Você está na página 1de 476

REVISTA DE

ARTILHARIA
N.º 1061 a 1063 - JANEIRO A MARÇO DE 2014
REVISTA DE ARTILHARIA
SUMÁRIO:
Págs.
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS ....................................................................... 3
Pelo Major de Artilharia Vítor Manuel Ferreira Lopes.

UMA RECORDAÇÃO DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 778 NA CAPELA DOS


ARTILHEIROS ............................................................................................................ 15
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia Pedro Marquês de Sousa.

A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ................ 19


Pelo Major de Infantaria Fernando Manuel da Silva Rita.

O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA.


O CASO DO GAC/BrigMec ......................................................................................... 31
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia Luís Manuel Garcia de Oliveira.

A ARTILHARIA DE CAMPANHA NAS OPERAÇÕES À PAZ (OAP) ................................. 51


Pelo Tenente-Coronel de Artilharia Luís Filipe de Sousa Lopes.

ARTILHEIROS EM MISSÃO
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS
DA AMÉRICA .............................................................................................................. 59
Pelo Major de Artilharia José Carlos Pinto Mimoso.

ESPAÇO ACADÉMICO
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS 69
Pelo Alferes de Artilharia João Duarte Caeiro Chora.

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA ................................................................................. 99


NOTÍCIAS DO RAAA 1 ............................................................................................... 99
NOTÍCIAS DO RA 4 .................................................................................................... 103
NOTÍCIAS DO GAC/BrigMec ..................................................................................... 104
NOTÍCIAS DA BAA/BrigMec ...................................................................................... 106
NOTÍCIAS DO RG 2 .................................................................................................... 108
NOTÍCIAS DO RG 3 .................................................................................................... 109

PARTE OFICIAL ......................................................................................................................... I

EXPEDIENTE
Toda a correspondência relativa à Revista deve ser dirigida para "REVISTA DE
ARTILHARIA, CAMPO DE SANTA CLARA, 62 – 1100-471 LISBOA".
TELEFS.: Militar: 423 334 – Civil: 21 888 01 10.
CORREIO ELECTRÓNICO: sede.revista.artilharia@gmail.com

ASSINATURAS
PORTUGAL, MACAU e ESPANHA: Sócios assinantes – Anual, € 12,00; Avulso, € 3,00;
Restantes Países: Anual, € 17,00; Avulso, € 4,50. Via aérea – O preço da assinatura é
acrescida do respectivo porte.

AVISO: A Administração da revista solicita a participação imediata de qualquer mudança


de situação ou residência.

Siga-nos no
Facebook

www.facebook.com/revista.artilharia
x

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

PUBLICAÇÃO INICIADA EM JUNHO DE 1904

2.ª S É R I E
Depósito Legal N.º 1359/83

N.os 1061 A 1063 JANEIRO A MARÇO DE 2014


REVISTA DE ARTILHARIA
COMISSÃO EXECUTIVA PARA OS ANOS DE 2013 E 2014

PRESIDENTE

Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira (CmdInst)

VICE-PRESIDENTE

Coronel Tirocinado Joaquim Ramalhoa Cavaleiro (CmdLog)

SECRETÁRIO

Major José Carlos Pinto Mimoso (IESM)

TESOUREIRO

Capitão Emanuel Alves de Sousa (RAAA1)

EDITOR E EDITOR ON-LINE

Capitão Tiago Soares de Castro (AM)

VOGAIS DO CONSELHO DE CULTURA ARTILHEIRA E MILITAR

Coronel Tirocinado Luís António Morgado Baptista (EA)


Coronel Fernando José Pinto Simões (Reforma)
Coronel Carlos Alberto Borges da Fonseca (RAAA1)
Coronel Luís Miguel Green Dias Henriques (RA4)
Coronel António José Pardal dos Santos (RA5)
Coronel João Luís Morgado Silveira (GabCEME)
Tenente-Coronel António José Ruivo Grilo (CM)
Tenente-Coronel Luís Manuel Garcia de Oliveira (GAC/BrigMec)
Major Nelson José Mendes Rego (EME)
Capitão Luís Miguel Rebola Mataloto (GabCEME)

COLABORADOR

Sargento Ajudante Luís Filipe Cardoso Domingues (DHCM/RA)


NÚMEROS REVISTA DE
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS
DESDE 1904
2.ª SÉRIE
ARTILHARIA
1061 A 1063
ISSN 1645-8702

Propriedade dos Oficiais da Arma de Artilharia


Edição d a Comissão E xecutiva

_________
Redacção e Administração DIRECTOR Execução gráfica
Campo de Santa Clara,62 ULISSES JOAQUIM DE JMG – Art. Gráficas e Public., Lda.
1100-471 LISBOA C. N. DE OLIVEIRA Alameda das Figueiras, 13 – 3 B
www.revista-artilharia.pt Major-General 2665-501 Venda do Pinheiro

JANEIRO – FEVEREIRO – MARÇO DE 2014


Os autores dos artigos são únicos responsáveis pela doutrina dos mesmos. Os originais são
propriedade da redacção e não se restituem quer sejam ou não publicados.

A ARTILHARIA NA ESCOLA
DAS ARMAS
Pelo Major de Artilharia
VÍTOR MANUEL FERREIRA LOPES

“A mente que se abre a uma nova ideia,


jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein

I. INTRODUÇÃO

Passados cerca de seis meses da criação da Escola das Armas, afigura-


se agora o momento adequado para proporcionar aos leitores da Revista de
Artilharia um melhor conhecimento da Escola das Armas, assim como, a
forma como a Artilharia está integrada e representada na mesma, quais as
qualificações nas áreas do saber artilheiro que confere, que oportunidades e
desafios que se nos apresentam com esta nova realidade, desde a perspetiva
técnica da nossa formação, até à manutenção e partilha dos valores,
tradições e cultura Artilheiros.
Assim, começaremos por efetuar uma breve descrição concetual da
Escola das Armas, seguidamente faremos a descrição da sua orgânica e da

3
REVISTA DE ARTILHARIA

formação, com destaque para as áreas específicas nas áreas do saber da


Artilharia, que materiais e equipamentos de Artilharia se encontram na
Escola das Armas, e, finalmente, quais as atividades que têm sido desenvol-
vidas ao longo do ainda curto período de existência da Escola das Armas.

II. A ESCOLA DAS ARMAS – UM NOVO CONCEITO


DE FORMAÇÃO

No quadro do processo de reorganização da estrutura da Defesa


Nacional e das Forças Armadas, o Exército, alterou a sua estrutura de
formação, com vista a potenciar sinergias através da criação de uma única
Escola – A Escola das Armas – que agregou as cinco anteriores Escolas
Práticas e o Centro Militar de Educação Física e Desportos, procurando-se
desta forma assegurar um sistema de formação no Exército mais eficiente.

Fig. 1 – A Escola das Armas – organização em rede.

Para fazer face a este desiderato, a estrutura e o conceito enquadrantes


da EA foram orientados para o levantamento de uma organização em rede,
centrada na Escola das Armas (fig. 1), na qual e a partir da qual é

4
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

ministrada e gerida a formação na sua vertente técnica e tática, através da


otimização das suas competências e capacidades e das valências existentes
nos Polos de Formação, nomeadamente nas seus encargos operacionais.
É missão da Escola das Armas conceber e ministrar cursos de formação
inicial, progressão na carreira e formação contínua; participar, de acordo
com as orientações superiores, na elaboração de doutrina, estudos técnicos e
em projetos de investigação e desenvolvimento.

III. A ORGANIZAÇÃO, INFRAESTRUTURAS E PESSOAL


DE ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

Em termos de estrutura organizacional, a EA traduz a elevada ambição


e aposta do Exército na formação dos seus Quadros sendo que ao nível
superior da sua orgânica está organizada da seguinte forma: Gabinete de
Comando e Gestão da Informação (GCGI), Unidade de Apoio (UAp), Direção
de Planeamento, Programação e Coordenação (DPPC) Direção de Formação
(DF) Direção de Avaliação e Qualidade (DAQ) Unidade de Apoio à Formação
(UnApForm).


Fig.2 – Quadro Orgânico da Escola das Armas – Estrutura de topo (Direções).

A Unidade de Apoio assegura o apoio administrativo-logístico, as


comunicações e sistemas de informação, a gestão da Tapada Militar e a
assistência médico-veterinária, entre outros serviços.
A Direção de Planeamento, Programação e Coordenação (DPPC) é
responsável pelo planeamento, programação e coordenação de todas as
atividades de formação que decorrem na EA e pela coordenação de todas as
atividades de formação realizadas nos PF.
A Direção de Formação (DF) é a Entidade Técnica Responsável pela
formação nos domínios do conhecimento e do saber de natureza técnica e/ou

5
REVISTA DE ARTILHARIA

operacional, pela produção doutrinária, estudos técnicos, I&D e execução


das intervenções e atividades formativas; Para assegurar estas componentes
de formação e da doutrina nos domínios do conhecimento e do saber
artilheiro, a Artilharia está representada na Direção de Formação da EA
através do Gabinete de Artilharia, dependente do departamento de
Doutrina, Estudos Técnicos e I&D. Dependente do Departamento de
Formação, estão o Gabinete de Técnica e Tática de Fogos e o Gabinete de
Tática e Técnica de Proteção, responsáveis pela formação da componente de
AC e da componente de AAA, respetivamente;

Fig.3 – Estrutura da Direção de Formação – Cargos específicos de Artilharia.

A Direção de Avaliação e Qualidade (DAQ) é o órgão responsável


pela avaliação interna da formação, colaborando ainda nas atividades de
avaliação externa, avaliação e certificação de competências escolares e
profissionais;
A Unidade de Apoio à Formação (UnApForm), garante o apoio à
formação técnica e tática nas várias funções de combate e enquadra a
formação dos Oficiais e Sargentos em RV/RC. Para assegurar o apoio à
formação dos cursos de Artilharia, a UnApForm possui um Módulo de Apoio
à Formação – Fogos, o qual funciona como uma subunidade de Artilharia
que congrega as valências de Artilharia de Campanha, Artilharia Antiaérea

6
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

e da Topografia, estando dotada dos equipamentos, infraestruturas e


pessoal necessários a ministrar a componente de formação nestes domínios,
nomeadamente:

x 2 Obus M114 A1 155 mm Rebocado, com palamentas e viaturas de


reboque;
x 2 Obus M119 LG 105 mm, com palamentas e viaturas de reboque;
x 2 Canhão Bitubo AA 20mm M/81, com palamentas e viaturas de
reboque;
x Parque de Artilharia;
x Arrecadação de Topografia.

Ainda no campo das infraestruturas, o ModApFormFogos, juntamente


com o Gabinete de Técnica e Tática de Fogos, desencadeou um conjunto de
ações, estudos e propostas no sentido de incrementar as potencialidades da
Tapada Militar de Mafra, quer pelo levantamento topográfico de zonas de
posições de Artilharia, quer pelo estudo da possibilidade de executar tiro
com os equipamentos de calibre reduzido com os obuses M114A1.

Fig.4 – Estrutura da Unidade de Apoio à Formação – Cargos específicos


de Artilharia.

7
REVISTA DE ARTILHARIA

No total, a EA contempla organicamente um total de 442 militares (100


oficiais, 116 Sargentos e 226 praças), sendo que atualmente 18 são oficiais e
sargentos de artilharia (9 Oficiais e 9 sargentos).

IV. A FORMAÇÃO – OS CURSOS E AS ÁREAS


DO SABER ARTILHEIRO

As necessidades de formação técnica e tática dos Oficiais e Sargentos


das respetivas Armas, quer na continuidade dos respetivos processos
formativos, quer na sua qualificação em áreas do saber militar específico de
cada Arma, veio agora generalizar o conceito de Escola em rede, que no caso
da Artilharia era desde já há muitos anos uma realidade evidente, com a
EPA no centro da rede e as outras Unidades de Artilharia como polos de
formação, nomeadamente nas componentes de Antiaérea e de Costa.

Designação Horas de Formação


Cursos de Formação Inicial e Progressão na Carreira
Curso de Promoção a Capitão de Artilharia – 264 horas
específica
Tirocínio para Oficial de Artilharia 514 horas
Curso de Promoção a Sargento Ajudante – 90 horas
específica
Curso de formação de Sargentos de Artilharia – 1560 horas
2ª parte
CFO/CFS (CDT/Campanha/Sistema Canhão 500 horas (variável
AAA) c/ especialidade)
Cursos de Qualificação
Apoio de Fogos e Introdução ao Targeting 66 horas
Cmd e Ctrl do Espaço Aéreo na ZComb do Exército 83 horas
Calculador GUNZEN MK3 61 horas
Curso Complementar de Topografia 202 horas
Estágio de Tm Armas de Artilharia – Oficiais 31 horas
Estágio de Tm Armas de Artilharia – Sargentos 31 horas
Quadro 1 – Síntese das responsabilidades formativas da EA – Artilharia.

Apesar de este modelo não ser inovador para os Artilheiros, é nova a


realidade da formação em ambiente de Armas combinadas, que embora
ainda numa fase embrionária, são já várias as experiências e oportunidades

8
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

de interação formativa, com as outras Armas a beneficiar dos saberes


específicos da Artilharia e, naturalmente, também a Artilharia a beneficiar
dos saberes e competências da Infantaria, Cavalaria, Engenharia e
Transmissões.
Outra das virtudes deste modelo, é o papel congregador que poderá ter
na uniformização e atualização dos conteúdos programáticos dos cursos,
assim como nas atividades de supervisão das ações formativas junto dos
polos de formação. A Escola das Armas, ao abranger simultaneamente o
nível do planeamento e o da execução, terá certamente uma visão mais
próxima da realidade, a qual possibilitará um fluxo mais célere dos
processos da formação, pois está ciente das dificuldades vividas, porque
também as sente.
Assim, na atual conjuntura, passará a Escola das armas, nas áreas do
saber artilheiros a relacionar-se com os polos de formação pertencentes à
componente operacional do sistema de forças do Exército, como abaixo se
apresenta (fig. 5).

Fig. 5 – A Escola das Armas – ligação em rede com os polos de formação


de Artilharia.

9
REVISTA DE ARTILHARIA

V. ATIVIDADES FORMATIVAS DESENVOLVIDAS NO


ÂMBITO DA ARTILHARIA

A formação das várias


matérias de Artilharia, nesta
nova realidade que é a Escola
das Armas, veio alterar o para-
digma anterior de formação no
seio de uma “unidade pura”, com
um histórico de muitos anos de
experiência, um enquadramento e
corpo formativo que assegurava
algum conforto e flexibilidade à
própria gestão da formação e das
diversas atividades dos cursos.
Esta nova realidade impõe exigências e rigores adicionais, nomeadamente
ao nível do planeamento e programação das diversas atividades dos cursos,
não só porque o volume e variedade das atividades de formação são ímpares
numa única unidade do Exército, mas também porque algumas das
atividades têm a sua execução sustentada nos polos de formação, que
também têm as suas próprias atividades de formação, a sua atividade
operacional e, naturalmente as limitações próprias da atual conjuntura.
Naturalmente que onde se iden-
tificam ameaças e riscos, também
se podem identificar oportunidades.
A virtude está em conseguir con-
verter as primeiras nas últimas e
beneficiar das melhores competên-
cias de cada polo de formação. É
essa a filosofia da Escola das Armas
e da sua relação com as unidades
operacionais.
Embora com esforço adicional
nesta fase embrionária da Escola das Armas, a formação do TPOA e do
CFSA na EA tem mantido e privilegiado uma abordagem essencialmente de
índole prática, quer na aprendizagem de novos conteúdos no âmbito dos
materiais e equipamentos de Artilharia, quer na prática dos conhecimentos
adquiridos na vertente técnica e tática da Arma, com vista à adequada
preparação dos Oficiais e Sargentos de Artilharia para o futuro desempenho
de funções nas várias Unidades de Artilharia de Campanha e Antiaérea.

10
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

No âmbito da Formação Técnica, Tática e Complementar, foram minis-


tradas e praticadas as matérias referentes ao Tiro e Tática de Artilharia,
Topografia, Reconhecimento de Aeronaves, Materiais de Artilharia de
Campanha e Antiaérea, Aquisição de Objetivos, com particular destaque
para a realização de vários Exercícios de Campo com vista à colocação em
prática das Técnicas, Táticas e Procedimentos ao nível da Bateria de Bocas
de Fogo e a preparação dos Tirocinantes para o desempenho dos Cargos de
Comandante de Bateria de Tiro, Chefe de Posto Central de Tiro, Observador
Avançado de uma Unidade Escalão Companhia e Comandante de Pelotão de
AAA e dos Sargentos para os cargos de Calculador, Sargento de Tiro,
Comandante de Secção de Obus e Observador Avançado.
Adicionalmente, foram realizados cinco Exercícios de Fogos de Reais de
Artilharia de Campanha no Polígono do Pólo Permanente do PM 001/Vendas
Novas (RA5) e um Exercício de Fogos Reais de Artilharia Antiaérea na
região de Vieira de Leiria, integrados no Exercício Operacional da Brigada
de Intervenção.
Também no âmbito do apoio
a entidades civis, a Escola das
Armas tem colaborado e apoiado
diversas iniciativas e atividades,
com particular destaque, no caso
da Artilharia, para uma visita
de Alunos do 12º ano, que no
âmbito da Disciplina de Física,
pretendeu complementar as mate-
rias curriculares acerca do movi-
mento de projéteis através da
compreensão e análise de situações reais. Para o efeito, a EA proporcionou
um programa de visita que permitiu aos Alunos adquirir alguns conhecimentos
teóricos adicionais neste âmbito, através de uma sessão teórica de Balística

11
REVISTA DE ARTILHARIA

Externa, de uma exposição estática dos materiais e equipamentos de tiro


indireto que a EA dispõe (Obuses e Morteiros), e da visualização de uma
sessão de tiro real (calibre reduzido) que foi efetuada com recurso a morteiros,
por ainda não dispormos de sistema de simulação de tiro de Artilharia.

VI. AS TRADIÇÕES E A CULTURA ARTILHEIRAS

Um marco importante na atividade das Armas e das respetivas Escolas


Práticas sempre foi, em cada novo ano letivo, a apresentação dos respetivos
Tirocínios Para Oficiais e dos Cursos de Formação de Sargentos. Na Escola
das Armas não foi diferente e, conscientes desta mudança, procurou-se dar
particular destaque e importância a este marco, que representou não apenas
a chegada desses cursos mas também o primeiro dia da sua existência como
Unidade do Exército.
A receção aos TPO e CFS das diversas Armas foi efetuada em
simultâneo, no dia 01 de outubro de 2013, permitindo, contudo que cada
Arma efetuasse atividades que lhe são específicas, na receção aos seus novos
membros. No caso da Artilharia, em respeito à tradição, os Tirocinantes e
Sargentos realizaram as tarefas inerentes à execução de um REOP com a
preparação sumária de um espaldão, reabastecimento de munições, e entrada e
saída de posição com as bocas-de-fogo. As atividades concluíram-se com um
primeiro momento de parti-
lha e união das várias Armas
numa verdadeira comemo-
ração de “Armas Combi-
nadas”. Foi esse momento o
Jantar Convívio de receção
dos Tirocínios e Cursos de
Formação de Sargentos de
2013/2014 que decorreu, no
refeitório dos Frades e Aquar-
telamento de São Januário,
e que contou com a presença
dos Exmos Diretores Hono-
rários das Armas, assim como com os Oficias e Sargentos que à 50 e 25 anos
respetivamente ingressaram também nos seus “tirocínios”, proporcionando-se
de uma forma, eventualmente ímpar um convívio entre diferentes gerações
de militares, que possibilitou a transmissão e troca de vivências e conheci-
mentos, e que seguramente ficou bem marcada na nossa memória.

12
A ARTILHARIA NA ESCOLA DAS ARMAS

Outro marco importante para a Escola das Armas, e em particular para


a Artilharia, foi a passagem pelo primeiro dia de comemoração de uma das
suas Armas: o dia 04 de dezembro – dia da Artilharia, o qual não deixou de
ser assinalado na formatura geral da Escola com a leitura de um texto
alusivo à data comemorativa e a realização de uma exposição estática de
materiais de Artilharia no interior das instalações conventuais.
Por último, no dia 30 de janeiro de 2014, em Vendas Novas, realizaram-se
as tradicionais Provas de Patrulhas General Silveira Machado e Tenente-
Coronel Passos Ramos, para o TPOA e CFSA respetivamente, e onde os
alunos, uma vez mais colocaram em prática os mais variados conhecimentos
adquiridos no âmbito da Educação Física Militar, da Técnica Individual de
Combate, do NBQ, do Material e Tiro de Artilharia de Campanha, e durante
as quais foram ainda testadas a destreza física e intelectual dos
participantes e capacidade de reação perante situações inopinadas.

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS


“O que é verdadeiramente tradicional é a
invenção do futuro.”
Agostinho da Silva

O ritmo a que ocorrem as mudanças na sociedade atual é avassalador.


Deste ciclo de mudança, fazem parte a sociedade, as organizações, as
pessoas, os processos, a formação, enfim, a vida de todos nós. É sabido que a
instituição militar, fruto da sua história, das suas características intrínsecas,
nomeadamente culturais e organizacionais, é tendencialmente resistente
a certas mudanças. Paradigmaticamente, no nosso quotidiano, falamos
permanentemente no futuro, na evolução da doutrina e dos conceitos, na
modernização e atualização dos equipamentos, processos de trabalho e
formação, contudo, nestes momentos de mudança, eventualmente interpre-
tados como uma qualquer ameaça à nossa existência, seguramo-nos
veementemente à tradição, à individualidade e à diferença.
Do que se nos dá a perceber, pelos meses de interação, de partilha e de
convívio passados nesta nova Unidade, não reconhecemos a Escola das Armas
como uma imagem de decadência ou perda de importância, mas antes a de uma
nova vida e uma nova oportunidade para a Artilharia e os Artilheiros, mostrarem,
perante as outras Armas, o seu valor, a sua qualidade e formação de excelência,
e desta forma melhor servirem os interesses da Artilharia e do Exército,
seguramente e sempre honrando a memória, história, valores e tradições da Arma.

13
REVISTA DE ARTILHARIA

A jovialidade da Escola das Armas e, eventualmente, alguma


imaturidade, contrasta com a extinta Escola Prática de Artilharia, que
alicerçada em mais de um século de existência, foi a unidade militar onde se
formaram os quadros da Artilharia durante cerca de 150 anos. Neste século
e meio de existência, a Escola Prática de Artilharia, representou
modernidade, tecnologia, saber nas mais variadas áreas, fez parte de alguns
dos mais marcantes momentos da nossa história, pelo que, a Artilharia, os
seus valores, cultura e tradições estão bem vivas e com um futuro promissor,
agora na Vila de Mafra, na Escola das Armas, sob a divisa “se mostrarão nas
armas singulares”, mas tendo sempre presente o cumprimento da imortal
legenda camoniana “mais afinando a fama portuguesa”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

x Diretiva 55/CEME/13 – CRIAÇÃO DA ESCOLA DAS ARMAS.


REVISTA DE ARTILHARIA
x EME, Programa Funcional da Escola das Armas, fev2013.
x QUADRO ORGÂNICO da EA (MAFRA) NÚMERO 07.03.10, fev 2013.
x Referencial do Curso do Tirocínio para Oficial de Artilharia, 2013.
x Referencial do Curso do Curso de Formação de Sargentos de Artilharia – 2ª
parte, 2013.
x Santos, General Loureiro, Escola Prática de Artilharia – 150 anos de
história (1861-2011), 2011.

14
UMA RECORDAÇÃO DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 778 NA CAPELA DOS ARTILHEIROS

UMA RECORDAÇÃO DO
BATALHÃO DE ARTILHARIA 778
NA CAPELA DOS
ARTILHEIROS
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia
PEDRO MARQUÊS DE SOUSA

Na capela dos Artilheiros em Lisboa, como é conhecida a ermida da


Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião (Irmandade dos
Artilheiros) foi encontrado recentemente o Guião do Batalhão de Artilharia
nº 778. O símbolo desta unidade de artilharia que esteve em Angola entre
1965 e 1967 esteve guardado durante muitos anos numa dependência da
antiga capela e o fato de ter sido agora redescoberto, leva-nos a partilhar
com os nossos leitores a historia desta unidade e a memória dos seus militares.
Este Batalhão de atiradores de artilharia, foi mobilizado pelo
Regimento de Artilharia Ligeira nº 1 de Lisboa (RAL 1) e uma das suas
companhias esteve na região de Bessa Monteiro, zona de intensa atividade
operacional onde esta unidade sofreu algumas baixas: 8 mortos, (um alferes,
um cabo e 6 soldados) e 4 feridos muito graves que ficaram deficientes (um
furriel e 3 soldados) além de diversos militares com outros ferimentos. A
história da unidade foi editada em 1967 num livro que fomos encontrar no
Arquivo Histórico Militar, através do qual podemos compreender porque
razão o guião desta unidade se encontra na capela dos artilheiros. O
comando do Batalhão registou por escrito que esta unidade se colocou sob a
proteção da Senhora da Saúde dos artilheiros de Lisboa, cuja insígnia
gravaram, com orgulho no guião que sempre os acompanhou.

15
REVISTA DE ARTILHARIA

Chegámos à região de Bessa Monteiro, em Angola, a 28 de Maio de


1965. A zona era extremamente perigosa, o que não anulava o nosso
propósito firme de que tudo se normalizasse. As medidas de segurança eram
rigorosas, constantemente relembradas pelo Comando, mas, mesmo assim,
depois de executadas algumas operações e de termos enfrentado o inimigo
nos seus próprios quartéis e de alguma prática adquirida nesse escasso
tempo na Zona de Intervenção do Norte (ZIN), a fatalidade chegou até nós.
Na manhã de 16 de Agosto de 1965, todo o acampamento foi alertado,
devido a notícias recebidas, que a coluna de reabastecimento em deslocação
a Ambrizete havia sido surpreendida por uma emboscada inimiga que durou
perto de três horas. Nela pereceram três militares da Companhia de
Artilharia (CART) 776, três militares do Batalhão de Caçadores 511 e um
voluntário da Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de
Angola (OPVDCA).
O encontro foi brutal, mas conseguimos pô-los em debandada com
algumas baixas e feridos. O firme propósito de bem cumprir apoderou-se de
nós porque teríamos de continuar a obra dos nossos camaradas falecidos no
campo da Honra e por um dever tão nobre como é a defesa da Pátria. Apesar
de tudo, a Companhia de Artilharia 776 não parou de proceder à limpeza e
recuperação da zona que lhe tinha sido confiada.

16
UMA RECORDAÇÃO DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 778 NA CAPELA DOS ARTILHEIROS

O INIMIGO CAIU

Foi no trilho internacional do Congo que as nossas tropas montaram


uma emboscada e com efeitos retumbantes pois que nela caíram umas
largas dezenas de elementos do inimigo que iam para o Congo. Fizeram--se
prisioneiros, além de muito material capturado pelas nossas tropas. A tarefa
que nos estava atribuída não parava, porque todos nós tínhamos o firme
propósito de cumprir.
De novo, a infelicidade apareceu-nos. No dia 5 de Setembro de 1965,
dois grupos de combate tinham saído do aquartelamento às seis horas, a fim
de cumprirem uma missão de nomadização. Eram aproximadamente oito
horas quando apareceu no acampamento a toda a velocidade uma G.M.C
precedida de mais duas viaturas. Esta G.M.C trazia vítimas – os nossos
camaradas, feridos e mortos, devido a uma emboscada do inimigo. Cinco já
não pertenciam ao número dos vivos e feridos eram doze.
Continuámos a lutar pela integridade da Pátria. Os nossos camaradas
mortos no campo da Honra incitavam-nos a continuar. O moral da
companhia não baixou nessa altura, pelo contrário, tudo serviu de incentivo
para todos terem presentes a causa justa por que lutavam.
O pessoal desta unidade era maioritariamente oriundo do centro e norte
de Portugal. O comando do Batalhão e as Companhias de Artilharia 775,
776 e 777 foram mobilizados com vista a render em Angola o Bat. de
Caçadores 443 e as Companhias de Caçadores 426 ,427 e 428. O Comandante
era o TCor Artª Eduardo Pereira Galhardo, o seu 2º Comandante foi o Maj
Artª Luis Santa Marta, o Oficial de Operações era o Cap Artª Victor
Medeiros da Silva, o Of. de Pessoal e Reabastecimentos era o Cap Artª Mário
Graça Malaquias. O Cmdt da CCS era o Cap SGE João Veiga Moura, que foi
depois substituído pelo Cap SGE Joaquim António Guerreiro e os três
Comandantes das Companhias de Atiradores eram os seguintes: Da CART
777 o Cap Art Joaquim Pontes Valagão, da CART 776 o Cap Art José Jorge
Duque e da CART 775 o Cap Art Aurélio de Freitas Lopes.
O pessoal do Batalhão deslocou-se de Lisboa para Luanda no navio
Vera Cruz e após a chegada a Luanda em Maio de 1965, a unidade foi
dividida, ficando o comando do Batalhão na localidade de SALAZAR como
guarnição normal, (com a designação de Batalhão de Caçadores 443) e as
companhias ficaram como Companhias Independentes de reforço à Região
Militar de Angola, tendo estado assim localizadas durante a comissão: A
CART 777 em M´PALA e depois em LUANDA, a CART 776 na Fazenda de
S.PEDRO (BESSA MONTEIRO), QUIMARIA E CAMABATELA e a CART
775 em CALAMBATA e CABAMBE.

17
REVISTA DE ARTILHARIA

As situações que causaram baixas em combate foram, uma emboscada


sofrida no dia 16 de Agosto de 1965 quando uma coluna de reabastecimento
em deslocação a Ambrizete foi atacada pelo inimigo, causando 3 mortos da
Companhia de Artilharia 776, 3 do Batalhão de Caçadores 511 e um
voluntário da Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de
Angola. Também no dia 5 de Setembro de 1965, dois grupos de combate da
CART 776 sofreram uma emboscada que lhes causou 5 mortos e 12 feridos.
REVISTA DE ARTILHARIA

18

18
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A HISTÓRIA DE DOIS
ARTILHEIROS NA PRIMEIRA
GUERRA MUNDIAL
Pelo Major de Infantaria
FERNANDO MANUEL DA SILVA RITA

A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA


GUERRA MUNDIAL

A presença de Portugal na primeira guerra mundial entre 1914 e 1918


ocorreu em locais tão diferentes, como França, Moçambique e Angola. No primeiro
teatro de operações, perante um novo tipo de guerra de características
estáticas, entraram nas trincheiras da Flandres no norte de França, cerca de
55.000 soldados portugueses, num cenário de devastação, desgaste e pesadelo.
No norte de Moçambique, com quatro forças expedicionárias, recuperou-se
a parcela já perdida do território do Quionga, já na posse dos alemães desde
o final do século XIX, e procurou-se também a passagem para norte do rio
fronteira Rovuma, em pleno território inimigo.
Em Angola, na região do baixo Cunene, rio fronteira com a África
Ocidental Alemã, duas forças expedicionárias portuguesas entraram em
confronto com as tropas alemãs, preservando da mesma forma a integridade
desta possessão portuguesa.
Com este artigo despertaremos assim para uma realidade insondada, o
quotidiano da vida em combate das tropas de artilharia desde o ambiente frio e
molhado das trincheiras até ao meio quente e húmido dos terrenos pantanosos do
rio Rovuma, durante a grande guerra. Ao contarmos estas duas histórias, teremos
contribuído de alguma forma para que elas e tantas outras histórias idênticas,
nunca morram, e vivam também na nossa história e na própria lembrança coletiva.

19
REVISTA DE ARTILHARIA

O Quotidiano das tropas portuguesas na Flandres e na bacia do


Rovuma em Moçambique durante a Primeira Grande Guerra.
Fonte: Fundo Iconográfico da Biblioteca da Liga dos Combatentes.

O ARTILHEIRO DA FLANDRES

A história do Artilheiro de Ferme du Bois é o relato da vivência em


combate do soldado servente nº 597, António Antunes Madaleno Júnior. O
nosso artilheiro da Flandres fazia então parte do 5º Grupo de Baterias de
Artilharia do Corpo Expedicionário Português (C.E.P), que permaneceu três
meses e 15 dias na frente de combate. O seu grupo apoiou e fez fogo durante
a batalha de La Lys, sobre o sector de brigada de Ferme du Bois, entre as
4H30 e 12h00 do dia 9 de abril. Comandado pelo tenente-coronel de
Artilharia António Pacheco, o mesmo tinha sido formado com base em três
baterias de um grupo do Regimento de Artilharia nº 1 de Lisboa.
O nosso soldado nasceu em Vale de Figueira no concelho de Santarém a
5 de março de 1893. Filho de António Antunes Madaleno e de Cristina Maria
era trabalhador rural na paróquia de Samora Correia, no concelho de Benavente
onde residia na época com os seus pais. Homem saudável, de rosto arredondado
com barba castanha, tinha os olhos azuis e o seu cabelo era castanho-escuro.
Com um metro e sessenta e dois de altura, foi para a Flandres ainda solteiro
sem qualquer tipo de formação, não sabendo ler, nem escrever, nem contar.
Foi com quase 21 anos, que o trajeto militar de António começou em 13
de janeiro de 1914, data em que foi incorporado no Batalhão de Artilharia de
Guarnição, em Lisboa, de forma a cumprir o seu serviço militar obrigatório.

20
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Por ordem do governo do campo entrincheirado em Lisboa, passou ao


Regimento de Artilharia nº1 sediado igualmente na mesma cidade, fazendo
aqui a sua formação militar na classe de 1914, durante cerca de três meses.
Terminou aqui a instrução de recrutas em 31 de Maio de 1914, ficando
assim preparado para servir o seu país. Continuará no serviço efetivo por
sorteio a partir de Junho de 1914. Finalmente ao fim de um ano de serviço,
em 5 de Junho de 1915, acabou por ser licenciado pela primeira vez,
interrompendo desta forma o serviço militar por mais de um ano. Iria
domiciliar-se na paróquia de Samora Correia, onde residia na época,
voltando a apresentar-se novamente ao serviço em 24 de agosto de 1916.
Mas seria só nove meses depois, em 26 de Maio de 1917, que acabaria por
ser chamado para França para fazer parte do C.E.P., vendo assim o seu tempo de
serviço militar ativo ser aumentado a partir deste momento. Para fora do seu país
partia o então soldado com a placa de identidade 53 159 da 1ª bataria do 5º G.B.A.
(Grupo de Batarias de Artilharia Ligeira), enquanto elemento do referido corpo. Este
grupo era constituído com base na 1ª, 7ª e 8ª bataria do Regimento de Artilharia
nº 1 de Lisboa, unidade territorial à qual pertencia António Madaleno Júnior.
O início da experiência em combate no teatro de guerra francês começou
de forma atormentada para António. Ainda mal se tinha restabelecido da
viagem de barco e comboio que tinha feito até à linha da frente na Flandres,
já o nosso soldado de Artilharia, baixava no dia 2 de Junho de 1917, ao
hospital de campanha nº 51. De acordo com a ordem de serviço nº 24 do 5º
G.B.A. do dia 26 de Junho, recebeu alta deste hospital em 22 do mesmo mês,
apresentando-se na sua unidade em 25 de Junho.
Passados poucos dias, recebeu ordem no dia 7 de Julho para prestar serviço
na condição de diligência em outra unidade de artilharia ligeira do C.E.P.
Foi caso o 1º G.B.A., primeira unidade de artilharia a entrar em atividade
na frente de combate da Flandres. Foi no dia 29 de abril de 1917 que este
grupo ocupou posições com a sua 1ª bataria, comandada pelo capitão António
Roxanes de Carvalho Júnior, no sector de Ferme du Bois em apoio da 1ª
brigada de infantaria da 1ª divisão do C.E.P., com duas peças em posição na
noite de 1 para 2 de Maio de 1917 e na noite seguinte com as restantes. Será
também no dia 3 de Maio pelas 15 horas, pela boca das peças do 1º G.B.A.,
que a artilharia portuguesa fará o seu batismo de fogo sobre os alemães,
efetuando o seu primeiro tiro em combate.
O nosso artilheiro prestará então serviço neste grupo durante três
meses, ocupando posição continuamente, no sector de Ferme du Bois, em
apoio da 1ª brigada de infantaria da 1ª divisão do C.E.P. Durante os primeiros
dias de agosto, António suporta com os camaradas deste grupo vários
bombardeamentos com projéteis de 15 e 21 cm, o que ocasionou na altura

21
REVISTA DE ARTILHARIA

algumas avarias no material e explosões nos paióis de munições da unidade.


Tudo acabaria por mudar na segunda quinzena de agosto e até ao final da
sua diligência. Neste período a posição onde se encontrava acabou por não
ser muito importunada, embora tivessem sido satisfeitos frequentes pedidos
de S.O.S. de unidades de infantaria da frente, nos últimos dias de setembro.

A artilharia em ação e deslocamento no campo de batalha da Flandres.


Fonte: Fundo Iconográfico da Biblioteca da Liga dos Combatentes.

Apresentando-se novamente na sua unidade em 12 de outubro de 1917,


acabou por baixar à Ambulância nº 8 em 22 de Novembro, de onde teve alta
em 29 de Novembro apresentando-se na sua unidade no mesmo dia, de
acordo com a ordem de serviço nº 180 do 5º G.B.A. do dia 30 desse mês.
Por esta altura, em 26 de Novembro a 2 ª divisão do C.E.P., apesar de
bastante incompleta, iria entrar pela primeira vez em 1ª linha, assumindo
na altura o sector de Fauquissart, onde a sua 6ª Brigada de Infantaria
substituiria a 3ª Brigada da 1ª divisão. Mais tarde em 11 de Dezembro, foi
atribuído outro sector ao C.E.P., pelo comando inglês, neste caso o sector de
Fleurbaix, a que foi atribuída a 5ª brigada da 2ª divisão. Esta situação iria
durar, como já referimos, apenas dez dias, pois o comando inglês verificou

22
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

que com as tropas da 1ª divisão fatigadas e com a 2ª divisão incompleta, não


era prudente com elas guarnecer uma frente tão extensa, ordenando que a
38ª divisão inglesa voltasse a ocupar novamente o sector de Fleurbaix.
O C.E.P. regressou assim aos limites anteriores, com a criação de um novo
sector, o de Chapigny à direita do de Fauquissart. Desta reorganização resultou
que a 2ª divisão manteve a 6ª brigada em Fauquisart, passando a 5ª brigada para
o novo sector em Chapigny. A 1ª divisão ficava por sua vez com a 2ª brigada em
Neuve Chapelle e com a 4ª brigada também na sua composição em Ferme du Bois.
Foi nesta ocasião que entraram na frente de combate já organizados o
6º G.B.A. e o grupo do nosso combatente, ficando a artilharia ligeira
distribuída com o 2º, 3º e 6º G.B.A. em apoio da 2ª divisão e o 1º, 4º e 5º
G.B.A. em apoio da 1ª divisão. No sector aliado, e apesar da planície do Lys
ser muito aberta, as posições de artilharia estavam bem dispersas e
dissimuladas da observação terrestre e aérea, aproveitando para o efeito as
árvores, sebes e outros meios de camuflagem, existentes na região. Foi este
enquadramento do seu grupo entre os sectores de Neuve Capelle e Ferme du
Bois, que o nosso militar foi encontrar quando recebeu alta no dia 29 de
Novembro de 1917, e foi assim que o mesmo se manteve até 5 de abril de
1918, poucos dias antes da Batalha de La Lys.
Mas os problemas de saúde do nosso soldado não lhe deixaram cumprir
a missão com o seu grupo até ao fim. Em 21 de Fevereiro já baixava
novamente à Ambulância nº 3 em Vieille Chapelle e, devido à gravidade dos
ferimentos, seria evacuado no dia seguinte para o Hospital de Sangue nº 1
(H.S.1) em Merville. No dia 23 de Fevereiro o agravamento do seu estado
clínico, prolongava a sua evacuação para os órgãos hospitalares da zona da
retaguarda, neste caso o Hospital de Base nº 2 (H.B.2) em Ambleteuse.
Passados três dias o nosso combatente acabou por ter alta deste hospital,
sendo encaminhado posteriormente para o depósito misto, comandado pelo
Major de artilharia João Luiz Carrilho, onde ficaria adido em convalescença
e sob tratamento na sua 6ª secção, de acordo com a ordem de serviço nº 57 do
Depósito Misto de 26 de Fevereiro de 1918. Mas durante o período de
convalescença a sua situação voltou a piorar e baixou mais uma vez ao
hospital da base nº 2, onde ficou internado a partir do dia 1 de março de
1918, num período de tratamento que se prolongou por mais de um mês, até
ao dia 11 de abril, data em que se apresentou novamente no depósito misto.
Aqui permaneceu em processo de recuperação durante cinco dias, tendo
recebido ordem para regressar à sua unidade, só no dia 16 de abril de 1918,
onde se apresentou de acordo com a ordem de serviço nº 92, do 5º G.B.A. no
dia seguinte, já depois dos acontecimentos da batalha de La Lys. Tinham
passado praticamente dois meses, desde a sua evacuação e o seu grupo, que

23
REVISTA DE ARTILHARIA

tinha apoiado o sector de Ferme du Bois durante a batalha, estava comple-


tamente desarticulado. Só a sua bataria tinha perdido três peças e sofrido
mais de 50% de baixas em pessoal, entre mortos, feridos e prisioneiros, onde
se incluía o seu comandante de bataria, o capitão Brás de Oliveira.
António acaba por se apresentar num período que seria de profunda
reorganização da artilharia ligeira portuguesa na Flandres, logo após a
intensa batalha de La Lys. Apto para combater, foi colocado no 4º grupo de
baterias de artilharia cuja reorganização tinha sido iniciada pelo C.E.P. a
partir de 14 de abril, a propósito de um pedido do alto comando inglês, para
o mesmo ser incorporado numa divisão inglesa. Esse grupo que esteve em
reserva durante a batalha assentaria a sua reorganização ao completar três
das suas batarias com o pessoal e o gado que lhe faltava, à custa do 3º e 5º G.B.A.
Desta forma António, após uma atribulada passagem por diferentes
hospitais no teatro de guerra, retomou aqui a sua atividade em combate,
servindo mais uma vez num outro grupo de batarias da artilharia ligeira,
para além do seu. Mas seria curta a sua permanência nesta campanha. Logo
no dia 23 de Maio de 1918, após um violento bombardeamento alemão sobre
a sua posição, com a destruição de algumas peças da sua bataria, António
saiu gravemente ferido, sendo-lhe amputado um braço! Sofreu assim o seu
maior revés em combate, que lhe deixaria marcas para a vida e o tornaria
num dos muitos mutilados de guerra.
Com um período de restabelecimento superior a duas semanas, seria
evacuado diretamente para o H.B.2 logo nesse dia, recebendo uma alta
especial no dia 27 de Maio que o repatriava definitivamente para Portugal
para efeitos de tratamento, de acordo com os termos da circular nº 475 / 11
do H.S.1 do Quartel-general do Corpo (Q.G.C.) do dia 25 de Maio de 1918.
Do hospital seguiu então para o porto de desembarque em Brest, logo no dia
28 de Maio, onde acabou por permanecer quase três meses até ao dia 22 de
agosto. Foi nesta data que finalmente embarcou para Portugal a bordo do
transporte inglês Kursk, desembarcando em Lisboa no dia 26 de agosto de 1918,
precisamente um ano e três meses depois de ter embarcado para França.
Nesse mesmo dia deu entrada no Instituto Médico Pedagógico da Casa
Pia de Lisboa, também conhecido por Instituto de Santa Isabel, onde
permaneceu até ao dia 11 de Junho de 1919. Deste local foi transferido no
mesmo dia, para o Instituto Militar de Arroios para a Reeducação dos
Mutilados de Guerra, praticamente dez meses depois de ter regressado de
França. Esta organização fundada em 11 de abril de 1917, pela comissão de
assistência aos militares mobilizados da cruzada das mulheres portuguesas,
de que era presidente Ester Norton de Matos, tinha como responsável e
principal dirigente o capitão médico Alfredo Tovar de Lemos.

24
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Situado na calçada de Arroios, este instituto recebia, como aconteceu


com o nosso militar, os mutilados regressados da grande guerra de França e
África, que seriam colocados numa primeira fase no Instituto Militar
Pedagógico. Passavam depois por estas instalações, onde seriam avaliados,
sujeitos a diferentes tratamentos, devidamente aparelhados, e submetidos a
uma reeducação profissional e social para que no futuro fossem colocados
profissionalmente no mercado de trabalho, segundo as novas leis propostas.
Sendo concebido como instituição temporária, esteve aberto apenas até
1922, data em que foi encerrado. O nosso soldado permaneceu neste local
cerca de seis meses, num processo de adaptação à nova realidade que o
esperava. Depois de terminados os tratamentos foi transferido para o
Regimento de Artilharia nº 3, com sede em Santarém, onde recebeu a licença
do serviço militar obrigatório em 25 de Dezembro de 1919, um ano e quatro
meses depois de ter regressado de França.
Tornou a Samora Correia, terra onde residia com os seus pais antes de
embarcar para a Flandres, onde acabou por trabalhar e viver o resto dos
seus dias, da melhor forma que pôde, apesar das limitações que tinha
herdado da guerra. António Antunes Madaleno Júnior seguiu com a sua
vida, sempre sujeito a apresentações periódicas no quartel em Santarém até
aos 45 anos. A sua folha de matrícula atesta as várias idas ao quartel na sua
área de residência com tal desígnio. Esta ligação com a instituição durou até
ao dia até ao dia 31 de Dezembro de 1942, data em que baixou de todo o
serviço por ter completado a sua obrigação, já praticamente com 50 anos.

Ficha do Corpo Expedicionário Português e Folha de Matricula do


Soldado António Madaleno Júnior.
Fonte: Arquivo Geral do Exército; Processo nº 25 740, do Fundo da Grande Guerra.

25
REVISTA DE ARTILHARIA

O ARTILHEIRO DE MOÇAMBIQUE

O artilheiro de Nangadi pertencia à 6ª bataria do Regimento de


Artilharia de Montanha de Évora, comandada pelo capitão Abel Nunes
Perestrelo de Vasconcelos. Sendo destacado para Moçambique, seguiu
viagem para a dita província em 15 de Fevereiro e desembarcou com a sua
bataria em Lourenço Marques em 16 de março. Júlio da Fonseca da Rita,
que nasceu na paróquia de Vale de Figueira no concelho de Santarém em 5
de Dezembro de 1895, começou por ser incorporado no Regimento de
Artilharia nº1 em Lisboa em 12 de janeiro de 1916, onde ficou pronto da sua
recruta em 5 de Junho de 1916, tendo sido finalmente transferido para o
Regimento de Artilharia de Montanha com o nº 514 a menos de um mês de
embarcar para Moçambique.
Fazia aqui parte da bataria do regimento com menos missões no
ultramar, razão pelo qual foi mobilizada neste período com mais um
batalhão de infantaria, uma bataria de metralhadoras e um esquadrão de
cavalaria. Júlio Fonseca da Rita era um cabo que fazia parte de um grupo de
vinte cinco primeiros-cabos duma bataria que tinha ainda mais seis oficiais,
um 1º sargento, treze segundos sargentos, 163 segundos cabos e soldados,
dois ferradores, três clarins, um serralheiro ferreiro e mais um seleiro correeiro.
Chegou a Moçambique numa época imprópria para operações e das
piores para a saúde, quando estavam igualmente suspensas as operações da
terceira expedição que atuava na zona de combate. Foi então ordenado pelo
comando superior das forças em operações, que na ocasião era o governador-
geral da província, para que a bataria e o resto do destacamento seguisse
para Goba, posto fronteiriço da província de Lourenço Marques na época,
atual Maputo, que ligava e liga o país ao estado da Suazilândia. Embarcando
em 17 de março em caminho de ferro, chegou ao local de destino nesse mesmo
dia. Aqui se manteve, preparando-se para a campanha que iria começar nos
últimos meses de 1917 e que seria a quarta e última expedição a entrar em
combate em Moçambique. Para o efeito Júlio regressou em 6 de setembro de
1917 com os seus camaradas a Lourenço Marques e aqui embarcou com destino
a Mocímboa da Praia onde chegou no dia 13 de setembro de 1917.
Já na zona de combate em 27 do mesmo mês foi destacado para
Chomba, de forma a reunir-se ao grosso das forças da 4º expedição que ali se
encontravam, para passar à ofensiva. Em 12 de outubro de 1917 o nosso
cabo avançou então com uma divisão da sua bataria para Nangadi,
comandada na altura pelo Alferes Vasconcelos de Sá da qual fazia parte o
Alferes Luís de Sousa. Esta parte da bataria foi destacada para este local de
forma a ser incorporada numa coluna de operações, que por Secumbiriro

26
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

devia passar à ofensiva penetrando de acordo com os planos do comandante da


expedição na colónia alemã, sob o comando do Major Aristides Rafael da Cunha.
Mas a situação inverteu-se, na designada terceira fase da campanha
moçambicana, o inimigo invadiu o território português em Novembro de
1917. Os alemães passavam agora à ofensiva sob o comando do tenente-
coronel Von Lettow. O mesmo tinha saído de Nevala com 2 200 homens
armados, dos quais 300 eram europeus e os restantes indígenas, aos quais se
juntavam os carregadores. A força organizada em 15 companhias dispunha
de bastantes metralhadoras e algumas peças de artilharia. Atravessando o
rio Rovuma em 25 de Novembro, no mesmo dia atacou o posto de fronteira
de Negomano, comandado pelo Major Teixeira Pinto. Nessa ação enquanto
parte da força atacava o dispositivo português voltado a norte, três
companhias mascaradas pelo arvoredo progrediram para sul numa manobra
envolvente. Depois desta manobra e perante o ataque final de doze
companhias alemães, foi fácil aos alemães dominarem as seis companhias
portuguesas que estavam nessa posição defensiva. Nesse ataque morreram
5 oficiais, entre os quais o Major Teixeira Pinto, 14 praças europeias e 208
indígenas, houve ainda 70 feridos e 550 prisioneiros.
Após o sucesso do inimigo neste ponto-chave da defesa da fronteira, foi
então dada ordem às nossas tropas pelo alto comando inglês, para se
conservarem na defensiva, mantendo-se a divisão de artilharia de Júlio com
essa postura em Nangadi, até 10 de Dezembro de 1917. Nessa mesma data
iria retirar para Nacature, posição um pouco mais a sul, numa região de terreno
ondulado e bosque denso, nas proximidades de Chomba, onde se encontrava
já o resto da bataria, que desde 4 de Dezembro tinha retirado desta povoação.
Em 1 de janeiro de 1916 deslocou-se a bataria completa novamente para
Mocímboa da Praia onde acabou por permanecer durante mais de um mês.
Após a queda das posições defensivas da Serra Mecula em 8 de Dezembro
de 1917, que cobriam a linha de comunicações e garantiam os reabastecimentos
e reforços dos postos fronteiriços portugueses do médio Rovuma, criaram-se
condições para os alemães se internarem ainda mais profundamente em
território português.
Entre janeiro e março já operavam e atacavam os postos portugueses
desde a foz do rio Lúrio até à posição de Entre Rios, situada entre o Lúrio e o
rio Molocué. Por esta razão em 14 de Fevereiro, uma divisão comandada pelo
Alferes Luís de Sousa embarcou a partir de Mocímboa para a Ilha de Moçambique,
de forma a poder seguir para Nampula, povoação situada no interior e a sul
do rio Lúrio, onde estacionava no dia 15 de Fevereiro. Em 1 de março seguiu
Júlio da Fonseca Rita com o resto da bataria para o mesmo local, reunindo-
se finalmente com toda a sua bataria nessa posição em 9 de março de 1918.

27
REVISTA DE ARTILHARIA

Em 28 de Maio uma outra divisão da bataria comandada repetidamente


pelo Alferes Luís de Sousa e onde seguia Júlio Rita, partia de Nampula para
a posição de Ribaué nas proximidades do posto de Umpuúa, de onde regressou
em 18 de Julho de 1918. Avançava com o intuito de auxiliar a resistência
portuguesa que se fazia sentir nas posições de Entre Rios, Umpuúa e Lugela
e simultaneamente apoiar as operações aliadas que procuravam bloquear nesta
região o avanço alemão ao longo do rio Malocué em direção a Quelimane.
O nosso artilheiro acabou por regressar novamente a Nampula depois
de outro combate determinante, agora entre tropas aliadas e os alemães. O
conhecido combate de Namacurra que decorreu entre 1 e 3 de Julho de 1918
constituiu mais uma ação defensiva desastrosa para os aliados, atingindo os
alemães neste período a posição mais a sul, em território moçambicano. Este
episódio foi a última ação importante da expedição em que esteve envolvido
o nosso militar, comandada na altura pelo coronel Sousa Rosa, que em 7 de
Julho já tinha regressado à metrópole.
No entanto Júlio e a sua bataria acabariam por ficar mais uns tempos
em Moçambique. No estacionamento de Nampula iriam permanecer até ao
dia 12 de agosto, data em que a bataria retirava para a povoação do
Mossuril junto à ilha de Moçambique, onde iria permanecer até ao dia do
armistício e do final da guerra. Depois deste estacionamento regressou a
Lourenço Marques onde em 20 de Dezembro embarcaria para a metrópole,
chegando a Lisboa no dia 14 de janeiro de 1919.
Logo após ter recebido licença de serviço militar obrigatório em 28 de
Fevereiro de 1920, mais de um ano após ter regressado de Moçambique, foi
transferido com o nº 4878 para o Regimento de Artilharia nº 3 em Santarém.
Trabalhou e viveu o resto dos seus dias como trabalhador rural na paróquia
de Vale de Figueira, sempre sujeito a apresentações periódicas no quartel de
Santarém. Esta ligação com a instituição durou até ao dia até 31 de
Dezembro de 1944, data em que baixou de todo o serviço militar por ter
completado a sua obrigação.
Neste artigo contámos a história de vida de dois soldados de artilharia,
que combateram no campo da Flandres e na bacia do Rovuma. No fundo,
duas vivências de guerra, que tem aspetos comuns com tantas outras
experiências, mas também com algumas diferenças que as tornaram tão
peculiares. Coube-nos a nós desta forma, dá-los a conhecer, recordá-los e
arrancá-los do descanso dos arquivos onde muito tempo permaneceram. A
sua história até agora desconhecida constituirá uma evocação de muitas outras
histórias que aqui não se podem contar. Constituindo estes relatos, apenas
uma pequena parte da história de uma grande maioria de combatentes
anónimos da arma de artilharia, que combateram na primeira grande guerra.

28
A HISTÓRIA DE DOIS ARTILHEIROS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Folha de Matricula do Primeiro Cabo Júlio da Fonseca da Rita à esquerda, ao centro


a artilharia em ação no campo de batalha de Moçambique, e por último à direita,
uma fotografia recente do antigo posto militar português do Mossuril, onde esteve
estacionada a bataria do nosso cabo.
Fonte: Arquivo Geral do Exército; Fundo Iconográfico da Biblioteca da Liga dos Combatentes;
Foto do Autor.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

1. Fontes Manuscritas
Arquivo Geral do Exército (AGE)
Folhas de Matricula:
Soldado António Antunes Madaleno Júnior; Processo 25 740 / 1º Cabo Júlio da
Fonseca da Rita; Processo 28 032.
Arquivo Histórico Militar (AHM)
2ª Divisão / 7º Secção/ Caixa 43/ Doc nº 1. Relatório do Coronel Sousa Rosa, Comandante
da 4ª Expedição Militar a Moçambique / Operações; datado de 4 de Outubro de 1915;
Fichas do Corpo Expedicionário Português (Serviço de Estatística):
Soldado António Antunes Madaleno Júnior.
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU):
Assentamentos de Praças de Praças de Pré que vão servir na Expedição de
Moçambique; 3 Livros; Cotas: 542/543/663 1B.

2. Fontes Impressas
Testemunhos, Memórias e Relatórios:

BRUN, Major André, A Malta das Trincheiras: Migalhas da Grande Guerra, 1917-
1918, Lisboa, Guimarães Editores, 1923.

29
REVISTA DE ARTILHARIA

CASIMIRO, Capitão Augusto, Nas Trincheiras da Flandres; Porto, Edição da


Renascença Portuguesa, 1918.
COSTA, General Gomes da, O Corpo de Exército Português na Grande Guerra, A
Batalha do Lys, (9 de Abril de 1918), Porto, Editores Renascença Portuguesa, 1920.
COSTA, Tenente Mário, Cartas de Moçambique, Lisboa, Edição de Autor, 1934.
COSTA, Tenente Mário, É o inimigo que fala: Subsidios Inéditos para o estudo da Campanha
da África Oriental; 1914-1918. Lourenço Marques, Imprensa Nacional, 1932.
MAGNO, Capitão David, Les-Lobes: Derradeira Resistência Portuguesa na batalha
de La-Lys, (Memórias), Tipografia de Impressos Explicativos, Tarouca, 1967.
MAGNO, Capitão David, Livro da Guerra de Portugal na Flandres: Descrição militar
histórica do C.E.P. Recordação das trincheiras, da batalha e do cativeiro.
Figuras, factos e impressões. Companhia Portuguesa Editora, Porto, 1921.
MARTINS, Coronel E. A. Azambuja, Expedição a Moçambique, Tipografia Minerva,
Lisboa, 1935.
MARTINS, Coronel E. A. Azambuja, O Soldado Africano de Moçambique, Divisão de
Publicações e Biblioteca da Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1936.
MINISTÉRIO DA GUERRA, Monografia do Regimento de Artelharia de Montanha
durante a Guerra, 1914-1918; Lisboa, Imprensa Beleza, 1921.
OLIVEIRA, Major J. Braz de, O Exército Português em a Grande Guerra: Scenas e
Factos; Paris, Lisboa, Tipografia da Emprêsa Diário de Noticias, 1924.
PIRES, Capitão António J., A Grande Guerra em Moçambique; Porto, Edição do Autor, 1924.
SANTOS, Capitão Correia dos, Lições da Grande Guerra; Lisboa, Tipografia da
Cooperativa Militar, 1916.
SELVAGEM, Carlos, Tropa D’ África; Lisboa, Edição Renascença Portuguesa, 1919.
VALDEZ, Abel Joaquim Travassos, O 4º G.B.A. na Grande Guerra; Lisboa, Imprensa
Beleza, 1936.

Documentos Oficiais:
Ordens do Exército; 1ª Série (1914/1918). Corpo Expedicionário Português,
Organização, Parte I, França, 1919; Funcionamento dos Diversos Serviços, Parte II,
França, 1919; Serviço Interno nas Unidades e Formações, França, 1919. Coleção
dos Boletins Militares das Colónias, (1914-1918), Lisboa, Imprensa Nacional.

Publicações Periódicas:
Almanaque do Exército; Lisboa, (1914-1918) / Ilustração Portuguesa; Lisboa, (1914-1918).
Revista Militar; Lisboa, (1914-1923) / Revista “A Guerra” da Liga dos Combatentes da Grande
Guerra; Lisboa; (1926-1936); Cadernos Coloniais, Edições Cosmos, Lisboa, (1939).

3. Bibliografia

RITA, Fernando, Na Sombra do Expedicionário; A Vida em Combate de Militares


Portugueses na Primeira Guerra Mundial, Fronteira do Caos Editores, Porto, 2013.

30
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

O COMANDO, CONTROLO E
COMUNICAÇÕES NA
ARTILHARIA DE CAMPANHA
O Caso do GAC/BrigMec
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia
LUÍS MANUEL GARCIA DE OLIVEIRA

1. INTRODUÇÃO

A capacidade da Artilharia de Campanha (AC) executar o Comando,


Controlo e Comunicações (C3) com o seu escalão superior, elementos
subordinados, forças apoiadas e de apoio é talvez o fator mais importante no
cumprimento da sua missão. O C3 deve ser considerado como o fator crítico
no planeamento e execução de qualquer operação tática. O Sistema
Automático de Comando e Controlo (SACC) permite ao Comandante a
integração do Comando, Controlo, Computadores, Comunicações e Informações
(C4I), proporcionando-lhe a informação precisa e atempada, com base na
qual baseia a sua decisão.
A missão secundária do SACC, é ser interoperável com outras áreas
funcionais do Campo de Batalha (CB), de modo a fornecer informação
relativa ao Apoio de Fogos em apoio à missão da força, permitindo ao
Comandante ter uma visão global, assegurando a troca de informação
necessária entre os elementos de Estado-maior, no planeamento e condução
de operações táticas, tendo ainda a capacidade de fornecer meios
automatizados para a condução do treino individual e coletivo.

31
REVISTA DE ARTILHARIA

O SACC auxilia o Comandante na aplicação e integração de todo o


Apoio de Fogos no CB, através do emprego de quatro subsistemas: o
Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS), o Battery
Computer System (BCS), o Forward Observer System (FOS) e o Gun Display
Unit – Replacement (GDU-R). Estes quatro subsistemas equipam os vários
elementos e órgãos de planeamento, coordenação e execução do Apoio de
Fogos, suportando cinco áreas fundamentais:

 Planeamento do Apoio de Fogos, integrando os vários meios, no


conceito de manobra do Comandante da força apoiada e ajudando na
elaboração dos diversos documentos de Apoio de Fogos;
 Execução do Apoio de Fogos, facilitando o empenhamento e localização
dos meios de Aquisição de Objetivos, processamento da informação
recolhida, análise dos sistemas de ataque disponíveis e avaliação de
danos nos objetivos;
 Controlo de Movimentos, gerindo e coordenando o movimento das
unidades de AC e dos meios de Aquisição de Objetivos;
 Apoio Logístico à AC, criando e mantendo registos dos “stocks”
(Combustível e Munições) e os relatórios associados;
 Direção Técnica do Tiro, incluindo a recolha e registo da informação,
como o estado das unidades de tiro e o consumo de munições.
(SANTOS e SEATRA, 2011).

2. TRANSMISSÃO DE DADOS E ARQUITECTURA DO SACC

Devido ao GAC/BrigMec não ter recebido os rádios GRC-525, o SACC,


após o “Sell-Off” em 2007, foi apenas esporadicamente utilizado com meios
filares, sendo as dificuldades e fiabilidade na operação com o sistema tais,
que essas iniciativas não tiveram sequência.
Após os testes de comunicações com o rádio RT 425 em 2012, os quais
permitiram, pela primeira vez estabelecer comunicações rádio entre
AFATDS no GAC/BrigMec, foi solicitado o fornecimento dos equipamentos,
necessários para uma Bateria de bocas-de-fogo (Btrbf), bem como de toda a
estrutura de Apoio de Fogos ao nível Brigada, Batalhão e Posto de Comando/
Posto Central de Tiro (PCmd/PCT) do GAC.
A ligação rádio entre o PCT e os GDU das bocas-de-fogo (bf), foi também
considerada pela primeira vez, situação essa permitida pelo Obus M109A5 e
que traz naturalmente, enormes vantagens à Bateria de Tiro.

32
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

Nos exercícios ONÇA e ROSA BRAVA no final de 2012, utilizaram-se os


rádios RT-425 na ligação de todos os subsistemas, desde o OAV até à Secção,
tendo sido utilizado o AFATDS em substituição do BCS no PCT da Btrbf, no
cálculo dos elementos de tiro.
Desde logo, foi detetado a necessidade de se efetuar alguns reajustes e
adaptações. Efetivamente, embora se tenha montado os rádios 425 nos
M109A5 desde então, devido ao facto das comunicações internas do Obus
serem da família AN-VRC, o Comandante de Secção não consegue falar em
deslocamento com o condutor e simultaneamente ao rádio, aguardando-se
pela mudança das comunicações internas, apenas pendente pela entrega dos
equipamentos à unidade.

3. DIREÇÃO DO TIRO

Em virtude da versão do AFATDS que equipa a AC portuguesa ser a


versão 6.3.1, a qual integra pela primeira vez as capacidades de ambas as
componentes da Direção do Tiro, e de dispor das tabelas de tiro para o
M109A5, o GAC/BrigMec tem utilizado o AFATDS, desde a sua imple-
mentação com meios rádios, nos PCT das suas Btrbf, baixando pela primeira
vez em Portugal a Direção Tática do Tiro ao escalão Bateria.
Esta utilização acarreta um conjunto de possibilidades que agora são
disponibilizadas numa Btrbf, mas também dificuldades. Em relação ao BCS,
este poderá ser utilizado no COB da Btrbf como PCT de alternativa. Logicamente,
esta utilização só é possível, devido à não utilização em simultâneo de todos
os órgãos e Btrbf do GAC, pois o número de equipamentos AFATDS, não
foram inicialmente planeados para esta utilização específica.
O AFATDS substituiu o BCS nas unidades de tiro, providenciando as
capacidades essenciais que este equipamento possuía, melhorando simultâ-
neamente as comunicações, a flexibilidade operacional e a apresentação
gráfica das informações. A Versão 6 do AFATDS apresenta a mesma
informação que o BCS em duas janelas do ambiente de trabalho: “Fire
Control Status” e “Weapon Status”.
Esta versão permite ainda ao operador rever, e se necessário modificar,
o resultado da Direção Técnica do Tiro desenvolvida pelo AFATDS, recalculando
os elementos de tiro, antes destes serem enviados para as bf. Permite ainda,
monitorizar a variação de velocidade inicial da bf, máscaras e cristas
intermédias, bem como os dados relativos a regulações de precisão. Este
equipamento, interliga-se com o M109A5 através do GDU-R, tal como o BCS
o faz, enviando o comando de tiro, via TPF, ou como se implementou no
GAC/BrigMec, via rádio.

33
REVISTA DE ARTILHARIA

No processamento das missões de tiro, os Intervention Points (IP) 1 ,


devem ser utilizados com alguma ponderação. O AFATDS, processa uma
missão de tiro automaticamente de acordo com as orientações do
Comandante, oferecendo uma solução, no entanto a decisão final será
sempre do operador. Os OAF e o PCT/GAC devem utilizar os IP para alterar
ou negar as missões de acordo com as diretrizes superiores. Em situações de
treino, conforme as orientações do Comandante, as unidades podem
estabelecer “guidances” 2 adicionais. As orientações estabelecidas nos OAF
não deverão, em princípio, ser estabelecidas ao nível do PCT de uma Btrbf,
se o PCT/GAC estiver integrado na missão de tiro, porque este último já
deverá ter efetuado a decisão tática ao seu nível, antes de a missão de tiro
prosseguir para a Bateria. O IP para a decisão tática só fará sentido na
Bateria ou Pelotão, quando os pedidos de tiro forem enviados diretamente do
OAV, Radar ou outro tipo de sensor. Na situação anterior o PCT/Btrbf
deverá aceitar simplesmente a recomendação no seu IP.
Durante o processamento de uma missão de tiro, surgirá um IP e a
missão aparecerá na janela de intervenção. Esta janela, é onde o OAF e/ou
PCT verá a recomendação de tiro do AFATDS. Antes de aceitar a
recomendação, deverão ser analisadas as opções de ataque disponíveis.
Se o OAF não aceitar a recomendação, pode selecionar outra solução
para o envio dessa missão. Na Bateria, se a recomendação não for aceite pelo
Chefe do PCT, este pode selecionar outra solução ou efetuar um novo IP com
as “suas” condições (o facto de ter uma arma INOP, por exemplo). O
AFATDS recalculará os elementos de tiro quando o operador lhe indicar
outra solução, que não a recomendada.
O circuito de missões de tiro foi implementado no GAC/BrigMec de
acordo com o utilizado no curso de formação inicial ministrado pelos formadores
da Raytheon 3 . Segundo este circuito, os pedidos de tiro iniciados no OAV,
passam por todos os AFATDS dos órgãos intervenientes no tiro de artilharia
(OAV => OAF/Bat => OAF/Brig => PCT/GAC => PCT/Btrbf). O grau de
centralização ou descentralização do tiro é definido pela existência, ou não
de IP nos diferentes AFATDS e das condições definidas nesse IP. No maior
grau de descentralização possível, não existem IP definidos em nenhum
AFATDS da rede. Neste caso os AFATDS recebem, analisam, aprovam/

1 Momento em que uma decisão tática é exigida para que a missão possa prosseguir. Estes IP
podem ser implementados ao longo dos órgãos intervenientes numa missão de tiro, de forma a
acelerar, ou condicionar uma missão de tiro.
2 Guidance – Orientações de Comando referentes ao processo de Targeting, priorização da aplicação

dos sistemas de armas, restrições ao uso de armas ou munições, etc…


3 Raytheon – empresa Norte-Americana que forneceu os equipamentos do SACC.

34
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

desaprovam e alteram os pedidos de tiro sem qualquer intervenção humana,


sempre de acordo com as orientações do Comandante definidas no início da
operação. No menor grau de descentralização possível, existem IP definidos
em todos os AFATDS da rede com a condição de intervenção humana em
todos eles. Nesta situação, todos os operadores de AFATDS intervêm na
análise, aprovação/ desaprovação e alteração dos pedidos de tiro. Num grau
de centralização intermédio podemos ter, por exemplo, IP em todos os
AFATDS da rede, mas com a condição de intervenção humana apenas
quando há a necessidade de efetuar coordenação dos fogos com outra
entidade (violação de uma MCAF 4 detetada) (FELICIANO, 2013).
A única limitação que o AFATDS apresenta em relação ao BCS, é o de
que ao contrário do BCS, no qual se consegue ir acompanhando as correções
ao tiro enviadas pelo OAV, no AFATDS, após o primeiro tiro, o operador
apenas tem acesso aos elementos de tiro já calculados, obstando assim que
se possa acompanhar uma missão de tiro através do cálculo manual, fazendo
face a uma eventual falha do sistema automático. Perante esse facto,
estudaram-se possíveis ações que limitassem ou resolvessem esse aspeto,
tendo chegado a admitir-se o envio de mensagens “free text” dos OAV para os
AFATDS, tendo-se no entanto verificado que imprimindo os comandos de
tiro, a correção ao tiro era também impressa.
A segurança do tiro no AFATDS não é efetuada da mesma forma que no
cálculo manual (Diagrama e “T” de Segurança). No AFATDS, a segurança é
obtida através do somatório de várias ações, que contribuem em simultâneo
para o objetivo final: não ser possível efetuar tiro para o exterior de uma
determinada área de impactos. Assim, para cada posição de Artilharia e de
acordo com o material, é criada uma limitação em direção e alcances
(mínimo e máximo), além do que se efetua uma “No Fire Area” ao redor da
caixa de impactos. Estas duas medidas, fazem com que, se não existirem
erros nos dados introduzidos, seja impossível efetuar tiro para o exterior
dessa área. Nos Obuses, os Comandantes de Secção continuam a usar o “T”
de segurança, bem como naturalmente no PCT da Btrbf, para confrontar
com o sistema automático.
Esta versão do AFATDS, tal como o BCS, ou outro sistema automático
de dados, exige que seja ministrada a formação necessária, com o propósito
de os operadores se familiarizarem com determinadas tarefas. Assim, a
formação neste sistema é ministrada ao nível do Exército Americano, na
USAFAS 5 (Fort Sill, Oklahoma), abrangendo duas áreas: software e
equipamento (WILLIAMS, 2002).
4 Medida de Coordenação de Apoio de Fogos.
5 United States Army Field Artillery School.

35
REVISTA DE ARTILHARIA

4. PLANEAMENTO E COORDENAÇÃO DE APOIO


DE FOGOS

Apesar de terem existido grandes avanços na exploração das capacidades


que este sistema pode proporcionar aos Comandantes, o AFATDS, continua
com limitações no âmbito da interligação com outros sistemas de armas que
não sejam de Artilharia.
Seja pela incompatibilidade dos rádios, ou devido à formação proporcio-
nada pelos formadores americanos, maioritariamente vocacionada para a
execução e controlo do tiro de Artilharia, existem atualmente lacunas que
terão de ser ultrapassadas, para que o sistema AFATDS seja uma garantia
de que, o Apoio de Fogos a uma Brigada, seja o adequado para garantir o
sucesso do Apoio de Fogos.
O AFATDS, na sua base de dados, utiliza orientações de Targeting detalhadas
do Comandante, assim como critérios de ataque, empregando sofisticadas ajudas
à decisão que possibilitam, se desejado, a total automatização do sistema.
Monitoriza, por exemplo, missões de tiro atribuindo prioridades a
múltiplas missões, no sentido de assegurar que as mais importantes são
realizadas em primeiro lugar, verificando simultaneamente as Medidas de
Coordenação de Apoio de Fogos em vigor.
Pode determinar, qual o melhor meio de Apoio de Fogos a ser utilizado
para bater determinado objetivo, recomendar o melhor método de ataque,
estreitando o intervalo de tempo entre a deteção e o ataque dos objetivos,
que é sem sombra de dúvidas o aspeto mais crítico para que todo o processo
funcione convenientemente.
Nas chamadas “Guidance” ou Orientações do Comandante, é possível
por exemplo:

 Definir qual o valor de um objetivo em relação a outro;


 Definir os efeitos desejados para cada tipo de objetivo;
 Estabelecer quais os objetivos que não deverão ser batidos por fogos
letais, mas por meios, como por exemplo, Guerra eletrónica;
 Especificar se os objetivos deverão ser batidos quando Adquiridos,
Imediatamente ou quando Planeados;
 Excluir objetivos da “Target Management Matrix” 6 garantindo assim o
não empenhamento sobre os mesmos;

6Matriz onde, para cada tipo de objetivo é determinado quando deve ser atacado e os efeitos
nele pretendido. Estabelece ainda os prioritários e respetivos pesos, de forma a priorizá-los.

36
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

 Determinar qual a precisão com que os objetivos deverão ser localizados


para permitir o ataque pelo meio mais adequado;
 Estabelecer uma validade temporal entre a deteção e o empenha-
mento sobre o objetivo, para se garantir o seu ataque;
 Estabelecer a distância em metros que separa objetivos semelhantes
para determinar se deverão ser considerados duplicados e assim
evitar que diferentes observadores ou radares com missões distintas
peçam fogo sobre o mesmo objetivo;
 Especificar o Erro de Localização que corresponde à precisão da deteção e o
“Maximum Report Age” que refere o tempo máximo aceitável da deteção.
Durante o exercício ROSA BRAVA 12, o exercício da Brigada Mecanizada
por excelência, foi efetuado pela primeira vez um planeamento de fogos de
Artilharia com o auxílio do AFATDS, em tempo real e com os vários
subsistemas integrados na manobra. Foram efetuadas várias medidas de
coordenação de fogos, como por exemplo a Linha de Segurança de Artilharia
e elaboradas listas de Objetivos, as quais foram difundidas a todos os órgãos
do SACC. No entanto, neste exercício, não foi possível ainda executar a
direção técnica do tiro de Artilharia, porque a programação colocada nas
diversas máquinas, ou seja as orientações do Comandante, tinha alguns
erros em virtude da pouca utilização do AFATDS nestas duas valências.
No exercício ONÇA 131, e após um período de treino com o equipamento,
foi conseguido utilizar o AFATDS para efetuar a coordenação tática e técnica
do tiro de Artilharia. Neste exercício, o sistema esteve, também, presente
junto da manobra (AgrMec), contribuindo para um melhor treino dos
diversos operadores de AFATDS, tendo sido possível, integrar o
planeamento de fogos da Artilharia e dos morteiros ao dispor do AgrMec, já
que o AFATDS dispõe na sua base de dados do Morteiro 10,7mm que equipa
os pelotões de Morteiros Pesados da BrigMec. O OAF BAT fica, no entanto,
restringido à difusão, deste planeamento de fogos aos morteiros, por papel.
As missões de tiro que o AFATDS recomenda para os morteiros ficam no
OAF BAT e daí, são enviados por rádio para os PCT dos mesmos.
O Exercício ROSA BRAVA 13 consolidou os conhecimentos apreendidos
até então. Entrou-se na exploração de valências permitidas pelo AFATDS,
como sejam a elaboração de grupos e séries de Objetivos e, também, na
elaboração de uma Preparação/Quadro Horário. Face à presença do Pelotão
de Aquisição de Objetivos (PAO), foi possível integrar produtos como,
meteogramas, “survey’s points” 7 , ordens de emprego radar e integrar o modo
de cenário do radar AN/TPQ-36 no contexto do exercício.

7 Levantamentos topográficos (coordenadas do centro de bateria e das bf).

37
REVISTA DE ARTILHARIA

O exercício EFICACIA 13 veio confirmar as potencialidades do


AFATDS, no entanto, também veio demonstrar as lacunas ao nível das
transmissões mas, principalmente, a falta de rotinas e treino dos operadores
do SACC que leva variadas vezes a optar-se por soluções onde o AFATDS é
colocado de lado.
Entre as potencialidades ainda não exploradas, contam-se a possibilidade
do emprego do targeting operacional no preenchimento dos efeitos
pretendidos nos objetivos adquiridos, e também, uma melhor aplicação, no
que concerne às orientações do Comandante, para que a máquina recomende
uma solução mais adequada ao sucesso da missão. O AFATDS permite
também o planeamento futuro, o qual ainda não foi potenciado no Processo
de Tomada de Decisão Militar da Brigada ou do Agrupamento, visto poucos
operadores, conhecerem sequer esta funcionalidade.
Outra questão que urge resolver é o facto de o SACC não se conseguir
interligar com o SICCE. O planeamento de Apoio de Fogos e toda a
geometria respetiva no final do planeamento deveria poder ser transmitida
para o SICCE (GAC/BrigMec, 2013).

5. LIGAÇÃO À AQUISIÇÃO DE OBJECTIVOS

O GAC contou nos exercícios Rosa Brava e Eficácia 13 com a


participação do PAO. A presença durante três semanas consecutivas em
Santa Margarida fez com que se tivesse evoluído na integração da aquisição
de objetivos do GAC/BrigMec de uma forma até aí nunca vista. A
interligação dos radares, da estação meteorológica e da secção de topografia
com os meios automáticos foi assinalável, tendo-se realizados testes ao nível
das várias valências, nomeadamente:

 Colocação de um BCS, na estação meteorológica, tendo permitido que


logo após o lançamento de uma sonda, o meteograma fosse introduzido
no BCS e enviado via rádio, para o sistema AFATDS. Esta iniciativa
permite que um meteograma seja transmitido muito mais
rapidamente para um conjunto maior de entidades, não havendo
necessidade de processar qualquer tipo de documentos, pois todo o
processo é efetuado automaticamente;
 Colocação de um FOS na Secção de topografia. Este equipamento que
equipa os OAV dispõe de um modo topográfico que permitiu
transmitir os levantamentos topográficos automaticamente via rádio
das zonas de posições para os AFATDS na retaguarda. Aparentemente,
embora possa ser efetuado, torna-se muito confuso calcular e

38
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

transmitir todas as seis coordenadas dos obuses devido à sua extrema


proximidade na carta, tendo apenas se optado por transmitir as
coordenadas das Estações de Orientação e dos centros de Bateria.
Este processo necessita de mais testes, para se concluir de todas as
vantagens que poderá trazer à topografia do GAC;
 Envio de ordens de pesquisa para o radar através do AFATDS,
fazendo com que este alterasse o seu sector de pesquisa automática-
mente (a antena do radar roda seguindo as instruções recebidas do
AFATDS). Conseguiu-se também utilizar o radar para simular
diversos ataques de meios de Apoio de Fogos Inimigos, levando a
desencadear missões de contrabateria.

Pela primeira vez, assistiu-se a um exercício onde o GAC/BrigMec


atuou com todos os três elementos do sistema de Artilharia de Campanha,
as Armas, o Comando e Controlo e a Aquisição de Objetivos, assistindo-se
ao emprego de todas as valências da Aquisição de Objetivos e à sua
transmissão automática para o SACC, numa interligação nunca vista
num GAC.

39
REVISTA DE ARTILHARIA

6. AS COMUNICAÇÕES NO GAC

Nestes primeiros meses de utilização do SACC com meios TSF no


GAC/BrigMec, privilegiou-se naturalmente a fiabilidade e a simplicidade
das redes utilizadas, pois o objetivo passou naturalmente, por garantir a
ligação entre os diversos subsistemas.
Por outro lado, o facto de apenas se poder utilizar os canais de
comunicações 5 e 7 do AFATDS 8 limita o número de rádios 425 (analógicos)
que se podem ligar de momento a este equipamento.
Assim o SACC tem sido utilizado no GAC/BrigMec apenas com 3 tipos
de redes: uma rede (rede FOS) a ligar os OAV ao OAF BAT, outra (rede
AFATDS) ligando todos os AFATDS (OAF BAT, OAF BRIG, PC/PCT GAC e
PCT da Btrbf) e finalmente outra rede (rede interna da Bateria) a ligar o
AFATDS do PCT da Btrbf aos GDU de cada uma das secções.

8 O AFATDS dispõe de 4 canais de comunicações para ligação a rádios, identificados pelo


software como canais 5, 6, 7 e 8. Os canais 6 e 8 são somente digitais, os canais 5 e 7 são
canais analógicos/digitais. O comportamento/capacidades dos canais 5 e 7 são semelhantes
aos do BCS.

40
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

No entanto, é altura de se começar a olhar de forma mais aprofundada


para esta questão, até porque a forma como se pretende utilizar o sistema e
as possíveis alterações às TTP 9 de AC, devido à utilização de rádios nos
obuses, assim o aconselham.
As comunicações que se visualizam para o SACC do GAC/BrigMec, têm
como pressuposto potenciar a enorme flexibilidade que a introdução de
rádios digitais nos M109A5 oferece, sobre bf ligadas por TPF, pois apenas
esses rádios permitem aproveitar todas as potencialidades do sistema e
ainda o facto, do GAC ser a unidade orgânica de Apoio de Fogos da BrigMec.
No Projeto de Manual do GAC de 2007 a nível das comunicações,
existem cinco redes de comunicação: duas redes de Comando e Direção do
Tiro CT1 (fonia) e CT2 (dados) e três redes de Tiro T1/T2/T3 (dados). A rede
CT1 é a principal rede de comunicação do Grupo, enquanto que, a rede CT2
constitui-se como rede de emergência, ou mesmo serve de duplicação à rede
CT1, conferindo flexibilidade e segurança nas transmissões. As redes de Tiro
são utilizadas pelas Equipas de Observação Avançada para comunicar com
as respetivas Baterias. No caso de existir excesso de tráfego ou falta de
segurança nas redes CT, são utilizadas as redes de Tiro. Os OAF de
Batalhão utilizam a rede CT do GAC e também a rede de Tiro corres-
pondente para “escutar” todos os pedidos de tiro efetuados pelo OAV. Estas
redes configuram logo à partida, várias lacunas ao nível das entidades
internas de uma Btrbf e as redes em que estas devem constar (COB, Cmdt
Btrbf e Cmdt Btr Tiro).
De acordo com o FM 3-09.21 Tactics, Techniques and Procedures for The
Field Artillery Battalion, verificamos que o exército dos EUA prevê sete
redes internas TSF para um GAC em A/D. São estas a rede de comando e
direção de tiro (fonia), a rede das operações/tiro (dados), as três redes de tiro
F1, F2 e F3 (dados), a rede de aquisição de objetivos/informações (dados) e a
rede administrativo-logística (fonia). Para reduzir o número de transmissões, as
redes de voz apenas devem transmitir o tráfego que não seja possível efetuar
através das redes de dados 10 . Embora se possa utilizar os rádios das redes
de dados para a comunicação com voz, essa situação deve ser limitada a
situações de emergência.
A Rede Comando e Direção do GAC (fonia) 11 é a rede usada para o C2,
na recolha e disseminação de informação tática.

9 Técnicas, Táticas e Procedimentos.


10 Nos Exercícios Rosa Brava 13 e Eficácia 13 conseguiu-se reduzir as comunicações voz ao mínimo,
comparado com o volume de tráfego, por exemplo de uma unidade de manobra.
11 Bn Command Net (F).

41
REVISTA DE ARTILHARIA

As Redes de Tiro F1, F2 e F3 12 (dados) São usadas para a direção tática


e técnica do tiro desde os OAV, passando pelo PCT/GAC, até ao PCT/Btrbf.
As redes de tiro devem ser atribuídas de acordo com a missão e com o estado
das comunicações do GAC, não necessariamente uma por Bateria. No
entanto, uma técnica frequentemente usada em situações ideais, é atribuir
uma rede de tiro a cada Bateria, com os OAV e OAF/BAT distribuídos
equitativamente pelas três redes. Ao atribuir uma rede de tiro por Bateria,
permite-se o estabelecimento de “ligações diretas de tiro rápido” 13 entre os
intervenientes do tiro. Ou seja, no caso de falha catastrófica de um elo na
cadeia, os OAV podem comunicar diretamente com o elo seguinte na sua
rede de tiro, até mesmo diretamente para o PCT/Btr. A estação diretora de
rede das três redes de tiro é o PCT/GAC. Em caso de falha dos dados numa
ou mais redes de tiro, esta (s) pode (m) ser estabelecida (s) como rede (s) de
voz, utilizando os mesmos rádios, e mantendo as outras redes a operar com
dados. Num GAC em A/D, as entidades das redes de tiro são o Comandante
do GAC 14 , o PCT/GAC, o radar de localização de armas 15 , os Comandantes
de Bateria (cada um na sua rede de tiro), o OAF de Brigada (apenas numa
das três redes de tiro, consoante indicação do PCT/GAC) os OAF/Bat (cada
um na sua rede de tiro), e os OAV (cada equipa na rede de tiro da respetiva
bateria).
A Rede das operações/tiro (dados) 16 é usada para o planeamento de
Apoio de Fogos e para a coordenação entre os intervenientes no tiro de
artilharia, para operações MSU 17 e para efetuar a direção tática e técnica do
tiro com unidades de artilharia em R/F (Reforço de Fogos). A estação
diretora de rede é o PCT/GAC. Esta rede pode ser estabelecida como uma
rede de voz durante operações degradadas. Num GAC em A/D, as entidades
desta rede são o PCT/GAC, o S318 , o S2 19 , os COB das Baterias, os
PCT/Btrbf, o OAF de Brigada e os OAF de Batalhão.

12 Bn FD 1, 2, and 3 (D).
13 “quickfire linkages”.
14 Numa das três redes de tiro, consoante indicação da estação diretora de rede
15 Numa das três redes de tiro, consoante indicação da estação diretora de rede e apenas quando

necessário (exemplo: para conduzir regulações de precisão em modo amigo)


16 Bn Ops/F (D).
17 Mutual Support Units
18 Dado que o S3 está no PCmd do GAC, liga-se ao PCT/GAC por LAN ou fio.
19 Dado que o S2 está no PCmd do GAC, liga-se ao PCT/GAC por LAN ou fio.

42
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

A Rede de aquisição de objetivos/informações (dados) 20 é utilizada para


trocar informação de targeting, contrabateria, controlo topográfico,
meteorologia, e informações dentro do GAC. Os elementos desta rede são o
S2, a Secção de Topografia, a Secção de Meteorologia, o radar de localização
de armas, o PCT/GAC 21 , e o S3 22 . A estação diretora de rede é o S2.
A Rede Administrativo/logística (fonia) 23 é usada para a coordenação de
todos os assuntos de natureza administrativa e logística.
O FM 3-09.70 Tactics, Techniques, and Procedures for M109A6 Howitzer
(Paladin) Operations enfatiza as redes rádio ao nível da Bateria e abaixo.
Além das três redes externas (Rede de Comando do GAC, Rede de Tiro
respetiva e Rede Admin/Log) uma Bateria Paladin opera cinco redes internas.
A Rede de Comando de Bateria (fonia), duas Redes de Comando de
Pelotão (fonia) e duas Redes de Tiro de Pelotão (dados), pois cada pelotão
opera a sua própria rede de tiro para facilitar o C2.

20 Bn TA/Intel (D).
21 Dado que o S3 está no PCmd do GAC, liga-se ao PCT/GAC por LAN ou fio.
22 Dado que o S3 está no PCmd do GAC, liga-se ao PCT/GAC por LAN ou fio.
23 Bn Admin/Log (F).

43
REVISTA DE ARTILHARIA

A Rede de Comando de Bateria (fonia) permite a transmissão dos dados


operacionais e administrativos/logísticos. O Comandante de Bateria designa
quem é estação permanente na rede.
A Rede de Comando de Pelotão (fonia) tem o mesmo papel que o da
Bateria, apenas sendo transmitido o tráfego essencial à missão. O Centro de
Operações de Pelotão (POC) é a estação diretora de rede.
A Rede de Tiro de Pelotão (dados) permite a cada POC comunicar
digitalmente com as suas secções. Sendo um assunto de NEP interna da
Bateria, a frequência e o endereço do POC do outro pelotão (alternativo)
deve ser distribuído a cada Comandante de Secção com instruções para
estabelecer comunicações de dados quando o seu POC primário ficar INOP
ou for necessário apoio mútuo. O POC operacional atua como estação
diretora de rede nesta situação.
O uso de comunicações com fios numa Bateria Paladin é normalmente
limitado aos períodos em que a comunicação rádio de um Obus se encontra
degradada e este necessita de se ligar a outro Obus ou ao POC, ou de forma
a poder continuar a operar quando o silêncio rádio é imposto pelo escalão
superior. Cada carretel DR-8 transporta dois cabos WD1-TT, em vez de um,
possibilitando dessa forma que a ligação entre as Secções de bf e o PCT
continue a ser garantida através do telefone recorrendo a um cabo e a
transmissão de dados entre o BCS/AFATDS e o GDU-R ocorra através do
segundo cabo WD1-TT.
Analisando os dois Field Manuals mencionados anteriormente, sugere-
se a seguinte arquitetura de redes para o GAC/BrigMec:

GAC
Rede Comando do GAC (fonia)
Redes de Tiro F1, F2 e F3 (dados)
Rede das operações/tiro (dados)
Rede de Aquisição de Objetivos/Informações (dados)
Rede Administrativo/logística (fonia)

Btrbf

Rede de Comando de Bateria (fonia)


Rede de Tiro de Pelotão (dados) x2

Para atingir esta arquitetura de rede, é imperativo equipar todos os


órgãos da Btrbf com rádios táticos de secção, bem como garantir que os
rádios dos Obuses funcionem em fonia e dados simultaneamente de forma a

44
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

garantir, a redundância de meios e a necessária flexibilidade que os meios


TSF proporcionam a uma Btrbf.
Em relação à rede TPF, ela será utilizada como alternativa à Rede de
Tiro de Pelotão (dados) dentro da Bateria. No futuro, para garantir a
flexibilidade e rapidez que se pretende atingir numa Btrbf M109A5 seria de
todo conveniente garantir outra ligação entre o PCT e as secções, do tipo
ligação sem fios ou “wireless”.

REDES INTERNAS DA Btrbf M109A5

1 Sec

Sec Tm 1 2 Sec
PCT/Btrbf

Sec Man
3Sec
Cmdt Btr
SecTm 2

4Sec

Cmdt Btr Tiro

COB/Btrbf
Sec Mun 5 Sec

Rede Comando de Bateria (Fonia)


Rede Tiro Pelotão (dados) 6 Sec
Rede Tiro Pelotão (dados)

7. IMPLICAÇÕES NAS TTP DE AC

As Btrbf do GAC/BrigMec têm à sua disposição desde o exercício ROSA


BRAVA 13, rádios do tipo Personal Role Radio (PRR H4855).
Este rádio com um alcance na ordem dos 200/300 metros permite a uma
Btrbf dar um salto exponencial em inúmeras ações, libertando-a dos meios
filares que desde sempre têm limitado as subunidades de Artilharia. Com
efeito, a utilização destes equipamentos apresenta nítidas vantagens,
nomeadamente:

45
REVISTA DE ARTILHARIA

 Garantem que o Cmdt da Bateria de Tiro possa monitorizar todas as


secções e o PCT, a partir de qualquer ponto da posição da Bateria de
Tiro, sem estar fixo num local, garantindo o C2 24 necessário à
segurança do tiro;
 Permitem a execução da pontaria inicial da Bateria sem recurso a
meios filares, diminuindo o tempo de entrada em posição e permitindo
a permanente ligação entre todos os órgãos intervenientes na
segurança da bateria;
 Diminuem o tempo de resposta aumentando a coordenação e
flexibilidade da Força de Reação contra ataques terrestre na posição
da Bateria;
 Diminuem o tempo de resposta a emboscadas, permitindo difundir
ordens rapidamente a todas as secções da coluna de marcha imediata-
mente após o contacto;
 Permitem, de forma muito célere, a difusão de informações adminis-
trativas dentro das áreas de posição;

Este sistema pode inclusive servir para a transmissão de comandos de


tiro em missões de tiro de emergência, não se aconselhando a sua utilização
numa situação normal.
A grande vantagem trazida pelo SACC para uma Btrbf M109A5, além
do cálculo automático dos elementos de tiro e C2 que proporciona foi a
transmissão via rádio dos elementos de tiro do PCT para as Secções de bf, a
qual veio proporcionar uma maior flexibilidade, ao permitir o posicionamento
das secções a uma distância muito maior umas das outras. Tradicional-
mente uma Btrbf ocupa uma área de 400x200 metros com um PCT e o COB
como PCT alternativo, havendo apenas um Goniómetro Bússola (GB) para
apontar todas as Secções. Com o AFATDS do PCT ligado por rádio aos GDU
das secções essa limitação espacial deixa de existir, pois o sistema pode
calcular os elementos de tiro de secções afastadas das outras até distâncias
muito maiores que as normais. A única limitação, passa por se continuar a
ter de dar pontaria às secções através de um GB, sendo que será difícil
baixar a pontaria a um escalão menor que o de pelotão, pois torna-se difícil
dar pontarias a cada arma individualmente.

24 Com o SACC, os comandos de tiro são transmitidos digitalmente do PCT para as bf, sem que
o Cmdt da Bateria de Tiro tenha acesso aos mesmos. A intervenção humana é pequena não
existindo a coordenação das ações que nesse momento estão a decorrer na posição.

46
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

Poderá pensar-se em operar com dois PCT em simultâneo, com o COB a


funcionar como segundo PCT. As alterações em termos de pessoal serão
reduzidas, pois será apenas necessário, mais um chefe de PCT e um
Sargento calculador, já que as outras funções serão desempenhadas pelos
militares que já operavam no COB. Considera-se que o Comandante da
Bateria de Tiro e o Sargento Auxiliar da Bateria, deverão estar libertos para
o C2 deste segundo Pelotão. Em relação ao Reconhecimento, Escolha e
Ocupação da Posição (REOP), ele poderá continuar a ser efetuado nos
moldes atuais, primeiro numa posição e depois na posição do segundo
pelotão, ou separadamente, em situações que exigem mais rapidez, através
do Comandante de Bateria e do Comandante de Bateria de Tiro para cada
uma das posições dos pelotões.
Quanto às restantes viaturas da Bateria, elas poderão estar junto de qualquer
um dos pelotões, sendo essa decisão da responsabilidade do Comandante da Btrbf.

8. CONCLUSÕES
 A aposta num Obus, que equipa o Exército português apenas há onze
anos é clara, bem como a intenção de lhe proporcionar os meios rádios
para se ligarem com o PCT da Bateria. A introdução destes rádios nos

47
REVISTA DE ARTILHARIA

M109A5 e a sua ligação com o SACC oferece uma tremenda


flexibilidade sobre os obuses ligados por sistemas filares, apontando
para uma completa revolução nas TTP de uma Btrbf de AC.
 É pois necessário, um programa de aquisições para o prolongamento
da vida útil do SACC a ser estabelecido com os EUA, o qual, para
além da aquisição dos sobressalentes necessários para reparar os
equipamentos avariados, e da resolução dos “bugs” entre o software
dos diversos subsistemas, preveja ainda a inclusão dos COB das Btrbf
nas redes do SACC. Era de todo aconselhável, adquirir uma nova
versão de software, a versão 6.8 que irá ser lançada dentro de dois
anos e que irá ter um
interface melhorado
para o utilizador, cor-
rendo em computa-
dores comerciais em
ambiente Windows (no
chamado ambiente de
operação comum) e que
além das munições
de precisão também
incluirá a Guerra Ele-
trónica como meio de
ataque.
 No caso do GAC/BrigMec será necessário adquirir 3 AFATDS para os
PCT das Btrbf, sendo os BCS desviados para os COB, que funcionarão
também como PCT, conseguindo-se assim a digitalização do C2 dos
dois pelotões de bf e da inserção do COB na Rede Admin/Log.
 O SACC necessita de treino dos operadores e criação de rotinas que só
podem ser adquiridas em sala, através de uma quase total dedicação
ao sistema. Só assim, se garante a proficiência e a confiança
necessária para se ultrapassarem os patamares iniciais. Um Chefe de
PCT/GAC ou um OAF tem de ter experiência com o sistema e isso só
se consegue com permanência na unidade e estabilidade nas funções.
Um OAV deve ter a experiência e confiança na observação do tiro e na
utilização do FOS, e isso apenas se atinge com treino de Infront e
repetição de rotinas.
 Os cursos deste tipo de equipamentos também necessitam de ser
revistos. Um alferes que utiliza o AFATDS num PCT não precisa de
saber o que o OAF de Brigada necessita ao nível do Targeting. O OAV

48
O COMANDO, CONTROLO E COMUNICAÇÕES NA ARTILHARIA DE CAMPANHA

necessita de saber como efetuar o planeamento de objetivos num FOS


e não apenas utilizá-lo para o pedido e correção do tiro, entre outros.
 A rotação de pessoal pelas Unidades de Artilharia, também não
concorre para a manutenção das competências do Sistema
Automático, pelo que terão de ser encontradas soluções que permitam
a uniformização dos conhecimentos dos subsistemas do SACC nos
subalternos e sargentos que ingressam no QP. Existem áreas, como o
AFATDS ou BCS que necessitam ser do conhecimento de todos,
enquanto outras como o FOS, GDU ou por exemplo o Viking que não
farão tanta falta no início de carreira até porque esses cursos são
relativamente curtos.
 Deveria também ser criado, à semelhança do exército dos EUA, um
gabinete na Escola das Armas que se dedicasse ao estudo e
normalização da utilização do SACC no Exército, retirando essa
responsabilidade às unidades utilizadoras.
 O futuro do AFATDS e, a sua utilidade, só depende do querer e da
vontade dos militares que o utilizam, exigindo qualidade e eficiência,
mas também os recursos humanos e materiais necessários para a sua
evolução.

BIBLIOGRAFIA

 Estado-Maior do Exército, MC 20-100 (2004), Manual de Tática de Artilharia


de Campanha;
 Estado-Maior do Exército, MC 20-… (2007), Manual do Grupo de Artilharia
de Campanha;
 FELICIANO, Cap (2013), A interoperabilidade do Sistema Automático de
Comando e Controlo (SACC) – Soluções e Propostas, Revista de Artilharia,
(Abril de 2013);
 GAC/BrigMec (2013). Utilidade do AFATDS no Comando e Controlo do Apoio
de Fogos ao dispor de uma Brigada, Boletim Nº1 O Autopropulsado, (Maio de
2013);
 HAITHCOCK JR., Lieutenant Colonel John L. (2003). AFATDS Effects
Management Tool. (Disponível em:
 http://sill-www.army.mil/famag/2003/NOV_DEC_2003/NOV_DEC_2003
PAGES_40_43.pdf.);

49
REVISTA DE ARTILHARIA

 HEADQUARTERS, DEPARTMENT OF THE ARMY. FM 3-09.21, Tactics,


Techniques, and Procedures for the Field Artillery Battalion, (22 de Março de
2001);
 HEADQUARTERS, DEPARTMENT OF THE ARMY. FM 3-09.70, Tactics,
Techniques, and Procedures for M109A6 Howitzer (Paladin), (Agosto de
2000);
 WILLIAMS, Major Alford J.. (2002). AFATDS Gunnery: Technical Fire
Direction. (Disponível em:
http://sillwww.army.mil/famag/2002/MAR_APR_2002/MAR_APR_2002
PAGES_29_34.pdf.)
 SANTOS e SEATRA (2011). Unidade Curricular M135, Tática de Artilharia
I (Teoria), Academia Militar. (2011);
REVISTA DE ARTILHARIA

18
50
A ARTILHARIA DE CAMPANHA NAS OPERAÇÕES DE APOIO À PAZ (OAP)

A ARTILHARIA DE
CAMPANHA NAS
OPERAÇÕES DE APOIO À
PAZ (OAP)
… da opinião à decisão …
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia
LUÍS FILIPE DE SOUSA LOPES

1. SITUAÇÃO

No âmbito do Seminário da Arma de Artilharia, realizado no Regimento


de Artilharia Antiaérea Nº1, no pretérito dia 20 de Junho de 2013,
subordinado ao tema “A Artilharia Portuguesa – Linhas para o Futuro”,
efetuei uma breve exposição sobre a participação dos militares ou forças de
Artilharia nas Operações de Apoio à Paz (OAP).
Esta exposição pretendeu chamar ao debate atual a posição já assumida
pela Arma de Artilharia, relativamente à necessidade de incluir as suas
Unidades no processo de aprontamento das Forças Nacionais Destacadas
(FND).
Ao longo da última década, este assunto mereceu relevo e discussão
aprofundada, no seio da Arma, tendo sido já publicamente assumido pelos
Ex.mos Diretores Honorários da Arma de Artilharia, uma posição comum
relativa à necessidade de incluir as Unidades de Artilharia no aprontamento
das FND.

51
REVISTA DE ARTILHARIA

Por conseguinte, e necessário agora encontrar passos seguros que levem


à melhor decisão, que sirva o Exército a Artilharia e os Artilheiros.
O tema foi abordado numa perspetiva objetiva, fazendo o levantamento
de alguns dados relativos à participação dos militares das Armas, nas
principais FND, nos últimos quatro anos e na apresentação dos resultados
de um inquérito individual, aplicado aos Cmdt das FND.
No final desta exposição, foram apresentadas algumas propostas que
permitem aumentar a participação dos militares de Artilharia nas FND,
como é vontade dos Artilheiros e desejo já manifestado pela Arma.

2. ENQUADRAMENTO

Desde os meados da década de 90, que o Exército tem sido solicitado a


participar com FND em diversos Teatros de Operações (TO), quer no quadro
da Cooperação Técnico-Militar (CTM), quer sob a égide de Organizações
internacionais (OI), como a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), ONU (Organização das Nações Unidas) e UE (União Europeia).
A necessidade de incrementar a participação dos militares de Artilharia
nas principais FND tem sido explicitamente manifestada pelos Ex.mos
Diretores Honorários da Arma de Artilharia, ao longo dos últimos anos, em
particular no discurso proferido no Dia da Arma.
Do ponto de vista concetual, esta possibilidade encontra-se vertida na
Resolução do Conselho de Ministros n.º 26/2013, publicada no Diário da
República, 1.ª série, N.º 77, de 19 de abril de 2013, onde através do seu ANEXO,
Parte I, capítulo III, é definido como Nível de Ambição, a “constituição de um
Conjunto Modular de Forças – orientado para resposta a compromissos
internacionais nos quadros da defesa coletiva e da segurança cooperativa
(Forças Nacionais Destacadas – FND), constituídas ou a constituir, para emprego
sustentado, por períodos de seis meses, para empenhamento até três operações
simultâneas de pequena dimensão ou numa operação de grande dimensão.”
Neste âmbito e no mesmo documento, estão também definidas as
orientações para o Exército, em termos de requisitos de capacidades e meios:
“(…) Capacidade para projetar e sustentar, em simultâneo, até três unidades
de combate (até escalão batalhão), apoio de combate ou apoio de serviços,
para participação nos esforços de segurança e defesa coletiva, podendo no
máximo comandar uma única operação de escalão brigada em qualquer
cenário e grau de intensidade, por tempo limitado.(…)”
Se observarmos os Quadros Orgânicos dos Grupos de Artilharia de
Campanha e do Grupo de Artilharia Antiaérea, verificamos que estas

52
A ARTILHARIA DE CAMPANHA NAS OPERAÇÕES DE APOIO À PAZ (OAP)

Unidades devem possuir capacidade para (…) conduzir operações de


estabilização e apoio e outras operações de resposta a crises (CRO), incluindo
operações de controlo de tumultos e patrulhas entre outras missões não
especificas da Artilharia. (…)
É com base nos pressupostos referidos que estas Unidades incluem
também nos seus programas anuais de treino operacional, as técnicas e
procedimentos de natureza militar, inerentes à conduta de uma OAP,
contempladas no PDE 3-65-00, “OPERAÇÕES DE APOIO À PAZ –
TÁCTICAS, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS”.
Importa assim concluir que as Unidades de Artilharia, enquanto FND,
integradas numa OAP, poderão desenvolver tarefas específicas da Arma, ou
outras tarefas não especificas da Artilharia, não se constituindo
obrigatoriamente como Unidades de Manobra.

3. HISTÓRICO DE PARTICIPAÇÃO EM FND

Analisando o histórico de participação de FND nos diversos TO onde as


FA estiveram presente, constata-se que nunca foi constituída uma unidade
de Artilharia para cumprir missões no exterior, apesar de terem sido
aprontadas duas Baterias de Artilharia de Campanha, integradas nas
NATO Response Force (NRF).
Porém, a participação Artilheira existe, tendo vindo a ser efetuada,
principalmente, com a inserção de militares (Oficiais e Sargentos) em
funções de Estado-Maior (EM) das FND. Para além desta participação
existem escassos registos de participação ao nível secção e pelotão
integrados em Estruturas de Pessoal de outras unidades.
Recolhendo os dados estatísticos de todas as FND, a partir do
SIAPE/CmdPess 1 , referente à participação de militares QP das Armas, do
Exército, durante o quatriénio 2009-1012, facilmente, nos apercebemos que
a arma de Artilharia apresenta uma participação pouco relevante neste
“novo” espectro, que são as Operações de Apoio à Paz.
No gráfico abaixo, encontra-se representado a quantidade de Oficiais
QP das Armas, que participaram em FND no período de 2009 a 2012.
Verifica-se que a Arma de Artilharia foi a que menos Oficiais nomeou para
FND, cabendo à arma de Infantaria a maior quantidade de Oficias
nomeados para FND no período em análise.

1 Apenas existe possibilidade de obter dados a partir de 2008, data em que se iniciou a criação
de códigos de unidade FND no SIAPE.

53
REVISTA DE ARTILHARIA

Fig. 1 – Oficiais que participaram em FND


durante o quatriénio 2009-2012.

Se compararmos os dados absolutos de cada arma com o efetivo


existente, na situação de ativo, das respetivas armas, verifica-se que foi a
Engenharia 2 que nomeou a maior percentagem de militares para as FND,
cabendo à Artilharia apenas cerca de 9% de nomeação de militares do ativo
para as FND.

Fig. 2 – Percentagens de Oficiais que participaram em FND durante


o quatriénio 2009-2012, em relação ao respetivo Quadro Especial.

2 No período em questão, 2009 a 2012, a participação das Unidades ENG na UNIFIL, afetam a
análise dos resultados globais.

54
A ARTILHARIA DE CAMPANHA NAS OPERAÇÕES DE APOIO À PAZ (OAP)

A mesma análise efetuada para a categoria de Sargentos, verifica-se


também que a Arma de Artilharia foi a que menos Sargentos nomeou para
FND, sendo novamente a Infantaria a Arma que mais Sargentos nomeou
para FND, no período em análise.

Fig. 3 – Sargentos que participaram em FND


durante o quatriénio 2009-2012.

Comparando também os dados absolutos de cada arma com o efetivo existente,


na situação de ativo, das respetivas armas, verifica-se que foi a Engenharia 3
que nomeou a maior percentagem de Sargentos para as FND, cabendo à Arti-
lharia apenas cerca de 6% de nomeação de Sargentos do ativo para as FND.

Fig. 4 – Percentagens de Sargentos que participaram em FND


durante o quatriénio 2009-2012, em relação ao respetivo Quadro Especial

3 No período em questão, 2009 a 2012, a participação das Unidades ENG na UNIFIL, afetam a
análise dos resultados globais.

55
REVISTA DE ARTILHARIA

Se atendermos aos dois principais TO onde Portugal ultimamente tem


vindo a empregar FND (Kosovo e Afeganistão), constatamos que a maioria
dos Oficiais de Artilharia têm vindo a ser utilizados no TO com maior risco
ou perigosidade, enquanto os Oficiais de Infantaria se repartem em igual
percentagem pelos dois TO.

Fig. 5 – Percentagem de Oficiais de Artilharia e Infantaria que participaram


em FND nos dois principais TO em que Portugal colabora.

4. AVALIAÇÃO CMDT FND

No sentido de aferir a sensibilidade e opinião dos Comandantes das


FND, relativamente à participação dos militares de Artilharia nas FND que
comandaram, foi solicitado aos mesmos o preenchimento de um questio-
nário, que no essencial pedia resposta às seguintes questões:
1. No âmbito da missão da Força que comandou, indique, por favor, o
tipo de empenhamento a que estiveram sujeitos os militares de
Artilharia: (Assinale com X as opções pretendidas).
2. Como classifica o desempenho dos militares de Artilharia, que inte-
graram a Força que comandou? (Assinale com X a opção pretendida).
3. Caso lhe fossem atribuídos militares ou forças constituídas de Artilharia,
no seu entender, qual seria a área de empenhamento que melhor favo-
recia o emprego destes militares: (Assinale com X as opções pretendidas).

As respostas dos diversos Comandantes compiladas, sem diferenciação


de Teatros, encontram-se espelhadas nos gráficos seguintes:
a. Quanto ao tipo de empenhamento a que estiveram sujeitos os
militares de Artilharia que participaram em FND, podemos verificar

56
A ARTILHARIA DE CAMPANHA NAS OPERAÇÕES DE APOIO À PAZ (OAP)

que foram empenhados em quase todas as atividades das Forças, sendo


que a maioria esteve afeta a funções no EM da força, em serviços de
guarnição e apoio de serviços. Alguns militares de Artilharia foram
também empenhados casualmente em Checkpoint, CRR e Patrulhas.

Fig. 6 – Tipo de empenhamento a que estiveram sujeitos


os militares de Artilharia em FND.

b. Quanto à classificação do desempenho dos militares de Artilharia,


que integraram a FND, verifica-se que todos os Cmdt FND ficaram
francamente satisfeitos com a prestação dos Artilheiros, sendo que
nas funções de EM a avaliação é Bom e Excelente e nas Sec/Pel a
avaliação é Satisfatório, Bom e Excelente.

Fig. 7 – Classificação do desempenho da participação


dos militares de Artilharia em FND.

57
REVISTA DE ARTILHARIA

c. Quanto à possibilidade de receber militares ou forças constituídas de


Artilharia, no entender dos Cmdt FND, a área de empenhamento
que melhor favorecia o emprego destes militares seria a sua
utilização em funções no EM da força, em serviços de guarnição e
apoio de serviços. Releva o facto de nenhum Cmdt FND excluir a
possibilidade de atribuir tarefas a militares ou forças de Artilharia.

Fig. 8 – Área de empenhamento que melhor favorecia o emprego


dos militares de Artilharia em FND.

5. PROPOSTAS
Como corolário deste trabalho, foram apresentados duas propostas no
sentido de melhorar a situação relativa à participação dos Artilheiros em FND e
assim concretizar aquele que é o desejo manifestado pela Arma, designadamente:
a. Prever a nomeação regular de Sec/Pel/Btr de Artilharia e militares de
Artilharia no EM da Força, a atuar em ambiente OAP, incluídos na
UEC/UEB levantadas numa das habituais Unidades aprontadoras das
respetivas Brigadas. Estes lugares terão de estar claramente explicitados
na Estrutura Operacional de Pessoal (EOP) da FND, devendo recair
nas Unidades de Artilharia da Brigada com responsabilidade de
aprontamento da FND.
b. Prever o aprontamento de um Grupo de Artilharia como UEB FND,
a atuar em ambiente de OAP, incluído na normal rotação das UEB
das Brigadas, levantado no respetivo Regimento/Quartel de Artilharia,
com responsabilidade de aprontamento da força. Este Grupo deverá
incluir na sua estrutura, militares da BtrAAA da respetiva Brigada
e militares de Artilharia das Forças de A/G.

58
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS EUA

ARTILHEIROS EM MISSÃO

CURSO DE COMANDO E
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
DOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA
Pelo Major de Artilharia
JOSÉ CARLOS PINTO MIMOSO

1. INTRODUÇÃO

O Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) do Exército dos Estados


Unidos da América (EUA) desde 1952,já foi frequentado por 52 Oficiais do
Exército português, ano em que pela primeira vez o Major Holbeche Fino
representou Portugal na Escola de Estado-Maior dos EUA.
Neste artigo que teve como base o relatório de missão efetuado após o
curso, vou procurar expor a minha experiência pessoal durante a frequência
deste CCEM, durante o ano de 2012. Neste sentido, vou procurar apresentar
a escola, caracterizar o curso, apresentar algumas experiências pessoais vividas
e terminar com a justificação do interesse deste curso para o Exército português.

2. A ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR


O curso foi ministrado no Commandand General Staff College (CGSC)
do Exército dos EUA que se encontra integrado no Combined Arms Center
(CAC), localizado em Fort Leavenworth, no estado do Kansas. O CAC
depende do U.S. Army Training and Doctrine Command (TRADOC) e é
considerado o “Intellectual Center of the Army”.
Desde 1882 que o CAC se dedica a preparar o Exército dos EUA e os
seus líderes para combater. Atualmente, a sua missão centra-se na

59
REVISTA DE ARTILHARIA

preparação do Exército americano para a guerra contra o terrorismo e na


transformação do Exército para enfrentar futuras ameaças aos EUA. O CAC
apoia o comando do Exército americano na supervisão de várias áreas: desenvol-
vimento de líderes; educação profissional militar e civil; formação/treino coletivo
e institucional; formação funcional; apoio à formação; battle command; doutrina;
lições aprendidas; e outras áreas específicas designadas pelo TRADOC.
O CGSC educa e prepara líderes para o espetro total de operações (full
spectrum operations) conjuntas e combinadas; lidera o programa de
desenvolvimento de líderes no exército; e promove a arte e ciência da
“profissão das armas” em apoio dos requisitos operacionais do Exército
norte-americano. O CGSC tem quarto escolas: a Command and General
Staff School, a School of Advanced Military Studies, a School for Command
Preparation, e a School of Advanced Leadership and Tactics.
O CGSC tem como objetivo garantir: a formação de oficiais de sucesso
com as capacidades necessárias para liderar equipas que resolvam
problemas complexos em todo o espetro das operações; ensino superior de
excelência que promova a profissão de armas através da criação e publicação
de um corpo de conhecimentos profissionais; e o desenvolvimento harmonioso
de líderes do exército e do programa de educação, que integre e sincronize o
desenvolvimento de líderes e de sistemas educacionais.
O Command and General Staff Officers Course é lecionado na Command
and General Staff School. Este estabelecimento ministra o programa de
educação de nível intermédio (ILE – Intermediate Level Education) dos Oficiais
do Exército norte-americano. Esta escola é constituída por seis departamentos:
Logística e Recursos, História Militar, Comando e Liderança, Operações
Conjuntas e Combinadas, Centro de Tática do Exército e Ensino à distância.

3. CARACTERIZAÇÃO DO CURSO
Tendo em consideração alguns constrangimentos no âmbito da gestão
de pessoal do Exército dos EUA, causado pelos seus múltiplos empenhamentos
operacionais, há duas edições anuais do Commandand General Staff Officer
Course, a classe de verão que decorre de agosto a junho e a classe de inverno,
frequentada pelo autor do artigo, que decorre de fevereiro a dezembro.
A Classe de Inverno de 2012 foi frequentada por 335 alunos (289
americanos 1 e 46 internacionais de 45 países 2 ). Os alunos do CGSOC foram

1 225 do Exército, 21 da Marinha, 21 da Força Aérea, 20 da Guarda Nacional e 2 de Agências


Governamentais.
2 Afeganistão, Arábia Saudita, Austrália, Azerbaijão, Brasil, Burkina Faso, Camboja, Canadá,
Cazaquistão, Coreia, Egito, Eslovénia, Filipinas, Geórgia, Guiana, Hungria, Iémen, India,

60
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS EUA

organizados em 5 secções que por sua vez foram articuladas em 21 grupos de


estado-maior/turmas com um efetivo de 16 alunos. A constituição destes
grupos foi sempre a mesma durante todo o curso, pelo que o ensino esteve
centrado no grupo de estado-maior.Cada secção tinha um conjunto de 12
professores dos 5 departamentos de ensino do CGSS (Tática, Operações,
Logística, História e Liderança) que lecionaram aulas sempre às mesmas
turmas durante todo o ano. Este efetivo de instrutores permitia um rácio de
cerca de 6 alunos por professor. O corpo docente do Curso foi constituído
maioritariamente por civis (ex-oficiais) e alguns tenentes-coronéis no ativo,
a maioria deles com o grau de mestre e alguns doutorados.
Presentemente, são selecionados para a frequência do curso cerca de
70% dos oficiais superiores do Exército americano. O curso é frequentado
por oficiais com o posto de Major/Capitão-Tenente ou Tenente-Coronel/
/Capitão-de-Fragata.
O sistema educacional militar norte-americano prevê cinco níveis: 1.
Precommissioning; 2. Primary (posto OF 1 até OF-3); 3. Intermediate (posto
OF-4); 4. Senior (posto OF-5 ou OF-6) e 5. General/Flag Officer (Oficiais
Generais). Em cada um destes níveis são ministrados cursos de formação.
O CGSOC forma os Oficiais no nível intermédio de educação profissional.
Este nível centra-se no estudo do combate no âmbito da arte operacional. Os
alunos aprofundam o conhecimento na projeção e emprego de forças conjuntas
ao nível tático e operacional e melhoram o conhecimento dos outros ramos e
agências. Inerente a este nível de educação é o desenvolvimento de
capacidades analíticas e de processos de pensamento criativo e crítico de um
oficial. São tratadas matérias conjuntas como planos de operações, doutrina,
comando e controlo, requisitos de força e estratégia militar nacional. Neste
nível os Majores são preparados para os próximos dez anos de serviço.
Conforme já foi referido, além dos Majores do Exército este curso é
também frequentado por oficiais dos outros ramos, de outros países e por
elementos de agências governamentais norte-americanas. Tendo em consideração
os diversos tipos de alunos, bem como os conteúdos programáticos, o curso
tem um carácter conjunto e multinacional.
O CGSOC qualifica os Oficiais para o desempenho de funções de
comando de Batalhão e de Brigada no espetro total de operações, em ambientes
conjuntos e multinacionais. Além das funções de comando os alunos podem
vir a desempenhar funções de estado-maior nos escalões de batalhão,
brigada, divisão, componente terrestre e em quartéis-generais conjuntos.

Indonésia, Iraque, Jamaica, Jordânia, Lesoto, Lituânia, Malawi, Moldávia, Nova Zelândia,
Noruega, Paquistão, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia, Senegal, Suazilândia, Sudão
do Sul, Suécia, Suíça, Tadjiquistão, Tanzânia, Tailândia, Togo, Trinidad e Tobago, Uganda e Zâmbia.

61
REVISTA DE ARTILHARIA

Durante a frequência do CGSOC os alunos podem habilitar-se à


frequência, em paralelo, do programa Master of Military Artand Science
(MMAS) que lhes confere um grau académico de Mestrado, reconhecido pelo
sistema de ensino português através da Direção-Geral do Ensino Superior.
Para aderir ao programa há uma série de requisitos que têm de ser
cumpridos pelos pretendentes, dos 335 alunos que frequentaram o CGSOC
apenas 39 concluíram o MMAS, neste grupo restrito inclui-se o autor do
presente artigo. Este reduzido número deve-se ao acréscimo de aulas e
maior carga de trabalho que representa a frequência do programa MMAS
que culmina com elaboração e defesa de uma dissertação de mestrado 3 .

4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO CGSOC

Da estrutura geral do curso, fazem parte cinco módulos diferentes (ver


figura 1.):

– P910, International Military Student Preparatory Course. Este


módulo, com a duração de oito dias, destina-se a integrar os oficiais
internacionais e tem como objetivo fazer uma introdução inicial do
funcionamento do sistema social, político e militar dos EUA que é
complementado com várias visitas de estudo realizadas no Estado do
Kansas.Neste módulo, os alunos internacionais efetuam uma
apresentação de vinte minutos sobre o seu país e são avaliados pela
primeira vez na realização de curtos ensaios em língua inglesa. Além
disso, é apresentado o método de ensino utilizado na escola, o
“Experiental Learning Model”, e ministradas várias sessões no âmbito
da utilização das tecnologias da informação de utilização obrigatória
por parte dos alunos (correio eletrónico, portal interno da escola e
biblioteca online).
– P920, CGSOC Preparatory On-Line Course. Este módulo é realizado
on-line, visa a preparação dos alunos internacionais e dos outros
alunos não pertencentes ao Exército norte-americano (Força Aérea,
Marinha, etc.) tendo em vista o nivelamento de conhecimentos no
âmbito do Processo de Decisão Militar, doutrina, tática, simbologia e
logística utilizada pelo Exército norte-americano. Proporcionando

3 Para a obtenção do grau de mestre o autor redigiu a sua dissertação de mestrado sobre o tema
“The Community of Portuguese Speaking Countries (CPLP) Organizations: A Strategic
Analysis as a Security Enhancement Intergovernmental Organization”. Esta dissertação
encontra-se disponível em formato digital na Combined Arms Research Digital Library.

62
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS EUA

desta forma, aos alunos os conhecimentos básicos para poderem ter


uma participação ativa durante o curso. No final de cada bloco de
matéria é exigida a realização de um teste de avaliação no portal
informático da escola.
– P930, CGSOC Preparatory Course. Este curso tem uma abrangência
semelhante ao P920 Preparatory On-Line Course, no entanto é ministrado
presencialmente durante oito dias e também visa a preparação dos
alunos internacionais e dos outros alunos que não pertencem ao
Exército norte-americano para serem participantes ativos no CGSOC.
– Command and General Staff Officers Course (CGSOC – ILE). O curso
propriamente dito subdivide-se em três componentes:
x Common Core: Com a duração de cerca de quatro meses e um
horário diário de quatro a seis horas, compreende um currículo
comum a todos os oficiais e é semelhante aos CGSOC ministrados
nas outras CGSS das Forças Armadas dos EUA. Esta fase visa
fornecer aos alunos as competências necessárias para o
desempenho de funções de liderança em organizações militares,
interagências e/ou multinacionais no espetro total de operações.
Centra-se nas seguintes áreas: Stage Setter – Analisar o impacto
das ameaças, desafios e oportunidades no contexto contemporâneo
(Contemporary Operating Environment COE); Critical Reasoning –
Definir um problema, desenvolver um argumento, avaliar evidências,
induzir/deduzir, avaliar o argumento; Leader Assessmentand
Development – Analisar a liderança baseada em competências no
sentido de melhorar os estilos de liderança dos alunos;
StrategicBuild/Change/Resourcethe Force – Analisar a estratégia de
nível nacional; Operational Studies. Objetivos operacionais derivados dos
objetivos estratégicos; Tactical Studies – Enfoque doutrinal com
ênfase ao nível de Brigada, Divisão e comando de componente terrestre.
As matérias abordadas foram: C100 – Foundations; C200 –
Strategic Environment; C300 – JIIM Capabilities; C400 – Joint
Doctrine & Planning; C 500 – Army Doctrine & Planning
(esteblocodecerto sera diferente entre cada CGSOC); F100 – Force
Management; H100 – Rise of the Western Way of War e L100 –
Developing Organizations and Leaders.
x Advanced Operations Course: Nesta componente, com duração de
quatro meses, pretendem-se desenvolver competências que habilitem
os alunos ao desempenho de funções de comando em unidades de
escalão Batalhão e Brigada, no espetro total de operações, em
ambientes conjuntos e multinacionais, bem como para servir

63
REVISTA DE ARTILHARIA

como oficiais de estado-maior em unidades de escalão Divisão e


superiores. Nesta fase, foram executados 3 exercícios práticos,
centrando-se nas seguintes áreas: Nível operacional da guerra –
no espetro total de operações; Major Contingency Operations – no
escalão Divisão; Stability Operations – no escalão Brigada.
As matérias abordadas foram: O100 – Campaign Planning; O200
– Force Generation; O 300 – Major Combat Operations; O400 –
Stability Operations; K200 – Contracting; H200 – Military Innovation
in the Interwar Period; H300 – Roots of Today’s Operational
Environment; L200 – Leadership Applied e E200 – Military Ethics.
x Electives Program: Este programa permite aos alunos selecionar
as matérias e disciplinas em que pretendem aprofundar
conhecimentos ou efetuar o seu desenvolvimento profissional,
preparando-se para futuras missões, e satisfazer os seus
interesses pessoais. Cada aluno é obrigado a completar um
mínimo de 192 horas (num total de oito disciplinas eletivas).
Além destas componentes, durante todo o curso foram realizadas
inúmeras conferências, em média duas por semana, proferidas por entidades
de reconhecido valor intelectual e experiência profissional com enfoque no
comando e liderança, nas operações militares correntes a nível mundial e na
transformação em curso do Exército e das Forças Armadas dos EUA.

Figura 1 – Estrutura curricular geral do CGSOC.

64
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS EUA

Para terminar a apresentação da estrutura e organização do CGSOC


convém fazer uma referência à avaliação efetuada durante o curso. A
avaliação do desempenho académico nas diversas matérias baseou-se,
principalmente, em dois instrumentos: na participação dos alunos e na
elaboração de pequenos ensaios críticos sobre temas abordados. A
participação dos alunos é relativamente fácil de avaliar, pois as turmas são
pequenas e são os mesmos professores que acompanham os alunos durante
todo o ano. Os pequenos ensaios críticos têm entre quatro a oito páginas e
devem seguir a seguinte norma: breve introdução, tese (ideia principal),
argumentos que sustentam a tese e conclusão. As regras de avaliação são
claras e do conhecimento geral. As notas são apenas do conhecimento
individual e são disponibilizadas ao aluno no portal do CGSC.
Desta forma, pode dizer-se que a estrutura e organização do curso é
única não só pela forma lógica como este se encontra montado mas também
pela sua metodologia. Estamos perante um modelo de educação de adultos,
onde é promovida a análise e a adaptação a novos desafios. Convém
finalmente ressalvar os avançados recursos informáticos e tecnologias de
informação que apoiam a realização de todo o curso.

5. EXPERIÊNCIAS VIVIDAS

No âmbito social, todos os alunos internacionais tiveram a oportunidade


de frequentar simultaneamente com o curso, um programa de visitas cuja
finalidade é expor os valores da sociedade norte-americana, bem como o
funcionamento das diversas organizações que caraterizam as instituições
políticas, judiciais, militares e culturais dos EUA. Assim, foram conduzidas
visitas ao Governo do Estado do Kansas, incluindo o Supremo Tribunal do
Estado do Kansas (Topeka), National Guard, Cessna Corporation (Wichita),
FortRiley (Campo Militar onde se localiza a 1ª DivInf), Museus (Kansas
State, Dwight Eisenhower, Thruman, WW I National Museum, Newseum),
Universidades (Kansas State, Lawrence, e Parkville), Staff Ride de três dias
da Batalha de Gettysburg e à capital dos EUA em Washington (Senado,
Pentágono, Departamento de Estado, FMI e vários museus da cidade).
Para os estudantes internacionais o curso tem uma significativa componente
social. Nesta componente destaca-se o conjunto de sponsors que são atribuídos a
cada um dos estudantes estrangeiros. Este conjunto de sponsors são originários:
da área metropolitana da cidade de Kansas, da vila de Leavenworth e do
FortLeavenworth. As responsabilidades de cada um destes sponsors são
estabelecidas pela International Military Student Division (IMSD) que integra

65
REVISTA DE ARTILHARIA

os estudantes internacionais. Inicialmente estas obrigações incluem o neces-


sário acompanhamento do aluno no contrato de alojamento com as respetivas
utilidades (água, luz, gás, TV cabo e internet) e compra de automóvel.Porém,
para além destas tarefas, os sponsors são um precioso meio para integrar os
estudantes internacionais e respetiva família no seio da comunidade local.
Para além desta estrutura, caso a esposa do oficial o acompanhe
durante a frequência do curso há a possibilidade do cônjuge frequentar um
largo conjunto de atividades patrocinadas pelo IMSD e pelas esposas dos
militares americanos. Em termos sociais e de representação do país convém
referir que é importante que o aluno se possa fazer acompanhar pela
família, facilitando a sua cabal integração nesta estrutura única.

6. INTERESSE DO CURSO PARA O EXÉRCITO

As competências adquiridas no CGSOC têm interesse para o Exército e para


as Forças Armadas Portuguesas em diversas áreas, das quais se podem destacar:
– a doutrina, uma vez que o Exército dos EUA continua a estar na
vanguarda do emprego de recursos militares em operações.
Permitindo o acesso à atualização de conhecimentos doutrinários, ao
acompanhamento de operações militares em curso e às tendências
estratégicas, operacionais e táticas mais recentes das Forças
Armadas norte-americanas. Permite ainda, o contacto com o sistema
americano de educação profissional militar, com a vantagem inerente
de perceber como é que os EUA integram o ensino superior com a
formação profissional dos seus militares (naquilo que denominam de
educação profissional militar);
– a representação nacional, uma vez que permite a presença num
fórum onde estão representadas Forças Armadas de um grande
número de países, possibilitando a discussão académica de temas de
elevado interesse e atualidade para as Forças Armadas portuguesas,
bem como o estabelecimento de uma rede importante de contactos
profissionais. Cabe ainda referir aqui o benefício, sob o ponto de vista
cultural, profissional e social por ser possível reunir em ambiente
académico um conjunto tão vasto de Oficiais;
– o prestígio porque permite afirmar as capacidades dos recursos
humanos do Exército e das Forças Armadas de Portugal, visto que,
por norma, os representantes nacionais ficam entre os primeiros
classificados nos cursos que frequentam;

66
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO DOS EUA

– contacto com a metodologia utilizada. O CGSOC apresenta um


carácter único de discussão centrada no grupo de estado-maior.
Praticamente não existem aulas ministradas pelos professores,
exigindo uma intensa preparação prévia do aluno para poder
participar cabalmente nas discussões em sala. O professor estimula a
discussão e apresenta-se como um orientador da mesma. A existência
de majores e tenentes-coronéis na situação de reforma que integram
as equipas de professores, constitui-se como uma mais valia pela
possibilidade de aliar o conhecimento teórico à prática;
– a atualidade, as operações militares desempenhadas pelos EUA a
nível mundial são referidas transversalmente durante todo o CGSOC.
Existe assim, no curso um grande esforço para que os conteúdos
curriculares se adaptem à realidade de forma a responder às exigências
que o atual ambiente operacional coloca às forças militares dos EUA.
Deste modo, no Exército e nas Forças Armadas dos EUA é a própria
experiência operacional que influencia não só o corpo doutrinário, mas
também as táticas, técnicas e procedimentos. Neste âmbito, é importante
ainda referir o conjunto das intervenções e palestras de vários
comandantes de diferentes escalões (desde o Chefe do Estado-Maior
do Exército dos EUA até a atuais Comandantes de Brigada, empenhadas
em missões correntes) que têm um impacto único no CGSOC.

Considerando os conteúdos curriculares e as práticas de formação do


CGSOC, em termos de retorno, o curso afigura-se de grande utilidade no
desempenho da atividade de docência. Além disso, os conhecimentos
adquiridos também são adequados para o melhor desempenho em missões
da componente operacional das Forças Armadas, nomeadamente em funções
de comando e de estado-maior.

7. CONCLUSÕES

As competências adquiridas no CGSOC ampliam significativamente as


qualificações do Oficial que o frequente para o desempenho de funções de
comando de unidades, no âmbito do apoio à decisão e docência no ensino
superior militar. Paralelamente à frequência do CGSOC o Oficial aluno tem
a possibilidade de frequentar um programa de mestrado reconhecido pelo
sistema de ensino português. Esta possibilidade permite uma qualificação
adicional ao Oficial nomeado, facto que se pode tornar relevante no caso da

67
REVISTA DE ARTILHARIA

futura colocação do militar nomeado ser uma das instituições de ensino


superior militar das Forças Armadas.
Este curso permite a presença nacional num fórum onde há uma
representação quase mundial de Forças Armadas estrangeiras. O contato
com a diversidade dos oficiais e respetivas famílias dos países que
participam no CGSOC, representam o que se pode designar como as “Nações
Unidas dos Cursos de Estado-Maior” alargando sobremaneira a perspetiva
cultural, social e profissional do oficial que frequenta o curso.
O CGSOC é um excelente curso de estado-maior. A qualidade dos
programas e dos meios de apoio à formação disponibilizados aos alunos pelo
Exército norte-americano, um dos maiores Exércitos a nível mundial,
confere, por razões de doutrina, de prática e de emprego de meios, interesse
e relevância acrescida ao curso. A frequência do CGSOC revela-se do maior
interesse para o Exército e para as Forças Armadas Portuguesas. Além do
prestígio que advém da sua frequência, permite o acesso à atualização de
conhecimentos doutrinários, ao acompanhamento de operações militares em
curso e às tendências estratégicas, operacionais e táticas mais recentes a
nível mundial.

Figura 2 – Cerimónia de entrega do Diploma de Mestre


em Military Artand Sci.

68
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

ESPAÇO ACADÉMICO

OS ALVOS AÉREOS NA
ARTILHARIA ANTIAÉREA DO
EXÉRCITO PORTUGUÊS
Pelo Alferes de Artilharia
JOÃO DUARTE CAEIRO CHORA

"Seria necessário, neste momento, aumentar os


orçamentos de defesa, porque o que ameaça a Europa
é muito mais perigoso do que era há alguns anos atrás."
General Loureiro dos Santos

INTRODUÇÃO

Portugal, enquanto um dos membros da NATO, tem que cumprir os


objetivos estabelecidos por esta organização em termos de defesa aérea e,
relativamente às capacidades operacionais da AAA em Portugal, importa
investigar como se materializa a mesma e se esta é adequada às ameaças
emergentes, nos novos teatros de operações.
Deste modo, para assegurar o cumprimento das futuras missões que
sejam atribuídas ao Exército Português é estabelecido, no âmbito da NATO,
a avaliação e validação do nível operacional das nossas forças (NF) de defesa
antiaérea.
Existem dois métodos de treino dos apontadores de sistemas de armas
de AAA: o método simulado, que se baseia em simuladores que procuram a
semelhança mais próxima da realidade de uma ameaça aérea desde a
deteção do alvo até à execução do tiro simulado e, o método experimental,

69
REVISTA DE ARTILHARIA

que visa a utilização de alvos aéreos que permitem ao apontador efetuar as


operações de conduta do tiro 1 e efetuar tiro sobre o alvo, podendo analisar
em tempo real os efeitos do mesmo.
A AAA, em operações e exercícios, bem como em operações conjuntas e
combinadas, é atualmente uma componente indispensável para o sucesso
das operações militares e necessita do emprego de alvos aéreos que
respondam a todas as necessidades do treino das guarnições e assim obter o
sucesso do cumprimento das diversas missões que se encontram atribuídas à
AAA.
Devido à evolução contínua das aeronaves, que atingem hoje velocidades
muito elevadas, aos seus meios de deceção que são cada vez mais
sofisticados, e ainda a problemática dos mísseis (balísticos e interconti-
nentais) que se destacam hoje como ameaças aéreas, estes são dois exemplos
de possíveis alvos aéreos. Deste modo, a temática do estudo dos alvos aéreos,
devido à evolução da tecnologia e da emergência de novas ameaças, torna-se
muito pertinente na atualidade.
Esta investigação assume ainda um papel fulcral face à atual situação
do Exército Português, uma vez que os alvos aéreos disponíveis são escassos
e, num futuro próximo, terão que ser adquiridos novos alvos para garantir a
continuação do treino operacional das nossas forças de AAA.
O objectivo da realização desta investigação é analisar se os alvos
aéreos que a AAA possui são os mais indicados para cada sistema de armas
do Exército Português, nomeadamente o Sistema Míssil Portátil Stinger, o
Sistema Míssil Ligeiro Chaparral e o Sistema Bitubo AA 20mm e, caso não
sejam, identificar os alvos aéreos que satisfaçam os requisitos para tal.
Pretende-se também, com a elaboração deste trabalho, verificar se os
simuladores de procedimentos são soluções viáveis face às restrições
orçamentais, e caso seja necessário investir num sistema de alvos aéreos,
qual o mais eficiente e eficaz, estabelecendo sempre que possível a
relação qualidade/preço e procurar analisar o mais detalhadamente
possível outros sistemas de alvos aéreos que sejam relevantes para o
treino operacional das NF.

1 As operações de conduta do tiro compreendem seis fases sendo elas: “Deteção, Análise da
Evolução da Ameaça, Aquisição, Preparação do Tiro, Execução do Tiro e Observação do Tiro
ou Guiamento” (EME, 1997).

70
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

CAPÍTULO 1
O ATUAL CONTEXTO OPERACIONAL

1.1 O AMBIENTE CONTEMPORÂNEO DAS OPERAÇÕES MILITARES

É irrefutável que a situação estratégica e o ambiente internacional se


alteraram significativamente devido ao surgimento de novas condicionantes,
nomeadamente financeiras, a emergências de novas grandes potências e da
crise económico-financeira que se focalizou na Zona Euro. No entanto os
interesses de Portugal são atualmente “afirmar a sua presença no mundo,
consolidar a sua inserção numa sólida rede de alianças, defender as
comunidades portuguesas e contribuir para a promoção de paz e da
segurança internacional” (Resolução do Conselho de Ministros nº19, 2013).
Para analisar corretamente o atual ambiente contemporâneo das
operações militares, é fundamental identificar os fatores que afetam as
operações militares, nomeadamente nas missões que estamos incumbidos de
cumprir que são maioritariamente de promoção de paz e de segurança
internacional, pois são esses fatores que vão definir o sucesso ou insucesso
dessas operações militares.
Baseado nesta premissa iremos descrever, através das principais fontes
de referência, qual o ambiente operacional em que as nossas operações
militares se desenrolam atualmente, bem como o seu ambiente de informação.
O ambiente operacional é composto pelas diversas condições,
circunstâncias e influências que o sumário executivo decide, afetando
geralmente o emprego de recursos e suportando as decisões do comandante.
Abrange áreas e fatores físicos, nomeadamente o meio terrestre, aéreo,
aquático, o espaço e o ambiente de informação que por sua vez inclui o
ciberespaço. A natureza e a interação dos sistemas anteriormente referidos
irão afetar a forma do planeamento do comandante e por sua vez das
operações conjuntas (Department of Defense, 2011).
“O total conhecimento do atual ambiente operacional em que decorrem
as campanhas militares constitui um elemento fundamental para o emprego
dos meios disponíveis. A sua análise e estudo devem constituir uma
preocupação permanente dos líderes políticos e militares, sob pena de se
reduzirem drasticamente as possibilidades de êxito, independentemente das
capacidades e do potencial das forças empenhadas. O atual ambiente
operacional é caracterizado por um conjunto de condições, circunstâncias e
fatores influenciadores que afetam o emprego de forças militares e
influenciam as decisões do comandante. Para além de todos os sistemas

71
REVISTA DE ARTILHARIA

inimigos, adversários, amigos e neutrais dentro do espectro do conflito, inclui


também o entendimento do ambiente físico, da governação, da tecnologia,
dos recursos locais e da cultura da população local” (EME, 2012, p.17).
De acordo com Ramalho (2011, p.113) “o novo ambiente operacional
privilegia a ameaça assimétrica, transnacional, imprevisível e despropor-
cionada, relativamente à dimensão da destruição ou número de baixas
causado.” É identificado que nunca será possível combater o Ocidente com os
mesmos meios em termos quantitativos pois este é muito forte a nível
militar e devido à tecnologia que está disponível sendo que a outra fação
para poder fazer face ao Ocidente vai procurar identificar as vulnera-
bilidades da tecnologia, da construção ética, mental e legal que impede de
utilizar, indiscretamente, a força sendo esta conduzida de forma assimétrica
(Ramalho, 2011).
Considerando os fatores do ambiente operacional: a unidade de esforço,
os objetivos nacionais, os objetivos militares, a ameaça, a área de operações,
a informação, e a tecnologia, é sem dúvida muito relevante analisar os
fatores informação e tecnologia uma vez que este trabalho encontra-se no
intimamente interligado ao fator da tecnologia mais concretamente com a
função de combate 2 Proteção. Nesta função de combate salientamos a
missão de defesa antiaérea onde este trabalho se enquadra, pois visa
abranger as tarefas e sistemas que preservam a força para se dispor do
máximo potencial de combate e constituir-se como um facilitador da
manutenção da integridade da força e do seu potencial de combate (EME,
1997).
O ambiente de informação é um ambiente global composto por todos os
indivíduos, organizações e sistemas que reúnem, processam e disseminam
um ato ou informação, sendo definido como e onde os humanos ou os
sistemas automáticos observam, orientam, decidem e agem sobre a
determinada informação sendo por isso o principal ambiente de tomada de
decisão (Department of Defense, 2011).
Assim, um comandante que não conheça os fatores anteriormente
referidos não terá capacidade para analisar a ameaça, sendo esta uma
competência extremamente importante pois pode decidir o sucesso ou
insucesso de uma operação militar.

2 De acordo com o EME (2012, p.58), uma função de combate é: “um grupo de tarefas e sistemas
(pessoas, organizações, informação e processos) unidos por uma finalidade comum que os
comandantes aplicam para cumprir missões operacionais e de treino. As funções de combate
são combinadas de forma a gerar potencial de combate para o decurso das operações sejam elas
decisivas, de moldagem ou de sustentação. A acrescentar o facto de, em cada função de combate,
podermos variar a combinação de efeitos letais e não-letais de acordo com os efeitos pretendidos”.

72
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

1.2. NOVAS AMEAÇAS

As novas ameaças à segurança nacional e internacional são: o


terrorismo transnacional; a proliferação de ADM, na posse de organizações
de natureza difusa; o crime organizado transnacional, através do tráfico de
estupefacientes, de armas e de seres humanos que contém também a
imigração ilegal; os crimes contra o ambiente, particularmente a nível
marítimo que posteriormente afetam os recursos de determinado Estado; os
estados falhados, fracos ou fragilizados; os conflitos regionais que podem
gerar desequilíbrios regionais ou mesmo globais e são “hospedeiros” do crime
organizado transnacional (Santos, B., Covita, G. & Santos A., 2012).

1.2.1. Novas Ameaças Aéreas

Segundo a doutrina americana (Headquarters Department of The Army


[HDA], 2000a), as ameaças do século XXI serão Weapons of Mass Destruction
(WMD), Weapons of Mass Effect (WME), plataformas de Reconnaissance,
Surveillance, and Target Acquisition (RSTA) não tripuladas, ataques precisos,
utilização em grande quantidade de rockets baratos, Cruise Missiles (CM)
com baixa observação e simultânea informação do campo de batalha. As
entidades que possuam sistemas aerodinâmicos e balísticos e que consigam
efetuar o lançamento dentro das suas fronteiras são entidades que possuem
elevada importância estratégica. Também é de salientar que a tradicional
ameaça aérea de aeronaves de asa fixa e helicópteros vai continuar, com
novos sistemas de multitarefa altamente capazes.
De acordo com o Major Mimoso (comunicação pessoal, 8 de março de
2013), as novas ameaças aéreas consistem em todas as aeronaves ou
engenhos que utilizem o espaço aéreo, sendo que até um ataque de
Artilharia de Campanha (AC) é considerado uma ameaça aérea. No que diz
respeito à ameaça mais provável destacam-se os engenhos aéreos não
tripulados, que se subdividem em duas áreas: os engenhos de reconheci-
mento e engenhos de combate. Em termos doutrinários há que referir que
qualquer estado pode empregar armas de baixo custo com alta capacidade
remuneradora como é o caso de foguetes, Unmanned Air Vehicles (UAV) e
ataques de morteiros.
Analisando o custo de sistemas não tripulados, como se pode observar na
Figura 2.1, é possível verificar que o binómio de baixo/custo altamente
remunerador encontra-se plenamente plasmado, uma vez que as vantagens
destes sistemas são inúmeras, a começar pelo facto de serem cada vez mais
letais e estarem mais acessíveis no mercado mundial. Atualmente qualquer

73
REVISTA DE ARTILHARIA

pessoa tem acesso a


dispositivos eletrónicos
controlados à distân-
cia podendo, se tiver
intenção, de armá-lo e
causar danos elevados
numa força quer mili-
tar quer civil, sendo que
a maior parte dos esta-
dos não têm disponível
nenhum meio de defesa
que lhe assegure uma
defesa completamente
eficaz contra este tipo
de ameaça. Para ter-
minar é de salientar
que estes dispositivos Figura 2.1 – Custo de sistemas não tripulados.
Fonte: http://www.dmi.usma.edu/Branch/AD/WhyADAII/Why.htm
são acionados e contro-
lados à distância, não havendo perigo de vida para a facção que os utilizar.
(HDA, 2000a).
De acordo com o Major Vaz (comunicação pessoal, 5 de março de 2013),
as novas ameaças encontram-se associadas ao facto de constantemente estar
a aumentar o alcance dos CM e dos mísseis táticos balísticos, nomeada-
mente de países não NATO, designadamente no Irão e na Coreia do Norte,
como pode observar-se nas Figuras 2.2 e 2.3 respetivamente, tornando-se
muito pertinente um planeamento cada vez mais detalhado e meios de
defesa igualmente mais sofisticados para fazer face a tal ameaça. Outra
ameaça que tem que estar presente nas forças militares são os Unmanned
Combat Air Vehicle (UCAV), visto estes equipamentos serem de difícil
deteção, devido às suas dimensões reduzidas e ao seu voo ser de baixa
altitude. Estes dispositivos encontram-se também municiados e têm como
objetivo causar baixas nas forças opositoras.

74
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Figura 2.2 – Alcance dos mísseis Figura 2.3 – Alcance dos mísseis cruzeiro da
cruzeiro do Irão. Coreia do Norte.
Fonte: http://www.reuters.com/article/ Fonte: http://news.bbcimg.co.uk/media/images
slideshow/idUSL0925390620080710.jpg /59119000/jpg/_59119706_north_korea_ranges_2.jpg

Na cimeira da NATO, em 2012, considerou-se que a proliferação de


mísseis balísticos tem aumentado o risco dos países constituintes da NATO,
sendo que o desenvolvimento da Ballistic Missile Defence (BMD), decidido
na cimeira que decorreu em Lisboa em 2010, é a tarefa chave de defesa
coletiva destes países.
A AAA interliga-se ao Sistema de Defesa Aérea Nacional (SDAN) para
responder às novas ameaças, nomeadamente as aeronaves renegadas 3 ,
sendo que as medidas a serem adotadas para fazer face a este tipo de
ameaça são de exclusiva responsabilidade nacional (Benrós, 2005).
De acordo com o Major Vaz (comunicação pessoal, 5 de março de 2013),
para se conseguir dar uma resposta com elevado grau de probabilidade de
sucesso a uma ameaça renegade, há que se implementar medidas restritivas
do espaço aéreo de modo a ser mais fácil identificar a aeronave em questão,
bem como efetuar um planeamento mais detalhado de dispositivos e
também adquirir melhores sistemas de aviso prévio.

3 “É usado para definir uma aeronave ou plataforma civil que é avaliada como operando de
modo a criar a suspeição de poder ser utilizada como arma num ataque terrorista” (tradução
livre do Standing Defence Plan 10901D Active Fence).

75
REVISTA DE ARTILHARIA

1.3. A NECESSIDADE DO TREINO OPERACIONAL

Segundo o novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional, publicado em


Decreto-Lei nº67/13 de 5 de Abril de 2013, as Forças Armadas Portuguesas
devem dispor de “capacidade para projetar forças para participar em
missões no quadro da segurança cooperativa ou num quadro autónomo para
proteção das comunidades portuguesas no estrangeiro, em áreas de crise ou
conflito, de vigilância e controlo dos espaços de soberania e sob jurisdição
nacional, e de resposta a emergências complexas, designadamente em
situações de catástrofes ou calamidade” (Resolução do Conselho de Ministros
nº19, 2013).
Segundo Azevedo (2011), para se manter a operacionalidade e os treinos
das tropas que constituem a NATO, são realizados exercícios 4 e treinos 5 ,
que ao nível da NATO se encontram espelhados no Bi-Strategic Command
(BI-SC) Military Training Exercise Programme (MTEP 6 ) e no BI-SC 75-3
Collective Training and Exercise Directive (CT&ED 7 ). Posteriormente o
CEMGFA elabora a Exercise Directive (EXDIRG) baseando-se no BI-SC 75-3
e estabelece o Exercise Program (EXPROG) (NATO, 2013a).
De acordo com o Plano Integrado de Treino Operacional 2013 (PITOP),
as baterias de AAA efetuam os seus treinos operacionais em diversos
exercícios. No que diz respeito a exercícios combinados, estarão presentes
forças de AAA nos exercícios Arrcade Caesar, Arrcade Fusion, Capable
Logistician, Frontera, Hirex 13 e Lone Paratrooper. No que diz respeito a
exercícios do escalão Companhia e Batalhão, encontrar-se-ão presentes nos
exercícios Raposa, Belerofonte, Neptuno, Pedra Viva e no Relâmpago. Em
exercícios de escalão Brigada as unidades de AA irão empenhar-se nos
exercícios Apolo, Dragão e Rosa Brava. Nos exercícios a decorrer nas Zona
Militar dos Açores (ZMA) e na Zona Militar da Madeira (ZMA), as unidades
de AA ainda serão empenhadas nos exercícios Cachalote e no Golfinho
(Jerónimo, 2013).

4 “São operações militares simuladas ou não, que envolvem planeamento, preparação, execução
e análise, com a finalidade de treinar e avaliar a doutrina e os procedimentos aplicados, e as
capacidades e prontidão das forças envolvidas” (Pinto, 2011, p.5).
5 Permite através da prática sistemática e planeada, de carácter individual ou coletivo, manter
ou aperfeiçoar as capacidades, saberes e aptidões obtidas através do Ensino e da Formação.
Tem por finalidade manter a eficiência e a eficácia do desempenho dos militares nas suas
funções (Pinto, 2011).
6 É onde se encontram as orientações, calendário, prioridades e mecanismos de coordenação e
financiamento para os exercícios do ano de 2008 até 2013 (Azevedo, 2011).
7 “Contém as orientações para a preparação, planeamento e conduta do treino coletivo NATO e
cooperação militar” (Azevedo, 2011).

76
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Segundo a “Diretiva Operacional Nº10/CEMGFA/02-REV2 – Diretiva


para a Execução de Exercícios nas Forças Armadas” (EXDIRGEN) à
situação da segurança do ambiente internacional exige cada vez mais o
emprego de Forças Militares nacionais em exercícios de forma conjunta 8 e
combinada 9 , adaptando-se assim a novos cenários e acompanhando a
evolução dos nossos aliados, tirando o maior proveito do desenvolvimento
tecnológico e das implicações ao nível dos conceitos e doutrinas, sendo estas
orientadas de acordo com a operação conjunta e/ou combinada das forças.
Deste modo, as Forças Armadas devem realizar e participar anualmente em
diversas atividades de treino operacional, dentro e fora do território
nacional, com a finalidade de testar e avaliar as suas capacidades e os
planos existentes, para obterem o conhecimento de técnicas e procedimentos
das forças militares de outros países (Pinto, 2011).
De acordo com o documento “NATO Education, Training, Exercise and
Evalutation Policy”, que por sua vez possibilita a elaboração das diretivas
“Bi-SC Directive 75-2 Education, Training, Exercise and Evaluation” e a
diretiva “Bi-SC 75-3 Collective Training and Exercise Directive”, existe um
conjunto de itens que devem estar presentes na checklist de avaliação de
uma força de modo a identificar os problemas e melhorar a eficiência e
eficácia de uma força militar, sendo que cada organização deve possuir um
sistema de avaliação que garanta a operacionalidade e a respetiva avaliação
da força (NATO, 2013a).
Deste modo, para a elaboração dos exercícios em que as unidades de
AAA vão estar empenhadas, é necessária a existência de alvos aéreos para
permitir o treino e a respetiva avaliação das guarnições de AAA.

1.4. TREINO DA AAA

De acordo com o Capitão Heleno (comunicação pessoal, 20 de fevereiro


de 2013), a credibilidade da AAA assenta exclusivamente em demonstrações
reais da eficácia conseguida nos fogos reais com disparos ajustados contra
determinados alvos aéreos que simulem rotas de aeronaves inimigas. A
execução do tiro contra balões ou drones cujas rotas não sejam análogas à de
determinadas aeronaves, nomeadamente helicópteros, aeronaves de asa
fixa, UAV, mísseis balísticos táticos, Rocket Artillery and Mortars (RAM) é

8 De acordo com a Diretiva Operacional Nº 10/CEMGFA/02-REV2 exercícios conjuntos envolvem


as Forças Armadas Nacionais de dois ou mais ramos. (Pinto, 2011).
9 De acordo com a Diretiva Operacional Nº 10/CEMGFA/02-REV2 exercícios combinados envolvem

as Forças militares nacionais e forças de outros países, podendo ser ou não realizados em
território nacional. (Pinto, 2011).

77
REVISTA DE ARTILHARIA

sempre uma mistificação dos treinos e resulta quase sempre num efeito
desmoralizador, pelo que é necessário considerar a criação de condições
ideais ou próximas do ideal, para se realizar o tiro de AA de forma segura e
que permita simultaneamente a avaliação operacional das guarnições e a
avaliação técnica dos sistemas de armas. Deixando de parte os simuladores,
uma vez que não nos permitem caracterizar a atitude psicológica do atirador
nem as reais aptidões técnicas, para efetuar o correto treino da AAA é
necessária uma zona em que seja possível instalar um mínimo de 6 armas
no caso do sistema canhão, ou 2 armas, no caso de sistema míssil, e de ter cerca
de 2km de área para instalar um sistema de alvos aéreos evoluídos, e nessa
área definida efetuar o tiro antiaéreo e a respetiva avaliação das secções.
Segundo o Comandante do GAAA/RAAA1 (comunicação pessoal, 21 de
fevereiro de 2013), revela-se fundamental a necessidade de se proceder à
avaliação das competências adquiridas pelos militares, tanto a nível tático
como técnico, bem como a nível individual e coletivo, uma vez que a defesa
antiaérea baseia a sua eficiência no resultado das sinergias obtidas pelos
seus subsistemas, sendo que um exemplo avaliativo recente foi o
estabelecimento de uma defesa aérea aquando da visita do Papa Bento XVI.
Deste modo devem existir dois tipos de avaliações nas unidades de
antiaérea: a avaliação tática e a avaliação técnica. Sendo a avaliação global
e integrada, esta é obtida através da análise dos exercícios, nomeadamente o
exercício militar Relâmpago 2013, e através de operações reais,
nomeadamente a proteção aérea estabelecida na visita do Papa Bento XVI.
A avaliação tática consiste na avaliação das funções dos diferentes
elementos da unidade antiaérea na vertente tática, envolvendo
deslocamentos, reconhecimento, escolha, ocupação, organização e segurança
de posições de tiro, consolidando o treino efetuado anteriormente. A
avaliação técnica consiste na avaliação dos procedimentos das diversas
secções da unidade e guarnições das armas antiaéreas, desde a preparação
para o tiro com simuladores, nomeadamente os sistemas S11, Stinger Troop
Proficiency Trainer (STPT), o Field Handling Trainer (FHT) e o Tracking
Head Trainer (THT), até às operações de manutenção antes do tiro,
passando pela instrução preliminar de seguimentos com a colaboração da
Força Aérea (FA) ou através da utilização de alvos aéreos. A execução dos
fogos reais é o culminar do ciclo operacional, que tem como objetivo validar
as competências obtidas nas fases anteriores da avaliação, permitindo assim
avaliar o nível de treino e instrução dos militares em ambiente, o mais
semelhante possível do real, complementando a formação ministrada
previamente e preparar ao nível psicológico as guarnições para situações em
que seja necessário o empenhamento real.

78
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

1.5. OS SISTEMAS DE ARMAS AAA PORTUGUESES

Os sistemas de armas de AAA estão integrados em baterias que têm


como missão genérica, “preparar-se para executar operações em todo o
espectro das operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de
acordo com a sua natureza” (EME, 2009, p. 2). Portugal não efetua
alterações nos seus sistemas de armas de AAA desde 1999, data em que
recebeu a última versão do Sistema Míssil Ligeiro Chaparral (SMLC), e
atualmente possui, no que respeita a sistemas de armas, o sistema Bitubo
AA 20mm, o SMLC M48 A2 E1 e o SMPS versão Stinger Reprogrammable
Microprocessor (RMP) 10 .

1.5.1. Sistema Bitubo AA 20mm M/81

O Bitubo AA 20 mm M/81, é uma arma de origem alemã, mais


propriamente da fabrica Rheinmetall, e encontra-se ao serviço do Exército
Português desde 1981. O
Bitubo está equipado com dois
canhões cuja nomenclatura é
canhão 20mm x 139 MK20
DM4. Esta arma destina-se à
defesa AA de pontos e zonas
sensíveis, contra alvos aéreos
voando a baixas e muito baixas
altitudes, sendo o alcance
eficaz da arma de 1200m
(RAAA1, 2002).
Este sistema atualmente Figura 3.1 – Sistema Bitubo AA 20mm m/81.
Fonte: http://img28.imageshack.us/img28/4901
equipa, para efeitos de ins-
/clipboard29hs.jpg
trução, o RAAA1 e as BtrAAA
dos Regimentos de Guarnição Nº2 da ZMA e o Nº3 da ZMM (RAAA1, 2002).

1.5.2. Sistema Míssil Ligeiro Chaparral M48 A2 E1

É um sistema míssil de fabrico Americano que se encontra ao serviço


do Exército Português desde 1990. Este sistema míssil ligeiro é um sistema
de Short Range Air Defence (SHORAD), auto propulsado, e a sua missão é

10 A designação RMP provém da sua capacidade de carregar um determinado software para


poder analisar o alvo e assim permitir o tiro ou impedir o tiro de acordo com o software
previamente carregado (USMC, 1998).

79
REVISTA DE ARTILHARIA

conferir proteção a pontos ou áreas


sensíveis (postos de comando,
áreas logísticas, pontes, áreas de
apoio de serviços, entre outras)
contra aeronaves voando a baixa e
muito baixa altitude. Possui uma
capacidade de se empenhar sobre
diferentes alvos aéreos num curto
espaço de tempo e sob quaisquer
condições meteorológicas. Tem ainda
a possibilidade de atuar em áreas
contaminadas devido ao seu sis-
Figura 3.2 – Sistema Míssil Ligeiro tema de proteção Nuclear, Bio-
Chaparral M48 A2 E1. lógico e Químico (NBQ). Possui
Fonte: http://img19.imageshack.us/img19/
2368/chaparraldvic415.jpg ainda sistema de Identification
Friend or Foe (IFF 11 ) e Forward
Looking Infrared (FLIR) (RAAA1, 2002).
O sistema míssil ligeiro chaparral M48 A2 E1, equipa atualmente a
BtrAAA da Brigada Mecanizada e a BtrAAA da Brigada de Intervenção
sediada no RAAA1 (RAAA1, 2002).

1.5.3. Sistema Míssil Portátil FIM-92 Stinger

O sistema míssil guiado de inter-


ceção aérea FIM-92 Stinger é de origem
Americana e foi construído em 1978 pela
Raytheon Missile Systems. É um míssil
antiaéreo terra-ar e é guiado por um
sistema de deteção de infravermelhos e
ultravioletas que lhe permite detetar
fontes de calor. Foi começado a utilizar em
1994 e é determinado de Man Portable
Air Defense Systems (MANPADS) pois é
altamente portátil e permite a defesa
Figura 3.3 – Sistema Míssil
aérea de curto alcance e baixa altitude. Portátil FIM-92 Stinger.
Este sistema tem como missão primária Fonte: http://www.militaryfactory.com
a proteção contra ataques aéreos hostis, /smallarms/imgs/fim92-stinger_3.jpg

11 “Meios de identificação eletrónica, como é o caso dos dispositivos Identification, Friend or Foe
(IFF), foram criados com o objetivo de distinguir os meios aéreos inimigos dos amigos (EME,
2002, p. 1-1).

80
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

efetuados a baixa e muito baixa altitude sobre unidades de manobra e de


apoio de combate. O Sistema Míssil Portátil FIM-92 Stinger, que pode ser
observado na Figura 3.3, atualmente equipa o Grupo de Artilharia
Antiaérea das Forças de Apoio Geral sedeado no RAAA1 para efeitos de
formação e as BtrAAA da Brigada de Intervenção, a BtrAAA da Brigada
Mecanizada, e as BtrAAA da ZMM e da ZMA para emprego operacional
(RAAA1, 2002).
De acordo com o Capitão Heleno (comunicação pessoal, 15 de março de
2013), é de referir que a versão Block 1 do SMPS possui um algoritmo mais
avançado que permite um incremento da probabilidade de impacto neste
tipo de alvos, cerca de 75%, na medida em que este algoritmo já efetua os
cálculos tendo em consideração o tamanho e dimensão da aeronave, ao
contrário da versão que atualmente possuímos a qual detém uma
probabilidade de impacto de cerca de 50% e não efetua cálculos relativos ao
alvo aéreos.

CAPÍTULO 2
OS ALVOS AÉREOS NO EXÉRCITO PORTUGUÊS

2.1. IMPORTÂNCIA DOS ALVOS AÉREOS

De acordo com o Major Mimoso (comunicação pessoal, 8 de março de


2013), os alvos aéreos são imprescindíveis para o treino das guarnições de
AAA, uma vez que permitem treinar os operadores e as respetivas
guarnições para uma possível situação real em que seja necessário haver
empenhamento, e no caso especifico de AA, são fundamentais para simular
as ameaças.
Segundo o Major Vaz (comunicação pessoal, 5 de março de 2013), os
alvos aéreos são muito importantes para o treino das guarnições de AAA. No
entanto devem ter o tamanho e a forma adequadas aos nossos sistemas de
armas de AAA que se baseiam na defesa aérea a baixa e muito baixa
altitude. Os alvos aéreos devem ser recuperáveis pois o fator económico deve
ser sempre considerado, bem como o alvo em si deve ter a capacidade de
efetuar uma trajetória não linear de modo a tornar a simulação mais
próxima da realidade.
Procede-se de seguida à análise dos diferentes alvos aéreos utilizados
em Portugal.

81
REVISTA DE ARTILHARIA

2.1.1. Sistema MAV 260 SAMA

Este alvo aéreo surgiu


como uma solução de equilíbrio
devido a problemas económicos
que não possibilitavam a
aquisição de um alvo aéreo
para cada sistema de armas.
No entanto, para se satisfazer
as necessidades de instrução e
Figura 3.4 – Sistema MAV 260 SAMA. tiro real de AA, colocou-se a
Fonte: Captada por Moreira em 2000. hipótese deste alvo ser utili-
zado pelo sistema canhão e pelo
sistema míssil de pontaria ótica (MAV, 2001).
Segundo Fangueiro, em 1988, realizaram-se ensaios com o modelo
MAV260 SAMA (Figura 3.4), que era construído pela empresa Medeiros de
Almeida & Vicente, Lda com manga para testar a capacidade e potência do
motor concluindo a viabilidade da utilização deste modelo. Foi verificado que
apesar do alvo aéreo possuir uma reduzida potência de motor, este tinha
capacidade para voar com a manga rebocável e o sistema de rádio acoplado
era o necessário e suficiente para acionar todas as funcionalidades
realizadas pelo alvo aéreo. No que diz respeito a inconvenientes deste alvo
aéreo há que salientar os problemas na receção dos potes de fumos para o
alvo aéreo. No entanto tal foi considerado desnecessário uma vez que a
utilização de fumos visaria a utilização de voos muito afastados do operador,
tendo do mesmo modo sido observado que algumas especificações que se
encontram no Anexo B não correspondem à realidade. Por fim, o fabricante
forneceu igualmente uma lista de sobressalentes de primeira necessidade
(SecForm, 2013).

2.1.2. Sistema AEL Super Streek

De acordo com a Socimarpe, Lda, empresa construtora, este alvo aéreo é


independente de plataformas, pois pode ser lançado manualmente e efetua a
sua aterragem em qualquer superfície plana. O comando e controlo deste
alvo aéreo é assegurado por um transmissor manual VHF/FM com um
alcance superior a 3km, com uma segurança automática incorporada com
paragem de motor e abertura de páraquedas em qualquer emergência ou
falha de controlo. Pode ser equipado com um sistema de lançamento de
fumos e manga rebocável se necessário e possui ainda opcionalmente um

82
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

auto estabilizador de baixo custo bem como um páraquedas de emergência,


aberto por anomalia na receção de sinal, interferência ou falta de potência
(SecForm, 2013).
Foi um alvo evolutivo com experiências prestadas em diversos países
tendo sido fabricado em série utilizando componentes genuínos e por
conseguinte de maior fiabilidade. É um sistema que tem uma grande
vantagem face aos outros sistemas pois possibilita a instrução de aponta-
dores, podendo ser lançado à mão e a sua recuperação poder ser feita na
água, pois como se sabe o tiro de AA é normalmente executado em polígonos
de tiro junto ao mar por motivos de segurança e espaço (SecForm, 2013).

2.1.3. Sistema Snipe MK 2

O sistema Snipe MK 2 foi desenvolvido pela empresa Aero Electronics


(AEL) e foi utilizado pelo Exército Português a partir de 1974.
Segundo a empresa AEL, este alvo aéreo foi desenvolvido com o objetivo
de possibilitar o treino de uma defesa aérea de apontadores do sistema de
míssil ligeiro portátil, dos sistemas canhão terrestre e dos sistemas canhão
de aeronaves até 40mm de calibre, a um preço reduzido. No que diz respeito
à constituição deste alvo aéreo, ele compreende dois módulos: a unidade de
suporte terrestre (GSE) e o alvo aéreo. O GSE é um atrelado que permite
que o alvo aéreo seja acoplado numa viatura. Parte do GSE é um impulsor
que é uma parte integrante do atrelado sendo que junto ao atrelado existem
2 alvos aéreos e o equipamento de controlo rádio (SecForm, 2013).
De acordo com o fabricante, o alvo aéreo é constituído exteriormente por
madeira protegida por núcleo de espuma de poliestireno que garante a sua
durabilidade. No que diz respeito às peças constituintes do alvo aéreo, estas
são todas facilmente substituídas para permitir a reparação e um novo
lançamento do mesmo. Examinando as características que um alvo aéreo
deve preencher e segundo o extinto CIACC, este alvo aéreo garante a sua
deteção nas bandas radar entre os 3Ghz e os 10Ghz, pode ser visualizado
pelo operador numa distância em condições padrão entre os 2 a 3 km, pode
simular vários perfis de ataque de aeronaves, opera na maior parte das
condições atmosféricas e pode ser equipado com um máximo de 4 flares de
fumos ou 2 flares de infravermelhos (SecForm, 2013).
De acordo com testes realizados no extinto CIACC em 1981, conclui-se
que o sistema possibilitava à instrução das equipas de armas de Artilharia
AA notável realismo, numa boa relação de custo-eficácia, pois há que
considerar que 500 munições de 20mm custam cerca de 3 vezes mais que 1
Snipe e o aumento da moral das tropas, se for considerado o objetivo final do

83
REVISTA DE ARTILHARIA

tiro de AA, que é a destruição do alvo aéreo, este seria o indicado para tal.
No entanto como limitações deste sistema, este alvo aéreo depende seria-
mente da habilidade do operador, o qual deveria de ter conhecimentos
básicos de engenharia, alto nível de destreza manual e muito boa acuidade
visual (SecForm, 2013).
Pode ser consultado no Anexo D mais informações referentes a este alvo
aéreo.

2.1.4. Sistema Snipe MK 15

O alvo aéreo Snipe MK 15, que pode


ser observado na Figura 3.5, foi um
aparelho rádio comandado utilizado
essencialmente para simular objetivos
aéreos, na instrução de seguimento e tiro
dos apontadores dos sistemas de AAA.
Este alvo aéreo entrou ao serviço do
Exército Português em julho de 1989
Figura 3.5 – Sistema Snipe MK 15. com a aquisição de 7 alvos aéreos que
Fonte: Captada por Moreira em 2000. equiparam o CIAAC, nomeadamente o
Núcleo de Alvos Aéreos da Bateria de
Sistema de Armas que posteriormente se tornou na Secção de Alvos Aéreos
tendo os respetivos sistemas de alvos aéreos sofrido um elevado desgaste
(Moreira, 1997).
Este alvo aéreo possuía características que se encontram presentes no
Anexo E, sendo que, de acordo com o Sargento-Ajudante Moreira
(comunicação pessoal, 8 de março de 2013), este alvo revela algumas
incapacidades nomeadamente: devido à sua utilização constante, os motores
começaram a perder potência; o embate dos alvos em pedras durante a
aterragem provocou danos irreparáveis nos motores e nas fuselagens;
diversas falhas no nível de emissão do sinal rádio provocaram o acionamento
automático; os canais de restabelecimento de sobressalentes e manutenção
de segundo escalão eram muito demorados.

2.1.5. Sistema LZS 5000

O alvo aéreo LZS 5000, que pode ser observado na Figura 3.6, é um
sistema para a simulação realista de alvos aéreos que teve origem na
utilização de fogos pirotécnicos, tendo sofrido evoluções até chegar a este
sistema de alvo aéreo. Embora possua uma boa flexibilidade de emprego e

84
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

seja adequado à instrução com mísseis


terra-ar de curto alcance, a sua
trajetória não simulava uma aeronave.
O foguete encontra-se no interior de um
contentor, que serve simultaneamente
de rampa de lançamento. A trajetória
deste alvo é balística e permite uma boa
visibilidade, de dia e de noite. Em
relação aos encargos monetários, este
sistema é de baixo custo em relação a
Figura 3.6 – Sistema LZS 5000.
outros sistemas de instrução. Existiam Fonte: Captada por Belo em 2003.
duas versões deste sistema, a primeira
versão possui iluminação por flares acoplados ao corpo do foguete e não
dispunha de medidas de deceção, enquanto que a segunda versão liberta
esses flares durante a trajetória, simulando contra medidas eletrónicas ou
medidas de deceção (Maldonado, 2007).

2.1.6. Sistema BATS

O BATS, que pode ser obser-


vado na Figura 3.7, é um dos atuais
sistemas utilizado pelo Exército
Português sendo um sistema ver-
sátil, barato mas não recuperável e
que é utilizado para voar a baixas e
médias altitudes através de uma
trajetória balística, sendo especial-
mente desenhado para ser utilizado
com armas de curto alcance. No que Figura 3.7 – Alvo Aéreo BATS.
diz respeito à sua trajetória, esta Fonte: http://media.popularmechanics.com
pretende simular um ataque de uma /images/bats-430-0508.jpg
aeronave a baixa altitude de modo a
evadir-se da deteção radar, procurando posteriormente efetuar um
movimento de pull-up-point que consistem em aumentar a altitude
rapidamente e efetuar voo picado sobre o objetivo. Este alvo aéreo foi
desenvolvido pelos EUA, mais concretamente o United States Army Missile
Command no início dos anos 70, e designado para os sistemas de armas
Vulcan XM163/XM167, míssil Chaparral MIM-72, míssil Stinger FIM-43
Redeye e, mais tarde, utilizado com os sistemas Linebacker e Avenger
(Maldonado, 2007).

85
REVISTA DE ARTILHARIA

O sistema BATS é composto pelo alvo, propulsor e sistema de controlo


de fogo. As características técnicas deste alvo aéreo encontram-se mais
detalhadas no Anexo F. O sistema de propulsão do alvo é garantido por 2 a 5
rockets de combustível sólido. Há que salientar ainda que existem quatro
versões deste alvo aéreo: chaparral, redeye, vulcan e boost coast (HDA, 1978).
Analisando o Final Exercise Report do exercício Neptuno 2012, verifica-
se que o Sistema Míssil Stinger efetuou dois empenhamentos não tendo este
alvo sido abatido. No que diz respeito ao sistema míssil ligeiro Chaparral
verifica-se, que uma eficácia de 71%, ou seja, 5 dos 7 misseis efetuaram
impacto direto no alvo aéreo (Patronilho, 2012).
De acordo com o Final Exercise Report do exercício Relâmpago 2012
verifica-se uma eficácia de 90% em que dos 10 empenhamentos efetuados, 9
efetuaram impacto direto (Dias, 2012).

2.1.7. Sistema MQM-170A Outlaw

O sistema MQM-170A, que pode


ser observado na Figura 3.8, é um alvo
muito manobrável, modular, com
monomotor à retaguarda, desenhado
para obter uma grande eficiência
aerodinâmica e uma seção reduzida de
deteção radar. É um sistema de alvo
aéreo versátil, capaz de cumprir perfis
de voo realistas, para seguimentos e
empenhamentos em exercício de fogos
Figura 3.8 – Alvo Aéreo MQM 170ª – reais. O controlo de voo é conseguido
Outlaw. através de linha de vista, complemen-
Fonte: Captada por Belo em 2012. tada com um sistema de binóculos, ou
recorrendo a um sistema de auto-
piloto para além do alcance visual, utilizando navegação Global Positioning
System (GPS) (EM/GAAA, 2012).
O Outlaw tem a possibilidade de transportar múltiplas cargas e de
simular ameaças aéreas não tripuladas de reduzida escala, sendo que a
obtenção de calor é alcançada por amplificadores de calor proveniente dos
gases de escape dos motores que servem como fonte de radiação
infravermelha. Pode ser consultado no Anexo G mais informações referentes
a este alvo aéreo.
Pode-se verificar que o alvo aéreo Outlaw é adequado ao sistema de
míssil ligeiro chaparral e ao sistema canhão devido aos impactos registados

86
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

nos exercícios de 2012. No entanto, para o SMPS o alvo necessitaria de ser


de maior dimensão para garantir o impacto (Dias, 2012).
Analisando o Final Exercise Report do exercício Relâmpago 2012
verifica-se que este alvo aéreo não é adequado ao Sistema Míssil Portátil
Stinger visto não terem sido obtidos impactos em qualquer um dos alvos. No
entanto revelou-se ótimo para treinar o seguimento e empenhamento do
sistema bitubo AA 20mm.
De acordo com a análise do Final Exercise Report do exercício
Relâmpago 2013 foi possível constatar um impacto direto do Sistema Míssil
Portátil Stinger no alvo aéreo Outlaw.
Analisando os dois anos em que este sistema foi utilizado, verificou-se
uma eficácia de apenas 16,6%, uma vez que em 6 misseis Stinger
empenhados neste alvo aéreo apenas 1 obteve impacto direto. Logo é de
salientar que existem alvos aéreos mais adequados a este sistema de armas.

2.2. SIMULADORES

Neste subcapítulo são abordados os diferentes simuladores que existem ao


dispor da AAA para cada sistema de armas, bem como outros sistemas de simulação.
Procura-se também analisar se os simuladores possuem capacidades
para substituir os alvos aéreos, visto serem também um método de
simulação do tiro real sobre uma aeronave.
O simulador que existe atualmente no Exército Português para o
Sistema Bitubo AA 20mm m/81 é o sistema S11 Practice Control que tem
como missão o treino dos apontadores do sistema bitubo. Este sistema
permite aos apontadores efetuarem a aquisição de alvos com a mira ótica,
treinarem diversas técnicas de seguimento e disparo, e ainda verificar e
atestar a capacidade do bitubo. O simulador S11 possui cinco variáveis
independentes entre si que são a velocidade, direção, distância de aquisição,
distância ao ponto próximo e altitude de voo no ponto próximo. Este
simulador é constituído pelo sistema de simulação de alvos aéreos do qual
fazem parte a unidade de programação e o conjunto ótico-eletrónico, um
sistema de vídeo do qual faz parte a câmara, o monitor e o gravador e ainda
um motor elétrico que permite o treino ser conduzido numa sala não sendo o
apontador afetado pelas condições meteorológicas. A gravação permite ao
apontador rever a sua performance e melhorar no que falhou (EME, 1988b).
No que diz respeito aos simuladores do sistema míssil portátil FIM-92
Stinger, atualmente possuímos o FHT, o THT e o SPTP.
O FHT é um míssil de treino que simula a operação de um míssil real.
Não contém dispositivos eletrónicos reais, mas tem todas as características

87
REVISTA DE ARTILHARIA

exteriores do tubo de lançamento, grupo do punho e unidade de pontaria do


míssil real, possibilitando ao operador um treino real e ao mesmo tempo
permite a identificação dos erros de operação sem causar danos ao
equipamento sensível (HDA, 1992).
No que diz respeito ao THT, este contém o equipamento necessário para
o treino de empenhamentos e a operação com o Stinger. Em comparação com
o míssil real, o simulador realiza a mesma sequência de operações para
efetuar um empenhamento sobre uma aeronave, sem executar o lançamento
do míssil fornecendo a informação ao apontador dos resultados de uma
sequência de empenhamento, através do indicador de execução. Este
simulador recebe energia de uma bateria de treino recarregável, que fornece
energia à unidade de pesquisa, componentes elétricos e indicador de
execução, sendo ainda recarregável com gás Árgon (HDA, 1992).
O SPTP é um simulador que foi concebido para proporcionar a
familiarização e desenvolvimento das habilidades do tiro podendo ser
configurado com uma variedade de cenários utilizando diversos graus de
dificuldade que podem ser selecionados de acordo com as diferentes etapas
de aprendizagem em que o atirador se encontra. No que diz respeito aos
alvos, estes podem ser selecionados como aeronaves de asa fixa ou
helicópteros e podem ser simulados um elevado número de perfis de voo e
rotas de aproximação. Numa fase mais avançada do treino do apontador,
podem ser elaborados rotas de voo muito específicas. Uma outra
possibilidade deste equipamento é permitir o aparecimento de um alvo
aéreo, num determinado momento do simulacro, para testar o tempo de
reação do apontador e a identificação do respetivo alvo. O simulador, no
final do simulacro, permite classificar o apontador e gravar o resultado do
mesmo na memória do SPTP para mais tarde comparar o seu resultado
com o de outros apontadores. Este simulador visa preparar o apontador
para efetuar as operações de segurança do sistema míssil portátil FIM-92
Stinger e melhorar diversas capacidades entre elas, a identificação de
alvos (IFF), o empenhamento sobre alvos, a capacidade de seguimento de
alvos, a manipulação da arma e a tática utilizada pelas secções Stinger
(HDA, 2000b).
De acordo com o Capitão Heleno (comunicação pessoal, 18 de março de
2013), o simulador do Sistema Míssil Ligeiro Chaparral M48 A2 consiste
numa torre fixa do próprio Chaparral numa plataforma fixa orientada para
rotas de aproximação de aeronaves civis, permitindo assim procedimentos
de identificação, aquisição e empenhamento dos apontadores.

88
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

CAPÍTULO 3
O FUTURO DOS ALVOS AÉREOS

3.1 GENERALIDADES

O futuro dos alvos aéreos encontra-se em alvos à escala real, pois é uma
característica que se torna primordial para o seguimento e o respetivo
empenhamento da guarnição que está a efetuar o respetivo treino, uma vez
que o comportamento do míssil varia de acordo com a geometria e a
assinatura magnética que o alvo possui (Schneider, 2005).
Existe atualmente um alargado espectro de alvos aéreos disponíveis no
Exército americano para simular as diferentes ameaças e para testar os
sistemas de armas de AA. Existem alvos tripulados que são utilizados para
testar os sensores e outros testes não destrutivos. Existem por sua vez
outros alvos aéreos não tripulados que são utilizados para o seguimento e
teste dos sistemas de armas. Em termos de alvos não tripulados são
utilizados em escala real o alvo QF-4, sendo que, em escala reduzida são
utilizados os alvos MQM-107, BQM-34, BQM-74E, e o AQM-37. No que diz
respeito a alvos aéreos para simular ameaça UAV são utilizados UAV
operacionais do Exército Americano para efetuar o respetivo seguimento
através de sensores. Para testar os sistemas de armas é utilizado o MQM-
171A Broadsword. Em termos de alvos aéreos tripulados, para efetuar o
seguimento e teste dos sensores dos equipamentos, são utilizados os alvos
aéreos AT-38 e C-12, que pertencem ao 46th Test Group de Holloman
integrando na componente aérea americana. São também utilizadas as
aeronaves UH-1, UH-72 e C-12 que se encontram presentes na componente
aérea do Exército, mais concretamente na carreira de tiro de White Sands
Missile Range localizada em Fort Bliss, podendo ainda ser utilizada também
outras aeronaves através de um contrato (Ferrari, 2012).

3.2. SISTEMA QF4

O alvo aéreo QF4, que pode ser


observado na Figura 4.2, é um alvo
supersónico de escala real que é carac-
terizado por ser uma imitação da aero-
nave F-4 Phantom. É um alvo aéreo Figura 4.2 – Sistema QF4.
controlado remotamente para permitir a Fonte: http://www.af.mil/shared/media/
simulação de diferentes rotas de aproxi- photodb/web/060907-F-6890S-905.jpg

89
REVISTA DE ARTILHARIA

mação e perfis de voo de aeronaves, ou pode ser controlado através de um piloto


para ser monitorizada a sua performance. Quando se encontra a ser controlado
remotamente, instala-se no alvo um dispositivo explosivo que permite a detonação
do mesmo caso haja falha de controlo. O QF4 encontra-se equipado com um
sistema de contramedidas eletrónicas e infravermelhas que permite a avaliação
total dos atiradores e das armas que são disparadas sobre ele (USAF, 2008).

3.3. SISTEMA MQM-107 STREAKER

O sistema MQM-107, também denominado de Streaker, é um alvo aéreo


de escala reduzida que se enquadra no topo da escala subsónica ou seja,
atinge velocidades muito próximas das supersónicas e foi utilizado pelo
Exército e Força Aérea dos Estados Unidos. Este alvo possui diversas
versões sendo elas a MQM-107A, MQM-107B, MQM-107C, MQM-107D e
MQM-107E.

3.3.1. Sistema MQM-107A

A versão MQM-107A, que pode


ser observado na Figura 4.3, é um alvo
lançado com a ajuda de um único
foguete propulsor sólido e pode ser pré-
programado para diversas missões para
o treino das guarnições. No entanto
também pode ser controlado por um
operador através de um sistema de
Figura 4.3 – Sistema MQM-107A.
Fonte: http://www.designation-systems. guiamento via rádio. Este alvo é
net/dusrm/mqm-107a.jpg recuperável através de um sistema de
páraquedas que é automaticamente
acionado quando haja falha num sistema crítico ou da ligação rádio ao
operador. Esta versão permite ainda a utilização de diferentes payloads
nomeadamente radar, infravermelhos, dispositivos para melhorar a
capacidade visual e contramedidas. É um alvo desenhado essencialmente
para munições com guiamento via infravermelhos, nomeadamente mísseis
ou sistemas canhão (Parsch, 2004).

3.3.2. Sistema MQM-107B

Esta versão entrou ao serviço dos EUA em 1982 e a principal diferença


em relação ao seu antecessor foi o motor que passou a ser o Microturbo TRI60,

90
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

que possibilitava uma velocidade superior e dispunha de uma fuselagem


mais longa que garantia um volume maior de payloads (Ibidem, 2004).

3.3.3. Sistema MQM-107C

A versão MQM-107C destaca-se da versão anterior pela fuselagem ser


mais comprida e por possuir o motor da versão MQM-107A, uma vez que
havia motores em stock, os EUA aproveitaram esses motores juntamente
com uma nova fuselagem para construir este modelo (Ibidem, 2004).

3.3.4. Sistema MQM-107D

O sistema MQM-107D,
que pode ser observado na
Figura 4.4, entrou ao serviço
dos EUA em 1987 e destaca-se
por ser uma variante do sis-
tema MQM-107B, sendo alte-
rado o motor que passou a ser
o Microturbo TRI-60-5 Modelo Figura 4.4 – Sistema MQM-107D.
Fonte: http://www.designation-systems.net/dusrm
220 (Ibidem, 2004). /mqm-107d.jpg

3.3.5. Sistema MQM-107E

Atualmente as versões que são utilizadas nos EUA, para o treino


operacional, são a versão MQM-
107D e a MQM-107E, que pode ser
observada na Figura 4.5. Estes alvos
aéreos são utilizados para o treino
dos sistemas de armas terra-ar e ar-
ar. As inovações deste modelo, em
relação à versão anterior, baseiam-se
essencialmente na geometria que Figura 4.5 – Sistema MQM-107E.
engloba o comprimento, largura e a Fonte: http://www.designation-systems.
envergadura (Ibidem, 2004). net/dusrm/mqm-107e.jpg

3.4. SISTEMA BQM-34A/D FIREBEE

Este sistema é composto por duas versões que são o BQM-34A, que pode
ser observado na Figura 4.6, tendo sido atribuído à Marinha dos EUA, e o

91
REVISTA DE ARTILHARIA

BQM-34D que foi atribuído ao Exército


devido a ser uma versão com uma
envergadura maior e assim permitir
uma melhor observação para o tiro AA.
A principal missão deste sistema é
simular aeronaves e mísseis inimigos
para garantir as defesas aéreas opera-
cionais. Este sistema atinge velocidades
de Mach 0,97 e permite o treino opera-
cional em altitudes que variam desde os
3 metros (acima do nível do mar) até
aos 18 km. Possui ainda um conjunto de
payloads de modo a aumentar as
Figura 4.6 – Sistema BQM-34A.
capacidades do mesmo, nomeadamente
Fonte: http://www.armybase.us/wp/ sistema IFF e GPS. No que diz respeito
content/uploads/2009/07/BQM-34- à recuperabilidade este sistema possui
Firebee.jpg páraquedas (Northrop Grumman, 2005).

3.5. SISTEMA BQM-74E CHUKAR

Segundo o Capitão Maldonado,


o BQM-74E, que pode ser observado
na Figura 4.7, é um alvo aéreo sub-
sónico com um desempenho bastante
elevado, sendo utilizado regular-
mente pela Marinha dos EUA,
devido à sua capacidade de simular
mísseis anti navio inimigos. Tem
também a possibilidade de poder ser
Figura 4.7 – Sistema BQM-74E.
empregue para treinar os pilotos no
Fonte: http://imgc.allpostersimages.com/images combate ar-ar. Tem uma elevada
/P-473-488-90/61/6126/L2SF100Z/posters panóplia de possibilidades sendo de
/stocktrek-images-a-bqm-74e-chukar- destacar: IFF, radar passivo e ativo,
drone-ready-for-launch.jpg
contramedidas eletrónicas (ECM),
flares e simuladores seeker. O BQM-74E pode ser integrado em diversos
sistemas de comando e controlo (C2) de alvos aéreos, como por exemplo o
Integrated Target Control System (ITCS), Multiple Aircraft GPS Integrated
Command Control (MAGIC2), Vega, e o System for Naval Target Control
(SNTC). O seu emprego pode ser efetuado de uma forma manual ou pré-
programado (Maldonado, 2007).

92
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Este alvo aéreo, também é denominado por Chukar III, sendo um alvo
recuperável através de páraquedas em terra ou mar até 24 horas. Este alvo
está habilitado a treinar os sistemas de armas Stinger e Chaparral que
possuímos atualmente no Exército Português (Northrop Grumman, 1998).

3.6. SISTEMA AQM-37

Este sistema de alvos aéreos foi desenhado numa parceria entre o


Exército e a Força Aérea dos EUA, uma vez que era necessário obter-se um
alvo aéreo supersónico de tamanho reduzido e que fosse efetuado o seu
lançamento via aérea. Este sistema possui diversas versões ao longo da sua
evolução tendo sido elas: AQM-37A, AQM-37C e AQM37D.

3.6.1. Sistema AQM-37A

O sistema AQM37A, que pode


ser observado na Figura 4.8, possui
também diversas evoluções sendo que
a primeira versão era lançada por
uma aeronave como o A-4, A-6 ou o
F-4. Permitia ser operado em alti-
tudes entre os 300 metros e os 24500
metros até à velocidade máxima de
Mach 3 e, após o seu lançamento,
este alvo aéreo possuía uma auto- Figura 4.8 – Sistema AQM-37A.
nomia de 5 minutos. Este sistema não Fonte: http://www.designation-systems.
é recuperável e na sua constituição net/dusrm/aqm-37a.jpg
existe um pacote de destruição que
era ativado automaticamente
caso houvesse alguma falha de
sistema (Parsch, 2002).

3.6.2. Sistema AQM-37C

O sistema AQM-37C, que


pode ser observado na Figura
4.9, sofreu diversas alterações
ao longo do tempo, destacando-se Figura 4.9 – Sistema AQM-37C.
entre elas o sistema de comando Fonte: http://www.designation-systems.net/dusrm
e controlo via rádio que permite /aqm-37c.jpg

93
REVISTA DE ARTILHARIA

alterações no trajeto do alvo aéreo, copiloto digital e um radar melhorado com


quatro frequências diferentes. Os últimos alvos aéreos desta versão que foram
produzidos possuíam uma melhor capacidade de isolação do calor para dificultar
a sua aquisição por parte dos sistemas de armas de AAA e permitiam simular
ameaças de mísseis balísticos uma vez que simulavam trajetórias balísticas em
altitudes entre os 100km e os 425km a velocidades de Mach 5 (Ibidem, 2002).

3.6.3. Sistema AQM-37D


Foi a última versão desta série, e a principal evolução que sofreu foram os
sistemas eletrónicos que o tornaram num sistema mais fiável (Ibidem, 2002).

3.7. SISTEMA MQM-171 BROADSWORD

O sistema MQM-171
Broadsword, que pode ser
observado na Figura 4.10 é
a evolução do modelo atual-
mente utilizado pelas forças
operacionais de AAA, sendo
muito parecido, com o
MQM-170A Outlaw. Tal como
o Outlaw, este pode ser lan-
Figura 4.10 – Sistema MQM-171 Broadsword. çado através de uma cata-
Fonte: http://www.designation-systems.net/dusrm/171a.jpg pulta pneumática e recupe-
rado através do trem de
aterragem que pode ser incorporado. É um alvo que se encontra equipado
com uma fuselagem média e é possível anexar ao mesmo mais depósitos de
combustível ou alguns payloads até 54kg. É controlado via Ground Control
System que se baseia numa série de computadores em que é apresentado o
estado do alvo aéreo, bem como todas as informações necessárias à operação
do mesmo. É de referir ainda, a possibilidade de controlo manual e de
controlo automático via GPS, é do mesmo modo que no Outlaw.

CONCLUSÕES

São apresentadas neste capítulo as conclusões mais pertinentes detidas


na realização do trabalho, algumas limitações da investigação e ainda
algumas recomendações no que diz respeito a uma futura aquisição de alvos
aéreos para o Exército Português.

94
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Com base na análise documental, concluímos que, no que diz respeito


ao alvo aéreo BATS, este não possui as características básicas identificadas
neste trabalho, uma vez que:
x Não é recuperável, permitindo ser utilizado posteriormente caso não
seja abatido e assim aumentar a poupança de recursos;
x Não permite efetuar diferentes perfis de voo para simular as ameaças a
que os nossos sistemas de armas de AAA estão preparados para responder;
x Não possui uma fonte de calor suficientemente forte para que o
míssil portátil Stinger o detete corretamente;
x Não possui nenhum sistema de segurança após o lançamento, pelo que
este vai descrever uma trajetória balística sem possibilidade de alterações.

No que diz respeito ao alvo aéreo MQM-170A Outlaw, recentemente ao


serviço do Exército Português em regime de outsourcing, este possui as
características básicas para ser considerado um alvo aéreo adequado pois:
x Permite a simulação de perfis de voo semelhantes aos de uma
aeronave real, nomeadamente o perfil de voo NOE 12 ;
x Caso não seja abatido tem a possibilidade de ser controlado remotamente e
ser reaproveitado para uma nova simulação ou procurar-se uma aterragem;
x Possuir uma fonte de calor suficientemente forte para os mísseis
MIM-72, logo é considerado adequado ao Sistema Míssil Ligeiro
Chaparral M48 A2 E1;
x Por ser um alvo com velocidades relativamente reduzidas é adequado
igualmente ao tiro com sistema canhão, tal como foi utilizado no decurso
de uma sessão de fogos reais em que foi atingido com sucesso pelo
Sistema Bitubo AA 20mm M/81. Contudo ressalva-se o facto de ser um
sistema bastante oneroso para ser empregue com o sistema canhão;
x O Sistema Míssil Portátil FIM-92 Stinger, apenas registou um
impacto no conjunto de exercícios Relâmpago 2012 e 2013 ou seja
uma eficácia de 16,6% no alvo aéreo Outlaw, pelo que foi concluído
que para atingir o respetivo alvo aéreo seria necessário atualizar-se
este sistemas de armas para a versão Block 1.
No que diz respeito a privilegiar a contratação de empresas especialistas
em alvos aéreos em alternativa à aquisição de alvos aéreos, face às
restrições financeiras impostas pelo governo e da necessidade de melhor
treino operacional é preferível adquirir alvos aéreos mais realistas e que
satisfaçam todos os requisitos operacionais do que comprar alvos que não

12 NOE – Near of Earth (voo rasante).

95
REVISTA DE ARTILHARIA

simulem as novas ameaças aéreas. É de salientar que o regime outsourcing


possui diversas vantagens como é o exemplo de não serem consumidos recursos
no treino de operadores de alvos aéreos, na manutenção dos respetivos alvos
aéreos antes e após as sessões de tiro e as competências na operação destes
sistemas de armas estão a cabo das respetivas equipas, sendo que estas
devem sempre que possível ser acompanhadas por elementos do Exército
Português, para que estas sigam as instruções fornecidas por nós e também
para que esses elementos aprendam através do método de aprendizagem on
job training como operar com estes sistemas para que mais tarde se houver
a necessidade passem a ser operados por militares portugueses.
Relativamente aos simuladores terem capacidade de simular todo o
processo de treino dos apontadores, foi verificado que os simuladores são
fundamentais para treinar os apontadores nas técnicas e procedimentos de
operação e conduta do tiro, efetuarem as operações de segurança e operações
do seguimento das aeronaves. No que diz respeito ao tiro simulado sobre alvos
aéreos, os simuladores não permitem incutir no apontador o stress de empenhar
uma arma real e efetuar o respetivo disparo, sendo então fundamental para
o treino operacional dos apontadores o tiro real sobre um alvo aéreo.
Foram também identificadas as vulnerabilidades dos atuais alvos
aéreos, relativamente ao sistema BATS é o facto de ser um alvo aéreo não
recuperável que descreve uma trajetória balística, simulando apenas o
ataque de uma aeronave que voa a baixa altitude. No que diz respeito ao
sistema MQM-170A Outlaw as vulnerabilidades encontradas prendem-se
com o facto de este não garantir o impacto do míssil portátil FIM-92 Stinger
uma vez que a secção do alvo aéreo é muito reduzida, pois como referido
anteriormente no trabalho, este alvo aéreo perante o SMPS obteve nos fogos
reais uma eficácia de 16,6%.
Relativamente às características de voo que os novos alvos aéreos deverão
possuir para satisfazer o treino operacional dos sistemas de armas de AAA:
x Garantir um voo de pelo menos 60 minutos de modo a que os
apontadores treinem exaustivamente o seguimento do alvo aéreo e
posteriormente o empenhamento;
x Permitir a execução de diferentes perfis de voo e não uma trajetória
balística como acontece no caso do alvo aéreo BATS;
x Garantir a velocidade de cerca de 120 km/h ou superiores;
x Permitir ser recuperável/reutilizável, caso não seja abatido;
x Possuir uma fonte de calor idêntica ou melhor que a do MQM-170A
Outlaw pois prestou provas de que consegue ser adquirida a sua
assinatura magnética pelo míssil MIM-72 e pelo míssil FIM-92.

96
OS ALVOS AÉREOS NA ARTILHARIA ANTIAÉREA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

De acordo com a investigação efetuada há que salientar que os nossos


sistemas de armas de AAA não fazem face às novas ameaças AA mas sim às
ameaças convencionais que continuam ativas, como é o caso das aeronaves e
dos helicópteros que voam a baixa e muito baixa altitude.
Partindo deste pressuposto e tendo em conta as restrições orçamentais, as
características que os alvos devem ter para fazer face a estas ameaças encontram-se
plasmadas na pergunta derivada 3, sendo que a única vulnerabilidade encontrada
é o facto do míssil portátil FIM-92 Stinger não conseguir intercetar o alvo aéreo
Outlaw, pelo que para fazer face a este problema afiguram-se duas soluções.
A primeira hipótese é efetuar uma evolução no armamento e adquirir a
versão Stinger Block I, que se revela mais eficiente para o treino dos
apontadores a alvos aéreos, nomeadamente o Outlaw.
A segunda hipótese é adquirir um alvo aéreo equivalente ao Outlaw
mas que possua dimensões superiores para que seja mais favorável o
empenhamento com o sistema míssil portátil Stinger. É ainda de referir que,
após análise dos problemas que surgiram ao longo da história para a
aquisição de alvos aéreos, se afigura aconselhável que se continue a promover o
contrato Outsourcing semelhante ao existente atualmente com a versão
MQM-170A Outlaw. Caso haja viabilidade financeira, poderá ser adotado o
alvo aéreo MQM-171A Broadsword, visto fornecer as características ideais
para todos os nossos sistemas de armas de AAA.
Este artigo é um resumo de um Trabalho de Investigação Aplicada com
o Titulo “Os Alvos Aéreos na Artilharia Antiaérea do Exército Português”.

BIBLIOGRAFIA

Azevedo, L. (2011). Planeamento e Conduta de Exercícios. [PowerPoint Slides]


Benrós, J. (2005). A Artilharia Antiaérea na transformação do Exército. Boletim da
Artilharia Antiaérea, Nº5, II Série.
Department of Defense, (2011). Joint Publication 3-0. Washington: Government
Printing Office.
Dias, J. (2012). Exercício Relâmpago 2012 – Relatório Final do Exercício. Queluz.
EME, (1988b). MT 18-92 SIMULADOR S11. Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME, (1997). RC 18-100 REGULAMENTO DE TÁTICA DE ARTILHARIA ANTIAÉREA.
Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME, (2002). MC 18-2 REGULAMENTO DE BATERIA DE ARTILHARIA ANTIAÉREA.
Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME, (2012). PDE 3-00 Operações. Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EM/GAAA (2012). Alvo Aéreo MQM-170A Outlaw. [Documento Word]
Ferrari, J (2012). The White Sands Missile Range Strategic Plan. Retirado: 13 de
março de 2013 de

97
REVISTA DE ARTILHARIA

http://www.wsmr.army.mil/WWA/Documents/White%20Sands%20Missile%20Range%2
02015%20Strategic%20Plan.pdf
HDA, (1978). TM 9-1340-418-14 TECHNICAL MANUAL OPERATOR, ORGANIZATIONAL,
DS AND GS MANINTENANCE MANUAL FOR BALLISTIC AERIAL TARGET
SYSTEM (BATS). Washington: Headquarters Department of The Army.
HDA, (1992). TM 9-6920-429-12 OPERATOR´S AND ORGANIZATIONAL MAINTENANCE
MANUAL. Washington: Headquarters Department of The Army.
HDA, (2000a). FM 3-01.7 AIR DEFENSE ARTILLERY BRIGADE OPERATIONS.
Washington: Headquarters Department of The Army.
HDA, (2000b). FM 3-01.11 AIR DEFENSE ARTILLERY REFERENCE HANDBOOK.
Washington: Headquarters Department of The Army.
Jerónimo, C. (2013). Programa de Exercícios do Exército para 2013 – Anexo A.
Maldonado, J. (2007). Alvos Aéreos. Boletim da Artilharia Antiaérea, N.º 7, II Série.
MAV, (2001). SAMA/JET. Portugal.
Moreira, E. (1997). Homenagem ao Snipe MK-15 em serviço do Exército Português.
Boletim da Artilharia Antiaérea 1997.
NATO, (2013a). NATO Education Training Exercise and Evaluation. Retirado: 17 de
março de 2013, de http://www.act.nato.int/e-learning/etee.html
Northrop Grumman, (1998). Chukar III Aerial Target System. USA.
Northrop Grumman, (2005). BQM-34A/D Aerial Target System. USA.
Northrop Grumman, (2005). BQM-34 Firebee. Retirado em 4 de abril de 2013, de
http://www.northropgrumman.com/Capabilities/BQM34Firebee/Documents/Firebee-DS-05.pdf
Parsch, A. (2002). KD2B/Q-12/AQM-37. Retirado: 4 de abril de 2013, de
http://www.designation-systems.net/dusrm/m-37.html
Parsch, A. (2004). MQM-107 Streaker. Retirado: 28 de março de 2013, de
http://www.designation-systems.net/dusrm/m-107.html
Patronilho, J. (2012). Exercício Neptuno 2012 – Relatório Final do Exercício. Queluz
Pinto, V. (2011). Diretiva para a execução de Exercícios nas Forças Armadas
(EXDIRGEN). Lisboa.
RAAA1, (2002). A Artilharia Antiaérea em Portugal. Boletim da Artilharia Antiaérea,
N.º 2, II Série.
Ramalho, J. (2011). Exército Português Uma visão – Um rumo – Um futuro. Lisboa:
Gabinete do Chefe de Estado-Maior do Exército.
Schneider, J. (2005). Report of the Defense Science Board Task Force on Aerial Targets.
Retirado: 12 de março de 2013 de
http://www.acq.osd.mil/dsb/reports/ADA441466.pdf
Resolução do Conselho de Ministros nº19, (2013). Diário da Republica nº 67, Série I
de 2013-04-05. Presidência do Conselho de Ministros. Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, 2013.
Santos, B., Covita, G. & Santos A. (2012) – Caraterização da atual situação estratégica
internacional e da situação económico-financeira nacional. Impacto na redefinição
do Conceito Estratégico. Boletim do Instituto de Estudos Superiores Militares, Nº12.
USAF (2008). QF-4 DRONE. Retirado: 13 de março de 2013 de
http://www.af.mil/information/factsheets/factsheet.asp?id=13226
SecForm (2013). Dossier de Alvos Aéreos. Queluz.

98
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RAAA 1

CERIMÓNIA DE ASSINATURA DO ACORDO DE


PRINCÍPIOS ENTRE O EXÉRCITO E A CÂMARA
MUNICIPAL DE CASCAIS
(Criação do Museu Militar de Artilharia de Costa)

Com o patrocínio de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional


(MDN), Dr Aguiar Branco, decorreu em 28 de Janeiro de 2014, no Prédio
Militar n.º 5 (PM/05) – Bateria da Parede, prédio militar este à guarda do
RAAA1, a cerimónia de assinatura de acordo de princípios entre o Exército e
a Câmara Municipal de Cascais (CMC).
Este acordo visa o estabelecimento de um protocolo de colaboração
entre o Exército e o Município de Cascais com vista à criação do Museu
Militar de Artilharia de Costa, de um Parque Temático e um Jardim,
abertos ao público, naqueles terrenos da Bateria do Regimento de Artilharia
de Costa, cujas tradições o RAAA1 é herdeiro.
Este Regimento assegurou a limpeza do local e a preparação das
instalações da Bateria para a realização do evento, designadamente a
colocação de redes de camuflagem, mesas, cadeiras e ornamentações,
púlpitos, bandeiras, telas e computador.

99
REVISTA DE ARTILHARIA

Para tal, foi necessário montar um dispositivo de segurança do


aquartelamento e dos materiais envolvidos nas atividades, e procedeu-se
ainda à montagem de iluminação exterior e interior, através de geradores
para ali deslocados, para assegurar o normal decorrer dos trabalhos. O
RAAA1 manteve ainda ligação estreita com a CMC, no fornecimento de
fotos, plantas do local e colaboração ao nível logístico.
A cerimónia teve a presença da Exma Secretária de Estado Adjunta e
da Defesa Nacional, Sra Dra Berta Cabral, do Exmo Chefe de Estado-Maior
do Exército, General Artur Pina Monteiro, do Exmo Presidente da Câmara
de Cascais, Dr Carlos Carreiras, entre outros convidados.
Com a chegada ao local de todas as entidades militares e civis convidadas, a
cerimónia iniciou-se com uma breve resenha histórica sobre a Artilharia de Costa
em Portugal e a apresentação do projeto do futuro Museu e espaços circundantes.
Após esta apresentação, tomaram a palavra o Exmo Presidente da
Câmara de Cascais, o Exmo General CEME e a Exma Secretária de Estado
Adjunta e da Defesa Nacional, tendo no final dos discursos sido assinado o
Acordo de Princípios entre o Exército e a Câmara Municipal de Cascais.
O evento terminou com uma visita às intalações da Bateria,
nomeadamente a uma das Peças C 15,2/47 m/44 de Artilharia de Costa.

100
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

CERIMÓNIA DE IMPOSIÇÃO DE CONDECORAÇÕES

No dia 30 de janeiro de 2014, realizou-se no Regimento Artilharia


Antiaérea N.º 1, uma cerimónia de imposição de condecorações a militares
que aqui prestam serviço,
bem como a dois ex-
-Combatentes que foram
agraciados com as Meda-
lhas Comemorativas das
Campanhas (Legenda
“Guiné” e “Angola”).
A cerimónia decorreu
na Parada “TGen Themudo
Barata” e foi presidida
pelo Exmo Comandante
do RAAA1, Cor Art Borges
da Fonseca.
No fim da cerimónia, o Exmo Comandante, proferiu uma breve
alocução, onde destacou o mérito dos vários militares agraciados com as
Medalhas, salientando o seu desempenho
na Unidade, a forma dedicada como os
mesmos desempenham as suas funções,
assim como o contributo exemplar para o
cumprimento da missão do RAAA1 e da
Brigada de Intervenção, servindo de
exemplo a todos os militares da Unidade a
que pertencemos. O Exmo Comandante
dirigiu ainda palavras de muito apreço e
gratidão aos dois ex-Combatentes
agraciados, realçando a bravura daqueles
que por terras de África, e não só, lutaram
contra um inimigo imprevisível e em
condições climáticas adversas, elevando
sempre o bom nome de PORTUGAL”

101
REVISTA DE ARTILHARIA

ASSEMBLEIA GERAL DOS MEMBROS DA


REVISTA DE ARTILHARIA

No dia 06 de Fevereiro de 2014 teve lugar no Regimento de Artilharia


Antiaérea N.º 1 (RAAA1), em Queluz, a primeira Assembleia Geral dos
membros da REVISTA
Revista de Artilharia (RevArt).
DE ARTILHARIA

Agendada com o objetivo de aprovar os estatutos da Revista, a


assembleia teve início às 16h30m na sala D.Pedro IV, e foi presidida pelo
Exmo. Diretor Honorário da Arma de Artilharia, TGen Rovisco Duarte,
coadjuvado pelo Exmo. Presidente da Comissão Executiva (CE) da RevArt,
MGen Ulisses de Oliveira, e o secretário da CE, Maj Art José Mimoso.
Na assembleia geral participaram alguns oficiais membros da CE da
RevArt, oficiais do RAAA1, e ainda oficiais no ativo e na reforma que, em
conjunto, discutiram e aprovaram a proposta da CE para os novos estatutos
da RevArt.

102
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 4

EXERCICIO REAL THAW 14

O exercício “Real Thaw 14” (RT14) decorreu, na modalidade de Live


Exercise/Field Training Exercise (LIVEX/FTX), no período de 03 a
14Fev2014 e teve como finalidade a realização do treino operacional de
todas as unidades participantes, envolvendo as audiências de treino num
espetro de missões, o mais completo e realista possível. O exercício visou
maximizar a integração de uma vasta gama de tarefas e missões conjuntas e
interoperáveis.
O Grupo de Artilharia de Campanha do Regimento de Artilharia Nº4
da Brigada de Reação Rápida (GAC/RA4/BrigRR) participou no exercício
RT14 no período de 05 a 07Fev2014, com 98 Militares, 21 viaturas
e 6 obuses Light Gun 105mm, no Campo Militar de Santa Margarida
(CMSM).

A participação do GAC/RA4/BrigRR no exercício RT14 visou o treino dos


procedimentos técnicos e táticos do apoio de fogos e o planeamento e
coordenação de tarefas conjuntas interoperáveis na execução de fogos reais
de Artilharia de Campanha e fogos aéreos de Apoio Aéreo Próximo (CAS –
Close Air Support) a fim de manter a qualificação das guarnições das
Secções de Bocas de Fogo, conforme as necessidades de apoio específicas da
BrigRR nas diversas tipologias de missão.

103
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO GAC/BrigMec

3ª Un CRC

No âmbito do aprontamento e manutenção da 3ª Unidade Escalão


Companhia com capacidade Crowd Riot Control (3UnCRC), missão
atribuída pela Brigada Mecanizada (BrigMec) ao Grupo de Artilharia de
Campanha (GAC/BrigMec)) e à Bateria de Artilharia Anti Aérea
(BtrAAA/BrigMec), decorreu no período de 20 a 31JAN14, o estágio para
graduados e comandantes de esquadra, ministrado por elementos do
Regimento de Lanceiros N.º2 (RL2), tendo como finalidade primária a
obtenção de competências técnicas para formar os restantes militares desta
Companhia.
O estágio envolveu
30 formandos, bem como
forças de cenário garan-
tidas por militares do
Grupo de Carros de Com-
bate (GCC) e do 1º Bata-
lhão de Infantaria Meca-
nizado (1BIMec) e com o
apoio sanitário do Centro
de Saúde Tancos/Santa
Margarida (CSTSM).
Durante a formação,
estes militares foram
sujeitos a várias situa-
ções inerentes ao CRC, designadamente a reação a “Cocktails Molotov”,
homem isolado, homem violento, segurança e escolta de entidades, limpeza
de “road blocks” e execução de tiro com o Lança Granadas Cougar 56mm e
com a Espingarda Shotgun Fabarm 12mm, tendo terminado com um
exercício, onde foi planeada e executada uma operação de controlo de
tumultos.
No final do estágio os objetivos propostos para o mesmo foram
alcançados, considerando-se que os graduados da 3UnCRC se encontram
prontos e aptos a formarem os seus militares com as competências
necessárias, entrando na subfase de preparação para a validação da
companhia, que decorrerá no período de 10 a 12MAR14.

104
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

EXERCÍCIO REAL THAW 14

No período de 03 a 14 de Fevereiro de 2014, decorreu no Campo Militar


de Santa Margarida (CMSM) e em vários pontos do território nacional, o
Exercício Real Thaw 14, da responsabilidade da Força Aérea Portuguesa
(FAP).
Este exercício caracterizou-se como sendo uma Operação Conjunta e
Combinada (OCC), tendo a BrigMec como audiência de treino secundária,
participado com as suas Unidades de manobra e de Apoio de Fogos, na
execução de fogos reais, a fim de proporcionar treino conjunto às equipas de
controladores aéreos avançados (FAC) e às esquadras aéreas.
O Grupo de Artilharia
de Campanha (GAC/BrigMec)
participou neste exercício
no dia 5 de Fevereiro de
2014 com a sua 1ªBateria
de Bocas de Fogo (1Btrbf),
realizando uma sessão de
fogos reais de Artilharia
de Campanha, com base
de fogos na região do topo
norte da Pista de Aviação
do Campo Militar de Santa
REVISTA DE ARTILHARIA
Margarida (CMSM), em
que foram disparadas 15 granadas HE com espoleta de percussão. Esta
sessão foi efetuada no período da noite, com recurso a dispositivos de visão
nocturna para a observação do tiro, tendo-se empregado ainda o Sistema
Automático de Comando e Controlo (SACC), como meio primário para o
controlo tático e técnico do mesmo.
Para além da 1Btrbf, o GAC/BrigMec utilizou ainda um Observador
Avançado (OAv) e um Oficial de Apoio de Fogos (OAF) para a condução do
tiro, que trabalharam conjuntamente com FACs portugueses e holandeses,
numa situação que permitiu a troca de sinergias e um treino conjunto e
combinado efetivo.

105
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA BAA/BrigMec

EXERCÍCIO REAL THAW 14

No período de 3 a 14 de fevereiro de 2014 realizou-se o exercício “REAL


THAW 14” (RT 14), planeado e conduzido pelo comando aéreo da Força
Aérea Portuguesa (FAP) numa operação conjunta e combinada, que
decorreu em vários pontos do território nacional. A Brigada Mecanizada
(BrigMec) participou no RT 14,
como audiência de treino secun-
dária, com a Força Mecanizada
(FMec) no cumprimento de ativi-
dades passiveis de executar no
âmbito de operações de estabili-
zação, integrando as equipas de
forward air controlers (FAC) e o
apoio de meios aéreos.
A Bateria de Artilharia
Antiaérea (BtrAAA) da BrigMec,
aproveitando as sinergias existentes, empenhou o módulo de defesa
antiaérea da FMec em missões de defesa antiaérea, a fim de garantir o seu
treino operacional com aeronaves reais dentro do espaço aéreo do Campo
Militar de Santa Margarida (CMSM) e contribuir para o treino dos pilotos
das aeronaves em exercício.
Foi efetuada a ligação efetiva
da BtrAAA à FAP, através da
Secção de Ligação em contacto
com a equipa de FAC, com o
objetivo de garantir a recipro-
cidade de informação acerca da
deteção e empenhamento dos
diferentes sistemas de armas,
garantindo redundância da rede
de aviso e alerta ao nível do
situational awareness.
Os Pelotões míssil ligeiro Chaparral e radar forward aérea alerting
radar (FAAR) em exercício executaram os procedimentos táticos e técnicos
conducentes à deteção e empenhamento simulado das aeronaves em
exercício, contando com uma ameaça mais desafiante, que contribuiu para

106
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

melhorar significativamente o seu


treino operacional e motivação,
não obstante as limitações verifi-
cadas na operação dos meios
aéreos pelas condições atmos-
féricas adversas.
É de referir que foram efe-
tuadas missões de defesa anti-
aérea de pontos sensíveis em
conjunto com a BtrAAA da
Brigada de Reação Rápida, igual-
mente em exercício, que empregou um Pelotão sistema míssil portátil (SMP)
Stinger e uma Secção e radar Portable Search and Target Acquisition Radar
(PSTAR), tendo sido ainda efetuado treino cruzado entre as duas Unidades,
promovendo o conhecimento dos diferentes sistemas de antiaérea por parte
dos militares. Durante o exercício
teve lugar uma visita de elementos
do Centro de Guerra Eletrónica da
FAP, com o intuito de presenciar a
operação dos sistemas de antiaérea
em exercício, havendo lugar à troca
de conhecimentos no âmbito da
REVISTA DE ARTILHARIA operação dos sistemas de anti-
aérea, bem como do sistema de
identification friend or foe (IFF).
Este exercício constituiu uma
oportunidade impar para a BtrAAA aperfeiçoar o treino de procedimentos
técnicos e táticos, com uma simulação credível da ameaça aérea
protagonizada pelas aeronaves em exercício, permitindo ainda praticar os
procedimentos de coordenação com as unidades apoiadas e com a FAP,
contribuindo significativamente para aumentar a sua proficiência e
prontidão.

107
REVISTA DE
REVISTA DE ARTILHARIA
ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RG 2

EXERCÍCIO CANHÃO 141

Decorreu no periodo de 25 a 26 de
fevereiro de 2014 o exercício da Bateria de
Artilharia Antiaérea (BtrAAA) intitulado
CANHAO 141, num total de 26 militares
envolvidos.
O exercício teve como finalidade o treino
dos militares da BtrAAA, na execução de
Operações de Apoio à Paz. Durante o exercício
foram realizados uma série de incidentes, de
acordo com uma matriz, que pretendia
verificar a formação e treino desenvolvidos em
instruçoes ministradas, bem como, reforçar o
espírito de coesão entre os militares desta
subunidade.

REVISTA DE ARTILHARIA

108
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RG 3

EXERCÍCIO "PEDRA VIVA 14"

Inserido no planeamento anual de atividades do Regimento de


Guarnição Nº 3 (RG3) para o ano de 2014, realizou-se no período de 25 e 26
de fevereiro de 2014, na região do Farol da Ponta do Pargo, Concelho da
Calheta, Ilha da Madeira, o exercício “PEDRA VIVA 14”.
O exercício “PEDRA VIVA
14” consistiu na execução de
fogos reais (LFX) de várias armas
colectivas que equipam os Ele-
mentos da Componente Opera-
cional do Sistema de Forças
(ECOSF), nomeadamente a Metra-
lhadora Bitubo 20mm AA M/81,
Metralhadora Browning M2 HB
12,7mm, Metralhadora Ligeira
HK-21 7,62mm e o Lança
Granadas HK-79 40mm.
Esta sessão de fogos foi Figura n.º 1 – Secção com a Guarnição.
realizada sob condições meteoro-
lógicas favoráveis, permitindo o
emprego eficaz dos sistemas de
armas, em circunstâncias as mais
próximas possíveis com as de
uma situação real. Este exercício
tinha por objectivo garantir a
prontidão individual e colectiva
da força e preparar os militares
para a realização de todos os
procedimentos técnicos relativos à Figura n.º 2 – Alvos e os balões de Hélio.
conduta de tiro.
O exercício contou com a participação da Marinha e da Força Aérea que
asseguraram a implementação e segurança das áreas de interdição aérea e
marítima, garantindo que o exercício fosse realizado com todas as condições
de segurança necessárias.
A BtrAAA/ZMM projetou para o terreno uma força com um efetivo de
24 militares, sendo 2 militares os elementos de ligação com a Marinha e
Força Aérea, apoiado por 4 viaturas.

109
REVISTA DE ARTILHARIA

110
PARTE OFICIAL

PARTE OFICIAL

I. LEGISLAÇÃO
a. PORTARIAS
(1) Ministério da Defesa Nacional
Portaria nº 22/2014
Aprova o Regulamento da Academia Militar e revoga a Portaria n.º 425/91, de 24 de Maio.

b. DESPACHOS
(1) Despacho n.º 1 581/2014 do Ministério da Defesa Nacional
Construção da nova Escola de Comunicações e Sistemas de Informação.
(2) Despacho n.º 7/CEME/2014 do Estado Maior do Exército
Nomeação do Major-General DARH.
(3) Despacho n.º 661/2014 do Estado Maior do Exército
Delegação de competências no Vice-Chefe de Estado-Maior do Exército para a prática de
atos no âmbito do Comando do Pessoal.

II. PESSOAL
A. OFICIAIS

1. CONDECORAÇÕES

Grau Oficial da Ordem Militar de Avis


Maj Art (00219393) Homero Gomes Abrunhosa.

Medalha de Mérito Militar – 2ª Classe


TCor Art (05773288) Francisco José Lopes Palma Gomes.

Medalha de Mérito Militar – 3ª Classe


Cap Art (02275698) Diogo Lourenço Serrão.

II
REVISTA DE ARTILHARIA

Medalha da Defesa Nacional – 1ª Classe


Cor Art Res (12348981) António Silva Lopes.

Medalha da Cruz de São Jorge – 2ª Classe


TCor Art (18003185) José Augusto Oliveira Costa dos Reis.

Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre


Ten Art (11012705) João Paulo Martins Silva;
Alf Art (00905009) Pedro Herculano Gonçalves de Sousa;
Alf Art (02099105) João Honório Carvalho Lamas;
Alf Art (01333604) Filipe Furlan Gonçalves;
Alf Art (03020909) Afonso Manuel da Silva Peralta.

Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais


Maj Art (14396291) Nuno Miguel Barata Folgado, “Bósnia 2011”.

B. SARGENTOS

1. CONDECORAÇÕES:

Medalha de Mérito Militar – 4ª Classe


SCh Art (02917182) Óscar Manuel Felizardo Borrego.

Medalha Comportamento Exemplar – Grau Ouro


SMor Art (03332784) João Manuel Ganhão Guerra.

Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre


2Sarg Art (14325306) Bruno José Martins Bessa;
2Sarg Art (03853109) Gustavo Miguel dos Santos Arede;
2Sarg Art (07077905) Tiago Filipe dos Santos Aldrabinha;
2Sarg Art (00684809) Mário Miguel Xavier Silva;
2Sarg Art (01095009) Vítor Hugo Pereira Pinto;
2Sarg Art (11451105) Bruno Filipe Teixeira Rodrigues;
2Sarg Art (00039506) Tiago Miguel Torres Santos;
2Sarg Art (19179706) Ângelo Rafael Branco Lourenço Sequeira.

Medalha comemorativa de comissões de serviço especiais


1Sarg Art (09480196) António José Dias Lopes, “Kosovo 2013”.

2. OBITUÁRIO

Dezembro, 19 SMor Art (51542311) José Fernandes.

II
II
Campo de Santa Clara, 62 - 1100-471 Lisboa • Telefs. Militar: 423 334 - Civil 21 888 01 10
www.revista-artilharia.pt
N.º 1064 A 1066 – ABRIL A JUNHO DE 2014
x

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

PUBLICAÇÃO INICIADA EM JUNHO DE 1904

2.ª S É R I E
Depósito Legal N.º 1359/83

N.os 1064 A 1066 ABRIL A JUNHO DE 2014


REVISTA DE ARTILHARIA
COMISSÃO EXECUTIVA PARA OS ANOS DE 2013 E 2014

PRESIDENTE

Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira (CmdInst)

VICE-PRESIDENTE

Coronel Tirocinado Joaquim Ramalhoa Cavaleiro (CmdLog)

SECRETÁRIO

Major José Carlos Pinto Mimoso (GAC/BrigMec)

TESOUREIRO

Capitão Emanuel Alves de Sousa (RAAA1)

EDITOR E EDITOR ON-LINE

Capitão Tiago Soares de Castro (AM)

VOGAIS DO CONSELHO DE CULTURA ARTILHEIRA E MILITAR

Coronel Tirocinado Luís António Morgado Baptista (EA)


Coronel Fernando José Pinto Simões (Reforma)
Coronel Carlos Alberto Borges da Fonseca (RAAA1)
Coronel Luís Miguel Green Dias Henriques (RA4)
Coronel António José Pardal dos Santos (RA5)
Coronel João Luís Morgado Silveira (EMGFA)
Tenente-Coronel António José Ruivo Grilo (CM)
Tenente-Coronel Luís Manuel Garcia de Oliveira (EME)
Major Nelson José Mendes Rego (EME)
Capitão Luís Miguel Rebola Mataloto (EMGFA)

COLABORADOR

Sargento Ajudante Luís Filipe Cardoso Domingues (DHCM/RA)


NÚMEROS REVISTA DE
REGULAMENTO DO PRÉMIO DE MELHOR ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA
DESDE 1904
2.ª SÉRIE
ARTILHARIA
1064 A 1066
ISSN 1645-8702

Propriedade dos Oficiais da Arma de Artilharia


Edição d a Comissão E xecutiva

_________
Redacção e Administração DIRECTOR Execução gráfica
Campo de Santa Clara,62 ULISSES JOAQUIM DE JMG – Art. Gráficas e Public., Lda.
1100-471 LISBOA C. N. DE OLIVEIRA Alameda das Figueiras, 13 – 3 B
www.revista-artilharia.pt Major-General 2665-501 Venda do Pinheiro

ABRIL – MAIO – JUNHO DE 2014


Os autores dos artigos são únicos responsáveis pela doutrina dos mesmos. Os originais são
propriedade da redacção e não se restituem quer sejam ou não publicados.

REGULAMENTO DO PRÉMIO
DE MELHOR ARTIGO PUBLICADO
NA REVISTA DE ARTILHARIA

Artigo 1.º

Âmbito
1. O presente Regulamento tem por finalidade estabelecer a forma de
atribuição de um prémio anual que distinga o Autor do melhor artigo
publicado na Revista de Artilharia (RA) em cada ano civil.
2. O Prémio é denominado “Prémio Revista de Artilharia”.
3. A instituição do prémio tem em vista relevar os autores distinguidos
assim como, contribuir para o desenvolvimento da própria RA.
4. O prémio destina-se aos autores dos artigos publicados nas
edições regulares da RA, sendo considerados os das edições do
4º trimestre do ano anterior e 1º, 2º e 3º trimestres do ano civil
em questão.
5. O prémio será atribuído a partir do ano civil de 2014.

113
REVISTA DE ARTILHARIA

Artigo 2.º

Prémio
Em cada ano civil será atribuído um prémio podendo, pontualmente, ser
atribuído mais do que um prémio.

Artigo 3.º

Júri
1. O júri para cada atribuição do prémio é constituído pelos elementos
do Conselho de Cultura Artilheira e Militar (CCAM) e do Conselho
Editorial da Comissão Executiva da revista, ao abrigo do Artigos 34.º
e 36.º do Estatuto da RA.
2. O júri será presidido pelo Presidente da Comissão Executiva, ao
abrigo do Artigo 28.º do Estatuto da RA.
3. O júri é soberano, decidindo em total autonomia.
4. As decisões do júri não poderão ser objeto de reclamação.

Artigo 4.º

Procedimento
1. Dos artigos publicados nas quatro edições trimestrais da RA, do 4º
trimestre do ano anterior e 1º, 2º e 3º trimestres do ano civil em
questão, cada membro da Comissão Executiva selecionará um total
de 4 (quatro) que considere meritórios, enviando a relação dos mesmos
para o Conselho Editorial.
2. O Conselho Editorial procederá à contagem dos artigos escolhidos
individualmente por cada membro da Comissão Executiva, listando
os quatro mais escolhidos, os quais serão submetidos a avaliação
para atribuição do prémio.
3. A relação de artigos selecionados deve constar de ata lavrada para
o efeito.
4. Os artigos selecionados serão enviados para os membros do júri, que
os avaliarão individualmente e os ordenarão por ordem decrescente
de avaliação, de acordo com os parâmetros de avaliação.
5. Após a ordenação dos artigos por parte por parte de cada membro do
júri, o Conselho Editorial procede a contagem e consequente ordenação
classificativa dos artigos.

114
REGULAMENTO DO PRÉMIO DE MELHOR ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA

6. O artigo que obtiver mais pontos, somadas as pontuações de


todos os membros do júri, será o vencedor do “Prémio Revista de
Artilharia”.
7. Em situações de empate nas classificações, o Presidente da Comissão
Executiva, na qualidade de presidente do júri, por meio de “voto de
qualidade” decidirá sobre qual o artigo vencedor.
8. Os membros do júri que tenham publicado artigos na RA estão impedidos
de votar ou de exercer “voto de qualidade” nos artigos da RA em que
foi publicado o respetivo artigo ou sobre os artigos selecionados para
decisão final, caso o seu artigo seja seleccionado.

Artigo 5.º

Parâmetros de Avaliação

1. A avaliação dos artigos selecionados rege-se segundo uma relação de


parâmetros de avaliação abrangentes e quantificáveis, numa base
comum a todos os membros do júri, de modo a garantir o caráter
uniforme da avaliação.
2. Parâmetros de Avaliação:

a. Originalidade e interesse do tema;


b. Título descreve a essência do artigo;
c. Expressão escrita e clareza;
d. Utilização de bibliografia e fontes;
e. Conclusões apresentadas são sustentadas pelo conteúdo
desenvolvido no artigo;
f. Contributo para o estado do conhecimento com interesse para a
Arma de Artilharia.

3. Cada um dos Parâmetros de Avaliação será pontuado de 0 (zero) a


6 (seis), sendo os artigos ordenados segundo a obtenção do maior
número de pontos.

115
REVISTA DE ARTILHARIA

Artigo

N.º 1 N.º 2 N.º 3 N.º 4

Parâmetro Pontuação Parcelar

Originalidade e interesse do tema

Título descreve a essência do artigo

Expressão escrita e clareza

Utilização de bibliografia e fontes

Conclusões apresentadas são sustentadas


pelo conteúdo desenvolvido no artigo

Contributo para o estado do conhecimento


com interesse para a Arma de Artilharia

Pontuação Total

Os Parâmetros de Avaliação são suportados por um conjunto de Critérios


de Avaliação Comparativa, no sentido de facilitar a atribuição de pontuação
a cada Parâmetro de Avaliação.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO COMPARATIVA

Verificação
Critério Descrição
Sim Não
O título descreve a essência do artigo de forma
1 lógica, rigorosa e breve.

O título é longo e tem palavras desnecessárias.

O artigo está organizado de uma forma lógica e bem


apresentado.
2 A organização do artigo não segue completamente
as normas estabelecidas para organização do corpo
do artigo/texto.

116
REGULAMENTO DO PRÉMIO DE MELHOR ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA

O autor utiliza uma linguagem impessoal, coerente,


correta e precisa (sem recurso a palavras ou
expressões com duplo sentido), não deixando
dúvidas na exposição das suas ideias. O artigo é
acessível a qualquer profissional, em particular da
Arma de Artilharia. Existe interligação entre as
3 partes do artigo, de modo a que este forme um todo.

A forma ambígua como se exprime não é completa-


mente esclarecedora das suas ideias. Utiliza excesso
de adjetivação, bem como argumentações emotivas e
sentimentais. O estudo não é original (e.g. existe
uma publicação anterior de um artigo idêntico).

O autor apresenta as conclusões, as evidências que


as suportam, as implicações do estudo e a sua
4 contribuição para o estado do conhecimento, numa
linguagem precisa, clara e concisa.

O autor não apresenta as conclusões de um modo conciso.

O autor cita as fontes consultadas com rigor e


fidelidade. As fontes são credíveis, atualizadas e
citadas por outros autores.
6 As referências bibliográficas são escassas e em grande
parte referem-se a autores sem mérito técnico-cien-
tífico reconhecido – não citados por outros autores.
Abundam as referências a artigos de opinião.

Artigo 6.º

Análise dos artigos selecionados

1. Após o Conselho Editorial enviar a relação com os quatros artigos


selecionados, os membros do júri procedem à avaliação final dos
mesmos.
2. O júri dispõe até ao dia 15 do mês de novembro para efetuar a sua
avaliação aos artigos selecionados, enviando-a no mesmo dia para
o Conselho Editorial, para contagem total e consequente ordenação
classificativa dos artigos.

117
REVISTA DE ARTILHARIA

3. A deliberação final sobre o melhor artigo e os respetivos fundamentos


devem constar de ata lavrada para o efeito.

Artigo 7.º

Divulgação de resultados

1. O Conselho Editorial notifica os autores dos artigos selecionados


sobre os resultados finais, mediante carta registada, até ao dia 20 do
mês de novembro.
2. A divulgação do prémio anual para o melhor artigo publicado na
Revista de Artilharia, é efetuado no sítio da revista na internet, até
ao último dia do mês de novembro.

Artigo 8.º

Entrega do prémio

O prémio será entregue em cerimónia pública e solene a decorrer


durante as celebrações do Dia da Arma de Artilharia, do ano da publicação
do artigo vencedor.

Artigo 9.º

Disposições finais

Todos os aspetos ou casos omissos no presente Regulamento serão


objeto de deliberação do Presidente da Comissão Executiva sob proposta ou
parecer do Conselho de Cultura Artilheira e Militar.

118
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

O CORPO DA ARTILHARIA
PESADA INDEPENDENTE
1.ª Parte
Pelos Coronel de Artilharia
CARLOS ALBERTO BORGES DA FONSECA
e Tenente de Artilharia
JOÃO PEDRO MARTINS PEREIRA

1. INTRODUÇÃO

Ao aproximar-se o centenário da I Guerra Mundial surgem com maior


frequência textos que recordam pessoas e factos que de algum modo
marcaram esse tempo de decisiva importância na história da Europa. Neste
contexto, torna-se compreensível que as páginas da Revista de Artilharia
sejam o espaço privilegiado para publicar informação que evoque a memória
sobre a participação dos artilheiros portugueses na Grande Guerra.
Portugal, saído da revolução republicana, vivendo sob enormes dificuldades
que se revelavam em todos os elementos da sociedade, teve uma partici-
pação na guerra que, apesar de atribulada e incerta, constituiu um esforço
tremendo para todos os portugueses e um sacrifício enorme para os que
lutaram nos diferentes teatros de operações.
Este trabalho visa sintetizar elementos informativos acerca de uma
unidade de artilharia, o Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI),
que, de forma injusta, tem sido recordada pelos seus aspectos mais
negativos quando, do ponto de vista operacional, teve um desempenho tão
meritório quanto as outras unidades portuguesas.
Nesta primeira parte do trabalho introduzimos uma breve contextua-
lização da Grande Guerra bem como uma passagem pelo CAPI terminando

119
REVISTA DE ARTILHARIA

com uma incursão na temática da artilharia pesada sobre via-férrea. Para o


próximo número da Revista de Artilharia abordaremos a participação do
CAPI no contexto operacional e no contexto disciplinar.

1. A GRANDE GUERRA

A industrialização dos países europeus no último quartel do século XIX,


além de ter proporcionado um desenvolvimento económico ímpar até então,
originou outros fenómenos paralelos que conduziram a Europa ao início da
perda da condição de líder do sistema político internacional. Referimo-nos ao
aumento das necessidades de matérias-primas, maioritariamente oriundas
das colónias das potências europeias, que trouxe o aumento da rivalidade
pelo domínio desses territórios e a consequente corrida aos armamentos, que
além da quantidade melhoraram significativamente o grau de letalidade, o
que arrastou a Europa, inevitavelmente, para a guerra.
Os antagonistas agruparam-se em dois blocos: um liderado pela França,
Inglaterra e Rússia e outro pela Alemanha e Império Austro-Húngaro. O
primeiro bloco, a Entente, apresentava-se forte em infantaria e artilharia
ligeira dispondo a Alemanha de melhor artilharia pesada. Contudo, a maior
vantagem da Entente encontrava-se na marinha inglesa que dominava o
espaço marítimo sendo imbatível em alto-mar. Também nos recursos humanos
os aliados tinham vantagem pois, enquanto a população russa constituía
uma reserva humana considerável, os Impérios Centrais tinham problemas
de coesão interna originados pelas anexações contra a vontade das populações o
que se traduzia em dificuldades de recrutamento e motivação para combater.
Por fim, também no que respeita ao posicionamento geográfico, a Alemanha
e os seus aliados entravam na guerra em desvantagem pois tinham que enfrentar
o inimigo em duas frentes, considerando apenas o teatro de operações europeu.
O acontecimento que levou à quebra da paz aparente, instaurada na
Europa, ocorreu a 28 de Junho de 1914, com o assassinato do arquiduque
Francisco Fernando e da sua mulher, Sofia de Hohenberg, em Sarajevo,
sendo o mesmo preconizado por um jovem bósnio ligado à Mão Negra ,
colocando assim termo à vida das duas personalidades acima referidas.
Este marco levou o império Austro-Húngaro a culpabilizar a Sérvia pelo
atentado, declarando-lhe guerra a 28 de Julho, daquele ano. O apoio aos
Sérvios surgiu pelos Russos com a mobilização das suas tropas no dia 30, e
consequentemente, traduziu-se numa declaração de guerra dos Alemães à
França no dia 1 do mês seguinte e colocada no conflito dois dias depois. Com
a mobilização das tropas Alemãs sob território Belga, com o objectivo de
invadir a França, a Inglaterra declara guerra a Alemanha.

120
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

Embora os beligerantes não tivessem capacidade para avaliar a duração


da guerra, na verdade iniciava-se um conflito de proporções gigantescas que
causou 20 milhões de mortos.
A Alemanha, adepta de movimentos ofensivos rápidos e decisivos, inicia
a guerra invadindo a França com o objectivo de resolver rapidamente a
frente ocidental para numa segunda fase abordar a frente oriental onde a
Rússia mostrava dificuldade em mobilizar as suas forças de forma
satisfatória e atempada. Contudo, após uma progressão inicial rápida, a
frente de batalha estabilizou, no final de 1914, o que contrariou
significativamente os planos da Alemanha, situação que durou praticamente
dois anos. Durante o ano de 1917, dois acontecimentos alteraram o rumo da
guerra: primeiro a entrada dos Estados Unidos da América, que além do
imenso poder naval e económico, trouxe para a Europa dois milhões de
combatentes, segundo, a saída da Rússia que acordou a paz com o inimigo
na sequência da revolução bolchevique.
O ano de 1918 inicia-se com uma ofensiva alemã que obtém alguns
sucessos efémeros dando lugar à contra-ofensiva aliada que resolveu a
guerra no final desse ano.

2. UMA PASSAGEM PELO CAPI

Os Franceses de forma a
tentar acompanhar o desenvol-
vimento Alemão, em termos
de Artilharia Pesada, além de
irem buscar o seu material à
Artilharia de Costa pediram
auxílio a Portugal por duas
vezes (Almeida, 1968, p.221).
Nos estudos de Martins
(1938), Almeida (1968) e Afonso
e Gomes (2003) o primeiro
pedido surgiu em Setembro
Figura Nº 1 – Schneider 75mm.
de 1914 e tinha o intuito de
obter a cedência do material, que equipava as unidades de Artilharia, do
campo entrincheirado de Lisboa 1 , Schneider 75mm 2 .

1 Fortificação construída no final do século XIX, na qual, e conjuntamente com o respectivo contin-
gente formaram um importante plano de defesa contra possíveis invasões (Santos, 2009).
2 Ver Figura Nº 1 – Schneider 75mm.

121
REVISTA DE ARTILHARIA

Ao ser refutado 3 a França fez a elaboração de um outro, em Setembro


de 1916, pelo Ministro de França em Portugal, o Sr. Daeschner 4 , mas desta
vez no sentido da aquisição de militares Portugueses, para poderem
guarnecer a sua Artilharia. Esta solicitação é feita na sequência da visita de
uma comitiva Francesa, na data supracitada, ao campo de Tancos 5 , que
causou extraordinária impressão ao Governo Francês, podendo ser revista
numa publicação 6 efectuada no Le Petit Journal:
“Nous sommes enchantés de ce que nous avons vu, disait un des
officiers de cette mission. Nous sommes d’ávis que le soldat portugais est
un des meilleurs d’Europe. Il est prêt à participer victorieusement aux
combats des tranchées. Il est, comme disait de Général Marbot, un
soldat courageux, sobre et loyal. Nous l’admirions dejá comme soldat
d’Afrique. Nous sommes sûrs qu’il sera également à l’hauteur de sa
renommée européene” (Almeida, 1968, p.222).
Isto veio afirmar o interesse Francês nos soldados de Portugal, sublinhando
a importância da participação dos mesmos no conflito, atribuindo-lhes
elogiosos traços de personalidade, tais como coragem e lealdade.
A 26 de Dezembro, e não obtendo a França resposta à diligência, foi
redigido um texto enfatizando a necessidade, com carácter urgente, do
contributo Português, estando implícito o uso dos nossos Artilheiros, para
auxílio à criação de um Corpo de Artilharia Pesada, composto por 20 a 30
Baterias (Almeida, 1968, p.222).
Um estudo de Afonso e Gomes (2003) refere-se que foi prometido, pelo
Governo Português, o contingente necessário ao guarnecimento de 25
Baterias. No entanto, Portugal exigiu, um comando superior nacional,
constituído por um Coronel de Artilharia e respectivos adjuntos. No dia 17
de maio, do decorrente ano, a prestação deste apoio ficou vinculada com uma
convenção, denominada de “convenção militar para o emprego de forças
Portuguesas de artilharia pesada na linha Francesa de operações em

3 Contudo existe uma opinião divergente, a do comandante do 1º Grupo do CAPI. De acordo com
o autor houve efectivamente empréstimo do nosso material ao Exército Francês. c.f.
PT/AHM/1/35/1345/3 Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – Do princípio da
Grande Guerra à criação do C.A.P.I.
4 “Diplomata francês, que representou o seu país em Portugal, tendo feito entrega das credenciais em

28-IV-1913” (s.a., 1945, 344).


5 Em 09 de Julho de 1886 é criada uma comissão a fim de propor uma área para instalar um campo

militar, vindo a escolha a recair em Tancos, o qual é inaugurado em 14 de Outubro de 1886 com a
presença do rei D. Luís e do Ministro da Guerra Fontes Pereira de Melo (Exercito, 2010).
6 13 de Maio de 1917.

122
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

França” 7 , com a assinatura dos Ministros da Guerra Português e Francês,


Norton de Matos 8 e Paul Painlevé 9 , respectivamente, de acordo com Martins
(1938) e Almeida (1968).
Ficaram estabelecidos os alicerces para a criação do CAPI, sob o
comando do Coronel de Artilharia João Clímaco Pereira Homem Teles
(Martins, 1938, p.92). Este Corpo era composto por 3 Grupos a 3 Baterias e 1
Bateria de depósito. Surgiram então, de seguida, as nomeações dos oficiais
necessários à ocupação dos cargos de comando, dentro do CAPI. Foram, para
tal, convocados 4 Majores, 10 Capitães, 5 subalternos e 10 sargentos (Almeida,
1968, p.225). Segundo o estudo feito por Martins (1938), dos 4 Majores, 3
foram designados para comandantes dos 3 Grupos e 1 para a função de 2º
comandante do Corpo. Os 10 Capitães foram destinados ao comando de cada
uma das Baterias, incluindo a de depósito, comparecendo apenas à convocação
7 do total. Os restantes 3 encontravam-se indisponíveis; um pertencia ao
estabelecimento fabril de arsenal do Exército, na qualidade de indispensável,
um outro encontrava-se no estrangeiro para a compra de matéria-prima
essencial ao fabrico de cartuchame10 , enquanto o último era um acompanhante
da delegação Portuguesa em Paris (Fernandes, 1917, p.77-78). Os convocados
foram enviados à capital Francesa antes do restante Corpo de maneira a
prepararem-se técnica, táctica e moralmente para poderem enquadrar
convenientemente o contingente que havia de chegar (Martins, 1938, p.92).
Com referência a um artigo publicado na Revista de Artilharia, por
Fernandes (1917) os restantes dias do mês de maio de 1917 foram ocupados
com a apresentação da comitiva acima enunciada aos altos comandos,
visitas oficiais às autoridades Francesas, nas quais o Corpo viria a
depender, bem como nos preparativos para instalar o contingente num
campo de instrução adequado à missão.
Por decisão do General Comandante da RGAL o CAPI, havia de ficar
provisoriamente nas proximidades de Bailleul-Sur-Thérain 11 .(Martins,
1938, p.92-93). Refere Almeida (1968), que no dia 1 de Junho, iniciou-se o

7 Consultar Apêndice B – Cronologia.


8 Nasceu em Ponte de Lima em 1867 e faleceu em Lisboa em 1955. Enquanto CEME conseguiu
que em poucos meses fosse criado um Corpo de Exército capaz de actuar na guerra. Defendeu
sempre os interesses Portugueses nunca aceitando situações embaraçosas junto do governo
de SMB. (Afonso&Gomes,2003, p.281).
9 Foi um notável matemático e político Francês, nascido a 5 de Dezembro de 1863 em Paris.

Ocupou os cargos de Primeiro-ministro e Ministro da Guerra por duas vezes. Era um


militante eterno do partido republicano socialista. Morreu a 4 de Outubro de 1933 na sua
cidade natal (s.a.,1945, p.977).
10 “Provisão de cartuchos para armas de fogo” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.356).
11 Consultar ponto 1, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.

123
REVISTA DE ARTILHARIA

deslocamento de Paris “ficando os oficiais e sargentos alojados em casa dos


habitantes e sendo a sua alimentação em grupos, nas popotes 12 privativas
desses grupos” (Martins, 1938, p.93). De forma a conhecerem o equipamento
que iria operar no conflito os oficiais começaram a sua formação com o
estudo do material e respectivo emprego no campo de batalha. “A instrução
do pessoal da missão começou pelo material de 320mm, utilizando 4 peças
de um grupo Francês que ali se encontrava em descanso. Foram constituídas
2 comissões de oficiais para, a par e passo com a instrução, irem preparando
os regulamentos, em Português, de manobra e tiro, para servirem na instrução
das tropas quando chegassem de Portugal” (Almeida, 1968, p.225-226).
Fernandes (1917) refere ainda que foram disponibilizados para as
tropas Portuguesas os regulamentos das peças, que se encontravam na
unidade militar de Bailleul-Sur-Thérain e também os apontamentos retirados
pelo contingente daquela unidade. As peças estabelecidas à instrução “eram
conhecidas pelos nomes de Bourrasque, Tempête, Simoun e Cyclone”
(Martins, 1938, p. 93). No dia 2 de Junho sai em ordem de serviço o horário
da instrução (Fernandes, 1917, p.80) começando a dia 5 e tinha como
responsáveis, o Major Benoit e os Tenentes Guillermat e Scala, os três da
arma de Artilharia (Almeida, 1968, p.226). Segundo a análise de Fernandes
(1917) a instrução para os oficiais era dividida em teórica e prática enquanto
para os sargentos o conteúdo era essencialmente prático, visando detalhada-
mente o conhecimento do material e o seu respectivo emprego no campo de
batalha. Foi-lhes ainda ministrado um curso de instruções de transmissões e
de sinalização e sendo o código Morse, o sistema à data utilizado, ensinou-se
o respectivo código e a forma como este era empregue. Iniciou-se com uma
técnica recorrendo ao uso dos braços, mais tarde com bandeiras e por último
com heliógrafos 13 , conferindo assim, um elevado grau de proficiência à classe
dos sargentos. Também tiveram instrução de panos de sinais 14 .
A partir do momento em que o conhecimento individual estava assimilado
passou-se ao treino colectivo, no qual cada sargento tinha de saber, ao
pormenor, o que cada servente da boca-de-fogo executava. Com a chegada de
uma guarnição Francesa 15 conseguiu-se treinar, durante várias semanas, as

12 Significado não encontrado; possibilidade: refeitórios.


13 “Aparelho muito simples cuja manipulação preparava para a utilização dos grandes projectores
que se servem das baterias no acto da guerra para trocarem os seus sinais com os aviões de
regulação” (Fernandes, 1917, p. 84-85).
14 “(…) Consiste na comunicação da terra para o avião feita por um certo número de indicações

de serviço ou de tiro que resultam da disposição relativa de um, dois ou três panos de
identificação (…)” (Fernandes, 1917, p. 85).
15 Com o intuito de “obter os 39 homens de que se compõe a guarnição de uma peça de 320mm”

(Fernandes, 1917, p.86).

124
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

diferentes posições, consolidando a aprendizagem quando todos os instruendos


se encontravam familiarizados com a “colocação e orientação das regras de
pontaria e um perfeito conhecimento de todos os goniómetros 16 , níveis17 , etc.,
(…), conhecimento dos vários métodos de pontaria (…)” (Fernandes, 1917, p.86).
Após isto, o Comandante do CAPI deu ênfase à urgência com que
Portugal deveria fazer chegar a França todos os militares necessários ao
preenchimento do Corpo, nomeadamente os militares atribuídos às especia-
lidades e os serventes das bocas-de-fogo. Estes eram provenientes do 2º
Batalhão de Artilharia de Costa e do Grupo de Artilharia de Guarnição e de
maneira a serem enquadrados convenientemente, foi necessário providenciar os
seus alojamentos. Esta acção ocorreu a 27 de agosto, numa visita do General
da RGAL ao campo militar de Bailleul-Sur-Thérain, onde um antigo
depósito de prisioneiros de guerra serviria para albergar os militares que
haveriam de chegar (Martins, 1938, p.93-94).
Martins (1938) e Almeida (1968), assinalam, que em inícios de Setembro,
Portugal procedeu ao envio de 10 subalternos, onde em primeira instância
apresentaram-se 3, destinados ao reforço do comando dos Grupos. No dia 10,
do decorrente mês, chegaram os restantes 7 oficiais que foram reencami-
nhados para as Baterias. A instrução destes militares foi dividida em 3
partes 18 , ministrada sob a direcção do Capitão adjunto do comando do Corpo
(Fernandes, 1917, p.92).
“(…), em 5 de Outubro, foi recebido um telegrama de Lisboa informando
de que no dia 10 deveriam embarcar com destino ao CAPI, 40 oficiais, 100
sargentos e 700 cabos e soldados. Muito pouco depois, um segundo telegrama
rectificava o anterior, comunicando que o número de sargentos era 90 e o
das praças 850” (Almeida, 1968, p.227). O efectivo deu entrada no porto de
Brest 19 , pelo Pedro Nunes 20 . Segundo Martins (1938) foi por comboio que
chegaram a Rochy-Condé 21 às 3 horas do dia 17 de Outubro e às 4 horas e 30
minutos a Beauvais 22 . À chegada verificou-se que o efectivo proveniente de

16 Equipamento utilizado para o uso em bocas-de-fogo bem como para acções de levantamento
topográfico.
17 Os níveis “formam uma linha aberta que permite alinhar rapidamente, embora de modo

aproximado, a luneta com o ponto a visar” (Universidade Minho, 2002).


18 Uma primeira em nomenclatura e serviço da peça de 320mm. Segunda por aparelhos de

pontaria, teoria da régua de pontaria e serviço de pontarias. Por último o serviço de


sinalização e códigos de sinais para o avião (Fernandes, 1917, p. 92).
19 Cidade localizada no noroeste Francês.
20 Embarcação que fez jus ao nome do cosmógrafo Pedro Nunes que descobriu que a trajetória

mínima percorrida por um barco entre dois pontos da terra é um arco de circunferência e não
uma linha recta.
21 Consultar ponto 9, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
22 Consultar ponto 2, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.

125
REVISTA DE ARTILHARIA

Portugal era diferente do descrito no telegrama, sendo contabilizados 20


oficiais, 44 sargentos e 714 cabos e soldados. “Em Rochy-Condé desembar-
caram 180 homens e os restantes seguiram para os quartéis de Beauvais”
(Martins, 1938, p.95). Estes quartéis eram conhecidos como o Hospício dos
Pobres e Taupin (Martins, 1938, p.95)
A 22 de Outubro começaram a ser construídos os novos alojamentos no
campo militar de Bailleul. O trabalho foi levado a cabo por militares
Franceses da especialidade de engenharia, com o auxílio de soldados
Portugueses e foram, simultaneamente, designados para receberem instrução
da peça de 190mm 2 Capitães, 2 subalternos e 4 sargentos, sendo o seu
término no dia 28 do mesmo mês. Por esta altura é dada também a entrada
dos vagões, para guarnecerem o 1º Grupo Táctico (Martins, 1938, p.95-96).
O Corpo ficou dividido em 3 Grupos, compostos por 7 Baterias 23 e mais
uma de depósito e um Grupo de Comando e Estado-Maior a 3 Baterias
(Martins, 1938, p.96) e (Almeida, 1968, p.228). Os Grupos que formavam o
CAPI eram, individualmente, constituídos por uma Bateria de 320mm e
duas de 240mm ou 190mm, onde as primeiras eram as designadas peças de
grande potência e as últimas por média potência. As peças de 320mm
tinham um alcance máximo superior aos 20km, nas outras o mesmo alcance
era de 18km e 12km, respectivamente. (Almeida, 1968, p.226-230). “Os desloca-
mentos eram rápidos, e as próprias linhas férreas serviam de plataformas de
tiro. A dispersão de tiro era muito pequena, mesmo nos alcances máximos”
(Almeida, 1968, p.229).
O CAPI tinha as “condições de poder ser empregue para bater: pontos
de apoio fortemente organizados, localidades e estações de caminhos-de-ferro
importantes, nós de comunicações, pontes e vias de comunicação de reabas-
tecimento, parques, bivaques, posições de artilharia com fortes abrigos,
parques de aviação e instalações de balões cativos” (Almeida, 1968, p. 230).
Como afirma Martins (1938), no seu estudo, tinha como principal
característica bater objectivos inalcançáveis por outro tipo de peças.
Apesar de todos os esforços Portugueses, relativos ao completamento do
Corpo, não foi conseguido o efectivo necessário para preencher organicamente
nenhum dos Grupos. O material necessário à instrução não era em número
suficiente, nomeadamente na palamenta e acessórios, material topográfico,
planos directores, plantas, ramais e material telefónico. A instrução comum
das tropas, começou no dia 10 de Novembro, com a peça de 320mm e no dia
seguinte o Comandante do Corpo, Homem de Teles e seu adjunto 24 ,
partiram para Lisboa para serem colocados numa outra unidade militar.
23 (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 7ª, 8ª e 9ª).
24 Major José Paulo Fernandes Júnior.

126
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

Para o efeito foi nomeado, no dia 29 do mesmo mês, provisoriamente, a


Comandante do Corpo, o Major Xavier Pereira. Este deparou-se com a
escassez do efectivo optando preencher o 1º Grupo com elementos dos outros
dois, de forma a entrar no conflito o mais rapidamente possível (Almeida,
1968, p.232).
Mais tarde, a 15 de Janeiro, o comando do CAPI foi transferido para o
Tenente-Coronel Tristão da Câmara Pestana, onde de imediato, vetou a
medida que o Major Xavier Pereira propusera, pois foi informado que
estavam prestes a receber mais um contingente Português, que havia de dar
entrada a dia 18, a bordo do vapor francês Rome. Este apoio deu um forte
contributo permitindo completar organicamente os 1º e 2º Grupos e alcançando
assim as condições necessárias para receberem instrução, mais intensivamente,
de forma a poderem ser empregues, num curto espaço de tempo. Através do
excelente desempenho demonstrado pelas tropas Portuguesas, em todas as
sessões, o General Maurin endereçou uma carta, ao Comandante do CAPI,
no dia 13 de Fevereiro, a felicitar o contingente, salientando a importância
do seu emprego em missões futuras (Martins, 1938, p.99) e (Almeida, 1968,
p.232). “Tais eram as lisonjeiras disposições técnicas e morais que animavam o
corpo Português, quando de súbito, sem a mais ligeira indicação anterior, foi
recebida, no mês de Fevereiro, a notícia de que o CAPI ia ser incorporado no
CEP em reforço da artilharia pesada deste corpo…” (Martins, 1938, p.99).
Ainda segundo o mesmo autor, em finais do ano de 1917, haviam
ocorrido divergências, de âmbito político entre os Governos Português e
Britânico, e às quais o Governo Francês não teve capacidade de oposição,
levando à incorporação de parte do Corpo no CEP. Este facto, não causou um
prejuízo para a França, de forma catastrófica, uma vez o seu Exército tinha
organicamente pessoal, de origem americana, para guarnecimento do material
de Artilharia Pesada.
A notícia transmitida pelo Ministro da França, Émile Daeschner, em 26
de Fevereiro de 1918, enfatizou a necessidade da incorporação com
“vantagem de garantir uma maior homogeneidade e ao mesmo tempo um
reforço apreciável à artilharia do exército Inglês” (Martins, 1938, p.100). O
Coronel 25 Tristão da Câmara Pestana mostrou-se relutante em anuir à
ordem e argumentou não haver “um perfeito acordo de vistas entre os
desejos do comando Francês, aliás muito favoráveis à continuação dos
Portugueses como colaboradores, e os do governo Francês, menos
conservadores e cordiais (…)” (Martins, 1968, p.100). Segundo Almeida
(1968), o pedido foi redigido a 11 de Março do decorrente ano.

25 Entretanto promovido

127
REVISTA DE ARTILHARIA

No dia 14, chegou um telegrama dizendo que todas as providências


haviam sido tomadas para que o Corpo fosse transferido para o Exército
Britânico, no entanto “a fracção do CAPI, pronta da instrução e completa em
material, ia obedecendo às ordens do comandante da artilharia Francesa a
que estava subordinada, entrar em campanha na frente Francesa” (Martins,
1938, p.100). Assim sendo, no dia 12, a 1ª Bateria do 1º Grupo, comandada
pelo Capitão António Gonçalves Pinto Júnior, marchou para Vailly-Sur-
Aisne 26 , às 20 horas e 30 minutos, cumprindo assim a ordem que havia sido
dada na véspera. O objetivo desta missão era destruir algumas Baterias
inimigas, registadas por fotografia aérea, dissimuladas num bosque, a sul de
Aizelles. A posição ocupada pelo CAPI foi a n.º 756 27 , dos ramais de Soupir 28
(Martins, 1938, p.101) e (Almeida, 1968, p.235), “coberta, para o norte, pelo
planalto do celebérrimo Chemin des Dames, rasgado nessa altura pela
ravina arborizada que conduz à herdade de ´Cour de Soupir´, à entrada da
qual ficam os restos da povoação de Soupir” (Martins, 1938, p.101).
Segundo os autores Martins (1938) e Almeida (1968), a Bateria abriu
fogo a uma distância de 17700 metros, perfazendo um total de 60 tiros
atingindo um resultado de tal forma satisfatório que o observador aéreo
Francês conclui a transmissão da observação com Bravo Portugais 29 .
Martins (1938) afirma que as tropas chegaram ao campo militar de
Bailleul-Sur-Thérain na certeza de que a qualquer momento passariam a
estar sob o comando Britânico, no entanto, os desenvolvimentos da guerra
adiavam indeterminadamente esta ordem de marcha.
A 21 de Março foi desencadeada a grande ofensiva Alemã, com vista a
romper a frente Franco-Britânica (Almeida, 1968, p.236), iniciando-se com
batalha da Picardia, em que o General Ludendorff 30 tencionava por em
prática o seu plano de vitória. “1º - fazer uma brecha profunda entre os
exércitos Francês e Inglês e tomar Amiens; 2º - prosseguir com ofensivas
divergentes e, por um lado, esmagar o exército Inglês impelindo-o sobre o
litoral e, por outro lado, procurar o caminho de Paris pelo Oise, torneando o
Exército Francês” (Martins, 1938, p.102). Face a tais acontecimentos, o
CAPI foi colocado de parte pois era referenciado como “esse pequeno organismo
de Artilharia Português” (Martins, 1938, p.102). O Comandante do Corpo

26 Consultar ponto 3, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.


27 Posição não referenciada em qualquer dos mapas em arquivo.
28 Consultar ponto 4, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
29 Termo usado para congratular o desempenho das tropas Portuguesas.
30 Entrou para a Academia de Guerra no ano de 1893 e aos 17 anos de idade já tinha o posto de

alferes. Foi o encarregado de providenciar um plano para a concentração de forças no caso da


violação da Bélgica, país neutral. Participou no ataque a Liége em Agosto de 1914 e foi o líder
da grande investida primaveril Alemã em 1918. (s.a., 1945, 564).

128
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

levou como ofensa a sua inacção e ofereceu os seus serviços ao Alto Comando
Francês, enviando ao General Herr 31 , a 26 de Março, a seguinte nota:

“O CALP, sob o meu comando, enquanto não recebe ordens definitivas


sobre o seu ulterior destino, desejando contribuir com o seu modesto
esforço para a vitória dos aliados na grande batalha que actualmente
está travada, põe-se incondicionalmente à disposição de V.Ex.ª, caso
V.Ex.ª julgue poder utilizá-lo” (Almeida, 1968, p.236).

Com o avançar da guerra as posições ocupadas, pelo Corpo, em Bailleul-


Sur-Thérain, tornaram-se insustentáveis, obrigando os militares a partirem
para o campo de Mailly 32 “levando todo o material que fosse transportável.
Efectivamente no dia 29 de Março partia o corpo para Mailly em três
comboios. Entretanto o General Herr tinha transmitido ao GQG a oferta dos
serviços dos portugueses e as suas propostas de emprego do corpo foram
aceites” (Martins, 1938, p. 103). No dia 5 de Abril, foi recebida a ordem, por
telegrama, de colocar parte do CAPI à disposição do GQG Francês, onde foi
solicitado o envio de relatórios diários com o emprego das nossas forças, no
campo de batalha. Por decisão do General citado foi estipulado que só o 1º
Grupo e o Estado-Maior do Corpo, acompanhassem o Exército Francês; o
restante deveria partir para a respectiva incorporação no CEP (Martins,
1938, p. 103) e (Almeida, 1968, p.238).
A 6 de Abril foi recebida nova ordem, proveniente do Alto Comando
Francês, na qual estipulava que as 2ªs e 3ªs Baterias do 1º Grupo ficariam
sob a alçada do 4º Exército Francês, sendo “artilhadas com material de
190mm e seriam destinadas a fazer parte do agrupamento de St. Rémy-sur-
Bussy 33 , perto de Suippes. Este IV Exército operava na Champagne, a leste
de Reims, e era comandando pelo general Gouraud que nos Dardanelos
perdera o braço direito” (Martins, 1938, p.103-104). À 1ª Bateria como ainda
não havia sido atribuído material, aguardavam por directrizes em Mailly,
segundo o mesmo autor. Seguindo o estudo de Almeida (1968), o restante
contingente partiu, a 9 de Abril para Havre 34 , sob o comando do Tenente-
Coronel Daniel Rodrigues de Sousa.
O 1º Grupo, excepto a 1ª Bateria, foi empregue a 18 de maio, ocupando
os ramais da ALGP 162 e 168 35 e tinham como objectivos a trincheira de

31 Não foi encontrada qualquer referência à personalidade mencionada.


32 Consultar ponto 5, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
33 Consultar ponto 6, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
34 Cidade Francesa localizada a norte do país e com grande proximidade a Inglaterra.
35 Consultar Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.

129
REVISTA DE ARTILHARIA

comunicação de Altona e os observatórios da trincheira da herdade de


Ripont. Partiram para a posição de tiro no dia 16, às 19 horas e regressaram
a 18, à noite, sendo o tiro efectuado a uma distância de 9800 metros e com
observadores no terreno. Ao todo foram gastas 182 munições, 58 disparadas
pela 2ª bateria e 124 disparadas pela 3ª. A 2ª teve um menor consumo de
munições devido à morosidade da observação (Martins, 1938, p.104-105) e
(Almeida, 1968, p.238). “As informações finais dos resultados do tiro diziam
que o da 3ª bateria fora magnífico e o da 2ª bom, mas um pouco mais
moroso” (Martins, 1938, p.105).
Em 27 de maio a Alemanha começou a avançar sobre as posições da
frente, ocupadas pela Artilharia Francesa, obrigando estes a retirarem o seu
equipamento. Consequentemente, o mesmo se sucedeu com o 1º Grupo do
CAPI, onde a 2ª e 3ª Bateria se reuniram com a 1ª, no campo de Mailly
(Martins, 1938, p.105-106) e (Almeida, 1968, p.240). A retirada veio trazer
consequências ao Corpo Português pois “em 11 de Junho, o grupo é
informado que já não fazia parte do agrupamento de St. Remy, ficando à
disposição do GQG e devendo somente receber ordens da 1ª Divisão da RGA”
(Martins, 1938, p.106).
Em 25 de Junho o comandante do CAPI recebe uma nota da RGA, na
qual é enfatizada a necessidade do 1º Grupo seguir para Havre, com vista a
desembarcar em Inglaterra, juntando-se ao restante Corpo (Almeida, 1968,
p.240). Por outro lado, segundo o estudo de Martins (1938), não foi do
interesse do Ministério do Armamento Francês a saída do CAPI e foi
proposto ao Grupo o seu emprego em trabalhos para a defesa do campo
entrincheirado de Paris, consistindo na “construção de trincheiras contra
bombardeamentos aéreos, carga e descarga de material e guarda ao depósito
de munições e ramais de tiro” (Almeida, 1968, p.240).
A 20 de Setembro o Governo Português anuiu ao acordo, o qual causou
a insatisfação do Comando do Corpo que tentou remediar a situação redigindo
àquele as suas intenções da participação na verdadeira missão, o combate. O
Governo não respondeu aos pedidos mencionados, levando o Comando Francês
a colocar o contingente na região de Saint-Hilaire Le Grand 36 , a 8 de
Outubro, vulgarmente conhecido como o ‘destacamento dos trabalhadores
Portugueses’ onde tinham como ofício a construção de uma nova linha férrea
que ligava Suippes 37 a St. Martin L’Heureux 38 com a cooperação de civis,
prisioneiros e das tropas especiais Italianas. Este plano foi crucial, uma vez
que os Alemães tinham por hábito destruir o sistema de comunicações

36 Consultar ponto 7, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.


37 Consultar ponto 8, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
38 Não foi encontrada a posição da localidade supracitada.

130
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

quando se retiravam de determinado local. Por outro lado, foi deveras


importante para que a Artilharia Pesada pudesse fazer tiro, sendo funda-
mental a reparação das estradas e vias férreas (Martins, 1938, p.108-109).
A 25 de Outubro as 1ªs e 2ªs Baterias juntamente com o Estado-Maior
deslocaram-se para a região de Autry 39 enquanto a 3ª Bateria foi destinada
para Minancourt 40 , fazendo serviços nos depósitos de munições, carregando
e descarregando-as, para a preparação de uma ofensiva que havia de começar
no dia 1 de Novembro (Martins, 1938, p.109) e (Almeida, 1968, p.241).
“No dia 6 de Novembro os comunicados anunciavam um movimento de
retirada geral dos Alemães em toda a frente sob a acção dos sucessos obtidos
pelas ofensivas aliadas dos últimos dias” (Martins, 1938, p.109).
Os Alemães começaram a perder a guerra, “sentindo-se exaustos,
caminhavam para a derrota. Efectivamente nunca mais as tropas aliadas
deixaram de progredir e as inimigas de retirar. No dia 11 de Novembro às
11 horas era assinado o armistício e desde então restabeleceu-se o silêncio
da paz em toda a frente da batalha” (Martins, 1938, p.110).
No dia 10 de Novembro, foi dada a ordem para marcharem para
Inglaterra, chegando dia 12 ao Havre, sendo os militares efusivamente
saudados pela população circundante. “(…) o próprio comboio ia enfeitado
com bandeiras Portuguesas e Francesas e com ramos de folhagem colhidos
nas paragens. (…) A notícia do armistício aliviava a humanidade inteira do
maior pesadelo que, desde o início do mundo, sobre ela caíra” (Martins,
1938, p.110-111).
Almeida (1968) salienta que no dia 15 do mesmo mês, o Grupo
desembarcou em Aire-sur-la Lys 41 e em 16 alojou-se em Crecques 42 .
Entretanto, no dia 30, o General Comandante do CEP dissolveu o comando
do CAPI, ligando apenas o 1º Grupo à 2ª Divisão do CEP, e passou a
denominar-se Grupo de Artilharia Pesada.
Este Grupo teve ainda como missão “o arrasamento de trincheiras
e levantamento de arame farpado numa zona próxima, trabalhos que se
prolongaram até Março de 1919” (Martins, 1938, p.111).
“Foi o único grupo de artilharia pesada que conservou até ao final a sua
organização e a última unidade dessa arma que regressou a Portugal”
(Almeida, 1968, p.243).

39 Consultar ponto 10, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI


40 Consultar Anexo A - mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
41 Consultar ponto 11, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.
42 Consultar ponto 12, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.

131
REVISTA DE ARTILHARIA

3. A ARTILHARIA PESADA SOBRE VIA-FÉRREA

3.1 A INTRODUÇÃO NA GUERRA

A corrida ao armamento pesado começou desde muito cedo a fazer parte


integrante das prioridades dos países intervenientes na guerra, sendo os
Alemães pioneiros na sua aquisição, exibindo esta capacidade, aquando da
invasão a Liége 43 , em 1914, com “os efeitos devastadores de um morteiro
austríaco fabricado pela Skoda, de 42cm de calibre, que se deslocava por via-
-férrea, e disparava uma granada de 1.130Kg, contendo uma carga de 120Kg
de alto explosivo e tendo um alcance de 7Km” (Afonso e Gomes, 2003, p.443).
Segundo Afonso e Gomes, e com vista a bater alvos em profundidade, os
Alemães foram buscar as peças de grande calibre às existentes nos seus
couraçados e adaptavam-nas a fim de conseguirem uma maior elevação e
consequentemente atingirem maiores alcances. “(…) Esta técnica teve a sua
expressão máxima com o ‘Grande Max’, que era uma peça naval de 15
polegadas (381mm), modificada para 8,6 polegadas (218mm) e com um tubo
acrescentado, podendo disparar, com uma inclinação superior a 45º, uma
granada de 102Kg, dos quais 73 de alto explosivo, a cerca de 115Km de
distância (…)” (Afonso e Gomes, 2003, p.444).
Para fazer frente à criação Alemã, os Franceses decidiram criar um
corpo de Artilharia Pesada, que marcava o seu deslocamento por via-férrea.
O emprego deste tipo de armamento já havia sido empregue, noutros
moldes, anteriormente 44 . “Baseava-se nas peças de grande calibre da
artilharia de costa, desviadas das suas fortalezas tornadas inúteis pelo
desenvolvimento da guerra, mas agora montadas em plataformas de
caminho-de-ferro e destinadas a missões de tiro especiais” (Afonso e Gomes,
2003, p.444).

3.2 O MATERIAL

O CAPI, subordinado à RGA Francesa, obteve o seu material de uma


unidade francesa, criada para fazer frente à Artilharia Pesada Alemã. Esta
unidade era conhecida como ALVF, e era um organismo de Artilharia
Pesada que marcava o seu deslocamento por via-férrea.

43 Consultar ponto 15, Anexo A – mapa da região de intervenção e mobilização do CAPI.


44 “(…), remonta à guerra civil da América do Norte. Na campanha do Transval os ingleses
empregaram o processo” c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano
José Cordeiro – A Missão do C.A.P.I.

132
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

Nos finais de 1915, a ALVF tinha em orgânica material de 190mm,


240mm, 274mm, 305mm, 320mm, 340mm, 370mm e 400mm, encontrando-se
ainda em construção uma peça de 520mm. O material encontrava-se sob um
reparo e eram classificadas em 2 grupos:
– Consoante o sítio de onde realizavam o tiro.
– Consoante a sua capacidade no tiro horizontal.
O primeiro ponto referia-se ao local onde se executava o tiro, directa-
mente na via-férrea ou através de uma plataforma solidária com a mesma. A
sua capacidade, ou não, de fazer tiro a 360º era a condição explícita no
segundo item 45 . Ir-se-á reforçar as peças de 190mm, 240mm e 320mm, pois
foram estas que equiparam os militares do CAPI.
Relativamente à peça de 320mm existiam 3 modelos distintos, o 1870-81,
1870-84 e 1870-93 “diferindo entre si: o primeiro dos dois outros no
comprimento da alma 46 , respectivamente de 25 e 30 calibres; e uns dos
outros nos sistemas da culatra 47 e pequenas particularidades” 48 .
O reparo existente no material não permitia colocar uma elevação superior
a 40º e dada a natureza do mesmo não era exequível efectuar pontarias em
direcção, a não ser pelos ramais de tiro 49 , que tinham uma graduação própria e
serviam de orientação às bocas-de-fogo50 . A granada da peça de 320mm pesava
cerca de 387Kg e os alcances dependiam dos modelos já referenciados. No
caso do 1870-81 chegavam aos 16200 metros e nos restantes aos 20600
metros. Durante as missões de tiro as munições, transportadas em vagões 51
especiais, ficavam à retaguarda da boca-de-fogo, e quando necessárias eram
transportadas através de uma “comprida calha montada num truck 52 e
fazendo vai-vem entre o vagão de munições e o reparo 53 -truck” 54 .

45 Idem.
46 Comprimento do tubo.
47 “parte móvel do mecanismo de carregamento das armas de fogo de retrocarga, destinada a

introduzir a munição na câmara, travá-la, obturá-la e a extrair o invólucro após a explosão da


carga propulsora” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.510).
48 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do C.A.P.I.
49 “Tinham uma forma circular, o que permitia disparar em qualquer direcção, ou mais frequente-

mente em arco de círculo, com os vários ramais, tantos quantos as peças, dispostos de forma a
facilitar a regulação do tiro de todas as peças sem perdas de tempo” (Afonso e Gomes, 2003, p.445).
50 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.
51 “veículo ferroviário, que pode ser automotora, destinado normalmente a transporte de mercadorias”

(Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.1832).


52 “(…); camião, camionete de carga.” (s.a.,1973, p.724).
53 “(…), suporte móvel ou fixo de uma boca-de-fogo ou arma pesada destinada automática,

destinado a oferecer apoio estável ao tiro e a permitir a execução mecânica da pontaria”


(Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.1551).

133
REVISTA DE ARTILHARIA

Cada Bateria de 320mm, tinha dois tipos de trens 55 , os de tiro e os


de acantonamento 56 . Os primeiros eram compostos pelas “4 peças, 4
transportadoras, 4 ou mais vagões de munições, 2 vagões de palamenta,1
vagão comando (…) ” 57 . Era usual haver uma locomotiva para cada
peça. Os trens de acantonamento tinham “4 trucks de vigotas 58 , 1 vagão
secretaria, 1 vagão para oficiais, 1 para sargentos, 5 para cabos e soldados,
1 vagão-cozinha, 1 vagão de víveres, vagões cisternas e de carvão e 1 ou
2 locomotivas” 59 .
“A guarnição de cada peça compunha-se de 1 sargento, 4 cabos, 30
soldados serventes, 1 telefonista e 3 artífices” 60 .

3.2 A PREPARAÇÃO, EXECUÇÃO E OBSERVAÇÃO DO TIRO

Para que as bocas-de-fogo conseguissem efectuar tiro com sucesso


tinham de realizar uma série de operações, denominadas de “operações
preliminares”, “cálculos preparatórios dos elementos topográficos e de pontaria”
e o “cálculo definitivo dos elementos iniciais do tiro” 61 . O sistema Lambert 62
proporcionava a realização das operações preliminares em simultâneo com a
construção dos ramais de tiro. Após isto, eram verificadas e procedia-se à
determinação das coordenadas dos ramais e possíveis pontos de referência,
que se encontrassem nas imediações. A graduação dos ramais de tiro era o
último detalhe a ser tratado 63 .
Os cálculos preparatórios dos elementos topográficos e de pontaria eram
“feitos a seguir à designação do objectivo” 64 e com a Bateria “em posição” 65 .

54 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão
do C.A.P.I.
55 “conjunto de militares e de viaturas que fornecem à unidade a que pertencem apoio de

abastecimentos, evacuação e manutenção” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.1786).
56 “modalidade de estacionamento militar, com utilização de edificações já existentes no local;

aquartelamento” (Costa, J. A., & Melo, A. S., 1997, p.28).


57 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.
58 “(…) material de via-férrea para arranjos e adaptações na linha,(…)” (Afonso e Gomes, 2003,

p.445).
59 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.
60 Idem.
61 Idem.
62 Sistema usado na altura para se fazer a referenciação de lugares usando um sistema de

coordenadas.
63 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 – Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.
64 Idem.

134
O CORPO DA ARTILHARIA PESADA INDEPENDENTE

Tudo isto seguia a seguinte ordem:


– “Determinar distância entre os centros das plataformas ou ramais e o alvo
ou ponto de regulação; o dos azimutes dessas direcções; o das correcções
a introduzir no alcance (elevação) e direcção para atender à influência
do ângulo de sítio 66 , da derivação 67 , da paralaxe do ramal, do lote das
munições empregue, dos erros dos aparelhos de pontaria e do regime
relativo 68 das bocas-de-fogo e ainda nos tiros a muito grande distância,
da curvatura e da rotação da terra” 69 . O tiro de Artilharia podia ser
executado por “salvas de bateria”70 ou por “rajadas”71 . Nas salvas cada
peça fazia um tiro, começando num dos lados e segundo determinado
intervalo de tempo. As rajadas consistiam em cada boca-de-fogo fazer
o número de tiros previstos no menor intervalo de tempo possível 72 .

Durante o tiro havia dois períodos; o da regulação e o da eficácia. No


primeiro caso, pressupunha um ajustamento do tiro, de modo a levá-lo ao
local pretendido 73 . Na eficácia pretendia-se obter os efeitos em determinado
objectivo.
A fase da observação do tiro podia ser efectuada por duas vias: terrestre
e aérea, através de forças em observatórios ou em balões/aeroplanos,
respectivamente. Todas as comunicações da Bateria para o escalão superior,
equipas de referenciação e balões eram por via do telefone 74 , “… com os
aeroplanos, por projectores e quadros de tela (panneaux); destes com as
baterias, por telegrafia 75 sem fios ou, excepcionalmente, por despachos
lacrados” 76 .

65 Idem.
66 “Ângulo agudo vertical formado pela linha de sítio com o horizonte da arma. Pode ser positivo
ou negativo” (EME, 2007, pp.7).
67 É o ângulo horizontal medido entre o plano de projeção e o plano vertical que contém a origem e

um ponto qualquer da trajetória” (EME, 2007, pp.8).


68 “Traduz a diferença de velocidades iniciais entre cada boca-de-fogo e outra, previamente

selecionada para padrão (bfD)” (EME, 2007, pp. 8).


69 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.
70 Idem.
71 Idem.
72 Idem.
73 Denominado ponto de regulação.
74 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão do C.A.P.I.
75 “sistema electromagnético de transmissão de sinais escritos à distância” (Costa, J. A., & Melo,

A. S., 1997, p.1728).


76 c.f. PT/AHM/1/35/1345/3 - Monografia do CAPI pelo Major Luciano José Cordeiro – A Missão

do C.A.P.I.

135
REVISTA DE ARTILHARIA

18
“A ARTILHARIA ANTIAÉREA: PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS”

“A ARTILHARIA ANTIAÉREA:
PERSPECTIVAS ATUAIS E
FUTURAS”
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia
JOSÉ CARLOS PATRONILHO

”Uma espada obriga a outra a ficar na bainha”


George Herbert (1593 a 1633).

1. INTRODUÇÃO

A Artilharia Antiaérea (AA) portuguesa está atualmente equipada


com sistemas de armas e outros equipamentos, que permitem a proteção
antiaérea aos pontos/áreas sensíveis e unidades de manobra, apoio de
combate e apoio de serviços, contra ataques aéreos de aeronaves hostis
voando a baixa e muito baixa altitude (SHORAD 1 ), nomeadamente, aeronaves
de asa fixa, helicópteros, Unmanned Aircraft Systems (UAS) e aeronaves
civis usadas como arma por grupos terroristas ou grupos criminosos,
designadas correntemente pelo termo “RENEGADE”. No entanto, grande
parte destes equipamentos e sistemas de armas, encontram-se em avançado
estado de desgaste, com consequências acrescidas no esforço de manutenção.
Esta situação compromete de alguma forma a eficácia da nossa AA e como
tal, temos que olhar para o presente como uma forma de descobrir o futuro
desejável para a nossa AA. Assim, propôs-se através das Componentes da
AA, apresentar o presente e qual deverá ser o caminho do futuro:

1 Short Range Air Defense.

137
REVISTA DE ARTILHARIA

x Sistemas de armas;
x Radares;
x Comando e controlo (C2).

2. SISTEMAS DE ARMAS

A AA portuguesa está equipada com três sistemas armas, que servem


as BAAA orgânicas das Brigadas e Zonas Militares dos Açores e Madeira,
nomeadamente:

x Sistema Míssil Ligeiro Chaparral (SMLC) – ao serviço de Portugal


desde 1990;
x Sistema Míssil Portátil Stinger – ao serviço de Portugal desde 1994;
x Sistema Canhão Bitubo – ao serviço de Portugal desde 1981;

O SMLC equipa os Pelotões de AA da BAAA da Brigada Mecanizada e


da Brigada de intervenção, que à luz dos QO de 24.0.17, e 24.0.07 de 29 de
Junho de 2009 “Até à concretização dos Sub-projectos, associados ao reequi-
pamento da Artilharia Antiaérea (AAA), inscritos em Lei de Programação
Militar, os Pelotões de Sistemas de Armas da BtrAAA/BrigInt, mantêm-se
guarnecidos com o Sistema Míssil Ligeiro Chaparral”. O SMLC está ao
serviço no Exército português desde 1990, e veio demonstrando ao longo
destas últimas duas décadas grande eficiência no treino operacional das
unidades de AAA. Utiliza mísseis do tipo MIM 72, sendo que a ultima
versão 2 tem-se vindo a revelar extremamente eficaz, com provas dadas nos
exercícios de fogos reais da série “RELÂMPAGO” e “NEPTUNO” 3 .
Pese embora os factos apresentados, podemos afirmar que o SMLC terá
que ser forçosamente substituído. Esta posição é defendida porque:

x Como sistema que equipa a BtrAAA da BrigInt, infringe um dos


requisitos fundamentais que uma unidade de apoio de combate deve
cumprir, nomeadamente o princípio da mobilidade. A BrigInt sendo
uma unidade de rodas não deverá possuir um sistema de AA
mecanizado
x A escassez de sobressalentes dificulta em grande escala a manu-
tenção complexa e dispendiosa destes sistemas.

2 MIM72G (fire and Forget).


3 Sucessor dos exercícios da série “RAIO”.

138
“A ARTILHARIA ANTIAÉREA: PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS”

À luz do QO de 24.0.17,
de 29 de Junho de 2009 o
SMLC deverá ser substituído
por um sistema míssil ligeiro
tipo “Avenger”, um sistema que
cumpra os requisitos elencados
neste mesmo Quadro Orgânico,
nomeadamente a mobilidade e
proteção idênticas às das uni-
dades de manobra da BrigInt.
Quanto ao Sistema Míssil
Portátil Stinger, equipa atual- Fig. 1 – Avenger Weapon System.
mente os pelotões de AA da Fonte: www.militaryphotos.net
BAAA da Brigada de Reação
Rápida e das Forças de Apoio Geral, o míssil guiado de interceção aérea
FIM-92 STINGER versão RPM. Esta versão do míssil tem vindo a revelar
algumas limitações, nomeadamente contra alvos com reduzida área de
superfície. Para colmatar esta limitação está já disponível a versão RMP
block 1 Stinger, que faz deste míssil uma arma eficaz contra alvos de
reduzida área de superfície nomeadamente os UAS.
No que diz respeito ao Sistema Canhão Bitubo, pode-se forma afirmar
que se trata de um sistema obsoleto, por apresentar algumas limitações em
função da evolução da ameaça aérea, nomeadamente:
x A carência de radares de conduta e perseguição do tiro;
x Mobilidade limitada pelo facto de se tratar de um sistema rebocado;

O futuro passa pela sua


substituição por sistemas
C-RAM 4 . A ameaça RAM é
uma realidade crescente nos
atuais conflitos, nomeadamente
os conflitos onde a assimetria
é uma característica perma-
nente. Este tipo de ameaças
caracteriza-se fundamental-
mente, pelo fácil acesso aos
necessários recursos materiais Fig. 2 – The Centurion C-RAM.
a baixos custos e com elevados Fonte: http://battlefield.wikia.com/wiki/Centurion_C-RAM

4 Counter Rocket, Artillery and Mortar.

139
REVISTA DE ARTILHARIA

ganhos, pondo em causa a proteção da força. Atualmente damos conta da


existência de apenas dois Sistemas C-RAM já devidamente desenvolvidos,
nomeadamente o NBS 5 C-RAM (Cobra) e Centurion Phalanx B.
Todos os sistemas de armas
até aqui elencados são dotados de
características que nos permite
garantir uma defesa AA a baixas
e muito baixas altitudes. No entanto
o atual ambiente estratégico e
operacional, e a importância geo-
estratégica que Portugal tem a
nível Europeu e Mundial, exige
que o Exército esteja dotado de
uma capacidade de defesa AA
a grandes distâncias e altitudes
(HIMAD 6 ) como forma de fazer
Fig.3 – Patriot. face às capacidades stand – off
Fonte: www.militaryphotos.net da atual ameaça aérea. Tendo
em conta esta necessidade, o QO de 24.0.17, de 29 de Junho de 2009 do
GAAA, contempla uma Bateria capacitada com estas valências, definindo
que “a futura estrutura orgânica da Bateria HIMAD é condicionada pela
evolução dos programas de reequipamento e tipologia dos sistemas a
adquirir” (p.4). A constituição desta valência permitiria ainda a Portugal
contribuir para o Sistema antimíssil da NATO. A sua eficácia passa pela
plena integração com os sistemas de defesa aérea SHORAD, com a Força
Aérea e até com a Marinha, através de um sistema de C2 com a capacidade
de transmissão de dados via link.

3. SISTEMAS DE DETEÇÃO E ALERTA

Quanto ao aviso prévio, a nossa AAA está equipada com dois sistemas
radares, nomeadamente:
x Radar FAAR – ao serviço de Portugal desde 1991;
x Radar P-STAR – ao serviço de Portugal desde 2003.

O AN/MPQ – 49B (FAAR) oriundo dos EUA, é considerado um Radar de


Aviso Local, com capacidade para detetar, localizar e identificar alvos aéreos

5 National Barracks Shield.


6 High-Altitude Missile Air Defense.

140
“A ARTILHARIA ANTIAÉREA: PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS”

voando a baixa e muito baixa altitude, tendo um alcance máximo na ordem


dos 20 Km. É um radar autopropulsado e tem como grande limitação a
incapacidade de transmissão automática de dados às guarnições dos
Sistemas de Armas. Atualmente este radar equipa a BtrAAA da BrigMec.
O Portable Search and Target Acquisition Radar (P-STAR) ao serviço
da AA portuguesa desde 2003, é de origem americana e é considerado um
Radar de Aviso Local com alcances máximo na ordem dos 20km com
capacidade de transmissão de elementos de alerta às unidades de tiro do
tipo Short Range Air Defence (SHORAD). Este Radar possui como principal
característica a grande facilidade de transporte e mobilidade, podendo ser
transportado por apenas dois militares. Utilizando um interface com os
rádios PRC-525, transmite a informação às Unidades de Tiro, através do
Battlefield Management Terminal (BMT). Atualmente existem três Radares
P-STAR em Portugal, equipando todos eles o Grupo de Artilharia Antiaérea
(GAAA), sedeado no RAAA1. Neste momento o GAAA conta com três sistemas
operacionais 7 , equipando as BAAA da BrigRR e a BAAA das FapGer.
No entanto e tendo em conta a entrada em vigor dos Quadros aprovados
a 29 de Junho de 2009, as BAAA deverão ser equipadas por Radares de
diferentes tipos: Radares de vigilância e radares de aviso local.
Embora em número reduzido a nossa AA já possui radares de aviso
local com a capacidade de transmissão automática de dados, nomeadamente
Radares P-STAR. Quanto aos radares de vigilância com alcances superiores
a 50 Km, constatamos que é uma lacuna por lapidar. Neste sentido o futuro
passa pela aquisição de
radares MultiRole 3D. Os
Radares Multirole 3D desti-
nam-se a equipar o Pelotão
Radar da BAAA/FAG, que
presentemente não dispõe
de qualquer sistema Radar,
reforçando qualquer BAAA
da ECOSF sempre que seja
necessário.
Este Radar tem as
seguintes capacidades: guia-
mento de mísseis; capaci-
dade de controlo do tiro, Fig. 4 – AN/MPQ-64F1 Improved Sentinel.
possibilidade de integração Fonte: www.thalesraytheon.com

7 São os únicos radares AA ao serviço do Exército Português.

141
REVISTA DE ARTILHARIA

com Sistemas de Armas do tipo Counter Rocket, Artillery, and Mortar (C-
RAM); possibilidade de integração de um Radar secundário com a função de
IFF; grande capacidade de deteção de Helicópteros, UAV’s, Mísseis
Cruzeiros e pequenos alvos aéreos. Destaca-se ainda pela sua elevada
mobilidade e capacidade de se integrar com as diversas formas do terreno,
dificultando a deteção inimiga.
Estes radares deverão ser interoperáveis com qualquer Sistema de
Armas e com qualquer Sistema C2 de AAA.

4. SISTEMAS DE COMANDO E CONTROLO

A Defesa aérea do Território Nacional é da responsabilidade primária


da Força Aérea. No entanto, ao Exército é definido que, no âmbito da defesa
de Áreas e Pontos Sensíveis, em função da missão, e após coordenação,
disponibiliza as forças e os meios identificados como necessários 8 . Tal como
a conhecemos, as forças de Antiaérea do Exército são essencialmente
garantidas pela Artilharia Antiaérea conforme preconizado no QO N.º
24.0.55 do - Grupo de Artilharia Antiaérea, de 29Jun09, de S.Exª o GEN
CEME. Neste sentido urge a necessidade de cumprir um dos requisitos
essenciais para garantir o correto funcionamento do Sistema de defesa
aérea, que se prende com uma ligação permanente á Força Aérea através de
um sistema de C2 automático de dados. Neste momento o sistema de C2
funciona de uma forma manual. Internamente no seio da AA, toda a
informação é transmitida via rádio entre os três subsistemas da antiaérea,
nomeadamente, postos de comando radares e sistemas de armas. Os
procedimentos manuais, implicam a utilização do Quadro de Combate das
Esquadras/Secções, passando pelos radares que transmitem toda a
informação por rádio, até ao Posto de Comando (PC) da BAAA que dispõe de
um Centro de Operações da Bateria (COB), constituído por quadros
preenchidos manualmente, nomeadamente: Quadros de Rotas, Carta de
Situação de Operações, Quadro de Situação de Defesa e Quadro de Situação
Aérea.
É neste enquadramento que surge o Sistema Integrado de Comando e
Controlo para a Artilharia Antiaérea (SICCA3), que se constitui a base de
todo o processo de reequipamento da AAA. O sistema de C2 deverá estar
equipado com os seguintes módulos:

8 Diretiva Operacional N.º 004/CEMGFA/2010 (Defesa Aérea em Tempo de Paz), de 15Jan 2010,
de S.Exª o GEN CEMGFA.

142
“A ARTILHARIA ANTIAÉREA: PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS”

x Módulo de gestão da força – faz a gestão de documentos, permite a


elaboração de relatórios e mensagens e disponibiliza em tempo real a
imagem da implementação da força no terreno;
x Módulo de operações – destina-se às operações no espaço aéreo, com
capacidade de apresentar a COP 9 , permitindo ainda avaliar a
ameaça, atribuir e monitorizar empenhamentos bem como indicar o
estado de prontidão dos radares e sistemas de armas;
x Módulo de link’s e comunicações – deverá ser compatível com todos
os link’s em uso na NATO.
Neste momento o seu processo de aquisição já se encontra numa fase
adiantada, sendo que alguns dos equipamentos já se encontram em Portugal.
Aguardamos com a chegada dos restantes componentes para se iniciar todo o
processo de formação e implementação operacional ao nível do GAAA (previsível-
mente em final de 2015 o projecto atingirá a Full Operational Capability).

5. CONCLUSÕES

O Ambiente Operacional assimétrico coloca novos desafios face à


evolução da tipologia de ameaças sendo que a proteção da força torna-se a
cada vez mais num fator crítico de sucesso. Neste aspeto a Artilharia
Antiaérea tem um papel indispensável a desempenhar na prossecução do
objetivo – Proteção da Força.
A Artilharia Antiaérea vive um período em que se perspetivam grandes
mudanças, na medida em que o novo sistema de comando e controlo se
constitui a base da reestruturação da AAA portuguesa que aliado a novos
sistemas de armas e de radares moltirole, permitirá rentabilizar o produto
operacional da AAA.
Os crescentes desafios resultantes destes projetos permitirá abrir
horizontes para novas formas de empenhar a AAA, nomeadamente:
x Na cooperação com a proteção civil, através do emprego dos radares
e do SICCA3 na vigilância das zonas mortas dos radares da Força
Aérea, zonas estas que poderão ser utilizadas por organizações
ligadas a atividades que funcionam à margem da lei (tráfico de
droga, contrabando, emigração ilegal, etc…);
x Colaborar de uma forma mais ativa na Defesa Aérea do Território
Nacional, através de uma ligação em tempo real com a Força Aérea,
permitindo a integração dos meios disponíveis;

9 Common Operational Picture

143
REVISTA DE ARTILHARIA

x Na gestão das operações antiaéreas em tempo real, permitindo uma


sincronização eficiente de todos as componentes da defesa aérea.

A AAA como sistema, que se quer eficaz, coerente e credível, necessita


que as suas componentes estejam coerentes entre si, pelo que, considero as
seguintes prioridades de reequipamento:
x Aprofundamento do sistema de Comando e Controlo SICCA3
x Radar MultiRole 3D (Radar de Vigilância)
x Radar 3D (Radar de Aviso Local)
x Sistema Míssil Ligeiro
x Sistema Canhão
x Sistema Míssil Portátil
x HIMAD

No entanto, a exiguidade de recursos poderá ser colmatada através do


“Know How”, nomeadamente na manutenção e incremento da participação
em fóruns e Cursos, Nacionais e Internacionais de AAA.

BIBLIOGRAFIA

 Diretiva Operacional N.º 004/CEMGFA/2010 (Defesa Aérea em Tempo de


Paz), de 15Jan 2010, de S.Exª o GEN CEMGFA.
 EME. 2009. Bateria de Artilharia Antiaérea da Brigada de Reação Rápida:
24.0.69. Quadros Orgânicos de 29 de Junho de 2009.
 EME. 2009. Bateria de Artilharia Antiaérea da Brigada Mecanizada: 24.0.07.
Quadros Orgânicos de 26 Junho 09 de 2009.
 EME. 2009. Bateria de Artilharia Antiaérea da Força da Zona Militar dos
Açores: 24.0.32. Quadros Orgânicos de 29 de Junho de 2009.
 EME. 2009. Bateria de Artilharia Antiaérea da Brigada de Intervenção:
24.0.17. Quadros Orgânicos de 29 de Junho de 2009.EME. 2009.
 EME. 2009. Grupo de Artilharia Antiaérea das Forças de Apoio Gera:
24.0.55. Quadros Orgânicos de 29 de Junho de 2009.
 EME. 2009. Bateria de Artilharia Antiaérea da Zona Militar da Madeira.
Quadros Orgânicos de 29 Junho 06 de 2009.
 Monsanto, R. 2008. 20 Anos de Evolução dos Sistemas de Armas do RAAA1.
Queluz: Boletim da Artilharia Antiaérea, II série nº 8, p. 39-41.
 Paradelo, A. 2009. Uma AAA por Capacidades. Capacidade C-RAM. Queluz:
Boletim da Artilharia Antiaérea, II série nº 9, p. 10-16.
 Santos, N. A. C. 2010. Radares de Artilharia Antiaérea - Passado, Presente
e Futuro. Lisboa: Revista de Artilharia, Nº1022 a 1024.

144
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL
DE EMPREGO MILITAR:
Estudo comparativo da utilização de
instrumento optrônico de medição angular
no âmbito dos subsistemas topografia, linha de
fogo e observação, do sistema operacional
apoio de fogo da artilharia de campanha,
sob o contexto da guerra moderna1
Pelos Capitão de Artilharia
LEANDRO RODRIGUEZ CALDAS 2
e Major de Artilharia
RAFAEL SOARES PINHEIRO DA CUNHA 3

RESUMO
Os conflitos modernos são marcados por serem de intensa volatilidade,
frentes indefinidas e amplas, inimigos híbridos, forte cobertura midiática e
operações de amplo espectro, continuados e eminentemente urbanos. Tal
situação depreende uma diferente forma de apoiar pelo fogo, cujas idiossincrasias
1 O artigo encontra-se redigido com a ortografia em uso no Brasil.
2 Capitão de Artilharia do Exército Brasileiro. Mestre em Ciências Militares pela Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) – Brasil. Especialista pelo Curso Avançado de Defesa
Aérea- Venezuela. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN) – Brasil.
3 Major de Artilharia do Exército Brasileiro. Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de

Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) – Brasil.
Doutorando em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) –
Brasil. Mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) – Brasil.
Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) – Brasil.

145
REVISTA DE ARTILHARIA

se revestem, essencialmente, de alta precisão, maior descentralização dos


meios, capacidade de emprego noturno em condições semelhantes ao dia e
rapidez no processamento do tiro. Sabe-se que o instrumento optrônico de
medição angular, tal como o Goniômetro-Bússola (GB), em dotação nos GAC,
atua diretamente em, ao menos, três Subsistemas da Artilharia, tais como:
Topografia, Linha de Fogo e Observação. Assim sendo, considerando a
existência no mercado de instrumentos optrônicos de medição angular com
sistema de telemetria solidário, de uso recorrente em exércitos estrangeiros,
foi possível delinear o objetivo geral do presente estudo, consubstanciado na
comparação do uso do instrumento optrônico de medição angular AGLS ao
atual GB, no âmago destes três subsistemas, sob o espectro da guerra
moderna. Foi empregada a pesquisa bibliográfica, com vistas a levantar as
características técnicas dos equipamentos sob análise (GB e AGLS) e suscitar
os modos procedimentais adotados por outros países. Somado a isso, foi
realizada a pesquisa de campo, com a execução de testes experimentais e
remessa de questionários a todas as organizações militares de artilharia de
campanha, do Exército Brasileiro, viabilizando a resposta às hipóteses
estabelecidas no escopo deste estudo. Os resultados mostram haver impactos
significativos no emprego do sistema operacional apoio de fogo, por meio de
câmbios vultosos na Topografia, Linha de Fogo e Observação. Desta
maneira, a permuta do atual GB por um instrumento eletrônico, dotado de
transmissão de dados, interoperável a uma C Tir informatizada e com
interface para telemetria, poderá significar um marco na escala evolutiva da
Artilharia de Campanha Brasileira.
Palavras-Chave: Conflitos Modernos, topografia, linha de fogo, observação,
Atlas Gun Laying System e Gomoômetro-Bússola.

1. INTRODUÇÃO

O desmantelamento do mundo bipolar, caracterizado pela queda do


Muro de Berlim, em 1989, encerrou inexoravelmente a Guerra Fria e assegurou
de forma efetiva contornos e delineamentos ideológicos híbridos, protagonizando
uma época de conflitos localizados e sem frentes consolidadas. Trata-se da
Guerra Moderna, de contornos indefinidos e que abarca variações estratégicas,
organizacionais e nos tipos de partícipes (HAMMES, 2007, p.17).
Consubstanciada pela pluralidade de interesses entre nações, ampliação
da área de influência pelos estados potência e pela degeneração de
instituições perenes, a Guerra Moderna assume, indubitavelmente, o
pensamento militar do século XXI (SILVA, 2007, p.2). Consoante a este

146
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

preceito, o Major General Peter Vangjel (2008), Comandante do Centro de


Excelência de Fogos dos Estados Unidos da América (EUA), atesta, para
todos os fins, que a atualidade pode ser rotulada como de “conflito
persistente”, isto é, período de confrontação entre agentes estatais, não
estatais e de indivíduos de toda a ordem e origem. Como prova irrefutável e
que coaduna com esta assertiva, podem-se atribuir os eventos suscitados nos
últimos anos, conformados precipuamente por conflitos políticos, crises
graves e conflitos menores, revelando o alto grau de cenários os quais uma
força poderá vir a defrontar (SANTOS, 2008, p.38). Armas de destruição em
massa, crescimento exponencial do quarto poder (a imprensa e opinião
pública), novos cenários, tecnologias inovadoras, inimigos híbridos alteraram,
fundamentalmente, a forma de combater.
Acerca do Brasil, como marco patente desta nova fase, dentre os quais
se destacam as instabilidades políticas nas cercanias do País, a cobiça sobre
o vasto território Amazônico e o irresoluto problema advindo dos crimes
transnacionais, pode-se inferir que estes concorrem sobremaneira no
posicionamento brasileiro neste cenário majoritariamente multifacetado
(CARRASCO, 2008). Ademais, os midiáticos eventos da Copa do Mundo de
2014 e das Olimpíadas de 2016, a ocorrerem em solo brasílico, maximizam a
importância de suas Forças Armadas estarem aptas a serem empregadas
diante das novas idiossincrasias conclamadas pelo cenário hodierno.
Considerando-se a complexidade da conjuntura atual, pressupõe-se que
a doutrina militar deverá acompanhar os adventos do combate moderno.
Diante deste contexto, a artilharia, como principal articulador do apoio de
fogo das forças terrestres, deverá adequar-se às nuances ditadas pelo Teatro
de Operações (TO) ao qual for alocada, sob o risco de comprometer
seriamente as ações das forças apoiadas.
O Manual do Exército Brasileiro (EB) C 6-1: Emprego da Artilharia de
Campanha (BRASIL, 1997) define que o sistema de Artilharia de Campanha
engloba os subsistemas responsáveis por impactarem diretamente na
obtenção dos efeitos desejados, quais sejam: a Linha de Fogo, a Observação a
Busca de Alvos, a Topografia, a Meteorologia, as Comunicações, a Logística
e a Direção e Coordenação. Desse feito, ao associar as demandas perpetradas
pelo combate moderno e o indelével papel que a artilharia desempenha
neste cenário, torna-se imperiosa uma reformulação dos subsistemas
supramencionados.
Seguindo esse diapasão, as artilharias de todo o mundo têm procurado
garantir um reequipamento ponderado e real que, a despeito das vicissitudes
dos atuais conflitos, permeada pela crescente urbanização e a proeminente
suscetibilidade de fogos de contrabateria, permita minorar as chances do

147
REVISTA DE ARTILHARIA

“erro humano” e aprimorar a eficácia dos efeitos desejados. Nesse contexto,


os instrumentos com pouca tecnologia agregada, limitados em precisão e
reduzidos em funcionalidades, vêm sendo, paulatinamente, substituídos por
similares de maior efetividade (HALLWASS, 1992, p. 80).
Um aspecto de confluência entre a Topografia, Linha de Fogo e
Observação (subsistemas da artilharia) é, justamente, o instrumento
optrônico de medição angular, cujo emprego se faz sentir no levantamento
de uma trama topográfica comum, na determinação de alvos (observação) e
na pontaria da linha de fogo. Os atuais instrumentos de pontaria e de
medição de ângulos horizontais e verticais, denominados de goniômetro-
bússola (GB) e produzidos pela DF VASCONCELOS 4 , a despeito de sua
robustez e rusticidade, podem não apresentar a precisão e rapidez que se
espera no combate do século XXI.
Sob este bojo, a Artilharia Brasileira vem realizando gestões para o
câmbio do GB pelo Atlas Gun Laying System (AGLS), material de origem
israelense, cujos caracteres se aproximam do pleito da dita Guerra Moderna
ao conceder precisão à observação, rapidez ao levantamento topográfico e
flexibilidade ao desdobramento da linha de fogo, requerendo à Academia
Militar das Agulhas Negras (AMAN) a realização de estudo criterioso para
avaliação do material.
Porquanto, a investigação corrente buscará delinear um comparativo do
emprego de instrumentos óticos de leitura angular no âmbito dos
subsistemas Topografia, Linha de Fogo e Observação, proporcionada pela
possível modernização do material de emprego militar (MEM).

1.1 OBJETIVO

O presente estudo pretende comparar o uso do instrumento optrônico de


medição angular AGLS ao atual GB, nos subsistemas da Topografia, Linha
de Fogo e Observação, sob o espectro da Guerra Moderna, notabilizada pela
assimetria, frentes indefinidas, ações continuadas e elevada volatilidade.

1.2 HIPÓTESE

De maneira a constatar e avaliar os resultados advindos da comparação


do uso de instrumentos optrônicos de medição angular na otimização da
forma de apoiar pelo fogo, a partir dos subsistemas de Topografia, Linha de
Fogo e Observação, foram elaboradas as hipóteses estatísticas em suas
4 (…) a DF Vasconcellos é uma das mais importantes empresas do segmento óptico do país,
tendo sido a pioneira no Brasil (SÃO PAULO ANTIGA, 2011).

148
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

formas nulas (H0) e alternativas (H1). Tais hipóteses procuraram colimar as


ações investigativas traçadas pelos objetivos específicos já elencados no
escopo deste projeto:

H0a – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição


angular, a partir do emprego do AGLS, não otimizará o Sub-
sistema Topografia, no tocante à precisão na determinação de
coordenadas, distâncias e à maior velocidade operativa, em
relação ao GB atualmente em uso;
H1a – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição
angular, a partir do emprego do AGLS, otimizará o Subsistema
Topografia, no tocante à precisão na determinação de coorde-
nadas, distâncias e à maior velocidade operativa, em relação ao
GB atualmente em uso;
H0b – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição
angular, a partir do emprego do AGLS, não otimizará a rapidez
na entrada em posição, a dispersão dos meios, a precisão na
pontaria e execução do tiro e a capacidade de operar diutur-
namente do Subsistema Linha de Fogo, em relação ao GB
atualmente em uso;
H1b – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição
angular, a partir do emprego do AGLS, otimizará a rapidez na
entrada em posição, a dispersão dos meios, a precisão na
pontaria e execução do tiro e a capacidade de operar diutur-
namente do Subsistema Linha de Fogo, em relação ao GB
atualmente em uso;
H0c – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição
angular, a partir do emprego do AGLS, não otimizará o Sub-
sistema Observação, mormente no que se refere à precisão,
rapidez, alcance e capacidade de operação diuturna;
H1c – A modernização do MEM instrumento optrônico de medição
angular, a partir do emprego do AGLS, otimizará o Subsistema
Observação, mormente no que se refere à precisão, rapidez,
alcance e capacidade de operação diuturna.

2. METODOLOGIA

Esta parte, como integrante do estudo em voga, objetiva abordar


todos os meandros que permeiam a investigação e resolução dos objetivos e
hipóteses já delineados no escopo deste artigo. Para tanto, serão abordados

149
REVISTA DE ARTILHARIA

os procedimentos necessários para a determinação dos passos intrínsecos ao


seu desenvolvimento, quais sejam: as variáveis e sua definição conceitual e
operacional, especificação da amostragem e definição dos instrumentos para
a análise dos dados obtidos.

2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO

No tocante ao tipo de pesquisa, esta foi predominantemente de campo,


com a confecção de questionários e realização de testes experimentais
comparativos entre o GB e o AGLS. Não obstante a isso, recebeu um
adicional de arcabouço bibliográfico para cessão de informações específicas e
detalhadas do tipo de conflito existente atualmente e seus reflexos para o
Sistema Operacional Apoio de Fogo.
Ao suscitar o problema que o estudo se propõe a solucionar, fica patente
que a variável independente se trata do “instrumento optrônico de
medição angular”, posto que seja bem provável a influência efetiva deste
sobre a variável dependente, qual seja: “os subsistemas da Artilharia de
Campanha”.
Faz-se necessária a definição conceitual e operacional das variáveis
supracitadas, a fim de torná-las cientificamente viáveis para a investigação.
Assim, “instrumento optrônico de medição angular” configura-se como
uma plataforma de goniômetro capaz de mensurar, eletronicamente,
ângulos tanto horizontais como verticais, bem como dimensionar distâncias
e por associação de todos estes parâmetros, determinar coordenadas e
apontar a linha de fogo. A sua definição operacional pode ser verificada
abaixo:

150
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Variável Dimensão Indicadores Forma de medição


Revisão da literatura, em consulta
Precisão
ao Manual de Operações do AGLS.
Pesquisa bibliográfica obtida
Alcance da experimentalmente, isto é, por
telemetria intermédio de rajadas de laser em
campo aberto.
Interopera-
Verificação dos dados de manual.
bilidade
Instrumento
Caderno de instruções do
optrônico de
Desempenho Manutenção material, relatório da AMAN
medição
técnico sobre a cadeia de suporte logístico
angular
junto ao fabricante israelense.
Revisão bibliográfica e relatório da
AMAN, que o colocou à prova em
atividades de campanha,
Rusticidade certificando o seu desempenho
diante de condições que
extrapolam a normalidade, como:
chuva, variação térmica, dentre outros.
Capacidade
de visão Testes “T2”, T3”.
noturna
Quadro 1 – Definição operacional da variável independente “Instrumento
optrônico de medição angular”.
Fonte: o autor.

Como variável dependente, o estudo definiu os subsistemas da Artilharia


de Campanha. Com este propósito, dentre os subsistemas existentes, serão
apreciados: a Topografia, Linha de Fogo e Observação. Isto se deve ao fato
de serem os subsistemas intimamente relacionados à ação da variável
independente já mencionada. Sua definição conceitual consiste como sendo
partes integrantes do Sistema Operacional Apoio de Fogo, dos quais: o
primeiro é o responsável por estabelecer uma trama comum imprescindível
para assegurar a centralização do tiro de Artilharia; o segundo, configurado
como sistema de armas responsável pelo desencadeamento dos tiros; e o
último assume o papel de determinação de alvos e objetivos, bem como
o de estabelecimento de correções imprescindíveis para obtenção dos
efeitos desejados.
O quadro abaixo apresenta sua definição operacional:

151
REVISTA DE ARTILHARIA

Variável Dimensão Indicadores Forma de medição

Precisão na
Teste (T1) e as questões 1.a) do
determinação
questionário.
de coordenadas
Precisão na
Teste (T1) e a questão 1.e), do
Topografia determinação
questionário.
de distâncias
Velocidade
Teste (T1).
operativa
Rapidez na
entrada em Teste (T2).
posição
Pesquisa bibliográfica e
Dispersão dos
documental na literatura de
meios
referência.
Linha de Precisão na
Subsistema Fogo pontaria e
Teste T2.
da execução do
Artilharia tiro
de Capacidade de
Campanha operar Testes “T2” e “T3”.
diuturnamente
Precisão na
determinação Teste “T3”.
dos alvos
Rapidez na
locação de
alvos de Teste “T3”.
Observação grande
fugacidade
Pesquisa bibliográfica e emissão
Alcance da
de fachos laser a distâncias
observação
aleatórias para ratificação do dado
investigado.
Capacidade de
Testes “T2” e “T3” e a questão 3.b),
operar
do questionário.
diuturnamente

Quadro 2 – Definição operacional da variável dependente “Subsistemas


da Artilharia de Campanha”.
Fonte: o autor.

152
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

2.2 AMOSTRA
Conforme apresentado na definição operacional das variáveis, a fim de
complementar o estudo, foram remetidos questionários aos Oficiais de
Operações (S3) ou de Topografia (Adj S2) de todas as vinte e nove Unidades
de Artilharia de Campanha do EB (Quadro 3), em função de suas expertise
na utilização de instrumentos optrônicos.

UNIDADE LOCALIZAÇÃO
1° GAC/SL MARABÁ-PA
2° GAC L ITÚ-SP
3° GAC AP SANTA MARIA-RS
4° GAC JUIZ DE FORA-MG
5° GAC AP CURITIBA-PR
6° GAC RIO GRANDE-RS
6° GLMF/CIF FORMOSA-DF
7° GAC OLINDA-PE
8° GAC PQDT RIO DE JANEIRO-RJ
9° GAC NIOAQUE-MS
10° GAC/SL BOAVISTA-RR
11° GAC RIO DE JANEIRO - RJ
12° GAC JUNDIAÍ-SP
13° GAC CACHOEIRA DO SUL-RS
14° GAC POUSO ALEGRE-MG
15° GAC AP LAPA-PR
16° GAC AP SÃO LEOPOLDO-RS
17° GAC NATAL-RN
18° GAC RONDONÓPOLIS-MT
19° GAC SANTIAGO-RS
20° GAC L BARUERI-SP
21° GAC NITERÓI-RJ
22° GAC URUGUAIANA-RS
25° GAC BAGÉ-RS
26° GAC GUARAPUAVA-PR
27° GAC IJUÍ-RS
28° GAC CRICIÚMA-SC
29° GAC CRUZ ALTA-RS
31° GAC (Es) RIO DE JANEIRO-RJ
Quadro 3 – Relação de amostragem.
Fonte: o autor.
Outrossim, a amostra foi a própria população, uma vez que foram
consultados todos os elementos constituintes do universo considerado.

153
REVISTA DE ARTILHARIA

2.3 DELINEAMENTO DE PESQUISA

Com a intenção de efetivar os procedimentos experimentais supra-


citados, foram necessárias algumas ferramentas que, de certo, engendraram
os resultados almejados para a conclusão do estudo. Foram perpetrados
questionamentos às Organizações Militares de Artilharia, nível Unidade,
para aferir a viabilidade do GB diante das necessidades do combate moderno.
Este instrumento tem como principal justificativa a de corroborar com a
análise descritiva das características do instrumento de medição angular
de dotação dos GAC e de todos os pormenores que lhe circundam.
Originalmente o questionário foi composto por quatorze perguntas, das
quais se apresentarão, neste artigo, as de maior relevância.
A apreciação fidedigna da variável independente “instrumento optrônico
de medição angular” foi viabilizada por meio de testes particularizados de
cada variável dependente (Subsistemas de Artilharia), aproveitando-se dos
dois instrumentos existentes na Força e que, a partir de então, por meio do
caráter indutivo de investigação, possibilitou atribuir conclusões concretas
do objeto de estudo. Os testes são os descritos abaixo.

2.3.1 Teste para o subsistema “Topografia” (T1)

O presente teste, consoante ao previsto no Quadro de variáveis, avaliou


a precisão na determinação de coordenadas e de distâncias com o AGLS. Sob
o fulcro de aferir este indicador cientificamente, fez-se imperativo
providenciar a medição de distâncias, por meio do telêmetro solidário ao
goniômetro, mensurar o tempo de consecução do T1 e, por fim, realizar o
cálculo da precisão do instrumento, obtido pela fórmula a seguir:

Legenda: dE e dN representam a diferença de coordenadas


P = \ dE² + dN²; “E” e “N”, respectivamente. A distância de um ponto
S a outro é determinado por “S”

2.3.2 Teste para o Subsistema Linha de Fogo (T2)

Este teste buscou determinar o tempo para a execução da pontaria


inicial, bem como a sua precisão por meio da verificação do feixe.
Deste modo, foi posicionada uma Bia a quatro peças, de cadetes da
AMAN, experientes na realização no manejo do material de artilharia e
fornecida uma direção de vigilância (DV). Foi mensurado o tempo necessário
para a instalação do instrumento e leitura para as peças e, posteriormente,
analisada comparativamente com o método analógico, isto é, portando o GB.

154
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Feito tal procedimento, executou-se a verificação do feixe com o


instrumento eletrônico e, de maneira análoga, com o GB, para certificação
daquele que apresentou maior variação absoluta e, porquanto, maior
imprecisão na consecução dos trabalhos de pontaria.
Por fim, durante a parte da noite, foi realizada uma comparação
simples de leitura do GB com o AGLS, para apuração dos óbices e vantagens
de cada aparelho.

2.3.3 Teste para o subsistema “Observação” (T3)


O presente teste avaliou, em conformidade ao Quadro de Variáveis, a
precisão na determinação de alvos, de maneira bastante análoga àquela
realizada no teste “T1”, o tempo para a locação destes objetivos e, por fim, a
capacidade de operar diuturnamente.

2.4 ANÁLISE DE DADOS

O questionário seguiu os modelos de “escalonamento tipo Likert”, em


que foram expostas algumas assertivas referentes ao emprego do atual GB
no âmbito dos GAC e, avaliadas para cada item, o grau de concordância ou
refutação da ideia apresentada.
No tocante aos testes experimentais (T1, T2 e T3), já descritos, os seus
resultados foram comparados aos padrões atingidos com o GB, experimen-
talmente, ou por especificações de manual relativas à precisão a se obter. Deste
modo, cada dimensão de variável, após medida e associada a um valor padrão,
foi factível o dimensionamento das possibilidades e deficiências do material.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente seção tem por finalidade apresentar os resultados esperados


para a investigação tratante da comparação entre os instrumentos optrônicos
de medição angular, sob um contexto de conflitos modernos.
Com vistas a atender tal propósito, cientificamente, faz-se necessário seguir
os parâmetros estabelecidos nos Quadros de Variáveis independente e dependente,
mais propriamente o AGLS e os subsistemas de Artilharia de Campanha.

3.1. INSTRUMENTO OPTRÔNICO DE MEDIÇÃO ANGULAR


A apresentação dos resultados, neste momento, resumiu-se aos dados
técnicos informados pelo fabricante.

155
REVISTA DE ARTILHARIA

Com este enfoque, segue-se abaixo a síntese comparativa da análise dos


resultados, atrelada ao Quadro da Variável Independente, intrinsecamente
relacionado aos indicadores da dimensão “desempenho técnico”, constantes
do Manual de Operações deste instrumento:

Indicadores da
dimensão GB AGLS
“Desempenho técnico”
1) Angular: 1”’
2) Telemétrica:
Precisão 1) Angular: 1”’ - 50 < x< 1500 metros:
precisão de ± 2 m;
2) Telemétrica: Não há. - x < 50 metros e 1500 <
x < 3000 m: precisão de
± 5 m.
Alcance da telemetria Não há 3 Km
Existe interoperabilidade
Interoperabilidade Não há com SACC (não adquirido
pelo EB)
1) Preventiva: operador
2) Corretiva: Pq R Mnt 1) Preventiva: operador
Manutenção (escassez de peças 2) Corretiva: fabricante
de reposição)
Material militarizado
Material militarizado e
Rusticidade e não dispõe de
dispõe de componentes
componentes
eletrônicos
eletrônicos
Capacidade da visão
Não há Não há
noturna
Quadro 4 – Quadro Comparativo da variável independente.
Fonte: o autor.

Tal quadro tornou mais palatável observar e suscitar os indicadores


mais destacados de cada instrumento avalizado. Desta maneira, pode-se
assinalar que, enquanto o GB, de dotação dos GAC do EB, notabiliza-se por
possuir uma boa rusticidade, o AGLS detém capacidade de telemetria intrínseca
ao goniômetro, permitindo-lhe a faculdade de determinar coordenadas em
pouco espaço temporal, ademais de ser interoperável com SACC e possuir
precisão angular compatível com a do GB. Vale ressaltar, contudo, a
ausência de capacidade de visão noturna para ambos os materiais, sendo
que o instrumento israelense apresenta compatibilidade com outros sistemas de
telemetria, existentes no mercado, dotados desta funcionalidade.

156
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

3.2 SUBSISTEMAS DA ARTILHARIA DE CAMPANHA

3.2.1 Topografia

A hipótese alternativa busca determinar, no âmago desta dimensão, se


a modernização do MEM instrumento optrônico de medição angular, a partir
do emprego do AGLS, otimizará o Subsistema Topografia, no tocante à precisão
na determinação de coordenadas, distâncias e à maior velocidade operativa,
em relação ao GB atualmente em uso. Para tanto, em conformidade ao
Quadro da Variável dependente, os indicadores apreciados serão trabalhados a
seguir, mediante a apresentação dos resultados do Teste T1 e questionário.

3.2.1.1 Precisão na determinação de coordenadas

Procedendo ao Teste (T1), fora estacionado o instrumento AGLS sobre a


Estação de Orientação (EO), na Pista Andrade Neves (PAN), de coordenadas
conhecidas Q (56127 – 17966 – 410), e realizada a orientação para uma
direção conhecida, qual seja, a antena Oeste de Mauá, de lançamento de
5856”’. Feita a orientação, o instrumento visou outro ponto de coordenadas
conhecidas, no MORRO DO BARRANCO (56747 – 19343 – 436). Por meio de
um radiamento eletrônico, foram determinadas as coordenadas, por meio do
instrumento, para o próprio MORRO DO BARRANCO referenciado. O
resultado obtido foi o que se segue: Q (56756 – 19340 – 437).
Para estabelecer o grau de precisão esperado, deve-se considerar a
fórmula estabelecida no manual C 6-199 (BRASIL,1986, p. 4-38), qual seja:

P = \dE² + dN² /S
Do exposto, podem ser definidas as diferenças de coordenadas entre os
valores reais e o obtido experimentalmente e a distância aferida por meio do
telêmetro, intrínseco ao aparato:
– dE (diferença na Coordenada “E”) = 56756 – 56747 = 09 metros;
– dN (diferença na Coordenada “N”) = 19343 – 19340 = 03 metros;
– dH (diferença na Coordenada “H”) = 437 – 436 = 01 metro;
– S (Distância entre a EO e o Ponto Visado) = 1512 metros.
Com os valores mensurados aplicados à fórmula e arredondados para a
centena imediatamente inferior, tem-se:

P = \ (09)² + (03)² /1512 = 9,48683 : 9,48683 = 1/100.


1512 : 9,48683

157
REVISTA DE ARTILHARIA

Como a precisão de validação para trabalhos de medição de ângulos


horizontais, em milésimos, segundo o próprio C 6-199 (BRASIL, 1986), deve
ser de 1/500 (com o emprego do GB), pode-se inferir que a precisão calculada
é inferior à estipulada. Isto se justifica pelo fato do sistema de telemetria
solidário ao goniômetro – “Vectronix PLRF 15” – não tolerar a medição de
distâncias na casa do centímetro. Toda distância por ele calculada é
arredondada para a casa métrica mais próxima, o que poderá redundar um
erro crescente, no caso de trabalhos topográficos de grande vulto, como é
recorrente na Artilharia Divisionária (AD).
De posse dos resultados obtidos, portanto, pode-se afirmar, perempto-
riamente que, no caso de permuta do sistema telemétrico por outro com
precisão centimétrica, certamente, otimizará o seu emprego para o ramo da
topografia. Assim, o emprego do AGLS não pode ser descartado para esses
fins, já que a própria fabricante dispõe de telêmetros com interface para o
sistema em questão e, assim, atingir a almejada precisão 1/500.

Figura 1 – Realização do teste “T”.


Fonte: o autor.

Fez-se mister contrastar o resultado do teste experimental com o obtido


nas respostas das OM de Artilharia do EB, em que ficou notadamente
comprovada pela maioria absoluta que um equipamento eletrônico solidário
a um adequado sistema de telemetria poderá, portanto, vir a ser um aliado
indispensável para a consecução de coordenadas precisas, conforme observado
no gráfico a seguir:

158
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Gráfico 1 – Levantamento topográfico aprimora os trabalhos


para estabelecimento de uma trama comum – Resultado.
Fonte: O autor.

3.2.1.2 Precisão na determinação de distâncias

Com o fim de determinar a precisão na determinação de distâncias e


confirmar ou rechaçar o pressuposto de que o telêmetro não é adequado para
levantamentos topográficos de grande envergadura, conforme atestado no
teste anterior, foi aferida a distância de um ponto nominado “A” para um
ponto nominado “B” e, em seguida, repetido o procedimento inverso. Ao
término do evento, foi calculada a precisão, segundo a fórmula constante do
Manual C 6-199 (BRASIL, 1986, p.3-8), qual seja:
x Valor da 1ª Medida – Valor da 2ª Medida/Média Aritmética entre
as duas medidas.
Os dados mensurados, experimentalmente, foram os seguintes:
x Valor da 1ª Medida = 88 metros;
x Valor da 2ª Medida = 88 metros;
x Média entre as duas medidas = 88 metros.
Ao aplicar na fórmula, tem-se que 88 - 88/88 = 0/88.

A precisão desejada para a medição de distâncias, no curso de trabalhos


topográficos, é de 1/3000. Ao conflitar o valor desejado com o valor obtido, é
possível constatar a incongruência deste paralelo comparativo, posto que,
apesar do erro obtido, por meio do telêmetro, ter sido zero, o mencionado
aparato possui a limitação de não ser capacitado a medir distâncias com
precisão centimétrica, como desejado para a topografia. Porquanto, o presente

159
REVISTA DE ARTILHARIA

teste vem a reforçar a premissa de que o telêmetro Vectronix PLRF 15,


solidário ao AGLS, não é o mais adequado à realização de medição de
distâncias, com fins de trabalhos topográficos.
Isso não significa, porém, que o sistema de telemetria, holisticamente,
seja ineficiente para este tipo de trabalho, conforme observado na resposta
dada por toda a população consultada. Visualiza-se que 100% da amostragem
está convencida de que o procedimento convencional de medição de
distâncias, baseado na dupla trenada, consome demasiado tempo e não se
encaixa nos parâmetros da modernização do combate. Desta feita, pode-se
inferir que a telemetria desponta como meio fidedigno de traduzir este
penoso trabalho em tarefa rápida e precisa.

Gráfico 2 – Processo convencional de determinação de distâncias


apresenta imprecisão e consome demasiado tempo – Resultado.
Fonte: O autor.

3.2.1.3 Velocidade Operativa

Concomitante ao radiamento telemétrico executado para a determinação


de coordenadas do Morro do Barranco, foi mensurado o tempo de execução
da atividade, desde a orientação para o Ponto Afastado da Antena Oeste de
Mauá até a apuração da coordenada em questão. O tempo registrado para
esta atividade fora de 3 minutos e 32 segundos. Tal dado fora conflitado com
o mesmo trabalho, realizado por seis grupos de cadetes da AMAN, por meios
clássicos de levantamento, isto é, com o GB e trena. O tempo computado,
neste momento, desde a orientação do GB até a consecução dos cálculos
necessários ultrapassou 25 minutos para todos os grupos de trabalho, como
visualizado na tabela abaixo:

160
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Tabela 1 – Tempo de realização de trabalhos topográficos,


por meio do T1.

Equipes de trabalho Tempo


Grupo 1 27’
Grupo 2 33’
Grupo 3 32’
Grupo 4 26’
Grupo 5 25’
Grupo 6 40’
Fonte: O autor

A diferença substancial reside no trabalhoso procedimento de dupla


medição angular (reiterações), determinação de médias e fortuitas compen-
sações, quando necessário; tudo isto com vistas a minorar a imprecisão do
GB. Há de se valer, ainda, das excepcionalidades que o combate moderno
nos suscita, tal como quando, em situações de grande mobilidade e fluidez,
não se tem uma Referência de Posição de Grupo (RPG) e Ponto Afastado
estabelecidos, costumeiramente pela AD, ou quando não existe sinal de GPS.
O AGLS suplanta este óbice ao flexibilizar a orientação do mesmo por visada
sobre um astro (lua, sol ou estrelas), acelerando o início dos trabalhos
topográficos, de maneira independente.
Do exposto, mensurados os indicadores atinentes à dimensão
Topografia, foi formulado o quadro abaixo que resume o desempenho de
ambos os materiais:

Indicadores
GB AGLS
para a dimensão
(Processo clássico)
“Topografia”
Equivalentes
– 1/100, se empregado o telêmetro
Precisão na
1/500 Vectronix PLRF 15;
determinação de
– 1/500, se empregado sistema de
coordenadas
telemetria com precisão centi-
métrica.
– Mais vantajoso
– Não realiza medições – Variável, de acordo com o número
Precisão na
de distâncias; de lados do caminhamento;
determinação de
– Quando efetuada a – 1/3000, se empregado sistema
distâncias
dupla trenada, a precisão de telemetria com precisão centi-
é de 1/3000. métrica.

161
REVISTA DE ARTILHARIA

– Mais vantajoso
Tempo superior a
Velocidade
25 Min para 3 min e 32 segundos para o
operativa
caminhamento de caminhamento
1512 m.
Quadro 5 – Quadro-comparativo da dimensão “Topografia”.
Fonte: o autor.

À luz das respostas auferidas, por meio dos questionários remetidos


pelas OM de Art, valor Unidade, do EB, foi possível atestar, em concor-
dância ao ditado no CI 6-199/1 (BRASIL, 2005, p. 6-2), que o combate
moderno, por exigir ações rápidas que acompanhem a evolução da arma-base,
deve ser precedido de um apoio eficaz e, porquanto, de um levantamento
topográfico pautado por meios eletrônicos.
Também, após os resultados coletados do Teste “T1”, concebido para
averiguar a pertinência do instrumento AGLS para fins de levantamento
topográfico de um GAC, ficou notório que, a despeito do sistema de
telemetria Vectronix PLRF 15 não ser o mais apto a conduzir atividades
deste porte, por não deter precisão centimétrica, uma permuta por outro
aparato com tais caracteres condicionaria, seguramente, à sua viabilidade
para esta modalidade laboral. Desta feita, será possível obter a precisão
desejada na determinação de coordenadas e de distâncias em um tempo
incomensuravelmente inferior, como constatado em T1, refutando a H0a, que
discorre que a modernização do MEM não otimizará o Subsistema
Topografia, em relação ao GB atualmente em uso.

3.2.2 Linha de Fogo

Com o propósito de verificar a viabilidade da H0b apresentada no


âmago do presente estudo no tocante à dimensão Linha de Fogo, qual seja o
de observar a otimização deste Subsistema, a partir do emprego do AGLS
em relação ao GB atualmente em uso, foram analisados os indicadores a
seguir: rapidez na entrada em posição, dispersão dos meios, precisão na
pontaria e a operação diuturna do instrumento.

3.2.2.1 Rapidez na entrada em posição


Neste momento, seguir-se-á a apresentação dos resultados do Teste
para o Subsistema Linha de Fogo (T2), que consistiu em determinar o tempo
para a execução da pontaria inicial de uma Bia a quatro peças. No caso
considerado, fora fornecida uma Direção de Vigilância (DV) e mensurado o

162
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

tempo necessário para a instalação do instrumento e leitura para as peças,


tanto para o AGLS como para o GB. Cabe ressaltar que o trabalho foi
realizado, separadamente, e pelo mesmo operador, de maneira a elidir
qualquer diferenciação fruto da ação de variáveis intervenientes, tais como:
a presteza e o adestramento do militar operador de cada sistema. O tempo
para a consecução de cada atividade fora bastante semelhante, perfazendo
valores aproximados de cinco minutos em cada um dos casos, consoante à
Tabela 11 infracitada.

Tabela 2 – Tempo de realização de pontaria inicial, referente ao T2.

Tipo de instrumento Tempo de Pontaria Inicial


AGLS 5’26”
GB 5’21”
Fonte: O autor.

Não se pode atribuir, outrossim, qualquer diferença substancial em


termos de otimização de tempo para a entrada em posição de uma Bia O,
seja qual for o instrumento avalizado.
A despeito de não ter sido possível constatar diferença significativa
entre estes instrumentos, no que concerne a este indicador, cabe salientar,
que o instrumento eletrônico detém interface para interoperar conjun-
tamente a um sistema de processamento de tiro, capaz de receber, por
transmissão de dados, o pedido de tiro do observador e revertê-lo em dados
de tiro para cada peça, individualmente. O AGLS possui a interface
mencionada e a capacidade de transmissão de dados, o que poderia
incrementar o tempo de resposta do apoio de fogo, tão logo fosse levantado o
alvo pelos OA ou Oficial de Reconhecimento das Bia O.

3.2.2.2 Dispersão dos meios

Segundo o Manual C 6-20 (BRASIL, 1998, p. 5-8), a artilharia deverá


adotar medidas e procedimentos para proteger-se dos meios de contrabateria
remanescentes.
Neste diapasão, a respeito das funcionalidades do AGLS, fica claro o
emprego deste instrumento no seu país de origem – Israel – para proceder a
pontaria de peças, individualmente. Caso estas peças estejam ligadas por
transmissão de dados a um SACC, uma espécie de C Tir eletrônica,
permitirá a realização de correções individuais para cada obus, sem a
necessidade de se empregar o Corretor de Posição (C Pos). Esta situação
minimizará o tempo do desencadeamento do fogo e manterá a centralização

163
REVISTA DE ARTILHARIA

do tiro da Bia, sem a necessidade intrínseca de estar toda a Bia desdobrada


em uma frente de 200 ou 300 metros, de acordo com o calibre do material. O
AGLS, ao ter a possibilidade de determinar a posição própria, seja por GPS,
por algum método de intersecção a ré ou por inserção do próprio operador,
facultará também o levantamento de cada material e a sua distância
relativa ao Centro de Bateria (CB).
De maneira a explicitar o exposto acima, é de bom alvitre destacar
que países da OTAN e Israel, desde meados de 1990, empregam a SU Tir,
quando do risco iminente de fogos de contrabateria, numa dispersão
muito maior que o raio de ação da granada. Tal fato encontra amparo ao
crescente desenvolvimento de lançadores múltiplos de saturação de área,
capazes de, facilmente, neutralizar uma Bia O que esteja atuando
centralizadamente. O AGLS, neste meandro, ao possuir a capacidade de
levantar a posição das peças e dispor de interface para tramitar dados
com o SACC, concederá flexibilidade à Art Cmp de desdobrar o seu
material com maior segurança, sem perder a indispensável centralização.
Depende, para que isto se cumpra, da aquisição também do SACC e de
rádios apropriados para este fim.

3.2.2.3 Precisão na pontaria e execução do tiro

Em conformidade ao teste T2, já explicitado, foi procedida a verificação


do feixe, após a pontaria inicial ter sido efetivada. Tal medida compõe a
sequência básica de procedimentos de pontaria de linha de fogo, preconi-
zados nos Manuais de Campanha e, porquanto, uma forma factível de
estabelecer a precisão de medição de ângulos.
Sabe-se que a precisão esperada para uma rápida pontaria de linha de
fogo, de modo a evitar um conteiramento da peça e, porquanto, exigir uma
nova leitura de deriva, é de 1”’. No teste realizado, em ambos os materiais
(GB e AGLS), a precisão auferida fora de 1”’, em atendimento ao manual do
operador. A única ressalva a ser considerada é que, para a consecução da
atividade em tela, apenas um GB, dentre quatorze existentes no C
Art/AMAN, estava em condições plenas de ser empregado. Os demais
apresentavam folgas mecânicas na leitura do prato azimutal, comprome-
tendo sobremaneira a precisão e a confiabilidade do instrumento.

3.2.2.4 Operar diuturnamente

A fim de apreciar a capacidade de operação diuturna, na Linha de


Fogo, tão recorrente na Guerra Moderna, na qual as operações continuadas
ganham vulto, faz-se necessário constatar que nenhum dos dois materiais

164
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

em estudo abarca o requisito de visão noturna. Contudo, o fabricante do


AGLS dispõe de outras variações de telêmetro (não adquiridos pelo Brasil)
que conferem tal valência.
Outro aspecto importante a ser observado, concernente à realização da
pontaria noturna, é a viabilidade de proceder a orientação do AGLS pelo
astro, seja de dia (sol) ou de noite (lua ou qualquer outra constelação, como
o Cruzeiro do Sul). Tal funcionalidade implica a determinação de uma
Direção de Referência (DR) bastante precisa e sem depender do repasse dos
controles iniciais da Turma de Topografia, concedendo bastante autonomia
às Bia O e facultando a estas a pontaria mais precisa, por meio da técnica do
ângulo de vigilância (AV), mesmo à noite, quando não se dispõe de pontos
nítidos para servirem de referência.
Do exposto, foi formulado o quadro abaixo que sintetiza o desempenho
do AGLS e do GB no subsistema Linha de Fogo.

Indicadores para a
dimensão Linha GB AGLS
de Fogo
Rapidez equivalente entre os instrumentos
Rapidez na entrada Tempo equivalente para providenciar a orientação,
em posição pontaria inicial e pontaria recíproca para ambos os
instrumentos.
– Mais vantajoso
Dispersão dos meios Por não ser eletrônico, não
dispõe de interface com o
Interoperabilidade com
SACC, dificultando a
SACC, via rádio, e
manutenção da
determinação de posição
centralização do tiro, no
das Peças, individualmente.
caso de peças muito
dispersas.
Precisão equivalente
Precisão na pontaria – A precisão angular é de 1”’;
e execução do tiro – Folgas mecânicas podem
– A precisão angular é de 1”’.
acarretar danosos problemas
na precisão
– Mais vantajoso
– Não há sistema de ilumi-
nação do retículo e, sim,
emissão de laser que orienta
a visada do aparato;

165
REVISTA DE ARTILHARIA

– Iluminação do retículo, per- – Existência de telêmetro com


Operar mitindo a pontaria noturna. capacidade de visão noturna
diuturnamente e termal compatível com o
sistema ATLAS;
– Presença de orientação do
instrumento pelo AV,
mesmo à noite, por meio
de visada sobre astros.

Quadro 6 – Quadro-comparativo da dimensão Linha de Fogo.


Fonte: o autor.

Esboçado o quadro comparativo acima, após delineadas as observações


particularizadas para cada indicador alusivo à dimensão Linha de Fogo, é
perfeitamente factível refutar a H0b, que versa sobre a assertiva de que a
modernização do MEM não otimizará o Subsistema Linha de Fogo, em
relação ao GB atualmente em uso. Tal pressuposto está amparado na
capacidade do instrumento eletrônico de interoperar com o SACC, facultando
uma maior dispersão das bocas de fogo, elidindo as chances de contra-
bateria; na viabilidade de se usar sistema de telemetria com a valência de
visão noturna, perfeitamente coadunável à plataforma do goniômetro;
ademais de não sofrer com imprecisões advindas de “folgas” mecânicas como,
costumeiramente, sucede-se no GB.

Figura 2 – Realização do teste T2.


Fonte: o autor.

3.2.3 Observação

Com o propósito de verificar a viabilidade da H0c apresentada no âmago


do presente estudo no tocante à dimensão Observação, qual seja o de
observar a otimização deste subsistema, a partir do emprego do AGLS em
relação ao GB atualmente em uso, foram analisados os indicadores a seguir:

166
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

precisão na determinação dos alvos, rapidez na locação de alvos de grande


fugacidade, alcance da observação e a operação diuturna do instrumento.
Para tanto, de maneira análoga ao que ocorreu nos testes do Subsistema
Topografia, foram determinadas as coordenadas do Morro do Barranco, a
partir do AGLS, e comparado aos dados previamente conhecidos, cujos
resultados puderam ser analisados conforme abaixo:

3.2.3.1 Precisão na determinação das coordenadas

Neste meandro, como já abordado anteriormente, quando tratado do


Subsistema de Topografia, a Coordenada do Morro do Barranco, que servira
como alvo, é a de Q (56747 – 19343 – 436). Após o radiamento telemétrico,
as coordenadas obtidas foram: Q (56756 – 19340 – 437). Com base nos dados
levantados, as diferenças de coordenadas, em valores modulares, foram:

x dE = 56756 – 56747 = 09 m;
x dN = 19340 – 19343 = 03 m;
x dH = 437 – 436 = 01 m.

Contrastando os resultados auferidos experimentalmente com o previsto


no Manual C 6-130 (BRASIL, 1990, p. 4-9), quando tratado de precisão na
localização de alvos, percebe-se que estão consoantes ao preconizado na
doutrina, qual seja de dez metros. Inobstante, tal teste se coaduna com o
esboçado na revisão de literatura, em assertiva de Lambuzana e Mataloto
(2009), quando atestou que, trabalhos de localização de alvos, partindo de
inspeção na carta (dependendo de sua escala) podem assumir precisões
hectométricas, isto é, muito além do preestabelecido pelo Manual C 6-130.
Fica evidente que a utilização do instrumento independe de uma análise
subjetiva do observador na carta, minorando as imprecisões advindas de um
erro na apreciação de distância de observação, tão contumaz em situações de
grande movimento.

3.2.3.2 Rapidez na locação de alvos de grande fugacidade

Como já abordado no escopo da dissertação, a rapidez na determinação


de alvos assume um vetor de significativa relevância no concerto dos
combates modernos, justificado pela velocidade dos meios empregados e a
sua considerável manobrabilidade. Com efeito, de maneira análoga ao
executado no Subsistema Topografia, foi procedido um teste para aferir o
tempo para locação de alvos.

167
REVISTA DE ARTILHARIA

Neste enfoque, após realizada a instalação do instrumento, durante o


Teste “T3”, observou-se que o tempo depreendido para a locação do alvo se
resumiu, tão somente, à detecção visual do mesmo e a emissão do facho laser
para a determinação da distância. A coordenada retangular surge, assim,
instantaneamente no visor do material AGLS, conferindo um tempo
reduzido à locação de alvos para o observador avançado. De maneira a
ilustrar o referido teste, apresentam-se os resultados atinentes ao tempo
para determinar o primeiro alvo, tão logo o instrumento tenha sido
instalado, orientado, feito a pontaria e a emissão do laser, bem como o tempo
para determinação dos demais alvos, consubstanciado nos procedimentos de
apontar e emitir o laser:

Tabela 3 – Tempo para locação de alvos.

Tempo para determinação Tempo para determinação


do 1° alvo dos demais alvos
03’ Instantâneo
Fonte: O autor.

Com vistas a estabelecer um paralelo comparativo com o GB, cabe dizer


que este instrumento não possui sistema de telemetria solidário e, por
conseguinte, não detém a capacidade de determinar coordenadas instanta-
neamente, ensejando, necessariamente, valer-se da técnica de locação de
alvos, prevista no Manual C 6-130 (BRASIL, 1990, p. 4-14), nominada de
“Locação polar” ou “intersecção avante”. A primeira técnica compreende
determinar lançamentos e distâncias e repassá-las à C Tir que, por sua vez,
executará a sua locação na prancheta ou registro no Palmar Militar
(material eletrônico de determinação de elementos de tiro). Assim, a rapidez
da locação de alvo não é severamente prejudicada, já que a técnica
supramencionada também é ágil, mas é passível perder em velocidade no
processamento do tiro na C Tir. A segunda técnica, por sua vez, conclama
por dois observadores e por realização de cálculos, por intermédio da
Ficha Topo 5 (BRASIL, 1989), depreendendo consumo de tempo e maior
quantidade de pessoal.
Assim, após o teste experimental, percebeu-se pouca significância no
tempo depreendido para a locação de alvos fugazes entre um e outro
material. O que, de fato, é mais latente neste contexto é a possibilidade que
o AGLS possui, quando associado a um equipamento rádio apropriado, de
transmissão de dados diretamente à C Tir, economizando tempo na trans-
missão da mensagem do observador. O GB, por sua vez, por ser um dispositivo
mecânico, não detém esta possibilidade, compelindo ao observador o encargo

168
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

da comunicação. Assim, o equipamento israelense traduz num salto tecno-


lógico para a observação no tocante à rapidez na determinação de alvos e,
quando integrado a um cálculo automático de tiro, garante um ataque
rápido e preciso, minimizando o consumo de munições e efeitos colaterais
(LAMBUZANA; MATALOTO, 2009).
Com o fulcro de equalizar o tempo ainda, o AGLS dotado de telemetria
solidária ao dispositivo de medição angular viabiliza o processo de ajustagem
conjugada e/ou regulação por levantamento do ponto médio com apenas um
observador, minimizando o tempo do levantamento topográfico na Área de
Conexão, que necessitará obter as coordenadas planimétricas e altimétricas
de apenas um observatório e não de dois como previsto na doutrina atual.

3.2.3.3 Alcance da observação


É evidente que o alcance de observação, além de permitir uma maior
amplitude em profundidade no combate, faculta maior segurança aos
observadores que não necessitariam expor-se tão à frente para cumprir com
a missão que lhes é destinada. A doutrina brasileira, no tocante a manobra
de Postos de Observação, preconiza que esta se suceda a cada 4 Km,
condicionada pelas limitações da observação a olho nu. Os materiais optrônicos,
sob o pretexto de cumprirem com a sua principal tarefa de medir ângulos,
devem ter condições de fazê-lo o mais distante possível. No contexto
apresentado, após consultados os dados do fabricante de cada material de
estudo, percebeu-se que o AGLS amplia em 6 vezes a observação natural do
homem e o GB, por sua vez, aumenta 5 vezes.
Entretanto, a despeito da maior capacidade de ampliação de imagem
proporcionada pelo AGLS, este detém uma limitação na telemetria, consubs-
tanciada na aferição de distâncias não superiores a 3000 metros. Tal limitação
contrasta com a doutrina vigente, já que não permitirá determinar posições de
alvos a distâncias acima de 3 Km e, portanto, não abarcando os 4 Km desejáveis.
Mesmo com a limitação apontada acima, o AGLS ainda possui maior
alcance de observação que o GB, credenciando o primeiro a operar em
melhores condições. Cabe salientar, ainda, que o fabricante daquele aparato
oferece outros sistemas de telemetria, adaptáveis ao goniômetro, com maior
alcance e mais funcionalidades de observação, tais como: visão termal e
noturna, legitimando a flexibilidade tão almejada nos dias atuais.

3.2.3.4 Operar diuturnamente


Consoante ao estabelecido no Quadro de Variáveis, foram realizadas
leituras angulares com ambos os instrumentos (AGLS e GB) na parte da noite,
de modo a atestar a efetividade dos mesmos a operarem diuturnamente –

169
REVISTA DE ARTILHARIA

notoriamente importante nos conflitos modernos, em que vigoram as


operações continuadas. As observações se coadunam com o relatado em
documento emitido pelo Curso de Artilharia da AMAN, quando do
recebimento de dois exemplares do AGLS.
Como já apresentado na dimensão Linha de Fogo, percebeu-se que o
aparato israelense não apresenta iluminação de todo retículo, como ocorre
no GB, quando utilizado o dispositivo de iluminação que o acompanha como
acessório. Aquele material emite, tão somente, um facho laser que permite o
operador orientar o instrumento por meio da radiação dirigida sobre o objeto
o qual se deseja determinar parâmetros de locação. Desta feita, assim como
no GB, o AGLS não possui a funcionalidade de visão noturna ou termal,
como desejável para uma adequada observação noturna. Outrossim, fica
claro que, enquanto o primeiro possui uma iluminação do retículo interno, o
segundo emite um facho laser com o propósito de orientação do material
para o alvo.
A despeito dos dois instrumentos não possuírem quaisquer funciona-
lidades que os credenciem a observar à noite, é possível suscitar algumas
inferências com base na análise dos mecanismos em estudo. Dentre elas, é
factível afirmar que o AGLS, ao emitir o laser, pode acabar comprometendo
seriamente a segurança do observador, particularmente a sua visão. Em
contrapartida, o GB, diametralmente oposto neste sentido, por não realizar
quaisquer emissões e deter uma iluminação interna, não afeta a segurança
do observador que o emprega. Adicionalmente a isso, convém diferenciá-los
no sentido de apontar que a fabricante do AGLS produz telemetria
adaptável ao goniômetro, capaz de ampliar o alcance da observação, bem
como, conceder-lhe a valência de visão noturna, enquanto o GB não
dispõe de qualquer interface com sistema telemétrico que majore suas
possibilidades.
Percebe-se, ainda, que 100% da população concorda, mesmo que
parcialmente, com a assertiva de que um instrumento com a capacitação de
visão noturna constituir-se-ia em ganho considerável no Subsistema de
Observação ao credenciar a captação de alvos, mesmo com ausência de
visibilidade, sob um quadro de conflitos que se desenrolam continuamente,
conforme visto a seguir:

170
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Gráfico 3 – Melhoria na identificação de alvos e objetivos proporcionado


por sistema de visão noturna ou termal – Resultado.
Fonte: O autor.

Constatada a importância desta valência para a Artilharia Brasileira e,


sabendo que nenhum dos instrumentos de estudo possui esta capacitação,
depreende-se, porquanto, que concernente à dimensão de “operar diutur-
namente”, nenhum dos dois materiais atende este preceito nas condições
desejadas. Fica a ressalva que o AGLS, por possuir no mercado peças
intercambiáveis com as características esperadas, como o telêmetro ATLAS
LT, possibilita-o a ser empregado, desde que associado a esta ou a outra
plataforma telemétrica dotada desta aptidão, como lídimo instrumento de
busca de alvos, em situações de escassa luminosidade.
Por fim, mensurados os indicadores da dimensão Observação, foi
formulado o quadro abaixo que sintetiza o desempenho do AGLS e do GB
neste subsistema.

Indicadores para
a dimensão GB AGLS
Observação
– Mais vantajoso
– No caso de locação por “inspe-
ção na carta”, a precisão é Precisão de 10 m, nas
Precisão na hectométrica (100 m); Coor “E”, “N” e “H”,
determinação dos – No caso de GB, requer o pro- segundo o Teste “T3”
alvos cesso de locação polar ou inter-
secção avante, os quais não
permitem a consecução do
fechamento.
– Mais vantajoso
– Requer o processo de inter- – Determinação do primeiro
secção avante – mais demo- alvo: três minutos; e

171
REVISTA DE ARTILHARIA

rado – já que demanda a pre- – Determinação dos demais


Rapidez na locação
sença de dois observadores e alvos: procedimento quase
de alvos de grande
realização de cálculos, mediante que instantâneo.
fugacidade
o preenchimento da Ficha
Topo 5; ou
– O processo de locação polar,
que demanda tempo na loca-
ção do alvo, na C Tir.
– Mais vantajoso
Alcance da Aumento de seis vezes,
observação Aumento de cinco vezes. Não
proporcionando um
dispõe de limitação de
alcance de 3 Km de
telemetria, por não dispor de um.
telemetria.
– Mais vantajoso
Operar Não dispõe de visão
diuturnamente Não dispõe de visão noturna, noturna, mas conta com
contando apenas com telêmetros no mercado
iluminação de retículo. compatíveis com o
goniômetro.
Quadro 7 – Quadro-comparativo da dimensão Observação.
Fonte: o autor.

Esboçado o quadro comparativo acima, após delineados os apontamentos


particularizados para a dimensão Observação, à luz dos resultados do
questionário e do Teste “T3”, é perfeitamente factível refutar a H0c, que dispõe
acerca da assertiva de que a modernização do MEM não otimizará o Subsistema
Observação, em relação ao GB atualmente em uso, dada a premente outorga
do combate moderno por um meio mais rápido de locação de alvos, dotado de
capacidade de emprego diuturno, alcance majorado e maior precisão – valências
estas viabilizadas por meio eletrônico de levantamento de alvos, conforme
depurado na análise de cada indicador do quadro da variável dependente.

4. CONCLUSÃO

Com vistas a posicionar a Artilharia Brasileira no advento da moder-


nidade, chegou-se ao emblemático problema, cujo cerne encontrava eco na
viabilização dos subsistemas elencados acima, por meio da permuta do
instrumento ótico de dotação dos GAC – o GB – por um instrumento
optrônico eletrônico de medição angular. No caso em voga, tratando que o
EB, recentemente, recebeu dois equipamentos AGLS, estes foram empregados
como parâmetro comparativo.

172
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

Partindo da problemática acima, foi suscitado o objetivo geral do


estudo, o qual buscava estabelecer uma analogia do uso deste AGLS ao do
atual GB, nos Subsistemas da Topografia, Linha de Fogo e Observação, sob
o espectro da Guerra Moderna, notabilizada pela assimetria, frentes
indefinidas, ações continuadas e elevada volatilidade. Tal objetivo foi atingido
na apresentação dos resultados, momento em que todas as hipóteses nulas
H0a, H0b e H0c foram rejeitadas, ratificando a afirmação de que, de fato, a
modernização do MEM instrumento optrônico de medição angular otimiza
os Subsistemas de Topografia, Linha de Fogo e Observação quando,
analogamente, comparados ao GB.
Sob este bojo, o presente estudo foi conduzido como sendo, primordial-
mente, de campo, ao tê-lo submetido a testes experimentais, oportunidade
em que ficaram, notadamente, comprovadas as rejeições das hipóteses em
estudo. Conjugado a isso, os questionários remetidos a todas as OM de Art
Cmp do EB, depois de tabulados, serviram para esboçar um panorama
fidedigno do GB, ainda em utilização nestas unidades, e reflexionar sobre a
visão prospectiva de seu emprego no futuro.
Desta feita, em um primeiro momento, foi imperativo analisar os
indicadores que compunham a variável independente, consubstanciada pelo
equipamento optrônico, e que se propunha a medir sua precisão, o alcance
de seu telêmetro, a sua interoperabilidade, sua manutenção, sua rusticidade
e sua capacidade de visão noturna.
Neste ensejo, ficou comprovado ser um instrumento com a precisão
adequada para medições de ângulos tanto horizontais como verticais, dentro
de 1”’. O telêmetro, por sua vez, a despeito de ter um alcance de três
quilômetros, ou seja, aquém do preconizado na doutrina de observação,
ademais de não dispor de visão noturna ou termal, pode ser intercambiável
por outro que disponha destas valências e, assim, majorar as capacitações do
material como um todo. Adicionalmente a isso, o robustecimento do aparato,
excetuando alguns componentes eletrônicos, credencia-o a operar em
situações de adversidade climática em campanha. E, finalmente, a faculdade
de interoperar com o SACC, uma vez existente no âmago da Força,
catalisará os procedimentos de transmissão de dados, permitindo, inclusive,
prover cálculos de correção de posição para cada peça, automaticamente, e
minorar os erros decorrentes da dispersão dos meios de Art.
Simultaneamente a isso, foi possível definir a visão que se tem do GB,
ainda em voga, por todas as Unidades de Artilharia. Neste quadro, é
extremamente factível afirmar que, apesar da comprovada rusticidade e
eficiência deste instrumento por décadas, este se depara hoje com grandes
dificuldades de adaptabilidade às exigências ditadas pelos conflitos hodiernos.

173
REVISTA DE ARTILHARIA

A fluidez e a volatilidade das ações determinam que a flexibilidade seja um


indelével traço dos MEM. O GB, por sua vez, ao não ser interoperável com
sistemas de controle de tiro, não atender as demandas de rápida locação de
alvos e coordenadas, nem deter quaisquer possibilidades de visão noturna,
posiciona-se, indubitavelmente, num patamar deficiente na conjuntura atual.
Após a apresentação dos resultados da variável independente (sistema
optrônico de medição angular), fez-se necessário observar os efeitos de
sua aplicação na variável dependente, conformada pelos subsistemas de
Art Cmp (Topografia, Linha de Fogo e Observação), cujas ilações se
materializam abaixo.
No tocante ao Subsistema Topografia, fica caracterizada a obsolescência
do GB, assinalada pela demasiada imprecisão que, agregada à dificuldade
de manutenção pela carência de peças de reposição, constituem-se como
pesados óbices a sua perpetuação nas estruturas da Artilharia Brasileira.
Ficaram caracterizadas as incongruências do GB diante das requisições do
combate moderno, tais como o retardo para efetuar operações simples de
medição angular e a impossibilidade de se interagir eletronicamente com
outros sistemas, já que se trata de um dispositivo eminentemente mecânico.
Neste meandro, após a consolidação dos requisitos operacionais da variável
independente deste estudo, o AGLS apresentou considerável velocidade
operativa na consecução dos trabalhos topográficos, a despeito de relativa
imprecisão fruto de limitação da telemetria existente, porém com a possibilidade
de ser intercambiável por outro mais apropriado para este tipo de atividade.
Assim, pode-se dizer que, desde que haja uma substituição do atual
telêmetro por outro com precisão centimétrica, a H1a é atendida, isto é, a
partir da modernização do MEM, proporcionada pelo emprego do AGLS,
será otimizado o Subsistema Topografia, no tocante à precisão na deter-
minação de coordenadas, distâncias e à maior velocidade operativa, em
relação ao GB atualmente em uso.
No que se refere ao subsistema Linha de Fogo, o AGLS permitiu, além
da destinação precípua de realizar a pontaria inicial, a possibilidade de ter
interface com um sistema automático de controle de tiro, facultando conferir
uma dispersão maior à Linha de Fogo e tornando-a, por conseguinte, menos
vulnerável a fogos de contrabateria. Pode-se afirmar que a H1b é verossímil,
ou seja, a partir da modernização do MEM, proporcionada pelo emprego do
AGLS, será otimizado o Subsistema Linha de Fogo, em relação ao GB
atualmente em uso, sobretudo se houver a previsão de aquisição futura de
um SACC compatível.
Por fim, no subsistema Observação, visualizou-se um ganho na aferição
da precisão da determinação de alvos, já que esta não dependerá, única e

174
A MODERNIZAÇÃO DE MATERIAL DE EMPREGO MILITAR

exclusivamente, da comparação carta-terreno, além de catalisar o referido


procedimento, mormente quando são alvos de grande fugacidade. O
instrumento eletrônico, ainda, dada a sua capacidade de executar um
radiamento telemétrico, elidirá a necessidade da técnica de observação
conjugada – procedimento veementemente empregado quando inexistem
pontos nítidos no Centro da Zona de Ação (CZA) e que exigem dois
observadores simultaneamente, conclamando por um trabalho topográfico
mais longo e complexo. Calcado na apresentação dos resultados, é factível
afirmar que H1c será verdadeira, desde que o telêmetro do atual AGLS seja
substituído por um equivalente com maior alcance – superior a 4 Km – e
com capacidade de visão noturna ou termal, vindo a otimizar, sobremaneira,
o Subsistema Observação, mormente no que se refere à precisão, rapidez,
alcance e capacidade de operação diuturna.
Destarte, de posse das premissas supracitadas, após findado todo o
processo investigativo, conclui-se da premente outorga dos conflitos
hodiernos por valências como precisão e rapidez. A modernização do MEM
pela substituição de um sistema mecânico de medida, passível aos
infortúnios de imprecisão por tempo de uso e de retardo para ações que
carecem de extremo dinamismo, por outro digitalizado de competências
múltiplas, poderá, portanto, significar o passo a ser dado na escala evolutiva
da Artilharia de Campanha.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZIMUTH TECHNOLOGIES. Manual de operação do sistema AGLS. 2010. 54 p.


BENETTI, Cezar Carriel. Os novos paradigmas do apoio de fogo terrestre. Univer-
sidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, [2006?]. Disponível em:
<http://www.esao.ensino.eb.br/paginas/cursos/art/download/artigos/Novos%
20Paradigmas.pdf>. Acesso em: 14 de julho de 2011.
BRASIL. C 6-199: Topografia do Artilheiro. 3.ed. Brasília: EGGCF, 1986.
______. CI 6-199/1: o Levantamento Topográfico Eletrônico. Brasília: 2005.
______. C 6-1: Emprego da Artilharia de Campanha. 3. ed. Brasília: EGGCF, 1997.
______. Curso de ensino a distância – EsAO. Extrato do C 100-5: Operações. Rio de
Janeiro: EsAO, 2007.
______. C 6-20: Grupo de Artilharia de Campanha. 4.ed. Brasília: EGGCF, 1998.

175
REVISTA DE ARTILHARIA

______. C 6-130: Técnica de Observação do Tiro de Artilharia de Campanha. 1.ed.


Brasília: EGGCF, 1990.
CARRASCO, Lorenzo. O movimento ambientalista-indigenista, conflitos de quarta
geração e a Amazônia no século XXI. Brasil acima de tudo, abril de 2008.
Disponível em: < http://brasilacimadetudo.lpchat.com/index.php?option=com_
content&task=view&id=4274&Itemid=223>. Acesso em: 14 de julho de 2011.
DF Vasconcelos. São Paulo Antiga. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.
com.br/df-vasconcellos/>. Acesso em: 20 de outubro de 2011.
GONZÁLEZ, José Luís de la Cruz; MINGORANCE José Luís Mesa. Instrumento de
topografia: recordando a sua história. UFRGS. Disponível em: http://www.
ufrgs.br/museudetopografia/Artigos/Instrumentos_de_topografia.pdf. Acesso em:
21 de fevereiro de 2013.
HALLWASS, Alberto. A modernização do sistema de artilharia de campanha.
Military Review, Kansas, vol. 72, n.1, pp. 76-82, jan./mar. de 1992.
HAMMES, Thomas. A guerra da quarta geração evolui, a quinta emerge. Military
Review, Kansas, Set-Out. de 2007. Disponível em: < http://www.ecsbdefesa.
com.br/defesa/fts/MRSetOut07.pdf>. Acesso em: 14 de julho de 2011.
LAMBUZANA, Paulo Alexandre Costa; MATALOTO, Luís Miguel Rebola.
Equipamentos de observação avançada de artilharia: a observação avançada no
início do III milênio. Boletim da Escola Prática de Artilharia, Vendas
Novas, pp. 29-34, Dez. de 2009.
MATALOTO, Luís Miguel Rebola; SANTOS, Nuno Alexandre Rosa Morais. A
evolução no domínio da aquisição de objectivos. Boletim da Escola Prática de
artilharia, Vendas Novas, pp. 69-80, 2008.
SANTOS, Élio Teixeira. As tendências de evolução da artilharia de campanha na
OTAN e UE. Boletim da Escola Prática de artilharia, Vendas Novas, pp.
35-48, 2008.
SILVA, Carlos Alberto Pinto. Guerra assimétrica: adaptação para o êxito militar.
COTer, Brasília, [200-]. Disponível em: < http://www.coter.eb.mil.br/html/
0apic/comando/Guerra%20Assim%C3%A9trica%20adapta%C3%A7%C3%A3o
%20para%20o%20%C3%AAxito%20militar.pdf>. Acesso em: 14 de julho de 2011.
______. Conflitos assimétricos: estado débil e estado falido. COTer, Brasília, 2007.
Disponível em: < http://www.coter.eb.mil.br/html/0apic/comando/Conflitos%20
Assim%C3%A9tricos%20-%20Estado%20D%C3%A9bil%20Estado%20Falido.pdf>.
Acesso em: 14 de julho de 2011.
______. A guerra de quarta geração, a guerra em rede social e a situação atual em
Honduras. COTer, Brasília, setembro de 2009. Disponível em: < http://www.
coter.eb.mil.br/textos/2009%20-%20guerra%20em%20rede%20social.pdf>.
Acesso em: 14 de julho de 2011.
SWAIN, Thomas. A artilharia de campanha e o CBI: uma visão geral. Military
review, Kansas, vol. 72, n.1, pp. 50-54, jan./mar. de 1992.

176
COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR COM A REPÚBLICA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE

ARTILHEIROS EM MISSÃO

COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR
COM A REPÚBLICA DE S. TOMÉ
E PRÍNCIPE
Projeto N.º 2
Pelos Major de Artilharia
JOÃO AFONSO GÓIS PIRES
e Tenente de Artilharia
PEDRO FILIPE CARRAZEDO BARBOSA

Figura 1 – Porta de Armas do Centro de Instrução Militar.

1. INTRODUÇÃO

O Exército Português tem vindo a participar, no âmbito da política da


Cooperação Técnico-Militar (CTM), em projetos e ações de formação,
qualificação, atualização e promoção, junto das Forças Armadas de São

177
REVISTA DE ARTILHARIA

Tomé e Príncipe (FASTP). Esta colaboração, em diferentes domínios, tem


contribuído para a modernização e transformação das FASTP.
Para tal são desenvolvidos um conjunto de atividades, cujo objetivo
previamente definido pretende alcançar metas ao nível de assessoria,
formação pessoal, reabilitação de infraestruturas e fornecimento de
material.

Figura 2 – Placa evocativa da presença Figura 3 – Placa referente à inauguração


da CTM no Centro de Instrução do edifício onde decorrem as atividades
Militar. de ensino militar, no CIM.

2. CARACTERIZAÇÃO

São Tomé e Príncipe (STP) é um arquipélago de natureza vulcânica,


cuja área de 1001km2 se distribui por duas ilhas principais. A população é
estimada em cerca de 176500 habitantes, na sua maioria residente na ilha
de São Tomé.
O país alcançou a indepen-
dência política sem recurso à luta
armada, aproveitando as condições
circunstânciais das guerras de
independência em Angola, Moçam-
bique e na Guiné-Bissau. A 12 de
julho de 1975, São Tomé e Príncipe
alcança, assim, a independência
Figura 4 – localização geográfica do política e adota a designação de
arquipélago de São Tomé e Príncipe. República Democrática de São Tomé
e Príncipe.
A 21 de dezembro de 1988, Portugal e STP concordaram em avançar
com uma relação de cooperação, que se concretizou, efetivamente no ano de
1991. Porém, os dois países já haviam estabelecido algumas parcerias de

178
COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR COM A REPÚBLICA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE

natureza militar nomeadamente no domínio da formação anteriores a essa


data. Inicialmente a necessidade manifestada por STP prendia-se com a
criação de um meio de ligação entre as duas ilhas, projeto que foi alcançado
com a colaboração da Força Aérea. Posteriormente, a colaboração estendeu-
se à Marinha e ao Exército no desenvolvimento de outros projetos.

3. COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR

Nos últimos anos, a Cooperação Portuguesa para o Desenvolvimento evoluiu


no contexto de uma agenda internacional visando melhorar tanto a quantidade
como a qualidade da ajuda. Procura-se, assim, dar prioridade às políticas externas
dos estados, com o objetivo de melhorar e diminuir as diferenças económicas,
proporcionando um relacionamento pacífico da comunidade internacional.
A atividade do Exército Português, no âmbito da CTM, é coordenada
pela Direção Geral de Política e Defesa nacional (DGPDN). É da responsa-
bilidade da DGPDN o estudo, o planeamento, a coordenação, a avaliação e o
acompanhamento da execução da CTM. Por sua vez, a Entidade Técnica
Responsável (ETR) acompanha, apoia e avalia o desenvolvimento do projeto
de acordo com os objetivos estabelecidos pela DGPDN. A ETR tem na sua
dependência o Diretor Técnico que planeia, dirige e executa o projeto, avalia
os resultados e propõe alterações necessárias ao respetivo desenvolvimento.

3.1. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO Nº 2 – ASSESSORIA


TÉCNICA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

De forma a concretizar as devidas


intervenções, no âmbito da cooperação, foi
estabelecido um Conjunto de atividades
de duração acordada em Projetos-Quadro,
destinados à prossecução de um objetivo
previamente acordado e definido, cuja
execução abrange várias componentes
(assessorias, formação de pessoal, reabi-
litação de infraestruturas e fornecimento
de material). É precisamente na compo-
nente da Formação de Pessoal que surge
o Projeto nº 2 – Formação e Treino, de Figura 5 – conjunto de placas que
Unidades para Operações Conjuntas de marcam a passagem das diferentes
Interesse Público, Ajuda humanitária, equipas de assessoria portuguesa no
âmbito do Projeto Nº2.
Gestão de Crises e de Apoio à paz.

179
REVISTA DE ARTILHARIA

O objetivo primário do projeto consistia em apoiar a instrução geral e


complementar, através de uma instrução coletiva e treino operacional às
unidades integradas no Sistema das Forças Armadas de STP. Neste sentido,
e para uma melhor coordenação, foram definidos três Objetivos Específicos:
primeiro, apoiar a elaboração de planos de instrução dando enfoque às
matérias inerentes à Instrução Militar do Contingente Geral e dos diversos
cursos no âmbito da instrução complementar; segundo, auxiliar na
preparação e no treino operacional de unidades, capacitando-as para
integrarem contingentes multinacionais, no Quadro das Operações de Apoio
à Paz e Humanitárias; terceiro, prestar apoio logístico, nomeadamente, com
equipamento, fardamento e expediente para a preparação do Contingente
Geral anual.
Por ocasião da visita a São
Tomé do Secretário de Estado da
Defesa Nacional e dos Assuntos
do Mar, em Fevereiro de 2011,
foi assinado o Programa-Quadro
de Cooperação Técnico-Militar
para o triénio 2011/2013, no
qual o Projeto nº 2 surge com
uma nova valência: formar
oficiais e sargentos para ingresso
Figura 6 – Assinatura do Programa Quadro nos Quadros Permanentes das
2011/2013, no MNE em STP. FASTP.

4. PROJETO Nº 2 – CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS


E DE SARGENTOS PARA O QP DAS FASTP

No dia 21 de Janeiro de 2011 chegaram a São Tomé os 03 Oficiais


nomeados para enquadrar os cursos, designadamente, o Diretor Técnico
Tenente-coronel de Infantaria Carlos Faria, o Assessor Major de Artilharia
João Góis Pires e o Assessor Tenente de Artilharia Pedro Barbosa. Sendo a
direção dos cursos assegurada da seguinte forma: pelo TCor Faria como Diretor
dos Cursos, pelo Major de Artilharia João Góis Pires como Director do
CFO/QP e pelo Tenente de Artilharia Pedro Barbosa como Diretor do CFS/QP.
No que concerne aos objetivos do CFO QP, este visou conferir a
formação inicial necessária ao ingresso no Quadro Permanente e, nesse
sentido, habilitar os futuros Oficiais subalternos para o exercício de funções
de Comandante de Unidades de Escalão Pelotão (UEP), de Adjunto do

180
COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR COM A REPÚBLICA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE

Comandante de Unidades de Escalão Companhia (UEC), de Adjunto de


elementos do Estado-Maior de Unidade de Escalão Batalhão (UEB), sendo
capazes de decidir com eficiência, propondo soluções fundamentais, a par de
uma boa capacidade de comunicação.
Por sua vez, a formação do CFS QP visou habilitar e desenvolver as
competências para o exercício de funções de Comandante de Secção, de
Sargento de Pelotão, de Encarregado de Instrução, Auxiliar do adjunto de
elementos do Estado-Maior de Unidade de Escalão Batalhão (UEB) e
Sargento de Materiais da Companhia.

4.1. CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DOS ALUNOS DO CFO

O CFO foi inicialmente consti-


tuído por 34 alunos, de diferentes
categorias e proveniências, sendo
26 oriundos do Exército, 5 da
Guarda Costeira, 1 da Guarda Pre-
sidencial e 2 da Sociedade Civil.
Com idades compreendidas entre
os 19 anos e os 35 anos, o CFO era
constituído por 30 formandos mas-
culinos e 4 formandos femininos.
Cerca de 51% dos formandos apre-
Figura 7 – Alunos do CFO a realizar uma
sentava frequência universitária,
prova de avaliação individual.
sendo os cursos mais frequentados
os das áreas do Direito e da Gestão. Dos 34 Formandos, 14 eram Oficiais, 12
eram Sargentos 8 eram Praças. De salientar que 4 dos Sargentos a
frequentar o CFO, pertenciam ao Quadro Permanente e estavam habilitados
com o CFS da Escola de Sargentos do Exército e da Marinha portuguesa.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DO
UNIVERSO DOS ALUNOS
DO CFS
O CFS era constituído, na sua totalidade,
por militares que até à data de admissão ao
curso se encontravam nas fileiras, na efeti-
vidade de serviço e em regime de contrato.
O Curso foi inicialmente constituído
por 31 alunos, sendo 24 do Exército e 7 da Figura 8 – Alunos do CFS no
Guarda Costeira. Dos 31, 27 eram do sexo decorrer de uma instrução.

181
REVISTA DE ARTILHARIA

masculino, 4 do sexo feminino e têm


idades que se situam no intervalo dos
18 aos 30 anos. Todos possuíam habi-
litações literárias de nível secundário,
com frequência de cursos diversos, tais
como: Informática, Gestão, Eletrónica,
Enfermagem, Ação Educativa.

4.3. A FORMAÇÃO

Os cursos tiveram início a 7 de Figura 9 – Tropa formada no CIM


Fevereiro de 2011 e término a 11 de enquadrados pelos Formandos do
Outubro de 2012. Conferiram a formação CFO e CFS.
inicial necessária para o ingresso
dos formandos nos Quadros Perma-
nentes (QP) das Forças Armadas
de S. Tomé e Príncipe (FASTP).
Os cursos, cujos respetivos planos
curriculares, foram aprovados pelas
Forças Armadas de São Tomé e
Príncipe, desenvolvendo-se ao
longo de dois anos letivos. Con-
templando a totalidade de 1986

Figura 10 – Sessão Solene de Abertura dos


Cursos, presidida pelo Primeiro-Ministro
de STP.

tempos escolares, o programa abarcou temá-


ticas de índole militar e civil onde se desta-
cam: Administração, Direito Internacional
Humanitário e dos Conflitos Armados,
Geopolítica, Operações Militares, Operações
de Resposta a Crises, Protecção ambiental,
História, Informática, Língua Portuguesa e
Inglesa, Matemática, entre outras. Figura 11 – O Assessor Maj Art
De referir que grande parte dos tempos Góis Pires com o Comandante de
escolares foram ministrados pelos três oficiais Companhia das FASTP durante a
agregados ao projeto, tendo, no entanto, Preparação do CFP para os exercícios
igualmente contado com a prestigiosa cola- de campo.

182
COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR COM A REPÚBLICA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE

boração do Adido Militar e de Defesa, do Assessor do Projeto nº4 (Oficial de


Marinha) e do Assessor do Projeto nº 1 (Oficial do Exército). Para além dos
Oficiais portugueses, o projeto também contou
com a colaboração de 12 Oficiais, 3 Sargentos
e 5 professores civis santomenses.
A Educação Física Militar, também,
esteve presente no decorrer dos 2 anos letivos,
com o intuito de conferir aos futuros Oficiais e
Sargentos dos QP das FASTP a capacidade
física indispensável para o desempenho das
respetivas funções. A avaliação comtemplou a
realização de Provas de Aptidão Física bem
como a Prova de MARCOR.
O programa curricular contemplou, igual-
mente, formação em contexto de trabalho, onde
os futuros Oficiais e Sargentos constituíram
as equipas de instrução que ministraram os Figura 12 – O Assessor Ten
Cursos de Formação de Praças e os Cursos Art Pedro Barbosa durante a
de Promoção a Cabo, referentes ao ano de realização dos exercícios de
2011/2012. campo do CFP.

4.4. CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO

A cerimonia de encerramento dos Cursos contou com a presença do


recém eleito Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe,
onde a prestação dos 03 Oficiais afetos ao Projeto foi louvada. A solenidade
contou com a presença dos 29 formandos do CFO e 31 formandos do CFS que
concluíram os respetivos cursos com aproveitamento.
Findo o Curso de Formação de Oficias e de Sargentos para o QP das
FASTP, o Projeto teve o seu término em 26 de Outubro de 2012.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações da CTM, nomeadamente as elencadas no programa-quadro do


Projeto nº2, nas quais o Exército Português esteve envolvido, têm potencia-
lizado um desenvolvimento sustentado em alicerces firmes e com garantia
de qualidade, e cuja expressão foi materializada nos futuros Oficiais e
Sargentos formados nos cursos (CFO/QP e CFS/QP) dotados das competências
necessárias no sentido de poderem assegurar todos os sectores do Exército.

183
REVISTA DE ARTILHARIA

Sendo reconhecida a importância e o carácter percursor dos presentes


Cursos é digna de nota a inestimável colaboração dos docentes civis e
militares (santomenses e portugueses) que fazendo uso das respetivas
qualificações, contribuíram para a qualidade formativa, acrescentando valor
à ação de formação, estatutariamente indispensável para o ingresso dos
formandos nas categorias de Oficiais e de Sargentos dos Quadros
Permanentes das Forças Armadas de S. Tomé e Príncipe.
REVISTA DE ARTILHARIA

18

184
REDES INTERNAS DO GAC

ESPAÇO ACADÉMICO

REDES INTERNAS DO GAC


Alterações decorrentes da
implementação do SACC
Pelo Alferes de Artilharia
HUGO DANIEL DIAS JANEIRO

INTRODUÇÃO

O ambiente operacional 1 tem sofrido mutações ao longo do tempo, o que


leva a repensar, continuamente, a forma de empregar as forças militares à
luz da evolução sistemática do conceito de guerra. O ambiente operacional
contemporâneo, que passou a assumir um carácter multifacetado,
imprevisível e transnacional, é marcado pela globalização e pelo reacender
dos nacionalismos, rivalidades étnicas e religiosas, em conjunto com novas
ameaças, de que se destacam o terrorismo, o crime organizado transnacional
e a proliferação de armas de destruição maciça. Este novo ambiente
operacional origina algumas preocupações ao nível do emprego da AC, às
quais se terá de adaptar, destacando os danos colaterais e o consequente
emprego coordenado de meios letais e não letais, as novas Zonas de Ação
(ZA) da AC 2 , o tempo de resposta que deverá ser menor devido ao aumento

1 “O ambiente operacional constitui uma noção elementar da ciência militar caracterizado por
um conjunto de condições, circunstâncias e influências que afetam o emprego de forças militares e
suportam as decisões do comandante, não sendo no entanto imutável, uma vez que varia ao longo
do tempo, na região, nas forças envolvidas e nos interesses em jogo” (Romão & Grilo, 2008, p. 7).
2 A não linearidade do espaço de batalha conduz à dispersão das unidades, criando vazios (áreas

não ocupadas por forças), o que provoca alterações da zona de Acão (ZA) das unidades de AC
que deixam de se confinar ao acompanhamento as unidades de manobra, passando a incluir os
flancos, as retaguardas e os intervalos não controlados pelas forças. Esta nova ZA implica um
aumento dos alcances e capacidade de apoio em 360º (Romão & Grilo, 2008).

185
REVISTA DE ARTILHARIA

da fugacidade dos objetivos, e ainda a flexibilização da organização das


forças e das suas missões 3 , permitindo a interoperabilidade com as forças da
manobra, principalmente ao nível do C2, da doutrina e dos procedimentos
(Romão & Grilo, 2008).
Ao longo deste trabalho vamos abordar a temática do C2, mais concre-
tamente um dos sistemas automáticos emergentes, o Sistema automático de
Comando e Controlo (SACC), que vem revolucionar o C2 das unidades,
permitindo assim fazer face às necessidades do novo ambiente operacional.
O SACC é um sistema de transmissão de dados automatizado, de origem
americana, que, quando usado na sua plenitude, auxilia o Comandante
(Cmdt) e o seu Estado-Maior (EM) na receção e transmissão da informação
necessária para o planeamento, a coordenação e o controlo das unidades de
Apoio de Fogos (AF) no Espaço de Batalha 4 . O Espaço de Batalha engloba
também as forças da manobra, pelo que o SACC deverá ser interoperável,
possibilitando assim o fornecimento e troca de toda a informação relativa ao
AF, necessária ao Cmdt e ao seu EM para o planeamento e a condução de
operações táticas (EME, 2007).
O SACC, que equipa o GAC/BrigRR,, em teoria, permite assim efetuar,
de forma automática, o planeamento e coordenação de todos os meios de AF,
determinar o melhor meio de apoio de fogos e método de ataque para bater
um determinado objetivo em função das orientações do Cmdt, solicitar e
controlar fogos de AC, de morteiros 5 , bem como pedidos de apoio aéreo
(desde a evacuação aérea ao CAS 6 ). O SACC é composto por quatro
subsistemas que visam equipar os diversos elementos e órgãos que intervêm
no planeamento, coordenação e execução do AF, e que asseguram significativas
vantagens ao nível da condução das operações: o Battery Computer System
(BCS), o Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS), o
Forward Observer System (FOS), e o Gun Display Unit (GDU), os três
primeiros ligados entre si por rádios PRC-525, fabricados na Empresa de
Investigação e Desenvolvimento (EID) em Portugal (Feliciano, 2013).
3 Apesar de as unidades de AC continuarem a cumprir primariamente a missão atrás descrita
(executar e integrar fogos), nas operações de estabilização podem vir a ser chamadas a
desempenhar outro tipo de missões, tais como transportes, segurança, apoio ao sistema de
informações e apoio às operações CIMIC (Romão & Grilo, 2008).
4 “O Espaço de Batalha representa o ambiente, os fatores e as condições que o comandante tem

de compreender para aplicar com sucesso, o potencial de combate, proteger a força ou


completar a missão. Inclui o espaço aéreo, terrestre marítimo e espacial, forças amigas e
inimigas, instalações, condições meteorológicas, espectro eletromagnético e o ambiente das
informações na área de interesse” (Romão & Grilo, 2008, p. 9).
5 Esta capacidade não está disponível em Portugal, dado que não foram adquiridos computadores de

tiro de morteiros compatíveis com o AFATDS.


6 Close Air Support – Apoio Aéreo Próximo.

186
REDES INTERNAS DO GAC

Contudo, as Redes Internas do GAC atualmente em vigor no GAC/BrigRR


poderão não suportar todo o volume de dados necessário ao pleno funcio-
namento do SACC, pelo que é objetivo deste trabalho fazer o levantamento
das alterações necessárias a efetuar nas Redes Internas do GAC, de modo a
assegurar a sua adaptação ao SACC e aos rádios da família PRC-525, para o
pleno emprego do mesmo.

CAPÍTULO 1
SISTEMA AUTOMÁTICO DE COMANDO E CONTROLO

1.1 CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA AUTOMÁTICO DE COMANDO


E CONTROLO (SACC)

“A AC constitui o meio terrestre de Apoio de Fogos mais poderoso que o


Comandante de uma força tem à sua disposição para influenciar o decurso
do combate. Os meios de AC permitem colocar fogos potentes a grandes
distâncias, possibilitando desta forma ao Comandante fazer sentir a sua
ação em profundidade no CB” (Estado-Maior do Exército [EME] 2004: 3-1).
A AC tem então de se adaptar às novas exigências do Espaço de Batalha, de
forma a permitir desempenhar as suas missões de forma adequada e de
acordo com a intenção do Cmdt.
Com vista a acompanhar as mudanças e novas exigências do ambiente
operacional, tem-se verificado uma permanente evolução tecnológica, procurando
assim adaptar os materiais e sistemas aos novos objetivos.
A AC não foi exceção, o que se traduziu no aparecimento de novos
materiais e equipamentos, ou na evolução de alguns dos existentes. Foram
criados novos sistemas de C2, capazes de auxiliar o Cmdt e seu EM no
planeamento e condução das operações de uma forma mais célere, eficaz e
automatizada, e que permitem ainda a interoperabilidade de todas as
unidades que constituem o AF no Espaço de Batalha (Ferreira, 2008).
A AC Portuguesa, no seguimento destes racionais, adquiriu7 o SACC 8 ,
que tem como principal objetivo auxiliar o Cmdt na aplicação e integração de
todo o AF no Espaço de Batalha, através de quatro subsistemas que integram
os vários elementos e órgãos de planeamento, coordenação e execução do AF.
Estes subsistemas são: o Advanced Field Artillery Tactical Data System
(AFATDS), o Battery Computer System (BCS), o Forward Observer System
(FOS) e o Gun Display Unit – Replacement (GDU-R) (Santos, 2006).

7 Em 2005.
8 Sistema de comando e controlo de origem americana.

187
REVISTA DE ARTILHARIA

1.2 ADVANCED FIELD ARTILLERY TACTICAL DATA SYSTEM


(AFATDS)

O AFATDS é um sistema
de C2 do AF, que se destina a
auxiliar o Cmdt em diversas
áreas do AF: planeamento e
execução do AF, controlo de movi-
mentos das unidades de AC e
outros elementos presentes no
Espaço de Batalha, apoio logís-
tico e Direção do Tiro (Almeida,
2009). Proporciona o comando,
controlo e comunicações para
sistemas canhão, foguetes, mis-
seis, morteiros, CAS (Close Air
Figura 1 – AFATDS. Support) e sistemas de Arti-
Fonte: (Santos, 2006) lharia Naval (AN). Possibilita o
planeamento, coordenação, controlo e execução de fogos em todo o espectro
de operações, incluindo CAS, Contrabateria, Interdição Aérea (IA) e
Supressão da Defesa Aérea Inimiga (SEAD). Este sistema favorece ainda
um fluxo de informação que permite a sincronização de todos os tipos de
meios de AF e facilita o planeamento de AF, ao fazer o tratamento de todos
os dados relativos às operações, mantendo uma constante atualização de
toda a informação necessária ao desenrolar das operações, através da
análise de objetivos e da atualização da situação das várias unidades de tiro
e também dos meios de aquisição 9 (Raytheon Company, 2005).
Este subsistema possui duas portas digitais, a partir das quais é apenas
possível executar a transmissão digital de dados, e duas portas digital/analógico
que permitem a transmissão de dados analogicamente. O AFATDS tem
como tipo de comunicação preferencial a transmissão de dados digitalmente,
de forma a maximizar a segurança das comunicações (Santos, 2006).
O AFATDS possui a capacidade de introduzir a intenção do Cmdt 10 ,
visando a determinação da melhor solução possível, de acordo com as
orientações definidas nessa intenção (Raytheon Company, 2005). Os princi-
pais utilizadores deste subsistema do SACC são o OAF (Oficial de Apoio de
Fogos)/Brig, o OAF/Bat (Batalhão), o S2 (Oficial de Informações) e o S3
(Oficial de Operações) do GAC e o PCT (Posto Central de Tiro) /GAC.
9 Como por exemplo os Radares.
10 Guidances.

188
REDES INTERNAS DO GAC

O subsistema AFATDS está ainda equipado com um software de


simulação e treino para sistemas de AF designado SISTIM 11 , possuindo
assim a capacidade de simular unidades, gerar um cenário, e de receber e
transmitir mensagens de AF para serem transmitidas para outros aparelhos
na rede, de forma a desencadear ações/reações nos elementos que estão em
treino na rede criada para o efeito (Santos, 2006).
De uma maneira muito sucinta, o AFATDS pode determinar qual é o
melhor meio de AF a ser utilizado para bater determinado objetivo (Direção
Tática), bem como a munição mais adequada, recomendando ao seu
utilizador o melhor método de ataque para o tipo de AF selecionado
(Raytheon Company, 2005).

1.3 FORWARD OBSERVER SYSTEM (FOS)

O Observador Avançado (OAv),


tem como responsabilidade primária
localizar, pedir e ajustar fogos indi-
retos para um determinado obje-
tivo, além de aconselhar o Cmdt da
unidade de Manobra nos assuntos
que mais especificamente lhe dizem
respeito, ou seja, de AF. Sendo assim,
o OAv, baseando-se nas orientações
emanadas pelo Cmdt da unidade de
Manobra, tem como missão prin-
cipal planear fogos precisos e opor-
tunos (EME, 2007). Figura 2 – FOS.
Fonte: (Ferreira, 2008, p. 2).
O subsistema FOS, com a sua
integração nas equipas de OAv, veio facilitar o cumprimento das missões
específicas do mesmo, ao permitir processar, armazenar, receber e
transmitir digitalmente todas as informações necessárias, como por exemplo
as ordens de operações, as missões de tiro, informações úteis sobre o objetivo,
planos de fogos e listas de objetivos ao escalão Companhia, conduzir missões
de CAS, ou simplesmente difundir a sua própria localização (Santos, 2006).
Este subsistema possui ainda a capacidade de fazer planeamento
expedito, ao funcionar como OAF, permitindo uma maior celeridade no
processo da missão de tiro, quando a situação o exija (Headquarters
Department of the Army, 2003).

11 Simulator/Stimulator.

189
REVISTA DE ARTILHARIA

Como síntese, podemos afirmar que o FOS permite, ao OAv, enviar os


pedidos de tiro digitalmente para os restantes subsistemas do SACC, de
forma a acelerar a Direção Tática, a Direção Técnica e a execução do tiro,
levada a cabo respetivamente pelo AFATDS, pelo BCS e pelas secções de
Boca-de-Fogo (bf) (Santos, 2013).
1.4 GUN DISPLAY UNIT – REPLACEMENT (GDU-R)
O GDU-R é o subsistema do SACC
atribuído às secções de bf, permitindo-
lhes receber digitalmente os comandos
de tiro provenientes do Posto Central de
Tiro da Bateria de bocas de fogo 12 (PCT/
/Btrbf). A informação também poderá ser
no sentido inverso, pois o Cmdt de Secção
poderá e deverá, através do GDU-R,
informar o PCT/Btrbf acerca do estado
da sua secção.
Este é um subsistema caracterizado,
não só pelo seu peso e dimensões redu-
zidas, mas também pelo facto de ser portátil
e de ter um baixo consumo energético.
É um sistema operacionalmente flexível,
tendo a possibilidade de executar missões
Figura 3 – GDU-R. de tiro diurnas e noturnas, e poder ser operado
Fonte: (Santos, 2006). nos vários tipos de obuses13 (Santos, 2006).
Este subsistema, desenvolvido com o sistema operativo Windows CE,
apresenta, no seu ambiente de trabalho 14 , os dados e os comandos de tiro
relativos a cada bf.
Sempre que o Cmdt de Secção recebe novos dados, o GDU-R possui um
alarme áudio que o avisa. Além disso, é dotado de um menu de ajuda que
tem o objetivo de auxiliar o Cmdt de Secção na operação do subsistema, onde
encontra informações detalhadas sobre as diferentes aplicações do mesmo.
Podemos resumir que este subsistema possibilita e assegura a eficácia
na transmissão de dados do BCS (PCT/Btrbf) para as secções e vice-versa,
contando com uma rapidez que seria impensável antes da implementação do
sistema (Headquarters Department of the Army, 2005).

12 Através do subsistema BCS (Battery Computer System).


13 Obuses rebocados e Obuses auto propulsados.
14 Denominado Section Chief Assembly constituído por: uma barra de título, uma caixa de diálogo

principal, um botão de controlo, um botão de dados da eficácia e uma barra de ferramentas.

190
REDES INTERNAS DO GAC

1.5 BATTERY COMPUTER SYSTEM (BCS)

O BCS, que integra o PCT/


/Btrbf, funciona em rede e liga-se
com os restantes subsistemas
do SACC, que estão integrados
nos vários intervenientes no
processo de AF 15 . O BCS tem
como objetivo primário a deter-
minação de elementos de tiro e
sua transmissão para as secções.
Este sistema foi conce-
bido com o objetivo de com-
plementar as capacidades do
Figura 4 – BCS.
AFATDS, operando como parte Fonte: (Santos, 2006).
deste, tanto na Direção Tática
como Técnica do tiro, auxiliando na escolha do sistema de armas mais
adequado a utilizar tendo em conta o objetivo, e ainda possibilitando a
determinação automática dos elementos de tiro 16 necessários para o
cumprimento da missão com eficiência e eficácia (Santos, 2006).
O BCS, ao permitir serem registados os elementos topográficos de cada
unidade de tiro, possibilita a determinação dos elementos de tiro
individualmente para cada bf, sendo possível desta maneira poder aplicar-se
correções de momento 17 diferenciadas para cada bf.
O BCS possui 4 portas digital/analógico, que permitem a ligação com os
outros subsistemas 18 tanto digitalmente como analogicamente, através de
um meio rádio que possua a mesma capacidade de transmissão de dados.
Este subsistema tem como tipo de comunicação preferencial a transmissão
de dados digitalmente, de forma a maximizar a segurança das comunicações.
A utilização deste sistema permite uma maior celeridade na
determinação de elementos de tiro, sendo possível, com o consumo mínimo
de munições necessário, obter os efeitos pretendidos, adequando o quadro de
efeitos no objetivo à própria natureza deste. Possibilita ainda uma maior
dispersão das unidades de tiro, reduzindo assim a vulnerabilidade das
mesmas aos fogos de Contrabateria e consegue reagir com maior rapidez aos

15 O PCT/Btrbf, o PCT/GAC, os OAv, os OAF e as bf.


16 Direção, Elevação e Graduação de Espoleta.
17 Correções de Posição e Especiais, temperatura da carga, variação da velocidade inicial entre

bf, etc.
18 AFATDS e FOS.

191
REVISTA DE ARTILHARIA

pedidos de tiro transmitidos pelo OAv (Headquarters Department of the


Army, 1993). Todas estas operações são executadas tendo como ponto de
partida uma base de dados 19 integrada no sistema (Santos, 2013).

1.6 IMPLEMENTAÇÃO DO SACC NO GAC/BRIGRR

A implementação do SACC no GAC/BrigRR, que derivou do processo de


reequipamento da Artilharia no Exército português, constitui-se como um
avanço tecnológico dentro do seio das Forças Armadas (FA), nomeadamente
ao nível do Comando, Controlo e Coordenação, que melhora assim a
integração do Sistema de AF no Espaço de Batalha.
Esta implementação teve o seu início no ano de 2005, mais concre-
tamente a 18 de Fevereiro 20 , tendo sido efetuados alguns testes aos equipa-
mentos por parte de técnicos especializados americanos, que culminou com a
evacuação do material que não se encontrava operacional. Em Abril de 2005
começaram a ser ministrados os Cursos Iniciais de Formação de Formadores
dos vários subsistemas do SACC, mais concretamente do subsistema BCS que
decorreu entre os dias 4 e 22 de Abril e do subsistema AFATDS no período entre
26 de Abril e 23 de Junho. Os Cursos Iniciais de Formação de Formadores do
subsistema FOS e do subsistema GDU-R decorreram, respetivamente, entre 27
de Junho e 1 de Julho e entre 6 e 8 de Julho. Estes Cursos foram ministrados
por formadores dos Estados Unidos da América (EUA) e decorreram na
Escola Prática de Artilharia (EPA), tendo participado 1 Oficial do RA4.
No ano de 2006 foram realizados mais testes preliminares em sala com
a montagem de todos os equipamentos do SACC e, durante o mesmo ano,
foram cedidos equipamentos do SACC à EPA com o objetivo de apoiar a
formação de operadores dos vários subsistemas.
Em inícios de 2007 21 deu-se uma fase crítica na aquisição e imple-
mentação do SACC, mais concretamente o Sell-off 22 , que englobou várias
atividades como, a correção de algumas anomalias que tinham sido detetadas
nos vários equipamentos em 2005, em que foram executadas demonstrações,
com o AFATDS, de planeamento e coordenação de AF. Realizaram-se ainda,
através do sistema de comunicações filar e de um sistema de comunicações
TSF 23 , testes entre os vários subsistemas do SACC no âmbito das comuni-

19 Nomeada Firing Data.


20 Levantamento no Depósito Geral de Material do Exército (DGME) dos subsistemas AFATDS,
FOS e BCS.
21 De 12 a 23 de março.
22 Verificação final dos equipamentos.
23 TSF – Transmissão Sem Fios, através do Rádio PRC-525.

192
REDES INTERNAS DO GAC

cações, e realizou-se uma sessão de Fogos Reais com o Obus M119 105mm
Light Gun (LG) de forma a ser testado todo o sistema automático. O Sell-off
culminou com a entrega de 18 GDU-R que viriam a equipar as secções de bf,
tendo ainda sido entregues versões atualizadas de software para os vários
subsistemas.
Ainda em 2007, foram ministrados, no RA4 em Leiria, os primeiros
Cursos de Formação dos subsistemas, nomeadamente do GDU-R 24 onde
participaram os comandantes e os serventes apontadores das secções de bf
do GAC/BrigRR,, do AFATDS 25 com a participação de nove formandos
vindos do GAC e do FOS 26 onde participaram seis formandos do GAC. O
teste do sistema em exercícios iniciou-se em Dezembro de 2007 no exercício
“TANGO 07”, tendo sido utilizado o SACC pela primeira vez na realização
de sessões de fogos reais. Esta foi uma sessão em que os vários subsistemas
estavam montados em bancada e com um dispositivo de forma concentrada,
sendo utilizados os meios de transmissão por fio (TPF) e o protocolo
TACFIRE 27 , tendo assim alcançado sucesso nas várias missões de tiro
testadas, apesar de alguma lentidão na transmissão de dados, e sem se
conseguir usufruir de todas as possibilidades do sistema, nomeadamente ao
nível da segurança da transmissão (Almeida, 2009).
Em 2008 o GAC/BrigRR recebeu as viaturas IVECO para equipar os
Elementos de Apoio de Fogos (EAF) de Brig e Bat, o PCT do Grupo e das Btrbf,
e as secções de Operações e Informações, em conjunto com os rádios PRC-525.
No início de 2009, já com os rádios PRC-525, evoluiu-se para um sistema
de comunicações sem fio e criou-se uma rede de dados que permitisse o fluxo
de informação com validade ao nível da Direção Técnica e Tática do Tiro de
Artilharia. Foi elaborada também uma base de dados com a definição dos
dados gerais de cada entidade presente no sistema de AF da BrigRR.
Durante o ano de 2010 foi feito um grande esforço no sentido do
aperfeiçoamento técnico dos operadores, em sala e durante os exercícios de
treino operacional do tipo FTX 28 e LFX 29 , onde foram identificados os
principais problemas e “bugs” 30 de software.
Desde 2011 foi criado um grupo de trabalho multidisciplinar 31 , com o
objetivo de procurar formas de resolver os problemas encontrados ao nível das

24 De 24 a 26 de setembro.
25 De 1 de outubro a 16 de novembro.
26 De 15 a 24 de outubro.
27 Protocolo de comunicação que será explicado no Capítulo III deste trabalho.
28 Field Training Exercise.
29 Live Fire Exercise.
30 Problemas ou erros no sistema em termos de software.
31 Com intervenientes do RA4, da Direção de Comunicações e Sistemas de Informação (DCSI) e da EID.

193
REVISTA DE ARTILHARIA

comunicações, e foi criada uma rede puramente analógica para transmissão


de dados através de meios rádio, que se encontra atualmente consolidada
nas Redes Internas do GAC/BrigRR, de modo a ser possível a utilização do
SACC, com um desempenho aceitável, e o aperfeiçoamento técnico e tático
dos intervenientes no processo de AF, em todos os exercícios do
GAC/BrigRR, até aos dias de hoje (Santos, 2013).

CAPÍTULO 2
ANÁLISE DAS REDES INTERNAS DO GAC

2.1 ORGANIZAÇÃO ATUAL DAS REDES INTERNAS


DO GAC/BRIGRR

A implementação do SACC nas Redes Internas do GAC constitui um


progresso ao nível do C2 de que a Artilharia portuguesa ansiava há algum
tempo. Contudo existem limitações a vários níveis que impossibilitam que as
unidades que dispõem do sistema usufruam de todas as possibilidades que o
SACC disponibiliza.
No âmbito deste trabalho, que está limitado ao estudo das Redes Internas
do GAC/BrigRR, vamos então especificar a organização e as limitações
existentes nas Redes Internas ao nível dos seus sistemas e meios de
comunicação que estão a ser utilizados.

2.2 ORGANIZAÇÃO E LIMITAÇÕES DAS REDES

Na fase de reequipamento da Artilharia portuguesa, de onde apareceu o


SACC, o Exército português estava a desenvolver um projeto que envolvia a
aquisição do Rádio Tático PRC-525, optando, por essa razão, por não serem
adquiridos, em conjunto com o SACC, os rádios 32 que o exército americano
utilizava como meio de transmissão de dados através do SACC. O Rádio
PRC-525, apesar de ter capacidade de transmissão de dados por modo
digital, demonstrou não ser tão fiável como se previa, ao apresentar alguns
problemas ao nível da compatibilidade com os equipamentos americanos.
Depois da primeira fase experimental do AFATDS, o GAC/BrigRR teve
a necessidade de criar duas redes de tiro, uma por cada bateria 33 , ao nível
digital pelo que neste momento temos redundância de redes, temos a rede de

32 Da família SINCGARS.
33 Nesta altura o GAC/BrigRR apenas tem levantadas duas Btrbf.

194
REDES INTERNAS DO GAC

tiro voz que é aquela que está no modelo doutrinário e temos uma rede de
tiro de dados que é aquela que está a trabalhar com o SACC. A rede de tiro
de dados, que ainda não é doutrinária, é utilizada para direção técnica e
tática do tiro.
Em relação à transmissão de dados, e segundo as especificações do
fabricante, todos os canais deveriam suportar modulações digitais, contudo
tal não se tem verificado com os canais 5 e 7 (AFATDS), canal 1 (FOS) e
canais 1 e 2 (BCS) 34 , verificando-se que nenhum dos subsistemas reconhece
o PRC-525 como sendo um rádio digital nos canais anteriormente referidos.
O objetivo seria que toda a informação fosse transmitida por modo digital,
contudo, tal só se verificou quando se colocou em funcionamento uma rede
digital (texto cifrado e salto de frequência no modo SECOM-V), com
equipamentos iguais (AFATDS - AFATDS), em que a transmissão de dados
entre equipamentos é feita com celeridade, segurança e sem quebra de
comunicação. Quando se pretende conectar sistemas diferentes, em parti-
cular o FOS e o AFATDS, a transmissão de dados já não se mostra fiável,
sendo que na maioria das vezes nem sequer é conseguida, por quebra de
comunicação entre os sistemas. Este problema tem como causa o facto de os
dois subsistemas não reconhecerem o rádio PRC 525 como sendo um rádio
digital, originando consequentemente a falha da transmissão dos dados. Em
relação ao BCS, este subsistema não faz comunicação digital quando se
coloca o rádio PRC 525 no modo SECOM-V com TRANSEC e COMSEC
(texto cifrado e salto de frequência), porque não reconhece o PRC-525 como
sendo um rádio digital em nenhum dos seus canais, o que torna impossível o
estabelecimento de Redes de Tiro com modulação NRZ 35 , permitindo
comunicar apenas quando se utiliza frequência fixa com transmissão
analógica de dados. A comunicação analógica de dados é francamente mais
lenta e, do ponto de vista das transmissões, é uma comunicação não segura,
logo, compromete o cumprimento da missão.
Outra limitação prende-se com o facto de ainda não ter sido possível
implementar as 3 redes de tiro de dados, pois o AFATDS do PCT/GAC, que
serve de EDR, que é a única que trabalha em simultâneo nas três redes de
tiro, apenas pode estabelecer duas redes de tiro (dados) com os
intervenientes doutrinários, pois só dispõe de 2 canais 36 que possibilitam
ligar o rádio PRC-525 em modo analógico, dado que, desde o OAv, passando

34 Testes efetuados na EID confirmam que os canais tipo “analógico/digital” permitem comunicações
digitais, no entanto não possuem dados suficientes para criar um interface de compatibilidade
com o PRC-525.
35 Esta modulação permite maior velocidade, salto de frequência e encriptação de dados
36 Canais 5 e 7.

195
REVISTA DE ARTILHARIA

pelo PCT/GAC, até ao PCT/Btrbf, dentro da mesma rede de tiro, todos


devem poder comunicar diretamente entre si, sendo as diferentes estações
forçadas a utilizar um protocolo que seja suportado por todos os sistemas,
que neste caso se traduz num protocolo chamado TACFIRE 37 .
A segurança das transmissões neste momento não existe, no entanto é a
única forma que permite ao GAC/BrigRR utilizar as redes de tiro da forma
que são doutrinárias, de forma as explorar as capacidades do equipamento
no treino ao máximo, não contemplando a possibilidade de utilizar o sistema
desta forma em ações de combate, ou seja, destina-se apenas a treino para
que os indivíduos nos PCT, nos EAF e nos OAv consigam ter rotinas de
treino e tirar todas as potencialidades do SACC que ele permite, com as
limitações das duas redes de tiro (Feliciano, 2013).
Outra limitação prende-se com o facto de que a quantidade de
equipamentos que estão previstos em Quadro Orgânico (QO) está longe de
corresponder à realidade dos equipamentos disponíveis nesta altura pelo
GAC/BrigRR. Cingindo-me aos equipamentos que se inserem no sistema de
comunicação do GAC/BrigRR, é de salientar que o número de PRC-525
disponíveis corresponde a uma pequena percentagem dos previstos em QO,
sendo que o GAC/BrigRR ainda utiliza alguns equipamentos mais antigos,
que não possuem as características evidenciadas pelo rádio PRC-525, o que
também não contribui para a maximização do SACC. (EME, 2009)

Figura 1 – Esquema da
Organização atual das Redes
Internas.

37 Modulação analógica.

196
REDES INTERNAS DO GAC

2.2.1 Sequência de uma missão de tiro

No GAC, antes do SACC ser implementado, o processamento de uma


missão de tiro através do cálculo manual dos elementos de tiro iniciava-se
igualmente com o pedido de tiro, contudo, este era enviado pelo OAv
diretamente para o PCT/Btrbf que dava seguimento à missão. O PCT/GAC,
bem como o OAF/Bat acompanhavam a missão. Se o objetivo justificasse o
emprego de uma massa de fogos superior à de uma Btrbf, o PCT/GAC
poderia assumir o controlo da missão. Para além disso, este órgão seguia a
Mensagem para o Observador (MPO), certificando-se que o PCT/Btrbf
selecionava a munição e o tipo de regulação mais apropriados para o objetivo
em questão. No entanto, o OAv também podia encaminhar o pedido de tiro
diretamente para o PCT/GAC, caso se justificasse o emprego do volume de
fogos de todo o Grupo. Nesta situação, o PCT/GAC controlaria o início do tiro
das Btrbf, cabendo às próprias o cálculo dos elementos de tiro, sendo que
todas as informações eram transmitidas por voz (EME, 1992).
Com o SACC, o processamento de uma missão de tiro inopinada ocorre
da seguinte forma: a introdução da informação relativa ao pedido de tiro no
FOS, é efetuada pelo OAv, que assegura a transmissão automática do mesmo,
mediante uma rede de dados, para o OAF/Bat. O AFATDS no EAF/Bat recebe a
transmissão do pedido de tiro enviado pelo OAv, aprova a missão e envia-a
para o PCT/GAC. São, nesse momento, realizadas as atividades inerentes à
Direção Tática do Tiro. Assim, é escolhido o meio de AF mais indicado para
cumprir a missão, sendo que, o OAF/Bat deve coordenar com o órgão de AF
apropriado (OAF/Brig), o ataque a objetivos que se situem além dos limites
do Bat ou se localizem em áreas sujeitas a restrições impostas por qualquer
outra medida de coordenação. Após serem resolvidos os aspetos de coordenação
referidos e ser feita a análise do pedido de tiro entre as máquinas AFATDS
dos diferentes escalões, o pedido de tiro chega ao PCT/GAC, onde se decide
sobre a forma de execução da missão, selecionando-se as unidades que
executam o tiro. O pedido é enviado para o PCT da(s) Btrbf escolhida(s),
onde ocorre o cálculo dos elementos de tiro no BCS. Por fim, os comandos de
tiro chegam às secções de bf através do GDU-R, são introduzidos nos aparelhos
de pontaria dos obuses e é executada a missão de tiro (Santos, 2013).
O OAv, através do FOS e dentro da Rede de Direção do tiro em que está
inserido, pode dar início a uma missão de tiro segundo três modos
diferenciados de processamento das missões de tiro, sendo eles o modo
descentralizado, o modo centralizado e o modo autónomo.
Começando por explicitar a forma de processamento mais aconselhável,
o modo descentralizado, em que o OAv envia o pedido de tiro diretamente

197
REVISTA DE ARTILHARIA

para o OAF/Brig, que, por sua vez, vai autorizar ou negar esse mesmo
pedido de tiro. Caso o pedido de tiro seja negado, o OAF/Bat deve enviar
uma mensagem no modo freetext ao OAv para o mesmo ficar informado da
situação e, consequentemente, apagar o ficheiro do seu pedido de tiro do
subsistema FOS.
O segundo modo mais aconselhado é o centralizado, em que os pedidos
de tiro são enviados para o PCT/GAC, que por sua vez pede autorização ao
OAF/Bat através do envio desse mesmo pedido, que vai autorizar ou negar a
continuação da missão de tiro.
Por último, o OAv poderá optar pelo modo autónomo, enviando o pedido
de tiro diretamente para o PCT/Btrbf. Este modo de processamento das
missões de tiro não é aconselhável, devendo apenas ser utilizado quando
exista a necessidade de o OAv ter que comunicar de forma direta com o
PCT/Btrbf (Headquarters Department of the Army, 2003).
Sempre que o OAv por alguma razão alterar o modo de processamento
das missões de tiro que está a utilizar, deve informar o OAF/Brig através do
envio de uma mensagem freetext.

Figura 2 – Ciclo do Pedido de Tiro desde o OAv até à secção de boca-de-fogo.


Fonte: (Ferreira, 2011, p. 273).

198
REDES INTERNAS DO GAC

2.3 MAXIMIZAÇÃO DO SACC NAS REDES INTERNAS DO GAC

Ao longo deste capítulo, em que abordamos as alterações e as limitações


na implementação do SACC, facilmente concluímos que as redes internas do
GAC não estão a permitir a maximização da utilização do sistema,
constituindo-se, este problema, como o centro da investigação a que nos
propusemos para este trabalho.
Sendo um dos objetivos do trabalho a elaboração de propostas de
possíveis soluções para o problema, tentamos chegar a algumas conclusões
nesse sentido, através de documentos doutrinários dessa área e, principal-
mente, através de artigos e testemunhos dos principais intervenientes ligados
ao sistema, que acompanharam a sua implementação e que, melhor que
ninguém, entendem o que poderá ser feito para melhor tirar partido do SACC.

2.3.1 1ª Modalidade

Esta modalidade foi criada em 2009 e foi a primeira proposta de um


modelo para as redes internas do GAC depois da implementação completa
do SACC. Foi idealizado um diagrama de comunicações constituído por 4
redes, que têm como principais objetivos interligar todos os intervenientes
no AF, através da rentabilização dos meios de comunicação disponíveis, e da
colocação do maior número possível de equipamentos do SACC a efetuar
comunicações digitais, o que pressupunha trocas de informação de forma
mais célere e com maior segurança.
Esta configuração de redes é constituída por uma rede de transmissão
digital de dados 38 (a vermelho na figura), onde intervêm os OAv, os 3
OAF/Bat, o OAF/Brig, o PC/PCT do GAC e o Radar de Localização Armas 39
(RLA). Esta rede possibilita a transmissão de dados de forma segura e
rápida desde os OAV ate ao PC/PCT do GAC.
Devido à dificuldade de resolução dos problemas de compatibilidade do
BCS que impossibilitou a comunicação de forma digital com os PCT/Btrbf, foi
criada uma rede analógica 40 (a verde na figura) que liga o PC/PCT do GAC
com os 3 PCT/Btrbf e com o Radar de Localização de Alvos Móveis 41 (RLAM).
Como forma de ligar o PCT/Btrbf às secções de bf, foi idealizada uma
terceira rede (a azul na figura) por meio TPF (WD1TT), que era montada
logo após a ocupação da posição.

38 Protocolo MILSTD 188-220 no AFATDS e modulação SECOM-V no rádio PRC-525.


39 Através da colocação de um equipamento FOS junto do RATAC-S.
40 Protocolo TACFIRE no AFATDS e modulação FSK 1200-2400 no rádio PRC-525.
41 Radar AN/TP Q-36.

199
REVISTA DE ARTILHARIA

Por fim, existe uma rede de transmissão de dados por LAN (a laranja
na figura) que tem como objetivo o fluxo de informação pertinente, entre o
S3, o S2 e o PC/PCT do GAC.
Esta configuração de redes já pressupõe a impossibilidade da
transmissão de dados por modo digital entre o AFATDS e o BCS, adotando-
se o modo analógico de transmissão de dados com o objetivo de ser possível a
continuidade do fluxo de dados entre o PC/PCT do GAC e os PCT/Btrbf.
Cada rede corresponde a uma frequência ou gama de frequências, onde
todas as entidades presentes podem comunicar diretamente umas com as
outras, bastando para tal selecionar no sistema o nome ou código que
corresponde a cada entidade. Dentro deste esquema existe sempre uma rede
primária, uma secundária e pode eventualmente haver uma terciária,
através das quais são criadas ligações diretas e indiretas no caso das
primeiras falharem. Para além disso, são sempre configuradas máquinas
que fazem o papel de outras (por exemplo: o EAF/Brig pode também fazer o
papel de um EAF/Bat ou vice-versa, em caso de deslocamento, ou no caso de
uma das máquinas se desligar por qualquer motivo). Desta forma existe, por
assim dizer uma redundância de meios, importante para manter sempre, e
em qualquer situação imprevista, o sistema de AF ativo.
Como meio de alternativa às comunicações digitais, pode ser criada
uma rede analógica/radiofónica, que possibilita a reativação das redes de
tiro (voz) anteriores do GAC (T1, T2 e T3) quando necessário (Santos, 2013).

Figura 3 – Esquema 1ª Modalidade.


Fonte: (Santos, 2010).

200
REDES INTERNAS DO GAC

2.3.2 2ª Modalidade
A 2ª modalidade que me propus a estudar, criada em 2013, deriva da
configuração de redes que foi proposta para o SACC ainda antes da
implementação do sistema no GAC/BrigRR, e que já está inserida no projeto
para Manual do GAC mais recente, pelo que se torna imprescindível
caracterizar, primeiramente, este esquema.
Tal como a configuração de redes da doutrina nacional em vigor, é
constituída pela rede de Comando e Direção do Tiro (CT1 e CT2), pelas 3
redes de Tiro e por uma rede de Aquisição de objetivos. A diferença entre as
duas configurações prende-se com o facto de que, no caso da configuração de
redes doutrinária no Regulamento do GAC de 1979, o fluxo de informação
que deriva entre as entidades presentes nas 3 redes de Tiro e na rede de
aquisição de objetivos é executado por meio de dados, mais concretamente
por modo de transmissão digital. A Rede de Comando e Direção do Tiro
(CT1) mantém-se nos mesmos moldes da configuração anterior, ou seja, por
voz, contudo a Rede de Comando e Direção alternativa (CT2) sofre uma
modificação ao nível do modo de transmissão da informação, que passa de
voz para dados. A criação da Rede CT2 de dados baseia-se na rede das
operações presente na doutrina americana, e tem como intervenientes o S3
(EDR), o S2, o PC/PCT do GAC, o EAF/Brig, os EAF/Bat e os 3 PCT/Btrbf.
Verificamos que as redes internas (dados) doutrinárias no Exército Norte-
Americano foram previstas pelos planeadores do SACC em Portugal, ficando
de parte a rede de operações/tiro (dados), tendo em conta que através de
ligações indiretas e usando o PCT/GAC como relé, é possível a qualquer
OAF/Bat comunicar com o OAF/Brig para efeitos de planeamento e coordenação
dos fogos, à custa do tráfego das três Redes de Tiro. Ao nível do material de
transmissões necessário, contabilizamos um total de 32 rádios PRC-525, que
estão distribuídos da seguinte forma: 4 unidades no PC/PCT do GAC, 2
unidades no EAF/Brig, 2 unidades para cada OAF/Bat, 2 unidades em cada
PCT/Btr, uma unidade para o S3 e uma unidade para o S2, uma unidade
para cada OAv e uma unidade para cada secção do Pelotão de Aquisição de
Objetivos 42 (PAO). A distribuição de rádios depende da quantidade de redes
em que cada entidade está incluída, o que permite às entidades estarem
disponíveis 24 horas em cada rede, sem haver a necessidade de mudanças de
frequência. Analisando as redes acima descritas verifica-se que, nesta
doutrina, o OAF/Brig planeia e coordena os fogos na rede das operações
(dados), em conjunto com os OAF/Bat, estando numa das redes de tiro como
meio alternativo. Caso a rede das operações (dados) falhe, os OAF/Bat podem

42 Radar NA/TPQ-36, Radar RATAC-S e a Secção de Meteorologia.

201
REVISTA DE ARTILHARIA

solicitar coordenação ao OAF/Brig utilizando o AFATDS do PCT/GAC como


relé (ligação indireta), e este último reencaminha a solicitação de coordenação
através da rede de tiro que está atribuída ao OAF/Brig. Se as redes do
AFATDS estiverem bem configu-radas, este processo é automático. Verifica-
se também que em qualquer momento, os OAv têm a capacidade de comunicar
diretamente com o PCT/Btrbf, dado que estão na mesma rede de tiro (dados).

Figura 4 – Esquema da configuração prevista para o SACC.


Fonte: EPA.
No que diz respeito à configuração das redes, e fazendo uma comparação
com a doutrina americana, é importante referir que a configuração adotada
para o SACC no Exército português não consegue colmatar as faculdades
conferidas pela rede das operações/tiro (dados) prevista na doutrina Norte-
Americana. Esta rede permite ligar diretamente entre si os OAF, o S2, o S3,
o PCT/GAC e em especial os COB. Apesar dos primeiros elementos referidos
conseguirem comunicar entre si nas redes de tiro utilizando ligações indiretas,
na versão portuguesa o COB não tem capacidade para se ligar ao SACC
digitalmente, sendo toda a informação trocada entre o COB e o PC/GAC
enviada por voz 43 . (Feliciano, 2013).

43 Posições, relatórios, ordens de movimento, etc.

202
REDES INTERNAS DO GAC

Sendo assim, o COB deverá passar a ser interveniente tanto na rede de


Comando e Direção de tiro de dados, de forma a substituir o PCT/Btrbf por
impossibilidade de continuar a sua missão 44 , como na Rede de Tiro de dados,
junto com o Cmdt de Bateria, com o objetivo de poderem comunicar entre si
e de permitir à Bateria atuar por pelotões quando necessário 45 .
Seguindo o exemplo do exército americano, relativamente às comunicações,
a doutrina americana menciona que, quer no método manual, quer no
método automático é utilizado o equipamento filar e o equipamento rádio,
pois é fundamental estabelecer um sistema de comunicações redundante, onde
esteja sempre disponível um sistema alternativo (Headquarters Department
of the Army, 1996). Por isso, interessa otimizar o sistema de comunicações
da Bateria e fazer a melhor utilização, face aos recursos disponíveis em cada
momento. Sendo assim, esta configuração de redes pressupõe que, no âmbito
do GAC, para restaurar a ligação de voz entre os Cmdt de Bateria e os seus
Cmdt de Bateria de Tiro é necessário efetuar um upgrade ao rádio PRC-525,
para que este suporte na mesma rede voz e dados com os equipamentos
SACC, tal como sucede nas Forças Armadas Americanas com os rádios da
família SINCGARS. Assim as entidades autorizadas a utilizar as redes de
tiro por voz, para além dos intervenientes no tiro, poderiam comunicar entre
si livremente sempre que necessário. Como medida de transição, será de
equacionar autorizar os Cmdt de Bateria de Tiro a operar na rede de CT1 do
GAC (voz), para que estes possam comunicar com o destacamento de
reconhecimento 46 sempre que necessário ou seria também uma melhoria
significativa para a Btrbf, equipar todos os órgãos que a constituem com um
sistema de comunicações Telefone sem fio (TSF), “tipo” PRC-50147 . Funcionaria
assim numa rede de Tiro de voz da Bateria e iria garantir, a redundância de
meios, isto é, o funcionamento simultâneo de dois sistemas de comunicações,
desde a saída de posição, até à entrada na nova posição de tiro: o sistema
“tipo” PRC-501 e o sistema de comunicação visual através de código de
bandeiras que correntemente é utilizado. De referir ainda que, com o SACC,
as redes de Tiro passam a ser de dados. Assim, com a implementação desta
rede de Tiro de voz, o Cmdt de Bateria de Tiro conseguiria comunicar com o
seu Cmdt de Bateria, sem ter de aceder à rede de Comando e Direção de tiro
do GAC, uma vez que não está autorizado a fazê-lo.

44 O que pressupõe a aquisição de 3 subsistemas AFATDS, com capacidade para a direção


técnica do tiro para o OBUS M119 LG.
45 Em deslocamentos ou empenhamentos.
46 Cmdt de Bateria.
47 Como por exemplo o PRR H-4855, que ainda está em fase de experimentação.

203
REVISTA DE ARTILHARIA

Relativamente à rede filar interna, estando a Btrbf em posição, com a


implementação do SACC, cada carretel DR-8 das secções de bf passa a
transportar dois cabos WD1-TT, em vez de um. Desta forma, a ligação com o
PCT continua a ser garantida através do telefone P/BLC – 101 recorrendo a
um cabo WD1-TT. A transmissão de dados entre o BCS e o GDU-R ocorre
através do segundo cabo WD1-TT. Por conseguinte, a secção de Transmissões
providencia uma segunda régua de terminais exclusiva para o SACC.
A situação ideal é utilizar o rádio durante os deslocamentos e ocupação
da posição e, posteriormente, se o tempo disponível o permitir, instalar e
operar os equipamentos filares. No caso de os rádios não estarem
disponíveis ou utilizáveis, o sistema filar é necessário.
A implementação desta configuração de redes só será exequível caso
sejam resolvidos os problemas de incompatibilidade entre o AFATDS, o BCS
e o Rádio PRC-525, passando a ser possível ligar o BCS e os canais 5 e 7 do
AFATDS, em modo digital, ao rádio PRC-525, o que vai permitir montar as
redes internas de dados do SACC inicialmente previstas (Feliciano, 2013).

Figura 5 – Esquema da 2ª Modalidade.


Fonte: Apresentação SACC (Feliciano, 2013).

204
REDES INTERNAS DO GAC

2.3.3 Comparação dos dois modelos


As duas modalidades apresentadas, com as quais pretendemos
demonstrar os vários rumos possíveis de seguir, no que à configuração e tipo
de redes a adotar pelo GAC/BrigRR diz respeito, possuem diferenças
profundas que interessa abordar, como forma de se apurar qual dos rumos
seria mais facilmente adaptável nas Redes Internas do GAC/BrigRR.
De modo a facilitar a compreensão vamos dividir a comparação das
duas modalidades em 4 critérios que consideramos como mais importantes:
“Natureza das redes”, “Segurança da transmissão”, “Material necessário” e
“Problemas atuais a solucionar”.
Com o critério “Natureza das redes” pretendo fazer uma comparação da
configuração e tipo das redes presentes nas duas modalidades. Sendo assim,
a maior diferença prende-se com o facto de existir uma tentativa na 1ª
Modalidade de reduzir o número de redes, o que pressupõe a redução do
número de frequências a utilizar. Esta modalidade permite assim uma maior
flexibilidade porque permite a transmissão da informação automaticamente
através de ligações indiretas no caso de existir algum problema ou avaria com
algum dos intervenientes. No que à 2ª Modalidade diz respeito, a sua configuração
de redes pressupõe um maior número de redes, dividindo as entidades que
intervêm no AF, obrigando ainda algumas das entidades a estarem
presentes em várias redes, o que, consequente-mente, poderá dificultar o C2.
Em relação ao critério “Segurança da transmissão”, constata-se que, teórica-
mente, a 2ª Modalidade permite uma maior segurança ao nível da transmissão
da informação devido ao facto de pressupor que as redes de dados seriam apenas
digitais, o que, como já foi exemplificado ao longo deste trabalho, permitiria
comunicações mais seguras e rápidas, em comparação com a rede analógica
que está presente na 1ª Modalidade. Contudo, com a tendência de reduzir o
número de redes a utilizar, e com o facto de também utilizar uma rede digital
desde os OAv até ao PCT/GAC, a 1ª Modalidade poderá ter alguma segurança,
devido à constatação de que quanto menor o número de frequências utilizadas,
menor a probabilidade de as mesmas serem detetadas pelo Inimigo.
Abordando agora o critério “Material necessário”, constatamos que a 2ª
Modalidade pressupõe a utilização de mais material, principalmente ao
nível das comunicações, do que a 1ª Modalidade. A razão do incremento de
material prende-se com a necessidade de preencher as várias redes que se
inserem na 2ª Modalidade, pressupondo que as entidades que estão presentes
em mais do que uma rede, também estarão a comunicar em mais do que
uma frequência, pelo que deverão possuir rádios suficientes para esse efeito.
Ao nível do critério “Problemas atuais a solucionar”, constatamos que
existem alguns problemas, que foram abordados ao longo deste capítulo, que

205
REVISTA DE ARTILHARIA

inviabilizam a implementação de qualquer uma das modalidades apresentadas.


Neste critério não vamos diferenciar as duas modalidades porque, devido ao
facto de ambas as configurações utilizarem os mesmos meios de comunicação,
possuem os mesmos problemas. Esses problemas prendem-se com a incompati-
bilidade que se verifica entre alguns subsistemas do SACC e com o rádio utilizado
para a transmissão dos dados, tanto em relação ao AFATDS48 como em relação
ao BCS49 , problemas estes que são, muito provavelmente, a causa de nenhuma
das modalidades ter sido implementada desde que o sistema foi adquirido.
As duas Modalidades apresentadas são teoricamente exequíveis e implemen-
táveis nas Redes Internas de um GAC, contudo, comparando-as segundo os
vários critérios apresentados, constatamos que o número e tipologia de redes
previstas na 1ª Modalidade permitem uma maior flexibilidade ao nível do C2
e em relação ao material de transmissões necessário à maximização do SACC
como ferramenta auxiliar do Cmdt no âmbito do AF. Com a possível resolução
dos problemas detetados ao nível do critério “Problemas atuais a serem
resolvidos”, a 1ª Modalidade poderá permitir também uma maior celeridade
e segurança da transmissão da informação entre intervenientes no AF.

CONCLUSÕES
A AC portuguesa, na procura de acompanhar e adaptar-se ao ambiente
operacional contemporâneo, investiu num aperfeiçoamento tecnológico ao
nível dos materiais utilizados, que culminou com a aquisição do SACC.
O SACC comprova-se de grande utilidade ao nível do C2 de AF, inserindo-se
nos vários órgãos participantes no processo, através dos seus vários subsistemas.
Este é um sistema tecnologicamente avançado, que possibilita a
realização do planeamento e a execução do AF de uma forma automática,
valorizando assim a rapidez de processos e a segurança das comunicações, o
que permite aumentar o desempenho da Direção Tática e da Direção Técnica
do Tiro, ligando os vários subsistemas e os vários órgãos digitalmente. Com
a aquisição e implementação do SACC, a AC portuguesa procura cumprir as
suas missões, com base nos vários fatores característicos do ambiente
operacional contemporâneo 50 , destacando que as possibilidades ilimitadas

48 Nos 2 canais tipo “analógico/digital”, o AFATDS não reconhece o PRC-525 como sendo um
rádio digital.
49 Nos 4 canais tipo “analógico/digital”, o BCS não reconhece o PRC-525 como sendo um rádio digital.
50 A não linearidade do espaço de batalha conduz à dispersão das unidades, criando vazios

(áreas não ocupadas por forças), o que provoca alterações da ZA das unidades de AC que
deixam de se confinar ao acompanhamento as unidades de manobra, passando a incluir os
flancos, as retaguardas e os intervalos não controlados pelas forças. Esta nova ZA implica um
aumento dos alcances e capacidade de apoio em 360º (Romão & Grilo, 2008).

206
REDES INTERNAS DO GAC

presentes neste sistema permitem a supressão ou diminuição dos danos


colaterais, a diminuição significativa do tempo de resposta e a interope-
rabilidade com as forças da manobra ao nível do C2.
Apesar de representar uma mais-valia para a unidade que usufrui do
mesmo, possui algumas necessidades/exigências específicas que têm de ser
cumpridas, de modo a poder ser possível maximizar todas as suas funcionalidades e
possibilidades. O SACC é um sistema complexo, em comparação com o sistema
manual de AF, sendo necessário uma formação exigente, que compreende os vários
subsistemas do SACC, em que cada subsistema detém as suas próprias especifici-
dades e formas de funcionamento e a sua interoperabilidade com os materiais e
equipamentos orgânicos da unidade em que está inserido. Exige também um
sistema de comunicações adequado, que permita a transmissão de dados digital-
mente e que possua um software compatível com os vários subsistemas do
SACC. Esse sistema de comunicações deve também possuir características e
funcionalidades que maximizem a segurança da transmissão da informação.
Concluímos também que os materiais ao dispor do GAC, além de se constatar
o facto de serem antigos, possuem características diferenciadas entre si, entre
os quais alguns não têm a capacidade transmitir dados digitalmente o que poderá
ser um entrave ao nível da compatibilidade entre si ou com os novos sistemas
automáticos, como o SACC. Em relação ao material de transmissões ao dispor
do GAC, constatamos uma grande diferença em relação ao material de trans-
missões que está contemplado em QO e o material de transmissões que está
realmente ao serviço do GAC/BrigRR, o que poderá ser uma demonstração
de que as Redes Internas do GAC não estarão a funcionar de acordo com o
que se pretendia com a aprovação do QO de 2009 do GAC/BrigRR.
Comparando as duas modalidades segundo os vários critérios apresentados,
concluímos que a configuração de redes apresentada na 1ª Modalidade, ao
permitir uma maior flexibilidade ao nível do C2 e ao nível do material necessário
para o pleno emprego do SACC dentro das redes, é a que consideramos mais
adequada. Contudo, esta Modalidade não considera a necessidade de o COB
possuir um subsistema do SACC (BCS), inviabilizando a este órgão o cumprimento
de forma plena de uma das suas missões, ou seja, de poder funcionar com
PCT/Btrbf alternativo. Outras limitações, que neste caso se estendem às
duas Modalidades apresentadas, prendem-se com o facto de o GAC/BrigRR
só ter levantadas duas Btrbf e, principalmente, por problemas de incompati-
bilidade entre alguns subsistemas do SACC e o Rádio PRC-525, fator que
inviabiliza de forma significativa a maximização do SACC dentro das Redes
Internas do GAC. Com este pressuposto, concluímos que, na prática, não
estão asseguradas as condições necessárias, nesta altura, à assimilação de
qualquer uma das Modalidades referidas, por parte do GAC/BrigRR.

207
REVISTA DE ARTILHARIA

Assim, de futuro, devemos almejar a resolução técnica das incompa-


tibilidades de software entre o AFATDS e os outros equipamentos, para que
a utilização do SACC seja simples e intuitivo, adaptado ao ambiente de
combate, tornando-se desnecessárias alterações ou exceções à utilização
normal destes equipamentos.
Para a resolução dos principais problemas levantados, propõe-se que
num programa de aquisições para prolongamento da vida útil do SACC a ser
estabelecido com os EUA, para além da aquisição de sobresselentes neces-
sários para reparar equipamentos avariados, sejam incluídas a resolução dos
“bugs” existentes no software dos subsistemas Norte Americanos. É necessária
ainda a criação de um interface entre os subsistemas do SACC e os rádios
PRC/525 para que os equipamentos reconheçam este rádio como sendo um
rádio digital em todos os seus canais, o que irá permitir operar em redes rápidas
e seguras, sendo que para tal são necessárias trocas de informação entre os
fabricantes dos equipamentos Norte-Americanos e a EID, de forma a conseguir a
compatibilidade plena entre o rádio PRC-525 e todos os equipamentos do SACC,
utilizando protocolo MILSTD 188-220 com modulação digital NRZ, bem como
para o fornecimento de atualizações ao software dos subsistemas do SACC para
eliminar os problemas conhecidos na direção técnica do tiro de Artilharia.
Ao nível da configuração das redes, propomos que sejam implementadas,
numa primeira fase, o número e tipo de redes previstas na 1ª Modalidade
apresentada, com uma modificação ao nível dos intervenientes, ao ser adicionado
o COB, tanto na rede de transmissão digital de dados como também na rede
de transmissão analógica de dados. Numa segunda fase, com a resolução dos
problemas de compatibilidade que afetam a transmissão digital de dados
entre o AFATDS do PCT/GAC e os BCS dos PCT/Btrbf, proponho que a rede
de transmissão analógica de dados passe a funcionar digitalmente, com o intuito
de reforçar a segurança e a velocidade de transmissão do fluxo de informação
entre estas entidades. Esta configuração permitirá também a criação de
“quickfire linkages”, que possibilitam a comunicação direta entre os OAv e os
PCT/Btrbf das baterias quando tal for operacionalmente exigido, sem haver
a necessidade de recorrer a relés (ligações indiretas) através do PCT/GAC.
Como configuração final das redes e já com os problemas de compatibilidade
solucionados, propomos que seja adotada a seguinte configuração de redes.
Uma Rede das Operações 1 de transmissão digital de dados (LAN) que
engloba todos os intervenientes no sistema de AF, com exceção das secções
de bf. Ou seja, os intervenientes nesta rede seriam os OAv (FOS), os
OAF/Bat (AFATDS), o OAF/Brig (AFATDS), o PCT/GAC (AFATDS), o S2
(AFATDS), o S3 (AFATDS), os PCT/Btrbf (BCS), os COB das btrbf (BCS), o
RLA e o RLAM (FOS). Esta rede passa a funcionar por IP, ao ligar todos os

208
REDES INTERNAS DO GAC

intervenientes na mesma rede LAN, utilizando o Rádio PRC-525 como


modem. Poderá ser criada uma rede de transmissão digital de dados (Rede
das Operações 2) como rede alternativa da primeira.
Como forma de ligar o PCT/Btrbf com as várias secções de bf proponho
a criação de uma Rede de Tiro TSF (analógica), que liga o BCS presente nos
PCT/Btrbf aos GDU-R que estão nas secções de bf. Poderá ainda ser montada
uma Rede de Tiro 2 TPF (WD1TT) como rede alternativa da primeira.
Deverão ainda ser mantidas algumas das redes de voz doutrinárias que
englobam uma Rede de Comando e Direção do Tiro, as 3 Redes de Direção
do Tiro e a Rede Administrativo-logística para serem utilizadas quando
necessário ou como redes alternativas.
Em relação às Redes Internas das Baterias poderão ser utilizados os
PRR recentemente adquiridos pelo GAC/BrigRR como forma de auxiliar o
Cmdt no C2 da Bateria quando em posição e para C2 de uma coluna de
marcha para auxiliar, por exemplo, na reação a incidentes.

Figura 11 – Esquema Proposta de configuração das Redes Internas do GAC.

BIBLIOGRAFIA
Almeida, P. (2009). Implementação do SACC. Boletim'09 do RA4, pp. 6-11.
EID. (s.d.). PRC-525 Combat Net Radio. Obtido em 3 de Março de 2013, de
http://www.eid.pt/prod/7/prc-525_combat_net_radio
EME. (1979). Regulamento do Grupo de Artilharia de Campanha. Lisboa: Estado-
Maior do Exército.

209
REVISTA DE ARTILHARIA

EME. (1988). MC-20-15 – Bateria de Bocas de Fogo de Artilharia de Campanha.


Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME. (2004). MC 20-100 Manual de Táctica de Artilharia de Campanha. Lisboa:
Estado-Maior do Exército.
EME. (2005). Regulamento de Campanha Operações. Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME. (2007). MC-20- Manual do Grupo de Artilharia de Campanha (Projecto).
Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME. (29 de Junho de 2009). Quadro Orgânico nº 24.0.24 do GAC/BrigRR. Leiria:
Estado-Maior do Exército.
Empresa de Investigação e Desenvolvimento. (s.d.). Manual de Operação do Rádio Tático
HF/VHF/UHF PRC-525. Charneca da Caparica: Empresa de Investigação e Desenvolvimento.
Feliciano, R. (2013). Capacidades e Limitações do SACC no GAC/BrigRR. (H. Janeiro,
Entrevistador)
Ferreira, P. F. (Março de 2008). Sistema Automático de Comando e Controlo da
Artilharia de Campanha. Boletim de Informação e Divulgação Técnica da EPA.
Ferreira, P. F. (Julho a Setembro de 2011). Emprego e implementação do SACC no
GAC da BrigRR. Revista de Artilharia, pp. 263-288.
Headquarters Department of the Army. (1993). TB 11-7025-293-10-1 Technical
Bulletin Operator´s, Manual Cannon Battery Computer System Software for
Fire Control System AN/GYK-37. USA: Department of the USA Army.
Headquarters Department of the Army. (1996). FM 6-50 Tactics, Technics, and
Procedures for the Field Artillery Cannon Battery. USA: Headquarters Department
of the Army United States Marine Corps.
Headquarters Department of the Army. (2001). FM 3-09.21 – Tactics, Technics and Procedures
for the Field Artillery Battalion. Washington, DC: Department of the USA Army.
Headquarters Department of the Army. (2003). WB-LFED (FOS)-13F Student
Workbook FO/FIST, Light Forward Entry Device (LFED), Ruggedized
Handheld Computer (RHC), Forward Observer System (FOS) Version 12.004.
USA: Department of the USA Army.
Headquarters Department of the Army. (2005). GDU-R User Manual Gun Display
Unit-Replacement/Section Chief Assembly (GDU-R/SCA) User’s Manual Version
1.0. USA: Department of the USA Army.
Mateus, S. (2009). Integração do P/PRC-525 no SACC. Boletim'09 do RA4, pp. 12-15.
Quivy, R., & Campenhoudt, L. V. (2005). Manual de Investigação em Ciências
Sociais. Lisboa: Gradiva.
Raytheon Company. (2005). AFATDS – Foreign Military Sales (FMS) Operator's
Notebook. USA: Raytheon Company.
Reis, F. (2010). Como Elaborar uma Dissertação de Mestrado. Lisboa: Pactor.
Romão, A. P., & Grilo, A. J. (Dezembro de 2008). Reflexões sobre o emprego da AC no
ambiente operacional comtemporâneo. Boletim da EPA.
Santos. (2013). Capacidades e Limitações do SACC no GAC/BrigRR. (H. Janeiro, Entrevistador).
Santos, A. (Abril de 2006). Brigada Mecanizada Grupo de Artilharia de Campanha
Sistemas de Comando e Controlo. Revista Atoleiros, pp. 4-8.
Santos, A. (2010). Operacionalização do Sistema Automático de Comando e Controlo.
Boletim'10 do RA4, pp. 30-35.

210
ELEIÇÃO DOS ÓRGÃOS DA COMISSÃO EXECUTIVA DA REVISTA DE ARTILHARIA

ELEIÇÃO DOS ÓRGÃOS DA


COMISSÃO EXECUTIVA DA
REVISTA DE ARTILHARIA
Candidatura

Nos termos do N.º 1. e 2. do Artigo 11.º e do N.º 1. do Artigo 12.º do


Capítulo Terceiro dos Estatutos da Revista de Artilharia, publicados nos
Números 1058 a 1060 correspondentes aos meses de Outubro a Dezembro de
2013, dá-se ao conhecimento de todos os associados da Revista de Artilharia
a lista de candidatura elaborada pela Presidência da Comissão Executiva
cessante para constituição da futura Comissão Executiva do biénio 2015/16:

1. Presidência:
a. Presidente:
Major-General Fernando Joaquim Alves Cóias Ferreira;
b. Vice-Presidente:
Coronel Tirocinado António Joaquim Ramalhoa Cavaleiro;
c. Secretário:
Capitão de Artilharia Nuno Miguel dos Santos Rosa Calhaço;

2. Tesouraria:
Capitão de Artilharia Diogo Lourenço Serrão;

3. Conselho Editorial:
a. Editor:
Capitão de Artilharia Sérgio Timóteo Coelho Rodrigues;

211
REVISTA DE ARTILHARIA

b. Adjunto:
Alferes de Artilharia Felipe Furlan Goncalves;

4. Conselho de Cultura Artilheira e Militar:


a. Presidente:
Coronel de Artilharia na Reforma Fernando José Pinto Simões;
b. Vogais:
Coronel de Artilharia António José Pardal dos Santos;
Coronel de Artilharia Carlos Alberto Borges da Fonseca;
Coronel de Artilharia Carlos Manuel Mendes Dias;
Coronel de Artilharia João Luís Morgado Silveira;
Tenente Coronel de Artilharia Joaquim Agostinho da Cruz Oliveira
Cardoso;
Tenente Coronel de Artilharia Norberto Antunes Serra;
Major de Artilharia Nelson José Mendes Rego;
Capitão de Artilharia Luís Miguel Rebola Mataloto;
Capitão de Artilharia Elton Roque Feliciano;
5. Conselho Fiscal:
REVISTA DE ARTILHARIA
a. Presidente:
Coronel de Artilharia José da Silva Rodrigues;
b. Vice-Presidente:
Major de Artilharia José Carlos Pinto Mimoso;
c. Secretário:
Capitão de Artilharia Tiago Soares de Castro.

212
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RAAA 1

VIA SACRA DO REGIMENTO DE ARTILHARIA


ANTIAÉREA Nº1 E DA DIOCESE DAS FORÇAS
ARMADAS E DE SEGURANÇA

Teve lugar em 02Abr14 na parada Tenente – General “Themudo Barata” a


via-sacra do RAAA1 e da Diocese das Forças Armadas e de Segurança.

213
REVISTA DE ARTILHARIA

A celebração que contou com a presença de Sexa. o General CEME


Carlos Jerónimo e o Bispo da Diocese das Forças Armadas e de Segurança,
Sua Excelência Reverendíssima D. Manuel Linda, permitiu a todos os que
nela participaram, momentos de recolhimento e oração, tendo ficado bem
vincado o significado da Quaresma para os cristãos.
À semelhança de anos
anteriores estiveram igual-
mente presentes diversos cape-
lães Militares da Diocese bem
como delegações de Cadetes
da Escola Naval, da Acade-
mia Militar, da Academia da
Força Aérea, de militares da
GNR e numerosos mili-tares
do RAAA1.
Os cânticos estiveram a
cargo da Banda Sinfónica do
Exército que contribuiu de
forma significativa para o
engrandecimento da Via Sacra.
Os Párocos de Belas, Queluz, Massamá, Monte Abraão e respetivos paro-
quianos contribuíram com a sua presença para o brilho e nobreza da celebração.
Também os presidentes da União das Freguesias de Queluz e Belas e
da União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão não quiseram deixar
de se associarem a tão importante evento, marcando com a sua presença a
importância e o relevo da cerimónia.
Cumprido o percurso da Via Sacra, o Bispo da Diocese das Forças
Armadas e Segurança dirigiu algumas palavras a todos os participantes
agradecendo ao RAAA1 a disponibilidade demonstrada.
O Comandante do RAAA1 Cor Art Carlos Fonseca viria depois a usar
da palavra, agradecendo a presença de Sexa. o Gen Ceme Carlos Jerónimo,
bem como de Sua Excelência Reverendíssima D. Manuel Linda, Presidentes
de Juntas de Freguesia e demais participantes.
Terminado o evento, os participantes tiveram oportunidade de tomar
um chocolate quente no refeitório do Regimento.

EXERCÍCIO “RELÂMPAGO” – FOGOS REAIS DE AAA

No período de 12 a 16 de Maio de 2014 decorreu, na região de Vieira de


Leiria (Fonte dos Morangos), o Exercício “Relâmpago 14”, da responsa-

214
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

bilidade do Comando das Forças Terrestres (conduzido pelo Regimento de


Artilharia Antiaérea N.º 1 – RAAA1), com vista a exercitar todas as
Unidades de Artilharia Antiaérea (AAA) do Sistema de Forças do Exército,
no planeamento, controlo e conduta do apoio antiaéreo às operações
terrestres. No âmbito do Exercício realizou-se, em 14 de Maio, uma sessão
de fogos reais noturnos e em 15 de Maio uma sessão de fogos diurnos, que
contou com a participação de cerca de 283 militares e 43 viaturas.

Foram empregues os sistemas míssil antiaéreos, STINGER e


CHAPARRAL e o sistema CANHÃO BITUBO 20mm. Ao nível da simulação
foi empregue o alvo aéreo MQM-170A Outlaw, que trouxe novas potencia-
lidades e mais-valias para este tipo de exercício, nomeadamente, perfis de
voo semelhantes aos de uma aeronave real, pela possibilidade de se
ajustarem soluções à medida do utilizador. À semelhança do que tem vindo
a acontecer em exercícios da mesma natureza, foi ainda empregue o
Ballistic Aerial Target Sistem (BATS). No Exercício participaram todas as
unidades de AAA do Exército Português, designadamente, Bateria AAA da
Brigada de Intervenção (RAAA1), Bateria de AAA das Forças de Apoio
Geral (RAAA1), Bateria AAA da Brigada de Reacção Rápida (RAAA1),
Bateria AAA da Brigada Mecanizada, Bateria AAA do Regimento de Guar-
nição n.º 2 (ZMA) e Bateria AAA do Regimento de Guarnição nº3 (ZMM). O
Exercício contou ainda com a participação do CFS/Art, que participou
ativamente nas sessões de Fogos Reais (noturna e diurna), na qualidade de
Apontadores e Comandantes de Secção do Sistema Canhão Bitubo.
Os empenhamentos efetuados com os sistemas míssil Stinger (2) e
Chaparral (9), resultaram numa eficácia de 100% para o Stinger, (que

215
REVISTA DE ARTILHARIA

obteve dois derrubes do alvo) e de 88,8% no caso do Chaparral. A eficácia foi


igualmente visível ao nível do tiro canhão, cujos apontadores destruíram
grande parte dos alvos fixos.
É de salientar o apoio de várias entidades, militares e civis, na organi-
zação deste Exercício, designadamente da Marinha de Guerra Portuguesa,
da Força Aérea Portuguesa, de várias unidades do Exército, da Policia de
Segurança Pública, da Guarda Nacional Republicana, dos Bombeiros
Voluntários de Vieira de Leiria, da Proteção Civil e da Unidade de Gestão
Florestal do Centro Litoral. O Exercício contou com a presença de S. Ex.ª o
Diretor Honorário da Arma de Artilharia, Tenente General Frederico José
Rovisco Duarte, que destacou a eficácia da sessão de Fogos Reais e muito
REVISTA DE ARTILHARIA
especialmente o profissionalismo e a eficiência do trabalho desenvolvido por
todos os militares empenhados no Exercício “Relâmpago 14”.

18

216
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 4

EXERCICIO APRONTEX 142

No âmbito do aprontamento da Light Artillery Battery atribuída à


Immediate Response Forces/NATO Response Force 2015 (LightArtyBty/
/NRF2015), decorreu na Região de Beja, de 05 a 09MAI14, o Exercício
APRONTEX 142.
O Exercício iniciou-se com tiro instintivo de Espingarda Automática
GALIL e tiro de adaptação de Metralhadora Pesada MG1A3, que teve lugar
na carreira de tiro do Regimento de Infantaria Nº 3 (RI3).
No final do dia, a Bateria ocupou a área de atribuição de missão e cerca de 110
militares participaram numa prova topográfica noturna na região de Penilhos.
A parte tática, sob a forma de Field Training Exercise, centrou-se no
treino de Técnicas, Táticas e Procedimentos ao nível do Reconhecimento, Escolha
e Ocupação de Posições (REOP), condução de missões de tiro (simuladas),
com e sem recurso ao Sistema Automático de Comando e Controlo (SACC),
montagem de postos de observação de Observadores Avançados, procedimentos
de Transmissões, levantamentos topográficos e Apoio de Serviços.
Apesar da LightArtyBty/NRF2015 se ter constituído como audiência
primária de treino, o Exercício envolveu ainda elementos do Estado-Maior
do Grupo de Artilharia de Campanha, do Regimento de Artilharia Nº 4, da
Brigada de Reação Rápida, que materializou o escalão superior da força e
contou com o apoio do RI3.

Militares da LightArtyBty/NRF2015 a efetuar tiro instintivo


de espingarda automática GALIL.

217
REVISTA DE ARTILHARIA

Secção a ser guiada numa entrada em posição. LightArtyBty/NRF2015 a ocupar posição


Alternativa.

EXERCÍCIO TROVÃO 141

Com o objetivo de garantir a proficiência operacional dos Elementos da


Componente Operacional do Sistema de Forças (ECOSF) na sua compo-
nente de apoio de fogos, no planeamento, coordenação e controlo do apoio de
fogos, durante a conduta de operações terrestres, com particular enfâse para
os Grupos de Artilharia de Campanha do Sistema de Forças do Exército,
decorreu de 26 a 30 de maio de 2014, no Campo Militar de Santa
Margarida, o exercício “EFICÁCIA 14”.

Formatura de parque da Militar a defender posição com


LightArtyBty/NRF2015. Metralhadora Pesada Browning.

Este Exercício, sob a forma de LIVEX/FTX, foi aproveitado para o


aprontamento da Light Artillery Battery atribuída à Immediate Response
Forces/NATO Response Force 2015 (LightArtyBty/ NRF2015) e teve particular

218
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

incidência no treino de Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) ao nível do


Reconhecimento, Escolha e Ocupação de Posições (REOP), condução de missões
de tiro, com e sem recurso ao Sistema Automático de Comando e Controlo (SACC),
montagem de postos de observação de Obser-vadores Avançados, procedimentos
de Transmissões, levantamentos topográficos, Apoio de Serviços e condução
em todo-o-terreno, recorrendo aos Army Trainning and Evaluation Program
(ARTEP) para verificar e validar tempos para elaboração de pedidos de tiro,
duração e condução das missões, métodos de pedido de tiro, entradas e saídas
de posição e resposta a incidentes vários.
Apesar da LightArtyBty/NRF2015 não se ter constituído como audiência
primária de treino, o Exercício permitiu treinar a utilização da terminologia,
metodologia e procedimentos de planeamento de operações em vigor na NATO
e contribuiu para reforçar a coesão das Unidades de apoio de fogos participantes.

REVISTA DE ARTILHARIA

Bateria de Tiro a ocupar uma posição Visita do Exmo. MGen Serafino,


de tiro de emergência. Cmd da BrigRR à posição da
LightArtyBty/NRF2015.

219
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 5 e POLO PERMANENTE


DO PM001/VENDAS NOVAS

EXERCÍCIO DE FOGOS REAIS E TREINO NO


SIMULADOR INFRONT COM O 4º ANO DE ARTILHARIA
DA ACADEMIA MILITAR

O Polígono de Tiro de Vendas


Novas sempre se constituiu como
a infraestrutura por excelência
onde são consolidadas as matérias
específicas da Arma de Artilharia,
ministradas na Academia Militar.
Não fugindo à regra, no pre-
sente ano foram ali realizados
dois Exercícios de Fogos Reais (de
17 a 19fev14 e de 06 a 08mai14),
antecedidos de treino no simu-
lador de tiro INFRONT IV, bem
como um exercício tático envolvendo a prática dos procedimentos relativos
ao Reconhecimento, Escolha e Ocupação de Posição (REOP) (20 e 21fev14).
Face à inexistência de munições 155mm, os dois exercícios de fogos
reais foram executados com o apoio de uma Bateria de Tiro, a duas seções
equipadas com o obus M119 105mm LG/30/98, cedida pela Escola das
Armas. Nestes exercícios foi possível
consolidar e validar as matérias
constantes das Unidades Curriculares
de Sistemas de Armas de Artilharia e
Tiro (M223 e M224), através da
prática dos procedimentos do Obser-
vador Avançado e do Posto Central de
Tiro, no que respeita à execução de
regulações de precisão, tiro de área,
tiro vertical e fumos (WP e HC).
Por sua vez o exercício tático incidiu sobre o planeamento e execução
dos procedimentos inerentes ao REOP de uma Bateria de Bocas de Fogos
(Btrbf), tendo para tal sido constituída uma Bateria a 4 Secções, à custa dos
meios orgânicos da 1ªBtrbf/GAC/BrigInt, sedeados no RA5.

220
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

VISITA AO GAC DO CMDT DA BrigInt

Em 30 de abril de 2014, o Exmo. Comandante da Brigada de


Intervenção, MGen Carlos Henrique de Aguiar Santos, efetuou uma visita
de trabalho ao Grupo de Artilharia de Campanha (GAC).
O Exmo. MGen Aguiar Santos
chegou pelas 10H30, tendo sido
recebido pelo Comandante do
RA5, Cor Art António José Pardal
dos Santos, Comandante do Polo
Permanente/RA5, TCor Art António
Pedro Matias Ricardo Romão,
Comandante do GAC, TCor Art
João Manuel da Cruz Seatra,
Adjunto do Comandante e Oficiais
do Estado-Maior. Após ter assis-
tido a um Briefing sobre a situação do Polo e do GAC, o Exmo. MGen
Cmdt da BrigInt visitou o Museu, a nova Arrecadação de Material de
Guerra, que se encontra em fase
de conclusão, bem como as
instalações doREVISTA
GAC. DE ARTILHARIA
Após o almoço, seguiu-se
uma visita ao Polígono de Tiro e
atividade operacional do GAC.
A visita terminou pelas
16H00 com a apresentação de
cumprimentos de despedida, por
parte do Comando da Unidade,
no átrio do Edifício de Comando.

221
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA BAA/BrigMec

EXERCÍCIO “RAPOSA 141”

Decorreu de 31Mar a 04Abr14 no Campo Militar de Santa Margarida o


exercício “RAPOSA 141”, exercício sectorial do tipo tático (FTX) da Bateria
da Artilharia Antiaérea (BtrAAA) da Brigada Mecanizada (BrigMec),
inserido no ciclo de treino operacional do 1º Semestre da BrigMec
subordinado às operações ofensivas e de estabilização, com vista ao
nivelamento das técnicas, táticas e procedimentos (TTP’s) das Subunidades
da BtrAAA no âmbito das referidas operações.
A BtrAAA cumpriu os objetivos de treino organizada em Secção de
Comando, Secção de Reabastecimentos, Secção de Manutenção, Pelotão de
Radar e Pelotão de Chaparral,
totalizando 65 militares, cinco
viaturas de lagartas e sete
viaturas de rodas, das quais
um sistema radar de aviso
local AN/MPQ 49B Forward
Area Alerting Radar (FAAR)
e quatro sistemas míssil ligeiro
M48 A3 Chaparral.
É de referir que para
conferir mais realismo ao
treino e permitir a avaliação
do mesmo, a BtrAAA contou
com o apoio de um Pelotão do Esquadrão de Reconhecimento da BrigMec
para se constituir como Força Cenário, o que constituiu igualmente um fator
de motivação para os militares em exercício.

EXERCÍCIO “RELÂMPAGO 14” E TESTES DE


COMPATIBILIDADE IFF COM AERONAVES DA FAP

A BtrAAA/BrigMec participou no exercício de fogos reais de Artilharia


Antiaérea “RELÂMPAGO 14”, que decorreu no período de 12 a 16Mai14, na
região de Fonte dos Morangos em Vieira de Leiria, com a finalidade de
treinar e certificar respetivamente, as guarnições e apontadores de sistema
míssil ligeiro Chaparral na execução de fogos reais de Artilharia Antiaérea.

222
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

Em paralelo, nos dias 12 e 13Mai realizaram-se nas instalações Base


Aérea nº5 em Monte Real, testes de compatibilidade de interrogação
identificação amigo desconhecido (Identification Friend or Foe – IFF) entre
o Sistema Míssil Ligeiro Chaparral M48A3 e aeronaves F-16 da Força Aérea
Portuguesa (FAP) e Força Aérea Belga em operação na área.

Os elementos do Pelotão Chaparral, integrados na Btr Míssil Ligeiro


em exercício, efetuaram diversos treinos dos procedimentos de tiro e
seguimentos do alvo aéreo MQM-170 Outlaw ao longo exercício, culminando
com a execução de uma sessão de fogos reais com tiro noturno e diurno com
o sistema míssil ligeiro AP M48A3
Chaparral. Foram disparados quatro
mísseis MIM-72 G, dois no período
noturno com impactos diretos no
alvo BATS e dois no período diurno
contra o alvo Outlaw, tendo sido um
míssil perdido e um impacto direto.
É de realçar a importância do exer-
cício no treino de nível técnico dos
apontadores e das guarnições do
Pelotão Chaparral, pois só assim é
“Fonte: Furr G. Marques, BrigMec”.
possível treinar eficazmente os apon-
tadores, possibilitando o disparo de um míssil real, realizando para tal todos
os procedimentos técnicos e de segurança.
A apreciação geral do Exercício é bastante positiva, tendo sido
cumprido o planeamento e os objetivos de treino estabelecidos. No que
concerne ao subsistema IFF, todos os testes de compatibilidade do sistema
foram efetuados com sucesso, verificando-se a compatibilidade do sistema
utilizado pelo Exército com o sistema utilizado pelas aeronaves da NATO.

223
REVISTA DE ARTILHARIA

EXERCÍCIO “ROSA BRAVA 14”


Realizou-se de 26Mai a 06Jun14, no Campo Militar de Santa Margarida
(CMSM), o exercício sectorial de escalão Brigada “ROSA BRAVA 14” (RB
14), comtemplado no Plano Integrado de Treino Operacional 2014 (PITOP
14), culminando o ciclo de treino operacional da Força Mecanizada (FMec)
iniciado no segundo semestre de 2013, tendo em vista o cumprimento das
tarefas no âmbito das operações ofensivas e de estabilização.
A BtrAAA/BrigMec, participou no exercício RB 14 com a máxima força do
Módulo de Defesa Antiaérea (AA) da FMec, onde foram treinadas as técnicas,
táticas e procedimentos, gerais e específicas de AA no âmbito das operações
ofensivas e de estabilização, tendo em vista a validação do Módulo de Defesa
AA da FMec na execução das tarefas essenciais ao cumprimento da missão.
O efetivo da BtrAAA empenhado no exercício foi de 67 militares, dos
quais quatro militares do Estágio em Contexto Operacional (dois TPOA e
dois CFSA) e 13 militares do Pelotão Stinger das FApGer do GAAA/RAAA1,
que reforçaram o módulo de Defesa AA da FMec. Foram ainda empenhadas
nove viaturas ligeiras, três pesadas e quatro de lagartas, das quais um
radar de aviso local FAAR e três sistemas míssil ligeiro Chaparral.
O módulo de Defesa AA da FMec efetuou a proteção de pontos e áreas
sensíveis, itinerários e Unidades
de manobra na condução das
operações Ofensivas. Durante as
operações de estabilização foi
igualmente efetuada a proteção
de áreas sensíveis, nomeadamente
Forward Operating Base (FOB)
e proteção de itinerários no
âmbito da execução de escoltas.
É de referir que no âmbito
do exercício EFICÁCIA 14 que
decorreu em paralelo nos pri-
meiros dias do RB14, existiram
aeronaves do tipo F-16 a executar missões de Close Air Support (CAS),
sendo possível conjugar eficazmente o treino tático com o de ordem técnica,
o que constituiu um forte fator motivacional.
O exercício permitiu validar o Módulo de Defesa Antiaérea da FMec na
execução das tarefas críticas para o cumprimento da missão, no âmbito das
operações ofensivas e de estabilização, constituindo uma oportunidade impar
de treino num contexto de armas combinadas e na execução de operações
militares de alta intensidade num cenário adequado à realidade vigente.

224
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RG 2

PARTICIPAÇÃO DA BTRAAA/RG2 NO EXERCÍCIO


RELÂMPAGO

De 12 a 15 de maio de 2014, um Pelotão da Bateria de Artilharia


Antiaérea do Regimento de Guarnição Nº2 (BtrAAA/RG2) deslocou-se até
Vieira de Leiria, mais propriamente à Fonte dos Morangos, para fazer parte
do Exercício Relâmpago 14. O Exercício Relâmpago é um Exercício de Fogos
Reais que se executa numa carreira de tiro temporária que possui as
condições exigidas para a execução de fogos reais com Sistema Míssil
(Ligeiro e Portátil) e também para Sistema Canhão.
Como participantes neste exercício estiveram: BtrAAA/BrigInt, BtrAAA/
BrigMec, BtrAAA/BrigRR, BtrAAA/FApGer, BtrAAA/ZMA, BtrAAA/ZMM e
o Curso de Formação de Sargentos de Artilharia. O Pelotão da BtrAAA/RG2
fez-se representar com um efetivo de 12 militares, sendo 1 Oficial, 3
Sargentos e 8 Praças.
Os sistemas de armas utilizados para este exercício foram o Sistema Míssil
Ligeiro Chaparral, Sistema Míssil Portátil Stinger e Sistema Canhão Bitubo.
Os alvos aéreos utilizados neste exercício para os Sistemas Míssil foram
o BATS, Outlaw, enquanto para o Sistema Canhão foram utilizados para
tiro diurno balões insuflados com hélio e para tiro noturno silhuetas
iluminadas com tochas.

Até dia 14 de maio da parte da manhã procedeu-se à preparação das


posições dos Sistemas de Armas para se realizar tiro. A partir da parte da
tarde de dia 14 e até à hora de almoço de dia 15 de maio realizaram-se os fogos
reais. Para além da prática de tiro real, este exercício incidiu essencialmente
no cimentar de conhecimentos e procedimentos necessários à prática do tiro

225
REVISTA DE ARTILHARIA

com o Sistema Canhão, bem como, no convívio e intercâmbio de experiências


com os elementos oriundos das outras BtrAAA presentes no Exercício.
Durante todo o Relâmpago 14 o Pelotão do RG2 demonstrou que,
apesar da distância que nos separa de Portugal Continental, o nosso
produto operacional nada fica atrás do que é gerado pelas outras BtrAAA.

JORNADAS DIA DA DEFESA NACIONAL

No período de 11 de Março a 1 de Abril, o Regimento de Guarnição nº2


participou nas décimas jornadas do dia da Defesa Nacional, no Campo
Militar de São Gonçalo.
O RG2 participou diariamente (dias
úteis) no evento, efetuando uma demons-
tração de atividades operacionais e
exposição estática de capacidades.
A demonstração de atividades contou
com a participação de uma secção de
atiradores para demonstrar uma pro-
gressão, numa primeira fase em contacto
improvável, numa segunda fase em
contacto iminente. Por outro lado, foi
aprontada uma esquadra de atiradores guarnecidos de metralhadora ligeira
HK-21, numa posição defensiva de ninho de metralhadora.
Por sua vez, a exposição estática contou com a presença de uma
esquadra ACAr, equipada canhão s/recuo 106 mm montado em viatura
UMM Cournil, com uma secção de
morteiros pesados 120 mm e com
uma secção canhão Bitubo 20mm
da BtrAAA.
Deste modo, o RG2 contribuiu
para um dever militar de todos os
cidadãos portugueses, de ambos os
sexos, que completam 18 anos de
idade, conforme previsto na Lei do
Serviço Militar e respetivo regula-
mento. Todos os jovens presentes nos vários dias foram informados sobre a
temática da Defesa Nacional, as missões essenciais e a forma de organização
dos três ramos das Forças Armadas, das principais ameaças e riscos à
sociedade portuguesa e das diferentes formas de prestação de serviço militar.

226
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

TREINO DE MILITARES EM MEIO NAVAL


– FOCA 141 –

No dia 22 de abril realizou-se o exercício Foca 141, embarque,


transporte e desembarque de uma parte do encargo operacional do
2BI/BtrAAA/FZMA. Cerca de 50 militares embarcaram no NRP “Baptista
de Andrade”, no Porto de Ponta Delgada. Estes exercícios têm como
finalidade principal efectuarem o adestramento e prontidão dos militares
em operações que envolvam o seu transporte por mar.

REVISTA DE ARTILHARIA

227
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RG 3
BTRAAA/ZMM PARTICIPA NO EXERCÍCIO
“RELÂMPAGO 14”
Inserido no planeamento anual de atividades do Regimento de Guarnição
nº 3 (RG3) do ano de 2014, realizou-se na região de Fonte dos Morangos –
Vieira de Leiria, de 12 a 16 de maio, o exercício “RELÂMPAGO 14”.
Os exercícios da série
RELÂMPAGO estão inseridos
na categoria dos exercícios seto-
riais de nível Exército, sendo
por excelência exercícios dos
Elementos da Componente Ope-
racional do Sistema de Forças
no âmbito da proteção antiaérea,
nomeadamente a Metralhadora
Bitubo 20mm AA M/81, Sis-
tema Míssil Ligeiro Chaparral
Figura nº 1 – Posição Bitubo 20mm no tiro diurno. M48A2E1 e FIM-92 Stinger.
Este exercício tem como finalidade exercitar as unidades de Artilharia
Antiaérea (AAA) do Sistema de Forças do Exército e permitir através da prática,
de carácter individual e coletivo, manter ou aperfeiçoar as capacidades, conhecimentos
e competências, de forma a manter a eficiência e a eficácia das unidades de AAA,
através do desempenho dos militares que as integram nas respetivas funções.
A Bataria de Tiro do Sistema Canhão foi constituída por 4 secções, uma
da Zona Militar da Madeira (ZMM), outra da Zona Militar dos Açores, outra
do Regimento de Artilharia Antiaérea nº1 e uma do Curso de Formação de
Sargentos da Escola de Sargentos do Exército.
A Bataria de Artilharia Antiaérea (BtrAAA) da ZMM projetou para o
terreno duas secções e o comando do pelotão, num total de 12 elementos,
tendo como objetivo a realização de duas sessões de tiro real, uma noturna e
outra diurna. Nestas sessões houve oportunidade de fazer tiro com munições
desintegráveis, DM10A1 e tracejantes, num total de 1626 munições.
Os alvos foram construídos e colocados por uma Equipa de Alvos
Aéreos, num total de 39 balões de hélio, 2 alvos fixos e o sistema MQM-170A
Outlaw (operados por uma equipa americana).
O exercício "RELÂMPAGO 14" foi o culminar do treino operacional
para alguns elementos da BtrAAA/ZMM, com a realização de fogos reais da
Metralhadora Bitubo 20mm AA M/81. O desempenho da BtrAAA/ZMM foi
elogiado pelas várias entidades presentes na sessão de fogos reais.

228
PARTE OFICIAL

PARTE OFICIAL

I. LEGISLAÇÃO

a. DECRETOS-LEIS
(1) Ministério das Finanças
Resolução n.º 29/2014
Constituição de uma comissão parlamentar de inquérito aos programas relativos à
aquisição de equipamentos militares (EH-101, P-3 Orion, C-295, torpedos, F-16,
submarinos, Pandur II).
b. DESPACHOS
(1) Despacho n.º 5 453-A/2014 do Ministério das Finanças e da Defesa Nacional
Promoções dos Militares das Forças Armadas para 2014.
(2) Despacho n.º 4 899/2014 do Ministério da Defesa Nacional
Plano de reestruturação do Apoio Social das Forças Armadas.
c. PROTOCOLOS
Protocolo de cooperação entreo Exército Português e a Sociedade de Geografia de Lisboa.

II. PESSOAL
A. OFICIAIS

1. CONDECORAÇÕES
Medalha de serviços distintos – Grau Ouro
TGen (10110879) Frederico José Rovisco Duarte.

Medalha de serviços distintos – Grau Prata


TCor Art (18565583) Luís Manuel Garcia de Oliveira;
TCor Art (11205186) Carlos Manuel da Silva Caravela.

II
REVISTA DE ARTILHARIA

Medalha de Mérito Militar – 3ª Classe


Cap Art (14838597) Rui Manuel da Silva Almeida Simões Soares;
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Ouro
TCor Art (13673983) Fernando José de Jesus Eduardo Parreira.
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre
Ten Art (04062306) João Pedro Martins Pereira.
Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais
TCor Art (10687585) Élio Teixeira Santos “Bósnia 2005-06”;
Maj Art (14393193) Nuno Alexandre Rosa Morais dos Santos “Angola 2013-14”;

2. OBITUÁRIO
Março 02 Cor Art (50041311) Luís Carlos Santos Veiga Vaz;

B. SARGENTOS

1. CONDECORAÇÕES:
Medalha de Serviços Distintos – Grau Cobre
SCh Art (08060782) Vítor Manuel Lourenço Duarte.
Medalha de Mérito Militar – 4ª Classe
SAj Art (00672590) Dário José de Jesus Aleixo;
1Sarg Art (05921091) Paulo António Pécurto Cabeças;
lSarg Art (03013193) Florival Lopes Paulino.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército – 4ª Classe
SAj Art (16052084) Ricardo Jorge Santos Gonçalves.
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Ouro
SCh Art (11166683) Pedro Manuel Sá Gonçalves;
SCh Art (07942783) José Henrique Paiva Costa.
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre
2Sarg Art (03112009) Pedro André Ramos Lopes.
2Sarg Art (10009202) Hugo Ricardo Andrade Resende.
Medalha comemorativa de comissões de serviço especiais
1Sarg Art (03013193) Florival Lopes Paulino “Bósnia 2003”;
1Sarg Art (11597699) Marco Paulo Gaspar Alexandre “Kosovo 2007-08”.

2. OBITUÁRIO
Novembro 17 SCh Art (50584911) António Paulo Figueira.

II
II
Mais de um Século de:
“Saber, Erudição, Dedicação e Serviço”

Campo de Santa Clara, 62 - 1100-471 Lisboa • Telefs. Militar: 423 334 - Civil 21 888 01 10
www.revista-artilharia.pt
N.º 1067 A 1069 – JULHO A SETEMBRO DE 2014
REVISTA DE ARTILHARIA
SUMÁRIO:
Págs.
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS” ..................................................................... 231
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia João Alberto Cabecinha Quaresma Furtado
de Almeida.

ESPAÇO MEMÓRIA – ARTILHEIROS ILUSTRES. “GENERAL BERNARDO DE


FARIA E SILVA” .......................................................................................................... 253
Pelo Capitão de Artilharia Luís Miguel Rebola Mataloto.

“O NIASSA”” .......................................................................................................................... 239


Pelo Tenente-Coronel de Artilharia João José de Sousa Cruz.

ARTILHEIROS EM MISSÃO
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA ...... 277
Pelos Major de Artilharia Nuno Ferreira Lopes.

ESPAÇO ACADÉMICO
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA: ATUALIDADE E PROSPETIVA ... 293
Pelo Alferes de Artilharia Ricardo Jorge Alves Mainha.

PEDIDO DE RETIFICAÇÃO ................................................................................................. 319

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA ................................................................................. 321


NOTÍCIAS DO RA 5 e POLO PERMANENTE DO PM001/VENDAS NOVAS ......... 321
NOTÍCIAS DO RAAA 1 ............................................................................................... 323
NOTÍCIAS DO RA 4 .................................................................................................... 326
NOTÍCIAS DA GAC/BrigMec ...................................................................................... 330
NOTÍCIAS DO QUARTEL DA ARTILHARIA DA BRIGADA MECANIZADA ........ 332
NOTÍCIAS DO RG 3 .................................................................................................... 333
III ENCONTRO NACIONAL DO RAC ....................................................................... 334

PARTE OFICIAL ......................................................................................................................... I

EXPEDIENTE
Toda a correspondência relativa à Revista deve ser dirigida para "REVISTA DE
ARTILHARIA, CAMPO DE SANTA CLARA, 62 – 1100-471 LISBOA".
TELEFS.: Militar: 423 334 – Civil: 21 888 01 10.
CORREIO ELECTRÓNICO: sede.revista.artilharia@gmail.com

ASSINATURAS
PORTUGAL, MACAU e ESPANHA: Sócios assinantes – Anual, € 12,00; Avulso, € 3,00;
Restantes Países: Anual, € 17,00; Avulso, € 4,50. Via aérea – O preço da assinatura é
acrescida do respectivo porte.

AVISO: A Administração da revista solicita a participação imediata de qualquer mudança


de situação ou residência.

Siga-nos no
Facebook

www.facebook.com/revista.artilharia
x

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

PUBLICAÇÃO INICIADA EM JUNHO DE 1904

2.ª S É R I E
Depósito Legal N.º 1359/83

N.os 1067 A 1069 JULHO A SETEMBRO DE 2014


REVISTA DE ARTILHARIA
COMISSÃO EXECUTIVA PARA OS ANOS DE 2013 E 2014

PRESIDENTE

Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira (CmdInst)

VICE-PRESIDENTE

Coronel Tirocinado Joaquim Ramalhoa Cavaleiro (CmdLog)

SECRETÁRIO

Major José Carlos Pinto Mimoso (GAC/BrigMec)

TESOUREIRO

Capitão Emanuel Alves de Sousa (RAAA1)

EDITOR E EDITOR ON-LINE

Capitão Tiago Soares de Castro (AM)

VOGAIS DO CONSELHO DE CULTURA ARTILHEIRA E MILITAR

Coronel Tirocinado Luís António Morgado Baptista (EA)


Coronel Fernando José Pinto Simões (Reforma)
Coronel Carlos Alberto Borges da Fonseca (RAAA1)
Coronel Luís Miguel Green Dias Henriques (CmdInst)
Coronel António José Pardal dos Santos (RA5)
Coronel João Luís Morgado Silveira (EMGFA)
Tenente-Coronel António José Ruivo Grilo (CM)
Tenente-Coronel Luís Manuel Garcia de Oliveira (EME)
Major Nelson José Mendes Rego (IESM)
Capitão Luís Miguel Rebola Mataloto (EMGFA)

COLABORADOR

Sargento Ajudante Luís Filipe Cardoso Domingues (DHCM/RA)


NÚMEROS REVISTA DE
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”
DESDE 1904
2.ª SÉRIE
ARTILHARIA
1067 A 1069
ISSN 1645-8702

Propriedade dos Oficiais da Arma de Artilharia


Edição d a Comissão E xecutiva

_________
Redacção e Administração DIRECTOR Execução gráfica
Campo de Santa Clara,62 ULISSES JOAQUIM DE JMG – Art. Gráficas e Public., Lda.
1100-471 LISBOA C. N. DE OLIVEIRA Alameda das Figueiras, 13 – 3 B
www.revista-artilharia.pt Major-General 2665-501 Venda do Pinheiro

JULHO – AGOSTO – SETEMBRO DE 2014


Os autores dos artigos são únicos responsáveis pela doutrina dos mesmos. Os originais são
propriedade da redacção e não se restituem quer sejam ou não publicados.

“A ARTILHARIA NO
EXÉRCITO FRANCÊS”
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia
JOÃO ALBERTO CABECINHA QUARESMA
FURTADO DE ALMEIDA

1. NOTA INTRODUTÓRIA

Este artigo foi desenvolvido a partir de uma demonstração de


capacidades de Sistemas de Artilharia de Campanha (SAC), designada de
”Artillery Days 2014”, organizada pela empresa Nexter Systems, em que
participaram militares do Comando da Logística (CmdLog).
Aquela empresa, com o apoio do Exército Francês (ExFR), realizou
esta demonstração, na região Nice/França, mais concretamente na
Escola de Artilharia e de Infantaria (EAI), em Draguinan, no período de
23 a 24Abr14.
O CmdLog, em contínuo processo de renovação e melhoramento das
suas capacidades de apoio, aceitou o convite desta empresa, e a par de

231
REVISTA DE ARTILHARIA

outras 24 delegações de Exércitos de todo o mundo, teve neste evento, a


oportunidade de adquirir conhecimentos e experiências, para melhor preparar e
apoiar as necessidades operacionais do Exército.
O CmdLog fez-se representar pelo TCor ART João Alberto C. Q.
Furtado de Almeida/Adj CEM CmdLog e pelo Maj MAT Alexandre Manuel
Moguinho Liberato/Chefe da Repartição de Estudos Técnicos/EM/CmdLog.
O programa de atividades, esteve fundamentalmente direcionado, para
uma componente essencialmente prática, relativa à demonstração das
capacidades dos vários SAC, fabricados por esta empresa. Foi também
apresentado, na EAI, uma sucinta exposição, relativa à modernização da AC
francesa, que naturalmente já está equipada com os sistemas que iriam ser
alvo da demonstração.
Assim, e com o objetivo de enquadrar o desenvolvimento deste artigo,
apresento um sucinto apontamento sobre a organização da Componente
Operacional do ExFR e consequente modernização/equipamento da sua AC.

2. A FORÇA OPERACIONAL TERRESTRE


DO EXÉRCITO FRANCÊS

No âmbito da visita efetuada ao ExFr, não foi


apresentada nenhuma organização/articulação das suas
Forças, no entanto para enquadrar o desenvolvimento
deste artigo no que diz respeito à AC, vamos
resumidamente salientar, que a Força Operacional
Terrestre do ExFR (FOTExFr), está organizada no
respetivo Comando, 8 Brigadas “Interarmas”, 3 Brigadas “Especializadas” e
ainda outras Forças, que naturalmente poderão ser apoiadas por Unidades
de Apoio de Fogos, mas não consideramos relevante para o desenvolvimento
deste artigo.

Estas 8 Brigadas Interarmas (de Manobra) têm a seguinte classificação:

x Brigadas Blindadas/Brigadas de Decisão (2 Brigade Blindée);


x Brigadas Blindadas Ligeiras/Brigadas multi-role (4 Brigade Lêgére
Blindée);
x Brigadas Intervenção Rápida (1 Brigade de Infanterie de Montagne e
1 Brigade de Infanterie Parachutiste).

232
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

Figura 1 – Esquema da Força Operacional Terrestre do ExFr.


Fonte: Revista Terre Magazine Nº 197 set08 (France)

As 3 Brigadas “Especializadas” são:

x 1 Brigada de Transmissões;
x 1 Brigada de Informações;
x 1 Brigada Logística. De destacar que esta Brigada Logística é
composta por 5 Batalhões de Transportes, 1 Batalhão Médico/
/Sanitário, 1 Batalhão Logístico.

Todas estas 3 Brigadas podem ver aumentadas as suas capacidades


com módulos de manutenção provenientes de 6 Batalhões de Manutenção.
Na seguinte figura podemos visualizar a organização da FOTExFr, bem
como a sua localização no território francês.

233
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura 2 – Organização da Força Operacional Terrestre do ExFr.


Fonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/Arm%C3%A9e_de_terre_(France)

3. A ARTILHARIA FRANCESA

A Artilharia do ExFr encontra-se numa fase avançada do seu


processo de modernização. Este processo terminará em 2015, com a
entrada ao serviço do SAC TRAJAN 155mm/52 Cal, em substituição do
TRF1 155mm.
Assim, a Artilharia Francesa ficará assente fundamentalmente em
SAC de calibre 155mm/52Cal. Com a entrada ao serviço destes SAC
(155mm/52Cal), o emprego SAC de calibre 105mm será “abandonado”. De
referir que, estão presentes em todas as estruturas de SAC, Unidades de
Morteiros 120mm.
Todas as 8 Brigadas de Manobra (“Interarmas”), estão equipadas com
SAC e com sistemas de defesa antiaérea (SDAA) Mistral.

234
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

Figura 3 – Organização FOTExFr e a AC.


Fonte: Imagem cedida pela EAI/ExFr Abr14

As 2 Brigadas de Decisão (Brigade Blindée), partilham SAC GCT


155mm e SAC MLRS.

Figura 4 – Obuses autopropulsados de 155 mm Giat CGT (AuF1) e Sistema de


Lançamento de Foguetes Múltiplos (MLRS) da AC do ExFr.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Artilharia_de_campanha
PT&gbv=2&tbm=isch&oq=m270+mlrs+armee+terre&gs_l=img.3...15733.20029.0.20529.11.1.0.
10.0.0.156.156.0j1.1.0....0...1ac.1.34.img..11.0.0.l0WTz0X9QAc
http://pt.wikipedia.org/wiki/Artilharia_de_campanha
http://www.opex360.com/2010/10/28/lavenir-du-1er-regiment-dartillerie-menace/

235
REVISTA DE ARTILHARIA

As 4 Brigadas multi-role (Brigade Lêgére Blindée) e as 2 Brigadas


Intervenção Rápida (Brigade de Infanterie de Montagne e a Brigade de
Infanterie Parachutiste), estão equipadas com GAC 155mm.
Estas Brigadas podem estar equipadas com GAC 155mm/52cal (CAESER),
ou GAC 155mm misto CAESER/TRF1 (TRAJAN 155mm/52cal, a partir de 2015).

x CAESER “CAmion Equipé d'un Système d'ARtillerie”:

Figura 5 – CAESER 155mm/52cal


Fonte: http://www.murdoconline.net/archives/8480.htmlcaesar.
http://www.gaso-line.eu/news/gas50208-CAESAR-155mm-Nexter.htm.

x TRAJAN:

Figura 6 – TRAJAN 155mm/52cal.


Fonte: http://servir-et-defendre.com/viewtopic.php?f=498&t=9854
https://www.google.pt/images?hl=pt-
PT&q=caesar+nexter&gbv=2&sa=X&oi=image_result_group&ei=-
DuDU8PLEKmi0QXr9YCwBQ&ved=0CCAQsAQ

236
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

O ExFr considera que a introdução destes SAC (155mm/52cal), constitui


um upgrade gigantesco na sua capacidade de apoio de fogos. É um SAC que tem
uma vida útil prevista até 2030, permitindo, com a introdução do calibre 52
em substituição do 39, aumentar
o alcance dos 28Km para os
38Km, possibilitando assim um
aumento em cerca de 45,7 % da
área coberta, correspondendo a
um acréscimo de 2000 Km2.
De referir que a utilização
deste calibre, permite um aumento
considerável na precisão no 1º tiro.
Este calibre permite também a
utilização de munições insensíveis.
A articulação de emprego
do SAC CAESAR (SAC AP
155MM 52 CAL), constitui aqui
um exemplo para explanar a
articulação/organização da AC
do ExFr. Todos os GAC têm, Figura 7 – Esquema comparativo das áreas
na sua orgânica, Unidades de cobertas dentro do alcance dos respetivos calibre.
Morteiros 120mm. Fonte: Imagem cedida pela EAI/ExFr Abr14

O Regimento, cons-
titui-se como a Unidade
Tipo de AC Francesa e
equivale ao nosso Grupo
de Artilharia de Campa-
nha (GAC). Por sua vez,
cada GAC é composto
por, 3 a 5, Baterias de
Bocas-de-fogo (BBF). Cada
BBF é composta por 2
Pelotões de AC, a 4
Bocas-de-fogo (BF) cada.
Assim, como referimos
anteriormente, as Briga-
das de Decisão (Brigade
Figura 8 – Organização para o combate de Unidades Blindée), partilham os
de AC equipadas com o CAESER. meios do SAC. Um dos
Fonte: Imagem cedida pela EAI/ExFr Abr14 GAC, equipado com MLRS,

237
REVISTA DE ARTILHARIA

é composto por 3 BBF com 13 sistemas de lançamento e 16 BF 120mm. O


outro GAC, é composto por 4 BBF a 32 BF AuF1 155mm e 16 BF 120mm.
Assim, um GAC/ Brigadas multi-role (Brigade Lêgére Blindée) e das
Brigadas Intervenção Rápida (Brigade de Infanterie de Montagne e a
Brigade de Infanterie Parachutiste), tem 32 BF (16 BF 155mm/52cal + 16
BF 120mm).
De salientar que, não se deslumbram o emprego de equipamentos, SAC
de calibres 105mm.

4. A DEMONSTRAÇÃO DE CAPACIDADES DE ARTILHARIA


DE CAMPANHA – NEXTER SYSTEMS/EXÉRCITO
FRANCÊS

A Nexter Systems, inicialmente conhecida por Industries ou Governa-


mental Groupement des Industries de l'Armée de Terre (GIAT), é uma
empresa governamental de fabrico de armamento francesa, com sede em
Versalhes, França. Esta empresa tem as suas unidades fabris espalhadas
pelo território francês.

Figura 9 – Localização e áreas de atividade das unidades fabris da Nexter Systems.


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

238
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

O grupo GIAT foi fundado em 1973, combinando os ativos industriais sob a


direção técnica do Ministério da Defesa Francês. A empresa foi nacionalizada
em 1991. Em 22Set06, GIAT tornou-se o núcleo da nova empresa Nexter Systems.
Entre outros artigos, a Nexter Systems foi responsável pelo fabrico da
espingarda de assalto FAMAS (cuja versão G2 é compatível com calibre
5,56mm), o AMX 10 P/RC e o GCT 155 mm.
Assim, a Nexter Systems, com o apoio do Exército Francês, realizou
uma demonstração de capacidades de AC. Esta demonstração, ofereceu a
oportunidade de operar o sistema sob condições de tiro real e permitiu ainda
que todos participantes tivessem um feed-back direto do Exército de
Francês, relativamente às capacidades oferecidas por este conjunto de
sistemas de AC. Participaram neste evento as delegações dos países que se
mostram na figura 10.

Figura 10 – Delegações presentes no Artillery Days 2014.


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

Por curiosidade, salienta-se a


participação nesta demonstração
de países como o Egito, Tailândia,
Malásia, Singapura, Arábia Saudita,
Qatar, Omã, Iraque, Brasil, Peru.
Esta demonstração focou-se
essencialmente nas seguintes capa-
cidades de AC:
x Apresentação e tiro do
Figura 11 – Panorâmica da parada da EAI
sistema AC 155m/52cal em Draguinan/Nice.
“CAESAR”; Fonte: Imagem do autor

239
REVISTA DE ARTILHARIA

x Munições Nexter 155 mm de longo alcance, incluindo as de ataque


anti-carro “BONUS”;
x Apresentação e tiro do obus ligeiro 105mm com sistema de controlo
digital – 105LG-BACARA.

Para além do planeado neste programa, foram ainda apresentadas


outros materiais/equipamentos/capacidades no âmbito da AC:
x Sistema de Comando e Controlo de AC “BACARA”;
x Sistema de AC 155mm “TRAJAN”;
x Espoleta “SPACIO”;
x Cargas propulsoras para Sistema AC CAESAR 155mm.

Todos os materiais, equipamentos e capacidades de AC, apresentados


pela empresa Nexter Systems, estão ao serviço na Artilharia Francesa e a
demonstração foi realizada pelo Exército Francês.
Importa referir os aspetos mais relevantes dos sistemas apresentados:

a. CAESAR (SISTEMA DE ARTILHARIA DE CAMPANHA AP


155MM 52 CAL)

Figura 12 – CAESER (SAC AP 155MM 52 CAL).


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

Características gerais mais relevantes:


x Sistema de AC AP 155mm;
x Alcance 42Km;
x Calibre 52, com a consequente precisão;
x Entrada em posição com realização de 6 tiros e saída em menos de 3
minutos;

240
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

x Sistema semi-automático de carregamento;


x Transporte de 18 munições;
x Guarnição de 5 homens,
podendo ser operado por
3 homens, sem prejuízo
significativo da sua
eficácia.

Figura 13 – Demonstração de
capacidades do SAC
CAESER/Abr14.
Fonte: Imagem do autor

Genericamente este SAC tem as seguintes características/capacidades:

Figura 14 – Características/capacidades SAC CAESER.


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

Este SAC faz parte do programa de reequipamento da Artilharia


Francesa, no âmbito da modernização do Exército Francês. De salientar que
uma das premissas para esta modernização é a necessidade de redução de
efetivos, que se traduz, factualmente, em todos os Sistemas de Artilharia

241
REVISTA DE ARTILHARIA

que foram apresentados. Entrou ao serviço em 2009 e já esteve em missão


nos Teatros de Operações do Líbano, Afeganistão e Mali, com desempenho
considerado de excelência.
Fruto das suas caracte-
rísticas, está vocacionado para
fazer fogos precisos, em
profundidade (42 Km) e
sob r etudo, para acompa-
nhamento de Unidades de
Manobra de alta mobilidade,
como por exemplo, a nossa
Brigada de Intervenção.
Poderemos mesmo afir-
mar, não tendo sido pos-
sível escrutinar montantes
financeiros envolvidos, que
est e SAC poderá consti-
Figura 15 – Demonstração de capacidades do SAC tuir-se como uma proposta/
CAESER/Abr14. /modalidade muitíssimo inte-
Fonte: Imagem do autor
ressante para a substituição
do material de AC que equipa a nossa Brigada de Intervenção (M114 155mm).

b. TRAJAN (SISTEMA DE ARTILHARIA DE CAMPANHA REB


155MM 52 CAL)

Figura 16 – TRAJAN (SAC AP 155MM 52 CAL).


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

242
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

Características gerais mais relevantes:


x Sistema de AC Reb 155mm;
x Alcance 42Km;
x Calibre 52 com a conse-
quente precisão;
x 12 tiros nos primeiros 3
minutos;
x Sistema semi-automático de
carregamento;
x Guarnição de 7 homens;
x Capacidade locomoção para
pequenos deslocamentos, Figura 17 – Deslocamento do TRAJAN
entrar/ajustar a posição (sistema autónomo de locomoção).
de tiro. Fonte: Imagem do autor

Genericamente este SAC tem as seguintes características/capacidades:

Figura 18 – Características/capacidades SAC TRAJAN.


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

Este SAC faz também parte do programa do reequipamento da


Artilharia Francesa, no âmbito da modernização do Exército Francês.

243
REVISTA DE ARTILHARIA

Resumidamente, este SAC


é semelhante ao anterior-
mente apresentado. Difere o
facto de estar montado num
reparo hidráulico e conse-
quentemente é rebocado por
uma viatura pesada.
Possui um sistema autó-
nomo de locomoção para pe-
quenos percursos. No entanto
podemos referir que o seu peso
Figura 19 – Panorâmica do SAC TRAJAN/Abr14. é também muito idêntico ao
Fonte: Imagem do autor CAESAR (cerca de 15Ton).

c. BACARA (SISTEMA DE COMANDO E CONTROLO DE TIRO AC)

O Bacara, um sistema computacional para executar cálculos de tiro de


AC. Foi desenvolvido para operar com sistemas de AC de 105 e 155mm,
além de morteiros de 120mm.
Com base no Windows, da Microsoft, o sistema está instalado num
computador robustecido com touchscreen Logic Instrument TetraLight XXS.
O software é multilingue e tem compatibilidade com sistemas de rádio
táticos, no que diz respeito à transmissão de dados.

É um equipamento muito similar ao que está em uso no Exército


Português.

244
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

Figura 20 – Imagem e esquema exemplificativo do BACARA.


Fonte: Imagem do autor e esquema cedido pela Nexter Systems

d. OBUS 105 LG1 (SISTEMA DE ARTILHARIA REB 105MM) – BACARA

Figura 21 – Demonstração de capacidades do Obus 105LG1/BACARA.


Fonte: Imagem do autor

Características gerais do SAC mais relevantes:


x Sistema de AC Reb 105mm; x Sistema digital de transmissão de
x Alcance 17Km; dados e consequentes automatismos
x 12 TOM; de pontaria (BACARA).

245
REVISTA DE ARTILHARIA

Genericamente este SAC tem as seguintes características/capacidades:

Figura 22 – Características/capacidades SAC LG 105.


Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

É um material de AC semelhante ao que equipa o Exército Português.


Foi, no entanto, apresentado um equipamento, da família BACARA,
para controlo digital de pontaria para esta tipologia de obus ligeiro 105mm.

b. “BONUS” GRANADA ANTI-CARRO 155MM

Figura 23 – Imagens das granadas anti-carro 155mm e respetivos módulos de ataque.


Fonte: Imagem do autor

246
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

Características gerais mais relevantes:


x Granada desenvolvida, no final da guerra fria, para deter formações de CC.
x Cada granada contém 2 módulos de ataques, tendo a possibilidade
de diferenciar e escolher os alvos.

c. “SPACIDO” ESPOLETA DE CORREÇÃO DE TRAJETÓRIA

Características gerais mais


relevantes:

x Espoleta inteligente com


capacidade para correção
(redução) de trajetória;
x GPS independente;
x Grande precisão.

Figura 24 – Imagem da espoleta


“SPACIDO”.
Fonte: Imagem do autor

d. SISTEMA MODULAR DE CARGAS 155MM

Características gerais mais


relevantes:

x Fácil e prático manuseamento;


x Economia e simplificação do
apoio logístico.

Figura 25 – Imagem de cargas


modulares para SAC 155mm.
Fonte: Imagem do autor

247
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura 26 – Panóplia de Munições 155mm/Espoletas/Cargas


disponibilizadas pela Nexter Systems.
Fonte: Imagem cedida pela Nexter Systems

5. CONCLUSÃO

A Artilharia Francesa foi recentemente modernizada e encontra-se equipada


com todos os sistemas apresentados. Estas capacidades de AC estão ao dispor
do Exército Francês e ainda em outros Exércitos, no médio e extremo Oriente.
Podemos constatar que as nações que demonstraram mais interesse na
aquisição e reforço destas capacidades, não pertencem à estrutura da OTAN.
O Exército do Brasil, apesar de não terem interesse neste SAC, como
um todo, está muito interessado em adquirir componentes do mesmo, de
forma a serem montados em território Brasileiro, podendo assim equipar a
sua AC, dinamizando a economia brasileira.
No que respeita aos SAC CAESER e TRAJAN e fruto das suas
características, estes estão vocacionados para fazer fogos precisos, em
profundidade (42 Km) e sobretudo para acompanhamento de Unidades de
Manobra de alta mobilidade, como por exemplo, a nossa Brigada de
Intervenção. Assim, podemos mesmo afirmar, que este SAC poderá
constituir-se como uma alternativa muitíssimo interessante, para a
substituição o material M114 155mm, que equipa a Brigada de Intervenção.

248
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”

6. FICHAS DE MATERIAL DE AC DO EXÉRCITO FRANCÊS

Materiais de Artilharia de Campanha


Ficha de Material

CAESAR 155mm/52cal

Dados Gerais Dados Numéricos

Nomenclatura de origem: CAESAR 155 mm / 52 calibre Guarnição: 4 - 5 Homens.


Sistema auto-propulsado de AC.

Origem: Francesa Peso total: 17.7 Ton.

Ano de fabrico: Desenvolvido em 1990 pela GIAT Industries; Calibre: 155 mm - calibre 52.
Apresentado ao público em 1994. O 1º modelo foi
produzido em 1998.

Ano de entrada ao serviço do Exército Francês: 2003. Alcance: Dos 4.5 Km aos 42 km na versão de “Extended
Range”, Full Bore (ERFB) projétil, e mais de 50 km com
projétil com motor foguete (RAP).

Finalidade: Apoio ao Combate. Campo de tiro: Vertical até +1200 mils. Horizontal 300
mils.

Unidade que equipa: Unidades de AC Francesas, Comprimento do tubo: 8.06 m.


Indonésias, Arábia Sauditas e Tailandesas.

Campanhas: Em Jun09, 8 CAESAR foram empregues para o Cadência de tiro: 6 TOM.


Afgh para apoio às operações Francesas. O CAESER foi
também empregue nas operações do sul do Líbano e no
Mali. Em Abril11 o CAESAR foi utilizado no Exército
Tailandês.

Meio de locomoção: Veículo de rodas com possibilidade de Velocidade inicial: Dado não disponível
ser aéreo transportável.

Data de abate: --- Tipologia de munição: HE, Iluminante, Fumos, “Bonus”.

Outros dados: Culatra de parafuso filetado; Granada de Peso das granadas: HE 41.5 a 43.3 Kg;
carregamento separado; motor a diesel; Entrada em
posição em 60s e saída em 40s; Transporta 18 munições Iluminante: 43.8 Kg;
155mm; Aerotransportado por aeronaves tipo C130, A400, Fumos: 45.1 Kg;
IL76, C17.
BONUS: 44.6 Kg.

Observações:

249
REVISTA DE ARTILHARIA

Materiais de Artilharia de Campanha


Ficha de Material

TRAJAN 155mm/52cal

Dados Gerais Dados Numéricos

Nomenclatura de origem: TRAJAN 155 mm / 52 calibre. Guarnição: 5 - 7 Homens.


Sistema rebocado de AC.

Origem: Francesa. Peso total: 15 Ton.

Ano de fabrico: Não disponível. Calibre: 155 mm - calibre 52.

Ano de entrada ao serviço do Exército Francês: Não Alcance: Dos 4.5 Km aos 42 km na versão de “Extended
disponível. Range”, Full Bore (ERFB) projétil, e mais de 55 km com
projétil com motor foguete (RAP).

Finalidade: Apoio ao Combate. Campo de tiro: Vertical dos -36 até +1298 mils. Horizontal
533 mils.

Unidades que equipa: --- Comprimento do tubo: 8,06 m

Campanhas: --- Cadência de tiro: 4 TOM

Meio de locomoção: Rebocado. Tem capacidade de auto- Velocidade inicial: Dado não disponível
locomoção em pequenos trajetos.

Data de abate: --- Tipologia de munição: HE, Iluminante, Fumos, “Bonus”.

Outros dados: Culatra de parafuso filetado; Granada de Peso das granadas: HE 41.5 a 43.3 Kg;
carregamento separado; motor a diesel; Entrada e saída
em 90s; Aerotransportado por aeronaves tipo A400M, Iluminante: 43.8 Kg;
IL76, C17. Fumos: 45.1 Kg;
BÔNUS: 44.6 Kg.

Observações:

250
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”


Materiais de Artilharia de Campanha


Ficha de Material

Granada “BÔNUS” 155mm

Granadas “BÔNUS” e respetivos módulos de ataques

Pormenor dos módulos de ataque


(alhetas de estabilização de voo e sistemas de deteção e designação de alvos)

______________________________________

A “BÔNUS” é uma granada de artilharia 155 mm, projetada para a deteção, designação/escolha e ataque em
profundidade a veículos blindados.
Os seus dois módulos de ataque inteligentes, estão vocacionados para destruir 2 CC simultaneamente e ainda
de bater uma variada panóplia de alvos em movimento no campo de batalha moderno.

O programa “BÔNUS”, foi iniciado em 1993 e é gerido num quadro de uma cooperação entre Nexter Muntions e
BAE Systems, para os exércitos suecos e franceses.

251
REVISTA DE ARTILHARIA

BIBLIOGRAFIA

x http://fr.wikipedia.org/wiki/Arm%C3%A9e_de_terre_(France)
x http://en.wikipedia.org/wiki/Modern_equipment_of_the_French_Army
x http://en.wikipedia.org/wiki/GCT_155mm
x http://www.army-guide.com/eng/product4975.html
REVISTA DE ARTILHARIA

18

252
ESPAÇO MEMÓRIA – ARTILHEIROS ILUSTRES

ESPAÇO MEMÓRIA
ARTILHEIROS ILUSTRES
“General Bernardo de Faria e Silva”
(1863/1928)
Pelo Capitão de Artilharia
LUÍS MIGUEL REBOLA MATALOTO

1. OS PRIMEIROS ANOS

Bernardo de Faria e Silva, ribatejano, nasce na


pequena aldeia de Alviobeira, pertencente ao concelho
de Tomar, a 12 de janeiro de 1863. Os pais de Bernardo
de Faria e Silva, que eram agricultores, preocupados
em garantir uma melhor educação para o filho,
entregam Bernardo de Faria e Silva a Diogo de Faria e
Silva, seu tio e Cónego do Cabido da Sé de Évora. Na
cidade alentejana, Bernardo de Faria e Silva frequenta
o liceu de Évora, transitando posteriormente para
a Escola Politécnica de Lisboa 1 , em Lisboa, onde

1 A Escola Politécnica de Lisboa ("Escola Polytechnica de Lisboa", segundo a grafia da época) foi
criada por Decreto de 11 de janeiro de 1837 referendado pelo visconde de Sá da Bandeira e por
António Manuel Lopes Vieira de Castro, respetivamente secretários de Estado interinos da
Guerra e da Marinha, no âmbito de um processo de reforma do ensino superior e militar.
Tinha como objetivo, ministrar um ensino preparatório científico aos candidatos a oficiais do
Exército e da Marinha - que seria depois completado em escolas especializadas (Escola do
Exército e, mais tarde, Escola Naval) - segundo o modelo da École Polytechnique de Paris.

253
REVISTA DE ARTILHARIA

frequenta o Curso Preparatório para Artilharia e assenta praça no Batalhão


n.º 2 de “Caçadores da Rainha” a 30 de outubro de 1884.
Em 1885, ingressa, com o posto de Alferes-Aluno, na Escola do Exército
onde complementa a sua formação inicial em Artilharia, concluindo o curso
em 1887 e tendo como primeira colocação o Regimento de Artilharia N.º 2,
sedeado em Torres Novas.

2. BERNARDO DE FARIA E SILVA


– O SUBALTERNO E CAPITÃO

A 5 de janeiro de 1887 é promovido ao posto de 2º Tenente e inicia a sua


brilhante carreira como Oficial.
No Regimento de Artilharia N.º2 revela possuir elevadas competências
profissionais e pedagógicas, sendo de realçar as qualidades apontadas pelos
seus Comandantes como um militar caraterizado por “um filão de preciosas
virtudes militares”, valendo-lhe a sua posterior colocação na Casa Mãe da
Artilharia, em 1896, com o posto de 1ºTenente.
Na Escola Prática de Artilharia, onde serviu durante 14 anos, dedica-se
incansavelmente à formação e estudo da Artilharia de Campanha, valendo-
lhe o reconhecimento como “mestre prestigioso” e dotado de uma nobreza de
carácter invulgar.
Ainda como 2º Tenente é nomeado, em 1900, para integrar a missão de
estudo às fábricas de armamento Schneider, S. Chamond e Krupp.
Promovido em 1901 ao posto de capitão, mantém uma trajetória em
ramo ascendente e cuja flecha se almeja elevada, distinguindo-se dos demais
pela invulgar cultura geral e retidão de comportamento.
As virtudes militares evidenciadas cedo foram notadas e em 1906 é
nomeado, por escolha, como Ajudante-de-Campo do Ministro da Guerra, o
Conselheiro e Coronel de Engenharia António Carlos Coelho de Vasconcelos
Porto, referindo-se o mesmo a Bernardo de Faria e Silva, em público louvor,
como um oficial de “zelo inexcedível, dedicação excepcional e superior
inteligência que sempre manifestou no desempenho desse cargo”.

3. BERNARDO DE FARIA E SILVA


– O OFICIAL SUPERIOR

Bernardo de Faria e Silva é promovido a Major em 1911, na altura com


47 anos, passando a servir no Regimento de Artilharia n.º 8, em Abrantes.
A I Primeira Grande Guerra tem o seu início a 28 de julho de 1914.

254
ESPAÇO MEMÓRIA – ARTILHEIROS ILUSTRES

Com a promoção a Tenente-Coronel, em 1915, e consubstanciado no


saber adquirido, rigor e prestígio até então assumidos, é mobilizado para
a Divisão de Instrução em Tancos para auxiliar na preparação das
Unidades que iriam constituir a Artilharia do Corpo Expedicionário
Português (CEP) e do Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI).
Nesta tarefa é notória a preocupação constante em adequar os métodos
de ensino às novas técnicas, táticas e procedimentos, tendo sido
realizados pela primeira vez exercícios de fogos reais combinados entre a
Artilharia e a Infantaria.
Em 1916, o Tenente-Coronel Bernardo de Faria e Silva, fruto do
excelente trabalho de preparação e registo dos progressos da Artilharia
Portuguesa, é enviado como Chefe de uma missão de artilheiros
pertencentes às batarias mobilizadas, com o objetivo de preparar a chegada,
treino e emprego do grosso da Artilharia do CEP. O estudo exaustivo levado
a cabo sobre a Artilharia Inglesa permitiu potenciar as possibilidades das
nossas forças e, em virtude da sua forma de estar, Bernardo de Faria e Silva
conquista os Oficiais Ingleses através da sua probidade, competências e
aprumo, que muito contribuiu para uma imagem da Artilharia Portuguesa
de rigor e profissionalismo.
Após a chegada das primeiras unidades do CEP, em março de 1917,
Bernardo de Faria e Silva passa a desempenhar funções como chefe da 1ª
Secção do Comando-Geral de Artilharia. Nestas exigentes funções que
exigiam organizar, instruir e armar as forças recém-chegadas, Bernardo de
Faria e Silva é confrontado com a escassez de recursos essenciais para
uma melhor preparação para fazer a guerra. Sendo Bernardo Faria e Silva
inflexível no que dizia respeito à missão, consciente das dificuldades
existentes, procura colaborar na formação das unidades diretamente,
tomando o pulso aos trabalhos no terreno e aconselhando de uma forma
diligente, resoluta e pragmática, permitindo constituir unidades coesas e
preparadas para enfrentar os desígnios das ordens inglesas.
Em fevereiro de 1918 Bernardo de Faria e Silva é promovido a Coronel.
É neste posto que realiza um dos seus feitos mais notáveis, e que muito
dignificou a Artilharia Portuguesa: quando, após a Batalha de La Lys, lhe
é atribuída a árdua tarefa de reorganizar a desmembrada Artilharia
do CEP, conseguiu no espaço de poucas semanas, a sua reentrada na linha
da Flandres.
O sucesso obtido na reorganização da Artilharia ganhou uma dimensão
incomensurável que levou à decisão de graduar o Coronel Bernardo de Faria
e Silva em General e atribuir-lhe o comando da 1ª Divisão do CEP, que se
encontrava totalmente destroçada.

255
REVISTA DE ARTILHARIA

4. BERNARDO DE FARIA E SILVA


– O GENERAL

Com a graduação a General, a 28 de setembro de 1918, Bernardo de


Faria e Silva recebe a missão de reorganizar a 1ª Divisão do CEP com os
meios humanos e materiais que sobreviveram à Batalha de La Lys e que se
encontravam desmoralizados e desorganizados. O sucesso obtido permitiu que
no dia do Armistício o Corpo Expedicionário Português estivesse devidamente
enquadrado e motivado para continuar o combate se tal fosse necessário.
O General Graduado Bernardo de Faria e Silva regressa a Portugal em
abril de 1919 e protagoniza um episódio carregado de altruísmo e sentido do
dever e que muito impressionou quem dele teve conhecimento.
Bernardo de Faria e Silva, considerando que o motivo da sua graduação
tinha terminado, elabora um requerimento onde solicita a sua
desgraduação, justificando a mesma com o entendimento de que podia ser
mais útil à Pátria em virtude das diversas funções que lhe podiam ser
atribuídas como Coronel. O Conselho Superior das Promoções entendeu que
o requerimento não deveria ser deferido porque as provas dadas ao longo da
carreira justificavam ter mais um General com elevado prestígio intelectual
e físico e com provas dadas em Campanha.
De 1919 a 1925, Bernardo de Faria e Silva é nomeado Diretor do Colégio
Militar e os resultados obtidos não poderiam ser os melhores, dedicando-se
com todas a suas qualidades pedagógicas ao ensino dos “meninos da Luz”.
Não sendo colegial a sua postura exemplar foi escrutinada ao ponto de ser
considerado como o símbolo do “mais valioso elemento pedagógico
educativo de que se podia dispor numa escola: o exemplo”.
É confirmada a sua promoção, por escolha, a General no dia 29 de
março de 1924.
Enquanto Diretor do Colégio Militar, foi chamado por três vezes ao
desempenho de outras funções. Em 1921 desempenha o cargo de
Comandante da Guarda Nacional Republicana por quatro meses. Em 1922
acompanha o Presidente da República, Dr. António José de Almeida, numa
visita de Estado ao Brasil. Em 1925 é chamado pelo Presidente da República
para a Chefia do Governo onde a proposta que apresentou para formar
governo não foi aceite.
Cessando funções como Diretor do Colégio Militar é nomeado Diretor de
uma das Direções-Gerais do Ministério da Guerra e, posteriormente, com a
criação da Direção da Arma de Artilharia seu Diretor, considerando-se esta
nomeação o corolário de uma vida dedicada à Arma e que reconhecidamente
se deve aos feitos perpetuados durante os 42 anos de serviço efetivo.

256
ESPAÇO MEMÓRIA – ARTILHEIROS ILUSTRES

Em 1928 o General Bernardo de Faria e Silva falece no dia 13 de maio


com 65 anos de idade.
Pela importância não só ética como também documental do requerimento
apresentado por Bernardo de Faria e Silva, junta-se a reprodução "fac
simile" do original existente no Arquivo Histórico Militar.

257
REVISTA DE ARTILHARIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

x ACADEMIA MILITAR, 50 Anos de Patronos da EE e da AM, Lisboa, 2004.

x BIBLIOTECA DO EXERCITO, Os Generais do Exército Português, III


Volume, I Tomo, Lisboa, 2008.

258
“O NIASSA”

“O NIASSA”
Pelo Tenente-Coronel de Artilharia (Ref)
JOÃO JOSÉ DE SOUSA CRUZ

1. AS TENTATIVAS DE CONHECIMENTO DO NIASSA

Valdez dos Santos, que nos deixou


um livro excelente sobre o Niassa em
1964, dá uma ideia da grandeza destas
áreas e do isolamento das suas gentes.
Penso que só poucos anos antes da
independência de Moçambique, houve
conhecimento mais profundo das popu-
lações, e da sua geografia.
No entanto as tentativas de tornar
estas áreas conhecidas, vem desde os fins
do século XVI, quando o grande lago era
conhecido com os nomes: Marávi, Maganja,
Mucuru, Zachaf, Nhanja e outros. Claro que
estes nomes se referem ao Lago Niassa.
Em 1591,Fillipo Pigaffeta, publicou
por ordem do Papa Xisto V, a “Relatione
dell Ream di Congo e delle Circumvicine
Contrade: trata dalli scritti e ragionamenti
di Odoardo Lopes Portughese”. No entanto
já em 1552 João de Barros fala do grande
lago, com o comprimento de 100 léguas.
Muitos missionários se referem a Fig.1 – A expedição de Serpa Pinto
viagens nas áreas do lago Niassa, como e Augusto Cardoso em 1885 deu
Frei João dos Santos que esteve em Sena origem a este mapa.

259
REVISTA DE ARTILHARIA

e Tete de 1586 a 1597,e refere o rio Chire e o Grande lago, no livro “Etiópia
Oriental”, datado de 1603.Também em 1624 o padre Luís Mariano foi de Sena a
Marávi,e refere o comércio dos portugueses com os habitantes da região.
Em 1616 Gaspar Bocarro, partiu de Tete para Quíloa, no sentido Sul
Norte, até ao rio Rovuma.
Em 1655 Francisco de Sousa refere as tentativas dos jesuítas
alcançarem a Etiópia pelo lago Niassa. O padre Manuel Godinho publica
uma descrição do lago e sua localização. Nos séculos seguintes XVIII e XIX
foram amiudadas as viagens e expedições científicas.
x O capitão de fragata Dr. Lacerda e Almeida viajou de Tete (ou antes
de Sena onde era governador), ao Cazengue em Angola, onde morre
de paludismo em 1798;
x De 1806 a 1811 os pombeiros 1 Anastácio e Baptista viajaram do
Pungo Andongo em Angola, até Tete em Moçambique, regressando
depois a Angola.
x De 1831 a 1832, Gamito e Correia Monteiro viajaram da Zambézia a
Luanda e regressaram à Zambézia.
x Em 1832 João de Jesus Maria vai de Quelimane ao Niassa, tomando
posse em nome de Portugal das zonas do rio Chire e do lago Chirua.
x Desde 1846 Cândido da Costa Cardoso mantém comércio com os
habitantes das margens do lago e do rio Chire.
x De 1852 a 1856 Silva Porto viajou desde Angola à ilho do Ibo nas
Quirimbas, visitando o Barotze e o Alto Zambeze.
x Em 1885 o major Serpa Pinto e o guarda marinha Augusto Cardoso
vão do Ibo até ao lago Niassa, percorrendo a área no sentido
Nascente-Poente.
x Em 1888 o capitão tenente Augusto Maria Cardoso percorre as áreas
do lago Niassa.
x Em 1889 o primeiro tenente João Azevedo Coutinho, ataca o régulo
Mataca sem êxito e Serpa Pinto derrota os macucolos, dando origem
ao Ultimatum inglês de 11 de Janeiro de 1890.
x Em 11 de Junho de 1891, as fronteiras entre Moçambique e as
Rodésia e Niassalândia, ficam demarcadas pelo Tratado de Lisboa.
Em 1907 o engenheiro Eduardo Neuparth estudou a geografia do
Lago Niassa.

1 Negociantes que tratavam com os indígenas e atravessavam os sertões. Por vezes eram
escravos que eram libertos e faziam o comércio pelos seus patrões.

260
“O NIASSA”

Os avanços dos portugueses no sentido de conhecerem a África Profunda


fez despoletar por toda a Europa a ambição destes países, de também terem
colónias, sendo conhecidos os patéticos relatórios que desenvolviam as
aventurosas travessias e os prodígios encontrados pelos escritores já atrás
referidos, de Claperton a Baker, até 1856, e que uma imprensa ávida de
novidades se apressava a difundir.
É no entanto o Sr. Livingstone que de 1840 a 1867, percorreu todo o
rio Zambeze e parte do rio Rovuma, que mais espanta com as suas
publicações, toda a Europa científica, industrial e mercantil, até então,
como Portugal, absorvida em estéreis debates políticos e revoluções ainda
mais estéreis.
Efectivamente para o interior da linha definida pelo rio Zambeze, lagos
Chiura e Niassa, pelo rio Rovuma e pela costa de Moçambique, pouco ou
nada era conhecido pelos europeus, nem mesmo por Livingstone.
Em 1885 o tenente H. E. O´Neill, cônsul inglês em Moçambique, não
acreditando em antropófagos, conforme constava na região, começou a
explorar o interland da ilha de Moçambique, influenciando os colonos a
ultrapassar os 30 quilómetros, a que os mesmos se remetiam com receios
muitas vezes justificados.

O mapa inclui dois perfis de itinerários que suponho se tratem de


dois reconhecimentos, um mais a norte e outro mais a sul. Este cônsul
O´Neill, falando correctamente swailli, percorrendo diversos itinerários e
fazendo observações astronómicas, entre as quais as que serviram para
determinar a longitude de Blantyre, capital do Malawi, conseguiu em
1885 desenhar o mapa anexo, o qual é manifestamente importante para a
época. Mostra muitos mais itinerários na zona Makua, mas para norte do
lago Amaramba só a linha do rio Lugenda é bem definida. Destes estudos
e porque a Conferência de Berlim obrigou a que se ocupasse os territórios
para se saber de quem os régulos eram vassalos, as expedições passaram
de científicas a militares de ocupação, para se obter o avassalamento do
maior número de régulos.

261
REVISTA DE ARTILHARIA

Fig. 2 – Levantamento do Tenente O´Neill.

2. EXPEDIÇÕES MILITARES AO NIASSA


2.1 – INTRODUÇÃO
Segundo Valdez dos Santos 2 , em 1889 tiveram lugar duas expedições
militares destinadas a obter conhecimentos sobre a zona do lago Niassa.
Ambas fracassaram.

2 No livro “O desconhecido Niassa”, de 1964.

262
“O NIASSA”

A primeira foi executada sob a orientação do engenheiro Pereira Ferraz,


com a finalidade de estudar o acesso ao lago Niassa, pelo rio Chire e o
escoamento natural daquele lago. A tribo dos macucolos abandonada pelo
senhor Livingstone nessa região e o pessoal das missões inglesas e suíças
impediram a realização desta expedição.
A segunda tinha um objectivo que hoje não se conhece bem, pois foi
classificada de pacífica mas era muito aguerrida pois continha 50 landins
armados de espingarda e 250 carregadores, alguns com armas gentílicas.
Para ser uma operação militar era uma força mínima, mal preparada e mal
dirigida, embora se julgue que se dirigia às margens do lago Niassa. O
resultado desta tentativa foi apresentado pelo autor no artigo, “O Tenente
Valadim, Herói ou Mártir” publicado na Revista Militar, nº2544 de Janeiro
de 2014.
Segundo M. José Viana 3 ,nos fins do século XVII ao ajauas já estavam
organizados num grupo chefiado pelo “Átila Negro Nyambi”, o primeiro
sultão Mataca, o mais feroz e sanguinário de todos”. Pela tradição oral
indígena, parece que este sultanato originou a dinastia dos Matacas nos
primeiros anos do séc. XIX. Estes tornaram-se poderosos esclavagistas,
dominando a área entre o rio Lugenda e o lago Niassa, excepção feita
às terras dos nianjas. Em meados do séc. XIX os ajauas dividiram-se em
dois grupos:
x os Machiningas, junto ao Lugenda, em Metarica;
x os Mazanigas, junto do régulo Mataca.

Organizada pela Companhia do Niassa, que pretendia ocupar e pacificar


todo o Niassa desde 1891, foi montada nova expedição, esta comandada pelo
major Manuel de Sousa Machado. Tal expedição só teve lugar em 1899, ou
seja dez anos depois do massacre do tenente Valadim.
A descrição desta odisseia, foi historiada por Georges Stucky 4 que
publicou no Boletim Geral das Colónias de 1939, uma completa descrição a
que chamou “Diário da Campanha contra o Mataca”. Esta foi inicialmente
escrita em francês, língua materna do autor. Stucky trabalhou e combateu
em Moçambique, na Zambézia entre 1897 e 1915.Desenvolveu imensas
actividades politico-topográficas para conhecimento e ocupação das terras do
prazo Boror, e no segundo semestre de 1899 comandou forte contingente de
cipaios nas operações contra o Mataca.

3 Artigo “Tatuagens “nembo” entre os Wa-Yao”.


4 Stucky era cidadão suíço, ao tempo trabalhando na Zambézia, e irmão de Joseph Emile Stucky
de Quay, conde de Quay, fundador da Companhia Boror de Moçambique.

263
REVISTA DE ARTILHARIA

Durante a campanha Stucky fez o levantamento total da mesma desde


a partida de Milanje até ao regresso também em Milanje. São suas as
seguintes palavras:
“Este trabalho, verdadeiro trabalho de degredado ou melhor de
beneditino, só por si absorveria todas as horas de marcha e muitas das
dos acampamentos.”

Stucky era um admirador profundo da extraordinária resistência do


soldado português, da sua tenacidade e da dedicação inteira e absoluta de todos,
brancos e negros, principalmente dos seus comandados negros da Zambézia.
A campanha que teve lugar entre Julho e Novembro de 1899, teve início
em Milanje onde Stucky chegou em 15 de Julho. Tinha largado de
Nhamacurra em 5 de Julho com 177 cipaios, 1276 carregadores, 4
empregados da Boror, e foram portadores de 1227 volumes de arroz.
O comandante da coluna major Machado tinha recebido um mapa cópia
de cartas inglesas a oeste do lago Chirua, baseadas nas viagens de O´Neill e
de outros exploradores entre 1890/91 mas em escala pequena e com poucos
pormenores. Stucky forneceu-lhe um croqui “só do itinerário de Milanje ao
Chirua, porque além do Chirua era zona fora da jurisdição da Boror”. E
mais adiante Stucky diz: Finalmente a partida da coluna terá lugar em 1 de
Agosto pelas 7 horas da manhã.
De um artigo publicado 5 na Revista de Artilharia em 1906, constava
uma descrição que considero perfeita do trabalho dos artilheiros em África,
pelo que aqui a deixo transcrita:
“A Artilharia faz prodígios. As guarnições, sem distinção de
soldados ou sargentos, atiram-se às suas peças, que empurram e
arrastam, travam e levantam, suspendendo-as por vezes pelos reparos,
para lhes fazer franquear os maiores obstáculos. Com a voz ou com
açoutes improvisados de vários ramos secos, que deparam nos caminhos,
animam o gado, que por vezes se recusa a avançar. Nos pontos em que a
Infantaria subiu com pés e mãos, vão eles passar com o material e então
é ver como suas rodas travam pela rijeza de músculos que se retesam e
as testas das conteiras 6 seguras por ombros imóveis que se lhe apoiam,
mantém todo o sistema num equilíbrio que representa o esforço
gigantesco, preciso para desmontar as peças, que, enfiadas em bordões 7

5 A Artilharia nas campanhas coloniais – Tenente António Brandão de Melo – 1906.


6 Parte posterior do reparo de uma peça de artilharia.
7 Cajado grosso.

264
“O NIASSA”

de palmeira, bimbarretas 8 de ocasião, seguem de braço em braço, de


mão em mão, até terem transposto os obstáculos onde as mulas são
levadas de empurrão.

Fig. 3 – Peça Gruson 42mm. Fig. 4 – Peça TR 7,5cm Cannet.

Todos os movimentos se fazem depressa, com energia e boa vontade,


mas actividade desenvolvida contrasta singularmente com a morosidade
da marcha, deslizar arrastado que se torna cada vez mais lento”.

Fig. 5 – Praças de Artilharia. Fig. 6 – Sargentos de Artilharia.

8 Pequena alavanca de madeira.

265
REVISTA DE ARTILHARIA

3. A EXPEDIÇÃO DA COMPANHIA DO NIASSA EM 1899


CONTRA O MATACA:

Em Julho de 1899,o major


Sousa Machado organizou uma
coluna mista constituída por
uma companhia indígena, um
pelotão de cavalaria, uma bateria
de 4 peças Gruson e cerca de
2800 cipaios, que embarcada
em lanchas fretadas a parti-
culares e escoltada pela esqua-
drilha de lanchas canhoneiras
do governo, subiu o rio Zambeze
até à foz do Chire, onde se
procedeu ao desembarque para
continuar a marcha por terra até
Chicomo, base das operações.
A 24 de Julho marchou a
coluna para Milanje e depois a
9 de Agosto atingia Meca-
nhelas, junto ao lago Chirua,
onde se travaram os primeiros
combates.
Fig. 7 – Esquema do itinerário desta Como adiante se verá, cartas
expedição. pormenorizadas não existiam,
pelo que se foi apalpando o
terreno e instalando estacionamentos em regulados avassalados, sendo o
principal em Napulu, (lago Amaramba) onde se instalou o Forte D. Carlos.
Nas terras de Macoanjal (Cuamba), em Metanculo e no Inhama
travaram-se sucessivos combates com a gente do Mataca, sem que estas
conseguissem deter o avanço da coluna.
Depois da chegada a Napulu (lago Amaramba), e depois de um curto
descanso às tropas, foi prosseguido o avanço para as terras do sultão
Mataca, onde foram destruídas numerosas palhotas.
Por fim a marcha de ocupação fez-se através das povoações dos régulos
Chacuma e Chipata, até às terras do importante régulo Ioffari, populosas e
bem cultivadas, onde também aí as povoações foram destruídas por o mesmo
Ioffari, se ter recusado a prestar vassalagem.

266
“O NIASSA”

Esta expedição não obs-


tante ter caído no vazio, no
referente a Mataca, pois na
cidade deste sultão, ninguém
foi encontrado, foi positiva
esta acção pois permitiu a
abertura e reconhecimento de
estradas para os régulos de
Cuamba, Katuli, Mataca e
Zaroffi, e como elemento de
ocupação foi levantado em
Amaramba o forte de D. Carlos,
depois do que a expedição
punitiva recolheu de novo ao
Chimoio.

Das cartas geográficas


de Gomes da Costa, podemos

ficar com uma fraca ideia do


terreno que foi preciso per-
correr, primeiro de Chiroma a
Milanje e depois de Milanje
até ao lago Chirua. Estas
cartas que constituíam grande
avanço técnico para a altura
da sua execução, mostram
mesmo o desconhecimento
do terreno que era preciso
percorrer para levar avante a
expedição.
Figs. 8 e 9 – Chiroma ao Chirua.

E esta zona tinha cartas, mas para norte do lago, tudo era desconhecido.
Estas duas imagens, figuras 8 e 9,são da mesma carta geográfica, mas
foram separadas para poderem ser ampliadas e dar melhor visão do trajecto
inicial. As cartas originais foram oferecidas pelo autor à Sociedade de
Geografia de Lisboa.

267
REVISTA DE ARTILHARIA

Em 1900 a Companhia do Niassa, aproveitando a desolação em que a


gente do Mataca ficara depois desta expedição do ano anterior, fez construir
outro forte, o D. Luís Filipe, em Metarica e instalou o posto de Meluluca. Por
aí se ficaram as precauções militares da Companhia do Niassa, de sorte que
o sultão Mataca, refeito dos seus danos e tomando por fraqueza a retirada
das tropas de Machado, voltou aos roubos e correrias em toda a região do
lago Niassa o que provocou novos protestos e reclamações dos “amigos e
vizinhos” ingleses.
A partir do lago Chirua passo a basear-me nos croquis de Georges
Stucky para visualizar mais facilmente a deslocação daquele mole de gente
que constituía a expedição. Pormenorizando a expedição era constituída por:

1 – Vanguarda:
x Cipaios da Boror, tendo à sua esquerda os
x Cipaios da maganja e à direita os
x Cipaios do Bívar 9 .

2 – Rectaguarda:
x Cipaios do Marral e
x A Cavalaria.

3 – No meio:
x A artilharia e a infantaria, protegidos em todas as faces
pelos cipaios.
x O comboio de carregadores, deslocava-se no meio da tropa
europeia, depois da segunda secção da infantaria.

As tropas europeias eram compostas de:


x 140 soldados de infantaria (uma companhia);
x 60 soldados de artilharia com seis peças (uma bateria):
x 20 soldados de cavalaria (um pelotão);
x Diversas praças de intendência, do serviço de saúde, comandadas
por dois capitães e mais cerca de 20 oficiais diversos, além de
dois médicos e um veterinário.
Num total de 230 praças e 25 oficiais.

9 Guerreiro da Zambézia, arrendatário dos prazos Mugovo e Goma, condecorado com a Torre
Espada na campanha da Maganja.

268
“O NIASSA”

A maneira de deslocar uma expedição, estava regulamentado como


segue:

Fig. 10 – Coluna em ordem de marcha.

No caso vertente como já se disse, toda a coluna, foi envolvida pelos


cipaios de origens diversas.
Na infantaria encontravam-se 50 soldados oriundos de Angola, e o comboio
de carregadores tinha 2400 homens, sendo 320 para transporte de munições.
A infantaria utilizava as espingardas Kropatscheck, mas a cavalaria e a
artilharia as carabinas Mannlicher.

Fig. 11 – Espingarda Kropatscheck.

269
REVISTA DE ARTILHARIA

Finalmente em 1 de Agosto é dada a ordem de partida.

Figs. 12 e 13 – Croquis e prancheta da mesma


zona, de Milange a Mekanyelas.

Do relatório de Stucky sobressai que


o terreno é muito acidentado, há grandes
amplitudes térmicas entre o dia e a
noite, há falta de água doce e em
Mecanhelas, no dia 8 houve necessidade
de construir um sanzoro 10 ,pois o local de
acampamento era propício a emboscadas.
Em 14 deram-se as primeiras trocas de
tiros com os Lamués.

Fig. 14 – O quadrado defensivo.

10 Fortificação em uso na Zambézia, feita de paus entrelaçados, duma altura variável de 1,5
a 2 metros.

270
“O NIASSA”

Em 20 houve a primeira vez necessidade de formar o quadrado


defensivo, que como se pode ver na figura, dispunha a artilharia nos cantos,
e a infantaria nos lados do quadrado, e o comboio de carregadores no
interior , bem como a cavalaria e a engenharia.

Fig.15 – Uma imagem real de um quadrado em Moçambique. Fig.16 – Croquis de Napulu.

Figs.17 e 18 – Croquis e prancheta da mesma zona,


Chirua, Cuamba, Chiuta, Napulu (lago Amaramba).

Em 23 um primeiro combate com dois mortos e seis feridos nas NT. Stucky
queixa-se de temperaturas elevadas, chegando a 49º à sombra. A 31 está-se em
Cuamba e só em 6 de Setembro se chega ao lago Chiuta. Em 10 chegaram a
Napulu, a leste do lago Amaramba. Num dia no início da marcha, desertaram
cerca de 200 carregadores, mas era vulgar morrerem a 4 a 5 por dia.
Note-se na figura 16, a distribuição das instalações do pessoal,
construído encostado ao lago Amaramba, para segurança das tropas.

271
REVISTA DE ARTILHARIA

Aqui vai ficar o Forte D. Carlos, e vai permanecer uma pequena guarnição.
Entre 29 e 30 de Setembro o estado sanitário da coluna é péssimo e são
evacuados 32 praças e 4 oficiais.

Figs. 19 e 20 – Croquis e prancheta


da marcha ao longo do rio Lugenda
e sua travessia.

Em 12 foi atravessado o rio


Lugenda com bastante dificuldade,
demorando alguns dias.
Uma foto real do relevo da zona,
no caso os montes Gurué, para se
avaliar da dificuldade das deslo-
cações da coluna.

Fig. 21 – Montes Gurué, a sul de


Cuamba, foto do autor.

272
“O NIASSA”

A parte final da expedição ao Mataca foi recheada de ataques à coluna,


mas no final como já se referiu caiu no vácuo.

Fig. 22 – Croquis desde a serra Tchondé ao Mataca.

Só a 19 de Outubro se avistou a aldeia (cidade) do Mataca.


Diz Stucky nesse dia na sua agenda:
“Eis pois a capital do tal régulo que assassinou em 1889, há exacta-
mente 10 anos, uma expedição chefiada pelo tenente Valadim. Eis a capital

273
REVISTA DE ARTILHARIA

do maior potentado negreiro


do Niassa e do Norte da pro-
víncia, objecto da expedição e
alvo final a atingir… e que
atingimos.”
A aproximação foi cuidadosa e
lenta, mas na realidade não houve
qualquer reacção.
A entrada na capital do
Mataca, foi algo de extraordinário,
pois ninguém pensava encontrar
uma autêntica cidade, embora
vazia, com mais de 3000 palhotas.
A palhota do sultão, a sala
de audiências, o trono, tudo era
sumptuoso, e mesmo ao lado de
cada uma das casas principais
havia uma pequena construção bem
feita, circundada por uma paliçada.
Tratava-se de casas de banho
privativas.
Stucky avaliou pelo número
de palhotas que haveria normal-
mente a viver ali, cerca de 10000
pessoas.
Ainda Stucky escreveu:
“Ao pé da serra Lizali, a
uns 6 a 7 km de Mataca, para
sul, acha-se o antigo sítio do
Mataca-Pai, onde foi assassi-
nada a expedição do tenente
Valadim em 1889, uma centena
de soldados angolas e dois
europeus. Só dois angolas
escaparam à morte e puderam
trazer a notícia a Milanje…”
O regresso a Milanje também
foi trabalhoso, mas sem interesse
descritivo. Fig.23 – Prancheta.

274
“O NIASSA”

Só em 1912 uma coluna organizada pelo próprio governador da


Companhia do Niassa, Dr. Mata Dias, devia sujeitar definitivamente a
região do Mataca e sobre as ruínas da sua povoação construiu um forte a
que chamou Tenente Valadim, em memória do infeliz ali trucidado.
Na última década do séc.XIX, o tipo de militares portugueses
utilizados em campanhas africanas abrangia voluntários, compelidos,
refractários, degredados e mesmo os oficiais, sendo carinhosamente
apelidados de oficiais da beterraba, deixavam muito a desejar quanto a
disciplina, mas inúmeras vezes se comportaram como heróis.

REVISTA DE ARTILHARIA
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo
Ortográfico.

18

275
REVISTA DE ARTILHARIA

18
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

ARTILHEIROS EM MISSÃO

A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART


NUNO FERREIRA LOPES
NA EUTM SOMÁLIA
de 22Mai12 a 23Mar13
Pelo Major de Artilharia
NUNO FERREIRA LOPES

“Without the contribution of the soldiers


trained by EUTM we would not have been able
to secure Mogadishu.”
Major General Dini CHOD SNSF

1. INTRODUÇÃO

(1) A minha participação na European Union Training


Mission (EUTM) SOMÁLIA ocorreu no período de
22Mai12 a 23Mar13 como J2 Intelligence Officer,
no Mission Headquarters (MHQ) em Kampala
no Uganda. Durante este período a EUTM
centrava o seu trabalho de formação das Forças
de Segurança Nacional da Somália (SNSF) no
Uganda para serem projetados para a Somália.
(2) Paralelamente, por inerência de antiguidade, fui o Senior Português
na missão, tendo a meu cargo a Equipa de Formadores em Combate
em Áreas Edificadas (FIBUA), constituída por 13 militares da antiga
Escola Prática de Infantaria e do Centro de Tropas de Operações
Especiais, e chefiada pelo Cap Inf Araújo e Silva.

277
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura 1 – Equipa de Formadores FIBUA.

2. ÁREA DE MISSÃO
a. SOMÁLIA
(1) Situação Geográfica
(a) Com uma área de 637.657 km2 e
uma população de 10.085.638
habitantes (Estimativa em 2012),
apresenta uma densidade popu-
lacional de 16,12 hab/km2;
(b) Os principais grupos étnicos
são os Somalis (85%) e os
Benadirs, os Bantus e outros
não-Somalis (15%).

Figura 2 – Mapa do Somália. Figura 3 – Bandeira do Somália.

278
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

(2) Situação Política


(a) Após o derrube do presidente Siad Barre em 1991, a Somália começou
a viver tempos bastante conturbados que originaram diversos conflitos
armados e que foram devastando a região de Mogadíscio. A base da
maioria dos conflitos foram divergências inter-clãs, lutas pelo poder
regional e pelo controlo de recursos. A consequência foi uma catástrofe
humanitária com cerca de 300.000 mortos. Em 1992, as Nações Unidas
(UN) autorizam uma operação de paz limitada (UNOSOM) para levar
alimentos à população, que foi literalmente ignorada pelos beligerantes.
(b) Os Estados Unidos da América (EUA), em reação à violência
instituída, organizaram uma intervenção militar com o intento de
criar um ambiente seguro no sul da Somália para a realização de
operações humanitárias. Inicialmente, a missão foi bem-sucedida em
restaurar a ordem e aliviar a fome, contudo para os líderes somalis
foi vista como uma ameaça ao seu poder. Após sucessivos ataques
somalis a missão retirou. Durante anos, a Somália viveu uma guerra
civil que matou dezenas de milhares de somalis e provocou milhares
de refugiados na Etiópia e no Quénia. A Somália constituia um país
falido e dividido, sem serviços públicos e forças de segurança do
Estado e sob a autoridade dos principais chefes dos clãs.
(c) Após diversas tentativas para levar a paz à região, com a
intervenção das principais atores regionais e mundiais, em 2000 os
representantes da conferência de reconciliação aprovaram uma lei
nacional somali que atuaria como constituição da Somália num
período de transição. Deste modo, foi implementado um Governo
Nacional de Transição com o apoio de uma grande parte dos líderes
tribais e com o reconhecimento da comunidade internacional.
(d) O governo de transição pediu ajuda internacional, e o Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou planos de enviar
uma força de paz da União Africana para apoiar na estabilização
da região e implementação da ordem e segurança no país.
(e) Durante o período da missão os principais acontecimentos foram:
x 21Ago12 – Foi constituído o novo Parlamento da Somália;
x 10Set12 – Hassan Sheikh Mohamud foi eleito como Presidente;
x 07Out12 – Foi nomeado como novo 1º Ministro Abdi Farah Shirdon;
x 04Nov12 – O 1º Ministro nomeou os 10 membros do Governo;
x 07Jan13 – Reabertura do National Intelligence and Security Agency;
x 06Mar13 – CSNU aprovou uma resolução para levantar parcial-
mente o embargo de armas à Somália.

279
REVISTA DE ARTILHARIA

(3) Situação de Segurança


(a) Atores
x A Africa Union Mission to Somalia (AMISOM) – Missão de paz
regional ativa, operada pela União Africana, com a aprovação
das UN na Somália, constituída por uma força de 17340 (em
21Jan13), divididos pelas seguintes forças:
o Uganda (7BAT + Support Unit + Marines) – 6223
o Burundi (6Bn + Fire Support) – 5428
o Quénia (3 Mech Brig + Air Comp + Maritime) – 4648
o Djibouti – 960
o Estado-Maior – 81 militares de diversas nacionalidades.
x Ahlu Sunna Waljama'a ("A Maioria") (ASWJ) – Grupo moderado
islâmico que combate os rebeldes ao lado da AMISOM;
x Al-Shabab ("A Juventude") (AS) – Grupo fundamentalista
islâmico, associado à Al-Qaeda, que quer implementar um
estado radical islâmico na Somália.

(b) Situação no Terreno

Figuras 4 e 5 – Mapas de Situação Política no Início e no Final da Missão.

280
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

Figura 6 – Mapa da Localização das Forças no Sul da Somália.

(c) As principais conquistas no terreno foram:


x 25Mai12 – Captura de Afgoye.
x 31Mai12 – Captura de Afmadow.
x 26Jun12 – Captura de Balad.
x 11Jul12 – Captura de Campo de Treino da AS em Laanta Buuro.
x 27Ago12 – Captura de Marca.
x 01Set12 – Captura de Miido.
x 12Set12 – Captura de Harbole.
x 15Set12 – Captura de Bibi.
x 22Set12 – Captura de Garsale.
x 28 Set12 – Captura de Kismayo.
x 14Out12 – Captura de Wanla Weyn.
x 16Out12 – Captura de Burhakaba.
x 09Dec12 – Captura de Jowhar.
(d) Outros factos relevantes
x As Kenya Defense Forces (KDF) foram integradas na AMISOM
dia 02Jun12;
x No início de Julho, em Somaliland foi detido um suspeito da
AS de nacionalidade portuguesa;

281
REVISTA DE ARTILHARIA

x Em 16Jul12, um atentado terrorista da AS assassinou o Ministro


do Comércio do Governo de Transição Somali;
x Presidente da Somália e o Ministro dos Negócios Estrangeiros
do Quénia escaparam a um atentado à bomba a 12Set12;
x Um atentando suicida em Mogadíscio mata 19 pessoas a 20Set12;
x Gen Gordan, um comandante da Somali National Security Forces
(SNSF), morto numa emboscada perto de Marca em 28Out12;
x Remoção de checkpoints ilegais em Mogadíscio com início em 29Nov12;
x Acordo com ASWJ para integrar um grupo de cerca de 1.000
combatentes nas SNSF a 30Nov12;
x Um carro-bomba explodiu em Mogadíscio a 14Dec12 tendo como
alvo um Counterintelligence Official dos EUA;
x Homens armados assassinam o Security Officer da SNSF em
Mogadíscio a 17Dec12;
x Um Juiz do Tribunal de governo foi assassinado em Baidoa a 18Dec12;
x 50 franceses tentaram, sem sucesso, uma missão de resgate do cidadão
francês em cativeiro Denis Allex em Bulo Mareer em 11Jan13.

b. UGANDA
(1) Situação Geográfica
(a) Com uma área de 241.038 km2
e uma população de 34.758.809
habitantes (Estimada em 2013),
conta com uma densidade popu-
lacional de 115 hab./km2;
(b) O Uganda tem uma grande
diversidade de grupos étnicos
que segundo o Censos de 2002
conta com: Baganda 17.3%,
Banyakole 9.8%, Basoga 8.6%,

Figura 7 – Mapa do Uganda. Figura 8 – Bandeira do Uganda.

282
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

Bakiga 7%, Iteso 6.4%, Langi 6.1%, Acholi 4.7%, Bagisu 4.6%,
Lugbara 4.2%, Bunyoro 2.7%, entre outros 29.6%.

(2) Situação Política

(a) Yoweri Museveni é presidente do Uganda desde 1986, e foi


responsável pela introdução de algumas importantes reformas
democráticas, económicas e dos direitos humanos;
(b) Durante o período da missão os acontecimentos políticos princi-
pais foram:
x O Uganda foi considerado um dos melhores governos da África
Oriental e no continente, de acordo com o 2011 Ibrahim Index
of the Continent’s Governance;
x Segundo o Failed States Index de 2012 o Uganda estava entre
os estados mais falhados do mundo (20º), num nível que se
pode considerar perigoso e crítico;
x O Uganda negou as acusações das UN de que estava a prestar
apoio aos rebeldes M23 na República Democrática do Congo.
Tendo o Uganda ameaçado retirar-se da Somália face a essa
acusação;
x O Uganda celebrou a 09Out12 o 50º aniversário da indepen-
dência com a participação de 15 Chefes de Estado
.
(3) Situação de Segurança
(a) Atores
x Uganda People’s Defence Force (UPDF) constituem as Forças
Armadas do Uganda com um efetivo de:
o Exército – 50.000 militares (com mais de 6.000 na Somália);
o Força Aérea – 800 militares (com Su-30MK2);
o Marinha – 200 militares;
o Reservistas – 30.000 habitantes.
x Uganda National Police (UNP)

(b) Ameaças
x Terrorismo – Intimidação da AS pela sua participação na
AMISOM (note-se que o Uganda sofreu um atentado terrorista
reivindicado pela AS em 2010) – O Risco Potencial é Médio em
Kampala e Baixo no restante território;

283
REVISTA DE ARTILHARIA

x Trânsito – Estradas em mau estado, condutores incompetentes


e imprudentes, excesso de velocidade, desrespeito pelas regras
de trânsito, presença de peões descuidados ou ignorantes, e
condução sob o efeito de álcool e drogas) – O Risco Potencial é
Elevado em Kampala e Médio/Baixo no restante território;
x Doenças – Doenças infeciosas e tropicais (Malária, Tuberculose,
Febre Amarela, Febre Hemorrágica (Ébola, Marburg), Diarreia
Hepatite A e E, Cólera, e HIV) – O Risco Potencial é Médio/Baixo.

(c) Acontecimentos relevantes durante a missão:

x Alerta de perigo constante a atividades terroristas em Kampala


nas datas solenes (Aniversário dos EUA, Dia Nacional, Ramadão,
Idd Adhuha, etc), tendo sido divulgado que vários suspeitos da
AS ter-se-ão infiltrado no Uganda;
x A Interpol e o governo dos EUA juntaram-se às autoridades do
Uganda na luta contra a ameaça terrorista, com a doação de
modernos equipamentos e ajuda especializada;
x Em Julho, 600 soldados congoleses procuram refúgio no Uganda
após perderem combate com rebeldes M23 numa cidade fron-
teiriça. A UPDF foi projetada para a fronteira com o Congo;
x Helicópteros ugandeses desaparecem no Quénia a 13Ago12
quando se dirigiam para a Somália, tendo o Presidente remodelado
o Comando da Força Aérea na sequência desse desastre;
x No final de agosto, confrontos entre a UPDF e o Lord's
Resistance Army (LRA) na República Centro-Africana, com a
captura de munições e equipamento aos rebeldes;
x Um atirador desconhecido atacou a unidade militar em
Kampala em 04Mar13;
x Três pessoas morreram e 24 pessoas sofreram ferimentos em
15Out12, quando um autocarro colidiu com um camião na
estrada que liga Mbarara-Masaka;
x Os distritos de Kibaale, Hoima, Bullisa e Nebbi (junto à
fronteira do Congo) foram atingidos por uma epidemia de
cólera no final de Mai12.
x Suspeitas de tuberculose na equipa francesa foi devidamente
acompanhada pela equipa médica;
x Em 24Jul12 foi detetado um surto de Ébola no país, que foi
controlado pelas autoridades sanitárias segundo a OMS, após
16 mortes;

284
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

x Faleceu um Soldado Somali no dia 02Set12 com tuberculose.


Um militar espanhol suspeito foi retraído para despistagem;
x A 19Out12 é declarado um surto de Marburg, que foi controlado
pelas autoridades sanitárias.

3. MISSÃO EUTM SOMÁLIA

a. ENQUADRAMENTO LEGAL DA MISSÃO

(1) O Conselho da União Europeia (UE), através da Decisão 2010/96/CFSP


de 15Fev10, em estreita cooperação e coordenação com a UA,
aprovou o estabelecimento de uma missão “não-executiva” no
Uganda para contribuir para o treino das SNSF, designada por
EUTM Somália;
(2) O Conselho da UE, através da Decisão 2011/483/PESC de 28Jul11,
altera e prorroga a Decisão 2010/96/CFSP relativa a missão militar
da UE prolongando a missão até ao final do ano de 2012, em dois
semestres de formação consecutiva (3º e 4º Intake);
(3) Por Despacho de SExa o Ministro da Defesa Nacional de 29Jul11, foi
definida a orientação no sentido de ser mantido o nível de
participação nacional anterior na EUTM Somália, e traduzida pelo
oferecimento na Conferência de Geração de Forças realizada em
23Ago11;
(4) O Conselho Superior de Defesa Nacional, na sessão de 24Nov11, deu
parecer favorável à proposta do Governo sobre a participação de uma
Equipa do Exército, com efetivos na ordem dos dezasseis elementos,
para integrar a Missão da UE por um período de um ano, para treino
de forças Somalis.

b. ORGANIZAÇÃO GERAL

A missão era organizada num Comando (MHQ Kampala), um Campo


de Treino em Bihanga (BTC), numa Célula de Apoio em Bruxelas e numa
Célula de Ligação em Nairobi.

285
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura 9 – Organigrama e Relações de Comando da EUTM Somália.

c. CONCEITO DE TREINO
(1) A EUTM concentrava o seu trabalho de formação das SNSF nas áreas de
Comando e Controlo, formação de especialistas e na formação de formadores,
com a intenção de transferir o conhecimento para os atores locais
(2) Estado Final Desejado – Preparar 4 companhias de Infantaria
capazes de realizar operações militares básicas e formar 60 de
Formadores especialistas.

Figura 10 – Esquema do Conceito de Treino.

286
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

(3) Conceito de Treino – O treino era repartido entre a EUTM e a UPDF,


onde a EUTM tem a seu a cargo o treino de graduados e de
formadores especialistas.

d. LOCALIZAÇÃO NO TO

(1) MHQ em Kampala

O Comando da EUTM Somália estava localizado em Naguru


Hill em Kampala, numas instalações hoteleiras denominadas de
Forest Cottages em regime de exclusividade. O complexo alojava os
militares da EUTM que constituiam o MHQ e tinha uma capacidade
sobrante para outras eventualidades.

Figura 11 – Localização do MHQ em Kampala.

(2) Bihanga Training Camp

(a) O Campo de Treino em Bihanga era situado a Oeste do Uganda


no distrito de Ibanda.

287
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura 12 – Trajeto terrestre para Bihanga.

(b) O Aquartelamento englobava o Campo da EUTM (onde ficam alojados


os membros da EUTM), o Campo da UPDF (onde estavam alojados
os recrutas somalis), uma pista de aviação, diversas áreas de
treino (onde se inclui a “Camões Village” (para treino em combate
em áreas edificadas)), Carreira de Tiro, Pista de Combate, etc.

Figura 13 – Vista aérea de Bihanga.

288
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

(c) O Campo da EUTM disponha de: um Comando, de 45 Quartos


Individuais (entre os quais de 2 VIP), de 20 Dormitórios (de 4
PAX), uma Clínica Médica com capacidade de Role 1 e 2, de uma
Parada, um Refeitório, um Bar, uma Sala de Internet e de um Ginásio.

Figura14 – Vista aérea do Campo da EUTM.

e. ATIVIDADE DA EUTM SOMÁLIA

(a) 01 a 06Jul12 – Operação Crested Star III;


(b) 16Jul12 – Início da Formação do 4º Intake;
(c) 27Jul12 – Visita do Tánaiste (Vice Primeiro-Ministro Irlandês);
(d) 01Out12 – O MHQ foi visitado pelos dos Embaixadores da UE
sediados em Kampala;
(e) 24-27Out12 – Visita de uma comitiva do EU CAP NESTOR;
(f) 06-10Nov12 – Visita do Comando do OPCEN;
(g) 10-15Dec12 – Visita do Colégio de Auditores de Contas;
(h) 09-22Jan13 – Reconhecimento a Mogadíscio pelo J2;
(i) 08Jan13 – Início da Preparatory Planning Team em Mogadíscio;
(j) 28Jan13 – Tomada de posse do novo MCdr BGen Aherne;
(k) 01Feb13 – Final Parade no BTC para o 4º Intake;
(l) 07Fev13 – Aprovação do Plano de Missão para o EUMS;
(m) 17-21Fev13 – Repatriamento do 4º Intake;
(n) 05-08Mar13 – Projeção das Specialist Training Teams;
(o) 26-28Feb13 – Visita da Single Intelligence Analysis Capacity (SIAC)
da European External Action Service (EEAS).

289
REVISTA DE ARTILHARIA

4. FORÇA NACIONAL DESTACADA

a. PESSOAL

(1) MHQ Kampala


(a) J2 (1 Maj)
(b) Unidade de Origem: CFT
(c) 22Mai12 a 23Mar13 (10 meses)

(2) Bihanga Training Camp


(a) Equipa FIBUA (13 militares: 1 Capitão, 2 Tenentes, 8 Sargentos
e 2 Cabos)
(b) Unidades de Origem: EPI (10 militares) e CTOE (3 militares)
(c) 11 militares de 25Ago de 25Nov12 (3 meses)
(d) 2 militares (Cap + Sarg) de 25Ago12 a 18Mar13 (7 meses)

b. ATIVIDADE DA EQUIPA FIBUA

Figura 15 – Equipa FIBUA.

(1) A formação FIBUA aos soldados somalis visou habilitar 5 pelotões


de NCO, 1 pelotão de JO e 1 pelotão de BTTT (Basic Train The
Trainers) com competências básicas na área de combate em áreas
edificadas, focando-se essencialmente na vertente técnica, e de
comando e controlo;

290
A PARTICIPAÇÃO DO MAJ ART NUNO FERREIRA LOPES NA EUTM SOMÁLIA

(2) Em simultâneo foi ministrada formação durante um período de 8


semanas a um grupo de 9 formandos que constituíram um grupo
recrutas que viriam a ser especialistas de formação em FIBUA;
(3) Foram realizados vários exercícios com a finalidade da validação de
toda a formação dada durante as várias fases de formação, culmi-
nando com o exercício “Dragon Dawn 2” que visou principalmente o
treino o C2 das UEC, onde efetuaram várias tarefas de escalão
pelotão (patrulhas, checkpoints, ataque a uma pequena povoação e
defesa de pontos sensíveis);
(4) A 01Fev13 decorreu a Final Parade em Bihanga com a presença do
Ministro Defesa do Uganda, com o Vice Ministro Defesa da Somália,
o Embaixador da UE para o Uganda entre muitos outros convidados.
A cerimónia contou com uma demonstração das competências
adquiridas pelos formandos somalis nas áreas de FIBUA, CLS,
controlo de checkpoints e desminagem. A equipa portuguesa esteve
diretamente empenhada na demonstração como coordenadora das
diferentes equipas.

REVISTA DE ARTILHARIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

a) DIROP Nº 34/CEMGFA/11 de 30Nov11;


b) Diretiva N° 242/CEME/11, de 20Dec11;
c) DIR 04/CFT/12 EUTM SOMALIA, de 30Jan12.

291
REVISTA DE ARTILHARIA

18
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

ESPAÇO ACADÉMICO

SISTEMAS DE ARMAS DE
ARTILHARIA ANTIAÉREA:
Atualidade e Prospetiva
Pelo Alferes de Artilharia
RICARDO JORGE ALVES MAINHA

INTRODUÇÃO

Em qualquer conflito armado quando é criada uma nova arma, procura-


se logo, uma arma que iniba os efeitos da arma criada. Foi deste modo que,
em 1794, surgiu a Artilharia Antiaérea (AAA) “quando os exércitos
Austríacos procuravam, sem sucesso, abater a salva de tiros de canhão de
um balão 1 militar francês” (Dias, 2010, p. 170).
No entanto, só a partir da 1ª Guerra Mundial, paralelamente ao
desenvolvimento da aviação militar, ocorreu o verdadeiro progresso das
armas de AAA. Até ao final do conflito os canhões de AAA eram
transportados em camiões, o que permitia chegar rapidamente a locais alvo
de ataques aéreos. No espaço temporal que ocorreu entre as duas grandes
guerras, pouca evolução se constatou nos sistemas de armas de AAA, a não
ser no melhoramento da eficácia dos mesmos. Durante a 2ª Guerra Mundial
surge então o conceito mais atual de AAA, que associa as armas aos radares
de deteção e localização das ameaças aéreas. Após o fim da guerra,
constatada a real importância da AAA, os países de uma forma generalizada
procuraram dotar os seus exércitos com sistemas de armas de AAA eficazes.

1 O primeiro balão de observação militar do mundo “foi construído em 1793 em França” (Dias,
2010, p. 171).

293
REVISTA DE ARTILHARIA

Na sequência do enorme desenvolvimento das aeronaves ao longo dos


tempos, aliado aos grandes avanços tecnológicos, a AAA conseguiu manter
um equilíbrio na luta contra as novas aeronaves que iam surgindo. Até à 1ª
Guerra do Golfo, a ameaça aérea esteve sempre associada a aeronaves de
asa fixa e helicópteros. No entanto, nesta guerra, ocorreu o grande ponto de
viragem, quando o Iraque lançou mísseis balísticos táticos (Tactical Ballistic
Missiles – TBM) Scud 2 contra Israel e o Kuwait. Com este acontecimento, a
AAA não viria a ser apenas, utilizada contra as ameaças aéreas existentes
até então. À ameaça aérea convencional, já conhecida (aeronaves de asa fixa
e helicópteros), e para além dos TBM juntaram-se ainda os veículos aéreos
não-tripulados (Unmanned Aerial Vehicles – UAV), mísseis cruzeiro (Cruise
Missiles – CM) e granadas de artilharia, morteiro e foguetes (Rocket,
Artillery and Mortars - RAM).
Esta investigação pretende apurar se os sistemas de armas de
Artilharia Antiaérea (AAA), ao nível dos países membros da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (NATO), na sua função de proteção, são
necessários e importantes para o combate às novas ameaças aéreas. Para
avaliar esse nível de necessidade, irá efetuar-se uma caraterização da nova
ameaça aérea, referência a vários sistemas de armas AAA em uso e qual as
suas capacidades para fazer face às novas ameaças aéreas.

CAPÍTULO 1
REVISÃO DE LITERATURA

1.1 O ATUAL AMBIENTE OPERACIONAL

O novo ambiente operacional “privilegia a ameaça assimétrica,


transnacional, imprevisível e desproporcionada, relativamente à dimensão
da destruição ou número de baixas causado” (Ramalho, 2011, p. 113), que
pode ser ligada à globalização, através do reaparecimento de vários fatores
de instabilidade tais como “os nacionalismos, rivalidades étnicas e religiosas, a
que se lhe adicionaram ameaças como o terrorismo, o crime organizado
transnacional e a proliferação de armas de destruição maciça” (Coimbra,
2011, p. 334).
A tendência atual do inimigo se misturar “no seio da população e num
espaço de batalha predominantemente urbano” (Coimbra, 2011, p. 334), visa
também a “necessidade de degradar a rendibilidade dos sistemas de alta

2 Míssil balístico de fabrico soviético.

294
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

tecnologia usados pelos exércitos ocidentais…maximizando o impacto das


suas ações” (Ramalho, 2011, p. 115). A degradação da rendibilidade, não é só
conseguida através do acesso fácil à compra de armamento como é o caso dos
manpads 3 empregues contra a aviação comercial. A outra maneira de
conseguir essa degradação é, de acordo com Ramalho (2011), a possibilidade
de através da internet, conseguirmos por nós mesmos construir explosivos,
bombas improvisadas e, até mesmo armas de destruição massiva (ADM).
É vital que os sistemas de armas de AAA e as forças terrestres em
geral, se consigam adaptar de imediato ao ambiente operacional visto que
“também é expectável que as ameaças rapidamente se adaptem às condições
do ambiente operacional, tirando dele o máximo proveito“ (EME, 2012, p. 1-7).

1.2 AS NOVAS AMEAÇAS AÉREAS

Para as Nações Unidas (UN) é considerada como uma ameaça para a


segurança internacional “qualquer acontecimento ou processo que cause
mortes em grande escala ou uma redução maciça das expectativas de vida e
que enfraqueça o papel do Estado como unidade básica do sistema
internacional” (UN, 2004, p. 23). A ameaça pode ainda ser definida como
“qualquer acontecimento ou ação, de variada natureza (militar, económica,
ambiental, etc.) que contraria a consecução de um objectivo e que,
normalmente, é causador de danos, materiais ou morais” (Couto, 1988, p.
329). Partindo desta definição, Escorrega (2011) define que uma situação só
gera ameaça se o seu agente causador tiver condições para a sua
concretização ou até mesmo se revelar apenas a intenção de a concretizar.
Estas ameaças traduzem-se por serem “ações conduzidas por atores,
estados, quase estados, ou não estados” (Ramalho, 2011, p. 153) que
utilizam armamento, para criar um clima de terror que resulta num elevado
número de baixas civis. “A ameaça aérea assume e poderá materializar-se
de uma forma não convencional e com carisma assimétrico, no âmbito das
ameaças emergentes que despontam no início deste séc. XXI” (Coimbra,
2005, p. 3). O dia 11 de setembro de 2001 marcou uma nova era, em que a
perceção tradicional das ameaças entrou em colapso, deixando a ameaça de
ter um remetente nacional claro. A utilização de aviões civis como meio para
desencadear ataques terroristas 4 demonstrou que praticamente qualquer
coisa poderia ser transformada numa arma. Os efeitos das aeronaves
Renegade, associados ao emprego de outros vetores aéreos, de que se

3 Man Portable Air Defense Systems.


4 “Ao conjunto de aeronaves comerciais, ultraleves e UAV para fins terroristas deu-se o nome de
código Renegade.” (Benrós, 2005, p. 18).

295
REVISTA DE ARTILHARIA

destacam os mísseis e os UAV, “por forças desestabilizadoras é uma


realidade nos nossos dias que tenderá a agravar-se e que obriga a ter um
dissuasor mínimo credível“ (Coimbra, 2005, p. 3). Atualmente a ameaça
aérea já não é constituída apenas por aeronaves de asa fixa e helicópteros,
considerados como ameaça aérea convencional, mas integra atualmente
“outros meios passíveis
de atacarem as forças e
utilizando de igual modo
o espaço aéreo. Como
são o caso dos UAV,
mísseis cruzeiro, mísseis
balísticos táticos, foguetes,
munições de artilharia
e morteiros” (Paradelo,
2010, p. 374). Interessa
assim, caraterizar a nova
ameaça aérea, nomea-
damente os TBM, CM,
UAV e RAM, devido a
Figura 1 – Ameaças aéreas do século XXI. apresentarem caracterís-
Fonte: (Benrós, 2002a, p. 11)
ticas distintas da ameaça
aérea convencional como é o caso da “poupança de custos, facilidade de
utilização, factor surpresa, poder de destruição e de precisão, e não
exposição aos danos infligidos” (Casinha, 2011, p. 14).
Os TBM “são muitas vezes lançados de plataformas altamente móveis,
difíceis de detetar, altamente precisos possuem uma elevada velocidade
terminal com a capacidade de transportar Armas de Destruição Massiva”
(Perdigão, 2005, p. 29). Segundo Benrós (2005) foram os TBM responsáveis
pelo clima de tensão vivido no período da guerra fria, destacando-se após
esse período, na 1ª Guerra do Golfo com a utilização de mísseis Scud. Desde
então “a capacidade de defesa antimíssil demonstrou ser essencial para
qualquer força que se projete num teatro de operações que se encontre
dentro do alcance dos mísseis táticos balísticos” (Benrós, 2005, p. 19). A
NATO afirma que há mais de trinta países que dispõem de mísseis balísticos
ou que estão a desenvolver tecnologia para consegui-los, sendo que, “o perigo
de que algum destes mísseis caia nas mãos de grupos terroristas, confirma a
grande ameaça e é do interesse dispor das capacidades necessárias para
combatê-la” (Férnandez, 2012, p. 21).
Os CM são “veículos não-tripulados e autoguiados cujo voo é sustentado
pela sua superfície aerodinâmica em altitudes pré-determinadas que

296
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

transportam uma ogiva ou uma carga letal” (Department of the U.S. Army,
2000, p. A-7). Podem ser lançados “a partir de distâncias desde os 150 aos
3000 km, a sua precisão permite-lhes o ataque a alvos aéreos de dimensões
muito reduzidas, independentemente da sua natureza” (Rodrigues, 2007, p.
7). A proliferação deste tipo de mísseis, segundo Benrós (2005), é mais difícil
de controlar em comparação com os mísseis balísticos. Enquanto nos mísseis
balísticos a tecnologia que incorporam, não estando ao alcance de todos os
países, é quase toda derivada da propulsão, a tecnologia incorporada nos CM
é de múltipla utilização.
A ameaça RAM começou a ser alvo de estudo por parte da NATO a
partir de 2005, sendo que a sua interceção é uma “missão que competirá à
AAA resolver” (Benrós, 2005, p. 22). Esta ameaça inclui “munições de
artilharia de campanha (de dimensões difíceis de detectar através dos
Radares AAA) ou de morteiros lançados de forma pouco convencional e
expedita, sem recorrer aos respetivos sistemas de lançamento tradicionais”
(Casinha, 2011, p. 14). Refere Paradelo (2010) que a utilização desta ameaça
nos TO contra forças e instalações é uma constante, o que se deve a um
conjunto de vários fatores. Entre eles, a existência destes meios em
abundância, a facilidade da sua utilização e o seu baixo custo. Apesar da
pouca precisão, permite que a ameaça RAM seja altamente remuneradora
por parte de quem a utiliza.
Os UAV caraterizam-se pela capacidade de serem manobrados por
controlo remoto em tempo real ou operar através de uma rota previamente
estabelecida. Possuem grande autonomia, fraca assinatura térmica, ótica e
eletromagnética o que dificulta a sua deteção. Podem desempenhar missões
de vigilância e reconhecimento independentemente das condições atmos-
féricas, passando também pela “aquisição e designação de objetivos e,
particularmente, pelas missões de combate” (Rodrigues, 2007, p. 7).
A ameaça aérea, em suma, é considerada como dominante, possuindo
grandes velocidades e uma elevada manobrabilidade, sendo capaz de voar a
altitudes muito baixas. Possui ainda uma superfície radar muito diminuta,
podendo “caracterizar-se, de uma forma muito sintética, como
extremamente difícil de detetar obrigando a tempos de resposta muito
curtos” (Rodrigues, 2007, p. 8). Estas ameaças que, para além de realçarem
a “necessidade dum sistema integrado de defesa aérea com os meios
existentes, projetam as capacidades para novos e mais eficazes sistemas de
defesa antiaérea SHORAD e para a necessidade de novos sistemas HIMAD”
(Borges, 2005, p. 15).

297
REVISTA DE ARTILHARIA

CAPÍTULO 2
O SUBSISTEMA DE ARMAS DE AAA COMO UM DOS
COMPONENTES DO SISTEMA DE AAA

2.1 SISTEMA DE ARMAS DE AAA SHORAD

Os sistemas de armas SHORAD são normalmente empregues na


proteção AA das unidades de manobra e dos seus órgãos críticos. No
entanto, em exércitos de outros países NATO, como é o caso do exército
norte-americano, os sistemas SHORAD também conferem proteção AA aos
sistemas HIMAD. De acordo com Huntchings e Street (2001), os sistemas de
armas de AAA SHORAD fornecem uma capacidade de defesa essencial para
as unidades de manobra. No entanto, atualmente, estes sistemas enfrentam
uma ameaça aérea incerta e amplamente diversificada. Com a evolução
dessa mesma ameaça, os sistemas de armas SHORAD devem ter capacidade
de detetar e combater UAV, CM, RAM e “vetores aéreos que utilizem
tecnologia stealth 5 , capacidade de empenhamento fora do alcance visual e
capacidade para destruir aeronaves que empreguem técnicas de ataque
standoff 6 ” (Salvador, 2006, p. 7).
Estes sistemas dividem-se em três famílias de tipo de material:
sistema canhão, sistemas míssil ligeiro e sistemas míssil portátil
MANPAD. Para esta investigação a categoria sistema canhão só
compreende sistemas com capacidade contra RAM (Counter –Foguetes,
Artillery and Mortars – C-RAM), já que as restantes não permitem fazer
face às novas ameaças aéreas.

2.1.1 Sistemas Canhão Centurion Phalanx B

Com o aumento de ataques em ambientes urbanos, surgiu uma lacuna


nas capacidades dos sistemas de defesa contra ataques de RAM. Para
colmatar esta lacuna o exército norte-americano necessitava de um sistema
C-RAM, que não só desse o alerta de ataques eminentes, mas também que
localizasse a sua origem, e mais importante que isso, destruísse as ameaças
que pudessem provocar danos quer humanos quer materiais.

5 O objetivo da tecnologia stealth visa tornar um avião invisível ao radar.


6 Munições que são lançadas ainda fora do alcance dos sistemas de armas de AAA.

298
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Após terem sido efetuados


testes em novembro de 2004,
surgiu o Centurion Phalanx,
tendo por base “o canhão MK-15
Phalanx utilizado na proteção
AA de diversos navios de
guerra 7 ” (Salvador, 2006, p.
14). Desde logo, este sistema
demonstrou com sucesso a
sua capacidade de identificar
e empenhar-se contra este
tipo de ameaça, destruindo
cerca de 80% de foguetes e Figura 2 – Centurion Phalanx B.
granadas de morteiro dentro Fonte: (Paradelo, 2009, p.13)
do seu alcance. O sucesso nos
testes de fogos reais, permitiu que o primeiro sistema fosse enviado para o
Iraque em finais de 2006 para proteger as forças terrestres e pontos
sensíveis, contra a ameaça RAM.
Este sistema possui um canhão 20mm M61A1 Gatling de seis canos,
com cadências de tiro que oscilam dos 3000 aos 4500 tiros por minuto e um
sensor Forward Looking Infrared (FLIR) 8 . As munições de 20 mm detonam
perto do alvo aéreo reduzindo-o, independentemente da natureza da
ameaça, em fragmentos. Quando disparado, este sistema emite um som
caraterístico, dando alerta às pessoas em redor que um ataque com
munições RAM está para acontecer, permitindo uma redução significativa
na probabilidade de existirem baixas.

2.1.2 Sistema Míssil Ligeiro Avenger


Em 1987 foi assinado o contrato de produção deste sistema míssil
ligeiro para o exército norte-americano. Este sistema é o conjunto de uma
torre equipada com mísseis Stinger e um veículo todo o terreno multifunções
de grande mobilidade (High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle –
HMMWV). O sistema é “operado por uma guarnição de dois elementos (um
condutor e um apontador) e tem a possibilidade de executar tiro em
movimento” (Ladeiro, 2009, p. 33).

7 A versão naval deste sistema encontra-se atualmente a equipar os navios da Classe Vasco da
Gama da Marinha Portuguesa.
8 O FLIR fornece uma capacidade de aquisição melhorada em vários ambientes: noite, fumo,
chuva e neblina, possuindo ainda um detetor automático que fornece o auto seguimento das
ameaças aéreas detetadas.

299
REVISTA DE ARTILHARIA

O sistema míssil ligeiro


Avenger, foi criado para fazer
face a aeronaves não tripu-
ladas, aeronaves de asa fixa,
helicópteros, CM, e ao reconhe-
cimento, vigilância e aquisição
de objetivos inimigos. É um
sistema todo-o-tempo, altamente
móvel, ligeiro e pode operar 24
horas por dia. Como outra
capacidade importante, segundo
Salvador (2006), pode ser
Figura 3 – Sistema Míssil Ligeiro Avenger. aerotransportado em C-130 e
Fonte: (Salvador, 2006, p.9) helitransportado. Este sistema
“integra 8 mísseis Stinger em
duas rampas numa torre giro-estabilizada 9 “ (Salvador, 2006, p. 9) que é a
responsável por este sistema poder fazer tiro em movimento. O Avenger,
pode ainda ser operado por “controlo remoto a uma distância até 50 metros
com capacidade “slew-to-cue” 10 , quando interligado ao Radar Sentinel”
(Ladeiro, 2009, p. 33).

2.1.3 Sistemas Míssil Portátil MANPAD

De acordo com Wilson (2012), é previsível que os meios capazes de


fornecer defesa aérea continuem a ter a maior quota de mercado, no
comércio de mísseis em todo o mundo. No entanto, desde a entrada para o
século XXI, o comércio legal de MANPADS tem sentido uma descida
acentuada de procura. O decréscimo da procura não resulta nem da falta de
procura nem da substituição de tecnologia, mas sim da saturação do
mercado com os sistemas MANPAD existentes. A procura por sistemas
MANPAD foi tão grande por serem sistemas altamente portáteis com baixo
peso; letais, pois podem infligir danos consideráveis a aeronaves comerciais;
e são de baixo custo, o que promove a sua proliferação. Apesar destes
sistemas serem tecnicamente capazes de intercetar aeronaves de asa fixa e
helicópteros, “o fator humano restringe o seu uso a curto alcance” (Eshel,

9 A torre tem capacidade de rodar em 360 graus e incorpora uma unidade de controlo ambiental,
proteção contra perigos de ataques biológicos e químicos e campos de tiro desobstruídos.
10 Esta potencialidade consiste na capacidade da torre rodar automaticamente quando uma ameaça
é detetada pelo radar, sem intervenção do apontador, melhorando e aumentando a
probabilidade de impacto contra a ameaça aérea.

300
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

2011). Apesar disso, os sistemas MANPAD, como por exemplo o Stinger ou o


Mistral, de acordo com Wilson (2012) estiveram nas últimas três décadas
entre os mais procurados por exércitos nacionais a revolucionários, bem
como a insurgentes e terroristas. Os sistemas MANPAD permitem tirar
partido do ambiente urbano, como é o caso de coberturas de edifícios
e terraços para “missões de proteção de eventos ou entidades” (Paradelo,
2010, p. 379).

2.2 SISTEMA DE ARMAS DE AAA HIMAD

Os sistemas de armas HIMAD caraterizam-se por serem bastante


avançados tecnologicamente, e por possuírem grandes alcances com os seus
sensores a detetarem ameaças até aos “1000km, e mísseis interceptores com
capacidade para se empenharem a altitudes que poderão ir aos 150 km e
alcances na ordem dos 200 km” (Salvado, 2006, p. 36). Além de colmatar as
limitações dos meios SHORAD, nomeadamente o seu alcance, “os Sistemas
Míssil HIMAD são os que conferem maior alcance de proteção e os únicos a
atuar de modo eficaz contra mísseis.” (Mouta, 2011, p. 32).

2.2.1 Aster SAMP/T30

Segundo Mouta (2011) o Aster SAMP 11 /T30 é um sistema de defesa AA


de médio alcance, com elevada mobilidade e com capacidade projeção, que foi
criado para substituir o sistema
de armas míssil Hawk das Forças
Armadas da França e da Itália.
O Aster destina-se a “pro-
teger pontos e áreas vitais de
um território, podendo inter-
ceptar mísseis balísticos, CM,
UAV e UCAV e aeronaves pilo-
tadas que revelem intenções
hostis contra instalações ou forças
expedicionárias no exterior do
território” (Mouta, 2011, p. 34).
Segundo Peruzzi (2012), para ir Figura 4 – Aster SAMP/T30.
de encontro às necessidades Fonte: (Peruzzi, 2012, p. 12)

11 Surface-to-Air Missile Platform / Terrain.

301
REVISTA DE ARTILHARIA

quer táticas quer estratégicas de mobilidade, todos os módulos deste sistema


de armas são transportados por veículos todo o terreno, o que permite que o
sistema seja aerotransportado a bordo de aviões da categoria do C-130. O
Aster tem a capacidade de intercetar ameaças aéreas num intervalo de
altitudes compreendido entre os 50 m e os 20 km, dependendo da altura de
voo das aeronaves. Se voar a uma altitude abaixo dos 3km, o alcance
máximo são 100 km, se a aeronave estiver a voar acima dos 3km, o seu
alcance reduz-se para metade, ou seja, 50 km. O míssil presente neste
sistema de armas incorpora tecnologia hit-to-kill, com capacidade de
selecionar o melhor momento para efetuar a interceção da ameaça aérea na
sua fase final de voo. Com esta capacidade, este sistema de armas é capaz de
intercetar mísseis balísticos com alcance inferior a 600 km. Existe já uma
versão melhorada do míssil, designada por Block 2, destinada a “empenhar-
se contra mísseis balísticos de grande alcance, com vista a ser integrado no
NATO Active Layer Theatre Ballistic Missile Defence (ALTBMD)” (Mouta,
2011, p. 34).

2.2.2 NASAMS 12 II

Este sistema de Defesa Aérea de médias altitudes é uma atualização do


sistema NASAMS, em que, desde que entrou ao serviço das forças armadas
Norueguesas, foi adquirido por mais seis países membros da NATO 13 , pela
Finlândia e Suécia.
O NASAMS II, segundo
Mouta (2011), carateriza-se por
combinar um elevado poder de
fogo AA integrado numa
estrutura de rede interna, com
capacidade de empenhamento
sobre vários alvos aéreos em
simultâneo, sem a necessidade
de se ter estabelecido contato
visual com o mesmo. O alcance
máximo do míssil do sistema
NASAMS é de 25 km. Com-
Figura 5 – NASAMS II. parado com o sistema Aster-30
Fonte: (Mouta, 2011, p.33) SAMP/T30 já analisado ante-

12 Norwegian Advanced Surface-to-Air Missile System.


13 Holanda, Espanha, EUA, Grécia, Polónia e Turquia.

302
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

riormente, cujo alcance chega aos 100 km, pode-se considerar como um
sistema com pouco alcance. No entanto, essa desvantagem é compensada
com a capacidade deste sistema usar um padrão de defesa disperso, o que
possibilita uma extensão de cobertura e uma rede existente de radares com
ligação de dados por via rádio.

2.2.3 Patriot-PAC3

O Patriot é um sistema de
defesa AA de média e alta altitude
todo-o-tempo com alcance máximo
de 40 km, e que está atualmente
equipado com a última versão,
PAC3. No entanto, “decorrente da
evolução tecnológica possível para
sistemas tipo PATRIOT encontra-
se a ser desenvolvido o PATRIOT
PAC-3/MSE 14 (Missile Segment
Enhancement) que irá integrar o
sistema MEADS” (Mouta, 2011, p. 35).
Este sistema carateriza-se por
ser eficaz contra mísseis balísticos,
CM, UAV e aeronaves pilotadas
que revelem intenções hostis. O Figura 6 – PATRIOT-PAC3/MSE.
Patriot desempenha a função de Fonte: (Mouta, 2011, p. 37)
“defesa aérea na fronteira entre a baixa e alta altitude devido ao ser poder
de fogo, alcance e altitude.” (Department of the U.S. Army, 2007, p. 2-1).
Devido a estas caraterísticas, este sistema foi exportado, estando para além
dos EUA, ativo em mais 13 países. 15 O Patriot PAC-3 é o primeiro a utilizar
a tecnologia hit-to-kill capaz de garantir maior letalidade contra TBM e
ADM. É ainda possível “cada plataforma de lançamento conter 16 mísseis
PAC-3, aumentando assim o poder de fogo e a sua capacidade de defesa
antimíssil” (AUSA, 2009, p. 335). Esta versão PAC-3 possui melhoramentos

14 A atualização MSE melhora a performance do míssil através de um melhor motor de


propulsão, uma melhor fuselagem e uma atualização do software de guiamento. Estes
melhoramentos fornecem um míssil intercetor mais ágil e letal o que permite que tenha um
melhoramento de performance de mais de 50 por cento em altitude e que consiga atingir
alcances maiores.
15 Este sistema com a versão PAC-3 equipa os EUA, Holanda, Alemanha, Japão, Taiwan,
Coreia do Sul, Kuwait, Israel e Arábia Saudita. Com a versão anterior, PAC-2, está em
funcionamento em Espanha, Dinamarca, Qatar, Emiratos Árabes Unidos e Polónia.

303
REVISTA DE ARTILHARIA

bastante significativos, relativamente às anteriores. Apesar de o míssil que


atualmente equipa o Patriot ser maioritariamente desta versão, o míssil da
versão anterior (PAC-2) continua a ser alvo de atualizações. Segundo
Peruzzi (2012), o PAC-2 foi atualizado para uma versão que melhora o
guiamento do míssil (Guidance Enhanced Missile-Tactical - GEM-T),
através de uma nova espoleta que aumenta a sensibilidade do seeker. A
versão PAC-2 GEM-T permite aumentar a capacidade de empenhamento
contra CM e TBM, complementando o míssil PAC-3.
O Departamento de Defesa dos EUA (United States Department of
Defense – U.S. DoD) “está a tentar incrementar as tecnologias e os
componentes que irão estar inseridos no novo sistema de armas MEADS 16 ,
particularmente a capacidade de defesa aérea e míssil de 360 graus”
(Peruzzi, 2012, p. 9). O objetivo visa testar essas atualizações, bem como
aumentar as capacidades do sistema, até que o programa MEADS esteja
concluído.

2.2.4 THAAD

O Terminal High-
Altitude Area Defence
denominado por THAAD,
é um elemento vital para
o Sistema de Defesa Anti-
míssil Balístico (Ballistic
Missile Defense System
– BMDS)17 , pois fornece
componentes que são
rapidamente projetados
para ser criada uma
Figura 7 – THAAD. defesa antimíssil. Tem a
Fonte: (Salvado, 2006, p. 48) caraterística de “apro-
fundar, ampliar e com-
plementar o BMDS para que qualquer Comandante tenha capacidade de
eliminar mísseis balísticos de todos os tipos e de todos os alcances bem como
em todas as fases de voo” (AUSA, 2009, p. 335). O THAAD carateriza-se por
ser um sistema com grande mobilidade destinado à proteção de forças
militares, centros populacionais e pontos vitais, contra ataques de TBM.

16 Medium Extended Air Defense System.


17 O Sistema de Defesa contra Mísseis Balísticos (BMDS) é um projeto criado pelos EUA, para
fazer frente à atual ameaça da proliferação de mísseis balísticos e ADM.

304
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Este sistema tem um alcance de 200 km e até a uma altitude de 150 km, o
que torna difícil a tarefa à ameaça míssil de lançar contra medidas para
enganar os mísseis intercetores do THAAD. Além disso, estes mísseis são
capazes de atenuar os efeitos das ADM, antes de chegar ao solo. De acordo
com a AUSA (2009), o THAAD tem a capacidade de negar os efeitos das
ADM a um alcance de interceção muito além da área defendida, através da
combinação da grande altitude de intervenção com o longo alcance e a
letalidade através de hit-to-kill. Esta combinação aliada à “capacidade de
intercetar ameaças dentro e fora da atmosfera, aumentam o campo de
batalha permitindo o aumento das oportunidades de interção de mísseis
balísticos durante as várias fases da sua trajetória” (AUSA, 2009, p. 335).

2.3 SITUAÇÃO PORTUGUESA

A AAA Portuguesa baseia-se apenas em sistemas de armas de AAA


canhão, míssil ligeiro e míssil portátil MANPAD da família SHORAD.
O Exército Português, em 1981, adquiriu as primeiras unidades do
sistema canhão Bitubo AA 20mm de origem alemã, que atualmente equipa,
para efeitos de instrução, a Bateria de Artilharia Antiaérea das Forças de
Apoio Geral (BtrAAA/FApGer) sediada no RAAA1 em Queluz e está em uso
operacional nas BtrAAA do Regimento de Guarnição Nº2 nos Açores
e do Regimento de Guarnição Nº3 na Madeira. Em 1990, foi adquirido o
Sistema Míssil Ligeiro Chaparral, que equipa a BtrAAA/BrigMec e
BtrAAA/Briglnt 18 . O último sistema a ser adquirido em 1994 foi o FIM-92A
Stinger, versão MANPAD, que atualmente equipa atualmente as
BtrAAA/FApGer, BtrAAA/BrigRR 19 , BtrAAA/Briglnt e BtrAAA/BrigMec.
Segundo Vaz (2013), os sistemas de armas de AAA portuguesa estão
vocacionados apenas para combate de aeronaves que voam a baixa e muito
baixa altitude, não sendo eficazes contra a ameaça RAM e mísseis. Nos
sistemas de armas SHORAD atualmente em uso no Exército Português,
“derivado ao guiamento dos mísseis ser efetuado através de infravermelhos
só são eficazes contra ameaças que tenham uma grande assinatura
eletromagnética” (Mimoso, comunicação pessoal, 2013). Comparativamente
às novas ameaças aéreas (RAM, TBM, CM e UAV), essa assinatura
eletromagnética é bastante reduzida. Sendo que, “a ausência de AAA
adequada a este tipo de ameaça, pode vir a criar uma forte vulnerabilidade
ao nível da criação de capacidades” (EME, 2013, p.10).

18 Bateria de Artilharia de Antiaérea da Brigada Mecanizada e Bateria de Artilharia Antiaérea


da Brigada de Intervenção.
19 Brigada de Reação Rápida.

305
REVISTA DE ARTILHARIA

CAPÍTULO 3
AAA, TRANSFORMAÇÕES EM CURSO

3.1 SITUAÇÃO DOS EUA

As forças armadas dos países-membros da NATO têm feito um esforço


no sentido de “desenvolver forças modulares, flexíveis, projectáveis,
sustentáveis e com elevados índices de prontidão para serem empregues em
ambientes conjuntos e combinados” (Leão, Mimoso, Ferreira, & Grilo, 2009).
A essa transformação, a AAA não foge à regra, como acontece com um dos
países de referência a nível NATO, os EUA. “Os conceitos de emprego de
unidades SHORAD e HIMAD, anteriormente eram perfeitamente distintos.
No entanto, atualmente esta distinção está a desaparecer” (Leão, Mimoso,
Ferreira, & Grilo, 2009), pois os EUA procederam à criação de unidades
mistas, de escalão Grupo de Artilharia Antiaérea, constituídas pelos dois
tipos de sistemas.
A transformação da AAA também ocorre ao nível de sistemas de armas
e não só na organização das unidades. Estão já em fase de testes dois
sistemas de armas, MEADS e SLAMRAAM, que visam a substituição do
Patriot e do Avenger respetivamente.

3.1.1 MEADS

O Medium Extended Air


Defense System (MEADS) é
um programa de cooperação e
desenvolvimento, concebido em
meados da década de 90 e
gerido pela NATO “para desen-
volver capacidades terrestres
de defesa aérea e balística para
substituir os sistemas Patriot
nos EUA e Alemanha e o Nike
Hércules em Itália” (Peruzzi,
2012, p. 14). Por ser um sis-
Figura 8 – MEADS.
tema desenvolvido por mais do
Fonte: (Peruzzi, 2012, p. 14)
que um país, “a sua natureza
internacional dá ao programa um elevado potencial de desenvolvimento,
permitindo ainda, promover a interoperabilidade entre nações” (Benrós,
2002b, p. 51). Embora este sistema, tenha o propósito de substituir o

306
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

sistema Patriot, enquanto estiver a ser desenvolvido, o Patriot será alvo de


melhoramentos nas suas capacidades chave. No entanto, em dezembro de
2012 o Congresso dos EUA cortou os fundos para este programa, devido a
um reajustamento de prioridades na defesa.
Segundo Kee (2013), ao contrário do Patriot, este não é um sistema
isolado, ou seja, cada componente seu funciona como um módulo em rede.
Esta arquitetura de rede, permite a flexibilidade do sistema de armas,
podendo o mesmo ser empenhado num grande leque de missões, tais como
proteção das forças de manobra e pontos fixos contra “todo o espectro de
TBM, CM, UAV e aeronaves de asa fixa e helicópteros” (AUSA, 2009, p.
334). Ao invés do Patriot, o MEADS não tem zonas mortas e pode intercetar
qualquer ameaça em qualquer direção. Segundo Kee (2013), uma única
unidade MEADS poderá proteger quaisquer interesses nacionais em
qualquer parte do globo. Uma Bateria equipada com o MEADS “pode
proteger uma área até oito vezes maior à do Patriot, utilizando menos
componentes e custaria, em termos monetários, menos do que fazer uma
atualização ao Patriot” (Kee, 2013, p.2).
O sistema possuirá também “características que reduzam
significativamente os problemas logísticos relacionados com o transporte 20 ”
(Benrós, 2002b, p. 51) e não só. Este sistema, comparativamente ao Patriot,
foi criado para “fornecer poupanças significativas enquanto está a ser
operado e também em custos de apoio, pois utiliza menos de metade de
pessoal e requer menos de 80% de manutenção” (Kee, 2013, p.2),
maximizando assim o seu poder de fogo e minimizando o peso logístico. A
capacidade de transporte e de mobilidade tática será melhorada para este
sistema defesa aérea e míssil. Quando pronto, o MEADS será o único
sistema deste género a poder ser transportado por aeronaves de transporte
táticas 21 em conjunto com as forças que visa proteger para que, quando
chegar ao terreno, comece quase de imediato a operar.

3.1.2 SLAMRAAM

Este sistema foi apresentado em 2005, no entanto ainda está em


aperfeiçoamento e testes, muitos dos quais efetuados com elevada taxa de
sucesso. A designação Surfaced-Launched Advanced Medium Range Air-to-Air

20 “Graças à poupança com os dois níveis de manutenção, alta confiabilidade, e detecção


automática de falhas e prognósticos, menos pessoal, equipamento e exigências de transporte
aéreo” (Peruzzi, 2012, p. 14).
21 Exemplo destas aeronaves poderá ser o Hércules C-130, que está em uso operacional na Força
Aérea Portuguesa.

307
REVISTA DE ARTILHARIA

Missile (SLAMRAAM) denomina


uma plataforma de lançamento
com 6 mísseis AMRAAM 22
montada numa viatura da
família de viaturas médias
táticas 23 (FMTV). Este sistema
“é o escolhido pelo exército
norte-americano como o próximo
sistema SHORAD” (U.S. Army
Air Defense Artillery School,
2007d, p. 7), sendo considerado
o substituto dos sistemas de
armas que empreguem mísseis
Stinger, nomeadamente o sis-
Figura 9 – SLAMRAAM.
Fonte: (Valpolini, 2011, p.22) tema de armas Avenger. O
SLAMRAAM pretende dar ao
exército norte-americano a capacidade de se empenhar contra “ameaças
aéreas para além da linha de vista a maiores alcances do que os sistemas
baseados nos mísseis Stinger” (Pike, 2011), bem como oferecer cobertura em
360 graus. O míssil que equipa este sistema tem como alcance máximo
33km e um teto de 15km, e visa combater a ameaça aérea convencional bem
como UAV e CM.
Segundo a U.S. Army Air Defense Artillery School (2007d), pretende-se
que o SLAMRAAM venha a funcionar da mesma forma que uma aeronave
de asa fixa. O sistema utiliza o radar para adquirir a ameaça aérea e envia a
informação ao centro de comando e controlo (FDC), onde é processada para
se proceder ao empenhamento. Depois de processada, a informação através
da plataforma de lançamento, é enviada ao míssil para se conduzir o
empenhamento. No entanto, enquanto todo este processo se realiza dentro
da aeronave. No caso do SLAMRAAM, o radar, o comando e controlo e a
plataforma de lançamento podem estar dispersos pelo campo de batalha
estando ligados por transmissão de dados via rádio.

22 O míssil AMRAAM é uma arma particularmente eficaz no combate ar-ar, com alcances que
variam entre 50km e 165km, dependendo da versão e velocidade do avião lançador, ou 10 a
30km contra aviões em fuga. “Este míssil equipa já algumas aeronaves F-16 da Força Aérea
Portuguesa, substituindo o míssil Sidewinder, da família do MIM-72 que equipa o sistema
Chaparral” (Silva N. , 2011, p. 25).
23 A proposta inicial visava utilizar veículos tipo Humvee, mas com a experiência no TO do
Afeganistão, o Exército norte-americano considerou que a blindagem desses veículoso não
conferia proteção suficiente à guarnição.

308
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Ao contrário do que acontece com os sistemas baseados no míssil


Stinger, o SLAMRAAM apresenta também desvantagens. Segundo Pike
(2011), este sistema não poder ser autonomamente empregue contra as
ameaças aéreas, pois uma unidade de tiro tem que receber primeiro a
informação da ameaça aérea e também identifica como uma ameaça
aeronaves amigas, o que se torna bastante crítico já que o SLAMRAAM tem
a capacidade de empenhamento para além da linha de vista. Esta
capacidade não pode ser confiada em meios de identificação visual para
distinguir aeronaves amigas de ameaças inimigas.

3.2 DEFESAS ANTIMÍSSIL

As forças armadas mais modernas, atualmente, estão à procura de


sistemas antimíssil que possam ser projetáveis para proteger as suas forças
ou até mesmo a população civil, contra as ameaças aéreas convencionais e
também de UAV, CM, e mísseis balísticos.

Figura 10 – ALTBMD da NATO.


Fonte: (Kiefer, 2011, p. 5)

A necessidade de vários países quererem desenvolver a capacidade de


defesa antimíssil, para proteger o seu território, advém das “duas Guerras
do Golfo como também as crises atuais nas várias regiões, como é o caso das

309
REVISTA DE ARTILHARIA

duas Coreias, Índia e Paquistão, e Irão e Israel” (Peruzzi, 2012, p. 6). Estas
defesas antimíssil cada vez requerem mais importância, visto que os países
intervenientes nas crises anteriormente referidas possuem mísseis
balísticos. No caso da NATO, entre os países-membros que fornecem
sistemas de armas de AAA, “o Patriot de fabrico norte-americano é o sistema
mais utilizado globalmente, mas que será substituído pelo programa
transatlântico MEADS, no entanto, é também utilizado o sistema de armas
de europeu Aster SAMP/T” (Peruzzi, 2012, p. 6).
A Defesa Antimíssil da NATO foi estabelecida em setembro de 2005,
tendo sido designada por Programa ALTBMD 24 , para proteção das forças
destacadas da Aliança em nos vários teatros de operações. A arquitetura
deste programa fornece ao Comandante da NATO a capacidade de defender
as forças da NATO “que estejam localizadas dentro ou fora da Área de
Responsabilidade da organização contra a ameaça representada pelos TBM
com alcances que podem chegar aos 3000 km.” (Kiefer, 2011). Após a criação
deste programa, vários estudos referentes à fiabilidade do mesmo foram
efetuados por vários países-membros. Como consequência, e após as
Cimeiras da NATO de Lisboa em novembro de 2010 e de Chicago em maio
de 2012, o programa foi expandido para incluir também a proteção do
território europeu e da população dos países membros da Aliança. À
capacidade interina 25 de defesa contra os TBM, criada em 2010, seguiu-se a
capacidade interina de defesa territorial em maio de 2012.
Já os EUA, ao longo de vários anos, têm desenvolvido, testado e ao
mesmo tempo implementado uma defesa antimíssil própria. O objetivo desta
defesa visa a defesa contra mísseis balísticos de todos os alcances, utilizando
uma defesa integrada por camadas que fornece múltiplas oportunidades
para destruir as ameaças aéreas antes de chegarem ao seu objetivo.
A AAA, desempenha um papel bastante importante, quer se esteja a
falar das defesas antimíssil da NATO ou dos EUA. Os sistemas de armas de
AAA 26 fornecem os mísseis intercetores terrestres mas, ainda assim, o seu
papel restringe-se ao empenhamento apenas durante a fase terminal de voo
dos mísseis balísticos.

24 Active Layer Theatre Ballistic Missile Defence.


25 A capacidade interina deste sistema foi fornecida, através de diversos equipamentos, pelos EUA.
Esta capacidade inicial oferece a máxima proteção para defender as populações, o território e
as forças armadas dos países do sul da Europa e membros da NATO, contra ataques de
mísseis balísticos.
26 Aster SAMP/T30, MEADS, Patriot-PAC3 e THAAD.

310
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

CAPÍTULO 4
PROSPETIVAS DE FUTURO

4.1 SISTEMAS DE ARMAS DE AAA SHORAD

O conceito de emprego dos futuros sistemas de armas de AAA SHORAD


deverá ser alterado, como resultado da alteração das características das ameaças
aéreas com que se podem vir a confrontar. Dependendo do que se deseja proteger,
as características dos sistemas de armas de AAA SHORAD serão diferentes.
Os sistemas de armas de AAA SHORAD deverão continuar a basear-se
em sistemas modulares. Esta modularidade, visa permitir grande
flexibilidade na sua utilização, bem como “igualar ou até mesmo exceder a
capacidade de manobra das forças a proteger” (Hutchings & Street, 2001, p.
18). No entanto, apesar da modularidade, “o operador que lida com o sistema
de armas tem de ter à mesma o controlo sobre o mesmo” (Veen, 2001, p. 2).
Os sistemas de armas de AAA SHORAD, de acordo com Hutchings e
Street (2001), como características fundamentais, deverão:
x ser sistemas de todo-o-tempo, não sendo uma limitação por exemplo
quando anoitece ou há nevoeiro;
x possuir uma letalidade maior contra ameaças aéreas pequenas, que
voem a baixa altitude e com grande velocidade, comparado com os
sistemas atuais devido à previsão da ameaça aérea ser maior;
x ter maior alcance de empenhamento, contra ameaças ágeis;
x fornecer fogos múltiplos e simultâneos, a partir de um único sistema,
o que aumentará em muito a proteção AA contra mísseis standoff;
x poder ser empregues contra ameaças aéreas que não estejam em
linha de vista (Non Line Of Site – NLOS), o que será essencial para
abater helicópteros de ataque e para melhorar no global a eficácia
dos sistemas de armas contra as ameaças aéreas;
x ser posicionados a uma maior distância dos radares, por forma a
aumentar o desempenho do sistema e o espaço a proteger, contra
ameaças a muito baixa altitude, permitindo um maior grau de
flexibilidade e sobrevivência.

4.2 SISTEMAS DE ARMAS DE AAA HIMAD

Os atuais sistemas de armas de AAA HIMAD têm capacidade de


destruir as ameaças aéreas na sua fase terminal de voo. “A integração dos
futuros sistemas de armas de AAA HIMAD com os subsistemas de C2 e

311
REVISTA DE ARTILHARIA

deteção e alerta, será crucial para permitir a monitorização das trajetórias


das ameaças aéreas, logo após o seu lançamento” (Mimoso, 2013). Um
seguimento mais prematuro, segundo Mimoso (2013), permitirá aos futuros
sistemas de armas de AAA HIMAD serem empenhados logo após o
lançamento da ameaça aérea, para que a possibilidade de danos colaterais
seja a mais ínfima possível.
Para o empenhamento ser mais prematuro, os sistemas HIMAD
deverão possuir um maior alcance comparativamente aos que existem
atualmente. A mobilidade é um fator cada vez mais a ter em conta visto que,
caso o alcance dos sistemas não consiga ser aumentado, a necessidade
de movimentar meios o mais rapidamente possível será de extrema
importância. A capacidade de conseguir fornecer proteção a 360 graus
também se apresenta como uma das condições necessárias aos novos
sistemas HIMAD, permitindo assim um empenhamento contra qualquer
ameaça aérea em qualquer direção, não dando oportunidade a essas
ameaças de explorarem as zonas não cobertas pelos sistemas de armas para
infligir ataques.

4.3 A TECNOLOGIA LASER NOS NOVOS SISTEMAS


DE ARMAS DE AAA

A ideia de implementar a tecnologia laser em sistemas de armas já não


é recente. Segundo Garner (2002), essa ideia já era anunciada no auge do
programa da Guerra nas Estrelas 27 na década de 80 pelo Presidente
Reagan. Atualmente essa ideia está a ser posta em prática, chegando assim
à “realidade de utilizar lasers de alta energia 28 em sistemas mortíferos”
(Garner, 2002, p. 67). No entanto, o emprego generalizado desta tecnologia
em operações “é ainda inviabilizado, devido à necessidade da existência de
geradores de grandes dimensões, necessários ao fornecimento da muita
energia consumida por estes meios” (Paradelo, 2009, p. 15), sendo que, ainda
é considerada como uma “hipótese muito improvável que os sistemas de
armas de AAA míssil sejam substituídos como o principal mecanismo letal
pelos novos sistemas de armas que utilizam laser” (Hutchings & Street,
2001, p. 10). Apesar da tecnologia laser ainda “não possuir qualidade
suficiente para ser utilizada na defesa aérea” (Ochsner, 2012, p.3), há a
necessidade de evoluir nesta vertente. No entanto, segundo Ochsner (2012),
será necessário também continuar a desenvolver a tecnologia que já exista

27 Este programa visava a criação de um escudo de defesa contra mísseis nucleares.


28 HEL – High Energy Lasers.

312
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

atualmente, para permitir uma maior flexibilidade. Essa mesma flexibili-


dade é demonstrada na possibilidade de se poder escolher uma das várias
tecnologias, sabendo de antemão que todas elas têm vantagens e desvantagens.
Os avanços futuros contra ameaças aéreas de dimensões reduzidas,
poderiam fornecer uma vantagem significativa, sobre um potencial
adversário. Pelo fato de o laser propagar-se à velocidade da luz e a sua
precisão a longo alcance resultar num impacto quase imediato na ameaça
aérea, torna qualquer sistema equipado com esta tecnologia superior à
maior parte das munições e aos sistemas de armas convencionais.” Como o
seu tempo de voo é nulo, significa que pode ser empenhado contra muitas
mais ameaças aéreas comparado com uma arma convencional num certo
período do tempo” (Angell, 2012, p. 117).
Em 2008, o exército norte-americano reconheceu o potencial da
tecnologia dos HEL para futuros sistemas de armas. O contrato para o
desenvolvimento de um demonstrador desta mesma tecnologia foi concedido
à empresa Boeing. Especificamente na parte ligada à AAA, como justificação
de tal contrato, encontra-se a possibilidade desta tecnologia poder ser
empregue eficazmente contra a ameaça RAM. Essa capacidade AA móvel,
poderá ser bastante útil para a proteção de pontos e áreas sensíveis e até
mesmo de forças em deslocamento.
Apesar de esta tecnologia apresentar grandes vantagens, é também
importante realçar alguns contras da utilização da mesma. Não deixariam
de existir danos colaterais por se adotar esta tecnologia. A utilização de
material refletor que dissipe ou reflita totalmente a energia vinda do laser,
podendo causar “cegueira intencional temporária ou permanente” (Angell,
2012, p. 120), seria à primeira vista uma perfeita contra-arma para diminuir
os efeitos desta tecnologia. Para que isso não aconteça, tem de haver
esforços durante a pesquisa e desenvolvimento deste tipo de tecnologia para
prever e colmatar os danos temporários ou permanentes que essa mesma
tecnologia possa causar às nossas forças e, até mesmo, à população civil.
Quando se quer implementar tecnologia em algo, a própria tem custos
financeiros associados que, apesar de nos HEL serem elevados, “a certa
altura valerá a pena para a proteção da força”, já que o valor que essa
tecnologia representa “é mínimo comparado à perda de um navio da
marinha, de uma aeronave, de uma infraestrutura importante, de forças
militares e até mesmo de população civil”(Angell, 2012, p. 120). Várias
indústrias de defesa já testaram sistemas de defesa laser, entre as quais a
Northrop Grumman, que através do seu laser tático de alta energia (Tactical
High Energy Laser - THEL), conseguiu empenhar-se com eficácia contra
ameaças RAM a um alcance de 5 km.

313
REVISTA DE ARTILHARIA

CONCLUSÕES

Apesar dos grandes desenvolvimentos que se têm verificado na


indústria de defesa, no que se refere ao combate às ameaças aéreas, nota-se
que continuará a assistir-se a uma complementaridade no emprego dos
sistemas de armas de AAA. A combinação de meios SHORAD e HIMAD
continuará a ser uma realidade já que, por mais sistemas de armas que se
criem, não possuem cada um deles por si só, a capacidade de conseguir
combater todas as ameaças aéreas com sucesso. Para além do mais, esta
combinação visa colmatar as limitações e potenciar as possibilidades de cada
sistema de armas para que a sua função seja desempenhada o mais
eficazmente possível. Independentemente da família da altura de
intervenção, os sistemas deverão possuir uma maior mobilidade, ser
projetáveis, com capacidade de serem multitarefa, e interoperáveis se
desempenharem um papel importante no apoio às operações militares.
Os meios SHORAD continuarão a assentar numa lógica de
modularidade permitindo grande flexibilidade de emprego, atendendo à
preocupação de serem sistemas a todo-o-tempo. Os meios HIMAD terão de
ter a capacidade de serem empenhados numa fase mais inicial de voo da
ameaça aérea. Atualmente o seu emprego apenas se limita à fase terminal,
pelo que caso o empenhamento não tenha sucesso, o risco de serem infligidos
danos nas nossas forças ou até mesmo danos colaterais é muito maior. Para
que tal não aconteça, uma maior capacidade de manobrabilidade bem como
um maior alcance, será a base dos futuros meios HIMAD.
A criação das defesas antimíssil reforça a importância dos sistemas de
armas de AAA estando os mesmos a cabo da interceção na fase terminal de
voo dos mesmos. Perante as novas ameaças aéreas, os sistemas HIMAD
continuaram a estar mais vocacionados, como acontece atualmente, para a
proteção contra os mísseis balísticos. Por sua vez os sistemas SHORAD,
para além de continuarem a estar vocacionados para a proteção AA contra a
ameaça convencional bem como RAM e UAV, continuarão a fornecer
proteção aos sistemas HIMAD, inclusive contra ataques terrestres.
O emprego da tecnologia laser em sistemas de armas, nomeadamente
de AAA, ainda é uma atividade recente. Porém, é uma área que vários
exércitos já demonstraram grande interesse investigar, devido às suas
valências no combate às várias ameaças aéreas, nomeadamente RAM.
Contudo, os recursos financeiros empregues no desenvolvimento de tais
meios e a sua relação com a eficácia pretendida ainda está longe de ser
ideal, bem como a hipótese de provocar sérios danos colaterais será
merecedora de uma redobrada atenção.

314
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Em suma, a combinação da nova ameaça aérea com as necessidades que


advêm das transformações dos exércitos, leva inevitavelmente ao
desenvolvimento de novos sistemas de armas. Através destes sistemas de
armas, a AAA, continuará a ser o elemento vital das forças terrestres que
garante a proteção do campo de batalha.

BIBLIOGRAFIA

Angell, A. (janeiro de 2012). The High-Energy Laser: Tomorrow’s Weapon to Improve


Force Protection. Obtido em 22 de março de 2013, de National Defence
University:http://www.ndu.edu/press/lib/pdf/jfq-64/JFQ-64_115-121_Angell.pdf
AUSA. (Outubro de 2009). Army Magazine. Obtido em 4 de março de 2013, de Association
of United States Army: http://www.ausa.org/publications/armymagazine/
archive/2009/10/Documents/weapons_missiles.pdf
Benrós, J. (outubro de 2002a). A Artilharia Antiaérea nas Operações de Apoio à Paz.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 2, II Série, p. 10-13.
Benrós, J. (outubro de 2002b). Medium Extended Air Defense System (MEADS).
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 2, II Série, p. 50-53.
Benrós, J. (outubro de 2005). A Artilharia Antiaérea na transformação do Exército.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 5, II Série, p. 18-26.
Borges, J. (outubro de 2005). As ameaças globais e a defesa aérea em Portugal.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 5, II Série, p. 15.
Casinha, A. (outubro de 2011). Os Radares de Artilharia Antiaérea face ao novo
ambiente operacional. Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 11, II Série, p. 14.
Coimbra, A. (outubro de 2005). Editorial. Boletim de Artilharia Antiaérea, nº5, II Série, p. 3.
Coimbra, A. (outubro a dezembro de 2011). O Ambiente Estratégico Internacional e
as exigências que se colocam à Artilharia. Revista de Artilharia, p. 334-335.
Couto, A. (1988). Elementos de Estratégia, Apontamentos para um curso. Lisboa:
Instituto de Altos Estudos Militares.
Department of the U.S. Army. (2000). FM 3-01.7 - Air Defense Artillery Brigade
Operations. Washington, DC: Department of the U.S. Army.
Department of the U.S. Army. (2007). FM 3-01.11 - Air Defense Artillery Reference
Handbook. Washington, DC.: Department of the U.S. Army.
Dias, J. (abril a junho de 2010). A Evolução dos Materiais de Artilharia Antiaérea em
Portugal. Revista de Artilharia, p. 170-189.
EME. (2012). PDE 3-00 Operações. Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EME. (2013). Reflexões sobre a organização da Artilharia – Futuro Sistema de Forças
Nacional, Lisboa, EME.
Escorrega, L. (19 de fevereiro de 2010). A Segurança e os “Novos” Riscos e Ameaças:
Perspectivas Várias. Obtido em 13 de fevereiro de 2013, de Revista Militar:
http://www.revistamilitar.pt/artigopdf.php?art_id=499

315
REVISTA DE ARTILHARIA

Férnandez, M. (dezembro de 2012). Tendencias de Artillería. Memorial De Artillería


nº168, p. 21.
Garner, J. (fevereiro de 2002). Fighting At the Speed Of Light. ARMY Magazine, p.
67-70. Obtido em 4 de março de 2013, de Association of United States Army:
http://www.ausa.org/publications/armymagazine/archive/2002/2/Documents/Gar
ner_0202.pdf
Hutchings, P., & Street, N. (2001). Future Short Range Ground Based Air Defence:
System Drivers, Charactheristics and Architechtures. Obtido em 15 de fevereiro
de 2013, de Defense Technical Information Center: http://www.dtic.mil/cgi-
bin/GetTRDoc?Location=U2&doc=GetTRDoc.pdf&AD=ADP010848
Kee, G. (fevereiro de 2013). The Need for MEADS. Obtido em 10 de abril de 2013, de
Integrated Air & Missile Defence 2013:
http://www.airmissiledefenceevent.com/media/657l/2990.pdf
Kiefer, D. (julho de 2011). ALTBMD. Obtido em 18 de março de 2013, de Defense
Technical Information Center: http://www.dtic.mil/ndia/2011IAMD/DaveKiefer.pdf
Ladeiro, B. (outubro de 2009). Capacidade de Protecção em Movimento. Boletim da
Artilharia Antiaérea, nº 9, II Série, p. 32-33.
Leão, G., Mimoso, C., Ferreira, A., & Grilo, D. (07 de janeiro de 2009). A Integração
da AAA Nacional no Sistema de Defesa Aérea do Território. Obtido em 15 de
fevereiro de 2013, de Revista de Artilharia: http://www.revista-artilharia.
net/index.php?option=com_content&task=view&id=56&Itemid=33
Mimoso, J. (08 de março de 2013). Sistemas de Armas de Artilharia Antiaérea.
Atualidade e Prospetiva. (R. J. Mainha, Entrevistador)
Mouta, L. (outubro de 2011). Artilharia Antiaérea de média e alta altitude (HIMAD).
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 11, II Série, p. 32-38.
Ochsner, F. (dezembro de 2012). Integrated Air & Missile Defence. Obtido em 10 de abril
de 2013, de Integrated Air & Missile Defence: http://www.airmissiledefenceevent.com/
media/6571/2198.pdf
Paradelo, A. (outubro de 2009). Capacidade C-RAM. Boletim da Artilharia Antiaérea,
nº 9, II Série, p. 10-15.
Paradelo, A. (Outubro-Dezembro de 2010). Defesa Aérea nas Operações em Áreas
Edificadas. Revista de Artilharia, p. 374-379.
Perdigão, H. (outubro de 2005). A Artilharia Antiaérea face às "novas" ameaças.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 5, II Série, p. 28-35.
Peruzzi, L. (julho a agosto de 2012). European Defence & Security Review. Obtido em
02 de abril de 2013, de European Security and Defence Press Association:
http://www.esdpa.org/wp-content/uploads/EDR4-juill-aout2012.pdf
Pike, J. (07 de julho de 2011). SLAMRAAM [Surfaced-Launched Advanced Medium
Range Air-to-Air Missile]. Obtido em 22 de fevereiro de 2013, de GlobalSecurity.org:
http://www.globalsecurity.org/military/systems/munitions/slamraam.htm
Ramalho, J. (2011). Exército Português: Uma Visão - Um Rumo - Um Futuro. Lisboa.
Rodrigues, C. (outubro de 2007). O que se estará a passar com o futuro da nossa
Antiaérea? Boletim da Artilharia Antiaérea, nº 7, II Série, p. 6-8.
Salvado, N. (outubro de 2006). Sistemas HIMAD. Boletim de Artilharia Antiaérea, nº
6, II Série, p. 35-50.

316
SISTEMAS DE ARMAS DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Salvador, C. (outubro de 2006). Sistemas de armas SHORAD. Boletim da Artilharia


Antiaérea, nº6, II Série, p. 7-15.
UN. (dezembro de 2004). A more secure world: Our shared responsibility. Obtido em 25
de fevereiro de 2013, de United Nations: http://www.un.org/secureworld/report2.pdf
U.S. Army Air Defense Artillery School. (setembro de 2007d). Elo I – SLAMRAAM.
Air and Missile Defense (AMD) Organizations and Weapon Systems., 41
diapositivos.
Vaz, N. (05 de março de 2013). Sistemas de Armas de Artilharia Antiaérea.
Atualidade e Prospetiva. (R. J. Mainha, Entrevistador)
Veen, E. (2001). On Modularity in (V)Shorad Air Defense. Obtido em 12 de março
de 2013, de NATO: http://ftp.rta.nato.int/public//PubFulltext/RTO/MP/RTO-MP-
063///MP-063-08.pdf
Wilson, J. (21 de dezembro de 2012). Man-Portable Battlefield Missiles. Obtido em 12 de
março deREVISTA
2013, DE
deARTILHARIA
defensemedianetwork.com: http://www.defensemedianetwork.com/
stories/man-portable-battlefield-missiles/

18 317
REVISTA DE ARTILHARIA

18
PEDIDO DE RETIFICAÇÃO

Pedido de Retificação
Nos termos do artº 25º da lei nº 2/99, de 13 de Janeiro, o Tenente
Coronel Pedro Alexandre Marquês de Sousa solicitou a retificação ao meu
artigo de Dezembro de 2013 referindo que “a origem do projeto não surgiu de
uma ideia resultante de brainstorming promovido pelos oficiais do Gabinete
de Artilharia, mas sim de uma ideia original do TCor Artª Marquês de
Sousa, autor da ideia conforme consta no registo de patente de invenção
publicado no Diário da República (Boletim de Propriedade Industrial nº7 de
2005) relativo ao registo de patente de Projétil de Artilharia de Combate a
Incêndios”

Embora subsistam dúvidas se a lei 2/99 se aplica à RA, por ser uma
publicação privada dos seus membros, efetua-se a publicação da solicitada
retificação, relativamente à qual, nos termos do nº6 do artº 26 da lei 2/99 de
13 de Janeiro, se oferece a breve anotação:

1. A propósito da presente situação, esclarece o MGen Botelho Miguel:


“fui o promotor de ideias no âmbito do Gabinete de Artilharia
para propostas de projetos de investigação para o Exército, (…)
do que me recordo a ideia surgiu ali mesmo no Gabinete dum
autêntico brainstorming (…). a ideia do AMACI se tem
progenitor são os oficiais de artilharia do Gabinete de então e de
ninguém em particular(…)” (AMACI foi o projeto de I&D
inicial).

2. A ideia original seria utilizar um projétil de Artilharia para transporte


de substância de combate a incêndio e não especificamente por
sistema mecânico baseado no corte de uma membrana, conforme
refere o citado boletim. Este e outros pormenores decorrem da

319
REVISTA DE ARTILHARIA

investigação no IST com alunos da Academia Militar, na qual o TCor


Marquês de Sousa não participou. A existência do nome do TCor
Marquês de Sousa no referido boletim decorre de uma necessidade
de registar a patente, com a qual concordei, só para que houvesse um
nome de um militar, da Academia Militar, num projeto militar, visto
a maioria de nós já não estar então colocada na AM.

3. O TCor Marquês de Sousa enviou-me um e-mail em 11 de Outubro


de 2013, surpreendido pelo eventual pagamento da taxa da patente,
que passo a citar:

“Esta funcionária do IST ligou-me ontem, dizendo que a patente


está como
REVISTA sendo minha (e da AM) e que tem um prazo validade
DE ARTILHARIA

de 20 anos (…)” (sublinhado meu) ou seja, o inventor ficou


surpreendido com o que agora reclama como ideia original.

320 18
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 5 e POLO PERMANENTE


DO PM001/VENDAS NOVAS

CERIMÓNIA COMEMORATIVA DA ENTRADA EM


FUNCIONAMENTO DO REGIMENTO DE ARTILHARIA N.º 5

No passado dia 01 de agosto de 2014, realizou-se em Vendas Novas a


cerimónia comemorativa da entrada em funcionamento do Regimento de
Artilharia N.º 5. A cerimónia foi presidida pelo Comandante do RA5,
Coronel de Artilharia António
José Pardal dos Santos, tendo
contado com a presença do
Exmo. Presidente da Câmara
Municipal de Vendas Novas,
Dr. Luís Carlos Piteira Dias e
várias entidades civis.
Este evento teve início
com a prestação de continência
das Forças em Parada ao
Comandante do RA5, após o
que se procedeu à leitura de

321
REVISTA DE ARTILHARIA

um excerto da Diretiva N.º 117


de 01jul14 de Sua Exa. o General
CEME, que determina a entrada
em funcionamento do RA5 em
Vendas Novas.
Seguidamente procedeu-se à
entrega das flâmulas às Bate-
rias, simbolizando o início das suas
atividades em Vendas Novas. O
Comandante do RA5 proferiu uma
alocução alusiva ao ato, tendo
feito referência às unidades que precederam o RA5 na Serra do Pilar e em
Vendas Novas, por constituírem parte significativa do valioso património
histórico e cultural, que constitui a memória de 205 anos de História Militar
da Serra do Pilar e de 153 anos de atividade de unidades de Artilharia em
Vendas Novas. Relevou ainda as tarefas que constituem a missão do RA5
em Vendas Novas, as quais definem o desafio a vencer.
Após se proceder ao des-
cerramento do N.º 5 na Porta
de Armas, que define o novo
nome da Unidade Militar ins-
REVISTA DE ARTILHARIA

talada em Vendas Novas, as


Forças em Parada desfilaram
prestando continência ao Coman-
dante do RA5 e fizeram a sua
primeira entrada no quartel como
força constituída, dando-se assim
por terminada a cerimónia.

322
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RAAA1

PATRULHAMENTOS DE PREVENÇÃO AOS FOGOS


FLORESTAIS NA SERRA DE SINTRA

O Regimento de Artilharia Antiaérea Nº 1 iniciou os patrulhamentos de


prevenção aos fogos florestais na Serra de Sintra, em parceria com o
Centro de Tropas de Comandos, pelo período de 01JUL a 30SET14,
previsivelmente.
O RAAA1 tem em permanência uma equipa de 04 militares
comandados por 1 graduado, que efetuam patrulhamentos 24h por dia, 7
dias por semana.

PLANO FAUNOS – PATRULHAMENTOS DE


PREVENÇÃO AOS FOGOS FLORESTAIS NA SERRA
DA ARRÁBIDA

Decorrente do Plano FAUNOS 2014, o


Regimento de Artilharia Antiaérea Nº1 iniciou
em 21 de Julho de 2014 os patrulhamentos de
prevenção aos fogos florestais na Serra da
Arrábida, empenhando 03 militares e uma
viatura.
O Regimento de Artilharia Antiaérea Nº1
garante a execução de saídas de patrulhamento
entre 01JUL14 e 30SET14.
Esta ação visa a vigilância dos espaços
florestais, com especial atenção para as zonas
sombra dos postos de vigia, bem como, a sensi-

323
REVISTA DE ARTILHARIA

bilização das populações para o valor e importância destes mesmos espaços


e da conduta responsável que o cidadão deve ter na sua utilização.
O Plano FAUNOS surge de um Protocolo de Colaboração entre o
Exército Português e o Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas, celebrado em 04 de Abril de 2014, homologado por S.Exa. o
Ministro da Defesa Nacional e S.Exa. a Ministra da Agricultura e do Mar.

CERIMÓNIA EVOCATIVA DO 48º ANIVERSÁRIO DOS


25 MILITARES DO RAAF MORTOS NO COMBATE AO
INCÊNDIO DA SERRA DE SINTRA

Em 07 Setembro o RAAA1 na qualidade de herdeiro dos costumes e


tradições do Ex RAAF, assinalou mais um aniversário do falecimento dos 25
militares daquele Regimento.
A cerimónia decorreu em duas fases e locais distintos.
Teve início com a celebração na Capela do Regimento, de uma missa em
memória de todos aqueles militares que pereceram no combate ao incêndio,
seguindo-se a deposição de uma coroa de flores no monumento aos militares
mortos ao serviço da Pátria.

A cerimónia prosseguiria depois na serra de Sintra, mais propriamente


no Pico do Monge, local onde decorreu a cerimónia militar, tendo usado da
palavra o Cor Art Borges da Fonseca Comandante do RAAA1, que evocou a
abnegação e coragem dos militares que tombaram naquele dia 07 de
Setembro de 1966.
Seguiu-se o toque de homenagem aos mortos e deposição de coroas de
flores. O Capelão do RAAA1 Alf SAR Santiago evocou os militares falecidos

324
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

proferindo uma prece para que


permaneçam sempre na memória de
todos nós. A cerimónia conclui-se
com uma romagem ao local onde
foram encontrados os corpos dos
infelizes militares.
Presidiu às cerimónias o Coman-
dante da Brigada de Intervenção
Major-General Carlos Henrique de
Aguiar Santos, que contou com a
presença do Presidente da Assem-
bleia Municipal daARTILHARIA
REVISTA DE Câmara Municipal de Sintra e do Presidente da
Autoridade Nacional de Proteção Civil, entre outras entidades.

18
325
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 4

COMEMORAÇÕES DO 87º ANIVERSÁRIO DO RA4

No dia 03 de julho de 2014 decorreram, no quartel da Cruz D’Areia em


Leiria, as comemorações do 87º aniversário do Regimento de Artilharia Nº 4.
A cerimónia foi presidida pelo MI Diretor Honorário da Artilharia, Exmo.
TGen Frederico José Rovisco Duarte, tendo contado com a presença do
Exmo. Presidente da Camara de Leiria, Dr. Raúl Miguel de Castro, o Exmo.
Comandante da Brigada de Reação Rápida, MGen Fernando Celso de
Campos Serafino e várias entidades civis e militares.
No final da cerimónia, durante a
demonstração de capacidades opera-
cionais do Grupo de Artilharia de
Campanha, os convidados assistiram
ao “Batismo de Fogo” de seis Enti-
dades Civis e Militares, tendo-lhes
no final sido atribuído o Grau de
“Artilheiro Honorário do Regi-
mento de Artilharia Nº4”.
Ao terminar as comemorações o
MI Diretor Honorário da Arma de
Artilharia, Exmo. TGen Frederico José Rovisco Duarte lavrou uma mensagem
no “Livro de Honra” do Regimento.

Integrado nas Comemorações do 87º aniversário do Regimento, foram


realizados os seguintes eventos:

326
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

x no dia 14 de junho de
2014 o XVI Grande
Prémio de Orientação
do RA4 na região de
Quiaios – Figueira da
Foz em parceria com o
Clube de Orientação do
Centro, com a partici-
pação de 347 atletas de
vários Clubes.
x no dia 18 de julho de
2014 pelas 21h 30m no
Teatro José Lúcio da Silva à excelente actuação da Orquestra
Ligeira do Exercito, tendo estado presentes cerca de 600 pessoas.

APRONTAMENTO DA LIGHTARTYBTY/NRF2015 –
EXERCÍCIO HÉSTIA 14

Com o objetivo de efetuar a Combat Readiness Evaluation (CREVAL)


da Light Artillery Battery atribuída à Immediate Response Forces da NATO
Response Force 2015 (LightArtyBty/NRF2015), realizou-se o exercício
HÉSTIA 14 no período compreendido entre 14 e 17JUL14.

Formatura de parque da Sargento Adjunto da LightArtyBty/NRF2015


LightArtyBty/NRF2015 a explicar a organização da posição.

O exercício contou com a participação de 120 militares e 40 viaturas


iniciando-se, no dia 16 com o teste do plano de convocação, a que se seguiu a

327
REVISTA DE ARTILHARIA

realização do plano de carregamento;


cumulativamente foi efetuada a ava-
liação documental da Bateria. O
exercício terminou, no dia 17, sob a
forma de Field Training Exercise, na
Região do Pinhal de Leiria, onde foi
ocupada uma área de atribuição de
missão, efetuado o apoio a uma
escolta humanitária e executada a
reação a vários incidentes. Todas as
tarefas foram efetuadas utilizando
terminologia, metodologia e procedi-
Secção de Obus da Bateria de Tiro da
mentos de planeamento de operações
LightArtyBty/NRF2015
em vigor na NATO.

Secção de Alimentação da Posto Central de Tiro da Bateria de Tiro


LightArtyBty/NRF2015 da LightArtyBty/NRF2015

TOMADA DE POSSE DO COMANDANTE DO


REGIMENTO DE ARTILHARIA N.º 4

No dia 22 de Julho de 2014, tomou posse como Comandante do


Regimento de Artilharia N.º 4, o Coronel de Artilharia, Carlos Manuel
Mendes Dias, por ter sido nomeado por escolha, nos termos do
despacho, de S. Exª o General Chefe do Estado-Maior do Exército, de 6
de Maio de 2014.

328
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

Conferiu-se à cerimónia o relevo e a dignidade protocolar regulamentar,


que incluiu:
x Formatura Geral do Regimento;
x Entrega do Estandarte do Regimento;
x Alocução do Comandante;
x Revista às Forças em Parada;
x Receção dos Oficiais, Sargentos e uma delegação de Praças e
Funcionários Civis.

Após a recepção e apresentação de cumprimentos na Biblioteca, o novo


Comandante passou revista às instalações da Unidade.

329
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA GAC/BrigMec

APOIO DO GAC/BRIGMEC AO EXERCÍCIO “LEÃO 14”


DO 4º ANO DE ARTILHARIA DA AM

No período de 2 a 12 de julho o Grupo de Artilharia de Campanha


(GAC) da Brigada Mecanizada (BrigMec) apoiou o exercício da Academia
Militar (AM) “Leão 14”. Para apoio à formação dos cadetes do 4º ano de
Artilharia da AM, foi disponibili-
zada uma Bateria de Bocas de
Bocas de Fogo, com um efetivo de
1 Oficial, 4 Sargentos e 17 Praças.
Este Exercício permitiu aos futuros
Oficiais de Artilharia ter um
contacto primário e mais direto
com os sistemas de armas que
equipam este GAC/BrigMec. Foi
ministrada uma formação inicial
sobre os materiais existentes no
GAC/BrigMec, destacando-se o Obus AP M109 A5 155mm. Após a formação
inicial, os cadetes tiveram a oportunidade de realizar um exercício tático,
desenvolvendo as missões para que a Artilharia de Campanha está
vocacionada. Os cadetes do 4º ano da Academia Militar foram acompa-
nhados por um cadete espanhol e um cadete brasileiro que participaram
neste Exercício no âmbito da cooperação técnico-militar desenvolvida por
Portugal com estes dois países.

330
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

PARTICIPAÇÃO DO GAC/BRIGMEC NO EXERCÍCIO


“CELULEX 14”

De acordo com o previsto no Plano de Médio e Longo Prazo 07 do


Exército, no âmbito da prevenção e combate às novas ameaças que define,
entre outras tarefas, colaborar de modo integrado na capacidade de resposta
Nuclear, Biológica, Química e
Radiológica às ameaças do terro-
rismo internacional, realizou-se,
no período de 8 a 12 de setembro o
exercício de validação “CELULEX
14” com o objetivo de treinar e
avaliar a doutrina e os procedi-
mentos aplicados, e as capaci-
dades e prontidão do Elemento de
Defesa Biológica e Química, para
o qual o GAC/BrigMec contribui
com um Pelotão constituído por 1
Oficial, 3 Sargentos e 30 Praças. Este Pelotão terá assim a capacidade para
atuar com uma prontidão de 48 horas, em caso de necessidade, na zona
centro do país. O “CELULEX 14” foi precedido de uma semana de formação,
ministrada no GAC com o apoio da Companhia de Engenharia da BrigMec.
O Exercício teve lugar em Tancos, no Polo Permanente do Prédio Militar
001/VNB – RE1, onde o Pelotão validou tarefas tais como, identificação e
marcação de áreas contaminadas, reforço do isolamento de áreas entre
outras. Para a realização deste Exercício esteve presente um efetivo de 12
Oficiais, 17 Sargentos e 82 Praças do Elemento de Defesa Biológica e
Química do Exército.

331
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO QUARTEL DA ARTILHARIA


DA BRIGADA MECANIZADA

VISITA DA ASSOCIAÇÃO DE JOVENS DE


ARROUQUELAS AO QUARTEL DE ARTILHARIA

Realizou-se no passado dia 4 de setembro 2014, a visita da Associação


de Jovens de Arrouquelas ao Quartel de Artilharia (QA). Nesta visita
participaram 30 jovens, com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos,
sendo acompanhados por 10 moni-
tores. Durante a permanência no
QA os jovens tiveram a oportu-
nidade de assistir, no auditório do
QA, a um filme que retrata a
história da Brigada Mecanizada
e ainda visitar uma exposição
preparada pela 2ª Bateria de
Bocas de Fogo e pela Bateria de
Artilharia Antiaérea que permitiu
aos jovens estar em contacto com
o Obus AP M109A5 155mm, com o Chaparral e o Radar FAAR, entre outros
materiais de Artilharia.

332
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RG 3

BTRAAA/ZMM PARTICIPA NO EXERCÍCIO


“FLECHA 214”

O Exercício “FLECHA 214” teve lugar na Região do Chão dos Balcões


(Parque Natural do Funchal) durante o período de 07JUL14 a 09JUL14.
A BtrAAA projetou para o exercício uma força constituída por 26
Militares (3 Oficiais, 7 Sargentos e 16 Praças) composta pelo Comando,
Secção de Comando e um Pelotão a 3 Secções.
Foi criada uma situação na qual
foi atribuída à BtrAAA a missão de
assegurar a proteção Antiaérea do
Posto de Comando do Batalhão de
Infantaria e do Aeroporto da Ilha da
Madeira, cobrindo as diversas rotas
de Aproximação Aérea previamente
levantadas.
Deste modo, foram criadas
condições para treinar e aperfeiçoar
as tarefas inerentes à entrada em
posição de um Pelotão equipado com
o sistema canhão Bitubo 20mm, entre as quais o REOP e a resposta a
incursões aéreas nos seus sectores de tiro. Foi também possível treinar a
defesa imediata da posição, bem
como a elaboração e difusão de todos
os relatórios respeitantes aos inci-
dentes injetados.
As condições meteorológicas foram
as ideais, permitindo que os mili-
tares complementassem o seu Treino
Operacional com a realização do
Exercício.
Os militares da BtrAAA demons-
traram uma postura exemplar e
grande profissionalismo durante a execução do Exercício, contribuindo para
que os objetivos propostos tivessem sido atingidos na sua plenitude.

333
REVISTA DE ARTILHARIA

III ENCONTRO NACIONAL DO RAC

O TERCEIRO ENCONTRO NACIONAL JÁ FOI.


VAMOS AO QUARTO

Alguns camaradas têm dado testemunho dos excelentes momentos que


passamos durante o nosso III Encontro Nacional. Esses testemunhos
enchem-nos de orgulho e motivam-nos para deitarmos mãos a organização
do quarto e prosseguirmos as
tarefas que permitam consolidar
o nosso projecto de defesa do
património humano e material do
Regimento de Artilharia de Costa.
Em tempos reconhecidamente
difíceis para todos os portugueses,
sabe bem receber o abraço de um
camarada que não víamos há
muito, o reencontro com quem
convivemos no ano anterior, a consolidação da amizade com os que, sendo de
outras incorporações e idades vieram enriquecer e alargar os nossos
horizontes de convivência e as nossas vidas.
Conseguimos ser mais em número, em afectividade, em solidariedade e
cumprimos um programa de convívio, de cultura, de partilha, com custos
que fizemos por minimizar, porque as posses dos nossos camaradas nos
merecem o maior cuidado e preocupação.

334
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

Tivemos connosco um camarada da Artilharia de Costa espanhola,


duas gerações de arquitectos empenhados na defesa do nosso património e o
prazer de motivar a presença de três dos nossos oficiais superiores e um
oficial general.
E cabe aqui lembrar a sempre prestimosa colaboração da Câmara
Municipal de Almada, também empenhada em proteger e divulgar o seu
excelente património.
Foi bom termos recebido um conjunto de mensagens de outros
camaradas, espalhados pelo mundo que, por motivos diversos, não puderam
estar fisicamente presentes, mas salientaram a sua vontade de estar
connosco em espírito, no melhor espirito de convívio e amizade que já são a
nossa marca.
Vivam todos os camaradas que souberam estar á altura da iniciativa,
contribuir para o seu sucesso e prestigiar a instituição sob cuja bandeira nos
reunimos, cada vez mais como homens livres, portugueses e solidários.

VIVA O RAC – VIVA O RAC – VIVA O RAC


FOGO À PEÇA

A COMISSÃO ORGANIZADORA
Fernando Limão

335
REVISTA DE ARTILHARIA

18
PARTE
PARTEOFICIAL
OFICIAL

PARTE
PARTE OFICIAL
OFICIAL

I.I.LEGISLAÇÃO
LEGISLAÇÃO
a.a. LEIS
LEIS
(1)
(1)Assembleia
Assembleiada daRepública
República
Lei n.º 35/2014
Lei n.º 35/2014
Lei
LeiGeral
GeraldodoTrabalho
Trabalhoem
emFunções
FunçõesPúblicas.
Públicas.
b.b. DECRETOS
DECRETOSDO
DOPRESIDENTE
PRESIDENTEDA
DAREPÚBLICA
REPÚBLICA
(1)
(1)Presidência
Presidênciada daRepública
República
Decreto
Decretodo doPresidente
PresidentedadaRepública
Repúblican.ºn.º49/2014
49/2014
Ratifica
Ratificao oAcordo
AcordoQuadro
Quadroentre
entrea aRepública
RepúblicaPortuguesa
Portuguesae eo oGoverno
GovernodadaRepública
Repúblicadada
Turquia
Turquiasobre
sobreCooperação
CooperaçãoMilitar,
Militar,assinado
assinadoememLisboa,
Lisboa,em
em6 6dedemaio
maiodede2013.
2013.
c.c. RESOLUÇÃO
RESOLUÇÃODA
DAASSEMBLEIA
ASSEMBLEIADA
DAREPÚBLICA
REPÚBLICA
(1)
(1)Assembleia
Assembleiada daRepública
República
Resolução
Resolução daAssembleia
da AssembleiadadaRepública
Repúblican.ºn.º29/2014
29/2014
Aprova
Aprova o Acordo Quadro entre a RepúblicaPortuguesa
o Acordo Quadro entre a República Portuguesae eo oGoverno
Governodadarepública
repúblicadada
Turquia
Turquiasobre
sobreCooperação
CooperaçãoMilitar,
Militar,assinado
assinadoem
emlisboa,
lisboa,em
em6 6dedeMaio
Maiodede2013.
2013.
d.d. DESPACHOS
DESPACHOS
(2)
(2)Ministério
Ministérioda
daDefesa
DefesaNacional
Nacional
Gabinete do Ministro
Gabinete do Ministro
Despacho
Despachon.ºn.º7 7234-A/2014
234-A/2014
Diretiva
DiretivaMinisterial
MinisterialComplementar
Complementarpara
paraa areforma
reformaestrutural
estruturalnanaDefesa
DefesaNacional
Nacionale enas
nas
Forças Armadas.
Forças Armadas.
(3)
(3)Direção-Geral
Direção-Geralde deArmamento
Armamentoe eInfraestruturas
Infraestruturasde deDefesa
Defesa
Despacho n.º 7 284/2014
Despacho n.º 7 284/2014
Ratificação
RatificaçãodedeSTANAG
STANAG2 2190190JINT
JINT(Edition
(Edition2)2)(Ratification
(RatificationDraft
Draft1)1)– –Allied
AlliedJoint
Joint
Doctrine
Doctrine for Intelligence, Counter – Intelligence and Security – AJP-2 EditionA.A.
for Intelligence, Counter – Intelligence and Security – AJP-2 Edition

II
REVISTA
REVISTA DE
DE ARTILHARIA
ARTILHARIA

Despacho
Despacho n.ºn.º 77 286/2014
286/2014
Ratificação
Ratificação de STANAG
de 613 Edition
STANAG 22 613 Edition 11 —— Retrograde
Retrograde ofof Materiel.
Materiel.
Despacho
Despacho n.ºn.º 77 287/2014
287/2014
Ratificação
Ratificação de
de STANAG 459 I-AMMO
STANAG 22 459 I-AMMO (Edition
(Edition 3)
3) —— The
The Procedures
Procedures for
for Ammunition
Ammunition
Interchangeability.
Interchangeability.
Despacho n.º 7 349/2014
Despacho n.º 7 349/2014
Ratificação
Ratificação de
de STANAG 299 Edition
STANAG 22 299 Edition 11 –– Guidance
Guidance for
for the
the Application
Application of
of Tactical
Tactical
Military
Military Activities
Activities in
in Counterinsurgency.
Counterinsurgency.
Despacho
Despacho n.ºn.º 77 351/2014
351/2014
Ratificação
Ratificação de
de STANAG 614 Edition
STANAG 22 614 Edition 11 –– Convoy
Convoy Operations.
Operations.
Despacho n.º 7 352/2014
Despacho n.º 7 352/2014
Ratificação
Ratificação de
de STANAG
STANAG 22 512512 Edition
Edition 22 –– Allied
Allied Joint
Joint Doctrine
Doctrine for
for Modes
Modes of
of
Multinational
Multinational Logistic
Logistic Support.
Support.
Despacho
Despacho n.ºn.º 77 353/2014
353/2014
Ratificação
Ratificação de
de STANAG 961 Edition
STANAG 22 961 Edition 33 –– Classes
Classes of
of Supply
Supply ofof Nato
Nato Forces.
Forces.

II.
II. PESSOAL
PESSOAL
A.
A. OFICIAIS
OFICIAIS
1.
1. CONDECORAÇÕES
CONDECORAÇÕES
Medalha
Medalha de
de Mérito
Mérito Militar
Militar –– 2ª
2ª Classe
Classe
TCor Art (18968289) Carlos Manuel Branco Valentim.
TCor Art (18968289) Carlos Manuel Branco Valentim.
Medalha
Medalha D.D. Afonso
Afonso Henriques
Henriques –– Mérito
Mérito do
do Exército
Exército 2ª
2ª Classe
Classe
Maj
Maj Art
Art (13624889)
(13624889) Pedro
Pedro Melo
Melo Vasconcelos
Vasconcelos de
de Almeida.
Almeida.
Medalha
Medalha D.D. Afonso
Afonso Henriques
Henriques –– Mérito
Mérito do
do Exército
Exército 3ª
3ª Classe
Classe
Cap Art (14838597) Rui Manuel da Silva Almeida Simões Soares;
Cap Art (14838597) Rui Manuel da Silva Almeida Simões Soares;
Cap
Cap Art
Art (06972796)
(06972796) Marco
Marco Paulo
Paulo da
da Conceição
Conceição Sobreira
Sobreira Gomes;
Gomes;
Cap
Cap Art
Art (08096498)
(08096498) José
José Filipe
Filipe Sousa
Sousa Cruz
Cruz Pereira.
Pereira.
Medalha
Medalha Comportamento
Comportamento Exemplar
Exemplar –– Grau
Grau Ouro
Ouro
TCor Art (02951882) José Fernando Duque Luciano Paulo.
TCor Art (02951882) José Fernando Duque Luciano Paulo.
Medalha
Medalha Comemorativa
Comemorativa de de Comissões
Comissões dede Serviços
Serviços Especiais
Especiais
TCor
TCor Art (02951882) José Fernando Duque Luciano Paulo “Guiné
Art (02951882) José Fernando Duque Luciano Paulo “Guiné 2011-12”;
2011-12”;
TCor
TCor Art
Art (11205186)
(11205186) Carlos
Carlos Manuel
Manuel da
da Silva
Silva Caravela
Caravela “Angola
“Angola 2012-13”;
2012-13”;
Maj
Maj Art
Art (14393193)
(14393193) Nuno
Nuno Alexandre
Alexandre Rosa
Rosa Morais
Morais dos
dos Santos
Santos “Angola
“Angola 2013-14”.
2013-14”.

2.
2. OBITUÁRIO
OBITUÁRIO
Maio
Maio 24
24 Cor
Cor Art
Art (50270311)
(50270311) Manuel
Manuel Lourenço
Lourenço Pires.
Pires.

II
II
PARTE
PARTEOFICIAL
OFICIAL

B.B.SARGENTOS
SARGENTOS

1.1.CONDECORAÇÕES:
CONDECORAÇÕES:

Medalha
MedalhaD.D.Afonso
AfonsoHenriques
Henriques– –Mérito
Méritodo
doExército
Exército– –4ª4ªClasse
Classe
SAj
SAjArt
Art(05523187)
(05523187)Carlos
CarlosJosé
JoséRepolho
RepolhoNarciso.
Narciso.

2.2.PROMOÇÕES
PROMOÇÕES
Primeiro-Sargento
Primeiro-Sargento
1Sarg
1SargArt
Art(06743492)
(06743492)José
JoséAlberto
AlbertoCeroula
CeroulaTavares.
Tavares.

REVISTA DE ARTILHARIA
3.3.OBITUÁRIO
OBITUÁRIO

Maio
Maio2121SCh
SChArt
Art(50589111)
(50589111)Manuel
ManuelJoaquim
JoaquimGranadeiro
GranadeiroBatata.
Batata.

18 IIIIII
REVISTA DE ARTILHARIA

18
REVISTA DE ARTILHARIA

18
Mais de um Século de:
“Saber, Erudição, Dedicação e Serviço”

Campo de Santa Clara, 62 - 1100-471 Lisboa • Telefs. Militar: 423 334 - Civil 21 888 01 10
www.revista-artilharia.pt
REVISTA DE ARTILHARIA N.º 1070 A 1072 • OUTUBRO / DEZEMBRO DE 2014

N.º 1070 A 1072 – OUTUBRO A DEZEMBRO DE 2014


REVISTA DE ARTILHARIA
SUMÁRIO:
Págs.
EDITORIAL .................................................................................................................................................... 339
Pelo Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira.
MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO
EXÉRCITO POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA COMEMORATIVA DO DIA DA ARMA DE
ARTILHARIA E DA SUA PADROEIRA SANTA BÁRBARA ...................................................... 341
ALOCUÇÃO DO EXMO. TENENTE-GENERAL DIRETOR HONORÁRIO DA ARMA DE ARTILHARIA
POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA COMEMORATIVA DO DIA DA ARMA DE ARTILHARIA E
SUA PADROEIRA SANTA BÁRBARA ............................................................................................. 345
“JOINT FIRES OBSERVER”. COORDENAÇÃO DE MEIOS VS EFEITOS PRETENDIDOS
(OAv/JFO/JTAC) ................................................................................................................................ 351
Pelo Major de Artilharia Armando Manuel Leal Simões.
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA
(SICCA3) ............................................................................................................................................. 363
Pelo Capitão de Artilharia Nuno Miguel Lopes da Silva.
IN MEMORIAM GENERAL GABRIEL AUGUSTO DO ESPÍRITO SANTO ............................................. 377
Pelo Coronel Tirocinado Luís António Morgado Baptista.
PEDIDO DE RECTIFICAÇÃO ...................................................................................................................... 379
Pelo Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira.
ARTILHEIROS EM MISSÃO
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 KM – LNO/KFOR HQ ........................................................ 381
Pelo Major de Artilharia Adelino José de Sousa Jacinto.
ESPAÇO ACADÉMICO
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA ............................................................ 395
Pelo Alferes de Artilharia João Nuno Roçado Cardoso Pina.
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA .......................................................................................................... 423
NOTÍCIAS DO RAAA 1 ...................................................................................................................... 423
NOTÍCIAS DO RA 4 ........................................................................................................................... 425
NOTÍCIAS DO RA 5 ........................................................................................................................... 430
NOTÍCIAS DO GAC/BrigMec ............................................................................................................ 437
NOTÍCIAS DA BAA/BrigMec ............................................................................................................ 440
NOTÍCIAS DO QUARTEL DA ARTILHARIA DA BRIGADA MECANIZADA ............................... 444
ENTREGA DO “PRÉMIO REVISTA DE ARTILHARIA” 2014 ........................................................ 446
JANTAR DE ARTILHARIA DO IESM .............................................................................................. 447
ABERTURA DO NOVO SITE ............................................................................................................ 448

PARTE OFICIAL ................................................................................................................................................... I

EXPEDIENTE
Toda a correspondência relativa à Revista deve ser dirigida para "REVISTA DE
ARTILHARIA, CAMPO DE SANTA CLARA, 62 – 1100-471 LISBOA".
TELEFS.: Militar: 423 334 – Civil: 21 888 01 10.
CORREIO ELECTRÓNICO: sede.revista.artilharia@gmail.com

ASSINATURAS
PORTUGAL, MACAU e ESPANHA: Sócios assinantes – Anual, € 12,00; Avulso, € 3,00;
Restantes Países: Anual, € 17,00; Avulso, € 4,50. Via aérea – O preço da assinatura é
acrescida do respectivo porte.

AVISO: A Administração da revista solicita a participação imediata de qualquer mudança


de situação ou residência.

Siga-nos no
Facebook

www.facebook.com/revista.artilharia
x

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

PUBLICAÇÃO INICIADA EM JUNHO DE 1904

2.ª S É R I E
Depósito Legal N.º 1359/83

N.os 1070 A 1072 OUTUBRO A DEZEMBRO DE 2014


REVISTA DE ARTILHARIA
COMISSÃO EXECUTIVA PARA OS ANOS DE 2013 E 2014

PRESIDENTE

Major-General Ulisses Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira (CmdInst)

VICE-PRESIDENTE

Coronel Tirocinado Joaquim Ramalhoa Cavaleiro (CmdLog)

SECRETÁRIO

Major José Carlos Pinto Mimoso (GAC/BrigMec)

TESOUREIRO

Capitão Emanuel Alves de Sousa (RAAA1)

EDITOR E EDITOR ON-LINE

Capitão Tiago Soares de Castro (AM)

VOGAIS DO CONSELHO DE CULTURA ARTILHEIRA E MILITAR

Coronel Tirocinado Luís António Morgado Baptista (EA)


Coronel Fernando José Pinto Simões (Reforma)
Coronel Carlos Alberto Borges da Fonseca (RAAA1)
Coronel Luís Miguel Green Dias Henriques (CmdInst)
Coronel António José Pardal dos Santos (RA5)
Coronel João Luís Morgado Silveira (EMGFA)
Tenente-Coronel António José Ruivo Grilo (CM)
Tenente-Coronel Luís Manuel Garcia de Oliveira (EME)
Major Nelson José Mendes Rego (IESM)
Capitão Luís Miguel Rebola Mataloto (EMGFA)

COLABORADOR

Sargento Ajudante Luís Filipe Cardoso Domingues (DHCM/RA)


NÚMEROS REVISTA DE
“A ARTILHARIA NO EXÉRCITO FRANCÊS”
DESDE 1904
2.ª SÉRIE
ARTILHARIA
1070 A 1072
ISSN 1645-8702

Propriedade dos Oficiais da Arma de Artilharia


Edição d a Comissão E xecutiva

_________
Redacção e Administração DIRECTOR Execução gráfica
Campo de Santa Clara,62 ULISSES JOAQUIM DE JMG – Art. Gráficas e Public., Lda.
1100-471 LISBOA C. N. DE OLIVEIRA Alameda das Figueiras, 13 – 3 B
www.revista-artilharia.pt Major-General 2665-501 Venda do Pinheiro

OUTUBRO – NOVEMBRO – DEZEMBRO DE 2014


Os autores dos artigos são únicos responsáveis pela doutrina dos mesmos. Os originais são
propriedade da redacção e não se restituem quer sejam ou não publicados.

EDITORIAL
Pelo Major-General
ULISSES JOAQUIM DE CARVALHO
NUNES DE OLIVEIRA

Caros Camaradas e caros sócios da Revista de Artilharia

Decorridos que foram dois anos de vida da


atual Comissão Executiva, chegou a hora de passar
testemunho. Nesta data e tendo em consideração as
alterações ocorridas, impõe-se uma reflexão sobre o
caminho que nos propusemos percorrer, designa-
damente quanto aos artigos publicados, aos novos
estatutos e premio Revista de Artilharia, ao novo
site e ao seu futuro.
No momento considerado oportuno exultei os
sócios da Revista a participarem na publicação de artigos, por esta
providenciar o espaço e a oportunidade para a reflexão, para o estudo e para
a divulgação de matérias e assuntos técnico militares que importam

339
REVISTA DE ARTILHARIA

primordialmente à Artilharia, sem omitir obviamente os sentimentos da


alma artilheira que muitos sócios connosco partilharam. Neste sentido, não
nos pareceu curial incluir artigos de opinião ou de debate, que
extravasassem estes critérios, relativamente aos quais fomos genericamente
bem compreendidos. Aproveito assim o ensejo para agradecer a todos
quantos foram nossos cúmplices neste percurso.
Alterámos os Estatutos da Revista de modo a evitar diversos constran-
gimentos à sua gestão, deixando de ser uma pessoa coletiva irregular em
termos fiscais, ganhando autonomia e preservando a dignidade condizente
com o lugar de destaque, que nos deve ser reservado no seio da imprensa
militar. Para esta tarefa tive o inestimável apoio de todos os membros da
comissão executiva, em particular do Major Mimoso e do Capitão Sousa, os
quais me ajudaram a percorrer um longo caminho, até que tudo estivesse
devidamente regulado.
A par dos novos Estatutos e por iniciativa do Major Rego foi implementado
o prémio Revista de Artilharia, que pretende eleger o artigo, que durante
um ano de publicações e segundo critérios estritos, for considerado mais
completo, distinguindo assim o seu autor. Este prémio será entregue no dia
da Artilharia no RA5 em Vendas Novas, modalidade que pretendemos
preservar para futuro, contribuindo deste modo para a união entre artilheiros,
no local que faz renascer em nós o mais puro espirito da nossa Arma.
Quanto ao site, desafio que nos impusemos, é já uma realidade, se bem
que imberbe. Está a funcionar, embora com poucos artigos disponíveis e com
informação a necessitar de continuada melhoria. Neste âmbito, a exiguidade
de recursos humanos não nos permite garantir a velocidade de
implementação prevista, mas a nossa persistência decerto prevalecerá.
Contudo, se os associados assim o entenderem, será um meio privilegiado de
interação com a Revista de Artilharia, com o qual se pretende conciliar a
inovação com a manutenção da identidade, alicerçada na abundante história
e nas tradições artilheiras.
Por fim e para o futuro próximo, formulo elevados votos de sucesso à
Revista de Artilharia, materializada na sua nova Direção. Será um desafio
árduo e complexo mas, simultaneamente, distinto e autêntico, na certeza
que continuará a obra dos nossos antecessores, alicerçada no espírito
minucioso, na persistência, no caráter resoluto que carateriza o artilheiro,
mas que só sobreviverá, se possível por mais um século, se todos desejarmos
participar para manter este projeto de reconhecido sucesso e longevidade.

Bem hajam.

340
MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O


GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR
DO EXÉRCITO POR OCASIÃO DA
CERIMÓNIA COMEMORATIVA DO DIA
DA ARMA DE ARTILHARIA E DA SUA
PADROEIRA SANTA BÁRBARA
Exmo. Senhor Presidente da Câmara
Municipal de Vendas Novas
Exma. Senhora Presidente da Junta de
Freguesia de Vendas Novas
Exmo. Senhor General Pinto Ramalho
Exmo. Tenente-General Diretor Honorário
da Arma de Artilharia
Exmos. Senhores Oficiais Generais no
Ativo, Reserva e Reforma
Ilustres Autoridades Civis e Entidades
convidadas
Exmo. Senhor Comandante do Regimento
de Artilharia N.º 5
Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis que prestam
serviço na Arma de Artilharia
Familiares e Amigos dos Soldados Recrutas do 2º Curso de
Formação Geral Comum de Praças de 2014
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Como Comandante do Exército manifesto o meu reconhecimento pela
presença de todos os ilustres convidados neste dia festivo. É com regozijo e
orgulho que me associo às comemorações do Dia da Arma de Artilharia e da

341
REVISTA DE ARTILHARIA

sua padroeira Santa Bárbara nesta cidade de Vendas Novas, destacando


merecidamente todos os que servem o Exército, nesta prestigiada Arma,
pela sua competência e elevada abnegação, que com o seu zelo, concorrem
vincadamente para o sucesso da missão do Exército.
A todos quantos servem atualmente na Arma, envio uma mensagem de
elevado apreço e consideração pela forma como têm honrado este legado pelo
trabalho desenvolvido quer no Território Nacional quer nos mais diversos
Teatros de Operações e missões internacionais, no apoio à Política externa
do Estado e em prol da afirmação do Exército e de Portugal.
Neste dia em particular gostaria de reverenciar e lembrar o
Excelentíssimo General Gabriel Espirito Santo, falecido em 17 de outubro,
expressando em meu nome e do Exército, o mais sentido respeito pela sua
figura ímpar de militar e de cidadão, cuja memória perdurará ao longo de
gerações e constituirá um forte legado de incentivo, de coesão e de
responsabilização para todos militares e em particular para os artilheiros.
A Artilharia é uma Arma de antigas e arreigadas tradições, que buscam
a sua génese nos recônditos da História, primeiro por ocasião da defesa de
Lisboa, em 1381, onde nos servimos de pólvora e de alguns trons contra os
castelhanos e, mais tarde, como estrutura organizada, com a criação da figura
de Vedor-Mor por D. Afonso V no longínquo ano de 1449. E entre outros feitos
dignos de registo, a Artilharia distinguiu-se na tomada de Arzila, na batalha
de La Lys, no cerco de Diu e na Guerra da Restauração, dando um contributo
fundamental e inquestionável para a consolidação da Nação Portuguesa.
Ontem como hoje a Arma de Artilharia cultiva uma imagem de
prontidão e rigor, sustentada no profundo conhecimento dos seus sistemas,
técnicas e táticas, garantindo um emprego operacional eficaz e eficiente,
adaptável às sucessivas alterações de ambiente operacional. Mas num
tempo em que os Exércitos requerem uma acrescida dimensão tecnológica e
necessitam de elevada capacidade de comando e controlo, torna-se
imperativo avaliar necessidades de reorganização, de reequipamento, e
garantir graus de competência profissional compatíveis com a evolução dos
sistemas de armas em função dos recursos disponíveis.
Como fiz questão de evidenciar no dia em que iniciei as atuais funções,
e reafirmo hoje aqui perante vós, o Comandante do Exército continua empenhado
em prosseguir os trabalhos referentes ao processo de transformação em
curso numa lógica de continuidade e numa linha de coerência com o trabalho
que vem sendo desenvolvido. No que se refere à Artilharia, importa referir
que já se encontram concluídos todos os processos de ajustamento planeados
e que tal como ontem, os artilheiros de hoje deram provas da sua coesão,
determinação e da sua cultura de rigor, de persistência, de inovação e de

342
MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

prontidão, bem patentes no planeamento rigoroso e na forma organizada


como decorreu a transferência do Regimento de Artilharia N.º 5 de Vila
Nova de Gaia para este aquartelamento em Vendas Novas.
No quadro do reequipamento e num período de contenção financeira
extremamente exigente, o Exército procura garantir que as forças terrestres
nacionais possam manter a sua interoperabilidade, em equipamentos e
doutrina, com os nossos parceiros.
Como tal, apesar de em sede de revisão da Lei de Programação Militar,
os plafons disponibilizados terem inviabilizado a edificação sustentada dos
projetos de Artilharia de Campanha na sua plenitude, será possível iniciar-
se em 2023 a substituição do Obus 155mm M114 A2 que equipa o GAC da
BrigInt. E já em 2015, no âmbito da Aquisição de Objetivos, está prevista a
aquisição de estações de observação digitais, as quais permitirão efetuar um
salto tecnológico significativo, ao possibilitar que um Observador Avançado
possa localizar, pedir e ajustar o tiro de dia e de noite, em quaisquer
condições climatéricas, bem como de goniómetros bússola digitais que
permitirão agilizar as pontarias iniciais dos Grupos de Artilharia de
Campanha. Ainda no âmbito da Aquisição de Objetivos, está previsto a
substituição no curto/ médio prazo do Radar de Localização de Alvos Móveis
e da aquisição de Radares Ligeiros de Localização de Armas.
Na vertente de Artilharia Antiaérea, ficaram inscritas as verbas
necessárias, entre 2022 e 2026, para equipar uma Bateria de Artilharia
Antiaérea com 8 sistemas Míssil Ligeiro e dois radares 3D. O subprojecto
SICCA3, que se destina à aquisição de um Sistema Integrado de Comando e
Controlo para a Artilharia Antiaérea de forma a possibilitar a sua
integração no Sistema de Defesa Aérea Nacional, equipando o Comando do
Grupo de Artilharia Antiaérea com dois módulos montados em viatura, um
Fire Distribution Center para o controlo tático e dos fogos e um outro com as
funções de Tactical Operation Center para coordenação e controlo dos meios
de Artilharia Antiaérea, sofreu um ligeiro atraso em relação à sua
calendarização, prevendo-se a sua conclusão no 2º semestre de 2015.
Mas se a existência de novos equipamentos é importante para o
Exército, a exigência e a abrangência das missões que têm sido ou que
podem vir a ser cometidas ao Exército e, consequentemente, à Arma de
Artilharia, impõem a aposta continuada na formação e qualificação dos seus
recursos humanos. Neste sentido, é minha intenção retomar a política de
intercâmbio com as escolas militares estrangeiras e o envolvimento dos
quadros em seminários internacionais, para que possam acompanhar a
evolução tecnológica dos armamentos e dos equipamentos, bem como as
devidas atualizações no campo da doutrina e do emprego operacional.

343
REVISTA DE ARTILHARIA

No âmbito das alterações legislativas em curso, com particular


incidência no Estatuto dos Militares das Forças Armadas, importa referir
que o Comando do Exército tem pugnado, no exercício do seu dever de
tutela, pela defesa dos interesses dos seus militares. E neste âmbito,
importa transmitir que, independentemente da sua data de aprovação,
estará assegurado no novo EMFAR um conjunto de medidas transitórias,
que respeitam os direitos já constituídos dos militares, incluindo um período
de dois anos para os militares que completem 20 anos de tempo de serviço
militar até à entrada em vigor do novo EMFAR, por forma a permitir a cada
militar um adequado período de reflexão. Recomenda-se assim serenidade,
caraterística peculiar dos Artilheiros, pois a precipitação não mais fará do
que impor carga desnecessária ao órgão de gestão de pessoal.
Uma palavra especial para vós, soldados recrutas do 2.º Curso de
Formação Geral Comum de Praças do Exército de 2014, que estais prestes a
efetuar o Juramento de Bandeira, mostrando assim a vossa honra e devoção
à Pátria, à vossa família e à nossa cultura. Este ato repleto de simbolismo e
de relevância na tradição castrense é um momento inolvidável e do mais
profundo significado na vida dos jovens que, um dia, decididamente,
optaram por servir Portugal.
Uma última palavra às equipas de formação do 2.º Curso de Formação
Geral Comum de Praças do Exército de 2014 para relevar toda a vossa
dedicação, espírito de missão e profissionalismo.

Militares e Funcionários Civis que prestam serviço na Arma


de Artilharia
O Comandante do Exército conhecendo a valiosa herança histórica da
Artilharia e a conduta de dedicação e perspicácia dos Artilheiros, expressa o
seu otimismo e confiança perante as adversidades que enfrentamos, com a
certeza de poder contar com a absoluta determinação, perseverança, coesão
e disciplina dos Militares que servem na Arma de Artilharia e nas suas
unidades, no cumprimento das missões atribuídas, para vencermos os
desafios atuais e futuros, prestigiando o Exército, e honrando e servindo
Portugal com “galhardia e altivez”, tal como reza o hino da Artilharia.

05 de dezembro de 2014.

O CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO


CARLOS ANTÓNIO CORBAL HERNANDEZ JERÓNIMO
General

344
ALOCUÇÃO DO EXMO. TENENTE-GENERAL DIRETOR HONORÁRIO DA ARMA DE ARTILHARIA

ALOCUÇÃO DO EXMO. TENENTE-GENERAL


DIRETOR HONORÁRIO DA ARMA DE
ARTILHARIA POR OCASIÃO DA
CERIMÓNIA COMEMORATIVA DO DIA
DA ARMA DE ARTILHARIA E SUA
PADROEIRA SANTA BÁRBARA

Excelentíssimo Senhor General Chefe do


Estado-Maior do Exército,
Meu General,
Os artilheiros agradecem profundamente a
presença de Vossa Excelência neste dia 5 de
dezembro de 2014, em Vendas Novas, a fim de
presidir ao seu Dia da Arma e ao Juramento de
Bandeira do segundo turno do Curso de Formação
Geral de Praças.
Trata-se de um acontecimento carregado de
elevado simbolismo para a Arma de Artilharia que
sempre tem comemorado o seu dia neste local.
Uma prática que remonta a 1861 e que desejamos manter, iniciando
assim a coincidência de datas com a comemoração anual do dia do
Regimento de Artilharias nº 5 e mantendo viva a herança de século e meio
de formação de excelência, de conhecimento, dedicação e cultura da extinta
Escola Prática de Artilharia.
Sendo a primeira vez que preside a estas comemorações, reitero a
afirmação dirigida ao seu ilustre antecessor, que os artilheiros seguem com
determinação o Meu General no processo de transformação do Exército em

345
REVISTA DE ARTILHARIA

curso, cientes que também poderão contar com toda a atenção do Comando
do Exército no desenvolvimento dos mesteres da Arma, incluindo no âmbito
da preservação da sua cultura e saber.

Caros familiares dos militares que ora irão jurar bandeira.

Obrigado pela vossa presença.


Sabemos que muitos de vós vieram de longe para testemunharem este
ato simbólico mas pleno de significado que constitui o Juramento de
Bandeira.
A vossa presença é de um enorme estímulo e consideração para os
vossos filhos e amigos, mas é-o igualmente para nós, pois exprime confiança
na instituição militar e nos valores que esta cultiva.
Portugal fez-se de sacrifícios e nós percebemos o vosso. O nosso muito
obrigado.

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal


de Vendas Novas

No passado dia 1 de agosto de 2014 realizou-se em Vendas Novas a


cerimónia simbólica da entrada em funcionamento do Regimento de
Artilharia N.º 5, a qual contou com a presença do Senhor Presidente e várias
entidades civis.
Este facto testemunhou, inequivocamente, que o carinho prestado pelas
gentes de Vila Nova de Gaia à sua unidade militar ao longo de 125 anos tem
continuidade em Vendas Novas, como demonstraram os 152 anos
relativamente à sua Escola Prática de Artilharia.
Na pessoa de Vossa Excelência permita-me saudar a Excelentíssima
Senhora Presidente da Junta de Freguesia de Vendas Novas.
O nosso muito obrigado pelas vossas ilustres presenças.

Excelentíssimo Senhor General Pinto Ramalho,

O ano passado, por ocasião desta cerimónia, referi que a Arma de


Artilharia precisa de referências. De olhar para os seus oficiais mais ilustres
que ao longo da sua vida se afirmaram pelo saber, pela postura e pela
dedicação à Arma no desempenho dos mais altos cargos militares.
Este ano, a alegria associada à ilustre presença de Vossa Excelência
fica esmorecida face à triste ausência do Excelentíssimo General Espírito
Santo, o qual sempre partilhou connosco este dia.

346
ALOCUÇÃO DO EXMO. TENENTE-GENERAL DIRETOR HONORÁRIO DA ARMA DE ARTILHARIA

Para melhor se compreender este nosso sentimento, numa breve mas


sentida homenagem, recordo o que foi escrito pelo seu punho, há cerca de
3 anos, por ocasião dos 150 anos da Escola Prática de Artilharia e que
passo a citar:
Tendo metade da idade da Escola na vida que Deus me tem
permitido, há mais de meio século que considero as suas paredes como o
meu refúgio da grande casa que escolhi para viver que é o Exército
Português.
Refúgio que sempre me acolheu e onde aprendi o espírito de servir
com o rigor que caracteriza a trajetória dos projéteis, o comando com as
suas competências de obediência, disciplina, camaradagem e respeito
pelos comandados e o papel do Exército como agente de educação, de
coesão nacional e dinamizador territorial do desenvolvimento da nação.
Fim de citação.

Estas palavras são de um profundo significado e são facilmente


percebidas pelas inúmeras gerações de artilheiros que têm passado por esta
casa, pois elas contêm em si referências claras à instituição Exército, à
cultura e ao saber artilheiro vividos e cultivados neste local e no seu dizer,
escola de comando, de rituais consentidos de boas práticas, de consideração
pelo material, pelos animais e pelo homem militar, obrigatoriamente por
esta ordem.
Talvez esta ideia tenha sido uma das razões que o levou a exprimir a
sua amargura perante a desativação da Escola e com mágoa o registou na
obra alusiva aos 152 anos, considerando-a uma decisão errada e precipitada.
A sua ausência deixa-nos saudades.

Excelentíssimo Senhor Major-General Aguiar Santos,


Comandante da Brigada de Intervenção,
Agradeço reconhecidamente ao Meu General o ter emprestado esta sua
casa para a comemoração do Dia da Arma de Artilharia.
Sabendo nós que o Diretor Honorário da Arma não se encontra na
cadeia de comando, competindo-lhe apenas preservar a tradição e o espírito
de corpo da Arma, bem como desenvolver a sã camaradagem entre os seus
militares, dispor do Regimento de Artilharia nº 5 para celebrar
condignamente esta efeméride revela elevada sensibilidade e consideração
para com os artilheiros.
Decorrente da impossibilidade de estar presente, devido à realização
do Exercício LUSITANO 2014, gostaria que transmitisse ao Excelen-

347
REVISTA DE ARTILHARIA

tíssimo Tenente-General Faria Menezes, Comandante das Forças terrestres,


os nossos sinceros agradecimentos por todo o apoio prestado a estas
comemorações.

Excelentíssimos Senhores Tenentes generais, antigos Diretores


ou Diretores Honorários da Arma de Artilharia,
Excelentíssimos Senhores oficiais generais,
Ilustres autoridades civis, de segurança e religiosas,
Ilustres convidados representantes das diversas Instituições
sedeadas em Vendas Novas;
Soldados que Juram Bandeira e seus familiares
Militares e civis em serviço nas unidades de artilharia,
Artilheiros,
Fiz uma referência a 125 anos de presença militar na Serra do Pilar,
em Vila Nova de Gaia e 152 anos de presença em Vendas Novas. É um
passado que já foi. Tem o seu espaço próprio e os estudiosos preocupar-
se-ão com este facto.
Por agora e pela nossa parte, há que procurar sentir o pulso dos
artilheiros que na efetividade do serviço, procuram dar o seu melhor no seio
da instituição que juraram servir.
Numa perspetiva meramente profissional, creio que a preocupação
dominante estará associada às competências individuais, num quadro de
capacidades militares, no qual a Artilharia, Campanha e Antiaérea, se
justifica em função da natureza dos conflitos atuais.
Segundo alguns pensadores, atores, fins e instrumentos são três
conceitos básicos para a teorização sobre a política internacional mas cada
um deles está a transformar-se.
x Se relativamente aos fins os países se preocupam cada vez mais com
a sua prosperidade económica em detrimento da sua segurança;
x Se os instrumentos são cada vez mais dispendiosos para ponderar a
utilização da força;
x Se os constrangimentos internos conduzem a inércias e indecisões
quanto à sua utilização;
A força militar não fica obsoleta mas é mais dispendiosa e mais difícil
de usar do que no passado.
A Artilharia é uma Arma de equipamentos dispendiosos, de longa
formação e avultados custos de formação. Não o podemos negar. Mas
também é uma Arma de decisões. De forte poder dissuasório. A sua presença
confere essência ao Exército.

348
ALOCUÇÃO DO EXMO. TENENTE-GENERAL DIRETOR HONORÁRIO DA ARMA DE ARTILHARIA

Conhecedores da realidade na Arma, nunca é demais relembrar que o


carácter sistémico da Artilharia não se compadece com opções conjunturais,
definida por situações de momento e calendários descontinuados, pelo que o
grande desafio que se nos depara passa pela perceção do equilíbrio ou seja:
Conceber doutrina, conseguir coerência organizativa e modernidade
tecnológica. Equilíbrio tão difícil de alcançar, seja em termos de nível de
ambição, seja em termos de custos.
E sobre a modernidade tecnológica, não irei fazer um ponto de situação da
Arma, uma vez que se encontra a decorrer o processo da lei de programação
militar, devidamente acompanhado pelo Estado-Maior do Exército.
Contudo, ciente das dificuldades na obtenção de financiamento e da complexi-
dade associada aos programas de artilharia, relevo a necessidade de se manter
atualizado todo o saber da Arma, pelo que uma das vias será potenciar a utilização
de sistemas de simulação, permitindo, desta forma, aliviar os custos de formação.
É neste caminho que se situou a atualização do sistema INFRONT 3D,
do Regimento de Artilharia nº 5 e do Grupo de Artilharia de Campanha da
Brigada Mecanizada, ocorridos em 2014.
Correspondente à 1ª fase, esta atualização passou pela substituição do
equipamento obsoleto, fornecimento de software, integração dos sistemas de
armas portugueses, realização do curso de operador e manutenção do
sistema e obtenção dos respetivos manuais de utilização.
Neste mesmo contexto, a aprovação por parte do Comando do Exército,
de um Guia para a Simulação no Exército, baseando-se na constituição de
uma rede de modelos de simulação e de treino, irá potenciar a formação do
pessoal e de treino das unidades operacionais, interligando o máximo de
sistemas de combate e apoio possíveis.
Irão intervir neste processo, o núcleo de Simulação de Apoio de Fogos no
Regimento de Artilharia nº 5, o Núcleo de Simulação de Apoio de Fogos do
Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada Mecanizada e o Núcleo de
Simulação de Artilharia Antiaérea no Regimento de Artilharia Antiaérea nº1.
Ainda na perspetiva de desenvolvimento da Arma, a realização de
jornadas técnicas continuará a ser o fórum privilegiado de análise e
discussão dos caminhos a seguir nas vertentes técnico-táticas. Para 2015,
contamos realizá-las no Regimento de Artilharia Antiaérea nº 1.

Artilheiros,
Numa antiga revista da Escola de 1978, A Sulipanta, num artigo do
Tenente-coronel de Artilharia Espírito Santo, então seu segundo coman-
dante, lê-se que a "caserna" não é uma alienação do indivíduo, quando a
caserna for servida por profissionais competentes.

349
REVISTA DE ARTILHARIA

A solidariedade, a camaradagem, a disciplina e o espírito de sacrifício são


virtudes militares que o profissional militar tem de saber cultivar no mais alto
grau pois hoje o comando volta a ter uma grande base de apoio no exemplo.
Comandar, para gerações que se encontram frustradas quanto ao futuro
e descrentes do tipo de sociedade que lhes vai sendo legada, é cada vez mais
persuadir pelo exemplo.
É na comunhão deste pensamento que nesta curta intervenção me sinto
obrigado a enaltecer o Comando do Regimento de Artilharia nº 5.
De facto, no cumprimento de determinações do Comando do Exército
soube assegurar a transferência do Regimento para Vendas Novas, de
acordo com a fita de tempo estabelecida, de forma rigorosa e eficiente,
assegurando um efetivo controlo do material, dos custos financeiros, na
preservação do notável acervo cultural existente em Vila Nova de Gaia e
minimizando as perturbações pessoais e familiares do pessoal envolvido.
Nesta mesma ideia, não posso deixar de relevar o papel do Regimento
de Artilharia nº 4 no apoio a estas comemorações, sabendo-se o esforço que
este regimento tem feito no aprontamento da subunidade disponibilizada
para a NATO Response Force 2015, realizando exercícios em condições
climatéricas excecionalmente difíceis, com os seus observadores a realizarem
treino com militares estrangeiros e de outros ramos, mobilizando todo o
pessoal do regimento.
Refiro ainda a extraordinária dedicação de um conjunto alargado de
militares de artilharia que complementarmente à sua atividade profissional
vêm dedicando muito do seu tempo de lazer à história e cultura da Arma,
num esforço verdadeiramente louvável, designadamente:
Na conceção e implementação do Espaço Museológico de Artilharia de
Costa, nas comemorações do Centenário da Grande Guerra, numa profícua
atividade editorial, na Revista de Artilharia, esta enquanto verdadeiro
veículo de transmissão do conhecimento e nas diversas atividades
envolvendo a Arma de Artilharia nas diferentes unidades militares.
Por último, quero deixar uma saudação aos artilheiros presentes nas
Forças Nacionais Destacadas ou em missões no exterior do Território
Nacional, desejando-lhes elevado sucesso no cumprimento da sua missão e
aos artilheiros do Regimento de Guarnição nº 2 e do Regimento de
Guarnição nº 3, nos quais também estão em curso cerimónias de Juramento
de Bandeira, para que saibam manter o elevado espírito de bem servir que
tão bem carateriza a Arma de Artilharia.
A todos, o meu bem hajam.

Vendas Novas, 5 de dezembro de 2014.

350
“JOINT FIRES OBSERVER”

“JOINT FIRES OBSERVER”


Coordenação de meios vs Efeitos
pretendidos (OAv/JFO/JTAC)
Pelo Major de Artilharia
ARMANDO MANUEL LEAL SIMÕES

No âmbito do Seminário da Artilharia 2014, realizado no Regimento de


Artilharia Nº4 em Leiria, propus-me a efetuar uma apresentação
subordinada ao tema ““Joint Fires Observer” Coordenação de meios vs Efeitos
pretendidos (OAv/JFO/JTAC). As próximas linhas pretendem refletir o teor
da mesma e de algum modo contribuir para o despertar de novos conceitos
por parte dos leitores.

INTRODUÇÃO

O sucesso no campo de batalha depende de uma aplicação correcta do


potencial de combate o qual, como é sabido, tem na manobra e no poder de
fogo as suas duas componentes físicas essenciais. A Artilharia de Campanha
(AC) constitui o meio terrestre de Apoio de Fogos mais poderoso, que o
Comandante de uma força tem à sua disposição para influenciar o decurso
do combate. Os meios de AC permitem colocar fogos potentes a grandes
distâncias, possibilitando desta forma ao Comandante fazer sentir a sua
acção em profundidade no campo de batalha.
Estas duas formas de actuação:
x Apoio imediato aos elementos de manobra;
x Ataque a objetivos em profundidade no campo de batalha;

351
REVISTA DE ARTILHARIA

Conferem à AC uma poderosa capacidade de intervenção no combate


que, naturalmente, tem de ser gerida adequadamente por forma a integrar-se
harmoniosamente no esquema de manobra, facilitando o seu sucesso.
Assim, a AC organizou-se no que nós chamamos O SISTEMA DE
ARTILHARIA DE CAMPANHA que é constituído por:

x Aquisição de Objetivos (Olhos);


x Comando, Controlo e Coordenação (Cérebro);
x Armas e Munições (Músculos).

Os meios de Aquisição de Objetivos permitem a recolha de notícias


sobre objetivos, com rapidez e precisão, garantindo a sua oportuna
deteção, identificação e localização por forma a que o seu ataque seja
executado com eficácia, é aqui que reside o potencial do “Joint
Fires Observer”.
A Aquisição de Objetivos, com oportunidade e precisão, torna-se
assim fundamental para o emprego eficaz das armas de tiro indireto
que integram o Sistema do Apoio de Fogos e que englobam as bocas de
fogo, os lança foguetes múltiplos e os mísseis na AC, a artilharia naval,
os morteiros e algumas das armas utilizadas no apoio aéreo e é na
pessoa do observador avançado e na sua equipa que reside o seu maior
potencial.
São em geral, orgânicos do Grupo de Artilharia de Campanha (GAC),
atuam normalmente, junto das Companhias, Esquadrões ou Subagrupa-
mentos e Pelotões, onde são os principais conselheiros de artilharia do
respetivo Comandante. Tem como principais deveres:

x Aconselhar o Comandante de Companhia em todos os assuntos de


apoio de fogos de artilharia;
x Localizar objetivos;
x Pedir e ajustar os fogos de Artilharia;
x Eventualmente, pedir e ajustar fogos de outros meios (morteiros,
artilharia naval, CAS).

No que se refere aos Observadores Terrestres há, ainda, a


destacar as Equipas COLT (Combat Observation Lasing Team), que
são equipas de observação de alta-tecnologia e proporcionam à AC,
bem como a outros sistemas de armas, a capacidade de utilização de
munições, que na parte final da trajetória permitem o guiamento por
designadores laser.

352
“JOINT FIRES OBSERVER”

O NOVO AMBIENTE OPERACIONAL


O novo ambiente operacional traduz-se numa ameaça que será
predominantemente assimétrica e exigirá que as forças terrestres tenham
capacidade para conduzirem em simultâneo operações ofensivas, defensivas
e de estabilização. As operações decorrerão principalmente em terreno
urbano e face à complexidade das operações o conceito de crime de guerra
terá as fronteiras mal definidas. O ambiente será essencialmente inter-
nacional com diferentes coli-
gações, parcerias e alianças e
obrigará à interação com orga-
nizações não militares, pelo que
os problemas de comando e
controlo serão uma constante.
Cada vez mais o apoio de
fogos será uma operação em
rede, onde a informação sobre
objetivos obtida por diferentes
sensores pertencentes a diferentes níveis de comando, ramos das forças
armadas, contingentes e organizações, será rapidamente encaminhada,
através das apropriadas redes de comando e controlo, para a arma mais
adequada para produzir o efeito desejado. De acordo com o conceito
“Networked fires” é fundamental garantir que quando um objetivo é
adquirido por um sensor seja rapidamente tomada a decisão sobre o seu
ataque e seja transmitida a ordem, em tempo oportuno, ao sistema de armas
que produz o efeito desejado, otimizando as ligações “sensor to shooter”.

353
REVISTA DE ARTILHARIA

CONCEITO DE “JOINT FIRES OBSERVER”

“JFO é um elemento treinado que pode solicitar, ajustar e controlar


fogos indiretos, fornecer informações em apoio CAS (Close Air Support) de
tipo 2 1 e tipo 3 2 aos controladores de ataque terminal (TAC-Terminal Attack
Controllers) e executar operações de guiamento terminal autónomas”.
Na realidade nada de novo no apoio de fogos do Exército Americano, mas
formaliza o treino conjunto. É durante CAS Tipo 2 que o JFO torna-se os olhos do
JTAC (Joint Terminal Attack Controllers), proporcionando ao controlador as
informações necessárias para empregar com sucesso as munições das aeronaves.
No controle tipo 2 ou 3 não há nenhuma exigência para o JTAC visualmente
adquirir o alvo ou o avião de ataque, assim os JTACs podem coordenar os ataques
CAS usando informação dirigida a partir de um observador.
De modo a operacionalizar o conceito, em 14 de Novembro de 2005, foi
assinado um memorando de entendimento (Memorandum of Agreement
(MOA)) (U.S. Army; U.S. Air Force; U.S. Special Operations Command),
necessidade decorrente da Guerra do Iraque e do Afeganistão, uma vez que
os JTAC não podiam estar em posição de observar todos os alvos no campo
de batalha. Os JFO treinados em conjunto com os JTAC teriam a capacidade
de aconselhar o comandante da manobra através de um planeamento
atempado e sincronizado, permitindo deste modo uma resposta de execução
de todos os fogos conjuntos.
O JFO não é um JTAC certificado e nunca vai substituir um
JTAC certificado, no entanto, um JFO pode servir como os olhos e ouvidos
de um JTAC acrescentando capacidade de guerra combinada.
A limitação de recursos é uma realidade de todos países, a formação dos
JTAC é demorada e muito dispendiosa verificando-se nesta área uma
escassez de equipamentos e instrutores qualificados.
A Força Aérea Americana aumentou a partir de 2006 a formação de
JTAC mas passou de 622 em 2005 para 1019 em 2012, 70 por ano, só
permitia apoiar as unidades de manobra escalão Batalhão. Para atingir o
requisito pretendido (1 JFO por pelotão) a Força Aérea teria que triplicar a
formação dos JTAC.

1 Este tipo de controle é utilizado quando o JTAC quer controlar os ataques, mas, avalia que a
aquisição visual da aeronave e do alvo no lançamento das armas não é possível ou quando as
aeronaves não estão em condições de adquirir a marca ou o alvo antes de lançar as suas
armas (ataque de aeronaves à noite; tempo adverso,etc).
2 É utilizado quando a avaliação do risco tático indica que os ataques CAS impõe um baixo risco

de fratricídio. Os pilotos podem iniciar o ataque dentro dos parâmetros impostos pelo JTAC
previamente autorizado pelo Comandante da Unidade de Manobra.

354
“JOINT FIRES OBSERVER”

Esta iniciativa baseou-se no “Plano de Ação Joint Close Air Support


(JCAS) 2005” e seguiu quatro ações destinadas a uniformizar a
formação dos JFO:

x Padronizar e desenvolver uma definição conjunta para o cargo;


x Desenvolver um plano de estudos individual;
x Desenvolver Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) conjuntas e
atualizar Manuais;
x Estabelecer/desenvolver um equipamento padrão.

O resultado destas ações teve como objetivo melhorar as capacidades da


força combinada e reduzir acidentes que resultam em danos colaterais
(fratricídio).
Historicamente, os observadores avançados terão executado CAS de
"emergência", no entanto, com a falta de treino dos observadores avançados
para executar CAS a concepção de um curso de JFO era uma necessidade.

CURSO JFO

O Curso de JFO é destinado a Observadores Avançados (Esp. 13F),


Oficiais e Sargentos de Apoio de Fogos, equipas COLT e elementos de
equipas de reconhecimento.
Inicialmente (janeiro 2005)
o curso tinha a duração de 7
dias e realizava-se na Base
Aérea Nellis, Nevada, no
JAGOG (Joint Air-Ground
Operations Group), com a
duração de 25 horas teóricas
(integração e execução de fogos
conjuntos, incluindo artilharia
e morteiros; fogos navais; CAS)
e 26,5 horas de simulação com
um exercício de campo de um
dia. Em 29 de agosto de 2005
iniciou-se um curso piloto na
Escola da Artilharia de Campanha localizada em Fort Sill, Oklahoma, esta
nova localização permitiu realizar cerca de 17 Cursos por ano, formando

355
REVISTA DE ARTILHARIA

anualmente mais de 500 JFO. Entre agosto de 2005 e novembro de 2008 3


certificou 1063 JFO, em 11 de dezembro de 2009 atingiu os 2000 JFO e
durante o ano de 2010 formou mais de 1000 JFO.
O destacamento da Força Aérea, em Fort Sill, melhorou a pista e as
instalações de apoio, aumentou o número de alvos na área de impacto e
modificou o espaço aéreo sobre Fort Sill a sul do Oklahoma para permitir
manobras de asa fixa CAS para apoiar a formação JFO. O regresso das
missões CAS por aeronaves de asa fixa permitiu apoiar a formação JFO,
mas também contribuiu para que Fort Sill tornar-se Centro de Excelência do
Exército para Fogos e Efeitos Conjuntos.
Atualmente o curso tem a duração de 10 dias (27,5 horas teóricas/28
horas simulação/Treino real de CAS).
Os alunos aprendem as questões doutrinárias básicas de JCAS e de
comando e controle necessário para empregá-lo de forma eficaz.
x Aprendem os fundamentos da execução CAS, que incluem capacidade
de leitura de mapas, termos associados, aeronaves e capacidades de
armas, e os tipos de controle de ataque terminal de CAS;
x Recebem instruções adicionais sobre a integração de fogos indiretos
com CAS, calculando a ordenada máxima (MAXORD, o ponto mais
alto que um projéctil atinge durante a sua trajectória) para a
artilharia e morteiros, fogos navais, desenvolvimento e utilização de
áreas de coordenação do espaço aéreo (ACAS);
x Solicitam o emprego de aviões AC-130;
x Coordenam a realização de missões de combate próximo por aeronaves
de asa rotativa.
Mas o treino ocorre verda-
deiramente quando as equipas
JFO/JTAC coordenam um ataque
aéreo, esta missão demontra a
criticidade do trabalho em equipa
e limites práticos dos papéis entre
o JTAC, JFO e plataforma de
ataque. O JFO deve trabalhar
com JTAC e aeronaves periódica-
mente para exercer as compe-
tências adquiridas.

3 A taxa de reprovação em 2008 foi de 16%, atualmente é de 20% (Para colmatar esta taxa de
reprovação executam um pré-curso, a grande dificuldade está na terminologia especifica do
JTAC, muitos termos técnicos).

356
“JOINT FIRES OBSERVER”

O Programa JFO segue meticulosamente as diretrizes do memorando


de entendimento (MOA), os formandos cumprem 17 itens que fazem parte
da lista de tarefas para a missão através de um sistema "go /no-go”,
coordena fogos próximos das tropas amigas e as suas competências são
reconhecidas mundialmente pelos JTAC, pilotos e comandantes das
unidades de manobra.
Após a certificação o JFO pode solicitar fogos conjuntos de forma
oportuna, eficiente e segura, com uma maior capacidade de planear e
executar fogos conjuntos ao nível tático, mas para que isso aconteça é
necessário manter a qualificação.
Para manter a qualificação os JFO são obrigados a realizar treino
semestral para manter o curso e devem executar, para garantir a sua
proficiência, as seguintes missões:

x Executar como JFO seis missões de asa fixa ou rotativa:


o Realizar duas missões de guiamento terminal laser reais ou
simuladas;
o Executar um controle CAS real 4 de aeronave de asa fixa. Este
controle começa com o JFO a adquirir o alvo e fornecer dados que
permitam ao JTAC executar missão CAS do Tipo 2 ou 3.
o Executar uma missão noturna usando Laser ou marcador IR;
o Realizar como JTAC não qualificado um ataque terminal
simulado, utilizando procedimentos padronizados 5 .
o Realizar o cancelamento de uma missão real ou simulada. Pode
ser realizada em conjugação com outras missões Semestrais.
x Realizar seis missões reais ou simuladas de apoio de fogos
(Artilharia, Morteiros e Artilharia naval);
x Realizar um pedido de tiro real ou simulado para um AC- 130.

Os requisitos de avaliação periódicos são determinados pelas respetivas


Unidades de modo a não exceder 18 meses, o JFO perde a sua qualificação
se o período de avaliação caducar ou se falhar a sua avaliação. Para
recuperar a qualificação o JFO tem que cumprir as missões que falhou nos
seis meses anteriores. Mais de 24 meses consecutivos fazem um programa
de reciclagem que inclui no mínimo os requisitos semestrais.
Na articulação de coligações, o terreno comum leva a objetivos comuns
e ao longo dos últimos anos a motivação para trabalhar em conjunto
4 Se não for possível ou viável a realização da missão real pode ser simulado se for autorizado.
5 A supervisão por parte de um JTAC qualificado é aconselhada, mas não necessário.

357
REVISTA DE ARTILHARIA

aumentou. As operações atingem um ritmo elevado, a motivação é um


elemento crítico, as boas ideias não bastam é preciso estar motivado para
implementa-las. Assim o curso JFO tem-se disseminado levando outros
países a adotar o conceito, nomeadamente, Força Aérea Real Australiana,
Exército Australiano, Ministério da Defesa da Hungria, Canada e no
“Warrior Preparation Center” na Alemanha. Mais recentemente, em Janeiro
de 2014, realizou-se o primeiro curso de JFO na Letónia apoiado por
Instrutores de Fort Sill.
Os equipamentos utilizados pelo Observador Avançado e pelo JTAC
obedecem a requisitos específicos e existe uma grande panóplia de
equipamentos dos quais apresento os seguintes:

LLDR-2H – Com 2 módulos (localização de


objetivos e designador laser), incorpora camara
térmica, proteção contra laser, GPS, bússola
digital, etc.

IR Strobe Light e Thermal Image Coral


– Equipamento para reconhecimento aliado

SeeSpot III – Camara térmica

Rover 5 – Remote Operations Video


Enhanced Receiver Permite troca de imagens, em
tempo real, entre o piloto e o JTAC

358
“JOINT FIRES OBSERVER”

De modo a dar seguimento ao memorando de entendimento assinado


em 2005, o plano de modernização de equipamentos do Exército (2014
ARMY EQUIPMENT MODERNIZATION PLAN) prevê a modernização
do equipamento ligeiro do observador avançado LLDR (Laser Designator/
/Rangefinder AN/PED-1) tornando-o mais leve e melhorando-lhe as capa-
cidades, nomeadamente a precisão de localização e designação de objetivos.
Este equipamento será subs-
tituído a partir de 2019 pelo
Joint Effects Targeting System
(JETS) terá capacidades acres-
cidas, nomeadamente permitirá
designar objetivos e conduzir todo
o tipo de missões de apoio de fogos
para todos os meios (artilharia,
morteiros, CAS, helis de ataque,
navais, etc.).
Fornece uma vigilância per-
manente e capacidade de seguimento Joint Effects Targeting System
para veículos não tripulados e Fonte: Army Weapon Systems Handbook 2012
mísseis de cruzeiro aéreos de defesa.
O sistema também fornece controlo de fogos para sistemas de mísseis
do Exército (PATRIOTA) e da Marinha (Aegis), aviões de combate,
permitindo que estes sistemas detetem ameaças hostis a grandes distâncias.

A ABORDAGEM DA BRITISH ROYAL ARTILLERY

359
REVISTA DE ARTILHARIA

Apresentada em Londres numa conferência subordinada ao Tema


“Future Artillery 2013”, onde a Artilharia Portuguesa esteve representada
pelo TCOR ART Romão, define que todos os escalões superiores a
companhia possuem uma célula de coordenação de fogos, constituída por
representantes de todos os meios de apoio de fogos (artilharia, morteiros,
força aérea, helicópteros, artilharia naval, etc.) que trabalham como uma
equipa, de forma integrada e empregam a mesma doutrina tática e os
mesmos processos operacionais, nomeadamente o Processo de Targeting.
Ao nível tático as células de apoio de fogos assumem particular
importância, uma vez que são elas que asseguram toda a coordenação do
processo.
De acordo com a experiência adquirida nas recentes operações, das
Forças Armadas Britânicas, verifica-se que a maioria dos pedidos de fogos
continua a ser feita à voz, embora reconheçam que existem vantagens no
emprego dos meios de comunicação digital, nomeadamente para partilhar a
imagem comum do campo de batalha (Situational Awareness) e para enviar
informação sobre os objetivos a atacar, esta informação deverá ser
complementada, no momento do empenhamento do objetivo, por
comunicações à voz, isto assume particular importância durante as missões
de apoio aéreo próximo (CAS).
A Fire Suport Team (FST) de companhia ganha importância, dado que
é esta célula que coordena a execução do ataque aos objetivos.
A tendência é para que os elementos desta equipa, inde-
pendentemente da sua origem (artilharia, infantaria, força aérea, etc.),
estejam habilitados para conduzir todo o tipo de fogos (aéreos, ataque
de helicópteros, artilharia, morteiros, navais, etc.), bem como tenham
capacidade para empregar
os meios de informações,
vigilância e reconheci-
mento (IVR) terrestre e
aéreos.
Para isso deverá dispor
de equipamento (e forma-
ção) que lhe permita iden-
tificar e localizar com precisão
objetivos, comunicar com
as forças terrestres e com a
força aérea (com as forças navais se necessário) e transferir dados de forma
digital. É o conceito de Equipa de Observação Avançada Universal.

360
“JOINT FIRES OBSERVER”

CONCLUSÕES

No Futuro os Exércitos vão operar de forma mais descentralizada,


significa que as operações são realizadas cada vez mais nos escalões tácticos
mais baixos, dotados de maior autonomia e recursos para realizar as
missões. O JFO é um elemento crítico para o comandante da manobra e
fornece apoio de fogos conjunto ao menor nível táctico, é um Observador
especialmente treinado, trabalha em estreita colaboração com os JTAC para
fornecer apoio aéreo próximo preciso e oportuno. O JFO proporciona a
capacidade de explorar as oportunidades que existem no ambiente
operacional em que um observador treinado pode apoiar eficientemente
fogos indirectos, apoio aéreo próximo (CAS) e operações de guiamento
terminal.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

x Joint Fires Observer, Memorandum of Agreement (MOA), 14 November


2005;
x Joint Fire Support, Joint Publication 3-09, 30 June 2010;
x Army Equipment Modernization Plan, 13 May 2013;
x MC 20 – 100, Manual de Táctica de Artilharia de Campanha, 2004;
x Apresentação PowerPoint, TCOR ART Romão;
x Artigos Internet:
x http://sillwww.army.mil/firesbulletin/2009/Jan_Feb_2009/Jan_Feb_2
009_Pages18_21.pdf;
x http://www.stripes.com/news/soldiers-train-with-air-force-on-attack-
coordination-1.87173;
x http://www.sargs.lv/Zinas/Military_News/2014/01/15-
01.aspx#lastcomment;
x http://www.docstoc.com/docs/105784074/Joint-Fires-Observer-_JFO_-
Concept;
x http://www.dvidshub.net/publication/431/fires-
bulletin#.U6cAZvldUz6;
x http://www.readperiodicals.com/201109/2476405801.html;
x http://www.dvidshub.net/publication/issues/15376.

361
REVISTA DE ARTILHARIA

18
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

SISTEMA INTEGRADO DE
COMANDO E CONTROLO
PARA A ARTILHARIA
ANTIAÉREA (SICCA3)
Pelo Capitão de Artilharia
NUNO MIGUEL LOPES DA SILVA

“Generally, management of the many is the same as


management of the few. It is a matter of organization.”
Sun Tzu

1. INTRODUÇÃO

A Artilharia Antiaérea (AAA) do Exército não dispõe atualmente de


capacidade de Comando e Controlo (C2) automático sendo imperativo
equipá-la com meios que possibilitem a sua integração no Sistema de Defesa
Aéreo Nacional (SDAN).
O SDAN, funciona em ambiente de sistemas interligados, estando o
Centro de Relato e Controlo (CRC) Nacional equipado com radares de
vigilância e controlo do espaço aéreo da Força Aérea Portuguesa (FAP),
Esquadras de Intercetores, Aeronaves Air Early Warning (AEW) da NATO e
CRC’s de Países Aliados. Esta informação é sistematizada numa mesma
imagem do espaço aéreo (Common Air Picture) que é a base para a
coordenação e emprego operacional dos sistemas que utilizam esse mesmo
espaço aéreo. A não integração da AAA neste sistema, impede a mesma de
obter informação sobre a ameaça aérea e inviabiliza a sua utilização por

363
REVISTA DE ARTILHARIA

impossibilidade de coordenação com o emprego de aeronaves. Só com a


integração será possível participar e contribuir para a partilha de informação
ao nível da Common Operational Picture (COP) e complementar, de forma
efetiva, as capacidades de defesa aérea das aeronaves de interceção, única
capacidade de defesa aérea de que Portugal atualmente pode dispor e que
não tem paralelo em nenhum outro país da Aliança Atlântica.
Ao ser compatível com o SDAN e consequentemente com os sistemas de
Comando e Controlo do Espaço Aéreo (C2EA) da Aliança, o C2 da AAA,
garantirá igualmente uma conveniente ligação com os sistemas de defesa
aérea de uma força conjunta
multinacional, no quadro de uma
Crise Response Operation (CRO)
ou da participação nacional na
NATO Response Force (NRF) ou
Battlegroups. Tal implicará uma
forte aposta também ao nível da
formação, do nivelamento de
procedimentos e forçosamente
implicará um treino operacional
conjunto e combinado.
O ponto de partida para
este projeto foi a Diretiva
Figura nº 1 – Proteção Antiaérea.
Fonte: Autor 02/CEME/09, de 15JAN09 que
estabelece, no seu paragrafo
5.e.(4), que se deve “ organizar e equipar o GAAA de A/G, de forma que
disponha de capacidade de ligação à Força Aérea (Comando e Defesa Aérea),
de coordenação do espaço aéreo no campo de batalha (Elemento de
Coordenação do Espaço Aéreo – ECEA), esteja apto a receber meio High to
Medium Air Defense (HIMAD), incluindo o reforço desta capacidade, por
forma a garantir a proteção AAA de forças, quando empregues e a defesa de
pontos e áreas sensíveis em termos terrestres, no quadro da Defesa Aérea
Nacional no Território Nacional (TN), tendo em conta a nova tipologia da
ameaça aérea”.

2. SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO

Um sistema integrado de defesa aérea é constituído por sensores,


armas, comando, controlo, comunicações, computadores, sistemas de
informação e pessoal. O sistema integrado de defesa aérea rege-se por
alguns princípios fundamentais: direção e planeamento centralizados, que é

364
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

essencial no controlo e coordenação do empenhamento da força e mantém a


unidade de esforço, otimizando as contribuições de todas as forças; execução
descentralizada, que permite, oportunamente, uma ação decisiva por
comandantes ao nível tático, sem comprometer a capacidade dos
comandantes ao nível operacional para controlar as operações em curso;
planeamento antecipado, que apoia de uma forma rápida a ação decisiva,
através da exploração antecipada de testes e desenvolvimento otimizado de
modalidades de ação; comunicações eficientes e eficazes, apoiando de forma
oportuna a troca de dados e informação, bem como otimizando a eficácia e
manutenção do ritmo operacional, evitando comunicações desnecessárias; a
defesa por camadas fornece diversas oportunidades de empenhamento sobre
aeronaves e mísseis, idealmente para lá do limite das nossas forças;
cobertura em 360º garantindo uma proteção contra ameaças imprevistas e
ataques provenientes de várias rotas; a deteção antecipada, discriminação,
classificação e identificação apoiam oportunamente o pré-aviso de ataques,
bem como possibilita o pronto apoio à decisão de empenhamento sobre alvos
sensíveis e a escolha do sistema de armas mais adequado a empenhar.
O sistema automá-
tico de C2 aumenta a
performance das funções
de C2, proporcionando
ao comandante e seu
estado-maior informação
necessária para avaliar
a situação, apoiar na
decisão da modalidade
de ação e dirigir as
forças. O sistema auto-
Figura nº 2 – Tactical Operations Centre (TOC).
maticamente coleciona, Fonte: http://www.kongsberg.com
processa, ordena, cate-
goriza, correlaciona, armazena e apresenta a informação de todos os meios
aéreos e do comando de batalha. Através de simulação, estimativas ou
qualquer outro meio, ajuda na elaboração das modalidades de ação e jogo de
guerra, de modo a sustentar o processo de decisão militar. Finalmente,
proporciona ao comandante uma rede de comunicações fidedigna, podendo
transmitir todas as suas ordens, indicações e diretrizes ao escalão superior e
inferior, de um modo célere e seguro.
Assim, o Sistema Integrado de Comando e Controlo para a Artilharia
Antiaérea (SICCA3) é um sistema de C2 vocacionado para operações de
defesa aérea baseadas em sistemas de armas terrestres. Este sistema foi

365
REVISTA DE ARTILHARIA

desenhado de raiz para ser utilizado de acordo com o conceito NATO de


Operações Centradas em Rede (NATO Network Enable Capability – NNEC)
e está dotado de interfaces do tipo Tactical Data Link que permitem a sua
interoperabilidade com outros sistemas utilizados em operações conjuntas e
combinadas. Atualmente encontra-se em fase de implementação um centro
tático de C2 para operações terrestres de defesa aérea, destinado a equipar o
Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAA) das Forças de Apoio Geral (FApGer).

3. CONCEITO OPERACIONAL DO SICCA3

Com a introdução ao serviço do SICCA3 as unidades de AAA do


Exército Português passam a poder integrar plenamente o SDAN, ficando
aptas a receber a Recognized Air Picture (RAP) até ao perímetro tático da
força. Adicionalmente o SICCA3 contempla um conjunto de interfaces de
comunicações que possibilitam uma interoperabilidade plena com outros
sistemas equivalentes, tais como o ACCS (NATO), MARTHA (FRA), SAMOC
(DEU), FAADC2 e MEADS (USA).
O SICCA3 torna-se assim parte integrante da estrutura orgânica de
material das unidades e subunidades de AAA, sendo guarnecido com
especialistas provenientes do quadro orgânico de pessoal das unidades e
subunidades de AAA. O SICCA3 equipará, de forma faseada e de acordo com
a organização atual das unidades de AAA do Exército Português, o GAAA
composto por três Baterias de Artilharia Antiaérea (BtrAAA), sendo elas as
BtrAAA da Brigada de Intervenção (BrigInt), da Brigada de Reação Rápida
(BrigRR) e das FApGer, estando apto receber também a BtrAAA da Brigada
Mecanizada (BrigMec) e a Bateria High to Medium Air Defense (HIMAD).
Assim, a Fase A possibilita que a AAA possa integrar o SDAN e se possa
ligar através de Link-16 às forças nacionais que estão a executar a defesa do
Espaço Aéreo Nacional e a forças de países amigos e aliados, em situações de
missões reais ou em ações de treino operacional; a Fase B possibilita (para
além do que permite a Fase A) o emprego de mais uma BtrAAA; a Fase C
possibilita (para além do que permite a Fase B) o emprego de mais duas
BtrAAA, Sendo assim possível o cumprimento de três missões distintas, o
apoio a três Brigadas em simultâneo ou a execução de duas missões em
Território Nacional e outra fora dele, ou vice-versa. Esta Fase é a fase final
do projeto permitindo tirar total partido e rentabilizar totalmente as
diferentes subunidades de AAA de que o Exército dispõe.

366
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

Figura nº 3 – Funções do SICCA3.


Fonte: Apresentação SICCA3

Na base da definição técnica deste sistema esteve o documento guia


para a reestruturação da AAA (produzido pelo Regimento de Artilharia
Antiaérea Nº1 – RAAA1), o documento Standardization Agreement
(STANAG) 4312 (Interoperability of Low Level Ground Based Air Defense
Surveillance, Command and Control Systems) bem como um conjunto de
reuniões realizadas entre a Direção de Comunicações e Sistema de
Informação (DCSI), o RAAA1 e técnicos representantes da indústria (Indra,
Thales-Raytheon, Selex, Viasat, entre outras). Deste conjunto de atividades
resultaram um conjunto de requisitos operacionais para o sistema, uma
definição de capacidades táticas pretendidas e uma solução técnica para
implementação das mesmas.

4. REQUISITOS OPERACIONAIS PARA O SICCA3

Do conceito operacional apresentado pelo RAAA1 à equipa de projeto,


concluiu-se que o SICCA3 seria desenhado de forma a cumprir os seguintes
requisitos operacionais:
x Capacidade de operação de 24/7, sob todo o tipo de condições
meteorológicas;
x Capacidade de compilar a Local Air Picture (LAP) com base em
informação proveniente dos sensores orgânicos das unidades de AAA
(radares de aviso local e radares de vigilância);

367
REVISTA DE ARTILHARIA

Figura nº 4 – Requisitos do SICCA3.


Fonte: Apresentação SICCA3

x Capacidade de transmissão da LAP para o escalão superior de


coordenação das operações aéreas, de forma a contribuir para a RAP;
x Capacidade de receção da RAP de forma a garantir a manutenção de
uma perceção comum da situação (situation awareness);
x Mobilidade e transportabilidade de forma a garantir capacidade de
adaptação e acompanhamento da manobra;
x Modularidade e escalabilidade para garantir o ajustamento com os
requisitos operacionais das missões;
x Interoperabilidade em ambiente conjunto e combinado;
x Capacidade de gestão do espaço de batalha aéreo sob a sua responsabilidade;
x Facilidade de utilização e treino em operações conjuntas e combinadas.

5. Capacidades do SICCA3

Com base nos requisitos operacionais identificados, e após uma série de


reuniões e contactos informais de carácter técnico com a indústria no sentido
de apurar o real estado da arte para este tipo de sistemas, conclui-se que a

368
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

tecnologia disponível presentemente no mercado permite implementar as


seguintes capacidades funcionais:

x Deteção e identificação de ameaças, para além do alcance eficaz dos


sensores orgânicos das unidades de AAA, através da interligação de
várias fontes de informação, conjuntas e combinadas, num único
sistema de C2;
x Redução do tempo de reação necessário para a coordenação e
empenhamento dos sistemas de armas orgânicos das unidades de
AAA, obtida através da implementação de uma cadeia de C2
conjunta e combinada com as seguintes características:
x Transferência, em tempo real, de informação, ordens, relatórios e
medidas de coordenação táticas entre as diversas entidades do
sistema;
x Transmissão de informação através de canais de voz e dados
seguros e robustos;
x Capacidade limitada de coordenação de espaço aéreo;
x Gestão de espaço aéreo na área de responsabilidade do GAAA;
x Desconflituar a utilização do espaço aéreo, prevenção de
interferências e ativação de corredores de passagem seguros.

De notar que o CRC será a entidade primariamente responsável pela


execução das missões de defesa aérea, sendo da sua competência as
seguintes atividades:
x Produção e disseminação da RAP, nivelando e correlacionando as
deteções provenientes de vários sensores do sistema;
x Tomada de decisão no empenhamento em ameaças;
x Alocação de seguimentos (tracks) a sistemas de armas de defesa
aérea (aeronaves do tipo caça ou ao Posto de Comando (PC) do
GAAA);
x Controlo de aeronaves;
x Monitorização dos empenhamentos efetuados pelo GAAA.

A descrição gráfica de fluxos de informação torna mais fácil a perceção


funcional do sistema na perspetiva final do C2, ao permitir visualizar os
canais de comando (ordens para os atuadores do sistema tais como as
unidades de tiro ou elementos de coordenação de fogos) e de controlo
(receção de relatórios e informação proveniente dos sensores orgânicos ou do
escalão superior).

369
REVISTA DE ARTILHARIA

O resultado do estudo para a descrição funcional da cadeia de C2


pretendida resultou no seguinte fluxo de informação para operações de AAA,
que o SICCA3 deve satisfazer:

Figura nº 5 – Fluxos de Informação para o SICCA3.


Fonte: Apresentação SICCA3

6. SOLUÇÃO TÉCNICA UTILIZADA NO SICCA3

Em função das capacidades pretendidas para o sistema, a equipa de


engenharia responsável pelo projeto concluiu que a melhor solução para o
design do projeto seria a implementação de módulos integráveis em rede, de

370
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

acordo com o conceito NNEC, e reutilizáveis entre os vários escalões das


unidades de AAA, permitindo assim uma adaptação do SICCA3 às
necessidades específicas da missão e da força.
A presente fase de implementação do SICCA3 contempla a aquisição de
dois módulos destinados a equipar o PC GAAA: o módulo Fire Distribution
Center (FDC) e o módulo Tactical Operations Center (TOC).
Em termos concretos estes módulos materializam-se em dois contentores
(shelters) instalados em viaturas táticas tipo MAN 10.224 LAEK D 4x4
MA/98, ao serviço no Exército Português.

7. FUNCIONALIDADES E DESCRIÇÃO
DO MÓDULO FDC

O módulo FDC permite a execução das tarefas associadas às operações


de empenhamento, nomeadamente:
x Integração de todos os sensores de defesa aérea de curto alcance
(Short Range Air Defense – SHORAD) e sistemas de armas orgânicos
das BtrAAA subordinadas no sistema SICCA3;
x Produção da LAP, com base na informação proveniente dos sensores
orgânicos das BtrAAA subordinadas, e sua disseminação para o CRC
para contributo da RAP;
x Disseminação da RAP recebida pelo CRC às BtrAAA subordinadas,
assegurando que todas as BtrAAA partilham uma RAP comum e
atualizada, permitindo o aviso prévio (early warning) das mesmas de
um modo mais eficiente.
x Processamento das ordens de empenhamento recebidos do CRC;
x Priorização das ameaças tendo em consideração o seu comporta-
mento e as áreas a defender;
x Otimização da atribuição de alvos às BtrAAA subordinadas, tendo
em consideração as suas capacidades correntes em termos logísticos
e operacionais e a priorização de ameaças efetuadas;
x Monitorização dos empenhamentos em curso de forma a otimizar a
proteção de áreas e pontos sensíveis e a gerir o “sobre empenha-
mento” (overkill) das unidades de tiro;
x Reporte ao CRC, de forma contínua, dos empenhamentos em curso.

Nesta shelter trabalham três operadores, sendo que dois estão diretamente
ligados às operações de defesa aérea e o terceiro tem responsabilidades sobre
a monitorização dos links de comunicações e sistemas de informação.

371
REVISTA DE ARTILHARIA

No FDC existem duas consolas para a execução das operações de


empenhamento. Estes postos de trabalho estão também dotados de consolas
multifuncionais para intercomunicações e partilha de recursos rádio através
de uma solução RoIP (integração rádio-IP).
O módulo FDC integra todos os sistemas de comunicações que estão
associados ao estabelecimento da ligação com outros sistemas aliados, tais como
o ACCS (NATO), MARTHA (FRA), SAMOC (DEU) ou FAADC2 (USA). Encontram-
-se presentes três interfaces: rádio Multifunctional Information Distribution
System (MIDS)/Link-16 para interface com redes rádio MIDS; interface Low
Level Air Picture Interface (LLAPI) (normalizado de acordo com o STANAG
4312 ed2) que possibilita uma ligação Link-16 e Link-11, via cabo série, com
outras shelters ou sistemas de C2; e um interface Internet Protocol (IP) (fibra
ótica e DSL) com utilização do protocolo JREAP-C (Link-16 através de redes IP).

Figura nº 6 – Interfaces do módulo FDC.


Fonte: Apresentação SICCA3

8. FUNCIONALIDADES E DESCRIÇÃO DO MÓDULO TOC

O módulo TOC implementa o PC GAAA. Materializado num shelter, é


neste local que se executam as tarefas de planeamento e de execução das
operações da força.

372
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

Este módulo possui um posto de trabalho para o comandante do GAAA,


com acesso ao sistema Control and Reporting Center System Interface
(CSI)/CRC, através de uma consola, o que permite o controlo em tempo real
das operações de empenhamento. Adicionalmente existem neste módulo
mais quatro postos de trabalho dotados de computadores robustecidos. Estes
postos de trabalho permitem aos elementos do estado-maior do GAAA a
execução das seguintes funções:
x Preparação e disseminação aos PC BtrAAA subordinados de
informação relativa à missão de defesa aérea (áreas a defender,
ameaças expectáveis, utilização do espaço aéreo);
x Planeamento do dispositivo a implementar pelas BtrAAA subordinadas
de forma a otimizar as suas áreas de deteção e empenhamento em
função da missão;
x Monitorização da implementação no terreno, pelas unidades
subordinadas, do dispositivo planeado.

Todos os postos de trabalho são


dotados de consolas multifuncio-
nais de comunicações que permi-
tem a comunicação à voz entre os
postos de trabalho (incluindo o
FDC) e entre estes postos e
qualquer subscritor do sistema
de comunicações tático onde se
integrem. Este sistema permite
a utilização partilhada dos meios
rádio existentes no FDC,
nomeadamente os rádio P/GRC- Figura nº 7 – TOC.
525 e o rádio MIDS (Link-16). Fonte: http://www.kongsberg.com
Finalmente neste módulo
existe um monitor de grandes dimensões, para exibição da RAP e COP.

9. O SICCA3 COMO “FACILITADOR” (ENABLER) DA CÉLULA


DE DEFESA AÉREA E GESTÃO DO ESPAÇO AÉREO

Uma das capacidades referidas para o SICCA3, e que se reveste de


especial importância na área de operações da Brigada é a de gestão e
desconflituação do espaço aéreo, fundamental na prevenção do fratricídio e
no planeamento, controlo e conduta do apoio às operações terrestres.

373
REVISTA DE ARTILHARIA

Tratando-se de um sistema centrado em rede que disponibiliza dois


serviços específicos: o sistema CSI (consola para visualização da RAP) e o
acesso partilhado (escuta e transmissão) aos meios de comunicação rádio
instalados no shelter FDC (rádios táticos 525 e rádio MIDS). O SICCA3
torna possível dotar a Célula de Defesa Aérea e Gestão do Espaço Aéreo do
PC Brigada com consolas de operador que permitem a execução efetiva da
sua missão, em tempo real, sem qualquer tipo de restrição ou limitação
técnica, através da utilização partilhada dos recursos de comunicações e
sistemas de informação existentes no módulo FDC. O Comando das Forças
Terrestres (CFT) e o Comando das Brigadas têm assim disponível mais um
elemento de informação que irá aumentar a sua perceção do domínio aéreo
do campo de batalha, a RAP.

Figura nº 8 – Interface do utilizador.


Fonte: Documento sobre requisitos do sistema.

8. CONCLUSÃO
O objetivo do C2EA é maximizar a eficácia das operações militares que
utilizam o espaço aéreo, promovendo a capacidade das forças em operar de
maneira eficiente, integrada e flexível, com o mínimo de interferência e sem
restrições e riscos desnecessários às forças amigas e todos os utilizadores do
espaço aéreo. Para atingir estes objetivos, é necessário implementar um
sistema de C2EA, de modo a minimizar as interferências aos utilizadores do
espaço aéreo, e permitir o empenhamento seguro sobre forças inimigas. A
Autoridade de Controlo do Espaço Aéreo é quem define o equilíbrio entre
estas funções.
Com a introdução ao serviço do SICCA3 o Exército dá mais um passo na
sua modernização no sentido da eficiência, economia e maximização dos

374
SISTEMA INTEGRADO DE COMANDO E CONTROLO PARA A ARTILHARIA ANTIAÉREA

efeitos obtidos com os recursos disponíveis. O projeto SICCA3, pensado e


desenhado em função das missões específicas atribuídas às unidades de
AAA, coloca o utilizador e a sua missão em primeiro lugar, mantendo
constantemente presente a noção de que a tecnologia é um meio para
cumprir uma função e não um objetivo em si. Esta verdade torna-se
fundamental na produção de sistemas críticos para a missão, adequados à
utilização em ambiente tático, que resultam de necessidades e requisitos
técnicos complexos. Tendo em conta a fugacidade dos meios aéreos, o
SICCA3 garante resposta a todos os espetros da ameaça.
Em suma, o SICCA3 garante a integração de todos os sensores de defesa
aérea e permite em tempo real a receção da imagem aérea comum até ao
mais baixo escalão.

GLOSSÁRIO

x AAA – Artilharia Antiaérea


x ACCS – Air Command and Control System
x AEW – Air Early Warning
x BtrAAA – Bateria de Artilharia Antiaérea
x BrigInt – Brigada de Intervenção
x BrigMec – Brigada Mecanizada
x BrigRR – Brigada de Reação Rápida
x CFT – Comando das Forças Terrestre
x COP – Common Operational Picture
x CRC – Centro de Relato e Controlo / Control and Reporting Center
x CRO – Crise Response Operation
x CSI – Control and Reporting Center System Interface
x C2 – Comando e Controlo
x C2EA – Comando e Controlo do Espaço Aéreo
x DCSI – Divisão de Comunicações e Sistema de Informação
x DEU – Deutschland
x FAADC2 – Forward Area Air Defense Command and Control
x FAP – Força Aérea portuguesa
x FApGer – Forças de Apoio Geral
x FDC – Fire Distribution Center
x FRA – France
x GAAA – Grupo de Artilharia Antiaérea
x HIMAD – High to Medium Air Defense
x LAP – Local Air Picture
x LLAPI – Low Level Air Picture Interface

375
REVISTA DE ARTILHARIA

x MARTHA – Maillage Antiaérien des Radars Tactiques pour la lutte contre


les Hélicoptères et les Aéronefs à voilure fixe
x MEADS – Medium Extended Air Defense System
x MIDS – Multifunctional Information Distribution System
x NATO – North Atlantic Treaty Organization
x NNEC – NATO Network Enable Capability
x NRF – NATO Response Force
x PC – Posto de Comando
x RAAA1 – Regimento de Artilharia Antiaérea Nº1
x RAP – Recognized Air Picture
x SAMOC – Surface-to-Air Missile Operations Center
x SDAN – Sistema de Defesa Aéreo Nacional
x SHORAD – Short Range Air Defense
x STANAG – Standardization Agreement
x SICCA3 – Sistema Integrado de Comando e Controlo para a Artilharia
Antiaérea
x TOC – Tactical Operation Center
x TTP – Tactics, Techniques and Procedures
x USA – United States of America

BIBLIOGRAFIA

x RC-18-100 – Regulamento de Tática de Artilharia Antiaérea


x MC 18-130 – Regulamento de Comando e Controle do Espaço Aéreo
x AJP-01 – Allied Joint Doctrine
x AJP-3.3.5 – Allied Joint Doctrine for Airspace Control
x ATP-3.3.5.1 – Joint Airspace Control TTP
x AJP-3.3.7 – Combined Joint Force Air Component Command Doctrine
x AJP-33 – Joint Air and Space Operations Doctrine
x JP 3-52 – Doctrine for Joint Airspace Control in the Combat Zone
x FM 3-01.7 – Air Defense Artillery Brigade
x FM 3-01.15 – Multi-Service TTP for an Integrated Air Defense System
x FM 3-09.131 – TTP for the Battlefield Coordination Detachment
x FM 100-103 – Army Airspace Command and Control in a Combat Zone
x Apresentação SICCA3 – Cap Paulo Santos, DCSI
x Plano de Implementação de Capacidade – SICCA3 – Cor Art Luís
Baptista, AGO10
x Relatório de Acompanhamento do Subprojeto SICCA3 – Cor Art
Carlos Fonseca, DEC13
x Sistema SICCA3 – DCSI
x System Requirements – SICCA3 Phase I – DCSI, SET11

376
In Memoriam GENERAL GABRIEL AUGUSTO ESPÍRITO SANTO (1936-2014)

In Memoriam
GENERAL GABRIEL AUGUSTO
DO ESPÍRITO SANTO
(1936-2014)
Pelo Coronel Tirocinado
LUÍS ANTÓNIO MORGADO BAPTISTA

A Revista de Artilharia associa-se a muitos outros órgãos de comunicação,


militares e não militares, na homenagem que é devida ao General Gabriel
Espirito Santo, insigne militar e Artilheiro, que nos deixou de forma súbita,
no passado dia 17 de outubro.
Possuidor de uma longa e diversificada carreira, que se prolongou muito
para lá do seu período de serviço ativo, designadamente com a intervenção
em inúmeros colóquios e conferencias, mas igualmente como autor, de
diversos artigos e livros, de que se destaca a obra “Da arte da guerra à arte
militar” dado à estampa em Fevereiro último, considerado já como um
manual de referencia sobre o conhecimento militar.
É esta qualidade de pedagogo e de pessoa preocupada em dar o seu
contributo para a reflexão e divulgação do conhecimento militar e artilheiro,
que a Revista de Artilharia gostaria de assinalar.
O General Gabriel Espirito Santo foi um contribuinte ativo para a
Revista de Artilharia, com um total de dezasseis artigos publicados,
versando temáticas profundamente ligadas à Arma, tais como as “notas
sobre o emprego duma bateria de artilharia em missões de contraguerrilha”
(1965), “objetivos e finalidades da evolução da artilharia antiaérea no nosso
Exército”(1982), “a Arma de Artilharia: seu passado, presente e perspetivas
futuras”(1997) e “A Artilharia na Guerra Peninsular”(2009).

377
REVISTA DE ARTILHARIA

A importância que lhe merecia a Arma a que pertencia e a preservação


do seu espirito próprio, motivou a publicação na Revista de Artilharia, em
2002, de um artigo designado “Reavivar o Espirito Artilheiro”, anterior-
mente publicado no Jornal da EPA – A Sulipanta – em 1978, do qual nos
permitimos extrair alguns excertos:
“Há alguns anos (…) o espirito artilheiro significava um conjunto de
procedimentos, valores respeitados e normas de conduta que na sua essência
se refletiam no dia a dia das Unidades.
Os sinais exteriores traduziam-se no fardar, no protocolo militar, nos
ritos que se seguiam, quer no tratamento do homem, quer no cuidado com o
material, quer ainda no ritual das sessões de tiro real. Desde a humildade e
espirito de servir do artilheiro apontador, até às vozes do observador, tudo
obedecia a rigor, palavras essenciais, a um misto de silêncio – pensamento –
ação que era regulado pelo sentido de responsabilidade nascido com as
corporações dos primeiros homens que manusearam armas terríficas e
obedecendo a fenómenos que nem sempre encontravam as suas leis na
vontade humana. Daqui que o artilheiro tenha recorrido ao sobrenatural e
que Santa Bárbara resulte desse sentimento. O cuidado com o homem
sempre dominou o espirito artilheiro.

(…)

Uma segunda componente do espirito artilheiro era a preocupação com


o material. Nos parques e em posição, o material tinha sempre razão e o seu
cuidado, após se ter abandonado o muar, constituía um dever observado
rigorosamente. Era nos parques que se refletiam os indicadores de uma
bateria bem comandada. Os quarteleiros, a arrumação e limpeza do
material, o registo das cadernetas dos obuses ou peças, tudo obedecia a uma
preocupação diária, sujeita a rigorosas revistas e inspeções.
Finalmente, queremos referir o rigor cientifico, a preocupação de estudo
e o saber “porquê”, que carateriza os quadros artilheiros. O disparar da boca
de fogo era o penúltimo passo dum trabalho que começava com a referen-
ciação do objetivo e passava pela transmissão da ordem às bocas de fogo.
Cuidado com o homem, zelo no tratamento do material e rigor científico
eram as traves mestras do espírito artilheiro.”
A preservação do espirito artilheiro continua a ser uma prioridade de
todos quantos servem na nossa Arma. Saibamos pois honrar o legado do notável
militar e artilheiro que foi o General Gabriel Augusto do Espirito Santo.

378
PEDIDO DE RECTIFICAÇÃO

PEDIDO DE RECTIFICAÇÃO
Foi solicitado pelo Tenente Coronel Pedro Alexandre Marquês de Sousa
direito de resposta às anotações publicadas na RA nº1067 de Jul/Set 2014,
que se interpreta por pedido de retificação, pois não está configurado o
direito de resposta, que só poderia ser invocado havendo ofensa à reputação
ou bom nome do visado, o que manifestamente não aconteceu.
Assim, embora continuem a subsistir dúvidas se a lei 2/99 se aplica à RA,
relativamente à qual se aguarda parecer da Entidade Reguladora para a
Comunicação Social (ERC), no respeito pelo artº 25º da lei nº 2/99 de 13 de
Janeiro, publica-se retificação na sua íntegra, apesar dos conteúdos dos pontos 1
e 2 serem transcritos voluntariamente, pois configuram uma segunda
oportunidade de retificação, não obrigatória para a RA, algo que a lei não prevê.

379
REVISTA DE ARTILHARIA

Nos termos do nº6 do artº 26 da lei 2/99 de 13 de Janeiro, efetua-se a


seguinte anotação:
Mantenho todas as anotações anteriormente efetuadas e acrescento,
após investigação mais detalhada deste assunto, decerto muito relevante
para o TCor Marquês de Sousa, que:

1. A reunião de brainstorming em 2002 foi uma realidade e foi a


partir dessa reunião que se deu início ao projeto de investigação
primeiro designado por AMACI, que após reengenharia evoluiu para
FIREND.
2. Existe pelo menos mais um militar, de entre as pessoas que
efetivamente participaram na referida reunião de brainstorming,
que não se recorda com total certeza de quem surgiu a ideia;
3. Embora o TCor Marquês de Sousa se auto intitule progenitor da
ideia base do projeto, isso constitui eventual facto nunca relatado aos
dois Diretores/Coorientadores que o Projeto teve;
4. Se auto excluiu do projeto sem informar o Diretor/Coorientador do
mesmo, cerca de um ano após o registo da patente;
5. O registo da patente data de 2005 e a controvérsia a respeito da
autoria situa-se em 2002. Um registo de patente em 2005 tem a
faculdade de acautelar desde essa data o aproveitamento comercial
por terceiros, mas nada decide em matéria de ideia original anterior
que não tenha sido registada.

O autor do Artigo e das anotações


ULISSES OLIVEIRA
MGen

380
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

ARTILHEIROS EM MISSÃO

FND/KFOR
Março 2013 a Outubro 2013
KM – LNO/KFOR HQ
Pelo Major de Artilharia
ADELINO JOSÉ DE SOUSA JACINTO

1. INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2002 integrei a missão da Stabilization Force


(SFOR) na Bósnia Herzegovina (BiH). Nesta missão trabalhei ao nível de
um Battle-Group Multinacional (MNBG), nomeadamente nas operações
correntes. Em agosto de 2008 foi a vez da Missão de Treino da OTAN no

381
REVISTA DE ARTILHARIA

Iraque (NTMI), tendo aqui a oportunidade de conhecer um teatro de


intensidade diferente e de trabalhar junto das forças iraquianas como
formador ao nível do Estado-Maior (EM) dos batalhões de Infantaria.
Agora tinha surgido a oportunidade de conhecer de perto uma estrutura
de maior envergadura, designadamente o Quartel-General (QG) da Força
da OTAN no Kosovo mais conhecida por KFOR.
Ao integrar o 2º Batalhão de Infantaria Paraquedista (2BIPara), que
se constituiu como Força Nacional Destacada (FND) para a KFOR, como
Oficial de Ligação (LNO) ao escalão superior tive a oportunidade de viver
uma experiência enriquecedora contactando de perto com o ambiente
OTAN durante o período de 18 de março a 29 de setembro de 2013.
Durante seis meses procurei perceber o que ainda havia por fazer neste
território e como a Comunidade Internacional, direta ou indiretamente,
procura garantir um ambiente seguro e estável permitindo assim o
desenvolvimento e a sustentabilidade necessários ao Kosovo para se
constituir como um Estado capaz de garantir uma identidade nacional e
qualidade de vida aos seus cidadãos.
A intervenção da OTAN neste conflito em 1999 esteve envolta numa
atmosfera tensa colocando frente a frente as grandes potências mundiais e
estimulando mais uma vez a dinâmica das alianças e o efeito dominó. Neste
contexto valeu a intervenção e mediação de uma grande figura militar
europeia, Sir General David “Mike” Jackson que era na altura o
Comandante do Allied Rapid Reaction Corp (ARRC) e que declarou então
em resposta às ordens do Comandante Supremo da OTAN, General Wesley
Clark, “I´m not going to start the Third World War for you!”, quando se
preparavam medidas preventivas à uma possível intervenção Russa, ao
colocar forças aliadas no aeroporto de Pristina.

2. ENQUADRAMENTO

A KFOR foi estabelecida em 12 de junho de 1999, na sequência de uma


campanha aérea de 78 dias. Esta campanha aérea foi lançada em março de
1999 com o objetivo principal de deter e reverter uma situação de catástrofe
humanitária já considerável. Esta missão da OTAN deriva do mandato
Resolução 1244 de 10 de junho de 1999 e do Acordo Técnico-Militar (MTA)
entre a OTAN e a República Federal da Jugoslávia e da Sérvia. A KFOR foi
inicialmente uma operação de imposição da paz e o mandato foi criado para
deter as hostilidades contra o Kosovo por forças jugoslavas e sérvias;
estabelecer um ambiente seguro e garantir a segurança e ordem pública;

382
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

desmilitarização do Exército de Libertação do Kosovo mais conhecido por


UCK; apoiar o esforço humanitário internacional, coordenar e apoiar a
presença civil internacional.
As Forças Armadas Portuguesas integraram a KFOR em julho de 1999
com uma unidade escalão batalhão composto por 300 militares, um Destaca-
mento de Operações Especiais (DOE) e um Destacamento de Controlo Aéreo
Tático (TACP). A nossa participação nesta missão foi interrompida de fevereiro
2002 a janeiro de 2005 em que Portugal voltaria a marcar presença de forma
significativa projetando de novo um agrupamento de 300 militares desta vez
como Reserva Tática do Comandante da KFOR (COMKFOR) designada de
KFOR Tactical Reserve Manoeuvre Battalion, mais conhecida por KTM.
A partir de março de 2011 a KTM, até aqui totalmente portuguesa
passa a ser uma força multinacional contando com o contributo da Hungria.
Portugal reduz assim o seu efetivo na KTM para 164 militares contando
ainda com uma Célula de Informações Militares de cinco elementos e
preenchendo mais quatro postos no QG da KFOR, nomeadamente nas
repartições de Engenharia, de Logística e assumindo de forma rotativa com
outras nações a chefia da Joint
Effects Coordination (JEC) com
dois militares.
Para esta missão no Kosovo,
o 2BIPara da Brigada de Reação
Rápida (BrigRR) reorganizou-se
de acordo com a Estrutura
Operacional de Pessoal aprovada.
A sua estrutura é constituída
pelo Comando e Estado-Maior,
uma Secção de Ligação composta
por um Oficial de Ligação ao escalão superior, a minha missão, e um oficial
húngaro para se ligar com os MNBG da KFOR, um Módulo de Apoio (encargo do
Centro de Tropas de Operações Especiais), um Comando e parte de uma Companhia
de Comando e Serviços, que ao chegar ao Teatro é completada pelas valências
húngaras, e uma Companhia de Manobra. A KTM está localizada no Campo Slim
Lines em Pristina, um campo comandado e gerido pelo contingente português.
Chegamos ao Teatro de Operações (TO) no dia 18 de março para iniciar
o processo de sobreposição até à transferência de autoridade que ocorreu no
dia 28 de março, assumindo a KTM a sua plena capacidade operacional no
dia 31 de março de 2013. A partir deste dia a missão era nossa e eu como
oficial de ligação no QG da KFOR estava curioso sobre o que os próximos
seis meses nos iam reservar.

383
REVISTA DE ARTILHARIA

3. KOSOVO FORCE

Sob comando de um general alemão, MGEN Halbauer, justificava-se


uma presença predominante de militares alemães no QG da KFOR. Numa
primeira fase procurei perce-
ber rapidamente a estrutura
do QG e quais as sinergias
que nele existiam para con-
seguir antecipar as situações
que poderiam envolver a
KTM mas também saber
onde procurar a informação
oportuna e útil para facilitar
o processo de decisão militar
do EM da KTM. O QG da
KFOR sofreu ao longo dos anos algumas adaptações coincidentes com a
evolução da situação vivida neste teatro. Assim em março de 2013 o
comando da KFOR apresentava a seguinte organização:

MCAD: Military Civil Advisory Division


COS: Chief of Staff
ACOS: Assistant Chief of Staff
JRD: Joint Regional Detachment
LMT: Liaison and Monitoring Team
JOC: Joint Operations Center

384
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

Com base na organização anteriormente apresentada, iremos focar-nos


nas particularidades deste QG, nomeadamente o EM pessoal do COMKFOR,
que para além do seu segundo comandante (DCOM), chefe de Estado-Maior
(COS) e gabinete integrava também conselheiros específicos para as
componentes: política, legal, médica e de género. Relativamente à coope-
ração com as forças de segurança do Kosovo a KFOR possuía uma Divisão
designada de Military Civil Advisory Division. O Gender Advisor trabalha
em estreita cooperação com o Joint Effects Coordination, permitindo
auscultar a população numa perspetiva feminina mas também nas crianças,
para verificar os efeitos e mensagens aplicadas pela KFOR quais as
consequências, resultados e percepção por parte da população.
Ao longo da missão foi verificando e confirmando uma situação que à
primeira abordagem me levou a refletir mais profundamente sobre alguns
conceitos e sua aplicação na KFOR, nomeadamente no que diz respeito á
atribuição de Áreas de Responsabilidade (AOR) e Áreas de Interesse (AOI).
Neste teatro as AOR estão atribuídas aos JRDs, existindo para o efeito
cinco: Norte, Centro, Este, Oeste e Sul. Cada um destes JRDs é composto
por várias LMTs que andam no terreno ligando-se com a população através
dos Key Leaders e monitorizando todos os eventos, manifestações, incidentes
ou acidentes ocorridos nas respetivas AOR. Os JRDs respondem direta-
mente ao JEC sendo este então o verdadeiro “dono” da Área de Operações.
Os dois MNBG, ESTE e OESTE possuem Áreas de Interesse dentro das
quais desenvolvem algumas tarefas fixas específicas, tal como patrulhas em
apoio á atuação das diferentes LMT garantindo assim uma proximidade que
lhes permite atuar em tempo oportuno em apoio destas equipas, como
também manter atualizada o conhecimento da área e da situação de
informações precavendo assim uma possível intervenção na respetiva AOI.
Naturalmente analisando esta sobreposição de AOR e AOI será fácil
entender a necessidade de flexibilidade, diálogo, planeamento conjunto e
partilha de informação entre as diferentes forças presentes e nações
envolvidas nesta malha de implantação. Os Oficiais de Ligação, mais
conhecidos por Liaison Officers (LNO) no QG KFOR desempenham um
papel fundamental nesta interação, não sendo decisor mas sim facilitador
nos processos de troca de informação, planeamento conjunto e por vezes na
aproximação entre Comandantes. Muitos dos possíveis ou previsíveis
desentendimentos ou diferenças conceituais eram resolvidos pelo LNOs no
JOC da KFOR e pela sua interação uns com os outros mas também com a
sua intervenção direta durante os processos de planeamento no JOC ou
mesmo no J3/CONOPS. Cada um dos cinco JRDs destaca um LNO para o
JOC como também os dois MNBG e a KTM. Para além das forças

385
REVISTA DE ARTILHARIA

especificamente militares estão ainda presentes no JOC o LNO da


Multinational Specialized Unit (MSU), um oficial italiano Carabinieri, e o
LNO da EULEX (European Rule of Law Mission in Kosovo), um oficial da
Polícia norueguesa.
O JOC monitoriza todas as operações correntes da KFOR recorrendo
para isso a todas as ferramentas disponíveis tanto ao nível KFOR como
pelos LNO que operam no JOC, estando estes permanentemente cientes das
operações conduzidas pelas respetivas forças sendo elas JRDs ou MNBG e
evidentemente garantindo as comunicações com a força permitindo assim o
Comando e Controlo por parte do Comando da KFOR sobre as operações.
Uma particularidade deste teatro reside no facto que todo o planea-
mento a 72 horas era garantido no JOC com o contributo do planeamento
paralelo das unidades envolvidas na operação sendo a informação nos dois
sentidos garantida pelos LNOs. A ordem final, designada de JOC Order, era
emitida para as unidades salvaguardando uma estreita coordenação com o
JEC sendo que o JOC apenas atribuía tarefas aos MNBG e claro à Reserva
Tática, a KTM. O planeamento a mais de 72 horas até dez dias era assegurado
pelo J3/CONOPS sendo que o J5 assumia o planeamento relativo à
operacionalização de alteração de tarefas e/ou constituição e posicionamento
de forças no teatro de operações e o restabelecimento dos planos do escalão
superior neste caso concreto o Joint Force Command Naples (JFC-N).
O emprego da KTM cedo se apresentou como um assunto delicado e
sensível. A KTM, sendo o último recurso do COMKFOR, apresenta-se como
uma força musculada e pronta a intervir em qualquer ponto do teatro. O
conceito de emprego da KTM deve ser revisto com periodicidade atendendo a
evolução da situação vivida no Kosovo. Esta Força deve ter capacidade de
dissuasão mas ao mesmo tempo não pode constituir um fator de agressividade e
desproporcionalidade quando empregue. Uma das principais tarefas para a
qual a KTM deve estar preparada em permanência, sendo talvez a mais
delicada, é a sua capacidade
em assumir operações de
Crowd and Riot Control
(CRC) em reforço ou mesmo
em substituição das Forças
de Segurança do Kosovo e da
EULEX (European Rule of
Law Mission in Kosovo).
Os tumultos, manifesta-
ções ou concentrações espon-
tâneas de população surgem

386
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

de forma rápida e frequentemente sem pré-aviso, uma das tarefas do LNO


consistia através das sua ligações no QG da KFOR recolher toda a
informação disponível nos JRDs e MNBGs para permitir ao EM da KTM
antecipar situações de possível ativação ou aumento de prontidão
preparando-se para um processo de tomada de decisão rápido a executar em
curtos períodos de tempo garantindo que as companhias de manobra da
KTM recebessem em tempo oportuno a Intenção do Comandante, tarefas e
finalidades claras e exequíveis garantindo uma rigorosa avaliação do risco.
Muitos dos eventos que foram surgindo ao longo da missão levaram ao
planeamento e ao posicionamento dos diferentes elementos que constituíam
a KTM e outros elementos que lhe eram atribuídos com relações de comando
específicas para determinadas operações.

4. KFOR TACTICAL RESERVE MANOEUVRE


BATTALION (KTM)

Após a Transferência de Autoridade (TOA) que teve lugar em 28 de


março de 2013, o 2BIPara/FND/KFOR assumiu o comando e controlo das
operações da KTM no TO do Kosovo. No entanto, só em 06 de abril de 2013,
após a validação e certificação da Companhia Portuguesa (BCoy), é que o
2BIPara/FND/KFOR se constituiu como a Reserva Tática do Comandante da
KFOR, iniciando a partir desta data e ao longo dos seis meses de missão a
execução de diversas operações no território do Kosovo. O plano de rotação
dos contingentes também constitui um fator de planeamento, sendo que a
KTM por exemplo é reforçada por uma das companhias de manobra dos
MNBG durante os períodos de rotação dos contingentes português e
húngaro, que estão desfasados. No período de março a setembro de 2013,
destacam-se as seguintes operações conduzidas pela KTM.

a. OPERAÇÃO “MIGHTY BRIDGE” (30MAR13)

O planeamento e execução desta operação decorreram face a uma


manifestação de apoiantes de um partido político Kosovar, realizada por
Kosovares Albaneses na parte sul da cidade de Mitrovica em 30 de março de
2013. No âmbito da manutenção de um ambiente estável e seguro no TO do
Kosovo em apoio às forças da EULEX (European Rule of Law Mission in
Kosovo) e às autoridades locais, a KFOR elevou o nível de prontidão de
algumas das suas unidades, ficando pronta a intervir caso a segurança e a
estabilidade na área fosse colocada em causa.

387
REVISTA DE ARTILHARIA

A KTM, pré-posicionou
uma das suas companhias
(CCoy (HUN)) e respetivo
Posto de Comando Avan-
çado numa Zona de Reu-
nião Avançada (ZRnAv) e
elevou o seu grau de
prontidão, pronto a atuar
à ordem do Comandante
da KFOR. Manteve ainda
pré-localizada num Campo
Militar da KFOR próximo
da cidade de Mitrovica uma
outra companhia (BCoy
(PRT)), com um grau de
prontidão superior ao
normal.

b. OPERAÇÃO “BLUE SKY” (22ABR13)

Esta operação teve por origem um protesto de Kosovares Sérvios que


teve lugar na parte norte da cidade de Mitrovica em 22 de abril de 2013,
manifestando-se contra os resultados alcançados nos acordos entre Belgrado
e Pristina. No âmbito da manutenção de um ambiente estável e seguro no
TO do Kosovo e em apoio às forças da EULEX e às autoridades locais, a
KFOR elevou o nível de prontidão de algumas das suas unidades, ficando
pronta a intervir caso a segurança e a estabilidade na área fosse colocada
em causa.
A KTM, recebeu a missão de aumentar o grau de prontidão das suas
forças, no sentido de garantir uma resposta pronta e rápida caso se
verificasse o escalar da violência e colocasse em risco o ambiente estável e
seguro, assim como a liberdade de movimentos na região.

c. OPERAÇÃO “WHITE EAGLE” (27MAI13)

A operação “White Eagle” respondeu a uma manifestação que teve


lugar em Pristina em 27 de maio de 2013. Os manifestantes protestaram
contra a detenção por parte da polícia do Kosovo (KP) e EULEX de diversos

388
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

indivíduos, kosovares alba-


neses, acusados de crimes
de guerra. A KFOR no âm-
bito da sua missão de manu-
tenção de um ambiente
estável e seguro no TO do
Kosovo e em apoio às forças
da EULEX e às autori-
dades locais, elevou o nível
de prontidão de algumas
das suas unidades, ficando
pronta a intervir caso a
segurança e a estabilidade
fosse colocada em causa.
A KTM recebeu a missão de aumentar o grau de prontidão das suas
forças, no sentido de garantir uma resposta rápida, caso se verificasse o
escalar da violência e colocasse em risco o ambiente estável e seguro.

d. OPERAÇÃO “NORTHERN WAVE” e “NORTHERN WAVE II”


(29-31JUL13)

No âmbito do cumprimento do seu mandato, a EULEX (European Rule


of Law Mission in Kosovo) efetuou 2 detenções no Norte do Kosovo em
29JUL13. Fruto desta ação da EULEX a população kosovar sérvia reagiu e
manifestou o seu desagrado com protestos e colocação de diversas viaturas
pesadas no itinerário principal bloqueando-o.
Face a esta reação e a
ameaça de ações mais violen-
tas contra a EULEX, a KFOR
aumentou de imediato o grau
de prontidão das suas uni-
dades, incluindo o da KTM,
ficando esta preparada para
reagir a qualquer ação mais
violenta que pusesse em causa
o ambiente seguro e estável.
A tensão manteve-se até à data em que os detidos foram levados a
tribunal, em 31JUL13, onde a KFOR se manteve em apoio à EULEX, caso
fosse necessário.

389
REVISTA DE ARTILHARIA

A Reserva Tática do Comandante da KFOR, recebeu a missão de


aumentar o grau de prontidão, pronta a intervir, em apoio da EULEX, para
restabelecer um ambiente seguro e estável. A companhia portuguesa, com
maior grau de prontidão preparou-se para ser projetada para o Norte do
Kosovo com todo o material, armamento e equipamento.

e. OPERAÇÃO “BLUE WAVE” (28JUN13)

No âmbito das comemorações do VIDOVDAN em 28JUN13, data em


que os Sérvios comemoram o feriado religioso St. Vitus day
(VIDOVDAN), é simultaneamente comemorado o dia do Santo Príncipe
LAZAR e dos mártires da batalha do Kosovo contra o Império Otomano
em 28 de Junho de 1389. À semelhança de anos anteriores, neste período
de comemorações verificou-se uma grande afluência de sérvios aos locais
de comemoração, com especial relevo para o dia 28 de junho, junto ao
monumento de GAZIMESTAN e no Mosteiro de Gracanica, nos arredores
de Pristina.
A KFOR, no sentido de prevenir qualquer reação negativa por parte dos
kosovares albaneses e no âmbito da sua missão de manutenção de um
ambiente estável e seguro no TO
do KOSOVO, em apoio às forças
da EULEX (European Rule of
Law Mission in Kosovo) e às
autoridades locais, elevou o nível
de prontidão de algumas das
suas unidades, ficando pronta a
intervir caso a segurança e a
estabilidade fosse colocada em
causa.
A KTM recebeu a missão de
aumentar o grau de prontidão,
pronta a intervir, em apoio da EULEX, para restabelecer um ambiente
seguro e estável.
Na preparação e execução da operação foram mobilizadas três
companhias com capacidade CRC, entre as quais a Companhia de
Paraquedistas Portuguesa, assim como meios de apoio de combate a
operações de CRC, nomeadamente os canhões de água do Exército
Alemão, o Destacamento de Liberdade de Movimentos nº 2 (FOMD#2)
do Exército Suíço e a Equipa de Operações Psicológicas do Exército
Romeno. Ao todo estiveram envolvidos na operação sob comando do

390
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

2BIPara/FND/KFOR (KTM) cerca de 450


militares, 18 viaturas blindadas M11
Panhard e 4 Chaimites da Companhia
Portuguesa, Viaturas Blindadas EOD
APC PIRANHA e EOD DURO IIIP da
Equipa de Desativação de Engenhos
Explosivos (EOD) suiça, uma máquina
de engenharia Pá-Carregadora perten-
centes ao FOMD# 2. Da companhia
húngara, destacam-se também as 4
viaturas blindadas APC BTR 80 e 25
viaturas táticas ligeiras Mercedes G250.
Todos os meios de apoio de serviço,
nomeadamente as equipas sanitárias e
de manutenção elevaram o seu grau de
prontidão.

5. EXPERIÊNCIA PESSOAL

As missões militares para além fronteiras são sempre alvo de motivação


especial e expectativas adicionais tanto no âmbito pessoal como profissional.
Após as minhas experiências na BiH em 2002/2003 e no Iraque 2008/2009
em que integrei Elementos Nacionais Destacados, esta foi a minha primeira
missão integrando uma FND, neste caso concreto o 2BIPara.
Quando cheguei a Sarajevo em dezembro de 2002, muitos militares
estavam a preparar-se para serem projetados para o Kosovo, sendo que a
situação na BiH estava mais calma e estávamos numa missão de
estabilização. No Iraque conheci um TO mais amplo e intenso no qual tudo
girava em torno das forças norte-americanas. Neste TO todos os processos
de planeamento culminavam com operações executadas com as
consequências associadas à ameaça e às tarefas táticas das unidades de
combate envolvidas. No Kosovo estava curioso de verificar quais as
semelhanças com a BiH, sendo este um TO balcânico também, mas também
desejava conhecer melhor a forma como a Comunidade Internacional estava
a lidar com o problema do Kosovo e qual o contributo da força militar da
OTAN neste teatro.
Considero que a minha missão como LNO permitiu-me trabalhar por
dentro do Comando da KFOR e obter uma perspetiva mais abrangente da
missão e do TO. A minha preparação como oficial superior permitiu-me

391
REVISTA DE ARTILHARIA

integrar processos de planeamento tático e de tomada de decisão num


ambiente multinacional conseguindo sempre garantir os contributos
esperados. Assim um LNO deverá ter competências linguísticas,
principalmente na língua inglesa mas o francês ou alemão permitem
facilitar processos de aproximação e de obtenção de informação importantes
para antecipar determinadas
situações. Os processos utilizados no
seio da KFOR são processos na
maioria dos casos diferentes dos
preconizados na doutrina OTAN,
sendo que sofrem sempre influências
que dependem da nação que está a
liderar a área de EM (J2, J3 ou J5)
criando por vez mais uma
necessidade de adaptação da nossa
parte. Trabalhar no JOC da KFOR
permitiu ter a noção dos meios
ISTAR 1 disponíveis no TO e fora dele. Os relatórios de informações de
imagem que nos eram fornecidos eram elaborados com base em meios
existente no teatro mas também nos meios de maior envergadura
disponibilizados por nações presentes no teatro e que pela sua posição
geográfica conseguiam colocar meios aéreos não tripulados no TO para
proceder à monitorização em tempo real de eventos, manifestações ou
tumultos a decorrer em Pristina ou Mitrovica, como também fornecer um
conjunto de imagens que confirmavam a evolução de construções de casas
nas zonas críticas do norte do Kosovo. Os LNO participavam diariamente
nos brífingues de atualização do COMKFOR e estávamos prontos para
intervir sempre que solicitados, assumíamos a responsabilidade da
informação e esclarecimentos sobre as operações desenvolvidas pela força a
que pertencíamos, como é evidente a preparação destes brífingues era
profunda, mesmo não estando prevista qualquer intervenção da nossa parte,
mas as possíveis perguntas ou questões do COMKFOR não poderiam ficar
sem resposta clara, objetiva e correta.
Evidentemente, também a nível pessoal e humano foi mais uma missão
enriquecedora. O bom relacionamento entre LNOs e a nossa cumplicidade,
muito devido às longas horas diurnas e noturnas passadas em conjunto no
JOC no acompanhamento das operações das diferentes forças, facilitou
muitos processos e a aproximação entre os Comandantes das nossas

1 Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance.

392
FND/KFOR MARÇO 2013 A OUTUBRO 2013 – KM – LNO/KFOR HQ

respetivas unidades, assim


como também criou amizades
que irão perdurar no tempo. A
equipa que trabalhava no JOC
liderada por um Coronel fran-
cês, o JOC Director, é conhecida
pela “JOC Family” na qual
estavam representadas 13 nacio-
nalidades. A camaradagem militar
é internacional, todas as mis-
sões propiciam relações com
camaradas de outras nações,
mas considero que esta experiência foi mais genuína, muito pela
necessidade da confiança desinteressada e frontalidade necessárias neste
tipo de funções sendo que estamos a representar em permanência o nosso
Comandante, a nossa Força e naturalmente a nossa Nação. A missão é o
farol não havendo lugar para dúvidas, ambiguidades ou mesmo
desconfianças. A franqueza e a frontalidade imperam para que não sejam
criadas situações comprometedoras entre Comandantes de Contingentes. A
particularidade da missão como LNO reside no facto de estarmos de certa
forma afastados fisicamente do nosso contingente, mas sempre informados
sobre a nossa força. Por outro lado operamos no QG da KFOR num ambiente
multinacional e a coesão da equipa formada pelo LNOs das diversas forças
do TO leva-nos a aprender muito sobre métodos, procedimentos e processos
de planeamento de outras nações, permitindo uma dinâmica de trabalho
efetiva e necessária num JOC multinacional como
o da KFOR.
Finalmente, também a estreita coordenação
com forças policiais internacionais e a necessidade
de coordenação permanente com os elementos da
missão da EULEX permitiram intensas reflexões
e análises das complexas relações de comando,
controlo e coordenação que devem ser estabelecidas
em operações conjuntas entre forças militares
internacionais e forças policiais, sendo este
assunto sensível devendo atender aos vários
fatores introduzidos pela diversidade de países
envolvidos nesta missão no Kosovo, pelo próprio
grau de envolvimento de cada nação e claro pela
particularidade e especificidade das forças chamadas

393
REVISTA DE ARTILHARIA

a atuar em conjunto durante uma operação de controlo de tumultos por


exemplo. Claramente esta missão despertou a minha atenção para o assunto
particular do CRC. Considerando que o contingente português é considerado
como referência nesta matéria, sendo prova disso os múltiplos treinos
cruzados solicitados pelos diferentes contingentes presentes no teatro, a
criticidade deste tipo de operações obriga a um planeamento pormenorizado
e uma intensa coordenação com várias entidades intervenientes neste tipo
de situações, nunca esquecendo que todo o processo relativo ao
aconselhamento político, legal e às Regras de Empenhamento constitui-se
num aspeto vital e importantíssimo para o Comandante da Força. Neste
âmbito a configuração do EM da própria KTM, no que diz respeito a parte
nacional, poderá ser alvo de reflexão e ajustamento para garantir ao
Comandante do contingente português todas as ferramentas para a tomada
de decisão nesta área que perfila-se como uma das principais e mais críticas
missões a desempenhar pela KTM no TO do Kosovo.

19 de setembro de 2014,
Major de Artilharia Paraquedista Adelino José de Sousa Jacinto
2ºCmdt do GAC/RA4/BrigRR

394
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

ESPAÇO ACADÉMICO

A BATERIA HIMAD DO
GRUPO DE ARTILHARIA
ANTIAÉREA
Pelo Alferes de Artilharia
JOÃO NUNO ROÇADO CARDOSO PINA

“Não perguntes o que a tua Pátria


pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes
fazer por ela”.
John Kennedy

INTRODUÇÃO

O Exército Português procura a modernização e desenvolvimento das


suas forças, através de um reequipamento adequado e exequível, e da
preparação e treino dos seus militares estimulando a competência e o
profissionalismo (Ramalho, 2011). A evolução tecnológica constante no caso
da Artilharia Antiaérea (AAA) é refletida com o aparecimento de novos
materiais e desenvolvimento dos equipamentos. Desta maneira, são
facultados meios cada vez mais eficientes e credíveis, com sistemas de armas
capazes da realização de um leque mais abrangente de tarefas, com maior
rapidez e eficácia na sua atuação e facilidade de integração e articulação na
dinâmica das forças.
A AAA detém uma importância essencial no Campo de Batalha (CB), na
medida que auxilia o Comandante (Cmdt) e contribui para o sucesso da
missão. De facto, “Ao Cmdt da força ser-lhe-á garantida uma estrutura
integrada de proteção contra os utilizadores do espaço aéreo (EA), que

395
REVISTA DE ARTILHARIA

minorará os riscos a correr (…) conferindo à força uma liberdade de ação


acrescida” (EME, 2002, p. 1-1).
No Ambiente Operacional da atualidade, que “privilegia a ameaça
assimétrica, transnacional, imprevisível e desproporcionada” (Ramalho,
2011, p. 113) e em que o insurgente se faz valer “de uma completa
disseminação da tecnologia avançada, acessível e barata” (Ramalho, 2011, p.
121), a Defesa Aérea (DA) constitui uma capacidade tática de relevo. Esta é
materializada pelos diversos sistemas de Antiaérea (AA) que integra, entre
outros, os sistemas High and Medium Air Defense (HIMAD) que
possibilitam a deteção e o empenhamento sobre alvos aéreos a médias e
grandes altitudes. Salienta-se que se um país, como o caso holandês, que
apresenta uma capacidade militar semelhante a Portugal, se encontra
adequadamente equipado com sistemas de médias e grandes altitudes, o que
dizer do nosso exército no qual a escola HIMAD é inexistente (Vaz, Belo,
Leitão, Amador, Heleno, Ladeiro, Cunha & Lopes, 2006).
Os sistemas HIMAD são meios integrantes da categoria de Sistema de
Armas da AAA vocacionados para a DA de média e grande altitude.
Doutrinariamente, apresentam capacidade de empenhamento na ordem dos
40 km em distância e com um teto na ordem dos 15 km (EME, 1997). Porém,
os sistemas HIMAD mais atuais apresentam uma capacidade de
empenhamento que alcança os 200 km em distância e os 150 km de teto
máximo, possuindo ainda órgãos de deteção que podem cobrir até 1000 km
(Salvado, 2006).
Embora atualmente as capacidades da AAA do Exército Português se
materializarem apenas nos sistemas de Short Range Air Defense
(SHORAD) 1 ,
encontra-se prevista nos mais recentes Quadros Orgânicos (QO), aprovados
em 29Jun09, a aquisição de sistemas de armas e o levantamento de uma
Bateria (Btr) HIMAD integrada no Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAA)
(EME, 2009). De acordo com os preceitos doutrinários em vigor, permitirá
complementar as capacidades conferidas pelos atuais sistemas de armas de
AA, assim como colmatar possíveis lacunas existentes na DA Portuguesa.

1 Meios integrantes da categoria de Sistema de Armas da AAA vocacionados para a DA de baixa


e muito baixa altitude. Doutrinariamente, apresentam capacidade de empenhamento desde os
1000 m aos 8000 m em distância, e teto máximo na ordem dos 3000 m. Dividem-se em sistema
canhão, sistema de míssil portátil e sistema de míssil ligeiro (EME, 1997). Os sistemas
SHORAD mais atuais apresentam uma capacidade de empenhamento que alcança os 15000 m
em distância (Salvador, 2006).

396
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

CAPÍTULO 1
ESTADO DA ARTE

1.1 AS MISSÕES DA ARTILHARIA ANTIAÉREA PORTUGUESA

1.1.1 Defesa de Pontos e Áreas Sensíveis

Conforme Pais & Sá (2005), um ponto ou área sensível é qualquer


espaço ou infraestrutura, cuja destruição ou disfunção, possa afetar o setor a
que pertence, o funcionamento de Órgãos de Soberania ou Órgãos de
Segurança Nacional, e o bem-estar social. Tendo em conta os acontecimentos
atuais, desceram de prioridade os pontos sensíveis ligados a equipamento
militar importante ou a infraestruturas estratégicas, e aumentaram os que
forem constituídos por grandes aglomerações de pessoas, em especial
aqueles onde se encontrar fixada a atenção dos média (Santos, 2005).
Segundo Santos (2002, p. 434) “A defesa do território e das populações
nacionais e o controlo dos espaços de interesse estratégico imediato e
próximo prevalecem sobre a defesa de interesses teatros de operações
exteriores”. Dessa forma é missão da AAA “Fornecer as forças necessárias à
Defesa AA dos pontos e áreas sensíveis à sua responsabilidade” (EME, 1997,
pp. 4-2). Essa defesa, segundo a Diretiva Operacional n.º 005/CEMGFA/2010
– Defesa de Áreas e Pontos Sensíveis, inclui também a DA no âmbito dos
Eventos de Alta Visibilidade (EAV) (EMGFA, 2010).
Na doutrina portuguesa este tipo de defesa é preferencialmente
atribuída a sistemas HIMAD, que garantem a proteção AA de objetivos e
áreas importantes, consideradas críticas do ponto de vista da DA. Essa
capacidade reflete-se no Teatro de Operações (TO) em que os sistemas
HIMAD são colocados a partir da retaguarda para a frente, protegendo as
áreas e os objetivos considerados críticos. (EME, 1997).

1.1.2 Forças Nacionais Destacadas

O Art.º 24º da Lei Orgânica n.º 1-B/2009 de 7 de Julho de 2009 – Lei de


Defesa Nacional – refere que incumbe às FA “Participar nas missões
militares internacionais necessárias para assegurar os compromissos
internacionais do Estado no âmbito militar, incluindo missões humanitárias
e de paz assumidas pelas organizações internacionais de que Portugal faça
parte” (Assembleia da República, 2009, p. 4547). Esta intenção é revelada no
Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) que integra Portugal,
nomeadamente a nível da cooperação militar, em organizações interna-

397
REVISTA DE ARTILHARIA

cionais como a Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) ou a União


Europeia (UE) (Assembleia da República, 2013).
A proteção da força traduz-se como uma clara necessidade como fator de
sucesso no presente Ambiente Operacional que se caracteriza pela
assimetria de forças. Apesar disso, até ao momento não existe registo da
participação de qualquer unidade de AAA nas FND, atuando no âmbito da
sua missão primária, que consiste na proteção da força face à ameaça aérea,
tendo em conta que a participação portuguesa nesse espetro de missões
ocorre desde a década de 90 do século passado (Paradelo, 2009a)
Para a proteção AA das unidades de manobra, assim como dos seus órgãos
críticos, normalmente são empregues os sistemas SHORAD contra as ações
inimigas perpetuadas por aeronaves de asa fixa e helicópteros (EME, 1997).

1.2 A ARTILHARIA ANTIAÉREA NA OTAN

1.2.1 NATO Integrated Air Defense System


Nos sucessivos conflitos que decorreram no mundo desde a II Guerra
Mundial, o Poder Aéreo representou um fator fundamental no desenrolar
dos mesmos. Dessa forma o conceito de DA tem sido promovido pela OTAN
desde o início da sua fundação. Essa preocupação culminou com a criação,
em Setembro de 1960, do NATO Integrated Air Defence System
(NATINADS) – Sistema Integrado de Defesa Aéreo da NATO (Rosendo,
Santos, & Monteiro, 2008). Este Sistema compreende a integração de
recursos e operações de várias naturezas para defender o território, as
populações e forças da Aliança Transatlântica. Para isso engloba uma rede
de sistemas interligados para detetar, perseguir, classificar, identificar e
monitorizar objetos aéreos e, se necessário, intersetá-los usando unidades
aéreas de DA ou sistemas de armas terrestres (NATO, 2013). O NATINADS
é composto por um conjunto de Sistemas de Defesa Aérea da Europa que
inclui todas as unidades aéreas de DA, sistemas de armas de DA terrestres,
unidades de Comando e Controlo (C2) e Sistemas de Controlo e Vigilância
Aéreo. (Caixeiro, 2007).
Segundo a entrevista realizada ao Major Caixeiro (2014), o programa
NATINADS encontra-se em processo evolutivo desde 2013. É intenção da
OTAN que se estabeleça o NATO Integrated Air And Missile Defence System
(NATINAMDS), cuja estrutura comtempla o Allied Air Command (AAC) em
Ramstein, na Alemanha, e dois Combined Air Operations Center (CAOC),
em Uedem, Alemanha, e Torrejon, Espanha. A nível da missão, emprego,
requisitos e meios necessários não existem alterações ao conceito do
NATINADS abordado anteriormente.

398
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

1.2.2 A Artilharia Antiaérea na NATO Response Force

O conceito de NATO Response Force (NRF) foi apresentado pela


primeira vez em 2002, na Cimeira de Praga, com o objetivo de trazer novas
capacidades militares em resposta a novas ameaças e desafios emergentes.
É uma força conjunta e combinada, que engloba meios tecnologicamente
avançados, flexíveis, móveis, interoperáveis e sustentados, com capacidade
de projeção de cinco dias, e capaz de autossustentabilidade por trinta dias.
Está preparada para ser rapidamente projetada e treinada para atuar de
forma isolada ou integrar forças de maiores dimensões. Pode conduzir
operações em todo o espectro de missões, como Demonstração de Força, de
Resposta a Crises, de apoio ao Contra Terrorismo, de Interdição Marítima,
Terrestre e Aérea, assim como de assistência em consequência de uma
calamidade natural (NATO, 2012).
Os países membros da OTAN contribuem com as suas forças para a
NRF, tendo por base as suas disponibilidades e as necessidades e requisitos
identificados pela OTAN. Relativamente à DA na NRF, esta deve ser
assegurada por uma BtrAAA que deverá corresponder a um corpo uni-
nacional, embora possa ser providenciado por uma nação diversa da
Framework Nation (Baptista, 2007). Como exemplo, podemos observar o
caso da NRF 5, em que a capacidade de DA foi garantida por uma BtrAAA
espanhola equipada com o sistema míssil portátil Mistral 2 (Santos, 2008).

1.2.3 A Artilharia Antiaérea nas Crises Response Operations

A necessidade da OTAN possuir capacidade para responder a crises que


não se enquadram no Art.º 5 do Tratado do Atlântico Norte, foi identificada
em 1991 e novamente em 1999 na Cimeira de Washington. Essa capacidade
encerra-se nas Crises Response Operations (CRO) que se constituem como a
maior contribuição para a resolução de conflitos por parte da OTAN. Têm
como finalidade responder, de forma atempada e coordenada, a crises que
possam afetar a segurança dos países da OTAN, ou que ameacem a
estabilidade na periferia da Aliança (NATO, 2002). As CRO agrupam-se em
três grandes áreas: as Operações de Apoio à Paz (OAP), as Operações
Humanitárias (fora do âmbito das OAP) e as Operações de Busca e
Salvamento. Por sua vez as OAP englobam as Operações de Manutenção de
Paz, Imposição de Paz, Prevenção de Conflitos, Restabelecimento da Paz,
Consolidação da Paz e as Operações Humanitárias. Da mesma forma as

2 O Mistral é um sistema míssil SHORAD de origem francesa (Salvador, 2006).

399
REVISTA DE ARTILHARIA

Operações Humanitárias (fora do âmbito das OAP) dividem-se em


Operações de Auxílio em Desastres, Operações de Evacuação de Não-
Combatentes e Apoio às Autoridades Civis (IESM, 2006). A AAA constitui-se
como um instrumento por excelência de utilização em situações de crises,
uma vez que não constitui uma ameaça a nenhuma das partes envolvidas,
assim como o seu emprego não contribui para o aumento da tensão existente
(Santos, 2001)
As OAP incluem os esforços internacionais e missões militares,
conduzidas imparcialmente, para conterem determinado conflito,
restabelecer a paz, e moldar o ambiente para apoiar a reconciliação e
facilitar a transição para o governo legítimo (Joint Chiefs of Staff, 2012).
Nas OAP, a proteção da força é considerada vital para o sucesso das mesmas
e deve ser considerada a possibilidade de ataques aéreos, nomeadamente na
DA de um Aquartelamento Operacional. Esta capacidade pode ser
desempenhada pela AAA (MDN, 2011). Desta forma a AAA é responsável
pela defesa AA, dissuasão e imposição de áreas de proibição de utilização do
EA. Pode ainda participar em tarefas de âmbito geral, como por exemplo
check points, escoltas ou controlo de tumultos (Benrós, 2002).

CAPÍTULO 2
A BATERIA HIMAD DO GAAA

2.1 CONSTITUIÇÃO DA BATERIA HIMAD

2.1.1 As Ameaças Aéreas Atuais

Segundo Benrós (2005) podemos distinguir entre a ameaça aérea


clássica ou convencional, constituída pelos meios aéreos tripulados, que
englobam aeronaves de asa fixa e helicópteros, e as “novas” ameaças,
constituídas pelos meios aéreos não pilotados. Num estudo semelhante,
Perdigão (2005) faz a caraterização dos meios aéreos não pilotados, que
segundo este, englobam os Mísseis Táticos Ar-Terra (Air to Surface Missiles
– ASM) – munições guiadas de precisão, lançadas a partir de plataformas
aéreas a distâncias na ordem dos 100 km –, os Mísseis Cruzeiro (Cruise
Missiles – CM) – engenhos autoguiados com capacidade de voar a baixas
altitudes (20 m a 150 m), lançados de distâncias entre 30 km a 3000 km por
aeronaves, navios, submarinos ou plataformas terrestres –, os Veículos
Aéreos Não Tripulados (Unmanned Air Vehicles – UAV) – drones com
dezenas de horas de autonomia e baixo custo de produção, que conseguem

400
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

voar a altitudes dos 300 m aos 19000 m, e com capacidades de


reconhecimento, vigilância, e até mesmo de combate –, os Mísseis Balísticos
Táticos (Tactical Ballistic Missiles – TBM) – mísseis altamente precisos e
com elevada velocidade terminal, de curto alcance (dos 80 km aos 1000 km)
e de médio e grande alcance (dos 1000 km aos 3000 km), lançados de
plataformas terrestres móveis, com um erro de precisão de 50 m –, os
Foguetes de Grande Calibre (Large Caliber Rockets – LCR) – capacidade de
obter grandes cadências de tiro a partir de lançadores altamente movíveis –
e ainda os Foguetes, Artilharia e Morteiros (Rockets, Artillery and Mortars –
RAM) – utilização de munições com enorme versatilidade, precisão e
capacidade de destruição, contra forças e infraestruturas.
Atualmente, devido ao grau de sofisticação requerido, o conceito de
UAV tem evoluído para Sistemas Aéreos Não Tripulados (Unmanned
Aircraft Systems – UAS). Neste novo conceito estão englobados todos os
veículos sem piloto, capazes de realizar reconhecimento aéreo, lançamento
de provisões e bombardeamentos (Unmanned Aerial Vehicle Systems
Association, 2014).
Benrós (2005) refere ainda a existência de uma nova ameaça, de nome
código Renegade, constituída pelas aeronaves comerciais desviadas para
serem utilizadas por piratas do ar, para atentados terroristas. Por sua vez
Salvador et al. (2012) referem ainda a existência do Renegade Especial, em
que é utilizada uma aeronave de pequeno porte, seja comercial, privada ou
de recreio, como arma num ataque terrorista. Segundo estes autores o
Renegade Especial constitui-se como a ameaça aérea mais provável que o
TN enfrenta atualmente. De facto “Uma simples avioneta pode constituir-se
como uma “arma terrorista” direcionada a qualquer instalação militar,
órgãos de poder local, inclusive em locais de forte concentração de população
civil” (EME, 2013, p. 9).
Segundo a entrevista realizada ao Tenente-Coronel Monsanto (2014), a
AAA Portuguesa deve estar preparada para realizar missões no âmbito do
TN e fora deste, nomeadamente integrada em forças multinacionais. Dessa
forma constitui-se como pertinente a análise distinta das ameaças
atualmente prováveis existentes no território português, assim como nos TO
no estrangeiro.
No caso do TN, segundo a entrevista realizada ao Tenente-Coronel
Patronilho (2014), apesar da ameaça aérea clássica ser uma constante
provável, surgem em destaque as novas ameaças, constituídas
maioritariamente pelas aeronaves civis (avioneta ou helicóptero civil),
capazes de realizar certo nível de tráfico, nomeadamente de armas e
narcotráfico, ou de efetuar ataques terroristas e de sabotagem com agentes

401
REVISTA DE ARTILHARIA

biológicos/químicos. Já o Major Caixeiro (2014), segundo a entrevista


realizada ao mesmo, concorda em parte com o anterior, afirmando que o
tráfico, nomeadamente o narcotráfico e o tráfico de armas, constitui uma
ameaça ao TN. Por outro lado destaca três níveis de ameaças, as quais
evidenciam ainda mais a importância dos meios de AAA: a primeira vinda
do Norte de África e do Médio Oriente, que se materializa na utilização de
TBM, agravada pela posse de Armas de Destruição Massiva por parte de
organizações terroristas; de seguida, as ameaças relacionadas com EAV que
podem potenciar a guerra de informação (p.e. Cimeira da OTAN ou Visita do
Papa); por último a ameaça Renegade com o objetivo de atingir pontos
económicos, políticos ou militares.
No caso dos TO no estrangeiro, os conflitos da atualidade surgem de
conflitos regionais entre Estados frágeis ou colapsados. Segundo a entrevista
ao Tenente-Coronel Monsanto (2014), apesar de todo o espetro da ameaça
aérea continuar a existir nos TO da atualidade, normalmente possuímos
supremacia aérea. Dessa forma a ameaça mais provável para as FND é a
ameaça RAM. Segundo a entrevista realizada ao Capitão Lopes (2014), a
ameaça aérea nos conflitos dos dias de hoje, tende a ser inferior no âmbito
dos meios convencionais e mais elevada relativamente às novas ameaças.
Este fenómeno deve-se ao facto de se tratar de conflitos em que os
insurgentes fazem maioritariamente uso de meios relativamente baratos.

2.1.2 Requisitos e Necessidades

Antes de podermos perspetivar sobre o sistema de armas a


implementar na prevista Btr HIMAD, torna-se essencial compreender quais
os requisitos e necessidades a que, tendo em conta o Ambiente Operacional e
as Ameaças Aéreas atuais, este deve responder.
Segundo Borges (2008), a aquisição de sistemas HIMAD por parte de
Portugal já foi equacionada entre 1982 e 1992, na medida que foi estudada a
aquisição do sistema HAWK pelo Exército Português. Após análise, essa
aquisição não se concretizou, uma vez que esse sistema deixou de obedecer a
requisitos atuais, nomeadamente ao nível da capacidade antimíssil. Essa
mesma capacidade é um requisito necessário, pois constitui-se como uma
tendência a importância da defesa antimíssil eficaz causada pela
necessidade de dissuasão de ataques entre estados, e a perceção da ameaça
do terrorismo transacional (EME, 2013).
Benrós (2005) defende que esse sistema deverá ter capacidade de
empenhamento sobre todo o espectro de ameaças atuais, assim como ter
modularidade e tripulações reduzidas, e ainda capacidades de: transporta-

402
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

bilidade, controlo de tiro através de centros de direção de tiro, operar em


todo-o-tempo e reduzida ou nula visibilidade, interoperar com sistemas
aliados, efetuar múltiplos empenhamentos e resistência a ambiente de
guerra eletrónica. Deverão ainda satisfazer requisitos mais específicos,
nomeadamente, capacidade de defesa antimíssil, capacidade hit-to-kill 3 ,
alcance e altitude máximas superiores a 100 km e possuir radares com
capacidade 3D. Já Calhaço (2009) considera fundamental que esse sistema
disponha de infraestruturas adequadas para a sua conservação, manutenção
e treino regular.

2.1.3 O Sistema de Armas a Adotar

Considerando as Ameaças Aéreas atuais e os requisitos e necessidades


já constatados ao longo deste trabalho, delimitamos a análise dos sistemas
HIMAD a quatro sistemas de armas: NASAMS II, PATRIOT PAC-3, ASTER
SAMP/T 30 e MEADS.

2.1.3.1 Análise Comparativa


No Quadro nº1 4 encontram-se representadas as principais
caraterísticas dos sistemas HIMAD, com os quais pretendemos dar objeto de
análise neste trabalho, realizando de seguida uma análise comparativa
entre os mesmos.

Quadro nº1 – Representação das principais caraterísticas dos Sistemas


HIMAD em estudo

ASTER
NASAMS PATRIOT
SAMP/T MEADS
II PAC-3
30
Prontos a
6 16 8 12
disparar
Míssil Velocidade Mach 4 Mach 5 Mach 4 Mach 5
Alcance 75 km 70 km 120 km 70 km
Altitude 15 km 24 km 20 km 24 km
Radar Alcance 75 km 100 km 100 km nd

3 “A capacidade hit-to-kill consiste na habilidade de intercetar o alvo com impacto direto a grande
velocidade, de forma a obter a sua desintegração. Com esta capacidade evita-se a separação de alvos
de grande porte (tipo TBM) em dois ou mais fragmentos de grandes dimensões. Na eventualidade de
ogivas Biológicas-Químicas pretende-se anular os efeitos dos agentes.” (Benrós, 2005, p. 24).
4 Neste quadro, no campo correspondente a um dado cuja informação não foi possível aceder, foi

introduzido como não disponível (nd).

403
REVISTA DE ARTILHARIA

100 alvos 100 alvos


Seguimento Nd em em nd
simultâneo simultâneo
9 mísseis 16 mísseis
Guiamento Nd em em nd
simultâneo simultâneo
22 45 14
Guarnição nd
Logística militares militares militares
Nº viaturas 6 12 8 nd
50 130 870
Preço milhões milhões de nd milhões de
de euros euros euros
Em desen-
Ano 1995 2003 2010
volvimento

De acordo com a informação apresentada podemos considerar que:


x O sistema NASAMS II é um sistema versátil, e constitui-se como o
mais acessível a nível de custos. É um sistema que pode ser
facilmente projetado e sustentado devido ao menor número de meios
e de pessoal. Por outro lado é o mais limitado em termos das
capacidades míssil e radar;
x O sistema PATRIOT PAC-3 é um sistema pouco acessível a nível de
custos e que exige um maior esforço para a sua sustentabilidade e
projeção. Apesar disso possui uma grande capacidade a nível do
radar, bem como do míssil, que atinge a velocidade Mach 5,
compensando a limitação em alcance. De referir também que é o
sistema mais utilizado em todo o mundo, o que facilita a troca de
experiências e participação em treinos no âmbito internacional;
x O sistema ASTER SAMP/T 30 é um sistema versátil, facilmente sustentado
a nível de meios e de pessoal, e com boa capacidade no âmbito do radar.
O míssil é superior em alcance relativamente aos outros sistemas mas,
à semelhança do sistema NASAMS II, só atinge velocidade Mach 4;
x O sistema MEADS será o que, em tese, apresentará melhores
características operacionais, tomando em consideração que o míssil
utilizado é o PAC-3. Constitui-se como um sistema versátil inacessível a
nível de custos. Por ser um projeto ainda em desenvolvimento 5 , não
permite conclusões efetivas acerca das suas possibilidades e limitações.

5 Devido aos elevados gastos o programa MEADS não irá percorrer todas as suas fases de
desenvolvimento e dificilmente será concluído conforme o previsto (Imperial, Azevedo,
Henriques, & Ramos, 2013).

404
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

2.1.3.2 Análise Classificativa

Segundo a entrevista realizada ao Tenente-Coronel Benrós (2014), um


critério na escolha do sistema HIMAD a adotar deverá ser a capacidade de
interoperabilidade. Esta capacidade engloba interoperabilidade técnica
(troca de dados com o sistema de C2, nomeadamente com o comando aéreo
da OTAN) e a interoperabilidade em termos de procedimentos (linguagem
comum em termos de empenhamento, evitando desperdício com empenhamentos
múltiplos). Outro critério importante é o binómio custo/eficácia. O custo é
sempre um fator influenciador na liberdade de ação dos decisores, integrando o
espetro político e económico. Por outro lado a eficácia desse sistema reflete-se
na sua resposta à evolução da tecnologia e consequente capacidade de fazer
frente às novas ameaças, isto é, a sua versatilidade. Dessa forma devemos
englobar como critérios de análise os componentes constituintes desses
sistemas, nomeadamente o Sistema Lançador, o Radar e o Míssil.
Segundo a entrevista realizada ao Capitão Almeida (2014), na análise
do sistema de armas a implementar, deverá ser realizada uma estimativa
real de custos, assim como a certificação da interoperabilidade. Por outro
lado, um aspeto a ser analisado é a capacidade de sustentação logística, nomea-
damente no âmbito da manutenção, do pessoal e do apoio logístico para a Btr.
Tendo em conta os critérios acima referidos elaborámos o Quadro nº26
que corresponde a uma matriz de comparação, onde realizamos a análise
classificativa dos quatro sistemas de média e grande altitude propostos.
Com esta matriz procuramos destacar o sistema de armas que se apresenta
como mais vantajoso adquirir para a constituição da Btr HIMAD
Portuguesa.

Quadro nº2 – Matriz de Comparação dos Sistemas HIMAD em estudo


PATRIOT
NASAMS II SAMP/T 30 MEADS
PAC-3
Interoperabilidade 5 5 5 5
Sustentação Logística 4 3 4 3
Sistema Lançador 3 5 3 4
Radar 3 4 4 4
Míssil 3 5 4 5
Preço 5 3 2 1
TOTAL 23 25 22 22

6 Cada critério é classificado individualmente através de uma escala que varia de 1 valor (pouca
capacidade) a 5 valores (muita capacidade). No TOTAL é realizada a soma de todos os valores
atribuídos aos critérios referentes a cada sistema HIMAD.

405
REVISTA DE ARTILHARIA

Após esta comparação destaca-se o sistema PATRIOT PAC-3. Apesar do


sistema NASAMS II se apresentar como o mais acessível a nível de custos,
não garante total eficácia contra a ameaça míssil. Como constatámos
anteriormente, uma séria ameaça ao nosso país é a ameaça perpetuada por
TBM, contra qual o sistema NASAMS II não possui capacidade de resposta.
Por outro lado, o sistema PATRIOT PAC-3 apresenta-se como um sistema
com capacidade nesta matéria. Concluímos, portanto, que o sistema HIMAD
que se constitui como mais vantajoso a adquirir é o PATRIOT PAC-3.

2.1.4 A Orgânica da Bateria HIMAD

Uma vez determinado o sistema a adquirir é necessário estabelecer a


estrutura orgânica da Btr HIMAD a constituir.
Segundo a entrevista realizada ao Capitão Rodrigues (2014), para além
da Btr HIMAD englobar os elementos de Comando (Cmd) e Apoio de
Serviços (ApSvc) semelhantes a outras Btr, deveria compreender três
componentes essenciais: pelotões com o sistema HIMAD (a componente
principal da Btr), uma ou mais secções com o sistema Radar, e a componente
SHORAD (tendo em vista complementar os sistemas HIMAD).
Da mesma forma o Major Leitão (2014), na entrevista realizada ao
mesmo, afirma que a constituição genérica da Btr HIMAD deveria compreender
componentes ao nível do Cmd e Estado-Maior (EM), ApSvc (que engloba as
Transmissões (Tm), o Apoio Sanitário (ApSan) e a Manutenção (Man)) e
Sistemas de Armas. Dentro da componente dos Sistemas de Armas poderá
haver flexibilidade para uma articulação em simultâneo em pelotões de
sistemas SHORAD e HIMAD, ou apenas puramente HIMAD. Segundo
(EME, 2013) o emprego dos sistemas de AAA é eminentemente modular,
permitindo, consoante a missão, a cedência ou receção de módulos de outra
unidade. Desta forma a Btr HIMAD, caso não possua a componente
SHORAD na sua orgânica, podia ser reforçada com esses sistemas, à
semelhança do que acontece com a BtrAAA/BrigInt e a BtrAAA/BrigRR que,
se necessário, podem receber meios provenientes da BtrAAA/FApGer.
Face a estes dados apresentados julgamos possuir as condições necessárias
para perspetivar uma possível estrutura orgânica da Btr HIMAD. Para isso
iremos também basear-nos na doutrina americana, nomeadamente na orgânica
da Btr PATRIOT, uma vez que se constitui como referência da nossa doutrina.
Desta forma perspetivamos uma Btr HIMAD cuja orgânica compreende:
x O Cmd da Btr;
x Uma seção de ligação com uma equipa que inclui o Of de Ligação à
Força Aérea Portuguesa (FAP);

406
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

x Um Pel de ApSvc constituído por: Cmd, Secção Tm, Secção Man,


Secção Reab e Secção ApSan;
x Um Pel SHORAD 7 constituído por um Cmd e duas secções Míssil
Portátil. Cada secção de Míssil Portátil possui quatro esquadras
equipadas com o Sistema Míssil Portátil FIM-92 STINGER;
x Dois Pel HIMAD, cada um constituído por um Cmd e quatro secções
PATRIOT. Cada secção PATRIOT possui uma plataforma de tiro do
sistema PATRIOT PAC-3 e uma Viatura de Reab de Mísseis;
x Um Pel de Controlo de Tiro constituído por um Cmd, uma secção de
Controlo de Tiro, com um Centro de Controlo de Tiro, e uma secção
Radar.

Figura nº1 – Perspetiva da Estrutura Orgânica da Btr HIMAD


Fonte: Autor

7 Dentro dos parâmetros de modularidade caraterística da AAA, este Pel, apesar da sua
existência na estrutura orgânica, pode não ser levantado e ser fornecido apenas quando
necessário.

407
REVISTA DE ARTILHARIA

Ao nível de efetivos a Btr HIMAD poderá, segundo esta organização e a


guarnição correspondente ao material, dispor na totalidade de um efetivo de
cerca de 130 militares, distribuídos pelo Cmd (2 Of, 4 Sargentos (Sarg) e 4
Praças), Pel ApSvc (1 Of, 13 Sarg e 23 Praças), Pel SHORAD (1 Of, 11 Sarg
e 20 Praças), Pel HIMAD (1 Of, 4 Sarg e 12 Praças, cada), Pel Controlo de
Tiro (2 Of, 4 Sarg e 5 Praças) e Secção de Ligação (2 Of, 2 Sarg e 2 Praças).
Segundo a entrevista realizada ao Tenente Coronel Patronilho (2014), sendo
esta Btr mais exigente a níveis técnicos, a função de Cmdt da Btr deveria
ser atribuída a um Of com o posto de Major, e o cargo de 2º Cmdt deveria ser
atribuído a um Of com o posto de Capitão. Da mesma forma, tanto os Pel
como a secção de Controlo de Tiro deveriam ser colocados à responsabilidade
de Of subalternos, de preferência de posto de Tenente.

2.2 A BATERIA HIMAD NA ARTILHARIA ANTIAÉREA PORTUGUESA

2.2.1 Defesa de Pontos e Áreas Sensíveis


De acordo com Benrós (2005), para se garantir a eficácia da defesa de
pontos e áreas sensíveis por parte da AAA é necessário dispor, para além de
meios SHORAD, de sistemas HIMAD com capacidade de empenhamento
superior a 40 km de distância e com uma altitude superior a 15 km, e que
possam garantir também defesa antimíssil. Segundo este autor, só uma
defesa combinada com sistemas SHORAD e HIMAD garante uma proteção
adequada, uma vez que as possibilidades de um sistema colmatam as
limitações do outro. Da mesma forma, Ferreira (2011) considera os meios
HIMAD como essenciais neste tipo de defesa, podendo inclusivamente
complementar os meios da FAP, principalmente devido à capacidade
antimíssil e às distâncias a que garantem proteção.
Por outro lado Borges (2008) defende que a proteção de pontos e áreas
sensíveis no TN é uma capacidade apenas garantida, no âmbito da AAA, por
sistemas SHORAD, uma vez que a FAP pode, em parte, assegurar a defesa
às médias e grandes altitudes. Este autor defende que deveria ser dada
prioridade à consolidação e integração dos sistemas SHORAD no Sistema de
Defesa Aéreo Nacional, o que passaria por colmatar as lacunas a nível de
C2, ao invés da opção por Sistemas HIMAD.
Segundo a entrevista realizada ao Major Caixeiro (2014), existem zonas
estratégicas do país, como pontes ou refinarias, que deveriam estar sempre
protegidas da ameaça aérea. Os meios mais adequados para essa proteção
seriam os meios HIMAD que poderiam atuar contra a ameaça míssil vinda
do Norte de África e do Médio Oriente, e à semelhança de outros países,
funcionar como dissuasão. No caso da DA nos EAV, os meios utilizados

408
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

restringem-se apenas aos F-16 e helicópteros armados. Mas esta utilização


possui várias limitações, nomeadamente ao nível da impossibilidade dos meios
se encontrarem sempre disponíveis, assim como os elevados custos de voo.
De acordo com Ramalho (2011, p. 25) os sistemas de AAA de média e
grande altitude têm, por um lado, a finalidade de “credibilizar o atual
sistema de armas AAA, que não ultrapassa a baixa e muito baixa altitude e
obter sinergias, com os meios da Força Aérea vocacionados para a Defesa
Aérea, protegendo-os e ampliando a sua ação, libertando parte desses meios
para a “Caça e Interceção””. De igual forma, segundo as entrevistas
realizadas ao Tenente Coronel Patronilho (2014) e ao Capitão Casinha
(2014), se a AAA possuísse meios HIMAD, não existiria uma dependência
tão evidente relativamente à FAP, da mesma forma que a FAP não
necessitava de exercer tanto esforço e rentabilizaria melhor os seus meios.
De momento a nossa AAA não possui meios terrestres que cubram as
médias e grandes altitudes, sendo estas responsabilidade da FAP, utilizando
os caças de interceção. Mas para além do emprego desses meios comportar
custos muito elevados, não é possível, devido aos fatores humanos e
tecnológicos, permanecerem em voo 24 horas por dia, 365 dias por ano. Para
além disso, se esses meios aéreos não se encontrarem em voo, o tempo de
reação à ameaça é muito elevado. Já os sistemas de armas de DA terrestres
podem estar posicionados 24 horas por dia, 365 dias por ano, não trazendo
custos elevados aquando e após a sua colocação, assegurando um tempo de
reação de apenas alguns minutos.
Por outro lado, segundo a entrevista realizada ao Major Leitão (2014), a
AAA foi recentemente responsável pela proteção AA a dois eventos
considerados de elevado risco, nomeadamente, na visita do Papa Bento XVI
a Portugal em 2010, e na Cimeira da OTAN, realizada no mesmo ano em
Lisboa. Se possuíssemos meios HIMAD e estes fossem empregues, iriam
atuar como um meio redundante mais capaz, complementando as
possibilidades fornecidas pelos meios da FAP, e dessa forma garantir uma
proteção AA mais eficaz.
Podemos ainda acrescentar que a interoperabilidade da componente
terrestre de DA com a componente aérea nos países da OTAN tem sido
conseguida utilizando os sistemas HIMAD. O facto de, nesses sistemas, o
empenhamento ser executado nos centros de Controlo de Tiro, permite
exercer uma melhor capacidade de C2, na medida que permite uma maior
capacidade de integração com a componente aérea e melhor capacidade para
evitar o fratricídio (Benrós, 2006). Segundo a entrevista ao Tenente Coronel
Monsanto (2014), podemos verificar que, nos dias de hoje, na eventualidade
de Portugal necessitar da presença de meios HIMAD de outros países no

409
REVISTA DE ARTILHARIA

TN, esses seriam enviados numa força multinacional da OTAN e ligar-se-


iam diretamente e apenas à FAP. Se a AAA Portuguesa possuísse sistemas
de média e grande altitude, esses meios provenientes de outros países ligar-
se-iam a um comando HIMAD português, que por sua vez se ligaria à AAA
e, se necessário, à FAP.

2.2.2 Proteção da Força

Como já vimos anteriormente na doutrina portuguesa, para a proteção


AA das unidades de manobra e dos seus órgãos críticos, são normalmente
empregues os sistemas SHORAD. No entanto este tipo de sistemas só
garante proteção contra a ameaça convencional a baixa e muito baixa
altitude, não possuindo capacidade de efetuar um empenhamento eficaz
contra as novas ameaças.
Segundo a entrevista realizada ao Major Leitão (2014), os sistemas
HIMAD trariam maiores capacidades de proteção AA a qualquer força,
aumentando significativamente a área de proteção fornecida.
Assegurariam uma capacidade ímpar de proteção no que diz respeito a
atuar sobre as médias e grandes altitudes e capacidade de resposta às
novas ameaças, nomeadamente à ameaça míssil. Da mesma forma, de
acordo com a entrevista realizada ao Capitão Casinha (2014), uma vez
que a AAA Portuguesa apenas se encontra equipada com meios
SHORAD, e consequentemente só possui capacidade contra a ameaça
convencional, com os sistemas HIMAD seria possível fazer face
simultaneamente à ameaça convencional e às novas ameaças, garantindo
a capacidade de empenhamento a uma maior profundidade e altitude,
aumentando a proteção da força.
Por outro lado, segundo a entrevista realizada ao Capitão Rodrigues
(2014), o emprego de meios HIMAD fornece maior capacidade de
sobrevivência às unidades que protegem, uma vez que conseguem uma
deteção e empenhamento em maior alcance e altitude. Estando dotados de
radares que consigam potencializar as suas capacidades, isto é, que possuam
um grande alcance, conseguem uma deteção atempada e um maior tempo de
aviso e alerta.
No âmbito dos compromissos internacionais adquiridos por Portugal, as
nossas FA têm contribuído com FND aptas a realizar determinadas missões
num TO internacional. Mas como já vimos anteriormente, apesar da
proteção da força se constituir como uma clara necessidade no presente
Ambiente Operacional, não existe registo da participação de qualquer
unidade de AAA, atuando no âmbito dessa missão.

410
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Para Santos (2007) esta ausência por parte da AAA deve-se ao atraso
tecnológico relativamente a qualquer outro exército aliado, que poderia ser
solucionado com a aquisição de sistemas de armas, C2, e deteção e alerta
credíveis e operacionais. Por sua vez Carvalho (2009, p. 500) considera “que
existiu, em certas situações, necessidade de dotar as FND com meios de
AAA”, mas que esta necessidade não pôde ser satisfeita uma vez que os
equipamentos e sistemas de armas da nossa AAA se encontram num nível
muito inferior ao dos nossos aliados. Apesar disso, considerando o Sistema
Míssil Ligeiro Stinger um sistema atual e o radar PSTAR equipamento
moderno, defende a inserção numa FND de um módulo de AAA constituído
por estes dois componentes, faltando apenas o sistema de C2 real e credível
(Carvalho, 2009).
Segundo a entrevista ao Tenente Coronel Monsanto (2014), se a nossa
AAA possuísse meios HIMAD e estes fossem utilizados no âmbito das FND,
seriam para a proteção de um Posto de Comando (PC) ou de uma Área de
ApSvc (AApSvc), de uma grande força, nomeadamente de uma Brigada
(Brig). Uma vez que Portugal não possui capacidade para projetar uma força
desse escalão, esses meios seriam integrados numa força multinacional, e
seriam responsáveis pela defesa AA dos órgãos dessa força. Por outro lado se
possuíssemos este tipo de sistemas, e consequentemente a doutrina associada
(com os procedimentos e técnicas necessários), facilmente poderíamos
estabelecer ligações e integrar outros sistemas HIMAD no âmbito de forças
multinacionais.
Segundo a entrevista realizada ao Capitão Casinha (2014), na
eventualidade da projeção da Btr HIMAD, esta pode, se necessário, ser
empregue apenas como um módulo numa força multinacional. Esta
perspetiva vai de encontro à capacidade eminentemente modular dos
sistemas de AAA que anteriormente constatámos.

2.3 A BATERIA HIMAD NAS MISSÕES E FORÇAS DA OTAN

2.3.1 Integração nos Programas Antimíssil da OTAN

Segundo a entrevista realizada ao Major Caixeiro (2014), os nossos


meios HIMAD enquadrar-se-iam no conceito de defesa antimíssil da OTAN,
e poderiam ser integrados tanto no NATINADS como nos programas
subsequentes. Mas para tal seria necessário um estudo e planeamento para
se otimizar o emprego e a possível partilha de meios. Como já vimos
anteriormente, existem diversos países que possuem meios HIMAD,
inclusive a Espanha, e que poderiam disponibilizar alguns desses meios

411
REVISTA DE ARTILHARIA

para o TN no âmbito deste projeto. Da mesma forma, se possuíssemos meios


de média e grande altitude, Portugal poderia exercer esse esforço
relativamente a outros países. Contudo Benrós (2014), de acordo com a
entrevista realizada ao mesmo, considerando os sistemas HIMAD meios
escassos de grande valor estratégico, não julga viável a possibilidade de
cedência destes meios entre os países da aliança. Segundo o mesmo, o
NATINAMDS permite a vigilância do espaço aéreo, e possibilita acima de
tudo capacidade antimíssil, incluindo o aviso prévio. Dessa forma, e uma vez
que os países são responsáveis pelo fornecimento dos meios de DA, que
incluem os sistemas de armas de DA terrestres, qualquer sistema antimíssil
que tivéssemos poderia, e teria, de ser disponibilizado para esse projeto.
Segundo Borges (2008, p. 213) “a ameaça mais provável para Portugal,
que leve a tornar a aquisição dos sistemas HIMAD numa opção prioritária,
consiste em TBM ou CM oriundos no norte de África”. Dessa forma, e
tratando-se Portugal de um membro da OTAN, a aquisição desses sistemas
passaria pela integração com o NATINAMDS. Segundo a entrevista
realizada ao Tenente Coronel Monsanto (2014), atualmente, a nível do
NATINAMDS, Portugal participaria apenas com meios aéreos de DA (neste
caso com os caças de interceção) pois não possuímos sistemas de armas
terrestres com capacidade de integração nesse projeto. Se a nossa AAA
possuísse meios HIMAD essa integração já seria possível, e até mesmo
necessária, devido à localização geográfica de Portugal na Europa,
nomeadamente na vulnerável fronteira Sul.
Segundo Ramalho (2011, p. 25) a aquisição de sistemas HIMAD teria
como finalidade “permitir ao país participar de forma ativa no processo de
defesa antimíssil da OTAN, quer na vigilância, quer numa capacidade de
intervenção estratégica neste domínio, adequada à sua dimensão
estratégica”. Da mesma forma Calhaço, Serrão, Santos, Gomes & Pisco
(2009, p. 96) defendem que “a aquisição de sistemas HIMAD traduzir-se-ia,
principalmente, para a participação no projeto de defesa antimíssil da
OTAN”. Nesta perspetiva, Portugal deixaria de apenas depender das
capacidades dos outros membros da OTAN, para começar a participar de
forma ativa na DA da Aliança Transatlântica.

2.3.2 Integração na NATO Response Force

Segundo a entrevista realizada ao Tenente Coronel Garcia (2014), se a


AAA Portuguesa fosse equipada com sistemas de média e grande altitude,
estes poderiam ser empregues de duas formas: participar em exercícios no
âmbito da OTAN – exercícios de operações de Art.º 5º e não-Art.º 5º, nos

412
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

quais tem sido efetuado um esforço para englobar todos os meios – e


integração no quadro de forças das NRF – emprego nas operações das NRF
com determinado grau de prontidão. Mas segundo o mesmo, os meios
HIMAD são meios muito caros e escassos (comparativamente aos meios
SHORAD), e normalmente os países que os possuem preferem salvaguardá-
los para o uso no âmbito nacional.
A DA na NRF é normalmente assegurada por uma unidade de escalão
Btr, mas “ao contrário da unidade de apoio de fogos, está definido
superiormente que esta unidade não deve integrar elementos de diferentes
países, pelo que uma eventual participação nacional apenas se poderá
verificar, desde que assegurada a capacidade de preenchimento de uma
BtrAAA completa.” (Santos, 2008, pp. 238-239). Neste caso, com o levantamento
de uma Btr HIMAD, essa capacidade seria preenchida, podendo essa Btr ser
responsável pela DA de uma NRF, desde que, como já vimos, cumprisse os
requisitos estipulados pela OTAN para o determinado tipo de missão.
De acordo com Calhaço et al. (2008) é intenção da OTAN equipar as
NRF com meios de alta tecnologia de modo a serem capazes de participar
com sucesso em conflitos de alta intensidade, dentro do espetro da sua
missão, em curto espaço de tempo. Nesse sentido o levantamento de uma
Btr HIMAD garantiria o equipar condigno das forças nacionais a atuarem
no âmbito das NRF, assim como a aquisição de conhecimentos, possibilitando à
AAA Portuguesa participar de forma mais ativa no âmbito internacional.
Segundo a entrevista realizada ao Tenente Coronel Monsanto (2014),
as nossas FA têm efetuado algumas participações a este nível, com a
integração de algumas forças nas NRF. No caso de essa integração ser
realizada com os nossos meios HIMAD, aumentava a nossa capacidade de
intervenção e de certificação.

2.3.3 Participação nas Crises Response Operations

No caso da projeção de uma força de AAA, Monsanto (2002) defende que


o escalão mínimo a ser projetado deverá ser uma Btr, mas que poderá
mudar consoante as necessidades de proteção e a natureza da operação.
Essa projeção poderia ocorrer em dois cenários possíveis: integrado numa
força multinacional ou de forma isolada. Mas como já verificamos
anteriormente, se possuíssemos uma Btr HIMAD e esta fosse projetada,
seria integrada numa força multinacional para a proteção AA de uma
grande força, nomeadamente uma Brig.
Segundo a entrevista realizada ao Capitão Casinha (2014), o emprego
de uma Btr HIMAD numa missão deste âmbito depende, principalmente,

413
REVISTA DE ARTILHARIA

dos meios realmente disponíveis, da missão a cumprir e da ameaça presente


no TO em questão. Tendo em conta esses três fatores podemos analisar a
integração da Btr HIMAD numa CRO.
De acordo com a entrevista realizada ao Tenente Coronel Benrós
(2014), uma Btr HIMAD seria projetada no âmbito de uma CRO se
primeiro cumprisse os requisitos estipulados para a mesma pela OTAN,
tornando esses meios realmente disponíveis. Ao nível da missão,
constituía-se como essencial essa integração se fosse necessário
assegurar a DA a médias e grandes altitudes ou capacidade antimíssil,
pois trata-se de uma tarefa que somente os sistemas HIMAD podem
desempenhar. Quanto à ameaça podemos estabelecer uma ligação entre o
tipo de meios e o tipo de ameaça a enfrentar: meios HIMAD
primordialmente no combate à ameaça míssil, meios SHORAD contra a
ameaça perpetuada por meios convencionais, e por último, Counter -
Rockets, Artillery and Mortars (C-RAM) 8 contra a ameaça RAM.
Segundo a entrevista realizada ao Major Leitão (2014), a nossa Btr
HIMAD poderia integrar numa missão de CRO se cumprisse com os
requisitos estabelecidos pela OTAN e se fosse levantada essa necessidade
por parte dessa organização. Contudo afirma que nos recentes conflitos,
devido à supremacia aérea que as forças da OTAN ou das coligações
constituídas têm tido nos diversos TO, a ameaça aérea tem sofrido
alterações. Nestes casos a AAA continua a possuir os meios mais eficazes
para a combater, mas tem tido um papel mais vocacionado para a proteção
da força no âmbito do C-RAM.
Da mesma forma, segundo a entrevista realizada ao Tenente Coronel
Garcia (2014), os meios HIMAD não têm sido utilizados nas diversas
operações pois não existe ameaça aérea que justifique o seu emprego.
Contudo, se para a constituição das forças são pedidos meios HIMAD, estes
podem ficar em standby, para o caso da evolução dessa ameaça. Um exemplo
dessa situação é o caso do Kosovo, em que foram pedidos meios HIMAD, mas
que estes não foram utilizados pois a ameaça aérea não o tornou justificável.
Contudo temos de manter as nossas capacidades atualizadas, pois uma
ameaça pouco provável pode tornar-se eminente num futuro breve. Apesar
da ameaça aérea que se revela nos TO da atualidade não justificar a
utilização de determinados meios, a potencial ameaça pode ser merecedora
de tais meios.

8 A capacidade C-RAM é assegurada por sistemas canhão de alta tecnologia, contra a ameaça
perpetuada por meios RAM. Possibilita a prevenção, a deteção, o aviso e a interceção contra a
ameaça RAM, assim como garante proteção à força e infraestruturas e, graças ao seu aviso,
possibilita o contra-ataque com a Artilharia de Campanha (AC) (Paradelo, 2009b).

414
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Como exemplo da utilização de sistemas HIMAD por parte da OTAN


podemos observar o exemplo da Turquia. Neste caso, no início do ano de
2013, foram destacadas, por parte da OTAN, Btr PATRIOT para a fronteira
da Turquia com a Síria 9 (NEWS, 2013). Da mesma forma uma Btr HIMAD
pertencente à AAA Portuguesa poderia ser projetada e utilizada no âmbito
de uma missão da OTAN.

CONCLUSÕES

O atual trabalho teve como finalidade analisar de que forma o


levantamento de uma Btr HIMAD do GAAA das FApGer do Exército
Português pode contribuir para a DA de média e grande altitude e participar
em CRO nos atuais TO.
Com base na análise documental e nas entrevistas efetuadas,
concluímos que a eventual inserção de uma Btr HIMAD na AAA Portuguesa
acrescenta um conjunto de capacidades ao Exército Português, nomeada-
mente na Defesa de Pontos e Áreas Sensíveis e na Proteção da Força.
Como constatamos no primeiro capítulo, na doutrina portuguesa, a
Defesa de Pontos e Áreas Sensíveis é preferencialmente atribuída a
sistemas HIMAD. Mas só uma defesa combinada com sistemas SHORAD e
HIMAD garante uma proteção adequada, uma vez que as possibilidades de
um sistema colmatam as limitações do outro. Como o Exército Português
não possui meios de média e grande altitude, este tipo de defesa é
assegurada por sistemas SHORAD e por meios da FAP. Estes últimos são os
responsáveis pela defesa às médias e grandes altitudes. Mas para além dos
custos de utilização desses meios da FAP serem muito elevados, não é
possível aos mesmos, devido aos fatores humanos e tecnológicos,
encontrarem-se sempre disponíveis, da mesma forma que o tempo de reação
à ameaça é muito elevado. Por outro lado os sistemas HIMAD podem estar
posicionados 24 horas por dia, 365 dias por ano, da mesma forma que os
custos de colocação e utilização assim como o tempo de reação à ameaça são
inferiores. Concluímos portanto, que neste aspeto, a posse de sistemas
HIMAD por parte do Exército Português permitia uma maior independência
deste relativamente à FAP, sendo que esta poderia rentabilizar melhor os
seus meios.

9 O pedido de auxílio por parte deste país surgiu após a queda de projeteis sírios sobre o
território turco em outubro de 2012 que causaram cinco mortos (NEWS, 2013). Ao todo foram
enviados por parte dos EUA, Alemanha e Holanda seis Btr PATRIOT, duas de cada país,
para proteger a Turquia de eventuais ataques sírios com mísseis balísticos (Silva, 2013).

415
REVISTA DE ARTILHARIA

No caso dos EAV, se a AAA possuísse meios HIMAD, aumentaria a


credibilidade de atuação neste tipo de operações, podendo potenciar assim a
sua participação nos mesmos. Ao serem empregues iriam atuar como um
meio redundante mais capaz, complementando as possibilidades fornecidas
quer pelos meios SHORAD quer pelos meios da FAP, nomeadamente no
âmbito da capacidade de defesa antimíssil, e dessa forma garantir uma
proteção AA mais eficaz. Por outro lado, devido ao facto de nestes sistemas
de armas o empenhamento ser executado nos centros de Controlo de Tiro, é
exercida uma melhor capacidade de C2, aumentando a interoperabilidade da
componente terrestre de DA com a componente aérea.
Relativamente à Proteção da Força, os sistemas HIMAD forneceriam
acima de tudo capacidade de resposta às novas ameaças, nomeadamente
contra os meios míssil, que não é garantida pelos sistemas SHORAD, os
quais apenas asseguram um empenhamento eficaz contra a ameaça
convencional. Da mesma forma garantiriam uma capacidade ímpar de
proteção no que diz respeito às médias e grandes altitudes e sobre uma área
de proteção maior. Dessa forma, assegurando uma deteção mais atempada e
um empenhamento em maior altitude, garantiriam maior capacidade de
sobrevivência às unidades que protegem.
Na perspetiva da projeção da Btr HIMAD para a proteção de forças
em TO internacionais, esta seria integrada, num todo ou apenas como um
módulo, numa força multinacional, podendo garantir eficazmente a
proteção de um PC ou de uma AApSvc, de uma grande força, nomeada-
mente de uma Brig.
Quanto à ameaça relativa ao TN, a existência de sistemas HIMAD em
Portugal traria capacidade antimíssil para o nosso país e constituir-se-ia um
meio dissuasor e efetivo de defesa contra a ameaça aérea originária do Norte
de África e do Médio Oriente, que se materializa na utilização de TBM por
parte de organizações terroristas. Da mesma forma assegurava uma
capacidade de resposta mais eficaz contra a ameaça Renegade, garantindo
uma proteção mais ampla e atempada, em altitude e alcance, de pontos
económicos, políticos ou militares.
O emprego de uma Btr HIMAD no âmbito de uma CRO depende dos
meios realmente disponíveis, da missão a cumprir e da ameaça presente no
TO em questão. Em primeira instância é necessário que se cumpram os
requisitos estipulados pela OTAN. Ao nível da missão, esse emprego seria
empiricamente essencial se fosse necessário assegurar DA a médias e
grandes altitudes ou/e capacidade antimíssil. Quanto à ameaça, a utilização
de meios HIMAD seria vocacionada contra as novas ameaças, primordial-
mente no combate à ameaça perpetuada por meios míssil.

416
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

A projeção da Btr HIMAD aconteceria com a mesma integrada numa


força multinacional. Atualmente, devido à supremacia aérea das forças da
OTAN nos TO, a ameaça aérea é mais vocacionada para a ameaça RAM.
Mas este facto não inviabiliza a integração de sistemas HIMAD neste tipo de
operações, podendo estes ficar em reserva, para o eventual evoluir da
ameaça aérea.
A DA na NRF é assegurada por uma unidade de escalão Btr, que deve
ser fornecida apenas por um país. Essa capacidade poderia ser preenchida
por uma Btr HIMAD desde que cumprisse os requisitos estipulados pela
OTAN. Dessa forma seria garantido o equipar condigno das forças a
atuarem no âmbito das NRF com meios de alta tecnologia. O levantamento
de uma Btr HIMAD nacional, e a sua utilização neste âmbito, possibilitaria
à AAA Portuguesa participar de forma mais ativa na cena internacional,
aumentando também a nossa capacidade de intervenção e de certificação.
Quanto ao programa antimíssil da OTAN, os nossos meios HIMAD
poderiam e deveriam ser integrados no NATINAMDS. Esta integração
constitui-se como necessária, devido à localização geográfica de Portugal na
Europa, nomeadamente na vulnerável fronteira Sul. A aquisição destes
meios serviriam para combater a ameaça míssil oriunda do Norte de África e
do Médio Oriente. Nesta perspetiva, Portugal deixaria de apenas depender
das capacidades dos outros membros da OTAN, para começar a participar de
forma ativa na DA da Aliança Transatlântica.
Da investigação realizada, verificou-se que o sistema PATRIOT PAC-
3 se apresenta como o mais vantajoso a adquirir para a constituição da
Btr HIMAD. Trata-se de um sistema que possui uma grande capacidade
a nível do radar, bem como do míssil, com capacidade de resposta eficaz
contra a ameaça míssil, apresentando-se como o sistema mais utilizado
em todo o mundo.
No que respeita à sua estrutura orgânica, perspetivamos uma Btr
HIMAD com um efetivo de cerca de 130 militares, e cuja orgânica
compreende:
x O Cmd da Btr, compreendendo 2 Of, 4 Sarg e 4 Praças;
x Uma seção de ligação, com uma equipa que inclui o Of de Ligação à
FAP, compreendendo 2 Of, 2 Sarg e 2 Praças;
x Um Pel de ApSvc constituído por um Cmd, Secção Tm, Secção Man,
Secção Reab e Secção ApSan, compreendendo 1 Of, 13 Sarg e 23
Praças;
x Um Pel SHORAD constituído por um Cmd e duas secções Míssil
Portátil. Cada secção de Míssil Portátil constituída por quatro

417
REVISTA DE ARTILHARIA

esquadras equipadas com o Sistema Míssil Portátil FIM-92


STINGER. Compreende 1 Of, 11 Sarg e 20 Praças;
x Dois Pel HIMAD, cada um constituído por um Cmd e quatro secções
PATRIOT. Cada secção PATRIOT possuiria uma plataforma de tiro
do sistema PATRIOT PAC-3 e uma Viatura de Reab de Mísseis.
Compreenderia 1 Of, 4 Sarg e 12 Praças, cada;
x Um Pel de Controlo de Tiro constituído por um Cmd, uma secção de
Controlo de Tiro, com um Centro de Controlo de Tiro, e uma secção
Radar, compreendendo 2 Of, 4 Sarg e 5 Praças.

De referir ainda que a função de Cmdt da Btr deveria ser atribuída a


um Of com o posto de Major, da mesma forma que o cargo de 2º Cmdt
deveria ser atribuído a um Of com o posto de Capitão. Os Pel e a secção de
Controlo de Tiro deveriam ser colocados à responsabilidade de Of
subalternos, preferencialmente de posto Tenente.
Face ao exposto, podemos afirmar que a aquisição de sistemas HIMAD
garantiria capacidade contra todo o espetro de ameaça aérea e DA às médias
e grandes altitudes, aumentando a área de proteção, complementando os
sistemas SHORAD e libertando os meios da FAP. No âmbito dos
compromissos internacionais, estes meios poderiam e deveriam ser
integrados nos programas antimíssil da OTAN, da mesma forma que
poderiam ser projetados no âmbito de CRO, se cumprissem os requisitos
estabelecidos e a ameaça o justificasse.
Concluímos assim que o levantamento de uma Btr HIMAD do GAAA
acrescentaria novas capacidades na Defesa de Pontos e Áreas Sensíveis e
possibilitaria maior capacidade de sobrevivência na Proteção da Força. Já a
sua participação em CRO seria possível com a sua integração numa força
multinacional, e dependeria do cumprimento dos requisitos estipulados pela
OTAN e se a ameaça aérea o justificasse, nomeadamente no caso da ameaça
perpetuada por meios míssil.

Este artigo é um resumo de um Trabalho de Investigação Aplicada


com o Titulo “A Bateria HIMAD do Grupo de Artilharia Antiaérea”.

418
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

BIBLIOGRAFIA

Assembleia da República. (2013, abril 5). Conceito estratégico de defesa nacional.


Diário da República, 1.ª série - N.º 67 , pp. 1981-1995.
Assembleia da República. (2009, julho 7). Lei Orgânica n.º 1-B/2009 – Lei de Defesa
Nacional. Diário da República, 1.ª série - N.º 138 , pp. 4541-4550.
Baptista, M. (2007, outubro a dezembro). A Artilharia Portuguesa na NATO Response
Force e nos Battlegroups. Revista de Artilharia, nº986 a 988 , pp. 347-360.
Benrós, V. (2006, outubro). A Artilharia Antiaérea em Portugal – Perspetivas.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº6 II Série , pp. 92-95.
Benrós, V. (2005, outubro). A Artilharia Antiaérea na Transformação do Exército.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº5 II Série , pp. 18-26.
Benrós, V. (2002, outubro). A Artilharia Antiaérea nas Operações deApoio à Paz.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº2 II Série , pp. 10-13.
Borges, J. V. (2008, julho a setembro). Reflexões sobre a Evolução da Artilharia
Antiaéra Portuguesa. Revista de Artilharia, nº995 a 997 , pp. 203-222.
Caixeiro, A. (2007, outubro). NATO/NATINADS – Do Passado à Actualidade.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº7 II Série , pp. 26-32.
Calhaço, N. (2009, outubro). Capacidade de Média Altitude. Boletim da Artilharia
Antiaérea, nº9 II Série , pp. 24-30.
Calhaço, N., Serrão, D., Santos, Á., Gomes, M., & Pisco, J. (2009, janeiro a março). A
Proteção de Pontos e Áreas Sensíveis do Território Nacional com Sistemas
HIMAD – Um Modelo Nacional. Revista de Artilharia, nº1001 a 1003 , pp. 85-115.
Calhaço, Serrão, D., Santos, À., Gomes, M., & Pisco, J. (2008, outubro). Sistemas
HIMAD: Uma solução para Portugal. Boletim da Artilharia Antiaérea, nº8 II
Série , pp. 64-77.
Carvalho, G. d. (2009, outubro a dezembro). A Proteção Antiaérea das Forças
Nacionais Destacadas. Revista de Artilharia, nº1010 a 1012 , pp. 475-505.
EME. (2009). QO Nº 24.0.55 das Forças de Apoio Geral, Grupo de Artilharia
Antiaérea. Queluz: Estado-Maior do Exército.
EME. (1997). RC 18-100 Regulamento de Táctica de Artilharia Antiaérea. Lisboa:
Estado-Maior do Exército.
EME. (2002). MC 18-2 Regulamento da Bateria de Artilharia Antiaérea. Lisboa:
Estado-Maior do Exército.
EME. (2013). Reflexões sobre a Organização da Artilharia – Futuro Sistema de
Forças Nacional. Lisboa: Estado-Maior do Exército.
EMGFA. (2010, janeiro 15). Directiva Operacional Nº. 005 – Defesa de Áreas e
Pontos Sensíveis. CEMGFA/2010 , pp. 1-10.
Ferreira. (2011, julho a setembro). A Defesa Antiaérea de Infra-estruturas Críticas.
Revista de Artilharia, nº1031 a 1033 , pp. 297-318.
IESM. (2006). ME 20-77-06 Operações de Resposta a Crises. Lisboa: Instituto de
Estudos Superiroes Militares.
Imperial, Azevedo, Henriques, & Ramos. (2013). Programa MEADS. Vendas Novas:
Escola Prática de Artilharia.

419
REVISTA DE ARTILHARIA

Joint Chiefs of Staff. (2012). Joint Publication 3-07.3 Peace Operations. Washington,
DC: Headquarters Department of the USA Army.
MDN. (2011). PDE 3-65-00 Operações de Apoio à Paz – Táticas, Técnicas e
Procedimentos. Lisboa: Ministério da Defesa Nacional.
Monsanto, L. (2002, outubro). Sistema Integrado de Defesa Aéreo Nacional –
Desafios futuros para o Exército. Boletim da Artilharia Antiaérea, nº2 II Série ,
pp. 14-24.
NATO. (2002). AJP-3.4(A) Allied Joint Doctrine for Non-Article 5 Crisis Response
Operations. Bruxelas: North Atllantic Treaty Organization.
NATO. (2013, abril). NATO Integrated Air and Missile Defence. Retrieved março 12,
2014, from North Atlantic Treaty Organization: http://www.nato.int/cps/en/SID-
A31415CA-A50AC50A/natolive/topics_8206.htm
NATO. (2012). NATO Logistics Handbook. Bruxelas: North Atlantic Treaty
Organization.
NEWS. (2013, janeiro 7). Holanda e Alemanha enviam mísseis para a Turquia.
Retrieved março 27, 2014, from Euronews: http://pt.euronews.com/2013/01/07/
holanda-e-alemanha-enviam-misseis-patriot-para-a-turquia/
Pais, I., & Sá, F. M. (2005). Infra-Estruturas Críticas – Carta Nacional de Pontos
Sensíveis. Planeamento Civil de Emergência, nº 17 , pp. 26-33.
Paradelo. (2009a, outubro a dezembro). A AAA na Proteção da Força. Revista de
Artilharia, nº1010 a 1012 , pp. 417-424.
Paradelo. (2009b, outubro). Capacidade C-RAM. Boletim da Artilharia Antiaérea, nº9
II Série , pp. 10-15.
Perdigão, S. (2005, outubro). A Artilharia Antiaérea face às "novas" ameaças.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº5 II Série , pp. 28-35.
Ramalho, J. L. (2011). Exército Português: Uma Visão – Um Rumo – Um Futuro.
Lisboa: Gabinete do Chefe do Estado-Maior do Exército.
Rosendo, P., Santos, N., & Monteiro, N. (2008, abril a junho). NATINADS – Sistema
de Defesa Aéreo Integrado da NATO- Evolução e Perspetivas. Revista de
Artilharia, nº992 a 994 , pp. 95-122.
Salvado. (2006, outubro). Sistemas HIMAD. Boletim da Artilharia Antiaérea, nº6 II
Série , pp. 35-50.
Salvador. (2006, outubro). Sistemas de Armas SHORAD. Boletim da Artilharia
Antiaérea, nº6 II Série , pp. 7-33.
Salvador, G., Rodrigues, A., Gomes, M., & Capitulino, O. (2012, julho a setembro). A
Artilharia Antiaérea na Proteção de Infraestruturas Críticas do Território
Nacional. Revista de Artilharia, nº1043 a 1045 , pp. 295-312.
Santos. (2001, outubro). A Artilharia Antiaérea em Operações de Resposta a Crises.
Boletim da Artilharia Antiaérea, nº1 II Série , pp. 18-27.
Santos. (2007, julho a setembro). A Artilharia Portuguesa nas FND. Revista de
Artilharia, nº983 a 985 , pp. 233-266.
Santos. (2005, outubro). As Ameaças Emergentes. Boletim da Artilharia Antiaérea,
nº5 II Série , pp. 6-9.
Santos. (2002, junho/julho). Missão das Forças Armadas e Meios: Sistemas de
Forças. Revista Militar, nº2405/2406 , pp. 425-435.

420
A BATERIA HIMAD DO GRUPO DE ARTILHARIA ANTIAÉREA

Santos. (2008, julho a setembro). O Apoio de Fogos e a Defesa Antiaérea: Uma


Experiência Multinacional no NRDC-SP-HQ. Revista de Artilharia, nº995 a
997, pp. 223-244.
Silva, G. (2013, janeiro 4). Primeiros mísseis Patriot da NATO já chegaram à
Turquia. Retrieved março 27, 2014, from DNGLOBO: http://www.dn.pt/inicio/
globo/interior.aspx?content_id=2976673&seccao=M%E9dio%20Oriente
Unmanned Aerial Vehicle Systems Association. (2014). UAV or UAS? Retrieved abril
10, 2014, from Unmanned Aerial Vehicle Systems Association:
http://www.uavs.org/index.php?page=what_is
REVISTA DE ARTILHARIA

18

421
REVISTA DE ARTILHARIA

18
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RAAA1

EXERCÍCIO “NEPTUNO 142”

Realizou-se, de 3 a 7 de Novembro de 2014, na Região de Fonte dos


Morangos em Vieira de Leiria, o exercício de fogos reais de Antiaérea
“NEPTUNO 142”, da responsabilidade do Comando da Brigada de
Intervenção (BrigInt), com vista a proceder ao treino das unidades de
Artilharia Antiaérea (AAA).
O exercício “NEPTUNO 142”
teve como objetivos o treino de
nível tático diurno e noturno das
Guarnições dos sistemas míssil e
canhão, ocupação, organização e
segurança das posições de tiro,
bem como o treino de nível
técnico diurno e noturno dos
apontadores e dos respetivos
Encargos Operacionais.
A Força Operacional criada
para a realização do exercício

423
REVISTA DE ARTILHARIA

integrou Forças do Grupo de Artilharia Antiaérea sediadas no Regimento de


Artilharia Antiaérea nº 1 (RAAA1), a Bateria de Artilharia Antiaérea
(BtrAAA) das Forças de Apoio Geral, a BtrAAA da Brigada de Intervenção
(BrigInt), a BtrAAA da Brigada de Reação Rápida (BrigRR) e a BtrAAA da
Brigada Mecanizada (BrigMec).
Para além do Encargo Operacional, o exercício “NEPTUNO 142” contou
ainda com a participação ativa de uma delegação da Escola das Armas,
composta pelos Aspirantes a Oficial do Tirocínio para Oficial de Artilharia
(TPOA) 14/15 que guarneceram o sistema canhão Bitubo AA 20 mm/81.
O Exercício contou ainda com a participação de outras Forças em
apoios específicos, nomeadamente uma equipa de inativação de engenhos
explosivos (EOD) da Regimento de Engenharia N.º1, viaturas de transportes
especiais do Regimento de Transportes e de uma equipa de cobertura vídeo
fotográfica de Centro de Audiovisuais do Exército. É de salientar, ainda, o
apoio de várias entidades, militares e civis, na organização deste Exercício,
designadamente da Marinha de Guerra Portuguesa, da Força Aérea
Portuguesa, da Policia Marítima, da Guarda Nacional Republicana, dos
Bombeiros Voluntários de Vieira de Leiria e da Unidade de Gestão Florestal
do Centro Litoral.
No exercício “NEPTUNO 142” estiveram envolvidos cerca de 225
Militares, 43 viaturas, 38 tendas, 10 alvos aéreos do tipo “BATS”, 5 mísseis
MIM 72 destinados ao Sistema Míssil Chaparral, 1 míssil FIM 92 destinado
ao Sistema Míssil
REVISTA DEStinger
ARTILHARIAe 700 munições 20mm para o Sistema Canhão

Bitubo.
O Exercício contou com a presença de S. Ex.ª o Comandante da Brigada
de Intervenção, Major General Carlos Henrique de Aguiar Santos Duarte,
S. Ex.ª o Comandante da Brigada Mecanizada, Major General Luís Nunes
da Fonseca e do 2ºCmdt da Brigada de Reação Rápida, Coronel Tirocinado
Pedro Miguel Andrade da Fonseca Lopes que puderam constatar a eficácia
da sessão de fogos reais e muito especialmente o profissionalismo e a
eficiência do trabalho desenvolvido por todos os militares empenhados no
Exercício “NEPTUNO 142”.

424
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 4

EVOCAÇÃO DO CENTENÁRIO DA I GRANDE GUERRA

O Regimento de Artilharia Nº 4, como Entidade Primariamente


Responsável no âmbito da Artilharia para o Teatro de Operações de Angola
e Moçambique (2014) e para o Teatro de Operações Europeu (2017), no
distrito de Leiria de acordo com o conceito de ação para a Evocação do
Centenário da I Grande Guerra, juntamente com algumas “forças vivas”
da cidade, nomeadamente a
Câmara Municipal de Leiria, o
Núcleo de Leiria da Liga dos
Combatentes, a Escola Secun-
dária Francisco Rodrigues Lobo
e a Fundação Caixa Agrícola de
Leiria formou uma Comissão
Organizadora para a Evocação
do Centenário da I Grande
Guerra – Leiria.
Integrado nos eventos de
evocação, realizou-se no dia 11
de novembro 2014, nas insta-
lações da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo uma Exposição
Evocativa e um Colóquio dedicados ao tema ”Portugal e a Grande Guerra”.
Após as boas vindas apresentadas pela Diretora da Escola, Dra Isabel
Oliveira, a exposição foi aberta pelo Comandante do RA 4 que,
posteriormente ao agradecimento feito à Direção de História e Cultura
Militar e à Comissão Coordenadora para a Evocação do Centenário da I
Guerra Mundial, efetuou síntese a propósito do seu conteúdo. O evento
contou com a presença do Diretor de História e Cultura Militar, Major-
General João Manuel Santos de Carvalho, responsável pela elaboração e
cedência dos 22 roll-up constituintes daquela, assim como de algum material
museológico.
Seguiu-se o colóquio com a presença de quatro conferencistas, o
Comandante do RA4, Coronel de Artilharia Mendes Dias, Tenente Coronel
Marquês de Sousa, da Academia Militar, Coronel Luís Fraga e Professora
Doutora Fernanda Rollo, da Universidade Nova de Lisboa. A moderação
esteve a cargo do Professor Vitorino Guerra, da Escola Secundária Francisco
Rodrigues Lobo.

425
REVISTA DE ARTILHARIA

A ação contou com vasta audiência desde alunos da escola, a várias


entidades locais e distintos convidados. Cumpriu-se assim, julga-se, o
compromisso de honra de manter viva a memória de todos quantos, com o
seu esforço e sacrifício, honraram o nome de Portugal nos campos de batalha
da Flandres, de Angola e de Moçambique.

APRONTAMENTO DA LIGHTARTYBTY/NRF2015
– EXERCÍCIO APRONTEX 144
Inserido no aprontamento da Light Artillery Battery atribuída à
Immediate Response Forces/NATO Response Force 2015 (LightArtyBty/
NRF2015), o Exercício APRONTEX 144 decorreu no Campo de Tiro
(Alcochete, de 27OUT14 a 01NOV14) e na Escola das Armas (Mafra, de 01 a
06NOV14), envolvendo 109 militares e 26 viaturas.

Área de bivaque Regimagem dos obuses


da LightArtyBty/NRF2015. da LightArtyBty/NRF2015.

426
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

No Campo de Tiro, em Alcochete, o


exercício iniciou-se com a regimagem dos seis
obuses atribuídos à LightArtyBty/NRF2015,
seguindo-se a execução de uma pista didática
de Counter Improvised Explosive Devices (C-
IED) com o apoio de uma Equipa Explosive
Ordnance Disposal (EOD) da Companhia de
Engenharia do Regimento de Engenharia Nº 1.
A terminar a fase realizada em Alcochete,
foram treinadas técnicas, táticas e procedi-
mentos para Operações de Apoio à Paz.

Regimagem dos obuses da


LightArtyBty/NRF2015 com
recurso ao Radar MKIII-A

Comandante de Pelotão durante


um brífingue.

Militares da LightArtyBty/NRF2015
a operar em ambiente químico.

Na Escola das Armas, em Mafra, foi efetuado tiro rápido de posições


modificadas sem e com condicionamento físico, lançamento de granadas de
mão e tiro de lança granadas 40 mm. Posteriormente, e com o apoio de
militares da Escola das Armas, foi efetuado treino de técnicas de
transposição de obstáculos e de técnicas, táticas e procedimentos para
Combate em Áreas Edificadas (CAE), decorrendo simultaneamente treino
no simulador “laser shot”. No final do Exercício APRONTEX144 os militares
da LightArtyBty/NRF2015 tiveram oportunidade de aplicar todas as
técnicas num cenário realista com o uso de armamento air soft.

427
REVISTA DE ARTILHARIA

Militares da LightArtyBty/NRF2015 a Militares da LightArtyBty/NRF2015 a


efetuar tiro de espingarda automática treinar procedimentos de CAE.
GALIL com condicionamento físico.

Apesar da LightArtyBty/NRF2015 se ter constituído como audiência


primária de treino, o exercício envolveu ainda elementos do Comando e
Estado-Maior do Grupo de Artilharia de Campanha, do Regimento de
Artilharia Nº 4, da Brigada de Reação Rápida, que materializaram o escalão
superior da força e a avaliação do Exercício APRONTEX144.

TROVÃO 142 – EXERCÍCIO SETORIAL DO GRUPO DE


ARTILHARIA DE CAMPANHA

De acordo com o planeado no


Plano Integrado de Treino
Operacional do Exército para
2014 (PITOP 2014), o Grupo de
Artilharia de Campanha do
Regimento de Artilharia Nº 4 da
Brigada de Reação Rápida
(GAC/RA4/BrigRR) realizou no
Campo Militar de Santa Mar-
garida (CMSM), no período de 17
a 21 de novembro de 2014, o
Entrada em posição da LightArtyBty/NRF 2015.
Exercício TROVÃO 142.
O exercício, realizado na moda-
lidade de Live Exercise/Field Training Exercise (LIVEX/FTX), visando a
validação do treino tático, técnico e de procedimentos específicos de observação
e tiro de Artilharia de Campanha, envolveu 156 militares e 34 viaturas.

428
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

Com o intuito de maximizar as oportunidades de treino conjunto e


combinado, foram convidados a participar no exercício TROVÃO 142, duas
equipas de Observadores Avançados do Corpo de Fuzileiros e foi também
aproveitada a oportunidade para sincronizar ações de treino com uma equipa
de Forward Air Controller (FAC)
da Força Aérea Portuguesa e uma
Equipa Joint Terminal Attack
Controller (JTAC) da Holanda.
O exercício TROVÃO 142
assinalou também o culminar da
fase de aprontamento NRF da
LightArtyBty/NRF2015 tendo o
Exército Português convidado
um Tenente-Coronel (US Army)
REVISTA DE ARTILHARIA
e um Sargento-Mor (NL Army)
do HQ/LCC/NRF2015 para
acompanhar o exercício como
observadores. Treino de manobras de força.

429

18
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO RA 5

TOMADA DE POSSE DO 2.º COMANDANTE


DO REGIMENTO DE ARTILHARIA N.º 5

No dia 29 de setembro de 2014, tomou posse como 2.º Comandante do


Regimento de Artilharia N.º 5 (RA5), o TCor Art Hélder António da Silva Perdigão.
A cerimónia de tomada de posse realizou-se no Salão Nobre, tendo
contado com a presença dos Oficiais, Sargentos e uma delegação de Praças e
Funcionários Civis da Unidade, os quais apresentaram cumprimentos de
boas vindas ao novo 2.º Comandante.

EXERCÍCIO “URANO 146”


Decorreu nos dias 30 de setembro e 01 de outubro de 2014, no
Regimento de Artilharia N.º5 em Vendas Novas, o exercício de nível 2
“URANO 146”, com a finalidade treinar as competências de combate da 1.ª
Bateria de Bocas-de-fogo (1.ªBtrbf),
com vista à realização do exercício
URANO 14.
O exercício decorreu no Polígono
de Tiro de Vendas Novas, com a bateria
organizada a quatro secções de bocas-
-de-fogo, posto central de tiro, secção
de transmissões, secção de munições
e comando e secção de comando, com
um efetivo total de 65 militares e 11
viaturas.

430
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

O exercício teve como objetivo


treinar táticas, técnicas e procedi-
mentos do 1.ªBtrbf, assim como
treinar movimentos táticos e técnicas
de sobrevivência no campo de batalha.
No dia 30 de setembro foram trei-
nados os procedimentos ao nível da
bateria e no dia 01 de outubro foi
constituída uma equipa de avaliação
do GAC/BrigInt, com a finalidade
de introduzir incidentes e testar o
grau de operacionalidade da 1.ªBtrbf.

EXERCÍCIO “DRAGÃO 14”

A Brigada de Intervenção
(BrigInt), no âmbito da prepara-
ção e treino do seu Comando e
Estado-Maior, realizou, no período
de 06 a 15 de outubro, no concelho
de Moimenta da Beira, o Exercício
“DRAGÃO14”, na modalidade de
Command Post Field Exercise
(CFX), com o objetivo de treinar e
avaliar a BrigInt na condução de operações. Simultaneamente foi realizada,
pela IGE, uma CREVAL à CCS/BrigInt. O RA5 através do seu Grupo de
Artilharia de Campanha (GAC) participou no exercício com uma célula de
resposta, em Vendas Novas, no período de 12 a 15 de outubro.
O Exercício “DRAGÃO14” permitiu
ao GAC melhorar a sua proficiência
operacional no planeamento, coorde-
nação e controlo do apoio de fogos
num espetro de conflito de paz ins-
tável e em ações de alta intensidade
conduzindo uma operação de tipologia
defensiva. Foi testada a capacidade
de coordenação, controlo e conduta de
operações táticas, procedimentos de
apoio de serviços e de integração do

431
REVISTA DE ARTILHARIA

apoio de fogos, e pela primeira vez em Vendas Novas, implementado o


Sistema de Informação para o Comando e Controlo do Exército (SICCE).
Em simultâneo com o exercício “DRAGÃO14”, decorreu na Região de
Vendas Novas o exercício “URANO 14” do GAC/BrigInt, com uma Bateria de
Bocas-de-fogo e o Pelotão de Aquisição de Objetivos. Esta integração foi
atingida com sucesso, o GAC conseguiu materializar no terreno os planos do
escalão superior e parte dos incidentes injetados pelas equipas de avaliação.

EXERCÍCIO “URANO 14”

O Grupo de Artilharia de Campanha


(GAC) do RA5 executou em Vendas Novas
no período de 13 a 16 de outubro de 2014
o Exercício “URANO 14”, enquadrado nas
atividades de treino operacional da Brigada
de Intervenção, destinado à manutenção
das capacidades operacionais, quer no
plano individual quer coletivo do GAC.
O exercício decorreu no Polígono de
Tiro de Vendas Novas e na Herdade da
Afeiteira, tendo sido conduzido em duas
fases: uma fase destinada a treinar
procedimentos táticos apoiada no cenário
“AMARIL” e a outra fase destinada a
treinar procedimentos técnicos do tiro de
Artilharia com a realização de fogos reais
diurnos e noturnos.
Participaram no exercício o Comando
e Estado-Maior do GAC, Bateria de
Comando e Serviços, a 1.ª Bateria de
Bocas-de-fogo (1.ªBtrbf) e o Pelotão de
Aquisição de Objetivos (PAO). A 1.ªBtrbf
constituiu-se como audiência primária de
treino com um efetivo de 70 militares e 12
viaturas, o PAO participou com 31 mili-
tares e 10 viaturas tendo-se constituído
como audiência secundária de treino, no
total estiveram envolvidos no exercício
149 militares e 32 viaturas.

432
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

CERIMÓNIA EVOCATIVA DO CENTENÁRIO DA


I GRANDE GUERRA – MONTEMOR-O-NOVO

No dia 8 de novembro, pelas 11H00, realizou-se no Largo General


Humberto Delgado, em Montemor-o-Novo, a Cerimónia Evocativa do
Centenário da I Grande Guerra (GG). No decorrer desta Cerimónia foi
também descerrada uma placa, no Monumento aos Combatentes da GG,
com a finalidade de perpetuar o nome dos combatentes do concelho de
Montemor-o-Novo, que tombaram no Ultramar ao serviço de Portugal. O
Regimento de Artilharia N.º 5 (RA5) participou no evento com uma força
militar de escalão Secção e a Fanfarra do Regimento de Artilharia
Antiaérea N.º 1.
Esta cerimónia foi presidida pelo 2.º Comandante do RA5, TCor Art
Hélder António da Silva Perdigão e contou com a presença da Presidente da
Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Dr.ª Hortênsia Menino entre
outras entidades locais

COMEMORAÇÕES DO DIA DA ARMA DE ARTILHARIA


E JURAMENTO DE BANDEIRA DO 2.º CFGCPE/2014

No passado dia 5 de dezembro de 2014, realizaram-se no Regimento de


Artilharia N.º 5 (RA5) em Vendas Novas, as comemorações do dia da Arma
de Artilharia e o Juramento de Bandeira do 2.º Curso de Formação Geral
Comum de Praças do Exército (2.º CFGCPE) de 2014.
A cerimónia foi presidida por S. Exa. o Chefe do Estado-Maior do
Exército, General Carlos António Corbal Hernandez Jerónimo, tendo

433
REVISTA DE ARTILHARIA

também marcado presença, entre outras entidades, o Exmo. General Pinto


Ramalho. Esta efeméride contou ainda com a presença de vários Oficiais
Generais do ativo e na situação de Reserva e Reforma, entre os quais
antigos Comandantes da ex-Escola Prática de Artilharia e do RA5, bem
como diversos militares e entidades civis convidadas para o evento. Da
cidade de Vendas Novas estiverem presentes representantes de diversos
organismos e instituições locais, destacando-se o Exmo. Presidente da
Câmara Municipal de Vendas Novas, Dr. Luís Carlos Piteira Dias.
O dia festivo iniciou-se às sete horas com a realização da alvorada
festiva pela Fanfarra da Brigada de Intervenção (BrigInt), a que se seguiu
pelas 08H00 o Içar da Bandeira Nacional com toque festivo e uma missa na
Capela Real do Palácio das Passagens, por intenção dos militares já
falecidos, a qual foi presidida pelo Capelão Chefe do Exército, Coronel SAR
Jorge Matos.
À chegada de S. Exa. o Chefe do Estado-Maior do Exército, pelas
09H20, foram prestadas as honras protocolares na Parada El-rei D. Pedro
V, com Guarda de Honra e 19 Salvas de Artilharia executadas pela Bateria
de Salvas do RA5. Seguidamente, pelas 09H50, teve lugar a cerimónia de
Homenagem aos Artilheiros Mortos em Defesa da Pátria, com um Pelotão
de Guarda de Honra do RA5 e a Fanfarra da BrigInt.
Dando continuidade ao programa das festividades, teve lugar pelas
10H00, na Parada General Bernardo de Faria, a cerimónia militar que teve
o seu início com a prestação de continência a S. Exa. o Gen CEME pelas
Forças em Parada, seguindo-se a prestação de continência ao Estandarte
Nacional que foi integrado na formatura.
As Forças em Parada, sob o comando do 2.º Comandante do RA5, TCor
Art Silva Perdigão, eram constituídas pela Banda do Exército, Fanfarra da
BrigInt, Estandarte Nacional e respetiva escolta, Bloco de Estandartes das
Unidades de Artilharia, uma Bateria do RA4, duas Baterias do RA5, sendo
uma constituída por quatro Pelotões do 2.º CFGCPE, uma Bateria do
RAAA1 e uma Bateria Mista a dois Pelotões, sendo um Pelotão do
GAC/BrigMec e outro da BtrAAA/BrigMec.
Após o Comandante da 2.ª Bateria de Bocas-de-fogo do GAC/BrigInt,
Cap Art Charréu Santos ter proferido uma alocução alusiva à Ratificação do
Juramento de Bandeira, usou da palavra o Exmo. Diretor Honorário da
Arma de Artilharia (DHAA), TGen Frederico José Rovisco Duarte, tendo
relembrado algumas das suas palavras por ocasião desta cerimónia no ano
anterior, onde afirmou que “a Arma de Artilharia precisava de referências,
de olhar para os seus Oficiais mais ilustres”, referindo um sentimento
de alegria pela ilustre presença do Exmo. General Pinto Ramalho e

434
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

simultaneamente de tristeza pela “partida” do Exmo. General Espírito


Santo, o qual sempre marcou presença no Dia da Artilharia.
No que concerne à Artilharia e ao seu futuro, o DHAA realçou que se
trata de uma Arma de equipamentos dispendiosos, de avultados custos de
formação, mas que é necessário manter todo o seu saber, sendo uma das
vias, potenciar a utilização de sistemas de simulação, tendo-se referido
neste contexto à aprovação, por parte do Comando do Exército, de um guia
para a Simulação no Exército. Em termos de discussão dos caminhos a
seguir nas vertentes técnico-táticas, o Exmo. TGen Rovisco Duarte frisou a
necessidade de se continuarem a realizar as jornadas técnicas.
O DHAA enalteceu o Comando do RA5 no que respeita ao cumprimento
atempado das determinações do Comando do Exército no âmbito do processo
de transferência do Regimento para Vendas Novas, relevando ainda o papel
do Regimento de Artilharia N.º 4 (RA4) no apoio às comemorações, não
obstante o esforço que a Unidade tem feito no aprontamento da subunidade
disponibilizada para a NRF 2015. Por fim, o DHAA fez ainda uma
referência ao conjunto alargado de militares que vêm dedicando muito do
seu tempo de lazer à história e cultura da Arma, designadamente à conceção
e implementação do Espaço Museológico de Artilharia de Costa, nas
comemorações do Centenário da Grande Guerra e na Revista de Artilharia,
tendo igualmente saudado os artilheiros presentes nas FND ou fora do
território nacional, bem como aos artilheiros do RG2 e RG3, onde também
se realizaram cerimónias de Juramento de Bandeira no dia 5 de dezembro.
S. Exa. o Gen CEME, proferiu de seguida uma alocução, onde começou
por manifestar a sua satisfação em se associar, na qualidade de
Comandante do Exército, ao evento em apreço, sem no entanto deixar de
recordar a memória do Exmo. General Espírito Santo, como figura impar de
militar e de cidadão. Relativamente à Arma de Artilharia, abordou algumas
áreas como a necessidade imperativa de avaliar as necessidades de
reorganização e reequipamento, tanto na vertente de Artilharia de
Campanha como na de Antiaérea, bem como a conclusão de todos os
processos de ajustamento no âmbito da transformação em curso no Exército.
Numa altura em que o novo EMFAR é tema de preocupação por parte
dos militares, o Comandante do Exército apelou à serenidade, que como
característica dos artilheiros deve imperar para evitar precipitações. No
términus da sua alocução, S. Exa. o Gen CEME aludiu ainda ao significado
do Juramento de Bandeira e expressou o seu otimismo e confiança perante
as adversidades atuais, referindo poder contar com a determinação,
perseverança, coesão e disciplina dos militares que servem na Arma de
Artilharia e nas suas unidades.

435
REVISTA DE ARTILHARIA

A cerimónia compreendeu ainda a imposição de diversas condecorações


a militares que se distinguiram pelos serviços prestados ao Exército, a que
se seguiu a leitura dos deveres militares, a ratificação do Juramento de
Bandeira do 2.º CFGCPE e o desfile das Forças em Parada, prestando
continência ao Estandarte Nacional.
Todos os presentes tiveram ainda oportunidade de assistir a uma
demonstração de atividades por parte dos militares do 2.º CFGCPE, que
terminou com a entoação do Hino da Artilharia, e a uma demonstração da
Bateria de Artilharia de Campanha do RA4 que se encontra em fase de
aprontamento para a NRF 2015.
Antes do tradicional almoço de confraternização, decorreu uma sessão
no auditório do RA5 que compreendeu:
 A entrega do prémio da Revista de Artilharia 2014, pelo Exmo.
Presidente da Comissão Executiva, MGen Ulisses de Oliveira, ao
TCor Art Silva Perdigão, tendo por base um artigo inovador e atual
sobre “Os Novos Desafios do Targeting”;
 A apresentação de um ponto de situação do Museu Militar de
Artilharia de Costa pelo Presidente da Comissão Instaladora deste
espaço museológico, Cor Tir Art Morgado Batista;
 Algumas reflexões sobre o papel da artilharia nos conflitos atuais,
designadamente o conflito na Ucrânia, pelo Maj Art Pedro Amador, e
o conflito com o estado islâmico, pelos Maj Art Sandro Geraldes e
Alvarinho, terminando com umas conclusões proferidas pelo Maj Art
José Mimoso;
 O lançamento do livro “O Legado da Artilharia da Serra do Pilar”,
pelo Comandante do RA5, Cor Art Pardal dos Santos.

Esta sessão de atividades Artilheiras, simples mas plena de significado


para os todos os presentes, culminou com o tradicional toque da “sulipanta”
pela Fanfarra da BrigInt.
Durante a hora do almoço houve ainda a oportunidade para os
convidados visitarem a nova sala “Escola Prática de Artilharia”, espaço
evocativo da ex-EPA, onde se encontra o espólio e o acervo documental e
honorífico, deixado pelos diversos Comandantes que tiveram a honra e o
privilégio de Comandar a EPA ao longo dos 152 anos da sua existência.
No final do almoço de confraternização, S. Exa. o Gen CEME assinou o
Livro de Honra do RA5, ato último da sua presença no Dia da Arma de
Artilharia.

436
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO GAC/BrigMec

EXERCÍCIO “ONÇA 142”

Realizou-se, no período de 24NOV14 a 28NOV14, o Exercício “ONÇA


142” que se enquadra no plano de treino da Brigada Mecanizada (BrigMec)
para o 2º semestre de 2014 com a finalidade de treinar e avaliar o Apoio de
Fogos (AF) da Força Mecanizada (FMec) 14.
O Exercício teve como base o cenário desenvolvido para o "ORION 15"
que decorre da eclosão de um conflito entre Estados e da consequente
intervenção da Comunidade Internacional (CI), materializada pelo envio de
uma Initial Entry Force (IEF). Esta força constitui posteriormente uma
Combined Joint Task Force (CJTF) com a missão de
conduzir uma operação ofensiva. No “ONÇA 142”
realizou-se também uma sessão de Fogos Reais no
dia 27NOV14 com a utilização de 4 Obuses M109
A5 155mm. Nas missões de tiro executadas foram
consumidas 33 munições HE e 18 HC.
O exercício contou com a participação do
Estado-Maior do GAC, a 2ª Bateria de Bocas de
Fogo e a Bateria de Comando e Serviços com um
efetivo total de 11 Oficiais, 24 Sargentos e 91 Praças.

CURSO DE ARTILHARIA AUTOPROPULSADA 2014

No período de 13OUT14 a 07NOV14, decorreu no Grupo de Artilharia de


Campanha da Brigada Mecanizada (GAC/BrigMec), o Curso de Artilharia Auto-
propulsada (CAAP) 2014 para Oficiais e Sargentos do Quadro Permanente.

437
REVISTA DE ARTILHARIA

O objetivo deste curso consiste em habilitar os formandos com as


Táticas, Técnicas, e Procedimentos específicos do material de Artilharia de
Campanha que equipa o GAC/BrigMec, nomeadamente, o Obus AP M109 A5
155mm, assim como, dotar os formandos com as qualificações técnicas
essenciais para o desempenho das funções inerentes aos seus cargos
imediatos. No que diz respeito aos Oficiais, no desempenho das funções de
Comandante de Bateria, Comandante de Bateria de Tiro e Formador na
área do material Obus AP M109 A5 155mm. No caso dos Sargentos, no
desempenho das funções de Comandante de Secção e também de Formador
na área do material Obus M109 A5 155mm.

Neste curso participaram 09 militares, dos quais: 01 Major de


Artilharia, 04 Tenentes, 01 Alferes e 03 Sargentos de Artilharia. É de
referir que estes 4 últimos militares ingressaram no Quadro Permanente
em 01OUT14, tendo sido colocados no GAC/BrigMec.
O CAAP 2014 teve a duração de 04 semanas de formação, sendo que a
sua estrutura modular foi constituída por 05 módulos formativos, nomeada-
mente: Tática de Artilharia, Material (Obus AP M109 A5 155mm); Escola
de Secção; Manutenção e a Viatura de Transporte de Munições M548);
Educação Física Militar; Cerimónias de
Abertura e Encerramento do Curso e o
Exercício Final, que irá decorrer em
simultâneo com o Exercício “Onça 142”
(24 a 28NOV14).
Neste curso foram empenhados 07
formadores pelos vários módulos forma-
tivos e utilizados ainda 02 Obuses M109
A5 155mm e 01 Viatura de Munições
M548.

438
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

VISITA DA AFCEA AO GAC/BRIGMEC

Realizou-se no passado dia 11


de novembro de 2014, a visita da
Associação para as Comunicações,
Eletrónica, Informações e Sistemas
de Informação para Profissionais
(AFCEA) ao Grupo de Artilharia de
Campanha da Brigada Mecanizada
(GAC/BrigMec). Nesta visita
participaram 17 elementos desta
Associação, entre os quais se
encontravam diversos antigos
militares das Forças Armadas,
acompanhados pelo Comandante da Brigada Mecanizada, o Exmo. Major
General Luís Fonseca. Após um breve brífingue dado pelo Comandante do
GAC/BrigMec, Tenente Coronel Joaquim Cardoso os visitantes tiveram a
oportunidade de se familiarizar com o Obus M109A5 155 mm AP e com as
capacidades e possibilidades do Sistema Automática de Comando e Controlo
(SACC) com especial relevância para o Advanced Field Artillery Tactical
Data System (AFATDS).

REVISTA DE ARTILHARIA

439
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DA BAA/BrigMec

DIA DA BATERIA DE ARTILHARIA ANTIAÉREA DA


BRIGADA MECANIZADA (BTRAAA/BRIGMEC)

Teve lugar, no passado dia 30 de outubro de 2014, o dia da Bateria de


Artilharia Antiaérea da Brigada Mecanizada (BtrAAA/BrigMec), assina-
lando-se 23 anos após a transferência da BtrAAA para o Campo Militar de
Santa Margarida (CMSM) e a data da emissão da primeira Ordem de
Serviço.

A cerimónia foi presidida pelo Comandante da Brigada Mecanizada,


Major General Luís Nunes da Fonseca, contando com a presença de
entidades protocolares da BrigMec e antigos militares da BtrAAA. As
alocuções do Comandante da BtrAAA e do MGen Cmdt BrigMec
antecederam a imposição de
condecorações a militares da
Unidade, sendo referido que as
condições que a BtrAAA apresenta
por estar aquartelada no CMSM
constituem um recurso ímpar e
verdadeiramente relevante para o
treino operacional e para o
aperfeiçoamento dos militares de
Artilharia Antiaérea (AAA).
Destacou-se a importância dos

440
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

recursos humanos e materiais, ingredientes vitais para o desenvolvimento


do produto operacional da BtrAAA, sendo mencionada a preocupação
existente com o impacto da atual conjuntura, nomeadamente ao nível da
retenção de Pessoal na Unidade.
Após a cerimónia militar, teve lugar uma exposição estática de
materiais de AAA, seguindo-se um almoço convívio na antiga messe de
Sargentos do QA.

TREINO CONJUNTO DA BTRAAA/BRIGMEC COM A


ESQUADRA 502 “ELEFANTES” DA FAP

Em 10 de Dezembro de 2014
decorreu um treino conjunto entre
a Esquadra 502 da Força Aérea
Portuguesa (FAP) e a Bateria de
Artilharia Antiaérea (BtrAAA) da
Brigada Mecanizada no Campo
Militar de Santa Margarida.
Este treino técnico, com a
duração de aproximadamente uma
hora, teve lugar por iniciativa da
FAP e visou o treino de Guerra
Eletrónica por parte da Esquadra 502 com meios de defesa antiaérea do
Exército, bem como a adoção de medidas de reação à deteção e
empenhamento por sistemas de Antiaérea. Para tal a Esquadra 502
participou com uma aeronave C-295 e a BtrAAA com dois sistemas míssil
ligeiro M-48 A3 Chaparral, um Radar de aviso local AN/MPQ 49B Forward
Area Alerting Radar (FAAR) e 20 militares dos Pelotões de Chaparral e
Radar. A atividade iniciou-se com a
aterragem da aeronave na pista,
tendo desembarcado dois pilotos em
fase de qualificação com aeronave
dotados de meios de comunicações
com a mesma, que foram posicio-
nados junto a cada sistema de armas.
Posteriormente a aeronave descolou e
iniciou várias abordagens à zona de
posições das Secções Chaparral, que
estavam equipadas com um míssil de

441
REVISTA DE ARTILHARIA

treino M30 com secção de guiamento real, um interrogador de Identification


Friend or Foe (IFF) e extintores de incêndio, que foram utilizados como
simulação do lançamento de um míssil, para que a aeronave adotasse perfis
de fuga.
Este treino provou ser de
elevada importância para ambas
as partes, na medida em que foi
possível aos pilotos presenciarem
os passos de deteção, aquisição
e empenhamento por parte do
sistema míssil Chaparral, bem
como para as guarnições terem a
perceção de quando a aeronave
identifica que está a ser adqui-
rida, realizarem os procedimento de conduta de tiro com uma aeronave real
e visualizarem os procedimentos de fuga que a aeronave adota nessa situação.

NOTÍCIA EXERCÍCIO “RAPOSA 142”

No período de 24 a 28 de
Novembro de 2014 teve lugar o exer-
cício sectorial da Bateria de Artilharia
Antiaérea (BtrAAA), “RAPOSA 142”,
que decorreu no campo militar de
Santa Margarida (CMSM), na região
das Portas da Mariola e nas ime-
diações da pista de aviação, inserido
no ciclo do treino operacional do 2º

Semestre, com vista ao treino e ava-


liação das Secções e Pelotões da Bateria
de Artilharia Antiaérea (BtrAAA) perten-
centes ao Módulo de Defesa Antiaérea
da Força Mecanizada, no cumprimento
de tarefas no âmbito das operações
ofensivas e de estabilização.
Integraram o exercício 47 mili-
tares, a par de três sistemas míssil

442
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

ligeiro M48A3 Chaparral, um sistema radar de aviso local Forward Area


Alerting Radar (FAAR), uma viatura PC M113 e 5 viaturas de rodas. Dos
objetivos estabelecidos para o exercício, destacam-se o nivelamento e
consolidação da técnica individual de combate (TIC), bem como das técnicas,
táticas e procedimentos (TTP) selecionadas no âmbito das operações
ofensivas e de estabilização, exercitar e nivelar procedimentos de comando e
controlo e administrativo-logísticos ao nível da BtrAAA e das suas
subunidades e integrar as TTP passíveis de serem cumpridas no âmbito das
operações ofensivas e de estabilização em paralelo com o cumprimento
das missões primárias de defesa
antiaérea de nível Pelotão. Com base
no Comando da Bateria foi constituída
uma equipa de avaliação e controlo do
exercício para verificar a reação por
parte das subunidades da BtrAAA
perante os incidentes criados, muitos
deles materializados com forças cenário
provenientes do Esquadrão de Reco-
nhecimento da Brigada mecanizada,
(ERec/BrigMec). No final do exercício
os militares REVISTA
tiveram ainda oportunidade de realizar uma pista tática, onde
DE ARTILHARIA

foram postos em prática os conhecimentos de TIC.


Este exercício revestiu-se de especial importância para a Unidade, na
medida em que permitiu validar a instrução ministrada ao longo do 2º ciclo
de treino operacional, consolidando os conhecimentos adquiridos, prepa-
rando os militares e as subunidades da BtrAAA para o próximo ciclo de
treino operacional com início em 2015, que se perspetiva deveras desafiante
em termos de objetivos.

443
REVISTA DE ARTILHARIA

NOTÍCIAS DO QUARTEL DA ARTILHARIA


DA BRIGADA MECANIZADA

QUARTEL DA ARTILHARIA APOIAA “ASSOCIAÇÃO


VIDAS CRUZADAS”
A “Associação Vidas Cruzadas”
é uma associação de desenvolvi-
mento pessoal e comunitário de Soli-
dariedade Social sem fins lucrativos,
sedeada no Tramagal desde 2007,
preocupada em intervir socialmente
na comunidade em que se insere,
sendo reconhecida como Entidade
de Utilidade Pública.
O Quartel da Artilharia (QArt),
com participação do Grupo de
Artilharia de Campanha (GAC) e
da Bataria de Artilharia Antiaérea (BtrAAA), desenvolveu mais uma ação
da solidariedade com a “Associação Vidas Cruzadas”, angariando solidária-
mente roupa, brinquedos e alguns pequenos eletrodomésticos, tendo em
vista gerar uma singela contribuição
para a referida instituição.
No dia 18 de Setembro, o Coman-
dante do QArt, TCorArt Joaquim
Agostinho da Cruz Oliveira Cardoso e o
Comandante da BtrAAA, Cap Art José
Miguel Sequeira Maldonado, fizeram a
entrega dos bens recolhidos à Direção
da “Associação Vidas Cruzadas” na
Loja Social no Tramagal.

QUARTEL DA ARTILHARIA ORGANIZA


O CAMPEONATO DESPORTIVO MILITAR DE
ORIENTAÇÃO DA BRIGADA MECANIZADA – FASE II

Realizou-se de 14 a 16 de outubro 2014, o Campeonato Desportivo


Militar de Orientação da Brigada Mecanizada – Fase II, tendo a sua
organização sido cometida ao Quartel da Artilharia. Este evento esteve

444
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

dividido em duas fases distintas, a primeira decorreu nos dias 14 e 15 de


outubro, com uma prova de distância longa e uma prova de distância média,
respetivamente. A última fase decorreu no dia 16 com uma prova de estafeta.
Este Campeonato teve como obje-
tivo contribuir para a divulgação da
imagem da Brigada Mecanizada,
desenvolver o espírito de corpo, e da
sã camaradagem e do convívio des-
portivo entre as diversas Unidades
da Brigada Mecanizada.
As localizações destes eventos foram,
na primeira fase, no Sardoal (Parque
de Merendas) e em Abrantes (Parque
de São Lourenço), na segunda fase.
Neste campeonato destacou-se a
elevada aderência e competitividade
dos atletas, contando com a partici-
pação, na primeira fase de 136 mili-
tares, divididos em 3 escalões masculi-
nos e um escalão feminino, em repre-
sentação de todas as unidades da
brigada mecanizada, com exceção do
1º Batalhão de Infantaria Mecani-
zado. Na segunda fase, prova de
estafetas, participaram 69 atletas.
Ao longo dos três dias de prova, os atletas participantes demonstraram,
além de um elevado desportivismo, um forte espírito de corpo bem visível na
aguerrida, mas saudável competição entre as diversas equipas partici-
pantes, numa modalidade que faz “jus” à condição militar, tendo a Equipa
vencedora sido o 2º Batalhão de Infantaria Mecanizado.
O Campeonato foi encerrado no
dia 17 de outubro, com uma ceri-
mónia de entrega de prémios e um
almoço convívio no Pavilhão Gimno-
desportivo da Brigada Mecanizada.
Colaboraram para a realiza-
ção deste campeonato as Câmaras
Municipais do Sardoal, de Abrantes
e o Cube de Orientação e Aventura
de Abrantes.

445
REVISTA DE ARTILHARIA

ENTREGA DO “PRÉMIO REVISTA DE ARTILHARIA”


2014

No passado dia 5 de Dezembro de 2014, durante as comemorações do


dia da Arma de Artilharia e da sua Padroeira Santa Bárbara, no Regimento
de Artilharia N.º5 em Vendas Novas, foi entregue o Prémio “Revista de
Artilharia”.
A cerimónia foi presidida por S. Exa. o Chefe do Estado-Maior do
Exército, General Carlos António Corbal Hernandez Jerónimo na presença
do Exmo. Diretor Honorário da Arma de Artilharia, Tenente-General
Frederico José Rovisco Duarte e pelo Coronel de Artilharia António José
Pardal dos Santos, Comandante do Regimento de Artilharia N.º5, que
constituíram a mesa de honra.

O 1º Prémio “Revista de Artilharia” foi entregue pelo Exmo. Presidente


da Comissão Executiva da Revista de Artilharia, Major-General Ulisses
Joaquim de Carvalho Nunes de Oliveira, ao Tenente-Coronel de Artilharia
Hélder Silva Perdigão, autor do artigo “Novos desafios do Targeting”
publicado na Revista de Artilharia de Outubro a Dezembro de 2013, tendo
merecido esta distinção no cumprimento do regulamento aprovado para este
prémio e de acordo com a análise dos parâmetros a que deve obedecer, tidos
em consideração pela Comissão Executiva da Revista de Artilharia.

446
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

JANTAR DE ARTILHARIA DO IESM

No dia 19 de novembro
realizou-se o habitual jantar
de Artilharia do Instituto de
Estudos Superiores Militares
(IESM). Este jantar contou
com a presença de Oficiais de
Artilharia, antigos professores
do Instituto de Altos Estudos
Militares e do atual corpo
docente do IESM. Estiveram
também presentes todos os Oficiais que frequentam cursos no IESM,
nomeadamente, os auditores do Curso de Promoção a Oficial General,
os alunos do Curso de
Estado-Maior Conjunto
e do Curso de Promoção
a Oficial Superior. O
REVISTA DE ARTILHARIA convívio proporcionou
agradáveis momentos
de confraternização arti-
lheira entre várias gera-
ções e contou com a
presença de 52 Oficiais
de Artilharia.

447
REVISTA DE ARTILHARIA

ABERTURA DO NOVO SITE

CEM ANOS DE SABER, ERUDIÇÃO, DEDICAÇÃO


E SERVIÇO”

Digníssimos Sócios da Revista de Artilharia,

O Exmo. Major-General Presidente da Comissão Executiva da Revista


de Artilharia (RA) encarrega-me de informar que o sitio na internet da nossa
Revista já se encontra disponível desde o dia 1 de Outubro de 2014, podendo
ser acedido através do endereço: http://www.revista-artilharia.pt.
Conforme foram oportunamente informados era objetivo desta Comissão
Executiva reativar o sítio da Revista, com utilização mais eficiente das
novas tecnologias, no intuito de melhor potenciar esta publicação nas áreas
técnica, tática, científica, cultural ou outras de interesse coletivo dos
Artilheiros, que constituem objetivo primordial da Revista de Artilharia,
que muito nos honra e distingue. Neste sentido pretende-se sucintamente
informar de algumas potencialidades do sítio, que a seguir se descrevem.
No campo das “Publicações” os visitantes que são sócios da Revista
podem consultar e guardar as últimas edições da Revista em formato
digital, assim como procurar e consultar individualmente cada um dos
artigos publicados.
Através do campo das “Notícias” e atividades “Em Destaque” o sítio
constitui-se num espaço de divulgação e informação de diversos eventos, tais
como colóquios ou seminários, de natureza estritamente militar relacio-
nados com a Artilharia.
Os sócios Artilheiros ex-Combatentes também têm o seu espaço
disponível, podendo agendar as suas atividades, tais como reuniões ou
convívios, através do campo “Antigos Combatentes”, sendo disponibilizado
para tal um link de inscrição correspondente ao evento. Para anunciar um
evento no sítio basta solicitar através dos contactos da Revista de
Artilharia, por telefone ou através de e-mail. As inscrições para cada evento
poderão ser efetuadas no campo “Antigos Combatentes”, possibilitando a
visualização e acompanhamento das mesmas.
Para usufruir de todas as potencialidades do sítio os sócios deverão
efetuar a sua inscrição on-line, sendo suficiente realizar o respetivo
“Registo”, após o qual se poderá aceder à “Área Reservada” e, entre outras,
verificar os dados pessoais ou o estado das suas anuidades.

448
NOTÍCIAS DA NOSSA ARTILHARIA

Poderá regularizar as suas anuidades no campo “Pagamentos”, sendo


gerado automaticamente informação para a conta pessoal de e-mail.

449
REVISTA DE ARTILHARIA

O Editor
TIAGO SOARES DE CASTRO
Cap Art

450
PARTE
PARTEOFICIAL
OFICIAL

PARTE
PARTE OFICIAL
OFICIAL

I.I.LEGISLAÇÃO
LEGISLAÇÃO
a.a. RESOLUÇÕES
RESOLUÇÕESDA DAASSEMBLEIA
ASSEMBLEIADA
DAREPÚBLICA
REPÚBLICA
Resolução da AR n.º 82/2014
Resolução da AR n.º 82/2014
Prorrogação
Prorrogação dodo prazo
prazo dede funcionamento
funcionamento dada Comissão
Comissão Parlamentar
Parlamentar dede Inquérito
Inquérito aos
aos
Programas
Programas Relativos à Aquisição de Equipamentos Militares (EH-101, P-3 Orion,C-295,
Relativos à Aquisição de Equipamentos Militares (EH-101, P-3 Orion, C-295,
torpedos,
torpedos,F-16,
F-16,submarinos,
submarinos,Pandur
PandurII)
II)
b.b. DESPACHOS
DESPACHOS
(1)
(1)Comando
Comandodo
doExército
Exército
Gabinete
Gabinetedo doCEME
CEME
Despacho
Despacho n.º 12824/2014:
n.º 12 824/2014:
Delegação
Delegaçãodedecompetências
competênciasnonoMajor-General
Major-GeneralDiretor-Coordenador
Diretor-CoordenadordodoEME
EME
Despacho
Despachon.º n.º12
12973/2014:
973/2014:
Delegação
Delegaçãodedecompetências
competênciasnonoTenente-General
Tenente-GeneralVCEME
VCEME

II.
II.PESSOAL
PESSOAL
A.A.OFICIAIS
OFICIAIS
1.1.CONDECORAÇÕES
CONDECORAÇÕES
Medalha
Medalhade deServiços
ServiçosDistintos
Distintos– –Grau
GrauPrata
Prata
TCor Art (10836685) José Manuel Vinhas Nunes;
TCor Art (10836685) José Manuel Vinhas Nunes;
TCor
TCorArt
Art(04626886)
(04626886)João
JoãoAlberto
AlbertoCabecinha
CabecinhaQuaresma
QuaresmaFurtado
FurtadodedeAlmeida.
Almeida.
Medalha
Medalhade deMérito
MéritoMilitar
Militar– –2ª2ªClasse
Classe
TCor Art (05539186) António Jaime Gago Afonso.
TCor Art (05539186) António Jaime Gago Afonso.

II
REVISTA DE ARTILHARIA
REVISTA DE ARTILHARIA

Medalha de Mérito Militar – 3ª Classe


Medalha de Mérito Militar – 3ª Classe
Cap Art (13782296) Artur Jorge Mendes Ribeiro de Sousa Alves.
Cap Art (13782296) Artur Jorge Mendes Ribeiro de Sousa Alves.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 1ª Classe
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 1ª Classe
Cor Art (12469086) Carlos Manuel Mendes Dias.
Cor Art (12469086) Carlos Manuel Mendes Dias.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 2ª Classe
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 2ª Classe
Maj Art (04641194) Francisco Vítor Gomes Salvador.
Maj Art (04641194) Francisco Vítor Gomes Salvador.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 3ª Classe
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército 3ª Classe
Cap Art (01597594) João Francisco Dias Pimenta;
Cap Art (01597594) João Francisco Dias Pimenta;
Cap Art (19596001) Carlos Miguel Barrelas Soares.
Cap Art (19596001) Carlos Miguel Barrelas Soares.
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Ouro
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Ouro
TCor Art (12291384) Hóracio José de Sousa Lopes;
TCor Art (12291384) Hóracio José de Sousa Lopes;
TCor Art (11877881) Vítor Manuel Simões de Oliveira.
TCor Art (11877881) Vítor Manuel Simões de Oliveira.
Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais
Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais
TCor Art (12440187) José Fraga Figueiredo da Conceição “Afeganistão 2011-12”;
TCor Art (12440187) José Fraga Figueiredo da Conceição “Afeganistão 2011-12”;
Maj Art (04117090) João Pedro Fernandes Almeida Machás “Afeganistão 2013-14”;
Maj Art (04117090) João Pedro Fernandes Almeida Machás “Afeganistão 2013-14”;
Maj Art (01597594) João Francisco Dias Pimenta “Angola 2012-14”.
Maj Art (01597594) João Francisco Dias Pimenta “Angola 2012-14”.

2. PROMOÇÕES
2. PROMOÇÕES
Coronel
Coronel
TCor Art (10717084) José António de Figueiredo Rocha.
TCor Art (10717084) José António de Figueiredo Rocha.
Tenente-Coronel
Tenente-Coronel
Maj Art (17926187) António João Guelha da Rosa;
Maj Art (17926187) António João Guelha da Rosa;
Maj Art (10075390) Renato Afonso Gonçalves de Assis;
Maj Art (10075390) Renato Afonso Gonçalves de Assis;
Maj Art (01931587) Luís Filipe Ventura dos Santos.
Maj Art (01931587) Luís Filipe Ventura dos Santos.
Major
Major
Cap Art (02337795) Paulo Sérgio de Almeida Rodrigues;
Cap Art (02337795) Paulo Sérgio de Almeida Rodrigues;
Cap Art (13124096) Rodolfo Luís Carvalho Martins Gomes;
Cap Art (13124096) Rodolfo Luís Carvalho Martins Gomes;
Cap Art (08096595) Henrique Manuel Mota de Azevedo;
Cap Art (08096595) Henrique Manuel Mota de Azevedo;
Cap Art (15683195) António Costa Macedo Sousa Franco.
Cap Art (15683195) António Costa Macedo Sousa Franco.
Alferes
Alferes
Asp Al (00098211) Tiago David Henriques Silva;
Asp Al (00098211) Tiago David Henriques Silva;
Asp Al (05519104) Diogo Daniel dos Santos Ferreira;
Asp Al (05519104) Diogo Daniel dos Santos Ferreira;
Asp Al (15886310) Fábio José Lemos Oliveira;
Asp Al (15886310) Fábio José Lemos Oliveira;
Asp Al (17810410) Ana Cláudia de Fernandes e Rouquinho;
Asp Al (17810410) Ana Cláudia de Fernandes e Rouquinho;
Asp Al (01480711) João Nuno Roçado Cardoso Pina;
Asp Al (01480711) João Nuno Roçado Cardoso Pina;
Asp Al (09418510) João Filipe Heleno Picaró;
Asp Al (09418510) João Filipe Heleno Picaró;

II
II
PARTE OFICIAL
PARTE OFICIAL

Asp Al (01347811) João Gonçalo Curado Nogueira;


Asp Al (01347811) João Gonçalo Curado Nogueira;
Asp Al (00585810) Luís Filipe Pousa Rodrigues;
Asp Al (00585810) Luís Filipe Pousa Rodrigues;
Asp Al (04850411) Fábio Miguel Gonçalves Figueira Nunes;
Asp Al (04850411) Fábio Miguel Gonçalves Figueira Nunes;
Asp Al (06730811) Cristiano Fonseca de Almeida;
Asp Al (06730811) Cristiano Fonseca de Almeida;
Asp Al (11197709) Paulo Alberto Ferreira da Silva Freitas;
Asp Al (11197709) Paulo Alberto Ferreira da Silva Freitas;
Asp Al (00135510) Diogo Marques Fortes;
Asp Al (00135510) Diogo Marques Fortes;
Asp Al (07275810) Ricardo Manuel Galveias Martins.
Asp Al (07275810) Ricardo Manuel Galveias Martins.
3. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE RESERVA
3. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE RESERVA
Cor Art (00465879) Rui Manuel Freire Damásio Afonso;
Cor Art (00465879) Rui Manuel Freire Damásio Afonso;
Cor Art (19051684) Carlos Manuel Coutinho Rodrigues;
Cor Art (19051684) Carlos Manuel Coutinho Rodrigues;
Cor Art (00755184) João Francisco Águas Bigodinho;
Cor Art (00755184) João Francisco Águas Bigodinho;
TCor Art (00562083) António Orlando Leal Correia;
TCor Art (00562083) António Orlando Leal Correia;
TCor Art (05047687) Mário Rui Pinto da Silva;
TCor Art (05047687) Mário Rui Pinto da Silva;
TCor Art (17098077) José António Ribeiro de Oliveira;
TCor Art (17098077) José António Ribeiro de Oliveira;
TCor Art (17815284) João Paulo da Costa Salgado;
TCor Art (17815284) João Paulo da Costa Salgado;
TCor Art (13502183) Isidoro Nunes Ferreira;
TCor Art (13502183) Isidoro Nunes Ferreira;
TCor Art (08785889) Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa;
TCor Art (08785889) Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa;
TCor Art (07448182) António José Marques dos Santos;
TCor Art (07448182) António José Marques dos Santos;
TCor Art (15754584) Mário Jorge Assis Ferreira da Silva;
TCor Art (15754584) Mário Jorge Assis Ferreira da Silva;
TCor Art (08949385) Carlos Manuel de Lemos Ramos Dionísio;
TCor Art (08949385) Carlos Manuel de Lemos Ramos Dionísio;
TCor Art (01539381) José Domingos Nogueira da Silva;
TCor Art (01539381) José Domingos Nogueira da Silva;
TCor Art (12440187) José Fraga Figueiredo Conceição;
TCor Art (12440187) José Fraga Figueiredo Conceição;
Maj Art (09873992) João Marcelino Miquelina Albino.
Maj Art (09873992) João Marcelino Miquelina Albino.
4. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE REFORMA
4. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE REFORMA
Cor Art (03594678) Arménio dos Santos Castanheira.
Cor Art (03594678) Arménio dos Santos Castanheira.
5. OBITUÁRIO
5. OBITUÁRIO
Setembro 11 Cor Art (51372411) Manuel Alves Serra.
Setembro 11 Cor Art (51372411) Manuel Alves Serra.

B. SARGENTOS
B. SARGENTOS
1. CONDECORAÇÕES:
1. CONDECORAÇÕES:
Medalha de Serviços Distintos – Grau Cobre
Medalha de Serviços Distintos – Grau Cobre
SAj Art (00941987) José António Farinha Ferreira.
SAj Art (00941987) José António Farinha Ferreira.
Medalha Cruz de São Jorge – 3.ª Classe
Medalha Cruz de São Jorge – 3.ª Classe
SMor Art (17706382) Luís Filipe dos Santos Figueiredo.
SMor Art (17706382) Luís Filipe dos Santos Figueiredo.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército – 3ª Classe
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército – 3ª Classe
SMor Art (16209381) Orlando José Pinho Ribeiro.
SMor Art (16209381) Orlando José Pinho Ribeiro.
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército – 4ª Classe
Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército – 4ª Classe
SCh Art (17891982) Manuel Francisco do Vale Pereira;
SCh Art (17891982) Manuel Francisco do Vale Pereira;
SAj Art (03864386) Joaquim José Bravo dos Santos;
SAj Art (03864386) Joaquim José Bravo dos Santos;

IIIIII
REVISTA DE ARTILHARIA
REVISTA DE ARTILHARIA

SAj Art (15815786) José Carlos Ramos Gaspar;


SAj Art (15815786) José Carlos Ramos Gaspar;
SAj Art (09237691) Manuel do Carmo Parreira Agostinho;
SAj Art (09237691) Manuel do Carmo Parreira Agostinho;
SAj Art (15578888) Sérgio Pequito Felício Ribeiro;
SAj Art (15578888) Sérgio Pequito Felício Ribeiro;
1Sarg Art (26034092) Rui Manuel Varela Pexirra.
1Sarg Art (26034092) Rui Manuel Varela Pexirra.
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre
Medalha Comportamento Exemplar – Grau Cobre
2Sarg Art (08145605) Rui Manuel Ferrão da Silva Cardoso.
2Sarg Art (08145605) Rui Manuel Ferrão da Silva Cardoso.
Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais
Medalha Comemorativa de Comissões de Serviços Especiais
SAj Art (05904088) João Manuel Vieira Cajadão “Kosovo 2013-14”.
SAj Art (05904088) João Manuel Vieira Cajadão “Kosovo 2013-14”.

2. PROMOÇÕES
2. PROMOÇÕES
Sargento-Mor
Sargento-Mor
SCh Art (07390981) Etelvino Serras Aparício;
SCh Art (07390981) Etelvino Serras Aparício;
SCh Art (11166683) Pedro Manuel de Sá Gonçalves.
SCh Art (11166683) Pedro Manuel de Sá Gonçalves.
Sargento-Chefe
Sargento-Chefe
SAj Art (04635787) José António Malveiro da Glória;
SAj Art (04635787) José António Malveiro da Glória;
SAj Art (06398783) Eduardo Hígino do Nascimento Moreira;
SAj Art (06398783) Eduardo Hígino do Nascimento Moreira;
SAj Art (15815786) José Carlos Ramos Gaspar.
SAj Art (15815786) José Carlos Ramos Gaspar.
Sargento-Ajudante
Sargento-Ajudante
1Sarg Art (09956192) Luís Manuel Pereira Lavado;
1Sarg Art (09956192) Luís Manuel Pereira Lavado;
1Sarg Art (06145792) Humberto Manuel Carpinteiro Renga;
1Sarg Art (06145792) Humberto Manuel Carpinteiro Renga;
1Sarg Art (12137692) Luís Filipe de Medeiros Borges.
1Sarg Art (12137692) Luís Filipe de Medeiros Borges.
Segundo-Sargento
Segundo-Sargento
Furr Al (09101005) Fábio Miguel Ferreira do Nascimento;
Furr Al (09101005) Fábio Miguel Ferreira do Nascimento;
Furr Al (15990011) André da Silva Simões;
Furr Al (15990011) André da Silva Simões;
Furr Al (12139310) João Fernando da Silva Pavão Madaleno;
Furr Al (12139310) João Fernando da Silva Pavão Madaleno;
Furr Al (06060905) Nuno Venâncio Gomes Abreu;
Furr Al (06060905) Nuno Venâncio Gomes Abreu;
Furr Al (14331305) António José Moderno Pereira;
Furr Al (14331305) António José Moderno Pereira;
Furr Al (09589809) Ricardo André da Silva Fernandes;
Furr Al (09589809) Ricardo André da Silva Fernandes;
Furr Al (05798809) Luís Carlos dos Santos Calado;
Furr Al (05798809) Luís Carlos dos Santos Calado;
Furr Al (04278101) Luís Miguel Pereira Nunes;
Furr Al (04278101) Luís Miguel Pereira Nunes;
Furr Al (16125710) Tiago André Ribeiro Bragança de Jesus Simões;
Furr Al (16125710) Tiago André Ribeiro Bragança de Jesus Simões;
Furr Al (16345611) Philippe Alexandre Gomes da Costa.
Furr Al (16345611) Philippe Alexandre Gomes da Costa.
3. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE RESERVA
3. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE RESERVA
SMor Art (04617978) Henriques José Rosa de Carvalho;
SMor Art (04617978) Henriques José Rosa de Carvalho;
SMor Art (04692779) João Carlos Chumbaça Carvalho;
SMor Art (04692779) João Carlos Chumbaça Carvalho;
SCh Art (07351983) Armindo Manuel Veiga Cardoso;
SCh Art (07351983) Armindo Manuel Veiga Cardoso;
SCh Art (02518782) Luís Daniel Alves.
SCh Art (02518782) Luís Daniel Alves.
4. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE REFORMA
4. PASSAGEM À SITUAÇÃO DE REFORMA
SAj Art (11270782) Rui José Martins de Matos.
SAj Art (11270782) Rui José Martins de Matos.

IV
IV
REVISTA DE ARTILHARIA

18
Mais de um Século de:
“Saber, Erudição, Dedicação e Serviço”

Campo de Santa Clara, 62 - 1100-471 Lisboa • Telefs. Militar: 423 334 - Civil 21 888 01 10
www.revista-artilharia.pt

Você também pode gostar