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TRABALHO DO ENFERMEIRO
Dissertação de Mestrado
0
FICHA CATALOGRÁFICA
C268 Dilemas éticos e bioéticos, qualidade de vida relacionada à saúde e capacidade para
2015.
Anexos.
2015.
5. Qualidade de vida. 6. Trabalho. I. Rêgo, Marco Antônio Vasconcelos. II. Universidade Federal
CDU – 614.257-051
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
-
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM
SAÚDE, AMBIENTE E TRABALHO
TRABALHO DO ENFERMEIRO
ii2
COMISSÃO EXAMINADORA
3
iii
Ainda que eu tivesse o dom de profetizar e conheça todos os
mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a
ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
1º Coríntios 13:2
4
iv
Dedico este trabalho à minha mãe, Ester
Evangelista do Nascimento, ao meu
esposo, Ageu Ribeiro Cardoso, à minha
filha, Rebeca, e aos meus irmãos, Kátia,
Kássia, Permínio e Estela, em
agradecimento pelo amor, carinho,
cuidado e confiança.
v5
AGRADECIMENTOS
À minha mãе, Ester, pelo amor, incentivo е apoio incondicional, principalmente nаs
horas difíceis de desânimo е cansaço.
Aos meus irmãos, Kátia, Kássia, Permínio e Estela; minhas sobrinhas, Jéssica e
Vanessa; meus tios e primos, que nоs momentos dе minha ausência dedicados ао estudo
superior, sеmprе entenderam qυео futuro é feito а partir dа constante dedicação nо
presente.
A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ muito
obrigada.
6
vi
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................ 8
LISTA DE TABELAS................................................................................................................. 9
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................. 10
RESUMO ................................................................................................................................... 11
1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 12
2. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 15
2.1. DEONTOLOGIA NO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM .................................. 15
2.2. TRABALHO DO ENFERMEIRO OBSTETRA .................................................... 17
2.3. BIOÉTICA ................................................................................................................. 20
2.3.1. BIOÉTICA PRINCIPIALISTA ....................................................................... 21
2.3.2. BIOÉTICA PERSONALISTA ......................................................................... 25
2.4. QUALIDADE DE VIDA EM SAÚDE ..................................................................... 26
2.5. CAPACIDADE PARA O TRABALHO .................................................................. 32
3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 36
3.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 36
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 36
4. METODOLOGIA ............................................................................................................. 37
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 40
6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................................... 79
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 80
8. SUMMARY ......................................................................................................................... 81
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 82
10. ARTIGO......................................................................................................................... 87
11. ANEXOS ...................................................................................................................... 108
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO SF – 36 ............................................................................. 108
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO . 111
ANEXO 3 - PARECER DO CEP ....................................................................................... 116
ANEXO 4 - CARTA DE ANUÊNCIA ............................................................................... 119
12. APÊNDICES ................................................................................................................ 120
APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 120
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO DE SÓCIODEMOGRÁFICO................................. 121
APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA .......................................................... 122
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DL – Decreto Lei
I – Informante
PO – Pesquisa Orientada
QV – Qualidade de Vida
TJ – Testemunha de Jeová
8
LISTA DE TABELAS
9
LISTA DE QUADROS
10
RESUMO
saúde e na sua capacidade para o trabalho. Foi realizado um estudo misto, com
Também foram aplicados os questionários Short Form Health Survey (SF-36) e Índice
de Capacidade para o Trabalho (ICT). A coleta do material qualitativo foi realizada por
bioéticos para ter qualidade de vida; influência do trabalho na vida pessoal; capacidade
11
1. APRESENTAÇÃO
obtenção das necessidades básicas da pessoa humana, assim como garante condições
(TUOMI, 2005).
humana, que abrangem as temáticas da vida e da morte. Essa atuação requer extrema
12
Durante o processo de elaboração do projeto, a ampla revisão de literatura foi
percepção da qualidade de vida; aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida;
da enfermagem.
13
A discussão das temáticas identificadas segundo os aspectos éticos e bioéticos
14
2. REVISÃO DA LITERATURA
(WALDOW, 1998).
integral e holístico. Lima (1993) também descreveu a enfermagem como ciência e arte:
humana exigem que o profissional atue com sabedoria e ética. Partindo desses
isso conta-se com o órgão regulador que estabelece o acesso à profissão, o controle do
15
exercício (designadamente pelas regras éticas e deontológicas, pela formulação de
2007).
regulamentadoras da profissão que estão contidas no Decreto-Lei n.º 161/96, que dispõe
16
Território Nacional, filiado ao Conselho Internacional de Enfermeiros, sediado em
Saúde da Mulher (PAISM), que estabelece o cuidado à saúde da mulher pelo sistema de
saúde, com o objetivo de atender a mulher em sua fase reprodutiva. O PAISM, através
17
acompanhamento do trabalho de parto e execução do parto normal sem distócias,
Saúde, sendo considerada referência secundária para gestação de alto risco pela Central
Estadual de Regulação (CER). Assim, recebe as gestantes com maior gravidade de todo
Estado, realizando, em média, 300 partos por mês, contemplando as ações de Atenção
SUS através da Portaria nº 1.459 de 24 de Junho de 2011, que visa a implementar uma
18
iniciando sua implantação de acordo o critério epidemiológico, taxa de mortalidade
desgaste físico e mental na execução das atividades. Por isso, os enfermeiros utilizam
diversos artifícios que resultam no aumento das demandas sobre o corpo e sobre as
(TUESTA, 2003).
dificuldade de aceitação do papel dos enfermeiros obstetras pela equipe médica inibe a
19
No processo de trabalho dos enfermeiros obstetras observa-se a presença
2.3. BIOÉTICA
acordo com as normas, as pessoas guiam as suas ações e compreendem que têm o dever
frequentemente superadas pelo diálogo, que podem evoluir para a discussão áspera e até
valores e normas que guiem o agir humano com relação à intervenção da ciência e da
somos levados a refletir sobre aquilo que é recomendado ou exigido pela moralidade e a
20
ponderar sobre o que devemos fazer, representando uma necessidade de justificação
dessa pesquisa.
Esses princípios não funcionam como diretrizes de ação precisas que nos informam
como agir em cada circunstância. Os princípios são diretrizes gerais que deixam um
Os quatro princípios são: (1) o respeito pela autonomia (uma norma sobre o
maleficência (uma norma que previne que se provoquem danos), (3) a beneficência (um
grupo de normas para proporcionar benefícios e para ponderar benefícios contra riscos e
custos), (4) a justiça (um grupo de normas para distribuir os benefícios, os riscos e os
21
No sentido de tornar compreensível e aplicável o conhecimento ético e bioético,
esses quatro princípios foram analisados nesse estudo. Até o momento esses princípios
são os mais utilizados como referencial para abordagem de dilemas éticos na saúde e
segue algumas regras morais, como: proteger e defender os direitos dos outros; evitar
que os outros sofram danos; eliminar as condições que causarão danos a outros; ajudar
CHILDRESS, 2002).
assistência à saúde, por ser compreendido como uma ação a ser realizada em benefício
valor na execução de qualquer ação sobre o ser humano. No gerenciamento dos serviços
decisão do enfermeiro com cargo gerencial, de modo que a decisão resulte em fatores
intencionalmente, ou seja, acima de tudo não causar dano. As regras morais implicadas
nesse princípio são: não matar; não causar dor, ofensa, sofrimento, incapacitação a
22
determinado indivíduo pode causar dano a outrem. No contexto da profissão, os
religiosos, dentre outros, para executar ações que não interfiram de forma negativa em
suas crenças. O enfermeiro na função de gestor necessita fazer com que suas ações
O princípio do respeito à autonomia pode ser definido como uma questão de ter
opiniões, fazer suas escolhas e de agir com base em suas crenças e valores pessoais, sem
importância de tal princípio como „guia‟ para toda a atividade a ser executada. Durante
contribui para este sentir-se mais valorizado e respeitado, permitindo sua participação
23
em decisões, de forma que essas resultem em ações participativas e comprometidas pela
considerar os princípios materiais de justiça que são: a todas as pessoas uma parte igual;
a cada um de acordo com sua necessidade, seu esforço, sua contribuição e seu
pessoas (para determinado cargo, atividade, horário, folga) e, para isso, precisa deste
parentescos. Este princípio não é de fácil utilização, por envolver uma análise crítica
dos saberes pertinentes ao ofício, para constituir um campo profissional digno do ser
24
2.3.2. BIOÉTICA PERSONALISTA
coração de sua liberdade: o homem é pessoa porque é o único ser em quem a vida se
torna capaz de “reflexão” sobre si, de autodeterminação; é o único ser vivo que tem a
vontade; existe não só fisicamente, pois há nele um existir mais rico e mais elevado,
aquilo que é e não somente pelas escolhas que faz. Em toda escolha a pessoa empenha
aquilo que é a sua existência e a sua essência, o seu corpo e o seu espírito; nesse
Lembrando que o corpo humano como valor não tem “preço” e, então, não é
(SGRECCIA, 2009).
25
Diante da pessoa, da saúde e da doença há quatro dimensões da saúde que se
Considera-se a bioética como uma área de discussão sobre valores inerentes à vida
adquirir conhecimento sobre ética e bioética, para subsidiar as decisões, de forma que
satisfaça a todos.
de reflexão ética para nortear as suas práticas. No que se refere às relações com os
gerando, dessa forma, a necessidade de um novo perfil para o profissional dessa unidade
(TRAMONTIMI, 2002).
26
parâmetros individuais: hereditariedade, estilo de vida (hábitos alimentares, controle do
como os pacientes percebem o seu estado de saúde e/ou aspectos não médicos de suas
resposta física ou mental, diante dos estímulos construídos a partir de suas percepções
dos valores tipicamente humanos, sendo estes espirituais e/ou morais (SGRECCIA,
2009).
suas contribuições.
doenças e terapias que interferem nas condições de vida (MINAYO et. al., 2000).
27
Diante da diversidade de conceitos e da imanente subjetividade, alguns
em inquéritos de saúde. Foi desenvolvido no final dos anos 80 por Ware e Donald
“status funcional” e “bem estar” relacionados com a saúde (CICONELLI et.al, 1999).
inglesa, direcionados para utilização na população que fala esse idioma. Portanto, para
que possa ser utilizado em outro idioma, devem-se seguir normas preestabelecidas na
literatura para sua tradução e, posteriormente, suas propriedades de medida devem ser
demonstradas num contexto cultural específico. Sendo assim, o questionário SF-36 foi
sociais, saúde mental, vitalidade e estado geral de saúde) e um último item que avalia a
28
SF-36 são codificados, agrupados e transformados em uma escala de zero (pior estado
ITENS DOMINIOS
3a. Atividades vigorosas
3b. Atividades moderadas
3c. Levantar ou carregar mantimentos
3d. Subir vários lances de escada
3e. Subir um lance de escada
3f. Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se Capacidade
3g. Andar mais de um quilômetro Funcional
3h. Andar vários quarteirões
3i. Andar um quarteirão
3j. Tomar banho ou vestir-se
9a.Vigor/vontade/força
9e. Energia Vitalidade
9g. Esgotamento
91. Cansaço
6. Interferência na vida social
10. Interferência no tempo da vida social Aspectos sociais
29
A confiabilidade dos oito domínios e das duas medidas sumarizadas tem sido
índices acima de 0,70, e até 0,80, para os diferentes domínios e, para as medidas
publicados revelou que a média dos coeficientes de confiabilidade para cada um dos
oito domínios foi igual ou maior que 0,80, exceto para o domínio aspectos sociais, com
escores em cada domínio para a população dos Estados Unidos, país de origem do
30
Quadro 2- Resumo de conteúdo do SF-36 com a média, desvio padrão, confiabilidade e
limite dos escores em cada domínio.
31
A validade de cada domínio foi avaliada através de estudos de análise fatorial. O
primeiro é o de capacidade funcional, que tem sido a melhor medida de saúde física; o
último domínio, saúde mental, foi o que teve o melhor desempenho nos testes de
validação para avaliar saúde mental em diversos estudos. Contudo, esse domínio é a
medida com pior desempenho para avaliar componente físico, e o domínio capacidade
estado geral de saúde são válidos para avaliação de ambos componentes, físico e mental
(WARE, 2000).
A interpretação dos resultados tem sido feita muito mais facilmente com a
média 50 e desvio padrão 10 tem provado ser muito útil ao interpretar as diferenças
entre as escalas no perfil SF-36 e para monitorar grupos de doenças ao longo do tempo
(WERE, 2000).
A capacidade para o trabalho pode ser definida como recurso humano que reúne a
todos, porém pode ser afetada por diversos fatores, influenciando o desenvolvimento da
32
atividade ocupacional bem como estilo de vida e o ambiente de trabalho (TUOMI et at.,
2005).
al., 2005).
objetivo de mensurar o “quão bem está, ou estará, um (a) trabalhador (a) neste momento
ou num futuro próximo, e quão bem ele ou ela pode executar seu trabalho, em função
das exigências, de seu estado de saúde e capacidades físicas e mentais” (TUOMI et al.,
2005).
O ICT é composto de sete itens, cada um avaliado por uma ou mais questões
33
Quadro 3- Número de questões e pontos dos escores de cada dimensão do ICT
Nº de
Item Número de pontos (escore) das respostas
questões
1. Capacidade atual para o
0 – 10 pontos
trabalho comparada com a 1
(valor assinalado no questionário)
melhor de toda a vida
2. Capacidade para o
Número de pontos ponderados de acordo
trabalho em relação às 2
com a natureza do trabalho
exigências do trabalho
Pelo menos 5 doenças = 1 ponto.
4 doenças = 2 pontos
1
3. Número de doenças 3 doenças = 3 pontos
(lista de 51
atuais diagnosticadas por médico 2 doenças = 2 pontos
doenças)
1 doença = 5 pontos
Nenhuma doença = 7 pontos
1-6 pontos (valor circulado no questionário;
4. Perda estimada para o
1 o pior valor
trabalho por causa de doenças
escolhido)
5. Faltas ao trabalho por
doenças no último ano (12 1 1-5 pontos (valor circulado no questionário).
meses)
6. Prognóstico próprio da
1, 4 ou 7 pontos (valor circulado no
capacidade para o trabalho daqui 1
questionário).
a 2 anos
Os pontos das questões são somados e o
resultado é contado da
seguinte forma:
7. Recursos mentais * 3 Soma 0-3 = 1 ponto.
Soma 4-6 = 2 pontos.
Soma 7-9 = 3 pontos.
Soma 10-12 = 4 pontos.
Fonte: TUOMI et al., 2005
*este item refere-se à vida em geral, tanto no trabalho como no tempo livre.
trabalhador sobre sua capacidade para o trabalho. Esses escores são classificados em
umas das quatro categorias do ICT (quadro 4), de maneira que indicam medidas
necessárias a serem tomadas para restaurar, melhorar, apoiar e manter a capacidade para
o trabalho.
34
Quadro 4 – Pontuação, escores e medidas necessárias do Índice de Capacidade para o
Trabalho.
35
3. OBJETIVOS
para o trabalho.
36
4. METODOLOGIA
método misto oferece uma terceira alternativa alicerçada na dupla contribuição entre as
(MINAYO, 2010).
37
O método utilizado para análise qualitativa dos dados foi análise temática. O
referido método considera a totalidade do texto na análise, passando-o por uma crítica
2011).
estudo. Foram excluídos do estudo os enfermeiros que estavam de férias e/ou licença,
A coleta de dados ocorreu nos meses de maio e junho de 2014. Foram realizadas
SF-36, instrumento que avalia qualidade de vida em saúde, com medidas de resumo de
38
Após a gravação e transcrição das entrevistas, seguiu-se a técnica de análise
temática, como descreve Bardin (2011), constituída por três etapas: a pré-análise,
literatura científica.
Beauchamp e Childress (2002), no manual de Bioética de Elio Sgreccia (v.1 2009 e v.2
Foram utilizados vários locais da própria maternidade, com a finalidade de ser um local
39
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
sendo necessário, antes do início do estudo, sua aproximação com o campo de estudo.
entanto, houve uma negação da referida instituição, alegando que a mesma estava em
equipe de enfermagem.
Por essa razão, a pesquisa foi realizada no serviço público, sendo o campo de
trabalho definido após reunião com Diretora da Maternidade Albert Sabin. O projeto foi
avaliado pela instituição antes de receber anuência para submissão ao CEP FMB-
UFBA.
de anuência da Maternidade Albert Sabin, o projeto foi avaliado e aprovado pelo CEP
40
de estudo no qual a pesquisadora se encontrava inserida como enfermeira atuante. Para
facilitar o acesso aos colegas, o projeto foi divulgado pela coordenação de enfermagem
prejuízo.
físico mental e até mesmo, aspecto apático. Ainda que houvesse uma negação verbal
se esforçavam para dar respostas positivas aos questionamentos. Parecia que algo ou
alguma situação estava sendo encoberta pelos enfermeiros entrevistadas. Após início da
41
No que tange às reações frente aos dilemas profissionais, foi observado que os
no trabalho.
com frases impactantes que englobam os mais diversos conteúdos desse estudo. As
principais frases foram: “Enfermagem por amor, sem prazer” (I2), “Enfermagem por
amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno” (I3), “O trabalho é um refúgio... só
tenho alegria para o trabalho” (I4), “Eu era mais feliz antes de ser enfermeira” (I8), “É
melhor fazer, né?! Não é meu dever? Então vou fazer, sim” (I10), “Existe sofrimento,
não sei se propriamente isso, sofrimento mental, mas um massacre mental para o
necessário para não interferir no estudo, disponibilizando mais tempo para coletar os
42
Caracterização da amostra
masculino. A idade média foi 41,1 anos e o desvio padrão de 8,3. Todos eram não
Tabela 2 - Avaliação subjetiva da saúde geral há um ano, por dez enfermeiros de uma
maternidade de Salvador, 2014.
Saúde há 1 ano N
Muito melhor 2
Um pouco melhor -
Quase a mesma 6
Um pouco pior 2
Muito pior -
Total 10
Fonte: Questionário SF-36
43
A qualidade de vida relacionada à saúde, medida por meio do SF-36, revelou
Aspectos Sociais (43,0 ± 14,3), que contribuíram substancialmente para o baixo escore
com os escores para a população padrão dos Estados Unidos, que assumem média igual
Mental, segundo o SF-36, e, destes seis, apenas um reconheceu ter baixa capacidade
44
Na avaliação subjetiva de capacidade física, baseada na questão 1 do ICT, 80%
dos entrevistados se consideraram com capacidade física boa e muito boa; 10%,
45
Quadro 5 - Escores normalizados do Componentes Saúde Física e do Componente Saúde Mental do SF-36; Pontuação e Classificação do ICT;
Comentários e Depoimentos de dez enfermeiras de uma maternidade de Salvador, 2014.
SF – 36 ICT
Mental Para o
Saúde Mental
Enfermeiro/a
Classificação
Atual Para o
Saúde Física
Capacidade
Capacidade
Trabalho**
Trabalho *
Pontuação COMENTÁRIOS DEPOIMENTOS
1 48,66 24,48 27 5 3
qualidade de vida mediana. Demonstrou sofrimento com a equipe entende que é de outra forma...
ausência de normas e protocolos no trabalho. Isso desgasta... O que pode em um, não
pode no outro?!
46
CSF com valor médio, CSM acima da média e ICT
Moderada
moderado. Análise subjetiva: Considerou-se com O trabalho é o meu refúgio.
4 54,35 62,93 34 9 4
excelente capacidade física. Relatou Abandonou tudo Só tenho energia para o trabalho.
pelo trabalho. Informou depressão quando está em casa.
CSF e CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Com todas as restrições, eu sou a primeira
Análise subjetiva: Discursou com oscilação de a carregar para disponibilizar aquele
comportamento, ora com disposição, ânimo e aparência equipamento na hora. A vida do outro é
Baixa
7 33,11 29,68 25 6 4
de felicidade no exercício profissional e por vezes sempre muito importante, e a gente até
deprimida, abalada emocionalmente e desiludida. esquece da nossa em prol da vida do
Relatou sobre-esforço no trabalho. outro.
CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise A todo o momento nós somos cobrados,
subjetiva: Na avaliação subjetiva relatou excelente não só da clientela, como também dos
8 57,68 57,48 40 9 4 capacidade para o trabalho. Relatou satisfação para outros profissionais... a assistência de
Boa
exercer a profissão, mas cobrança desigual de enfermagem está 24 horas, então tudo de
responsabilidade no trabalho. certo que acontece os médicos recebem as
palmas e tudo de errado que acontece o
47
enfermeiro é responsabilizado.
CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise A gente tem que aprender a se fazer de
subjetiva: Relatou satisfação com vinculo estatutário, maluca mesmo (risos) para sobreviver.
9 51,64 58,76 41 9 4
Boa
mas aparentou sofrimento mental no discurso sem
autopercepção do mesmo.
*AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE TOTAL PARA O TRABALHO/ Questão 1 do ICT – Escala: 0(incapaz para o trabalho) a 10(melhor capacidade para o trabalho).
** AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE MENTAL / Questão 2b do ICT – Escala: 1(muito baixa) a 5 (muito boa).
48
Categorias temáticas
vida relacionada à saúde; Aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida;
enfermagem.
configurado pela responsabilidade do plano das relações de trabalho com reflexos nos
49
campos técnico, científico e político. O decreto nº 94.406 de 1987 traz a incumbência de
Por ética deontológica entende-se toda concepção ética, que compreende certos
(SGRECCIA, 2009).
Neste estudo, a percepção dos indivíduos sobre sua qualidade de vida, revelou que
Foi possível observar, na descrição das falas citadas abaixo, a diversidade das
saúde, lazer, trabalho; c) cuidar de si mesmo, viver e não sobreviver; d) estar perto da
50
biopsicossocial; g) garantir o sustento familiar; h) ter satisfação no trabalho, conquistas
e conforto.
[...] Qualidade de vida são as formas que você escolhe para ser
feliz. Eu estava péssima, porque eu tinha uma sobrecarga de
trabalho muito grande, estava me afastando da minha família e
do meu filho, do meu marido e da minha família como todos os
meus amigos. (I3)
satisfação das necessidades e dos desejos, além do respeito e da promoção dos valores
MARTINO, 2006).
Por isso a saúde deve ser entendida como um equilíbrio dinâmico condicionado
51
promoção da qualidade de vida: o estabelecimento e o cumprimento da deontologia
da demanda de trabalho.
[...] Ter normas bem definidas pra você saber exatamente o que
é sua função e não ficar tendo que ficar se chocando com os
outros profissionais pra decidir o que é seu e o que é do outro,
ter embates que firam a própria ética nas relações. (I1)
Tratar os colegas e outros profissionais com respeito e consideração faz parte dos
52
Sgreccia (2009) ressalta que o respeito pela vida, a sua defesa e a sua promoção
outros e que sem uma ética da vida não pode haver qualidade de vida.
profissionais dedicado ao lazer é limitado por causa da carga horária trabalhista. Apesar
restringe-se a uma vez por semana. As atividades de lazer mais citadas foram: assistir
TV, passeios em família, visitar amigos e entes queridos. Ressaltaram que, para se
trabalhistas.
[...] eu não tenho tempo, muito tempo, pra fazer quase nada. Na
verdade, eu fico a semana inteira, eu costumo trabalhar a
semana inteira. Esse último ano eu não fiz nada da minha vida
em relação a lazer. (I3)
[...] Eu resolvo isso aí com uma coisa que eu gosto demais, que
é ver TV. (I4)
[...] O lazer na minha vida não planejo muito, mas sempre que
posso [...] aproveito o máximo possível e me desligo totalmente
do trabalho. Quando estou no lazer, estou no lazer. (I8)
53
4) Influência do trabalho na vida pessoal
como uma necessidade, razão de viver, essencial, sobrevivência, vitória pela ascensão
próximo, o respeito pela vida, a generosidade, o espírito de sacrifício, etc são valores
morais que existem como apelo natural na própria realidade da pessoa humana, como
ideal que atrai continuamente o sujeito pessoal, como “dever ser” para o qual orientar o
enfermeiro.
[...] Trabalho é essencial, é o que nos faz sentir útil, é aquilo que
nos garante a sobrevivência, é aquilo que nos faz crescer como
seres humanos. (I5)
54
[...] Eu acho que eu nasci para cuidar de gente. Não sei se isso é
um privilégio ou se isso é um fardo. Eu acho uma coisa digna,
satisfatória também. (I8)
descontraídos não se deixando abater pelo cansaço e carga de trabalho, outros mais
voltados para realidade social, porém, todos, a seu modo, conseguem conviver com o
A vida humana é sagrada ou possui um valor infinito, não implica que ela tenha
suas vidas por vários benefícios possíveis, incluindo a diversão, a amizade, a fama e a
Afirmam ser um trabalho prazeroso, por lidar com o nascimento de seres humanos
que traz uma satisfação intrínseca, apesar do sofrimento físico e mental e do declínio
55
Pereira e colaboradores (2009) evidenciaram que os enfermeiros procuram focar
autocobrança, uma vez que o exercício profissional exige que o indivíduo utilize sua
testemunho são sinais de uma plenitude de valores vividos e são frutos de uma
vivência do trabalho.
56
uma rotina onde o resultado depende de toda equipe, da estrutura física e da organização
contexto instável que envolve o intelecto e manual, porém a sobrecarga pela demanda
[...] A gente tem essa questão aqui que por ser estatutário cada
um rege o seu processo de trabalho e na verdade não é assim. Eu
acho que tem que haver integração entre equipe e cada um,
sabendo o que tem autonomia para e quais são as
responsabilidades técnicas que tem. Muitas vezes, por ter muito
tempo no serviço, muitas que estão pra se aposentar não querem
respeitar mais o trabalho do enfermeiro; elas querem ficar,
querem coordenar o próprio processo de trabalho e muitas vezes
quando você vai reclamar de determinadas situações, situações
que a gente julga como erradas, elas “se acham”... Acham que
os enfermeiros não têm que estar coordenando o trabalho, que
pelo tempo de serviço elas não precisam mais e não devem mais
ser reclamadas. (I3)
[...] Tem que ser mecanizado pra a gente dar conta do serviço.
(I10)
no entanto apontam que na prática cotidiana existem fatores dificultadores, como a falta
57
de tempo, o quantitativo de pacientes internados e a rotatividades das puérperas.
Revelaram também que o trabalho sistematizado ainda não está incorporado à prática
cotidiano.
58
Quadro 6 - Dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício profissional da enfermagem, na opinião de dez enfermeiros de uma Maternidade de
Salvador, 2014.
Dilemas e conflitos Depoimentos
1. Sistema de gestão e [...] Quem tem mais experiência... poderia estar participando junto com os gestores, para que os recursos destinados fossem
alocação inadequada de recursos e realmente aplicados nos locais necessários. (I3)
leitos
[...] Nós enfermeiros que trabalhamos na UCI compramos materiais porque precisamos melhorar a assistência, a qualidade
2. Investimento de recursos do serviço. Eu mesmo canso de comprar coisas pra aqui, porque eu quero melhorar meu setor. A gente organiza o setor, a
próprios para melhoria da assistência. gente compra as caixinhas para organizar as coisas... Se depender do Estado, muita coisa fica a desejar. (I4)
[...] Que todas os enfermeiros que estejam estudando consigam transformar nossa carga horária de trabalho para 30 horas.
Que elas pensem um pouquinho nelas, nas suas famílias e não fiquem nessa loucura que nós fazemos: dobrar a jornada de
trabalho, sair de um lugar e ir pro outro. Não vale a pena! Vai ficar deprimida, angustiada, vai perder o marido, não vai ver
filhos crescerem. [...] A carga horária de trabalho da enfermagem deveria ser de 30 horas e com um salário maior. Afinal
3. Condições precárias de
trabalho, carga horária excessiva e de contas, pra a gente cuidar, a gente precisa ter tempo pra se cuidar também. Vamos pensar em cuidar do cuidador
acúmulo de vínculos trabalhistas. também... (I2)
[...] Eu espero que o salário possa melhorar assim como as condições de trabalho do enfermeiro. Muitos setores não têm
condições de trabalho... (I4)
[...] Não adianta nada aparecer um aparelho novo, se a equipe não estiver treinada... A enfermeira tem pouca autonomia,
principalmente a enfermeira obstetra, no lidar com determinadas tecnologias... Nós temos competência técnica para fazer,
mas infelizmente o saber médico em relação a todas as questões voltadas à atenção, à saúde da mulher, ainda é o que
predomina. (I3)
4. Educação permanente com [...] Os colegas da UCI têm mais acesso à tecnologia do que outros profissionais da enfermaria... Nós usamos o monitor
inserção e utilização da tecnologia para fazer oximetria de RN e outros equipamentos, não havendo muita dificuldade, não. Geralmente os colegas ensinam e a
gente faz. (I6)
[...] Em pouco tempo, foi introduzido o teste do coraçãozinho; aí, no começo foi aquele drama. A gente já tem muita coisa
para fazer, a gente não tem aparelho... Mas hoje em dia a gente já faz como uma rotina, entende? (I9)
59
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] Testemunhas de Jeová insistem em não tomar transfusão. A gente respeita porque é um preceito deles, mas conversa
sobre os riscos e deixa bem claro que há riscos iminentes de “vida” e eles insistem em tomar medidas paliativas que não
vão resolver o problema e é sempre um conflito pra gente. (I2)
[...] Eu sigo o princípio que é assim: se é risco de “vida”, eu tenho que agir. As questões éticas e legais eu respondo depois.
5. Interferência dos valores (I3)
religiosos nas relações. [...] Quando chega uma pessoa que é do candomblé, caracterizada, eu acho que essa aceitação de religiões que é mais
difícil... Até porque a mulher que chega ao aborto nós pensamos que a mesma quer ser cuidada, quer ser tocada.. Essa
mulher que chega de uma outra religião (que não conhecemos) ela não quer ser tocada por uma pessoa da equipe. Assim
como a equipe não quer chegar perto, ela também não quer que a equipe chegue mesmo. Então eu vejo mais esse conflito
porque muita gente aqui é “evangélica”. (I9)
[...] Antigamente, a pessoa quando chegava aqui era mal vista porque fez aborto, porque dá cadeia, dá problemas na
justiça, temos que comunicar à polícia... Essas coisas todas. (I4)
6. Aborto / Abortamento
[...] De muitos, a indiferença; de alguns, acolhimento... A grande maioria é indiferente, não se envolve com a situação
mesmo (no caso de aborto). (I7)
[...] Trabalhar com adolescente é uma situação difícil. Existe a dificuldade de trabalhar com mulheres em situação de
7. Falta do psicólogo na equipe abortamento (abordagem da psicologia). (I3)
[...] Por ser frequente aqui, muito frequente, (os profissionais) já agem com mais naturalidade. De forma inconsciente, o
próprio sistema se organiza. As mulheres que abortam são preteridas pelas mulheres que estão em processo de parto ou
8. Triagem de pacientes em pós-parto. Acredito que existe isso na distribuição, na alocação dos leitos etc. (I1)
situação de emergência
[...] A gente precisa priorizar quem vai atender e, o nascimento sempre é a prioridade... A não ser que a mulher esteja
sangrando o suficiente que a coloque em risco de ter um choque hipovolêmico...(I2)
60
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] A mãe menor é um problema enorme pra gente. Na maioria das vezes, ela não tem maturidade e também não tem
condições financeiras para arcar com o bebê, ainda é dependente da família. Já aconteceu caso de uma menor sair daqui
9. Diminuição e/ ou perda da
acompanhada com o filho pra uma instituição pública para ser cuidada, assistida. Os pais não a aceitaram de volta, depois
autonomia pelo baixo nível
que teve o bebê. (I2)
sociocultural da clientela
[...] Muitas mães querem levar o filho em qualquer condição, por falta de informação materna e desconhecimento do
processo ao qual seu filho está passando... Isso vai expor a saúde dessa criança, ela ter autonomia do seu filho. (I10)
[...] Aí segue o princípio da equidade: dar mais a quem precisa de mais. (I8)
[...] O poder de decisão nunca é do enfermeiro sozinho, tem o médico. O poder de decisão nunca tá na mão do enfermeiro
10. Sofrimento na tomada de só, tá na mão do médico também. (I6)
decisão em questões da vida, [...] Eu sigo o princípio que é assim: se é risco de “vida”, eu tenho que agir. As questões éticas e legais, eu respondo
nascimento e morte. depois. (I3)
[...] Com todas as restrições, eu sou a primeira a me disponibilizar para carregar aquele equipamento na hora. A vida do
outro é sempre muito importante e a gente até esquece da nossa em prol da vida do outro. (I7)
[...] Muitas mães idosas vêm acompanhando seus filhos e são maltratadas pelos filhos que elas estão acompanhando...
11. Situações de maus tratos então a gente chama para conversar principalmente tem uma ajuda muito grande do serviço social e é uma coisa mais
relacionada à educação. (I4)
[...] Não temos uma estrutura adequada, não tem espaço próprio para deitar, a cadeira é desconfortável, o ambiente é
insalubre, quente. (I1)
[...] E as pacientes ficam revoltadas... Passam a noite toda andando no corredor. Já teve caso da paciente forrar o chão e
deitar no chão, pelo excesso de calor. (I4)
[...] Uma reforma que já tem muito tempo e não se resolve a questão do ar condicionado. A climatização do ambiente que é
12. Estrutura física precária
uma promessa de muitos anos... Não se resolve essa questão de não fechar as portas. Portas abertas o tempo todo e a
quantidade de pacientes. (I9)
[...] O próprio ambiente insalubre, o calor das enfermarias, nem sei quanto graus... Todas as pacientes juntas, com quatro
recém-nascidos, com quatro acompanhantes, além de superlotação de todas as formas... A gente pode vir agravar o nosso
problema de saúde. (I9)
[...] Por falta de parâmetros na equipe, em determinado plantão a equipe conduz daquela forma; em outro plantão, a equipe
13. Diferentes posicionamentos entende que é de outra forma... Isso desgasta... O que pode em um, não pode no outro?!(I1)
das equipes de plantão (Falta de [...] Quando eu não consigo realizar uma atividade que eu tenho certeza que compete ao enfermeiro, como por exemplo,
seguimento do protocolo de ausculta de batimentos cardio-fetais... E, o profissional médico praticamente toma da minha mão o “sonar”... Eu acho que
Procedimentos Operacionais Padrão) isso é uma violência muito grande! Acho que é um dos momentos de sofrimento. (I7)
61
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] A todo o momento nós somos cobrados, não somente pela clientela, mas também pelos profissionais que estão no
14. Comparação do serviço contexto. Então em tudo de certo que acontece, são os médicos que recebem as “palmas”. Em tudo de errado que acontece,
médico com o serviço do enfermeiro o enfermeiro é responsabilizado... Essa é uma das partes do massacre. O massacre é quando o cliente está insatisfeito e
obstetra e pressão no processo de existe aquela pressão constante: cadê o médico? Eu quero isso, eu quero aquilo... Acaba ele se confrontando diretamente
trabalho com quem está na assistência 24 horas... Na assistência direta, Esse é o massacre. (I8)
[...] Aquela história de ter que colocar a culpa em alguém... Foi alguém que não viu, alguém que não fez... Não assumem a
função no caso. Não foi a gente mesmo que fez, ninguém viu... Agora esse embate de enfermeira obstétrica então... Tem
um embate grande. Com uma enfermeira como diretora, temos outro embate. Um embate velado. Um embate de quem está
na linha de frente. (I9)
[...] Muitas vezes, o poder de decisão não está em minha mão. Então eu fico frustrada. O máximo que a gente pode fazer é
registrar em relatório para que quem tem direito, possa encaminhar a situação... Isso causa uma enorme frustração. (I1)
[...] Me calar... Eu acho que devia expor aquilo que estou sentindo. Brigar mais por aquilo que eu quero, sabe? E eu não
sou mais assim. Me calo e saio, ou abandono aquilo. Fico remoendo aquela história por dias. (I7)
15. Relacionamentos [...] Se for um procedimento que você vê que vai lesionar o paciente, podendo até levar à morte... Discordar, se opor e
interpessoais / Conflitos deixa passar a bola para quem está realmente tocando a conduta, né? (I8)
interdisciplinares/Disputa de poder Se o profissional, médico, quiser fazer, ele faz. Eu não vou me corromper por isso, entendeu? Aí eu procuro não bater de
frente, né? Para evitar conflitos... Porque se a gente ficar batendo de frente, quem sofre é o paciente. No momento em que
você precisar de qualquer coisa na enfermaria, o profissional não vem... Demoram! O paciente permanece com dor, você
permanece com a paciente na emergência...
[...] Eu sou profissional de enfermagem, mas eu tenho que estar bastante amparada pela parte teórica. Tenho que estudar...
até a ponto de dizer: doutora, eu não acredito que essa indução tenha falhado porque, segundo o protocolo do ministério da
saúde, são tantas doses... E assim a gente vai se norteando pelo conhecimento científico que a gente tem. Para poder, assim,
embater. (I10)
62
Dilemas e conflitos Depoimentos
[...] Já passei constrangimento por isso. Por não haver uma rotina. Às vezes, quando você vai colocar uma coisa que o outro
entende que não é dessa forma e, essa pessoa está acostumada a conduzir as situações de uma forma mais áspera, então
sempre surge atrito entre as equipes. Eu já vivi com várias equipes. Inclusive até com coordenação, com técnico de
16. Vivência de
enfermagem, com médico. (I1)
constrangimentos
[...] Certo constrangimento... Na hora em que você vai realizar um procedimento, como as clientes vão usar o medicamento
(misoprostol)... Aí por segurança, eu chamo um técnico sempre pra me acompanhar. Por preservação do profissional mesmo.
Por ética mesmo. (I8)
[...] olha, nós não temos equipamentos básicos de trabalho. Por exemplo, avental. Você viu que eu cheguei aqui agora, mas
não estou com nada por baixo, estou com a calça toda cheia de líquido amniótico. Líquido que tem ou pode ter determinados
tipos de vírus e bactérias. (I3)
[...] Eu tento proceder de acordo com meus conhecimentos científicos que é a base do nosso bom senso. Mas os riscos
17. Exposição a riscos ergonômicos, sobrecarga de trabalho, as noites perdidas, entendeu? A gente tem que ter dois vínculos para poder realmente ter
químicos, físicos, ergonômicos e qualidade de vida. Pra preencher a lacuna financeira que vira um risco pra saúde da gente... A própria estrutura física também
psicológicos apresenta risco. A gente tem um ambiente sem ventilação, aumento de pessoas... tudo isso é risco. (I10)
[...] Risco à saúde psicológica tem e tem muito. Inclusive o clima de apreensão que a gente vive, porque ultimamente não tem
segurança suficiente para demanda que a gente tá recebendo aqui de acompanhante, né? Tem riscos a nossa integridade
física... Casos de tentativa de agressão como teve na emergência com a colega. Insatisfação do usuário que termina refletindo
na equipe. (I6)
[...] A democracia muitas vezes é confundida com desordem, porque a pessoa acha assim: “Direito do acompanhante” então
ele entra, ele acha que é hotel, ele acha que pode fazer tudo e não é assim. Tem gente que confunde isso. Direito do
acompanhante, então ele pode fazer tudo. Ele pode botar som alto, ele pode conversar alto... Mas não é só isso... Tem agressão
verbal e falta de cooperação de outros profissionais. A equipe multidisciplinar muitas vezes dificulta o nosso trabalho. Se todo
18. Direito do acompanhante mundo fizer sua parte... não estressa ninguém. Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a enfermagem. (I6)
[...] Engraçado a gente falar assim: a paciente tem direito a acompanhante, a paciente tem direito a ouvidoria, a reclamar, sim!
Nós profissionais somos desrespeitados aqui dentro. A gente é ameaçada por familiares alcoolizados, muitas vezes drogados.
Aqui também já teve mulheres de traficantes... Eles querem tratamento diferenciado. (I2)
63
Os dilemas podem surgir de princípios e regras morais conflitantes, mas os
dizem respeito somente aos fatores de risco, como também à relação de risco/benefício
Sendo assim, a alocação de recursos ocorre verticalmente, de cima para baixo, sem
chance de negociação. A alocação inadequada dos recursos prejudica o serviço, que tem
vez mais difícil a efetiva defesa da vida humana por parte do ordenamento do Estado e,
paradoxalmente, vão surgindo sutis formas de tirania, em que poucos homens podem
64
O gestor da unidade deve, no cumprimento das políticas públicas, verificar a
aceitabilidade dos riscos, determinada por meio das mais objetivas estimativas, da
Dessa forma, torna-se importante que o gestor inclua o trabalhador nas discussões
para alocação de recursos da unidade, a fim de obter maior eficácia nas decisões.
diretora ser uma enfermeira, pois a antiga era médica. Existe a perspectiva de um
maior foco em relação à carga horária de trabalho dos enfermeiros. Acredita-se que 30
horas de trabalho semanal seja uma carga horária mais compatível com a melhoria da
Nos últimos trinta anos, o notório avanço tecnológico e científico nos campos da
biologia e da saúde tem colocado a sociedade frente a situações até pouco tempo
exercício da profissão, torna-se inquestionável uma formação ética sólida para a tomada
65
quais têm sentido de perto as repercussões sobre o seu pensar e/ou agir (SANTA ROSA,
2006).
apenas para prover uma boa assistência, mas para inserção do profissional no mercado.
especializada para atuação em áreas com intenso manejo tecnológico fica mais
religiosas.
66
respeito ao dever de preservação da vida em caso de risco de morte eminente em que o
profissional que tem uma religião divergente prejudicam a relação de fidelidade que
deve haver entre ambos. Constitui-se um princípio fundamental do Código Ética dos
pessoa humana em todo o seu ciclo de vital, sem discriminação de qualquer natureza
Aborto / Abortamento
Foi possível extrair dos relatos que uma nova postura profissional é observada
decisão da paciente veio junto com indiferença do profissional pela situação. Esse novo
67
desempenhadas pelos profissionais. Existe também uma postura de não se envolver em
em quebrar o sigilo, pois o enfermeiro deve manter segredo sobre fato sigiloso de que
abortamento, ou paciente com menor idade. Há exceções previstas em lei, como nas
ENFERMAGEM, 2007).
benefício ao qual têm direito ou que se deixe de distribuir encargos de modo equitativo
que não estão capacitadas para atuar nos casos que envolvem adolescentes. Segundo os
adequadamente o cuidado. Cabe ressaltar que todos os cidadãos devem ter direitos
68
Triagem de pacientes em situação de emergência
Um dos problemas éticos mais difíceis é a avaliação das vítimas para definir a
decisão crucial, pois a intervenção nos primeiros minutos torna possível salvar um alto
(eficiência) e da justiça (equidade), é provável que o melhor plano seja aquele que
promova, do modo mais coerente, ambos os valores e que insista no acesso universal a
clientela
menor de idade, que possui pouco empoderamento para tomada de decisões. A pouca
prestarem maiores esclarecimentos para uma decisão mais consciente pelo paciente
registrar e documentar o fato. Deve ainda ser lembrado que, no risco iminente de morte,
69
há perda da autonomia, pois salvar a vida é um dever profissional, sendo a negligência
nenhuma decisão sobre a vida pode ser tomada sem seu consentimento ou de seu
responsável por esse bem objetivo e transcendente que recebeu e que constitui o bem
respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e
seu bem-estar.
empoderamento, que é o mecanismo pelo qual pessoas tomam controle de seus próprios
natureza, tem que estar acompanhada, geralmente por familiar, o que limita suas
70
cuidado de enfermagem valoriza muito a informação das usuárias com intuito de
A moralidade requer não apenas que tratemos as pessoas como autônomas e que
nos abstenhamos de prejudicá-las, mas também que contribuamos para seu bem-estar
morte.
se opta pela decisão compartilhada, mas ainda assim esta não é suficiente quando
proteger e defender os direitos dos outros, evitar que outros sofram danos, eliminar as
condições que causarão danos a outros, ajudar pessoas inaptas e socorrer pessoas que
psicológica. O apoio do serviço social era sempre requisitado para solução dos conflitos.
71
familiar, considerando que geralmente as pessoas se encontravam em situação de
excessiva da temperatura.
Sofrimento mental
função, até o exercício profissional com frustração pelas limitações de atividades no seu
72
sofrimento na tomada de decisão em questões da vida, nascimento e morte; situações de
maus tratos; estrutura física precária; diferentes posicionamentos das equipes de plantão
Um dos informantes fez referência ao massacre mental feito pelas cobranças dos
poder
com o pensamento coletivo para não ser vítima de exclusão socioprofissional, optando,
assim, por infringir alguns princípios éticos. Alguns profissionais defenderam a ação de
que agir com diplomacia e cordialidade era uma forma de sobrevivência no trabalho.
Quando ocorria um erro, havia uma disputa acirrada para definir quem seria o culpado
valores, enfatizar alguns e obscurecer outros, mesmo com prejuízo da verdade objetiva
(SGRECCIA, 2009).
de estar proibida de ser conivente com crime, contravenção penal ou ato praticado por
73
membro da equipe de trabalho que infrinja postulado ético profissional. (CONSELHO
enfermeiros obstetras.
conflitos. O enfermeiro obstetra, inibido pelos conflitos, pode ser visto de forma pouco
74
Na competição, a decisão final era da categoria médica, o que causava muita
saúde.
saúde.
Vivência de constrangimentos
75
acompanhantes, dos maus tratos e agressão profissional, dos conflitos interdisciplinares
e das tentativas de fuga dos pacientes. Grande parte dos procedimentos, por
ENFERMAGEM, 2005).
76
Toda atividade profissional acarreta riscos à saúde. As profissionais percebem
riscos a que estão sujeitos, dentre os quais foram apontados: insalubridade (temperatura
devido ao processo de trabalho sob pressão e o sofrimento mental nos diversos conflitos
do próprio trabalho, são de grande utilidade na avaliação dos riscos. Ao mesmo tempo,
segurança permite que se institua uma relação dialética entre os diversos sujeitos
Direito do acompanhante
abril de 2005, onde os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde– SUS –, da rede
77
própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um
(BRASIL, 2005).
Esse estudo evidenciou a falta de infraestrutura física adequada, que não garante a
78
6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
métodos, existe uma corrente de pesquisadores que defende essa junção de forma a
num mesmo projeto de pesquisa, pois uma investigação de cunho quantitativo pode
podem ter sido influenciadas pelo receio e insegurança da classe quanto às repercussões
sobre suas relações interpessoais no ambiente de trabalho. Para minimizar esse efeito,
houve plena garantia do sigilo e privacidade do participante e garantia do uso dos dados
79
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
de seus familiares. Foi possível também compreender que diante do sofrimento mental
Para avaliar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho foi preciso olhar o
indivíduo na sua integralidade física, mental e social, bem como observar os valores
80
8. SUMMARY
We aimed to identify ethical and bioethical dilemmas that intervene in the health-related
quality of life and in the work ability of nursing workers. A study with qualitative and
quantitative approaches comprised ten nurses from a maternity hospital from Salvador
City, Brazil. Sociodemographic data were collected in a questionnaire; the Short Form
Health Survey (SF-36) and the Work Ability Index Questionnaires were also applied.
field diary. The main ethical and bioethical dilemmas experienced by nurses at work
have been identified, and they were related to the following themes: representation of
ethical and bioethical questions in the work; perception of health-related quality of life
perception and of its determinants; and work influence on personal life and on work
ability. We conclude that the ethical and bioethical dilemmas experienced by nurses
during their professional practice do intervene in their health-related quality of life and
in their work ability, and, consequently, could impair the quality of health care provided
to their patients.
Life; Work.
81
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 163 de 22 de setembro de 1998. Dispõe sobre as das
atribuições do enfermeiro obstetra e da obstetra. Diário Oficial da União 1998 set; 1:24.
82
acompanhante. Saúde Soc. São Paulo, v.23, n.2, p.572-581, abril/ junho 2014.
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PALÁCIOS, M.; MARTINS, A.; PEGORARO, O.A. (Org.). Ética, ciência e saúde:
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85
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São Paulo. Edufscan, 2005. ISBN 10:857600466.
WARE JE, Jr. SF-36 health survey update. Spine (Phila Pa 1976) 2000;25(24) 3130-9.
86
10. ARTIGO
Dilemas éticos, qualidade de vida e capacidade para o trabalho de enfermeiras
obstétricas
1-
Enfermeira, Mestre em Saúde Ambiente e Trabalho do Programa de Pós-
graduação em Saúde Ambiente e Trabalho, Faculdade de Medicina da Bahia,
Universidade Federal da Bahia (PPGSAT-FMB-UFBA), Salvador, Bahia, Brasil.
paulaenfaa@gmail.com
2-
Doutora em Patologia Humana pela FIOCRUZ/FMB-UFBA, Livre-Docente em
Bioética FMB-UFBA, Docente do PPGSAT-FMB-UFBA, Salvador, Bahia, Brasil.
liliane.lins@ufba.br
3-
Doutor em Saúde Ocupacional, Universidade de Londres. Docente do PPGSAT-
FMB-UFBA, Salvador, Bahia, Brasil. fmc.ufba@gmail.com
87
RESUMO
ABSTRACT
Objective: To identify ethical and bioethical dilemmas referred by obstetric nurses and
evaluate their influence on health-related quality of life and work ability. Method: The
survey enrolled ten nurses from public maternity from Salvador, State of Bahia, Brazil.
A study had qualitative and quantitative approaches, using interviews, questionnaires
application: socio demographic, Short Form Health Survey (SF 36) and Work Ability
Index (WAI) and the thematic analysis technique. Results: The main ethical and
bioethical dilemmas experienced by the obstetric nurses were identified, and their
health-related quality of life and wok ability were evaluated. Conclusion: The daily
ethical and bioethical dilemmas affect the health-related quality of life and the work
ability of the obstetric nurses, what can impair the quality of the care delivered to
patients.
Key words: Ethics; Bioethics; Quality of Life; Nurse Midwives.
88
RESUMEN
INTRODUÇÃO
O trabalho deveria melhorar e promover a qualidade de vida do indivíduo e dos
seus familiares. Entretanto, o trabalho tem-se transformado em um local de risco de
acidentes e de doenças profissionais que comprometem a saúde e, às vezes, a vida do
trabalhador(1). A desvalorização do trabalho pode prejudicar a satisfação intrínseca no
exercício profissional e a expressão da criatividade humana durante o seu exercício.
Então, prevalece no trabalho a sua razão instrumental utilitária, sua capacidade de
prover as necessidades básicas e de viabilizar o consumo de bens. Por outro lado, a
valorização da atividade profissional possibilita a satisfação das necessidades básicas da
pessoa humana, assim como garante condições dignas de vida(2).
O trabalho da enfermeira obstétrica exige condições físicas e mentais para o seu
desenvolvimento. É necessário que o trabalhador tenha equilíbrio biopsicossocial e
econômico, pois esses fatores interferem diretamente no desenvolvimento do trabalho(3).
Os conflitos que se estabelecem na atenção à saúde da pessoa humana abrangem
as temáticas da vida e da morte. As decisões da enfermeira obstétrica em questões que
envolvem os princípios bioéticos de autonomia, beneficência não maleficência, justiça e
vulnerabilidaderequerem extrema responsabilidade e podem contribuir para o seu
89
adoecimento. A vivência constante de dilemas e conflitos éticos e bioéticos no exercício
da profissão pode ser observada em vários setores da enfermagem como na unidade de
internação, emergência, centro cirúrgico e na gerência da unidade.
O presente estudo teve como objetivo identificar dilemas éticos e bioéticos
referidos por enfermeiras obstétricas e avaliar como os mesmos interferem na sua
qualidade de vida relacionada à saúde e na sua capacidade para o trabalho.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo de método misto, qualitativo e quantitativo. Os
participantes foram entrevistados, utilizando-se um roteiro para entrevista
semiestruturada. Como método de avaliação qualitativa, foi utilizada a análise temática
de Bardin(4). Para a análise quantitativa, foram aplicados: um instrumento de coleta de
dados sócio demográficos, o questionário Short Form Health Survey (SF-36), versão
para o Português Brasileiro(5) e o questionário de Índice de Capacidade para o
Trabalho(3).
O Short Form 36 Health Survey Questionnaire (SF-36) é um instrumento
genérico de pesquisa utilizado para avaliar a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
(QVRS). O SF-36 é autoaplicável com duração média de aplicação de 15 minutos com
elevado grau de aceitabilidade e qualidade dos dados. O questionário contém 36 itens,
dos quais 35 encontram-se agrupados em oito dimensões (capacidade funcional, dor,
aspectos físicos, aspectos emocionais, aspectos sociais, saúde mental, vitalidade e
estado geral de saúde) e um último item que avalia a mudança de saúde no tempo. Para
cada dimensão, os itens do SF-36 são codificados, agrupados e transformados em uma
escala de zero, pior estado de saúde, a 100, melhor estado de saúde(5). Os escores
normalizados do SF-36 devem ser interpretados como comparações com os escores para
a população padrão dos Estados Unidos os quais assumem média igual a 50 e desvio
padrão igual a 10.
O questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) baseia-se na
autopercepção dos trabalhadores com o objetivo de mensurar o “quão bem está, ou
estará, o trabalhador no momento atual ou num futuro próximo, e quão bem pode
executar seu trabalho, em função das exigências, de seu estado de saúde e capacidades
físicas e mentais”. Composto de sete itens, cada qual avaliado por uma ou mais questões
sobre exigências físicas e mentais do trabalho, o estado de saúde do trabalhador e seus
recursos físicos e mentais. O resultado atinge um escore de 7 a 49 pontos que
90
representam o conceito do trabalhador sobre sua capacidade de para o trabalho. Esses
escores são classificados em quatro categorias: baixa, moderada, boa e ótima(3).
A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública da cidade de Salvador,
Bahia,. Participaram do estudo dez profissionais que atuavam em diversos setores da
maternidade.
Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser enfermeiro/a atuante de qualquer
setor da maternidade e que voluntariamente desejasse contribuir com o estudo. Foram
excluídas do estudo profissionais em férias e/ou licença, bem como aquelas que
exerciam cargos administrativos.
A coleta de dados ocorreu nos meses de maio e junho de 2014. Foram realizadas
entrevistas, utilizando-se um roteiro para entrevista semiestruturada com tópicos
norteadores para identificar os dilemas éticos e bioéticos que poderiam interferir no seu
trabalho e na sua qualidade de vida. As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora,
em locais reservados da própria maternidade (sala da coordenação de enfermagem, o
conforto de enfermagem e a recepção do ambulatório, após o expediente), respeitando o
conforto e a privacidade dos participantes.
Após a gravação e transcrição das entrevistas, seguiu-se a técnica de análise
temática(4), constituída por três etapas: a pré-análise, realizada com a leitura flutuante,
obtendo um contato exaustivo com o material; a exploração do material, possibilitando
a determinação das unidades de registro codificação e recorte das falas; e o tratamento
dos resultados obtidos e sua interpretação, além da confrontação com as temáticas
identificadas na literatura científica.
A discussão dos aspectos éticos e bioéticos foi baseada na teoria principialista de
Beauchamp e Childress(6), no manual de Bioética de Elio Sgreccia(7-8) e na Carta
Universal de Direitos Humanos da UNESCO(9).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de
Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, sob número CAAE
26032313.3.0000.5577. Foram respeitadas as diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde na sua Resolução
Nº466/12 e utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a coleta de dados, foi possível perceber que o momento da entrevista
funcionava como um desabafo profissional. A aparência das participantes era de
91
esgotamento físico mental e, às vezes, de apatia. Ainda que houvesse negação verbal
desse estado, o mesmo era visível e inquestionável ao observador. Muitas participantes
se esforçavam para dar respostas positivas aos questionamentos. Parecia que algo ou
alguma situação estava sendo encoberta. No ambiente de trabalho, pôde-se observar
momentos saudáveis e tensos nas equipes multiprofissionais. Esses momentos
funcionavam como estimulantes ou desanimadores para o exercício profissional.
No que tange às reações frente aos dilemas profissionais, foi observado que as
enfermeiras com menos tempo de exercício profissional apresentavam discurso
contraditório sobre sofrimento no trabalho. Já as enfermeiras com mais tempo de
serviço discorriam sobre traumas na vida social e emocional além daqueles relacionados
à saúde/doença no trabalho, manifestando sentimentos de ansiedade pela aposentadoria
como forma de livramento do sofrimento no trabalho.
Nas entrevistas, os discursos das enfermeiras abordavam diversos conteúdos
relevantes para esse estudo. Por exemplo: “Enfermagem por amor, sem prazer” (I2),
“Enfermagem por amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno” (I3), “O trabalho
é um refúgio... só tenho alegria para o trabalho” (I4), “Eu era mais feliz, antes de ser
enfermeira” (I8), “É melhor fazer, né?! É meu dever, então vou fazer, sim” (I10),
“Existe sofrimento, não sei se propriamente isso, sofrimento mental, mas um massacre
mental para o profissional enfermeiro, sim” (I8).
Caracterização da amostra. Foram estudados 10 indivíduos, sendo nove do
sexo feminino e um do sexo masculino. A idade média foi 41,1 anos e o desvio padrão
de 8,3. Todos eram não fumantes e dois indivíduos referiram consumo de álcool.
(Tabela 1)
Uma pergunta do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)
possibilita a avaliação subjetiva da saúde individual atual, comparada há um ano. Seis
dentre os dez profissionais entrevistados afirmaram a manutenção do estado geral de
saúde.
A qualidade de vida relacionada à saúde, medida por meio do SF-36, revelou
escores baixos para os domínios Aspectos Emocionais (41,7 ± 14,9) e Aspectos Sociais
(43,0 ± 14,3) que contribuíram substancialmente para o baixo escore do Componente de
Saúde Mental (43,3 ± 15,8). (Tabela 2)
Seis indivíduos apresentaram níveis baixos do escore do Componente Saúde
Mental, segundo o SF-36, e, destes seis apenas um reconheceu ter baixa capacidade
92
mental, segundo a pergunta do ICT que avalia subjetivamente a capacidade mental.
Dois participantes apresentaram baixos escores do Componente Saúde Física do SF-36.
Na avaliação subjetiva do ICT sobre capacidade física, 80% dos entrevistados se
consideraram com capacidade física boa e muito boa, 10% moderada e 10% baixa.
Os resultados mais relevantes dos escores normalizados do SF-36, dos
Componentes Saúde Física e Saúde Mental, a classificação do Índice de Capacidade
para o Trabalho e os relatos dos participantes estão apresentados no Quadro 1.
93
[...] Nós enfermeiros que trabalhamos na UCI compramos
materiais porque precisamos melhorar a assistência, a qualidade do
serviço... Se depender do Estado, muita coisa fica a desejar. (I4)
[...] É uma loucura que nós fazemos: dobrar a jornada de
trabalho, sair de um lugar e ir pro outro. Não vale a pena! Vai ficar
deprimida, angustiada, vai perder o marido, não vai ver filhos
crescerem. (I2)
Educação permanente com inserção e utilização da tecnologia. Este estudo
identificou dilemas que envolvem a autonomia do profissional da enfermagem e a
necessidade de capacitação da equipe para o uso de novas tecnologias. No contexto de
competição de mercado, a capacitação tecnológica se faz necessária, não apenas para
prover uma boa assistência, mas para inserção do profissional no mercado. A
capacitação, na maioria das vezes, se dá como um processo de treinamento no dia-a-dia,
trazendo ao profissional um sentimento de insegurança e sobrecarga de tarefas.
Consequentemente, o uso da tecnologia fica restrito aos setores mais críticos da
unidade, liderados pelo profissional médico. Dessa forma, a autonomia do enfermeiro
especializado para atuação em áreas com intenso manejo tecnológico fica mais
comprometida. Mesmo com a falta do processo adequado de inserção tecnológica,
observou-se manifestações de solidariedade de colegas para ensinar e treinar os que não
conhecem certas técnicas.
[...] Não adianta nada aparecer um aparelho novo, se a equipe
não estiver treinada... Nós temos competência técnica para fazer, mas
infelizmente o saber médico em relação a todas as questões voltadas à
atenção, à saúde da mulher, ainda é o que predomina. (I3)
Nos últimos trinta anos, o notório avanço tecnológico e científico nos campos da
biologia e da saúde tem colocado a sociedade frente a situações até pouco tempo
inimagináveis. A intensiva aplicação da ciência e da tecnologia no processo de cuidar
em saúde tem influenciado significativamente a prática dos profissionais de
enfermagem. Em decorrência do surgimento de dilemas de ordem ética durante o
exercício da profissão, torna-se inquestionável uma formação ética sólida para a tomada
de decisões frente a problemas éticos e morais cotidianos(10).
A capacitação do profissional para o uso da tecnologia é uma obrigação
compartilhada da instituição e/ou empregador e do profissional, conforme previsto no
Código Ética dos profissionais de enfermagem, que responsabiliza o enfermeiro de
manter-se atualizado ampliando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, em
benefício da clientela, coletividade e do desenvolvimento da profissão(12).
94
Interferência dos valores religiosos na atenção à saúde. Analisando os
discursos, verificou-se presença marcante de questões religiosas. Um dos dilemas
relatados foi o dever de transfundir hemoderivados em pacientes Testemunha de Jeová.
Alguns profissionais não conheciam os deveres éticos previstos no código de ética dos
profissionais de enfermagem, especificamente no que diz respeito ao dever de
preservação da vida em caso de risco de morte eminente em que o paciente perde a
autonomia(12).
Além dos dilemas que exigem atuação do profissional sem o consentimento do
paciente, identificou-se preconceito religioso bilateral, entre pacientes e profissionais. A
interferência dos valores religiosos na postura do profissional em acolher ou discriminar
o indivíduo e a postura do paciente em recusar ou aceitar o cuidado vindo de um
profissional que tem uma religião divergente prejudicam a relação de fidelidade que
deve haver entre ambos. Constitui-se um princípio fundamental do Código Ética dos
profissionais de enfermagem agir com respeito à vida, a dignidade e aos direitos da
pessoa humana em todo o seu ciclo de vital, sem discriminação de qualquer natureza(12).
Aborto / Abortamento. Foi possível extrair dos relatos que existe uma nova
postura profissional nas situações de abortamento. A postura anterior era de embate,
julgamento, discriminação, questionamento da atitude, preconceito, marginalização,
falta ou até mesmo atraso no cuidado. Atualmente, a situação é mais bem aceita e/ou o
respeito à opinião e decisão da paciente se apresenta com a indiferença do profissional
pela situação. Esse novo comportamento se deve a uma demanda excessiva de pacientes
e de tarefas a serem desempenhadas pelos profissionais. Existe também uma postura de
não se envolver em conflito como forma de proteção da saúde física e mental. Porém, a
situação de violência institucional permanece. Nos depoimentos foi identificada a
conduta equivocada do profissional em quebrar o sigilo, pois o enfermeiro deve manter
segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade
profissional, mesmo que seja um abortamento, ou paciente com menor idade. Há
exceções previstas em lei, como nas situações que envolvem ordem judicial, ou com o
consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal(12).
Diante do que é devido às pessoas, como a justiça, tratamento justo, equitativo e
apropriado, constituem-se injustiça:atos errados, omissões que neguem às pessoas um
benefício ao qual têm direito ou que deixem de distribuir os encargos de modo
equitativo(6).
95
Falta de psicólogo na equipe. Algumas enfermeiras relataram que não estavam
capacitadas para atuar nos casos que envolvem adolescentes. Segundo as enfermeiras, a
faixa etária é conflituosa e exige do profissional uma postura diferenciada, capaz de
compreender as particularidades da idade, além da necessidade de relatarem a
necessidade de inclusão do psicólogo na equipe a fim de conduzir adequadamente o
cuidado.
A capacitação da enfermagem na atenção a adolescentes é fundamental para uma
assistência digna.
96
autonomia, pois, salvar a vida é um dever profissional, sendo a negligência profissional
passível de pena prevista no código de ética profissional.
O cidadão é o primeiro responsável pela própria vida e pela própria saúde:
nenhuma decisão sobre a vida pode ser tomada sem seu consentimento ou de seu
legítimo representante. O próprio cidadão não é árbitro da própria vida, mas é
responsável por esse bem objetivo e transcendente que recebeu e que constitui o bem
fundamental da pessoa e da sociedade. O profissional é prestador de um serviço
qualificado e como tal responde ao cidadão doente ou sadio no âmbito da própria
competência profissional enquanto durar o contrato – aliança em sua consciência, diante
do dever transcendental de tutelar a vida e a pessoa do paciente(7).
Segundo o Código de Ética dos profissionais de enfermagem, cabe ao
enfermeiro respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa seu
tratamento e seu bem-estar. O princípio do respeito das pessoas envolvidas implica em
tratá-las como sujeitos autônomos, em que por autonomia se entende a capacidade de
agir com consciência e tutelá-la quando a autonomia se reduz ou até está ausente(7). O
respeito pela autonomia implica tratar as pessoas de forma a capacitá-las a agir
autonomamente6, sendo uma atitude de empoderamento que é o mecanismo pelo qual
pessoas tomam controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida, de seu destino(13)
.
97
Comparação do serviço médico com o serviço da enfermeira obstétrica e pressão
no processo de trabalho. No decorrer das entrevistas, notou-se que o sofrimento
mental dessas trabalhadoras se originava desde a capacitação profissional insuficiente e
na expectativa de exercício pleno da função e se estendia até o exercício profissional
frustante, pelas limitações de atividades decorrentes do processo de trabalho como um
todo. No ambiente de trabalho, a enfermeira obstétrica lida com pessoas de
comportamentos diversificados: pacientes, familiares, acompanhantes, colegas
multidisciplinares, coordenação e chefia. Cada uma possui seus princípios e axiograma
moral próprio.
98
por infringir alguns princípios éticos. Alguns profissionais defenderam a ação de que
agir com diplomacia e cordialidade era uma forma de sobrevivência no trabalho.
Quando ocorria um erro, havia uma disputa acirrada para definir quem seria o culpado
pelo acontecido. A vida social e a influência do ambiente social podem deformar os
valores, enfatizar alguns e obscurecer outros, mesmo com prejuízo da verdade
objetiva(7).
A enfermeira tem a responsabilidade de assegurar ao paciente uma assistência de
enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. Além
de estar proibida de ser conivente com crime, contravenção penal ou ato praticado por
membro da equipe de trabalho que infrinja postulado ético profissional(12).
A relação profissional estabelecida entre as enfermeiras obstétricas e os
profissionais médicos se dá de forma ambígua, pois pode se manifestar como um mundo
intersubjetivo(15). Nessa subjetividade, as decisões e atitudes devem ser compartilhadas,
porém, devido à convivência recíproca de disputa pelo poder, alimenta a relação com
desconfiança, influenciando assim na autonomia das enfermeiras obstétricas.
A falta de conhecimento sobre a legislação que respalda o exercício profissional
da enfermeira obstétrica pelo profissional médico gera dificuldades na definição das
funções e divisão do trabalho na equipe multiprofissional(16). A enfermeira obstétrica
pode ser vista de forma pouco atuante; na maioria das vezes, como uma coadjuvante na
assistência. O parágrafo único do artigo 11 da Lei Nº 7.498 de 1986 que regulamenta o
exercício profissional de enfermagem incumbe ao enfermeiro a assistência à parturiente
e ao parto, com identificação de distócias obstétricas e tomada de providências, até a
chegada do médico, bem como a realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de
anestesia local, quando necessária(12).
Como os momentos de discordância são inúmeros, o grupo de enfermeiras
ressaltou a importância de documentar a situação e dialogar com os envolvidos. Os
enfermeiros também consideraram a questão do gênero feminino dominante nas duas
equipes (enfermagem e médica) como fator agravante dos conflitos. Sentimentos de
frustração, desequilíbrio emocional, inclusive o desejo de abandono do trabalho,
tornaram-se evidentes.
Na disputa, a decisão final era da categoria médica, o que causava muita
angústia na equipe de enfermagem. A decisão nem sempre era compartilhada com as
enfermeiras que realizavam educação continuada, mesmo que independentemente.
99
Alguns profissionais, em nome da política da boa vizinhança, assumiam uma postura de
aceitação e até mesmo de omissão.
Para as mulheres enfermeiras obstétricas, a busca por empoderamento pessoal
também foi relevante. O estudo qualificado, o trabalho que traz independência
financeira, pode significar crescimento e de empoderamento para o trabalhador(14) . A
valorização da profissão de enfermeira obstétrica resulta numa melhor qualidade e
atenção humanizada ao parto(17).
100
psicológico devido ao processo de trabalho sob pressão e o sofrimento mental nos
diversos conflitos já citados, além dos riscos ergonômicos.
A prevenção está ligada à “educação para os valores” e o princípio da não-
maleficência determina a obrigação de não infligir dano intencionalmente(8-6). Nesse
sentido, a implantação de um programa de educação continuada para todos os
envolvidos (gestores, profissionais, pacientes e usuários) se faz necessária.
O profissional de saúde expõe sua própria vida a muitos riscos relacionados,
paradoxalmente, à arte de cuidar e de prevenir doenças. A estratégia de ação deve
prever a consulta e a participação dos trabalhadores, de forma organizada e continuada,
como instrumento fundamental para garantir a eficácia das soluções adotadas. O
patrimônio de conhecimento e de experiência prática que somente os trabalhadores têm
do próprio trabalho, é de grande utilidade na avaliação dos riscos. Ao mesmo tempo, a
participação social é o pressuposto para a aceitação consciente e o consequente respeito
das medidas de segurança. A participação organizada, mediante o papel permanente dos
representantes, permite que se institua uma relação dialética entre os diversos sujeitos
presentes na empresa, orientando-os a um fim comum(8).
Direito do acompanhante.
Esse estudo evidenciou a falta de infraestrutura física adequada, que não garante
a privacidade das parturientes. A presença dos acompanhantes diminui as condições de
trabalho dos enfermeiros e aumentava os dilemas e conflitos interpessoais.
O direito do acompanhante é garantido pela lei brasileira de Nº 11.108 de sete de abril
de 2005, onde os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um acompanhante
durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato(18) . O direito do
acompanhante pode ser desrespeitado, caso não haja condições adequadas de
privacidade e de trabalho(19). Uma das justificativas para não cumprimento da legislação
pode ser a infraestrutura física inadequada, uma vez que as mulheres em trabalho de
parto permanecem em uma mesma sala, prejudicando a privacidade das parturientes.
CONCLUSÃO
Os principais dilemas éticos e bioéticos vivenciados pelas enfermeiras
obstétricas se relacionaram com alocação inadequada de leitos, precária condição de
101
trabalho, carga horária excessiva, acúmulo de vínculos trabalhistas, dificuldade e
conflitos nos relacionamentos interpessoais e interdisciplinares.
A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde revelou escores
particularmente baixos para os domínios Aspectos Emocionais e Aspectos Sociais que
contribuíram substancialmente para o baixo escore do Componente de Saúde Mental.
A maioria das enfermeiras (80%) considerou sua capacidade física como boa e
muito boa.
Os rotineiros dilemas éticos e bioéticos no exercício profissional interferem na
qualidade de vida em saúde e na capacidade para o trabalho das enfermeiras obstétricas,
o que pode resultar em prejuízo para a qualidade da assistência prestada aos pacientes.
REFERÊNCIAS
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[online]. 1999 [acesso em 27 de maio de 2015]; 3(7): Disponível em:
http://www2.cjf.jus.br/ /ojs2/index.php/cej /article/view/183/345.
102
11. Santa Rosa DO, Vieira TT. Dilemas emergentes no campo da ética. In: Oguisso
T, Zoboli ELP (orgs.). Ética e Bioética: desafios para a enfermagem e a saúde.
Série Enfermagem. São Paulo (SP): Editora Manole; 2006. p. 204-16.
15. Versiani CC, Rodrigues AK, Silva TCB, Holzman APF, Souto DF. O ser
enfermeiro obstetra no cuidado ao parto; Rev APS. 2013; 16(2):173-179.
16. Araújo NRAS, Oliveira SC. A visão do profissional médico sobre a atuação da
enfermeira obstetra no centro obstétrico de um hospital escola da cidade do
Recife-PE. RevCogitareEnferm. 2006; 11(1):31-38
17. Moura FMJSP, Crizostomo CD, Nery IS, Mendonça RCM, Araújo OD, Rocha
SS. A humanização e assistência de enfermagem ao parto normal. Ver
BrasEnferm. 2007; 60(4):452-5.
18. Pereira CA, Miranda LCS, Passos JP. O estresse ocupacional da equipe de
enfermagem em setor fechado. RevPesq Cuidado é fundamental Online. 2009
[acesso em 27 de maio de 2015]; 1(2):196-202. Disponível em:
dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3660786.pdf.
20. Carvalho VF, Kerber NPC, Azambuja EP, Bueno FF, Silveira RS, Barros AM.
Direitos das parturientes: conhecimento da adolescente e acompanhante. Saúde
Soc. 2014; 23(2):572-581.
103
Tabela 1 - Características do trabalho de 10 enfermeiras de uma maternidade, Salvador,
2014.
a – Numa escala de 0(incapaz para o trabalho) a 9(melhor capacidade para o trabalho) do ICT.
b – Numa escala de 1(muito baixa) a 5(muito boa) do ICT.
104
Tabela 2 – Escores brutos e normalizados dos domínios e componentes sumários do SF-
36 em dez enfermeiros/as de uma maternidade de Salvador, 2014.
Escore Escore
Domínio / Componente Sumário Normalizado
Bruto
105
Quadro 2 - Escores normalizados do Componentes Saúde Física e do Componente Saúde Mental do SF-36; Pontuação e Classificação do ICT;
Comentários e Depoimentos de dez enfermeiras de uma maternidade de Salvador, 2014.
SF – 36 ICT
Mental Para o
Saúde Mental
Enfermeiro/a
Classificação
Atual Para o
Saúde Física
Capacidade
Capacidade
Trabalho**
Trabalho *
Pontuação
COMENTÁRIOS DEPOIMENTOS
3 67,78 18,80 39 7 2
profissão, desânimo com a pouca valorização do trabalho e pessoal e sem retorno.
falta de autonomia profissional.
106
Depende muito do plantão, da situação que
CSF e CSM acima da média e ICT ótimo. Análise subjetiva: agente vive... se você vive uma situação de
Ótima
Considera-se com ótima capacidade física e mental. superlotação, você vê a necessidade do seu
5 60,03 58,67 46 9 5
Demonstrou esforço em dar respostas corretas (tentativa de paciente... você se vê numa emergência sem
camuflagem?), relatou situações de sofrimento no trabalho. leito para atender esse paciente, isso leva ao
sofrimento mental...
Moderada
CSF e CSM abaixo da média e ICT moderado. Análise Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a
6 43,36 44,83 32 8 5 subjetiva: Aparentou calma, porém apresentou-se deprimida enfermagem. Aqui tem muito esse problema.
com as exig6encias do trabalho.
CSF e CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Análise Com todas as restrições, eu sou a primeira a
subjetiva: Discursou com oscilação de comportamento, ora carregar para disponibilizar aquele
Baixa
7 33,11 29,68 25 6 4 com disposição, ânimo e aparência de felicidade no exercício equipamento na hora. A vida do outro é
profissional e por vezes deprimida, abalada emocionalmente e sempre muito importante, e a gente até
desiludida. Relatou sobre-esforço no trabalho. esquece da nossa em prol da vida do outro.
A todo o momento nós somos cobrados, não
só da clientela, como também dos outros
CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise
profissionais... a assistência de enfermagem
subjetiva: Na avaliação subjetiva relatou excelente capacidade
Boa
10 58,00 41,04 37 8 4 Evidenciou desgaste físico e mental, fala fraca e andar ter dois vínculos para poder realmente ter
arrastado. qualidade de vida. A gente tem um ambiente
sem ventilação, aumento de pessoas... tudo
isso é risco.
*AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE TOTAL PARA O TRABALHO/ Questão 1 do ICT – Escala: 0(incapaz para o trabalho) a 10(melhor capacidade para o trabalho).
** AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE MENTAL / Questão 2b do ICT – Escala: 1(muito baixa) a 5 (muito boa).
107
11. ANEXOS
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO SF – 36
Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36
Nome:_______________________________________________________________
Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Estas informações nosmanterão
informados de como você se sente e quão bem você é capaz de fazer atividades de vida
diária. Responda cada questão marcando a resposta como indicado. Caso você esteja
inseguro em como responder, por favor, tente responder o melhor que puder.
2- Comparada há um ano atrás, como você se classificaria sua idade em geral, agora?
Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase a Mesma Um Pouco Pior Muito Pior
1 2 3 4 5
3- Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia
comum. Devido à sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas atividades? Neste caso,
quando?
Não, não
Sim, dificulta Sim, dificulta
Atividades dificulta de
muito um pouco modo algum
a) Atividades Rigorosas, que exigem
muito esforço, tais como correr,
levantar objetos pesados, participar 1 2 3
em esportes árduos.
b) Atividades moderadas, tais como
mover uma mesa, passar aspirador 1 2 3
de pó, jogar bola, varrer a casa.
c) Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3
d) Subir vários lances de escada 1 2 3
e) Subir um lance de escada 1 2 3
f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3
g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3
h) Andar vários quarteirões 1 2 3
i) Andar um quarteirão 1 2 3
j) Tomar banho ou vestir-se 1 2 3
108
4- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou
com alguma atividade regular, como conseqüência de sua saúde física?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu 1 2
trabalho ou a outras atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades. 1 2
d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. 1 2
ex. necessitou de um esforço extra).
5- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu
trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema
emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu 1 2
trabalho ou a outras atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c)Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto 1 2
cuidado como geralmente faz.
8- Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal
(incluindo o trabalho dentro de casa)?
De maneira Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente
alguma
1 2 3 4 5
9- Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você
durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se
aproxime de maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas.
Uma
A maior Uma boa Alguma pequen
Todo
parte do parte do parte do a parte Nunca
Tempo tempo tempo tempo do
tempo
a) Quanto tempo você
tem se sentindo cheio
de vigor, de vontade, de 1 2 3 4 5 6
força?
b) Quanto tempo você
tem se sentido uma 1 2 3 4 5 6
109
pessoa muito nervosa?
c) Quanto tempo você
tem se sentido tão
deprimido que nada 1 2 3 4 5 6
pode anima-lo?
d) Quanto tempo você
tem se sentido calmo ou 1 2 3 4 5 6
tranqüilo?
e) Quanto tempo você
tem se sentido com 1 2 3 4 5 6
muita energia?
f)Quanto tempo você
tem se sentido
desanimado ou 1 2 3 4 5 6
abatido?
g) Quanto tempo você
tem se sentido 1 2 3 4 5 6
esgotado?
h) Quanto tempo você
tem se sentido uma 1 2 3 4 5 6
pessoa feliz?
i)Quanto tempo você
tem se sentido 1 2 3 4 5 6
cansado?
10- Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)?
11- O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
A maioria A maioria
Definitivamente Não Definitiva-
das vezes das vezes
verdadeiro verdadeiro sei falso mente falso
a) Eu costumo adoecer
um pouco mais
facilmente que as 1 2 3 4 5
outras pessoas
b) Eu sou tão saudável
quanto qualquer pessoa 1 2 3 4 5
que eu conheço
c) Eu acho que a minha
saúde vai piorar 1 2 3 4 5
d) Minha saúde é
excelente 1 2 3 4 5
110
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO
1 – Suponha que sua melhor capacidade para o trabalho tem um valor igual a 10
pontos. Assinale com X um número na escala de zero a dez, quantos pontos você daria
a sua capacidade de trabalho atual.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
4- Na sua opinião quais das lesões por acidente ou doenças citadas abaixo você possui
ATUALMENTE. Marque também aquelas que foram confirmadas pelo médico. Caso
não tenha nenhuma doença, deixa em branco a questões e todos os seus sub-itens.
Em minha Na
opinião opinião
médica
111
médica
9. Artrite reumatoide 2 1
19. Asma 2 1
20. Enfisema 2 1
112
23. Distúrbio emocional severo (ex. depressão severa) 2 1
Qual?
36. Diarreia. 2 1
37. Constipação 2 1
38. Gazes. 2 1
113
46. Tumor maligno (Câncer) 2 1
Onde?
47. Obesidade 2 1
48. Diabetes 2 1
49. Varizes 2 1
5 – Sua lesão ou doença é um impedimento para seu trabalho atual? (Você pode
marcar mas de uma resposta nesta pergunta).
1 Na minha opiniãoestou totalmente incapacitado para trabalhar.
trabalho.
trabalho.
114
6 – Quantos DIAS INTEIROS você esteve fora do trabalho devido a problemas de
saúde, consulta médica ou para fazer exame durante os últimos 12 meses?
1 2 3 4 5
7 – Considerando sua saúde, você acha que será capaz de DAQUI A 2 ANOS fazer seu
trabalho atual?
1 4 7
8 – Você tem conseguindo apreciar (se sentir satisfeito com) suas atividades diárias?
0 1 2 3 4
115
ANEXO 3 - PARECER DO CEP
116
117
118
ANEXO 4 - CARTA DE ANUÊNCIA
119
12. APÊNDICES
Convidamos você para participar da Pesquisa “Análise Bioética da Qualidade de Vida dos
Trabalhadores de Enfermagem numa Maternidade Pública de Salvador”, sob a responsabilidade da
orientadora Liliane Elze Falcão Lins Kusterer, e da pesquisadora Paula do Nascimento Alves
Cardoso, a qual pretende fazer uma análise bioética da qualidade de vida dos trabalhadores de
enfermagem numa maternidade pública de Salvador; identificando os fatores bioéticos relacionados
ao trabalho que influenciam a qualidade de vida dos enfermeiros.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de respostas a três questionários auto-aplicáveis:
dados sócio-demográficos, qualidade de vida e capacidade para o trabalho, além da gravação de
entrevista com instrumento semi-estruturado contendo questões sobre o tema da pesquisa.
Os riscos decorrentes de sua participação na pesquisa são constrangimento, ao compartilhar
informações pessoais ou confidenciais, e em algumas temáticas possam lhe causar incômodo ao
relatar algo que lhe traga sofrimento. Diante dessas possibilidades deixo claro que não precisa
responder a qualquer pergunta ou fornecer informações, caso avalie que são pessoais ou sinta
desconforto em falar. Na ocorrência de alterações psicológicas você será encaminhado para o
Instituto de Psicologia da UFBA localizado na Estrada de São Lázaro 7170, São Lázaro. Tel.: 3235-
4589 que oferece os serviços de psicoterapia, psicodiagnóstico e orientação profissional. Ao
participar da pesquisa você estará contribuindo para o conhecimento, apropriação pessoal e
profissional de aspectos do seu cotidiano quando estiver no exercício profissional vivenciando
conflitos éticos e bioéticos. Além disso, o conhecimento gerado servirá como subsídios para
reivindicações de melhoria para aumentar a qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem.
Mostrará a importância dos fatores bioéticos para a qualidade de vida desses trabalhadores bem
como a preservação dos princípios bioéticos no processo de trabalho que poderão melhorar a
capacidade do indivíduo para o trabalho. Além de trazer uma reflexão e análise das concepções de
organização no processo de trabalho direcionadas aos aspectos bioéticos.
Se depois de consentir sua participação você vier a desistir de continuar participando, tem o direito e
a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta
dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. Você não terá nenhuma
despesa e também não receberá nenhuma remuneração como participante da pesquisa.
Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada,
sendo guardada em sigilo. Esses dados serão guardados durante cinco anos após coleta dos dados
para qualquer eventualidade. Para qualquer outra informação, poderá entrar em contato com as
pesquisadoras na Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, no Largo do
Terreiro de Jesus, s/n - Centro Histórico, Salvador, Bahia CEP: 40.026.010, pelo telefone (71) 3283-
5573, também poderá falar com as pesquisadoras nos seguintes contatos: Paula do Nascimento Alves
Cardoso (71) 8804-9982 e-mail: paulaenfaa@gmail.com e com Liliane Elze Falcão Lins Kusterer
(71) 9270-0660 e-mail: lkusterer@gmail.com. Caso queira fazer alguma reclamação ou denuncia
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Bahia da
Universidade Federal da Bahia – CEP-FMB/UFBA, no Largo do Terreiro de Jesus, s/n - Centro
Histórico, Salvador, Bahia CEP-FMB/UFBA: 40.026.010, pelo telefone (71) 3283-5564 ou pelo e-
mail: cepfmb@ufba.br.
Caso concorde em participar da pesquisa assine este documento que é emitido em duas vias que
serão ambas assinadas por mim e pela pesquisadora responsável, ficando uma via com cada um de
nós.
________________________________________ Data: ___/ ____/ _____
Assinatura do participante
________________________________________ ________________________________
Ass. Pesquisadora:Paula do Nascimento Alves Cardoso Ass. Pesquisadora responsável: Liliane Elze Falcão Lins Kusterer
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APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO DE SÓCIODEMOGRÁFICO
Questões Preliminares
1.Carga Horária Semanal:
até 15 horas..................1
entre 15 e 20 horas........2
entre 20 e 25 horas........3
entre 25 3 30 horas........4
maior que 30 horas.........5
2.Renda familiar absoluta:
Até 5 salários mínimos....................1
Entre 5 e 10 salários mínimos...........2
Entre 10 e 15 salários mínimos.........3
Entre 15 e 20 salários mínimos.........4
Entre 20 e 25 salários mínimos.........5
Entre 25 e 30 salários mínimos.........6
Superior a 30 salários mínimos.........7
3.Quanto ao tabaco:
Fuma
Não fuma
4.Quanto ao álcool:
Ingere
Não ingere
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APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Apresentação do pesquisador
Orientação sobre a finalidade da pesquisa
Orientação sobre a finalidade da entrevista
Orientação sobre a finalidade do Termo de Consentimento e solicitação da assinatura
do termo de consentimento
Solicitação de consentimento para gravação da entrevista
Realização das perguntas
1. Como você vê a ética e a bioética no seu trabalho?
2. O que é qualidade de vida e como avalia a sua qualidade de vida?
3. Pensando no seu trabalho quais os aspectos éticos e bioéticos que você considera
importante para ter qualidade de vida?
4. O lazer na sua vida
5. Processo de trabalho frente a inserção de uma nova tecnologia ou procedimento.
6. Você se sente capaz para o trabalho?
7. Participação na alocação de recursos
8. Comportamento dos profissionais frente as mulheres que provocaram o aborto
9. Postura diante de uma mãe menor que perde a autonomia do seu filho. / Perca de
autonomia da mulher em relação aos filhos
10. Maus tratos em relação aos idosos
11. Sofrimento mental no trabalho
12. Carga horária do trabalho
13. Situação de constrangimento no ambiente de trabalho
14. Ação preventiva a saúde do trabalhador
15. Riscos a saúde no trabalho
16. Postura quando o poder de decisão da vida do outro está em suas mãos
17. Postura nos casos de discordância de condutas com outros profissionais
18. Descrição do processo de trabalho
19. Influência do trabalho na vida
20. Contribuições
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