Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EXÉRCITO PORTUGUÊS
COMANDO DO PESSOAL
DIREÇÃO DE FORMAÇÃO
Manual Escolar
História Militar
2021
(Não Classificado)
(Não Classificado)
EXÉRCITO PORTUGUÊS
COMANDO DO PESSOAL
DIREÇÃO DE FORMAÇÃO
Manual Escolar
História Militar
Adaptação de 2017
(Não Classificado)
CFS / HISTÓRIA MILITAR
__________________________________________________________________
ÍNDICE
603. Arte Militar Moderna. Séc. XVIII, “Manobra de Frederico” ........................... 6-5
604. Portugal Pombalino. ..................................................................................... 6-8
605. O Exército Português no séc. XVIII.............................................................. 6-8
606. A Guerra do “Pacto de Família” ................................................................... 6-10
607. Reorganização Militar pelo Conde de Lippe em Portugal ........................... 6-11
V
CFS / HISTÓRIA MILITAR
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 8 HISTÓRIA MILITAR SÉC XX. A GRANDE GUERRA 1914-18 ....... 8-1
801. Implantação da República em Portugal ....................................................... 8-1
802. A Grande Guerra 1914-1918 (Introdução) ................................................... 8-2
803. A questão Sérvia e o início da I Guerra Mundial.......................................... 8-4
804. As táticas na Grande Guerra ....................................................................... 8-8
805. O Corpo Expedicionário Português.............................................................. 8-9
806. O CEP na Batalha de La Lys ....................................................................... 8-16
807. O batalhão do regimento de Infantaria 5 em França ................................... 8-19
VI
CFS / HISTÓRIA MILITAR
__________________________________________________________________
VII
CFS / HISTÓRIA MILITAR
A História é a ciência que estuda o Homem, não do ponto de vista biológico, mas das
suas formas de vida, privada ou política, ideias, crenças, formas de organização
política, militar, social, instituições, acontecimentos em que ele é o protagonista.
“(...) não é apenas o desfiar de uma lista de monarcas e princesas, não fala só de
armas e cavaleiros. Há uma outra História que nos diz como têm vivido os homens
através dos tempos, como trabalham para conseguir a comida, a casa e a roupa. Por
ela podemos ver como se formou a sociedade de hoje e aparecer-nos-ão banhados
de uma luz mais clara os problemas do mundo atual. Seguimos nela o
desenvolvimento da ciência e da arte, o esforço tenaz dos homens para dominar a
natureza e as condições que esta põe às suas fainas; e a sua luta do homem e do
meio acrescenta-se o modo como os homens se organizam, como distribuíram as
tarefas e dividem os resultados entre si. (...)“
CAPÍTULO 1 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 1 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Sabemos também que o homem sempre tentou dominar a natureza, mas que não
pode, de forma alguma, fugir á influência que esta exerce na sua forma de vida, no
tipo de sociedade que desenvolveu ou até nas suas ideias (uma civilização do norte
da Europa é necessariamente diferente de uma civilização da região do Sahara). O
enquadramento geográfico dos factos históricos é, portanto, necessário para o
seu conhecimento mais completo.
As datas que constam da cronologia por nós adotada vêm muitas vezes seguidas de
“a.C.” ou “d.C.” o que significa que se referem a épocas antes e depois do nascimento
de Jesus Cristo. A forma como os anos, os séculos ou os milénios são contados nesta
cronologia é a que se apresenta na Tabela 1-1.
CAPÍTULO 1 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 1 – 4
Ano do nascimento
de Jesus Cristo
Antes de Cristo Depois de Cristo
2º Milénio 1º milénio 1º milénio 2º milénio
a.C. a.C. d.C. d.C.
2000 a.C. 1000 a.C. 1000 d.C.
1500 a.C. 500 a.C. 500 d.C. 1500 d.C.
{
{
Século XIV Século VIII 1900 d.C.
a.C. d.C.
490 a.C. 14 de agosto de 1385
Batalha de Maratona Batalha de Aljubarrota
Tabela 1 – 1: A Cronologia baseada na era Cristã
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Podemos verificar no quadro seguinte que alguns acontecimentos estão indicados apenas
pelo século, outros pelo ano e poderíamos até indicar muitos pela sua data completa. Quanto
mais nos afastamos no tempo maior é a dificuldade em precisar a data. Quando falamos da
pré-história normalmente referimos apenas o milénio (3º milénio a.C., isto é, entre os anos
3.000 a.C. e 4.000 a.C.), por não possuirmos indicações mais exatas.
Século IX a.C. (entre 800 e 900 a.C.) = Chegada dos Fenícios à Península Ibérica.
Uma determinada sociedade ou grupo de indivíduos, num espaço geográfico e num tempo
cronológico bem definido, proporciona aos inspiradores e executores do acontecimento os
meios materiais (tecnologia e recursos) e não materiais (ideias) que lhe são característicos e
que permitem certo tipo de atividades. Estes são os dados que nos servem de referência aos
factos históricos que queremos estudar: localização no espaço e no tempo, identificação
do meio social e realidades materiais e não materiais que suportam os factos históricos.
"Poderá pôr-se em dúvida que a guerra tenha sido um fator necessário na evolução
do género humano, mas existe um ponto acerca do qual não existe discussão, e é o
de que desde os tempos mais remotos até à época atual, a guerra tem sido uma
preocupação dos homens. Não existe um só período da História completamente livre
de guerras e muito raramente decorreu mais de uma geração sem que se verifique
algum conflito grave. Os grandes conflitos fluem e refluem no tempo, quase com a
CAPÍTULO 1 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
As finalidades a atingir com o estudo da História Militar são várias e, em comum, são
as que já definimos para o estudo da História em geral. Começamos por referir a
necessidade do homem complementar a sua curta experiência pessoal. Esta finalidade
serve perfeitamente os militares, porque na nossa profissão esta é por vezes a única
forma de tomar contacto com o campo de batalha. Por outro lado, se quisermos
compreender o papel da instituição militar hoje não podemos deixar de procurar as
causas do sistema atual nos acontecimentos passados.
CAPÍTULO 1 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Para autores modernos, como John Keegan, a história militar aborda o estudo do
armamento e dos sistemas de armas, das fortificações, do arco e da flecha, do
mosquete etc., até ao submarino nuclear e bombardeiro estratégico, mas estuda
também a própria organização dos exércitos, passando pelas doutrinas militares,
estratégias, operações, táticas e a sua relação com a sociedade.
Os objetivos são definidos pelo poder político. Sempre foi assim, mesmo quando o
poder político está nas mãos daqueles que executam as ações bélicas.
No século XIX esta realidade foi traduzida por Clausewitz no seu tratado sobre a
guerra: «A guerra é a continuação da política por outros meios». Quando um Estado
não consegue atingir os seus objetivos utilizando os meios diplomáticos ou
económicos por exemplo, então decorre, se os objetivos o justificarem, ao emprego
dos meios de violência.
Esta forma de agir dos Estados ou, antes do seu aparecimento, de quem controla
politicamente um grupo social, pressupõe uma preocupação constante com os
recursos necessários à guerra. Tal atitude não é necessariamente ofensiva. As
preocupações mantêm-se para os grupos sociais ou Estados que pretendem manter
a sua independência e, por isso, não devem descurar a sua defesa. Os recursos
disponíveis são humanos e materiais.
CAPÍTULO 1 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Nos tempos modernos verifica-se com frequência que alguns países dispõem de
recursos monetários suficientes para adquirirem os meios mais sofisticados, mas os
seus recursos humanos não têm capacidade tecnológica para os utilizarem. Por vezes
a população não é suficiente para a dimensão ou qualidade da força que se quer
organizar e, neste caso, o recrutamento pode ser feito fora das fronteiras recorrendo a
mercenários.
O espaço geográfico foi durante muito tempo uma causa importante das diferenças de
organização militar. Os exércitos cristãos eram diferentes dos exércitos árabes na
Idade Média, porque o meio em que normalmente atuavam assim o exigia. Na
generalidade, os exércitos Ocidentais foram sempre organizados de forma diferente
CAPÍTULO 1 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
dos exércitos Orientais. A tecnologia moderna com o seu caráter universal veio impor
normas de organização universais e terminar, até certo ponto, com estas diferenças.
a. Introdução
b. Carateres da Guerra
O comando dos exércitos na guerra, pressupõe vários níveis, partindo do poder político
do estado até ao combate no terreno. Assim podemos contar com três níveis principais:
CAPÍTULO 1 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
(1) - Nível Estratégico: define os objetivos Nacionais e o emprego dos seus recursos, as
razões da necessidade da guerra, e os meios a utilizar. Neste nível são definidas as metas
e os limites do conflito, se a guerra é total ou tem limites na sua extensão.
(3) - Nível Tático: Trata do uso das forças em combate, a forma de atuar em confronto
com o inimigo, acautela o emprego de reservas, e faz o estudo do campo de batalha onde
se vai desenrolar a ação.
d. Princípios da Guerra
(1) Objetivo
O objetivo é uma meta ou alvo que se pretende atingir e que determina a direção do
esforço de toda a atividade militar.
CAPÍTULO 1 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
forma a contribuir para este objetivo último. Com esta finalidade são atribuídos objetivos
aos escalões subordinados. Os objetivos devem contribuir para a finalidade das
operações, direta, rápida e economicamente. Cada operação tática a que são atribuídos
objetivos intermédios, deve contribuir para atingir os objetivos operacionais e
estratégicos.
(2) Ofensiva
Em operações, a ação ofensiva é a forma mais efetiva e decisiva para atingir o objetivo.
As operações ofensivas são, assim, os meios pelos quais uma força militar obtém e
mantém a iniciativa, a liberdade de ação e atinge resultados decisivos.
(3) Massa
CAPÍTULO 1 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
O potencial de combate é o valor atribuído a uma força militar. Não é possível quantificá-
lo em muitos dos seus fatores e só tem significado quando examinado em relação ao das
forças inimigas oponentes, isto é, quando se considera o potencial relativo de combate.
O pote cial de combate é a resultante da combinação dos recursos materiais, recursos
humanos e força moral da unidade. Depende, em larga medida, da competência e
capacidade de liderança do seu comandante.
Existem fatores que têm influência direta no potencial de combate. Podemos sistematizar
esses fatores da seguinte forma:
2. •Coordenação e controlo;
3. •Vulnerabilidade e risco;
4. •Informação;
CAPÍTULO 1 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
O risco faz parte do elemento incontrolável a que se chama «sorte» e está relacionado
com os ganhos: em regra, maiores ganhos envolvem a necessidade de se correrem riscos
maiores.
CAPÍTULO 1 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
(5) Manobra
O princípio da manobra visa colocar as forças de forma a que o inimigo fique em situação
de desvantagem, isto é, movimentar e dispor as forças por forma a que o potencial relativo
de combate seja desfavorável ao inimigo.
Este princípio é fundamental para que seja obtida a unidade dos esforços das forças sob
responsabilidade de um comandante.
CAPÍTULO 1 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
(7) Segurança
Seguir o princípio da segurança significa não permitir que o inimigo adquira uma vantagem
inesperada.
(8) Surpresa
(9) Simplicidade
Em termos práticos este princípio significa que devem ser preparados planos simples e
fáceis de compreender e devem ser distribuídas ordens claras e concisas.
CAPÍTULO 1 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Uma análise cuidadosa dos conflitos militares permite concluir que existem alguns
elementos que são característicos das situações de combate e que se designam por
ELEMENTOS ESSENCIAIS DE COMBATE (daqui em diante abreviação para EEC) e
que são o Movimento, Choque, o Fogo, a Proteção, o Comando e Ligação e o
Homem. Os cinco primeiros como facilmente verificamos dependem da tecnologia.
Neste capítulo já falamos da relação entre o Homem, a tecnologia e a Organização
Militar. Em seguida estudaremos com algum pormenor os EEC.
Dissemos também que a guerra era a continuação da política por outros meios. Seria
até um tanto absurdo estudarmos a aplicação deste meio sem termos uma ideia, mesmo
que muito sumária, da razão de ser da sua aplicação. As referências aos factos políticos
que determinam os factos militares são, desta forma, necessárias ao nosso estudo.
CAPÍTULO 1 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Quando é lançado um projétil com uma funda, um arco ou uma catapulta, está a ser
utilizado o EEC Fogo. A partir do momento em que se começa a utilizar a pólvora no
campo de batalha é posto à disposição do combatente um meio poderoso que ainda
não parou de evoluir. À medida que a tecnologia avança, os meios que nos
proporcionam o EEC Fogo pelo seu alcance cada vez maior, aplica-se, às dimensões
do campo de batalha.
CAPÍTULO 1 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 1 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
a. A organização militar
Paralelamente à evolução histórica do Crescente Fértil, desenvolveu-se no Peloponeso
a civilização Micénica - originada nos intercâmbios dos povos ribeirinhos do Egeu,
Adriático e Mediterrâneo - que com o rodar dos tempos havia de se tornar na civilização
Grego-Latina-Cristã. O Peloponeso forma um conjunto montanhoso pouco fértil para a
agricultura levando à criação de grandes Cidades Estado com cariz fortemente
mercantil dos quais as mais importantes foram Esparta, Atenas e Tebas que se
digladiaram entre si.
Quando todos os povos poderosos avaliaram a sua força militar no número de carros e
cavalos que possuíam, os homens das cidades-Estado da Grécia revolucionaram os
anárquicos campos de batalha da antiguidade, com a criação de um corpo coeso,
compacto e tremendamente eficaz no combate: A Falange - verdadeiro bloco eriçado
de lanças e coberto de escudos, era como uma muralha viva contra a qual se vieram
despedaçar as mais famosas e brilhantes cavalarias do seu tempo.
Nas principais cidades-estado todo o cidadão livre cumpria o serviço militar, sendo esse
serviço geral e obrigatório dos 20 aos 40 anos para o serviço ativo e uma espécie de
reserva territorial entre os 41 e os 60 para defesa das muralhas da cidade, das
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
mulheres e idosos. A incorporação tinha lugar aos 18 anos, servindo, cada cidadão, nas
fileiras, até aos 20 anos. Dos 20 aos 45 ingressava na milícia permanente sendo
chamado para a guerra sempre que necessário. A instrução militar era extremamente
dura existindo ainda hoje na língua portuguesa a figura de "regime espartano". Não
podiam fazer parte do exército os proletários, os estrangeiros e os escravos. Estes
últimos acompanhavam os seus Senhores, mas como servidores e não como
combatentes. Embora fossem conhecedores do ferro desde o século X a. C., não
dispunham dele em abundância e por isso até aos tempos de Alexandre Magno (século
IV a. c.) o seu armamento era em geral de bronze. O exército representava as classes
sociais pois o armamento era adquirido pelo próprio combatente e estava dividido da
seguinte forma:
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Toda a cavalaria montava sem sela que nesse tempo tinha pouco valor. As máquinas
eram muito variadas e utilizadas especialmente nos cercos. Compreendiam carros
armados de foices, elefantes com torres, balistas, catapultas, torres de madeira, etc.
b. A Falange
A unidade tática era a falange que, na época da guerra do Peloponeso, era constituída
por uma massa profunda de fileiras cerradas de 4000 hoplitas e 2000 Peltastas,
dispostos em 2 retângulos, paralelos e muito próximos. O primeiro era constituído pelos
Hoplitas em 8 fileiras de profundidade (às vezes 12, raramente 16); o segundo tinha os
Peltastas dispostos em metade da profundidade anterior.
Os Psilitas, conforme as circunstâncias, situavam-se atrás e à frente das linhas ou por
vezes ainda à frente das linhas ou por vezes ainda em pequenos grupos nos intervalos
das subdivisões da Cavalaria. Esta formava em partes iguais nas alas da ordem de
Batalha dividindo-se em ilos ou esquadrões, de 16 cavaleiros de frente por 4 de
profundidade, separados por
intervalos iguais a metade da sua
frente. Em princípio as fileiras
eram cerradas, sem intervalos, o
que era próprio para a ação de
choque e para manter a coesão
contra a rotura.
CAPÍTULO 2 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
d. Ordem Oblíqua
A disposição resultante da manobra de que Epaminondas se serviu na batalha de
Leutra (371 a.C.) e também de Mantineia (367 a.C.) recebeu o nome de ordem oblíqua.
Em geral, toda a combinação tática que tem por objetivo empregar um esforço contra
um ou dois pontos da linha adversa com superioridade de ação é o que se domina
ordem oblíqua, quaisquer que sejam a natureza dos agentes e a espécie de manobras
de que se faça uso. Assim, quer Epaminondas tivesse formado escalões para fazer
entrar em ação a sua esquerda, conservando a direita afastada, quer para aproveitar o
mesmo fim tivesse feito uma conversão sobre a direita, em ambos os casos combateu
segundo a ordem oblíqua, desde que acumulou na sua esquerda forças consideráveis e
operou com elas desse ponto.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Foi muito vasta a herança etrusca que os Romanos assimilaram, incluindo o sistema de
nomes próprios, cerimónias religiosas, organização militar, insígnias oficiais e
arquitetura. Nos primeiros tempos da Roma Imperial muitos altos cargos foram
desempenhados por nobres etruscos.
O restante território da Itália era dominado por outros povos como os Samnitas, os
Volscos, os Oscos, etc. Os Latinos, povo que vindo do noroeste da Europa no II milénio
a.C., acabaram por se instalar no Lácio submetendo as populações aborígenes e
constituindo, entre os séculos V e IV a.C., uma federação de 30 cidades, a Liga Latina,
cuja capital era Alba Longa. Neste último século Roma impôs-se aos Latinos iniciando a
sua expansão. No sul da Itália, numerosas cidades gregas fundadas a partir do século
VIII a.C. completavam este quadro de ocupação do território.
Roma iniciou a sua expansão lutando sucessivamente contra os povos latinos do Lácio,
contra os Etruscos enfraquecidos pelas suas lutas internas e pela pressão dos
Gauleses a norte, e contra os Samnitas. Nem sempre obteve vitórias. Em 387 a.C. os
Gauleses fazem uma incursão sobre Roma e destroem-na. Mas Roma tem desde muito
cedo uma espantosa faculdade de se engrandecer de revés em revés. A tenacidade, as
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Roma era uma cidade-estado semelhante às da Grécia e teve como regime político
inicial a monarquia. A tradição refere a existência de seis reis, sendo os três últimos
pertencentes a uma dinastia etrusca. Por volta do ano 500 a.C. uma revolução levou à
expulsão do rei etrusco de Roma e à instauração da Republica.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
um exército cada vez maior e este aumento de efetivos tinha de ser feito à custa
daquela classe.
Foi, portanto, dos Etruscos, seus antigos senhores, que os Romanos herdaram a
organização militar e as suas primeiras armas. Os guerreiros vestiam um simples gibão,
usavam um capacete de bronze, um pequeno escudo redondo, machado ou espada,
lança ou dardo e punhal. Era um exército de cidadãos, não permanente.
Quando Roma inicia a sua expansão tem lutas constantes com outros povos. A sua
organização militar vai então evoluindo e vai-se adaptando às novas situações. Ao
longo da sua história os Romanos tiveram grandes vitórias, mas também grandes
derrotas das quais souberam tirar os ensinamentos necessários para superarem as
dificuldades.
Inicialmente a Legião era composta só por patrícios, mas a luta dos plebeus pelos seus
direitos deu-lhes o acesso, cada vez mais largo, ao serviço militar. Mas cada cidadão
pagava o seu próprio armamento e equipamento e os plebeus não tinham, em geral,
posses para adquirirem armas e equipamento com qualidade idêntica à dos patrícios.
Dentro da Legião começa então a escalonar-se vários tipos de Infantes de acordo com
o armamento e equipamento e ainda com a idade.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A Legião, enquanto manteve a sua forma falângica, era constituída por Infantaria
Ligeira e Pesada. Era acompanhada por uma cavalaria pouco numerosa, recrutada nas
classes mais ricas, que se dispunha nas alas e não tinha capacidade para efetuar
perseguições. Não era constituída qualquer reserva.
A Infantaria Pesada, disposta num só bloco, desdobrava-se da frente para a
retaguarda segundo a eficácia do armamento de que possuía (em conformidade com a
riqueza dos combatentes que o adquiriam) em príncipes (50%), Triários (25%) e
Hastários (25%).
Os Príncipes, oriundos das classes mais ricas, usavam casco, couraça e escudo.
Estavam armados com um gládio (espada curta com 50 cm, que atuava na estocada) e
pilum (dardo com 1,30m e ponta metálica).
A Infantaria Ligeira, constituída por soldados jovens das classes mais pobres, os
Velitas, armados de fundas, arcos e dardos, atuava inicialmente na frente, deslocando-
se para a retaguarda no decorrer do combate.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
O combate da legião, tal como o das falanges gregas, iniciava-se com o lançamento
das armas de arremesso dos Velitas a que se seguia o emprego da Infantaria Pesada.
A ação desta reduzia-se a uma ação frontal sem possibilidade de manobrar. O combate,
em geral, não durava mais de uma hora e a derrota surgia quando um dos blocos perdia
a sua coesão.
A Legião era, pois, um instrumento adequado à defensiva, pouco maneável,
limitada nos seus movimentos pela marcha direta ou perpendicular e com dificuldade
em manter a sua coesão em terreno acidentado.
Nesta forma a legião passou a ser constituída por 30 manípulos, cada um com 10
homens de frente disposta em 8 fileiras tal como na forma falângica. O intervalo entre
manípulos era igual à sua frente.
Esta solução que propicia o deslocamento e ação coordenada em terrenos acidentados
ainda apresenta importantes inconvenientes: não permite a reiteração de esforços e cria
problemas ao exercício de comando dado o elevado número (30) de elementos
subordinados.
CAPÍTULO 2 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
dos Hastários; o terceiro escalão era constituído por 10 manípulos de Triários com 6
homens de frente e 10 de profundidade.
O manípulo é a unidade tática base e cada um funcionava como uma pequena falange,
embora o dispositivo não fosse tão cerrado como naquela. O armamento mantinha-se
semelhante ao da forma falângica. Embora a decisão fosse obtida pelo choque, as
fileiras de combatentes lançavam sucessivas vagas de dardos antes do combate corpo
a corpo.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
retirar pelos intervalos das linhas seguintes. A linha de Triários constituía de facto uma
reserva orgânica da Legião que o comandante usava em última instância.
O desenvolvimento das estradas, especialmente na Península Itálica, permitia a rapidez
dos deslocamentos e sempre que a Legião pernoitava no itinerário, instalava-se num
terreno que, devido à boa organização e distribuição de tarefas, rapidamente se
transformava num recinto fortificado.
Com o apoio do Senado chegou a formar-se uma ditadura militar que durou de 82 a 79
a.C.. Mas em 60 a.C. a força do Senado foi atacada pelo primeiro Triunvirato, formado
por Pompeu, Crasso e César. A evolução para um regime de ditadura pessoal culminou
com a luta pelo poder entre César e Pompeu. A vitória pertenceu finalmente a César
que, a 9 de agosto de 48 a.C. derrotou Pompeu em Farsália ou Farsalos, no norte da
Grécia.
César, que havia adquirido grande prestígio nas campanhas da Gália, foi eleito ditador
vitalício. O seu assassínio em 44 a.C. não salvou a Republica. Formou-se novo
Triunvirato de que faziam parte Marco António, Lépido e Octávio (filho adotivo de
César). Octávio derrotou o seu rival António em 31 a.C. e, ao mesmo tempo, pacificou a
Espanha e conquistou o Egito. Em 27 a.C. proclamou-se imperador de Roma e adota o
título de Augusto, com o que estabeleceu o seu caráter sagrado.
O império de Octávio estendia-se do Mar do Norte ao deserto do Saara, mas era no
limite norte que se encontravam os maiores perigos e foi aí que Octávio Augusto
empenhou muitas das suas forças. A bacia do Reno e os territórios do que é hoje a
Suíça e a Áustria foram ocupados estabelecendo a fronteira no curso superior do
Danúbio. Os Romanos tinham, finalmente, atingido as portas da Germânia.
O período que se seguiu ficou conhecido por "Pax Romana". Se as lutas contra outros
povos foram pouco significativas neste período, internamente desenvolveu-se uma feroz
luta pelo poder. O Império iria, no entanto, conhecer períodos de grande prosperidade,
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
O Senado Romano procurou então alguém que fosse capaz de conter aqueles povos
nas fronteiras. Para tal foi nomeado Comandante do Exército o Cônsul Caius Marius
(Mário) com plenos poderes para resolver os conflitos do vale do Ródano.
A cadeia de comando é agora muito mais eficaz com a redução de 30 para 10 peças de
manobra. A ligação e a transmissão de ordens são também melhoradas com a
introdução, para além dos tambores e trombetas de épocas anteriores, de um sistema
de estandartes destinado a identificar as unidades, a facilitar a capacidade de comando
dos chefes e a aumentar a coesão dos soldados.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Aperfeiçoaram-se os sistemas de
entrincheiramento e introduziram-
se melhoramentos no apoio
logístico criando depósitos ao
longo das principais vias de
comunicação.
Com César mantém-se a
organização militar de Mário. A
inovação mais sensível levada a
cabo no âmbito da organização
militar é o aumento das forças de
Cavalaria, Artilharia e Engenharia.
Figura 2-12: Legionários com símbolos do exército
Romano. Da esq. para dir.: Vexillium, Signifer,
Aquila.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
O Exército Romano que inicialmente partia de Roma para submeter outros povos,
alargar o seu território ou punir os que não aceitavam a soberania romana, e que no
final da campanha regressava a casa, é agora colocado em regime de permanência nas
fronteiras desses territórios. O objetivo já não é partir à conquista de outros territórios ou
assimilar outros povos, mas defender os limites do Império e impedir a entrada dos
povos bárbaros do norte e do leste. O objetivo já não é fazer a guerra, mas garantir a
paz.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Ainda antes da divisão do Império, hordas de cavaleiros hunos tinham iniciado o seu
movimento em direção ao ocidente provocando o desalojamento de grande número de tribos
germânicas que passaram a exercer uma pressão muito mais forte sobre as fronteiras. Apesar
dos reforços militares que os Romanos fazem deslocar para as fronteiras do Império, a invasão
é inevitável.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Nos séculos III e IV, o Império já tinha grandes dificuldades em conter os bárbaros.
Muitos dos militares romanos são, eles próprios, bárbaros romanizados que por vezes
favorecem aqueles com quem têm mais afinidades étnicas.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 19
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A insegurança que se vivia faz com que as cidades ameaçadas se rodeiem de muralhas
e o chefe militar local, normalmente grande proprietário, inspira um maior sentimento de
segurança que o distante poder central. Começam a criar-se condições para a
implantação do sistema feudal.
O «bárbaro» é, para o habitante de mundo romano, um homem que fala uma linguagem
incompreensível e cuja civilização é ainda primitiva. Os Romanos consideram bárbaros os
montanheses e nómadas do norte de África, os Árabes, os Alanos do Mar Negro os Celtas da
Bretanha, os Germanos que habitam além do Danúbio e Reno, os povos da Península Ibérica
antes de se romanizarem.
CAPÍTULO 2 – 20
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Não tendo capacidade para impedir estas invasões ou para expulsar os bárbaros o governo
imperial recorreu à velha tática, incorporando-os no Império e colocando-os ao seu serviço.
Quando, em 409, a Península Ibérica conhece as invasões bárbaras, verifica-se uma grande
carência de alimentos em resultado das grandes devastações provocadas pelos invasores. A
estes males acrescentou-se uma peste que provocou também elevado número de vítimas. Após
dois anos de pilhagens os próprios bárbaros estão famintos e negoceiam, com Roma que os
aceita como «federados».
A conversão dos visigodos ao catolicismo foi um passo importante para promover a união
da sociedade ibérica. Foi também revogada a lei que proibia o casamento entre
Visigodos e Ibero-Romanos. O latim substituiu a língua goda e passou a ser a língua
oficial. Na Península Ibérica, como em toda a Europa, a cultura romana sobrepõe-se à
cultura bárbara. A unificação de vencido e vencedores foi assim mais fácil e muitas das
estruturas administrativas romanas permaneceram no reino visigodo.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 21
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Ainda antes da expulsão dos bizantinos das suas praças do sul da Península,
estabeleceram-se os Visigodos no Norte de Africa onde conquistaram Tanger e Ceuta.
Nestas conquistas asseguravam-lhes o controle da entrada do Mediterrâneo o que
conjuntamente com o domínio de toda a costa da Península lhes permitia o domínio de
toda essa região e do comércio que aí se desenvolveu.
O reino visigodo foi palco de muitas lutas internas por diferentes fações que pretendiam
assenhorear-se do poder. Apesar de todas as condições que, como vimos, permitiriam
uma situação de grande unidade, a verdade é que tais lutas enfraqueceram muito a sua
capacidade defensiva e ofereceram fraca resistência à invasão árabe.
O serviço militar era obrigatório tanto para o mais elevado dos nobres como para o mais
humilde dos servos. Muitos procuraram libertar-se dessas obrigação à custa dos
privilégios eclesiásticos mas era ponto assente que todos os homens válidos tinham a
obrigação de pagar em armas para defender a nação.
Nas classes nobres o dever militar consistia em servir a cavalo. A infantaria era
constituída pelas classes inferiores e incluía a décima parte dos servos que os senhores
deviam trazer consigo à guerra.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 22
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Na pirâmide social que se foi construindo, houve uma multiplicação das relações
pessoais entre homens livres, sendo que os próprios Gardingos criavam a sua própria
clientela, obrigando-os por sua vez a prestar-lhes serviço militar, designando-se por
Saiões.
Apenas uma parte do exército era permanente e, em regra, constituída na sua maioria
pela guarda real e guardas pessoais da grande nobreza, recrutada entre servos,
clientes ou libertos ou pelos Bucelários, homens livres, profissionais de guerra a quem
se pagava soldadas ou se cediam terras em prémios pelos seus serviços.
CAPÍTULO 2 – 23
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Em combate cada infante ia munido de vários dardos que lançavam com extraordinária
destreza produzindo uma verdadeira chuva de setas sobre o inimigo. Formavam em
ordem dispersa, lançavam os dardos e avançavam com um dispositivo em forma de
cunha.
O comando das forças pertencia por direito ao mais nobre mas havia também chefes
militares que tinham conquistado esta distinção pelo seu bravo comportamento em
combate. A informação que nos é dada por Tácito (historiador romano; 55-120 d.C.)
sobre os povos godos do seu tempo, “para os reis se buscava a nobreza, para os cabos
de guerra as suas boas qualidades”, era certamente verdadeira para a época que
estamos a tratar.
205. Os Árabes
a. Introdução
A extensão e o significado da palavra «Árabe», designativa de um povo, têm variado
muito com o tempo. Hoje o termo aplica-se geralmente às populações de língua árabe
que habitam a Arábia, o Iraque, a Jordânia, a Síria, o Líbano, o Egito e o restante Norte
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 24
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A segunda vaga de conquistas, no fim do século VII e início do século VIII, no Norte de
África, revelou-se demorada e difícil porque os Berberes ofereceram obstinada
resistência. No entanto as conquistas avançam e Cartago (698), Tânger (705) e Ceuta
(709) caem em seu poder. Em 710, um grupo de berberes comandados por Tarife
desembarcaram na Península e saquearam um local que passou a chamar-se Tarifa.
Todos regressaram sãos e salvos a África.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 25
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A facilidade com que esta operação foi levada a cabo motivou a execução de uma
operação de maior envergadura. Em 711, um exército com cerca de 12.000 homens,
chefiados por Tarik Ibn Zayad atravessou o estreito de Calpe e organizou uma posição
fortificada no monte do mesmo nome. Este monte, um enorme rochedo passou a ser
designado por «rochedo de Tarik» que em Árabe se diz «Gebel al Tarik» que veio a
originar a palavra «Gibraltar».
A sorte da Espanha visigoda foi ditada nesse mesmo ano na batalha de Guadalete junto
às margens do rio Chryssus ou Gadalete. A conquista foi facilitada pelo estado de
enfraquecimento com que se debatia a Espanha no meio das querelas dinásticas e das
revoltas que surgiram mais ou menos em toda a Península. Os invasores, para além
das conquistas na Península, (715), atravessaram os Pirenéus e avançaram pelo Sul de
França, mas foram sustidos por Carlos Martel rei dos Francos, em 732, perto de
Poitiers.
Em quatro anos os árabes conquistaram quase toda a Península Ibérica com exceção
de uma zona Norte, as serras das Astúrias, onde um pequeno núcleo se refugiara. Foi
daqui que começou a reconquista do solo peninsular, (718 por Pelágio) ação que se iria
prolongar desde a Batalha de Covadonga em 722 e por mais de sete séculos.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 26
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 27
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
servia também para ser arremessada. A «azagaia» era uma lança, mais comprida e
leve (tendo algumas 4 metros de comprimento) e era uma arma de arremesso.
Usavam também o arco e adotaram mais tarde a besta. Eram arqueiros excelentes que
combatiam a pé ou a cavalo. A besta utilizada pelos árabes era também mais leve que
a dos cristãos. Este poder de fogo era muito utilizado e os cronistas da época referiam-
se a ele como “frechadas de arcos torquies que eram tam espesas que tolhiam o sol.”
A maior parte deste armamento era idêntico ao dos cristãos. Por norma essas armas
eram de excelente qualidade pois os muçulmanos tinham grandes armeiros e
dispunham de excelentes aços que davam lâminas de elevada qualidade. Essas armas
eram sempre muito decoradas e ornamentadas trazendo por vezes inscritos versículos
do Corão. Sabe-se que, através dos Cretenses, os exércitos cristãos compravam cotas
de malha aos muçulmanos.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 28
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Um aspeto inédito dos exercícios árabes era o dos serviços. Grupos especializados
constituíam uma autêntica engenharia que improvisava pontes, abria valas, levantava
as proteções dos arraiais ou executava outros trabalhos de organização do terreno.
Tinham também um rudimentar serviço de saúde, com médicos e mulheres enfermeiras,
e um serviço religioso.
A organização militar árabe assentava numa hierarquia mais ou menos rígida. Alguns
dos postos militares, assim como as funções correspondentes, foram adotados pelos
exércitos cristãos o que demonstrava a influência que os árabes tinham na nossa
organização militar. É o caso do «Adail», do «Almocadém», do «Alcaide», do
«Almogávar». Por vezes apenas o nome era adotado como é o caso do «Alferes» que
entre os árabes queria apenas dizer cavaleiro.
As operações militares desencadeadas com esta força armada também não eram
diferentes das dos cristãos. Os árabes, no entanto, preferiam combater em grupos mais
pequenos, armar ciladas, executar incursões rápidas para devastar as terras inimigas
como era o caso das operações chamadas «algaras» ou «algaradas», nomes
igualmente adotados pelos exércitos cristãos.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 29
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2 – 30
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Intermitente e controlada por senhores locais até ao século XII, a luta assumiu então
forma mais sistemática, quando a ação dos soberanos dos vários reinos cristãos que se
haviam formado, auxiliados pelas ordens militares religiosas, se sobrepõe à iniciativa
particular.
A conquista dos territórios que até então tinham estado sob ocupação muçulmana levou
à formação de vários reinos cristãos. No século XI, entre 1031 e 1065, a situação era a
que mostra a figura 3-1. O território muçulmano estava dividido em pequenos reinos ou
taifas o que enfraquecia o seu poder militar.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
No ano 1085, o rei Afonso VI de Leão e Castela transfere a sua capital para Toledo,
bem no centro da Península. Este avanço dos cristãos alarma os muçulmanos que
pedem auxílio a Iúçufe, poderoso rei dos Almorávidas, em África. De igual forma,
Afonso VI apela para os outros reinos cristãos, incluindo a França, terra natal da rainha.
Vindo de França, entre vários cavaleiros, chegou ao reino de Leão, entre 1087 e 1088,
o nobre D. Raimundo que D. Afonso VI casou, em 1090, com a sua filha primogénita D.
Urraca. Concedeu-lhe ainda o governo da Galiza (que já fazia parte do reino de Leão) e
na qual estavam englobados os Condados Portucalenses e Conimbricenses.
Em 1093 Afonso VI consegue fazer chegar a fronteira meridional cristã até ao Tejo, mas
pouco depois os mouros recuperaram algumas povoações, entre elas Santarém que
caiu em seu poder no ano seguinte. Numa tentativa de recuperar estas terras, as tropas
de conde D. Raimundo são derrotadas e têm de se refugiar na Galiza.
Temos assim uma ideia do número de cavaleiros então existentes naquela «terra de
Portugal» que era um pequeno território englobando as populações de Braga, Lamego,
Viseu, Coimbra, Porto e numerosas pequenas povoações fortificadas semelhantes aos
castros. Os primeiros castelos, fora destas povoações, eram os de Vila da Feira,
Numão, Tarouca, Longroiva e Sernancelhe.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
resistido por muito tempo. Mas D. Afonso Henriques aproveitou a oportunidade para
desautorizar D. Teresa, estabeleceu negociações com D. Afonso VII e prometeu
considerar-se seu vassalo. Por fiador desta promessa ficou Egas Moniz. Afonso VII
retira-se com a sua hoste para Leão.
D. Teresa tinha baseado o seu governo do Condado Portucalense numa ação enérgica
mas sempre apoiada pelo Conde Fernão Peres de Trava que, ao tornar-se seu amante,
(ou marido segundo alguns autores), adquiriu poder militar e político demasiado
grandes no Condado. Surgiu o perigo de Portugal ser absorvido pela Galiza. Muitos
nobres portugueses começaram a conspirar apoiando o Infante D. Afonso Henriques.
Os anos seguintes são uma luta constante pela independência do Condado. São
levadas a cabo algumas campanhas na Galiza mas não há ganhos para Portugal. Em
1137 é assinado o pacto de Tui pelo qual o Infante, mais uma vez, se reconhece
perpétuo vassalo de Afonso VII. Em 25 de julho de 1139 dá-se o recontro de Ourique e
no ano seguinte a Galiza é novamente invadida. Esta velha questão é resolvida em
Valdevez, em 25 de março de 1140, num torneio em que se defrontaram os melhores
cavaleiros de ambas as hostes. Em 5 de outubro de 1143 são assinadas as pazes de
Zamora.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
através da Bula “Manifestis est Probatum” terminando assim uma longa luta pelo
reconhecimento da autonomia.
Após o acordo de Zamora, Afonso Henriques ficou mais liberto para se ocupar da
expansão para sul. Os recursos humanos não eram abundantes e dificilmente se
poderiam manter duas frentes de combate. Em 1179, contudo, quando o Papa
reconhece a independência de Portugal, já as hostes portuguesas andavam muito a sul
do Tejo.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Em 1184 dá-se uma grande ofensiva dos mouros que, de 7 a 28 de junho, entraram no
território português e chegaram a Santarém que foi defendida com sucesso pelo Infante
D. Sancho. O reino de Portugal passava mais uma prova de força.
Com D. Afonso III conquista-se todo o Algarve: Santa Maria de Faro (1249), Albufeira
(1250), Loulé, Aljezur e Silves são conquistados. Nunca mais este território foi perdido.
Agora trata-se apenas de ajustar a fronteira com Castela.
Todo este grande esforço só foi possível porque existia, por um lado, vontade férrea da
parte de alguns governantes e, por outro, porque a força militar que Portugal dispunha
era eficaz. Vamos então ver como eram as forças militares desta época.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Isto significa que o rei, no sistema feudal, não pode ditar leis gerais, receber impostos
sobre a totalidade do seu reino ou recrutar um exército que se possa chamar nacional.
A sua ação principal é administrar os seus territórios pessoais: prestar justiça, defender
os que nos seus domínios produzem riqueza, receber os foros (impostos) pagos com
produtos agrícolas ou dinheiro.
Distingue-se dos outros senhores (proprietários), porque a sua coroação foi abençoada
pelo Papa; é o árbitro nos conflitos entre nobres; é quem assume a defesa do Reino.
Neste último caso, e porque só pode recrutar forças nos seus próprios territórios,
necessita que lhe seja prestado o necessário auxílio militar. Este é-lhe prestado por
aqueles que receberam o feudo e aceitaram os laços da vassalagem.
O feudalismo é um sistema no
qual se desenvolvem laços de
dependência de homem para
homem, com uma classe de
guerreiros especializados a
ocuparem os escalões
superiores da hierarquia. O rei
distribuía terras aos guerreiros
e estes ficavam obrigados a
prestar serviço militar pelo facto
de terem recebido o benefício.
Figura 3-5: Cerimónia de
vassalagem.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Uma tão completa panóplia de armas e cavalo só podem ser adquiridos por gente de
posses, ou seja, pelos que possuem as terras, em regime ou não de feudo. A guerra só
pode ser então uma atividade aristocrática e os homens de armas, na mentalidade do
seu tempo, dispersavam qualquer combatente não cavaleiro.
Cada cavaleiro não se movimentava isoladamente. Ele fazia parte de uma equipa de
número variável a LANÇA, constituída por um escudeiro, que levava o escudo e
ajudava o cavaleiro a montar, um moço de armas que se ocupava do armamento e
outras tarefas menores e mais um ou dois elementos que tratavam dos cavalos e outras
tarefas.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Se a força principal é o cavaleiro tal não significa que a infantaria (se é que tal se pode
chamar ao conjunto de combatentes apeados de então) não existisse. Não muito
numerosa, era empregue na defesa dos castelos e no campo de batalha, nas mais
diversas tarefas de apoio à força principal e na utilização do poder de fogo utilizando
com fracos resultados, o arco ou mesmo a funda.
Esta força apeada, da qual não fazia parte os nobres, utilizava um equipamento e
armamento cuja riqueza dependia do senhor que o seguiam. Neste caso podiam ter um
equipamento muito parecido ao dos cavaleiros, mas se tivessem que se armar e
equipar à sua própria custa, então poderia acontecer que não usassem sequer qualquer
proteção. Com o armamento sucedia o mesmo podendo então variar entre espada e o
simples pique toscamente fabricado.
A partir do séc. XI-XII, os peões utilizam duas armas que surgem com a evolução
técnica dos armamentos baseados nas trocas de conhecimentos durante as cruzadas,
nomeadamente as bestas, trazidas pelos cruzados e as alabardas.
A Besta rivalizava com o Arco, podendo executar fogo tenso a longas distâncias e era
muito eficaz contra as armaduras dos cavaleiros. No entanto o arco fazia tiro curvo,
ótimo para os cercos, tinha maior cadência e menor custo de produção, levando a que
no campo de batalha estivessem presentes as duas armas.
Em relação à Alabarda, foi concebida para que um homem a pé pudesse combater o
cavaleiro, derrubando-o do cavalo e, devido à pesada armadura que o protegia dos
fogos de besta, ser fácil ao peão pôr fora de combate o cavaleiro.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A ação era frontal e iniciado o combate das duas forças depressa se transformava num
conjunto de combates individuais (em que o combatente se afirma como herói) o que dá
confusão à batalha e dificulta a ação de comando.
Mais tarde, séc. XIII-XIV, as forças vão dispor-se de forma a criar um dispositivo que
conjugava os mesmos elementos anteriores, mas distribuídos num quadrado dividido
em vanguarda, alas e retaguarda, opostas a idêntica formação por parte do inimigo.
Como é próprio desta época, a sociedade civil está fortemente hierarquizada vai, na
generalidade, ser respeitada na organização militar. Os cargos de chefia são, em regra,
um privilégio da nobreza. As obrigações militares variam muito de classe para classe
social e a riqueza de cada um determinava a forma de serviço militar a prestar.
O «Rei» era simultaneamente chefe da sociedade civil e chefe da sociedade militar.
Exercia as funções de júri e conduzia a guerra tomando parte ativa nas principais
operações militares. De entre os seus deveres contava-se o de alargar o reino, fazer a
“guerra justa”, negociar a paz e aplicar a justiça. A sua autoridade era limitada, muitas
vezes apenas tecnicamente, pela corte e pelo poder espiritual do Papa.
A «Nobreza», classe que fornecia os chefes militares, estava organizada segundo uma
hierarquia que assentava fundamentalmente no usufruto das terras. No topo apareciam
os «Ricos-Homens», importantes proprietários rurais, com grande autoridade sobre os
rurais, com grande autoridade sobre os habitantes das suas terras ou vilas, e eram em
quem o rei delegava, em regra, o governo militar e civil de grandes regiões. Viviam em
castelos implantados nas suas terras e dispunham de guarnições próprias e todos os
meios de guerra. Tinham capacidade para organizar o que na época significava a
extensão do seu território e meios humanos disponíveis.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Após a conquista dum território o rei guardava para si a parte essencial: as cidades e
outros grandes povoados que começaram a ser organizados em municípios, em
especial no reinado de D. Sancho I. A sua instituição (dos municípios) assentava num
foral que regulava a administração, as relações sociais e os direitos e encargos dos
moradores. Nestes encargos estavam incluídas também as obrigações militares.
Figura 3 – 7:
Besteiros Medievais.
CAPÍTULO 3 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Neste conjunto de forças com origens tão diversas existia uma hierarquia que só em
parte funcionava por postos.
Isto significa que, para algumas funções, as pessoas eram nomeadas apenas quando
necessário por serem as mais indicadas para essas funções (pela sua experiência e
também pela sua posição social) não por terem uma patente que lhes garantisse um
lugar na hierarquia. Esta era, portanto, para as funções mais elevadas, uma hierarquia
de cargos.
O «Adail» era um “posto” importante também com origem árabe. Entre estes, o Adail
era quem comandava ou conduzia superiormente as tropas; significava chefe, guia, era
portanto um homem considerado pelas suas qualidades de honra e valor, pelos seus
conhecimentos e posição social. Aparece também descrito como guias ou cabeças da
gente do campo, que entravam a correr terras de inimigos. Na organização militar
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
portuguesa o adail foi inicialmente «um simples guia de tropas, ou chefe da peoada ou
da gente de cavalo» (ver pág. 124 do vol. III da História do Exercito Português de
Cristóvão Aires). Quando a hoste se dividia em vanguarda, alas, retaguarda, ou
qualquer outra formação, cada um destes elementos era comandado por um adail cuja
escolha obedecia aos critérios já descritos.
Nos documentos antigos há ainda muitas referências a outros postos mais baixos da
hoste como é o caso dos «almocadéns», oficiais que comandavam grupos de homens
a pé, com a atribuição de auxiliarem os «almogávares», que eram grupos de homens
em guarda avançada para baterem o terreno.
2.
1. 3.
Figura 3 – 10: Armamento da Idade Média
1. Maça de armas
2. Acha
3. Chicote de armas (Mangoal)
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Tal como os muçulmanos faziam incursões no território dos cristãos, também estes
executavam operações idênticas em território muçulmano. Eram organizadas forças
pouco numerosas de homens a cavalo que entravam em território muçulmano com a
finalidade de destruir e fazer presas, especialmente cavalos. O primeiro cavalo tirado ao
inimigo era para quem o apanhasse e dos restantes tirava-se um quinto para o rei ou
para o senhor da terra. A este tipo de operações chamava-se «algara» ou «algarada»,
nome que atestam a forte influência muçulmana, neste caso também na forma de atuar.
Uma outra operação a «razia», servia para efetuar incursões no território inimigo como
se de uma algarada se tratasse mas com maior número de efetivos e meios,
pretendendo obter o máximo de espólio, sem intenção de conquistar território.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A esta operação estava obrigada também a população vilã, cuja prestação lhe era
exigida segundo as disposições estabelecidas pelo foral ou pelo costume da terra.
Assim, estariam obrigados a partir na operação um ou dois terços dos cavaleiros-vilões
ficando os restantes na povoação para a defenderem se necessário. Os que eram
dispensados de ir ao fossado, qualquer que fosse a causa pagavam um tributo
chamado «fossadeira» que se destinava às despesas dos fossados.
O fossado era, então, uma incursão em território inimigo com a finalidade de assolar
povoações, desbaratar forças inimigas, fazer prisioneiros, apoderar-se de gado, alfaias
e, se possível, o recheio dos celeiros. Esta devastação era a forma usual de, pouco a
pouco, ir subtraindo os recursos ao inimigo a fim de o debilitar seguindo-se a conquista
efetiva do território.
Com a finalidade de manter o grau de prontidão das tropas, e até das populações, era
executado com frequência um exercício chamado «sacaria». Simulava-se a
aproximação do inimigo, dava-se o alerta e testava-se a rapidez com que todos
ocorriam à chamada e se sabiam quais as suas obrigações. Normalmente este
exercício realizava-se de noite.
As grandes batalhas eram raras. Elas davam-se quando tropas mais numerosas se
confrontavam em campo aberto ou num cerco. No primeiro caso utilizava-se um
dispositivo constituído por quatro frações distintas: a «vanguarda» ou «dianteira», à
frente, as «alas» ou «costaneiras» de um e outro lado da vanguarda e a «retaguarda»
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
mais atrás, pronta a intervir onde e quando necessário. Este dispositivo de combater era
utilizado nas batalhas decisivas, em campo aberto, em que se dava o choque violento
dos dois exércitos.
RETAGUARDA
ALA ALA
VANGUARDA
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
401. Introdução
D. Afonso III, terminou a conquista dos territórios que deram a Portugal a sua
configuração atual. Excetuava-se a fronteira leste que só veio a ser definida pelo tratado
de Alcanizes em 1297 e que sofreu ainda algumas alterações em conflitos mais
recentes, Guerra das Laranjas em 1801.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Não teve, no entanto, um reinado pacífico. Este foi marcado por uma guerra civil com
seu irmão D. Afonso, pelas lutas com Castela, 1295 e 1296, e pelas lutas que desde
1314 e até à sua morte travou com seu filho, o futuro rei D. Afonso IV.
Mandou traduzir o «Libro de las Siete Partidas» de seu avô Afonso X de Castela. A
«segunda partida», ou segundo capítulo, trata da organização da milícia real que serviu
de base à criação dos “besteiros do conto”. Foram então criados nos principais burgos
do reino pequenos corpos militares com os seus comandos permanentes. Eram
chamados «besteiros» por combaterem com besta e «do conto» por deverem ser
fornecidos em número certo previamente fixado para cada concelho.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Quanto mais generalizado se torna o uso da besta maior era a importância dada à
personagem nos combates. A cavalaria pesada não perdia de forma alguma a sua
importância, mas podemos desde então assistir à crescente importância da infantaria e
do seu poder de fogo. Os besteiros tornaram-se um elemento tático de tal forma valioso
que se viram equiparados à cavalaria vilã em muitos privilégios.
A força que o rei então dispunha para a defesa do reino era constituída pelas lanças
dos nobres e das ordens militares, pelos cavaleiros vilãos, pelos besteiros do conto e
por outras personagens de pouco valor militar.
Foram também, regulamentadas por D. Dinis as funções do Adail, cargo que já vinha
do antecedente como comandante de um troço de cavalaria vilã, e foram ainda criados
os novos postos do Anadel, Anadel-Mor, Coudel e Coudel-Mor que correspondem ao
comando territorial da milícia dos concelhos.
O «Anadel» era capitão dos besteiros do conto e cumpria-lhe zelar para que nos seus
distritos (anadarias) a corporação estivesse sempre completa, bem armada, municiada
e treinada. O «Anadel-Mor» era o superintendente do alistamento e organização dos
besteiros do conto em todo o reino.
O «Coudel» tinha por missão zelar pela boa organização dos acontiados dos concelhos
(os que possuíam contia e por isso eram obrigados a servir a cavalo) nos seus distritos
(coudelarias). Era o caso dos cavaleiros-vilãos ou besteiros a cavalo nas tropas
municipais. O «Coudel-Mor» fiscalizava o serviço dos coudéis e todo o reino e mais
tarde passou também a ter a responsabilidade de supervisão da criação das melhores
raças cavalares.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A forma como se combatia mantinha-se idêntica, quer em campo aberto quer na defesa
e cerco de castelos. O uso generalizado da besta conferiu à hoste um maior poder de
fogo, mas continuava a ser pelo choque que se decidia a batalha.
O armamento sofreu alguma evolução. A besta, como já vimos, tornou-se uma arma
muito utilizada por cavaleiros e peões. A cavalaria cobria-se de ferro mas as suas
armas ofensivas eram ainda a lança, a espada, o montante, a maça, a acha de armas e
o punhal. O progresso na arte de trabalhar o ferro permitiu a introdução das armaduras
completas (arneses). A proteção dos cavalos tornou-se tão requintada como os arneses
dos cavaleiros. O escudo tornou-se mais leve e mais pequeno.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Foi ainda o rei D. Dinis que mandou vir de Génova o Almirante Manuel Pessanha (ou
Passanha) a quem confiou a organização e comando da nova marinha de guerra
portuguesa.
A Europa do final da idade Média, em especial do século XIV, é caracterizada por fortes
conflitos sociais. “Num quadro povoado de medo, de agravamento das condições de
existência, de lutas pela tomada de poder, de revoltas e querelas, de guerras e sorte, de
más colheitas, de pestes, desenvolve-se a vida deste século que marca o princípio do
fim da Idade Média e a agonia do Feudalismo. A Península Ibérica, como parte
integrante da Europa, não foge a esta realidade, de guerra entre reinas ibéricos,
conflitos entre a nobreza, burguesia e massas populares. “ (ARTUR MANUEL CEIA, em
O Feudalismo da Guerra do Ultimo Quartel do Século XIV em Portugal: tipologia e
caracterização, Revista Militar, 1985, pagina 785)
Nesta época as batalhas não são muito frequentes. Para que ela ocorra é necessário
que ambos os contendores estejam de acordo a travá-la o que nem sempre sucedia
porque, em geral, nenhuma das partes queria arriscar num só combate a sorte da
guerra. Os confrontos desenvolviam-se em atos de destruição e pilhagem através das
«cavalgadas» ou «cavalgatas» e depois estas forças recolhiam aos seus castelos.
Trata-se de numa guerra assente numa forte proteção coletiva, portanto essencialmente
defensiva, em que se procurava desgastar o inimigo.
No século XIV surge uma grande preocupação com a proteção coletiva. Alargam-se os
perímetros amuralhados das povoações, reparam-se e reforçam-se os castelos, os
palácios são casas fortificadas e até as igrejas se transformam em redutos defensivos.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
austríaca.
Figura 4 – 2: 1 2 3
Esquema teórico de
uma batalha na Idade
Media.
1 – Cavaleiro;
elemento de choque
em reserva.
2 – Besteiro; elemento
de fogo.
3 – Piqueiros;
elementos de choque
primeiro escalão.
Figura 4 – 3:
Intervenção dos cavaleiros em função
da evolução do combate.
a. Contra-ataque no caso em que o
____________________________________________________________________________
b. Ação sobre um inimigo que foi
inimigo rompeu as formações da contido pela gente de pé.
gente de pé CAPÍTULO 4 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Este aumento do poder de fogo, acompanhado do emprego cada vez maior de piques e
outras armas de haste, provocou algumas mudanças na proteção do cavaleiro. Surgiu a
armadura de placas e um reforço da cota de malha o que aumentou o peso da proteção
e, por isso, diminuiu a mobilidade. O armamento manteve-se idêntico ao anterior, mas
de melhor fabrico.
O combatente a pé, por sua vez,
protegia-se com uma cota de couro ou
de tecido acolchoado, utilizava uma
espada curta, uma lança ou «chuço»,
uma acha de armas, uma funda ou o
arco, e mais tarde a besta ou arco longo
e a alabarda.
Figura 4 – 4: Tron ou Bombarda do século
XIV ou XV
Apesar dos cuidados postos nos preparativos, as campanhas foram mal conduzidas e
por fim resultaram desastrosas para Portugal. A campanha terminou em 1373 e, nesse
mesmo ano, D. Fernando pensou na defesa de Lisboa, projetando a construção de uma
nova muralha envolvente que tornasse a cidade inexpugnável. Esta «cerca
fernandina», de que pouco já resta, teve sete mil passos de perímetro, quarenta e seis
portas e setenta e sete torres.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
É após a introdução destas reformas militares, que se inseriam numa notável política de
administração e fomento do reino, e da qual se deve realçar a famosa lei das Sesmarias
promulgada em 1375, que se inicia a terceira campanha contra Castela. Vêm os
castelhanos pôr cerco a Lisboa e é nesta altura que chegam a esta cidade 48 navios
ingleses que transportavam cerca de 3000 homens de armas, comandados pelo Conde
de Cambridge em auxílio de D. Fenando I.
Foi sob esta influência inglesa que D. Fernando introduziu algumas alterações nos
postos do exército. O Alferes-Mor voltava às suas anteriores funções de Porta-bandeira
e as suas funções de comando eram entregues ao «Condestável» que passava a ser,
depois do rei, o cargo mais elevado e de maior honra na hoste. Cumpria-lhe dirigir todas
as operações militares, recebia as ordens do rei e transmitia-as ao «Marechal». Este
coadjuvava o Condestável em todas as tarefas executando e fazendo executar as
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
ordens recebidas. Era ainda o Condestável que fazia aplicar a justiça militar indo a sua
competência até à pena de morte.
Foi introduzido por D. Fernando o cargo de «Capitão», que era um vassalo régio que
enquadrava os homens de armas que se apresentavam individualmente na mesnada.
Além destes três cargos foi também criado o de «Aposentador-Mor» responsável pelos
estacionamentos. Partia à frente das tropas, normalmente com um dia de avanço, para
tratar dos alojamentos necessários com os procuradores dos concelhos e câmaras das
vilas. O Rei e pelo menos o Condestável e o Marechal tinham um aposentador privativo.
Mantinham-se todos os restantes postos na hoste tal como já existiam nos reinados
anteriores.
D.Pedro I
CAPÍTULO 4 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Esta relativa estabilidade que vinha desde o reinado de Afonso IV, permitiu o progresso
e desenvolvimento económico do país, apesar da perturbação causada pela peste que
assolava a Europa.
Afonso X D. Violante
D.Dinis + D.Isabel
D. Pedro I
D. Fernando + Leonor Teles
Henrique I
D. Beatriz + D. Juan I
D. Juan I + D. Beatriz
D. Fernando era bisneto de Sancho IV de Castela, por via legítima, e como tal arrogou-
se ao direito de tomar o trono a Trastâmara, sendo instigado e apoiado nesta intenção
por nobres Castelhanos refugiados da guerra civil espanhola, na corte Portuguesa.
Para a concretização desta intenção fez um acordo com o rei de Aragão e com o rei
mouro de Granada, tendo D. Fernando prometido casamento à filha do rei de Aragão,
D. Leonor.
Em 1369, invade a Galiza, mas sofre uma pesada derrota que colocou o norte do país
numa situação muito difícil sofrendo as populações de uma enorme devastação
provocada pelas hostes de Henrique II.
Após este desaire e não podendo contar com os seus aliados, também estes
submetidos, é obrigado a capitular, fazer as pazes com Henrique II em desvantagem,
onde reconhece o usurpador como rei de Castela, prometendo também a este
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
casamento com D. Leonor, desta feita filha do Trastâmara. Este acordo celebrado em
1371, ficou conhecido como o Tratado de Alcoutim.
Embora tenha renunciado ao trono de Castela, a entrada em cena de João de Gante
(filho de Eduardo III de Inglaterra), genro de Pedro I, (o rei assassinado), igualmente
com pretensões ao trono castelhano, leva ao reacender do conflito, fazendo D.
Fernando recuar no Tratado de Alcoutim e celebrando um novo acordo com os ingleses,
em 10 de julho de 1372 em Tagilde, apoiando desta vez João de Gante, Duque de
Lencastre, na corrida ao reino castelhano.
Neste ponto, a guerra que opunha Ingleses e Franceses, na chamada guerra dos cem
anos chega à Península Ibérica e a Portugal, pois além da oposição a Castela de
Henrique II, era do interesse dos Ingleses obter supremacia na Península Ibérica para
vencer a França, aliada de Trastâmara.
Henrique de Trastâmara antecipa-se aos portugueses que esperavam reforços Ingleses
que nunca chegaram, saqueando Lisboa, destruindo e incendiando os arrabaldes
perante a inércia de D. Fernando que se refugia em Santarém, colocando o reino numa
das piores situações que havia memória.
Embora nesta altura a Europa da Idade Média vivesse uma época conturbada no
aspeto religioso, com o Grande Cisma do Ocidente, opondo dois Papas, um em Roma e
outro em Avinhão, e D. Fernando apoiando, ora um, ora outro conforme os acordos
celebrados com ingleses ou castelhanos, a intervenção do Papa, neste caso de
Avinhão, salvou a independência de Portugal, embora sob condições humilhantes.
Após a morte de Henrique II de Castela em 1379, reinava Juan I de Castela, que
manteve a aliança com França de Carlos VI. Inglaterra envolvida na guerra dos cem
anos apostava na estratégia de dominar na Península Ibérica de forma a vencer a
França na Europa, assim, assina novo acordo com D. Fernando I, o Tratado de
Westminster em 1381. Mercenários Ingleses do Conde de Cambridge chegam a Lisboa
ao abrigo do Acordo de Westminster, causando mais dano e estragos a Portugal que os
próprios castelhanos, que nos invadem de novo, ameaçando Sintra, Palmela e Lisboa
que resiste mais uma vez, levando a novo acordo de paz entre as partes em 1383, o
Tratado de Salvaterra.
Neste acordo, a filha de D. Fernando fica prometida em casamento ao filho de D. Juan I.
Entretanto D. Juan I enviuvara e o acordo passa a contemplar D. Beatriz em casamento
com o próprio D. Juan I, única filha de D. Fernando e de D. Leonor Teles à data com
cerca de 10 anos de idade. Este tratado continha inúmeras cláusulas (resumidas pelo
Dr. Eduardo Bossa em conferência na Sociedade Histórica da Independência de
Portugal, 02 de maio de 1985), de modo a que Portugal nunca fosse integrado no Reino
de Castela, perdendo a sua independência:
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Leonor Teles, até nascer um filho ou filha a D. Beatriz. Quaisquer que fossem as
circunstâncias os dois reinos deveriam manter-se separados.
D. Leonor Teles unira-se ao nobre galego, o conde João Fernandes Andeiro, o mesmo
que negociou por Portugal o acordo de matrimónio de D. Beatriz. O seu governo era
apoiado pela maioria da nobreza que “governava” ainda vastos territórios em condições
mais ou menos próprias dum sistema feudal. Contra ela estavam a maioria da média e
baixa burguesia e o povo em geral.
O crescente mal-estar que se gerou entre as populações, a forte influência de um
galego, o conde de Ourém, João Fernandes de Andeiro no governo de Portugal,
provocara uma revolta encabeçada por D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis e
meio-irmão de D. Fernando (por ser filho bastardo de D. Pedro). O conde Andeiro foi
morto, em 06 de dezembro de 1383 por D. João Mestre de Avis, que se dirigiu ao Paço
Real, com Rui Pereira, Egas Coelho, Rui Mendes e Nuno Álvares Pereira. A rainha foi
obrigada a fugir e a unir-se, juntamente com grande parte da nobreza, a D. João I de
Castela. O mestre de Avis foi proclamado «regedor e defensor do reino», apoiado por
D. Nuno Álvares Pereira e outros nobres, num plano sabiamente gizado por Álvaro Pais
e João da Regras. Preparou-se o reino para enfrentar os partidários da rainha-mãe e do
rei castelhano. Em janeiro de 1384, D. João I de Castela invade Portugal, não
observando o estipulado no tratado de Salvaterra de Magos.
A invasão de Portugal pelas forças castelhanas acabou por ter lugar em janeiro de 1384
e, porque o que estava em jogo era o trono português, o objetivo era Lisboa. O rei de
Castela fez avançar as suas tropas segundo três eixos:
1º Eixo, janeiro de 1394: por Almeida, na Beira, tendo as tropas castelhanas chegado
rapidamente a Lisboa e pondo cerco a esta cidade durante vários meses; os seus
habitantes passaram fome e privações de toda a ordem, mas resistiram.
2º Eixo, 6 de abril de 1384: por Fronteira, no Alentejo; para barrar este eixo, ou seja,
para evitar ou pelo menos retardar a chegada destas forças a Lisboa reforçando as que
já ai tinham posto cerco à cidade, o Mestre de Avis enviou Nun’Álvares Pereira com
uma força que obtém, a 6 de abril de 1384, uma importante vitória na Batalha de
Atoleiros que obriga os castelhanos a desistirem deste eixo após terem sido batidos
numa batalha em que se aplicou uma nova tática, utilizando o poder de choque e de
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
3º Eixo, maio de 1384: por mar, com uma frota que saiu de Sevilha para dar apoio às
tropas que cercavam Lisboa.
Figura 4 – 7:
A primeira invasão castelhana (1384)
Sobre as defesas de Lisboa, por ocasião do cerco, Fernão Lopes deixa-nos o seguinte
relato:
”… Os muros da cidade não tinham falta de bom reforço; em 77 torres que ele tem bem
guarnecidas, há escudos, lanças, dardos e bestas de torno e de outras maneiras com
grande abundância de muitos virotões. Havia mais nestas torres muitas lanças de
armas e bacinetes (peça da armadura que cobria a cabeça) e outras armaduras. Tanto
reluziam que bem mostrara cada torre por si que era bastante para se defender. Em
muitas delas estavam trons bem acompanhados por pedras…”
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Após as cortes de Coimbra, D. João I de Portugal nomeia Nuno Álvares Pereira para o
cargo de Condestável do Reino, Álvaro Pais para Marechal e Gil Vasques de Coimbra
para Alferes-Mor do Rei.
O rei de Castela prepara uma nova invasão de Portugal; no Minho e no Algarve muitos
castelos mantinham arvorado o pendão castelhano; a Lisboa chegam entretanto tropas
inglesas para nos auxiliarem.
Os castelhanos fazem então uma incursão no Alentejo e põem cerco a Elvas sem que
consigam, no entanto, obter sucesso. Na Beira onde tinham também entrado sofrem
outra derrota. O rei de Castela reúne então as suas tropas em Ciudad Rodrigo e decide-
se a invadir Portugal com todo o seu poder. D. João I de Portugal reúne as suas forças
em Abrantes.
O rei castelhano passa a fronteira junto à Guarda, em 8 de julho de 1385, com a sua
melhor cavalaria, muitos cavaleiros franceses, gascões e grande número de
portugueses num total de cerca de 30.000 homens. Celorico foi facilmente submetido e
em Trancoso os castelhanos vingaram-se da derrota sofrida no ano anterior. Não
conseguem entrar em Coimbra nem em Leiria e só a sul desta cidade encontram um
lugar seguro para armar o arraial e reunir as forças.
Figura 4 – 10:
A 2ª Invasão Castelhana.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A ideia de D. Nuno em dar combate aos castelhanos por forma a impedi-los de chegar a
Lisboa acabou por ser aceite pelo rei. A hoste portuguesa pára então em Porto de Mós
e o Condestável, no dia 13 de agosto sai com 100 lanças a reconhecer a posição do
inimigo que não conseguiu avistar.
Nesse mesmo reconhecimento D. Nuno estudou cuidadosamente o terreno e escolheu,
para barrar o eixo de progressão dos castelhanos o topo de um esporão entre os
ribeiros do Vale de Madeiros e do Vale da Mata. Esse esporão era conhecido na altura
por «Cumieira de Aljubarrota», mas a povoação do mesmo nome ficava a cerca de 12
km a Sudoeste do local onde se travou a batalha. No século XIV, segundo as palavras
de Fernão Lopes, o planalto mantinha-se descampado com “… o chão coberto de
verdes urzes”.
Efetivos
Lanças Arqueiros Besteiros Peões Soma
VANGUARDA 600 50 (a) 650
ALA DIREITA 200 (b) 100 100 750 1150
ALA ESQUERDA 200 200 650 1050
2º LINHA 700 300 (c) 1050 2050
CURRAL 200 1400 1600
TOTAIS 1700 100 800 3900 6500
(a) – Escudeiros de escolta (b) – 100 estrangeiros (c) – 100 escolha do rei
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Na posição escolhida, a estrada passava mais próximo do flanco direito e por isso foi
decidido colocar os arqueiros ingleses na ala esquerda para explorar o maior alcance
dos arcos e melhor baterem a frente do dispositivo. Todos combatiam a pé, incluindo D.
Nuno e o Rei.
CAPÍTULO 4 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Esquema 4 – 3
A par do despeito causado pelo desaire militar sofrido no ano anterior (cerco de Lisboa
e batalha de Atoleiros), os castelhanos, que tinham aderido à causa do Papa de
Avinhão, traziam ainda algum antagonismo de caráter religioso relativamente aos
portugueses que se mantinham, pelo menos nesta altura, fiéis ao Papa de Roma.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 19
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Esquema 4 – 4:
É possível que tivessem sido feitos reajustamentos nos efetivos mas a nova posição foi
ocupada rapidamente. As posições relativas das alas mantiveram-se e portanto os
arqueiros ingleses, tal como na primeira posição, continuaram a manter-se no flanco
ocidental do dispositivo.
CAPÍTULO 4 – 20
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Esquema 4 – 5
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 21
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
ALJUBARROTA
TEMPO DA BATALHA
Esquema 4-6
Desenvolvimento da Batalha
1º tempo 2º tempo
Ações castelhanas
Ações portuguesas
3º tempo
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 22
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A vitória portuguesa começou a ser construída muito antes do dia 14 de agosto, quando
no conselho de guerra em Abrantes se definiu como Objetivo, impedir a progressão do
inimigo de chegar a Lisboa.
Movimentando o exército de Abrantes, onde se encontrava em expetativa estratégica,
para Aljubarrota, colocando o exército num terreno que lhes proporcionava Segurança,
utilizaram a Manobra de forma exemplar quando deslocaram e inverteram o dispositivo
de norte para sul, colocando-se numa nova frente face ao inimigo, menos forte, mas
com o terreno preparado e organizado com obstáculos construídos, como foram os
abatises, covas de lobo, estacas, fossos etc.
A intenção da disposição do exército português foi de colocar toda a Massa
concentrada num ponto, embora com Economia de Forças, pois foi criada uma reserva
em 2.ª linha, mas permitiu que, num dado momento da Batalha, os portugueses
estivessem em superioridade.
Após o embate dos exércitos, a maior capacidade de fogo sobre os adversários
apanhados de Surpresa por uma forma de combater que não estavam habituados,
onde se apostou num elemento importante que foi a Segurança, permitiu que sob um
Comando Único e uma obediência à cadeia de comando, se encetasse uma ação
Ofensiva no contra-ataque e na perseguição consequente à vitória obtida.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 23
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
“… evidentemente, quem combateu nas cidades e nos campos — o soldado raso, por
que assim digamos, — foi o povo, levado pelas ideias e pelos sentimentos que lhe eram
próprios: chamamos burguesa à revolução porque foi a burguesia que a inspirou de
facto, que lhe deu o rumo, que a dirigiu, que lucrou com ela. Com efeito, o que se gerou
na revolução de 1383— 1385 não foi só uma nova dinastia: foi uma nova proporção de
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 24
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
D. Nuno, novamente no Alentejo como fronteiro, foi desafiado por muitos castelhanos e
portugueses renegados para se desforrarem da derrota de Aljubarrota. Com uma força
de 5.000 homens, a 16 de outubro de 1385, na batalha de Valverde, D. Nuno Álvares
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 25
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Pereira alcança mais uma extraordinária vitória sobre os cerca de 30.000 castelhanos
que o tinham desafiado.
No ano seguinte, D. João I põe cerco a Tui, na Galiza, com uma hoste de 4.000 lanças
(cerca de 12.000 homens). A cidade capitulou a 26 de julho apesar da tentativa que
entretanto os castelhanos fizeram para invadir Portugal.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4 – 26
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
501. Introdução
Ainda antes de concluída a paz com Castela já em Portugal se preparavam novas
empresas. Em 1415 os portugueses tomaram Ceuta no Norte de África. Foi o primeiro
ato de uma expansão que nos levaria a África, à América e à Ásia. Neste processo, a
chegada de Vasco da Gama à Índia em 1498 é um ponto de referência dos mais
importantes na História do Mundo.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
“Sem se verificar uma rotura absoluta com a Idade Média anterior ao século XIV,
mostrou-se uma época fecunda que contribuiu para um melhor conhecimento do
homem e do mundo, uma época que transformou ou começou a transformar o próprio
homem (pela modificação das condições materiais e espirituais da vida), uma época
que descobriu até a unidade da raça humana.” (Em Renascimento Enciclopédia
FOCUS, volume IV)
Em Portugal, esta luta por um poder centralizado remonta a D. João I e este tipo de
regime político foi consolidado por D. João II e D. Manuel I. O processo de centralização
do poder foi particularmente violento no reinado de D. João II com a eliminação de
alguns dos mais destacados elementos da nobreza.
Não existe, nem nunca existiu, poder político sem a possibilidade de se afirmar pela
força. Se o poder político foi centralizado numa figura política, o rei, então a força
armada da Nação passou igualmente a depender cada vez mais, e só, do rei. Outros
fatores contribuíram para a centralização da força armada, mas podemos afirmar que,
em geral, esta evolução acompanhou a evolução política.
CAPÍTULO 5 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
O objetivo era que em todos os lugares, mesmo que fossem terras de nobres, existisse
sempre um número certo de besteiros proporcional à população. Nas listas que se
conhecem o número total chega a 4.484. Os números fornecidos pelas principais
cidades eram:
Ficava assim definido, de forma clara e atualizada, quem devia ter cavalo, que
armamento devia possuir cada um; quais as atribuições dos coudéis — aos quais
competia passar revista aos cavalos e armas para que os cavalos fossem sãos e as
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Apareceu uma nova classe de tropas — os artilheiros. Ainda não tinham uma
organização devidamente regulamentada e eram recrutados na classe dos mesteirais
(os profissionais das artes e ofícios) dos burgos. Deviam ter conhecimentos de
metalurgia e pirotecnia.
Quanto à marinha, o recrutamento não era muito diferente exceto no que respeitava
aos remeiros (eram então muito utilizados navios a remos) que eram escolhidos entre
condenados e cativos.
CAPÍTULO 5 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
portáteis já tinham no campo de batalha. Também testemunha o cuidado que este rei
punha na modernização do exército.
O reinado deste rei foi marcado por muitas lutas entre o rei e a nobreza que se explicam
na tendência para a centralização do poder. O cuidado posto na segurança do monarca
nunca era demais e, desta forma, a Guarda Real é aumentada para cerca de 1.000
cavaleiros de lança e para comandar esta força foi criado o cargo de «Capitão-mor dos
Ginetes». Ainda neste reinado compraram-se muitas armas no estrangeiro, a fim de
guarnecer os castelos reais que ficavam assim transformados em arsenais ao dispor do
rei.
Por morte de D. João II, em 26 de outubro de 1495, subiu ao trono D. Manuel, duque
de Beja, cunhado e primo do rei. Embora se tenha mantido a tendência para a
centralização do poder, os nobres viram muitos dos seus antigos privilégios restituídos.
No campo militar as suas mesnadas continuavam a ser parte importante da força militar
do reino. Só o duque de Bragança podia levantar quase um exército.
Tais exércitos eram, porém, caros e a sua manutenção, num império tão vasto como o
de Portugal era mais oneroso que as receitais conseguidas com o comércio do Oriente.
Com a subida de D. João III ao trono, em dezembro de 1521 entra-se numa nova fase
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Assim, logo em 1522, foi proibida a construção de mais fortalezas na Índia e foi ainda
nomeado Vasco da Gama, como vice-rei, para pôr cobro à anarquia que se fazia sentir
no Oriente. No Norte de África seguiu-se urna política igualmente restritiva das
despesas e abandonou-se algumas fortalezas (Arzila e Alcácer Ceguer). Pouco depois
já este rei tomava medidas para se iniciar a exploração do Brasil e tentar, desta forma,
diversificar a fonte de riquezas do reino.
Os atos de pirataria, por parte de ingleses, franceses e argelinos, faziam-se sentir cada
vez com mais intensidade. Era necessário defender as costas do reino e, neste sentido,
D. João de Castro é nomeado (1542) capitão-mor das esquadras guarda-costas do
reino, com a finalidade de manter um constante policiamento das rotas, escoltar as
naus vindas da Índia carregadas de mercadorias e dar caça aos corsários. Em 1544
aqueles tinham desaparecido do Atlântico.
As campanhas que Portugal continuava a desenvolver em todas as partes
enfraqueceram o potencial militar do reino. D. João III, numa tentativa de reduzir as
despesas de recrutamento, pelo Regimento de 7-VIII-1549, quis reorganizar a velha
milícia assente na organização municipal, tornando obrigatório para toda a Nação sem
distinção de classes, o serviço militar.
O Elemento Essencial do Combate cuja mudança mais afeta a estrutura militar é o fogo.
Embora as armas de pólvora fossem adotadas rapidamente por todos os exércitos, tal
não significa que fossem de início armas eficientes. Pelo contrário, os seus efeitos
foram, nos primeiros tempos, mais morais que de outra natureza. Eram pouco precisas,
o alcance era curto e o carregamento e disparo eram difíceis e demorados e sujeitos às
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
pelo choque com apoio do fogo, apta a parar a cavalaria de choque com os piques,
depois de a desorganizar com as bestas e a desmontar os cavaleiros com as alabardas,
é o melhor exército da época. Só nos finais do século XV, quando a precisão das armas
da pólvora é suficiente, os besteiros são substituídos, nos quadrados suíços, pelos
arcabuzeiros.” (em Apontamentos de História para Militares do General Loureiro dos
Santos, pagina 100)
Os Suíços adquiriram assim fama de invencíveis e esta fama espalhou-se por todos os
países europeus onde durante muito tempo serviram como mercenários ao serviço dos
mais poderosos soberanos. Os italianos, neste aspeto, seguiram-lhes o exemplo e
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Esta nova artilharia, pirobalística, cujas peças eram conhecidas por bombardas,
serpentinas, colubrinas, águias, sacras, serpes (serpentinas), falcões, berços, etc.,
utilizavam balas de pedra ou ferro e tinham já alguns modelos colocados sobre rodas
para que se pudesse deslocar no campo de batalha. Algumas peças atingem
dimensões notáveis como o famoso canhão de Dardanelos utilizado por Maomé II no
assalto a Constantinopla, em 1453.
Figura 5 – 3: Canhão de
Dardanelos feito em bronze,
pelos Turcos, utilizado na
queda de Constantinopla em
1453. Pesa 17 toneladas e cada
bala de pedra 306 kg.
A sua utilização no derrube das muralhas dos castelos, quando a qualidade das peças
já permitia essa utilização (segunda metade do século XV), provoca a decadência da
antiga fortificação medieval, feita de pedra, que evolui rapidamente para uma
fortificação rasante, com muralhas baixas e largas, capazes de absorver o impacto dos
projéteis mais pesados.
Mas as armas de fogo ligeiras também evoluíram e à antiga besta sucederam, se bem
que com muita desconfiança, o arcabuz e o mosquete que, à medida que se foram
desenvolvendo, permitiram ao combatente apeado bater os cavaleiros a uma distância
cada vez maior, agora é a proteção individual, a armadura, que é posta em causa.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Figura 5 – 4: Piqueiros
Alabardas e
Arcabuzeiros; Terços de
Infantaria; século XVI.
Em meados do século XVI, o exército espanhol evoluiu para uma nova formação o
«Tércio», baseado a associação de três colunelas e com um efetivo de cerca de 3000
homens (piqueiros e arcabuzeiros ou mosqueteiros) o Terço de Infantaria ou Tércio.
Esta formação combina os elementos essenciais de combate básicos: o fogo e o
choque. Este tipo de organização foi adotado pelos restantes países da Europa. Os
Franceses fizeram-no de imediato embora com unidades ligeiramente mais pequenas a
que chamavam legiões e, mais tarde, regimentos.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
E tão importante se foi revelando a ação desse poder de fogo, que os piqueiros foram
sendo substituídos gradualmente por arcabuzeiros, até que, no século XVI, as colunelas
apresentavam um número sensivelmente igual de combatentes de cada tipo. (em
Apontamentos da História Militar, ME 73-00-00, volume 1, do IAEM).
O sucessor de D. João III, o rei D. Sebastião, fez publicar em 1569 a legislação que iria
completar a anterior. Pela lei de 9 de dezembro desse ano foram definidas de forma
muito concreta as obrigações da população conforme as categorias sociais, a
propriedade territorial, os bens móveis, as profissões e as províncias (as disposições
não eram uniformes para todo o país).
CAPÍTULO 5 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Este recrutamento era dirigido pelos alcaides-mores nos lugares à sua responsabilidade
ou por fidalgos eleitos pelos municípios para o cargo de capitães-mores. Este era
coadjuvado por um Sargento-Mor e a ambos competia organizar a lista dos homens da
ordenança e fiscalizar, nos dois alardos anuais no início da primavera e do outono, o
seu grau de disciplina, o estado da instrução, as condições do armamento, etc. Durante
algum tempo, o comandante das forças de ordenança de urna comarca chamou-se
«capitão-general».
Para além do armamento que cada um devia adquirir à sua custa, as despesas de
pólvora e munições consumidas nos exercícios eram pagas pelos concelhos e, se estes
não dispusessem das verbas suficientes, estavam autorizados a lançar impostos
especiais.
Estas ordenanças, que não eram mais que tropa miliciana, deviam fornecer ao exército
em campanha homens já preparados para a guerra, constituindo, desta forma, um
fundo de recrutamento. Foram também aproveitadas para a defesa do litoral, sempre
ameaçado pelos corsários, exercendo vigilância e guarnecendo os fortes marítimos das
povoações próximas do mar. Em Lisboa organizaram-se quatro terços ou colunelas que
englobavam 12.000 ordenanças. As companhias de ordenanças faziam parte das
forças que se bateram Alcácer-Quibir
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Muitas pessoas consideravam já a Índia uma empresa sem futuro. Faziam-se ouvir
cada vez mais os defensores de urna intervenção em Marrocos invocando o perigo
constante em que se encontravam as fortalezas portuguesas no Norte de África, a
pirataria que continuava a ameaçar a navegação e outros motivos nos quais se incluem
os de ordem religiosa.
Para os que queriam procurar argumentos mais fortes, a ameaça otomana que pairava
sobre a Península Ibérica era efetivamente real. A situação interna de Marrocos e o
perigo de todo o Norte de África cair nas mãos dos Otomanos, pesaram muito na
decisão do rei português. “Grande receio advinha de um possível ataque à costa do
Algarve, e quando D. Sebastião, em 1572, promulgou os novos estatutos das ordens
militares, tinha como objetivo dispor de auxílio militar para defesa do reino.” (obra
citada, pagina 71)
“É notório que desde os meados do século XVI os Mouros redobraram os seus ataques
à costa do Algarve, obrigando a coroa a tomar medidas sérias de defesa. D. Sebastião
mandou cercar de muros a vila de Alcantarilha, que por 1550 fora saqueada com alguns
lugares anexos, e voltam mais tarde a sofrer novas assédios O monarca ordenara
também a construção de uma torre e fortaleza na barra de Tavira, para proteger as
naus que ali se acolhiam e para barrar a entrada dos «inimigos». Pelo ano de 1577, os
moradores desta vila, no dizer do cronista do Algarve, viviam sempre «com o olho sobre
o ombro», para se defenderem dos mouros que muitas vezes acometiam a sua costa; O
afastamento do perigo constituiu assim uma das razões da expedição a Alcácer-Quibir.”
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Figura 5 – 6: gravuras do
século XVII que representa o
dispositivo da batalha de
Alcácer-Quibir.
Apesar de todas estas razões e dos defensores de uma intervenção ativa em Marrocos,
muitas vozes se levantaram no sentido contrário. O próprio Filipe II de Espanha e o
duque de Alba apresentaram razões que desaconselhavam a empresa. A situação
interna de Marrocos que caminhava para a sujeição ao imperador turco era uma boa
justificação para intervir, mas o risco era efetivamente demasiado elevado.
“Mas D. Sebastião vivia a hora de um sonho militar, desejando como «bem nascida
segurança do Reino» cobrir-se de glória”. (obra citada, página 73).
“No dia 24 de junho saía do Tejo uma grande frota, com 940 velas e 24.000 homens,
sendo 3.000 cavaleiros, 2.000 mercenários italianos, espanhóis e alemães (que o
cronista define de «mal aventurados») O mesmo cronista informa que «destes 24.000
homens, os 17 mil eram forçados e descontentes». Ia a principal nobreza do Reino e,
muitos oficiais mecânicos”. (obra citada, página 76).
CAPÍTULO 5 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
D. Manuel&Maria de Aragão
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
O papel cada vez mais importante que o elemento fogo começava a desempenhar no
combate provocou o abandono gradual da ordem cerrada e profunda e a adoção de
formações mais abertas e mais estreitas. Abriram-se as formações para que o poder de
fogo do adversário não encontrasse alvos tão remuneradores e diminuíram-se as fileiras
para fazer chegar mais à frente o máximo poder de fogo possível. A cavalaria perde,
também devido ao poder de fogo das novas armas, o seu antigo poder de choque e
torna-se adequada a outras missões: proteção, reconhecimento, flagelação.
Este processo não foi nem fácil nem rápido. Dependeu muito da utilização de
progressos técnicos e do aparecimento de chefes militares que deles soubessem tirar o
máximo proveito. Para se alterarem as condições do campo de batalha é necessário
que se alterem, antes de mais, os instrumentos de combate e na época que estamos a
estudar as transformações eram ainda muito lentas.
Piques
Mosquetes
_________________________________________________________________________
Esquema 5 – 3: Organização do
Exército de Nassau.
CAPÍTULO 5 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Este novo dispositivo apresentado por Gustavo Adolfo representa o ponto máximo da
evolução do binário fogo-choque (mosqueteiros-piqueiros) que tinha começado pela
predominância dos piqueiros e termina pela ação prioritária dos mosqueteiros. Tinha
sido abandonada a primitiva ordem cerrada e profunda das falanges suíças e chegou-se
a um dispositivo com características de ordem aberta e estreita ou linear.
“…o Exército Sueco formava em duas linhas […] dispostas em escalões alternados de
piqueiros e mosqueteiros, e apoiados e reforçados por Cavalaria e Artilharia – com as
bocas de fogo à frente, e os cavaleiros nas alas. A retaguarda era mantida uma reserva
geral composta por cavalaria e mosqueteiros, …” (Em Apontamentos de História, IAEM,
ME 73-00-00, pág. 115).
“A orientação geral das sucessivas adaptações que foram aparecendo pode sintetizar-
se da seguinte maneira o aumento do poder de fogo próprio diminui o número de fileiras
e tira importância aos piqueiros; o aumento do poder de fogo adverso leva à
necessidade de menores formações, de intervalos e do aumento da mobilidade.” (Gen.
Loureiro dos Santos, obra citada, pagina 103).
Piques
Esquema 5 – 4: Organização do
Exército de Gustavo Adolfo
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Esquema 5 – 5: Desenvolvimento da
batalha de Breitenfield.
Os mosquetes e piques organizados como os suecos, serviam para fixar o inimigo para
que a cavalaria batesse os mosquetes e piques numa primeira fase com tiros de pistola,
num sistema em carrossel, disparando, retirando-se para recarregar e voltando a
disparar frente ao inimigo, sucessivamente, para depois carregarem sobre os piqueiros.
Este sistema, apoiado pela artilharia que iniciava os combates, foi decisivo durante a
guerra dos trinta anos, nomeadamente na batalha de Rocroi (18 de maio de 1643), em
que a vitória de Condé sobre os Terços espanhóis foi decisiva e marca o fim da
hegemonia deste dispositivo de combate.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Para além destas inovações que, no reinado de Luís XIV, transformam o exército
francês no mais moderno da Europa, o marechal Vauban introduz melhoramentos
consideráveis nas técnicas de construção de fortificações, que adotaram a traça
italiana, com formas poligonais, de muralhas baixas e espessas, tornando-as mais
adaptadas ao terreno, suprimindo os ângulos mortos. Em conclusão, adequando-as a
uma melhor utilização do fogo.
O assédio tentado sempre de surpresa e com rapidez, quase nunca resultava, e o
método que se seguia era o medieval, criando duas linhas, uma de Contravalação,
virada para a praça sitiada, e outra de Circunvalação, virada para fora da praça sitiada
para impedir a aproximação de exércitos de socorro.
Este marechal adaptou pela primeira vez um sabre ao mosquete, criando o sabre-
baioneta, que permitiu mais tarde ao soldado apeado possuir poder de fogo e de
choque em simultâneo. A introdução das espingardas de pederneira no exército francês
conduziu ao aumento exponencial dos volumes de fogos na frente. As batalhas
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 19
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Filipe II de Espanha entrou em Portugal em dezembro desse ano e por cá ficou até
1583. Entretanto, nas cortes de Tomar (abril de 1581) foi solenemente jurado e
aclamado rei de Portugal com o título de Filipe I. Ficou estabelecido nessas cortes que
Portugal manteria muita da sua autonomia, mas a política externa passava a ser comum
aos dois países. A administração ficou inteiramente nas mãos de portugueses mas o
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 20
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
No final dos anos vinte, do século XVII, decorria na Europa a «Guerra dos 30 Anos».
Tal conflito obrigava a Espanha a empenhar-se com grandes despesas e grande
sacrifício humano. A França recorria a todos os meios para evitar que os Espanhóis
mobilizassem contra ela todas as suas forças. Por seu lado, os Espanhóis levavam
cada vez mais tropas portugueses para lutas que não nos diziam diretamente respeito e
contrariavam o que tinha sido estabelecido nas cortes de Tomar em 1581.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 21
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 22
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
“Algumas batalhas de campo deram vitória aos exércitos nacionais, mas, regra geral, a
guerra teve os seus altos e baixos para as dois contenderes. Os Espanhóis atuavam
normalmente como invasores e os Portugueses como defensores.” (em Historia de
Portugal do Professor A. H. de Oliveira Marques, edição Ágora, 3ª edição 1973, volume
I, paginas 445 e 446)
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 23
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
b. 2ª Fase
“de 1647 a 1656…, caracterizada pela atitude defensiva dos portugueses no Reino,
que se limitavam a cobertura e defesa das praças do Alentejo, Beira e Minho, ao passo
que no Brasil e em Africa conseguiram expulsar os holandeses de Pernambuco e
Angola…”
CAPÍTULO 5 – 24
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
c. 3ª Fase
“de 1657 a 1660, …, caracterizada pelo malogro da enérgica ofensiva dos espanhóis, já
desembaraçados de outras guerras e dificuldades políticas no centro da Europa.”
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 25
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
d. 4ª Fase
“de 1660 a 1668, desde a chegada de Schomberg a Lisboa (1660) até à paz (1668,
fevereiro), e caracterizada pela enérgica reação dos portugueses…”
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 26
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Em junho de 1662 o governo do reino fica, na prática nas mãos do conde de Castelo
Melhor, um dos mais lúcidos e enérgicos estadistas que Portugal conheceu. A partir de
então a guerra entrou numa fase decisiva. Schomberg como chefe de estado-maior e
Castelo Melhor como governante que organiza a retaguarda e fornece os meios às
tropas combatentes conseguiram, numa perfeita conjugação de esforços levar a melhor
sobre o poderoso exército espanhol.
Apesar da capitulação de Évora em maio de 1663, o exército português auxiliado pelos
contingentes britânicos conseguiu a brilhante vitória na batalha do Ameixial (8 de junho
de 1663) em que toda e artilharia espanhola, 1.400 cavalos, milhares de armas, 2.000
carros e muitos outros despojos caíram em poder dos portugueses, para além da
libertação de 4.000 prisioneiros que se encontravam em poder dos espanhóis. Merecem
também menção as batalhas de Castelo Rodrigo (7 de julho de 1664) e em especial, a
de Montes Claros (17 de junho de 1665) em que as tropas portuguesas, apesar de
ocuparem uma posição pouco vantajosa, conseguiram, com a heroica resistência da
infantaria e extraordinárias manobras da cavalaria, libertar o nosso território
definitivamente.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 27
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Do ponto de vista económico a situação não era melhor. “Todo o Império Português
atravessava uma séria crise com a irrupção vitoriosa de Holandeses e Ingleses. A Rota
do Cabo, eixo da estrutura económica, deixara de constituir a fonte principal da
prosperidade e das receitas. O tráfico português entre Lisboa e a Índia reduzira-se a
menos de um terço desde 1560: […] Portugal perdera o monopólio comercial […] até no
tráfico atlântico, isto é, o que se baseava nos escravos, no açúcar e no tabaco,
declinara com os consecutivos ataques de estrangeiros ao Brasil, às Índias Ocidentais,
e costa ocidental africana e às rotas de navegação.
Com uma situação destas o exército que podíamos formar para lutar pela nossa
independência não podia passar de um agregado de soldados mal preparados e
frequentemente mal comandados. Como ponto favorável tinha as excelentes qualidades
guerreiras do povo português.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 28
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Para isso foi criado um órgão de apoio à tomada de decisão do rei, o Conselho de
Estado, um órgão de consulta do rei, que nele se apoiava para tomar as grandes
decisões políticas, quer ao nível interno quer ao nível externo.
Contudo a questão da Independência não se resumia a ações diplomáticas era também
necessário criar condições para restruturar um exército capaz de a defender.
Neste ponto as dificuldades eram acrescidas, pois a governação espanhola dos Filipes
tinha arruinado a nossa economia, a agricultura estava praticamente abandonada
devido ao êxodo em massa dos Portugueses para o Brasil procurando melhor
condições de vida.
Relativamente ao exército, este tinha sido desmantelado aos poucos e dissolvido nos
Tércios Espanhóis, as fortalezas de fronteiras abandonadas, e a nossa antiga armada,
era por esta altura uma amostra insignificante da mais poderosa armada que navegou
os mares de todo o mundo.
Para tentar resolver este problema, foram criados vários organismos da estrutura
superior do exército e marinha tais como:
Conselho de Guerra, que foi um órgão fulcral da Restauração. Era presidido pelo
Capitão-General das Armas do Reino, sendo constituído por fidalgos experientes, em
que o seu objetivo era a centralização de todos os assuntos militares. Pode-se
comparar grosso modo ao atual ministério da defesa.
Para o tratamento das questões internas, o Capitão-General das Armas do Reino tinha
sob as suas ordens diretas os Governadores Militares Provinciais (Entre-Douro-e-
Minho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Entre-Tejo-e-Odiana e Algarve).
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 29
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Para operacionalizar a reforma das forças armadas, criaram-se órgão intermédios que
tinham como principal incumbência o financiamento, reequipamento, rearmamento e
fortificação das fronteiras, que foram assim denominados:
Junta dos Três Estados que superintendida no aprovisionamento do exército e das
praças do Reino;
Junta do Comércio que cuidava do aprovisionamento da marinha de guerra;
Junta das Fronteiras, especialmente incumbida no que dizia respeito às fortificações,
ainda de importância capital, sobretudo nas regiões de fronteira.
Foram também criados alguns cargos com responsabilidades na área da defesa, dos
quais se destaca o de Tenente General da Artilharia do Reino com jurisdição sobre o
que respeita às armas, pólvora, artilharia, fundições, fortificações e defesa de praças.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 30
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Muitos dos oficiais que enquadravam este novo exército tinham adquirido certa
experiência da forma como combatia a infantaria espanhola nas guerras da Espanha na
Flandres.
Desde sempre a cavalaria tinha sido um privilégio das classes superiores (ou apenas
estas tinham possibilidade de pertencer à cavalaria). Esta era uma questão que,
segundo a mentalidade da época, se tornara pertinente levantar e, por alvará de 1642,
o exercício da cavalaria pertencia particularmente à nobreza. Os próprios soldados
eram normalmente recrutados entre os filhos segundos das famílias fidalgas. Para
garantir a boa preparação desta classe de combatentes foi criado o cargo de Tenente
General da Cavalaria que era um inspetor da cavalaria em cada exército.
Estas tropas eram pagas pela coroa: recebiam pão e 50 réis por dia. Os oficiais eram
recrutados na nobreza e nomeados pelo rei. Os soldados eram recrutados nas listas de
ordenanças (por sorteio) entre os filhos segundos de todas as classes exceto filhos de
viúvas e os lavradores, estes serviam nas Tropas Auxiliares.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 31
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Perante uma situação tão difícil era necessário tomar as medidas adequadas com a
máxima urgência. Um decreto de 11 de dezembro de 1640 criou o Conselho de Guerra
que tinha a missão de centralizar e superintender em todos os assuntos respeitantes à
guerra. Equivalia a um atual ministério da defesa. De igual forma foram rapidamente
criados outros órgãos que tinham a ver com assuntos militares: a Junta dos Três
Estados que superintendida no aprovisionamento do exército e das praças do Reino o
Conselho Ultramarino que tratava da defesa das colónias; a Junta do Comércio que
cuidava do aprovisionamento da marinha de guerra; a Junta das Fronteiras,
especialmente incumbida do que dizia respeito às fortificações, ainda de importância
capital, sobretudo nas regiões de fronteira.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 32
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Foram também criados alguns cargos com responsabilidades na área da defesa dos
quais se destaca o de Tenente General da Artilharia do Reino com jurisdição sobre o
que respeita às armas, pólvora, artilharia, fundições, fortificações e defesa de praças.
Foram nomeados Governadores de Armas (cargo que correspondia ao do antigo
Fronteiro-Mor) por cada província (Alentejo, Algarve, Beira, Trás-os-Montes, Minho e
Estremadura). Cada uma destas províncias dividia-se em comarcas, que em todo o
Reino totalizavam 25. Em cada comarca, um Capitão-Mor, coadjuvado por um
Sargento-Mor e dois ajudantes, superintendia no alistamento de todos os homens
válidos dos 16 aos 60 anos. Estes eram agrupados em Companhias de Ordenanças,
de 240 homens cada, em conformidade com o Regimento de Ordenanças de 1570.
Cada uma destas companhias dispunha de um capitão e demais oficiais, propostas em
cada comarca pelo capitão-mor ou pelas câmaras e nomeados por carta patente do rei.
Destas Companhias de Ordenanças saíam os elementos para o Exército de Primeira
Linha e para as Tropas Auxiliares.
A fortificação mereceu, como no podia deixar de ser, uma atenção muito especial sob
influência da Escola Francesa, D. João IV nomeou engenheiros-mor do reino de
nacionalidade francesa que introduziram em Portugal as técnicas desenvolvidas por
Vauban. Nos primeiros anos, no entanto, essas técnicas limitaram-se quase só a
adaptar de uma forma racional a fortaleza ao terreno a fortificar e muitas obras
exteriores completaram as anteriores fortificações das praças.
Foi feito um esforço muito grande de fortificação no Alentejo pois foi considerado que
seria esta a região preferida pelos espanhóis para invadirem Portugal. O desenrolar das
campanhas demonstrou que se tratou de um esforço oportuno e acertado. Em Lisboa,
as fortificações foram fundamentalmente de natureza marítima. Este conceito
estratégico da fortificação manteve-se durante as guerras da primeira metade do século
XVIII (Guerra da sucessão e parte da Guerra dos Sete Anos).
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 33
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Para instrução dos oficiais foi criada a Aula de Fortificação e Arquitetura Militar o que
demonstra a importância que as praças-fortes tinham na tática daquela época. Foram
igualmente tomadas medidas tendentes ao ensino e aperfeiçoamento dos artilheiros.
Com vista e reforçar a cobertura que os Terços Auxiliares davam em todo o País
ordenou ainda que os comendadores e cavaleiros das Ordens Militares estivessem
apetrechados com armas e cavalos para a guerra e criou um terço de infantaria formado
pelos clérigos e freires do arcebispado de Lisboa, tendo por comandante o Deão da Sé.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 34
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
No século XVII, como já vimos, a nação estava semeada de praças e os exércitos não
se atreviam a penetrar em território inimigo sem as neutralizarem primeiro, o que
significava recorrer frequentemente à guerra de sítio. Nestas circunstâncias é natural
que Elvas tivesse sido um chamariz para o exército espanhol, tal como Badajoz foi para
o exército português.
Neste tipo de guerra, o exército sitiante (o que atacava a praça forte) começava por
investir a praça, fazendo o máximo uso da surpresa o que muito raramente era
conseguido. Não obtida a surpresa, envolvia-se completamente a praça com duas
linhas de entrincheiramentos:
A Linha de contravalação, voltada para a praça, com o fim de se opor às saídas da
guarnição;
A Linha de Circunvalação, voltada para o exterior, para deter qualquer tentativa de
socorro.
Esta tentativa de socorro era uma operação muito arriscada numa época em que a
preponderância do fogo já conferia importantes possibilidades ao defensor. De facto, o
atacante começava a sofrer a 600 metros a ação da artilharia e a 200 metros o fogo dos
mosquetes.
A partir da Linha de Contravalação era então lançado ataque à praça que normalmente
resistia. Algumas vezes à custa de pesadas baixas o atacante rompia a linha do inimigo
no assalto realizado com piques e conquistava a praça-forte.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 35
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Entretanto os castelhanos
estabeleceram-se em volta de Elvas,
organizando as linhas de circunvalação
e seis quartéis de acampamento
distanciados entre 600 e 1200 metros
da praça. Esses acampamentos ou
quartéis estão assinalados na
figura 5 – 8.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 36
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
Para libertar a Praça de Elvas foi aprovado em Conselho de Guerra o plano que
consistia em avançar diretamente sobre Elvas e atacar com toda a energia sobre uma
frente única pelo lado dos Murtais, em combinação com uma vigorosa saída dos
sitiados. Este plano foi transmitido a D. Sancho Manuel (comandante da Praça de
Elvas) com o pedido para enviar cinco soldados que conhecessem bem o terreno, para
servirem de guias. Estes, depois de saírem de Elvas, não conseguiram atravessar as
linhas espanholas e caíram prisioneiros. É, portanto, de presumir que os espanhóis
ficaram logo senhores das intenções dos portugueses.
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 37
CFS / HISTÓRIA MILITAR
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
CAPÍTULO 5 – 38
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 6 HISTÓRIA MILITAR SÉCULO XVIII
601. Introdução
Desde o início do reinado de D. Pedro II (1667 como regente) e da assinatura do tratado
de paz com a Espanha (1668), em que se reconhecia a independência plena de
Portugal, que se vivia em ambiente de estabilidade política. Tanto o reinado de D. Pedro
II (1667 a 1706), como o de D. João V (1706 a 1750), foram longos e ajudaram a essa
estabilidade.
Este longo período de estabilidade não foi totalmente isento de conflitos externos. A
Guerra da Sucessão de Espanha trouxe devastação ao Alentejo e Beira, entre 1704 e
1708, embora as forças portuguesas e aliados tivessem, em regra, obtido vitórias. Em
1716 e 1717, D. João V enviou duas esquadras para ajudar o Papa e Veneza a
combater os Turcos.
CAPÍTULO 6 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
compostos por 12 companhias. O Agrupamento de 2 Regimentos passa a constituir a
Brigada.
Nas “Novas Ordenanças” de João V o recrutamento este era feito com base no
preconizado nas “Ordenações Sebásticas” do séc. XVI.
Após o tratado de paz de Utrecht, que pôs fim à guerra de sucessão espanhola, o
efetivo foi reduzido e em 1735, D. João V, vai adotar o batalhão (600 homens), como
unidade tática de infantaria, correspondendo um Regimento a 2 batalhões, e a adoção
da espingarda de pederneira para toda a Infantaria, assim como a constituição de
unidades de Granadeiros.
Estas medidas, no entanto, não foram totalmente aplicadas, e no reinado de D. José I
ficaram esquecidas, por ação do marquês de Pombal, até às invasões da Guerra
Fantástica.
602. Reformas militares na Europa desde o Tratado de Vestefália até séc. XVIII
Após o tratado de Vestefália em 1648, os exércitos vão sofrer alterações na sua
organização e empenhamento estratégico.
Os exércitos a partir de então passam a ser o garante da independência de cada país,
que coligados em alianças tentam manter o equilíbrio de forças entre as várias
potências Europeias. Para que esta intenção prevalecesse, foi necessário a criação de
exércitos “profissionais” e “permanentes” às ordens dos monarcas quer em tempo de
guerra, quer em tempo de paz, levando a avultadas despesas para a sua manutenção.
As guerras eram feitas exclusivamente pela vontade da coroa, que utilizava a máquina
militar como instrumento da sua política.
Neste período, finais séc. XVII e meados séc. XVIII, a guerra era de desgaste e assédio.
De desgaste, não de aniquilamento, de forma a esgotá-lo e não a destruí-lo
completamente. De assédio porque a estratégia baseava-se no cerco das cidades e
fortificações, no corte de comunicações e abastecimentos, obrigando o estado
antagonista a capitular, devido à falência logística e financeira, e levá-lo a negociar em
desvantagem, que o vencedor explorava, tirando dividendos políticos e mais importante:
económicos
CAPÍTULO 6 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
603. Arte Militar Moderna. Séc. XVIII, “Manobra de Frederico”.
O exército prussiano de Frederico II foi um exército modelo no século XVIII. Retratava
todas as tendências que até então se revelaram. Utilizou como arma de fogo portátil a
espingarda de pederneira com baioneta, que transformava o infante simultaneamente
em elemento de fogo e de choque e beneficiou de um grande desenvolvimento da
artilharia.
A espingarda tinha uma cadência dupla da do mosquete, 3 tiros por minuto. Isto
significava que o combatente demorava metade do tempo a carregar a arma. Assim era
possível diminuir o número de fileiras e manter a mesma densidade de fogo na frente.
Os dispositivos tornaram-se longos no sentido da frente, e estreitos, no sentido da
profundidade. A ordem de batalha profunda atuando pelo choque dos terços de
piqueiros, dá lugar à ordem linear atuando pelo fogo dos mosquetes e espingardas.
Com estas mudanças táticas, os soldados tinham que ter preparação, instrução e treino
prévio, para que a linha desenvolvesse em ordem e eficazmente frente ao inimigo,
exigindo uma grande disciplina de fogo, de modo a obter o máximo volume de fogos.
CAPÍTULO 6 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
O combate começava pelas descargas da artilharia e da infantaria, ao que se seguia a
luta corpo-a-corpo. O fogo tem um papel importante na preparação do combate. A
decisão é obtida ainda pelo choque da infantaria armada de espingardas com sabre-
baioneta ou da cavalaria. Estes dispositivos longos (no sentido da frente) são difíceis de
manobrar no terreno pelo que se pratica a ação paralela e frontal. Os melhores chefes
militares não perdem, contudo, a oportunidade de com as suas forças mais recuadas,
tentarem manobrar pelas alas.
O facto de os exércitos serem caros também os obriga, por um lado, a serem mais
pequenos e, por outro, a planear com mais cuidado o seu emprego o que vem reforçar,
mais uma vez, a ideia de profissionalismo. Evitam-se as batalhas e procura-se
desgastar o inimigo atingindo as linhas de comunicações e os seus abastecimentos. A
guerra apostava numa estratégia de desgaste económico e material de um estado, não
o seu aniquilamento, para retirar dividendos num tratado de paz subsequente à guerra.
CAPÍTULO 6 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
(veja-se o caso do Alentejo em Portugal) constituindo, para o exército amigo, bases de
manobra e centros de reabastecimento e, para o exército inimigo, pontos fortes que não
deve ignorar porque veria a sua retaguarda ameaçada.
CAPÍTULO 6 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A cavalaria englobava os campos de «couraceiros», «dragões» e «hussardos». O seu
terreno tinha como base a equitação, a esgrima e os movimentos táticos a galope. Os
couraceiros eram utilizados nas cargas a galope para obterem o máximo poder de
choque enquanto as unidades ligeiras de hussardos e dragões caracterizavam o seu
combate pela «carga a varrer», e pelas missões tradicionais de cobertura, exploração,
incursão e reconhecimento.
Neste período os exércitos vão ser fracionados em unidades menores que melhoravam
a manobra e os deslocamentos, criam-se as Divisões, que permitem ao exército
progredir separadamente em colunas por caminhos diferentes, concentrando-se na
zona da batalha.
Utilizando o mesmo principio Divisionário de separação dos corpos e dos elementos de
choque e fogo atribuídos agora ao combatente, as unidades surgem mais moveis,
permitindo atacar o inimigo pelos flancos em manobras torneantes, muito rápidas e
eficazes, sem cometer o “suicídio” de um ataque frontal em grande escala.
CAPÍTULO 6 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 6 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Para que esta manobra tivesse sucesso assentava, resumidamente, em três
pressupostos, que eram a Liberdade de Ação, (recorrendo à tomada de iniciativa, a
ousadia e ardis e à rapidez na execução da manobra), garantida pela surpresa, mas
nunca descurando a segurança, a Manobra de Envolvimento, e a Concentração de
Esforços ou do potencial da força num ponto mais vulnerável, normalmente nas alas.
Frederico II da Prússia, sublinhava, que as guerras deveriam ser o mais breves
possível, mas intensas, e que se deveria ter a iniciativa do ataque, escolhendo o melhor
momento para com isso obter vantagem sobre o inimigo.
Para isso Frederico obedecia a quatro princípios fundamentais:
a. Disciplina e treino
Feroz disciplina em que afirmava “Os homens devem temer mais o seu chefe
que o inimigo.”
Soldados treinados com autómatos nas marchas e no tiro tornando-os “Baterias
andantes”.
b. Logística
“Os Alicerces de um exército são o estômago.”
Planeamento de depósitos, arsenais e comboios, ao longo da marcha do
exército.
c. Ofensiva para solução objetiva dos conflitos
“As Guerras só se decidem com batalhas.”
Frederico II defendia sempre uma ação ofensiva sobre o inimigo, como forma
única de vencer. Mais tarde deu também espaço para a defensiva.
d. Praticabilidade do emprego de meios
Definição da melhor forma de emprego de meios disponíveis face às diferentes
situações que podiam ocorrer, quer na campanha quer na batalha,
pormenorizando o emprego combinado da diferentes Armas.
CAPÍTULO 6 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 6 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Antes do início da Guerra Fantástica, 1762, conflito inserido na Guerra dos Sete Anos,
de 1756 a 1763, opondo a França a Inglaterra e que assolou o Norte e centro do país,
D. José tomou uma série de medidas que tinham como objetivo melhorar o valor da
força armada do reino, mas sem que alterassem a verdadeira capacidade defensiva da
nação e que se baseou no aumento dos efetivos, baseado num recrutamento forçado
dos mais humildes, que sem vontade, sem comando, sem armamento e sem treino, não
passava de um aglomerado de gente sem objetivos.
Mas, então como hoje, os números não representaram o valor da força e há limites
inferiores de organização, de disciplina e de treino, que se ultrapassados, como
infelizmente sucedera antes da Guerra, destoem a coesão, e força moral e a
operacionalidade de qualquer Exército, que só com muita habilidade e dilatado tempo
poderão ser reconstruídas. É que as estruturas de defesa, a competência dos quadros,
CAPÍTULO 6 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
os hábitos de disciplina e instrução, a coesão e a força anímica dos combatentes
podem facilmente destruir-se por desatenção do Poder, mas não se constroem de
imediato, por disposições régias ou decretos.
CAPÍTULO 6 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
oficiais e várias unidades os ingleses enviaram a Portugal o Conde de Lippe, oficial da
mais elevada craveira, com o encargo de reorganizar as forças nacionais.
Esta ação imediata do Conde de Lippe na guerra de 1762 veio demonstrar que, contra o
que nós próprios pensávamos, tínhamos possibilidade de defender o País contra forças
superiores. O importante agora era selecionar e formar os quadros militares e investir
na instrução, no equipamento e no armamento. Muitos documentos escritos enviou o
Conde de Lippe ao governo português, procurando demonstrar que seria sempre mais
caro refazer apressadamente um exército, para acudir às crises, do que mantê-lo em
permanência com uma capacidade operacional credível.
CAPÍTULO 6 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Terminada a campanha da Guerra Fantástica, a pedido de D. José I continuou o
trabalho de reorganização para que o exército português ficasse em condições de
cumprir a missão de defesa do reino. Para isso introduziu em Portugal os princípios da
escola militar de Frederico II da Prússia. Essa escola defendia uma disciplina dura, um
treino intenso, constante aperfeiçoamento técnico e profissionalismo. A sua ação tática
baseia-se na mobilidade dos fogos de artilharia e na manobra que concentra os fogos
da infantaria seguida do seu poder de choque e as cargas de cavalaria em ação
decisiva, em geral num flanco do adversário. Esta capacidade de manobra é utilizada
para concentrar forças quando e onde necessárias. Tal ação tática necessita para ser
executada de aturado treino, o que não era prática no exército português da época.
CAPÍTULO 6 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Pelos nossos soldados exprimiu o Conde de Lippe a
sua admiração na seguinte passagem; “admirável
perseverança do soldado português, que suportou
as maiores privações, e que, não obstante o pronto
estrago do calçado, marchava alegremente por
aqueles caminhos de agudos rochosos, deixando
por toda a parte vestígios dos seus pés
ensanguentados”.
Estas novas instruções foram objeto de treinos e demonstrações, como por exemplo, as
manobras realizadas logo em 1763, no Campo da Ajuda, com 4 regimentos de
infantaria e uma força de artilharia. Os melhoramentos foram tais que em 1766 um
observador estrangeiro escrevia: “A infantaria portuguesa está muito bem disciplinada.
Marcha e manobra bem; mas é necessária mais prática de campo…”.
Foi ainda dado um grande impulso ao levantamento de plantas e cartas militares o que
se deveu à importância que o conhecimento do terreno tinha para as manobras táticas e
para a execução das obras defensivas.
CAPÍTULO 6 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Deixou-nos ainda regulamentos sobre a forma como deviam ser feitos os
recrutamentos, sobre a justiça e disciplina militares, sobre os recursos financeiros,
armamento, munições, víveres e fardamentos. De tudo o que mandou publicar destaca-
se:
«Regulamento para o Exercício e Disciplina dos Regimentos de Infantaria», de
1763, que ainda eram utilizados no século XIX;
«Regulamento para o Exercício e Disciplina dos Regimentos de Cavalaria», de
1764, que serviu também por muitos anos;
«Instruções Gerais relativas as várias partes do serviço diário», de 1762, que
foram reimpressas no século XIX;
«Ordenança que determina as obrigações dos inspetores das tropas», de 1767;
«Direções que hão de servir para os senhores Coronéis, Tenentes-coronéis e
Majores de Regimentos de Infantaria», de 1767.
CAPÍTULO 6 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
701. Introdução
O século XVIII foi o século das revoluções. Em 1762 Jean-Jacques Rousseau fez esta
profecia: «Aproximamo-nos do estado de crise e do século das revoluções». Os
acontecimentos cedo lhe deram razão: entre 1773, o ano em que estalou a rebelião das
colónias inglesas da América, e 1789, data que assinala o princípio da Revolução
Francesa, o mundo ocidental foi sacudido por motins que, em alguns países, tentaram
alterar a ordem estabelecida. É o caso da Suíça (em particular, em Genebra), das
Províncias Unidas (a atual Holanda) e dos Países Baixos do sul, austríacos (a atual
Bélgica).
O fracasso dos mencionados movimentos não constituiu obstáculo para que o ideal
revolucionário se alargasse durante o último quartel do século XVIII. Os extraordinários
progressos das ciências e das técnicas, assim como os primórdios da industrialização,
modificaram os costumes. Influenciadas pelos filósofos que divulgavam as novas ideias
sobre a igualdade inata dos indivíduos e a possibilidade de entendimento entre os
homens, muitas pessoas começaram a raciocinar e a criticar melhor: exigiram, mais
umas liberdades e quiseram ser responsáveis pelo seu destino, sem estarem sujeitos
por muito tempo à cega obediência a um príncipe absoluto, por muito justo que este
fosse.
Estas aspirações não passaram, em regra, dos ambientes mais cultos. Nas camadas
mais baixas da sociedade as preocupações eram muito diferentes: fundamentalmente,
era preciso sobreviver. A Europa estava em pleno desenvolvimento económico, mas o
aumento da população provocou o aparecimento de grande número de desempregados
e os géneros necessários à sobrevivência das pessoas, por não serem abundantes,
eram muito caros, apesar dos avanços verificados na agricultura. Aumentava o número
de descontentes e vagabundos que deambulavam pelos campos e pelas cidades,
predispostos a tudo e que não tinham nada para perder.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 1:
Napoleão Bonaparte
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Bonaparte, herói das guerras de Itália e que acabava de regressar de uma brilhante
campanha no Egito.
Durante pouco mais de dez anos Napoleão conseguiu vitórias que alargaram as
fronteiras da França e quase o converteram em dono da Europa. Mas nem sempre a
sorte das armas lhe sorriu como foi o caso da desastrosa campanha da Rússia em
1812. Em Leipzig (1813) foi vencido pelos exércitos aliados da Prússia, Áustria, Rússia
e Suécia. Os aliados ocuparam a França em 1814 e, obrigado pelos seus generais,
Napoleão capitulou sendo desterrado para a ilha de Elba. Passado um ano evadiu-se
da ilha, chegou a França, e voltou à cena política num período chamado «dos Cem
Dias». As potências europeias armaram-se novamente e em Waterloo e sob o comando
de Duque de Wellington, infligiram a Napoleão uma derrota definitiva. Os Ingleses
impuseram então o desterro perpétuo na longínqua ilha de Santa Helena, no Atlântico
Sul onde faleceu em 1821.
Com a Revolução caíram os privilégios da nobreza e era esta classe social que até
então fornecia os oficiais para o exército e marinha. Depois da Revolução, extintos os
privilégios também no meio militar, os oficiais passaram a ser selecionados pela sua
competência e não pela sua condição de nobres.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A França revolucionária que desafia a Europa está rodeada de inimigos e não tem outra
saída que não seja considerar as suas extensas fronteiras como um vasto campo de
batalha. Esta situação exigia um exército numeroso o que em França não constituía
problema porque, para isso, dispunha da nação mais populosa da Europa.
As guerras limitadas do século XVIII chegaram ao fim. Uma guerra é limitada quando
tem limites para a reunião dos efetivos, para a duração dos combates e para a extensão
dos conflitos. Depois da Revolução estas limitações deixaram de existir. Os conflitos
entre os estados deixaram de ter limitações quanto ao espaço e quanto aos meios
utilizados.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A tática sofreu uma alteração radical. O cidadão-soldado, pelo seu pouco tempo de
instrução, não podia realizar uma tática difícil e complicada como a dos velhos exércitos
do século XVIII que, antes de mais, procuravam conservar as forças combatentes. O
exército revolucionário nunca seria capaz de executar a meticulosa tática prussiana,
não tinha preparação para tal.
Carnot, que foi quem criou o sistema militar da república Francesa, preconizou que a
única forma de superar o problema foi enviar ao choque mais homens do que balas
podiam ser disparadas pelo inimigo. O novo método é o emprego ofensivo de grandes
massas de infantaria. A tática deixou de se preocupar no que respeita à conservação
dos soldados.
“Do ponto de vista técnico existia já uma cartografia capaz de permitir o planeamento
estratégico e tático. Existia uma razoável rede de estradas, pontes e canais, capaz de
facilitar os movimentos de grande quantidade de tropas. Os armamentos eram já
fabricados em série: espingardas de sílex com sabre baioneta e cartucho de papel, com
alcance eficaz de 250 metros e que permitiam uma cadência de 3 tiros por minuto a
artilharia era já muito móvel, o que facilitava a sua concentração, dispunha de peças
intermutáveis, cartuchos de papel e tinha um alcance de 600 metros para projéteis
maciços e de 1.200 metros para metralha.” (Loureiro dos Santos, ob. cit., pag.112).
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
XXX
XX XX X I
EM ●
●●
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 2:
Ordem de Batalha Napoleónica
Figura 7 – 3:
Manobra de Napoleão com superioridade numérica.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
1. 1ª Fase (Preliminares):
- Revelar o dispositivo inimigo;
- Enganá-lo quanto às intenções. (Finta);
- Procurar pontos fracos ou áreas onde estes possam ser criados;
- Ação de cavalaria: Reconhecimento, Proteção, Medidas de Deceção;
- Fixação do inimigo em toda a Frente;
- Obrigação do inimigo a empenhar reservas através de: Infantaria e Cavalaria com
apoio da Artilharia.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 4:
Manobra de Napoleão sem superioridade numérica a
partir de uma posição central.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Era sabido que a Espanha, apoiada pelos franceses, esperava uma ocasião para
reconstruir a união ibérica perdida em 1640. Esta situação agravou-se com o bloqueio
económico decretado por Napoleão, o Bloqueio Continental de 1806, obrigando a fechar
os nossos portos aos navios ingleses, além de outras disposições. Se Portugal
obedecesse ao bloqueio, os ingleses apoderavam-se do Império Português no caso
contrário seria a invadido pelos exércitos franceses e o seu governo teria de fugir para o
Brasil.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 5:
Soldado de um batalhão de Caçadores
na época das invasões Francesas.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 6:
5º Dispositivo do Exército Português
1806
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 7:
Jean Andoche Junot, Duque de
Abrantes.
A família real, a conselho dos ingleses e seguindo um plano que já tinha sido pensado
no tempo de Marquês de Pombal para salvaguardar a monarquia em caso de invasão,
embarcou a 27 de novembro e largou para o Brasil no dia seguinte. Quando Junot
entrou em Lisboa já a corte e o governo ali não se encontravam, deixando Napoleão
enfurecido com esta falha de Junot.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
as que ficaram foram dispersas por várias praças. Foram também dissolvidas as
milícias e as ordenanças.
Com algumas tropas de linha não licenciadas foi constituído um corpo de sete
regimentos de infantaria, quatro de cavalaria e um de artilharia. Esta força ficou
conhecida por Legião Lusitana e, em março de 1808, comandada pelo Marquês de
Alorna, foi reforçar o exército imperial. Na legião Portuguesa servia também o General
Gomes Freire além de outros oficiais portugueses de valor.
Para além destas medidas de caráter militar, foram tomadas outras (apropriações de
bens, contribuições, profanação e saque das igrejas, etc.) que começaram a provocar
na população um certo espírito de revolta. A prova mais clara de que Portugal deixara
de ser independente deu-se quando, a 13 de dezembro de 1807, a bandeira portuguesa
foi substituída pela francesa no castelo de S. Jorge, em Lisboa e se dúvidas houvesse,
o decreto de 1 de fevereiro de 1808 anexou Portugal ao império napoleónico.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
No dia 18 de junho, no Porto, após nova insurreição popular, é criada uma Junta
Provisional de Governo. A 19 de junho, em Espanha, a capitulação de Bayen é a
primeira grande derrota das tropas napoleónicas.
Perante este quadro, Junot concentrou as suas tropas à volta de Lisboa no receio da
chegada de tropas inglesas a Portugal e os seus receios tinham fundamento porque, no
dia 1 de agosto de 1808, um corpo expedicionário inglês (cerca de 9.000 homens),
comandado pelo general Arthur Wellesley, desembarcou perto da Figueira da Foz na
praia de Lavos. Daí marchou para Sul, junto à costa, chegando a Leiria no dia 12. Em
Leiria reuniram-se Wellesley e o general Bernardim Freire que comandava um corpo de
7.600 homens organizado em Coimbra. Foi constituído um destacamento português que
foi cedido a Wellesley e ficou sob o comando do coronel Trant.
Figura 7 – 9:
Batalha do Vimeiro, 21 agosto de
1808.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Repelida a invasão de 1808, tinham ficado três núcleos de tropas do exército do general
Bernardim Freire: o brigadeiro Silveira no Norte, ficou encarregado da defesa de Trás-
os-Montes; o do marquês de Olhão, que do Algarve viera para o Alentejo em socorro
de Lisboa; e o do general Paula Leite, no Alentejo. Mas apenas o primeiro tinha algum
valor, porque os outros, mistos de tropas regulares e de paisanos armados, eram
desvalorizados pela carência de qualidades militares destes elementos civis.
Após a partida dos franceses foram de imediato tomadas medidas destinadas a
reorganizar a defesa do Reino. O Governo determinou que fossem reorganizados todos
os corpos das diferentes armas antes da primeira invasão. Criaram-se 6 batalhões de
caçadores e elevou-se o efetivo de cada um dos 24 regimentos de infantaria para 1550
homens. Estabeleceram-se os regimentos de milícias em número de 48 com 1101
homens cada. Foi também ordenado que se reunissem nos seus antigos quartéis todos
os oficiais e praças que pertenciam ao exército quando se deu a invasão e foi
concedido o perdão aos desertores. Dada a penúria dos cofres públicos foi feito um
apelo à generosidade particular para possibilitar a reorganização e manutenção do
exército. Em Portugal mantinha-se o exército inglês sob o comando do general Moore.
Os portugueses foram incitados a armarem-se contra o invasor. Por fim foram
mandadas organizar 16 legiões a cujo serviço eram chamados todos os cidadãos dos
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
16 aos 60 anos que não servissem nos corpos de linha ou milícias. O major-general
Beresford foi contratado para comandante em chefe do exército português.
Figura 7 – 10:
General William Carr Beresford.
Foi fixado um limite de idade para os oficiais em serviço ativo. Os vencimentos das
tropas foram aumentados e pagos com pontualidade. Os regulamentos foram
modernizados à semelhança dos ingleses. A organização da artilharia foi modernizada.
Foi criado o batalhão de engenharia semelhante ao inglês. Nos soldados verificou-se
uma melhoria considerável no aprumo, higiene e disciplina.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Nem tudo estava a correr pelo melhor aos franceses. À medida que avançavam, os
itinerários à retaguarda iam sendo cortados pelas forças portuguesas que tinham ficado
para trás.
As milícias nacionais utilizaram a guerrilha em ações concertadas na retaguarda do
inimigo, por meio de emboscadas e cortando as linhas de comunicação e
abastecimento com a Galiza. Estas ações, eram efetuadas com grande rapidez e de
surpresa, mas sem empenhamento decisivo, dispersando na retirada, mantendo a
segurança e evitando a retaliação francesa. Esta tática de guerrilha, atrasou e dispersou
o avanço inimigo, que pretendia chegar ao Porto e depois a Lisboa o mais rápido
possível.
Soult atingiu finalmente o Porto, mas receava continuar em direção a Lisboa porque a
ligação com as forças à retaguarda, estacionadas na Galiza sob o comando do General
Victor, que o deviam reforçar, fazia-se já com muita dificuldade. Por isso teve de libertar
tropas para garantir a ligação com as outras forças e para conter as tropas portuguesas
que se encontravam em Trás-os-Montes. A divisão Loison que tinha sido enviada nesta
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
última missão demorou quase quinze dias a conseguir superar a resistência que lhe
ofereceu o General Silveira na defesa da ponte de Amarante.
Figura 7 – 12:
Reconquista do Porto, 12 de maio de
1809.
O exército anglo-luso foi dividido em dois grupos: o primeiro comandado peio próprio
Wellington, atacou as forças francesas no Porto; o segundo, comandado por Beresford,
contornou as posições francesas com a finalidade de cortar a retaguarda e impedir a
chegada de reforços ou a sua fuga para Espanha através de Trás-os-Montes. Depois de
alguns combates com forças avançadas francesas, as forças anglo-lusas
surpreenderam os franceses ao atravessarem o Douro num ponto menos vigiado.
Ameaçados desta forma os franceses retiram em direção a Amarante. A 12 de maio de
1809 o Porto tinha sido libertado.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 19
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 20
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
“O exército foi fardado como talvez nunca tenha sido até então, mercê, principalmente,
do auxílio da Inglaterra.” Os soldos foram aumentados e pagaram-se os que estavam
em atraso. Foi criada uma gratificação de serviço de campanha. Os exercícios e as
revistas tornaram-se frequentes. Beresford manifestava com frequência o seu agrado
pelos melhoramentos verificados no exército português.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 21
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 13:
Marechal André Massena, comandante
das forças francesas, na terceira
invasão em 1810.
Quanto ao exército anglo-luso, comandado por Wellington, era constituído por cerca de
52 300, em partes idênticas para britânicos e portugueses, mas organizados em 5
Divisões de Infantaria inglesa, 1 Divisão de Infantaria Ligeira, também inglesa, 1 Divisão
de Infantaria portuguesa e 3 Brigadas Independentes de Infantaria portuguesa.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 22
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
“Do lado dos aliados a perdas totais no Bussaco foram 1.138 homens, cifra em que
entram os portugueses com 82 mortos, 478 feridos e 18 extraviados, segundo o
relatório de Wellington. O marechal francês, na parte oficial da batalha que enviou para
Paris, chamou-lhes modestamente «simples reconhecimento». Nem por isso conseguiu
atenuar o desaire com que não contava, e que lhe custou um total de 4.486 baixas
(segundo Frision), incluindo 521 mortos no campo e 3.601 feridos, entre os quais 4
generais (um morto) e numerosos oficiais superiores.” (Gen. Ferreira Martins, ob. cit.)
Figura 7 – 14:
Disposição das forças no Bussaco.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 23
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
O exército anglo-luso perseguido de perto pelas forças francesas conseguiu entrar nas
Linhas de Torres Vedras em 12 de outubro. Para trás deixava o exército francês numa
terra desprovida de recursos. Massena organizou o seu quartel-general em Alenquer
mas depressa se apercebeu que, perante uma defesa tão bem apoiada num terreno tão
forte, era impossível atacar com sucesso a menos que recebesse reforços importantes.
Não tendo recebido os reforços esperados, Massena decidiu retirar para Santarém a 1
de novembro. Em fins de fevereiro de 1811 no entanto, sem meios para manter as suas
forças, já dizimadas pela miséria e pela doença, resolveu retirar de Portugal.
Durante este movimento de retirada, o exército francês foi perseguido de perto pelo
exército anglo-luso, tendo sido travados os combates de Pombal, Redinha, Condeixa,
Casal Novo, Foz de Arouce e Ponte de Murcela. Só depois de ter atravessado o rio Alva
foi suspensa a perseguição por ser difícil fazer o reabastecimento das tropas em
terrenos completamente desolados.
Lisboa era o objetivo principal de todas as forças invasoras do nosso país e por isso é
natural que a defesa da capital seja objeto de cuidados especiais no âmbito da defesa
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 24
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
de Portugal. Mas Wellesley tinha também outras preocupações que ficaram patentes
nos registos do seu diário de operações: “… mas preocupa-me sobre maneira o
embarque das forças britânicas. Há tantas formas de entrar em Portugal, que
acabaremos por nos ver confinados à defesa de Lisboa… e será muito difícil (sendo
impossível) um empenhamento decisivo diante da capital seguido do embarque do meu
exército”. Estão aqui patentes duas preocupações: por um lado garantir a segurança do
embarque das forças aliadas em caso de insucesso militar; por outro lado, bloquear os
principais eixos de aproximação para a capital.
Foi ainda em outubro de 1809 que Wellesley fez o seu primeiro reconhecimento à
região. Depois desse reconhecimento foi elaborado um memorando, entregue ao
comandante da engenharia, que continha instruções sobre os fatores a ter em atenção
na escolha das posições.
Quando se deu início à construção das obras teve-se em atenção que se deviam atingir
dois objetivos já referidos:
Para concretizar o primeiro objetivo foi escolhida uma pequena baía e Este de S. Julião
(foz do Tejo) que carecia entretanto de algumas obras de Fortificação para que as
forças embarcassem com o máximo de segurança.
O segundo objetivo seria concretizado por uma linha principal de defesa coberta por
posições avançadas que apoiassem a retirada do exército aliado garantindo-lhes o
tempo necessário à ocupação da linha principal de defesa. Esta seria constituída por
obras suficientemente fortes destinadas a fechar as passagens entre as serras e por
fiadas de entrincheiramentos construídos ao longo das linhas de alturas de forma a
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 25
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
apresentarem uma barreira contínua ao longo da península de Lisboa que não pudesse
ser contornada pelas forças inimigas.
Quem se deslocar pelas regiões onde foi construída esta linha (desfiladeiro de Mafra,
Serra de Chipre, Cabeço de Montachique, desfiladeiro de Bucelas) e as posições
avançadas de Torres Vedras e Monte Agraço facilmente se aperceberá quanto o
terreno pode realmente facilitar a defesa. As obras tiveram início a 3 de novembro de
1809.
Ficaram assim definidas três linhas de defesa. A primeira linha (a que continha as
posições de Torres Vedras e Monte Agraço) foi descrita por Napier da seguinte forma:
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 26
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
“… estendia-se desde Alhandra no rio Tejo, até à foz do Sizandro na costa Atlântica, e
tinha vinte e nove milhas de comprimento (cerca de 46 km) …” (citado em As Linhas de
Torres Vedras e os Princípios da Guerra pelo TCOR Fernandes Henriques, publicado
no Boletim do IAEM).
Seguia-se uma descrição desta linha de defesa que terminava assim: “… Esta era a
primeira linha de defesa, inicialmente destinada a linha de postos avançados, mas
convertida em linha principal de defesa … graças ao retardamento sofrido pelo exército
de Massena, à espantosa mão de obra portuguesa, às enormes chuvadas que caíram,
acima de tudo, à formidável natureza do terreno.”
Para além da segunda linha de defesa (desfiladeiro de Mafra, Serra de Chipre, Cabeço
de Montachique, desfiladeiro de Bucelas) que como a primeira, constituía um sistema
defensivo do Tejo ao Atlântico, existia ainda a terceira linha de defesa que constituíam o
chamado distrito de Oeiras e era formada por um conjunto de 13 obras destinadas a
proteger o embarque em S. Julião da Barra.
Além destas três linhas de defesa existia ainda, entre a Costa da Caparica e Almada,
um conjunto de dezassete redutos que se destinavam a impedir que o inimigo ocupasse
a margem sul do Tejo e se apoderasse de posições de onde poderia bombardear
Lisboa ou a esquadra fundeada no Tejo.
Além de todas estas obras de defesa foram estabelecidos depósitos de
aprovisionamentos, de barracas e de víveres, nos pontos designados para quartéis-
generais. Estabeleceu-se um sistema de transmissão de mensagens igual ao da
marinha inglesa e que permitia transmitir uma mensagem do Tejo ao Atlântico em cerca
de sete minutos.
Figura 7 – 15:
Forte de S. Vicente Torres Vedras,
vista das canhoeiras.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 27
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
No total as linhas de Torres Vedras eram guarnecidas com 39.385 infantes, 20 peças de
24”, 363 peças de 12”, 195 peças de 9”, 43 peças de 6” e 4 peças de 5½” num total de
625 peças de artilharia.
Na primeira linha o forte do S. Vicente em Torres Vedras encontra-se em bom estado
de conservação e é de fácil acesso. Quem o visite pode apreciar a dimensão dos seus
três baluartes.
Figura 7 – 16:
Forte de S. Vicente Torres Vedras,
vista dos paióis.
Figura 7 – 17:
Forte de S. Vicente Torres Vedras,
Sistema de comunicação entre Postos
de Comando.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 28
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 18:
Mapa da distribuição das Linhas de
Defesa de Torres Vedras.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 29
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A instituição militar no século XIX foi profundamente afetada pela Revolução Industrial.
A sua influência começou a fazer-se sentir de forma mais acentuada, ainda durante as
campanhas napoleónicas, com a aplicação da máquina à manufatura de lingotes de
ferro. O aperfeiçoamento das máquinas a vapor permitiu o fabrico em série da maioria
dos armamentos conhecidos.
Figura 7 – 19:
Canhão de retrocarga e culatra móvel
séc. XIX
Figura 7-21:
Espingarda Kropatschek, de repetição, cal. 8 mm.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 30
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
de batalha.
Em resumo, podemos afirmar sem qualquer dúvida que o século XIX vê aumentar no
combate o elemento fogo. Este aumento do poder de fogo traz necessariamente
alterações nos outros Elementos Essenciais do Combate.
Como não existia uma proteção individual eficaz (nem nunca mais houve) foi necessário
recorrer à proteção coletiva: covas de lobo (abrigos individuais), trincheiras, arame
farpado, utilização de campos de minas. Desenvolveu-se assim a fortificação de
campanha com a finalidade de proteger o combatente da grande capacidade de fogo
que então apareceu no campo de batalha, mas também com a finalidade de parar ou
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 31
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Figura 7 – 24:
Proteção coletiva. Casamatas e
trincheiras.
Convém fazer uma distinção tão clara tão possível entre «movimento no campo tático
e «movimento no campo estratégico». Convém rever estes conceitos e para
utilizarmos uma linguagem simples diremos, como no parágrafo anterior, que
movimento no campo tático é aquele que se processa no desenrolar do combate, por
forma, a explorar todas as oportunidades de uma força se colocar em posição mais
vantajosa e utilizar melhor os elementos essenciais do combate; o movimento no
campo estratégico é aquele que se processa antes do combate, isto é, quando se
movimentam forças para os locais mais convenientes com a finalidade de iniciar o
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 32
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 33
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
decisão muito rápidas, informações mais oportunas e outros elementos que exigem
uma ligação eficaz entre os diferentes órgãos de comando. Por estas razões os
estados-maiores sofrem um grande incremento e são prontamente aproveitados os
inventos que permitem rápidas comunicações.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 34
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Todas estas alterações técnicas e táticas, promovidas pela industrialização, vão levar
ao desenvolvimento de uma guerra, que utilizou os conceitos táticos napoleónicos, com
o armamento e equipamento da era contemporânea, em equilíbrio entre as forças
oponentes que esgotado o movimento inicial se vão proteger em longas linhas de
trincheiras.
Figura 7 – 26:
Manobra de Moltke.
Figura 7 – 27:
Plano Scheliefen.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 7 – 35
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 HISTÓRIA MILITAR SÉC XX. GRANDE GUERRA 1914-18. O CEP EM LA LYS
CAPÍTULO 8 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
A Alemanha também rivalizava com a França, pois esta nunca aceitou a perda
das regiões da Alsácia e da Lorena na guerra franco-prussiana entre 1870-71.
Relativamente aos países de regime autoritário como a Rússia e a Áustria-
Hungria, a disputa era mais de posição estratégica, com a influência nos Balcãs,
onde a Rússia apoiava os movimentos independentistas dos povos balcânicos,
sob o domínio do império Austro-húngaro, de forma a obter um acesso ao
Mediterrâneo.
Por outro lado, os países rivais desta aliança formam outra aliança militar para
defesa dos seus interesses. A França e o Reino Unido, já tinham firmado em 1904
um acordo denominado “Entente Cordiale” que terminou com o conflito entre estas
potências sobre o domínio colonial em África. Mais tarde esta aliança é estendida
à Rússia que já possui acordos bilaterais com os outros dois países passando a
denominar-se, a partir de 1907, de tríplice “Entente Cordiale”.
Este tipo de sistemas de alianças vincadamente militar, punha seriamente em
causa a estabilidade e segurança de toda a Europa, pois como é dedutível
bastava um país entrar em conflito direto com qualquer outro acendia o rastilho
de uma guerra Pan-Europeia e Mundial.
A Europa vivia um clima de “paz podre”, que se convencionou chamar de “Paz
Armada”.
CAPÍTULO 8 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
[…] Os Estados europeus participavam num esforço comum para que a “paz
armada” não degenerasse no conflito temido, mas simultaneamente desejado. Os
ressentimentos, as rivalidades e os interesses eram demasiado grandes para que
a diplomacia e a vontade política de alguns encontrassem soluções aceitáveis
para todos os intervenientes. […]
[…] nos últimos anos antes da guerra, a Europa vivia num impasse
crescente. Ao procurarmos, ainda hoje, analisar as causas e os fatores que
conduziram ao extenso conflito em que se transformou a Grande Guerra, não
podemos em definitivo estabelecer prioridades ou ajuizar conclusivamente. Mas
não há dúvida de que, sem grande erro, devemos eleger como determinante
profunda a rivalidade económica das grandes potências, em especial da Inglaterra
e da Alemanha. […] A política de alianças desenvolvida, por um lado em torno da
Alemanha e por outro, em torno da aproximação entre a França, a Rússia e a
Inglaterra, acabou por arrastar para a guerra, uma a uma, a grande parte das
nações europeias, […]
(Aniceto Afonso, In Guerras e Campanhas Militares, Grande Guerra, QUIDNOVI,
pág. 9 e 10).
CAPÍTULO 8 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
a. A Frente Ocidental
Gorada a tentativa de conquista de Paris através do plano Scheliefen-Moltke
alemão, pela reação franco-britânica na Batalha do Marne em setembro de 1914,
criou-se um impasse com a estabilização da frente numa extensa linha defensiva
estática, que se estendeu dos Alpes ao canal da Mancha, apoiada num intricado
sistema de trincheiras, guarnecido por milhões de combatentes que suportaram
estoicamente e em equilíbrio de forças, a ação da artilharia, da metralhadora e
dos gases.
Tentando romper o impasse que durou todo o ano de 1915, seguiram-se duras
batalhas: a “Operação Julgamento”, liderada pelos alemães em Verdun no
inverno de 1916; sustida heroicamente pelos franceses com o custo de mais de
meio milhão de homens;
a ofensiva aliada no Somme, de junho a novembro daquele ano, onde pela
primeira vez são empregues os carros de combate (tank), e que teve como único
resultando o aumento exponencial de vidas perdidas (pereceram cerca de 1
milhão de homens entre ingleses, franceses e alemães.)
Era este o cenário de destruição e morte que esperava os portugueses quando
desembarcaram na Flandres em 1917.
CAPÍTULO 8 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
b. A Frente Oriental
Pelo contrário, na frente oriental, compreendida entre o Mar Báltico e o Mar Negro, a
guerra mantinha o seu carácter de movimento. O «rolo compressor» russo foi travado
pelos exércitos germânicos comandados por Hindemburg e Ludendorff na batalha de
Tannenberg, em agosto de 1914, e dos lagos Masures, em setembro do mesmo ano.
CAPÍTULO 8 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
A entrada americana
criou boas expetativas
nos aliados, contudo a
ajuda não podia chegar
de imediato, pois
levantar um exército com
2 milhões de homens,
carece de tempo, que
como se viu, os aliados
não tinham.
Figura 8-3: Desembarque Americano 1918
CAPÍTULO 8 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
A partir do final de 1917, com as melhorias técnicas, foi possível colocar no campo de
batalha o carro de combate que veio trazer, além do movimento, a proteção o fogo e o
choque num só elemento, apoiando em conjunto com a artilharia, o avanço da infantaria.
CAPÍTULO 8 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Este avanço por pelotões, com mais mobilidade, estava reforçado com maior poder de
fogo fornecido pelas metralhadoras Lewis e granadas. A progressão era feita com sobre
apoio entre os pelotões, em que o primeiro fixava o inimigo e os seguintes ultrapassavam
o foco de resistência.
Neste caso o apoio da artilharia ao avanço da infantaria não se ficava por fogo de
preparação massivo, fixando a frente, destruindo linhas de comunicação, material e
equipamento antes do assalto. Surge uma nova forma de utilizar o apoio de fogos que
passava por:
- Fogo de Barragem, como referido tinha objetivos previamente definidos para
destruir antes do assalto;
- Fogo de Apoio, este fogo, rolante, em frente da infantaria, cerca de 50m
acompanhava a progressão até à trincheira inimiga;
- Fogo Vertical antes do assalto, visava enfraquecer e obrigar o inimigo a recolher
à trincheira, não dando oportunidade de rechaçar o assalto da infantaria. A introdução
dos carros de combate (Tank) na frente, agora com melhoramentos significativos, vem
romper o impasse da guerra, utilizando em simultâneo o movimento, proteção, fogo e
choque.
O ataque era feito com 3 tanques dispostos em triângulo fornecendo apoio ao avanço da
infantaria. Neste avanço, os carros de combate abriam brechas no arame farpado,
suprimiam pontos de resistência e ultrapassavam as trincheiras.
CAPÍTULO 8 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
3ª Zona de defesa
Com as reservas era defendida a todo o custo esta 3ª zona e garantida com contra-
ataques pré-planeados.
As distâncias entre cada linha eram substanciais, obrigando a artilharia inimiga a
movimentar-se na frente para apoiar a infantaria e bater todas as zonas defensivas.
CAPÍTULO 8 – 13
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 14
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 15
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Este corpo de tropas comandado pelo General Tamagnini Silva ficou sob as ordens do
comandante em chefe das forças expedicionárias britânicas, Marechal Douglas Haig, sob
o comando operacional do I Exército Britânico comandado pelo General Horne e sob a
dependência tática do Tenente-General Haking, comandante do XI Corpo de Exército
Britânico.
Sob o comando do I Exército Britânico a 2ª divisão de Infantaria Portuguesa foi colocada
a Sul da 40ª Divisão britânica e a Norte da 55ª Divisão Britânica, numa frente de
aproximadamente 11km, a sul da Flandres no Vale do Lys entre Armentiére a La Bassée
e Merville a Bethune, dividido em 3 setores de brigada: Ferme du Bois; Neuve Chapelle
e Fauquissart.
O setor encontrava-se junto à planície do rio Lys, e era atravessado por uma miríade de
canais que ensopava o
terreno barrento e
pegajoso onde os
homens tiveram que
fazer crescer
trincheiras e abrigos
com sacos de terra.
A água assomava
depois de cavados
alguns centímetros.
Como se tratava de uma guerra de novo tipo, que ficou conhecida como guerra de
trincheiras, onde se tentava manter uma frente estável e romper a do inimigo, o terreno
estava organizado numa séria de linhas defensivas de tipo simples ou múltiplas linhas
defensivas. Eram essas linhas constituídas por trincheiras cavadas no solo e escalonadas
CAPÍTULO 8 – 16
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Devido à falta de navios, as tropas não foram rendidas, o que provocou um grande
desânimo nos soldados. Além disso, alguns oficiais, com maior poder económico e de
influência, conseguiram regressar a Portugal, mas não voltaram para ocupar os seus
postos.
Para agravar a situação e contrastando com o relativamente calmo ano de 1917, durante
o mês de março de 1918, a situação dos portugueses agravou-se com o recrudescimento
dos ataques no setor defendido pelo CEP. A moral caiu a pique, o que levou o comando
português e inglês a fazerem as alterações, previamente acordadas, de colocar uma
única divisão na defesa da frente.
Em 06 de abril a 2ª divisão do CEP, constituída por cerca de 20.000 homens, dos quais
somente pouco mais de 15.000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo general
Gomes da Costa, entrou em posição.
CAPÍTULO 8 – 17
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Este ataque em larga escala e em profundidade numa frente estrita, utilizando um grande
número de tropas de assalto bem armadas e equipadas, foi antecedido de um maciço
bombardeamento iniciado pelas 04h15m do dia 09 de abril de 1918, que visou destruir os
Postos de Comando, as linhas de comunicações e a artilharia.
Von Quast lança então um ataque em larga escala e profundidade no setor português que
sabia ser o mais frágil da linha defensiva aliada, concentrando um grande potencial de
meios, cerca de 350 000 homens, numa frente estreita. No setor do CEP, cerca de 11Km,
a 2ª Divisão recebe o embate de três divisões germânicas com cerca de 50.000 homens,
contra 15.000 que perante a dificuldade de cobrir 11 Km de frente do CEP, aliado a um
momento delicado que é a rendição de uma força em contacto por outra, assim como a
falta de comunicações provocada pelo bombardeamento cirúrgico inimigo, fizeram com
que se retirasse apressadamente, não lhe permitindo reorganizar-se frente ao inimigo.
Nas primeiras quatro horas o CEP sofreu 7500 baixas.
CAPÍTULO 8 – 18
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Figura 8-15: Ataque alemão em 9 de abril de 1918. Pormenor do setor da 2ª Divisão do CEP.
Perante este ataque, as linhas defensivas são destruídas e é criada uma bolsa dentro das
linhas aliadas. Contudo, uma rápida reação aliada e a tenacidade de algumas unidades
lusas, como o caso do Batalhão de Infantaria 15, em La Couture, quebraram o ímpeto
alemão vindo os aliados restabelecer uma nova frente, não permitindo a progressão
alemã e criando um novo impasse.
Sem solução militar e em inferioridade os alemães
rendem-se e é assinado o armistício em 11 de novembro
de 1918.
A batalha do Lys constituiu uma estrondosa derrota das
forças luso-britânicas, mas apesar da derrota, o sacrifício
dos militares portugueses serviu para cobrir a retirada e
reorganização das forças aliadas, salvando ainda assim
milhares de vidas e permitiram continuar com o objetivo
principal destas linhas defensivas, que era negar às
Figura 8-16: Soldado festejando o
forças alemãs o acesso aos portos de Calais, permitindo Armistício
CAPÍTULO 8 – 19
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Figura 8-17
Grupo de Sargentos do Batalhão de Infantaria 5 na Flandres
CAPÍTULO 8 – 20
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 21
CFS / HISTÓRIA MILITAR
CAPÍTULO 8 – 22
CFS / HISTÓRIA MILITAR
Quer pelas vicissitudes advindas da participação do CEP na Flandres, quer pelo esforço
ímpar e inigualável que os portugueses despenderam neste sangrento conflito, o desfile
do Corpo Expedicionário Português nas cerimónias do Dia da Vitória, em Paris, foi
totalmente merecido.
CAPÍTULO 8 – 23
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Após a grande crise, cada país tentou resolver por si os respetivos problemas internos,
quer económicos, políticos e sociais.
Em relação às atividades económicas estas foram alvo de fortes restrições em relação
às importações, com a aplicação de elevadas taxas aduaneiras e um controlo muito
apertado do câmbio de moeda.
A tentativa de “dumping” por parte da Alemanha e Inglaterra, levou ao crispar das
relações e a tomada de medidas que levaram ao rearmamento da Europa, criando um
clima de desconfiança geral.
Para a Alemanha, parte da solução dos seus problemas passava pela expansão
territorial, que consideravam vital.
Com a eleição em 1933 de Hitler para chanceler da Alemanha, este vem romper com o
tratado de Versalhes e lançar no país o rearmamento, decretar o serviço militar
obrigatório, seguindo-se a criação de um exército e força aérea, aumentando
simultaneamente o orçamento militar.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
b. A Frente Leste
Perante as tentativas infrutíferas de Hitler conquistar a Inglaterra e o avanço soviético
sobre os estados do báltico, Estónia, Letónia e Lituânia, que faziam perigar os planos
expansionistas da Alemanha, decidem inverter o rumo das ações e lançarem-se em
conquistas para Leste, mercê de alianças parciais feitas com romenos, húngaros e
finlandeses estes juntamente com alemães invadem a URSS com cerca de 200 divisões
enfrentando um exército tecnologicamente mais fraco, mas que viria a beneficiar de um
aliado de peso que impediu aos alemães a conquista de Leninegrado: o inverno.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
c. Pacifico
O Japão que se tinha coligado com as forças da aliança do Eixo, era o principal aliado
alemão na Ásia e no Pacífico onde atacou e conquistou as possessões inglesas,
francesas e holandesas nestes territórios.
Pressionando as Filipinas onde os Estados Unidos da América tinham bases navais,
decidem-se os japoneses por um ataque aéreo ao Hawai onde bombardeiam a frota
americana fundeada no porto de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, levando os
Estados Unidos a declarar guerra ao Japão e a entrar na Guerra Mundial.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
homens e material para furar o cerco imposto pelo 62º exército soviético comandado
pelo general Vassili Cuikov.
Esta derrota marca uma reviravolta no rumo da guerra, pois outras derrotas se seguiram
para o Reich, nomeadamente a eliminação da presença alemã no norte de África,
conduzida por forças aliadas compostas por tropas americanas, inglesas e francesas,
comandadas pelo general Montgomery.
Aproveitando o bom momento, e explorando o sucesso, os aliados desembarcam na
Sicília (9-10 de julho de 1943 – Operação Husky), ilha de grande valor estratégico de
apoio ao desembarque de contingentes aliados com a intenção de abrir uma nova frente
no sul da Europa e dividir o dispositivo alemão.
Com a Sicília conquistada, o alvo seguinte seria a fragilizada Itália (3 de setembro de
1943 - Operação Baytown) onde foi imposto um armistício em 8 de setembro de 1943.
No entanto, as operações continuaram no solo italiano com a Operação Avalanche (9
de setembro de 1943), o que levou ao afastamento e assassinato de Mussolini às mãos
dos próprios italianos.
Contudo, este eixo era vital para a Alemanha, que embora a Itália se tenha afastado do
Eixo, aqueles continuaram a lutar em solo itálico, só capitulando no mês de maio de
1945.
Berlim, ser ocupada pelo exército vermelho a 2 de maio de 1945, após o suicídio de
Hitler, em 30 de abril.
No dia 08 de maio de 1945, o Marechal Keitel, assina a capitulação sem quaisquer
condições. O território alemão é dividido entre os aliados e soviéticos, deixando de
existir o estado alemão.
Na Europa a guerra tinha terminado, mas no Pacífico iria continuar.
b. No Pacífico
O Japão tinha conseguido manter forte pressão sobre os países do extremo oriente e
pacífico, desde a guerra sino-japonesa em 1937, conquistando praticamente todas as
possessões ultramarinas dos países europeus naquelas latitudes.
Após o bombardeamento de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941 e a consequente
entrada dos Estados Unidos no conflito, o rumo da guerra no Pacífico veio sofrer um
“volte-face” na Batalha Naval de Midway, em junho de 1942, quando os Americanos
afundam quatro porta-aviões japoneses e 2 cruzadores, retirando-lhes a capacidade
ofensiva naval e aérea e a iniciativa militar para o resto do conflito.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Este tratado, por parte dos Britânicos, servia para que, no caso de Hitler invadir Portugal
para chegar a Gibraltar, (administrado pelo Reino Unido), termos alguma capacidade de
resposta.
De facto, a invasão de Portugal através da Espanha, esteve nos planos de Hitler, na
Operação Félix em 1940, caso os ingleses obtivessem uma posição no nosso território.
Na eventualidade de uma invasão, o governo português planeou uma retirada
estratégica para os Açores, garantido a nossa soberania. Neste sentido foi enviado para
o arquipélago um grande contingente de homens e armamento, incluindo praticamente
toda a aviação.
No entanto, a Operação Félix não se concretizou e em 29 de junho de 1940, Portugal e
Espanha assinam um protocolo adicional ao “Pacto Ibérico”, reiterando a neutralidade
peninsular, reforçando a aliança e a não beligerância entre os dois países.
Embora as manobras diplomáticas de neutralidade do governo português resultassem
na Europa, o que é facto é que Portugal sofreu a agressão por parte de um dos
membros do “Eixo”, quando o Japão invade em 1941 o território de Timos Leste, onde
lançou o terror e morte entre tropas portuguesas e civis, que posteriormente se juntam
voluntariamente aos australianos para combater os japoneses.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 9 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Com o fim do conflito da II Guerra Mundial, o domínio colonial das Potências Europeias
sobre os territórios africanos e asiáticos começam a ser postos em causa pelos
movimentos de Emancipação e Nacionalistas.
Em alguns casos, alguns destes domínios obtiveram, sem violência, a sua
autodeterminação, como o caso das possessões inglesas, que, no entanto, se
diferenciava na administração desses territórios do caso francês e português.
Finda a Guerra, Inglaterra concedeu a independência à Índia e ao Ceilão, na Ásia,
seguindo-se África, com o Sudão e o Gana, no entanto, houve confrontos no Quénia.
A França, em 1957, concede independência a todos os catorze estados coloniais
franceses, excetuando a Argélia que por questões de interesse económico, a França
não considerava este território uma colónia, mas sim parte integrante da República
Francesa. Só após uma guerra muito dura é concedida em 1962 a autonomia a este
país.
Também a Bélgica concede a Independência ao Congo em 1960, o que iria afetar
diretamente a situação em Angola.
Portugal em contra corrente com o resto do Mundo, considerava que os territórios não
eram colónias, mas que faziam parte de um sistema multirracial e multicultural e
integrante do país. Era o “Portugal do Minho a Timor”.
“Orgulhosamente só”, Portugal optou por uma política belicista de manutenção dos
territórios, que não viria a resultar na Índia que (apesar de tentar todos os meios
diplomáticos) encontrou o governo de Salazar irredutível, levando à invasão de Goa,
Damão e Diu em dezembro de 1961 (Operação Vijay – Vitória).
Esta derrota serviu para demonstrar dois factos importantes da política salazarista:
a. Privilégio da vertente militar para resoluções das questões ultramarinas (assumiu
pessoalmente a pasta da Defesa), sem olhar a sacrifícios humanos e materiais,
económicos e sociais;
b. Enfraquecimento da diplomacia nacional e isolamento internacional, depois da
retirada de apoio da velha aliada – Inglaterra.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
1002.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Os movimentos de libertação contavam com o apoio dos países limítrofes dos territórios
ultramarinos que já tinham passado pelo processo de descolonização e que eram hostis
à política colonial de Portugal, este apoio aos movimentos de libertação permitia-lhes
atravessar as suas fronteiras e criar santuários de guerrilheiros dificultando seriamente
a ação das forças portuguesas.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
"E assim Portugal entrega Angola aos angolanos, depois de quase 500 anos de
presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com
ingredientes que nada poderá destruir. Os homens desaparecem, mas a obra fica.
Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter de que se envergonhar. Deixa um
país que está na vanguarda dos estados africanos, deixa um país de que se orgulha e
de que todos os angolanos podem orgulhar-se".
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
b. Guiné (1963-1974)
A situação encontrada na Guiné-Bissau ou Guiné Portuguesa, como era denominada na
altura, é diferente da de Angola, pois no terreno só se encontra uma única força de
guerrilha, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC),
que inicia o conflito em 23 de janeiro de 1963 através do ataque ao quartel do Batalhão
de Artilharia 1914, em Tite.
Ao contrário de Angola e Moçambique, a Guiné possuí um território mais pequeno,
densamente arborizado e pantanoso, que a guerrilha utilizou em seu favor, beneficiando
também de um forte apoio logístico por parte da China e Países do Leste da Europa, de
países africanos como a Guiné-Conacry e Senegal, assim como de Cuba, do qual foi
capturado diverso armamento e equipamento.
Em 1969 a luta que o PAIGC nos impunha era muito dura tendo em conta os fatores
apontados, os apoios logísticos e militar não só em armamento como em treino e
santuários de guerrilha na Guiné-Conacry, além do clima, da densa rede de canais e
rios, da arborização cerrada, a escassez de alimentos e a guerrilha que nos era imposta
e que permitia a fuga rápida para a fronteira.
Em 1973, a guerrilha com equipamento rádio russo, armamento checo e morteiros de
120mm que permitiam bater os aquartelamentos à distância e fora do território, veio
juntar os mísseis terra-ar SA7 Grail Strella que colocam a nossa supremacia aérea do
campo de batalha em causa.
“Em 1973, e mau grado os cerca de 43000 homens em armas (dos quais entre 17 a
25000 africanos),
Portugal controlava sobretudo as cidades e a luta não apresentavam sinais de evoluir
favoravelmente os seus desígnios. Pouco antes da revolução do 25 de Abril de 1974
tinham-se entabulado negociações com Marcello Caetano, visando o reconhecimento
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
c. Moçambique 1964-1974
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 7
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Em 1973 as populações do Sul viviam em acalmia, mas no Norte a resistência ainda era
visível aumentando aquando da construção da barragem de Cahora-Bassa, não
impedindo, no entanto, a sua construção.
Decidido a aniquilar a FRELIMO, o General Kaúlza de Arriaga, Comandante em Chefe
das Forças Terrestres de Moçambique, reúne o maior número de efetivos e material
possível e numa estratégia de força realiza a operação “Nó Górdio”, com resultados
sofríveis para a intenção de aniquilar a FRELIMO.
No ano de 1973, Portugal tinha no terreno perto de 60 000 homens (20 000 portugueses
europeus e cerca de 40 000 africanos), que utilizando equipamento mais moderno, com
apoio da aviação conseguiu ter a situação controlada, não como em Angola, mas capaz
de confinar as ações da FRELIMO junto das fronteiras nomeadamente em Tete,
apoiada esta organização nas facilidades que a Zâmbia dava aos movimentos da
guerrilha.
Na véspera do 25 de Abril, abriu-se outro tipo de conflito em Moçambique, não entre os
opositores já referidos, mas sim entre a população da colónia e os militares que foram
acusados de negligência na sua proteção.
Em 25 de junho de 1975, obtém a sua independência.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 8
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 9
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Devido ao tipo de guerra e ao terreno onde esta se desenrolava, optou-se como arma
de tiro curvo o Morteiro de 60mm, transportável ao ombro por bandoleira e eficaz a
curtas distâncias o que era o desejável para a contrassubversão.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 10
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
1006. Conclusões
Oliveira Salazar, numa frase proferida em 1961, demonstrou a sua intenção de manter o
“Império” a qualquer custo, quando após os ataques em Angola mandou as Forças
Armadas para este território “rapidamente e em força já”, rejeitando qualquer tipo de
negociação com a comunidade internacional e a ONU, ficando “orgulhosamente só”.
A Guerra Colonial, travada em três frentes Angola, Guiné e Moçambique, significava
para Portugal, rural, corporativo e isolado, um investimento titânico, pese embora as
relações comerciais em “circuito fechado” com as colónias e as tentativas de
desenvolvimento do país com a adesão à Associação Europeia de Livre Comércio
(EFTA), e a implementação dos Planos de Fomento Nacionais, o país encontrava-se
numa situação económica difícil.
O regime estava decadente, com dissensões internas, nomeadamente no seio das
forças armadas que preconizavam logo em 1961 uma solução negociada para as
colónias, o que levou Salazar a tomar para si a pasta da Defesa e a conduzir
pessoalmente a política belicista em relação a África.
Com o evoluir do conflito, Portugal viu-se obrigado a canalizar muito da mão de obra
necessária ao desenvolvimento nacional para a guerra, levando o conflito a uma
emigração em massa para a Europa.
Com o afastamento por incapacidade de Salazar em 1968, esperava-se no seu
sucessor Marcello Caetano, uma outra abertura ao diálogo e a uma rápida resolução do
conflito com os movimentos de libertação, tendo este estadista visitado as províncias
ultramarinas. Puro engano, a guerra arrastou-se por mais seis anos até 1974, quando
os militares conduzem um golpe de estado, derrubam o regime e negoceiam com os
movimentos de libertação as condições da independência e terminam com a guerra
colonial.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 11
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
A ação militar em África tem um balanço trágico, com perto de 9000 mortos, 30000
feridos e com cerca de 140000 ex-combatentes com stress pós-traumático, além das
inúmeras vítimas civis para ambos os lados.
Após o fim da guerra com Portugal, as ex-províncias ultramarinas, envolveram-se em
lutas fratricidas pela posse do poder o que levou a muitos mais anos de guerra e muitas
mortes até que conseguissem finalmente consolidar a sua independência.
____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 10 – 12
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
1101. Antecedentes
Contudo este movimento após a satisfação das suas reivindicações não desmobiliza,
integra os oficiais milicianos, e dando um sentido mais político ao movimento, vem
pressionar a hierarquia e o presidente da república com um documento posto a circular
clandestinamente, exarado após nova reunião em 05 de março de 1974, em Cascais,
com o título: “O Movimento as Forças Armadas e a Nação”.
Reagindo, o governo de Marcelo Caetano, numa tentativa de provar a normalidade e
concórdia reinante nas forças armadas e no país, impõe às chefias militares uma prova
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 1
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 2
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Antes da chegada a Lisboa a coluna das Caldas da Rainha é instada a voltar para trás,
onde recolhe ao quartel que é cercado pelas unidades da Região Militar de Tomar.
Sem qualquer apoio e isolados os militares dos RI5 entregam-se, sendo presos mais de
200 militares entre Oficiais, Sargentos e Praças.
A Unidade é ocupada por militares afetos ao regime, restabelecendo-se a cadeia de
comando, levando no final Marcello Caetano a afirmar: “Reina a ordem em todo o país.”
Mas esta “ordem” iria durar pouco tempo.
Após o 16 de março, o MFA toma uma atitude mais cautelosa e elabora um plano de
operações que levasse a um golpe de estado para derrube do regime, baseado na
surpresa, coordenação e concentração de forças.
Na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, a partir do posto de comando do MFA no
quartel da Pontinha, com o major Otelo Saraiva de Carvalho no comando das
operações, e após a transmissão da canção de Zeca Afonso, “Grândola Vila Morena”
pelas 0h20m, o golpe militar pôs-se em marcha, contando com o apoio de várias
unidades que de norte a sul desenvolveram uma ação concertada com o objetivo de
derrubar do regime.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 3
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Nas operações que se seguiram um dos conjuntos de alvos mais importantes para o
movimento, eram os meios de difusão de comunicação social, rádio e televisão, que
logo foram ocupados e controlados.
A rádio televisão portuguesa (RTP) foi tomada pela Escola Prática de Administração
Militar (EPAM), os militares do campo de tiro da serra da Carregueira, cerca de 40,
ocupam a Emissora Nacional (EN) e o Batalhão de Caçadores 5 (BC 5), invade o Rádio
Clube Português (RCP), de onde é emitido o primeiro comunicado do MFA cerca das
O4h20m pela voz do jornalista Joaquim Furtado: “Aqui posto de comando do Movimento
das Forças Armadas.”
No Norte o Centro de Instrução de Condução Auto 1 (CICA 1), toma o Quartel-general
da Região Militar do Porto (QGRMP), juntamente com unidades de Lamego incumbidas
de silenciar a RTP e EN do Porto, e do Batalhão de Caçadores 9 (BC 9) de Viana do
Castelo, que ocupa o aeroporto de Pedras Rubras.
Em Lisboa, coube à Escola Prática de Cavalaria (EPC), que saiu de Santarém, uma
tarefa preponderante, que foi ocupar o Terreiro do Paço, onde se veio a dar um
contratempo frente às forças do Regimento de Cavalaria 7 (RC 7). Salienta-se neste
caso o papel do capitão Salgueiro Maia que resolveu o impasse, conseguindo o apoio
de parte desta unidade ao movimento revolucionário.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 4
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
Foi este mesmo capitão que à frente das forças da EPC se desloca ao Largo do Carmo
onde se encontrava Marcelo Caetano refugiado (e onde se rendeu) para impor como
condição a entregar do poder ao general Spínola.
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 5
CFS / HISTÓRIA MILITAR
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
CAPÍTULO 11 – 6
CFS / HISTÓRIA MILITAR
__________________________________________________________________
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia de referência na revisão de 2012
DIAS DE CARVALHO, José Manuel dos Santos (Coronel), - Tópicos sobre a evolução da
organização militar do exército Português (1109 a 1993), Lisboa, 1993.
Nova História Militar de Portugal. Coordenação de Manuel Themudo Barata, Lisboa, Círculo de
Leitores, 2003.
SANTOS; Carlos Alberto Loureiro, - Apontamentos de História para Militares. IAEM, 1979.
VIII
CFS / HISTÓRIA MILITAR
__________________________________________________________________
CARVALHO, Major Vasco de, - A 2ª Divisão Portuguesa na Batalha de La Lys, Liga dos
Combatentes, Lisboa, 2016.
Da História Militar e da Estratégia, Coordenação de Francisco Proença Garcia & Abílio Pires
Lousada, Loures, Diário de Bordo, 2013.
ESPIRÌTO SANTO, Gabriel Augusto, A Grande Guerra e a Arte Militar in Revista Militar nº 2/3
fevereiro/março, 2014, pp 137- 184.
História Militar de Portugal, Coordenação de Nuno Severiano Teixeira, A Esfera dos Livros,
2017.
História de Portugal. – Coordenação de Rui Ramos, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2009.
RABAÇAL, Pedro, - 100 Datas que Fizeram a História de Portugal, Lisboa, Marcador, 2012
SANTOS, Loureiro, - História Concisa de Como se Faz a Guerra, Lisboa, Publicações Europa-
América, 2010.
IX