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10 ANOS DE MINHA

VIDA COM O V.M.


SAMAEL AUN WEOR

ANTONIO
MALDONADO
MÉRIDA
INTRODUÇÃO

Não possuo a esplêndida facilidade para descrever o belo do espírito, como fazia o
Venerável Mestre Samael Aun Weor, ou a espontaneidade de um Krishnamurti, a
eloqüência de um Gurdjieff. Contudo, apelando ao gênio criativo que há em todos, espero
expor o que pude aprender através dos anos de convivência com o fundador do Movimento
Gnóstico Cristão Universal.
Faz mais ou menos 28 anos que conheci a Gnose ou conhecimento espiritual direto,
recebido de lábios a ouvidos do V. M. Samael, e que ao ir assimilando e aplicando em
minha vida, experimentei o verdadeiro valor das coisas e da vida mesma.
Isso é o que me move a deixar em forma escrita, para bem dos irmãos que queiram
aceitar com agrado esta colaboração de minha parte, dedicada a todo o Movimento
Gnóstico em geral.
No oceano Pacífico, quando influencia a constelação de Virgem, a ostra perlífera
captura uma gota de orvalho, que vai cobrindo com amor, sutileza, agrado, beleza e
paciência; para dar ao fim criação a essa jóia de grande preço que é a pérola negra. A
Gnose é esta pérola, o mais autêntico que conheci em minha vida. É a pérola que apreciou
o rico mercador do evangelho, que valia mais que todos os seus tesouros.
É a única coisa pela qual vale a pena viver. Este pequeno ensaio está escrito com o
coração e para gnósticos de coração. É a experiência e convivência diária durante dez
recordados anos com o Venerável Mestre Samael Aun Weor. Está escrito em forma
sintética, como genro que fui dele, como amigo como seu secretário e como seu sincero
discípulo, para quem só desejo pôr minha cabeça a seus pés em sinal de grande reverência.
Agradeço a colaboração de meu irmão Francisco Maldonado Mérida, quem me
ajudou a redigir o texto e a minha esposa Ísis de Maldonado, que me ajudou a precisar
acontecimentos dos quais não me lembrava bem.
Ela, como filha do Venerável, fez realidade em minha vida - através de 28 anos de
casados - a frase do Mestre que diz: “O amor começa com um relâmpago de simpatia, se
fortalece com o desejo do carinho e se sintetiza em adoração suprema”.
Escrever toda uma filosofia da vida pode levar vários anos ou pode sintetizar-se em
poucas palavras; meu desejo é oferecer algo que possa servir, que possa ser de utilidade a
outras pessoas, que como eu se autodescobriram ao fazer unha e carne em sua vida o
ensinamento que trouxe o mensageiro de Marte a este planeta.
Sou uma pessoa de mente complicada por não ter o ego dissolvido, como sucede a
cada pessoa afetada pela civilização ocidental, mas creio que tenho costumes simples e de
poucas necessidades, portanto espero que este pequeno volume de curta dimensão chegue
com ternura e amor ao verdadeiro gnóstico que esteja na luta por isso que se chama auto-
realização íntima do Ser.
A mais excelsa síntese da vida espiritual a ditou Jesus Cristo ao dizer “Ama a Deus
por sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo”.
É evidente que toda frase, filosofia, livro, etc., se destaca porque sempre haverá
vinho novo para odres novos, especialmente quando a humanidade se encontra em níveis
espirituais tão baixos como estamos atualmente.
Todo poder está dentro do homem, o caminho também. A Gnose está dentro de nós,
portanto, nada é mais apropriado que o encontro consigo mesmo.
Recordo esporadicamente palavras do Venerável que levam consigo a força do som
inaudível da alma. Em seu processo de morte dizia à minha esposa:
“Samael sempre estará com vocês, façam toneladas de boas obras para esgotar
seu karma. A raiz de todo mal está dentro de vocês, não dentro de outros. O dar e somente
dar sem pensar jamais em recompensas é o princípio da imortalidade. Nenhum humano
pode chegar a ser anjo fugindo da dor e buscando comodidades, prazeres, nem pelo apego
ao mundo. Não se gloriem do que já compreenderam nem menosprezem aos que se
enredam na dor ou nas trevas, não se elevem ao pináculo da santarronice nem à falsa
glória. O Atman inefável é o mais valioso e maravilhoso do universo, mas o animal
intelectual o ignora, o poder do Atman está na cobra, na serpente ígnea de nossos mágicos
poderes, nela estão os segredos transcendentais de todos os tesouros cósmicos, toda a
felicidade, todo o amor verdadeiro, porque é ela a Divina Mãe e o que é mais, tudo está
dentro de ti. É necessário ser valente e diligente, nasce de novo nesta vida, libera-te do
karma e da ilusão de Maya”.
Todo caminho, por grande que seja, se começa com o primeiro passo; graças aos
céus nesse primeiro passo tive a ajuda sábia do Mestre. Ele também foi um neófito no
princípio porque ninguém começa como Mestre.
Este pequeno ensaio é meu primeiro passo no cumprimento do terceiro fator da
revolução da consciência, sei que faltam muitas coisas por narrar e outras por explicar,
creio poder fazê-lo no futuro, segundo a acolhida que tenha esta pequena obra, que espero
seja com entusiasmo, com atitude positiva e com fraternidade.
Saúdo a todos com as mesmas palavras do Mestre ao término de suas cartas: “Que
vosso Pai que mora em segredo e vossa Divina Mãe Kundalini os bendigam. Paz
Inverencial”.
CAPÍTULO 1

ENCONTRANDO O CAMINHO

“O essencial não é percebido pelos olhos materiais, mas pelos olhos do espírito” (Antoine
de Saint-Exupery).

Cristo, o Guru do ocidente, sabiamente estabeleceu o vínculo do caminho com a


verdade e com a vida. É na vida que se encontra a verdade de instante em instante, e é em
nossa vida que se faz o caminho com nossos atos.
Saber isto é importante. Aprofundar nele é compreendê-lo, e é necessário um
esforço da vontade sustentado e bem pensado para realizá-lo.
Sempre senti uma estranha inquietude pelas ciências ocultas, o esotérico ou
ocultismo. A informação extensa que obtive de criança e em minha juventude foi por meio
de meu irmão Francisco, com quem comentava sobre as diferentes correntes religiosas e
espiritualistas como são os batistas, presbiterianos, adventistas, testemunhas de Jeová,
carismáticos, da renovação do Espírito Santo, o mesmerismo, hipnotismo, espiritismo,
teósofos, rosacruzes, maçonaria, os livros de Lobsang Rampa, de Aldoux Huxley, de
Powells, a ciência cristã de Mary Baker Eddy, os sistemas de yoga de Vivekananda, Sri
Aurobindo, Ramakrishna, Yogananda, Sivananda, a corrente dos templários, a grande
fraternidade Universal, os trabalhos de Gurdjieff, a informação de Krishnamurti, etc., etc.
Este irmão possui a inquietude da investigação e eu aprendia muito através de suas
buscas; mas ainda com tudo isso, sabíamos que faltava algo para resolver o quebra-cabeça
que tínhamos.
Recordo que aos 26 anos emigrei aos Estados Unidos e, antes de separar-me dele,
alguém lhe obsequiou um livro do V. M. Samael; ao inteirar-nos de seu conteúdo
recebemos o presente de Deus que nos fazia falta. Não era outra coisa senão a orientação
do V. M. Samael em sua develação dos mistérios do sexo.
Estava trabalhando em Los Angeles, Califórnia, juntamente com meu irmão
Gustavo, cuja desencarnação predita pelo Mestre narro no capítulo de Histórias, quando
chegou para visitar-me meu irmão Francisco, que estava recebendo as mensagens anuais
do Mestre Samael.
Nosso propósito era o de aproveitar uma viagem de visita a familiares na
Guatemala, para passar visitando e conhecendo pessoalmente o Mestre Samael, que então
vivia na colônia Cidade Jardim, do México D. F.
Chegamos ao D. F. cinco pessoas: um sobrinho, meu irmão Gustavo e sua esposa,
Francisco e minha pessoa. Recordo um dado curioso, e por isso é que o recordo, era uma
terça-feira (martes), cinco de maio, às cinco da tarde, cinco pessoas, estavam em sua casa
somente cinco pessoas. No tarot, o arcano cinco é o Guru, o anjo Samael, aquilo me
pareceu casualidade, mas agora me parece que tudo obedecia a uma causa.
Esperávamos uma pessoa com cenho franzido, gesto adusto, um grande anel na
mão, como se concebe uma pessoa muito influente, com poder, com hierarquia. Em
realidade foi um encontro realmente simples, sem protocolo. Como o Mestre não se
encontrava nesse momento, sua senhora esposa, a Venerável Mestra Litelantes, com toda a
proverbial amabilidade latina nos convidou a tomar um cafezinho. Notamos sua deliciosa
simplicidade e franqueza ao conversar com ela e seus quatro filhos: Hypatia, Hórus, Osíris
e a que hoje é minha esposa, Ísis.
Meia hora havia transcorrido quando chegou o Mestre Samael. Sua impressão foi
inesquecível, transcendente e memorável, precisamente por sua simplicidade: “Mestre -
disse meu irmão Francisco - faz um tempo que o estamos esperando”. Ao que ele
respondeu: “Pois aqui me têm”. Meu cansaço de haver dirigido três dias e três noites
desapareceu ao intuir que me achava diante de um grande acontecimento de minha vida.
Com o tempo, notei o grande bem que foi havê-lo conhecido pessoalmente, já que
sem conhecê-lo formamos imagens falsas, sendo assim enganados por nossas próprias
projeções mentais.
Isto aconteceu a muitos irmãos gnósticos, impedindo assim compreender sua
estatura espiritual e a qualidade de sua missão. Para tomar consciência da pessoa que
conheci naquela ocasião, tiveram que passar vários anos. Tive que chegar ao nível de um
discípulo pelas mesmas provas da vida e a prática do ensinamento.
Nesta ocasião estivemos somente cinco dias em sua casa, já que ele e a Mestra
Litelantes nos proporcionaram alojamento em forma sumamente generosa, infundindo-nos
uma confiança muito familiar.
Estranhava-me a atitude do Mestre para com meu irmão Francisco, a quem motivou
bastante para que lhe perguntasse sobre todas suas inquietudes. Paco, como ele dizia, com
suas perguntas e consultas, nos ajudou a todos a compreender melhor a mensagem que
havia na Gnose para cada um de nós.
Sei que o essencial não é fácil de transmitir, que me pode escapar, mas minhas
cavilações e conjeturas que continuaram comigo ao retomar nosso caminho, talvez possam
dizer algo disso que só o percebe o espírito.
Como estava tão desapercebido para o mundo um homem de tal estatura? Por que
havia sentido tanta paz nessa casa? Que havia se passado em mim que me sentia com uma
estranha sensação de liberdade?
Só um trabalho sobre si mesmo, um estudo consciente da vida e um excelente
conhecimento humano poderiam outorgar essa naturalidade, sinceridade, paz e amor
inteligente que ali se respirava. O melhor daquilo era que sabia que algo me havia
impregnado, algo indefinido, que não capta minha imaginação nem minha fantasia, mas sei
que me entrou pelos poros ou por algum sentido extra, porque nessa ocasião foi que
começou em mim um verdadeiro interesse por conhecer o que é a revolução da
consciência.
Voltei ao México no ano 1968, já somente com meu irmão, compartilhamos com o
Mestre e sua família. Foi nesse lapso de tempo que me enamorei de sua filha Ísis,
finalizando nosso noivado em um feliz casamento realizado na Igreja Cristo Crucificado da
Colônia Avante. Recordo que ao término da cerimônia, o Mestre perguntou a meu irmão:
“Paco, que te pareceu à cerimônia matrimonial?”. Meu irmão respondeu que havia sido
maravilhosa e solene, ao que ele completou dizendo: “É uma lástima que o sacerdote se
encontre profundamente adormecido”. Não sei se referia a mim como sacerdote ou ao
sacerdote que oficiou a missa.
Três meses depois fui viver no grande país do norte, onde notei a diferença de
conviver com pessoas adormecidas totalmente e as despertas como são ele e sua esposa, a
Mestra Litelantes; a diferença é muito marcante.
O Mestre pensava usar os EUA como ponte para lançar a Gnose na Europa, mas
encontrando vibrações demasiado baixas que pertencem ao abismo, o trocou pelo Canadá.
Permaneci nos Estados Unidos durante um ano, aí nasceu meu primeiro filho, Júlio
César. O Mestre dizia que esse filho deveria ser dele, mas veio a nascer em meu lar, e que
tem uma grande responsabilidade espiritual.
Decidimos com minha esposa regressar a México D. F., tendo já mais consciência,
nos anos que seguiram, pude assimilar o essencial da Gnose.
A Gnose de Tertuliano, de Orígenes, de Santo Agostinho, de Apolônio de Tiana, de
Swenderborg, Nicolas Flamel, do Conde Saint Germain, de Eliphas Levi, de Krumm
Heller e outros mais que não recordo.
Foi quando me dei conta de que por seu infatigável trabalho, a Gnose se havia
estendido do México à América Central, do Sul, Estados Unidos e Canadá. Já se divulgava
a Gnose pelos quatro pontos cardeais, com uma força avassaladora e potente.
Ao começar meu trabalho, me deu um mantram para meu desenvolvimento interno,
passados uns anos me disse que já não o usasse, e notei o impulso que me deu para não sair
da meta que me havia imposto, entendi o porquê da importância do mantram na meditação
e porque não havia que divulgá-lo, já que o silêncio é uma grande ajuda.
Não creio ser necessário detalhar a síntese de sua doutrina nas seguintes palavras
que estão em todos seus livros: Nascer, Morrer e Sacrifício pela humanidade. Como Ele
mesmo explicava o que dizia Jesus Cristo: “Se queres vir após mim, toma tua cruz (a
prática da magia sexual), nega-te a ti mesmo (a dissolução do ego) e segue-me (sacrifício
pela humanidade)”.
Seu trato pessoal me ajudou muitíssimo, sua conversa contínua me motivava, seu
entusiasmo me contagiava, sua pureza me inundava, coisa que me ajudou a ir formando um
interesse sólido no trabalho esotérico, que considero não de uma vida senão de vidas.
Para compreender a humildade de qualquer grande homem é necessário ser
humilde. Só assim as revelações do imperecedouro imersas nas grandes mensagens serão
assimiladas por nosso coração.
Meu desapego pelo ilusório do mundo crescia à medida que compreendia a
importância de valores mais excelsos que um troféu, milhares de aplausos, o êxito do que
move os grandes públicos, etc. Foi-me revelada a carta que o criador me havia enviado, já
fosse em uma simples flor, no sorriso de meu filho, em um belo dia de sol ou no agradável
sorriso do Mestre.
Compreendi que se toda obra espiritual que eleva ou dignifica serve de adianto ao
gênero humano, quanto mais a Gnose, que é um método excelente de transformação
humana realmente eficaz. Falando de Krishnamurti, me dizia que era um dos precursores
do ensinamento da nova era, que somente por meio dos autênticos homens se poderia alçar
o atual animal intelectual do pó da terra para seu maravilhoso destino, que é o de encarnar
o ser supremo em si mesmo.
O ambiente mágico em que me vi envolvido me fez advertir a realidade dos sete
mundos paralelos que nos rodeiam aqui e agora, me explicava às vezes a vida dentro do
organismo planetário, a verdade dos extraterrestres e o contato que tinha com eles, o
porquê da raça negra, vermelha, amarela e branca, que tudo obedecia a um plano criador
sábio que se realizava dentro dos ritmos do Mahaván e Chotaván.
Vi a Gnose na vida cotidiana, como é inerente ao ser humano, sua corrente que
eleva, vitaliza e que constantemente nos faz um chamado à alma. É o arcano dois do Tarot
Egípcio, a esfera de Chokmah na sabedoria da Cabala, a noiva e a sacerdotisa. Durante o
tempo que vivemos eu e Ísis, sua filha e agora minha esposa, em algumas províncias de
México, esteve visitando-nos constantemente, oportunidade que aproveitava para
acompanhá-lo aos lumisiais ou santuários gnósticos em formação.
Foi nessa convivência com os irmãozinhos que descobri os sutis eus ou “agregados
psicológicos”, que determinam a ordem revolucionária do ensinamento, já que crescem
sem que os notemos. Muitos irmãos, por falta de preparação esotérica ou de maturidade,
dizem frases como estas: “Não trabalho porque a Lei me está castigando”. “Não posso
levantar-me com qualquer mulher”. “Eu sou desperto em um 10%”. “Me disseram à noite
no interno”. “À noite me informou meu Pai internamente”, etc.
Dei-me conta também de como alguns irmãozinhos aprendem de memória os
cassetes do Mestre, ou conferências escritas e até tomavam poses do Mestre repetindo
como papagaios, gozando até a saciedade em receber aplausos de seus diversos ouvintes,
engrossando assim seus eus gnósticos e sutilizando o diabo neles mesmos.
Depois de regressar dos santuários, em longas caminhadas, ou nas refeições, me
ensinava com a naturalidade de todo Mestre verdadeiro.
Sempre me comentou sobre o Bhagavad Gita, como era muito valioso seu estudo,
para aprender a renunciar ao fruto da ação, a ver o mundo como uma ilusão e a necessidade
de cultivar o desapego.
Fez-me ver também como o verbo podia construir, edificar, enaltecer e dignificar
nossa vida se o saturamos de verdade, custe o que custar, isso desenvolve o chacra da
garganta, me dizia com muita diplomacia e sutileza. Fazia-me compreender em plena ação
a importância de fazer consciência de nosso estado tão lamentável, não só como máquinas
humanas, ou como humanos com uma grande porcentagem de animal, o que faz com que
nossa relação se deteriore; simultaneamente era necessário levar à prática o voto da
brahmacharya solar, a magia sexual sem derramamento de sêmen, coisa demais escabrosa,
mas fundamental no ensinamento gnóstico, a isso dedico um capítulo nesta obra.
Quando atravesso por algum problema na vida cotidiana, apelo à recordação de sua
atitude diante das dificuldades e trato de resolvê-lo com essa inspiração que me dá a ação
inteligente e precisa que não me permita esquecer-me de mim mesmo, nem muito menos
de meu Ser interior profundo.
Haver convivido dez anos de minha vida com um Venerável Mestre da Loja Branca
como é o Mestre Samael foi um presente do céu, que agradeço infinitamente e muito
especialmente a meu bendito pai que mora em segredo.
CAPÍTULO 2

A ORDEM REVOLUCIONÁRIA DA GNOSE

A Gnose é um conhecimento infinito, puro e transcendente. É a tocha que volta a


brilhar para iluminar o caminho dos autênticos buscadores da verdade.
No mundo existem muitas divisões, agrupamentos de todo tipo, escolas de toda
classe, ordens ocultas, fraternidades, sociedades, seitas, pessoas de boas intenções, sinceros
equivocados. Cada uma pretende possuir a chave, o meio ou doutrina que conduz a Deus
ou à liberação final.
Neste mundo relativo, ilusório, dual, tudo tem um valor relativo em determinado
tempo e lugar, o que hoje pode ser de utilidade para um, amanhã já não serve, mas servirá
a outro. Se observarmos bem e somos sinceros, será evidente que nenhuma delas conhece
nem possui o conhecimento liberador, posto que o caminho sempre foi secreto, jamais foi
desvelado nem ensinado publicamente à luz do dia, como está fazendo o Movimento
Gnóstico em forma totalmente revolucionária e criadora.
Desde seus fundamentos psicológicos até a divulgação do grande Arcano ou a
Magia Sexual, tudo é totalmente apresentado em forma revolucionária, já que senta bases
novas para uma educação integrada, uma nova compreensão da vida em geral, um novo
ponto de vista claro, lógico, preciso, e é também a revelação de segredos escondidos, para
que não fossem profanados, desde a Antigüidade.
Esta ordem despertou a criatividade em muitos espíritos inquietos que aderiram ao
Movimento Gnóstico, alguns se manifestaram como paladinos da causas, outros se
destacaram semeando inquietudes por onde quer que passem, com atitudes dignas de
imitar-se.
Quando mencionava ou assinalava ao Mestre a falta de compreensão ou de
capacidade para divulgar o ensinamento de algum missionário gnóstico, me dizia: “Que
queres que façamos? Não vamos começar com o perfeito, temos que começar com o que
temos, o imperfeito, não ?”
Em toda relação há momentos obscuros e de desarmonia, também dentro da Gnose
se dão estes momentos e se deve à falta de amor, pelo erro de esquecermos da Mãe Divina.
Integrar a nossa própria psicologia com a dinâmica de Gurdjieff, ou o budismo livre de
Krishnamurti, é maravilhoso, mas não devemos reforçar o intelecto às expensas do
esquecimento do amor à nossa Divina Mãe.
Sem este aspecto maternal e também divino, não se pode ser um verdadeiro
revolucionário, já que a mãe é a que leva seu filho, do pó da terra até o céu, das trevas à
luz, do real da morte à imortalidade. No caminho é necessário muita humildade e
equilíbrio, que só confere a aceitação deste elemento maternal, isso manifesta nossa
maturidade esotérica.
A Gnose, por ser precisamente um Movimento, não pode permanecer estática e
desde o interno se provocam impulsos que revolucionam sua força, às vezes aparentam
causas injustas, mas ao longo de seu desenvolvimento não prejudicam e sim trazem muito
bem.
A Gnose não deve ser um uniforme que se põe e se tira só em horas de trabalho,
como um mecânico ou um médico, a Gnose é uma vestidura interna que não se pode tirar,
uma vez que se assimilou bem.
O Venerável Mestre sempre disse que a Gnose é como um trem em marcha no qual
uns sobem e outros descem, raros são os que chegam à estação final. Alguns discípulos
chegam com muito entusiasmo, mas ao ver que não realizam nada rapidamente se
aborrecem e se retiram, espargindo sua baba difamatória, outros vociferando atrocidades
do que compreenderam pela metade. Muitos aparecerão no futuro, como já apareceram no
passado, com sua característica de orgulho místico; a força deste Movimento não deve
personalizar-se em ninguém, assim como a iniciação não se realiza por grupos porque é um
assunto íntimo, individual e sagrado.
Os grupos só servem para canalizar o esforço para a divulgação da Doutrina
Gnóstica, não são os que dão a iniciação; são para fazer cadeias de vitalidade, força e
vontade, uns trabalhos coletivos dirigido pela Loja Branca, cujo símbolo é o pentagrama,
como força sintetizada, como a estrela dos judeus, como a lua dos árabes, como a suástica
dos nazistas, como a foice e o martelo dos comunistas.
Onde se encontre um pentagrama, estará surgindo uma cadeia de união, o verbo de
Samael, Anjo de Marte; onde se encontre um pentagrama ou estrela flamígera estará à
palavra sagrada da Gnose.
O que estraga a ordem revolucionária da Gnose é o ego, o mim mesmo, o diabo em
nós. Recordemos que a heresia da separatividade é a pior das heresias. Nos grupos é onde
se pode ver evidentemente se sabemos cultivar a unidade, o amor inteligente, a
compreensão elástica, a visão de nós mesmos e de como nos encontramos.
Nossos braços devem estar prestes para ajudar, nosso coração disposto a enxugar
toda lágrima, as separações são do eu e assim como a Gnose nos permite compreender a
fundo a unidade de todas as correntes místicas e religiosas, devemos aplicá-lo a cada
pessoa em particular, compreender a fundo suas inquietudes, seus temores, seus interesses
mais íntimos e que não são do ego, para realmente converter-nos em elementos que
expressem a revolução que a Gnose fez em nós.
Infelizmente, não foi possível promover que as forças deste grande ensinamento
começassem a pensar como uma só e trabalhassem em uníssono para unificar forças contra
as ataduras do mal.
Sempre existiu contínuo perigo para a Gnose, por aqueles que não projetam seu
pensamento além de sua própria visão. Ignorar o objeto fundamental do ensinamento
Gnóstico é destruí-lo.
A Gnose é muito direta e determinante e sua única opção é a de ser o que devemos
ser. Não ser é representado simbolicamente pelo Adão e Eva da Bíblia em cada um de nós.
O não ser nos mantém sob a pressão do peso da negatividade e das formas do pensamento
destrutivas. A humanidade permanece ociosa ante seu desenvolvimento espiritual e é agora
o momento para encontrar nosso ritmo particular com a develação dos grandes mistérios.
Certa vez me dizia o Mestre: “Encontra o ritmo de tua própria particularidade e
estarás em sintonia com o universo”.
Fazer-nos conscientes do momento em que vivemos e realizar o que nos
corresponde através da Gnose é ir ao encontro de nosso ritmo particular.
A separatividade é o que mostramos ante as hierarquias que nos observam.
Fazemos do engano da separatividade uma convicção muito equivocada.
A Gnose é muito vasta e desconhecida, e não poderia ser conduzida dando uma
importância indevida as irrealidades vazias e com descuido das coisas que alimentam e
apóiam o sentido da disciplina sagrada. Os mesmos discípulos promovem a separatividade.
Nos deleitamos em encontrar defeitos até nos mesmos Mestres, em propalar
embustes com nossos maiores, na crítica cínica e no ritualismo oco.
Se não os veneramos, que não os denigramos. Este vaivém de crítica cega ocasiona
a ânsia de fama, de conquistar seguidores, luxos, exibicionismo. Onde a tônica da
espiritualidade deveria ser evidente prevalece a discrepância. Isto suja o nome sagrado da
Gnose.
A fidelidade que se exige a uma mente humana é fidelidade ao ego. A Gnose não é
capricho de uma mentalidade humana nem o invento de uma organização inspirada pela
mentalidade humana. O conhecimento não é propriedade de ninguém, senão daquele que o
encarna. Os que se declaram a favor do menosprezo aos demais não conhecem o elementar
da disciplina espiritual. Estão muito afastados de encontrar o campo do serviço verdadeiro.
Quem utiliza o nome da Gnose para fins pessoais, deve ter cuidado com ele e tratá-
lo como se merece. A Gnose é uma força cósmica cristalizada em nosso planeta pelo
Mestre Samael em momentos difíceis. Está além de interpretações individualistas que
distorcem sua pureza. Certo amigo inspirado me dizia: “A Gnose ensina a aprofundar nas
águas da vida para obter a pérola do Ser e não a vagar pelas praias arenosas das teorias
para recolher simples conchas”. Não destruamos a raiz mesma da verdadeira natureza do
ensinamento convertendo-o em um montão de seitas.
É indubitável que nossos corações estão mal, buscando na Gnose a reparação e o
refinamento. Essa reparação e esse refinamento implicam processos muito longos de muito
trabalho e são poucos os que conseguem dispor de uma mente verdadeiramente aberta para
aderir-se a um amplo critério, elástico e firme.
É necessário compreender o labor que a Gnose poderia realizar por nós, se não a
travamos no labirinto das interpretações personalistas, com a tendência de imagens
equivocadas. Há rivalidades entre uma sigla e outra. Há competições sutis que não se
mencionam.
Tudo isso gera uma quantidade de calúnias, de invejas, de cobiças, que terminam
em culpabilidades de uns a outros e conduzem a denegrir o próprio Mestre tanto como aos
discípulos.
Se alguém vem dizendo que o Mestre o comissionou em seus sonhos para tal
trabalho, tratemo-lo como enganador, sem misericórdia. Isso é um insulto aos princípios
divinos do ensinamento. Ser sinceros, falar de experiências genuínas, sem distorções ou
conveniências, sem exageros ou falsificações nos dará autenticidade e não fantasias
perniciosas.
Não importa o que façamos ou deixemos de fazer, mas pelo menos deixemos que se
manifeste através de nós uma mente firme para que nosso raciocínio seja também firme.
Com essa equanimidade haverá um corpo de doutrina que determine a maravilhosa
transcendência da Gnose. Este ensinamento sempre permanecerá em sua altura com ou
sem nós e devemos ser guardiões de seus valores contra os que intentem degradá-lo.
A busca de conhecimento íntimo e a base de uma moral são pontos essenciais no
ensinamento Gnóstico. Realizemos nossa morada de liberação de uma casa construída por
quatro pilares da Filosofia, a Arte, a Ciência e a Religião.
Só assim se fortificará a força do anelo para conseguir a meta. Em certa ocasião
perguntei ao Mestre: Que é o que mantém você tão firme neste caminho, Mestre? Ele me
contestou em poucas palavras: “A força do anelo, Tony; isso é tudo”.
Comprovamos até a saciedade que a missão V. M. Samael representa a religião da
síntese das religiões. Nenhuma corrente esotérica contém uma mensagem tão direta,
determinante e firme. Por isso é tão difícil encontrar alguém com a devida preparação para
semelhante responsabilidade. São muitos os que se entusiasmam ao receber este
conhecimento e são muito poucos os que conservam esse entusiasmo.
Quando as primeiras crises afetam o estudante é que sua instrução se inicia. Para
aqueles que não lhes interessa nem meta, nem Sendero, nem sede, nem anelo, não têm
importância às dificuldades. Isso é só para os que anelam, que vivem afligidos por sua
miséria interna, pulando do positivo ao negativo com a inquietude do despertar da
consciência.
A ordem revolucionária da Gnose tem o propósito de salvar uma humanidade que
já não tem alternativa, com a única opção do trabalho sobre si mesmos.
O Venerável Mestre não veio dar-nos tapinhas nas costas pelo que somos, mas
indicar-nos o que devemos ser. Isso implica a seriedade que só os valentes possuem. O rio
cristalino do ensinamento fluirá aprazível e puro se não o contaminamos com a enxurrada
dos pensamentos abismais do ego.
CAPÍTULO 3

ENSINAMENTOS DO MESTRE

É difícil para eu situar, no tempo e no espaço, as muitas coisas que aprendi e


assimilei do Venerável Mestre Samael, por isso o que narro a seguir são conceitos sem data
nem lugar algum:
“Os intelectuais alardeiam que só lhes interessa o que é susceptível de
comprovação, o que é da razão, o que é dialético, mas para usar com retidão o intelecto se
necessita força de mente”.
Um gnóstico deve ver a Deus em tudo, um materialista não compreende isto. É
como querer dar um pastel a uma pessoa enferma do estômago, mas ainda assim um
gnóstico ou um materialista pode beneficiar-se com a leitura dos livros sagrados.
Exaltação da devoção pela verdade e o amor a nossos semelhantes vão juntos, o
amor ao próximo concede a primavera interna, amar a verdade e dizê-la custe o que custe é
a dulcificação do fruto e a obtenção do desapego e equanimidade são a colheita.
Se diz que o mundo é maya ou ilusão, porque oculta ao homem sua realidade
divina, lhe esconde o eterno e imperecedouro. O pior do homem comum é que maya é sua
única realidade. Diz-se que é irreal porque quando o real se experimente, já não existe a
dualidade, a separatividade, em tudo se adverte a unidade e a harmonia.
Dedica tempo à meditação, que te recupera no cenário do eterno, põe tua mente em
sintonia com o universo e com teu ritmo respiratório, pois é o que Deus nos dá como vida,
sê feliz e vive em paz, essa é tua verdadeira natureza. Faz cadeias de amor constantemente
e verás como esse amor te acompanha e te santificará cada dia de tua vida.
Seja comedido em tudo, fala pouco, dorme pouco, come pouco, pratica pouco para
que nada te canse, nem te esgote, nem te sature de fastio.
Impulsiona-te com teus anelos mais íntimos, nunca faças alarde de aquisições
pequenas, observa a vida com profundidade, vê a viga em teu olho e não a palha no olho
alheio.
Tua fala deve ser sem ambigüidades e com substância, clara, simples e perfeita.
A pérola de grande preço do mercador do evangelho é a essência metida nos corpos
de pecado, o causal, mental, astral e físico.
Por que vender essa jóia pelas moedas da avareza, da ambição ou do temor à
pobreza? Por que mendigar tendo tal riqueza em nossas mãos?
Gnóstico significa falto de ignorância, o que é sábio, por isso, se queremos merecer
tal nome, nossa atividade deve ser impulsionada pelos anelos íntimos do Ser.
Recusar que as desilusões nos desiludam, não render-se ante as decepções,
interrupções ou demoras.
Sua honestidade é assistida pelo Ser Supremo e, portanto pode fazer o impossível.
Nossa necessidade pelo divino deve ser como o ar para quem está se afogando ou
como quem está se queimando necessita deixar de sentir o ardor. Se intentarmos com esse
anelo, com muito interesse e afeto, é seguro que não existirá em nossa vida o fracasso.
Na relação com os filhos ou qualquer pessoa próxima, o êxito harmonioso não
depende do controle, mas da concessão da liberdade de mente, pensamento e ação, e em
aceitá-los como seres independentes. A liberdade é a máxima característica de uma pessoa
espiritual.
Todo semeador de sementes deve sentir o sabor que sente da comida, João, Pedro,
Chucho, Jacinto ou José, antes de oferecer a verdade a outros, é preciso que o que a recebe
a tenha como uma necessidade primordial em sua vida. É urgente que vejamos a verdade,
conheçamos a verdade e pensemos a verdade sempre.
Tua própria tensão, ou a tensão que vejas em qualquer pessoa, é pelo temor. O
temor se deve à falta de confiança em seu Pai que está em segredo. Crer que nosso Pai e
nossa Divina Mãe nos cuidam de todas as coisas externas da vida faz que a vida se torne
fácil, confiada e de um regozijo constante.
A Quarta-Feira de Cinzas é o símbolo da dissolução do ego, a aniquilação de todo
karma. A cinza já não pode servir de combustível, nem serve para dar luz, assim é nosso
esgotado karma. Maya já não nos envolverá, nem a roda das 108 vidas nos enganchará em
seus ciclos.
Usa o amor como cocheira do carro de guerra do arcano sete, as duas esfinges
simbolizam o discernimento e o desapego. O trabalho esotérico deve ser simultâneo na
formação do embrião áureo, as colunas do carro são: discernimento, amor e a
brahmacharya solar, ou seja, a prática do sahaja maithuna.
Nossos propósitos devem ser dignos, nossas realizações progressivas em direção à
verdade, à justiça, à paz e ao amor. A prática gnóstica deve ser clara, simples, direta.
Nossa compreensão deve ser elástica, sem horizonte que a limite para que haja
unidade em nossas relações. A separatividade é a pior heresia, se consciente da unidade.
A renúncia é parte de nossa disciplina, mate a ambição, mas trabalha como se
fosses ambicioso. A disciplina educa o corpo e a mente e ademais aflora as virtudes
latentes da alma.
A ira, a luxúria e a cobiça são os erros mais graves, acerta no uso de tuas energias,
do verbo e da mente. O gozo físico é a turbulência superficial do que não buscou na
profundidade de seu mar interno.
Não desejes poderes, eles vêm como pagamento à bondade do que fazemos para os
demais.
O amor surge como um relâmpago na noite da alma, se faz sólido com a força do
carinho e se unifica e sintetiza com a adoração suprema.
Tomai tudo de cada momento, porque cada momento é filho da Gnose, cada
momento é absoluto, vivo e significativo.
A brevidade da vida é motivo suficiente para alentar-nos a engrandecê-la com a
revolução integral.
Com a inteligência, devemos aproveitar ao máximo o tempo vital para que alargue
sua brevidade, não a diminuindo com as obras estúpidas e mesquinhas do ego.
O Senhor íntimo guiará nossos passos se somos bondosos e ternos de coração. A
virtude e os testemunhos que buscamos se encontrarão no Sendero do senhor.
Branqueai o diabo, convertei-o em Lúcifer, alguém branqueia o diabo quando
transmuta a energia sexual e elimina o ego.
A Virgem de Luz Stela Maris, a Divina Mãe Kundalini de João Batista, é citada
pelo grande Kabir Jesus. O Salvador entregou o espírito de Elias à Stela Maris de João e
ela o entregou a seus receptores; eles o conduziram aos regedores da luz e estes o verteram
no ventre de Elizabeth. Desta maneira o I. A. O. menor, a Divina Mãe de Luz e o espírito
de Elias foram ligados ao corpo de João Batista. Elias reencarnou em João Batista; João é a
vivíssima reencarnação de Elias.
A auto-realização íntima do Ser se consegue vivendo a vida intensamente através
de trabalhos conscientes e padecimentos voluntários realizados por nós e dentro de nós
mesmos aqui e agora.
CAPÍTULO 4

SOBRE AS CORRENTES DO SOM E O VERBO

“No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus” (São João).

Em certa ocasião, o Mestre Samael comentando acerca da arte, uma das colunas de
toda cultura, me explicava que o segundo Logos ou o Verbo, era o mesmo som ou vibração
sonora universal que coexiste em tudo, seja na forma ou no sem forma.
“Ludwig Van Beethoven, cujo rosto é um relâmpago – dizia o Mestre – é nada
menos que o guardião do Templo da Música.
Suas nove sinfonias estão em íntima relação com as nove esferas da Árvore da Vida
da Cabala Hebraica.
A terceira sinfonia, A Heróica, está totalmente matizada com a influência de Binah,
a terceira séphira ou esfera, que corresponde à Divina Mãe ou às forças do Espírito Santo,
os processos do nascimento e morte.
É mais evidente em seu segundo movimento lento, escrito em forma de marcha
fúnebre, expressa a missão de dar e tirar a vida pela ação dos Anjos da morte chamados
pasquais a la pasquala em algumas regiões da América Latina.
Na quarta sinfonia se adverte o uso dos címbalos, que ativam os impulsos do íntimo
no coração, Chesed, o Júpiter Interno.
A força do rigor, o Geburah, a quinta esfera da cabala, Beethoven a expressou em
sua quinta sinfonia, o destino chamando à nossa porta.
Tipheret, a beleza, deve-se vivenciar na maravilhosa sexta sinfonia dedicada à
natureza. Quem escutou a sexta sinfonia com verdadeira atenção, haverá harmonizado as
combinações mais sutis de sua própria natureza. É de grande ajuda para transformar nossa
mentalidade lunar em uma mentalidade solar.
A apoteose da dança, como disse Wagner da sétima sinfonia, unifica nossa
compreensão acerca da esfera de Netzach ou a esfera de Vênus, a Deusa do amor.
A oitava sinfonia expressa Hod, a esfera da alta magia e os processos da mente.
A nona sinfonia, chamada coral por suas partes de coros, canta a ode à alegria do
grande poeta alemão Schiller, exalta as aquisições que se colhem na nona esfera ou Jesod
da Cabala.
Não é coisa de expressar-se em palavras senão de escutá-la com o coração e uma
mentalidade solar unificada.
Comentava-me suas investigações sobre o cataclismo final dentro da corrente do
som universal, que para São João é o Verbo, o Segundo Logos. Para melhor compreensão
transcrevo o que o Mestre escreveu no livro a Doutrina Secreta de Anáhuac, onde narra tal
experiência:
“No mundo causal contemplava com assombro místico a grande catástrofe que se
avizinha e como esta é a região da música inefável, a visão foi ilustrada na corrente do
som”.
Certa deliciosa sinfonia trágica ressoava entre os fundos profundos do céu de
Vênus...
Aquela partitura assombrava, em geral, pela grandeza e majestade e pela inspiração
e beleza de seu traço; pela pureza de suas linhas e pelo colorido e matiz de sua sábia e
artística ilustração, doce e severa, grandiosa e aterradora, dramática e lúgubre.
Os fragmentos melódicos (Leitmotivs) que se ouviram no mundo causal, nas
diferentes situações proféticas, são de grande potência expressiva e em íntima relação com
o grande acontecimento e com os sucessos históricos que inevitavelmente o precederão no
tempo.
Há na partitura dessa grande ópera cósmica, fragmentos sinfônicos relacionados
com a terceira guerra mundial; sonoridades deliciosas e funestas, sucessos horripilantes,
bombas atômicas, radioatividade espantosa em toda a terra, fome, destruição total das
grandes metrópoles, enfermidades desconhecidas, revoluções de sangue e aguardente,
ditaduras insuportáveis, ateísmo, multiplicação de fronteiras, perseguições religiosas,
martírios místicos, bolchevismo execrável, anarquismo abominável, intelectualismo
desprovido de toda espiritualidade, perda completa da vergonha orgânica, drogas, álcool,
prostituição total da mulher, exploração infames novos sistemas de tortura, etc., etc., etc.
Mesclado com uma arte sem precedentes, se escutavam arrepiantes temas
relacionados com as poderosas metrópoles do mundo: Paris, Roma, Londres, Moscou, etc.,
etc., etc. ““.
Comentava-me sobre a necessidade da guia do guru nas regiões do som, no mundo
causal e o importante de dizer a verdade e só a verdade na vida diária, para conseguir o
desenvolvimento harmônico do chacra vishudha ou igreja de Sardis, pelo vínculo que tem
com o verbo para usar os mantrams sagrados e não profaná-los. Mencionou-me os
mantrams secretos dos rituais gnósticos que encerram grandes segredos. Tesouros reais,
todo o amor do Ser. Recordo quando em uma conversa familiar em casa de um discípulo
gnóstico nos dizia sobre o som:
“Os Elohim, o exército da voz, a grande palavra, como milícia celeste se move nos
mundos superiores de consciência cósmica, anelando levar a outros a esse mesmo estado
de felicidade e sabedoria espiritual”.
A palavra é a imanência de Deus que tudo penetra, é tua alma, tua essência e
existência, é a luz que ilumina todo homem que vem a este mundo, teu real ser, é a música
que percebeu Beethoven, interminável e eterna, à qual se conhece pelo I. A. O., ou o som
WU ou OM.
Esse som se enlaça de glória, de eternidade em eternidade, de felicidade em
felicidade, abarcando todo o espaço, saturando toda a vida, fazendo eco no tempo.
É a palavra perdida da maçonaria, é uma secreta repetição que muito poucos
conhecem. Esta eterna palavra está dentro de todos os seres e coisas, dando-lhes vida,
criando e dando forma a tudo.
Este som é também luz verdadeira e vida, luz que revela a realidade detrás de toda
aparência, vida que é a raiz de toda existência.
Na meditação é o contato que realiza o sábio; todos os grandes místicos se uniram a
este som universal que libera a essência da multiplicidade do ego, a melodia que eleva
sobre toda matéria aos reinos dos mundos transcendentais do espírito puro.
A vivência dessa corrente de som é vital e satura de vida, é a que nos unirá ao Pai e
à imortalidade, é a mão e a lâmpada de nossa amorosa Mãe Divina que nos conduzirá pelos
mais escabrosos caminhos e os esconderijos mais íntimos da verdade e da realidade. A
única coisa que pode dar-te felicidade e bem-aventurança, o SAT-CHIT-ANANDA dos
hindus.
O som universal é o néctar que busca a abelha para deixar seu zumbir, é a harmonia
do cosmos infinito, é a música das esferas de Pitágoras, não é a conversação, nem a leitura,
nem o cântico, não se pode descrever com palavras, é uma vivência íntima e ao mesmo
tempo cósmica, apesar de que se encontra em cada um, são os iniciados, os Mestres
desapegados dos apetites mundanos, os que já não têm ego, aqueles que possuem a chave.
O som é o Alfa e Ômega de São João, o princípio e o fim, o que era, é e será, não
pode morrer nem desaparecer e existe eternamente em todas as épocas e em todos os
tempos. Sua harmônica relação em toda magnífica sinfonia faz que seja eterna, é por isso
que a música dos grandes mestres não passa jamais de moda, porque é indestrutível e
eterna.
Os antigos RISHIS ensinaram isto no longínquo oriente, na China se estudou
também este mistério. Foi em minha encarnação quando fui CHOU-LI, como membro da
antiga Ordem do Dragão Amarelo, que conheci o segredo da meditação sintonizada com o
som, por meio de um aparelho que usávamos, manejado por um irmão muito sábio no uso
deste instrumento musical que combina em várias oitavas musicais os 49 níveis do
subconsciente, que se chamava Ayatapan.
É necessário, pois, usar a música para nosso desenvolvimento interno, os mantrams
e a verdade são o verbo, assim a corrente do som nos converterá em verdadeiros
instrumentos para sua ação criadora.
Ao dia seguinte desta reunião, acompanhei o Mestre Samael ao correio do D. F.;
me encontrava cavilando sobre estas palavras, me sentia altamente motivado.
CAPÍTULO 5

A DIVINA MÃE

O símbolo do amor divino por excelência é o da Divina Mãe, que expressa a graça
que desce do alto, quando existe uma verdadeira entrega abaixo.
O Mestre sempre me fez ênfase em que nunca me esquecesse de minha Divina Mãe
particular, íntima, a que cada um tem em seu interior.
Só um filho ingrato se esquece de sua mãe - me dizia - e mostrando meu corpo
narrava o grande processo que ela havia tido que passar para elaborá-lo, que era ela a que
através de todas as mães que havia tido em todas as minhas vidas, a que me havia dado a
vida, o alento vital e o amor, era ela a que me havia proporcionado nesta vida o
maravilhoso corpo físico e os corpos internos lunares para minha própria evolução e
desenvolvimento.
O esquecimento da mãe é o erro em que caíram grandes homens, que desenvolvem
uma maravilhosa personalidade, mas carecem da profundidade que dá o amor,
característica de uma essência bem desenvolvida. Este foi o erro de Gurdjieff e seus
seguidores, para não mencionar a outros tantos.
Só se pode compreender a onisapiente e oniabarcante qualidade do amor divino
quando se adora a Deus como mãe; seus cinco aspectos que são expressos na magia branca
por meio do pentagrama esotérico, estrela flamígera de cinco pontas, e são conhecidos na
Índia assim:
MAHA-SWARI: A imanifestada Prakriti, que impulsiona a volição de tudo,
conferindo a sabedoria ao projetar o delineamento do plano criador, é a serenidade imensa
da criação e a amplitude do manifestado.
MAHA-KALI: Os aspectos 3º, 5º e 7º Binah, Geburah e Netzach da Cabala
Hebraica, que não suporta a indiferença a seu chamado, pelo que submete e equilibra o
karma com amor e rigor ao mesmo tempo, é a que estimula a força e o vigor em seus
diferentes aspectos, conferindo finalmente a altura do espírito, orientando nossas energias
pelo carisma e a força magnética.
MAHA-LAKSHMI: na Cabala se expressam pelas esferas 2 ª, 4ª e 6ª, Chokmah,
Chesed e Tipheret; sabedoria, bondade e beleza, são a divina consorte de Vishnu, o Cristo
Cósmico, encerra o profundo segredo da beleza, da harmonia e o ritmo sutil da medida de
todas as coisas.
MAHA-SARASWATI: Seu quarto aspecto é o misterioso e invisível Daath, a
esfera que se põe na Árvore da Vida da Cabala, que só surge à manifestação espiritual
quando se colocaram os fundamentos, cujas raízes estão em Jesod, ou seja, a nona esfera. É
a que coordena a perfeição e a ordem, detalha a organização da realização final de todo
fruto, é a mãe, amiga, filha, esposa, é a deusa do atleta da meditação, é a ciência, a arte, é a
técnica.
MAHA-DEVI-KUNDALINI: Seu quinto aspecto, a nona e décima esfera da santa
Cabala, o fundamento e o reino, é o poder íntimo de cada coisa, é Diana, a caçadora, a
deusa da agricultura, o fogo consumidor do Espírito Santo que nos fala a Bíblia, é a Sarça
ardente do Horeb, é o vital, o mágico, o milagroso, é a virgem de Guadalupe ou as virgens
que têm a lua nos pés, é a unidade do fruto interno e externo, é a que confere a armadura
argentada do paladino gnóstico, é a pureza, felicidade e conhecimento do êxtase, é a
plasticidade sem dúvidas, é a fé solar e a que exige para seu trabalho em cada quem uma
submissão sem reservas e sem dúvida alguma.
Em Cabala se diz que a esfera de Binah, a 3a esfera, corresponde à Divina Mãe e
que contém 50 portas do entendimento, como Chokmah, a 2a. Esfera tem 32 sendas da
sabedoria. Estas 50 portas são as que se tocam com a prática do rosário, isto é, levando
rosas à virgem por um ário.
Rosa do ário, rosário, em suas três etapas do rosário: cinco gozosos, cinco
dolorosos e cinco gloriosos se entendem a etapa de possuir, a etapa do desapego e a etapa
da transcendência. Falando disto, o Mestre me aclarou com um exemplo:
“O mais belo exemplo da natureza – disse – que nos ensina nosso próprio processo
é que quando a serpente, depois de haver possuído uma bela pele, chega o momento de
mudá-la, e busca para isso um sarçal, submergindo-se nele para que no processo de entrar e
sair haja uma troca de pele, ainda sendo este doloroso, mas ao sair não só deixou a pele,
mas também vem com uma pele totalmente nova e radiante de beleza. O espinho sempre
foi um símbolo da vontade consciente. Nosso processo poderá parecer doloroso, mas é a
única maneira de conseguir a pele nova, os corpos solares, dentro dos quais se erguerá a
serpente mágica de nossos poderes conscientes. Os dois últimos mistérios do rosário estão
dedicados totalmente à ascensão da serpente ou a virgem aos céus e sua coroação como
rainha da mansão Empírea”.
Eu sabia que alguns swamis da antiga ordem saraswati, estão atualmente ensinando
a técnica da meditação transcendental, da ordem monástica fundada pelo bodhisattva de
Budha, o grande Mestre Shankara, aos pés dos Himalayas na legendária Índia. Também
sabia de uma antiga ordem chamada Vairagi. Perguntei ao Mestre se tinham alguma
conexão, e ele sabiamente me explicou: “Vairagi é uma palavra sânscrita que quer dizer
desapego; Saraswati é a consorte de Brahma, mas não há que confundir com um
matrimônio humano é para indicar o aspecto amoroso do Pai que se diz que Saraswati é
sua consorte ou companheira”.
Saraswati é a deusa dos gnanis ou meditadores, a deusa dos autênticos gnósticos, é
a Shakti potencial que o une a seu Atman inefável, a que o leva pela senda de pureza da
guna sattva, a que consegue a unidade de Shiva-Shakti, a que o converte em uma serpente
de fogo.
Shankara, o grande Mestre hindu, foi seu devoto, por isso se diz da ordem
saraswati. Shankara também desceu à nona esfera; dele se conta uma história que podes
corroborar com qualquer de seus seguidores... Em seu afã de coordenar e unificar o
pensamento hindu em sua época, que estava diversificando muito a pureza do monismo, tal
Mestre se encontrou com outro Mestre com o que se pôs de acordo em que se as
dissertações de um ou do outro fossem superiores, o vencido ficaria como discípulo do
vencedor. Shankara venceu por possuir um brilhantismo extraordinário, mas a esposa do
vencido alegou que na Índia um casamento se considera como uma unidade, portanto só
havia derrotado a metade deles. Ela, disposta a vencer Shankara, lhe fez perguntas
dificílimas sobre a questão sexual. Shankara, ao reconhecer sua ignorância sobre alguns
assuntos, conseguiu uma trégua de 30 dias, que usou, de acordo com seus discípulos mais
chegados, para pôr seu corpo em estado cataléptico e incorporar-se no corpo de um rei
chamado Amaruka, que acabava de falecer. Os súditos do rei, ao vê-lo reincorporar-se, se
assustaram, mas logo aceitaram o caso como uma ressurreição.
O realmente escabroso para Shankara foi que, desconhecendo os mistérios do sexo,
tinha que se enfrentar a um harém de 100 mulheres que possuía o rei Amaruka. Foi à
favorita, que era uma grande Mestra, quem lhe ensinou os segredos do Sahaja Maithuna e
o ajudou a levantar suas sete serpentes. Só assim pôde este grande Mestre monista vencer a
esposa do Mestre que já anteriormente havia vencido.
Ramakrisna, o grande sábio e iniciado hindu, foi um grande devoto da Divina Mãe
em seu segundo aspecto, sua Bhakti ou devoção por ela era tão grande que viveu grande
parte em estado de shamadi ou êxtase outorgado pela Divina Mãe, nos deixou em seus
ensinamentos uma narração simples, mas valiosa para compreender os três aspectos da
Prakriti ou natureza, os três aspectos da natureza - dizia ele - Sattva, Rajas e Tamas;
pureza, emoção e inércia são semelhantes a um homem que entrou em um bosque onde foi
atacado por três ladrões, um o queria matar com um punhal, outro o amarrou e outro só viu
ou foi testemunha, eles se foram; pouco depois regressou o que havia sido só testemunha e
o desamarrou e encaminhou a seu destino; estes ladrões são as gunas ou modos da
natureza.
A inércia nos incapacita e nos pode levar à morte, a emoção nos ata pelo afã de
lucro, de aquisição e de apego, a pureza nos encaminha e leva ao caminho, mas também há
que transcendê-la ““.
As mulheres santas nos devem servir de exemplo para compreender a Deus como
mãe, na Bíblia estão Ruth, Eva, Raquel, Ester, Marta, Maria Madalena, a samaritana. Elas
são símbolos do amor divino e sua forma de operar no aspecto sagrado das coisas.
Na oração católica Deus te Salve Maria (o Salve) termina com as palavras: “roga
por nós agora e na hora de nossa morte... amém”, referindo-se não só à morte física, mas
também à morte do ego, pois morrendo o ego, se torna órfão dos apetites mundanos e só
sua Mãe Divina o pode consolar ou rogar que passe às vivências transcendentais do Ser.
Finalizo este capítulo com a oração dedicada à Divina Mãe, chamada a Magnífica:
“Glorifica minha alma, senhor, e meu espírito se regozije em Deus, meu salvador,
·pôs seus olhos nesta humilde serva; desde hoje me chamarão ditosa todas as gerações”.
O senhor fez maravilhas em mim, Santo é seu Nome. Seu amor se estende por
gerações sobre os que o temem.
Mostrando o poder de seu braço, dispersei os soberbos, arroja aos poderosos de seu
trono e exalta os humildes.
Encheu de bens os famintos, despede os ricos com as mãos vazias.
Acolhe em Israel seu servo, recordando seu amor a seu filho Abraão e a promessa
feita a vossos pais, ao Filho e ao Espírito Santo, como era em um princípio,
agora e sempre pelos séculos dos séculos... Amém”.
CAPÍTULO 6

A ESPOSA SACERDOTISA

Alguém disse: “Um homem constrói mil exércitos, uma mulher constrói um lar”.

Não posso deixar de dedicar um espaço à esposa sacerdotisa, porque sentiria que o
pouco que desejo contribuir está vazio da força que o inspira. O que o homem possa
conseguir em sua existência, o deve a sua esposa. Somente com a esposa se adquire
sensibilidade para a compreensão das coisas que o intelecto não dá, somente com a esposa
se adquire a predisposição para as coisas do espírito.
Com a esposa sacerdotisa se experimenta o mais alto grau da beleza, expressado na
sublimidade do amor.
Todos chegamos a momentos em que nossa pouca força nos submerge em longos
estancamentos, como vítimas da inércia, apatia e desconsolo. É então quando minha esposa
é o estímulo de confiança que me dá a vida, me levanta e me recorda o compromisso que
tenho comigo mesmo; da mesma forma reconheci à grande companheira que deu a vida ao
Mestre Samael, sua própria esposa sacerdotisa.
Ela o levantou do lodo da terra como bodhisattva caído que era. Diz-se
constantemente que detrás de todo grande homem se encontra a presença de uma grande
mulher, e o caso do Mestre não foi uma exceção. Há muitos detalhes, virtudes, qualidades,
que ela, por sua natureza libriana, possui com espontaneidade; sua simplicidade, sua
lealdade, sua clareza no trato, sua adaptabilidade a qualquer circunstância, na pobreza ou
na abundância, sua grande paciência para lidar com um diabo como era o Mestre quando
esteve caído.
Os lauréis do triunfo, da conquista, não são só dele, são dela também; seus próprios
filhos sabem de seu rigor e sua clareza para chamar às coisas por seu nome, ou seja, sua
valiosa franqueza.
Assim como todo diretor de orquestra necessita de uma batuta, ou o capitão de um
barco necessita da bússola, assim o Mestre necessitou de sua esposa para retomar o
caminho de regresso ao Pai.
É evidente que ela é uma das cinco virgens prudentes da parábola evangélica, seu
exemplo pode ajudar, vitalizar, estimular e ampliar o horizonte de amor de toda aquela
esposa que esteja colaborando com seu esposo seja este missionário ou não. A mulher reta
encontrará nela uma verdadeira amiga, toda mulher incorreta sentirá nela o rigor de um
juiz do karma.
Em suas conversas, o Venerável Mestre nos afirmava que a mulher fecunda a
psique do homem, todo homem fecundado psiquicamente por sua esposa sacerdotisa, pode
brindar em cada uma de suas realizações progressivas na taça pletórica do amor. A mulher
com suas sutilezas, seus belos detalhes, com a profundidade de seu amor, nos confere a
capacidade de aprofundar nos simples ou complicados problemas da vida cotidiana, dando-
nos a elasticidade e a visão que tanto necessita o aspirante à iniciação.
Nos 28 anos que levo de compartir a vida com minha esposa sacerdotisa, por ser ela
uma das filhas do Venerável Mestre é, de fato, uma excelente assessora para o trabalho
esotérico gnóstico; ela empapa a todos os que integramos nossa família com a sábia
presença do avô de meus filhos. Nos narrou muitas histórias e detalhes da diabrura que
possuía o Mestre quando iniciava seu processo e como foram todos um por um morrendo
dentro do calor do lar com a ajuda de sua Venerável esposa (Mestra Litelantes).
Nossa companheira é o espelho mais próximo que Deus nos proporciona para que
possamos ver-nos tal e qual somos na vida cotidiana. É o espelho do que nos fala o
apóstolo Santiago em sua Epístola Universal, capítulo 1, versículo 23, que diz:
“Aquele que escuta a palavra sem a realizar é como o homem que olha seu rosto em
um espelho, vê a si mesmo, mas quando sai dali se esquece de como era. Mas o que não
esquece o que ouve, senão que se fixa atentamente à lei perfeita, que é a lei que nos traz
liberdade, e permanece firme cumprindo o que ela manda, será feliz no que faz”.
Desde meu início de estudante do grau elementar, estive cheio de idéias
equivocadas sobre o que é o casamento. Através do tempo vim aprendendo que nossas
idéias maravilhosas e ilusórias sempre ficarão estancadas nesse estado, se não mudamos
firmemente nossa atitude pelo trabalho sério e constante. A relação com nossa esposa vai
marcando a pauta do que devemos e não devemos fazer. Minha esposa tem uma alma
muito bela, é muito sensível e doce, em meu caso particular isso me ajudou muito a
caminhar com suavidade o sendeiro que para outros foi com dureza, aspereza, indiferença,
etc., também isso é necessário para o que não tenha tido minha sorte.
Desejo dedicar, muito sinceramente, a todas as esposas sacerdotisas que estejam
dedicadas ao trabalho esotérico gnóstico, a transcrição das palavras que um dia nos legou o
Venerável Mestre, ao pedir-lhe que nos falasse acerca do amor. Nos falou dizendo o
seguinte:
“O amor é a união de dois seres, um que ama mais e outro que ama melhor. O amor
é a melhor religião exeqüível”.
Hermes Trismegisto, o três vezes grande Deus Íbis de Thot, escreveu na Tábua de
Esmeralda: “Te dou amor, no qual está contido todo o summum da sabedoria”.
Realmente, o amor em si mesmo é o extrato de toda sapiência. Está escrito que a
sabedoria, em última síntese, se resume em amor, e o amor em felicidade.
Quando o ser humano ama se torna nobre, caridoso, filantrópico, serviçal, se
encontra em estado de êxtase. Se estiver ausente do ser que adora, bastaria um simples
lencinho, um retrato, um anel ou qualquer lembrança para entrar em estado de êxtase.
Assim é o amor.
O amor é uma efusão, uma emanação energética que flui do mais profundo da
consciência. É um sentido superlativo da consciência.
A energia cósmica que flui do fundo de nosso coração estimula as glândulas
endócrinas de nosso organismo e as põe a trabalhar. Então muitos hormônios são
produzidos e inundam os canais sangüíneos e nos enchem de uma grande vitalidade.
Na Grécia antiga, a palavra hormônio significa ânsia de ser, força de ser.
Observemos um ancião decrépito, bastaria colocá-lo em contato com uma mulher, bastaria
que estivesse enamorado, para que misticamente se exaltasse. Suas glândulas endócrinas
produziriam abundantes hormônios, que inundando os canais sangüíneos o revitalizariam
extraordinariamente. Assim é o amor.
Em realidade de verdade, o amor revitaliza. O amor desperta em nós inatos poderes
do Ser. Quando verdadeiramente está enamorado, o ser humano se torna intuitivo, místico.
Em tais instantes pressente o que em um futuro lhe há de suceder, e muitas vezes exclama:
Me parece que isto é um sonho! Temo que mais tarde encontrarás outra pessoa em
teu caminho! Tais pressentimentos intuitivos através do tempo e da distância se cumprem
exatamente. Assim é o amor.
Na Europa e Estados Unidos existe uma ordem maravilhosa. Refiro-me à Ordem do
Cisne. Tal instituição analisa cientificamente os processos disso que se chama amor.
Na Índia, o amor sempre foi simbolizado pelo cisne Kalahamsa, que flutua
maravilhosamente sobre as águas da vida.
Realmente, o cisne alegoriza em forma enfática a felicidade inefável do amor.
Observemos um lago cristalino onde o cisne se desliza sobre as puríssimas águas nas quais
se reflete o céu. Quando um do casal morre, o outro sucumbe de tristeza.
Assim é o amor, que se alimenta com amor.
Amar! Quão grande é amar! Só as grandes almas podem amar e sabem amar. Assim
disse um grande pensador.
Observemos as estrelas girando ao redor de seus centros de gravitação universal.
Atraem-se e repelem de acordo com a lei de imantação cósmica. Se amarem e voltam
novamente a amar.
Muitas vezes se viu que dois mundos se aproximam, resplandecem, brilham no
firmamento da noite estrelada. De pronto algo sucede, uma colisão de planetas, exclamam
os astrólogos desde suas torres maravilhosas. Amor, sim, se aproximaram demasiado,
fundiram suas massas, se integraram com a força do carinho, se converteram em uma nova
massa. Eis aí o milagre do amor no firmamento.
Observemos a flor. Os átomos das moléculas na perfumada rosa de ambrósia,
banhada pelos raios da lua na noite estrelada, à margem da fonte cristalina, nos falam de
amor. Giram esses átomos ao redor de seus receptivos centros nucleares.
Obviamente, a molécula em si mesma é um sistema solar em miniatura, porque os
átomos ali giram ao redor de seu centro de gravitação, como os planetas ao redor do sol,
levados por essa força maravilhosa que se chama amor.
Está escrito que se todos os seres humanos, sem diferença de raça, sexo, casto ou
cor, abandonassem sequer por um minuto seus ressentimentos, suas vinganças, suas
guerras, seus ódios, e se amassem entranhadamente, até o veneno das víboras
desapareceria.
E é que o amor é uma força cósmica, uma força que surge do vórtice de todo núcleo
atômico, uma força que surge de qualquer sistema solar, uma força que surge de qualquer
galáxia, uma força extraordinária, que devidamente utilizada, pode realizar prodígios e
maravilhas, como os que realizaram o divino Rabi de Galiléia em sua passagem pela terra.
Assim é o amor.
O beijo em si mesmo visto por muitos de forma doentia, é em realidade de verdade
a consagração mística de duas almas, ávidas de expressar em forma sensível o que
interiormente vivem. O ato sexual é a consubstancialização do amor no realismo
psico-fisiológico de nossa natureza.
Na Ásia, jamais se levantaram monumentos aos grandes heróis, nem a um Gengis
Kham com suas cruentas batalhas, mas ao amor, à mulher. É que os asiáticos
compreenderam que só mediante a força do amor podemos transformar-nos radicalmente.
A maternidade, o amor, a mulher, eis aí algo grandioso, que ressoa no coral do
espaço em forma sempre perene. A mulher é o pensamento mais belo do criador feito
carne, sangue e vida.
Um quadro bonito nos fascina, um belo pôr de sol nos encanta, um eclipse
observado de qualquer ângulo nos deixa admirados. Mas a mulher, de imediato provoca
em nós a ânsia de possui-la, a ânsia de fazer-nos unos com ela, a ânsia de integrar-nos com
ela para participar da plenitude do universo. No entanto, não devemos em modo algum
olhar o amor e a mulher em forma doentia. Devemos recordar que o amor em si mesmo é
puro, santo e nobre.
Quando alguém profana a mulher com o olhar mórbido, indubitavelmente marcha
pelo caminho da degeneração. Devemos vê-la em toda sua plenitude natural.
A mulher, nascida para a santa predestinação, é a única que pode liberar-nos, os
homens, das cadeias da dor.
O homem para a mulher é algo similar. Ela vê no homem toda esperança, toda
proteção e ela quer completar-se no homem.
Ela vê nele precisamente o princípio masculino eterno, a força mesma que pôs em
atividade tudo o que é, tudo o que foi, tudo o que será.
Homem e mulher são, em realidade de verdade, as duas colunas do templo. Não
devem estar exageradamente perto, nem tampouco exorbitantemente longe. Deve haver um
espaço como para que a luz passe entre deles.
Quando se compreende isso que se chama amor, sentimos que deve existir no fundo
do sexo um algo que pode trazer-nos em realidade a iluminação, uma questão mística, que
poderia transformar-nos em super-homens. Não há quem não pressinta que mediante o
amor se pode mudar. E em verdade, só mediante essa força maravilhosa é possível mudar.
Adão e Eva saíram do paraíso terrenal juntos, e juntos, abraçados, devem regressar
ao paraíso. Adão e Eva saíram do Éden por haver comido do fruto que se disse “não
comereis”. É óbvio que deixando de comê-lo voltaremos ao Éden.
Se pela porta do sexo saímos do Éden, só por essa porta maravilhosa poderemos
retornar ao Éden. O Éden é o mesmo sexo”.
Concluo este capítulo enfatizando o respeito que devemos observar para com nossa
esposa sacerdotisa, consumando-o com a admiração e o agradecimento.
CAPÍTULO 7

O ARCANO A.Z.F.

Arcano quer dizer mistério. O mistério do arcano A.Z.F. é a união do primeiro e do


último por meio do fogo. O Mestre nos indicou o seguinte:
A Água (a primeira letra do alfabeto, o primeiro, o Alfa).
Z Enxofre (zulphur, a última letra do alfabeto, o último, o Ômega).
F A letra que indica o fogo.
É como dizer Eu Sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último unido pelo fogo do
Espírito Santo.
A primeira vez que li as frases do Mestre onde explicava a magia sexual, fiquei
perplexo, assombrado, impressionado. Realmente, não sei que palavras empregar pelo
estado interno de emoção que me embargou ao descobrir, pela primeira vez, a chave que
me possibilitaria conseguir em mim uma verdadeira transformação espiritual. Detalho em
seguida as palavras do Mestre em seu livro Rosa Ígnea:
“O homem saiu do paraíso pela porta do sexo e só por essa porta o homem pode
entrar no paraíso”.
Todo segredo se acha no Lingam-Yoni dos mistérios gregos.
Na união do phalo e do útero se encerram os grandes segredos do fogo universal de
vida.
Pode haver conexão sexual, mas não deve ejacular-se o sêmen.
O desejo refreado encherá nosso cálice sagrado com o vinho de luz.
Me dei logo conta de que toda a informação que possuía intelectualmente e que
comentava continuamente com meu irmão Paco, se tornava imensamente útil, já que me
permitia fazer com esta chave uma síntese maravilhosa.
A “Doutrina Secreta” de Madame Blavatsky, sua “Ísis sem Véu”, informação
teosófica; “Rosacruz” de Krum Heller; a “Vida Divina” de Sri Aurobindo”, as jóias
espirituais de Vivekananda, de Ramakrishna, de Sivananda, a sabedoria dos grandes
yogues; o Budhismo, o Zen de Krishnamurti em sua forma tão livre de expor; a doutrina de
Gurdjieff, etc., etc., etc.
Analisei-me rapidamente no referente à minha vida íntima, a qual relacionava com
minha vida sexual, como todo homem que anela ser culto, possuía também a informação
de Sigmund Freud, sua teoria da psicanálise da libido sexual, de sua interpretação dos
mitos como o de Édipo, de Electra e outros.
Havia me identificado neste sentido com seu discípulo, o grande doutor Jung, a
quem tacham de místico; me pareceu sumamente interessante seu livro “Símbolos e
Transformação da Libido”. Jung fala aqui precisamente de um dos aspectos muito
interessantes do ensinamento gnóstico, o símbolo da Mãe, em seu aspecto terrível e em seu
aspecto amoroso, mostra de forma muito curiosa uma fotografia de um dos deuses
egípcios, com o falo em estado de ereção e abaixo esta frase: “O dador da razão”.
Sempre me pareceu enaltecedora toda cultura que falasse claro sobre o aspecto
sexual, posto que é uma das forças que mais atormentam o homem, pelo menos a mim,
como dizia anteriormente. Na análise de minha vida íntima, recordo como passei por
períodos de dolorosa introversão em minha adolescência, por falta de uma verdadeira
orientação, quando visitava com meus amigos, também adolescentes, os bordéis, os
lupanares, os bares onde se fomentava a fornicação em suas formas mais involutivas.
Agora penso que, como dizia o Mestre: “é bom meter a pata, para saber onde há que tirá-
la”.
Infeliz de minhas horas louca, tempos ido de moço ignorante, recordo que praticava
a meditação como indicavam os livros de yoga, mas com 15 dias de prática me assaltavam
não só pensamentos luxuriosos, mas minha própria natureza reclamava a necessidade de
um corpo feminino. Achava então que nunca poderia dedicar-me ao espiritual ou a uma
busca do divino em nenhum sentido, que isso era para outros. O caso é que quando conheci
o segredo sexual do Maithuna ou magia sexual, renasceu meu anelo de obter um contato
com minha realidade íntima.
Há uma frase sânscrita nos livros sagrados da Índia, que me repetia e que só pude
entender ao já saber a chave da magia sexual: “ Leeyathe gamyamithi lingam”, traduzido
quer dizer: “aquele que se funde na meta é ligam”... Assim como em um dicionário vi a
definição do que é êxtase: “êxtase é a união sexual com Deus”; isso tem um fundo
esotérico profundo.
Poderia enumerar muitas frases, citações de livros antigos, símbolos, etc., que
adquiriram em minha vida um valor sagrado. A vida em sua pura essência vital, como é a
sexual, me impulsionou a tomar mais cautela, mais reverência, incorporando em minha
própria e insignificante pessoa toda a majestade do criador. Ainda sem praticar a magia
sexual, ao incorporar em meu ponto de vista este aspecto sexual sagrado, minha
compreensão veio a ser mais elástica, dúctil e com um horizonte de amor consciente, me
senti vasto como o mar, como o espaço; os quebra-cabeças que há tanto tempo queria
resolver se aclarou, a peça que faltava apareceu.
A leitura bíblica que sempre me pareceu tediosa, então tomou atração e com
renovada atitude li novamente o gênesis, (a origem dos genes), vi o drama de Adão e Eva
como meu próprio drama, entendi que o evangelho é a mensagem que dá o verdadeiro
valor à mulher, por isso se compõe das palavras: Eva-anjo-io. Moisés, o grande profeta
judeu, se agigantou em minha consciência. No cap.15, vers.16 do Levítico indica
claramente: “Quando o homem tiver emissão de sêmen, lavará todo seu corpo e será
imundo até a tarde”, no Livro de Reis estudei a construção do templo, tão belamente
descrito, Salomão, Hiram, as colunas, a distribuição dos salários, etc., maçonaria pura;
aspirei ser um verdadeiro maçom ou construtor de meu próprio templo.
Degustei o Cantar dos Cantares como se faz com um bom vinho, visualizei minha
futura Sulamita com seu refinamento poético, entendi o despertar do fogo sagrado nos
apóstolos, sua entrega ao apostolado, a verdade de seus milagres; minha imaginação se
desenvolveu, compreendendo assim o cenário simbólico de mares, trovões, relâmpagos,
fomes, pestes, mortes, o verbo como espada do visionário de Patmos, São João em seu
Apocalipse.
Um autêntico buscador da verdade jamais poderá desprezar a mensagem gnóstica,
jamais poderá deixar de reconhecer a chave da liberação, a magia sexual, o sahaja
maithuna, o Arcano A.Z.F. Não é a verdade, é um meio de poder realizar a verdade, é o
que dá sentido à nossa vinda a este mundo relativo, a este mundo de dualidade e ilusão.
Meu trabalho esotérico continua porque isto não é como ir à universidade e
conseguir em 5 ou 10 anos uma carreira, mas é trabalho de uma vida, não é como soprar e
encher balões, em nossa vida devem produzir-se mudanças revolucionárias constantes.
Recebi tanto do Mestre, dos irmãos gnósticos, da vida mesma, que não posso cruzar
os braços, mas devo pôr meu grãozinho de areia para ajudar a realizar a grande obra
mundial de dar a conhecer o que tanto tempo permaneceu oculto por causa das forças
negativas que imperam neste mundo.
Em nosso México querido, dia a dia se desvaloriza a moeda, seus dirigentes são
distraídos por agentes das forças inferiores, já somente se fomentam os impulsos baixos do
homem. Não é a moeda a que se desvaloriza, é o homem, porque se prostituiu, trocou sua
primogenitura por um prato de lentilhas. É ao homem que faltam verdadeiros argumentos
para assinalar porque é negativo o homossexualismo, o lesbianismo, a prostituição, o
aborto e todos os pecados que estragam e menoscabam nossa verdadeira natureza, que é
essencialmente divina.
Recordo quando vivi em certo lugar do México e conheci um estudante dos
ensinamentos gnósticos que se retirou dos estudos devido à sua incapacidade de trabalho
na frágua acesa de Vulcano. Como ele não possuía essa capacidade que todo homem de
verdadeiros anelos possui, vociferava do ensinamento por toda parte. Possivelmente este
não seja o único caso entre os lumisiais gnósticos, mas posso dizer com toda franqueza aos
que se iniciam nestes estudos, que a transmutação sexual é tão certa, verdadeira e possível
como o mesmo desejo de transformação que exista em cada um de nós. Se não existe esse
anelo sincero e verdadeiro seremos vítimas de nosso próprio engano.
Os que estejam trabalhando em sua própria obra saberão que, ainda que seja difícil,
não é impossível, e como todo processo de revolução, renovação e reintegração, as
mudanças que esperamos irão aparecendo paulatinamente e com elas obteremos a
autoridade do que digamos através de nossa própria experiência.
Devo dizer-lhes, estimados companheiros do Movimento Gnóstico, que somos
herdeiros de um corpo de doutrina esotérica maravilhoso, exuberante em sabedoria e
conhecimento.
Nenhuma corrente esotérica é tão completa como a Gnose, tão direta, tão
determinante. Não é um ensinamento de opções ou alternativas. É a síntese de tudo e todas
as coisas. É o ser ou o não ser da Filosofia.
Seu aspecto de terrível importância representado pela develação que nos entrega o
V.M. Samael Aun Weor dos mistérios do sexo e sua relação com a vida do ser humano,
nos mostra o caminho da única e verdadeira liberação do espírito.
Quando com minha esposa Ísis vivíamos em San Luis Potosí, capital do Estado de San
Luis Potosí, o Mestre nos visitava constantemente, para dar força e estímulo a um grupo
que havia sido formado pelo Mestre Rabolú. A este grupo se foram agregando estudantes
que deram forma a uma maravilhosa instituição Gnóstica.
Ao Mestre preocupava haver encontrado, nesta bela cidade, bodhisattvas de
Jerarquias da Branca Irmandade, caídos, jogados no lodo da terra.
Tratou muito especialmente a um deles, pelas glórias de seu passado na época
maravilhosa do Egito antigo.
Em certa ocasião, este amigo nos convidou à sua casa para desfrutar de uma
conversa particular com o Mestre, já que mostrava muito interesse pelos ensinamentos.
O Mestre aproveitou a oportunidade para explicar o processo alquimista da
fabricação dos corpos solares. O que nos disse então está relacionado totalmente com este
capítulo, pelo que vale a pena transcrever literalmente suas palavras:
“O interessante é compreender realmente de que maneira e em que forma se pode
criar o homem dentro de nós mesmos; porque o erro da humanidade é crer que o homem já
existe e não há tal. Para ser homem se necessita possuir os corpos físico, astral, mental e
causal e haver recebido os princípios anímicos e espirituais”.
Os pseudo-esoteristas e os pseudo-ocultistas crêem que toda a humanidade já
possui todos esses corpos, o que revela falta de idoneidade nos investigadores de tais
escolas, porque se fossem idôneos na investigação superior se dariam conta de que não
toda a humanidade possui tais corpos.
Em nome da verdade, posso lhes dizer que eu investiguei esta questão nos mundos
superiores e comprovei por mim mesmo em forma direta que nem todos os seres humanos
possuem tais corpos.
Fabricar os corpos astral, mental, causal e receber os princípios anímicos, é vital
para poder converter-se alguém em um homem verdadeiro. Antes desse estado, não se é
mais que um pobre animal intelectual condenado à pena de viver. Essa é a crua realidade
dos fatos.
Mas vamos ver como se cria o corpo astral, como se cria o corpo mental, como se
cria o corpo causal. Isso é importantíssimo.
O fundamento de toda a grande obra está na elaboração do mercúrio. E para
elaborar o mercúrio se necessita um simples artifício, que não é mais que o arcano A.Z.F.,
que poderíamos formular da seguinte forma: conexão do lingam-yoni sem ejaculação do
ens seminis.
Quando alguém consegue por esse simples artifício transmutar a energia criadora,
está de fato no caminho do êxito.
Antes de tudo, o mercúrio não é mais que a alma metálica do esperma. Em alquimia
o esperma é o azougue em bruto.
Se diz que com esse esperma transmutado se elabora o mercúrio, que é a alma
metálica do esperma.
Há três classes de mercúrio:
1. O azougue em bruto, ou seja, o exiohehari ou esperma sagrado.
2. A alma metálica do esperma, que é o resultado da transmutação do mesmo.
Esta alma metálica é energia criadora que ascende pelos cordões
ganglionares espinhais até o cérebro.
3. O terceiro mercúrio é o mais elevado. É aquele que foi fecundado pelo
enxofre. Em alquimia, o enxofre é o fogo sagrado.
Os esoteristas orientais não ignoram que quando as correntes positivas e negativas
do mercúrio fazem contato no tribeni, perto do osso coccígeo, por indução elétrica desperta
uma terceira força, que é o Kundalini. Este Kundalini, estudado como fogo unicamente,
fogo serpentino anular que se desenvolve no corpo do asceta, é o enxofre.
Quando as correntes positiva e negativa do mercúrio fazem contato no tribeni, perto
do osso coccígeo, desperta o fogo. Então, o fogo sagrado ou enxofre se mescla com essas
correntes do mercúrio e de tal mescla resulta o terceiro mercúrio, que é aquele que foi
fecundado pelo enxofre. Mescla de mercúrio e enxofre ascende pelo canal medular
espinhal do anacoreta até o cérebro, despertando os centros superiores do Ser.
O excedente desse mercúrio fecundado pelo enxofre é que vem a servir para a
criação dos corpos existenciais superiores do Ser.
Quando o mercúrio fecundado pelo enxofre cristaliza dentro de nossa psique e
dentro de nosso organismo com as notas do, ré, minha, fá, sol, lá, se, se forma o corpo
astral. De maneira que o corpo astral não é mais que mercúrio fecundado por enxofre.
Quando, mediante uma segunda oitava dó, ré, minha, fá, sol, lá, se, cristaliza o mercúrio
fecundado pelo enxofre, assume a figura do corpo mental. De maneira que o corpo mental
é, assim também, mercúrio fecundado por enxofre em uma segunda oitava. Quando
cristaliza o mercúrio fecundado na terceira oitava, com as notas dó, ré, minha, fá, sol, lá,
se, se forma o corpo causal.
Esse terceiro mercúrio é o mais importante. É o que chamaríamos Arqueus, o Arqueus
grego, o famoso Arqueus. Desse terceiro mercúrio, que é o Arqueus, saem os corpos
existenciais superiores do Ser. Também encontramos o Arqueus no macrocosmos, o
Arqueus macrocósmico. Este Arqueus macrocósmico é a nebulosa de onde saem os
mundos”.

Que é a nebulosa?
“É o Arqueus macrocósmico. É uma mescla de sal, enxofre e mercúrio. Também
aqui está o sal, o enxofre, e o mercúrio. O sal está contido no esperma sagrado e se sublima
com as transmutações. De maneira que no Arqueus do microcosmos há também sal,
enxofre e mercúrio”.

Qual vem a ser o sal aqui, Mestre?


“O sal está contido nas secreções sexuais, mas necessita sublimações; de maneira
que quando se realizam as transmutações também se transmuta o sal. No Arqueus do
microcosmos, de onde saem os corpos existenciais superiores do Ser, há sal, enxofre e
mercúrio.
Da nebulosa, do Arqueus macrocósmico, dali saem as unidades cósmicas, os
mundos. Aqui embaixo é igual que acima. Para que os mundos saiam se necessita a
nebulosa. E para que isso suceda se necessita a matéria prima, que é o Arqueus, que é a
mescla de sal, enxofre e mercúrio. Abaixo, no microcosmos, também há que elaborar nossa
nebulosa particular com sal, enxofre e mercúrio e dela surgem, como os mundos lá em
cima, os corpos existenciais superiores do Ser. O que o Grande Arquiteto do Universo fez
no macrocosmos, nós temos que fazer aqui em pequeno, porque tal como é acima é abaixo.
Assim é como vêm a surgir os corpos existenciais superiores do Ser no homem.
De maneira que se necessita criar o Arqueus dentro de nós. O Arqueus é o sal,
enxofre e mercúrio dentro de nós. O Arqueus é o sal, enxofre e mercúrio, tanto acima
como abaixo. Criando o Arqueus é que vêm a cristalizar tanto o físico como o astral, o
mental como o causal. Com o terceiro mercúrio, o Arqueus, é que se fabricam os corpos
solares.
Nós o estudamos sob o ponto de vista alquimista, à luz do laboratório da alquimia
para chegar a compreendê-lo melhor.
Que fabricou os corpos solares tem depois que aperfeiçoá-los. Para que esses
corpos se aperfeiçoem se necessita forçosamente eliminar o mercúrio seco que não é outra
coisa que os eus. Se alguém não elimina os eus, os corpos existenciais não se aperfeiçoam
e se não se aperfeiçoam não podem ser recobertos pelas distintas partes do Ser.
Para que os corpos possam ser recobertos pelas distintas partes do Ser devem
aperfeiçoar-se, converter-se nos veículos de ouro puro. Mas não poderiam converter-se
esses veículos em instrumentos de ouro puro se não se eliminasse o mercúrio seco e o
enxofre arsenicado. Qual é o enxofre arsenicado? O fogo animal, bestial, dos infernos
atômicos do homem. Esse fogo corresponde ao abominável órgão kundartiguador.
Há que eliminar o mercúrio seco e o enxofre arsenicado para que os corpos
existenciais superiores do Ser criados com o Arqueus da alquimia, possam converter-se em
veículos de ouro puro da melhor qualidade.
Esses veículos de ouro puro podem ser recobertos pelas distintas partes do Ser e ao
fim, todos eles penetrando-se e compenetrando-se mutuamente sem confundir-se vêm a ser
o envoltório para nosso Rei, nosso Cristo íntimo.
Ele se levanta de seu sepulcro de cristal quando há um envoltório dessa classe e se
recobre com esse envoltório para manifestar-se aqui, através dos sentidos, e trabalhar pela
humanidade. Assim é como o senhor vem à vida, surge a existência do Cristo cósmico, ou
seja o magnésio interior da alquimia”.

Qual é a pedra filosofal?


“A pedra filosofal é o Cristo íntimo vestido com esses corpos de ouro ou recoberto
com essa envoltura de ouro. Essa envoltura de ouro formada pelos corpos é o to soma
heliakon, o corpo de ouro do homem solar”.
Quando alguém possui a pedra filosofal, tem poder sobre a natureza. A natureza lhe
sabe obedecer, possui o elixir da longa vida, pode conservar o corpo físico durante milhões
de anos. De maneira que esse é o caminho; o caminho está na alquimia.
Dentro do organismo humano sucedem coisas interessantes. Como os corpos
existenciais superiores do Ser não são outra coisa que mercúrio fecundado pelo enxofre,
nesses corpos de mercúrio tem que aparecer então o ouro.

Mas, quem poderia fixar os átomos de ouro no mercúrio?


“Não poderiam ser fixados senão por um artífice, que não é outra coisa que o
famoso antimônio, o antimônio da alquimia”.
O antimônio, em realidade, não é um metal desconhecido em química, mas na
alquimia é uma das partes de nosso ser. Essa parte de nosso ser sabe fixar os átomos de
ouro em nossos corpos de mercúrio. Assim, esses corpos de mercúrio vêm a converter-se
em corpos de ouro puro da melhor qualidade.
Quando alguém possui os corpos de ouro puro, recebe a espada de ouro. Já se é um
arcanjo com espada de ouro puro da melhor qualidade. Uma espada que se revolve
ameaçadora lançando fortes chamas. A espada dos arcanjos.
Assim, bem vale a pena fixar os átomos do ouro no mercúrio. E tudo isto se pode
conseguir a condição de eliminar o mercúrio seco e o enxofre arsenicado. Se alguém não
elimina o mercúrio seco e o enxofre arsenicado, simplesmente não consegue aperfeiçoar
seus corpos e fazê-los de ouro da melhor qualidade.
Assim, todo o segredo da grande obra consiste em saber fabricar o mercúrio até
criar o Arqueus, a nebulosa íntima particular, de onde hão de surgir nossos distintos
corpos”.

Mestre: Quais são as três calcinações pelo ferro e pelo fogo?


“As três calcinações pelo ferro e pelo fogo correspondem à primeira e segunda
montanha e à parte superior da terceira. As três calcinações do mercúrio são três
purificações pelo ferro e pelo fogo. Se chega à ressurreição do Cristo em alguém mediante
três purificações. Três purificações à base de ferro e fogo. Isto está representado na cruz
pelos três cravos. Os três cravos simbolizam as três purificações de ferro e de fogo. De
maneira que há três purificações, são três calcinações de mercúrio.
A primeira calcinação corresponde à montanha da iniciação. A segunda
corresponde à montanha da ressurreição e a terceira corresponde aos últimos oito anos da
grande obra. Assim, que todo este trabalho da grande obra consiste na preparação do
mercúrio. Dizem os sábios: “Dai-nos o mercúrio e o obteremos tudo”. Em síntese, o
trabalho da grande obra é assim.
Agora bem, como se chega à ressurreição? Convertendo-se em homem antes de
entrar ao reino do super-homem. Um códice Anáhuac diz sobre o homem o seguinte: “Os
deuses criaram homens de madeira e, depois de havê-los criado, os fundiram com a
divindade. Mas acrescenta, não todos os homens conseguem fundir-se com a divindade”. O
homem que se funde com a divindade obviamente é o super homem.
As maiores parte dos iniciados chegam a converter-se em homens, mas não
alcançam o estado de super-homem. Para converter-se em homem verdadeiro têm que ser
criados os corpos, mas há muitos que conseguem criar os corpos e recebem naturalmente
seus princípios superiores, anímicos e espirituais, isto é, se transformaram em homens
legítimos, em homens autênticos.
Mas cabe destacar que ainda não eliminaram o mercúrio seco nem o enxofre
arsenicado, então que sucedeu? Que não aperfeiçoaram esses corpos, que não conseguiram
que esses veículos fossem de ouro puro. Conseguiram criá-los, mas não conseguiram
transmutar esses corpos em ouro da melhor qualidade. Ficaram simplesmente como
homens hanasmussianos. Hanasmussianos porque realmente não eliminaram o ego. Estes
casos são de fracasso.
O hanasmussen fica com duplo centro de gravidade. Uma parte da consciência é o
homem interior profundo, o Ser vestido com os corpos. A outra parte é a consciência
vestida e engarrafada entre os diferentes eus, formando o ego. Fica convertido em mago
branco e negro ao mesmo tempo. Hanasmussianos com duplo centro de gravidade são
abortos da mãe cósmica, fracassos. Andramelek é um caso de hanasmussen com duplo
centro de gravidade. Alguém invoca a Andramelek nos mundos superiores e verifica que é
um Trono. Mas em outras invocações, vem o mago negro Andramelek que é muito antigo.
Tem duplo centro de gravidade, é um hanasmussen.
Um hanasmussen é um fracasso da grande obra, um aborto da Mãe Cósmica. A
Mãe Cósmica é a assinatura do esperma sagrado, é a estrela resplandecente que brota do
fundo do mar, do caos metálico do esperma. Stela Maris, a parte ígnea do mercúrio, nos
guia, nos dirige na grande obra. Stela Maris é a virgem do mar, desse mar interior que
temos, do esperma.
É dali que surge a estrela generosa que é a parte ígnea do esperma, Stela Maris, é a
estrela simbólica que guia a todo mago, a que dirige a grande obra, é a assinatura astral do
esperma sagrado, a Mãe Divina Kundalini Shakti.
Com ela se realiza a grande obra, mas se alguém não elimina o mercúrio seco e o
enxofre arsenicado, não consegue fundir-se com a divindade. Se não há morte, se
transforma em um aborto, em um fracasso. Por isso que a obra deve fazer-se corretamente.
O antimônio está disposto a fixar os átomos de ouro no mercúrio com a condição de
que se eliminem, com a ajuda de Stela Maris, o mercúrio seco e o enxofre arsenicado. Se
assim o fazemos, o antimônio trabalha fixando o ouro nos corpos”.

Mestre, alguém passa as primeiras iniciações inconscientes?


“As primeiras iniciações de mistérios menores são o sendeiro probatório. Os
fundamentais em nós são as grandes iniciações de mistérios maiores, o trabalho na grande
obra”.
Para compreender os mistérios da grande obra se necessita receber o Donun Dei, ou
seja, o Dom de Deus. Se alguém não recebeu o Dom de Deus para poder entrar na ciência
da grande obra, ainda que a estude não a entende, porque não se dirige ao intelecto, se
dirige à consciência.
Toda a ciência da grande obra vai com a consciência, pertence ao funcionamento da
consciência.
“Vejam vocês como se pode falar em alquimia sobre toda a grande obra”.

Mestre Samael: Qual é o simbolismo dos três reis magos no drama cósmico do grande
Kabir Jesus Cristo?
“O simbolismo dos três reis magos são as cores, que representam o mercúrio
quando alguém está purificando os corpos no crisol sexual. Assim, dá uma cor negra
primeiro, logo uma cor branca, depois prossegue com o amarelo e culmina com o
vermelho. Esse é o simbolismo dos reis magos. Um é branco, um é negro e o outro é
amarelo. Quanto ao vermelho, é a púrpura que os reis vestem.
A estrela que os guia é precisamente Stela Maris, que nos guia no trabalho, é a que
faz todo o trabalho. Obviamente, se alguém quer, digamos, converter o corpo astral em
veículo de ouro puro, tem que se dedicar a eliminar o mercúrio seco. Claro que todos os
eus submergidos no plano astral surgem com uma força terrível, assustadora, horrorosa e
se processam dentro de sua corrupção, e ainda que os demônios ataquem violentamente,
devem ser desintegrados.
Quando isto ocorre se diz que se entrou no reino de Saturno, começou o trabalho do
fogo, de fogo negro, que corresponde a Saturno. Quando todos esses elementos começam a
ser destruídos e desintegrados, o mercúrio do corpo astral começa a branquear-se. Assim
que se tenha destruído a maioria desses elementos indesejáveis, já se recebe no astral a
túnica branca.
Depois há que continuar o trabalho com o mesmo corpo astral, trabalhando com o
mercúrio astral, eliminando deste mercúrio o mercúrio seco. E chega desta maneira a
possuir a cor amarela, a cor amarela dos grandes mistérios. Prosseguindo no trabalho,
chega um momento em que já não se tem absolutamente nenhum elemento indesejável no
corpo astral, quando já todo o corpo astral foi purificado e aperfeiçoado, o antimônio pode
fixar os átomos de ouro nesse mercúrio, então, o corpo astral vem a ficar de ouro puro.
Quando já é de ouro puro, é tragado pela Divina Mãe Kundalini e se recebe a
púrpura dos reis. Vejamos, pois as cores negras, brancas, amarelas e logo a púrpura que
equivale ao vermelho. O mesmo processo se dá para o corpo mental e para o causal, até
que cada um desses corpos seja de ouro puro.
Não poderia verificar-se a ressurreição do Cristo íntimo no coração do homem
enquanto esses corpos não estejam todos convertidos em veículos de ouro puro, assim se
penetram e compenetram sem confundir-se, formando o to soma heliakon, o corpo de ouro
do homem solar, que serve de envoltório para o Senhor, para o Cristo interior. Ele se
levanta de seu sepulcro de cristal e vem manifestar-se aqui. Ele se envolve com o corpo de
ouro e se expressa no mundo físico como um mahatma, para trabalhar pela humanidade.
Esse é o objetivo. Como podemos observar, já vamos vendo o significado dos reis magos e
da estrela.
Quanto ao menino, esse menino é o Cristo íntimo. Menino que é adorado pelos reis
magos. O Cristo íntimo, que tem que passar por todo o drama cósmico.
Durante o processo da alquimia o senhor interior profundo trabalha terrivelmente.
No fundo, já é dirigente da grande obra. A mesma Stela Maris trabalha sob sua direção. Ele
é o chefe da grande obra.
De modo que quando o senhor interior profundo terminou a totalidade da grande
obra, dentro desse sepulcro de cristal, nasce como criança no coração do homem. Ele tem
que se desenvolver durante o trabalho esotérico. Tem que viver o drama cósmico dentro da
própria pessoa e se encarrega de todos nossos processos mentais, volitivos e emocionais.
Em uma palavra, se faz um homem entre os homens e sofre as tentações da carne, de todos.
Tem que vencer e sair triunfante. Já são todos seus veículos de ouro puro e triunfou
e pode vestir-se com esses corpos e viver no mundo da carne, como todo um adepto
ressurrecto, triunfante no universo. Por isso é que para o senhor interior profundo, o Cristo
íntimo, são todas as honras porque só ele é digno de toda a majestade e honra, porque é
nosso verdadeiro salvador.
Esta é a essência do Salvator Salvandus, do que se fala no gnosticismo universal.
Ele tem que salvar-nos desde dentro. Ele é o Salvador Interior, o Chefe da Grande Obra, o
diretor do laboratório, o magnésio interior da alquimia, que vestido com seus corpos de
ouro é a pedra filosofal, a gema preciosa, o carbúnculo vermelho.
Quem possui essa pedra tem o elixir da longa vida, tem a medicina universal, tem o
poder de transmutar o chumbo em ouro, os pós de projeção, etc. etc.
Essa pedra é muito dúctil, elástica e perfeita. É fusível, se pode colocar dentro do
fogo, como a manteiga, sem que se perca. Pode-se colocar manteiga dentro de uma panela
no fogo e não se perde. Assim é a pedra filosofal, se colocada no fogo. Pode-se perder o
espírito metálico da pedra, que é o Cristo íntimo. Esse espírito metálico pode evaporar-se.
Quando? Quando o metal se funde. E quando se funde? Quando se derrama o vaso de
Hermes, se funde o metal, há uma redução metálica do ouro e é indubitável que o
magnésio interior se escapa. Ali se diz que o sábio perdeu a pedra filosofal, que a dissolveu
na água. Falando em outra linguagem, fora da grande obra, diria que aí o bodhisattva cai.
Em alquimia se diz claramente, que se joga a pedra na água. Que se dissolve em água no
dia sábado. Entendam que sábado é Saturno, ou seja, o reino da morte. Quem dissolve sua
pedra na água, perde sua pedra.
Todo o Gênese está relacionado com a grande obra. O primeiro dia do Gênese
corresponde ao trabalho no abismo e ao primeiro selo no Apocalipse. O segundo dia do
Gênese corresponde ao trabalho das águas, o corpo vital. O terceiro dia do Gênese
corresponde ao astral. O quarto dia do Gênese, ao mental. O quinto dia, ao causal. O sexto
dia do Gênese corresponde ao selo do Apocalipse, ao búdhico ou intuicional. Logo o
sétimo selo, o sétimo dia da criação, é o dia do descanso. O trabalho se faz nos seis dias ou
períodos de tempo, ao sétimo há descanso e ao oitavo vem a ressurreição do Senhor. De
maneira que o Gênese e o Apocalipse se complementam.
A grande obra, em síntese, se realiza em oito anos. A parte superior da grande obra
são oito anos, ainda que o período de trabalho de preparação são muitos mais. Mas já a
última síntese, o último período em que se conclui a grande obra é de oito anos. Os oito
anos de Jó, os oito anos maravilhosos. Sete dias e no oitavo há ressurreição.
A obra se realiza, pois em períodos de tempo, mas tudo isso se pode realizar em
toda uma existência bem aproveitada.
O Gênese e o Apocalipse são textos de alquimia. O Gênese é para ser vivido agora
mesmo em nosso trabalho íntimo e também o Apocalipse. O Apocalipse é um livro da
alquimia, da sabedoria”.

Mestre Samael: o Apocalipse está desvirtuado nas diferentes traduções?


“Este é o único com o qual ninguém se meteu. Ninguém o entende, ninguém se
mete com ele, pôde se salvar da desgraça. Mas a grande obra está no Apocalipse, esse é o
livro da sabedoria, o livro onde estão as leis da natureza. Mas cada um tem seu próprio
Apocalipse interior. Existe o Apocalipse de Pedro, o de João, o de Paulo e também existe o
Apocalipse de cada um de nós. Cada um tem seu próprio Apocalipse. Cada um tem seu
próprio Apocalipse e há duas formas de vivê-lo: ou o vivemos dentro de nós mesmos
fazendo a Grande Obra, ou o vivemos com a natureza, com a humanidade em geral. A
humanidade atual já rasgou o sexto selo, está aguardando, seguramente, rasgar o sétimo.
Quando isso aconteça, haverá um grande tremor, virá o cataclismo final, a destruição total
desta raça. Se vive isso dentro de si, é pavoroso, e culmina com o Mestre ressurrecto. Os
sete selos representam os sete corpos: físico, etérico, astral, mental, causal, o búdhico, e o
átmico.
O Apocalipse é interior profundo e é para ser vivido dentro de si mesmo.
O mesmo que os evangelhos. Os quatro evangelhos de Cristo são alquimistas e são
para serem vividos dentro de si mesmo, já que o Cristo está dentro de si mesmo, dentro de
si mesmo se deve encontrá-lo. Ele é o diretor de todo o trabalho de laboratório”.

O Jesus histórico existiu, Mestre?


“O Jesus Cristo interior existe e o histórico também existiu. O mérito dele foi que
deu a conhecer a doutrina do Jesus Cristo Íntimo particular de cada um de nós, ali está seu
mérito. Propagou a doutrina do Cristo Íntimo”.
O mérito de Buda, por exemplo, está em que ensinou a doutrina do Buda íntimo.
Jesus de Nazaré faz conhecer a doutrina do Jesus Cristo íntimo de cada um de nós. Por isto
é Jeshua: Jeshua é Salvador.
A Mãe Divina Kundalini, antes de ser fecundada, é a Virgem Negra que está nos
sótãos de todos os monastérios Góticos. A ela se honra com velas, com velas de cor verde,
com a esperança de que algum dia desperte o leão verde, o fogo. Mas já fecundada pelo
Logos, é a Divina Mãe, a divina concepção com o menino entre seus braços. Esse menino
que desce se faz filho da Divina Mãe, a Divina Mãe da pessoa, aguardando o instante de
entrar em nosso corpo para começar o processo da grande obra. O Salvador de cada um de
nós, o Jesus Cristo interior, é o que conta, nosso Jeshua íntimo, nosso salvador, cada um de
nós tem que encontrar seu salvador interior.

Mestre: Jesus encarnou o Cristo?


Jesus de Nazaré, o Grande Kabir Jesus, o fez a grande obra e falou do Jesus Cristo
íntimo, que é o senhor da obra. O drama cósmico é o que tem que viver nosso senhor
interior, dentro de nós mesmos, aqui e agora, no trabalho da grande obra. Os três traidores,
por exemplo, que são Judas, Pilatos e Caifás, são três demônios. Judas é o demônio do
desejo e cada um o carrega em seu interior. Pilatos é o demônio da mente, que sempre
encontra justificação e evasivas para seus piores delitos. E quanto a Caifás, é o demônio da
má vontade em cada um de nós, o traidor que troca o Cristo, melhor dizendo, que prostitui
à religião. Caifás é um sacerdote. Que é o que faz? Converte o altar em um leito de prazer
e copula com as devotas e vende sacramentos, etc.
Definitivamente Judas, Pilatos e Caifás são os três traidores que traicionam ao
Cristo íntimo. Eles são os que o entregam à morte e todos os milhões de pessoas que
pedem sua morte são os eus da pessoa que grita: Crucifica! Crucifica! Crucifica!
Sim, nosso Senhor Interior Profundo é coroado com coroa de espinhos e é açoitado.
Isso o pode ver todo místico. Por último, é crucificado, desce da cruz e é colocado em um
sepulcro. Depois, com sua morte mata a morte e ressuscita vestido com seus corpos de
ouro e possui seu corpo especial terrenal; eis aí o mistério da pedra filosofal, feliz do que a
tenha, pois é um Mestre ressurrecto.
São mistérios do evangelho para serem vividos aqui e agora, dentro de nós mesmos.
A vida, paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo não é algo estritamente histórico,
como crêem as pessoas, é algo de atualidade imediata que cada um tem que realizar em seu
trabalho de laboratório. Essa é a crua realidade do Cristo, não é algo da história do
passado, que aconteceu faz dois mil anos são algo para viver agora e dou testemunho de
tudo, pois tudo isto tenho estado vivendo.
Nestes precisos instantes, meu senhor interior profundo está em seu santo sepulcro.
No ano de 1978, meu senhor interior profundo ressuscitará em mim e eu nele, para poder
fazer a gigantesca obra que há que fazer pela humanidade. E será ele que a fará, não minha
insignificante pessoa, que não é senão um instrumento. Ele é em si perfeito e ele a faz
porque é perfeito.
De maneira que dou testemunho do que me consta, do que vivi. O Gênesis é o livro
dos gnósticos. Esta é a crua realidade.
Eu o encarnei faz muito tempo nasceu em mim como um menino pequeno quando
recebi a iniciação de Tipheret. Depois teve que crescer e desenvolver-se. Teve que passar
por todos seus dramas, dentro de mim mesmo, de modo que ao falar desta forma, falo
porque conheço.
Agora, neste momento, depois de haver passado pelo calvário, ele está em seu
Santo Sepulcro. Vou até lá de vez em quando beijar a lápide de seu sepulcro, aguardando
sua ressurreição, até 1978 ficará ressurrecto pela terceira vez. Digo pela terceira vez
porque eu fiz a grande obra três vezes.
A fiz no passado Mahamanvantara, ou seja, na terra lua, antes que esta cadeia
terrestre houvesse surgido à existência. Depois, na Lemúria, com aquela revolta dos anjos
que caíram na geração animal, claro, isso foi na Lemúria, o continente Mu. Então eu
também cometi o erro, como Dhyani bodhisattva, de cair na geração animal. Perdi a pedra
filosofal, mas na mesma Lemúria, a fiz surgir.
Depois na meseta central da Ásia, cometi o erro, como fez o Conde Zanoni, de
tomar esposa quando já me estava proibido. Então tornei a jogar a Pedra Filosofal na água.
Agora, nesta nova existência, fiz a grande obra, está para culminar a ressurreição do
senhor pela terceira vez... Pela terceira vez! De modo que já a fiz três vezes. Assim, tenho
experiência, conheço o caminho... Conheço o caminho...
O que quero dizer é uma grande verdade: quando na lua elaborei a Pedra Filosofal
pela primeira vez, a pedra foi poderosa. Quando a elaborei pela segunda vez, foi mais
forte, agora que a estou elaborando pela terceira vez será ainda mais forte. Isto devido à
experiência adquirida, e aí há um princípio inteligente que devemos entender. Um homem
deve lutar muito por transformar-se até a união com Deus, até aí progride, mas depois que
chega à união com Deus, que Deus se manifesta nesse homem, se esse homem quer
progredir, tem que retrogradar, ou seja, jogar a pedra na água".

E que sucede com a pedra?


Quando a pedra volta à vida, volta mais poderosa, mais penetrante, é algo
extraordinário. Há homens que a fazem até sete vezes. Além das sete vezes é muito
perigoso, se pode cair em maldição. Eu o fiz três vezes, mas francamente não o farei uma
quarta, não quero expor-me a perder muito. É demasiado doloroso!
Na meseta central da Ásia, quando lancei a pedra na água pela terceira vez, dizia
para mim: Quanto lutei através dos séculos para voltar a levantar-me, que karmas tão
espantosos, que amarguras tão terríveis! Só agora, depois de haver sofrido muito, mas
muito, está a Pedra Filosofal outra vez renascendo, em 78 estará renascida. Passei toda a
história da raça Ária para voltar a levantá-la. De modo que é muito doloroso, é um
processo muito doloroso.
Há adeptos que querendo fazer a pedra mais penetrante e poderosa,
intencionalmente descem, não caem, mas descem”.

E como descem?
“Tomam esposa quando já não lhes está permitido. Mas não ejaculam o licor
seminal e sob a direção de um guru trabalham com todas as regras do arcano A.Z.F.
Perdem, então, a pedra. Depois de certo tempo voltam a dar vida à pedra. Fazem a grande
obra, fica a pedra mais forte ainda”.
Há que estabelecer a diferença que existe entre uma caída e uma descida. Eu não
desci, caí intencionalmente. Meus três casos foram caídos, não descidos. Na meseta central
da Ásia, cometi o mesmo erro do Conde Zanoni, tomei esposa; esta é a história proibida e
isto eu fiz. Digo-lhes, depois da experiência dos séculos, que assim é como se realiza a
grande obra.
Recordemos a Ave Fênix, é maravilhosa, coroada com coroa de ouro e suas patas e
penas todas de belíssimo ouro puro. A natureza lhe rendia culto. Cansada de viver milhões
de anos, decidiu fazer um ninho de ramos de incenso, de mirra, nardos e outros ramos
preciosos e o certo que ela se incinerou. A natureza sempre é assim, mas depois, de suas
próprias cinzas, a Ave Fênix renasceu mais poderosa. Assim há que fazer com a grande
obra, já que a pedra jogada na água fica afogada”.

Venerável Mestre, a vara de Moisés que se transformou em serpente, que é?


“Assim como Moisés converteu a vara em serpente, também temos que converter a
vara em serpente. Assim como Moisés levantou a serpente sobre a vara, e ela se converteu
na vara mesma, assim também necessitamos levantar a vara dentro de nós mesmos. O
Filho do Homem é o Cristo Íntimo. Há que levantá-lo dentro de nós mesmos; levantá-lo é
criar os corpos existenciais superiores do Ser. Temos que viver tudo aqui, encarnando o
Cristo Íntimo. Vem a viver neste mundo e é perseguido e cresce como um homem entre os
homens e sofre todas as tentações; muito trabalhoso”.
Ele tem que encarregar-se de todos nossos processos mentais, volitivos e
emocionais, sexuais e de todo tipo de funções. E se converte em homem, pois consegue
vencer todas as trevas, eliminar os eus e triunfar dentro da pessoa. Ele é digno de toda
glória, o Senhor é o Salvador, por isso é digno de toda honra; os vinte e quatro anciãos, as
vinte e quatro partes de nosso ser interior profundo e os quatro santos, as quatro partes
superiores de nosso ser relacionadas com os quatro elementos, todos arrojam suas coroas
aos pés do cordeiro porque só ele é digno de toda honra, louvor e glória.
Porque com seu sangue nos redime e esse sangue é o fogo. É o cordeiro imolado
que se imola vivendo em alguém. Imola-se completamente. Faz-se um homem comum e
luta com todas as tentações e desejos, os pensamentos, com tudo. E ninguém o conhece até
que triunfa. Por isso se diz: Cordeiro de Deus que apaga os pecados do mundo.
Este é o cristianismo esotérico gnóstico, mas bem entendido. De modo que é o
Salvador, o que nos salva. Nos redime pelo fogo, pois ele mesmo é o espírito do fogo, que
necessita um vaso de alabastro como receptáculo para manifestar-se. Esse receptáculo são
os corpos de ouro puro que devemos criar.
Entender isto é formidável, porque se chega precisamente aonde se deve chegar, ou
seja, converter-se em homem solar, em homem real, no homem Cristo. Por isto há que
lutar de morte, contra tudo e contra todos. Contra si mesmo, contra a natureza, contra tudo
o que se oponha, até triunfar. Até triunfar! E converter-se no homem solar, no Homem -
Cristo.
Isto não é questão de evolução, não é questão de involução, isto é questão de
revolução interior profunda. Isto está além do dogma da evolução e da involução, isto
pertence à grande obra e esta é por isso revolucionária.

E isso depende da vontade, Mestre?


“Claro, a vontade. O nascimento é vontade. Há que dedicar a vida em sua totalidade
à grande obra. Até conseguir converter-se em homem solar. Isso é o que quer o sol, ele
quer uma colheita de homens solares, isto é o que interessa ao sol. De maneira que nós
devemos cooperar com o sol, até converter-nos em homens solares. O que ele quer é uma
colheita de homens solares. Isto é o que interessa a ele!”
Concluindo este capítulo e exaltando sua magnitude, podemos dizer que o amor
pela sabedoria divina que emana da mensagem do Mestre Samael à humanidade deve
manter-nos sempre agradecidos a Deus, porque pôs em nossas mãos a chave para
compreender o desígnio ou plano universal de nosso verdadeiro destino.
Diz um exaltado Mestre que devemos utilizar o instante da hora presente como um
cálice de oportunidade espiritual.
A vida deve ser apreciada por seus altos objetivos, honrada pela devoção a seus
princípios elevados e merecida pelo serviço desinteressado.
O poder de mudar existe dentro de todo homem, há que dar preferência a este poder
e venerá-lo por cima de toda condição restritiva.
Cada homem deve estar consciente de suas opções e escolher, seja a liberdade ou o
cativeiro. O arcano A.Z.F. é a liberdade e sua ignorância o cativeiro.
CAPÍTULO 8

MITOLOGIA COMPARADA

“Ali Babá, Simbad, Gulliver, O Gato de Botas, Cinderela, Branca de Neve, Os


Duendes, As Fadas, o Pato Donald e tantos outros, choraram no céu ao ver que
Polegarzinho não se corrigia para encontrar o caminho de regresso a casa” (Conto
sintético).
“Que clareie! Que amanheça! No céu e na terra! Não haverá glória nem grandeza,
até que exista a criatura humana! O homem formado! (Popol Vuh).

Caminhando pelo Bosque de Chapultepéc, no México D. F., o Mestre me explicava


o significado da palavra Chapultepéc, que se compõe das palavras astecas “Chapul” e
“Tépec”, que querem dizer Grilo e Morro respectivamente, portanto “Morro do Grilo”,
Nos códices se observa o asteca voando e no morro um grilo; era porque sabiam que com
este som é possível a viagem astral.
Convidou-me a sentar em um banquinho do parque e fazer consciência de tudo o
que acontecia nesse instante, o brilho do sol através das árvores, a algaravia de umas
crianças brincando, o canto dos passarinhos, o soar das buzinas distantes, o tráfego das
pessoas, a simples grama, as formigas, as flores...
Depois me fez uma promessa formal de que se fizesse 50%, ou quando conseguisse
levar a cabo o 50% do trabalho sobre mim mesmo, traria de regresso no tempo a este lugar,
para que conversasse com a personalidade que tinha neste retorno, para que desse conta de
que a personalidade tem sua própria energia e que pertence ao tempo.
Perguntei como saberia se havia realizado 50% do trabalho esotérico, ao que o
Venerável Mestre respondeu: “Quando em ti já não exista a luxúria”.
No Mito de Adônis - nos explicava - a luxúria é o javali que o mata, símbolo da
deformação da força de Geburah, a 5ª esfera da Cabala, pois é Marte metamorfoseado que
o faz em pedaços, ciumento porque Vênus, a Deusa do amor, se havia enamorado de
Adônis, filho de Mirra e seu pai Cyntras. Criado e educado pelas ninfas da água, símbolo
dos sentimentos depurados. A fumaça que entorpece a chama do amor é a luxúria, que
contagia os ciúmes, a ira, e, o que é pior, enche o ser humano de temor, perdendo assim
sua fé e sua sabedoria.
Adônis é um herói antiqüíssimo, seu culto representava a vida, morte e ressurreição
do poder do espírito, foi chamado “aquele das portas duplas”, devido a que foi um duas
vezes nascido e que ressuscitou como Jesus Cristo. Os gregos, como os latinos,
compreendiam os mistérios épicos dos heróis solares, como o de Adônis, Mirra, Attis,
Osíris, etc. Vênus, desesperada por salvar-lhe a vida, chegou tarde e feriu os pés; seu
sangue ao cair nas pedras é símbolo da vontade consciente, o mesmo que o espinho que
sempre a acompanha, daqui a palavra Rosa Cruz.
Naquele momento de sua explicação passava por ali um cachorro, o Mestre
sabiamente o apontou, dizendo-me que os animais com a coluna horizontal transformavam
forças passivas da natureza, e o homem com a coluna vertical transformava forças ativas.
Esta era outra interpretação do animal e humano que fazem cruz, é por isso que o humano
tendo ainda a parte animal necessita passar certas horas em estado horizontal.
Zeus, o pai dos deuses, concedeu à deusa Vênus, que Adônis voltasse do inferno,
mas a deusa do Hades, Perséfone, também reclamava o belo jovem. Zeus, mais sábio que
Salomão, o repartiu entre as duas deusas; se supunha que morria no final do outono para
surgir novamente na primavera, assim era partícipe dos dois mundos. Este mito toma
diferentes nomes entre os gregos, sírios, egípcios, babilônicos, sírios e cristãos, mas no
fundo é o mesmo mito, de profundo sentido místico.
É Apolo que persegue Vênus no céu, se vincula com Astarté, a estrela vespertina, e sua
amante, a estrela matutina.
Adônis é o complemento da libido sexual, o eterno amante de Afrodite, o
masculino e o feminino do espírito divino, é este o verdadeiro significado do matrimônio
de Adônis e Afrodite. A união de Hermes-Afrodite, o andrógino perfeito.
Aproveitei aquela ocasião para fazer ao Mestre perguntas relacionadas com
alegorias, lendas ou mitos cujo significado era obscuro para mim, perguntei sobre o sentido
que tinha a espada de Sigmundo dos germanos e o da Excalibur dos saxões da Inglaterra.
Ele respondeu pausadamente:
“Odin, o avô de Sigmundo, disfarçado, certa noite disse, cravando uma espada em
um carvalho: quem tirar esta espada do tronco, a receberá de mim como presente, e
mostrará com suas obras que nunca melhor espada manejaram as mãos dos homens.
Esta espada havia sido fabricada por dois gnomos da terra e possuía segredos
terríveis, estes duendes eram Brok e Sindro. Assim como na Inglaterra só o rei Artur pôde
tirá-la da pedra, só Sigmundo da estirpe de Odin pôde extraí-la do carvalho.
Neste caso, a pedra e o carvalho representam a energia sexual, de onde há que tirar
a espada do Kundalini, a serpente ígnea de nossos mágicos poderes, e assim como
Sigmundo teve que viver um tempo com os animais selvagens (os eus) e depois matar seus
inimigos com a espada, assim cada um de nós, temos que viver com nossos animais, os eus
psicológicos, para depois colocar fogo em tudo para purificar-nos das próprias sementes do
mal.
Existe um Camelot, um Walhalla, um Nirvana ou céus transcendentes onde vivem
os deuses. Isto sabe todo aquele de consciência desperta”.
Perguntei: Mestre, então Zeus é uma força cósmica cujo veículo de manifestação à
mente humana é a figura de um homem com barba, um raio em sua mão direita, uma águia
em seu ombro e em um trono de ouro?
Como? –disse o Mestre assombrado– Zeus existe, Zeus é um grande iniciado que
viveu nos tempos da antiga Atlântida, tu, Tony, ainda não és, os deuses são!
É necessário desenvolver a compreensão de todas estas verdades, guiar-nos por
estas histórias solares, desenvolver a fé da mulher que tocou a Cristo em sua túnica e foi
curada, a devoção de Hanuman contada no Ramayana do grande poeta Valmiki, pela qual
conseguiu a unidade da iluminação. Nossa compreensão deve ser elástica até o infinito.
Há muito que desvelar e o estou fazendo com dor –me dizia– devido a que a
humanidade não está madura para receber semelhantes pérolas de sabedoria, a forma
exemplar das lendas astecas, incas e especialmente as histórias mayas no Popol Vuh.
O transcendente das histórias do criador e formador, Tepeu e Cucumatz, de Furacão
(o coração do céu) e seus três aspetos: Caculha huracán, Chipi, Caculh, a mentalidade
maya que integrava sempre seus deuses com suas esposas. Os filhos de Tepeu Cucumatz
têm a ver com os quatro elementos da natureza: Balam Quitze e sua esposa Gaha Paluna,
Balam Acab e sua esposa Chamiha, Mahucutha e sua esposa Tzumuniha, Iqui Balam e sua
esposa Caquixaha. É muito significativo também que o feiticeiro é chamado Ixpiyacoc, que
também quer dizer membro viril.
De como a princesa Ixquic ficou grávida ao ser fecundada pelo chisguetazo ou
escupitajo da árvore onde havia enterrado os heróis solares, de como a mensagem da
Divina Mãe, Ixmucané, é levada aos filhos de Ixquic, Hunahpú e Ixbalanqué, por meio de
um piolho que é engolido por um sapo, que depois é engolido por uma serpente, que depois
é devorada por um gavião que chega até eles gritando o mesmo mantram das bacantes
gregas: BAC-CO, BAC-CO! É muito curioso que Baco é o Deus do vinho embriagador
dos antigos gregos também.
No final da tarde admiramos o Raxhaná Hih maya (relâmpago), que nos anunciava
que logo chegaria a chuva, portanto empreendemos o regresso à casa... Foi aquela uma
noite de grandes cavilações...
CAPÍTULO 9

O BHAGAVAD GITA

Na luta por manter-me casto com a Brahmacharya solar que ensina a Gnose, em um
princípio quando caía me sentia totalmente desprovido de força, não só física senão
espiritual, foi quando valorizei em sua totalidade o que é ser casto ou estar carregado de
energia vital com o sahaja maithuna. Quando solicitava seu conselho, o Mestre me
assessorava maravilhosamente, tirando-me dos abismos mentais de negatividade em que
me afundava. Em certa ocasião me disse:
Para o trabalho harmonioso na forja dos ciclopes, ou a frágua acesa de Vulcano, é
necessário formar inteligentemente dois centros de natureza superior à que atualmente tens,
o centro intelectual superior e o centro emocional superior. Para isso são necessárias quatro
ajudas que foram postas ao alcance de todo discípulo sincero, que são:
1. A literatura sagrada, em especial o Bhagavad Gita.
2. O guia ou guru qualificado.
3. O esforço próprio, a meditação diária, a oração à Mãe Divina, a afirmação da
consciência pura.
4. A colheita dentro do relativo, se atuamos com entusiasmo, alegria, amor e
retidão, seremos em nossa relação um centro de energia e poder que
harmonizará com tudo.
Arjuna, no canto do Senhor, ou Bhagavad Gita, perguntou: Qual é a verdadeira
Gnose, o que se aprende do guru de lábios a ouvidos? O conhecimento dos livros
sagrados? O ensinado por aqueles de experiência verdadeira? Que é o que libera o homem
da escravidão de Maya? Krishna, o Cristo manifestado da Índia milenária respondeu que
tudo tem seu valor e utilidade em uma ou outra etapa de desenvolvimento. Mas nenhuma
libera do nascimento e morte, só libera o conhecimento que a própria pessoa experimenta.
O Mestre pode ajudar, mas não pode mostrar-lhe seu verdadeiro Ser. Tem que ser
visualizado por si mesmo, se tem que ser sincero e estar pelo menos livre de inveja e cheio
de anelo pela liberação, é suficiente dedicar todo ato como dedicado ao senhor, sem
nenhum desejo, esse é o segredo do desapego, melhor lermos diretamente algumas estrofes
do livro sagrado mencionado: (Capítulo 12, do versículos 6 ao 20):
(6-7). “Pois aquele que rende culto a Mim, que dedica todas as suas atividades a
Mim, cuja devoção a Mim não sofre distúrbio algum, que pratica o amor puro e sempre
medita em Mim, cujo coração se fixou em Mim, para este Eu sou o que pronto libera do
oceano da vida e da morte” (adormecidos).
(8). “Põe teu coração em Mim e atrela tua inteligência a Mim. Assim viverás
sempre em Mim, sem uma dúvida sequer”.
(9). “Mas se és incapaz de fixar tua mente em Mim, pratique a devoção e o amor
puro, para que desenvolvas um grande anelo de alcançar-me”.
(10). “Se não és capaz de agir assim, então consagre todo teu trabalho a Mim.
Somente realizando ações em meu serviço conseguirás a perfeição”.
(11). “E se não podes agir com esta consciência, então tente agir renunciando aos
resultados de teu trabalho e assim vejas a ti mesmo”.
(12). “Se não puderes fazer esta prática, então cultive o conhecimento. Mas melhor
que o conhecimento é a meditação, e melhor que a meditação é a renúncia aos frutos da
ação, pois pela renúncia se pode certamente atingir a paz”.
(13-14). “Quem não é invejoso e é um bom amigo de todos os seres vivos, e tem
compaixão, não se considera proprietário e não pensa em “mim” ou “meu”, que está livre
do ego, que mostra a mesma paz nos prazeres e nos sofrimentos e que sabe perdoar, o
discípulo sempre pleno de minha alegria, cuja alma está em harmonia e cuja determinação
é firme, cuja mente e visão internas estão postas em Mim, esse homem me ama e é muito
querido por Mim”.
(15). “Aquele cujas obras não prejudicam ninguém, que não é perturbado pela
ansiedade, que é firme na alegria e no sofrimento, é muito querido por Mim”.
(16). “Quem não depende do curso normal das coisas, quem é puro, quem é sábio e
entende o que deve fazer, quem sem perder sua paz interna vigia ambos os lados (externo e
interno), quem não treme, quem trabalha para Deus e não para si mesmo, este me ama e é
muito querido por Mim”.
(17). “Quem não é tomado pelo prazer nem pela tristeza, que não se lamenta e
não deseja, que renuncia aos bons e aos maus auspícios, este é muito querido por Mim”.
(18-19).”O homem que é igual para seus amigos e inimigos, que é equilibrado na
honra e na desonra, no calor ou no frio, na alegria ou na tristeza, no louvor e no vitupério,
que está sempre livre de contaminação, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa,
cujo lugar não é neste mundo, fixado apenas na sabedoria e na compaixão, este é muito
querido por Mim”.
(20). “Mas ainda mais caros a Mim são aqueles que têm fé e amor (Pistis Sophia)
(Te dou amor no qual está o summum da sabedoria) e aqueles que me têm como seu fim
supremo: os que ouvem minhas palavras de verdade e vêm as águas da vida eterna”. (Ver
capítulo 12 do Bhagavad Gita).
Quem não descobre em si mesmo que é o caminho, a verdade e a vida, está
perdendo o tempo e a energia, isto é, a vivência do relativo e a vivência do transcendente
devem equilibrar-se sabiamente.
Aceitar incondicionalmente ao Mestre como guia interno demandava em mim estar
na mesma posição que o príncipe Arjuna em relação a Krishna. Arjuna era um discípulo já
preparado, qualificado para receber o ensinamento mais elevado. Aceitar o guia demanda
uma relação harmônica entre o que ensina e o que recebe o ensinamento.
As práticas ou o esforço de um discípulo qualificado estão resumidas no lema do
guru deva Sivananda, que é um dos vértices do triângulo formado com o professor
Luxemil, na Argentina, estes são: ama, serve, medita, realiza.
Colhemos o que semeamos, portanto, estar no Ser, aqui e agora é manter-se com
entusiasmo, com alegria, projetando amor e retidão em nossa ação.
Então compreendi a importância dos livros sagrados para o desenvolvimento
interno, especialmente o Bhagavad Gita, admirei a atitude reverente do Mestre ao indicar-
me que empreendesse seu estudo com submissão e com expectativa cheia de assombro,
como a que ainda têm as crianças.
Deve alimentar-se um profundo e constante anelo de progresso. Não desesperar-se,
perseverar e não clamar por um êxito imediato.
Finalmente, me explicou que o drama relatado no Bhagavad Gita, a luta entre os
Pandavas e Kurushetras não é mais que o drama interno de cada discípulo em sua batalha
para liquidar de uma vez por todas com a multidão de eus que constituem o si mesmo, o
mim mesmo, o ego, que é tão só o conjunto de nossos erros. Só há unidade no Ser, e isto só
pode ir estabelecendo-se em si mesmo pelo discernimento.
Cada qual deve crescer conscientemente, exercitar seu embrião de alma, sua
essência, viver é lutar, esforçar-se, conseguir, se deve ter gratidão para com o criador de
todos os bens que consumimos e desfrutamos.
Tenhamos valor e firmeza e obtenhamos uma verificação pela experiência...
Nossos votos devem ser: castidade, ser verazes em nosso falar e não exercer a
violência.
Nossas renúncias devem ser: o apego às coisas ou pessoas, aos frutos de nossas
ações, ao ilusório do mundo.
Aquela tarde me senti agradecido com a vida, porque minha mente se havia enchido
de sol.
CAPÍTULO 10

MAÇONARIA PURA

A Cabala e a Maçonaria são uma mesma unidade, seus fundamentos são a ordem
eterna, estabelecida pelo grande arquiteto do universo. A justiça imutável de suas leis
universais não favorece nem estabelece privilégio algum para com ninguém, senão só
aquele que pela intensidade de seu anelo se introduz em sua corrente e pela grandeza de
sua alma a compreende e a realiza.
Os dias de reunião no templo maçônico para completar as explicações dos arcanos
maiores e menores do Tarot e sua vinculação com a filosofia maçônica duraram cerca de 2
a 3 anos.
A cada carta ou arcano o Mestre dedicava uma conferência completa de duas horas.
Foi então que se recolheram dados para o livro que mais tarde se converteu em um
volumoso texto intitulado “Tarot e Cabala”.
Foi onde compreendi objetivamente o significado da Árvore da Vida Cabalística,
com a distribuição do símbolo em todo templo. O Venerável, que simbolizava a Kether ou
a primeira esfera, o Mestre que leva o verbo. A segunda esfera, o orador. A terceira
representada pelo Secretário, que registra e levanta as atas de cada sessão. A quarta esfera
representada pelo Mestre de cerimônias. A quinta, pelo tesoureiro. A sexta, pela ara santa
com o esquadro e o compasso, que forma a estrela de Davi, símbolo da liberação espiritual.
A sétima esfera, que corresponde ao segundo vigilante, a coluna do sul e a letra B. A oitava
esfera corresponde ao primeiro vigilante e a coluna do norte com sua letra J. A nona esfera
corresponde à pedra bruta e a pedra bem cinzelada de 9 faces, símbolo eloqüente do
trabalho sexual. Por último, a décima esfera, que corresponde ao guardião do trabalho. O
templo de paredes transparentes, de que falam os antigos maias, é o mesmo universo,
crivado de estrelas como nos templos maçônicos, rodeado dos signos zodiacais.
O tema do Tarot é muito vasto para tratar nesta pequena obra, só indicarei que,
assim como a Bíblia, é um livro inspirado pelo Espírito Santo, o Tarot é um livro
inspirador, fonte do conhecimento talismânico, origem da loteria, do dominó, do baralho
comum e no qual está a chave da iniciação da Loja Branca.
As iniciações maçônicas de aprendiz, companheiro e Mestre são vivências objetivas
que marcam uma realidade transcendental, em forma subconsciente, dos mundos
superiores de consciência cósmica. E estão em símbolos para o intuitivo, no padrão de
medidas que é mencionado no livro de Enoch como também é chamado (o Tarot). Nos
explicava como daqui saíram as quimeras e mistificações que ainda se vêem na magia
negra.
A pedra cúbica, nos dizia, é o símbolo da realização da sublimação da matéria por
meio da cruz e sua vinculação com o triângulo do espírito. Por isso sua base é quadrada e
sua cúspide uma pirâmide, suas nove faces indicando o trabalho do verdadeiro apóstolo, na
nona esfera de Jesod da Árvore Cabalística. O apóstolo, arcano 12 do Tarot, está entre
colunas, pendurado de um pau atravessado, formando com os braços um triângulo, com as
pernas a cruz, temos aqui o mesmo símbolo da cruz e o triângulo.
Entre colunas J e B, se encontram também os arcanos 2, a Sacerdotisa, o 5, o
Hierofante, o 8, a Justiça e o arcano 18, a Lua; as colunas neste último são como duas
torres distantes no meio das quais passa um caminho distante. Tudo isto é maçonaria.
O Bereshit ou Gênese é todo o processo alquímico que tem que passar o iniciado,
para chegar a compreender toda a construção de seu próprio templo interno.
Mercabah, que significa carro, alude às rodas e aos animais misteriosos, tanto de
Ezequiel como de São João, e são nada menos que o resumo da verdadeira ciência
espiritual, o mistério divino e do mundo.
O carro é o arcano 7 do Tarot, o carro de guerra. Este arcano leva o símbolo do
lingam e do yoni, do falo e do útero, a cruz que confere a chave para obter precisamente o
Mercabah ou o To Soma Heliakon, o corpo de ouro, os corpos solares de quem trabalhou
na frágua acesa de Vulcano, o sexo.
É a armadura do corpo mental solar, o triunfo de haver cristificado os quatro corpos
de pecado, é haver polido a primeira parte da pedra bruta, o cubo. Daqui em diante já não
se trabalhará com a dualidade, senão com a vida livre em seu movimento, na fusão do
guerreiro com a Sulamita do Cantar dos Cantares, para conseguir a pirâmide ou a perfeita
medida do fogo.
Enoch significa homem divino ou homem elevado até Deus. Enoch não é um
indivíduo, mas a personificação de uma força, que deu origem à época da escritura
simbólica e à construção dos monumentos hieráticos, que foram nos antigos tempos obras
maçônicas, de símbolos dos mundos superiores, pentáculos compostos de verdades
internas e iniciáticas.
Enoch é o mesmo Trismegisto dos egípcios, Kadmos dos gregos, fundador de
Tebas e criador do alfabeto grego. Foi testemunha da construção de Tebas por meio da
corrente do som da famosa lira de Anfião. Esta mesma escola hermética fundada por este
grande Mestre nos legou este grande padrão de medidas, que marca o caminho passo a
passo, até a realização do Arcano 21, o Magnus Opus, a Grande Obra. Este livro é a obra
magistral que nos desvela todo livro sagrado, toda mitologia, toda lenda, toda arquitetura
ou obra maçônica, já que é um livro maçônico também, o mundialmente conhecido Tarot.
Sem ânimo de ferir nenhuma susceptibilidade maçônica, lamento que o que menos
gostam os maçons é a maçonaria. Caíram em tal degeneração seus verdadeiros valores que
o que mais deveria exaltar-se é o que menos se conhece.
Tive que lamentar meu retiro da maçonaria, depois que o Mestre me sugeriu fazer
labor esotérico dentro de suas filas, porque infelizmente seus verdadeiros valores já foram
esquecidos, as coisas sagradas já não se conhecem, o que se expressa nos templos através
do símbolo já está perdido.
CAPÍTULO 11

O PISTIS SOPHIA

O Pistis Sophia, foi o livro que mais custou ao Mestre escrever ou desvelar.
Dizia que forças negativas adversas se haviam concentrado para impedir que tal obra se
realizasse.
Durante o longo tempo que colaborei com ele nesta tarefa, me dei conta dos
grandes esforços que fazia para desvelar duas ou três pequenas folhas, que lhe preparava
traduzidas ao espanhol; eu também experimentava a falta de continuidade em meu
trabalho, não por falta de desejo ou porque não quisesse trabalhar.
Constantemente era interrompido, dia a dia quando começava, apesar de meu
desejo de ajudá-lo, era difícil avançar grande coisa.
Em várias ocasiões me comentou que ninguém havia sobrevivido ao intento de
desvelar este grande livro. E pensava comigo mesmo que a Ele não sucederia tal coisa.
Quando já avançávamos triunfantes quase pela metade do livro, me chamou por
telefone dizendo-me que seus quebrantos de saúde eram de vida ou morte, me surpreendeu
quando me disse que até aí deixaria a develação do Pistis Sophia, a outra metade faria mais
adiante.
Devido à naturalidade com que falava até das coisas de mais alta transcendência, eu
não quis prestar maior atenção, sem dar-me conta de que era uma grande verdade.
Simplesmente argumentei: Não diga isso, avozinho, sabe que você é tudo para nós, sem
você nossa vida carece de sentido. Ele me respondeu: “Sei que assim é, mas isto é parte de
meu processo interno”.
Sua saúde foi piorando, cada vez mais quebrantada. Com isso se confirmava o que
ao princípio não queria aceitar. Veio sua desencarnação e tive que experimentar o que
quase ninguém se deu conta. Fiquei sem pai, sem Mestre, sem amigo, sem irmão, sem
nada, com um grande vazio na alma...
Me uni à dor de sua esposa, a seus filhos que perdiam seu pai, seus netos que
ficavam sem seu belo avô, seus discípulos sem seu Mestre, seus amigos sem amigo, enfim,
todo o Movimento Gnóstico ficava acéfalo. Eu acreditava ser o mais infeliz de todos,
porque perdia cada uma dessas coisas que eles viram nele durante os dez melhores anos de
minha vida.
Infelizmente, minha relação com minha esposa ficou um pouco descuidada pelas
etapas de desenvolvimento que atravessei com o Mestre e pelo fanatismo com o
ensinamento, em que se cai quando não se tem a devida experiência. Posteriormente e
atualmente dou graças a Deus pela esposa que tenho, pois nela está a presença do Mestre
através da herança que lhe deixou com sua maneira de pensar, de atuar, e sentir.
Poderia narrar muitas vivências de quando trabalhei com ele tão estreitamente na
develação do Pistis Sophia, mas creio que este pequeno testemunho basta por agora. Por ter
relação com o livro, não incluo as seguintes histórias na seção dedicada a isso, senão a
seguir:
Aborrecido, desesperado e confuso por falta de dinheiro, eu mesmo – agora me
envergonho disso – me irritei com o Mestre e joguei as cópias sobre a mesa, dizendo-lhe
que ia para os Estados Unidos para obter dinheiro. Ele, com suma paciência e com palavra
suave, aplacou minha ira. Era o mês de setembro do ano em que desencarnou. Agora me
dou conta de minha inconsciência.
Mais adiante me orientou em certas coisas que não compreendia, relacionadas com
sua pessoa e o livro Pistis Sophia. Certo dia, trabalhando juntos, me explicou que a obra de
Jesus Cristo em sua oitava superior era o Pistis Sophia, e que o tempo não pode contra ela,
tudo passará, mas a palavra de Jesus Cristo não passará, ainda é de palpitante atualidade, e
agora vai a público em forma desvelada.
Eu sabia que Pistis Sophia quer dizer: Fé e Sabedoria, mas Ele me explicou que seu
significado era mais exato como Poder-Sabedoria, que se acha latente dentro de cada um
de nós, em nosso universo interior. Aproveitei para perguntar sobre a obra de alguns
Mestres e se o tempo a apagaria ou não. Ele me respondeu: por seus frutos os conhecereis,
a tal obra tal Mestre.
Comentou-me sobre alguns movimentos como o da M. T. (Meditação
Transcendental), do Swami Maharishi Saraswati, o movimento para a consciência Krishna,
fundado por Prabhupada, a ciência cristã de Mary Baker Eddy, etc., e me disse: enquanto
não se lute pela dissolução do ego primeiramente, não serão de muito benefícios para o
desenvolvimento espiritual.
É necessário alimentar a alma e também eliminar o ego, como nas plantas se
alimenta ou aduba a raiz, mas se elimina a erva má. Recorda: nem tudo o que brilha é ouro;
a tal obra tal Mestre. Eu pensei: o Movimento Gnóstico dirá a estatura do Mestre Samael e
isso está em nossas mãos.
Estuda ao poeta Milton em seu paraíso perdido, obra magistral em que dá a
jerarquia angélica solar como a dos anjos caídos, enriquece-te com as obras de
Shakespeare, estuda também ao iniciador do drama moderno, o dramaturgo norueguês
Henrik Ibsem. Lê sua obra “Brand” (em norueguês quer dizer “fogo”) seu Peer Gynt, e
mira-te nesse personagem, estuda como lhe aparece sempre o forjador de botões, símbolo
do forjador das almas no abismo.
É necessário escrever obras de teatro para apresentar artisticamente a Gnose nos
palcos, tal como se fazia na antigüidade nos grandes teatros gregos, egípcios, maias,
astecas e incas, etc. Prepara-te para isso e luta por escrever tuas próprias realizações que
serás assistido.
Certa noite, minha esposa Ísis sonhou que chegava um telegrama no qual se
comunicava que seu pai estava gravemente doente. Aos poucos dias chegou esse
telegrama, juntamente com mil pesos para sufragar nossas necessidades, já que o avô
(como carinhosamente o chamávamos), me pagava um salário por ajudá-lo.
Posteriormente, sobreveio sua enfermidade que truncou a develação total do Pistis Sophia,
até um futuro indeterminado.
Foi até o capítulo 91 que desvelou o Sagrado Livro Gnóstico. Como consta de 148
capítulos, ficaram sem desvelar 57 capítulos. Em sua honra transcrevo parte do capítulo 25
que seus olhos já não viram plasmado em um livro como ele tanto desejara, diz assim:
“Melquisedeque, o gênio da terra, uma e outra vez deve purificar os poderes deste
mundo, com sacrifícios e transformações terríveis”.
Os grandes cataclismos são necessários.
Melquisedeque deve assim purificar os poderes da alma do mundo e levar sua luz
ao tesouro da luz.
Uma paralela correta nos indica que dentro do microcosmos homem deve ocorrer a
mesma coisa, quando se quer chegar à auto-realização íntima do Ser.
Os trabalhadores da Grande Obra trabalham incessantemente sobre si mesmos e
sobre o universo; isto se acha especificado em todo gênesis religioso.
Nos corresponde fazer dentro de nós mesmos o que o Exército da Palavra fez no
macrocosmos.
Os servidores de todos os regedores juntavam e juntam toda a matéria de todos eles.
Trata-se de juntar o sal, o enxofre e o mercúrio para a grande obra.
Estas três substâncias sempre são moldadas em almas de homens, gado, répteis e
animais selvagens e pássaros que vêm à existência.
Paralela justa também se encontra no mercúrio seco convertido em agregados
psíquicos bestiais e selvagens, dentro de nós mesmos, aqui e agora.
Já dissemos que tais agregados personificam nossos erros.
Os receptores do enxofre e do mercúrio, simbolizados pelo sol e pela lua, olham por
cima e vêem as configurações dos cursos dos Aeones e as configurações alquímicas do
destino e da esfera, então eles as tomam da energia da grande luz.
Obviamente, os receptores do enxofre e do mercúrio são os trabalhadores da grande
obra.
Os artistas da arte hermética devem ver as configurações dos cursos dos Aeones.
Os trabalhadores da grande obra devem ver as múltiplas combinações aritméticas
da alquimia.
Os sábios da arte hermética devem ver também as configurações do destino e da
esfera.
A energia da luz, a energia criadora, nos proporciona sal, enxofre e mercúrio.
Mediante as sábias combinações do sal, do enxofre e do mercúrio, se faz a grande
obra.
Aqueles que realizaram a grande obra, a apresentam aos receptores de
Melchizedek.
Esses que realizaram a grande obra, ingressam na Ordem Sagrada de Melchizedek.
O material inútil é arrojado aos mundos infernos, ou seja, à esfera submergida que
está por baixo dos Aeones, região das bestas que personificam nossos defeitos de tipo
psicológico.
Do abismo surgem coisas espantosas, de acordo com os regedores dessa esfera e de
acordo com todas as configurações de sua revolução e tudo fica repartido entre a
humanidade.
Em última síntese, mediante a aniquilação budista e crística, desintegrando
agregados psíquicos ou mercúrio seco, podemos cristalizar alma em nós.
Os receptores da esfera que estão por baixo dos Aeones, realizam trabalhos
maravilhosos que as pessoas nem remotamente suspeitam.
Eles podem moldar tal material inútil em almas de répteis e de animais selvagens e
de pássaros, de acordo com o círculo dos regedores dessa esfera e de acordo com todas as
configurações de sua revolução, e as repartem neste mundo de humanidade, e se convertem
em almas nesta região, tal como lhes disse.
Eles podem e devem dirigir na esfera submergida que está por debaixo dos Aeones,
os processos involutivos das bestas selvagens, répteis e gado, touros furiosos e demônios
com cara de crocodilo.
Tais bestas do averno são agregados psíquicos personificando defeitos
psicológicos; criaturas do inferno; egos que provêm de humanos organismos.
Os regedores da esfera que está por baixo dos Aeones, têm poder sobre a vida e a
morte.
Sintetizando, diremos: os regentes da esfera submergida infernal, que está por
debaixo dos treze Aeones, têm poder para trabalhar com as criaturas que vivem sobre a
superfície da terra e com as bestas do abismo.
Os agregados psíquicos que constituem o ego têm formas animalescas.
Os que ingressam aos mundos infernos involuem no tempo até a segunda morte.
Mediante a segunda morte se libera a alma, a essência, então ingressa ao Éden para
recomeçar ou reiniciar novos processos evolutivos que surgirão no mineral, continuarão no
vegetal e prosseguirão no animal até reconquistar o estado humano que outrora se perdeu.
Todo este trabalho com almas de homens e de animais na superfície do mundo e na
esfera que está por debaixo dos treze Aeones, é dirigido pelos regentes do Averno”.
Devo agregar que o Pistis Sophia não é um livro esotérico mais, como há tantos nas
livrarias.
A parte que não concluiu o Mestre é a que está mais vinculada com sua mensagem,
com sua missão, sua doutrina. É necessário despertar a consciência para compreender e
assimilar seu profundo significado.
CAPÍTULO 12

ANEDOTAS

1. Tendo 4 anos de o Mestre haver desencarnado, no 4 de dezembro de 1981,


sucedeu o doloroso acidente que sofreram meus irmãos Francisco, Gustavo e minha
sobrinha, filha do primeiro, em Multajo, perto de Tuxtla Gutiérrez, Chiapas, parte sul do
México. Em tal acidente perdeu a vida meu irmão mais novo, Gustavo Maldonado. Ainda
vejo, com nostalgia e tristeza, em minha memória, quando o Mestre Samael prognosticava
a Gustavo que desencarnaria ao cumprir 33 anos, (ao desencarnar tinha 33 anos e 4 dias).
Com sua atual esposa, Cheryl Popejoy, de nacionalidade americana, se deixariam, não
teriam família e que ela teria 2 esposos mais, depois regressaria aos Estados Unidos. Me
assombrou a capacidade do Mestre para ver o futuro, até a data, já que toda sua profecia se
cumpriu com rigorosa exatidão; é claro que não fazia isto com todo o mundo.

2. Em certa ocasião, meu irmão levou à casa do Mestre um amigo, diretor de teatro
na cidade de Guatemala, apesar de que se notava não muito crédulo, tinha certo carisma
agradável e não era falto de inteligência e discernimento, posto que ao chegar o Mestre deu
mostra de reconhecer imediatamente a torrente de sabedoria com a qual se defrontava.
O Mestre, ao inteirar-se de que era diretor de teatro, fez comentários sobre as 4
colunas de toda cultura, em especial a coluna da arte, comentou sobre Shakespeare e sua
obra gigantesca, que era o mesmo conde de Saint Germain, etc., e da necessidade da arte
para o desenvolvimento do centro emocional superior.
Nosso amigo lhe perguntou sobre o Sahaja Maithuna, que era o que o motivava a
conhecê-lo. Em sua resposta o Mestre narrou parte de sua experiência, e que não se
começava como Mestre, que ao princípio também havia caído, mas se havia tornado a
levantar, até fazer da magia sexual sua atividade sexual normal. Nosso amigo lhe
perguntou: E se nossa esposa não quer colaborar? O Mestre lhe disse: Quem quer se
auto-realizar, ela ou tu? Pois eu, respondeu o amigo, o Mestre sorrindo disse: e então?

3. Dois engenheiros, no intervalo de uma conversa disseram: Mestre já sabendo


tantas coisas destas, vamos necessitar mulheres especiais, não? O Mestre respondeu: por
acaso vocês são algo especial?

4. O Mestre era bastante deficiente para dirigir em veículo, ir com Ele ao centro do
D. F. era um atentado contra si mesmo. Dizia a meu irmão Francisco que assim como Ele
tinha vocação zero para dirigir carros, meu irmão também tinha zero como organizador, e
que no caminho tinha que desenvolver isso, como lhe havia tocado a Ele fazer frente à
grande urbe do D. F.
Nos passeios Ele quase não dirigia, mas Osíris, seu filho, ou eu; esses passeios são
para mim inesquecíveis, já que era muito esplêndido, abundante, pleno, sem misérias e sem
preocupações de nenhuma classe, até nisso refletia sua mentalidade solar.
5. Em sua casa certo dia apareceu quebrada uma xícara de um aparelho que a
Mestra, sua esposa, apreciava muito, ninguém dizia nada; Ele simplesmente se dirigiu a
Ísis, sua filha mais velha e minha esposa atual, lhe indicou que a recolhesse e a pegasse
para que assim meio se solucionasse o assunto. Tudo aquilo sucedeu em um ambiente de
amor e compreensão que sempre fluía do Mestre. Todos nos assombramos de que sabia
exatamente quem havia sido, sem que ninguém houvesse indicado nada.

6. Estando na Pirâmide do Sol, em Teotihuacán, parado em umas pedras de sua


cúspide que ali estão, me disse de repente: “Tony, estás parado exatamente no centro
magnético da era de Aquário”... Eu não percebia imediatamente todo o profundo
significado do que me dizia, pela naturalidade em toda sua maneira de ser, mas naquele dia
me senti como eletrizado por estas palavras, depois me explicou que a palavra PIRA
significa fogo e a MIDE, medida; pirâmide significa: medida do fogo.

7. Com o irmão Hickie (já desencarnado), Venerável Mestre maçom, e minha


pessoa como aprendiz, nos aconselhou traçar planos para apresentar o ensinamento aos
irmãos maçons, ainda que ele nos dizia: “o que menos gosta aos maçons é a maçonaria”.
Com sua assessoria, levamos a informação gnóstica dentro das filas dos irmãos
construtores. Dentro de um templo maçom, em suas reuniões, se abaixava quando era
necessário explicar bem algum símbolo, como o da pedra, recordo ainda muito bem
quando em plena dissertação pôs o pé à pedra bruta não cinzelada, depois passou à outra
coluna onde nos mostrou como a base formava a cruz quadrada e a cruz triangular da
pirâmide de cima representava o trabalho com a nona esfera, pois a pedra estava cinzelada
com nove faces.

8. Depois do almoço, costumávamos dar uma pequena caminhada pelos arredores;


era quando me explicava como era que víamos a sombra de um desencarnado em sua casa,
pois era uma pessoa que ainda se acreditava viva, porque estava totalmente adormecida e
que assim havia morrido. Me dava explicações muito claras e lógicas sobre aparições,
espantos e todas essas coisas que as pessoas comentam, de repente parava em meio de seus
interessantes comentários, coisa que me tomava de surpresa, pois ainda caminhando ao
lado dele, de tão adormecido que estava. Às vezes fazia observações sobre casais de
namorados na obscuridade do parque, porque exalavam o odor característico da fornicação,
e como em suas auras se exaltava a luxúria ao exagerar suas carícias.

9. Nadando juntos em Acapulco, me deu o conselho de não desperdiçar minhas


energias em vão, pois assim me cansaria rápido. É necessário, me dizia, conhecer como se
pode trabalhar com as ondinas da água, os espíritos elementais da água. Me indicou que
deitasse na água em decúbito dorsal, que me identificasse com as ondinas e que as
chamasse mentalmente. Elas me levariam onde quisesse como ele o fazia. Sucedeu tal
como me disse já que aos poucos minutos estávamos bem entrados nas águas do mar, bem
limpas e longe da contaminação da praia.

10. Quando vivemos em San Luis Potosi nos visitava constantemente. Foi onde
disse coisas de importância para suas vidas a três Gnósticos que já não voltei a ver. A um
disse que entre treze múmias que haviam em certo lugar no antigo Egito, ele possuía uma
que está em uma posição muito especial; este estudante se encontra atualmente retirado da
gnose. O segundo, que era um bodhisattva caído, se afastou da gnose vociferando do
Mestre. O terceiro era uma mulher que também era um bodhisattva caído, já não sei o que
foi de sua vida.

11. Falando sobre o presidente José López Portillo, a quem respeitava muito, nos
contou que também era um mestre caído, recomendando-nos ler o livro do ex-presidente,
chamado “O Senhor Don Q”. Disse que tem um alto conhecimento esotérico, que
possivelmente seja de maior profundidade que os escritos de Gurdjieff. O Senhor Don Q. é
a representação de um senhor muito elevado; em sua boca López Portillo põe uma
mensagem de grande relevância.

12. Recordo com carinho dos amigos gnósticos de coração que aconselhavam ao
Mestre entre broma e broma que corrigisse as palavras que usa em alguns de seus livros
como “a mamãe dos pintinhos, o papai de Tarzãn, o filhinho da mamãe, porque eram de
muito mal gosto. O Mestre, como homem inteligente, aceitou tal conselho, assim também
os desenhos de seu livro “O Parsifal Desvelado” que deixavam a desejar e que não
correspondiam à qualidade de ensinamento contido em seu livro. Já isto corrigido apareceu
no livro “Sim Há Karma, Sim Há Inferno, Sim Há Diabo” os desenhos do grande artista
Gustavo Doré. Juntando seus dedos, os punha no coração e dizia: não sou eu quem os
escreve, mas Aquele que está aqui dentro.

13. Que lês, Tony? Me disse uma vez que me encontrou lendo um livro de tipo
esotérico. Me empreste por cinco minutos. Eu dei a Ele e quando me devolveu, mais ou
menos nesse lapso de tempo, com um comentário bem detalhado e extenso, e até me
indicou a página em que havia que fazer uma correção. Não sei como fez, mas realmente
me deixou assombrado sua facilidade para assimilar, por meio de seus ultra-sentidos, a
informação de qualquer livro. Recordo que em Teotihuacán pegou uma pedra e fechando
os olhos nos narrou tudo o que essa pedra havia presenciado ali mesmo.

14. Apesar de que minha família não é gnóstica e sem ter um verdadeiro interesse
das coisas ocultas, foi se intrigando pela influência que o Mestre havia projetado na vida de
Gustavo, Francisco e minha. Um dia se decidiram a visitá-lo, estiveram três dias em sua
casa, depois lhes interroguei sobre sua opinião, ao que meu pai respondeu: é um tipo muito
esperto, muito vivo, muito inteligente, mas não me engana com essas bobagens, o que ele
quer é tirar dinheiro dos bobos.
Eu ri, sem sentir-me nada ofendido, senão por sua falta de sensibilidade e sua
ignorância. Depois perguntei a meu irmão mais velho, que me disse: estando em sua casa,
chegaram uns estudantes universitários (ele admirava muito os universitários), que lhe
fizeram perguntas dificílimas, mas apesar dos apuros em que o puseram, admito que as
respondeu muito bem. Vi que pelo menos nesta vida seria muito difícil de convencê-los de
que o Mestre era um mensageiro da Loja Branca, que lhes falava para despertar-lhes a
consciência, mas realmente estavam em um profundo sono... As primeiras provas pelas
quais todo estudante deve passar quase sempre começam pelo lar.
15. Tratando de encontrar o sentido da saudação gnóstica, “Paz Inverencial”,
perguntei ao Mestre sobre seu significado; ele com uma pergunta me respondeu: “Que diz
tua intuição?”. Disse que imaginava que era uma saudação reverente ao Ser de outro
gnóstico. Me indicou que estava bem, mas queria dizer PAZ INTERIOR, era a mesma
saudação de Cristo que está na Bíblia como “paz convosco”. Continuou comentando sobre
as grandes expressões como o “eu sou”, da corrente que dirige o Conde de Saint Germain,
ou o “Om mani padme hum”. “Tat Twam”. Assim isso tu és; o “innasti paro dharma” dos
teósofos. Não há religião mais elevada que a verdade ou o Ashram de Sivananda: “Hari
Om Tat Sat”. Comentou sobre a língua Watam, sua musicalidade, por exemplo, um muito
utilizado no Tibet: “Sarva Mangalam! Kubam Astu! Sarva Gatam!”.

16. Três animaizinhos compartiam nosso dia a dia: um cachorro chamado


“canicas”, um gato chamado “misifuz” e um papagaio chamado “patojita”. Este último
acompanhava o Mestre em seu escritório quando me punha a ler algum capítulo que havia
terminado de escrever; repetia a última palavra de cada ponto e aparte, o qual nos fazia rir.
Explicou que ninguém na casa entendia o papagaio, por sua simplicidade, que para
entendê-lo era necessário ser simples.
Me fez compreender porque ele dizia em seus livros a frase “animal intelectual
equivocadamente chamado homem”. Há pessoas – dizia – com cabeça de papagaio, corpo
de macaco e cavalgam sobre um porco, isto é, são faladores sem sentido, inconstantes e
dão satisfação a seus instintos. Há que cavalgar sobre um corcel majestoso e melhor se for
alado, ser homem com continuidade de propósitos e melhor se conseguir as asas do anjo e
levar na cabeça a mentalidade da águia, e melhor se é a pomba do Espírito Santo. Me abriu
a visão para ver em cada animalzinho um guia: observa ao “canicas” é manso, leal,
carinhoso; com isso ganha sua comida. Ao “misifuz”, como consegue um perfeito
relaxamento. Falou sobre o grande poder que têm no interno os gatos; em um de seus
livros narra uma emocionante experiência com este gatinho, a qual não é necessário
detalhar.

17. Um Domingo, fomos em família às grutas de Cacahuamilpa, no Estado de


Guerrero. Ao chegar, se muniu de um bom bastão e tal como faz um guia de turistas, Ele
com sua sabedoria ia nos explicando a importância que tinham as cavernas no organismo
planetário, sua formação, sua relação com os espíritos elementais da natureza, de como as
ondinas da água escreviam com as gotas da água a história da terra, deixando-a gravada na
bela geometria das estalactites e estalagmites, cada forma geométrica era uma mensagem,
um detalhe de um incidente em seu grande processo geológico. É impossível narrar toda
sua dissertação detalhadamente, creio que para todos os participantes foi uma ocasião
memorável, todos ao sair das grutas levávamos a sensação de toda uma eternidade, a
sensação de haver estado em contato com algo realmente extraordinário. No interior
havíamos feito uma cadeia dirigida pelo Mestre que nos indicou que nesse mesmo lugar,
na 4ª dimensão, se encontrava um templo da loja branca, em estado de jinas, ao que nos fez
passar enquanto realizamos uma prática de concentração.

18. Em uma das visitas que me fez a San Luis Potosi, depois do almoço nos
sentamos na sala. Começou a me olhar em silêncio. Com as pessoas que tenho verdadeira
confiança, posso permanecer em silêncio sem nenhum problema, apesar disso me deu certa
inquietação ele continuar olhando-me em silêncio; sentia seu olhar estranho, que ia até
meus mais recônditos segredos. Continuávamos em silêncio, eu baixava a vista e me fazia
um pouco de bobo; como ele continuava olhando-me, meu incômodo aumentava, não
poderia dizer com exatidão quanto tempo ficamos assim. Em outras ocasiões, já havia
estado em silêncio com ele, caminhando, ou em um parque, ou em meditação, mas daquela
vez o ambiente estava carregado de uma vibração indefinível, muito especial. Creio que
isso deve sentir o rato quando está nas mãos do gato ou o passarinho que foi hipnotizado
pela serpente, o fato era que me sentia em um estado muito estranho... Ao fim de tão
prolongado silêncio, me dirigiu estas palavras: “Tony, perdestes a oportunidade de
conhecer meu divino Daimon”... Em meu interior pensei: “agora sei a razão porque me
sentia tão inquieto e pressionado”. Foi uma vivência realmente desconhecida,
impressionante, que me infundiu muito respeito, porque compreendi a classe de Ser com o
qual compartilhava minha própria casa.

19. Quando me casei com sua filha Ísis, me falou bastante sobre o que Ele dizia
serem os três acontecimentos mais transcendentais da vida do ser humano, a saber: o
nascimento, o casamento e a morte; cada um tem sua própria transcendência e importância
na vida do homem. O nascimento abre as portas a uma nova oportunidade ao Ser para que
realize sua obra. O casamento confirma e afiança o trabalho que haverá de realizar-se. A
morte pressupõe as contas do que se fez.

20. Em certa ocasião, nos encontrávamos com o Mestre e sua esposa (Venerável
Mestra Litelantes), minha esposa Ísis e uma de minhas filhas, recém nascida, em um
supermercado instalado na área onde vivíamos. Como era difícil dedicar atenção ao
cuidado da criança e fazer as compras ao mesmo tempo, decidi ficar com ela nos braços no
carro, no estacionamento. Repentinamente, senti um profundo sono com minha filhinha
nas pernas. Logo os dois dormimos profundamente. Quase de imediato me vi em
observação e companhia de uma bela jovem que chegava dos Estados Unidos, para visitar
uma pessoa muito especial e querida para ela. Sua grande surpresa de ver que tal pessoa já
havia falecido foi para ela uma experiência de grande dor, que se impregnou em sua
consciência.
Pude vê-la derramando lágrimas com grande amargura diante da tumba de seu avô.
Sua grande dor por não havê-lo encontrado, por haver estado separada dele, veio a se
refletir nesta vida também, já que quando o Mestre regressou das compras do mercado,
com minha esposa e minha sogra, me explicou que o que havia visto era um evento da vida
passada da menina, quando ele também foi seu avô, e como através dos séculos sempre se
haviam identificado com o grande carinho que tinham um pelo outro.
Quando o Mestre faleceu, a menina, que agora já conta com 22 anos, tinha apenas 3
anos e para surpresa de minha esposa e minha, ela se encheu de lágrimas, chorando
desesperadamente, insistia em querer ver seu avozinho, e eu tive que enganá-la dizendo
que ele estava dormindo. Foi tanta sua insistência de querer convencer-se de que o que lhe
dizia era certo que a avó me disse que a levasse até seu corpo inerte e quando o viu se
tranqüilizou. Mais adiante, ao não vê-lo mais, tivemos que dizer que seu avozinho havia
ido para o céu, ao que ela, com a inocência de sua idade, insistia em que lhe mostrasse
como ir a esse lugar para poder estar com ele.

21. O dia que esta criança nasceu, o Mestre a esperava com grande amor. Os dois
estivemos muito inquietos enquanto nos anunciavam sua chegada. Seu nome, Neith, foi
sugerido por ele, como o de quase todos os meus filhos. Minha esposa Ísis ficou três dias
em um hospital localizado na área que se chama Cidade Satélite, no Estado do México.
Como o Mestre vivia no D. F., era um pouco longa a viagem para visitar
diariamente a sua filha, mas não obstante esteve ali todos os dias. Recordo que sua
habilidade para dirigir não era muito convincente; eu sabia que as coisas do mundo eram
para ele mais difíceis que o normal, porque como me explicava, era muito difícil para ele
estar aqui conosco, já que pertencia normalmente a outras dimensões. Enfatizava sua
afirmação dizendo-me que nós éramos ao revés, porque nos custava muito trabalho estar
nos mundos internos de consciência cósmica.
Era fácil entender o porquê de sua inadaptabilidade para dirigir seu carro.
Chegando para visitar minha esposa, num desses dias acabou perdido procurando o
hospital. Sua espera se fazia longa, inexplicável e desesperante, já que ao falar por telefone
com sua casa sabíamos que há muitas horas havia saído com esse rumo. Por fim apareceu
com minha sogra, que por certo se notava um pouco incomodada de tanto procurar o lugar
que não era muito difícil de encontrar. Ao perguntarmos o que havia sucedido, a avó nos
explicou o assunto, ao que o Mestre, com certa vergonha, acrescentou: porém, conheceu
Satélite, não?
Depois deste evento o avô nos predisse que em mais um ano chegaria outra criança,
que já conhecia internamente, pois já havia estado brincando com ela. Atualmente
(Herzeleide) tem 21 anos e nasceu no mesmo dia que a irmã, com a diferença de um ano,
no mesmo hospital. Mas então o avô já havia memorizado bem como chegar ao lugar.

22. Minha esposa, Ísis Gómez, tem muitas histórias para contar, mas relatarei umas
poucas das quais ela me contou de quando eram crianças; se faz evidente que o Mestre era
como o Cristo, que praticava o que predicava.
Conta minha esposa Ísis que quando eram pequenos, ele passava nove dias em
jejum no Summum Supremum e era ela a encarregada de levar-lhe água ou suco para que
pudesse continuar sua disciplina imposta por ele mesmo; ela ainda não entendia porque ele
fazia isso.

23. Quando a senhora sua mãe, a Mestra Litelantes, ia ao mercado fazer compras,
ela via um cãozinho branco que a seguia, ao regressar dizia a meu pai: “Velho, não me
enganas, esse cãozinho branco era você”. Ele respondia: “Sim, negra, esse era eu” e
continuava escrevendo tranqüilamente.

24. Quando vivíamos na Colômbia, de forma humilde, Ele teve de fazer-se de


médico naturista junto com minha mãe, ler mãos, e assim foi introduzindo a Gnose até
formar um grande Movimento Gnóstico Internacional.

25. Quando seus filhos eram criancinhas, e ele não era muito partidário de que
fossem à escola, dizia à minha mãe (a Mestra Litelantes): “vou fazer a escolinha Gómez”.
Comprou giz, quadro-negro, cadernos e lápis; assim começou a dar-nos aulas todas as
tardes, nos ensinou a tabuada de multiplicar. A quem sabia bem a tabuada dava 20
centavos.
Na Serra Nevada da Colômbia me ensinou as primeiras letras, com um carrinho que
tinha dados com o abecedário. Me mandava dar uma volta e que fosse repetindo a letra que
me correspondia aprender. Ele ficava sentado em uns troncos estudando algum livro. Na
hora de dormir terminava o dia contando-nos contos das Mil e Uma Noites.

26. Era feliz comendo com os indígenas em seus pratos de barro e colheres de pau,
comidas raríssimas; ao vê-los, e como havia ouvido que eram maus, me enchia de medo e
me fechava no quarto de meus pais e só meu pai podia convencer-me a sair ou abrir a
porta.
Quando fazia alguma prática demonstrativa para os irmãos gnósticos, me puxava e
me levava em corpo físico, de um lado a outro. Agora compreendo que eram práticas em
estado de jinas, porque perguntava aos irmãos se haviam percebido, eles respondiam que
sim.

27. Quando escreveu o livro “O Matrimônio Perfeito”, os fanáticos católicos


fizeram que passasse uma boa temporada entre as grades. Uma de tantas noites se
apresentou em astral em casa e deu uma palmadinha em minha mãe, me cobriu com os
lençóis e olhou amorosamente à pequena Hypatia. Minha mãe balbuciou algumas palavras,
assombrada de sua visita. Por essa época vivemos na Serra Nevada de Santa Marta,
Colômbia, perto do Summum Supremum Santuarium, Templo de Mistérios que já entrou
na quarta dimensão. Foi então quando escreveu o pequeno livro que se chama:
“Apontamentos Secretos de um Guru”. Ainda na cadeia aproveitou o tempo para cumprir
com sua grande missão.

28. Certa vez me contou que ao acercar-se à idade de 30 anos, sentiu uma profunda
preocupação interna por estar tão identificado com as coisas do mundo e não haver
iniciado seus trabalhos esotéricos em forma séria ainda. Essa noite decidiu visitar um bar
pela última vez, para iniciar um rompimento com toda a ordem de coisas estabelecidas.
Bebeu até a saciedade e se inundou das baixas vibrações que produzem esses ambientes,
tudo fez consciente e com o firme propósito de não voltar a incorrer nesses erros que dá o
álcool e suas conseqüências.
Nunca jamais voltou a esses ambientes, nem voltou a caminhar por esses maus
caminhos. Pôs fim a uma ordem de coisas antiquada.
Penso que em qualquer dia de nossa vida, devemos provocar essa mudança na
ordem de coisas em que nos encontramos, e definir nosso destino com uma nova atitude
encaminhada para o despertar da consciência.

29. Estranhava muito ver em todos os seus livros as palavras Buddha Maitreya
Kalki Avatara e uma vez lhe perguntei seu significado, ao que ele me explicou o seguinte:
“Kalki Avatara” é certamente o Avatara para a idade do Kali Yuga, na era de
Aquário. A palavra Avatara significa Mensageiro. Inquestionavelmente, entenda-se por
mensageiro quem entrega a mensagem, e como me correspondeu o labor de entregar tal
mensagem, por ordem da Loja Branca, sou chamado mensageiro, em sânscrito: Avatara.
Mensageiro ou Avatara é, em síntese, um recadeiro, é o homem que entrega um
recado, um servidor ou servo da grande obra do pai. Que esta palavra não se preste a
equívocos: está especificada com toda claridade.
Sou, portanto, um criado, servidor ou mensageiro que estou entregando uma
mensagem. Alguma vez dizia que sou o portador de uma carga cósmica, posto que estou
entregando o conteúdo de uma carga cósmica.
Assim, a palavra Avatara não deve conduzir-nos jamais ao orgulho, pois somente
significa isso e nada mais que isso: recadeiro ou criado ou mensageiro, um servidor
simplesmente, que entrega uma mensagem e isso é tudo... Quanto aos termos Buddha
Maitreya, pois há que analisá-los um pouquinho a fim de não cair em erro, o Buddha
Íntimo é – diríamos – o Real Ser Interior de cada um de nós.
Quando o íntimo Real Ser Interno de alguém conseguiu propriamente sua
auto-realização íntima, é declarado Buddha; o termo Maitreya, no individual, representaria
um Mestre chamado Maitreya, mas do ponto de vista coletivo, entenda-se por Buddha
Maitreya, no sentido mais completo da palavra, qualquer iniciado que tenha conseguido
cristificar-se e isso é tudo.

30. A intenção de meu pai era dar o conhecimento gnóstico porque ninguém se
havia atrevido a entregar o grande ensinamento, mas ele disse: custe o que custar, eu
entrego o Grande Arcano: se vou para a prisão, vou por algo sagrado.
Foi quando escreveu “O Matrimônio Perfeito”, na maior pobreza. O livro foi escrito
no chão, porque não tinha com quê ter uma mesa. Ele começou no chão e as últimas
páginas escreveu sobre uma caixa de sabão, dessas de madeira.
Ele se dedicava a vender medicinas e tratava os enfermos com plantas, e com isso
começaram meus pais a levantar nosso lar e na casa entregava o conhecimento da Gnose.
Depois nos dedicávamos a viajar, nunca estávamos em um mesmo lugar, passamos muitos
sacrifícios...

31. Depois de sua morte sucederam fatos nos quais senti palpavelmente sua ajuda.
Como quando nos encontrávamos no aeroporto Internacional da cidade do México em fila
de espera depois de 50 pessoas, nas mesmas condições, nossas passagens eram de um dia
anterior, nos encontrávamos sem dinheiro, não tínhamos nem aonde ir para dormir, nem
regressar. Era pois um apuro sério. Minha esposa Ísis e eu nos pusemos a orar, pedindo-lhe
ajuda, com muita fé e um pouco de angústia... Grande foi nossa surpresa quando a
senhorita nos disse que havia arrumado as duas passagens, nos chamaram pelo alto-falante,
subimos com as malas e as crianças adormecidas para encontrar exatamente os lugares que
necessitávamos. Para nós este foi um grande milagre.

32. Encontrando-nos em um povoado entre Estados Unidos e México, esperava um


dinheirinho que me cobrava um amigo nos Estados Unidos; como soube que estava
dedicando-se ao vício do álcool, falando francamente posso dizer que me encontrava sem
dinheiro para a comida do dia seguinte. Invocando e orando ao Venerável Mestre, me
dirigi a Los Angeles, Califórnia, passei duas horas amargas esperando que alguém fizesse
o favor de levar-me; ao fim uma pessoa compassiva me levou até onde ia. Ao chegar a este
bom amigo vi em sua mesa uma carta com meu cheque de $ 272,00 dólares; rapidamente o
cobrei, regressei até minha esposa levando-lhe uns franguinhos que estavam deliciosos,
paguei o hotel.
Nos dirigimos a alugar um apartamento que nos haviam avisado que estava vazio,
mas quando chegamos a dona já o havia dado a outra pessoa; nos pusemos a invocá-lo
mentalmente pedindo seu auxílio. Foi algo estranho que ao terminar de chamá-lo, a
senhora dona nos indicou que havia mudado de opinião e que o dava a nós. Ainda havendo
chegado o outro senhor, a quem o havia dado anteriormente, a senhora dona não mudou de
opinião. É por isso que minha esposa diz sempre: meu pai me disse que não me
abandonaria e eu estou segura que sempre estará conosco.

33. O trabalho do Mestre para cumprir com sua grande missão sempre foi muito
difícil. Recordo que quando o conheci me assombrou começar a compartir suas
maravilhosas conferências em forma humilde com um pequeno grupinho com o que nos
reuníamos duas vezes por semana. Uma vez ao mês celebrávamos os rituais gnósticos e a
cada semana a repartição do pão e o vinho, que nomeava como a unção gnóstica. Em certa
ocasião nos explicou a investigação que realizou nos mundos internos de consciência
cósmica acerca desta maravilhosa cerimônia, que transcrevo para conhecimento de todos
os estudantes. Nos falou dizendo o seguinte:
“É necessário saber, meus caros irmãos, o que significa realmente a unção gnóstica.
Em certa ocasião encontrando-me nos mundos superiores de consciência cósmica,
especificamente no mundo de Atman, além do corpo, das emoções e da mente, penetrei em
um precioso recinto, iluminado por uma luz tão clara que não fazia sombra por nenhuma
parte. Tal luz tinha vida em abundância, não provinha de nenhuma lâmpada.
Um grupo de irmãos ali reunidos ante a mesa sacra realizava esta unção gnóstica e
partia o pão e bebia o vinho. Do alto, do mundo do Logos, descia até a mesa do banquete
pascal, a força crística como átomos divinais de altíssima voltagem que se acumulavam
nesse pão e nesse vinho. A música das esferas ressoava maravilhosamente no coral do
infinito.
Depois, desci para atuar no mundo Búdico ou Intuicional, nessa região inefável
onde os mundos comungam sob a palavra de ouro do demiurgo arquiteto. O salão
resplandecia glorioso. Os irmãos, em seu veículo Búdico, ou Intuicional, para falar em uma
linguagem mais simples, diríamos em sua alma de diamante ou Vajra Sattva, como dizem
os hindus.
Continuavam em seu rito inefável, dentro das celebrações deliciosas da Sexta-feira
Santa. Partiam o pão e bebiam o vinho e oravam. A força crística que no mundo de Atman
se havia acumulado dentro do trigo e do fruto da videira, desciam agora até o grande
mundo Intuicional ou Búdico, para acumular-se também dentro desse Santo Graal e nesse
pedaço de pão que representa a carne do bendito Logos do Sistema Solar.
Ao continuar com minhas investigações, desci ao mundo das causas naturais. Ali
onde o passado e o futuro se irmanam em um eterno agora. Onde tudo flui e reflui, vai e
vem, sobe e desce.
Ao penetrar no delicioso recinto, encontrei aos mesmos irmãos no mundo causal. Desta
vez revestidos com o manas superior de que falam os teósofos, isto é, atuando como almas
humanas.
E a luz deliciosa do Logos, que havia descido da escadaria inefável dos mistérios,
desde o Atman até o Budhi, agora tomava forma e se cristalizava entre as ondas divinais do
vinho da ânfora do mundo das causas naturais. Era de admirar-se, era digno de ver-se, esse
poder logóico e esses átomos crísticos de altíssima voltagem incrustando-se no pedaço de
pão.
O panorama glorioso do Logos no mundo de Tipheret resplandece com os ritmos
do Mahaván e do Chotaván, que sustentam o universo firme em sua marcha. Desejoso de
continuar com essas investigações, queria saber ainda algo mais sobre o sacro oficio.
Desci ao mundo da mente cósmica. É óbvio que dentro daquele recinto no mundo
do manas inferior, ainda entre os mesmos esplendores deliciosos e inefáveis de Atman,
nem os reflexos de Budhi, nem o delicioso brilho do Manas Superior ou mundo causal,
havia empalidecido todo, mas ainda se sentia ali o sabor do Logos.
Dentro do santuário sacro, na mesa do banquete pascal, estavam o pão e o vinho.
Continuavam os irmãos com seu rito, partindo o pão para comê-lo e beber na ânfora sacra.
Lá de cima, do mundo de Urânia, do mundo do Paracleto universal, representado tão
vivamente pelo cisne Kalahamsa que voa sobre as águas da vida, desciam as forças
crísticas, pela luminosa escadaria de Atman, do Budhi, do Manas superior etc., até
cristalizar totalmente no pão e o vinho dentro do mundo da mente.
Ali não terminaram minhas investigações, queria continuar, e revestindo-me com o
corpo sideral ou corpo kedsjano, como se diz esotericamente, entrei no santuário astral. Os
esplendores diminuíram ainda mais. As flores deliciosas do grande alaya do universo
diminuíram notavelmente. As harmonias do diapasão cósmico antes ressoavam como um
milagre bendito no cálice de cada flor do mundo de Atman, ou do Budhi e do Manas
superior, agora se haviam eclipsado lamentavelmente. Mas continuava o ritual dentro do
templo e os átomos crísticos, descendo da região inefável do Maha Choham, cristalizavam
também no pão e no vinho da transubstanciação.
Um passo mais e entrei na região do lingam sharira dos teósofos, nessa quarta
vertical onde somente podemos mover-nos com o corpo vital, e quando este tenha sido
devidamente estigmatizado, traspassado completamente pela lança. Ao penetrar no recinto
da quarta vertical, vi os mesmos irmãos celebrando seu ritual. As vibrações
resplandecentes do Logos tomavam forma ali para o grande banquete.
Um esforço mais e consegui assomar-me ao mundo meramente físico. Então, com
assombro místico descobri o insólito. Sete irmãos no total, cheios de verdadeira adoração,
celebram com seu corpo físico o ritual, o mesmo que nestes instantes vamos celebrar.
E esses átomos crísticos que haviam descido do Paracleto Universal através das
escadarias luminosas das diversas regiões do cosmos infinito, coagulando-se, cristalizando
no pão e no vinho do grande banquete, passavam definitivamente aos organismos físicos
para incitar todos os átomos orgânicos ao trabalho da cristificação, para impulsiona-los
com seu dinamismo, com seu verbo, para alimentá-los dentro das harmonias universais,
para impulsiona-los em forma séria para a auto-realização.
O conjunto de átomos deuses que constituem o organismo e que obedecem ao
átomo Nous, que está no coração, tremem de emoção quando os átomos do Logos Solar,
coagulados no pão e no vinho, penetram no organismo para nossa cristificação. É óbvio
que necessitamos uma ajuda crística e ela vem a nós com a santa unção gnóstica. Nós
somos débeis criaturas que devemos pedir auxílio ao Logos. Obviamente, este vem com o
pão e o vinho.
Por isso foi que o Grande Kabir disse: “O que come a minha carne e bebe o meu
sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no dia póstero. O que come a minha carne e
bebe o meu sangue mora em mim e eu nele. Dizendo isto, meus queridos irmãos,
oremos...”
Para finalizar, narrarei algo que me aconteceu quando o Mestre já se encontrava
desencarnado. Na república de El Salvador, me encaminhava a vender uns cassetes de suas
conferências gravadas aos gnósticos salvadorenhos, me acompanhava seu filho mais velho,
Imperator.
Ele bateu em um carro que estava parado, fui projetado para frente, quebrando o
vidro dianteiro com a cara, fazendo uma grande ferida na testa. Estava sangrando pelo
nariz, atarantado com a vista anuviada pelo sangue; Imperator, mancando, foi buscar ajuda,
coisa que não pôde porque ficou a meio caminho.
Em meio à minha turbação, ouvi a voz de uma pessoa, que até agora nunca soube
quem foi, e que me disse: “Não te preocupes, eu te conheço, te levarei a um lugar seguro”,
continuou falando dando-me alento, enquanto me levava ao hospital. Não podia vê-lo pelo
sangue que corria por meus olhos. Logo me vi em uma cama, me fizeram uma cirurgia que
durou quatro horas.
Durei uma semana convalescente, na metade dessa semana senti uma noite
aproximar-se de mim uma pessoa com sapatos de borracha, só percebia sua presença,
acreditava ao princípio que era a enfermeira, mas logo compreendi que era uma entidade
espiritual.
Comecei a sentir a presença do avô, o calor de sua mão e seus costumeiros passes
magnéticos em minha cara, até que já não senti nenhuma dor nem mal-estar; estando cheio
de júbilo interno, agradeci tão grande oportunidade e, enquanto se afastava, minha alma se
encheu de humildade e de uma paz que excede a toda explicação com palavras.
Não é em minha memória, mas sim no coração onde tenho gravadas com caracteres
indeléveis as vivências cotidianas. Recordo sua saudação de Paz Inverencial, o qual fazia
com muito entusiasmo. Suas “boas noites” tão cheias de identificação pela tarefa realizada
juntamente, e por muitas coisas mais, pois cada convivência era um evento por si só cheio
de sua natural sabedoria e saturado do transcendental de suas palavras.
De instante em instante com sua relação existia a bela possibilidade de um
desenvolvimento harmonioso da consciência. A lembrança desses anos estimula em minha
alma esse anelo íntimo por continuar trilhando o sendeiro difícil que conduz à liberação
final, à luz ou ao som primordial.
Poderia encher este pequeno livro de muitas histórias mais que me escapam, mas
creio que isto é suficiente para exemplificar o ensinamento gnóstico. O realmente
importante não é o que eu guardo com essas lembranças, mas o que seja capaz de realizar
com isso e o que possa ser de utilidade para cada pessoa que leia estas linhas.
Somente assim, com essa força em nosso interior, poderá fazer chegar a luz às
espessas trevas que cobrem atualmente o mundo que é nosso lar no grande concerto dos
mundos infinitos de nossa galáxia.
O princípio é igual ao fim, mais a experiência do ciclo. Estou agora igual que ao
princípio, com minha personalidade atual, a mesma essência através de minhas vidas com
certa experiência e minhas circunstâncias, ou meu acumulado karma. E assim como o
atleta com bom treinamento pode ganhar uma medalha ou um troféu, estou treinando para
levar esse troféu no ginásio que me dá a própria vida, como é meu próprio lar, meu
trabalho material, meu mundo.
Onde exista um Mestre haverá um discípulo, onde exista uma meta haverá um anelo por
realizá-la, nisso se involucram valores como a verdade, a harmonia, a beleza e toda virtude
que se resume no summum da sabedoria, que é o amor.
Compreendo que tenho uma grande responsabilidade comigo mesmo pela grande
oportunidade em que meu ser me colocou. Ao visitar os lumisiais onde se dá o
ensinamento, percebo o grande interesse com que me perguntam acerca dos anos que
convivi com o Mestre e a inquietude de conhecer como é um Ser de seu nível de
consciência.
Se pode descrever com palavras a experiência que eu vivi e captei através de
anedotas que palidamente descrevem o que foi um Ser como o Mestre, mas conhecê-lo
verdadeiramente implica viver seu ensinamento.
Ao escrever estas letras sinto a mesma alegria que experimento quando ouço os
cassetes de algumas conferências que gravei quando o acompanhei em suas viagens e
terceiras câmaras. Me alegra muito que os missionários tenham esse material didático, que
é prova de que em algo servi ao Venerável Mestre.
Em todo lugar onde viva sempre estarei em contato com a grei gnóstica. Não estou
na ação de divulgação do ensinamento, mas desejo a todos o maior dos êxitos em seu
nobre labor.
Que atem a sua carreta de trabalho aos dois bois do discernimento e do desapego,
que não seja um assunto competitivo nem de dinheiro porque isso suja a pureza da Gnose.
A iniciação não se alcança por grupos, porque é um assunto individual de muito anelo e
amor por nosso trabalho pessoal.
Não disse nada de novo nem nada transcendente. Só é meu desejo cooperar em
alguma forma com os que trabalham por canalizar a carga cósmica que o Mestre depositou
em nosso planeta.
Quero aprender a amar meus semelhantes, como nos ensinaram os grandes
iniciados. Anelo verdadeiramente transformar-me.
Sinceramente convido a todos os que estão na luta a que constituamos o exército de
que tanto falou nosso Mestre.
Só me resta repetir o que disse na introdução deste pequeno trabalho.
“Que vosso Pai que mora em segredo e vossa Divina Mãe Kundalini os bendigam.
Paz Inverencial”.
INTRODUÇÃO
1 ENCONTRANDO O CAMINHO
2 A ORDEM REVOLUCIONÁRIO DA GNOSE
3 ENSINAMENTOS DO MESTRE
4 SOBRE AS CORRENTES DO SOM E O VERBO
5 A DIVINA MÃE
6 A ESPOSA SACERDOTISA
7 O ARCANO A. Z. F.
8 MITOLOGIA COMPARADA
9 O BHAGAVAD GITA
10 MAÇONARIA PURA
11 O PISTIS SOPHIA
12 HISTÓRIAS

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