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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O presente artigo visa contextualizar conceitos da atividade de inteligência, com o intuito
de evidenciar alguns entendimentos consolidados pela inteligência clássica e auxiliar na
compreensão da importância da atividade e do sistema de inteligência como instrumento
de proteção do cidadão, qual o seu papel constitucional e, especialmente, qual a sua
finalidade, como ferramenta estratégica de governança. O escrito tem por base
concepções e argumentos da inteligência clássica, os ramos da inteligência e da
contrainteligência, os respetivos ciclos de produção do conhecimento de inteligência, o
processo em si e seus momentos.
ABSTRACT
This article aims to contextualize concepts of intelligence activity, in order to highlight
some understandings consolidated by classical intelligence and help in understanding the
importance of the activity and the intelligence system as an instrument for the protection
of the citizen, what is its constitutional role and, especially, what is its purpose, as a
strategic governance tool. The writing is based on concepts and arguments of classical
intelligence, the branches of intelligence and counterintelligence, the respective cycles of
production of intelligence knowledge, the process itself and its moments.
1 INTRODUÇÃO
Para se fazer uma abordagem sobre esse assunto, em solo brasileiro, é necessário
reconhecer que a atividade de inteligência evoluiu efetivamente a partir da Constituição
de 1988, visto a latente necessidade de mudanças nas estruturas dos órgãos de inteligência
do país. De verdade, foi realizado um ajustamento normativo da atividade de inteligência
aos novos tempos. No entanto, esse processo só foi iniciado em 1999 através da Lei nº
1
Disciplina o exercício permanente e sistemático da produção, difusão e salvaguarda de conhecimentos
sensíveis destinados à proteção da sociedade e do Estado, com vistas ao assessoramento de autoridades.
Prevê a cooperação técnica, estrutura, garantias, forma de atuação e controle dos órgãos de inteligência
2.1 INTELIGÊNCIA
Além de acompanhar as “Expressões do Poder” – contexto nacional político,
econômico, psicossociológico, militar e tecnocientífico (PILAR, 2017) e suas
transformações, a inteligência se incumbe de entender a realidade pátria e os organismos
nacionais e internacionais, com fundamento nas relações do homem com a terra e
instituições, perfazendo-se no aparato perfeito de assessoria aos tomadores de decisão nos
mais variados níveis, a partir da produção de conhecimentos significativos.
Sob a concepção de Kent (1965), a inteligência pode ser compreendida a partir de
três perspectivas: produto (conhecimento), organização (órgão) e atividade (processos).
Como Produto: refere-se a produção de conhecimento (relatório/documento) para uso
de um tomador de decisão em diferentes níveis. Como Organização: refere-se à estrutura
funcional dos órgãos que atuam na busca de dados/informações, que possibilitam a
produção e salvaguarda do sistema, agências e informações. Como Atividade: refere-se
à metodologia utilizada para obtenção, análise e difusão de dados/informações, em
especial do material de acesso negado.
Com fundamento em Platt (1974), a palavra inteligência, aplicada a produção do
conhecimento estratégico de governo, refere-se a algo especial, significativo, de
concepção elaborada, ou mesmo à informes sem tratamento, atinentes a fato ou dado
específico que tenha potencial de avaliação e de interpretação. Fundamentalmente,
compreende um produto com relevância para a resolução de determinado problema de
política nacional em curso.
Observa-se então que, sob o enfoque de Kent (1965) e Platt (1974), o sistema de
inteligência brasileiro tomou forma a partir da Lei nº 9.883/1999, somada ao Decreto
4.376/2002 e a Doutrina Nacional de Inteligência. A partir disso, a atividade de
inteligência foi estruturada para se ocupar da obtenção, análise, produção e difusão,
interna e externa, de conhecimentos relacionados a fatos/eventos com potencial poder de
desdobramento social, político e econômico no âmbito das atribuições do Estado
brasileiro (BRASIL, 1999; BRASIL, 2002; BRASIL, 2016).
De forma genérica, uma inteligência, entendida como bem abstrato, refere-se a
toda informação coletada, buscada, organizada, analisada e produzida com a finalidade
2.3 CONTRAINTELIGÊNCIA
A Contrainteligência, também estabelecida pela Lei nº 9.883/1999 e
regulamentada pelo Decreto nº 4.376/2002, é definida como uma atividade de função
protetora, frente à atividade de inteligência antagônica. Esta especialidade se manifesta
nas ações de prevenção, detecção, obstrução e neutralização da inteligência hostil e/ou
atividades que constituam ameaça à sociedade e/ou aos ativos do Estado, como dados,
informações, conhecimentos, instalações, tecnologias, comunicação, transporte, entre
outros (BRASIL, 1999; BRASIL, 2002).
Efetivamente, as ações de contrainteligência lidam com a proteção do sistema de
inteligência, contra o risco da subtração de conhecimentos e informações estratégicas de
governo. Sugere a ideia da formação de barreiras (defesas ativas) contra ações adversas
(espionagem, sabotagem, propaganda hostil, terrorismo ou desinformação).
Neste sentido, observa-se que a contrainteligência se ocupa da proteção global do
Estado, a partir da detecção de potenciais ou reais hostilidades, pelo próprio sistema de
inteligência, objetivando a proteção de recursos humanos, instalações, documentos e
operações, com a finalidade primordial de defesa do cidadão e dos interesses da nação
contra a ação criminosa nacional ou estrangeira (JOHNSON, 2010).
Via de regra, as ações de contrainteligência são desenvolvidas por meio da ação
de três setores distintos de Segurança, a saber: a Segurança Orgânica – SEGOR; a
Segurança de Assuntos Internos – SAI; e a Segurança Ativa – SEGAT, conforme explica
a tabela abaixo:
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face a complexidade notória dos negócios de governo, seus planejamentos e
realizações, nota-se que a atividade de inteligência, hoje, é uma necessidade para o
exercício pleno da governança, visto a sua capacidade de prospectar cenários sociais, com
reflexos políticos, que facilitam o processo de tomada de decisão das autoridades
constituídas.
Pensando a atividade de inteligência como instrumento de gestão e de importância
estratégica para o Estado, é primordial que se tenha um entendimento suficientemente
abrangente dos conceitos estabelecidos pela Inteligência Clássica, seus ramos e
funcionalidades, para a correta aplicação das teorias de inteligência na área da segurança
pública, visando o alcance dos objetivos estratégicos traçados pela PMPR, para a
promoção da melhoria dos “programas e processos” de combate aos fenômenos da
REFERÊNCIAS
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