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TUDO O QUE FAZEMOS TEM DE SER MOVIDO

PELO DESEJO DE LEVAR A MENSAGEM AO ATENÇÃO AO BREVE RECADO:

ADICTO QUE AINDA SOFRE.


Sobre a Aventura de Levar a mensagem: Grupo da Paz! ESTE TRABALHO ESTÁ EM ANDAMENTO E POR DECISÃO DOS MCR’S
DAS ÁREAS QUE COMPÕE O COMITÊ DE SERVIÇO DA REGIÃO
GRANDE SÃO PAULO ESTÁ SENDO ENVIADO NO PROPÓSITO DE
INCENTIVAR O CRESCIMENTO DOS SERVIÇOS DE H&I, IP e ESFORÇOS
Reunir as partilhas de alguns companheiros que vivenciaram esta aventura DE LONGO ALCANCE, BEM COMO DE LINHA DE AJUDA E OUTROS.
e publicá-las com o objetivo não apenas de registrar nossa história, mas
com o intuito de incentivar nossos membros a levar a mensagem ao adicto -------------------------------------------------------------------
que ainda sofre. Especialmente, os milhares que se encontram presos,
porque foram apanhados. Levar a reunião de NA até eles, fazer com que
POR NÃO TRATAR-SE DE LITERATURA APROVADA DE NARCÓTICOS
(os que tiverem o desejo) o programa de 12 passos possa ser conhecido e ANÔNIMOS POR FAVOR, ORIENTE-SE COM UM SERVIDOR DE NA
experimentado. ANTES DE IMPRIMIR OU DIVULGAR. OS SERVIDORES DE NA ESTÃO
TRABALHANDO PARA QUE A PUBLICAÇÃO VENHA A SER AUTORIZADA,
Para que nenhum adicto, em nenhum lugar, precise morrer dos TALVEZ COMO “POR DETRÁS DAS GRADES – OU OUTRO TÍTULO A SER
horrores da adicção ativa sem ter a chance de encontrar AINDA DEFINIDO.”
recuperação.
-------------------------------------------------------------------
Nós acreditamos! Somos adictos e o nosso problema é a adicção. A única
coisa que NA promete é a libertação da doença da adicção. OBRIGADO POR RESPEITAR NOSSOS PRINCIPIOS!

Nós nos recuperamos! Nada se compara ao valor terapêutico da -------------------------------------------------------------------


ajuda de um adicto a outro.
OS NOMES DOS COMPANHEIROS QUE ENVIARAM SUAS PARTILHAS
Nós nos importamos! Por isso e após lerem as partilhas do Grupo da Paz, FORAM RETIRADOS E AGRADECERMOS POR DOAREM SEUS DIREITOS
leiam algumas histórias do Projeto Cartas que dá continuidade ao serviço AUTORAIS A NARCÓTICOS ANÔNIMOS – REGIÃO GRANDE SÃO PAULO.
de H&I que não para e fazem deste livro uma visão de esperança.

Ao encontrar este livro, se você for um adicto e tiver o desejo de servir,


procure uma estrutura de H&I e ou de Longo Alcance e prepara-te
para uma aventura!
INFORMAÇÃO AO PÚBLICO PARA FAMILIARES – manter-me atualizado e em dia para poder quando chamado, participar.
Participar é ajudar a levar a mensagem.
NO CARANDIRU
Dessa forma participei de Informação ao Público para familiares de
presos no Carandiru. Naquela tarde, tive o contato com mães,
mulheres, filhos e filhas. Pais de presos. Amigos e amigas. Já
Ingressei em abril de 1994, num dos grupos do CSA SUL, sabíamos que estavam chegando aos grupos, adictos que tinham
que ficava localizado em Curitiba – PR. Um mês e meio ouvido falar de nós através de familiares dos presos e através das
cartas de adictos presos que contavam aos parentes que tinham
depois, formou-se por lá um novo CSA.
problemas com drogas, que existia NA e que funcionava.
(CSA = Comitê de Serviço de Área. É formado pelos grupos para desenvolver Respondíamos perguntas e percebíamos que mais alguém iria
serviços direcionados a levar a mensagem ao adicto que ainda sofre, de modo que chegar. As Informações ao Público para familiares eram regulares.
mais adictos possam saber da existência de NA e encontrarem vida após as drogas).
Uma vez conversei animadamente com o companheiro Valente sobre isso.
Aos 90 dias limpos, recebi o convite para fazer um treinamento de H&I – Divulgamos o Grupo da Paz no Boletim Só Por Hoje. Incentivamos que
IP. O Vice-coordenador do Comitê recém-formado fez o convite. Tudo era outras ações fossem feitas em outras áreas.
novo em NA. Havia orientações, mas não tínhamos ainda os Manuais
Ele (o companheiro Valente) teve uma atuação importante no Grupo da
aprovados. Mas éramos movidos pelo desejo de levar a mensagem ao
Paz, que de painel de H&I virou grupo institucional. Longo Alcance, este é o
adicto que ainda sofre e tive o privilégio de receber meus primeiros
nome do subcomitê que trata de grupo institucional.
treinamentos. Um tanto de mistério rodeava aquela reunião. Levei um
gravador para ouvir uma fita com a orientação. Mas a fita não foi levada. Valente são os companheiros que continuam o serviço de NA, animados
Disseram-me para falar por dez minutos. Quatro minutos para falar de pelo encorajamento de um membro cuja liderança efetiva, nós
ativa e seis minutos para falar de recuperação. Assim fiz, com o tempo valorizamos. De fato, nossos líderes são apenas servidores de confiança,
controlado por outro companheiro. Após minha partilha, os companheiros eles não governam. Mas nos mostram o caminho. Encorajam-nos a voltar,
fizeram várias perguntas. Respondi-as. Disseram-me então que fariam os a não desanimar.
comentários e que eu deveria apenas ouvir, não contestar. Portanto não
haveria retorno, nem espaço para justificativas. Nem espaço para debates. Muitos membros anônimos participaram, participam ou vão participar
Por causa disso, continuei voltando. Quinze dias após fui de novo, levei o desse serviço. São animados na maneira simples de servir NA. Boa vontade
gravador. Nunca ouvi a fita. (rsrsrs) Continuei voltando... e algum tempo limpo, são os principais requisitos. Todos reunidos com o
mesmo propósito: levar a mensagem ao adicto que ainda sofre.
Alguma coisa estaria para acontecer e eu senti que precisava fazer parte. Especialmente aos que estão privados da liberdade, reclusos por terem
sido “apanhados”. Enquanto cumprem suas penas, nós da irmandade de
Estavam se desenvolvendo a maneira de treinarmos, de nos prepararmos
Narcóticos Anônimos pensamos em alcançar adictos que precisem de NA.
para o serviço em NA.
Porque só dando podemos manter o que temos. E temos: Fé, força e
Chegaram os Manuais – de H&I, de IP, de Linha de Ajuda. Envolvi-me no esperança para oferecer.
serviço, coordenei subcomitês, liderei painéis, coordenei painéis. Fui
Nesta primeira edição recomeça o trabalho de Literatura da Região Grande
orador. Continuo orador. Desde aquele primeiro treinamento, sou orador.
São Paulo que quer encorajar os membros de NA a participarem
Sempre que chamado e tenho a disponibilidade, vou partilhar.
desta Aventura, porque funciona! O programa de NA é libertador.
Treinamentos periódicos. Reciclagem. É uma parte importante para
Liberta da adicção ativa.
Conheça as Literaturas disponíveis e se você for um adicto, junte-se a nós.
Recuperação é o que acontece nas reuniões de NA. O único requisito para
ser membro é o desejo de parar de usar. O único requisito para o serviço
voluntário em NA é a Boa Vontade e o engajamento nos subcomitês.
Informação ao Público, Hospitais & Instituições, Longo Alcance, Linha de
Ajuda, Eventos, Literatura. Escolha um e participe. Tudo para que mais
alguém chegue num grupo de NA. O grupo, principal veículo de levar a
mensagem.

Boa Leitura! Se o leitor não for de um membro NA, esperamos que aprecie
e que divulgue NARCÓTICOS ANÔNIMOS, um programa viável de
recuperação. Funciona!
que freqüentar aquele lugar, mas no final a companheira sempre dizia que
INVENTÁRIO DO GRUPO DA PAZ 1996 A 2002 nós tínhamos era medo..., e que aquele lugar estava repleto de nosso
povo, adictos que tinham o direito de conhecer nossa mensagem...
E depois de muita, mas muita discussão decidiu-se realizar o
O serviço na Casa de Detenção só se iniciou, porque uma
primeiro contato com a direção da Casa. Elaboramos um oficio explicando
companheira tinha seu marido detido.
nosso serviço e nos oferecendo para realizá-lo, como o guia de serviço
O serviço de H&I na área simplesmente não existia, não
ainda estava em processo de tradução, esse oficio foi levado na reunião de
tinha material, não tinha guias, não existia reunião...
Área para aprovação, “nossa quanta discussão”...
O que existia na época, eram apenas alguns companheiros
Devido ao contato que a companheira já tinha com a direção
que realizavam reuniões em instituições, mas tratavam-se apenas de
da casa, a formalização foi muito simples por parte da Casa de Detenção, e
iniciativas próprias e pessoais dos companheiros.
se colocaram a nossa disposição para a realização das reuniões...
Com o incentivo desses companheiros iniciaram as reuniões
Nessa altura a tradução do manual ou guia de H&I ficou
de estudos de H&I e IP que eram realizadas alternadamente as sextas-
pronta e começávamos a estudá-lo nas reuniões, porém uma nova
férias nas dependências do Grupo São Luiz (na antiga sala) na Rua
discussão surgiu, as companheiras que freqüentavam o subcomitê queriam
Haddock Lobo. Ainda sim, era tudo muito primitivo: reuníamo-nos apenas
participar da reunião que seria realizada. Para a solução desta discussão
para os companheiros explicarem como eram as reuniões, que neste
até agressão física aconteceu, me lembro que uma companheira
momento eram no Bezerra de Menezes onde um companheiro realizava as
inconformada com o impedimento de ir à reunião, jogou uma cadeira nos
reuniões e na Vila Serena que era visitada por outro companheiro, porém
companheiros na reunião do CSA.
esta na época era um grupo de N.A, mas com algumas restrições de
Mas como somente o que é espiritual sobrevive em nossa
freqüência de membros o que começou a gerar algumas discussões sobre o
irmandade, às personalidades foram se acalmando e conseguimos marcar
assunto.
a primeira reunião, que por orientação da Direção deveria seguir o seguinte
Nesta altura em meados de 1994, aconteceu uma Convenção
modelo:
ou um fórum de serviço mundial não me lembro de muito ao certo, porém
Nós passaríamos nas escolas dos pavilhões avisando que na
devido à necessidade de uma direção para o serviço de H&I foi pedido para
próxima semana em horário certo haveria a reunião, e assim foi lembro
a companheira que iria nos representar, que se possível, nos trouxessem
que neste primeiro dia visitamos as escolas, interrompíamos as aulas,
algum material traduzido ainda que para o português de Portugal.
explicávamos um pouco sobre adicção, sobre nossa recuperação,
E assim foi a companheira voltou e trouxe consigo, uma
deixávamos um cartaz afixado e convidávamos todos a nos conhecerem
pequena apostila que continha “O QUE FAZER E O QUE NÃO FAZER EM
melhor na próxima semana no local e horário agendado, que se não me
UMA INSTITUIÇAO DE TRATAMENTO”, era apenas três folhas, porém era
engano era no Pavilhão 04. Ao final desse dia fomos convidados pelo
tudo que precisávamos para conversar.
agente penitenciário, que representava a administração da Casa perante
Nessa mesma época foi realizada troca de servidores da
nós, a conhecermos as dependências da Casa.
mesa do CSA Sul que era o único existente na cidade e Grande São Paulo,
Ele nos levou na maioria dos pavilhões nos mostrando e
e junto com outros companheiros e companheiras ganhamos um local para
explicando como cada pavilhão funcionava, com suas escolas, oficinas,
funcionamento do subcomitê de H&I, que era as sextas-feiras na “casinha”,
igrejas etc..
anexo ao Grupo Alvorada.
Mas o que, mas me impressionou nesse dia e que talvez
Com o avanço dos estudos começamos atender as instituições.
nunca mais consiga esquecer, foi quando ele nos levou a enfermaria do
Primeiro assumimos as que os companheiros iam sozinhos, depois
pavilhão 05, que de enfermaria só tinha o nome, aquilo era um verdadeiro
começamos a expandir para outras, porém não se passava uma semana se
depósito de doentes: um local escuro; úmido, sem ventilação. Cheirando
quer, sem se falar na Casa de Detenção, na maioria das vezes era a
podre. Realmente uma visão sombria. Fomos entrando nos corredores e
companheira que iniciava o assunto que sempre acabava com muita
era incrível o carinho que as pessoas tinham com aquele senhor, enquanto
polêmica e discussão.
todos os presos até então eram chamados de “ladrão”, aqueles doentes;
Havia na época um medo enorme de se visitar um presídio
este agente os chamava pelo nome, explicava para eles quem éramos
não havia companheiros com experiência e a cada reunião em que o
nós e também nos explicavam o que cada um tinha. Devia ter mais ou
assunto era discutido, uma correnteza de absurdos era falado. Falava se de
menos uns 150 doentes na sua maioria doentes terminais, que se
tudo, que os companheiros seriam mantidos refém, que nós não tínhamos
contaminaram ou adquiram suas doenças através da adicção. Lembro-me
que chegamos próximo de um leito, que na verdade era um colchão no Vi que neste subcomitê teria a chance de ver bem de perto dois ou
chão, onde estava um preso muito, mas muito debilitado, o agente tentou três finais prováveis da minha doença. Visitei hospitais psiquiátricos e vi
acordá-lo, mas ele não respondia, até que ele se mexeu um pouco, o pessoas que perderam o contato com a realidade devido ao uso de drogas.
senhor conversou com ele explicou quem éramos nós, o rapaz nos chamou Identifiquei-me bastante, pois no final da minha ativa tive algumas
para perto dele, o agente como que autorizando nossa aproximação me fez alucinações, me via em cada interno e gostava muito por ter contato com
um sinal com a cabeça como quem diz “Não precisa ter medo”, e me companheiros mais experientes a cada painel.
aproximando o rapaz sussurrou: Minha gratidão só aumentava por ter conhecido NA e me mantido
“VOCES SÃO ANJOS ENVIADOS POR DEUS, PENA QUE PARA MIM JÁ É limpo, pois tenho certeza que se voltar ao uso, irei passar por estas
TARDE”, fiquei paralisado no momento e o agente penitenciário instituições certamente.
percebendo, brincou com o rapaz para quebrar o gelo: NA tinha um contato com alguns funcionários da Casa de detenção
“Não fale bobagem, semana que vem você vai à reunião com eles”..., e em que gostariam que nós implantássemos nosso programa de recuperação
seguida continuamos no corredor. Quando começamos a realizar as para os detentos. Depois de algumas reuniões entre os subcomitês de
reuniões esperávamos encontrar muita resistência dos presos, mas após Longo Alcance, Hospitais e Instituições e Informação ao Público, foi
algumas reuniões percebemos que aquele local se tratava de um escolhido um modelo de divulgação para avisar que nós estaríamos a
verdadeiro depósito de adictos. Que, a maioria ali detida tratava-se de realizar painéis através das salas de aula.
nossos irmãos, pessoas encarceradas muito mais pela adicção, do que Decidimos que era melhor juntar os modelos de partilha do HI para
pelos muros que as rodeavam... que a mensagem ficasse bem clara. Foi muito emocionante, pois ficamos
As reuniões começaram a ser realizadas, mensais, que alguns dias indo a todas as escolas em todos os pavilhões e em todos os
passaram para quinzenais e enfim semanais. Nesta altura começaram as horários de aula para avisar que nós nos reuniríamos lá em determinado
discussões sobre a possibilidade das reuniões de HI virarem um grupo de dia. Explicaríamos quem somos e nossas histórias pessoais. O Manual tinha
NA institucional. Ocorreu então mais um grande movimento envolvendo que ser seguido à risca para que não colocasse em risco todo trabalho.
toda a estrutura de serviço, pois o Longo Alcance foi envolvido, a Depois de ser exaustivamente divulgado, montamos nosso primeiro
tesouraria do CSA devido ao consumo de material e recursos financeiros e painel com a ajuda de um funcionário do departamento de esportes.
todos os membros que participavam do serviço. Usamos toda e qualquer estrutura da cadeia, realizando painéis em igrejas,
Exatamente neste momento, em minha vida pessoal centros de umbanda e barbearias.
ocorreram importantes mudanças, o meu encargo terminou, e juntamente No primeiro painel de HI na Casa de detenção do Carandiru, tive
com isso fui transferido para outra cidade distante de São Paulo. Precisei contato com um companheiro que estava preso e que estava limpo há
me afastar deste serviço então, mas o serviço não parou, pelo contrario só quatro anos. Eu que tinha ido ali para levar a mensagem para resgatar
prosperou..., outros companheiros continuaram e expandiram ainda mais vidas, fiquei impressionado com a qualidade de recuperação deste
nossa mensagem dentro da Casa de Detenção. companheiro, pois ele tinha uma disciplina, um modelo de recuperação que
Em todo este tempo de recuperação e serviço, à irmandade, adotei pra mim e uso até hoje. Ele era extremamente participativo em
muitas experiências foram somadas em minha vida, e este serviço foi a tudo, desde as reuniões como no funcionamento da Casa de Detenção.
maior delas... Espero que possa ter contribuindo para a soma de mais uma Trabalhava no hospital e cuidava dos esgotos, tudo para se manter longe
experiência... Em espírito de irmandade e amor... das drogas. Tinha uma boa vontade imensa e ficava muito feliz quando
nos via chegando para mais uma reunião. Com ele aprendi que não
importa onde e quais condições eu me encontro. Eu posso ficar limpo!
------------------------------------------------------------------------------- Ajudou-me a ser mais grato. Se ele conseguiu praticar o programa, é
porque a promessa de liberdade havia sido cumprida. Era um preso livre
das obsessões e compulsões.
Com apenas três meses limpo fui chamado pelo meu padrinho para Tive um despertar espiritual e uma consciência mais ampla de Deus
frequentar as reuniões de HI na recém-inaugurada Oficina Nova Esperança. e de minha responsabilidade sobre a minha recuperação.
Pude participar de alguns treinamentos e fui como ouvinte em alguns Bem cedo descobrimos que modelo de painel de HI, de partilha dos
painéis. Depois de algum tempo comecei a partilhar nos painéis e me membros, perguntas e respostas estavam insuficientes, pois os residentes
apaixonei por HI. tinham necessidade de falar também de seus sentimentos, medos e
aflições e chegamos através de consciência coletiva que seria melhor, criar
um modelo de painel que se aproximasse de nossas reuniões de partilha referência. Sabíamos que era uma grande responsabilidade levar a
fechada. Eles devoraram a literatura que distribuímos e se reuniram mensagem para um local onde a droga foi o motivo de muitos terem ido
durante a semana entre eles. parar lá.
A cada visita meu espírito mergulhava em um mar de gratidão, “Complexo Carandiru” era o nome do conglomerado de prédios e de
vendo eles se esforçando para ficar um dia limpo em lugar com condições pessoas, mas o sentido da palavra para nós que estávamos a iniciar os
hostis. Eu não podia mais fazer corpo mole aqui fora. Graças ao Grupo da serviços de NA lá se tornou simples para mim após ter ido à primeira vez
Paz, consegui encontrar a recuperação em NA. naquele lugar e entender que nós podíamos entrar e sair de lá tínhamos a
mesma doença que eles com o privilégio de ter descoberto o programa
------------------------------------------------------------------------------- antes de sofrer as conseqüências trágicas e chegar lá.

DIVULGANDO OS PAINÉIS
Sou um adicto em recuperação e graças a Deus e a N.A. encontrei uma
nova maneira de viver. Antes de formalizar nosso serviço de HI, fizemos ações para
Considero-me fruto do serviço de HI, pois quando passei por um divulgar as reuniões. Visita nas escolas, igrejas, bibliotecas e no hospital
tratamento me lembro dos dias que esperava ansiosamente a visita de (enfermaria).
companheiros que percorriam mais de 100 km para partilhar suas Nas escolas colávamos cartazes com o dia e o local onde seria a
experiências através da prática do programa e de N.A. Foi por eles que primeira reunião de HI. Percebemos que havia pessoas de outros países
despertei o interesse e NA, e quando sai da instituição no meu primeiro dia como europeus, latinos, africanos e sentimos a necessidade de fornecer
na rua fui a uma reunião. literatura em outros idiomas e solicitamos a ACS ou mundial que nos
Dessa forma não fui a uma reunião de área, ela foi a mim e pude atendeu prontamente.
entender que N.A. era maior que o grupo que costumava freqüentar. Ouvi Na enfermaria conversamos com alguns presos e o agente
sobre os serviços e descobri o que era HI. E lembrando-se daqueles penitenciário tinha o respeito dos presos por organizar a liga interna de
companheiros que me visitavam para falar entusiasmados sobre a futebol. Um preso estava lá para tirar água dos pulmões e pela 3ª vez.
recuperação em N.A. vi que poderia retribuir o que me fizeram. O Muito debilitado fisicamente, nos falou que a prisão maior para ele era o
subcomitê de HI funcionava ao lado do grupo Alvorada eu aproveitava para vicio.
pegar a reunião das 17h30 e depois participava do HI. Como poucos
companheiros se dispunham a ir ao subcomitê, os que iam, eram bem A 1ª REUNIÃO DE HI
recebidos. Muito bem recebidos. Como eu, que fui recebendo o
encorajamento para fazer o treinamento para realizar painéis. Após três Na primeira reunião de NA dentro do Carandiru éramos três
treinamentos eu estava apto. Lembro-me da primeira vez que confirmei companheiros. A reunião foi numa sala próxima ao campo de futebol e
minha presença em um painel. Aquele frio na barriga e o peso da podíamos sentir alguém usando drogas e soprando para dentro da sala, ou
responsabilidade em ser um mensageiro. De NA. seja, nem todos queriam nossa presença lá.
A cada painel uma experiência nova e uma vontade maior de Seguindo a reunião, conforme o manual (introdução, leitura de
continuar a servir NA. Nas oficinas discutíamos sobre os serviços, o folheto, partilhas, perguntas e respostas).
interesse da sociedade por informações sobre NA sempre crescendo. O fato que mais me marcou foi durante a partilha de um dos
companheiros, um preso perguntou qual droga ele tinha usado. Na ocasião
COMPLEXO CARANDIRU pelo manual a resposta seria “não importa o que ou quanto nós usávamos
em NA”. Porém, não era isso que aquele preso queria escutar, então o
Apesar da oficina da área Sul atender instituições que trabalhavam companheiro falou de todas as drogas e então sentimos o respeito deles e
os 12 passos, em uma das reuniões do comitê falamos sobre a importância a identificação pelo silêncio temporário.
em priorizar instituições que não aplicavam “12 passos” aos adictos em
tratamento. Pensar em instituições carcerárias foi assustador. Não havia RECONHECIMENTO DA EFICÁCIA DO PROGRAMA
experiência nesse tipo de serviço, em nossa área e os companheiros de
Campinas foram pioneiros na região Brasil. Nós fazíamos simulações para Em um dos painéis antes de entrarmos nos pavilhões, encontramos
atender ao Carandiru, usando o manual (acho que de 1988) como um profissional da área da saúde que tinha muitos anos de serviços e
conhecia muito bem o Carandiru. Um dos companheiros abordou-o e o sempre nos recebeu com enorme carinho. Havia um interno estrangeiro
apresentou ao texto básico. Ele falou que conhecia a eficácia do nosso que através de sua coragem, levava a mensagem de NA para adictos de
programa, elogiou nosso trabalho e ressaltou que nosso serviço era muito outros pavilhões aos quais não tínhamos acesso. Registro meu
bem vindo lá. agradecimento a todas estas pessoas de extrema importância para que o
serviço fosse realizado.
------------------------------------------------------------------------------- Após um período de painéis, chegamos a uma consciência dentro do
subcomitê que estava na hora de passar a autonomia aos residentes da
Detenção afim de que eles coordenassem as reuniões. Foi muito legal
Eu sou adicto tenho 49 anos e estou limpo há 12 anos e 2 meses, porque já nos painéis de HI, havia nosso incentivo a eles para realizar este
nascido em São Paulo, casado há 16 anos e pai de um filho. trabalho, e eles aceitaram. Houve uma reunião de serviço no local, onde os
Minha história de adicção não é diferente da de muitos de nós. Medo internos escolheram o nome do Grupo que seria Grupo da Paz.
paralisante angustia, mentiras, frustrações, culpa etc.. Bem, minha Elegemos um secretário que por sinal era um companheiro que já
chegada em NA se deu em março de 1997. Ingresso no Grupo 5ª Tradição colaborava na arrumação da sala, colocava a toalha e arrumava a literatura
do Ipiranga, possuía uma frequencia regular as reuniões após uma de NA. Este companheiro já idoso com seus cabelos brancos e uma enorme
internação, onde tive contato com pessoas de NA, que foram falar de suas boa vontade em contribuir para que NA ficasse vivo naquele lugar.
experiências como ficar limpo na rua. Após 90 dias e 90 reuniões, todos os Tive o prazer de participar do aniversário do Grupo, com bolo,
dias; conheci pessoas maravilhosas como meu padrinho, o coordenador de refrigerante e muitas trocas de fichas...
HI, entre outros da área sul e entre outros que já se foram. Uma das vezes em que estive lá, acho que não estava muito bem de
Um dia após uma reunião no Grupo Alvorada, fui abordado por um saúde entre outros problemas. Fui de metrô até lá com outro companheiro,
companheiro, dizendo pra mim que há algum tempo estava me que percebeu a minha situação. Através de exames descobri que estava
acompanhando nas reuniões do Grupo e me perguntou se eu não gostaria com Hepatite C e precisava de tratamento. Graças a Deus hoje está tudo
de participar de um subcomitê de serviço chamado HI. Fiquei surpreso e ao bem. Neste dia após sair da detenção, este companheiro me perguntou se
mesmo tempo feliz, muito feliz, pois após 3 meses indo as reuniões, eu estava melhor. Eu pensei um pouco pra responder e em seguida disse
conheci outras pessoas maravilhosas. Na verdade fiquei com medo, pois que sim. Ele voltou a perguntar se eu estava bem. Neste momento
tinha somente 3 meses limpo, mas já sentia a necessidade de falar para o abracei-o e comecei a chorar e agradecê-lo por tudo o que ele fez por mim,
mundo que tinha encontrado um lugar especial chamado Narcóticos e naquela calçada após alguns instantes, em frente aos portões da Casa de
Anônimos. Detenção pude dizer a ele que minhas dificuldades tinham desaparecido
Após dez dias fui conhecer esse tal de subcomitê, que tinha uma como um piscar de mágica. Foi incrível e nunca mais me esqueci disso.
frequencia enorme, e comecei a participar das reuniões todas as sextas Nessa reunião, um cara, membro de NA residente, falou para nós
feiras nas dependências do Grupo Alvorada, na famosa “casinha”. Foi ali que ele era um “preso livre”, pois tinha conhecido NA há algum tempo e
que iniciei a levar a mensagem a aquelas pessoas que não tinha livre nunca mais usou drogas e que nós éramos muito importantes para ele.
acesso as nossas reuniões. Fiz alguns treinamentos e logo comecei a Tive o prazer e a honra de trocar sua ficha de 2 anos limpos. Na troca, ele
participar do processo de levar a mensagem. Foi e é uma aventura sem disse que morava num “X” com mais 15 pessoas, 13 usando drogas na cela
fronteiras. Comecei a perceber o quanto era importante esse trabalho. Fui e soltando fumaça em sua cara. Eles o provocavam afim de que ele e outro
eleito secretário deste subcomitê com 6 meses de tempo limpo, não faltei residente usassem drogas também. Ele disse que NA é mais forte do que
nenhuma reunião por um ano e fui a muitas instituições neste período. aqueles 13 caras usando e que ele não precisava mais usar só por aqueles
Acompanhei meu padrinho por 6 meses na psiquiatria da Água Funda onde momentos. Falou que mais seria revelado em sua vida através do
aprendi a importância do comprometimento em NA e qual o nosso papel. programa. Na minha reflexão, percebi que se esse companheiro, nessas
Fui líder de painel desta instituição e depois vice-coordenador e condições, não usava mais droga, qual era a minha dificuldade?
coordenador do subcomitê de HI. Agradeço sempre a Deus àqueles companheiros que me
Sobre a minha ida à Casa de Detenção, foi uma experiência incentivaram a fazer este trabalho que sempre me enriqueceu como ser
maravilhosa que se encontra no centro do meu despertar para a vida. humano filho de um Deus perfeito. As amizades e experiências que
Agradeço de coração aos companheiros que participaram do início deste ninguém pode tirar porque estão dentro de mim, bem dentro e mais será
trabalho. Foi difícil no começo, pois os painéis aconteciam as 4ª feiras pela revelado.
manhã. Não posso deixar de lembrar o amigo e funcionário da Casa que -------------------------------------------------------------------------------
Em meio à mística do lugar, misturada muitas vezes com a frustração de
Sou um adicto em recuperação, estou limpo há 14 anos 5 meses e 12 dias. ver o local das reuniões vazio, paradoxalmente num universo de tantas
pessoas, era difícil reunir um numero mínimo de “companheiros”, e
Tive contato com os serviços de Hospitais e Instituições muito cedo em também a dependência de ter um clima “bom” dentro da cadeia para
minha recuperação, por sugestão de meu padrinho fui até ao comitê local. realização das reuniões.
Cheguei com muitas reservas, pois não havia passado por nenhum centro Precisávamos de mais tempo lá dentro, mais pessoas envolvidas, despejar
de tratamento ou qualquer tipo de instituição correcional. literatura, cometer menos erros, treinar mais membros, ler mais nossos
manuais, precisávamos de um grupo de NA dentro do maior presídio da
Segundo a intuição de meu padrinho, precisa estar envolvido com o América Latina.
“serviço” em NA, porque dessa maneira também foi “passado pra ele”, e já Prioridade absoluta do comitê uma questão obvia, pois se conseguíssemos
vinha dando certo há a alguns anos (e até hoje ainda ele se encontra permanecer dentro do Carandiru, nenhuma porta de qualquer outro
envolvido). presídio se fecharia, desta maneira cumpriríamos nosso propósito de levar
a mensagem a quem não tivesse o mínimo de contato com Narcóticos
Nosso subcomitê começava a passar por transformações, a Irmandade Anônimos.
passava por grandes transformações, junto com outras Áreas formávamos
um grupo de companheiros apaixonados, ansiosos por entrar em toda e “Sejam todos bem vindos à primeira reunião do Grupo da Paz de
qualquer instituição em nosso País. (para levar a mensagem de esperança Narcóticos Anônimos”.
a adictos que ainda sofrem)
Uma das experiências que mais marcaram minha recuperação foi
Levamos a mensagem de Narcóticos Anônimos em Centros de Tratamento, receber membros recém-saídos da instituição, que ingressaram em
Hospitais Psiquiátricos, Organizações Não Governamentais Instituições NA no Grupo da Paz, começando a frequentar reuniões “na rua”.
Religiosas e Correcionais. (em liberdade)
Mas existia uma que chamava mais a atenção, porque em si mesma era Se eu fechar meus olhos e ficar em silêncio ainda consigo ouvir o
emblemática. barulho dos portões se fechando atrás de nossas costas e também
Um universo de mais ou menos 7000 homens no centro urbano de São o coro dos companheiros do Grupo da Paz dizendo; “DEUS
Paulo, ao lado da maior via de chegada a capital paulista, a rodoviária do CONCEDA-ME SERENIDADE, PARA ACEITAR AS COISAS QUE NÃO
Tietê, estava lá impassível diante das inúmeras tentativas de rebelião, a POSSO MODIFICAR CORAGEM PARA MODIFICAR AQUELAS QUE
Casa de Detenção ou simplesmente “Carandiru”. (EU) POSSO E SABEDORIA PARA RECONHECER A DIFERENÇA, SÓ
Ouvi muitas discussões dentro do comitê, nas reuniões de área, reuniões POR HOJE”.
regionais e até mesmo em convenções, como foi o caso da primeira -------------------------------------------------------------------------------
Convenção de NA que participei – Penedo - RJ 1995.
O embate era se mulheres podiam levar a mensagem em instituições Sou um adicto em recuperação e Graças a Deus e a Narcóticos
masculinas e vice-versa, e obviamente o Carandiru fazia parte da pauta. Anônimos como um todo estou limpo desde 25 de outubro de 1996.
Momentos em que deixamos nossas emoções saltarem sem pedirem Havia participado de algumas reuniões de Painel de HI mais sem
licença, e mesmo não entendendo o que o “companheiro dos serviços muita constância. Meu irmão, pouco tempo depois da Instituição tornar-se
mundiais” falava, podiam ser visto nos rostos de todos que aquele lugar de HI para Grupo Institucional, passou a convidar-me para ir às reuniões e
iria nos trazer grandes experiências. vez ou outra eu aceitava. Ele estava servindo como RSG do Grupo da Paz e
Neste momento consulto apenas minhas lembranças e confesso que a contava histórias que me atraiam para este serviço. Lembro-me de um
ordem cronológica dos acontecimentos me confunde, mas estas mesmas companheiro envolvido também com o Grupo, tanto que acabou tornando-
lembranças me levam a ouvir o ruído dos portões sendo aberto, do senhor se RSG depois. Meu padrinho vestia a camisa do Grupo e vivia incentivando
contato vindo ao nosso encontro, e ali as pessoas que começávamos a para eu ir às reuniões. Houve um tempo que passei a freqüentar mais o
encontrar já não tinham mais tanta vaidade. Vestiam as mesmas roupas Grupo mais ficava preocupado em envolver-me de forma maior por conta
das mesmas cores, em cada semblante uma história, uma incógnita, em do meu trabalho, afinal de contas ficávamos uma manhã toda em um dia
muitos à vontade de ter uma vida transformada pelo poder da mensagem da semana.
do 12º passo.
LONGO ALCANCE No ano seguinte, a festa de aniversário aconteceu no pavilhão oito,
onde estiveram presentes vários presos que não tinham por hábito
Aproveito a oportunidade para agradecer o Sub Comitê de longo freqüentar as nossas reuniões mais conheciam nosso trabalho na cadeia.
Alcance, pelo suporte e responsabilidade nas cartas que eram recebidas Ficamos sabendo que entre eles haviam inclusive traficantes. Alguns
pelos internos do Grupo bem como o envio de cartas de membros, chegaram a partilhar dizendo que mesmo usando drogas, sabiam da
divulgação e cartazes incentivando esta importante ferramenta de eficácia do programa, pois deixaram de “machucar” adictos na ativa que
comunicação feita por membros que não podiam freqüentar o Grupo mais buscavam a recuperação em nossas reuniões. Um grupo de rap deste
partilhavam suas experiências. Nosso Muito Obrigado também pelos pavilhão, que chegou a lançar um cd e ainda saiam da cadeia para realizar
treinamentos de Longo Alcance Institucional para Instituições Carcerárias e shows na rua, cantou lá neste aniversário.
pelos treinamentos do Sub Comitê de Hospitais e Instituições também por Na verdade a maior festa era nossa por saber que ali se passava
estes treinamentos que tinha sua peculiaridade. mais um ano de nosso trabalho de sucesso, do Grupo que funcionava no
É importante citar também o CSA Sul, Comitê de Serviço que apoiou maior Presídio da América Latina com mais de 7000 homens divididos em
a existência do Grupo, e não poupou esforços em disponibilizar diversos imensos pavilhões. Nós não levávamos apenas a mensagem e sim a
materiais sem nunca questionar o volume principalmente de folhetos (Kit’s recebíamos também, através de partilhas inspiradas e respeitosas
para recém-chegados que levávamos ao Grupo). Obrigado ao tesoureiro na divididas, compartilhadas nas reuniões.
época. Aprendi a agradecer mais porque o que eu passava aqui na rua não
era nada se comparado às histórias assistidas no Grupo. Meu Poder
ANIVERSÁRIOS DO GRUPO Superior queria que eu estivesse ali para me ensinar o privilégio de não ter
sido pego em inúmeras insanidades ao longo de minha adicção ativa.
No primeiro aniversário do Grupo em 1998 eu apesar de já Minha diferença se dava somente pela cor das calças, aliás, muitas vezes
frequentar, como ia pouco não me senti a vontade de ir à festa, pois achei nossas próprias eram beges, tamanhas as identificações com os irmãos.
que seria egocentrismo de minha parte. Minha surpresa foi quando olhei as Palmas a todos que tiveram o privilégio de experimentar desta
fotos, e percebi muita gente estava indo pela primeira vez no Grupo “marmelada especial” cujo gosto está espalhado pelo Brasil afora.
justamente naquela festa e outros que tinham ido apenas uma ou duas
PAVILHÃO 9
vezes. Fiquei na raiva com eles e comigo mesmo e ainda tomei um puxão
de orelhas do meu padrinho, por não ter ido. Sempre escutei que na cadeia homem não chora. Bom, isto não
Também não deixei barato, estive não só participando mais do valia para o Carandiru. Era raro realizarmos reunião no pavilhão 9. Este
grupo como ajudei na organização da segunda e terceira festa de pavilhão recebia os chamados “cabeças de bagre” que na maioria eram
aniversário, onde arrecadamos dinheiro e doações de salgadinhos para presos mais novos que não se preocupavam tanto com a conseqüência de
confraternização. Muito legal! Que espiritualidade! Nossos companheiros suas atitudes, muitas vezes deixando as leis da cadeia de lado e
internos fizeram um bolo (veja foto no final do livro) com a seguinte frase: comprometendo o próprio futuro. Vale lembrar que a chacina que
aconteceu no Carandiru, onde morreram centenas de presos, ocorreu neste
- Obrigado pela dedicação. pavilhão.
- Deus está aqui! Numa de nossas reuniões, ao ler um capítulo do texto básico me
emocionei e quando conclui a leitura percebi outros presos com lágrimas
Preciso falar mais alguma coisa. nos olhos e na seqüência durante sua partilha, um deles chorou feito uma
criança. Ficamos impressionados com a cena, porém com a certeza de que
O bolo tinha as cores de NA, azul e branco. Fizeram um pagode pra a mensagem estava de fato transformando os membros daquele grupo.
nós. Fizemos até fotos e naquele segundo aniversário até a minha ficha de
PAVILHÃO 5
quatro anos troquei lá, pois calhou de ser no mesmo dia do meu
aniversário de tempo limpo. Este aniversário aconteceu no pavilhão seis.
Este era o pavilhão do seguro. Normalmente os presos recém-
Nestas festas aproveitávamos a oportunidade para informar, falar
chegados na cadeia, se não tinham condições de alugar ou comprar um
do nosso propósito, pois vinham pessoas de outros pavilhões para
barraco (cela) eram alocados neste pavilhão. Dentro dele existia o
participar.
“Amarelo”, local das celas distribuídas ao longo de alguns andares do
prédio, onde presos que não podiam se misturar com os outros por Numa situação fazendo reunião no Pavilhão Nove, eu estava
correrem risco de vida, moravam. Era comum quando fazíamos reunião na empolgado, pois naquela semana iria para Convenção Regional de
capela do pavilhão 5, próximo à sala de prótese dentária, assistirmos as Narcóticos Anônimos, e resolvi partilhar. Um dos participantes partilhou em
chamadas “teresas” que eram pedaços de panos amarrados uns aos seguida “na raiva” mais ou menos assim:
outros, que eram atirados janela abaixo na intenção de conseguir cigarros
entre outras coisas com os demais presos que circulavam livremente neste - “Tamu” no maior veneno aqui dentro e se houve falar de Convenção,
pavilhão. festa e “o caramba...”.

LEMBRANÇAS DE MENSAGENS (dos presos residentes) Aprendi e reparei-me. Ele tinha razão.
Alguns dos nossos que iam ao Grupo da Paz confundiam o Grupo
- “Esta noite passei com mais nove no X (cela), e todos estavam usando! Institucional como um Grupo normal onde sento e partilho sobre o que me
Ajoelhei-me com meu texto básico na mão, fiz a oração e não usei. Estou vem na cabeça. Pensamento errado. O Grupo da Paz era freqüentado por
com meus joelhos esfolados, mas limpo para mais uma reunião”. pessoas que passavam por um treinamento específico parecido com de
HI, com mais de 6 meses de tempo limpo, que deveriam, não era sugerido,
- “Pediram para que eu fizesse uma “limpeza, um serviço”, mais não queria ir com vestimentas adequadas, ou seja, sem calça bege ou de campana,
mais fazer aquilo”. Só tinha uma forma de contrariar a ordem. Dei uma sem blusas com cordões ou cordas, sem jóias ou pertences que
marretada na mão! Com a mão quebrada não posso “trabalhar” (matar). chamassem muita atenção, sem roupas que fizessem algum endosso a
Liberaram-me. “Por isto estou na reunião.” religião, time de futebol, banda ou conjuntos musical, que estivessem com
a situação pendente com a justiça para poder sair de lá e assim por diante.
- “Quero continuar sendo o coordenador do Grupo, mais estou sendo Certa vez no inverno; demos uma blusa de frio a um membro do
cobrado pela minha igreja por estar envolvido com Narcóticos Anônimos”. Grupo. Na outra semana havia mais ou menos umas três pessoas que
foram até a reunião pegar roupas achando que este era nosso papel ao
- “Se eu soubesse que era tão bom ficar limpo já teria parado há muito invés da 5ª Tradição. Demos cigarros aos internos, e alguns iam pra fumar
tempo”. no Grupo (cigarro é uma moeda/dinheiro na cadeia). Procurávamos não
levar nem trazer cartas ou bilhetes nem de dentro pra fora nem de fora pra
- “Estou aqui por causa da droga. O traficante pulou o muro lá de casa e eu dentro, não era nosso papel. Numa ocasião fazendo reuniões numa capela
o matei”. no pavilhão 5, o coordenador do local disse estar em reforma e pediu-nos
um saco de cimento ou outra forma de contribuição e tivemos que dizer
- “Eu estou freqüentando as reuniões para dar uma força, mais eu não não, que não podíamos ajudá-los. Foi difícil. Naquele local tínhamos que
tenho problema com drogas”. prestar atenção no que falávamos e como falávamos. Mais do que qualquer
outro local, não podíamos desenvolver preferências pelos internos, missão
- “Não quis parar e hoje tenho uma pena de 19 anos para cumprir. Aqui é difícil uma vez que recebíamos até pedidos de apadrinhamento.
muito sofrimento”. Força, fé e esperança! Se conseguíssemos nos centrar nesta
forma de partilhar tudo estaria bem, mas nem sempre isto acontecia. É
- “Começo a usar e não consigo parar. Aqui não tem perdão. Fez dívida claro que ninguém pedia pra partilharmos uma história que não havíamos
tem que pagar. Se quiserem usar, os caras ”dão“. Uso para esquecer a vivido, mas também não precisávamos ter passado por uma prisão nem
vida. Aqui o tempo não passa. Todo mundo da cadeia fuma (uma tampouco termos roubado, matado. Enfim, nossa história já bastava.
determinada droga). A casa libera pra cadeia não virar”. Muitos pensavam que a partilha tinha que ser diferente, mais só precisava
ser a “nossa partilha”. Nossa literatura nos ensina que, nosso verdadeiro
valor está em sermos nós mesmos, então falemos de nós pura e
O QUE NÃO FAZER simplesmente.

Por vezes deparávamos com situações onde éramos pegos de Falarmos das insanidades e dificuldades que ainda estávamos
surpresa. enfrentando por vezes desviou nossa mensagem, como dizermos que
frequentávamos um “puteiro na rua?”. Muitos ali não sabiam mais o que
era sexo, nem sexo pago, havia tempos. Aprofundamos-nos em relações surpresa e falando de mim. Um entusiasmo em convidá-lo a participar da
familiares, afetivas e também isso era sutil, pois muitos não recebiam uma reunião que estava para acontecer, e que se deu por conta da sua história.
visita, nem sequer uma carta há muitos anos. Querer convidar os internos, Em poucos minutos de conversa ele partilhou:
assim que saírem para frequentar nossas reuniões (como falamos no
serviço de HI quando levamos a mensagem num painel normal), era um - Estou limpo das drogas há 1 ano, sete meses e alguns dias graças
grande equívoco nosso, porque muitos não sairiam dali ou ficariam ali até aqueles “Rap’s”. “O “Rap” me libertou das drogas”!
30 anos pelo menos, conforme previam suas penas. Foi o bastante para que ficássemos entusiasmados para convidá-lo a
Mas esperem aí! Com tantos pormenores, com tantos cuidados a compartilhar suas experiências conosco. Afinal de contas, parecia haver
serem tomados, será que a mensagem chegava mesmo? alguma identificação no quesito vir a acreditar, pois sua crença e talvez por
Graças a Deus chegava. Houve um ano em que tivemos 70 que não falar que seu Poder Superior era o “Rap”?
ingressos no Grupo da Paz com apenas 1 reunião por semana. O único Realizamos a reunião por ali mesmo. Uma sala improvisada, onde o
Grupo que teve mais ingressos naquela ocasião foi o Grupo Jardins com 72 banheiro era um buraco no chão. Havia uma “gambiarra” para conseguir
ingressos, contando com 22 reuniões por semana. energia para funcionar a cafeteira e pudéssemos tomar nosso tradicional
O serviço de NA: funciona! cafezinho.
Muitos pensam que em 2002 foi realmente o fim do Grupo da Paz. Show de bola! Que reunião bacana. Ingressos. Partilhas de força fé
Mais eu tenho um segredo para dividir com todos vocês. O grupo da Paz e esperança e o presente de Deus no ponto de vista particular, foi o
não fechou e nunca fechará suas portas. Quem dirigiu este serviço foi um ingressante cantar o Rap em homenagem ao que ele havia recebido de NA
Deus amoroso que através de todos os participantes que foram durante aquela reunião em que se identificou, era mais ou menos assim:
transferidos (foram de bonde) dali para outros presídios pudessem levar
com eles muitas vezes a única coisa além das vestes do corpo. A - “NA, NA sua vida vai salvar...” - “NA, você pode acreditar...”.
mensagem de NA. Recebemos uma carta de um Presídio em Mongaguá, “... Preciso continuar...”
onde o diretor requisitava nossa presença para ali iniciarmos nosso
trabalho. Entramos em contato com os companheiros de HI da Área ORAÇÃO NA DIVINÉIA
Caminho do Mar que prontamente iniciaram o contato e vieram a descobrir
que um dos nossos companheiros participantes do Grupo da Paz, havia A primeira vez que fui ao Carandiru ainda como painel de HI,
feito uma carta e encaminhado lá de dentro para diretoria. Caramba! percebi que havia todo um procedimento para entrar no presídio.
Demais é pouco. Principalmente pela questão de nossa segurança, dos funcionários e dos
Pegando uma reunião no Grupo Liberdade num dia desses próprios internos.
encontrei-me com outro companheiro recém-liberto. Fiquei alegre em revê- Chegávamos e ficávamos aguardando na calçada da rua do lado de
lo e fui almoçar com ele. Ele me disse que estava morando no interior de fora do complexo. Só entrávamos na hora em que nosso responsável
São Paulo, coordenando uma oficina de IP, com a família restaurada. interno nos chamava.
Estava gordo, corado; que satisfação! Em algumas ocasiões em que a cadeia estava meio estranha, nos
Numa Convenção em Poços de Caldas, encontramos com um mandavam voltar em outro dia.
companheiro que também juntamente com sua companheira, membro de Apresentávamos-nos na 1ª portaria dando documento que eram
NA, estavam ali passeando se divertindo. verificados e registrados. Houve época que fizemos até uma carteirinha
Dias atrás o companheiro que foi RSG Suplente, correndo no Parque para aqueles que tinham maior freqüência. Logo em seguida passávamos
do Ibirapuera, encontrou-se com um companheiro com uma camisa de NA por mais um portão e parávamos muitas vezes ali... ou quando seguíamos
que o chamou e se apresentou dizendo estar na rua, agora aproveitando a por mais outro portão, seguido da revista e do detector de metais,
vida. parávamos num lugar chamado Divinéia. Um local arborizado com um
grande jardim, sombra, bem arrumado e fazíamos lá a oração da
Aguardávamos no Pavilhão 5 uma sala para realizarmos a reunião. Serenidade. Aquilo era mágico, pois havia sempre um grande suspense em
Um interno na sala da prótese conversava, conosco a respeito do dia a dia cada nova entrada. Nunca sabíamos o que iríamos encontrar. A
lá. Falava sobre a composição de “Rap`s” que ajudava há passar o tempo. concentração era alta e a fé nas palavras proclamadas, nem se fala.
O letrista era seu amigo conhecido como um personagem do cinema Principalmente a parte da oração que fala de Coragem. Tomava um sentido
infantil, e que acabara de chegar ao local onde estávamos. Nossa maior mais amplo que a abordagem normalmente feita na oração.
Sentíamos após este momento meio que como protegidos pelo muitas vezes tinham que passar pela intimidação da igreja a qual faziam
Poder Superior e também incumbidos de uma responsabilidade enorme e parte e não era tão amiga do nosso trabalho. Das atribuições que estes
um compromisso que ia além de nossa própria recuperação. internos tinham como trabalho e até mesmo de relações com outros
Concentrávamos-nos principalmente em nosso propósito e tínhamos internos que não freqüentavam o grupo.
absoluta certeza que acontecesse o que acontecesse ele seria cumprido. Lembro-me do companheiro trocando sua ficha de 4 anos limpos e
Havendo reunião ou não, nos acomodando em uma sala improvisada ou na servindo como secretário do Grupo, no dia em que fui eleito RSG do Grupo.
quadra ao lado da sala de musculação iríamos realizar mais uma reunião. Havia também um que apoiava nosso trabalho dividindo-se entre as aulas
Quando isso não era possível, o fato de estarmos presentes já era que ministrava e as reuniões. Outro senhor de cabelos grisalhos era
relevante, pois a mensagem de que estivemos por ali e o que estávamos a responsável pelas cartas que enviávamos da rua e pelos cartazes de
realizar chegava pra todos que quisessem ouvir, e isto também era a nossa divulgação das reuniões que eram colados pelos pavilhões.
mensagem. Mensagem que muitas vezes iam com vozes embargadas pela Tenho que citar a importância de um companheiro, que em umas de
emoção e pelo clima espiritual que se formava dentro das reuniões. Deus suas atuações no serviço de NA lá de dentro, ele foi transferido para outro
falava conosco através dos partilhadores internos e externos, bem como complexo na baixada santista e chegando, sabendo da necessidade de
em olhares curiosos, atentos e fixos. Extremamente respeitosos também, frequentar reuniões para manter-se limpo, fez uma Informação ao Público
pois éramos tidos como uma “regalia” para os internos que recebiam (IP) com os carcereiros e redigiu uma carta endereçada ao Diretor da
visitas somente aos domingos; aqueles que recebiam. Instituição que de imediato entrou em contato conosco para que
Equilibrávamos-nos nas tradições para não distorcermos a iniciássemos o serviço de HI naquela instituição, que inclusive, é atendida
simplicidade e importância de nossa maravilhosa mensagem: até hoje pela Área Caminho do Mar.
Que um adicto, qualquer adicto, esteja onde estiver pode Na verdade todos que freqüentavam as reuniões já estavam
Parar de Usar, Perder o Desejo e Encontrar Uma Nova Maneira de prestando um serviço, pois eram vistos como membros de NA, na
Viver através do Programa de Narcóticos Anônimos. Detenção. Todo o complexo sabia quem freqüentava o Grupo e o porquê
Levávamos para nossos irmãos impossibilitados de saírem e que estávamos ali. Estes companheiros eram verdadeiros servidores de
freqüentarem uma reunião na rua, a única coisa de mais importante que confiança que carregavam nosso propósito custasse o que custar. Meu
tínhamos: agradecimento pessoal a estes companheiros que com toda certeza, aonde
- Nossa esperança! quer que se encontrem levaram esta mensagem de força, fé e esperança.
E isso bastava porque por conta de um passado “condenoso”,
acredito que éramos um dos poucos que depositavam votos de confiança CARTAS
em cada um que entrava em nossas reuniões.
Levávamos a risca nossa 3ª tradição, pois saber o que eles fizeram Acho importante dividir neste material, aquilo que serviu e muito
nos passado poderia impedir de levarmos a mensagem sem distinção nem como apoio em levar esta mensagem. As cartas inseridas neste livro estão
julgamentos. na integra e traduzem um pouco deste trabalho nas palavras dos próprios
Nosso Poder Superior partilhava em todas as reuniões, pois internos que estavam se recuperando conosco nas reuniões do Grupo da
ouvíamos as minúcias e as pequenas sutilezas que aconteciam durante Paz.
aqueles momentos reunidos. Tivemos compaixão e choramos por muitas
vezes. Soubemos nos segurar em momentos que nada mais podíamos FUTURO DE NA
fazer. Falávamos do coração, ou melhor, quem falava era o próprio
coração. Nossa maior vontade era encontrar alguns deles, limpos na Alguns companheiros dizem que o futuro de nossa irmandade
próxima 4ª feira (na reunião). encontra-se nos presídios. (futuro dos serviços de NA cujo propósito é que
Eles nos perguntavam de nossas famílias porque já se sentiam qualquer adicto – esteja onde estiver – possa ter uma chance de encontrar
parte! Quando íamos embora, não era um adeus. Falávamos até a NA)
próxima! Companheiro. Continue voltando, funciona... Quero dizer que acredito muito nisso, pois mais da metade da população
das cadeias estão ali por algum crime que tem relação com as drogas. Fica
SERVIDORES DE CONFIANÇA ai uma reflexão para que através do serviço de HI e Longo Alcance e IP
Vale lembrar-se de alguns dos companheiros que tive o privilégio de passemos a priorizar também os pedidos oriundos das Fundação Casa,
servir junto, sendo que estes servidores eram internos da instituição e penitenciarias, detenções e colônias penais.
Na edição da NA WAY Magazine de outubro de 2008, li um artigo e comecei a levar a mensagem de NA aos adictos que ainda sofrem nas
interessantíssimo onde falava que nosso escritório mundial recebia de 80 a instituições atendidas por esta oficina.
100 cartas por semana de instituições carcerárias. Quando cheguei ao serviço de HI o GRUPO DA PAZ já era um grupo
Quanto a mim só resta agradecer muito a Deus pelas oportunidades institucional com secretário, RSG etc. Mas na oficina faziam uma espécie
que a recuperação me deu. Este trabalho que visa documentar parte da de reciclagem para poder partilhar no GRUPO DA PAZ, pois se tratava de
nossa história tem como único propósito levar a mensagem para uma instituição carcerária. Tive dois companheiros, que considero como
companheiros que estão presos e para servidores de HI que pretendem amigos até hoje, que serviram como RSG no GRUPO DA PAZ. Eles sempre
atender uma instituição carcerária. me faziam um convite para ir com eles até a detenção para partilhar minha
experiência, força, fé e esperança. Mas eu achava que não tinha muito a
Em espírito de irmandade. oferecer àquelas pessoas que estavam presas, pois ainda não tinha
passado por uma prisão, minha experiência era com instituição de
------------------------------------------------------------------------------- tratamento (clínica de recuperação), mas como diz a literatura HI e o
membro de NA, a única diferença entre eles e eu, é que eles foram pegos.
Um dia criei coragem e fui até o GRUPO DA PAZ com os
As experiências obtidas em instituições carcerárias, e especialmente companheiros. As reuniões, se eu não me engano, eram às quartas-feiras
no Carandiru que veio proporcionar a abertura do grupo da paz; são pela manhã, nos reuníamos na porta da casa de detenção. Chegávamos no
variadas e reveladoras, no sentido de haver a possibilidade de recuperação horário correto, passávamos pela revista e então, pelos enormes portões. A
da adicção ativa, independente do lugar ou das dificuldades adicionais sensação era impactante! O cheiro de esgoto era horrível, o clima era de
existentes. Porém, uma reunião específica marcou mais intensamente: terror, era um lugar que normalmente as pessoas não queriam nem passar
Um jovem que participava do painel do HI como residente, e pela frente e, estávamos lá dentro. Mas eu acreditava que aquelas pessoas
quando foi aberto para perguntas e respostas, esse jovem pediu a palavra, que estavam presas poderiam encontrar uma nova maneira de viver
e ao invés de perguntar resolveu fazer uma declaração. mesmo dentro da cadeia, poderiam tratar da doença da adicção e ficar
Disse: "eu não acreditei em vocês, pois freqüentava um grupo e limpas.
acreditei que vocês não sabiam se divertir....não sabiam das coisas então Voltei ao GRUPO DA PAZ outras vezes (várias), presenciei alguns
resolvi me afastar, e voltei a fazer as mesmas coisas que fazia antes de ingressos e muitas trocas de fichas, o programa estava funcionando para
ingressar em NA com meus "amigos" antigos. Hoje estou aqui em eles também. Mas uma partilha que me emociona até hoje, foi a de um
conseqüência da adicção ativa, e estou sujeito a ter de cumprir 16 anos de companheiro que, infelizmente não me lembro o nome, mostrou seus
pena. "Meu Deus como fui ingênuo, burro, por que não acreditei" e joelhos calejados e disse que estavam daquele jeito para que ele se
começou a chorar. mantivesse limpo, pois na cela em que ele estava, “ficava a droga” e “uns
Essa partilha tem servido até hoje para que eu reflita sobre as caras” que ficavam usando a noite inteira. Então ele ficava de joelhos
sugestões que recebo na irmandade, e o que estou fazendo para minha coberto com uma manta, orando pedindo a Deus que o ajudasse para tirar
própria recuperação. a vontade de usar pois queria muito ficar limpo.
Independente do que tenha acontecido com esse companheiro, à
mensagem ficou, e ele tornou-se um dos servidores do grupo da paz, Isso me mostrou que quando um adicto tem o desejo de ficar limpo
podendo transmitir sua experiência, força e esperança a vários outros (3ª TRADIÇÃO) e esse desejo é maior que à vontade de usar, ele fica limpo
adictos que procuraram recuperação. independente do lugar e da situação. Outra coisa que me lembro, era do
carinho e respeito que eles tinham conosco, membros de NA, todas as
------------------------------------------------------------------------------- vezes que fui até lá, sempre fui bem tratado e respeitado. As reuniões
eram realizadas na capela e sempre sai de lá me sentindo muito bem, com
Olá, companheiros, sou um adicto em recuperação e, graças a Deus e a sensação de estar fazendo a coisa certa pelo motivo certo.
NA, estou limpo hoje. Hoje continuo servindo o HI porque o que preenche o meu vazio e
Minha experiência no GRUPO DA PAZ foi ao início, no começo da me faz sentir útil é esse serviço abnegado. O amor incondicional, que nós
minha recuperação, um companheiro sugeriu que eu freqüentasse uma servidores passamos a ter, acreditando naqueles em que a sociedade
oficina de HI (Oficina Nova Esperança) que ficava nas dependências do discrimina, julga e muitas vezes, condena como casos perdidos. Levando a
GRUPO SÃO JOSÉ. Eu já estava limpo há alguns meses, fiz os treinamentos
mensagem até eles e mostrando que existe uma nova maneira de viver Aconteceram fatos curiosos dentro daquelas reuniões, todas
(NA). aconteciam com muito respeito; bem diferente dos grupos do lado de fora.
Costumava falar que dava para ouvir o ponteiro do relógio que ficava preso
-------------------------------------------------------------------------------
na parede, lembro também que naqueles períodos de dificuldade que eu
Sou um adicto em recuperação só por hoje. No ano de 2000 estava estava passando (desemprego e muito medo de morar na rua); nada se
trabalhando em uma Clinica Terapêutica e estava eu e outro companheiro comparava às histórias dos companheiros que estavam presos e que por
que naquele dia me chamou para partilhar, pois precisava de ajuda. muitas vezes estavam gratos por estarem conseguindo ficar limpos.
Começamos a conversar e ele me perguntou se eu poderia ir com ele até Naquele lugar era muito difícil um adicto não usar. Muitas vezes os
São Paulo para irmos ao Grupo da Paz; me senti feliz, combinamos e no companheiros partilhavam que tinham de dormir com pessoas usando
caminho perguntei onde era e ele me respondeu: no Carandiru. Senti medo drogas ao seu lado, e neste momento eu agradecia por poder ter a minha
e falei: só vou te levar e te espero no carro. Chegando lá os companheiros liberdade, e poder escolher para onde ir ou estar. Escutei algumas vezes
me convidaram para participar da reunião. Fiquei apreensivo, eu não que existiam companheiros que acabavam indo para “o castigo” ficando em
queria, mas uma força maior me fez adentrar naquela grande muralha. celas separadas, e os outros companheiros faziam de tudo para que eles
Estava assustado. Chegamos a uma sala e deixamos todos os nossos além de continuarem limpos ficassem em contato com a nossa irmandade
objetos. Naquele momento disse para eu mesmo “vou encarar esse através da literatura que era levada por membros através dos dutos de
desafio”. Estava com vergonha, não sabia o que partilhar. Sentia muitos ventilação ou de maneira clandestina, e eu me perguntava, como pessoas
sentimentos. Os companheiros me ajudaram, me deram força e entramos. que estão presas podem se importar umas com outras a este ponto? Sendo
Um lugar frio e sujo, mas ao mesmo tempo senti uma enorme gratidão por que aqui fora a nossa irmandade estava sempre com os nossos grupos
estar com os companheiros ali encarcerados, mas em recuperação. Senti- cheios, e muito poucos companheiros interessados em levar adiante a
me “só mais um” e estava muito feliz. Ao lado daquela sala, havia pessoas nossa mensagem para outras pessoas como nós, pois eles também eram
usando drogas, mas a reunião estava acontecendo e o PS, ali presente. Foi adictos querendo estar em recuperação.
uma sensação. A mais maravilhosa que senti naquele momento. A Lembro-me de um companheiro interno ter se candidatado ao
mensagem da recuperação. Sou muito grato! Obrigado PS. encargo de secretário do grupo. A emoção que ele sentiu ao ter sido eleito,
Sou um adicto e graças a um Deus Amoroso e Bondoso e NA estou limpo e depois de alguns anos ele estava trocando de ficha de 03 anos limpos,
só por hoje 11 anos e 21 dias. partilhando que tinha encontrado a liberdade dentro da prisão; a
particularidade era a de que este companheiro já era uma pessoa com
------------------------------------------------------------------------------- mais de 65 anos, mais uma vez mostrando que a nossa irmandade não
deve discriminar quem quer que seja.
Quando cheguei ao subcomitê de HI em 1997 eram realizados Em outras oportunidades, eu me lembro da emoção de
painéis na Casa de Detenção, e estava em discussão, a possível abertura companheiros que nos pediam para que voltássemos, pois, eles precisavam
de um grupo institucional dentro daquela penitenciária. Os companheiros da nossa força, fé e esperança, para que eles pudessem encontrar a
dos subcomitês de Longo Alcance e HI se juntaram para que esta idéia se esperança que um dia eu também não tive e que por causa de pessoas
tornasse realidade, não me lembro de exatamente quando foi fundado o como eu; acabei encontrando não só a esperança, mas principalmente a
Grupo da Paz, mas me lembro das partilhas de companheiros que foram lá liberdade da adicção ativa, e por isto eu continuo sendo muito grato.
na 1ª reunião, e assim “atiçou minha curiosidade” para conhecer aquela Queria agradecer aos companheiros que tiveram a idéia de fazer um
instituição. livro com as histórias do Grupo da Paz, pois foi um momento importante na
Passado o tempo comecei a ir ao Grupo da Paz, pois estava história de NA no Brasil, e o motivo que me fez escrever este depoimento
desempregado, e a primeira vez que fui lá foi muito emocionante, e fiquei foi uma história que eu li na publicação NA NEWS que dizia que em uma
com um pouco de medo, pois, ao entrar eu via aqueles portões enormes se prisão do Bahrein, um país da Ásia aonde NA existe há pouco tempo o
fechando por trás de mim, dando a impressão que a qualquer momento diretor daquela prisão incentiva o serviço de NA como também quase todos
pudesse haver alguma rebelião ali dentro, e a pergunta que eu me fazia os dias, faz a leitura no alto-falante daquela instituição da meditação do dia
era a do que poderia me acontecer se isto acontecesse, mas eu era sempre do nosso livro Só Por Hoje - Meditações Diárias, e por este e todos outros
lembrado que ao entrarmos naquele lugar, nós membros de NA estávamos motivos que vejo diariamente é que NA funciona!
protegidos pelo “Governador da nossa irmandade” (o Poder Superior), e - Obrigado companheiros, pelo serviço!
nunca houve nada que pudesse me desestimular para voltar. -------------------------------------------------------------------------------
Mas Deus agiu naquele dia e deu tempo dele fazer todos nós
Eu sou mais um adicto e estou limpo graças a NA há nove anos, chorarmos, como estou nesse momento: chorando lembrando essa
onze meses e quatro dias só por hoje! situação (que nunca quero esquecer).
Quando cheguei em NA ouvia falar de HI e tinha muita curiosidade Ele trocou de ficha de seis meses limpo e foi “a” troca de ficha. A
em conhecer mas morava muito longe do subcomitê local, mais de trinta mais emocionante que já vi até hoje!
km, e a condução era ônibus (duas horas) e mais metrô, mas mesmo Fiquei tão emocionado que queria voltar mais vezes, mas meu
assim fui com um companheiro mais antigo conhecer. horário de serviço não permitia e nessa época estava freqüentando o
Daquele dia em diante minha vida mudou e minha recuperação subcomitê de HI e vi que bem na minha folga seria a comemoração de
também, pra treinar tinha uma simulação com trinta companheiros em quatro anos do grupo e me envolvi. Novamente senti tudo de novo. Aquele
média e até tremia nos primeiros treinamentos. Sentimento indescritível! medo, e fui com medo mesmo e foi outra experiência maravilhosa!
Com dois meses fui pela primeira vez em uma clínica que utilizava o Liberaram todos os pavilhões pra participarem da reunião e lotou o
método de doze passos e era pra ser apenas um ouvinte, mas acabei por local. E depois os presos fizeram até um samba pra nós, tinha bolo e os
partilhar e também o fiz tremendo. Ouvia falar no HI de uma clínica membros de NA presos tinham o mesmo brilho nos olhos dos que estão
psiquiátrica e que pra ir lá, mesmo se fosse de ouvinte tinha que ter mais aqui fora, e estavam muito felizes, porque mesmo presos, estavam libertos
de seis meses limpos e também ouvia falar de um grupo dentro do maior da pior prisão que existe, que é a prisão da adicção ativa.
presídio da América Latina (Carandiru) e que esse grupo se chamava Como mencionei anteriormente: após eu ir ao Grupo da Paz minha
Grupo da Paz e sentia até arrepio só de pensar em um dia ir lá. Mas falava recuperação nunca mais foi a mesma!
pra eu mesmo que iria ficar limpo e iria chegar o momento de poder ir Hoje, haja o que houver não tenho do que reclamar!
nessas instituições. Obrigado pela oportunidade de poder partilhar e um grande beijo no
coração!
Com seis meses e três dias fui à psiquiatria e foi uma experiência e
tanto, já que vim da rua, sem passar por instituição. -------------------------------------------------------------------------------
Com dez meses limpo e envolvido no serviço da irmandade me senti
preparado e marquei com os servidores do HI. ADICTO, LIMPO DESDE 18/06/1996! SPH!
Acordei bem cedo e pedi ao Poder Superior pra me usar naquele dia
como instrumento da Sua Vontade e fui: ônibus (duas horas) e metrô, não No final de 1996, um bando de loucos se reuniu no propósito de
queria que os companheiros percebessem meu nervosismo e tinha um levar a mensagem de NA ao maior presídio em população do mundo: A
companheiro que não está mais nesse plano. Ele tinha muita experiência e Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru).
ele me acalmou bastante com sua tranqüilidade e agia normal, como se Em principio foram alguns painéis de HI atingindo as tão famosas
fosse a uma clínica qualquer, ao passar. Eram vários portões e a cada salas de aulas da instituição (inclusive algumas tinham sido celas de
portão que se fechava eu pensava: "MEU DEUS, CUIDA DE MIM", entramos castigo, outrora), com isso e aos poucos todos os detentos ficaram
e fomos para o pavilhão onde aconteciam às reuniões e ficou marcada na sabendo que de 15 em 15 dias haveria reuniões de NA no Pavilhão 03. No
minha memória: um senhor com uma ficha preta pendurada no peito como começo muita duvida muita resistência por parte dos internos, mas, o mais
pingente em uma correntinha e ele era o responsável em chamar os presos impressionante era o respeito entre os membros (internos e externos) e a
que queriam fazer parte da reunião, ou que queriam conhecer a reunião. vontade que tínhamos de que “aqueles caras” (adictos presos) soubessem
Quase no meio dessa reunião chegou um companheiro apressado e que era possível o que estávamos propondo a eles e não éramos
fez uma partilha que até hoje eu falo dela onde quer que eu vá! especialistas no assunto nem profissionais da área da saúde, falávamos de
Na noite anterior, os parceiros de cela dele haviam usado a mesma “igual para igual” e todos se faziam entender.
droga de escolha dele durante a noite inteira e ele tinha que passar a Um mês depois já tínhamos conquistado a confiança do agente
droga para um parceiro do lado, e de joelhos pedia a DEUS pra não usar, penitenciário responsável por nós (O nosso Anjo da Guarda) o chefe da liga
que queria trocar de ficha de seis meses no outro dia, e ao acordar, ele esportiva da Casa, diga-se de passagem, que eu nunca vi ninguém ser tão
ficou muito triste porque ouviu dizer que no pavilhão dele ninguém poderia respeitado como era aquele homem. Tivemos a oportunidade de conhecer
sair pra nada, mais uma vez ele falou com Deus: Se for sua vontade, que algumas pessoas que já haviam passado por NA. Outras tivemos a
seja... infelicidade de rever, que em decorrência da adicção ativa estavam
exclusos da sociedade. Aos poucos fomos ganhando espaço e com o passar
do tempo muitos internos se juntaram a nós e levantaram a nossa Durante as reuniões tive oportunidade de conhecer o outro lado da
bandeira com a certeza de que estavam fazendo parte de algo possível e marginalidade e também pude mudar muitas coisas na minha vida e
fácil de praticar em qualquer lugar, pois o que mais deixava os valorizar coisas comuns e amar os meus próximos muito mais do que já
companheiros à vontade era a certeza que todos que participavam amava. Já conhecia aquele lugar, porém, nunca tinha ido para tentar
daquelas reuniões que fazíamos; já tinham feito de algum modo, parte da ajudar um desconhecido. “Teve uma vez se não me engano a segunda vez,
marginalidade um dia, o que contava muito ao nosso favor. que fui com os companheiros e estava esperando no meio do pavilhão
Lembro-me que em certa época que íamos às quartas-feiras e ficávamos quando me jogaram uma TEREZA (corda feita pelos presos para
aguardando horas na porta do presídio para sermos atendidos, mas comunicação ou para fuga) com um bilhete amarrado na ponta:” ME TIRE
quando nosso Anjo protetor aparecia tudo virava festa, pois sabíamos que “DAQUI ESTOU NA TRANCA FAZ QUATRO MESES, NÃO TOMO BANHO A
nossa reunião já começaria dentro de alguns minutos. Lembro-me com MAIS DE UMA SEMANA, SE FICAR AQUI VOU MORRER, POR FAVOR, ME
muita tristeza quando deixava meu RG na porta para entrar, pois já tinha TIRE DAQUI”, peguei o recado e não pude fazer nada, pois nossa proposta
feito aquele trajeto varias vezes para visitar meu irmão (morto em Dez/96 não era ajudar diretamente ninguém nem privilegiar ninguém, conforme
em decorrência da adicção ativa), então éramos revistados com muito treinamentos de HI e Longo Alcance. Noutra vez viram um rapaz pedindo
respeito e carinho pelos funcionários. Parávamos no Jardim da Divinéia desesperado para não ir para uma determinada unidade, pois tinha muitos
para fazer nossa oração e entravamos antes de passarmos pelo primeiro inimigos por lá, porém foi em vão. Dias depois fiquei sabendo que tinha
portão; todos da cadeia já sabiam que estávamos lá íamos direto para o sido morto na tal unidade. Mas a melhor de todas foi que havia um
Pavilhão 03, e normalmente já tinham 02 ou 03 companheiros nos companheiro que a todo final de reunião me pedia para dar um beijo
esperando para o inicio da reunião. Normalmente éramos 05 ou 06 especial na minha mãe, e na semana seguinte ele me cobrava o tal beijo.
externos e mais ou menos 12 a 15 internos. No inicio os externos falavam Passado alguns meses, perguntei por que me pedia para dar o tal beijo
primeiro e depois os internos falavam, normalmente muito pouco, até que sendo que ele nem conhecia minha mãe. Ele me disse apesar de não
chegou um rapaz na sala que já tinha ficado limpo por alguns anos em NA conhecê-la eu não podia perder tal oportunidade, pois a mãe dele, ele já
e começou a ser o nosso divulgador de reuniões na instituição. Com seu não a beijava há 17 anos (tempo que estava preso). O mais importante
retorno a NA acontecido na Instituição ganhamos mais força e crédito, pois desse Grupo foi a oportunidade que tivemos de entender que independente
alguém deles já nos conhecia e pôde comprovar o que falávamos. Toda da situação a 3ª Tradição garante liberdade Mental e Espiritual e
semana aquela angustia, pois tínhamos que contar com a sorte e a paz Comportamental a todos que praticam o programa de NA. Sem distinção.
interna da Casa para podermos entrar, então tinha dia que não podíamos Não sei se ensinei alguma coisa, mas tenho certeza que aprendi muito.
entrar por causa de rebelião ou por falta de lugar e também tinham as “E, como dizia um saudoso amigo, quando tudo parecer ruim, sinta-se
revistas periódicas que a policia fazia, nesses dias nem pensar. Por mais numa caixa d’água cheia, reze incansavelmente, pois a água vai baixar e
recuperação, que vivêssemos aqui fora não se comparava aos membros você vai sair da caixa seco e pronto para viver outra dificuldade”.
internos, pois eles tinham que conviver da mesma maneira e com as (Saudades de todos os companheiros que compunham o time e que me
mesmas pessoas lá dentro então eles aplicavam muito plenamente o deram a oportunidade de aprender tanto com ELES).
programa em suas vidas e conseguiam todo dia trazer pelo menos um Muito obrigado pela oportunidade de fazer parte dessas histórias e também
novo interno para as reuniões. Havia um companheiro, que era um de poder contá-la.
senhorzinho negro de fala mansa. E muito educado que foi um dos nossos
primeiros ingressos, se não o primeiro, este homem cuidava das nossas -------------------------------------------------------------------------------
literaturas com tanto amor que parecia uma coleção de cartas de amor que
tivera recebido da sua amada. E com o passar do tempo já éramos muitos Sou um adicto em recuperação e participei das reuniões do Grupo
que freqüentavam o Grupo da Paz. Tive a oportunidade de diversas vezes da Paz. Estive em algumas quartas feiras das 09h30min h às 12h30min h.
me deparar com situações que me gelavam o coração, mas estávamos lá Quero falar de muitas coisas que Narcóticos Anônimos vêm me ensinando
para fazer com que eles entendessem que tudo que nós propúnhamos era e com as experiências das pessoas que vem se recuperando da adicção
totalmente aplicável em qualquer lugar independente da situação, e ativa.
tivemos diversas provas disso quando conseguíamos realizar uma troca de Muitas vezes quando eu ia às reuniões do Grupo da Paz, marcava
fichas ou até mesmo a festa de aniversario do grupo que foi um grande com os companheiros para fazer o painel de HI. Vi muitas experiências de
acontecimento tanto para Irmandade quanto para instituição. pessoas que estavam se recuperando através do programa de Narcóticos
Anônimos, dentro da Casa de Detenção no Grupo da Paz de Narcóticos No final de uma reunião, percebemos que um detento retirou sua
Anônimos. camiseta e começou a copiar algumas frases do Texto Básico, havia apenas
Todas as reuniões que eu ia, ouvia várias experiências e fui dois exemplares circulando internamente.
aprendendo com os companheiros que estavam presos e que eram — Tem muita gente usando no meu “xis” e isso me ajuda a não usar.
servidores do Grupo da Paz, como o secretário. A estrutura de serviço do Voltei mais algumas vezes àquele grupo e só não fui mais porque
Grupo mantinha a 5 ª Tradição o propósito primordial e a 3ª tradição para era sugerido, pelo subcomitê de H&I, o revezamento constante dos
que os recém chegados pudessem ingressar e recuperar-se da adicção membros, evitando assim a possibilidade de criação de qualquer tipo de
ativa. vinculo entre nós publico externo com os internos.
Só por hoje estes foram os meus sentimentos ao escrever um pouco O Grupo da Paz, apesar de hoje inexistente, deixou muitos frutos,
de experiência de ter aprendido com o adicto em recuperação, os caminhos tanto aos detentos quanto para nós. Para mim, me permitiu perceber o
de Narcóticos Anônimos. quanto de pré-conceito carregava dentro de mim e o quanto teria que lutar
para ficar livre desse inútil sentimento.
------------------------------------------------------------------------------- Ensinou-me que independente “das grades que nos separam não
existem diferenças entre nós, somos todos adictos buscando recuperação”.
Grupo da Paz – Lição de vida, determinação, igualdade e fé.
Sou um adicto em recuperação e estou limpo a pouco mais de 9 -------------------------------------------------------------------------------
anos. Esta vitória diária sobre minha ativa deve-se a minha presença
constante em sala e ao serviço de NA, entre eles o de partilhador de HI, Meu nome é adicto em recuperação e estou limpo a 8 anos e alguns
que logo no inicio de minha recuperação permitiu-me conhecer o Grupo da dias e é graças a Narcóticos Anônimos como um todo e os companheiros
Paz, situado dentro da extinta Casa de Detenção de São Paulo no bairro do de NA.
Carandiru. Estou aqui para falar de minhas experiências no Grupo da Paz de
Logo de manhã nós, quatro companheiros, nos encontramos no NA. Um grupo que funcionou alguns anos na Casa de Detenção, na Avenida
portão principal. De inicio notamos alguns poucos familiares de detentos Cruzeira do Sul, no Carandiru.
davam entrada em alguns “jumbos” na portaria, apesar de não ser dia de Tudo começou no meu grupo de escolha que é no bairro Jaçanã em
visita. SP. Estava limpo fazia uns 6 meses e estava servindo o grupo como
Em seguida o Senhor Responsável por nós lá dentro, veio nos secretário nas 3ª, 5ª e 6ª feiras. Durante as reuniões os companheiros
receber e, como sempre com um sorriso aberto e estampado em seu rosto. falavam de levar a mensagem de NA adiante em hospitais, presídios,
Grande personagem da vida este senhor, ao qual sempre agradecíamos instituições, aos adictos que ainda estavam sofrendo nos horrores da
pelos esforços que fez para permitir que a Irmandade de NA obtivesse adicção ativa.
sucesso no projeto de abrir e manter um grupo dentro daquela instituição. Senti que estava faltando isso na minha recuperação e resolvi
Íamos entrando, as trancas batendo às nossas costas com um som procurar o subcomitê de HI que funcionava no Grupo São José e na época
frio e sofrido, porém repleto de esperanças. tinha o nome de Oficina Nova Esperança de Hospitais e Instituições.
Chegamos ao local e, se não me engano, era no Pavilhão 4 ou 5 que Chegando, logo de cara, comecei a fazer os treinamentos e fiquei sabendo
se baseava a sala onde se dava a reunião semanal. que funcionava um “painel de HI” dentro da Casa de Detenção as 4ª feiras
Conheci o interno, mulato alto, forte que detinha, dentro de si, um às 9h00 manhã e resolvi conhecer o grupo. Eu estava com medo no inicio.
coração enorme. Imaginem vocês que este detento, graças a sua grande Mas um Poder Maior me auxiliou e consegui superar esse medo e entrei na
resistência física, literalmente escorregava dentro da tubulação de ar e ia casa para levar a mensagem de NA junto dos companheiros.
jogando alguns folhetos de recuperação dentro de algumas celas, O que me chamou a atenção é que fazíamos a oração da serenidade
principalmente as do “seguro”, pois os detentos que lá se encontravam não antes de entrar no grupo. E tinha um carcereiro que participava da oração.
podiam sair nem mesmo para o banho de sol, sabiam que estavam Chegando ao painel pela 1ª vez eu reparei que o Grupo estava cheio de
“marcados para morrer”. gente já sentada nas cadeiras. Tinham alguns senhores de idade mais
A reunião fluia normalmente e o que me chamava mais à atenção avançada e alguns jovens e todos estavam sentados de calça bege e
era a forma de tratamento que estes detentos nos reservavam. Sempre camisa branca.
atenciosos dificilmente pronunciavam sequer um palavrão ou mesmo O coordenador do painel tinha alguma intimidade com aquelas
falavam alto. A educação deles destoava-se do local. pessoas que eram moradores do local.
A reunião foi maravilhosa e serviu para reforçar o propósito de não também naquela festa juntos de uns 10 companheiros de fora da
usar droga naquele dia. Eu continuei voltando nas quartas-feiras seguintes instituição e umas 300 pessoas lá de dentro comemoramos aquele
daquele mês. O companheiro falava sempre nas reuniões que aquele painel aniversário. Na troca de ficha do companheiro, o que me impressionou foi
de HI ia deixar de ser painel para transformar-se num grupo de Narcóticos ele ter falado que a liberdade ele tinha encontrado lá dentro através de
Anônimos e através dos subcomitês de HI e Longo Alcance esse objetivo foi Narcóticos Anônimos. O companheiro na hora de cortar aquele bolo não
alcançado no mesmo mês. agüentou a emoção e chorou muito. Estavam no final da reunião todas
O coordenador tinha concluído seu encargo e tinha em aberto para o abraçadas para oração final, umas 300 pessoas, todos estavam felizes
substituto ser o primeiro representante do grupo (RSG). Eu resolvi levantar gritando – “Ah”! Hoje eu tô limpo!
a mão na primeira reunião de serviço naquele grupo e os companheiros Dezembro era o mês de festa de fim de ano e por isso não tinha
votaram em mim para RSG e num outro companheiro residente para reunião nesta data. Em janeiro nós voltamos a participar novamente das
secretário do Grupo da Paz. O grupo funcionava no pavilhão seis na capela reuniões do Grupo da Paz. Eu tinha conseguido pela primeira vez na minha
da Igreja Católica. Os companheiros do outro pavilhão tinham que ter vida ficar sem usar drogas e álcool. Como aquele gesto fortaleceu minha
autorização dos diretores para circular em outros pavilhões, por escrito. O recuperação.
responsável para pedir essas autorizações outro interno, já era um senhor Comecei como RSG a voltar a freqüentar reuniões diárias
residente que morava no pavilhão cinco. novamente depois do recesso de fim de ano. E eu pude perceber que
Existia uma diversidade de gente adicta muito grande naquele grupo alimentava o interesse dos companheiros de Narcóticos Anônimos a ajudar
e os companheiros estavam conseguindo ficar limpo apesar das aquele grupo, também reparei dentro do grupo que alguns companheiros
dificuldades. A dificuldade as quartas-feiras era achar membros de fora da de lá dentro não estavam mais no presídio do Carandiru, eles tinham
instituição para levar a mensagem para aquele lugar. Os companheiros da pegado o bonde para outros locais e outras cidades. O secretário e o RSG
zona norte e sul solidarizavam com o grupo da paz e ajudavam sempre que eram os mesmos. O material do grupo foi desviado incluindo a toalha azul
podiam mandando sempre alguns membros através do subcomitê de longo e as literaturas e a cafeteira. E a Área doou tudo novamente para
alcance e HI. Existiam algumas normas para levar a mensagem, exemplo: podermos ter nossas reuniões novamente. Naquele ano eu aprendi muito
não estar devendo para a justiça e tempo mínimo de seis meses limpo, nas reuniões do Grupo da Paz e parei de reclamar de algumas dificuldades
mulher também não podia participar. Nós éramos “as calças azuis” da que eu tinha. Havia muitos recém-chegados, em média 3 ingressos por
mensagem de NA. As reuniões em média de quinze a vinte pessoas, reunião. Os depoimentos dos companheiros de lá de dentro me fortalecia
incluindo o Poder Superior e sempre tinha recém-chegados e pessoas há cada vez mais a ficar limpo. Pessoas que falavam que estavam sem usar
anos limpas. Existiam espiritualidade e respeito que eu não via igual no drogas e no local de moradia tinha uns 8 usando ao seu redor e eu
grupo de fora da instituição. Alguns de dentro do local esperavam ansiosos continuei voltando. Passado alguns meses de reuniões o companheiro que
este momento de ter as reuniões para desabar os acontecimentos dos dias servia como secretario entregou o seu encargo na irmandade. O motivo: a
seguintes. Uns não tinham visitas ao domingo por motivos diversos. Eles religião dele pediu para ele se desligar do grupo de Narcóticos Anônimos e
gostavam do nosso cafezinho da cafeteira e das literaturas de NA, das ele atendeu prontamente. Era meio complicado arrumar secretário no
nossas partilhas de força, fé e esperança, também tinha pessoas que Grupo. O motivo é alguns moravam em outros pavilhões e não podiam
conseguiam autorização para ir para Narcóticos Anônimos, mas iam fazer ficar circulando nos pavilhões sem autorização escrita. Foi eleito numa
“outras correrias”. reunião de serviço o novo secretário do Grupo da Paz.
Achava tudo aquilo novo e desconhecido. Fui me acostumando com
tudo aquilo que eu presenciava e continuei voltando e fui ficando limpo Esse companheiro era tão inteligente e prestativo e ajudou muito o
também. Alguns dias depois o secretário recaiu. O companheiro que estava Grupo Também. Ele era um poeta nas horas vagas e ganhou um concurso
limpo a mais de um ano e meio pegou o encargo de secretário e melhorou de poesias do Jornal Noticias Populares; no valor de R$ 3.000,00. Ele não
muito as reuniões do Grupo da Paz. Tivemos o primeiro aniversário do agüentou e recaiu logo após. Mas ele voltou e recomeçou novamente sua
grupo da paz em novembro. As doações foram dos companheiros de fora caminhada de recuperação. Com dez meses de serviço prestado ao Grupo
do grupo que colocavam na sacola para comemorar essa primeira festa. entreguei meu encargo por motivos de forças maiores.
Um interno me pediu uns dias antes para trocar a ficha de seis meses Outro companheiro foi eleito para novo RSG do Grupo da Paz e eu
limpos lá dentro. Eu tinha acabado de chegar da minha primeira convenção estava como membro do Grupo. Sempre que podia comparecia nas
que foi a única até hoje, que foi em Poços de Calda. E resolvi trazer de lá reuniões.
aquela ficha azul. Um companheiro doou uns 700 salgadinhos e resolveu ir
Foi eleito um secretário que não lembro o nome. No final do ano eu Assim como na reunião de encerramento do Grupo da Paz, agradeço
pude participar por mais uma festa de NA, o 2º aniversário do Grupo da a todos que por lá passaram para levar ou receber a mensagem de
Paz. Depois das festas de fim de ano o companheiro RSG entregou seu Narcóticos Anônimos.
encargo e dois novos companheiros foram eleitos RSG e RSG Suplente. Eu O Grupo terminou suas atividades por motivo de desativação da
tive que continuar voltando às reuniões e pude ajudar esses companheiros Casa de Detenção.
a levar a mensagem. O último secretário eleito, e que tinha dificuldade de ficar limpo
Pude no começo do ano, percorrer as escolas que funcionavam lá naquele local, mas sempre acreditávamos no seu serviço. Temos notícias
dentro de cada pavilhão e falar que reuniões de Narcóticos Anônimos dele: Hoje ele está limpo há uns 3 anos.
existiam lá dentro e convidava os detentos para ir conhecer o Grupo da
Paz.
As 4ª feiras as 9h00 h da manhã. Esses dois companheiros eleitos mais o
secretário eleito foram os que mais contribuíram levando a mensagem de
NA. Eles inclusive conseguiram concluir os encargos de RSG e RSG
Suplente.
O companheiro; secretario do Grupo não conseguiu por motivo de
recaídas, mais não desistiu da recuperação e continuou voltando pra
secretariar as reuniões e mesmo nessa condição ele era aceito.
As reuniões estavam acontecendo no Pavilhão 5, nessa época era
considerado o lugar do seguro na cadeia. Teve uma reunião que me
chamou a atenção, onde durante a reunião neste pavilhão e não sei por
qual motivo; mas parece que teve lá dentro, um acerto de contas e alguns
indivíduos encapuzados e com facas nas mãos invadiu o local da reunião e
pediu educadamente para nós deixarmos aquele local porque ia ter talvez
uma briga. Agradecemos e deixamos o Grupo da Paz. Não deu tempo pra
guardar nada do Grupo naquele momento. Inclusive o companheiro se
esqueceu de pegar sua blusa e o dinheiro que estava no bolso que era
R$ 50,00 na época. Saímos do presídio sem saber o que estava
acontecendo. Uma semana depois voltamos mais uma vez para reunião do
Grupo. Eis o milagre, os companheiros detentos guardaram o material do
Grupo, a blusa e o dinheiro.
A partir daí eu comecei a ver como NA era respeitado por todos
naquele lugar. Foram mais ou menos uns 3 anos de frequencia no Grupo
da Paz minha participação. Foram 3 festas de aniversário. Inclusive a
última reunião que fui foi a de aniversário. Muitas coisas que eu presenciei
me ajudaram na minha recuperação.

RESUMO DO GRUPO DA PAZ


Cartaz divulgando o Grupo da Paz e incentivando os membros de
NA a participar!
SOBREVIVENTE DO INFERNO uma vida de prazeres, fui hippie, fiz muito artesanato, viajei muito às
praias, fui a muitos festivais de rock, sempre envolvido com drogas e
DE REPENTE ACORDEI NO INFERNO: álcool. Assim os anos foram passando, foram passando e o consumo de
drogas aumentando a cada dia.
De uma vida destinada a curtir desde os doze anos em contato com
as drogas de todos os tipos, cercado de amigos que só queriam desfrutar
Chegou o momento em que eu já não conseguia manter meu vício castigo também, ai o motivo para não serem abertas para o sol, se
como usuário, a quantidade de drogas que eu consumia era muito grande, passasse algum tempo e você não conseguisse lugar pra morar, você era
já não conseguia o dinheiro pra comprar, então aos 38 anos de idade parti transferido para o seguro no 5º andar e continuava na “tranca” o dia
para o tráfico, já tinha alguma experiência, visto que, já havia feito alguns inteiro.
“aviões” durante minha jornada no mundo das drogas, sempre coisa Você só tinha 2 opções, conseguir lugar num “barraco” de amigos
pequena nunca tive uma “boca” ou “biqueira” (ponto de venda de drogas), ou comprar um “barraco” - celas que ficavam os preso já fora da triagem e
neste momento eu estava totalmente viciado e trabalhando com táxi no eram abertas diariamente das 08h00 as 16h30 -, os “barracos” eram
Centro de São Paulo, conheci a “Boca do Lixo”, bairro do Centro de São vendidos de R$ 600,00 a R$ 1.200,00. Impressionante, você tinha que
Paulo, onde existem muitos Teatros de strip-tease e muitos bares noturnos comprar o lugar para “tirar sua cadeia” - cumprir a pena. Devo dizer que lá
freqüentados por pessoas com um nível social baixo, cheio de ladrões, era terra de ninguém mesmo, os seguranças só subiam no pavilhão na
estelionatários, traficantes e prostitutas. Foi onde comecei a fazer corridas hora da “tranca” - colocar os presos de volta nas celas - já que tinham
de táxi para traficantes. medo dos presos.
Um dia a casa caiu de vez e fui parar na delegacia. Fui indiciado no
artigo 12 – tráfico, considerado crime hediondo - assinei e não teve acerto, Fui “pago” – colocado - no pavilhão 5, que abrigava mais ou menos
aqui começou a minha jornada para o inferno. Passei por várias Delegacias 1.600 detentos e tinha fama de seguro, porque lá ficavam os
onde as drogas existiam em fartura. homossexuais e os detentos que aprontaram em outros pavilhões. O
Adoeci, adquiri uma infecção pulmonar, e quase morri. Fui pavilhão 5, era também como o Supermercado da Cadeia, já que os presos
transferido para outro “CDP” – Centro de Detenção Provisória - onde recebi que lá moravam compravam mercadoria na rua e estas mercadorias
tratamento médico adequado e consegui curar e ficar bem, foi lá que chegavam através de “jumbos” - sacolas de alimentos levadas aos presos,
chegou a notícia da minha condenação. Esta notícia foi à “passagem para o pelas famílias ou através de algum funcionário. A droga rolava solta. Nas
inferno”, porque quando dei por mim, já estava no Carandiru, havia sido escadas e galerias havia barracas de alimentos, vestuário e drogas, o
condenado e não poderia ficar mais no CDP. Fiquei apreensivo na minha quarto andar do pavilhão 5 era como um “puteiro”, os homossexuais
chegada ao Carandiru, sempre ouvi histórias terríveis em relação a este preparavam seus “barracos” com luzes escuras e cortinas, se transvertiam
presídio, tem até um Rap que diz “Carandiru Casa do Diabo Velho”, era para parecerem mulheres, tinham aparelhos tocando musicas o dia todo e
realmente um lugar terrível mais de 8.000 detentos amontoados em 8 faziam programas pagos pelos detentos, a moeda em circulação era o
pavilhões. A rotina era esta: logo que você chegava, ficava na “Triagem” cigarro: o Hollywood valia R$ 1,00 e o THE valia R$ 0,50.
que eram celas de mais ou menos 4 x 4 metros, que abrigavam uns 50 Durante o horário de sol os detentos andavam por todo lado, não
detentos, era terrível enquanto uns dormiam outros tinham que ficar em tinha uniforme, era um verdadeiro desfile de moda a malandragem só
pé, fora o fato que os presos mais velhos ficavam te olhando o tempo todo andava de roupa de grife, principalmente os “patrões”, com “bombetas”
por um buraco, para te reconhecer e ver se você devia alguma coisa para o (bonés) caros de grife, relógios de 1º linha, tênis nem se fala só ultimo
crime. Se tivesse algum “cagueta”, se era de alguma facção rival, se fosse modelo, no Carandiru tinha de tudo só não tinha mulher a todo o momento
um “talarico” - malandro que sai com mulher de malandro preso - ou se no e todos os dias, porém no Pavilhão 5 tinha o bordel de homossexuais, com
DP – Distrito Policial - você extorquiu os mais humildes, você estava alguns maços de cigarro quem fosse a fim, poderia satisfazer seus instintos
ferrado: ia ter que se explicar quando saísse da triagem. sexuais, era só ir até lá.
Depois de algum tempo na triagem, você era transferido aos A “bóia” – refeição - era um sufoco, muitas vezes vinha azeda e
pavilhões, se não tivesse amigos pra arrumar vaga nos “barracos” – celas - agente tinha que fazer o famoso “recortado” - refazer a bóia - que consistia
você ficava em outra triagem do pavilhão, eram celas menores ainda, que em lavar toda a mistura e a comida, retemperar, cozinhar e fritar de novo
ficavam cerca de 30 detentos, não eram abertas para o sol, você ficava na nas bigornas - fogões elétricos feitos com um molde de barro e resistência
“tranca” –fechado - o dia inteiro, estas celas ficavam no lugar onde era o elétrica - tudo era precário. O que “livrava a cara”, é que tinha a feira
diária, onde você; com alguns maços de cigarro, comprava alimentos Presídio, sem medo de serem seqüestrados pelos detentos e que
vindos “da rua”, também era permitido que a família mandasse alimentos começasse uma rebelião, lá era um barril de pólvora, a qualquer momento
para serem preparados no “barraco”. se desencadeava uma rebelião, mesmo assim eles sempre estavam lá, com
Era uma verdadeira Babilônia, eu estava completamente viciado e suas partilhas trazendo mensagens de esperança e um entendimento num
logo arrumei um “trampo” (trabalho) pra ganhar uns maços de cigarro e “Poder Superior” que pode nos ajudar no combate aos vícios, trazendo
comprar minha droga, vendia desinfetante, começava a vender dois dias palavras de Fé e Esperança, nos dando exemplos que é possível, porque
antes do dia da visita porque os malandros queriam que o barraco às vezes participavam das reuniões ex-detentos, que eram membros de
estivesse bem cheiroso pra receber as visitas, vendia 2 litros por 1 moeda NA e tinham conseguido largar as drogas e o álcool, não tinham medo de
(um maço de cigarros) mas mesmo assim, não dava pra pagar a droga que levar a “Mensagem de NA” aos adictos do Carandiru que tinham o desejo
eu usava, às vezes tinha que pedir dinheiro para a família, para pagar as de abandonar o uso de drogas.
dívidas senão o “bicho pegava”. Lá os traficantes, mesmo sabendo que Fiquei muito emocionado ao os ouvir partilharem e falar de um
você não tinha dinheiro te vendiam a quantidade de droga que você “Poder Superior” que poderia nos ajudar na luta contra o vício, ao ouvir
quisesse, porque você teria que pagar de qualquer jeito, não tinha pra a “Oração da Serenidade” dentro daquele inferno fiquei todo arrepiado,
onde correr: ou pagava, morria pela dívida ou viravam “lagarto” (teria que já tinha ouvido em algumas reuniões que fui com minha irmã, porém não
segurar a morte de alguém quando isto ocorresse, arrastava o cadáver tinha prestado atenção, senti que alguma coisa mudava dentro do meu
pela galeria), os patrões quando você devia te levavam para seus barracos ser: “Senhor conceda-me Serenidade para aceitar as coisas que eu
te davam um “orelhinha” - celular - e obrigavam você a ligar para sua não posso modificar coragem para modificar aquelas que posso
família para saldar a dívida, era o inferno mesmo, e eu cada vez mais modificar e sabedoria para reconhecer a diferença. Só por Hoje”, foi
viciado. Foi quando surgiu uma luz no fim do túnel, minha irmã que era do muito bom ouvir isto lá, naquele lugar, foi muito bom ouvir os
NA - Narcóticos Anônimos, membro e prestava serviços como companheiros partilharem, saber que era possível abandonar as drogas, eu
tesoureiro, tinha bastante conhecimento e contato com todos os grupos de que imaginava nunca parar de usar drogas, achava impossível tinha
São Paulo, ela me mandou uma pipa – bilhete - dizendo que no Carandiru vergonha de partilhar, não conseguia me imaginar parando, estava lá no
tinha um grupo de NA, com nome de “Grupo da Paz”, que seria uma inferno ouvindo pessoas que como eu que usaram muita droga e que já
maneira de eu tentar abandonar as drogas lá dentro, pra não ficar estavam limpos há anos. Na época o Grupo da Paz estava sem secretário,
correndo perigo, era pra procurar um carcereiro responsável pelo Grupo, e sem uma pessoa interna para arrumar a mesa das reuniões, guardar os
entrar para este grupo de autoajuda. folhetos e organizar as reuniões para todas as terças-feiras, receber os
Eu estava totalmente perdido, habituado a usar muita droga, a Guerreiros da Luz, tão nobres visitantes que traziam mensagens de
qualquer momento poderia não conseguir o dinheiro pra pagar a dívida, esperança e amor para aquele lugar tão sofrido. Na reunião eles
então teria que me tornar “lagarto”, assinar um homicídio cometido por precisavam eleger um secretário e eu levantei a mão e me tornei o último
outro “malandro”, e não conseguiria mais sair da cadeia, ou seria morto e secretário do Grupo da Paz, porque dois meses depois ele viria a se
arrastado por alguém. Lá os malandros levavam muito a sério, dívida de dissolver com a desativação do Complexo Penitenciário do
droga. Carandiru.
Procurei este carcereiro, um verdadeiro Guerreiro Solitário dentro Mesmo assim, consegui coordenar várias reuniões, nas reuniões era
daquele inferno que era o Carandiru, só ele procurava ajudar os presos. Só o maior respeito, os traficantes sempre ficavam a espreitar para ver do que
pra terem uma idéia os ratos punham os gatos para correr, tinha ratazana se tratavam, eles até gostavam porque nós acolhíamos os viciados
maior que gato Siamês à noite e ficávamos fazendo aposta e olhando o desesperados, prestes a serem mortos por dívidas dentro do presídio e
campo pela janela, para ver os ratos porem os gatos pra correr. O agente numa última tentativa de se libertar das drogas, procuravam as reuniões
penitenciário responsável por NA, homem de caráter, sempre batalhava de NA onde podiam falar a vontade sobre suas dificuldades diárias,
para melhorar a qualidade de vida dos detentos, sempre procurando trazer podiam desabafar, dar um grito no escuro, ou seja, partilhar entre
atividades culturais e Assistência Social ao Presídio. pessoas iguais que compreendiam suas dificuldades e os
Consegui o passe para participar da Reunião do Grupo da Paz e respeitavam como irmãos e companheiros.
encontrar mais 5 ou 6 Guerreiros da Luz, que toda semana visitavam o
Carandiru, não se importando com as dificuldades que encontravam, Os “patrões” não gostavam de ficar matando gente, mas tinham
fizesse chuva ou sol. Estes Guerreiros da Luz, sempre estavam lá, que manter o respeito, porque existiam muitos viciados e muita dívida de
passando pela humilhante revista que era feita para se adentrar ao drogas dentro do Complexo.
hora da liberdade tão sonhada, eu não queria sair queria ficar preso, que
Pra mim, foi muito bom ter conhecido NA naquele momento eu vi coisa estranha ficar enjaulado como animal. Fiquei mais ou menos dois
que era possível parar com as drogas. meses sem usar, só dentro de casa, bem próximo da minha família, pois
Dou graças aos companheiros, que como Guerreiros da Luz, estava de condicional e a qualquer vacilada voltava pra “tranca”, uma vez
levaram a mensagem de NA aos adictos que sofriam naquele lugar que meu artigo era pesado: o 12.
macabro. Importante dizer que é muito difícil à vida na prisão, eu mesmo Mesmo assim numa noite, fui até um lugar de ativa e recai. Senti-
não consegui parar naquele momento, mas alguma coisa tinha mudado me o último, um trapo. Passei uma semana sem conseguir encarar meus
dentro de mim, eu já não era o mesmo, porque sabia que era possível familiares, foi ai que me lembrei da “Oração da Serenidade” e fui tocado
parar de usar drogas, mas dentro daquele inferno era a única coisa que eu por aquele “PODER SUPERIOR” que tanto ouvi falar no “GRUPO DA
acreditava que acalmava os ânimos. PAZ”, lembrei-me dos companheiros de NA, que com tanto carinho nos
visitavam e levavam a mensagem de NA. Se para eles foi possível
Fui transferido para um Presídio no Interior de São Paulo, pra tirar abandonar as drogas, então decidi parar com as drogas também, já não
mais 1 ano e meio de cadeia. Lá a repressão era muito maior, agente já me faziam bem, não me deixavam com os pés no chão. .“Só Por Hoje
não tinha toda a liberdade como tinha no Carandiru, nós éramos vigiados estou limpo a 3 anos, 11 meses, 9 dias e algumas horas”, sem fazer
mais de perto. Entre os presos tinha mais opressão, os “raios” – pavilhões uso de qualquer tipo de droga, e só por hoje eu não vou fazer uso
- eram de 100 detentos e a qualquer vacilada o “coro comia solto”, tanto de nenhuma substância química que altere o meu humor. Estamos
pelos policias como pelos presos da faxina - presos que tomam conta do juntos companheiros!Tente que dá certo!
raio, distribuem a “bóia”, fazem à limpeza e são pilotos do “raio”, mantém
a ordem do raio dentro das regras da Faculdade do Crime como são
chamados os Presídios de São Paulo - Eu era um faxina e comandava as Namastê.
atividades esportivas do raio. Era contador do tráfico interno, no meio de
tanto sofrimento acabei esquecendo a mensagem de NA e caí nas drogas (O Deus que habita o meu coração, saúda o Deus que habita o coração de
novamente, pois era a única coisa que deixava eu com calma lá dentro do todos vocês).
inferno, que são os Presídios do Interior de São Paulo, onde a qualquer
momento você é espancado com canos de ferro, por seguranças do
presídio. Por outro lado, para não ser oprimido pelos “patrões”, você tem História de uma vida, por um Bandeirante da Luz.
que estar junto com eles, os “pilotos da Faculdade” - piloto são os
malandros que comandam toda a Faculdade. -------------------------------------------------------------------------------
Estava eu comandando um torneio de futebol, foi uma
euforia geral e uma surpresa pra mim, alguns dias antes eu soube que o
Juiz tinha negado meu pedido de condicional e eu teria que cumprir a pena
até o fim, e naquele dia eu seria libertado parecia brincadeira, mas era
verdade. A euforia foi geral no “raio” porque eu era querido por todos,
apesar de ser “faxina”, nunca bati em ninguém. Estava feliz, porque iria
sair daquele lugar. Fiquei numa sala aguardando o meu Alvará de soltura,
sozinho naquela sala prestes a obter a liberdade tão sonhada e desejada
por todos os detentos, comecei a ter pensamentos de não sair de ficar lá
mesmo, fiquei com medo de voltar para a rua, já não conseguia me
imaginar vendendo droga nas esquinas da “Boca do Luxo”, algo havia
mudado dentro do meu ser, não queria sair da cadeia, que coisa horrível
na hora de ir embora, sair do inferno eu não queria sair, preferia ficar
“enjaulado”. Não tinha alternativa, tinha que sair e sai.
Cheguei a São Paulo e minha irmã foi me buscar na Rodoviária, o
efeito da droga já havia passado e notei que já não era mais o mesmo em
relação às drogas, ela não me fazia mais bem, comecei a raciocinar que na
Mais um Cartaz divulgando o Grupo da Paz e como participar!
“Peguei gosto” não é a expressão correta para me referir
ao sentimento que eu tinha quando estava participando das reuniões que
Casa de Detenção – GRUPO DA PAZ ocorriam no Grupo da Paz. Eu me sentia melhor lá do que no meu grupo de
ingresso, e só por hoje, ainda sinto muito a falta deste grupo que me
Estou limpo a 12 anos, só por hoje, pela Graça de Deus, ensinou muito e que derrubou muitos preconceitos que eu tinha sobre
um pouco da minha boa vontade, um pouco da boa vontade de vocês, por algumas situações e/ou pessoas.
poder ter e usar um Padrinho e me envolver com o serviço, onde tive Hoje continuo tendo o encargo mais importante na nossa
também a oportunidade de servir o Grupo da Paz como RSG. Irmandade, “o de Membro”. Sou muito grato por ter tido a oportunidade de
frequentar e prestar um serviço neste grupo que tocou muito forte o meu
*O Preconceito: coração, pois apliquei e continuo aplicando a experiência que lá eu tive!
Só por Hoje em Espírito de Irmandade.
Antes de chegar à Irmandade, maldizia os homossexuais,
moradores de rua, deficientes, positivados, presidiários, etc. Era um
preconceito como um todo. -------------------------------------------------------------------------------

*O Padrinho:
Bom dia, sou mais um em recuperação limpo só por hoje, tenho
Sou um adicto afortunado por ter tido um padrinho, (hoje absoluta certeza que o serviço da irmandade me manteve limpo no início e
falecido), que me ajudou e muito a construir uma base na minha ajudou a construir o alicerce para o dia de hoje. Agradeço a todos os
recuperação, um dia de cada vez. Ele já ia ao Presídio do Carandiru muito companheiros que lá estiveram comigo e dois que continuam mandando
antes mesmo da formação do Grupo de Narcóticos Anônimos. forças de um lugar melhor (Valente e Carlos Rosa).
Lembro-me do primeiro painel que participei no Carandiru, a época
O Convite: o grupo da paz estava sendo estudado, logo quando saí do metrô e olhei
para o presídio. Senti medo. Aquela seria a primeira vez que entraria
Meu Padrinho me convidou para eu ir ao Grupo naquele lugar, respirei fundo e desci as escadas, quando olhei para frente
Institucional (Grupo da Paz). E, na ocasião, encontrava-me desempregado vi alguns companheiros, então me senti mais seguro, chegada a hora
e servindo o Sub Comitê de Longo Alcance que custeava minhas idas e 10h30, entramos, passamos pela revista e nos encontramos com o
vindas ao Grupo e ao Subcomitê. funcionário responsável por nós, uma pessoa incrível. Jamais quero me
esquecer dele, fizemos a oração da serenidade em um espaço depois da
O Milagre: portaria e antes do acesso aos pavilhões e entramos. O primeiro painel
aconteceu no pavilhão 5 , conhecido também como “seguro”; as pessoas
Fiz os treinamentos no Sub Comitê para saber como levar que lá estavam não circulavam por outros pavilhões por diversos motivos.
a mensagem dentro da Instituição. Minha experiência pessoal foi apenas Nosso painel seria no espaço de uma igreja evangélica. Chegamos
uma prisão no Quartel do Exército por causa de um flagrante e outra vez lá e um companheiro nos recebeu, aquela foi à recepção digna do que
no “corro” de uma delegacia. Fui à minha primeira reunião no Grupo da Paz repetimos no grupo a expressão do “estamos juntos”; os olhos brilhavam e
com muito medo, mas confiante pela presença de meu padrinho que após aquele abraço caloroso me senti mais calmo, porém recebemos
estaria lá. alguns avisos que o espaço era santo, desta forma não poderíamos fumar e
Companheiros e companheiras que estão tendo esta falar palavrões dentro daquele espaço, respondemos tranquilamente, nos
oportunidade como eu, de viver um milagre diário, sem usar droga um dia nossos treinamentos não fumávamos e nas reuniões nem falávamos
de cada vez e se modificando pelos 12 passos, servindo esta Irmandade palavrões. Alguns minutos antes do painel começar foi avisado de que no
com honestidade, mente aberta e boa vontade; as coisas acontecem e a pátio seria realizado um culto de uma igreja com aproximadamente 500
identificação que eu tive foi total, a única diferença minha para com eles pessoas cantando hinos e louvores, puxa! Pensei estarmos perdidos,
era a calça caqui, pois a identificação era o foco principal. (de se apegar começaram a chegar mais companheiros para o painel, não podíamos
nas semelhanças não nas diferenças). simplesmente adiar o painel, vamos em frente disse o líder do painel,
novamente fizemos mais uma oração e começamos nosso painel.
Quando falávamos da existência de um Poder maior do que nós, que próximo das vinte e uma horas era o ultimo momento antes da sétima
torna possível o que parece impossível, não levava muito a sério, mas a tradição, o segundo horário era sagrado para os treinamentos, quando
partir daquele dia eu tirei todas as minhas dúvidas. Aproximadamente 500 falavam do painel do Carandiru os requisitos eram não estar devendo (ser
pessoas cantando com emoção não foram capazes de atrapalhar nosso procurado pela justiça) e calça marrom, infelizmente meu uso de drogas
painel e a mensagem conseguiu chegar para aquelas pessoas que estavam trouxe problemas com a justiça na minha adolescência, porém já estavam
lá. resolvidos, judicialmente, precisava apenas me perdoar, o que graças a
Os painéis no Carandiru tinham algo a mais que os outros, porque Deus com ajuda do programa consegui fazer. Naquela época tinha 17 anos
todos que participaram na época que estavam desempregados como eu; e alguns meses, para ser exato 8 meses, estava limpo há 7 meses, uma
conseguiram emprego, por algum tempo isso era lembrado no subcomitê, vez quando o Valente foi me devolver minha identidade, até comentei com
precisa de emprego vai servir, que você logo encontra! ele que precisava trocar a foto pois aquela que estava no documento era
O acesso para nossas reuniões. Era difícil, pois o passe para circular da ativa ele olhou e arregalou os olhos, quem já me conhecia sabe do que
entre os pavilhões era muito disputado, nossos companheiros internos estou relatando e então ele me disse “MEUUUUUU, VC É MENOR DE
conseguiam este privilégio para assistir o painel, porém alguns deles IDADE”. Não era a primeira vez que alguém se surpreendia com isso, fui
voltaram a usar e chegavam faltando 10 minutos no final da reunião, para espancado várias vezes pela polícia quando eles verificavam meu
conseguir manter o benefício. documento e respondi que sim, estávamos entrando para o painel naquele
Começamos a fazer os painéis itinerantes cada semana em um dia como muitos outros, mas éramos somente nós dois. Fizemos o painel,
pavilhão diferente, as reuniões aconteciam nos lugares mais diversos: porém, percebi que ele estava estranho, quando fomos embora. Fizemos a
igrejas, barbearia. Sempre éramos muito bem recebidos em qualquer lugar oração como de costume e pegamos nosso documento assim que saímos.
do complexo que passávamos. Lembro que uma vez, estávamos chegando Ele disse “Graças a Deus”, sem entender, respondi: é mesmo mais um dia,
e alguém gritou: o pessoal do NA chegou! Isso reforçava o compromisso de ele sorriu e disse o que vamos fazer agora? E eu respondi - vamos comer
continuarmos voltando e alegria de servir a irmandade, pois alguns alguma coisa e pegar a reunião das 18h00 no Alvorada. No caminho, ele
companheiros não recebiam mais visita da família e desta forma os me explicou que eu não poderia mais participar do painel por não ter 18
companheiros acabavam assumindo este papel para alguns deles, todas as anos. Fiquei muito triste, mais na época bem como na atualidade não havia
reuniões o número de membros crescia. Havia certa insegurança sobre o recursos humano para continuar o serviço e desta forma decidimos “correr
anonimato, lembro-me de muitas vezes alguns companheiros estarem com o risco” e eu continuei frequentando o painel por mais 3 meses até quando
sérios problemas devido ao seu uso de drogas dentro do presídio e não consegui um emprego e o horário não mais permitia frequentar o painel.
conseguirem partilhar seu sentimento. Naquela altura o painel já tinha o Foi aberto o Grupo da Paz. Uma vitória (conquista) para toda a irmandade.
formato de uma reunião, pois havia regularidade dos membros, então o Mais companheiros entrando em recuperação e o milagre descrito em
espaço reservado para perguntas, na maioria das vezes era usado para nossa literatura acontecendo, tive a oportunidade de retornar ao grupo no
partilhas dos internos. aniversário de 1 ano, uma reunião inesquecível, trocas de ficha, bolo e
Com a divulgação do trabalho de HI, a idéia de abrir um grupo e samba, estavam presentes mais de 100 pessoas, entre companheiros e
continuar levando a mensagem, crescia, pois o presídio era muito grande e visitantes, pessoas que não tinham problemas com drogas e apoiavam
nós éramos poucos para atender a todos os pavilhões. O pavilhão 6, um nosso trabalho dentro da instituição.
dois mais organizados, tinha uma sala disponível. Que foi oferecida para Hoje vejo o que não tínhamos tanto naquela época e que poderia ter
nossa irmandade abrir um grupo, em meio a nossa já conhecida ajudado mais:
burocracia, demoramos, para realizar a abertura do grupo e aquela sala foi
destinada para a FIFA (Federação Interna de Futebol Amador). - Literatura (na época toda nossa literatura vinha do WSO (Escritório
Neste período a freqüência de membros colaboradores caiu a ponto Mundial de Serviços nos Estados Unidos); por isso o custo era muito caro
de muitas vezes estarmos em 2 para realização do serviço, por outro lado, para ser disponibilizada aos que quisessem).
lá dentro, os companheiros com todas as adversidades possíveis - Serviço de informação ao Publico, ser mais atuante em questões dos
continuavam voltando e alguns se mantinham limpos. presídios como ter o nome limpo para poder entrar (lembrar que o
Aproveito a oportunidade de partilhar com vocês um segredo que programa é de mudança, por isso é que estamos limpos).
durante muito tempo ficou guardado com os companheiros que eram os
coordenadores e vice-coordenadores do nosso subcomitê de HI, na época, -------------------------------------------------------------------------------
na hora do preenchimento da agenda no subcomitê que acontecia sempre
encontramos os internos que já nos aguardavam. O grupo funcionava em
Adicto em recuperação limpo há 10 anos, 08 meses e 14 dias Só por hoje. um local que parece ter sido uma igrejinha, a mesa estava arrumada com a
literatura bem como o café estava pronto. Ao fundo podíamos escutar o
O presídio do Carandiru trazia muitas místicas e a simples idéia de corre-corre do dia a dia do local, certo barulho, no grupo silêncio, muito
participar de um painel de H.I. No local, causava um frio na barriga. Muitas silêncio e atenção, a literatura foi lida com grande participação coletiva. As
estórias eu já tinha escutado sobre o local tipo: O pavilhão 08 é “o partilhas são iniciadas e o respeito continua, o foco fica concentrado na
cabuloso”, o pavilhão 09 é para os recém-chegados. O pavilhão 05 é o pessoa que esta a falar.
seguro; o 07 pra quem tem dinheiro é “mancada isto ou aquilo”, etc. O que Estou energizado com a atmosfera da reunião, comecei a prestar atenção
eu não sabia que na minha vida em recuperação poderia experimentar na na pessoa que estava responsável pelo café, parece simples, mas muitas
prática uma experiência incrível. vezes nos nossos grupos verificamos o desleixo e a sujeira que fica no
Ouvia falar dos painéis que aconteciam no presídio Carandiru, intitulado local, nos utensílios e até mesmo inacreditavelmente quando depois de
como Grupo da Paz, na época em que eu morava em Praia Grande e dois dias ou mais sem reunião encontramos a cafeteira ainda com filtro e o
participava do subcomitê de HI da área Caminho do Mar em Santos – SP. café que foi utilizado na última reunião. Foi uma grande lição para a minha
Ocorre que durante parte da minha vida fui nascido e criado na zona norte recuperação onde metodicamente o companheiro ao término da feitura do
de São Paulo, e utilizei por um longo período para ir e vir do trabalho e café realizava uma limpeza e um cuidado com os apetrechos de tirar o
lazer uma linha de ônibus que tinha o terminal final a Estação Carandiru do chapéu, show de bola.
Metrô. Desta forma, invariavelmente os momentos de espera aguardando o Aconteceu uma troca de ficha que foi muito emocionante. Ouvir a
ônibus em frente ao presídio, provocavam diversos pensamentos na dificuldade do companheiro em ficar limpo dentro daquele ambiente, com
mente, em função da movimentação sempre agitada da região, quase certeza proporcionou o revés que ouvimos que vamos levar a mensagem e
sempre carregada de viaturas policiais, entrando e saindo do local, bondes na prática recebemos. Tive a oportunidade de partilhar e agradecer ao
de presos, filas de visitas, imprensa, presos pendurados nas grades dos Poder Superior por estar limpo.
pavilhões, criando assim uma atmosfera de barril de pólvora e outras A reunião foi terminada antes do horário previsto face eminente rebelião
conotações que vagavam na mente numa mistura de medo, adrenalina, que se encontrava em andamento, porém saímos sem nenhum problema e
piedade e outros. com a satisfação de fazer parte de uma irmandade que pode dar a
Tinha mais ou menos dois anos na irmandade quando depois de ouvir liberdade da escravidão do uso de drogas até mesmo em lugares onde as
vários recados da irmandade que apontavam a necessidade de mais grades impedem a liberdade da vida.
companheiros participar do painel do Grupo da Paz, a fim de promover um
rodízio dos companheiros que freqüentavam o painel, tendo em vista que o -------------------------------------------------------------------------------
mesmo acontecia em dia útil, pela manhã fator que impossibilitava para
muitos companheiros que trabalhavam neste horário de participar.
Pela graça de Deus a irmandade de N.A e momentos como esse que me
PARTILHA fazem relembrar de uma época muito especial na minha recuperação que
eu não usei drogas (hoje) e digo pra todos que continua valendo a pena.
Chegou o dia: Tinha participado de treinamento, o que falar o que não falar Quando o companheiro me pediu para relatar minhas experiências sobre o
roupa apropriada, etc. No ponto de encontro lá estão os companheiros, grupo da paz fiquei muito feliz com a lembrança, mas por estar muito
vamos para a portaria nos identificamos, apresentamos documentos, envolvido com outros projetos acabei não dando o devido valor ao pedido
passamos na revista e adentramos ao primeiro portão, fizemos uma oração do companheiro.
(eu particularmente já tinha feito várias) e continuamos o acesso ao local. Mas quando li sua partilha, fui tomado por um sentimento de gratidão de
O grupo tinha acabado de mudar, face acontecimentos internos não me uma lembrança boa e certa saudade que me fez sentar aqui no
lembro direito, bem como o antigo local criava dificuldades para os internos computador do escritório e começar a escrever e reviver esses grandes
que estavam no seguro de participarem, pois corriam riscos no caminho de momentos que eu vivi na companhia de todos que participaram desse
acesso para o local. A passagem dos portões é um momento de frio na grupo tão especial.
barriga, mas vamos lá o P. S. vai junto e com outros companheiros não
temos mais medo, não estamos mais sozinhos. Chegamos ao local, os Lembro-me: meu primeiro dia no grupo e após meu padrinho partilhar
funcionários que até ali tinham nos acompanhado, nos deixam e varias das suas experiências emocionantes vivenciadas por ele, e a forma
como ele via o grupo e o amor que sentia pelo mesmo, fez despertar uma gosto dos policiais que gritavam ou sai todo mundo ou não sai ninguém. Na
curiosidade enorme em mim. outra quarta feira continuava aquela tensão. Entramos e os companheiros
Fui ao Subcomitê de H&I fiz os treinamentos e lá estava eu na manhã de agradeceram e pediram mil desculpas pelo ocorrido e disseram que jamais
quarta-feira no metrô sentido Carandiru, o maior presídio da América era pra ter acontecido aquilo com a gente lá dentro. Muitos deles jamais
Latina em busca de mais um dia limpo. receberam uma visita e nós éramos o único contato deles com o mundo
Ao chegar no local tomado pela adrenalina de entrar no presídio e achando aqui fora e eles ficaram muito preocupados com a possibilidade de não
que ia encontrar um ambiente pesado e uma energia ruim , logo fui voltarmos mais. Aquilo fez com que meu respeito pela Irmandade de N.A.
surpreendido por um abraço de um senhor muito simpático que era o aumentasse vendo o respeito deles para conosco. Assim, com minha
responsável pela nossa entrada no presídio. Entramos e fizemos a oração gratidão por estar limpo e com a chance de resgatar todos meus valores
da serenidade ali na entrada antes de cruzarmos os portões. Pronto ali eu tendo em vista que muitas das coisas que fiz, poderiam ter me reservado o
estava (sendo) guiado pelo meu poder superior. A adrenalina se mesmo destino que o daqueles companheiros.
transformou em gratidão e acabei me deparando com pessoas que davam O Grupo da Paz me fez ir ao subcomitê de Longo Alcance no inicio para
um valor (maior) (que muitas vezes eu mesmo não dava) as reuniões de cobrar o material do grupo e para fazer com que o grupo pudesse ser
NA. Pessoas que haviam experimentado uma nova maneira de viver e a representado (com direito a voz e voto nas decisões de NA), depois
liberdade da adicção ativa de uma maneira diferente da minha, dentro da comecei a ver que ali também tinha um serviço amoroso e acabei servindo
casa de detenção. esse subcomitê inclusive o coordenando em Florianópolis cidade que fui
Não precisa nem falar, que aquela energia me cativou e fez com que morar depois, e acabei participando da abertura de um grupo institucional
daquele dia em diante eu frequentasse o grupo até seus últimos dias. lá nessa cidade (levando a mensagem).
Ali tive experiências incríveis. Presenciamos companheiros tomando Agradeço ao meu padrinho “Valente” por ter me mostrado esse e outros
“invertidas feias” por falarem o que não deviam. Vi mos presos aos prantos diversos caminhos, a irmandade de NA, pois somente aqui vivi sentimentos
emocionados com nossas partilhas e com a literatura de NA. Certa vez, ao tão verdadeiros e ao companheiro que me permitiu reviver esses
ler o folheto Juventude e recuperação um interno que havia falado não ter momentos escrevendo e lendo esses textos. Até hoje sou convidado para
problemas com drogas (frase comum entre eles) começou a chorar e me partilhar em diversos lugares do País a respeito das experiências vividas no
disse que se tivesse ouvido aquilo na rua não estaria ali. Pois foi preso em grupo da Paz.
um assalto no desespero por mais uma dose. É impossível relatar todas as Em espírito de irmandade, Só Por Hoje.
partilhas que me tocaram. Todas as experiências que me ensinaram todas
as trocas de fichas que me emocionaram. Mas posso falar das experiências -------------------------------------------------------------------------------
que eu mesmo vivi naquele grupo.
Estava concluindo um encargo de RSG de um grupo e queria pegar outro Eu sou mais um adicto em recuperação. Ingressei-me na irmandade em
encargo, falei com meu padrinho e ele me sugeriu que levantasse a mão 98. Até então, eu estava muito confuso e em dúvida para onde minha vida
no grupo da paz, no dia da reunião eletiva fui eu e outro companheiro estava caminhando, e se a vida era isso mesmo, viver sem usar drogas,
disposto a levantar a mão. Um para RSG e outro para suplente. Primeiro foi me tornar um membro produtivo, seguir o caminho… e sem uma grande
à eleição para RSG. Depois outro companheiro levantou a mão comigo e ali (perspectiva de) felicidade dentro de algo que fizesse um real e profundo
estava eu sem esperar mais preste a viver uma das experiências mais sentido. Sentia ser muito difícil, senão impossível, alguém não se drogar
emocionantes da minha vida no serviço de NA. sem ter um profundo sentido ou propósito de Vida.
Fomos retirados da sala para iniciar a eleição e lá fora já percebemos que o No ano de 99, um companheiro de longo período de abstinência, hoje
clima não estava muito bom na cadeia, ao voltar fui eleito (RSG suplente) falecido, explicou-me sobre a ida a um grupo institucional, chamado, grupo
e junto com as palmas dos companheiros uma barulheira surpreendente. da Paz, eles iam semanalmente, e seria interessante para mim, e não para
Estava estourando uma rebelião à cadeia virada muita tensão: portas eles eu ir conhecer, e se possível participar regularmente. Fiquei pensando
trancadas corpos no corredor e eu no meio daquilo e mais com o como seria lá dentro, pois embora tivesse feito uso de drogas, não fazia
compromisso assumido de ficar ali por pelo menos mais dois anos, idéia de como era ficar preso por anos a fio numa das maiores
continuamos a reunião até que os responsáveis pela rebelião foram nos penitenciárias do País. Como companheiros que estavam lá há um tempo
buscar e garantir nossa saída com segurança, e foi exatamente o que significativos reagiriam as nossas visitas?, sendo que a maioria de nós,
aconteceu outras pessoas que estavam na cadeia: Secretario de Segurança adictos no grupo visitante, nunca tinha estado preso? Como seria tentar
Pública e outras autoridades ficaram na cadeia e só nós saímos à contra passar a nossa experiência de “mamão com açúcar”, que estávamos sem
usar drogas por certo período na sociedade, em plena liberdade, para um Poder Superior de nossa compreensão, para enfim ter mais harmonia, paz
grupo de companheiros já calejados por anos a fio de um vivendo muito e felicidade em recuperação.
precariamente, presos dentro da cadeia? É algo fantástico alguém
conseguir ficar limpo dentro de um ambiente sórdido e insalubre, onde o -----------------------------------------------------------------------------------
cheiro da podridão e do pão mofado reina. Toda vez que, eu passava perto
de uma cela, dava para perceber o cheiro forte, e o total abandono pela Relatórios do Grupo da Paz (1)
maquina do estado, onde a escolha do “viver bem” e de “correr atrás do
prejuízo” que tanto falávamos lá fora, não existia... Onde a facilidade de
acesso às drogas era muito maior que fora, e todo um ambiente dificultoso
misturado com 1.000 emoções negativas... Parecia impossível alguém ficar
limpo nessas condições.
Todas as vezes que íamos lá, ficávamos por cerca de 30 minutos
esperando o carcereiro liberar nossa entrada, para levarmos a mensagem
adentro. Na verdade era eu quem recebia a mensagem! Era notável à
vontade de viver que os companheiros tinham lá dentro. Tinha um
companheiro, que eu possuía mais proximidade, estava preso há 5 anos, e
que iria completar 10 meses limpos, faltava mais um ano para sair para
condicional. Era nítido o brilho em seus olhos; e a saudade que tinha de
sua filha e de sua família, e que durante todo o momento em que ficou
preso carregou um peso gigantesco de culpa, vergonha, remorso. Parecia
que apenas o uso compulsivo de drogas poderia anestesiar sua dor até o
seu fim miserável, e a morte.
Mas parece que um dia qualquer, quando menos esperava, teve a sorte de
ter um despertar e resolveu parar de usar e pedir ajuda aos companheiros.
Ingressou no grupo da paz, e se manteve abstinente por 10 meses (eu
estava há 7 meses limpo). Lá dentro tinha companheiro com 5 anos, 8
anos, 13 anos limpos… É inacreditável, aliás, totalmente Milagroso, o poder
que a ajuda de um adicto a outro tem. Quem praticou o programa lá
dentro, provou que a rendição e a humildade têm poder de transformar
Vidas, e “descolar” do ambiente externo que provoca ou agride. Mostra que
o verdadeiro poder, não vem de apoio e facilitação externa, e sim interna,
de dentro para fora. E que essa centelha de amor e sobrevivência vem
unicamente de nossa decisão de abrir minha mente e meu coração para
que a Vida e o Poder Superior possa me guiar e dar poder sem limites seja
pelos Vales da Paz e da Luz, ou pelos Vales da Escuridão e da Morte. E que
o que reina é o aqui-agora, o Só Por Hoje; o passado e o futuro são
ilusões. E que sempre poderei acreditar, confiar e entregar minha Vida a
essa energia do Amor do Poder Superior. Pois quando me sinto perdido, sei
que Poder me guia. Não do meu modo, mas da maneira que deve ser
construída minha verdadeira natureza humana.
Nunca tinha tido uma experiência com recuperação. Talvez a natureza
exata de minha recuperação, seja um pleno sentimento de gratidão, por
tudo que eu tenho, e que sempre dá para cavar mais um pouco o nosso
“inferno” pessoal, usando ou não drogas. Por outro lado, sempre dá para
elevar um pouco mais, nosso caminho espiritual, ficar mais próximo do
Relatórios do Grupo da Paz (2) Cartas de adictos que estiveram na casa de detenção
GRUPO INSTITUCIONAL (SUBCOMITÊ DE LONGO ALCANCE) O intuito de publicarmos algumas e poucas cartas é possibilitar que mais
alguém se identifique e venha somar no propósito de através delas,
levarmos a mensagem para mais adictos, detidos em algum cárcere e que
possamos comunicar que qualquer adicto, em qualquer lugar, pode
encontrar o que nós encontramos. Pode parar de usar, perder o desejo de
usar e encontrar uma nova maneira de viver. Não exercemos vigilância
sobre nossos membros e para nós viver Só Por Hoje, funciona! A maior
parte do serviço – de fato – é realizado pelos grupos de NA.

PROJETO CARTAS! É o que nosso HI regional vem realizando através dos


diversos subcomitês de HI (das áreas) formados ao longo dos anos. Um
instrumento valioso para alcançar adictos que ainda sofrem e que ainda
não encontraram o que temos pra oferecer: Recuperação da doença da
adicção!

NA cresceu, hoje levamos a mensagem em Fundações Casas, em CDPs e


em Hospitais de Custódia. Em Centros de tratamentos, albergues,
Psiquiatrias, Comunidades terapêuticas. A literatura de NA é amplamente
utilizada...
Nas reuniões de área (dos Comitês de Serviços), os relatórios de serviço são
apresentados. Um encontro mensal de RSG’s (Representantes de Serviço dos
Grupos). Sempre no propósito primordial. Tradição 5. A Aventura continua...

Através da consciência coletiva dos grupos há o direcionamento dos serviços GRUPOS INSTITUCIONAIS foram e estão sendo formados. Um dia de cada
em NA. Serviço é levar a mensagem ao adicto que ainda sofre. vez, nós nos recuperamos e nos importamos com os outros adictos.

“Para que nenhum adicto em nenhum lugar precise morrer dos horrores da Mas, por mais que fizemos, façamos ou venhamos a fazer é pouco pelo que
adicção ativa sem ter a chance de se recuperar.” já recebemos.

Nas próximas páginas, cartas do tempo do grupo da paz, apenas uma


amostra do poder da mensagem de NA. A maior parte do material e
partilhas será sempre Anônima, mas o Amor da Irmandade é incondicional.

Enquanto todos podem apreciar, informamos que este é um dos primeiros


trabalhos de composição para Literatura (criação) de NA brasileira.
Convidamos os membros que quiserem participar e contribuir para o
crescimento desse serviço para procurarem uma estrutura de Revisão e
Tradução de Literatura, funciona! Informe-se no Comitê de Serviço de Área
mais perto. Obrigado! Esperamos ter sido úteis ao serviço amoroso do
nosso Poder Superior, ao qual dedicamos esse trabalho.
“Os eventos e as comemorações em NA são oportunidades de confraternização
saudáveis. Há vida após as drogas. Alguns membros puderam estar lá e
registrar para transmitir pra nós que o programa funciona e vale a pena servir”.

Atualmente, NA realiza milhares de reuniões semanais no Brasil. São mais de mil e


duzentos grupos. Não temos o número exato de reuniões de H&I e Grupos
institucionais. Mas nossos esforços progridem, à medida que mais membros se
juntam na aventura de servir a irmandade. Por gratidão.

São muitas comemorações... há vida depois das drogas...


“No quadro negro, como em tantos outros grupos de NA a mensagem clara;
evite e procure”.

Nossos agradecimentos a tantas pessoas de fora de NA... familiares, agentes


penitenciários, autoridades, religiosos, médicos, assistentes sociais,
psicólogos, educadores e outros tantos multiplicadoras da nossa mensagem,
por acreditar em nós. Hoje nos relacionamos cada vez mais e melhor com a
sociedade. Estamos limpos, temos nossa vida de volta, graças ao programa de
Narcóticos Anônimos.

Ninguém chegaria a um lugar que não tivesse ouvido falar. Nossa


mensagem é bem simples: qualquer adicto pode parar de usar e encontrar
uma nova maneira de viver, livre do uso de drogas só por hoje!
(um dia de cada vez!).
“O que NA (Narcóticos Anônimos) promete é a liberdade da adicção ativa”.

Informações sobre Narcóticos Anônimos: www.nasp.org.br .

Sobre o projeto cartas, ligue (11) 3101-9626 ou envie um e-mail para:


contato@nasp.org.br

“Literatura não aprovada pela Conferência Mundial de NA”

Trabalho em andamento – Edição produzida para visualização e amostra.

Não pode ser reproduzida em todo ou em parte.

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