Você está na página 1de 11

1

Modelagem Analítica

Capítulo I

Equações Diferenciais

I.1 – Introdução

As Equações Diferenciais são sentenças matemáticas envolvendo derivadas ou


diferenciais de funções. São denominadas de equações diferenciais ordinárias quando
apresentam derivadas em uma única variável independente. São denominadas de
equações diferenciais parciais se incluem derivadas parciais de funções em múltiplas
variáveis independentes.

Exemplos de Equações Diferenciais Ordinárias:

(1)

(2)

Exemplos de Equações Diferenciais Parciais:

(3)

(4)

A modelagem de muitas leis físicas ligadas à aplicação em Engenharia resulta em


equações diferenciais, destacando-se a difusão de calor; a flambagem de colunas; as
deformações estruturais; o adensamento das argilas; a propagação de ondas . . .

Este capítulo tratará, essencialmente, das equações diferenciais ordinárias.

Neste capítulo poderá ser utilizada a notação y(k), representando a derivada de ordem k
da função y = f(x), em ralação à variável independente x. “y(0)” poderá representar a
derivada de ordem zero da referida função, em ralação à variável independente, e,
portanto, a própria função.

A ordem de uma equação diferencial é definida como sendo a maior ordem das derivadas
ou diferenciais que constam na referida equação, assim, , é uma equação
2

diferencial ordinária de primeira ordem, enquanto, , é uma


equação diferencial ordinária de segunda ordem. A sentença matemática:

(5)

onde y e suas sucessivas derivadas y(k) são funções, exclusivamente, de uma única
variável x, é denominada de equação diferencial ordinária de ordem n. Se a função “F”,
Equação I.5, é uma função polinomial então, o seu grau é o maior expoente associado à

derivada de maior ordem. Assim, a equação da forma é de

quarto grau, ao passo que a equação é de segundo grau.

A função f é solução de uma equação diferencial se, uma vez substituindo-se y = f(x) em
tal equação, resultar em uma identidade. Assim, a função , por exemplo, é
solução geral da equação diferencial . De fato, substituindo-se f(x) nesta
equação diferencial resulta:

reduzindo-se, portanto, a uma identidade, ou seja, .

Tal verificação poderia seguir a sequência alternativa:

Que, igualmente, reduziu-se a uma identidade, no caso, .

A função , incluindo a constante c é denominada solução geral da equação


diferencial. A constante c recebe a denominação de Constante de Integração ou
Constante Arbitrária. A função solução , é representada graficamente por
uma família de parábolas, Figura I.1, na qual cada membro é caracterizado por um valor
3
particular de c. Fixando-se um valor específico para c a função f(x) transforma-se em
solução particular.

Figura I.1 – Representação gráfica da função solução

Seja verificar se a função, , é solução da equação

diferencial . observe-se que:

,e

Levando-se y = f(x) e as expressões de sua primeira e de sua segunda derivada na


equação diferencial resulta:

Os termos no interior de ambos os parênteses são nulos, logo:

que é uma identidade.


4

A função y = f(x) = 2, entretanto, não é solução da equação diferencial ,

pois:

Uma solução geral de uma equação diferencial deve conter tantas constantes arbitrárias
independentes quanto for a sua ordem. Em assim sendo, as funções solução das
equações diferenciais:

y(1) = 2x; y(2) = 25y; e, y(4) = 100y + 1;

precisam apresentar, respectivamente, uma, duas, e quatro constantes arbitrárias


independentes para, desta forma, constituírem, soluções gerais. Entenda-se que, as
constantes arbitrárias de uma função são independentes, quando não puderem ser
reduzidas a um total menor de constantes, sem induzir em alteração da essência
matemática da função. Em outras palavras, se a função solução de uma equação
diferencial de ordem n, puder ser escrita mediante a forma de uma combinação linear do
tipo:

(6)

sendo as funções y1, y2, . . ., yn, linearmente independentes, ou seja:

(7)

então a função y = f(x) é solução geral. Neste ponto, convém ressaltar, inclusive, que, se
um conjunto de funções y1, y2, . . ., yn são soluções de certa equação diferencial, então,
qualquer combinação linear envolvendo tais funções, escrita em forma idêntica à Equação
I.6 também é solução da referida equação diferencial.

Exercícios Propostos:

1 – Verificar se as funções são solução das equações diferenciais ao lado apresentadas:

a-) ; e,

b-)
5
I.2 – Aplicações
As modalidades de problemas envolvendo as equações diferenciais são os Problemas de
Valor Inicial e os Problemas de Valor de Contorno
Os problemas de valor inicial envolvem fenômenos que modificam no decorrer do tempo,
cuja modelagem resulta em equação diferencial. Em sua resolução deve-se atentar para
as seguintes etapas:
A – Resolução da equação diferencial correlata - Solução Geral;

B - Aplicação das condições iniciais inerentes ao problema em particular, à função


solução geral;

C - Determinação das constantes arbitrárias; e,

D - Substituição das constantes na função solução geral obtendo-se assim a solução


particular que descreve o problema em análise.

Se as condições iniciais se referem só à função solução geral ou apenas a derivada sua


de certa ordem, então elas são denominadas homogêneas. Caso contrário, são
heterogêneas.

I.2.1 - Esgotamento de Reservatório Cilíndrico


Um problema de valor inicial envolve o esgotamento de um reservatório cilíndrico cujo
fluxo de água se dá através de um dreno e é controlado mediante registro, instalado na
parede vertical localizado nas proximidades de sua base, figura I.2.

Se “Ao” é a área do duto de evasão, “Ac” é a área da base do reservatório, “g” é a


aceleração da gravidade, e, “h” a altura da coluna d’água sobre o referido orifício num
instante arbitrário “t”, então a modelagem do decaimento do nível d’água no interior do
reservatório resulta na equação:

(8)

Fazendo-se:

a equação I.8 pode assumir a forma:


6

(9)

Que é uma Equação Diferencial Ordinária Separável, definidas como aquelas cuja forma
permite que as variáveis x e y sejam isoladas em termos distintos, mediante
transformações algébricas elementares. Em suma, representam grupo especial de
equações diferenciais da forma:

(10)

sendo M e N funções contínuas nas variáveis x e y, respectivamente.


Separando-se as variáveis da equação I.9 obtém-se:

(11)

Figura I.2 - reservatório

Integrando-se a Equação I.11 membro a membro e introduzindo-se a constante de


integração pertinente resulta:

(12)

de onde se obtém:

(13)

desde que:

(14)
7
Se no instante t = 0 em que o registro é aberto e inicia o escoamento, o nível
d’água no interior do reservatório é ho, então:

(15)

e, a equação I.13 transforma-se em:

(16)

Exercício Resolvido I.1: Encontrar a solução geral da equação diferencial:

Para resolver esta equação, procede-se inicialmente à separação de variáveis, isolando


os termos na variável y no primeiro membro, e, aqueles na variável x no segundo
membro. A equação diferencial assumiria então a forma:

Em seguida, aplica-se à forma resultante, a integração membro a membro, acompanhada


da introdução da constante arbitrária de integração. Assim procedendo ter-se-ia para
solução geral:

Exercício Resolvido I.2: Encontrar a solução geral da equação diferencial:

Separando-se as variáveis tem-se:

Integrando-se a segunda igualdade membro a membro e introduzindo-se a constante


arbitrária apropriadamente, resulta:
8
Observe-se que o objetivo é encontrar a função y = f(x) que satisfaça a sentença
matemática definida pela equação objeto de resolução. A forma acima ainda não
apresenta tal função de forma explícita. Para obtê-la faz-se necessário neutralizar a
função logarítmica, o que se consegue a partir da aplicação da exponenciação membro a
membro. Assim procedendo-se a função solução da equação diferencial objeto de
resolução assume a forma:

Se C é uma constante arbitrária eC também o será, e, portanto:

desde que β = eC. A constante β assim definida passa a desempenhar o papel de


constante arbitrária.

Exercícios propostos:

2 – Resolver as equações diferenciais:

a-) ; e, b - ) .

Exercício Resolvido I.3- Resolver o problema de valor inicial:

O primeiro passo para a realização deste exercício será a resolução da equação


diferencial que rege o problema. Tal equação é linear, de primeira ordem, homogênea, e,
portanto, é, separável, logo:

Integrando-a membro a membro e introduzindo-se a constante arbitrária de integração C


obtém-se:
9
Para a determinação da expressão para a função H(t), deve-se então aplicara
exponenciação membro a membro, resultando:

Uma vez que “C” é constante arbitrária de integração “eC” também o será, assim:

Desempenhará o papel da constante arbitrária de integração a determinar, e a função


solução geral apresentará a forma:

Convém verificar se realmente tal função é solução geral da equação diferencial objeto
deste exercício. Substituindo-a na equação diferencial, tem-se:

e:

Que representa uma identidade, logo, a função H(t) obtida é, realmente, solução da
equação diferencial, e, é solução geral, pois, o total de constantes é 1(um) que é igual à
sua ordem.

Uma vez que a determinação do valor da constante arbitrária B de pende da aplicação da


condição inicial do problema à função solução H(t), expressa na forma:

Ter-se-á:

Substituindo-se o valor assim obtido para a constante “B” na função solução geral obtém-
se:
10
Ou seja:

Que representa a solução particular que, em particular, rege o problema objeto de


resolução.

Convém verificar se a solução particular, realmente, atende à condição inicial. Fazendo-se


então t = 0 na referida função, obtém-se:

Assim, conclui-se que a solução particular atende à condição inicial, e, o problema pode
ser considerado resolvido.

Exercícios propostos:

3 - Resolver os problemas de valor inicial: se S(0) = So, sendo So

uma constante conhecida associada a condições físicas do problema.

4 - Permeâmetro de nível variável - Equipamento destinado à determinação da


permeabilidade de solos de baixa permeabilidade

Uma amostra de solo de espessura “H”, figura I.3, é acondicionada entre duas camadas
de material filtrante. É despejada água na bureta até que a amostra no interior do
recipiente sature e a água continue a subir de nível até que comece a drenar pelo
extravasor, quando a superfície livre da água no interior da bureta apresenta desnível “h1”
em relação à sua superfície livre no interior do recipiente. A adição de água é então
interrompida dando-se início à contagem do tempo. Se a bureta apresenta área da seção
transversal igual a Ab, se “k” é o coeficiente de permeabilidade do material da amostra
examinada, se “A” é a área da base do recipiente, e h = h(t) é a função da qual se obtém
a medida do desnível da superfície livre da água no interior da bureta em relação à sua
superfície livre no interior do recipiente, em um instante “t” qualquer, no decorrer do
experimento, então, a equação diferencial que modela o fenômeno é:
dh Ah
+k =0
dt Ab H
Diante do exposto Determine:
a. A função solução geral h = h(t) da equação diferencial que modela o fenômeno;
11
b. A função solução particular correspondente se, em t = 0, h = h1; e,
c. A expressão para o coeficiente de permeabilidade “k” do material da amostra estudada,
sabendo-se que em um certo instante t = t2, h = h2.

figura I.3

Você também pode gostar