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Thieme
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Nota: O conhecimento médico está em constante evolução. À me-
Dados Internacionais de Catalogação dida que a pesquisa e a experiência clínica ampliam o nosso saber,
na Publicação (CIP) de acordo com ISBD pode ser necessário alterar os métodos de tratamento e medica-
ção. Os autores e editores deste material consultaram fontes ti-
B927a das como confiáveis, a fim de fornecer informações completas e
Budel, Vinicius Milani de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No
ABC da Mastologia / Vinicius Milani Budel, Maria Helena entanto, em vista da possibilidade de erro humano por parte dos
Louveira, Lucas Roskamp Budel, Teresa Cristina Santos autores, dos editores ou da casa editorial que traz à luz este traba-
Cavalcanti. - Rio de Janeiro : Thieme Revinter Publicações lho, ou ainda de alterações no conhecimento médico, nem os au-
Ltda, 2021. tores, nem os editores, nem a casa editorial, nem qualquer outra
parte que se tenha envolvido na elaboração deste material garan-
466 p. : il. : 21cm x 28cm. tem que as informações aqui contidas sejam totalmente precisas
Inclui bibliografia ou completas; tampouco se responsabilizam por quaisquer erros
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outras fontes as informações aqui contidas. Sugere-se, por exem-
1. Medicina. 2. Mastologia. I. Budel, Vinicius Milani. plo, que verifiquem a bula de cada medicamento que pretendam
II. Louveira, Maria Helena. III. Budel, Lucas Roskamp, IV. administrar, a fim de certificar-se de que as informações conti-
Cavalcanti, Teresa Cristina Santos, V. Título. das nesta publicação são precisas e de que não houve mudanças
CDD: 610 na dose recomendada ou nas contraindicações. Esta recomenda-
2021-2961 CDU: 61 ção é especialmente importante no caso de medicamentos novos
ou pouco utilizados. Alguns dos nomes de produtos, patentes e
design a que nos referimos neste livro são, na verdade, marcas
registradas ou nomes protegidos pela legislação referente à pro-
priedade intelectual, ainda que nem sempre o texto faça menção
específica a esse fato. Portanto, a ocorrência de um nome sem a
designação de sua propriedade não deve ser interpretada como
Contato com os autores: uma indicação, por parte da editora, de que ele se encontra em
Maria Helena Louveira domínio público.
mhlouveira@gmail.com
Vinicius Milani Budel e Lucas Roskamp Budel
clinicabudel@hotmail.com
Teresa Cristina Santos Cavalcanti
tecava@yahoo.com.br
Thieme USA
http://www.thieme.com
A todas as pacientes que me mostraram a importância da empatia e que todos os dias me impõem a
necessidade de melhorar como ser humano.
Àquelas que sempre me impulsionam para a realização de novos sonhos e desejos e que embarcam
nos meus projetos de vida. São elas, as médicas e funcionárias do setor de Mamografia da Clínica Cetac –
Centro de Diagnóstico por Imagem, em Curitiba.
Aos meus pais, Armando e Irene, que sempre me incentivaram a trilhar o caminho dos estudos e do
aprimoramento constantes, para que eu oferecesse às minhas pacientes o melhor que o conhecimento e
a experiência pudessem alcançar.
Ao meu esposo, Mauro, pela presença e apoio constantes.
E, ao meu bem maior, meu filho Yan Lucas.
A gradecemos a todos os colaboradores desta edição pelo precioso tempo dispensado e pelo empenho
em produzir capítulos atualizados e sintéticos que contribuíram para a instrução básica em Mastologia.
Agradecemos também a todos os profissionais envolvidos no tratamento do câncer de mama no Hos-
pital de Clínicas da UFPR.
v
PREFÁCIO
N enhum livro médico substitui a constante atualização em ciência baseada em evidência, necessária
aos cuidados do diagnóstico e tratamento de nossos pacientes do dia a dia. Dispomos hoje de acesso
fácil aos periódicos médicos e aplicativos de atualização permanente da mais alta qualidade científica e
isto possibilita maior segurança ao trabalho médico. Entretanto, este acesso exige uma sala de entrada
que oriente os caminhos deste universo de conhecimentos publicados.
O ABC da Mastologia surgiu em virtude da constante pergunta dos alunos residentes e pós-graduandos
aos nossos profissionais da cadeira e do serviço de Mastologia: Por onde eu começo? Para esta resposta
são necessários os conhecimentos básicos da Mastologia construídos ao longo dos últimos 50 anos, des-
de Madeleine Lejour, Haguenssen, B04, Milan I, EBCTCCG etc., que orientaram esta sala de entrada. Nosso
entendimento foi que estes pilares constituem o despertar do conhecimento e da pesquisa constante que
balizam o caminho do mundo da Mastologia.
Demos ênfase aos procedimentos iniciais do diagnóstico precoce especialmente nas lesões não pal-
páveis que exigem trabalho multidisciplinar simultâneo para deixar claro que não há melhor caminho
da chance real de cura das neoplasias malignas da mama. Infelizmente, estes procedimentos acham-se
em estado de penúria camuflada em nosso país, o que acarreta em custo exagerado do tratamento nos
estadiamentos mais avançados.
Este livro está formatado para orientar as condutas básicas que abrangem os caminhos mais onerosos
dos casos avançados do câncer de mama, sem deixar de lado os tratamentos sistêmicos neoadjuvante e
adjuvante, e as bases para a reconstrução simultânea necessária à correção dos defeitos que os tratamen-
tos cirúrgicos causam ao conjunto das mamas.
Sem a pretensão de esgotar todos os assuntos que compreendem o tratamento multidisciplinar das
doenças benignas e malignas da mama, este trabalho se propõe a facilitar o caminho da Mastologia e, ao
longo do tempo, o compromisso da atualização contínua destes capítulos.
vii
COLABORADORES
ALESSANDRA AMATUZZI CORDEIRO FORNAZARI ANGELA BESCOROVAINE
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Obstetrícia (FEBRASGO) Título em Ultrassonografia Geral pelo Colégio Brasileiro de
Especializanda em Mastologia pelo Hospital Nossa Senhora das Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Graças – Curitiba, PR Certificado de Área de Atuação em Mamografia pela AMB
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e
ALESSANDRA TESSARO Diagnóstico por Imagem (CBR)
Graduada em Fisioterapia pela Universidade Luterana do Médica do Setor de Mama da Clínica CETAC – Diagnóstico por
Brasil (ULBRA) Imagem em Curitiba, PR
Especialista em Fisioterapia em Oncologia pela Associação
Brasileira de Fisioterapia em Oncologia (ABFO) ÂNGELA FLÁVIA LOGULLO WAITZBERG
Fellow do Instituto Europeo di Oncologia – Milão Professora Adjunta do Departamento de Patologia da Escola
Mestre em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Paulista de Medicina da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) São Paulo (EPM-Unifesp)
Fisioterapeuta do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento, RS Chefe da Patologia Mamária do Departamento de
Docente Titular da Pós-Graduação em Oncologia do Hospital Patologia da EPM-Unifesp
Moinhos de Vento, RS
ANNA PAULA DE ALMEIDA MAIATO
ALFREDO CARLOS S. D. BARROS Médica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública em
Professor Livre-Docente de Ginecologia pela Faculdade de Salvador, BA
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Cirurgiã Geral pelo Hospital Ana Nery em Salvador, BA
Professor de Pós-Graduação da Disciplina de Fisiopatologia Mastologista pelo Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, SP
Experimental da FMUSP Membro Titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Responsável pela Residência Médica de Mastologia do Hospital
ANTONIO LUIZ FRASSON
Beneficência Portuguesa
Mastologista do Centro de Oncologia do Hospital Albert Einstein
ANA CAROLINA RIBEIRO CHAVES Professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade
Coordenadora do Serviço de Oncogenética do Hospital Alemão Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Oswaldo Cruz (HAOC) Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Oncologista Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de
BETINA VOLLBRECHT
São Paulo (ICESP-USP)
Professora Adjunta da Escola de Medicina da Pontifícia
Especialização em Oncogenética pelo City of Hope, EUA
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
ANA PAULA MARTINS SEBASTIÃO Mestre e Doutora em Gerontologia Biomédica pela PUCRS
Médica Patologista Titulada pela Sociedade Brasileira de Master em Mastologia Umberto Veronesi (UDIMA MADRID)
Patologia (SBP)
BRUNO RIBEIRO BATISTA
Mestre em Tocoginecologia pela Universidade Federal do
Oncologista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Paraná (UFPR)
Doutora em Clínica Cirúrgica pela UFPR CAMILA VITOLA PASETTO
Pós-Doutora em Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade do Médica pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná
Paraná/Memorial Sloan Kettering Cancer Center Ginecologista/Obstetra pelo Hospital de Clínicas da Universidade
Professora Adjunta de Anatomia Patológica do Curso de Federal do Paraná (UFPR)
Medicina da Universidade Federal do Paraná e da Universidade
Positivo – Curitiba, PR CARLOS GENÉSIO BEZERRA LIMA JUNIOR
Médico Radio-Oncologista da Radioterapia São Sebastião, SC
ANELISE ROSKAMP BUDEL
Dermatologista pela Sociedade Brasliera de Dermatologia (SBD) CAROLINA MALHONE
Especialista em Micologia Médica pelo Instituto de Medicina Mastologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Tropical da Antuérpia, Bélgica Paulo (FMUSP) e pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Professora de Dermatologia na Faculdade Evangélica Mackenzie, PR Médica Assistente no Núcleo de Mama do Centro de Oncologia do
Hospital Albert Einstein
ix
x Colaboradores
1 EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA............................................................................................................................ 1
Ruffo Freitas-Junior ▪ Leonardo Ribeiro Soares ▪ Rosemar Macedo Sousa Rahal
3 SEMIOLOGIA MAMÁRIA.................................................................................................................................................... 19
Rubens Silveira de Lima ▪ Alessandra Amatuzzi Cordeiro Fornazari ▪ Leonardo Paese Nissen
xv
xvi Sumário
41 ONCOFERTILIDADE.......................................................................................................................................................... 405
Ricardo Ditzel Delle Donne ▪ Danilo Martins Rahal ▪ Stênio Deslandes de Abreu Mafra Neto ▪ João Koslov Neto
Gênero Feminino
Trata-se do principal fator de risco, com risco proporcional de
1:100 em relação ao gênero masculino. Essa diferença ocorre, Histórico de Câncer de Mama e Ovário
principalmente, em decorrência da exposição hormonal ao Mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou ovário
longo da vida e pela própria composição tecidual da mama em parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) têm risco
masculina.1 aumentado de câncer de mama, principalmente se houver
ocorrido na pré-menopausa. Não obstante, casos ocorridos
Idade em parentes de segundo grau, no gênero masculino ou de
O processo de envelhecimento é um importante fator de ris- ocorrência bilateral, também determinam aumento de risco,
co para o câncer de mama em razão do acúmulo de novas apesar de diferentes riscos relativos (RR).1
mutações genéticas e pela dificuldade progressiva no reparo Além disso, o próprio antecedente pessoal de câncer de
dessas alterações. Assim, o risco a curto prazo de câncer de mama constitui um fator de risco para a doença, tendo em
mama em uma mulher de 70 anos é cerca de 10 vezes o de vista que 40% de todos os novos cânceres diagnosticados en-
uma mulher de 30 anos.4 tre sobreviventes de câncer de mama são novas neoplasias
1
2 CAPÍTULO 1
malignas da mama. Dessa forma, mulheres com o antecedente de antecedentes familiares e a visualização de atipias celula-
pessoal têm o risco 1,5 maior de apresentar novo câncer de res.9 Dessa forma, as lesões não proliferativas determinam um
mama em relação à população em geral, chegando a 4,5 se RR entre 1,1 e 1,4. As lesões proliferativas sem atipias, como a
diagnosticado antes dos 40 anos.1,2 adenose esclerosante, o papiloma e a hiperplasia ductal usual
apresentam RR de 1,9. Por fim, as lesões proliferativas com
Síndromes Genéticas Hereditárias atipias determinam um RR de 4,2 a 6,6.8,9 Nesses casos de
Existem diversas alterações genéticas que aumentam o risco hiperplasia, a incidência de câncer de mama aumenta pro-
de câncer de mama, independentes do histórico familiar pré- porcionalmente conforme o número de focos de atipias10 e
vio. As mutações mais importantes ocorrem nos genes BRCA1 conforme o tempo de acompanhamento.11
e BRCA2, com risco vitalício de cerca de 70%. Entretanto, mu-
tações em outros genes de elevada e moderada penetrância Densidade Mamária
(TP53, PTEN, CDH1, CHECK2, PALB2, entre outros) também Mulheres portadoras de mamas densas apresentam risco au-
determinam diferentes riscos individuais de câncer de mama mentado para câncer de mama, principalmente na pós-me-
e/ou outros sítios específicos.1 nopausa. O risco relativo (RR) varia de 1,5 a 4,5, conforme o
aumento proporcional da densidade mamária vista à mamo-
Histórico Menstrual, Gestacional e Lactacional grafia. Atualmente, a densidade mamária pode ser avaliada
A ocorrência de menarca em idade precoce (inferior a 12 anos) por meio de porcentagem, avaliação subjetiva ou softwares
e de menopausa tardia (após os 55 anos) determina aumen- específicos para essa função.2,12
to de risco pouco elevado, com risco relativo inferior a 1,5 na
maioria dos estudos reportados. Tal aumento de risco se jus- Fatores Antropométricos
tifica em decorrência da maior exposição tecidual ao estímulo A obesidade e o perfil visceral de acúmulo da gordura também
hormonal. A nuliparidade e a primeira gestação a termo após estão associadas a aumento do risco para neoplasia mamá-
os 30 anos de idade também constituem fatores de risco em ria.13,14 Entre os possíveis mecanismos biológicos envolvidos
razão do processo de maturação histológica que ocorre nos nesse processo, destaca-se o aumento nos níveis de estro-
lóbulos mamários durante a gestação. Por fim, a amamentação gênio, os fatores imunológicos relacionados com o processo
pode diminuir o risco de câncer de mama, especialmente se inflamatório crônico, a resistência à ação da insulina e o au-
a mulher amamentar por mais de 1 ano. Períodos inferiores mento da densidade mamária.13,15
a 1 ano determinam menores benefícios, o que geralmente
ocorre nos países desenvolvidos.1 Sedentarismo
Em estudo caso-controle desenvolvido com população brasi-
Terapia Hormonal leira, as mulheres sedentárias apresentaram duas vezes mais
Usuárias atuais ou anteriores de terapia de reposição hormo- chances de desenvolver câncer de mama.16 Nos últimos anos,
nal (TH) para o climatério e pós-menopausa têm maior ris- diversos estudos têm associado à prática de exercícios físicos
co de serem diagnosticados com câncer de mama. Em 2019, à redução do risco de câncer de mama, principalmente em
uma metanálise com 108.647 mulheres descreveu aumento mulheres na pós-menopausa e que não foram expostas à te-
de risco proporcional ao tempo de uso e à dosagem hormonal, rapia de reposição hormonal.13,17 Por outro lado, a individuali-
que permanecia elevado por mais de 10 anos após a inter- zação do RR relacionado com o sedentarismo ainda se mostra
rupção do uso.5 Por outro lado, a atualização do estudo WHI conflitante na literatura, provavelmente em decorrência da
apresentada em 2019 descreveu resultados conflitantes, com interação com outros fatores de risco modificáveis.17
aumento de risco entre as usuárias de terapia combinada e
efeito protetor nas usuárias de estrogênio isolado.6 Consumo de Álcool e Tabagismo
O consumo de álcool é associado à ocorrência do câncer de
Anticoncepcionais Hormonais mama tanto para mulheres na menacme quanto para aquelas
A utilização de contraceptivos hormonais parece aumentar o na pós-menopausa.16 O risco individual é dose-dependente e
risco de câncer de mama, principalmente quando utilizados aumenta conforme o tempo de exposição.18 Por outro lado, os
por via oral, por tempo prolongado e em altas doses. Em estu- dados acerca do tabagismo ainda são divergentes na litera-
do populacional que avaliou 1,8 milhão de mulheres, o risco tura, com descrição de aumento de risco em alguns estudos
de câncer de mama foi maior entre as mulheres que atual ou epidemiológicos.19
recentemente usaram contraceptivos hormonais contempo-
râneos em relação às mulheres que nunca utilizaram. Não INCIDÊNCIA NO MUNDO
obstante, esse aumento de risco é considerado pouco elevado O câncer de mama é a neoplasia mais frequente entre as mu-
em termos absolutos (um caso adicional de câncer de mama lheres, quer em países desenvolvidos, quer nos países em de-
para cada 7.690 usuárias ao longo de 1 ano).7 senvolvimento.20,21 Segundo as estimativas da International
Agency for Research on Câncer (IARC), 2,1 milhões de mu-
Lesões Benignas lheres foram diagnosticadas com câncer de mama em todo
Conforme os trabalhos clássicos de Dupont e Page, a ocorrên- o mundo, no ano de 2018. Em relação a 2008, observou-se
cia de lesões mamárias benignas determina um RR de 1,5 para aumento de quase 20% na incidência global de câncer de
câncer de mama.8 Porém, na análise por subgrupo, esse risco mama. Assim, a neoplasia mamária representa um em cada
se mostra variável conforme o aumento da idade, a presença quatro cânceres na população feminina e configura-se o tipo
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA 3
de câncer mais comum entre as mulheres em 140 de 184 Com base nas informações coletadas em diferentes Re-
países analisados.20 gistros de Base Populacional no Brasil, tem-se observado uma
Embora as taxas de incidência apresentem aumento na tendência de estabilidade na mediana da taxa bruta de inci-
maioria das regiões do mundo, existe grande disparidade en- dência por câncer de mama. No período entre 2000 e 2010,
tre os países desenvolvidos e em desenvolvimento (Fig. 1-1). a mediana da taxa bruta foi de 49,3 por 100.000 mulheres.23
As taxas de incidência mais elevadas permanecem nas regi- Em Goiânia, por exemplo, observou-se aumento anual de 4,8%
ões mais desenvolvidas: na Europa Ocidental, a incidência de na incidência da doença entre 1988 e 2005, seguido de esta-
câncer de mama atingiu 92,6 novos casos por 100.000 mulhe- bilização entre 2005 e 2012.24
res em 2018, em comparação com 29,9 por 100.000 na África
Na avaliação por subgrupos, observou-se diferentes com-
oriental.22 Nos Estados Unidos, foram estimados 276.480 no-
portamentos na comparação por faixa etária, com discreta
vos casos de câncer de mama em 2017, o que constitui 15,3%
tendência de acréscimo na faixa etária de 70 anos ou mais, e
do total de casos novos de câncer no país.4 Essa variação nas
discreta tendência decrescente entre 40 e 49 anos. Em 2010,
taxas de incidência reflete as diferenças na distribuição dos
a idade mediana registrada no momento do diagnóstico foi de
fatores de risco da doença e as diferenças no acesso ao ras-
treamento populacional. 56 anos.23 Não obstante, cerca de 25% das mulheres brasilei-
ras recém-diagnosticadas com câncer de mama apresentam
INCIDÊNCIA NO BRASIL idade entre 40 e 49 anos.24 Trata-se de uma informação im-
No Brasil foram estimados 57.960 casos novos de câncer de portante tendo em vista que as recomendações do Ministério
mama para o triênio 2020-2022, com estimativa de 66.280 ca- da Saúde do Brasil para o rastreamento do câncer de mama
sos novos em 2020. Trata-se da neoplasia mais frequente entre não incluem essa faixa etária. Na ausência do rastreio, essas
as mulheres em todas as regiões do país, mas o risco estimado mulheres estariam restritas ao diagnóstico de câncer de mama
varia de 21,34/100.000 na região Norte a 81,06/100.000 na avançado, o que favorece um tratamento mais agressivo e
região Sudeste. Já nas Unidades da Federação (UF), as taxas desfechos clínicos desfavoráveis.25 No Quadro 1-2 observa-
brutas de incidência variam de 14,41/100.000 no Amapá a -se o estadiamento do câncer de mama em diferentes séries
92,90/100.000 no Rio de Janeiro.23 brasileiras publicadas na Revista Brasileira de Mastologia.26-34
Fig. 1-1. Taxas de incidência de câncer de mama em 2018, por 100.000 mulheres, em países selecionados.20
4 CAPÍTULO 1
Quadro 1-2. Estadiamento do Câncer de Mama em Diferentes Séries Brasileiras Publicadas no Periódico Mastology (Revista Brasileira de
Mastologia), entre 2013 e 2019
Estudo Local e período Fonte de dados e modelo de Estadiamento clínico
assistência à saúde
In situ I II III IV N/A
Haddad CF Lavras, 2008-2013 Base hospitalar, sistema público 8,9% 30,3% 37,5% 21,5% 1,8% -
(n = 112)26
Gebrim et al. São Paulo, 2012-2014 Base hospitalar, sistema público 8,1% 17,2% 43,1% 28,6% 3,0% -
(n = 3.566)2
Tsunoda et al. Barretos, 2003-2010 Base hospitalar, sistema público 24,4% 34,2% 24,0% 4,0% 1,6% -
(n = 257)28
Moura et al. Ubá, 2001-2014 Base hospitalar, sem descrição do 12% 34% 37% 11% 6% -
(n = 647)29 modelo de assistência
Medeiros et al. Curitiba, 1990-2009 Base hospitalar, sistema público 2,5% 11,7% 36,6% 21,0% 9,4% 18,8%
(n = 5.158)30
Barboza et al. Natal, 2011-2012 Base hospitalar, predomínio de 5,3% 17,6% 32,3% 28,7% 7,6% 8,5%
(n = 1.176)31 sistema público
Oliveira et al. Fortaleza, 2002-2012 Base hospitalar, instituição filantrópica 14,2% 17,8% 47,2% 11,8% 1,1% 7,9%
(n = 744)32 de assistência mista
Makdissi et al. São Paulo, 2000-2012 Base hospitalar, predomínio de 16,7% 30,0% 30,2% 15,9% 5,3% 1,9%
(n = 5.095)33 sistema privado
Brandão et al. Jundiaí, 2014-2015 Base hospitalar, sistema privado 12,4% 40,9% 32,4% 12,4% 1,9% -
(n = 105)34
N/A, não avaliável ou sem informações.
Fig. 1-2. Taxa mundial de incidência e de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela idade, em 2018. (Obs.: dados em população feminina,
sem restrição de idade.)20
que ocorreu em todas as Regiões do país.21 Em outros estudos parâmetros usados para avaliar sobrevida e têm papel fun-
nacionais também se observou variação nas taxas de morta- damental no planejamento terapêutico desta neoplasia.33,49
lidade segundo raça ou cor de pele,42 o índice de desenvolvi- Segundo os dados populacionais de diferentes Registros de
mento humano43 e a localização geoespacial (zona rural versus Câncer no Brasil, a sobrevida relativa por câncer de mama, em
centro urbano).44 Não obstante, deve-se destacar que as taxas 5 anos de acompanhamento, aumentou de 58,4% entre 1990-
de mortalidade estão fortemente relacionadas com o acesso 1994 para 75,2% entre 2010-2014 (Fig. 1-3).46,48 Por outro lado,
aos serviços de saúde e com a qualidade da assistência que é estudos de base hospitalar em centros de referência no país já
ofertada às mulheres com câncer de mama. Entre 2011 e 2015, descrevem sobrevida global de 89,9% entre 2010-2012, possi-
por exemplo, um estudo ecológico observou que elevadas ta- velmente em decorrência dos benefícios relacionadas com o
xas de mortalidade por câncer de mama estavam associadas diagnóstico precoce e com o tratamento efetivo da doença.33
ao número de clínicos gerais disponíveis à população e ao
número de centros de oncologia licenciados em cada região.45 CONCLUSÃO
Nos últimos anos observou-se aumento das taxas de incidên-
SOBREVIDA cia do câncer de mama, no Brasil e no mundo, principalmen-
A sobrevida é o parâmetro mais utilizado para avaliar os re- te em regiões de menor desenvolvimento socioeconômico.
sultados de diagnóstico e tratamento de um tumor maligno Já as curvas de mortalidade mostraram tendência de re-
com observações obtidas em registros de saúde.46-48 A idade dução ou de estabilização, nos países desenvolvidos, e ten-
da paciente ao diagnóstico, o tamanho do tumor, o número de dência de aumento nos países em desenvolvimento. No Brasil,
linfonodos comprometidos, o grau de diferenciação tumoral, a mortalidade da doença segue o mesmo perfil mundial, com
o subtipo molecular e o estadiamento clínico são os principais redução da mortalidade em algumas regiões do país.
6 CAPÍTULO 1
Fig. 1-3. Evolução temporal da sobrevida relativa por câncer de mama, em 5 anos, ajustada pela idade, no Brasil e em cidades selecionadas,
conforme três estudos internacionais de base populacional. (Obs.: as cidades de Aracaju, Curitiba, Jaú e São Paulo não participaram do estudo
CONCORD-1 e, portanto, não há dados disponíveis para o período 1990-1994.)46-48
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