Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Livro Do Desassossego Apresentação
Livro Do Desassossego Apresentação
Livro Do Desassossego Apresentação
Bom dia, hoje vou apresentar-vos o livro do desassossego “uma autobiografia sem
factos “e uma história sem vida repleta de confissões que segundo o seu autor “se
nada dizem é porque nada tem a dizer”
Embora tenha publicado a obra “mensagem” durante a sua vida, Pessoa é reconhecido
por uma vasta obra literária. Além de poesia e prosa em português, também escreveu
em inglês e francês, demonstrando a sua profunda habilidade linguística. A sua
atuação estendeu-se para além da escrita, abraçando uma vasta panóplia de papéis
como crítico literário, crítico político, jornalista, publicitário e editor.
Dentre estes, destacam-se Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo
Soares autor do livro que vos vou apresentar.
Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, viveu toda a sua modesta vida, em Lisboa
a trabalhar num armazém de fazendas. Vivia sozinho, num quarto alugado na Baixa,
perto do escritório onde trabalhava e foi nesse ambiente que trouxe as suas conceções
sobre o mundo e sobre si.
«Era um homem que aparentava trinta anos, magro, mais alto que baixo, curvado
exageradamente quando sentado, mas menos quando de pé, vestido com um certo
desleixo não inteiramente desleixado. Na face pálida e sem interesse de feições um
ar de sofrimento não acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de
sofrimento esse ar indicava — parecia indicar vários, privações, angústias, e aquele
sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter sofrido muito.»
É uma figura dotada de uma grande capacidade analítica e de uma híper lucidez. Há
nele uma espécie de iluminismo que lhe consente a capacidade de exploração
minuciosa das zonas mais secretas da alma.
O processo de criação, iniciado aos vinte e cinco anos, estende-se ao longo de toda a
existência do autor, o que lhe confere um carácter essencialmente divagante, diarístico
e confessionista no qual Pessoa procura resposta para indagações fundamentais do
modernismo.
Entendido este livro como uma matéria móvel, instável, imprecisa, a sua natureza
oscila ente o lirismo e a narratividade, o ficcional e o relato quotidiano. Assim, o livro
apresenta características de géneros tão diversos como o diário, a reflexão íntima, as
memórias, a crónica, o que acentua a sua natureza híbrida e fragmentária. Aliás é esse
mesmo hibridismo que afasta a sua leitura de qualquer monotonia para o seu leitor.
Conforme proclama Pessoa, "São as minhas confissões e, se nelas nada digo, é que
nada tenho para dizer," apresentando esta obra como uma janela para a sua vida
oculta transcendendo as limitações temporais e desvendando com maestria única as
profundezas da alma humana.
A obra, constituída por mais de 500 textos destituídos de começo, meio ou fim, não é
apenas uma escolha estilística, mas pode ser interpretada como uma representação
artística da complexidade e multiplicidade da mente humana. Os fragmentos, como
pedaços de um quebra-cabeça literário, capturam pensamentos fugazes, introspeções
momentâneas e reflexões que podem atravessar a mente de uma pessoa ao longo do
tempo sendo por vezes inacabados e até mesmo contraditórios.
( um dos três )
“invejo todas as pessoas o não serem eu. Como de todos os impossíveis, esse sempre
me pareceu o maior de todos, foi o que mais se constituiu minha ânsia quotidiana, o
meu desespero de todas as horas tristes”
“Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho
como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não
encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas,
a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao
sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto
por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior.”
“Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma
consigo mesma, como uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e
sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.”
Experiência de leitura
Ler este livro foi uma experiência libertadora. É difícil definir exatamente o que se
sente e a sua intensidade ao ler o "Livro do Desassossego”, já que ao ler juntamo-nos
ao autor para com ele sentir e compreender, assumindo a nossa incapacidade de o
explicar, menos ainda definir.