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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

F ACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA


-
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM
SAÚDE, AMBIENTE E TRABALHO

DILEMAS ÉTICOS E BIOÉTICOS, QUALIDADE DE VIDA

RELACIONADA À SAÚDE E CAPACIDADE PARA O

TRABALHO DO ENFERMEIRO

PAULA DO NASCIMENTO ALVES CARDOSO

Dissertação de Mestrado

Salvador (Bahia), 2015

0
FICHA CATALOGRÁFICA

UFBA / SIBI / Biblioteca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde Brasileira

Cardoso, Paula do Nascimento Alves

C268 Dilemas éticos e bioéticos, qualidade de vida relacionada à saúde e capacidade para

o trabalho do enfermeiro / Paula do Nascimento Alves Cardoso. Salvador: PNA Cardoso,

2015.

vi 122 fls. : il. [tab., quadros].

Anexos.

Orientadora: Profª. Drª. Liliane Elze Falcão Lins Kusterer.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia,

2015.

1. Ética. 2. Bioética. 3. Enfermagem. 4. Ética em enfermagem. 4. Enfermagem obstétrica.

5. Qualidade de vida. 6. Trabalho. I. Rêgo, Marco Antônio Vasconcelos. II. Universidade Federal

da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Título.

CDU – 614.257-051
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
-
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM
SAÚDE, AMBIENTE E TRABALHO

DILEMAS ÉTICOS E BIOÉTICOS, QUALIDADE DE VIDA

RELACIONADA À SAÚDE E CAPACIDADE PARA O

TRABALHO DO ENFERMEIRO

Paula do Nascimento Alves Cardoso

Orientadora: Liliane Elze Falcão Lins Kusterer

Dissertação apresentada ao Colegiado do Curso de Pós-


Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho da Faculdade
de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia,
como pré-requisito para obtenção do grau de Mestre em
Saúde Ambiente e Trabalho.

Salvador (Bahia), 2015

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COMISSÃO EXAMINADORA

Liliane Elze Falcão Lins Kusterer(professora orientadora), Professora Adjunta do


Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia.

Fernando Martins Carvalho (examinador interno), Professor Titular do Departamento


de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia.

Norma Carapiá Fagundes (examinadora externa), Professora Aposentada da Escola de


Enfermagem da UFBA.

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iii
Ainda que eu tivesse o dom de profetizar e conheça todos os
mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a
ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
1º Coríntios 13:2

Tudo posso naquele que me fortalece: JESUS


Filipenses 4:13

4
iv
Dedico este trabalho à minha mãe, Ester
Evangelista do Nascimento, ao meu
esposo, Ageu Ribeiro Cardoso, à minha
filha, Rebeca, e aos meus irmãos, Kátia,
Kássia, Permínio e Estela, em
agradecimento pelo amor, carinho,
cuidado e confiança.

v5
AGRADECIMENTOS

A Deus, digno de toda minha honra, glória e louvor.

A todos os participantes da pesquisa, pela confiança e cooperação.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Liliane Lins, pela oportunidade,orientação, apoio,


dedicação, e por acreditar no meu desenvolvimento.

Ao professor Fernando Martins Carvalho, pelo empenho e dedicação na realização deste


trabalho.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e


Trabalho.

Aos colegas do Mestrado

À Solange Xavier e a Inha (Marivalda Pereira), pelo cuidado e apoio.

À minha mãе, Ester, pelo amor, incentivo е apoio incondicional, principalmente nаs
horas difíceis de desânimo е cansaço.

Ao mеυ esposo, Ageu, que, apesar dе todas аs dificuldades, mе fortaleceu dе forma


especial е carinhosa.

À minha filha, Rebeca, que me encoraja a romper as barreiras da vida.

Aos meus irmãos, Kátia, Kássia, Permínio e Estela; minhas sobrinhas, Jéssica e
Vanessa; meus tios e primos, que nоs momentos dе minha ausência dedicados ао estudo
superior, sеmprе entenderam qυео futuro é feito а partir dа constante dedicação nо
presente.

Meus agradecimentos аоs amigos, Eryka Rodrigues, Wendel, Rosângela Lessa,


Manuela Maturino, Andréa, Sandra, Ana Caroline, Rita Rocha, Carla Lima, Elza
Queiroz, Jamille Lira e companheiros dе trabalhos qυе fizeram parte dа minha formação
е qυе vão continuar presentes еm minha vida, cоm certeza.

A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ muito
obrigada.

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vi
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................ 8
LISTA DE TABELAS................................................................................................................. 9
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................. 10
RESUMO ................................................................................................................................... 11
1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 12
2. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 15
2.1. DEONTOLOGIA NO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM .................................. 15
2.2. TRABALHO DO ENFERMEIRO OBSTETRA .................................................... 17
2.3. BIOÉTICA ................................................................................................................. 20
2.3.1. BIOÉTICA PRINCIPIALISTA ....................................................................... 21
2.3.2. BIOÉTICA PERSONALISTA ......................................................................... 25
2.4. QUALIDADE DE VIDA EM SAÚDE ..................................................................... 26
2.5. CAPACIDADE PARA O TRABALHO .................................................................. 32
3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 36
3.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 36
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 36
4. METODOLOGIA ............................................................................................................. 37
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 40
6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................................... 79
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 80
8. SUMMARY ......................................................................................................................... 81
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 82
10. ARTIGO......................................................................................................................... 87
11. ANEXOS ...................................................................................................................... 108
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO SF – 36 ............................................................................. 108
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO . 111
ANEXO 3 - PARECER DO CEP ....................................................................................... 116
ANEXO 4 - CARTA DE ANUÊNCIA ............................................................................... 119
12. APÊNDICES ................................................................................................................ 120
APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 120
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO DE SÓCIODEMOGRÁFICO................................. 121
APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA .......................................................... 122

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CDE - Código Deontológico de Enfermagem

CEPE - Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem

COFEN – Conselho Federal de Enfermagem

COREN – Conselho Regional de Enfermagem

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CREMEB – Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia

DL – Decreto Lei

EPI – Equipamento de Proteção Individual

FMB – Faculdade de Medicina da Bahia

I – Informante

ICT – Índice de Capacidade para o Trabalho

NHB – Necessidades Humanas Básicas

PO – Pesquisa Orientada

QV – Qualidade de Vida

QVT – Qualidade de Vida no Trabalho

REPE - Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro

SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem

SF-36 - Short Form 36 Health Survey

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TJ – Testemunha de Jeová

UCI – Unidade de Cuidados Intensivos

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

8
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Características do trabalho de dez enfermeiros de uma maternidade,


Salvador, 2014 ................................................................................... 43

Tabela 2 Avaliação subjetiva da saúde geral há um ano, por dez enfermeiros


de uma maternidade de Salvador, 2014 ............................................. 44

Tabela 3 Escores brutos e normalizados dos domínios e componentes


sumários do SF-36 em dez enfermeiros de uma maternidade de
Salvador, 2014 ................................................................................... 44

9
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Taxonomia do SF-36 ................................................................... 28

Quadro 2 Resumo de conteúdo do SF-36 com a média, desvio padrão,


confiabilidade e limite dos escores em cada domínio ................. 30

Quadro 3 Número de questões e pontos dos escores de cada dimensão do


ICT ............................................................................................... 34

Quadro 4 Classificação ICT segundo os seus escores. Pontos Capacidade


para o trabalho. Objetivos das medidas ....................................... 35

Quadro 5 Escores normalizados dos Componentes da Saúde Física e


Mental do SF-36, Pontuação e Classificação do ICT,
Comentários e Depoimentos de dez enfermeiros/as de uma
maternidade de Salvador, 2014 ................................................... 46

Quadro 6 Dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício profissional


da enfermagem, na opinião de dez enfermeiros/as de uma
Maternidade de Salvador, 2014 ................................................... 61

10
RESUMO

Objetivou-se identificar os dilemas éticos e bioéticos referidos pelos enfermeiros

obstetras, e avaliar como os mesmos interferem na sua qualidade de vida relacionada à

saúde e na sua capacidade para o trabalho. Foi realizado um estudo misto, com

abordagem qualitativa e quantitativa, com dez enfermeiros de uma maternidade pública

de Salvador-BA. Num questionário, coletaram-se informações sociodemográficas.

Também foram aplicados os questionários Short Form Health Survey (SF-36) e Índice

de Capacidade para o Trabalho (ICT). A coleta do material qualitativo foi realizada por

meio de entrevistas gravadas e observações registradas no diário de campo. Foram

identificados os principais dilemas éticos e bioéticos vivenciados no trabalho da

Enfermagem, nas temáticas: representação das questões éticas e bioéticas no trabalho da

Enfermagem; percepção da qualidade de vida relacionada à saúde; aspectos éticos e

bioéticos para ter qualidade de vida; influência do trabalho na vida pessoal; capacidade

para o trabalho; descrição do processo de trabalho; principais dilemas éticos e bioéticos

na prática da Enfermagem. Conclui-se que os dilemas éticos e bioéticos vivenciados no

exercício profissional interferem na qualidade de vida e na capacidade para o trabalho

dos trabalhadores de Enfermagem e, consequentemente, poderão prejudicar a qualidade

da assistência prestada aos seus pacientes.

Descritores: Ética; Bioética; Enfermagem; Ética em Enfermagem; Enfermagem

Obstétrica; Qualidade de vida; Trabalho.

11
1. APRESENTAÇÃO

Através do trabalho o indivíduo melhora e promove a qualidade de vida para si e

para os seus familiares. O trabalho tem se transformado em um local de risco de

acidentes e doenças profissionais, que, consequentemente, comprometem a saúde e, às

vezes, a vida do trabalhador (REIS, 2011).

A desvalorização do trabalho pode substituir a satisfação intrínseca do exercício

profissional e a expressão da criatividade humana durante seu exercício. Prevalece então

no trabalho a sua razão instrumental utilitária, sua capacidade de prover as necessidades

básicas e de viabilizar o consumo de bens. A valorização do trabalho possibilita a

obtenção das necessidades básicas da pessoa humana, assim como garante condições

dignas de vida (COLBARI, 1995).

O trabalho da enfermagem exige condições físicas e mentais para o seu

desenvolvimento. É necessário que o trabalhador tenha equilíbrio biopsicossocial e

econômico, pois são fatores que interferem diretamente no desenvolvimento do trabalho

(TUOMI, 2005).

Na condição de enfermeira atuante, a pesquisadora pôde vivenciar na sua

trajetória profissional os conflitos que se estabelecem na atenção à saúde da pessoa

humana, que abrangem as temáticas da vida e da morte. Essa atuação requer extrema

responsabilidade e pode adoecer o trabalhador nas decisões que envolvem os princípios

bioéticos de autonomia, beneficência não maleficência, justiça e vulnerabilidade.

A vivência constante de dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício da

profissão em vários setores da enfermagem, como unidade de internação, emergência,

centro cirúrgico, gerência de unidade e, até mesmo a docência em enfermagem,

estimularam a reflexão sobre o exercício da enfermagem, qualidade de vida e

capacidade para o trabalho.

12
Durante o processo de elaboração do projeto, a ampla revisão de literatura foi

fundamental para compreender as questões deontológicas envolvidas nas decisões

profissionais e a compreensão dos dilemas relatados, que se somam às inquietações

advindas da carreira profissional da pesquisadora. Dessa forma, foi possível pensar em

um objeto de pesquisa centrado nos dilemas éticos e bioéticos vivenciados pelos

enfermeiros e a relação desses com a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho.

O presente estudo teve como objetivo identificar os dilemas éticos e bioéticos

referidos pelos enfermeiros obstetras e avaliar como os mesmos interferem na sua

qualidade de vida relacionada à saúde e na sua capacidade para o trabalho.

Foi realizado um estudo de método misto qualitativo e quantitativo. Os

participantes foram entrevistados, utilizando-se um roteiro para entrevista

semiestruturada. Foi utilizada, como método de avaliação qualitativa, a análise de

Temática de Bardin (2011). Para a análise quantitativa foi desenvolvido um instrumento

de coleta de dados sociodemográficos, aplicado o questionário Short Form Health

Survey (SF-36), versão Brasileira (CICONELLI at al, 1999) e, o questionário de Índice

de Capacidade para o Trabalho (TUOMI et al, 2005).

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública da cidade de Salvador-

BA. Participaram do estudo 10 profissionais que atuavam em diversos setores da

maternidade. Com os resultados do estudo foi possível identificar as seguintes

temáticas: representação das questões éticas e bioéticas no trabalho da enfermagem;

percepção da qualidade de vida; aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida;

influência do trabalho na vida pessoal; capacidade para o trabalho; descrição do

processo de trabalho e os principais dilemas éticos e bioéticos identificados na vivência

da enfermagem.

13
A discussão das temáticas identificadas segundo os aspectos éticos e bioéticos

baseou-se na teoria principialista de Beauchamp e Childress, no manual de Bioética de

Elio Sgreccia e na Carta Universal de Direitos Humanos da UNESCO.

14
2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1.DEONTOLOGIA NO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM

A enfermagem é definida como a arte do cuidar (LIMA, 1993), exercida de maneira

interativa, atuando nas dimensões física, psicológica, social, ambiental e cultural

(WALDOW, 1998).

O exercício do profissional enfermeiro é composto por aspectos pessoais e sociais,

sensibilidade, respeito e solidariedade. (SILVA et al., 2009).

Ferreira (2006) definiu a enfermagem como a arte do cuidar de enfermos e a ciência

que cuida do ser humano, individualmente, na família ou em comunidade, de modo

integral e holístico. Lima (1993) também descreveu a enfermagem como ciência e arte:

“Fundamenta-se num corpo de conhecimentos e práticas, abrangendo do estado de

saúde ao estado de doença, mediada por transações pessoais, profissionais, científicas,

estéticas, éticas e políticas do cuidar de seres humanos".

No exercício da profissão de enfermagem existe liberdade nas ações, porém essa

liberdade implica em agir com responsabilidade. A preservação e o cuidado da vida

humana exigem que o profissional atue com sabedoria e ética. Partindo desses

princípios, surge a deontologia profissional com obrigações, proibições, direitos e

deveres profissionais pelos quais os trabalhadores enfermeiros são determinados a

cumprir, porém estão sujeitos a penalidades, caso venham a desconsiderar e/ou

descumprir certas normas.

De acordo com a classificação nacional das profissões, a Enfermagem é uma

profissão liberal, na essência do serviço e do compromisso. Representa uma profissão

classificada como intelectual e científica, seguindo o modelo de autorregulação. E para

isso conta-se com o órgão regulador que estabelece o acesso à profissão, o controle do

15
exercício (designadamente pelas regras éticas e deontológicas, pela formulação de

padrões de qualidade para o exercício), assumindo o poder jurisdicional e a sanção

disciplinar, sendo a sua própria finalidade colocada a serviço do público (NUNES,

2007).

O cidadão que se constitui como enfermeiro deve conhecer e respeitar as normas

regulamentadoras da profissão que estão contidas no Decreto-Lei n.º 161/96, que dispõe

sobre o Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE); no Código

Deontológico de Enfermagem, disposto no Decreto-Lei 111/2009; e no Código de Ética

de Enfermagem aprovado pela Resolução COFEN-311/2007 para aplicação na

jurisdição de todos os Conselhos de Enfermagem.

O enfermeiro, ao registrar-se como profissional, assume direitos e deveres éticos

e deontológicos, os quais exigem que nas suas relações profissionais observem

princípios e valores que são universais para humanidade.

Na comunidade, o profissional tem a responsabilidade de promover a saúde e

dar resposta adequada às necessidades em cuidados de enfermagem. No que se refere ao

respeito do direito da pessoa à vida, durante todas as etapas da existência humana, o

trabalhador da enfermagem assume deveres de manutenção e recuperação da vida e da

qualidade de vida, agindo sempre com informação dos cuidados de enfermagem,

obtendo o consentimento, garantindo o sigilo, respeitando a intimidade de maneira

humanizada na assistência prestada, acompanhando o doente nas diferentes etapas,

inclusive em fase terminal.

As determinações legais para a execução da profissão foi instituída desde 1973

pela Lei nº 5.905. A autarquia profissional de enfermagem é constituída pelo conjunto

dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, com a finalidade de normatizar,

disciplinar e fiscalizar o exercício da Enfermagem e de suas atividades em todo

16
Território Nacional, filiado ao Conselho Internacional de Enfermeiros, sediado em

Genebra, vinculado ao Ministério do Trabalho e à Previdência Social.

Os conselhos de enfermagem reconhecem o direito da população à assistência de

enfermagem, pressupondo uma assistência de qualidade, livre de riscos e acessível,

porém essa responsabilidade profissional leva os enfermeiros à vivência de dilemas e

conflitos éticos e bioéticos.

2.2. TRABALHO DO ENFERMEIRO OBSTETRA

O Ministério da Saúde, em 1984, criou o Programa de Assistência Integral à

Saúde da Mulher (PAISM), que estabelece o cuidado à saúde da mulher pelo sistema de

saúde, com o objetivo de atender a mulher em sua fase reprodutiva. O PAISM, através

de manuais, define o conteúdo das ações em saúde, normatizando os procedimentos e

padronizando as condutas em relação às doenças sexualmente transmitidas; câncer

cérvico-uterino e de mama; planejamento familiar; parto e puerpério; gravidez de baixo,

médio e alto risco; assistência à adolescente e à mulher no climatério; assistência ao

abortamento; assistência à concepção e anticoncepção (BRASIL, 1984).

Atualmente a enfermagem obstétrica está sendo incentivada pelas políticas

nacionais de saúde do Ministério da Saúde pela compatibilidade dessa formação com a

contemporaneidade de atenção à gestação, ao parto e ao puerpério. O Ministério da

Saúde apoia a enfermagem obstétrica e atribui ao enfermeiro a possibilidade de emissão

de laudos de internação, define o enfermeiro obstetra como membro necessário na

composição da equipe, além de regulamentar a emissão de declaração de nascimento

por profissionais de saúde nos partos domiciliares (BRASIL, 1998; 2012).

O trabalho dos enfermeiros obstetras é regulamentado pela lei do exercício

profissional nº 7.498/86, artigo 6º inciso II que assegura ao profissional atuar no

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acompanhamento do trabalho de parto e execução do parto normal sem distócias,

realização de episiotomia e episiorrafia com aplicação de anestésico local, quando

necessário, identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a

chegada do médico, bem como a emissão de laudo de internação hospitalar

(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

A atuação do enfermeiro obstetra é de grande importância na atenção à saúde da

mulher no período gravídico-puerperal, contribuindo na melhoria da qualidade da

assistência, desenvolvendo funções gerenciais e assistenciais, e, apesar do respaldo legal

da profissão, enfrentam inúmeras dificuldades com a equipe de saúde do centro

obstétrico. (BRASIL, 2001)

A maternidade pública Albert Sabin, localizada na periferia da Cidade do

Salvador e inaugurada na década de 1990, faz parte dessas ações do Ministério da

Saúde, sendo considerada referência secundária para gestação de alto risco pela Central

Estadual de Regulação (CER). Assim, recebe as gestantes com maior gravidade de todo

Estado, realizando, em média, 300 partos por mês, contemplando as ações de Atenção

Integral à Saúde da Mulher, utilizando a estratégia da Rede Cegonha (CONSELHO

REGIONAL DE ENFERMAGEM DA BAHIA, 2014).

A Rede Cegonha é uma estratégia do Ministério da Saúde, instituída no âmbito do

SUS através da Portaria nº 1.459 de 24 de Junho de 2011, que visa a implementar uma

rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a

atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às

crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.

Esta estratégia tem a finalidade de estruturar e organizar a atenção à saúde materno-

infantil no País e está sendo implantada, gradativamente, em todo o território nacional,

18
iniciando sua implantação de acordo o critério epidemiológico, taxa de mortalidade

infantil e razão mortalidade materna e densidade populacional (BRASIL, 2012).

O trabalho dos enfermeiros obstetras na maternidade estudada se apresenta com a

alta demanda de atendimentos, superlotação, longos períodos em pé e com

deslocamento em diversos momentos de um setor para outro em busca de resolução de

problemas da unidade, caracterizando um trabalho intenso, com ritmo excessivo e

desgaste físico e mental na execução das atividades. Por isso, os enfermeiros utilizam

diversos artifícios que resultam no aumento das demandas sobre o corpo e sobre as

capacidades cognitivas e psíquicas do enfermeiro (PEREIRA, 2013).

Na organização do sistema de saúde, há incoerência entre a previsão real da

demanda (demanda excedente) e a capacidade instalada disponível (real e necessária),

produzindo perturbações na organização do processo de trabalho na maternidade,

acarretando a sobrecarga de trabalho e sentimento de impotência e sofrimento nos

trabalhadores (PEREIRA, 2013).

Porém, a dificuldade de médicos obstetras e enfermeiros obstetras em delimitar

funções e atribuições constitui a principal causa de conflitos do trabalho em equipe

(TUESTA, 2003).

As situações de conflitos acontecem quando os enfermeiros realizam o

procedimento do parto normal, em que alguns profissionais percebem essa atuação

como enfrentamento na tomada de decisões frente à assistência à parturiente. Essa

dificuldade de aceitação do papel dos enfermeiros obstetras pela equipe médica inibe a

realização do parto normal por enfermeiros, implicando em prejuízos na assistência à

parturiente (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2006).

19
No processo de trabalho dos enfermeiros obstetras observa-se a presença

constante de conflitos e dilemas éticos e bioéticos devido principalmente às condições

precárias de trabalho e às divergências dos profissionais da obstetrícia.

2.3. BIOÉTICA

Cotidianamente, os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu

comportamento em normas, as quais são aceitas e reconhecidas como obrigatórias. A

partir da compreensão de que os homens agem moralmente na sociedade é que, de

acordo com as normas, as pessoas guiam as suas ações e compreendem que têm o dever

de agir desta ou de outra maneira, além de refletirem sobre o seu comportamento na

vida prática e o tomarem como objeto da sua reflexão (VAZQUEZ, 2002).

Nesse sentido, a Bioética, sendo um ramo da ética aplicada, contribui para a

reflexão sobre os valores inerentes à vida e à saúde humana, abrangendo diversos

posicionamentos com relação às mesmas situações, ensejando divergências pouco

frequentemente superadas pelo diálogo, que podem evoluir para a discussão áspera e até

para o conflito (SEGRE, 2002).

Entretanto, essa tentativa de reflexão sistemática a respeito de todas as

intervenções do homem sobre os seres vivos assume um objetivo árduo de identificar

valores e normas que guiem o agir humano com relação à intervenção da ciência e da

tecnologia sobre a própria vida e sobre a biosfera (SGRECCIA, 2009).

No senso comum, a terminologia bioética é definida como “ética da vida” (do

grego bios, “vida”, e ethike, “ética”) (PALÁCIOS et al., 2002).

A Bioética considera que, ao vivenciar uma desorientação ou incerteza moral,

somos levados a refletir sobre aquilo que é recomendado ou exigido pela moralidade e a

20
ponderar sobre o que devemos fazer, representando uma necessidade de justificação

moral (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). Por isso, evidenciamos diversos modelos

éticos, a fim de solucionar os questionamentos em relação às ciências da vida.

Neste estudo, abordaremos a Bioética Personalista, que coloca a pessoa como

critério de avaliação frente a um dilema bioético, e a Bioética Principialista, que tem

como pilares quatro princípios fundamentais: beneficência, não maleficência, autonomia

e justiça. Além destes princípios, outros princípios descritos na Declaração Universal de

Bioética e Direitos Humanos (UNESCO, 2005,) como vulnerabilidade, solidariedade,

responsabilidade social e dignidade humana, serão incorporados às reflexões bioéticas

dessa pesquisa.

2.3.1. BIOÉTICA PRINCIPIALISTA

A utilização de princípios para resolver situações de conflitos e dilemas da ética

biomédica justifica a terminologia da teoria Bioética Principialista. Os princípios

derivam de juízos ponderados no interior da moralidade comum e da tradição médica.

Esses princípios não funcionam como diretrizes de ação precisas que nos informam

como agir em cada circunstância. Os princípios são diretrizes gerais que deixam um

espaço considerável para um julgamento, em casos específicos, e que proporcionam

uma orientação substantiva para o desenvolvimento de regras e políticas mais

detalhadas (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

Os quatro princípios são: (1) o respeito pela autonomia (uma norma sobre o

respeito pela capacidade de tomar decisões de pessoas autônomas), (2) a não

maleficência (uma norma que previne que se provoquem danos), (3) a beneficência (um

grupo de normas para proporcionar benefícios e para ponderar benefícios contra riscos e

custos), (4) a justiça (um grupo de normas para distribuir os benefícios, os riscos e os

custos de forma justa) (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

21
No sentido de tornar compreensível e aplicável o conhecimento ético e bioético,

esses quatro princípios foram analisados nesse estudo. Até o momento esses princípios

são os mais utilizados como referencial para abordagem de dilemas éticos na saúde e

podem contribuir para a reflexão de situações no campo da Enfermagem.

Na linguagem comum, a palavra “beneficência” significa compaixão, bondade e

caridade. Refere-se à obrigação moral de agir em benefício de outros. A beneficência

segue algumas regras morais, como: proteger e defender os direitos dos outros; evitar

que os outros sofram danos; eliminar as condições que causarão danos a outros; ajudar

pessoas inaptas; além de socorrer pessoas que estão em perigo (BEAUCHAMP;

CHILDRESS, 2002).

O princípio da beneficência é considerado o princípio fundamental para a

assistência à saúde, por ser compreendido como uma ação a ser realizada em benefício

do outro. No desenvolvimento das atividades da Enfermagem, tal princípio deve ser

evidenciado a todos os profissionais, de forma a conscientizá-los da importância de tal

valor na execução de qualquer ação sobre o ser humano. No gerenciamento dos serviços

da profissão, a beneficência deve ser considerada durante todo o processo de tomada de

decisão do enfermeiro com cargo gerencial, de modo que a decisão resulte em fatores

positivos sobre todos os envolvidos (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

O princípio da não maleficência determina a obrigação de não infligir dano

intencionalmente, ou seja, acima de tudo não causar dano. As regras morais implicadas

nesse princípio são: não matar; não causar dor, ofensa, sofrimento, incapacitação a

outros, e não despojar outros dos prazeres da vida (BEAUCHAMP; CHILDRESS,

2002). Na utilização deste princípio para reflexão e consequente tomada de conduta, é

imprescindível estar atento e concentrado no contexto e, principalmente, nas crenças,

valores e costumes pessoais, pois o que despercebidamente não causa dano a um

22
determinado indivíduo pode causar dano a outrem. No contexto da profissão, os

profissionais devem primar em conhecer o ser humano a quem se destina o cuidado, na

tentativa de compreender seus diversos aspectos sociais, políticos, econômicos,

religiosos, dentre outros, para executar ações que não interfiram de forma negativa em

suas crenças. O enfermeiro na função de gestor necessita fazer com que suas ações

atendam à instituição, aos profissionais e aos clientes envolvidos (MARCON, 2005).

O princípio do respeito à autonomia pode ser definido como uma questão de ter

capacidade de controlar ponderadamente e de se identificar com desejos e preferências

próprias. O respeito à autonomia é o reconhecimento do direito de a pessoa ter suas

opiniões, fazer suas escolhas e de agir com base em suas crenças e valores pessoais, sem

intervenções. Por isso, consideram-se duas condições essenciais para o exercício da

autonomia: a liberdade (independência de influências controladoras), a qualidade de

agente (capacidade de agir intencionalmente e com entendimento). Dizer a verdade,

respeitar a privacidade dos outros, proteger informações confidenciais, obter

consentimento para intervenções nos pacientes e, quando solicitado, ajudar os outros a

tomar decisões importantes são regras morais referentes a esse princípio

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

No fazer da Enfermagem, muitas vezes tal princípio é omitido pela preocupação

central em executar as tarefas em tempo hábil. Tanto na assistência como no

gerenciamento, é imprescindível que os profissionais se conscientizem para a

importância de tal princípio como „guia‟ para toda a atividade a ser executada. Durante

o cuidado, é necessário buscar a autonomia do cliente para prestar um cuidado

personalizado e respeitoso. No gerenciamento, o respeito à autonomia do funcionário

contribui para este sentir-se mais valorizado e respeitado, permitindo sua participação

23
em decisões, de forma que essas resultem em ações participativas e comprometidas pela

equipe de enfermagem (MARCON, 2005).

O princípio de justiça é interpretado como um tratamento justo, equitativo e

apropriado, levando em consideração aquilo que é devido às pessoas. Há também de se

considerar os princípios materiais de justiça que são: a todas as pessoas uma parte igual;

a cada um de acordo com sua necessidade, seu esforço, sua contribuição e seu

reconhecimento (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

O enfermeiro, em todas as áreas do seu processo de trabalho, necessita alicerçar

suas atitudes no princípio da justiça. Como exemplo dessa necessidade, tem-se o

profissional gestor que, possuindo inúmeras atividades, necessita fazer escolhas de

pessoas (para determinado cargo, atividade, horário, folga) e, para isso, precisa deste

princípio muito bem esclarecido, evitando interferências advindas de amizades ou

parentescos. Este princípio não é de fácil utilização, por envolver uma análise crítica

aprofundada da situação em questão para tomar determinados posicionamentos

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

Importante ressaltar que a consolidação da enfermagem na prática deveu-se,

também, aos aportes da corrente principialista da bioética, ao adotar os princípios de

autonomia, justiça, beneficência e não maleficência. Isso permitiu avanços importantes

para superação de determinados conflitos produzidos pelo efeito indesejado das

desigualdades no âmbito das relações sociais e profissionais, através da sistematização

dos saberes pertinentes ao ofício, para constituir um campo profissional digno do ser

humano e para o ser humano (BELLATO, 2003).

24
2.3.2. BIOÉTICA PERSONALISTA

A tradição personalista aprofunda suas raízes na própria razão do homem e no

coração de sua liberdade: o homem é pessoa porque é o único ser em quem a vida se

torna capaz de “reflexão” sobre si, de autodeterminação; é o único ser vivo que tem a

capacidade de captar e descobrir o sentido das coisas, e de dar sentido às suas

expressões e à sua linguagem consciente (SGRECCIA, 2009).

O homem é um indivíduo que se governa por si mediante a inteligência e a

vontade; existe não só fisicamente, pois há nele um existir mais rico e mais elevado,

uma superexistência espiritual no conhecimento e no amor.

A pessoa humana se apresenta como o ponto de referência, o fim e não o meio.

Desde a concepção até a morte, em qualquer situação de sofrimento ou de saúde, é a

pessoa humana o ponto de referência e a medida entre o lícito e o não lícito.

O indivíduo é um corpo espiritualizado, um espírito encarnado, que vale por

aquilo que é e não somente pelas escolhas que faz. Em toda escolha a pessoa empenha

aquilo que é a sua existência e a sua essência, o seu corpo e o seu espírito; nesse

contexto a escolha engloba um fim, meios e valores (SGRECCIA, 2014).

Dessa forma, se faz necessária a compreensão do significado da vida humana que

se tem, além de considerar o homem em sua plenitude de valor (SGRECCIA, 2014).

Lembrando que o corpo humano como valor não tem “preço” e, então, não é

comercializável, a única possibilidade de “troca” se torna o “dom” inscritível no

horizonte da gratuidade, da solidariedade, do altruísmo (SGRECCIA, 2014).

Definir a essência humana como corporeidade e espiritualidade unidas significa

explorar as profundezas reais que se escondem do “eu” e do “tu” na relação social

(SGRECCIA, 2009).

25
Diante da pessoa, da saúde e da doença há quatro dimensões da saúde que se

cruzam e se permeiam: a dimensão orgânica, a dimensão psíquica e mental, a dimensão

ecológico-social e a dimensão ética (SGRECCIA, 2009).

Considera-se a bioética como uma área de discussão sobre valores inerentes à vida

e à saúde (SEGRE, 2002). Devido à complexidade de tais atividades, faz-se necessário

adquirir conhecimento sobre ética e bioética, para subsidiar as decisões, de forma que

satisfaça a todos.

A bioética é um espaço multidisciplinar que envolve a área da saúde. Dessa

forma, entendemos que o exercício da enfermagem deve se apropriar desse referencial

de reflexão ética para nortear as suas práticas. No que se refere às relações com os

pacientes tem-se observado, ainda, o paternalismo que remete ao critério bioético da

beneficência (BOEMER, 2004). Presencia-se, no cotidiano das unidades de saúde, um

aumento exponencial de complexidade tecnológica, científica e de relações humanas,

gerando, dessa forma, a necessidade de um novo perfil para o profissional dessa unidade

(TRAMONTIMI, 2002).

Deve-se chamar atenção sobre a necessidade de estudos que avaliem os dilemas

éticos e bioéticos na equipe de enfermagem e a relação desses com a qualidade de vida e

a capacidade para o trabalho do enfermeiro.

2.4. QUALIDADE DE VIDA EM SAÚDE

Nahas (2006) entende a Qualidade de Vida (QV) como a medida da própria

dignidade humana, além de considerar como a percepção de bem-estar resultante de um

conjunto de parâmetros individuais e socioambientais modificáveis, ou não, que

caracterizam condições em que vive o ser humano. Entre os socioambientais: moradia,

transporte, segurança, assistência médica, educação, cultura, meio ambiente; como

26
parâmetros individuais: hereditariedade, estilo de vida (hábitos alimentares, controle do

estresse, atividade física habitual, comportamento preventivo, relacionamentos).

A qualidade de vida é uma percepção única e pessoal, o que denota a maneira

como os pacientes percebem o seu estado de saúde e/ou aspectos não médicos de suas

vidas (GILL; FEISNTEN, 1994).

Considerando ser um conceito intrinsecamente subjetivo, dependente de uma série

de fatores que constituem a percepção do observador de um dado objeto, pessoa ou

evento, qualidade de vida pode ser definida como posicionamento do indivíduo em

resposta física ou mental, diante dos estímulos construídos a partir de suas percepções

em confronto com as expectativas elaboradas para determinadas condições reais ou

aparentes. A qualidade de vida do trabalhador é uma forma simbólica da expressão da

percepção do conjunto das condições de trabalho (BARBOSA FILHO, 2011).

Para a Bioética Personalista, a análise da qualidade de vida deverá procurar dentro

da pessoa a satisfação das necessidades e dos desejos, além do respeito e da promoção

dos valores tipicamente humanos, sendo estes espirituais e/ou morais (SGRECCIA,

2009).

Segundo Chiavenato (2006), a qualidade de vida no trabalho – QVT –implica em

profundo respeito pelas pessoas, para alcançar níveis elevados de qualidade e

produtividade. Nesse sentido, as organizações precisam de pessoas motivadas que

participem ativamente no trabalho e que sejam adequadamente recompensadas pelas

suas contribuições.

A qualidade de vida na prática dos profissionais de saúde tem sido considerada

como qualidade de vida em saúde e, clinicamente, é usado para expressar o impacto

físico e psicossocial causado pelas alterações físicas e biológicas produzidas por

doenças e terapias que interferem nas condições de vida (MINAYO et. al., 2000).

27
Diante da diversidade de conceitos e da imanente subjetividade, alguns

instrumentos foram desenvolvidos para avaliar a qualidade de vida. O Short Form 36

Health Survey Questionnaire (SF-36) é um instrumento genérico de pesquisa utilizado

em inquéritos de saúde. Foi desenvolvido no final dos anos 80 por Ware e Donald

(WARE, 2000), sendo aplicado em numerosas situações. O SF-36 estabelece dois

índices do estado de saúde, que incorpora várias dimensões, combinando aspectos

físicos e cognitivos. A base conceitual de desenvolvimento do SF-36 é composta por

“status funcional” e “bem estar” relacionados com a saúde (CICONELLI et.al, 1999).

A avaliação da qualidade de vida é feita basicamente pela administração de

instrumentos ou questionários que, em sua grande maioria, foram formulados na língua

inglesa, direcionados para utilização na população que fala esse idioma. Portanto, para

que possa ser utilizado em outro idioma, devem-se seguir normas preestabelecidas na

literatura para sua tradução e, posteriormente, suas propriedades de medida devem ser

demonstradas num contexto cultural específico. Sendo assim, o questionário SF-36 foi

traduzido e adaptado culturalmente para a população brasileira de acordo com

metodologia internacionalmente aceita (CICONELLI et.al, 1999).

O SF-36 é autoaplicável, podendo também ser aplicado de forma

computadorizada ou por telefone por um entrevistador treinado para as pessoas com

idade igual ou superior a 14 anos. A duração média de aplicação deste questionário é de

15 minutos, com elevado grau de aceitabilidade e qualidade dos dados.

O questionário contém 36 itens, dos quais 35 encontram-se agrupados em oito

dimensões (capacidade funcional, dor, aspectos físicos, aspectos emocionais, aspectos

sociais, saúde mental, vitalidade e estado geral de saúde) e um último item que avalia a

mudança de saúde no tempo, demonstrado no quadro 1. Para cada dimensão, os itens do

28
SF-36 são codificados, agrupados e transformados em uma escala de zero (pior estado

de saúde) a 100 (melhor estado de saúde).

Quadro 1- Taxonomia do SF-36

ITENS DOMINIOS
3a. Atividades vigorosas
3b. Atividades moderadas
3c. Levantar ou carregar mantimentos
3d. Subir vários lances de escada
3e. Subir um lance de escada
3f. Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se Capacidade
3g. Andar mais de um quilômetro Funcional
3h. Andar vários quarteirões
3i. Andar um quarteirão
3j. Tomar banho ou vestir-se

4a. Diminuir a quantidade de tempo


4b. Realizar menos tarefas
4c. Limitação em atividades Aspectos físicos
4d. Dificuldade no trabalho
7. Magnitude da dor
8. Interferência da dor Dor
1. Avaliação global da saúde
11a.Adoecer mais facilmente
11b. Tão saudável quanto Estado geral de
11c. Saúde vai piorar Saúde
11d. Saúde excelente

9a.Vigor/vontade/força
9e. Energia Vitalidade
9g. Esgotamento
91. Cansaço
6. Interferência na vida social
10. Interferência no tempo da vida social Aspectos sociais

5a. Diminuir quantidade de tempo


5b. Realizar menos tarefas Aspectos
5c. Cuidado com atividades emocionais
9b. Pessoa nervosa
9c. Deprimido
9d. Calmo/Tranquilo Saúde mental
9f. Desanimado/abatido
9h. Feliz

Fonte: Ware (2000) / Adaptado

29
A confiabilidade dos oito domínios e das duas medidas sumarizadas tem sido

estimada usando os métodos de consistência interna e teste-reteste. As publicações

relatando estatística de confiabilidade do SF-36 têm demonstrado, com raras exceções,

índices acima de 0,70, e até 0,80, para os diferentes domínios e, para as medidas

sumarizadas, os coeficientes têm excedido 0,90. A revisão dos primeiros 15 estudos

publicados revelou que a média dos coeficientes de confiabilidade para cada um dos

oito domínios foi igual ou maior que 0,80, exceto para o domínio aspectos sociais, com

média 0,76 (WARE, 2000).

O quadro 2 apresenta um resumo do conteúdo do SF-36 com as médias dos

escores em cada domínio para a população dos Estados Unidos, país de origem do

instrumento, demonstrando também a confiabilidade de cada escala e o significado do

menor e do maior escore.

30
Quadro 2- Resumo de conteúdo do SF-36 com a média, desvio padrão, confiabilidade e
limite dos escores em cada domínio.

Menor escore Maior escore


Nº de Confiabilida
Domínios Média DP possível (floor) possível (ceiling)
itens de
Realiza todos os
Muito limitado em tipos de
realizar todas as atividades físicas
Capacidade
atividades físicas, incluindo as mais
funcional 84,2 23,3 0,93
10 incluindo banhar-se e vigorosas sem
vestir-se limitações a
saúde
Problemas com o
Nenhum
trabalho ou outras
Aspectos problema com
atividades diárias
físicos 4 80,9 34,0 0,89 trabalho ou outras
como consequência
atividades diárias
da saúde física
Nenhuma dor e
Dor muito severa e
nenhuma
Dor extremamente
2 75,2 23,7 0,90 limitação devido
limitante
à dor
Avalia sua saúde
Avalia sua saúde
Estado geral geral como muito
5 pessoal como
de saúde 71,9 20,3 0,81 ruim e acredita que
excelente
ela piorará
Sente-se cheio de
Sente-se cansado ou
energia e vigor
Vitalidade esgotado todo o
4 60,9 20,9 0,86 todo o
tempo
tempo
Atividades
Interferência extrema
sociais não
e frequente de
Aspectos sofrem
problemas físicos e
sociais 2 83,3 22,7 0,68 interferência por
emocionais nas
problemas físicos
atividades sociais
ou emocionais
Problemas com o
Nenhum
trabalho ou outras
problema com
Aspectos atividades diárias
trabalho ou
emocionais 3 81,3 33,0 0,82 como consequência
atividades
de problemas
diárias.
emocionais
Sentir-se nervoso ou Sentir-se feliz,
Saúde
deprimido todo o calmo e tranquilo
mental 5 74,7 18,1 0,84
tempo todo o tempo
DP = Desvio padrão
Fonte: WARE, 2000 / Adaptado

31
A validade de cada domínio foi avaliada através de estudos de análise fatorial. O

primeiro é o de capacidade funcional, que tem sido a melhor medida de saúde física; o

último domínio, saúde mental, foi o que teve o melhor desempenho nos testes de

validação para avaliar saúde mental em diversos estudos. Contudo, esse domínio é a

medida com pior desempenho para avaliar componente físico, e o domínio capacidade

funcional é a pior para avaliação de componente mental. Os domínios de vitalidade e

estado geral de saúde são válidos para avaliação de ambos componentes, físico e mental

(WARE, 2000).

Avaliação e interpretação do SF-36

A interpretação dos resultados tem sido feita muito mais facilmente com a

padronização dos escores médios e desvios-padrão para todas as escalas do SF-36,

conforme disposição da segunda tabela. Especificamente, a pontuação normalizada com

média 50 e desvio padrão 10 tem provado ser muito útil ao interpretar as diferenças

entre as escalas no perfil SF-36 e para monitorar grupos de doenças ao longo do tempo

(WERE, 2000).

Apesar de serem amplamente utilizados no Brasil, os dados normativos

disponíveis para a população geral são precários, dificultando a interpretação dos

escores obtidos em diferentes grupos de pacientes (CRUZ,2010).

2.5. CAPACIDADE PARA O TRABALHO

A capacidade para o trabalho pode ser definida como recurso humano que reúne a

capacidade física e mental, habilidades e conhecimentos, estilos de vida, além das

condições sociodemográficas e valores (ILMARINEN, 2001).

Essa capacidade para o trabalho é considerada como a base do bem-estar para

todos, porém pode ser afetada por diversos fatores, influenciando o desenvolvimento da

32
atividade ocupacional bem como estilo de vida e o ambiente de trabalho (TUOMI et at.,

2005).

As exigências físicas e mentais positivas do trabalho promovem e protegem a

saúde e a capacidade funcional do trabalhador (ILMARINEN, 2001). Porém, essas

exigências podem gerar alterações fisiológicas agudas e crônicas, reações psicológicas e

mudanças comportamentais, diminuindo a capacidade funcional e a capacidade para o

trabalho, favorecendo o aparecimento de doenças relacionadas ao trabalho (TUOMI et

al., 2005).

A avaliação da capacidade para o trabalho pode ser realizada por meio da

aplicação do instrumento Índice de Capacidade para o Trabalho – ICT–, que representa

adequada abordagem individual e coletiva. O ICT foi desenvolvido por um grupo de

pesquisadores filandeses com formação em psicologia, medicina, bioestatística,

epidemiologia e profissionais da área de saúde ocupacional (TUOMI et at., 2005).

Baseado na autopercepção dos trabalhadores, o ICT é um instrumento com

objetivo de mensurar o “quão bem está, ou estará, um (a) trabalhador (a) neste momento

ou num futuro próximo, e quão bem ele ou ela pode executar seu trabalho, em função

das exigências, de seu estado de saúde e capacidades físicas e mentais” (TUOMI et al.,

2005).

O ICT é composto de sete itens, cada um avaliado por uma ou mais questões

(quadro 3) que avaliam as exigências físicas e mentais do trabalho, o estado de saúde do

trabalhador e seus recursos, físicos e mentais.

33
Quadro 3- Número de questões e pontos dos escores de cada dimensão do ICT

Nº de
Item Número de pontos (escore) das respostas
questões
1. Capacidade atual para o
0 – 10 pontos
trabalho comparada com a 1
(valor assinalado no questionário)
melhor de toda a vida

2. Capacidade para o
Número de pontos ponderados de acordo
trabalho em relação às 2
com a natureza do trabalho
exigências do trabalho
Pelo menos 5 doenças = 1 ponto.
4 doenças = 2 pontos
1
3. Número de doenças 3 doenças = 3 pontos
(lista de 51
atuais diagnosticadas por médico 2 doenças = 2 pontos
doenças)
1 doença = 5 pontos
Nenhuma doença = 7 pontos
1-6 pontos (valor circulado no questionário;
4. Perda estimada para o
1 o pior valor
trabalho por causa de doenças
escolhido)
5. Faltas ao trabalho por
doenças no último ano (12 1 1-5 pontos (valor circulado no questionário).
meses)

6. Prognóstico próprio da
1, 4 ou 7 pontos (valor circulado no
capacidade para o trabalho daqui 1
questionário).
a 2 anos
Os pontos das questões são somados e o
resultado é contado da
seguinte forma:
7. Recursos mentais * 3 Soma 0-3 = 1 ponto.
Soma 4-6 = 2 pontos.
Soma 7-9 = 3 pontos.
Soma 10-12 = 4 pontos.
Fonte: TUOMI et al., 2005
*este item refere-se à vida em geral, tanto no trabalho como no tempo livre.

O resultado atinge um escore de 7 a 49 pontos, que representam o conceito do

trabalhador sobre sua capacidade para o trabalho. Esses escores são classificados em

umas das quatro categorias do ICT (quadro 4), de maneira que indicam medidas

necessárias a serem tomadas para restaurar, melhorar, apoiar e manter a capacidade para

o trabalho.

34
Quadro 4 – Pontuação, escores e medidas necessárias do Índice de Capacidade para o
Trabalho.

Pontos Capacidade para o trabalho Medidas necessárias

Restaurar a capacidade para o trabalho.


7-27 Baixa

Melhorar a capacidade para o trabalho.


28-36 Moderada

Apoiar a capacidade para o trabalho.


37-43 Boa

Manter a capacidade para o trabalho.


44-49 Ótima

Fonte: TUOMI et al., 2005

35
3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Identificar os dilemas éticos e bioéticos referidos pelos enfermeiros

obstetras e avaliar como os mesmos interferem na sua qualidade de vida

relacionada à saúde e na sua capacidade para o trabalho.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar os dilemas éticos e bioéticos referidos pelos enfermeiros obstetras;

 Avaliar como esses dilemas éticos e bioéticos interferem na sua qualidade de

vida relacionada à saúde;

 Avaliar como esses dilemas éticos e bioéticos interferem na sua capacidade

para o trabalho.

36
4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de método misto, qualitativo e quantitativo. A pesquisa de

método misto oferece uma terceira alternativa alicerçada na dupla contribuição entre as

duas abordagens metodológicas (TEDDLIE; TASHAKKORI, 2011). De acordo com

Jonshonet al. (2007), o método misto consiste em:

A pesquisa de método misto é o tipo de pesquisa na qual o


pesquisador ou grupo de pesquisadores combinam elementos de
abordagem qualitativa e quantitativa (ponto de vistas, coletas de
dados, análises, inferências e técnicas qualitativas e quantitativas) no
propósito de maior entendimento e compreensão (JONHSON et al.,
2007, p123).

A utilização de método misto é caracterizada pelo paradigma do pluralismo, tendo

em vista: 1- considerar a posição alternativa de paradigma; 2- buscar a alternativa mais

próxima às perspectivas do estudo (TEDDLIE; TASHAKKORI, 2011).

A respeito da combinação de metodologias, a antropologia permite abordagens

mais complexas com as seguintes regras: documentação estatística, observação do

campo de estudo, desenvolver o olhar para diferentes fenômenos sociológicos e

desenvolver a escuta na busca de compreender o objeto de estudo no seu contexto social

(MINAYO, 2010).

A complexidade da pesquisa de método misto envolve questões epistemológicas

da objetividade e subjetividade, tendo-se como entendimento que os fenômenos sociais

podem ser categorizados em sua análise qualitativa inserida em um contexto social.

Na presente pesquisa, procurou-se identificar se os dilemas éticos e bioéticos

vivenciados pela equipe de trabalhadores da enfermagem interferem em sua qualidade

de vida e capacidade para o trabalho.

37
O método utilizado para análise qualitativa dos dados foi análise temática. O

referido método considera a totalidade do texto na análise, passando-o por uma crítica

de classificação e de quantificação, segundo a frequência de presença ou ausência de

itens de sentido. É um método de gavetas ou de rubricas significativas que permitem a

classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem (BARDIN,

2011).

Para análise quantitativa foi desenvolvido um instrumento de coleta de dados

sociodemográficos (Apêndice 1), aplicado o questionário Short Form Health Survey

(SF-36), versão Brasileira (CICONELLI at al, 1999), e o questionário de Índice de

Capacidade para o Trabalho (TUOMI et al, 2005).

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública da cidade de Salvador-BA.

Participaram do estudo 10 enfermeiros que atuavam em diversos setores da

maternidade. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser enfermeiro atuante de

qualquer setor da maternidade e que voluntariamente desejassem contribuir com o

estudo. Foram excluídos do estudo os enfermeiros que estavam de férias e/ou licença,

bem como aquelas que exerciam cargos administrativos.

A coleta de dados ocorreu nos meses de maio e junho de 2014. Foram realizadas

entrevistas, utilizando-se um roteiro para entrevista semiestruturada, com tópicos

norteadores para identificar se os dilemas éticos e bioéticos podem interferir no trabalho

e na sua qualidade de vida. O instrumento semiestruturado teve como referencial teórico

o Código de Ética do enfermeiro, a Bioética Principialista, segundo Beauchamp e

Childress, a Bioética Personalista, como descreve Sgreccia, assim como questões do

SF-36, instrumento que avalia qualidade de vida em saúde, com medidas de resumo de

saúde física e mental.

38
Após a gravação e transcrição das entrevistas, seguiu-se a técnica de análise

temática, como descreve Bardin (2011), constituída por três etapas: a pré-análise,

realizada com a leitura flutuante, obtendo um contato exaustivo com o material; a

exploração do material, possibilitando a determinação das unidades de registro

codificação e recorte das falas; e na última fase procedeu-se ao tratamento dos

resultados obtidos e a interpretação, além da reflexão das temáticas identificadas com a

literatura científica.

A discussão dos aspectos éticos e bioéticos foi baseada na teoria principialista de

Beauchamp e Childress (2002), no manual de Bioética de Elio Sgreccia (v.1 2009 e v.2

2014) e na Carta Universal de Direitos Humanos da UNESCO (2005).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina

da Bahia da Universidade Federal da Bahia, com número CAAE

26032313.3.0000.5577. Foram respeitadas as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde na sua Resolução

nº 466/12, com utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

As entrevistas foram realizadas pela mesma pesquisadora em ambiente reservado.

Foram utilizados vários locais da própria maternidade, com a finalidade de ser um local

reservado e confortável para o entrevistado, respeitando a privacidade dos participantes.

Os locais utilizados foram a sala da coordenação de enfermagem, o conforto de

enfermagem e a recepção do ambulatório, quando o expediente já havia terminado.

39
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Aproximação com o campo de pesquisa

A realização da presente pesquisa representou um desafio para a pesquisadora,

sendo necessário, antes do início do estudo, sua aproximação com o campo de estudo.

Inicialmente, a pesquisa seria realizada numa instituição privada/ filantrópica. No

entanto, houve uma negação da referida instituição, alegando que a mesma estava em

momento delicado com a categoria de trabalhador a ser estudada, inviabilizando a

submissão do projeto no CEP da mesma. A negativa institucional foi acompanhada da

justificativa de que a pesquisa poderia fomentar um comportamento indesejado na

equipe de enfermagem.

Por essa razão, a pesquisa foi realizada no serviço público, sendo o campo de

trabalho definido após reunião com Diretora da Maternidade Albert Sabin. O projeto foi

avaliado pela instituição antes de receber anuência para submissão ao CEP FMB-

UFBA.

No processo de avaliação do projeto pela instituição, foi realizado um encontro

presencial para apresentação do mesmo e esclarecimento de dúvidas. Após recebimento

de anuência da Maternidade Albert Sabin, o projeto foi avaliado e aprovado pelo CEP

FMB-UFBA. Tendo havido a aprovação pelo CEP, comunicamos à Direção da

Maternidade Albert Sabin, a fim deiniciarmos o trabalho de campo. Minha participação

foi marcada por um período de conhecimento institucional, inclusive com participação

de reunião na maternidade, que objetivou melhor condução do processo, sendo feitos os

ajustes de horários de permanência na unidade.

O trabalho começou a ser realizado com grandes expectativas: a experiência do

campo, a delicadeza da abordagem aos colegas e necessidade de afastamento do objeto

40
de estudo no qual a pesquisadora se encontrava inserida como enfermeira atuante. Para

facilitar o acesso aos colegas, o projeto foi divulgado pela coordenação de enfermagem

e registrado no livro de ocorrência local. Antes de iniciar a coleta de dados, os

enfermeiros foram informadas sobre os objetivos da pesquisa, sua metodologia, da

voluntariedade em participar ou não, bem como o direito e liberdade de se retirar o

consentimento em qualquer fase da pesquisa, independente do motivo, e sem nenhum

prejuízo.

A pesquisa somente foi iniciada após a adaptação e aproximação da pesquisadora

com o campo, de forma que a mesma incorporou-se ao espaço, havendo tranquilidade

em sua circulação no campo de estudo. Apesar de a pesquisadora ser enfermeira, não

pertencia à equipe de enfermeiros da instituição da pesquisa. As entrevistas foram

diariamente gravadas e transcritas, sendo realizada leitura exaustiva, ainda na fase de

coleta, determinando o ponto de saturação dos dados e encerramento da coleta.

Durante a coleta de dados, foi possível perceber que o momento da entrevista

funcionava como um desabafo profissional. Os enfermeiros demonstravam interesse

pessoal em participar da pesquisa. A aparência das participantes era de esgotamento

físico mental e até mesmo, aspecto apático. Ainda que houvesse uma negação verbal

desse estado, o mesmo era visível e inquestionável ao observador. Muitos participantes

se esforçavam para dar respostas positivas aos questionamentos. Parecia que algo ou

alguma situação estava sendo encoberta pelos enfermeiros entrevistadas. Após início da

pesquisa, os murais da unidade ganharam um renovo, com mensagens falando sobre o

comportamento ético das pessoas e incentivando as boas práticas.

No ambiente de trabalho, puderam-se observar momentos saudáveis e tensos entre

as equipes multiprofissionais. Esses momentos funcionavam como estimulante ou

desanimador para o exercício profissional.

41
No que tange às reações frente aos dilemas profissionais, foi observado que os

enfermeiros com menos tempo de exercício profissional apresentavam discursos

contraditórios sobre sofrimento no trabalho; já os enfermeiros com mais tempo de

serviço referiram mais frequentemente e abertamente sobre traumas na vida social e

emocional como também na saúde, vinculados ao trabalho. As mesmas manifestavam

sentimentos de ansiedade pela aposentadoria como forma de livramento do sofrimento

no trabalho.

Os discursos das participantes da pesquisa durante as entrevistas foram marcados

com frases impactantes que englobam os mais diversos conteúdos desse estudo. As

principais frases foram: “Enfermagem por amor, sem prazer” (I2), “Enfermagem por

amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno” (I3), “O trabalho é um refúgio... só

tenho alegria para o trabalho” (I4), “Eu era mais feliz antes de ser enfermeira” (I8), “É

melhor fazer, né?! Não é meu dever? Então vou fazer, sim” (I10), “Existe sofrimento,

não sei se propriamente isso, sofrimento mental, mas um massacre mental para o

profissional enfermeiro sim” (I8), entre outras.

Durante o desenvolvimento do trabalho de campo pude experimentar a

dificuldade em garantir a confiabilidade e legitimidade da pesquisa, tendo que exercer a

capacidade de dominar a técnica de saturação dos dados coletados conforme a técnica

de Bardin (2011). Por ser enfermeira, tive o cuidado de manter distanciamento

necessário para não interferir no estudo, disponibilizando mais tempo para coletar os

dados. A pesquisadora absteve-se de realizar comentários sobre os relatos durante as

entrevistas para não influenciar o objeto de estudo. No processamento e análises dos

dados, a neutralidade e a objetividade do conhecimento científico foram priorizadas.

42
Caracterização da amostra

Foram estudados 10 indivíduos, sendo nove do sexo feminino e um do sexo

masculino. A idade média foi 41,1 anos e o desvio padrão de 8,3. Todos eram não

fumantes e dois indivíduos referiram consumo de álcool.

Tabela 1 - Características do trabalho de dez enfermeiros de uma maternidade,


Salvador, 2014.

Característica Média ± DP Mínimo - Máximo


Carga horária semanal 44,2 ± 12,3 30 - 66
Renda (reais) 4.130 ± 1.625 3.000 – 8.000
Tempo na função 16,2 ± 8,1 8 - 31
ICT (Pontos totais) 35,4 ± 6,5 25 - 46
Capacidade para o trabalho (avaliação subjetiva)a 7,7 ± 1,4 5-9
Capacidade Física (avaliação subjetiva)b 4,1 ± 1,0 2-5
Saúde Mental (avaliação subjetiva)b 3,9 ± 0,9 2-5
Fonte: Questionário sociodemográfico e ICT.
a
– Numa escala de 0 a 10.
b
– Numa escala de 1 a 5.

Uma pergunta do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)

possibilita a avaliação subjetiva da saúde individual atual, comparada há um ano. Seis

dentre os dez profissionais entrevistados afirmaram a manutenção do estado geral de

saúde (Tabela 2).

Tabela 2 - Avaliação subjetiva da saúde geral há um ano, por dez enfermeiros de uma
maternidade de Salvador, 2014.

Saúde há 1 ano N

Muito melhor 2
Um pouco melhor -
Quase a mesma 6
Um pouco pior 2
Muito pior -
Total 10
Fonte: Questionário SF-36

43
A qualidade de vida relacionada à saúde, medida por meio do SF-36, revelou

escores particularmente baixos para os domínios Aspectos Emocionais (41,7 ± 14,9) e

Aspectos Sociais (43,0 ± 14,3), que contribuíram substancialmente para o baixo escore

do Componente de Saúde Mental (43,3 ± 15,8). (Tabela 3)

Os escores normalizados do SF-36 devem ser interpretados como comparações

com os escores para a população padrão dos Estados Unidos, que assumem média igual

a 50 e desvio padrão igual a 10.

Tabela 3 – Escores brutos e normalizados dos domínios e componentes sumários do SF-36 em


dez enfermeiros de uma maternidade de Salvador, 2014.

Domínio / Componente Sumário Escore Bruto Escore Normalizado

Capacidade Física 84,0 ± 17,9 50,4 ± 7,5


Aspectos Físicos 72,5 ± 41,6 48,5 ± 11,8
Dor 73,3 ± 27,5 51,3 ± 11,8
Estado Geral de Saúde 68,7 ± 23,1 49,4 ± 10,8
Vitalidade 61,0 ± 24,0 51,9 ± 11,4
Aspectos Sociais 67,5 ± 32,9 43,0 ± 14,3
Aspectos Emocionais 56,7 ± 47,3 41,7 ± 14,9
Saúde Mental 69,2 ± 22,3 46,6 ± 12,7
Componente Saúde Física _ 52,7 ± 9,7
Componente Saúde Mental _ 43,3 ± 15,8
Fonte: Questionários SF-36

Seis indivíduos apresentaram níveis baixos do escore do Componente Saúde

Mental, segundo o SF-36, e, destes seis, apenas um reconheceu ter baixa capacidade

mental, segundo a questão 3 do ICT, que avalia subjetivamente a capacidade mental.

Apesar de 60% das participantes apresentarem baixos escores do Componente

Saúde Mental, no escore do Componente Saúde Física apenas dois informantes

estiveram abaixo da média, segundo o SF-36.

44
Na avaliação subjetiva de capacidade física, baseada na questão 1 do ICT, 80%

dos entrevistados se consideraram com capacidade física boa e muito boa; 10%,

moderada; e 10%, baixa.

Os escores normalizados do SF-36 dos Componentes Saúde Física e Saúde Mental, a

classificação do Índice de Capacidade para o Trabalho e os relatos dos participantes

foram correlacionados no Quadro 5.

45
Quadro 5 - Escores normalizados do Componentes Saúde Física e do Componente Saúde Mental do SF-36; Pontuação e Classificação do ICT;
Comentários e Depoimentos de dez enfermeiras de uma maternidade de Salvador, 2014.
SF – 36 ICT

Mental Para o
Saúde Mental
Enfermeiro/a

Classificação

Atual Para o
Saúde Física

Capacidade

Capacidade

Trabalho**
Trabalho *
Pontuação COMENTÁRIOS DEPOIMENTOS

Por falta de parâmetros padrões na


CSF abaixo da média, CSM muito abaixo da média e equipe, em determinado plantão a equipe
ICT baixo. Análise subjetiva: considerou-se com conduz daquela forma; em outro plantão,
Baixa

1 48,66 24,48 27 5 3
qualidade de vida mediana. Demonstrou sofrimento com a equipe entende que é de outra forma...
ausência de normas e protocolos no trabalho. Isso desgasta... O que pode em um, não
pode no outro?!

CSF com valor médio, CSM muito abaixo da média e


ICT moderado. Análise subjetiva: Demonstrou Enfermagem por amor, sem prazer.
ansiedade para se livrar do trabalho. Informou trauma
Moderada

Vamos pensar em cuidar do cuidador


2 50,90 34,75 33 7 4 social, emocional e familiar. Relatou que se encontra em
também... Vamos pensar nisso.
tratamento multidisciplinar com psicólogos,
nutricionistas, psiquiatra, acupuntura e educador físico.
Informa arrependimento por ter priorizado o trabalho.

CSF com valor acima da média, CSM muito abaixo da


média e ICT bom. Análise subjetiva: Demonstrou
Enfermagem por amor, com sacrifício de
3 67,78 18,80 39 7 2 indignação com a profissão, desânimo com a pouca
Boa

vida pessoal e sem retorno.


valorização do trabalho e falta de autonomia
profissional.

46
CSF com valor médio, CSM acima da média e ICT

Moderada
moderado. Análise subjetiva: Considerou-se com O trabalho é o meu refúgio.
4 54,35 62,93 34 9 4
excelente capacidade física. Relatou Abandonou tudo Só tenho energia para o trabalho.
pelo trabalho. Informou depressão quando está em casa.

Depende muito do plantão, da situação


CSF e CSM acima da média e ICT ótimo. Análise que agente vive... se você vive uma
subjetiva: Considera-se com ótima capacidade física e situação de superlotação, você vê a
5 60,03 58,67 46 Ótima 9 5 mental. Demonstrou esforço em dar respostas corretas necessidade do seu paciente... você se vê
(tentativa de camuflagem?), relatou situações de numa emergência sem leito para atender
sofrimento no trabalho. esse paciente, isso leva ao sofrimento
mental...

Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a


CSF e CSM abaixo da média e ICT moderado. Análise enfermagem. Aqui tem muito esse
Moderada

6 43,36 44,83 32 8 5 subjetiva: Aparentou calma, porém apresentou-se problema.


deprimida com as exig6encias do trabalho.

CSF e CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Com todas as restrições, eu sou a primeira
Análise subjetiva: Discursou com oscilação de a carregar para disponibilizar aquele
comportamento, ora com disposição, ânimo e aparência equipamento na hora. A vida do outro é
Baixa

7 33,11 29,68 25 6 4
de felicidade no exercício profissional e por vezes sempre muito importante, e a gente até
deprimida, abalada emocionalmente e desiludida. esquece da nossa em prol da vida do
Relatou sobre-esforço no trabalho. outro.

CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise A todo o momento nós somos cobrados,
subjetiva: Na avaliação subjetiva relatou excelente não só da clientela, como também dos
8 57,68 57,48 40 9 4 capacidade para o trabalho. Relatou satisfação para outros profissionais... a assistência de
Boa

exercer a profissão, mas cobrança desigual de enfermagem está 24 horas, então tudo de
responsabilidade no trabalho. certo que acontece os médicos recebem as
palmas e tudo de errado que acontece o
47
enfermeiro é responsabilizado.

CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise A gente tem que aprender a se fazer de
subjetiva: Relatou satisfação com vinculo estatutário, maluca mesmo (risos) para sobreviver.
9 51,64 58,76 41 9 4

Boa
mas aparentou sofrimento mental no discurso sem
autopercepção do mesmo.

É melhor fazer, né?! Não é meu dever?!


CSF mediano, CSM abaixo da média e ICT bom. Os riscos ergonômicos, sobrecarga de
Análise subjetiva: Aparentou desânimo, abatimento e trabalho, as noites perdidas, entendeu? A
10 58,00 41,04 37 8 4 apatia. Evidenciou desgaste físico e mental, fala fraca e gente tem que ter dois vínculos para
Boa

andar arrastado. poder realmente ter qualidade de vida. A


gente tem um ambiente sem ventilação,
aumento de pessoas... tudo isso é risco.

*AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE TOTAL PARA O TRABALHO/ Questão 1 do ICT – Escala: 0(incapaz para o trabalho) a 10(melhor capacidade para o trabalho).
** AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE MENTAL / Questão 2b do ICT – Escala: 1(muito baixa) a 5 (muito boa).

48
Categorias temáticas

Foram identificadas sete temáticas que serão apresentadas a seguir: Representação

das questões éticas e bioéticas no trabalho da enfermagem; Percepção da qualidade de

vida relacionada à saúde; Aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida;

Influência do trabalho na vida pessoal; Capacidade para o trabalho; Descrição do

processo de trabalho e Principais dilemas éticos e bioéticos identificados na prática da

enfermagem.

1) Representação das questões éticas e bioéticas no trabalho da enfermagem

Os sujeitos da pesquisa, ao se referirem às questões éticas e bioéticas no trabalho

da enfermagem consideraram de fundamental importância o cumprimento normas e

diretrizes do exercício profissional e o respeito do direito à vida do outro. Constituindo-

se como aspectos deontológicos em detrimento dos aspectos humanísticos; apesar de

alguns momentos ficarem em segundo plano em nome da política de sobrevivência no

ambiente de trabalho, conforme explicitado nas falas seguintes.

[...] Eu vejo como as normas morais que eu sigo para estar


direcionando minha profissão e todo processo de trabalho. E a
bioética são diretrizes éticas, morais as normas que a gente
institui em relação à vida do outro que está sob os nossos
cuidados. (I3)

[...] A bioética ainda em alguns momentos vem sendo colocada


em segundo plano e as pessoas, às vezes para satisfazer o ego,
esquecem. (I8)

Esse comportamento ético se estabelece com a finalidade de garantir o equilíbrio

biopsicossocial do enfermeiro para prestação de uma boa assistência.

O Conselho Federal de Enfermagem enfatiza que o aprimoramento do

comportamento ético do profissional de enfermagem passa pelo processo de construção

de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional,

configurado pela responsabilidade do plano das relações de trabalho com reflexos nos

49
campos técnico, científico e político. O decreto nº 94.406 de 1987 traz a incumbência de

todo pessoal de enfermagem cumprir o Código de Deontologia da Enfermagem

(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

Por ética deontológica entende-se toda concepção ética, que compreende certos

deveres categóricos e certas proibições que têm precedência incondicionada sobre

outras preocupações morais e sobre considerações de índole finalística e funcionalista

(SGRECCIA, 2009).

Oliveira (2011) concluiu que, embora com dificuldade para reconhecer os

conflitos e dilemas éticos, os enfermeiros tomam decisões, e essas são fundamentadas

na deontologia e na bioética. Ao fazê-lo, procuram manter o equilíbrio emocional da

equipe e a harmonia no ambiente de trabalho.

2) Percepção da qualidade de vida relacionada à saúde

Esta categoria, que refletiu a expressão qualidade de vida no trabalho, trouxe

consigo contradições pelo fato de possuir conceito subjetivo dependente de vários

fatores sociais, psicológicos, emocionais, espirituais e até mesmo éticos.

Neste estudo, a percepção dos indivíduos sobre sua qualidade de vida, revelou que

os mesmos a consideram como comprometida, regular, em decorrência de uma carga

horária de trabalho excessiva. A maioria dos profissionais tinham dois vínculos

empregatícios, por necessidade de melhorar a remuneração a fim de atender suas

Necessidades Humanas Básicas (NHB), como moradia, alimentação, bens e conforto,

bem como a garantia da sustentabilidade da família.

Foi possível observar, na descrição das falas citadas abaixo, a diversidade das

definições de qualidade vida dos participantes, como: a) ter tempo; b) bem-estar na

saúde, lazer, trabalho; c) cuidar de si mesmo, viver e não sobreviver; d) estar perto da

família e amigos; e) se divertir e estar presente nos eventos sociais; f) bem-estar

50
biopsicossocial; g) garantir o sustento familiar; h) ter satisfação no trabalho, conquistas

e conforto.

[...] Qualidade de vida são as formas que você escolhe para ser
feliz. Eu estava péssima, porque eu tinha uma sobrecarga de
trabalho muito grande, estava me afastando da minha família e
do meu filho, do meu marido e da minha família como todos os
meus amigos. (I3)

[...] Qualidade de vida é o padrão de saúde, de estar bem para


atender bem. O cuidador tem que ser cuidado também porque
ele é ser humano, então ele precisa estar bem
biopsicossocialmente, precisa estar saudável mentalmente,
precisa estar saudável fisicamente, precisa estar saudável
socialmente, ter saúde social, porque se não se sentir bem com
ele, ele não vai se sentir bem com o grupo de trabalho e também
ele pode transparecer isso para os usuários. (I6)

Na avaliação da Qualidade de Vida, deve-se procurar dentro da pessoa a

satisfação das necessidades e dos desejos, além do respeito e da promoção dos valores

tipicamente humanos, sendo estes espirituais e/ou morais (SGRECCIA, 2014).

Ao interferir em sua qualidade de vida, o profissional muda atitudes, tanto no

âmbito intrafamiliar quanto no intra-hospitalar, podendo comprometer o relacionamento

interpessoal no trabalho e a qualidade do atendimento aos clientes, o que trará

certamente consequências ao indivíduo e/ou à população assistida (FERREIRA;

MARTINO, 2006).

Por isso a saúde deve ser entendida como um equilíbrio dinâmico condicionado

por quatro dimensões: a dimensão biológica, ou física, a dimensão psicológica, a

dimensão socioambiental e a dimensão ética (SGRECCIA, 2014).

3) Aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida

Quando abordados sobre os aspectos éticos e bioéticos necessários para ter

qualidade de vida, os enfermeiros referiram a importância do trabalho em equipe, com

respeito, responsabilidade e compromisso. Além disso, foram referidos como fatores de

51
promoção da qualidade de vida: o estabelecimento e o cumprimento da deontologia

como mecanismo de evitar conflitos entre as equipes multiprofissionais; agir com

resolutividade nas tomadas de decisão, redução de carga horária e, consequentemente,

da demanda de trabalho.

[...] Ter normas bem definidas pra você saber exatamente o que
é sua função e não ficar tendo que ficar se chocando com os
outros profissionais pra decidir o que é seu e o que é do outro,
ter embates que firam a própria ética nas relações. (I1)

[...] Quando eu me submeto a vários vínculos empregatícios


quando na verdade, muitas vezes, a questão física e a questão
emocional não favorecem que você dê conta do todo. Mas,
infelizmente, para manter um padrão de qualidade de vida que a
gente julga necessário, a gente acaba se submetendo. (I3)

[...] Essa questão do compromisso, responsabilidade, do


respeito, que eu acho que são fatores imprescindíveis no
ambiente do trabalho, porque se você tem um ambiente saudável
nesse sentido, consequentemente, você vai ter um lado
psicológico mais saudável, e isso se reflete de modo positivo,
porque eu vou sair mais leve do trabalho, consequentemente, eu
não vou chegar em minha casa com nível de stress muito
elevado e, de certa forma, descontando isso em outros setores
como família, ambiente escolar, ambiente de lazer ou numa
academia. (I5)

[...] No momento que as equipes conseguirem se tratar com


ética, eu acho que vai melhorar bastante minha qualidade de
vida, porque um momento que me irrita é esse, às vezes uma
irritação que eu saio daqui em um plantão e levo isso para casa,
porque a gente é ser humano e não tem jeito, não dá pra sair
daqui e deixar aqui e as vezes você tem uma noite ruim por
causa daquilo, até um outro dia ruim por causa daquilo
martelando em sua mente. (I9)

Tratar os colegas e outros profissionais com respeito e consideração faz parte dos

deveres contidos no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CONSELHO

FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

52
Sgreccia (2009) ressalta que o respeito pela vida, a sua defesa e a sua promoção

representam o primeiro imperativo ético do homem diante de si mesmo e diante dos

outros e que sem uma ética da vida não pode haver qualidade de vida.

Diante de tal dever e necessidade, Araújo e colaboradores (2006) já

demonstravam que é necessário um trabalho interdisciplinar para que ocorra o respeito e

a valorização do saber das diversas categorias profissionais. Além da questão da

interdisciplinaridade, que permite que os membros da equipe possam trocar

experiências, realizar avaliações e tomar decisões conjuntas. A atitude interdisciplinar

proporciona uma cumplicidade na equipe, diminui o stress, amplia possibilidades de

sucesso, reduz ou elimina os riscos ocasionados pelas condutas isoladas.

O lazer é uma premissa fundamental na qualidade de vida, porém o tempo desses

profissionais dedicado ao lazer é limitado por causa da carga horária trabalhista. Apesar

de ser considerado um compensador do stress cotidiano do trabalho, o lazer geralmente

restringe-se a uma vez por semana. As atividades de lazer mais citadas foram: assistir

TV, passeios em família, visitar amigos e entes queridos. Ressaltaram que, para se

conseguir um lazer de qualidade, é necessário desligar-se totalmente das questões

trabalhistas.

[...] Eu me obrigo a ter lazer. (I1)

[...] eu não tenho tempo, muito tempo, pra fazer quase nada. Na
verdade, eu fico a semana inteira, eu costumo trabalhar a
semana inteira. Esse último ano eu não fiz nada da minha vida
em relação a lazer. (I3)

[...] Eu resolvo isso aí com uma coisa que eu gosto demais, que
é ver TV. (I4)

[...] O lazer na minha vida não planejo muito, mas sempre que
posso [...] aproveito o máximo possível e me desligo totalmente
do trabalho. Quando estou no lazer, estou no lazer. (I8)

53
4) Influência do trabalho na vida pessoal

O significado do trabalho na vida pessoal desses trabalhadores foi considerado

como uma necessidade, razão de viver, essencial, sobrevivência, vitória pela ascensão

do nível social, dignidade, satisfação, felicidade, isolamento social, familiar, inclusive

conjugal, causador de frustração, de danos físicos e mentais. Apesar de algumas dessas

considerações serem negativas, os participantes informam que a falta desse trabalho

causa angústia e sentimento de inutilidade.

O que dá significado à vida humana depende do conceito de vida humana que se

tem. O valor moral é específico das atividades humanas e da experiência moral,

denotando a qualidade ou perfeição de uma ação ou de uma conduta. O amor ao

próximo, o respeito pela vida, a generosidade, o espírito de sacrifício, etc são valores

morais que existem como apelo natural na própria realidade da pessoa humana, como

ideal que atrai continuamente o sujeito pessoal, como “dever ser” para o qual orientar o

próprio ser (SGRECCIA, 2009).

Vejamos nos depoimentos abaixo, a influência do trabalho na vida pessoal do

enfermeiro.

[...] Trabalho na minha vida é uma necessidade, né? Por n razões


que a atividade de enfermagem tem trazido essas frustrações em
que as pessoas fazem o trabalho 1, 2, 3, 4 ou mais não porque é
prazer, mas porque é necessidade. (I1)

[...] Trabalho é essencial, é o que nos faz sentir útil, é aquilo que
nos garante a sobrevivência, é aquilo que nos faz crescer como
seres humanos. (I5)

[...] O trabalho em enfermagem sempre foi meu ganha pão.


Então, assim, em primeiro lugar eu devo muito a ele, minha
independência financeira, ajuda a sustentar minha família.
Então, assim, tem essa relação assim de troca muito boa. Em
contrapartida, tem essas questões assim de saúde, então já tem
um lado negativo bem forte que de qualquer forma a atividade
laboral propiciou isso, hérnia de disco. Eu fico meio em cima do
muro, tem o lado bom e tem o lado ruim. (I7)

54
[...] Eu acho que eu nasci para cuidar de gente. Não sei se isso é
um privilégio ou se isso é um fardo. Eu acho uma coisa digna,
satisfatória também. (I8)

[...] Eu venho de uma comunidade humilde, e tenho carro é


porque eu estudei para ser enfermeira, no caso foi a profissão
que me deu, venho de uma condição humilde e hoje sou
concursada porque eu estudei pra ser enfermeira, então eu
poderia não ter estudado e ter vivido como todo mundo vive
onde eu moro e não usufruir metade das coisas que eu usufruo
hoje. (I9)

Considerando que os profissionais reagem de diversas formas, uns mais

descontraídos não se deixando abater pelo cansaço e carga de trabalho, outros mais

voltados para realidade social, porém, todos, a seu modo, conseguem conviver com o

estresse (PEREIRA et al., 2009).

Essa postura exige do profissional um grande esforço em prol do próximo e da

preservação da vida humana.

A vida humana é sagrada ou possui um valor infinito, não implica que ela tenha

de ser preservada independentemente de outros valores. As pessoas desejam arriscar

suas vidas por vários benefícios possíveis, incluindo a diversão, a amizade, a fama e a

riqueza (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

Afirmam ser um trabalho prazeroso, por lidar com o nascimento de seres humanos

que traz uma satisfação intrínseca, apesar do sofrimento físico e mental e do declínio

das condições de trabalho.

[...] Uma atividade que eu gosto, gosto do que faço, atividade de


lidar com o binômio mãe e filho é pra mim muito, muito
importante. Eu só lamento não ter tempo de me dedicar mais,
porque são poucos profissionais, né? (I6)

[...] Se você se sente feliz no trabalho, já melhora bastante a sua


vida porque não tem nada pior do que você sair de casa pra fazer
uma coisa que você não gosta. (I9)

55
Pereira e colaboradores (2009) evidenciaram que os enfermeiros procuram focar

na qualidade da vida e no progresso da saúde do paciente, tornando o trabalho

satisfatório ao verem o resultado do cuidado.

5) Capacidade para o trabalho

A capacidade para o trabalho foi atrelada ao tempo de serviço e/ou experiência

para adquirir habilidade necessária para atividade desempenhada em cada setor

específico. Associando-se ao agir corretamente, sem erros, assumindo uma postura de

autocobrança, uma vez que o exercício profissional exige que o indivíduo utilize sua

capacidade em resolver conflitos e dilemas cotidianamente.

[...] A habilidade só com o tempo. A capacidade depende do


treinamento frente ao novo. (I1)

[...] Na verdade eu tenho tempo, já tem tempo que trabalho com


obstetrícia. (I3)
[...] Eu fiz enfermagem há 31 anos atrás entendeu? Na época
muito rígida, gosto de fazer minhas coisas corretamente porque
na enfermagem você tem que fazer com segurança pra que você
seja respeitada também, então eu não admito erros, acontecem
erros, mas não repetir esses erros. (I4)

Versiani (2013) afirma que é através da experiência do dia-dia (presenciar) que o

enfermeiro obstetra se identifica como um “Ser” e assume uma feição técnica.

A bondade e a compreensão, a sabedoria, fruto da experiência, o dom do

conselho, a capacidade de dispensar otimismo e confiança, a fé sobrenatural e a

paciência, a esperança cristã, a disponibilidade para o serviço, a capacidade de dar

testemunho são sinais de uma plenitude de valores vividos e são frutos de uma

maturidade de vida (SGRECCIA, 2014) que só se adquire com o tempo e com a

vivência do trabalho.

6) Descrição do processo de trabalho

Conforme mencionados nos discursos, o processo de trabalho é visto como uma

de forma deontológica e Sistematizada da Assistência de Enfermagem (SAE) seguindo

56
uma rotina onde o resultado depende de toda equipe, da estrutura física e da organização

do atendimento assistencial. O processo de trabalho exige do profissional

responsabilidade, dedicação máxima, dinamismo, humanização da assistência, num

contexto instável que envolve o intelecto e manual, porém a sobrecarga pela demanda

excessiva torna esse trabalho mecanizado pela intensidade do processo.

[...] A gente tem essa questão aqui que por ser estatutário cada
um rege o seu processo de trabalho e na verdade não é assim. Eu
acho que tem que haver integração entre equipe e cada um,
sabendo o que tem autonomia para e quais são as
responsabilidades técnicas que tem. Muitas vezes, por ter muito
tempo no serviço, muitas que estão pra se aposentar não querem
respeitar mais o trabalho do enfermeiro; elas querem ficar,
querem coordenar o próprio processo de trabalho e muitas vezes
quando você vai reclamar de determinadas situações, situações
que a gente julga como erradas, elas “se acham”... Acham que
os enfermeiros não têm que estar coordenando o trabalho, que
pelo tempo de serviço elas não precisam mais e não devem mais
ser reclamadas. (I3)

[...] Então o processo é dinâmico porque a gente vivencia


diversas realidades aqui dentro, então é um processo dinâmico, é
um trabalho cansativo que é a enfermagem em qualquer setor
que ela trabalhar porque o cuidado (você está ali 24 horas por
dia), então é dinâmico, é cansativo e prazeroso a gente cuidar de
pessoas. Fazer o que gosta, então, é basicamente isso. (I5)

[...] Você tem que se adaptar mesmo e ponto. (I9)

[...] Tem que ser mecanizado pra a gente dar conta do serviço.
(I10)

[...] Só que como a gente tem uma jornada de trabalho


complicada, muitas vezes com dois vínculos, que é o meu caso,
e dentro do próprio trabalho com a demanda de atividades que
fogem até da assistência, misturando assistência com questões
burocráticas, então você vive sobre muita pressão e o tempo que
você teria livre pra desenvolver outras atividades, além de ser
pouco, fica desgastado. (I1)

Corroborando com os discursos mencionados acima, o estudo de Freitas e

colaboradores (2007) revelou que os enfermeiros têm conhecimento sobre o processo,

no entanto apontam que na prática cotidiana existem fatores dificultadores, como a falta

57
de tempo, o quantitativo de pacientes internados e a rotatividades das puérperas.

Revelaram também que o trabalho sistematizado ainda não está incorporado à prática

assistencial, estando mais presente no discurso dos profissionais do que no fazer

cotidiano.

7) Principais dilemas éticos e bioéticos na prática da enfermagem.

Nesta sétima e última categoria estão apresentados os principais dilemas éticos e

bioéticos encontrados no exercício profissional da enfermagem. Para maior

acompanhamento e compreensão da temática, foi confeccionado um quadro com os

dilemas levantados pelos participantes da pesquisa, seguido dos respectivos

depoimentos. A discussão dos dilemas seguem a sequência apresentada no quadro 6.

58
Quadro 6 - Dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício profissional da enfermagem, na opinião de dez enfermeiros de uma Maternidade de
Salvador, 2014.
Dilemas e conflitos Depoimentos

1. Sistema de gestão e [...] Quem tem mais experiência... poderia estar participando junto com os gestores, para que os recursos destinados fossem
alocação inadequada de recursos e realmente aplicados nos locais necessários. (I3)
leitos
[...] Nós enfermeiros que trabalhamos na UCI compramos materiais porque precisamos melhorar a assistência, a qualidade
2. Investimento de recursos do serviço. Eu mesmo canso de comprar coisas pra aqui, porque eu quero melhorar meu setor. A gente organiza o setor, a
próprios para melhoria da assistência. gente compra as caixinhas para organizar as coisas... Se depender do Estado, muita coisa fica a desejar. (I4)

[...] Que todas os enfermeiros que estejam estudando consigam transformar nossa carga horária de trabalho para 30 horas.
Que elas pensem um pouquinho nelas, nas suas famílias e não fiquem nessa loucura que nós fazemos: dobrar a jornada de
trabalho, sair de um lugar e ir pro outro. Não vale a pena! Vai ficar deprimida, angustiada, vai perder o marido, não vai ver
filhos crescerem. [...] A carga horária de trabalho da enfermagem deveria ser de 30 horas e com um salário maior. Afinal
3. Condições precárias de
trabalho, carga horária excessiva e de contas, pra a gente cuidar, a gente precisa ter tempo pra se cuidar também. Vamos pensar em cuidar do cuidador
acúmulo de vínculos trabalhistas. também... (I2)

[...] Eu espero que o salário possa melhorar assim como as condições de trabalho do enfermeiro. Muitos setores não têm
condições de trabalho... (I4)

[...] Não adianta nada aparecer um aparelho novo, se a equipe não estiver treinada... A enfermeira tem pouca autonomia,
principalmente a enfermeira obstetra, no lidar com determinadas tecnologias... Nós temos competência técnica para fazer,
mas infelizmente o saber médico em relação a todas as questões voltadas à atenção, à saúde da mulher, ainda é o que
predomina. (I3)

4. Educação permanente com [...] Os colegas da UCI têm mais acesso à tecnologia do que outros profissionais da enfermaria... Nós usamos o monitor
inserção e utilização da tecnologia para fazer oximetria de RN e outros equipamentos, não havendo muita dificuldade, não. Geralmente os colegas ensinam e a
gente faz. (I6)

[...] Em pouco tempo, foi introduzido o teste do coraçãozinho; aí, no começo foi aquele drama. A gente já tem muita coisa
para fazer, a gente não tem aparelho... Mas hoje em dia a gente já faz como uma rotina, entende? (I9)

59
Dilemas e conflitos Depoimentos

[...] Testemunhas de Jeová insistem em não tomar transfusão. A gente respeita porque é um preceito deles, mas conversa
sobre os riscos e deixa bem claro que há riscos iminentes de “vida” e eles insistem em tomar medidas paliativas que não
vão resolver o problema e é sempre um conflito pra gente. (I2)

[...] Eu sigo o princípio que é assim: se é risco de “vida”, eu tenho que agir. As questões éticas e legais eu respondo depois.
5. Interferência dos valores (I3)
religiosos nas relações. [...] Quando chega uma pessoa que é do candomblé, caracterizada, eu acho que essa aceitação de religiões que é mais
difícil... Até porque a mulher que chega ao aborto nós pensamos que a mesma quer ser cuidada, quer ser tocada.. Essa
mulher que chega de uma outra religião (que não conhecemos) ela não quer ser tocada por uma pessoa da equipe. Assim
como a equipe não quer chegar perto, ela também não quer que a equipe chegue mesmo. Então eu vejo mais esse conflito
porque muita gente aqui é “evangélica”. (I9)

[...] Antigamente, a pessoa quando chegava aqui era mal vista porque fez aborto, porque dá cadeia, dá problemas na
justiça, temos que comunicar à polícia... Essas coisas todas. (I4)
6. Aborto / Abortamento
[...] De muitos, a indiferença; de alguns, acolhimento... A grande maioria é indiferente, não se envolve com a situação
mesmo (no caso de aborto). (I7)

[...] Trabalhar com adolescente é uma situação difícil. Existe a dificuldade de trabalhar com mulheres em situação de
7. Falta do psicólogo na equipe abortamento (abordagem da psicologia). (I3)

[...] Por ser frequente aqui, muito frequente, (os profissionais) já agem com mais naturalidade. De forma inconsciente, o
próprio sistema se organiza. As mulheres que abortam são preteridas pelas mulheres que estão em processo de parto ou
8. Triagem de pacientes em pós-parto. Acredito que existe isso na distribuição, na alocação dos leitos etc. (I1)
situação de emergência
[...] A gente precisa priorizar quem vai atender e, o nascimento sempre é a prioridade... A não ser que a mulher esteja
sangrando o suficiente que a coloque em risco de ter um choque hipovolêmico...(I2)

60
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] A mãe menor é um problema enorme pra gente. Na maioria das vezes, ela não tem maturidade e também não tem
condições financeiras para arcar com o bebê, ainda é dependente da família. Já aconteceu caso de uma menor sair daqui
9. Diminuição e/ ou perda da
acompanhada com o filho pra uma instituição pública para ser cuidada, assistida. Os pais não a aceitaram de volta, depois
autonomia pelo baixo nível
que teve o bebê. (I2)
sociocultural da clientela
[...] Muitas mães querem levar o filho em qualquer condição, por falta de informação materna e desconhecimento do
processo ao qual seu filho está passando... Isso vai expor a saúde dessa criança, ela ter autonomia do seu filho. (I10)
[...] Aí segue o princípio da equidade: dar mais a quem precisa de mais. (I8)
[...] O poder de decisão nunca é do enfermeiro sozinho, tem o médico. O poder de decisão nunca tá na mão do enfermeiro
10. Sofrimento na tomada de só, tá na mão do médico também. (I6)
decisão em questões da vida, [...] Eu sigo o princípio que é assim: se é risco de “vida”, eu tenho que agir. As questões éticas e legais, eu respondo
nascimento e morte. depois. (I3)
[...] Com todas as restrições, eu sou a primeira a me disponibilizar para carregar aquele equipamento na hora. A vida do
outro é sempre muito importante e a gente até esquece da nossa em prol da vida do outro. (I7)
[...] Muitas mães idosas vêm acompanhando seus filhos e são maltratadas pelos filhos que elas estão acompanhando...
11. Situações de maus tratos então a gente chama para conversar principalmente tem uma ajuda muito grande do serviço social e é uma coisa mais
relacionada à educação. (I4)
[...] Não temos uma estrutura adequada, não tem espaço próprio para deitar, a cadeira é desconfortável, o ambiente é
insalubre, quente. (I1)
[...] E as pacientes ficam revoltadas... Passam a noite toda andando no corredor. Já teve caso da paciente forrar o chão e
deitar no chão, pelo excesso de calor. (I4)
[...] Uma reforma que já tem muito tempo e não se resolve a questão do ar condicionado. A climatização do ambiente que é
12. Estrutura física precária
uma promessa de muitos anos... Não se resolve essa questão de não fechar as portas. Portas abertas o tempo todo e a
quantidade de pacientes. (I9)
[...] O próprio ambiente insalubre, o calor das enfermarias, nem sei quanto graus... Todas as pacientes juntas, com quatro
recém-nascidos, com quatro acompanhantes, além de superlotação de todas as formas... A gente pode vir agravar o nosso
problema de saúde. (I9)
[...] Por falta de parâmetros na equipe, em determinado plantão a equipe conduz daquela forma; em outro plantão, a equipe
13. Diferentes posicionamentos entende que é de outra forma... Isso desgasta... O que pode em um, não pode no outro?!(I1)
das equipes de plantão (Falta de [...] Quando eu não consigo realizar uma atividade que eu tenho certeza que compete ao enfermeiro, como por exemplo,
seguimento do protocolo de ausculta de batimentos cardio-fetais... E, o profissional médico praticamente toma da minha mão o “sonar”... Eu acho que
Procedimentos Operacionais Padrão) isso é uma violência muito grande! Acho que é um dos momentos de sofrimento. (I7)

61
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] A todo o momento nós somos cobrados, não somente pela clientela, mas também pelos profissionais que estão no
14. Comparação do serviço contexto. Então em tudo de certo que acontece, são os médicos que recebem as “palmas”. Em tudo de errado que acontece,
médico com o serviço do enfermeiro o enfermeiro é responsabilizado... Essa é uma das partes do massacre. O massacre é quando o cliente está insatisfeito e
obstetra e pressão no processo de existe aquela pressão constante: cadê o médico? Eu quero isso, eu quero aquilo... Acaba ele se confrontando diretamente
trabalho com quem está na assistência 24 horas... Na assistência direta, Esse é o massacre. (I8)

[...] Aquela história de ter que colocar a culpa em alguém... Foi alguém que não viu, alguém que não fez... Não assumem a
função no caso. Não foi a gente mesmo que fez, ninguém viu... Agora esse embate de enfermeira obstétrica então... Tem
um embate grande. Com uma enfermeira como diretora, temos outro embate. Um embate velado. Um embate de quem está
na linha de frente. (I9)
[...] Muitas vezes, o poder de decisão não está em minha mão. Então eu fico frustrada. O máximo que a gente pode fazer é
registrar em relatório para que quem tem direito, possa encaminhar a situação... Isso causa uma enorme frustração. (I1)
[...] Me calar... Eu acho que devia expor aquilo que estou sentindo. Brigar mais por aquilo que eu quero, sabe? E eu não
sou mais assim. Me calo e saio, ou abandono aquilo. Fico remoendo aquela história por dias. (I7)
15. Relacionamentos [...] Se for um procedimento que você vê que vai lesionar o paciente, podendo até levar à morte... Discordar, se opor e
interpessoais / Conflitos deixa passar a bola para quem está realmente tocando a conduta, né? (I8)
interdisciplinares/Disputa de poder Se o profissional, médico, quiser fazer, ele faz. Eu não vou me corromper por isso, entendeu? Aí eu procuro não bater de
frente, né? Para evitar conflitos... Porque se a gente ficar batendo de frente, quem sofre é o paciente. No momento em que
você precisar de qualquer coisa na enfermaria, o profissional não vem... Demoram! O paciente permanece com dor, você
permanece com a paciente na emergência...
[...] Eu sou profissional de enfermagem, mas eu tenho que estar bastante amparada pela parte teórica. Tenho que estudar...
até a ponto de dizer: doutora, eu não acredito que essa indução tenha falhado porque, segundo o protocolo do ministério da
saúde, são tantas doses... E assim a gente vai se norteando pelo conhecimento científico que a gente tem. Para poder, assim,
embater. (I10)

62
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] Já passei constrangimento por isso. Por não haver uma rotina. Às vezes, quando você vai colocar uma coisa que o outro
entende que não é dessa forma e, essa pessoa está acostumada a conduzir as situações de uma forma mais áspera, então
sempre surge atrito entre as equipes. Eu já vivi com várias equipes. Inclusive até com coordenação, com técnico de
16. Vivência de
enfermagem, com médico. (I1)
constrangimentos
[...] Certo constrangimento... Na hora em que você vai realizar um procedimento, como as clientes vão usar o medicamento
(misoprostol)... Aí por segurança, eu chamo um técnico sempre pra me acompanhar. Por preservação do profissional mesmo.
Por ética mesmo. (I8)
[...] olha, nós não temos equipamentos básicos de trabalho. Por exemplo, avental. Você viu que eu cheguei aqui agora, mas
não estou com nada por baixo, estou com a calça toda cheia de líquido amniótico. Líquido que tem ou pode ter determinados
tipos de vírus e bactérias. (I3)
[...] Eu tento proceder de acordo com meus conhecimentos científicos que é a base do nosso bom senso. Mas os riscos
17. Exposição a riscos ergonômicos, sobrecarga de trabalho, as noites perdidas, entendeu? A gente tem que ter dois vínculos para poder realmente ter
químicos, físicos, ergonômicos e qualidade de vida. Pra preencher a lacuna financeira que vira um risco pra saúde da gente... A própria estrutura física também
psicológicos apresenta risco. A gente tem um ambiente sem ventilação, aumento de pessoas... tudo isso é risco. (I10)
[...] Risco à saúde psicológica tem e tem muito. Inclusive o clima de apreensão que a gente vive, porque ultimamente não tem
segurança suficiente para demanda que a gente tá recebendo aqui de acompanhante, né? Tem riscos a nossa integridade
física... Casos de tentativa de agressão como teve na emergência com a colega. Insatisfação do usuário que termina refletindo
na equipe. (I6)
[...] A democracia muitas vezes é confundida com desordem, porque a pessoa acha assim: “Direito do acompanhante” então
ele entra, ele acha que é hotel, ele acha que pode fazer tudo e não é assim. Tem gente que confunde isso. Direito do
acompanhante, então ele pode fazer tudo. Ele pode botar som alto, ele pode conversar alto... Mas não é só isso... Tem agressão
verbal e falta de cooperação de outros profissionais. A equipe multidisciplinar muitas vezes dificulta o nosso trabalho. Se todo
18. Direito do acompanhante mundo fizer sua parte... não estressa ninguém. Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a enfermagem. (I6)
[...] Engraçado a gente falar assim: a paciente tem direito a acompanhante, a paciente tem direito a ouvidoria, a reclamar, sim!
Nós profissionais somos desrespeitados aqui dentro. A gente é ameaçada por familiares alcoolizados, muitas vezes drogados.
Aqui também já teve mulheres de traficantes... Eles querem tratamento diferenciado. (I2)

63
Os dilemas podem surgir de princípios e regras morais conflitantes, mas os

problemas bioéticos também nascem do exercício das atividades de trabalho, e não

dizem respeito somente aos fatores de risco, como também à relação de risco/benefício

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

As questões éticas e bioéticas no trabalho se apresentaram como dilemas e

questões de ordem deontológicas.

 Sistema de gestão e alocação inadequada de recursos e leitos /

Investimento de recursos próprios para melhoria da assistência / Condições

precárias de trabalho, carga horária excessiva e acúmulo de vínculos trabalhistas.

O sistema de gestão vigente não utiliza a gestão participativa como estratégia.

Sendo assim, a alocação de recursos ocorre verticalmente, de cima para baixo, sem

chance de negociação. A alocação inadequada dos recursos prejudica o serviço, que tem

como objetivo a assistência obstétrica humanizada, faz com que os profissionais

apliquem recursos próprios para melhorar a qualidade da assistência e resulta em falta

de gozo dos direitos trabalhistas, como a licença-prêmio. Os grupos sociais devem

encaminhar aos órgãos competentes as implicações da análise custo-eficácia, da análise

custo-benefício e da análise risco-benefício por meio de processos democráticos

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

Na cultura dominante, a cisão do binômio verdade–liberdade está tornando cada

vez mais difícil a efetiva defesa da vida humana por parte do ordenamento do Estado e,

paradoxalmente, vão surgindo sutis formas de tirania, em que poucos homens podem

decidir sobre o destino de muitos outros (SGRECCIA, 2009).

Estratégias informais que incluam julgamento de especialistas baseados em dados

confiáveis e o raciocínio analógico baseado em precedentes podem ajudar no

estabelecimento de novas políticas, com base em outras que já se mostram válidas.

64
O gestor da unidade deve, no cumprimento das políticas públicas, verificar a

aceitabilidade dos riscos, determinada por meio das mais objetivas estimativas, da

probabilidade e da magnitude dos danos possíveis, juntamente com todos os valores

relevantes, incluindo os benefícios almejados (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

Dessa forma, torna-se importante que o gestor inclua o trabalhador nas discussões

para alocação de recursos da unidade, a fim de obter maior eficácia nas decisões.

Atualmente, a equipe de enfermagem da maternidade estudada encontra-se

motivada pela conquista, valorização e reconhecimento da categoria, pelo fato de a nova

diretora ser uma enfermeira, pois a antiga era médica. Existe a perspectiva de um

modelo de gestão participativo. Nesse clima de expectativa de mudança, existe um

maior foco em relação à carga horária de trabalho dos enfermeiros. Acredita-se que 30

horas de trabalho semanal seja uma carga horária mais compatível com a melhoria da

qualidade de vida. No entanto, como a remuneração não é satisfatória, o profissional se

submete a trabalhar em dois vínculos para garantir o seu sustento.

 Educação permanente com inserção e utilização da tecnologia

Nos últimos trinta anos, o notório avanço tecnológico e científico nos campos da

biologia e da saúde tem colocado a sociedade frente a situações até pouco tempo

inimagináveis. A intensiva aplicação da ciência e da tecnologia no processo de cuidar

em saúde tem influenciado significativamente a prática das profissionais de

enfermagem. Em decorrência do surgimento de dilemas de ordem ética durante o

exercício da profissão, torna-se inquestionável uma formação ética sólida para a tomada

de decisões frente a problemas éticos e morais cotidianos (GARRAFA, 1999).

Nas últimas décadas, os avanços da ciência e da tecnologia vêm se constituindo

em força transformadora que atua sobre a natureza e, especialmente, sobre a vida

humana, refletindo diretamente sobre a prática cotidiana dos profissionais de saúde, os

65
quais têm sentido de perto as repercussões sobre o seu pensar e/ou agir (SANTA ROSA,

2006).

Este estudo identificou dilemas que envolvem a autonomia do profissional da

enfermagem e a necessidade de capacitação da equipe para o uso de novas tecnologias.

No contexto de competição de mercado, a capacitação tecnológica se faz necessária, não

apenas para prover uma boa assistência, mas para inserção do profissional no mercado.

A capacitação, na maioria das vezes, se dá como um processo de treinamento no dia-a-

dia, trazendo ao profissional um sentimento de insegurança e sobrecarga de tarefas.

Consequentemente, o uso da tecnologia fica restrito aos setores mais críticos da

unidade, liderados pelo profissional médico. Dessa forma, a autonomia do enfermeiro

especializada para atuação em áreas com intenso manejo tecnológico fica mais

comprometida. Mesmo com a falta do processo adequado de inserção tecnológica,

observaram-se manifestações de solidariedade de colegas para ensinar e treinar os que

não conhecem certas técnicas.

A educação contínua do profissional para o uso da tecnologia é uma obrigação

compartilhada da instituição e/ou empregador e do profissional, conforme previsto no

Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, que responsabiliza o enfermeiro de

manter-se atualizada ampliando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, em

benefício da clientela, coletividade e do desenvolvimento da profissão (CONSELHO

FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

 Interferência dos valores religiosos nas relações

Analisando os discursos, verificou-se também a presença marcante de questões

religiosas.

Observou-se que alguns profissionais não conhecem os deveres éticos previstos

no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, especificamente no que diz

66
respeito ao dever de preservação da vida em caso de risco de morte eminente em que o

paciente perde a autonomia. Apesar de se constituir um dilema, desrespeitar valores e

preceitos religiosos do paciente, comoadministrar hemotransfusão em seguidores da

religiãoTestemunha de Jeová, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, no

capítulo das proibições, na Seção I, no Art. 27, proíbe o profissional de executar ou

participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa ou de seu representante

legal, exceto em iminente risco de morte.

Além dos dilemas que exigem atuação do profissional sem o consentimento do

paciente, há o preconceito religioso bilateral entre pacientes e profissionais. A

interferência dos valores religiosos na postura do profissional em acolher ou discriminar

o indivíduo e a postura do paciente em recusar ou aceitar o cuidado vindo de um

profissional que tem uma religião divergente prejudicam a relação de fidelidade que

deve haver entre ambos. Constitui-se um princípio fundamental do Código Ética dos

Profissionais de Enfermagem agir com respeito à vida, à dignidade e aos direitos da

pessoa humana em todo o seu ciclo de vital, sem discriminação de qualquer natureza

(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

 Aborto / Abortamento

Foi possível extrair dos relatos que uma nova postura profissional é observada

hoje nas situações de abortamento. Porém, a situação de violência institucional

permanece. A postura anterior era de embate, julgamento, discriminação,

questionamento da atitude, preconceito, marginalização, falta ou até mesmo atraso no

cuidado. Atualmente, a situação é mais bem aceita e a posição de respeito à opinião e à

decisão da paciente veio junto com indiferença do profissional pela situação. Esse novo

comportamento se deve à demanda excessiva de pacientes e de tarefas a serem

67
desempenhadas pelos profissionais. Existe também uma postura de não se envolver em

conflito, como forma de proteção da saúde física e mental.

Nos depoimentos também foi identificada a conduta equivocada do profissional

em quebrar o sigilo, pois o enfermeiro deve manter segredo sobre fato sigiloso de que

tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, mesmo que seja um

abortamento, ou paciente com menor idade. Há exceções previstas em lei, como nas

situações que envolvem ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa

envolvida ou de seu representante legal (CONSELHO FEDERAL DE

ENFERMAGEM, 2007).

Diante do que é devido às pessoas, como a justiça, tratamento justo, equitativo e

apropriado, constituem-se injustiça atos errados, omissões que neguem às pessoas um

benefício ao qual têm direito ou que se deixe de distribuir encargos de modo equitativo

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

 Falta do psicólogo na equipe

O papel do enfermeiro é assistir, orientar e cuidar. Alguns enfermeiros relataram

que não estão capacitadas para atuar nos casos que envolvem adolescentes. Segundo os

enfermeiros, a faixa etária é conflituosa e exige do profissional uma postura

diferenciada, capaz de compreender as particularidades da idade, além da necessidade

de relatarem a necessidade de inclusão do psicólogo na equipe, a fim de conduzir

adequadamente o cuidado. Cabe ressaltar que todos os cidadãos devem ter direitos

políticos iguais, além de iguais acessos aos serviços públicos (BEAUCHAMP;

CHILDRESS, 2002). Nesse caso, a capacitação da enfermagem na atenção a

adolescentes é fundamental para uma assistência digna.

68
 Triagem de pacientes em situação de emergência

O aborto sempre foi um tema polêmico de difícil condução e permanece preterido

frente ao nascimento, principalmente na alocação de leitos da unidade, bem como nos

procedimentos assistenciais, excetuando-se as situações com risco iminente de morte.

Um dos problemas éticos mais difíceis é a avaliação das vítimas para definir a

prioridade de tratamentos, uma vez que, com frequência, não há a possibilidade de

recursos imediatamente disponíveis para todos os numerosos pacientes. Trata-se de uma

decisão crucial, pois a intervenção nos primeiros minutos torna possível salvar um alto

percentual de sobreviventes (SGRECCIA, 2014). É princípio fundamental do Código de

Ética dos Profissionais de Enfermagem exercer suas atividades com justiça,

competência, responsabilidade e honestidade (CONSELHO FEDERAL DE

ENFERMAGEM, 2007). Assumindo a aceitabilidade dos valores da utilidade

(eficiência) e da justiça (equidade), é provável que o melhor plano seja aquele que

promova, do modo mais coerente, ambos os valores e que insista no acesso universal a

um mínimo digno de assistência à saúde (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

 Diminuição e/ ou perda da autonomia pelo baixo nível sociocultural da

clientela

Outro dilema encontrado nos depoimentos foi a perda de autonomia da gestante

menor de idade, que possui pouco empoderamento para tomada de decisões. A pouca

maturidade e o pouco acesso à educação são aspectos que aumentam a vulnerabilidade,

envolvendo a responsabilidade e a vivência familiar.

Apesar de alguns profissionais (médicos e enfermeiros) explicarem a situação e

prestarem maiores esclarecimentos para uma decisão mais consciente pelo paciente

menor de idade, nem sempre se consegue aderência às orientações, restando-lhes

registrar e documentar o fato. Deve ainda ser lembrado que, no risco iminente de morte,

69
há perda da autonomia, pois salvar a vida é um dever profissional, sendo a negligência

profissional passível de pena prevista no Código de Ética Profissional.

O cidadão é o primeiro responsável pela própria vida e pela própria saúde:

nenhuma decisão sobre a vida pode ser tomada sem seu consentimento ou de seu

legítimo representante. O próprio cidadão não é árbitro da própria vida, mas é

responsável por esse bem objetivo e transcendente que recebeu e que constitui o bem

fundamental da pessoa e da sociedade. O profissional é prestador de um serviço

qualificado e como tal responde ao cidadão doente ou sadio no âmbito da própria

competência profissional enquanto durar o contrato, aliança em sua consciência, diante

do dever transcendental de tutelar a vida e a pessoa do paciente (SGRECCIA, 2009).

Segundo o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, cabe ao enfermeiro

respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e

seu bem-estar.

O princípio do respeito às pessoas envolvidas implica em tratá-las como sujeitos

autônomos, entendendo-se autonomia como a capacidade de agir com consciência e

tutelá-la quando a autonomia se reduz ou até está ausente (SGRECCIA, 2009).

O respeito pela autonomia implica em tratar as pessoas de forma a capacitá-las a

agir autonomamente (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002), sendo uma atitude de

empoderamento, que é o mecanismo pelo qual pessoas tomam controle de seus próprios

assuntos, de sua própria vida, de seu destino (COSTA, 2000).

A paciente menor está constantemente com a autonomia em vulnerabilidade. Nos

casos de idade inferior aos 14 anos, em atendimento assistencial de saúde de qualquer

natureza, tem que estar acompanhada, geralmente por familiar, o que limita suas

atitudes e posicionamentos, por se constituir como responsável legal e sustentador

financeiro da menor e da criança em questão. Porém, no que tange à saúde da mulher, o

70
cuidado de enfermagem valoriza muito a informação das usuárias com intuito de

promover empoderamento, partilhar as responsabilidades e incentivar a autonomia das

mulheres no processo saúde-adoecer (QUITETE; VARGENS, 2009).

A moralidade requer não apenas que tratemos as pessoas como autônomas e que

nos abstenhamos de prejudicá-las, mas também que contribuamos para seu bem-estar

(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

 Sofrimento na tomada de decisão em questões da vida, nascimento e

morte.

Atuar com o poder de decisão da vida do outro é sempre um conflito. Geralmente

se opta pela decisão compartilhada, mas ainda assim esta não é suficiente quando

ocorrem conflitos religiosos. A profissional fica diante da questão legal de defesa da

vida e da questão ética de respeito à autonomia do paciente em opinar na terapia

aceitável. Essa situação se constitui um momento estressante para a profissional da

enfermagem. No momento de decisão, é muito importante considerar algumas

orientações éticas fundamentais: o direito à vida e à saúde e o direito ao consentimento

(SGRECCIA, 2014). É importante também seguir as regras da beneficência que são:

proteger e defender os direitos dos outros, evitar que outros sofram danos, eliminar as

condições que causarão danos a outros, ajudar pessoas inaptas e socorrer pessoas que

estão em perigo (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

 Situações de maus tratos

Em situações que envolveram maus-tratos, os profissionais reagiram de forma

questionadora e intervencionista, procurando manter sempre o diálogo com as pessoas

envolvidas nas diversas situações. As agressões podiam ser de natureza física ou

psicológica. O apoio do serviço social era sempre requisitado para solução dos conflitos.

Os profissionais relataram que a sua postura era um reflexo da vivência pessoal e

71
familiar, considerando que geralmente as pessoas se encontravam em situação de

vulnerabilidade. É sabido que ao enfermeiro é proibido provocar, cooperar ou ser

conivente com maus tratos (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

 Estrutura física precária

Os participantes da pesquisa consideram a estrutura física da unidade uma

agressão aos profissionais e pacientes, determinando condições insalubres pela elevação

excessiva da temperatura.

 Sofrimento mental

Notou-se no decorrer das entrevistas que o sofrimento mental desses trabalhadores

se originou desde a capacitação profissional, com a expectativa de exercício pleno da

função, até o exercício profissional com frustração pelas limitações de atividades no seu

processo de trabalho como todo.

No ambiente de trabalho, o trabalhador lida com diferentes tipos de pessoas com

comportamentos diversificados. Essas pessoas são categorizadas como pacientes,

familiares, acompanhantes, colegas multidisciplinares, coordenação e chefia,

considerando que cada um possui seus princípios e axiodrama moral.

Os profissionais têm consciência do seu sofrimento mental e conseguiram citar os

dilemas desencadeadores desse sofrimento

Os principais dilemas identificados nas falas foram: sistema de gestão e a

alocação inadequada de recursos e leitos; investimento de recursos próprios para

melhoria da assistência; condições precárias de trabalho, carga horária excessiva e

acúmulo de vínculos trabalhistas; educação permanente com inserção e utilização da

tecnologia; interferência dos valores religiosos nas relações; aborto/abortamento; falta

do profissional psicólogo na equipe; triagem de pacientes em situação de emergência;

diminuição e/ou perda da autonomia pelo baixo nível sociocultural da clientela;

72
sofrimento na tomada de decisão em questões da vida, nascimento e morte; situações de

maus tratos; estrutura física precária; diferentes posicionamentos das equipes de plantão

(falta de seguimento do protocolo de procedimentos operacionais padrão); comparação

do serviço médico com o serviço do enfermeiro obstetra e pressão no processo de

trabalho; relacionamentos interpessoais; conflitos interdisciplinares; disputa de poder;

vivência de constrangimentos; exposição a riscos químicos, físicos, ergonômicos e

psicológicos; e o direito do acompanhante.

Sentimentos de desconforto, angústia, depressão, desespero e choro são notórios.

Um dos informantes fez referência ao massacre mental feito pelas cobranças dos

gestores e da clientela, além da pressão no desenvolvimento do trabalho.

 Relacionamentos interpessoais / Conflitos interdisciplinares / Disputa de

poder

Os relacionamentos interpessoais foram marcados pela vivência de muitos

conflitos entre as equipes; especificamente, entre as equipes de enfermagem, serviço

social e equipe médica. Muitos assumiam uma postura de acobertamento, pactuando

com o pensamento coletivo para não ser vítima de exclusão socioprofissional, optando,

assim, por infringir alguns princípios éticos. Alguns profissionais defenderam a ação de

que agir com diplomacia e cordialidade era uma forma de sobrevivência no trabalho.

Quando ocorria um erro, havia uma disputa acirrada para definir quem seria o culpado

pelo acontecido. A vida social e a influência do ambiente social podem deformar os

valores, enfatizar alguns e obscurecer outros, mesmo com prejuízo da verdade objetiva

(SGRECCIA, 2009).

O enfermeiro tem a responsabilidade de assegurar ao paciente uma assistência de

enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. Além

de estar proibida de ser conivente com crime, contravenção penal ou ato praticado por

73
membro da equipe de trabalho que infrinja postulado ético profissional. (CONSELHO

FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

Versiani (2013) evidenciou que a relação profissional estabelecida entre os

enfermeiros obstetras e os profissionais médicos se dá de forma ambígua, pois pode se

manifestar como um mundo intersubjetivo. Nessa subjetividade, as decisões e atitudes

devem ser compartilhadas, porém, devido à convivência recíproca de disputa pelo

poder, alimenta a relação com desconfiança, influenciando assim na autonomia dos

enfermeiros obstetras.

Araújo e Oliveira (2006) verificaram as dificuldades na delimitação de funções e

atribuições na equipe de médicos obstetras e enfermeiros obstetras, como causa de

conflitos. O enfermeiro obstetra, inibido pelos conflitos, pode ser visto de forma pouco

atuante, na maioria das vezes, como um coadjuvante na assistência por desenvolver

predominantemente atividades gerenciais. Segundo a Lei nº 7.498 de 1986, que

regulamenta o exercício profissional de Enfermagem, no artigo 11, parágrafo único,

determina que a enfermeiro preste assistência à parturiente e ao parto, com identificação

de distócias obstétricas e tomada de providências, até a chegada do médico, bem como a

realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando

necessárias (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

Como os momentos de discordância são inúmeros, os enfermeiros do grupo

ressaltaram a importância de documentar a situação e dialogar com os envolvidos. Os

enfermeiros também consideraram a questão do gênero feminino dominante nas duas

equipes (enfermagem e médica) como fator agravante dos conflitos. Consequentemente,

sentimentos de frustração, desequilíbrio emocional, inclusive o desejo de abandono do

trabalho, tornaram-se evidentes.

74
Na competição, a decisão final era da categoria médica, o que causava muita

angústia na equipe de enfermagem. A decisão nem sempre era compartilhada com os

enfermeiros. Alguns profissionais, em nome da política da boa vizinhança, assumiam

uma postura de aceitação e até mesmo de omissão.

A formação permanente permite atingir algumas finalidades: a atualização

científico-profissional, que todos reconhecem indispensável por motivo da rápida

evolução da ciência médica, a formação ética e deontológica do profissional, também

em função dos problemas ético-econômicos e necessidade de qualificação das pessoas

na atenção humanizada (SGRECCIA, 2014).

Isso pode refluir beneficamente em vantagem não apenas da humanização da

assistência, mas também da eficiência do cuidado e melhor gestão de recursos em

saúde.

Para as mulheres enfermeiras obstétricas, a busca por empoderamento pessoal

também foi relevante. O estudo qualificado, o trabalho que traz independência

financeira, pode significar crescimento e de empoderamento para o trabalhador

(QUITETE; VARGENS, 2009).

É preciso ter competência para que haja valorização da enfermagem como

profissão imprescindível na assistência ao parto (PROCÓPIO et al. 2003).

É fundamental que o enfermeiro exerça a profissão com autonomia, respeitando

os preceitos legais da enfermagem, protegendo o paciente contra danos decorrentes de

imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de

saúde.

 Vivência de constrangimentos

A vivência de constrangimento no ambiente de trabalho era oriunda da falta de

rotina nos procedimentos padrões da equipe, do uso de drogas pelos pacientes e

75
acompanhantes, dos maus tratos e agressão profissional, dos conflitos interdisciplinares

e das tentativas de fuga dos pacientes. Grande parte dos procedimentos, por

constituírem invasão de privacidade, requeriam a obrigatoriedade de o profissional agir

sempre com testemunha. O Código de Ética dos Profissionais da Enfermagem dispõe no

seu art. 28 que “é dever do profissional respeitar o natural pudor, a intimidade e a

privacidade do cliente”. Portanto, transgredir a privacidade da mulher durante o exame

ginecológico é uma conduta eticamente inadequada (CONSELHO FEDERAL DE

ENFERMAGEM, 2005).

 Exposição a riscos químicos, físicos, ergonômicos e psicológicos

O trabalho tem a obrigação de promover a saúde dos trabalhadores, porém pouco

se observou além do cumprimento legal da vacinação e do fornecimento parcial dos

equipamentos de proteção individual. Apenas a possibilidade de preferência de escala

de serviço, o diálogo oficial sobre a qualidade de vida e um ambiente que permite

banhar-se, alimentar-se e conversar com os colegas foram identificados como elementos

preventivos da saúde. Considerando o estresse nas atividades complexas e a

responsabilidade no exercício profissional, parece que essas medidas são insuficientes

para melhorar e garantir a qualidade de vida no trabalho.

A falta de material, a existência de materiais inadequados e o seu uso sem

capacitação afligiam as profissionais. O acúmulo de tarefas e responsabilidade com

recém-natos, com quadro clínico instável foi relatado na literatura, e assinalada

necessidade de criação de espaços institucionais que proporcionem maior interação

entre os membros da equipe, onde os sujeitos possam verbalizar os sentimentos de

ansiedade, de insatisfação e de conflito, vivenciados no ambiente de trabalho como uma

medida para minimizar os fatores estressores comuns presentes no ambiente hospitalar

(PEREIRA et al., 2009).

76
Toda atividade profissional acarreta riscos à saúde. As profissionais percebem

riscos a que estão sujeitos, dentre os quais foram apontados: insalubridade (temperatura

ambiental elevada), ausência de climatização, falta de segurança adequada e eficaz,

expondo-os a agressão física, a possibilidade de contrair doenças, o risco psicológico

devido ao processo de trabalho sob pressão e o sofrimento mental nos diversos conflitos

já citados, além dos riscos ergonômicos.

A prevenção faz referência à “educação para os valores” (SGRECCIA, 2014) e o

princípio da não maleficência determina a obrigação de não infligir dano

intencionalmente (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002 ). Nesse sentido, a implantação

de um programa de educação continuada para todos os envolvidos (gestores,

profissionais, pacientes e usuários) se faz necessária.

A profissional de saúde expõe sua própria vida a muitos riscos relacionados,

paradoxalmente, à arte de cuidar e de prevenir doenças. A estratégia de ação deve

prever a consulta e a participação dos trabalhadores, de forma organizada e continuada,

como instrumento fundamental para garantir a eficácia das soluções adotadas. O

patrimônio de conhecimento e de experiência prática, que somente os trabalhadores têm

do próprio trabalho, são de grande utilidade na avaliação dos riscos. Ao mesmo tempo,

a participação social é o pressuposto para a aceitação consciente e o consequente

respeito das medidas de segurança.

A participação organizada, mediante o papel permanente dos representantes para a

segurança permite que se institua uma relação dialética entre os diversos sujeitos

presentes na empresa, orientando-os a um fim comum (SGRECCIA, 2014).

 Direito do acompanhante

O direito do acompanhante é garantido pela lei brasileira nº 11.108, de sete de

abril de 2005, onde os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde– SUS –, da rede

77
própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um

acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato

(BRASIL, 2005).

Esse estudo evidenciou a falta de infraestrutura física adequada, que não garante a

privacidade das parturientes. A presença dos acompanhantes diminui as condições de

trabalho dos enfermeiros e aumentava os dilemas e conflitos interpessoais.

As precárias condições de trabalho contribuem para que os enfermeiros infrinjam

o princípio de justiça, que é reforçado no Código de Ética da enfermagem como uma

das responsabilidades e deveres deste profissional, de agir com compromisso, equidade

e competência (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

O direito do acompanhante pode ser desrespeitado, caso não haja condições

adequadas de privacidade e de trabalho (CARVALHO et al, 2014). Uma das

justificativas para não cumprimento da legislação pode ser a infraestrutura física

inadequada, uma vez que as mulheres em trabalho de parto permanecem em uma

mesma sala, prejudicando a privacidade das parturientes.

78
6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

O presente estudo apresentou algumas limitações, a exemplo da população do

estudo, que representou 30,3% de um total de 33 enfermeiros da maternidade estudada,

o que limita a generalização dos resultados da pesquisa. Cabe ressaltar que as

metodologias utilizadas conjuntamente na coleta de dados, quantitativa e qualitativa, são

validadas e comprovadas cientificamente. Embora exista certa resistência na junção dos

métodos, existe uma corrente de pesquisadores que defende essa junção de forma a

alcançar uma maior qualidade na interpretação dos resultados.

As abordagens qualitativa e quantitativa são compatíveis, podendo ser integradas

num mesmo projeto de pesquisa, pois uma investigação de cunho quantitativo pode

ensejar questões passíveis de serem respondidas só por meio de estudos qualitativos,

aumentando a compreensão e vice-versa. A junção dos métodos promove uma mais

elaborada e completa construção da realidade (MINAYO, 2010).

Cabe ressaltar que as respostas dos trabalhadores aos questionários e à entrevista

podem ter sido influenciadas pelo receio e insegurança da classe quanto às repercussões

sobre suas relações interpessoais no ambiente de trabalho. Para minimizar esse efeito,

houve plena garantia do sigilo e privacidade do participante e garantia do uso dos dados

para fins exclusivamente científicos.

79
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo permite concluir que:

Os principais dilemas éticos e bioéticos vivenciados pelos enfermeiros se

relacionaram com alocação inadequada de leitos, precária condição de trabalho, carga

horária excessiva, acúmulo de vínculos trabalhistas, dificuldade e conflitos nos

relacionamentos interpessoais e interdisciplinares.

As principais motivações relatadas para continuidade da prática do exercício

profissional pelos enfermeiros foram: ascensão social, aquisição de bens e serviços,

independência financeira e garantia de suprimento das necessidades básicas próprias e

de seus familiares. Foi possível também compreender que diante do sofrimento mental

na atividade laboral, o trabalhador sente satisfação em cuidar e aliviar o sofrimento dos

pacientes por eles assistidos.

Para avaliar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho foi preciso olhar o

indivíduo na sua integralidade física, mental e social, bem como observar os valores

subjetivos atribuídos à vida. A qualidade de vida relacionada à saúde revelou escores

particularmente baixos para os domínios Aspectos Emocionais e Aspectos Sociais, que

contribuíram substancialmente para o baixo escore do Componente de Saúde Mental.

Na avaliação subjetiva do ICT sobre a capacidade física, a maioria dos

enfermeiros (80%) considerou sua capacidade como boa e muito boa.

De acordo com a avaliação do escore de saúde mental do SF-36, seis indivíduos

apresentaram níveis baixos e, destes, apenas um reconheceu a baixa capacidade mental

na avaliação subjetiva do ICT.

Os dilemas éticos e bioéticos no exercício profissional da enfermagem interferem

na qualidade de vida dos trabalhadores e, consequentemente, poderão prejudicar a

qualidade da assistência prestada aos pacientes.

80
8. SUMMARY

We aimed to identify ethical and bioethical dilemmas that intervene in the health-related

quality of life and in the work ability of nursing workers. A study with qualitative and

quantitative approaches comprised ten nurses from a maternity hospital from Salvador

City, Brazil. Sociodemographic data were collected in a questionnaire; the Short Form

Health Survey (SF-36) and the Work Ability Index Questionnaires were also applied.

Qualitative data were collected by means of recorded interviews and by registers in a

field diary. The main ethical and bioethical dilemmas experienced by nurses at work

have been identified, and they were related to the following themes: representation of

ethical and bioethical questions in the work; perception of health-related quality of life

perception and of its determinants; and work influence on personal life and on work

ability. We conclude that the ethical and bioethical dilemmas experienced by nurses

during their professional practice do intervene in their health-related quality of life and

in their work ability, and, consequently, could impair the quality of health care provided

to their patients.

Keywords: Ethics; Bioethics; Nursing; Ethics, Nursing; Obstetric Nursing; Quality of

Life; Work.

81
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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86
10. ARTIGO
Dilemas éticos, qualidade de vida e capacidade para o trabalho de enfermeiras
obstétricas

[Ethical dilemmas, health-related quality of life, and work ability of obstetric


nurses]

[Dilemas éticos, calidad de vida y capacidad para eltrabajo de enfermeiras


obstétricas]

Paula do Nascimento Alves Cardoso1; Liliane Lins2; Fernando Carvalho3.

1-
Enfermeira, Mestre em Saúde Ambiente e Trabalho do Programa de Pós-
graduação em Saúde Ambiente e Trabalho, Faculdade de Medicina da Bahia,
Universidade Federal da Bahia (PPGSAT-FMB-UFBA), Salvador, Bahia, Brasil.
paulaenfaa@gmail.com

2-
Doutora em Patologia Humana pela FIOCRUZ/FMB-UFBA, Livre-Docente em
Bioética FMB-UFBA, Docente do PPGSAT-FMB-UFBA, Salvador, Bahia, Brasil.
liliane.lins@ufba.br

3-
Doutor em Saúde Ocupacional, Universidade de Londres. Docente do PPGSAT-
FMB-UFBA, Salvador, Bahia, Brasil. fmc.ufba@gmail.com

87
RESUMO

Objetivo:Identificar dilemas éticos e bioéticos referidos por enfermeiras obstétricas e


avaliar sua interferência na qualidade de vida relacionada à saúde e na capacidade para
o trabalho.Método: A pesquisa foi desenvolvida com dez enfermeiras de uma
maternidade pública de Salvador, Bahia.Estudo misto, com abordagem qualitativa e
quantitativa, com entrevistas, aplicação de questionários sócio demográfico, Short Form
Health Survey (SF-36) e Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) e utilização da
técnica de análise temática. Resultados: Foram identificados os principais dilemas
éticos e bioéticos vivenciados na enfermagem e avaliados a qualidade de vida
relacionada à saúde e a capacidade para o trabalho. Conclusão:Os dilemas éticos e
bioéticos no exercício profissional diário interferem na qualidade de vida em saúde e na
capacidade para o trabalho das enfermeiras obstétricas, o que pode resultar em prejuízo
para a qualidade da assistência prestada aos pacientes.
Descritores: Ética; Bioética; Qualidade de Vida; Enfermagem Obstétrica.

ABSTRACT
Objective: To identify ethical and bioethical dilemmas referred by obstetric nurses and
evaluate their influence on health-related quality of life and work ability. Method: The
survey enrolled ten nurses from public maternity from Salvador, State of Bahia, Brazil.
A study had qualitative and quantitative approaches, using interviews, questionnaires
application: socio demographic, Short Form Health Survey (SF 36) and Work Ability
Index (WAI) and the thematic analysis technique. Results: The main ethical and
bioethical dilemmas experienced by the obstetric nurses were identified, and their
health-related quality of life and wok ability were evaluated. Conclusion: The daily
ethical and bioethical dilemmas affect the health-related quality of life and the work
ability of the obstetric nurses, what can impair the quality of the care delivered to
patients.
Key words: Ethics; Bioethics; Quality of Life; Nurse Midwives.

88
RESUMEN

Objectivo: Identificar los dilemas éticos y bioéticos referidos por enfermeras


obstétricas y evaluar como estos interfieren con su calidad de vida relacionada con la
salud e su capacidad para el trabajo. Método: La investigación se realizó con diez
enfermeras en una maternidad pública de Salvador, Bahia. El estudio tuvo enfoque
cualitativo y cuantitativo, con entrevistas, cuestionario socio demográfico, Short Form
Health Survey (SF-36) y Índice de Capacidad para el Trabajo (ICT) y el uso del análisis
temático. Resultados: Se identificaron los principales dilemas éticos y bioéticos
experimentados por las enfermeras obstétricas. Conclusión: Los dilemas éticos y
bioéticos afectan la calidad de vida relacionada con la salud y la capacidad de trabajo de
las enfermeras obstétricas y que puedem resultar en daños a la calidad de la atención
prestada a los pacientes.
Palabras clave: Ética; Bioética; Calidad de Vida; EnfermerasObstetrices.

INTRODUÇÃO
O trabalho deveria melhorar e promover a qualidade de vida do indivíduo e dos
seus familiares. Entretanto, o trabalho tem-se transformado em um local de risco de
acidentes e de doenças profissionais que comprometem a saúde e, às vezes, a vida do
trabalhador(1). A desvalorização do trabalho pode prejudicar a satisfação intrínseca no
exercício profissional e a expressão da criatividade humana durante o seu exercício.
Então, prevalece no trabalho a sua razão instrumental utilitária, sua capacidade de
prover as necessidades básicas e de viabilizar o consumo de bens. Por outro lado, a
valorização da atividade profissional possibilita a satisfação das necessidades básicas da
pessoa humana, assim como garante condições dignas de vida(2).
O trabalho da enfermeira obstétrica exige condições físicas e mentais para o seu
desenvolvimento. É necessário que o trabalhador tenha equilíbrio biopsicossocial e
econômico, pois esses fatores interferem diretamente no desenvolvimento do trabalho(3).
Os conflitos que se estabelecem na atenção à saúde da pessoa humana abrangem
as temáticas da vida e da morte. As decisões da enfermeira obstétrica em questões que
envolvem os princípios bioéticos de autonomia, beneficência não maleficência, justiça e
vulnerabilidaderequerem extrema responsabilidade e podem contribuir para o seu

89
adoecimento. A vivência constante de dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício
da profissão pode ser observada em vários setores da enfermagem como na unidade de
internação, emergência, centro cirúrgico e na gerência da unidade.
O presente estudo teve como objetivo identificar dilemas éticos e bioéticos
referidos por enfermeiras obstétricas e avaliar como os mesmos interferem na sua
qualidade de vida relacionada à saúde e na sua capacidade para o trabalho.

METODOLOGIA
Foi realizado um estudo de método misto, qualitativo e quantitativo. Os
participantes foram entrevistados, utilizando-se um roteiro para entrevista
semiestruturada. Como método de avaliação qualitativa, foi utilizada a análise temática
de Bardin(4). Para a análise quantitativa, foram aplicados: um instrumento de coleta de
dados sócio demográficos, o questionário Short Form Health Survey (SF-36), versão
para o Português Brasileiro(5) e o questionário de Índice de Capacidade para o
Trabalho(3).
O Short Form 36 Health Survey Questionnaire (SF-36) é um instrumento
genérico de pesquisa utilizado para avaliar a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
(QVRS). O SF-36 é autoaplicável com duração média de aplicação de 15 minutos com
elevado grau de aceitabilidade e qualidade dos dados. O questionário contém 36 itens,
dos quais 35 encontram-se agrupados em oito dimensões (capacidade funcional, dor,
aspectos físicos, aspectos emocionais, aspectos sociais, saúde mental, vitalidade e
estado geral de saúde) e um último item que avalia a mudança de saúde no tempo. Para
cada dimensão, os itens do SF-36 são codificados, agrupados e transformados em uma
escala de zero, pior estado de saúde, a 100, melhor estado de saúde(5). Os escores
normalizados do SF-36 devem ser interpretados como comparações com os escores para
a população padrão dos Estados Unidos os quais assumem média igual a 50 e desvio
padrão igual a 10.
O questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) baseia-se na
autopercepção dos trabalhadores com o objetivo de mensurar o “quão bem está, ou
estará, o trabalhador no momento atual ou num futuro próximo, e quão bem pode
executar seu trabalho, em função das exigências, de seu estado de saúde e capacidades
físicas e mentais”. Composto de sete itens, cada qual avaliado por uma ou mais questões
sobre exigências físicas e mentais do trabalho, o estado de saúde do trabalhador e seus
recursos físicos e mentais. O resultado atinge um escore de 7 a 49 pontos que

90
representam o conceito do trabalhador sobre sua capacidade de para o trabalho. Esses
escores são classificados em quatro categorias: baixa, moderada, boa e ótima(3).
A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública da cidade de Salvador,
Bahia,. Participaram do estudo dez profissionais que atuavam em diversos setores da
maternidade.
Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser enfermeiro/a atuante de qualquer
setor da maternidade e que voluntariamente desejasse contribuir com o estudo. Foram
excluídas do estudo profissionais em férias e/ou licença, bem como aquelas que
exerciam cargos administrativos.
A coleta de dados ocorreu nos meses de maio e junho de 2014. Foram realizadas
entrevistas, utilizando-se um roteiro para entrevista semiestruturada com tópicos
norteadores para identificar os dilemas éticos e bioéticos que poderiam interferir no seu
trabalho e na sua qualidade de vida. As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora,
em locais reservados da própria maternidade (sala da coordenação de enfermagem, o
conforto de enfermagem e a recepção do ambulatório, após o expediente), respeitando o
conforto e a privacidade dos participantes.
Após a gravação e transcrição das entrevistas, seguiu-se a técnica de análise
temática(4), constituída por três etapas: a pré-análise, realizada com a leitura flutuante,
obtendo um contato exaustivo com o material; a exploração do material, possibilitando
a determinação das unidades de registro codificação e recorte das falas; e o tratamento
dos resultados obtidos e sua interpretação, além da confrontação com as temáticas
identificadas na literatura científica.
A discussão dos aspectos éticos e bioéticos foi baseada na teoria principialista de
Beauchamp e Childress(6), no manual de Bioética de Elio Sgreccia(7-8) e na Carta
Universal de Direitos Humanos da UNESCO(9).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de
Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, sob número CAAE
26032313.3.0000.5577. Foram respeitadas as diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde na sua Resolução
Nº466/12 e utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a coleta de dados, foi possível perceber que o momento da entrevista
funcionava como um desabafo profissional. A aparência das participantes era de

91
esgotamento físico mental e, às vezes, de apatia. Ainda que houvesse negação verbal
desse estado, o mesmo era visível e inquestionável ao observador. Muitas participantes
se esforçavam para dar respostas positivas aos questionamentos. Parecia que algo ou
alguma situação estava sendo encoberta. No ambiente de trabalho, pôde-se observar
momentos saudáveis e tensos nas equipes multiprofissionais. Esses momentos
funcionavam como estimulantes ou desanimadores para o exercício profissional.
No que tange às reações frente aos dilemas profissionais, foi observado que as
enfermeiras com menos tempo de exercício profissional apresentavam discurso
contraditório sobre sofrimento no trabalho. Já as enfermeiras com mais tempo de
serviço discorriam sobre traumas na vida social e emocional além daqueles relacionados
à saúde/doença no trabalho, manifestando sentimentos de ansiedade pela aposentadoria
como forma de livramento do sofrimento no trabalho.
Nas entrevistas, os discursos das enfermeiras abordavam diversos conteúdos
relevantes para esse estudo. Por exemplo: “Enfermagem por amor, sem prazer” (I2),
“Enfermagem por amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno” (I3), “O trabalho
é um refúgio... só tenho alegria para o trabalho” (I4), “Eu era mais feliz, antes de ser
enfermeira” (I8), “É melhor fazer, né?! É meu dever, então vou fazer, sim” (I10),
“Existe sofrimento, não sei se propriamente isso, sofrimento mental, mas um massacre
mental para o profissional enfermeiro, sim” (I8).
Caracterização da amostra. Foram estudados 10 indivíduos, sendo nove do
sexo feminino e um do sexo masculino. A idade média foi 41,1 anos e o desvio padrão
de 8,3. Todos eram não fumantes e dois indivíduos referiram consumo de álcool.
(Tabela 1)
Uma pergunta do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)
possibilita a avaliação subjetiva da saúde individual atual, comparada há um ano. Seis
dentre os dez profissionais entrevistados afirmaram a manutenção do estado geral de
saúde.
A qualidade de vida relacionada à saúde, medida por meio do SF-36, revelou
escores baixos para os domínios Aspectos Emocionais (41,7 ± 14,9) e Aspectos Sociais
(43,0 ± 14,3) que contribuíram substancialmente para o baixo escore do Componente de
Saúde Mental (43,3 ± 15,8). (Tabela 2)
Seis indivíduos apresentaram níveis baixos do escore do Componente Saúde
Mental, segundo o SF-36, e, destes seis apenas um reconheceu ter baixa capacidade

92
mental, segundo a pergunta do ICT que avalia subjetivamente a capacidade mental.
Dois participantes apresentaram baixos escores do Componente Saúde Física do SF-36.
Na avaliação subjetiva do ICT sobre capacidade física, 80% dos entrevistados se
consideraram com capacidade física boa e muito boa, 10% moderada e 10% baixa.
Os resultados mais relevantes dos escores normalizados do SF-36, dos
Componentes Saúde Física e Saúde Mental, a classificação do Índice de Capacidade
para o Trabalho e os relatos dos participantes estão apresentados no Quadro 1.

Principais dilemas éticos e bioéticos identificados na vivência da


enfermagem.
As questões éticas e bioéticas no trabalho se apresentaram como dilemas e
questões de ordem deontológicas.

Sistema de gestão e alocação inadequada de recursos e leitos / Investimento


de recursos próprios para melhoria da assistência / Condições precárias de
trabalho, carga horária excessiva e acúmulo de vínculos trabalhistas. Foi relatado
e observado que o sistema de gestão vigente não utilizava a gestão participativa como
estratégia. Sendo assim, a alocação de recursos ocorria verticalmente, de cima para
baixo, sem chance de negociação. A alocação inadequada dos recursos prejudica o
serviço que tem como objetivo a assistência obstétrica humanizada, faz com que as
profissionais apliquem recursos próprios para melhorar a qualidade assistência e resulta
em falta de gozo dos direitos trabalhistas, como a licença-prêmio.
A equipe de enfermagem da maternidade estudada encontrava-se motivada pela
conquista, valorização e pelo reconhecimento da categoria, pelo fato da nova Diretora
ser uma enfermeira. Existia a perspectiva de um modelo de gestão participativo. Nesse
clima de expectativa de mudança, existia um maior foco em relação à carga horária de
trabalho das enfermeiras. Acreditavam que a carga horária de 30 horas de trabalho
semanal seja mais compatível com melhoria da qualidade de vida. No entanto, como a
remuneração não é satisfatória, o profissional se submete a trabalhar em dois vínculos
para garantir o seu sustento.
[...] Quem tem mais experiência... poderia estar participando
junto com os gestores, para que os recursos destinados fossem
realmente aplicados nos locais necessários. (I3)

93
[...] Nós enfermeiros que trabalhamos na UCI compramos
materiais porque precisamos melhorar a assistência, a qualidade do
serviço... Se depender do Estado, muita coisa fica a desejar. (I4)
[...] É uma loucura que nós fazemos: dobrar a jornada de
trabalho, sair de um lugar e ir pro outro. Não vale a pena! Vai ficar
deprimida, angustiada, vai perder o marido, não vai ver filhos
crescerem. (I2)
Educação permanente com inserção e utilização da tecnologia. Este estudo
identificou dilemas que envolvem a autonomia do profissional da enfermagem e a
necessidade de capacitação da equipe para o uso de novas tecnologias. No contexto de
competição de mercado, a capacitação tecnológica se faz necessária, não apenas para
prover uma boa assistência, mas para inserção do profissional no mercado. A
capacitação, na maioria das vezes, se dá como um processo de treinamento no dia-a-dia,
trazendo ao profissional um sentimento de insegurança e sobrecarga de tarefas.
Consequentemente, o uso da tecnologia fica restrito aos setores mais críticos da
unidade, liderados pelo profissional médico. Dessa forma, a autonomia do enfermeiro
especializado para atuação em áreas com intenso manejo tecnológico fica mais
comprometida. Mesmo com a falta do processo adequado de inserção tecnológica,
observou-se manifestações de solidariedade de colegas para ensinar e treinar os que não
conhecem certas técnicas.
[...] Não adianta nada aparecer um aparelho novo, se a equipe
não estiver treinada... Nós temos competência técnica para fazer, mas
infelizmente o saber médico em relação a todas as questões voltadas à
atenção, à saúde da mulher, ainda é o que predomina. (I3)
Nos últimos trinta anos, o notório avanço tecnológico e científico nos campos da
biologia e da saúde tem colocado a sociedade frente a situações até pouco tempo
inimagináveis. A intensiva aplicação da ciência e da tecnologia no processo de cuidar
em saúde tem influenciado significativamente a prática dos profissionais de
enfermagem. Em decorrência do surgimento de dilemas de ordem ética durante o
exercício da profissão, torna-se inquestionável uma formação ética sólida para a tomada
de decisões frente a problemas éticos e morais cotidianos(10).
A capacitação do profissional para o uso da tecnologia é uma obrigação
compartilhada da instituição e/ou empregador e do profissional, conforme previsto no
Código Ética dos profissionais de enfermagem, que responsabiliza o enfermeiro de
manter-se atualizado ampliando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, em
benefício da clientela, coletividade e do desenvolvimento da profissão(12).

94
Interferência dos valores religiosos na atenção à saúde. Analisando os
discursos, verificou-se presença marcante de questões religiosas. Um dos dilemas
relatados foi o dever de transfundir hemoderivados em pacientes Testemunha de Jeová.
Alguns profissionais não conheciam os deveres éticos previstos no código de ética dos
profissionais de enfermagem, especificamente no que diz respeito ao dever de
preservação da vida em caso de risco de morte eminente em que o paciente perde a
autonomia(12).
Além dos dilemas que exigem atuação do profissional sem o consentimento do
paciente, identificou-se preconceito religioso bilateral, entre pacientes e profissionais. A
interferência dos valores religiosos na postura do profissional em acolher ou discriminar
o indivíduo e a postura do paciente em recusar ou aceitar o cuidado vindo de um
profissional que tem uma religião divergente prejudicam a relação de fidelidade que
deve haver entre ambos. Constitui-se um princípio fundamental do Código Ética dos
profissionais de enfermagem agir com respeito à vida, a dignidade e aos direitos da
pessoa humana em todo o seu ciclo de vital, sem discriminação de qualquer natureza(12).

Aborto / Abortamento. Foi possível extrair dos relatos que existe uma nova
postura profissional nas situações de abortamento. A postura anterior era de embate,
julgamento, discriminação, questionamento da atitude, preconceito, marginalização,
falta ou até mesmo atraso no cuidado. Atualmente, a situação é mais bem aceita e/ou o
respeito à opinião e decisão da paciente se apresenta com a indiferença do profissional
pela situação. Esse novo comportamento se deve a uma demanda excessiva de pacientes
e de tarefas a serem desempenhadas pelos profissionais. Existe também uma postura de
não se envolver em conflito como forma de proteção da saúde física e mental. Porém, a
situação de violência institucional permanece. Nos depoimentos foi identificada a
conduta equivocada do profissional em quebrar o sigilo, pois o enfermeiro deve manter
segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade
profissional, mesmo que seja um abortamento, ou paciente com menor idade. Há
exceções previstas em lei, como nas situações que envolvem ordem judicial, ou com o
consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal(12).
Diante do que é devido às pessoas, como a justiça, tratamento justo, equitativo e
apropriado, constituem-se injustiça:atos errados, omissões que neguem às pessoas um
benefício ao qual têm direito ou que deixem de distribuir os encargos de modo
equitativo(6).

95
Falta de psicólogo na equipe. Algumas enfermeiras relataram que não estavam
capacitadas para atuar nos casos que envolvem adolescentes. Segundo as enfermeiras, a
faixa etária é conflituosa e exige do profissional uma postura diferenciada, capaz de
compreender as particularidades da idade, além da necessidade de relatarem a
necessidade de inclusão do psicólogo na equipe a fim de conduzir adequadamente o
cuidado.
A capacitação da enfermagem na atenção a adolescentes é fundamental para uma
assistência digna.

Triagem de pacientes em situação de emergência. O aborto sempre foi um


tema polêmico, de difícil condução . Na maternidade estudada, o aborto permanece
preterido frente ao nascimento, principalmente na alocação de leitos da unidade e nos
procedimentos assistenciais, excetuando-se as situações com risco eminente de morte.
Um dos problemas éticos mais difíceis é a avaliação das vítimas para definir a
prioridade de tratamentos, uma vez que com frequência não há a possibilidade de
recursos imediatamente disponíveis para todos os numerosos pacientes. Trata-se de uma
decisão crucial, pois a intervenção nos primeiros minutos torna possível salvar um alto
percentual de sobreviventes(8). É princípio fundamental do Código de Ética dos
profissionais de enfermagem o exercício de suas atividades com justiça, competência,
responsabilidade e honestidade(12). Assumindo os valores da utilidade (eficiência) e da
justiça (equidade), é provável que o melhor plano seja aquele que promova, do modo
mais coerente, ambos os valores e que insista no acesso universal a um mínimo digno de
assistência à saúde(6).

Diminuição e/ou perda da autonomia pelo baixo nível sociocultural da


clientela. Os depoimentos revelaram o dilema da perda de autonomia da gestante menor
de idade, poucoempoderada para tomada de decisões. A pouca maturidade e o pouco
acesso à educação são aspectos que aumentam a vulnerabilidade, envolvendo a
responsabilidade e a vivência familiar.
Apesar de alguns profissionais (médicos e enfermeiros) explicarem a situação e
prestarem maiores esclarecimentos para uma decisão mais consciente pelo paciente
menor de idade, nem sempre se consegue aderência às orientações. Restava à
enfermeira registrar e documentar o fato. No risco iminente de morte, há perda da

96
autonomia, pois, salvar a vida é um dever profissional, sendo a negligência profissional
passível de pena prevista no código de ética profissional.
O cidadão é o primeiro responsável pela própria vida e pela própria saúde:
nenhuma decisão sobre a vida pode ser tomada sem seu consentimento ou de seu
legítimo representante. O próprio cidadão não é árbitro da própria vida, mas é
responsável por esse bem objetivo e transcendente que recebeu e que constitui o bem
fundamental da pessoa e da sociedade. O profissional é prestador de um serviço
qualificado e como tal responde ao cidadão doente ou sadio no âmbito da própria
competência profissional enquanto durar o contrato – aliança em sua consciência, diante
do dever transcendental de tutelar a vida e a pessoa do paciente(7).
Segundo o Código de Ética dos profissionais de enfermagem, cabe ao
enfermeiro respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa seu
tratamento e seu bem-estar. O princípio do respeito das pessoas envolvidas implica em
tratá-las como sujeitos autônomos, em que por autonomia se entende a capacidade de
agir com consciência e tutelá-la quando a autonomia se reduz ou até está ausente(7). O
respeito pela autonomia implica tratar as pessoas de forma a capacitá-las a agir
autonomamente6, sendo uma atitude de empoderamento que é o mecanismo pelo qual
pessoas tomam controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida, de seu destino(13)
.

Situações de maus tratos. Em situações que envolveram maus-tratos, os


profissionais reagiram de forma questionadora e intervencionista, procurando manter
sempre o diálogo com as pessoas envolvidas nas diversas situações. As agressões
podiam ser de natureza física ou psicológica. O apoio do serviço social era sempre
requisitado para solução dos conflitos. Os profissionais relataram que a sua postura era
um reflexo da vivência pessoal e familiar, considerando que geralmente as pessoas se
encontravam em situação de vulnerabilidade. É sabido que ao enfermeiro é proibido
provocar, cooperar ou ser conivente com maus tratos(12) .
Estrutura física precária. Os participantes da pesquisa consideravam a
estrutura física da unidade e a condição insalubre de alta temperatura como agressivas
aos profissionais e aos pacientes.

Sofrimento mental: Diferentes posicionamentos das equipes de plantão


(Falta de seguimento do protocolo de Procedimentos Operacionais Padrão) /

97
Comparação do serviço médico com o serviço da enfermeira obstétrica e pressão
no processo de trabalho. No decorrer das entrevistas, notou-se que o sofrimento
mental dessas trabalhadoras se originava desde a capacitação profissional insuficiente e
na expectativa de exercício pleno da função e se estendia até o exercício profissional
frustante, pelas limitações de atividades decorrentes do processo de trabalho como um
todo. No ambiente de trabalho, a enfermeira obstétrica lida com pessoas de
comportamentos diversificados: pacientes, familiares, acompanhantes, colegas
multidisciplinares, coordenação e chefia. Cada uma possui seus princípios e axiograma
moral próprio.

Os profissionais têm consciência do seu sofrimento mental e conseguiram citar


os dilemas desencadeadores desse sofrimento. Os principais dilemas identificados nas
falas foram: sistema de gestão alocação inadequada de recursos e leitos; investimento de
recursos próprios para melhoria da assistência; condições precárias de trabalho, carga
horária excessiva e acúmulo de vínculos trabalhistas; educação permanente com
inserção e utilização da tecnologia; interferência dos valores religiosos nas relações;
aborto/abortamento; falta do profissional psicólogo na equipe; triagem de pacientes em
situação de emergência; diminuição e/ou perda da autonomia pelo baixo nível
sociocultural da clientela; sofrimento na tomada de decisão em questões da vida,
nascimento e morte; situações de maus tratos; estrutura física precária; diferentes
posicionamentos das equipes de plantão (falta de seguimento do protocolo de
procedimentos operacionais padrão); comparação do serviço médico com o serviço da
enfermagem e pressão no processo de trabalho; relacionamentos interpessoais/conflitos
interdisciplinares/disputa de poder; vivência de constrangimentos; exposição a riscos
químicos, físicos, ergonômicos e psicológicos; e direito do acompanhante.
Sentimentos de desconforto, angústia, depressão, desespero e choro são notórios.
Um dos informantes fez referência ao massacre mental feito pelas cobranças dos
gestores e da clientela, além da pressão no desenvolvimento do trabalho.

Relacionamentos interpessoais / Conflitos interdisciplinares / Disputa de


poder. Os relacionamentos interpessoais foram marcados pela vivência de muitos
conflitos entre as equipes; especificamente, entre as equipes de enfermagem, serviço
social e equipe médica. Muitos assumiam uma postura de acobertamento, pactuando
com o pensamento coletivo para não ser vítima de exclusão socioprofissional e optavam

98
por infringir alguns princípios éticos. Alguns profissionais defenderam a ação de que
agir com diplomacia e cordialidade era uma forma de sobrevivência no trabalho.
Quando ocorria um erro, havia uma disputa acirrada para definir quem seria o culpado
pelo acontecido. A vida social e a influência do ambiente social podem deformar os
valores, enfatizar alguns e obscurecer outros, mesmo com prejuízo da verdade
objetiva(7).
A enfermeira tem a responsabilidade de assegurar ao paciente uma assistência de
enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. Além
de estar proibida de ser conivente com crime, contravenção penal ou ato praticado por
membro da equipe de trabalho que infrinja postulado ético profissional(12).
A relação profissional estabelecida entre as enfermeiras obstétricas e os
profissionais médicos se dá de forma ambígua, pois pode se manifestar como um mundo
intersubjetivo(15). Nessa subjetividade, as decisões e atitudes devem ser compartilhadas,
porém, devido à convivência recíproca de disputa pelo poder, alimenta a relação com
desconfiança, influenciando assim na autonomia das enfermeiras obstétricas.
A falta de conhecimento sobre a legislação que respalda o exercício profissional
da enfermeira obstétrica pelo profissional médico gera dificuldades na definição das
funções e divisão do trabalho na equipe multiprofissional(16). A enfermeira obstétrica
pode ser vista de forma pouco atuante; na maioria das vezes, como uma coadjuvante na
assistência. O parágrafo único do artigo 11 da Lei Nº 7.498 de 1986 que regulamenta o
exercício profissional de enfermagem incumbe ao enfermeiro a assistência à parturiente
e ao parto, com identificação de distócias obstétricas e tomada de providências, até a
chegada do médico, bem como a realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de
anestesia local, quando necessária(12).
Como os momentos de discordância são inúmeros, o grupo de enfermeiras
ressaltou a importância de documentar a situação e dialogar com os envolvidos. Os
enfermeiros também consideraram a questão do gênero feminino dominante nas duas
equipes (enfermagem e médica) como fator agravante dos conflitos. Sentimentos de
frustração, desequilíbrio emocional, inclusive o desejo de abandono do trabalho,
tornaram-se evidentes.
Na disputa, a decisão final era da categoria médica, o que causava muita
angústia na equipe de enfermagem. A decisão nem sempre era compartilhada com as
enfermeiras que realizavam educação continuada, mesmo que independentemente.

99
Alguns profissionais, em nome da política da boa vizinhança, assumiam uma postura de
aceitação e até mesmo de omissão.
Para as mulheres enfermeiras obstétricas, a busca por empoderamento pessoal
também foi relevante. O estudo qualificado, o trabalho que traz independência
financeira, pode significar crescimento e de empoderamento para o trabalhador(14) . A
valorização da profissão de enfermeira obstétrica resulta numa melhor qualidade e
atenção humanizada ao parto(17).

Vivência de constrangimentos. A vivência de constrangimento no ambiente de


trabalho era oriunda da falta de rotina nos procedimentos padrões da equipe, do uso de
drogas pelos pacientes e acompanhantes, dos maus tratos e agressão profissional, dos
conflitos interdisciplinares e das tentativas de fuga dos pacientes. Grande parte dos
procedimentos, por constituírem uma invasão de privacidade, requeriam a
obrigatoriedade do profissional agir sempre com testemunha. O Código de Ética dos
Profissionais da Enfermagem dispõe no seu art. 28 que “é dever do profissional
respeitar o natural pudor, a intimidade e a privacidade do cliente”. Portanto, transgredir
a privacidade da mulher durante o exame ginecológico é uma conduta eticamente
inadequada(12) .

Exposição a riscos químicos, físicos, ergonômicos e psicológicos. O trabalho


tem a obrigação de promover a saúde dos trabalhadores, porém pouco se observou além
do cumprimento legal da vacinação e do fornecimento parcial dos equipamentos de
proteção individual. Como situações preventivas da saúde, foram identificadas a
possibilidade de preferência de escala de serviço, o diálogo oficial sobre a qualidade de
vida e um ambiente que permite banhar-se, alimentar-se e conversar com os colegas.
Considerando o estresse nas atividades complexas e a responsabilidade no exercício
profissional, essas medidas parecem insuficientes para melhorar e garantir a qualidade
de vida no trabalho.
A falta ou inadequação de material e o seu uso sem capacitação afligiam os
profissionais. O acúmulo de tarefas e responsabilidade com recém-natos, com quadro
clínico instável já foi relatado na literatura(18).
As enfermeiras apontaram riscos ocupacionais a que estão sujeitas: insalubridade
(temperatura ambiental elevada), ausência de climatização, falta de segurança adequada
e eficaz, expondo-os a agressão física, a possibilidade de contrair doenças, o risco

100
psicológico devido ao processo de trabalho sob pressão e o sofrimento mental nos
diversos conflitos já citados, além dos riscos ergonômicos.
A prevenção está ligada à “educação para os valores” e o princípio da não-
maleficência determina a obrigação de não infligir dano intencionalmente(8-6). Nesse
sentido, a implantação de um programa de educação continuada para todos os
envolvidos (gestores, profissionais, pacientes e usuários) se faz necessária.
O profissional de saúde expõe sua própria vida a muitos riscos relacionados,
paradoxalmente, à arte de cuidar e de prevenir doenças. A estratégia de ação deve
prever a consulta e a participação dos trabalhadores, de forma organizada e continuada,
como instrumento fundamental para garantir a eficácia das soluções adotadas. O
patrimônio de conhecimento e de experiência prática que somente os trabalhadores têm
do próprio trabalho, é de grande utilidade na avaliação dos riscos. Ao mesmo tempo, a
participação social é o pressuposto para a aceitação consciente e o consequente respeito
das medidas de segurança. A participação organizada, mediante o papel permanente dos
representantes, permite que se institua uma relação dialética entre os diversos sujeitos
presentes na empresa, orientando-os a um fim comum(8).

Direito do acompanhante.
Esse estudo evidenciou a falta de infraestrutura física adequada, que não garante
a privacidade das parturientes. A presença dos acompanhantes diminui as condições de
trabalho dos enfermeiros e aumentava os dilemas e conflitos interpessoais.
O direito do acompanhante é garantido pela lei brasileira de Nº 11.108 de sete de abril
de 2005, onde os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um acompanhante
durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato(18) . O direito do
acompanhante pode ser desrespeitado, caso não haja condições adequadas de
privacidade e de trabalho(19). Uma das justificativas para não cumprimento da legislação
pode ser a infraestrutura física inadequada, uma vez que as mulheres em trabalho de
parto permanecem em uma mesma sala, prejudicando a privacidade das parturientes.

CONCLUSÃO
Os principais dilemas éticos e bioéticos vivenciados pelas enfermeiras
obstétricas se relacionaram com alocação inadequada de leitos, precária condição de

101
trabalho, carga horária excessiva, acúmulo de vínculos trabalhistas, dificuldade e
conflitos nos relacionamentos interpessoais e interdisciplinares.
A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde revelou escores
particularmente baixos para os domínios Aspectos Emocionais e Aspectos Sociais que
contribuíram substancialmente para o baixo escore do Componente de Saúde Mental.
A maioria das enfermeiras (80%) considerou sua capacidade física como boa e
muito boa.
Os rotineiros dilemas éticos e bioéticos no exercício profissional interferem na
qualidade de vida em saúde e na capacidade para o trabalho das enfermeiras obstétricas,
o que pode resultar em prejuízo para a qualidade da assistência prestada aos pacientes.

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102
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103
Tabela 1 - Características do trabalho de 10 enfermeiras de uma maternidade, Salvador,
2014.

Característica Média ± DP Mínimo - Máximo

Carga horária semanal 44,2 ± 12,3 30 - 66

Renda (reais) 4.130 ± 1.625 3.000 – 8.000

Tempo na função 16,2 ± 8,1 8 - 31

ICT (Pontos totais) 35,4 ± 6,5 25 - 46

Capacidade para o trabalho (avaliação 7,7 ± 1,4 5-9


subjetiva)a

Capacidade para o trabalho – Exigência Física 4,1 ± 1,0 2-5


(avaliação subjetiva)b

Capacidade para o trabalho - Exigência Mental 3,9 ± 0,9 2-5


(avaliação subjetiva)b

a – Numa escala de 0(incapaz para o trabalho) a 9(melhor capacidade para o trabalho) do ICT.
b – Numa escala de 1(muito baixa) a 5(muito boa) do ICT.

104
Tabela 2 – Escores brutos e normalizados dos domínios e componentes sumários do SF-
36 em dez enfermeiros/as de uma maternidade de Salvador, 2014.

Escore Escore
Domínio / Componente Sumário Normalizado
Bruto

Capacidade Física 84,0 ± 17,9 50,4 ± 7,5

Aspectos Físicos 72,5 ± 41,6 48,5 ± 11,8

Dor 73,3 ± 27,5 51,3 ± 11,8

Estado Geral de Saúde 68,7 ± 23,1 49,4 ± 10,8

Vitalidade 61,0 ± 24,0 51,9 ± 11,4

Aspectos Sociais 67,5 ± 32,9 43,0 ± 14,3

Aspectos Emocionais 56,7 ± 47,3 41,7 ± 14,9

Saúde Mental 69,2 ± 22,3 46,6 ± 12,7

Componente Saúde Física (CSF) - 52,7 ± 9,7

Componente Saúde Mental (CSM) - 43,3 ± 15,8

105
Quadro 2 - Escores normalizados do Componentes Saúde Física e do Componente Saúde Mental do SF-36; Pontuação e Classificação do ICT;
Comentários e Depoimentos de dez enfermeiras de uma maternidade de Salvador, 2014.

SF – 36 ICT

Mental Para o
Saúde Mental
Enfermeiro/a

Classificação

Atual Para o
Saúde Física

Capacidade

Capacidade

Trabalho**
Trabalho *
Pontuação
COMENTÁRIOS DEPOIMENTOS

Por falta de parâmetros padrões na equipe, em


CSF abaixo da média, CSM muito abaixo da média e ICT
determinado plantão a equipe conduz daquela
Baixa

baixo. Análise subjetiva: considerou-se com qualidade de vida


1 48,66 24,48 27 5 3 forma; em outro plantão, a equipe entende que
mediana. Demonstrou sofrimento com ausência de normas e
é de outra forma... Isso desgasta... O que pode
protocolos no trabalho.
em um, não pode no outro?!
CSF com valor médio, CSM muito abaixo da média e ICT
moderado. Análise subjetiva: Demonstrou ansiedade para se
Enfermagem por amor, sem prazer.
Moderada

livrar do trabalho. Informou trauma social, emocional e


Vamos pensar em cuidar do cuidador
2 50,90 34,75 33 7 4 familiar. Relatou que se encontra em tratamento
também... Vamos pensar nisso.
multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas, psiquiatra,
acupuntura e educador físico. Informa arrependimento por ter
priorizado o trabalho.
CSF com valor acima da média, CSM muito abaixo da média
e ICT bom. Análise subjetiva: Demonstrou indignação com a Enfermagem por amor, com sacrifício de vida
Boa

3 67,78 18,80 39 7 2
profissão, desânimo com a pouca valorização do trabalho e pessoal e sem retorno.
falta de autonomia profissional.

CSF com valor médio, CSM acima da média e ICT moderado.


Moderada

Análise subjetiva: Considerou-se com excelente capacidade O trabalho é o meu refúgio.


4 54,35 62,93 34 9 4
física. Relatou Abandonou tudo pelo trabalho. Informou Só tenho energia para o trabalho.
depressão quando está em casa.

106
Depende muito do plantão, da situação que
CSF e CSM acima da média e ICT ótimo. Análise subjetiva: agente vive... se você vive uma situação de

Ótima
Considera-se com ótima capacidade física e mental. superlotação, você vê a necessidade do seu
5 60,03 58,67 46 9 5
Demonstrou esforço em dar respostas corretas (tentativa de paciente... você se vê numa emergência sem
camuflagem?), relatou situações de sofrimento no trabalho. leito para atender esse paciente, isso leva ao
sofrimento mental...

Moderada
CSF e CSM abaixo da média e ICT moderado. Análise Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a
6 43,36 44,83 32 8 5 subjetiva: Aparentou calma, porém apresentou-se deprimida enfermagem. Aqui tem muito esse problema.
com as exig6encias do trabalho.

CSF e CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Análise Com todas as restrições, eu sou a primeira a
subjetiva: Discursou com oscilação de comportamento, ora carregar para disponibilizar aquele
Baixa

7 33,11 29,68 25 6 4 com disposição, ânimo e aparência de felicidade no exercício equipamento na hora. A vida do outro é
profissional e por vezes deprimida, abalada emocionalmente e sempre muito importante, e a gente até
desiludida. Relatou sobre-esforço no trabalho. esquece da nossa em prol da vida do outro.
A todo o momento nós somos cobrados, não
só da clientela, como também dos outros
CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise
profissionais... a assistência de enfermagem
subjetiva: Na avaliação subjetiva relatou excelente capacidade
Boa

8 57,68 57,48 40 9 4 está 24 horas, então tudo de certo que


para o trabalho. Relatou satisfação para exercer a profissão,
acontece os médicos recebem as palmas e
mas cobrança desigual de responsabilidade no trabalho.
tudo de errado que acontece o enfermeiro é
responsabilizado.
CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise
A gente tem que aprender a se fazer de
subjetiva: Relatou satisfação com vinculo estatutário, mas
Boa

9 51,64 58,76 41 9 4 maluca mesmo (risos) para sobreviver.


aparentou sofrimento mental no discurso sem autopercepção
do mesmo.
É melhor fazer, né?! Não é meu dever?! Os
CSF mediano, CSM abaixo da média e ICT bom. Análise riscos ergonômicos, sobrecarga de trabalho,
subjetiva: Aparentou desânimo, abatimento e apatia. as noites perdidas, entendeu? A gente tem que
Boa

10 58,00 41,04 37 8 4 Evidenciou desgaste físico e mental, fala fraca e andar ter dois vínculos para poder realmente ter
arrastado. qualidade de vida. A gente tem um ambiente
sem ventilação, aumento de pessoas... tudo
isso é risco.
*AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE TOTAL PARA O TRABALHO/ Questão 1 do ICT – Escala: 0(incapaz para o trabalho) a 10(melhor capacidade para o trabalho).
** AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE MENTAL / Questão 2b do ICT – Escala: 1(muito baixa) a 5 (muito boa).

107
11. ANEXOS
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO SF – 36
Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36

Nome:_______________________________________________________________

Idade: _______ Sexo: ________

Função exercida no trabalho: _______________________________________________

Há quanto tempo exerce essa função: ___________________

Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Estas informações nosmanterão
informados de como você se sente e quão bem você é capaz de fazer atividades de vida
diária. Responda cada questão marcando a resposta como indicado. Caso você esteja
inseguro em como responder, por favor, tente responder o melhor que puder.

1- Em geral você diria que sua saúde é:


Excelente Muito Boa Boa Ruim Muito Ruim
1 2 3 4 5

2- Comparada há um ano atrás, como você se classificaria sua idade em geral, agora?
Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase a Mesma Um Pouco Pior Muito Pior
1 2 3 4 5

3- Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia
comum. Devido à sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas atividades? Neste caso,
quando?
Não, não
Sim, dificulta Sim, dificulta
Atividades dificulta de
muito um pouco modo algum
a) Atividades Rigorosas, que exigem
muito esforço, tais como correr,
levantar objetos pesados, participar 1 2 3
em esportes árduos.
b) Atividades moderadas, tais como
mover uma mesa, passar aspirador 1 2 3
de pó, jogar bola, varrer a casa.
c) Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3
d) Subir vários lances de escada 1 2 3
e) Subir um lance de escada 1 2 3
f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3
g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3
h) Andar vários quarteirões 1 2 3
i) Andar um quarteirão 1 2 3
j) Tomar banho ou vestir-se 1 2 3

108
4- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou
com alguma atividade regular, como conseqüência de sua saúde física?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu 1 2
trabalho ou a outras atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades. 1 2
d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. 1 2
ex. necessitou de um esforço extra).

5- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu
trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema
emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu 1 2
trabalho ou a outras atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c)Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto 1 2
cuidado como geralmente faz.

6- Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas


emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, amigos
ou em grupo?
De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente
1 2 3 4 5

7- Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas?


Nenhuma Muito leve Leve Moderada Grave Muito grave
1 2 3 4 5 6

8- Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal
(incluindo o trabalho dentro de casa)?
De maneira Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente
alguma
1 2 3 4 5

9- Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você
durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se
aproxime de maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas.
Uma
A maior Uma boa Alguma pequen
Todo
parte do parte do parte do a parte Nunca
Tempo tempo tempo tempo do
tempo
a) Quanto tempo você
tem se sentindo cheio
de vigor, de vontade, de 1 2 3 4 5 6
força?
b) Quanto tempo você
tem se sentido uma 1 2 3 4 5 6

109
pessoa muito nervosa?
c) Quanto tempo você
tem se sentido tão
deprimido que nada 1 2 3 4 5 6
pode anima-lo?
d) Quanto tempo você
tem se sentido calmo ou 1 2 3 4 5 6
tranqüilo?
e) Quanto tempo você
tem se sentido com 1 2 3 4 5 6
muita energia?
f)Quanto tempo você
tem se sentido
desanimado ou 1 2 3 4 5 6
abatido?
g) Quanto tempo você
tem se sentido 1 2 3 4 5 6
esgotado?
h) Quanto tempo você
tem se sentido uma 1 2 3 4 5 6
pessoa feliz?
i)Quanto tempo você
tem se sentido 1 2 3 4 5 6
cansado?

10- Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)?

Todo A maior parte do Alguma parte do Uma pequena Nenhuma parte


Tempo tempo tempo parte do tempo do tempo
1 2 3 4 5

11- O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
A maioria A maioria
Definitivamente Não Definitiva-
das vezes das vezes
verdadeiro verdadeiro sei falso mente falso
a) Eu costumo adoecer
um pouco mais
facilmente que as 1 2 3 4 5
outras pessoas
b) Eu sou tão saudável
quanto qualquer pessoa 1 2 3 4 5
que eu conheço
c) Eu acho que a minha
saúde vai piorar 1 2 3 4 5
d) Minha saúde é
excelente 1 2 3 4 5

110
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO

1 – Suponha que sua melhor capacidade para o trabalho tem um valor igual a 10
pontos. Assinale com X um número na escala de zero a dez, quantos pontos você daria
a sua capacidade de trabalho atual.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Estou incapaz para o Estou em minha melhor


trabalho capacidade para o trabalho

2 – Como você classificaria sua capacidade atual para o trabalho em relação às


exigências físicas do seu trabalho? (Por exemplo, fazer esforça físico com partes do
corpo).

1 2 3 4 5

Muito baixa Baixa Moderada Boa Muito boa

3 – Como você classificaria sua capacidade atual para o trabalho em relação às


exigências mentais do seu trabalho? (Por exemplo, interpretar fatos, resolver
problemas, decidir a melhor forma de fazer)

1 2 3 4 5

Muito baixa Baixa Moderada Boa Muito boa

4- Na sua opinião quais das lesões por acidente ou doenças citadas abaixo você possui
ATUALMENTE. Marque também aquelas que foram confirmadas pelo médico. Caso
não tenha nenhuma doença, deixa em branco a questões e todos os seus sub-itens.

Em minha Na
opinião opinião
médica

1. Lesões nas costas 2 1

2. Lesões nos braços/ mãos 2 1

3. Lesões nas pernas/ pés 2 1

4. Lesões em outras partes do corpo. 2 1


Onde? Que tipo de lesão
Em minha Na
opinião opinião

111
médica

5. Doença da parte superior das costas ou região do 2 1


pescoço, com dores frequentes.
6. Doença da parte inferior das costas com dores 2 1
frequentes
7. Dor nas costas que se irradia para a perna (ciática). 2 1

8. Doença músculo-esquelética afetando os membros 2 1


(braços e pernas) com dores frequentes.

9. Artrite reumatoide 2 1

10. Outra doença músculo esquelética 2 1


Qual?

11. Hipertensão arterial (pressão alta). 2 1

12. Doença coronariana, dor no peito durante o exercício 2 1


(angina pectoris).

13. Infarto do miocárdio, trombose coronariana. 2 1

14. Insuficiência cardíaca. 2 1

15. Outra doença cardiovascular 2 1


Qual?

16. Infecções repetidas do trato respiratório (incluindo 2 1


amigdalite, sinusite aguda, bronquite aguda).

17. Bronquite crônica 2 1

18. Sinusite crônica. 2 1

19. Asma 2 1

20. Enfisema 2 1

21. Tuberculose pulmonar 2 1

22. Outra doença respiratória 2 1


Qual?

112
23. Distúrbio emocional severo (ex. depressão severa) 2 1

24. Distúrbio emocional leve (ex. depressão leve, tensão, 2 1


ansiedade, insônia).
25. Problema ou diminuição da audição. 2 1

26. Doença ou lesão da visão (não assinale se apenas usa 2 1


óculos e/ou lente de contato de grau).

27. Doença neurológica (acidente vascular cerebral ou 2 1


“derrame”, neuralgia, enxaqueca, epilepsia).
28. Outra doença neurológica ou dos órgãos dos sentidos. 2 1

Qual?

29. Pedras ou doença da vesícula biliar. 2 1

30. Doença do pâncreas ou do fígado 2 1

31. Úlcera gástrica ou duodenal 2 1

32. Gastrite ou irritação duodenal 2 1

33. Colite ou irritação duodenal. 2 1

34. Outra doença digestiva 2 1


Qual?
35. Infecção das vias urinárias 2 1

36. Diarreia. 2 1

37. Constipação 2 1

38. Gazes. 2 1

39. Doenças dos rins. 2 1

40. Doenças nos genitais e aparelho reprodutor (p. ex. 2 1


problema nas trompas ou na próstata).
41. Outra doença geniturinária 2 1
Qual?
42. Alergia, eczema 2 1

43. Outra erupção 2 1


Qual?
44. Doença de pele? 2 1
Qual?
45. Tumor Benigno 2 1

113
46. Tumor maligno (Câncer) 2 1
Onde?
47. Obesidade 2 1

48. Diabetes 2 1

49. Varizes 2 1

50. Colesterol alto 2 1

51. Bócio ou outra doença da tireoide 2 1

52. Outra doença endócrina ou metabólica. 2 1


Qual?
53. Anemia 2 1

54. Outra doença do sangue 2 1


Qual?
55. Defeito de nascimento. 2 1
Qual?
56. Outro problema ou doença. 2 1
Qual?

4.a – Não tenho nenhum dos problemas de saúde listados acima.

5 – Sua lesão ou doença é um impedimento para seu trabalho atual? (Você pode
marcar mas de uma resposta nesta pergunta).
1 Na minha opiniãoestou totalmente incapacitado para trabalhar.

2 Por causa de minha doença sinto-me capaz de trabalhar apenas em


tempo parcial.

3 Frequentemente preciso diminuir meu ritmo de trabalho ou mudar


meus métodos e

trabalho.

4 Algumas vezes preciso diminuir meu ritmo de trabalho ou mudar


meus métodos de

trabalho.

5 Eu sou capaz de fazer meu trabalho, mas ele me causa alguns


sintomas.

6 Não há impedimento / Eu não tenho doenças

114
6 – Quantos DIAS INTEIROS você esteve fora do trabalho devido a problemas de
saúde, consulta médica ou para fazer exame durante os últimos 12 meses?
1 2 3 4 5

De 100 a 365 dias De 25 a 99 dias De 10 a 24 dias Até 9 dias Nenhum

7 – Considerando sua saúde, você acha que será capaz de DAQUI A 2 ANOS fazer seu
trabalho atual?
1 4 7

É improvável Não estou muito certo Bastante provável

8 – Você tem conseguindo apreciar (se sentir satisfeito com) suas atividades diárias?
0 1 2 3 4

Nunca Raramente Às vezes Quase sempre sempre

9 – Você tem sentido ativo e alerta?


0 1 2 3 4

Nunca Raramente Às vezes Quase sempre sempre

10 – Você tem se sentido cheio de esperança para o futuro?


0 1 2 3 4

Nunca Raramente Às vezes Quase sempre sempre

115
ANEXO 3 - PARECER DO CEP

116
117
118
ANEXO 4 - CARTA DE ANUÊNCIA

119
12. APÊNDICES

APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos você para participar da Pesquisa “Análise Bioética da Qualidade de Vida dos
Trabalhadores de Enfermagem numa Maternidade Pública de Salvador”, sob a responsabilidade da
orientadora Liliane Elze Falcão Lins Kusterer, e da pesquisadora Paula do Nascimento Alves
Cardoso, a qual pretende fazer uma análise bioética da qualidade de vida dos trabalhadores de
enfermagem numa maternidade pública de Salvador; identificando os fatores bioéticos relacionados
ao trabalho que influenciam a qualidade de vida dos enfermeiros.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de respostas a três questionários auto-aplicáveis:
dados sócio-demográficos, qualidade de vida e capacidade para o trabalho, além da gravação de
entrevista com instrumento semi-estruturado contendo questões sobre o tema da pesquisa.
Os riscos decorrentes de sua participação na pesquisa são constrangimento, ao compartilhar
informações pessoais ou confidenciais, e em algumas temáticas possam lhe causar incômodo ao
relatar algo que lhe traga sofrimento. Diante dessas possibilidades deixo claro que não precisa
responder a qualquer pergunta ou fornecer informações, caso avalie que são pessoais ou sinta
desconforto em falar. Na ocorrência de alterações psicológicas você será encaminhado para o
Instituto de Psicologia da UFBA localizado na Estrada de São Lázaro 7170, São Lázaro. Tel.: 3235-
4589 que oferece os serviços de psicoterapia, psicodiagnóstico e orientação profissional. Ao
participar da pesquisa você estará contribuindo para o conhecimento, apropriação pessoal e
profissional de aspectos do seu cotidiano quando estiver no exercício profissional vivenciando
conflitos éticos e bioéticos. Além disso, o conhecimento gerado servirá como subsídios para
reivindicações de melhoria para aumentar a qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem.
Mostrará a importância dos fatores bioéticos para a qualidade de vida desses trabalhadores bem
como a preservação dos princípios bioéticos no processo de trabalho que poderão melhorar a
capacidade do indivíduo para o trabalho. Além de trazer uma reflexão e análise das concepções de
organização no processo de trabalho direcionadas aos aspectos bioéticos.
Se depois de consentir sua participação você vier a desistir de continuar participando, tem o direito e
a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta
dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. Você não terá nenhuma
despesa e também não receberá nenhuma remuneração como participante da pesquisa.
Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada,
sendo guardada em sigilo. Esses dados serão guardados durante cinco anos após coleta dos dados
para qualquer eventualidade. Para qualquer outra informação, poderá entrar em contato com as
pesquisadoras na Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, no Largo do
Terreiro de Jesus, s/n - Centro Histórico, Salvador, Bahia CEP: 40.026.010, pelo telefone (71) 3283-
5573, também poderá falar com as pesquisadoras nos seguintes contatos: Paula do Nascimento Alves
Cardoso (71) 8804-9982 e-mail: paulaenfaa@gmail.com e com Liliane Elze Falcão Lins Kusterer
(71) 9270-0660 e-mail: lkusterer@gmail.com. Caso queira fazer alguma reclamação ou denuncia
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Bahia da
Universidade Federal da Bahia – CEP-FMB/UFBA, no Largo do Terreiro de Jesus, s/n - Centro
Histórico, Salvador, Bahia CEP-FMB/UFBA: 40.026.010, pelo telefone (71) 3283-5564 ou pelo e-
mail: cepfmb@ufba.br.
Caso concorde em participar da pesquisa assine este documento que é emitido em duas vias que
serão ambas assinadas por mim e pela pesquisadora responsável, ficando uma via com cada um de
nós.
________________________________________ Data: ___/ ____/ _____
Assinatura do participante
________________________________________ ________________________________
Ass. Pesquisadora:Paula do Nascimento Alves Cardoso Ass. Pesquisadora responsável: Liliane Elze Falcão Lins Kusterer

120
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO DE SÓCIODEMOGRÁFICO

Nome: Idade: Sexo:


Responsável: Data: Horário:
Professor de: Local de Trabalho:
Cidade: UF:
Questionário sócio demográfico

Questões Preliminares
1.Carga Horária Semanal:
até 15 horas..................1
entre 15 e 20 horas........2
entre 20 e 25 horas........3
entre 25 3 30 horas........4
maior que 30 horas.........5
2.Renda familiar absoluta:
Até 5 salários mínimos....................1
Entre 5 e 10 salários mínimos...........2
Entre 10 e 15 salários mínimos.........3
Entre 15 e 20 salários mínimos.........4
Entre 20 e 25 salários mínimos.........5
Entre 25 e 30 salários mínimos.........6
Superior a 30 salários mínimos.........7

3.Quanto ao tabaco:

Fuma
Não fuma

4.Quanto ao álcool:

Ingere
Não ingere

121
APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA

 Apresentação do pesquisador
 Orientação sobre a finalidade da pesquisa
 Orientação sobre a finalidade da entrevista
 Orientação sobre a finalidade do Termo de Consentimento e solicitação da assinatura
do termo de consentimento
 Solicitação de consentimento para gravação da entrevista
 Realização das perguntas
1. Como você vê a ética e a bioética no seu trabalho?
2. O que é qualidade de vida e como avalia a sua qualidade de vida?
3. Pensando no seu trabalho quais os aspectos éticos e bioéticos que você considera
importante para ter qualidade de vida?
4. O lazer na sua vida
5. Processo de trabalho frente a inserção de uma nova tecnologia ou procedimento.
6. Você se sente capaz para o trabalho?
7. Participação na alocação de recursos
8. Comportamento dos profissionais frente as mulheres que provocaram o aborto
9. Postura diante de uma mãe menor que perde a autonomia do seu filho. / Perca de
autonomia da mulher em relação aos filhos
10. Maus tratos em relação aos idosos
11. Sofrimento mental no trabalho
12. Carga horária do trabalho
13. Situação de constrangimento no ambiente de trabalho
14. Ação preventiva a saúde do trabalhador
15. Riscos a saúde no trabalho
16. Postura quando o poder de decisão da vida do outro está em suas mãos
17. Postura nos casos de discordância de condutas com outros profissionais
18. Descrição do processo de trabalho
19. Influência do trabalho na vida
20. Contribuições

122

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