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Feira de Santana - BA
2013
TAISA DE SOUSA FERREIRA
Feira de Santana - BA
2013
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado - UEFS
Trabalho apresentado para Defesa de dissertação, como requisito para obtenção do grau de
Mestre em Educação, na área de Educação, Sociedade e Culturas, Universidade Estadual de
Feira de Santana, pela seguinte banca examinadora:
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Resultado:__________________________________
Com afagos, dedico esta viagem às mulheres e homens da
minha vida: Jovina (minha voinha), Nieta (minha mãe),
Laísa (minha irmã) e Ieda (minha tia), que de diferentes
maneiras me fazem acreditar que posso a cada dia voar
mais alto e José (meu avô - in memoriam) e João Eloi
(meu pai – in memoriam) que em distintos momentos da
minha trajetória me ensinaram a superar as fragilidades e a
constituir coragem para seguir adiante.
Pensei bastante sobre que desenho dar ao traçado das linhas que se seguem, por vezes,
chorei, por vezes cai em gargalhadas, ao chegar a essa etapa de minha viagem/gestação,
muitas lembranças, muitas emoções, muitas movências, me tomaram. Como poderá ser visto
mais adiante esta dissertação não é só minha, é fruto de distintas experiências, distintas vozes,
distintos sujeitos, e foi construída a muitas mãos, olhares e debates, é uma vitória
compartilhada. Ao longo de minha trajetória caminhei ao lado de muitos (as) companheiros
(as), amigos (as), amores, que me tocaram de diferentes formas, e contribuíram para a
construção de novas formas de pensar, olhar e sentir, é com esses (as) que compartilho
sorrisos, lágrimas de emoção e teço agradecimentos pela oportunidade de me fazer ser uma
Taísa mais curiosa, mais indagadora, mais feliz e mais apaixonada pelo que faz.
As mulheres de minha vida: Jovina (Voinha), Nieta (mãe), Laísa Gabriela (irmã),
Ieda (tia), obrigada pela confiança e torcida constante, pela paciência frente às ausências,
foram tantas, pelo suporte, pelas madrugadas em claro partilhadas, por aturar meus lapsos de
mau humor, por me emprestar o computador em momentos fundamentais, e por todo amor,
carinho, ensinamentos e cuidados. Sem vocês, nada disso seria possível. Aqueles (as) que se
foram e me deixaram saudades e exemplos: João Eloi (pai), José (avô), Balbino (avô) e
Bernardina (avó), que de outro plano de existência conspiraram em favor dessa vitória, pelas
bases construídas para que esse momento fosse possível, pelo amor, atenção e cuidado,
obrigada. Aos (as) demais integrantes de minha família: obrigada pelo carinho, pelas
palavras de incentivo, pelos sorrisos, por respeitar as presenças-ausentes.
Aquele que me colore: Meu “Pretuh”, Ulisses, obrigada pela paciência, pela
compreensão frente os momentos de ausência, mesmo quando presente, por me ouvir e me
motivar nos momentos de angústia, impaciência, desabafo, medo e empolgação nos meus
processos de escritas, por acreditar em todos os meus projetos, sonhos, loucuras e por me
fazer sorrir.
Ao meu querido orientador: Prof. Dr. Marco Barzano, obrigada por ter me
escolhido, pela confiança depositada em mim, pela tranquilidade e leveza com que conduziu
nossa viagem, por ser mais que um professor e se mostrar amigo, por demonstrar
preocupação, cuidado e atenção, por potencializar minhas escritas e minha atuação enquanto
pesquisadora, por me tecer elogios (kkkk), e por sorrir e se emocionar com nossas travessias.
Fique certo de uma coisa: você é extremamente especial para mim.
Ao querido professor Dr. Eduardo Luedy: que impulsionou ainda na graduação
minha caminhada pelas discussões sobre gênero e sexualidade, e que se constituiu como um
companheiro de andança, trocas e aprendizagens, muito obrigada.
A turma dos (as) 13: primeira turma do PPGE/UEFS, obrigada, por todos os sorrisos,
pelas tensões, pelos debates calorosos, pelas viagens reais e imaginárias, pelas motivações,
pelas leituras conjuntas, pelos pitados coletivos, pelas lágrimas de emoção, pelas festinhas,
pelas trocas significativas e pelo simples fato de caminhar/junto/com.
A primeira gestão do Colegiado, aos (as) docentes e funcionários (as) do
PPGE/UEFS: obrigada por cada palavra amiga, ensinamento, troca, puxão de orelha,
orientação. Saibam que as aprendizagens foram salutares e perspectivadas, sou muito feliz
pela oportunidade de ter caminhado com vocês.
Aqueles (as) que contribuíram com o aprendizado sobre o ser docente no ensino
superior: ao professor Fábio Dantas, por ter me acolhido no estágio docente, pelas trocas
estabelecidas, pelos ensinamentos, diálogos e sorrisos, por ter constituído sua aula como
espaço efetivamente formativo para mim e a toda galera da turma de Pedagogia que cursou a
disciplina Currículo no primeiro semestre de 2012, pelas inquietações, pelas trocas, pelas
provocações, sorrisos, carinho e respeito, muito obrigada.
Aos (as) docentes que se constituíram em companheiros (as) de andança: obrigada
por me permitirem conhecer mais sobre meu objeto de investigação, pelos sorrisos, pela
desconstrução, pela abertura ao desconhecido, pela colaboração, pela coragem, pelo carinho,
cuidado e atenção, vocês foram fundamentais para que esse caminhar fosse mais rico em
sentidos. A Câmara dos Conselhos, ao Colegiado de Pedagogia e ao Departamento de
Educação: obrigada pela disponibilidade e socialização de materiais e informações para
composição da pesquisa.
Aos (as) meus (minhas) “Pé de Galinha” – PDG: aos (as) amigos (as) com que tanto
sorri, tanto aprendi, teci, construí, vivi atravessamentos, Geórgia, Mauricia, Maximiano,
Lívia, Edeil, Raphaela, Ritinha, obrigada pela sensibilidade, pelas acolhidas nos momentos
iniciais do mestrado, pelo companheirismo e cuidado sempre marcante, pelas travessias,
trocas, pelas valorosas contribuições com essa pesquisa, pelas madrugadas em claro juntos
(as), pelos momentos de descontração, de invenção de bordões, enfim, por fazerem do
mestrado um momento de aprendizados, amadurecimento, delícias e prazeres.
Aos (as) militantes com quem tanto aprendi: Coletivo KIU! e a Associação Beco
das Cores, obrigada por todos os ensinamentos, pelas trocas, pela confiança, essa é uma
vitória nossa. Aos (as) companheiros (as) do Estopim: obrigada por compreenderem meus
momentos de total ausência, mas por manterem acesa a chama que me liga ao projeto de
sociedade desenvolvido pelo grupo, por confiar na possibilidade de minha contribuição no
debate de relações de gênero e da sexualidade no âmbito da luta de classes, articulação que
por vezes parece contraditória.
Aos (as) de Sempre: obrigada por fazerem minha madrugada mais feliz, por
compartilharem tantos momentos singulares, por partilharem sonhos e loucuras e
simplesmente por existirem em minha vida. As amigas: Lorena Pedreira (Xuca) por todas
as trocas estabelecidas ao longo da construção de Taisotinha, pelas leituras atentas, pelas
sugestões dadas, pela interlocução constante, por me motivar nos momentos de agonia e
pressão, obrigada. Daiana Alcântara pelas estripulias partilhadas, pelas acolhidas, pelos
empréstimos, pelos atalhos, pelos sorrisos trocados, pela atenção dispensada e pelas palavras
gentis. Muito obrigada.
Aos (as) amigos (as) que construíram comigo travessias: Nanda, Luana Borges,
Luana Marinho, André Luiz (Meu Sol), Diego, João Paulo Brito, Adarita, que sempre
contribuíram, me apoiaram e incentivaram nessa paixão pela vida acadêmica e pela minha
pesquisa, obrigada.
Ao professor Heder Veslasques de Souza: obrigada pela confiança, por acreditar em
meu potencial e por respeitar meus espaços-tempos e minhas pausas na interlocução entre
mestrado e trabalho. As minhas amigas/colegas de trabalho: Rita, Láisa e Diana, pelo apoio,
pela confiança, pelos sorrisos e momentos de descontração, por entender e respeitar a minha
prioridade ao mestrado, por me incentivarem e motivarem nos momentos de aflição, muito
obrigada.
A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB: pois, sem o
seu incentivo financeiro seria muito difícil desenvolver essa dissertação.
Aos (as) componentes da banca de defesa: primeiros (as) a tomar nos braços minha
menina, o Prof. Dr. Anderson Ferrari, o Prof. Dr. Marcos Lopes e a Prof. Drª. Solange Mary
meu agradecimento pelo interesse e disponibilidade desde a qualificação, por me
presentearem com tantas contribuições que enriqueceram minha forma de olhar/sentir a
pesquisa.
Enfim, a todos (as) aqueles (as) que me trouxeram uma palavra de incentivo durante
a viagem que demarca minha relação com essa produção acadêmica, muitíssimo obrigada!
Salvador, 25.03.2013
“Em mais uma madrugada em claro vendo o sol nascer”.
Using perceptions established among different academic experiences related to the silence and
absence imposed to some knowledge areas I discuss about the Pedagogy curriculum aiming to
comprehend how discussions about gender and sexuality trespass and constitutes the
pedagogue development at the State University of Feira de Santana (Bahia) beginning with
the following questions: how UEFS’ Pedagogy course, in the formation process has been
discussing the insertions proposed by the Federal Government and by the curricular
guidelines related to sexuality and gender matters? How gender and sexuality issues are
treated on curricular practices in the Pedagogy course? How professors understand the
insertion of gender and sexuality subjects in UEFS’ Pedagogy course and the way they should
introduce in their educative practices? This study intended to analyze the curriculo and the
speech that emerge from Pedagogy course related to gender relationship, sexuality and
educator formation. In this work, gender studies, and post structuralist cultural studies are
mixed. We join in this trip to multiply senses, ways of researches, fights, knowledge,
experiences and even voices. The research shows how are produced the debate about gender
and sexuality. For that, documental analyzes and interview with six professors from Pedagogy
course were made. After the analysis we noticed that the questions about gender and sexuality
in Pedagogy are influenced by fields and politics of silence that make itself present in the
curriculum as materiality, in the experiences of some students and professors and in powers
relationships established between the professors in the course, but at the same time it point to
us process, practices and subjects that enunciate and claim different ways of thinking the
formation trying from the silence on to produce new meanings and senses about gender and
sexuality issues. We noticed that between fissures, obliteration, words and silences, the
gender and the sexuality trespass the educator formation in the investigated course. We
highlight that we don’t have the intent of showing these results as definitive and unfailing, but
show them as an invite to us to (re) think words, silences and the production of senses about
gender e sexuality within Pedagogy course and its implication on educators’ formation.
1. Tecendo fios no baú das memórias: trajetórias que se cruzam e o caminhar com gênero,
sexualidade e currículo ......................................................................................................... 21
2. Intenções que emergem no imaginário de uma pesquisadora ............................................ 27
3. O que me move: questões e objetivos de pesquisa ............................................................ 32
Encontrando-me nas ideias que emergem de trechos das obras de Foucault (2003)
citado na epigrafe de abertura deste trabalho e de Alves (2005) exposta acima, pretendo a
partir de meu mover-me no mundo e das trajetórias vivenciadas, demonstrar o caminho que
tenho trilhado para construir reflexões sobre a relação entre currículo, gênero, sexualidade e a
formação docente no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS).
Cabe dizer que, assim como nas epígrafes citadas, essa dissertação emerge em minha
história como uma coceira no lugar onde nascem os pensamentos; nasce dos meus olhos
curiosos de eterna criança e aos poucos vai constituindo-se como fruto de vivências e
inquietações construídas ao longo de minha trajetória pessoal, acadêmica, profissional, das
vivências no movimento social e tem por impulso me descaminhar, separar-me das certezas e
produzir novas formas de pensar, de olhar, de refletir e de sentir. Como poderá ser lido nas
páginas que seguem, meu percurso é marcado fortemente pelo olhar curioso e pelo interesse
de construir novos sentidos e saberes.
Neto (2004) afirma que:
Cada um de nós, ao iniciar uma caminhada como esta, deve sempre ter em
mente que já trazemos na bagagem intelectual a junção de informações
anteriores a este curso, adquiridas de modo experimental ao longo da vida
(amigos, colegas, professores, leituras, vivências, aventuras, viagens,
trabalhos realizados, etc.) e postas de maneira não sistemática em algum
arquivo ou pasta da nossa mente. (p.19)
vida (sempre quis muita coisa, então os projetos e planos sempre foram intensos, audaciosos,
plurais e “camaleônicos”).
Estudei durante parte do Ensino Fundamental e no Médio com bolsa de estudos
fornecida pela Prefeitura Municipal de Salvador, em função de minha mãe ser funcionária
pública. Após vários desejos, lágrimas, mudança nos objetos de interesse e de estudos, entre
conversas, readequações e redefinições para traçar o caminho profissional, escolhi prestar
vestibular para Pedagogia na UEFS.
Os processos de aprovação no vestibular e construção de uma trajetória distante da
minha família implicaram em amadurecimento, em aprendizados para além dos acadêmicos,
imprimiram em mim novas marcas e propiciaram inúmeras descobertas, mas também
apresentou diversas dificuldades, as quais exigiram o empreendimento de esforços por minha
mãe, minha irmã, meus avós e minhas tias para que eu pudesse alcançar meus objetivos
iniciais de formação profissional.
Neta de uma mulher muito sábia, amorosa e semianalfabeta, que sempre colocou a
educação de suas filhas em primeiro lugar, eu fui à primeira da minha família materna a ter
formação universitária, a cursar uma especialização e também a ingressar em um curso de
mestrado, e em função disso, compreendo essa dissertação como fruto da minha trajetória
pessoal, na medida em que a educação semeada na minha família, os esforços construídos
conjuntamente e as vivências que atravessaram e atravessam minhas relações revelam muito
da forma como penso, sinto e ajo frente às questões de gênero, a sexualidade e do ato de
educar. Destaco ainda que a dissertação e o mestrado simbolizam uma conquista particular
minha, mas também da minha família, que buscou consolidar as bases para que eu pudesse
escolher que caminho gostaria de seguir e que a cada etapa me brindava com sorrisos, afagos
e gestos de incentivo.
Por sua vez, percebo esta dissertação como fruto de minha trajetória acadêmica e
profissional, na medida em que esta contribuiu para despertar o interesse por tais temáticas no
campo da Educação, me permitiu conhecer dinâmicas que se entrelaçam à prática docente no
dia a dia das escolas, me fazendo compreender posteriormente a importância de questionar o
lugar da formação docente e o instrumento de poder que é o currículo.
E, por fim, é fruto dos debates travados ao longo dos anos de atuação/ aprendizados no
Movimento LGBTTI1, na medida em que este tem sido essencial para o conhecimento sobre
1
Em 2008, na I Conferência Nacional GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) a sigla LGBT passou
a ser utilizada para designar Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), porém como nos últimos anos
temos visto cada vez mais frequente o uso do termo LGBTTI, pelos grupos de movimento social, pelos (as)
19
pesquisadores (as) na academia e em diversos espaços sociais, fazendo jus além das categorias lésbicas, gays e
bissexuais, a visibilização das /os travestis e transexuais, antes englobadas conjuntamente no termo transgênero e
das pessoas intersex, privilegiamos o seu uso em nosso estudo.
2
Entendido como conjunto de valores, normas, dispositivos e mecanismos definidor da heterossexualidade como
única forma legítima e natural de expressão identitária e sexual, que faz com que a homossexualidade, a
transgeneridade e as práticas sexuais não reprodutivas sejam vistas como desvio, crime, aberração, doença,
perversão, imoralidade, pecado (CARVALHO, et ali., 2009).
20
Buscando em minhas memórias elementos para iniciar a escrita deste texto, surgiram
indagações que já me foram feitas por muitas pessoas, mas que até então eu mesma nunca
havia me feito: como as questões de gênero e sexualidade começaram a chamar minha
atenção? O que me fez enveredar pelo entrelace entre tais questões e a educação?
Refletindo sobre as indagações observei que não era tão fácil seguir uma ordem lógica,
e me atentei em responder de pronto à segunda indagação. Consegui chegar à resposta com
certa facilidade, percebi que fora a partir dos debates realizados no âmbito da disciplina
optativa Educação e Diversidade Cultural, no quarto semestre da graduação em Pedagogia, na
UEFS, que a sexualidade, mas detidamente por meio dos debates sobre a homossexualidade
no ambiente escolar, começou a se constituir como um foco de estudo. A disciplina foi o
ponto de partida para que eu começasse a trilhar a caminhada pelo questionamento das
desigualdades em torno das identidades sexuais e fazer a articulação entre a educação, às
questões de sexualidade, agregando, posteriormente, as questões de gênero e currículo,
caminhada essa que foi sendo ampliada a partir do cruzamento de distintas trajetórias que se
seguiram.
Na referida disciplina, após desenvolver o trabalho sobre preconceito à
homossexualidade no meio escolar, constituí o desejo de aprofundar meus conhecimentos na
área, e realizei meu trabalho de conclusão do curso sobre homossexualidade. Inicialmente
pensava em compreender como nossas escolas, nossos educadores (as) e nossos (as)
estudantes lidavam com a homossexualidade no cotidiano escolar, mas ao perceber a
necessidade de recorte do tema, centrei a análise na percepção dos professores (as) de uma
escola de Ensino Fundamental e Ensino Médio sobre a homossexualidade enquanto tema a ser
trabalhado no contexto escolar.
21
A pesquisa sinalizou que como consequência de uma cultura com concepções bastante
rigorosas no que diz respeito à questão de gênero e sexualidade, a escola enfrenta grande
dificuldade para lidar com tal temática, e apesar de alguns (mas) educadores (as) possuírem
variados graus de formação e informação, muitas vezes contribuem para perpetuação do
preconceito por meio de suas ações, se omitem ou se permitem silenciar. Desta forma, a
escola acaba por oferecer pouca oportunidade para reflexão sobre as questões que envolvem a
sexualidade e a diversidade sexual. A pesquisa apontou ainda algumas fragilidades na
formação docente dos (as) professores (as) pesquisados (as) no que diz respeito à sexualidade
e diversidade sexual.
No desenvolver da referida pesquisa, senti a necessidade enquanto pesquisadora de me
aproximar do movimento social LGBTTI, mesmo não sendo meu foco trabalhar com o
movimento social nas discussões do trabalho, quis compreender como o próprio movimento
social via a educação e seus agentes na relação com a sexualidade e diversidade sexual.
Nesse sentido, através de amigos (as) da Pedagogia em encontro estudantil, me
aproximei do Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual (Coletivo KIU!), grupo com
forte articulação na Universidade Federal da Bahia e na Universidade do Estado da Bahia,
além de articulação com grupos universitários e outras entidades nacionais, o qual tem dentre
seus princípios a defesa da educação pública, democrática e de qualidade, não machista, não
racista, não sexista, não homofóbica, totalmente antidiscriminatória voltada para formação
integral dos sujeitos e para promoção do respeito ao outro e do respeito às diferenças.
Fui acolhida pelo grupo e acabei inserindo-me em suas atividades, as quais ocorrem
nas universidades, em espaços escolares e em ações específicas da sociedade civil organizada,
mediante o desenvolvimento de seminários, formações, mobilizações, construção de materiais
educativos, entre outras atividades, direcionados ao enfrentamento à homofobia, machismo,
racismo, sexismo e a conscientização em torno dos direitos e da cidadania LGBTTI.
Atualmente, continuo atuando no Coletivo KIU e integro também a Associação Beco
das Cores – Educação, Cultura e Cidadania LGBT, uma organização não governamental
fundada em 2010, composta por educadores (as) que estudam a sexualidade humana, militam
e afirmam a sua orientação sexual gay e lésbica nas unidades escolares que são lotados (as),
como veículo de visibilidade e afirmação dos direitos sexuais e por educadores (as)
heterossexuais que estudam a sexualidade humana, militam e que conjuntamente buscam
construir um caminho diferente dentro da educação no que diz respeito às questões de gênero
e sexualidade.
22
Tem sido possível perceber, por meio das experiências vivenciadas no movimento
social LGBTTI, o quanto a educação, a escola e a formação docente são compreendidas como
essenciais para a desnaturalização das desigualdades de gênero e sexualidade e para a ampla
conscientização acerca do respeito aos direitos e a cidadania das pessoas que não seguem os
padrões sociais de gênero e sexualidade, e o quanto a educação e seus (as) agentes marcam
suas trajetórias de vida.
Impulsionada pelas experiências anteriores, ao realizar a Especialização em
Metodologia do Ensino Superior, estudei os discursos de professores (as) que atuam com
Ensino Fundamental e Médio focando em sua formação inicial e os reflexos desta na sua
prática pedagógica em relação a questões envolvendo sexualidade, gênero e diversidade
sexual. Nesta pesquisa, foi sinalizada pelos (as) professores (as) de diferentes licenciaturas
(Biologia, Matemática, Física e Geografia) a existência de pouco espaço de discussão na sua
formação inicial que propiciasse subsídios para uma ação efetivamente voltada para
diversidade e promoção do respeito à diferença, favorecendo para que estes (as) munidos (as)
da ausência de formação e dos próprios conceitos sobre sexualidade e diversidade sexual, em
muitos momentos corroborassem para a manutenção do preconceito às pessoas homossexuais
na escola.
Posteriormente, ao cursar a Especialização em Gênero e Sexualidade ofertada pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e
Direitos Humanos (CLAM), a partir do contato com os (as) colegas da especialização, em sua
maioria professores (as) da rede pública carioca, pude perceber os diversos entendimentos
sobre gênero, sexualidade e formação docente, e observar como a temática gerava interesse e
também controvérsias e contradições. Além da ampliação das discussões teóricas neste curso
foi possível conhecer um pouco sobre a realidade de diversas unidades escolares no estado do
Rio de Janeiro em relação às questões em torno da diversidade, gênero, sexualidade e
diversidade sexual, e identificar elementos em comum aos constatados em estudos anteriores.
Diante das informações anunciadas nas pesquisas anteriores e nas discussões
realizadas na Especialização em Gênero e Sexualidade, consolidou-se o interesse em
identificar como se constrói a discussão sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual, no
âmbito da formação inicial dos (as) professores (as), e, desta forma, o projeto de pesquisa
elaborado ao final do curso visou analisar o currículo do curso de Pedagogia de alguma
instituição pública e a prática educativa dos (as) professores (as) formadores (as) em relação a
gênero, sexualidade e diversidade sexual, projeto este que foi modificado aos poucos se
configurando na proposta de estudo desenvolvida no mestrado.
23
Cabe dizer, que nos últimos oito anos, tenho tido o prazer de realizar formações,
debates, palestras, oficinas e cursos sobre educação, gênero, sexualidade e diversidade sexual
para profissionais da educação e estudantes em distintos lugares da Bahia e também tenho
apresentado trabalhos em eventos acadêmicos profissionais e estudantis, e assim, entrelaçando
os caminhos, nesses processos que em muito se constitui como troca de saberes, tem sido
possível perceber as lacunas da formação inicial, as diferentes formas da presença de tais
questões no currículo dos cursos de licenciatura, as implicações de uma educação por vezes
homofóbica, machista e sexista, bem como as implicações de posturas educacionais que
respeitam as diferenças e que fomentam deslocamentos na relação com gênero e com a
sexualidade.
Nesse ir e vir, após ouvir tantas vezes dos mais diversos sujeitos que não trabalhavam
com a problematização do gênero e a reflexão sobre a sexualidade, diversidade sexual e as
desigualdades em torno destas, por ausência de formação, em função de não ter tido nenhuma
experiência durante a graduação que fomentasse a problematização das discussões em torno
de gênero e sexualidade, cresceu meu interesse em estudar o currículo dos cursos de
licenciatura, mais especificamente estudar o curso de Pedagogia e a formação propiciada por
este, intentando entender que elementos constituem esse instrumento e contribuem para que
determinados conhecimentos estejam incluídos e outros excluídos do processo formativo.
Por outro lado, buscar uma resposta para a primeira indagação remeteu-me à minha
própria história de vida e minha relação familiar, com amigos (as), vizinhos (as) e até mesmo
com desconhecidos (as). Assumo, não é uma tarefa das mais fáceis tentar fazer a retrospectiva
de quase vinte e nove anos vividos, ainda que não sejam tantos anos, a precisão da memória
às vezes não é possível. Todavia nada melhor do que uma daquelas conversas de família para
montar um quebra-cabeça, desconstruir suas ideias ou mesmo para te fazer refletir sobre o
quanto conhece de si mesmo.
Em uma dessas conversas, minha mãe contou-me que quando eu tinha quatro anos, em
um jantar com ela, meu pai e amigos (as) de trabalho, chamei meu pai e cochichei no ouvido,
e ele soltou uma gargalhada, logo após respondendo algo no meu ouvido. As pessoas à mesa
ficaram curiosas e perguntaram o que a pequena Taisa havia dito, e meu pai prontamente
contou qual fora a pergunta: “papai, seu amigo Xuxu, é gay, é”? Todos (as) indagaram sobre
qual resposta havia me dado, e ele prontamente respondeu que havia dito a verdade: “sim,
filha, ele é gay”, pois não havia necessidade de mentir para filha, ao final, todos (as) na mesa
sorriram achando curiosa a minha atitude.
24
Pertencendo a uma família com prevalência de mulheres tanto na parte materna quanto
paterna, tive uma educação muito peculiar, pautada na liberdade, no respeito ao outro, na
afirmação de uma identidade feminina autônoma. Curiosamente, aos seis anos dizia que
nunca me casaria, pois as pessoas sofriam e não eram felizes. Segundo minha mãe, tais falas
refletiam minha observação de determinadas situações e contradições no que
costumeiramente entendia-se por casamento, questionava os valores e conceitos atrelados à
mulher. Aos onze anos, com a perda de meu pai, vivenciei com muita intensidade uma
realidade que marca muitas famílias brasileiras, ter uma mulher como chefe de família, e
assim, com a forte presença feminina tem se constituído minha identidade de gênero e minha
percepção do ser mulher em nossa sociedade.
Não consigo recordar, baseada por quais conceitos fui motivada a perguntar ao meu
pai sobre a sexualidade do amigo dele, tampouco como naquela idade tinha o entendimento
sobre isso. Não lembro também quais situações me impulsionaram a questionar os papéis
femininos na sociedade e a validade do casamento, mas saber e ser lembrada brevemente
dessas histórias de infância me fez perceber que talvez muito antes do que eu imaginasse as
questões em torno do gênero e da sexualidade já eram alvo de minha observação, atenção e
questionamento, e isso me fez perceber ainda que, certamente tais experiências contribuíram
para que durante a graduação essa temática fosse eleita como campo de estudo e tivesse mais
tarde alcançado tamanha importância em minha formação, atuação social e profissional.
Resumidamente, posso dizer que essa dissertação articulada no âmbito de vivências e
inquietações construídas ao longo de minhas trajetórias, é um produto da experiência.
Trazendo a esse processo a compreensão da experiência como “um encontro ou uma relação
com algo que se experimenta, que se prova” (BARDIA, 2002, p.25) ao escrevê-la lanço-me
ao desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer,” a fim de
dar sentido ao que me acontece, ao que me atravessa e me forma e transforma. Dessa maneira,
aqui como sujeito da experiência me exponho atravessando um espaço indeterminado e
perigoso, pondo-me nele à prova e buscando nele uma oportunidade para minha própria
transformação. (BARDIA, 2002).
As diversas trajetórias que constituem minha história e marcam as travessias que
constituem minhas experiências foram determinantes para a escolha das discussões sobre
gênero e sexualidade na formação docente do (a) pedagogo (a), e mais detidamente do
currículo em que essa formação é forjada como foco de minha pesquisa. Desta forma esta
pesquisa é um misto de curiosidade acadêmica associada à responsabilidade social, tendo em
conta que:
25
3
Em alguns momentos do texto faço uso da primeira pessoa do singular para tratar de questões, sensações e
impressões que se relacionam ao tratamento de elementos de minhas trajetórias ou de questões que constituem
muito mais individualmente a pesquisadora, em outros faço uso do plural por se relacionar a os elementos que
emergiram em meio à relação vivenciada nos momentos de construção entre orientador – orientanda.
26
Alguns (mas) pesquisadores (as) como França (2011); Cavaleiro (2009); Silva (2007)
e Silva (2011a) afirmam que a carência na discussão sobre gênero e sexualidade nos cursos de
licenciatura pode transformar-se em um forte empecilho para o (a) futuro (a) professor (a),
uma vez que, sem ter essa formação específica o (a) docente corre o risco de pautar-se pelo
senso comum e relativizar aspectos referentes aos temas que deveriam se tratados com
aparatos teóricos e metodológicos próprios para sua abordagem.
As autoras afirmam que os cursos de formação de professores (as) devem contribuir
para que seus (as) egressos (as) mobilizem saberes e fazeres docentes para compreensão do
ensino como uma realidade social, que está repleta de contradições, de preconceitos e que a
escola como espaço mobilizador de saberes deveria refletir criticamente.
Em acordo com estas autoras, percebemos que a ausência de discussões
sistematizadas em torno do gênero e da sexualidade pode contribuir para aumentar a cultura
machista, sexista e homofóbica 4 no ambiente escolar, visto que, alguns (mas) educadores (as)
acabam por reproduzir estereótipos e oferecer poucas oportunidades para reflexão sobre as
questões que envolvem a diversidade, seja por se omitirem, se permitirem silenciar, seja
desconhecimento, ou por produzir e transmitir modelos de conduta e valores que encarnam
em preconceitos e desigualdades.
Embora gênero, sexualidade, corpo e diversidade, se configurem como assuntos a
serem abordados por diferentes agentes educacionais, por meio dos estudos de França (2011);
Cavaleiro (2009); Silva (2007) e Silva (2011) considero que os cursos de formação de
professores (as) mediante suas propostas curriculares e práticas educativas, ainda mantêm
uma postura um tanto tímida no desenvolver de discussões profundas envolvendo tais temas.
Em função disso, entendo que a formação docente, tanto a inicial como a continuada, passa a
ser um lócus prioritário para todos (as) aqueles (as) que compreendem a educação como um
dos espaços em que as questões de gênero e sexualidade devem ser incluídas, visto que como
afirma Junqueira (2009):
4
Estamos entendendo como cultura machista, sexista e homofóbica no ambiente escolar o desenvolvimento de
práticas educativas que reforçam a subordinação do feminino ao masculino, a hierarquização das sexualidades
conferindo a heterossexualidade status superior e natural e que “perpetua concepções e valores hegemônicos,
naturaliza relações autoritárias, reitera hierarquias opressivas, sanciona clivagens sociais e legitima a acumulação
desigual de recursos, poder e prestígio” (JUNQUEIRA, 2009, p. 162).
27
Nesse sentido, acredito que apesar desta não ser ainda uma realidade vivenciada
amplamente em nossa sociedade, a promoção de uma cultura de valorização e reconhecimento
das questões em torno do gênero, das sexualidades, da diversidade sexual 5 na formação
docente tem o potencial tanto de tematizar o que é comumente recusado, recalcado,
reprimido, deslocado, abafado e silenciado quanto de questionar as razões que levam a tais
situações. Tem condições de propiciar novas formulações sobre o que também pode ser
pensado e conhecido (ou ignorado), bem como novas formas de aprender, reconhecer, ser,
agir, pensar e sentir. (JUNQUEIRA, 2009).
Para se compreender qual a perspectiva almejada na articulação entre gênero,
sexualidade, educação e formação docente, saliento que entendo a Educação como uma
prática humana, uma prática social que modifica os seres humanos nos mais variados âmbitos
e que dá configuração à nossa existência individual e coletiva, construída pelas mais diversas
formas e pelas mais diversas instâncias e dispositivos. Nessa linha, de acordo com Libâneo
(2011), a educação compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas, ações, que
intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio
natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais, visando
à formação do ser humano. Não deixando de afirmar que tais processos são estabelecidos em
meio a relações de poder. É importante destacar, que:
Como uma categoria que tem sido analisada pelas mais diferentes áreas do
conhecimento, para gênero não existe um conceito único e universalizante,
mas diferentes abordagens que podem até se apresentar como contraditórias
ou mesmo como complementares. (KOVALESKI, TORTATO,
CARVALHO, 2011, p.59).
5
Aproximamos-nos de Lionço e Diniz (2009) ao considerar que afirmar a diversidade sexual como elemento
constituinte da ação educativa “trata-se de questionar a hegemonia de um modo único de vivenciar a relação
amorosa, a fim de que as pessoas tenham assegurados os direitos à dignidade, à liberdade, à autonomia também
em suas formas de se relacionar sexual e amorosamente, bem como expressar a feminilidade e a masculinidade,
independente de corresponderem ou não aos estereótipos sociais construídos histórica e culturalmente” (p. 12).
28
Considerando essa perspectiva entendemos que essa pesquisa tem como relevância a
possibilidade de contribuir com um olhar sobre o papel que a universidade tem cumprido ao
lidar com a diversidade, vislumbrando contribuir para que os cursos de formação de
professores (as), em especial o de Pedagogia, derrubem paradigmas voltados para uma cultura
conservadora e passem a promover a superação de qualquer atitude de intolerância,
procurando assim, entender e respeitar a diversidade de valores, crenças, as relações de
gênero e as distintas formas de expressão da sexualidade.
Tal possibilidade está imbricada na compreensão do currículo em suas mais
complexas dimensões e implicações, no entendimento de que como afirma Paraíso (2010) o
29
currículo existe e está aqui, ali, por ai, em diferentes espaços, com diferentes modos de existir,
fazendo coisas distintas a diferentes pessoas.
O currículo, diz sobre o tipo de sujeito que se deve com ele formar, sobre os objetivos
a serem perseguidos no ensino, sobre os saberes que devem ser ensinados e aprendidos, sobre
como conhecer o que foi aprendido, sobre o tipo de sociedade e os valores a serem
construídos. Ou seja, o currículo é:
Como artefato social e cultural, é movediço, circula, percorre, move- se, atravessa
vários espaços; desloca-se, desdobra-se. Em seus movimentos, o currículo acontece: nas
escolas, nas salas de aula, na política educacional, nas propostas político-pedagógicas, nos
livros didáticos, nas faculdades de Educação, na formação docente, na pesquisa educacional,
na cultura, no cotidiano e também na mídia. Faz parte, diretamente, da vida daquelas pessoas
que com ele se ocupam; daquelas que o perseguem. Ele faz parte, também, da vida daquelas
pessoas com as quais ele se ocupa, daquelas que ele persegue. (PARAÍSO, 2010).
Nesse contexto, um currículo constitui-se como um espaço habitável e habitado por
pessoas de diferentes classes sociais, de diferentes culturas, idades, gênero, etnias, crenças e
valores, onde se oferece a possibilidade da palavra e de aprender trocando formas de
pensamento muito distintas, onde há produção e circulação de saberes variados, de
conhecimentos múltiplos, de perspectivas diversas, mas é também espaço de governo,
controle e hierarquizações.
Contudo, Paraíso (2010) ressalta que como território de multiplicidades de todos os
tipos, de produção e disseminação de saberes diversos, de encontros “variados”, de
composições “caóticas”, de disseminações “perigosas”, de contágios “incontroláveis”, de
acontecimentos “insuspeitados”, um currículo é, por natureza, rizomático, porque é território
de proliferação de sentidos e multiplicação de significados.
Nesse contexto, aqueles (as) envolvidos (as) nessas lutas e disputas sabem que um
currículo é uma “prática cultural” que possui uma política e uma pedagogia; uma prática
30
cultural que ensina e forma; uma prática cultural que governa condutas e produz sujeitos de
determinados tipos. (PARAÍSO, 2010).
É possível dizer ainda, que como prática sociocultural, discursiva e não discursiva,
como uma linguagem, o currículo:
Desta forma, salienta-se que “currículos, nesta ocasião, são analisados como
ferramentas pedagógicas que produzem identidades 6” (SILVA, 2011, p.95) e considerando o
exposto por Paraíso (2010) e Bricio (2008), percebendo o currículo como espaço de
construção, negociação e por vezes de jogos de força, em que apesar das relações de poder e
controle tudo vaza e escapa, e conforme anunciado no título dessa dissertação, recorro à
proposta de pensar o currículo na articulação entre o real e o imaginário, entre a realidade
vivida e prescrita, entre as potencialidades e desafios e como lugar da imaginação, lugar do
novo, da transgressão, das travessias, de abertura de fendas e lugar do real potencial.
Pode-se perguntar: por que transitar pela problematização do currículo na articulação
entre o real e o imaginário? Por hora tendo a refletir que o porquê de cada coisa real, de cada
coisa imaginária, vive no real imaginário de cada um de nós, ou seja, na casa verdadeira das
“asas” da nossa imaginação. E é abrindo as portas ao imaginário que deixamos que a
realidade entre no profundo do nosso ser, que nos permitimos pensar além do óbvio e a partir
do imaginário transformar a realidade e a nós mesmos. Tendo em vista que segundo
Bachelard apud Ribeiro (2011, p. 340) “a imaginação inventa mais que coisas e dramas,
inventa vida nova, inventa mente nova; abre olhos que têm novos tipos de visões”.
Neste contexto, nossa pesquisa se coloca como problematizadora da relação entre o
currículo do curso de Pedagogia e a formação em relação às questões de gênero e sexualidade,
e visa fomentar a compreensão da possibilidade do desenvolvimento de práticas educativas
que sejam capazes de preservar os direitos de cidadania e de dar voz para sujeitos que sempre
foram silenciados socialmente, visto que, como artefato social e cultural no currículo o gênero
6
Compreendemos as identidades de forma aproximada ao discutido por Hall (2000) considerando que “não são
nunca unificadas; que elas são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas não
são, nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que podem se
cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historicização radical, estando constantemente em
processo de mudança e transformação.” (p. 107-108)
31
e a sexualidade são normalizados por serem consideradas categorias estáveis, fixas, ancoradas
em pressupostas essencialistas de cunho biológico (BRITZMAN, 1996).
Concordando com Tanno (2007) sobre o papel do (a) educador (a) frente à construção
de uma ética fundada no respeito e na cidadania, condição básica para a convivência em
grupo, não deixando de considerar o papel da universidade (e dos cursos de formação) e sua
influência nesse processo, acredita-se que a pesquisa pode colaborar para fomentar a
superação das discriminações e a desnaturalização das desigualdades, buscando desenvolver a
construção de um olhar transdisciplinar e uma profunda discussão sobre as feminilidades e
masculinidades nos desdobramentos da formação e da prática educativa do (a) pedagogo (a).
Por fim, é também nossa intenção que esta pesquisa traga contribuições no sentido de
ampliação das fontes de pesquisa sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual e Pedagogia,
ampliação de reflexões e debates sobre a necessidade da inserção de componentes curriculares
sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual no curso de Pedagogia, e contribua para
tomada de consciência dos (as) docentes e discentes sobre o papel do (a) educador (a) frente à
superação do sexismo, do machismo, da homofobia e do respeito às diversidades em nossa
sociedade.
Diversos estudos desenvolvidos nos últimos anos (Projeto Escola Sem Homofobia,
2010; Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas, 2009;
Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, 2009) e (Lima, 2006; Ferrari, 2004,
Louro, 1997; 2004;) têm comprovado a existência do preconceito, da discriminação, da
opressão e da pouca presença das questões referentes a gênero, sexualidade e diversidade
sexual na escola, questionando o papel da educação, da escola e de seus/ suas profissionais no
que diz respeito a práticas voltadas para emancipação dos sujeitos e para desnaturalização das
desigualdades, e que compreendam a diversidade como base da estrutura social.
Nesse contexto, como fruto das experiências vividas na graduação; das presenças e
ausências deste tema em minha formação inicial; a partir das discussões travadas no
movimento social LGBTTI e da recorrente fala dos (as) militantes quanto à necessidade de
inclusão do debate sobre gênero e sexualidade e combate a discriminação na escola e de
preparação dos (as) docentes para trabalhar com tais temas, das constatações na
32
desenvolvimento da coleta de dados, o perfil dos (as) sujeitos da pesquisa, a trajetória que
marcou o processo de entrevista, e o contexto de analise dos dados.
No quarto capítulo intitulado “Construindo um olhar sobre o curso de Pedagogia da
UEFS: batendo papo com os documentos”, teço reflexões sobre a organização curricular do
curso investigado e suas interfaces com as Diretrizes Curriculares; o perfil de profissional que
o curso se propõe a formar; as mudanças que foram realizadas no currículo do curso de
Pedagogia da UEFS considerando o recorte temporal de 2002 a 2012, os componentes
curriculares que enunciam ou tem potencial para realizar a discussão sobre gênero e
sexualidade; como a discussão sobre gênero e sexualidade é apresentada nos programas das
disciplinas. A fim de conhecer qual o lugar do gênero e da sexualidade no currículo do curso
de Pedagogia a luz dos documentos (resoluções de conselhos, proposta curricular, ementas e
programas) que orientam e remetem ao curso.
No quinto capítulo “Entre palavras, silêncios e rasuras: caminhos percorridos pelo
gênero e pela sexualidade na formação docente” por meio dos enunciados dos (as) docentes
problematizo o currículo como lócus de produtividade de sujeitos e subjetividades, o lugar da
presença e das ausências em torno do gênero e da sexualidade no currículo e nas práticas
formativas do curso de Pedagogia, reflito sobre como as políticas de silêncio são significadas
e como sentidos são produzidos no cotidiano da sala de aula do curso pesquisado, busco
demonstrar como a discussão sobre gênero e sexualidade tem sido construída na formação dos
(as) pedagogos (as) por meio de variadas estratégias.
Por fim, apresentamos algumas considerações, não entendidas como finais, mas
momentâneas para integralização do estudo, em que retomo os objetivos da pesquisa,
sintetizando as reflexões realizadas e os dados analisados, traçando as principais
compreensões propiciadas pela pesquisa. Cabe ressaltar que não temos intenção de apresentar
tais dados como marcos fixos, definitivos e inabaláveis, mas sim constituir essa pesquisa
como um convite para (re) pensarmos as culturas, as subjetividades, os silêncios e as
diversidades no interior do curso de Pedagogia da UEFS.
Além dos capítulos acima descritos, compõem esta dissertação, a abertura da
dissertação por mim chamada de “Minha presença e mover-me no mundo: percursos iniciais
de uma viagem”, os apêndices (o termo de consentimento livre-esclarecido e os roteiros
utilizados para a realização das entrevistas) e os anexos (programas de componentes
curriculares, fluxograma, resoluções, etc.).
35
7
No recorte escolhido para produção deste capítulo, foram catalogados textos coletados diretamente no site da ANPEd
(www.anped.org.br)
37
sobre a potencialidade das discussões promovidas, bem como sobre as possíveis ausências de
temas nos estudos identificados.
Como afirmado por Ferreira (2002), quando nos interessamos por um campo de
estudo, temos a sensação do não conhecimento acerca da totalidade de estudos e pesquisas na
área. Posteriormente ficamos com vontade de conhecer melhor o campo e divulgar o que
vamos aprendendo. Nesse sentido, tivemos a intenção de conhecer um pouco melhor o campo
de estudos de gênero e sexualidade em suas interfaces com currículo e formação docente
antes de formular um novo problema de pesquisa, visto que, como sugere Paraíso (1994), tal
ação evita que o (a) pesquisador (a) tome como novos temas e problemáticas já discutidas e
estudadas por pesquisas da área.
De acordo com Sposito (2001) a crescente produção científica nas mais diversas áreas
de conhecimento, especialmente a que decorre dos diversos programas de pós-graduação
existentes no país, requer a intensificação de investigações que possibilitem acompanhar sua
trajetória, fazer avaliações críticas, delinear os principais contornos das pesquisas e propor
novas possibilidades de estudo.
Esses trabalhos, comumente denominados estudos do tipo “estado da arte” ou
pesquisas de revisão bibliográfica, possuem metodologia de cunho inventariante e descritivo
da produção acadêmica (FERREIRA, 2002) e tem por objetivo inventariar e sistematizar a
produção em certa área do conhecimento, em período previamente estabelecido, identificando
as tendências presentes nos trabalhos analisados, bem como seus resultados, aspectos não
explorados e limitações, permitindo o conhecimento de novos objetos de investigação dentro
das temáticas consideradas (MEGID NETO, 1999).
Cabe destacar que o mapeamento realizado não esgota nem pretende esgotar as fontes
de dados e pesquisas no que se refere a nosso objeto de investigação, nem mesmo no âmbito
dos espaços escolhidos para coleta de dados, uma vez que nosso olhar teve recorte específico
e que muitos outros aspectos podem ser identificados por outros (as) pesquisadores (as),
portanto tem por intenção contribuir com outros (as) pesquisadores (as) interessados (as)
nessa área e ampliar nosso próprio olhar sobre a produção no campo pesquisado.
38
1.1. Os modos de ver, ler e fazer: a produção sobre gênero e sexualidade nas
Reuniões Anuais da ANPEd (2000 – 2011)
De acordo com Ferreira e Nunes (2010) no processo que envolve o exame da produção
acadêmica um aspecto importante a ser considerado é: “em que medida o conjunto da
produção avaliada pode ser circunstanciada na categoria de estudos de gênero?” (p.03). Tal
indagação implica na tomada de decisões no que diz respeito à inclusão dos textos no
mapeamento realizado, um processo árduo de afunilamento que articulado ao
amadurecimento teórico poderá constituir fundamentação para as escolhas.
Compreende-se aqui conforme salientado por Ferreira e Nunes que:
De acordo com Ferreira e Nunes (2010), Scott (1995) identifica dois tipos de
abordagens, que valorizam diferentemente o gênero: a primeira é essencialmente descritiva e
se refere à existência de fenômenos ou de realidades, sem realizar interpretações e a segunda é
de ordem causal e teoriza sobre a natureza dos fenômenos e das realidades, buscando
compreender como e porque eles tomam as formas que têm.
A partir dessa consideração Scott (1995) que conforme citada anteriormente
compreende o gênero como um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de dar significado às relações de
poder, segundo Ferreira e Nunes (1995) utiliza a categoria gênero sob a perspectiva de melhor
compreender os fenômenos sociais, porque as noções socialmente construídas de
masculinidade e feminilidade explicam as relações de poder nas sociedades tanto ou mais do
que outras categorias analíticas.
Tomando por base essa referência que está entrelaçada na construção da dissertação e
inspirada pelas análises já realizadas por Ferreira e Nunes (2010), como critério de inclusão,
foram selecionados textos que usam o gênero como ferramenta primária de análise e como
ferramenta secundária, ou seja, embora o objeto primeiro não seja esse ou essa variável tenha
39
No ano 2000, na 23ª Reunião da ANPEd foram identificados sete trabalhos sobre
gênero e/ou sexualidade, dispostos da seguinte forma: no GT 03 Movimentos Sociais -
encontramos dois trabalhos: um abordando o acesso das mulheres ao Ensino Superior como
foco de discussão (QUEIROZ, 2000) e o outro tendo como foco as representações culturais de
gênero e raça considerando a masculinidade e corpo de homens negros (PARENTE, 2000).
No GT 06 Educação Popular, identificamos um trabalho que buscava compreender as relações
entre educação e violência nas relações de gênero. (MOITA, 2000). No GT 07 Educação da
Criança de 0 a 6 anos, encontramos um trabalho que se refere discussão da prática
pedagógica e sexualidade (SOUZA, 2000). No GT 13 Educação Fundamental, encontramos
um trabalho que versava sobre sexualidade dos (as) jovens estudantes do Ensino Fundamental
(REIS, 2000) e, por fim, no GT 14 Sociologia da Educação, dois trabalhos foram encontrados:
o primeiro objetivou desvendar aspectos específicos das práticas dos (as) professores (as) quanto
à questão do homoerotismo masculino (FERRARI, 2000) e o segundo que se dedicou a analisar
o processo de socialização de meninas vítimas de abuso sexual na família, buscando elucidar a
relação entre os elementos que constituem a educação oferecida pela família e a ocorrência do
fenômeno. (PINHEIRO, 2000).
Na 24ª Reunião da ANPEd, em 2001, identificamos três trabalhos sobre gênero e/ou
sexualidade, dispostos da seguinte forma: no GT 02 História da Educação, foi encontrado um
trabalho que reflete sobre a feminização do magistério como processo de influência e
construção que ocorrem em vários níveis – institucional-administrativo, político e subjetivo,
focalizando especialmente os relacionados à formação inicial da professora. (WERLE,
DORNELLES, AUZANI, BACKES, KOCH, TOIGO, 2001). No GT 07 Educação da Criança
de 0 a 6 anos, encontramos um trabalho que analisa de que formas a conduta heterossexual
está sendo re/produzida nos filmes infantis de animação e de que forma os filmes infantis de
animação constroem representações de gênero e de sexualidade a partir do outro como
parâmetro de normalidade (SABAT, 2001). No GT 13 Educação Fundamental, identificamos
um trabalho que analisa os textos televisivos como discursos, e examina como a linguagem e
a representação produzem significados, regulam condutas, constituem identidades e definem o
modo pelo qual professoras são representadas pela mídia (SALCIDES, 2001).
Localizamos seis trabalhos sobre gênero e/ou sexualidade, no ano de 2002, na 25ª
Reunião da ANPEd, dispostos da seguinte forma: GT 07 Educação da criança de 0 a 06 anos,
41
encontramos dois trabalhos, o primeiro que analisa sobre as práticas educativas das
professoras no contexto das relações profissionais junto às monitoras de Educação Infantil e
as crianças, mas ao longo de suas discussões apresenta também algumas reflexões sobre a
docência e as relações de gênero (ÁVILA, 2002), e o segundo que tem como foco o trabalho
docente masculino em creches e pré-escolas no município de Florianópolis/SC, visando
compreender as interações que professores homens estabelecem com os meninos e as
meninas, com as famílias destes/as e com as demais profissionais - mulheres - em suas
práticas cotidianas. (SAYÃO, 2002). No GT 13 Educação Fundamental, identificamos um
trabalho que buscou levantar e analisar os discursos de jovens gays acerca das suas relações e
vivências que corroborem para a vulnerabilidade deles frente à epidemia do HIV/AIDS.
(PIMENTEL, 2002). No GT 16 Educação e Comunicação, encontramos um estudo que teve
como objetivo analisar de que maneira um dispositivo da maternidade é produzido e
atualizado no espaço midiático (MARCELLO, 2002). No GT 18 Educação de Jovens e
Adultos, encontramos um estudo que desenvolve a investigação sobre as implicações das
representações de gênero na busca de escolarização realizada por mulheres das camadas
populares da periferia de Belo Horizonte (NOGUEIRA, 2002).
Por sua vez, em 2003, na 26ª Reunião da ANPEd, identificamos seis trabalhos sobre
gênero e/ou sexualidade, os quais estão alocados da seguinte maneira: GT 02 História da
Educação, identificamos três trabalhos, o primeiro que analisa a mulher na relação com a
educação, privilegiando o estudo do século XIX, no contexto da província mineira.
(GOUVEA, 2003); o segundo discute uma greve que professoras primárias realizaram em
Minas Gerais e buscou compreender as expressões coletivas nas práticas discursivas de jornal
local sobre as professoras, nas falas da liderança e nas suas presenças maciças narradas, ou em
imagens fotográficas. (NUNES, 2003); o terceiro reflete sobre a história da educação sexual no
Brasil a partir das contribuições do médico José de Albuquerque (RIBEIRO e REIS, 2003).
No GT 03 Movimentos Sociais, identificamos um trabalho que versa sobre o movimento gay,
as relações estabelecidas neste espaço e suas contribuições no processo de organização e
formação dos militantes. (FERRARI, 2003). No GT 12 Currículo, identificamos dois
trabalhos, o primeiro que discute a partir das análises de Gramsci sobre a questão sexual
apresentadas nos Cadernos do Cárcere, trazendo reflexões de algumas questões sobre gênero e
classe presentes na obra do referido autor. (BARLETTO, 2003) e o segundo investiga como a
orientação sexual tem sido trabalhada em uma escola pública no Rio de Janeiro (ALTMANN,
2003).
42
Na pesquisa junto aos GE’s e GT’s da ANPEd nos anos de 2000 a 2003 8,
identificamos ao todo 21 (vinte e um) trabalhos sobre gênero e/ou sexualidade com diversas
perspectivas de abordagem, observamos que a reflexão sobre as questões de gênero e/ou
sexualidade a partir da formação de professores (as) evidencia-se apenas através de um estudo
que se remete a feminização do magistério, por sua vez, não identificamos nesse período
nenhuma pesquisa sobre o currículo no âmbito da formação docente ou relacionado ao curso
de Pedagogia e as questões de gênero e sexualidade.
Ponderamos que os números de estudos sobre gênero e sexualidade quando
comparados ao conjunto da produção apresentada nas Reuniões, podem ser considerados
baixos, mas cabe salientar que também percebemos certa regularidade na quantidade de
trabalhos acerca das temáticas estudadas. Pode ser observada na tabela abaixo a distribuição
das pesquisas por GT, ano, autores (as) e instituição:
8
Cabe registrar que apesar de abordarem diferentes aspectos relacionados a gênero e sexualidade em sua
interface com a educação e com processos culturais nenhum dos trabalhos identificados no período 2000 a 2003
trataram especificamente de questões relacionadas a currículo e a formação de professores (as) e/ou formação no
curso de Pedagogia, por isso optamos por não discuti-los mais detalhadamente falando sobre suas metodologias,
questões de pesquisa e inspirações teóricas, porém pela sua relevância realizamos o registro de sua existência e a
sinalização de seu foco temático. Seguimos a mesma dinâmica com todos os trabalhos encontrados entre 2004 a
2011, registrando aqueles que abordam sobre gênero e/ou sexualidade, mas descrevendo mais detalhadamente
apenas aqueles que se aproximam de foco de interesse (currículo e a formação de professores (as) e/ou formação
no curso de Pedagogia).
43
Esses elementos podem ter diferentes nichos de resposta, caberia uma análise mais
aprofundada para saber, por exemplo, o porquê da presença tão pequena de pesquisadores (as)
das regiões Norte e Nordeste e da presença tão tímida de homens produzindo sobre a
temática. Ao passo que a forte presença de grupos de pesquisa nas instituições públicas pode
ser percebida como uma das motivações para estas destacarem-se na produção acadêmica.
Entre os anos de 2004 e 2011, identificamos um total de 177 (cento e setenta e sete)
trabalhos sobre gênero, sexualidade e educação de forma abrangente, no entanto quando
buscamos verificar quais destes faziam interface com currículo e formação docente, e/ou
curso de Pedagogia, encontramos apenas dez artigos. Em função da grande quantidade de
artigos, diferentemente do que fizemos com o período 2000 a 2003, não os apresento
detalhadamente, destaco os temas e enfatizo apenas os trabalhos que abordam as temáticas de
gênero e sexualidade em articulação com currículo, formação docente e curso de Pedagogia. É
importante registrar que a partir de 2004 se configura uma maior concentração dos trabalhos
sobre gênero e sexualidade no GE 23 (atual GT 23), não deixando, todavia de aparecer em
menor quantidade em GTs como: 02, 03, 06,07, 08, 12, 14, 21.
No ano de 2004, na 27ª Reunião Anual da ANPEd, identificamos vinte e cinco
trabalhos dispostos nos GT's 02, 03, 12, 14, 21 e do GE 23, sobre gênero e/ou sexualidade.
Observamos que dezoito artigos são de autores (as) vinculados a instituições da região
Sudeste (USP; UFF; UNESP; UERJ; UNIARAXÁ; UFRJ; PUC-RIO; PUC-MG; UFJF;
UNIRIO; UNIBAN), quatro artigos de autoras vinculadas a instituições da região Sul
(UNISINOS; UFPEL; FEEVALE; UFRGS), dois trabalhos de autoras vinculadas à região
Centro - Oeste (UCG; UFMT) e um artigo de autora vinculada à instituição da região
Nordeste (PMJP).
Os trabalhos identificados discutem sobre as seguintes tendências temáticas: corpo,
escolarização, homossexualidade e processo formativo nos movimentos sociais, escolarização
de mulheres trabalhadoras, educação sexual na escola, sexualidade de adolescentes, relações
de gênero e práticas escolares, masculinidades e feminilidades e sucesso/fracasso escolar,
orientação sexual, relações de gênero no sindicato, gênero e futebol feminino, história do
magistério e experiências masculinas, invisibilidade da homossexualidade na escola,
46
Por sua vez, o segundo artigo apoia-se na perspectiva teórica dos Estudos Culturais,
desde sua vertente pós-estruturalista e investiga as representações de gênero, raça e etnia que
são re/produzidas e ensinadas por meio dos filmes infantis de animação, e como tais
marcadores são narrados por professoras e professores em processo de formação docente. A
pesquisa tem como objetivos: a) problematizar as representações que professoras e
professores têm acerca de gênero, raça e etnia; b) investigar as conexões existentes entre
currículo cultural e currículo escolar; c) identificar como os filmes infantis de animação são
utilizados nas aulas de Educação Infantil; d) identificar como tais filmes operam na
constituição de identidades culturais.
A pesquisa apresentou caráter qualitativo, foi desenvolvida em três etapas: seleção e
análise performativa do discurso de filmes infantis de animação, grupo de discussão com
professoras em processo de formação dos cursos de Pedagogia e Normal Superior da
Instituição de Ensino que autora lecionava e cruzamento dos dados coletados na análise dos
filmes infantis e nos grupos de discussão. (SABAT, 2005).
Na 29ª Reunião Anual da ANPEd (2006), registramos vinte trabalhos sobre gênero e
/ou sexualidade distribuídos nos GT’s 03, 07, 21, 23. Quanto ao perfil de distribuição das
produções identificamos doze artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região
Sudeste (CUML, UFMG; UNISO; UNICAMP; USP; UFRJ; UERJ; UNESP; UFJF; UFF),
seis artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sul (ULBRA; UFRGS;
UTFPR; UNIPLAC) e dois artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região
centro – oeste (UFMT; UFMS).
Nestes trabalhos verificamos que as abordagens giram em torno dos seguintes focos: a
expressão e vivência das feminilidades homossexuais na escola; práticas escolares e
disciplinamento de corpos na Educação Infantil; corpo e sexualidade de pessoas deficientes;
violência sexual contra crianças e adolescentes; currículo escolar e relações de gênero;
discursos de feminilidade e sexualidade em revistas femininas; representações de gênero nos
livros didáticos de matemática; relações de gênero e educação para prevenção a AIDS;
cinema e construção de identidades de gênero de mulheres idosas; pedagogias amorosas
/sexuais produzidas pela cultura de mídia; homossexualidade no espaço escolar; gênero e
Educação Física; discursos sobre infância, adolescência e AIDS; mulheres e futebol no
cotidiano escolar; representações sociais de gênero sobre a maternidade; relações de gênero e
projetos de alfabetização; representações sociais de educadores (as) sobre sexualidade. Como
se pode observar, nesta reunião nenhum dos artigos teve as questões de gênero e sexualidade
48
em suas interfaces com formação docente ou currículo do curso de Pedagogia como objeto de
discussão.
A leitura dos trabalhos apresentados na 30ª Reunião Anual da ANPEd (2007)
evidenciou vinte e cinco artigos sobre gênero e sexualidade. Os artigos estão dispostos nos
GT’s 02, 06, 07, 14, 21 e 23. Quanto ao perfil de distribuição das produções identificamos
doze artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sudeste (UNIRIO; UERJ;
USP; UFMG; UNIPLI; UFRJ; UNICAMP; UFV), seguidos por oito artigos produzidos por
autores (as) vinculados a instituições da região Sul (UNIPLAC; UFRGS; UNILASSALE;
UNIJUI, ULBRA), três artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região centro –
oeste (UNIR, UFMT, UFMS) e por fim, um artigo de autora vinculada a instituição
internacional (UMA).
Os temas dos artigos relacionam-se as seguintes questões: movimento feminista e
feminização do magistério; feminização do magistério; saberes e história de vida de mulheres;
práticas escolares e disciplinamento de corpos na Educação Infantil; avaliação e relações de
gênero; gênero, cor/raça e escolarização; representações sociais de gênero e etnicidade;
construções de gênero e sexualidade no contexto escolar; constituição da identidade feminina
e masculina no espaço da socialização infantil e o papel da família e da escola; concepções
docentes sobre a feminização da carreira docente; discursos sobre os corpos de mulheres
grávidas; boneca Barbie e educação de meninas; educação, gênero e envelhecimento;
constituição do sujeito e da sexualidade feminina e prática discursiva de professoras; questões
de gênero e história de vida; avaliação dos desempenhos de meninos e meninas e pressupostos
de gênero e de sexualidade; construções de gênero e sexualidade em locais públicos e escolas;
experiência de vida de pedagogas; trabalho doméstico familiar e constituição de identidades
de gênero; processo de (re) construção da identidade de professores homens; sexualidade e
currículo de formação de professores; modos de ser menina e ser menino e processos de
alfabetização; educação sexual.
Identificamos dois artigos que discutem a sexualidade no âmbito da formação docente.
O primeiro teve como foco de análise as representações de sexualidade presentes em Curso
Normal noturno, de uma escola particular católica de Porto Alegre. Inserida no campo dos
estudos feministas numa perspectiva pós-estruturalista, a pesquisa tomou como inspiração
metodológica a etnografia e a produção de dados se deu a partir de observações sistemáticas
ao longo de um semestre, análise documental e entrevistas individuais com as estudantes.
(BALESTRIN, 2007). Por sua vez, o segundo trabalho tem por objetivo discutir e analisar
como a sexualidade marca as relações pessoais e como interfere no currículo de formação de
49
professores (as). A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas com três docentes que
atuam na área de Ciências, tendo a história de vida e as experiências docentes como
elementos centrais para construção das discussões. (SILVA, 2007).
Os trabalhos apresentados na 31ª Reunião Anual da ANPEd (2008) sobre gênero e
sexualidade totalizam dezoito artigos, os quais estão distribuídos entre os GT’s 03; 14; 18 e
23. No que diz respeito ao perfil de distribuição das produções, observamos a existência de
nove artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sudeste (UFMG;
UNIVALE; CEFET-ES; UFRJ; UFJF; UNESP; UFLA; UERJ), seis artigos de autores (as)
vinculados (as) a instituições da região Sul (UFRGS; UNIJUI, UFPR; UTFPR); dois artigos
de autores (as) vinculados (as) a instituições da região Nordeste (construído coletivamente por
pesquisadoras da UFPE, UFPB e UEPB; individual por pesquisadora da UFPE) e um artigo
construído coletivamente por autores (as) da região Sudeste e Sul (UNESP e UEM).
Os artigos versam sobre as seguintes linhas temáticas: participação feminina no
universo do hip-hop; construção de masculinidades e processos de aprendizagem no espaço
escolar; configurações das relações de gênero de catadores e catadoras e modos de ser alunos
e alunas na EJA; relações de gênero, e trajetória escolar das mulheres na EJA; relações de
gênero e organização/repartição dos espaços, objetos e atividades no contexto da Educação
Infantil; narrativas autobiográficas femininas; politização do feminino e da maternidade;
livros literários e construção de sentidos docentes sobre sexualidade; ideais de masculinidade
e feminilidade presentes em livros didáticos, manuais do professor, documentos oficiais
(legislação educacional, programas oficiais, currículos, materiais de docentes); fronteiras do
gênero e da sexualidade e o discurso da sexualidade e da diversidade sexual no universo
escolar; formação docente para o trabalho com a educação sexual; construção das relações
familiares de meninos (as) em situação de rua; manuais de conduta e construção de
identidades de gênero; representação dos comportamentos sexuais por meio da linguagem no
universo escolar; questões de gênero, diversidade sexual e literatura infantil na formação
continuada de profissionais da Educação; formação para enfrentamento ao abuso e exploração
sexual de crianças e adolescentes; relações de gênero e participação feminina na vida social;
construção de comportamentos e feminilidades não hegemônicos no cotidiano escolar.
Encontramos dois artigos que tratam da discussão de gênero e/ou sexualidade e m suas
interfaces com formação docente e com formação de profissionais da educação. O primeiro
tem por objetivo analisar e problematizar a formação continuada de docentes para o trabalho
com a educação sexual, nos contextos do Programa de Educação Afetivo-Sexual (PEAS),
desenvolvido em escolas do município de Juiz de Fora (MG). Inspira-se na perspectiva pós-
50
estruturalista, lançando diversas questões sobre a sexualidade e a educação sexual nas escolas,
analisando situações e falas de professoras que participaram do curso de capacitação do
PEAS. (CASTRO, 2008).
Ao passo que o segundo artigo, é um relato de experiência também inspirado pela
perspectiva pós-estruturalista de gênero e sexualidade que apresenta resultados de uma
pesquisa realizada a partir do trabalho com literatura infantil no módulo sobre as questões de
gênero e diversidade sexual no ambiente escolar de um curso de capacitação dirigido aos (as)
profissionais da educação 9 da rede municipal de ensino da cidade de Matinhos. A autora
discute o processo formativo desenvolvido no âmbito do curso destacando os conceitos e
concepções discutidos, os recursos pedagógicos utilizados, as vivências experimentadas ao
longo do curso e a importância do uso da literatura infantil para a formação dos saberes sobre
gênero e sexualidade. (TORTATTO, 2008).
Na 32ª Reunião Anual da ANPEd (2009) foram identificados dezessete trabalhos sobre
gênero e/ou sexualidade, os quais estão distribuídos entre os GT’s: 03, 09, 12, 14 e 23. No que
diz respeito à autoria, doze artigos são de autoria de mulheres, quatro de autoria de homens e
dois de autoria conjunta. No que diz respeito ao perfil de distribuição das produções,
observamos a concentração no eixo Sul- Sudeste, com nove artigos de autores (as) vinculados
(as) a instituições da região Sudeste (UFF, UFU, UFV, UERJ, UFJF, UFMG, UFLA), cinco
artigos de autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sul (UFRGS, UNOCHAPECÓ,
UNIJUÍ, UFPR), um artigo de autora vinculada à instituição da região Nordeste (UFPB) e um
artigo de autor vinculado à instituição nacional (INEP).
Os artigos versam sobre as seguintes temáticas: empreendedorismo e trabalho
feminino; currículos e construção da heteronormatividade na escola; teoria social de gênero e
interações sociais na escola; gravidez na adolescência; constituição das identidades de gênero
na Educação Infantil; análise de programa de orientação sexual na escola; processo de
produção de subjetividades juvenis por meio do currículo escolar e do currículo de site de
relacionamento; diferentes masculinidades dos estádios de futebol; catalogação de livros
sobre os temas sexualidade, educação sexual e de gênero; exclusão de transexuais e travestis
do universo escolar; análise das estratégias discursivas adotadas por agentes públicos diante
de propostas voltadas a promoção do reconhecimento da diversidade sexual nas escolas;
homoparentalidade e escola; família e a parentalidade na legislação e produções de gênero;
9
Entre os (as) participantes do curso estavam profissionais dos vários setores das escolas: professora (e)s,
supervisoras, coordenadoras, cozinheiras, inspetoras e inspetores de aluno (a)s, motorista de condução escolar,
auxiliares de serviços gerais, atendentes de creche, secretárias, técnicas em enfermagem e estudantes de
Pedagogia.
51
relações de gênero nas jornadas e nos ritmos definidores do trabalho docente; docência,
homossexualidade e travestilidade; gênero e o contexto de brincadeira e jogos na construção
de identidades; discursos oficiais sobre as sexualidades/homossexualidades presentes no
currículo da escola. Entre os dezoito trabalhos, não foram identificadas referências à
discussão sobre currículo no que diz respeito à formação docente ou o curso de Pedagogia,
mas observamos a presença marcante de trabalhos sobre homossexualidade, corpo, universo
escolar e diversos trabalhos embasados na teoria queer.
Foram identificados na 33ª Reunião da ANPEd (2010) vinte e quatro trabalhos sobre
gênero e/ou sexualidade, os quais estão distribuídos entre os GT’s: 03, 06, 09, 12, 18, 23, 24.
No que diz respeito ao perfil de distribuição das produções, observamos a existência de dez
autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sudeste (UNICAMP, UFSCAR, UFMG,
UNESP, UERJ, UFV, UIT, UFU, UFLA), nove autores (as) vinculados (as) a instituições da
região Sul (UNISINOS, UFPEL, ULBRA, UFPR, UFRGS, UDESC, UFSC), dois autores (as)
vinculados (as) a instituições da região Centro – Oeste (UNB, UFMT), dois autores (as)
vinculados (as) a instituições da região Norte (UEPA/UNAMA, UFPA) e uma autora
vinculada à instituição internacional (UM).
As temáticas que atravessam os artigos encontrados são as seguintes: movimento de
mulheres e transformação social; experiências escolares de jovens rurais; produção de
feminilidades e religião; relações de gênero e currículo de escola profissionalizante; produção
do currículo e performatividade; EJA, gênero e linguagem; transformações do conceito de
gênero, a noção de performatividade e as suas implicações na desnaturalização dos corpos e
dos binarismos que produzem a norma (hetero) sexual; estado da arte sobre educação, gênero
e sexualidades; constituição identitária de professores/as que transitam pelas fronteiras das
sexualidades e do gênero; produção da criança como sujeito do amor romântico pela mídia;
nascimento do dispositivo da sexualidade no século XIX e as ferramentas produzidas no
interior das formas de controle dos corpos e do sexo; a constituição da professora ribeirinha;
construção do gênero na subjetividade infantil na escola; produção acadêmica sobre dança e
gênero; articulações entre representações culturais de masculinidade e dança; representação
imagética da mulher negra; construção e experiências dos corpos e masculinidades não
hegemônicos na relação com atividade docente; relações de gênero nas práticas e nos
discursos curriculares no curso de Educação Física; produção de discursos sobre educação
sexual no Brasil; relações de desigualdades entre homens e mulheres em processos eleitorais
no âmbito da gestão escolar; noções de corpo veiculadas em documentos oficiais e
construídas por docentes e discentes no âmbito escolar; relações de gênero no interior do
52
queer, feminismo, universo escolar. Os textos estão distribuídos entre os GT’s: 03, 07, 12, 14,
16, 19, 21 e 23. No que diz respeito ao perfil de distribuição das produções, observamos a
presença de oito autores (as) vinculados (as) a instituições da região Sudeste (UFU;
UNIVALLE, UFV, UNIRIO; UERJ; UFF; USP; UNICAMP), sete autores (as) vinculados
(as) a instituições da região Sul (UFSC; UNIJUÍ; UFRGS; FURG; IFSC), duas autoras
vinculadas a instituições da região Nordeste (UFPE; UFPB), três autores (as) vinculados (as)
a instituições da região Centro - Oeste (UFMS; UNB; UCDB) e um artigo de autora vinculada
à instituição da região Norte (UEPA).
As temáticas que atravessam os artigos encontrados são as seguintes: feminismo
dialógico; culturas lúdicas infantis; currículo escolar e a construção das relações de gênero;
produção discente sobre as diferenças de desempenho escolar entre os sexos; masculinidades,
corpos e mídias; percepções de estudantes dos gêneros feminino e masculino sobre
matemática; construção de identidades negras e femininas e cultura urbana; corpo-docente-
masculino, suas variações e (in) conformidades; PRONASCI e construção de modos de
conduta de homens e mulheres no espaço público; concepções de masculinidade de alunos da
EJA e escolarização; noções de corpo veiculadas no ensino de Biologia; discursos sobre
sexualidade e experiências escolares de mulheres transexuais; formação docente e as questões
de gênero e sexualidades; sexualidade, gênero e diversidades e livros infantis; relações de
gênero e empoderamento feminino; produção acadêmica em torno dos conceitos de cultura,
identidade e diferença; relação entre escolarização, trabalho, gênero e juventude; produção de
modos de maternidade junto a famílias pobres; (homo) sexualidades e gênero na escola
através de documentos oficiais da educação; relações entre masculinidades, raça e rendimento
escolar; emergência de técnicas de governamento da população inerentes ao projeto da
modernidade e a criação de dispositivos da normalização das condutas maternais e paternais;
significados e sentidos atribuídos à homossexualidade por docentes.
O artigo de Castro e Ferrari (2011) discute a relação entre formação docente e as
questões de gênero e sexualidades. As análises foram feitas a partir de observações
participantes realizadas nas aulas. Orientou-se pelas seguintes questões: o que as discussões
de gênero e sexualidades e a introdução delas num curso específico nos possibilitam pensar
em termos de potencialidades e desafios para a formação docente? Quais as implicações
políticas e culturais de incluirmos as questões relacionadas a gênero e sexualidades nos
currículos de formação inicial de professoras/es?
Inspira-se teórico-metodologicamente nos estudos pós-estruturalistas e nos estudos
culturais, tendo como foco de investigação uma iniciativa ocorrida no curso de Pedagogia de
55
uma Universidade Pública Federal. Os autores tomam como análise a proposta de uma
disciplina enfocando as questões de gênero e sexualidades, ministrada para duas turmas do
curso de Pedagogia de uma universidade pública.
Por meio dos relatos provenientes das observações realizadas na disciplina “Tópicos
Especiais Gênero, Sexualidade e Educação” apresenta as concepções construídas pelos (as)
graduandos (as) em torno das temáticas e o entrelace destas na constituição da docência, além
disso, refletem sobre a potencialidade e desafios postos frente à discussão sobre as questões
de gênero e sexualidades na formação inicial, bem como refletem sobre as expectativas dos
(as) graduandos (as) e demonstram que a disciplina se constituiu como espaço de
desconstrução de concepções naturalizadas, revisão de valores, de colocar sob suspeita e
repensar os currículos escolares, as práticas pedagógicas com vistas à ampliação das noções
de saberes legítimos e da pluralidade em torno da vivência das sexualidades, e que os
currículos de formação docente são lugares de subjetivação que contribuem para a construção
de valores e atitudes das/os docentes diante das questões.
Como sinalizado anteriormente, na pesquisa realizada junto aos GT’s e GE da ANPEd
nos anos de 2004 a 2011 foram encontrados 177 (cento e setenta e sete) trabalhos sobre
gênero e sexualidade em suas diversas nuances com a educação, identificamos um aumento
no percentual de produção sobre as temáticas, comparando-se os dois períodos pesquisados
percebemos um crescimento substancial na quantidade de trabalhos. É possível considerar que
esse aumento é resultado da criação de grupo específico voltado para discussão da temática.
Observemos:
Reunião GT /GE 10publicado Instituição dos (as) autores (as) Sexo/ autoria
10
GT 2 - História da Educação; GT 3 - Movimentos Sociais e Educação; GT 4 - Didática; GT 5 - Estado e Política
Educacional; GT 6 - Educação Popular; GT 7 - Educação da Criança de 0 a 6 anos; GT 8 - Formação de Professores; GT 9 -
Trabalho e Educação; GT 10 - Alfabetização, Leitura e Escrita; GT 11 - Política de Educação Superior; GT 12 – Currículo;
GT 13 - Educação Fundamental; GT 14 – Sociologia da Educação; GT 15 - Educação Especial; GT 16 - Educação e
Comunicação; GT 17 - Filosofia da Educação; GT 18 - Educação de Pessoas Jovens e Adultas; GT 19 - Educação
Matemática; GT 20 - Psicologia da Educação; GT 21 - Afro-brasileiros e Educação; GT 22 - Educação Ambiental; GE/GT 23
– Gênero, Sexualidade e Educação.
56
27ª Reunião Anual (2004) passou a configurar-se no GT 23 (antigo GE 23), neste foram
apresentados 132 (cento e trinta e dois) trabalhos. Em segundo lugar aparece o GT 14 –
Sociologia da Educação e o GT 03 Movimentos Sociais e Educação ambos com 07 (sete)
trabalhos apresentados.
É interessante destacar que ao analisarmos os textos na conformação do GE e GT’s
percebemos certa migração de pesquisadores (as) em direção ao GT 23; cabe ressaltar,
contudo que uma porcentagem de textos sobre o tema continua a ser apresentada em outros
GT’s11 foi possível perceber ainda regularidade quanto aos GT’s em que a temática é
discutida no período 2000 – 2003. Observamos que entre a 27ª e a 34ª Reunião, o maior
número de pesquisas sobre a temática foi apresentada na 28ª Reunião com 27 (vinte e sete)
trabalhos.
Olhando o conjunto de instituições representadas, percebemos que entre 2004 e 2011,
mantêm-se a característica já observada entre 2000 e 2003 e já sinalizada por outras
pesquisas, à produção concentra-se em instituições das regiões Sudeste e Sul. Identificamos
que 97 (noventa e sete) trabalhos foram produzidos por pesquisadores (as) vinculados (as) a
instituições da região Sudeste e 53 (cinquenta e três) trabalhos por pesquisadores (as)
vinculados (as) a instituições da região Sul. Nesse período percebemos, contudo, que embora
em pequenos números, neste período foram apresentados trabalhos por pesquisadores (as) das
cinco regiões do país. Todavia uma indagação persiste: por que a produção desta temática no
eixo Norte – Nordeste no contexto pesquisado é tão pequena? É algo a ser buscado em estudo
futuro.
Nos oito anos pesquisados, temos um amplo universo de instituições representadas,
são 65 (sessenta e cinco) diferentes universidades, das cinco regiões do país. Se afunilarmos a
busca para aquelas que são representadas em mais de uma das Reuniões, o caráter
concentrado da produção delineia-se com claridade, reafirmando o eixo Sudeste - Sul. Cabe
observar, contudo, que a recorrente presença de algumas instituições conforme sinalizado por
Ferreira e Nunes (2010) sugere a manutenção e/ou a consolidação de grupos de pesquisa
voltados à investigação e orientação a respeito do nosso objeto de estudo, enquanto outras
instituições parecem emergir, a UFRGS, por exemplo, teve pesquisadores (as) presentes em
todas as reuniões deste período, ao passo que instituições como, por exemplo, UFMT, UFMS,
UFPB, UFPE e UEPA alternam-se entre as reuniões, mas sinalizam certa regularidade. Outra
11
GT02 - 06; GT03 - 07; GT06 – 02; GT07 – 05; GT08 – 02; GT09 – 02; GT12 – 04; GT14 – 07; GT16 – 01; GT18 – 03;
GT19 – 01; GT21 – 04; GT23 – 132; GT24 – 01.
59
capítulo. No desenho que o mapeamento do capítulo foi construído não examinamos tão
detalhadamente o tema das investigações, nesse sentido, cabe ressaltar que estes merecem ser
mais bem examinados, especialmente “na tentativa de observar se há temáticas privilegiadas
segundo momentos específicos da produção, e em quais grupos elas se manifestam”.
(FERREIRA e NUNES, 2010, p.15). Outro aspecto que pode ser observado são as
especificidades do GT 23 (Gênero, Sexualidade e Educação), percebe-se, por exemplo, que
nesse grupo abordagens relativas ao cotidiano escolar expressavam-se num número
considerável.
O conjunto de trabalhos analisados apresenta importantes contribuições para
compreensão sobre o campo de estudos de gênero e sexualidades em sua interface com a
educação. Os estudos em sua diversidade problematizam os discursos construídos em torno
das relações de gênero e das sexualidades nas diversas instâncias sociais e a produção pelas
mais diversas estratégias das subjetividades dos sujeitos sociais, questionam ideias que se
constituíram como verdades absolutas e que implicaram nas relações sociais.
As pesquisas relevam permanência de desigualdades, mas também a presença de
resistência e de novos caminhos no que diz respeito à temática. Como dito anteriormente, com
esse traçado das pesquisas não tivemos intenção de esgotar a temática, mas sim contribuir
com o campo pesquisado.
É salutar relatar que a construção desse capítulo perpassou por momentos distintos. O
primeiro impulsionado pela curiosidade em torno do tema, mas também pela necessidade de
dados que demonstrassem a validade e viabilidade do objeto de estudo da dissertação. O
segundo momento constituído enquanto ferramenta para fundamentar as discussões e
compreensões no processo de construção da problemática e do texto para qualificação, e o
terceiro momento relacionado às revisões sinalizadas pós-exame de qualificação circunscrito
no processo de construção do texto final da dissertação.
Esse processo configurou novas descobertas, revisões, aprofundamentos e redefinições
de estratégias de escrita e de catalogação, foi marcado por muitas questões a cada novo dado e
nenhuma pretensão de apresentar todas as respostas no que diz respeito ao que tem sido
61
produzido, mas sim compartilhar a partir de recorte específico alguns dos olhares que têm
sido construídos sobre o campo do gênero e da sexualidade na Educação.
Considerando o conjunto dos dados analisados entendo que ainda é necessário mais
investigações que contemplem aspectos pouco tratados ou ausentes das pesquisas que
localizamos. Nesse sentido, é importante citar que podem se constituir em estudos posteriores
na continuidade da produção nesse campo: estudos para saber se os currículos dos cursos de
formação de professores (as) incorporaram a discussão de gênero e sexualidades e de que
forma incorporaram; estudos com professores/as que trabalham em sua prática pedagógica
com questões de gênero e sexualidade, para saber como se formaram, onde se informaram,
onde buscaram materiais, como desenvolvem suas práticas pedagógicas; estudos sobre o
curso de Pedagogia pela sua relação com as diversas instâncias da Educação Básica, o estudo
sobre as masculinidades em sua relação com docência, estudos sobre práticas pedagógicas
alternativas para observar se trabalham com as questões de gênero e sexualidade.
Para fins de continuidade de pesquisas que busquem fazer o mapeamento da produção
deste tema no âmbito das Reuniões da ANPEd, pode ser importante ainda separar os pôsteres
dos trabalhos completos, pois conforme sinaliza Ferreira e Nunes (2010) muitas vezes os
pôsteres expressam apenas resultados parciais de pesquisas, ou não dão elementos suficientes
para uma análise substantiva. Da mesma forma caberiam análises mais detalhadas sobre a
produção masculina em relação a gênero, sexualidade e educação no âmbito das teses e
dissertações e também o mapeamento do que os programas de pós-graduação das regiões
Norte e Nordeste têm produzido sobre as questões de gênero e sexualidade.
Em consonância com o evidenciado por Silva (2011), as demais pesquisas encontradas
se dirigiam em sua maioria a discussão do tema nas escolas de Educação Básica, em
pesquisas realizadas nestas, ou à formação continuada com essa temática. Porém, sobre o
currículo dos cursos de formação de professores (as) / do curso de Pedagogia, poucos foram
os debates realizados considerando o universo de pesquisas identificadas.
Tal constatação nos deu fôlego para a construção desta dissertação uma vez que ela se
inscreve no âmbito de fragilidades encontradas nas produções pesquisadas: é uma produção
em Educação sobre gênero e sexualidade em suas interfaces com o currículo do curso de
Pedagogia desenvolvida em curso de Pós-Graduação em Educação de uma instituição pública
de Ensino Superior da região Nordeste.
No próximo capítulo, articulando aos elementos identificados neste mapeamento,
apresento alguns olhares e configurações teóricas que nos inspiram na reflexão sobre gênero,
sexualidade, currículo e formação docente para posteriormente ampliar saberes e mobilizar
62
Tendo emergido em nossa trajetória de estudos como fator importante na relação entre
gênero, sexualidade e educação e sua estreita relação com o currículo, nessa pesquisa não
poderíamos nos furtar de discutir a formação docente, sua correlação com a prática
pedagógica e a importância do entrelaçamento entre currículo, formação, gênero e
sexualidade para alteração da visão normatizadora da escola e da sociedade sobre os sujeitos,
seus corpos e suas experiências.
antropóloga Margaret Mead, é apontada por Carraca (2010) e Sandenberg e Macedo (2008)
como importante referência. De acordo com os (as) autores (as), Mead através de sua obra
Sexo e temperamento (1988), publicada pela primeira vez na década de 30, realizou estudo
comparativo entre três culturas da Nova Guiné que compartilhavam uma organização social
semelhante e através desta apontou a limitação da Biologia na determinação dos
comportamentos sociais, demonstrando o papel determinante dos processos de socialização e
internalização da cultura na formação do indivíduo, através dos quais meninos e meninas são
moldados e adquirem os traços de personalidade (“temperamento”) e comportamentos
culturalmente.
No movimento de ideias que questionaram a concepção natural da diferença,
Sandenberg e Macedo (2008), apontam que a filósofa Simone de Beauvoir em O segundo
sexo publicado na França em 1949, ao afirmar que “não se nasce, torna-se mulher”
retoma e ratifica a trilha aberta por Mead. Carrara (2010) afirma que a frase de Beauvoir foi o
principal mote e ponto de partida para a constituição do campo de estudos de gênero, muito
embora em sua obra não haja nenhuma formulação explícita de gênero como um conceito, um
instrumental para pesquisa.
O segundo sexo, faz uma crít ica às abordagens do determinismo biológico, do
materialismo histórico e da psicanálise, considerando-as reducionistas da complexa teia que
envolve o processo de construção social, portanto historicamente determinado, de um sujeito
“feminino” e subordinado – ao qual é negado o direito de construir seus próprios projetos
(transcendência) –, que chamará de “o outro”, isto é, “o segundo sexo”. (SANDENBERG E
MACEDO, 2008).
Silva (2011), Carrara (2010), Sanderberg e Macedo (2008) e Pereira (2004) através de
suas reflexões nos permitem entender que Beauvoir, através das discussões do referido livro,
instaurou um novo impulso à reflexão sobre as desigualdades entre homens e mulheres nas
sociedades modernas, na medida em que lançou rupturas entre o natural e cultural no que se
referia às experiências das mulheres, influenciou os estudos feministas e lançou as bases para
a formulação que posteriormente configurou-se numa postura que vai defender a construção
social das relações entre (intra) sexos, ou seja, das relações de gênero, demonstrando que estas
vão muito além da regulação da relação homem-mulher, passando também pela relação entre
as mulheres e entre os homens.
Contudo, o embora o fenômeno da construção social das identidades sexuais tenha
sido identificado, sua delimitação enquanto objeto de estudo e o aprofundamento das
reflexões teóricas de como se processa e se manifesta esse fenômeno só se deram décadas
67
mais tarde em articulação com o movimento feminista. Conforme destacado por Sandenberg e
Macedo (2008):
Meyer (2010) aponta que, frente a um contexto social marcado pela hierarquização e
produção de desigualdades legitimadas pela linguagem científica, por matrizes religiosas ou
mesmo pela ausência de visibilização da subordinação feminina dentro das análises
economicistas de inspiração marxista, as feministas foram desafiadas a demonstrar que as
diferenças que implicam nas desigualdades de gênero não são definidas pelas características
anatômicas e fisiológicas ou mesmo pelas desvantagens socioeconômicas de forma isolada,
argumentando que:
como gênero, em distinção ao termo sex, negando o determinismo biológico implícito ao uso
de termos como sexo e diferença sexual.
Segundo Sandenberg e Macedo (2008), o termo gênero:
As autoras apontam ainda que é importante ser observado o fato de que em qualquer
idioma a designação do gênero das palavras é algo essencialmente arbitrário. Trata-se de uma
convenção social que se fundamenta na tradição linguística e, desta maneira, histórico-
cultural de uma determinada comunidade idiomática. Nesse sentido, diferenciando ‘sexo’ de
‘gênero’, as pensadoras feministas buscaram ressaltar o caráter arbitrário do masculino e do
feminino, razão pela qual gênero tem sido objeto de contínuas teorizações, tornando-se, dessa
maneira, conceito chave no campo de estudos sobre as relações entre homens e mulheres e a
condição feminina.
Sandenberg e Macedo (2008) destacam que a conceituação de gênero enquanto
construção social tem permitido para além dos avanços teórico-metodológicos, a conotação
prático-política, onde este se configura como um instrumento científico de legitimação das
lutas femininas, tanto na sociedade quanto no campo da produção de conhecimentos sobre tal
realidade.
Nesse sentido, desmistificando a concepção natural da diferença entre os sexos, as
estudiosas feministas, concretizaram mutações no modelo da ciência moderna, que através de
seu esquema metodológico e epistemológico não traduzia as questões levantadas pelos
estudos de gênero, e expressaram na prática da pesquisa novos parâmetros paradigmáticos
para a reflexão nas Ciências Humanas (PEREIRA, 2004).
Carrara (2010) e Pereira (2004) apontam o texto Trafic on women: notes on the politic
economy of sex (Tráfico de Mulheres: notas para uma política do sexo), escrito em 1975 pela
antropóloga Norte-americana Gayle Rubin, como pioneiro ao estabelecer explicitamente a
distinção entre sexo/biológico e gênero/construção social. Para Pereira (2004) ao defender o
conceito de gênero como um sistema, Rubin assegurou a compreensão dos sujeitos sociais
sexuados, entrelaçados ao sistema de sexualidade. O sistema sexo/gênero representou rupturas
com a teoria funcionalista que compreendia os arranjos de gênero como asseguradores da
69
privado. Historicamente, o espaço público era restrito aos homens e as mulheres eram
confinadas no mundo doméstico, essa realidade ao longo dos anos tem sido transformada, é
possível perceber as mudanças a partir de três campos antes eminentemente masculinos, o
mercado profissional, a escolarização e a participação política. (CARRARA, 2010). Todavia,
as relações sociais ainda são organizadas sob uma lógica hierarquizante, que se articula a
outros marcadores produzindo desigualdades.
Os modelos de gênero forjados nas escolas, família e distintas instituições sociais,
determinam um conjunto de atitudes, posturas e modos de agir diferencialmente
recomendados aos sujeitos. Tais modelos inspiram comportamentos sexuais e sociais que
podem se tornar segundo Carrara (2010), verdadeiras prisões ou fontes de agudo sofrimento,
quando as pessoas não se encaixam nos estereótipos de gênero previamente designados,
quando há qualquer inadaptação ou desvio dessas condutas corre o risco de gerar críticas,
desigualdades e/ou discriminações.
Tais modelos foram socialmente sustentados pelos discursos científicos, visto que o
corpo humano que até o século XVIII, era pensado a partir do modelo de sexo único, tendo
como referência o que concebemos como corpo masculino, como o ideal de perfeição,
passando a partir das mudanças políticas e sociais no contexto do século XIX a ser
interpretado de novas maneiras, através do surgimento do modelo de dois sexos, modificando-
se a percepção das diferenças do grau de perfeição para vincular-se à natureza.
O dimorfismo sexual (diferenciação do sexo biológico como masculino ou feminino)
vincula-se então ao surgimento de uma nova concepção de natureza, distante da explicação
religiosa relativa à criação divina. Com o surgimento da concepção científica de natureza, ser
homem ou mulher passou a significar fundamentalmente o desempenho de um dado papel no
processo reprodutivo. Tal leitura acaba reduzindo as relações de gênero a papeis reprodutivos
e supor a heterossexualidade como natural. (CARRARA, 2010)
A associação natural das mulheres a maternidade e dos homens ao provimento
familiar, embasou a determinação das atividades sociais destes sujeitos, a mulher, por
exemplo, era naturalmente designada para ser mãe e esposa. A natureza e o corpo assim foram
tomados como elementos determinantes das expectativas sociais relativas às mulheres. Porém,
cabe destacar que:
embora fosse ainda pautado, de certa forma, pela produção de regulações e valores morais. O
autor afirma que:
Em grande parte, essa mudança analítica deveu-se de acordo com Carrara (2010), ao
trabalho do sociólogo Howard Becker que situou a construção social de valores e regras
morais como contingentes, ou seja, que podem se transformar ao longo do tempo ou variar
nos seus significados, a partir de diferentes pontos de vista. No que tange aos estudos sobre
comportamentos e práticas sexuais, essa mudança de foco possibilitou uma multiplicação dos
estudos sobre comunidades organizadas a partir de identidades, comportamentos e práticas
sexuais.
No âmbito dos estudos sobre sexualidade, ainda dentro do marco teórico-metodoló-
gico sobre o “desvio”, duas obras ilustram bem o impacto da mudança de perspectiva, o artigo
de Albert Reiss de 1961 “The social integration of queers and peers” (“A integração social
entre os estranhos (queers) e os semelhantes (peers)”) analisava o comportamento e valores
de jovens rapazes que se prostituíam com homens adultos. Outro estudo emblemático,
publicado quinze anos depois, foi o de Laud Humphreys (1970), “Tearoom Trade” (“Tearoom
trade – sexo impessoal em lugares públicos”), que observou as aproximações sexuais entre
homens, em sanitários públicos. Humphreys demonstrou a diversidade de homens que se
engajavam nessas práticas, entre eles homens casados e solteiros, que se viam como
homossexuais e como heterossexuais. (CARRARA, 2010).
Ambos os estudos, de acordo com Carrara (2010), beneficiavam-se das reformulações
nas teorias sobre “desvio,” para compreender práticas e comportamentos a partir dos
significados que adquiriam para as pessoas e questionar a noção de que a sexualidade era algo
da esfera individual. Ao invés disso, defendiam que práticas e comportamentos se davam em
interação social, de acordo com ambientes e regras definidos. Além do estudo de práticas
entre pessoas do mesmo sexo, as transformações no modo de ver a sexualidade possibilitavam
também que a heterossexualidade fosse tomada como objeto de estudos, não como um modo
de estabelecer fronteiras entre saúde e doença, mas de perceber comportamentos considerados
dominantes, como resultado de um conjunto de instituições e discursos sociais.
Os sociólogos William Simon e John Gagnon, são apontados por Parker (2000) e
Carrara (2010) como os primeiros a descrever e problematizar práticas e comportamentos
sexuais no contexto de relações heterossexuais, tidos como “normais”, destacam na
abordagem dos autores que o caráter social e coletivo da sexualidade era compreendido por
meio da noção de uma aprendizagem que se concretizava em roteiros sexuais.
80
relacionados às práticas sexuais. Por outro lado, a AIDS propiciou uma nova explosão
discursiva a respeito da sexualidade, promovendo um debate público sobre práticas e compor-
tamentos, inédita até então, que acabou por neutralizar em certa medida os piores cenários
conservadores que pareciam se anunciar no início da epidemia, ao menos nos países
ocidentais.
Nesse contexto, Carrara (2010) aponta a importância da perspectiva pós-estruturalista
nos estudos sobre sexualidade, a qual parte dos desdobramentos das teorias em torno da
construção social da sexualidade, levando-os a outro patamar, ao considerar o desejo, e
mesmo o corpo, como sendo produzidos a partir de normas sociais. Esse conjunto teórico está
relacionado também a um contexto mais recente dos movimentos sociais em torno da
sexualidade: trata-se de um período em que se articulam reivindicações políticas de travestis,
transexuais e pessoas intersex.
Louro (2009) argumenta que a episteme dominante não dá conta da ambiguidade e do
atravessamento das fronteiras de gênero e sexualidade, posto que a lógica binária não permite
pensar o que escapa do dualismo. Por sua vez, contrapondo-se a episteme dominante, segundo
Veiga-Neto, “o pós-estruturalismo rejeita a ideia de se construírem sistemas que expliquem o
mundo – o que se afasta bastante dos ideais filosóficos, tanto clássicos quanto iluministas
[...]” (1995, p. 11), assim como, rejeita a noção de polaridades fixas e imutáveis de gênero e
de sexualidade.
Influenciados pela perspectiva pós-estruturalista, os objetos de estudo passaram a
abarcar amplamente práticas e comportamentos desestabilizadores do efeito de coerência
entre práticas, desejos, corpos, comportamentos e identidades. Assim, estudos sobre drag
queens, “lésbicas masculinas”, travestis, fetichistas, entre outros, passaram a ser muito
valorizados por essa corrente de produção acadêmica. A visibilização dessas pessoas como
atores/ atrizes políticos (as) no espaço público possibilitou, em interlocução com a produção
de conhecimento, um conjunto de novos questionamentos e problematizações. (CARRARA,
2010). Esse movimento pode ser observado nas pesquisas encontradas no mapeamento que
realizamos sobre a produção acadêmica em torno do gênero e da sexualidade na ultima
década.
Bricio (2008) afirma que os discursos sobre gênero e sexualidade
funcionaram/funcionam como formas de exercício de poder sobre o corpo, mas nem todos são
assimilados, permitindo que se experimentem as fronteiras, lugares proibidos na sociedade
binarista e regulatória. Assim, as fronteiras passam a ser um lugar desejado, cobiçado por
83
aqueles (as) que não querem ser enquadrados (as) numa identidade, nem dizer de que lado
estão, mas apenas querem estar lá e aqui ou nem lá nem aqui.
Essa ideia é completada pela argumentação de Butler (2000) ao afirmar que a
categoria sexo é um constructo ideal que é forçosamente materializado através do tempo. Ele
não é um simples fato ou a condição estática de um corpo, mas um processo pelo qual as
normas regulatórias materializam o "sexo" e produzem essa materialização através de uma
reiteração forçada destas normas.
Para a autora norte-americana, a necessidade dessa reiteração é um sinal de que a
materialização não é nunca totalmente completa, que os corpos não se conformam, nunca,
completamente, às normas pelas quais sua materialização é imposta. Na verdade, são as
instabilidades, as possibilidades de rematerialização, abertas por esse processo, que marcam
um domínio no qual a força da lei regulatória pode se voltar contra ela mesma para gerar
rearticulações que colocam em questão a força hegemônica daquela mesma lei regulatória.
É nesse contexto, marcado por novos questionamentos e problematizações, em que as
fronteiras são reivindicadas, que de acordo com Bricio (2008) as teorizações de gênero e
sexualidade ancoradas nas políticas identitárias passam a ser questionadas pelas teóricas
feministas que encontram fendas para construir uma teorização sobre aqueles (as) que foram
silenciados (as), mesmo com a instituição da identidade homossexual, ou seja, aqueles (as)
que optam pela movência, fluidez e pelas travessias, por se constituir enquanto atravessadores
(as) das fronteiras de gênero e sexuais ou preferem estar nas fronteiras, sem títulos, rótulos,
demarcações ou fixidez. Tal perspectiva é conhecida como teoria queer, segundo Colling
(2011) a teoria queer começou a ser desenvolvida a partir do final dos anos 80 por uma série
de pesquisadores (as) e ativistas bastante diversificados (as), especialmente nos Estados
Unidos e Butler é apontada como uma das suas precursoras.
De acordo com Louro (2001) a teoria queer se coloca contra as abordagens da
sexualidade marcadas pelo sistema heteronormativo de correspondência entre sexo-gênero e
traz à tona a discussão não somente sobre a constituição dos sujeitos da sexualidade, como
também sobre os próprios limites daquele modelo de construção de conhecimento e o quanto
cada sujeito ou grupo suporta (des) conhecer. Neste sentido, demonstra que o sexo, o corpo e
o próprio gênero são construções culturais, linguísticas e institucionais geradas no interior das
relações de saber-poder-prazer, determinadas pelos limites do pensamento moderno. Segundo
Louro (2001):
84
natureza, não estão livres de tensões, disputas e divergências, mas são sim artefatos da
história, sempre passiveis de problematizações, questionamentos, instabilidades e renovações,
os quais podem ser transformados através da ação intencional e de iniciativas de políticas
progressistas.
Corroborando com esta ideia, Louro (2000) afirma que a sexualidade é vista por
muitos (as) como algo que é naturalmente possuído pelas pessoas, todavia a aceitação desta
ideia implica na negação da dimensão social e política da sexualidade. A autora destaca que a
compreensão da sexualidade como algo dado, inerente ao ser humano está ancorada na
percepção de que todos vivem o corpo da mesma forma, no entanto a sexualidade envolve
rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos e convenções, todos estes processos
que são profundamente culturais e plurais, o que nos faz perceber que nada há de
exclusivamente natural nessa dinâmica, posto que, é através de processos culturais que
definimos o que é ou não natural, produzimos e transformamos a natureza e a Biologia, as
tornamos históricas e que os corpos ganham sentido socialmente.
Na medida em que a atribuição dos gêneros aos corpos é feita sempre no contexto de
certa cultura, tendo as marcas dela, Louro (2000, p.11) afirma que “as possibilidades da
sexualidade – das formas de expressar desejos e prazeres – também são sempre socialmente
estabelecidas e codificadas.” Assim, as identidades sexuais são compostas e definidas por
relações sociais e moldadas pelas redes de poder de uma sociedade.
Considerando as implicações da cultura na construção da sexualidade, cabe destacar o
teórico Foucault (2002), o qual concebe a sexualidade como um dispositivo histórico, que
consiste em um:
Nesse sentido, depreende-se que, para os autores a produção das identidades, (dentre
essas as sexuais) não são expressão pura da natureza, mas são construídas pelos sujeitos no
bojo das relações sociais e culturais, através de dispositivos discursivos que se constituem em
jogos de verdade e ganham significados. Desta forma, cabe-nos refletir como as distintas
instâncias sociais têm atuado na produção de verdades sobre gênero e sexualidade, visto que
tais processos são sustentados por práticas discursivas e não-discursivas mediadas pelos
sujeitos, pelas instituições sociais e por relações de poder e vão produzindo valores e
concepções que constituem o nosso entendimento sobre as relações de gênero e sobre as
diversas formas por meio das quais os sujeitos vivenciam suas identidades sexuais (CASTRO
e FERRARI, 2011).
Podemos depreender a partir das discussões anteriores que, nas últimas décadas,
transformações significativas ocorreram no modo como o gênero e a sexualidade são
pensados e vividos na sociedade ocidental. A criação da pílula anticoncepcional, a divulgação
dos ideais da contracultura, a emergência da epidemia do HIV- AIDS, o surgimento dos
movimentos feministas e pelos direitos das pessoas LGBTTI, possibilitaram colocar o gênero
e a sexualidade na ordem do dia, na mídia, nas políticas públicas e nas mais diversas áreas de
conhecimento.
Por outro lado, estudos e pesquisas realizados nos últimos anos apontam que quando
tomamos como lócus de análise a escola, percebemos que em muitos momentos, se registram
em nossas escolas públicas e particulares, casos de intolerâncias raciais, religiosas, sociais,
sexuais, de gênero, entre outros. Quando se refere à questão da orientação não heterossexual,
o preconceito encontrado vira discriminação. Além da violência, há também casos de
transferência, de expulsão, de impedimento de matrícula e ofensa à moralidade das crianças,
adolescentes e até mesmo dos adultos.
Exemplificando os estudos que demonstram tal situação, podemos citar a pesquisa
desenvolvida pelo “Projeto Escola Sem Homofobia” (2010), a qual mostrou que existe
homofobia na escola e houve consenso de que as atitudes e práticas de discriminação e
violência trazem consequências sérias para os e as estudantes, que vão desde tristeza,
89
depressão, baixa na autoestima, queda no rendimento escolar, evasão escolar e até casos de
suicídio foram relatados. Mostrou também que embora exista uma política de educação
sexual, na opinião de estudantes e de educadores (as), não há educação sexual de maneira
sistemática na escola e não se abordam as diversidades sexuais. Entre os motivos apontados
destacam-se: a falta compreensão sobre a homossexualidade, a falta de preparo de educadores
(as) sobre o tema sexualidade e diversidades sexuais, o preconceito que existe na escola sobre
o tema, o temor da reação das famílias e a falta de materiais para trabalhar o tema. As
recomendações feitas incluíram realizar cursos de capacitação para educadores (as) sobre o
tema e disponibilizar nas escolas materiais que permitam acabar com a homofobia na escola.
O estudo “Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas
Escolas”, publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológico Latino-Americana,
(ABRAMOVAY, 2009), baseou-se em uma amostra de 10 (dez) mil estudantes e 1.500
professores (as) do Distrito Federal, apontou que 63,1% dos entrevistados (as) alegaram já ter
visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da
metade dos (as) professores (as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra
homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não
gostariam de ter colega homossexual na sala de aula;
Por sua vez, a pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada
pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, também publicada em 2009 baseou-se em
uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores/as, professores/as e
funcionários/as, e revelou que 87,3% dos/as entrevistados/as têm preconceito com relação à
orientação sexual e identidade de gênero. A pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no
Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais publicada em 2009, pela Fundação Perseu
Abramo, indicou que 92% da população reconheceu que existe preconceito contra LGBT e
que 28% reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual
este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela
Fundação.
Por fim, a pesquisa realizada pela UNESCO “Juventudes e Sexualidade”
(ABRAMOVAY, 2004), comprovou que a intolerância e a falta de conhecimento sobre a
diversidade de expressão sexual colocam a escola entre os órgãos que merecem atenção sobre
a questão, notadamente quando o preconceito parte dos professores e professoras, 60% dos/as
professores/as afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da
homossexualidade na sala de aula. O percentual de docentes que acreditavam que a
homossexualidade é uma doença ultrapassa os 20% em muitas capitais.
90
Considerar tais indagações nos permite pensar qual a real condição da diversidade na
Educação, nos conduz a realizar uma leitura crítica pensando a Educação em sua amplitude e
nos levar a refletir sobre como o currículo, seja nas escolas ou nas universidades precisam ser
problematizados, na medida em que estes não são elaborados no vazio e não se organizam
arbitrariamente, mas se constituem como uma prática de atribuir significados, como um
discurso que constrói sentidos e produz uma representação de mundo que cria coisas e têm
efeitos reais ou efeitos de verdade (PACHECO, 2005; LOPES e MACEDO, 2011). Freire
(2011) afirmam que:
95
legítimas, somente certas vozes são ouvidas em qualquer momento, e para entender porque
determinadas agendas e vozes são legitimadas faz-se necessário reconhecer as diferentes
propostas que são disputadas e seus processos de articulação em torno de um projeto
hegemônico.
De 1939, ano que demarca a instauração do primeiro curso de Pedagogia no Brasil, até
o presente momento, pelo menos dez determinações legais alteraram características deste
curso, implicando em transformações na concepção sobre o curso, em seu currículo, na
instituição e retirada de habilitações, na sua composição de conteúdos, nos seus objetivos,
finalidades e seu perfil profissional, no seu campo de atuação, entre outras.
Dentre as diversas determinações legais (resoluções, pareceres, leis, etc.) que
transformaram o curso, nos interessa a Resolução CNE/CP. Nº 1/ 15 de Maio 2006 que
institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia,
Licenciatura, considerando a nova configuração que as diretrizes conferem aos cursos de
Pedagogia, cabem algumas reflexões sobre os contextos e relações que demarcam a
construção deste documento.
Tal resolução é o documento que atualmente rege a organização do curso e nesta
definiu-se princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem
observados no planejamento e na avaliação do curso, pelos órgãos dos sistemas de ensino e
pelas Instituições de Educação Superior do país, nos termos explicitados nos Pareceres
CNE/CP n°. 5/2005 e 3/2006. A instituição da Resolução CNE/CP Nº 1/ 15 de Maio 2006,
resulta de uma série de discussões, conforme podemos observar no Parecer CNE/CP Nº:
5/2005:
A comissão responsável pelo curso de Pedagogia foi instituída em 1998, com o auxílio
de várias Universidades e Movimentos ligados aos (as) educadores (as), apresentando a 1ª
proposta de Diretrizes Curriculares. Nesta proposta havia a ênfase na docência e uma
preocupação em garantir uma formação aprofundada para os (as) professores (as) da
escolarização inicial. Segundo Moreira (2009) a proposta não chegou a ser homologada, foi
instituída uma nova comissão que também defendia a docência enquanto base do curso, mas
considerava a necessidade de formação para funções de gestão, a proposta também não
chegou a ser homologada.
A autora afirma que “os embates entre educadores a respeito destas Diretrizes
ganharam nova força quando, em 2005, o CNE tornou pública uma minuta do projeto das
diretrizes para o curso de Pedagogia.” (MOREIRA, 2009, p.52). A partir da apresentação do
projeto inicial das diretrizes, diversas reformulações foram realizadas a partir da atuação e da
pressão de diferentes representantes do cenário educacional, sendo finalmente as DCP
homologadas em abril de 2006 e publicadas em 15 de maio do mesmo ano, no Diário Oficial
da União. Para Moreira (2009) a demora em regulamentar o curso de Pedagogia, consiste na
existência de conflitantes interesses entre governo e educadores. Sobre o processo de
elaboração curricular Fragella (2007) aponta que:
Podemos perceber visivelmente na leitura das DCP, marcas dos diversos sujeitos que
atuaram na sua construção, que buscaram representação de suas concepções e reflexões para o
que acreditavam compor as possibilidades de transformação da realidade do curso de
Pedagogia e sua consequente contribuição para um projeto de sociedade. Desta forma, tais
marcas representam a disputa entre esses e demonstra de certa forma, uma relação de forças
posta na discussão das Diretrizes. (SILVA, 2011)
Nesse contexto, Dias (2011) pondera que ao se aglutinarem diferentes demandas nos
processos de prática articulatória, formula-se um discurso comum, porém, provisório e
contingente, no qual há fixação parcial dos sentidos possíveis da significação. Nessa luta por
101
significação das políticas, alguns significantes do discurso são privilegiados e outros não no
processo de definição de políticas.
Desta forma, considerando que nos espaços de formação se propõe o desenvolvimento
de um projeto de indivíduo para um projeto de sociedade e compreendendo o currículo
enquanto um lugar de circulação de narrativas e processos de subjetivação, que regula o que
pode ser dito e que deve ser silenciado, pensar as construções de gênero e sexualidade em
suas conexões com o currículo do curso de Pedagogia e com as técnicas de saber-poder
(SILVA, 2011) pode favorecer a desestabilização de definições, preconceitos e verdades, bem
como pode favorecer a visualização de tais questões frente às brechas e palavras que
permeiam o silêncio.
Diante disso, entre uma leitura e outra, coloquei-me a provocar os (as) amigos (as) através de
uma rede social13 para saber como eles (as) definiam, sentiam e/ou vivenciavam o silêncio.
Após várias provocações e debates com os (as) amigos (as), entre leituras e repousos,
buscando inspiração para construir um caminho da escrita, tive a ideia de buscar na internet os
tipos de imagens que surgiam a partir da palavra silêncio e, nesse mesmo movimento, ao
buscar em minha memória, que simbologia se referia ao termo, à primeira imagem que
apareceu foi a de uma enfermeira com o dedo nos lábios, uma fotografia muito comum nos
hospitais e consultórios médicos. Iniciei a pesquisa por imagens e dentre mais de duzentas
possibilidades, selecionei as que mais me chamaram atenção, entre fotos, símbolos e frases, o
recorte imagético do silêncio foi surgindo.
Paraíso (2012) afirma que, ao construirmos nossas metodologias traçamos, nós
mesmos (as), nossa trajetória de pesquisa buscando inspiração em diferentes textos, autores
(as), linguagens, artefatos, e essa foi nossa intenção ao propormos esse diálogo sobre silêncio
com amigos (as). Nesse sentido, no movimento das reflexões sobre o silêncio, tentamos
associar a discussão sobre um fenômeno que já era percebido por nós como fator presente na
realidade da formação docente (antes mesmo da pesquisa ser materializada e que foi
anunciado pelos (as) docentes ao longo de nossa interação com o campo) a outros sujeitos e
pela própria pluralidade que atravessa e marca o silêncio construir sentidos com outros
(próximos) e avançar no bate papo com autores (as) que pesquisam o tema.
A curiosidade em dialogar e saber como esses (as) amigos (as) definiam, sentiam e/ou
vivenciavam o silêncio e a construção do recorte imagético do silêncio permitiu-nos saborear
diversas faces desse fenômeno e articular tais percepções com a literatura sobre a temática,
tecendo um caminho instigante e ao mesmo tempo de inventivo, na medida em que ao
buscarmos diferentes formas de inspiração em nosso fazer, “inventamos modos de pesquisar a
partir de nosso objeto de estudo e do problema de pesquisa que formulamos.” (PARAÍSO,
2012, p.33).
Cabe salientar que o uso da rede social como espaço para troca de ideias sobre o tema
em questão incidiu no seu potencial destacado por Souto (2012) de favorecer uma
interatividade entre os sujeitos, tornando possível a constituição de grupos que a partir da
convivialidade mesmo que efêmera, podem trocar informações comportamentais permitindo a
13
Uma rede social é composta de núcleos geralmente compostos de indivíduos e organizações ligados entre si
por um ou vários tipos de relações, como valores, visões, ideias, trocas financeiras, amizade, gostos ou desgostos
comuns, conflitos, comércio, relações sexuais, só para citar algumas possibilidades. (PISANI e PIOTET, 2010
p.34)
103
(dês) construção de identidades, bem como pela possibilidade do ciberespaço 14 - lócus onde
entre outras coisas estão inseridas as redes sociais - de conectar todos (as) expondo as
subjetividades existentes, potencialidades e possibilidades que nos interessam na medida em
que o tema é como dito anteriormente, pouco discutido apesar de fazer parte das diversas
relações sociais. Considerando tais elementos nos sentimos seduzidos a através desse
ambiente, iniciar nossa trilha na formação de um olhar sobre o silêncio.
Nesse contexto, a partir da indagação inicial sobre o que é o silêncio, diversos outros
debates foram travados na referida rede social tendo o silêncio como objeto de análise, as
discussões foram profícuas e ao final destacamos cinco ideias à luz das respostas anunciadas.
Denominamos os (as) amigos (as) que contribuíram com nossa reflexão por A e atribuímos os
números 1 a 5 para designar cada uma das respostas:
Dito isso, observamos que a resposta de A1 traz uma ideia de silêncio atrelada ao
sentido de ausência de sons e ruídos causada pela ausência de encontro entre dois corpos; a
resposta de A2 nos traz a ideia do silêncio não como falta de algo, mas como algo que
constitui outra realidade, outra possibilidade na sua relação com a palavra, a resposta de A3
nos apresenta o silêncio como algo reinvidicado pela pessoa respondente, o silêncio vinculado
à ideia de amor e paz, de contemplação do outro, de relação com o sagrado, por sua vez, A4
14
Espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores. Um universo virtual, o ciberespaço pode ser concebido, também, como um novo mundo, um
novo espaço de significações, um novo meio de interação, comunicação e de vida em sociedade. (PISANI e
PIOTET, 2010).
104
nos apresenta a ideia do silêncio como algo que está em falta, seja palavra, atitude, reação,
qualquer que seja o ato e por fim, a resposta de A5, apresenta o silêncio como um modo de
significação e como algo que está por vir, que constitui possibilidade e ao mesmo tempo
como a ausência de um dizer e como apagamento de sentidos, observamos o silêncio
vinculado à ideia de produção e ao mesmo tempo de silenciamento, de incompletude, de não
dizer.
Ao refletir sobre as falas e tecer leituras da literatura sobre o tema, foi possível
perceber que o silêncio é algo que sempre atravessa-nos, quer seja por nossa adoção
voluntária ou pela imposição de outros. É um fenômeno amplamente vivenciado em nossa
sociedade, e que há inúmeras maneiras de pensar, sentir e viver.
Aproximando-nos da ideia de Xavier Filha (2011) e refletindo sobre as respostas dos
(as) amigos (as), temos a compreensão de que uma primeira perspectiva de análise sobre o
silêncio leva-nos a pensar que ele traz em si inúmeros ruídos. Ao mesmo tempo em que
silencia, faz falar, ou seja, tudo aquilo que pretende ocultar ou calar expressa o “não dito”.
Outra perspectiva leva-nos a compreender que a ação efetiva do silêncio produz tipos
diferentes de silêncios. Por sua vez, Foucault (2006) nos faz refletir que:
Não se deve fazer divisão binária entre o que se diz e o que não se diz, é
preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são
atribuídos os que podem e os que não podem falar, que tipo de discurso é
autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não existe um
só, mas muitos silêncios e são integrantes das estratégias que apoiam e
atravessam os discursos (p.30).
À luz do exposto por Orlandi (1997) e Ferrari (2011), percebemos que o silêncio é
plural, polissêmico, negado, desejado, reinvidicado, repulsado, é paradoxal, reflete um tempo
histórico, fala sobre nós, sobre nossa cultura, sobre como esta nos constitui e os significados
que vamos atribuindo a palavras, situações e pessoas.
Concebendo os silêncios como atos que se fazem na existência de discursos e que são
atravessados por relações de saber e poder, nos interessa destacar que as relações de poder e
força são:
Nesse sentido, ao constituir uma ideia sobre os silêncios e sobre as relações que os
atravessam, somos desafiados (as) por Ferrari (2011) a pensar que essas relações também se
fazem como estratégias, como resultados de ação de uns sobre outros e que estão sempre
presentes quando falamos de relações entre pessoas e grupos. Somos desafiados a pensá-las
no seu aspecto positivo, enquanto elementos entendidos como essenciais à vida e a
constituição dos sujeitos.
Dessa forma, as práticas de silêncios dizem de um tipo de poder que as constroem,
mantêm, desconstroem. Os silêncios podem ser entendidos como produtivos, na medida em
que permeiam as relações de força e poder, produzem sujeitos, experiências, prazeres,
saberes, discursos, práticas, instituições, enfim, dão origem a isso que chamamos “realidade”,
ancorados nos rituais e objetos de verdade.
106
Seguindo a trilha para construir ideias sobre o silêncio, através do contato com o
ciberespaço e suas possibilidades, como afirmado anteriormente, nos arriscamos entre leituras
e repousos, a realizar uma busca de imagens na internet para ver o que exatamente é associado
ao imaginário imagético dos (as) que constituem o ambiente virtual tendo as palavras silêncio
e silêncios como fonte.
Cabe destacar que em nossa compreensão a imagem visa estabelecer uma relação com
o mundo tendo como função principal garantir, reforçar, reafirmar e explicar nossa relação
com o mundo visual. Kellner (1995) argumenta que nossas experiências e nossas identidades
são socialmente construídas e sobredeterminadas por uma gama variada de imagens, discursos
e códigos.
Diante disso, a partir das palavras-chave “silêncio e silêncios”, pesquisamos as
imagens, selecionamos as que mais chamaram atenção (que mexeram conosco causando certo
estalo), entre fotos, símbolos e frases, o recorte imagético foi surgindo. Nesse
empreendimento constituímos quatro eixos/ categorias a que fomos remetidos na medida em
que fomos interpretando e significando as imagens selecionadas, fomos nos debruçando sobre
o que Schwengber (2012) denomina por dimensão social da imagem. A partir desse
movimento, apresentamos a seguir algumas das imagens15 e nosso olhar sobre elas.
15
Todas as imagens foram obtidas por meio de pesquisa no site de busca www.google.com.br
107
Na leitura das imagens acima, compreendemos que seja por uma necessidade
contextual relacionada a um ambiente que por suas regras exige a existência do silêncio,
como, por exemplo, uma biblioteca, hospital, o local em que alguém está dormindo, ou seja,
pela imposição por outro motivo qualquer, a percepção que temos ao observar tais imagens
perpassa por atribuir uma relação do silêncio com a ausência da palavra por medo e/ou com
respeito a algo ou alguém. Impõe-se aos sujeitos o silêncio através da disciplina como forma
de organização do espaço.
b) Silêncio – Censura
As imagens e frases acima nos chamaram atenção por reivindicarem o silêncio como
algo que produz subjetividades, práticas e sentidos, como algo que constitui-nos e que nos
traduz. Percebemos assim, uma aproximação com a ideia de Orlandi (1997):
provenientes da nossa ida a campo, buscando inspirações nos colocamos a provocar alguns
(mas) amigos (as) através de uma rede social para saber como eles (as) definiam, sentiam e/ou
vivenciavam determinados fenômenos que emergiram de nossa hipótese inicial e que
posteriormente se confirmaram nos encontros com os enunciados, essa atitude permitiu-nos
saborear diversas faces do processo de fazer pesquisa, de interagir com outros, de construir
recortes. Empreendemos ainda, um levantamento de imagens na internet sobre o silêncio a
fim de construir um recorte imagético e perceber como esse fenômeno é significado. Essa
ação teve por objetivo inspirar caminhos para a escrita.
Outro empreendimento utilizado para melhor delinear o processo de descrever-analisar
nosso objeto, compreendê-lo, dizer algo diferente sobre ele e a partir dele, foi o exercício da
leitura. Foram realizadas idas e vindas de leituras sobre nosso objeto, visando conhecer as
mais diferentes perspectivas que o tomam como discussão. E então:
Cabe dizer que por muitos momentos nos detivemos a leituras de vários materiais
distintos ao mesmo tempo, elas perpassaram pela leitura do que Paraíso (2012) chama de ditos
e escritos sobre nosso objeto e pela leitura da teorização que escolhemos para fundamentar
nossa investigação.
Nessa dinâmica, desenvolvemos um levantamento de pesquisas, tendo por base, os
artigos publicados nos Grupos de Estudo e nos Grupos de Trabalho das Reuniões Anuais da
ANPEd, e os artigos publicados em sites indexadores de trabalho, a fim de conhecer os ditos e
escritos sobre gênero e sexualidade em suas interfaces com currículo e formação no curso de
Pedagogia. Realizamos intensas leituras juntos a esses ditos e escritos para conhecer, mapear,
mostrar o que já foi dito, pesquisado, significado, escrito, publicado e divulgado sobre o
objeto escolhido para nossa investigação.
Ocupamo-nos do já feito e sabido para suspender verdades, mostrar como funcionam e
investigar o que faz aparecer determinados discursos curriculares, determinadas práticas e
certos saberes. Assim, montamos um discurso sobre o já dito sobre nosso objeto,
desmontamos os ditos e escritos resumindo, sistematizando, separando argumentos e
114
A seleção dos documentos foi orientada por meio dos seguintes critérios: a)
documentos que fundamentam e normatizam o curso de Pedagogia no âmbito externo a
universidade (resoluções e pareceres do CNE); b) documentos que fundamentam e
normatizam o curso de Pedagogia no âmbito da universidade (projeto curricular; resoluções
do CONSEPE); c) documentos que constituem e identificam as práticas desenvolvidas no
curso (ementas, programas de componentes curriculares, matriz curricular). O recorte
temporal escolhido para a seleção de resoluções do CONSEPE coincidiu com o processo
descrito no projeto de reestruturação curricular de mobilização para implementação de
117
Ludke e André (1986) destacam que a entrevista representa um dos instrumentos que
mais viabiliza a interação entre pesquisador e pesquisado, não estabelecendo relações de
hierarquização entre ambos. Afirmam que esta técnica permite a captação imediata e corrente
da informação desejada, podendo ainda permitir o tratamento de assuntos de natureza
estritamente pessoal e íntima, temas complexos, pode permitir o aprofundamento de pontos
levantados por outras técnicas de coleta de alcance mais superficial e pode atingir os mais
distintos informantes.
Considerando as possibilidades evidenciadas pela entrevista, destacamos que o
processo de preparação e planejamento desta consistiu importante e essencial elemento para
que ela tenha sido bem sucedida, nesse sentido ao decidirmos entrevistar os (as) docentes de
alguns componentes curriculares do curso de Pedagogia, elaboramos um roteiro com questões
que poderiam orientar as conversas, o qual ao longo das entrevistas foi sendo ajustado
incorporando novos aspectos a serem dialogados.
Posteriormente, realizamos o processo de escolha dos componentes curriculares e
consequentemente os (as) docentes a serem entrevistados (as), o qual foi orientado pela
análise da matriz curricular do curso de Pedagogia e pela seleção dos componentes
curriculares obrigatórios que em nossa avaliação de alguma maneira poderiam apresentar na
sua dinâmica discussões que se relacionam com questões de gênero e sexualidade ou de
componentes que nas ementas apresentavam tal temática como conteúdo a ser trabalhado.
A partir desta análise, escolhemos seis componentes curriculares/ seis docentes para
realizar esta subfase da nossa pesquisa de campo. Foram escolhidos (as) docentes que
118
estavam em sala de aula com turmas entre o segundo e sexto período do curso no primeiro
semestre de 2012. Após a seleção dos componentes curriculares e da identificação dos (as)
respectivos (as) docentes, verificamos o horário destes (as) docentes na universidade junto aos
seus departamentos a fim de organizar a realização dos contatos.
Foram realizadas diferentes estratégias para realizar o contato com os (as) docentes.
Com as docentes Suzana e Laura16 o contato foi feito inicialmente por meio de mensagem
privada em sua página/ perfil de uma rede social, e a partir desta mensagem, marcarmos uma
conversa presencial e individual na UEFS. Nesta conversa, expliquei o propósito da pesquisa
e convidei as docentes para participarem da entrevista, ao final da conversa com a professora
Suzana combinamos a data da entrevista.
Por sua vez, com a professora Laura, após a conversa, foi combinada a realização de
uma comunicação por e-mail para que a mesma confirmasse a data da realização da
entrevista, após algumas tentativas de contato sem sucesso, a professora Laura marcou a
entrevista.
O contato inicial com dois docentes (Valter e Kátia) foi realizado por e-mail. O
docente Valter, em primeiro momento, respondeu negativamente ao e-mail/convite para uma
conversa presencial. Inicialmente, o docente não havia entendido o propósito da pesquisa,
todavia após encaminhar resposta à sua mensagem explicando mais detalhadamente em que
consistia a pesquisa, respondeu positivamente marcando a entrevista. A docente Kátia, logo
no primeiro contato, respondeu positivamente a conversa presencial, procurei-a, conversamos
e marcamos a entrevista.
Com os outros dois docentes (Fernando e André), o contato inicial foi realizado
presencialmente. Apresentei-lhes a proposta da pesquisa e o interesse em realizar entrevista
com os mesmos, e a resposta foi positiva. Combinamos uma comunicação por e-mail para
confirmação das respectivas datas de entrevistas e após alguns contatos por e-mail e por
telefone e algumas marcações sem sucesso, as entrevistas foram realizadas.
Foram entrevistados (as) três professores e três professoras com perfis distintos entre
si, com tempo de atuação no Ensino Superior entre 01 (um) e 32 (trinta e dois anos); formação
16
Os nomes dos (as) docentes foram substituídos por pseudônimos no intuito de garantir a confidencialidade das
suas identidades conforme compromisso firmado no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. (Apêndice A)
119
na área de Ciências Humanas, Sociais e Biológicas, com atuação no curso objeto deste estudo
entre um e vinte e oito anos.
A docente Suzana é pedagoga, especialista em fonoaudiologia e linguística e mestre
em Educação, tem doze anos de atuação no Ensino Superior, sempre como docente no curso
de Pedagogia e trabalha na UEFS há nove anos.
A docente Laura é pedagoga, mestre em Educação e doutoranda em Educação, tem
seis anos de atuação no Ensino Superior, trabalha há seis anos na UEFS e foi docente no curso
de Pedagogia e em outros cursos de licenciatura da instituição.
O docente Fernando é pedagogo, mestre em Educação e doutorando em Educação.
Desde quando começou a docência superior, há quatro anos na UEFS, atua no curso de
Pedagogia.
O docente Valter é antropólogo e mestre em Ciências Sociais, tem trinta e dois anos de
atuação na UEFS e tem trabalhado com as turmas de Pedagogia há três anos.
A docente Kátia tem vinte oito anos de atuação no Ensino Superior, todos estes
trabalhando na UEFS, foi docente em distintos cursos na universidade, é licenciada em
Ciências Biológicas, especialista em Metodologia do Ensino Superior, em Psicopedagogia e
em Neuropsicologia.
O docente André é biólogo, mestre em Educação, atua há um ano no Ensino Superior
e iniciou sua docência universitária na UEFS. É docente dos cursos de Pedagogia e Biologia.
a) Professora Suzana
17
As entrevistas foram realizadas entre junho e setembro de 2012.
120
b) Professor Valter
c) Professor André
121
Após o contato presencial onde foi feito o convite para participação na pesquisa,
mantive contato com o docente André por e-mail e telefone a fim de definir a data da
entrevista, e conforme acertado, nos encontramos no dia 25 de junho em uma das salas do
departamento ao qual é vinculado, para realização da entrevista. Nosso encontro durou
aproximadamente uma hora e quarenta minutos.
No diálogo antecedente à entrevista, falamos sobre a trajetória de vida do docente e
como as discussões sobre gênero e sexualidades começaram a chamar sua atenção, em
seguida fiz a apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi lido e
assinado, ficando uma via com o docente e outra via com a pesquisadora.
Iniciamos a entrevista retomando alguns pontos citados pelo docente nos momentos
iniciais do encontro, remetendo a sua formação acadêmica e trajetória profissional, em
seguida discutimos sobre a formação empreendida pelo curso de Pedagogia, as questões
relacionadas a gênero e sexualidade na prática docente, a relevância de tais temas para
Educação Básica e relações sociais.
O docente apresentou ainda seu olhar acerca das discussões sobre as relações de
gênero com essas turmas, as estratégias de ensino e teóricos (as) utilizados em suas aulas, as
reações dos (as) estudantes aos debates e as possibilidades para o aprofundamento das
discussões sobre gênero e sexualidade no curso de Pedagogia.
d) Professor Fernando
e) Professora Laura
Desde o contato inicial a docente Laura foi totalmente receptiva ao convite para
participação na pesquisa. Tivemos algumas dificuldades para conseguir efetivar a entrevista,
marcamos algumas vezes, porém houve necessidade de remarcação em função de questões
pessoais na dinâmica da docente, após algumas tentativas, no dia 06 de agosto nos
encontramos em uma das salas do departamento que a docente faz parte para realizarmos a
entrevista. Conversamos inicialmente sobre os percalços para realização da entrevista e
posteriormente foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi lido
e assinado, ficando uma via com a docente e outra via com a pesquisadora.
A docente iniciou a nossa conversa apresentando informações referentes à sua
formação acadêmica e trajetória profissional, posteriormente falamos sobre o currículo do
curso de Pedagogia, sobre o perfil formativo do curso e as fragilidades presentes na formação.
A docente apresentou seu olhar sobre a necessidade de interlocução entre os componentes
curriculares, sobre as relações de poder existentes no currículo, sobre as presenças e ausências
em torno da discussão sobre gênero e sexualidade. Nosso encontro durou aproximadamente
uma hora e vinte minutos.
f) Professora Kátia
O contato inicial com a professora foi feito por e-mail, sendo o convite para
participação na pesquisa respondido positivamente. Após algumas tentativas para realização
da conversa presencial, nos encontramos, a proposta foi apresentada e então combinamos uma
data para realizar a entrevista, a qual foi realizada em 10 de setembro. Iniciamos nosso
encontro através da apresentação a docente do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
o qual foi lido e assinado, ficando uma via com a docente e outra via com a pesquisadora.
A entrevista perpassou pela fala sobre a sua formação e experiência profissional, a
qual tem em sua trajetória ampla atuação nas discussões sobre sexualidade, a partir disso
123
tratamos das discussões mais específicas sobre a atuação da docente no curso de Pedagogia,
sua prática pedagógica, seu olhar sobre as discussões de gênero e sexualidade no curso e
sobre a percepção dos (as) estudantes sobre o tema, sobre a importância da temática para
formação docente. O encontro durou aproximadamente uma hora e vinte minutos.
enunciados sobre o enlace currículo, gênero e sexualidade dos (as) docentes que atuam no
curso de Pedagogia da UEFS.
A partir dessa abordagem as relações de gênero e sexualidade são percebidas como
discursivamente produzidas por meio dos próprios enunciados e relações que os discursos
mobilizam, e o currículo é compreendido como artefato forjado e alimentado por relações de
poder, que opera com raciocínios generificados que normatizam e regulam a produção de
hierarquizações e desigualdades e como lugar de resistências e de lutas.
Nesse empreendimento, olhamos para os diferentes discursos e significados que
atravessam o currículo buscando evidenciar, não somente as práticas que conduzem a
produção e manutenção das desigualdades, mas também aquelas que fomentam a
desnaturalização, o questionamento, a desconstrução e as rupturas dos discursos e instauram
transformações nas relações de poder (PARAÍSO, 2012).
Buscamos em nossas análises mapear as condições de possibilidades dos saberes e
seus vínculos com as relações de poder, dar atenção às pequenas astúcias em suas produções e
exclusões e ao mesmo tempo procuramos multiplicar os sentidos de tudo que investigamos
para que nada do que é enunciado no nosso material de investigação fique paralisado, fixo,
permanente. Na operação de multiplicar, quando vemos o “e” em operação, perguntamos em
seguida: será? Usamos o “e” que justapõe, some e acrescenta sentidos. (PARAÍSO, 2012).
Após a realização das entrevistas, empreendemos sua audição, em seguida fizemos a
transcrição e fomos tomando nota de trechos que mobilizavam nossa atenção, posteriormente
realizamos a releitura e seleção dos trechos percebidos como relevantes para o alcance de
nossos objetivos de pesquisa. Nesse movimento, criamos um quadro em que sistematizamos
por eixo temático os trechos considerados relevantes, a partir dessa sistematização costuramos
as falas que se aproximavam e identificamos as falas que por ventura se contradiziam ou se
afastavam.
Por meio dessa dinâmica fomos costurando as categorias de análise, as quais foram
construídas tendo como base os objetivos da pesquisa e a natureza dos dados construídos por
meio das diferentes estratégias de coleta de informações. Desta forma, nosso olhar organizou-
se considerando as seguintes categorias: a) currículo; b) gênero e sexualidade no curso de
Pedagogia; c) as políticas de silêncio; d) prática pedagógica e formação docente. Estas
buscaram apresentar algumas respostas às nossas questões e inquietações e apresentar os
posicionamentos, divergências, convergências, hiatos, contradições e compreensões dos (as)
docentes sobre o lugar do gênero e da sexualidade no currículo e nas práticas do curso de
Pedagogia da UEFS.
126
18
www.uefs.br Acessado em: 10.12.2012
19
Nomenclatura usada à época para designar o que atualmente concebemos como Educação Básica.
20
Nomenclatura usada à época para designar o que atualmente concebemos como Educação Infantil.
21
Tais professores (as) eram recrutados (as) entre aqueles (as) com formação de nível superior nas licenciaturas (curta ou
plena) ou até mesmo entre profissionais liberais, a exemplo de médicos, advogados, enfermeiros, sacerdotes e bibliotecários.
(PROJETO DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA, 2002)
128
Magistério das matérias pedagógicas do segundo grau, Educação Pré- escolar e Supervisão
Escolar do Primeiro e Segundo Graus. Nesse contexto, o curso de Pedagogia, vinculado ao
Departamento de Educação, tem seu projeto inicial datado de 1983, foi aprovado pela
Resolução CONSU 01/84 de 23 de março de 1984 e instalado em 1987. Contudo, das
habilitações inicialmente propostas apenas às duas primeiras foram implementadas.
(PROJETO DE REESTRUTURAÇÃO DO CURRÍCULO DO CURSO DE PEDAGOGIA,
2002).
De acordo com o Projeto de Reestruturação Curricular (2002), o (a) Licenciado (a) em
Pedagogia pela UEFS, tem como base profissional a docência e está apto (a) para exercer suas
atividades profissionais na docência (na Educação Infantil e no ensino básico com ênfase nos
anos iniciais do Ensino Fundamental), na gestão educacional (na organização do trabalho
pedagógico no campo do planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação do
processo educativo em sistemas de ensino e em processos educativos não escolares), bem
como na produção e difusão do conhecimento em educação.
Nesses termos, as áreas de atuação profissional do (a) egresso (a) do curso de
Pedagogia são:
• Docência na Educação Infantil, e no ensino básico, com ênfase nos anos iniciais do
Ensino Fundamental;
• Organização e gestão de sistemas e projetos educativos em experiências educacionais
escolares e não escolares;
• Outras áreas do campo educacional (educação indígena, educação especial, educação
no meio rural, movimentos sociais, etc.).
Foi nossa proposta “bater um papo” com os documentos do curso de Pedagogia, que
chamamos de documentos de identidade, por entender que de certa maneira por meio de suas
linhas, ideias e discursos conferem uma narrativa própria e peculiar ao curso, modelam o
currículo, transmitindo conhecimentos, produzindo e fabricando sujeitos. Influenciada por
aquela ideia que remete ao título dessa dissertação, que consiste em empreender um olhar
entre o real e o imaginário, embaracei-me numa busca por vezes cansativa, angustiante e
desanimadora, isso porque alguns documentos foram difíceis de serem acessados, por outro
lado, a cada êxito na possibilidade de bater o papo, de conversar despretensiosamente e
conhecer um pouco mais sobre meu objeto de estudo, os sorrisos impregnavam meus olhos e
lábios, e por vezes não só os meus, mas os (as) daqueles (as) que em alguma medida
compartilham do meu cotidiano e dividiam comigo meu tempo entre vida pessoal e pesquisa.
Tomando o sentido de real tanto como o que está escrito enquanto discurso oficial
quanto pelo que posteriormente foi encontrado à luz dos enunciados, não como algo dado e
acabado, mas como algo praticado em seus silêncios, suas potencialidades e desafios, como
aquilo que aparentemente existe e tomando o imaginário tanto como o que existe na realidade
que criamos no pensamento quanto como o que pode ser construído a partir de novos olhares,
que emergem da possibilidade de imaginar um "novo", de imaginar caminhos possíveis,
buscamos neste capítulo construir um olhar sobre o gênero e a sexualidade no curso de
Pedagogia.
Nesse contexto, se para Louro (1997, p. 81) “é indispensável que reconheçamos que a
escola não apenas reproduz ou reflete as concepções de gênero e sexualidade que circulam na
sociedade, mas que ela própria as produz”, ao considerar os cursos de formação de professor
(a) como lócus em que são produzidos (as) aqueles (as) profissionais que atuarão como
mediadores (as) do saber nas nossas escolas, percebemos o quanto é importante refletir sobre
como são reproduzidas e produzidas as concepções sobre gênero e sexualidade no currículo e
na formação docente.
Ao evidenciar que “o nexo íntimo e estreito entre educação e identidade social, entre
escolarização e subjetividade, é assegurado precisamente pelas experiências cognitivas e
afetivas corporificadas no currículo” (SILVA, 1996, p.184), o campo curricular chamou
132
atenção sobre si mesmo e o currículo tornou-se objeto tanto de críticas contundentes como de
interesse de diferentes grupos que desejam proporcionar quaisquer mudanças na educação
escolar.
Nesse sentido, nossa preocupação a partir desse momento é analisar e problematizar os
discursos que emergem do currículo do curso de Pedagogia estudado por meio dos
documentos que o normatizam, que o identifica. Nessa investigação, os discursos foram
analisados como práticas discursivas capazes de produzir processos de subjetivação, dito de
outra forma, de constituição de determinados tipos de sujeitos, em meio a relações de saber-
poder.
De acordo com Fischer (2001), o discurso ultrapassa a simples referência a “coisas”,
ele é produzido para além da mera utilização de letras, palavras e frases, ou seja, ele não se
resume ao simples signo linguístico, mas, apresenta regularidades intrínsecas a si mesmo, por
meio da qual é possível definir uma rede conceitual constituída pelo próprio discurso. Nessa
perspectiva, para a autora, analisar um discurso implica compreender os enunciados e relações
que o próprio discurso põe em funcionamento ao ser produzido e, sobretudo, as relações
históricas de práticas concretas que estão presentes no discurso.
Desse modo, os elementos que serão destacados no decorrer da análise buscam
primordialmente: refletir sobre a organização curricular do curso estudado e suas interfaces
com as Diretrizes Curriculares; o perfil de profissional que o curso se propõe a formar;
perceber quais mudanças foram realizadas no currículo do curso de Pedagogia da UEFS
considerando o recorte temporal de 2002 a 2012, identificar quais componentes curriculares
que enunciam ou tem potencial para realizar a discussão sobre gênero e sexualidade; como a
discussão sobre gênero e sexualidade é apresentada nos programas dos componentes
curriculares; a fim de conhecer qual lugar do gênero e da sexualidade na formação propiciada.
Ball (2001) afirma que as mudanças curriculares precisam ser entendidas em uma
moldura ampla que contextualize o terreno onde elas se desenvolvem e que este não
representa exclusivamente debates acadêmicos, teóricos, mas simboliza a disputa de poder e
representação entre diferentes grupos.
133
Ainda que tenhamos ciência que em muitos aspectos essa realidade ainda não é
vivenciada de forma tão intensa, na medida em que frente à formação docente se concebe as
relações entre aprendente e ensinante como constituídas em duplo sentido, abre-se espaço
para um diálogo e reflexão em torno “do que é uma educação transformadora em oposição
àquela que narra e sempre narra conhecimentos aos educandos, supondo-os desprovidos de
vivência, experiência e conhecimentos” (CABRAL, 2011, p.181).
Ao perceber-se a diversidade de conhecimentos e práticas como devendo ser
articulada de maneira consistente na formação do (a) graduado (a) em Pedagogia, abre-se a
porta para o reconhecimento do curso de Pedagogia como espaço de graduação, no qual a
prática social de educar é estudada intencional e criticamente em suas múltiplas manifestações
na sociedade. Um repertório constituído por meio de múltiplos olhares, próprios das ciências,
das culturas, das artes, da vida cotidiana, proporciona leitura das relações sociais e também
dos processos educativos por estas desencadeados.
Destaca-se ainda que considerar o (a) professor (a) como agente de (re) educação das
relações sociais, implica em conceber, por exemplo, que identidades e culturas silenciadas
pela sociedade e pela escola podem encontrar neste (a) profissional um elo de articulação no
ambiente escolar para o questionamento do currículo no processo de constituição de algumas
políticas de identidade e na negação de outros.
O projeto de reestruturação aponta que o perfil profissional e o campo de atuação
proposto com o novo currículo do curso incidiram sob a afirmação de que este:
A chamada formação básica está organizada em torno de três núcleos que articulam os
componentes curriculares. O núcleo de fundamentação, o núcleo de política e gestão
educacional e o núcleo de conteúdos pedagógicos 22.
O Núcleo de Fundamentação:
22
Cabe sinalizar que com as alterações/adaptações curriculares empreendidas entre 2003 e 2010, em que se
registrou a criação de novas disciplinas obrigatórias (EDU 370 - Organização e Planejamento do Trabalho
Pedagógico; EDU 635- Problemas de Aprendizagem; EDU 131 - Educação do Campo e LET 808 - Libras:
Noções Básicas) e a transformação de disciplinas optativas em obrigatórias (BIO 108 - Fundamentos Biológicos
da Educação; EDU 111 - Relações Étnico – Raciais na Escola) ocorreram modificações na composição dos
núcleos, contudo como não localizamos nenhum documento atualizado com a nova composição, apresentamos a
composição disposta no Projeto de Reestruturação do Currículo.
141
Por sua vez, os componentes curriculares que compõem este núcleo são: Didática,
Ensino da Leitura, Escrita e Produção de Texto, Fundamentos e Ensino da História,
Geografia, Ciências, Matemática para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, Prática Pedagógica em Educação de Jovens e Adultos, Prática Pedagógica em
Experiências não Escolares e os estágios obrigatórios. Está incluída também na formação
básica, a monografia como trabalho final de curso, articulando um objeto a partir da
experiência curricular do (a) estudante, sendo delineado mediante projeto monográfico, no
âmbito do componente curricular Pesquisa em Educação.
A Formação Complementar valoriza os estudos diversificados ou complementares à
formação e pretende atender às demandas de cada estudante por conteúdos específicos
voltados para o aprofundamento de conteúdos da formação básica e para as áreas de atuação
profissionais previstas pelo curso. Compreendem-se por Formação Complementar os
componentes curriculares escolhidos por livre iniciativa dos (as) discentes, as chamadas
optativas.
Enquanto Formação Livre compreendem-se as atividades complementares que visam
consolidar, ampliar e aprofundar a formação acadêmica do (a) estudante, também
desenvolvidas por iniciativa própria, devendo ser reconhecidas e validadas pela instituição. É
interessante observar que tais formações implicam em determinados tipos de sujeitos.
De acordo com o Projeto de Reestruturação do Currículo do Curso de Pedagogia
(2002), dentre as atividades definidas como componentes da Formação Livre, estão os
Seminários Temáticos e os Estudos Orientados. Os seminários pretendem oportunizar ao (a)
graduando (a) uma formação mais ampla voltada para o estudo e aprofundamento das
dinâmicas da realidade contemporânea (gênero, etnia, corpo, sexualidade), dos elementos
culturais das artes (artes visuais, dança, música, teatro, literatura), das tecnologias de
informação e comunicação e demais temas emergentes no cenário educacional. Por sua vez,
os estudos orientados visam valorizar os interesses individuais do (a) graduando (a) em
diversas áreas do conhecimento.
142
se volte para preparar seus/suas estudantes para as muitas mudanças que acontecem em nossa
sociedade, quer nos costumes, na tecnologia, no mercado de trabalho, que os (as) prepare para
aprender a enfrentar os desafios de trabalhar em uma sociedade marcada pela desigualdade, e
que os (as) prepare para lidar com a diferença, com a diversidade, com as demandas que
ecoam dos grupos historicamente marginalizados e que cada vez mais pautam seus direitos.
Tendo em vista uma ação norteada pela ética, justiça, dialogicidade, respeito
mútuo, solidariedade, tolerância, reconhecimento da diversidade,
valorização das diferentes culturas, e suas repercussões na vida social,
de modo particular nas escolas, dando-se especial atenção à educação
das relações de gênero, das relações étnico-raciais, à educação sexual, à
preservação do meio ambiente articuladamente à da saúde e da vida, além de
outras questões de relevância local, regional, nacional e até mesmo
internacional. (BRASIL, 2005, p. 10). (Grifo Meu)
23
O documento apresenta 16 parágrafos com as aptidões que consideram serem necessárias ao (a) egresso (a) em
Pedagogia, contudo destaco apenas as que mais me chamaram atenção no que diz respeito às possibilidades de
reflexão sobre gênero, sexualidade, culturas e subjetividades.
146
O que tais trechos nos permitem considerar sobre a relação entre formação docente,
educação, conhecimento, cultura e diversidade? Será que os aspectos destacados nestes
trechos foram considerados na construção da proposta curricular do curso de Pedagogia da
UEFS? Como será que esses aspectos têm sido discutidos no cotidiano da sala de aula?
Pretendo retomar esses questionamentos mais a frente no dialogo com os enunciados
docentes.
Terezani e Gaio (2012) pontuam que os investimentos em ações educativas de
conscientização sobre o racismo, o machismo e tantos outros grupos excluídos pela sociedade
são de grande valia, porque embora, não sejam suficientes para extingui-los, constituem-se
como início para uma Educação de valores que tem a possibilidade de identificar
representações, preconceitos e exclusões e transformá-los.
Desta forma, ao considerarmos a existência de campos de silêncio impostos pela
sociedade e pelo currículo no que diz respeito ao gênero e a sexualidade e buscando
compreendê-lo como um campo em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepções de
saberes, os parágrafos destacados são percebidos como algumas possibilidades para afirmação
da presença da discussão de gênero e sexualidade nos currículos dos cursos de formação
docente.
Conceber a atuação do (a) docente com ética e compromisso, o reconhecimento e
respeito às manifestações e necessidades dos (as) educandos (as), e consciência sobre a
diversidade respeitando as diferenças, implica no entendimento da Educação como
“ferramenta política emancipatória, que deve superar processos discriminatórios socialmente
instaurados, a fim de transformar a realidade pela reafirmação da ética democrática”
(LIONÇO e DINIZ, 2009, p. 09).
Por sua vez, a expectativa de aptidão para realização de pesquisas que proporcionem
conhecimentos, sobre os (as) estudantes e a realidade sociocultural em que estes (as)
desenvolvem suas experiências não escolares nos remete a ideia da prática da pesquisa como
uma das bases da formação do (a) educador (a) / pedagogo (a) e do desenvolvimento de um
modo próprio de educar pautado na reconstrução do conhecimento.
Essa perspectiva tem sido fomentada nos cursos de Pedagogia? Essa é uma questão
que merece estudos, contudo é possível ponderar que refletir e problematizar as práticas
sociais é importante, para que os conhecimentos discutidos na escola façam sentido na prática
social dos sujeitos históricos que a constituem e são, por ela, constituídos, uma vez que, a
educação não se constrói somente em salas de aula, mas também e principalmente por
147
24
Segundo Carrara (2010), a noção de orientação sexual diz respeito à capacidade de cada pessoa de
experimentar uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de sexo diferente, do mesmo
sexo ou de ambos os sexos, assim como de ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas; se constrói como
fruto de interações complexas entre fatores biológicos, psicológicos e socioculturais é composta por três
dimensões: desejo, comportamento e identidade.
149
costumam ser pensados e as formas como identidades e práticas têm sido consagradas ou
marginalizadas?
Nesse sentido, buscarmos observar no Projeto de Reestruturação do Currículo, como
são discutidas as questões de gênero e sexualidade. Ao ser feita referência à Formação Básica,
afirma-se que os estudos desenvolvidos no Núcleo de Fundamentação estarão implicados:
25
É importante registrar que tive certa dificuldade para conseguir os programas atualizados das disciplinas.
Algumas não estavam disponíveis no site da instituição, outras estavam no site, mas eram antigas e mesmo
algumas que foram fornecidas pelos departamentos a que estão vinculadas estavam defasadas, em alguns casos
não havia sequer o arquivo da disciplina no referido departamento, por fim, frente às dificuldades apontadas tive
que recorrer ao (a) docente da disciplina.
26
Esta disciplina no Projeto de Reestruturação Curricular aparece como disciplina optativa, porém por meio da
Resolução CONSEPE 181/2006 foi transformada em componente curricular obrigatório no curso de Pedagogia,
integrando o eixo de Formação Básica.
151
No decorrer da disciplina, mesmo não estando na ementa, tem uma fala que
eu construo. Eu digo construo, porque ela está em construção, que eu chamei
de sexualidade e suas interfaces, então nessa fala eu apresento a ideia da
gente pensar a sexualidade não como uma coisa só, mas como um processo,
uma coisa em construção e é algo da complexidade, então nesse conjunto da
complexidade eu tento trazer alguns conceitos e falas sobre gênero, papel
social, identidade, orientação de desejo, um pouco sobre os mitos e a história
da sexualidade.
152
É possível, pois perceber por meio do enunciado do docente que os (as) discentes são
convidados (as) a refletir sobre distintos aspectos que constituem as questões sobre
sexualidade e gênero, mesmo esta temática não estando presente na ementa do componente
curricular. Um detalhe que merece ser comentado sobre esse componente curricular é que
tivemos acesso a dois diferentes programas de curso e a sexualidade aparece apenas em um
deles enquanto conteúdo programático, isso nos levou a considerar que embora a ementa do
componente curricular somente seja modificada por meio das reformulações curriculares, a
depender do (a) docente que elaborou o programa, na parte de conteúdos, objetivos, e demais
itens formais do programa, cada professor dá sua conotação pessoal, profissional, formativa,
logo esse tema aparecerá como conteúdo ou não. Os programas acessados foram elaborados
por docentes substitutos (as) e por docentes efetivos (as).
Um dos entrevistados (as) nos dá pistas de que a concepção de sexualidade trabalhada
no cotidiano do componente curricular “Fundamentos e Ensino das Ciências Naturais para
Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental” articula-se com a perspectiva de
construção social da sexualidade.
Então (...) uma das falas sobre o tema com os alunos é apresentar essa
construção histórica social da sexualidade. Esse é o cuidado, separar o que é
identidade, papel social, mais pra questão pedagógica mesmo, pra gente
saber entender, que tudo está junto e isso tudo são interfaces. Como eu falo,
uma coisa vai puxando a outra como se um tom mais escuro se misturasse
com um mais claro e você tem outro tom, então sexualidade é isso um rótulo
cinza com vários tons. As pessoas colocam esse rótulo para você, mas ele é
cinza com vários tons.
Sabendo que a escola tem um modo muito particular dos sujeitos infantis se
relacionarem com os outros (seja com a professora, com colegas, etc.) ou com eles mesmos,
os quais nos permitem pensar nos dispositivos que conduzem à produção da infância bem
como nos modos de ser/pensar/agir/falar infantis na escola (SILVEIRA, 2010), é interessante
nesse sentido considerar conforme pondera Furlani (2009) que:
comportamento que é incorporado pelas meninas e pelos meninos como verdade e modelo a
ser seguido, ou seja, os brinquedos fabricam identidades/diferenças.
Nesse sentido, o componente curricular EDU 289 – Jogos, Brinquedos, Brincadeiras e
Educação, ao trabalhar com a dimensão lúdica e educativa dos jogos e brincadeiras tem o
potencial de analisar as possibilidades e finalidades de determinados conhecimentos,
informações, histórias, brinquedos, brincadeiras e jogos vivenciados no espaço escolar e
indagar: como os jogos, brinquedos e as brincadeiras constituem a subjetividade de meninos e
meninas? Meninos e meninas devem/podem e ter os mesmos brinquedos? Quais as
implicações dessas questões no processo educativo das crianças e nas relações sociais vividas
por estas?
Uma questão curiosa merece ser registrada quanto ao programa desse componente no
transcorrer da escavação em busca dos programas, foram acessadas duas propostas diferentes,
uma fornecida por uma professora substituta e outra fornecida por uma professora efetiva da
instituição. No programa fornecido pela professora substituta, às discussões sobre relações de
gênero e sexualidade são apresentadas como conteúdo programático (brincadeiras, relações de
gênero e sexualidade) e no âmbito das habilidades é anunciada a intenção de abordar
temáticas atuais tais como uso da tecnologia, a diversidade de famílias e sexualidade
presentes nas brincadeiras, por sua vez no programa fornecido pela professora efetiva, esses
elementos não aparecem registrados.
Essa diferença nos programas me levou a considerar que a depender do (a) docente
que esteja à frente do componente curricular, esta poderá ter ou não incorporada à
potencialidade para discutir as questões que envolvem gênero e sexualidade no âmbito dos
jogos e brincadeiras. Faz-me ainda problematizar: quais tipos de sujeito esses dois programas
intentam produzir? Por que a discussão sobre tais temas é assumida no programa de uma
professora e no de outra não? Será que mesmo não estando no programa, no cotidiano da sala
de aula, essa discussão irremediavelmente acontece?
A escola infantil é generificada. Essa é a argumentação de Guerra (2005), que pondera
que a escola infantil está imersa na produção das relações sociais de gênero. Segundo a
autora, as representações de gênero estão presentes na organização do tempo e espaço, nas
normas, nos códigos e nas práticas pedagógicas, através das quais os sujeitos infantis se
constituem como femininos e masculinos.
Considerando tal característica, uma indagação que pode ser levantada: o tratamento
pedagógico desses temas não levaria os (as) estudantes de Pedagogia a questionar os padrões
155
Por meio do relato da docente, percebemos que os (as) estudantes em suas práticas
educativas articulam conceitos próprios constituídos nas suas trajetórias e experiências que
156
em muitos aspectos podem estar fortemente permeadas por valores morais que produzem
determinados tipos de sujeitos no ambiente escolar. As concepções, conceitos e
representações dos (as) estudantes/estagiários conduzem e contribuem para construção de
modos de ser, estar e pensar as relações, comportamentos e ações.
Ao considerar as práticas pedagógicas e as relações das concepções e representações
dos sujeitos, Silva (2011) afirma que os antagonismos presentes na maioria dos espaços e
discursos tendem a nos fazer escolher, nos posicionar frente às nossas experiências e muitas
vezes não percebemos que podemos isto e aquilo, e que não temos necessariamente que
escolher uma única forma de ser ou de agir. A partir dessa provocação da autora, ousamos
dizer que imersos (as) neste antagonismo muitas vezes não se percebe que as pessoas não têm
que escolher as nossas formas de ser ou de agir, que estas podem ser consideradas únicas por
alguns (mas), porém podem ser entendidas como apenas mais uma para outros (as).
Nesse sentido, considerando o estágio como um momento onde o (a) discente tem a
oportunidade de analisar a prática docente em sala de aula e refletir sobre práticas necessárias
para a sua caminhada profissional e que a escola e seus (suas) atores/atrizes estão implicados
(as) na construção a subjetividade das crianças, indagamos se: não seria o componente
curricular de estágio ao confrontar teoria e prática na reflexão em torno das vivências nas
escolas de Educação Infantil um particular espaço para os (as) estudantes pensarem nas
maneiras de ser que as escolas tem permitido que as crianças tenham? Em quais tipos de
discursos sobre ser menino e menina temos construído no âmbito da Educação Infantil, no
porque se constroem discursos sobre o que as crianças podem ou não podem fazer na vivência
da sua sexualidade e nas formas como seus discursos e concepções particulares desdobram-se
e imbricam-se na construção dos sujeitos escolares?
Ainda no exercício de pensar os componentes curriculares à luz de suas
potencialidades, observando os vinte e sete componentes curriculares que compunham o
quadro da Formação Complementar – as chamadas optativas – no projeto de reestruturação do
currículo do curso de Pedagogia (2002), identificamos dois componentes que sinalizam a
discussão em torno das questões de gênero e sexualidade: Fundamentos Biológicos da
Educação e Educação e Diversidade Cultural.
Atualmente na matriz curricular, neste eixo temos cinquenta e seis componentes
curriculares e, destes, identificamos três correlacionadas à discussão sobre gênero e
sexualidade: – Educação e Diversidade Cultural; Educação e Sexualidade e Estudos
Interdisciplinares de Gênero.
157
Louro (2011), afirma que como educadoras e educadores, precisamos voltar nosso
olhar para os processos históricos, políticos, econômicos, culturais que possibilitaram que
uma determinada identidade fosse compreendida como a identidade legítima e não
problemática e as demais como diferentes ou desviantes, devendo analisar também as formas
como a escola tem lidado com essas questões.
Através da sua proposta, a disciplina Educação e Diversidade Cultural permitiu a
reflexão sobre os significados atribuídos aos gêneros e às sexualidades, a compreensão de
como estes elementos são atravessados e marcados por relações de poder que usualmente
implicam em hierarquias, subordinações, distinções e discriminações e sobre a implicação da
escola nesse processo.
Compreendo que as discussões empreendidas na disciplina podem permitir aos (as)
estudantes indagar, por exemplo, sobre: como a escola tem lidado com tudo isto? O que se
tem dito ou feito em relação a tão falada diversidade cultural (étnica/racial, de gênero,
sexual)? Será que se pode dizer que hoje, a discriminação, o silêncio, as verdades instituídas,
especialmente em relação à diversidade sexual – estejam em processo de extinção ou, pelo
menos, estejam recuando?
O componente curricular BIO 605 - Educação e Sexualidade, componente curricular
do curso de Biologia, disponibiliza cotas de vagas semestrais para estudantes de outros
cursos, entre estes, de Pedagogia. De acordo com o programa disponibilizado pela docente do
componente, as temáticas sobre sexualidade são concebidas a partir de um viés bio-psico-
social, busca-se discutir a diferenciação, identidade, papeis e orientação sexual, as disfunções
sexuais, saúde reprodutiva, sexualidade e sociedade, além de educação sexual para crianças,
adolescentes e adultos. Dentre os objetivos propostos pelo componente destacam-se os
seguintes:
De acordo com o programa, espera-se que os (as) estudantes a partir das discussões
realizadas, possam lidar com as questões da sexualidade de forma natural, possibilitando a
este (a) segurança para lidar com estas questões na sala de aula. Facilitando também a
compreensão das diversas manifestações da sexualidade e amenizando preconceitos e tabus.
Percebemos que por ser vinculado ao curso de Biologia, o referido componente
mesmo sendo oferecida aos diversos cursos de licenciatura, tem como foco o (a) docente de
Biologia no desenvolvimento das discussões de educação sexual, acredito que possivelmente
qualquer diferença neste foco dependerá do interesse do (a) docente responsável e da
solicitação dos (as) estudantes. As obras que direcionam as discussões do componente
curricular articulam sexualidade, educação, saúde, adolescência e orientação sexual, entre
outras questões.
Um elemento me chamou atenção, muito embora a docente que nos cedeu o programa
tenha informado que este passou por reformulação recentemente, é que a obra mais recente
utilizada como referência tem quatorze anos de publicada, além disso, não identificamos
estudiosos (as) que tem apresentado proeminente produção na área a exemplo de, Michel
Foucault, Weeks, Guacira Louro, Jimena Furlani, Jane Felipe, Claudia Viana, Anderson
Ferrari, etc, entre os (as) autores (as) dispostos na bibliografia.
Debruçando-nos sobre a Resolução CONSEPE 030/2004, identificamos a criação do
componente curricular Estudos Interdisciplinares de Gênero, instituída como optativa para
todos os cursos de licenciatura, dentre estes, o de Pedagogia. De acordo com tal Resolução, o
componente optativo com 60 horas, tem por objetivo “discutir e refletir os processos de
construção dos sujeitos sociais a partir da perspectiva de gênero nas diversas áreas do
conhecimento” (RESOLUÇÃO CONSEPE 030/2004, UEFS).
Dentre os aspectos a serem trabalhados no referido componente curricular, aparecem:
a emergência dos estudos de gênero e os movimentos sociais; diálogo entre as diversas áreas
do conhecimento e a categoria gênero nas suas variadas vertentes; a inter-relação do gênero
com outras categorias de análise (famílias, sexualidade, trabalho, leis e políticas públicas,
aprendizagem, religião, violência, mídia, ciência, entre outros). Apesar de entrar em contato
com o Departamento que este componente está vinculado, com o Colegiado de História, e de
pesquisar no site da UEFS na página da Secretaria de Cursos, o programa deste componente
não foi encontrado para conhecer os conteúdos, os referenciais teóricos e a metodologia de
desenvolvimento das discussões propostas.
É importante destacar que, se por um lado reconheço as potencialidades, sinalizo o que
a leitura dos programas me suscita na sua relação com a temática estudada e percebo
161
prática docente, o que contudo não implica que as questões de gênero e sexualidade não
estarão de alguma forma presentes ao longo dessa formação. Todavia, me questiono: quais as
marcas de gênero e sexualidade que estão sendo impressas na formação do curso de
Pedagogia no cotidiano da sala de aula?
Giroux e Mclaren (2005) sinalizam que:
Modificamo-nos a todo o tempo. (...) Talvez o que nos faça mover em busca
de um rompimento com o que nos foi imposto, desde muito cedo, nos dê
forças para voar no improvável. Quem sabe, estar imbricada é o que mais me
agita para querer desnudar as infinitas possibilidades de viver as incertezas.
Parece que estou, a todo o momento, fazendo uma nova leitura dos processos
por mim vivenciados e, mais do que isso, ressignificando-os. É a minha lei, é
a minha questão, sei que vale resistir e “o mundo vai ver uma flor brotar do
impossível chão”. Esse é um desafio frente às diferenças e desigualdades por
mim enfrentadas. Não aspiro a grandes transformações, aspiro a mudanças
de gestos, atitudes, e posso afirmar que já não sou a mesma que iniciou este
trabalho. (SILVA, 2011, p. 69).
âmbito das identidades de alguns (mas) discentes e nas relações de poder estabelecidas entre
docentes do curso; perceber os processos, práticas e sujeitos que enunciam e reivindicam a
iminência de sentidos, buscando a partir dos silêncios produzir novos significados sobre as
temáticas gênero e sexualidade através da análise das práticas e discursos produzidos que
constituem a dinâmica do curso de Pedagogia.
Navegarmos nos mares que constituem o curso de Pedagogia a partir das vozes de
sujeitos que o constrói, implicou em nosso processo de pesquisa, saber sobre como este curso
e seu currículo são pensados, sentidos, observados, e quem sabe até mesmo, problematizados.
Nesse sentido, nesta seção nos debruçamos sobre alguns aspectos que os (as) docentes do
curso lançam mão para pensar sobre onde se quer chegar por meio da formação em que estão
envolvidos (as).
Inicialmente o currículo do curso de Pedagogia, forjado por meio das diretrizes,
resoluções e diversos tipos de interlocuções, nos foi apresentado como amplo, fluido,
disperso, pulverizado. Em que esses adjetivos implicam? No entendimento da docente
Suzana, nem totalmente falho, nem totalmente completo, o currículo do curso de Pedagogia
“ainda é flutuante, pela característica híbrida do próprio curso, da própria profissão,
justamente porque o curso é muito amplo, fica sempre faltando alguma coisa no currículo,
por mais que a gente mexa”.
Para a docente citada, a própria profissão ainda necessita de direcionamento e
definição de identidade. Ao tomarmos em conta suas considerações, podemos inferir que se
em alguma medida essa dispersão, fluidez, pulverização pode refletir-se em desafios ao longo
do processo de formação, por outro lado pode permitir que ressignificações sejam feitas de
modo a conferir características próprias ao processo formativo. Tal reflexão pode ser
considerada a partir do sinalizado pelo docente Vicente “A UEFS, eu acho que ela precisa
fazer com seus diversos cursos e também com o de Pedagogia, alguma coisa, um algo mais,
um recorte que a diferencie, um sotaque que o diferencie dos demais cursos de Pedagogia,
dos demais cursos das instituições privadas.”.
168
É também válido considerar que reflexões sobre o perfil profissional que se quer
formar e consequentemente sobre a identidade ou identidades que caracterizarão o curso
como ponderado pela docente Suzana, é uma perspectiva interessante.
O docente Fernando, fazendo referência especificamente ao currículo da UEFS,
destaca a importância de que a docência a qual é definida como base da formação em
Pedagogia seja efetivamente observada e levada em consideração no processo formativo, o
docente afirma que “a gente tem que ter como base a docência e buscá-la para compreender
melhor o que significa a docência e o currículo deve estar na verdade tentando ser
construído e elaborado a partir dessas identidades e assim tentar perceber qual é a
finalidade do currículo, ou seja, qual é o perfil profissional que a UEFS quer na verdade
formar”. Fernando nos provoca e assim como Suzana, coloca em xeque a necessidade de
discussão do currículo de modo que este possa ser problematizado a luz da experiência que se
pretende proporcionar.
Nesse quesito, Paraíso (1998) afirma que as teorias educacionais e curriculares mais
atuais expõem o currículo e sua “fabricação”, evidenciando a necessidade de problematizar
suas disciplinas, seus conteúdos, seus códigos, suas formas, seus rituais, e seus silêncios. São
essas mesmas teorizações que insistem também em dizer da necessidade de análise do papel
do currículo na produção da identidade e da diferença social. (SILVA, 2010).
Por sua vez, para docente Laura, o currículo do curso de Pedagogia:
É um currículo amplo e que dá tiros para todos os lados. Você tem todas as
modalidades em um currículo, há especificidade em algumas questões,
existem campos do currículo que tem mais espaço, ocupam maior território
dentro do curso de Pedagogia (...) eu percebo o curso “pulverizado”, não sei
se me faço entender, fragmentado, então é um “pouquinho de cada coisa”,
um pouquinho da EJA, um pouquinho da Educação do Campo, um
pouquinho da Educação Infantil. Claro que nós sabemos que um currículo
como esse de Pedagogia ele tem que abranger essas temáticas das áreas do
conhecimento, mas mesmo assim eu ainda penso que poderia ser melhor
definido.
Observamos que também para esta docente há muito no currículo de Pedagogia a ser
discutido, questionado, problematizado a fim de que caminhos outros possam ser pensados e
melhor traçados. Nos chama atenção, no enunciado da docente, a sinalização da relação de
superioridade que alguns campos do saber ocupam em relação a outros no âmbito do
currículo.
169
Para Foucault (2002), toda forma de poder traz, consigo, um potencial de resistência, o
teórico afirma que a “partir do momento em que há uma relação de poder, há uma
possibilidade de resistência. Jamais somos aprisionados pelo poder: podemos sempre
modificar sua dominação em condições determinadas e segundo uma estratégia precisa”
(FOUCAULT, 2002, p. 214), desse modo algumas indagações sobre como tais relações de
saber - poder podem estar articuladas a reafirmada pulverização e fragmentação, foram
acionadas em nosso pensamento.
É possível indagar: seria, pois a sobreposição de alguns campos de saber sobre outros
que estaria contribuindo para que este seja percebido como fragmentado? Ou ainda, até que
ponto a fragmentação tem implicado em prejuízos para a formação que se desenvolve no
curso de Pedagogia? E por fim, quais resistências têm sido constituídas no âmbito da
produção curricular do curso de Pedagogia da UEFS para superar as inquietações anunciadas
pelos (as) docentes?
Refletindo sobre o currículo e a perspectiva de fragmentação em sua composição, o
docente Fernando salienta que inclusão de algumas questões poderia ser desenvolvida de
forma mais interdisciplinar. É sinalizada uma maior necessidade de articulação entre os
sujeitos que constroem e colocam em ação esse currículo, o docente argumenta sobre isso
afirmando que:
docente parece fazer uma crítica à ausência de discussões que agreguem os (as) profissionais
para pensarem a formação dos (as) estudantes como um todo. Quais os impactos da ausência
de diálogo e de articulação entre os (as) docentes frente o currículo? Quais os impactos da
falta de articulação frente à formação dos (as) discentes?
Essa inquietação também é corroborada pela docente Laura, para esta, poderia ter um
diálogo melhor entre os componentes curriculares, um link entre os componentes, visto que,
segundo a docente por vezes a depender do componente curricular que se trabalha, não se
percebe um elo entre estes mesmo estando em um mesmo semestre. Para Laura, os
componentes curriculares que não dialogam entre si, poderiam dialogar, e se
intercomplementar contribuindo para que a formação dos (as) estudantes seja mais integrada.
Seus enunciados nos dizem sobre como alguns desses aspectos chegam até os (as) discentes:
próprio discurso sobre currículo constitui um dos nexos entre saber – poder (SILVA, 1995).
Tomamos emprestadas de Foucault (2006) algumas indagações para pensar as relações de
poder anunciadas:
Quais são as relações de poder mais imediatas que estão em jogo? Como
tornam possíveis essas espécies de discursos e, inversamente, como esses
discursos lhes servem de suporte? De que maneira esse jogo de poder vem a
ser modificado por seu próprio exercício – reforço de certos termos,
enfraquecimento de outros, efeitos de resistência, contra-investimentos, de
tal modo que não houve um tipo de sujeição estável dado uma vez por todas?
(p.108)
DCP, nos é anunciada, observamos que algumas iniciativas são aventadas no curso. O docente
Fernando afirma:
Não tenho observado esses debates, e assim acho que esses debates devem
ser realizados mais na discussão além das áreas, no próprio Colegiado de
Pedagogia, ou seja, o Colegiado tem essa função de articular, de buscar
problematizar o próprio processo de formação dos alunos e alunas. Então
assim, não tenho visto esses debates nas áreas, isso a gente tem realizado
mais nos grupos de pesquisa. No grupo de pesquisa que participo a gente
tem discutido políticas na sua amplitude e temos trabalhado também a
discussão de políticas das mulheres e nessa perspectiva macro está tentando
estudar e compreender o que são políticas educacionais.
Por outro lado, apesar das iniciativas descritas estarem relacionadas a ações não
sistematizadas no âmbito do curso, como afirma Paraíso (1998), as investigações no campo da
educação têm evidenciado que esses temas estão presentes na escola, nas relações entre as
(os) estudantes e nos próprios saberes que estão no currículo. A escola, a universidade e o
currículo têm raça, são generificados e sexualizados. No interior das relações de poder
presentes no currículo são instituídas formas de ser e de estar no mundo. Formas diferentes e
desiguais, mas não deixam de compor o cotidiano.
Questionados (as) sobre a importância das discussões sobre gênero e sexualidade no
curso de Pedagogia, todos (as) docentes foram unânimes em afirmar que esta presença é
necessária. Dentre as questões que marcaram o debate dos (as) docentes sobre o curso
investigado, apontou-se a ausência de componentes curriculares obrigatórios que possam
impulsionar de maneira mais sistemática, e que proporcionem a um maior número de
estudantes, o desenvolvimento de reflexões que problematizem, por exemplo, o conjunto de
códigos, representações e práticas discursivas, construído socialmente acerca das identidades
de gênero e sexuais, como elemento problemático. Argumentou-se ainda sobre a
especificidade do curso de Pedagogia e das demandas formativas dessas temáticas estarem
constantemente ligadas a componentes curriculares de outros cursos.
Para o docente Fernando, a emergência de tais questões no cotidiano do curso “vai do
professor” não conferindo as mesmas nenhum caráter que considere suas conexões com a
produção de sujeitos e subjetividade no âmbito do currículo como um todo, nesse sentido é
afirmado pelo docente “essa perspectiva a gente tem que modificar, não pode ser pela boa
vontade do professor discutir ou não, tem que existir sim, esse debate tem que ser
implementado nas ementas, porque se está na ementa tem uma possibilidade maior de que
175
essas discussões sejam realizadas, se não está na ementa já fica mais difícil ainda porque vai
depender da boa vontade do professor.”.
A docente Suzana acena como uma possibilidade para os (as) estudantes estarem
envolvidos (as) em um processo formativo que contemple as questões de gênero e sexualidade
a construção e costura do currículo entrelaçando as optativas e o preenchimento das lacunas
mais relativas à sua curiosidade a partir de seu esforço particular, mediante a assunção de uma
perspectiva mais autônoma e individual.
Contudo, a docente Laura questiona a concentração das discussões no âmbito das
optativas:
Muitas vezes elas não são instigadas a serem cursadas, eu creio que até pelo
lugar que essas disciplinas ocupam nos currículos como optativas, talvez não
é nem só o lugar que elas ocupam como optativas, porque elas poderiam
ocupar o lugar como obrigatórias, não todas, mas algumas delas são
necessárias, eu vejo que são importantes de fazerem parte do nosso
currículo, por exemplo. Mas o lugar que elas ocupam de optativas e a não
veiculação dessa informação, o não entender o que essas disciplinas podem
oferecer para quem as cursa (...), como elas podem contribuir, por exemplo,
para a formação, eu creio que isso contribui bastante para a não matrícula,
exatamente porque se é opção não é obrigatório, então por não ser
obrigatório não tem tanta importância, simbolicamente falando, ou não
talvez nem seja simbólica. Mas assim, não que não tenha essa importância,
mas não é dada essa importância.
que essa assumirá para inclusive não incorrermos em armadilhas, por exemplo, que conduzam
a definição do que é o natural determinando, automaticamente, o não - natural, o errante.
Para o docente André, as possibilidades de fortalecimento e consolidação das
discussões sobre gênero e sexualidade no curso de Pedagogia poderiam se dar das seguintes
maneiras:
Pensando a Pedagogia, talvez a gente fomentasse e organizasse de forma
multidisciplinar eventos, seminários, fóruns, um grupo de estudos com os
alunos de Pedagogia, talvez desse esse caráter mais inter/transdisciplinar
entre várias pessoas diferentes (...). Não precisam ser especialistas, o
problema as vezes está aí, as pessoas ficam muito nesse campo, só esses
falam de sexualidade, acho que muita gente que não é da especialidade tem
muito o que contribuir, muitos depoimentos, até dos alunos nessas falas pode
contribuir, as vivências que traz interioriza. Então talvez a universidade
oferecer mais espaços, não necessariamente espaços aula, espaços eu vejo
que talvez pudesse ser pensado como seminários, simpósios, palestras,
encontros, semanas D, dia D, discussão por meio de filmes, por meio de
rodas de conversa. Permitir diferentes espaços e oportunidades para que
essas conversas sejam construídas dessa forma criando certo corpo, uma
potencialidade em si, precisa ter diferentes espaços, a universidade realmente
precisa pensar, isso é da nossa prática alimentar essa discussão, essa
conversa, então diferentes oportunidades que os alunos trazem, diferentes
pessoas da universidade e fora dela poderiam contribuir.
Veja só, se você for ver cinco disciplinas é um bom número dentro de uma
grade curricular, de oferta, porém o que eu sinto que essas cinco se
enfraquecem porque elas não se unem em um discurso, não que todas
178
tenham que falar o mesmo discurso, mas que possam uma colaborar com a
outra no sentido de união de análise, de parceria.Isso iria dar um
fortalecimento maior nas ações políticas nessa área dentro da UEFS, mas
assim, o que eu percebo é que cada um olha pro seu próprio umbigo não
permitindo essas articulações, então por isso que ficam fracas, se a gente
conseguisse com essas cinco dentro de uma união de direcionamento, de
uma reflexão, de uma ação concreta, essas cinco fariam maravilhas. Dentro
da própria história da UEFS, a gente percebe que são movimentos totalmente
isolados que não se articulam para fortalecê-los.
Com sua fala a docente acena para reflexão sobre o impacto das práticas formativas do
curso de Pedagogia no cotidiano escolar. A docente chama atenção às relações que o gênero e
a sexualidade acabam por estabelecer na prática educativa vivenciada nos ambientes
escolares, já apontada em diversos pontos de nossa escrita, como uma relação marcada por
ausências, desconhecimento, negligência e consequentemente implica na determinação de que
tipos de discursos permanecem e que tipos de discursos são deixados de lado.
No entendimento de Martins (2001), as marcas que constituem a relação estabelecida
pela escola com os debates sobre gênero e sexualidade, se deve ao fato desta ainda ser
prisioneira de concepções sobre corpo, sexualidade e gênero que foram construídas no século
XVI, enfrentando grande dificuldade para promover práticas pedagógicas que celebrem e
respeitem a diversidade.
Louro (2000) afirma que a escola tem uma tarefa bastante importante e difícil, numa
dinâmica social que faz um investimento cultural de “fixar” uma identidade masculina ou
feminina “normal” e duradoura. “Ela precisa se equilibrar sobre um fio tênue: de um lado,
incentivar a sexualidade “normal” e de outro, simultaneamente, contê-la” (p. 26).
180
Como diz Louro, “tão ou mais importante do que escutar o que é dito sobre os sujeitos,
parece ser perceber o não-dito, aquilo que é silenciado (...). O silenciamento aparece como
uma espécie de garantia da norma. A ignorância (chamada, por alguns, de inocência) é vista
como a mantenedora dos valores ou dos comportamentos ‘bons’ e confiáveis” (ib., p. 67-68)
Observamos que é também através do currículo que, entre outros processos sociais,
que nossos corpos são moldados aos papeis de gênero, raça e classe que nos são “destinados”.
O currículo nos ensina posições, gestos, formas de nos dirigir às outras pessoas, movimentos
que nos fixam como indivíduos pertencentes a grupos sociais específicos. O currículo torna
controláveis corpos incontroláveis. (SILVA, 1995).
Considerando as interfaces entre escola, docência e questões sociais, para Valter, a
importância da discussão dessa temática no curso de Pedagogia incide no fato de que “como
egressos, esses pedagogos irão se defrontar na sua vida profissional com essas situações,
quer apareçam de maneira mais clara, quer apareçam de maneira mais sutil, não tão
evidente, então o curso de Pedagogia que queria ter um fator diferencial necessita dar ênfase
a questão do gênero, da sexualidade e da diversidade”.
Outro elemento apontado pelo docente para destacar a importância de tais discussões
incide na necessidade de quebrar o paradigma que conferiu ao longo dos anos o ensino como
opção feminina e o estranhamento de que o professor homem é vítima principalmente na
Educação Infantil. O professor coloca em xeque os limites do processo de feminização da
docência, que se por um lado conferiu as mulheres a possibilidade de sair do domus e de
galgar conquistas, por outro contribui para consolidação de um projeto em que a educação é
um destino feminino, na medida em que as situações que atingem o homem na sala de aula
não é levada em consideração, não é trazida ao debate.
É acenado pelo professor Valter que:
tratamento das questões sobre gênero e sexualidade? Frente os laços tecidos para refletir
sobre os caminhos que o gênero e sexualidade têm construído no curso de Pedagogia da
UEFS, observamos que existem muito mais questões, incertezas, inquietações e provocações
do que respostas prontas, consolidadas, hermeticamente fechadas numa caixa aguardando o
desnudamento por parte de uma pesquisadora, os (as) docentes compartilham angústias,
preocupações, expectativas, ideias, práticas e assinalam presenças que se fazem entre rasuras,
mediante audácias e estripulias, por meio de arranjos que por vezes tenciona ou silencia, sem,
contudo deixar de produzir sentidos e sujeitos e de ser produzidos por esses.
Ao iniciar o interesse por estudar o curso de Pedagogia e sua relação com as questões
de gênero e sexualidade, por considerar minha própria vivência como egressa do curso,
constitui a hipótese de que tais discussões eram invisibilizadas e relegadas ao lugar do
silêncio. Ao longo da pesquisa, alguns aspectos dessa hipótese foram sendo confirmados e
outros aspectos sobre o silêncio foram demonstrando a presença do gênero e da sexualidade
mesmo existindo certa ausência de palavras/atitudes quanto a esses temas.
Na medida em que o silêncio foi sendo anunciado, seja de forma explícita ou mais
timidamente e que minha tarefa de conhecer o currículo do curso de Pedagogia da UEFS foi
ganhando contornos, duas questões foram movendo meus pensamentos: a primeira incidiu em
entender como os silêncios em torno do gênero e da sexualidade no curso de Pedagogia da
UEFS são evidenciados nas falas docentes e, a segunda, em entender como as políticas de
silêncio são significadas e como sentidos são produzidos no cotidiano da sala de aula do curso
estudado.
Paraíso (1998) afirma que as teorias educacionais pós-críticas demonstram a existência
de um novo tempo e as novas perspectivas epistemológicas denunciam seus equívocos,
revelando a importância em problematizar as formas e o silêncio dos currículos, ou seja, o
debate está aberto, as questões que envolvem o curso de Pedagogia e a formação docente
estão candentes, revela-se a necessidade de análise do papel do currículo na produção da
identidade e da diferença social.
Nesse sentido, interessa-nos neste momento as relações entre currículo, gênero,
sexualidade e silêncios no curso de Pedagogia da UEFS à luz dos enunciados que emergem
184
das entrevistas dos (as) docentes deste curso. Empreenderemos aqui um esforço para observar
os silêncios tentando identificar suas diversas perspectivas.
Ao buscarmos o significado do silêncio em dicionários, identificamos sua associação
direta a uma ausência de som, incluindo o estado de quem se cala ou se abstém de falar.
Salientamos que nesta escrita partimos da compreensão de que o silêncio assume muitas
formas em nossa sociedade e na sua relação com os sujeitos sociais.
Os sentidos, causas, significados, intenções, que atravessam o silêncio são amplos e
distintos em objetivos, podendo este ser visto como negação, como prisão, como falta de
conhecimento sobre algo, como sujeição, mas também como resistência, como escolha, como
forma de proteger o outro, como forma de libertar-se, são significados e sentidos que por
vezes podem parecer contraditórios para ser atribuído a uma mesma palavra, a uma mesma
ação.
Xavier Filha (2011) destaca que uma das instâncias sociais em que são promovidas
práticas de silenciamento é a escola. O curso de Pedagogia como espaço destinado a formar
profissionais para atuar diretamente nesta instância social constitui-se assim como
interessante alvo para reflexão acerca das diversas formas de silêncio e silenciamento.
Considerando que o processo de silenciamento é produzido por estratégias,
dispositivos, práticas, discursos, que os silêncios assumem muitas formas, e que ambos
afetam os sujeitos na construção de sua subjetividade, nos interessou discutir neste tópico a
existência destes no referido curso uma vez que no processo de organização dos enunciados
das entrevistas, tais palavras emergiram diversas vezes.
Franco (2011) argumenta que refletir sobre um currículo de formação de pedagogos
exige, necessariamente, a consideração dos pressupostos que fundamentam as raízes
epistemológicas do corpo de conhecimento da Pedagogia, buscando assim perspectivar
caminhos mais sólidos à reconfiguração da nova e necessária profissionalidade pedagógica.
Nesse sentido, neste tópico nos aproximamos da posição assumida por Silva (2010) ao
refletir sobre a relação entre o currículo do curso de formação de professores (as) e as
questões de gênero e sexualidade. A autora argumenta que:
Desta forma, intentamos um caminho junto aos silêncios e suas presenças no currículo
de Pedagogia visando pensar neste como configurador de práticas sociais e culturais. As
características através das quais compreendemos o silêncio, nos leva a crer que ele assume em
si a possibilidade de ser produtivo, de ser contextual, de refletir as subjetividades dos sujeitos
que se relacionam com ele, de ser plural, podemos assim falar em silêncios. E esse
movimento pode ser sentido e percebido na relação que a sociedade e suas instâncias
estabelecem com o gênero e com a sexualidade. É um pouco dessa relação que pretendemos
trazer à tona.
Eu já fiz o estudo das ementas das quais eu já trabalhei. Assim, esse debate
não existia27 em nenhuma. Não tem especificidade nas políticas de gênero
nem de sexualidade, na ementa não existe, não garante essa discussão (...).
Em uma das ementas não aparece claramente o debate sobre gênero e
sexualidade, mas aparece as discussões das teorias pós-críticas, as teorias
contemporâneas que de certa forma estão ligadas, mas assim explicitamente
não está lá colocado. (FERNANDO)
27
Os elementos destacados em negrito como trechos dos enunciados docentes ao longo do capítulo representam pontos que
nos chamaram bastante atenção e que de certa forma apresentam alguma regularidade e/ou repetição de ideias. .
186
esta não aparece claramente, mas sim diluída nas teorias pós-críticas e contemporâneas que de
alguma forma reconhecem este tema como importante, explicitamente nada sobre a temática
está colocado.
Não vejo, honestamente (...) não tenho visto essa discussão. Até porque no
nosso próprio curso não há nem se quer um componente curricular que seja
obrigatório para discutir essas questões (...). Em relação ao aspecto
curricular eu acho lacunar, creio que esse seria um elemento importante pra
gente retomar, não é nem retomar, pra gente dar um pontapé nessas
discussões, porque eu noto que os estudantes ficam muito impactados talvez
pelo fato de estarem impregnados por esses valores, esses conceitos sobre
sexualidade, sobre papel social da mulher e do homem na sociedade.
(LAURA)
Interessante destacar que mesmo estando tais temas atravessados por processos de
silenciamento, eles mobilizam o interesse dos (as) estudantes, conforme podemos observar no
depoimento da docente Kátia “hoje em dia a maior parte de meus anos são do curso de
Pedagogia porque desperto o interesse nas demais disciplinas que ministro para que eles
possam depois buscar se aprofundar caso tenham interesse. Agora para minha surpresa
nesse semestre a maior parte dos alunos de Pedagogia são do 2º e 3º semestres, são alunos
que não foram meus ainda, então eles já estão se sentindo motivados pela minha presença
187
direta, por alguém ou professor ou o próprio grupo de alunos que já fizeram estão fazendo
essa motivação”. Tais elementos são vistos por nós positivamente, e logicamente conduz ao
questionamento: qual será o fator que tem favorecido que estudantes dos primeiros semestres
movimentem-se rumo às disciplinas optativas que abordam gênero e sexualidade?
Ao observamos o quadro de monografias defendidas entre 2005 e 2011 no curso de
Pedagogia buscando aquelas que promoviam discussões sobre gênero e/ou sexualidade,
identificamos vinte estudos, destes a maioria tratava da sexualidade infantil, poucos trabalhos
saem desse âmbito de discussão, a minha monografia que discutiu sobre homossexualidade,
duas monografias que articulavam o cotidiano escolar as relações de gênero e a sexualidade
no Ensino Fundamental e uma sobre abuso sexual. Percebemos que os (as) estudantes têm
começado a provocar rasuras no âmbito da produção da pesquisa, muito embora o número
seja pequeno considerando que a cada semestre ao menos quarenta estudantes concluem o
curso. Para a docente Kátia essa restrição pode estar vinculada a dificuldades de orientação.
A professora Laura ao tratar das possíveis consequências identificadas em função da
existência dos campos de silêncio em torno dessas temáticas no âmbito da pesquisa acadêmica
reforça a reflexão da docente Kátia:
A produção da pesquisa no curso em torno da temática pelo que nos sinaliza a docente
acaba sendo prejudicada na medida em que não existem muitas possibilidades de profissionais
que possam orientá-los (as).
Por outro lado, no bojo dos silêncios epistemológicos em relação a intencionalidades
explícitas e articuladas no currículo do curso de Pedagogia em torno do gênero e da
sexualidade, existem também possibilidades de discussão contidas em algumas propostas
(ainda que isoladas). Estas buscam de algum modo avançar em formas de visibilização dessas
temáticas. Exemplos dessa perspectiva podem ser vistas nas falas a seguir ao se fazer
referência às discussões sobre gênero e sexualidade nas disciplinas ministradas:
188
(Essa discussão) (...) Então ela surge nessa disciplina um pouco pelo
escanteio porque não está na ementa, ao mesmo tempo eu acho que ela
deveria estar, agora onde ela entra, como ela entra, eu trabalho com ela
desde a espontaneidade do acontecimento. Alguém ali perguntou ou eu
proponho, eu provoco isso, quando eu estabeleço um seminário falando
sobre sexualidade e o corpo humano um dos temas, eu já trago esse tema
pronto, eu acredito que alguém vai se interessar e investir uma parte disso
nesses temas, então eu já meio que dou uma direcionada para isso, para que
isso aconteça, mesmo que um pouco ali na fala, mas eu gosto muito quando
ela acontece do nada, estou com outro assunto surge essas questões, vamos
lá, vamos ver essas questões, trabalhar essas questões e deixar de lado um
pouco o que eu preparei, acho que a aula é isso, esse movimento. (ANDRÉ)
Essas discussões, elas tem a intenção de fazer com que o estudante já faça
essa reflexão, já comece a pensar sobre, para formar sua própria
concepção, para que ele possa refletir e pensar como é que vou agir,
primeiro como é que a gente pensa sobre e como é que vou agir sobre.
Porque eu acho que a professora, o professor, o pedagogo, que trabalha com
a sexualidade infantil ela tem que saber realmente como agir no caso, por
exemplo, de pegar a criança em uma situação, (...) ela teria que saber como
agir (...). Como é que ela vai fazer para agir sem transmitir para essa
situação todos os seus preconceitos, todos os seus medos, todos os seus
traumas, né? Porque a gente chega na idade adulta cheia de trauma, cheia de
medo, cheia de preconceito. (...) E a criança ainda não está podada. E aí a
gente precisa saber como fazer, para que a gente não vá ser também um
instrumento de trauma, um instrumento de negação da sexualidade
(SUZANA).
Suzana relaciona o saber sobre gênero e sexualidade como necessário para que o (a) discente
possa pensar e saiba como agir, saber fazer e agir em situações específicas em sala de aula de
modo a não transmitir preconceitos, medos e traumas para as crianças, não se constituindo
como instrumento de trauma, de negação da sexualidade.
Essa ideia de saber fazer e saber agir em nossa compreensão mesmo que se diferencie
por fugir a prática pedagógica que silencia as discussões sobre gênero e sexualidade remete a
certo pragmatismo na relação com a temática e nos leva a questionar até que ponto as
discussões fomentadas no âmbito dessa concepção garantem efetivamente que os (as)
discentes desenvolvam práticas educativas que incorporem noções de gênero e sexualidade
que de fato contribuam para produção de sentidos voltada a desnaturalização de estruturas
binárias e excludentes e atitudes que ao invés de restringirem-se a situações pontuais, em que
se busca atuar dentro de certo script, mas sem a devida compreensão da importância da
temática na constituição dos sujeitos.
Por outro lado, a fala do docente Fernando associando a discussão sobre a temática, a
compreensão do debate, de suas relações com o fluxo social, atribuindo ao (à) docente e à
escola um papel no processo de constituição das identidades historicamente negadas em nossa
sociedade, nos permite observar uma relação reflexiva e que busca consolidar práticas que
tencionam não apenas uma situação pontual na sala de aula, mas a própria dinâmica social em
relação a gênero, sexualidade e outros marcadores sociais de diferença.
Parece-nos que a fala do docente coloca em lugar de centralidade as discussões sobre
as "novas" identidades culturais na formação do (a) pedagogo (a), reconhecendo a cultura
como um espaço não homogêneo e monolítico, mas como espaço complexo, múltiplo,
desarmonioso, e descontínuo, a que o currículo está intrinsecamente relacionado, e “é
evidente que os estudos sobre currículo já não podem furtar-se a essas discussões, se
realmente quisermos construir um currículo e uma educação mais democráticos em nossa
sociedade.” (PARAÍSO, 1998, p.03).
Pensando nas práticas curriculares em torno do gênero e da sexualidade e sua relação
com a construção dos saberes e práticas dos (as) discentes e nos silêncios epistemológicos
evidenciados pelas falas dos (as) docentes, emergiu em nossa mente metaforicamente a ideia
de tatuagem. Esta nos remete a distintos conceitos e interpretações, podendo relacionar-se
com um processo social que imprime a determinados sujeitos um lugar de marginalidade, a
ideia de transgressão frente estruturas e normas estéticas, de modificação de si e do
estabelecimento de novas formas de se relacionar com o corpo, ou ainda como a expressão de
191
uma individualidade e subjetividade, capaz de marcar, no mundo de fora, aos olhos dos
outros, uma diferenciação dos sujeitos.
A reflexão que nos conduziu a pensar a tatuagem frente o curso de Pedagogia perpassa
pelas ponderações feitas pelos (as) docentes quanto às maneiras pelas quais as sexualidades e
o gênero atravessam as práticas curriculares e mesmo as práticas docentes. Entre momentos
de marginalidade e momentos de expressão de novas formas de pensar as relações sociais este
tema adquire uma marca particular na formação desenvolvida.
Assim nos colocamos a refletir sobre o quanto as formas de ensinar sobre este tema
ficariam tatuadas no curso para além da acepção de marginalidade, mas como algo que
expresse formas outras de relacionar-se consigo e com os outros, frente demarcações
socialmente estabelecidas. Colocamos-nos a pensar na formação vivenciada pelos (as)
discentes, no quanto as propostas que atualmente são desenvolvidas modificaria o corpo -
currículo, a mente, as práticas e as subjetividades dos sujeitos que compõem o curso estudado.
Compreendendo as tatuagens como efeitos estéticos que se constituem de forma
temporária ou permanente, como elementos que imprimem ideologias, modos de pensar,
sentir e ser, em que as diferenciações podem ser pontuais ou contínuas, nos pareceu que
apesar das possibilidades evidenciadas, a inexistência de uma intencionalidade explícita e
articulada no currículo do curso de Pedagogia em torno do gênero e da sexualidade pode
através da permanência de ações isoladas, se aproximar da ideia de tatuagem temporária
refletindo uma ação momentânea sem grandes modificações estruturais nos modos de pensar
ser, sentir e se relacionar com as temáticas. Isso porque, as ações dependem em grande
medida de esforços individuais dos (as) docentes ou afeições ao tema por conta da vivência de
determinadas experiências como é o caso do docente André que se interessa pelo em função
de sua própria experiência pessoal, pelas relações estabelecidas frente à criação familiar,
frente à construção de sua própria sexualidade e pela própria relação como docente de
Biologia, tendo avançado para um olhar mais cultural da sexualidade a partir de relações
estabelecidas no mestrado. Ou seja, como sinalizado pelo docente Fernando “vai do
professor”.
Não consideramos que as concepções necessitam ser permanentes e imutáveis ao
associar o conhecimento e as práticas à tatuagem permanente, apenas consideramos em um
primeiro momento uma tatuagem/ ideia temporária/ sem articulação consistente para
modificação de estruturas pode fragilizar o que se pretende transformar. Nesse sentido,
pergunta-se: na ausência de docentes que tem incorporado nas suas aulas essas discussões por
192
(...) Nossa escola, essa que a gente conhece, que eu conheço, ela pra tratar
alguns tipos de conteúdos, alguns tipos de saberes tem que ser legitimados
como conteúdos nos currículos ou programas da escola. Então alguns
saberes, desejos, sabe assim, que as crianças têm, ficam silenciados, ficam
escondidos, deixados de lado porque não são dos conteúdos. (ANDRE)
sentidos tidos como aqueles que podem ser repetidos e, desse modo, cristalizam para os
sujeitos um único modo autorizado de dizer.
Assim como é demonstrado na fala do docente André vimos também que “a
sexualidade está na escola porque ela faz parte dos sujeitos, ela não é algo que possa ser
desligado ou algo do qual alguém possa se despir” (Louro, 1997, p.81), ela escapa ao
enquadramento do currículo formal, desta maneira o docente nos chama atenção à autorização
à fala em torno desta temática que muitas vezes é feita na escola:
Eu acho que assim a gente tem que acabar esse negócio, algumas coisas são
essenciais, esses convites, por exemplo, sobre a sexualidade, convite é nosso
pra falar, não tem que ter uma disciplina, não tem que ter um conteúdo pra
trabalhar isso, qualquer momento, a gente precisa dar espaço pra essas coisas
que acontecem na escola, o acontecimento. [No curso de Pedagogia] tem que
ter essa preocupação, não só na maneira, não tanto no conteúdo, mas estar na
ementa, ela é algo que tem estar presente nas falas, de certa forma você
como professor que pensa na formação ampla, do todo, do corpo como um
todo, ela tem que estar presente a qualquer momento (ANDRÉ).
inserção de tais questões nas ementadas de disciplinas. Afinal como afirma Dinis (2008),
outras estratégias de resistência às caixinhas que se costuma colocar o tema, seriam:
Olha, isso fica no silêncio, já diz muita coisa, é mais uma postura
silenciosa, não sei se é questão de falta de interesse ou mil coisas pendentes,
mais tecnopráticas e burocráticas para se resolver que lamentavelmente
sempre fica em primeiro plano, e essas questões humanísticas
lamentavelmente na academia, nessa universidade e em outras também são
apagadas, parece que não existe, primeiro ela dá conta de técnica, logística
e depois a gente pensa, se sobrar tempo, as questões humanísticas que eu
chamo, são questões da cultura, da linguagem, da história. Acho que ainda
falta, a universidade como um todo, o DEDU 28 precisa discutir questões
humanísticas, as nossas reuniões de colegiado ainda são reuniões
operacionais, técnicas, sistemáticas e pouco vamos trabalhar, vamos falar
sobre os saberes, essas temáticas digamos emergentes, não é um problema
só da UEFS, pelo que eu vejo de várias outras universidades. (ANDRÉ)
28
O docente está fazendo referência ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Feira de
Santana
195
As ideias expostas pelo docente problematizam o lugar ocupado pela temática entre
seus (suas) colegas e a constante legitimação do silêncio em torno da mesma. Os silêncios que
o docente André sinaliza atravessam as palavras e, como argumenta Orlandi (1997), são
observados por seus efeitos (retóricos, políticos) e pelos muitos modos de construção de
significação.
Nos enunciados docentes quanto às relações dos saberes sobre gênero e sexualidade no
curso de Pedagogia e na sociedade, sobre a importância de um espaço em que tais questões
sejam alvo de discussão, observamos a relação destas com as políticas de silêncio, com o
controle dos saberes, com a monofonia e ao mesmo tempo a necessidade de romper com tais
questões que os movimentos de sentidos na sociedade nos colocam:
29
Como o docente em alguns momentos chama as questões relacionadas a gênero e sexualidade.
30
Uma das áreas do Departamento de Educação.
31
Uma das subáreas da Área de Prática de Ensino
32
Modificamos o nome do docente citado por nosso entrevistado para preservar sua identidade.
196
Então assim, existe uma dificuldade, a gente percebe como a gente não
consegue lidar, e a nossa sociedade lida mal com esse conhecimento sobre
sexualidade, ela não sabe conviver com isso, então existe uma necessidade
urgente, recente, essa necessidade de você ser chamado pra conversar sobre
isso e se abrir sobre isso e negociar essas falas, é um chamado urgente,
cada vez mais está presente e cada vez mais é necessário. (ANDRÉ)
No bojo dessas reflexões, podemos nos remeter às ideias de Silva (2010) que pondera
sobre a necessidade de dar vozes às identidades produzidas pelo currículo e evidenciar as
culturas nele silenciadas, questionando por que o currículo se compromete na constituição de
certas políticas de identidades e não de outras.
5.3.3. Palavras que atravessam silêncios e silêncios que atravessam palavras: gênero,
sexualidade, fissuras, desnudamentos e resistência
Um olhar que eu tenho, é que a sexualidade está ali na sala, a todo momento,
a gente não deixou de tirar a sexualidade, não deixei de ser homem, ou
enfim, a sexualidade está presente, uma hora ela tem...isso acontece, a gente
está trabalhando um conteúdo ela está ali presente. A maneira de eu falar,
gesticular, a maneira como eu me relaciono com os outros, eu até brinco com
eles: a gente está fazendo um ato sexual, que beleza, porque é pra quebrar
mesmo esses tabus, moralismos, ‘ah eu estou fazendo um ato sexual’. Não, é
porque você está lidando com o corpo, a fala, os sentimentos, os gestos, a
nossa maneira de se vestir, então tudo isso é sexualidade, nossas histórias.
(ANDRÉ)
A fala do professor André nos remete à compreensão de que o silêncio passa pelas
palavras e escorre por entre a trama das falas. Diante disso podemos considerar a
argumentação de Ferrari (2011) de que o silenciamento não é algo meramente restritivo que
atua para limitar os sujeitos de vivenciar e expressar suas formas de ser, mas é algo que
198
A docente Laura nos chama atenção ao fato de que quando as questões de gênero são
reivindicadas no cotidiano do curso de Pedagogia por vezes visa a atender ao reforço de
padrões e estereótipos em torno do que é a categoria gênero emergindo através de falas
destituídas dos possíveis aspectos sociais, culturais, políticos e históricos que demarcam tal
categoria, demonstrando o pouco e/ou nenhum aprofundamento teórico nos discursos dos (as)
discentes.
O docente André ressalta que:
O bom professor para abordar esse tema é aquele cara que tira a roupa, a
sexualidade é uma boa metáfora também porque fala da roupa, você tira a
roupa não é uma roupa externa só, é a interna e externa, e muita gente tem
dificuldade de tirar a roupa, principalmente a interna, “isso não pode ser
falado, não pode ser abordado”. Quando você coloca esses mitos e tabus de
forma moralista você vai travar, vai ter dificuldade, então tem que abrir para
estranheza, abrir para o queer, aproveitar as oportunidades e trazer as
questões que incomoda principalmente na questão que fala da
homossexualidade, da transexualidade, nesses corpos estranhos, nesses
comportamentos estranhos na sala de aula e as pessoas se assustam. (...)
Falar sobre essa temática é posição política do professor, então você sempre
tem que estar num campo de batalha tentando exterminar as trincheiras do
preconceito.
Provoca-nos a pensar sobre quem é esse (a) professor (a) na sua articulação com as
discussões sobre gênero e sexualidade. O docente acena aspectos que os (as) profissionais da
educação devem considerar ao lidar com as temáticas em suas salas de aula, chama atenção
para a necessidade do afastamento de posturas moralistas e engessadas, para a necessidade de
abertura a um currículo e consequentemente a uma prática que conceba a desconstrução como
processo metodológico, que desestabilize a oposição binária heterossexual/homossexual/
homem/mulher, e suas consequências. Observamos que a reflexão do docente articula-se ao
pensamento de um currículo queer, percebido como aquele que perturba as formas de pensar e
de ser, constituindo-se subversivo e provocador. (SILVA, 2011).
Emergem das falas dos (as) docentes, observações de como os momentos de fissura do
silêncio são recebidos pelos (as) discentes do curso, nos é apresentado à compreensão de
200
processos de interlocução que para alguns (as) é marcado pela abertura à fala e construção de
novos saberes e para outros é marcada pela negação de tais saberes, ainda que de modo fugaz.
Nesse contexto, os (as) docentes nos acenam que é desafio posto no cotidiano do curso
romper a ideia de sentido único e sujeito único, onde se diz para excluir e negar.
precisa refletir antes sobre essa questão, para saber como agir na hora que
elas estiverem numa situação de sala de aula. Elas perguntam muito, querem
saber, começam a pensar para saber como é que vão agir, então tem muita
discussão, muito reflexão, dá muito pano para manga. (SUZANA).
O docente relata que procura conduzir as reflexões anunciadas na ementa por meio do
questionamento sobre o processo histórico e cultural para tratar a relação entre docência e
questões de gênero. As práticas relatadas pelo professor Valter nos remetem as ideias de
Louro ao dizer das formas mais viáveis para intervenção frente às desigualdades de gênero, a
autora afirma que a instauração de práticas simples de subversão, questionamento e
202
problematização das ordens de gênero instauradas, podem talvez “contribuir para perturbar
certezas, para ensinar a crítica e a autocrítica (...), para desalojar as hierarquias” (LOURO,
1997, p.124).
Sobre as bases teóricas que sustentam as discussões, o professor Valter relatou
trabalhar com os antropólogos clássicos e com psicanalistas modernos, ressaltou ainda que as
discussões costumam ocorrer também por meio de seminários, e entre os temas destacam-se
casamento, parentesco, família, religião, homossexualidade e docência. Ele salienta que todas
as equipes têm em comum o fato de trabalhar com conflitos dentro de sala de aula, conflitos
no trânsito, nas famílias, explorando questões como violência, ódio mascarado e as
contradições que marcam as relações sociais.
Um dos seminários sugeridos pelo docente tem por tema “ao mestre com carinho:
feio, bonito, alto, baixo, gordo, magro, homossexual, heterossexual, bem vestido, mal vestido,
alegre, triste, bem humorado, mal humorado, jovem, velho” A intenção do professor é
provocar os (as) estudantes a refletirem sobre como vão trabalhar com as coisas que os (as)
estudantes costumam comentar “sempre pelas costas”, buscando evidenciar qual
posicionamento os (as) estudantes apresentam em especial sobre diversidade sexual. Valter
relata ainda que a existência de um episódio no departamento a que está vinculado o levou a
perceber que:
Esse enunciado do professor Valter é muito precioso primeiro porque foi o único em
que a figura do professor homossexual enquanto alvo de discussão apareceu e segundo porque
aborda a evidência de situações de preconceito no âmbito da universidade e do entrelace
destas questões na formação discente. Dinis e Cavalcanti (2008), afirmam que ao
pesquisarmos os discursos daqueles (as) que estão em processo de formação, inicialmente
perceberemos uma melhor aceitação das diferenças sexuais e de gênero, porém uma análise
mais detalhada aponta para uma assimilação do discurso politicamente correto por parte dos
203
(as) estudantes, sem uma mudança significativa das concepções binaristas e excludentes
quanto a produção das identidades sexuais e de gênero ou sobre a formação de novos modelos
familiares no mundo contemporâneo.
Nesse contexto, a proposta do docente Valter parece se constituir como uma
oportunidade de problematização que pode colocar em xeque as contradições e pode provocar
o desenvolvimento da autocrítica e da descolonização do pensamento. E nos faz perceber
também que talvez para além das questões sobre gênero e sexualidade no âmbito da formação
discente, a universidade precisa também estar aberta para refletir sobre como tem produzido
as relações com os (as) discentes, docentes e demais atores/atrizes que se constituem como
fronteiriços.
Que lugar tem sido destinado às identidades não hegemônicas e aos sujeitos
fronteiriços na UEFS? Esses sujeitos são visíveis ou escamoteados? A desigualdade e o
preconceito encontram-se fortalecidas? Sentimo-nos instigados para em tempos outros nos
debruçamos sobre tais questões.
A discussão sobre a relação entre gênero, sexualidade e outros distintos marcadores
sociais é fomentada pelo professor Fernando por meio de autoras como Guacira Louro,
Butler, e articulações com a discussão sobre a cultura e como a cultura está imbricada na
produção destes, as teorias pós-críticas de modo geral são referenciais teóricos que sustentam
o trabalho, as atividades são realizadas por meio de debates teóricos, mapas conceituais e
seminários sobre eixos específicos. Segundo o docente, as abordagens se desenham da
seguinte maneira:
Traçando respostas as nossas questões sobre como trabalha em suas aulas, a docente
Kátia afirmou que:
Então, eu tento trabalhar essa questão que sexualidade nada mais é que o
conjunto de busca de prazer que constitui um indivíduo e que sempre o seu
cabedal e escolha de prazer não vai ser igual o meu e isso que dá a grande
diversidade humana e principalmente a aceitação dessa diversidade para que
a gente não comece a canalizar somente assim... Só é considerado
socialmente aceito aquele que tenha isso, isso e isso nas suas escolhas, ai a
gente trabalha com a questão do conceito, trabalha com a questão dos mitos,
204
Eu tento sempre no início das minhas aulas, trabalhar uma dinâmica, porque
eu gosto muito de trabalhar o conteúdo a flor da pele, eu brinco assim... Eu
tenho que sentir na pele o que é que possivelmente eu vou fazer com que o
outro sinta. Então dentro das dinâmicas eu faço com que todos os alunos
205
Ao comentar sobre os aportes teóricos que costuma trabalhar nas disciplinas que
ministra a docente Kátia, destacou que:
Os aportes teóricos que mais a gente tenta ver... Sobre a questão do poder, da
história da própria sexualidade é nosso papa que é Foucault, sobre a questão
de gênero eu gosto de trabalhar com Guacira Louro e fora isso... Teóricos
você sabe que não temos tanto... Um aporte muito grande pra se trabalhar
nessa área, nós temos muitos autores, Tereza Cristina é uma autora que eu
gosto muito de trabalhar com os textos e reflexões dela, não sei se você
conhece Tereza Cristina Fagundes, ela traz a questão da educação,
Sexualidade e Educação. Tem Amparo Caridade que eu gosto muito,
Marcos Ribeiro eu também gosto muito dos textos dele, tem alguns textos
legais, aquela de Florianópolis, estou tentando lembrar o nome dela, trabalha
muito bem a questão de mitos e crendices, da Federal de Santa Catarina...
Gerson Lopes, ele parou... Ele produziu muito no início da década de 90,
agora ele parou um pouquinho, então tem alguns textos deles que..., tem
Ricardo Cavalcante que ele parou um pouco a produção dele, mas foi um
marco principalmente dentro dessa linha de desenvolvimento de orientação
sexual, hoje em dia ele é um consultor aqui da Secretaria de Saúde, tem
Oswaldo Rodrigues também... São meio polêmicos os textinhos dele.
O segundo aspecto consiste no fato de que maioria dos (as) autores (as) evidenciados
(as) nos programas situam-se no campo da discussão médica e biológica da sexualidade,
apesar de em distintos momentos a docente não apresentar esse viés discursivo em seus
enunciados e por fim o terceiro aspecto é que alguns (mas) entrevistados (as) mesmo sem
saber quais disciplinas seriam alvo de nossa análise ao fazer referências as disciplinas do
curso de Pedagogia tendo em conta a constituição de gênero e a importância de olhares
sensíveis e de escuta, problematizaram e denunciaram o caráter segundo eles (as)
“biologizantes e de não aceitação das discussões nos âmbitos culturais, políticos, sociais,
históricos” das disciplinas ministradas pela docente Kátia.
Com esse comentário não queremos tecer juízo de valor quanto à veracidade dos
discursos da docente Kátia, mas consideramos importante registrar que foram identificadas
algumas contradições no entrecruzamento dos dados produzidos, em especial junto aquele que
oficialmente norteia as disciplinas que são os programas de curso.
É possível que, expor a presença de determinados autores (as) mais distantes do debate
biológico fosse importante para a professora, visto que a minha entrevista tratava da discussão
de gênero e sexualidade nos currículos dos cursos de Pedagogia da instituição a que ela está
vinculada. Talvez, ela presumisse com o desenrolar da nossa conversa que eu gostaria de
ouvir/saber que o tema é trabalhado por meio daqueles (as) autores (as).
Ellsworth (2001) apud Silva (2011) trata dessa questão através da perspectiva de
modos de endereçamento, conceito “baseado no argumento de que um filme funcione para um
determinado público, para que ele chegue a fazer sentido para uma espectadora, ou para fazer
rir. A espectadora deve entrar em uma relação particular com a história e o sistema de imagem
do filme” (p.14). De acordo com Silva (2011), os estudos da autora revelam que os textos, os
filmes, as propagandas, as aulas, entre outros artefatos, são feitos para alguém, pensando no
público que se pretende atingir, desta forma indago, o que deverá ter movido o pensamento da
professora quanto ao que eu gostaria de ouvir?
Destaca-se que é bastante interessante conhecer as distintas possibilidades
apresentadas e utilizadas como estratégias pelos (as) docentes para abordar as questões de
gênero e sexualidade no processo formativo do curso estudado, é tácito que fissuras e rasuras
são provocadas por cada prática compartilhada pelos enunciados. Cada uma dentro de sua
peculiaridade e seus limites nos movimenta a considerar que caminhos estão abertos para que
novos modos de formar pedagogos (as) sejam pensados.
Como sinalizado pela docente Kátia, nesse movimento “eu não posso imaginar que
tirei todas as ideias históricas para adquirir novos conceitos, não posso imaginar que eu
207
consigo atingir uma totalidade, mas eu percebo claramente que existem algumas
desconstruções e consequentemente e construções”. Como afirma Silva (2011), estamos
acostumados a entender a graduação como um suprassumo, ou seja, ficaremos quatro anos e
sairemos de lá preparados para tudo, teremos uma formação total, completa, mas é importante
atentarmos que a graduação nunca vai dar conta da totalidade, porque esta não existe.
Na medida em que as trilhas do gênero e da sexualidade foram sendo tateadas e que
fomos percebendo como é “importante, como educadores, ensaiarmos novas formas de
pensar, fazer e sentir o que projetamos com nossas práticas” (SILVA, 2011, p. 132). Sentimos o
impulso de conhecer por meio do olhar docente, como tais questões se desdobram nas
interlocuções com os (as) discentes. Questionamos-nos, então, dito tudo isso: quais serão as
noções apresentadas pelos (as) discentes nas aulas a partir das mediações descritas? Que tipos de
discursos, conceitos, inquietações e conflitos povoam essas aulas? O que essas discussões tem
significado para estes (as) estudantes?
Algumas dessas indagações puderam ser respondidas a partir das interlocuções que
marcaram os enunciados que abordaram os silêncios e produção de sentidos, mas que outros
elementos podem ser extraídos das experiências forjadas por nossos (as) docentes? O que mais é
percebido no processo de produção de saberes sobre gênero e sexualidade? Como as inquietações
discentes chegam à sala de aula do curso de Pedagogia?
Nessa direção, lançamos mão de nossa curiosidade para saber quais as noções dos (as)
estudantes sobre esses temas. Como eles (as) estão compreendendo ou não essas discussões? O
que falam? Os enunciados docentes sinalizam que:
Isso é na verdade, para os alunos e alunos são discussões novas, e nisso tem
uma debate que eu acho muito complicado, mas que eu gosto de trabalhar
isso e de certa fico tencionando que são algumas posições religiosas
fechadas. Eu tenho realizado esse debate e existe uma polemica muito
grande, uma discussão muito grande, quando a gente vai trabalhar na sala de
aula as relações entre religião, igreja, feminismo, sexualidade, é uma
polemica muito grande, todo mundo concorda que a mulher não pode ser
submissão ao homem, mas ao mesmo tempo está tendo uma formação
religiosa que prega essa submissão, então se apresentam contradições e eu
observo que o debate é mais polemico ainda quanto à discussão sobre
sexualidade, porque o homossexual ainda é visto como doente, como algo
relacionado a pecado, imoral. (FERNANDO)
As reações que vão se constituindo na sala de aula e nas falas dos (as) alunos
vão desde o incomodo, estranhamento, silêncio, alias denuncia muito o
silêncio. Alguns dizem fantástico, não tinha pensado nisso, ou tipo,
desconheço, grande parte é desconheço, até alunos que estão pesquisando na
área dizem desconheço. Mas vejo que existe muito assim, algumas
dificuldades de conceitos, tanto no campo da Biologia, como no campo da
psicologia, no campo das terminologias, existe uma falta de pesquisa dos
conceitos, da fundamentação disso, muitas falas são reproduzidas sem pensar
o que está falando ali, tipo referências aos “ismos”, homossexualismo, a não
ser aqueles iniciados na temática, vemos muito a questão da falta de
fundamentação dos conceitos e a roupa interna e externa de moral, que às
vezes se torna um bloqueio para aprendizagem (ANDRÉ).
Esses três fragmentos nos levam a considerar que por certo as concepções
apresentadas pelos (as) estudantes estão imbricadas tanto as suas experiências pessoais seja no
âmbito religioso ou familiar quanto das situações vivenciadas nas experiências escolares e
também pelas experiências (ou ausências delas) no âmbito do curso de Pedagogia. Nesse
processo, compreendemos como ressalta (BONDÍA, 2002), que para a experiência ocorra é
preciso:
Tomando por base o conceito sobre experiência estabelecido por Bondía (2002), nos
questionamos quanto a que tipo de práticas e discursos sobre gênero e sexualidade, as
209
Vamos discutir o que aquela palavra quer dizer, a questão, por exemplo, de
gênero e sexualidade e orientação, enfim, todas as diferenças que podem ter.
A linguagem falta muito ainda, precisa beber muito, para gente poder
chamar para conversa, o profissional da educação precisa de leituras atentas
para não reproduzir falas que nada contribuem, falas que hegemonizam, que
210
E SE EU FOSSE CONCLUIR...
O currículo do curso de Pedagogia da UEFS foi anunciado pelos (as) docentes como
fluído, disperso, pulverizado e fragmentado. Inferimos ao considerarmos as reflexões
suscitadas por eles (as) que ao mesmo tempo em que a dispersão, fluidez, pulverização e
fragmentação pode refletir-se em desafios ao longo do processo de formação, pode permitir
que ressignificações sejam reivindicadas, constituam-se em objeto de disputa, no processo de
busca por transformações na formação.
Os (as) docentes têm muitas questões e problematizações quanto às relações de poder
estabelecidas nos processos de construção do currículo e quanto ao que denominam de
ausência de articulação entre componentes curriculares e diálogo entre docentes. É
interessante observar que os (as) docentes não apenas tecem críticas, mas também apontam
possibilidades frente às iniciativas de articulação e sua relação com a aprendizagem dos (as)
estudantes, percebemos nesses enunciados que questionam a territorialização no processo de
produção e concretização do currículo como uma possibilidade de desestabilização do
“instituído”.
Percebemos por meio dos enunciados docentes, que no processo de formação dos (as)
estudantes de Pedagogia e de produção curricular, as questões relacionadas a gênero e
sexualidade são pouco discutidas, as iniciativas que existem são relacionadas a ações não
sistematizadas no âmbito do curso.
A ausência de disciplinas obrigatórias é percebida pelos (as) docentes como elemento
problemático quando se considera a construção de uma proposta que abra os discursos para se
pensar e faça algo diferente no que diz respeito às relações que envolvem gênero e
sexualidade nas distintas instâncias sociais. Desta forma, o debate sobre as temáticas são
constituídas dependendo muito de iniciativas pessoais dos (as) docentes.
Parece-me que, mesmo com as discussões sobre gênero e sexualidade estando
concentradas em sua maioria em disciplinas optativas e que outras discussões dependam da
iniciativa e vontade de algum (a) docente, estão configuradas possibilidades de introdução da
discussão no curso. Conforme salientando por Silva (2011) “talvez isso seja uma brecha para
resistir ao comum e ao tradicional, suscitando o debate nas turmas de graduação que poderão
ressignificá-lo e levá-lo para suas escolas e, assim, difundir as micro-resistências” (p. 183).
Os (as) docentes acenam a necessidade de mudança e demonstram algumas
possibilidades para alterar esse cenário, dentre elas: a constituição de disciplinas obrigatórias,
maior articulação entre os (as) docentes que atuam em componentes curriculares (optativos e
obrigatórios) que discutem em seus conteúdos as relações de gênero e sexualidade, discussão
no processo de reformulação curricular, articulação com núcleos de pesquisa e grupos que
216
estruturais, posto que as ações relacionam-se em grande medida com os esforços individuais
dos (as) docentes ou afeições ao tema por conta da vivência de certas experiências.
Assim, seguimos pensando: na ausência de docentes que tem incorporado nas suas
aulas esses temas por iniciativas pessoais, a continuidade/ a vida de tais discussões estariam
garantidas no currículo?
Observamos por meio dos enunciados docentes que a maneira como a sociedade lida
com tais temáticas e que se faz presente nas nossas escolas, marcadas por relações de poder e
por políticas de silenciamento, também no curso estudado estão presentes, o que, contudo não
implica na inexistência de tais temáticas no cotidiano da sala de aula e na constituição dos
sujeitos e seus sentidos nem tampouco na ausência de importância destas para a formação
destes sujeitos.
Emergiram dos enunciados docentes, observações sobre como os momentos de fissura
do silêncio são recebidos pelos (as) discentes do curso. Os processos de interlocução são
marcados por fluxos contraditórios, em que se evidenciam momentos com abertura a fala e
construção de novos saberes e momentos com negação de tais saberes, os (as) docentes alerta-
nos sobre a presença dos moralismos e das concepções religiosas como impulso para
processos de negação e silêncio e como aspectos que atravessam as noções de alguns (mas)
estudantes e as práticas desenvolvidas por esses (as) em seus estágios, por outro lado
identificamos que tem havido movimento de interesse dos estudantes de semestres iniciais por
disciplinas optativas que fazem interface entre sexualidade e educação.
Distintas formas de trabalhar no dia a dia as discussões sobre gênero e sexualidade
foram apresentadas pelos (as) docentes, consideramos que fissuras e rasuras são provocadas
por meio dessas práticas.
Algumas contradições foram observadas e apresentadas sem, contudo serem alvo de
julgamentos de valor. Compreendemos que cada prática investigada dentro de sua
peculiaridade e de seus limites abrem diferentes caminhos para que novos modos de formar
pedagogos (as) sejam pensados na relação com as relações de gênero e a sexualidade.
A reestruturação curricular do curso está em desenvolvimento e, por enquanto as
discussões não chegaram ao âmbito dos temas silenciados pelo curso, porém há expectativa,
por meio do cenário apresentado nos enunciados docentes, de que novos rumos sejam
constituídos. Acreditamos que é importante o Colegiado de Pedagogia e a Comissão
responsável pela reformulação tecerem articulações entre os elementos sinalizados pelos (as)
docentes na presente pesquisa e pelo próprio movimento de escuta dos (as) discentes a fim de
que a realidade formativa esteja cada vez mais condizente com a realidade social e com as
218
demandas que esta apresenta aos (as) futuros (as) pedagogos (as). É preciso olhar com mais
atenção para as relações entre masculinidade, feminilidade, gênero e sexualidade no curso de
Pedagogia em sua relação com o fazer educacional.
Mediante, os traçados de nossa viagem, o lançamento de possibilidades para ver por
entre as brechas, gostaria de ponderar que se eu fosse concluir, poderia trazer respostas
fechadas, marcos fixos, certezas inabaláveis, mas como em verdade, não tive intuito de
construir uma metanarrativa que viesse dar conta de todas as formas de pensar gênero e a
sexualidade nas relações com o currículo e a formação docente, mas sim constitui esse
trabalho como um convite para pensamentos outros, para o desenvolvimento de olhares
ampliados e investigativos que venham contribuir na construção e na reinvenção de outros
possíveis “estatutos de verdades”, bem como, de outros sentidos e significados relacionados
ao objeto dessa investigação no contexto da educação.
Não concluo. Contento-me em provocar sensações, questionamentos, reflexões e
espero que esta coceira que nasceu de meus pensamentos e olhos curiosos, que me
descaminhou, me separou das certezas e mesmo me fez redescobrir-me na relação com meu
objeto de investigação e com o questionamento das desigualdades em torno das identidades
sexuais e da articulação entre a educação, às questões de sexualidade, gênero e currículo
tomem outros pensamentos e outros olhos curiosos fazendo emergir novos saberes, fazeres e
quereres no processo de (re) construção das relações estabelecidas no que se refere ao tema
investigado e a formação dos (as) pedagogos (as).
219
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http://www.anped.org.br/reunioes/24/T0279896878202.doc Acesso em: 16.10.2011
O intuito desta pesquisa é realizar uma análise do currículo do curso de Pedagogia da UEFS e consequentemente
da formação docente em relação às questões de gênero e sexualidade. Deste modo, sua colaboração é essencial
para entendermos melhor o contexto da UEFS em relação a este objetivo, contribuirá para que possamos
compreender como as questões de gênero e a sexualidade emergem dentro do curso de Pedagogia tanto através
do seu currículo quanto das práticas pedagógicas. Este estudo justifica-se pela evidente necessidade tanto de
pesquisas acadêmicas sobre o tema quanto pela necessidade de discussão séria e ampliada sobre gênero e
sexualidade na formação de educadores (as), em especial na área da Pedagogia, pela necessidade de buscarmos
superar atitudes meramente condenatórias no que tange a gênero e sexualidade humana e direcionar o espaço
formativo como local importante para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que celebrem a diversidade
cultural, ao invés de silencia-la, bem como pela possibilidade do mesmo servir de registro para estudos e avanços
futuros. Caso confirme sua participação, terá que participar de uma entrevista individual gravada. Os tópicos da
discussão irão ao encontro do tema currículo, formação docente, gênero e sexualidade, sem qualquer finalidade
de encontrar respostas ou teorias já feitas, mas sim de produzir percepções plurais entre os (as) participantes.
Além de nos comprometermos com a garantia da confidencialidade do diálogo produzido e com o sigilo dos
dados, é necessário que fique claro que os (as) participantes também devem garantir a confidencialidade
proposta. Os resultados serão armazenados, analisados e apresentados sem qualquer menção aos nomes dos (as)
participantes, assim como qualquer indício da identidade dos mesmos. Não há qualquer obrigatoriedade de sua
participação e, caso queira desistir em alguma etapa, não haverá qualquer consequência para você. Se você
concorda em participar, por favor, assine esse termo no campo indicado abaixo. Este termo constará de duas
vias. Uma que ficará de posse da pesquisadora e outra de posse do (a) participante. Estamos à disposição para
maiores esclarecimentos e caso haja alguma pergunta ou preocupação acerca dos seus direitos como participante
da pesquisa, poderá nos contatar através dos seguintes endereços eletrônicos (taysynha18@hotmail.com;
marco.barzano@gmail.com).
Atenciosamente,
____________________________________________
Marco Barzano (Orientador)
_____________________________________________
Taisa de Sousa Ferreira (Discente do curso de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Feira de
Santana)
_______________________________________________
Participante da pesquisa
235
Participante __________
1. Nome
2. Formação
1.
Fale um pouco do currículo do Curso de Pedagogia.
2.
Você acompanhou o processo de reestruturação dos cursos de Pedagogia no
país no contexto da implementação das DCP’s? Como analisa tal processo?
3.
Por quantas vezes você vivenciou mudanças curriculares no curso de
Pedagogia? E a que elas se vincularam?
4.
Sabe dizer como foi o processo de construção do atual currículo do curso de
Pedagogia? Se sim, poderia falar um pouco sobre como se deram as
discussões?
Se sim, como essa discussão transcorreu? Foi iniciada por quem? A partir de
quais argumentos?
7.
237
10. Sobre estas temáticas, você considera que deve ser um conteúdo específico a
ser trabalhado a partir da inclusão de uma disciplina obrigatória ou que
podem ser discutidas de maneira interdisciplinar junto às demais disciplinas
do curso? Na sua avaliação, como poderia se dar esse processo?
11. Como você analisa a formação docente empreendida pelo curso de Pedagogia
no que diz respeito à preparação dos (as) pedagogos (as) para lidar com
questões envolvendo gênero e sexualidade no ambiente escolar?
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Formação
Sociologia da Educação 60 1º
Básica
Formação
Metodologia do Trabalho Científico 60 1º
Básica
Formação
História da Educação I-E 60 1º
Básica
Formação
Arte-Educação 60 1º
Básica
Aprendizagem, Desenvolvimento Humano e Formação
60 1º
Educação Básica
Prática Pedagógica em Experiências Educacionais Formação
60 1º
Escolares Básica
Sugestão
Componentes Curriculares Natureza CH
de Sem.
Formação
Educação de Jovens e Adultos 75 2º
Básica
Formação
Antropologia e Educação 60 2º
Básica
Formação
Filosofia da Educação 75 2º
Básica
Formação
Psicologia e Educação 60 2º
Básica
Novas Tecnologias da Comunicação e da Formação
60 2º
Informação em Educação Básica
Prática Pedagógica em Experiências Educacionais Formação
75 2º
Não Escolares Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Formação
Política e Gestão Educacional –E 75 3º
Básica
Formação
Jogos, Brinquedos, Brincadeiras e Educação 60 3º
Básica
Tópicos Especiais em História da Educação Formação 60 3º
33
Informação retirada do site do Colegiado do curso de Pedagogia:
http://www.uefs.br/portal/colegiados/pedagogia/
239
Básica
Formação
Didática E 60 3º
Básica
Formação
Educação Infantil 60 3º
Básica
Prática Pedagógica em Educação de Jovens e Formação
75 3º
Adultos Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Fundamentos e Ensino da Matemática para a Educ. Formação
75 4º
Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental Básica
Formação
Currículo 60 4º
Básica
Fundamentos e Ensino da Leitura, Escrita e Formação
75 4º
Produção de Textos Básica
Formação
Avaliação no Contexto Educacional 60 4º
Básica
Prática Pedagógica em Gestão e Coordenação do Formação
75 4º
Ensino Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Organização e Planejamento do Trabalho Formação
60 5º
Pedagógico na Educação Infantil Básica
Fundamentos e Ensino da História para a
Formação
Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino 75 5º
Básica
Fundamental
Formação
Tópicos Especiais em Sociologia da Educação 60 5º
Básica
Formação
Fund. . Biológicos da Educação 60 5°
Básica
Fundamentos e Ensino da Geografia para a
Formação
Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino 75 5º
Básica
Fundamental
Estágio Supervisionado em Gestão e coord. do Formação
105 5º
ensino Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Formação
Pesquisa em Educação 60 6º
Básica
Formação
Tópicos Especiais em Filosofia da Educação 60 6º
Básica
Fundamentos e Ensino das Ciências Naturais para
Formação
a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino 75 6º
Básica
Fundamental
240
Formação
Problemas de Aprendizagem 75 6º
Básica
Formação
Estágio Supervisionado em Educ.Infantil 105 6º
Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Formação
Orientação Monográfica 60 7º
Básica
Educação Especial e Políticas Educacionais Formação
60 7º
Inclusivas Básica
Formação
Educação do Campo 60 7º
Básica
Formação
Relações Étnico-raciais na Escola 60 7º
Básica
Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Formação
105 7º
Ensino Fundamental (1°e 2° ciclo) Básica
Sugestão de
Componentes Curriculares Natureza CH
Sem.
Formação
Monografia 165 8º
Básica
Código Disciplina
EDU 112 Gestão da Unidade de Ensino
LET 294 Leitura da Cultura
LET 295 Leitura e Produção de Textos
LET 702 Expressão Plástica/ Gráfica
LET 296 Literatura Infanto-juvenil
BIO 239 Neurociências Aplicadas à Educação
EDU 617 Mídia e Educação
EDU 310 Educação e Diversidade Cultural
EDU 311 Relações Étnico-raciais na Escola
EDU 619 Fundamentos do Diagnóstico Psicopedagógico
EDU 615 Fundamentos de Psicologia da Educação
EDU 614 Pensamento, Linguagem, Desenvolvimento Humano e Educação
EDU 620 Psicanálise e Educação
EDU 515 Lógica e Linguagem
EDU 312 Educação para o Meio Ambiente
EDU 313 Educação Musical
LET 503 História da Arte Brasileira
241
34
Atualizado em 15.09.2010
242
Obs.: O aluno deverá cursar: 300 horas de disciplinas optativas a partir do 2º semestre. 200 horas de Atividades Complementares.
O ingresso do aluno nos Estágios Supervisionados só poderá ocorrer após a integralização da carga horária das Práticas Pedagó gicas.
243
c) Seminários em grupo- quatro elementos- sobre temáticas que envolvam Antropologia e Educação
(nota individual e por conjunto).
CONTEÚDO: EIXO I
a) Relações entre Natureza e Cultura- texto- DA MATTA, Roberto. A Antropologia no quadro das
Ciências Sociais. In: Relativizando: uma Introdução à Antropologia Social. (39 D162)
Textos:
b.1) CUCHE, Denis. A noção de Cultura nas Ciências Sociais. Capitulo II.( 39 C971)
b.2) LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Primeira parte (inteiro) e “ A Cultura
condiciona a visão de mundo do homem.”-pp 69/77 e “A cultura interfere no plano biológico”-pp 77 a
81.
c) Os processos de endoculturação:
Textos: c.1- HOEBEL, E. Adamson e FROST, Everett L. Antropologia cultural e social (39 H631)
A experiência brasileira de Gilberto FREYRE: cultura, raça e psicologia numa leitura da sociedade
colonial brasileira.
http://www.infojus.com.br/noticias/gilberto-freyre-rejeitou-ideias-racistas-em-ensaio-de-interpretacao-
do-brasil/
a) MARQUES, Vera Regina Beltrão. A Escola e a disciplinarização dos corpos dóceis. In: A
medicalização da raça. UNICAMP; 1994.
a) FONSECA, Claudia. Quando cada caso não é um caso: pesquisa etnográfica e educação. In:
http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE10/RBDE10_06_CLAUDIA_FONSECA.pdf
EIXO II- TEMAS PARA DEBATE EM SALA: A cultura Brasileira, a identidade nacional e a
Escola.
LÉVI-STRAUSS, Claude. “A família”. In: LINTON, Ralph (org). Homem, cultura e sociedade.( tem
na biblioteca UEFS)
PEIRANO, Mariza. Rituais: ontem e hoje. RJ: Jorge Zahar Editor; 2003.
BRANDAO, Carlos Rodrigues. A turma de trás. In: Sala de aula: que espaço é este? Campinas:
Papirus; 1988. ( tem na biblioteca UEFS)
1-HEILBORN, Maria Luíza. Fazendo gênero? A Antropologia da mulher no Brasil. In: Uma questão
de gênero. SP: Fundação Carlos Chagas; 1992.
2-CLASTRES, Pierre. O arco e o cesto. In: A sociedade contra o Estado. RJ: Francisco Alves; 1978. (
tem na biblioteca UEFS)
4-LOURO, Guacira. “A emergência do gênero” e “ A construção escolar das diferenças”. In: gênero,
sexualidade e educação ; Petrópolis,RJ: Vozes;1997. ( tem na biblioteca UEFS)
E. 1- Imigrantes:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93131997000100004&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44501999000300015&script=sci_arttext
c) KRUTZ, Lucio. A educação dos imigrantes. In: FARIA FILHO, Luciano (org) 500 anos de
Educação no Brasil. (tem na biblioteca).
E. 2- Índios:
247
1- ROCHA, Everardo Guimarães. Um índio didático: nota para o estudo de representações. In:
Testemunha Ocular. ( tem na biblioteca).
3- RIBEIRO, Jaçanã.Escrita e poder: uma leitura do referencial curricular nacional para escolas
indígenas.
http://www.letras.ufmg.br/rbla/2007_2/01-Jacana_resumo.pdf
DA MATTA, Roberto. Os caminhos para Deus. In: O que faz o Brasil, Brasil?
SAHLINS, Marshall. A mãe vaca. In:Vacas, porcos, guerras e bruxas: os enigmas da cultura. RJ:
Civilização Brasileira;1978.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Umbanda e candomblé. Série Princípios. Ed. Ática.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Umbanda e candomblé. Série Princípios. Ed. Ática
248
PLANO DE ENSINO
Semestre 2012.2
IDENTIFICAÇÃO
EDU-281 CURRÍCULO
E
TOTAL 60H Ass.
EMENTA
Concepções de currículo e seu caráter político-pedagógico. O currículo e suas questões atuais: pós-modernidade,
multiculturalismo, interdisciplinaridade e novas tecnologias. Planejamento e avaliação curricular. Propostas oficiais
para o currículo da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Brasil.
Objetivos
249
Trabalho em grupo.
Prova
Final
60
INTERFACES (explicitação das inter-relações entre as disciplinas, que podem ser previstas longitudinalmente
no currículo).
Currículo estabelece inter-relações com Didática, Psicologia, Sociologia, Filosofia entre outras disciplinas que
fundamentam o fazer pedagógico.
A avaliação será processual e dar-se-á numa perspectiva mediadora. Serão utilizados os seguintes instrumentos:
análise e discussão de textos, produção de textos, avaliação escrita, seminários.
Para fins de registro em diário eletrônico, serão pontuadas de 0 a 10, as seguintes atividades (individuais e
coletivas):
I UNIDADE
Entrega de Resenhas e Resumos;
Avaliação Escrita individual
II UNIDADE
Seminário (grupo);
Avaliação Escrita individual
III UNIDADE
Pesquisa de Campo seguida de registro e apresentação oral (grupo)
Avaliação Escrita individual.
Argumentação fundamentada nas leituras realizadas e entrecruzadas com outros aportes teóricos
construídos através do curso.
Pincel para quadro branco, textos xerocados, pincel atômico, data-show, slides.
PLANO DE ENSINO
IDENTIFICAÇÃO
EMENTA
COMPETÊNCIAS/HABILIDADES
Sexualidade 75 h
INTERFACES (explicitação das inter-relações entre as disciplinas, que podem ser previstas
longitudinalmente no currículo)
Relaciona-se com a filosofia a partir das bases filosóficas contemporâneas das ciências, com a história
através das considerações das imagens de natureza, ciências e educação no decorrer do processo histórico.
Bibliografia Básica:
BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil?. 2ª Edição, São Paulo: Editora Ática, 2000.
CARVALHO, A. M. P. de e GIL-PEREZ, D.G. Formação de professores de ciências. 7ª ed. São Paulo: Cortez,
2003.
MATURANA, Humberto. MAGRO, Cristina (org). A Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999.
MACEDO, Elizabeth (orgs). Currículo de Ciências em debate. Campinas,SP: Papirus, 2004.
MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. 10ª edição. Campinas/SP: Papirus, 2004.
NARDI, R. (Org.) Educação em ciências: da pesquisa à prática docente. São Paulo: Escrituras, 2001.
Bibliografia Complementar:
CACHAPUZ, Antonio. (et.al.) A necessária renovação do ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 2005.
CARVALHO, A. M. P. de. (org.) Ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
CHASSOT, Attico. Ensino de Ciências no começo da segunda metade do século da tecnologia. Currículo
de ciências me debate. Alice Casimiro Lopes, Elizabeth Macedo (orgs). Campinas: Papirus, 2004. (Coleção
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
DELIZOICOV, D. et al. Ensino de Ciências: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2002
HARLAN, Jean D. Ciências em educação infantil: uma abordagem integrada. 7 ed. Porto Alegre: Artmed,
2002.
HOWE, Ann C. As ciências na educação da infância. In: SPODEK, Bernard. Manual de investigação em
educação de infância. Lisboa: Gulbenkian, 2002. p.503-526
VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: O novo paradigma da ciência. 3ª
ed.Campinas, SP: Papirus, 2003.
VEIGA, I. P. A.; CARDOSO, M.H.F. Escola fundamental: currículo e ensino. 2 ed. Campinas, SP: Papirus,
1995.
WEISSMANN, Hilda. Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões. Porto Alegre: Artmed, 1998
.
PLANO DE ENSINO 02
Semestre 2008.1
IDENTIFICAÇÃO
Pedagogia Educação
Prática de Ensino
E
Ass.
EMENTA
As Ciências Naturais: Histórico, objeto de estudo. Pressupostos epistemológicos do conhecimento nas ciências
naturais. Investigação didática em ciências naturais para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino
fundamental.
COMPETÊNCIAS/HABILIDADES
naturais;
Intervir na comunidade, vivenciando as oficinas pedagógicas;
Elaborar plano de aula.
Fatores abióticos
Taxonomia
Temas Transversais
75 h
INTERFACES (explicitação das inter-relações entre as disciplinas, que podem ser previstas longitudinalmente no
currículo)
Relaciona-se com a filosofia a partir das bases filosóficas contemporâneas das ciências, com a história através das
considerações das imagens de natureza, ciências e educação no decorrer do processo histórico.
Serão utilizados quadro, piloto, aparelho de DVD, DVD, Data show, kit multimídia, textos, papel madeira e outros
recursos que se fizerem necessários.
Bibliografia Básica:
BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil?. 2ª Edição, São Paulo: Editora Ática, 2000.
CARVALHO, A. M. P. de e GIL-PEREZ, D.G. Formação de professores de ciências. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
MATURANA, Humberto. MAGRO, Cristina (org). A Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Editora UFMG,
1999.
MACEDO, Elizabeth (orgs). Currículo de Ciências em debate. Campinas,SP: Papirus, 2004.
MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. 10ª edição. Campinas/SP: Papirus, 2004.
NARDI, R. (Org.) Educação em ciências: da pesquisa à prática docente. São Paulo: Escrituras, 2001.
Bibliografia Complementar:
CHASSOT, Attico. Ensino de Ciências no começo da segunda metade do século da tecnologia. Currículo de
ciências me debate. Alice Casimiro Lopes, Elizabeth Macedo (orgs). Campinas: Papirus, 2004. (Coleção
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
DELIZOICOV, D. et al. Ensino de Ciências: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2002
MORAES, R. e MANCUSO, R. (org). 2004. Educação em Ciências: Produção de currículos e formação de
professores. Editora Unijui.
VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: O novo paradigma da ciência. 3ª
ed.Campinas, SP: Papirus, 2003.
AMORIM, Antônio Carlos Rodrigues. Os Roteiros em Ação: Multiplicidade na produção de Conhecimentos
Escolares. Artigo in: LOPES, Casimiro Castro.
HORÁRIO DO PROF. NO DEPARTAMENTO PARA ATENDIMENTO AOS ALUNOS (2h semanais)
Segunda-feira das 10:30 às 12:30
259
PLANO DE ENSINO
IDENTIFICAÇÃO
T 30 Ementa
P 30
E
TOTAL 60 Pioneiros da Educação Infantil e Instituições de atendimento à infância. As
políticas públicas nos contextos internacional, nacional e local para crianças de 0
a 6 anos. Propostas curriculares para a Educação Infantil
COMPETÊNCIAS/HABILIDADES
INTERFACES (explicitação das inter-relações entre as disciplinas, que podem ser previstas longitudinalmente
no currículo)
As disciplinas ligadas à infância como Organização e Planejamento do Trabalho em Educação Infantil e Estágio
Supervisionado em Educação Infantil, além de outras que possivelmente desenvolvam discussões sobre a temática
Serão consideradas para fins de avaliação, a frequência, participação em aula, além do cumprimento das atividades
abaixo relacionadas:
I : Produção textual, individual, a partir do filme Filhos do Paraíso;
III. Análise, em grupo, das imagens de infância na literatura, músicas, propagandas, filmes.
Retroprojetor
Textos
Data show
Aparelho de som
Aparelho de DVD
6. BONDIOLI, A. (Org.). O tempo no cotidiano infantil: perspectivas de pesquisa e estudos de casos. São
Paulo: Cortz, 2004.
7. BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e maquinarias. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
8. CHOMBART DE LAUWE, Marie-José. Um Outro Mundo: A Infância. São Paulo: Perspectiva: Editora da
Universidade de São Paulo, 1991.
9. CAMPOS, M.M.; ROSEMBERG, F.; FERREIRA, I.M. Creches e Pré-escolas no Brasil. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2006.
10. CARVALHO,C. H.; MOURA, E. B. B. ; ARAÚJO, J. C. S. A infância na modernidade: entre a educação
e o trabalho. Uberlândia, MG: EDUFU, 2007.
11. COHN, C. A Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
12. CONSULTA SOBRE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O que pensam e querem os sujeitos
deste direito. São Paulo: Cortez, 2006.
13. CORAZZA, S. M. Infância e Educação: Era uma vez...quer que conte outra vez? Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.
14. CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G.E.P. S. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed,
2001.
15. CRUZ, L. R. (Des) articulando as políticas públicas no campo da infância: implicações da abrigagem.
Santa Cruz do Sul, RS:EDUNISC, 2006
16. DORNELLES, L. V. Infâncias que nos escapam: da criança na rua à criança cyber. Petrólis, RJ: Vozes,
2005.
17. DEL PRIORE, M.. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999.
18. FARIA, A. L. G. ; PALHARES, M.S. (Orgs.). Educação Infantil pós-LDB: Rumos e desafios. 4. ed. rev.
amp. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
19. FARIA, A.L.G. (org.) O coletivo infantil em creches e pré-escolas: falares e saberes. São Paulo: Cortez,
2007.
20. FARIA, V. L. B. DIAS, F. R. T S. Currículo na Educação Infantil: diálogos com os demais elementos da
proposta pedagógica. São Paulo: Scipione, 2007.
21. FLEURY, M. das G.. Há uma criança dentro da professora? In: OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de.
Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1996. p. 131-158
22. FRANCO, M. E. W. Compreendendo a infância como condição de criança. Porto Alegre, 202.
23. FREITAS, M. C. de. (org) . História Social da Infância no Brasil . 2ed. São Paulo: Cortez, 1997.
24. FREITAS, M. C. : KUHLMANN JR, M. Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.
25. FREITAS. M. C. (Org.) Desigualdade social e diversidade cultural na infância e na juventude. São Paulo,
Cortez, 2006.
26. FÜLLGRAF, J. B. G. O lugar da Educação Infantil na sociedade contemporânea.
Revista Ciências& Letras, Número 43, jan./jun., 2008. Porto Alegre, RS
Disponível em http://www4.fapa.com.br/cienciaseletras/pdf/revista43/artigo12.pdf:
27. GHIRALDELLI Jr, Paulo. Infância, educação e neoliberalismo. S. Paulo: Cortez, 1996.
28. GUERRA, V. N. A. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
29. GUIDO, H. A. de O. A concepção filosófica de infância na modernidade: a contribuição humanista e
racionalista. In: KOHAN, W. O. (Org.). Ensino de Filosofia. Perspectivas. Belo Horizonte: Autêntica,
2002. p. 195-211
30. HEYWOOD, C. Uma história da infância: da idade média à época contemporânea no ocidente. Porto
Alegre, RS: Artmed, 2004.
31. KOHAN, W. O. e KENNEDY, D. Filosofia e Infância, Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
32. KRAMER, S. (coord). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a Educação Infantil.
6.ed. São Paulo: Ática, 1993
33. KRAMER. S. A Política do Pré-Escolar no Brasil: A Arte do Disfarce. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2003.
34. KRAMER. S. Educação Infantil: comemorando as lutas. Revista de Educação CEAP. Salvador, n.36.
p.115-125, mar/mai 2002.
35. KUHLMANN Jr, Moisés. Infância e Educação Infantil: Uma abordagem histórica. 2.ed. Porto
Alegre: Mediação, 1998.
36. KORCZACK, J. Quando eu voltar a ser criança. São Paulo: Summus, 1981.
37. KORCZACK, J. Como amar uma criança. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
38. LANTER, A. P. A política de formação do profissional de Educação Infantil: os anos 90 e as diretrizes do
MEC diante da questão. In: KRAMER, Sônia et al. Infância e Educação Infantil. Campinas, SP: Papirus,
1999. P. 131-156.
39. MACEDO, R. S. A. O Sentido da Pré-Escola Pública. Salvador, Ba: Editora Universitária Americana,
1991.
40. MACHADO, M. L. de A. Encontros e desencontros em Educação Infantil. São Paulo,:Cortez,2002.
262
41. MARTINS, A. J. A criança pede respeito: temas em Educação Infantil. Porto Alegre, 2003.
42. MELLO, S. A. Concepção de criança e democracia na escola da infância: a experiência de Reggio-Emília.,
Cadernos da F.F.C., São Paulo, v. .9, n. 2, p.83-93, 2000
43. NARODOWSKI, M. Adeus à infância (e à escola que educava) In: SILVA, Luiz Heron da. A escola
cidadã no contexto da globalização. 4.ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000 p.172-177
44. NICOLAU, M. L. M; DIAS, M.C.M. (Orgs.). oficinas de sonho e realidade na formação do educador da
infância. Campinas, Papirus, 2003.
45. OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. A escola vista pelas crianças. Porto, PT: Editora Porto, 2008
46. OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil: Fundamentos e Métodos. São Paulo, Cortez, 2002.
47. PENN, Hellen. Primeira infância: a visão do Banco Mundial. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.115,
p. 7-24, março/2002.
48. REDIN, E. MÜLLER, F. , REDIN M. M. Infâncias: cidades e escolas amigas das crianças. Porto Alegre,
RS:2007.
49. REDIN, E. MÜLLER, F. , REDIN M. M. Porque é de infância[ ] que o mundo tem precisão!
50. RIZZINI, I. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no Brasil. 2. ed. rev.
São Paulo: Cortez, 2008.
51. SARMENTO, M. J. ; CERISARA, A. B. (orgs.) Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da
infância e educação, Porto, PT: Edições Asa, 2004.
52. SARMENTO, M. J.; VASCONELLOS, V. M. R. (orgs). Infância (in)visível. Araraquara, SP:
Junqueira&Marin, 2007.
53. SOUZA, S. J. e KRAMER, S.. Educação ou Tutela? A criança de 0 a 6 anos. São Paulo: Loyola, 1991.
54. SOUZA NETO, J. C; NASCIMENTO, M.L. (Orgs.) Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas.
São Paulo: Expressão e Arte, 2006.
55. TOZONI-REIS, M. F.C. Infância, escola e pobreza: ficção e realidade. Campinas, SP: Autores Associados,
2002
56. VASCONCELLOS, V. M. R. (org.). Educação da Infância: História e política. RJ: DP&A, 2005
57. WARTOFSKY, M. A Construção do mundo da criança e a construção da criança do mundo. In: Filosofia e
infância: possibilidades de um encontro. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. p.89-12
HORÁRIO DO PROF. NO DEPARTAMENTO PARA ATENDIMENTO AOS ALUNOS (2h semanais)
PLANO DE ENSINO
IDENTIFICAÇÃO
Discutir a importância dos estudos sobre jogos, brinquedos e brincadeiras para a compreensão da
construção das relações humanas;
Refletir sobre a natureza e o significado do Jogo como fenômeno cultural.
Refletir sobre as relações entre os significados usuais dos termos jogo, brinquedo e brincadeira e suas
características fundamentais;
Descrever a natureza dos jogos, brinquedos e brincadeiras a partir dos estudos de Piaget, Wallon, Vygotski
e Bruner;
Discutir sobre o papel do jogo, do brinquedo e da brincadeira no desenvolvimento da criança;
Discutir a polêmica relação entre a natureza do jogo e imposições da educação formal;
Compreender a diferença entre jogo educativo e jogo didático;
Abordar temáticas atuais tais como uso da tecnologia, a diversidade de famílias e sexualidade presentes nas
brincadeiras;
Refletir sobre a existência do caráter livre do jogo no desenvolvimento da prática pedagógica.
264
INTERFACES (explicitação das inter-relações entre as disciplinas, que podem ser previstas longitudinalmente
no currículo)
Disciplinas ligadas à prática educativa, Educação Infantil, Currículo.
- Leitura e discussão dos textos (servirá como suporte para as notas de participação)
- I UNIDADE: Pesquisa de campo em grupo- Socialização das visitas (8,0 + 2,0 participação)- Nov/2011
- II UNIDADE: Seminário em grupo (8,0 + 2,0 participação) – DEZEMBRO/2011
- III UNIDADE: Artigo em dupla (9,0 + 1,0 participação)- FEVEREIRO/2012
1. Retroprojetor
2. Data Show
3. Textos
4. Aparelho de som
5. Aparelho de DVD
6. Brinquedos
7. Material para a Oficina de Jogos e Brincadeiras
266
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
1. BENJAMIN, Walter.(1984) Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. Trad. Marcus Vinicius
Mazzari. São Paulo: Summus. (Novas Buscas em Educação)
2. BROUGÈRE, Gilles (1998). Jogo e Educação. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes
Médicas.
3. BROUGÈRE, Gilles (2000). Brinquedo e Cultura. Adaptada por Gisela Wajskop. 3ª ed. São Paulo:
Cortez. (Questões da Nossa Época)
4. DEL PRIORE, Mary (org.) (1999). História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto.
5. HUIZINGA, Johan (1993). Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. 4ª ed. São Paulo:
Editora Perspectiva.
6. JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz (1992). O Faz de Conta e a Criança Pré-escolar. In. Revista da
FAEEBA/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação I – Ano 1, nº 1 (Jan./jun.,
1992) Salvador: UNEB.
7. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (1993). Jogos Tradicionais Infantis: O jogo, a criança e a educação.
2ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
8. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (2002). O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning.
9. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) (2002). O Brincar e suas Teorias. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning.
10. PIAGET, Jean (1999). A Linguagem e o Pensamento da Criança. Trad. Manoel Campos. 7ª Ed. São
Paulo: Martins Fontes.
11. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (1997). Brinquedoteca: o Lúdico em diferentes contextos. 8ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.
12. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (2002). Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. 3ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.
13. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (1995). Brinquedoteca: Sucata Vira Brinquedo. Porto Alegre:
Artes Médicas.
14. VYGOTSKY, Lev Semenovich (1998). A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo: Martins
Fontes.
15. VYGOTSKY, Lev Semenovich (2003). Psicologia Pedagógica: Edição Comentada. Trad. Claudia
Schiling. Porto Alegre: Artmed.
16. VYGOTSKY, Lev Semenovich e LURIA, Alexander R (1996). Estudos Sobre a História do
267
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
1. ABRAMOVICH, Fanny (1983). O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo:
Summus.
3. BOCK, Ana M. Bahia, GONÇALVES, Maria da Graça e FURTADO, Odair (orgs.) (2001).
Psicologia Sócio-Histórica: Uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez Editora.
4. BOSI, Alfredo (1987). Cultura Brasileira: Temas e situações. São Paulo: Editora Ática. (Série
Fundamentos).
5. CHÂTEAU, Jean (1987). O Jogo e a Criança. Trad. Guido de Almeida. São Paulo: Summus.
(Novas Buscas em Educação)
6. CRAIDY, Carmem Maria e KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (orgs) (2001). Educação
Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora.
7. ELKIND, David (2004). Sem Tempo Para Ser Criança: A infância estressada. Trad. Magda
França Lopes. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed.
8. FRIEDMANN, Adriana (1996). Brincar: Crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São
Paulo: Editora Moderna.
9. FRIEDMANN, Adriana (1996). O Direito de Brincar: a brinquedoteca. 3ª ed. São Paulo: Scrita:
Abrinq.
10. GODALL, Teresa e HOSPITAL, Anna (2004). 150 Propostas de Atividades Motoras Para a
Educação Infantil – de 3 a 6 anos. Trad. Beatriz Neves. Porto Alegre: Artmed.
11. HOLZMANN, Maria Eneida F. (1998). Jogar é Preciso: Jogos espontâneo-criativos para famílias
e grupos. Porto Alegre: Artmed.
12. KORCZAK, Janusz (1981) Quando eu voltar a ser criança. Trad. Yan Michalski; Coleção Novas
Buscas em Educação, São Paulo: Summus.
14. MARCELLINO, Nelson Carvalho (1990). Pedagogia da Animação. Campinas, SP: Papirus.
(Coleção Corpo e Motricidade)
15. OLIVEIRA, Vera Barros de, e BOSSA, Nádia A. (orgs). Avaliação Psicopedagógica da Criança
de Zero a Seis Anos. 12ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes.
16. OLIVEIRA, Vera Barros (org) (2000). O Brincar e a Criança do Nascimento aos Seis Anos. 12ª
ed. Petrópolis – RJ: Vozes.
268
17. RIBEIRO, Darcy (1995). O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras.
18. ROMERO, Sílvio (1985). Folclore Brasileiro: Cantos Populares do Brasil. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia.
19. ROSAMILHA, Nelson (1979). Psicologia do Jogo e Aprendizagem Infantil. São Paulo: Pioneira.
20. SLADE, Peter (1978). O Jogo Dramático Infantil. 5ª ed. São Paulo: Summus Editora. (Novas
Buscas em Educação)
21. WEISS, Luise (1997). Brinquedos e Engenhocas: Atividades lúdicas com sucata. São Paulo:
Editora Scipione.
22. WINNICOTT, D. W. (1975) O Brincar e a Realidade. Trad. José Octávio de A. Abreu e Vanede
Nobre. Rio de Janeiro: Imago Editora.
PLANO DE ENSINO 2
IDENTIFICAÇÃO
COMPETÊNCIAS/HABILIDADES
Discutir a importância dos estudos sobre jogos, brinquedos e brincadeiras para a compreensão
da construção das relações humanas;
Refletir sobre a natureza e o significado do Jogo como fenômeno cultural.
Refletir sobre as relações entre os significados usuais dos termos jogo, brinquedo e brincadeira
e suas características fundamentais;
Descrever a natureza dos jogos, brinquedos e brincadeiras a partir dos estudos de Piaget,
Wallon, Vygotski e Bruner;
Discutir sobre o papel do jogo, do brinquedo e da brincadeira no desenvolvimento da criança;
Discutir a polêmica relação entre a natureza do jogo e imposições da educação formal;
Compreender a diferença entre jogo educativo e jogo didático;
Refletir sobre a existência do caráter livre do jogo no desenvolvimento da prática pedagógica.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ATIVIDADES/METODOLOGIAS Nº DE
269
HORAS
1. Debates
2. Painel Integrado: Cultura Infantil – Temas atuais
3. Seminário: Jogos Tradicionais Infantis no Brasil
4. Fichamento: A Criança e a Cultura Lúdica
5. Oficina de Jogos e Brincadeiras
6. Painel de Especialistas
RECURSOS DIDÁTICOS NECESSÁRIOS
1. Retroprojetor
2. Data Show
3. Textos
4. Aparelho de som
5. Aparelho de DVD
6. Brinquedos
7. Material para a Oficina de Jogos e Brincadeiras
BIBLIOGRAFIA DE ACORDO NBR 6023/2000
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
6. JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz (1992). O Faz de Conta e a Criança Pré-escolar. In. Revista da
FAEEBA/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação I – Ano 1, nº 1 (Jan./jun.,
1992) Salvador: UNEB.
7. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (1993). Jogos Tradicionais Infantis: O jogo, a criança e a educação.
2ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
8. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (2002). O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning.
9. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) (2002). O Brincar e suas Teorias. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning.
10. PIAGET, Jean (1999). A Linguagem e o Pensamento da Criança. Trad. Manoel Campos. 7ª Ed. São
Paulo: Martins Fontes.
11. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (1997). Brinquedoteca: o Lúdico em diferentes contextos. 8ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.
12. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (2002). Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. 3ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes.
13. SANTOS, Santa Marli Pires dos (org) (1995). Brinquedoteca: Sucata Vira Brinquedo. Porto Alegre:
Artes Médicas.
14. VYGOTSKY, Lev Semenovich (1998). A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes.
15. VYGOTSKY, Lev Semenovich (2003). Psicologia Pedagógica: Edição Comentada. Trad. Claudia
Schiling. Porto Alegre: Artmed.
16. VYGOTSKY, Lev Semenovich e LURIA, Alexander R (1996). Estudos Sobre a História do
Comportamento: O Macaco, o Primitivo e a Criança. Trad: Lólio Lourenço de Oliveira. Porto Alegre:
Artes Médicas
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
8. ABRAMOVICH, Fanny (1983). O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus.
9. ARIÈS, P (1983). História social da criança e da família. Guanabara, Rio de Janeiro.
10. BOCK, Ana M. Bahia, GONÇALVES, Maria da Graça e FURTADO, Odair (orgs.) (2001). Psicologia
Sócio-Histórica: Uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez Editora.
11. BOSI, Alfredo (1987). Cultura Brasileira: Temas e situações. São Paulo: Editora Ática. (Série
Fundamentos).
12. CHÂTEAU, Jean (1987). O Jogo e a Criança. Trad. Guido de Almeida. São Paulo: Summus. (Novas
Buscas em Educação)
13. CRAIDY, Carmem Maria e KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (orgs) (2001). Educação Infantil:
pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora.
14. ELKIND, David (2004). Sem Tempo Para Ser Criança: A infância estressada. Trad. Magda França
Lopes. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed.
15. FRIEDMANN, Adriana (1996). Brincar: Crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São Paulo:
Editora Moderna.
16. FRIEDMANN, Adriana (1996). O Direito de Brincar: a brinquedoteca. 3ª ed. São Paulo: Scrita:
Abrinq.
17. GODALL, Teresa e HOSPITAL, Anna (2004). 150 Propostas de Atividades Motoras Para a Educação
Infantil – de 3 a 6 anos. Trad. Beatriz Neves. Porto Alegre: Artmed.
18. HOLZMANN, Maria Eneida F. (1998). Jogar é Preciso: Jogos espontâneo-criativos para famílias e
grupos. Porto Alegre: Artmed.
19. KORCZAK, Janusz (1981) Quando eu voltar a ser criança. Trad. Yan Michalski; Coleção Novas
Buscas em Educação, São Paulo: Summus.
20. LUCKESI, Cipriano (2000). Educação e Ludicidade. Salvador: UFBA/FACED.
21. MARCELLINO, Nelson Carvalho (1990). Pedagogia da Animação. Campinas, SP: Papirus. (Coleção
Corpo e Motricidade)
22. OLIVEIRA, Vera Barros de, e BOSSA, Nádia A. (orgs). Avaliação Psicopedagógica da Criança de
Zero a Seis Anos. 12ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes.
23. OLIVEIRA, Vera Barros (org) (2000). O Brincar e a Criança do Nascimento aos Seis Anos. 12ª ed.
Petrópolis – RJ: Vozes.
24. RIBEIRO, Darcy (1995). O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia
das Letras.
25. ROMERO, Sílvio (1985). Folclore Brasileiro: Cantos Populares do Brasil. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia.
26. ROSAMILHA, Nelson (1979). Psicologia do Jogo e Aprendizagem Infantil. São Paulo: Pioneira.
271
27. SLADE, Peter (1978). O Jogo Dramático Infantil. 5ª ed. São Paulo: Summus Editora. (Novas Buscas
em Educação)
28. WEISS, Luise (1997). Brinquedos e Engenhocas: Atividades lúdicas com sucata. São Paulo: Editora
Scipione.
29. WINNICOTT, D. W. (1975) O Brincar e a Realidade. Trad. José Octávio de A. Abreu e Vanede Nobre.
Rio de Janeiro: Imago Editora.
HORÁRIO DO PROFESSOR NO DEPARTAMENTO PARA ATENDIMENTO AOS ALUNOS (2h
semanais)
Quartas de 14 às 15h
272
EMENTA:
A escola como espaço sociocultural: clivagens de classe, interétnicas, sexuais e de gênero. Identidades e
alteridades no Brasil contemporâneo. Diversidade cultural e suas implicações no processo de conhecimento e
significação do mundo.
OBJETIVOS:
tudos Culturais para os debates que envolvem educação escolar e
diversidade cultural.
interesses ideológicos presentes em textos e narrativas educacionais – livros didáticos, currículos, programas de
ensino etc.
cultura”, com vistas a considerar outros locais onde também ocorre aprendizagem – cultura popular, cultura de
mídia, cinema, televisão, organizações religiosas, atividades de lazer, etc.
AVALIAÇÃO:
Terá por base critérios de assiduidade e aproveitamento aferidos conforme a norma regimental da UEFS. A
avaliação será considerada durante o processo de curso, levando-se em conta aspectos qualitativos e
quantitativos. Os seguintes itens serão considerados:
indicados);
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
e educação escolar.
questões do multiculturalismo (relativas à classe social, religião, gênero, sexualidade, raça,
etnia, idade, linguagem etc) e suas implicações para a educação escolar:
o A tensão curricular entre o universalismo e o relativismo.
o Identidade nacional e diferença: a questão do “outro” e os currículos nacionais.
o Políticas de igualdade políticas de diferença.
Diretrizes, Parâmetros Curriculares
Nacionais).
-raciais e políticas de reparação: a questão das cotas para afrodescendentes e índio-
descendentes.
ria Queer (sexualidade).
273
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Forquin, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Trad.
Guacira Lopes Louro. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Geertz, Clifford. O saber local: novos ensaios em Antropologia interpretativa. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
1997.
Kellner, Douglas. A Cultura da Mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-
moderno. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.
Steinberg, Shirley e Joe L. Kincheloe (orgs). Cultura Infantil: A construção corporativa da infância. Rio de
janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Silva, Tomaz Tadeu (org.) Alienígenas em sala de aula. 2 ed Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
Silva, Tomaz Tadeu (org.) O que é, afinal, estudos culturais? 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Silva, Tomaz Tadeu (org.) Nunca fomos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Silva, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2 ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004
274
INTERFACES
infantil. e OLIVEIRA et
al. A organização do
tempo e do espaço de
atividades. Cap 8.
Vídeo: Assim se organiza
o ambiente. Projeto
Paralapracá
11/01 Organização do tempo e Elaboração de rotina Aulas 53-56
do espaço de atividades na semanal contemplando 4h
escola infantil alguns conteúdos de
trabalho para crianças de
até 3 anos de idade com
base no quadro elaborado.
14/01 Seg Autoavaliação, avaliação Escrita ou oral Aulas 57-60
Antecipa da disciplina e notas Entrega do quadro rotina 4h
parciais
18/01/03 ou data a combinar PROVA FINAL
25/01/03 Resultado final
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Serão considerados para fins de avaliação: 1. Frequência às aulas; pontualidade aos horários de aula e
entrega dos trabalhos; registros reflexivos (Para efeito de aproximação de notas). 2.Estudo da bibliografia
básica indicada no programa da disciplina, traduzido na reflexão teórico-prática dos trabalhos abaixo
relacionados: (Peso 5 cada)
Primeira avaliação: Elaboração de planejamento por tema gerador (5,0); Elaboração de projeto de
trabalho para a Educação Infantil (5,0).
Segunda avaliação: Análise de sequencia de atividades (5,0); Elaboração de quadro com conteúdos de
trabalho para crianças de 0 a 3 anos(5,0).
Terceira avaliação: Planejamento de uma atividade educativa para crianças de até 3 anos(5,0);
Elaboração de rotina semanal,por idade, para crianças na escola de Educação Infantil(5,0)
Obs.: Embora os trabalhos sejam construídos em dupla, o percurso de formação terá avaliação
individual e poderá ser traduzido em notas diferenciadas
In: OSTETTO, Luciana E. (Org.). Encontros e Encantamentos na Educação Infantil. 3. Ed. Campinas, SP:
Papirus, 2000.
WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimento. Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 1993.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COMPLEMENTAR
ABRAMOWICZ, A.; WAJSKOP, G. Creches: Atividades para crianças de 0 a 3 anos. São Paulo:
Moderna, 1997.
BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: Rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.
BASSEDAS, E.: HUGUET, T. ; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1999.
BONDIOLI, A. (Org.). O tempo no cotidiano infantil: pespectivas de pesquisa e estudos de casos. São
Paulo: Cortez, 2004.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola infantil para que te quero. In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G.
E .P. S. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
CARVALHO, Mara I. C. de; RUBIANO, Márcia R. B. Organização do espaço em instituições pré-
escolares. In: In: OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de. Educação Infantil: muitos olhares. 2. Ed. São
Paulo: Cortez, 1995. p. 107-130.
CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E .P. S. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed,
2001.
DEVRIES, Rheta e outros. O currículo construtivista na Educação Infantil: práticas e atividades. Porto
Alegre: Artmed,2004.
FARIA, A. L. G. ; PALHARES, M.S. (Orgs.). O coletivo infantil em creches e pré-escolas: falares e
saberes. São Paulo: Cortez, 2007.
FARIA, V. L. B. DIAS, F. R. T S. Currículo na Educação Infantil: diálogos com os demais elementos da
proposta pedagógica. São Paulo: Scipione, 2007.
FLEURY, M. das G.. Há uma criança dentro da professora? In: OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de.
Educação Infantil: muitos olhares. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1995. p. 131-158
FONSECA, L. L. O universo da sala de aula: Uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Alegre:
Mediação, 1999.
FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos espaços na Educação Infantil. In: ZABALZA, Miguel
A.Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
GODOI, E. G. Avaliação na Educação Infantil: Um encontro com a realidade. Porto Alegre: mediação,
2004.
HLEM, J. H. ; BENEKE, S. O poder dos projetos: novas estratégias e soluções para a Educação Infantil.
Porto Alegre: Artmed, 2005.
HOFFMANN, J. Avaliação na pré-escola: Um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. 5. ed. Porto
Alegre: Medicação, 1998.
HORN, M. G. S. Sabores, cores, sons, aromas: A organização dos espaços na Educação Infantil. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
JUNQUEIRA FILHO, G. A. Linguagens geradoras: Seleção e articulação de conteúdos em Educação
Infantil. Porto Alegre: Mediação, 2005.
MACHADO, M. L. A. (Org.). Encontros e desencontros em Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2002
MARTINS, A. J. (Org.). Criança pede respeito: Temas em Educação Infantil. Porto Alegre: Mediação,
2005.
OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
OSTETTO, L. E. (Org.) Encontros e Encantamentos na Educação Infantil. 3. Ed. Campinas, SP: Papirus,
2000.
REDIN, E. MÜLLER, F. , REDIN M. M. O espaço e o tempo da criança: se der tempo, a gente brinca.
Porto Alegre: Mediação, 1998.
RODRIGUES, M. B. C.; AMOEDO M. C. B. (Coord.). O espaço pedagógico na pré-escola. 4. Ed. Porto
Alegre: Mediação, 1998.
TIRIBA, Léa. Diálogos entre pedagogia e arquitetura. Revista Presença Pedagógica, V. 14, n.83. Set/Out
2008. Belo Horizonte, Editora Dimensão, 2007.
.
278
PROGRAMA DE DISCIPLINA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CÓDIGO: EDU512
DISCIPLINA: ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO INFANTIL
CARGA HORÁRIA: 105h
EMENTA:
Docência compartilhada em escolas/campos de estágios da Educação Infantil.
Registro da experiência e avaliação compartilhada.
OBJETIVOS:
Objetivo Geral:
Experienciar as discussões teóricas realizadas durante o curso de Pedagogia, através da construção e execução de
planos, projetos ou atividades sequenciais a serem aplicadas em período de imersão na prática pedagógica em
classes de Educação Infantil.
Objetivos Específicos:
1. Conhecer a realidade escolar, através das atividades de observação, aplicação de entrevistas e questionários
voltados aos discentes, docentes e funcionários do campo de estágio;
2. Desenvolver, com base nas informações obtidas o plano de trabalho a ser executado na escola-campo de
estágio;
3. Construir projetos ou atividades sequenciais a serem aplicadas;
4. Estruturar o planejamento para a execução dos projetos ou atividades a partir da rotina estabelecida na unidade
escolar;
5. Confrontar teoria e prática, através da discussão em sala de aula, das vivências, caminhos ou dificuldades,
encontrados na Escola de Educação Infantil;
6. Elaborar relatório que descreva essas experiências promovendo a relação teoria-prática através de registros
reflexivos da pratica pedagógica.
METODOLOGIA:
AVALIAÇÃO:
A avaliação far-se-á de forma processual, através do acompanhamento e observação dos alunos, tendo como
indicadores a apropriação de conceitos, a participação e o envolvimento, a interlocução dialógica e a síntese de
279
conteúdo, com o objetivo de tirar dúvidas e resolver questões. Nesta postura, o professor considerar-se-á um
provocador de novas reflexões, orientando o grupo na busca de diferentes soluções, levando-o a evoluir.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
1. ABRAMOWICZ, Anete e WAJSKOP, Gisela. Creches: Atividades para Crianças de Zero a Seis Anos.
Editora Moderna, São Paulo, 1997.
2. BASSEDAS, Eulalia, HUGUET, Teresa, SOLÉ, Isabel. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. ArtMed,
Porto Alegre, 1999.
3. BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
4. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
5. CAGLIARI, L.C. (1997). Alfabetização & lingüística. São Paulo: Scipione. (Série Pensamento e Ação no
Magistério)
6. COLL, César, PALACIOS, Jesús e MARCHESI, Álvaro (orgs) (1995). Desenvolvimento Psicológico e
Educação: Psicologia Evolutiva. Porto Alegre: Artmed.
7. COLL, César, PALACIOS, Jesús e MARCHESI, Álvaro (orgs) (1996). Desenvolvimento Psicológico e
Educação: Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed.
8. CRAIDY, Carmem Maria e KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (orgs) (2001).
Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora.
9. DEVRIES, Rheta; ZAN, Betty. A Ética na Educação Infantil. Artes Médicas, Porto Alegre, 1998.
10. FERNANDEZ, Alicia. A inteligência Aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua
família. Porto Alegre: Artmed, 2001.
11. FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez/Autores Associados,1985.
12. FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
13. FREIRE, Madalena. A Paixão de Conhecer o Mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
14. GERBER, Adele. Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem: sua natureza e tratamento.
Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
15. GODALL, Teresa e HOSPITAL, Anna (2004). 150 Propostas de Atividades Motoras Para a Educação
Infantil – de 3 a 6 anos. Trad. Beatriz Neves. Porto Alegre: Artmed.
16. HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Educação: Os projetos de trabalho. Artes Médicas,
Porto Alegre, 1998.
17. KAMII, A. Jogos em Grupo na Educação Infantil. Trajetória Cultural, São Paulo, 1991.
18. KISHIMOTO, Tizuko Morchida (2002). O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Editora Pioneira
Thomson Learning.
19. KRAMER, Sônia (org) (2005) Profissionais de Educação Infantil: Gestão e formação. São Paulo: Ática.
20. KUHLMANN JR. Moysés (2004). Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. 3ª ed. Porto
Alegre: Editora Mediação.
21. LA TAILLE, Y.; KOHL, M. & DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon : Teorias
Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.
22. MEUR & STAES. Psicomotricidade Educação e Reeducação. São Paulo: Manole, 1991.
23. OLIVEIRA, Gislene de Campos (2005). Psicomotricidade: Educação e Reeducação num Enfoque
Psicopedagógico. 10ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes.
24. OLIVEIRA, Vera Barros de, e BOSSA, Nádia A. (orgs). Avaliação Psicopedagógica da Criança de Zero a
Seis Anos. 12ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2005.
25. OLIVEIRA, Zilma (org). Educação Infantil: Muitos Olhares. 6ª ed. Cortêz, São Paulo, 2004.
26. OLIVEIRA, Zilma. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. Cortêz, São Paulo, 2002. (Coleção
Docência em Formação)
27. PERRENOUD, Philippe. Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens: Entre duas lógicas.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
280
28. PIAGET, Jean (1999). A Linguagem e o Pensamento da Criança. Trad. Manoel Campos. 7ª Ed. São Paulo:
Martins Fontes.
29. REVERBEL, Olga. (1989). Um Caminho do Teatro na Escola. São Paulo: Scipione. (Série Pensamento e
Ação no Magistério)
30. SEBER, Maria da Glória (1997). Psicologia do Pré-Escolar: Uma visão construtivista. São Paulo: Editora
Moderna.
31. STEINBERG, Shirley R. e KINCHELOE, Joe (orgs) (2001) Cultura Infantil: A construção corporativa da
infância. Trad. Georg Eduardo Japiassú Bricio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
32. VYGOTSKY, Lev Semenovich (1998). A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes.
33. VYGOTSKY, Lev Semenovich (2003). Psicologia Pedagógica: Edição Comentada. Trad. Claudia Schiling.
Porto Alegre: Artmed.
34. WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. 2º ed. São Paulo,
Pioneira: 1993.
35. WEISS, Luise (1997). Brinquedos e Engenhocas: Atividades lúdicas com sucata. São Paulo: Editora
Scipione.
36. WOOLFOLK, Anita E. (2000) Psicologia da Educação. Trad. Maria Cristina Monteiro.7ª ed. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul
281
282
283
284
285
286
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO INTERESSADO: Conselho Nacional de educação/Câmara de
Educação
Superior UF: DF
ASSUNTO: Aprecia Indicação CNE/CP nº 2/2002 sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de
Formação de Professores para a Educação Básica.
RELATOR: Paulo Monteiro Vieira Braga Barone
PROCESSO Nº: 23001.000049/2006-51
PARECER CNE/CP Nº: 5/2006
COLEGIADO: CP. APROVADO EM: 4/4/2006
I – RELATÓRIO
A Comissão Bicameral responsável por elaborar as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de
Pedagogia, recomposta a partir da renovação periódica dos integrantes do CNE, em maio de 2004, foi também
incumbida de tratar das questões referentes à Formação de Professores para a Educação Básica.
Essa Comissão, com vistas à regulação do tema em questão, aprofundou os estudos sobre as normas gerais e
as práticas curriculares vigentes nas licenciaturas, bem como sobre a situação da Formação de Professores para a
Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental, e considerou conveniente propor, simultaneamente
às Diretrizes Curriculares para a Pedagogia, normas consolidadas referentes à Formação de Professores para toda
a Educação Básica. Da mesma forma que ocorreu com as Diretrizes Curriculares para a Pedagogia, a Comissão
debateu essas normas com diferentes interlocutores representativos da comunidade educacional, recebendo
contribuições que permitiram aprimorar o trabalho desenvolvido. As normas que são objeto deste Parecer levam
em consideração a legislação pertinente:
• Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), art. 3º, incisoVII, arts. 9º, 13, 43, 61,
62, 64, 65 e 67;
• Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001), especialmente em seu item IV - Magistério na
Educação Básica, que define as diretrizes, os objetivos e metas, relativos à formação profissional inicial
para docentes da Educação Básica;
• Parecer CNE/CP nº 9/2001, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena;
• Parecer CNE/CP nº 27/2001, que dá nova redação ao item 3.6, alínea c, do Parecer CNE/CP n° 9/2001,
que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena;
• Parecer CNE/CP nº 28/2001, que dá nova redação ao Parecer CNE/CP nº 21/2001, estabelecendo a
duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível
superior, curso de licenciatura, de graduação plena;
• Resolução CNE/CP nº 1/2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena;
• Resolução CNE/CP nº 2/2002, que atualmente institui a duração e a carga horária dos cursos de
licenciatura, de graduação plena, de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior;
• Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006, que dispõem sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Curso de Pedagogia e a correspondente Resolução.
• a Formação de Professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental será
desenvolvida em curso de Pedagogia ou em Curso Normal Superior;
287
• as instituições de educação superior vinculadas ao Sistema Federal de Ensino poderão decidir por
qualquer das alternativas indicadas acima, independentemente do ato autorizatório, adotando no seu
Projeto Pedagógico as Diretrizes Curriculares correspondentes e comunicando formalmente a decisão à
SESu/MEC no prazo máximo de 1 (um) ano a contar da data da publicação da correspondente
Resolução;
• as eventuais alterações decorrentes da prerrogativa concedida no item anterior alcançarão todos os
alunos que iniciarem seu curso a partir do processo seletivo seguinte ao do protocolo indicado no item
anterior, mas poderão ou não ser adotadas para as turmas em andamento;
• em qualquer caso, as instituições poderão manter o número total de vagas oferecidas;
• o Curso Normal Superior poderá prever uma ou ambas as habilitações: (i) Licenciatura para o
Magistério na Educação Infantil, (ii) Licenciatura para o Magistério nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, sendo permitida a obtenção de segunda habilitação para os concluintes dos Cursos de
Pedagogia ou Normal Superior regidos pelas normas anteriormente vigentes, segundo os Projetos
Pedagógicos correspondentes;
• a carga horária mínima para os cursos de Pedagogia será de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico,
das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado, no mínimo 100 horas dedicadas a
atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes, e no
mínimo 2.800 horas, às demais atividades formativas;
• a carga horária mínima para os Cursos Normais Superiores estruturados de modo a oferecer apenas
uma habilitação será de 2.800 horas de efetivo trabalho acadêmico, das quais no mínimo 300 horas
dedicadas ao estágio supervisionado e no mínimo 2.500 horas, às demais atividades formativas;
• para a graduação em segunda habilitação nos Cursos Normais Superiores será exigido o mínimo de 800
horas de efetivo trabalho acadêmico, das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio
supervisionado e no mínimo 500 horas, às demais atividades formativas;
• o cumprimento das cargas horárias acima mencionadas poderá usar como referência o que consta nos
Parecer CNE/CP no 28/2001 e na Resolução CNE/CP n° 2/2002, cuja revogação é, no entanto, proposta
no Projeto de Resolução em anexo;
• os cursos de Licenciatura destinados à Formação de Professores para os anos finais do Ensino
Fundamental, o Ensino Médio e a Educação Profissional de nível médio serão organizados em
habilitações especializadas por componente curricular ou abrangentes por campo de conhecimento,
conforme indicado nas Diretrizes Curriculares pertinentes;
• a carga horária dos cursos mencionados no item acima será, no mínimo, de 2.800 horas de efetivo
trabalho acadêmico, das quais, no mínimo, 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado e, no
mínimo, 2.500 horas, às demais atividades formativas, podendo ser usado como referência o que consta
no Parecer CNE/CP no 28/2001 e na Resolução CNE/CP n° 2/2002, cuja revogação é, no entanto,
proposta no Projeto de Resolução em anexo;
• quando houver previsão no Projeto Pedagógico da Escola, devidamente aprovado, os componentes
curriculares dos anos iniciais do Ensino Fundamental poderão ser lecionados por licenciados com
habilitação para os componentes curriculares dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio;
• a formação de docentes no nível superior para a docência nos anos finais do Ensino Fundamental, no
Ensino Médio e na Educação Profissional de nível técnico, destinada a portadores de diploma de
Educação Superior, poderá se realizar por meio do aproveitamento de estudos – e conseqüentemente
pela integração nos projetos regulares das licenciaturas mantidas pelas instituições de ensino – ou por
meio de Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes;
• os Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes, nos termos do art.63, inciso II, da Lei n°
9.394/1996, passarão a ser regidos por novos padrões, devendo observar as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores e para os campos de conhecimento pertinentes, conferindo
habilitações conforme um quadro de correspondências relativas ao curso de graduação originalmente
cursado, revogando-se a Resolução CNE/CP n° 2/1997, cuja revisão já havia sido prevista no seu
próprio texto;
• os programas de formação pedagógica deverão ser estruturados em conformidade com o disposto nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores para a Educação Básica, definidas pelo
Parecer CNE/CP n° 9/2001 e na Resolução CNE/CP n° 1/2002;
• em qualquer das duas formas descritas anteriormente – complementação de estudos ou programas de
formação pedagógica – os estudos adicionais que conduzem à Licenciatura deverão obedecer à carga
horária mínima de 800 horas, das quais, no mínimo, 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado e,
no mínimo, 500 horas, às demais atividades formativas;
• os Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes poderão ser ministrados,
independentemente de qualquer autorização prévia, por qualquer instituição de educação superior que
288
Considerando os princípios enunciados acima, a Comissão apresenta em anexo um Projeto de Resolução para
estabelecer de forma consolidada normas para a matéria e propõe, por conseguinte, a revogação das Resoluções
CNE/CP nos 2/1997 e 2/2002.
II – VOTO DA COMISSÃO
Diante do exposto, a Comissão propõe a aprovação dos princípios gerais sobre a Formação de
Professores para a Educação Básica, na forma consolidada neste Parecer e no Projeto de Resolução em anexo,
que é parte integrante daquele.
Projeto de Resolução
Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de Formação de Professores da Educação Básica,
em nível superior.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o
disposto na Lei n° 9.131, de 25 de novembro de 1995, nas Resoluções CNE/CP nos 1/1999, 1/2002, e nos
Pareceres CNE/CP nos 115/1999, 9/2001 e 27/2001, além dos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006 e da
correspondente Resolução, e com fundamento no Parecer CNE/CP nº /2006, homologado pelo Senhor Ministro
de Estado da Educação, em de 2006,
RESOLVE:
289
Art. 1º A Formação de Professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental obedecerá
necessariamente às Diretrizes Curriculares Nacionais próprias, constantes nos Pareceres CNE/CP nos 115/1999,
9/2001, 27/2001, 28/2001, 5/2005 e 3/2006 e nas Resoluções CNE/CP nos 1/1999, 1/2002 e /2006.
Art. 2º Os cursos destinados à Formação de Professores de Educação Infantil e dos anos iniciais de Ensino
Fundamental poderão adotar uma das seguintes formas:
I - Curso de Pedagogia; ou
II - Curso Normal Superior.
§ 1º As instituições de educação superior vinculadas ao Sistema Federal de Ensino poderão decidir por
qualquer das alternativas indicadas neste artigo, independentemente de ato autorizatório, comunicando
formalmente a decisão à SESu/MEC no prazo máximo de 1 (um) ano a contar da data da publicação desta
Resolução e mantendo o número total de vagas oferecidas.
§ 2º as instituições que optarem pela alternativa indicada no inciso I deste artigo devem
obrigatoriamente ajustar-se ao disposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Pedagogia.
§ 3º as instituições que optarem pela alternativa indicada no inciso II deste artigo devem
obrigatoriamente observar o disposto nos arts. 6o e 9o da Resolução CNE/CP n° 1/1999 (excetuados os
parágrafos revogados: art. 6o, §§ 2o e 5o; art. 9o, § 2o e a Resolução CNE/CP n° ....../2006).
§ 4º As alterações alcançarão todos os alunos que iniciarem seu curso a partir do processo seletivo
seguinte ao do protocolo indicado no parágrafo anterior.
§ 5º As instituições poderão optar por ajustar os projetos das turmas em andamento de forma a adotar a
alternativa escolhida, respeitando o interesse e direitos dos alunos matriculados.
§ 6º As instituições poderão optar por manter inalterado seu projeto pedagógico para as turmas em
andamento.
Art. 3º O Curso Normal Superior poderá prever uma das duas, ou ambas, habilitações, a saber:
I - Para os cursos de Pedagogia, mínimo de 3200 horas de efetivo trabalho acadêmico, das quais no
mínimo 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado e no mínimo 2.900 horas, às demais atividades
formativas.
II - Para os Cursos Normais Superiores estruturados de modo a oferecer apenas uma habilitação,
mínimo de 2.800 horas de efetivo trabalho acadêmico, das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio
supervisionado e no mínimo 2.500 horas, às demais atividades formativas.
III - Para a graduação em segunda habilitação nos Cursos Normais Superiores, mínimo de 800 horas de
efetivo trabalho acadêmico, das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado e no mínimo
500 horas, às demais atividades formativas.
Parágrafo único. Para o cumprimento das cargas horárias definidas neste artigo, poderá ser usado
como referência o que consta no Parecer CNE/CP no 28/2001.
Art. 5º Quando houver previsão no Projeto Pedagógico da Escola, os componentes curriculares dos
anos iniciais da Educação Básica poderão ser lecionados por licenciados com habilitação para os componentes
curriculares dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Art. 6º Os cursos de licenciatura, destinados à formação para a docência nos anos finais do Ensino
Fundamental, no Ensino Médio e na Educação Profissional de nível médio, estarão abertos a portadores de
certificado de conclusão do Ensino Médio.
290
§ 1º Os cursos referidos no caput deste artigo serão organizados em habilitações especializadas por
componente curricular ou abrangentes por campo de conhecimento, conforme indicado nas Diretrizes
Curriculares pertinentes.
§ 2º A conclusão do curso de licenciatura dará direito a diploma de licenciado para docência nos anos
finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, com a habilitação prevista, conforme indicado nas Diretrizes
Curriculares pertinentes.
Art. 7º Os cursos de que trata o artigo anterior devem obedecer às Diretrizes Curriculares Nacionais definidas no
Parecer CNE/CP n° 9/2001 e da Resolução CNE/CP n° 1/2002 bem como às Diretrizes Curriculares Nacionais
próprias de cada campo do conhecimento ou de atuação profissional, conforme deliberações do Conselho
Nacional de Educação.
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Educação procederá à adequação das Diretrizes Curriculares
das licenciaturas a estas normas, no prazo máximo de 12 (doze) meses a contar da data da publicação desta
Resolução.
Art. 8º A carga horária dos cursos de licenciatura tratados no art. 6º será, no mínimo, de 2800 horas de efetivo
trabalho acadêmico, das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio supervisionado e no mínimo 2.500
horas, às demais atividades formativas.
.
Parágrafo único. Para o cumprimento desta carga horária, poderá ser usado como referência o que
consta no Parecer CNE/CP no 28/2001.
Art. 9º A formação de docentes no nível superior para a docência nos anos finais do Ensino Fundamental, no
Ensino Médio e na Educação Profissional de nível médio, destinada a portadores de diploma de Educação
Superior, far-se-á numa das seguintes formas:
Art. 10. As habilitações conferidas pelos programas especiais de formação pedagógica descritos no artigo
anterior serão estabelecidas em Resolução própria.
Art. 11. Os programas especiais de formação pedagógica deverão ser estruturados em conformidade com o
disposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores para a Educação Básica, definidas
pelo Parecer CNE/CP n° 9/2001 e na Resolução CNE/CP n° 1/2002.
Art. 12. Em qualquer das duas formas descritas no art. 9º, os estudos adicionais que conduzem à licenciatura
deverão obedecer à carga horária mínima de 800 horas, das quais no mínimo 300 horas dedicadas ao estágio
supervisionado e no mínimo 500 horas, às demais atividades formativas.
Art. 13. Os Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes poderão ser ministrados por qualquer
instituição de educação superior que mantenha, no mínimo, um curso de licenciatura já reconhecido no mesmo
campo de conhecimento, independentemente de qualquer autorização prévia.
§ 1º Os Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes serão considerados por ocasião da
renovação de reconhecimento do(s) curso(s) de licenciatura oferecidos pela instituição.
§ 2º As instituições de educação superior que não cumprem a condição do caput deste artigo que
desejarem oferecer Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes deverão solicitar autorização ao
órgão do sistema de ensino pertinente.
Art. 14. A conclusão dos Programas Especiais de Formação Pedagógica de Docentes será certificada,
exclusivamente, por meio de apostilamento no diploma de graduação.
Parágrafo único. O apostilamento de que trata o caput deste artigo é considerado como grau de
licenciatura plena para todos os fins.
Art. 15. Fica vedada, a partir da data da publicação desta Resolução, a abertura de novas turmas de Programas
Especiais de Formação Pedagógica de Docentes organizadas com base na Resolução CNE/CP nº 2/1997.
291
Parágrafo único. As turmas iniciadas até a data indicada no caput da presente Resolução terão
prosseguimento normal até a conclusão do respectivo programa.
Art. 16. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário,
especialmente as Resoluções CNE/CP nos 2/1997 e 2/2002.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno UF: DF
ASSUNTO: Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Curso de Pedagogia.
RELATORAS: Clélia Brandão Alvarenga Craveiro e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
PROCESSO Nº: 23001.000188/2005-02
PARECER CNE/CP Nº: 3/2006
COLEGIADO: CP
APROVADO EM: 21/2/2006
I – RELATÓRIO
Em dezembro de 2005, foram aprovadas, por meio do Parecer CNE/CP nº 5/2005, as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, encaminhado para homologação em
20/12/2005. Após a análise no âmbito do Ministério da Educação, o senhor Ministro restituiu o presente
processo a este Conselho para reexame do referido Parecer. Trata-se de emenda retificativa ao art. 14 do Projeto
de Resolução contido no Parecer CNE/CP nº 5/2005, referente às Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Pedagogia. Considerando que:
1. têm havido inúmeras manifestações de interesse da comunidade educacional sobre o Parecer CNE/CP
nº 5/2005, que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia, especialmente quanto à
urgência de sua homologação e publicação da respectiva Resolução, visto que grande número de
instituições de Educação Superior propõe-se a implementar estas disposições no próximo período letivo;
2. o Parecer CNE/CP nº 5/2005 – DCN da Licenciatura em Pedagogia é resultante de longa tramitação
no Conselho Nacional de Educação, durante a qual houve efetiva participação de representativas entidades do
setor educacional e especificamente de Formação de professores, além de grande número de pessoas e
instituições de Educação Superior;
3. o texto aprovado pelo CNE/CP, em 13 de dezembro p.p., corresponde ao consenso alcançado neste
processo; assim sendo, representa uma proposta curricular que logra amplo apoio e gera expectativas de que em
breve possa ter força normativa;
4. o eixo central destas Diretrizes Curriculares é estabelecido no art. 4º do Projeto de Resolução
constante no Parecer em pauta:
Mas, considerando também que tem havido manifestações de preocupação com relação a que esta
Resolução contemple cabalmente o disposto no art. 64 da Lei nº 9.394/1996, o qual reza:
A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e
orientação educacional para a Educação Básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível
de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.
A Comissão Bicameral de Formação de Professores revisou minuciosamente o texto do Projeto de
Resolução contido no Parecer CNE/CP nº 5/2005 e as disposições legais vigentes, e resolveu propor a seguinte
emenda retificativa ao art. 14 do mesmo:
293
Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia nos termos do Parecer CNE/CP nº5/2005 e desta Resolução
assegura a formação de profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do
art. 3º da Lei nº 9.394/96.
§ 1º. Esta formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós-graduação,
especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados.
§ 2º. Os cursos de pós-graduação indicados no § 1º deste artigo poderão ser complementarmente
disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do Parágrafo único do art. 67 da Lei nº 9.394/96.
Essa redação procura dirimir qualquer dúvida sobre a eventual não observância do disposto no art. 64 da
Lei nº 9.394/1996, ou seja, assevera que a Licenciatura em Pedagogia realiza a formação para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, em organizações (escolas e órgãos dos sistemas de
ensino) da Educação Básica e também estabelece as condições em que a formação pós-graduada para tal deve ser
efetivada.
Outrossim, que devem ser observadas igualmente as disposições do Parágrafo Único do art. 67 da
mesma Lei nº 9.394/96, no sentido de que a experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de
quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino.
Fica, portanto, reiterada a concepção de que a formação dos profissionais da educação, para funções
próprias do magistério e outras, deve ser baseada no princípio da gestão democrática (obrigatória no ensino
público, conforme a CF, art. 206-VI; LDB, art. 3º-VIII) e superar aquelas vinculadas ao trabalho em estruturas
hierárquicas e burocráticas. Por conseguinte, como bem justifica o Parecer CNE/CP nº 5/2005, em tela, sendo a
organização escolar eminentemente colegiada, cabe prever que todos os licenciados possam ter oportunidade de
ulterior aprofundamento da formação pertinente, ao longo de sua vida profissional. Não mais cabe, como outrora
(na vigência da legislação anterior – Lei nº 5.540/1968 e currículos mínimos), conceber a formação para as
funções supracitadas como privativas dos Licenciados em Pedagogia e, a propósito, este Conselho já aprovou e
designou comissão para emitir parecer sobre diretrizes para a formação dos profissionais da educação em relação
aos arts. 64 e 67, parágrafo único, da Lei nº 9.394/96.
II – VOTO DA COMISSÃO
Assim, a Comissão propõe a alteração do art. 14 do Projeto de Resolução contido no Parecer CNE/CP
nº 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, conforme novo Projeto em
anexo.
O Conselho Pleno aprova o voto da Comissão, com voto contrário e declaração de voto do conselheiro Francisco
Aparecido Cordão.
Plenário, em 21 de fevereiro de 2006.
Conselheiro Roberto Cláudio Frota Bezerra – Presidente
Declaração de Voto
Projeto de Resolução
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o
disposto no art. 9º, § 2º, alínea “e” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº
9.131, de 25 de novembro de 1995, no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e com fundamento no
Parecer CNE/CP nº......../2005, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em ...... de
..................... de 2005, resolve:
Art. 1º A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia,
Licenciatura, definindo princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem observados
em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior
do país, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP nº......../2005.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da
docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em
outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.
295
Art. 3º O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por
pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da
profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização,
pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética.
Parágrafo único. Para a formação do licenciado em Pedagogia é central:
• I - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação
para e na cidadania;
• II - a pesquisa, a análise e aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional;
• III - a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e
instituições de ensino.
Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de
magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais
sejam previstos conhecimentos pedagógicos.
Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de
sistemas e instituições de ensino, englobando:
I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da
Educação;
II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências
educativas não-escolares;
III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos
escolares e não-escolares.
I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime,
igualitária;
II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu
desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social;
III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino Fundamental, assim como
daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade própria;
IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em
diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;
V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos
educandos nas suas relações individuais e coletivas;
VI - aplicar modos de ensinar diferentes linguagens, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História,
Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento
humano;
VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-
pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao
desenvolvimento de aprendizagens significativas;
VIII - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a
comunidade;
IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e
propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-
raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras;
296
Art. 7º O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga horária mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho
acadêmico, assim distribuídas:
I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização de seminários,
participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a instituições
educacionais e culturais, atividades práticas de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de
estudos;
II - 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o
projeto pedagógico da instituição;
III - 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos alunos,
por meio, da iniciação científica, da extensão e da monitoria.
Art. 8º Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de:
Art. 9º Os cursos a serem criados em instituições de educação superior, com ou sem autonomia universitária e
que visem a Licenciatura para a docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos
cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e
em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, deverão ser estruturados com base nesta
Resolução.
Art. 10. As habilitações em cursos de Pedagogia atualmente existentes entrarão em regime de extinção, a partir
do período letivo seguinte à publicação desta Resolução.
Art. 11. As instituições de educação superior que mantêm cursos autorizados como Normal Superior e que
pretenderem a transformação em curso de Pedagogia e as instituições que já oferecem cursos de Pedagogia,
deverão elaborar novo projeto pedagógico, obedecendo ao contido nesta Resolução.
§ 2º O novo projeto pedagógico alcançará todos os alunos que iniciarem seu curso a partir do processo
seletivo seguinte ao período letivo em que for implantado.
§ 4º As instituições poderão optar por manter inalterado seu projeto pedagógico para as turmas em
andamento, mantendo-se todas as características correspondentes ao estabelecido.
Art. 12. Concluintes do Curso de Pedagogia ou Normal Superior que, no regime das normas anteriores a esta
Resolução, tenham cursado uma das habilitações, a saber Educação Infantil ou anos iniciais do Ensino
Fundamental, e que pretendam complementar seus estudos na área não cursada poderão fazê-lo.
§ 2º As instituições que vierem a receber alunos na situação prevista neste artigo serão responsáveis
pela análise da vida escolar dos interessados e pelo estabelecimento dos planos de estudos complementares, que
abrangerão no mínimo 400 horas.
Art. 13. A implantação e execução destas Diretrizes Curriculares deverão ser sistematicamente acompanhadas e
avaliadas pelos órgãos competentes.
Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia nos termos do Parecer CNE/CP nº 5/2005 e desta Resolução assegura a
formação de profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do art. 3º da Lei
nº 9.394/96.
Art. 15. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas a Resolução CFE
nº 2, de 12 de maio de 1969, e demais disposições em contrário.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o
disposto o art. 9º, § 2º, alínea “e” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº
9.131, de 25 de novembro de 1995, no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e com fundamento no
Parecer CNE/CP nº 5/2005, incluindo a emenda retificativa constante do Parecer CNE/CP nº 3/2006,
homologados pelo Senhor Ministro de Estado da Educação, respectivamente, conforme despachos publicados no
DOU de 15 de maio de 2006 e no DOU de 11 de abril de 2006, resolve:
Art. 1º A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em
Pedagogia, licenciatura, definindo princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem
observados em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de
educação superior do país, nos termos explicitados nos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da
docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em
outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.
Art. 3º O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por
pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da
profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização,
pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética.
I - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação
para e na cidadania;
II - a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional;
III - a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e
instituições de ensino.
35
(*)Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11
300
Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de
magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais
sejam previstos conhecimentos pedagógicos.
I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime,
igualitária;
II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu
desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social;
III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino
Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade própria;
IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em
diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;
V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas,
emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas;
VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de
forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano;
VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-
pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao
desenvolvimento de aprendizagens significativas;
VIII - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a
comunidade;
IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e
propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões
sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras;
X - demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica,
étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas
sexuais, entre outras;
XI - desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a área educacional e as demais áreas
do conhecimento;
XII - participar da gestão das instituições contribuindo para elaboração, implementação, coordenação,
acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico;
XIII - participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos
e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares;
XIV - realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre alunos e alunas e a
realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências nãoescolares; sobre processos de
ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental- ecológicos; sobre propostas curriculares; e sobre
organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas;
XV - utilizar, com propriedade, instrumentos próprios para construção de conhecimentos pedagógicos e
científicos;
XVI - estudar, aplicar criticamente as Diretrizes Curriculares e outras determinações legais que lhe
caiba implantar, executar, avaliar e encaminhar o resultado de sua avaliação às instâncias competentes.
§ 1º No caso dos professores indígenas e de professores que venham a atuar em escolas indígenas, dada
a particularidade das populações com que trabalham e das situações em que atuam, sem excluir o acima
explicitado, deverão:
I - promover diálogo entre conhecimentos, valores, modos de vida, orientações filosóficas, políticas e
religiosas próprias à cultura do povo indígena junto a quem atuam e os provenientes da sociedade
majoritária;
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II - atuar como agentes interculturais, com vistas à valorização e o estudo de temas indígenas relevantes.
§ 2º As mesmas determinações se aplicam à formação de professores para escolas de remanescentes de
quilombos ou que se caracterizem por receber populações de etnias e culturas específicas.
Art. 6º A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das
instituições, constituir-se-á de:
I - um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a multiculturalidade da
sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais,
assim como por meio de reflexão e ações críticas, articulará:
a) aplicação de princípios, concepções e critérios oriundos de diferentes áreas do conhecimento, com
pertinência ao campo da Pedagogia, que contribuam para o desenvolvimento das pessoas, das
organizações e da sociedade;
b) aplicação de princípios da gestão democrática em espaços escolares e não-escolares;
c) observação, análise, planejamento, implementação e avaliação de processos educativos e de
experiências educacionais, em ambientes escolares e não-escolares;
d) utilização de conhecimento multidimensional sobre o ser humano, em situações de aprendizagem;
e) aplicação, em práticas educativas, de conhecimentos de processos de desenvolvimento de crianças,
adolescentes, jovens e adultos, nas dimensões física, cognitiva, afetiva, estética, cultural, lúdica,
artística, ética e biossocial;
f) realização de diagnóstico sobre necessidades e aspirações dos diferentes segmentos da sociedade,
relativamente à educação, sendo capaz de identificar diferentes forças e interesses, de captar
contradições e de considerá-lo nos planos pedagógico e de ensino aprendizagem, no planejamento e na
realização de atividades educativas;
g) planejamento, execução e avaliação de experiências que considerem o contexto histórico e
sociocultural do sistema educacional brasileiro, particularmente, no que diz respeito à Educação
Infantil, aos anos iniciais do Ensino Fundamental e à formação de professores e de profissionais na área
de serviço e apoio escolar;
h) estudo da Didática, de teorias e metodologias pedagógicas, de processos de organização do trabalho
docente;
i) decodificação e utilização de códigos de diferentes linguagens utilizadas por crianças, além do
trabalho didático com conteúdos, pertinentes aos primeiros anos de escolarização, relativos à Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia, Artes, Educação Física;
j) estudo das relações entre educação e trabalho, diversidade cultural, cidadania, sustentabilidade, entre
outras problemáticas centrais da sociedade contemporânea;
k) atenção às questões atinentes à ética, à estética e à ludicidade, no contexto do exercício profissional,
em âmbitos escolares e não-escolares, articulando o saber acadêmico, a pesquisa, a extensão e a prática
educativa;
l) estudo, aplicação e avaliação dos textos legais relativos à organização da educação nacional;
II - um núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos voltados às áreas de atuação
profissional priorizadas pelo projeto pedagógico das instituições e que, atendendo a diferentes
demandas sociais, oportunizará, entre outras possibilidades:
a) investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes situações institucionais:
escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras;
b) avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos, procedimentos e processos de aprendizagem
que contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira;
c) estudo, análise e avaliação de teorias da educação, a fim de elaborar propostas educacionais
consistentes e inovadoras;
III - um núcleo de estudos integradores que proporcionará enriquecimento curricular e compreende
participação em:
a) seminários e estudos curriculares, em projetos de iniciação científica, monitoria e extensão,
diretamente orientados pelo corpo docente da instituição de educação superior;
b) atividades práticas, de modo a propiciar vivências, nas mais diferentes áreas do campo educacional,
assegurando aprofundamentos e diversificação de estudos, experiências e utilização de recursos
pedagógicos;
c) atividades de comunicação e expressão cultural.
Art. 7º O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga horária mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho
acadêmico, assim distribuídas:
I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização de seminários,
participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a
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Art. 8º Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de:
I - disciplinas, seminários e atividades de natureza predominantemente teórica que farão a introdução e
o aprofundamento de estudos, entre outros, sobre teorias educacionais, situando processos de aprender e
ensinar historicamente e em diferentes realidades socioculturais e institucionais que proporcionem
fundamentos para a prática pedagógica, a orientação e apoio a estudantes, gestão e avaliação de projetos
educacionais, de instituições e de políticas públicas de Educação;
II - práticas de docência e gestão educacional que ensejem aos licenciandos a observação e
acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação de aprendizagens, do
ensino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos;
III - atividades complementares envolvendo o planejamento e o desenvolvimento progressivo do
Trabalho de Curso, atividades de monitoria, de iniciação científica e de extensão, diretamente
orientadas por membro do corpo docente da instituição de educação superior decorrentes ou articuladas
às disciplinas, áreas de conhecimentos, seminários, eventos científico-culturais, estudos curriculares, de
modo a propiciar vivências em algumas modalidades e experiências, entre outras, e opcionalmente, a
educação de pessoas com necessidades especiais, a educação do campo, a educação indígena, a
educação em remanescentes de quilombos, em organizações não-governamentais, escolares e não-
escolares públicas e privadas;
IV - estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos
experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que ampliem e fortaleçam
atitudes éticas, conhecimentos e competências:
Art. 9º Os cursos a serem criados em instituições de educação superior, com ou sem autonomia universitária e
que visem à Licenciatura para a docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos
cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e
em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, deverão ser estruturados com base nesta
Resolução.
Art. 10. As habilitações em cursos de Pedagogia atualmente existentes entrarão em regime de extinção, a partir
do período letivo seguinte à publicação desta Resolução.
Art. 11. As instituições de educação superior que mantêm cursos autorizados como Normal Superior e que
pretenderem a transformação em curso de Pedagogia e as instituições que já oferecem cursos de Pedagogia
deverão elaborar novo projeto pedagógico, obedecendo ao contido nesta Resolução.
§ 1º O novo projeto pedagógico deverá ser protocolado no órgão competente do respectivo sistema
ensino, no prazo máximo de 1 (um) ano, a contar da data da publicação desta Resolução.
§ 2º O novo projeto pedagógico alcançará todos os alunos que iniciarem seu curso a partir do processo
seletivo seguinte ao período letivo em que for implantado.
§ 3º As instituições poderão optar por introduzir alterações decorrentes do novo projeto pedagógico para
as turmas em andamento, respeitando-se o interesse e direitos dos alunos matriculados.
§ 4º As instituições poderão optar por manter inalterado seu projeto pedagógico para as turmas em
andamento, mantendo-se todas as características correspondentes ao estabelecido.
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Art. 12. Concluintes do curso de Pedagogia ou Normal Superior que, no regime das normas anteriores a esta
Resolução, tenham cursado uma das habilitações, a saber, Educação Infantil ou anos iniciais do Ensino
Fundamental, e que pretendam complementar seus estudos na área não cursada poderão fazê-lo.
Art. 13. A implantação e a execução destas Diretrizes Curriculares deverão ser sistematicamente acompanhadas
e avaliadas pelos órgãos competentes.
Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia, nos termos dos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006 e desta
Resolução, assegura a formação de profissionais da educação prevista no art.64, em conformidade com o inciso
VIII do art. 3º da Lei nº 9.394/96.
Art. 15. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas a Resolução CFE nº 2, de
12 de maio de 1969, e demais disposições em contrário.