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O periquito Quito andava pela mata. Ele procurava, aqui e ali, alguma coisa pra
beliscar. E encontrou. Encontrou lascas de queijo, uns farelos de quindim, pedacinhos de
quiabo e meio quilo de quirera. Quito comeu tudo. Encheu a pança.
O dia estava muito quente. Ele se deitou para descansar. A mata estava muito
quieta. Quito só escutava, às vezes, o grito do quero-quero.
Quito ferrou no sono. De repente, paf! Uma coisa bateu bem no bico dele. Quito
acordou assustado e olhou em volta. Não viu nada, e pensou:
-- Vai ver que é algum galhinho que caiu da árvore.
E dormiu de novo.
Dali a pouco, paf! Desta vez, a coisa caiu na cabeça de Quito. Ele deu um pulo.
Olhou pra cá, olhou pra lá. Não viu ninguém. Olhou pro chão. Só viu folhas secas, pedras,
frutas, galho quebrado, bichos pequenos, restos de piquenique.
Quito ficou inquieto:
-- O que será que está acontecendo?
Aí, paf! Desta vez foi na asa. Quito ficou nervoso e perguntou:
-- Quem está aí? Quem está fazendo isso?
Paf! Paf! Paf! Uma chuva de coisas batendo em quito.
-- Serão pedrinhas? Serão mosquitos? Que coisa mais esquisita!
Quito estava tão nervoso que até teve um faniquito:
-- Qui-qui-ri-qui-qui! Quiiiiii!
Quito gritava e pulava.
-- Nossa! Será que é o fantasma da mata?
O medo foi tão grande que Quito fugiu. Corria, voava e gritava:
-- Quiiii! O fantasma da mata! Quééééé!
Quito sumiu no meio das árvores. E aí a mata inteira escutou uma gargalhada:
-- Quá-quá-rá-quá-quá!
Era o macaco Xiquexique! Um macaco bem moleque que ficava o dia inteiro lá em
cima do coqueiro.
Xiquexique ficava esperando, quietinho. Quase não se mexia, caladinho. E
assustava quem passava, atirando... Mil coquinhos!
UM PALHAÇO DIFERENTE – SÔNIA JUNQUEIRA ***
PIXOTE VIVIA NUM LAGO E ANDAVA SEMPRE MUITO INFELIZ. ELE NÃO
GOSTAVA DO LAGO. LÁ ERA TUDO MUITO ESCURO, ESCURO QUE NEM BREU. E
PIXOTE MORRIA DE MEDO DO ESCURO. TODA HORA, ELE IA ATÉ A MARGEM DO
LAGO. BOTAVA A CABEÇA PRA FORA E ACHAVA TUDO LINDO! CÉU AZUL, SOL,
GRAMA. FLORES PRA TODO LADO. CRIANÇA, GATO, CACHORRO. E ERA TUDO
TÃO COLORIDO, TÃO ALEGRE, TÃO CLARO!
PIXOTE QUERIA MORAR NA GRAMA, ENTRE AS ÁRVORES. ELE FICAVA UM
TEMPO NA MARGEM DO LAGO, MAS TINHA DE VOLTAR PRA ÁGUA. PRA RESPIRAR.
PRA NÃO MORRER.
PIXOTE COMEÇAVA A NADAR DE NOVO, NO MEIO DO LAGO. ERA
ESCURIDÃO SEM FIM, UMA FEIURA SEM FIM, UMA TRISTEZA SEM FIM! E A VIDA DE
PIXOTE ERA ASSIM. DA ÁGUA PRA MARGEM, DA MARGEM PRA ÁGUA. SEMPRE
SOZINHO, CHEIO DE MEDO, INFELIZ DA VIDA.
UM DIA, PIXOTE ESTAVA NADANDO E OLHANDO OS OUTROS PEIXES. ELES
BRINCAVAM, CONTENTES, NAS ÁGUAS CLARAS DO LAGO, DE REPENTE, PIXOTE
PENSOU:
-- UÉ! OUTROS PEIXES? ÁGUAS CLARAS? O QUE ACONTECEU? SERÁ QUE
VIM PARAR EM OUTRO LAGO, SEM SABER? – PERGUNTAVA PIXOTE. E OLHAVA
PRA TODO LADO, E VIA UM MONTE DE COISAS NOVAS.
VIA PEIXES, PEIXINHOS, PEIXÕES. VIA PEDRAS DE TODOS OS TAMANHOS,
DE TODAS AS CORES. E PLANTAS AQUÁTICAS, SAPOS, RÃS. ATÉ SAPATOS
VELHOS E BRINQUEDOS DE CRIANÇAS TINHA LÁ! E ERA TUDO TÃO LINDO! A
ÁGUA MEIO AZULADA, CHEIA DE CLAROS E ESCUROS, CHEIA DE BRILHOS. UMA
BELEZA, MESMO!
PIXOTE OLHAVA E RIA. CADÊ A ESCURIDÃO? CADÊ O MEDO? PIXOTE
ESTAVA ERA CONTENTE, FELIZ DA VIDA! DE REPENTE, PIXOTE DESCOBRIU O QUE
TINHA ACONTECIDO. E COMEÇOU A RIR:
-- EU SOU MESMO UM PATETA! FICAVA NADANDO PRÁ LÁ E PRA CÁ,
MORRENDO DE MEDO DO ESCURO... LÓGICO! EU SÓ NADAVA DE OLHO
FECHADO!
O peixe Pixote – Sônia Junqueira ***
Pixote vivia num lago e andava sempre muito infeliz. Ele não gostava do lago. Lá
era tudo muito escuro, escuro que nem breu. E Pixote morria de medo do escuro. Toda
hora, ele ia até a margem do lago. Botava a cabeça pra fora e achava tudo lindo! Céu
azul, sol, grama. Flores pra todo lado. Criança, gato, cachorro. E era tudo tão colorido, tão
alegre, tão claro!
Pixote queria morar na grama, entre as árvores. Ele ficava um tempo na margem
do lago, mas tinha de voltar pra água. Pra respirar. Pra não morrer.
Pixote começava a nadar de novo, no meio do lago. Era escuridão sem fim, uma
feiura sem fim, uma tristeza sem fim! E a vida de Pixote era assim. Da água pra margem,
da margem pra água. Sempre sozinho, cheio de medo, infeliz da vida.
Um dia, Pixote estava nadando e olhando os outros peixes. Eles brincavam,
contentes, nas águas claras do lago, de repente, Pixote pensou:
-- Ué! Outros peixes? Águas claras? O que aconteceu? Será que vim parar em
outro lago, sem saber? – Perguntava Pixote. E olhava pra todo lado, e via um monte de
coisas novas.
Via peixes, peixinhos, peixões. Via pedras de todos os tamanhos, de todas as
cores. E plantas aquáticas, sapos, rãs. Até sapatos velhos e brinquedos de crianças tinha
lá! E era tudo tão lindo! A água meio azulada, cheia de claros e escuros, cheia de brilhos.
Uma beleza, mesmo!
Pixote olhava e ria. Cadê a escuridão? Cadê o medo? Pixote estava era contente,
feliz da vida! De repente, Pixote descobriu o que tinha acontecido. E começou a rir:
-- Eu sou mesmo um pateta! Ficava nadando prá lá e pra cá, morrendo de medo do
escuro... Lógico! Eu só nadava de olho fechado!