração e o acesso a um determinado hardware. É
necessário hardware e software para implementar a
arquitetura OpenGL. Mais especificamente, a
biblioteca implementa chamadas para o driver do Figura 6. Interface principal
hardware. Por ser uma biblioteca e não uma linguagem A primeira possibilidade de interação com o sistema
de programação, OpenGL é dependente das últimas é o preenchimento do campo com jogadores. São duas
(C/C++, Java e Delphi) para realizar o acesso ao opções: apenas um time ou dois times. A segunda
hardware [7]. possibilidade é a escolha de formações conhecidas (3-
3.1.2 3D Studio Max 4-3, 4-2-4 e outras) (Figura 7).
É um aplicativo de modelagem tridimensional que
aceita converter uma seqüência de símbolos gráficos
num arquivo visual. O aplicativo realiza a criação de
renderizações de alta qualidade, como por exemplo,
transparências, sombreamentos, luzes, etc. [1].
3.2 Diagrama da Arquitetura do Sistema
O propósito deste trabalho é elaborar um ambiente
virtual, onde os usuários possam navegar no ambiente,
visualizar e interagir com posicionamentos e formações
de sistemas táticos para futebol de campo. A Figura 5
representa arquitetura do software, demonstrando a
visão geral das partes que compõe o sistema e da
comunicação envolvida nessas partes. Figura 7. Interface com formação tática
Uma outra possibilidade permitida ao usuário é a
manipulação de qualquer jogador colocando-o em
qualquer posição. Os desdobramentos das jogadas
podem ser gravados ou criados pelo usuário. Por conclusão é que um ambiente em 3D com recursos
exemplo o usuário pode posicionar o time para uma interativos vem de encontro a tendências que já estão
jogada ensaiada e definir o que irá acontecer sendo incorporadas aos esportes.
escolhendo os jogadores e definindo a movimentação a
seguir (Figura 8). 5.1 Trabalhos Futuros
Pretende-se ampliar o protótipo, dando ao usuário
diferentes opções para interagir com o ambientes de
navegação tais como:
Também é de interesse primordial realizar uma
avaliação formal e baseada em normas de avaliações de
softwares, com profissionais da área de educação
física, para que possam avaliar de maneira eficaz a
intenção do software.
Outro ponto importante é a incorporação de técnicas
de IA (Inteligência Artificial) ao time considerado
adversário para reagir naturalmente a jogadas definidas
pelo treinador.

Figura 8. Imagem do ambiente virtual com os


jogadores 6. Referências

Foram criadas duas threads, uma para cada time. [1]. ALMEIDA, Marilane . Desvendando o 3ds Max .São
Desta forma a movimentação pode ser realizada com Paulo: Digerati Bools, 2007.
sincronismo. E, como conseqüência é possível ao [2]. CRIVELLETI, Fabio Cassiano. Organização e Evolução
treinador apresentar o posicionamento, a jogada do Sistema Tático no Futebol. Centro Universitário
resultante e as necessidades para o sucesso da jogada Claretiano. Batatais, 2005. Monografia.
(maior rapidez de um jogador, posicionamento correto, [3]. FRISSELLI E MANTOVANI. Futebol teoria e pratica.
precisão da jogada, jogadas de habilidade pessoal e São Paulo: Phorte, 1999.
outras). Para esta demonstração o ideal é apresentar a
[4]. GATTAS, Marcelo, et. al. Juiz Virtual – Um Sistema
jogada tem apenas uma equipe no campo (Figura 9), e para Análise de Lances de Futebol. TeCGraf –
depois a jogada completa com as duas equipes (Figura Departamento de Informática, PUC - Rio de Janeiro.
8).
[5]. KIRNER, Cláudio; SISCOUTTO, Robson; TORI,
Romero. Fundamentos e tecnologia de Realidade virtual
e aumentada. Belém: VIII Symposiun on Virtual
Reality,2006.
[6]. OLIVEIRA, Eugenio, et. al. Sistema Multi-Agentes de
Visualização com Controle Inteligente de Câmera.
LIACC – Laboratório de Inteligência Artificial e
Ciência de Computadores, Universidade do Porto,
Portugal
[7]. PINHO, Márcio Serolli. Realidade Virtual como
Ferramenta de Informática na Educação.Disponívelem:
< http://grv.inf.pucrs.br/ >. Acesso em: 02, jun. 2007,
17:22.
[8]. RIBEIRO, Marcos Wagner de Souza. Uma arquitetura
para ambientes virtuais distribuídos. 2005. 105f. Tese
Figura 9. Posicionamento tático com uma
(Doutorado em Ciências) Faculdade de Engenharia
equipe Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia, 2005.
[9]. SCALCO, Roberto, et. al. Construção de Um Sistema
5. Conclusões de Realidade Virtual. Centro Universitário do Instituto
A principal conclusão em relação ao protótipo é que de Mauá de Tecnologia – CEUN.IMT. São Caetano do
o mesmo pode substituir plenamente o uso de Sul – SP.
pranchetas, rascunhos e desenhos em quadros. A outra
[10]. SOARES, Fred Lucas. Sistemas Táticos no Futebol. Paulo: XXIX Congresso Brasileiro da Ciência da
Centro Universitário Claretiano. Batatais, 2005. Comunicação – UnB – 6 a 9 Setembro de 2006.
Monografia.
[11]. VENDITE, Caroline Calucio, MORAES, Antonio
Carlos. Sistema, Estratégia e Tática de Jogo: Uma
Analise dos Profissionais que atuam no Futebol. São
Artigo Original
ISSN: 1983-7194

A escolha da tática de jogo no futebol de campo


Soccer game tactic choice

Kaid, JC1; Kaid, DF2; Casarin, CAS3, Arsa, G3

1-Programa de Pós-Graduação Lato Sensu - Universidade Federal de Viçosa (UFV).


2-Universidade de SãoPaulo – USP.
3-Universidade Nove de Julho - UNINOVE.

Resumo

Introdução: Os técnicos possuem entendimento dos aspectos táticos do futebol, baseados em fatores diversos que
permeiam o jogo, com divergências típicas de suas crenças, não muito bem definidos, causando discussões relevantes,
direcionando para a necessidade de melhores esclarecimentos desses aspectos.
Objetivo: O presente estudo objetivou verificar os fatores influentes para técnicos na escolha do sistema tático da sua
equipe.
Métodos: Técnicos do Curso Internacional de Treinadores participaram do estudo (97 Brasileiros e 10 Estrangeiros), do
sexo masculino, havendo 21 profissionais de futebol, 59 amadores e 27 que não trabalham na área, (média de idade de
35,7±6,6 anos), sendo 56% graduados e 44% sem nível superior. Um questionário contendo três perguntas abertas e
quatro fechadas foram aplicadas e o qui quadrado (χ²) foi empregado, sendo Ho=0 e Ha # 0, com nível de significância de
p≤0,05.
Resultados: Dos fatores influenciadores indicados, apenas “A mudança do sistema de tático em função do resultado” foi
significativo. Com 54,8% dos participantes escolhendo a opção Sempre, enquanto que os demais optaram por As Vezes
(28,8%), Quase Sempre (0%) e Nunca (16,3%). Os demais fatores não apresentarem números significativos (p≥0,05).
Conclusão: Os fatores influentes para técnicos na escolha do sistema de jogo são o resultado de um jogo ou competição.
Palavras-Chave: Futebol, sistema, tática, jogo.

Correspondência:
José Carlos Kaid
Rua Prefeito José de Melo Franco, 136, Jardim Universo
Mogi das Cruzes – SP
CEP 08773-300.
Email: j.kaid@ig.com.br

48 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original
Abstract

Introduction: The technicians have understanding of the tactical aspects of football, based on several factors that
permeate the game, with typical differences of their beliefs, not very well defined, causing significant discussions, pointing
to the need for better clarification of these aspects.
Objective: To identify factors influential to the technical choice of the game system of his team.
Methods: Representatives from the International Coaching Course in the study (97 Brazilians and 10 foreign) male, with
21 professional football clubs, 59 amateur and 27 who do not work in the area, (average age 35.7 ± 6 , 6 years), 56% and
44% graduates without higher level. A questionnaire containing three open questions and closed four was applied and the
chi-square (χ ²) was used, and Ho and Ha = 0 # 0, with a significance level of p ≤ 0.05.
Results: Of influencing factors listed, only "The tactical system changes depending on the outcome "was significant. With
54.8% of respondents choosing always, while others opted for The Times (28.8%), Almost Always (0%) and never (16.3%).
Other factors the numbers do not show significant (p ≥ 0.05).
Conclusion: Technical factors influencing the choice to the gaming system is the result of a game or competition.
Key words: Soccer, system, tactic, game.

Introdução durante o jogo, evoluindo assim para os sistemas "4-4-2"


Sistema de jogo é considerado, segundo Mello e "3-5-2", presentes no atual futebol mundial [8].
[1]
(1999) , a maneira de distribuição dos jogadores no O termo, “tática” pode ser definido como a arte
campo ou na quadra. No futebol, os autores utilizam o de uma equipe dispor de estratégias e técnicas para
termo sistema de jogo dividido e descrito com números, eliminar as deficiências, diminuir o índice de lesões e
[2]
partindo do sistema de defesa, meio campo e ataque . principalmente explorar a fragilidade do adversário
Em meados de 1863, o futebol apresentou dentro de um sistema de jogo [2,9].
sistemas de jogo determinados como 1-1-9 e 1-1-2-7 e Segundo Batipsta (1998)
[10]
, o futebol possui
sem goleiro, evoluindo para um sistema denominado variações resultantes das ações pessoais e solidárias
“Quatro Defesas”, com um goleiro, dois zagueiros, dois dos atletas, formando um conjunto de princípios, que
[3,4]
meios de campo e seis atacantes . A partir deste torna a escolha da tática, um fator importante para
sistema ocorreram algumas pequenas variações até o surpreender os adversários, estruturando dessa forma, o
surgimento da lei do impedimento, quando surge o modelo de jogo [4,11].
[5]
sistema “W” e com mais sucesso o “W-M” . No Brasil, Embora existam diferenças físicas, deve-se
foi adotado o sistema diagonal chamado “Quadrado valorizar o conjunto, procurando adequar o individual ao
Mágico”, com inúmeras variáveis que tornaram o futebol coletivo [5, 12]
, a utilização prática das funções defensivas
[6]
mais ofensivo e defensivo . e ofensivas envolvem situações de completo
Em 1932, surge o "Ferrolho" (4-2-4), na Suíça, desequilíbrio, podendo ocasionar variações individuais
que permaneceu por 30 anos. Depois, na Itália, adota-se ou conjunturais, que podem ser equilibradas por meio de
o "Catenaccio" (4-3-3), que facilitou a distribuição e ajustes definidores da tática.
movimentação dos jogadores, assim como a valorização A técnica dos fundamentos do futebol é uma
[7]
do treinador . Esses sistemas foram sofrendo especificidade que, quando aprimorada visa proporcionar
influências táticas, que tinham como intuito, anular eficiência e o mínimo de esforço na busca do objetivo do
funcionalmente os atacantes da equipe adversária jogo, tornando-se o agente que pode influenciar o
[13]
desenvolvimento dos desenhos táticos . Da mesma
49 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55
Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original
forma, as principais valências fisiológicas, resistência, uma equipe, tornando necessário ampliar o
velocidade, força, agilidade e capacidade conhecimento dos fatores influenciadores para a escolha
cardiorrespiratória, devem ser treinadas de acordo com do modelo tático [17].
as diferentes posições e funções exercidas pelos
jogadores na equipe, buscando o desenvolvimento Objetivo
técnico, e conseqüentemente pode-se obter melhora do O presente estudo tem como objetivo verificar os

desempenho tático dos atletas nos treinamentos e fatores que influenciam um treinador na escolha do

competições
[14]
. sistema de jogo utilizado nos treinamentos e

Weinberg e Gould (2001) [13]


, sugeriram competições de uma equipe de futebol profissional.

complementar o treinamento no futebol com a introdução


de um especialista em psicologia esportiva, por ser Métodos
considerado um “técnico mental”. Pois a atuação do
Amostra
atleta dentro de um esquema tático não exige apenas Participaram deste estudo, 107 treinadores e
condicionamento físico, mas também a capacidade de investigadores, alunos do curso Internacional do
raciocínio rápido, pois a exigência cognitiva e a Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado de
velocidade de raciocínio se tornam bastante complexas São Paulo (Sitrepfesp), com idade média de 35,7±6,6,
comparadas as exigências físicas. De acordo com Fleury sendo 97 brasileiros e 10 estrangeiros, com seus perfis
[15] [16]
(1998) e Ribeiro (2002) , os pensamentos exercem profissionais apresentados na tabela 1. Os voluntários
influencia direta sobre a capacidade de reação fisiológica foram convidados a participar do presente estudo, com o
do corpo a estímulos dentro de um esquema tático, com consenso do termo de esclarecimento desta pesquisa,
isso é possível compreender que a mente comanda, que destacava a permissão para publicação dos
coordena e o corpo acompanha. resultados, com o compromisso de preservar a
Dessa forma, o futebol caracteriza-se por identidade dos participantes, não oferecendo riscos, com
apresentar exigências que abrangem o desempenho o benefício de obterem acesso aos resultados como
físico, técnico, tático e psicológico, uma vez que a tática suporte profissional.
é considerada o aspecto essencial para o sucesso de

Nacionalidade Escolaridade Atuação

Bra Estr Me Esp SupC SupIn SFS Prof Am NA

97 10 1 12 40 07 47 21 59 27

Tabela 1. Perfil profissional dos participantes do presente estudo (N = 107)


Abreviações: Bra: brasileiro; Estr: estrangeiro; Me: Mestre; SupC: superior completo; SupIn: superior incompleto; SFS: sem formação
superior; Prof: profissionais; Am: amadores; NA: não atuantes.

50 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original
Coleta de Dados Resultados
Para a coleta dos dados foi utilizado um De acordo com os dados estatísticos obtidos,
questionário elaborado junto a profissionais da futebol apenas o fator, mudança do sistema tático em função do
com base na literatura associado aos objetivos deste resultado apresentou números significativos com χ2. O n.
trabalho, devido a dificuldade de encontrar um sig. = 0,05 e n g l = 2 sendo o χ c² = 5,99 e χ o² = 23,09.
questionário específico validado para avaliação de Nesta análise os participantes demonstraram alterar o
sistemas táticos no futebol. O questionário aplicado foi esquema tático frente ao resultado do jogo, de acordo
composto com três perguntas abertas: Quais aspectos com as variáveis Sempre (F=59; 54,8%), Às Vezes
decidem um sistema de jogo?; Qual método justifica o (F=31; 28,8%) e Nunca (F=17; 16,3%), não havendo
jogo ofensivo ou defensivo?; Definições ofensivas ou freqüência para a alternativa Quase Sempre (0%) como
defensivas são adotadas em real situação do jogo?. mostra a Figura 1. É admissível assegurar que foi
Quatro perguntas fechadas complementaram o rejeitada a hipótese nula, com Sempre se destacando
questionário, sendo elas: (1) Os pontos ajudam a definir significantemente em relação às demais.
o sistema de jogo?; (2). Qual treinamento é utilizado para Os demais fatores avaliados não apresentaram
determinar a maneira de jogar, o técnico ou o tático?; (3). diferenças estatisticamente significativas (p≥0,05).
O sistema de jogo é alterado de acordo com a Entretanto, mesmo não significativo, após análise
competição?; (4). O resultado pode promover mudança subjetiva do fator “aspectos que definem o sistema de
do sistema tático?. As alternativas disponíveis para jogo” (Tabela 2), foi possível observar que os números
essas questões foram: Sempre; As Vezes; Quase apresentaram o princípio Tático como o aspecto que
Sempre; Nunca. mais influi na definição de um sistema de jogo com
Antes da aplicação do mesmo, sua confiabilidade 21,7% dos apontamentos, seguido dos aspectos Técnica
foi testada em uma amostra de dez indivíduos (18,9%), Psicológica (16,4%) e Física (14,6%); outros
independente da amostra, para verificar a clareza de indicativos perpetuam entre as variáveis, como Campo
compreensão das questões pelos indivíduos e para (9,3%), Local (7,3%) e, por fim, Classificação na Tabela
treinamento do aplicador para evitar variáveis na (6,3%). No demonstrativo acima a freqüência foi maior
aplicação do questionário que pudessem comprometer devido os participantes terem optado por mais de uma
os resultados da presente pesquisa. variável.
Condição semelhante observada no fator
“Treinamento técnico e tático para definir a maneira de
Análise Estatística
A análise qualitativa dos dados foi realizada jogar”, apesar dos números não significativos (p≥0,05),
empregando-se estatística descritiva (média e desvio pela análise qualitativa foi observado que as médias
padrão). Para se garantir a validade dos resultados da apontam a variável Sempre teve F=75 correspondendo a
pesquisa foi utilizado o teste χ², tendo como base a 70,1%, seguido da variável Quase Sempre teve F=21
freqüência (F) e as porcentagens (%), das respostas correspondendo a 19,6% seguida de Às Vezes teve
observadas, trabalhando sempre com o nível de F=10 correspondendo a 9,3%; a variável Nunca teve F=1
significância de p≤0,05. correspondendo 1% não apresentou indicativo,
descartando a hipótese nula (Figura 2).

51 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original

*A alternativa “Quase Sempre” foi retirada da figura por não apresentar freqüência (F)
Figura 1. Mudança do sistema tático em função do resultado

Variável F %

Psicologia 65 16,4

Campo 37 9,3

Técnico 75 18,9

Local 29 7,3

Tático 86 21,7

Financeiro 21 5,3

Classificação na Tabela 25 6,3

Físico 58 14,6

Total 396 100,0


*Cálculo Impossível
Tabela 2. Fatores que ajudaram a definir o sistema de jogo

52 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original

Figura 2. Treinamento técnico e tático define a maneira de jogar

Discussão Com isso podemos entender que a análise dos


O futebol, atualmente, atinge índices de destaque dados indicou que o resultado, seja de um jogo ou uma
no quesito evolução, comparado aos demais esportes, competição, pode alterar o esquema tático de uma
exigindo um alto nível de desempenho das equipes e equipe, da mesma forma, a tática pode alterar um
dos atletas, o que torna abrangente a necessidade de resultado. Com tudo, pode-se observar que o objetivo do
estudos a respeito desta modalidade como jogo, ou seja, o resultado positivo pode ser influenciado
conseqüência natural. Apesar de muitos ainda pela tática adversária, que pode ser corrompido,
considerarem o futebol como natureza do brasileiro e um tornando-se um resultado negativo .
[2]

esporte de sorte, os métodos conservadores vem O futebol é considerado resultado, segundo


cedendo lugar para os métodos e resultados científicos Fleury (1998)
[15]
, pois tudo o que envolve este esporte
[17]
que comprovam esse desenvolvimento . está associado a esse ponto de referência, que é o
O gol marcado, objetivo principal do jogo, na objetivo desse esporte. Tornando a tática como o
maior parte dos casos ocorre pela ruptura induzida no principal fator para se obter as vitórias e conquistas por
estado de equilíbrio do sistema tático defensivo e meio do gol.
ofensivo. Tais pontos de rupturas devem ser apontados, Mesmo subjetivo, o ponto avaliado: “quais
treinados e corrigidos para se garantir o resultado aspectos podem influenciar na escolha do sistema de
positivo, para isso os jogadores e a equipe devem ser jogo”, apresentou ser influenciado diretamente pelo fator
determinantes e garantir o cumprimento dos princípios Tática com freqüência de 21,7%, seguido pelos fatores
para atingir seus objetivos. A partir deste entendimento, votados com maior proximidade, Técnica (18,9%),
o futebol pode ser considerado um esporte de Psicológico (16,4%) e Físico (14,6%). Isso determina que
complexidade, hierarquizado e especializado, fortemente para compreender e elaborar um esquema de jogo, a
[14]
dominado pelas competências táticas e técnicas .

53 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original
tática deve ser dominada, e para isso devem-se levar em Observações que são embasadas de acordo com o
[4] [20]
consideração os aspectos motores, afetivos e cognitivos estudo de Elidio (2002) e Drubscky (2003) , que
dos atletas, fundamentais para estruturar uma equipe e, relataram que a tática determina as ações e as
por conseguinte obter sucesso na busca do objetivo. características de uma equipe em campo, tendo
Resultado que corrobora com o estudo realizado por fundamental importância para surpreender o adversário
[17]
Cunha et al. (2001) que relata que para ser elaborar As competências táticas quando fundamentadas
uma tática deve-se dominar fatores físicos, psicológicos contribuem para organização e desempenho do futebol.
e ambientais. Esse tipo de estudo constitui um importante auxílio para
Com isso, as capacidades técnicas de cada os profissionais de educação física e treinadores para a
atleta associada a treinamentos individualizados são aplicabilidade e vivências neste esporte [11].
fatores fundamentais para a escolha do sistema de jogo Dessa maneira, para técnicos e investigadores
e também do esquema tático, dessa forma, ao planejar os fatores influentes na escolha da tática de sua equipe
treinamentos táticos, torna-se possível desenvolver são, o treinamento técnico, físico e psicolólogico que
adaptações funcionais a prática do futebol, dependendo submetem. Porém, sabendo da ação tática do
[18]
de cada atleta . O que sustenta a análise qualitativa adversário, possivelmente ocorrerão mudanças e
realizada neste estudo sobre se o treinamento técnico e adptações na maneira de jogar, talvez por conta das
tático poderia definir a maneira de jogar, mesmo com cobranças provenientes de fatores extra-campo e extra-
números não significativos, a alternativa Sempre (70,1%) jogo.
apresenta-se de forma exacerbante, destacando a Nota-se que a necessidade do resultado sobre os
atenção a ser dada a esses fatores no desenvolvimento treinadores, mostra-se o jogo, será ofensivo e/ou
e evolução de uma equipe de futebol competitiva. defensivo, deixando uma aresta para especulações,
[19]
Chelles e Machado (2000) , afirmam ainda que quando o jogo ocorrerá no campo do adversário ou em
o fator técnico e tático entra em destaque quando os seu próprio campo. Todos os aspectos que estruturam
técnicos e investigadores confirmam que o treinamento uma equipe, um sistema de jogo e um campeonato
sempre define a maneira de jogar, ou seja, os devem ser estudados para possibilitar o treinador a
treinamentos sistematizados, com ênfase aos aspectos escolher um esquema tático.
técnicos e táticos, determina o sistema de jogo. Futuras pesquisas deverão ser realizadas para
O mesmo ocorreu com os demais pontos complementar o presente estudo que apresentou certas
avaliados que não apresentaram significância, mas limitações devido à maior parte de seus resultados não
qualitativamente, apresentaram o esquema tático como o apresentarem significância, não sendo possível realizar
fator primordial selecionado, de maior importância para uma concretização de forma adequada.
se alterar um sistema de jogo dependendo da
competição que irá participar, da mesma forma, tornou- Conclusão
De acordo com os resultados do presente estudo
se o meio que justifica qual o tipo de jogo, ofensivo ou
foi possível concluir que o resultado de um jogo ou
defensivo que pode ser adotado, dependendo da real
competição tem influência direta sobre a escolha de um
situação de jogo e da colocação gera no campeonato.
sistema tático de uma equipe de futebol.

54 Rev Bras Futebol 2010 Jul-Dez; 03(2): 48-55


Kaid et. al.
A escolha da tática de jogo no futebol de campo
Artigo Original
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ARTIGOS ORIGINAIS SAÚDE

ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DOS ESQUEMAS TÁTICOS


DO FUTEBOL BRASILEIRO
ANALYSIS OF THE EVOLUTION OF THE TACTICAL PROJECTS OF THE BRAZILIAN
SOCCER
Raphael Augusto Silva Gonçalves Rocha
Bacharel e licenciado em Educação Física, pela Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU.

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar a evolução dos esquemas táticos do futebol brasileiro. Para este
estudo, foram entrevistados 15 torcedores, dez profissionais do futebol e cinco jornalistas, que responderam
a um questionário semiaberto, elaborado especificamente para a presente pesquisa, composto por 17 questões
dissertativas e de múltipla escolha. Os resultados obtidos foram analisados através de frequência e porcenta-
gem, e os resultados mais interessantes obtidos referiram-se à preferência de esquemas táticos, sendo que os
esquemas táticos preferidos pelos torcedores foram o 4X4X2 e o 3X5X2, ambos com 40% das respostas; entre
os profissionais do futebol, a preferência verificou-se pelo esquema 4X4X2, com 40%, seguido pelo esquema
3X5X2 e o 4X5X1, com 30% das respostas; já entre os jornalistas, a preferência deu-se pelo esquema 4X4X2, com
60% das respostas. Outra resposta interessante foi observada sobre a eficácia de um bom esquema tático na
obtenção da vitória, sendo que todos os entrevistados disseram que um bom esquema tático pode vencer um
jogo, em virtude de anular as principais jogadas do adversário e dar vantagem à sua equipe durante a partida. A
conclusão do estudo foi que houve evolução dos esquemas táticos no futebol brasileiro, muito em virtude da
evolução das condições físicas dos atletas e dos estudos sobre os esquemas táticos que vêm crescendo em
importância entre os treinadores nos últimos anos.
Palavras-chave: esquemas táticos, evolução dos esquemas táticos, futebol brasileiro.

ABSTRACT

This work had as objective to analyze the evolution of the tactical projects of the Brazilian soccer. For this
study 15 rooters, 10 soccer professionals and 5 journalists were interviewed, who answered specifically to an
elaborated semi-open questionnaire for this study, made up of 17 essay questions and multiple choice. The
gotten results were analyzed through frequency and percentage and the most interesting results were obtained
on the preference of tactical projects, where the preferred tactical project of the rooters was the 4x4x2 and
the 3x5x2, both with 40% of the answers, among the soccer professionals the preference is for project 4x4x2
with 40% followed by project 3x5x2 and the 4x5x1 with 30% of the answers and among the journalists the
preference is for project 4x4x2 with 60% of the answers, another interesting reply was observed on the
effectiveness of a good tactical project in the attainment of the victory, being that all the interviewed ones said
that a good tactical project can win a game, in virtue of annulling the main plays of the adversary and giving
advantage to his team in the game. The study concluded that there was evolution of the tactical projects in the
Brazilian soccer, much in virtue of the evolution of the physical conditions of the athletes and of the studies on
the tactical projects that have been growing in importance among the trainers in recent years.
Keywords: tactical projects, evolution of the tactical projects, brazilian soccer.

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RBCS ARTIGOS ORIGINAIS

1. INTRODUÇÃO como citado por Prado & Benetti (2005). Conforme


afirmaram Vendite & Morais (2004), muitas das evolu-
O futebol é um esporte praticado por milhões e
ções táticas que ocorreram no futebol se devem as
milhões de pessoas ao redor do mundo, e está pre-
mudanças que ocorreram nas regras do jogo. A
sente no cotidiano da grande maioria das pessoas. Ri-
principal dessas mudanças, que influenciou na evolução
beiro (2004) afirmou que o futebol só pode ser abor-
dos esquemas táticos, foi a regra do impedimento que,
dado em toda a sua complexidade se ele for entendido
até 1925, dizia que, para dar condição de jogo ao ata-
como um fenômeno histórico e socialmente produzi-
cante, eram exigidos pelo menos três defensores mais
do, tendo em vista que a tática e o condicionamento
próximos da linha de fundo. Com a modificação, a exi-
físico são aspectos igualmente produzidos. A paixão
gência passou a apenas dois defensores mais próximos
que envolve o futebol faz com que os torcedores se
à linha de fundo, de modo que as equipes foram obri-
apaixonem loucamente pelos seus times, acompanhan-
gadas a reforçar a defesa e passaram a ser utilizados
do-os nos estádios, treinos e jogos, e criando torcidas
três zagueiros, um sistema que é muito utilizado pela
organizadas para seus ídolos.
maioria das equipes em todo o mundo nos dias de
A tática, de acordo com Ferreira, Paoli & Costa hoje. Em decorrência dessa alteração da regra do im-
(2008), pode ser entendida como um resultado das pedimento, Herbert Champman, o treinador do Ar-
ações individuais e coletivas dos atletas de uma equipe, senal, um dos principais clubes da Inglaterra, criou o
a qual está organizada de uma forma racional e siste- sistema WM, que durou cerca de 30 anos como o
mática, levando em consideração, por um lado, às ca- principal esquema de jogo no mundo todo; segundo
racterísticas dos atletas e, por outro, as qualidades dos ele, os jogadores eram distribuídos em três zagueiros,
jogadores adversários. Os sistemas de jogo definem dois médios e cinco atacantes.
as posições em que os jogadores se encontram dentro
Ao longo do tempo, em especial a cada quatro anos,
de campo, podendo variar de acordo com o jogo, as
quando ocorre uma Copa do Mundo, surge um sistema
condições do gramado e o clima ou o tempo.
diferenciado que, geralmente, a equipe campeã utiliza e
De acordo com Thomaz & Paoli (2007), o compo- que influenciam os sistemas no mundo inteiro. Exem-
nente tático representa apenas uma parte do jogo de plos disso são inúmeros: assim foi com os brasileiros,
futebol, e todas as ações que são executadas pelas que venceram a Copa do Mundo de 1958, na Suécia,
equipes são consideradas táticas. A tática ou sistema com o sistema 4X2X4 e, depois, com o bicampeonato
de jogo vem sofrendo alterações e evoluindo ao longo em 1962, no Chile, com o sistema 4X3X3 – e esse siste-
dos anos. Desde os primeiros registros da tática no ma deixou suas marcas até hoje em grandes clubes do
futebol, em 1529, na cidade de Florença, na Itália, quando mundo todo. Em 1986, no México, a Argentina foi cam-
havia 27 jogadores para cada time, sendo que jogavam peã utilizando o 3X5X2, talvez o sistema de jogo mais
15 na defesa, cinco no meio-campo e sete no ataque, já utilizado nos dias atuais. A evolução do esporte se
se caracterizava um sistema de jogo, de acordo com caracteriza por uma alta exigência física, tática e
Vendite & Morais (2004). Prado & Bentetti (2005) psicológica, além dos aspectos técnicos.
citaram que essa evolução aponta para que os futuros
Como afirmaram Cunha, Binotto & Barros (2001),
profissionais se preocupem mais com o treino espe-
os aspectos táticos vêm sendo um fator decisivo nos
cífico destinado ao jogador profissional de acordo com
resultados finais dos jogos, por isso há a grande neces-
a sua função em campo, pois cada jogador tem uma
sidade de constante movimentação com ou sem a bola
função específica para realizar no jogo. No entanto, com
por parte dos jogadores. Tal constatação fez com que
a evolução tática, técnica e física dos atletas, torna-se
a preparação tática se tornasse vital para os jogadores,
necessário realizar duas ou mais funções dentro do
assim como a preparação física, e a prova maior disso
jogo. O maior exemplo disso foi a seleção da Holanda
são os inúmeros sistemas de jogo que surgiram com a
na Copa do Mundo de 1974, realizada na Alemanha,
evolução do esporte.
quando ela implantou um sistema de jogo que encantou
o mundo, apesar de não ter conseguido o título, que A crescente importância dedicada aos estudos dos
ficou conhecido como o “carrossel holandês”, de acor- sistemas de jogo no futebol tem levado os profissionais
do com o qual os jogadores não guardavam um posicio- envolvidos a obter informações e a se interessar em
namento fixo e se movimentavam constantemente analisar a variabilidade desses sistemas e medidas. O
com ou sem a bola, confundindo a defesa adversária, software criado para analisar e obter essas informações

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ARTIGOS ORIGINAIS SAÚDE

durante o jogo chama-se scout. De acordo com Cunha, capital dos aspectos estratégicos e táticos, em que a
Binotto & Barros (2001), ele simula um campo de jogo tomada de decisão precede a execução. Sem conhecer
onde são marcados os pontos estimados, em que os a essência do jogo e de seus princípios táticos, não se
jogadores se encontram posicionados quando estão podem aproveitar na plenitude os recursos técnicos.
de posse de bola, executando qualquer movimento. Ao jogador é exigido que decida e exteriorize o seu
Esses sistemas especialistas probabilísticos para defini- raciocínio mental ou decisão cognitiva. De todas as
ção de esquemas táticos, como citado por Bogo e col. atividades esportivas, é no jogo coletivo que a tática
(2005), têm como função resolver problemas de natu- adquire o seu mais alto nível de pressão.
reza incerta. As contribuições recebidas pelo esporte
em razão do avanço da tecnologia e dos treinamentos
têm sido de grande importância para o sucesso dos 2. METODOLOGIA
atletas nas modalidades coletivas, como o futebol. Foram objeto de estudo dez profissionais do fute-
Como, atualmente, as equipes estão se equivalendo bol, entre jogadores e comissão técnica, cinco jorna-
nos planos físico e técnico, a tática vem sendo um fator listas e 15 indivíduos que acompanham futebol, porém
de desequilíbrio para serem alcançadas as vitórias nas não atuam como profissionais desta modalidade espor-
partidas. Com isso, cresce a importância de se estudar tiva, todos do sexo masculino, maiores de 18 anos e de
a tática, tanto da própria equipe quanto da equipe classe média-alta. A coleta dos dados foi feita nos clubes
adversária. Aí é que entra a função do scout, que auxilia Associação Portuguesa de Desportos e Sport Clube
os treinadores a variar a sua tática no jogo. Ferreira, Corinthians Paulista, e na Rádio Terra. As entrevistas
Paoli & Costa (2008) afirmaram que, em decorrência para o estudo foram realizadas por meio de um questio-
de a tática ser um componente de alta complexidade, nário semiaberto, elaborado especificamente para a pre-
por fatores relevantes ao jogo, ela deve ser estudada sente pesquisa, com o objetivo geral de analisar se houve
nos aspectos das táticas individuais, coletivas e em grupo. ou não evolução nos esquemas táticos do futebol bra-
É possível analisar uma partida anotando as informações sileiro. No total, foram 17 questões, sendo seis perguntas
na planilha do scout tático, que retrata o que ocorreu de múltipla escolha e 11 dissertativas. As perguntas de
com a equipe analisada no decorrer do jogo. Através múltipla escolha tiveram como objetivo definir os me-
desses resultados, pode-se entender como é importante lhores esquemas táticos utilizados, verificar a evolução
a tática dentro de uma partida de futebol e também se ou não dos mesmos, sua organização, se são mais
conhecer a tática do adversário para elaborar um ofensivos ou defensivos, e confrontar o futebol atual e
esquema que faça a própria equipe conseguir uma certa o de antigamente, enquanto as questões dissertativas
vantagem. Muitos são os fatores que levam à escolha de objetivaram verificar o entendimento dos entrevistados
um determinado esquema tático, dentre eles podem sobre esquema tático e sobre a importância do mesmo.
ser citados o tamanho do campo, a condição do gramado, Houve também questões informativas, que incluíam da-
a necessidade do resultado, a condição física dos atletas dos pessoais, como nome e profissão. A aplicação da
e as características de jogo de seus jogadores, dentre entrevista foi realizada através do questionário respon-
outros. Com isso, o treinador pode colocar o time em dido graficamente pelos próprios entrevistados diante
campo mais ofensivo ou mais defensivo. da presença do pesquisador, depois de preenchido o
termo de consentimento. A análise dos dados foi feita
Apesar de ser muito difícil definir com precisão as por meio de frequência e porcentagem do questionário
variáveis mais importantes para estudar e conhecer respondido e interpretação das respostas dadas.
as razões conducentes ao sucesso, as ciências do des-
porto, em suas investigações, têm apontado o desen-
3. RESULTADOS
volvimento das habilidades perceptivas e cognitivas
como um dos fundamentos e requisitos essenciais para A preferência dos esquemas táticos ficou bem
a excelência da performance desportiva. Como citaram distribuída entre o 4X4X2, que teve 43,3%, e o 3X5X2,
Costa e col. (2002), os jogos coletivos, como o futebol, que apresentou o índice de 33,4%. Entre os torcedores,
caracterizam-se pela aciclicidade técnica, por solicita- 40% deles relataram que o melhor esquema tático é o
ções morfológico-funcionais diversas e intensa ativi- 3X5X2; outros 40% declararam preferir o 4X4X2. Em
dade psíquica, num contexto permanentemente variá- relação aos profissionais que atuam no futebol, os nú-
vel, de cooperação-oposição, com uma importância meros mostraram a preferência pelo 4X4X2, com 40%

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RBCS ARTIGOS ORIGINAIS

das respostas; quanto aos jornalistas, 60% optaram pelo hoje; 63,4% afirmaram achar que os esquemas táticos
4X4X2. Já os esquemas táticos evoluíram para 76,6% atuais são mais defensivos; 23,3% indicaram que são
dos entrevistados (Tabela 1). mais ofensivos; e 13,3% consideraram que eles se man-
tiveram iguais.
Já a Tabela 2 mostra a análise dos esquemas táticos
quanto à sua organização e ofensividade. Pode-se obser- Na comparação entre o futebol de antigamente e
var que 73,4% dos pesquisados responderam que os o atual (Tabela 3), as respostas encontradas eviden-
esquemas táticos são mais organizados nos dias de ciaram empate em relação aos torcedores, sendo que

Tabela 1: Análise dos esquemas táticos avaliados por profissionais do futebol, jornalistas e torcedores comuns
Torcedores Profissionais Jornalistas Geral
F % F % F % F %
Melhor esquema
4–3–3 3 200 – – 1 20 04 13,3
4–4–2 6 400 4 40 3 60 13 43,3
4–5–1 – – 3 30 – – 03 10 0
3–5–2 6 400 3 30 1 20 10 33,4
Esquemas táticos
Evoluíram 120 800 8 80 3 60 23 76,6
Regrediram 1 06,6 1 10 – – 02 06,8
Continuam iguais 2 13,4 1 10 2 40 05 16,6

Tabela 2: Análise dos esquemas táticos atuais do futebol brasileiro


Torcedores Profissionais Jornalistas Geral
F % F % F % F %
Esquemas são mais
Organizados 11 73,4 8 80 3 60 22 73,4
Desorganizados 02 13,3 – – 1 20 03 100
Continuam iguais 02 13,3 2 20 1 20 05 16,6
Esquemas são mais
Ofensivos 04 26,6 2 20 1 20 07 23,3
Defensivos 10 66,6 6 60 3 60 19 63,4
Continuam iguais 01 06,8 2 20 1 20 04 13,3

Tabela 3: Análise do futebol antigo e atual, avaliado por profissionais do futebol, jornalistas e torcedores comuns
Torcedores Profissionais Jornalistas Geral
F % F % F % F %
Futebol antigo
Mais desorganizado 1 06,8 2 20 – – 03 10 0
Mais bonito 7 46,6 8 80 4 80 19 63,4
Mais fácil 7 46,6 – – 1 20 08 26,6
Futebol atual
Mais organizado 5 33,3 4 40 – – 9 300
Mais feio 2 13,4 – – 3 60 5 16,6
Mais difícil 8 53,3 6 60 2 40 16 53,4

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 8, nº 26, out/dez 2010
ARTIGOS ORIGINAIS SAÚDE

46,6% consideraram o futebol antigo mais bonito e o sem a necessidade de substituir algum atleta, dando
mesmo percentual avaliou mais fácil. Apenas 6,8% dos mais dinamismo ao seu time.
entrevistados julgaram que era mais desorganizado; já
Os resultados encontrados em relação à organiza-
o futebol atual, para eles, está mais difícil, com 53,3%;
ção dos esquemas táticos mostram que eles estão mais
33,3% consideraram que está mais organizado e 13,4%
organizados que no passado, muito em decorrência
acharam que está mais feio. Para os profissionais, o
do aumento considerável de estudos sobre os esque-
futebol antigo era mais bonito, com 80%, e o futebol
mas, proporcionando um maior conhecimento dos
atual está mais difícil, com 60%. Os jornalistas avaliaram,
adversários e dando mais opções para os treinadores
com 63,4%, que o futebol antigo era mais bonito e o
escolherem um determinado esquema que facilite as
futebol atual, mais difícil, com 53,4%.
ações de sua equipe e anule o adversário. Todavia, nos
Quanto à eficiência do aspecto tático, 100% dos dias de hoje, está muito mais fácil conseguir informa-
entrevistados consideraram que um bom esquema táti- ções sobre os adversários através de vídeos das parti-
co pode vencer uma partida. das, que estão ao fácil alcance das pessoas, além da
globalização do futebol, que permite aos treinadores
poderem observar o futebol em todas as partes do
4. DISCUSSÃO
mundo com extrema rapidez, de modo a se manterem
A preferência sobre os esquemas táticos ficou dis- atualizados e promoverem as adaptações necessárias
tribuída entre o 4X4X2 e o 3X5X2, o que mostra uma para o sucesso do esquema escolhido.
preferência por esquemas que mantenham a equipe
Os esquemas táticos atuais foram considerados
mais equilibrada, com um maior número de jogadores
mais defensivos por 63,4% dos entrevistados, o que
no meio-campo, deixando o time mais compacto em
mostra que a competitividade do jogo aumentou muito
suas linhas de jogo, tanto nas ações ofensivas quanto
e, com isso, o número de gols diminuiu nas partidas.
nas defensivas. A razão disso é que a grande parte do
Sendo assim, os treinadores estão dando mais valor a
jogo se concentra no meio de campo e, assim, conse-
não tomar gols do que a fazer, montando seus times
guir dominar esta região do campo pode significar ob-
de forma mais defensiva a fim de congestionar mais a
ter o controle da peleja e, por consequência, ficar mais
região da sua defesa.Assim, é possível ter mais espaços
perto da vitória nas partidas.
para contra-atacar o adversário, explorando muito a
Os números gerais mostram uma leve diferença velocidade dos jogadores, em virtude da evolução na
para o 4X4X2 nas preferências, com 43,3%, contra os preparação física dos mesmos, que os permite correr
33,4% que optaram pelo 3X5X2, já que esse esquema muito durante a partida.
privilegia um pouco mais o ataque, com a equipe atuando
com dois homens exercendo funções mais avançadas. O estabelecimento de diferenças entre o futebol
Quanto à questão da evolução dos esquemas táticos, antigo e o atual ficou claro nas respostas de todos os
ficou evidente que eles evoluíram com o decorrer dos entrevistados, sendo possível verificar que as opiniões
anos, uma vez que tudo relacionado ao futebol evoluiu, de profissionais, jornalistas e torcedores se equivale-
a preparação física, preparação técnica e tática, o pro- ram ao relatar que o futebol de antigamente era mais
fissionalismo que envolve o futebol além, é claro, dos bonito que o futebol contemporâneo, o que pode ser
investimentos feitos no esporte. Com isso, pode-se observado pelos placares dos jogos, que eram muito
aprimorar a parte tática, já que os esquemas táticos mais elásticos do que os atuais, o que pode ser explica-
evoluíram devido à evolução dos jogadores que reali- do pela evolução dos esquemas táticos que antes da-
zam duas ou mais funções em campo, como afirmaram vam muito valor ao ataque e hoje se preocupam mais
Prado & Bentetti (2005). Essa evolução aponta para com o equilíbrio da equipe como um todo.
que os futuros profissionais se preocupem mais com Já o futebol atual foi considerado por todos como
o treino específico, direcionado ao jogador profissional um futebol mais difícil, tendo em vista que os times
de acordo com a sua função em campo, até porque estão se equiparando em muitos quesitos, inclusive na
cada jogador tem uma função específica para realizar sua formação tática, principalmente equipes que são
no jogo, porém, com a evolução tática, técnica e física inferiores tecnicamente e procuram se equiparar com
dos atletas, torna-se necessário realizar duas ou mais as outras através de esquemas táticos muito bem ela-
funções dentro da partida, permitindo ao treinador borados e, principalmente, na forte marcação, fazendo
uma oportunidade de variar o esquema durante o jogo a defesa se tornar o ponto forte e a base dessas equipes,

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 8, nº 26, out/dez 2010
RBCS ARTIGOS ORIGINAIS

o que torna o jogo mais competitivo e, em algumas vêm crescendo em importância entre os treinadores
ocasiões, menos bonito de se ver. de futebol, visando a uma melhor organização tática de
cada equipe. Tal fato, juntamente com a evolução da
Na relação da eficiência de um sistema tático, todos
condição física dos atletas, permite aos treinadores uma
os 30 entrevistados disseram que um bom esquema
maior versatilidade quanto ao posicionamento dos joga-
tático pode vencer uma partida, anulando ações ofensi-
dores em campo, deixando o jogo muito mais dinâmico.
vas da outra equipe e explorando seus pontos fracos, o
que dá uma enorme vantagem no jogo. Muitos dos entre- As respostas encontradas no estudo mostram que
vistados chegaram a considerar que um bom esquema tanto as pessoas que trabalham com o futebol quanto
tático é responsável por 90% dos méritos de uma vitória as que gostam do esporte e assistem aos jogos apresen-
no jogo, já que possibilita ao treinador tomar a iniciativa tam algumas semelhanças, principalmente por enten-
do jogo e, assim, chegar mais perto da vitória. derem que o futebol atual esta cada vez mais compe-
titivo e que os pequenos detalhes fazem toda a dife-
Contudo não há como definir qual o melhor esque-
rença. Por isso, torna-se cada vez mais necessário que
ma tático a ser montado para uma equipe, uma vez que
tanto treinadores quanto jogadores passem a se atua-
a montagem do referido esquema leva em consideração
lizar sobre os componentes que envolvem o futebol,
diversos fatores de natureza incerta, como condição
principalmente os jogadores que, por algumas vezes,
do tempo e, também, diversos imprevistos que ocorrem
são extremamente talentosos, mas não entendem o
no decorrer do campeonato, desfalcando a equipe. É
funcionamento das ações táticas do jogo e acabam
importante que o treinador tenha um esquema tático
dificultando o trabalho do treinador.
de sua preferência, porém ele tem que entender que
não é possível colocar em todas as equipes nas quais ele Isso deve começar a ser feito desde as categorias
trabalhar o seu esquema preferido; ele deve entender de base para que os atletas, que cada vez mais cedo
as limitações que sua equipe tem e saber utilizar seus aparecem para o futebol, cheguem ao profissional com
pontos fortes, mas também proteger os seus pontos conhecimento necessário para se adaptar o mais rápido
fracos para que não seja surpreendido durante a partida. possível às ideias do treinador.
Entende-se que não é possível afirmar qual o melhor
esquema tático a ser utilizado, mas é possível deter-
5. CONCLUSÃO
minar que a competitividade do futebol está tão grande
A conclusão deste estudo foi que houve evolução que é necessário desenvolver mais de um esquema
dos esquemas táticos no futebol brasileiro, em virtude tático para o jogo, sendo possível mudá-lo no decorrer
do maior número de estudos sobre os esquemas que de uma partida sempre que for necessário.

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12
Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 8, nº 26, out/dez 2010
QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ESQUEMAS TÁTICOS NO
FUTEBOL JOVEM?
Nuno 123
Loureiro , Alexandre 12
Santos , Eduardo 12
Teixeira , João Paulo Costa12 & Pedro Sequeira123

1 3
2

INTRODUÇÃO
Os esquemas táticos* (ET), ou vulgarmente designados lances de bola parada (Castelo, 2008),
cada vez têm mais importância no resultado final dos jogos de futebol (Garganta, 2001 e
Hughes & Bartlett, 2002). No futebol de alto rendimento já existem estudos que abordam esta
fase específica do jogo de futebol (Borrás & Baranda 2005 e Castillo, et all 2000), no entanto ao
nível do futebol jovem ainda são escassos os estudos nesta temática, pelo que pretendemos
com este trabalho iniciar o desenvolvimento de uma linha de investigação no âmbito dos ET no
futebol jovem.

* São Esquemas táticos (Castelo,


2008) os:
OBJETIVOS • Lançamentos de linha lateral
Pretendemos saber a opinião dos treinadores sobre a importância dos ET no alto • Pontapés de canto
rendimento e no futebol jovem, a importância do treino e da sua aplicação em • Pontapés livres diretos e indiretos
competição; queremos caracterizar os campeonatos nacionais de sub-15, sub-17 e sub- • Pontapés de grande penalidade
19, no que aos ET diz respeito, na fase ofensiva e defensiva; e pretendemos ainda • Pontapés de início ou recomeço
analisar o conteúdo do microciclo de treino quanto ao treino dos ET, ver quanto tempo é de jogo
dedicado a estes lances e que exercícios são utilizados bem como o modo como são
executados em competição.

DESIGN METODOLOGICO
O estudo será dividido em três fases, primeira a realização de
Objetivo 1 Importância dos esquemas táticos uma entrevista a 10 treinadores experientes, onde será
• Entrevista a treinadores licenciados em ed. Física e desporto e com experiência no necessário construir e validar a entrevista (Gomes, 2007); na
futebol profissional e jovem segunda iremos caracterizar os campeonatos nacionais
• As alterações nos esquemas táticos, quais as tendências ao nível do treino, quais os jovens quanto aos ET, onde teremos de construir e validar
fatores decisivos nos esquemas táticos defensivos e ofensivos
um sistema de observação dos ET em competição (Prudente,
Objetivo 2 Caracterizar os esquemas táticos no futebol juvenil Garganta e Anguera 2004); por último observar 6 equipas, 2
• Observação de 15 jogos de cada escalão dos campeonatos nacionais de futebol de cada escalão, durante 3 microciclos competitivos
jovem, sub15, sub17 e sub19. consecutivos (Sequeira, Hanke e Rodrigues 2006), onde
• Caracterizar a marcação e defesa dos diferentes esquemas táticos, em função do teremos de construir e validar duas entrevistas e um sistema
local do jogo, resultado do jogo e estatuto da equipa, e a sua importância no de observação.
resultado final dos jogos
Objetivo 3 O treino dos esquemas táticos no futebol juvenil
• Observar 3 microciclos competitivos de treino de 6 equipas dos diferentes escalões
jovens que participam nos campeonatos nacionais de sub15, sub17 e sub19. Caracterização
• Analisar a percentagem de treino semanal dedicada aos esquemas táticos, a sua Competição
relação com a performance em competição • Validação
• Validação Entrevista
Entrevista • Validação Sist.
Tab.1 – Objetivos gerais do estudo Obs. Esq. Táct. • Validação Sist.
• Aplicação Obs. Treino
entrevista a Competição
(SOETC) • Acompanhar
treinadores
Importância • Observação de microciclos e
Esquemas jogos jogos de equipas
EXPECTATIVAS Táticos Campeonatos de sub15, sub17
Nacionais de eObservação
sub19
Com o estudo pretendemos perceber a importância dos ET no resultado
sub15, sub17 e Microciclo
final dos jogos dos campeonatos nacionais jovens; analisar a importância sub19
que os treinadores dão ao treino dos ET no microciclo, como o fazem e o
modo como são executados na competição. Esperamos no final ter
resultados que possam ajudar os treinadores a melhorarem o seu Fig.1 – As diferentes fases a percorrer durante a investigação
processo de treino no que aos ET diz respeito.

Contacto – nunoloureiro@esdrm.ipsantarem.pt

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Ano IX - Nº XX- JUL/ 2016 - ISSN 1982-646X

EVOLUÇÃO DOS ESQUEMAS TÁTICOS NO FUTEBOL

Claudio Emmanuel Simões de Almeida1, Vinicius Tonon Lauria2,3, Cristiano de Lima 1,21

RESUMO
O futebol é um esporte de confronto entre duas equipes representadas pelos seus
“guerreiros” em campo; ele adapta o conceito de tática utilizado nas guerras, que é a
arte de dispor e ordenar tropas para combate nas condições do jogo, chamada
atualmente de organização tática. A tática é conhecida como o conjunto de métodos
utilizados para conseguir a realização de um objetivo. O objetivo é analisar a evolução
destes modelos táticos ao longo dos tempos. Nós realizamos uma revisão bibliográfica
através de livros, sites e artigos específicos do futebol para observar os sistemas táticos
e suas variáveis responsáveis pela organização das equipes até a atualidade. Cada
sistema surgiu como oposição ao antecessor, exatamente pela necessidade de vencê-lo
acrescentando na história do futebol, porque as concepções táticas passaram
principalmente pelas regras que estruturaram e organizaram o esporte conduzindo ao
patamar de esporte mais praticado em todo mundo.

Palavras chave: história, futebol, tática e estratégia.

ABSTRACT

Football is a sport confrontation between two teams represented by their "warriors" in


the field; it fits the concept of tactics used in the war, which is the art to dispose and
order troops to fight the conditions of the game, now called tactical organization. The
tactic is known as the set of methods used to achieve the realization of a goal. The
objective is to analyze the evolution of these tactical models over time. We conducted a

1
Grupo de estudos da Universidade Paulista - UNIP
2
Docente do curso de Educação Física da Faculdade Praia Grande - FPG
3
Grupo de Estudos em Ciências da Educação Física (GECEF) - FPG

1
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literature review through books, websites and specific football articles to observe the
tactical systems and their variables responsible for organizing the teams to the present.
Each system has emerged as opposed to its predecessor, just by the need to overcome it
by adding in the history of football, because the tactics conceptions passed mainly by
the rules that structured and organized sports leading to the sports level more practiced
worldwide.

Keywords: history, football, tatics, strategy

1. INTRODUÇÃO

Os aspectos que envolvem a tática no futebol nos remetem a pensarmos desde os


antigos guerreiros que se confrontavam em competições visando o preparo para guerras,
onde as estratégias para atingirem o objetivo se faziam necessárias, já que o
posicionamento destes guerreiros compreendia o início da postura tática (AQUINO,
2002).
Levando em conta a visão da inserção de vários tipos de esquemas táticos no
futebol contemporâneo, foi despertado o interesse de alguns pesquisadores em observar
a sua evolução que se destacava por fatores que influenciaram a busca do sistema ideal
a ser aplicado (MELO, 2000; AQUINO, 2002; EMÍLIO, 2004). Entretanto, mudanças
ao longo dos tempos sofridas pelo futebol, tais como, na regra do jogo e pela solicitação
física exigida na atualidade das competições, geraram a necessidade de novas
concepções táticas que inovassem e surpreendessem a cada dia (MELO, 2000;
BETING, 2015).
Um dos principais aspectos que caracterizam o futebol é sua parte estratégica,
que gira em torno de sistemas táticos (SILVA et al., 2002). Eles são utilizados em
qualquer parte do mundo com o intuito de organizar uma equipe no campo de jogo, para
permitir solucionar problemas e determinar objetivos na competição (AZEVEDO,
2009).
As concepções táticas, didáticas e novos modelos de treinos são algumas
mudanças presentes no futebol atual. Este futebol moderno requer dos atletas constantes
deslocamentos com ou sem a posse de bola, e esse aumento considerável de suas
2
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funções rendeu-lhes a denominação de jogadores “universais ou polivalentes” (LEAL,


2001). Dentre as suas mais diversas definições, pode-se dizer que o futebol integra o
conjunto dos denominados “jogos esportivos coletivos” na subcategorização de “jogo
de invasão”, devido ocorrer no mesmo espaço ou terreno de jogo e ter simultaneamente
o cooperativismo entre os integrantes da mesma equipe, e a oposição por parte da
equipe adversária (FRISSELLI, 1999).
O progresso das propostas táticas desde os primórdios até os dias atuais nos
motivaram a analisar esta evolução. Assim, realizamos uma revisão bibliográfica das
versões da história do futebol, juntamente com as evoluções e orientações táticas
preconizadas nos dias de hoje.

2. HISTÓRIA DO FUTEBOL

O futebol ou as atividades que se assemelham à modalidade que conhecemos


hoje, possuem traços que remetem aos séculos II e III a.C. Na antiga China um jogo
chamado Cuju consistia em lançar uma bola com os pés para uma pequena rede. Cerca
de cinco ou seis séculos depois, a arte cerimonial kemari, que tinha como objetivo
manter a bola no ar ao passá-la para outros jogadores, era muito popular no Japão. No
berço da civilização na Grécia Antiga surgiu a primeira versão com adversários, onde
jogadores, podendo usar pés e mãos, tinham que carregar uma bola para trás da linha no
fundo do campo inimigo o episkyros. Em Roma podemos destacar a chamada
harpastum, juntamente com diversas modalidades esportivas com bola no continente
europeu, como o soule, o calcio fiorentino e o “futebol medieval”, nome que servia de
sinônimo para qualquer jogo que vilas inglesas praticavam carregando ou chutando uma
bola (VERMINNEM, 2013).
Os jogos de bola com os pés que antecederam o futebol atual cobriram um
período de muitos séculos e podem ser divididos em cinco fases principais: a primeira é
a fase das origens aos vários tipos rudimentares de futebol praticados na antiguidade por
povos da Ásia, América pré-colombiana e Europa; a segunda compreende a Idade
Média e Renascença, em que antecedentes mais próximos do futebol atual se
desenvolveram na Inglaterra, França e Itália, no séc. XVII; a terceira marca um longo
período de transição, até o esporte ser introduzido nas escolas públicas inglesas do séc.
XVII e XIX; a quarta assinala o nascimento do futebol moderno, numa taberna londrina
3
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(The Freemason´s Arms, na rua Great Queen, em Londres), a 26 de outubro de 1863; e


a quinta vem com a internacionalização do esporte até os dias de hoje (SOUTO, 2014).
Mesmo não considerando certas teorias antropológicas desprovidas de
fundamento científico, segundo as quais um futebol incipiente teria sido praticado já na
pré-história, SOUTO (2014) afirma que o homem se sentiu atraído a brincar com
objetos esféricos em épocas remotas, desenvolvendo jogos que podem ser considerados
precursores do futebol atual. Achados arqueológicos permitem dizer que um jogo de
bola praticado com o pé, já era conhecido no Egito e na Babilônia há mais de XXX
séculos. Segundo o mesmo autor, tal jogo tinha caráter religioso onde a bola
simbolizava o sol para os egípcios, a lua, para os babilônios, ou ainda maus espíritos
que os jovens, em certas festividades, procuravam afugentar golpeando com os pés uma
bexiga de boi inflada de ar, para os povos asiáticos (SOUTO, 2014).

3. HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL

O ano de 1894 é entendido como o momento que os historiadores assinalam a


introdução oficial do futebol no Brasil. É certo que muito antes disso o jogo tenha sido
praticado no país, ainda que de forma improvisada. Entre 1872 e 1873, um dos padres
do colégio São Luís, em Itu SP, organizou partidas entre os seus alunos, segundo as
regras então adotadas de Eton Inglaterra. Em 1874, marinheiros ingleses teriam jogado
bola na praia de Glória, Rio de Janeiro, o mesmo acontecendo com tripulantes do navio
Criméia, que o fizeram num capinzal próximo à rua Paissandu diante da residência da
Princesa Isabel, já por volta de 1878 (AZEVEDO, 2012).
Há inúmeras outras referências quanto à prática do futebol no Brasil antes de
1894. Marinheiros ingleses, ainda, realizaram jogos por quase todo o litoral, havendo
pelo menos provas de que tais jogos tiveram lugar em Recife e Porto Alegre. Entre 1875
e 1876 Mr. John, também inglês, foi árbitro de uma partida amistosa entre funcionários
da City companhia de navegação e da Leopoldina Railway. Em 1882, Mr. Hugh, outro
inglês, teria organizado um jogo entre funcionários da São Paulo Railway em Jundiaí
(AZEVEDO, 2012).
A história reconhece categoricamente, embora existam autores que não
corroborem com esta tese (AZEVEDO, 2012) que Charles Miller foi o introdutor oficial

4
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do futebol no Brasil, nascido no bairro de São Brás, São Paulo, em 1874, de pai inglês e
mãe brasileira morreu na mesma cidade em 1953 (COELHO, 2002).
Em 1884, após concluir seus estudos, transferiu-se para Banister Court School
Southampton onde ficou conhecendo o futebol. Na Inglaterra chegou a integrar a
seleção do condado de Hampshire, numa partida com o Corinthians Londrino. De volta
ao Brasil, Miller foi não apenas o responsável pelo início da prática regular e organizada
do futebol no país, mas foi também o primeiro a se destacar como jogador e a ganhar
popularidade, pois jogou futebol até 1910 e foi árbitro até 1914. O ano de 1894 foi
aceito pelos historiadores como o inicio do futebol no Brasil, devido a chegada de
Charles Miller em São Paulo, depois de fazer cursos em Southampton, Inglaterra,
trazendo de lá duas bolas de couro e uniforme completo, material utilizado nos
primeiros jogos que ele mesmo organizou em Várzea do Carmo, São Paulo entre
ingleses e brasileiros da Companhia de Gás do London Bank e da São Paulo Railway
(COELHO, 2002).
A partir de Miller a história do futebol brasileiro pode ser dividida em seis fases
principais: implantação, difusão, popularização, transição, afirmação e, finalmente a
atual. A primeira fase - implantação - vai até 1910, caracterizando-se pela fundação dos
primeiros clubes. Foram eles, São Paulo Atlethic Club (1888), Associação Atlética
Mackenzie College (1898), Sport Club Internacional, Sport Club Germânia (1899) e
Club Atlético Paulistano (1900) (SOUTO, 2014).

4. INÍCIO DA CONCEPÇÃO TÁTICA

A primeira informação encontrada na história relativa a posicionamento de


jogadores em determinado campo para uma partida de futebol vem da Itália, e é datada
de 17 de fevereiro de 1529, na cidade de Florença, em Piazza Santa Croce, onde dois
grupos, cada qual formado por 27 jogadores, resolvem tirar suas diferenças políticas em
uma partida de “Gioco de cálcio”. A necessidade de vencer obrigou as equipes a se
organizarem taticamente. A disposição utilizada pelos dois grupos indicava que 15
jogadores atuariam no ataque, 5 jogadores no meio de campo e 7 jogadores na defesa,
dos quais 3 mais recuados. Não existia uma estratégia, de modo que todos atacavam e
defendiam, contudo o número de 11 jogadores usado atualmente foi utilizado pela

5
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primeira vez em 1860, na Inglaterra. Naquela época o futebol ainda não possuía regras
definidas e durante sua partida era bastante confundido com as regras do “Rugby”
(FRISSELLI,1999).
Em 29 de outubro de 1863, o futebol foi regulamentado e surgiram as primeiras
9 regras. O sistema utilizado era o 1x1x8. Assim, um zagueiro e um meio campista, com
obrigações defensivas, e no ataque 08 jogadores. (MELO, 2000; FRISSELI, 1999;
LEAL, 2001; DRUBSCKY, 2003; CRIVELLENTI, 2005; BARBIERI, 2009).
Essas regras, bem como a determinação da quantidade de jogadores, surgiram
para que o futebol fosse disciplinado e, sobretudo, diferenciado de outras modalidades
que nasciam e também fazia uso dos pés como caracterização de esporte (DRUBSCKY,
2003).

5. TÁTICA

A tática, de acordo com GRECO (1992), envolve processos cognitivos e exige


alto grau de concentração e capacidade de raciocínio rápido por parte dos atletas.
Algumas variáveis implicam no entendimento desse conceito de relevante importância
no futebol e nos esportes em geral. Como o sistema de jogo, que é a distribuição dos
jogadores em campo para o início de uma partida, além de compreender a formação
básica, que tem por objetivo preencher todos os espaços do campo de modo uniforme
(FRISELLI, 1999; BANGSBO, 2003). Deve-se definir o sistema básico da equipe,
treinar toda a dinâmica do sistema e variações possíveis (EMÍLIO, 2004).
A estratégia determina o posicionamento e a movimentação de cada atleta
durante a partida, tanto associada à visão individual quanto coletiva (BANGSBO,
2003), enquanto a tática de jogo entende-se como a ação que determina a maneira de
ataque e defesa, sendo dividida em tática individual ou tática coletiva, ocorrendo com a
bola em movimento, ou seja, todos os movimentos realizados pelos jogadores durante a
partida, que tem a função de surpreender ou frustrar as ações e tentativas do adversário
(FRISELLI, 1999).

6. MUDANÇAS AO LONGO DO TEMPO

6
Ano IX - Nº XX- JUL/ 2016 - ISSN 1982-646X

As mudanças na parte tática do futebol continuaram ao longo dos anos seguintes,


e em 30 de setembro de 1872, os escoceses marcaram uma partida contra a seleção da
Inglaterra e naquela ocasião, para preencher mais os espaços do campo e impedir o
ataque inglês, os escoceses recuaram mais 2 jogadores do ataque, e o novo desenho
tático, mostrava em campo formava um quadrado na frente do goleiro. Esta inovação no
sistema de jogo ajudou os escoceses a não sofrerem gol dos ingleses, que na época, era
uma equipe temida. Com a defesa reforçada, ocorria, então, o primeiro 0x0 da história
do futebol. Este sistema ficou conhecido como 2-2-6 (MELO, 1999).
A partir do sucesso do sistema tático utilizado pela Escócia, os técnicos
iniciaram a busca por um maior equilíbrio entre a defesa e o ataque, desta forma,
surgiria o sistema “Clássico ou Piramidal”, formado por um goleiro, dois zagueiros, três
meio campistas e cinco atacantes (2-3-5), sobretudo nesta época a função de cada
jogador começou a se tornar mais específica (VENDITE, 2004).
Muitas mudanças táticas só ocorreram em decorrência da criação de novas
regras e mudança de algumas já existentes. Houve uma mudança, em 1925 que obrigou
as equipes a evoluírem na construção de seus sistemas táticos, que foi a regra do
impedimento (VENDITE, 2004). Esta regra dizia que um jogador para ter “condição de
jogo” (situação que permite a continuidade da jogada na forma da regra) teria que haver
dois jogadores mais próximos à linha de fundo do que o atacante, de modo que as
equipes foram obrigadas a reforçar a defesa e passaram a utilizar três zagueiros, um
sistema que é muito utilizado em muitas equipes pelo mundo e até nos dias de hoje.
Anterior à esta mudança, a regra exigia que houvesse 3 jogadores mais próximos a linha
de fundo que o atacante. (VENDITE, 2004; MELO, 2000;TEIXEIRA, 2010).

Com o surgimento desta nova regra do impedimento, o inglês, Herbert


Chapman, então treinador do Arsenal, time da Inglaterra, criou o sistema WM, que
perdurou por aproximadamente 30 anos como o principal esquema de jogo no mundo.
Com este sistema começou também a marcação individual, já que no anterior a
marcação era por zona. (FRISSELLI, 1999), ainda nos anos de 1940 surgiria a formação
4-2-4, que seria usada pelo Brasil na Copa do Mundo de 1958, entretanto o sistema WM
permaneceu sendo um dos mais utilizados mundialmente até sofrer modificações, por
volta do ano de 1958, tornando-se de vez o sistema 4-2-4 ou sistema diagonal onde os

7
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jogadores denominados meio campistas oscilavam na defesa e no ataque (VENDITE,


2004).
Em 1962 o sistema WM estava em decadência e o 4-2-4 já era pouco utilizado e
perdeu ainda mais espaço com o surgimento do sistema 4-3-3. O posicionamento e suas
obrigações em campo tornavam-se cada vez mais sujeitas à definições previamente
determinadas, o que abria espaço para as improvisações ao longo dos jogos
(FRISSELLI,1999).
A maior inovação e revolução em se tratando de tática do futebol foi em 1974 na
Copa do Mundo de Futebol na Alemanha Ocidental. O treinador da seleção holandesa
Rinus Michels havia perdido seus dois zagueiros antes da competição, então teve de
colocar dois volantes na função. Outro problema do treinador é que existia pressão de
torcedores de Amsterdã e Feyenoord para que atletas dos seus clubes fosse a maioria no
time, então o treinador convocou um goleiro-líbero de um time pequeno de Amsterdã,
logo o treinador aproximou o time, que compactado jogava apenas num curto espaço,
onde tanto “abafaria” os ataques adversários com uma marcação de oito atletas e iria em
progressão ao gol adversário. Sobretudo os jogadores não guardavam posição, quando
qualquer atleta estava com a posse da bola, seus companheiros giravam em torno dele,
foi daí que surgiu o termo “Carrossel Holandês”. O time simplesmente arrasou os
adversários, liderados pelo incrível treinador de futebol Cruyff, chegou à final contra a
Alemanha, marcando um gol sem deixar o time rival tocar na bola, mas acabou
perdendo, e nunca mais se viu o “Carrossel Holandês” (CAVALCANTI, 2013).
Em constante mudança, devido a evolução na preparação física, o 4-3-3
começou a dividir espaço com o sistema 4-4-2 e suas variações, que se caracterizavam
por maior preenchimento no meio de campo, já com visão de posse de bola (MELO,
1999).
Este sistema contava com dois meio campistas armadores e apenas dois
atacantes responsáveis pelas finalizações das jogadas. No entanto, esta mudança
aproximou os meios campistas da área adversária e esses jogadores precisavam de
características físicas e técnicas específicas para o desempenho das funções de armação
e conclusão das jogadas. Esse sistema começou a surgir em 1982 (MELO, 1999).
Já, na Copa Européia de Seleções (Eurocopa) em 1984 a seleção da Dinamarca
inovou seu sistema de jogo e disputou aquela competição com um sistema composto por
3 zagueiros, 2 alas (antigos laterais), 3 jogadores no meio campo e mais 2 atacantes.
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Esta novidade no seu sistema de jogo ficou conhecido como 3-5-2, tendo uma
possibilidade de variação defensiva para o 5-3-2.
Os anos de 1990 ficaram marcados pela ausência do futebol arte jogados nos
anos de 1980, sobretudo pela necessidade da forte marcação e aumento da velocidade
das partidas. No início dos anos de 1990 novamente os técnicos de futebol começaram
alternativas de jogar, motivados pela vontade de aprimorar o sistema defensivo. Com
isso, a organização dos times com três defensores posicionados em triângulo, cinco
jogadores no meio de campo – sendo que dois atuando como alas, pelas pontas e
somente dois atacantes passou a ser utilizado. Dessa forma, tendo a Europa como
origem, o sistema 3-5-2, apareceu como um sistema consistente defensivamente em
função do posicionamento dos três defensores, e eficiente ofensivamente, uma vez que
os alas se juntavam aos atacantes e a um dos centrocampistas para a elaboração de
jogadas de ataque (Melo, 2000; Giulianotti, 2002).
Algumas variações de propostas de jogo foram introduzidas em diferentes partes
do mundo, tais como o 3-6-1, mas a base estrutural permaneceu as mesmas. Nesta
transição, podemos destacar o ano de 1994, onde ficou marcado pela vitória da seleção
brasileira na Copa do Mundo de futebol sediado pelo Estados Unidos da América,
consolidando a imposição do futebol de resultado (MELO, 1999).
Nos dias de hoje se fala muito em 4-1-4-1 que é uma variação do 4-3-3 e ganhou
muitos títulos com o Barcelona do técnico Guardiola e a seleção da Espanha que
utilizava a base do time de Barcelona e o mesmo esquema tático que pode ser mais
ofensivo ou defensivo dependendo das peças que se tem para armar o time, só não pode
causar espanto ou escárnio porque não é nenhuma novidade já que o Brasil do técnico
“Telê Santana” na copa do mundo de 1982 da Espanha utilizava esse sistema com
variação para um 4-2-3-1, que, aliás, o Flamengo do técnico Claudio Coutinho de
1981/82 também usava com maestria, que independente do sistema tático imposto da
época se preocupavam com o belo futebol praticado e o resultado em segundo plano
(BETING, 2015).

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7. CONCLUSÃO

Cada sistema tático nasceu para tentar superar um sistema já existente, no


princípio era puro ataque e a verdadeira evolução se deu a partir de 1925, depois da
mudança na regra do impedimento, a partir desse momento ocorreram as maiores
mudanças no conceito de tática e suas variações, e que com o passar do tempo foi
necessária a maior adaptação dos atletas por causa da intensidade que foi aplicada no
futebol.
A evolução da condição física dos atletas permitiu uma maior versatilidade,
deixando o jogo mais dinâmico e justamente por causa desse dinamismo o futebol está
cada vez mais dependente da força física e da velocidade dos jogadores. E isso irá
refletir nas opções relativas ao sistema tático.
A partir de todos os sistemas e suas variações, hoje existe uma derivação grande
e dentro de uma mesma partida, uma equipe pode utilizar mais de um esquema para
tentar vencer seu adversário; partindo do pressuposto que destruir é mais fácil do que
criar e que a maioria dos sistemas utilizados nos dias de hoje são defensivos. Conclui-
se, portanto que os sistemas de jogo tiveram muitas alterações durante o seu processo,
mas que empobreceram o futebol na questão do espetáculo e que nos últimos anos, o
futebol não tem apresentado quase nenhuma novidade em relação aos sistemas de jogo e
o que nos resta são variações de sistemas já consagrados no futebol.

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