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MANUAL DO PROFESSOR

CONTOS DE
IMAGINAÇÃO E
MISTÉRIO

Elaborado por:

LUISA DE AGUIAR DESTRI


(Jornalista e pesquisadora, doutora em Letras
pela USP).
SUMÁRIO

O poço e o pêndulo.......................................................................5
O gato preto ................................................................................22
O coração denunciador ...............................................................33
Uma descida no Maelström .........................................................40
O barril de amontillado S...............................................................58
UMÁRIO
A máscara da Morte Vermelha .....................................................66
O encontro marcado ...................................................................73
A queda da Casa de Usher ...........................................................88
Dados técnicos da obra.
Os assassinatos da Rue ..................................................................4
Morgue .................................................108
O mistério de Marie Roget ........................................................143
O autor..........................................................................................5
Notas aos contos .......................................................................191
O ilustrador...................................................................................5
O tradutor......................................................................................5

O livro...........................................................................................6
Os contos.......................................................................................6
Poe e a psicologia.......................................................................10
Afinal, o que é conto?...................................................................11
Atividades....................................................................................12
Paul e Baudelaire......................................................................14

Indicações de leitura.....................................................................16

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CONTOS DE IMAGINAÇÃO
E MISTÉRIO
Edgar Allan Poe
Ilustrações: Harry Clarke
Tradução: Cássio de Arantes Leite
Tradução e notas do prefácio: Daniel Knight

Temas: Ficção científica, mistério e fantasia.

Gênero: Conto.

Recomendação: Categoria 2 – Alunos do 8o e 9o anos do


ensino fundamental.

224 páginas

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O AUTOR
Edgar Allan Poe é um dos principais escritores de língua inglesa.
Notabilizou-se sobretudo por seus contos, sendo considerado o inven-
tor da narrativa curta como a conhecemos. Foi também poeta – tendo
composto o célebre poema “O corvo” –, crítico literário e jornalista.
Nasceu em Boston, nos Estados Unidos, em 1809. Sua história pes-
soal foi marcada, ainda quando criança, pela morte da mãe e pelo aban-
dono do pai. Foi acolhido pelo casal Francis e John Allan, que viviam
na Virgínia e que se responsabilizaram por sua educação. Em 1826, fre-
quentou a universidade durante um semestre, mas passou mais tempo
em bares do que na sala de aula. Após a morte da mãe adotiva, desenten-
deu-se com o pai adotivo, rompendo totalmente a relação.
Enfrentou severas dificuldades financeiras por alguns anos, até que
um prêmio atribuído em 1833 a um de seus contos rendeu-lhe contatos
e amizades nos meios jornalísticos e literários. Tornou-se editor e cola-
borador de publicações. Em 1836, casou-se com a sua prima Virgínia,
de treze anos, que faleceu de tuberculose em 1847. Seus problemas com
o álcool se agravaram depois disso. Morreu em 1849, por causas não
totalmente conhecidas, mas atribuídas ao alcoolismo.

O ILUSTRADOR
Harry Clarke foi o artista que melhor ilustrou a atmosfera fantástica
dos contos de Edgar Allan Poe. Filho de um artesão, estudou criação
em vitrais em Dublin, na Irlanda, onde nasceu, em 1889. Teve obras
expostas no Museu do Louvre, em Paris, e a partir dos 26 anos passou a
trabalhar como ilustrador editorial. Ilustrou obras de outros grandes es-
critores, como William Butler Yeats, Hans Christian Andersen, Charles
Perrault e Johann Wolfgang von Goethe.

O TRADUTOR
Com mais de trinta anos de experiência no mercado editorial, Cássio de
Arantes Leite traduziu dezenas de livros do inglês para o português. Entre os
de ficção estão obras de autores como Alice Munro, E. M. Forster, Karen Bli-
xen e Will Self. Em Contos de imaginação e mistério, sua cuidadosa tradução
preserva o ritmo da escrita original, oferecendo ao leitor uma oportunidade
de aproximação com o estilo de Edgar Allan Poe.

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O LIVRO
Contos de imaginação e mistério reúne algumas das mais co-
nhecidas narrativas de Edgar Allan Poe. As dez histórias são
exemplos contundentes da força da literatura do autor, conside-
rado o criador do conto como o concebemos hoje. A partir de
situações diversas, que ilustram as diferentes vertentes temáticas
da literatura de Poe, somos convidados a penetrar no universo
estranho, enigmático e envolvente de umas das mais consagradas
obras da literatura ocidental.
Trata-se, portanto, de um excelente recurso para que o jovem
leitor tenha contato com alguns conteúdos indispensáveis à ma-
téria de literatura: além de conhecer textos fundadores da cultura
moderna, os alunos encontrarão no livro uma importante fonte
para o estudo de aspectos como a construção do conto, as estraté-
gias para manter o interesse do leitor, a importância da imagina-
ção e da fantasia. Por isso, a leitura pode ser aproveitada também
para a discussão sobre outros conteúdos, como as relações da li-
teratura com a psicologia e com outras artes.
Vale destacar, por fim, o valor gráfico do volume, que conta
com ilustrações do artista irlandês Harry Clarke. O trabalho foi
inicialmente desenvolvido para uma edição de Contos de imagi-
nação e mistério lançada na Inglaterra, em 1917 – publicação logo
reconhecida como uma das joias bibliográficas da época.

OS CONTOS
Entre as características comuns dos textos incluídos no volu-
me está a capacidade de sustentar a atenção do leitor, quase sem-
pre mantido sob tensão por força de uma literatura concentrada
em causar sensações e sentimentos. Para isso, o autor mantém
constantemente a atenção sobre aquilo que interessa: não há des-
vios para ações ou personagens secundários; tudo está sempre
relacionado à ação principal.
Nota-se, ainda, a maciça predominância do narrador em pri-
meira pessoa – a exceção está em apenas uma história. Porém,
longe de propor, como seria próprio a seus contemporâneos, os

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românticos, viagens pela
interioridade dessas per-
sonagens, as narrativas
de Poe externalizam pen-
samentos e sentimentos,
tornando-os vívidos para
o leitor.
O primeiro conto, “O
poço e o pêndulo”, apresen-
ta um narrador-protago-
nista em uma masmorra,
à qual fora condenado pela
Inquisição. Ele aos pou-
cos vai tomando consci-
ência da condição em que
se encontra, recordando o
julgamento e, em meio à
escuridão, reconhecendo o
ambiente do entorno. O título faz referência à dupla ameaça de
morte presente no ambiente – uma que desce do teto, e a outra,
que permanece embaixo. As tentativas da personagem em vencer
os perigos conferem à narrativa um ritmo tenso e acelerado.
Em “O gato preto”, um homem relata os estranhos aconteci-
mentos que lhe sucedem, relacionados à aparição de um gato.
Desde o início somos alertados para o caráter insólito dos even-
tos: confessando sua própria incompreensão, o narrador afirma
não contar com a credulidade do leitor – “Meu propósito imedia-
to é expor diante do mundo, de modo direto, sucinto e sem co-
mentários, uma série de simples eventos domésticos”, afirma ele.
A incompreensão das próprias atitudes aparece também no
conto seguinte, “Um coração denunciador”. Um homem relata o
crime que cometeu, contando ainda como acaba por se denun-
ciar, de modo aparentemente involuntário. A narração em pri-
meira pessoa torna acentuado o efeito de estranhamento, já que
o fato de o protagonista desconhecer as suas próprias motivações
estimula no leitor o esforço para compreendê-las.
Em “Uma descida no Maelström” exibe-se de modo mais pa-
tente a erudição do autor. Interessado por assuntos diversos e pela

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ciência, Poe propõe, aqui, uma narrativa fantástica em torno de
um fenômeno existente em uma região da Noruega – a formação
de um turbilhão de água a partir da confluência de fortes corren-
tes marítimas. Aproveitando-se do conhecimento desse fenôme-
no, propõe uma trama que, no entanto, o extrapola, cativando o
leitor com um relato de fantasia e aventura.
Em “O barril de amontillado”, Montresor conta como se vingou
de Fortunato, amigo que traíra sua confiança e que é seduzido para
uma cruel armadilha sem qualquer desconfiança de que esteja sendo
manipulado. Aqui, a narração em primeira pessoa acentua o retrato
da crueldade, dada a frieza com que Montresor relata seus atos.
“A máscara da Morte Vermelha”, único dos contos narrados em
terceira pessoa, retrata o isolamento de um príncipe e sua corte dian-
te do avanço de uma terrível epidemia. Trancados em uma constru-
ção fortificada, julgam-se imunes à doença, que em poucos minutos
leva à morte o contagiado. Trata-se provavel-
mente do mais fantástico conto do conjunto,
dado o desenlace algo alegórico, que impe-
de a decifração realista do enredo.
Uma atmosfera mais característica
do romantismo surge em “O encon-
tro marcado”, em que o autor se
revela mais próximo de seus con-
temporâneos. O enredo sobre os
melancólicos amantes, o ambiente
noturno, o predomínio do simbólico sobre o racional – esses ele-
mentos remetem para a literatura gótica, que surge na Inglaterra
no século XVIII e se consolida em livros como Frankenstein, de
Mary Shelley (1820).
Algo dessa atmosfera permanece em “A queda da Casa de
Usher”: o narrador é convidado por um amigo de infância para
passar uma temporada em sua casa. Trata-se de um convite aten-
dido em nome dos velhos tempos, pois, embora não se vejam há
muitos anos, ele intui, a partir da carta, que pode representar a
cura para a melancolia do amigo. A convivência entre o par reve-
la, porém, o seu engano – e a atmosfera crescentemente sombria.
A história de Roderick Usher é uma das mais conhecidas e recria-
das narrativas de Poe.

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“Os assassinatos da Rue Morgue” é a primeira aparição de um
dos mais conhecidos detetives da literatura ocidental – Monsieur
C. Auguste Dupin, um homem culto e observador, que se revela
mais arguto do que qualquer policial ou investigador treinado.
Nesse conto, ele desvenda o estranho assassinato de uma mãe e
sua filha; no seguinte, “O mistério de Marie Roget”, decifra o cri-
me que Poe recriou ficcionalmente a partir de um caso ocorrido
à época, em Londres.
Os dez contos são representativos das principais linhas temá-
ticas da obra do autor: a literatura policial, da qual é considerado
o criador; as narrativas de possessão, que demonstram seu pro-
fundo conhecimento da alma humana; os contos de imaginação
ou fantásticos.

POE E A PSICOLOGIA
Poe viveu em uma época em que os estudos em psicologia eram
ainda incipientes. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, nasceria sete
anos após a sua morte, em 1856. Ainda assim, sua ficção revela um
conhecimento profundo da alma humana – dando testemunho, tal-
vez, mais de sua intuição do que propriamente de pesquisas.
O efeito de estranhamento produzido por suas narrativas é muitas
vezes resultado das intenções que as personagens manifestam sem se
dar conta delas. É o caso do narrador de “O coração denunciador”,
que atribui a um fator externo o impulso para a confissão – cujos
motivos provavelmente são apenas de sua consciência. Essa situação
pode ser identificada como o conceito que Freud define como “o
estranho”, isto é, as situações que mobilizam intensamente nossos
sentimentos, mas cujas causas não reconhecemos como nossas.
A literatura fantástica, aliás, tem relação profunda com a psicologia –
a tal ponto que um estudioso da literatura certa vez afirmou: a psica-
nálise substituiu a literatura fantástica. Para o filósofo e crítico literário
Tzvetan Todorov, a literatura fantástica se vale de seres e situações
irreais para fazer circular temas considerados tabus – associando o
desejo sexual ao diabo, por exemplo, ou condensando o sexo e a
morte na figura do vampiro. Na sua opinião, a ascensão da psica-
nálise, que estuda os impulsos e desejos que preferimos esconder de
nós mesmos, faz com que não haja mais necessidade dessa literatura,
acarretando a falta de interesse do público. “Os temas da literatura

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fantástica se tornaram, literalmente, os mesmos das investigações
psicológicas dos últimos cinquenta anos”, escreveu ele na década
de 1970.
Na nomenclatura de Todorov, porém, nem sempre a literatura de
Poe pode ser considerada fantástica. Ao contrário do que normalmen-
te ocorre nesse gênero, as situações são quase sempre compreensí-
veis por meio da realidade do leitor. Basta lembrar o exemplo de “A
queda da Casa de Usher”: apesar da atmosfera sombria que culmina
no clímax, há no início do texto um detalhe que aponta para a na-
tureza realista dos eventos. Ao ver-se diante da envelhecida casa do
amigo, antes mesmo de entrar, o narrador observa a “fissura quase
imperceptível” em uma parede do edifício.

AFINAL, O QUE É CONTO?


Procurando a resposta para essa pergunta, Mário de Andrade
certa vez respondeu: “sempre será conto aquilo que seu autor batizou
com o nome de conto”. Não se trata de mero gracejo: o conto pode
ser desde uma fábula que se conta às crianças até uma narrativa mais
longa como “O mistério de Marie Roget”.
Há inúmeras definições possíveis, e o próprio Poe é respon-
sável por uma delas. Para ele, trata-se de uma narrativa a ser lida
em um período médio de 30 minutos a duas horas, orientada
para causar determinado efeito no leitor e, por isso mesmo, com
trama extremamente concentrada nesse efeito.
Segundo Julio Cortázar, Poe foi o primeiro a perceber que as
diferenças entre o conto e o romance não são apenas uma questão
de tamanho. “Um conto é uma verdadeira máquina literária de criar
interesse”, afirma o escritor argentino, que compara os dois tipos de
narrativa à fotografia e ao cinema, respectivamente. Enquanto este se
desenvolve ao longo do tempo, aquela se deve limitar a um instan-
te significativo. Outra de suas metáforas para a comparação vem do
boxe: no romance se ganha por pontos; no conto, por nocaute.
Assim, para Poe e os escritores que se identificam com sua
obra, o conto se define sobretudo por sua intensidade: trata-se do
resultado da relação entre a extensão do texto e o efeito causado

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pela leitura. Ele deve dominar o leitor,
e sua leitura não admite interrupções
– diferentemente de um romance, deve
ser lido de uma só vez.
Em um curioso texto publicado em
um jornal norte-americano, Poe faz
uma resenha de sua própria obra. Sem
identificar-se, analisa o próprio traba-
lho, oferecendo valiosas palavras sobre
sua concepção de literatura. Ele defende
a “perfeição da trama”, definida como
aquela em que tudo está organizado, e
da qual nada pode ser removido sem
comprometer o todo.
Além disso, compara-se a seus colegas: “A maioria dos escrito-
res procuram primeiro um tema e escrevem para desenvolvê-lo.
O que o sr. Poe busca em primeiro lugar é um efeito novo, depois
um tema. Isto é, um novo arranjo de circunstâncias ou uma nova
aplicação de tom com que possa desenvolver o seu efeito”.

ATIVIDADES
Dada a qualidade dos contos de Edgar Allan Poe e sua impor-
tância para a literatura ocidental moderna, a leitura do livro pode
ser aproveitada de maneiras diversas com a turma. Indicamos
quatro sugestões de atividades:

• Outras linguagens: exiba para a sala uma das muitas


adaptações das narrativas de Edgar Allan Poe para ou-
tras linguagens. Há inúmeras opções de filmes, clássi-
cos e comerciais, além de diversas animações disponí-
veis no Youtube­ – você deve escolher de acordo com o
que julgar mais adequado para a faixa etária em ques-
tão. Em seguida, proponha que os alunos, organizados
em grupo, adaptem um dos contos do livro para vídeo
ou teatro, dependendo dos recursos disponíveis e ob-
servando se o efeito causado pelo texto é mantido em

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sua adaptação. Cada grupo deverá
escolher uma narrativa, e a apre-
sentação deverá ser feita para os
demais colegas de sala. Essa ati-
vidade pode envolver as discipli-
nas de artes e música, conforme
o grau de complexidade esperado
do trabalho dos alunos.
• Mural de personagens: a respeito
da literatura de Poe, o escritor ar-
gentino Jorge Luís Borges afirmou:
“De um só conto seu, que data de 1841, ‘Os assassinatos
da Rue Morgue’, provém todo o gênero policial”. Essa fra-
se pode ser estendida a narrativas contemporâneas – em
especial, os seriados norte-americanos – que apresentam
personagens com capacidade de observação tributária
de Auguste Dupin, isto é, um modo muito acurado de
raciocinar e de analisar os fatos. Aproveitando a presen-
ça corrente de criações semelhantes no repertório cul-
tural dos alunos, peça que comparem o detetive de Poe
com uma personagem de sua escolha – incluindo Sher-
lock Holmes, como concebido por Arthur Conan Doyle
ou figurado em adaptações recentes; Hercule Poirot, de
Agatha Christie; e criações contemporâneas. Em grupo,
eles deverão listar características comuns e divergentes
entre as personagens, buscando compreender quais tra-
ços permanecem cultivando a atenção do leitor e quais
são adaptados às diferentes linguagens e contextos. Ao
final, a sala poderá preparar uma obra coletiva – um mu-
ral na miolo_paul_16x23.indd
parede ou digital 87 – apresentando esses diferentes
seres e suas linhagens.
• Produção textual: após a leitura e a discussão de alguns
contos do livro, proponha aos alunos a redação de uma
breve narrativa, com parâmetros similares aos adotados
por Poe em “O poço e o pêndulo”: em primeira pessoa, o
narrador deve apresentar-se em uma situação de perigo,
esclarecendo aos poucos como chegou até ali e revelando
lentamente para o leitor a sua condição. O enredo deve

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ser concentrado na ação principal e planejado com vistas
à criação do efeito pretendido.
• Leitura: apresente aos alunos o poema “O corvo”, de
Edgar Allan Poe. Você pode selecionar os trechos que jul-
gar mais adequados, fazendo a leitura apenas de algumas
estrofes e parafraseando as demais. A partir de uma das
boas traduções disponíveis, mostre como a sonoridade
contribui para a produção do sentido – exatamente como
argumenta o autor em “Filosofia da composição”. Se con-
siderar cabível, resuma para os alunos o conteúdo desse
ensaio.

POE E BAUDELAIRE
Autor do prefácio de Contos de imaginação e mistério, Charles Bau-
delaire (1821 – 1867) foi um dos grandes responsáveis pelo reconheci-
mento da obra de Edgar Allan Poe. Tendo lido o conto “O gato preto”
em inglês, sentiu-se tão entusiasmado que dedicou cerca de quinze anos
à tradução e à divulgação de sua obra na França.
Em cartas escritas à época, Baudelaire confessa um sentimento de fa-
miliaridade, como se o escritor inglês tivesse dado forma a seus próprios
pensamentos, embora vinte anos separassem a escrita da leitura da obra.
Os críticos explicam a afinidade em termos de concepção literária:
o universo enigmático e sugestivo da obra Poe é precursor do Simbo-
lismo, movimento que tem no autor de As flores do mal um de seus
expoentes. Além disso, enquanto o francês é considerado o poeta mo-
derno por excelência, o norte-americano valoriza a construção da obra
literária com intensidade e rigor característicos da literatura na moder-
nidade, destoando de seus contemporâneos, os românticos.
Esse aspecto de obra de Poe está sintetizado no clássico ensaio “Fi-
losofia da composição”, no qual expõe como se deu a construção do
poema “O corvo”, considerado uma das obras-primas da literatura de
língua inglesa.

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INDICAÇÕES DE LEITURA
• O corvo - gênese, referências e traduções do poema de Ed-
gar Allan Poe, Claudio Abramo (Hedra, 2011): reunião de
diversas traduções do poema, como de Fernando Pessoa
e Machado de Assis, com estudo comparando as soluções
dos diferentes tradutores.
• Teoria do conto, Nádia Battella Gotlib (Ática, 2003): a au-
tora apresenta uma história do conto, trazendo algumas
de suas definições possíveis e apresentando os principais
autores no gênero. Há capítulos dedicados à literatura
de Poe.
• Valise de cronópio, Julio Cortázar (Perspectiva, 2013): o
livro reúne ensaios do escritor argentino, dois dos quais
interessam diretamente – “Poe: o poeta, o narrador e o
crítico” e “Alguns aspectos do conto”.
• Introdução à literatura fantástica, Tzvetan Todorov (Pers-
pectiva, 2012): o autor estuda as características e os prin-
cipais autores da literatura fantástica. Um dos autores cen-
trais para os seus argumentos é Edgar Allan Poe.
• A poética do conto: de Poe a Borges, um passeio pelo gênero,
Charles Kiefer (Leya, 2011): além de deter-se longamente
no autor de Contos de imaginação e mistério, o estudo traz
a tradução da resenha que Poe escreveu a respeito de sua
própria obra – publicada no jornal Aristidean, em Nova
Iorque, em 1845.

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