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IV 1017 SEXTA FEIRA 31 DE DEZEMBRO

A liRIOTà
Publlci-se ás terças e sextas (embora seja dia santo), na — Typogrsphln de Paul» Brito — praça da Constituição ri. G&, onde se asslgna a 531086 rs ¦
por seis mezes para a cortCj eejpOOli rs. para fora, pagos adiantados. r?s. avnlsos, 160 rs.

Corpo Legislativo, como se descreve o esta- Benevolência.


do das nossas cousas em geral, dos nossos
homens mais influentes em tudo, com espe- Cf A benevolência agrada a todos, mesmo
cialidade os Snrs. conselheiros Visconde de aos Reis; porque, como nós, elles têm
Aos nossos assignantes. Gequitinhonha, Sousa Franco e Paranhos, necessidade âs sarem felizes.
Pedimos ans nossos subscriptores se e finalmente apresenta-se aos olhos do mun- Mme. de Menienont.
dp artistico-europeu o nosso theatro lyrico,
dignem mandar reformar suas assigna- visto por dentro e por fora, e tudo de um
turus, que são pagas adiantadas, como modo que não deixa de ser um trabalho na Felicidade.
de coslume. verdade curioso.
Em outros números trataremos disto com K3* A felicidade depende mais das affeições,
menos pressa, e apresentaremos talvez mes- do que dos acontecimentos
Revista das Raças Latinas. mo algumas traducções, se Deos não man-
Mme. Roland.
dar o contrario.
_ Desta publicação, que de ha muito se fá- P. Brito.
zia em Paris, e que apresentou-se agora sob K?" As immeusas difinições que se têm da-
nova fôrma e cremos mesmo que sob novos do da felicidade, provam que nós não a
auspicios, recebemos o folheto n. 29, de 10
de Novembro de 1858, que é um volume de
0 ESPIRITO DAS MULHERES conhecemos.
Mme. de Puizieux.
320 paginas, em bom papel e typo. Entre
as paginas 112 e 113 está collocado o bem (Continuação.)
parecido retrato deS. Ex. o Snr. Visconde Bellos Espíritos. Ü3r A melhor receita para sermos felizes, é
de Giquitinhonha, como um dos homens —aceitarmos o tempo como elle é, os
mais notáveis, descendente da raça latina, e JO* Os bellos espíritos são como as rosas; homens como elles são, e estarmos sempre ¦
cuja interessante biographia se lê desde a de uma só a gente gosta, de um grande bem com a nossa consciência.
pagina 114 até 137, com a assignatura do numero enfastia-se.
do Snr. S. Gomes Rio. Sophie Arnould. MmeJJJudsffant.
A—Revista das Baças Latinas—não se
oecupa só disto, em referencia ao Brasil;
sob o titulo — Courrier d'Amérique — Rio Bem. Calculo.
de Janeiro—ha um longo e minucioso tra- so* Quem faz bem a seus inimigos asseme- £5* O calculo, no curso da vida, é cousa a
balho, feito nesta corte, no qual não só se dá lha-se ao incenso, que perfuma o próprio a mais enfadonha, e quasi sempre a mais
conta dos mais notáveis acontecimentos po- fogo que o consome. necessária.
liticos. que tiveram lugar sobre tudo no Mme. Dudejfant. Mlle. de Lfetang.
amurada que o salvou; qual forasteira avesi- mais casta, mais celeste e mais meiga que
nha, vindo de longes terras, ama vèr seu a meiga luz que em plúmbeo céo expande
ninho, onde a poucos mezes criara, e onde a rainha das trevas
ADELINA em troco dedesvelos da mãi, colhera ado-
rações do filho; qual ama o proscripto o re-
gresso á pátria; qual o poeta ama seu ideal;
Adelina! doce imagem da divindade! Meu
pensamento de cada hora! Não te impacien-
tes — Ouve — Escuta — Tu o deves, por-
tal qual o amor dos anjos por Deos, e o que meu amor é immenso e profundo como
Delfim Augusto Maciel so Amaral. amor de Deos pelos anjos, eu te amo, o Oceano, nobre como a virtude, e puro e
( Romance Brasileiro.) Adelina!... — Mas porque te amarei eu ?.. sublime como um pensamento de Deos...
— Escuta: Encanta-me o teu porte nobre e mages-
Amo-te pela alma de anjo que espelhas, toso, a gentileza de teus gestos, tua mei-
Principiou no n. IO IO. Continuação do
pela cândida e terna expressão de teus olhos: guice e ternura, o timbre apaixonado e ma-
numero antecedente). amo-te pelo ouro de teus cabollos: olha, o vioso de tua voz. Acho enlevo em teu no-
Alfredo, proferidas estas palavras, depoz sol quando puro o intenso dardeja e pentea me, tenho adoração por luas virtudes,
nas alvas mãos de Adelina um pequeno suas trancas auri-fulgenles em céo de anil, ludo o que tu és me seduz.
' manuscripto, e alongou-se mutuando um embora mesmo as reflicta no crystal de Apraz te saber agora como te adoro?—Es-
sorriso de amor c de saudade. A casta dou- argentea fontinha, não é tão bello, nem tão cuta:
zclla dirigio-se em seguida para o seu gabi- douro como o aro de teus cabellos. Amo-te Adoro-te com a embriaguez sublime do
nele, deu volta á chave, c ahi só, no siien- ainda pela meiguice de teu sorriso, pelo poeta, com a pureza dos anjos, com o pudor
cio, com o coração cheio d'enioções, leu o niveo mimoso de tuas faces, peb rosado da rosa abroehada, com a candura do hino-
seguinte pudibundo que de levo as colore. Os prados, cente, com a innoceneia do infante, como a
os vergois e os jardins não possuem rosa, abelha ama a flor, como ama o valle á bo-

1 O PRISMA DO MEU AMOR.

Adelinal Delicias da minha vida, doce


não tôm bouina quo teu rosado imite.
Amo-te pela tua bocea pequenina, pelo
nácar de teus lábios. Vês o caruiim mais vivo,
nina, como o ambicioso ama os cargos e ò
avarento o thesouro, como o doente almeja
a vida e como justo ama a virtude Eis
encanto de minh'ulma! — Eu te amo. o mais puro rubi, pois não é tão puro, nem a descorada copia do quanto te amo , Adeli-
— Escuta: tão vivo como o nácar de teus lábios; amo-te nu; e maior amor te oüertára se fora huma-
Qual o náufrago ama o fragmento da também pela terna expressão do teus olhos, no maior amor sentir.

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AMAMIOÍA
cançavel zelo do decano dos editores de mu- Se se acerescentar a esta sumptuosa no-
Calcular. sica, o Snr. Pacini, pai. menclatura os soirées musicaes de Rossini,
55* Calcula-se sempre mal, quando se con- A—Troca de matrimônio (1810) represen- que foram publicados em Paris em 1827,
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ta com o temor o a esperança. .: tada em Veneza, e o Stab-Mater, composto igualmente cm
O—Equivoco extravagante (1811) Polonha. 1827, para nm grande personagem de Pa-
Miiie.de Maiutenont. ¦ Q^Engáno feliz (1812) Veneza. ris, mas publicado tão somente em 1842,
Cyro eniBabyloniaXlSil.) Ferrara. ter-se-ha sob os olhos o repertório completo
A— EscaUade Seta{Í812) Veneza. do maior e do mais fecundo dos musico-dra-
Calnmnla. Demetrio e Polibio (1812) Roma. maticos, tornando-se subitamente mudo—

A pedra de comparação (1812) Milão. por ama inabalável vontade em toda a
ET A calumnia é como o aseite cabido no Aoccasião fas o ladrão (1812) Veneza. força de sua idade e do seu gênero.
patino; quanto mais sé esfrega, para que O Bruschino ou ó filho por acaso (1813)
J. L. Heugél.
elle saia, mais a mancha se oxtende. Veneza. •
Tatwredo (1813) Veneza. —A publicação do artigo acima, tirado
Mlle. Lespinasse. A Italiana em Argel (1813) Veneza. do Mcnestrel, obriga-nos a dar em seguida
Aureliano em Palmyra (1814) Milão. o que a respeito do mesmo —Rossini— le-
O Turco em Itália (1814) Milão. mos em uma das interessantes brochuras,
tt3* O melhor meio para se triumphar âa Segismundo {1815) Veneza.
calumnia, é desdcnhal-a. Elisabeth, rainha d'Inglaterra (1815) Na- que de Paris quasi sempre recebemos.
- Mme. de Maiutenont. poles. « Haverá 30 annos, pouco mais ou me-
Trovaldo e Drolisca (1816) Roma. nos, que appareceu no nosso primeiro thea-
O barbeiro de Sevilha (1816) Roma. tro lyrico a obra mais perfeita, a mais bri-
Depois do Barbeiro, qne foi sua décima- lhante ea mais sublime do gênio musical
Candura. sétima composição, o Cysne de Pézaro não moderno. Esta obra-prima, inimitável, é—
escreveu, no espaço de 13 annos, menos de Guilherme Tell! — e, todavia. Guilherme
Oâ" A candura é tão' delicada como uma 20 outras partições, das quaes—Guilherme Tell, apezar de suas incomparaveis bellezas,
flor que desabrocha: um nada a offende. Tell—foi o sublime e ultimo canto. Estas foi desconhecido em sua origem e obteve
' 20 composições nos levam até o anno de em scena um medíocre suecesso. O tempo
Valêrie Deldiq.
1829. collocou-o depois no seu antigo _ lugar, é
Eis-nqui a ordem e o estado civil, segun- verdade, mas era já tarde e muito tarde/
Clrciimstaiicift. do o—Livro de Ouro—de Mr. Pacini. Attribua-se esse infeliz resultado á pobreza
A Gazeta (1816) representada em Nápoles. do libreto, á insufilciencia da interpretação
ao* A circumstancia mais imprevista pôde Othello (1816) Roma. ou antes á imperfeição do gosto musical da
fazer nascer o amor, assim como pode fa- Apega ladra (1817) Milão. época; a verdade é que o primeiro passo da
zel-o morrer; Armida (1817) Nápoles. melhor das concepções de Rossini foi, pode-
Mme. d'Autichamps. Adelaide Borgonlia (1818) Roma. mos dizel-o, quasi um fiasco!.. ¦
Adina ou a Califfa de Bagdad (1818). j.jvPoucos mezes depois d'este fatal aconte-
(Continua.) Ricardo e Zoraiaa (1818) Nápoles. cimento, o autor dessa immortal creação
Ermone (1819) Nápoles. abdicou o sceptro musical e, no meio do ex-
P. Brito—trad. Eduardo e Chrislina (181P) Veneza. plendor de todas a sua gloria, acclamado
A dama do lago (1819) Nápoles. pelas cem boceas da fama, retirou-se da sce-
Branca e Faliero (1820) Milão. na e, como Carlos V, foi viver isolado no
ROSSINI. Mahometh II (1820) Milão.
Mathilde de Shabran (1821) Roma.
meio do silencio e do esquecimento.
i Deve-se attribuir esta retirada prema-
Na época em que escreveu o — Barbeiro Zelmira (1822) Vienna. tura ao legitimo orgulho de um grande ho-
de Sevilha— Rossini tinha já composto e Semiramide (1823) Veneza. mem, resenlido da injustiça de seus contem-
feito executar dezeseis obras, cujos titulos O assedio de Corintho (1826) Paris. poraneos; á necessidade de dar descanço a
vão abaixo mencionados, com as datas de Moysés (novo) (1827) Paris uma natureza de si mesmo indolente, e já
seus nascimentos, chronologicamento ar- O Conde Ory (1829) Paris. saturada de gloria e de dinheiro, ou ao cal-
ranjadas, trabalho este que se deve ao in- Guilherme Tell (1829) Paris. cnlo de um sábio que, com medo dos revê-

Contarte-hei agora o seu principio.... Olha, Adelina: vezes ha, c muitas são o mysterio incxtricavel do coração humano
Attcutaste na emoção, anhelo e pudor, ellas, em que um negro pensamento, ema- desse vórtice de boas e más paixões, capaz
com que te fajlei a vez primeira que: te vi, nado do inferno, me vem pungir os seios de crimes e virtudes?... Porém, que digo
quando sabias apenas do collegio? Estavas d'alma. Eu sou pobre, um proletário.... o eu? Certamente devaneio a intensidade do
então bella e formosa como sempre; em teu amor de um desgraçado, tão dispudado meu amor; o volcão de affectos que m'cstua
lindo rosto, dcbuchava-se essa expressão an- por punjantes rivaes, o o que é mais por n'alma. me faz delirar. Isto não é mais que
gelica exclusivamente tua, e que arrouba c fatuos preconceitos, poderá alfim cançar-te. um sonho terrível, forjado pelo inimigo da
fanatisaquem uma vez teve a ventura de ver- Ob! mas tu, que eu sempre achei boa e felicidade dos homens, por Satan, o anjo
te, quando a furto me lanças-te esses olhos compassiva, não, não farás tal, pois se o decaindo... Nã"... Adelina. em teu coração
castanho-escnros, tão ternos, tão meigos; ohl fizerasseria um crime, uma infâmia!... E de anjo não pôde nem se quer pairar um
foi então, Adelina, que esse doce, mais ca- sabes tu, Adelina, de quanto é capai o mau pensamento, porque és pura, e as
dente philtro que delles mana em torrentes, homem, ao vèr desfolhadas e cabidas as paixões negativas não te pertencem. Ainda
repassando-me o âmago do coração, se em- coradqs e recendentes flores, que lhe ajar- uma vez não; não creio que uma indigni-
posson do minhas faculdades e de todo o meu dinavam a vida, e ao divisar alastrado em dnde possa dimanar de ti, de. ti, que para
ser.Ncmte posso exprimir qual eu fiquei. De roina o edificiodo sua felicidade que, aman- mim symbolisas o sublime da virtude; de
dfa, aprazia-ine a solidão; do noite, um céo te. elle enastrara de amores, que, crente, ti, que para mim resumes tudo o que de
triste como meu coração. Apenas surgia a eiie construirá no pesdetal da fé, dessa fé bom permitlio aos homens o Eterno!...
aurora, embrenhava-me em isolado recinto, robusta que sempre tivera no objecto do E como (impossível) poderias tu, meu
eòmeltendo nos arbustos que me cercavam seu amor?.... Oh! que para tal homem não anjo, traficar um amor santo, nobre e ardi-
osegredp do minhas saudades. Os, pasari- existo vingança que salvar-lhe possa a sêdc do, por esse do mundo egoista, rofalsado o
nhos adejando-me. cm cerca, pareciam em febril; mora-lho o cabos no espirito, ferve- frio? Como, poderias tu, Adelina, cessar
seus jiídos gorgeios,. querer harmonisar a lhe no coração um mar de zelos; o crime de amar-me, se tu és um anjo, o anjos não
. intensidade deuiinba dor, e a dôr de mi- mais negro e atroz não o fará trepidar... sabem mentir, e so o meu amor é puro co-
nlias lagrimas.... . Quem sabe so o que ò tornou Ncro na mo a virtude, nobre como a aíFeição de um
Adelina! Era assim qne eu penava, era synoniinia de monstro não foi esse amor pai, terno e meigo como o amor de mãi,
assim que cn te amava em segredo!... repellino, que ardente elle sentira por essa ardente como os raios aprumados do syrio
Faltá-me revelar-te uma tristura que donzella que Séncca denominava festioissi- da tarde, sublime e grande, como o céo,
por veies me afilige. ma puellarum? Quem poderá jamais sondar como a terra e o mar!... (Cont.)
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-AMAR.M0T.4
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zes, toma o previdente partido de tornar-se morto de Roberto foi resolvida, foi; mas de liberdade: o vulto
Carlos Magno, no apogfio de sua felicidade? Lioncio tão mal se houve abraçando esse mando sempre que o persegue, cha-
por seu nome e dizendo-lhe
Fica livre ao. leitor escolher d'entro estas partido, c dando suas ordens para levar seu que parasse, lança-se ao mar atraz delle.
três hypotheses a que quizer: o que, porém, plano a effeito, que não sabemos como se Apoilinariodirijeseu nado para a ilha das
é verdade, é, que na idade de 37 annos — tirará elle das dilficuldades em que de no- Cobras, e o
Rossini—muito de sua livro vontade, poz vo suas imprudências o collocaram! perseguidor nada também ao
seu alcance. o matador poz o pé
termo á sus carreira artística e retirou-se Vimos ha pouco a farça habilmente re- em terra o Quando
com Apol- perseguidor estava junto delle,
para Bolonha, onde viveu, não appologista presentada pelo padre Roberto e poz-lhe a mão na golla da vestia, dizen-
absolutamente do queijo, mas, o que pouco linario; este espera uma victima: mas quem do-lhe:
ditfere, sacerdote incansável do culto do ma- é essa victima? Roberto já sabe de tudo, e —Apollinario, eu não
carrão. então não se hado ir entregar á faca mata- der. quero te pren-
Foi abi que, esquecido da gloria, escravo dora do assassino: c, pois, quem será a vic- O rapaz tirando o papel da boca dis-
feliz do doce (ar uienle e do bom viver, tima? Esperemos. so-Ihe:
este Dioclcciano da arte musical, passou Logo que Rohorto chegou á casa de Pau- —Então
Io, abi, por boca de Paulo e de Lioncio, porque me perseguieis?
quasi metade de sua vida a repousar-se _ da —Para
porque razão ma-
outra metade. Aos importunos, que iam soube da carta de Clara c de sua resolu- taste a teu perguntar-te
senhor?
incommodul-o na sua ermida, c lhe fatiavam ção. O padre não pareceu dar a isto o —En?!
do thealro e de musica, como o marquez na apreço que merecia, como se estivesse —Sim, tu. Falia a verdade;
—Critica da Escolla das Mulheres—Rossini preoecupado de alguma idea mais grave, que te não quero já te disse
respondiadhes: —^nacarroni, macarronü.. como se urgisse uma necessidade mais pai- prender.
—Não foi a meu senhor
Aos seus amigos, porém, que lhe pergunta- que eu matei.
pitantel Emfim, Lioncio, vestido de Jesuíta, —Suppoes então
vam se não fazia mais lenção de voltar á Pa- e Roberto sahiram. Ao chegarem á porta berto? que foi ao padre Ro-
ris: —Eu espero, tornava-lhes o Maestro de Lioncio, Roberto, encostando-se a um —Foi sim Snr.
com uma fina e picante allusão á musica de canto, com um pretexto bem justificável, se —Estás enganado.
Halevy e de Meyerbcr, que reinavam então foi deixando ficar atraz; Lioncio foi se en- Quando estavas no
corredor a quem esperavas?
com todo o furor da moda na Grande Opera, caminhando para o corredor de sua casa: —Ao senhor
eu espero que se acabe o Sabbado de Israel. alli põe o pé sobre a soleira e entra: ao mes- padre Roberto.
—Quem te mandou esperar?
Comtiido, o emigrado por seu gosto não mo tempo que entrava, Apollinario salta —Meu senhor.
teve animo de deixar Paris para sempre; o sobre cllc, como um leão sobre sua presa, —Que te disse elle?
filho pródigo voltou emfim ao grêmio da e crava-lhe a faca nas costas. Lioncio lan- Apollinario contou tudo quanto entre
Igreja e Deos sabe com que fervoroso enthu- ça um grito abafado já pela morte e expira. sen senhor e elle tinha oceorrido; depois o
siasmo, c()m que transportes de alegria sua O assassino deita a correr, buscando salvar-
volta foi icolbidal Aos testemunhos que re- se; Roberto, que tem observado tudo, que teve lugar entre elle e o padre, que lhe
fallára na porta. Depois de tudo ter ouvido,
cebeu de iima quasi veneração, ás homena- grita: disse o vulto:
gens de que se vio objecto, Rossini pôde re- —Matou matou... Peguem nesse —Bem,
conhecer que Paris não se havia esquecido assassino... podes te ir embora.
Apollinario continuou sua fuga. O vulto
delle, e aoaspecto de seu busto, erigido no Os gritos se prolongam; alguns vultos retirou-so.
peristillo díAcademia Imperial de Musica, perseguem o assassino, o elle, buscando Contrastes de uma única hora da vida!
teve o deseigano de que o Sabbado de Israel salvar-se, corre sempre! Clara viva, apezar de suas intenções, per-
não tinha nunca abafado o echo sonoro dos Assim, pois, acabou Lioncio victima de
cantos melodiosos do Cysne de Pézaro! guntava por suas ultimas palavras, isto é,
sua ambição e de suas imprudências!
por sua carta, segundo suas determi-
No mominto em que isto escrevemos, O leitor sabe perfeitamente como Rober- nações, seriam que os últimos pensamentos de
Rossini parcee decidido a acabar seus dias to teceu esta intriga, e levou assim o infeliz sua alma revelados ao mundol
Lioncio, vic-
na agradável companhia de seus velhos ami- Lioncio a ser victima do ferro mortífero de tima do
Apollinario, que, sem o saber, tendo mor- do, expirava golpe que a outrem havia prepara-
gos Parisienies, por quanto acaba elle de
comprar, ndlugar denominado—Grille de to a seu senhor, fugia impetuosamente ás liano meditava, pelas intrigas de Roberto! Ju-
e escrevia o que meditava!
Passy—districlo do Sois de Bolonha, um garras da justiça.
terreno incuto, no qual se propõe a edificar Aos gritos de Roberto acudiram algumas (Continua).
uma magnitea casa de campo. pessoas que se lançaram ao assassino, cor-
A cidade |e Paris estava toda disposta a rendo-lhe ao alcance.
mandar conáruir esse prédio, e a fazcr-lhe Eram quasi dez horas, tenebrosa estava a Recordação.
pfferta d^lle (ara que o gozasse durante sua noite c a natureza sombrial Üm pesado tur-
vida, a titult de—concessão honorífica; — bilhão de nuvens, erguendo-se do hori- Melancólicas sombras do passado,
mas Rossini recusou, dizendo:—Eu estaria sonle, havia obscurecido toda a amplidão do Que cm meu peito jazeis adormecidas,
sempre comoem casa alheia—e de mais, não céo, interpondo-se entre o céo e a terra Erguei-vos d'csse somno tão pesado,
sou nem tãopco, nem tão pobre
que aceite uma muralha sombria, fabricada pelas mãos Não vos quero, lembranças, esquecidas.
uma semelhante liberalidade. do genio da tempestade. Era densa, e de
Tão homep de espirito como compositor Meu coração deleita-se na dôr,
tão densa que era não dava que os astros
sublime, Bosine.é naturalmente Que ao recordar-vos sente, ah! tristes scenas,
jovial; gos- philtrasscni sua tremula luz por entre seus sempre, do primeiro e terno amor
ta de ver tudl e atvscr visto também; falia infinitos poros, nem ao travez de suas cen- Qual
com precisão^ de modo tal, E' doce recordar as duras penas.
que interessa tuplicadas dohrasl Longe, bem longe, ou-
atodososqueo ouvem; disposto sempre a via-se o abafado rolar de um trovão, como Se da infância o broquel me defendia
gracejar, é tã fértil em ditos espirituosos e o surdo roçar de pesado carro sobre o pavi- Contra as, da sorte dura, Ímpias provanças,
as mais das vejes picantes, mento de elevada ponte! Como o rápido ser- O broquel ja deixei, que me, cobria,
que disso se pode-
ria encher nã^ poucos volumes. pear de faminta cobra, no alcance de sua D'ell. s, se quer, me firam as lembranças.
(Trad.—P. Brito.) presa, assim tremulava uni relâmpago, que,
descosido das dobras do manto da tempcsla- Mas que vejo n'aquelle humilde tecto?
de, lá ia soltar o seu derradeiro soluço Quescena alli diviso de tristeza?
TARDE DE UM PINTOR abaixo do horisonle, crespo dos horrores da Uma mulher de brando e doce afiecto,
eminente borrasca! Alli jaz isolada c sem defezal..
I ou O matador de Lioncio, cravando- lhe a
Jaz sem defeza não, que a providencia
INTRIGAS DE UM JESUÍTA Taça, não pôde logo retirai-a, e assim a -filhos seus attenta vela:
deixou pregada no corpo da victima e cor- Sobre ella c os
rcu desarmado. Ao mesmo tempo que elle Ai! delia, so não crera na clemência
vllauic III. foge, um vulto descose-se da parede, mes- Que ao infeliz o céo sempre revela.
mo junto da porta, e corre-lho no alcance. Já não é bella, o tempo e os dissabores
(Prínlmiounon. 947.)
Apollinario, correndo sempre, chega ao Q je sobre o lindo rosto lhe
Esse partido ta desesperado, mas Lion- caes de Braz de Pina, e d'ahi atira-se ao Roubaram-lhe o verdor, a passaram,
rio, sem meditai sobre elle, o abraçou: a / graça as cores
mar, prendendo entre os dentes sua carta Qual Gca a
planta, que os tufões crestaram.

*.¥*--
A MARMOTA

Então ós vícios humilhados foram, Para mim! pesas mais que ouro cm barra
Mas inda os negros olhos lindos são,
A virtude exaltada! O grito insone Que o polido brilhante é mais teu brilho
Que espelhos d'alma o tempo não qnebranta; Oue montam vãs riquezas ? 1
Da ternura e da fé a doca nncção Dá boca pervertida
Não echoaya c'a!ma que escutara Se tens uma alma de maior apreçol
Do seiod'almas aos olhos sé levanta. Entre meus braços, desamára um throno,
Lições de sã moral, que feflectida
Ao desprezo votava'1 Se um throno s'offertásse;
Sentados ao pé dsüa os dous filhinhos Por ver-te aborrecida!...
Os objectos latidos
Alegres nm com ontro estão jbrincando; Por ti, Lirina, desprezara a vida.
Do corrompido, que a manchar cuidava.
Mas ás vezes alagam seus olhinhos,
E, assim que é muila a esiiera, esiâo mostrando.
Engrupadas paixões partidos forrham, SOBRE A DURAÇÃO DA EXISTÊNCIA
Vendo isto, a triste mãe sohe-ps ao collo, Bofando mil idéas, mil projectos DO HOMEM.
E os olhos pelo pranto já èxhauridos D'encontrada política:
Lá gisa cada um quo a Pátria morre; (Kr Jahn Saint-clair no seu— Ensaio sobro
Aos céos levanta, e pede-lhe consolo a longividade — convida a aquelles, que
Com voz qne inda sAa nos ouvidos! Se não progride ò pensamento próprio,
Conformo seu hestunto, desejam viver muito, a seguirem certas
Liberdade proclama; regras, quo elle estabelece do seguinte
Meu Deos, vós bem sabeis que com firmeza Mas a final o Despotismo exultai modo:
Os meles quo me dais eu vou soflrendo, l.» — O alimento deve sor bom, mas não
Mas excede o poder da natureza Se tem honra, saber, se tem virtudes, se deve comer com excesso. A
Ver estes innocentes padecendo. Se favonêa o crime, o justo esmaga, 2.' — A vestimenta devo ser de"ngazalhar,
Mesmo d'acinte'feito; sobre tudo na idade avançada e no
Senhor... e ia avante quando o estrondo Não procura indagar o que se acurva, inverno.
De aérea salva os ares estremece: Antolhando somente os vis infresses, 3/ — Casa bem arejada e sempre do uma
E os echos em redor despertos pondo, Que a facção lhe promette; igual temperatura.
Mil vezes retumbando emfim fenece(l). Elogia ao perverso, 4.* — Exercício que não fatigue, e sobre
Cobre de opprobrios o mais recto humano!.. tudo passeios agradáveis a pé.
Qual o contentamento que tiveram, 5.° — Hábitos salutares, á testa dos quaes
Na barca, de Noé quem nella estava, jtQue serve o bem obrar, seos meus contrários devem estar o aceio. t
Quando a gentil pombinha receberam, Em mim descobrem só nojentos vícios 6." — Recorrer aos médicos, nas pccasiôes
Que o termo do dilúvio annunciava; Por não ser de seu lado? precisas, o nunca aos charlatãps.
Em quanto o mais perverso, em pertencendo 7.°— Finalmente — ter sinceridade d'al-
Tal o prazer qne reina na chonpana, A' grei que arrebanharam, mil virtudes ma, tranqüilidade de espirito] e, sobrç
Ao receber a carta que trazia Póssue em grão subido; tudo, caracter doei! para suppprtar com
A offerta que lhe vinha d'alma humana, E mesmo um disparate resignação os revezes dostaívida, aos
Talvez privando a si do que oftYecia. E' acerto, é saber, que salva o Mundol qnaes, mais ou menos, todd o mundo
está sujeito. I
Não ha defeitos nos que nós queremos,
Mimo celeste, ohl doce gratidão, Não ha boas acções nos que odiámos;
Não possa o tempo edaz, que tndo some, Se o partido appellida,
Riscar deste nlcerado coração LONGEVIDADES..
O mau é bello, o virtuoso é péssimo!
Do nosso protector o caro nome. Se tem a mão lavada em sangue humano ao> — Os antigos conservaram alguns exem-
E' pura como a neve; pios de rara longevidade. Diz-se que
Farfalhudo elogio houve uma atriz em Roma, no tempo
Melancólicas sombras do passado Desfaz a nódoa, que eternisa opprobrios! de Sylla, que representou tm comédias
Qne em meu peito jazies esquecidas, por mais de cem annosl
Assaz meu coração tendes sangrado, Ohl não ha convicção que arranque d'alma
Não vos quero, lembranças, repetidasl O maldito interesse! Ante elle morrem
As sagradas verdades;
J. B. Fere por elle a viperina lingua SO" —Uma outra actriz, depoii de ler re-
O mais rijo pudor! As leis mais santas presentado por espaço de 99 amos, voltou
á scena para felicitar Pompao, lugar em
São por mate, ofiendidasl
que reappareceo depois peli coroação de
LIRINA DE VIRENO Tudo ze olvida
E só é justo o que com elle é justo.
Augusto.
PELO SKB.
Malvada corrupção, tu vás lavrando
Desde a grimpa dourada ao baixo albergue! r*- — Em um recenceiameno, feito por
DR J. V. R. DE C. Vespasianno, no anno 76 d era Christã,
Os mais" humildes feitos
disse Plinio que se encontra amem uma
LYRA XLV. Penduram de interesse agudas vistas!
Ah! que de admirar! quando amizade, parte considerável da Itália:
E' custoso soffrer; mas qne remédio (Obtida sem dispendio ) Quatro homens de 140 annos.
Sc o homem sempre está sugeito ao prisma Hoje só bem confirma Seis » de 13c a 139.
Quatro » de 131
Porque os out ros o enchergam Seus juramentos, se interesse os dita! ..
Feliz do que liberto vai pensando! Uma mulher de 13;
Nós da peste geral poupado fomos; Havendo mais um nume infinito de
Sem respeito ás barreiras, que ignorante O fervoroso amor, que combalira
Desabrido levanta, mulheres c homens de 110,1 el2b annos.
Nossos peitos, Lirina, O paiz onde mais se vive na Sibéria,
Deslumbrado do brilho A' perpetua amizade escravisados,
Do talento, qu'é mau, porque é de estranho! por causa, certamente, de suas elevadas
Só teve em vistas as tenções mais puras! montanhas; ainda que Bufibii em uma lista
Ourol tu vales muito-,
Ohl que tempo"em que vivo, onde a verdade qaepublicou de todos os pi zcs d'europn,
Cargos? eu os desprezo: collocn em primeiro lugar a Jscossia, cujos
A virtude, honradez, são vãs fantasmas.'
Amar-te, me forçou teu lindo rosto. montanhezes são de uma vi i sadia, longn.
O capricho imperando
¦ e a mais bella e agradave que se pôde
Acha na trevo amena claridade, ..: Maldição para aquelles que não leram
Escora noite nójnais alvo dial... desejar
No meu semblante a expressão de Ingênuo,
Do homem outr'ora o peito, Do maior desapego
Só da razão levado, — A decifração da charjda do numero
A's cruéis trans. .óes que a honra ateiam!
Os aétos, as accões, melhor domava. Mais te quizeia eu, só com virtudes; antecedente é—Credito.
(Inda dos bens faminta}
(1) Eni alguns lugares í uso annucciar a distri- No centro das desgraças Xfpogrspliia de Paaa-Urilo
buição das cartas do correio com um foguete de
salva- -„.-..' E' quando o brilho da moral resalta. 6i—Praça da Consül :ç?o — GA

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