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~ EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI


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DECADÊNCIA E
PRESCRIÇAO NO - ~ '

DIREITO 'TRIBUTARIO
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L1m2na . !l
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160

dica. Portalllo a rornnç;1\i di.! suas hipóteses há de rcsµi.!ila_r a


extensão conduta orni )si va, desde o início do percurso do fato
., decadencial ou prescri :ional. . .. . .
Sendo assim, em regra geral, são os d1spos1t1vos ~1gcn-
tes no momento. do dies a quo que determinam_ a formaça~ ~as
hipóteses nonn~ti vas das regras de decad~ncia e pres~nçao,
definindo a extensão, interrupção e suspens~o_d?~ prazo~. U1~~ CAPÍTULO 8
eventual lei nova só é aplicável a marcos 1111c1a1s ulteriores LL
Decadência do direito do Fisco
sua vigência . •

8.1. Critérios para composição das normas jurídicas da


decadência do direito do Fisco •

Não há, como se pode pensar, apenas uma norma geral


e ubstrata que disciplina a decadência do direito do Fisco, mas
1 ' várias. Cada qual com sua hipótese específica. descrevendo o
'., 1
transcurso de cinco anos contados do dies a quo definido pel a
legislação tributária . Esta hipótese normativa estará ligada pelo
vínculo da imputação normativa a um conseqüente abstrato que
pode apresentar por objeto a extinção do di reito de lançar ou do
próprio crédito tributário. Entrevê-se, logo, que são normas
decadenciais diversas, com hipóteses distintas e efeitos díspa-
res, como veremos adiante.
Repise1nos a diferença entre norma jurídica em sentido
estrito e norma jurídica em sentido amplo. Esta significa a ma-
11il·cstação jurídica objetiva - a lei , o artigo, o inciso, a alíncil
..
1
élc - e ,.cm uso comum c11 1n.: os acta1!Les do direito. C0nfunde-
sc, desse modo, com aquilo que designamos plano da literali-
uade do direito, em que todas as unidades do ordenamento são
normas jurídicas em sentido amplo.
Norma jurídica cm sentido estrito são estruturas impli-
cacionais, construída~ metodicamente pelo cienti~ta e intuiti-
va111cntc pelos operadores e aplicadores do direito a partir dos
textos prescritivos, as quais apresentam, invariavelmente, ante-
lll'l',\llt:Nt'I,\ E l'HESl'IU(,',\o NO llllU:ITO ·: IUll\l,'I ,ÍIWJ
1 \l i( 1 ·,' ~1.\l(l 'llS I llNl'/. l li'. S,\N'I I
162

hornr na fonna~iio da r~gra-padrão da decadência do direito do


.. . . lL'n\ )OI' rim itrlicular as si~iiil'i\.·:i-
cedenlc e t:OI\SL'quel\ll' .<..: .que 1 ..· · . d direito sobre o !'isco, informando esse critério.
ções normativas. cxpl_1 :11ando i.1 ~1_n,1m1c<1 o
, ·o d·1s condutas 11 \cr-hurn,1nc1:-;. .
d omin1 '· . ··d . ões pro[)edêut,cas,
e
0111 ,1 1.;
.\ •mbran ·a de tais cons1 ernç
r . .-
,. .
dess•1 c·\te,1 011,1
8.1.2. Segundo critério: ocorrência ou não ocorrência do
. . • . • p•tt"I ,1 comp1 censa 0 ••' ' " pagamento antecipado
de superior 1111portanc1 \ . , '. ' . , _.o funcioname1110 do
'. 'l 'ilCI'\ e o p1op11
fundamenta 1 para
. ,
ª. l? s <..: '
• . ·tir ciuc o co11ce1 o
. •t de norma jurídica l.!tn
. A ocorrência 011 mio do paga111e1i'to antecipado
direito, convern .
insis
sentido estrito, pnnc1p:1, ,11s ~
. . . • .1·urnento deste tr.i a 10
..
.. . b· \\ de análise !.!
. "Ciocínios dornvante
( Art. 150 *4" .! c:aput do Art. 173, 1; do CTN) ~orresponde ao
0
. • . ,;- . ,r:1 esse nc1 ai pai ,1 os r,...
st;; plano da cficúcia2-' da regra abstrata que determina o dever
s1stemat1z..iç.io. ' • . . . , . . estrutura de seis
\v •1,1 0 ~ •'1\1 ciu1: 1dc11t1f1carcmos i\ • i nstrumenta l de realiz:1r o pagamento untecipado. -Se não houver
d esenvo u •·· " . ..
. \ 1. 1· s i.:in sentido csl1 ,10. tal prl!visão, não h,í que se falar em pagamento antecipado.
nornns ,,era,s e a 1s 1;1 ,1. • 1 1-; ..
(. t;:, . . " • • •den\i r,curnos a l CCill U11.:i" Entendemos que o sentido de pagar aqui não se res-
Qua11\o ilO c1J11'.,L,LfllL:i1lc. ' .1· .•. •x1in1iv·1 do direito
, 1· l .-hut ·írio e ·1 lkcauenc1t1 I.; ' 1ri11ge ao ato de entregar <linheiro a outrem com o fim de extin-
extintiva lo 1 crct ,10 11 . , . , .. , t· 11'I única rcnra con '.;-
. 1 ... A 1m1111.:Hi\ ap1cscn ,1 u1 ' º. gui r liame dl! caráter patrimonial. Antes de pagar, o comribuinte
de o Fisco an~, 11 • . CTN A seounda. rna1:,; corn- h~ t.le empreender a constituição do crédito, necessária para
• An 1 :-ic1 V 1
to • • º
truída a panir '11 t • .' • d . . , armas cuJ·as hi pótes-::,;, identificá-l o, pois não é possível extinguir o que juridicamente
. . ,., l•)rm ·1 e crnco 1i ,
plexa, apn::se11ta-s~ 1' • • 1· . . '1 pela co1nbinação t.l os não existe. Para extingui-lo requer-se antes criá-lo. É o que o
i
, d r·, . l , 111\)0 \:! ..:on 01111,11, _
alem O ,\ll)I . , . .
l'. ' • ,
. 1i vos· (1) atnüu 1ça
· ,. • =-o \eo·tl Oll n :1O i\O
.,, . pagamento antecipado exige. A mera er.trega de direito aos
\ !
seguintes cnte n ns pos
,
sujeito passivo 0 o te,·~. 1 ... . ck
••
••i1tl.!c
"
. .
1p,1r o pa
. gamento ::;e m prévio
:- o do p•,oamento ante-
co fres públicos não constitui pagamento de tributo, tampouco
processa a extinção do crédito tributário.
A •

: \· \ ' t 1) ocorrencia ou Ih\ •., -


\\ exame d.1 illl\(\I \( ,\l \,;, ' - 1 l I rnudi.! ()li si l\\ll l;i,· il\).
cipado. (iii) -:xi:-;10111.:i :_,_ , 11 11 :H1 l .~- \l~~~ );·e nra1ória, (v) i.:l'é -
(iv) ocorrç111:ia ou nau ~l:i _1rnt~1c, tnç·1;11e~to anteriormen te 8.1.3. Terceiro critério: ocorrência ou não ocorrência de
1 tivação Oll l\iil> d:1 a1,u ª\'.ªº o '
.1
1
efetuado .
dolo, fraude ou simulação
\ A verificação do fato de detenninada vontade tendente a
'1
ocultar a ocorrência do evento jurídico tributário ou encobrir
t)revisão ·de
\'
• • - - 0
8.1.1. Primeiro critério: prev1sao ou na suas reais dimensões, manifestada de forma objetiva na conse-
pagamento antecipado cu ção distorcida dos deveres instrumentais. serve como base

\ - 11. ·, ·ro pa1·1·ivo tio de1·,,r


. Aatrih11i{-'tto fc,~·ol 011 1100 ll~J : 'Jel e .d.a 'autoriclacle
• . 'IH prevw exam
\l de antecipar o paga1111:11to .1e . t . prev·1são normativa qu~
-o
I crN) cons1s e n,1 2:10. Temos que ,1<.:d1i1r a rnnlin~ênl'ia de que, mesmo.que a legish,ção determine
(caput do Art. 1'.'> eº. ~ . \'· .. ;-· • do crédito tributário. Cab~. • o p:ig.amcnlo antecipado, esse poue não ocorrer, realizando-se as hipóteses do
1
\ 1111 1
define o modo ~e lt~ ' 'd~' \~~ • ·tituidora de tributo corro- Arl. 149.

ass11n, a c·1d·1 \eo1s\açac
, • i:, • or I na1, ,1 ms

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1.lll IL'< 1 ~L\l( L'<IS DINI/. DE S/\NTI DEC:i\Dl:NCI/\ E l'RESCRIÇÃÓ,NO DIREITCl TIUIIUT.\IUO 1(1:'i
164

factual para a l·dil'il•;:,Jill dll falo jurídiL:t) do dolll, l'raud,· 1111 de ofício, dc1crn1i11a o dies a quo da abertur.a do prazo decaden-
simulação, na esl'era do direilo tributário. .. cial para lançar de ofício, ante a circunstância <;!e pagamento
Como diz JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES, Ao antecipado efetuado com dolo, fraude ou simulação. Neste caso
direito tributário não .mporta propriamente o dolo, a ~mude._ a específico, a constituição jurídica do dolo, fraude ou simul ação
2 1
simulação cm si. mas sl!u resultado" . -' Assim, a c?nl 1guraçan há de figurar, ao mesmo tempo, como pressuposto da aplicação
desse ilícito interessa ao direito tributário n~ n~ed1da_ ~m que dessa regra e medida preparatória do ulterior lançamento.
colabora na determini.çüo da regra de decadenc,a aplicavcl ao Sobre a configuração dos ilícitos de dolo, fraude ou
simulação, cumpre esclarecer que a conformação desses fatos
caso concreto.
O foto jurídicc da existência ou n_ilo de dolo, frnude ou jurídicos, segundo a orientação do Art. 150, §. 4° do CTN, só se
simulação (partç tir)al do Art. 1S0_, ~ 4º do CT_N) ~.e:vc, _P•'.r.a operará como exceção relevante na determinação do marco
consecução dos objetivos estabelecidos nesses d1sposiuvos, Sl'.. inicial da contagem do prazo decadencial , na hipótese de efe-
constituída na via administrativa, determinando, desse modo, ,, ti vo pagumento antecipado (Art. \50, §§ lº e 4° e 149, II do
obrigatoriedade do lançamento de ofício (Art. 149, Vll de CTN).
CTN) ou a impossibilidade da extinção do crédito pela hornoln·
gação tácita (parte final do Arl. 150, ~ 4" do ~TN). l~ 11 Pº!·t:_
asseverar que a ocorr•~ncia de dolo, fraude ou s'.mulaçao so,. ~ 8.1.5. Quinto critério: ocorrência da anulação de
relevante nos casos de efetivo pagamento antec1~ad?. Se_nd c lançamento anterior
houve pagamento ant<:cipado, seja porque o contn~u_inte nao e
·j 1
efetuou ou porque O tributo por sua natur~za se ~uJel~I ao >la : ·. Por fim, a ocorrência da anulaçlio do lançamento ante-
l çarnenlo de o!"íl.:io, o dolo, a rrau<lc e a s1mul,~çao hao d~- ~çi riomumle <ifetuado (Arl. 173, li do CTN) exige, como premissa
l apurados no procc<li111c11lo <lc liscalização realizado de ?.' 1c10
não servindo como h:póteses determinantes de prazo diteren·
de seu implemento, a ocorrência de lançamento de ofício ante-
rior acoimado de vício formal. E vício formal aqui opõe-se a ,
\ ciado de decadência. vício material, querendo, ao nosso ver, significar irregularidade
j
no ato de aplicação do direito, qu~ é ato-fato (v. O), verificada
quer judicialmente, quer administrativamente segundo os limi-
8.1.4. Quarto critéri<•: ocorrência ou não ocorrência da tes postos pelo Art. 145 do CTN.
notificação de medida preparatória

A ocom1 11 cia 'ia 11otUicaçlio de qualquer m~did,'. p1:e1!ª 8.2. Seis regras que regulam a decadência
ratória indispensável ao lançamento (Art. 173 paragrafo unic;• do direito do Fisco
do CTN) serve corno :ritério para conformação de reg_ra e~peci •
fica de decadêhcia, cuc, além de disciplinar a antec1paçao do P~ra obter as cinco primeiras regras ,que regulam a
procedimento constit•Jtivo do crédito nos casos de lançamenlo decadência do direito do Fisco, combinamos os quatro primei-
ros critérios e, dessa combinação, resultaram as quatro primei-
l. ras regras; a quinta regra baseia-se no quinto critério. A sexta,
23 J. laJIÇ(llll l!IIICJ trinUJária , p. 408,
l'.l/1(1( CI ~l,\l(COS IJINIZ Ili: SANTI
166 Ili,< 'Al>l:NCIA E 1'1(1:SCIUÇÀ!) NO OIIU:I l'O TIUIIUTÁIUO

que trata da extinção do crédito, baseia-se na constituição do em tenha ocorrido o evento tributário. (Art. 173, I do CTN).
crédito após o decurso d1:cadencial de uma das cinco r1:grns Anote-se, a determinação do dies a quo desse prazo tem como
anteriores. pressuposto a constituição jurídica do fato tributário, no qual se
.. '
Assim, as seis regras jurídicas gerais e abstratas que identificará juridicamente o tempo no fato, que é, neste caso, o
'/
~ ' :; ·disciplinam a dec:adêm:ia do direito do Fisco são: (i) regra da marco temporal da ocorrência do mencionado evento.
,1 decadência do din.:ito 1 lc lançar Sl!m pagamento antl!cipado, O conseqül.!nlc normativo dessa regra ataca a competên-
(ii) regra da dec:adênci..: do direito de lançar sem pagamento . eia administrativa de o Fisco produzir o ato-norma administra-
antecipado e com notificação, (iii) regra da decadência do tivo de lançamento tributário ou, o que é o· mesmo, extingue o
direito de lançar com pa ;amento antecipado, (iv) regra da deca- direito de a Fazenda Pública constituir o .crédito, na precisa
12
dência do direito de lançar corn pagamento antecipado, ilícito 2• dicção do caput do Art. 173 do CTN.
: ,r
e' notificação, (v) regra da decadência do direito de lançar
perante anulação do lançamento anterior e (vi) regra de deca-
dência do direito de crédito do Fisco. 8.2.2. Regra d.1 decadência do direito de lançar sem
Cuidaremo~"· n'os itens subseqüentes, de individualizar pagamento antecipado e com notificação
cada uma dessas n..:gras gerais e abstratas, identificando as res-
pectivas hipóteses e conseqüências normativas. Esta regra apresenta na sua hipótese a seguinte combi-
nação dos quatro primeiros critérios: nãó previsão de pa-
gamento c.1,ltecipudo e, portanto, ·não ocorrência do pagamento
8.2.1. Regra clu decadência do direito de lançar sem antecipado, ou então previsão de pagamento antecipado, mas
.' pagamento antecipado não ocorrência do pagamento antecipado; não havendo pa-
gamento antecipado, não ocorrência de dolo', fraude ou simula-
Esta regra apresenta na sua hipótese a seguinte combi- ção, e ocorrência da notificação por parte do Fisco.
nação dos quatro prim !iros critérios: nüo previsão de pa-
.
i
'
gamento antecipado e, p)rtanto, mio ocorrência do pagamento
Portanto, a única coisa qué diferencia esta regra da ante-
rior é u situação do quarto critério: enquanto na primeira regra
antecipado, ou então pr.1vi.w7o de pagamento antecipado, mas não há notificação ao sujeito passivo de IT)edida preparatória
não ocorrência do pag 11nento antecipado; não havendo pa- indispensável ao lançamento, nesta se verifica a sua efetivação
gamento antecipado, nú(! ocorrência de dolo, fraude ou simu- no interstício delimitado pelo acontecimento. do evento tributá-
lação, e não ocorr,1ncia e.a notificação por parte do Fisco. rio e o primeiro dia do exercício subseqüente.
Nessa contiguracão, o prazo decadencial é de cinco Conforme dispõe o Art. 173, parágrafo único do CTN,
anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte2-'·' àquele e:;sa notificação serve como dies a quo do prazo decadencial de
cinco anos, antecipando, dessa forma, em relação à regra ante-
232. Por ilícito aqui queremos I\OS referir à ocorrência de "dolo, fraude ou simu- íior, o termo inicial da contagem do prazo decadencial. 2J 4
lação" ex vi do Arl. 150 § 4" do 2ódigo Tributário Nacional.

'!. 233. Sobre o conceito de exerci :io seguinte, acreditamos não haver maior contro-
,i vérsia que se trate do período d, , OI de janeiro a 31 de dezembro, conforme prevê 234. Cf. SACHA CALMON NAVARRO COELHO, Curso d!! direito tribwârio
o Art. 34 da Lei n. 4.320/64. /Jrnsileim, p. 720-1.
l'.ll!UCI l ,t,\i; C<lS l l!Nli', Ili: S,IN 11 lll:C,\ll(,NClt\ I' l'RESCRl('ÀO NO l)ll(El'f'O T l,UIJU !'ARIO ,
168 169

Da mesma · manei :·a que a regra supracitada, o conse- Nessa guisa, pode-se afirmar que a homologação tácita
qüente normativo dessa regra extingue o direito de a Fazenda do pagamento antecipado é o verso da moeda, cujo anverso é a
Pública constituir o crédito, na precisa dicção do caput do decadência do direito de o Fisco lançar de ofício.
Art. 173 do CTN.

8.2.4. Regra da decadência do direito de lançar com


pagamento antecipado, ilícito e notificação
8.2.3, Regra da decadênc a do direito de lançar com
pagamento antecipado Esta regra apresenta na sua hipótese a ~eguinte combi-
nação dos quatro primeiros critérios: previsão de pagamento
Em primeiro lugar, haveremos de consolidar o entendi- antecipado; ocorrência do pagamento antecipado; ocorrência
mento .de que só poderá haver pagamento antecipado do crédito de dolo, fraude ou simulação, e ocorrênciCI da notificação por
tributário nas circunstâncias em que o legislador tributário parte do Fisco.
expressamente o determine. Sendo assim, a verificação de pa- Essa notificação não pod~ . ser realizada a qualquer
gamento antecipado sem píevisão legislativa para tanto quadra- tempo: submete-se também a pra'zo 'decadencial -de cinco anos,
se na hipótese de simples pagamento irregular, sem o condão de conforme previsto na regra da decadência do direito de lançar
realizar a extinção do crédito tributário na conformidade do com pagamento antecipado. O ato-nonna administrativo for-
Art. 156, Ido CTN. malizador do ilícito tributário servirá como dies 'a quo do novo
Esta regra apresent:1 na sua hipótese a seguinte combi- prazo·decadencial de cinco anos, previsto por esta regra.
nação dos quatro primeircs critérios: previsão de pagamento Portant0, transcorridos cinco ànos sem que a autoridade
antecipado; ocorrência do pagamento antecipado; não ocorrên- administrativa se pronuncie, produzindo a indigitada notifi-
cia de dolo, fraude ou si1mla'rão, e não ocorrência da notifica- cação fonnalizadora do ilícito, operar-se-á ao m~smo tempo a
ção por parte do Fisco. decadência do direito de lançar de ofício, a decadência do
O "fato gerador" d:!ssa regra decadencial iniciará seu direito de constituir juridicamente o dolo, fraude ou simulação
curso de cinco anos com a ccorrência do evento jurídico tributá- para os efeitos do Art. 173, parágrafo ónico do CTN e a extin-
rio, confonne dispõe exprei sarnente a primeira parte do § 4º do ção do crédito tribu tário em razão da homologação tácita do
Art. 150 do CTN. pagamento antecipado.
Neste caso, concorr ~ a contagem do prazo para o Fisco Assim, a notificação ao contribuinte, ao mesmo tempo
homologar expressamente ) pagamento antecipado, concomi- que constitui administrativamente o fato do dolo, fraude ou
tantemente, com o prazo p.ira o Fisco, no caso de não homolo- simulação, serve como medida indispe_nsável 2J5 pnra justificar a
gação, empreender o conespondcnlc lançamento tributário.
Sendo assim, no termo f nal desse período, consolidam-se 235. Entendemos que para confi gurar adminis1ra1ivnmen1e o dolo, a fraude e a
simultaneamente a homolo.~ação tácita, a perda do direito de simulação, u no1ilicação haverá de conter umn norma indi vidual e concreta que
apresente no an1ccedente a tipifi cnção do foto alegado e no conscqUcnle a qunl ifi -
homologar expressamente t, conseqüentemente, a impossibili- t:ilçilo j urfcl icn clcssn si1ua\:ilo (dolo, írnuclc 011 simul n~ílo). A cons1r111,;fto ml minis-
dade jurídica de lançar de oi ício. trati va Ucssa rc\!ru é css,~1H·i·, t " •• ,... ,., ......... ·-·· •~ •
170 EUJU( '() f I,\I,l'! IS J)INJ/, IJE S/\N TI
DECADÊNCIA U l'RESCJOÇÀO NO DIREITO TRIIJUTÁRIO 17 1

realização do ulterior lany 1111e11to. Contudo, há que se çonside- 8.2.5. Regra da decadência do ' direito de lançar perante
rar que, se o ilícito alegad) 11a notificação não se mantiver nos anulação do lançamento anterior
quadrantes do direito, e111 ra1.;io de qualquer problema material Aspei..:lo peculiar desta regra de decadência é ·tomar
ou formal com o ato-norn 1a administrativo que cuida da cons- como hipótese a existência de decisão admin,istnttiva ou judicial
tituição desse falo ilíeito. 1esli1r.í comprometido também o ulte- que decrete a anula'rão por vício formal de lançamento anterior.
rior lançamento que cve11tual111e11tc tenha sido realizado sob a Desse modo, essa decisão que sob dada referência era efeito,
tutela do novo prazo decmkm:ial, fundado na indigitada medida passa à condição de suposto da aplicação desta regra decaden-
preparatória. · cial, retratando a relatividade do conceito de foto jurídico a que
Port:into, se não ho.1ver a realização desse ato-norma ou fa z alusão LOURIV AL VILANOV.A. 236
-se for verificado qualquer v1c10 em sua produção, esta regra Assim, na hipótese desta regra temos a, ocorrência de
decadencial torna-se inapl.Cí\vel, ficando o pra:zo decadencial anulação por vício formal (Art. 173, II do CTN), cuja constitui-
restará fixado pela regra .lo clerndência do direito de lanç:or ção jurídica depende de decisão judicial o~ administrativa, 2•
11

com pagame/llo (111tecip(l(/r,.


Conquanto a notif'i ;í!yão a que faz alusão o panígrai'o
único do An. 1n do CTf ~. 110 contexto cm que não hü pa- 236. "A sentença delinitiva, que é alo jurídico processual que culmina a série de
gamento antecipado, tenha o condão de adiantar o dies a quo do atos processuais no juízo de primeira ou única instância, insere-se na série de
prazo decadencial. conforme verificamos nu regra da decadên- ratos e rduçõcs jurídicas an1cccucnles, como ato conscqüe!llc (observe-se que o
sill>gismo judiciul é a csquematização tinul, a mise c11 fvrmc de vários atos, das
cia do direito de lançar se111 f)agw11e11to ontecipado e com noti- parles e do juiz, simplilicatlo nssirti, nesse final, como estrutura de argumen 10
ficação, outro é o sentido que esse preceptivo assume quando dedutivo), Mas, se n sentença é a proposição concluden~e, é juízo normativo
da ocorrência do pagamento antecipado combinado com a rnncrclo ~ efcilo jurídicll. Mas só relalivain~me. É fato jurídico processual pnrn
con1inu:1r nas relações recursais, no processo de cognição; é, uinda, fato jurídico
constituição jurídica da ocorrência de dolo, fraude ou simula- processual de que provém o lítulo para a execução (no processo de execução)". E
ção. Nesse caso, além de n~o haver antecipação, acaba havendo atinai conclui : "Ser causa e ser efeito na série pontuada - os segmentos do curso
uma ampliação do prazo decadencial, uma vez que esta regra ou percurso processual das relações processuais, é uma questão lópica, ou um
fixa um novo dies II q110, qL e sed a constituição jurídica do fato pmhlcma, diremos, !típico J'uncional". Ca1m1/í~cule e rcluçiio 110 direito, p. 146.

do dolo, fraude ou simulação. 237. Como leciona ALIOMAR BALEEIRO, além do prazo do Lermo previsto no
inds:1 1 tio Arl. 173 do CTN, o pruro decatlcl}cial iniciu, wnÍbém, "do dia cm que
O conseqüente non'.1ativo dessa regra, como as demais, se tornar tlelinil1va a decisão que anulou, por vício formal, o lançamento. isto é.
após o decurso do prazo ee cinco anos, contados da data da quando este não íoi feito pela autoridade competenle ou foi· feito com preterição
notificação preparatória do :ançamento ulterior e constitutiva do de formalidade essenci,11 i1 sua elicácia, segundo a lei.(§) Tanto a decisão jud icial
pode anular o lançamen10 viciado formalmente, quanto a própria autoridade
fato ilícito, extingue o direi :o de a Fazenda Pública constituir o
admi nistrativa, - a que fez o proccdimenlo ou a superior que o reviu , - pode e
crédito. tlcve fazê-lo, j,\ que aquele nto é de competência vinculada e adstrito à rígida
legalidade (ver Arl. 145)". Direito tributário brasileiro, p. 530. Não obstante na
p(>si çiio de erílico cu111u11tlcnte do dispositivo, entcnclc LUCIANO AMARO que
"O Art. 173, li, cuida de siluaçilo particular; traia-se de hipó1csc cm que lenha
sido efeluuuo um lanyamenlo com vício de forma, e este venha a ser "anulado"
regra de decadência, com prazo di ;"c rem:iado. Temos aqui a utilização dos tipos
(ou melhor, declarado nulo, se Li vermos presente que o vfcio de forma é causa de
penois com efeitos :id111inis1rn1ivos. Sem prejuízo dos cldlos penais e da co n.~Li -
nulidade, e n;io tlc mera anulabilltlade) por decisiio (administrativa ou judicial)
tuição desses falos n:is esfera do prn:esso penal.
dcfini1iva". Direiw trihurâri<> hrusilr.iro, p. 381.
r
172 l'.lllOCO ~l,\I(( OS lllNIZ Ili: St\NTI DECt\l>Í:NClt\ E l'I\ESCIUÇÃO NO l)IRl!ITO Tl\lllUTÂRIO • 173
1
1

que servir;í co11H1 t!i,·s ,, (J/111 do praí'.O uccat.h!11cinl de ci11rn


anos. Ressalte-se, entretanto, a competência de anular pres-
supõe a competência de lançar. Dessa forma, o prazo da anu-
CiERALDO ATALIL3A.1-''' chamou defe11ôme110 dq .rn/JJ'cposi-
ç:üo 110 direito tributário, e cujo suporte de formação PAULO ..
AYRES BARRETO denominou de/ato complexo.
240

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lação submete-se, também, uc pruzo decadencial de cinco anos A conseqüência desta regra será' a extinção do crédito
aplicável à espécie, e .ios limires da anulação, postos pelo CTN tributário com a invalidação do lançamento ou do ·ato de for-
nos Arts. 141, 145 e 149 capw. malização do particular que lhe servia de suporte.
No conseqüente desta norma, decorrente da realização Não obstante prescreva expressamente que a deca~ência
do fato decadcncial, temos a previsão abstrata pa extinção da extingue o crédito tributário, o Art. 156, incis<? V do CTN é
competência administrativa d! o Fisco empreender o lança- tra tado pela doutrina, por vezes, como úm equívoco do legis-
mento tributário. lador. Conforme argumenta AMÉRICO MASSET LACOMBE,
"Se o Art. 142 determina que 'compete privaüvamente à autori -
dade administrativa constituir o crédito tributár.io pelo lança-
8.2.6. Regra ela decadência de, direito de crédito do Fisco mento', se o Art. 173 diz que 'o direi.to de a fazenda constituir o
crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos' fixando-se aí
Enquanto as cin,.:-o rng n.is de decadência supradescritas o prazo decadencial, temos que o termo final deste prazo ocorre
mantiverum a extinção do direiw de lançar como foco, ~sta antes da constituição do crédito (obligatio), e, · assim, não
regra dirige sua força extintiva para o crédito tributário. Aque- poderá a decadência extinguir o que aindu não foi consti-
las extinguem o direiw de consriwir o crédito; esta extingue o tuído". 241 E conclui que a decadência "não extingue, assim, a
crédito tributário, seja ele resultado de lançamento ou de ato de ohligatio, e é um grave erro técnico do CTN relacioná-la como
formalização do particular intempestivos, que gozarão de pre- forma de extinção do crédito". 242 • • ,.
sunção de validade até que esta regra decadencial os retire do Não é possível aceitar esse raciocínio quando identifi-
sistema jurídico. camos, a partir do Arts. 173, I e 156, V do CTN, duas regras
Assim, a hipótese da rqra da decadência do direito de distintas: esta regra da decadência do direito de crédito do
.crédito do Fisco pressupõe créc ito anterior, posto que só é pos- Fisco e a regra da decadência do direito de lançar sem paga-
sível .extinguir crédito que haja sido constituído, conforme se mento antecipado. De fato, nesta última, não se fala ainda cm
aduz do Art. 156, V do CTN. E,5se crédito é sujeito a extinção, crédito, apenas em direito de lançar, mas naquela pressupõe-se
pois foi constituído pelo partiC'ular ou pelo Fisco extempora- crédito constituído extemporaneamente. A raiz do · problema í
neamente, ou seju, o lançamen :o ou o ato de formalização do está em confundir a decadência do direito ao crédito.'(Art. l 56, r
particular que o constituiu foi real iz.ado após o decurso do prazo V do CTN) e a d1..cadência ~o direito de constituir o crédito '·
1
1

decadencial de uma das cinco regras anteriores, configurando


aquilo que GIAN ANTONIO MICHELE, 2J8 seguido por
239. Hi1uí1r:sr: dr: incidência tributária, p. 66.
2,IO. Palll complc)(o c,Ímo :1 plurivocidadc de fulos simples. Cf. PAULO A YRES
ll/\RRETO, l1111wsto .wbre a rc•11da ,, 111·,-ço.1· ,/e trw1.efr:rê11cia, p. !!9.
238. E)(clllplo e.lo li:nômcno e.la sobrcpu: ição: u ICMS i11cidr: so/11'(' a incitlência
de um contrnto de compra e venda me ·cantil. Cm1cc'Jl('tio di11â111ic:11 do dirc•i10 241. 0/,rigaçrio tri/m1círia, p. 92.
1ributúrio, p. 108. 242. Idem, lbidcm.
1-.111(11 '11 ,l:11-1 'J IS lllNli'. Ili'. S/\N'l'I
l>EL'Al>i:Nt'I/\ E l'IU :SCl<J~'ÀO NO OIREl'f'O 'f'l<llllf'f'Ál<IO l }5
174

(Art. 173. I do CTN }, qua11do, em verdíllk, partem de hip('itesl'S yfio, !•U Que ra zer se o direito posilivo prescreve que o prazo
diversas e produzem ekilrs igual111entc diversos. c.le<.:adencinl interrompe ou suspende'? Se sabemos que o direito
244
cria suas próprias realidades, como· dizer que o ldireito está
errado, que não corresponde t1 realidade? que ciência é essa que
8.3. Outros casos pcrtinc11lcs ü decadência 4
pre tende dizer que seu objeto está errado?· ~ É como se, o geó-
do direito do Fisco logo, fazendo ciência, gritasse para o. terremoto:. ''Você não..
pode acontecer, não cst;.í em meus cálculos" . .
A pr.ítica ~ a parl i.:: da ll.:oria que ainda não foi pensada,
Entendemos , pois, que o foco ele resistência contra a
simplesmente porque a<.:( 11 tl.'.ce: independe· do interesse, cio
interrupção da decllc.lência se enconlra i'nstalado no argumento
gênio ou da ot1s:1dia e <.:apí1cic.latle de articulação do jurista.
de autoridade importado acríticamente da teoria do' direito pri-
Sendo o dire ito positivo algo fi nito, em term os de di sci- 246
v:,do: magister dixit, como faz alusão ROQUE CARRAZZA.
plina da cond uta, seria po ·isíve l edilicar urna teoria que aglu -
Ca llw, por isso, perfeitamente o seguinte excerto de RICARDO
tinasse e previsse tNlo.~ n~ e.isas n.:levantes parn o direito, de
GU IBOURG:
maneira que ilquilo. que 11 l o pertencesse ê\ esse sistem :1 sim-
E11 161 O, Ga lilco veía por su te!es<.:apio los satélites de
plesmente 11iit1 seri a juritl irn. Todavi a, teoria assi m, tão rica e
Júp iter. Su s colegas, los astrónomos de Pisa, no creían
tão plena de poss ibil idade s ~uan to :1 pr.í 1ica, seria tão corn pkxa
que tales satélites existieran, porque Aristóteles nada
que se tornaria pra~matic:111 ,e11tc imítil.
había dicho de el los. Tan seguros es.taban, que se
A doutrina eli.:!!.-: o~ castis mais relevantes par,t co11sti - ne(Taron a mirar I)or cl telcscopio': ''si ese tubo hacc ver
~ '
tuir us prim;ipa is nonn:is ju ríd icas que disciplinam a t:011JuIa
cosas que sabemos que no existen - razonaban - ha
humana e, nos outros casos , ric,1 a espera da ocorrênci a co ncre ta
de ser un instrumento dei demonio. Nosotros, los
desses eventos p,tríl construi r ít :--olução jurídica específica. ' •
Junslas, • ,
lllllranamos por e1 te1escop10
' ?" 247
..
Elegcmos, assim, algt111s casos em que há controvérsi a A intermpçtío da decadência do direito do Fisco , nada
com relação à decadência cio Pisco, propondo soluções basea- ma is I! do que o reinício (termo preferível àquele) d~ um novo
das nas seis rcgras m:i111 :1 descritas . São estes os casos:
(i) "interrupção" da decadênci,1, (ii) decadência do direito de o
Fisco efetuar u homologação expressa, (iii) decadência do 243, Cf. LUCIANO AMARO. Direito trihutârio lm,sildro, p. 381.
direito de o Fisco cfot uar revisão de lançamento anterior, 244, V. supra ci1ação de CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO.
(iv) efeito da suspensão da 1:xigibilidade sobre os prazos deca- 245. Assim, segundo FÁBIO FANUClil, a lei complemenlar erra: "o r.ra~o ~e
denciais e (v) tese do STJ e os dez anos do direito de o Fisco dcq1dêm:ia é falai e inintcm1p10, lonrnndo-se inopcranle qualquer prov1clcnc1a,
ef~tuar o lançarnenlo 11 0 t:, sn dos tributos sujeitos no paga- r11r111almcnte imtclequ,tdn, visando prmh11.ir clcilos de manifcslação ele vontade do
1iIular do cl ircilu apenas p11tc111;iatmen1c assegurado. Logo, 11e.ue ponto, a lei
mento antecipado. n 111111/c:111cmtar 1ributária erra, atlolafü.lo crilério de suspensão e inlcrrupção elo
prazo clc<.:a<lencial, como se provará ;i ~cguir". (<lcsta_carnos), A decadê11cia e a
11r,•sc'l'Í('<io c!/11 direito trilmtcírio, p. 89.
8.3.1. A "interrupção" da d ~cadência
246. Citaçiio feita sobre a aulnri<ladc <lc Aristólctcs. Notas /aq11igrâfica.1· de aula
1110(,·rida 110 curso tle e,1'/w1:ialiwc1io tia PUC/S!'.
Muitos autores t:ritic,1111 o enunciado do Arl. 173, 11 do
2117, /:'/ cil'n:c:ho y las cic11cias e.W(.'/CtS, p, 2.
CTN, simpksmcntl.! porqui..: • doutrina não aceita essa intl.!rrup-
176 l·:lll(lt'I ~1,\l(t'O., 1>INl/.1 >I' S,\N'l'I
lll:l'Al>i°:Nt'IA 1: l'IU'St'Rl~'ÃO NO lll_l!El'l'O TRIIIU'J'Í\1(10 177

prazo dccalknci,1 1. dc.:011\.:1111.: do f.110 juddico dn él1 Hil ai;~u do dl/áe111es; um europeu nativo, vivenciando a mesma experiên-
lançamento u111crior por vício l'ormal. É o que estabelecc a cia, presenciaria a repetição do mesmo fato cinco vezes_..
•regra da decadência do ,li reiro de lançar perante a1111/açüo do Assim como os esquimós e os europeus se baseiam em
lançamemo anterior, que nii o interrompe prazo de outra rcgr;1 sistemas de referência distintos para-denominar a "neve", os
nem tem seu prazo i111errompido, ela simplesmen te inc ide juristas também podem basear-se em sistemas_ ~e referê~,c!a
quando realizado o evento decadencial previsto em sua hipó tese distintos para identificar as normas decadenc1~1s. Na v1sao
(decorrer cinco anos do f, to da anu lação do lançamento anterio r sedimentada pela doutrina que não aceita a "interrupção" (em
por vício formal). Di.:ver, ,:;, os prazos de formação relativos f1s verdade o reinício) do prazo decadencial, há apenas uma regra ·
diversas regras dccadcnc. iais são · i nlercorrentes, conformando de decadência; nú perspectiva proposta por este trabalho, há seis
normativmnentc fatos jl rídicos dccadenclais distintos, cmla normas de decadência.
qual com seu termo i11icíal .
Mas há também quem reconheça que não há qualquer
A não aceitação da possibilidade da "interrupção" da e111baraço jurídico que impeça o Código Trib~tár_io Na~ional ~e
decadência decorre da crença de que existe apenas uma regra de disciplinar o reinício do prazo de. decadenc1a. Como diz
decadência. Isto niio é vr.rdade no dire ito tributário, que con- PONTES DE MIRANDA, "se a técnica legislativa decide per-
grega diversas hipóteses lül11 co nteúdos e objetivos distintos ex 111itir a interrupção do prazo preclusivo, nada obsia a que o de-
vi: da primeira parte do ~ 4" do Art. 150; da segunda ,parte do termine". 249 Na mesma linha, reconhecem expressamente a
§ 4º do 150; do Art. 173, I; do 173, II; do parágrafo único do possibilidade do Código Tributário Nacional tratar dessa hipó-
Art. 173, e do Art. 156, 'v. Assim, no direito tributário , não há tese de interrupção do prazo de decadência, entre. outros ALCI-
que se falar em uma só regra de decadência, mas em seis DES JORGE COSTA, 250 PAULO DE BARROS CARVA-
normas decudenciuis , cuj.i -; hipóteses normativas concorrem na LHO 251 e RICARDO LOBO TORRES. 252
form?çlio de fatos jyrídicos diversos, erigidos sob trechos tem -
porais distintos.
DARDO SCAYINO, introduzindo o "giro lingüístico"
- nova postL:ra filosófica em que a linguagem deixa de ser um
meio, algo que estaria entre o eu e a realidade, e se con verte
num léxico capaz de criar tanto o eu como a realidade-, traz à
colação exemplo que pod~ ser de utilidade para entender por 24lJ. Trnrado de direito wivado, • vol. 6, p. 136. Advertimos PONTES DE
que defendemos a existência de seis nom,as decadenciais no MIRANDA, usa o termo "preclusão", em vez de "decadência", pois, conforme já
direito tributá.rio positi vo: o lingüista dinamarquês LOUIS ~:,clareccmos, entende que o "direito cai, não decai". Idem, ibidem. p. 135.
HJEMSLEV verificou que os esquimós têm cinco substantivos 250. "O inciso li do artigo 173 do CTN é infeliz, mas existe e o que dele decorre
é que a decadência não se opera se o lançamento anulado fo_r feito dentro do
diferen tes, que não siio sinônimos, pura referir-se u "neve", rrazo. Parece-nos que exercido o direito de forma inadequada de molde a torná-lo
enquanto, nas línguas eurJpéias, há apenas um. 248 Assim, os anul,ível, nbre-sc novo prazo para que seja efetuado novo lançamento. A dcca-
cinco substantivos re-pres1:mum para os esquimós cinco fotos uência é instituto cujos contornos estão fixados em lei, e a lei' pode alterá-los".
frrinçiiu das ohrigaç1ies tributárias, p. 251.
251. Curso de direi/o trilmuírio, p. 313.
248. la filosofia arnw/: 11e11sC1r sil, caiews, p. 30.
252. Curso de direiro fi11w1ceiro e trib111ário, p. ~:58.
1-.lll(I( ·, 1 ~1 ,llil'OS IJINl:t, llls .~ANTI
178 llEC,\lll'.NCIA 1\ l'RESCI( 1~:Ao NO 1)11(1'.l'l'O TldllUTi\HIO
179

8.3.2. A decadência cio direito de o Fisco efetuar a


CTN, fazendo que, sob condições regulares, seja inexigível o
homologação expressa
crédito devidamente pago e homologado. Pa.ra efetuar a homo-
Se, como diz PAULO DE BARROS CARVALHO, "as logação expressa, o Fisco tem prazo de cinco anos contados da
relações jurídicas nasce n com o advento de enunciados lin- data do acontecimento do fato jurídico tributário, ao final do
güísticos, individualizat os pela presença da síntese deôntica, qual operar-se-,í a homologação tácita.
usada e mio si111JJ/e.1·111e1·te 111encionwla, instalando-se no lugar No caso de pagamento antecipado irregular em relação
sintático de conseqüente da norma individual e concreta, expe- à cláusula extintiva do Art. 156, VII do CTN, o parágrafo único
' 1
dida pelo Poder Público, não podemos deixar de convir cm que desse preceptivo determina que sejam aplicados o Art. 149 do
suas eventuais modifica;:ões, bem como sua extinção, operar- CTN, especialmente nos incisos V, VI, VII, VIII e no seu pará-
se-ão, também e necess'- riamente, por força de outro enunciadc grafo único. Sendo assim, ainda que o crédito tenha sido
de linguagem corno já refericlo". 25 -' • expressamente homologado, a autoridade administrativa deverá
Assim, se o crédito tributário nasce pela força das regras efetuar o lançamento ele ofício, desde que dentro do prazo de
que regem o lançamenlo ou o ato de formalização' do crédito decadência da regra aplicável: (i) quando se comprove omissão
realizado pelo contribuinte, a sua extinção nasce pela força da ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no
'realização de uma das h'póteses do Art. 156 do CTN, dentre as exercício da atividade a que se refere o Art. 150; (ii) quando se
quais a homologação expressa. comprove ução ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro
A homologação expressa consiste - confonne escólio legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade
de JOSÉ SOUTO MAIC R 13ORGES 2·~· 1 - no exercício de uma pecuni,íria; ou (iii) quando se comprove que o sujeito passivo,
função administrativa CL jo efeito é, em sentido amplo, a apro- ou terceiro em benefício daquele', agiu com dolo, fraude ou
vação do pagamento ant.!cipado, exercido pelo sujeito passivo. simulação. Além disso, o parágrafo único do 'Art. 156 do CTN
ex vi do Art. 150 cc1p11r e seus parágrafos do CTN. Assi 111, o ren~ete ao Art._ 144, Ido CTN que a esse novo lançamento seja
pagamento feito pelo sujeito passivo será o antecedente ou a aplicada a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato
motivação da norma individual e concreta da homologação jurídico tributário, tenha instituído novos critérios de apuração
11
expressa, conforme assinala LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, 2 • ou processos de fiscalização, ampliando os poderes de investi- •
e a detem1inação da extinção do crédito, seu conseqüente nor- gação das autoridades administrativas, ou outorgando ao crédito
mativo. maiores garantias ou privilégios.
Essa homologação servirá simultaneamente como Dessa forma, quando há h9mologação expressa, é pos-
condictio juris resolutória e veículo da norma que ratifica a sível haver dois tipos de prazos decadenciais •coincidentes: um
extinção do crédito, anteriormente constituído e extinto p~la para :.1 homologação e outro para a realização do lançamento
atividade do contribuint·.!, conforme prevê o Art. 156, VII do tendente a formalizar novo crédito tributário.

8.3.3. A decadê11cia do direito de o Fisco


253. Direito 1rih111ârio: f11111/w11 !11/U.I' j11rídicus da incidência, p. 188. efetuar revisão de lançamento anterior
254. La11ç,1111e1110 1rilm1âri11, fl· 154 .
Revisar é exercer o controle de legalidade sobre: (i) o
2S5. Curso clr. clirei10 acl111i11i.1·1r ,1i1·11, p. l ':i7.
lançamento de ofício, (ii) o ato administrativo 'da homologação
180 Fllltl('ll ,L\IWOS l>INl/, Ili ; S/\NTI IJl (C/\lll:NCl/1 E l'IU:SCIUÇÀO NO l)fl(EITO TRIIIUTÁl<IO
181

expressa ou (iii) a norma individual e concreta produzida pelo prazo decadencial do direito de o Fisco lançar, a menos que
particular na confonnidac e cio Arl. 150. Ao fazer-se a revisão tenha havido medida liminar proibindo expressamente a efeti-
de qualquer uma ul!ss,1s três normas, pratica-se ulterior ato dl! vação do lançamento, mas, nesse caso, o que ocorre é a suspen-
lançamento. são da possibilidade de lançar. Sendo cassada a medida, aplica-
Precl.!itua o parágrafo único do Art. 149 que a revisão do se a regra do direito de lançar sem pagamento antecipado,
lançamento só pode ser ir iciada enquanto não extinto o direito deslocando-se o início do prazo decadencial do primeiro dia do
da Fazenda Pública, ou seja, dentro do prazo de decadência ela exercício seguinte àquele em que a medida foi cassada, con-
regra aplic.ívcl a cada um, das indigitadas hipóteses. rorme prescreve o Art. 173, I, do CTN.
Dessa forma, ta1r bém quando h,í revisão, é possível Portanto, como já salientamos, a suspensão da exigibili-
haver dois tipos de prazos decadenciais coincidentes: um ptlra a dade do crédito tributário não afeta o prazo de decadência do
revisão e outro para a realização do ato de produçüo da norma direito de o Fisco efetuar o lançamento tributário, salvo quando
que se está revisando . hou ver liminar impeditiva do exercício desse dever.

8.3.4. O efeito da suspensão da exigibilidade do crédito 8.3.5. A tese do STJ dos dez anos
sobre os prazos decadenciais do direito de o Fisco lançar

As cláusulas previ ,tas nos incisos do Art. 151 do CTN, A ampliação do prazo de cincq para dez anos, proposta
que tratam da suspensão da exigibilidade do crédito; visam a pelo STJ para o Fisco efetuar o lançamento no caso ·dos tributos
inibir o direito de exigir e crédito, mas não necessariamente o sujeitos a pagamento antecipado, é objeto central desta tese. A
direito de exercer o lanç unento. Assim, suspender o crédito proposição é nova, surgiu no meio da década de noventa: com-
significa inibir o processo de positi vação do direito tendente ao pulsando obras anteriores a 1995 não encontramos nem na
ato de inscrição da dívida 'ltiva e do conseqüente processo exe- • 2•~8 nem na JUnspru
doutnna • • • fnd'ices ou para1e1o· da arro-
dAencta

cutivo fiscal.
Sendo assim, não se cogita qu~ a suspensão da exigibi- um pretensão legílina elo Fisco". A :;uJ11ensiio da exigibilidade do. crédito tributá•
rio, [J. 85.
lidade do crédito possa impedir a prática do lançamento. Nesse
caso, como diz o Min. AR! PARGENDLER,2-~ 6 "a Fazenda pode 258. Nada consta n respeilo no J" Caderno de Pesquisas Tributárias coordenado
por IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, que serviu de alicerce para o 1°
constituir o crédito tributário, só não lhe sendo lícito exigi- Simpósio de Direito Tributário, realizado em 23 de outubro de, 1976 e cujo foco
lo". 2s7 Conseqüentemente, não há que se falar em suspensão do Lc1mílico foi justamente "Decadência e Prescrição'.', Nele se encontram trabalhos
tlc BERNARDO RIBEIRO DE MORAIS , CARLOS DA ROCHA GUIMA-
RÃES, EDVALDO BRITO, FÁBIO FANUCHI, IVES GANDRA DA SILVA
256. Cf. Volo do rcl,llor no Recur;o Especial 46.237 - Rio de Janeiro (94 8944-9) MARTINS, JOSÉ CARLOS GRAÇA WAGNER, LEONEL DE ANDRADE
- DJ 17/02/1997. VELLOSO, NOÉ WINKLER, RAFAEL MORENO RODRIGUES, ROBERTO
257. No 111cs1110 scnlido, M/\Rlt LEONOR LEITE VIEIRA: "O cnlcndimcnlo O. FREYTES, RUBENS APPROBATO MACHADO, SEBASTIÃO DE OLI-
segundo o qual, rnm a suspensão da cxigibilitla<lc, está a Fazenda Pública impe- VEIRA LIMA, YVES JOSÉ DE MIRANDA GUIMARÃES, Pft:ULO DE BAR-
dida de efcluar o lan~·,nnenlO, po1 intermédio de aulo de infração, nssim, parece ROS CARVALHO e AIRES FERNANDINO BARRETO. També~ em outro
equivocado, pois que o lançamcr lo co11tido na pcçn mencionada consuhslancia 1omo, Decadência e Prescrição, publicado em 1976 pela Editora Resenha Tribu-
182 1.1 IIUI '(I ~l,\l(('C >S l llN li'. l lE Si\NT I IJEC'i\lll:NCli\ E l'l(ESC.:IW,:Ão NO Dll(EITO Tl(lllUTÁIWl
183

jada pos1çao que vem orientando o STJ, que constituiu regra :irgumc111os r:ue fundamentaram essa decisão de modo claro e
específica de di.!cadênci Ido direito de o Fisco lançar a partir ela in~eligív:!• evitando qualquer espécie de abordagem de con-
interpretação cu111ulati 11 a dos prazos do Art. 150 4" e do * lL:udo cn11co que possa distorcer a intelecção do aresto.
Art. 17\ 1. do CTN.
Essa ll'SC' dos di:-: (1110.•; de dec({(/ência do direito ele o
Fisco efetuar o lw1rwue11to nos casos dos 1rib111os St(ieitos oo 8.3.5. 1. O Acórdão e os argumentos do STJ
lançw11e11to /)()/" ho11wl< 1,:oç:cio surgiu quase como contrapartida
1

da denominada tese do.• dez anos de decadência do direito de o Apresentamos inicialmente a ementa do Acórdão do
sujeito passivo repetir o indébito tributário, proposta também STJ que propôs a tese dos dez anos de decadência do direito de
inovadora em ri.!lação a,)s padrões da época. o Fisco efetuar o lançamento nos casos dos tributos sujeitos a
A inteligência e essa nova proposta é indiscutível, tanto pagamento antecipado:
que a doutrina registr:1 deb,1tes e divergências com relação ~1 sua RECURSO ESPECIAL N. 58.918-5/RJ (95/0001216-2)
rnterpretaçao.-- 1 Por 1;so,
• preten dcrnos trazer a' co 1,Iç,I0
- o.,
0
• - ''
RELATOR: MIN. HUMBERTO GOMES DE BARROS
EMENTA: _,
t:íria, não cnrn1IIr:1111os vcsl ~ios tl:1 :1brn\ l:i~c111 holliernamrnlc p,opo., 1:I 1:t1., TRIBUTÁRIO - CONTRIBUIÇÃO PREVIDÊNCIA
trabalhos aprcsc11I:1tii1s por A JRÉLIO SEIXA PITANGA, FÁBIO FANUCCI li.
FRANCISCO GONÇALVES CHAGAS, IYES GANDRA DA SILV /1
- CON~TITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO -
MARTINS. LUCIANO DA SILVA AMARO, MANOEL J. GOM[S DOS DECADENCIA - PRAZO (ART. l 73, I, DO CTN).
SANTOS, RAFAEL MORENO IWDRIGUES, RUY BARBOSA NOGUl:IRA L' ! - O Arl. 173, I, do CTN deve ser interpretado cm ron-
SEBASTIÃO DE OLIVEIRA LIMA. JUnto com seu Art. 150, § 4º.
259. Assim, cm c.Jcsacorllo c,,111 nosso entcnllimento conforme ·ac.Jscrcvc111os ª" II - O termo inicial da decadência prevista no Art. 173,
final da cita, MARCELO RI 3EIRO DE ALMEIDA identilica prohlcma Icrn1i-
nol6gico na inc.Jigit,1da decisão: "pois aquilo que a doutrina denomina prescriç:in. I, do CTN não é a data em que ocorreu o fato gerador.
neste acórdão foi denominall1 de dccudênciu. Contudo, conceitualmente, a regra III - A decadência relativa ·aO direito de constituir cré-
da.decadência do direito lle n ver o lançamento (direito potcstativo) foi mantitl.1. dito tributário somente ocorre depois de cinco anos,
E o mencíon.1do período de e inco anos, cujo início deve ocorrer depois do pri- • l

meiro dia do exercício scgui11te ;1 extinção uu direito potest,llivo de homologar


(de forma tácita ou expressa). o qual restou denominado também de dcc.1dêm:ia. p~rí'.>tlo "se refere 11 cohr:rnça d(l cré<.lilo": não, trata-se de prazo decadcncial do
quer significar cm ver~adc o prazo para a ação de cobrança do crédito trihut.írill direito de !unçnr, ocorre, cmretanI0, que a dilação do prazo decadencial implica
que, na redação do Art. 174 do CTN, prescreve em cinco anos. E tanto é vcn.lac.k prolongamento do prescricional, o qual, por s4a vez, tem como termo inicial
que o segundo período de 5 anos se refere à cobrança do crédito tribut,\rio e não :1 J_u~'.~mc,~t~, a conslit~ição ~o crédito. Em suma, o alongamento do prazo de pres~
sua constituição, que o rccmso do INSS, no caso concreto do aresto, foi julgadll rn~, 10 decorreu da <.11sIensao do prazo dee:idencial, reitere-se: não do fato da tese
versar sobre prescrição, o que não é o caso.
procedente para que . a c•xt•rnç:,io .fiscal (cohr,inça do crédito tribut,írio) rctomass~
o seu curso". A prc•.,·,.·riçcio e,, dec:ad,:ncia 110 direito trihwârio e se11.1· rc:f/e.rn.,· 11" ~m ~c~lid_o sem~ll~antc, mas sob supeclâneo disti~to, ESTEVÃO liORV ATH em
constit11içiio e exigh1cia do crédito trilmtârio objeto de q11e.1·tio11w11e1110 judicial. rn:ilercncra proferida no Xll Congresso brasileiro de direito tributário do Instituto
p. 90-1. Conforme adiantamos não podemos assentir com a proposta transcrita, :1 Gl\RA~~O ATJ\LIBA :- ~DEPE, trnnscrit.a na RDT 75, também parece entender
decisão sequer trata de prescrição nem é enconlnívcl, no corpo do accírd:"10. 1
ll~ _1.:_ o _segundo _lapso rele~1~0 pelo STJ é prescricional, quand9 afirma: ''A partir
qualquer menção ao Art. 174 do CTN (o que, admitimos, seria também dcsnec:cs- tlis:o se pode _dizer, no maxrmo, que começa a correr prazo de prescrição. Não há
111 11
sário), tampouco o efeito reflexo do acórdão com relação à procedência da excc:u- , s que s.: talar em decadência. Ou seja, o prazo decadencial coincide com
0
ção fiscal pode ser usallo ,:omo c,mdiç:,io s11ficie11te da conclusão aduzill:i. prazo para lançar, ao contrário do que diz, infelizmente acho eu o ST''" M d
1•I 1 . "A i
, <'" e.1 t
,• •
ecllc,e11c1l/ e prescriçcio ", p. 23. • , • . esa e
Entenda-se: houve efeito no praw prescricion.1I, mas não porque o segunuo
184 1:Ul• ICO MAl(COS DINIZ DE SANTI DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRIIJUTÁRIO 185

contados do exercício seguinte àquele em que se extin- O Arl. 173 do CTN expressa-se nessas palavras:
guiu o direito 1wtestalivo de o Estado rever o lança- "O direito de a Fazenda Pública consti-
mento (Art. 151
4").
), * tuir o crédito tributário e~tingue-se .após cinco anos,
IV - Se o !'ato gerador ocorreu em outubro de 1974, a contados:
decadência opera-se em I" de janeiro de 1985. I - do primeiro dia do exercício seguinte
DJU 19/06/95. àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;"
Transcrevemos o voto do relator, Min. HUMBERTO E prossegue o Ministro, em sucinta análise:
GOMES DE BARRO~, com citação de d_ispositivos e destaques Com efeito, a utilização do verbo poder, em seu
1 efetuados pelo própri1> autor, essenciais para a apreensão da modo condicional, autoriza o entendimento de que o
1 ' seqüência do raciocíni,J aduzido no referido acórdão: prazo começa a partir do momento em que seria l feito à
administração fazer o lançamento. Por igual, o termo
A reccrrente intentou a cobrança judicial de "poderia", permite dizer que o prazo somente começa,
contribuições r·revidenciárias relativas aos meses conti- depois que já não mais é lícita a prática do lançamento.
dos no período iniciado em outubro de 1974 e termi-
A dificuldade desaparece, quando se exaq1ina o
nado em deze111bro de 1975.
Art. 173, em conjunto com o preceito contído no
É oponuno registrar, desde logo, que se cuida de Art. 150, § 4" do CTN;
fatos geradores ocorridos antes da Emenda Constitucio-
O Art. 150 trata do lançamento por homolo-
nal n. 8/77.
gação.
O V. Acórdão recorrido declarou extinta a exe-
cução, porque, verbis: Seu parágrafo 4° estabelece o prazo.para a prá-
"Assim. correspondendo o último alegado tica deste ato.
débito ao mês je dezembro de 1975, o prazo decaden- Tal prazo é de cinco anos, a con'tar da ocorrência
cial começou .1 fluir em 1° de janeiro de 1976 e se do fato gerador.
extinguiu em " de janeiro de 1981. Quando inscrita O Parágrafo 4° adverte para a ,circunstância de
assim, em 17 je maio de 1983, data da inscrição da que, expirado este prazo sem que a Fazenda Pública ~e
dívida, a decadi.:ncia já se consumara".(fl. 36). tenha pronunciado, considera-se definitivo o lança-
Como se percebe, a lide remanescente envolve o mento.
i . confronto de duas teses: Vale dizer que o l~nçamento ·apenas se pode
l, a) de um lado, o Aresto adota como termo ini- considerar definitivo, em duas situações:
cial da decadência, a data a partir da qual, seria possível a) depois de expressamente _homolog&do;
1
consumar-se o iançamento; b) cinco anos depois· de ocorrido o fato gerador,
! b) de outra parte, a Autarquia afirma que o prazo se!T! homologação expressa.
l decadencial inicia-se quando escoa o prazo deferido ao
credor, para consumar o lançamento. Vale dizer, desde
Na hipótese de que ,agora cuidamos, o lança-
mento poderia ter sido efetuado durante cinco anos, a
quando já não é mais possível o lançamento. .contar do vencimento de cada uma das ~ontribuições.
l >U:1\I Ji:N( 'li\ E l'IU:SCIU(.'Àll NO l>ll(EITO 'I l(IIIU l'ÀRI0° 187
1 11/ (ll , 1 ~!i\l-t 'i JS l >INI/. 1li'. Si\N"i'I
186

8.3.5.2. Primeira refutação da tese de dez an'os: a


Se niic !louve l10111ologaçiio exp ressa. ;1 L1cul-
impossibilidade de tratar o verbo modalizador poder como
dac.k de n:!vc1 o lançamento correspondente a mai~
objeto de conduta
antiga das con ribuições (outubro/74) estaria extinta en~
outubro de l9í9.
J;í :i dc::it!~nci:i ocorreria cinco anos depois "de Segundo a argumentação do relator, o ~ocábulo poderia
110 Art. 173 do CTN permite a seguinte interpretação do Inciso
primeiro dia s !guinte à extinção do direito poteslativc
de homologar ( I" de janeiro de 1980). Ou seja: em pri- I: "o lançamento não foi efetuado çlentro do exercício do fato
gerador, mas pode ser ainda efetuado no prazo de cinco anos a
meiro de janei1 o de 1985.
Ora, a inscrição da dívida verificou-se em maio contar do prh1eiro dia do exercício seguinte". Combinando esse
dispositivo com o Art. 150 do CTN, o relator dá uma outra
de 1983 (Cf. 11 47).
interpretação para o Inciso I: "o lançamento não foi efetuado no
Nfo hcuvc decadência .
Provejo o recurso, para que a execução retome prazo de cinco anos contados a partir do fato gerador, configu-
rando, no último exercício do poder de lançar, a perda desse
seu curso.
O voto merece transcrição não só pela qualidade de su;1 poder, a partir da qual contam-se mais cinco anos do primeiro
tessitura, objetiva e p ·ecisa, mas também pela força mobiliza- dia do exercício seguinte". '
dora com que foi recebido pela comunidade jurídica: trata-se ele Esta última foi a utilizada na nova in~erpretação pro-
decisão histórica que modificou radicalmente o entendimento posta pelo STJ; aquela é a que tradicionalmente orienta a
de matéria de decadêr eia, em função da interpretação do vocá- compreensão do dispositivo. Uma e outra designam momentos
bulo poderia inscrito 110 Art. 173, I do CTN, que era prati- Cácticos diversos: a primeira aponta (em linhas gerais) pa.'ra o
camente pacífica desd,: a edição do CTN. pri 1Tieiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
Decisão assim subverte a ordem das coisas: no reverso poderia ter sido efetuado, i.é, para o primeiro dia do exercício
do que diz RECASENS SICHES. 26(> Ora, somos agora nós seguinte ao da ocorrência do fato jurídico tributário; a segunda,
interpretes que intuímos não ser essa a melhor solução. Entre- para o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lan-
mentes, como encontr 1r o caminho para o desenlaçar esta pro- çamento deixou de poder ser efetuado, i.é, na objetiva redação
posta exegética? da ementa do julgado, para o primeiro dia do ano posterior
iiquele "em que se extinguiu o direito potestativo de o Es•ado
rever e homologar o lançamento (CTN, Art. 150 § 4°)".
·1
Damos, aqui, um exémplo da conseqüência desse jul-
i gado na contagem do prazo decadenç:ial. Suponha-se que o fato
1
1 gerador de tributo sujeito a "pagamento antecipado" tenha ocor-
1 rido no dia O1/06/2000, sem que houvesse págamçnto. Segundo
!
a primeira interpretação, o prazo de cinco anos começa a partir
260. "O mcjor tlid10, c11 1~rn1i11us tlc mayor sin~c!'itl,1tl, lo 4uc h,ícia pri111cirn c.:1;1 de O1/O l/2001. A aplicação da segunda interpretação tomaria,
buscar esa solucíon. la mas justa entre todas las posiblcs; y tlepués se prcoc:upat.l;1 como inicial, o primeiro dia do exercício subseqüente àquele
de ver cuál entre aqucllos cu:nro métodos podia servir para justificar csa tlecisiún t:111 que se expirou o poder de lançar (direito potestativo), que
que ya de :mlcmano hahía ltrnwtlo i11111,·11te". Filo.wfia dei clerC'd/(), fl. 6'.l l.
Ulll l('ll ~1/\HCOS IJINI /. llE SANT I DECADl~NCIA E l'RESCRJÇÃO ~O DIREITO TIUUU rARIO 189
188

contado do fato .jurídi•:o tributário, conforme determinação do verbal, é qualificador da conduta de lançar, não é a própria con-
*
'

Art. 150 411 , seria O1/O 1/2006. Assim, nesse caso cspecílico, o duta. Portanto, o poderia como o pocler-qile-ncio-pode-nwis é
prazo de decadência s~ria, ao todo, de dez anos e seis meses: imprestável na função demarcadora de prazo decadencial, dis-
cinco anos entre o fa10 gerador (01/01/2000) e a extinção do late que submeteria o direito ao indesejável fenômeno da recur-
"direito potestativo de lançar" (31/05/2005), seis meses entre a sividade, como veremos adiantç.
extinção desse direito ! a data do primeiro dia do exercício sub- Na Lógica Jurídica,. segundo LOURIVAL VILA-
26
seqüente (O 1/O l /2006), e mais cinco a contar desse primeiro dia NOV A, ·' o esquema da norma jurídica é: se H, então C, em
do exercício seguinte ao termo desse direito. A decadência. que H é hipótese e C conseqüência. Na conseqüência, moda-
assim, operar-se-ia eir 01/01/2011. • liza-se a conduta como sendo oprigat6ria (Op), permitida (Pp)
Defende o indigitado aresto que poderia, numa inter- ou proibida (Vp). Modalizadores - sincategoremas ou
pretação sistemática, !xige o cotejo do "Art. 173, em conjunte functors, na Lógica Clássica - são invariáveis operacionais
com o preceito con1ijo no Art. 150, § 4° do CTN". Baseadc que qualificam a conduta, articulando internamente o enunciado
apenas no Art. l 73, e· acórdão outorga a poderia o sentido de proposicional. São termos incornpletos, qu·e, por si só, não
"seria lícito" e, portar to, o sentido de que o lançamento nil.o foi podem pr')duzir sentido: prescrever "é obtigatório" sem de-
efetuado. Baseado r os dois dispositivos j untos, o acórd ão signar a condutu objeto dessa modalização, é não dizer juridi-
outorga a poderia o ientido de que "já não é mais líci ta a pní- camente nada. 264 Conforme adverte PAULO DE BARROS
tica do lançamento" e, portanto, o sentido de que o lançamento CARVALHO, o direito incide sobre o ser da conduta, não iso-
não pode mais ser e, 'etuado. Ou seja, propõe uma situação de ladamente sobre seu rnodalizador. O direito regula condutas
"poder que não pod e mais". Reside aí o primeiro problema humanas, não .functors.
dessa decisão. No direito, "poder" não é conduta, é moda!iza- Assim, os modais criam novas modalidades sobre · a
do? 6' de cor.duta: J>oderia fazer, poderia comprar, poderia conduta de lançar: é proibid~ lançar, 265 é permitido lan'çar e é
vender, poderia negociar, poderia lançar; nunca poderia poder. obrigatório lançar. A conduta modalizada, veja-se, é ainda con-
O poder é modalizador da conduta; o lançar, a própria conduta duta (a proibição de lançar; a pennissão de lançar e a obrigação
(verbo modalizado). Em suma, poderia, seja no "condicional", de lançar). Não o é, entretanto, o modalizador desvinculado da
ou futuro do pretéritc -,262 seja em qualquer outro tempo ou modo conduta, porque modalizador não é com_portamento. Sendo

261. Cf. DIANA LUZ PEf SOA DE BARROS, Teoria semiótica du te.xto, p. 4l CARVALHO, presente na cosmovisão de LOURIVAL VILANOVA, intuída por
1 262. NAPOLEÃO MEN D ~S DE ALMEIDA no prefácio du Grnmútirn 111et1ítlh:11 HANS KELSEN, descoberta por MATURANA e VARELLA. sistematizado por
da LínKIW Port11gr1C·.rn t: 11Iica, int:on!'ormm.lo, a Portari a n. 36, de 11/05/1959 NIKLAS LUMMANN e susll.:ntada admiravelmente por MARCELO NEVES e
1 (DOU) que prcst:r-evcu a 1cr111inologio de ""fu turo do pretérito" ao condicional, CELSO FERNANDES CAMPILONGO.
' l cujo surgimento - scgl, 11do régistra no Dido116rio de questõ"s vemác11/a.r. 263. Cau.mlidade e relaçcio 110 direi/o, p. 55 e ss.
p. 220 - é t.lc nutnriu t.li: um professor espanhol de Dom Pcdru li. Estü o direito
ou tra vez crialllhl su:Is pníprias rc:1lidat.lcs e ressalte-se, agora, l'.lll rdnç:10 i1 264. Note-se que, em ú· pmibido proibir, de CAETANO VELOSO, \l segundo
próprio Lfngua. Isso sugcrc que o direi to tem poder sobre n Língua, e o Ie111. I:1;Is 11roibir é c,irnduta, o "t:omporl:tmento de proibir", sendo o primeiro o modaliza-
não se pode olvidar: u Língua é o i:údigu que constitui a linguagem do direi<-> e dnr, este sim invari;ívcl, const.inte,'como sincatcgorema tiualilit:ador do segundo.
sem llnguogcm nrio hú direito. É o di reito se au toconstituindo cm evidente rc.1li- 2_65. Cf. LOURIVAL VILANOVA, E.~tmtw·a ltígicas e sist"ma do dirc-ito 110.1·i-
zaçüo da Teoria da Autopolésis, trnzidn a nós por PAULO DE íl ARR•)S tn •o, p. 9-( (),
1:t 'J( Jl'l J ~l,\l(l'l IS IJJNli'.1 li'. Si\NTI J>El',\IJl:NCI,\ E l'RESCl<l(ÃÚNO DIREITO TRIBUTÁRIO
190 191

assim, a nmma qui.: tc111 co111u conscqüêm:ia a decadência luI1IiI, Brasil corno e,11 Portugal, é o da lata de i1zeite da marca Maria.
como hipótese, o dcscu111pri111c11to e.la conduta de lançar, nunca Nela, na lata, h,í o desenho de uma mulher, ;1qual suponhamos
a extinção do potlcr (pt!rmissão), que modaliza a conduta de chamar-se Maria, que segura uma outra lata de azeite Maria,
lançar. esta Maria, menorlinh:i, segura outra lata na qual figura a ima-
Eis o vício ins 111.ívi.:I ern que incorreu o acórdão. O gem dessa mesma Maria, segurando, por sua vez, outra lata e
relator deixou de tomar como hipótese a conduta de lançar mo- assim se seguem, sucessivamente, Marias e latas,,ad infinitum.
dalizada pelo poder par:i eleger o poder extinto, qual fosse con- Tui qual espelho frente outro espelho, tão ao gosto de
duta, como referencial i 1icial da contagem do prazo para instau- BORGES, e que, indo ao Rio, podemos vislumbrar na tradicio-
rar uma nova conduta d,! lançar modalizaqa por um novo poder. nal confeitaria Colombo.
Com isso, deslocou a i 1<.:idência da regra decadencial da con- A mesma recursividad~ do mapa, do·s espelhos contra-
duta omissiva de lanç,·.r para o estado jurídico da perda do postos e da lata de azeite Maria se verifica na interpretação que
poder. HUMBERTO GOMES DE BARROS deu ao ·vocábulo poderia.
Ao deslocar a incidência da rcgra'dccadencial da co11d111u omis-
siva de lançur para o estado jurídico da perda desse poder, a
8.3.5.3. Segundn refut, çf.o da tese de dez anos: a Administrnção toma o reconhecimento da perda de seu poder
recursividade gerada 1,elo uso indevido do verbo como hipótese para o surgimento de novo poder, em prazo sub-
modalizador poder cono objeto de conduta seqüen te, de modo que, ao cabo dessa "nova'. ' competência, se
dá, novamt>nte, outro poderia, que, outra vez, faz iniciar prazo
Recursividade, ;egundo JEAN DUBOIS, é "a proprie- para lançar, ao término do qual outra ocorrêf!cia do malsinado
266
dade do que pode ser repetido de modo infinito". Imagine-se poderia inaugura ria outro prazo, e outro, e oulro, ad i1lfinitu111:
- o exemplo J de CHARLES SANDERS PEIRCE - um poder gerando poder em insana circularidade. ·
mapa de tal forma mi1111cioso gue a cada ponto do país corres- Imagens assim, infinitas, são auto-suficientes. Servl!m
ponde um ponto 110 rn;lJ ,a. Ora, "uma vez guc todas as coisas da be111 aos sonhos e aos poetas, que tanto gostam de espi;::lhos,
superfície do país estãc representadas no mapa, e que o mapa mas não ao direito. Direito que tanto não quer ser _infinito,
ele próprio se encontra nessa superfície, ele também será retra- eterno, que ele mesmo cuida de se extinguir, por exemplo, me-
• tado no mapa, e neste 1r.apa do mapa todas as coisas na superfí- di an te a decadência e a prescrição. O direito hão compadece o
cie do país são discerníveis, incluindo o próprio mapa com o infini to. 268
1
1, mapa do mapa dentro de sua fronteira. Assim existirá, dentro do Esta recursividade não escapou à percepção de
mapa, um mapa do ma~ a, e dentro deste, um mapa do mapa do TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR 269 nem ao espírito

mapa, e ass11n ,1·
por ui, nte, ad 111J1111tum . Outro exemp 1o,
• ,r • "267
"realmente" doméstico de "recursividade", citável aqui 110 268. Ressultc-se. a alegada "imprcscritibiliclc" elos direitos ela personaliclacle
também é finita: extinguem-se com a morte.
269. "( ... ) co11tar o prazo daquela nutra modnliduele a partir elo cxcrdclo seguinte
266, No mc~mo ~cnlido, A. J. :::iliEtM/\S & J. COURTES, Didoncírio d<' ~~111ii'l- i1quclc cm que se rnnsumou o prnzo para reuli:wçi!o elo lançamento por homolo-
tica, p. 374. g:içiio seria incorrer nunrn espécie de petição de princípio: se o prazo de uma
267. Cv11ferêll(:i11s .rnhre 11rn!i11w1i.rn10, p. 27. modalidade ("A") principias.çc após o csgotamcn10 do prazo da outra ("B''Jt nada
1:1111. H ·11 ~I,\IW!lS 1>INli', l >E S,\NTI llE('Al>iiNC:li\ 1: l'IU~~CRIÇÃO NO DIREITO TIUIIUTÁIUO
192 193

analítico dc LUCIANO 1)/\ SILY J\ /\M/\RO:n 11 "Ali.is, sc 0 Sob oulra óplit:a, scgll!indo a intuiçfüi jurídica de JOSÉ
assim, se são cirn.:o anos a partir do último ano cm que o Fisco ARTUR LIMA GONÇALVES, 27 -' vislumbramos a conexão dos
poderia lançar, por que não quinze? Porque no último dos dez aludidos programas narrativo~; e de performance, estudados na
anos ele também pode lançar. Ora, se ele pode no último dos Teoria Semiótica do Texto, com a proposta de NORBERTO
174
dez, que tal dar mais cinco, e aí vamos a quinze? E se dermos BOBBI0 que classifica o direito em normas de estrutura e
mais cinco, no último dos quinze ele também poderá lançar. normas de conduta. Só há norma ôe estrutura·onde houver tran-
Ora, meu Deus, é o 'po:lerá' primeiro que acontecer no tempo e sitividade de competência, ou seja quando o sujeito destinador-
não o último 'poderá"'. manipulador (Administração) transferir ao sujeito-destinatário
Ocorre. como , ssinala A. J. GREIMAS, a "recursivi-
' ' •11111a
· no campo da competenc1a :'71 No
(autoridade administrativa) a conjunção (n) com poder jurí- o
dade é teoncamenle 111 A • ,,

dico de fazer. De outra parte, perGebemos que o dever jurídico ·


programa narrativo rd1tivo a essa forma de interpretação do de lançar do agente administrativo em face da Admini~tração
Art. 173, Ido CTN, o destinador-manipulador (Administração) não é disciplinado por norma de estrutura, mas norma de con-
condiciona a ocorrênci 1 de outro programa narrativo, o reco- duta , tanto que a sanção é a tipificação de cri~e de responsabi-
nhecimento do lirn de sua competência para lançar, corno pres- lidade (ex l'i do panígrafo único ~o Art 142 do CTN). Portanto,
suposto para atribuição tk nova competência modal ao sujeito a decadência decorre da omissão da conduta de o Fisco produzir
destinatário do lançar ta própria Administração) . Poder, assi- o ato de lançamento num deterr:ninado lapso terpporal, determi-
nala FRANCISCO DA SILY A BORBA 272 indica estado, e se o nando a disjunção (u) da autoridade com o direito de efetuar o
poder é estatal, é estado conferido pelo próprio Estado, estado lançamento, ou seja, a decadência é norma que se pospõe, no
prescrito pelo Estado. Como pode o Estado tomar o estado que nexo de causal idaqe jurídica, à norma de estrµtura ' de compe-
ele próprio se lhe atrib11i qual conduta hipotética de regra qul! tência administrativa. Essa visão concilia a proposta de
lhe confere, a ele próp1 io, novo estado de poder: poder irnpl i- BOBBIO com a crítica de PAULO DE BARROS CARVA-
cando poder. LH0,27~ para quem o problema dessa classificação reside na
circunstância de que o direito sempre se ocupa com o ser da
obstaria a que, csgolado o pra; o da primeira ("A"), também principiasse o prazo
de um novo lançamento ("C") e assim ao inlinito. Ou seja: o prazo elecadcncial
conduta (comportamento). A norma é de comportamento ou
só principiaria .1p<is o prazo ele, :aJencia! !". Sohr<' 11 decodiJncia do crr:diw tri/Jl(t<Í· estrutura, não em razão de descrever ou não conduta, mas em
rio, p. 81-2. função da possibilidade de inovar o ordenamento, produzindo
270. E assilll prnssq.!tH: sua rn1.lá0m:ia sobre o tema, no XII Congresso hr;isileiro novas regras. Daqui também é observável que o STJ pretendeu
de direito 1rihu1,írio do IBET. rnnl'urllle texto lrnnscrilu na revista RDT 75: "E
mais: só é o prilllciro poder.í que· elcsencaeleia a regra elo artigo 173, inciso 1.
quando for o caso da regra, 1.; se t: o t:,Iso da cxt:eçiio, niio é o t:aso ela regr;I, e se é 273 . Em conferência proferida no Curso ele especialização cm direito tributário do
o caso da ex,cção tenho tle cOJ1lar o prazo do dia tlo falo gerador, nem de ! " tl..: IBET/IBDT. .
janeiro elo ano .~egui111e e 111.:111, 11uiI0 menus, ele ! "de janeiro elo sexto ano. que~ 274. "Em todo ordcnamcnI0, ao lado das nor~:is de conduta, existe outro tipo de
o seguinte uo i:aho uos t:inw, J,:11Irn tlo !.JUa! o Fisco deve lm1çur e não começar a normas, que i:osI um.:1mos chamar de rwm,a dt! csrrutura ou d<! compctência. São
olhar o rcltígio para saher que dia vai comc~·ar o prazo parn ele cxcrt:cr o dirci111 aquelas normns que não proscrevem a conduta que se deve tcí ou não ter. mas as
de lançar". Mc·.1·" ele• i/d)(l/1'.1· ";\ ·: clcrnclc:11cia ,. 11re.rcriçcio, p. rnndiçõcs e os protcdim\!nlos otravés dos quais emanam normas de conduta
271. Dicionário de scmi<ilica, p. 374. v,ílidas". Teoria do orde1w11u:ntn jurídico, p. 33.
272. Verbete J)(}c/er, /Jic:io11círio 1;rw1wtical de verbos. 275. Direi/o lri/)U/<Írio: fimdamentos jurídicos da incidiJ11ci11, p. 37.
l'\IIU( ;1 M,\l(('OS lllNl/. l>E S/\NTI IJFC,\l>i:Nt'I/\ E l'Rl~~t'IU~:Ao NO l>IREITO T/<IIIUTÁRIO
[94 195

tomar a regra ex'tintiva do direito de lançar corno nova regra ele Direito é mais que lógica", 277 Por isso, recorda: "quando os
competência, atribuindo ao não exercício da regra de estrutura juristas da escola da exegese pensavam que somente com a
·outra regra de estrutura, e outra, e outra, enclausurando-se nessa Lógica o juiz podia decidir os casos ·controvertidos da vida
seqüência. cotidiana, não procediam como· Mr. Jourdan, que fazia prosa
Além do inexorável problema lógico de pretender tom~r sem o saber: acreditavam fazer Lógica, mas faziam outra coisa
0 modalizador poder como conduta, além de desvirtuar a finali- sem o saber. Faziam interpretação e aplicação do Direito posi-
dade do dispositivo, qu1: é extinguir o direito de lançar, ~ !1ão tivo, que se não consomem no formal do silogismo, sem valora-
eternizá-lo, tal interpre:ação esbarra num problema pratico: ções e sem referências à realidade social subjacente". 27 R
como a prescrição inicia, ordinariamente, co~n_o termo da tkc,~- E o inverso também é verdadeiro. O juiz - no esforço
dência, o precepti vo do A..rt. 195, parágrafo unico do CTN obn- do ato de decidir, valorando e cotejando direito e realidade, para
garia o contribuinte a g·rnrdar para sempre tod~s os documen- dali proferir a sentença, quer queira quer não, e mesmo sem o
tos. Reiteramos: o direito não compadece a eternidade. saber, - foz lógica. O sentido é escravo da lógica. E o contra-
~entido, também. E o que não tem lógica? Ora, se conseguísse-
mos dizê-lo,já terial 27 '' •

8.3.5.4. Terceira refutação da tese de dez anos: a A estrutura lógica das normas dispostas no indigitado
inap\icabilidade do Ar1. 150 § 4º acórdão do STJ é reveladora. O relator edifica, a partir :le dois
dispositivos do Código Tributário Nacional, duas normas jurí-
O juízo do intérprete interpõe-se entre a lei f'! a ~e~isão, dicas encadeadas sucessivamente. Na primeita, a hipótese con-
que se manifesta neces! ariamente numa estrutura ~ond1c1o!rnl: grega os seguintes aspectos: (i) 9 tributo sujeito ao pagamento
se o· fundamento, então :> dispositivo; se o fato, entao a obriga- antecipado, (ii) o pagamento não efetuado e (iii) o fluxo tempo-
ção; se a hipótese, entãc, o conseqüente; se o descritor, então.º ral de cinco anos, contados da ocorrência do fato tributário; o
prescritor. Há lógica r o direito, é certo, mas ----:- . sentencia conseqüente é a extinção 'do "direito potestat'ivo de o Estado
LOURIV AL VILANO\' A - "a Lógica não é suficientemente rever e homologar o lançamento (CTN, Art. 150 § 4º)".280 Na
potente para ir à cone, :çüo material d~ _experiência jurí~ic~:·
Da experiência integral, isola, como temat1co, o formal,276o sinta- 277. Es1ru111ras lógica~· e sü1c111<1 do direito positivo, p. XXII.
. das normas. T-ao-so,,, • , Con
tico das estruturas propc siciona1s . 1o 278. farrn111rns lógicas e sistema tio direito 1wsitivo, p. 24s'.
adverte, desde ·o início, na introdução do Estruturas logicas e 279. O racional é a. diláença específica que rlos cles1nca elo reino animal. Afinal o
sistema do Direito Posi1 ivo, "O reducionismo, da non-pa ao fato homem, aincln que negue, é animal racional Calha aqui o·exemplo colacionado
(sociologismo), da norma positiva à norma. ideal (j~~natura: por HUGO DE BRITO MACHADO, segundo o qual havia dois amigos: um
!ismo), dos valores e normas às estruturas lógicas (log1c1s~n~) e médico-cirurgião, outro médico-psiquin,ra. O primeiro provocava o segundo
diiendo que ele sim era médico e o outro mero psicólogo, pois me_xin com idéia~.
sempre um desconheci111e11to da experiê~ci~ integr~il_do D1re1to. <.:0 111 ,l cabeça, com tlcvancius e sonhos ... isso l:í é medicina! Ao que o segu ndo,
• (... ) Há um quantum de lógica no D1re1to pos1t1vo, mas o pronlamcntc rclrucou: - Dê graças, meu amigo, u Psiquinlria, pois, é o único
,·amo ti a Mc<lkina que n di ferencia <la Vctcrln;lria. Notas 1CJq11i1:ráficas <!e confi:•
rencia 11roferid(I em Curso sobre os problemas do salário ed11caçiio, oria11iu1du
pdo Dia/61ict1.
276, Estruturas lcí~iws e .lisl<'" <t cio direito 11osi1ivu, p. 248. 280. Cf. ilcm 111 da cmcnla do julgado.
l'.Ul(ICO hl •\ltCOS DINIZ lli: SIINTI llEl",\lll'N('l,\ 1'. l'lti:SCIUÇÃO NO DIIU,rro TRIII\ITÁIUO
196 197

segunda. norma, a hipótest! é, justamente, o efeito da primeira Diante da falta de pagamento antecipado, apenas duas
regra, quer dizer, (i) o.falo tia exlinçüo do direito t>otestativo de regras seriam aplic.íveis: a que denominamos (i) regra do
o &tado rever e homologar o lançamento e (ii) o fluxo tempo- direi to de lançar sem pagamento antecipado [Item 8.2. I] e
ral de cinco anos, contados. agora, do primeiro dia do exercício (ii) a regra da decadência do direito de lançar sem pagamento
subseqüente ao da extinção; o conseqüente, aqui, é a extinção antecipado e com notificação [Item 8.2.2]. Entretanto, como
do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito, mediante o não há notícia, no suporte do Acórdão, de qualquer notificação
lançamento de ofício (caput do Art. 173 do CTN). ao sujeito passivo de medida preparatória indispensável ao
Pode-se reduzir a e ois os problemas fundamentais na lançamento, então somente a primeira regra é aplicável ao caso.
estrutura dessas duas normas, postas pelo aludido aresto. O Relembramos que essa regra apresenta como hipótese a
primeiro deles é o fato de 1ue a segunda regra de decadência circunstância em que a legislação não prevê o pagamento ante-
tem como hipótese o conseqüente da primeira regra de deca- cipado (Art. 149, I do CTN) ou, ainda que o determine (caput
dêneia, supondo que es~as juas regras de decadência se apre- do Art. 150 do CTN), supõe que este não seja empreendido no
sentem em relação de crnsalidade: decadência implicando prazo previsto e que não haja notificação (parágrafo único do .,
1
decadência. Ocorre que não se pode aplicar duas regras de Art. 173 do CTN), de tal forma que o dies a quo do prazo deca- 1
extinção cumulativamente. O segundo problema é a incoerência dencial é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em tenha
entre parte da hipótese d:1 primeira regra (não se efetuou ocorrido o evento tributário. Seu conseqüente é a extinção do
nenhuJD_ pagamento) e seu eonseqüente (a revisão e a homolo- direito de a Fazenda Pública constituir o crédito, na precisa
gação do lançamento): se nã) houve pagamento antecipado, não dicção do caput do Art. 173 do CTN.
há o que rever ou homolog:1r, O ato de rever supõe algo a ser Tomemos o caso concreto julgado. O fato jurídico tri-
visto por uma segunda vez: i e o sujeito passivo nada fez, não hü butário da mais antiga das contribuições ocorreu em outubro de
o que rever. E, ainda que houvesse, rever aqui sig11iíicaria 1974. Como não houve pagamento antecipado nem notificação,
"fazer o lançamento de ofíc o", recaindo naquela recursividade o dies a quo do prazo decadencial foi . l·º de janeiro de 1975 e o
gue aludimos no item ante 'ior: cinco anos para lançar, mais lermo final do direito de lançar deu-se em 31 de dezembro de
• cinco anos para lançar, mais •ci nco e cinco. O ato de homologar, 1979. Sendo assim, ocorrido após esse termo, o lançamento que
conforme dicção do Art. 150 § 4° do CTN, pressupõe o efetivo ensejou a inscrição da dívida seria extemporâneo.
pagamento antecipado, e o chamado "lançamento por homolo-
- ,. , sem pagamento, fi1ca sem ob.~elo. 2s1
gaçao
8.4. Formas jurídicas de constituição do crédito tributário
281. Neste sentido, diz PAULO DE 13A RROS CAR VALHO, "( ... ) ho111ologa~·i1u refrat~írias às regras de decadência do direito do Fisco
é certid11o ele óbito'º. Curso cfr clin itu tributâ rio, p. 283. Também LUCl1-\Nü '
AMARO: º'Sem que haj n antccipnç::'1 tlc rai;amcnltl, não pode lwvcr la11~·:1111c1111i
por homologaçãoº'. Lc111ç11me111,11mr li o111(, /og11(ü" i: dc:cculê11ciC1, p. JO. E LÚCIA O la11çamc1110 tributário, no Sistema Tributário Brasi-
VALLE FIGUEIREDO: "no rltamado autola11ça111c1110, qu..:, na vcn.lac.k , 11:,0 0 leiro, não é a ún_ica forma de constituição do crédito tributário.
lançamento, o sujciio passivo paga o 1rihu10 para, pos1..:rior111c11tc, o .,uj.:ilu ;itivo O crédito podení ser constituído, ainda, segundo o CTN; pelo
declarar ou não a cxtinr,:ão cla obrigado tribut:'1ria". C11rsv ele direi/o w/111111is1ro-
1ivu, p. 137. E, ainda, RICARDO LOBO TORRES, C11rsu de direi10 Ji1w11câro ,. ,110 de formalização do sujeito passivo r:iaqueles tributos cuja
lributáriu, p, 242. legislação atribua ao particular o dever de antecipar o paga-
Llll(l\ '11 .\ ,\1a ·os lllNli'.llES,\NTI l ll ô(',\l li':.Nc ' I,\ I'. l'l,1'.S( ·1:11: Ao NO lllRl'.l l'O '1'1(1111 IT ,\1(.1()
198 )lJ(J

mento, sem prévio exame da autoridade administrativa. E, em- então, concluímos: o produto deste ato constitui crédito tributú-
bora em casos muito espcí!'icos, também pela via judicial, me- rio_w~
diante decisão <.k 111,érito que expressamente constitua o crédito Entre as seis regras de decadência que construímos a
tributário. • partir dos critérios positivados no Código Tributário Nacional,
cinco delas têm por objeto o direito de o Fisco lançar; a sexta, o
direito de crédito do próprio Fisco. Nenhuma d~las cuida do
8.4.1. Crédito constituído pelo particular crédito formalizado pelo particular, que, se não houver sido
extinto, poderá "er normalmente cobrado no processo executivo
Do mesmo modo que a autoridade administrativa se v~ !iscai.
obrigada a efetuar o lançamento tributário, a legislação tributá-
ria prescreve ao sujeito p1ssivo o dever de constituir o crédito
para efeito de realizar o 11agamento antecipado e viabilizar, ao 8.4.2. Crédito constituído pela via judicial
Fisco, o exercício de su 1 :1ti vidade controladora. Não basta,
nesta hipótese, que o part cular pague, é essencial que se cons- Discutimos aqui a possibilidade de o Poder Judiciário,
titua o crédito, identifican fo-se o sujeito ativo, o sujeito passivo exercendo a tutela jurisdicional, constituir o crédito tributário,
e o fato jurídico que lhe s< :rve de fundamento. Sem esses dados, descartando a necessidade de ato administrativo específico da
objetivados documentalmente - mediante os suportes eleitos Fazenda Pública, com base no seguinte voto de LÚCIA VALLE
pelas regras que discipli r arn sua formalização (livros de con- FIGUEIREDO:
trole, guias de arrecadaçã·) ctc) 282 - - o crédito tributário, juridi- EMENTA
camente, não existe. É, pois, por intermédio desse ato do par- TRIBUTÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INE-
ticular· que se formaliza em linguagem prescritiva o "crédito XISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁ-
tributário" nos chamado: "lançamentos por homologação" .2ºi RIA. LEI N. 7.799/89. ALEGAÇÃO POSTERIOR DE
Ora, se o sujeito passivo aplica as normas que prescrevem os OCORRÊNCIA DA DECADÊNCIA ENQUANTO
deveres instrumentais, en·rnciando a ocorrência e a data do foto PERCORRIA O PROCESSO INTER JUDICIAL. IM-
tributário, o dever de pa;;ar um determinado valor a título de PROVIMENTO.
tr·ibuto, o sujeito ativo titular desse direito e o sujeito passivo; I - Prejudicial de decadência refutada em face de ter
sido ajuizada ação declaratória com cautelar incidental

2X4 . lntcligênda diversa é a de ALBERTO XAVIER, para que.m a "cl;1hor;1çiio


282. Ta111b~111 para ESTEV ÃO ·IOR VATH ,1 C111loliq11idw:ilÍ11 s1í pr<idu1. cki1os tios rcfcridos documcntos, de harmonia com u lei· liscal, hem coino a intliL:,11,:ão
jurídicos 4lrnndu matcrializao;· em um uto ou tlucumento w1H.:reto. l.11 11cles do imposto correspondente nu vulor da trnnsação, constitui, porém n~o a
auIolit111idaâú11 1rilm1e1ria, p. 14'-. • 1ü1111a tlc uma alo jurídirn de ,1plicuçãu tlu norma material, anterior ao p,1game1110,
283. Sobre a preferência técnil.:a do "autolançamento" na aplicação da lei tribut;í- mas a simples realização de um dever tributário acessório, imposto por lei para
ria, 11. ESTEVÃO HORVATH, A.1pecl1JS /e<Íricus du la11çu1111mto 1ríhu1úrio 1111 meros efeitos de fiscalização ou controle de legalidade dos pagamentos efetua-
dirt!i/0 1wsitiv1J brasileiro, p. 31 . dos". Do la11çu1111:111111rihii1círio, p. 74.
200 Elil<ICO ~- 1\l(COS DINI/, DE St\NTI DEC11Df:NCIJ\ E l'RESCl<IÇÃO NO UIRL:ITO TRII\Uli\lUO 201

de depôsi10. Adem; is, o objeto da declaratória é a ccr- da norma jurfdica completa. Esta e aquela são interdependentes,
teza jun'dica e.la rela,;:io controvertida. diz LOURIYAL VlLANOVA: "a 'primária sem- a secundária
II - O depósito sus~cnsivo da execução distingue-se do desjuridiciza-se; a secundária sem ·a primária· reduz-se a instru-
depósito para. suspcnsüo da ex igibilidade da obrigaçiio mento, meio, sem fim material, a adjetivo sem o suporte do
tributária. Sorhente àquele veda-se o levan tamento antes substantivo". 211·' Entre uma e outra, · não obstante, se interpõe
do trâns ito em julgado da sentença, já que imposto por norma que disciplina o direito ao contencioso administrativo e
lei. que também é primária. Assim, elo pós elo, entrelaçam-se tais
III - Desnecessidade de o Fisco praticar o ato adminis- regras, formando o fluxo da causalidade jurídica, tendente, mas
trativo de lw,çamenío ou outro equivalente, se a rel ação só tendente, ao mundo das condutas intersubjetivas.
jurídica está sendo discutida em juízo. Inu tili dade do Para valer-se da coação, o sujeito do direito "reveste-se
lançamento para possib ilitar a defesa do cont ribuinte de capacidade p.ocessual, que advém como efeito da incidência
que, judicialmente, i!stá a discutir todos os aspectos da de norma processual; do mesmo modo, o sujeito passivo
re!ução jurídica e, .:lérn disso, depositu, mensal e dis- in veste-se de capacidade processual para se opor. Ao direito de
criminadamente , as importâncias discutidas. ação contrapõe-se o direito de defesa. No exercício·de um ou de
IV - Se é verdade qJe a suspensão da exigibilidade do outro, os sujeitos dirigem-se ao Estado-juiz, com este, consti-
crédito tributário pe o depósito não inibe a atuação do tuindo relação: o exercício do direito de ação provoca no órgão
Fisco, na hipótese s1 ·b judice seria desnecessário o lan- julgador o dever jurisdicional de acolher o pedido, o dever de
çamento. lnocorrênc.a de preclusão administrntiva. praticar o ato processual - despachar e mandar citar o sujeito
V - Refutada a decadência, examina-se a tese de 111éri10 passivo"?(, Objeto comum de ambos, sujeito ativo e passivo, é
e csla não socorn.: o e 011tribui111c. a prestação jurisdicional do Estado demarcada no pedido da
VI - A conversüo em BTN fiscal do valor do !PI não ação proposta.
'2onslitui majoração do tributo, mas, sim, mera atualiza-
ção.
VII - Na verdade, o contribuinte de direito apropria-se ~.4.2.1. A decisão declaratória como artificialidade do
do direito do contr:buinte de fato em data anterior direito para produzir certeza a partir da incerteza
1 àquela em que se e. eve pagar o IPI. Confiram-se os
arcslos de ns. AMS 91 .02.004945/RJ; AMS Nas sentenças cuja eficácia é meramente declaratória de
90.05.001885/PE; / ,MS 92.03 .076345/SP; EDAMS existência ou de inexistência de relação jurídica, a declaração,
1
90.02.23139/RJ; AMS 95.03.027998-7). sublinha LOURIVAL VILANOVA, "não lhe suprime o caráter
l! VIII - Apelação impnvida.
Apelação cível n. 3315522 - REG. N. 96.03.060402-0
<le ato de império estatal, como vontade jurisdic'ional, nem
confere li sentença a forma lógica de ~nunciado descritivo. É
enunciado prescritivo, representa preceito (como advertem
1 RELATORA: JUÍZA LÚCIA FIGUEIREDO
Norma primária - 1egra-matriz tributária - e norma • 1

secundária -· oriunda de nonna de direito processual objetivo :rns. Cf. Ca11.wliclcult: e J'<'laçcio 110 clireilo, p. 124.
- compõem, dentro de modelo simplificado, a bimembridade 286. Idem, ihidcm. p. 124-5.
l:UIUCO ~IA I\COS lJINIZ DE S1\NTI DECADÊNCIA E l'ltESCIUÇÃO NO DIREITO TRlllUTÁIUO 203
202

LIEBMAN e PONTES DL MIRANDA)"? 7 Antl!s da sc11tc11\-·;1 dade originúria, por descumprimento da sentença, que tem força
declatória, está o que aind:1 11:io é jurídico, a incerteza. No 1110- de caso julgado entre as partes". 291 • •
mento em que a sentença se efetiva, constitui-se o direito e, Ora, !ie lançamento anterior não .pod~ ser desfeito
portanto, a certeza. A dec:arativida<le na sentença é artil'iciali- porque o efeito da sentença é meramente "declaratório", pelo
dade inventada pelo <lin!i to para produzir certeza a pa rtir d:1 111csrno motivo, não se pode imprecar de "ilegalidade originá-
incerteza. O direito üão reconhece ou declara direitos , cria-os ria" lançamento posterior; tampouco se excogitar em "descum-
no presente da decisão, induzindo à crença de que há um dirêito primento" da sentença, descumpre-se lei, descumpre-se obriga-
já constituído no passado e il ilusão de que a decisão judi ci al é ção, descumpre-se dever; descumpre-se preceito; não declara-
unívoca, predeterminada e certa: como disse RAFFAELLE DE çiio. 2') 2 Há sincretismo de critérios aqui : efeito declaratório para
GIORGI, "Direito e Estado resistem ao tempo porque median te o lançamento anterior; efeito constitutivo, para o JJosterior.
288
o controle do presente, controlam o futuro".
Corno _notou CELSO FERNANDES CAMPILONG0 ,2s•J
há contrasenso na própria expressão "decisão declaratória": se 8.4.2.2. A sub-rogação da competência para aplicar o direito
.,
realmente é declaratória , r ão cabe decisão, só mera revelação; tribut:írio material '
1
1

agora, se realmente é dec são, e o horizonte do decidir exige


outra ação diferente da açfio ou fato passado, objeto da declara- O órgão jurisdicional é titular do poder . de aplicar o
ção que se pleiteia, então, 1qui, não se há de cogitar em "decl a- direito ao fato alegado, que advém das normas processuais e
ração", mas de formação orientada por uma nova vontade. A constitucionais 1ue lhe demarcàm a competência .•Em relação à
ação de decidir implica a :·onstituição de uma decisão, síntese Administração Pública, o juízo só é instado a decidir porque é
do ato e do produto de dec dir. provocado. Assim, satisfeitos os pressupostos e as .condições do
Aliás, a contradiçi.o estende-se aos efeitos da decisão direito de agir, investe-se o órgão jurisdicional de competência
declaratória: de um lado, :;ustenta-se como declarativa , na me- para decidir a contenda, aplicando o direito material ao fato. 29 J
dida em que, apesar de reconhecer a inexistência da relação Obtida a decisão, opera-se a eficácia processual por via oblíqua:
jurídica tributária, admite •:iue o crédito que constituído por ato impede-se a relação material de percorrer, outra vez, o caminho
de lançamento anterior à sentença, subsiste e é eficaz enquanto •
não for expurgado pelos meios processuais adequados;2'Jo de
outro, impõe-se como con~titutiva, na medida em que o lança-
mento praticado posteriornente à sentença declaratória, relativo
291. Idem, ibidem. p. 362.
aos mesmos fatos abrangidos pela sentença, padece de "ilegali- 292. Cf. verbetes cumprir e descumprir, CAUDAS AULETE, Dicionário
c111111<·11111orâ11C'o da lín,:11a 11orflll/lte.w.
·2'JJ. Nesse diapasão, entende PASQUALE RUSSO que o "juiz se úebruça sohre
28'7. lú1:m, ihidi:111. p. 127.
11 111ér.·itt~, lixando ~ircta111cn1c o 111nnlm11e uo imposto. alravés de scnlcnça que se
288. Dirdto de11wc:r11da e risco : ''Í11C:11l0.1· c:cm1 o ji1t11ro, p. 67. s11bst1tu1 ao ato <.le lançamento, o quul funcionará não como objeto, mas corno
289. A posição do.1· trih111wi.1·1111 c,•ntro e na 11eriferia do sistema 111111ulial, p. 5. 111cm pressuposto úo processo", Diritw e processo, p. 368-9, ap11d ALBERTO
290. Cf. ALBERTO XAVIER, Cu lcmça111e11to, teoria geral do aw, do procedi- XAVIER, Do lcmçamimto, teoria geral do ato, do proccdime11t'o e do processo
tributário, p. 354.
mento e du /lf/JC<!J'JO trihutcírio, p. 365.
l.lll:11.. 0 i,'. \ \, l "\lS l)JNI/. IJl '. S ,\ N' J'J Dl, U,l l l,NC\i\ E l'RESCRJÇÃO NO DIREITO TIU\JUTÂl<IO 205
204

da cognição jurisdicio11;d, pllis sobre ela j;'t se pro11u11c1uu u form..tda, LÚCIA VALLE FIGUEIRED0 2'n afirma que o fa to
11
órgão julgador. 2' • de chegar, "ao fim e ao cabo da outorga da prestação judicial, à
Se se permitisse 11ovo lançamento sobre o 1rn:smo conclusão que se operou a decadência, seria, a meu entender
direito material, a eventual impugnação judicial desse ato esbar- desprezaHe todo o contexto sistemático sobr~ o qual deve
r:iria na preclusão, pois 1: um sem sentido-jurídico inserir incidir u interpretação, chegar-se à negação da necessidade e da
cumulativamente, num únirn ordenamento, o produto da apli- util idade da prestação jurisdicional. Demais disso, seria enten-
cação da mesma norma ao mesmo foto duas vezes. Por isso, der-se possível interpretar o ordenamento juríd,ico com apenas
como ensina ALBERTO XAVIER, veda-se o "exercício cu- u'a norma, a do Ar!. 173 do Código Tributário Nacional". Co-
mulativo dos meios administrativos e jurisdicionais de impug- lacionu, em seguida, acórdão da lavra do Ministro .ARI
nação (... ). O princípio da não cumulatividade opera sempre em PARGENDLER:
benefício do processo judicial : a propositura de processo judi- EMENTA
cial determina ex /ege a extinção do processo administrativo; ao TRIBUTÁRIO. DISCUSSÃO A RESPEITO DA
invés, a propositura de impug·1ação administrativa na pend0ncia OBRIGAÇÃO TRlBUTÁRIA. ANTES DA CONSTI-
processo judicial conduz ~1 declaração de inadmissibilicJadc TUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. •
daquela impugnação, salvo ato de desistência expressa do pro- A antecipação da controvérsiíf, pelo contribuinte, a pro-
cesso judicial pelo particular".295 Logicamente, como a norma pósito da obrigàçâo tributária, exclui a hipótese de que,
processual, que é secundár·a, pospõe-se à norma primária do no decurso do processo judicial, em razão da demora no
processo administrativo, o :ientido da causalidade jurídica flui respectivo julgamento, à Fazenda Pública pecaia do di-
desta para aquela, admititido-se assim que sobre o mesmo reito de constituir ocrédito tributário.
direito, seqUcm.:ialnH.:nte, se manifeste primeiro a via adminis- Recurso especial não-conhecido. (Resp n. 46.237-RJ, 2ª
trativa e depois a judicial, esta sobrepondo-se àquela, mas não o T., v.u.,j. 13.12.96).
inverso. A coisa julgada no processo judicial não pode ser ob- E conclui: "Em face de todos esses moti~os expostos,
jeto do procedimento admin:strativo. %
2 por não reconhecer a prejudicial de decadência, passo ao exame
. Ora, quando o próprio sujeito passivo prefere a vi a judi- da tese jurídica, tal seja, a discussão acerca da Lei 7.799/89,
cial à adrninistrativa e, antecipando-se a qualquer procedimento nrts. 67, 68 e 69, e não a destaco por ser a decadência também
fiscal, ajuíza ação declaratória objetivando o reconhecimento da matéri a de mérito".
inexistência de relação juríd ca a fim de obter a "declaração" do Na ação declaratória de negativa de existência de rela-
direito, ele fica obrigado a ~ ujeitar-se à prestação jurisdicional. ção jurídica tributária com a efetivação de depósit'o, a decisão
independentemente do perc .1rso do prazo decadencial. Incon- denegatória que "declarar" a existência da relação jurídica tri- •
bu t,íri a, identificando o sujeito ativo, sujeito passivo, a base de
cá lculo e alíquota, não só constitui o crédito tribulário; dispen-
294. Cf. LOURI V AL VI LANOV A, Cw,sa/idwle e relação 110 direi10, p. 139. sando, por copseguinte, a prátjca do lançamento tribut,írio,
295. D11 /1111çw111•11to, 1,·11ri11 gemi dr. (/lo, do /Jmcc•di111c·1110 e do /Jmc:1•ss11 tri/)ttt1i - <: 01110 também extingue o crédito tributário, mediante a conver-
rio, p. 28S.
' 296. Pois o rcvcsti1111.:11to forlll:il d:1 l ccis:10 d..:ss<.: novo proccuilllcnto daria cnscj,,
a outro processo jurisdkin11al. r:1r:Kt .:ri1.;illll11 i111i11ita cin.:utaridad<.: 2'J7 . Vllio d;1 r..:latma nll pmccsw M1~0 dt.i<.lo,
EUl(l(O Mt\lt~OS DINIZ. DE St\N'l'l DEt't\lll.éNCI!\ E l'l<ESCl!IÇÃO NO Dlltl:ITO "l'IUIIU l"Ál(IO ' 207
206

são do depósilo c•.r 1•i do inci\o VI, do Art. 156, do CTN. Co,uu vL:rdade que corn apenas um dispositivo não se pode interpretar
são vários os objetos possíveis de uma ação declarató1ü,n:: é o ordenamento jurídico, como observa LÚCIA V ALLE
preciso deixar claro que ap';!nas quando todos os elementos FIGUEIREDO, é também verdade que a partir de um único
integrativos do crédito tributúrio forem identificados na decisão dispositivo, desde que contextualizado com os.demais, pode-se
é que a ação declaratória tcr:i o condão de constituir o crédi10 construir mais de uma regra. •
sem necessidade de lançarne 1to, não havendo, portanto, deca- Foi assim que obtivemos, a partir do Art. 173 do CTN
dência. 299 contextualizado com os outros dispositivos que tratam de deca-
dência do direito do Fisco, as seis regras de decadência que
tentaremos uplic.:ar a um caso hipotético, cm.que o sujeito pas-
8.4.2.3. A decadência do direito de o Fisco lançar não sivo ajuizou ação declaratória com depósito judicial pleiteando
alcança o crédito formado judicialmente o reconhecimento da inexistênda da relação jurídi'ca tributária
e, tendo obtido decisão dehegatória, quis lançar mão do expe-
1 • A conformação da norma jurídica em sentido estrito diente da decadência como hipótese extintiva do crédito
será sempre a síntese, positiva e negativa, do direito como urn formado na via judicial.
todo. O contrário significa a fragmentação do sentido, indu- A única das seis regras mencionadas que trata da extin-
zindo outro sentido. O fenótipo da norma é determinado pelo ção do crédito é a regra da decadência do direito de crédito do
genótipo do ordenamento jurídico. Da norma chega-se ao orde- Fisco, que não é aplicável a esse caso porque tem por suposto
namento, do ordenamento chega-se à norma.Joo Por isso, se é lançamento extemporâneo. As outras cinco fazem ver que, em
qualquer outra circunstância, a decadência do direito de cônsti-
298. O caso cxaminuuo 1i.:111 como ot jcto o reconhecimento ua rclaçflo jurídica ,
tuir o crédi to não extingue o próprio crédito, ma·s apenas duas
mas outras :ições decl.1ra1órias podem tratar apenas d;i existência de foto, _\lu de delas são aplicáveis, porque prevêem a falta de pagamento
dispositivo relativo nu sujeito mivo. p 1:-:sivo, base ue cálculo ou nlíq~~'ª: ~ bum antecipado: a regra do direito d,~ lançar sem paga.menta anteci-
nolllf, contudo, qui: PONTES DE MIRANDAj.\ d~crelou que a "espec'.e ~n1ca _uc pado e a regra do direito de lançar sem pagamento antecipado
ação declara1ória com respciI0 a raio (= .1con1ecImen10_~o mundo foc11cu) e .:'
r,
concernente, e.g., à declaração da lsidade ou au1cn11c1dade de documcn10 • e com notificação. Ambas podem s~r aplicadas pelo juízo,
Tra1ado das ações, vol. 1, p. 133. extinguindo expressamente o direito de o Fisco ia11çar, sem com
299. Neste sentido, HUGO DE BRI fO MACHADO afirma: "O lançamento, isso afetar o crédito regularmente formado no exercício da
existindo o depósito, all!m de desnecessário para eviIar a decadência do direito de
lançar, é desnecessário como inslru nenlo destinado a viabil!zª: a cobr~111_ça
jurisdição, pois atingem o direito administrativq de o Fisco
porque encerrado o processo com deci ;ão favorável à Fazen~a Pu~li~a o ~ep~s,to lançar, não o crédito tributário.
é convertido em renda, e por esla 1'01 ma extinto o respecuvo cred110 1nbu1ano,
nos lermos do Art. l 5(i, im:iso VI. do Cúuigo Tritiul,írio Nacional", ú 11 1ra11 11· 11 1°
para cvirar a dccadê11ic11, p. 67. para L UHMANN, a1110-rcl'crência r. circularid~úç rnnstilucm o prim:ípi11 11i1al
300. Foi pela m;io de LlJI IM/\NN, lt 1nh1·a JOSÉ ENGRÁCIA ANTENUS, t:1n (Ges111/t /Jri11ú11), não apcI1.1s de células, sislemas nervosos, ou orgunismos hinl6-
prefácio ao livro de Gl!NTlll:I{ Tl~lJBNER, que a transposiç~o c apl!cª~?º d:, girns vi.:gctais 1111 animais cm geral, mas igualmcnlc úos prúprios sislcnms sociais.
Teoria da Aulopoicsis, desenvolvida p H" M/\TUl{AN/\ e V /\RELA no am\l1to d;1 Dcslc motlu , n auU>poiesis deixa de ser concebiua simplcsmenle. como condição
Biologi:i, alcunçou o uomínio uas ci :ncias juríuicas e sociais. "~ruças a esl_c neccss.\ria e suficiente da vida para assuimir o estatuto de modelo explic:itivo de
pensador, tal leoriu deixou de ser concebida unicamente como leona do conh_e~,- base de todo e qualquer sistema, desde os sistemas biológicos até nos próprios
mento p:ira se tomar um modelo 1eó1 ico geral aplicável ao fenômenos soc1a1s: sistemas sociais", O direito como sistcmGt a11Iopoié1ico, p. 10.
208 l:UIUCO ~1,11:cos DINI Z IJE SANTI llECAlll:NCI,\ li l'HESCRIÇÃO NO om1:tTO TRIIIUTÁl(,l(l 209

Assim, a dec:iuência pouc ser rcrnnhecida, pode transi- 8.5. Quadro sinóptico da decadência do direito ~o Fisco
tar em julgado, sem com isso comprometer a juridicidade do l~cgras de th:adência do dirci10 dn Fisco
crédito. O objeto da decadência é outro: o direito de l,ançar. 1. 2.
·'l)ulu,
· 4. 5.
l10111 A11 ihui~fü• Eíelivu N111ifk:1ção Ocom:ncia lkgra Fundamento
Simplório demais, alé suspeito, é alegar a decadência corno lc~al de pa~:1111en111 frnudc ou r~via Je de nnul:,çiio ' aplicá\'el legal
algo mágico e inexorável. V,:rdade da decadência: a decadência cu111pc1ê11da :1111ccip.1du
Ar1. 150
sirnuhu;iin medida
Arl. 150 prepar:uória
do
lançamen10
extingue, mas ·nem tudo; a decadência resolve, mas nem §4" * 4•1 Art 17J
1,:1r. línico
anterior
Art. l7J, ll
sempre. X2 I X N N N N Regra de Art.lU,I
dcc.icJência
du direilo 1k
l:inçar sem
pagnn-.:1110
nn1ecip:11ln
.--
S
,,
X N N s N Re~ra de
''l'l'.!1lê1ll'i;1
Arl. 17.l, 1e
par. únirn
dl,,lin•i10
til• l;111\·:1r ~l"lll
J1;1b,all-.!llf0
anlcdpaJo e
com
i,otificnt;:ln
Xl.1 s s N N N Rci;rn úc Arl. 150,
úecnúência ' H'
cio dircilu
,1c·~a1u;;1r i:1un
p:1gan-.:n1u
:1111cci1md1•
X2~ s s s s N Regra de Art. 150
úeendência §§4"c 173
úo direito ~r. único
de fançnr com
paga111,:n10
aruccipado.
ilícito
e oolificiu;ão
X25 X X X X s Regra de Arl. 17.l, li
dc:cadêncin
úo direilo de
lançar pernnle
anu_laçào do
lançamc:n10
:interior
~2(, X X X X X Rc&rJ iJc Arl. 156, V
dc:cadancia
do direito de
crécli1n úu
l'i,co
CAPÍTUL09
Prescrição dQ direito do Fisco

9.1. O fluxo da causalidade jurídica

Do exercício da competência impositiva do estado _até a


execução do crédito, existe um cordão jurídico de normas: a
regra-matriz de incidência, as normas correspondentes aos
deveres instrumentais, as normas que impõem multas, a norma
de competência administrativa que re·gul~ o exercício do lança-
mento tributário, a norma individual e concreta do lançamento,
a norma que determina sua exigibilidade, a norma individual e
concreta da decisão administrativa, a norma administrativa que
regula a inscrição na dívida ativa, a norma ind,ividual e concreta
em que consiste o título extrajudicial da dívida ativa e, por fim,
a norma processual que disciplina a execução do crédito.
Esse fluxo de causalidade é des~rito pelos adeptos da
chamada visão procedimer'ltalista da relação jurídica tributária,
como NAWIASKY, ALLORIO e MICHELE,3° 1 que ente11diam
que, nos tributos sujeitos a I'a,içamento, 6 direito formativo (ou
potestativo) do crédito nascia com o fato jurídico tributário e
que o crédito tributário só surgia com a prática do ato adminis-
trativo de lançamento. Embora BRANDÃO MACHADO, refe-

301. Conforme estudo minucioso de BRANDÃO MACHADO, Decadê11cia e


prcscriçci" ,w direito tribwârio: 110/as a um ac1írdiio do Supremo Trib1111al Fede-
1'(1/, p. 1316-21. Cf. também, RICARDO LOBO TORRES, Curso de direito_
fi11a11cciro e trib11t<Írio, p. 236 •
212 EU UCO MARCOS OINIZ DE SANTI
OECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRIOUTAIUO 213

rindo-se à doutrina a.emã, nolicie que essa teoria da eficácia pectiva também está presente no pensamento de ALBERTO
constitutiva do lançamento foi "definitivamente abandonada na XAVIER, que professa a dinâmica c,ompositiva c~o conteúdo da
, da de vrnte
deca • " ,·102 entcn demos que e1a retrata per,e1tamei:ite
e •
o obrigação tributária, passando pelas fases de nascin:iento, aten-
processo de positivaçLo e que no fundo a oposição entre a teoria dibilidade, exigibilidade, realizabilidade e ~xecutoriedade:
procedimentalista e a teoria da eficácia declaratória do lança- "momentos distintos de uma única e só situação jurídica".306
• mento revela apenas que uma e outra laboram sob a perspectiva RICARDO LOBO TORRES 307 chama de processo de
de modelos teóricos distintos, que não são necessariamente concreção do crédito tributário esse fluxo de causalidade que
excludentes no que di~ respeito ao direito positivo. vai do exercício da competência impositiva do estado até a exe-
ALFREDO AUGUSTO BECKER 303 e PAULO DE cução do crédito. Como vimos, trata-se de um cordão de nor-
304
BARROS CARV ALI-:O ofereceram outra versão desse fluxo mas, pospostas uma a uma, que será por nós denominado
de causalidade jurídi ::a, apoiados na obra de PONTES DE processo de positivaçiio.
MIRANDA: identificaram que a relação jurídica tributária,
quanto ao seu conteúc o, termos de sua compostura e irradiação
de efeitos, apresenta eficácia mínimâ, média e máxima. A rela- 9.2. Constituição definitiva do crédito tributário
ção jurídica de e_ficácia mínima reúne direito subjetivo e corre-
lato dever; na eficácia média, direito subjetivo, pretensão, dever O léxico definitividade, que é ·substantivo que exprime a
jurídico e necessidade de satisfação, e na eficácia máxima qualidade do que é definitivo, "tal qual deve ficar"/ 08 não deve
direito subjetivo, pretensão e ação. Semelhantemente, entende ser interpretado em termos absolutos, pois contrasta· com a
MARCELO NEVES que há relação jurídica obrigacional cem abertura dinâmica do sistema normativo: nem normas tributá-
conteúdo mínimo (crédito e correlativo débito) ante a ocorrên- rias, nem Código Tributário Nacional, nem Código Civil, nem
cia do fato jurídico tributário; "com a realização do lançamen1 o,
ela torna-se atendível; no momento em que se verifica o venc:i-
inlluência ponteana, em 1976, desenvolveu e implementou essa teoria cm an_igo
mento do prazo para r,agamento do crédito· tributário, ela torra- publicado sob a epígrafe "Decadência e Prescrição", no Caderno de :e~qwsas
se exigível transformando-se em uma relação de conteúdo Trib111áriC1.1' 11. /; entretanto, este trabalho, que se tomou marco de referencia para
médio (surge a pretensão); com a inscrição da dívida ati ✓a os autores que posteriormente enfrentaram o tema, encontra-se hoje superado pela
doutrina do próprio autor.
(Art. 202 do CTN), (... ) torna-se acionável, transmudando-se
306. Do la11çame11/u tributário, p. 350.
em uma relação juríc ica de conteúdo máximo". 305 Essa pe1 s-
307, "Embora o crédito se constitua juntamente com a obrigação pela ocorrência
do fato gerador, recebe ele graus diversos de transparência e concretude na
302. Decadência e prescri;:ciu 110 direito tributário: 11ota.1· a 11111 llCIÍrdcio do medida em que seja objeto do hmçamento, de decisão administrativa definitiva ou
Supremo Tribunal Federal, jl, 1316. de inscrição na dívida ativa. O crédito lrihut:írio passa por diferentes moemcnlos
303. Teoria geral do direito tributário, p. 350. de eficácia: crédito simplesmente constituído (pela ocorrência do fato gerador)
torna-se crédito exigível (pelo la'nçamcnto notificado ou pela decisão administra-
304, Decadência e prescriçi o, p. 490. livn definitiva) e linnlmente o crédito exequível (pela inscriç~o nos livros da
305. Funçao do alo de lw1, ·w11e11tu trib11túrio c:111 re!C1çcio cw crédito tri/)l(t<Í1 io, c.Hvi<la uliva), uotado de liquidez e ccnczu". C,,r.1·,1 de direito Ji11a11c1'im e tri/J11tci-
p. 201-2. ALFREDO AUGUSTO BECKER aplica cm sentido scmclhan1c os rio, p. 233.
graus de eficácia máximo, nédio e mínimo à relação jurídica tributária (Teo ·ia 308. CAUDAS AULETE, Dicio11ário co11tempvr~111eo da Língua Purt11g11esa, vol.
geral do direito tributário, p. 323). PAULO DE BARROS CARY ALHO, rnb li, p, 1071. •
214 EURI• :o MJ\l(COS DINli', DE SJ\NTI DE<:/\OÍ:NCl/1 E l'llESCHl(,'.ÀO NO DIIUilTO TIUIIUTÁIUO 215

Código de Processo Ci i'. e nem a própria Constituição Federa


11 consentftnca com o Art. 151, 111, segundo o qual reclamações e
são definitivos. É concc ito relacional, posto que em direito todt recursos no processo administrativo suspendem a exigibilidade
norma jurídica é definit va enquanto pertencer ao ordenamento. do crédito. Se crédito resultante do auto d~ infração (ou de uma
ALBERTO XAVIER 309 entende que a expressão lan- decisão administrativa posterior ao auto, como no caso paulista)
312
çamento definitivo "no, termos do Art. 174 do CTN, não é o pode ter a exigibilidade suspensa é por já ser exigível".
lançamento imutável 11a órbita administrativa, mas o lan;:a- ·Não cabe, portanto, interpretar constituiçãó definitiva
mento que concluiu o r,~spectivo procedimento administrativo e em oposição a constituição provisória. Sistematicamente,
foi regularmente notifü ado". 310 No mesma linha, afirma CAR- parece-nos que a preocupação do legislador do Código Tributá-
LOS DA ROCHA GUIMARÃES que todo o crédito tributário rio Nacional foi contrapor a noção dinâmica de procedimento,
desde sua constituição é sempre "definitivo": "Se até decisões prevista no Art. 142, ao produto final desse processo: o crédito
dos Tribunais passadas em julgado podem ser anuladas (ação tributário,3 13 formalizado pelo lançamento regularmente notifi-
recisória) sem deixarei 1 de ser consideradas definitivas antes cado ao sujeito passivo. Definitividade, assim, deve ser. inter-
dessa anulação, com mais razão se deve considerar o lança- pretado como a qualidade do que foi produl,ido, tal qual ficou.
mento como definitivo logo que formalizado pela autoridade Não aceitamos, portanto, a tese de que o crédito tributá-
competente, eis que é lto unilateral, dependendo a sua quali- rio se torna definitivo constituído apenas quando não couber
dade de definitivo da própria decisão do agente público que o mais a interposição de defosa ou recur~o na esfera administra-
declare como tal". 311
314
• tiva, como defende HUGO DE BRITO MACHAD 0 e, de
De idêntico modo, ALCIDES JORGE COSTA leciona modo extraordinariamente aprofundado, MARIA LEONOR
que "o lançamento constitui o crédito definitivamente. Os pro-
cedimentos de segundo grau podem desconstituir o crédito, ma:;
não lhe atribuem definitividade, que resulta do próprio lan-
çamento. O crédito pode ser desconstituído por sentençi. 312. Da extinção das obrigações tributárias, p. 247-8.
judicial e, deste modo, se crédito definitivamente constituídc• 313. Como aponta ALBERTO XAVIER, a "delinitividade a ~uc :ilude o Ctídi_g,o
fosse apenas o que não pode de forma alguma ser impugnado não se idcntilica cmn a imutabilidade, contrapondo-se à provisoriedade dos cle1-
só seria definitivo o crédito assim caracterizado em sentençL tos dos atos suscetíveis de impugnação. ContraRõe-se, isso sim, à natureza prepa-
passada em julgado". E arremata "A posição aqui defendida ( ratória dos atos do procedimento de lançamento, ,que antecedem e preparam a
prática deste e que o Código, no aseu Art. 173, dcnomi~a por 'mc~idas pr_eparatú-
rias'. Esta noção de definitividade ajusta-se, pois, à ótica proeed,mentahsta com
º.
que o Código visualiza o lançamento,_ rc~resentando m~m_e~to. cm que ~~s ~
309. Cf. Do la11çame11to Trihll'ário , p. 93. procedimento culmina, se encerra, se tmahza, se tor~a dct1mt1vo , pel_a prallca
310. Essa posição mantém-sL ,w último trabalho editado por ALl3ERTO XA - do seu :.llo conclusivo típico, o ato auministrativo de lançamento, dcv1damcn1 c
VIER, no qual afirma que a "noçãci de delinitividade ajusta-se, pois, à óptica notificado". Do lançamento tributário, p. 93.
procedimentalista com que o Cód igo visualiza o lançamento, representando u 314. Em sentido diverso HUG!) DE BRITO MACHADO, apoiando-se no enten-
momento em que esse proce Jimenlo culmina, se encerra, se finaliza, se torn:1 dimento tant o do Tribunal Fc<;Jcral de Recursos como no Sup remo Tribu nal Fede-
"definitivo", pela prática do ;cu ato conclusivo típico, o alo administrati vo de ral ; tloulrina que o crédito tributúrio consitlcru-sc dclini_ti va1rn:'.1tc con~ti~uído
lançamento, devidamente nut.fü:ado". Do lw1çw11e11to, teoria geral do uto, d<' qu.indo não couber mais a interposição de defesa ou recurso na eslc~a udmm1stra-
procedimento e do processo 11ib111ário, p. 307. tiva, i.é, quando a Fazenda Pública tenha ação para fazer a respectiva cobrança.
311. Crédito triblllârio e prese ric110 , p. 73 . Curso de direito tributário, p. 148.
216 EUJU1 :o MARCOS OINIZ IJE SANTI DECAO~NCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRIIIUTÁlt lO 217

LEITE VIEIRA.m Nem, tampouco, a tese segundo a qual a Portanto, no caput do Art. 174,do CTN, há de se enten-
constituição definitiva ::e dá somente com a final inscrição du der constituição definitiva do crédito como o momento da
dívida/ 16 condignamer.te refutada por SACHA CALMO!\ constituição do ato-norma, seja aquele administrativo efetuado
NAVARRO COELHO. 117 pelo agente público competente, seja o ato-norma editado pelo
particular. Assim, em conformidade com o direito positivo, a
315. "( ... ) pode-se afirmar q11e o crédito tributário apontado pelo lançamento constituição do ato-norma, que coinéide com a constituição
torna-se definit ivo: a) se trans :orrido o prazo assinalado em lei, e o sujeito pas- definitiva do crédito, será o marco inicial para contagem do
sivo não apresentar impugnaç io (regularmente 30 dias). Neste caso, no prim~iro
dia seguinte ao t~rmino daqu-!lc prazo, que teve como marco inicial a data <lo
prazo prescricional.
receb imento du notllicação rc:gular l'cila ao devedor, cstar:í n fazcntJ a púhli<.:n
investida de seu direito de uçfio; b) se o sujeito passivo apresent ar u respectiva
impugn ação: b. l) e a decisão de primei ra instãncia for contrária, total ou par- 9.3. O fato jurídico da prescrição e seu termo inicial
ci almente, à pretensão do sujei to passivo, o crédito tribu tário ai,nda não encontra
su a definiti vidade, já que ninc!a se pode apresentar recurso à autoridade (órgão
colegial) superior; b.2) se a decisão de primeira instância for contrári a nos inte- Assim como ocorre.u com a decadência, a prescrição do
resses da Fazenda e, portanto , favo rável ao sujei to passi vo, ainda assim o crédito direito de ação do Fisco será tratada, aqui, como norma jurídica,
lançado continuará sem de li ni :ividade, já que a au toridade julgadora haverá de
recorrer à autoridade superior confo rme des ignação da lei federal, estadual ou pois ambas incidem sobre o processo de positivação do direito.
municipal; b.3) se a decisão fq r contrária à Fazenda Pública, mas menor que o No direito tributário, a diferença essencial entre uma e outra
valor ass inalado em lei para exigir a apresentação do recurso de ofício (apontado não está na forma de contagem do prazo, ou em contingências
no item anterior), a defin itividade é alcançada co m a noti fi cação regular do relativas ao efeito que irradiam, mas na fase do processo de
sujeito passivo; c) se a decisão .:Jc primeira instância resultar valor a ser re_colhi do,
o contribuinte poderá recorrer ~ segund a ins tânc ia, e, ai , se: c. l) o.julgamento for positivação em que cada qual opera. A. decadência opera _n_a:..fase
contrário aos interesses ilo sujei to passi vo recorrente, a deti niti vic.lnde é alcançada da constituição administrativa do crédito; à.prescrição, no mo-
com a notificação do válida, se dela não couber mai s recu rso à instância superior· mento ·c10· exe~~rêfô do direito de ação. -- - ·-· .
c.2) o julgamento de . segundn instância é contrário aos interesses da Fazenda
Públ ica e da decisão couber recurso à instância superior, a defi nitiv idade será No plano geral e abstrato, estudaremos as nonnas de
alcançada após o decurso tio prazo para a interposição sem que tenh:i sic.lo exer- prescrição 'que apresentam, em sua hipótese, o decurso do
cido o direito ou com o Julgamento cont rário à Fazenda e not ilicaçiio regular ao tempo qualificado pela omissão do Fisco no exercício do direito
sujeito passivo". Suspensão tia e.1;igibi/idade do crédito 1rib111ário, p. 79.
de ação, e em seu conseqüente, a previsão abstrata da extinção
316. Neste sentido. "O prazo precricional do crédito tributário se conta da data de do direito de ação ou do crédito. Essas normas são precedidas,
sua constituição e não de sua inscrição" (Ap 221.275. I" TACivSp, 5" C. RT
489/136). "O ato de inscrição cm dívida ativa não tem qual quer in ll uência nu em nexo de causalidade jurídica, pelas normas que constituem o
contagem do prazo prescricion.J , pois sua fin alidade é criar p.:ira o fisco um título crédito e pelas normas que determinam o exercício do direito da
de crédito, com efeito de prova pré-constitu ída, em virtude da presunção de liqui- ação executiva fiscal. ,
dez. e certeza. As causas interru itivas da prescrição estão arro ladas no An. 174 do
CTN, e dentre elas não se inclui aquela form alidade". (AC 9 l.0l. 09082~ No plano individual e concreto: t~ataremos das nonnas
8/DF.TRF, I" R, 3" T, rei. Jui z Pcmanclo Gonçal ves. DJU 08.06.92). que, introduzidas por ato de aplicação, veiculam em seu antece-
317. "Imagine-se (...), que, de )Ois que efetuado o lançamento e fo rmalizado o dente o fato concreto do decurso do tempo qualificado pela
crédito para admini stração, esta postergue sua inscri ção, del ongando, assi m, a omissão do Fisco, e no seu conseqüente, a objetiva relação jurí-
fixação do dies a q110 do prazo prescricional. A inscrição da dívida ativa poderia dica extintiva do direito de ação ou do crédito. Observe-se que,
ser utilizada maleficarnente". A decadência e a prescrição cm maréria 1rib111ária,
p. 21. na hipótese da regra de prescrição, a c;onduta não é o tempo,
218 EUI· ICO MAl<COS DINl1/. DE S/\NTI
l>EC/\l>l;NCI/\ E 1'10:S( 'J<l~'.Ã<) NO DIHEITO TIUllUTÁRIO
219

que, aliás, nunca pode ser conduta; quando muito, pode dema ~- exame sistemático da matéria no Código Tributário Nacional
car a não-conduta; a e )nduta é a omissão do agente administra- mostra que o legislador não se ateve a formulações matemati-
tivo no exercício do direito de ação. camente precisas ao regrar os institutos da decadência e da
Assim, na hipcitese da regra de prescrição do direito elo prescrição, levando em conta a exigüidade dos prazos para
Fisco, o fator tempo f.gura em conjunção com a conduta omi ~- pagamento, impugnações e recursos (geralmente nã'o superiores
si va da Fazenda Públi-:a. E só há omissão, se houver a possibi- a 30 dias), quando comparados com a latitude dos prazos deca-
lidade jurídica da exigibilidade do crédito: não basta que o • • e prescnc1onais
dencrn1s • • ' (5 anos )" :119 .
crédito esteja instalado no sistema com notificação regular, Demarcar o fato prescricional , portanto, supõe a exigi-
líquido e certo, requer-se também que seja exigível. Sem exigi- bilidade do crédito tributário, a determinação legal do prazo e
bilidade não há omissão, tão-somente fluxo de tempo. Em con- de seu termo inicial e o conhecimento de-eventuais circunstân-
trapartida, sem fluxo de tempo, também não se configura a cias jurídicas que, inibindo a exigibilidade do crédito, corrobo-
omissão, ainda que h.:ja exigibilidade do crédito. ram no delineamento de'sse nexo temporal aualificado pela
O crédito só é exigível passado o perío~o previsto para omissão do Fisco. Note-se, efetivamente, o fato prescricionai só
a efetivação do pagamento, e esse período não tem um limite se conso lidará quand o cornple tacla' a extensão temporal de
fixo. Quando a legisl, ção tributária não fixar o tempo do paga- suporte fácti co previs to n.a regra. 320 Em verdade, o fa to da regra
mento, o vencimento do prazo para pagamento do crédito de prescri ção só pode ·ser consideradu como fato jurídi co no
ocorre 30 (trinta) dias depois da data em que .se considera o tenno fin al do prazo juridicamente qualificado, antes disso não
sujeito passivo notificado do lançamento, ex vi do Art. 160 cio há fato jurídico, mas tão-apenas fluxo de tempo e conduta.
CTN. Não havendo t.niformidade na fixação desses prazos e Só se há de falar de fato prescricional se houver a exigi-
sendo necessário objetivar um termo inicial para a prescrição, o bilidade do crédito no decurso desses cinco anos. Nos casos em
Código Tributário Nacional determinou o dies a quo como que houver suspensão da exigibilidade antes do vencimento do
sendo a data da constituição definitiva do crédito, incluindo o prazo para o pagamento, o prazo prescricional não será mais a
período previsto para efetivação do pagamento 110 decurso de data da constituição do crédito, mas a data do desaparecimento
tempo prescricional, em face da exigüidade de um prazo fixado j urídico do obstáculo à exigibilidade.- Nos casos em que houver
em cerca de um mês em relação ao prazo de prescrição, fixado suspensão da exigibilidade depois do vencimento do prazo para
l em cinco anos. o pagamento, o prazo prescricional continuará sendo a data da
;
l Assim, o Código Tributário Nacional concilia o prin:í-
i pio da actio nata com o primado da segurança jurídica, e1.ti-
J pulando dies a quo facilmente determinável e independente da
legislação ordinária, i em qualquer prejuízo para o Fisco ou p,1ra tributos também se inicie com a ocorrência do fato gerador, circunstância que
segundo aquele raciocínio seria inviável, pois no período que corre do fato jurí-
'l
l o contribuinte. 318 Como doutrina LUCIANO AMARO, 'O dico até o pagamento antecipado, o Fisco ainda não detém o direito potestativo de
lançar. '
' .
318. O mesmo acontece c Jm o prazo decadencial: nos tributos sujeitos ao pa- 319. Direito trilmtá1Jo brasileiro, p. 387.
gamento antecipado, o Fisco só pode efetuar as diligências destinadas à hom,,lo- 320. Essa discussão é semelhante à questão dos fatos jurídicos pend~ntes, instan-
gação expressa ou ao eventJal Jançamenlo de ofício após o prazo de que o co1,tri- tâneos e complexos, cm que se cogita sobre o momento da formação elo fato
buinte dispõe para efetua:· o pagamento, embora o prazo dccadencial nc.,ses complexo.
'
220 EUl!ICO MAHCOS lllNIZ llE SANTI l>EC' Allr.NCIA I'. 1'1{ ESl'IU(,'ÀO Nl 1 1>IIU\ITO 'IIUIIUT AI, Ili 22 1

constituição do crédito, mas será descontado o período de Corno no caso da decadência, a extinção fo crédito tri-
vigência do obstáculo à exigibilidade. butário é disciplinada por uma única regra, cons ruída a partir
Aliás, assim já decidiu o STF: do Art. 1: 6, V do CTN. A extinção do direito de í1ção do Fisco,
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 94.462-1 (E.) - mais complexa, apresenta-se na forma de cinco ;1ormas, cujas
São Paulo. hipóteses, além do fator tempo, se conformam pela combinação
EMENTA: dos seguintes critérios positivos: (i) ocorrência Ol não ocorrên-
Prazos de prescrição e de decadência em direito tributá- cia da cor.stituição do crédito pelo contribuinte sem pagamento
rio. - Com a lavratura do auto ,de infração, consuma-se antecipado, (ii) ocorrência ou não ocorrência da c )nstituição do
o lançamento do crédito tributário (Art. 142 do CTN). crédito peio lançamento, (iii) ocorrência ou não ecorrência das
Por outro lado, a decadência só é admissível no período hipóteses de suspensão da exigibilidade antes do \>encimento do
anterior a essa lavratura depois, entre a ocorrência dela prazo pan, pagamento do crédito trib\ttário. (iv) )corrêncin ou
e até que flua o prazo para a interposição do recurso não ocorrí:ncia das hipóteses de reinício do prazo de prescrição
dessa natureza de que se tenha valido o contribuinte, (despacho do juiz ordenando a citação, proteste judicial, ato
não mais corre prazo para decadência e ainda não se judicial que constitua em mora o devedor,· ou re :onhecimento
iniciou a fluência de prazo para prescrição; decorrido o do débito µelo devedor).
prazo para interposição do recurso administrativo, sem
que ela tenha ocorrido, ou decidido o recurso adminis-
9.4.1. Primeiro critério: ocorrência ou não ocorrência da
trativo interposto pelo contribuinte, há· a constituição
constituiçfo do crédito pelo contribuinte sem pagamento
·definitiva do crédito tributário, a que alude o Art. 174,
antecipad()
começando a fluir, daí, o prazo de prescrição da preten-
são do Fisco. A ocorrência ou não ocorrência da constituição do
crédito pela contribuinte sein pagamento antecipado (Arts. 150
e 174 do CTN) aplica-se à situação em que o cont ·ibuinte cons-
9.4. Critérios pijra composição das regras jurídicas da tituiu o crédito tributário, apurou o quantum devido sem qual-
prescrição do direito do Fisco quer interferência do Fisco (ICMS, IR, IPI, PIS, I'insocial etc),
mas não realizou o pagamento. Com a entrega ao Fisco da
Considerando norma jurídica como aquela estrutura declaração (DCTF, GIA etc)', realiza-se a constitui!:ão definitiva
condicional que vincula uma hipótese normativa à uma conse- do crédito tributário, independentemente de 1:ontingências
qüência, e verificando que não há no direito tributário uma só relativas ao prazo para pagamento.
hipótese fáctica de prescrição do direito do Fisco, mas várias,
cada qual ligada a uma norma geral e abstrata específica, em-
9.4.2. Segundo critério: ocorrência ou não ocorrência c,la
preenderemos neste capítulo a tarefa de construir essas regras,
constituição do crédito mediante lançamento
identificando as respectivas hipóteses e conseqüentes normati-
vos orientados para a ·extinção do direito de ação do Fisco A oc,Jrrência ou. não ocorrência da co,:stituiçiio do
(Art. 174) ou do próprio crédito tributário (Art. t56, _Y). crédito pelo lançamento (Arts. 142, •I7~ e 174 do •:TN) aplica-
222 EUl{ICO MARCOS DINIZ DE SANTI DECADÊNCIA E PR.ESCRIÇÃO NO DIREITO TRIBUTÁ UO 223

se às situações em que o crédito tributário foi constituído me- I do CT~l) pressupõe que· o prazo p·rcscricional, regulado por
diante lançamenlo regularmente notificado ao sujeito passivo ex outra regi a, esteja em curso e que o direito de açfo que motivou
vi do caput do Art. 145 do CTN. É no momento da notificação o ato da r utoridade judiciária, nos termos do Art~. 215 e 219 do
que se realiza a constituição definitiva do crédito tributário CPC, tenha sido exercid<?. Convém anotar que o dispositivo do
independentemente de contingências relativas ao prazo par~ CTN determinava que .só se reabria novo prazo de prescrição
pagamento. com a cit;1ção pessoal feita ao devedor, mas o indigitado dispo-
sitivo da Lei n. 6.830/80 atribuiu esse mesmo efeito ao mero
despacho do juiz ordenando a citação. 321 Suscit•)u polêmica a
9.4.3. Terceiro critério: ocorrência ou não ocorrência da circunstâi1cia desse novo dispositivo apresenta··-se veiculado
suspensão da exigibilidade antes do vencimento do prazo por lei Oidinária, quando a Constituição anterior já exigia lei
para pagamento do crédito tributário complementar para a disciplina das nonnas ge;·ais de direito
tributário. Entretanto, conforme sustentamos em capítulo ante-
A ocorrência ou não ocorrência da suspensão da exigi- rior, a qLestão se encontra superada em face cio advento da
.bilidade antes do vencimento do prazo para pagamento do Constituição Federal de 1988, que recepcionou a Lei
crédito tributário (Arts. 151, 160 e 174 do CTN) aplica-se às n. 6.830/80.m
situações em que ocorre uma das quatro hipóteses de suspensão Ambos, o protesto judicial e o ato judicial que constitua
da exi~ibilidade do crédito tributário antes do prazo de venci- em mora o devedor (respectivamente, •Art. l 74, II e III do
mento para pagamento. Essa circunstância inibe a ação fiscal e CTN), supõem fato prescricional em curso, mas, enquanto o
interfere na configuração jurídica do início do fato prescricio- primeiro e.xige procedimento especial e cautelar, (equerido. ao
nal, deslocando-o para a data da supressão da causa suspensiva juiz e ordenado por este, com a final notificacão ao contri-
da exigibilidade. buinte,m o segundo requer ato judicíal inespec1fico que sim-
plesmente constitua em mora o devedor, seja inte -pelação, noti-
ficação, intimação judicial, ou mesmo ação ordint ria.
9.4.4. Quarto critério: ocorrência ou não ocorrência de
reinício do prazo de prescrição 321. V. RICARDO LOBO TORRES, Curso de direito financeiro e tributário,
p. 259.
A ocorrência ou não ocorrência de reinício do prazo de 322. Ocorre que os problemas de forma apresentados pela Lei n. 6.830/80 só
prescrição anterior aplica-se a qualquer uma· das chamadas poderiam ser apreciados durante a vigência daquela constituição. Como afirma
CLEMERSON MERLIN CLEVE, "o direito brasileiro não admite ação direta de
hipóteses "interruptivas", ou seja, às situações em que se inter- inconstitucionalidade contra lei ou ato normativo anterior à Constituição, cm
rompe o curso de um. prazo anterior de prescriçao para o mesmo confronto com esta". A fiscalização abstrata da co11stiwcio1u iidade 110 direito
direito: (i) desp~cho do juiz ordenando a citação, (ii) protesto bra.ri/eiro, p. 2 !9. Conforme entendimento do STF na emenda do julgado da
ADIN n. 2, DJU 12/02/1992: "O vício de inconstitucionalidade,: congênito à lei e
judicial, (iii) ato judicial que constitua em mora o devedor ou há de ser apurado e face da Constituição vigente ao tempo de st n elaboração. Lei
,! .(iv) reconhecimento do débito pelo devedor. anterior n:io pode ser inconstitucional cm relai,:i\o à Constitui~: fo superveniente:
,,
O despacho do juiz ordenando a citação (Art. 8º § 2º da nem o lcgishdor poderia infringir Conslituic;iío futura".
Lei 6.830/80, que substituiu o Art. 174, parágrafo único, Inciso 323. Cf. MARIA HELENA DINIZ, Dicio11úriojurídico, vol. 3, ,. 833.
224 llURICO MARCOS DINIZ DE SANTI PECAOJ°;NCJA E l'RESCl!IÇÃO NO DIREITO TRIIJUTÁl-10 225

Por fim, o reconhecimento do débito pelo devedor, qu~ 9.5.1. Rc~ ra da prescrição do direito do Fisco c )m
também supõ~ fato prescricional em curso, é uma declaração constituição do crédito p~lo contribuinte
escrita de débi to ou petição de parcelamento do crédito, com
reconhecimento ~xpresso e inequívoco do direito do sujeito Es a regra apresenta na sua hipótese a se~uinte combi-
ativo, por parte do sujeito passivo. Esse ato do devedor provoca nação dos quatro critérios: ocorrência da constituição do cré-
• prazo prescnc1ona
a abertura de novo . . l:]24 - dito pelo contribuinte sem pagamento antecipado, não ocorrên-
cia da constituição do crédito pelo lançamento, n,io ocorrência
da suspen ;ão da exigibilidade antes do vencitm nto do prazo
9.5. Seis regras que disciplinam a prescrição para pagar1ento do crédito tributário, e não ocorri. ncia de reiní-
do direito do Fisco cio do pra, .o de prescrição do direito do Fi sco.
O rato prescricional supõe o fluxo de cinco anos, conta-
Para obter as quatro primeiras regras que regu lam a
dos da d, ta da entrega do documento de formalização do
prescrição do direito do Fisco, combinamos os quatro critérios;
crédito pel) próprio contribuinte, descontados desses cinco anos
a qu inta regra baseia-se apenas no quarto critério. A sexta, que
os intervalos em que a exigibilidade do crédito se encontrava
trata da prescrição do direito do Fisco ao crédi to, baseia-se no
suspensa.
decurso prescricional de todas as regras anteriores.
Assim, as seis regras jurídicas gerais e abs tratas que O conseqüente normativo desta regra extingue o direito
disciplinam a prescrição do direi to do Fisco são: (i) regra da de ação de o Fisco cobrar judicialmente o crédito tributário,
prescrição do direito do Fisco com constituição do crédito pelo conforme prevê o Art. 174 do CTN.
contribuinte, (ii) regra da prescrição do direi to do Fisco com
constituição do crédito pelo contribuinte e com suspensão da
exigibilidade, (iii) regra da prescrição do direito do Fisco com 9.5.2. Regra da prescrição do direito do Fisco com
lançamento, (iv) regra da prescrição do direito do Fisco com constituição do crédito pelo contribuinte e com ~ uspensão
lançamento e com suspensão da exigibilidade, (v) regra de rei- da exigibilidade
nício do prazo de prescrição do direito do Fisco e (vi) regra da
prescrição do direito de crédito do.Fisco. Esta regra apresenta na sua hipótese a seguinte combi-
Cuidaremos, nos itens subseqüentes, de individualizar nação dos quatro critério~: ocorrência da conl)tituição do
cada uma.dessas regras gerais e abstratas, identificando as res- crédito pelo contribuinte s'em pagamento antecipaco, não ocor-
pectivas hipóteses e con_seqüentes nonnativos. rência da constituição do crédito pelo lançamente, ocorrência
da suspensão da exigibilidade antes do· vencimer to do prazo
para pagamento do crédito tributário, e não ocorrê!:cia de reiní-
cio do prazo de prescrição do direito do Fisco.
O fato prescricional s·upõe o fluxo de cinco anos qualifi-
324. Cf, JOSÉ JA YME M/\CÉDO DE OLIVEIRA, Código tributário 11ac:io11al, cados pela ,;ondutu omissiva do Fisco, c·ontados e.la data em que
p. 516. for suprimida a condição qtle, antes c.le o créditc constituído
1

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•l
226 EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI
DECADÊNCIA E l'RESCRIÇÍ\O NO DIREITO TRiilUTÁRIO 227

!
pelo contribuinte tornar-se exigível, suspendeu sua exigibili- pagamento do crédito tributário, e'nüo oc:orrê•zcia de reinício do
dade. prazo de prescrição do direito do Fisco.
O conseqüente normativo desta regra extingue o direito O fato presc~icional supõe o fluxo de ::inco anos qualifi-
de ação de .o Fisco cobrar judicialmente o crédito tributário, cados pela conduta o~issiva do Fisco, contac os da data em que
conforme prevê o Art. 174 do CTN. for suprimida a condição que, antes de o crédito constituído
pelo ançamento torn'ar-se exigív~I, suspendeu sua exigibili-
dade.
9.5.3. Regra da prescrição do direito O conseqüente normativo desta regra extingue o direito
do Fisco com lançamento de aç:ío de o Fisco cobrar judidalmente o crédito tributário,
conforme prevê o Art. 174 do CTN.
Esta regra apresenta na sua hipótes~ a seguinte combi-
nação dos quatro critérios: não ocorrência da constituição cio
9.5.5. Regra de reinício do prazo de prcscrir;ão
crédito pelo contribuinte sem pagamento antecipado, ocorrên-
do direito do fisco
cia da constituição do crédito pelo lançamento, não ocorrêncio
da suspensão da exigibilidade antes do vencimento do praw Aspecto peculiar desta regra de prescriçilo é tom,1r
para pagamento do crédito tributário, e não ocorrência de reiní- como mposto a realização do quinto .critério, ou s.eja, a ocor-
cio do prazo de prescrição do direito do Fisco. rência de qualquer uma das hipót_eses de reinício do prazo de
O fato prescricional supõe o fluxo de cinco anos qualifi- prescrição anterior, consolidando o que a d)utrina chama de
cados pela conduta omissiva do Fisco, contados da data em que "interrupção" do prazo e que preferimos desi snar como "reiní-
o contribuinte for regularmente notificado do lançamento tri- cio" de novo prazo de prescrição.
butário realizado pela autoridade administrativa ex vi dos Assim, na hipótese desta regra temes a configuração
Arts. 145 e 174 do CTN. jurídica de despacho do juiz ordenando a citação, ou protesto
O conseqüente normativo desta regra, conforme prevê o judicial, ou ato judicial que constitua em mc,ra o devedor, ou
Art. 174 do CTN, extingue o direito de ação de o Fisco cobrar reconhecimento do débito pelo devedor. A data em que ocorrer
judicialmente o crédito tributário. qualquer uma dessas hipóteses servirá como dies a quo do novo
prazo prescricional de cinco anos, qualificado pela conduta
omissiva de o Fisco exercer o direito de ação.
9.5.4. Regra da prescrição do direito do Fisco com No conseqüente desta norma, temos a previsão abstrata
lançamento ~ pom suspensão da exigibilidaâe da extinção do direito de o Fisco cobrar judici:1lmente o crédito
tributário constituído pelo lançamento ou por ato de formaliza-
Esta reg'ra apresenta na sua hipótese a seguinte combi- ção do contribuinte.
nação dos quatro critérios: não ocorrência ~a constituição cio
crédito pelo ~ontribuinte sem pagamento antecipado, ocorrê11- 9.5.6. Regra da prescrição do direito do Fisco ao crédito
cia da constituição do crédito pelo lançamentó, ocorrência da Enquanto as cinco regras de pr,escríçfo supradcscritas
suspensão da exigibilidade antes do vencimento do prazo para manti\'eram a extinção do direito de ação como foco, esta regra
ElJ l( ICO :, t i\ RCOS IJINI'/., DE SMfl 1 llEt' ,\l)l~NCI/\ 1, l'l!ESCIU Ç/10 NO Dll!l:ITO T IUlllJºl' Á W)
229

dirige sua força extintiva para o crédito tributário. Aquelas 9.6.1. Efeitos da suspensão da exigioilidade e prescrição
extinguem o direito de ação de cobrança dó crédito; esta extin- após o ve r1cimento do prazo para pagamento
gue o próprio crédito tributário, seja ele resultado de lança-
mento ou de ato de formalização do particular. Na regra da prescrição do direito do Fi rco com cons-
A hipótese desta regra é o transcurso do prazo prescri- tituição d·J crédito pelo contribuinte e coin sus,..ensão da exi-
cional previsto em todas· as regras anteriores, configurando a gibilidade e na regra da prescrição ,do direito do Fisco com
impossibilidade jurídica de o Fisco exercer seu direito de lançamen;o e com suspensão da exigibilidade, a suspensão da
ação,325 conforme pressupõe o Art. 156, V do CTN. exigibilidtde se dá em momento an·terior ao vencimento do
A cooseqüência desta regra será a extinção do crédito prazo para pagamento do crédito e, por isso, de.;loca o dies a
tributário, constituído pelo lançamento ou por alo de formali- q1.10 dos p ·azos prcscricion_
ais para o momento da supressão da
zação do particular. causa susrensiva.
Cem relação aos casos em que a suspensão da exigibili-
dade ocorre em momento posterior ao vencimento do prazo
9.6. Outros casos pertinentes à prescrição para pagamento do crédito, _aplicam-se outras regras: a regra da
do direito do Fisco prescrição do direito do Fisco com CO!'!Stituição da crédito pelo
contt :buinte e a regra da prescrição do _direito do Fisco com
Elegemos, nesse tópico, alguns casos que se situam na lançamento. Essa suspensão da exigibilidade será configurada
fronteira ent(e a ciência e a experiência; casos em que há con- (i) pela moratória, que recebeu disciplina expres.;a a esse res-
trovérsia com relação à prescrição do direito do Fisco, para os peito ex vi do parágrafo único do Art. 155 do CTN, (ii) pelo
qm1 i<; r,rop0mns soh1c_-nr c; hnsl::'Fi <ln~ n:1s <:ri<: re'PTíl<; nri .:i n rlrs- cierósito rio montante integral do crédito tributári) ou (iii) pela
critas: (i) efeitos da suspensão da ex igibil idade do crédito í1pós concessão de medida liminar em mandado de segurança, nos
o vencimento do prazo para pagamento, (ii) dies ad quem e o termos do Art. 151 do CTN.
dies ad quo do prazo de prescrição do direito do Fisco e o § 2l' Assim, estando o prazo prescricional já err curso, a rea-
do Art. 8° da LEF, (iii) hipótese de suspensão do prazo prescri- 1ização de qualquer das aludidas hipóteses suspens,vas tornará o
cional do Art. 2°, § 3° da LEF, (iv) suspensão da execução fiscal crédito inexigível, de tal forma que não se poderá qualificar a
e o Art. 40 da LEF, (v) prescrição intercorrente no direito posi- conduta do Fisco como o~issiva até que desapareça a cláusula
tivo, (vi) direito ao débito do Fisco no caso de pagamento de suspensiva. Conseqüentemente, também a contag;!m do prazo
crédito prescrito, (vii) pr½o'lcrição da execução fiscal em rel ação de prescrição restará suspensa326 durante o períoco em que se
ao sócio responsáveJ, _e (viii) execução fiscal dos créditos cons- suceder a suspensão da exigibilidade do crédito, sendo reto-
tituídos pelo con!rfüuinte. • mada com a supressão da causa suspensiva.

325. Deveras, a hipótese dessa regra é a ocorrênci a da prescrição. Como di:r,


PONTES DE MIRANDA,: "Ninguém perde direi lo por prescri qão, se bem que se
possa perder o direito em virtude de fato jurídico em cujo suporte fáctico esteja o 326. Cf. RICARDO LOBO TORRES, Curso de direito financtiro e tribwário,
fato prescricional (e.g. art. 739, VI). Tratado de direito privado, vol. 6, p. 104. p. 259.
230 EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI DECl\lll:NCIA E l'i<ESCIU(:ÃO NO DJRl: J"l O Tl{ll!UTÁIU( 1 23 1

9.6.2. O dies ad quem e o dies ad quo do prazo de prescrição coJT o requisitos a inércia da parte interessaja em desar-
do direito do Fisco e o § 2º do Art. 8° da LEF quivar o processo e o lapso temporal.
No dizer de Antônio Luís da Câmara L~al, "interrom-
Devemos a ALFREDO AUGUSTO BECKER a lição pidt a prescrição, a ação perm~nece e só :;e extinguirá
sobre o perigo da contaminação que prostitui a atitude mental por um novo percurso prescricional, cujo i.1ício e dura-
jurídica, induzindo o jurista (sem que disso se aperceba) a ra- ção é fixado pelo niomento cm que cessa a causa intcr-
ciocínio pseudojurídico que· produ~ a "conclusão invertebrada e ruptiva". (Da prescrição e da deca~ência, p. 216, ed.
de borracha que se molda e adapta ao caso concreto segundo o Fon:nse, 1982). A citação válida e regular interrompe a
critério pessoal (arbítrio) do intérprete dQ direito positivo (regra prescrição (Art.21.9, "caput" do Código de Processo
jurídica). Em síntese: aquele tipo de raciocínio introduz clan- Civil Brasileiro). •
destinamente a incerteza e a contradição para dentro do mundo O autor só pôde ínterpretar qu~ ANTÔNIO LUÍS DA
jurídico; incertezas e contradições que conduzem todos ao ma- CÂMARA LEAL aceita a prescrição intercorrente porque
nicômio jurídico tributário e à terapêutica e à cirurgia do deses- enten deu o termo açao· - BO e •
• ,cpmo se 1osse processo. :13 1 S e con-
pero" .321 • • textualizarmos a aludida citação com o parágrafo seguinte do
.E continua esse autor, agora com supedâneo em original, veremos que ·o autor citado falava de ação, como
NORBERTO BOBBIO: "O rigoroso cuidado na terminologia direito subjetivo .público de pleitear a_o Estado-juiz decisão
não· é exigência ditada pela gramática para a beleza do estilo, sobre dada pretensão, e não de processo: .
mas é uma exigência fundamental para se construir qualquer Interrompida a prescrição, a ação permar ece e só se
Ciência. (... ) Toda e qualquer Ciência inici~-se com a formação extinguirá por um novo percurso prescricional, cujo o
de sua própria linguagem científica, isto é, com aquela lingua- início e duração é fixado pelo momento err. que cessa a
gem que faz de um conhecimento puramente subjetivo (a minha causa interruptiva.
percepção) um conhecimento de máximo grau inter-subjetivo (a Mas, se a interrupção se dá pelo exercício da ação, ou
percepção pelos outros)" .328 pelo ajuizamento do direito, submetido à decis8.o do
Exemplo contundente dessa inestimável lição pode ser juiz, por meio de defesa oferecida na açfo intentada
encontrado no artigo em que SÉRGIO MARTINS RSTOU 329 pelo precribente, a açc1o perde a possibiliaade de revi-
trata da prescriçãó intercorrente no processo civil brasileiro: ver, extinguindo-se pela sentença que deci•fü o direito,
A prescrição intercorrente é um assunto muito pouco salvo se o processo vier a finalizar-se sem essa sen-
tratado pelos doutrinadores patrícios, embora possa cau-
sar a extinção do processo com o julgamento do mérito,
liberando o devedor do encargo. Essa prescrição tem 330, Identi!ic1 bem essa ambigüidnr.le do termo açcio PAULO CONRADO.
qu,1ndo difere 1cin o direito de ação (direito, dec:1111ado, de aces;ar a jurisdição)
de 11clio 1m ~c11tido de lide, de dc1nand:1. ". l111md11c1io II tl'oti(I ~< mi do 11mcesso,
p. 70. •
327. Teoria geral do direito tributário, p. 40. 331. Cf. PAULO CONRADO: "O processo constitui uma catqoria relacional,
328. Idem, ibidem, p. 40-1. cspecificnmen e dcnoniinndn de relação jurídica processual, 01, simplesmente.
329. A prescrição inlercorre11te 110 processo civil brasileiro, p. 4. relação proccs;ual". /11/rodução à teoria Remi do processo, p. 98
EURICO MARCOS l)INIZ DE SANTI IJEC'ADÜNCIA E l'HE.~('1(1(_'.À() NO IJlf{l;l'l'O 'l'RIIIU rA.uo 2JJ
232

tença, ou por absolvição ou perempção de 'instância, ou cessar tenporariamente, reiniciando-s.e posterior nente". Sendo
por perempção, desistência ou anulação da ação. assim, es::e dispositivo serve como ba_se empíricz para definir o
(destacamos) dies ad quem, ou termo final, da regra da prese rição, que é a
Para CÂMARA LEAL, como a prescrição decorre do propositu:a da ação, bem como o di,es a quo, m: termo inicial ,
não exercício do direito de ação, o exercício da ação impõe a que irá in;;taurar novo prazo de prescrição no caso de cpisa jul-
interrupção do prazo de prescrição e faz que a ação perca a gada fom,al, propiciando a formação de ulterior processo, pois
"possibilidade de reviver", pois não há sentido a priori em fazer não haveria sentido em se cogitar de perda do direito de ação no
reviver algo que já foi vivido (exercício da ação) e encontra-se curso do Jrocesso que decorre fác~ica e logicamente do exercí-
em seu pleno exercício (processo). Ou seja, o exercício do cio dessa ,tção.
direito de ação faz cessa:· a prescrição. Aliás, esse é também o CARVALHO SANTOS, explicando os casos conven-
diretivo do Código de Processo Civil: cionais de interrupção da prescrição, aduz que "Quando a inter-
Art. 219. A citação válida torna prevente o juízo, induz rupção é operada pela citação inicial da demanda, o mesmo
litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando [encerramento do prazo inicial e fixação de nove, prazo] não se
ordenad'1 por juiz incompetente, constitui em mora o suced~. Porque o prazo da prescrição anteriormente decorrido é
devedor e interrompe a prescrição. inutilizado com a citação, mas deste 'momento ia citação não
§ 1° A interrupção da prescrição retroagirá à data da começa a correr novo prazo. Verifica-st um int! rregno, dentro
propositura da ação. · do qual o novo prazo 'não começa a correr. .Somente com o
( ... ) último termo da demanda ou quando esta tiver fim é que co-
333
Se a interrupção retroage à data da propositura da ação, meça a correr prazo para a.prescrição".
isso significa que é a propositura, e não a citação, que inter- Assim, o despacho do juiz ordenando a citação tem a
rompe a prescrição. Nada mais coerente, posto que a proposi- finalidade de reconhecer juridicamente que, com a propositura
tura da ação representa a efetivação do direito de ação, cujo da ação, se operou o termo consu.mativo da prescrição, inter-
prazo prescricional perdé sentido em razão do seu exercício, rompendo-se o seu curso. Ao mesmo tempo, es:;e ato incide e
que será expressamente reconhecido pelo juiz no ato da citação. realiza a hipótese da regra de reinício do praza de prescrição
Nesse caso, o que ocorre é que o fator conduta, que é a do direito do fisço, estipulando o final do proce~ so como novo
omissão do direito de ação, é desqualificado pelo exercício da prazo para o eventual exercício do direito de ação, e.g., no caso
ação, fixando-se, assim, seu termo consumativo.m Quando isso de suceder a coisa julgada formal.
ocorre, o fator tempo torna-se irrelevante, deixando de haver
um termo temporal da prescrição. 9.6.3. A hipótese de suspensão do prazo
Ao interpretar o § 2° do Art. 8 da Lei nº 6.830/80, que prescricional do Art. 2°, § 3° da LEF
prescreve um tenno .consumativo, podemos considerar o inter-
rompe a prescrição como "faz cessar definitivamente" ou "faz Além das hipóteses que delineiam a formação do fato
prescricinnal mediante a suspensão da exigibilicade do crédito
332. É inevitável a aproximação dessas id6ias com a preclusiio temporal, lógica e
consumativa, dispostas no direito processual civil. 333. C1ídix11 d11il i111c:rprc:1ado, vol. Ili, p. 41(,.
234 EUHICO MARCOS IJINIZ IJE SANTI DECADtNCIA E l'RESCl(l~:Ão NO lll iü,rrn Tl(IIIUTÁI 1() 235

em momento posterior ao vencimento do prazo para o pa- possa rccí ir a penhora, suspende t;1mhém a conlí gern cio prazo
gamento (moratória, depósito judicial e liminar em mandado de prescricio mi.
segurança), previstas no Art. 151 do CTN, a Constituição Fede- Scbre a interpretaçãio desse dispositivo, pairam algumas
ral de 1988 recepcionou outra condicionante que corrobora na afirmaçõe; que podem se encontradas cm vários julgados do
composição do suporte factual das cinco primeiras regras de STJ e estão concentradas na Ementa do REsp 35540-96/SP.
prescrição. A primeira alega tratar-se de dispositivo que impõe a
Segundo o Art. 2° § 3° da Lei n. 6.830/80, a inscrição do indefinição da prescrição:
crédito tributário nos livros da dívida ativa suspende a compo- "1. O Art. 40, da Lei num. 6.830/80, nos te17Tios .em que
sição do prazo de prescrição por 180 ~ias ou até a distribuição foi admitido em nosso ordenamento jurídico, não tem
da execução fiscal, se esta ·ocorrer antes de findo aquele prevalência. A sua aplicação há de sofrer os limites im-
prazo:·314 T rata-se de d'1spos1t1vo
• • que, d'fi
1 erentemente das tres A
postos pelo Art. 174 do Código Tributári•) Nacional. 2.
hipóteses do item anterior, altera objetivamente a contagem do Repugna aos princípios informadores do nosso sistema
tempo, uma vez que fixa um limite máximo de 180 dias para a tributário a prescrição indefinida"
suspensão, e não desqualifica a conduta do agente, pois admite A segunda sustenta que a prescrição imr õe segurança
a distribuição da execução fiscal como termo consumativo335 do jurídica aos litigantes:
prazo de prescrição. Ora, se já foi distribuída a ação de execu- "3. Há de, após o decurso de delerminaúo tempo sem
ção fiscal, não há por que se continuar contando prazo de pres- promoção da parte interessada, se estabilizar o conflito,
crição, pois a conduta de exercitar a ação interrompe o fluxo da pela via da prescrição impondo segurança jurídica aos
prescrição e conseqüen,temente, como neste caso, o fluxo da litigantes". •
suspensão da exigibilidade. A terceira trata d.e prescritihilidade das ob ~igações:
"O Art. 40 da LEF estabelece. uma injustificável exce-
ção ao princípio geral da prescritibilidade das obriga-
9.6.4. A suspensão da execução fiscal e o Art. 40 da LEF ções" •
A quarta diz respeito ao problema das normas gerais de
Consoante o Art. 40 da Lei n. 6.830/80, o ato de o juiz direito triimtário:
suspender o curso da execução fiscal enquanto não for locali- "4. Os casos de interrupção dá prescriçãc estão previs-
zado o devedor ou não forem encontrados bens sobre os quais to!; no Art. 174 do CTN, nele não incluídc os do Art. 40
da Lei 6.830/80. 5. Há de ser sempre le nbrado que o
336
At t. 174 do CTN tem natureza de lei comr lementar".
334. Idem, ibidem.
335. Esse "termo consurnativo" foi utilizado em alusão à aplicação que o vocá-
bulo "consumativo" recebe no Direito Processual Civil, quando se constrói a
oposição entre prec/uséio comsumativa, prec/uscio lâgica e pl'(ic/uscio temporal.
Em que a primeira designa a perda do exercício de um ato processual em razão da 336.'Cf. MANOEL ÁLVARES: "o Art. 40 da LEF é inaplic,\ 1 ·el porque eslabe-
prática ele outro ato processual incompatível com o exercício do primeiro. Assim, Iece caso de suspensão da prescrição por lei ordinária, cm natéria tributária,
o ato da distribuiçl:Ó da ação é incompalível com a continuidade da contagem do contrariando a regra da Lei Maior no Art. 146, III, h", Códi~o Trilmtúrio Nacio-
• prazo de prescrição que supõe o não exercício do direito de ação. nal CO/l/1'/1/(1( 10, Jl, 672.

l...-~-
236 EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI DECADÊNCIA E l'RESCRIÇ/\0 NO DIREITO TRIUUTI\RIO 237

9.6.4.1. O Art, 40 da LEF não pode tratar de prescrição ArL 791 - Suspende-se a execução:
l - no todo ou eni parte quando recebidos os embargos
•Entendida a prescrição como a perda do ~irei to de ação, d1) devedor (Art. 739, § 2º);
não cabe cogitar-se de prescrição no curso do processo, pois, se II - nas hipóteses previstas no Art. 265, Ia III;
há processo, é porque a ação já foi exercida. III - quando o devedor não possuir bens penhoráveis.
Não se trata, portanto, de "prescrição indefinida", mas Art. 794 - Extingue-se a execução quando:
de duração indefinida do processo, matéria que refoge ao tema I - o devedor satisfaz a obrigação;
da prescrição. Nem se pode pretender oferecer pela via da pres- II - o devedor obtém, por transação ou por . qualquer
crição "segurança jurídica aos litigantis"; a segu,rança jurídica outro meio, a remissão total da dívida;
dos litigantes no processo está na certeza da prestação jurisdi- III - o credor renunciar ao crédito.
cional, segundo os princípios constitucionais informadores do Art. 795 - A extinção só prod1:1z efeito qu indo declarada
processo, não no problema da duração do processo. Tampouco, por sentença.
quadra pensar numa "injustificável exceção ao princípio geral
da prescritibilidade das obrigações", pois a prescrição incide O Art. 40 da LEF; simplcsmcnlc, reprojuz nq campo
sobre o direito de ação, e não sobre obrigações nem sobre o das execuções fiscais a matéria da suspensão da execução, tra-
processo que se instaura em decorrência do exercício desse tada genericamente pelo Art. 791 do CPC. Como extingue o
direito e da realização da citação. É disso que trata o Art. 156, direito de ação, a prescrição não _tem o condão de extinguir o
V do CTN, ou seja, da extinção do direito de ação, que tem processo de execução e, prova disso, ,é que não r;onsta entre as
como conseqüência a e_xtinção do crédito. hipóteses de extinção previstas no Art. 794 do CF'C.
Poder-se-ia alegar que o Art. 40 da LEF S:! dirige não ao
devedor executado, mas ao sócio responsável tributário pelo
9.6.4.2. O Art. 40 da LEF é preceito débito fiscal. Entretanto, como o aludido .respo11sável só entra
de direito processual civil no processo por ocasião do redirecionamentc da execução
fiscal, n[ o faz sentido opor-lhe nesse momento suspensão do
O Art. 40 . da Lei n. 6.830/80 não trata de prescrição, prazo de prescrição. O •prazo de prescrição po· ariza credor e
nem pode, pois refere-se à suspensão do processo de execução, Estado-juiz, na consecução do direito de ação; não há espaço
que somente se constituiu porque não houve a prescrição. nessa rel:lção jurídica linear para as figuras do cevedor ou res-
Assim, não há que se falar neste caso em prescrição, que é ma- ponsável. Em suma, '!..J?.~~-S-~I~Ç~-º-- com~__çutce...F is..c.Q1L.Es~do- _
téria de direito tributário, e sim . em suspensão da execução, juiz, e sü pode ocorrer a·ntes do proce_s~o de_ ~.ç_ec1;1ç[9.J:ilç_~J :
matéria nitidamente de direito processual civil. Aliás, calha né.ii1 dun.nt~_~ll)Ji~P.9is~ - .
cotejar o Art. 40 da LEF com os Arts. 791, 794 e 795 do CPC: • • •••• •Sendo assim, também não se sustenta a ~·uarta proposi-
Art. 40 - O juiz suspenderá o curso da execução, ção. Como o Art. 40 da Lei n. 6.830/80 não trata de matéria de
enquanto, não for localizado o devedor ou encontrados prescrição tributária, mas de suspensão do proc~sso de execu-
bens soore os quais possa recair a penhora, e, nesses ção fiscal, é tema de direito processual civil e não de normas
casos, não correrá o prazo de prescrição. gerais de direito tributário, que exigem lei compl !mentar.
EURICO MARCOS DlNIZOESANTl 1)1:C/\OÉNCI/\ E l'RESCRl(.'Ã O NO OIREITO ·1IUIJU'l /\IUO
238

9.6.S. Prescrição intercorrente no direito posit,ivo 9.6.5.1. Inexistência da prescrição intercorrente


no processo administrativo
. - . :117
Fa1a-se em prescnçao intercorrente· • tanto no proce-
dimento administrativo - quando há decurso de determinado Consideramos que não pode haver prescrição intercor-
tempo sem julgamento de impugnação ou recurso administra- rente no processo admiri'istrativo porque, quando há impugna-
tivo depois ·de iniciado o processo - quanto no processo de ção ou recurso administrativo durante o prazo para pagamento
execução fiscal - quando há decurso de determinado tempo do tributo, suspende-se a exigibilidade d,o crédito, o que sim-
sem promoção da parte interessada depois de iniciado o pro- plesmente impede a fixação do início do prazo~ rescricional.
cesso. 338 • MARCO AURÉLIO GRECO 341 interpreta o prazo do
Representa bem a primeira proposta ÂNGELO parágrafo único do Art. 17,3 do CTN como prazo de perempção,
VEROSPI. 339 e não de prescrição ou decadência. Assim, 1,refere o termo
Interposta uma impugnação ou recurso, e não julgados perempção à expressão prescrição intercorrente no processo
pela autoridade competente dentro do prazo, estaria administrativo. Para tanto, diferencia o "direito de lançar" do
fluindo a contagem da prescrição. Teríamos, assim, o "direito de constituir o crédito" e entende lançamento como
que se chama de "prescrição intercorrente", pois ocorre procedimento administrativo, regido pela pere~pç~o, praz_o
durante o procedimento administrativo. fatnl estabelecido para a Administração concluir o procedi-
Representa ,bem a segunda proposta o Min. JOSÉ DEL- mento de lançamento, sob pena de extinção do di: ·eito de fazê-lo.
GADO,340 conforme extrato de ementa do REsp 208345/PR do Também não aderimos a essa tese, primeiro porque
STJ, em que foi relator: entendemos que não é admissível a distinção entre "direito de
Após o decurso de determinado tempo sem promoção lançar" e "direito de constituir o crédito" e, s,!gundo, porque
da parte interessada, deve-se estabilizar o conflito, pela tanto o parágrafo único quanto o caput do Ai t. 1?3 do CTN
via da prescrição, impondo segurança jurídica aos liti- fazem referência à decadência do direito de ) Fisco lançar.
gantes. Além disso, o fato de o parágrafo único deterriinar um termo
inicial(,, notificação, ao sujeito passivo, de med ida preparatória
indispensável ao lançamento) diferente dos ter 110s iniciais do
inciso I (primeiro dia do exercício seguinte àc uele em que o
lançame:ito poderia ter-sido efetuado) e do incirn II (a data ~~e
tornar ddinitiva a decisão que anular o lançancnto por v1c10
337. Cf. EDUARDO MARCIAL FERREIRA JARDIM, Dicionúrio jurídico
tributário, p. 129.
formal) não é suficiente para caracterizar uma 011tra modalidade
, - 342 '
338. Segundo HUMBE~TO TEODORO JÚNIOR, " Hoj e, pode-se dizer tranqui lo de exttn1:ao.
o entendimento jurisprudencinl de que n Fazenda Pública não pode nbnndonar a
execução fiscal pendente sem correr o risco da prescrição i111crcorrcu1e, desde é
claro que a paralização dure mais do que o qüi nqüênio legal". Lei de execuçcio 341. Peren·pçlio 110 la11ça111e11/o lrib111ário , p. 508.
fiscal, p. 121. 342. Não , acdilmnos que exista ~111alqucr cmburaço pan~ q~1:: o lcgisln_dor com-
339. Os direitos do contribui111e e a prescrição i111ercorre111e, p. 41. plemi>nlar : nslilUa a aludida perempção, mas, diante do d1re1D po:;10, nao encon-
340. Cf. http://www.stj.gov.br. tramos bas,: empírica para construção da perempção.
EURICO MARCOS l)INIZ DE SANTI DECAlJÊNCl.f\ E PRESCRIÇÃO NO DIIU: ITO Tl,ll!UTÁRIO 24 1
240
.1

9.6.5.2. Inexistência du prescrição intcrcorrcntc tu ação da Iide, no sentido de não correr a pre~crição da açiio
no processo executivo enquanto essa se processa, é uma conseqüência necessária do
conceito e fundamento jurídicos da prescrição, e, portanto,
~bjeto d~_pr_~!5criçã<? é _a relação j1Jrídica_lÍ_!1~~~ q1;1~se independentemente de preceito expresso, ela exi:-;te, como parte
integrante da teoria prescricional. Os que discutF m e lhe negam
e~t~-~~l~~--~-11tre Fisco_.~ E~.t~~o-Juiz, nacia tem a ver: c9ma, rela~
çao angular formada na composição do proces,so. Portanto, a existência em nosso direito positivo olvidam Of princípios ba-
~rescrição extingue o direito de ação, e não o processo execu- silares do instituto da prescrição e estudam o iireito, em um
tivo fiscal, que é decorrente do exercício do direito de ação. terreno movediço, fora dos alicerces fundamen:ais em que se
- •d . , . ,, 141
A noção da prescrição intercorrente decorre da idéia de assenta a sua construçao outnnana : •
Quadra, ainda, consignar que também descabe qualquer
que a "citação pessoal feita ao devedor" conforme dispõe o
aproximação desarticulada entre o esboço da prescrição no
Art. 172, I do CC (Art. 174 parágrafo único, Inciso I do CTN)
direito tributário e a prescrição no direito penal, com o fito de
tem o condão de reiniciar novo prazo prescricional, agora, no
suscitar fundamentação jurídica à. prescrição intercorrente,
decorrer do processo. Tal visão deflui da confusão criada pela
porque uma é completamente diferente da outra.
noção de interrupção (Item 7 .5) sempre associada a reinício,
Em direito penal, segundo DAMÁSIO ~- DE JESUS,
quando a nosso ver, essa hipótese simplesmente corta a conta-
prescrição 6 "a perda do poder-dever de punir do Estado pelo
gem do prazo de prescrição, interrompendo seu fluxo pelo sim-
não-exercício da pretensão punitiva ou da prete11são executória
ples fato de rec.onhecer como pressuposto da citação o efetivo
durante certo tempo" ?44 Vê-se, portanto, que no direito penal a
exercício do direito de ação. P~ra que continuar o curso de
prescriçr;o incide durante o processo, pois nãc é a perda do
prazo extintivo do direito de ação se esta já foi exercida!?
direito de ação, mas do poder-dever de o Estado aplicar a pena
Entende ANTÔNIO LUÍS DA CÂMARA LEAL que em razão da demora no •decurso do processo enquanto, no
a
"Enquanto corre demanda judicial, o direito está em atividade
direito tributário, a prescrição só é possível qmindo de seu su-
pleiteando o seu reconhecimento pela sentença; a ação está
sendo exercitada para fazer valer o direito por ela protegido; o cesso antes do processo.
titular vigilante e ativo, põe em movimento os meios judiciais
de defesa de seu direito;_ como, pois, durante essa atividade
9.6.6. Direi to ao débito do Fisco no caso de
afinnativa do direito, correr contra ele a prescrição, se essa tem
pagamento de crédito prescrito
como causa eficiente a inércia e supõe a negligência do titular
como uma de suas condições elementares?". E segue sen- P. doutrina entende que o pagamento de crédito tributá-
tenciando: "Uma. vez, pois, que a interrupção da prescrição se rio após ) prazo decadencial faz surgir o direito fo repetição do
dá pela citação para a demanda judicial, ou pela alegação do indébito, pois, como a decadência extingue o direito, o Fisco
direito em juízo, subordinando-o ao pronunciamento da sen- nã~ detém titularidad~ •jurídica para reter ess:1 quantia paga
tença, a prescrição se torna impossível, durante o processo
p~rq~e ~ão_ mais se R~.e.~~-~!ri~u.ir ao titular a inércia e· a negli~
genc1a, suas causas eficientes, e, por isso, enquanto dura a 343. Da pr,iscrição e da decadência, p. 210.
dema~da, não se inicia um novo prazo prescricioQal. A perpe- 344. Prese, içcio penal, p. 17.
242 EUl<ICO MARCOS ülNli'. Ili, SANTI DECAIJÍ:NCI,\ E l'IU:SCIU('.À< > NO lllREI l'O 'I l<IIIU l!\RIO 241

extemporaneamente. Diversamente, se o contribuinte extingue instigante analogia com · os jogos em que, num primeiro mo-
crédito tributário prescrito, não tem direito a pleitear a restitui- mento, não há a figura do juiz, que, quando ir stituído, funcio-
ção do montante pago, pois a prescrição extingue a ação, mas • nará corno marcador <~/icial dos pontos e cuja; diretivas serCTo
não o direito, que remanesce em estado latente. Em síntese, em definitivas. Explica que nesse tipo de sistema passa a ocorrer
caso de pagamento de dívida objeto da decadência, cabe o di- um novo tipo de interação entre os actantes do j)go, que deixam
reito de restituição; em caso de pagamento de dívida prescritu, de opinar sobre a pontuação ou sobre as regras do jogo, porque
não cabe direito de restituição. as determinações do marcador são indisputáve; ; e definitivas. E
O direito positivo tributário superou essa questão, com a contínua:
redação do Art. 156 V do CTN, segundo a qual "extinguem o
crédito tributário" a prescrição e decadência. Neste sentido, é verdade que, para fins do jogo, "o
Operando-se a decadência, fica extinto o direito de resultado é aquilo que o marcador diz qt e é". Mas é im-
constituir o crédito tr,il)utário pelo lançamento ou por ato do portante ver que ·a regra da pontuação c:ontinua a ser o
contribuinte. E, se,ainda assim for constituído por ato de autori- que era antes e é dever do marcador ap'icá-la o melhor
dade ou do contribuinte, aplica-se a regra da decadência do que puder. A afirmação "O res~ltado é aquilo que o
direito de crédito do Fisco, que determina a extinção do crédito marcador diz que é" seria falsa se tives ;e o significado
tributário constituído intempestivamente. de que não havia regra para pontuar, sal ,;o a que o mar-
Operando-se a prescrição, fica extinto o direito de ação c:ador escolhesse discricionariamente aplicar. Podia
de o Fisco cobrar o crédito tributário. E se, ainda- assim, o con- fazer de. facto u~ jogo com tal regr.t e poder-se-ia
tribuinte espon~aneamente pagar esse crédito prescrito, aplica- encontrar algum divertimento ao jogá-lc, se a discricio-
se a regra da prescriçüo do direito do Fisco ao crédito, que 11ariedade do marcador fosse exercid1 com alguma
detennina que a ocorrência da prescrição extingue o crédito zegularidade; mas seria um jogo dife ·ente. Podemos
tributário. chamar a tal jogo p jogo da "discriciona ·iedade do mar-
Em suma, o pagamento de crédito tributário decaído ou C'ador".
prescrito, em razão das aludidas normas que cuidam da extinção
do crédito tributário, faz surgir para o contribuinte o direito ao Não é diferente dessa situação o que oco~re nos julgados
débito do Fisco. do STJ ("marcador oficiaF') com relação às rcgns de prescrição
da exect:ção fiscal em relação ao sódo responsá 1el.
9.6.7. Prescrição da execução fiscal em relação
Há reiterada jurisprudência do STJ entendendo que o
ao sócio responsável
redirecicnamento da execução fiscal, requerendo a citação de
um dos :.ócios coobrigados, após decorridos cín :o anos desde a
HERBERT HART/ 45 analisando a definitividade e a ordem d~ citação da pessoa jurídica·, autoriza a declaração da
infalibilidade das decisões dos tribunais superiores, faz uma ocorrência da prescrição. Diante desses casos, o STJ firma a
posição de que o Art. 40 da Lei n. 6.830/80 é .inaplicável, posto
345. O conceito de direito, p. 155-6 que diz r;!spcito ao devc~or, não ao responsüvel.
244 lfüRICO MARCOS l)INIZ DE SANTI llECADÉNCli\ E l' Hl ~,CRl<,:Ao N(l lliHEITO ·n u nUT ÁRIO 24'.'i

As duas ementas abaixo transcritas retratam bem o demanda, e no bojo do qual o despacho que ordenou a citação
entendimento do STJ 346 nessa matéria: reconheceu o termo consumativo da prescriçto que até então
Tributário. Prescrição. Redirecionamento da execução corria. Entendemos, portanto, que após o exercício da ação que
fiscal. Prazo. A ordem de. citação da pessoa jurídica instaurou o processo, descabe falar-se em prese ·ição.
interrompe a prescrição em relação ao sócio quando se Os Arts. 156, V do CTN, que cuida da extinção do cré-
lhe imputa a responsabilidade solidaria pelo débito dito tributário em decorrência da prescrição, e 174 do CTN, que
(CTN, Art. 125, III); .o redirecionamento da execução trata da extinção do direito de ação,' não têm o :ondão de extin-
fiscal, nesse caso, deve se dar no prazo de cinco anos, guir processo executivo, conforme vimos nos itens anteriores,
inaplicável o Art. 40 da Lei 6.830, de 1980, que diz res- nem tampouco podem servir de fundamento jurídico para impe-
peito ao devedor, não ao responsável. Recurso especial dir a citação do sócio responsável e a conseqüe1,te form ação da
conhecido e provido. relação jurídica subsidiária. Não há fund ame 1to jurídico que
(STJ, 2ª TunJ)a, REsp 142397-97/SP, rei. Min. Ari Par- J·ustifíque esse impedimento, pois a ação tci exercida, não
, - 147
gendler, j_./ 16.09. 1997, DJU 06.10.1997; P. 49.955). havendo mais, portanto, que se falar em prescni :ao.
Além disso, descabe a dissensão sobre a aplicabil idade
Tributário. Prescrição. Sócio. Art. 125, III, CTN. do prazo prescricional ao devedor ou ao responsável: a nosso
1. De acordo com o Art. 125, III, do CTN, em combina- ver, em relação a nenh.um dos dois cabe exc:ogitar de prazo
ção com, o Arl. 8°, Parágrafo 2°, da Lei n. 6.830, de prescric:io nal, po is a prescrição dirige-se ao crefor: a prescri9ão
1980, a o'rdem de Citação da pessoa jurídica interrompe exti ngue o di reito de ação que se estabelece eiii~J~j~~t~-_cr~d~r
a prescrição em relação ao sócio responsável tributário e Estaco-jutz. Q devedor e os sócios en,contra 11-se e!T\ rel~ça~
pelo débito fiscal. de ·direto materi al com o sujeito-credor, relaç1'o esta que nao e
2. Fenômeno integrativo de responsabilidade tributári a
que não pode deixar de ser reconhecido pelo instituto da objeto !!J~:~~r-~~f~·.
pressupondo-se que cons :e da certidão da
prescrição, sob pena de se considerar não prescrito o dívida 1tiva o nome do devedor e dos co-respunsáveis ex vi do
débito para a pessoa Jurídica e prescrito para o sócio Art. 202, I do CTN,' 48 dívida esta que regu am1ente inscrita
responsável. Ilogicidade não homenageada pela ciência - -.
jurídica.,3. Recurso provido. 347. Referimo-nos aqui à argumentação desen volvida em d !spacho, t~anscri_to no
(STJ, ln Turma, REsp 146629-97/RS, rei. Min. José relatório do Min. JOSÉ DELÔADO, relativo à ementa eo S'.!'J acima ~1tada:
Delgado, j.09.12.1997, DJU I6.03.1998, p. 30). ''TRIBU':ÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. FALTA DE CI':'AÇAO DO SOCIO-
GEREN""E. PRESCRIÇÃO. A citação do sócio-gerente aI ,ós cinco (5) anos do
IançameI to do débito fiscal, ainda que a empresa lenh~ s do citad_a, não tem o
A relação jurídica processual em face do sócio decorre condão de interromper a prescri,ção prevista no art. 1~~• rnc. V, c.onJug~do ~o,m o
do processo de execução original, iniciado com o respectivo ar!. 174. ambos do Código Trihuti\río Nacion al D1v1da r rescrlla é inex1g1vcl ,
exercício do direito de ação, no momento da propositura da Recurso mprovido.(11.93.).
348. Cf. HUMBERTO TEODORO JÚNIOR: "Sendo a execução fiscal regulada
pela Lei 1. 6.830 puro procedimento executivo, continua a meu ver, in~~mi ssívcl ,
346. No mesmo sentido: REsp 138847/RS, REsp 139930/MG, AERESP cm fcilo da espécie, pretender a Fazenda o accrIaIrn:nto de responsribi11dades de
45636/SP, REsp
142397/SP, REsp 45636/SP, REsp 34461/SP, REsp 3096/RS. 1crccirns ou coobrigados que não liguraram no processo administrativo e co111 r;1
EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI
DECADÜ.NCIA E 1'1(1:SCRl(.'.ÃO N~l DIIWITO TI\IUL•TÁRIO 247
246

51
goza de presunção de certeza e liquidez e tem efeito de prova crição, é outra conduta, não é direito de açã,,/ por isso não
pré-constituída, conforme dicção do Art. 204 do CTN, não há pode e não deve ser objeto da prescrição.
como admitir que, exercida a ação, alegue-se ainda prescrição. É certo que u autoridade e a definitividade das decisões
No direito tributário, onde a matéria da prescrição é do STJ são inquestionáveis. Contudo, como e-:1sina HERBERT
colocada de forma expressa e objetiva, afigura-se renitente HART: 352 "'O resultado é que o marcador diz que é' não é uma
absurdo aceitar a prescrição como modalidade extintiva do pro- regra de marcação: é uma regra que atribui autoridade e defini -'
' tividade à aplicação por ele em casos concretos da regra de
. 1 cesso executivo, pretendendo implementar "a paz entre os li-
tigantes" ou "estabilizar a relação jurídica entre as partes inte- pontuação". Remanesce assim, o seguinte prol::lema, como diz o
ressadas, afastando ç..conflito". Aliás, •nessa matéria, a alusão f1 legcnd,írio regente da Cadeira de ·Jurisprudê1 -cia da Universi-
impossibilidade .dé aderir à "corrente que defende ação impres- dade de Oxford:
critível"349 denota mais uma vez a confusão entre ação e pro- o fato de as decisões oficiais em des:ompasso com a
cesso, conforme apontamos em item anterior, fato que parece regra de pontuação serem aceitas nãP significa que o
fomentar essa vitanda idéia de que a prescrição deve extinguir o jogo de críquete ou de basebol já não esteja a jogar-se;
processo: a presçrição em direito tributário não tem esse fim e por outro lado, se estas distorções fo. !m freqüentes ou
consuma-se no exercício do direito de ação. se o marcador repudiar a r~gra de pontuação positivada,
Conforme ensina ANTÔNIO LUÍS DA CÂMARA há que chegar um ponto em que, ou os jogadores não
LEAL: "Seria uma aberração da lei, se ela permitisse a prescri- aceitam já as determinações destoante! do marcador ou ,
ção da ação, como fundamento na inércia de seu titular, quando se o fazem, o jogo vem a alterar-se; já não é críquete ou
essa ação se acha em movimento e, por ela, o ·titular se põe e basebol que se joga, mas "discricíonariedade do marca-
conserva em atividade". 350 dor" _353
Como reza o Art. 262 do CPC, "O processo civil Desse modo, segundo as premissas deste trabalho, a
começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso partir ,fo direito positivo, entendemos q'ue nã() corre prescrição
oficial". O impµlso ao processo é responsabilidade do Estado- no processo de execução, não havendo, porta 1to, qualquer res-
juiz, não do credor, ainda que o autor seja o Estado-administra- trição :Jessa natureza que impeça o redirecion 1mento dil execu-
ção. A prestação jurisdicional é dever do Estado-juiz. A. não- ção fücal em relação à pessoil do sócio . .
ação (inação) no processo é outra ação irrelevante para a pres-

1 quem não se formou o título executivo, que é a Certidão da Dívida Ativa". Lei de
.j
·,
execução fiscal, p. 24.
349. Cf. voto do Min. JOSÉ DELGADO: "O fenômeno da prescrição cm nosso
direito segue a tendência contemporânea de que através do decurso do tempo
aliado à inércia da parte interessada, quer pessoa jurídica, quer pessoa privada,
351. So ,rc n conl'usfü1 provm:ada pelo voc.íhulo "uçiio", ver o estudo de PAULO
eslabiliz.ar a relação jurídica entre "s f/{11'/l!.I', af(l.1·tm1tlo o co11j1ito. Pirmc nessa CONIU,1)O, /11Imd11ç11o ,i tl'orio gl'ml do 1Ir11t1·.I·.I·0, p. 70,
conslruçi'lo doutrinária e jurisprudcncial, inspirada na missão do direito eswbelc-
cer a paz emre os li1iga111cs, 11ão consigo me filiar a corrc111e que defende açcio 352. O 1 //IICCÍIO de direito, p. t'sei-9.
imprescritível". REsp n. 146629, Voto, p. 3 (destacamos). 353. Traduçüo liv_re do original: Tire conceJII of /aw, Oxford university Prcss,
350. Da prescrição e da decadência, p. 21 O. 1961.
\. •
EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI
1
248 llECAll"NCIA li l'IU:SCIW,'ÀO NO llllU:ITO '1 IUllllTÁIUO
1

9.6.8. Execução fiscal dos créditos cobrar judicialmente o crédito tributário, com base na imediata
constituídos pelo contribuinte in.,crição da dívida ativa a partir da entrega desse documento.
Há diversas manifestações na doutrina . acoimando esse
A Lei n. 6.374, de 1° de março de 1989, do Estado de dispositivo como sendo inconstitucional. /.lega-se, basica-
São Paulo, que dispõe sobre ICMS, estabelece no seu Art. 57 mente, que: (i) o Fisco não pode atribuir às declarações do con-
que "o imposto a recolher, deélarado em guia de informação, é tribuinte a natureza de confissão, 355 (ii) a inscrição da dívida
exigível independentemente da lavratura do auto de infração ou ativa é ato de controle 'de legalidade que pressupõe o lança-
de notificação" e o Art. 62 acrescenta que "o imposto devido, mento/ 56 (iii) a ausência de notificação ao contribuinte fere o
declarado e não pago, deve ser inscrito na Dívida Ativa, após princípio do contraditório 357 e da igualdade entre o contribuinte
30 (trinta) dias cóntados do vencimento" . . que declarou e não pagou• em]58relação ao contribuinte que não

Conforme Art. 150 do CTN, remanesce o crédito tribu- pagou e nem sequer declarou:· . . ,
tário constituído pelo próprio contribuinte, que apura o quantum Não podemos aGeitar essas quatro aleg ições de LUCIA
devido &em qµalquer interferência do Fisco (ICMS, IR, IPI, VALLE FIGUEIREDO e ALBERTO XA VIEF. como razões de
P!S, Finsocial etc), mas não realiza o pagamento. É a entrega da inconstitucionalidade da Lei n. 6.374/89, pdas razões que
declaração que perfaz juridicámente a constituição do crédito · expomos agora. O ato formalizador do contdbuinte não tem
formalizado pelo contribuinte; operando a intersubjetividade qualidade de confissão, mas de constituição do crédito, posto
exigida pelo direito para introduzir no ordenamento jurídico que de,:orre da consecução dos deveres instru nentais exigidos
essa norma jurídica individual e concreta.354 em lei que se encontram a cargo do contribuint:::. A inscrição da
Nesse caso, conforme vimos em capítulo anterior, dívida ativa é ato de controle de legalidade qm, pressupõe seja o
aplica-se a regra da pre~crição do direito do J:isco com consti- lançam:::nto, seja o ato de formaliz;ação do p1rticular, formas
f.' tuição do crédito pelo contribuinte, cuja hipótese supõe o fluxo determinadas pelo direito para constituição do c:rédito.
de cinco anos, contados da data da entrega do documento de O princípio do contraditório só se apli ;a diante da efe-
formalização dó crédito ao Fisco (DCTF, GIA etc), sem pa- tiva divergência com relação aos fatos, circunstância que não se
gamento antecipado, ex vi dos Arts. 150 e 174,do CTN, e cujo dá no caso em tela, posto que o contribuinte C:eclara e o Fisco
conseqüente cuida da extinção do direito de ação do Fisco concorda com o crédito constituído promovendo a aludida ins-
crição na dívida ativa. Exigir o con~raditório independen-
354. Como dii DANIEL MENDONCA, a comunicação não se produz até que o
receptor tenha decifrado a mensagem. Por isso, é imperativo, no processo inter- 355 . ALl:ERTO XAVIER, A execução fiscal nos trihuto: de lançame1110 por
pretativo do direito, investigar não só a capacidade codi licadorn do legislad~ir. homologc çiio, p. 1O.
mas, também, a capacidade decodificadora do cidadão e as ~iticuldades que o
356. LÚCIA V ALLE FIGUEIREDO, A i11scrição da d(vida ativa como ato de
destinatário universal dos mandamentos jurídicos pode enfrentar. Com el"ei to, os
problemas do receptor, na interpretação da lei, situam-se em dois planos cronolcí-
controle c'o lançamento, p. 85.
gica e espacialmcnte diversos: o primeiro está no aio enunciativo da mcns.t);<.: 111, 357 . LLJC!A VALLE PIGUEIREDO, /1 i11.l'áir1io i/11 ilivid:1 ilti1•11 co11w oto dl'
empreendido pelo legislador no momento da produção normativa; o segundo controle do /a11ça111ento, p. 87,
instala-se no produto desse ato, que é o próprio enunciado legal, cm decorrcnd11 358, ALBERTO XAVIER, A execuçiio fisi:ci/ nos Jri/J11tos de lnnçam e11 to por
de certos defeitos inerenles ao código lingüístico. lllterprclació11 e aplicació11 dei homologa,::cio, p. 13, e LÚCIA.YALLE FIGUEIREDO, A i11scrição da dívida
derec/10, p. 18. oliva co1110 ato de cu111mle do la11çm11c11to, p. 85.
250 EURICO MARCOS OINIZ OE SANTI

temente de qualquer divergência torna o c.ontraditório, como o


disse PAULO CONRADO/ 59 um "sem-sentido, dando azo ,1
uma invisível inversão de valores, na medida em que se trans- "@
-
o

"°" V ,
oV")
V
b/J
"°" C"I
.._..
forma o indigitado princípio (do contraditório) em uma técnica
de índole puramente formal". Fosse assim o pagamento ime-
~
o
eV -
o
V")
-V
-V

diatamente feito após o lançamento, também feriria o princípio


do contraditório, posto que o contribuinte simplesmente con-
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V")
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cordou com o crédito estipulado pelo Fisco.


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Com relação ao princípio da i.gualdade, notamos que o o o 3
8 '11. õo o "" o u
o ~ -~ õ (!) "' o
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tanto o contribuinte. que declarou e não pagou quanto o contri-
buinte que não pagou e nem sequer declarou tiveram em princí- «)
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pio a oportunidade de declarar e de pagar. Não receberam o -o.~-o


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mesmo tratamento porque tiveram condutas diferentes diante


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das mesmas regras impostas pelo Fisco. Embora não tenha
cumprido com o dever de pagar, o primeiro cumpriu com o ou 1
o
dever d~ declarar; por isso, . apesar de não ser notificado V)
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(abrindo mão do direito ao contraditório), pagará tributo e multa ~ ·,
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apenas pelo não pagamento. O segundo não cumpriu nem com "'O
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o dever de declarar nem com o dever de pagar; por isso, será
notificado e pagará, além do tributo e da multa pelo não paga- ·-<lJ
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mento, multa adicional pela falta de declaração. ·-o'"'


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Ora, se o próprio contribuinte é que se cbloca nesta ou o
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naquela situação, como alegar desigualdade entre condutas que ie.u:: ,;, • ; >(v,«I.
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se encontram na esfera do agir do contribuinte? Declarar e não ·-'u"' -oo ..... .g
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pagar, submetendo-se à inscrição da dívida ativa ou, simples- V)


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mente, não declarar e nem pagar, aguardando o ulterior lança- '"' 'd31- ·::"'
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mento e auto de infração, são opções do contribuinte perante a C':l ;,a
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359. O problema do conlraditório nos casos de lançamento por homologaçiio,
p. 116.
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CAPÍTULO 10
Dcca ciência e prescrição do direito do cor tribuinte

10.1. Decadência e prescrição como formas extintivas do


direito d., contribuinte
ti)


.1 Utilizaremos a expressão decadência do ,Jireito do con-
·~ tribuinte (Item 4.3), para a extinção do direitc de pleitear o
débito do Fisco pela via administrativa, e prescrição do direito
do contri.'-Juinte, para a extinção do direito de cocrar o débito do
X
Fisco peLl via judicial. As normas gerais e abstr:ltas que regem
a decadência e a prescrição do direito do contribuinte produzem
regras in:iividuais e concretas que veiculam, em seu antece-
dente, o fato concreto do decurso do tempo qJalificado pela
rn X
omissão do contribuinte e, em seu conseqüente, a extinção,
respectiv 1mente, do direito de pleitear administrativamente o
débito e do direito à ação judicial de cobrança do débito do
Fisco.
Convém salientar que as nor,mas gerais e abstratas da
X decadência e a prescrição do direito do contribuinte são cons-
truídas, basicamente, a partir dos mesmos dispositivos do CTN,
coisa que pode parecer estranha ao intérprete mai~ apegado ao
V)
V)
plãno da literalidade. Oc~rre que o -plano da literalidade não
O\
está em correspondência biunívoca com o plano das normas
,.
11.
. ·:
l)[CAl)l~NCIA E !'RESCRIÇÃO NO DIREITO TRlllUTÂIOO 255
254 EURICO MARCOS DINll DE SANTI

cipado porquL: cl'etuado pelo contribuinte antes do lanr;arn~nto,


jurídicas, c.:01110 se fosse possível ligar por um fio urna norma a
um artigo e vice-versa.J1,o conforme determina a lei. •
Por essa razão, sendo o pagamento antecipado ·ou não,
consideraremos para a construção das regras de decadência e
prescrição do direito do contribuin'te que o dies a quo det!rmi-
10.2. A data da e~tinção do crédito tributário nado pela extinç:ão do crédito ocorre na data do pagarr ento,
independentemente de homologação ulterior.
A data da extinção do crédito · tributário, ex vi do
Art. 168, Ido CTN, para os tributos sujeitos a lançamento e a
ato de formalização do contribuinte é a data efetiva do pa- 10.3. Critér:os f ara composição das regras da decadência e
gamento,~ qu~ haverá de funcionar como dies a quo dos prazos
prescrição do direito do contribuinte
de decadenc1a e de prescrição do direito do contribuinte.
. A partir do início da década de 90, como veremos cm Considerrndo norma jurídica, não como o artigo OJ dis-
item subseqüente, .no caso dos rributos sujeitos a ato de formali- positivo express) no plano da literalidade, mas como ;:que!a
zação do contribuinte, o dies a quo foi alterado para a data da estrutura condicional, construída no plano das significaçêes do
h~mologaçã~ expressa ou tácita do pagamento, em função da direito, que vincJ\a uma hipótese normativa a uma consqüên-
remterpretaçao das expressões extinção do crédito tributário cia, verificamos que há várias hipóteses nonnativas para deca-
(Art. 168, I do CTN) e pagamento antecipado (Art. 150, § I'1). dência e para pt escrição do direito do contribuinte, cad, qual
. De acordo com essa nova interpretação, o pagam<inro advinda de uma norma geral e abstrata específica. Neste capí-
antecipado passou a ser visto pelo STJ como um dever de pagar tulo, a partir do füeito tributário positivo, cuidaremos de cons-
futuro que a legislação tributária antecipou e, conseqüen- truir essas regra:;, identificando as hipóteses e os conseqüentes
temente, neste caso, a extinção do crédito tributário passou a normativos que, imbricados, orientam a extin'ião do direito do
operar-se com a homologação.
Em verdade, sabemos que pagamento antecipado não contribuinte.
Para compor essas regras, identificamos dois critérios
co~~ponde u pagamento provisório à espera de seus efeitos baseados no direito positivo: (i) ocorrência ou nãQ ocorrência
extmtlvos, mas de pagamento que ocorre antes do prévio exame de desfazimento da decisão anterior que tenha motivado o
da au ton'd ade ad mintstrativa:
• • • 161 Em suma, o pagamento é ante-
pagamento e (ii) ocorrência ou não ocorrência·de· decisão admi-
nistrativa que denegue a restituição.
360. A "interpretação literal", cm rigor, anota PAULO DE BARROS CARV A-
LHO, seque! P?dc ser tr~tada co~o método de interpretação, póis aprisiona o
exegeta no s1gmlicado básico dos signos. Curso ele direito tribwário, p. 105.
361. ~este sentido, escreve LUCIANO AMARO: "Fala-se, ainda, do dever de
an1ec1par o pa~amen.to. Ora, "ante<:ipar'' seria pagar antes do momento em que o pr,ítica, o 'dever de antecipar o pagomcnto'. significa que o sujeito passivJ tem o
pagam~n~o sena d~v1do. ~n.~. º, pagm.ncnto,' no caso, é devido mi ,dalil que a lei encargo ue valornr os fatos i1 visln ua norm~ aplicável, determinar il rn:11~ria tri-
deternunar, e, port:U)l~, nau e :1ntec1pm.l~ (snlvo se o devedor ,1uiser llllil.í-lo butável, indentilicar-sc como sujeito passivo, calcular o mont,inte do t.1buto e
nntcs_da .c!ata). O legislador, ohvsamcntc, tinha nu cubcça o prcconccilo do cl'eilu pag,í-lo, sem que qualquer i1uloridade precise tomar qualquer providência". Di-
conslltUllV0 do lan~amcnto; por i~so, averbou 'antecipação' do pagamento, pois
rei/O 1rib11uírio bmJi/eiro, p. 342.
achou que este cst1vc..~sc sendo fcllo untes de o crédito ter sido co11.1·tituitlo. Na
t:LJl(tUJ M/11\COS DINIZ Ull S/\NTI l>El'/\ULNCI/\ E l'l(ESCRI(,'./\() NO l)IHErrcriRIBLITÁl(I() 257

10.3.1. Primeiro critério: ocorrência ou não ocorrência de cnteno, fazendo-se sempre necessário o ulterior alo cJc dcsfa-
desfazimento de decisão anterior que tenha motivado o .
Z11ne11to da dcctsao.·
• - 1M
pagamento

A ocorrência ou niio ocorrência de desfazimenw de 10.3.2. Segundo critério: ocorrência ou não ocorrên< ia de
decisão alllerior que tellha motivado o pagàmento (Art. 165, 1II decisão administrativa que denegar a restituição
e J68, II do CTN) refere-se à circunstância em que o conlri-
buinte, antes de efetuar o pagamento, questiona o crédito tribu- A occrrência ou não ocorrência de decisão ad:ninistra-
tário e obtém decisão condenatória judicial ou adminislrativa tiva que denegar a restituição (Art. 169 do CTN) re 'cre-se _h
detenninando que efetue o pagamento; realiza, então, o pa- circunstância em que o contribuinte efetua o pagamcnt,i, depois
gamento, mas ocorre ulteriormente o desfazimento da decisão, requer o adi111plemento do débito do Fisco pela via acl ninistra-
~
por re,ormu, anu 1açao,
- revogaçao- ou resc1suo:
• - 1()2 tiva e obtém decisão desfavorável ao seu pedido.
O motivo alegado pelo contribuinle pode ser o mesmo
da alegação anterior, a qual motivou a decisão condenatória,
mas podem ser outros, também chamados supervenientes, como 10.4. Duas r !gras que regulam a decadência do direito do
por exemplo: a ulterior edição de lei interpretativa favorável ao contribuinte
contribuinte/63 a declaração de invalidade ou ineficácia de
negócio jurídico, a declaração judicial de inconstitucionalidade Para e bter as duas regras que regu\am a decad~ncia do
da lei tributária e a remissão por eqüidade. direito do co1 tribuinte, importa· apenas a ocorrência 011 não do
Mas, adviria-se, a simples ocorrência do motivo, seja primcirc crité ·io. . . .
ele qual for, não é condição suficiente para a aplicação des te Assim, há duas regras gerais e absti:atas que d1s :1plinam
a decadência ,fo direito do contribuinte: (i) a regra ger:tl da de-
cadência do direito do contribuinte e (ii) a regra da de :adência
362. A respeilo do Art. 165, Ili do CTN leciona HUGO DE BRITO MACHADO:
"Já a terceira hipólesc diz respeilo aos casos cm que o sujeito passivo pagou cm do direito do e ontribuinte com desfazimento da decisão.
face de decisão condenatória. Questionou e perdeu. Diante chi decisão que o Nos itens subseqüentes individualizaremos essas duas
condenou ao pagamento, pagou. Mas continuou questionando e finalmente con- regras gerais 1! abstratas, identificando as respectivas hipóteses
seguiu o desfozimento daquela decisão. O CTN refere-se a reforma, anulaç5o,
revogação e rescisão de decisão condenatória. Para efeitos práticos não importa a e conseqüênci 1s normativas.
distinção entre esses diversos modos de desfazimento da decisão, pois conduzem
todos ao mesmo resultado que é o de ensejarem a restituição do indébito. Niio
custa, porém, esclarecer o sentido qe cada uma dessas expressões. Há reforma
quando o desfuzimcnlo se d,\ por decisão de órgão superior, com exume de
mérito; a:iulação, quando apenas por vício formal; revogação, quando o próprio
órgão prolator da decisão modifica, em face de recurso que admita retratação; e 364. O fato da publicação elo acórdão relativo à ação direta de inconslilucio~ali-
finalmente, há rescisão quando a decisão já havia transitado em julgaelo e é des- dadc ela lei tributária, caracterizando o pagamento do tributo como indevido,
feita mediante ação rescisória". Curso de direito tributário, p. 138. sozinho, não tem o, conelão de configurar este critério, posto que se~undo esse
363. MARCELO FORTES, Repetição do indibilo 110 sistema tributário brasi- dispositivo essa medida só produzira o efeito enquanto motivo_superv :nicnle da
leiro, p. 325. reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.
llll('lllli':N< 'I ,\ 1: l'IU:,Cl!IÇÂO NO llll(EJ'f'O 'f IWIU l'i\lUO
258 1:tmlCO MAIKOS IJINIZ llE S/\NT I 259

10.4.1. Regra geral da decadência do direito do contribuinte 10.5. Três re~Tas de prescrição do direito do contril>uintc

Esta regra apresenta cm sua hipótese a não oco1-r(~11ciu . . '...1rn olit_cr '.is três reg ras que disciplinam a presei ição do
de desfazimento de decisão anterior que tenha motivado o direito ao contribuinte combinamos os dois aludidos crilérios e
pagamento e o fluxo de cinco anos qualificados pela conduta dessa_ c~mbinação, resultaram as· seguint.es çegras de pr<scriçã~
omissiva do contribuinte, contados da data da extinção do cré- d? ?ire1to do contribuinte: (i) regra geral da prescri;:ão do
dito tributário pelo efetivo ato de pagamento do contribuinte. dlíelt~ ~o cor. tribuinte, (ii) regra da prescrição do direito do
O conseqüente normativo desta regra extingue o direito c~n~1bu111t~ c_c,m desfazimento da decisão e (iii) regra e.a pres-
de o contribuinte pleitear na via administrativa a satisfação de cnçao do d1r~110 do contribuinte com denegação d~ restituição.
seu direito ao débito do Fisco. Note-se que essa norma extintiva Nos 1lf ns subseqüentes, individualizaremos cada uma
não é suficiente, ,ainda, para· extinguir o próprio débito do Fisco. dessas três regras gerais e abstratas de prescrição, identí ~cando
as respectivas hipóteses e conseqüências nonnativas.

10.4.2. Regrn da decadência do direito do contribuinte com


desfazimento da decisão 10.5.1. Regra geral da prescrição do direito do contril uintc

Esta regra apresenta em sua hipótese a ocorrência de Esta regra supõe a seguinte combinação dos critérios:
desfazimento, no curso do prazo da regra de decadência ante- não ocorrêncic de desfazimento da decisão anterior ao pa-
rior, de decisão anterior que tenha motivado o pagamento e o gamento e não ocorrência de decisão administrativa que dene-
fluxo de cinco anos qualificados pela conduta omissiva do con- gue a restit~iÇ~•>, além do fluxo de cinco anos qualificados pela
tribuinte, contados da data da reforma, anulação, revogação ou conduta om1ss1·1a do contribuinte, contados da data da extinção
rescisão de decisão condenatória judicial ou administrativa que do crédito tributário.
detenninou o pagamento.J65 O conseqüente normativo desta regra extingue o direito
O conseqüente ncnnativo dessa regra extingue o direito de aç~o _de o co~1t:ibuinte pleitear na via judicial a realização de
de o contribuinte pleitear na via administrativa a satisfação de seu d1re1to ao debito do Fisco.
seu direito ao débito do Fisco. O_ prazo prescricional desta regra coincide com o prazo
Note-se que o desfazimento da decisão anterior há de decadencial da regra geral da decadência do direito do ,:ontri-
ocorrer antes do termo final do prazo de decadência estipulado buinte, de maneira que, se não ocorrer fato impeditivo de curso
pela regra geral da decadência do direito do contribuinte, específico de um desses prazos, ao final do lapso de cinc,> anos
ºº~.t~~os da extinçã~ do crédito, as duas regras são aplicá-
v~1s,. ~pe_rando-se simultaneamente a decadência e a p, escri-
çao do direito do contribuinte. .

365. A funcionalidade desta regra de decadência por suas caràcteríslicas asseme-


lha-se muito a regra da decadência do direito do Fisco que construímos· a partir do 366_. N~s.le senti~o, MARCELO PAULO FORTES DE CERQUEIRA, Repetição
Art. 173, li do CTN (v. Item 8.2.5).
do mdehuo 110 s1.1·1e111a lrilmtário hrasileiro, p. 320.
260 ,EURICO MARCOS OINIZ OE SANTI IJECALJ,°:NCIA E l'I\ESCRIÇÃO NO [)IREI l'O TR_IIIU l' /\ IUO 26 1

10.5.2. Regra da prescrição do direito do contribuinte com O prazo prescricional desta regra coincide com J prazo
de.negação da restituição dccadcncial da regra cfo decadência do direito do conl ·ibuinte
com de.\fazimento da decisão, de maneira que, se não ocorrer
Esta regra supõe a ocorrência de decisão ad111inistrativa fato impeditivo do curso específico de um desses prnzos, ao
que denegue a restituição e o fluxo de dois anos qualificados final do lapso de cinco anos contados da extinção do cr<: dito, as
pela omissão do contribuinte, contados da data da decisão ad- duas regras sfo aplicáveis, operando-se simultaneamente a
ministrativa que denegou a restituição ex vi do Art. 169 do decadência e a prescrição do direito do contribuinte.
CTN, desde que o dies ad quem desta regra seja coincidente ou
posterior ao dies ad quem da regra geral da prescrição do di-
reito do co11tribuínte. 10.6. Outros casos pertinentes à prescrição e à dccadi ncia
O conseqüente normativo desta regra prescreve a extin- do direito do< ontribuinte
ção do direito de··ação de o contribuinte pleitear na via judicial a
realização de seu direito ao débito do Fisco. Selecionamos, neste tópico, alguns casos contro·1ertidos
Note-se que a aplicação desta regra _garante o acesso à com relação à decadência e à prescrição do direito do contri-
via judicial, sem prejuízo da via administrativa. O Art. 169, buinte, para o; quais ·propomos soluções baseadas nus cinco
portanto, há que ser encarado como benéfico ao contribuinte na regras acima d,:scritas. São estes os casos: (i) suspensão e inter-
medida em que pode estender o curso do exercício do direito de rupção dos prnzos de decadência e de prescrição, do di ·eito do
ação por mais um período de até dois anos. contribuinte, (ii) a interrupção prevista no Parágrafo ú•1ico do
Art. 169 do Cl'N, (iii) a tese dos dez anos do direito de o con-
tribuinte efetu1r a restituição do indébito tributári o e (iv) a
10.5.3. Regra da prescrição do direito do contribuinte com hipótese de A[1IN.
desfazimento da decisão

Esta regra supõe a ocorrência de desfazimento da deci-


são ao pagamento e o fluxo de cinco anos qualificados pela 10.6.1. Suspensão e interrupção dos prazos de decadência e
omissão do contribuinte, contados da data da reforma, anu- de prescrição do direito do contribuinte
lação, revogação ou rescisão da decisão condenatória judicial
ou administrativa que determinou o pagamento ex vi dos Os fatos extintivos caracterizam-se pela condut 1 omis-
Arts. 165, III e 168, II e do CTN. siva do su~eito titular do direito e pelo curso do tempo, f Odendo
O conseqüente normativo desta regra prescreve a extin- a suspensão recair sobre um ou outro desses aspectos. Falare-
ção do direito de ação de o contribuinte pleitear na via judicial a mos- em suspensão fáctica, quando houver impedimento do
realização de seu direito ao débito do Fisco. exercício do direitoJ 67 ou exercício efetivo desse direit()' 68 que
Note-se que o desfazimento da decisão anterior há de
ocorrer antes do termo final do prazo de decadência estipulado
pela regra geral da prescrição do direito do contribuinte. 367. Exemplo: a suspcnsiio do prazo dccadencial cm razão da liminar qut impede
a prática do ato administrativo de lançamento.
i;URICO MARCOS DINIZ DESANTI DECADENCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRI0UTÁRIO 263

desqualifiquem como omissiva a conduta do titular do direito, e Qual se.ria para o contribuinte o correspondente fa s~s-
em suspensão legal, quando a descontinuação do prazo for pensão do pnEo por l 80 dias no caso de íns~ri?ão da d~v1d~
detenninada expressamente por lei, _ independentemente de ativa, que est~ previsto legalmente para o_direito do _F1s_co.
haver qualquer circunstãncia efetiva que impeça o exercício do Seria impossívd fixar qualquer suspensão porque o cont11bu1nte
direito. 369 não inscreve dívida ativa, nem realiza qualquer outro ato que
As.sim, a composição desses prazos de decadência e seja equivalent! a este. ' . ,
prescrição haverá sempre de respeitar a suspensão fáctica, ou Imagin1:-se, ainda, o que podena ocorrer se o agente pu-
seja, não corre prazo decadencial ou prescricional sem que se blico aplicasse para o Fisco a interrupção prevista no Art. 165,
qualifique como g_mi~sivn a conduta do tilular do direito. llI do CTN, qJe dilata o prazo para o contribuinte ex~rcer o
Diversaniente da suspensão fáctica, que é intrínseca às direito ao indéJito. Diante do desfazimento de decisão conde-
hipóteses das regras de decadência e prescrição, as hipóteses de natória de.sfavc rável ao Fisco, seria reaberto o prazo de :iresc ri~
suspensão legal e interrupção exigem expressa previsão legal . ção de cinco a11os para que o Fiscó cobrasse, novamente, o c_ré-
Por isso, não há coincidência das hipóteses de interrup- dito pela via executiva. Isto é claro se a igualdade p~e:endida
ção e suspensão legal das regras de decadência ou prescriçéio vales.se para ar,bos os lados, o que evident~mente ser~1 neccs-
do direito do Fisco com as das regras de decadência e prescri- s,írio, caso se pretenda instaurar realmente a 1,gualdade!·
ção do direito do contribttinte:' 70 Trata-se de regras totalmente
diversas, com fins e objetivos díspares: as primeiras cuidam da
constituição e cobrança de obrigações tributárias; as .segundas, 10.6.2. A interrupção prevista no parágrafo único do
da constituição e cobrança de débitos do Fisco. Além disso , Art. 169 do C'i"'N
uma e outra percorrem processos de positivação absolutamente
diversos, fato que impossibilita ao aplicador do direito utilizar Dois as,Jectos relativos ao Art. 169 do CTN são comba-
as previsões de interrupção e .suspensão legal destinadas às tidos pela dout;ina: primeiro o. prazo mais exíguo de dois ~nos;
regras de decadência ou prescrição do direito do Fisco para segundo, a interrupção prevista no parágrafo únic~ dess,~. d1_spo~
compor e informar as regras de decadência e prescrição do sitivo que recomeça seu curso pela metade_, a _p~rt1r da '.nt1ma-
direito do contribuinte, e vice-versa. ção vai idamente feita ao representante JUd1c1al da I·azenda
Pública interessada". .
Quanto ao primeiro aspecto, pare~e haver una_ má
interpretação dos efeitos desse prazo de dois anos. A partir da
368. Exemplo: duranle o período de lempo em que se discute administrativamente
ou judicialmente o débilo do Fisco ficam suspensos, respectivamente, os prazos
de decadência e de prescrição.
371. Assim, se como pretende o STJ: "Em face do princípio da igualdade das
369. Exemplo: a suspensão do prnzo de prescrição por 180 dias por ocasião da partes, no pi-.lcesso (isonomia processual), idêntico t_ra~amen!o de~e .~er dispen-
inscrição da dívida ativa. sado ao contribuinte nas uções em que postula a repct1çao do 1~déb1to • Tamb_ém,
370. Cf. PONTES DE MIRANDA: "As regras jurídicas sobre prescrição hão de cm face dos mesmo princípio, idêntico tratamento deve ser dispensado DO Fisco
ser interpretadas estritamente, re,pelindo-se a própria interpretação analógica". nas ações que postul.1 o crédito tribut,\rio! O que causaria, isto sim_. una grande
(... ) "Os casos de n:lo correr,_de suspensão e de interrupção da prescrição são desvantagem parn o contribuinte. (STJ, REsp 82553-95/DF, rei. Min. [emócnlo
taxativos", Tratado de direita privado, vol. 6, p. 126. Reinaldo, Iª Turma, j. 29.04.1996, DJU 03.06.1996, p. 19.214) .

. . , ______ .. . . . .. ,.
,,

264 EURICO MARCOS UINIZ 1)1,; Si\NTI IJl:Ci\UÍ'.NCI/\ E !'RESCRIÇÃO NO DmEITO TRIUUTARIO 265

extinção do crédito tributário, contam-se cinco anos para a for- em regra, momentâneo, isto é, realizada a interrupç:io, a pres-
mação do fato jurídico extintivo da regra geral da prescrição crição recomeça um novo curso imediatamente. Mas, se a inter-
do direito do contribuinte, Supon~amos que o contribuinte, rupção se fi,z por meio de ,um processo judicial ela ,fura tanto
quatro anos e onze meses qepois de ter feito o pagamento, uma tempo quar.to o processo interruprivo, de modo qt!e o novo
decisão denegatória de pedido de restituição administrativu, curso prese ·icional só se inicia na data d9 último a:o do pro-
conseguindo com isso mais dois anos de prazo, perfazendo um cesso" (des: acamos). E trazendo à colação JOÃO MENDES
total de 6 anos e onze meses para o exercício de seu direito. JÚNIOR para explicar que o processo não é um sé ato, mas
Portanto, essa regra é a garantia de que o contribuinte pode uma seqüên :ia de atos que s~guem para diante até :hegar ao
esperar a decisão administrativa de seu pleito, posto que se seu último t~rmo, volta à carga, afirmando peremptc,riamente:
denegada restará aberta a via judicial. Nos casos em que o con- "se a interru ?Ção se der em virtude de demanda judiei 11, o novo
tribuinte ficaria teoricamente prejudicado, porque os dois anos prazo só coEerá da data do últtmo ato do processo. Não vemos
17
teriam o dies ad quem anterior ao dies ad quem 'do prazo de razao • ou'I timo
- para d,11v1'd asso bre qua 1seJa ' ato do processo " : •s
cinco anos, o problema se resolve adotando-se como termo final É ce1 to que o recurso de encurtar o prazo da prescrição
a data mais favorável ao contribuinte, ou seja, o die.1· ad quem foi beneficia~ o Estado para não eternizar o direito de ação que
do prazo de cinco anos. ressurge, como novo prazo, a cada interrupção. Ocorre que a
Quanto ao segundo aspecto, afora a atccnia no uso do idéia de interromper o prazo presente no parágrafo único cio
172
termo 1nt1maça<i
• • - no 1ugar de c1tuçao,
• - como apontou HUGO Art. 169 do CTN, e que adveio do Art. 9" • do Decreto
. 171
DE BRITO MACHADO,- • a redução do prazo pela metade 20.910/32, c,rnsidera a idéia acima exposta de que não corre
não deve causar espécie, nem cabe interpretá-la, como faz prazo de pre!)crição durante o processo. Sendo assim , realizada
MANOEL ÁLVARES, como "prescrição intercorrente, somen- a aludida interrupção, o prazo pela metad½ só começa a correr
te reconhecida se o autor for responsável pela injustifici.lda após o termo do processo desde que não haja julgamento do
paralisação do processo" :'74 mérito. Trata-se, em verdade, de dispositivo que, prr.vendo a
Reiteramos que de prescrição intercorrente não se trata possibilidade da coisa julgada formal, garante ao cor tribuinte
porque não corre prescrição durante o processo. Este aliás é o prazo superveniente para proposição da demanda. Em suma, a
fundamento do Art. 173 do Código Civil: citução do representante judicial do Fisco demarca o dies ad
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do quem da regra geral da prescrição do dirl';ito do co11 ribuinte 1

ato que a interrompeu, ou do último ato do processo que enquanto o dies a quo desse. novo prazo pela metade tem seu
a interromper. início, conforme a lição de CÂMARA LEAL, a partir d) último
Disse muito bem ANTÔNIO LUÍS DA CÂMARA ato desse processo.
LEAL, interpretando esse dispositivo que: "O ato interruptivo é,
372. ALCIDES JORGE COSTA entende que se trata de efetivo ato de intimação
com o tito específico de interromper a prescrição, Noras taquigrálicas de palcslra
proferida no Curso do IBETIIBq_T.
313. Curso de direito tribu_táfi(i, p. 141.
374. Código tributário ná~iona/, p. 635. 375. Da prescriçiív e ela clecculi:11cia, p. 208.

- - - - ••·- - - -·- -·
266 EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI
DECADiiNCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRlllUTÁIUO

10.6.3. A tese dos dez anos do direito de o contribuinte


homolo ;ação, faz-se impossível cogitar em extin ;ão do
pleitear a restituição do débito do Fisco
crédito 1ributário.
Tudo começou com o reconhecimento da inconstitucio- - A falt1 de homologação, a decadência do diH:ito de
nalidade do Art. 10, primeira parte, do Decreto-lei n. 2.288/86, repetir e, indébito tributário somente ocorre, decorridos
que instjtuiu o cóntrovertido empréstimo compulsório sobre cinco ar.os, desde a ocorrência do fato gerador, a,;resci-
consumo de combustíveis. Ante o enorme fluxo de ações pro- dos de •>Utros cinco anos,. contados do tenno frrnl do
postas cm meados dos anos noventa pleiteando a rcstituiyão do prazo deferido ao Fisco, para apuração do 1rihuto
gravame - llagrantcmcntc inconstitucional - depois ele con- devido.
sumado o prazo para propositura dessas ações - i.é, cinco anos Embargos de divergência em recurso especial n. 4 U20-
contados da data da exti nção do crédito tributário e.x vi do 5/RS (9t./0039612-0) - DJU 17/04/1995.
Art. 168, I, do CTN -, encontrou-se o Poder Judiciário na Essa preposta dilatadora db prazo do direito do contri-
contingência de fazer justiça. E foi assim que se inicióu a novel buinte pleitear o débito do Fisco outorgou uma nova inteípreta-
proposta exegética desse disposi tivo de modo fa vorável i1 am- ção aos Arts. 163, I; 150, §§ 1° e 4°, e 156, VII do CTN:
pliação do prazo para o exercício do "direito à repet ição do Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre
indébito", liderada por HUGO DE BRITO MACHADO, ent ão quanto aos tributos cuja legislação •atribua ao sujeito
juiz do TRF da 5" regi ão. passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio •
Nessa interpretação, o termo inicial do prazo deixo u de exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ·ato
ser o "pagamento antecipado" e passou a ser o momento d:1 em que a referida autoridade, tomando conhecimento da
homologação tácita ou expressa desse pagamento, sob a alega- atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente
ção de que a extinção do crédito só se realiza com u ulterior a homologa. •
homologação do pagamento, ex vi do Art. 156, Vil do
§ 1° O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos
CTN. Firmou-se, assim, a denominada tese dos dez anos de
deste artigo extingue o crédito, sob condição resol11tória
decadência do "direito de o sujeito passivo repetir o indébito
. • da ulterior homologação do lançamento.
tributário", conforme o segui nte acórd ão do STJ:
RECURSO ESPECIAL N. 42.720-5/RS (94/0039612-0) ( ... )
RELATOR: MIN. HUMBERTO GOMES DE BAR- § 4" Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de
ROS 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato gerador;
EMENTA: expirado esse prazo sem ·que a Fazenda·Pública se enha
?

TRIBUTÁRIO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO pronunciado, considera-se homologado o lançame lto e


- CONSUMO DÉ COMBUSTÍVEL - DECADÊN- definitivamwte extinto o crédito, salvo se comprcvada
CIA - PR~SéRIÇÃO - INOCORRÊNCIA. a ocorrência de dolo, fraude· ou simulação.
- O tributó' arrecad2do a título de empréstimo c0mpulsó-
rio sobre o consumo de combustíveis é daqueles sujeitos Art. 156. Extinguem o crédito tributário:
a lançament~ por homologação. Em não havendo tal
( ... )
268 t,URICO MARCO!-i l)INIZ [)!.;$ANTI DECAUI.NCIA E l'R(~<;Cl(JÇÂO NO lJIKEITO TIOUUTÁIUO 269

VII - o pagamento antecipado e a homologação do lan- riamente uma co ·1dição suspensiva que retarda o efeito do
çamento nos termos do disposto no Art. 150 e seus pagamento para a lata da homologação.m
parágrafos l11 e 4° A condiçã,) resolutiva não impede a plena e_ficácia do
Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se pagamento e, portanto, não descaracteriza a extinção do cré.::lito
com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: no átimo do pagamento. Assim sendo, enquanto a homologação
. I - nas hipóteses do inciso I e II do Art. 165, da data da não se realiza, vi gora com plena eficácia o pagamento,~· 8 a
. extinção do crédito tributário_ partir do qual podt:m exercer-se os direitos advipdos desse .1to,
mas dentro dos prazos prescricionais .
. Assim, entendeu-se qt·e a extinção do crédito tributário, Se o funda nento jurídico da tese dos dez anos é que a
prevista no Art. 168, Ido CTN, está condicionada à homologa- extinção do crédi to tributário pressupõe a homol9gação, o
ção expressa. ou tácita do pagamen~o. conforme Art. 156, VII do direito de pleitear e débito do Fisco só surgiria ao final do prazo
CTN, e não ao próprio pagamento, qúe é considerado como de homologação ti cita, de modo que; se o contribuinte ficaria
mera antecipação, ex vi do Arl. 150, § l II do CTN. Como, nor- impedido ele plcitc.ir a restituição antes do prazo de cinco a11os
malmente, a cxtinc;ão do crédito tributário se realiza com a
homologação tácita, que sucede cinco anos após o fato jurídico
377. LUCIANO AMARO aponta a impropriedade técn ica de o CTN dirigir :i
tributário ex vi do Art. 150, § 4° do CTN, passou-se a contar homo/og(lçtio como condiçflo resolutivn: "Ora, o,s sinais aí estão trocados. Ül! se
cinco anos da data do fato gerador para se configu_rar a extinção deveria prever, como condição resolutório, n negativa de homologação (de tal
do crédito, e mais outros cinco anos da data da extinção, 'perfa- sorte que, implementad a essa negativa, a extinção restari n resólvida) ou tcri~ de
zendo o prazo total <le I Oanos. dcli11ir-s1;, como conc.Jiçã<l .1·11spi:11siva. a homologação (no senti.do cJ1; que a ex in-
çãn Iicariu suspensa até u implemento du homologação). Direito tributário /;ra-
Não podemos aceitar esta tese, primeiro porque paga• Ji/eiro, p. 344
mento antecipado não significa pagamento provisório à espera 378. Nesse sentido, Min. DEMÓCRITO REINALDO, ao relat'ar os Emabargos de
de seus efeitos, mas pagamento efetivo, realizado antes e inde- divergência em REsp n. 48. 113-7/PR, averbou: "b lançamento, no êaso, const"tui
pendentemente de ato de lançamento. mero 1110 dccl aralório de situação preexistente, prcconstituída. E a homologa\ ào
liclil (ou expressa) como instrumento declaratório, tem efeito retro-operante, ,,u.
Segundo, porque se interpretou o "sob condição reso-
cm outras pulavras: tem efeitos ex 11111c, alcança o ato do pagamento, declarando a
lutória da ulterior homologação do lançamento" de forma equi- sua eficácia, no momento em que n realizou". Também julgou, assim, SÉRGIO
vocada. Mesmo desconsiderando a crítica de ALCIDES JORGE NOJIRI : "Verifica-se, pois, que a extinção do credito tributáriq se opera no rr."•
COSTA, 376 para quem "não faz sentido (... ), ao cuidar do lan- mente e.lo efetivo recolhimento do tributo, ainda que este tenha sido exigido ilc-
g:ilmcnte, Neste sentido, o direito de- pleitear n restituiçào está sujeito ao prazo :le
çamento por homologação, pôr condição onde inexiste negócio ci nco nnos (art. 168, CTN), a contar da data da extinçãõ elo crédito tributário, q 1e
jurídico", pois "condição é modalidade de negócio jurídico e, é o da data do p<1gamenlo inclevido. Contudo, por estar esse pngamcnto sob co n-
portanto, inaplicável ao . ato jurídico material" do pagamento, dição rcsolut6ria, seus efeitos se darão somente n partir do lançamento. tríbutár io
não se pode aceitar çonéiição resolutiva como se fosse necessa- (que no caso em apreço é licto), nos lennos do art. 150, § 4'' (... ). A meu ver, e
cslc é o ponto crucinl da questão, os efeitos deste lançnmcnlo (leio peram-se :x
111111:. A homologaçllo apcrrns rc.conhece o pagamento havido. declarando, co m
c:fei/0,f rclroativos, a extir ção do créd ito tribu tdrio. Portanto, o prnzo de rcst i tL Í·
376. Da extinção d"s obrigaçõçs 1ribu1círias, p. 95. Também é esta a argumcntil· çíl o é de 5 anos, a contnr to efetivo pugamcnlo csponlãneo do tributo indevido <u
ção de SACHA CALMON NA YARRO COELHO, Curso de direi lo 1ributário a maior", (Sentença, Al los n. 96.0902460-2. Sorocaba, 2' Vara da Jus1i,:a
brasileiro, p. 699. Feclernl, p. 9).

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DECAO ~NCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TI\II.IUTARIO 27 1
270 EURICO MARCOS DlNIZ De SANTI

para homologação, tendo que aguardar a extinção do crédito ção de co.11bustíveis sujeito a lançamento por hon1olo-
pela homologação. gação, à falta deste, o prazo decadencial só começa a
Portanto, a data da extinção do crédito tributário, no fluir após o decurso de cinco anos da ocorrência do fato
caso dos tributos sujeitos ao Art. 150 do CTN, deve ser a data gerador, s )mados de mais cinco anos, contados estc:s da
efetiva em que o contribuinte recolhe o valor a título de tributo homologa-;:ão tácita do lançamento. Por sua vez, o ~ razo
aos cofres públicos e haverẠde funcionar, a priori, como dies a prescricional tem como termo inicial a data da declara-
quo dos prazos de decadência e de prescrição do direito do ção de inconstitucionalidade da Lei em que se frnda-
contribuinte. Em suma, o contribuinte goza de cinco anos para mentou o .~ravame".
pleitear o débito do Fisco, e não dez. Erige-se, 1ssim, a data da publicação ' do acórdão da
ADIN como dies ,·1 quo de novo prazo prescricional (e decaden-
cial), invalidando todos os efeitos advindos da aplicação da lei
10.7. A tese ·do início do prazo de prescrição com o trânsito julgada inconstitucional aos casos concretos anteriores a esse
em julgado da ADIN dies a quo, como se aquela lei tivesse nascido ·morta, como se
"toda lei, adversa à Constituição, é absolutamente nula; não
, I" :JR I M as sa bemos que a con hec1•cl a 1úe1a
• 1esmen te anu 1ave
s1mp •,I , •
O STJ têm defendido;m com supedâneo nos julgados
do então juiz do TRF da 5ª Região, HUGO DE BRITO MA- ele ALFREDO BUZAID decorre da concepção :1c que o di reito
CHADO (AC n. 44.403-PE) e na doutrina de RICARDO funciona independentemente de ato de aplicação humana, o que
LOBO TORRES,.w.o que o reconhecimento da ADIN pelo STF não é absolutamente verdade: a lei é, constitucional até que um
tem o condão de reabrir o prazo de prescrição para o contri- ato de aplicação de agente competente diga que .é inconstitLcio-
buinte: • nal.
Embargos de Divergência em Recurso Especial
n. 43.995-5/RS
Relator: Min. Cesar Asfor Rocha 10.7.1. Os limites do controle de constitucio~alidade
EMENTA: Tributário - Empréstimo Compulsório
sobre a aquisição de combustíveis - Decreto-Lei A máquina do tempo instalada no interior do direito não
n. 2.288/86 - Restituição - Decadência - Prescrição permite que seu operador navegue para o passado que quise::r, o
- Inocorrência. . --· passado do direito é repleto de cavidades obstruídas pelo lluir
Consoante e.IJtendimento fixado pela egrégia Primeira do tempo que se tornam inacessíveis pelo próprio din.ito.
Seção, sendo o empréstimo compulsório sobre a aquisi- Quando tomado como fato jurídico, o tempo cristaliza a traj !tÓ-
ria de positivação no presente e consolida juridicamente o pas-
sado.
379. Por exemplo, o voto do Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, no
REsp n. 48.113-7-PR, DJU 29.05.95, p. 3. No direito tributário, a segurança jurídica gara'nte a eon-
3_80. "Na declaração de inconslilucionalidade da lei a decadência ocorre depois de solidação do passado impondo ao Legislativo, .que produ;. as
c~nco anos da da_ta do trânsito em julgado dn decisão do S'JF proferida cm ação
d1r~ ou da p~bh';llç~o da Resolução do Senado que suspendeu a lei com base cm
decisão profenda 111cuf~111u 1a111wn pelo STF", Restituição de tributos, 169. 381. Da ação direta de '11co11s1i1ucio11alidade 110 direito brasil~iro, p. 128.
272 WRIC.:O Mi\RC.:OS l)INl'l l)[; S/\NTI llECi\!l(,NCI/\ E PllES<.:IUÇÃO NO IJll(EITO 'l'HIIIUTÁl<IO
271

leis, o limite da irrefrocaividade da lei; ao Executivo, que pro- ato jurídico pe ·feito.~ 85 Assim também entende RICJ,RDO ·
duz atos administrutivos, o limite da decadência e uo Judiciário, LOBO TORRE:;, quando diz que: "a invalidade da lei decla-
que produz sentenças e acórdãos, o limite da prescrição. A se- rada genericamente opera de imediato, anulando no presente os
gurança jurídica, portanto, promove a legalidade. garantindo o efeitos dos atos praticados no passado, salvo com relé ção à
passado da lei, sem deixar de assumir a trajetória da lei no pre- coisa julgada, ac ato jurídico perfeíto, ao direito adquiri de ou, o
sente e os seus efeitos, ainda que no futuro essa lei deixe de ser que é a mesma coisa, opera ex tunc relativ_amente a certcs atos
lei. como, por exenplo, a sentença penal; no campo tributárío,
Como ensina GERALDO ATALI;BA/ 82 os efeitos especificamente, isso significa que a declaração de inconstitu-
garantidos pela segurança jurídica são a coisa julgada não cionalidade não atingirá a coisa julgada, o lançamento defini-
sujeita a recurso ou ação rescisória;~ 83 o direito adquirido3M e o tivo, os créditos Jrescritos (... )" .J86
Por isso, o controle da legalidade não 'é absoluto, exige
3l!2. "Como cxprcss:io da scg11r:111i,:a juríuica, o prindpio da lcgalid:1dc. ins<.:rilo o respctto do pre'>ente em que a ]e1. r,01• vigente..
. • 'S7 D ,
a, surgem os
no § 2", com touo o risco a a111plo conteúdo que pcculiariz.a, no contexto de
nossas in:;1i1ui1yõcs. M,1s, 1,11ullém, o princípio asscgurauur da cs1abiliu,1uc d.is
relações jurídicas - rn11s:1grado no ~ J" ;_ que gar:1nlc, alé mes1110 conlra a ohr:1 ereto, m1 seja, subjetivo, e não direito potencial ou abstrato. Consiste, po1·1a1110, na
do legisladi>r, o direito adquirido, o alo jurídico perfeito e a coisa julgada". Rep1í- possibilic.Jac.Jc de ~e extraírem deilos c.Je um aio contrdrio aos prcvis1os .J<.:la lei
blica e consiiwição, p. 154. n111alrncnte vigente. ou seja, é aquele que ·continua a gozar dos efeitos Je uma
norma pretérita mesmo depois de já ter sido ela revogada". (verbete) Dicionário
383. Sobre a propositura de nção rescisória extemporânea v. JAMES MARINS: jurídico.
"Não cremos, ademais, que possam os outros critérios declinados pela doutrina
infirmar o que c.~tamos sustentando. Ao contrário, pensamos que a solução .ido- 385. Cf. MARIA HELENA DINIZ, ato jurídico pe,feitu: "É o consunudo se-
tada robustece o sistema e os princípios invocados pela auloriuida doutrina acima gundo a norma vigente ao tempo cm que se efetuou, produzindo seus efeitos
citada. Veja-se, por exemplo, a hipótese do escoamento do prazo dccadencial de 2 jurídicos, uma vez que o direito gerado foi exercido. A segurança do alo. urídico
anos para a propositura da ação rescisória (contado a partir do trãnsilo em julgado perfeito é um 1.,odo de garantir o direito adquirido pela proteção que se eoncede
da decisão definitiva) nos casos em que o controle concentrado somente venha a ao seu elemento gerador, pois, se a novel norma considerasse como inexistente
ser exercido após ullrnpassado cslc lapso temporal. Naturalmente lerá caducado o alo jâ consumado sob o amparo da precedente, o direito adquirido, fundado cm
direito de a parte lançar mão do juízo rescisório e nem por isso há afronta a lei, dela decorrente desapareceria por falta de fundamento", (verbete) Díci~•nárío
qualquer prir.cípio, seja da isonomia, ou elo devido processo legal. Esta é uma jurídico. •
insuplantável vicissitude do sistema ·que prestigia a segurança jurídica através da 386. A declaração de i11co1wilucio110/idade e a resliluição de lrib111os p. 99.
cvitação da perpetuação das lides. Assis1e; contudo, ao contribuinte ou ao Fisco, o Entende o Titular da UERJ que, também, "as situações que denotem va 1tagem
dir~to de tempestivamente-interpor todos os recursos à disposição no sistema econômica para o contribuinte" não são atingidas pela declaração de inc, ,nstitu-
(due process o//aw), .evitando o trãnsilo em julgado até que a questão constitu- cionalidade, circunstância que a nosso ver somente é aceitável na medida :m que
cional reste definitivamente cristaliuida, seja pelo aqvento de decisão individual essas situações receberem os efeitos da coisa julgada, do alo jurídico perfe to e do
definitiva no STF, seja através de decisão com efeitos erga 011111es cm ADln ou direito adquirido.
ADC, seja ainda por obr.1 de suspensão pelo Senado Federal. A isonomia, inista- 387. A lei é lei porqt?c o legislador diz que é lei, o alo administrativo é .ilo admi-
sc no mesmo compasso, resta igualme11te prestigiada pois somente receberão nistrativo porque a autoridade administrativa diz que é alo administrativo a sen-
soluções diferentes os conir.ibuintes que se encontrem em desigualdade de posi- tença é sentença porc,ue o juiz diz que é sentença. O direito institui consti :uintes,
ções jurídicas". Ação rescisória em malefria tribu1ária diante ,la decisão sobre legisladores, agentes públicos e juízes para serem os sujeitos cnunciad, ires do
constiluciorwlidade pelo Supremo Trib1111al Federal, p. 9. direito, os sujeitos crnnpctenles para produzir e alterar as normas jurídica; que o
384. Cf. MARIA HELENA DINIZ, direito adquirido "é o que já se incorporou compõem. A validat'e do veículo introdutor é estabelecida pelo próprio direito
definitivamente ao patrimônio e à personalidade de seu titular, de modo que nem mediante a articulaç io lingüística de atos de aplicação baseados em re ;ras de
a lei nem um falo posterior pode alterar tal situação jurídica, pois há direito con- produção normativa. Independentemente da possibilidade de virem a ser e uestio-
274 1:Ulll<.:O MAHCOS OINIZ OE SANTI
llEl'AI > ·,NCIA 1: l'IU:SCIUC,:ÂO NO l>ll(EJTO ·1IUIIUTÁ l(IO

prazos judiciais garnntindo a coisa julgada, e a decadênc'ia e a


prescrição cristalilando o ato-jurídico perfeito e o direito adqui- pelo direito adqui 'ido e pelo alo jurídico perfeito e consolidados
rido. Romper o dique do passado com inexorável sede de jus- pela decadência e pela prcscrição.~x•i
tiça e de legalidade pode gerar novas injustiças, pois as pistas
do passado são parcial ou completamente encobertas pelo
tempo (no caso dos empréstimos compulsórios sobre combustí- 10.7.2. Os limites da imprescritibilidade da ADIN
veis, as provas já se foram) e o agente aplicador do direito,
sedento de justiça, pode acabar ferindo a própria constituciona- Como a P. DIN é imprescritível,3 90 todas as ações que
lidade: o Supremo, julgando a lei passada, pode determinar não tiverem por objeto direitos subjetivos decorrei;ites de lei cuja
só que a "lei inconstitucional" é inconstitucional, mas também constitucionalidade ainda não foi apreciada, ficariam sujeitas à
. que a "lei inconstitucional" é constitucional e, que é pior, o reabertura do prazo de prescrição, por tempo indefinido. Assim,
disseminaria-se a imprescritibilidade no direito, tornando os
pode também decretar que a "lei constitucional" é inconstitu-
cional. direitos subjetivos instúveis ai~ que a cons1itucio11,ilid;1de d,1 lei
A finalidade do STF é retirar a norma em desconformi- seja objeto de controle pelo STF. Ocorre que, se a de~adência e
dade com o direito, mas ninguém pode impedi-lo de, por exem- a prescrição perdesse o seu efeito operante diante do cont ·ole
plo, declarar como inconstitucional nonna que a comunidade direto de constitucionalidade, então todos os direitos subjetivos
jurídica entenda ser constitucional e vice-versa, e.g: o STF tornar-se-iam imprescritíveis. •
poderia detem1inar em ação direta que a Lei n. 3.071, de O1 de A decadência e a prescrição rompem o processo de po-
janeiro de 1916, o Código Civil, é inconstitucional! sitivação do direito, determinando a imutabilidade dos diretos
Acórdão em ADIN que declare a inconstitucionalidade subjetivos protegidos pelos seus efeitos, estabilizando as rt;la-
de lei ex tunc)ss retira a lei do sistema jurídico no presente, im- ções jurídicas, independentemente de ulterior controle de cons-
pedindo que produza efeitos no futuro, mas não pode atingir os titucionalidade da lei.
efeitos produzidos no passado, garantidos pela coisa julgada,

nados no plano dos fatos (a lei não foi votuda) ou no plano das normas (ausência 389. Entendemos que o direito adquirido decorre do ato jurídico perfeito. Aml ,os,
de previsão constitucional para produção da lei), esses veículos introdutores entretanto, sujeitam-se à alteração enquanto houver a possibilidade de contrai< da
ganham força normativa com o ato que os constituiu. legalidade, restando coniolidados somente após o fluxo dos prazos de decadêr eia
e de prescrição. Em sun- a, a decadência e a prescrição consolidam o direi to ad-
388. A Lei n. 9.868, de I O de novembro de 1999, dispondo sobre o processo e
quirido e o ato jurídico pc:rfcito.
julgamenlo da ação direta de inconstitucionalidade e du ºação direta de constitu-
cionalidade pcrnnlc o Supremo Tribunal Fedem!, trouxe novas perspclivns para 390. Cr. CLÊMERSON MERLIN CLEYE: "a inconstitucionalidade decorre de
essa questão ao proclamar em seu Art. 27 que ''Ao declarar a inconstitucionali- víi.:io, cm princípio insan;ívcl e, ademais, imune a prescrição, A fiscalização (1'.ls-
dade de lei ou alo r.ormativo, e tendo cm vista razões de segurança jurídica ou de tratu d(I cu11stiwciu1wlicl :ulc ,w direito brasileiro, p. 250. No mesmo sentido v.
ex~pcional lnt~resse social, poderá o Supremo Tribunnl Federal, por maioria de súmula 360 do Supremo rrihunal Federal. Segundo o Min. CELSO DE MEU.O:
dois terços de ~cus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir "O ajuizamento da ução :Jircta de inconstitucionalidade não está sujeito à obier-
que ela só lenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento vância de qualquer prazo de natureza prescricional ou de caráter decadencial, eis
que venha a ser fixado". • que atos inconstitucionai; jamais de convalidam pelo mero decurso do temp )",
(AdinMca I247-PA,j. 17 08.1995, DJU 08.09.1995).
EUl(ICO MAltCClS DINIZ DE Si\NTI DECJ\l)lé -JCIJ\ E !'RESCRIÇÃO NO l)ll(EITO º1RlllU'f Ál<IO 277
276

10.7.3. A impossibilidade da ADIN reabrir regulados pelas lriis regras que construímos a p;1r1ir dos cli:,po-
o prazo da prescrição sitivos cJo CTN.

O acórdão em ADIN que declarar a inconstitucionali-


dade da lei tributária serve de fundamento para configurar juri- 10.8. Quadro sini;ptico da decadência e da prescrição do
dicamente o conceito de pagamento indevido?' proporcio- direito do contribuinte •
nando a repetição do débito do Fisco somente se pleiteada
tempestivamente em face dos prazos d~ decadência e Regras de decadê1,cia do direito do contribuinte:
prescrição: a decisão em controle direto não tem o efeito de
reabrir os prazos de decadência e prescrição.392 1. Dt>.sfazimento ele
Descabe, portanto, justificar que, com o trânsito em jul- Item decisão anterior que Regra aplicável Fundamento le gal
Lenha motivaJo o
gado do acórdii.o do STF, a reabertura do prazo de prescrição se na!!nmcnto
dá em razão do princípio da actio nata.'m Trata-se·de petição de ·-
1041 N Regra geral da 168, Ido CTN
princípio: significa sobrepor como premissa a conclusão que se decadência do
pretende. O acórdão em ADIN não faz surgir novo direito de direito do
ação, serve tão-só como novo fundamento jurídico para exerci- contribuinte ·-
tar o direito de ação ainda não desconstituído pela ação do 1042 s Regra da Art. 165,' III e l•i8, II
tempo no direito.n4 decadência do
direito do
Respeitados os limites do controle da constitucionali- conlrib~inlc com
dade e da imprescritibilidade da ADIN, os prazos de prescrição dcsfazimcnto <la
do direito do contribuinte ao débito do Fisco permanecem decisão

391. Em instiganle artigo sobre o tema, MÁRCIO SEVERO MARQUES delcnc.Jc


.
Rel!rns de orescrição do direito do contribuinte
0 1. De:;fozimenlo 2. Decisão
nesses casos II aplicabilic.lude do Dccrc10 n. 20.910/32, reabrindo os prazos c.J c
repetição do indébito a contar da dala da decisiio do STF cm ADIN Prescriç<io e Item de decisão administrativa Regra Funda ncnto
decadência em matiria tributária. Breves reflexões, p. 26. anterior que que denegou a aplicável legal
tenha moli ,ado o restituição •
392. Na hipótese de rescisão e.la decis5o condena16ria ex vi do Art. 165 do CTN,
teria o condão d~ reabrir esses prazos mediante a aplicação da regra da prescri- pagarnento (Art. 169)
ção do direito do co111ribui111e com desfazime11/o da decisão, desde que não se (Art. 165, III e
tenha operado a rcaliznçiio e.ln regra llernl da prescrição do direi10 do contri/w• 168, II)
inle, 1051 N N Regra geral
393. Segundo ANTÔNIO LUÍS DA CÂMARA LEAL, actio nata significa da
"existência de uma ação exercítavel", Da prescrição e da decadência, p. 11. prescrição
394. Entendemos, com RICARDO LOBO TORRES, que "o procedimen10 de do direito
restituição hão desfaz, ele mesmo, o anterior recolhimento, senão que necessita c.Je do
um outro proccuimenlo intermediário, de nulurcza inslrumcnlal". Curso de c/irci10 contribuinlc
fillanceiro e lrilmt&rio, p. 251.
278 EUIUCO MJ\l!COS DINI ✓.: DE SJ\NTI

1. Desfozimento 2. Decisão
Item de decisão administrativa Regra Fundamento
anterior que que denegou a aplicável legal
tenha motivado o restituição
pagamento (Arl. 169)
(Art. 165, IIr e
168, II)
1052 N s Regra da Art. 169
prescrição Conclusões
do direito
do
contribuinte
com
1. Tempo e direito
denegação 1.1. O processo de positivação do direito está direta1~1ente
da ligado à questão elo tempo: as normas gerais e abstratas regJiam
restituição o futuro, que ainda não é; os atos de aplicação fixam o presente,
1053 s X Regra da 165, Ili e que não permanece, e as normas individuais e concretas ret~m o
prescrição 168, II passado.
do direito
do
1.2. O direito não volta ao passado, constrói o passado no !)re-
contribuinte sente, enunciando-o e instalando seus efeitos para o vir a ser
com deste presente. Essa é a principal função do fato-evento ,'.fato
desfozirnenl jurídico tributário) na estrutura da norma individual. e con,:reta
o da decisão . do lançamento: trazer o passado para o presente, dime11sio-
nando e fundamentando juridicamente o fato-conduta (rehção
., jurídica tributária).
1.3. A máquina do tempo instalada no interior do direito não
permite que seu c-perador navegue para o passado que quis!r, o
passado do direit.) é repleto de cavidades obstruídas pelo fluir
do tempo que se tornam inacessíveis pelo próprio direito.
Quando tornado como fato jurídico,·o tempo cri,staliza a tr~ ·etó-
ria de positivaçãc no presente e consolid~ juridicamente o pas-
sado.

2. Processo de pc sitivação do direito


2.1. Os processos de positivação do direito pertencem à ordem
do acontecimento. sucedem-se no tempo-histórico e no espaço-
socia!, e a priori consomem-se no tempo e espaço de sua r,!ali-

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