Papéis de Gênero - Seleta - 1949

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Trecho final da Portaria nº172 de 15 de julho de 1942, que apresenta as “Instruções metodológicas para

execução do programa de Português” (extraído da Seleta Português Prático para a 3ª e a 4ª série ginasial,
5ª edição, de José Marques da Cruz, publicada em 1949. Ortografia atualizada).

IX. Observações finais


1. Para a realização do curso, além dos livros da biblioteca escolar, de que os alunos se devem utilizar
para leituras e consultas, deverão eles ter consigo os seguintes compêndios:
a) livro de leitura, num volume para a primeira e a segunda séries e noutro volume para a terceira e
quarta;
b) gramática, em um volume, para as quatro séries;
c) dicionário portátil, em um volume, também para as quatro séries.
2. O livro de leitura, nos seus dois volumes, deve conter – além das páginas que satisfazem, de um
modo geral, à prescrição do programa para cada série – matéria de leitura orientada em dois sentidos: um, que
interesse mais às meninas, e o outro, aos rapazes. Os textos destinados de preferência à atenção das meninas
devem encarecer as virtudes próprias da mulher, a sua missão de esposa, de mãe, de filha, de irmã, de
educadora, o seu reinado no lar e o seu papel na escola, a sua ação nas obras sociais de caridade, o cultivo
daquelas qualidades com que ela deve cooperar com o outro sexo na construção da pátria e na ligação
harmônica do sentimento da pátria com o sentimento da fraternidade universal. Os excertos que visarem
principalmente à educação dos alunos do sexo masculino procurarão enaltecer aquela têmpera de caráter, a
força de vontade, a coragem, a compreensão do dever, que fazem os grandes homens de ação, os heróis da
vida civil e militar e esses outros elementos, não menos úteis à sociedade e à nação, que são os bons chefes de
família e os homens de trabalho, justos e de bem.

Textos presentes na Seleta Português Prático para a 3ª e a 4ª série ginasial, 5ª edição, de José Marques
da Cruz, publicada em 1949. Ortografia atualizada.

O homem e a mulher
O homem é a mais elevada das criaturas. A mulher é o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem
um trono; para a mulher, um altar. O trono exalta; o altar santifica. O homem é o cérebro; a mulher, o coração.
O cérebro produz a luz; o coração, amor. A luz fecunda; o amor ressuscita. O homem é o gênio; a mulher,
anjo. O gênio é mensurável; o anjo, indefinível. A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da
mulher, a virtude extrema. A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade. O homem tem a supremacia;
a mulher a preferência. A supremacia representa a força; a preferência representa o direito. O homem é forte
pela razão; a mulher é invencível pela lágrima. A razão convence; a lágrima comove. O homem é capaz de
todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece; o martírio sublima. O homem é o
código; a mulher, o evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa. O homem é um templo; a mulher,
um sacrário. Ante o templo, descobrimo-nos; ante o sacrário, ajoelhamo-nos. O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter um cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é um oceano; a mulher um lago. O
oceano tem a pérola que o embeleza; o lago tem a poesia que o deslumbra. O homem é a águia que voa; a
mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma. O homem tem um fanal: a
consciência; a mulher tem uma estrela: - a esperança. O fanal (1) guia; a esperança salva. – Enfim o homem
está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu!...
Vítor Hugo
(grande escritor francês do século XIX)
(1) fanal = farol
[Extraído da página 33 da referida Seleta – texto indicado para a 3ª série ginasial]

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A missão da mulher
Na compreensão de todos os educadores do passado, a missão da mulher era ser mãe, esposa, filha
obediente e submissa, ser dependente em tudo e por tudo do homem, seu senhor.
O problema, porém, que a Democracia impõe aos educadores modernos é bem diverso. É necessário
preparar a mulher para ser uma mãe excelente, uma esposa exemplar, uma filha dedicada, e armá-la, ao mesmo
tempo, de tal sorte, que ela possa combater a sua própria vida, fazer o seu próprio destino, conquistar a
independência e a dignidade, - isto no caso de não ter um marido, um pai, um irmão, que a amparem contra
as agruras da vida contemporânea, como em nenhum tempo, dura e cruel.
Não se trata de emancipar a mulher. Trata-se, não de criar viveiros de doutoras a falarem como livros,
mas de mulheres de corpo são e escorreito (1), de alma lavada e pura, que tenham a possibilidade de aprender,
em escolas oficiais, a cumprir os seus deveres complexos de esposas, de donas de casa, de companheiras
inteligentes e ilustradas do homem; e, fora de casa, de poder, com seu trabalho honesto, ganhar o seu pão ou
o de seus filhos pequeninos, que lhes ficaram na viuvez, ou o dos pais velhos e enfermos, que já não possam
trabalhar.
Maria Amália Vaz de Carvalho
(escritora port. contemporânea; do livro: “As nossas filhas”)
(1) sem lesão, perfeito.
[Extraído das páginas 121 e 122 da referida Seleta – texto indicado para a 4ª série ginasial]

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