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Artigos científicos
25 artigos científicos para esclarecer todas as dúvidas sobre
lesões no CrossFit

1
Análise da incidência e risco de lesões musculoesqueléticas e articulares no
crossfit: revisão bibliográfica

2 crossfit
Análise do perfil e prevalência de lesão musculoesquelética em praticantes de

3 Correlação entre sedentarismo prévio e lesões relacionadas ao CrossFit


4 CrossFit® - Riscos e Taxas de Lesões: Revisão Sistemática da Literatura
5 de risco
CrossFit e a prevalência de lesões: locais mais acometidos e principais fatores

6 Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica


7 Crossfit®: riscos para possíveis benefícios?
8 Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura
9 Incidência de lesões em praticantes de Crossfit e musculação
10 Lesões em praticantes de Crossfit: revisão narrativa
11 Lesões musculoesqueléticas em praticantes de Crossfit
12 Lesões osteomioarticulares entre os praticantes de Crossfit
13 Perfil de lesões em praticantes de CrossFit: revisão sistemática
14 Perfil de lesões em praticantes de CrossFit: prevalência e fatores associados
durante um ano de prática esportiva

15 Prevalência de lesões em atletas competidores de Crossfit®


Artigos científicos
25 artigos científicos para esclarecer todas as dúvidas sobre
lesões no CrossFit

16
Prevalência de lesões musculoesqueléticas em jovens e adultos praticantes de
Crossfit ®: revisão bibliográfica

17 Prevalência de Lesões Musculoesqueléticas em Praticantes de Crossfit®: Uma


Revisão Sistemática

18 Prevalência de lesões na articulação do ombro em praticantes de Crossfit®:


uma revisão sistemática

19 Prevalência de sintomas osteomusculares referidos por atletas de Crossfit®


20 Prevenção de lesões no Crossfit: bases científicas e aplicabilidade
21 praticantes de Crossfit de uma academia na cidade de Paracatu-MG
Principais lesões relacionadas ao sistema musculoesquelético relatado pelos

22 de crossfit: revisão de literatura


Terapia manual na reabilitação de lesões musculoesquelético nos praticantes

23 Crossfit® riscos ou benefícios? O que sabemos até o momento?


24 CrossFit®: uma análise baseada em evidências
25 para lesões musculoesqueléticas
Crenças e conhecimento de praticantes de crossfit® sobre os fatores de risco
Journal of Specialist
Scientific Journal – ISSN:2595-6256
Nº 4, volume 4, article nº 1, Out/Dez 2018
D.O.I: http://dx.doi.org/XXXXXX/XXXX-XXXX/XXXXXX
Accepted: 20/03/2019 Published: 01/04/2018

ANALYSIS OF INCIDENCE AND RISK OF MUSCULAR AND JOINT


INJURY IN CROSSFIT: LITERATURE REVIEW

ANÁLISE DA INCIDÊNCIA E RISCO DE LESÕES


MUSCULOESQUELÉTICAS E ARTICULARES NO CROSSFIT:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

João Gabriel da Costa Ramos1


Fisioterapeuta

Joyce Salgado Santos2


Fisioterapeuta

Abstract

CrossFit is a new training method characterized by functional and sports


gestures and exercises, constantly varied that can be performed in high intensity. By
meanings of being a high maintenance training method that derives high muscular
recruitment and cardiac functioning, it can be risky to the muscular and joint
structures. This study led to an analysis of the incidence and risk of injuries of that
kind in CrossFit, through a systematic review in terms of verifying the connection
between the injuries and the practice of this physical activity. For that, a exploratory
study through 29 found scientific articles , verifying the existence of injuries in
Crossfiters, especially on the shoulder complex and lumbar spine, as well as articles
that stated that no injuries were related to the practice of CrossFit, putting it as a
safer method of exercise than other sports such as Soccer and Squash, although not
being conclusive to the nature of the injury being related to the practice of Crossfit,
evidencing the need of a good technical command of the exercises, respecting the
individual physical condition to a better positive, healthy and safe sport practice.

Keywords: crossfit, injury, physical activity.

Journal of Specialist v.4, n.4, p.1-13, Out-Dez, 2018

1 Universidade Estadual do Pará, Belem-PA.Email mrlippenreader@hotmail.com


2 Universidade da Amazonia, Belem-PA. Email joycesalgado.s@gmail.com
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Resumo

O CrossFit é um método de treinamento novo caracterizado pela realização de


exercícios funcionais e esportivos, constantemente variados que podem ser
executados em alta intensidade. Por se tratar de um treino baseado em atividade de
alta intensidade e recrutamento muscular e cardiorrespiratório, o método pode ser
bastante lesivo para as estruturas musculoesqueléticas e articulares. O presente
estudo teve como objetivo analisar a incidência de risco de lesões desse tipo no
CrossFit, através de revisão de bibliografia acerca do assunto afim de verificar a
relação entre as lesões encontradas com a prática de tal atividade física. Para tal,
procedeu-se a um estudo exploratório junto de uma amostra de um total de 29
artigos científicos, verificando-se a existência de lesões em praticantes de CrossFit
principalmente em ombros e coluna lombar bem como artigos que não encontraram
relação nenhuma com lesões musculoesqueléticas e articulares, colocando o
CrossFit como prática mais segura que outros esportes como Futebol e Squash,
porém sem chegar a um denominador comum quanto à natureza da lesão ter
relação completa com a prática da modalidade, evidenciando a necessidade de se
realizar a prática dessa atividade respeitando a técnica do exercício e o
condicionamento físico individual para uma prática esportiva cada vez mais segura e
saudável.

Palavras-chave: crossfit, lesões, atividade física.

INTRODUÇÃO

O CrossFit apresenta-se como um novo método de treinamento físico que


vem ganhando popularidade desde sua criação e implementação no início dos anos
2000 (Moran, Booker, Staines & Williams, 2017). Tem o objetivo de promover
aptidão física por meio do desenvolvimento de componentes como capacidade
aeróbia, força e resistência muscular, velocidade, coordenação, agilidade e equilíbrio
(Lichtenstein & Jensen, 2016), através da realização de exercícios esportivos e
funcionais, contemplando exercícios de levantamento olímpico, movimentos
ginásticos e de condicionamento aeróbio, os quais podem ser executados em alta
intensidade (Tibana, de Farias, Nascimento, Da Silva- Grigoletto & Prestes, 2015).

O regime fitness do CrossFit tem sido recebido com um crescente interesse


social como um espaço para mudança física e pessoal. Após a abertura do primeiro

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Box (“Box” é a terminologia usada para designar os ginásios de Crossfit), sua


popularidade alavancou entusiastas do mundo inteiro (Bailey, Benson & Bruner,
2017).

O método oferece exercícios funcionais que utilizam endurance


cardiovascular, força, potência e movimentos esportivos simultaneamente. Com foco
em variação dos movimentos funcionais, o treino de CrossFit utiliza os principais
elementos da Ginástica (como Handstands e exercícios nos Aros Olímpicos),
Levantamento de Peso Olímpico (LPO), agachamentos de Barbell, apoios, e
atividades cardiovasculares (como remada e corrida) como tarefas (Fisker,
Kildegaard, Thygesen, Grosen & Pfeiffer-Jensen, 2016).

De acordo com Glassman (2007), fundador deste programa de treinamento, a


metodologia que rege o CrossFit é completamente empírica. Além disso, o
idealizador descreveu que “declarações sobre segurança, eficácia e eficiência, as
três facetas mais importantes e interdependentes de qualquer programa de
treinamento, só podem ser sustentadas pela observação, repetição e medição
correta das variáveis, ou seja, com dados de pesquisa.”.

O Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) sugere potenciais


benefícios do CrossFit, porém destaca significativos riscos de lesão em programas
de condicionamento extremo como este (Bergeron, Nindl, Deuster, Baumgartner,
Kane & Kraemer, 2011). Tais programas envolvem a execução de alguns exercícios
que, se realizados incorretamente ou de maneira excessiva, podem ocasionar
lesões musculoesqueléticas, lesões ligamentares e até rabdomiólise (Eather,
Morgan, & Lubans, 2016).

Estudos recentes mostram que a prática de CrossFit melhoram a capacidade


metabólica e condicionamento físico quando utilizando o volume máximo de
oxigênio (VO2max) e composição corporal de atletas com diferentes níveis de forma
física (Smith, Sommer, Starkoff, & Devor, 2013). Outro estudo, conduzido pelo
Exército dos Estados Unidos da América, apontou que incluir a prática de CrossFit
na rotina de treino dos soldados resultou num aumento considerável de suas

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condições físicas (Paine, Uptgraft & Wylie, 2010).

Dessa maneira, preocupações em relação ao potencial risco de lesões


musculoesqueléticas e articulares associadas à natureza intensa e repetitiva do
CrossFit e aos requisitos técnicos necessários para realização dos exercícios com
segurança têm crescido no meio científico e na prática da modalidade (Eather,
Morgan, & Lubans, 2016).

METODOLOGIA

De maneira inicial, foi realizada ampla revisão na literatura em bases de


dados eletrônicos com o objetivo de averiguar a prevalência, causas e tipos de
lesões musculoesqueléticas e articulares mais comuns nos praticantes de CrossFit.
Foram utilizados os seguintes descritores nas plataformas de busca: “CrossFit”,
“lesões” “epidemiologia” e “injury”. Os motores de busca utilizados para toda a
pesquisa foram as plataformas Medline-PubMed, Lilacs, PEDro, Bireme e Scielo,
durante o mês de outubro de 2018, para realização de um estudo de Revisão
Bibliográfica sobre o tema.

Como critérios de inclusão dos artigos para análise foram levados em


consideração os estudos que apresentassem relação com o tema, na forma de
Estudos de Caso, Estudo de Campo e outras Revisões Bibliográficas que
trouxessem informações no sentido de analisar os efeitos do CrossFit como um
programa de treinamento, aspectos inerentes da técnica e informações sobre o
treino muscular de alta intensidade, sendo excluídos os estudos encontrado que não
tivessem disponível para leitura sua versão integral.

RESULTADOS

Foram verificados 41 estudos que estavam de acordo com os critérios


estabelecidos pela estratégia de busca descrita anteriormente na Metodologia.
Desses, doze foram excluídos, sendo que quatro desses foram eliminados pela

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impossibilidade de se obter a versão completa, e os demais trabalhos não


abordavam a temática da análise de lesões relacionadas a prática do Crossfit ou aos

tipos de exercícios que o método envolve, após a avaliação de títulos e resumos.

Os 29 estudos restantes foram incluídos na presente revisão sistemática por


satisfazer totalmente os critérios de inclusão. Para estabelecer o perfil de lesões no
CrossFit, realizou-se uma análise de dados em que foram consideradas as
seguintes categorias: prevalência e tipo de lesões, região do corpo acometida pela
lesão, taxa de lesão por tempo de treinamento e fatores associados e não
associados às lesões.

Quanto a prevalência e tipo de lesões, 10 artigos, sendo eles: Souza, Arruda


e Gentil (2016); Dominski, Siqueira, Serafim e Andrade (2018); Lopes, Bezerra,
Filho, Brasileiro, Neto e Junior (2018); Xavier e Lopes (2017); Rodrigues e Xavier
(2017); Azevedo, Carmo, Dorneles, Ian e Abreu (2017); Moran, Booker, Staines e
Williams (2017); Lisboa, Oliveira, Resende, Hollanda, Braga e Martins (2015); Araujo
(2015) e Silva (2015), indicaram existência de lesões nos participantes dos estudos
decorrentes da prática de CrossFit em detrimento de outras modalidades de
atividade física, sendo a região do corpo mais acometida os ombros (em média
40%), seguido de coluna lombar (35%), joelhos (30%), e punhos (20%). Importante
ressaltar que nem todos os artigos apontaram todas as áreas levadas em questão
neste estudo.

Quanto à taxa de lesão por tempo de treinamento, não houve um consenso


entre os estudos, apontado taxas de variantes de 3,3 lesões a cada 1000 horas de
treinamento, porém com perda de menos de um dia na rotina de treinamento sem
rescidiva, até 5 lesões a cada 1000 horas de treinamento com afastamento superior
a 1 semana e casos de intervenção cirúrgica por fratura. Os fatores associados às
lesões são principalmente a técnica de exercício mal executada e a exaustão
muscular contraproducente ao controle motor necessário para o exercício,
desenvolvendo um mecanismo de lesão tanto a longo quanto curto prazo.
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Outros onze artigos, sendo eles: Tibana, de Farias, Nascimento, Da Silva- Grigoletto

e Prestes (2015); Cordeiro e Pinheiro (2018); Martins, Souza, Jimez, Silva e


Carminati (2018); Sprey et al. (2016); Claudino et al. (2018); Tibana, Sousa, Cunha e
Prestes (2017); Tibana, Sousa e Prestes (2017); Summit, Cotton, Kays, e Slaven
(2016); Junker (2016); Sotero (2016); Magalhães, Lima Brito e Assumpção (2018) e
Oliveira et al. (2018), indicam que o CrossFit tem uma taxa de lesão parecida com a

de outros esportes, como Fisiculturismo, Levantamento de Peso, Artes Marcias e


Escalada, sendo ainda menos lesiva que esportes como Futebol, Squash, Voleibol e
Tênis, com pouca diferença não relevante entre os sexos, com uma ligeira maioria
associada ao sexo masculino.

Cinco bibliografias restantes, sendo elas: Neto e Preis (2015); Heinrich, Patel,
O’Neal e Heinrich (2014); Gipson, Campbell e Malcom (2018); Dantas (2018) e
Tibana et al. (2018) foram utilizados como embasamento para a relação entre a
força muscular e o exercício de alta e moderada intensidade com o desempenho
esportivo e o risco de lesão, onde o exercício de alta intensidade, como o CrossFit,
desempenham papel fundamental no aumento exponencial de força,
condicionamento físico, homeostase e qualidade de vida, trazendo benefícios a curto
e longo prazo.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O CrossFit nasceu com a proposta de preparar os indivíduos para variadas


demandas físicas, seja ela força muscular e/ou resistência cardio-respiratória.
Utilizando de exercícios funcionais provenientes de diversas outras modalidades
esportivas, esse programa de condicionamento tem ganhado cada vez mais
adeptos, de acordo com os estudos de Medeiros (2015) e Reeser (2017). Frente à
isso, é natural que como toda nova modalidade, existam ainda muitos
questionamentos acerca de sua representatividade como atividade física segura e
factível, principalmente no que diz relação a quando se indicar sua prática.

A literatura mostra ainda pouca versatilidade nos estudos em relação ao


CrossFit, levantando pouca certeza quanto aos riscos e seguranças do método. Isso
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é visto na disparidade de resultados de pesquisas semelhantes, onde encontramos


médias de lesões por horas de treino variadas, provavelmente existindo outras
condições não levadas em consideração nos estudos que levem a esses resultados.

Todavia, existem características consonantes na literatura. Em praticamente


todos os estudos que analisaram o CrossFit como um programa de treinamento,
foram verificadas a existência de lesões em maioria musculares, decorrentes
principalmente da execução incorreta da técnica do exercício proposto. Outra causa
apontada que justifique essa variedade de resultados é que o CrossFit não tem um
programa fixo de exercícios, onde a dinâmica das aulas está em constate mudança,
com troca de exercícios diários, mudanças de ambiente da prática e a entrada da
época das competições e WODs (treinos do dia), que podem variar em intensidade,
duração e demanda fisiológica (Tibana, Sousa, Cunha, & Prestes, 2017).

As lesões articulares foram tomadas em voga quando se fala em acidentes


traumáticos como fraturas e quedas durante execuções de exercícios, além de
lesões adquidiras em praticantes da atividade a longo prazo, porém não há como
isolar a relação da lesão à prática do CrossFit.

Do ponto de vista mais comumente encontrado na literatura, o treino de alta


intensidade provoca lesões em cadeias musculares por impacto, overuse, pressão e
demanda metabólica (Tibana, Sousa, Cunha, Prestes, Frett, Gabbet & Voltarelli,
2018). O CrossFit, sendo uma técnica que exige muita potência, força, técnica e
preparo muscular, oferece riscos. Para Bailey, Benson e Bruner (2017), sua
popularização e o acesso liberado a uma faixa etária diversificada e que englobe
pessoas em diferentes estágios de preparo e condicionamento físico reunidas para
execução de exercícios igualmente exigentes pode ser o motivo para o índice lesivo
de o método ser tão discutido, e não a dificuldade da técnica em si.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato, pode-se verificar por meio desta revisão que a prevalência e a


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incidência de lesões musculoesqueléticas e articulares na prática de CrossFit é
baixa, quando comparada a esportes que possuem as mesmas características de
treinamento (intensidade, volume, duração). As lesões ocorrem principalmente nas
estruturas do complexo do ombro e coluna lombar, porém não são comumente
relacionadas à prática do CrossFit per se. Contudo, é difícil comparar a taxa dessas
lesões em um curto período de tempo com as de equipes multidisciplinares de alto
rendimento.

A variação de resultados nos estudos analisados apontam para uma baixa


padronização na sistematização da pesquisa. Estudos longitudinais com métodos
fidedignos devem ser feitos, usando e diferenciando atletas de praticantes apenas
recreacionais.

Não obstante, as escassas evidências das adaptações crônicas no CrossFit não


podem ser entendidas como um tipo de treinamento que não apresenta melhorias
para o indivíduo, uma vez que é uma modalidade recente e ainda carece de
quantidade de estudos representativa nessa temática.

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ANÁLISE DO PERFIL E PREVALÊNCIA DE LESÃO
MUSCULOESQUELÉTICA EM PRATICANTES DE CROSSFIT

RESUMO

Introdução: Desde o nascimento do CrossFit há ,aproximadamente, quinze anos


atrás, houve um aumento significante da sua popularidade no mundo inteiro.
Existem muitas críticas acerca do potencial risco de lesões que para os
Revista UNILUS Ensino e Pesquisa praticantes dessa modalidade incluem rabdomiólise e lesões musculoesqueléticas.
v. 17, n. 48, jul./set. 2020 Objetivo: Este estudo tem como objetivo identificar as principais lesões em
ISSN 2318-2083 (eletrônico) praticantes de CrossFit e suas prevalências a fim de minimizar o risco de lesões
Método: Estudo transversal realizado por meio de uma avaliação do perfil do
praticante de Crossfit e a relação com o risco de lesão, através de um
questionário desenvolvido pelos pesquisadores baseado na literatura lida. Este
RODRIGO HENRIQUE FERREIRA LOPES questionário é formado por 10 perguntas, sendo 8 dissertativas e 2 de múltipla
Centro Universitário Lusíada, UNILUS, escolha. O questionário foi desenvolvido através da plataforma SurveyMonkey
Santos, SP, Brasil. especialmente para os praticantes dessa modalidade e foi aplicado online em
comunidades específicas de CrossFit. Resultados: Tiveram 123 participantes,
sendo 62 homens e 61 mulheres, com idade média de 30 anos. Com relação aos
PEDRO ANTÔNIO PIRES DE JESUS treinos, a média do tempo de prática de CrossFit dos avaliados foi de 18,11
Centro Universitário Lusíada, UNILUS, meses (± 13,23), com duração da sessão de 72,39 minutos (± 26,31) e média de
Santos, SP, Brasil. 4,75 vezes por semana (± 1,44). As regiões mais relatadas de dor pelos
praticantes foram ombro 28,46% (45), 17,89% (22) tiveram dor no punho, 17,89%
(22) reclamaram de dor no joelho e 16,26% (20) tiveram dor na coluna lombar. A
ANDRÉ BENETTI DA FONSECA MAIA correlação entre IMC e risco de lesão mostrou significância estatística (p =
Centro Universitário Lusíada, UNILUS, 0,041), indicando que quanto maior o IMC mais chances o praticante tem de se
Santos, SP, Brasil. lesionar. Na análise das variáveis entre tempo de prática e risco de lesão e
duração do treino com risco de lesão, não apresentaram significância. Conclusão:
Foi observado que as principais lesões ocorreram no ombro, na coluna lombar e
KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA nos joelhos e que o IMC foi um fator diferenciador ente praticantes lesionados
Centro Universitário Lusíada, UNILUS, e não-lesionados.
Santos, SP, Brasil.
Palavras-Chave: exercício, lesões do esporte e prevalência.

ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA


Centro Universitário Lusíada, UNILUS,
PROFILE ANALYSIS AND PREVALENCE OF MUSCULOSKELETAL
Santos, SP, Brasil. INJURY IN CROSSFIT PRACTITIONERS

LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS ABSTRACT


FERREIRA
Introduction: Since the birth of CrossFit, approximately, fifteen years ago, it
Centro Universitário Lusíada, UNILUS,
has been a significant rise of its popularity in the whole world. There are a
Santos, SP, Brasil.
lot of criticism about the potencial risk of injuries for the practitioners of
this modality include Rhabdomyolysis and musculoskeletal injuries. Purpose: This
Recebido em setembro de 2020. study has the goal of identify the main injuries in CrossFit practitioners and
Aprovado em dezembro de 2020. the prevalences due to suggest minimize the risk of injuries. Method: Cross-
sectional study carried out by means of an assessment of the CrossFit practioner
profile and the relationship with the risk of injury, through a questionnaire
developed by researchers based in the literature read. This quiz consists of 10
questions, being 8 discursive questions and 2 multiple choice. The questionnaire
was developed through SurveyMonkey platform especially for the practitioners of
this modality and it was applied online at specific communities of CrossFit.
Outcomes: 123 participants were obtained, being 62 men and 61 women, with an
average age of 30 years. With regarding to training, the average of time of
practice of CrossFit of evaluated was 18.11 months (± 13.23), with the duration
of 72.39 session minutes (± 26.31) and average of 4.75 times per week (±1.44).
The most related pain area was on the shoulder 28,46% (45), fist 17,89% (22),
knees 17,89% (22) and lumbar spine 16,26% (20). The correlation between BMI and
risk of injury showed statistical significance (p = 0.041), indicating that the
higher the BMI more likely the practitioner has to hurt. In the analysis of
variables between practice time and risk of injury and duration of training with
risk of injury, didn’t show significance. Conclusion: It was observed that the
main injuries occurred on the shoulder, lumbar spine and knees. The BMI was a
differentiating factor between injured and non-injured practitioners.
Revista UNILUS Ensino e Pesquisa
Rua Dr. Armando de Salles Oliveira, 150 Keywords: exercise, athletic injuries and prevalence.
Boqueirão - Santos - São Paulo
11050-071
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RODRIGO HENRIQUE FERREIRA LOPES, PEDRO ANTÔNIO PIRES DE JESUS, ANDRÉ BENETTI DA FONSECA MAIA,
KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA, ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA,
LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS FERREIRA

INTRODUÇÃO

Atualmente, programas de condicionamento físico não muito tradicionais têm


recebido grande atenção do público em geral devido ao forte apelo midiático e por
características que carregam fatores competitivos e motivacionais. Dentre essas
modalidade, encontra-se o CrossFit (SOUZA; ARRUDA; GENTIL, 2017). ). Existem,
aproximadamente, 440 academias e centros de CrossFit registrados no Brasil, totalizando
40.000 praticantes (SPREY et al., 2016).
Esse programa foi inicialmente desenvolvido para treinamento militar e
gradualmente se espalhou para a população (SPREY et al., 2016). Tal modalidade, fundada
sobre três pilares (intensidade, variação e funcionalidade), tem por objetivo preparar
o indivíduo para as mais diferentes tarefas físicas através da melhora do condicionamento
físico de forma global (SOUZA; ARRUDA; GENTIL, 2017).
De acordo com o criador desse método de treinamento, Glassman, o CrossFit
seria superior a outras modalidade por trabalhar diversas capacidades físicas de maneira
concomitante (GLASSMAN, 2002).
A realização do trabalho de diversas capacidades físicas é controversa aos
princípios do treinamento isolado, pois fere o princípio de especificidade do
treinamento desportivo, além disso, é importante ressaltar que a realização de treinos
concomitantes tráz prejuízos aos ganhos de força, massa muscular e potência quando
comparado ao treino de força isolado (WILSON et al., 2012).
Desde o nascimento do CrossFit há, aproximadamente, quinze anos atrás, houve
um aumento significante da sua popularidade no mundo inteiro. Existem muitas críticas
acerca do potencial risco de lesões que para os praticantes dessa modalidade incluem
rabdomiólise e lesões musculoesqueléticas (HAK; HODZOVIC; HICKEY, 2013).
Na rabdomiólise, o conteúdo das células lesionadas vai para a corrente
sanguínea resultando em anormalidade eletrolíticas, acidose, hipovolemia e falha renal
aguda. Há um aumento do cálcio intracelular ativando proteases que irão aumentar a
contratilidade da musculatura estriada, a função da mitocôndria e a produção de espécies
de oxigênios reativos, resultado na morte da musculatura esquelética (RATHI, 2014).
O CrossFit é baseado em uma série complexa de exercícios, que incluem corrida,
levantamento de peso, ginástica olímpica e movimentos balísticos. Esses exercícios são,
geralmente, realizados de forma rápida combinados com rotinas de treinamento em alta
intensidade e com curtos ou nenhum intervalo de recuperação muscular entre as séries
(SPREY et al., 2016) visando uma alta demanda cardiometabólica (SOUZA; ARRUDA; GENTIL,
2017).
Poston et al. (2016) mostrou que incluindo o CrossFit na rotina de treinamento
dos soldados americanos houve um ganho significante de suas capacidades físicas. De
acordo com Smith et al. (2013), os praticantes de CrossFit melhoram a eficiência da sua
capacidade metabólica e condicionamento físico quando recrutam a capacidade máxima de
O2 (VO2máx), além de alterar a composição corporal de atletas com diferentes níveis de
aptidão física.
Portanto, este trabalho visa traçar um perfil dos praticantes dessa modalidade
e analisar as lesões musculoesqueléticas mais comuns assim como suas causas, a fim de
minimizar as lesões que impedem o praticante de trabalhar, treinar ou desenvolver suas
atividades de vida diárias.

METODOLOGIA

Estudo transversal realizado por meio de uma avaliação do perfil do praticante


de Crossfit e a relação com o risco de lesão, através de um questionário (APÊNDICE A)
desenvolvido pelos pesquisadores baseado na literatura lida. Este questionário foi
formado por 10 perguntas, sendo 8 dissertativas e 2 de múltipla escolha. O questionário
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ANÁLISE DO PERFIL E PREVALÊNCIA DE LESÃO MUSCULOESQUELÉTICA EM PRATICANTES DE CROSSFIT
PROFILE ANALYSIS AND PREVALENCE OF MUSCULOSKELETAL INJURY IN CROSSFIT PRACTITIONERS

foi desenvolvido através da plataforma SurveyMonkey especialmente para os praticantes


dessa modalidade com informações referentes a peso, sexo, idade e altura para cálculo
do índice de massa corporal (IMC). Avalia ou se o praticante é inciante ou avançado, a
frequência e intensidade do treino, se apresenta ou já apresentou dor em qualquer região
do corpo durante o treino e se essa dor foi incapacitante. Também possui questões
relacionadas aos fatores associados. Foram pesquisados: histórico de atividades, se
pratica ou não outra atividade concomitante ao CrossFit, uso de bebidas ou cigarros,
suplementação e patologias associadas.
O questionário foi aplicado online em comunidades específicas de CrossFit. A
coleta de dados foi realizada entre Julho e Agosto de 2017.
Foi realizada estatística descritiva do sexo dos participantes, idade, peso,
altura e IMC. Com relação aos treinos foi descrito o tempo de prática, duração do
treino, número de vezes por semana, participantes que foram afastados devido a lesões,
se praticavam ou não outra atividade aliada ao CrossFit, as regiões mais reclamadas de
dor e se utilizavam ou não suplementos. Foi descrito, também, a ingesta de álcool, fumo
e as doenças associadas que os participantes apresentavam.
Em relação aos testes estatísticos, foi utilizado a regressão logística para
verificar se há relação entre uma variável dicotômica (variável vertical no gráfico) e
uma variável contínua (variável horizontal no gráfico). A força dessa relação é calculada
através do Qui-quadrado e possibilita obter o valor p. O valor p menor que 0,05 significa
que há relação significativa entre as variáveis. Dentro desse modelo foi verificado a
relação entre IMC e risco de lesão; tempor de prática e risco de lesão e a relação entre
duração do treino e risco de lesão.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
do Centro Universitário Lusíada sob o número de protocolo 456/2017 em 09/06/2017.

RESULTADOS

Foram avaliados 123 participantes, sendo 49,59% do sexo feminino (61) e 50,41%
do sexo masculino (62) (Gráfico 1).

Gráfico 1 Sexo dos participantes.

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RODRIGO HENRIQUE FERREIRA LOPES, PEDRO ANTÔNIO PIRES DE JESUS, ANDRÉ BENETTI DA FONSECA MAIA,
KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA, ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA,
LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS FERREIRA

A média de idade dos participantes foi de 30,3 anos (± 6,55), média de peso
74,9 kg (± 16,05), média de altura 1,70 m (± 0,11) e a média do IMC foi de 25,44 kg/m²
(± 3,71) (Quadro 1).

Quadro 1 Média e desvio padrão da idade, peso, altura e IMC.


Médias Desvio Padrão
Idade 30,33333 6,54952
Peso 74,91557 16,05960
Altura 1,70852 0,10867
IMC 25,44659 3,71768

Com relação aos treinos, a média do tempo de prática de CrossFit dos avaliados
foi de 18,11 meses (± 13,23), com duração da sessão de 72,39 minutos (± 26,31) e média
de 4,75 vezes por semana (± 1,44) (Quadro 2).

Quadro 2 Média e desvio padrão do tempo de prática, duração do treino e o número de vezes por
semana.
Média Desvio Padrão
Tempo de Prática (meses) 18,11030 13,23723
Duração do treino (minutos) 72,39316 26,31538
Número de vezes por semana 4,75410 1,43919

No presente estudo, 29,27% (36) dos participantes sofreram afastamento das


suas atividades devido a lesões decorrentes da prática do CrossFit e 70,73% (87) não
sofreram qualquer tipo de injúria. A média de afastamento foi de 54 dias (± 94,2)
(Gráfico 2).

Gráfico 2 Participantes que foram afastados ou não de suas atividades devido á lesão.

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Dos 123 participantes, 48,78% (60) praticam outra atividade física aliada ao
CrossFit e 51,22% (63) treinam apenas CrossFit (Gráfico 3).

Gráfico 3 Participantes que praticam ou não outra atividade aliada ao CrossFit.

No estudo, 28,46% (45) dos praticantes da modalidade apresentaram dor no ombro


durante os treinos, 17,89% (22) tiveram dor no punho, 17,89% (22) reclamaram de dor no
joelho, 16,26% (20) tiveram dor na coluna lombar, 5,69% (7) queixaram-se de dor no
tornozelo, 4,88% (6) apresentaram dor no quadril e 3,25% (4) no tornozelo. De todos os
participantes, 46,34% (57) relataram não sentir dores durante o treinamento (Gráfico
4).

Gráfico 4 Regiões de dor durante o treino.

Em relação ao uso de suplementos, 56,10% (69) dos praticantes relataram fazer


suplementação nutricional enquanto 43,09% (54) não utilizavam nenhum suplemento (Gráfico
5).

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RODRIGO HENRIQUE FERREIRA LOPES, PEDRO ANTÔNIO PIRES DE JESUS, ANDRÉ BENETTI DA FONSECA MAIA,
KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA, ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA,
LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS FERREIRA

Gráfico 5 Pacientes que fazem ou não uso de suplemento.

Dos 123 participantes, 47,15% (58) disseram igerir álcool regularmente e


52,84% (65) não ingerem. 25,20% (31) dos praticantes eram fumantes enquanto 74,79% (92)
não fumavam (Quadro 3).

Quadro 3 Porcentagem dos participantes que fazem ou não ingesta de álcool e que são ou não
fumantes.
Sim Não
Ingesta de álcool 47,15% 52,84%
Fumantes 25,20% 74,79%

Do total de participantes, 10,57% (13) disseram ter alguma patologia associada


e 89,43% (110) não apresentavam nenhuma outra condição (Gráfico 6). Sendo que, dos que
disseram ter, 1 tinha bronquite, 1 era transplatado renal, 3 tinham hipertensão, 3
diabéticos, 3 tinham hipotiroidismo e 1 pré-diabético (Gráfico 7).

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Gráfico 6 Porcentagem dos pacientes que apresentavam ou não alguma doença associada.

Gráfico 7 Patologias apresentadas pelos praticantes. *

*O paciente com hipoglicemia não foi descrito no texto acima, pois esta condição se encaixa como
quadro clínico e não como uma patologia.

O gráfico de correlação entre IMC e risco de ter lesões ilustrou uma correlação
direta e estatisticamente significante (p= 0,0419611), identificando que quanto maior
o IMC maior a chance de ocorrer uma lesão durante o treino (Gráfico 8).

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KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA, ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA,
LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS FERREIRA

Gráfico 8 Correlação entre IMC e risco de lesão.

Na análise das variáveis tempo de prática e risco de lesão não foi obtido um
valor estatisticamente significante, não mostrando correlação entre as variáveis (p=
0,1641767) (Gráfico 9).

Gráfico 9 Relação entre tempo de prática e risco de lesões.

No estudo da relação entre a duração de cada sessão de treino de CrossFit e


o risco de lesão, não houve correlação com significância estatística (p= 0,8924015)
(Gráfico 10).

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Gráfico 10 Relação entre duração do treino e risco de lesões.

DISCUSSÃO

Raske e Norlan (2002) encontraram que levantadores de peso apresentavam mais


lesões na coluna lombar e joelhos, enquanto no levantamento olímpico a lesão mais comum
foi a de ombro, respaldando os resultados do nosso estudo que observou que os praticantes
de CrossFit relataram que as regiões mais afetadas pelo treino eram ombro (17,89%),
joelho (17,89%) e coluna lombar (16,26%). No entanto, em 2006, Keogh, Hume e Pearson,
constataram que o levantamento era uma modalidade que apresentava baixa taxa de lesões
quando comparada a outras modalidades. Porém, nesse estudo foram analisados atletas
profissionais de levantamento de peso, resultando em uma execução mais eficiente da
técnica além de uma composição corporal mais desenvolvida, diminuindo o índice de lesão
nessa população. Sugere-se que os praticantes e treinadores deem uma atenção maior a
essas regiões, seja realizando a técnica de forma mais paciente e precisa ou que seja
feito um treino de fortalecimento específico para essas musculaturas, diminuindo a
incidência e severidade das lesões nessas áreas.
É uma taxa elevada para essa emergente forma de exercício competitivo que se
torna cada vez mais popular. Dessa forma, se faz necessário precaver dos fatores de
risco discutidos e uma supervisão maior por parte dos instrutores para atingir um certo
nível de individuzalição para corrigir as técnicas deficientes, traçar objetivos mais
palpáveis e reduzir as taxas de lesão.
Segundo Xavier e Lopes (2017), os pacientes que apresentaram lesão tinham um
tempo de prática maior quando comparados aos que não tinham lesão (média de 10,5 meses).
O tempo de duração do treino também foi maior entre os lesionados, com sessões de treino
com mais de uma hora, 3 vezes por semana. No presente estudo foi encontrado uma média
de 18 meses de prática e com sessões de 72 minutos, 4 vezes por semana, em média,
sugerindo uma predisposição maior às lesões. Quando correlacionadas as variáveis tempo
de prática e risco de lesões não foi obtido um valor significante estatisticamente (p
= 0,1641). No entanto, ao analisar o gráfico de regressão logística, é possível verificar
uma tendência positiva na correlação (0 > r < 1), indicando que quanto maior o tempo de
prática, maior o risco de lesão, corroborando com os autores supracitados.
Em 2017, Montalvo e colaboradores, observaram que os praticantes que
realizavam outra atividade além do CrossFit tinham uma chance aumentada de desenvolver
lesões em 2,3 vezes quando comparados aqueles que praticavam apenas o Crossfit, sendo

Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 17, n. 48, jul./set. 2020, ISSN 2318-2083 (eletrônico) • p. 206
RODRIGO HENRIQUE FERREIRA LOPES, PEDRO ANTÔNIO PIRES DE JESUS, ANDRÉ BENETTI DA FONSECA MAIA,
KARINA MARTIN RODRIGUES SILVA, ANA CLÁUDIA TOMAZETTI DE OLIVEIRA,
LUIZ RICARDO NEMOTO DE BARCELLOS FERREIRA

que essa correlação foi altamente significante. No nosso levantamento de dados, foi
encontrado que, aproximadamente, metade dos participantes 60 (48,78%) faziam outra
atividade aliada ao CrossFit, mostrando que grande parte dessa população busca outras
práticas para intensificar seus ganhos, expondo esses indivíduos a um alto risco de
lesão.
Hak, Hodzovic e Hickey (2013) relataram que as lesões musculoesqueléticas são
frequentes em praticantes de CrossFit. Não há predominância entre membros superiores e
inferiores. Ainda foi descrito que 74% dos que tiveram lesão precisaram ser afastados
do trabalho ou treino. Montalvo et al (2017), reportou que 50% dos indivíduos que
sofreram lesão tiveram alteração no desempenho da prática esportiva e 20% desses atletas
tiveram que interromper os treinamentos. Weisenthal et al (2014), expôs que o diagnóstico
mais comum era dor e inflamação, seguido por entorses e contraturas musculares. Rupturas
e luxações foram infrequentes. O presente estudo encontrou que 36 (29,27%) dos
participantes sofreram afastamento do seu trabalho, treino ou de suas atividades devido
a lesões decorrentes da prática do CrossFit, com uma média de afastamento de 54 dias.
Embora constitua uma porcentagem pequena da população estudada, este dado mostra sua
importância quando se analisa a média dos dias que esses indivíduos precisaram ficar
ausentes de suas atividades diárias, implicando que foram lesões com um certo grau de
severidade, exigindo repouso ou diminuição das funções rotineiras.
No estudo de Hak, Hodzovic e Hickey (2013) e Weisenthal et al (2014), foi
observado que as regiões mais frequentemente lesadas eram ombro, joelho e coluna lombar.
Na presente pesquisa, foi encontrado que as regiões mais reclamadas de dor pelos
participantes foram ombro, joelho, coluna lombar e punho, dispondo os praticantes a um
risco maior de lesão nessas estruturas, corroborando com a literatura.
Tafuri et al (2016) analisou, através da Avaliação Funcional do Movimento, 7
movimentos básicos do CrossFit quanto à sua qualidade na estabilidade e mobilidade. Foi
encontrado como resultado da pesquisa um aumento significante na mobilidade do ombro.
Esse dado, associado à fraqueza muscular pode levar a traumas que levam ao
comprometimento do complexo do ombro.
Em 2009, Melo e Bordonal, e em 2015, Zambão, Rocco e von der Heyde, relataram
que a fadiga muscular é devido ao estresse oxidativo metabólico que ocorre após uma
atividade intensa. Muitos praticantes de esportes utilizam suplementos alimentares com
o intuito de acelerar a recuperação muscular e melhorar a performance. Esses suplementos
conferem ao atleta diversos benefícios como, por exemplo, uma recuperação mais eficaz
da musculatura, fortalece o sistema imunológico e melhora os resultados do exercício
físico, decorrente de uma eficiente síntese proteica quando associado ao estímulo
correto do treinamento físico.
Para Steiner e Lang (2015), o consumo em excesso de álcool resulta na perda
da homeostase proteica no músculo devido a uma diminuição na massa muscular e na área
de secção transversa das fibras do tipo II, que são aquelas responsáveis pela contração
rápida. De acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM – 2000), o álcool
compromete a unidade funcional contrátil, prejudicando a recuperação muscular após a
sessão de exercícios. Conforme a American Heart Association Nutrition Committee
Circulation (2006), a contração muscular é dependente da entrada de íons de cálcio nos
miócitos e o álcool vai dificultar essa entrada, comprometendo a efetividade da função
muscular, prejudicando o desempenho do atleta.
Na presente pesquisa foi encontrado que, dos 123 praticantes, quase a metade
58 (47,15%) faziam a ingesta de álcool regularmente, podendo este ser um fator preditivo
para o surgimento de novas lesões devido aos efeitos do álcool no sistema muscular.
Montalvo et al (2017) encontrou que o índice de massa corpórea (IMC) foi um
fator diferenciador entre praticantes lesionados e não-lesionados. Em 2017, Xavier e
Lopes constataram que o sobrepeso/obesidade foi um fator determinante para a ocorrência

Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 17, n. 48, jul./set. 2020, ISSN 2318-2083 (eletrônico) • p. 207
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de lesão em praticantes de Crossfit. O presente estudo obteve uma média de IMC de 25,4
kg/m², classificado como pré-obeso pelas Diretrizes Brasileiras de Obesidade (2010),
apresentando um risco aumentada às lesões e ser um fator de risco a ser controlado.
Portanto sugere-se que seja realizado um controle regular do IMC dos praticantes para
minimizar o risco de lesões e manter a longevidade da pratica esportiva.

CONCLUSÃO

Conclui-se que dos 123 participantes, 53,66% apresentaram dor durante a


prática dessa modalidade física e 29,27% precisaram ser afastados de suas atividades
devido a lesões decorrentes do Crossfit. Este estudo, também encontrou que o IMC foi um
fator importante para predispor o praticante às lesões e que as principais regiões de
dor relatadas foram no ombro, na coluna lombar, nos joelhos e punhos.
Sugerem-se novas pesquisas para identificar os fatores que levam às lesões e
buscar formas eficientes de prevenção para manter a longevidade da prática esportiva.

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Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 17, n. 48, jul./set. 2020, ISSN 2318-2083 (eletrônico) • p. 209
ARTIGO ORIGINAL

Correlação entre sedentarismo prévio e


lesões relacionadas ao CrossFit
Publicação Oficial do Instituto Israelita
de Ensino e Pesquisa Albert Einstein

Correlation between previous sedentary lifestyle and


ISSN: 1679-4508 | e-ISSN: 2317-6385 CrossFit-related injuries
Tiemi Maruyama de Moura Paiva1, Michel Kanas2, Nelson Astur2, Marcelo Wajchenberg2,
Delio Eulalio Martins Filho2
1
Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
2
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.

DOI: 10.31744/einstein_journal/2021AO5941

❚❚RESUMO
Objetivo: Correlacionar as lesões durante a prática do CrossFit com sedentarismo prévio
e pesquisar outros fatores possivelmente relacionados ao aumento da taxa de lesão entre os
praticantes. Métodos: Estudo transversal nacional, envolvendo praticantes de CrossFit, que
receberam questionário digital para avaliar lesões relacionadas à prática da modalidade, à vida
sedentária anterior, a intensidade e tempo de treinamento, à localização da lesão e à demografia
geral. Resultados: Esta amostra incluiu 121 praticantes de CrossFit, 34,7% dos participantes
eram sedentários antes de iniciar o CrossFit, desses, 45,2% sofreram alguma lesão relacionada
a essa atividade, versus 30,4% dos que eram anteriormente ativos (p=0,104). Dos praticantes
avaliados, 35,5% declararam história de alguma lesão relacionada ao CrossFit. Os locais mais
frequentes foram ombro e cotovelo (60,5%), coluna lombar (30,3%), e punho e mão (16,3%). Os
participantes que realizam levantamento de peso de forma intensa estiveram mais propensos a
lesões do que aqueles que realizavam treinamento leve ou moderado (p=0,043). Os participantes
com história de lesão apresentaram tempo médio de treinamento significativamente maior quando
comparados àqueles sem antecedente de lesão (68,4 minutos versus 61,7 minutos; p=0,044).
Conclusão: Não houve diferença significativa na incidência de lesões relacionadas ao CrossFit
entre participantes previamente sedentários e fisicamente ativos. O levantamento intenso de
pesos esteve relacionado à maior incidência de lesões. A taxa média de lesões encontradas
Como citar este artigo: neste estudo foi de 35,5%, semelhante a encontrada em estudos prévios. O local mais
Paiva TM, Kanas M, Astur N, Wajchenberg frequente foi ombro/cotovelo.
M, Martins Filho DE. Correlação entre
sedentarismo prévio e lesões relacionadas Descritores: Crossfit; Ferimentos e lesões; Atletas; Comportamento sedentário; Exercício físico
ao CrossFit. einstein (São Paulo).
2021;19:eAO5941. ❚❚ABSTRACT
Autor correspondente: Objective: To correlate CrossFit-related injuries with previous sedentary lifestyle, and to
Michel Kanas investigate other factors potentially associated with higher rates of injury among practitioners.
Avenida Albert Einstein, 627/701, 3o andar, Methods: A nationwide cross-sectional study involving CrossFit practitioners who received
bloco A1, sala 306 – Morumbi a digital questionnaire inquiring into CrossFit-related injuries, previous sedentary life, training
CEP: 05652-900 – São Paulo, SP, Brasil intensity and experience, site of injury and general demographics. Results: This sample
Tel.: (11) 2151-9393
included 121 CrossFit practitioners, 34.7% of participants were sedentary prior to starting
E-mail: michelkanas@gmail.com
CrossFit practice, from these, 45.2% reported CrossFit-related injuries, compared to 30.4% from
Data de submissão: previously active practitioners (p=0.104). The shoulder/elbow (60.5%), lumbar spine (30.3%)
20/6/2020 and wrist/hand (16.3%) were the most common sites of injury among participants reporting
Date de aceite: CrossFit-related injuries (35.5%). Participants performing intense weight training were more
19/11/2020 prone to injuries than those practicing light or moderate weight training (p=0.043). On average,
participants with a history of injury spent significantly more time training than those with no
Conflitos de interesse:
não há. history of injury (68.4 and 61.7 minutes, respectively; p=0.044). Conclusion: The incidence of
CrossFit-related injuries did not differ significantly between previously sedentary and physically
Copyright 2021 active participants. Intense weight training was associated with a higher incidence of injuries.
The overall injury rate was 35.5%, similar to that found in previous studies, and the most
Esta obra está licenciada sob common site of injury was shoulder/elbow.
uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional. Keywords: Crossfit; Wounds and injuries; Athletes; Sedentary behavior; Exercise

einstein (São Paulo). 2021;19:1-5


1
Paiva TM, Kanas M, Astur N, Wajchenberg M, Martins Filho DE

❚❚INTRODUÇÃO ou diagnóstico. Dados como tempo e volume de práti-


O CrossFit é um programa de fortalecimento e condi- ca, experiência em competições e intensidade de treina-
cionamento baseado em movimentos funcionais de alta mento (peso, velocidade e frequência) foram coletados,
intensidade, criado por Glassman, em 2000.(1) A popula- além de dados gerais, como características demográfi-
ridade mundial crescente desse programa de exercícios cas e índice de massa corporal (IMC).
despertou o interesse de adultos fisicamente ativos.(2) A análise estatística das características da amostra
O grande aumento do número de praticantes do CrossFit e perguntas do questionário foi baseada na estatística
trouxe à tona a preocupação com a possibilidade de le- descritiva, incluindo média, intervalo e desvio-padrão
sões relacionadas à prática.(3,4) (DP). As correlações entre estilo de vida sedentário
Incidências mais altas de lesões de ombro, coluna e prévio e lesões relacionadas ao CrossFit foram inves-
joelho foram relatadas.(5-7) Entretanto, até hoje, não há tigadas por meio do teste do χ2. As variáveis categóri-
evidências de que a incidência de lesões seja maior no cas foram comparadas empregando-se o teste do χ2 ou
CrossFit do que em outros esportes, e o índice de lesões o teste exato de Fisher. As variáveis numéricas foram
decorrentes do CrossFit (0,74 a 3,3 por 1.000 horas de comparadas empregando-se o teste de Mann-Whitney.
treino) se assemelha ao relatado em esportes como le- Os índices de lesões foram descritos com intervalos de
vantamento de peso, ginástica e tênis.(5,8,9) Os fatores de confiança de 95%. Valores de p<0,05 foram considera-
risco para maior incidência de lesões são a habilidade dos significantes. Os testes estatísticos foram realizados
atlética, o número de horas de treino, a participação em por meio de software R, versão 3.0.3 (R Foundation for
competições e a supervisão do treinamento.(5-7) Statistical Computing, Viena, Áustria).
O CrossFit atraiu o interesse tanto de indivíduos fi-
sicamente ativos como de indivíduos sedentários. O es-
❚❚RESULTADOS
tilo de vida sedentário antes da prática do CrossFit foi
apontado como possível fator de risco para a incidência Esta amostra incluiu 121 praticantes de CrossFit que
mais elevada de lesões relacionadas.(2,10) concordaram em participar do estudo, assinaram o
TCLI e responderam ao questionário digital. As carac-
terísticas dos participantes encontram-se descritas na
❚❚OBJETIVO tabela 1. A maioria dos participantes era do sexo femi-
Correlacionar as lesões durante a prática do CrossFit nino (56,2%) e o IMC médio foi de 24,34.
com sedentarismo prévio e pesquisar outros fatores Do total de participantes, 65,3% se descreveram
possivelmente relacionados ao aumento da taxa de le- como fisicamente ativos (prática regular de exercício) an-
são entre os praticantes. tes de iniciar o programa de CrossFit, enquanto 34,7%
se declararam sedentários antes de praticar CrossFit.
A maioria dos participantes (60,3%) já vinha praticando
❚❚MÉTODOS há mais de 1 ano.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê Institucional de A maioria dos participantes (64,5%) declarou não
Revisão (CAAE: 90062918.7.0000.0071, número: 2.805.401). ter sofrido lesões. Os locais mais comuns de lesão entre
Praticantes de CrossFit selecionados de uma lista de os participantes com história de lesões relacionadas ao
centros certificados de CrossFit no Brasil foram contatados CrossFit (35,5%) foram o ombro/cotovelo (60,5%), a co-
por e-mail entre agosto e dezembro de 2018. Os prati- luna lombar (30,3%) e o punho/mão (16,3%) (Tabela 2).
cantes elegíveis receberam um Termo de Consentimento As correlações entre a história de sedentarismo e
Livre e Informado (TCLI) e foram autorizados a aces- lesões relacionadas ao CrossFit foram investigadas por
sar um questionário digital. As condições para elegi- meio do teste do χ2. O índice de lesões não diferiu de
bilidade foram estar matriculado em um programa de forma significante entre os participantes com histó-
CrossFit e ter, no mínimo, 6 meses de prática. ria de sedentarismo e os que eram fisicamente ativos
Os participantes foram questionados a respeito do (p=0,104) (Tabela 3). Entretanto, a percentagem de le-
nível de atividade física antes da matrícula em um pro- sões foi mais alta entre os que relataram estilo de vida
grama de CrossFit (fisicamente ativo ou sedentário), da sedentário prévio (45,2% versus 30,4%).
história de lesões relacionadas ao CrossFit e, em caso afir- Os dados referentes à intensidade do treinamento
mativo, qual o local da lesão. O termo “lesão” foi definido foram classificados de acordo com três domínios (peso,
como qualquer condição que determinasse a necessidade velocidade e frequência). A prática foi descrita como in-
de modificação ou interrupção do treinamento, ou de tensa em termos de peso, velocidade ou frequência, por
consulta com um professional da saúde para tratamento 34,7%, 27,3% e 59,5% dos participantes, respectivamente.

einstein (São Paulo). 2021;19:1-5


2
Correlação entre sedentarismo prévio e lesões relacionadas ao CrossFit

A análise das correlações entre a intensidade do treina- Tabela 2. Dados referentes às lesões relacionadas ao CrossFit
mento e o índice de lesões revelou diferenças significan- Perguntas n (%)
tes entre os participantes com e sem história de lesões Você já sofreu lesões relacionadas à prática do CrossFit?, n=121
no domínio peso. Os participantes que realizavam le- Não 78 (64,5)
vantamento intenso de pesos, tiveram maior incidência Sim 43 (35,5)
de lesões em relação aos que realizavam levantamento Lesão de joelho 3 (7,0)
de pesos de intensidade moderada ou leve (p=0,043) Lesão de tornozelo/pé 6 (14,0)
(Tabela 4). Não houve diferenças significativas nos do- Lesão de quadril 1 (2,3)
mínios velocidade e frequência. Lesão de coluna lombar 13 (30,3)
A maioria dos participantes (58,1%) que relataram Lesão de coluna cervical 4 (9,3)
lesões era do sexo masculino (p=0,018). Em média, Lesão de ombro/cotovelo 26 (60,5)
os participantes com história de lesões dedicavam um Lesão de punho/mão 7 (16,3)
tempo significativamente maior ao treinamento do que Outros tipos de lesões 6 (14,0)
os sem história de lesões (68,4 e 61,7 minutos, respecti- Por quanto tempo você teve que interromper o treinamento
por estar lesionado?, n=43
vamente, p=0,044).
1-2 dias 3 (7,0)
3-5 dias 7 (16,3)
1 semana 4 (9,3)
2 semanas 14 (32,6)
Tabela 1. Características demográficas dos participantes e dados referentes à 1 mês 5 (11,6)
intensidade do treinamento
Mais de 1 mês 8 (18,6)
Variável
Permanentemente 2 (4,7)
Sexo
Foi necessário modificar a duração, a intensidade ou o regime
Feminino 68 (56,2) usual de treinamento por mais de 2 semanas?, n=43
Masculino 53 (43,8) Não 11 (25,6)
Altura, m 1,70±0,10 Sim 32 (74,4)
Peso, kg 70,91±15,07 Você buscou atenção médica após a lesão?, n=43
IMC 24,34±3,40 Não 12 (27,9)
Você era fisicamente ativo antes de começar a praticar CrossFit? Sim 31 (72,1)
Não 42 (34,7)
Sim 79 (65,3)
Há quanto tempo você pratica CrossFit ou por quanto tempo praticou?
Tabela 3. Correlações entre prática prévia de atividade física e lesões
Menos de 1 mês 1 (0,8)
Estilo de vida antes da
1-3 meses 6 (5,0) Sem lesões (%) Com lesões (%) Valor de p*
prática do CrossFit
3-6 meses 14 (11,6) Estilo de vida sedentário 23 (29,5) 19 (44,2) 0,104
6 meses a 1 ano 27 (22,3) Fisicamente ativo 55 (70,5) 24 (55,8)  
Mais de 1 ano 73 (60,3) * Valor de obtido no teste do χ2 para comparação entre grupos.

Você já participou de competições oficiais de CrossFit?


Não 81 (66,9)
Sim 40 (33,1) Tabela 4. Correlações entre a intensidade do treinamento de CrossFit e lesões
Qual a intensidade de sua prática? (peso) Intensidade do
Sem lesões (%) Com lesões (%) Valor de p
Leve 8 (6,6) treinamento de CrossFit
Moderada 71 (58,7) Qual a intensidade de seu 0,043
Intensa 42 (34,7) treinamento? (peso)

Qual a intensidade da sua prática? (velocidade) Leve ou moderado 56 (71,8) 23 (53,5)

Leve 18 (14,9) Intenso 22 (28,2) 20 (46,5)

Moderada 70 (57,9) Qual a intensidade do seu 0,068


treinamento? (velocidade)
Intensa 33 (27,3)
Leve ou moderado 61 (78,2) 27 (62,8)
Qual a intensidade da sua prática? (frequência)
Intensão 17 (21,8) 16 (37,2)
Leve 5 (4,1)
Qual a intensidade do seu 0,088
Moderada 44 (36,4) treinamento? (frequência)
Intensa 72 (59,5) Leve ou moderado 36 (46,2) 13 (30,2)
Resultados expressos como n (%) ou média±desvio-padrão.
IMC: índice de massa corporal.
Intenso 42 (53,8) 30 (69,8)

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Paiva TM, Kanas M, Astur N, Wajchenberg M, Martins Filho DE

❚❚DISCUSSÃO lesões são de padrão semelhante e ocorrem nos mesmo


O aumento substancial da popularidade do CrossFit locais.(14) Neste estudo, ombro/cotovelo foi o principal
trouxe maior preocupação com as lesões relacionadas local de lesões, seguido da coluna (39,6% somando
à prática. Indivíduos sem experiência prévia em ativi- lombar e cervical) enquanto a incidência de lesões no
dades físicas ou que se declaram sedentários também joelho foi baixa (7%). Segundo Sugimoto et al.,(18) as
vêm aderindo a essa prática esportiva. Neste estudo, chances de lesões no membro inferior são 2,65 vezes
partiu-se da hipótese de que essas populações especí- mais altas em mulheres do que em homens. Em con-
ficas seriam mais predispostas a lesões relacionadas ao trapartida, as lesões de ombro são 2,79 mais prováveis
CrossFit. Entretanto, os índices de lesões não diferiram em homens, enquanto as de coluna afetam principal-
de forma significante entre esses participantes e os fi- mente praticantes de menos de 19 anos de idade.
sicamente ativos. Visto que o CrossFit envolve movi- O sexo masculino, a prática por tempo prolongado,
mentos complexos, a falta de condicionamento prévio é a intensidade do treinamento, a participação em com-
motivo óbvio de preocupação. De fato, os participantes petições, o IMC elevado, a falta de supervisão durante
o treinamento e as lesões prévias são alguns dos fatores
com história de sedentarismo tiveram mais lesões do
de risco para lesões relacionadas ao CrossFit,(2,5-8) dados
que os fisicamente ativos, porém as diferenças não fo-
esses corroborados pelos achados deste estudo. Nesta
ram significantes. Isso possivelmente se deveu ao tama-
amostra, o treinamento intenso em termos de frequên-
nho pequeno da amostra. Ao comparar lesões relacio-
cia e peso mostrou-se associado a índices mais elevados
nadas entre praticantes com história de sedentarismo e
de lesões, embora as diferenças significantes tenham se
praticantes ativos, Sprey et al.,(2) também encontraram
limitado ao domínio peso. Os participantes com histó-
índices muito semelhantes de lesões (30,4% e 31,2%,
ria de lesões passavam mais tempo treinando (68,4 mi-
respectivamente). Um estudo prospectivo de coorte re-
nutos) do que os que não relataram lesões. Além disso,
cente(9) que investigou a incidência de lesões entre ini-
a ocorrência de lesões foi mais comum em homens do
ciantes matriculados em um programa de CrossFit de 8
que em mulheres.
semanas revelou risco mais elevado (14,9%) de lesões
A principal limitação deste estudo foi o tamanho
nessa população do que entre praticantes experientes.
relativamente pequeno da amostra para análise esta-
Lesões relacionadas ao CrossFit decorrem princi-
tística. Isso provavelmente refletiu a relutância de al-
palmente da sobrecarga muscular durante a prática. Le-
guns ginásios de CrossFit em participar desta pesquisa
sões por sobrecarga resultam de altos números de repe-
e compartilhar o questionário entre seus atletas. O de-
tições de gestos esportivos, do levantamento de pesos senho transversal foi outra limitação, principalmente
que excedam a capacidade do praticante ou de qualquer devido à percepção subjetiva do que de fato constitui
outra atividade que ultrapasse seu limite fisiológico.(11-13) uma lesão entre os respondentes, embora a definição
Hopkins et al.,(14) relatou 11 casos de rabdomiólise após de lesão tenha sido reforçada no questionário. Dentre
a prática do CrossFit. Embora se acredite que o CrossFit as vantagens dos questionários digitais, destacam-se a
esteja associado a uma maior incidência de lesões, es- facilidade de distribuição e o fornecimento de cober-
tudos prévios revelaram incidências semelhantes às da tura abrangente para fins de pesquisa. Entretanto, eles
corrida, do tênis, da ginástica e do levantamento de estão sujeitos à interpretação dos respondentes.
peso olímpico, além de uma incidência mais baixa em
relação ao rugby e ao futebol.(2-5,7,8) Assim como em ou-
tros estudos,(2,5,15,16) a incidência de lesões neste estudo ❚❚CONCLUSÃO
foi de 35,5%. Entretanto, estudo prospectivo recente A incidência de lesões relacionadas ao CrossFit não di-
revelou índice de 14,9%.(9) Variações entre os índices de feriu de forma significante entre participantes com his-
lesões relatados em diferentes estudos provavelmente tória de sedentarismo e praticantes fisicamente ativos.
refletem diferenças na definição de lesão adotada ou no A prática intensa de levantamento de peso mostrou-se
perfil dos participantes. associada a uma maior incidência de lesões.
A coluna, o ombro e o joelho são os locais mais co-
muns de lesões relacionadas ao CrossFit.(5,7,8,14,15,17) Em ❚❚INFORMAÇÃO DOS AUTORES
estudo realizado por Hopkins et al., a coluna foi o local Paiva TM: http://orcid.org/0000-0001-7527-6931
mais comum de lesões, respondendo por 20,9% do total Kanas M: http://orcid.org/0000-0002-2179-3666
de lesões (6,7% delas de resolução cirúrgica). O CrossFit Astur N: http://orcid.org/0000-0002-2608-2118
Wajchenberg M: http://orcid.org/0000-0003-1961-6537
envolve gestos esportivos semelhantes aos de atividades
Martins Filho DE: http://orcid.org/0000-0001-5510-3507
como ginástica e levantamento de peso e, portanto, as

einstein (São Paulo). 2021;19:1-5


4
Correlação entre sedentarismo prévio e lesões relacionadas ao CrossFit

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einstein (São Paulo). 2021;19:1-5


5
ISSN 0798 1015

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Vol. 39 (Nº 19) Ano 2018 • Página 19

CrossFit® - Riscos e Taxas de Lesões: Revisão


Sistemática da Literatura
CrossFit® - Risks and Injury Rates: Systematic Review of Literature
Murilo Bianchi MARTINS 1; Vivian Mendes de SOUZA 2; Bruno Oliveira Costa JIMEZ 3; Lucas Ferreira SILVA 4; Bárbara Cristovão CARMINATI
5

Recebido: 12/01/2018 • Aprovado: 10/02/2018

Conteúdo
1. Introdução
2. Metodologia
3. Resultados e Discussões
4. Conclusões
Referências bibliográficas

RESUMO: ABSTRACT:
CrossFit é um programa de força e condicionamento, com exercícios CrossFit is a program of strength and conditioning, with constantly varied
constantemente variados, alta intensidade e movimentos funcionais. O exercises, high intensity and functional movements. The objective was to
objetivo foi analisar por meio da literatura os riscos e as taxas de lesões da analyze through the literature the risks and injury rates of the CrossFit
prática do CrossFit. O banco de dados PubMed foi usado, incluindo 7 artigos. practice. The PubMed database was used, including 7 articles. The lesion rate
A taxa de lesão foi semelhante a outras modalidades, as regiões mais was similar to other modalities, the most injured regions were shoulders and
lesionadas foram ombros e costas. Conclui-se que a prevalência e a incidência back. It was concluded that the prevalence and incidence of injuries in the
de lesões na prática de CrossFit foram baixas. practice of CrossFit was low.
Palavras-Chiave: CrossFit. Revisão. Lesões Keywords: CrossFit. Review. Injuries.

1. Introdução
CrossFit é um programa de força e condicionamento de alta intensidade. Ganhou ascensão com a expansão de sua metodologia
pelo mundo, seguido de muitos adeptos e usuários.Atualmente são mais de 13 mil afiliados no mundo, no Brasil já passa de 800
afiliados, sendo o segundo país no mundo em número de boxes (CrossFitInc, 2017).
A metodologia desse programa se caracteriza por treinos chamados de WorkoutOfthe Day (WOD) que são “constantemente
variados, alta intensidade, movimentos funcionais” (Glassman, 2007). O termo constantemente variado se diz em relação a
diversidade de modalidades impostas nos treinos, como Weightlifting (snatch, clean andJerk), Powerlifting (squat, deadlift,
press/pushpress, benchpress), Ginástica Olímpica (pullup, pushup, toes to bar, kneetoelbows, muscleup, hand stand pushup,
ropeclimbs, pistol, entre outros) e exercícios de cunho aeróbico (remo, corrida, burpee, saltos, corda, bicicleta, nado, entre
outros), desta forma são empregados de maneiras variadas em um mesmo treino (Glassman, 2010). Outra característica a ser
levantada é que esses WODs são realizados o mais rápido possível, com tempo determinado ou pela quantidade de
repetições/rounds, com pouco ou nenhum tempo de recuperação.
Devido à sobrecarga de trabalho e outras ocupações, as pessoas tem optado por programas de treinamento de curto período de
tempo, porém com os mesmos resultados dos treinos regulares. Desta forma, esses programas têm ganhado muitos praticantes
(Fisher, 2016). A ciência vem mostrando muitas vantagens dessa prática, Smith (2013) em seu estudo mostrou benefícios
fisiológicos da prática do CrossFit, com melhoras na composição corporal e no consumo máximo de oxigênio, corroborando com os
resultados de Aune (2016), no qual o treinamento de alta intensidade como o CrossFit trouxe melhoras nos aspectos fisiológicos,
na composição corporal (redução do percentual de gordura, aumento da massa magra), melhora no Vo2 máximo. Já Schultz
(2016) apresentou benefícios psicológicos e fisiológicos da prática do CrossFit, melhorando a motivação, a autoestima e a
composição corporal.
Apesar dos aspectos positivos relacionados a este programa de treinamento, há questionamentos em função da aplicação de
movimentos complexos e constantemente variados com alta intensidade e a probabilidade do desenvolvimento de lesões
(Bergeron, 2011).
Movimentos como snatch, clean andjerk, hand stand pushup, muscleup, pullup, possuem alta complexidade técnica, necessitando
de preparo e muito treino para serem executados, porém, são aplicados nos mesmos WODs com muitas repetições e com as
demais características da metodologia. Dada a complexidade dos exercícios, os praticantes (recreacionais e atletas) estariam
aptos a prática? O risco e as taxas de lesões não seriam superiores aos benefícios? Quais os riscos e as taxas de lesões? Desta
forma, o objetivo dessa revisão foi analisar por meio da literatura os riscos e as taxas de lesões da prática do CrossFit.

2. Metodologia
A base de dados PubMed, foi utilizada e consultada no período de Março a Abril de 2017. Como parte da estratégia de busca,
foram utilizadas as palavras chave, “Injury”, “Injury Rate”, “RiskofInjury”, “CrossFit”, “InjuryFactors”. Ao final das buscas com
diversas combinações das palavras chaves, um total de 50 artigos foram encontrados.
Foi prosseguido com a leitura do título e do resumo, selecionando os artigos que tinham envolvimento com odesfecho a ser
analisado, ficando 36 artigos. Em um segundo momento foi feita a leitura dos artigos por completo, aplicando os seguintes
critérios de inclusão: ter como público alvo praticantes de CrossFit e analisar prevalência ou incidência de lesão em sua prática.
Outros artigos foram excluídos por motivos de: impossibilidade de obtenção da versão completa do estudo e artigos duplicados,
restando14 artigos.
Posteriormente, com uma análise mais apurada foram excluídos sete (7) artigos por motivos de não contemplaremou não
apresentarem dados de acordo com os critérios de inclusão, apesar de serem relevantes a área. Após todo esse processo, sete (7)
artigos foram considerados legíveis e relevantes, sendo inclusos na revisão.O fluxograma abaixo apresenta um panorama geral da
seleção de estudos da base científica PubMed.

2.1 Fluxograma

3. Resultados e Discussões
Diante dos resultados, os públicos estudados foram adultos, com faixa etária de 30 anos (± 8 anos). O método mais usado para
tal verificação foi por meio de questionário, em sua grande maioria, questionários onlines indexados em sites, fóruns de CrossFit
ou entregue para os donos de “box” ou “coaches”. Tiveram como característica um corte transversal, alguns estudos levaram em
consideração as lesões dos últimos 6 meses. (Anexo 1)
Poucos estudos analisaram o risco e as taxas de lesões do CrossFit, a literatura apresentou somente sete estudos examinando
esse desfecho (Tabela 1). Segundo Medronho (2008), trazendo para o contexto, incidência seriam os novos casos de lesões nos
praticantes de CrossFit por um determinado período de tempo e prevalência seriam os casos de lesões já ocorridas diante dessa
prática em determinado período de tempo.
Todos estudos consideraram qualquer dor músculo-esquelética a partir da prática de CrossFit que impedisse ou requeresse
alteração da rotina de treino como uma lesão (Hak, 2013; Weisenthal, 2014; Montalvo, 2017; Summitt, 2016; Aune, 2016; Sprey,
2016; Moran, 2017).

Tabela 1
Incidência e Prevalência de lesões

TAXA DE LESÃO

AUTOR/ANO INCIDÊNCIA PREVALÊNCIA

Aune (2017) Taxa de lesão de 2.71 por 1000 horas. 34%

Hak (2013) Taxa de lesão de 3,1 por 1000 horas. 73,50%


Montalvo (2017) Taxa de lesão de 2.3 por 1000 horas. 26%

Moran (2017) Taxa de lesão de 2.10 por 1000 horas. 12.8%

Sprey (2016) - 31%

Summitt (2016) Taxa de lesão de 1.94 por 1000 horas. 23,50%

Weisenthal (2014) Taxa de lesão de 2,4 por 1000 horas 19.4%

Parkkari (2003) apresentou a taxa de lesões por 1000 horas de participação em esportes recreacionais e competitivos, como:
Squash (Taxa de lesão de 18.3 por 1000 horas), Judô (Taxa de lesão de 16.3 por 1000 horas), Basquetebol (Taxa de lesão de 9.1
por 1000 horas), Futebol (Taxa de lesão de 7.8 por 1000 horas), Voleibol (Taxa de lesão de 7.0 por 1000 horas), Karatê (Taxa de
lesão de 6.7 por 1000 horas), Tênis (Taxa de lesão de 4.7 por 1000 horas), Aeróbico, Ginástica, Musculação (Taxa de lesão de 3.1
por 1000 horas), Ciclismo (Taxa de 2.0 por 1000 horas), Remo (Taxa de lesão de 1.5 por 1000 horas), Natação (Taxa de lesão de
1.0 por 1000 horas), entre outros. Já Keogh (2016) também apresentou as taxas de lesões em outras modalidades como
Bodybuilding (Taxas de lesão de 0,24-1 por 1000 horas), Strongman (Taxa de lesão de 4,5-6,1 por 1000 horas) e Highland Games
(Taxa de lesão de 7,5 por 1000 horas). Ao comparar com a taxa de lesões no CrossFit,é notório uma inferioridade em relação a
esportes como Squash, Judô, Karatê, Tênis, Strongman, Highland Games e coletivos como Basquetebol, Voleibol, Futebol e
equiparável a Aeróbico, Ginástica, Musculação, Ciclismo e Remo.
De acordo com Chachula (2016), a relação do histórico de lesões anteriores com o aumento da prevalência de novas lesões em
indivíduos que participavam do treinamento de CrossFit foi significante. Em seu estudo, mostrou que indivíduos já lesionados eram
mais propensos a sofrer outra lesão no treinamento de CrossFit, atentando a esse público a suscetibilidade de lesão diante a
prática. Seis dos sete estudos inclusos classificaram as regiões mais lesionadas diante da pratica do CrossFit, como mostra a
Tabela 2.

Tabela 2
Regiões Mais Lesionadas

AUTOR REGIÃO LESIONADA

Aune (2017) Ombros, Costas, Joelhos

Hak (2013) Ombros, Costas, Braços, Joelhos

Montalvo (2017) Ombros, Joelhos e Costas

Moran (2017) Costas, Joelhos, Pulso

Sprey (2016) Não especificado

Summitt (2016) Ombros

Weisenthal (2014) Ombros, Costas, Joelhos

Essas regiões são mais lesionadas por estarem presentes praticamente em todos movimentos e gestos, compondo movimentos
dinâmicos e/ou estabilizadores. Diversos fatores podem ocasionar essas lesões, desde um encurtamento muscular, uma falta de
mobilidade, uma assimetria, uma carga excessiva, falta de técnica, falta de orientação e acompanhamento, entre outros. Keogh
(2016) reportou que as regiões mais lesionadas foram ombros, costas, joelhos, cotovelos e punho/mão, indo de acordo com os
resultados do estudo. Já Hopkins (2017) demonstrou que 81,5% das lesões acometidas foram musculo-esqueléticas, tendo as
regiões da coluna lombar e ombros mais afetados. Aune (2016) aponta que os exercícios que mais lesionaram a região do ombro
foram, squats clean, ringdips, overhead squat e pushpress. Os exercícios usados e executados no CrossFit têm como característica
a complexidade, requerendo muita mobilidade, técnica e preparação, desta forma, uma opção para se melhorar e evitar/diminuir
as lesões seriam trabalhar esses fatores antes de progredir com a carga.
Toda atividade física possui risco potencial de lesão (Oh, 2013). Dois estudos analisaram os fatores de riscos para lesões. Moran
(2017) coloca que os fatores de risco que tiveram maior inferência a lesões foram: o sexo masculino em relação ao feminino (4.62
≠ 1.00), lesões anteriores a quem não tinha lesão (2.83 ≠ 1.00) e assimetrias diante do teste FunctionalMovementScreen (FMS)
de quem teve o score de pontuação atingido (2.62 ≠ 0.64). Já Montalvo (2017), reportou a comparação de fatores de risco diante
de praticantes não-lesionados e lesionados, tendo significância o tempo (em anos) da prática de CrossFit (1.80 ≠ 2.71), as horas
semanais de treino (4.85 ≠ 7.30), a exposição semanal (5.65 ≠ 6.41), a estatura (1.68 ≠ 1.72) e o peso corporal (72.91 ≠
78.24), respectivamente.
Meyer (2017) em sua revisão da literatura apresenta que os riscos mais comuns para lesões foram, fadiga excessiva, dor
muscular, inchaço muscular, músculo dolorido ao toque, limitação dos movimentos durante os treinos, Aune (2016) corrobora com
esses dados, apresentando em seu estudo que os fatores mais suscetíveis a lesões foram, esforço excessivo e fadiga, técnica
imprópria, área lesionada anteriormente e falta de aquecimento.
Podemos apontar relevantes considerações dos estudos: homens apresentaram maior taxa de lesão em relação as mulheres, taxa
de lesão do CrossFit foi semelhante a esportes como Powerlifting, Weightlifting, Ginástica Olímpica e inferior a esportes coletivos
de alto rendimento como Rugby, futebol americano. Porém o uso de questionário (também online) para avaliar lesões é
conflitante, pois muitas lesões podem não ser constatadas, mascaradas ou até mentidas, por não saberem quem está
preenchendo e a veracidade das respostas.

4. Conclusões
De fato, pode se verificar por meio desta revisão que a prevalência e a incidência de lesões na prática de CrossFit foi baixa,
quando comparada a esportes que possuem as mesmas características de treinamento (intensidade, volume, duração). Contudo, é
difícil comparar a taxa dessas lesões em um curto período de tempo com as de equipes multidisciplinares de alto rendimento.
Estudos longitudinais com métodos fidedignos devem ser feitos, usando e diferenciando atletas de praticantes recreacionais.
Sabendo e considerando os riscos e todos os fatores influenciadores, a intervenção de um Coach capacitado se mostra de suma
importância para a redução de lesões, pois a periodização e a técnica de execução dos exercícios são os principais determinantes
no desempenho dos praticantes a longo prazo.

Referências bibliográficas
Aune, K. T., &Powers, J. M. (2017). Injuries in an extreme conditioning program. Sports health, 9(1), 52-58.
Bergeron, M. F., Nindl, B. C., Deuster, P. A., Baumgartner, N., Kane, S. F., Kraemer, W. J., ... &O'connor, F. G. (2011). Consortium
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Chachula, L. A., Cameron, K. L., & Svoboda, S. J. (2016). Association of prior injury with the report of new injuries sustained
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CrossFit, Inc. 2017. Acessoem 03/08/2017. Disponível em: <https://map.crossfit.com/>
Fisher, J., Sales, A., Carlson, L., & Steele, J. (2016). A comparison of the motivational factors between CrossFit participants and
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Glassman, G. (2010). The crossfit training guide. CrossFit Journal, 1-115.
Glassman, Greg. Understanding CrossFit. CrossFit Journal Article Reprint. First Published in CrossFit Journal Issue 56 – April 2007.
Hak, P. T., Hodzovic, E., & Hickey, B. (2013). The nature and prevalence of injury during CrossFit training. Journal of strength and
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Hopkins, B. S., Cloney, M. B., Kesavabhotla, K., Yamaguchi, J., Smith, Z. A., Koski, T. R., ... &Dahdaleh, N. S. (2017). Impact of
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Keogh, J. W., &Winwood, P. W. (2017). The epidemiology of injuries across the weight-training sports. Sports medicine, 47(3),
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Klimek, C., Ashbeck, C., Brook, A. J., &Durall, C. (2017). Are injuries more common with crossfit training than other forms of
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Meyer, J., Morrison, J., & Zuniga, J. (2017). The Benefits and Risks of CrossFit: A Systematic Review. Workplace Health & Safety,
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Montalvo, A. M., Shaefer, H., Rodriguez, B., Li, T., Epnere, K., & Myer, G. D. (2017). Retrospective injury epidemiology and risk
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Moran, S., Booker, H., Staines, J., & Williams, S. (2017). Rates and risk factors of injury in CrossFit: a prospective cohort
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Oh, R. (2013). Coming out of the Crossfit Closet*-A CrossFit experience by a Physician, for Physicians. UnifFam Physician, 7(1),
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Parkkari, J., Kannus, P., Natri, A., Lapinleimu, I., Palvanen, M., Heiskanen, M., ...&Järvinen, M. (2004). Active living and injury
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Schultz, J. T., Parker, A., Curtis, D., Daniel, J., & Huang, H. H. (2016). The Physiological and Psychological Benefits of CrossFit
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Sprey, J. W., Ferreira, T., de Lima, M. V., Duarte Jr, A., Jorge, P. B., &Santili, C. (2016). An epidemiological profile of crossfit
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Summitt, R. J., Cotton, R. A., Kays, A. C., &Slaven, E. J. (2016). Shoulder injuries in individuals who participate in crossfit
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Weisenthal, B. M., Beck, C. A., Maloney, M. D., DeHaven, K. E., & Giordano, B. D. (2014). Injury rate and patterns among CrossFit
athletes. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 2(4), 2325967114531177.

Anexos
Anexo 1
Características gerais dos estudos

AUTOR/ANO OBJETIVO N PÚBLICO MÉTODOS RESULTADOS CONCLUSÃO NOTA

Incidência - Taxa
de lesão foi de 2.7
por 1000 horas.
(Geral). A taxa de lesão
Prevalência de estimada entre os
34%. 247 atletas participantes
(1) Determinar
completaram a dos Programas de
retrospectivamente a
pesquisa. 132 extremo
incidência e a
lesões ao total. condicionamento foi
prevalência estimadas
Ombro, costas, semelhante à taxa de
de lesões músculo-
joelhos (mais lesão no levantamento
esqueléticas atribuída à
lesionados). de peso e na maioria
participação em
Exercícios que mais das outras atividades
Programas de Extremo
lesionaram (squats recreativas. O ombro
Condicionamento, (2) Questionário
Aune, (2017) 247 Adultos clean, ringsdips, -
Determinar a online ou parte superior do
OHS, Pushpress). braço foi a área mais
distribuição anatômica
Causas – esforço comumente lesada e
da lesão, (3) Identificar
excessivo e fadiga lesão anterior do
qualquer exercício
os principais; ombro predisposto a
particularmente perigoso técnica impropria, nova lesão no ombro.
e (4) Determinar as área lesionada Novos atletas estão em
causas auto-relatadas de anteriormente, risco considerável de
lesões. falta de lesão em comparação
aquecimento. 47% com atletas mais
lesões no ombro experientes.
necessitaram de
cirurgia

As taxas de lesões com


o treinamento CrossFit
são semelhantes às
Taxa de lesão de
relatadas na literatura
3,1 por 1000
para esportes como
horas. Foram
levantamento de peso
coletadas 132
olímpico, ginástica e
respostas com 97
esportes de contato
(73,5%) que
mais baixos do que
Determinar as taxas de sofreram lesão
competitivos, como a
lesão e perfis de atletas durante o CrossFit.
Questionário liga de rugby. As lesões
Hak, (2013) de CrossFit sustentados 132 Adultos 186 lesões foram -
Online do ombro e da coluna
durante o treinamento e notificadas, sendo
vertebral predominam
a rotina no CrossFit. que 9 (7,0%)
sem qualquer
necessitaram de
incidência de
intervenção
rabdomiólise. Para
cirúrgica. Não
nosso conhecimento
foram relatadas
este é o primeiro artigo
incidências de
na literatura
rabdomiólise.
detalhando as taxas de
lesão e perfis com
participação CrossFit.

Incidência de lesão
foi 2.3/1000 horas. A taxa de lesão em
Examinar epidemiologia
Membros CrossFit é semelhante
de lesões e fatores de
Montalvo, (2017) 191 Adultos Questionário lesionados foram, a outras formas de -
risco para lesão em
ombros (14/62), exercício (Weightlifting,
atletas de CrossFit.
joelhos (10/62) e Powerlifting, Gymnast).
costas(8/62).

Taxa de lesão 2.10


por 1000 horas. 15
O risco de lesão é
lesões. Regiões
baixo, suscetível a ser
mais comuns
aceito com relativa e
lesionadas (costas,
Examinar o risco de aparente benefícios
joelho, pulso, coxa,
lesão associado com o para a saúde e
ombro, cotovelo e
treinamento de CrossFit performance. Homens
Questionário e pé). Lesões agudas
Moran, (2017) e investigar a influência 117 Adultos se lesionaram mais e o -
Teste FMS (11/15). Exercícios
dos fatores de risco FMS pode ser usado
de weightlifting
potenciais sobre o risco como triagem para
causaram mais
de lesão (usando o FMS) identificar assimetrias,
lesões. Lesões
porém mais trabalhos
anteriores e sexo
devem ser feitos
foram fatores de
usando esse método.
risco para novas
lesões.

As taxas de lesões de
CrossFit são
comparáveis às de
outros esportes
recreativos ou
Avaliar o perfil, o competitivos e as
Não apresentou a
histórico esportivo, a Prevalência – 31% lesões mostram um
Questionário incidência e a
Sprey, (2016) rotina de treino e a 566 Adultos sofreram alguma perfil semelhante ao
online região corporal
presença de lesões entre lesão (176) levantamento de peso,
lesionada.
atletas do CrossFit. musculação, ginástica
olímpica e corrida, que
têm uma taxa de
incidência de lesões
quase a metade do
futebol.

Apesar do treinamento
Taxa de 1,94 por de CrossFit representar
Examinar e identificar 1000 horas de um risco de lesão,
esses dados muito
quaisquer características treinamento, limitados mostram que
dos participantes de Questionário enquanto as lesões as taxas de lesão são
Summitt, (2016) 187 Adultos -
CrossFit ou o Online de ombro "novas" comparáveis ou
treinamento que poderia ocorreram a uma mesmo inferiores a
influenciar a ocorrência taxa de 1,18 por outras formas
de lesão no ombro. 1000 horas de recreativas e
treinamento competitivas de
exercício.

A taxa de lesões em
CrossFit foi de
aproximadamente
20%. Os homens
foram mais propensos
a sofrer uma lesão do
que as mulheres. O
Estabelecer uma taxa de
A taxa global de envolvimento de
lesão entre os
lesões foi coachs para orientação
participantes do CrossFit
determinada como no treino correlaciona-
e identificar tendências e
sendo de 19,4% se com uma taxa de
associações entre as
Weisenthal, Questionário (75/386). Homens lesão diminuída. O
taxas de lesões e 386 Adultos -
(2014) Online (53). Mulheres ombro e a parte
categorias demográficas,
(21). Ombro inferior das costas
características de ginásio
(21/84). Costas foram os mais
e habilidades atléticas
(12/84). Joelhos comumente lesados
entre os participantes de
(11/84) em movimentos de
CrossFit.
levantamento de força
e ginástica,
respectivamente. Os
participantes relataram
principalmente lesões
agudas e bastante
leves.

1. Graduado em Educação Física pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: murilobianchimartins@hotmail.com
2. Graduada em Educação Física pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: vivian_mendes09@hotmail.com
3. Graduado em Educação Física pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: brunocosta1996@gmail.com
4. Graduando em Educação Física pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: lucasfsilvaba@hotmail.com
5. Mestranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: barbara_carminati@hotmail.com

Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015


Vol. 39 (Nº 19) Ano 2018

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ANAIS DA XIV MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCA – NOV. / 2020
ISSN – 2317-5915

CrossFit e a prevalência de lesões: locais mais acometidos e principais


fatores de risco

Gabriela Camejo de Oliveira1


Julia Dorneles de Souza2
Nathália Dimer Martins3
Emanuelle Francine Detogni Schmit4

Resumo: O CrossFit é a modalidade de treinamento que foca em melhorar a capacidade respiratória,


condicionamento físico e resistência muscular, incluindo técnicas de outras atividades como
levantamento de peso, ginástica olímpica, e também, exercícios funcionais e aeróbicos. Visto que esse
é um método de alta intensidade, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão da literatura para
analisar as possíveis lesões relacionadas à prática. Para isso, foram conduzidas buscas por artigos nas
bases de dados Science Direct e Google Acadêmico, obtendo, após o crivo de critérios de elegibilidade,
um total de 12 artigos para análise. Após a leitura dos artigos selecionados e extração das informações
de interesse, observou-se a predominância de participantes do sexo masculino nos estudos, sendo eles,
também, os que possuem o maior índice de lesões, ainda, todos integrantes das pesquisas, independente
do gênero, tinham mais de 18 anos. Para a maioria dos autores era necessário estar praticando CrossFit
por no mínimo um ano, entretanto alguns estudos aceitavam tempos menores, como três meses e seis
meses. Tratando-se do local das lesões, foi possível perceber que a região do ombro é a mais acometida,
isso se dá devido ao levantamento de peso, uso das argolas e movimentos de ginástica, seguido da coluna
lombar, joelho e punho/mão. Entretanto, há ainda uma lacuna nesse tema de “CrossFit e lesões”, tendo
em vista que, não foram encontrados muitos artigos abordando tais assuntos. Além disso, a literatura
carece de estudos trazendo tratamentos fisioterapêuticos para lesões de CrossFit. Desse modo, sendo
necessária maiores pesquisas em ambas as áreas.

Palavras-chaves: CrossFit; Índice de lesões; Tratamentos fisioterapêuticos.

1
Centro Universitário Cesuca. Graduanda do curso de Fisioterapia: E-mail: camejogabio@gmail.com
2
Centro Universitário Cesuca. Graduanda do curso de Fisioterapia: E-mail: julia99.dorneles@gmail.com
3
Centro Universitário Cesuca. Graduanda do curso de Fisioterapia. E-mail: nathalia.dimer2006@gmail.com
4
Centro Universitário Cesuca. Docente do curso de Fisioterapia. E-mail: emanuelle.schmit@cesuca.edu.br
C o m p l e x o d e E n s i n o S u p e r i o r d e C a c h o e i r i n h a

Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail: cesuca@cesuca.edu.br
Rev Ed Física / J Phys Ed (2017) 86, 1, 8-17 8

Artigo Original
Original Article
Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica
Crossfit, Weight Training and Running: Addiction, Injuries and
Immunological Vulnerability
Thiago Guimarães§1,2 MS, Marcos Carvalho1, William Santos1, Ercole Rubini1 MS, Wagner Coelho1,3 PhD

Recebido em: 18 de novembro de 2016. Aceito em: 13 de março de 2017.


Publicado online em: 22 de março de 2017..

Resumo
Introdução: A inatividade física figura como um dos principais
fatores associados à mortalidade. Por outro lado, os possíveis
prejuízos provocados pelo excesso de exercícios físicos não devem
Pontos-Chave Destaque
ser negligenciados. - Praticantes de musculação
Objetivo: Avaliar e comparar o nível de dependência ao exercício apresentaram maiores níveis de
entre diferentes modalidades, estimar a prevalência de lesões dependência do que os que não
musculoesqueléticas e a vulnerabilidade imunológica em jovens
assintomáticos. praticavam esse tipo de
Métodos: Estudo observacional. Uma amostra com 219 pessoas foi exercício.
dividida em cinco grupos: sedentários (e/ou insuficientemente - Praticantes de crossfit
ativos) (n=50), controle (moderadamente ativos) (n=31),
apresentaram maior
praticantes de crossfit superativos (n=45), praticantes de
musculação superativos (n=47) e corredores superativos (n=46). prevalência de lesões.
Além de uma anamnese para caracterizar a amostra e inferir o - Sedentários e praticantes de
número de lesões musculoesqueléticas, gripes e infecções nos seis musculação apresentaram
meses anteriores à coleta de dados, foi utilizada a Escala de
Dependência de Exercício. Utilizou-se a ANOVA one way para maior prevalência de gripes e
analisar as diferenças estatísticas e para comparar os níveis de infecções.
dependência total ao exercício, e a prevalência de lesões
musculoesqueléticas, gripes e infecções.
Resultados: O grupo musculação apresentou os maiores níveis de dependência ao exercício quando
comparado com os grupos sedentários e controle (p<0,05). Quanto às lesões musculoesqueléticas, o grupo
crossfit apresentou a maior prevalência, com diferença estatística em relação ao grupo controle. Gripes e
infecções foram mais prevalentes nos grupos sedentários e musculação.
Conclusão: Pessoas moderadamente ativas apresentaram menos lesões musculoesqueléticas e menor
vulnerabilidade imunológica em relação a sedentários e superativos. A inatividade física e o vício em exercício
parecem tornar o sistema imunológico mais vulnerável. Pessoas com hábitos extremos em relação à prática de
atividades físicas (sedentários e adeptos superativos) podem ter a saúde comprometida.

Palavras-chave: exercício físico, excesso de treinamento, saúde, vício, imunidade.

§
Autor correspondente: Thiago Guimarães – e-mail: thiagotguimaraes@yahoo.com.br.
1 2
Afiliações: Laboratório de Fisiologia do Exercício – LAFIEX/UNESA-R9; Laboratório de Imunofisiologia do Exercício – LIFE/UERJ;
3
Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO (Centro de Ciências Biológicas da Saúde, Unidade de Farmácia).
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 9

Abstract
Introduction: Physical inactivity is one of the main causes
related to mortality. On the other hand, the possible damages Keypoints
caused by excessive exercise should not be neglected.
- Weight training practitioners
Objective: To analyze the level of exercise dependence between
different modalities, the prevalence of musculoskeletal injuries presented higher levels of
and immunological vulnerability in asymptomatic young people. dependence than those who did
Methods: This was an observational study. A sample of 219 not practice this type of
people was divided into five groups: sedentary or insufficiently
exercise.
active (n=50), moderately active control (n=31), superactive
crossfitters (n=45), superactive amateur weight trainers (n=47) - Crossfit practitioners had a
and superactive amateur runners (n=46). Additionally, an higher prevalence of injuries.
anamnesis to characterize the sample and to infer the number of - Sedentary and weight trainers
musculoskeletal injuries, flus and infections in the six months
prior to data collection, the Exercise Dependency Scale was used. presented higher prevalence of
One way ANOVA was used to analyze the statistical differences and flu and infections.
to compare the levels of total dependence to exercise, prevalence
of musculoskeletal injuries, flu and infections.
Results: The amateur weight trainers group presented higher levels of exercise dependence, with statistical
difference in relation to the sedentary and control groups. Regarding the musculoskeletal lesions, the crossfit
group presented the highest occurrence, with a statistical difference in relation to the control group. Flus and
infections were more prevalent in sedentary and weight training groups.
Conclusion: Moderately active people have fewer musculoskeletal injuries and less immunological
vulnerability to sedentary and overactive ones. Physical inactivity and exercise addiction appear to make the
immune system more vulnerable.. People with extreme habits in relation to the practice of physical activities
(sedentary and superactive adepts) can have their health compromised.

Keywords: exercise training, overtraining, health, addiction, immunity.

Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica

Introdução motivo de preocupação em todo o mundo, por


outro, os prejuízos provocados pelo excesso
Embora a expectativa de vida mundial de exercícios físicos também são uma
tenha aumentado, cada vez mais pessoas são realidade. Ainda que o esforço intenso seja
acometidas por doenças crônicas não capaz de aprimorar o desempenho e a saúde
transmissíveis, como, por exemplo, doenças (6), cargas extenuantes de estresse físico e
cardiovasculares, diabetes, diversos tipos de mental podem gerar inúmeras condições
câncer, transtornos mentais, dos ossos e das deletérias. Atletas amadores ou profissionais
articulações (1, 2). De acordo com a são frequentemente acometidos por condições
Organização Mundial da Saúde (2014) (3), prejudiciais decorrentes do excesso de
além de causarem sofrimento, dependência exercício, como as de origem neurológica,
funcional, gastos intangíveis nos sistemas de endócrina e imunológica. Dentre tais
saúde e redução da qualidade de vida, essas transtornos podemos citar os de humor e
doenças são responsáveis por 58,5% de todas ansiedade, depressão, apatia geral,
as mortes ocorridas no mundo. No Brasil, instabilidade emocional, perda de apetite,
constituem o problema de saúde de maior distúrbio de sono, alterações hormonais,
magnitude, correspondendo a 72% das causas aumento da frequência cardíaca de repouso e
de mortes e 75% dos gastos com atenção à aumento da vulnerabilidade a infecções e
saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) (4). lesões, além de dores musculares e articulares
A inatividade física figura como um dos (7-10). Essas alterações são características da
principais fatores associados à mortalidade síndrome do supertreinamento ou
(5). Se por um lado a inatividade física é
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 10

overtraining (condição de má adaptação a um predominantemente, como, por exemplo, o


período crônico de estresse excessivo levantamento de peso olímpico, fisiculturismo
provocado pelo esforço físico, que resulta em e crossfit, é menor em relação a esportes
perda de desempenho e desenvolvimento da coletivos como o rugby e futebol (uma a sete
síndrome) (11). lesões contra 15 a 81, respectivamente, para
A prevalência dos sinais e sintomas do 1.000 horas de treinamento) (19). A literatura
excesso de treinamento é raramente estudada, também sugere que a corrida apresenta um
mas estima-se que 60% dos maratonistas, risco maior de desenvolvimento de lesões
50% dos jogadores de futebol e 33% dos quando comparada às modalidades que
jogadores de basquete já os experimentaram envolvem a força enquanto componente da
(12). Entretanto, com frequência, programas aptidão física predominante (20, 21).
de condicionamento físico para pessoas que Exercícios extenuantes podem provocar
não objetivam a competição envolvendo leucocitose transitória aguda seguida da
exercícios de endurance, força e velocidade supressão parcial da imunidade celular,
também provocam danos e efeitos colaterais redução do número ou função de leucócitos e
agudos ou crônicos (13, 14). Um dos efeitos demais componentes do sistema imune (14).
indesejáveis mais comuns, sobretudo em O período em que agentes da resposta imune
iniciantes, é a dor muscular de início tardio, se encontram suprimidos após a exaustão
caracterizada como uma sensação de provocada por uma sessão de treinamento ou
desconforto na musculatura esquelética, que evento competitivo é conhecido como “janela
ocorre algumas horas após o exercício físico, de oportunidade” (22, 23). Uma das mais
desencadeada por processo inflamatório a frequentes consequências da janela de
partir de dano muscular (15, 16). Além de oportunidade é a infecção no trato
iniciantes, o estresse severo provocado pelo respiratório superior, que pode ocorrer no
esforço físico no ambiente não competitivo período de uma a duas semanas após a sessão
também pode levar a complicações extremas, exaustiva de esforço, de acordo com estudos
como no estudo de caso apresentado em 2011, clássicos (24-26). Além disso, tem sido
durante o congresso anual da American teorizado que o overtraining origina-se no
College of Sports Medicine (17). Três dias momento em que novas sessões extenuantes
após uma sessão de exercícios intensos, de exercícios são realizadas sem o devido
baseada no método crossfit, um homem de 33 tempo de recuperação da imunossupressão
anos, previamente assintomático e fisicamente celular (27).
ativo, experimentou um quadro de O excesso de exercícios físicos pode
rabdomiólise (17). acometer a saúde de praticantes dos mais
O vício em exercícios físicos é um tipo de variados níveis de aptidão física e finalidades
dependência não química, no qual a pessoa esportivas, induzir uma redução do
apresenta um comportamento compulsivo, desempenho físico e até mesmo encerrar
perdendo o controle sobre a intensidade, precocemente a carreira do atleta de
duração e frequência da atividade praticada competição. Discussões sobre o nível de
em função do seu prazer proporcionado (18). dependência ao exercício entre diferentes
O nível de dependência ao exercício vem modalidades, prevalência de lesões
sendo estudado em corredores e maratonistas, musculoesqueléticas e vulnerabilidade
mas ainda não foi explorado entre praticantes imunológica podem contribuir para um
de outras modalidades. São consideradas melhor entendimento envolvendo a linha
adictas pessoas que se exercitam por três tênue entre riscos e benefícios de sucessivas
horas ao dia com a frequência de cinco sessões fatigantes de esforço. Neste sentido, o
sessões semanais, totalizando uma média de objetivo do presente estudo foi comparar o
15 horas semanais (18). nível de dependência ao exercício, a
Estudo recente de revisão integrativa sugere prevalência de lesões musculoesqueléticas,
que a frequência de lesões gripes e infecções entre jovens assintomáticos
musculoesqueléticas entre modalidades que que se exercitam fisicamente em diferentes
utilizam exercícios de força modalidades, frequências e volumes.
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 11

Testamos a hipótese de que pessoas infecções (autorrelato) nos últimos seis


insuficientemente ativas e superativas meses, foi utilizada a Escala de Dependência
apresentam uma saúde, através dos de Exercício (28). O instrumento avalia a
parâmetros analisados, mais vulnerável em dependência ao exercício através de um
relação a pessoas moderadamente ativas. questionário com 21 itens, atribuindo-se a
cada item um escore de um a seis,
Métodos representando nunca e sempre,
respectivamente, de acordo com
Desenho de estudo e amostra
comportamentos ou crenças dos últimos três
O presente estudo, de caráter meses. Quanto maior o escore obtido através
epidemiológico e corte transversal, contou da pontuação total, maior o nível de
com uma amostra de 219 jovens dependência total ao exercício.
assintomáticos, divididos em cinco grupos:
sedentários ou insuficientemente ativos (50 no Aspectos éticos
total, sendo 33 mulheres), controle Todos os participantes receberam
moderadamente ativos (31 no total, sendo 16 informações por escrito das rotinas adotadas,
mulheres), praticantes de crossfit superativos procedimentos e possíveis riscos através do
(45 no total, sendo 12 mulheres), praticantes termo de consentimento livre e esclarecido.
de musculação superativos (47 no total, sendo Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
19 mulheres) e corredores superativos (46, em Pesquisa da Universidade Estácio de Sá,
sendo 14 mulheres). parecer número de registro CAAE
O critério de participação para os três 46665515.1.0000.5284.
grupos superativos foi praticar a modalidade Análise estatística
por, pelo menos, seis meses ininterruptos, Foi realizada uma análise descritiva para
numa frequência mínima de cinco dias por caracterizar a amostra (média e desvio padrão
semana, totalizando 15 horas semanais. O da idade, peso, estatura e frequência semanal
grupo controle foi composto por praticantes de exercícios), seguido de uma ANOVA one
regulares de exercícios de força e/ou way para comparar possíveis diferenças
endurance por, pelo menos, seis meses estatísticas. Posteriormente, foi realizada uma
ininterruptos, na frequência de três dias por ANOVA one way para comparar os níveis de
semana, totalizando entre três e seis horas dependência total ao exercício, número de
semanais. O grupo de sedentários ou lesões musculoesqueléticas, gripes e
insuficientemente ativos foi composto por infecções. Todos os cálculos estatísticos
pessoas que não atingem as mínimas foram realizados no SPSS 16.0, assumindo-se
recomendações sugeridas por entidades de o nível de significância p<0,05.
saúde pública quanto à prática de atividades
físicas. Pessoas com qualquer tipo de Resultados
desordem mental diagnosticada
A Tabela 1 revela a análise descritiva da
anteriormente, sob a qual ainda estivessem em
amostra. Houve uma homogeneidade entre os
tratamento médico, foram excluídas do
grupos em relação à idade, peso e estatura. Os
estudo. Os praticantes de exercícios físicos
grupos sedentário e controle diferiram dos
foram recrutados em seis diferentes
demais e entre si em relação à frequência
academias e dois clubes do município do Rio
semanal de exercícios, porém, os três grupos
de Janeiro (Barra da Tijuca e Jacarepaguá),
superativos não diferiram entre si,
além de uma associação de corredores e uma
assegurando os principais pressupostos de
academia no município de Nova Friburgo
distribuição de grupos no presente estudo.
(Centro), enquanto os sedentários ou
insuficientemente ativos foram recrutados na A comparação intergrupos para os escores
Universidade Estácio de Sá, Campus Taquara. da dependência total ao exercício segue
exposta no Gráfico 1. Quanto maior o escore,
Além da anamnese para caracterizar a
em pontos, maior o grau de dependência. O
amostra e inferir o número de diferentes
grupo sedentário apresentou o menor escore
lesões musculoesqueléticas, gripes ou
de dependência (30,78±14,92) e diferiu
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 12

estatisticamente (p<0,001) dos grupos corrida (61,96±16,23). O grupo musculação


controle (54,94±11,92), crossfit também diferiu estatisticamente do grupo
(62,67±11,68), musculação (64,68±13,80) e controle (p<0,05).
Tabela 1 – Características da amostra
Idade Peso (Kg) Estatura Frequência
(anos) (cm) semanala
Sedentários 27,50±9,65 69,60±20,40 167,4±9,61 0,52±1,00 **
Controle 29,19±7,74 69,39±14,13 168,10±9,85 3,26±0,58 *
Crossfit 28,40±5,37 73,38±10,89 171,10±8,93 4,93±1,00
Musculação 28,53±9,00 73,33±14,00 169,70±9,41 5,26±1,10
Corrida 32,78±10,62 72,92±9,43 171,80±8,41 4,85±1,10
a
Frequência semanal: quantidade de vezes em que o exercício físico é praticado semanalmente.
Significância estatística:* = p<0,01; e ** = p<0,001.

80
*
60
Escore (Pontos)

40
**

20

0
o
s

a
fit
ol

rid
io

çã
ss
ár

tr

la

or
ro
on
nt

cu

C
C
de

us
Se

Gráfico 1 – Comparação dos escores da dependência total ao exercício.


Significância estatística: * = p<0,01; e ** p<0,001

A comparação intergrupos para a infecções. O grupo sedentário (2,18±2,9)


quantidade relatada de lesões apresentou uma maior frequência de gripes e
musculoesqueléticas nos seis meses anteriores infecções (p<0,01) em relação aos grupos
à coleta de dados segue exposta no Gráfico 2. controle (0,74±1), crossfit (0,73±0,9) e
Quanto maior o escore, maior o número de corrida (0,85±1). Não houve diferença
lesões relatadas. O grupo crossfit (1,49±1,42) estatística entre os grupos sedentários e
apresentou um número maior de lesões musculação (1,64±1,7).
(p<0,05) em comparação com o grupo
controle (0,48±0,93). Os grupos crossfit, Discussão
sedentários (0,76±1,64), musculação Este estudo objetivou comparar o nível de
(1,06±1,24) e corrida (1,33±1,41) não dependência ao exercício, a prevalência de
diferiram estatisticamente entre si. lesões musculoesqueléticas, gripes e infecções
A comparação intergrupos para a entre jovens assintomáticos que se exercitam
quantidade relatada de gripes ou infecções nos fisicamente em diferentes modalidades,
seis meses anteriores à coleta de dados segue frequências e volumes. O grupo musculação
exposta no Gráfico 3. Quanto maior o escore, apresentou os maiores níveis de dependência
maior o número de casos de gripe ou ao exercício. O grupo crossfit apresentou a
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 13

maior ocorrência de lesões musculoesqueléticas.

2.0
*
1.5

Nº Lesões
1.0

0.5

0.0

o
s

it

a
id
ol
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sf

çã
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s

la

or
ro
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cu

C
C
de

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Se

M
Gráfico 2 – Comparação da quantidade relatada de lesões musculoesqueléticas nos seis meses
anteriores à pesquisa.
Significância estatística: * = p<0,01

3
*
Nº Gripes e Infe cções

0
o
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rio

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ro

ss

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or
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ro
on

cu
n

C
C
de

us
Se

Gráfico 3 – Comparação da quantidade relatada de gripes e infecções nos seis meses anteriores à
pesquisa.
Significância estatística: * = p<0,01

Os grupos sedentários e musculação grupo musculação. Alterações


apresentaram o maior número de casos de comportamentais, cognitivas e eletrocorticais
gripe e infecções. são moduladas por diferentes intensidades e
Estudos presentes na literatura, explicam e durações do exercício agudo. Jovens
corroboram os resultados do presente estudo fisicamente ativos apresentam um aumento da
quanto à maior dependência do exercício no atividade em áreas do sistema límbico
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 14

cerebral, regiões relacionadas com o prazer, vulnerável. Além do vício ao exercício, fruto
emoções e recompensas, após o esforço físico de uma maior atividade de áreas do cérebro
máximo (29,30). De acordo com a teoria do relacionadas ao prazer e cobranças por
processo oponente ou hipótese hedonista (31), padrões estereotipados de beleza, o temor do
testada inicialmente em paraquedistas e destreinamento pode acometer atletas e
expandida para outras situações onde há treinadores, resultando em contínua e precoce
estresse físico, desafio e riscos envolvidos, realização de sessões adicionais de exercícios
um estímulo inicialmente aversivo pode gerar físicos, estabelecendo lesões sucessivas e uma
um rebote de prazer muito intenso, condição inflamatória crônica semelhante à
promovendo reforços positivos. Medo, dor observada em indivíduos obesos e/ou com
e/ou ansiedade, por exemplo, quando diabetes mellitus tipo 2 (33).
superados, podem provocar orgasmos Os achados do presente estudo quanto à
cerebrais. Essa é uma das razões pelas quais frequência de lesões estão em concordância
maratonistas, lutadores de MMA (Mixed com uma recente revisão sistemática (19). Os
Martial Arts), surfistas de ondas gigantes, autores apontam que as lesões em
praticantes de esportes de aventura ou modalidades que utilizam exercícios de força
qualquer outra modalidade onde há riscos, (crossfit e musculação) ocorrem na proporção
alta intensidade, desafio e até mesmo dor, de uma a sete lesões em mil horas de
tornem-se viciados em suas modalidades. treinamento.
Outra questão frequentemente associada à Os resultados deste estudo também estão
dependência ao exercício é a aparência, alinhados com a literatura quanto à maior
sinônimo de sucesso, saúde e determinação prevalência de gripe e infecções entre os
(32). Em um estudo com 151 frequentadores sedentários e os praticantes de musculação. A
de academia e 25 fisiculturistas, todos jovens Sociedade Internacional de Exercício e
e do gênero masculino, a duração da sessão de Imunologia (ISEI), em seu posicionamento
treino se correlacionou positivamente com os oficial, preconiza que a disfunção imune
escores totais da mesma Escala de observada após o exercício é mais
Dependência de Exercício utilizada nesta pronunciada quando o esforço é contínuo,
investigação, sem diferenças entre os dois prolongado (> 1,5h) e realizado em
grupos (32). Além do aumento da atividade intensidade variando de moderada a alta (55 e
do sistema límbico de recompensas, padrões 75% do VO2máx) (34). O aumento na
estereotipados de beleza podem gerar uma incidência de doenças pode ser justificado
busca incessante pela prática de exercícios pelo desequilíbrio entre a imunidade humoral
físicos (32). No presente estudo, o único e celular (27, 35, 36). O exercício crônico
grupo de superativos que se diferenciou moderado (frequência e volume) promove
estatisticamente do grupo controle quanto à uma proteção contra infecções causadas por
variável dependência ao exercício foi o de microrganismos intracelulares, em
praticantes de musculação, uma modalidade comparação com a inatividade física, pois
frequentemente associada a objetivos direciona a resposta imune para a
estéticos. predominância de um perfil de resposta do
Empiricamente, o vício à prática de tipo Th1 (37). Já atividades vigorosas
atividades físicas é visto como algo positivo, promovem a predominância de um perfil de
pois, se o hábito não é desenvolvido, os resposta humoral do tipo Th2 (35). O
benefícios do movimento humano não desequilíbrio com predominância da resposta
ocorrem. Porém, a dependência ao exercício imune humoral parece desenvolver a
não deve ser negligenciada, sobretudo quando imunossupressão celular e a janela de
se torna uma condição patológica. O elevado oportunidades. Testamos a hipótese de que os
volume de exercício físico e uma recuperação três grupos superativos, assim como o grupo
insuficiente podem provocar um estado de sedentário, apresentam mais gripes e
esgotamento físico e psíquico, com infecções em relação ao grupo controle
repercussões neuroimunoendócrinas, gerando moderadamente ativo. Confirmamos
lesões e tornando o sistema imunológico parcialmente a hipótese testada, pois os
Rev Ed Física / J Phys Ed – Crossfit, musculação e corrida: vício, lesões e vulnerabilidade imunológica 15

sedentários relataram mais gripes e infecções suplementação interferem nos resultados de


com diferença estatística em relação ao um programa de exercícios físicos. Futuros
controle e sem diferença em relação ao grupo estudos podem incorporar essas variáveis,
musculação. Por outro lado, o controle não assim como considerar o viés da omissão de
diferiu dos grupos crossfit e corrida. informações por voluntários que porventura
Especulamos que praticantes superativos de suspeitem comprometer a imagem de suas
musculação normalmente restringem o modalidades. Finalmente, por se tratar de um
consumo de carboidratos por finalidades estudo de caráter autorrelatado, a precisão da
estéticas e isto por si só representa um risco intensidade e duração das sessões de exercício
aumentado de imunossupressão celular em físico torna-se limitada. Além disso, o
função do aumento da atividade de cortisol e desenho de estudo epidemiológico do tipo
da citocina IL-6, por exemplo, direcionando a tranversal não permite inferências causais,
resposta imune para o perfil humoral (35, 38). posto que não é possível examinar os
fenômenos à luz da temporalidade limitando a
Pontos fortes e limitações do estudo
análise da relação causa-efeito.
A inatividade física é deletéria, porém, seu
extremo oposto também pode desencadear
importantes desfechos relacionados à saúde
Conclusão
pública. Nesse contexto, o estudo de variáveis Os achados do presente estudo
como o vício, lesões musculoesqueléticas e demonstaram que pessoas moderadamente
vulnerabilidade imunológica pode permitir o ativas apresentam menos lesões
avanço do entendimento sobre o paradoxo do musculoesqueléticas e uma menor
exercício e sua prescrição consistente voltada vulnerabilidade imunológica em relação a
para o desempenho e/ou qualidade de vida. sedentários e superativos conjuntamente. A
inatividade física e o vício em exercício
Outro aspecto positivo deste trabalho foi
parecem tornar o sistema imunológico mais
comparar os grupos superativos não apenas
vulnerável. Pessoas com hábitos extremos em
com um grupo de sedentários e entre eles,
relação à prática de atividades físicas
mas também com um grupo controle
(sedentários e adeptos superativos) podem ter
moderadamente ativo, seguindo importante
a saúde comprometida.
recomendação metodológica sobre
investigações científicas envolvendo o Futuras pesquisas devem expandir
exercício físico (39). discussões, incluindo estudos do tipo
longitudinal, que permitam compreender
Uma limitação do estudo foi que muitos
melhor a linha tênue entre riscos e benefícios
praticantes de crossfit visivelmente
do exercício físico para a saúde.
lesionados, curiosamente, não apontaram
qualquer tipo de lesão musculoesquelética. Declaração de conflito de interesses
Muitos inclusive chegaram a recusar a Não existe nenhum conflito de interesses no
participação no estudo sob a alegação de presente estudo.
comprometer a imagem da modalidade. Um
Declaração de financiamento
ponto divergente com a literatura foi o de que
a corrida apresenta um risco maior de Esta pesquisa foi financiada pela
desenvolvimento de lesões quando comparada Universidade Estácio de Sá (UNESA).
às modalidades que envolvem a força. Não
obstante, não houve diferenças significativas Referências
entre a corrida, musculação e crossfit. 1. Handschin C, Spiegelman BM. The role
Outra limitação do estudo foi a não of exercise and PGC1alpha in
equalização dos gêneros entre grupos e a fase inflammation and chronic disease. Nature.
do treinamento entre os praticantes 2008;454(7203):463-9.
superativos. Além disso, não avaliamos os
2. Lee IM, Shiroma EJ, Lobelo F, Puska P,
diferentes tipos e gravidades das lesões
Blair SN, Katzmarzyk PT, et al. Effect of
musculoesqueléticas. Variáveis como o physical inactivity on major non-
estresse emocional, sono e alimentação ou communicable diseases worldwide: an
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CROSSFIT®: RISCOS PARA POSSÍVEIS BENEFÍCIOS?

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3 authors:

Daniel Costa de Souza Antônio Carlos Pereira Arruda


Universidade Federal de Goiás Universidade de Pernambuco
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Paulo Gentil
Universidade Federal de Goiás
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138
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

CROSSFIT®: RISCOS PARA POSSÍVEIS BENEFÍCIOS?

Daniel Costa de Souza1


Antônio Arruda2
Paulo Gentil3

Recentemente, programas de envolvendo grandes grupos musculares com


condicionamento físico não tradicionais têm peso livre ou peso corporal como:
recebido grande atenção do público em geral, levantamentos olímpicos, agachamentos,
dentre eles, o Crossfit® destaca-se pelo forte exercícios calistênicos e exercícios ginásticos.
apelo midiático e características que Na maior parte do programa são
perpassam fatores competitivos e preconizadas rotinas de exercícios que
motivacionais. contemplem a realização de um alto número
Fundada sobre três pilares de repetições, executadas na maior velocidade
(intensidade, variação e funcionalidade), tem possível e curtos intervalos de descanso
por objetivo melhorar o condicionamento físico visando uma alta demanda cardiometabólica
de forma global, preparando o indivíduo para (Glassman, 2002).
as mais variadas tarefas físicas. Entretanto, é questionável se a
Segundo seu criador o treinador realização de movimentos complexos sob
Glassman, o Crossfit® é supostamente níveis elevados de fadiga seria segura.
superior a outras modalidades, pelo fato de se Nesse sentido, Hooper e
treinar diversas capacidades físicas de colaboradores (2014) avaliaram o padrão
maneira concomitante (Glassman, 2002). motor do agachamento livre quando realizado
Não obstante a popularidade do dentro em uma exaustiva rotina de treino do
Crossfit®, até o ano de 2010 não existiam Crossfit®.
evidências científicas que dessem suporte a Apesar de terem sido realizadas
esta metodologia. adaptações para relativizar a intensidade do
Nesse sentido, O’Hara e exercício para todos os sujeitos, isso não foi
colaboradores (2012) utilizaram um estudo suficiente para evitar que o padrão motor do
com treinamento concorrente de alta exercício fosse alterado ao longo da sessão,
intensidade para justificar a possível levando a conclusão que realizar exercícios
efetividade do programa. complexos em regime de exaustão é
No entanto, o grupo que realizou treino contraproducente para a técnica e
concorrente teve prejuízos nos ganhos de consequentemente para a segurança do
potência e volume muscular quando praticante.
comparado ao grupo que realizava treino de Dados obtidos de praticantes Crossfit®
força de forma isolada. de diversos níveis de condicionamento que
A própria sugestão de que a treinavam há pouco mais de um ano, por Hak
realização de trabalhos para diversas e colaboradores (2013), revelaram um índice
capacidades físicas seja superior aos de lesões de 3,1 por 1000 horas treinadas.
trabalhos isolados é controversa, pois fere o As lesões neste estudo foram
princípio da especifidade do treinamento caracterizadas como lesões que impediram o
desportivo, além disso, é importante ressaltar praticante de treinar, competir ou trabalhar.
que a realização de treinos concorrentes leva Ainda segundo as estatísticas, 73% dos
a prejuízos nos ganhos de força, potência e entrevistados relataram ter se lesionado
massa muscular, em comparação com durante a prática.
treinamento de força feito isoladamente O que parece ser mais alarmante é
(Wilson e colaboradores, 2012). que 7% dessas lesões necessitaram de
Diante dos poucos achados e intervenção cirúrgica. Índices similares foram
suposições contraditórias, resta saber as encontrados em levantadores olímpicos de
implicações práticas da metodologia sobre elite, submetidos a uma rigorosa e extenuante
aspectos como: segurança e efetividade. rotina de treinamento.
As rotinas de treino do Crossfit® são Os dados foram obtidos durante um
caracterizadas pela utilização de exercícios período de 6 anos e apesar do índice de 3,3

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.11. n.64. p.138-139. Jan./Fev. 2017. ISSN 1981-9900.
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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

lesão por 1000 horas de treino a maioria delas


resultaram na perda de menos de 1 dia da 3-Hak, P. T.; Hodzovic, E.; Hickey, B. The
rotina de treinamento (Calhoon e Fry, 1999). nature and prevalence of injury during CrossFit
Apesar dessa semelhança, podemos training. J Strength Cond Res. 2013.
questionar se é viável comparar um programa
de condicionamento físico que visa melhorar 4-Hooper, D. R.; Szivak, T. K.; Comstock, B.
aptidão física e estética a esportes A.; Dunn-Lewis, C.; Apicella, J. M.; Kelly, N. A.;
competitivos nos quais a análise de custo- e colaboradores. Effects of fatigue from
benefício tem outra perspectiva. resistance training on barbell back squat
O estudo de Smith e colaboradores biomechanics. J Strength Cond Res. Vol. 28.
(2013) é um dos mais usados para justificar a Núm. 4. p.1127-1134. 2014.
utilização do Crossfit® por reportar melhoras
na condição cardiorrespiratória e composição 5-O’Hara RB, Serres J, Traver KL, Wright B,
corporal. Vojta C, Eveland E. The influence of
Porém, por limitações metodológicas nontraditional training modalities on physical
alguns pontos vêm sendo questionados nesse performance: Review of the literature. Aviation,
trabalho, um deles é se o emagrecimento se space, and environmental medicine. Vol. 83.
deu em função do treinamento ou pelo fato Núm. 10. p.985-990. 2012.
dos indivíduos serem adeptos a uma dieta
(paleolítica). 6-Smith, M. M.; Sommer, A. J.; Starkoff, B. E.;
Como no estudo não houve um grupo Devor, S. T. Crossfit-based high intensity
controle fazendo apenas dieta, é precipitado power training improves maximal aerobic
afirmar se o emagrecimento se deu apenas fitness and body composition. J Strength Cond
em função do treinamento, ou mesmo estimar Res. Vol. 27. p.3159-3172. 2013.
a magnitude da contribuição do treinamento
para os resultados. 7-Wilson, J. M.; Marin, P. J.; Rhea, M. R.;
Outro ponto importante é que 16% da Wilson, S. M.; Loenneke, J. P.; Anderson, J. C.
amostra teve que interromper o experimento Concurrent training: a meta-analysis examining
por motivo de lesão. interference of aerobic and resistance
Portanto, ao mesmo tempo em que se exercises. J Strength Cond Res. Vol. 26. Núm.
reconhece o Crossfit® como uma atraente 8. p.2293-2307. 2012.
ferramenta de trabalho pelo seu apelo
mercadológico, é importante ter cautela na
generalização de sua aplicação.
As poucas evidências científicas sobre
o programa possuem sérias limitações 1-Universidade Federal de Goiás (UFG),
metodológicas e apontam um elevado risco de Goiás, Brasil.
lesões associado ao Crossfit®. 2-Universidade Federal do Rio Grande do
Por fim, antes de se usar referências Norte (UFRN), Rio Grande do Norte, Brasil.
ou fazer construções teóricas para invalidar ou 3-Faculdade Universo, Pernambuco, Brasil.
defender um método ou produto, é importante
fazer análises críticas de seus benefícios e
limitações para que se possa minimizar seus
riscos, potencializar seus benefícios e
promover sua utilização nas pessoas e Recebido para publicação 03/03/2016
situações adequadas. Aceito em 13/06/2016

REFERÊNCIAS

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in elite competitive weightlifters. Journal of
Athletic Training. Vol. 34. p.232-238. 1999.

2-Glassman, G. What is fitness. CrossFit


Journal. p.1-11. 2002.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.11. n.64. p.138-139. Jan./Fev. 2017. ISSN 1981-9900.

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ISSN 2318-5104 | e-ISSN 2318-5090
CADERNO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
Physical Education and Sport Journal
[v. 18 | n. 3 | p. 95-99 | 2020]
DOI: http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2020.v18.n3.p95

ARTIGO DE REVISÃO

Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura


Incidence of injury on CrossFit: a systematic literature review

Dayse Queiroz da Silva Oliveira1, Marília Cordeiro Vasconcelos1, Ravena Santana Torres1,
Deisiane Reis Santos1, Dario da Silva Monte Nero2
1
Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), Indaial/SC, Brasil
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador/BA, Brasil

HISTÓRICO DO ARTIGO RESUMO


Recebido: 05 junho 2020 INTRODUÇÃO: O CrossFit® é um programa de condicionamento físico que tem como característica movimentos
Revisado: 17 julho 2020 sucessivos englobando uma grande variedade de exercícios que vão desde a corrida aos exercícios de
Aprovado: 31 julho 2020 levantamento olímpico e movimentos ginásticos, realizados em alta intensidade com curtos intervalos de
recuperação. Nos últimos anos a adesão a esse esporte vem crescendo consideravelmente, e com isso sugere-
PALAVRAS-CHAVE: se que os praticantes têm se submetido a treinos pesados e extenuantes que os levam a desenvolver lesões.
Treinamento Intervalado de Alta OBJETIVO: O objetivo deste estudo é realizar uma revisão sistemática para identificar a incidência de lesões no
Intensidade; Exercício Físico; CrossFit e quais são as articulações mais referidos de lesão desta prática.
Ferimentos e Lesões. MÉTODOS: Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica realizada nas bases de dados eletrônicas Scielo,
Pubmed/Medline com os termos CrossFit e lesão em português e inglês. Foram encontradas no total 64 artigos
nas bases de dados pesquisadas, porém apenas 6 artigos foram incluídos.
KEYWORDS: RESULTADOS: Com base nos estudos analisados os resultados mostram que a incidência de lesão no CrossFit
High-Intensity Interval Training;
não é alta variando entre 0,27 e 18,9 por 1000 horas de treinamento, sendo maior em indivíduos iniciantes ou
Exercise; Wounds and Injuries.
indivíduos experientes. Em relação ao local das lesões, ombro, coluna lombar e joelho foram as articulações
mais citadas com incidência de lesões, provavelmente por serem as articulações mais solicitadas na maioria
dos movimentos.
CONCLUSÃO: Com base nos estudos analisados a incidência de lesão no CrossFit é baixa, e as lesões ocorrem
mais frequentemente no ombro, lombar e joelho.

ABSTRACT
BACKGROUND: CrossFit® is a fitness program that features successive movements encompassing a wide variety
of exercises ranging from running to Olympic lifting exercises and gymnastics movements performed in high
intensity with short recovery intervals. In recent years, adherence to this sport has grown considerably, and in
this way it is suggested that the practitioners have undergone heavy and strenuous workouts that lead them
to develop injuries.
OBJECTIVE: The objective of this study is to carry out a systematic review to identify the incidence of injuries in
CrossFit and which are the most referred joints of injury in this practice.
METHODS: This study consists of a bibliographic review carried out in the electronic databases Scielo, Pubmed/
Medline with the terms CrossFit and injury in Portuguese and English. A total of 64 articles were found in the
databases searched, but only 6 articles were included.
RESULTS: Based on the studies analyzed, the results show that the injury incidence in CrossFit is not high,
varying between 0.27 and 18.9 per 1000 hours of training, being higher in beginners or experienced individuals.
In relation to the location of the injuries, the shoulder, lumbar spine, and knee were the joints most cited with
incidence of injuries, probably because they are the joints most requested in most movements.
CONCLUSION: Based on the studies analyzed, the incidence of injury at CrossFit is low, and injuries occur more
frequently on the shoulder, lower back, and knee.

Direitos autorais são distribuídos a partir da licença Creative Commons


(CC BY-NC-SA - 4.0)
OLIVEIRA, D. Q. da S. et al.
96 Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura

INTRODUÇÃO vertebrais entre outras estruturas que podem ser provocadas


ou agravadas pela atividade física (PINHO et al., 2013).
O CrossFit por se caracterizar em uma atividade na qual há
Já é bem conhecido que a prática de exercícios físicos mo- uma combinação de vários estilos de exercício físicos, e que
derados ajuda a melhorar a saúde e aprimorar as capacidades tem tomado grandes proporções nos últimos tempos, muitos
físicas, levando a uma boa condição de saúde e prevenindo praticantes acabam se submetendo a treinos muito intensos e
doenças. Segundo um posicionamento da Sociedade Brasileira extenuantes que tem levado a lesões, e a desistência de alguns
de Medicina do Esporte (1996) as atividades físicas diárias tais praticantes do esporte (LOPES et al., 2018)
como subir escadas e andar podem promover benefícios signi-
ficativos para a saúde, e somados a programas de exercícios fí- Segundo Montalvo et al. (2017) o CrossFit teve sua popu-
sicos, se tornam ainda mais recomendados. Entre os benefícios laridade aumentada em 2005, e devido a uma maior aceitação
promovidos para a saúde estão a melhora do condicionamento da população e a falta de literatura científica que relatasse os
físico, da resistência muscular geral e localizada, coordenação efeitos do treinamento, muito tem se questionado sobre sua
motora entre outros (SILVA, 2010). Isso faz com que exercícios segurança. Por isto, tem se associado uma alta incidência de
combinados ou mesmos treinos como o CrossFit ganhem cava lesão à prática do CrossFit devido ao fato de ser uma atividade
vez mais adeptos. extremamente intensa, porém não se sabe ao certo a real inci-
dência das lesões e quais são as articulações mais afetadas com
O CrossFit1 é um programa de condicionamento físico que esta prática. Portanto, o objetivo do presente estudo consiste
cada vez mais vem ganhando vários adeptos e que tem como em realizar uma revisão sistemática para identificar a incidência
característica movimentos sucessivos, abrangentes e generali- de lesões no CrossFit e quais são as articulações mais referidos
zados que buscam desenvolver 10 capacidades físicas através de lesão nesta modalidade.
de treinos que trabalham movimentos funcionais em alta in-
tensidade, que segundo seu criador, Greg Glassman, gera mais
MÉTODOS
ganhos significativos no condicionamento físico (GLASSMAN,
2005). A sessão de treino segue uma ordem que vai do aque-
Trata-se de uma revisão sistemática seguindo as recomen-
cimento, desenvolvimento de força ou habilidade e a parte do
dações PRISMA, realizada nas bases de dados eletrônicas Scielo,
condicionamento (XAVIER; LOPES, 2017). O treino do dia (WOD
Pubmed/Medline, utilizando-se a combinação das palavras-cha-
- workout of the day) são planejados por um coach para que os
ves CrossFit AND lesão e CrossFit AND injury. Na base de da-
exercícios sejam realizados o maior número possível dentro de
dos Pubmed foram usadas as palavras-chaves apenas em inglês
um determinado período de tempo; os treinos são distintos e
(CrossFit AND injury), no Scielo em português e inglês (CrossFit
podem e devem ser adaptadas dependendo das condições dos
AND lesão; CrossFit AND injury), em ambas bases de dados não
alunos, e são divididos em etapas: o aquecimento, trabalho de
se utilizou recorte temporal. A busca e seleção dos artigos foram
técnica ou força, WOD e alongamento (MOURA et al., 2019).
realizadas em junho e julho de 2020.
Segundo Glassman (2005) os treinos podem ser realizados
por qualquer pessoa, o que varia é apenas o grau da intensidade
e não as necessidades em relação ao ganho de condicionamen-
to físico, não é um treino voltado apenas para atletas, mas é
um método testado em várias pessoas com condições distintas.
Nesta metodologia de treino existe uma grande variedade de
exercícios que vão desde a corrida aos exercícios de levanta-
mento olímpico e movimentos ginásticos, sendo que os exer-
cícios são realizados em alta intensidade e em uma velocidade
rápida, com curtos intervalos de recuperação (WEISENTHAL et
al., 2014).
De acordo com Xavier e Lopes (2017) por ser uma atividade
com alta demanda fisiológica e biomecânica, exigindo do indiví-
duo o empenho máximo, pode representar um risco de lesões
musculoesqueléticas, a uma incapacidade funcional e afasta-
mento das ativididades, sendo lesões entendidas como altera-
ções que levem a um prejuízo das funções musculoesqueléticas
e alterações histoquímicas e morfológicas do tecido.
Segundo Bach e Hasan (2003) a lesão é um problema dolo-
roso gerando um impedimento no atleta para que este desem-
penhe sua prática esportiva, sendo a inflamação um processo
comum em todas as lesões, ela é uma resposta tecidual locali- Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos para a revisão.
zada decorrente da lesão, e caracterizado por eventos comple-
xos químicos, vasculares e celulares que levam recuperação e
A seleção dos artigos (Figura 1) foi baseada na leitura do tí-
regeneração. Afetam ligamentos, articulações, tendões, discos
tulo e resumo e na relevância do mesmo para o objeto de pes-
1
NOTA DO EDITOR: CrossFit® é uma marca registrada da Crossfit Inc., sediada nos EUA. quisa deste estudo, os artigos selecionados abordavam especi-
Para fins deste estudo, iremos grafar apenas o termo CrossFit, como originalmente foi
criado, mas sem o símbolo de marca registrada (® ou TM). ficamente a temática deste estudo. A seleção foi feita por pares

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 18, n. 3, p. 95-99, set./dez. 2020.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index
OLIVEIRA, D. Q. da S. et al.
Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura 97

sem conflito de concordância. Os critérios de inclusão contem- Outro estudo realizado com praticantes de CrossFit foi o de
plaram estudos que abordassem a incidência de lesão apenas Mehrab et al. (2017) através de questionário online. Um total
no CrossFit, artigos livres e disponíveis, em ambos os sexos e de 449 pessoas (226 homens e 183 mulheres) foram incluídas
em qualquer faixa etária, publicados em português e inglês e neste estudo, com média de idade de 31,9±8,3 anos, sendo que
artigos originais. Os critérios de exclusão foram: artigos de revi- 19,6% da população (n=88) era composta por indivíduos que
são, resultados duplicados (utilizado em outros estudos), outros tinham menos de 6 meses de experiência no esporte, 21,8%
idiomas e sem resumo disponível. Os artigos que preencheram (n=98) entre 6 e 12 meses, 28,5% (n=128) entre 12 e 24 meses,
os critérios de inclusão foram lidos na íntegra. No total 6 artigos e 30,1% (n=135) com mais de 24 meses de experiência. Do total
foram selecionados e incluídos nesta revisão. de questionários avaliados 252 relataram ter tido alguma lesão,
sendo que a parte mais afetada foi o ombro (n=87), lombar
RESULTADOS (n=48) e joelho (25).
Segundo relato dos atletas, as possíveis causas de lesão
No Quadro 1 é possível visualizar um resumo dos estudos foram execução incorreta (n=75), fadiga (n=74), carga alta
analisados nesta revisão. O estudo de Feito et al. (2018) avaliou (n=59), desconhecido (n=37), resultado de lesão anterior (n=34)
incidência de lesão em praticantes de CrossFit durante um e por causa do treinador (n=6), o relato dos atletas não foi um
período de 4 anos através de um questionário online. Foram dado discutido no artigo. Neste estudo a taxa de lesão foi 56,1%
incluídos indivíduos com mais de 18 anos e com pelo menos 3 (neste estudo as taxas de lesões não foram calculados por 1000
meses de prática no CrossFit. Um total de 3049 indivíduos (1483 horas de treinamento).
mulheres e 1566 homens) responderam ao questionário, deste
total, 931 (30,5%; 495 homens e 436 mulheres) relataram ter No estudo de Montalvo et al. (2017) foi avaliada a incidência
tido uma lesão relacionado ao CrossFit, dos quais 581 (62,4%) e fatores de risco para lesão no CrossFit, através de entrevista
tiveram lesão em uma única parte do corpo, e 350 (37,6%) em utilizando um questionário que avaliava os seis meses de treino
mais de uma parte. anteriores em 191 atletas (94 homens e 97 mulheres) através
de entrevista realizadas em 4 instalações da CrossFit no sul
Os locais mais comuns de lesão foram os ombros (39%),
da Flórida, deste total 50 referiram ter sofrido lesão (total
costas (36%), cotovelos (12%), joelhos (15%) e punho (11%), e
de 62 lesões), sendo que a taxa de incidência de lesão foi 2,3
6 casos de rabdomiólise (0,6%) foram relatados. O tempo de
lesões por 1000 horas de treino. Em relação aos fatores de
experiência no esporte influenciou a taxa de lesão, sendo que
risco que influenciaram, os mais expressivos foram o tempo
indivíduos com mais de 3 anos de experiências tiveram taxas
de participação no CrossFit, estatura, massa corporal, horas
maiores de lesão (43,1%), em relação àqueles com 1 a 3 anos
semanais de treino. Com relação à participação na competição,
(38,8%) e menos de 1 ano (18%), estes resultados podem
aqueles que declararam competir (n=65), 40% tiveram lesão nos
ser devido a uma maior frequência semanal, intensidade do
6 meses anteriores. A prática de outros esportes também estava
treinamento e variedade de exercícios, porém o autor não deixa
claro essas informações. associada à lesão, de um total de 123 que declaram atividades
externas, 31,7% (n=39) tiveram lesão em comparação aqueles
Em relação a frequência semanal, indivíduos que praticam que fazem exclusivamente o CrossFit (n=67) apenas 10 tiveram
de 3 a 5 vezes na semana tiveram mais lesões do que aqueles lesão (15%). Os locais que tiveram mais lesões foram o ombro,
que faziam menos de 3 vezes ou mais de 5 vezes. As taxas de joelho e lombar. De um total de 62 lesões descritas em partes
lesão mostram neste estudo que com base no número máximo
distintas, 11 eram lesões pré-existentes e 47 se originaram com
de horas semanais treinadas a taxa de lesão foi de 0,27 por 1000
o CrossFit.
horas de treino (mulheres: 0,28; homens: 0,26) e com base no
número mínimo de horas treinadas por semana a taxa foi de No estudo de Da Costa et al. (2019) foram incluídos atletas e
0,74 por 1000 horas (mulheres: 0,78; homens: 0,70) (FEITO et não-atletas das modalidades (estudo prospectivo de 12 meses,
al., 2018). os dados foram coletados através de questionário), no total 414

Quadro 1. Estudos avaliados sobre lesão no Crossfit nos periódicos científicos publicados e localizados no PubMed/Medline e Scielo até julho de 2020.
Autores Amostra Idade População avaliada Tipo de lesão Incidência
Máximo de horas semanais treinadas=
Ombro, costas, joelho, 0,27/1000 hrs de treinamento
3.049 (1.483 mulheres e
Feito et al. (2018) 36,8±9,8 anos Praticantes cotovelo, punho e
1.566 homens) Mínimo de horas semanais treinadas=
rabdomiólise
0,74/1000 hrs de treinamento
449 (226 homens e 183
Mehrab et al. (2017) 31,9±8,3 anos Atletas Ombro, lombar e joelho 56,1%
mulheres)
191 (94 homens e 97
Montalvo et al. (2017) 31,69±9,4 anos Atletas Ombro, joelho e lombar 2,3/1000 hrs de treinamento
mulheres)
414 (243 homens e 171 Atletas competitivos,
Da Costa et al. (2019) 31±6,6 anos Ombro e coluna lombar 3,24/1000 hrs de treinamento
mulheres) recreativos e iniciantes

406 (198 homens e 208 IC= 32,8% (95%IC, 28,4 - 37,5%))


Szeles et al. (2020) 32,1 (31,4-32,8) anos Praticantes Ombro e coluna lombar
mulheres) DI= 18,9/1000 hrs de treinamento
168 (51 homens e 117
Larsen et al. (2020) 29,2±7,9 anos Praticantes Coluna lombar e joelho 9,5/1000 horas de treinamento
mulheres)
IC= incidência cumulativa
DI= densidade de incidência

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 18, n. 3, p. 95-99, set./dez. 2020.
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OLIVEIRA, D. Q. da S. et al.
98 Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura

indivíduos (243 homens e 171 mulheres) com média de idade de uma maior frequência semanal sem período adequado de
de 31 anos. Destes 157 (37,9%) relataram ter sofrido lesão, a recuperação. Segundo o Mehrab (2017), o curto tempo de par-
incidência de lesão foi 3,24 por 1000 horas de treinamento. Os ticipação na modalidade tem contribuído para a ocorrência das
locais referidos de lesão foram: ombro (30,8%), lombar (30,1%), lesões, menos de seis meses na modalidade, isso associado a
perna (19,2%), pulso (14,7%), joelho (13,5%), mão/dedo treinos excessivos e a complexidade dos exercícios e movimen-
(10,9%), o tornozelo, coxa, braço, coluna cervical, pé, cabeça, tos, este fato pode ser reduzido com uma maior atenção a par-
abdômen, cotovelo, costela, e antebraço tiveram um percentual ticipantes iniciantes e na redução do volume e intensidade dos
abaixo de 10%. Um percentual de 89,1% (n=139) das lesões fo- treinos, todos estes dados são uteis como base para a realiza-
ram classificadas como leves a moderadas e 10,9% (n=17) foram ção de futuras pesquisas na prevenção de lesões no CrossFit.
consideradas graves a muito grave. (MEHRAB et al., 2017).
Neste estudo os fatores de risco para lesão foram lesões an- Em relação a localização, nos estudos analisados as
teriores e o tempo de prática no CrossFit. Em atletas competiti- articulações mais referidas de lesão foram a do punho, coluna
vos as taxas de lesão foram maiores (82,2%) do que em atletas lombar e ombro, segundo Lopes et al. (2018) estas lesões
recreativos, com menos experiência. Comparando atletas de estão associadas a alta quantidade de peso e repetições
nível competitivo com iniciantes, a probabilidade de lesão foi típica do esporte. Vale ressaltar, que alguns dos estudos
5 vezes maior, entre atletas de nível recreativo e iniciante foi 2 analisados (SZELES et al., 2020; FEITO et al., 2018; LARSEN et
vezes maior, provavelmente devido a necessidade de superar al., 2020; MEHRAB et al., 2017) foram auto-relatados e não
limites. Estes dados corroboram com o estudo de Feito et al. tiveram a orientação de um profissional sobre lesões, apenas
(2018) no qual a incidência de lesão foi maior em praticantes uma descrição e/ou imagem nos questionários, o que pode
com tempo maior de experiência do que os iniciantes. Este fato prejudicar não somente na identificação exata da lesão, pela
se deve provavelmente a um maior tempo de exposição ao trei- falta de validação médica, deixando livre para interpretação
namento, necessidade de superar limites e uma melhor profici- pessoal além do viés de memória.
ência técnica (DA COSTA et al., 2019).
Szeles et al. (2020) investigaram a incidência de lesão e a CONCLUSÃO
associação de características pessoais e do treinamento durante
Com base nos estudos analisados a incidência de lesão no
12 semanas em 406 indivíduos (198 homens e 208 mulheres)
CrossFit não é alta, sendo semelhante em alguns estudos e
com média de idade de 32,1 anos. Destes indivíduos, 133 rela-
em outros um pouco mais elevada, provavelmente devido a
taram ter sofrido lesão. A incidência cumulativa foi de 32,8% e
característica da população (atletas competitivos, recreativos e
a densidade de incidência foi de 18,9 por 1000 horas de treina-
iniciantes) e a definição de lesão adotada pelos estudos. Em
mento. Os locais mais referidos de lesão foram o ombro (n=47,
relação à localização das lesões, ombro, lombar e joelho foram
19%) coluna lombar (n=37, 15%) e joelho (n=29, 11,7%). As
as articulações mais citadas com incidência de lesão, isso se
cargas de treinamento (Scaled e Rx) e lesões anteriores foram
deve ao fato de serem as articulações mais solicitadas na
consideradas fatores de risco para lesão, e o aumento de 1 ano
maioria dos movimentos do esporte, sendo bastante associado
de experiência foi considerado um fator protetor. Com relação
aos movimentos ginásticos e levantamento de peso.
as cargas de treinamento, o autor sugere que ao sair do Scaled
(iniciante) para o Rx (avançado) haverá um aumento na carga Os estudos apresentam limitações em relação a lesões auto
de treino, e que deve haver uma atenção maior nesta transição referidas, podendo levar a um erro de interpretação, apesar de
para evitar lesões. Já em relação a experiência ser considerada alguns estudos terem definido o que seria lesão e/ou imagens
um fator protetor o autor sugere que mais estudos devam ser ao aplicar o questionário, mas o viés da memória também
feitos. é importante porque ao fazer uma análise retrospectiva
os participantes poderiam ter se esquecido de alguma
No estudo de Larsen et al. (2020) investigou a incidência de eventualidade que tiveram em decorrência do CrossFit, outra
lesão em indivíduos iniciantes no CrossFit, através de questio- limitação foi a definição de lesão variou entre os estudos.
nário (autorrelato), durante um período de treinamento de 8
semanas que só incluiu indivíduos que nunca haviam praticado
REFERÊNCIAS
a modalidade. Foram incluídos 168 indivíduos (51 homens e 117
mulheres) com média de idade de 29,2±7,9 anos. Os resultados BACH, B. R.; HASAN, S. S. Lesões esportivas e a resposta dos tecidos à lesão
mostram que 22 indivíduos relataram 1 lesão (13,1%) e 3 rela- física. In: SCHENCK R. C. J. Medicina esportiva e treinamento atlético. 3. ed.
taram 2 lesões (1,8%), totalizando 28 lesões em 25 indivíduos. São Paulo: Roca. 2003. p. 128.
A incidência de lesão foi de 9,5 por 1000 horas de treinamento. DA COSTA, T. S.; LOUZADA, C. T. N.; MIYASHITA, G. K.; SILVA, P. H. J. da;
As regiões referidas de lesão foram: a coluna lombar (n=7, 25%), SUNGAILA, H. Y. F.; LARA, P. H. S.; ... ; ARLIANI, G. C. CrossFit: injury
prevalence and main risk factors. Clinics, São Paulo, v. 74, p. e1402, 2019.
joelho (n=6, 21,4%), cotovelo/mão (n=5, 17,9%), “outras locali-
zações anatômicas” (n=5, 17,9%), ombro (n=2, 7,1%), pescoço FEITO, Y.; BURROWS, E. K.; TABB, L. P. A 4-year analysis of the incidence of
(n=1, 3,6%), quadril (n=1, 3,6%) e tornozelo (n=1, 3,6%). injuries among crossfit-trained participants. Orthopaedic Journal of Sports
Medicine, Thousand Oaks, v. 6, n. 10, p. 2325967118803100, 2018.
De acordo com os estudo analisados há um risco maior em
GLASSMAN, G. Guia de treinamento. CrossFit Journal, Whashington,
indivíduos iniciantes, que se deve ao fato de não passarem por 2005. Coletânea de artigos publicados no CrossFit Journal, disponível em:
um período de adaptação ao treinamento e aprendizagem das <http://library.crossfit.com/free/pdf/CFJ_L1_TG_Portuguese.pdf>. Acessa-
técnicas e execuções corretas, outras já referem maior incidên- do em: 31 de março de 2019.
cia em indivíduos experientes, que provavelmente se deve ao LARSEN, R. T.; HESSNER, A. L.; ISHOI, L.; LANGBERG, H.; CHRISTENSEN, J. In-
fato de treinarem com altos volumes e cargas intensas, além juries in novice participants during an eight-week start up Crossfit program:

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 18, n. 3, p. 95-99, set./dez. 2020.
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Incidência de lesão no CrossFit: uma revisão sistemática de literatura 99

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CONFLITO DE INTERESSE
Os autores do estudo declaram não haver conflito de interesses.

FINANCIAMENTO
Este estudo não teve apoio financeiro.

ORCID E E-MAIL DOS AUTORES


Dayse Queiroz da Silva Oliveira (Autor Correspondente)
ORCID: 0000-0001-9783-229X.
E-mail: dayse_queiroz@live.com
Marília Cordeiro Vasconcelos
ORCID: 0000-0001-7757-2558.
E-mail: maraedf@icloud.com
Ravena Santana Torres
ORCID: 0000-0003-2706-3557.
E-mail: ravenauefs@hotmail.com
Deisiane Reis Santos
ORCID: 0000-0003-1056-9631.
E-mail: deisyrs71@gmail.com
Dario da Silva Monte Nero
ORCID: 0000-0001-5092-5149.
E-mail: dariomontenero@yahoo.com.br

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Incidência de lesões em praticantes de cr ossfi t e
IJMSR musculação

Juliana de Oliveira1
Yasmini Portes Carneiro2
Patrícia Espindola Mota Venâncio3

RESUMO
O objetivo desse estudo foi identificar a incidência e tipos de lesões, quais os locais são mais comuns as dores
nos praticantes de crossfit e musculação. A amostra foi composta por 59 indivíduos, sendo 41 do crossfit e 18
da musculação. Foram utilizados dois instrumentos de questionários, um semiestruturado, com 25 questões, que
aborda qual a modalidade de treinamento, as patologias e as lesões, e o questionário de prontidão para o esporte
com foco nas lesões musculoesqueléticas (MIR-Q), contendo seis questões focadas em avaliar a possibilidade de
ocorrer tais lesões ou fatores predisponentes. Como resultado, constatou-se que a maioria dos praticantes de
crossfit não possuem nenhum tipo de lesão e que o índice encontrado em musculação foi superior. Porém
quanto ao tipo de lesão, as mais acometidas nas modalidades analisadas durante o estudo foram: 9,8% de
tendinite no crossfit e na musculação, 5,6%, de torção e estiramento muscular. Os locais de maior incidência de
dor no crossfit foram, 9,8% no joelho, 7,3% no punho, seguido de 4,9% no tornozelo e de 2,4% na lombar,
enquanto que, na modalidade de musculação esse índice alcançou 5,6% tanto no joelho, quanto na lombar e no
tornozelo. Os testes, no presente estudo de caso, nos levam a concluir que a maioria dos praticantes não tem
acometimento de lesões em nenhuma das modalidades, porém, na minoria lesionada, as lesões que mais
prevaleceram foram citadas acima.
Palavras-chaves: crossfit; musculação; lesões.

ABSTRACT
The aim of this study was to identify the incidence, type of injuries and which are the most affected sites of pain
in crossfit and bodybuilders. The sample consisted of 59 individuals, 41 from crossfit and 18 from bodybuilding.
Two questionnaires instruments were used, one semi-structured with 25 questions that addresses the type of
training, pathologies and injuries, and the sport readiness questionnaire focusing on musculoskeletal injuries
(MIR-Q) containing 6 questions focused on evaluating the possibility of such injuries or predisposing factors
may occur. As a result it was found that most crossfit practitioners do not have any type of injury and the index
found in bodybuilding was higher. However, regarding the type of injury, the most affected in the modalities
analyzed during the study were: 9. 8% or crossfit and bodybuilding tendonitis, 5.6% or muscle torsion and
stretching. The places with the highest incidence of crossfit pain were 9.8% in the knee, 7.3% in the wrist,
followed by 4.9% in the ankle and 2.4% in the lower back, while in bodybuilding mode this index reached 5.6%
in both the knee, lower back and ankle. Regarding the incidence, we conclude with the tests in the case study
that most practitioners do not have injury in any of the modalities, but in the minority who obtained injury, the
most prevalent, were mentioned above.
Keywords: crossfit; bodybuilding; injuries.

Submissão: 10/02/2020
Aceite: 20/06/2020

1Discentedo curso de Educação Física do Centro Universitário de Anápolis, Goiás, Brasil


2Discentedo curso de Educação Física do Centro Universitário de Anápolis, Goiás, Brasil
3Docente do curso de Educação Física do Centro Universitário de Anápolis, Goiás, Brasil. venanciopatricia@hotmail.com

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v.2, n.1, Jan.-Abr. 2020 • p. 16-24. • DOI doi.org/10.37951.2674-9181.2020v2i1.p16-24 • ISSN 2674-9181
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Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

INTRODUÇÃO
O exercício físico pode contribuir para a melhora da saúde, se feito habitualmente, permitindo aos
indivíduos uma vida mais benéfica1. Pois, indivíduos que são fisicamente ativos apresentam alterações
significativas no metabolismo, tendo um aumento considerável nos níveis do lactato e da glicose sanguíneos2.
Para que haja melhor benefício, há de se levar em consideração as características específicas do
indivíduo, como intensidade, volume, complexidade das tarefas e idade de acordo com o que é praticado, para
assim, o exercício físico contribuir para tais benefícios3.
É notório que os exercícios físicos mais procurados são musculação e o crossfit. A musculação, que é
voltada para saúde e/ou esporte, sendo que a saúde é voltada para pessoas que estão preocupadas com a
melhoria ou manutenção do corpo, associada também a estética e a musculação, enquanto o esporte se aplica às
pessoas que buscam performance. Já o crossfit, é um método central de força e condicionamento físico, com o
intuito de desenvolver uma aptidão física geral, tanto em pessoas que possuem habilidades ou em atletas de alto
nível, trazendo melhorias fisiológicas e estéticas4.
Entretanto, apesar das vantagens adquiridas através da prática do exercício físico, não se deve esquecer
das possíveis lesões causadas através das modalidades, sendo a atenção dos profissionais da área e dos
praticantes um fator de grande importância para a prevenção ou agravos de lesões5.
A prática de qualquer exercício físico pode provocar alguma lesão, caso não tenha conhecimento da
atividade e também não se tenha uma supervisão de um profissional capacitado da área, ou, caso haja uma
prática desenfreada da atividade, o que acabará acarretando algum tipo de lesão, seja ela muscular, articular ou
tendinosa.
Prevenir as lesões é algo muito importante para que se consiga treinar bem em uma determinada prática
de exercício físico, com um corpo “saudável”, pois, a partir do momento em que se tem a primeira lesão, as
outras ficarão muito mais susceptíveis de surgirem, uma vez que uma parte do corpo está danificada e as outras
que terão que fazer seu papel de uma forma muito mais extensiva para conseguir manter o corpo em trabalho,
prejudicando todo o resto6.
Porém, quando se tem um conhecimento da técnica correta do exercício que será realizado, tendo um
nível de segurança e de exatidão apurados, as incidências de lesões, sejam elas, agudas ou crônicas, podem ser
diminuídas7, tendo em vista que o exercício físico age como um fortalecedor da musculatura, um protetor para
as articulações e tendões, melhorando a postura corporal, trazendo também manutenção dos músculos, dos
ossos e ligamentos, prevenindo, portanto, as lesões8.
Com base no exposto acima, o estudo traz como problemática: Qual a incidência de lesões nas
modalidades de crossfit e musculação? Qual modalidade obteve mais lesões?
É neste sentido que se justifica este estudo, por se tratar de índice de lesões e envolver uma série de
discussões acerca do tema, fazendo assim, com que surja a necessidade de mais estudos, com intuito de
averiguar e aprofundar sobre esta problemática.
Desta forma, o presente estudo tem como objetivo identificar a incidência de lesões em praticantes de
crossfit e musculação, além de comparar qual modalidade obteve mais lesões.

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Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

M ETODOLOGIA
O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa de campo transversal de caráter descritivo. Os
dados foram coletados na cidade de Anápolis-GO, com 41 praticantes de crossfit e 18 praticantes de
musculação, a amostragem era de 67 indivíduos, de ambos os sexos, por conveniência, tendo perda amostral de
oito participantes. Foram critérios de inclusão, os praticantes de crossfit e musculação, que treinam há mais de
seis meses, com idade acima de 20 anos. Já os critérios de exclusão foram treinar menos que três vezes por
semana e possuir qualquer deficiência física.
Com a autorização dos proprietários dos centros de treinamento, os indivíduos foram abordados para a
entrega do TCLE (termo de consentimento livre e esclarecido) e aplicação de um questionário semiestruturado
com 25 questões que aborda modalidade de treinamento, patologias e lesões, e o questionário de Prontidão para
o esporte com foco nas lesões musculoesqueléticas (MIR-Q) contendo seis questões focadas em avaliação de
possíveis lesões musculoesqueléticas ou fatores predisponentes. Os indivíduos preencheram os mesmos
questionários, individualmente, e responderam no próprio local de treino, ao término foram catalogados.
Foi feita uma análise descritiva em percentual e em teste “Manny Wlitim” para verificar a diferença das variáveis
analisadas entre as modalidades. Foi utilizado um programa (SPSS. 20.0.), adotando um nível de significância de
p ≤ 0,05.

RESULTADOS
A tabela 1 descreve os dados da amostra. Em relação ao crossfit, apresentou como frequência dos
treinos, a maioria, cinco vezes na semana (56,1%), já em musculação, quatro vezes na semana (38,9%), em
relação a duração dos treinos nas duas modalidades se destacou 1 hora de treino (78,0%) e respectivamente
(88,9%). Quanto ao tempo de prática, a maioria treina há dois anos, nas duas modalidades, (70,7%) e (61,1%).
No crossfit, apenas um (2,4%) praticante possui patologia, ao passo que na musculação são dois (5,9%). Foram
analisadas nessa tabela: medicação, suplementação, etilismo e tabagismo, sendo que, a maioria dos indivíduos
não fazem uso dessas variáveis em ambas as modalidades.
Tabela 1: Anamnese dos avaliados

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Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

Em relação a tabela 2, no que tange ao histórico de lesão, foram avaliados os tipos de lesões, em relação
ao crossfit, sendo que a tendinite foi a lesão mais relatada (9,8%), seguida por mais de uma lesão (9,8%) em
musculação, mais de uma lesão (11,1%) foi mencionada. No que diz respeito a quantidade de lesões no crossfit,
se destacaram praticantes com uma (22,0%) a duas (12,2%) lesões, na musculação, uma (11,1%) a duas (11,1%)
lesões. Sete indivíduos apresentaram caráter incapacitante no crossfit (17,1%), já na musculação, não houve
caráter incapacitante. Em algum movimento foi informado que, no crossfit, 13 pessoas sentem dor (31,7%)
sendo os locais mais mencionados joelho (9,8%) e punho (7,3%), em musculação duas (11,1%) responderam
que sentem dor em algum movimento, sendo os locais mais relatados joelho, lombar e tornozelo (5,6%).

Tabela 2: Histórico de lesão

Na tabela 3, é possível observar as questões aplicadas de lesões musculoesqueléticas ou fatores


predisponentes. Obtiveram como resultado, na primeira questão “apresenta dor nos treinos e jogos”, apenas

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Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

uma pessoa diz que apresenta dor (2,4%) em crossfit. Já a questão sobre queixa de instabilidade articular, quatro
indivíduos responderam sim (9,8%), no crossfit, e dois, na musculação (11,1%). Apresentaram sinais visíveis de
lesão dois praticantes de crossfit (4,9%), seguido de uma, da musculação (5,6%). Os desvios posturais
apareceram apenas em três, no crossfit (7,3%), para dois, na musculação (11,1%). À variável “alterações
fisiológicas”, apenas um indivíduo (2,4%), respondeu que apresenta. Por último, a queda no rendimento apenas
quatro praticantes de crossfit (9,8%) observaram a queda nos últimos seis meses de treinamento.
Ainda na tabela 3, quanto a “queda no rendimento”, na musculação e crossfit, nos últimos seis meses, ao
fazer a tabulação cruzada (crosstab), percebeu-se que a queda no rendimento ficou relacionada quanto ao local
da dor, com p= 0,007, quanto ao tempo de dor com p=0,003 e essa queda no rendimento teve caráter
incapacitante de p= 0,002.
Tabela 3: Questionário

Fazendo uma correlação entre as variáveis analisadas, houve uma correlação moderada em que quanto
mais patologias, maior era a frequência de medicamento semanal, e, maior o tempo de uso do medicamento, o
que foi observado nas duas modalidades. Já na modalidade crossfit, houve uma correlação entre tipo de lesão,
com tempo de lesão (r=0,513), quantas lesões (r=0,706), incapacidade (r=0,503), dor (r=0,468) e local da dor
(r=0,716), em que mostra se o tipo de lesão vai influenciar no tempo que o indivíduo tem a lesão, na quantidade
de lesões e na incapacidade de executar algum exercício. A lesão é que vai indicar o tipo da dor e o local da dor
do mesmo. Com relação à dor nos treinos e jogos, quanto maior a dor, os entrevistados tiveram menor
rendimento nos últimos seis (r=0,481).

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Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

Tabela 4: Correlação das variáveis dos dois grupos (crossfit e Musculação)


VARIÁVEIS r p
Tipo de lesão x frequência semanal 0,513 0,001
Tipo de lesão x quantas lesões 0,423 0,000
Tempo de prática x quantas lesões 0,395 0,001
Quantas lesões x frequência semanal 0,468 0,002

DISCUSSÃO
Feito9 ao avaliar, em seu estudo, o risco de lesões em pessoas que treinam em média menos de três vezes
por semana, e com um ano de prática, constatou que as lesões foram em sua maioria adquiridas pela falta de
técnica na execução dos exercícios e pela falta do professor capacitado para tal. Esses dados vêm ao encontro
com o presente estudo, uma vez que, dentre os praticantes de crossfit, apenas oito relataram adquirir a lesão
depois da prática e a maioria dos avaliados mesmo depois de mais tempo de prática não adquiriam nenhuma
lesão. Assim, é possível concluir que não é a prática do crossfit ou musculação que traz a lesão, mas sim o uso
inadequado da técnica e a falta de acompanhamento profissional.
Quando analisados os praticantes de musculação, constatou-se que a maioria das lesões encontradas na
prática foram mais de uma, por pessoa, de torção ou estiramento muscular. Os locais mais acometidos foram
joelho, lombar e tornozelo. Para a modalidade crossfit, esse índice foi tendinite, como maior incidência, e os
locais sendo joelho e punho. Esses dados podem ser reforçados no estudo de Souza10, que também buscou
verificar a ocorrência e particularidades das lesões em praticantes de musculação e constatou que o ao tipo de
lesão que mais prevaleceu foi a distensão muscular (35% de relatos), seguida pela tendinopatia, com 25%, e dor
aguda indefinida, com 20%. Quanto ao local mais recorrente da lesão, concluiu-se que foi o ombro e o joelho
com 35 e 30%, respectivamente. Tende, como resultado final, uma incidência de 44,4% de lesões, e que esses
resultados sugerem que as lesões estão associadas com a má execução dos exercícios, pelo uso inadequado dos
princípios do treinamento e pela falta de acompanhamento de um profissional da área.
Em uma pesquisa desenvolvida por Hаk11, houve uma taxa de lesão de 3,1 а cada 1000 horas de treino,
mostrando também que as taxas de lesões no crossfit são similares as relatadas na literatura por outras
modalidades, como ginástica artística e о LPО. Os dois locais que tiveram maior número de lesões foram os
ombros, durante exercícios de hiperextensão da ginástica ou exercícios com а barra acima da cabeça do LPО, e а
lombar, durante exercícios do LPО.
Da mesma forma, Weisenthаl12, ao analisar características das lesões, verificou que о índice foi
significativamente diferente, entre as partes do corpo, estudadas, sendo as mais lesionadas: ombro, lombar e
joelho. Os mesmos resultados podem ser vistos no presente estudo, uma vez que, ao avaliar os 41 indivíduos,
apenas oito adquiriram lesões depois que começaram a praticar a modalidade de crossfit, onde tiveram maior
acometimento de lesões no joelho, punho e tornozelo e, de 18 indivíduos, dois adquiriram lesões na prática de
musculação, com maior índice em tornozelo, lombar e joelho. Contudo, não foi feita avaliação se eles se
lesionaram enquanto praticavam essas ou outras modalidades que podem ter taxas maiores de lesão. Isso sugere
que a capacitação e atuação do instrutor, bem como a escolha dos exercícios, são mais prováveis de causar
alguma lesão do que a modalidade crossfit e musculação.
No estudo de Oliva13, foram analisados praticantes de musculação, com no mínimo seis meses de
prática, restando constado, através da amostra, que a maioria dos entrevistados apresentam dores após a prática
do exercício, não correlacionando essas dores com outras modalidades. A maior incidência de lesão ocorreu no
ombro 13%, seguido de dor nos músculos dorsais e coluna lombar 6%, cotovelo 5%, joelho 5% e o músculo do

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v.2, n.1, Jan.-Abr. 2020 • p. 16-24. • DOI doi.org/10.37951.2674-9181.2020v2i1.p16-24 • ISSN 2674-9181
21
Incidência de lesões em praticantes de crossfit e musculação

Juliana de Oliveira, Yasmini Portes Carneiro, Patrícia Espindola Mota Venâncio

peitoral com baixa incidência de 3%. Após as mencionadas informações, foi verificado que a maioria dos
indivíduos já treinaram na presença de dor, sem comunicar ao profissional tal incidência. Entretanto, mesmo
com o profissional sendo comunicado sobre o ocorrido, não houve alterações nos treinos dos indivíduos,
resultando assim a má capacitação e atuação do profissional da área, que pode ser a causa das dores analisadas
Da mesma maneira, no presente estudo, houve a incidência de lesões no crossfit de 19,5%, depois do
início da prática, e de 11,2% de lesões, na musculação. Porém, como dito anteriormente, não houve análise se
essas lesões ocorreram nas devidas modalidades ou em outras. Sendo assim, como no estudo de Oliva13, descrito
anteriormente, pode se relacionar que não é a prática que traz a lesão e sim o uso inadequado da técnica e a falta
de capacitação e acompanhamento profissional.

CONCLUSÃO

O estudo concluiu, no que se refere a incidência de lesões, que a maioria dos praticantes não tem
acometimento de lesões tanto na modalidade de crossfit quanto na de musculação. Contudo, na minoria que
obteve lesão, as lesões que mais prevaleceram foram: tendinite e torção, no crossfit, enquanto na musculação,
houve incidência de estiramento muscular. Os locais, do corpo, mais afetados nos praticantes de crossfit foram
joelho, tornozelo, punho e lombar, já na musculação, foram joelho, lombar e tornozelo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v101i6e-197455 Rev Med (São Paulo). 2022 nov.-dez.;101(6):e-197455.

Artigo de Revisão

Lesões em praticantes de Crossfit: revisão narrativa

Injuries to Crossfit practitioners: narrative review

Milena Oliveira Moreira1, Thales Martins Castello1, Mariana Mauricio Moraes1,


João Guilherme Lino da Silva1, Renato Andrade Teixeira Braga2

Moreira MO, Castello TM, Moraes MM, Silva JGL, Braga RAT. Lesões em praticantes de Crossfit: revisão narrativa / Injuries in Crossfit
practitioners: narrative review. Rev Med (São Paulo). 2022 nov.-dez.;101(6):e-197455.
RESUMO: Introdução: O CrossFit tem como pilar o ABSTRACT: Introduction: CrossFit is a training program based
desenvolvimento do condicionamento físico e está se difundindo on fitness development which has been gaining popularity, both
entre a população, tanto em modalidades competitivas quanto não in its competitive and non-competitive modes. The training uses
competitivas. O treinamento faz uso de três padrões para orientar three standards to guide physical conditioning: development of
o condicionamento físico: desenvolvimento de habilidades, skills, such as endurance and strength; good performance in all
como resistência e força; bom rendimento em toda atividade; tasks; and competency and training of pathways that determine
e competência e desenvolvimento das vias determinantes do metabolic conditioning. Objective: To assess the most frequent
condicionamento metabólico. Objetivo: Reunir os tipos mais types of injuries associated with CrossFit training and the causes
frequentes de lesões provocadas pela prática de CrossFit e as
causas e os fatores de risco para o desenvolvimento destas. and risk factors for their occurrence. Methodology: The literature
Metodologia: A revisão da literatura foi realizada ao longo dos review was conducted between October and November 2021 in
meses de outubro e novembro de 2021, por meio das bases de the PubMed, BVS, LILACS and IBECS databases, using the
dados PubMed, BVS, LILACS e IBECS, utilizando os termos MeSH terms “high intensity interval training”, “sports injury”
MeSH “high intensity interval training”, “sports injury” e and “injury”. Results: After applying the inclusion and exclusion
“injury”. Resultados: Foram inseridas 8 publicações neste criteria, eight studies were used in the review and a table with the
estudo, após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão main findings of each one was created. The results found were
e foi confeccionada uma tabela com os principais achados de divided into 4 groups, referring to: upper limbs; lower limbs; trunk
cada estudo. Os resultados encontrados foram subdivididos and spine; and risk factors for injuries. Shoulder and knee injuries
em 4 grupos relacionados a: MMSS; MMII; tronco e coluna; were the most prevalent, and there is a need for further studies on
fatores de risco para lesões. As lesões de ombro e joelho são as spinal and trunk injuries. As for risk factors for the occurrence of
mais prevalentes, e há necessidade de mais estudos sobre lesões injuries, the correlations between CrossFit experience, training
de coluna e tronco. No que tange aos fatores de risco para o frequency, and participation in competition are not well defined.
desenvolvimento de lesões, as correlações entre tempo de prática Conclusion: The studies found different values of prevalence, but
do CrossFit, frequência de treinos e participação de competições agreed that shoulder injuries were more prevalent in the upper
não são bem definidas. Conclusão: As prevalências das lesões limbs, knee injuries in lower limbs, and lumbar injuries in the
divergem entre os estudos, todavia as lesões de ombro são mais spine. Despite the scarcity of literature on the subject, there is a
predominantes em MMSS, joelhos, em MMII e região lombar, clear need for the supervision of trained professionals in order
na coluna vertebral. Apesar da literatura escassa sobre o tema,
torna-se evidente a necessidade de acompanhamento por meio to avoid injuries.
de profissionais capacitados para evitar a ocorrência de lesões.
Keywords: High-intensity interval training; Sports medicine;
Palavras-chave: Treinamento intervalado de alta intensidade; Athletic injuries.
Medicina esportiva; Traumatismos em atletas.

1. Universidade Federal de São João del-Rei, campus Dom Bosco, São João del-Rei, Minas Gerais, Brazil. ORCID: Moreira MO - https://orcid.
org/0000-0002-0469-4877; Castello TM - https://orcid.org/0000-0002-0163-9442; Moraes MM - https://orcid.org/0000-0003-1077-5048; Silva
JGL - https://orcid.org/0000-0002-9492-4372. E-mail: milenamoreira99@aluno.ufsj.edu.br, thalesmcastello@gmail.com, marianamauriciomoraes@
gmail.com, oniloaoj@gmail.com
2. Universidade Federal de São João del-Rei, campus Dom Bosco, Departamento de Medicina, São João del-Rei, Minas Gerais, Brazil. https://orcid.
org/0000-0002-8254-7119. E-mail: renatoatb@hotmail.com
Corerspondence: Milena Oliveira Moreira. Rua Monsenhor Maurício, 321. Bairro Centro. Senador Firmino, Minas Gerais. Brazil. CEP: 36540-000.

1
Moreira MO, et al. Lesões em praticantes de Crossfit: revisão narrativa

INTRODUÇÃO entre os anos de 2017 e 2021 nas línguas portuguesa,


inglesa e espanhola, nas seguintes bases de dados: National

O Crossfit é um programa de treinamento


que tem como pilar o desenvolvimento do
condicionamento físico e está se expandindo entre a
Library of Medicine (PubMed), Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) e Índice Bibliográfico
população, tanto em formas competitivas quanto não Espanhol em Ciências da Saúde (IBECS); a pesquisa
competitivas1,2. O programa se difere de outras formas ocorreu durante os meses de outubro e novembro de
de musculação por meio da utilização de exercícios que 2021. Os descritores utilizados foram exclusivamente
permitem o estabelecimento do domínio do corpo e da “high intensity interval training” AND “sports injury”
amplitude do movimento e que contribuem para o controle AND “injury”; dessa busca derivaram 86 artigos. Após
de objetos externos e a geração de energia por meio do esse resultado, os seguintes passos foram seguidos: leitura
levantamento de peso3. de todos os resumos dos artigos encontrados; leitura na
O Crossfit faz uso de três padrões para orientar o íntegra dos artigos selecionados após a leitura dos resumos;
condicionamento físico, sendo eles: desenvolvimento de leitura interpretativa e redação do texto. Dentre todas as
habilidades – resistência, força, flexibilidade, potência, publicações encontradas, foram excluídas as duplicadas
velocidade, agilidade, coordenação, equilíbrio, precisão nas bases de dados além das que, após a leitura de título e
–; bom rendimento em toda atividade; e competência resumo, não se adequavam à temática abordada na revisão.
e desenvolvimento das vias do fosfagênio, a glicolítica Assim, oito publicações foram selecionadas por possuírem
e a oxidativa, uma vez que o equilíbrio entre os efeitos contribuições significativas para o estudo em questão, e os
dessas três vias é um determinante do condicionamento resultados encontrados – prevalência de lesões e fatores de
metabólico4. risco – foram comparados na discussão. Não foi necessária
Nesse sentido, o Crossfit une o condicionamento a aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa por se tratar
metabólico à ginástica e ao levantamento de peso. O de uma revisão narrativa.
condicionamento metabólico é trabalhado mediante
atividades como ciclismo, corrida e remo, enquanto o
desenvolvimento cardiovascular – com manutenção de
força, velocidade e potência – é trabalhado por meio do
treinamento intervalado, com alternância de períodos
de tarefa e descanso em intervalos controlados. A
ginástica propicia o controle do corpo, com o trabalho de
equilíbrio, força, flexibilidade, agilidade, coordenação e
precisão; e o levantamento de peso também proporciona o
desenvolvimento de força, além de velocidade e potência4.
Com a ampliação da adesão ao treinamento e
do número de atletas de Crossfit, a ideia de que há uma
elevada incidência de lesões entre praticantes de Crossfit
foi difundida. Contudo, as taxas de lesões da modalidade
se comparam a outras – como levantamento de peso,
ginástica olímpica e corrida –, as quais possuem uma
taxa de incidência de lesões significativamente menores
que esportes como o futebol2. Há escassez na literatura a
respeito das lesões que ocorrem em praticantes e em atletas
de Crossfit, o que torna relevante a identificação dessas,
bem como da prevalência e dos fatores de risco associados,
com o objetivo desenvolver estratégias preventivas.
Assim, o presente trabalho, de caráter exploratório e Figura 1. Fluxograma de busca e seleção dos artigos (Elaborado
revisional, tem como intenção realizar um levantamento a pelos autores).
respeito de lesões em praticantes de treinamento funcional
de alta intensidade – o Crossfit –, evidenciando os tipos RESULTADOS
destas, as possíveis causas e os fatores de risco associados.
Após a seleção dos artigos foi confeccionado um
METODOLOGIA quadro com os principais achados de cada estudo (Quadro
1). No quadro, constam autoria, ano de publicação,
Este estudo é caracterizado como uma revisão amostragem/participantes e os principais resultados de
narrativa, com base em produções científicas publicadas cada um deles.

2
Rev Med (São Paulo). 2022 nov.-dez;101(6):e-197455.

Quadro 1. Principais achados dos artigos incluídos na revisão de literatura.

Autor Ano Amostragem/Participantes Principais achados


Lesões mais comuns: articulares (30,8%) e musculares
n=270
(23,1%). Localização: 35,9% no ombro; 11,5% no joelho;
Praticantes de Crossfit, ambos
17,9% na coluna lombar.
Minghelli et al.1 2019 os sexos, do Sul de Portugal,
Fatores de risco: aumentam a chance de lesão a participação
participantes ou não de
em competições e o treinamento inferior a duas vezes na
competições.
semana.
n=115
Pacientes pediátricos com lesões Prevalência de lesões: ombro (articulares) - maior em homens
causadas ou exacerbadas pela (23,6%) que em mulheres (10%); MMII - maior em mulheres
Sugimoto et al.3 2020
prática de Crossfit com prontuário (58,3%) que em homens (34,5%); Tronco - maior em ≤ 19
em clínica de medicina esportiva anos (37,5%) que em >19 anos (17,7%).
de nível terciário.
Prevalência de lesões: maior em homens (58%) com idade
NEISS* - estimativa da
entre 20 e 39 anos (39%). MMII: 35,3%, tronco 28,5% e
incidência de lesões. Cálculo e
Rynecki et al.5 2019 MMSS 19,6%. Aumento (144%) em todas as lesões (2012-
comparação entre 2007-2011 e
2016 versus 2007-2011). Aumento no interesse pelo HIIT
2012-2016 = 3.988.903 lesões.
(274%).
Prevalência de lesões: 32,8%. Lesões mais comuns:
musculares (45,34%); articulares (24,7%) e tendinopatias
n=406 (12,96%). Localização: 19% no ombro; 11,7% no joelho;
Szeles et al.6 2020 Praticantes de Crossfit de uma 15% na coluna lombar.
cidade brasileira. Fatores de risco: aumentam a chance de lesão a alternância
de treinos entre “scale” e “RX”, a presença de lesões prévias
e a experiência inferior ao período de um ano.
Prevalência de lesões: entre 19% e 74%. O ombro é o local
n=3597
mais acometido, seguido de coluna lombar.
Praticantes de ambos os sexos,
Claudino et al.7 2018 Fatores de risco: mais de 6 meses de experiência, realização
adolescentes, adultos, idosos e
de movimentos de forma inadequada e exacerbação de lesão
competidores.
prévia.
Prevalência de lesões: 35,4% em ombro, 20,3% em coluna
n=189
lombar e 12,7% em joelho. Causas: execução incorreta
Praticantes de exercício funcional
Teixeira et al.8 2020 (34,2%), esforço repetitivo (29,1%) e elevadas cargas
de alta intensidade de ambos os
(17,7%). Incidência de 6,1 lesões por 1000 horas de
sexos.
treinamento.
n=1
Relato de caso de fratura de acetábulo após a realização
Participante de um programa de
Vukanic et al. 9
2020 de exercício físico de alta intensidade e tempo de intervalo
condicionamento extremo em
reduzido.
academia, sexo masculino.
n=1
Primeiro relato de caso de ruptura total do músculo peitoral
O estudo não classifica a paciente
Sephien et al.10 2020 por um mecanismo não traumático ao realizar um exercício
entre praticante ou atleta de
do Crossfit chamado “muscle up”.
Crossfit.
Fonte: Elaborado pelos autores.
*NEISS: National Electronic Injury Surveillance System

DISCUSSÃO a 2016, evidenciou-se a prevalência de lesões ligadas a


exercícios funcionais de alta intensidade. As lesões de
Principais lesões ocasionadas pela prática de Crossfit MMSS corresponderam a 19,6% das lesões totais, sem
em membros superiores (MMSS) discriminação do local e tipo de trauma5.
Dentre as lesões de MMSS, o ombro é a região
No que se relaciona às lesões de MMSS, em mais prevalente em homens (23,6%), e estas ocorrem em
estudo realizado de maneira transversal por pesquisa sua maioria devido aos movimentos de ginástica, podendo
em base de dados estadunidense no intervalo de 2007 advir da necessidade de uma técnica avançada para a

3
Moreira MO, et al. Lesões em praticantes de Crossfit: revisão narrativa

realização dos movimentos aliada à falta de treinamento fratura de acetábulo (cavidade que se articula com o fêmur,
prévio dos praticantes. O levantamento de peso olímpico no quadril) ao realizar exercício de alta intensidade que
(LPO) também impõe demanda significativa no ombro por consistia em empurrar uma máquina com pesos, sendo a
meio de manobras pesadas para cima da cabeça3. Outro causa da lesão a realização inadequada do movimento9.
estudo, em concordância, mostrou que os tipos de lesões Dessa forma, tem-se que, em MMII, as lesões
mais prevalentes foram articulares (cartilagem, menisco, de joelho são mais prevalentes1,3,6,8, com variação, entre
lesão ligamentar/entorse, luxação) e musculares (tendão, os estudos, tanto do índice de lesão quanto das causas
contusão), sendo elas mais frequentes no ombro (35,9%)1. destas, as quais estão entre a técnica9, o tipo de exercício
Também foi encontrada, na revisão, a prevalência de lesões executado1,3 e a força demandada3. Apesar disso, relatos de
durante a prática de Crossfit de 32,8%, sendo o ombro a caso sobre traumas incomuns têm surgido9, demonstrando
região mais frequente (19%)6. a necessidade de estudos mais consistentes sobre o Crossfit
Ainda, por meio de metanálise, verificaram que a não só para elucidar a prevalência e a correlação das lesões
lesão de ombro é a mais prevalente, principalmente nos mais comuns com sexo, idade e fatores de risco associados,
exercícios de ginástica, com um índice de lesão de 1,9 mas também para conhecer outras possíveis injúrias que
lesões por 1000 horas de treinamento (n=187); as principais podem acometer atletas e praticantes da modalidade.
causas das lesões foram movimentos realizados de forma
inadequada e exacerbação de lesão prévia7. Também Principais lesões ocasionadas pela prática de Crossfit
foi encontrada a prevalência maior de lesões de ombro no tronco e na coluna vertebral
(35,4%), e média maior de lesões por tempo, 6,1/1000
horas de treinamento (n=189), sendo as principais causas Sobre as lesões de tronco, foi relatado o primeiro
de lesões: execução incorreta, esforço repetitivo e cargas caso na literatura sobre lesão completa do tendão do
elevadas usadas de modo errôneo8. músculo peitoral maior em mulher jovem e por mecanismos
Dessa forma, tem-se que, em MMSS, lesões de não traumático, tendo a ruptura total do músculo peitoral
ombro são mais prevalentes1,6,7,8, com variação, entre os maior ocorrido ao realizar o exercício “muscle up”
estudos, tanto do índice de lesão quanto das causas destas, (movimento transicional entre estar pendurado e erguer o
as quais estão entre a técnica3,7,8, o tempo de treinamento3, peso do corpo sobre barra ou anéis com o braço esticado
o tipo de exercício executado3, o peso utilizado8 e a sustentando o peso do corpo) do Crossfit, no momento
presença de lesões prévias7. Isso demonstra a necessidade do “dip” (em que se retorna à posição em nível inferior),
de estudos mais consistentes sobre o Crossfit para elucidar que está presente em outros exercícios que envolvem a
a prevalência e correlação desses traumas no que tange ao ginástica10.
sexo, à idade e aos fatores de risco associados a fim de que No que se relaciona à coluna vertebral, atletas de
medidas de prevenção possam ser elaboradas. 19 anos ou menos têm proporção maior de lesões quando
comparados a maiores de 19 anos, sendo exemplos dessas
Principais lesões ocasionadas pela prática de Crossfit injúrias: dorsalgia (dor na região das costas) generalizada,
em membros inferiores (MMII) lesão na articulação sacroilíaca (região de junção do osso
terminal da base da coluna vertebral – sacro – com o osso
No que se refere às lesões de MMII, em estudo do quadril – ilíaco) e espondilólise (fratura por estresse
transversal, evidenciou-se a incidência de lesões ligadas na porção posterior dos ossos da coluna vertebral)3. Essas
a exercícios funcionais de alta intensidade. As lesões de lesões acontecem mais frequentemente devido à técnica
MMII corresponderam a 35,3% das lesões totais, sem e ao peso inadequados no levantamento de peso, além da
discriminação do local e do tipo de injúria5. estabilidade de tronco inadequada e da carga excessiva, bem
Há proporção maior das lesões de MMII em como a falta de supervisão, que pode ser um agravante3.
atletas femininas de Crossfit (58,3%), sendo a articulação Outro estudo apontou a coluna lombar como um dos locais
do joelho a mais prevalente (30%) e podendo ocorrer de maior prevalência de lesões (17%)1. Da mesma maneira,
devido a manobras complexas realizadas sem força outros estudos apontam predominância de 15% a 28,5%
necessária nos músculos abdutores de quadril somado à de lesões da coluna lombar na prática de Crossfit5,6,8. Em
realização de levantamento de peso e saltos repetitivos3. um estudo com quase 4 milhões de relatos levantados,
Outro estudo também aponta as lesões de joelho entre as notou-se que as lesões da coluna lombar são a segunda
principais (11,5%), devido à prática de LPO e ginástica1. mais preeminente em atletas de treinamentos funcionais de
Em concordância, estudos encontraram que, em lesões em alto impacto, perdendo apenas para as lesões de MMII5,6,8.
MMII, a prevalência destas no joelho foram de 12,7%8 e Assim, tem-se que a prevalência e a incidência de
11,7%6. lesões relacionadas ao tronco ainda são pouco discutidas,
Apesar de as lesões do quadril serem pouco ainda que existentes. No que se relaciona a lesões de coluna
prevalentes na prática de exercícios de alta intensidade vertebral, estudos mais consistentes são necessários para
semelhantes ao Crossfit (2-4%), um caso foi relatado sobre o estabelecimento de correlações entre essas injúrias e o

4
Rev Med (São Paulo). 2022 nov.-dez;101(6):e-197455.

sexo do praticante, o tempo de prática e os fatores de risco de lesões, é a alternância de treinos do Crossfit entre “scale”
associados, já que os estudos encontrados se limitam à e “RX”, categorias iniciante e avançada, respectivamente6.
correlação das lesões da coluna com a faixa etária de atletas Dessa forma, o período de transição entre as categorias deve
e praticantes3. ser feito de maneira cautelosa. Além disso, a presença de
lesões prévias aumenta em 3 vezes as chances de lesões
Fatores de risco para lesões no Crossfit no Crossfit6.
Assim, as correlações entre o tempo de prática
Os praticantes de Crossfit que participaram de do Crossfit6,7, a frequência de treinos por semana1,8 e a
competições tiveram menor probabilidade de ter uma lesão participação ou não de competições1 com a ocorrência
do que os que não competem (razão de chance = 2,64), e de lesões, ainda que estudadas, não são bem definidas e
os que treinam menos de duas vezes na semana tiveram esclarecidas, já que os autores apresentam divergências
maior probabilidade (razão de chance = 3,24) de ter uma sobre o assunto.
injúria do que aqueles que treinaram três ou mais vezes
por semana1. Isso ocorre porque os praticantes que treinam CONCLUSÃO
menos desenvolvem pouca força muscular e flexibilidade
e têm menor capacidade técnica para realizar exercícios A presente revisão, conforme seu objetivo e método
de forma adequada 1. Praticantes que participam de proposto, descreveu estudos sobre o Crossfit e exercícios
competições provavelmente possuem mais supervisão do intervalados de alta intensidade. Embora existam estudos
coach, maior tempo de treinamento e execução de técnica relevantes, há limitação na quantidade destes. Além disso,
mais correta, além de se beneficiarem de um treinamento as prevalências das lesões divergem entre os trabalhos,
mais individualizado tanto em exercício quanto em carga. apesar de as lesões de ombro serem mais prevalentes em
O praticante que treina menos de 3 vezes na semana possui MMSS, joelhos, em MMII e região lombar, na coluna
uma resposta muscular mais aguda e crônica ao exercício vertebral. Outros locais de lesões são poucos discutidos,
de menor valor do que quem treina mais vezes por semana, como lesões de tronco e quadril, embora existentes entre
o que pode levar ao aparecimento de fadiga e piorar a os praticantes, o que limita a prevenção destas. Somado a
estabilidade musculoesquelética das estruturas1,8. isso, os autores divergem em relação aos fatores de risco
Em contrapartida, há um estudo apontando associados às lesões, como tempo de prática, frequência
que participantes de Crossfit com mais de 6 meses de semanal e participação ou não em competições.
experiência apresentaram maior índice de lesões do que Dessa forma, são necessários estudos mais
aqueles com menos de 6 meses de experiência e que a consistentes que elucidem as lacunas apresentadas neste
maior experiência do participante está relacionada ao nível estudo sobre as lesões em praticantes de Crossfit e
de performance7. No entanto, o autor diz que os artigos exercícios intervalados de alta intensidade. No entanto,
utilizados nessa metanálise não apresentaram níveis de deve-se considerar achados importantes encontrados, como
evidência com um baixo risco de viés7, de forma que é a necessidade de supervisão dos exercícios por profissionais
preciso cautela com os dados apresentados. Outro estudo capacitados, a atenção à técnica dos movimentos
aponta que a experiência de pelo menos 1 ano no Crossfit executados, bem como o peso utilizado e a progressão de
diminui o risco de lesões aproximadamente pela metade6. movimentos e cargas de acordo com a individualidade de
Outro fator de risco existente para o desenvolvimento cada pessoa para prevenir a ocorrência de lesões.
Participação dos autores: Milena Oliveira Moreira – Participação na escolha da temática abordada, escrita do texto, formatação e
revisão da escrita. Thales Martins Castello – Participação na escrita do texto. Mariana Mauricio Moraes – Participação na escrita do
texto. João Guilherme Lino da Silva – Participação na escrita do texto. Renato Andrade Teixeira Braga – Orientação no delineamento
da temática abordada, orientação na metodologia para a realização da escrita, auxílio no processo de inclusão e exclusão dos artigos,
participação na escrita do estudo e revisão do texto.

REFERÊNCIAS A. Part II: Comparison of Crossfit-related injury presenting


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6
ARTIGO ORIGINAL

LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM
PRATICANTES DE CROSSFIT
Skeletal muscle injuries in crossfit practitioners
Alan de Almeida Xavier¹, Aírton Martins da Costa Lopes²

RESUMO

Introdução: A modalidade esportiva Crossfit é uma atividade física nova que abrange um
dos programas de treinamento de força e condicionamento físico geral que mais cresce em
número de adeptos. Acredita-se que seus participantes, seja no âmbito recreativo ou
competitivo, estejam expostos a riscos de lesões musculoesqueléticas associadas à prática do
esporte. Objetivos: Verificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas na modalidade
Crossfit. Métodos: Foi realizado em estudo descritivo do tipo transversal. A pesquisa foi
feita com praticantes adultos com faixa etária de 18 a 59 anos, de ambos os sexos,
praticantes e ex-praticantes de Crossfit que realizaram a atividade por um período mínimo de
três meses de treino. Todos os praticantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Foram coletados dados através de um questionário virtual estruturado e
específico para o Crossfit referente à prevalência de lesões e os fatores associados.
Resultados: A prevalência de lesões entre os praticantes foi 56,2%. Dentre os fatores
associados às lesões está o sexo, o sobrepeso, fazer outra atividade física além do Crossfit,
praticar mais de três vezes por semana com um tempo diário acima de 1 hora de treino, uso
de suplementos alimentares, ingestão de bebidas alcoólicas e uso de cigarro. De acordo com
o estudo as lesões musculoesqueleticas mais ocorridas foram ombro (44,2%), coluna
(40,3%) e joelho (35,1%). Conclusão: A modalidade esportiva Crossfit provoca um alto
índice de lesões musculoesqueléticas.

Palavras-chave: Atividade Física; Modalidade esportiva; Lesões musculoesqueléticas.

¹ Graduado em Fisioterapia.
² Fisioterapeuta e Mestre em Biomedicina no Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte, Minas Gerais-Brasil.

Alan de Almeida Xavier - Rua: Ouricuri, n: 90. Bairro: Floramar – CEP: 31840-030- Belo Horizonte-MG
E-mail: alan.valadao@yahoo.com.br Tel: (31) 99186-9284

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

ABSTRACT

Introduction: The sports modality Crossfit is a new physical activity that covers strength
training programs and overall fitness and is fast growing in number of adherents. It is
believed that its participants, whether in recreational or competitive environment, are
exposed to risks of developing musculoskeletal injuries associated with the sport.
Objectives: To determine the prevalence of musculoskeletal injuries in Crossfit. Methods:
We conducted a descriptive cross-sectional study. The survey was conducted with adult
practitioners and former practitioners aged 18 to 59, of both genders, who carried out the
activity for a minimum of three months training program. All participants signed a consent
form. The data concerning the prevalence of injuries and associated factors was collected
through a virtual, structured questionnaire specific to Crossfit. Results: The prevalence of
injuries among practitioners was 56.2%. Some of the factors associated with the injuries
were gender, overweight, other physical activity besides Crossfit, practicing more than three
times a week with a daily time over 1 hour workout, use of dietary supplements, alcohol
consumption and smoking. According to the study, the most occurring musculoskeletal
injuries were shoulder (44.2%) column (40.3%) and knee (35.1%). Conclusion: The
modality Crossfit actually causes high indices of musculoskeletal injuries.

Key words: Physical activity; Sport; Musculoskeletal injuries.

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

INTRODUÇÃO

A modalidade esportiva Crossfit é uma atividade física que abrange um dos


programas de treinamento de força e condicionamento físico geral que mais cresce em
número de adeptos, além de contar com mais de 10000 academias conveniadas pelo mundo1.
O modelo de treinamento criado em 1995 por Greg Glassman visa desenvolver o
condicionamento de forma ampla, inclusiva e geral, preparando os praticantes para qualquer
contingência física necessitada2.
O Crossfit é formado por três tipos básicos de movimento: os cíclicos (corrida, remo,
pular corda e etc), os de levantamento de peso (levantamento de peso olímpico e
levantamento de peso básico) e movimentos de ginásticas (barras, flexões, argolas e etc)3.
Desse modo busca melhorar todas as capacidades físicas do atleta, como a resistência
cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade,
coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão4.
Para isso as sessões de treino seguem uma ordem que inicia com um aquecimento
seguido de uma atividade para desenvolver força ou melhorar a habilidade em algum
movimento específico, para somente então começar a parte de condicionamento. Todos esses
componentes juntos constituem o WOD, sigla em inglês para “workout of the day” que
significa “treinamento do dia”. De acordo com o treinamento do dia (WOD), os praticantes
da modalidade Crossfit seguirão os três pilares, que são realizar movimentos funcionais, em
alta intensidade e constantemente variados2. Assim dotando a atividade física com caráter
motivacional e desafiador para os praticantes, comtemplando indivíduos de diferentes idades,
saudáveis, grávidas e obesos5.
Nas academias em Belo Horizonte-MG, existe grande número de adeptos a este
esporte, com potencial de aumentar cada vez mais, tanto o número de academias, quanto o
número de praticantes. Alunos que buscam essa modalidade prezam pela saúde e qualidade
de vida e não somente visam obter um corpo escultural, embora treinamento de força
promova alterações hormonais e estruturais no organismo, levando ao aumento da força e
hipertrofia6.
Em 2005, Paluska afirmou que os participantes, seja no âmbito recreativo ou
competitivo, estão expostos aos riscos de lesões musculoesqueléticas associadas à prática do
esporte, particularmente se o movimento ou a forma de treinamento estiverem inapropriados7.

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

A lesão é um acometimento indesejável e desagradável na vida do atleta ou praticante


de atividade física. Aqueles que treinam Crossfit arduamente e com frequência no limite do
corpo, principalmente os que o realizam sem uma preparação correta e específica, fatalmente
terão lesões consequentes, acompanhadas de dor, desconforto e até mesmo a incapacidade de
continuar treinando8.
A forma em que a lesão é relacionada com o Crossfit obedece a um padrão comum a
todas as lesões nas diferentes modalidades esportivas, e decorre da sobreposição de vários
fatores. Esses fatores podem ser divididos em extrínsecos e intrínsecos. Os extrínsecos são
aqueles que direta ou indiretamente estão ligados à preparação ou à prática de Crossfit.
Envolvem erros de planejamento e execução do treinamento, problemas na superfície do
treino, duração, força, equilíbrio e condicionamento físico. Já os fatores intrínsecos, são
aqueles inerentes ao organismo, incluem anormalidades biomecânicas e anatômicas como:
flexibilidade, histórico de lesões, densidade óssea, características antropométricas,
composição do corpo e condicionamento cardiovascular e cardiorrespiratório9.
Os danos musculares podem ocorrer em diferentes magnitudes dependendo do tipo de
exercício, os exercícios de crossfit mais característicos são principalmente treinamento de
força e corrida em plano declinado, velocidade de movimento, tempo de intervalo entre as
séries, tempo de treino do indivíduo, acometendo principalmente iniciantes da modalidade6.
As lesões musculoesqueléticas podem ser entendidas como quaisquer alterações que
prejudiquem a função desse sistema, associadas a alterações morfológicas ou histoquímicas
do tecido. Lesões musculares ou distensões são aquelas em que há ruptura de fibras
musculares na junção músculo-tendão, tendão, ou na inserção óssea de uma unidade músculo
tendínea10. Estas lesões se tornam um desafio para os especialistas, por terem uma
recuperação lenta afastando-os praticantes do treinamento, e são classificadas pelo tempo, o
tipo, a gravidade e o local da lesão11.
A função da musculatura é causar contração, convertendo energia química em
mecânica, podendo ou não resultar em movimento articular . A maior parte das lesões
12

musculares ocorre durante atividade desportiva, correspondendo de 10 a 55% de todas as


lesões .
13

As lesões musculoesqueléticas mais acometidas no esporte são: Contusão, que é um


trauma ou uma batida, em qualquer parte do corpo, que provoca uma compressão violenta,
que pode comprometer a função dos músculos ou tendões, além de causar inflamação no

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

local. Distensão ou estiramento ocorre quando as fibras musculares alongam-se além do seu
comprimento normal. O músculo distende-se e provoca dor, fisgada e às vezes, incapacidade
de contrair normalmente. Câimbra que é a contração involuntária e dolorosa do músculo.
Pode ser provocada por acúmulo de ácido lático ou alteração no metabolismo de alguns
elementos (sais minerais, potássio, cálcio), entre outras causas. Tendinopatia que é a
disfunção do tendão (cordão ou feixe fibroso localizado na extremidade dos músculos), como
conseqüência da repetição excessiva de movimentos14.
A modalidade Crossfit é uma atividade física que fornece amplo programa de força e
condicionamento físico geral. Portanto o Crossfit promove adaptações morfo-fisiológicas, e
consequente melhora na capacidade física e qualidade de vida dos praticantes. Mantém o
indivíduo em perfeita funcionalidade, saudável, além de prevenir distúrbios e doenças
correlacionadas. Indivíduos que apresentam lesões musculoesqueléticas na prática de Crossfit
podem apresentar afastamento da atividade laboral e física. Necessita de realizar a
reabilitação, tornando-os, muitas vezes, incapazes de continuar treinando até obterem a
melhora funcional. Se o ambiente for favorável para a prática de Crossfit, ele se torna uma
ótima ferramenta para o trabalho funcional e aumenta a qualidade de vida do praticante, ao
prevenir de lesões musculoesqueléticas e incapacidades.
Assim, pode-se rematar esse raciocínio inicial observando que o Crossfit é um esporte
de alta intensidade biomecânica e fisiológica, que leva o praticante um empenho máximo em
atingir seu objetivo de esforço físico e psicológico durante o treinamento. Sendo assim, o
Crossfit apesar de ser uma atividade física que apresenta uma série de benefícios fisiológicos
inerentes ao esporte, envolve de maneira geral, um risco de lesões musculoesqueléticas
considerável, podendo levar a afastamento e a incapacidade funcional.
Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de lesões
musculoesqueléticas na modalidade Crossfit. E descrever quais são os fatores principais e as
estruturas do sistema musculoesquelético mais acometidas entre os praticantes da modalidade
em duas academias da cidade de Belo Horizonte – MG.

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

MÉTODO

Delineamento do estudo e aspectos Éticos


Foi realizado um estudo descritivo do tipo transversal. O Estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Data de
aprovação 25/02/2015, CAAE: 37610214.9.0000.5134. Todos os indivíduos foram
esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa de forma presencial e assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido antes da coleta de dados.
Amostra
Foram realizadas apresentações sobre o estudo da pesquisa para os representantes de
duas academias na cidade de Belo Horizonte. Assim, a seleção da amostra foi de acordo com
os critérios de inclusão estabelecidos e os indivíduos participantes foram indicados por
profissionais destas academias. A pesquisa foi feita com praticantes adultos com faixa etária
de 18 a 59 anos, de ambos os sexos, praticantes e ex-praticantes de Crossfit por um período
mínimo de três meses. Foram excluídos os praticantes com dificuldades de preencher o
questionário ou preenchimento incompleto, que apresentaram lesões devido a outro tipo de
atividade física e as que não concordaram com o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Participaram da pesquisa 137 voluntários, com predominância de 56,2% do sexo masculino.
Procedimentos
A coleta de dados foi realizada pelo pesquisador responsável. Para caracterização da
amostra foi feito um questionário online no Google Drive/Planilhas Google elaborado
exclusivamente para os praticantes de Crossfit, com informações referentes a sexo, idade,
peso e altura para o cálculo de Índice de massa corporal (IMC). Para análise da prevalência de
lesões musculoesqueléticas considerou-se dor em qualquer região do corpo, que tenha
limitado ou afastado do esporte ou de sua atividade pessoal e profissional por um ou mais
dias, e que pode ter começado por causa da modalidade Crossfit. Com relação aos fatores
associados, foram coletados dados referentes às variáveis de treinamento. Foram pesquisados:
o histórico de atividades físicas, duração de treino, frequência semanal, uso de bebidas
alcoólicas, anabolizantes, suplementos alimentares, fumo, históricos de lesões, patologias,
tratamentos e métodos de prevenção.
Análise estatística
A análise estatística foi constituída de freqüências absolutas e relativas para as
variáveis categóricas e de média e desvio-padrão (DP) para as variáveis contínuas. Para a

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

comparação de grupos de praticantes que apresentaram ou não lesão utilizou-se o teste qui-
quadrado para as variáveis categóricas e o teste não paramétrico de Wilcoxon para variáveis
contínuas. As variáveis com p<0,20 na comparação de grupos foram incluídas em um modelo
de regressão logística múltipla. A adequação do modelo de regressão logística foi verificada
através do teste de Hosmer-Lemeshow. As análises foram feitas no software livre R versão
3.1.3 [1]15. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADO

Estatísticas descritivas das variáveis do estudo


A amostra deste estudo foi constituída por 137 indivíduos provenientes de duas
academias de Belo Horizonte, dos quais 56,2% eram do sexo masculino e 69,3%
apresentaram peso normal, segundo a classificação do IMC. Os indivíduos amostrados
apresentaram idade média de 31,1 anos (± 6,1 anos). Apenas 2,9% disseram no momento ter
algum problema de saúde relativo à prática de crossfit e 36,5% afirmaram fazer outra
atividade física além desta. Indivíduos praticam Crossfit, em média, há 9,7 meses (± 6,1
meses). Em relação à prática do crossfit, 71,5% a realizam até três vezes por semana e 56,3%
fazem essa atividade até 1 hora por dia. Grande parte dos indivíduos amostrados faz uso de
bebida alcoólica (66,4%). Apenas 34,3% fazem uso de suplementos e 9,5% são fumantes
(Tabela 1).

Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis do estudo.

Variáveis n %
Sexo
Masculino 77 56,2
Feminino 60 43,8
Idade (anos)
Média ± DP 31,1 ± 6,1
IMC
Peso normal (IMC de 18,5 a 24,9) 95 69,3
Sobrepeso (IMC de 25 a 29,9) 39 28,5
Obeso (IMC ≥ 30) 3 2,2
Possui algum problema de saúde relativo prática de
crossfit
Sim 4 2,9

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

(continuação)
Há quanto tempo faz atividades físicas (meses)

Média ± DP 9,7 ± 6,1


Faz outra atividade física além do Crossfit
Sim 50 36,5
Pratica Crossfit quantas vezes por semana
2 vezes 30 21,9
3 vezes 68 49,6
4 vezes 15 10,9
5 vezes 19 13,9
6 vezes 5 3,7
Tempo diário de prática do Crossfit
Menos que 30 minutos 3 2,2
De 30 a 60 minutos 74 54,1
De 60 a 90 minutos 51 37,2
De 90 a 120 minutos 8 5,8
Mais de 120 minutos 1 0,7

Já teve lesões por Crossfit


Sim 77 56,2
Tempo de duração da lesão (dias)
Média ± DP 10,8 ± 27,2
Local da lesão*£
Coluna 31 40,3
Joelho 27 35,1
Pés e tornozelo 8 10,4
Quadril 9 11,7
Punho e mão 17 22,1
Ombro 34 44,2
Cotovelo 12 15,6
Pescoço 8 10,4
Tratamento lesão*
Urgência 2 2,6
Outro tratamento (se não necessitou da 30 39,0
urgência)
Deixou de trabalhar por lesão 20 26,0
Hábitos – Faz uso de
Suplementos 47 34,3
Anabolizantes 3 2,2
Bebidas alcoólicas 91 66,4
Cigarro 13 9,5
Notas: * Para essas variáveis os percentuais foram tomados sobre os 77
praticantes que tiveram lesão. £ Variável permite resposta múltipla.

18 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

Na amostra de praticantes de Crossfit, 56,2% já apresentaram no passado alguma lesão


relacionada à prática de crossfit. O tempo médio de duração das lesões foi de 10,8 dias (±
27,2 dias), e os locais mais acometidos foram o ombro 44,2%, a coluna 40,3% e o joelho
35,1%. Dos pacientes que tiveram lesões, 39,0% afirmaram não ter precisado de tratamento
de urgência e apenas 26,0% deixaram de trabalhar em virtude da lesão.
Fatores relacionados à ocorrência de lesões
Foram significativamente associadas à ocorrência de lesão as variáveis: sexo (p-valor
0,001), tempo de prática de atividades físicas (p-valor 0,002) e tempo diário de treino de
crossfit (p-valor 0,019). Entre os praticantes que apresentaram lesões a proporção de homens
foi de 70,2%, contra apenas 38,3% de homens no grupo dos que não tiveram lesões. Os
pacientes que tiveram lesão apresentaram tempo médio de prática de atividade física maior,
10,5 ± 4,7 meses, contra 8,8 ± 7,5 meses para os pacientes que não se lesionaram. Os tempos
de treino diário entre os que apresentaram lesões foram maiores, 53,2% dos que se lesionaram
fazem crossfit mais de uma hora por dia, enquanto este percentual é de apenas 31,7% entre os
que não se lesionaram (Tabela 2).

Tabela 2. Ocorrência de lesão segundo variáveis.


Não teve lesão Teve lesão
Variáveis (n=60) (n=77) P-valor
N % N %
Sexo 0,001*
Masculino 23 38,3 54 70,1
Feminino 37 61,7 23 29,9
Idade 0,214£
Média ± DP 31,9 ± 5,7 30,5 ± 6,3
IMC 0,068*
Peso normal 47 78,3 48 62,3
Sobrepeso/Obeso 13 21,7 29 37,7
Há quanto tempo faz atividades físicas 0,002£
(meses)
Média ± DP 8,8 ± 7,5 10,5 ± 4,7
Faz outra atividade além do Crossfit 0,116*
Sim 17 28,3 33 42,9
N° vezes semanais que pratica Crossfit 0,080*
Até 3 vezes 48 80,0 50 64,9
Mais de 3 vezes 12 20,0 27 35,1

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Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

(continuação)
Tempo diário de prática de Crossfit 0,019*
Até 1 hora 41 68,3 36 47,8
Mais de 1 hora 19 31,7 41 53,2
Faz uso de suplementos 0,139*
Sim 16 26,7 31 40,3
Faz uso de bebidas alcoólicas 0,622*
Sim 38 63,3 53 68,8
Faz uso de cigarro 0,910*
Sim 5 8,3 8 10,4
Nota: * O p-valor refere-se ao teste qui-quadrado para associação de variáveis. £ O
p-valor refere-se ao teste não paramétrico de Wilcoxon para comparação de médias.

A Tabela 3 apresenta os resultados do modelo de regressão logística. Os homens


apresentam chance de se lesionar 2,917 vezes maior que as mulheres e os indivíduos que
treinam mais de uma hora por dia têm chance de se lesionar 2,785 vezes maior que os que
treinam menos de uma hora por dia. O p-valor do teste de Hosmer-Lemeshow igual a 0,452
mostra que o modelo está bem ajustado.

Tabela 3. Resultados da regressão logística de fatores associados à ocorrência de lesões.


Coeficientes Razão de IC 95% RC P-valor
chances (RC)
Intercepto 0,405 (0,205; 0,762) 0,007
Sexo 0,006
Masculino 2,917 (1,369; 6,311)
Feminino - -
Faz outra atividade além do Crossfit 0,079
Não - -
Sim 2,509 (0,909; 7,211)
Tempo diário de prática de Crossfit 0,035
Até 1 hora - -
Mais de 1 hora 2,785 (1,085; 7,396)
Faz outra atividade além do Crossfit e Tempo diário de prática de 0,133
Crossfit
Outra atividade Sim e tempo diário mais de 1 hora 0,310 (0,067; 1,432)
(continuação)
Outra atividade Não e tempo diário até 1 hora - -
Nota: P-valor do teste de Hosmer-Lemeshow = 0,452.

20 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

Este estudo foi realizado com uma amostra de pessoas jovens (idade média 31,1 anos
com desvio-padrão de 6,1 anos) e saudáveis (69,3% apresentam peso normal segundo a
classificação do IMC). A maioria destes indivíduos, 56,2%, já apresentou alguma lesão
relacionada à prática de crossfit, sendo mais comuns as lesões no ombro (44,2%), na coluna
(40,3%) e no joelho (35,1%). Os fatores associados à maior chance de ocorrência de lesões
foram ser do sexo masculino e treinar mais de uma hora por dia.

DISCUSSÃO

É importante identificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas na modalidade


Crossfit, para que se adotem medidas preventivas eficazes, pois, as lesões
musculoesqueléticas estão entre as queixas mais comuns no atendimento ortopédico, que
ocorre tanto em atletas como não atletas16. Estas lesões caracterizam um desafio para os
especialistas, haja vista a incapacidade e saúde dos praticantes para recuperação e
reabilitação, apesar dos mais variados tratamentos.
Este estudo foi constituído como mostrado na Tabela 1, por 137 indivíduos
provenientes de duas academias de Belo Horizonte, dos quais 56,2% eram do sexo masculino,
com amostra de pessoas jovens (idade média 31,1 anos com desvio-padrão de 6,1 anos) e
69,3% apresentaram peso normal, segundo a classificação do IMC.
Em 2013 Hak PT e colaboradores, relataram que as lesões musculoesqueléticas são
comuns em praticantes de Crossfit. Podem acometer tanto nos membros inferiores, quanto nos
membros superiores, e este estudo relatou que cerca de 74% dos praticantes sofreram lesões
durante o crossfit que os impediu de trabalhar, treinar e competir, e 7% desses praticantes,
admitiram ter sofrido lesão e requerido intervenção cirúrgica4.
Em nosso estudo, de acordo com os dados da Tabela 1, 56,2% dos praticantes de
Crossfit, já tiveram lesões musculoesqueleticas, tendo como tempo médio de duração da lesão
10,8 dias, e os locais com maior incidência de lesão foram: ombro 44,2%, coluna 40,3% e
joelho 35,1%. Foram registrados 2 atendimentos de urgência, e 20 praticantes deixaram de ir
trabalhar por causa da lesão musculoesqueletica.
Em relação à incidência de lesões no Crossfit, Grier T e colaboradores em 2013,
analisaram a incidência de lesões em combatentes norte-americanos após a implementação do
Crossfit nas rotinas de preparação física antes e após 6 meses. De forma interessante, os

21 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

pesquisadores concluíram que em ambos (praticantes e não praticantes) houve uma incidência
de lesões de 12%. As principais razões para tais lesões foram à baixa aptidão
cardiorrespiratória, sobrepeso/obesidade e ser fumante. Além disso, foram observados que os
combatentes, praticantes ou não de Crossfit, que já tinham o hábito de praticar treinamento de
força possuíam uma menor incidência de lesões17.
Não obstante, Hak PT e colaboradores em 2013, determinaram a taxa de lesões em
atletas de crossfit através de um questionário online. Foram observados taxa de 3,1
lesões/1000 horas de treinamento, nenhum caso de rabdomiólise foi reportado4.
Já em 1999, Calhoon G e Fry A, publicaram um estudo para determinar as lesões
durante o treinamento de levantamento de peso nos Estados Unidos. De acordo com resultado
da pesquisa, a taxa de lesões agudas e recorrentes foi calculada em 3,3 lesões/1000 horas de
exposição halterofilismo. E que essas lesões são causadas principalmente por overuse18.
Em um estudo na Universidade La Trobe Bundoora na Austrália, com o objetivo de
determinar a taxa de lesão, localização e os tipos de lesões sofridas por ginastas. A amostra
registrou uma taxa de 5,45 lesões/1000 horas de treino19.
Sobre prevalência de lesões no futebol em atletas jovens, em 2007, Rodrigo NR e
colaboradores, observaram-se uma taxa de 4,47 lesões/1000 horas de jogo/treino por atleta20.
Esses dados demonstram que em diferentes esportes, que exijam tanto dos praticantes
e competidores, que mesmo envolvendo capacidades fisiológicas e biomecânicas diferentes,
força, e treinamentos diferenciados, o Crossfit tem menos probabilidade de ter lesões
musculoesqueléticas, com um percentual por 1000 horas de treino, menor quando comparado
com os demais esportes.
De acordo com a Tabela 2, praticantes do sexo masculino apresentaram mais lesões
musculoesqueléticas do que sexo femino em adultos jovens, média 30,5 anos. E o fator de
sobrepeso e obesos é diretamente relacionado ao acometimento de lesões na prática de
Crossfit.
O grupo que apresentou lesões (n=77), de acordo com os resultados da Tabela 2,
treinam com frequência semanal acima de 3 vezes e tempo diário de prática de Crossfit acima
de 1 hora, isso pode ser um fator agravante para o surgimento de lesões musculoesqueléticas.
Este é um importante resultado para mostrar ao praticante de Crossfit, que deve ser
respeitado um limite de tempo durante o treino, pois grande parte dos atletas que obtiveram
lesões praticaram mais de 3 vezes por semana e treinam por quase nova minutos (Tabela 3). É

22 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

necessário que os músculos, tendões e articulações tenham um período de descanso para a


recuperação completa destes. Talvez o excesso de esforço além do limite do corpo, tenha
acarretado a lesão musculoesquelética, o que faz gerar incapacidade, comprometendo a
funcionalidade.
De acordo com American College of Sports Medicine-ACSM, a ingestão de álcool
piora a força muscular, potência, a endurance muscular, a velocidade e a endurance
cardiovascular. Em 1991, Anderson WA e colaboradores, relataram que o álcool pode
comprometer a unidade funcional contrátil da musculatura após uma sessão de exercício,
atrapalhando a recuperação muscular. O que acontece é que a contração muscular depende de
íons cálcio para ocorrer, e o álcool atrapalha a entrada de cálcio para dentro do músculo e
compromete sua contração efetiva e ainda piora o desempenho21.
No presente estudo, como mostra na Tabela 2, 68,8% dos praticantes de Crossfit que
relatam terem tido lesão fazem uso de bebidas alcoólicas. Com as consequências fisiológicas
do álcool no sistema muscular, o álcool pode ser um fator agravante no surgimento de lesões.
Em 2006, Alessandra AC e colaboradores relataram que o fumante pode ter até 12%
menos da capacidade aeróbica, devido à maior concentração do monóxido de carbono no
sangue. E durante o exercício físico, há prejuízo da respiração, e a musculatura trabalha
recebendo suprimento sanguíneo com maior concentração de monóxido de carbono. Provoca
aumento da frequência cardíaca para manter a demanda adequada de oxigênio na musculatura.
O fumo também promove, durante o exercício, um custo energético adicional, provocado pelo
maior trabalho dos músculos respiratórios22.
Desse modo, o tabagismo provoca menor capacidade aeróbica para o praticante de
atividade física, comparado aos praticantes não tabagistas. Já que o fumo provoca fraqueza
muscular, diminuição da capacidade dos volumes pulmonares e aumento do gasto energético
durante a atividade física. Embora no grupo estudado existam poucos adeptos ao uso de
cigarros (N = 13), os praticantes que relataram lesões 10,4% são tabagistas (Tabela 2).
Em estudo publicado comenta-se que quando o exercício é feito intensamente, a
pessoa pode entrar em fadiga muscular devido ao estresse oxidativo, sendo utilizados
suplementos alimentares para aumentar o desempenho. Estes suplementos alimentares
oferecem aos atletas uma série de benefícios exclusivos como: recuperação eficiente, fortalece
o sistema imunológico e melhora os resultados do treinamento físico. Produz assim, melhora

23 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

direta no desempenho atlético e promove aumento de massa muscular em conjunto com um


treino apropriado devido a uma eficiente síntese de proteínas23.
No presente estudo os praticantes que relatam terem tido lesões, 40,3% (Tabela 2)
fazem uso de suplementos alimentares, o que demonstra que a vontade de ter melhor
rendimento pode provocar o aparecimento de lesões e não necessariamente o suplemento
alimentar provoca a lesão.
Portanto os hábitos sociais pesquisados no presente estudo como o uso de bebidas
alcoólicas, de cigarro e de suplementos alimentares podem ser fatores que predispõe o
aparecimento de lesões musculoesqueléticas. Ao comparar com indivíduos que não fazem uso
destas variáveis.

CONCLUSÃO

Conclui-se que entre os 137 praticantes da modalidade Crossfit de duas academias de


Belo Horizonte-MG, 56,2% lesionaram devido a essa prática de atividade física. É um índice
elevado, que demonstra que o Crossfit realmente provoca lesões musculoesqueléticas. De
acordo com o estudo, fatores como sexo masculino, sobrepeso e obesidade, fazer outra
atividade física além do Crossfit, praticar mais de três vezes por semana com um tempo diário
acima de 1 hora de treino, fazer uso de suplementos alimentares, ingerir bebidas alcoólicas e
usar cigarro, tem maiores probabilidades de ter lesões musculoesqueleticas comprometendo a
funcionalidade, que podem afastar dos treinos e gerar incapacidades.
A modalidade esportiva Crossfit tem um amplo programa de força e condicionamento
físico geral, que proporciona adaptações morfofisiológicas com consequente melhora na
capacidade física e qualidade de vida dos praticantes. Desde que o indivíduo faça jus a uma
vida saudável, excluindo os fatores de risco para lesões, para que seja praticado da melhor
maneira e acima de tudo sendo seguro.
Dentre os fatores de risco associados às lesões, sugerem-se novas pesquisas para que
se possa buscar e adotar medidas preventivas em Fisioterapia e outras áreas da saúde,
minimizando as lesões para esses praticantes de academia na modalidade Crossfit.

24 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit

AGRADECIMENTOS

Aos colaboradores do projeto Cristiano Rigamont Ferreira e Daniel Barreto, pelo


apoio e ajuda durante a coleta de dados.

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27 Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27


Motricidade © Edições Desafio Singular
2018, vol. 14, n. 1, pp. 266-270 6º ISSC

Lesões osteomioarticulares entre os praticantes de crossfit


Osteomyoarticular injuries among crossfit practicants
Pedro Lopes1, Flávia Helena Germano Bezerra1, Antônio Nadson Filho1, Ismênia
Brasileiro1, Prodamy Pacheco Neto1*, Francisco Santos Júnior1
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
O aumento da demanda de exercícios modernos e competitivos provocou o aumento simultâneo no risco
de lesões, causando preocupações em todas as esferas de rendimento. O Crossfit® é um exercício com
base em uma visão multidimensional da aptidão física, assim diz a American College of Sports Medicine, mas
que ainda precisa de uma identificação ampla no que diz respeito a provocação de lesões em seus
praticantes. A proposta desse estudo é identificar as possíveis lesões geradas em praticantes de Crossfit®.
Trata-se de um estudo de campo, transversal, descritivo, com estratégia de análise quantitativa dos
resultados apresentados. Foram coletados os dados através de um questionário semiestruturado. Foram
respondidos 100 questionários, 3 participantes foram excluídos por não atenderem aos critérios, dos
quais 61,9% eram homens e 38% mulheres, com Idade média de 32 anos. 30,2% dos participantes
responderam que já se lesionaram na pratica do Crossfit®, dessas pessoas. Quanto a localização
anatômica da lesão, 42% relataram a coluna lombar, 35% punho, 28% ombro e 25% joelho. A
predominância entre lesões se deu nas articulações mais instáveis do corpo humano com punho, ombro e
coluna lombar e pode estar relacionado à alta quantidade de peso e repetições.
Palavras-chave: fisioterapia, exercícios em circuitos, treinamento de força.

ABSTRACT
The increased demand for modern and competitive exercise has simultaneously increased the risk of
injury, causing concerns in all spheres of income. Crossfit® is an exercise based on a multidimensional
view of physical fitness, so says the American College of Sports Medicine, but it still needs a broad
identification with regard to injury provoking in its practitioners. The purpose of this study is to identify
the possible injuries generated in Crossfit® practitioners. This is a cross-sectional, descriptive field study
with a quantitative analysis strategy of the presented results. Data were collected through a semi
structured questionnaire. 100 questionnaires were answered, 3 participants were excluded because they
did not meet the criteria, of which 61.9% were men and 38% women, with a mean age of 32 years. 30.2%
of respondents said they had already injured themselves in Crossfit® practice. Regarding the anatomical
location of the lesion, 42% reported the lumbar spine, 35% wrist, 28% shoulder and 25% knee. The
predominance among injuries occurred in the unstable joints of the human body with wrist, shoulder and
lumbar spine and may be related to high amount of weight and repetitions.
Keywords: physiotherapy, circuit exercises, strength training.

INTRODUÇÃO de atividades físicas, quanto para treinadores,


Os fatores de risco para instalação de lesões profissionais da saúde no esporte e atletas de
do esporte têm sido pesquisados no sentido de todas as esferas de rendimento, pois
facilitar o entendimento sobre o assunto. interrompem o processo evolutivo de adaptações
Segundo Kettunen, Kujala, Kaprio, Koskenvuo, e sistemáticas impostas pelo treinamento.
Sarna (2001), o aumento da demanda de As ocorrências das lesões desportivas (LD),
exercícios modernos e competitivos provocou o possivelmente, são resultado de exercícios
aumento simultâneo no risco de lesões, indevidamente executados ou realizados de
causando preocupações tanto para os praticantes forma extenuante, sendo velada a prevalência e

1
Centro Universitário Estácio do Ceará
* Autor correspondente: Centro Universitário Estácio do Ceará. Rua Eliseu Uchôa Beco, 600, Água Fria. CEP:
60810-270, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: prodamypn@hotmail.com
Lesões entre praticantes de crossfit | 267

incidência destes episódios devido à ausência de termo de consentimento livre e esclarecido. A


embasamento em todo o universo esportivo, e população foi composta por praticantes de
em todas as propostas de treinamento (Bennell Crossfit®, sendo a amostra constituída por 100
& Crossley, 1996; Pastre, Carvalho Filho, pessoas, atletas ou amadores, que se enquadram
Monteiro, Netto Júnior, & Padovani, 2004). nos critérios de inclusão: Os indivíduos que
O Crossfit®, assim como o treinamento de praticam Crossfit®, independente do gênero, há
alta intensidade, tornou-se cada vez mais mais de 3 meses e com idade maior que 18 anos.
popular dentro da comunidade fitness. É um Foram excluídos os que, após entrevista de
programa de condicionamento que ganhou dessensibilização, não entraram nos quesitos em
ampla atenção por seu foco em sucessivos suas respostas. Após a conferência dos dados, 3
movimentos balísticos que auxiliam no pessoas foram excluídas do estudo por não
fortalecimento e aumento da resistência terem um tempo de pratica dentro dos critérios.
muscular (Gremeaux et al., 2012; Weisenthal, Quanto a análise dos dados coletados,
Beck, Maloney, DeHaven, & Giordano, 2014;). trabalhamos com o software estatístico
Trata-se de um exercício com base em uma visão GraphPad Prism 7.0. Foram realizados gráficos
multidimensional da aptidão física, diz o de frequência e percentuais, além de correlações
American College of Sports Medicine. O modelo de Spearman r (p<0,05).
Crossfit® sugere que a aptidão é melhor medida
através do desempenho em uma variedade de RESULTADOS
tarefas em relação a outras classificações Foram respondidos 97 questionários sendo
esportivas. Crossfit® adiciona um olhar para a 61,9% homens (n = 60) e 38% mulheres (n =
realização de amplas tarefas em um mesmo 37) com idade média 32 anos. Quanto ao tempo
treino, fazendo com que os praticantes evoluam de prática, podemos observar que a maioria dos
de forma global em um curto tempo como já participantes relatou que já realizavam há mais
citado, o que pode explicar a sua ascensão nos de 12 meses 56,7%. Já na distribuição dos dias
últimos anos (Bellar, Hatchett, Judge, Breaux, & de prática semanal do Crossfit®, 52,6%
Marcus, 2015). responderam que treinavam mais de 5 dias e
Na busca por artigos científicos que abordem 45,4% treinavam de 3 a 5 dias/semana. Do total
a referida temática percebe-se a escassez de de respostas, 55% dos participantes
publicações na língua portuguesa. Além disso, responderam que praticavam outros esportes,
poucos estudos abordam sobre as evidencias de sendo 26% a corrida de rua (Figura 1).
alterações por segmentos corpóreos, dificultando No que diz respeito ao índice de lesões,
o conhecimento acerca das verdadeiras 30,2% (n = 29) dos participantes responderam
disfunções que acometem praticantes dessa que já se lesionaram na pratica do Crossfit®.
modalidade esportiva. A proposta desse estudo é Quanto a localização anatômica da lesão,
captar dados que quantifiquem as possíveis relataram como 42% a coluna lombar, seguindo
lesões decorrentes da prática de Crossfit®. por 35% punho, 28% ombro e 25% joelho
(Figura 2).
MÉTODO Sendo o tipo de lesão predominante a afecção
Se trata de um estudo de campo, transversal, dos ligamentos e as tendinopatias 25%, seguido
descritivo, com estratégia de análise quantitativa de 21,4% fadiga muscular (Figura 3). Dos
dos resultados apresentados. A pesquisa foi participantes que se lesionaram (n = 29), 44,4%
aprovada pelo comitê de ética e pesquisa do tiveram necessidade de se afastar dos treinos.
Centro Universitário Estácio do Ceará com o Foi evidenciada uma correlação estatística fraca
número de comprovante 118162/2016. Foi entre idade com lesão no esporte (r=-0,1999;
realizada uma abordagem de dessensibilização a p<0,05). A correlação demonstra que quanto
cada participante, explicando a finalidade da maior a idade, mais chances o indivíduo tem de
pesquisa e os procedimentos sigilosos quanto se lesionar (Figura 4).
aos seus dados pessoas, após isso foi assinado o
268 | P Lopes, FHG Bezerra, AN Filho, I Brasileiro, PP Neto, FS Júnior

Figura 1. A – Gráfico que mostra a frequência de pratica por dias; B – Gráfico que demonstra a quanto tempo
em meses o individuo pratica a modalidade

Figura 2. Gráfico das localizações anatómicas das lesões

Figura 3. Classificação das lesões segundo os pesquisados


Lesões entre praticantes de crossfit | 269

Figura 4. Correlação estatística que demonstra através de uma curva de regressão uma proporção inversa
entre idade e lesão no Crossfit®

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES que utilizou de uma entrevista para avaliar o


O Crossfit® é uma combinação de vários índice de lesão nos corredores, e encontrou uma
estilos de exercícios físicos, porém com estilo taxa de lesão de 41,6% de 204 atletas amadores.
próprio e com seguidores fieis. Percebe-se um Para criar um programa de prevenção de
nível grande de integralidade entre os lesões, é importante estar ciente da taxa de
praticantes e até uma forma de vício como cita lesões e fatores associados à lesão em um
(Lichtenstein & Jensen, 2016). Na região onde esporte (Nilstad, Andersen, Bahr, Holme, &
foi realizada a pesquisa o custo médio para se Steffen, 2014). Localização das lesões dos
praticar a modalidade é alto, esse é um fator que indivíduos que se lesionaram foi a lombar,
pode explicar a idade média dos praticantes seguido de punho, ombro e joelho. E ao tipo de
entrevistados que foi 32 anos, onde se espera lesão entre os desportistas, temos 2 tipos como
uma maior estabilidade financeira. Existe ainda, principais achados nas lesões e que não tiveram
uma correlação entre idade e número de lesões, diferenças percentuais, tendinopatias e lesões
que quanto maior a idade, maior o número de ligamentares aparecem com 25% cada. Lesões
lesões. ligamentares são ocasionadas por movimentos
Quanto os dados gerados sobre lesão apenas abruptos sem controle na articulação (Kyung &
30% das pessoas que responderam o Kim, 2015) e tendinopatias ou alterações
questionário tiveram algum tipo de lesão patológicas nos tendões, são geradas devido ao
durando a pratica ou por conta da pratica uso repetitivo e expressão uma possível
esportiva. Temos que 22 Homens e 7 mulheres alteração morfológica futura nessa estrutura
que se lesionaram. Já era esperado um número (Dakin, Dudhia, & Smith, 2014)
amostral não muito significativo como já Vale ressaltar que os dados do nosso estudo
demonstram artigos mais recentes, inclusive um concordam com o estudo de Montalvo et al.
publicado durante a pesquisa (Sprey et al., (2017) nos quesitos de local relatado da lesão
2016). Nossos dados apontaram um percentual ombro, joelho e tornozelo e que homens se
baixo quando comparamos com bodybuilders lesionam mais que as mulheres praticantes.
profissionais, como mostra Siwe et al. (2014) Podemos destacar como fatores limitantes do
que de 77 atletas arguidos, 45,1% sofreram estudo, a falta de abrangência demográfica e a
algum tipo de lesão esportiva. E corredores de resistência em responder os questionários,
rua amadores, também demonstram o mesmo imposta pelos praticantes.
valor Percentual de lesões predisponentes do Com o presente estudo podemos responder o
esporte, demonstrado através do estudo de questionamento epidemiológico das lesões que
Araújo, Baeza, Zalada, Alves, e Mattos (2015) paira sobre a pratica de Crossfit®. A
270 | P Lopes, FHG Bezerra, AN Filho, I Brasileiro, PP Neto, FS Júnior

predominância entre lesões se deu nas among former elite male athletes. The American
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Todo o conteúdo da revista Motricidade está licenciado sob a Creative Commons, exceto
quando especificado em contrário e nos conteúdos retirados de outras fontes bibliográficas.
DOI: 10.1590/1809-2950/17014825022018

229

REVISÃO SISTEMÁTICA
Perfil de lesões em praticantes de CrossFit: revisão
sistemática
Injury profile in CrossFit practitioners: systematic review
Perfil de lesiones en los practicantes de CrossFit: revisión sistemática
Fábio Hech Dominski1, Thais Cristina Siqueira2, Thiago Teixeira Serafim3, Alexandro Andrade4

RESUMO | O CrossFit  se apresenta como um novo muitas vezes obtidas em outras modalidades. Ainda,
método de treinamento físico que vem ganhando que o CrossFit pode ser praticado com segurança por
popularidade desde sua criação. O objetivo deste estudo indivíduos de 18 a 69 anos.
foi analisar o perfil de lesões em praticantes de CrossFit Descritores | Exercício; Treinamento Intervalado de Alta
por meio de uma revisão sistemática da literatura. Intensidade; Ferimentos e Lesões; Revisão.
Utilizaram-se as recomendações da Declaração PRISMA
para condução da revisão sistemática. A busca foi ABSTRACT | CrossFit is a new form of physical training
realizada nas bases de dados CINAHL, SciELO, Science that has become popular since its inception. This study
Direct, SCOPUS, LILACS, PEDro, PubMed, SPORTDiscus aimed to analyze the injury profile of CrossFit practitioners
e Web of Science. Avaliou-se a qualidade metodológica through a systematic review. PRISMA recommendations
dos estudos, entre os quais dez foram considerados were applied to this systematic review. Electronic search
elegíveis. A prevalência de lesões nos praticantes de was performed in the databases CINAHL, SciELO, Science
CrossFit variou de 5 a 73,5%, e a taxa de lesão variou de Direct, SCOPUS, LILACS, PEDro, PubMed, SPORTDiscus
1,94 a 3,1 lesões a cada 1.000 horas de treinamento. A and Web of Science. The methodological quality of the
região corporal mais acometida por lesões nos estudos studies was assessed. Ten studies were selected. The
selecionados foram os ombros, seguidos pelas costas prevalence of injuries in CrossFit practitioners ranged
e joelhos. Em relação aos fatores associados às lesões, from 5 to 73.5%, and the overall injury incidence rate per
destacou-se o tipo de exercício realizado e o tempo de 1000 training hours ranged from 1.94 to 3.1 injuries. The
prática de CrossFit. O sexo apresentou associação com body region most affected by injuries was the shoulders,
a prevalência de lesões, estudos demonstraram que followed by the back and the knees. Regarding associated
os homens apresentaram maior número de lesões em factors, the type of exercise performed and CrossFit
relação às mulheres. A idade esteve entre os fatores training time were related to injuries. Besides that, sex was
que não estiveram associados às lesões. Conclui-se associated to the prevalence of injuries, with men showing
que os ombros são a região corporal mais comumente more injuries than women. Age was not related to injury
acometida entre os praticantes de CrossFit, em prevalence. It was concluded that the most commonly
indivíduos do sexo masculino e com lesões prévias, affected body region among CrossFit practitioners was

Estudo desenvolvido no Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (Lape) da Universidade do Estado de Santa
Catarina (Udesc) – Florianópolis (SC), Brasil.
1
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE) do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid) da
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
2
Departamento de Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid) da Universidade do Estado de Santa
Catarina (Udesc) – Florianópolis (SC), Brasil.
3
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (Lape) do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid) da
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – Florianópolis (SC), Brasil.
4
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano no Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (Lape) do
Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid) – Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – Florianópolis (SC), Brasil.

Endereço para correspondência: Fábio Hech Dominski – Rua Pascoal Simone, 358, Coqueiros – Florianópolis (SC), Brasil – CEP 88080-350 – E-mail: fabio.dominski@udesc.br –
Telefone: (48) 3664-8677 – Fonte de financiamento: Nada a declarar – Conflito de interesses: Nada a declarar – Apresentação: 9 ago. 2017 – Aceito para publicação: 24 maio 2018.

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Fisioter Pesqui. 2018;25(2):229-239

the shoulders, predominantly in males and with previous injuries, elegibles. La prevalencia de lesiones en los practicantes de CrossFit
often obtained in other modalities. In addition, CrossFit can be tuvo una variación del 5 al 73,5%, y la tasa de lesiones de 1,94 a 3,1
safely practiced by individuals aged 18-69. lesiones a cada 1000 horas de entrenamiento. La región corporal
Keywords | Exercise; High-Intensity Interval Training; Wounds más lesionada fueran los hombros, seguido por las espaldas
and Injuries; Review. y rodillas. En relación a los factores asociados a las lesiones, se
destacan el tipo de ejercicio fue realizado y el tiempo de práctica
RESUMEN | CrossFit es un nuevo método de entrenamiento físico del CrossFit. En relación al género, los hombres presentaron más
y ha ganado popularidad desde su creación. El objetivo de este lesiones. La edad no estuvo asociada a las lesiones. Se concluye
estudio fue analizar el perfil de lesiones en practicantes de CrossFit que la región corporal más comúnmente acometida entre los
a través de una revisión sistemática. La Declaración PRISMA practicantes de CrossFit fueron los hombros, en individuos
fue utilizada para la preparación de esta revisión. Se realizó una masculinos y con lesiones previas, muchas veces obtenidas en
búsqueda bibliográfica en las siguientes bases de datos: CINAHL, otras modalidades. Además, el CrossFit puede ser practicado con
SciELO, Science Direct, SCOPUS, LILACS, PEDro, PubMed, seguridad por individuos de 18 a 69 años.
SPORTDiscus y Web of Science. Se evaluó la calidad metodológica Palabras clave | Ejercicio; Entrenamiento de Intervalos de Alta
de los estudios, entre los cuales diez estudios fueron considerados Intensidad; Heridas y Lesiones; Revisión.

INTRODUÇÃO com a mesma, o que está significativamente associado a


incidência/frequência de lesões4.
É notável o recente interesse de pesquisadores e da O Colégio Americano de Medicina do Esporte
população em atividades físicas nas quais que predomina a (ACSM) sugere potenciais benefícios do CrossFit, porém
elevada intensidade1. Estudos mostram que o treinamento destaca significativos riscos de lesão em programas de
de alta intensidade promove mais benefícios na aptidão condicionamento extremo como este10. Tais programas
física e na saúde com menor tempo de duração, quando envolvem a execução de alguns exercícios que, se
comparado aos métodos de treinamento tradicionais1,2. realizados incorretamente ou de maneira excessiva,
Nesse sentido o CrossFit® apresenta-se como um podem ocasionar lesões musculoesqueléticas, lesões
novo método de treinamento físico que vem ganhando ligamentares e até rabdomiólise10. Dessa maneira,
popularidade desde sua criação e implementação no início preocupações em relação ao potencial risco de lesões
dos anos 20003. Tem o objetivo de promover aptidão associadas à natureza intensa e repetitiva do CrossFit
física por meio do desenvolvimento de componentes e aos requisitos técnicos necessários para realização
como capacidade aeróbia, força e resistência muscular, dos exercícios com segurança têm crescido no meio
velocidade, coordenação, agilidade e equilíbrio4, através científico e na prática da modalidade11.
da realização de exercícios esportivos e funcionais, Reunir informações a partir de estudos disponíveis na
contemplando exercícios de levantamento olímpico, literatura sobre lesões de praticantes de CrossFit permite-
movimentos ginásticos e de condicionamento aeróbio, os nos conhecer dados relacionados à prevalência, taxas
quais podem ser executados em alta intensidade5. de lesões por horas de treinamento, regiões do corpo
No mundo existem aproximadamente 12 mil mais lesionadas e fatores associados às lesões, visando
centros de fitness e academias certificados e registrados desenvolver e implementar ações preventivas na prática
que oferecem a prática de CrossFit3, destes cerca de da modalidade, tendo em vista o aumento do número
440 estabelecimentos estão no Brasil, envolvendo de praticantes e, consequentemente, de ambientes que
aproximadamente 40 mil praticantes e atletas6. Pesquisas possuem a prática de CrossFit. Além disso, é reconhecido
mostram um crescimento expressivo no número de o valor de uma revisão sistemática com análise de tais
praticantes dessa modalidade em diferentes populações aspectos para a tomada de decisões clínicas nas áreas da
como indivíduos saudáveis, com obesidade e atletas, medicina e fisioterapia. Uma vez que os estudos publicados
devido ao seu caráter desafiador e motivacional7-9. de revisão sobre lesões no CrossFit12,13 limitaram-se a
Evidências mostram que cerca de 5% dos praticantes investigar a taxa de lesões comparando-a com outros tipos
da modalidade apresentam relação de dependência de exercícios físicos e esportes, não foram observados

230
Dominski et al. Lesões em praticantes de CrossFit

estudos abordando os diversos aspectos que as lesões temporal. Foram excluídos artigos de revisão, estudos de
apresentam, como taxa e prevalência, regiões corporais caso, resumos de congresso, editoriais e cartas.
mais acometidas e fatores associados, caracterizando um A elegibilidade dos estudos ocorreu por meio dos
perfil de lesões14,15. Nesse sentido, o objetivo deste estudo critérios PICOS e estão detalhados na Tabela 1.
foi analisar o perfil de lesões em praticantes de CrossFit
Tabela 1. Critérios de inclusão e exclusão dos estudos selecionados
por meio de uma revisão sistemática da literatura. para a revisão
Inclusão Exclusão
Indivíduos praticantes
Qualquer indivíduo
METODOLOGIA P Participate
praticante de CrossFit
de outras formas de
exercício físico
Massagens, terapia
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura manual, alongamentos,
que seguiu os critérios recomendados pela Declaração terapias alternativas,
I Intervention CrossFit musculação,
PRISMA – Preferred Reporting Items for Systematic caminhada ou corrida,
Reviews and Meta-Analyses16. High Intensity Interval
Training (HIIT)
Com indivíduos
Estratégia de busca dos estudos saudáveis ou não,
com grupos de outros
C Comparision –
exercícios físicos ou
Representando significativa parte da produção Grupo Controle sem
intervenção
científica mundial, a busca pelos estudos foi feita nas
O Outcome Lesões, traumas –
bases de dados eletrônicas relacionadas às Ciências do
Estudo controlado Estudos de caso,
Esporte e Exercício Físico e Fisioterapia: CINAHL S Study randomizado e não revisão, revisão com
via EBSCO, SciELO (Scientific Electronic Library randomizado metanálise

Online), Science Direct, SCOPUS (Elsevier), LILACS


Seleção dos estudos e extração de dados
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde), PEDro (Physiotherapy Evidence Database),
Os estudos foram selecionados por três revisores (FHD,
PubMed (National Library of Medicine and National
TCS,TTS), de forma independente. Iniciou-se pela análise
Institutes of Health), SPORTDiscus via EBSCO e Web of
dos títulos dos artigos identificados por meio da estratégia
Science – Coleção Principal (Thomson Reuters Scientific).
de busca, seguida pelo exame dos resumos. Posteriormente
A busca dos estudos ocorreu no mês de maio de 2017 e
foi realizada a análise do texto na íntegra dos artigos
foi encerrada no dia 11 de maio do mesmo ano. Para incluir
selecionados nas etapas anteriores. As discordâncias entre
toda a produção realizada sobre o tema nas bases de dados os revisores foram resolvidas por consenso.
selecionadas, e devido à recente criação e desenvolvimento Para estabelecer o perfil de lesões no CrossFit,
do CrossFit, o único termo utilizado para busca dos artigos realizou-se uma análise de dados em que foram
foi “Crossfit”, da mesma forma como conduzido no estudo consideradas as seguintes categorias: prevalência e tipo
de Meyer et al.13. de lesões, região do corpo acometida pela lesão, taxa de
A busca na base de dados Web of Science foi realizada lesão por tempo de treinamento e fatores associados e
na Principal Coleção, no campo pesquisa básica com o não associados às lesões.
termo “Crossfit”, selecionado o item tópico e o tempo
estipulado como todos os anos. Avaliação da qualidade metodológica dos estudos

Critérios de elegibilidade dos estudos Para avaliar a qualidade metodológica dos estudos
utilizaram-se as recomendações do STROBE
Foram considerados para análise somente artigos (Strengthening the Reporting of Observational
originais sobre lesões com amostra de atletas e praticantes Studies in Epidemiology), por meio do STROBE
de CrossFit, incluindo estudos com abordagem Statement  –  Checklist of items that should be included
quantitativa, qualitativa ou mista, com resumos e textos in reports of cross-sectional studies17,18. Essa escala
completos disponíveis na íntegra pelo meio on-line até possui 22 itens que receberam uma pontuação de
o dia 11 de maio de 2017. Não foi estabelecido limite 0 (não atende) a 1 (atende), sendo que a pontuação

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Fisioter Pesqui. 2018;25(2):229-239

total foi obtida a partir da soma da pontuação dos RESULTADOS


itens e, de acordo com o escore final do estudo, foi
estabelecida uma classificação conforme Mataratzis et A busca resultou em 684 registros. Após exclusão
al.19; a) quando o estudo preenchesse mais de 80% dos dos duplicados (n=75) e leitura do título, foram
critérios estabelecidos no STROBE, indicando maior selecionados 100 artigos para o resumo. Nessa etapa,
qualidade dos estudos; b) – quando 50%−80% dos excluíram-se outros 79, restando 21 para leitura na
critérios do STROBE fossem alcançados; e c) quando íntegra. Por fim, 10 estudos fizeram parte da revisão
menos de 50% dos critérios fossem preenchidos. final (Figura 1).

Resultado da busca (684)


CINAHL (14) SciELO (0)
IDENTIFICAÇÃO

Lilacs (2) ScienceDirect (80)


PEDro (2) SportDiscus (284)
PubMED (69) Web of Science (68)

Estudos após remoção dos duplicados (609)

Excluídos pelo título (509)


TRIAGEM

Selecionados para leitura do resumo (100)

Excluídos pelo resumo (79)


ELEGIBILIDADE

Selecionados para leitura do texto completo (21)

Estudos excluídos pela leitura na integra (13)


- Não trata de lesão (4)
Estudos incluídos após - Não trata de CrossFit (4)
leitura das referências - Outros tipos de estudo (3)
INCLUSÃO

(2) - Texto completo não disponível (2)

Estudos incluídos para análise (10)

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos incluídos

232
Dominski et al. Lesões em praticantes de CrossFit

O tamanho da amostra nos estudos selecionados e soldados em um. A média de idade dos sujeitos de
variou de 34 a 1.393, totalizando 3.307 sujeitos de pesquisa variou de 26,8 a 38,9 anos, e a faixa etária de
pesquisa, sendo 2.244 do sexo masculino e 871 do sexo 18 a 69 anos.
feminino (o sexo não foi reportado para 192 sujeitos). A prevalência de lesões nos estudos variou de 5 a
Os sujeitos foram caracterizados como praticantes 73,5%. A taxa de lesões a cada 1.000 horas de treinamento
de CrossFit em seis estudos, atletas em três estudos de CrossFit variou de 1,94 a 3,1 lesões (Quadro 1).

Quadro 1. Lesões no CrossFit: Autor, amostra e principais resultados relacionados às lesões


Amostra Resultados – Lesões

Autor Sexo Taxa de lesão


Idademédia Prevalência
n População Tipo de Lesão (a cada 1.000 horas
Homens Mulheres (anos) (n/%)
de treinamento)
Grier et al.20 1393 1248 145 26,8 Soldados 5% – –
Hak et al. 21 132 93 39 32,3 Atletas 97 (73,5%) – 3,10 lesões
Inflamação, entorse e
Weisenthal et al.22 386 231 150 18 a 69 Praticantes 75 (19,4%) –
luxação
Chachula,
Cameron, 54 40 14 17 a 50 Praticantes 24 (44%) Articulares –
Svoboda23
Huynh et al.24 34 25 9 35,5 Praticantes 12 (35%) Rabdomiólise –
Sprey et al. 6 566 323 243 31,4 Praticantes 176 (31%) – –
Summitt et al.25 187 – – – Praticantes 44 (23,7%) – 1,94 lesões
Aune, Powers26 247 139 108 38,9 Atletas 85 (34%) – 2,71 lesões
Maioria agudas do que
Montalvo et al. 27
191 94 97 31 Atletas 50 (26,17%) 2,3 lesões
crônicas
Agudas e de Início
Moran et al.3 117 51 66 35 Praticantes – 2,10 lesões
gradual
Legenda: (–): Não informa

Figura 2. Regiões corporais acometida pelas lesões nos estudos sobre CrossFit (número de estudos por região)

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Fisioter Pesqui. 2018;25(2):229-239

A região corporal mais acometida por lesões nos estiveram mais presentes nos estudos foram o tipo
estudos selecionados foram os ombros (7 estudos). As de exercício realizado, em 5 estudos3,22-25 e o tempo de
costas e joelhos foram regiões lesionadas em praticantes de prática de CrossFit, em 3 estudos6,26,27. Além disso, o sexo
4 estudos cada, seguido pela região lombar em 3 estudos apresentou associação com a prevalência de lesões, sendo
e braços/cotovelos em 2 estudos. Regiões do corpo que os homens apresentaram maior número de lesões
como cabeça/pescoço, punhos, coxas, pernas e pés foram em relação às mulheres, assim como a presença de lesões
citadas como regiões lesionadas em 1 estudo (Figura 2). prévias esteve associada a novas lesões. Em 5 estudos, a
Foram observados diversos fatores associados às idade esteve entre os fatores que não estiveram associados
lesões em praticantes e atletas de CrossFit. Os que às lesões (Quadro 2).
Quadro 2. Resultados dos estudos sobre CrossFit em relação aos fatores associados e não associados às lesões

Fatores associados Fatores não associados


Autor Resultados
às lesões às lesões

a) Sexo e índice de a) Risco de lesão maior para os homens com IMC classificado como
Grier et al.20 massa corporal sobrepeso ou obesidade –
b) Fumo b) Risco de lesão maior nos fumantes em relação aos não fumantes.
a) Homens apresentaram maior número de lesões do que as mulheres
a) Sexo (53 contra 21) Idade, tempo de
participação, tempo da
b) Tipo de exercício b) O ombro foi mais lesionado nos movimentos ginásticos e a lombar nos
Weisenthal et al.22 sessão de treinamento,
c) Supervisão de movimentos de powerlifting
dias de treinamento por
profissional c) A taxa de lesão foi significativamente diminuída com o envolvimento do semana
instrutor
a) Praticantes com lesão articular prévia tem 3,75 vezes maior Idade
probabilidade de sofrer uma lesão relacionada ao CrossFit
experiência no CrossFit
Chachula, Cameron, a) Lesões prévias b) Participantes percebem que exercícios como levantamento terra e
Svoboda23 b) Tipo de exercício kettlebell swing agravam lesões na lombar, os saltos intensificam a dor nos Participação em aulas
joelhos, e dores nos ombros e cotovelo são acentuados devido aos ring com supervisão de
dips profissional
a) Praticantes de CrossFit há mais de 6 meses (35%) mostraram maior
Sprey et al.6 a) Tempo de prática taxa de lesão, com 70% em relação aos praticantes com menor tempo de Sexo e faixa etária
prática
a) Os praticantes atribuíram exercícios de ginástica como principal causa Idade, número de dias
Summitt et al.25 a) Tipo de exercício
de lesão (25 lesões das 46 totais). de descanso
a) A taxa de incidência de lesões entre atletas com menos de 6 meses de
experiência foi 2,5 vezes maior do que a de atletas com mais de 6 meses
a) Tempo de prática de experiência
b) Tipo de exercício b) Squat cleans, ring dips, overhead squats e push presses foram exercícios
c) Tipo de mais propensos a causar lesões
Aune e Powers26 equipamento c) Exercícios realizados com barras foram os que implicaram em mais –
d) Lesão prévia lesões
b) Esforço excessivo e d) Atletas com lesão prévia de ombro possuem 8,1 vezes mais chances de
técnica inadequada lesionar o ombro em relação a atletas com ombros saudáveis
e) Atletas relataram que 35% das lesões ocorreu devido a esforço
excessivo e 20% devido a técnica inadequada na execução dos exercícios
a) Os atletas lesionados apresentaram mais tempo de participação
a) Tempo de (em anos) e tempo semanal de prática de CrossFit, em relação aos não Idade, sexo, tamanho
participação e tempo da turma de CrossFit,
lesionados
de prática número de treinadores,
Montalvo et al.27 b) Atletas com prática de atividade física além do CrossFit têm 2,3 maior
b) Atividade Física anos de atividade física
além do CrossFit probabilidade de lesionar-se estruturada e participar
c) Estatura c) Os atletas lesionados apresentaram maior estatura em relação aos não de competição
lesionados
a) Maior taxa de lesão encontrada nos homens, que tiveram lesão nos
últimos 6 meses
a) Sexo
Moran et al.3 b) Exercícios de levantamento de peso foram os mais citados como –
b) Tipo de exercício
causadores de lesão: agachamento, levantamento terra, overhead press e
Snatch.
Legenda: (–): Não informa

234
Dominski et al. Lesões em praticantes de CrossFit

No que se refere à avaliação da qualidade dos estudos classificados como B e apenas um estudo
metodológica pelos critérios do STROBE, a aderência classificado como A, possuindo acima de 80% dos
aos critérios variou entre 50% e 81,8%, sendo a maioria critérios cumpridos (Tabela 2).

Tabela 2. Avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos


Critério STROBE Título e Outras Escore Total
Introdução Métodos Resultados Discussão Classificação
Estudos Resumo informações (%)

Grier20 0/1 1/2 4/9 4/5 3/4 0/1 12 (54,5) B


Hak et al.21 1/1 1/2 4/9 5/5 4/4 0/1 15 (68,1) B
Weisenthal et al. 22
1/1 2/2 7/9 4/5 4/4 0/1 18 (81,8) A
Chachula, Cameron,
0/1 2/2 6/9 3,5/5 4/4 0/1 15,5 (70,4) B
Svoboda23
Huynh et al.24 1/1 1/2 3/9 3/5 3/4 0/1 11(50) B
Sprey et al. 6
1/1 2/2 6/9 4/5 4/4 0/1 17 (77,2) B
Summitt et al.25 1/1 1/2 3/9 3/5 3/4 0/1 11 (50) B
Aune, Powers 26
1/1 1,5/2 6,5/9 4,5/5 2/4 0/1 15,5 (70,4) B
Montalvo et al.27 0/1 2/2 6/9 4/5 3/4 0/1 13(59) B
Moran et al.3 0/1 1/2 8/9 2/5 3/4 0/1 14 (63,6) B

DISCUSSÃO quando comparada ao estudo de Hak et al.21, porém


essa relação ainda não está clara na literatura.
Este estudo objetivou analisar o perfil de lesões
em praticantes de CrossFit por meio de uma revisão Taxa de lesões
sistemática da literatura. A fim de estabelecer o perfil
de lesões, dados como prevalência, tipo de lesões, Quando comparada a outras modalidades de
região do corpo acometida, taxa de lesão por tempo exercício físico ou esporte, a taxa de lesões no CrossFit
de treinamento e fatores associados e não associados não é considerada elevada. Foi observada a taxa de 3.1
às lesões como sexo, idade e tipo de exercício foram lesões a cada 1.000 horas de treinamento como valor
analisados e serão discutidos em tópicos a seguir. máximo encontrado nos estudos21. Nos esportes foram
encontradas taxas de 2,3 a 33 lesões na corrida de
Prevalência de lesões rua, 2,5 no handebol, 5,4 no triatlo, 5,45 na ginástica,
9,6 no futebol e 26,7 no rugby, a cada 1.000 horas de
A prevalência de lesões foi distribuída de forma treinamento28-33.
desigual entre os estudos, o que pode ser explicado Infere-se que tal resultado pode ocorrer devido
pela grande amplitude nos tamanhos amostrais, à ausência de determinantes como contato físico e
além de diferenças entre as populações investigadas e prática do exercício em solos irregulares, os quais já se
características de treinamento. mostraram associados a lesões nos esportes34-36.
Embora um dos estudos tenha mostrado elevada
prevalência de lesões com 73.5%21, este foi realizado por Fatores associados
meio de um questionário divulgado em fóruns online,
sendo uma limitação metodológica, pois não se sabe Foi observado maior índice de lesão no sexo
quantos indivíduos viram a pesquisa e optaram por não masculino, resultado que pode estar relacionado à
responder. Além disso, Hak et al.21 realizaram o estudo menor procura dos homens por treinadores para que
com praticantes de todos os níveis de participação possam ser supervisionados, em relação às mulheres.
no CrossFit, por outro lado a experiência prévia de Evidências mostram que as mulheres consultam mais
treinamento, ou seja, a prática anterior dos participantes seus treinadores para dúvidas e supervisão quando
das pesquisas de Weisenthal et al.22 e Grier et al.20 comparado aos homens22. As publicações sobre lesões
pode ter colaborado para a menor prevalência de lesões comparando homens e mulheres têm mostrado também

235
Fisioter Pesqui. 2018;25(2):229-239

maior prevalência no sexo masculino, em esportes como Regiões corporais acometidas e tipo de exercício
basquetebol, judô e corrida de rua37-39.
Diversas populações têm procurado a prática de O ombro foi a principal articulação acometida por
CrossFit, muitas já praticantes de outras modalidades lesões devido aos treinamentos de CrossFit. Segundo
de exercício físico ou esporte e, em alguns casos, os estudos, esse resultado está relacionado à execução
compostas por portadores de lesões prévias. Foi de alguns exercícios que vêm sendo considerados
observado que esse é um fator associado importante, lesivos – como overhead squat, push press, kettlebel swing
pois indivíduos com lesões prévias possuem 3,75 vezes e snatch26 – por possuírem uma elevada amplitude de
maior probabilidade de adquiri-las novamente no movimento do complexo do ombro, característica que
CrossFit23, especificamente em relação ao ombro, foi pode aumentar o risco de lesão, visto que movimentos
visto que atletas com lesão prévia possuem oito vezes acima da linha articular do ombro predispõem a lesões
mais chance de lesionar o local comparado a atletas devido à redução do espaço subacromial40.
com ombros saudáveis26. Por conseguinte, destaca-se O estudo de Weisenthal et al.22 mostrou que, para
a necessidade de atenção para a anamnese dos novos os movimentos da ginástica olímpica presentes na
praticantes nos locais que oferecem a prática de modalidade, houve diferença significativa entre as
CrossFit, a fim de conhecer lesões antecedentes destes regiões corporais que sofreram lesões, sendo o ombro a
e prevenir a reincidência dessas lesões. mais lesionada, correspondendo a mais de 41% das lesões
A associação entre lesões e tempo de prática mostrou- de ombro nos praticantes analisados. A causa desse tipo
se não estar clara, pois alguns estudos mostraram que os de lesão geralmente está associada a uma diminuição
praticantes com maior tempo de prática sofrem mais da estabilização da articulação escapulo torácica. A
lesões em relação aos com menor tempo6,27. Por outro discinese escapular afeta a excursão de movimento
lado, um estudo encontrou uma taxa de incidência dessa articulação, sobrecarregando a articulação
de lesões entre atletas com menos de seis meses de glenoumeral41,42, esta geralmente está associada a um
experiência 2,5 vezes maior do que a de atletas com desequilíbrio muscular, principalmente pela fraqueza de
mais de seis meses de experiência, fator que pode ser serrátil anterior e trapézio fibras inferiores43,44. O estudo
explicado pela não execução da técnica correta dos de Summit et al.25 mostrou que entre os movimentos
movimentos26. Apesar do tempo de prática e frequência ginásticos causadores de lesão (25 de 46) reportados
semanal de treino estarem associados à maior experiência pelos praticantes, estão o kipping pull-up, ring muscle-up,
nos exercícios, há o aumento da exposição do praticante push-up e ring dips.
à movimentação repetida, o que aumenta as chances Além dos exercícios derivados da ginástica,os exercícios
de lesão27. Ademais, uma das características presentes característicos do levantamento de peso olímpico que
na prática nos boxes de CrossFit é o estabelecimento compõe o CrossFit, como overhead squat, exigem a
de recordes pessoais, principalmente nos exercícios colocação da articulação do ombro em posições de flexão
relacionados ao levantamento de peso, os chamados extrema, abdução e rotação interna, as quais aumentam o
personal record (PR), em que o indivíduo busca executar o risco de lesão45. Devido à elevada incidência de lesões no
movimento com a maior carga possível. Tal característica ombro encontrada nos estudos, sugere-se maior cautela
estimula os praticantes a elevarem a carga à medida que sobre os exercícios ginásticos e de levantamento de peso
aumenta seu tempo de prática, objetivando melhorar olímpico por parte dos praticantes e dos profissionais que
seus recordes, porém aumentando também o risco de supervisionam a execução desses movimentos, com foco
lesão. Hak et al.21 sugerem foco na técnica de execução em fatores como esforço excessivo e técnica inadequada,
apropriada, sendo característica mais importante do que fatores apontados pelos atletas como causadores de lesões
a velocidade e número de repetições realizadas. em 35 e 20% dos casos respectivamente26.
O fato de a maioria dos estudos não ter encontrado Anteriormente citado na literatura como um risco
associação entre a presença de lesões e idade/faixa etária durante a prática de CrossFit10, casos de rabdomiólise
reforça o proposto por Weisenthal et al.22, que afirmam foram reportados em apenas um estudo relacionado24.
que o CrossFit é um programa de treinamento físico Segundo Hak et al.21, isso pode ter ocorrido devido à
que pode ser praticado com segurança por indivíduos inclusão de praticantes de diversos níveis de aptidão,
de uma ampla faixa etária – 18 a 69 anos, desde que sendo a rabdomiólise esperada naqueles que se exercitam
realizados em ambiente seguro. em níveis extremamente elevados no fator intensidade.

236
Dominski et al. Lesões em praticantes de CrossFit

Rabdomiólise é um quadro não exclusivo do CrossFit, autorrelato, sendo assim, a acurácia de algumas respostas
uma vez que outros esportes, se realizados de forma pode ter sido prejudicada, demonstrando a necessidade
extenuante, também podem desencadeá-la. Ocorre, da utilização ou desenvolvimento e validação de
geralmente, devido à má prescrição de exercícios ou instrumentos específicos para essa população. Além disso,
realização destes sem supervisão adequada46, fator este a maioria dos estudos caracterizou-se como retrospectiva,
que também esteve associado a lesões no CrossFit como ou seja, baseada em dados do passado e poucos estudos
verificado no estudo de Weisenthal et al.22, em que a abordaram a questão do tratamento utilizado para as
taxa de lesão foi significativamente diminuída com o lesões, podendo ser um tema de futuras pesquisas.
envolvimento do instrutor.
Falta de supervisão adequada e/ou má prescrição Implicações clínicas
do treinamento pode resultar em componentes do
treinamento como volume e carga inadequados ao A extrapolação dos achados deste estudo possibilita
praticante47, especialmente quando se trata de programas que os profissionais envolvidos com praticantes de
de condicionamento com elevada intensidade. Dessa CrossFit possam identificar fatores de risco associados
forma o treinador deve possuir conhecimento sobre o pico às lesões, de forma a atuar preventivamente sobre
de carga de cada atleta para prevenção de lesões. Halson48 estes. Conhecer a população, regiões corporais mais
sugere algumas variáveis que podem ser avaliadas para acometidas e proporcionar a devida supervisão na
monitorar a carga de treinamento. Variáveis como prática da modalidade, permite que o praticante seja
frequência de treinamento, tempo, intensidade, esforço, orientado corretamente, minimizando o risco de
repetições, volume, percepção de esforço ou fadiga, lesões. Para conhecer sua população, é importante a
análise da técnica entre outras, devem ser levadas em realização de avaliações físicas e funcionais com o aluno
consideração. O monitoramento dessas variáveis se faz da modalidade. Isso pode ser feito, por exemplo, com
importante para prevenir lesões, pois o desempenho avaliações sobre os componentes mobilidade, equilíbrio
não deve ser a única forma de verificar se a carga de e controle neuromuscular por meio de testes como o
treinamento está adequada ou não para o atleta48. Y balance test e step down50,51. Baixo desempenho nesses
O quadro epidemiológico de lesões em algumas testes destaca a necessidade de maior cuidado sobre
modalidades esportivas e de exercício físico ainda apresenta esses praticantes.
lacunas, carecendo de maiores investigações49. Nesse caso Aulas de CrossFit com pouca supervisão e/ou com
destaca-se o CrossFit, um tipo de treinamento físico elevado número de alunos também devem ser evitadas,
novo que tem apresentado expressivo crescimento nos afinal o controle dos profissionais sobre movimentos
últimos anos. Consequentemente a produção científica realizados de forma incorreta se torna mais difícil.
sobre lesões nessa modalidade também é recente, dessa Além disso, os trabalhos que antecedem o workout of
maneira sugere-se a investigação sobre lesões em futuros the day (WOD), como aquecimento e atividades para
estudos, analisando praticantes e atletas após exposição desenvolvimento de uma habilidade específica devem
ao CrossFit em longo prazo, caracterizando estudos ser realizados.
longitudinais prospectivos, com melhores condições
metodológicas e instrumentos específicos.
Todos os estudos selecionados na revisão cumpriram CONCLUSÃO
50% ou mais dos critérios estabelecidos pelo STROBE.
A maioria dos itens que não foram cumpridos esteve Conclui-se que os ombros são a região corporal
relacionada à descrição dos métodos, principalmente mais comumente acometida de acordo com os estudos,
em relação ao viés, tamanho amostral e tratamento seguidos pelas costas e pelos joelhos. As lesões foram
de variáveis quantitativas. Além disso nenhum estudo relatadas com maior frequência em indivíduos do sexo
reportou outras informações como financiamento do masculino e com lesões prévias, muitas vezes obtidas
estudo. Tais achados sugerem a necessidade de maior em outras modalidades. Na maioria dos estudos não
detalhamento na descrição na seção de métodos nos se evidenciou associação da idade com a presença de
estudos futuros, para melhor qualidade metodológica. lesões, caracterizando o CrossFit como um programa de
Os estudos selecionados apresentam limitações, treinamento físico que pode ser praticado com segurança
estes investigaram as lesões dos praticantes por meio do por indivíduos de 18 a 69 anos.

237
Fisioter Pesqui. 2018;25(2):229-239

15. Hammami N, Hattabi S, Salhi A, Rezgui T, Oueslati M,


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Dominski et al. Lesões em praticantes de CrossFit

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239
DOI: 10.1590/1809-2950/21019929012022PT

88
PESQUISA ORIGINAL
Perfil de lesões em praticantes de CrossFit:
prevalência e fatores associados durante um ano
de prática esportiva
Injury profile in CrossFit practitioners: Prevalence and associated factors during a year
of sports practice
Perfil de lesiones en practicantes de CrossFit: prevalencia y factores asociados durante un año
de práctica deportiva
Vitor Andrade Reis1, Natália Alexandre de Melo Andrade Reis2, Thiago Ribeiro Teles Santos3

RESUMO | Este estudo teve como objetivo investigar a ombro e punho, assim como do tipo músculo e tendão foi
prevalência de lesões durante um ano em praticantes acima da esperada. As demais variáveis não apresentaram
de CrossFit e a influência das características da prática diferença entre grupos ou não foram associadas à
esportiva e demográficas nessas lesões. Foi realizado presença de lesão. Logo, a maioria dos investigados
estudo de coorte retrospectivo com 180 praticantes de relatou lesão que foi influenciada pelas características da
CrossFit , que responderam a um questionário sobre:

prática esportiva, e não pelas demográficas.
características demográficas (idade, massa corporal, Descritores | Lesões; Epidemiologia; CrossFit; Esporte.
altura e sexo), características da prática esportiva (tempo
de prática esportiva, frequência e duração de treino, ABSTRACT | This study aimed to investigate the prevalence
formação de carga e prática de outro esporte) e ocorrência of injuries in CrossFit practitioners and the influence of
e características da lesão (quantidade, região lesionada e sports practice and demographic characteristics on these
estrutura acometida). Por meio do teste de Mann-Whitney injuries. A retrospective cohort study was carried out with
U, investigou-se a diferença nas variáveis contínuas entre 180 CrossFit practitioners who answered a questionnaire
aqueles com e sem histórico de lesão. Utilizando o teste with demographic characteristics (age, body mass, height,
de qui-quadrado e o teste exato de Fisher, avaliou-se a and sex), sports characteristics (number of years practicing
associação entre variáveis categóricas e a presença ou CrossFit; training frequency, duration, and training program;
não de lesão. O teste de qui-quadrado goodness-of-fit and practice of other sports), and presence of any injury
foi aplicado para investigar se a frequência observada suffered and its characteristics (number of injuries, region,
de lesões por região do corpo e por tipo era diferente da and type of injury). The Mann-Whitney U test investigated
esperada. A prevalência de lesão foi de 63%, e aqueles the difference in continuous variables between those with
com histórico de lesão tinham menor tempo de prática and without injury history. The chi-square test and Fisher’s
esportiva. A presença de histórico de lesão foi associada exact test investigated the association between categorical
a menor frequência semanal e diária e menor duração variables and the presence or not of injury over the last year.
de treinos, assim como à formação de carga Scale. The chi-square goodness-of-fit test investigated if the
A frequência de lesão em perna, joelho, coluna lombar, frequency of injuries per body location and type differed

1
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – Diamantina (MG), Brasil. E-mail: vitoreis.fisio@gmail.com.
ORCID-0000-0002-2986-2312
2
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – Diamantina (MG), Brasil. E-mail: ntlmelo@outlook.com.
ORCID-0000-0002-5346-930X
3
Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e Centro Universitário Una – Belo Horizonte (MG), Brasil. E-mail: trtsantos@gmail.com.
ORCID-0000-0003-2395-2023
Parte dos achados deste estudo foram apresentados no X Congresso Brasileiro VII Congresso Internacional da SONAFE Brasil 2021.

Endereço para correspondência: Thiago Ribeiro Teles Santos – Avenida Prof. Mário Werneck, 1685 – Belo Horizonte (MG), Brasil – CEP: 30575-180 – E-mail: thiago.teles@prof.unibh.br
– Fonte de financiamento: nada a declarar – Conflito de interesses: nada a declarar – Apresentação: 19 set. 2021 – Aceito para publicação: 1 fev. 2022 – Aprovado pelo Comitê de Ética:
nº CAAE 34206120.8.0000.5093.

88
Reis et al. Lesões em praticantes de CrossFit

from the expected one. Injury prevalence was 63%. Participants (cantidad, región lesionada y estructura afectada). Para el análisis de

with a history of injury showed a shorter time of CrossFit practice. la diferencia en las variables continuas entre los practicantes con y sin
The presence of injury history was associated with lesser weekly antecedentes de lesiones, se utilizó la prueba U de Mann-Whitney. Se
and daily training frequency, shorter training duration, and Scale evaluó la asociación entre las variables categóricas y la presencia o
training program. The frequency of injuries on leg, knee, lumbar ausencia de lesión mediante la prueba de chi-cuadrado y la prueba
spine, shoulder, and wrist, and the muscle and tendon was greater exacta de Fisher. La prueba de chi-cuadrado goodness-of-fit se aplicó
than expected. The other variables were neither different between para investigar si la frecuencia de lesiones por parte del cuerpo y por
groups nor associated with injury presence. Thus, most participants tipo era distinta de lo esperado. La prevalencia de lesión fue del 63%,
presented injury over the last year, influenced by the sports y los practicantes con antecedente de lesión tenían menor tiempo de
characteristics but not by demographic characteristics. práctica deportiva. La presencia de antecedentes de lesión se asoció
Keywords | Injuries; Epidemiology; CrossFit; Sports. con una menor frecuencia semanal/diaria y una menor duración
del entrenamiento, así como con la formación de la carga de Scale.
RESUMEN | Este estudio tuvo como objetivo investigar la prevalencia de La frecuencia de lesiones en la pierna, la rodilla, la columna lumbar,
lesiones en practicantes de CrossFit durante un año y la influencia de

el hombro y la muñeca, así como de tipo muscular y tendinoso fue
las características deportivas y demográficas en estas lesiones. Se trata mayor a la esperada. Las demás variables no mostraron diferencia
de estudio de cohorte retrospectivo, realizado con 180 practicantes entre grupos o no se asociaron con la presencia de lesión. Por lo tanto,
de CrossFit, quienes respondieron a un cuestionario que contenía: la mayoría de los participantes reportaron presentar una lesión que
características demográficas (edad, masa corporal, altura y sexo), estuvo influenciada por las características de la práctica deportiva,
características de la práctica deportiva (tiempo de práctica deportiva, y no por la demografía.
frecuencia y duración del entrenamiento, carga de entrenamiento y Palabras clave | Lesiones; Epidemiología; CrossFit; Deporte.
práctica de otro deporte) y ocurrencia y características de la lesión

INTRODUÇÃO precoce, estresse adicional oxidativo e maior percepção


de esforço3,4. Dessa forma, essa alta demanda da prática
O CrossFit é uma das novas tendências esportivas, esportiva sobre o sistema musculoesquelético do praticante
incluída entre as práticas classificadas como programas de de CrossFit pode favorecer um perfil de lesões distinto
condicionamento extremo, contando com muitos adeptos do perfil de outras práticas esportivas5. Reconhecer as
profissionais e amadores1. A sua prática é caracterizada lesões típicas do esporte é o primeiro passo para planejar
por sessões chamadas de workout of the day (WOD), sua prevenção no campo da fisioterapia esportiva6.
em que exercícios são executados rapidamente, com pouco A literatura apresenta uma grande variação quanto
ou nenhum tempo de recuperação entre séries, com grande aos índices epidemiológicos relacionados à lesão em
volume de carga e com foco na constante variação de praticantes de CrossFit4,7. Por exemplo, Claudino et al.4,
movimentos funcionais1,2. Essa variação tem por objetivo por meio de revisão sistemática, identificaram diferentes
mimetizar os desafios encontrados durante a prática índices de prevalência de lesão, variando entre 19% e 74%.
esportiva, como em esportes de combate2. Usualmente, Enquanto outra revisão identificou incidência de 35%,
uma sessão de CrossFit dura aproximadamente uma sendo os locais mais lesionados: ombros, tronco/lombar
hora e inclui período de aquecimento, treinamento e joelhos7. Assim, os diferentes achados na literatura
direcionado ao fortalecimento e/ou treinamento reforçam a necessidade de mais estudos sobre o tema.
de tarefas específicas e período de resfriamento1. Além do reconhecimento da prevalência de lesões
O CrossFit engloba múltiplos exercícios, sendo que no CrossFit e dos locais mais acometidos, o perfil de
as principais atividades realizadas são levantamento de lesões pode se relacionar também às características típicas
peso, ginástica, corrida, ciclismo, exercícios pliométricos dessa prática esportiva8. Fatores como tempo de prática
e remo2. Além disso, essa modalidade exige uma técnica esportiva, frequência semanal e diária de treino, duração
de nível avançado para execução de repetições máximas do treino, realização de outra prática esportiva e formação
de exercícios cronometrados2. Essas características podem de carga caracterizam a prática esportiva e podem estar
sobrecarregar o corpo do praticante, gerando fadiga associados ao perfil de lesões. Fatores relacionados ao nível

89
Fisioter Pesqui. 2022;29(1):88-95

de participação, volume e carga de treinamento, assim durante o ano de 2019 em 180 praticantes de CrossFit.
como características demográficas já foram considerados Esses praticantes foram recrutados por conveniência em
em investigações sobre o perfil de lesões em diferentes um box licenciado de CrossFit, em Belo Horizonte,
esportes9-11. Por exemplo, uma revisão de literatura Minas Gerais. Os critérios de inclusão foram ser maior
indicou que uma quantidade maior de horas de treino e de 18 anos e ter treinado CrossFit durante os 12 meses
um grande aumento de carga estavam associados a lesões de 2019. Os critérios de exclusão foram não preencher
no ombro em esportes em que são realizados gestos acima completamente o questionário e pertencer a outro box de
da cabeça11. Alguns estudos com praticantes de CrossFit treinamento. Todos os participantes assinaram o termo
identificaram resultados similares, sugerindo que uma de consentimento livre e esclarecido.
maior exposição resultaria em maior chance de lesão12.
Em contrapartida, outros estudos não identificaram Procedimentos
diferença na taxa de lesões de acordo com a frequência
semanal e a duração do treino13,14, assim como a prática O questionário foi disponibilizado para os praticantes,
conjunta de outro esporte15. Por outro lado, alguns durante os meses de agosto e setembro de 2020, por meio
estudos identificaram um maior risco de lesão entre de divulgação em plataformas digitais. As perguntas iniciais
praticantes menos experientes, que treinam com menor estavam relacionadas a características demográficas –
frequência semanal e que praticam outro esporte12,16. idade, massa corporal, altura e sexo –, e as perguntas
O tipo de formação de carga é um fator pouco investigado, seguintes, a características da prática esportiva – tempo
mas que já foi associado, por um outro estudo, com lesões de prática esportiva, frequência semanal e diária de
musculoesqueléticas no esporte15. treino, duração diária do treino, prática de outra atividade
Características demográficas também são comumente esportiva e formação de carga (RX, Scale, intermediária
consideradas na análise de perfil de lesão; entretanto os ou outra). Por fim, os participantes foram solicitados a
achados na literatura são conflitantes no que se refere informar o número de lesões ocorridas no último ano de
ao CrossFit. Enquanto alguns estudos sugerem uma prática esportiva e, na presença de lesão, a região do corpo
relação entre frequência de lesão, sexo masculino e idade lesionada e a estrutura acometida (músculo, tendão, osso,
mais avançada12, outros não identificaram a influência do articulação, ligamento ou outros). Considerou-se como
sexo e da idade na ocorrência de lesões, assim como de lesão qualquer dano causado por trauma físico em tecidos
outras características como altura e massa corporal14,15. do corpo, podendo ser um único trauma ou o resultado
Dessa forma, novos estudos que considerem a investigação de cargas repetidas a longo prazo17. Essas lesões deveriam
de características demográficas e da prática esportiva ter ocorrido durante os treinos ou em decorrência deles,
podem contribuir para o entendimento dos diferentes resultando em redução ou afastamento completo dos
achados relativos ao perfil de lesão no CrossFit. praticantes das atividades esportivas17. Essa definição de
Assim, os objetivos deste estudo foram investigar a lesão foi apresentada no questionário.
prevalência de lesões no último ano de praticantes de
CrossFit e a influência das características demográficas Análise estatística
e da prática esportiva nessas lesões. A hipótese deste
estudo é que tanto as características da prática esportiva Os participantes foram organizados em dois grupos:
quanto as demográficas devem estar relacionadas ao com e sem histórico de lesão. A prevalência de lesões foi
histórico de lesões no último ano de praticantes desse calculada pela proporção de praticantes de CrossFit que
esporte. Os resultados do estudo poderão colaborar para a apresentaram lesão em 2019. Foi utilizada a estatística
compreensão do perfil de lesão de praticantes de CrossFit descritiva para o cálculo de média e desvio-padrão das
e para o planejamento de ações preventivas. variáveis contínuas (idade, massa corporal, altura e tempo de
prática esportiva). Já as variáveis categóricas (sexo, frequência
semanal e diária do treino, duração diária do treino, prática
METODOLOGIA de outra atividade e formação de carga) foram apresentadas
como a frequência observada e a porcentagem por grupo.
Este estudo de coorte retrospectivo foi realizado a Para a análise estatística inferencial das variáveis contínuas,
partir dos dados coletados por questionário autoaplicável o teste de Shapiro-Wilk revelou que os dados não apresentavam
para identificar as características de lesões que ocorreram distribuição normal. Assim, o teste Mann-Whitney U foi

90
Reis et al. Lesões em praticantes de CrossFit

aplicado para investigar a diferença entre os grupos com e investigar se a frequência observada de lesões por região
sem histórico de lesão para essas variáveis. do corpo e por tipo era diferente da esperada. Um nível
Para a análise estatística inferencial das variáveis de significância de 0,05 foi adotado para todas as análises.
categóricas, investigou-se a associação com a presença
ou ausência de histórico de lesão por meio do teste qui-
quadrado ou teste exato de Fisher. A escolha entre esses RESULTADOS
testes ocorreu de acordo com a análise da frequência
esperada nas células da tabela de contingência. Nos casos Dos 180 praticantes, 113 (63%) sofreram lesão no
em que a frequência esperada foi menor que 5, optou-se último ano. A Tabela 1 apresenta as características
pelo teste exato de Fisher (frequência semanal de treino demográficas de acordo com a presença ou não de lesão
e formação de carga) e nos demais casos foi utilizado no último ano e o valor-p da análise inferencial. Os grupos
o teste qui-quadrado (sexo, frequência diária de treino, não apresentaram diferença quanto à idade, massa corporal
duração diária do treino e prática de outra atividade e altura. Além disso, não foi observada associação entre
física). Na presença de uma associação significativa, o sexo do participante e ter histórico de lesão.
a análise do resíduo ajustado foi utilizada para identificar A Tabela 2 apresenta as características da prática esportiva
qual célula da tabela de contingência realizou uma de acordo com a presença ou não de lesão no último ano e o
contribuição significativa para o resultado. Nessa análise, valor-p da análise inferencial. Os grupos diferiram quanto
se o valor do resíduo ajustado era maior que ±1,96, isso ao tempo de prática do esporte, sendo que aqueles com
indicava que o número de casos na célula da tabela de histórico de lesão tinham menos tempo de prática esportiva.
contingência era diferente do esperado. Além disso, Não se verificou associação entre a presença de histórico
o teste qui-quadrado goodness-of-fit foi utilizado para de lesão e a prática de outra atividade física.
Tabela 1. Características demográficas dos participantes
Sem histórico de lesão Com histórico de lesão
no último ano no último ano Valor-p
n=67 n=113
Idade (anos)* 26,5 (3,4) 26,2 (4,1) 0,14
Massa corporal (kg)* 74,2 (15,1) 74,0 (13,6) 0,96
Altura (cm)* 171,7 (12,1) 169,2 (11,9) 0,17
Sexo
Feminino (%) 32 (47,8%) 62 (54,4%)
0,39
Masculino (%) 35 (52,2%) 52 (45,6%)
*: idade, massa corporal e altura estão expressas como média (desvio-padrão).

Tabela 2. Características da prática esportiva dos participantes


Sem histórico de lesão Com histórico de lesão
no último ano no último ano Valor-p
n=67 n=113
Tempo de prática esportiva (anos) 4,4 (1,4) 3,5 (1,5) <0,001*
Frequência semanal de treino <0,001*
2× 0 (0,0%) 6 (5,3%)
3× 3 (4,5%) 51 (44,7%)
4× 3 (4,5%) 3 (2,6%)
5× 8 (11,9%) 3 (2,6%)
6× 53 (79,1%) 51 (44,7%)
Frequência diária de treino <0,001*
1× por dia 15 (22,4%) 63 (55,3%)
>1× por dia 52 (77,6%) 51 (44,7%)
Duração diária do treino <0,001*
1h por dia 14 (20,9%) 66 (57,9%)
>1h por dia 53 (79,1%) 48 (42,1%)

(continua)

91
Fisioter Pesqui. 2022;29(1):88-95

Tabela 2. Continuação
Sem histórico de lesão Com histórico de lesão
no último ano no último ano Valor-p
n=67 n=113
Prática de outra atividade esportiva 0,85

Não 65 (97,0%) 110 (96,5%)


Sim 2 (3,0%) 4 (3,5%)
Formação de carga <0,001*
RX 51 (76,1%) 43 (37,7%)
Scale 5 (7,5%) 58 (50,9%)
Intermediária 10 (14,9%) 13 (11,4%)

Nenhuma das anteriores 1 (1,5%) 0 (0,0%)


*: diferença estatística entre grupos, p<0,05.

Os testes revelaram associação entre apresentar Tabela 3. Região do corpo lesionada


histórico de lesão e as seguintes variáveis: frequência Região do corpo lesionada Quantidade (%)
semanal de treino, frequência diária de treino, duração do Coluna lombar 98 (37,0%)
Ombro 56 (21,1%)
treino por dia e formação de carga. Para cada uma dessas
Joelho 38 (14,3%)
associações, a análise de resíduo ajustado foi realizada. Perna 31 (11,7%)
Para a associação verificada entre histórico de lesão e Punho 22 (8,3%)
frequência semanal de treino, aqueles que treinavam três Panturrilha 5 (1,9%)
vezes por semana (Z=5,7) foram os que mais contribuíram Tornozelo 4 (1,5%)
entre aqueles com histórico de lesão. Já entre aqueles sem Antebraço 3 (1,1%)
Cotovelo 2 (0,8%)
histórico de lesão, contribuíram mais para a associação
Coxa – região posterior 2 (0,8%)
os que treinaram cinco (Z=2,5) ou seis (Z=4,5) vezes.
Coxa – região anterior 1 (0,4%)
Quanto à frequência diária de treinos, houve maior Mão 1 (0,4%)
contribuição para a associação dessa variável com o Pé 1 (0,4%)
histórico de lesões entre participantes com histórico de Quadril 1 (0,4%)
lesão que não praticavam mais de uma vez ao dia (Z=4,3) Cabeça 0 (0,0%)
e entre participantes sem histórico de lesão que praticavam Coluna cervical 0 (0,0%)
Coluna torácica 0 (0,0%)
mais de uma vez ao dia (Z=4,3).
Total 265 (100%)
Houve maior contribuição para a associação de
histórico de lesão com a duração do treino entre aqueles Tabela 4. Tipo de lesão
com histórico de lesão que treinavam até 1h por dia Tipo de lesão Quantidade (%)
(Z=4,8) e entre aqueles sem histórico de lesão que Músculo 99 (45,0%)
Tendão 70 (31,8%)
treinavam mais de 1h por dia (Z=4,8).
Osso 30 (13,6%)
Para a associação do histórico de lesão e a formação Articulação 14 (6,4%)
de carga, houve maior contribuição entre aqueles com Ligamento 5 (2,3%)
histórico de lesão que apresentavam formação Scale Outros 2 (0,9%)
(Z=5,9) e entre aqueles sem histórico de lesão que Total 220 (100%)
apresentavam formação RX (Z=5,0).
A frequência observada de lesões por região do
corpo e tipo de lesão está apresentada nas Tabelas 3 e DISCUSSÃO
4, respectivamente. O teste qui-quadrado goodness-of-fit
foi significativo tanto para a região do corpo lesionada Este estudo investigou as lesões que ocorreram no
(p<0,001) quanto para o tipo de lesão (p<0,001). ano de 2019 em praticantes de CrossFit e analisou a
A frequência de lesão observada em perna, joelho, coluna influência de características demográficas e da prática
lombar, ombro e punho foi acima da esperada, assim como esportiva nessas lesões. A prevalência observada foi de
a observada em músculo e tendão. 63%, similar ao estudo de Mehrab et al.16, que identificou

92
Reis et al. Lesões em praticantes de CrossFit

56,1% em um ano de prática esportiva, e ao estudo quatro anos de experiência na modalidade, executando
de Elkin et al.5, que identificou 60,7% em dois anos. todos os movimentos do WOD com as cargas sugeridas.
Dessa forma, a prevalência identificada corrobora estudos Os resultados indicaram que aqueles com histórico de lesão
similares que indicam uma proporção de mais de 50% que apresentavam formação Scale e aqueles sem histórico
da amostra com histórico de lesão. de lesão que apresentavam formação RX foram os que
As variáveis idade, massa corporal e altura não mais contribuíram para essa associação. Assim, a expertise
diferiram entre grupos, assim como não foi observada para a execução do movimento e o condicionamento físico
associação de sexo com apresentar histórico de lesão. adequado podem ser pontos-chave a serem considerados
A influência dessas características demográficas no em um programa de prevenção de lesões.
perfil de lesões é tipicamente considerada em estudos A prática em menor frequência semanal, uma vez ao
sobre outras modalidades esportivas9,10. Além disso, dia, durante uma hora foi associada com o histórico de
esses resultados corroboram achados de outros estudos lesão. Esse achado corrobora um estudo que observou
com participantes de CrossFit14,18. Uma revisão sobre que praticantes de CrossFit que treinaram até duas
esportes com levantamento do peso identificou que vezes por semana mostraram uma probabilidade de
a influência da idade e do sexo no perfil de lesões 3,24 vezes maior de lesão do que aqueles que treinaram
é mínima 9. Assim, sugere-se que características três ou mais vezes 20 . Nessa perspectiva, aqueles
demográficas não são os principais fatores relacionados que treinam menos podem ter menor aprendizado
a lesão em praticantes de CrossFit. e habilidade nas técnicas da modalidade e menor
A prática de outra atividade física não foi associada à adaptação aos estímulos de carga. Dessa forma, esses
presença de histórico de lesão, como observado em outro praticantes podem não ter a capacidade necessária
estudo14. As demais características da prática esportiva para lidar com a carga do esporte e, assim, apresentar
investigadas se relacionaram com o histórico de lesão. efeitos negativos sobre sua saúde21.
Os praticantes com e sem histórico de lesão diferiram A coluna lombar foi a região em que a maior parte
quanto ao tempo de prática esportiva, em que aqueles das lesões ocorreu. Enquanto essa região correspondeu
com histórico de lesão apresentaram menor tempo a 37% das lesões relatadas, outros estudos reportam
de prática. Esse resultado corrobora outro estudo que porcentagens de 17,9% a 36% de lesões nessa região
demonstrou que o risco de lesões era maior entre os entre praticantes de CrossFit18,20,22,23. O resultado pode
participantes novatos de CrossFit do que entre os mais estar relacionado às características dos gestos executados
experientes19. Uma possível explicação para esse achado que, em geral, são definidos por movimentos repetitivos
é que os praticantes com menos tempo de experiência em alta velocidade e carga1,2,24. Além disso, a carga axial
podem não dispor de conhecimento apropriado das imposta exige que a coluna torácica e lombar estejam
técnicas executadas nos treinos, como também não alinhadas23. A carga axial alta somada ao grande número
ter a preparação física necessária à demanda exigida repetições pode levar a fadiga precoce, fazendo com que o
para o esporte. A associação observada entre formação praticante adote uma postura inadequada, como executar
de carga e histórico de lesão pode ser interpretada de o movimento mantendo a coluna lombar fletida23.
maneira similar. O ombro foi a segunda região mais lesionada,
A formação de carga é definida a partir do padrão seguido por joelho, perna e punho. O ombro e o
médio dos movimentos e das cargas usadas nos benchmarks punho são articulações comumente lesionadas em
e WODs propostos em cada campeonato, com o intuito movimentos de ginástica e de levantamento de peso25.
de explorar ao máximo a capacidade física dos atletas. Essas articulações recebem carga alta durante a realização
Sua classificação ocorre com base nos anos de prática desses movimentos, frequentemente em amplitudes
esportiva e no treinamento do praticante: (1) iniciante extremas26,27. Lesões em membros inferiores, como as
ou beginner: normalmente até dois meses de prática, de joelho e perna, são comumente relacionadas aos
dependendo da evolução individual, com movimentos movimentos de levantamento de peso13. Agachamento
básicos; (2) Scale: menos de um ano de prática e profundo e com a barra acima da cabeça são exemplos
realização de apenas alguns movimentos do WOD; de movimentos que os atletas indicam como aqueles
(3) intermediário ou evolution: acima de um ano de que têm maior chance de causar lesão em membros
prática, realiza mais movimentos do WOD comparado inferiores devido ao esforço excessivo e aos diversos
ao RX, porém com cargas inferiores; e (4) RX: dois a cuidados necessários para a execução13,28. Além disso,

93
Fisioter Pesqui. 2022;29(1):88-95

a maior parte das lesões foi do tipo muscular, seguido carga Scale. Provavelmente, a alta demanda requerida
do tipo tendíneo. Esses achados reforçam a demanda por diversas atividades do CrossFit® requer uma
alta sobre o sistema musculoesquelético durante a grande capacidade do sistema musculoesquelético de
prática do CrossFit29, uma vez que as lesões estão lidar com os estresses gerados nos exercícios32. Por fim,
tipicamente relacionadas a forças tensionais excessivas, a intervenção preventiva deve considerar as possíveis
especificamente aos frequentes movimentos excêntricos lesões localizadas em pernas, joelhos, coluna lombar,
repetitivos e à carga imposta28,30. ombros e punhos, principalmente as relacionados ao
Este estudo apresenta limitações, como considerar músculo e ao tendão por serem a localização e o tipo
possíveis fatores relacionados a lesões em praticantes de lesão mais frequentemente relatadas.
de CrossFit  de um único box. Outros fatores
como características do sistema musculoesquelético
(por exemplo, assimetria na capacidade de geração de CONCLUSÃO
torque) não foram investigados e podem contribuir para
o perfil de lesão. Este estudo também não investigou o A maioria dos praticantes de CrossFit apresentaram
tempo de afastamento e o tipo de tratamento recebido histórico de lesão, havendo prevalência de lesões de
pelos praticantes dessa modalidade, o que limita a músculo e tendão e localizadas em perna, joelho,
interpretação do impacto da lesão na prática esportiva. coluna lombar, ombro e punho. As características
Outros fatores não investigados também podem demográficas investigadas não influenciaram o perfil
estar associados a lesões, como histórico de lesões de lesão, diferentemente das características da prática
musculoesqueléticas prévias, histórico de prática de outra esportiva que influenciaram, uma vez que foi encontrada
atividade física antes do CrossFit®, nível de supervisão relação entre histórico de lesão e menor tempo de prática
e características da periodização no planejamento esportiva. Além disso, o relato de lesão foi associado à
da prática esportiva. Além disso, o registro de lesões formação de carga Scale, treinar com menor frequência
pode apresentar viés de memória31, uma vez que os semanal, uma vez ao dia e durante uma hora.
praticantes tendem a reportar somente as lesões que
mais impactaram sua prática. A restrição de lesões àquelas
ocorridas no ano anterior ao invés de em um período REFERÊNCIAS
maior foi a estratégia adotada para minimizar esse viés.
1. Wagener S, Hoppe MW, Hotfiel T, Engelhardt M, Javanmardi
O registro de lesão foi ainda realizado com base no S, Baumgart C, et al. CrossFit® – development, benefits and
autorrelato. Apesar de esse procedimento ser similar risks. Sportorthopa¨die-Sporttraumatologie. 2020;36(3):241-9.
ao de outros estudos5,14,18,24,25, ele pode ser influenciado doi: 10.1016/j.orthtr.2020.07.001.
pela interpretação do questionário e pelo entendimento 2. Glassman G. A theoretical template for CrossFit’s programming.
da lesão. Dessa forma, futuras investigações podem Crossfit Journal Articles. 2013;(6):1-5.
considerar outros fatores que podem estar associados 3. Maté-Muñoz JL, Lougedo JH, Barba M, García-Fernández P,
Garnacho-Castaño MV, Domínguez R. Muscular fatigue in
ao histórico de lesão em praticantes de CrossFit®, response to different modalities of CrossFit sessions. PloS One.
assim como a implantação e análise de banco de dados 2017;12(7):e0181855. doi: 10.1371/journal.pone.0181855.
com registros padronizados. 4. Claudino JG, Gabbett TJ, Bourgeois F, Souza HS, Miranda
Os resultados deste estudo podem contribuir para RC, Mezêncio B, et al. CrossFit overview: systematic
o planejamento de intervenções preventivas feito pelo review and meta-analysis. Sports Med Open. 2018;4(1):11.
doi: 10.1186/s40798-018-0124-5.
fisioterapeuta esportivo. Devido à alta prevalência
5. Elkin JL, Kammerman JS, Kunselman AR, Gallo RA. Likelihood
de lesões, a maioria dos praticantes de CrossFit® of injury and medical care between CrossFit and traditional
provavelmente se beneficiaria de uma avaliação que weightlifting participants. Orthopaedic J Sports Med.
rastreasse aspectos a serem abordados preventivamente. 2019;7(5):2325967119843348. doi: 10.1177/2325967119843348.
Além disso, os achados sugerem que uma maior 6. van Mechelen W, Hlobil H, Kemper HC. Incidence,
preparação pode ser benéfica para o praticante, uma vez severity, aetiology and prevention of sports injuries.
A review of concepts. Sports Med. 1992;14(2):82-99.
que aqueles com histórico de lesão tinham menor tempo doi: 10.2165/00007256-199214020-00002.
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doi: 10.1177/2325967118803100. Saunders Elsevier; 2007. p. 476-86.

95
PREVALÊNCIA DE LESÕES EM ATLETAS COMPETIDORES DE CROSSFIT®
Alisson Rodrigues 1
Lisboa ,Anderson J. S. 1
Oliveira ,
Lucas Resende³, Rodrigo Hollanda⁴,
Natália Garrote Braga², Wagner Rodrigues Martins 1

1UnB, Curso de Fisioterapia, Brasília, DF; 2UniCEUB, Curso de Fisioterapia, Brasília, DF; ³Clínica Lucasr Fisioterapia, Brasília, DF; ⁴Academia
CrossFit® Waya, Brasília, DF.

Introdução: Distribuição dos profissionais na orientação de


prevenção de lesões
O CrossFit® é um método de treinamento de força e condicionamento
80%
físico que caracteriza-se por treinamento constantemente variado e de
70%
alta intensidade. No que diz respeito as consequências dessa prática, 60%
ainda não existem estudos retratando a incidência, prevalência e a 50%
prevenção de lesões no CrossFit®. O objetivo deste estudo foi verificar a 40%
prevalência e a prevenção de lesões, em praticantes de CrossFit®. 30%
20%
Métodos: 10%
0%
Trata-se de um estudo descritivo transversal, cuja amostra de 58 Fisioterapeuta Médico Coach
homens e 37 mulheres com idade média de 25,6 anos, foi obtida de Elite (n=9) RX (n=25) Scale (n=67)
forma intencional durante uma competição de CrossFit® (Monstar
Games Brasília). Todos os atletas inscritos foram incluídos. Para coleta
de dados foi utilizado um questionário elaborado pelos autores, cuja Uso de proteção durante a prática
forma de aplicação ocorreu por submissão online do questionário via 60%
Google DOC (https://www.google.com/forms/about/) durante o 50%
período de check-in do campeonato. O questionário continha
perguntas sobre lesões decorrentes da prática, recursos esportivos 40%
utilizados no treinamento, orientação sobre prevenção de lesões e 30%
finalmente orientações dadas por outros profissionais de saúde. A
20%
análise estatística foi realizada com auxílio do programa Excel.
10%
Resultados:
0%
Indivíduos que sofreram pelo menos um tipo de lesão Munhequeira Joelheira Tênis de Kinesio Tapping
Levantamento
100 Elite (n=9) RX (n=25) Scale (n=67)
90
80 Conclusão:
Número de Indivíduos

70
60 Conclui-se que, a prática do CrossFit® sobrecarrega principalmente a
50 região do ombro, gerando a necessidade de maior prevenção nessa região.
40
30
Proporcionalmente, as lesões são mais prevalentes em mulheres. O
20 Fisioterapeuta foi o profissional mais citado como orientador de prevenção
10 de lesões na categoria Elite. No RX e no Scale os Coaches foram os mais
0 citados.
Homens Mulheres Total
Total de Indivíduos 58 37 95
Total de Lesionados 14 11 25
Referências:

1. TIBANA, R A; ALMEIDA, L M; PRESTES, J. Crossfit® riscos ou benefícios? O


Locais de prevalência de lesões
que sabemos até o momento? R. bras. Ci. e Mov 2015;23(1):182-185.
12 2. LU, Albert; SHEN, Peter; LEE, Paul; DAHLIN, Brian; WALDAU, Ben;
NIDECKER, Anna E.; NUNDKUMAR, Anoop; BOBINSKI, Matthew: CrossFit-
10
related cervical internal carotid artery dissection. American Society of
Número de Lesões

8 Emergency Radiology 2015


6
Agradecimentos:
4 - A organização do evento Monstar Games Brasília, pelo apoio no
2 recrutamento dos indivíduos.
- A equipe de coleta dos dados, pela grande ajuda e agilidade.
0 - A Fundação Universidade de Brasília pelo apoio financeiro.
lombar punho ombro Cintura MMSS joelho
Pélvica Contato: alissonrodrigu@gmail.com
Local da Lesão
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Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v.2, n.3 (2021) 19-25
ISSN: 2675-9683/DOI: 10.51909/recis.v2i3.166

Prevalência de lesões musculoesqueléticas em jovens e adultos praticantes de


Crossfit ®: revisão bibliográfica

Prevalence of musculoskeletal injuries in young and adult Crossfit practitioners:


review bibliographic

Carolina Cunha Carvalho1; Deysi Micaelli Rodrigues Cantarelli1; Allana Núbia Santos
Araújo1; Pedro Guilherme Campos Lima1; Danilo Sobral da Silva Fernandes2; Laís Regina
de Holanda3
1
Graduandos do curso de Fisioterapia na Faculdade UniBRAS – Juazeiro/BA, 2Professor da Faculdade
UniBRAS Juazeiro- Juazeiro/BA, 3Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Reabilitação e
Desempenho Funcional na Universidade de Pernambuco – Petrolina/PE.

Autor correspondente: carolina_cunhacarvalho@hotmail.com


Artigo recebido em 16/09/2021e aceito em 09/11/2021
________________________________________________________________________________
RESUMO
O CrossFit é uma modalidade de atividade física, de alta intensidade, que tem como objetivo principal
promover condicionamento físico, melhorando as capacidades físicas do corpo através de exercícios variados,
movimentos funcionais e treinamentos de alta intensidade. Apesar de apresentar exercícios com benefícios na
saúde em geral, em programas de condicionamento extremo como esse, há riscos de lesões
musculoesqueléticas, lesões ligamentares e até rabdomiólise. O objetivo do estudo foi realizar um
levantamento bibliográfico para analisar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em praticantes de
Crossfit. Trata-se de uma revisão da literatura. A coleta foi realizada de janeiro a junho de 2021, nas bases de
dados PubMed, BVS, e Scielo utilizando artigos publicados de 2017 a 2021. Embora o CrossFit possua um
amplo número de participantes, na literatura os resultados positivos, que mostram seus benefícios ainda não
confirmam um alto nível de evidência. Além disto, pode-se afirmar que o índice ou proporção de lesões, de
acordo como mostrado pela maioria dos estudos incluídos, deve levar em consideração grande variedade de
fatores . De acordo com a literatura, conclui-se que o CrossFit é ser uma modalidade segura, desde que
realizada da forma adequada para cada indivíduo e com acompanhamento do profissional responsável. Porém
ainda são necessários mais estudos sobre o tema, pois existem lacunas na literatura, apresentando poucas
evidências de qualidade e divergência na literatura.
Palavras-chave: Treinamento Intervalado de Alta Intensidade; Prevalência; Traumatismo em atletas

ABSTRACT
CrossFit is a high-intensity physical activity modality, whose main objective is to promote physical
conditioning, improving the body's physical capacities through varied exercises, functional movements and
high-intensity training. Despite presenting exercises with general health benefits, in extreme conditioning
programs like this one, there are risks of musculoskeletal injuries, ligament injuries and even rhabdomyolysis.

19
Carvalho, C. C. et al. / Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v. 2 n. 3 (2021) p. 19-25
Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v.2, n.3 (2021) 19-25
ISSN: 2675-9683/DOI: 10.51909/recis.v2i3.166
The aim of the study was to conduct a bibliographic survey to analyze the prevalence of musculoskeletal
injuries in Crossfit practitioners. This is a literature review. The collection was carried out from January to
June 2021, in the PubMed, BVS, and Scielo databases using articles published from 2017 to 2021. Although
CrossFit has a large number of participants, in the literature the positive results, which still show its benefits,
do not confirm a high level of evidence. Furthermore, it can be stated that the rate or proportion of injuries, as
shown by most of the included studies, must take into account a wide variety of factors. According to the
literature, it is concluded that CrossFit seems to be a safe modality, as long as it is performed properly for each
individual and monitored by the responsible professional. However, more studies on the subject are still
needed, as there are gaps in the literature, with little evidence of quality and divergence in the literature.
Keywords: High Intensity Interval Training; Prevalence; Athletic Injuries;

INTRODUÇÃO articulações do ombro, cotovelo, região lombar e


O CrossFit é uma modalidade esportiva, joelho as mais afetadas. ¹,²
de alta intensidade que envolve atividades de força Este estudo justifica-se pela necessidade de
e condicionamento físico geral, esse treinamento é conhecer a prevalência de lesão
relativamente novo na população e que vem musculoesquelética nesta modalidade esportiva,
crescendo o interesse pela sua prática. Tem como podendo contribuir para abordagens de reabilitação
objetivo principal promover condicionamento e prevenção nos indivíduos praticantes de
físico, melhorando as capacidades físicas do corpo CrossFit. Dessa forma o objetivo desse estudo é
como a resistência cardiorrespiratória, força, realizar um levantamento bibliográfico para a
potência, velocidade, coordenação, flexibilidade, prevalência de lesões musculoesqueléticas em
agilidade, equilíbrio e precisão, preparando o praticantes de CrossFit.
praticante para qualquer desafio físico e
consequentemente melhorando a saúde através de MATERIAL E MÉTODOS
exercícios variados, compostos de movimentos O estudo trata-se de uma revisão
funcionais e treinamentos de alta intensidade. ¹, ² bibliográfica de literatura. Foi realizada uma
O “treino do dia”, conhecido como pesquisa bibliográfica nos meses de janeiro a junho
Workout of the Day (WOD), é um conjunto de de 2021, nas bases de dados United StatesNational
exercícios alternados, compostos por: Library of Medicine (PubMed), Biblioteca virtual
levantamento de peso olímpico, agachamentos, em saúde (BVS), e Scientific Eletronic Library
arrebates, arremessos, exercícios aeróbicos e Online (Scielo) utilizando artigos publicados de
movimentos de ginástica, em que a carga imposta 2017 a 2021.
e o movimento são ajustados individualmente de Os termos utilizados para recrutamento dos
acordo com o nível de habilidade e o artigos para pesquisa incluíram palavras-chave na
condicionamento de cada participante. ² língua portuguesa como “Lesões Esportivas” and
Apesar do CrossFit apresentar programas “Treinamento Intervalado de Alta Intensidade” and
de exercícios eficientes e seguros com potenciais “Prevalência” e na língua inglesa com os termos:
benefícios na saúde em geral, respostas “Sports injuries” and “High Intensity Interval
cardiovasculares e aptidão física, outros estudos Training” and “Prevalence”.
evidenciam significativos riscos de lesão. Estes Foram incluídos ensaios clínicos
programas incluem exercícios que mal orientados randomizados e estudos epidemiológicos que
podem ser indevidamente executados ou realizados incluíam lesões musculoesqueléticas em
de modo extenuante pelo aumento do volume, praticantes de CrossFit jovens e adultos
carga imposta e pela competição gerada durante os aparentemente saudáveis, de ambos os sexos e de
treinos, podendo gerar lesões musculoesqueléticas, idade igual ou superior a 15 anos, na língua inglesa
ligamentares e até rabdomiólise. 3,4,5 ou portuguesa.
As lesões são caracterizadas por Foram excluídos da pesquisa estudos
movimentos que impedem a realização de voltados para a população pediátrica ou para
atividades de vida diária, como treinar e trabalhar, alguma população específica com patologias, ou
por qualquer período de tempo. Na prática do que não tinha acesso gratuito e artigos incompletos,
CrossFit, as lesões descritas na literatura são além de revisões sistemáticas e meta-análises.
desenvolvidas por uso excessivo, por sobrecarga
que pode levar a alterações crônicas nos tendões,
lesões traumáticas e lesões gerais, sendo as

20
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DESENVOLVIMENTO isso, foram incluídos seis artigos na revisão,
A pesquisa bibliográfica resultou no total conforme mostrado na Figura 1. As características
de 24 artigos encontrados nas bases de dados dos 6 artigos selecionados estão descritos na
escolhidas, sendo removidos 18 artigos por não Tabela 1.
cumprirem os critérios de inclusão do estudo. Com
Identificação

Estudos identificados através da pesquisa com base de


dados:
SciELO n = 3; PubMed n = 20; BVS n = 1
Total: n = 24
Triagem

Estudos excluídos
Estudos selecionados:
por duplicata:
SciELO n = 1; PubMed n = 20; BVS n = 1
(n = 2)
Elegibilidade

Artigos (texto completo) Estudos exluídos de acordo com os


selecionados: criterios de inclusão e exclusão:
(n = 20) (n = 14)
Conclusão

Estudos incluidos no
estudo:
(n = 6)

Figura 1 –Fluxograma de seleção e inclusão dos artigos no estudo

21
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Tabela 1 – Características dos estudos selecionados

AUTOR TIPO DO ESTUDO MÉTODO DE


RESULTADOS
(ANO) (AMOSTRA) ANÁLISE

O estudo mostrou que 37,9% dos


praticantes sofreram lesões durante a
Estudo observacional, prática do CrossFit. A taxa de lesão foi
Questionário impresso
Costa et al descritivo, transversal e de 3,24 por 1000 horas de
aplicado diretamente
(2019) epidemiológico. treinamento.Os locais de lesões mais
aos praticantes de
414 praticantes de ambos comuns foram o ombro, coluna lombar e
CrossFit
os sexos. perna. As lesões mais comuns foram
tensão muscular, lesão por sobrecarga, e
contusão.

Ombros, costas, joelhos, cotovelos e


Estudo epidemiológico
punhos foram os locais mais comuns
Feito et al descritivo.
Questionário online de lesões relatados em ambos os sexos,
(2018) 3.049 participantes de
sendo que o maior número de lesões
ambos os sexos.
ocorreu naqueles que tinham um alto
volume de treino semanal (3 a 5 dias).

56,1% dos praticantes sofreram pelo


menos uma lesão ao praticar Crossfit.
Estudo epidemiológico
O ombro, a parte inferior das costas e
Mehrab et descritivo.
Questionário eletrônico joelho eram os mais comumente
al (2017) 449 atletas de ambos os
lesionados durante WODs. Maior
sexos.
parte das lesões foi originada por uso
excessivo (58,7%).

29,6% dos participantes relataram ter


sofrido algum tipo de lesão desde o
Estudo epidemiológico e
Minghelli início da prática. A taxa de lesão
transversal. Questionário em forma de
et al (2019) resultante foi de 1,34 por 1000 horas
270 participantes de Entrevista Estruturada
de exercícios. As regiões corporais
ambos os sexos.
mais acometidas por lesões foram o
ombro, coluna lombar e joelho.

26% dos entrevistados sofreram lesões


nos seis meses anteriores, a incidência
de lesões foi de 2,3 / 1000 horas de
Estudo epidemiológico. treinamento do atleta, sendo mais
Montalvo
191 participantes de Entrevista comum nos ombros, joelhos e parte
et al (2017)
ambos os sexos. inferior das costas. Praticantes com
mais horas de treinos semanais e
competidores eram mais propensos a
apresentar lesões.

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A taxa de lesão foi de 18,9 por
1000 horas de exposição CrossFit.
Questionário impresso para Foram relatados os ombros e a
Estudo epidemiológico recrutamento dos coluna lombar os locais mais
Szeles et al descritivo. participantes e questionários acometido e as lesões mais comum
(2020) 515 participantes de online a cada duas semanas foram lesões musculares e dores
ambos os sexos. para acompanhamento dos nas articulações, sendo relatados
mesmos como fatores de risco a carga de
treinamento e as lesões anteriores a
prática do CrossFit.

Embora o CrossFit possua um amplo havendo uma diferença significativa entre os sexos.
número de participantes, a literatura ainda é 60,4% da população lesionada relataram a lesão em
limitada, mostrando os resultados positivos e uma única parte do corpo e 37,6% relataram lesões
benefícios. Com relação ao objetivo do presente em várias partes do corpo, estando prevalentes as
estudo, os achados da investigação relacionadas à lesões nos ombros (39%), costas (36%), joelhos
prevalência de lesão no CrossFit mostra maior (15%), cotovelos (12%) e pulsos (11%). ¹¹
predomínio de lesão no ombro e lombar entre os Foi empregado uma investigação
estudos analisados. Além disto, podemos afirmar epidemiológica descritiva utilizando um
que o índice ou proporção de lesões, de acordo questionário eletrônico para verificar o risco de
como mostrado pela maioria dos estudos incluídos, lesão em 252 participantes. Os resultados
deve levar em consideração uma grande variedade encontraram 56,1% dos participantes sofreram pelo
de fatores como lesões prévias, o protocolo menos uma lesão. Os locais mais comuns foram
aplicado, a presença de técnicos qualificados e ombro, parte inferior das costas e seguido de
outros. joelho. Um total de 58,7% das lesões foi relatado
O questionário aplicado aos praticantes de como crônicas e uso excessivo. Os possíveis danos
CrossFit no estudo verificou uma incidência de podem ser causados por: pouco tempo de
3,24 por 1.000 horas de exercícios e a prevalência participação no CrossFit associado a dimensões
de 36% de lesões. As taxas desse estudo são incorretas de exercícios, complexidade dos
parecidas com a de outras modalidades, como movimentos dos treinos, fadiga e peso exagerado.¹
levantamento de peso básico, ginástica olímpica e Segundo a pesquisa epidemiológica, a
Overhead Walking Lunge (OWL). Esse resultado prevalência de lesões durante a prática de CrossFit
sugere que os movimentos do corpo durante o é de 30%. A respeito da taxa de lesões, esse estudo
treinamento é o principal determinante para as mostrou 1,34 por 1000 horas de treinamento.
lesões. Com relação à localização das lesões, o Considerando essas taxas apropriadas aos
ombro e coluna lombar baixa foram as regiões mais componentes, como sessão de treinamento,
afetadas, devido serem regiões mais utilizadas no intensidade e período de recuperação, assim como
OWL e ginástica olímpica. Dessa forma os atletas os exercícios prescritos. Acerca dos tipos mais
precisam reduzir as execuções incorretas dos prevalentes de lesão, o estudo mostrou lesões
movimentos para menor risco de lesões. A articulares (30,8%) e lesões musculares (23,1%).
associação entre lesão e o período de prática no Os locais de lesão mais frequente foram: ombro,
CrossFit, mostra que atletas com maior tempo coluna lombar e joelho, devido serem as regiões
obtiveram 82,2% superior a atletas menos mais usadas nos exercícios básicos de
experientes. Por isso, atletas em níveis levantamento de peso, levantamento olímpico e
competitivos são mais susceptíveis a sofrer mais movimento de ginástica. Além disso, o estudo
lesão do que aqueles que são iniciantes e revelou que praticantes que treinam pouco, com
recreativos, devido ao período maior de exposição menos experiência de treinamento ou que não
aos treinamentos, superação de limites e ao alto participam de competições desenvolvem maior
nível de habilidade técnica. ² probabilidade de desenvolver lesões devido aos
No estudo realizado, notaram que, dos níveis baixos de condicionamento e técnica com
3049 praticantes de CrossFit que participaram do execução incorreta.9
questionário, 30,5% relataram sofrer uma lesão que Na pesquisa epidemiológica, foi observada
estava relacionada à prática do esporte, não uma frequência de lesões nos ombros, joelhos e

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parte inferior das costas, obtendo uma maior de uma pouca quantidade de estudos com alto teor
predisposição para lesão os atletas competidores ou metodológico.
que possuíam alto volume de treino, pela maior
exposição aos movimentos. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Na pesquisa, foi notável que praticantes do 1. Mehrab M, de Vos RJ, Kraan GA, Mathijssen
sexo masculino com menor frequência semanal de NMC. Injury Incidence and Patterns Among
treino e menor experiência (<1 anos) foi mais Dutch CrossFit Athletes. Orthop J Sports Med.
propenso a relatar uma lesão em comparação com 2017; 5(12).
o sexo feminino. E os praticantes que tinham um https://doi.org/10.1177/2325967117745263
volume maior de treino e uma experiência, 2. da Costa TS, Louzada CTN, Miyashita GK, da
justifica-se essa diferença com problemas de força Silva PHJ, Sungaila HYF, Lara PHS, et al.
ou de flexibilidade em praticantes menos CrossFit®: Injury prevalence and main risk
experientes, impedindo dos mesmos completar factors. Clinics (Sao Paulo). 2019; 74:e1402.
alguns exercícios básicos, porém concluiu que o https://doi.org/10.6061/clinics/2019/e1402
CrossFit é uma atividade segura quando realizada 3. Timón R, Olcina G, Camacho-Cardeñosa M,
a mais de um ano, com um alto volume de treino Camacho-Cardenosa A, Martinez-Guardado I,
semanal. ¹² Marcos-Serrano M. 48-hour recovery of
Nos estudos, não são encontradas biochemical parameters and physical
diferenças na associação entre lesões durante a performance after two modalities of CrossFit
prática do CrossFit com a idade, sexo, peso workouts. Biol Sport. 2019; 36(3):283-289.
corporal, altura do atleta e prática de outros https://doi.org/10.5114/biolsport.2019.85458
esportes. Porém, os estudos divergem em relação à 4. Hak PT, Hodzovic E, Hickey B. The nature and
associação da lesão e o tempo de prática. Em três prevalence of injury during CrossFit training
estudos desta pesquisa, foi mostrado que pessoas [published online ahead of print, 2013 Nov
que tinham mais tempo de prática eram mais 22]. J StrengthCond Res. 2013;
propensos a desenvolver lesões em comparação https://doi.org/10.1519/JSC.00000000000003
com os que tinham um menor tempo de 18
experiência, tendo uma maior probabilidade de 5. Lopes P, Bezerra FHG, Filho NA, Brasileiro I,
lesão os atletas de nível competitivo. Por outro Neto PP, Júnior FS. Lesões osteomioarticulares
lado, nos outros três estudos incluídos foi entre os praticantes de crossfit.
observado que o menor tempo de experiência foi Motricidade. 2018: 14( 1 ): 266-270.
relacionado com um maior risco para lesões, uma Disponível em:
vez que iniciantes devem ter o treino concentrado http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sc
mais nos padrões de movimentos, com uma boa
i_arttext&pid=S1646107X2018000100038&l
qualidade de treinamento, corrigindo o volume,
complexidade e intensidade de acordo com o ng=pt
praticante, diminuindo o risco de lesões devido ao 6. Weisenthal BM, Beck CA, Maloney MD,
uso excessivo e à complexidade dos exercícios e DeHaven KE, Giordano BD. Injury Rate and
movimentos, sendo a maioria das lesões de origem Patterns Among CrossFit Athletes. Orthop J
crônica/excessiva.1,2,9,10,11,12 Sports Med. 2014;2(4).
https://doi.org/10.1177/2325967114531177
7. Xavier AA, Lopes AMC. Lesões
CONCLUSÃO
musculoesqueléticas em praticantes de crossfit
De acordo com a literatura, conclui-se que
[monografia]. Revista Interdisciplinar Ciências
o CrossFit parece ser uma modalidade segura,
Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27.
desde que realizada da forma adequada para cada
8. Drum SN, Bellovary BN, Jensen RL, Moore
indivíduo e com acompanhamento do profissional
MT, Donath L. Perceived demands and
responsável, principalmente os praticantes
postexercise physical dysfunction in
iniciantes e os do nível de competição, que utilizam
CrossFit® compared to an ACSM based
altas cargas e volume nos treinos, sendo um esporte
training session. J Sports Med Phys Fitness.
que interfere em muitas variáveis do corpo humano
2017;57(5):604-609.
e melhora a saúde e qualidade de vida. Porém,
https://doi.org/10.23736/S0022-
ainda são necessários mais estudos sobre o tema,
4707.16.06243-5
pois existem incertezas na literatura consequentes
9. Minghelli B, Vicente P. Musculoskeletal
injuries in Portuguese CrossFit practitioners. J

24
Carvalho, C. C. et al. / Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v. 2 n. 3 (2021) p. 19-25
Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v.2, n.3 (2021) 19-25
ISSN: 2675-9683/DOI: 10.51909/recis.v2i3.166
Sports MedPhys Fitness. 2019;59(7):1213- CrossFit-Trained Participants. Orthop J Sports
1220. https://doi.org/10.23736/S0022- Med. 2018;6(10).
4707.19.09367-8 https://doi.org/10.1177/2325967118803100
10. Montalvo AM, Shaefer H, Rodriguez B, Li T, 12. Szeles PRQ, da Costa TS, da Cunha RA,
Epnere K, Myer GD. Retrospective Injury Hespanhol L, Pochini AC, Ramos LA, et al.
Epidemiology and Risk Factors for Injury in CrossFit and the Epidemiology of
CrossFit. J Sports Sci Med. 2017;16(1):53-59. Musculoskeletal Injuries: A Prospective 12-
11. Feito Y, Burrows EK, Tabb LP. A 4-Year Week Cohort Study. Orthop J Sports Med.
Analysis of the Incidence of Injuries Among 2020;8(3).
https://doi.org/10.1177/2325967120908884

25
Carvalho, C. C. et al. / Revista de Ensino, Ciência e Inovação em Saúde v. 2 n. 3 (2021) p. 19-25
Brazilian Journal of Development 108842
ISSN: 2525-8761

Prevalência de Lesões Musculoesqueléticas em Praticantes de


Crossfit®: Uma Revisão Sistemática

Prevalence of Musculoskeletal Injuries in Crossfit® Practitioners: A


Systematic Review

DOI:10.34117/bjdv7n11-489

Recebimento dos originais: 26/10/2021


Aceitação para publicação: 26/11/2021

Luiza Bonfim Barreto


Graduanda em Medicina
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Av. Dom João VI, nº 275, Brotas - Salvador-BA, 40290-000
E-mail: luizabarreto17.1@bahiana.edu.br

Laura Souza Lagares


Graduanda em Educação Física
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Rua Silveira Martins, nº 3386, Cabula – Salvador-BA, 41150-000
E-mail: lauralagares18.1@bahiana.edu.br

Luiz Alberto Bastos de Almeida


Mestre em Educação Física
Instituição: Universidade Estadual de Feira de Santana
Endereço: Av. Transnordestina, s/n - Feira de Santana, Novo Horizonte - BA, 44036-
900
E-mail: lulalong1000@yahoo.com.br

Felipe Nunes Almeida dos Santos


Graduado em Educação Física
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Rua Silveira Martins, nº 3386, Cabula – Salvador-BA - 41150-000
E-mail: felipesantos17.1@bahiana.edu.br

Ramon Souza Lino


Graduado em Educação Física
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Rua Silveira Martins, nº 3386, Cabula – Salvador-BA - 41150-000
E-mail: ramonlino17.1@bahiana.edu.br

Rodrigo Colares de Macedo


Graduado em Fisioterapia
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Rua Silveira Martins, nº 3386, Cabula – Salvador-BA - 41150-000
E-mail: rodrigomacedo20.1@bahiana.edu.br

Mariana Sousa de Pina Silva


Graduando em Medicina

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.11, p. 108842-108860 nov. 2021


Brazilian Journal of Development 108843
ISSN: 2525-8761

Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública


Endereço: Av. Dom João VI, nº 275, Brotas - Salvador-BA, 40290-000
E-mail: marianasilva20.1@bahiana.edu.br

Eric Simas Bomfim


Graduado em Educação Física
Instituição: Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade
Endereço: Rua Agnelo Brito, 187 - Federação, Salvador - BA, 40210-245
E-mail: eric_s_bomfim@hotmail.com

Clarcson Plácido Conceição dos Santos


Doutor em Medicina e Saúde Humana
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Endereço: Rua Silveira Martins, nº 3386, Cabula – Salvador-BA - 41150-000
E-mail: clarcson@bahiana.edu.br

RESUMO
Introdução: Atualmente, o Brasil é o segundo país com o maior número de praticantes
dessa modalidade. Estudos recentes apresentam associados ao treinamento de CrossFit®
prevalências variáveis de lesões, com inúmeros fatores possivelmente significativos.
Diante disso, o objetivo da revisão foi avaliar a hipótese de que a prática de CrossFit®
está associada a alta prevalência de lesões musculoesqueléticas e, secundariamente,
definir o segmento corporal mais acometido. Metodologia: a revisão sistemática foi
realizada de acordo com os critérios do PRISMA, selecionando estudos das bases de
dados do Scielo e Pubmed que atendiam ao objetivo, sem recorte temporal, em português
e inglês e com participantes com idade superior ou igual a 18 anos. Os descritores
utilizados foram CrossFit, Crossfit injury e Crossfit training. A qualidade dos estudos foi
avaliada através da iniciativa Strengthening the Reporting of Observational Studies in
Epidemiology (STROBE). Resultados: Após o processo de seleção e triagem dos artigos
a revisão sistemática contou com 11 artigos que atenderam aos critérios de inclusão. A
pontuação média da qualidade dos estudos foi de 18,68 com uma nota mínima de 15 e
máxima de 20,5. A prevalência de lesão variou de 73,5 a 12,8%, com taxa de lesão por
1000 horas de 18,9 a 3,1. O segmento mais acometido nos estudos foi ombro, seguido por
lombar. Conclusão: A prevalência de lesão é variável e depende de vários fatores e do
perfil dos praticantes, acometendo tanto praticantes menos experientes quanto os mais
experientes. Os segmentos mais acometidos estão diretamente relacionados com os
exercícios realizados na prática.

Palavras-chave: CrossFit; Incidência de lesão; High-intensity workout.

ABSTRACT
Introduction: Currently, Brazil is the second country with the largest number of
practitioners of this modality. Recent studies show variable prevalence of injuries
associated with CrossFit® training, with numerous possibly significant factors.
Therefore, the objective of the review was to evaluate the hypothesis that the practice of
CrossFit® is associated with a high prevalence of musculoskeletal injuries and,
secondarily, to define the most affected body segment. Methodology: the systematic
review was carried out according to the PRISMA criteria, selecting studies from the
Scielo and Pubmed databases that met the objective, without time frame, in Portuguese
and English and with participants aged 18 years or over. The descriptors used were

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ISSN: 2525-8761

CrossFit, Crossfit injury and Crossfit training. Study quality was assessed through the
Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)
initiative. Results: After the selection and screening process of articles, the systematic
review included 11 articles that met the inclusion criteria. The mean score for study
quality was 18.68 with a minimum score of 15 and a maximum score of 20.5. The
prevalence of injury ranged from 73.5 to 12.8%, with an injury rate per 1000 hours
ranging from 18.9 to 3.1. The most affected segment in the studies was shoulder, followed
by lumbar. Conclusion: The prevalence of injury is variable and depends on several
factors and the profile of practitioners, affecting both less experienced practitioners and
more experienced practitioners. The most affected segments are directly related to the
exercises performed in practice.

Keywords: CrossFit; Injury incidence; High-intensity workout.

1 INTRODUÇÃO
O CrossFit® é uma atividade física nova que surgiu na década de 90, nos EUA
(LICHTENSTEIN; JENSEN, 2016). Inicialmente foi utilizado para treinamento militar
(SPREY et al., 2016), a fim de desenvolver resistência cardiorrespiratória, resistência
muscular, força, flexibilidade, potência, coordenação, velocidade, equilíbrio, agilidade e
precisão (LICHTENSTEIN; JENSEN, 2016). Atualmente, é uma prática que virou
fenômeno, sendo notificado, no final de 2017, 14.969 boxes pelo mundo, sendo a sua
maioria nos EUA, com 7314 boxes, seguido pelo Brasil com 1055 (DOMINSKI et al.,
2019).
É um treinamento composto por movimentos funcionais e estímulos de alta
intensidade (NETO; KENNEDY, 2019), levando os praticantes a um esforço máximo,
associado a rápida fadiga muscular (MINGHELLI; VICENTE, 2019). A prática é
dividida, basicamente, em 4 momentos, sendo o aquecimento dinâmico, trabalho de
habilidades/força, treinamento do dia e desaquecimento e alongamento, porém a estrutura
de aula pode variar de acordo com cada box (MALLIA, 2016).
Pelo CrossFit® ser uma prática relativamente nova, os estudos estão se tornando
crescentes a cada ano, concomitante com o avanço daquela. Contudo, apesar de crescente,
muitos estudos apresentam prevalências muito variáveis de lesões, de 73,5% (HAK et al.,
2013) a 12,8% (MORAN et al., 2017), com inúmeros possíveis fatores associados, como
fatores intrínsecos como idade e gênero, e extrínsecos como tempo de experiência,
exposição semanal, lesões anteriores, prática de outros esportes, etc. Além disso, muitos
estudos não são específicos de CrossFit®, incluindo-o junto a outras práticas de alta

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intensidade (NETO; KENNEDY, 2019) ou realizando estudos comparativos entre o


CrossFit® e outras práticas, principalmente levantamento de peso (ELKIN et al., 2019).
Assim, essa revisão sistemática sobre a prevalência de lesões em praticantes de
CrossFit® é importante tendo em vista as divergências sobre a prevalência de lesões
especificamente no treinamento de CrossFit®, os locais mais acometidos e os diversos
possíveis exercícios relacionados à lesão.
O propósito desse estudo foi avaliar a hipótese de que a prática de CrossFit® está
relacionada a alta prevalência de lesões musculoesqueléticas. Secundariamente,
determinar os segmentos corporais mais acometidos e a relação dessas lesões com fatores
associados, tais como idade, gênero, IMC, tipo de exercício, tempo de exposição à prática,
participação em campeonatos, supervisão profissional e participação em programas de
iniciantes.

2 METODOLOGIA
Desenho de estudo
Foi realizada uma revisão sistemática para avaliar a hipótese de que a prática de
CrossFit® está associada a alta prevalência de lesões musculoesqueléticas. Os resultados
apresentados seguiram as recomendações do PRISMA (Preferred Reporting Itens for
Systematic Reviews and Meta-Analyses) (LIBERATI et al., 2009).
Critérios de inclusãos
Artigos com acesso a textos completos, publicações em português e inglês, sem
recorte temporal definido e envolvendo praticantes com idade igual ou superior a 18 anos.
Extração de dados
Os artigos foram selecionados por dois pesquisadores independentes seguindo a
ordem de título, resumo e texto completo através dos critérios de elegibilidade. Os dados
dos estudos incluídos na revisão sistemática foram coletados e tabulados no software
Microsoft Excel®. O presente trabalho foi realizado entre outubro de 2019 e novembro
de 2020.
Bases de dados e descritores
O trabalho foi realizado através da busca nas respectivas bases de dados: Scielo e
Pubmed/MedLine. Os descritores utilizados foram CrossFit, Crossfit injury e Crossfit
training.
Avaliação da qualidade

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A avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos na revisão


sistemática foi realizada com base na iniciativa Strengthening the Reporting of
Observational Studies in Epidemiology (STROBE) (MALTA et al., 2010), desenvolvida
com o objetivo de guiar e orientar pesquisas observacionais quanto a sua divulgação de
resultados, de forma a incrementar a qualidade da descrição do planejamento, execução
e resultados encontrados durante a pesquisa, facilitando uma análise crítica pela
comunidade acadêmica e leitores. O trabalho aborda 22 itens como fundamentais para
análise adequada e divulgação de resultados desse estudo.

3 RESULTADOS
Na primeira etapa de identificação dos estudos, um total de 181 trabalhos foram
encontrados nas bases de dados eletrônicas. Na etapa de triagem, 1 artigo foi excluído por
duplicidade e 140 foram excluídos por análise de título, restando 40 artigos. Foram lidos
os resumos desses 40 estudos e excluídos 24, por não responderem à pergunta do estudo
ou por se tratar de um tipo de estudo que não é válido para esta análise. 16 artigos foram
lidos na íntegra, sendo 5 excluídos por não serem compatíveis com os critérios de
elegibilidade (idade inferior a 18 anos), restando 11 artigos que foram incluídos nessa
revisão sistemática. O processo está descrito na Figura 1.

Figura 1. Processo de busca, triagem e seleção dos artigos no ano de 2021


Identificação

Arquivos removidos antes da triagem:


Estudos identificados: 1 arquivos duplicados removidos
PubMed - 170
SciELO - 11

164 estudos excluídos após leitura de título e


180 estudos selecionados
resumo
Triagem

16 estudos avaliados pelos critérios de 05 estudos que não atenderam aos critérios
elegibilidade de elegibilidade
Incluídos

04 11 estudos incluídos na revisão


sistemática

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A avaliação detalhada dos 11 estudos incluídos nesta revisão sistemática foi


realizada por meio do checklist STROBE (Streghtening the reporting of observational
studies in epidemiology ) (MALTA et al., 2010). A figura 2 informa a pontuação obtida
por cada artigo de acordo com cada um dos 22 itens. Quanto ao preenchimento de cada
critério foi utilizado: verde, caso tenha preenchido completamente; amarelo, caso
preenchido parcialmente; e vermelho, caso não tenha preenchido ou não tenha
mencionado no estudo. A pontuação total equivale a 1 quando verde; 0.5 quando amarelo;
e 0 quando vermelho. A pontuação média dos artigos foi de 18.68 com nota mínima de
15 e nota máxima de 20.5.

Figura 2. Avaliação metodológica através do STROBE

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O Quadro 1 fornece um resumo dos 11 estudos incluídos na revisão sistemática.


O critério para diagnóstico de lesão variou em cada um dos estudos, entretanto o estudo
de SZELES et al., (2020) adotou a definição de HAK et al., (2013) e os estudos de
MEHRAB et al., (2017) e FEITO et al., (2018) adotaram a definição determinada por
WEISENTHAL et al., (2014). ELKIN et al., (2019) não utilizou nenhum qualificador
definido, apenas instruiu os participantes a autodeterminar se um evento deveria ou não
ser considerado uma lesão. Já os estudos de LOPES et al., (2007) e TAFURI et al., (2019)
não referiram o critério utilizado para lesão.
A distribuição de idade não foi feita de forma equivalente entre os estudos, certos
trazem a média das idades e outros categorizaram a variável. Os estudos que apresentaram
uma média de idade foram HAK et al., (2013), MEHRAB et al., (2017), ELKIN et al.,
(2019), MONTALVO et al., (2017), FEITO et al., (2018), SZELES et al., (2020), LOPES
et al., (2007), MORAN et al., (2017), TAFURI et al., (2019) e LARSEN et al., (2020).
As médias estão disponíveis no Quadro 1. O estudo de WEISENTHAL et al., (2014)
apresentou a idade de forma categorizada, variando de 18 a 69 anos, com maior
distribuição entre 18 e 29 anos, não fornecendo a média de idade do estudo. Em nenhum
estudo a variável dependente idade foi significativa, entretanto LOPES et al., (2007)

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apresentou uma correlação estatística fraca de quanto maior a idade, maior a chance do
indivíduo se lesionar (r = -0,1999; p = 0,0496).
Em relação ao sexo, os estudos de HAK et al., (2013), MEHRAB et al., (2017),
WEISENTHAL et al., (2014), FEITO et al., (2018), LOPES et al., (2007), MORAN et
al., (2017) e TAFURI et al., (2019) apresentaram uma predominância do sexo masculino,
ao contrário dos estudos ELKIN et al., (2019), MONTALVO et al., (2017), SZELES et
al., (2020) e LARSEN et al., (2020) os quais apresentaram uma predominância feminina.
A distribuição percentual, de acordo com o gênero, está disponível no Quadro 1. Em
WEISENTHAL et al., (2014) as lesões acometeram significativamente mais o sexo
masculino que o sexo feminino (p = 0,03). Da mesma forma, em MORAN et al., (2017),
os homens se apresentaram como tendo 4,4 vezes mais chance de lesão do que as
mulheres. Nos outros estudos o gênero não foi uma variável dependente significativa para
lesão.
A taxa de lesão por 1000 horas de treinamento é um cálculo determinado para
estimar a incidência de lesões em diferentes grupos em um mesmo intervalo de horas de
exposição. Os estudos que apresentaram as maiores taxas de lesão por 1000 horas foram
SZELES et al., (2020) e LARSEN et al., (2020), respectivamente, 18,9 e 10,6. Já os
estudos de HAK et al., (2013), MONTALVO et al., (2017), MORAN et al., (2017) e
FEITO et al., (2018), apresentaram as menores taxas de lesão, variando de 3,1 a 0,27. Em
FEITO et al., (2018) a taxa de lesão por 1000 horas ainda foi estimada com base no
número mínimo e máximo de horas de sessões de treinamento por semana, obtendo,
respectivamente, 0,74/1000h e 0,27/1000h. As maiores taxa de lesão foram encontradas
em frequência semanal < 3 dias/semana (mínimo de 2,46/1000h; máximo de 0,54/1000h)
e em praticantes com experiência < 6 meses (mínimo de 3,9/1000h; máximo de
1,15/1000h). Em TAFURI et al., (2019) a taxa de lesão foi calculada por ano de
treinamento, obtendo-se 0,23 eventos por pessoa, por ano de treinamento. O cálculo da
taxa de lesão não foi feito em MEHRAB et al., (2017), WEISENTHAL et al., (2014),
ELKIN et al., (2019) e LOPES et al., (2007)

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Quadro 1. Características dos estudos incluídos na revisão sistemática relacionados Crossfit e prevalência de lesões musculoesqueléticas
Homens IMC Taxa de lesão
Autor/ano n (população) Critério de lesão Resultados
(%) (kg/m²) (1000h)

132 participantes com Qualquer lesão sofrida durante o treinamento que impedisse o 73,5% dos participantes
Hak et al.,
média da idade de 32,3 70,5 NR 3,1 participante de treinar, trabalhar ou competir de qualquer forma e relataram lesões durante o
2013
anos por qualquer período. treino de Crossfit®

Qualquer nova dor, sensação ou lesão musculoesquelética


resultante de um treinamento de CrossFit®, a qual leva a uma ou
mais das seguintes opções: (1) remoção total do treinamento e A taxa geral de lesão foi
Weisenthal et outras atividades físicas de rotina externas por > 1 semana; (2) de 19,4%, com maior
386 participantes 60,63 NR NR
al., 2014 modificação das atividades normais de treinamento em duração, frequência no sexo
intensidade ou modo por > 2 semanas; (3) qualquer queixa física masculino.
grave o suficiente para justificar uma visita a um profissional de
saúde.

Qualquer nova dor, sensação ou lesão musculoesquelética


resultante de um treinamento de CrossFit®, a qual leva a uma ou 56,1% dos atletas
mais das seguintes opções: (1) remoção total do treinamento e sofreram lesões nos 12
449 participantes com
Mehrab et outras atividades físicas de rotina externas por > 1 semana; (2) meses anteriores ao
média da idade de 31,8 59,2 24,4 ± 2,8 NR
al., 2017 modificação das atividades normais de treinamento em duração, estudo. 58,7% das lesões
± 8,3 anos
intensidade ou modo por > 2 semanas; (3) qualquer queixa física foram causadas por
grave o suficiente para justificar uma visita a um profissional de treinamento excessivo.
saúde.

26,2% dos praticantes


191 participantes com Qualquer dano físico a uma parte do corpo que os levou a perder
Montalvo et sofreram lesões nos 6
média da idade de 31,69 49,2 26,33* 2,3 ou modificar uma ou mais sessões de treinamento ou dificultou
al., 2017 meses anteriores ao
± 9,4 anos as atividades da vida diária.
estudo.

117 participantes com Qualquer queixa física que foi sustentada durante o treinamento
Moran et al., Taxa de incidência de
média da idade de 35 ± 56,4 25,9 ± 3,5 2,1 CrossFit®, a qual resultou em um participante incapaz de
2017 lesão de 2,10 por 1000h
10 anos participar integralmente no futuro do treinamento de CrossFit®

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454 participantes com 39,9% dos praticantes


Tafuri et al.,
média da idade de 28,8 71,6 24,2 ± 7 0,23* Não referiram no estudo o critério utilizado para lesão. relataram lesão após
2018
± 7,9 anos iniciar o Crossfit®
Qualquer nova dor, sensação ou lesão musculoesquelética
resultante de um treinamento de CrossFit®, a qual leva a uma ou
mais das seguintes opções: (1) remoção total do treinamento e 30,5% dos participantes
3049 participantes com
Feito et al., outras atividades físicas de rotina externas por > 1 semana; (2) relataram ter sofrido
média da idade de 36,8 51,3 NR 0,27
2018 modificação das atividades normais de treinamento em duração, lesões nos 12 meses
± 9,8 anos
intensidade ou modo por > 2 semanas; (3) qualquer queixa física anteriores
grave o suficiente para justificar uma visita a um profissional de
saúde.
97 participantes com 30,2% dos praticantes
Lopes et al.,
média da idade de 32 61,9 NR NR Não referiram no estudo o critério utilizado para lesão. relataram lesões na
2018
anos prática do Crossfit®

Os praticantes de Crossfit
tem 1,30 vezes mais
122 participantes com Não utilizou nenhum qualificador definido, apenas instruiu os
Elkin et al., chances de se lesionar se
média da idade de 37,45 43,4 NR NR participantes a autodeterminar se um evento deveria ou não ser
2019 comparado ao
anos considerado uma lesão.
levantamento de peso
tradicional

25,8% dos participantes


406 participantes com Qualquer lesão sofrida durante o treinamento que impedisse o
Szeles et al., relataram pelo menos 1
média da idade de 32,1 48,8 25,7* 18,9 participante de treinar, trabalhar ou competir de qualquer forma e
2020 lesão relacionada ao
± 0,7 anos por qualquer período.
Crossfit®

Lesão definida quando dois critérios estavam presentes: (1)


168 participantes com relato de dor, rigidez ou inchaço em uma ou mais regiões do Dentre os 168 praticantes
Larsen et al.,
média da idade de 29,2 30,4 24,3 ± 2,9 10,6 corpo e (2) ser afetado pelo problema numa dimensão que foi relatado um total de
2020
± 7,9 anos resultou em participação reduzida no treinamento CrossFit® por, 28 lesões (14,9%)
pelo menos, sete dias.

Inferido por informações fornecidas pelo estudo; média ± desvio padrão

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O acometimento dos segmentos anatômicos e a média de frequência na prática do


Crossfit® está descrito no Quadro 2. Os segmentos anatômicos afetados foram
semelhantes nos estudos, sendo mais prevalente em ombro e região lombar. Os estudos
em que ombro foi o segmento acometido mais prevalente foram o de HAK et al., (2013),
MEHRAB et al., (2017), WEISENTHAL et al., (2014), ELKIN et al., (2019),
MONTALVO et al., (2017), FEITO et al., (2018), SZELES et al., (2020). Os estudos em
que coluna lombar foi o segmento acometido mais prevalente foram LOPES et al., (2007),
MORAN et al., (2017) e LARSEN et al., (2020). O estudo de WEISENTHAL et al.,
(2014) traz ainda que, dependendo do exercício motivador da lesão, essa distribuição
corporal das lesões é significativamente diferente (P < 0.001). Para movimentos de
ginástica e movimentos olímpicos, o segmento mais afetado foi o ombro (7 e 4 lesões,
respectivamente) e para levantamento de peso, lombar (9 lesões). TAFURI et al., (2019)
não considerou as lesões por segmentos anatômicos. A contratura muscular foi o tipo de
lesão mais comum com 30.6% (n=139), com uma prevalência de 20.3% (n=92) em
membros superiores e de 10.3% (n=47) em membros inferiores. A tendinite foi a segunda
lesão mais comum, com 16.7%, sendo uma prevalência de 13.7% (n=62) em membros
superiores e de 3% (n=14) em membros inferiores. (TAFURI et al., 2019)
Os estudos de HAK et al., (2013), MONTALVO et al., (2017), SZELES et al.,
(2020) e TAFURI et al., (2019) foram os únicos que informaram a média de experiência
dos praticantes (em meses) e a média de duração semanal de treinamento (em
dias/semana), disponíveis no Quadro 2. O estudo de MEHRAB et al., (2017) forneceu a
média da duração semanal, entretanto o tempo de prática foi categorizado, sendo que
19.6% relataram praticar CrossFit® entre 0 a 6 meses, 21.8% entre 6 e 12 meses, 28.5%
entre 12 e 24 meses e 30.1% por tempo ≥ 24 meses. O estudo WEISENTHAL et al.,
(2014) não forneceu a média, contudo informou que a maioria dos participantes do
CrossFit® estavam envolvidos com a prática por 0 a 6 meses (35.2%), treinando de 30 a
60 minutos por sessão (83.1%), descansando de 2 a 3 dias por semana (72.8%) e se
exercitando 4 a 5 dias por semana (72.8%). ELKIN et al., (2019) relatou uma frequência
de treinamento de 4.4 dias/semana, com duração de 1 a 2 horas por sessão, não
informando a média de tempo de prática em meses. No estudo proposto por FEITO et
al., (2018), o tempo de prática no CrossFit® foi categorizado, sendo 41.4% praticantes
com mais de 3 anos de experiência, 36.6% entre 1 e 3 anos e 22% com menos de 1 ano.
A participação semanal também foi categorizada, sendo 38.4% praticantes que exercem
por mais de 5 dias na semana, 52.6% de 3 a 5 dias e 9% menos de 3 dias na semana. No

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estudo de LOPES et al., (2007), 52.6% alegaram praticar CrossFit® há mais de 12 meses,
sendo que 52.6% responderam treinar mais de 5 dias/semana e 45.4% treinar de 3 a 5
dias. No estudo LARSEN et al., (2020) os participantes foram escolhidos com base na
inexperiência com a prática de CrossFit®, nunca tendo praticado anteriormente. Quanto
a duração dos treinos durante as 8 semanas, os 168 praticantes totalizaram 2634.5 horas
de uso da academia.
O estudo de MONTALVO et al., (2017) determina que o maior tempo de
experiência no CrossFit® e maiores horas semanais de treinamento são fatores
significativos para lesões (p = 0,048). TAFURI et al., (2019) referiu que o tempo de
treinamento de CrossFit® é um determinante de tendinite e atletas com mais tempo e
maior especialização tinham maior probabilidade de apresentar histórico de lesão por uso
excessivo (AOR = 1.02; p = 0.021). FEITO et al., (2018) informa que homens com tempo
de experiência > 3 anos referiram mais lesões do que os menos experientes (p = 0.013) e
uma frequência de 3 a 5 dias foram significativas nos praticantes, em ambos os sexos, que
relataram lesão (p = 0.0019). MEHRAB et al., (2017) refere que uma curta duração na
prática de CrossFit® (< 6 meses) apresentou um risco, aproximadamente, 4 vezes maior
de apresentar lesão comparado com uma longa duração (≥24 meses; OR 3.687; p < 0.001).
O estudo de SZELES et al., (2020) relatou ainda que um aumento de 1 ano na experiência
no CrossFit® foi considerado fator de proteção contra lesões (OR 0.7 [95% CI, 0.5-1.0]).
MORAN et al., (2017) foi o único estudo que não apresentou o tempo de experiência no
CrossFit® e a duração do treinamento semanal.

Quadro 2. Características dos segmentos anatômicos mais acometidos por lesões no Crossfit e média de
frequência da prática.
Segmentos anatômicos Média de experiência Média semanal
Autor/ano
mais acometidos (meses) (dias/semana)

Ombro, coluna e
Hak et al., 2013 18.6 5.3**
braço/cotovelo
Weisenthal et al.,
Ombro, lombar e joelho Variável categorizada Variável categorizada
2014
Mehrab et al.,
Ombro, lombar e joelho Variável categorizada 3.9
2017
Montalvo et al.,
Ombro, joelho e lombar 24.48 4.39
2017
Lombar, joelho, punho,
Moran et al., 2017 NR NR
coxa, ombro, cotovelo e pé

Tafuri et al., 2018 MMSS* 4 20.2****

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Ombro, costas, joelho,


Feito et al., 2018 Variável categorizada Variável categorizada
cotovelo e pulso
Lombar, punho, ombro e
Lopes et al., 2018 Variável categorizada Variável categorizada
joelho

Elkin et al., 2019 Ombro, lombar e quadril NR 4.4

Szeles et al., 2020 Ombro e lombar 12 3.9

Lombar, joelho,
Larsen et al., 2020 cotovelo/mão, ombro e 0 2634.5***
pescoço
MMSS- membros superiores; *não considerou lesões por segmentos anatômicos, mas por tipo de lesão,
sendo a mais comum a contratura muscular em MMSS; **informação fornecida em horas/semana,
***informação fornecida em horas, correspondendo aos 168 praticantes durante as 8 semanas; ****tempo
expresso em meses.

4 DISCUSSÃO
Visto como uma prática de alta prevalência de lesões pela mídia (CORNWALL,
2013), os estudos recentes mostram que o CrossFit® pode não ter uma prevalência tão
alta quanto suposto anteriormente. Os estudos que trouxeram maiores prevalências de
lesão foram HAK et al., (2013), ELKIN et al., (2019) e MEHRAB et al., (2017). Como
mencionado por MORAN et al., (2017)., comparações diretas entre estudos são difíceis
devido as diferenças metodológicas, critérios de lesão adotados e diferenças geográficas
entre os locais. A alta prevalência de lesões desses estudos pode ser justificada por terem
adotado critérios de lesão mais amplos, como lesão que comprometesse a rotina por
qualquer período ou mesmo por autodeterminação de lesão, sem uso de qualificador. Para
além disso, o estudo de HAK et al., (2013) que apresentou a mais alta prevalência pode
ser explicado por ser o estudo mais antigo, realizado em 2013, quando ainda não se tinha
estudos suficientes sobre a prática do CrossFit® e, portanto, não havia uma preocupação
e prevenção por parte dos praticantes e dos treinadores como se tem hoje em dia, em
relação aos fatores possivelmente associados a lesão.
Um estudo que utilizou o mesmo critério de lesão que HAK et al., (2013) foi o
estudo de SZELES et al., (2020), porém apresentando uma prevalência menor. Esse fato
pode ser justificado pelos diferentes tipos de estudo, sendo esse um estudo de coorte de
12 semanas, enquanto HAK et al., (2013), um estudo transversal. Os estudos com uma
menor prevalência foram o de WEISENTHAL et al., (2014), LARSEN et al., (2020),
MORAN et al., (2017). O estudo de MORAN et al., (2017) utilizou critério de lesão mais
específicos, como a incapacidade futura de participação no CrossFit®, já o estudo de
LARSEN et al., (2020) expôs os praticantes a poucas horas de treinamento por semana,

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podendo ter impactado na prevalência de lesão do estudo. WEISENTHAL et al., (2014)


utilizou o mesmo critério de lesão que MEHRAB et al., (2017), sendo que o primeiro foi
realizado nos Estados Unidos (EUA) e o segundo na Holanda. Pelos EUA serem o país
de origem do CrossFit® e, portanto, possuírem um conhecimento maior sobre a prática,
isso pode justificar a discrepância entre as prevalências de lesões entre os países.
Em relação as taxas de lesão por 1000 horas de treinamento, os estudos de
SZELES et al., (2020) e FEITO et al., (2018) trouxeram, respectivamente, taxas mais
altas e mais baixas de lesão por 1000 horas de treinamento. O que pode justificar essa
discrepância é que, em SZELES et al., (2020), a média de experiência dos praticantes foi
de 12 meses (praticantes novatos) e com competidores correspondendo a 44%, o que
indica um ritmo de treino mais intenso, com cargas mais pesadas e com mais repetições
em indivíduos sem uma experiência adequada (ARCANJO et al., 2018). Além disso, o
estudo de MONTALVO et al., (2017) relata que os competidores foram mais prováveis
de se lesionarem, e que um dos motivos é que esses apresentavam maiores horas de
treinamento semanal do que os não competidores. Já em FEITO et al., (2018), a maioria
dos praticantes apresentavam > 3 anos de experiência, o que pode ter impactado na
redução da taxa de lesão por 1000 horas. Além disso, a taxa de lesão foi dividida entre os
praticantes mais engajados, que frequentavam por mais dias e realizavam mais exercícios,
e os menos engajados, sendo uma taxa maior nesse último grupo. LARSEN et al., (2020)
foi o segundo estudo com maior taxa de lesão por 1000 horas, fato que pode ser justificado
por ser um estudo com, exclusivamente, praticantes novatos. Apesar de apresentar uma
média semanal de treinamento baixa, a taxa de lesões por 1000 horas equipara esse estudo
com outros de duração semanal maior.
Em FEITO et al., (2018) quando considerada a prevalência de lesão, uma maior
experiência foi significativamente associada a lesão, assim como no estudo de TAFURI
et al., (2019), decorrente de um uso excessivo da musculatura, sendo a tendinite a lesão
mais comum. O estudo de MONTALVO et al., (2017) também apresentou que uma
experiência maior no treinamento de CrossFit® foi significativamente associada a lesão.
Esses são achados podem ser explicados pois, em praticantes experientes, o nível de
habilidade e força melhoram e os atletas são escalados para movimentos mais complexos
e com maior carga (MONTALVO et al., 2017). Além disso, logicamente, um tempo
maior de prática, aumenta a chance de um histórico de lesão, por uma maior exposição.
Já em MEHRAB et al., (2017) e em FEITO et al., (2018), sendo, nesse último, quando
considerada a taxa de lesão por 1000 horas de exposição, um menor tempo de experiência

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no CrossFit® foi significativamente associado a lesão. Os obstáculos para os iniciantes,


citados por Glassman, podem ser os responsáveis por uma maior taxa de lesão nesses
praticantes, sendo eles a instrução inadequada, instabilidade de movimento e iniciar com
muita carga(GLASSMAN, 2005). O estudo de SZELES et al., (2020) relata que o
aumento de 1 ano na prática de CrossFit® se configura como fator de proteção de lesões,
que pode decorrer do aumento da resistência e da estabilidade funcional que o corpo
adquire, levando a um aumento da flexibilidade e da força muscular (FARINATTI, 2000).
Além disso, um conhecimento a longo prazo que o praticante desenvolve permite a
execução dos movimentos de forma mais precisa (FARINATTI, 2000). Portanto, é
possível notar que as lesões acometem tanto praticantes experientes quanto os novatos, e
que são os fatores associados a eles que irão determinar um risco maior ou menor de
lesão, como a presença do treinador corrigindo ativamente a forma, execução de uma
técnica correta e a carga utilizada(GLASSMAN, 2005).
O programa de iniciantes foi um fator significativo na redução de lesão em atletas
novatos, isso porque esses programas permitem um tempo adequado de adaptação aos
treinos, concentrando os exercícios em sessões mais técnicas, com atenção especial ao
mecanismo de exercícios, em vez de velocidade, carga ou intensidade (TAFURI et al.,
2019). O estudo de LARSEN et al., (2020), que foi exclusivo de atletas novatos, pelo
contrário, revelou que atletas que participaram de todas as aulas introdutórias foram os
mais propensos a lesões, o que pode ser facilmente explicados por serem indivíduos que
tinham um nível mais baixo de atividade física e por isso buscavam esses programas de
iniciantes para orientações. Isso mostra a necessidade de uma atenção maior na introdução
desses indivíduos ao CrossFit®.
O acometimento dos segmentos anatômicos foi semelhante nos estudos, sendo
mais prevalente em ombro e região lombar e mais associado a movimentos de
levantamento de peso olímpico, tais como clean and jerk, deadlift, squat snatch, overhead
press, overhead squat, e movimentos de kipping em adicional a pull up. TAFURI et al.,
(2019) traz que o aumento das repetições do overhead squat foi significativo para
prevalência de lesão. Movimentos de levantamento de peso olímpico, como o squat
snatch, e overhead squat, são feitos para controle da linha média, estabilidade e equilíbrio,
punindo cruelmente uma execução errada (GLASSMAN, 2005), a qual coloca o ombro
em hiperflexão, abdução e rotação interna HAK et al., (2013). O exercício de kipping pull
up, assim como os mencionados, coloca o ombro em mesma posição de risco HAK et al.,
(2013).

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WEISENTHAL et al., (2014) expôs uma frequência de lesões significativamente


diferente de acordo com o exercício motivador da lesão, sendo lesão de ombro mais
comum em movimentos olímpicos/de ginástica. Isso está de acordo com um estudo feito
especificamente sobre lesões de ombro (SUMMITT et al., 2016), visto que são
movimentos de grande demanda de amplitude do ombros e de estabilidade de movimento.
Participantes e treinadores devem estar cientes desse risco, garantindo que uma amplitude
de movimento seja alcançada com uma baixa resistência antes do aumento da resistência
externa (SUMMITT et al., 2016).
O estudo de LARSEN et al., (2020), o qual foi realizado exclusivamente com
praticantes novatos no CrossFit® durante 8 semanas, relatou uma prevalência maior de
lesão lombar, o que levanta a hipótese de uma incidência maior de lesão lombar nos
primeiros contatos com o CrossFit® e uma lesão em ombro, posteriormente, após
realização de movimentos de maior complexidade e com maior carga. MORAN et al.,
(2017) também trouxe lombar como região mais acometida, entretanto, como o próprio
estudo afirma, o tamanho amostral não permitiu inferências claras a respeito de vários
fatores de risco estudados.
Todos os estudos revisados avaliaram idade e gênero como variável independente
devido a sua potencial importância, entretanto, a idade não foi significativa em nenhum
estudo. Em LOPES et al., (2007) foi evidenciada uma fraca correlação de aumento da
idade e mais chance de lesão. Uma preocupação que se deve ter é que, com o aumento da
idade, ocorre uma redução da flexibilização e potência musculares, o que impacta em
modalidades esportivas onde há movimentos executados nos extremos da mobilidade
articular, como no CrossFit® (FARINATTI, 2000).
Em relação ao gênero, WEISENTHAL et al., (2014) relatou que lesões foram
significativamente mais comuns em homens do que em mulheres e que o
acompanhamento de treinador corrigindo ativamente a forma reduziu significativamente
as taxas de lesões. Nesse estudo, as mulheres eram significativamente mais propensas a
buscar supervisão de técnico, em oposição aos homens, o que pode justificar essa
prevalência de lesão maior no sexo masculino.
Alguns fatores como a prática de outros esportes concomitantemente e a presença
de lesões anteriores ao CrossFit® pareceram ter impacto na prevalência de lesões,
suscitando novos estudos acerca dessas variáveis. As limitações em torno deste trabalho
decorrem da busca de artigos em apenas duas bases eletrônicas de dados. Além disso,

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outra limitação foi a realização de uma revisão sistemática levando em consideração


diferentes desenhos metodológicos, o que pode ter prejudicado na clareza dos dados.

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PREVALÊNCIA DE LESÕES NA ARTICULAÇÃO DO OMBRO


EM PRATICANTES DE CROSSFIT®: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

João Paulo Castro Soares1, Paulo Roberto Milanez Oliveira Junior2, Deivide Dener Milanez3
Carlos Eduardo Nunes Vieira1, Andrei Iago Gonçalves Viana Soares Feitosa1
Riccardo Samuel Albano Lima4, Izabelle Macedo de Sousa5

RESUMO ABSTRACT

Introdução: O CrossFit® preconiza a Prevalence of injuries in shoulder joint in


realização de exercícios funcionais em treino crossfit® practitioners: a systematic review
de alta intensidade com o objetivo de aptidão
física e mental para desenvolver as vias Introduction: CrossFit® recommends
metabólicas por meio das dez valências físicas performing functional exercises in high
sendo elas: potência, coordenação, agilidade, intensity training with the objective of physical
força, resistência cardiorrespiratória, vigor, and mental fitness to develop the metabolic
velocidade, agilidade, equilíbrio e precisão dos pathways through the ten physical valences:
exercícios. Objetivo: Atualizar os power, coordination, agility, strength,
conhecimentos na prevalência de lesões na cardiorespiratory resistance, vigor, speed,
articulação do ombro em praticantes de agility, balance and accuracy of the exercises.
CrossFit®. Métodos: Revisão sistemática da Objective: To update knowledge on the
literatura envolvendo estudos para o desfecho prevalence of shoulder joint injuries in
clínico pretendido nas bases de dados: Lilacs, CrossFit® practitioners. Methods: Systematic
SciELO, MedLine/PubMed, PEDro, BVS e literature review involving studies for the
Cochrane Library, além de publicações intended clinical outcome in the databases:
indexadas nos periódicos Capes. Utilizou-se Lilacs, SciELO, MedLine / PubMed, PEDro,
os descritores: “exercirse”, “injury shoulder”, VHL and Cochrane Library, as well as indexed
“epidemiology” com o operador boleano “and” publications in Capes journals. We used the
para o cruzamento deles. Os critérios de descriptors: “exercise”, “injury shoulder”,
inclusão são: artigos originais (randomizados, “epidemiology” with the Boolean operator “and”
experimentais e epidemiológicos) relacionados for their crossing. Inclusion criteria are original
às lesões de ombros em atletas ou praticantes articles (randomized, experimental, and
do CrossFit® no Brasil ou internacionalmente epidemiological) related to shoulder injuries in
com critério de elegibilidade pelo escore athletes or CrossFit® practitioners in Brazil or
PEDro com nota >5 pontos. Resultados: Ao internationally with PEDro score eligibility
final da leitura e análise considerando os criteria> 5 points. Results: At the end of the
critérios de inclusão adotados, 8 estudos reading and analysis considering the inclusion
foram considerados relevantes de acordo com criteria adopted, 8 studies were considered
os critérios metodológicos estipulados para o relevant according to the methodological
desfecho pretendido. Conclusão: Embora o criteria stipulated for the intended outcome.
treinamento de CrossFit® represente um risco Conclusion: Although CrossFit® training poses
de lesões de ombro, esses dados muito a risk of shoulder injuries, these extremely
limitados mostram que as taxas de lesão são limited data show that injury rates are
comparáveis ou até mais baixas do que outras comparable or even lower than other forms of
formas de exercício recreativo e competitivo. recreational and competitive exercise. It is
Torna-se necessário a realização de estudos necessary to conduct randomized studies to
randomizados para a validade de um validate a practice-specific questionnaire and
questionário específico para a prática e possible CrossFit® injuries.
possíveis lesões do CrossFit®.
Key words: Exercise. Shoulder Injury.
Palavras-chave: Exercício. Lesão no Ombro. Epidemiology.
Epidemiologia.
2 - Fisioterapeuta, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí,
Pedro II-PI, Brasil.
1 - Graduandos em Fisioterapia, Faculdade 3 - Fisioterapeuta, Membro do Corpo Clínico
Maurício de Nassau, Teresina-PI, Brasil. da PhysioLife Bauru, Bauru-SP, Brasil.

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INTRODUÇÃO índice de lesões de 3,1/1000 horas treinadas


(Hak, Hodzovic e Hickey, 2013).
O CrossFit® é uma modalidade de O dano muscular depende da
treinamento desenvolvida por Greg Glassman, magnitude imposta pelo tipo de contração de
no ano de 1995, que preconiza a realização de preferência na excêntrica, tipo de exercício,
exercícios funcionais em treino de alta velocidade do movimento, tempo de intervalo
intensidade com o objetivo de aptidão física e entre as séries, lesionando principalmente
mental para desenvolver as vias metabólicas iniciantes, causando alterações histoquímicas
por meio das dez valências físicas sendo elas: e morfológicas (Foschini, Prestes e Charro,
potência, coordenação, agilidade, força, 2007).
resistência cardiorrespiratória, vigor, A lesão pode estar relacionada a
velocidade, agilidade, equilíbrio e precisão dos fatores extrínsecos (planejamento e execução,
exercícios (Arcanjo e colaboradores, 2018). equilíbrio, superfície do treino, força e tempo)
O crescimento abundante de estudos ou intrínsecos (biomecânica, características
e adeptos desse treinamento é reflexo do antropométricas, densidade óssea,
caráter motivacional e competitivo das flexibilidade, condicionamento cardiopulmonar)
atividades físicas, que contempla praticantes (Ferreira e colaboradores, 2012).
de diferentes idades pelos benefícios O alto estresse biomecânico e
associados ao condicionamento físico fisiológico delimita que a prática do Crossfit®
evidenciando uma grande relação dependente feito no esforço físico máximo associa ao
dessa modalidade com significativa surgimento de lesões musculoesqueléticas
incidência/frequência de lesões (Bergeron e mesmo com um condicionamento físico
colaboradores, 2011). aprimorado pela prática do treinamento como
As sessões do treino em CrossFit® fator resultante a aplicabilidade correta da
segue a ordem do conjunto de componentes técnica durante o movimento (Xavier e Lopes,
que constitui os WOD (Work out Ofthe Day), 2017).
que significa “treinamento do dia” seguindo Como medida de minimizar possíveis
três critérios para sua execução: realização de prejuízos é recomendado acompanhamento
movimentos funcionais em alta intensidade e por equipe de profissionais competentes para
constantemente variados (Xavier e Lopes, analisar se o praticante está apto a praticar
2017). exercícios de alta intensidade (Sprey e
Os WOD`s combinam exercícios colaboradores, 2016).
cardiovasculares tradicionais como corrida, Estudos demonstram que a região
ciclismo e remo envolvendo elementos do anatômica mais suscetível a lesões
levantamento de peso olímpico, levantamento musculoesqueléticas decorrentes da prática do
de peso, força física, ginástica e exercícios CrossFit® é a articulação do ombro devido a
que combinam atividades aeróbicas e sua instabilidade resultante dos músculos e
anaeróbicas utilizando-se de movimentos de ligamentos, que trabalham de forma sinérgica
altas habilidades com princípios de execução no controle e amplitude nos movimentos ditos
em movimento de potência maximizando a “ativos” (Pirruccio e Kelly, 2019).
carga e preservando a técnica (Montalvo e Alterações no padrão escapular, na
colaboradores, 2017). cadeia cinética e alterações posturais são
O Colégio Americano de Medicina do fatores de surgimento da lesão por apresentar
Esporte destaca os riscos dos programas de mudança de ativação, curva comprimento-
execução dos exercícios feitos incorretamente tensão e força dos músculos que controlam a
de forma excessiva com ocorrência de lesões escápula (Silva e colaboradores, 2011).
musculoesqueléticas, tendinosas, Nesse contexto, o objetivo do presente
ligamentares e rabdomiólise (Dominski e estudo de revisão sistemática é atualizar os
colaboradores, 2018). conhecimentos na prevalência de lesões na
Por ser uma modalidade de treino de articulação do ombro em praticantes de
constate variações que impõe intensas cargas, CrossFit®.
críticas acabam sendo realizadas sobre a
execução desses exercícios sobre sua técnica MATERIAIS E MÉTODOS
empregada, investigando a biomecânica dos
exercícios na prática e requisitos técnicos Inicialmente foi realizada uma busca
demonstrados cientificamente para a na literatura com o objetivo de averiguar a
realização de forma segura, revelaram um prevalências, causas e lesões

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musculoesqueléticas que mais comumente armazenados em um novo banco de dados,


acometem praticantes de CrossFit® com observando variáveis interessantes para a
intuito de verificar nas publicações sobre a investigação, como as características
temática proposta. sociodemográficas da população estudada,
Trata-se de uma revisão sistemática país, ano, tipo de estudo, formas de coletas de
da literatura que seguiu os critérios de dados, autores. Ao final dessa etapa, os
elegibilidade do escore PEDro. estudos foram agrupados por similaridade da
A busca iniciou-se em de setembro de população e resultados associados à temática.
2019 e encerrada no dia 10 de novembro do Durante a análise, os dados dos
mesmo ano envolvendo estudos para o estudos foram debatidos conforme a literatura
desfecho clínico pretendido nas bases de pertinente estabelecendo consensos e pontos
dados: Literatura Latino-Americana e do divergentes na literatura produzindo um
Caribe de Informação em Ciências da Saúde resumo crítico sintetizando as informações
(LILACS), Scientific Electronic Library Online disponibilizadas nos estudos coletados.
(SciELO), Medical Literature Analysis and A partir disso foi realizada uma
Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed), avaliação da qualidade metodológica de forma
Physiotherapy Evidence Database (PEDro), independente levando em consideração as
BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e Cochrane seguintes características dos estudos
Library, além de publicações indexadas nos incluídos: geração da sequência de
periódicos Capes. Para auxiliar na busca dos randomização, sigilo de alocação, cegamento,
estudos, utilizou-se os seguintes descritores: cegamento dos avaliadores dos desfechos,
“exercirse”, “injury shoulder”, “epidemiology” análise por intenção de tratar e descrição das
com o operador boleano “and” para o perdas e exclusões.
cruzamento deles. Estudos sem uma clara descrição
Os critérios de inclusão são: artigos dessas características foram considerados
originais (randomizados, experimentais e como não claros ou que não reportavam as
epidemiológicos) relacionados a lesões de mesmas.
ombros em atletas ou praticantes do
CrossFit® no Brasil ou internacionalmente RESULTADOS
com critério de elegibilidade pelo escore
PEDro com nota > 5 pontos. Os critérios de Foram encontrados, inicialmente 209
exclusão foram: metanálises, estudos de estudos, que estavam de acordo com os
casos, estudos duplicados, resumos de critérios estabelecidos para a estratégia de
congresso, editoriais, dissertações, cartas, busca. Destes, 175 foram excluídos por não
bem como protocolos não delimitados na possuírem o delineamento metodológico
metodologia com escore PEDro <5 pontos. estipulado no presente estudo.
Todos os estudos selecionados pela Além disso, foram excluídos 16 artigos
estratégia de busca na literatura foram duplicados e 5 estudos excluídos após
avaliados de forma independente. passarem por uma primeira análise através da
Os procedimentos foram organizados leitura do título, resumo do trabalho e leitura
seguindo uma sequência de análise: na na íntegra, verificando assim quais
primeira etapa foi realizada um levantamento preenchiam os critérios estabelecidos após a
de artigos encontrados com os descritores leitura do título e resumo do artigo completo
propostos nas bases de dados anteriormente com avaliação do escore de PEDro < 5, e 5
mencionadas, em uma segunda etapa ocorreu artigos por não estarem disponibilizados na
uma leitura e seleção criteriosa dos artigos e a íntegra.
formação de um banco de dados Ao final da leitura e análise, 8 estudos
sistematizado. foram considerados relevantes de acordo com
Nessa etapa, os dados de todos os os critérios metodológicos estipulados para o
artigos incluídos foram coletados e desfecho pretendido (Fluxograma 1).

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Figura 1 - Fluxograma de seleção dos estudos de acordo com as recomendações PRISMA.

As características dos estudos Os estudos classificados como


incluídos encontram-se no Quadro 1 descritivos analisaram características em
apresentando as variáveis iniciais da presente comum, correlacionando com processos
revisão sistemática, como título dos estudos, patológicos do ombro ou com a prevenção de
ano/país de publicação dele, principais lesões lesões. Transversais os estudos que
apresentadas, bem como o grau de evidência realizaram mensurações em um único
desses estudos avaliados pela escala PEDro. momento.
Entre os estudos selecionados: seis Observou-se que todos os estudos
estudos transversais, dois estudos descritivos, citam as lesões de ombro como as mais
um estudo epidemiológico retrospectivo e um frequentes na prática do CrossFit®, podendo
estudo epidemiológico descritivo, sendo 5 destacar o estudo de Summitt e colaboradores
estudos internacionais e 3 estudos nacionais. (2016), que relatam uma nova lesão de ombro
de vido a essa prática.

Tabela 1 - Incidência de lesões demonstradas pelos estudos revisados.


Título Autor/Ano Ano/País Tipo de Estudo Principais Lesões
Incidência de lesões Brunna e 2019/ Transversal Punhos/mãos - 27,2%
musculoesqueléticas colaboradores, Brasil Ombros - 25,8%
em praticantes de 2019 Quadril/coxas - 24,5%
Crossfit Joelhos e região inferior
das costas - 23,2%
Principais lesões Lopes e 2018/ Transversal GM: ombro (42,1%) e
musculoesqueléticas colaboradores, Brasil descritivo joelho (13,4%);
em praticantes de 2018 GF: joelho (31,9%),
CrossFit® da região ombro (18,2%) e
central do município lombar (18,2%)

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de Curitiba-PR
Lesões Porse e 2018/ Transversal Coluna lombar – 42%
osteomioarticulares colaboradores, Brasil descritivo Punho – 35%
entre os praticantes 2018 Ombros – 28%
de CrossFit Joelho – 25%
Incidência e padrões Aune e Powers, 2017/ Epidemiológico Ombro – n=87, 28,7%;
de lesões entre 2017 Holanda descritivo Coluna lombar – n=48,
atletas holandeses 15,8%;
de CrossFit Joelho – n=25, 8,3%
Epidemiologia Mehrab e 2017/ Epidemiológico Ombro (14/62);
retrospectiva de colaboradores, EUA retrospectivo Joelho (10/62);
lesões e fatores de 2017 Coluna lombar (8/62).
risco para lesões no
CrossFit
Lesões em um Montalvo e 2017/ Transversal O ombro ou a parte
programa de colaboradores, Birmin- superior do braço – 38
condicionamento 2017 gham lesões (15% dos
extremo atletas)
Lesões no ombro em Summitt e 2016/ Pesquisa 14,4% nova lesão no
indivíduos que colaboradores, Indiana descritiva ombro de acordo com
participam de 2016 os critérios utilizados.
treinamento CrossFit
Taxa de lesões e Weisenthal e 2014/ Transversal Lesões com maior
padrões entre atletas colaboradores, EUA frequência em ombros,
de CrossFit 2014 joelhos e a região
lombar

Legenda: GM – grupo masculino, GF – grupo feminino, EUA – Estados Unidos.

A tabela 2 apresenta a descrição das com predominância do sexo masculino, sendo


características dos estudos, demonstrando o todos os participantes maiores de idade.
tamanho amostral, quais os critérios de Além disso, são apresentados o
avaliação utilizados, a intervenção adotada e percentual de acometimento de lesões nos
os resultados obtidos. praticantes, com predomínio exclusivamente
O tamanho amostral variou de 93 a de lesões de ombros, apresentando ou não a
1100 indivíduos com prática de CrossFit®, quanto tempo a lesão ocorreu com e sem
quadros de recidivas.

Tabela 2 - Descrição da intervenção e resultados dos estudos revisados.


Autor/Ano Sujeitos do Critérios de Intervenção Resultados Escala
Estudo Avaliação PEDro

Brunna e 151 atletas Ambos gêneros, Questionário em 1 ano de prática - 7


colabora- de sexo >18 anos de idade e dois boxes de CF 30,2% dos
dores, masculino e que praticam CF lesionados;
2019 feminino regularmente à no 3-6 meses –
mínimo 1 mês. 28,6%;
1-3 meses –
25,6%;
6-12 meses –
15,6%.

Lopes e 100 Prática de CF com Dessensibilização 30,2% (n = 29) já 6


colabora- pessoas, no mínimo 3 meses, a cada se lesionaram na
dores, atletas ou independente do participante, prática do CF:
2018 amadores gênero, > 18 anos. explicando a 42% - coluna

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finalidade da lombar, 35% -


pesquisa e os punho
procedimentos 28% - ombro
sigilosos quanto 25% - joelho
aos seus dados
pessoas.
Porse e 93 Prática de CF com Questionário de GM: ombro 7
colabora- indivíduos: no mínimo 6 meses, prontidão (42,1%) e joelho
dores, GM - n=44 > 18 anos específico para o (13,4%);
2018 GF - n=49 CF com foco nas GF: joelho (31,9%),
lesões ombro (18,2%) e
musculoesqueléti lombar (18,2%)
cas
Aune e 1100 Lesões divididas Este estudo é 34% (n=85) 7
Powers, membros da nos seguintes locais uma pesquisa relataram ter
2017 Iron Tribe do corpo: cabeça, retrospectiva na sofrido uma lesão
Fitness costas, pescoço ou qual os atletas enquanto
tronco; ombro ou participantes de participavam do
braço; cotovelo ou uma ECP local Crossfit;
antebraço; punho foram recrutados. Registradas 132
ou mão; quadril ou lesões;
virilha; joelho ou Ombro ou a parte
perna; tornozelo ou superior do braço –
pé; e não local mais
categorizado. lesionado (38
lesões, 15% dos
atletas).
Mehrab e 553 Incidência de lesões Pesquisa on-line 56,1% (n=252) 8
colabora- participantes musculoesquelética em academias, sofreram lesões
dores, s durante o para aqueles que nos 12 meses
2017 treinamento CF no praticassem CF anteriores;
ano anterior e 15,2% (n=68)
quaisquer lesões sofreu 2 lesões;
sofridas Ombro – n=87,
28,7%;
Região lombar –
n=48, 15,8%;
Joelho – n=25,
8,3%

Montalvo 255 atletas Tempo de Ao entrar na 50 dos 191 atletas 7


e de afiliadas participação no CF instalação, os sofreram um total
colabora- participantes (anos), a frequência atletas do CF de 62 lesões
dores, da participação e se foram convidados durante a
2017 os atletas foram ou a participar da participação no CF
não incorporados pesquisa e cada nos seis meses
aquecimentos e treinador anteriores. A taxa
desaquecimentos. incentivou a de incidência
participação no relatada de lesões
final de cada foi de 2,3 lesões /
WOD. 1000 horas de
participação
Summitt e 980 Dados 35 perguntas Um total de 187 7
colabora- indivíduos demográficos, relacionadas a (19,1%) indivíduos
dores, treinados em características do dados completou a
2016 academias treinamento e a demográficos e pesquisa. 44

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CF prevalência de de treinamento.
(23,5%) indicaram
lesões durante 6 Se o participante
ter sofrido uma
meses sofreu lesão – 17
lesão no ombro
durante perguntas o para
reunir
treinamento CFdetalhes
nos sobre a lesão.
últimos 6
meses.
Weisenth 386 Questionário Registro de 75 participantes 8
al e praticantes baseado em uma características (19,4%) sofreram
colabora- de CF pesquisa demográficas e pelo menos 1
dores, desenvolvida para de participantes, lesão; Não
2014 avaliar lesões em a incidência e as encontramos
participantes de características diferença
atletismo. das lesões significativa na
ocorridas nos 6 taxa de lesões ao
meses anteriores. longo da idade
(n=381; p=0,56)
Legenda: CF – CrossFit®, GM – grupo masculino, GF – grupo feminino, ECP – Exercício para
praticantes de CrossFit®, WOD – Work out Ofthe Day.

DISCUSSÃO machucar com mais frequência do que as


atletas do sexo feminino. Em todos os
O presente estudo buscou atualizar os exercícios, as taxas de lesões foram
conhecimentos na prevalência de lesões na significativamente diferentes nas partes do
articulação do ombro em praticantes de corpo (p<0,001). As partes lesadas mais
CrossFit®. comuns foram ombro (n=21), lombar (n=12) e
Pesquisas epidemiológicas sobre joelho (n=11).
taxas de lesões e seus fatores de risco são No estudo realizado por Summitt e
estimuladas, já existem uma variedade de colaboradores (2016) optaram por uma
estudos sobre o potencial de lesão nos pesquisa subdividida em 4 seções básicas:
praticantes, fatores mais importantes e locais dados demográficos, dados de treinamento
anatômicos mais acometidos (Kliszczewicz e (medidas de força, estrutura geral das classes
colaboradores, 2015; Tibana e colaboradores, e frequência de treinamento), prevalência de
2016). lesões nos últimos 6 meses e informações
Estudos demonstram que o maior sobre lesões, se aplicável.
índice de lesão devido à prática esportiva é no Com essa subdivisão, observou-se
sexo masculino correlacionando com a menor que 44 (23,5%) dos 187 indivíduos que
procura dos homens por treinadores que completaram a pesquisa relataram uma lesão
realizam a supervisão em relação as no ombro de acordo com os critérios deste
mulheres. Evidências mostram que as estudo.
mulheres consultam mais seus treinadores Dos que relataram lesão, 17 (38,6%)
para dúvidas e supervisão quando comparado afirmaram que essa lesão era uma
aos homens (Weisenthal e colaboradores, exacerbação de uma lesão anterior sofrida
2014). antes do início do CrossFit® e 27 (14,4%)
Weisenthal e colaboradores (2014) no sofreram uma nova lesão no ombro
que diz respeito a taxa de lesões, em seu considerado um quadro de recidiva ou o
estudo, 75 dos participantes (19,4%) sofreram acometimento de uma nova estrutura
alguma lesão resultante do treinamento de osteomioarticulares. Não foram observadas
CrossFit® nos últimos 6 meses ao diferenças significativas nas características
preenchimento da pesquisa. demográficas entre os participantes que
Não foram identificadas diferenças relataram e não relataram uma lesão no
significativas na taxa de lesões por idade ombro.
(p=0,56), no tempo de prática (p=0,099), e nas Apenas um indivíduo relatou que sua
taxas de lesões com base na duração da lesão no ombro exigia cirurgia. Trinta e três
sessão de treinamento (p=0,17). dos 44 indivíduos lesionados atribuíram suas
Demograficamente, os atletas do sexo lesões a uma determinada causa, incluindo
masculino apresentavam tendência a se forma inadequada (n=11, 33,3%), peso muito

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pesado (n=4, 12,1%), fadiga (n=6, 18,2%), foram ou não incorporados aquecimentos e
falta de orientação (n=1, 3%) e exacerbação desaquecimentos. Neste estudo, o termo lesão
de lesão anterior (n=11, 33,3%). Observam-se foi definido como qualquer dano físico a uma
limitações neste estudo que devem ser parte do corpo que os levou a perder ou
consideradas ao revisar os resultados modificar uma ou mais sessões de
apresentados. A taxa de resposta a pesquisa treinamento ou dificultou as atividades da vida
foi baixa em 19% (Summitt e colaboradores, diária.
2016). Dos 50 entrevistados que relataram
Ao avaliar os programas de lesões nos seis meses anteriores, 12
treinamento diário do ano anterior, Aune e entrevistados relataram mais de uma lesão
Powers (2017) buscaram ainda quantificar a durante o período de vigilância. Os locais mais
porcentagem total de tempo gasto em cada lesionados foram ombro (n=14), joelho (n=10)
um dos 13 exercícios mais comuns relatados e região lombar (n=8) de 62 lesões.
para causar lesões foi calculada por um Onze das 62 lesões foram pré-
especialista certificado em força e existentes ou novas lesões e 47 foram lesões
condicionamento. primárias que ocorreram como resultado direto
Dos que completaram a pesquisa, 72 da participação do CrossFit®. A maioria das
(29%) relataram um problema médico lesões ocorreu de forma aguda 34 enquanto
musculoesquelético preexistente e 107 (43%) uma proporção menor foi de início crônico
relataram uma lesão musculoesquelética (n=22).
prévia. Lesões anteriores foram mais Assim 24% dos atletas indicaram que
comumente relatadas como ocorrendo na a lesão não afetou o treinamento, enquanto
perna ou joelho (39%); ombro ou parte 50% indicaram que a lesão relatada os levou a
superiores do braço (36%); ou o tronco, mudar desempenho de um regime de
costas, cabeça ou pescoço (30%). Oitenta e exercício (Montalvo e colaboradores, 2017).
cinco atletas relataram um total de 132 lesões Mehrab e colaboradores (2017)
durante sua carreira de treinamento, realizaram um estudo com iniciantes, com uma
resultando em uma prevalência vitalícia de duração de participação no CrossFit® inferior
lesões sofridas durante o ECP (Exercício para a 6 meses (n=88, 19,6%). As sessões de
praticantes de CrossFit®) de 34% e uma taxa treinamento duraram de 30 a 60 minutos para
de incidência estimada de 2,71 lesões por a maioria dos participantes (n=249, 55,5%).
1.000 horas. A taxa de incidência de lesões em
A incidência estimada entre as atletas CrossFit® entre a coorte neste estudo
mulheres não foi significativamente diferente foi de 56,1%. Os locais de lesão mais
dos homens (TIR, 0,91; IC 95%, 0,6-1,3). frequentem foram ombro, região lombar e
Atletas experientes que participaram da ECP joelho. Uma curta duração da participação no
por pelo menos 6 meses tiveram 4,4 vezes CrossFit® (<6 meses) foi significativamente
mais chances (p<0,001) de sofrer uma lesão associada a um aumento no risco de lesões.
(42% vs 14%) do que atletas inexperientes (<6 Quando comparados ao futebol,
meses de treinamento em ECP). encontraram-se taxas de incidência de lesões
No entanto, os atletas mais novos na variando de 57% a 62%.
ECP (<6 meses de treinamento) sofreram No entanto, uma lesão foi definida
lesões 2,5 vezes mais (IC95%, 1,5-4,2) do que como qualquer queixa física sustentada por
os atletas mais experientes (6,34 / 1000 vs um jogador resultante de uma partida de
2,50 / 1000 horas). Os locais mais lesionados futebol ou sessão de treinamento de futebol,
foram o ombro ou o braço; a perna ou joelho; portanto, a comparação é difícil.
ou o tronco, costas, cabeça ou pescoço. Os Outra diferença coletada é sobre os
exercícios mais comumente implicados foram dados diretamente dos atletas em contraste
agachamento, corrida e agachamento aéreo. com outros estudos em que as lesões foram
(Aune e Powers, 2017). registradas por médicos ou fisioterapeutas.
Montalvo e colaboradores (2017) As partes do corpo mais lesionadas
relacionaram a participação dos atletas no foram ombro, região lombar e joelho em que
CrossFit® incluindo o tempo de participação não foram quantificados valões objetivos.
em anos, a frequência da participação em dias Isso está de acordo com pesquisas
semanais de treinamento de atletas, horas anteriores realizadas nos Estados Unidos a
semanais de treinamento de atletas e respeito de lesões no CrossFit® (Merhab e
exposições semanais de atletas e se os atletas colaboradores, 2017).

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Se os iniciantes aumentam observado diferenças significativas entre os


rapidamente o volume e a intensidade do sexos masculinos e femininos, mesmo o
treinamento podem serem esperadas lesões masculino apresentando mais lesões.
de natureza crônica.
Esse estudo tem várias limitações, por CONCLUSÃO
exemplo, a distribuição realizada
eletronicamente, que pode ter gerado um viés Embora o treinamento de CrossFit®
de seleção, pois certos atletas provavelmente represente um risco de lesões de ombro,
não responderam de forma adequada o esses dados muito limitados mostram que as
questionário. taxas de lesão são comparáveis ou até mais
A coorte estudada pode não refletir a baixas do que outras formas de exercício
população geral que participa do CrossFit® recreativo e competitivo.
devido ao possível viés de seleção e nem o Torna-se necessário a realização de
número exato de participantes da modalidade estudos randomizados para a validade de um
na Holanda (Merhab e colaboradores, 2017). questionário específico para a prática e
Lopes e colaboradores (2018) possíveis lesões do CrossFit®.
observaram que o tempo de prática na maioria A partir da validação desses
dos participantes que realizava a mais de 12 questionários, passa a ser possível uma
meses (56,7%) da amostra total, já na prática avaliação minuciosa em relação ao
semanal do CrossFit®, 52,6% que treinavam 5 treinamento e variação desse esporte para
dias, 45,4% treinavam de 3 a 5 dias/semanas. diminuir os viesses encontrados para a
A taxa de lesões foi de n=29 (30,2%) aplicação de forma mais coerente respeitando
dos praticantes que responderam o todas as implicações impostas na prática do
questionário, o local mais afetado foi coluna CrossFit®.
lombar (42%), punho (35%), ombro (28%), Os viesses no estudo pode estar na
joelho (25%), sendo a principal lesão a elegibilidade por parte dos avaliadores pelos
tendinopatia e afecção de ligamento (25%) e critérios estabelecidos no presente estudo.
fadiga muscular (21,04%).
A correlação demonstra que quanto REFERÊNCIAS
maior a idade mais chances o indivíduo tem de
se lesionar. 1-Arcanjo, G.N.; Lopes, P.C.; Carlos, P.S.;
No estudo realizado por Porse e Cerdeira, D.Q.; Lima, P.O.P.; Vilaça-Alves, J.
colaboradores (2018), observaram que os Prevalência de sintomas osteomusculares
principais locais lesionados nos praticantes do referidos por atletas de Crossfit. Motricidade.
grupo masculino foram no ombro (42,1%) e no Portugal. Vol. 14. Num. 1. 2018. p. 259-265.
joelho (13,4%), enquanto no grupo feminino
foram no joelho (31,9%), ombro (18,2%) e 2-Aune, K.T.; Powers, J.M. Injuries in an
lombar (18,2%). Um fator que pode ter Extreme Conditioning Program. Sports Health.
contribuído para as lesões relacionadas ao Vol. 9. Num. 1. 2017.
CrossFit® em geral é a fadiga muscular devido
ao grande número de repetições realizadas 3-Bergeron, M.F.; Nindl, B.C.; Deuster, P.A.;
durante as sessões de treino. Baumgartner, N.; Kane, S.F.; Kraemer, W.J.
Essa fadiga também pode contribuir Consortium for Health and Military
para a perda da técnica adequada de exercício Performance and American College of Sports
e lesão resultante eles concluíram que as Medicine consensus paper on extreme
lesões no joelho são causadas por problemas conditioning programs in military personnel.
inflamatórios crônicos e não estão Curr Sports Med Rep. Vol. 11. Núm. 6. p.383-
relacionados a problemas de estabilidade 389. 2011.
semelhantes a outros esportes.
Brunna e colaboradores (2019) 4-Brunna, A.R.S.; Marianne, G.O.; Luana,
Descreveu incidência de lesões entre os P.C.M.G.; Arley, A.T. Incidência de lesões
praticantes de CrossFit com taxa de lesão musculoesqueléticas em praticantes de
relatada de 19,28%. As regiões do corpo mais Crossfit. Revista Eletrônica de Ciências da
acometidas neste estudo foram punhos/mãos Saúde - UNIPLAN. Vol. 1 Num. 1. 2019.
(27,2%) e ombros (25,8%).
Com relação ao tempo de prática foi 5-Dominski, F.H.; Siqueira, T.C.; Serafim, T.T.;
de 30% das lesões totais, onde não foi Andrade, A. Perfil de lesões em praticantes de

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CrossFit: revisão sistemática. Fisioter. Pesqui. 15-Silva, A.A. Análise do perfil, funções e
Vol. 25. Num. 2. 2018. p. 29-239. habilidades do fisioterapeuta com atuação na
área esportiva nas modalidades de futebol e
6-Ferreira, C.A.; Dias, C.M.J.; Fernandes, voleibol no Brasil. Rev. Bras. Fisioter. São
M.R.; Sabino, S.G.; Anjos, M.T.; Felício, C.D. Carlos. Vol. 15. Num. 3. 2011.
Prevalência e fatores associados a lesões em
corredores amadores de rua do município de 16-Sprey, J.W.; Ferreira, T.; Lima, M.V.;
Belo Horizonte-MG. Aparelho locomotor no Duarte Junior, A.; Jorge, P.B.; Santili, C. Na
exercício do esporte. Revista Brasileira de epidemiological profile of Crossfit athletes in
Medicina do Esporte. Vol. 18. Núm. 4. 2012. Brazil. Orthop J Sports Med. Vol. 30. Núm. 4.
2016.
7-Foschini, D.; Prestes, J.; Charro, M.A.
Relação entre exercício físico, dano muscular 17-Summitt, R.J.; Cotton, R.A.; Kays, A.C.;
e dor muscular de início tardio. Artigo de Slaven, E.J. Shoulder injuries in individuals
Revisão. Rev. Bras. Cineantropom. who participate in CrossFit training. Sports
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riccardofisio@outlook.com
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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.304-314. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
314
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Autor Correspondente:
João Paulo Castro Soares
Rua Paranaguá, 1316.
Aeroporto, Teresina-PI, Brasil.
CEP: 64003-710.

Recebido para publicação 18/12/2019


Aceito em 08/05/2020

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.304-314. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
Motricidade © Edições Desafio Singular
2018, vol. 14, n. 1, pp. 259-265 6º ISSC

Prevalência de sintomas osteomusculares referidos por atletas de


Crossfit®
Prevalence of musculoskeletal symptoms reported by Crossfit® athletes
Giselle Notini Arcanjo1, Pedro Cunha Lopes2, Patrick Simão Carlos2, Denilson de Queiroz
Cerdeira2, Pedro Olavo de Paula Lima3, José Vilaça Alves1*
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
Este estudo buscou identificar as sintomatologias osteomusculares referidas pelos atletas que participavam de
uma competição de CrossFit® realizada em Fortaleza, Ceará, Brasil, no mês de dezembro de 2016. A amostra
foi composta por 195 praticantes, sendo eles, atletas da categoria RX, intermediário ou scaled que procuraram o
serviço de Fisioterapia antes, durante ou depois das provas. Os dados foram obtidos através de um questionário
desenvolvido para o inquérito científico. A análise estatística foi realizada através da associação entre as
variáveis através do teste Pearson Chi-Square com o fator de correção de Monte Carlo e os resultados confrontados
com a literatura nacional e internacional sobre o assunto vigente em questão. Observou-se que a média de idade
dos indivíduos era de 30,63±6,97 anos, com um tempo de prática de 15,56±0,95 meses, sendo prevalente o
sexo masculino e a categoria scaled. 34,4% dos participantes procuraram o serviço de Fisioterapia após finalizar
todas as provas da competição. A localização corporal com presença da sintomatologia dolorosa foi: quadríceps
(25,8%), seguido da lombar (13,1%) e do ombro (11,9%) sendo que 42,6% dos entrevistados referiram por
fadiga, seguido por dor articular (30,8%). A maioria tinha preferência por liberação miofascial e 25,6% não
faziam nenhum tipo de tratamento antes das competições por não apresentarem sintomas, e, aqueles que
tinham acompanhamento faziam na maioria das vezes fisioterapia eletrotermofototerápica (39%). Destaca-se
que grande parte dos participantes relataram mais sintomas agudos e leves, sendo na maioria das vezes por
fadiga pós prova. É importante o envolvimento do fisioterapeuta de forma contínua visando prevenção,
tratamento da fase aguda e diminuição dos níveis de lesões. Este estudo forneceu dados sobre os principais
locais e sintomas referidos pelos atletas de CrossFit® durante uma competição, bem como as principais
categorias que necessitam de uma melhor abordagem e atenção.
Palavras-chave: crossfit, lesões musculoesqueléticas, fisioterapia.

ABSTRACT
This study aimed to identify the musculoskeletal symptoms reported by athletes participating in a CrossFit®
competition held in Fortaleza, Ceará, Brazil, in December 2016. The sample consisted of 195 athletes, being
athletes of category RX, intermediate or scaled who sought the Physiotherapy service before, during or after the
tests. The data were obtained through a questionnaire developed for the scientific investigation. The statistical
analysis was performed through the association between the variables through the Pearson Chi-Square test with
the Monte Carlo correction factor and the results confronted with the national and international literature on
the current issue in question. It was observed that the mean age of the individuals was 30.63 ± 6.97 years, with
a practice time of 15.56 ± 0.95 months, being the male and the scaled category prevalent. 34.4% of the
participants sought the Physiotherapy service after finishing all the competitions. The body location with the
presence of painful symptoms was: quadriceps (25.8%), followed by lumbar (13.1%) and shoulder (11.9%),
with 42.6% of respondents reporting fatigue, followed by joint pain (30.8%). The majority had myofascial
release preference, and 25.6% did not have any type of treatment before the competitions because they did not
present symptoms, and those who had follow-up most often had electrothermo-photometric therapy (39%). It
is noteworthy that most of the participants reported more acute and mild symptoms, most of them being post-
test fatigue. It is important to involve the physiotherapist continuously in order to prevent, treat the acute
phase and decrease the levels of injuries. This study provided data on the major sites and symptoms reported by
CrossFit® athletes during a competition, as well as the major categories that need better approach and
attention.
Keywords: crossfit, musculoskeletal injuries, physiotherapy.

1
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
2
Centro Universitário Estácio do Ceará
3
Universidade Federal do Ceará
* Autor correspondente: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, complexo Desportivo da UTAD, Quinta de
Prados, 5000-000, Vila Real, Portugal E-mail: gnotini@hotmail.com
260 | GN Arcanjo, PC Lopes, PS Carlos, DQ Cerdeira, POP Lima, J Vilaça-Alves

INTRODUÇÃO Montalvo et al. (2017) a incidência foi de 2.3


O CrossFit® é um método de treinamento /1000 horas de treinamento de atletas, sendo
caracterizado pela realização de exercícios que tiveram maior probabilidade aqueles com
variados em alta intensidade. O treinamento visa maiores horas semanais de treinamento, anos de
desenvolver ao máximo as três vias metabólicas participação, altura e massa corporal. Sprey et al.
e cada uma das 10 valências físicas: resistência (2016) alegam que as taxas de lesão CrossFit
cardiorrespiratória, força, vigor, potência, são comparáveis às de outros esportes
velocidade, coordenação, flexibilidade, agilidade, recreativos ou competitivos, e as lesões mostram
equilíbrio e precisão utilizando exercícios do um perfil semelhante ao levantamento de peso,
levantamento olímpico como agachamentos, levantamento de força, musculação, ginástica
cleans, deadlifts, press, e exercícios aeróbios olímpica e corrida, que tem uma taxa de
como natação, remos, corrida e bicicleta, e incidência quase a metade do futebol.
movimentos ginásticos como handstand, O cuidado com a incidência de lesões ocorre
paralelas, argolas e barras (Tibana, Almeida, & tanto entre os praticantes e atletas, quanto em
Prestes, 2015; Meyer, Morrison, & Zuniga, treinadores e profissionais da saúde, pois altera
2017). o processo evolutivo do treinamento (Gentil,
O Crossfit® foi criado por Greg Glassman, Costa, & Arruda, 2017).
em 1995, o qual abriu o primeiro box de Para Guimarães, Carvalho, Santos, Rubini, e
Crossfit® em Santa Cruz, Califórnia. Em 2001, Coelho (2017) e Gentil et al. (2017) o esforço
criou um site que agrupava WOD’S (sigla em intenso, os movimentos complexos sob níveis
inglês para “workout of the day” e que significa elevados de fadiga e cargas extenuantes de
“treino do dia”), que estavam disponíveis para estresse físico e mental pode aumentar a
que qualquer pessoa pudesse praticar. Nesse vulnerabilidade do sistema imunológico, além de
mesmo site, havia um fórum que estava aberto a dores musculares e articulares.
todos os indivíduos que quisessem partilhar Desta forma, para a prática de CrossFit® ou
experiências ou tirar dúvidas. Em 2003, qualquer modalidade realizada em alta
estabeleceu a diretiva que todos os boxes teriam intensidade, recomendam-se cuidados que
de ser afiliados, criando assim um programa de podem minimizar a ocorrência ou a gravidade da
afiliação. Atualmente, contam com mais de lesão. Entre eles, avaliações fisioterapêuticas
10.000 boxes afiliados pelo mundo (Sousa, individuais pré-participação, progressões
2016). graduais durante os treinos, períodos de
Os modelos de WOD’S são frequentemente descanso entre treinos, supervisão direta dos
estruturados na perspectiva do praticante se coaches (treinadores) e a conscientização do
esforçar ao máximo para alcançar o menor próprio praticante.
período de tempo, com maior número de Este estudo teve a finalidade de analisar a
repetições, utilizando o maior peso possível, existência de sintomas referidos pelos atletas
visando uma alta demanda cardiometabólica e que participavam de uma competição de
um nível de competitividade (Araújo, 2015; CrossFit® no intuito de embasar melhor os
Tibana et al., 2015;). atendimentos da fisioterapia durante estas
Devido a isto, alguns autores referem que competições e nos intervalos destas, assim
podem existir riscos de lesões neste esporte. como, durante a prática do treinamento desta
Hak, Hodzovic, e Hickey (2013), revelaram um modalidade esportiva, esclarecendo também
índice de lesões de 3,1/1000 horas treinadas. As sobre quais as preferências dos mesmos para
lesões neste estudo impediram o praticante de com as condutas fisioterápicas.
treinar, competir ou trabalhar, sendo que 73%
dos entrevistados relataram ter se lesionado MÉTODO
durante a prática. E, ainda, 7% dessas lesões Tratou-se de um estudo descritivo,
necessitaram de intervenção cirúrgica. Para exploratório e quantitativo, sobre as
Sintomas osteomusculares no Crossfit | 261

sintomatologias referidas pelos atletas que participação, ou a desistência a qualquer


realizavam uma competição de CrossFit® no momento do estudo sem despesa ou prejuízo.
município de Fortaleza, Ceará, Brasil. A Este projeto de pesquisa está de acordo com as
amostragem da pesquisa foi composta por 195 normas do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
praticantes de CrossFit® cadastrados no evento, em consonância com a resolução 466/912
caracterizando uma amostragem finita referente à pesquisa com seres humanos. A
delimitada pelo tempo. pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e
Os dados foram obtidos através de um pesquisa do Centro Universitário Estácio do
questionário desenvolvido para o estudo Ceará com o número do parecer 118162/2016.
constando: nome, idade, sexo, categoria inscrita
na competição, local e sintomas referidos, RESULTADOS
percepção da causa de tais sintomas, momento Participaram deste estudo 195 praticantes,
da competição que procura por atendimento, apresentando uma média de idade 30,63±6,97
preferência de técnicas fisioterápicas para anos e com um tempo de prática de 15,56±0,95
tratamento dos sintomas, presença de algum meses, ou seja, praticantes na sua maioria de um
sintoma prévio da competição e, caso existência, pouco mais de um ano. Esta amostra teve a
qual tratamento costumava realizar. Este foi prevalência do sexo masculino (57,4%) e da
apresentado ao coordenador do evento para a categoria scaled (59,5%). Foi observada uma
liberação dos dados. A coleta de dados iniciou-se associação significativa entre a idade e a
através da entrega do questionário e foram categoria (p<0,0001); entre sexo e o tempo de
conduzidas individualmente com cada prática (p=0,013); entre a categoria e a idade
participante. (p<0,0001).
Os dados obtidos na pesquisa foram A maioria (34,4%) procurou o serviço de
organizados, tabulados e analisados através do fisioterapia após finalizar todas as provas da
programa “Statistical Package for the Social competição, por ter maior aparecimento dos
Sciences” (SPSS, Chicago, EUA) versão 24.0. sintomas, sendo que 59% relataram que era por
Realizou-se uma análise exploratória dos valores ter realizado uma intensidade elevada da carga
de cada variável para caracterizar as medidas ao durante o exercício. A topografia da
nível da sua frequência, moda e média com sintomatologia clínica dolorosa apresentou-se
posterior observação gráfica (boxplot), para que prevalente no quadríceps (25,8%), seguido da
fossem detectadas a possível existência de lombar (13,1%) e do ombro (11,9%) sendo por
outliers ou erro na inserção dos dados. fadiga muscular (42,6%), seguida por dor
Foi analisada a associação entre as diferentes articular (30,8%).
variáveis através do teste Pearson Chi-Square com Percebeu-se uma associação significativa
o fator de correção de Monte Carlo. O nível de entre o tempo de prática e o sexo (p=0,013) e a
significância estabelecido foi de p<0,05. Em existência de lesão prévia (p=0,018). Uma
seguida foram confrontados com a literatura associação significativa entre os sintomas e: i)
vigente no âmbito nacional e internacional sobre momento da competição que procurou por
a temática vigente no inquérito científico. atendimento (p=0,019); ii) o aparecimento dos
As informações relacionadas aos sintomas (p=0,012); iii) a perceção subjetiva da
entrevistados foram incluídas no protocolo de causa dos sintomas (p<0,0001); iv) e a
pesquisa somente após consentimento por existência de lesão antes da competição
escrito dos mesmos ou responsáveis. A aceitação (p=0,028). A maioria tinha preferência por
foi registrada através de assinatura do Termo de liberação miofascial (67,7%).
Consentimento livre e Esclarecido (TCLE), Ao serem questionados quanto à existência
sendo outorgado aos entrevistados sigilo em de sintomas musculoesqueléticos antes da
relação à sua identidade, procedimentos, competição, apenas 32,8% dos indivíduos
objetivos e tempo de execução. Foi garantido a referiram que existiam queixas, sendo que 7,2%
estes, o anonimato, o direito de não relataram dores no joelho, 5,1% hérnia discal e
262 | GN Arcanjo, PC Lopes, PS Carlos, DQ Cerdeira, POP Lima, J Vilaça-Alves

2,6% dores no ombro. Destaca-se que a maioria carga durante o exercício. Os sintomas referidos
(67,2%) não sentia nenhuma sintomatologia e que apresentaram maior prevalência foram
por isso 79% não referiram algum local de quadríceps, lombar e ombro, sendo que
sintomatologia clínica. Desta forma, 25,6% não relataram ser fadiga muscular ou articular,
faziam nenhum tipo de tratamento antes das provavelmente por elevada intensidade na
competições por falta de necessidade, e, aqueles execução do exercício e pelo uso intenso do
que tinham acompanhamento clínico para grupo muscular para determinados movimentos
tratamento dos seus sintomas faziam na maioria solicitados nas provas da competição. Além
deles fisioterapia eletrotermofototerápica (39%), disto, sugere-se que a sintomatologia na lombar
osteopatia (21,5%) ou massagem relaxante ou pode ter sido relatada por provável fraqueza dos
esportiva (21%). músculos estabilizadores do tronco para
Foi observada uma associação significativa suportar maior sobrecarga.
entre a localização dos sintomas e: i) a existência A fadiga muscular é a incapacidade do
de lesão prévia (p=0,023); ii) momento da sistema neuromuscular produzir movimento,
competição que procurou por atendimento pelo acúmulo de produtos metabólicos finais,
(p=0,046). Detectou-se também uma associação como o lactato que, em concentrações elevadas,
significativa entre o momento da competição diminui a capacidade contrátil do músculo.
que procura por atendimento e: i) o Maté-Muñoz et al. (2017) analisaram o nível de
aparecimento dos sintomas (p<0,0001); ii) a fadiga dos membros inferiores em três
localização dos sintomas (p=0,046); e iii) as características metabólicas distintas em
causas dos sintomas (p=0,011). diferentes WOD’s do CrossFit e observaram que
Mensurou-se uma associação significativa os treinos ginásticos e de levantamento de peso
entre as causas dos sintomas e: i) momento da tiveram um maior nível de lactato sérico, pois
competição que procurou por atendimento recrutam mais fibras musculares do tipo II, mais
(p=0,014); e ii) a preferência do atendimento suceptíveis a fadiga.
(p=0,021). Foi observada uma associação A causa da fadiga mecânica pode ser a alta
significativa entre a preferência de tratamento intensidade e volume de exercício, juntamente
dos sintomas e: i) momento da competição que com o pequeno intervalo de descanso. Assim,
procura por atendimento (p=0,037); ii) as dada a alta demanda técnica de alguns exercícios
causas dos sintomas (p=0,018); e iii) a do CrossFit®, juntamente com os efeitos da
existência de lesão prévia (p=0,019). fadiga na biodinâmica do movimento, esses
Verificou-se uma associação significativa processos de fadiga quando não mediados
entre as técnicas escolhidas no tratamento das podem ocasionar lesões por falha na execução
lesões e: i) a categoria (p=0,042); e ii) o dos movimentos (Smilios, Häkkinen,
aparecimento dos sintomas (p=0,047). Foi Tokmakidis, & Savvas, 2010).
observada uma associação significativa entre a No estudo de Hak et al. (2013) também foi
existência de lesão prévia e: i) o tempo de observaram a alta prevalência de lesões no
prática (p=0,018); ii) e os sintomas (p=0,028); ombro justificando que durante a prática do
iii) a localização dos sintomas (p=0,023); iv) o CrossFit®, os movimentos ginásticos ou de
aparecimento dos sintomas (p=0,023); v) levantamento de peso são realizados em alta
momento da competição que procurou por repetição e intensidade, muitas vezes com
atendimento (p=0,019). grandes pesos. Isso pode levar a uma mecânica
fraca, colocando o ombro em movimentos
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES extremos e numa posição de risco. Relataram
Os principais resultados do estudo mostram também alta prevalência de sintomatologia na
que a maioria dos participantes procurou o lombar após a execução do powerlifting e
serviço de Fisioterapia após finalizar todas as levantamento terra. Portanto, a perda da
provas da competição, sendo que relataram que mecânica correta da execução do movimento por
era por ter realizado uma intensidade elevada da extrema fadiga e em exercícios e suas variações
Sintomas osteomusculares no Crossfit | 263

que exijam mais dos músculos estabilizadores parassimpática (Henley, Ivins, Mills, Wen, &
como o agachamento, deadlift, clean e snatch, Benjamin, 2008). Dependendo da técnica de
colocam estresse em toda a coluna torácica e liberação, a pressão mecânica imposta no
lombar levando à fadiga muscular. músculo deverá aumentar ou diminuir a
Participantes da categoria scaled foram excitabilidade neural pela estimulação dos
os que mais procuraram atendimentos durante o receptores sensoriais e diminuição da tensão
evento, que por ser uma categoria de iniciantes, muscular, reduzindo a excitabilidade
podem sentir mais incómodos por falta de neuromuscular (Rodríguez-Huguet, Gil-Salú,
adaptação ou realização incorreta de algum Rodríguez-Huguet, Cabrera-Afonso, & Lomas-
movimento. Vega, 2017). Estudos apontam que um estímulo
Butcher, Judd, Benko, Horvey, e Pshyk de liberação entre 3 e 6 minutos já diminui a
(2015) e Bellar, Hatchett, Judge, Breaux, e amplitude do reflexo de Hoffmann. (Chen &
Marcus (2015) compararam praticantes Zhou, 2011; Shiratani, Arai, Kuruma, &
iniciantes e experientes de Crossfit e observaram Masumoto, 2016). Além desta resposta
melhores resultados de força, aptidão fisiológica, acredita-se que o ganho de ADM, é
cardiovascular, capacidade aeróbica e potência também o resultado esperado pelos atletas ao
anaeróbica no grupo com maior experiência. buscarem esse procedimento (Cheatham,
Hooper et al. (2014) avaliaram o padrão Kolber, Cain, & Lee, 2015; Fairall, Cabell,
motor do agachamento livre quando realizado Boergers, & Battaglia, 2017) benefícios esses
dentro em uma exaustiva rotina de treino do que ajuda os atletas melhorar seu desempenho e
Crossfit®. Apesar de terem sido realizadas reduzir riscos de possíveis lesões (Schroeder &
adaptações para relativizar a intensidade do Best, 2015).
exercício para todos os sujeitos, isso não foi É importante observar que 25,6% não faziam
suficiente para evitar que o padrão motor do nenhum tipo de tratamento antes das
exercício fosse alterado ao longo da sessão, competições por não apresentarem sintomas, e,
levando a conclusão que realizar exercícios aqueles que tinham acompanhamento faziam na
complexos em regime de exaustão diminui a maioria das vezes fisioterapia convencional
eficiência da técnica e consequentemente a (39%). Achados do estudo de Guimarães et al.
segurança do praticante. (2017) quanto à frequência de lesões esportivas
Importante ressaltar que uma baixa apontam que em modalidades que utilizam
estabilidade do quadril também pode interferir exercícios de força ocorre uma proporção de uma
em um maior recrutamento do músculo reto a sete lesões em mil horas de treinamento e,
femural por compensação, podendo prejudicar a geralmente, estão relacionadas a pessoas com
articulação do joelho (De Souza, Da Fonseca, Da hábitos extremos de atividade física.
Veiga, De Oliveira & Vieira, 2017). Grier, Canham-Chervak, McNulty, e Jones
A maioria teve como preferência de (2013) analisaram a incidência de lesões em
atendimento a técnica de liberação miofascial combatentes norte americanos após a
para tratar os seus sintomas, justificada implementação do CrossFit® nas rotinas de
empiricamente pela vontade de melhorar a preparação física antes e após 6 meses. Os
fadiga e retirada de metabólicos. pesquisadores concluíram que em ambos
A liberação miofascial oferece vários (praticantes e não praticantes) houve uma
mecanismos de resposta, como relaxamento, incidência de lesões de aproximadamente 12%.
alívio das dores musculares e melhora da As principais razões foram a baixa aptidão
amplitude de movimento (ADM). cardiorrespiratória, sobrepeso/obesidade e ser
Fisiologicamente explicam-se por aumento das fumante. Além disso, foi observado que aqueles
endorfinas plasmáticas (Harris, Richards, & que já tinham o hábito de praticar treinamento
Grando, 2012), diminuição dos níveis de de força possuíram uma menor incidência de
hormônio do estresse (Kim, Park, Goo, & Choi, lesões.
2014) ou uma ativação da resposta
264 | GN Arcanjo, PC Lopes, PS Carlos, DQ Cerdeira, POP Lima, J Vilaça-Alves

Destaca-se que grande parte dos participantes Journal of Sports Physical Therapy, 10(6), 827-
relataram mais sintomas agudos e leves, sendo 838.
Chen, Y. S., & Zhou, S. (2011). Soleus H-reflex and
na maioria das vezes por fadiga pós prova. its relation to static postural control. Gait &
Segundo Sprey et al. (2016) a dor muscular posture, 33(2), 169-178.
aumentada pode ser mal interpretada como De Souza, L. M. L., Da Fonseca, D. B., da Veiga
Cabral, H., De Oliveira, L. F., & Vieira, T. M.
lesão, e essa dor é extremamente comum em
(2017). Is myoelectric activity distributed
atividades de alta intensidade. equally within the rectus femoris muscle
O envolvimento do fisioterapeuta, during loaded, squat exercises? Journal of
trabalhando em conjunto com os coachs é Electromyography and Kinesiology, 33(1), 10-19.
Fairall, R. R., Cabell, L., Boergers, R. J., & Battaglia, F.
essencial para prevenir, tratar o sintoma agudo, (2017). Acute effects of self-myofascial release
aumentando o processo de recuperação e and stretching in overhead athletes with GIRD.
diminuindo a fadiga logo após o treino e, Journal of Bodywork and Movement Therapies,
21(3), 648-652.
consequentemente, diminuindo as taxas de
Gentil, P., Costa, D., & Arruda, A. (2017). Crossfit®:
lesões. uma análise crítica e fundamentada de custo-
Este estudo forneceu dados sobre os benefício. Revista Brasileira de Prescrição e
principais locais e sintomas referidos pelos Fisiologia do Exercício, 11(64), 138-139.
Grier, T., Canham-Chervak, M., McNulty, V., & Jones,
atletas de CrossFit® durante uma competição,
B. H. (2013). Extreme conditioning programs
bem como as principais categorias que and injury risk in a US Army Brigade Combat
necessitam de uma melhor abordagem e atenção. Team. US Army Medical Department Journal, 36-
Sugerimos que estudos futuros sejam realizados 47.
Guimarães, T., Carvalho, M., Santos, W., Rubini, E.,
para verificar a eficácia de técnicas utilizadas nas & Coelho, W. (2017). Crossfit, musculação e
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static contraction of the muscles of the right

Todo o conteúdo da revista Motricidade está licenciado sob a Creative Commons, exceto
quando especificado em contrário e nos conteúdos retirados de outras fontes bibliográficas.
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(2): enquanto outros (por exemplo, cros-
sfit triplete) podem ser considerados
moderados. Desta forma, parece que
a prática regular de crossfit contribui
Prevenção de Lesões no
Tema
para a melhoria da condição car-
diorrespiratória, avaliada através do
Crossfit: Bases Científicas e VO2max.3 Ainda assim, parece não
condicionar alterações significativas
Aplicabilidade na composição corporal, segundo
indica a meta-análise incorporando
Prof. Doutor Rodrigo Ruivo1,4, Fisiol. Miguel Anes-Soares2,4, Prof. Doutor Jorge Ruivo3 estudos de intervenção de curta
1
Fisiologista do Exercício, Docente na Escola Superior de Desporto Rio Maior e no Instituto Politécnico
de Beja; 2Fisiologista do Exercício, Estádio Universitário de Lisboa; 3Assistente Hospitalar de Medicina
duração (≥3 semanas) aplicando
Interna; Departamento de Medicina Desportiva, Clínica das Conchas; Docente na Faculdade de Medicina crossfit (apenas 6% dos estudos
da Universidade de Lisboa e na Faculdade de Desporto da Universidade Lusófona; 4Departamento de
Exercício Clínica das Conchas. Lisboa.
eram randomizados e controlados e
com baixo risco de viés), reforçando
necessidade de mais estudos de alta
RESUMO / ABSTRACT qualidade sobre o crossfit.1
O crossfit é reconhecido como uma modalidade de treino com grande crescimento a nível Apesar dessa disparidade fisioló-
mundial. Consiste num treino constantemente variado, de alta intensidade, baseado gica, existe a evidência de níveis mais
em movimentos funcionais. Não obstante o papel positivo que o crossfit desempenha na
elevados de pertença numa comu-
melhoria da condição física, e sendo uma metodologia de elevada intensidade, é perti-
nente avaliar as lesões que lhe estão associadas, assim como definir estratégias para a
nidade, satisfação e motivação entre
sua prevenção. Para se alcançar este objetivo é necessário respeitar os princípios de treino os participantes de crossfit, ainda que
(sobrecarga, individualidade, progressividade) a especificidade da modalidade. a retenção/adesão dos participantes
não pareça ser diferente em relação
Crossfit is recognized as a training modality with great growth worldwide. It consists of a con-
a outras modalidades de treino de
stantly varied, high-intensity training based on functional movements. Despite the positive role that
crossfit plays in the improvement of the physical condition, being a high intensity methodology, it
força/cardiorrespiratório.4
is pertinent to evaluate the injuries that are associated to it as well as to define strategies for its
prevention. In order to achieve this goal, it is necessary to respect the training principles (overload,
individuality, progressivity) the specificity of the modality. Riscos

PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Não obstante o papel positivo que o


Crossfit, lesões, prevenção, riscos, benefícios
crossfit desempenha na melhoria da
Crossfit, injuries, prevention, risks, benefits
condição física, por se basear tradi-
cionalmente na teoria dos 3 H’s – high
Caracterização crossfit pode ser terminar o WOD number of repetitions per exercise, high
o mais rápido possível (As Fast As loads and high speed executions, e por-
O crossfit está cada vez mais em voga Possible – AFAP) ou realizar o máximo que a sua prática está cada vez mais
em todo o Mundo (142 países com número de repetições (As Many Reps difundida, é pertinente avaliar o perfil
mais de 10000 afiliados), sendo que as Possible – AMRAP) num determi- do atleta de crossfit e perceber taxas
Portugal não é exceção.1 Este tipo nado limite temporal. Por norma, os de lesão que lhe estão associadas.
de treino foi originalmente ideali- WODs duram entre 10 e 30 minutos Foi realizado em 2018 um estudo
zado para polícias e forças especiais e os exercícios, poli-articulares e com crossfitters Portugueses, cujo
militares onde frequentemente é variados, são realizados em circuito.2 objetivo foi o de caraterizar o pra-
requerido aptidão cardiorrespira- ticante de crossfit em Portugal e a
tória e potência muscular. Consiste incidência de lesão (Ruivo, in press).
num treino constantemente variado, Benefícios fisiológicos e Para o efeito foram recolhidas res-
de alta intensidade, baseado em psicológicos postas de 89 participantes (prática
movimentos funcionais. Permite de crossfit há pelo menos 6 meses) a
otimizar a condição física em dez Com base numa revisão sistemá- um questionário online, disponível de
domínios de aptidão: cardiorrespi- tica recente, usualmente, os WODs Janeiro a Março de 2018. Os parti-
ratória, resistência muscular, força podem resultar em adaptações cipantes tinham idades compreen-
muscular, flexibilidade, potência, fisiológicas agudas variáveis: fre- didas entre 21 e 49 anos de idade
velocidade, coordenação, agilidade, quência cardíaca entre 54 e 98% da (31.8 ± 6.2). O período de ocorrência
equilíbrio e precisão.1 Inclui exer- FC máxima, lacticidémia entre 6 e de lesões avaliado foram os 6 meses
cícios de halterofilismo, ginástica, 15 mmol/L, % VO2max entre 57 e que antecederam a data do preen-
calisténicos, corrida e remo pratica- 66%, RPE entre 8 e 9 (de 10) e taxa chimento do questionário. A taxa de
dos em regime intervalado de alta produto de duplo produto cerca de lesão na amostra de crossfitters foi de
intensidade, e pode utilizar diferen- 12.000 mmHg.1 De acordo com a 2,76/1000 horas de treino de atletas,
tes materiais (halteres, kettlebells, análise, alguns WODs [por exemplo, correspondendo a 24,7% de atletas
argolas, etc). Podemos apelidar os Fran, Cindy (Figura) e “15,5”] podem lesionados num período de 6 meses.
treinos de Workout of the Day (WOD). concordantemente ser identifica- No que diz respeito ao número de
O objetivo principal num treino de dos como nível de alta intensidade, lesões por cada 1000 horas de treino

28 março 2019 www.revdesportiva.pt


os valores reportados no estudo de treino (sobrecarga, individuali- fortalecimento dos músculos do core
nacional são similares aos encontra- dade, progressividade, etc), basear a e só depois os dos membros.
dos noutros estudos realizados com metodologia do treino em ciência e
atletas de crossfit: 3.1/1000 horas atender às caraterísticas particula- Privilegiar sempre a correta exe-
de treino5, 2.71/10006, 2.4/10007 e res da modalidade de crossfit. cução técnica dos exercícios
2.3/10008. Deve-se sempre procurar a ótima
No que diz respeito à incidência execução técnica dos exercícios, o
de lesões, apesar do estudo de Hak Assim, recomenda-se o seguinte: que por vezes não sucede, ou por
et al.5 ter reportado valores de 73,5%, desconhecimento da mesma ou
na sua maioria os valores apresen- Adequada periodização de treino, por o atleta estar já sob fadiga. Em
tados pelos diferentes estudos são respeitando princípio da progressivi- função das caraterísticas metabó-
similares entre si, como por exem- dade e da individualidade licas do crossfit (muitas repetições,
plo: 34%6, 31%9, 26.2%8 e 19.4%7. Assim como noutras modalidades cargas elevadas e elevada veloci-
Em relação ao local da lesão, desportivas, é imprescindível atender dade), poderá ocorrer, por vezes, a
o ombro é a região anatómica ao nível de condição física e clínica perda da correta execução técnica
mais frequentemente lesionada, de cada participante. No caso de ser do exercício derivado da fadiga que
seguindo-se a coluna vertebral.5-7 um sujeito descondicionado é crucial se instala. A consequência poderá
Por exemplo, Weisenthal et al.7 num respeitar-se uma primeira fase de ser a ocorrência de lesões. Poderá ser
total de 84 lesões, reportou que adaptação anatómica, em que as o exemplo da realização com fadiga
21 (25%) das lesões ocorreram no cargas sejam menos intensas e se e má execução técnica de exercícios
ombro e 12 (14,3 %) na coluna ver- privilegie a correta aprendizagem como o deadlift ou clean que poderão
tebral. Também as lesões no joelho, técnica de execução dos exercícios predispor a lesões da coluna lombar.5
ainda que com menor incidência, e se procure compensar assimetrias Em resumo, deverá ser sempre prio-
são mencionadas como possível e desequilíbrios. Os WODs realiza- ridade a realização dos exercícios
local de lesão.8,10 dos deverão ser individualizados e com boa execução técnica, previa-
Algumas das lesões ocorridas programados, respeitando o princí- mente ao foco na alta intensidade e
devem-se á realização de exercícios pio de progressividade. É necessário em momento algum se deve permi-
com má técnica de execução, ao respeitar a mobilidade e estabilidade tir que a fadiga comprometa essa
treino com fadiga já instalada ou à articular da pessoa, bem como as mesma correta execução técnica.
inexistência de um período de recu- suas particularidades anatómicas.
peração entre treinos adequado. De igual forma, independentemente Respeitar rácios de força trem
do nível do praticante (iniciado, superior e “compreender” o ombro
intermédio ou avançado) é impor- O ombro é o complexo articular
Prevenção de lesões tante respeitar-se o equilíbrio entre em que se reportam mais lesões.
dias de treino e de repouso. Dever-se- Uma possível justificação poder-se-á
Após caraterização do crossfit e aná- -ão respeitar os tempos de regenera- dever ao facto de no crossfit existirem
lise epidemiológica das lesões decor- ção muscular e articular. muitos exercícios acima do plano da
rentes da sua prática, interessa, cabeça, em que o ombro se terá de
como em qualquer modalidade des- Respeitar as leis básicas do treino posicionar numa posição de máxima
portiva, procurar diminuir o número da força flexão, abdução e rotação interna.5
de lesões e, consequentemente, Devemos ter em consideração, Se aliarmos a este facto a repetida
otimizar o rendimento desportivo. entre outras leis que devemos necessidade de aplicação força
Para se alcançar este objetivo é respeitar, de que dever-se-á sequen- para preparar atleta para próxima
necessário respeitar os princípios cialmente privilegiar primeiro o repetição (exemplo do movimento
de kipping) ou uma possível incorre-
ção técnica por existência de fadiga
compreende-se que o risco de lesão

Figura 1 – Kettlebells Figura 2 – CINDY e AMRAP

Revista de Medicina Desportiva informa março 2019 · 29


Figura 3 – Kipping

no ombro pode ser superior. É o Bibliografia


exemplo do snatch, um movimento
olímpico, que pode colocar o ombro 1. Claudino JG, Gabbett TJ, Bourgeois F, Souza
numa posição de risco quando reali- HDS, Miranda RC, Mezêncio B, et al. CrossFit
Overview : Systematic Review and. Sport Med
zada com má execução técnica.5
– Open. 2018; 4-11.
Considerando o ombro e o seu 2. Bergeron M, Nindl B, Deuster P, Baumgar-
necessário equilíbrio muscular, tner N, Kane S, Kraemer W, et al. Consor-
recomenda-se igualmente a inclusão tium for health and military performance and
de exercícios que treinem os esta- American College of Sports Medicine consensus
paper on extreme conditioning programs in
bilizadores dinâmicos, tais como os
military personnel. Curr Sports Med Rep.
músculos da coifa dos rotadores. De 2011; 10(6):383-9.
igual forma, deve-se respeitar o rácio 3. Smith MM, Sommer AJ, Starkoff BE, Devor
de força funcional que deve existir ST. Crossfit-based high-intensity power
entre músculos rotadores internos e training improves maximal aerobic fitness and
body composition. J Strength Cond Res. 2013;
externos do ombro, que deve ser de
27(11):3159-72.
aproximadamente de 66-76%.11 4. Heinrich KM, Patel PM, O’Neal JL HB. High-
-intensity compared to moderate-intensity
Existência de adequada supervi- training for exercise initiation, enjoyment, adhe-
são por um instrutor qualificado de rence, and intentions: an intervention study.
BMC Public Health. 2014;14:789. BMC Public
crossfit
Heal. 2014; 14-789.
A supervisão e orientação qua- 5. Hak PT, Hodzovic E, Hickey B. The nature and
lificada terá o objetivo de nortear prevalence of injury during CrossFit training. J
o processo de treino e de permitir Strength Cond Res [Internet]. 2013 Nov 22
a execução dos vários exercícios [cited 2014 Sep 8]; Available from: http://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24276294
com técnica de execução correta. A
6. Aune KT, Powers JM. Injuries in an Extreme
importância desta supervisão está Conditioning Program. Sports Health. 2016
já bem documentada em alguns Oct; 9(1):52-8.
estudos.7 7. Weisenthal BM, Beck CA, Maloney MD,
DeHaven KE, Giordano BD. Injury Rate and
Patterns Among CrossFit Athletes. Orthop J
Inclusão de exercícios multi-
Sport Med. 2014; 2(4):1-7.
-planares 8. Montalvo AM, Shaefer H, Rodriguez B, Li T,
Ao invés de apenas se treinar Epnere K, Myer GD. Retrospective Injury Epi-
num regime uni-planar, em que os demiology and Risk Factors for Injury in Cross-
exercícios e movimentos quase sem- Fit. J Sports Sci Med. 2017 Mar; 16(1):53-9.
9. Sprey JWC, Ferreira T, Lima MV De, Jr AD,
pre ocorrem no plano sagital, deve
Jorge PB, Santili C. An Epidemiological Profile
também ser incorporados exercícios of CrossFit Athletes in Brazil. 2015; 1-8.
que solicitem outros planos de movi- 10. Moran S, Booker H, Staines J, Williams S.
mento e que incluam, por exemplo, Rates and risk factors of injury in CrossFit: a
movimentos de rotação. prospective cohort study. J Sports Med Phys
Fitness. 2017 Jan;
Respeitando os pressupostos acima
11. Ruivo R. Manual de Avaliação e Prescrição de
enunciados será ainda possível dimi- Exercício. 4.º Ed. Self editor. 2018; Lisboa.
nuir a probabilidade de ocorrência de
lesões na prática de crossfit e otimizar
os ganhos em termos de condição
cardiorrespiratória e de força, entre
outros, que a sua prática permite.

30 março 2019 www.revdesportiva.pt

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Principais lesões relacionadas ao sistema musculoesquelético
relatado pelos praticantes de crossfit de uma academia na cidade
de Paracatu-MG
Main injuries related to the musculoskeletic system reported by crossfit
practitioners of an academy in the city of Paracatu-MG

238
Marcos Vinicius Ferreira da Conceição1
Regis Peres Morais2
Sheila Pimentel da Cruz3

Resumo: Introdução: O CrossFit é uma modalidade esportiva com uma enorme variedade de
exercícios que são praticados em alta intensidade, e vem se destacando no decorrer dos anos,
ganhando cada dia mais adeptos. As lesões são eventos inesperados e indesejados por qualquer
atleta ou praticante de atividade física, pois interfere tanto na continuidade da prática esportiva
quanto nas suas atividades de vida diária (AVD’s) e atividades de vida profissional (AVP’s).
Com crescimento do CrossFit pelo mundo, a fisioterapia vem ganhando espaço, atuando tanto
na prevenção quanto no atendimento emergencial. Objetivo: analisar as principais lesões que
acometem os praticantes da modalidade CrossFit; indicar as regiões mais lesionadas; verificar
se as lesões se diferem entre os sexos, e relacionar a fisioterapia na prevenção e tratamento
dessas lesões. Materiais e Métodos: Este estudo caracteriza-se como uma abordagem quali-
quantitativa e descritiva. Como método de estudo foram aplicado o questionário de prontidão
para praticantes do CrossFit (adaptado) em uma academia na cidade de Paracatu/MG.
Resultado: As lesões musculoesqueléticas no CrossFit se encontram nas queixas mais comuns
encontradas no estudo, sendo a maioria dos praticantes entrevistados do sexo feminino, assim
como a maioria dos participantes lesionados. O ombro foi a região mais suscetível a sofrer lesão
durante a prática do Crossfit. Conclusão: As incidências de lesões encontradas foi considerada
baixa em relação a maioria dos estudos na literatura, evidenciando, que apesar do CrossFit

1
Bacharel em Fisioterapia pela a Faculdade Finom/Tecsoma. Email: marcos.conceicao@soufinom.com.br
regis.morais@soufinom.com.br
2
Bacharel em Fisioterapia pela a Faculdade Finom/Tecsoma. Email: marcos.conceicao@soufinom.com.br
regis.morais@soufinom.com.br

3
Fisioterapeuta pós-graduada em Fisioterapia Neurológica e Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva
pelo CEAFI – Universidade Católica de Goiás. Professora Especialista dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina
Faculdade Finom/Tecsoma. E-mail: sheilacruz@ finom.edu.br

Recebido em 28/12/2020
Aprovado em 24/02/2021

Sistema de Avaliação: Double Blind Review

HUMANIDADES & TECNOLOGIA (FINOM) - ISSN: 1809-1628. vol. 30- jul. /set. 2021
ocasionar lesões, realizando os devidos cuidados e precauções, é possível minimizar os riscos
de lesões e tornar a prática eficaz e segura.

Palavras-Chave: CrossFit; Lesões; Fisioterapia.

Abstract: CrossFit is a sport with a huge variety of exercises that are practiced in high intensity,
and it has been standing out over the years, gaining more fans every day. The injuries are
unexpected and unwanted events for any athlete or physical activity practitioner, because they
interfere both in the continuity of sports practice and in their activities of daily life (AVD's) and
239
activities of professional life (AVP's). With CrossFit's growth around the world, physiotherapy
has been gaining space, acting both in prevention and emergency care. Objective: to analyze
the main lesions that affect CrossFit practitioners; to indicate the most injured regions; to verify
if the lesions differ between the sexes, and to relate physiotherapy in the prevention and
treatment of these lesions. Materials and Methods: This study is characterized as a quali-
quantitative and descriptive approach. As a study method, the CrossFit practitioner readiness
questionnaire (adapted) was applied in a gym in the city of Paracatu/MG. Result:
Musculoskeletal injuries in CrossFit are found in the most common complaints found in the
study, being the majority of practitioners interviewed female, as well as the majority of
participants injured. The shoulder was the most susceptible region to suffer injury during the
practice of CrossFit. Conclusion: The incidences of injuries found were considered low in
relation to most studies in the literature, showing that although CrossFit causes injuries, by
taking due care and precautions, it is possible to minimize the risks of injuries and make the
practice effective and safe.

Keywords: CrossFit; Lesions; Physical therapy.

Introdução

A preocupação com o corpo perfeito e saudável tem aumentado a cada dia e os recursos
midiáticos e tecnológicos contribuem para este crescimento. Consequentemente a esta busca,
vem o interesse em atividades físicas, principalmente nas modalidades que predomina elevada
intensidade. Estudos mostram que o treinamento de alta intensidade promove mais benefícios
na aptidão física e na saúde com menor tempo de duração, quando comparado aos métodos de
treinamento tradicionais. (DOMINSKI et al., 2018).
Nos últimos anos iniciou-se um novo método de treinamento físico que vem ganhando
popularidade desde sua criação, conhecido por CrossFit. Esta modalidade tem como método a
promoção de aptidão física através do desenvolvimento de elementos como coordenação,
agilidade, equilíbrio, força, resistência muscular e capacidade aeróbia, por meio da prática de
exercícios funcionais e esportivos, permitindo realizar também atividades de alta intensidade

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como movimentos ginásticos, condicionamento aeróbico e levantamento olímpico
(DOMINSKI et al., 2018).
O CrossFit é uma modalidade esportiva que vem se destacando no decorrer dos anos,
ganhando cada dia mais adeptos em todo mundo. Criado no fim dos anos 90 pelo americano
Greg Glassman que desenvolveu um programa de condicionamento de forma ampla,
preparando seus praticantes para qualquer tipo de atividade (RAMOS; SANTOS, 2018).
Em geral, existem aproximadamente 12 mil academias e centros fitness registrados em
240
todo o mundo que fornece a prática de CrossFit, destas, 440 estão no Brasil, com cerca de 40
mil praticantes e atletas. Estudos trazem que o número de praticantes vem crescendo devido
sua natureza desafiadora e motivacional, em que cerca de 5% se declaram dependentes da
modalidade (DOMINSKI et al., 2018).
A modalidade do CrossFit é uma prática esportiva com uma enorme variedade de
exercícios que são praticados em alta intensidade, realizados a partir de três princípios básicos:
movimentos cíclicos; levantamento de peso; e movimentos gímnicos (exercícios de ginástica),
com intuito de desenvolver todas as capacidades físicas, como resistência, velocidade,
equilíbrio, coordenação entre outros. Por se tratar de treinos de alta intensidade, tem sido
utilizada entre os militares, por ser muito eficaz (CORDEIRO e PINHEIRO, 2018).
Os treinos do CrossFit são realizados seguindo três etapas e posteriormente o WOD
(Work Out of the Day) que significa treino do dia, e cada treino é preparado de acordo com o
nível dos praticantes. A partir do WOD e os três pilares que compõem o CrossFit, serão
realizados movimentos funcionais de alta intensidade e variações, sendo motivadores e
desafiadores para seus praticantes (XAVIER e LOPES, 2017).
A realização da prática esportiva pode ocasionar várias lesões musculoesqueléticas,
produzidas por condições intrínsecas e extrínsecas, gerando lesões musculares, ligamentares,
tendíneas, entre outras. Todas as pessoas que praticam atividades físicas ou esportivas sejam
elas de caráter competitivo ou recreativo estão sujeitas as lesões associadas ao esporte,
principalmente com movimentos e/ou treinos realizados de maneira inadequada (XAVIER e
LOPES, 2017; PORSE et al., 2018).
Para Xavier e Lopes (2017) e Porse et al. (2018), as causas extrínsecas são as que afetam
direta ou indiretamente as lesões, podendo estar correlacionados à preparação dos exercícios,
erros na execução dos movimentos e na forma de realização do treinamento, local do treino,
horas de preparação, condicionamento físico e equilíbrio. Já os aspectos intrínsecos são os que
estão ligados ao organismo envolvendo a anatomia e biomecânica. Ambos os fatores devem ser

HUMANIDADES & TECNOLOGIA (FINOM) - ISSN: 1809-1628. vol. 30- jul. /set. 2021
levados em consideração, principalmente os fatores intrínsecos que são poucos observados.
A fisioterapia através de seus métodos e técnicas, tem se mostrado muito eficaz e
importante no tratamento de diversas lesões, seja de forma direta ou indireta, para que haja uma
melhor recuperação, minimizando o tempo ausente dos praticantes de suas atividades físicas,
com menor risco de recidivas. Vale lembrar que uma lesão, dependendo do nível e grau, pode
acarretar um longo período de afastamento ou até mesmo uma incapacidade permanente, por
esse motivo, é fundamental o trabalho fisioterapêutico, que além de reabilitar, tem a capacidade
241
de elaborar estratégias preventivas, garantindo uma prática esportiva segura com melhores
rendimentos (LOPES, et al., 2019).
Toda atividade física ou exercício pode gerar algum tipo de lesão, principalmente
quando os praticantes não possuem o conhecimento adequado ou realizam a atividade sem
nenhuma supervisão. A prevenção de qualquer tipo de lesão é crucial para manutenção de um
corpo saudável, pois uma lesão pode danificar várias outras partes do corpo, pois na tentativa
de manter um bom trabalho, partes saudáveis se intensificam na tentativa de suprir a ausência
de uma parte lesada, gerando um desequilíbrio corporal. (OLIVEIRA; CARNEIRO;
VENÂNCIO, 2020).
As lesões são eventos inesperados e indesejados por qualquer atleta ou praticante de
atividade física, pois interfere tanto na continuidade da prática esportiva quanto nas suas
atividades de vida diária (AVD’s), sendo um temor para todos os praticantes de atividade física
(SILVA et al., 2019).
As lesões musculoesqueléticas são todas as alterações no sistema musculoesquelético
decorrentes da prática esportiva que gera afastamento de um ou mais dias de treinos, porém as
dores podem se manifestar em até 72 horas. Quando ocorrem nas modalidades esportivas, são
provocadas por traumas que resultam na lesão dos tecidos. A ocorrência destas lesões sem
tratamento adequado podem gerar lesões graves e até mesmo uma alteração biomecânicas
irreversíveis, ocasionando para os praticantes prejuízos tanto nas suas atividades esportivas
quanto em suas atividades profissionais (RICHENE, 2018).
Indivíduos que realizam a modalidade do CrossFit, sem se preocupar em obedecer e
respeitar seus limites, e sem se preocupar com possíveis riscos, estão propícios a se lesionar.
Porém, vale lembrar, que alguns praticantes assumem tal risco devido à falta de conhecimento
ou de orientações sobre os riscos, e até mesmo sobre a melhor forma ou maneira de realizar os
exercícios (XAVIER e LOPES, 2017).

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O número de praticantes do CrossFit vem aumentando a cada dia, e por se tratar de uma
modalidade esportiva que inclui uma série de exercícios variados e complexo, realizados em
alta intensidade, pode acarretar como consequências, o surgimento de fadigas musculares,
devido a reações metabólicas, se tornando um fator a se preocupar, uma vez que a fadiga
muscular é um dos principais fatores causadores de lesões nos esportes. Apesar da preocupação
sobre as lesões e seus mecanismos, em relação ao CrossFit os estudos ainda são limitados e
discutíveis, ou seja, ao mesmo tempo em que alguns estudos trazem que a modalidade gera um
242
baixo índice de lesões, outros já dizem que se trata de uma modalidade com um alto índice de
lesões, além de seus benefícios não serem totalmente definidos (MOURA et al., 2019).
Lesões musculoesqueléticas geram alterações morfológica e/ou histoquímica do tecido,
gerando lesões musculares, que se caracterizam como uma ruptura das fibras musculares
(estiramento) ou distensões, que é quando ocorrem rupturas de fibras musculares na junção
neuromuscular ao nível dos tendões. Essas lesões em particular, se tornaram um dos maiores
desafios para o profissional de fisioterapia, devido a complexidade e sua lenta recuperação,
ocasionando longos períodos de afastamento (XAVIER e LOPES, 2017).
Por se tratar de uma modalidade com uma gama de exercícios, as lesões mais
encontradas na modalidade se concentram em 5 principais articulações, sendo elas: ombro,
coluna lombar, joelho, punho e mão. As lesões no ombro estão relacionadas aos exercícios de
levantamento de peso e argola. Por se tratar de uma articulação com uma ampla mobilidade
estão mais propícias a lesionar durante a prática dos exercícios (FRANCISCO, 2017).
A articulação do ombro é a mais sujeita a sofrer lesões devido aos exercícios que são
realizados acima linha cabeça como, wall ball e dumbell push press, quando executados de
forma rápida e intensa, exigem uma força excessiva desta articulação. A articulação do ombro
apesar de sua grande mobilidade é necessário cuidados, pois alguns movimentos podem
ocasionar falhas na execução e até mesmo possíveis luxações, devido a grandes sobrecargas.
Alguns movimentos deixam o complexo do ombro muito desfavorável, como na posição de
rotação interna máxima, agravando todo complexo e sujeitando o ombro a uma lesão aguda,
pois essa posição faz com que o ombro perda sua estabilidade (FRANCISCO, 2017).
Outra área sujeita a lesões é a coluna lombar e joelhos, que estão associados a outro
exercício bastante utilizado, que é o agachamento e os saltos. Ombro, joelho e coluna, devido
aos exercícios da modalidade, se destacam como as áreas mais sujeitas a lesões (FRANCISCO,
2017).

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As lesões musculoesqueléticas mais frequentes no CrossFit são contusões, sendo
ocasionada por trauma direto em alguma parte do corpo, provocando assim uma compressão
excessiva dos tecidos moles, que pode envolver a função dos músculos ou tendões, ocorrendo
uma inflamação e edema local, estiramento ou distensão, que ocorre quando as fibras
musculares se alonga além do normal, podendo gerar dor, edema, perda de função e câimbra
que é uma contração involuntária do músculo, gerando uma contratura seguida de dor local,
sendo provocada pelo acúmulo de ácido lático ou alguma alteração no metabolismo de alguns
243
elementos como sais minerais, potássio e cálcio (XAVIER e LOPES, 2017).
Outra lesão comum no CrossFit é a tendinopatia, que é uma disfunção do tendão. O
tendão é um cordão fibroso constituído por tecido conjuntivo, onde os ossos e músculos são
inseridos. Tem função de manter o equilíbrio do corpo estático e dinâmico. Os tendões são
estruturas não contráteis de cor esbranquiçado, rígido da musculatura estriada. Como os
exercícios realizados na modalidade possuem uma grande repetição dos movimentos, podendo
gerar disfunções nas estruturas do tendão e consequentemente a ocorrência desse tipo de lesão
(FERREIRA, 2015).
A lesão tendinosa ou tendínea, se caracteriza por uma ruptura parcial ou total do tendão,
ocorrem mais por trauma e movimentos repetitivos, em alguns casos apresenta lesões crônicas,
relacionadas às sobrecargas durante os exercícios. As lesões tendíneas também podem ser
decorrentes de erros na realização dos exercícios, fazendo com que a articulação realize o
movimento inadequado. Nos quadros de lesões tendíneas, principalmente quando ocorrem
rupturas totais dos tendões, é necessária intervenção cirúrgica o mais rápido possível, pois
podem gerar incapacidade prolongada ou até definitivas (FERREIRA, 2015).

Metodologia
Tipo de estudo

Este estudo caracteriza-se como uma abordagem quali-quantitativa e descritiva, pois


fundamenta na investigação, delineamento ou análise dos fatos. Tem por finalidade verificar as
principais lesões relacionadas ao sistema musculoesquelético relatado pelos praticantes de
CrossFit. Foram feitas apresentações sobre o estudo da pesquisa em uma academia na cidade
de Paracatu/MG com os professores e praticantes da modalidade CrossFit.

Critérios éticos

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Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), preenchido e
assinado posteriormente pelos entrevistados antes da aplicação dos questionários; foram
esclarecidas as dúvidas referentes ao projeto de pesquisa pelos autores deste projeto. Os dados
colhidos tiveram exclusivamente para fins acadêmicos, cumprindo ao requisito previsto nas
Diretrizes Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos de acordo com a
resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
244

Materiais e métodos

Participaram deste estudo 70 indivíduos provenientes de uma academia da cidade de


Paracatu-MG, praticantes de CrossFit, dos quais 39 são do sexo feminino, e 31 do sexo
masculino. A idade média dos participantes é aproximadamente de 32 anos. Os indivíduos da
amostra relataram praticar atividade de CrossFit em média 5 vezes por semana. Dentre esses
participantes 12 praticam o CrossFit entre 6 meses a 1 ano; 14 entre 1 a 2 anos e 44 praticam 2
anos ou mais. Quanto à realização da prática CrossFit durante a semana: 2 vezes 1 aluno (a), 3
vezes 6 alunos (as), 4 vezes 14 alunos (as), 5 vezes 37 alunos (as), 6 vezes 9 alunos (as) e 7
vezes 3 alunos (as).
A pesquisa foi realizada por praticantes do esporte de CrossFit de ambos os sexos
obedecendo a critérios de inclusão e exclusão. Nos critérios de inclusão solicitou-se ser
praticantes a mais de seis meses, idade entre 20 a 50 anos, alfabetizados, esteja matriculado na
academia e tenha aceitado o TCLE. Aos critérios de exclusão: foram praticantes da modalidade
CrossFit a menos de seis meses, analfabetos, pessoas com idade inferior a 20 anos e superior a
50 anos e que não concordaram participar da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada pelos próprios autores da pesquisa, realizado na
academia na cidade de Paracatu-MG, em um box de CrossFit os autores abordaram os
praticantes na finalização dos treinos.
Com a aplicação do questionário de prontidão para praticantes do CrossFit (adaptado),
(PORSE et al., 2018), foram coletados os dados referentes às lesões musculoesqueléticas dos
praticantes deste esporte, além das áreas mais acometidas. Foram utilizadas oito pranchetas,
folha A4 para os participantes assinar, dez canetas na cor azul e os questionários impressos na
folha A4, onde aplicamos 70 questionários.
Os dados obtidos durante a pesquisa foram estruturados em planilha eletrônica do

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programa Microsoft Excel. Foram divididos em 3 grupos: incidências de lesões, locais mais
acometidos por lesões, incidências entre os sexos.

Resultados e Discussão

O CrossFit é um regime de exercício crescente caracterizado por alta intensidade,


movimento variado e funcional, composto por levantamento olímpico, levantamento de peso e
245
movimentos de ginástica, que são combinados em trabalhos de alta intensidade e executados
em velocidade, repetição sucessiva, com tempo de recuperação limitado ou não, podendo gerar
diversos tipos de lesões devido à má postura, falta de orientações durante a prática dos
exercícios, excesso de treino, fadiga muscular, entre outros. Por isso, é importante realizar o
levantamento das lesões musculoesqueléticas ocorridos na modalidade do CrossFit para que
sejam realizadas medidas preventivas de forma eficaz, a fim de evitar tais lesões que estão
sendo cada vez mais frequente nesta modalidade. Uma vez, que tais lesões podem acarretar
afastamento da atividade de vida diária (AVD’S) e atividade de vida profissional (AVP’S)
(DANTAS, 2018).
Tendo em vista que as lesões musculoesqueléticas no CrossFit se encontram nas queixas
mais comuns encontradas nos consultórios ortopédicos, nota-se a importância da identificação
dessas lesões para que as mesmas não se agrave, pois tais lesões podem impossibilitar o
praticante de exercer a sua rotina diária, afastando-o das atividades físicas e até mesmo do
trabalho, portanto é essencial que se adote medidas preventivas.

Gráfico 1 – Incidência de Lesões de forma Geral

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246

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores

O presente estudo foi composto por 70 participantes, em uma academia na cidade de


Paracatu-MG, dos quais 44% eram do sexo masculino e 56% do sexo feminino. Dos 70
participantes 9 deles tiveram algum tipo lesão musculoesquelético, correspondendo a 12,85%,
como apresentado no gráfico 1.
Xavier e Lopes (2017) trouxeram em seu estudo, uma amostra composta por 137
indivíduos onde 56,2% apresentaram algum tipo de lesão após aderirem à prática do CrossFit.
Dos 137 praticantes, 20 tiveram que se afastar das suas atividades profissionais e dos treinos
devido algum tipo de lesão. Essas lesões podem manifestar-se tanto em membros superiores
quanto em membros inferiores, gerando afastamento tanto dos treinos quanto do trabalho.
Montalvo et al., (2017), realizou um estudo composto por 191 participantes, 94 homens
e 97 mulheres, constatou 62 lesões durante a modalidade do CrossFit. A taxa de incidência de
lesões equivale a 2,3 lesões / 1000 horas de treinamento, com 26% dos atletas relataram lesões.
Os fatores associados ao risco de lesão: anos realizando prática de CrossFit, horas semanais de
treinamento da modalidade, altura e massa corporal divergem entre atletas lesionados e não
lesionados. Homens e mulheres possuem semi prevalência de lesões.
Segundo GAVA (2017), vários estudos estão sendo realizados com intuito de verificar
o índice de lesões no CrossFit, uma vez que a incidência de lesões entre os praticantes de
CrossFit é bastante divergente. Através de uma revisão bibliográfica, Gava analisou dois
estudos, o primeiro foi realizado nos Estados Unidos em 2014, composto por 386 participantes,

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desse total, 75 apresentaram algum tipo de lesão o que representa 19,4% da amostra. No
segundo estudo, realizado em 2016 no Brasil, teve a participação de 591 participantes, do total,
171 pessoas que correspondem a 31%, relataram ter sofrido lesões durante a prática do CrossFit.
O que se destaca nesse segundo estudo, que apesar da maioria dos participantes relatarem que
já realizavam algum tipo de atividade física antes do CrossFit, constatou-se que mesmo assim
muitos se lesionaram.
Nos estudos de Souza et al., (2017), composto por uma amostra de 344 participantes,
247
23,5% relataram algum tipo de lesões após aderir ao CrossFit, onde a maior parte praticava a
modalidade a mais de 12 meses. Foi observado valores comparativos no que se refere a
incidências e fatores predisponentes a lesões, tais como idade, peso e sexo. Contudo, é
necessário um certo cuidado ao analisar as taxas de lesões nos demais estudos, pois a definição
de lesões se contrastam no que se menciona em relação ao tempo de afastamento da prática,
pois alguns estudos trazem que lesões como qualquer afastamento da prática, já outros definem
lesões quando geram afastamento do esporte por alguns dias ou até mesmo semanas. O tempo
de afastamento desse estudo, demostrou que 69,1% tiveram que se afastar por até 15 dias. Um
limitante deste estudo, foi que os participantes fizeram um auto-relato dos sintomas e/ou lesões
apresentadas, sem diagnósticos clínicos realizados por profissionais, o que pode ter
influenciado no resultado da pesquisa.

Gráfico 2 - Incidência de Lesões entre os Sexos

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores.

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No que se refere à incidência de lesões entre os sexos, observamos que dos 9
participantes que relataram algum tipo de lesão, 6 foram mulheres com 8,57%, e 3 foram
homens com 4,28% como mostra o gráfico 2.
Segundo o estudo de Porse et al., (2018), os participantes com lesões, 55% eram homens
e 31% eram mulheres. Um fator que pode estar relacionado a uma incidência menor entre o
público feminino, é a procura por supervisão ou de um treinador durante os treinamentos, uma
vez que a prática da modalidade com supervisores qualificados podem minimizar os riscos de
248
lesões.
No estudo realizado por Machado e Santos (2017) do público participante que relataram
lesões, 70,5% eram homens e 29.5% eram mulheres, demonstrando que as mulheres se
lesionam menos em relação aos homens, uma vez que as mulheres buscam com maior
frequência acompanhamentos com os treinadores. Contudo os mesmos autores entendem que
devido aos princípios anatômicos e fisiológicos, as mulheres estão mais propensas a se
lesionarem, devido menor massa muscular e ângulo Q maior em relação aos homens.
Segundo Beretta 2020, não foi observado correlações das lesões entre homens e
mulheres. Outros estudos trazem que o fator sexo pode ser notado como um fator intrínseco
quando se refere a riscos de lesões, pois as mulheres estão mais sujeitas a se lesionarem, já que
possuem menor massa óssea e muscular e articulações mais flexíveis. Em contrapartida, os
homens estão mais sujeitos a se lesionarem, uma vez que seus treinos são realizados com cargas
maiores, além de que os homens buscam o crescimento muscular bem mais do que as mulheres.
Dominisk et al. (2018), em seu estudo observou um índice de lesões maiores entre os
homens, pois estes tendem a procurar treinadores e/ou supervisores com menor frequência,
observou-se também uma incidência maior entre os homens em outros esportes, como
basquetebol, corrida de rua, judô, entre outros.

Gráfico 3 - Locais de Lesões Durante a Prática de Atividade Crossfit.

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249

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores.

O gráfico 3, demonstra as regiões mais acometidas por lesões causada pela modalidade
do CrossFit foram o ombro, lombar e joelho. Dos 9 participantes que apresentaram lesões, 6
foram no ombro com 8,57%, 2 na lombar 2,86%, e 1 joelho 1,43% como apresentado no gráfico
3.
Nos estudos de Xavier e Lopes (2017), os locais mais acometidos foram ombro 44.2%,
lombar 40,3% e joelho 35,1%, a ocorrência de lesões durante a prática do CrossFit pode estar
associado ao tempo da realização dessa modalidade, duração do treino, dentro desse estudo os
homens foram mais susceptíveis a desencadear lesões com 2,917 vezes mais que as mulheres
com 2,785 vezes.
Para Montalvo et al.. (2017), as regiões mais frequentes que ocorreu lesões durante os
exercícios realizados dentro do CrossFit foram ombro 22,6%, joelho 16,1% e costas 12,9%, os
exercícios de levantamento de peso olímpico são os maiores causadores de lesões no joelho,
costas e ombro, e a prática de levantamento de peso com maior repetição está propício a
desencadear lesão no ombro, costas e joelho.
Estudos realizados por Mehrab et al.. (2017), as partes acometidas por lesões foram
ombro 28,7%, costas 15,8% e joelho 8,3%, sendo elas mais frequente no decorrer do WODs
(treino do dia) e treinamento de força.
Estudos de Dominisk et al.. (2018) realizou 17 estudos com praticantes do CrossFit. Em
uma de suas pesquisas tiveram a participação de 3.307 praticantes ao todo, que consistia em
871 participantes do sexo feminino e 2.244 do sexo masculino. Obteve os seguintes achados,
em 7 dos seus estudos o ombro foi o membro mais acometido; em 4 de seus estudos foram
lombar e joelhos; em 3 do seus estudos a lombar foi a parte mais acometida; em 2 estudos os

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participantes tiveram braços/cotovelos mais acometidos e 1 estudo em que os participantes
tiveram lesões em outras partes do corpo como pescoço/cabeça, pés, pernas, coxas e punhos.
Nestes estudos realizados por Dominisk et al.. (2018) prevalece que as áreas mais acometidas
na prática do CrossFit foram ombros, costas, joelhos e lombar, isso se dá devido a sobrecarga
de treinamento, quantidade praticada na semana sem descanso da musculatura, fadiga muscular
por causa do número de repetições executadas durante a prática do CrossFit e a realização dos
exercícios efetuados pela articulação do ombro que são vistos como lesivos sendo eles;
250
overhead squat, push press, kettlebel swing e snatch, e pelo fato do ombro ser uma das
articulações mais móveis do corpo e menos estáveis possibilitando risco de lesão, e, além do
fato da articulação do ombro ter redução da estabilização da articulação escapulotorácica,
realizados pelos exercícios acaba sobrecarregando a articulação glenoumeral, normalmente está
relacionado a um desequilíbrio muscular, especialmente serrátil anterior e trapézio parte
inferior.

Considerações finais

Os achados encontrados no presente estudo demonstrou que a modalidade CrossFit


como qualquer outra atividade física, pode acarretar lesões, porém a incidência de lesões
encontradas foi considerada baixa em relação à maioria dos estudos encontrados na literatura.
Isto mostra que apesar do CrossFit ocasionar lesões, se for realizado com os devidos cuidados
e precauções, é possível minimizar os riscos de lesões e tornar a prática eficaz e segura.
As lesões que mais se destacaram foram na região do ombro, onde as mulheres se
lesionaram mais que os homens. A grande maioria de lesões são musculares decorrente da
modalidade do CrossFit, especialmente ao realizar exercícios incorretos, mudanças diária dos
exercícios, mudanças do ambiente onde se realiza a prática, em competições e a busca pelos
seus limites, ocasionando um excesso de repetições dos exercícios.
Pode-se observar, que a modalidade de CrossFit é capaz de gerar vários benefícios em
seus participantes, como força, resistência cardiorrespiratória, velocidade, coordenação motora,
e que as lesões na maioria das vezes estão relacionadas a falta de supervisão durante os
exercícios, principalmente para os iniciantes. Nesse sentido, é essencial que se desenvolva
programas preventivos a fim de minimizar os riscos de lesões.
Uma vez que toda atividade física pode acarretar algum tipo de lesão em seus
praticantes, a fisioterapia vem se destacando na modalidade do CrossFit, como uma importante

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aliada, através de suas técnicas, recursos e conhecimentos, para auxiliar na redução das lesões
musculoesqueléticas da modalidade; juntamente com os treinadores da modalidade de CrossFit
pode-se elaborar um treino específico e individual. Com um bom trabalho preventivo, os danos
de uma possível lesão podem ser minimizados ou evitados, onde o trabalho preventivo é focado
na educação dos praticantes de CrossFit, demonstrando o quanto é importante ter cuidado com
algumas articulações durante a execução de alguns movimentos e exercícios.
Vale ressaltar, que apesar da fisioterapia estar inserida em várias outras modalidades
251
esportivas, ainda são limitados os estudos que relacionem a fisioterapia ao CrossFit, sendo
necessário novos estudos, a fim de evidenciar a importância do fisioterapia na modalidade do
CrossFit.

Referências:

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v. 3, n.3, p. 1-11, 2021
ISSN: 2675-343X
www.amazonlivejournal.com

TERAPIA MANUAL NA REABILITAÇÃO DE LESÕES MUSCULOESQUELÉTICO


NOS PRATICANTES DE CROSSFIT: REVISÃO DE LITERATURA

MANUAL THERAPY IN THE REHABILITATION OF MUSCULOSKELETAL


INJURIES IN CROSSFIT PRACTITIONERS: LITERATURE REVIEW

Antônio Abreu Sousa 1; Moises Cediel Junior1


Klenda Pereira de Oliveira2

Envio: 31/05/2021
Aceite:05/06/2021

RESUMO: O crossfit é considerado um treinamento fuicional intenso que usa vertentes do


levantamento de peso, movimentos da ginástica e exercícios que desenvolvem a resistência
cardiovascular. Surgiu na California (EUA), seu idealizador foi Glassman e chegou no Brasil em
meados de 2009 por Joel Fridman e desde então vem crescendo sua demanda de adeptos. Como se
sabe, pessoas que praticam atividades de grande impacto ficam mais predispostas a desenvolverem
alguma lesão. A fisioterapia oferece tratamentos para esses atletas e utiliza desde a cinesioterapia a
terapia manual que usa de técnicas como liberação miofascial, mobilização articular, tração,
quiropraquixia e outras.Objetivo: Revisar o tratamento através da terapia manual na reabilitação de
C Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura
lesões musculoesquelético em praticantes de crossfit.
bibliográfica integrada com o objetivo descritivo de amostra quantitativa. As buscas foram realizadas
nas bases de dados: Pubmed, Google acadêmico e LilaCs sob as seguintes palavras chaves:
Terapia manual, Lesões musculoesquelético, Crossfit e por título. Resultados/Discussão: Foram
encontradas diversas técnicas da terapia manual citadas nos estudos como a massagem, qiuiropraxia,
manipulação (Maitland) e mobilização articular associadas a exercícios na cinesioterapia. Conclusão:
A terapia manual é eficaz no tratamento de lesões musculoesqueléticas em praticantes de crossfit
ajudando no quadro álgico e na funcionalidade desses atletas.
Palavras-chave: Terapia manual. Lesões musculoesquelético. Crossfit.

ABSTRACT: Crossfit is considered to be an intense training course that uses aspects of weight
lifting, gymnastic movements and exercises that develop cardiovascular resistance. It appeared in
California (USA), its creator was Glassman and arrived in Brazil in mid 2009 by Joel Fridman and since
then its demand for supporters has been growing. As is known, people who practice high impact
activities are more likely to develop an injury. Physiotherapy offers treatments for these athletes and
uses kinesiotherapy to use manual therapy using techniques such as myofascial release, joint
mobilization, traction, chiropractic and others.Objective: To review treatment through manual therapy in
the rehabilitation of musculoskeletal injuries in crossfit practitioners . Methods: This is a literature
C
review integrated with the descriptive objective of a quantitative sample. The searches were carried out
in the databases: Pubmed, Google scholar and LilaCs under the following keywords: Manual therapy,
Musculoskeletal injuries, Crossfit and by title. Results / Discussion: Several techniques of manual
therapy cited in studies were found, such as massage, qiuiropraxia, manipulation (Maitland) and joint
mobilization associated with exercises in kinesiotherapy. Conclusion: Manual therapy is effective in the
treatment of musculoskeletal injuries in crossfit practitioners, helping with the pain and functionality of
these athletes
Keywords: Manual Therapy. Manumusculoskeletal injuries. Crossfit

1 Discentes do curso bacharel em fisioterapia Uninorte -Ser educacional.


2 Orientador Professor do curso bacharel em fisioterapia Uninorte -Ser educacional
v. 3, n.3, p. 1-11, 2021
ISSN: 2675-343X
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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos tempo a pratica de exercício físico vem crescendo e ganhando novos
adeptos e com isso melhorando vários aspectos sejam estéticos ou psicossociais e
com isso o exercício segue promovendo a promoção de saúde na população. O
crossfit é uma modalidade que vem ganhando bastante popularidade, surgiu em
meados dos anos 2000 e desde então vem aumentando cada vez mais o número de
praticantes em estúdios ou academias (Weisenthal et. Al.,2014). Pode se dizer que o
crossfit é formado por três movimentos básicos: corrida, pular corda, e o remo
(MARTINS; SANTOS; SPERANDIO,2021).

O objetivo principal do crossfit é desenvolver as capacidades físicas como:


capacidade aeróbia, resistência muscular, velocidade, coordenação, equilíbrio,
agilidade e isso ocorre através de exercícios esportivos e funcionais
(GLASSMAN,2010). Pode se dizer, que o exercício de levantamento de peso
olímpico, os movimentos ginásticos e de condicionamento aeróbio devem ser
executados em altas intensidades dependendo do condicionamento do praticante
(DOMINSKI et.Al.,2018).

Como aponta Claudino et. al (2018), por mais que o crossfit disponha de
resultados positivos na composição corporal e nos aspectos psicológicos, fica claro,
que para iniciantes o risco de uma lesão musculoesquelética é alto, e isso resulta
em tempo fora dos programas de treinamento para busca de uma ajuda medica e
reabilitadora.

Segundo Lopes et. al (2018), quando não se tem embasamento paras as técnicas
realizadas na modalidade a tendência de ocorrências de lesões durante o crossfit
aumentam disparadamente, visto que, esse esporte exige boa técnica e segurança e
nem todos os praticantes tem nível de aptidão física adequada para a realização das
técnicas que o crrosfit exige.

A lesão no crossfit acontece de forma natural assim como as lesões no esporte.


É sabido que fatores intrínsecos e extrínsecos favorecem tais lesões. Os fatores
intrínsecos são aqueles não modificáveis, pois não cabe essa modificação em
fatores anatômicos e biomecânicos: fisiológicos, individualidades biológicas,
histórico de lesões. Os fatores extrínsecos são aqueles que cabem modificações
para uma possível prevenção dessas lesões, fatores esses: Intensidade do
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treinamento, volume de treinamento, ambiente de treinamento (XAVIER;


LOPES,2017).

Apesar do crossfit ter se tornado bastante popular nos últimos anos e com isso
ter proporcionados inúmeras vantagens a quem o pratica, a literatura ainda é um
pouco escassa em relação a evidência de lesões ocasionadas na modalidade. Se
faz necessário a atenção dos profissionais de educação física acompanhado de
profissionais da fisiioterpia pra quem ambos trabalhem em prol desses praticantes
promovendo a prevenção possíveis lesões ocasionadas durante a pratica de crossfit
(OLIVEIRA; CARNEIRO; VENÂNCIO, 2020).

A fisioterapia é área que trabalha diretamente na reabilitação e prevenção de


lesões musculoesqueléticas provocadas no esporte. Por isso fica nítido a
importância do fisioterapeuta na promoção de saúde de praticantes de crossfit (Silva
et. al., 2011).

De acordo com Junior e Almeida (2016), a terapia manual pode ser


compreendida como uma das áreas da fisioterapia que propõe aos pacientes
benefícios através de uma visão global aplicada ao sistemas do corpo humano. As
técnicas de terapia manual oferecem aos profissionais opções para alivio de dor,
aumento de ADM, diminuição de edema, relaxamento muscular e outros. É de suma
importância que o profissional tenha conhecimento básico de cinesiologia,
biomecânica e anatomia palpatória para desenvolver as seguintes técnicas:
Pompagem, a mobilização articular e tração, as técnicas de osteopatia e quiropraxia
e massoterapia.

Diante do exposto, é necessário entender quais técnicas de terapia manual são


empregadas na reabilitação de lesões musculoesquelético nos praticantes de
crossfit. Sendo assim a pesquisa justifica-se pela escassez de estudos nessa temática,
e por isso a importância desse estudo podendo somar como mais um achado para
pesquisadores que vem a se interessar na temática. O presente estudo tem como
objetivos revisar o tratamento através da terapia manual na reabilitação de lesões
musculoesquelético em praticantes de crossfit, Levantar fatores que influenciam
para lesões em praticantes de crossfit, apesentar as lesões mais recorrentes em
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praticantes de crossfit, descrever técnicas de terapia manual para lesões


musculoesqueléticas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente artigo trata de uma revisão de literatura bibliográfica integrada com os


objetivos descritivo visando descrever o tratamento através da terapia manual na
reabilitação de lesões musculoesquelético em praticantes de crossfit, com amostra
quantitativa.
As pesquisas foram realizadas nas seguintes bases de dado: Pubmed, Google
acadêmico e LilaCs. Foram utilizadas as seguintes palavras chaves para a busca:
Terapia manual, Lesões musculoesquelético, Crossfit e por título.
A delimitação para a busca dos estudos foram de 2010 a 2021.Os artigos foram
coletados no período de fevereiro a março, norteada para língua portuguesa, inglesa
e espanhol. Foram inclusos estudos que abordavam lesões no crossfit, estudos que
abordavam histórico de lesão, estudos que abordavam condutas fisioterapêuticas e
estudos que relatavam conceitos aplicados ao crossfit. Foram excluídos artigos
incompletos, artigos que não correspondia ao objetivos desse estudo e artigos
pagos. Foram achados o total de 127 artigos, 72 no pubmed, 13 no Lilacs, 99 no
google acadêmico, após critérios de inclusão e exclusão sobraram 24 e desses
foram utilizados (19) após leitura como mostra a figura 1.

plataformas:
PUBMED( Palavras
Pubmed, , Google LILACS(Palavras chaves):
chaves):
acadêmico, LilaCs 13
72

GOOGLE
Após criterios de exclusão:
ACADÊMICO(Por título): TOTAL: 127
24
42

Após leitura :
19
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta revisão investigou o tratamento através da terapia manual na reabilitação


de lesões musculoesquelético em praticantes de crossfit. Nenhuma evidência
anteriormente foi encontrada nesse tema nas bases de dados selecionadas.
Portanto, acredita-se que esse estudo é o primeiro a focar especificamente nessa
temática.

Quadro 1: Resultado da pesquisa de dados


AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVO ESULTADOS

Investigar a incidência Lesões relatadas: 28 lesões com incidência de


Lesões em medida como 14,9%. Taxas de lesões por 1000 para
Larsen et. al proporção de participantes feridos :9,5 e 10,6 total de lesões.
participantes
(2019) iniciantes durante um indivíduos com lesões Como todas associações entre fatores de risco
programa inicial de por 1.000 horas de e lesões, as associações entre fazer aulas de
crossFit de oito exposição entre os introdução e sofrer lesões não foram
semanas. participantes novatos significativas.
em um programa de
crossfit gratuito de
oito semanas.

Verificar a incidência
Silva et. Incidência de lesões de lesões A Incidência de lesão musculoesquelética
al .(2019) musculoesqueléticas musculoesqueléticas entre os 151 voluntários praticantes de
em praticantes de em praticantes de CrossFit foi de 19,28%.
crossfit crossfit.

Summitt et.al 44 (23,5%)sofreram uma lesão no ombro no


(2016) Lesões no ombro em denficar o índice de CrossFit nos últimos 6 meses.17 (38,6%)
indivíduos que lesões no ombro em afirmaram que essa lesão foi uma
exacerbação de uma lesão anterior sofrida
participam de indivíduos que antes de iniciar o CrossFit. Sobre variações
treinamento Crossfit participam de demográficas e de treinamento de lesão no
ombro não houve relações
treinamento crossfit, significativas. Todas lesões no ombro
ocorreram a uma taxa de 1,94 por 1000 horas
de treinamento, enquanto as “novas” lesões
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no ombro ocorreram a uma taxa de 1,18 por


1000 horas de treinamento. As causas de
lesão mais comumente foram forma
inadequada (33,3%) e exacerbação de lesão
prévia (33,3%). 25 (64,1%) daqueles que
sofreram lesão relataram 1 mês ou menos de
redução de treinamento devido à lesão.

Aune;Powrs Lesões em um Determinar A taxa estimada de lesões entre os atletas foi


(2017) programa de respectivamente a semelhante a taxa de lesões no levantamento
condicionamento incidência e de peso. O ombro ou braço era a área mais
extremo. prevalência estimada lesionada e lesão anterior no ombro era
de lesões prediposto a nova lesão no ombro. Novos
musculoesqueléticas atletas estão em risco considerável de lesão
atribuídas a em comparação com atletas mais experientes.
participação em um
programa de
treinamento extremo.

Araujo A eficácia da terapia Eficácia do tratamento Todas as técnicas de terapia manual descritas
et.al.(2014) manual para dor em com terapia manual nestes trabalhos tem resultados eficazes tanto
pacientes com comparada a outros a longo (maioria 12 semanas) como a curto
síndrome do impacto métodos para dor em prazo (48) horas.
do ombro. pacientes com
síndrome do impacto
do ombro

Avaliar a eficácia de
Garcia e Mobilização de tecido uma intervenção A mobilização de tecidos moles assistida por
Barriuão(2021) mole e alongamento fisioterapêutica por instrumento pode melhorar a adução
para ombro em meio da mobilização horizontal do ombro e a rotação interna. Uma
crossfit de tecidos moles técnica de mobilização de tecidos moles
assistida por assistida por instrumento produz os mesmos
instrumentos e resultados por si só que aqueles obtidos em
alongamentos de combinação com alongamento pós-isométrico
ombro em adução com adução de ombro.
horizontal em crossfit
com idade entre 18 e
40 anos

Automobilização da Determinar e Os resultados sugerem que um programa de


articulação do comparar a influência 12 semanas de treinamento baseado em
tornozelo e da adição de CrossFit foi eficaz na melhora do DFROM do
Diaz (2020) treinamento crossfit automobilização da tornozelo, controle postural dinâmico e
em pacientes com articulação do instabilidade autorrelatada. A adição de
instabilidade crônica tornozelo ao exercícios de automobilização da articulação
do tornozelo: Um treinamento CrossFit do tornozelo ao treinamento CrossFit produziu
estudo randomizado versus CrossFit benefícios adicionais no DFROM do tornozelo,
e controlado. sozinho ou nenhuma bem como nas distâncias de alcance SEBT
intervenção em PM e PL.
pacientes com IAC.

Efeito da Terapia
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Pereira e Junior Manual em Pacientes Compilar informação O trabalho demostrou que a técnica de terapia
(2019) com Lombalgia: Uma a respeito do efeito da manual é efetiva no tratamento de pessoas
Revisão Integrativa terapia manual em com diagnóstico de lombalgia, aumentando a
pacientes com capacidade funcional das mesmas.
lombalgia.

Avaliar se a MT tem O estudo confirma o efeito analgésico imediato


Balthazard et.al Terapia manual um efeitoanalgésico da terapia manual para CNSLBP. Seguido de
(2012) seguida de imediato e, em exercícios ativos específicos, reduz
exercicicios ativos segundo lugar, significativamente a incapacidade funcional e
específicos na comparar o efeito tende a induzir uma diminuição maior na
melhora da duradouro na intensidade da dor, em comparação com um
incapacidade incapacidade grupo controle.
funcional em funcional da MT mais
pacientes com dor AE com a terapia
lombar crônica não simulada (ST) mais
específica: Um AE.
ensaio randomizado.

Eficácia do ajuste Avaliar a eficácia do O grupo quiroprático obteve uma melhora


Moehlecke e quiroprático na dor ajuste quiroprático significativa no nível de dor e amplitude de
Junior (2017) lombar em agudo em indivíduos movimento articular, sugerindo que o ajuste
praticantes de que praticam CrossFit quiroprático agudo foi eficaz na redução da
crossfit. em relação às queixas dor lombar.
de dor lombar e
amplitude de
movimento articular
nessa região.

O crossfit apresenta uma grande taxa de lesões como aponta os estudos atuais.
Entretanto é importante ressaltar algumas divergências entre autores Larsen et. al
(2019), Silva et. al(2019) e Aune e Powers (2017) em seus estudos sobre as áreas
mais recorrentes dessas lesões nos praticantes.

Diante dos estudos obtidos sobre as lesões mais recorrentes em praticantes de


crossfit, Larsen et. al (2019), mostra que a lombar é a região mais acometida. Já no
estudo realizado por Silva et. al (2019) indica que as regiões mais acometidas por
lesões musculoesqueléticas foram punho e mão e talvez isso seja por conta da
execução ruim da técnica. Apesar dessas lesões apresentarem divergências deve
se levar em consideração as variantes que influenciaram nesses estudos.

O ombro é umas das articulações onde se tem mais recorrências de lesões em


praticantes de exercício físico de alta intensidade como apontam Aune e Powers
(2017) em seus estudos, a maioria das lesões musculoesqueléticas ocorreram em
maior proporção no ombro de atletas.
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Fatores como técnica mal executada, esforços excessivos, agachamentos acima


da cabeça foram que mais apresentaram probabilidades a causar lesão.

Ainda no que se refere a fatores que influenciam as lesões em atletas de crossfit


o estudo de Summitt et. al (2016) mostrou relatos dos participantes que determinou
os exercícios de ginásticas como um dos principais fatores de lesão do ombro, uma
vez que, incluem os movimentos de levantamentos de peso olímpicos e balísticos
também (supino, agarrar e pressionar) o que sugere esses praticantes fortes
candidatos a desenvolverem uma Síndrome do impacto do ombro.

Sabe-se que uma das causas da síndrome do impacto do ombro são os


movimentos repetitivos ou cargas exacerbadas durante o exercício físico. Por isso,
a fisioterapia é importante na reabilitação de atletas com síndrome do impacto do
ombro e qualquer outra lesão em praticantes de crossfit.

Araújo et.al(2014) aponta a terapia manual e exercícios de cinesioterapia como


condutas de reabilitação contribuindo para melhora de sintomas no paciente, como
mostra seu estudo as técnicas de terapia manual associadas a exercícios são
bastantes eficazes no tratamento da dor na síndrome do impacto do ombro. Os
autores também afirmam sobre a técnicas de massagem, qiuiropraxia, manipulação
(Maitland) e mobilização apresentarem resultados inferiores quando comparado com
a cinesioterapia como exercícios de alongamentos, propriocepção, fortalecimento
das musculaturas e também o uso da eletroterapia.

Ainda sobre técnicas da terapia manual Garcia e Barriuso (2021), afirmam


baseado em seu estudo que a mobilização de tecidos moles assistida por
instrumento sugere melhorar os movimentos de e adução interna do ombro ficando
nítido que a técnica por si só é mais eficaz comparado com combinação com
alongamento pós isométrico com adução de ombro.

Segundo Diaz (2020) embora o índice de lesões em tornozelo seja menor em


atletas de crossfit a terapia manual apresenta resultados eficazes na instabilidade da
articulação do tornozelo com a automobilização melhorando também o controle
postural e dinâmico.
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Dessa forma sugere-se que a automobilização do tornozelo pode ser aplicado até
mesmo no estágio de prevenção melhorando a mobilidade do tornozelo em
praticantes de crossfit e evitando uma futura lesão ostemioarticular.

Como foi descrito, a coluna também é acometida por lesões ocasionadas no


crossfit. É notório que esse quadro gera desconforto e dor sugerindo que esse
paciente possa evoluir para uma lombalgia. A terapia manual ajuda a reestabelecer
a funcionalidade e na diminuição do quadro álgico por conta da eficácia desse
tratamento (PEREIRA; JUNIOR,2019).

Balthazard et.al (2012) complementam que a mobilização da coluna através da


terapia manual pode acelerar no que se trata de capacidade funcional do indivíduo.
Sendo assim fica evidente que no caso dos praticantes de crossfit esse efeito da
terapia manual faria com que os mesmos voltassem mais rápido aos treinos.

Moehlecke e Junior(2017) mostraram resultados significativos na sessão de


quiropaxia avaliando a ADM da coluna lombar nos movimentos de flexão e extensão
antes e após a sessão de quiropraxia em praticantes de crossfit evidenciando a
melhora na amplitude de movimento e consequentemente o alívio da dor.

Na maioria dos artigos encontrados só relatavam as eficácias das técnicas da


terapia manual. Por isso esse estudo focou em mostrar as técnicas que podem ser
utilizadas na terapia manual e sua eficácia adaptando a praticantes de crossfitt com
lesões musculoesqueléticas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as pesquisas realizadas, evidenciou-se que a terapia manual é


amplamente eficaz nas lesões musculoesqueléticas de praticantes de crossfit e com
isso ajuda a melhorar o quadro álgico desses pacientes como foi mostrado,
previnem lesões e aceleram o tempo de retorno aos treinos. Técnicas mau
executadas nos exercícios de ginásticas é um dos principais fatores para uma lesão
musculoesquelética em praticante de crossfit
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Os estudos sugerem que técnica de mobilização da coluna ajuda esses atletas na


capacidade funcional daquela articulação, uma vez que, esses movimentos
funcionais são importantes no dia a dia e nos exercícios aplicados no crossfit. O
Ombro é uma das articulações mais acometidas, sendo assim a técnica de
mobilização de tecidos moles com instrumentos resulta na melhora da adução
interna do ombro.Com isso a terapia manual se faz necessária no tratamento desses
atletas.

5. REFERÊNCIAS

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terapia manual comparada a outros métodos para dor em pacientes com
síndrome do impacto do ombro. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa • Vol.
11 • Nº. 22 • Ano 2014 • p. 96

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condicionamento extremo. Sports health. vol. 9 • no. 1 -2017

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específicos na melhora da incapacidade funcional em pacientes com dor
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162http://www.biomedcentral.com/1471-2474/13/162
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5. DIAZ, David Cruz ET.AL.Auto-Mobilização da Articulação do Tornozelo e


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6. DOMINSKI et. Al. Perfil de lesão em praticantes de crossfit. Rev. Fisioter


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7. GARCIA, Marcos Jusdado; BARRIUSO, Rubem Cuesta.Soft Tissue


Mobilization and Stretching for Shoulder in CrossFitters: A Randomized
Pilot Study. Int. J. Environ. Res. Public Health 2021, 18, 575

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Recursos Terapêuticos Manuais. 1 ed. João Pessoa: Ed. Da UFPB, 2016.

10. LARSEN, R.T et. al. Lesões em participantes iniciantes durante um


programa inicial de crossFit de oito semanas - uma perspectiva-estudo de
corte. Esportes 2020,8:21; http://dx.doi.org/10.3390/sports8020021

11. LOPES et.al. Lesões osteomusculares entre praticantes de crossfit.


Motricidade © Edições Desafio Singular 2018, vol. 14, n. 1, pp. 266-270

12. MARTINS, L.M; SANTOS,K.R.A; SPERANDIO,R.D. Perfil epidemiológico


de lesões musculoesquelética ocasionadas pela pratica do crossfit.
Revista Multidisciplinar da Saúde (RMS), v. 3, n.01, ano 2021, p. 27-37

13. MOEHLECKE, Desire; JUNIOR,F. Eficácia do ajuste quiroprático na dor


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14. OLIVEIRA, Juliana de; CARNEIRO, Yasmini Portes;VENÂNCIO, Patricia


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19. XAVIER,A.A;LOPES,A.M.C.Lesões musculoesqueléticas em praticantes


de crossfit. Revista Interdisciplinar Ciências Médicas – MG 2017, 1(1): 11-27
Ponto de Vista

Crossfit® riscos ou benefícios? O que sabemos


até o momento?

Crossfit® risks or benefits? What we know so far?

TIBANA, R A; ALMEIDA, L M; PRESTES, J. Crossfit® riscos ou benefícios? O que Ramires Alsamir Tibana1
Leonardo Mesquita de Almeida1
sabemos até o momento? R. bras. Ci. e Mov 2015;23(1):182-185. Jonato Prestes1
1
Programa de Mestrado e
® Doutorado em Educação Física
O CrossFit é um método de treinamento novo caracterizado pela realização
da Universidade Católica de
de exercícios funcionais, constantemente variados em alta intensidade1. Este tipo de Brasília (UCB)

treinamento utiliza exercícios do levantamento olímpico como agachamentos,


arrancos, arremessos e desenvolvimentos, exercícios aeróbios como remos, corrida e
bicicleta e movimentos ginásticos como paradas de mão, paralelas, argolas e barras1-
3
.
O CrossFit® é um dos programas de condicionamento extremo que mais
cresce em número de adeptos, além de contar com mais de 10000 academias
conveniadas pelo mundo (Crossfit.com). O modelo de treinamento criado em 1995
por Greg Glassman visa desenvolver o condicionamento de forma ampla, inclusiva e
geral, preparando os treinados para qualquer contingência física necessitada2.
O treinamento de CrossFit® visa desenvolver ao máximo as três vias
metabólicas e cada uma das 10 valências físicas: resistência cardiorrespiratória,
força, vigor, potencia, velocidade, coordenação, flexibilidade, agilidade, equilíbrio e
precisão1. Para isso as sessões de treino seguem uma ordem que inicia com um
aquecimento seguido de uma atividade para desenvolver força ou melhorar a
habilidade em algum movimento específico, para somente então começar a parte de
condicionamento metabólico, todos esses componentes juntos constituem o WOD,
sigla em inglês para “workout of the day” que significa “treinamento do dia” (tabela
1). Obrigatoriamente os treinos seguirão os três pilares da prescrição que são realizar
movimentos funcionais, em alta intensidade e constantemente variados2. Esta
atividade, por seu caráter motivacional e desafiador, vem ganhando milhões de
seguidores. A aderência é elevada, contemplando desde indivíduos saudáveis, obesos
e atletas4.
Até o presente momento as pesquisas a eficácia ou malefícios do CrossFit®
são escassas e as que já existem não são conclusivas, ou deixam lacunas
metodológicas para futuras investigações2,3,5-10.

Recebido: 20/03/2015
Contato: Ramires Alsamir Tibana - ramirestibana@gmail.com Aceito: 23/03/2015
183 Crossfit® riscos ou benefícios?

Em relação à incidência de lesões no CrossFit®, cada série até que fosse finalizada em uma repetição nos
10
Grier et al , analisaram a incidência de lesões em exercícios supino horizontal, levantamento terra e
combatentes norte americanos após a implementação do agachamento. Todos os exercícios foram feitos com 75%
®
CrossFit nas rotinas de preparação física antes e após 6 de 1RM e sem intervalo. Eles encontraram um aumento
meses. De forma interessante, os pesquisadores significativo da interleucina-6 (IL-6) imediatamente após
concluíram que em ambos (praticantes e não praticantes) o exercício e após 15 minutos, a mioglobina se manteve
houve uma incidência de lesões de ~12%. As principais alta imediatamente após, 15 e 60 minutos depois e a
razões para tais lesões foram a baixa aptidão creatina kinase (CK) permaneceu aumentada desde o
cardiorrespiratória, sobrepeso/obesidade e ser fumante. repouso até 60 minutos após o programa ser realizado.
Além disso, foi observado que os combatentes praticantes Nesse aspecto, parece plausível que dias consecutivos de
®
ou não de CrossFit que já tinham o hábito de praticar treinamento de alta intensidade podem afetar o sistema
treinamento de força possuíam uma menor incidência de imune e consequentemente deixar os praticantes/atletas
lesões. Não obstante, Hak et al8, determinou a taxa de mais susceptíveis às infecções do trato superior
lesões em atletas de crossfit através de um questionário respiratório. Neste caso, sugere-se uma diminuição na
online. Foram observadas uma taxa de lesão de 3,1 por intensidade ou a inclusão de dias de descanso entre as
1000 horas de treinamento, nenhum caso de rabdomiolise sessões.
foi reportado. Portanto, as taxas de lesões reportadas no Em relação às adaptações crônicas, Smith et al3,
Crossfit foram semelhantes ao levantamento olímpico11, utilizaram as rotinas de treinamento do CrossFit® e
12 13
levantamento básico e ginástica e menor quando verificaram após 10 semanas de treinamento em jovens
14
comparado a esportes de contato como o Rugby . adultos, redução de até 20% no percentual de gordura (de
Já foi demonstrado que treinamentos de alta 22,2 ± 1,3 para 18,0 ± 1,3%), (de 26,6 ± 2,0 para 23,2 ±
intensidade podem levar a apoptose (morte celular) de 2,0%) e melhoras de até 15% no consumo máximo de
linfócitos, acarretando uma diminuição dos linfócitos oxigênio (de 43,10 ± 1,40 para 48,96 ± 1,42 ml.kg-1.min-
1
circulantes e consequentemente uma redução na ), (de 35,98 ± 1,60 para 40,22 ± 1,62 ml.kg-1.min-1) em
imunidade, que poderá ser maior, quanto mais intenso e homens e mulheres, respectivamente. No entanto, até o
frequente for o exercício15. Recentemente, Navalta et al16, presente momento este é o único estudo que avaliou as
investigaram os efeitos de três dias consecutivos de respostas crônicas ao CrossFit®.
treinamento de alta intensidade (HIIT) até a exaustão e Deste modo, apesar dos poucos estudos publicados
demonstraram que o HIIT induziu a apoptose de até o presente momento, parece que, a prática do
linfócitos, o que pode predispor a quadros de CrossFit® não aumenta a incidência de lesões, e pode
imunossupressão. melhorar as adaptações no sistema cardiovascular,
5
Heavens et al , selecionaram indivíduos treinados neuromuscular e na composição corporal. Não obstante,
recreacionalmente no treinamento de força para realizar mais estudos são necessários para elucidar as respostas
®
um protocolo de treinamento do CrossFit que consistia agudas nos sistemas cardiovascular e imunológico.
em iniciar com 10 repetições e diminuir uma repetição a

R. bras. Ci. e Mov 2015;23(1): 182-185.


TIBANA; ALMEIDA; PRESTES 184

Tabela 1. Exemplo de uma rotina de treinamento do Crossfit®


Intensidade Intervalo de recuperação Séries Repetições
1-Mobilidade
Região superior do corpo - 2 min. 5 20”
2-Levantamento Olímpico
Técnica de Arranco Barra ou bastão 2 min. 5 3
Arranco 75% de 1RM 2 min. 5 3
3-Exercícios Básicos
Agachamento posterior 75% de 1RM 2 min. 5 5
4-Ginástica
Muscle Up - 2 min. 5 7
5-Condicionamento Metabólico

Fran (realizar no menor tempo possível) Thruster – 40 kg - - -


21 thruster
21 barras
15 thruster
15 barras
9 thruster
9 barras
1 RM = 1 repetição máxima; Fran = é um dos exercícios de referência do CrossFit®. É o WOD (workout of the day) mais comumente usado para testar o progresso no CrossFit®. Thruster = exercício
combinado de agachamento frontal + desenvolvimento frontal.

R. bras. Ci. e Mov 2015;23(1): 182-185.


185 Crossfit® riscos ou benefícios?

Referências

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R. bras. Ci. e Mov 2015;23(1): 182-185.

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CrossFit®: uma análise baseada em evidências.

Autores

Ramires Alsamir Tibana1, Nuno Manuel Frade de Sousa2, Jonato Prestes3.

Instituições

1. Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física.

2. Laboratório de Fisiologia do Exercício, Faculdade Estácio de Sá de Vitória,

Vitória, Espírito Santo, Brasil.

3. Programa de Graduação em Educação Física, Universidade Católica de

Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil.

Autor Correspondente: Dr. Ramires Alsamir Tibana. Universidade Federal de Mato

Grosso, Faculdade de Educação Física. Avenida Fernando Correa da Costa, 2367 Boa

Esperança 78060900 - Cuiabá, MT - Brasil

Telefone: (65) 36158833E-mail: ramirestibana@gmail.com


Ilmo. Sr. Prof. Dr. Francisco Navarro,

Editor da Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício,

Nós apreciamos o artigo publicado por SOUZA, ARRUDA E GENTIL,

"Crossfit®: riscos para possíveis benefícios?" publicado no volume 11, número 64 do

ano de 2017. Entretanto, escrevemos esta carta para tecer algumas considerações

e, especialmente, para manifestar nossas preocupações com a divulgação parcial

das evidências científicas produzidas sobre a temática em questão.

Os autores do estudo concluem o artigo através da frase “As poucas

evidências científicas sobre o programa possuem sérias limitações metodológicas e

apontam um elevado risco de lesões associado ao CrossFit®.” Quando analisados

os artigos utilizados pelos autores para corroborarem com a citação da frase

percebemos que os mesmos utilizaram apenas um estudo (HAK E

COLABORADORES, 2013) para tentar justificar que a prática de CrossFit® é lesiva.

Entretanto, ao realizarmos uma busca no Pubmed e na base do Scopus

encontramos seis artigos (MORAN E COLABORADORES, 2017; MONTALVO E

COLABORADORES, 2017; AUNE & POWERS, 2016; SUMMITT E

COLABORADORES, 2016; GIORDINO & WEINSENTHAL, 2014; HAK E

COLABORADORES 2013) que analisaram a incidência de lesões no CrossFit®.

Além disso, os autores se confundem com a utilização dos termos prevalência e

incidência.

O termo “prevalência” representa o número de indivíduos em uma população

(grupo) que exibe o resultado de interesse em um determinado período de tempo.

Por outro lado, "incidência" fornece uma medida da taxa em que as pessoas sem

uma condição desenvolvem tal condição (número de novos casos) em um intervalo


de tempo especificado (por exemplo, 1 ano). Para examinar as taxas de incidência,

precisamos do tempo total de exposição para a condição, não apenas o total de

pessoas "lesionadas" como é realizado com as taxas de prevalência. Um problema

do uso da prevalência pode ser fornecendo o número de casos existentes de uma

condição (por exemplo, 50 indivíduos dos 100 sofreram alguma lesão após a prática

de CrossFit [50%]), por outro lado, as taxas de incidência nos dão a medida real (p.

ex. 14 em 1000 horas de treinamento) (FEITO, 2014). Um exemplo prático foi

reportado no estudo de PARKKARI E COLABORADORES (2004) onde compararam

prevalências e incidências de lesões entre diferentes atividades físicas, sendo que

as que apresentaram maior prevalência de lesões foram atividades como

jardinagem, caminhada e reparo doméstico. E por que isso aconteceu? Por serem

atividades praticadas diversas vezes ao longo da análise. Por outro lado, quando

analisada a taxa de incidência essas foram as atividades que apresentaram menor

taxa de incidência (número de ocorrência por horas de prática). Com base nessas

constatações, é importante analisar sempre a taxa de incidência ao invés da

prevalência para efeito comparativo entre modalidades esportivas.

Nesse sentido, em relação à prevalência de lesões no CrossFit®, GRIER E

COLABORADORES (2013), analisaram a prevalência de lesões em combatentes

norte americanos após a implementação do CrossFit® nas rotinas de preparação

física antes e após 6 meses. De forma interessante, os pesquisadores concluíram

que em ambos (praticantes e não praticantes) houve uma prevalência de lesões de

aproximadamente 12%. As principais razões para tais lesões foram a baixa aptidão

cardiorrespiratória, sobrepeso/obesidade e ser fumante. Além disso, foi observado

que os combatentes praticantes ou não de CrossFit® que já tinham o hábito de

praticar treinamento de força possuíam uma menor incidência de lesões. Já em


relação a incidência, HAK E COLABORADORES (2013), determinaram a incidência

de lesões em atletas de CrossFit através de um questionário online. Os autores

observam uma taxa de lesão de 3,1 por 1000 horas de treinamento. Resultados

similares foram reportados por MORAN E COLABORADORES (2017), MONTALVO

E COLABORADORES (2017), AUNE & POWERS (2016), SUMMITT E

COLABORADORES (2016) GIORDINO & WEINSENTHAL E (2014). De forma

interessante, MORAN E COLABORADORES, (2017) acompanharam 117

praticantes de CrossFit durante 12 semanas e analisaram a incidência de lesões por

1000 horas de prática. Os resultados demonstrados pelos autores foram de 2,1

lesões por 1000 horas de prática, que são similares aos demais estudos que estão

citados na figura 1.

Recentemente, KEOGH & WINWOOD (2016) analisaram a epidemiologia de

lesões em diferentes esportes de força. Os resultados encontrados pelos

pesquisadores demonstraram que os fisiculturistas tiveram a menor taxa de lesões

(0,24–1 lesões por 1000 h), e os competidores do Strongman (4,5–6,1 lesões por

1000 h) e do Highland Games (7,5 lesões por 1000 h) tiveram as maiores taxas de

lesões. Em relação ao CrossFit®, a taxa de lesões foi menor que os atletas do

Strongman e do Highland games. Além disso, quando comparado todas as

modalidades de força a taxa de lesões foi de aproximadamente 1–2 lesões por

atletas/ano e 2–4 lesões por 1000 h de treino/competições. Já esportes como o

futebol, rugby e Cricket as taxas de lesão são de 15–81 por 1000 h de

treino/competições. KLIMEK E COLABORADORES (2017) vão mais longe e

afirmam que a taxa de lesões no CrossFit® é comparável ou até menor do que

outras formas comuns de exercício físico ou mesmo treinamento de força.


Outro ponto que os autores do estudo relatam que o CrossFit® pode diminuir a

segurança do exercício é a realização de exercícios complexos até à exaustão com

consequente perda do padrão motor do movimento. É fato que ocorre uma perda do

padrão motor em exercícios realizados até à exaustão, entretanto, protocolos até à

exaustão também são comumente utilizados em treinamento de força tradicional

(HOOPER E COLABORADORES, 2013), ou seja, não podemos identificar esse

ponto como um problema exclusivo do CrossFit® ou de programas de

condicionamento extremo. Além disso, para nosso conhecimento, até o presente

momento não existem pesquisas associando que a fadiga e consequentemente a

alteração no padrão motor dos exercícios eleve o número de lesões no CrossFit.

Por fim, os autores utilizaram apenas o estudo de SMITH E

COLABORADORES (2013) para tentar justificar que as adaptações crônicas não

são evidentes com a prática do CrossFit. Sem dúvida que as evidências científicas

acerca de adaptações crônicas no CrossFit® ainda são escassas, mas essa

situação não pode ser referida como uma evidência de que não existem adaptações.

Não podemos esquecer que esse tipo de programas de condicionamento físico

ainda é recente, o que limita o número de evidências. Apesar disso, MURAWSKA-

CIALOWICZ e colaboradores (2015) demonstraram que 3 meses de treinamento

realizado duas vezes por semana (60 minutos de duração) em 12 homens e 5

mulheres fisicamente ativos e aparentemente saudáveis com a metodologia do

CrossFit® foi capaz de melhorar o consumo máximo de oxigênio (38,7 ± 5,6 para

44,9 ± 6,2 ml.kg-1.min-1), reduzir o percentual de gordura (23,9 ± 3,3 para 22,2 ±

3,0%) em mulheres e aumentar a massa livre de gordura (45,0 ± 4,1 para 45,6 ± 4,1

kg em mulheres e 69,2 ± 3,6 para 70,5 ± 3,6 kg em homens). Além do mais, o

CrossFit®, apesar de marca registrada, utiliza métodos de treinamento altamente


atualizados com as novas metodologias de treinamento para melhoria do

desempenho físico (BUCKLEY e colaboradores, 2015). Apesar de determinadas

metodologias serem mais avançadas, ou seja, devem ser utilizadas apenas com

praticantes avançados, o método também permite utilizar metodologias de

treinamento para indivíduos iniciantes. Sem dúvida que existe uma flexibilização da

utilização de diferentes metodologias, com base na realização de exercícios

funcionais, constantemente variados em alta intensidade.

Concluindo, a análise de relatórios referentes a lesões no CrossFit® deve ser

mais criteriosa, sendo que estudos recentes apontam para uma taxa de lesões igual

ou inferior a outros tipos de atividade física regular. Não obstante, as escassas

evidências das adaptações crônicas no CrossFit® não podem ser entendidas como

um tipo de treinamento que não apresenta melhorias para o indivíduo, uma vez que

é uma modalidade recente e ainda carece de quantidade de estudos representativa

do estado da arte nessa temática.


Figura 1. Análise da incidência de lesões por 1000 horas de treinamento em
diferentes modalidades esportivas.

Referências

AUNE, K. T.; POWERS, J. M. Injuries in an Extreme Conditioning Program. Sports

Health, 2016, no prelo.

BUCKLEY, S.; KNAPP, K.; LACKIE, A.; LEWRY, C.; HORVEY, K.; BENKO, C.;

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Same: Response. The Orthopaedic Journal of Sports Medicine Vol. 2. Num.7.

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HOOPER, D. R.; SZIVAK, T. K.; DISTEFANO, L. J.; COMSTOCK, B. A.; DUNN-

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Individuals Who Participate in CrossFit Training. Sports Health, Vol 8. Num. 6. 2016.

p. 541-546.

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CRENÇAS E CONHECIMENTO DE PRATICANTES DE CROSSFIT® SOBRE
OS FATORES DE RISCO PARA LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS.
CROSSFIT PRACTITIONERS' BELIEFS AND KNOWLEDGE ABOUT THE RISK FACTORS OF
MUSCULOSKELETAL INJURIES

IRÁDNA RABELO VASCONCELOS (iradna.dina@gmail.com)


Graduanda em Fisioterapia, Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Fisioterapia, Fortaleza – Ceará, Brasil.

RODRIGO RIBEIRO DE OLIVEIRA (rodrigo@ufc.br)


Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Ceará - UFC, Fortaleza – Ceará,
Brasil.

MÁRCIO ALMEIDA BEZERRA* (malmeidab.ufc@gmail.com)


Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Ceará - UFC, Fortaleza – Ceará,
Brasil.

*Autor correspondente
Universidade Federal do Ceará (UFC), Departamento de Fisioterapia, Rua Major Weyne,
1440, Rodolfo Teófilo, Campus Porangabuçu, CEP 60430-450, Fortaleza, Ceará, Brasil.
E-mail: malmeidab.ufc@gmail.com (M.A. Bezerra)
CRENÇAS E CONHECIMENTO DE PRATICANTES DE CROSSFIT® ACERCA
DOS FATORES DE RISCO DE LESÕES MUSCULOESQUELÉTICA.

RESUMO
Objetivo: Identificar qual o entendimento dos praticantes de CrossFit® acerca dos fatores
de risco de lesão relacionados a prática do esporte. Métodos: Estudo do tipo transversal,
de abordagem qualitativa, no qual utilizou dados coletados por meio de um formulário
com questões de marcar e uma questão aberta “O que pode ser considerado como fator
de risco para lesões em praticantes de Crossfit?”. As respostas foram analisadas em 3
etapas: 1) agrupou as respostas em unidades temáticas; 2) leitura criteriosa dividindo os
conteúdos das respostas em categorias segundo as unidades temáticas identificadas no
passo 1; e 3) interpretação dos dados categorizados. Resultados: 71 atletas de CrossFit®
(42 homens, 29 mulheres) com idades de 21 a 44 anos responderam o estudo. Destes,
35% já haviam sofrido alguma lesão durante a prática do esporte. Dentre os fatores de
risco a lesão citados, Erro de Treinamento obteve o maior número de citações (, sendo os
fatores de risco mais mencionados pelos atletas “técnica errada”, seguido de “sobrecarga”
e “despreparo do coach”. Conclusão: Praticantes de CrossFit® entendem como fatores
de risco para lesões musculoesqueléticas elementos que caracterizam erros de
treinamento e alguns fatores comportamentais como desencadeadores de lesões.
Palavras-chave: Treinamento Funcional de Alta Intensidade, Fator de risco, Lesões
Esportivas
CROSSFIT PRACTITIONERS' BELIEFS AND KNOWLEDGE ABOUT THE RISK
FACTORS OF MUSCULOSKELETAL INJURIES

ABSTRACT
Objective: To identify the understanding of CrossFit® practitioners about injury risk
factors related to the practice of the sport. Methods: A cross-sectional qualitative study
using data collected through a form with multiple choice questions and an open question
"What can be considered as a risk factor for injuries in Crossfit practitioners?". The
answers were analyzed in 3 steps: 1) grouped the answers in thematic units; 2) careful
analysis by dividing the contents of the answers into categories according to the thematic
units identified in step 1; and 3) interpretation of categorized data. Results: 71 CrossFit®
athletes (42 mens, 29 women) aged 21-44 years answered the study. 35% had already
suffered some injury during the practice of the sport. Among the risk factors for injury,
Training Error obtained the highest number of citations, the risk factors most mentioned
by athletes "poor technique", followed by "overload" and "unprepared coach".
Conclusion: CrossFit® athletes understand as risk factors for musculoskeletal injuries,
elements that characterized training errors and behavioral factors as injury triggers.
Keywords: High-intensity Functional Training, Risk Factors, Sport Injuries
HIGHLIGHTS
 Entre os praticantes, 35% já sofreram lesão musculoesquelética sendo os
membros superiores o segmento mais acometido por lesão.
 A categoria Erro de Treinamento obteve o maior número de citações, sendo os
fatores de risco mais mencionados pelos atletas “técnica errada”.
 A categoria Fatores comportamentais também apresentou segmentos, sendo “não
seguir orientação do coach” e “não respeitar seus limites” os mais citados pelos
participantes.
INTRODUÇÃO

O CrossFit® é uma modalidade de condicionamento e treinamento físico que se


baseia em um conjunto de modalidades esportivas, que incluem corrida, levantamento de
peso e ginástica olímpica. Este método visa otimizar a competência física em dez
domínios de aptidão: resistência cardiovascular/respiratória, resistência, força,
flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão 1,2,3.
O método fundado em 2000 nos Estados Unidos, por Greg Glassman, atualmente
conta com mais de 10.000 filiados em todo o mundo, sendo aproximadamente 440
academias e ginásios CrossFit® certificados e registrados no Brasil, totalizando
1,4
aproximadamente 40.000 praticantes . No entanto, existem academias que não são
registradas, e adotam a nomeação de “Cross Training”, com o treinamento semelhante
ao do CrossFit®, diferindo o fato de algumas vezes não seguir uma padronização.
Os praticantes de CrossFit® são divididos em categorias nomeadas Scale,
Intermediate e Rx. A princípio, o que difere uma categoria da outra é a capacidade de
executar movimentos mais complexos, sendo os praticantes Rx (mais avançados) e os
praticantes Scale (iniciantes).
O treino no Crossfit@ é semelhante para todos os praticantes, sendo caracterizado
por possuir uma padronização no treino. Inicialmente é realizado exercícios para ganho
de mobilidade e flexibilidade; após isso, é realizado o aquecimento das estruturas seguido
do aprimoramento do movimento que será trabalhado no dia; e por fim, é executado o
WOD (Workout of day), ou treino do dia.
O WOD é o conjunto de movimentos que o treinador, ou coach, usa para descrever
o treino. Durante o treinamento, os exercícios de alta intensidade são executados
rapidamente, repetidamente e com pouco ou nenhum tempo de recuperação entre as
5,6
séries, tendo como foco os movimentos funcionais constantemente variáveis . Essa
situação de sobrecarga pode levar à fadiga precoce, estresse oxidativo adicional, menor
resistência a esforços repetitivos e execução de movimentos inseguros. Além disso, este
cenário de treinamento associado à progressão inadequada da carga de treinamento
aumenta o risco de lesões por overtraining ².
Aqueles que treinam CrossFit® rigorosamente, principalmente os que o realizam
sem uma adequada preparação, poderão sofrer lesões consequentes, acompanhadas de
dor, desconforto e até mesmo a incapacidade de continuar treinando, podendo ser
consideradas como lesões musculoesqueléticas quaisquer alterações que promovam a
remoção total do praticante do treino de CrossFit® ou outra atividade física rotineira por
mais de 1 semana; ou que modifiquem as atividades normais de treino na duração,
intensidade ou modo por mais de 2 semanas; ou ainda qualquer queixa física grave o
suficiente para que haja a busca de um profissional da saúde por esses atletas 5.
Mehrab e colaboradores (2017) mostraram em seu recente estudo acerca da
incidência de lesões em atletas de CrossFit®, que de todos os participantes da pesquisa,
cerca de 56% haviam se lesionado nos últimos 12 meses, sendo a região mais acometida
o ombro (28,7%), seguido da lombar (15,8%) e joelho (8,3%), sendo a maior parte dos
atletas lesionados do sexo masculino 5.
A obtenção de dados a respeito dos fatores de risco que os atletas são expostos é de
grande importância, uma vez que pode gerar auxílios para prevenção de lesões. Em um
estudo de Saragiott e colabores (2014) sobre o entendimento de corredores acerca do
assunto, trouxe que a maioria dos atletas entrevistados acreditava que o treinamento era
a principal causa de lesões em corredores. Os termos mais associados à lesões foram “não
alongamento”, “treinamento excessivo”, “não aquecimento” e “falta de força” 7.
Pesquisas acerca do entendimento dos atletas de CrossFit® sobre lesões
musculoesqueléticas ainda são escassas. Diante disso, o objetivo deste trabalho é
identificar qual o entendimento dos praticantes de CrossFit® acerca dos fatores de risco
para lesões relacionados ao esporte.

MATERIAIS E MÉTODOS

Participantes
Foi realizado um estudo transversal sobre o entendimento de quais possíveis
fatores podem apresentar risco de lesão em atletas de CrossFit®. Os participantes da
pesquisa foram recrutados em diferentes boxes de Fortaleza, Ceará, Brasil. O critério de
elegibilidade para este estudo foi: idade entre 18 e 60 anos. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil
(Parecer de aprovação: 2.055.615). Todos os participantes leram e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido, e tiveram seus direitos protegidos.

Coleta de Dados
Os dados foram coletados através de um questionário impresso aplicado aos
participantes da pesquisa, em várias academias de CrossFit® em Fortaleza, contendo
perguntas aberta acerca do entendimento dos atletas sobre fatores de risco para lesão no
seu esporte (“Para você, o que pode ser considerado como fator de risco para lesões em
praticantes de Crossfit®?”). O entrevistador foi treinado para adotar uma posição neutra
durante a aplicação do instrumento, para que os participantes pudessem escrever
livremente apenas o que era de seu conhecimento. Além de responder as duas questões
abertas, os participantes preencheram um formulário sobre dados pessoais lesões
anteriores à prática esportivas e lesões atuais.

Análise de Dados
Foi realizada uma análise descritiva do perfil dos participantes. A análise das
respostas ao questionamento sobre os fatores de risco foi dividida nas seguintes etapas:
1) as respostas foram analisadas e organizadas em unidades temáticas; 2) em seguida foi
realizada a leitura cuidadosa e criteriosa dividindo os conteúdos das respostas em
categorias segundo as unidades temáticas identificadas no passo 1; e 3) interpretação dos
dados categorizados. Os autores aprovaram as unidades e categorias identificadas durante
a análise dos conteúdos das respostas.

RESULTADOS
Um total de 71 atletas de CrossFit® (42 homens, 29 mulheres) com idades de 21
a 44 anos foram entrevistados, respondendo o questionário. Neste estudo, houve o
predomínio de participantes do sexo masculino (59,2%), com a maioria da amostra
participando ativamente de competições (81,7%) na categoria Scaled (45,1%). Além
disso, a prevalência das lesões em todos os questionários foi em membros superiores
(18,3%), seguido de membros inferiores (8,5%), como mostra a tabela 1.
Com base na análise dos dados, os fatores de risco foram divididos em 5
categorias: erro de treinamento, mobilidade, overtraining, fatores comportamentais e
outros (fatores que não puderam ser agrupados).
A categoria Erro de Treinamento obteve o maior número de citações, sendo os
fatores de risco mais mencionados pelos atletas “técnica errada”, seguido de “sobrecarga”
e “despreparo do coach”. A categoria Fatores comportamentais também apresentou
segmentos, sendo “não seguir orientação do coach” e “não respeitar seus limites” os mais
citados pelos participantes. Dentro de ‘outros’, podemos apontar “dor”, “hipertensão”,
“má alimentação”, “sobrepeso” e “desconhecer o próprio corpo” (Tabela 2).

DISCUSSÃO

O CrossFit® trata-se de uma modalidade esportiva que vem ganhando bastante


adesão nos últimos anos, com mais de 11.000 boxes filiados e espalhados pelo mundo 8.
Por se tratar de uma modalidade recente no Brasil e pouco disseminada, este é um dos
poucos estudos existentes a analisar as crenças dos atletas de CrossFit® em relação aos
fatores de risco para lesão no seu esporte. A amostra consistiu de 71 praticantes de
CrossFit® que tinham, em média, 29 anos de idade, que praticassem a modalidade por
pelo menos 6 meses.
Por se tratar de uma modalidade esportiva que envolve uma combinação de
complexos movimentos e realizados em alta intensidade, comumente encontramos
associações dessa prática esportiva à lesões 1,8. Em nosso estudo, 35,2% dos participantes
já apresentavam alguma lesão no corpo, corroborando com outras pesquisas que
mostraram que a taxa de lesões nesta modalidade esportiva era similar ou inferior às taxas
de lesões em outras modalidades (levantamento olímpico, corrida de longa distância,
condicionamento militar, pista e campo, rúgbi ou ginástica) 9.
Todos os fatores de riscos para lesão musculoesquelética citados pelo
participantes desta pesquisa foram considerados e, quando necessário, alguns destes
fatores foram agrupados em categorias. No segmento “mobilidade” estavam as citações
“falta de alongamento” e “falta de mobilidade”. Já em “overtraining” continham as
citações “sobrecarga de estruturas”, “overtraining” e “falta de descanso”.
De todos os fatores mencionados, o mais frequente foi “técnica errada” advindo
da categoria ‘Erro de treinamento’, como mostra a citação de um participante a seguir:
“Uma lesão pode aparecer quando há execução de movimentos de forma indevida...”. Ao
total, foram 28 respostas (39,4%,) que incluíam esse fator de risco e de fato as respostas
são convenientes, já que a necessidade de realizar movimentos e gestos esportivos de
maneira correta, deve ser enfatizada, pois se trata de uma rotina de exercícios complexos
e muitas vezes o participante experimenta a fadiga muscular, aumentando o risco de sofrer
lesões 1. Dessa forma, um recente estudo encontrou dados semelhantes, em que 33,3 %
dos participantes lesionados atribuíram a causa da lesão à técnica inadequada do
movimento 4.
O segundo fator de risco mais citado foi “sobrecarga”. Neste, 23 participantes
(32,4%) acreditavam que o excesso de carga para a execução dos movimentos pode ser
um fator desencadeante de lesões, como mostra a declaração de um dos participantes:
“...Execução de movimentos ... com carga acima da capacidade da pessoa”. É importante
considerar esse fator, visto que nos exercícios de levantamento de peso, é comum entre
os participantes estabelecerem o recorde pessoal, conhecido entre eles por PR (personal
record), sendo estimulados a executar os movimentos com a maior carga possível,
aumentando o risco de lesão 10. Além disso, em pesquisa anterior 4, 12,1% de praticantes
apresentaram a sobrecarga como fator de risco.
O despreparo do coach também foi mencionado (17 citações – 23,9%), como
mostra o relato a seguir: “...O não acompanhamento por um profissional atencioso
também pode ser um fator...”. Esse fator pode estar associado à carência de experiência e
qualificação adequados para ministrar os treinamentos. Neste sentido, estudos recentes
mostraram que as lesões CrossFit® ocorrem, geralmente, devido à má prescrição dos
exercícios, à realização sem a atenção desses profissionais4 ou à diminuição do
envolvimento do treinador com o aluno 11.
Outro fator bastante relevante para incidência de lesões musculoesquelética é a
fadiga muscular, não sendo mencionado por nenhum participante dessa pesquisa mas
outros fatores causais de fadiga muscular foram lembrados, como é o caso de
“sobrecarga”, com 23 citações, “excesso de volume” e “intensidade do treino”, ambos
mencionados 2 vezes e o próprio overtraining 12,13.
A fadiga muscular pode ser considerada um fator de risco pois o alto número de
repetições realizadas durante o treino de CrossFit® pode contribuir com a perda da
técnica adequada para a execução do exercício e resultar dano físico, sendo de grande
relevância que os indivíduos passem por uma fase de adaptação anatômica para evitar o
risco de lesões 13.
Em um recente estudo que analisou a prevalência de lesões musculoesqueléticas
e as principais estruturas do sistema musculoesquelético acometidas na modalidade
CrossFit®, o grupo que apresentou lesões treinava mais de 3 vezes semanalmente com o
treino diário durando acima de 1 hora, mostrando que é importante que haja um período
de descanso para que haja recuperação completa de músculos, tendões e articulações, pois
talvez o excesso de esforço e repetições além do limite do corpo seja um desencadeador
de lesões 10,12.
A fadiga muscular também preocupa pois ela pode se tornar um agravante. A
rabdomiólise, cuja é uma doença que se caracteriza por um comprometimento do tecido
muscular esquelético, muitas vezes induzida por intensidades altas de treinamento, pode
ser desencadeada em atletas de CrossFit, embora isso seja raro 14,15,16.
No agrupamento Fatores Comportamentais, o conteúdo mais frequente foi “Não
Seguir Orientações do Coach” com 13 citações (18,3%). As crenças dos participantes
relacionadas aos fatores comportamentais ainda não são suportadas pela literatura, o que
dificulta nossa análise.
A literatura já mostra que uma das principais razões para surgimento de lesões em
combatentes norte-americanos após a implementação de CrossFit® nas suas rotinas de
treinamento, foi o sobrepeso 17. No entanto, no presente estudo este fator de risco foi
mencionado uma única vez (1,4%).
Apesar da crescente popularidade dessa nova modalidade esportiva, existem
poucos estudos a respeito de fatores de risco para lesões musculoesquelética no
CrossFit®. No presente estudo, foi possível observar que os próprios praticantes do
esporte não conseguem identificar de forma precisa o que ameaçaria a integridade desse
sistema. Dentre os fatores de risco associados às lesões, sugere-se disseminação a respeito
da temática com os próprios praticantes, além de pesquisas para que se possa buscar e
adotar medidas preventivas em Fisioterapia e outras áreas da saúde, minimizando os
danos funcionais para esses praticantes.

CONCLUSÃO
No presente estudo, identificamos que os praticantes de CrossFit® entendem
como fatores de risco para lesões musculoesqueléticas no esporte, elementos que
caracterizem erros de treinamento, como a técnica inadequada, seguida de sobrecarga das
estruturas e a falta de preparo do instrutor. Além disso, os participantes consideraram
alguns fatores comportamentais como desencadeador de lesões, como é o caso de não
seguir a orientação do coach e não respeitar os limites de seu corpo.
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2013 Oct-Dec:36-47.
Tabela 1. Caracterização dos praticantes de Crossfit®

MMSS – membros superiores; MMII – membros inferiores; scaled – experiente; Rx- Iniciante
Tabela 2. Fatores de risco mencionados pelos praticantes de Crossfit®

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