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ANTONIO
MALDONADO
MÉRIDA
INTRODUÇÃO
Não possuo a esplêndida facilidade para descrever o belo do espírito, como fazia o
Venerável Mestre Samael Aun Weor, ou a espontaneidade de um Krishnamurti, a
eloqüência de um Gurdjieff. Contudo, apelando ao gênio criativo que há em todos, espero
expor o que pude aprender através dos anos de convivência com o fundador do Movimento
Gnóstico Cristão Universal.
Faz mais ou menos 28 anos que conheci a Gnose ou conhecimento espiritual direto,
recebido de lábios a ouvidos do V. M. Samael, e que ao ir assimilando e aplicando em
minha vida, experimentei o verdadeiro valor das coisas e da vida mesma.
Isso é o que me move a deixar em forma escrita, para bem dos irmãos que queiram
aceitar com agrado esta colaboração de minha parte, dedicada a todo o Movimento
Gnóstico em geral.
No oceano Pacífico, quando influencia a constelação de Virgem, a ostra perlífera
captura uma gota de orvalho, que vai cobrindo com amor, sutileza, agrado, beleza e
paciência; para dar ao fim criação a essa jóia de grande preço que é a pérola negra. A
Gnose é esta pérola, o mais autêntico que conheci em minha vida. É a pérola que apreciou
o rico mercador do evangelho, que valia mais que todos os seus tesouros.
É a única coisa pela qual vale a pena viver. Este pequeno ensaio está escrito com o
coração e para gnósticos de coração. É a experiência e convivência diária durante dez
recordados anos com o Venerável Mestre Samael Aun Weor. Está escrito em forma
sintética, como genro que fui dele, como amigo como seu secretário e como seu sincero
discípulo, para quem só desejo pôr minha cabeça a seus pés em sinal de grande reverência.
Agradeço a colaboração de meu irmão Francisco Maldonado Mérida, quem me
ajudou a redigir o texto e a minha esposa Ísis de Maldonado, que me ajudou a precisar
acontecimentos dos quais não me lembrava bem.
Ela, como filha do Venerável, fez realidade em minha vida - através de 28 anos de
casados - a frase do Mestre que diz: “O amor começa com um relâmpago de simpatia, se
fortalece com o desejo do carinho e se sintetiza em adoração suprema”.
Escrever toda uma filosofia da vida pode levar vários anos ou pode sintetizar-se em
poucas palavras; meu desejo é oferecer algo que possa servir, que possa ser de utilidade a
outras pessoas, que como eu se autodescobriram ao fazer unha e carne em sua vida o
ensinamento que trouxe o mensageiro de Marte a este planeta.
Sou uma pessoa de mente complicada por não ter o ego dissolvido, como sucede a
cada pessoa afetada pela civilização ocidental, mas creio que tenho costumes simples e de
poucas necessidades, portanto espero que este pequeno volume de curta dimensão chegue
com ternura e amor ao verdadeiro gnóstico que esteja na luta por isso que se chama auto-
realização íntima do Ser.
A mais excelsa síntese da vida espiritual a ditou Jesus Cristo ao dizer “Ama a Deus
por sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo”.
É evidente que toda frase, filosofia, livro, etc., se destaca porque sempre haverá
vinho novo para odres novos, especialmente quando a humanidade se encontra em níveis
espirituais tão baixos como estamos atualmente.
Todo poder está dentro do homem, o caminho também. A Gnose está dentro de nós,
portanto, nada é mais apropriado que o encontro consigo mesmo.
Recordo esporadicamente palavras do Venerável que levam consigo a força do som
inaudível da alma. Em seu processo de morte dizia à minha esposa:
“Samael sempre estará com vocês, façam toneladas de boas obras para esgotar
seu karma. A raiz de todo mal está dentro de vocês, não dentro de outros. O dar e somente
dar sem pensar jamais em recompensas é o princípio da imortalidade. Nenhum humano
pode chegar a ser anjo fugindo da dor e buscando comodidades, prazeres, nem pelo apego
ao mundo. Não se gloriem do que já compreenderam nem menosprezem aos que se
enredam na dor ou nas trevas, não se elevem ao pináculo da santarronice nem à falsa
glória. O Atman inefável é o mais valioso e maravilhoso do universo, mas o animal
intelectual o ignora, o poder do Atman está na cobra, na serpente ígnea de nossos mágicos
poderes, nela estão os segredos transcendentais de todos os tesouros cósmicos, toda a
felicidade, todo o amor verdadeiro, porque é ela a Divina Mãe e o que é mais, tudo está
dentro de ti. É necessário ser valente e diligente, nasce de novo nesta vida, libera-te do
karma e da ilusão de Maya”.
Todo caminho, por grande que seja, se começa com o primeiro passo; graças aos
céus nesse primeiro passo tive a ajuda sábia do Mestre. Ele também foi um neófito no
princípio porque ninguém começa como Mestre.
Este pequeno ensaio é meu primeiro passo no cumprimento do terceiro fator da
revolução da consciência, sei que faltam muitas coisas por narrar e outras por explicar,
creio poder fazê-lo no futuro, segundo a acolhida que tenha esta pequena obra, que espero
seja com entusiasmo, com atitude positiva e com fraternidade.
Saúdo a todos com as mesmas palavras do Mestre ao término de suas cartas: “Que
vosso Pai que mora em segredo e vossa Divina Mãe Kundalini os bendigam. Paz
Inverencial”.
CAPÍTULO 1
ENCONTRANDO O CAMINHO
“O essencial não é percebido pelos olhos materiais, mas pelos olhos do espírito” (Antoine
de Saint-Exupery).
ENSINAMENTOS DO MESTRE
“No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus” (São João).
Em certa ocasião, o Mestre Samael comentando acerca da arte, uma das colunas de
toda cultura, me explicava que o segundo Logos ou o Verbo, era o mesmo som ou vibração
sonora universal que coexiste em tudo, seja na forma ou no sem forma.
“Ludwig Van Beethoven, cujo rosto é um relâmpago – dizia o Mestre – é nada
menos que o guardião do Templo da Música.
Suas nove sinfonias estão em íntima relação com as nove esferas da Árvore da Vida
da Cabala Hebraica.
A terceira sinfonia, A Heróica, está totalmente matizada com a influência de Binah,
a terceira séphira ou esfera, que corresponde à Divina Mãe ou às forças do Espírito Santo,
os processos do nascimento e morte.
É mais evidente em seu segundo movimento lento, escrito em forma de marcha
fúnebre, expressa a missão de dar e tirar a vida pela ação dos Anjos da morte chamados
pasquais a la pasquala em algumas regiões da América Latina.
Na quarta sinfonia se adverte o uso dos címbalos, que ativam os impulsos do íntimo
no coração, Chesed, o Júpiter Interno.
A força do rigor, o Geburah, a quinta esfera da cabala, Beethoven a expressou em
sua quinta sinfonia, o destino chamando à nossa porta.
Tipheret, a beleza, deve-se vivenciar na maravilhosa sexta sinfonia dedicada à
natureza. Quem escutou a sexta sinfonia com verdadeira atenção, haverá harmonizado as
combinações mais sutis de sua própria natureza. É de grande ajuda para transformar nossa
mentalidade lunar em uma mentalidade solar.
A apoteose da dança, como disse Wagner da sétima sinfonia, unifica nossa
compreensão acerca da esfera de Netzach ou a esfera de Vênus, a Deusa do amor.
A oitava sinfonia expressa Hod, a esfera da alta magia e os processos da mente.
A nona sinfonia, chamada coral por suas partes de coros, canta a ode à alegria do
grande poeta alemão Schiller, exalta as aquisições que se colhem na nona esfera ou Jesod
da Cabala.
Não é coisa de expressar-se em palavras senão de escutá-la com o coração e uma
mentalidade solar unificada.
Comentava-me suas investigações sobre o cataclismo final dentro da corrente do
som universal, que para São João é o Verbo, o Segundo Logos. Para melhor compreensão
transcrevo o que o Mestre escreveu no livro a Doutrina Secreta de Anáhuac, onde narra tal
experiência:
“No mundo causal contemplava com assombro místico a grande catástrofe que se
avizinha e como esta é a região da música inefável, a visão foi ilustrada na corrente do
som”.
Certa deliciosa sinfonia trágica ressoava entre os fundos profundos do céu de
Vênus...
Aquela partitura assombrava, em geral, pela grandeza e majestade e pela inspiração
e beleza de seu traço; pela pureza de suas linhas e pelo colorido e matiz de sua sábia e
artística ilustração, doce e severa, grandiosa e aterradora, dramática e lúgubre.
Os fragmentos melódicos (Leitmotivs) que se ouviram no mundo causal, nas
diferentes situações proféticas, são de grande potência expressiva e em íntima relação com
o grande acontecimento e com os sucessos históricos que inevitavelmente o precederão no
tempo.
Há na partitura dessa grande ópera cósmica, fragmentos sinfônicos relacionados
com a terceira guerra mundial; sonoridades deliciosas e funestas, sucessos horripilantes,
bombas atômicas, radioatividade espantosa em toda a terra, fome, destruição total das
grandes metrópoles, enfermidades desconhecidas, revoluções de sangue e aguardente,
ditaduras insuportáveis, ateísmo, multiplicação de fronteiras, perseguições religiosas,
martírios místicos, bolchevismo execrável, anarquismo abominável, intelectualismo
desprovido de toda espiritualidade, perda completa da vergonha orgânica, drogas, álcool,
prostituição total da mulher, exploração infames novos sistemas de tortura, etc., etc., etc.
Mesclado com uma arte sem precedentes, se escutavam arrepiantes temas
relacionados com as poderosas metrópoles do mundo: Paris, Roma, Londres, Moscou, etc.,
etc., etc. ““.
Comentava-me sobre a necessidade da guia do guru nas regiões do som, no mundo
causal e o importante de dizer a verdade e só a verdade na vida diária, para conseguir o
desenvolvimento harmônico do chacra vishudha ou igreja de Sardis, pelo vínculo que tem
com o verbo para usar os mantrams sagrados e não profaná-los. Mencionou-me os
mantrams secretos dos rituais gnósticos que encerram grandes segredos. Tesouros reais,
todo o amor do Ser. Recordo quando em uma conversa familiar em casa de um discípulo
gnóstico nos dizia sobre o som:
“Os Elohim, o exército da voz, a grande palavra, como milícia celeste se move nos
mundos superiores de consciência cósmica, anelando levar a outros a esse mesmo estado
de felicidade e sabedoria espiritual”.
A palavra é a imanência de Deus que tudo penetra, é tua alma, tua essência e
existência, é a luz que ilumina todo homem que vem a este mundo, teu real ser, é a música
que percebeu Beethoven, interminável e eterna, à qual se conhece pelo I. A. O., ou o som
WU ou OM.
Esse som se enlaça de glória, de eternidade em eternidade, de felicidade em
felicidade, abarcando todo o espaço, saturando toda a vida, fazendo eco no tempo.
É a palavra perdida da maçonaria, é uma secreta repetição que muito poucos
conhecem. Esta eterna palavra está dentro de todos os seres e coisas, dando-lhes vida,
criando e dando forma a tudo.
Este som é também luz verdadeira e vida, luz que revela a realidade detrás de toda
aparência, vida que é a raiz de toda existência.
Na meditação é o contato que realiza o sábio; todos os grandes místicos se uniram a
este som universal que libera a essência da multiplicidade do ego, a melodia que eleva
sobre toda matéria aos reinos dos mundos transcendentais do espírito puro.
A vivência dessa corrente de som é vital e satura de vida, é a que nos unirá ao Pai e
à imortalidade, é a mão e a lâmpada de nossa amorosa Mãe Divina que nos conduzirá pelos
mais escabrosos caminhos e os esconderijos mais íntimos da verdade e da realidade. A
única coisa que pode dar-te felicidade e bem-aventurança, o SAT-CHIT-ANANDA dos
hindus.
O som universal é o néctar que busca a abelha para deixar seu zumbir, é a harmonia
do cosmos infinito, é a música das esferas de Pitágoras, não é a conversação, nem a leitura,
nem o cântico, não se pode descrever com palavras, é uma vivência íntima e ao mesmo
tempo cósmica, apesar de que se encontra em cada um, são os iniciados, os Mestres
desapegados dos apetites mundanos, os que já não têm ego, aqueles que possuem a chave.
O som é o Alfa e Ômega de São João, o princípio e o fim, o que era, é e será, não
pode morrer nem desaparecer e existe eternamente em todas as épocas e em todos os
tempos. Sua harmônica relação em toda magnífica sinfonia faz que seja eterna, é por isso
que a música dos grandes mestres não passa jamais de moda, porque é indestrutível e
eterna.
Os antigos RISHIS ensinaram isto no longínquo oriente, na China se estudou
também este mistério. Foi em minha encarnação quando fui CHOU-LI, como membro da
antiga Ordem do Dragão Amarelo, que conheci o segredo da meditação sintonizada com o
som, por meio de um aparelho que usávamos, manejado por um irmão muito sábio no uso
deste instrumento musical que combina em várias oitavas musicais os 49 níveis do
subconsciente, que se chamava Ayatapan.
É necessário, pois, usar a música para nosso desenvolvimento interno, os mantrams
e a verdade são o verbo, assim a corrente do som nos converterá em verdadeiros
instrumentos para sua ação criadora.
Ao dia seguinte desta reunião, acompanhei o Mestre Samael ao correio do D. F.;
me encontrava cavilando sobre estas palavras, me sentia altamente motivado.
CAPÍTULO 5
A DIVINA MÃE
O símbolo do amor divino por excelência é o da Divina Mãe, que expressa a graça
que desce do alto, quando existe uma verdadeira entrega abaixo.
O Mestre sempre me fez ênfase em que nunca me esquecesse de minha Divina Mãe
particular, íntima, a que cada um tem em seu interior.
Só um filho ingrato se esquece de sua mãe - me dizia - e mostrando meu corpo
narrava o grande processo que ela havia tido que passar para elaborá-lo, que era ela a que
através de todas as mães que havia tido em todas as minhas vidas, a que me havia dado a
vida, o alento vital e o amor, era ela a que me havia proporcionado nesta vida o
maravilhoso corpo físico e os corpos internos lunares para minha própria evolução e
desenvolvimento.
O esquecimento da mãe é o erro em que caíram grandes homens, que desenvolvem
uma maravilhosa personalidade, mas carecem da profundidade que dá o amor,
característica de uma essência bem desenvolvida. Este foi o erro de Gurdjieff e seus
seguidores, para não mencionar a outros tantos.
Só se pode compreender a onisapiente e oniabarcante qualidade do amor divino
quando se adora a Deus como mãe; seus cinco aspectos que são expressos na magia branca
por meio do pentagrama esotérico, estrela flamígera de cinco pontas, e são conhecidos na
Índia assim:
MAHA-SWARI: A imanifestada Prakriti, que impulsiona a volição de tudo,
conferindo a sabedoria ao projetar o delineamento do plano criador, é a serenidade imensa
da criação e a amplitude do manifestado.
MAHA-KALI: Os aspectos 3º, 5º e 7º Binah, Geburah e Netzach da Cabala
Hebraica, que não suporta a indiferença a seu chamado, pelo que submete e equilibra o
karma com amor e rigor ao mesmo tempo, é a que estimula a força e o vigor em seus
diferentes aspectos, conferindo finalmente a altura do espírito, orientando nossas energias
pelo carisma e a força magnética.
MAHA-LAKSHMI: na Cabala se expressam pelas esferas 2 ª, 4ª e 6ª, Chokmah,
Chesed e Tipheret; sabedoria, bondade e beleza, são a divina consorte de Vishnu, o Cristo
Cósmico, encerra o profundo segredo da beleza, da harmonia e o ritmo sutil da medida de
todas as coisas.
MAHA-SARASWATI: Seu quarto aspecto é o misterioso e invisível Daath, a
esfera que se põe na Árvore da Vida da Cabala, que só surge à manifestação espiritual
quando se colocaram os fundamentos, cujas raízes estão em Jesod, ou seja, a nona esfera. É
a que coordena a perfeição e a ordem, detalha a organização da realização final de todo
fruto, é a mãe, amiga, filha, esposa, é a deusa do atleta da meditação, é a ciência, a arte, é a
técnica.
MAHA-DEVI-KUNDALINI: Seu quinto aspecto, a nona e décima esfera da santa
Cabala, o fundamento e o reino, é o poder íntimo de cada coisa, é Diana, a caçadora, a
deusa da agricultura, o fogo consumidor do Espírito Santo que nos fala a Bíblia, é a Sarça
ardente do Horeb, é o vital, o mágico, o milagroso, é a virgem de Guadalupe ou as virgens
que têm a lua nos pés, é a unidade do fruto interno e externo, é a que confere a armadura
argentada do paladino gnóstico, é a pureza, felicidade e conhecimento do êxtase, é a
plasticidade sem dúvidas, é a fé solar e a que exige para seu trabalho em cada quem uma
submissão sem reservas e sem dúvida alguma.
Em Cabala se diz que a esfera de Binah, a 3a esfera, corresponde à Divina Mãe e
que contém 50 portas do entendimento, como Chokmah, a 2a. Esfera tem 32 sendas da
sabedoria. Estas 50 portas são as que se tocam com a prática do rosário, isto é, levando
rosas à virgem por um ário.
Rosa do ário, rosário, em suas três etapas do rosário: cinco gozosos, cinco
dolorosos e cinco gloriosos se entendem a etapa de possuir, a etapa do desapego e a etapa
da transcendência. Falando disto, o Mestre me aclarou com um exemplo:
“O mais belo exemplo da natureza – disse – que nos ensina nosso próprio processo
é que quando a serpente, depois de haver possuído uma bela pele, chega o momento de
mudá-la, e busca para isso um sarçal, submergindo-se nele para que no processo de entrar e
sair haja uma troca de pele, ainda sendo este doloroso, mas ao sair não só deixou a pele,
mas também vem com uma pele totalmente nova e radiante de beleza. O espinho sempre
foi um símbolo da vontade consciente. Nosso processo poderá parecer doloroso, mas é a
única maneira de conseguir a pele nova, os corpos solares, dentro dos quais se erguerá a
serpente mágica de nossos poderes conscientes. Os dois últimos mistérios do rosário estão
dedicados totalmente à ascensão da serpente ou a virgem aos céus e sua coroação como
rainha da mansão Empírea”.
Eu sabia que alguns swamis da antiga ordem saraswati, estão atualmente ensinando
a técnica da meditação transcendental, da ordem monástica fundada pelo bodhisattva de
Budha, o grande Mestre Shankara, aos pés dos Himalayas na legendária Índia. Também
sabia de uma antiga ordem chamada Vairagi. Perguntei ao Mestre se tinham alguma
conexão, e ele sabiamente me explicou: “Vairagi é uma palavra sânscrita que quer dizer
desapego; Saraswati é a consorte de Brahma, mas não há que confundir com um
matrimônio humano é para indicar o aspecto amoroso do Pai que se diz que Saraswati é
sua consorte ou companheira”.
Saraswati é a deusa dos gnanis ou meditadores, a deusa dos autênticos gnósticos, é
a Shakti potencial que o une a seu Atman inefável, a que o leva pela senda de pureza da
guna sattva, a que consegue a unidade de Shiva-Shakti, a que o converte em uma serpente
de fogo.
Shankara, o grande Mestre hindu, foi seu devoto, por isso se diz da ordem
saraswati. Shankara também desceu à nona esfera; dele se conta uma história que podes
corroborar com qualquer de seus seguidores... Em seu afã de coordenar e unificar o
pensamento hindu em sua época, que estava diversificando muito a pureza do monismo, tal
Mestre se encontrou com outro Mestre com o que se pôs de acordo em que se as
dissertações de um ou do outro fossem superiores, o vencido ficaria como discípulo do
vencedor. Shankara venceu por possuir um brilhantismo extraordinário, mas a esposa do
vencido alegou que na Índia um casamento se considera como uma unidade, portanto só
havia derrotado a metade deles. Ela, disposta a vencer Shankara, lhe fez perguntas
dificílimas sobre a questão sexual. Shankara, ao reconhecer sua ignorância sobre alguns
assuntos, conseguiu uma trégua de 30 dias, que usou, de acordo com seus discípulos mais
chegados, para pôr seu corpo em estado cataléptico e incorporar-se no corpo de um rei
chamado Amaruka, que acabava de falecer. Os súditos do rei, ao vê-lo reincorporar-se, se
assustaram, mas logo aceitaram o caso como uma ressurreição.
O realmente escabroso para Shankara foi que, desconhecendo os mistérios do sexo,
tinha que se enfrentar a um harém de 100 mulheres que possuía o rei Amaruka. Foi à
favorita, que era uma grande Mestra, quem lhe ensinou os segredos do Sahaja Maithuna e
o ajudou a levantar suas sete serpentes. Só assim pôde este grande Mestre monista vencer a
esposa do Mestre que já anteriormente havia vencido.
Ramakrisna, o grande sábio e iniciado hindu, foi um grande devoto da Divina Mãe
em seu segundo aspecto, sua Bhakti ou devoção por ela era tão grande que viveu grande
parte em estado de shamadi ou êxtase outorgado pela Divina Mãe, nos deixou em seus
ensinamentos uma narração simples, mas valiosa para compreender os três aspectos da
Prakriti ou natureza, os três aspectos da natureza - dizia ele - Sattva, Rajas e Tamas;
pureza, emoção e inércia são semelhantes a um homem que entrou em um bosque onde foi
atacado por três ladrões, um o queria matar com um punhal, outro o amarrou e outro só viu
ou foi testemunha, eles se foram; pouco depois regressou o que havia sido só testemunha e
o desamarrou e encaminhou a seu destino; estes ladrões são as gunas ou modos da
natureza.
A inércia nos incapacita e nos pode levar à morte, a emoção nos ata pelo afã de
lucro, de aquisição e de apego, a pureza nos encaminha e leva ao caminho, mas também há
que transcendê-la ““.
As mulheres santas nos devem servir de exemplo para compreender a Deus como
mãe, na Bíblia estão Ruth, Eva, Raquel, Ester, Marta, Maria Madalena, a samaritana. Elas
são símbolos do amor divino e sua forma de operar no aspecto sagrado das coisas.
Na oração católica Deus te Salve Maria (o Salve) termina com as palavras: “roga
por nós agora e na hora de nossa morte... amém”, referindo-se não só à morte física, mas
também à morte do ego, pois morrendo o ego, se torna órfão dos apetites mundanos e só
sua Mãe Divina o pode consolar ou rogar que passe às vivências transcendentais do Ser.
Finalizo este capítulo com a oração dedicada à Divina Mãe, chamada a Magnífica:
“Glorifica minha alma, senhor, e meu espírito se regozije em Deus, meu salvador,
·pôs seus olhos nesta humilde serva; desde hoje me chamarão ditosa todas as gerações”.
O senhor fez maravilhas em mim, Santo é seu Nome. Seu amor se estende por
gerações sobre os que o temem.
Mostrando o poder de seu braço, dispersei os soberbos, arroja aos poderosos de seu
trono e exalta os humildes.
Encheu de bens os famintos, despede os ricos com as mãos vazias.
Acolhe em Israel seu servo, recordando seu amor a seu filho Abraão e a promessa
feita a vossos pais, ao Filho e ao Espírito Santo, como era em um princípio,
agora e sempre pelos séculos dos séculos... Amém”.
CAPÍTULO 6
A ESPOSA SACERDOTISA
Alguém disse: “Um homem constrói mil exércitos, uma mulher constrói um lar”.
Não posso deixar de dedicar um espaço à esposa sacerdotisa, porque sentiria que o
pouco que desejo contribuir está vazio da força que o inspira. O que o homem possa
conseguir em sua existência, o deve a sua esposa. Somente com a esposa se adquire
sensibilidade para a compreensão das coisas que o intelecto não dá, somente com a esposa
se adquire a predisposição para as coisas do espírito.
Com a esposa sacerdotisa se experimenta o mais alto grau da beleza, expressado na
sublimidade do amor.
Todos chegamos a momentos em que nossa pouca força nos submerge em longos
estancamentos, como vítimas da inércia, apatia e desconsolo. É então quando minha esposa
é o estímulo de confiança que me dá a vida, me levanta e me recorda o compromisso que
tenho comigo mesmo; da mesma forma reconheci à grande companheira que deu a vida ao
Mestre Samael, sua própria esposa sacerdotisa.
Ela o levantou do lodo da terra como bodhisattva caído que era. Diz-se
constantemente que detrás de todo grande homem se encontra a presença de uma grande
mulher, e o caso do Mestre não foi uma exceção. Há muitos detalhes, virtudes, qualidades,
que ela, por sua natureza libriana, possui com espontaneidade; sua simplicidade, sua
lealdade, sua clareza no trato, sua adaptabilidade a qualquer circunstância, na pobreza ou
na abundância, sua grande paciência para lidar com um diabo como era o Mestre quando
esteve caído.
Os lauréis do triunfo, da conquista, não são só dele, são dela também; seus próprios
filhos sabem de seu rigor e sua clareza para chamar às coisas por seu nome, ou seja, sua
valiosa franqueza.
Assim como todo diretor de orquestra necessita de uma batuta, ou o capitão de um
barco necessita da bússola, assim o Mestre necessitou de sua esposa para retomar o
caminho de regresso ao Pai.
É evidente que ela é uma das cinco virgens prudentes da parábola evangélica, seu
exemplo pode ajudar, vitalizar, estimular e ampliar o horizonte de amor de toda aquela
esposa que esteja colaborando com seu esposo seja este missionário ou não. A mulher reta
encontrará nela uma verdadeira amiga, toda mulher incorreta sentirá nela o rigor de um
juiz do karma.
Em suas conversas, o Venerável Mestre nos afirmava que a mulher fecunda a
psique do homem, todo homem fecundado psiquicamente por sua esposa sacerdotisa, pode
brindar em cada uma de suas realizações progressivas na taça pletórica do amor. A mulher
com suas sutilezas, seus belos detalhes, com a profundidade de seu amor, nos confere a
capacidade de aprofundar nos simples ou complicados problemas da vida cotidiana, dando-
nos a elasticidade e a visão que tanto necessita o aspirante à iniciação.
Nos 28 anos que levo de compartir a vida com minha esposa sacerdotisa, por ser ela
uma das filhas do Venerável Mestre é, de fato, uma excelente assessora para o trabalho
esotérico gnóstico; ela empapa a todos os que integramos nossa família com a sábia
presença do avô de meus filhos. Nos narrou muitas histórias e detalhes da diabrura que
possuía o Mestre quando iniciava seu processo e como foram todos um por um morrendo
dentro do calor do lar com a ajuda de sua Venerável esposa (Mestra Litelantes).
Nossa companheira é o espelho mais próximo que Deus nos proporciona para que
possamos ver-nos tal e qual somos na vida cotidiana. É o espelho do que nos fala o
apóstolo Santiago em sua Epístola Universal, capítulo 1, versículo 23, que diz:
“Aquele que escuta a palavra sem a realizar é como o homem que olha seu rosto em
um espelho, vê a si mesmo, mas quando sai dali se esquece de como era. Mas o que não
esquece o que ouve, senão que se fixa atentamente à lei perfeita, que é a lei que nos traz
liberdade, e permanece firme cumprindo o que ela manda, será feliz no que faz”.
Desde meu início de estudante do grau elementar, estive cheio de idéias
equivocadas sobre o que é o casamento. Através do tempo vim aprendendo que nossas
idéias maravilhosas e ilusórias sempre ficarão estancadas nesse estado, se não mudamos
firmemente nossa atitude pelo trabalho sério e constante. A relação com nossa esposa vai
marcando a pauta do que devemos e não devemos fazer. Minha esposa tem uma alma
muito bela, é muito sensível e doce, em meu caso particular isso me ajudou muito a
caminhar com suavidade o sendeiro que para outros foi com dureza, aspereza, indiferença,
etc., também isso é necessário para o que não tenha tido minha sorte.
Desejo dedicar, muito sinceramente, a todas as esposas sacerdotisas que estejam
dedicadas ao trabalho esotérico gnóstico, a transcrição das palavras que um dia nos legou o
Venerável Mestre, ao pedir-lhe que nos falasse acerca do amor. Nos falou dizendo o
seguinte:
“O amor é a união de dois seres, um que ama mais e outro que ama melhor. O amor
é a melhor religião exeqüível”.
Hermes Trismegisto, o três vezes grande Deus Íbis de Thot, escreveu na Tábua de
Esmeralda: “Te dou amor, no qual está contido todo o summum da sabedoria”.
Realmente, o amor em si mesmo é o extrato de toda sapiência. Está escrito que a
sabedoria, em última síntese, se resume em amor, e o amor em felicidade.
Quando o ser humano ama se torna nobre, caridoso, filantrópico, serviçal, se
encontra em estado de êxtase. Se estiver ausente do ser que adora, bastaria um simples
lencinho, um retrato, um anel ou qualquer lembrança para entrar em estado de êxtase.
Assim é o amor.
O amor é uma efusão, uma emanação energética que flui do mais profundo da
consciência. É um sentido superlativo da consciência.
A energia cósmica que flui do fundo de nosso coração estimula as glândulas
endócrinas de nosso organismo e as põe a trabalhar. Então muitos hormônios são
produzidos e inundam os canais sangüíneos e nos enchem de uma grande vitalidade.
Na Grécia antiga, a palavra hormônio significa ânsia de ser, força de ser.
Observemos um ancião decrépito, bastaria colocá-lo em contato com uma mulher, bastaria
que estivesse enamorado, para que misticamente se exaltasse. Suas glândulas endócrinas
produziriam abundantes hormônios, que inundando os canais sangüíneos o revitalizariam
extraordinariamente. Assim é o amor.
Em realidade de verdade, o amor revitaliza. O amor desperta em nós inatos poderes
do Ser. Quando verdadeiramente está enamorado, o ser humano se torna intuitivo, místico.
Em tais instantes pressente o que em um futuro lhe há de suceder, e muitas vezes exclama:
Me parece que isto é um sonho! Temo que mais tarde encontrarás outra pessoa em
teu caminho! Tais pressentimentos intuitivos através do tempo e da distância se cumprem
exatamente. Assim é o amor.
Na Europa e Estados Unidos existe uma ordem maravilhosa. Refiro-me à Ordem do
Cisne. Tal instituição analisa cientificamente os processos disso que se chama amor.
Na Índia, o amor sempre foi simbolizado pelo cisne Kalahamsa, que flutua
maravilhosamente sobre as águas da vida.
Realmente, o cisne alegoriza em forma enfática a felicidade inefável do amor.
Observemos um lago cristalino onde o cisne se desliza sobre as puríssimas águas nas quais
se reflete o céu. Quando um do casal morre, o outro sucumbe de tristeza.
Assim é o amor, que se alimenta com amor.
Amar! Quão grande é amar! Só as grandes almas podem amar e sabem amar. Assim
disse um grande pensador.
Observemos as estrelas girando ao redor de seus centros de gravitação universal.
Atraem-se e repelem de acordo com a lei de imantação cósmica. Se amarem e voltam
novamente a amar.
Muitas vezes se viu que dois mundos se aproximam, resplandecem, brilham no
firmamento da noite estrelada. De pronto algo sucede, uma colisão de planetas, exclamam
os astrólogos desde suas torres maravilhosas. Amor, sim, se aproximaram demasiado,
fundiram suas massas, se integraram com a força do carinho, se converteram em uma nova
massa. Eis aí o milagre do amor no firmamento.
Observemos a flor. Os átomos das moléculas na perfumada rosa de ambrósia,
banhada pelos raios da lua na noite estrelada, à margem da fonte cristalina, nos falam de
amor. Giram esses átomos ao redor de seus receptivos centros nucleares.
Obviamente, a molécula em si mesma é um sistema solar em miniatura, porque os
átomos ali giram ao redor de seu centro de gravitação, como os planetas ao redor do sol,
levados por essa força maravilhosa que se chama amor.
Está escrito que se todos os seres humanos, sem diferença de raça, sexo, casto ou
cor, abandonassem sequer por um minuto seus ressentimentos, suas vinganças, suas
guerras, seus ódios, e se amassem entranhadamente, até o veneno das víboras
desapareceria.
E é que o amor é uma força cósmica, uma força que surge do vórtice de todo núcleo
atômico, uma força que surge de qualquer sistema solar, uma força que surge de qualquer
galáxia, uma força extraordinária, que devidamente utilizada, pode realizar prodígios e
maravilhas, como os que realizaram o divino Rabi de Galiléia em sua passagem pela terra.
Assim é o amor.
O beijo em si mesmo visto por muitos de forma doentia, é em realidade de verdade
a consagração mística de duas almas, ávidas de expressar em forma sensível o que
interiormente vivem. O ato sexual é a consubstancialização do amor no realismo
psico-fisiológico de nossa natureza.
Na Ásia, jamais se levantaram monumentos aos grandes heróis, nem a um Gengis
Kham com suas cruentas batalhas, mas ao amor, à mulher. É que os asiáticos
compreenderam que só mediante a força do amor podemos transformar-nos radicalmente.
A maternidade, o amor, a mulher, eis aí algo grandioso, que ressoa no coral do
espaço em forma sempre perene. A mulher é o pensamento mais belo do criador feito
carne, sangue e vida.
Um quadro bonito nos fascina, um belo pôr de sol nos encanta, um eclipse
observado de qualquer ângulo nos deixa admirados. Mas a mulher, de imediato provoca
em nós a ânsia de possui-la, a ânsia de fazer-nos unos com ela, a ânsia de integrar-nos com
ela para participar da plenitude do universo. No entanto, não devemos em modo algum
olhar o amor e a mulher em forma doentia. Devemos recordar que o amor em si mesmo é
puro, santo e nobre.
Quando alguém profana a mulher com o olhar mórbido, indubitavelmente marcha
pelo caminho da degeneração. Devemos vê-la em toda sua plenitude natural.
A mulher, nascida para a santa predestinação, é a única que pode liberar-nos, os
homens, das cadeias da dor.
O homem para a mulher é algo similar. Ela vê no homem toda esperança, toda
proteção e ela quer completar-se no homem.
Ela vê nele precisamente o princípio masculino eterno, a força mesma que pôs em
atividade tudo o que é, tudo o que foi, tudo o que será.
Homem e mulher são, em realidade de verdade, as duas colunas do templo. Não
devem estar exageradamente perto, nem tampouco exorbitantemente longe. Deve haver um
espaço como para que a luz passe entre deles.
Quando se compreende isso que se chama amor, sentimos que deve existir no fundo
do sexo um algo que pode trazer-nos em realidade a iluminação, uma questão mística, que
poderia transformar-nos em super-homens. Não há quem não pressinta que mediante o
amor se pode mudar. E em verdade, só mediante essa força maravilhosa é possível mudar.
Adão e Eva saíram do paraíso terrenal juntos, e juntos, abraçados, devem regressar
ao paraíso. Adão e Eva saíram do Éden por haver comido do fruto que se disse “não
comereis”. É óbvio que deixando de comê-lo voltaremos ao Éden.
Se pela porta do sexo saímos do Éden, só por essa porta maravilhosa poderemos
retornar ao Éden. O Éden é o mesmo sexo”.
Concluo este capítulo enfatizando o respeito que devemos observar para com nossa
esposa sacerdotisa, consumando-o com a admiração e o agradecimento.
CAPÍTULO 7
O ARCANO A.Z.F.
Que é a nebulosa?
“É o Arqueus macrocósmico. É uma mescla de sal, enxofre e mercúrio. Também
aqui está o sal, o enxofre, e o mercúrio. O sal está contido no esperma sagrado e se sublima
com as transmutações. De maneira que no Arqueus do microcosmos há também sal,
enxofre e mercúrio”.
Mestre Samael: Qual é o simbolismo dos três reis magos no drama cósmico do grande
Kabir Jesus Cristo?
“O simbolismo dos três reis magos são as cores, que representam o mercúrio
quando alguém está purificando os corpos no crisol sexual. Assim, dá uma cor negra
primeiro, logo uma cor branca, depois prossegue com o amarelo e culmina com o
vermelho. Esse é o simbolismo dos reis magos. Um é branco, um é negro e o outro é
amarelo. Quanto ao vermelho, é a púrpura que os reis vestem.
A estrela que os guia é precisamente Stela Maris, que nos guia no trabalho, é a que
faz todo o trabalho. Obviamente, se alguém quer, digamos, converter o corpo astral em
veículo de ouro puro, tem que se dedicar a eliminar o mercúrio seco. Claro que todos os
eus submergidos no plano astral surgem com uma força terrível, assustadora, horrorosa e
se processam dentro de sua corrupção, e ainda que os demônios ataquem violentamente,
devem ser desintegrados.
Quando isto ocorre se diz que se entrou no reino de Saturno, começou o trabalho do
fogo, de fogo negro, que corresponde a Saturno. Quando todos esses elementos começam a
ser destruídos e desintegrados, o mercúrio do corpo astral começa a branquear-se. Assim
que se tenha destruído a maioria desses elementos indesejáveis, já se recebe no astral a
túnica branca.
Depois há que continuar o trabalho com o mesmo corpo astral, trabalhando com o
mercúrio astral, eliminando deste mercúrio o mercúrio seco. E chega desta maneira a
possuir a cor amarela, a cor amarela dos grandes mistérios. Prosseguindo no trabalho,
chega um momento em que já não se tem absolutamente nenhum elemento indesejável no
corpo astral, quando já todo o corpo astral foi purificado e aperfeiçoado, o antimônio pode
fixar os átomos de ouro nesse mercúrio, então, o corpo astral vem a ficar de ouro puro.
Quando já é de ouro puro, é tragado pela Divina Mãe Kundalini e se recebe a
púrpura dos reis. Vejamos, pois as cores negras, brancas, amarelas e logo a púrpura que
equivale ao vermelho. O mesmo processo se dá para o corpo mental e para o causal, até
que cada um desses corpos seja de ouro puro.
Não poderia verificar-se a ressurreição do Cristo íntimo no coração do homem
enquanto esses corpos não estejam todos convertidos em veículos de ouro puro, assim se
penetram e compenetram sem confundir-se, formando o to soma heliakon, o corpo de ouro
do homem solar, que serve de envoltório para o Senhor, para o Cristo interior. Ele se
levanta de seu sepulcro de cristal e vem manifestar-se aqui. Ele se envolve com o corpo de
ouro e se expressa no mundo físico como um mahatma, para trabalhar pela humanidade.
Esse é o objetivo. Como podemos observar, já vamos vendo o significado dos reis magos e
da estrela.
Quanto ao menino, esse menino é o Cristo íntimo. Menino que é adorado pelos reis
magos. O Cristo íntimo, que tem que passar por todo o drama cósmico.
Durante o processo da alquimia o senhor interior profundo trabalha terrivelmente.
No fundo, já é dirigente da grande obra. A mesma Stela Maris trabalha sob sua direção. Ele
é o chefe da grande obra.
De modo que quando o senhor interior profundo terminou a totalidade da grande
obra, dentro desse sepulcro de cristal, nasce como criança no coração do homem. Ele tem
que se desenvolver durante o trabalho esotérico. Tem que viver o drama cósmico dentro da
própria pessoa e se encarrega de todos nossos processos mentais, volitivos e emocionais.
Em uma palavra, se faz um homem entre os homens e sofre as tentações da carne, de todos.
Tem que vencer e sair triunfante. Já são todos seus veículos de ouro puro e triunfou
e pode vestir-se com esses corpos e viver no mundo da carne, como todo um adepto
ressurrecto, triunfante no universo. Por isso é que para o senhor interior profundo, o Cristo
íntimo, são todas as honras porque só ele é digno de toda a majestade e honra, porque é
nosso verdadeiro salvador.
Esta é a essência do Salvator Salvandus, do que se fala no gnosticismo universal.
Ele tem que salvar-nos desde dentro. Ele é o Salvador Interior, o Chefe da Grande Obra, o
diretor do laboratório, o magnésio interior da alquimia, que vestido com seus corpos de
ouro é a pedra filosofal, a gema preciosa, o carbúnculo vermelho.
Quem possui essa pedra tem o elixir da longa vida, tem a medicina universal, tem o
poder de transmutar o chumbo em ouro, os pós de projeção, etc. etc.
Essa pedra é muito dúctil, elástica e perfeita. É fusível, se pode colocar dentro do
fogo, como a manteiga, sem que se perca. Pode-se colocar manteiga dentro de uma panela
no fogo e não se perde. Assim é a pedra filosofal, se colocada no fogo. Pode-se perder o
espírito metálico da pedra, que é o Cristo íntimo. Esse espírito metálico pode evaporar-se.
Quando? Quando o metal se funde. E quando se funde? Quando se derrama o vaso de
Hermes, se funde o metal, há uma redução metálica do ouro e é indubitável que o
magnésio interior se escapa. Ali se diz que o sábio perdeu a pedra filosofal, que a dissolveu
na água. Falando em outra linguagem, fora da grande obra, diria que aí o bodhisattva cai.
Em alquimia se diz claramente, que se joga a pedra na água. Que se dissolve em água no
dia sábado. Entendam que sábado é Saturno, ou seja, o reino da morte. Quem dissolve sua
pedra na água, perde sua pedra.
Todo o Gênese está relacionado com a grande obra. O primeiro dia do Gênese
corresponde ao trabalho no abismo e ao primeiro selo no Apocalipse. O segundo dia do
Gênese corresponde ao trabalho das águas, o corpo vital. O terceiro dia do Gênese
corresponde ao astral. O quarto dia do Gênese, ao mental. O quinto dia, ao causal. O sexto
dia do Gênese corresponde ao selo do Apocalipse, ao búdhico ou intuicional. Logo o
sétimo selo, o sétimo dia da criação, é o dia do descanso. O trabalho se faz nos seis dias ou
períodos de tempo, ao sétimo há descanso e ao oitavo vem a ressurreição do Senhor. De
maneira que o Gênese e o Apocalipse se complementam.
A grande obra, em síntese, se realiza em oito anos. A parte superior da grande obra
são oito anos, ainda que o período de trabalho de preparação são muitos mais. Mas já a
última síntese, o último período em que se conclui a grande obra é de oito anos. Os oito
anos de Jó, os oito anos maravilhosos. Sete dias e no oitavo há ressurreição.
A obra se realiza, pois em períodos de tempo, mas tudo isso se pode realizar em
toda uma existência bem aproveitada.
O Gênese e o Apocalipse são textos de alquimia. O Gênese é para ser vivido agora
mesmo em nosso trabalho íntimo e também o Apocalipse. O Apocalipse é um livro da
alquimia, da sabedoria”.
E como descem?
“Tomam esposa quando já não lhes está permitido. Mas não ejaculam o licor
seminal e sob a direção de um guru trabalham com todas as regras do arcano A.Z.F.
Perdem, então, a pedra. Depois de certo tempo voltam a dar vida à pedra. Fazem a grande
obra, fica a pedra mais forte ainda”.
Há que estabelecer a diferença que existe entre uma caída e uma descida. Eu não
desci, caí intencionalmente. Meus três casos foram caídos, não descidos. Na meseta central
da Ásia, cometi o mesmo erro do Conde Zanoni, tomei esposa; esta é a história proibida e
isto eu fiz. Digo-lhes, depois da experiência dos séculos, que assim é como se realiza a
grande obra.
Recordemos a Ave Fênix, é maravilhosa, coroada com coroa de ouro e suas patas e
penas todas de belíssimo ouro puro. A natureza lhe rendia culto. Cansada de viver milhões
de anos, decidiu fazer um ninho de ramos de incenso, de mirra, nardos e outros ramos
preciosos e o certo que ela se incinerou. A natureza sempre é assim, mas depois, de suas
próprias cinzas, a Ave Fênix renasceu mais poderosa. Assim há que fazer com a grande
obra, já que a pedra jogada na água fica afogada”.
MITOLOGIA COMPARADA
O BHAGAVAD GITA
Na luta por manter-me casto com a Brahmacharya solar que ensina a Gnose, em um
princípio quando caía me sentia totalmente desprovido de força, não só física senão
espiritual, foi quando valorizei em sua totalidade o que é ser casto ou estar carregado de
energia vital com o sahaja maithuna. Quando solicitava seu conselho, o Mestre me
assessorava maravilhosamente, tirando-me dos abismos mentais de negatividade em que
me afundava. Em certa ocasião me disse:
Para o trabalho harmonioso na forja dos ciclopes, ou a frágua acesa de Vulcano, é
necessário formar inteligentemente dois centros de natureza superior à que atualmente tens,
o centro intelectual superior e o centro emocional superior. Para isso são necessárias quatro
ajudas que foram postas ao alcance de todo discípulo sincero, que são:
1. A literatura sagrada, em especial o Bhagavad Gita.
2. O guia ou guru qualificado.
3. O esforço próprio, a meditação diária, a oração à Mãe Divina, a afirmação da
consciência pura.
4. A colheita dentro do relativo, se atuamos com entusiasmo, alegria, amor e
retidão, seremos em nossa relação um centro de energia e poder que
harmonizará com tudo.
Arjuna, no canto do Senhor, ou Bhagavad Gita, perguntou: Qual é a verdadeira
Gnose, o que se aprende do guru de lábios a ouvidos? O conhecimento dos livros
sagrados? O ensinado por aqueles de experiência verdadeira? Que é o que libera o homem
da escravidão de Maya? Krishna, o Cristo manifestado da Índia milenária respondeu que
tudo tem seu valor e utilidade em uma ou outra etapa de desenvolvimento. Mas nenhuma
libera do nascimento e morte, só libera o conhecimento que a própria pessoa experimenta.
O Mestre pode ajudar, mas não pode mostrar-lhe seu verdadeiro Ser. Tem que ser
visualizado por si mesmo, se tem que ser sincero e estar pelo menos livre de inveja e cheio
de anelo pela liberação, é suficiente dedicar todo ato como dedicado ao senhor, sem
nenhum desejo, esse é o segredo do desapego, melhor lermos diretamente algumas estrofes
do livro sagrado mencionado: (Capítulo 12, do versículos 6 ao 20):
(6-7). “Pois aquele que rende culto a Mim, que dedica todas as suas atividades a
Mim, cuja devoção a Mim não sofre distúrbio algum, que pratica o amor puro e sempre
medita em Mim, cujo coração se fixou em Mim, para este Eu sou o que pronto libera do
oceano da vida e da morte” (adormecidos).
(8). “Põe teu coração em Mim e atrela tua inteligência a Mim. Assim viverás
sempre em Mim, sem uma dúvida sequer”.
(9). “Mas se és incapaz de fixar tua mente em Mim, pratique a devoção e o amor
puro, para que desenvolvas um grande anelo de alcançar-me”.
(10). “Se não és capaz de agir assim, então consagre todo teu trabalho a Mim.
Somente realizando ações em meu serviço conseguirás a perfeição”.
(11). “E se não podes agir com esta consciência, então tente agir renunciando aos
resultados de teu trabalho e assim vejas a ti mesmo”.
(12). “Se não puderes fazer esta prática, então cultive o conhecimento. Mas melhor
que o conhecimento é a meditação, e melhor que a meditação é a renúncia aos frutos da
ação, pois pela renúncia se pode certamente atingir a paz”.
(13-14). “Quem não é invejoso e é um bom amigo de todos os seres vivos, e tem
compaixão, não se considera proprietário e não pensa em “mim” ou “meu”, que está livre
do ego, que mostra a mesma paz nos prazeres e nos sofrimentos e que sabe perdoar, o
discípulo sempre pleno de minha alegria, cuja alma está em harmonia e cuja determinação
é firme, cuja mente e visão internas estão postas em Mim, esse homem me ama e é muito
querido por Mim”.
(15). “Aquele cujas obras não prejudicam ninguém, que não é perturbado pela
ansiedade, que é firme na alegria e no sofrimento, é muito querido por Mim”.
(16). “Quem não depende do curso normal das coisas, quem é puro, quem é sábio e
entende o que deve fazer, quem sem perder sua paz interna vigia ambos os lados (externo e
interno), quem não treme, quem trabalha para Deus e não para si mesmo, este me ama e é
muito querido por Mim”.
(17). “Quem não é tomado pelo prazer nem pela tristeza, que não se lamenta e
não deseja, que renuncia aos bons e aos maus auspícios, este é muito querido por Mim”.
(18-19).”O homem que é igual para seus amigos e inimigos, que é equilibrado na
honra e na desonra, no calor ou no frio, na alegria ou na tristeza, no louvor e no vitupério,
que está sempre livre de contaminação, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa,
cujo lugar não é neste mundo, fixado apenas na sabedoria e na compaixão, este é muito
querido por Mim”.
(20). “Mas ainda mais caros a Mim são aqueles que têm fé e amor (Pistis Sophia)
(Te dou amor no qual está o summum da sabedoria) e aqueles que me têm como seu fim
supremo: os que ouvem minhas palavras de verdade e vêm as águas da vida eterna”. (Ver
capítulo 12 do Bhagavad Gita).
Quem não descobre em si mesmo que é o caminho, a verdade e a vida, está
perdendo o tempo e a energia, isto é, a vivência do relativo e a vivência do transcendente
devem equilibrar-se sabiamente.
Aceitar incondicionalmente ao Mestre como guia interno demandava em mim estar
na mesma posição que o príncipe Arjuna em relação a Krishna. Arjuna era um discípulo já
preparado, qualificado para receber o ensinamento mais elevado. Aceitar o guia demanda
uma relação harmônica entre o que ensina e o que recebe o ensinamento.
As práticas ou o esforço de um discípulo qualificado estão resumidas no lema do
guru deva Sivananda, que é um dos vértices do triângulo formado com o professor
Luxemil, na Argentina, estes são: ama, serve, medita, realiza.
Colhemos o que semeamos, portanto, estar no Ser, aqui e agora é manter-se com
entusiasmo, com alegria, projetando amor e retidão em nossa ação.
Então compreendi a importância dos livros sagrados para o desenvolvimento
interno, especialmente o Bhagavad Gita, admirei a atitude reverente do Mestre ao indicar-
me que empreendesse seu estudo com submissão e com expectativa cheia de assombro,
como a que ainda têm as crianças.
Deve alimentar-se um profundo e constante anelo de progresso. Não desesperar-se,
perseverar e não clamar por um êxito imediato.
Finalmente, me explicou que o drama relatado no Bhagavad Gita, a luta entre os
Pandavas e Kurushetras não é mais que o drama interno de cada discípulo em sua batalha
para liquidar de uma vez por todas com a multidão de eus que constituem o si mesmo, o
mim mesmo, o ego, que é tão só o conjunto de nossos erros. Só há unidade no Ser, e isto só
pode ir estabelecendo-se em si mesmo pelo discernimento.
Cada qual deve crescer conscientemente, exercitar seu embrião de alma, sua
essência, viver é lutar, esforçar-se, conseguir, se deve ter gratidão para com o criador de
todos os bens que consumimos e desfrutamos.
Tenhamos valor e firmeza e obtenhamos uma verificação pela experiência...
Nossos votos devem ser: castidade, ser verazes em nosso falar e não exercer a
violência.
Nossas renúncias devem ser: o apego às coisas ou pessoas, aos frutos de nossas
ações, ao ilusório do mundo.
Aquela tarde me senti agradecido com a vida, porque minha mente se havia enchido
de sol.
CAPÍTULO 10
MAÇONARIA PURA
A Cabala e a Maçonaria são uma mesma unidade, seus fundamentos são a ordem
eterna, estabelecida pelo grande arquiteto do universo. A justiça imutável de suas leis
universais não favorece nem estabelece privilégio algum para com ninguém, senão só
aquele que pela intensidade de seu anelo se introduz em sua corrente e pela grandeza de
sua alma a compreende e a realiza.
Os dias de reunião no templo maçônico para completar as explicações dos arcanos
maiores e menores do Tarot e sua vinculação com a filosofia maçônica duraram cerca de 2
a 3 anos.
A cada carta ou arcano o Mestre dedicava uma conferência completa de duas horas.
Foi então que se recolheram dados para o livro que mais tarde se converteu em um
volumoso texto intitulado “Tarot e Cabala”.
Foi onde compreendi objetivamente o significado da Árvore da Vida Cabalística,
com a distribuição do símbolo em todo templo. O Venerável, que simbolizava a Kether ou
a primeira esfera, o Mestre que leva o verbo. A segunda esfera, o orador. A terceira
representada pelo Secretário, que registra e levanta as atas de cada sessão. A quarta esfera
representada pelo Mestre de cerimônias. A quinta, pelo tesoureiro. A sexta, pela ara santa
com o esquadro e o compasso, que forma a estrela de Davi, símbolo da liberação espiritual.
A sétima esfera, que corresponde ao segundo vigilante, a coluna do sul e a letra B. A oitava
esfera corresponde ao primeiro vigilante e a coluna do norte com sua letra J. A nona esfera
corresponde à pedra bruta e a pedra bem cinzelada de 9 faces, símbolo eloqüente do
trabalho sexual. Por último, a décima esfera, que corresponde ao guardião do trabalho. O
templo de paredes transparentes, de que falam os antigos maias, é o mesmo universo,
crivado de estrelas como nos templos maçônicos, rodeado dos signos zodiacais.
O tema do Tarot é muito vasto para tratar nesta pequena obra, só indicarei que,
assim como a Bíblia, é um livro inspirado pelo Espírito Santo, o Tarot é um livro
inspirador, fonte do conhecimento talismânico, origem da loteria, do dominó, do baralho
comum e no qual está a chave da iniciação da Loja Branca.
As iniciações maçônicas de aprendiz, companheiro e Mestre são vivências objetivas
que marcam uma realidade transcendental, em forma subconsciente, dos mundos
superiores de consciência cósmica. E estão em símbolos para o intuitivo, no padrão de
medidas que é mencionado no livro de Enoch como também é chamado (o Tarot). Nos
explicava como daqui saíram as quimeras e mistificações que ainda se vêem na magia
negra.
A pedra cúbica, nos dizia, é o símbolo da realização da sublimação da matéria por
meio da cruz e sua vinculação com o triângulo do espírito. Por isso sua base é quadrada e
sua cúspide uma pirâmide, suas nove faces indicando o trabalho do verdadeiro apóstolo, na
nona esfera de Jesod da Árvore Cabalística. O apóstolo, arcano 12 do Tarot, está entre
colunas, pendurado de um pau atravessado, formando com os braços um triângulo, com as
pernas a cruz, temos aqui o mesmo símbolo da cruz e o triângulo.
Entre colunas J e B, se encontram também os arcanos 2, a Sacerdotisa, o 5, o
Hierofante, o 8, a Justiça e o arcano 18, a Lua; as colunas neste último são como duas
torres distantes no meio das quais passa um caminho distante. Tudo isto é maçonaria.
O Bereshit ou Gênese é todo o processo alquímico que tem que passar o iniciado,
para chegar a compreender toda a construção de seu próprio templo interno.
Mercabah, que significa carro, alude às rodas e aos animais misteriosos, tanto de
Ezequiel como de São João, e são nada menos que o resumo da verdadeira ciência
espiritual, o mistério divino e do mundo.
O carro é o arcano 7 do Tarot, o carro de guerra. Este arcano leva o símbolo do
lingam e do yoni, do falo e do útero, a cruz que confere a chave para obter precisamente o
Mercabah ou o To Soma Heliakon, o corpo de ouro, os corpos solares de quem trabalhou
na frágua acesa de Vulcano, o sexo.
É a armadura do corpo mental solar, o triunfo de haver cristificado os quatro corpos
de pecado, é haver polido a primeira parte da pedra bruta, o cubo. Daqui em diante já não
se trabalhará com a dualidade, senão com a vida livre em seu movimento, na fusão do
guerreiro com a Sulamita do Cantar dos Cantares, para conseguir a pirâmide ou a perfeita
medida do fogo.
Enoch significa homem divino ou homem elevado até Deus. Enoch não é um
indivíduo, mas a personificação de uma força, que deu origem à época da escritura
simbólica e à construção dos monumentos hieráticos, que foram nos antigos tempos obras
maçônicas, de símbolos dos mundos superiores, pentáculos compostos de verdades
internas e iniciáticas.
Enoch é o mesmo Trismegisto dos egípcios, Kadmos dos gregos, fundador de
Tebas e criador do alfabeto grego. Foi testemunha da construção de Tebas por meio da
corrente do som da famosa lira de Anfião. Esta mesma escola hermética fundada por este
grande Mestre nos legou este grande padrão de medidas, que marca o caminho passo a
passo, até a realização do Arcano 21, o Magnus Opus, a Grande Obra. Este livro é a obra
magistral que nos desvela todo livro sagrado, toda mitologia, toda lenda, toda arquitetura
ou obra maçônica, já que é um livro maçônico também, o mundialmente conhecido Tarot.
Sem ânimo de ferir nenhuma susceptibilidade maçônica, lamento que o que menos
gostam os maçons é a maçonaria. Caíram em tal degeneração seus verdadeiros valores que
o que mais deveria exaltar-se é o que menos se conhece.
Tive que lamentar meu retiro da maçonaria, depois que o Mestre me sugeriu fazer
labor esotérico dentro de suas filas, porque infelizmente seus verdadeiros valores já foram
esquecidos, as coisas sagradas já não se conhecem, o que se expressa nos templos através
do símbolo já está perdido.
CAPÍTULO 11
O PISTIS SOPHIA
O Pistis Sophia, foi o livro que mais custou ao Mestre escrever ou desvelar.
Dizia que forças negativas adversas se haviam concentrado para impedir que tal obra se
realizasse.
Durante o longo tempo que colaborei com ele nesta tarefa, me dei conta dos
grandes esforços que fazia para desvelar duas ou três pequenas folhas, que lhe preparava
traduzidas ao espanhol; eu também experimentava a falta de continuidade em meu
trabalho, não por falta de desejo ou porque não quisesse trabalhar.
Constantemente era interrompido, dia a dia quando começava, apesar de meu
desejo de ajudá-lo, era difícil avançar grande coisa.
Em várias ocasiões me comentou que ninguém havia sobrevivido ao intento de
desvelar este grande livro. E pensava comigo mesmo que a Ele não sucederia tal coisa.
Quando já avançávamos triunfantes quase pela metade do livro, me chamou por
telefone dizendo-me que seus quebrantos de saúde eram de vida ou morte, me surpreendeu
quando me disse que até aí deixaria a develação do Pistis Sophia, a outra metade faria mais
adiante.
Devido à naturalidade com que falava até das coisas de mais alta transcendência, eu
não quis prestar maior atenção, sem dar-me conta de que era uma grande verdade.
Simplesmente argumentei: Não diga isso, avozinho, sabe que você é tudo para nós, sem
você nossa vida carece de sentido. Ele me respondeu: “Sei que assim é, mas isto é parte de
meu processo interno”.
Sua saúde foi piorando, cada vez mais quebrantada. Com isso se confirmava o que
ao princípio não queria aceitar. Veio sua desencarnação e tive que experimentar o que
quase ninguém se deu conta. Fiquei sem pai, sem Mestre, sem amigo, sem irmão, sem
nada, com um grande vazio na alma...
Me uni à dor de sua esposa, a seus filhos que perdiam seu pai, seus netos que
ficavam sem seu belo avô, seus discípulos sem seu Mestre, seus amigos sem amigo, enfim,
todo o Movimento Gnóstico ficava acéfalo. Eu acreditava ser o mais infeliz de todos,
porque perdia cada uma dessas coisas que eles viram nele durante os dez melhores anos de
minha vida.
Infelizmente, minha relação com minha esposa ficou um pouco descuidada pelas
etapas de desenvolvimento que atravessei com o Mestre e pelo fanatismo com o
ensinamento, em que se cai quando não se tem a devida experiência. Posteriormente e
atualmente dou graças a Deus pela esposa que tenho, pois nela está a presença do Mestre
através da herança que lhe deixou com sua maneira de pensar, de atuar, e sentir.
Poderia narrar muitas vivências de quando trabalhei com ele tão estreitamente na
develação do Pistis Sophia, mas creio que este pequeno testemunho basta por agora. Por ter
relação com o livro, não incluo as seguintes histórias na seção dedicada a isso, senão a
seguir:
Aborrecido, desesperado e confuso por falta de dinheiro, eu mesmo – agora me
envergonho disso – me irritei com o Mestre e joguei as cópias sobre a mesa, dizendo-lhe
que ia para os Estados Unidos para obter dinheiro. Ele, com suma paciência e com palavra
suave, aplacou minha ira. Era o mês de setembro do ano em que desencarnou. Agora me
dou conta de minha inconsciência.
Mais adiante me orientou em certas coisas que não compreendia, relacionadas com
sua pessoa e o livro Pistis Sophia. Certo dia, trabalhando juntos, me explicou que a obra de
Jesus Cristo em sua oitava superior era o Pistis Sophia, e que o tempo não pode contra ela,
tudo passará, mas a palavra de Jesus Cristo não passará, ainda é de palpitante atualidade, e
agora vai a público em forma desvelada.
Eu sabia que Pistis Sophia quer dizer: Fé e Sabedoria, mas Ele me explicou que seu
significado era mais exato como Poder-Sabedoria, que se acha latente dentro de cada um
de nós, em nosso universo interior. Aproveitei para perguntar sobre a obra de alguns
Mestres e se o tempo a apagaria ou não. Ele me respondeu: por seus frutos os conhecereis,
a tal obra tal Mestre.
Comentou-me sobre alguns movimentos como o da M. T. (Meditação
Transcendental), do Swami Maharishi Saraswati, o movimento para a consciência Krishna,
fundado por Prabhupada, a ciência cristã de Mary Baker Eddy, etc., e me disse: enquanto
não se lute pela dissolução do ego primeiramente, não serão de muito benefícios para o
desenvolvimento espiritual.
É necessário alimentar a alma e também eliminar o ego, como nas plantas se
alimenta ou aduba a raiz, mas se elimina a erva má. Recorda: nem tudo o que brilha é ouro;
a tal obra tal Mestre. Eu pensei: o Movimento Gnóstico dirá a estatura do Mestre Samael e
isso está em nossas mãos.
Estuda ao poeta Milton em seu paraíso perdido, obra magistral em que dá a
jerarquia angélica solar como a dos anjos caídos, enriquece-te com as obras de
Shakespeare, estuda também ao iniciador do drama moderno, o dramaturgo norueguês
Henrik Ibsem. Lê sua obra “Brand” (em norueguês quer dizer “fogo”) seu Peer Gynt, e
mira-te nesse personagem, estuda como lhe aparece sempre o forjador de botões, símbolo
do forjador das almas no abismo.
É necessário escrever obras de teatro para apresentar artisticamente a Gnose nos
palcos, tal como se fazia na antigüidade nos grandes teatros gregos, egípcios, maias,
astecas e incas, etc. Prepara-te para isso e luta por escrever tuas próprias realizações que
serás assistido.
Certa noite, minha esposa Ísis sonhou que chegava um telegrama no qual se
comunicava que seu pai estava gravemente doente. Aos poucos dias chegou esse
telegrama, juntamente com mil pesos para sufragar nossas necessidades, já que o avô
(como carinhosamente o chamávamos), me pagava um salário por ajudá-lo.
Posteriormente, sobreveio sua enfermidade que truncou a develação total do Pistis Sophia,
até um futuro indeterminado.
Foi até o capítulo 91 que desvelou o Sagrado Livro Gnóstico. Como consta de 148
capítulos, ficaram sem desvelar 57 capítulos. Em sua honra transcrevo parte do capítulo 25
que seus olhos já não viram plasmado em um livro como ele tanto desejara, diz assim:
“Melquisedeque, o gênio da terra, uma e outra vez deve purificar os poderes deste
mundo, com sacrifícios e transformações terríveis”.
Os grandes cataclismos são necessários.
Melquisedeque deve assim purificar os poderes da alma do mundo e levar sua luz
ao tesouro da luz.
Uma paralela correta nos indica que dentro do microcosmos homem deve ocorrer a
mesma coisa, quando se quer chegar à auto-realização íntima do Ser.
Os trabalhadores da Grande Obra trabalham incessantemente sobre si mesmos e
sobre o universo; isto se acha especificado em todo gênesis religioso.
Nos corresponde fazer dentro de nós mesmos o que o Exército da Palavra fez no
macrocosmos.
Os servidores de todos os regedores juntavam e juntam toda a matéria de todos eles.
Trata-se de juntar o sal, o enxofre e o mercúrio para a grande obra.
Estas três substâncias sempre são moldadas em almas de homens, gado, répteis e
animais selvagens e pássaros que vêm à existência.
Paralela justa também se encontra no mercúrio seco convertido em agregados
psíquicos bestiais e selvagens, dentro de nós mesmos, aqui e agora.
Já dissemos que tais agregados personificam nossos erros.
Os receptores do enxofre e do mercúrio, simbolizados pelo sol e pela lua, olham por
cima e vêem as configurações dos cursos dos Aeones e as configurações alquímicas do
destino e da esfera, então eles as tomam da energia da grande luz.
Obviamente, os receptores do enxofre e do mercúrio são os trabalhadores da grande
obra.
Os artistas da arte hermética devem ver as configurações dos cursos dos Aeones.
Os trabalhadores da grande obra devem ver as múltiplas combinações aritméticas
da alquimia.
Os sábios da arte hermética devem ver também as configurações do destino e da
esfera.
A energia da luz, a energia criadora, nos proporciona sal, enxofre e mercúrio.
Mediante as sábias combinações do sal, do enxofre e do mercúrio, se faz a grande
obra.
Aqueles que realizaram a grande obra, a apresentam aos receptores de
Melchizedek.
Esses que realizaram a grande obra, ingressam na Ordem Sagrada de Melchizedek.
O material inútil é arrojado aos mundos infernos, ou seja, à esfera submergida que
está por baixo dos Aeones, região das bestas que personificam nossos defeitos de tipo
psicológico.
Do abismo surgem coisas espantosas, de acordo com os regedores dessa esfera e de
acordo com todas as configurações de sua revolução e tudo fica repartido entre a
humanidade.
Em última síntese, mediante a aniquilação budista e crística, desintegrando
agregados psíquicos ou mercúrio seco, podemos cristalizar alma em nós.
Os receptores da esfera que estão por baixo dos Aeones, realizam trabalhos
maravilhosos que as pessoas nem remotamente suspeitam.
Eles podem moldar tal material inútil em almas de répteis e de animais selvagens e
de pássaros, de acordo com o círculo dos regedores dessa esfera e de acordo com todas as
configurações de sua revolução, e as repartem neste mundo de humanidade, e se convertem
em almas nesta região, tal como lhes disse.
Eles podem e devem dirigir na esfera submergida que está por debaixo dos Aeones,
os processos involutivos das bestas selvagens, répteis e gado, touros furiosos e demônios
com cara de crocodilo.
Tais bestas do averno são agregados psíquicos personificando defeitos
psicológicos; criaturas do inferno; egos que provêm de humanos organismos.
Os regedores da esfera que está por baixo dos Aeones, têm poder sobre a vida e a
morte.
Sintetizando, diremos: os regentes da esfera submergida infernal, que está por
debaixo dos treze Aeones, têm poder para trabalhar com as criaturas que vivem sobre a
superfície da terra e com as bestas do abismo.
Os agregados psíquicos que constituem o ego têm formas animalescas.
Os que ingressam aos mundos infernos involuem no tempo até a segunda morte.
Mediante a segunda morte se libera a alma, a essência, então ingressa ao Éden para
recomeçar ou reiniciar novos processos evolutivos que surgirão no mineral, continuarão no
vegetal e prosseguirão no animal até reconquistar o estado humano que outrora se perdeu.
Todo este trabalho com almas de homens e de animais na superfície do mundo e na
esfera que está por debaixo dos treze Aeones, é dirigido pelos regentes do Averno”.
Devo agregar que o Pistis Sophia não é um livro esotérico mais, como há tantos nas
livrarias.
A parte que não concluiu o Mestre é a que está mais vinculada com sua mensagem,
com sua missão, sua doutrina. É necessário despertar a consciência para compreender e
assimilar seu profundo significado.
CAPÍTULO 12
ANEDOTAS
2. Em certa ocasião, meu irmão levou à casa do Mestre um amigo, diretor de teatro
na cidade de Guatemala, apesar de que se notava não muito crédulo, tinha certo carisma
agradável e não era falto de inteligência e discernimento, posto que ao chegar o Mestre deu
mostra de reconhecer imediatamente a torrente de sabedoria com a qual se defrontava.
O Mestre, ao inteirar-se de que era diretor de teatro, fez comentários sobre as 4
colunas de toda cultura, em especial a coluna da arte, comentou sobre Shakespeare e sua
obra gigantesca, que era o mesmo conde de Saint Germain, etc., e da necessidade da arte
para o desenvolvimento do centro emocional superior.
Nosso amigo lhe perguntou sobre o Sahaja Maithuna, que era o que o motivava a
conhecê-lo. Em sua resposta o Mestre narrou parte de sua experiência, e que não se
começava como Mestre, que ao princípio também havia caído, mas se havia tornado a
levantar, até fazer da magia sexual sua atividade sexual normal. Nosso amigo lhe
perguntou: E se nossa esposa não quer colaborar? O Mestre lhe disse: Quem quer se
auto-realizar, ela ou tu? Pois eu, respondeu o amigo, o Mestre sorrindo disse: e então?
4. O Mestre era bastante deficiente para dirigir em veículo, ir com Ele ao centro do
D. F. era um atentado contra si mesmo. Dizia a meu irmão Francisco que assim como Ele
tinha vocação zero para dirigir carros, meu irmão também tinha zero como organizador, e
que no caminho tinha que desenvolver isso, como lhe havia tocado a Ele fazer frente à
grande urbe do D. F.
Nos passeios Ele quase não dirigia, mas Osíris, seu filho, ou eu; esses passeios são
para mim inesquecíveis, já que era muito esplêndido, abundante, pleno, sem misérias e sem
preocupações de nenhuma classe, até nisso refletia sua mentalidade solar.
5. Em sua casa certo dia apareceu quebrada uma xícara de um aparelho que a
Mestra, sua esposa, apreciava muito, ninguém dizia nada; Ele simplesmente se dirigiu a
Ísis, sua filha mais velha e minha esposa atual, lhe indicou que a recolhesse e a pegasse
para que assim meio se solucionasse o assunto. Tudo aquilo sucedeu em um ambiente de
amor e compreensão que sempre fluía do Mestre. Todos nos assombramos de que sabia
exatamente quem havia sido, sem que ninguém houvesse indicado nada.
10. Quando vivemos em San Luis Potosi nos visitava constantemente. Foi onde
disse coisas de importância para suas vidas a três Gnósticos que já não voltei a ver. A um
disse que entre treze múmias que haviam em certo lugar no antigo Egito, ele possuía uma
que está em uma posição muito especial; este estudante se encontra atualmente retirado da
gnose. O segundo, que era um bodhisattva caído, se afastou da gnose vociferando do
Mestre. O terceiro era uma mulher que também era um bodhisattva caído, já não sei o que
foi de sua vida.
11. Falando sobre o presidente José López Portillo, a quem respeitava muito, nos
contou que também era um mestre caído, recomendando-nos ler o livro do ex-presidente,
chamado “O Senhor Don Q”. Disse que tem um alto conhecimento esotérico, que
possivelmente seja de maior profundidade que os escritos de Gurdjieff. O Senhor Don Q. é
a representação de um senhor muito elevado; em sua boca López Portillo põe uma
mensagem de grande relevância.
12. Recordo com carinho dos amigos gnósticos de coração que aconselhavam ao
Mestre entre broma e broma que corrigisse as palavras que usa em alguns de seus livros
como “a mamãe dos pintinhos, o papai de Tarzãn, o filhinho da mamãe, porque eram de
muito mal gosto. O Mestre, como homem inteligente, aceitou tal conselho, assim também
os desenhos de seu livro “O Parsifal Desvelado” que deixavam a desejar e que não
correspondiam à qualidade de ensinamento contido em seu livro. Já isto corrigido apareceu
no livro “Sim Há Karma, Sim Há Inferno, Sim Há Diabo” os desenhos do grande artista
Gustavo Doré. Juntando seus dedos, os punha no coração e dizia: não sou eu quem os
escreve, mas Aquele que está aqui dentro.
13. Que lês, Tony? Me disse uma vez que me encontrou lendo um livro de tipo
esotérico. Me empreste por cinco minutos. Eu dei a Ele e quando me devolveu, mais ou
menos nesse lapso de tempo, com um comentário bem detalhado e extenso, e até me
indicou a página em que havia que fazer uma correção. Não sei como fez, mas realmente
me deixou assombrado sua facilidade para assimilar, por meio de seus ultra-sentidos, a
informação de qualquer livro. Recordo que em Teotihuacán pegou uma pedra e fechando
os olhos nos narrou tudo o que essa pedra havia presenciado ali mesmo.
14. Apesar de que minha família não é gnóstica e sem ter um verdadeiro interesse
das coisas ocultas, foi se intrigando pela influência que o Mestre havia projetado na vida de
Gustavo, Francisco e minha. Um dia se decidiram a visitá-lo, estiveram três dias em sua
casa, depois lhes interroguei sobre sua opinião, ao que meu pai respondeu: é um tipo muito
esperto, muito vivo, muito inteligente, mas não me engana com essas bobagens, o que ele
quer é tirar dinheiro dos bobos.
Eu ri, sem sentir-me nada ofendido, senão por sua falta de sensibilidade e sua
ignorância. Depois perguntei a meu irmão mais velho, que me disse: estando em sua casa,
chegaram uns estudantes universitários (ele admirava muito os universitários), que lhe
fizeram perguntas dificílimas, mas apesar dos apuros em que o puseram, admito que as
respondeu muito bem. Vi que pelo menos nesta vida seria muito difícil de convencê-los de
que o Mestre era um mensageiro da Loja Branca, que lhes falava para despertar-lhes a
consciência, mas realmente estavam em um profundo sono... As primeiras provas pelas
quais todo estudante deve passar quase sempre começam pelo lar.
15. Tratando de encontrar o sentido da saudação gnóstica, “Paz Inverencial”,
perguntei ao Mestre sobre seu significado; ele com uma pergunta me respondeu: “Que diz
tua intuição?”. Disse que imaginava que era uma saudação reverente ao Ser de outro
gnóstico. Me indicou que estava bem, mas queria dizer PAZ INTERIOR, era a mesma
saudação de Cristo que está na Bíblia como “paz convosco”. Continuou comentando sobre
as grandes expressões como o “eu sou”, da corrente que dirige o Conde de Saint Germain,
ou o “Om mani padme hum”. “Tat Twam”. Assim isso tu és; o “innasti paro dharma” dos
teósofos. Não há religião mais elevada que a verdade ou o Ashram de Sivananda: “Hari
Om Tat Sat”. Comentou sobre a língua Watam, sua musicalidade, por exemplo, um muito
utilizado no Tibet: “Sarva Mangalam! Kubam Astu! Sarva Gatam!”.
18. Em uma das visitas que me fez a San Luis Potosi, depois do almoço nos
sentamos na sala. Começou a me olhar em silêncio. Com as pessoas que tenho verdadeira
confiança, posso permanecer em silêncio sem nenhum problema, apesar disso me deu certa
inquietação ele continuar olhando-me em silêncio; sentia seu olhar estranho, que ia até
meus mais recônditos segredos. Continuávamos em silêncio, eu baixava a vista e me fazia
um pouco de bobo; como ele continuava olhando-me, meu incômodo aumentava, não
poderia dizer com exatidão quanto tempo ficamos assim. Em outras ocasiões, já havia
estado em silêncio com ele, caminhando, ou em um parque, ou em meditação, mas daquela
vez o ambiente estava carregado de uma vibração indefinível, muito especial. Creio que
isso deve sentir o rato quando está nas mãos do gato ou o passarinho que foi hipnotizado
pela serpente, o fato era que me sentia em um estado muito estranho... Ao fim de tão
prolongado silêncio, me dirigiu estas palavras: “Tony, perdestes a oportunidade de
conhecer meu divino Daimon”... Em meu interior pensei: “agora sei a razão porque me
sentia tão inquieto e pressionado”. Foi uma vivência realmente desconhecida,
impressionante, que me infundiu muito respeito, porque compreendi a classe de Ser com o
qual compartilhava minha própria casa.
19. Quando me casei com sua filha Ísis, me falou bastante sobre o que Ele dizia
serem os três acontecimentos mais transcendentais da vida do ser humano, a saber: o
nascimento, o casamento e a morte; cada um tem sua própria transcendência e importância
na vida do homem. O nascimento abre as portas a uma nova oportunidade ao Ser para que
realize sua obra. O casamento confirma e afiança o trabalho que haverá de realizar-se. A
morte pressupõe as contas do que se fez.
20. Em certa ocasião, nos encontrávamos com o Mestre e sua esposa (Venerável
Mestra Litelantes), minha esposa Ísis e uma de minhas filhas, recém nascida, em um
supermercado instalado na área onde vivíamos. Como era difícil dedicar atenção ao
cuidado da criança e fazer as compras ao mesmo tempo, decidi ficar com ela nos braços no
carro, no estacionamento. Repentinamente, senti um profundo sono com minha filhinha
nas pernas. Logo os dois dormimos profundamente. Quase de imediato me vi em
observação e companhia de uma bela jovem que chegava dos Estados Unidos, para visitar
uma pessoa muito especial e querida para ela. Sua grande surpresa de ver que tal pessoa já
havia falecido foi para ela uma experiência de grande dor, que se impregnou em sua
consciência.
Pude vê-la derramando lágrimas com grande amargura diante da tumba de seu avô.
Sua grande dor por não havê-lo encontrado, por haver estado separada dele, veio a se
refletir nesta vida também, já que quando o Mestre regressou das compras do mercado,
com minha esposa e minha sogra, me explicou que o que havia visto era um evento da vida
passada da menina, quando ele também foi seu avô, e como através dos séculos sempre se
haviam identificado com o grande carinho que tinham um pelo outro.
Quando o Mestre faleceu, a menina, que agora já conta com 22 anos, tinha apenas 3
anos e para surpresa de minha esposa e minha, ela se encheu de lágrimas, chorando
desesperadamente, insistia em querer ver seu avozinho, e eu tive que enganá-la dizendo
que ele estava dormindo. Foi tanta sua insistência de querer convencer-se de que o que lhe
dizia era certo que a avó me disse que a levasse até seu corpo inerte e quando o viu se
tranqüilizou. Mais adiante, ao não vê-lo mais, tivemos que dizer que seu avozinho havia
ido para o céu, ao que ela, com a inocência de sua idade, insistia em que lhe mostrasse
como ir a esse lugar para poder estar com ele.
21. O dia que esta criança nasceu, o Mestre a esperava com grande amor. Os dois
estivemos muito inquietos enquanto nos anunciavam sua chegada. Seu nome, Neith, foi
sugerido por ele, como o de quase todos os meus filhos. Minha esposa Ísis ficou três dias
em um hospital localizado na área que se chama Cidade Satélite, no Estado do México.
Como o Mestre vivia no D. F., era um pouco longa a viagem para visitar
diariamente a sua filha, mas não obstante esteve ali todos os dias. Recordo que sua
habilidade para dirigir não era muito convincente; eu sabia que as coisas do mundo eram
para ele mais difíceis que o normal, porque como me explicava, era muito difícil para ele
estar aqui conosco, já que pertencia normalmente a outras dimensões. Enfatizava sua
afirmação dizendo-me que nós éramos ao revés, porque nos custava muito trabalho estar
nos mundos internos de consciência cósmica.
Era fácil entender o porquê de sua inadaptabilidade para dirigir seu carro.
Chegando para visitar minha esposa, num desses dias acabou perdido procurando o
hospital. Sua espera se fazia longa, inexplicável e desesperante, já que ao falar por telefone
com sua casa sabíamos que há muitas horas havia saído com esse rumo. Por fim apareceu
com minha sogra, que por certo se notava um pouco incomodada de tanto procurar o lugar
que não era muito difícil de encontrar. Ao perguntarmos o que havia sucedido, a avó nos
explicou o assunto, ao que o Mestre, com certa vergonha, acrescentou: porém, conheceu
Satélite, não?
Depois deste evento o avô nos predisse que em mais um ano chegaria outra criança,
que já conhecia internamente, pois já havia estado brincando com ela. Atualmente
(Herzeleide) tem 21 anos e nasceu no mesmo dia que a irmã, com a diferença de um ano,
no mesmo hospital. Mas então o avô já havia memorizado bem como chegar ao lugar.
22. Minha esposa, Ísis Gómez, tem muitas histórias para contar, mas relatarei umas
poucas das quais ela me contou de quando eram crianças; se faz evidente que o Mestre era
como o Cristo, que praticava o que predicava.
Conta minha esposa Ísis que quando eram pequenos, ele passava nove dias em
jejum no Summum Supremum e era ela a encarregada de levar-lhe água ou suco para que
pudesse continuar sua disciplina imposta por ele mesmo; ela ainda não entendia porque ele
fazia isso.
23. Quando a senhora sua mãe, a Mestra Litelantes, ia ao mercado fazer compras,
ela via um cãozinho branco que a seguia, ao regressar dizia a meu pai: “Velho, não me
enganas, esse cãozinho branco era você”. Ele respondia: “Sim, negra, esse era eu” e
continuava escrevendo tranqüilamente.
25. Quando seus filhos eram criancinhas, e ele não era muito partidário de que
fossem à escola, dizia à minha mãe (a Mestra Litelantes): “vou fazer a escolinha Gómez”.
Comprou giz, quadro-negro, cadernos e lápis; assim começou a dar-nos aulas todas as
tardes, nos ensinou a tabuada de multiplicar. A quem sabia bem a tabuada dava 20
centavos.
Na Serra Nevada da Colômbia me ensinou as primeiras letras, com um carrinho que
tinha dados com o abecedário. Me mandava dar uma volta e que fosse repetindo a letra que
me correspondia aprender. Ele ficava sentado em uns troncos estudando algum livro. Na
hora de dormir terminava o dia contando-nos contos das Mil e Uma Noites.
26. Era feliz comendo com os indígenas em seus pratos de barro e colheres de pau,
comidas raríssimas; ao vê-los, e como havia ouvido que eram maus, me enchia de medo e
me fechava no quarto de meus pais e só meu pai podia convencer-me a sair ou abrir a
porta.
Quando fazia alguma prática demonstrativa para os irmãos gnósticos, me puxava e
me levava em corpo físico, de um lado a outro. Agora compreendo que eram práticas em
estado de jinas, porque perguntava aos irmãos se haviam percebido, eles respondiam que
sim.
28. Certa vez me contou que ao acercar-se à idade de 30 anos, sentiu uma profunda
preocupação interna por estar tão identificado com as coisas do mundo e não haver
iniciado seus trabalhos esotéricos em forma séria ainda. Essa noite decidiu visitar um bar
pela última vez, para iniciar um rompimento com toda a ordem de coisas estabelecidas.
Bebeu até a saciedade e se inundou das baixas vibrações que produzem esses ambientes,
tudo fez consciente e com o firme propósito de não voltar a incorrer nesses erros que dá o
álcool e suas conseqüências.
Nunca jamais voltou a esses ambientes, nem voltou a caminhar por esses maus
caminhos. Pôs fim a uma ordem de coisas antiquada.
Penso que em qualquer dia de nossa vida, devemos provocar essa mudança na
ordem de coisas em que nos encontramos, e definir nosso destino com uma nova atitude
encaminhada para o despertar da consciência.
29. Estranhava muito ver em todos os seus livros as palavras Buddha Maitreya
Kalki Avatara e uma vez lhe perguntei seu significado, ao que ele me explicou o seguinte:
“Kalki Avatara” é certamente o Avatara para a idade do Kali Yuga, na era de
Aquário. A palavra Avatara significa Mensageiro. Inquestionavelmente, entenda-se por
mensageiro quem entrega a mensagem, e como me correspondeu o labor de entregar tal
mensagem, por ordem da Loja Branca, sou chamado mensageiro, em sânscrito: Avatara.
Mensageiro ou Avatara é, em síntese, um recadeiro, é o homem que entrega um
recado, um servidor ou servo da grande obra do pai. Que esta palavra não se preste a
equívocos: está especificada com toda claridade.
Sou, portanto, um criado, servidor ou mensageiro que estou entregando uma
mensagem. Alguma vez dizia que sou o portador de uma carga cósmica, posto que estou
entregando o conteúdo de uma carga cósmica.
Assim, a palavra Avatara não deve conduzir-nos jamais ao orgulho, pois somente
significa isso e nada mais que isso: recadeiro ou criado ou mensageiro, um servidor
simplesmente, que entrega uma mensagem e isso é tudo... Quanto aos termos Buddha
Maitreya, pois há que analisá-los um pouquinho a fim de não cair em erro, o Buddha
Íntimo é – diríamos – o Real Ser Interior de cada um de nós.
Quando o íntimo Real Ser Interno de alguém conseguiu propriamente sua
auto-realização íntima, é declarado Buddha; o termo Maitreya, no individual, representaria
um Mestre chamado Maitreya, mas do ponto de vista coletivo, entenda-se por Buddha
Maitreya, no sentido mais completo da palavra, qualquer iniciado que tenha conseguido
cristificar-se e isso é tudo.
30. A intenção de meu pai era dar o conhecimento gnóstico porque ninguém se
havia atrevido a entregar o grande ensinamento, mas ele disse: custe o que custar, eu
entrego o Grande Arcano: se vou para a prisão, vou por algo sagrado.
Foi quando escreveu “O Matrimônio Perfeito”, na maior pobreza. O livro foi escrito
no chão, porque não tinha com quê ter uma mesa. Ele começou no chão e as últimas
páginas escreveu sobre uma caixa de sabão, dessas de madeira.
Ele se dedicava a vender medicinas e tratava os enfermos com plantas, e com isso
começaram meus pais a levantar nosso lar e na casa entregava o conhecimento da Gnose.
Depois nos dedicávamos a viajar, nunca estávamos em um mesmo lugar, passamos muitos
sacrifícios...
31. Depois de sua morte sucederam fatos nos quais senti palpavelmente sua ajuda.
Como quando nos encontrávamos no aeroporto Internacional da cidade do México em fila
de espera depois de 50 pessoas, nas mesmas condições, nossas passagens eram de um dia
anterior, nos encontrávamos sem dinheiro, não tínhamos nem aonde ir para dormir, nem
regressar. Era pois um apuro sério. Minha esposa Ísis e eu nos pusemos a orar, pedindo-lhe
ajuda, com muita fé e um pouco de angústia... Grande foi nossa surpresa quando a
senhorita nos disse que havia arrumado as duas passagens, nos chamaram pelo alto-falante,
subimos com as malas e as crianças adormecidas para encontrar exatamente os lugares que
necessitávamos. Para nós este foi um grande milagre.
33. O trabalho do Mestre para cumprir com sua grande missão sempre foi muito
difícil. Recordo que quando o conheci me assombrou começar a compartir suas
maravilhosas conferências em forma humilde com um pequeno grupinho com o que nos
reuníamos duas vezes por semana. Uma vez ao mês celebrávamos os rituais gnósticos e a
cada semana a repartição do pão e o vinho, que nomeava como a unção gnóstica. Em certa
ocasião nos explicou a investigação que realizou nos mundos internos de consciência
cósmica acerca desta maravilhosa cerimônia, que transcrevo para conhecimento de todos
os estudantes. Nos falou dizendo o seguinte:
“É necessário saber, meus caros irmãos, o que significa realmente a unção gnóstica.
Em certa ocasião encontrando-me nos mundos superiores de consciência cósmica,
especificamente no mundo de Atman, além do corpo, das emoções e da mente, penetrei em
um precioso recinto, iluminado por uma luz tão clara que não fazia sombra por nenhuma
parte. Tal luz tinha vida em abundância, não provinha de nenhuma lâmpada.
Um grupo de irmãos ali reunidos ante a mesa sacra realizava esta unção gnóstica e
partia o pão e bebia o vinho. Do alto, do mundo do Logos, descia até a mesa do banquete
pascal, a força crística como átomos divinais de altíssima voltagem que se acumulavam
nesse pão e nesse vinho. A música das esferas ressoava maravilhosamente no coral do
infinito.
Depois, desci para atuar no mundo Búdico ou Intuicional, nessa região inefável
onde os mundos comungam sob a palavra de ouro do demiurgo arquiteto. O salão
resplandecia glorioso. Os irmãos, em seu veículo Búdico, ou Intuicional, para falar em uma
linguagem mais simples, diríamos em sua alma de diamante ou Vajra Sattva, como dizem
os hindus.
Continuavam em seu rito inefável, dentro das celebrações deliciosas da Sexta-feira
Santa. Partiam o pão e bebiam o vinho e oravam. A força crística que no mundo de Atman
se havia acumulado dentro do trigo e do fruto da videira, desciam agora até o grande
mundo Intuicional ou Búdico, para acumular-se também dentro desse Santo Graal e nesse
pedaço de pão que representa a carne do bendito Logos do Sistema Solar.
Ao continuar com minhas investigações, desci ao mundo das causas naturais. Ali
onde o passado e o futuro se irmanam em um eterno agora. Onde tudo flui e reflui, vai e
vem, sobe e desce.
Ao penetrar no delicioso recinto, encontrei aos mesmos irmãos no mundo causal. Desta
vez revestidos com o manas superior de que falam os teósofos, isto é, atuando como almas
humanas.
E a luz deliciosa do Logos, que havia descido da escadaria inefável dos mistérios,
desde o Atman até o Budhi, agora tomava forma e se cristalizava entre as ondas divinais do
vinho da ânfora do mundo das causas naturais. Era de admirar-se, era digno de ver-se, esse
poder logóico e esses átomos crísticos de altíssima voltagem incrustando-se no pedaço de
pão.
O panorama glorioso do Logos no mundo de Tipheret resplandece com os ritmos
do Mahaván e do Chotaván, que sustentam o universo firme em sua marcha. Desejoso de
continuar com essas investigações, queria saber ainda algo mais sobre o sacro oficio.
Desci ao mundo da mente cósmica. É óbvio que dentro daquele recinto no mundo
do manas inferior, ainda entre os mesmos esplendores deliciosos e inefáveis de Atman,
nem os reflexos de Budhi, nem o delicioso brilho do Manas Superior ou mundo causal,
havia empalidecido todo, mas ainda se sentia ali o sabor do Logos.
Dentro do santuário sacro, na mesa do banquete pascal, estavam o pão e o vinho.
Continuavam os irmãos com seu rito, partindo o pão para comê-lo e beber na ânfora sacra.
Lá de cima, do mundo de Urânia, do mundo do Paracleto universal, representado tão
vivamente pelo cisne Kalahamsa que voa sobre as águas da vida, desciam as forças
crísticas, pela luminosa escadaria de Atman, do Budhi, do Manas superior etc., até
cristalizar totalmente no pão e o vinho dentro do mundo da mente.
Ali não terminaram minhas investigações, queria continuar, e revestindo-me com o
corpo sideral ou corpo kedsjano, como se diz esotericamente, entrei no santuário astral. Os
esplendores diminuíram ainda mais. As flores deliciosas do grande alaya do universo
diminuíram notavelmente. As harmonias do diapasão cósmico antes ressoavam como um
milagre bendito no cálice de cada flor do mundo de Atman, ou do Budhi e do Manas
superior, agora se haviam eclipsado lamentavelmente. Mas continuava o ritual dentro do
templo e os átomos crísticos, descendo da região inefável do Maha Choham, cristalizavam
também no pão e no vinho da transubstanciação.
Um passo mais e entrei na região do lingam sharira dos teósofos, nessa quarta
vertical onde somente podemos mover-nos com o corpo vital, e quando este tenha sido
devidamente estigmatizado, traspassado completamente pela lança. Ao penetrar no recinto
da quarta vertical, vi os mesmos irmãos celebrando seu ritual. As vibrações
resplandecentes do Logos tomavam forma ali para o grande banquete.
Um esforço mais e consegui assomar-me ao mundo meramente físico. Então, com
assombro místico descobri o insólito. Sete irmãos no total, cheios de verdadeira adoração,
celebram com seu corpo físico o ritual, o mesmo que nestes instantes vamos celebrar.
E esses átomos crísticos que haviam descido do Paracleto Universal através das
escadarias luminosas das diversas regiões do cosmos infinito, coagulando-se, cristalizando
no pão e no vinho do grande banquete, passavam definitivamente aos organismos físicos
para incitar todos os átomos orgânicos ao trabalho da cristificação, para impulsiona-los
com seu dinamismo, com seu verbo, para alimentá-los dentro das harmonias universais,
para impulsiona-los em forma séria para a auto-realização.
O conjunto de átomos deuses que constituem o organismo e que obedecem ao
átomo Nous, que está no coração, tremem de emoção quando os átomos do Logos Solar,
coagulados no pão e no vinho, penetram no organismo para nossa cristificação. É óbvio
que necessitamos uma ajuda crística e ela vem a nós com a santa unção gnóstica. Nós
somos débeis criaturas que devemos pedir auxílio ao Logos. Obviamente, este vem com o
pão e o vinho.
Por isso foi que o Grande Kabir disse: “O que come a minha carne e bebe o meu
sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no dia póstero. O que come a minha carne e
bebe o meu sangue mora em mim e eu nele. Dizendo isto, meus queridos irmãos,
oremos...”
Para finalizar, narrarei algo que me aconteceu quando o Mestre já se encontrava
desencarnado. Na república de El Salvador, me encaminhava a vender uns cassetes de suas
conferências gravadas aos gnósticos salvadorenhos, me acompanhava seu filho mais velho,
Imperator.
Ele bateu em um carro que estava parado, fui projetado para frente, quebrando o
vidro dianteiro com a cara, fazendo uma grande ferida na testa. Estava sangrando pelo
nariz, atarantado com a vista anuviada pelo sangue; Imperator, mancando, foi buscar ajuda,
coisa que não pôde porque ficou a meio caminho.
Em meio à minha turbação, ouvi a voz de uma pessoa, que até agora nunca soube
quem foi, e que me disse: “Não te preocupes, eu te conheço, te levarei a um lugar seguro”,
continuou falando dando-me alento, enquanto me levava ao hospital. Não podia vê-lo pelo
sangue que corria por meus olhos. Logo me vi em uma cama, me fizeram uma cirurgia que
durou quatro horas.
Durei uma semana convalescente, na metade dessa semana senti uma noite
aproximar-se de mim uma pessoa com sapatos de borracha, só percebia sua presença,
acreditava ao princípio que era a enfermeira, mas logo compreendi que era uma entidade
espiritual.
Comecei a sentir a presença do avô, o calor de sua mão e seus costumeiros passes
magnéticos em minha cara, até que já não senti nenhuma dor nem mal-estar; estando cheio
de júbilo interno, agradeci tão grande oportunidade e, enquanto se afastava, minha alma se
encheu de humildade e de uma paz que excede a toda explicação com palavras.
Não é em minha memória, mas sim no coração onde tenho gravadas com caracteres
indeléveis as vivências cotidianas. Recordo sua saudação de Paz Inverencial, o qual fazia
com muito entusiasmo. Suas “boas noites” tão cheias de identificação pela tarefa realizada
juntamente, e por muitas coisas mais, pois cada convivência era um evento por si só cheio
de sua natural sabedoria e saturado do transcendental de suas palavras.
De instante em instante com sua relação existia a bela possibilidade de um
desenvolvimento harmonioso da consciência. A lembrança desses anos estimula em minha
alma esse anelo íntimo por continuar trilhando o sendeiro difícil que conduz à liberação
final, à luz ou ao som primordial.
Poderia encher este pequeno livro de muitas histórias mais que me escapam, mas
creio que isto é suficiente para exemplificar o ensinamento gnóstico. O realmente
importante não é o que eu guardo com essas lembranças, mas o que seja capaz de realizar
com isso e o que possa ser de utilidade para cada pessoa que leia estas linhas.
Somente assim, com essa força em nosso interior, poderá fazer chegar a luz às
espessas trevas que cobrem atualmente o mundo que é nosso lar no grande concerto dos
mundos infinitos de nossa galáxia.
O princípio é igual ao fim, mais a experiência do ciclo. Estou agora igual que ao
princípio, com minha personalidade atual, a mesma essência através de minhas vidas com
certa experiência e minhas circunstâncias, ou meu acumulado karma. E assim como o
atleta com bom treinamento pode ganhar uma medalha ou um troféu, estou treinando para
levar esse troféu no ginásio que me dá a própria vida, como é meu próprio lar, meu
trabalho material, meu mundo.
Onde exista um Mestre haverá um discípulo, onde exista uma meta haverá um anelo por
realizá-la, nisso se involucram valores como a verdade, a harmonia, a beleza e toda virtude
que se resume no summum da sabedoria, que é o amor.
Compreendo que tenho uma grande responsabilidade comigo mesmo pela grande
oportunidade em que meu ser me colocou. Ao visitar os lumisiais onde se dá o
ensinamento, percebo o grande interesse com que me perguntam acerca dos anos que
convivi com o Mestre e a inquietude de conhecer como é um Ser de seu nível de
consciência.
Se pode descrever com palavras a experiência que eu vivi e captei através de
anedotas que palidamente descrevem o que foi um Ser como o Mestre, mas conhecê-lo
verdadeiramente implica viver seu ensinamento.
Ao escrever estas letras sinto a mesma alegria que experimento quando ouço os
cassetes de algumas conferências que gravei quando o acompanhei em suas viagens e
terceiras câmaras. Me alegra muito que os missionários tenham esse material didático, que
é prova de que em algo servi ao Venerável Mestre.
Em todo lugar onde viva sempre estarei em contato com a grei gnóstica. Não estou
na ação de divulgação do ensinamento, mas desejo a todos o maior dos êxitos em seu
nobre labor.
Que atem a sua carreta de trabalho aos dois bois do discernimento e do desapego,
que não seja um assunto competitivo nem de dinheiro porque isso suja a pureza da Gnose.
A iniciação não se alcança por grupos, porque é um assunto individual de muito anelo e
amor por nosso trabalho pessoal.
Não disse nada de novo nem nada transcendente. Só é meu desejo cooperar em
alguma forma com os que trabalham por canalizar a carga cósmica que o Mestre depositou
em nosso planeta.
Quero aprender a amar meus semelhantes, como nos ensinaram os grandes
iniciados. Anelo verdadeiramente transformar-me.
Sinceramente convido a todos os que estão na luta a que constituamos o exército de
que tanto falou nosso Mestre.
Só me resta repetir o que disse na introdução deste pequeno trabalho.
“Que vosso Pai que mora em segredo e vossa Divina Mãe Kundalini os bendigam.
Paz Inverencial”.
INTRODUÇÃO
1 ENCONTRANDO O CAMINHO
2 A ORDEM REVOLUCIONÁRIO DA GNOSE
3 ENSINAMENTOS DO MESTRE
4 SOBRE AS CORRENTES DO SOM E O VERBO
5 A DIVINA MÃE
6 A ESPOSA SACERDOTISA
7 O ARCANO A. Z. F.
8 MITOLOGIA COMPARADA
9 O BHAGAVAD GITA
10 MAÇONARIA PURA
11 O PISTIS SOPHIA
12 HISTÓRIAS