Livro Do Desassossego Apresentação

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Versão 1

Bom dia, hoje vou apresentar-vos o livro do desassossego “uma autobiografia sem
factos “e uma história sem vida repleta de confissões que segundo o seu autor “se
nada dizem é porque nada tem a dizer”

Quem foi Fernando Pessoa?

Fernando Pessoa é uma das figuras mais proeminentes do modernismo literário em


Portugal e um dos poetas mais significativos da língua portuguesa que deixou uma
marca inquestionável no cenário cultural.

Nasceu em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra Pessoa,


natural de Lisboa, e D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores.

Embora tenha publicado a obra “mensagem” durante a sua vida, Pessoa é reconhecido
por uma vasta obra literária. Além de poesia e prosa em português, também escreveu
em inglês e francês, demonstrando a sua profunda habilidade linguística. A sua
atuação estendeu-se para além da escrita, abraçando uma vasta panóplia de papéis
como crítico literário, crítico político, jornalista, publicitário e editor.

Os heterónimos de Fernando pessoa

A sua singularidade é evidenciada pela criação dos seus heterónimos, personagens


literárias dotadas de vida própria, cada um com a sua personalidade, estilo literário e
data de nascimento. Cada heterónimo representa uma faceta distinta da criatividade
de Pessoa, proporcionando uma riqueza única à sua obra.

Dentre estes, destacam-se Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo
Soares autor do livro que vos vou apresentar.

Sobre bernardo soares

Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, viveu toda a sua modesta vida, em Lisboa
a trabalhar num armazém de fazendas. Vivia sozinho, num quarto alugado na Baixa,
perto do escritório onde trabalhava e foi nesse ambiente que trouxe as suas conceções
sobre o mundo e sobre si.

Esta figura literária é considerada, pelo autor, como um “semi-heterónimo”, o que


explica na seguinte citação “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da
minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade.”

«Era um homem que aparentava trinta anos, magro, mais alto que baixo, curvado
exageradamente quando sentado, mas menos quando de pé, vestido com um certo
desleixo não inteiramente desleixado. Na face pálida e sem interesse de feições um
ar de sofrimento não acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de
sofrimento esse ar indicava — parecia indicar vários, privações, angústias, e aquele
sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter sofrido muito.»

É uma figura dotada de uma grande capacidade analítica e de uma híper lucidez. Há
nele uma espécie de iluminismo que lhe consente a capacidade de exploração
minuciosa das zonas mais secretas da alma.

Sobre o livro do desassossego

Publicado em 1982, "O Livro do Desassossego" revela-se como um fascinante mosaico


de fragmentos autobiográficos, introspeções, reflexões e breves descrições. Sob a
autoria de Bernardo Soares que emerge nas páginas, exibindo uma notável lucidez e
uma capacidade analítica ímpar.

O processo de criação, iniciado aos vinte e cinco anos, estende-se ao longo de toda a
existência do autor, o que lhe confere um carácter essencialmente divagante, diarístico
e confessionista no qual Pessoa procura resposta para indagações fundamentais do
modernismo.

Entendido este livro como uma matéria móvel, instável, imprecisa, a sua natureza
oscila ente o lirismo e a narratividade, o ficcional e o relato quotidiano. Assim, o livro
apresenta características de géneros tão diversos como o diário, a reflexão íntima, as
memórias, a crónica, o que acentua a sua natureza híbrida e fragmentária. Aliás é esse
mesmo hibridismo que afasta a sua leitura de qualquer monotonia para o seu leitor.

Conforme proclama Pessoa, "São as minhas confissões e, se nelas nada digo, é que
nada tenho para dizer," apresentando esta obra como uma janela para a sua vida
oculta transcendendo as limitações temporais e desvendando com maestria única as
profundezas da alma humana.

A obra, constituída por mais de 500 textos destituídos de começo, meio ou fim, não é
apenas uma escolha estilística, mas pode ser interpretada como uma representação
artística da complexidade e multiplicidade da mente humana. Os fragmentos, como
pedaços de um quebra-cabeça literário, capturam pensamentos fugazes, introspeções
momentâneas e reflexões que podem atravessar a mente de uma pessoa ao longo do
tempo sendo por vezes inacabados e até mesmo contraditórios.

Ao longo da obra, o leitor é conduzido numa viagem interior, confrontando-se com


reflexões íntimas e indagações que ecoam nas profundezas da alma. O desassossego
manifestado nas palavras de Soares transcende o mero desconforto; é uma
inquietação filosófica que ressoa com todos aqueles que se aventuram na exploração
do autoconhecimento.
Assim, "O Livro do Desassossego" não é apenas uma coleção de pensamentos
dispersos; é um convite para mergulhar nas camadas mais íntimas da consciência,
desvendando os mistérios da existência de uma maneira que só Fernando Pessoa
poderia proporcionar. Cada linha é uma jornada interior, cada reflexão uma porta
aberta para a compreensão mais profunda da vida e de si mesmo.

Temas abordados no livro

O imagináro urbano, o quotidiano e a especulação filosófica são temas recorrentes nas


páginas deste livro. Temos referências a espaços da cidade, a sua descrição e a
descrição dos seus habitantes e, tal com em Cesário verde, nome referido nas páginas
do livro, o autor tem uma tendência para a deambulação, para a criação de
personagens fictícias, para a evocação de uma passado imaginado, para a observação
acidental e para a evasão no tempo a partir da observação do real.

Antes de concluir a apresentação com a experiência de leitura escolhi um excerto que


espero que suscite curiosidade e vos encoraje a ler “o livro do desassossego”

( um dos três )
“invejo todas as pessoas o não serem eu. Como de todos os impossíveis, esse sempre
me pareceu o maior de todos, foi o que mais se constituiu minha ânsia quotidiana, o
meu desespero de todas as horas tristes”

“Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho
como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não
encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas,
a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao
sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto
por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior.”

“Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma
consigo mesma, como uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e
sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.”

Experiência de leitura

Ler este livro foi uma experiência libertadora. É difícil definir exatamente o que se
sente e a sua intensidade ao ler o "Livro do Desassossego”, já que ao ler juntamo-nos
ao autor para com ele sentir e compreender, assumindo a nossa incapacidade de o
explicar, menos ainda definir.

Só o próprio Fernando Pessoa compreendeu a envergadura daquilo a que se propôs,


tendo para tal construído um segundo eu, Bernardo Soares, para por seu intermédio
se poder olhar a Si de fora, e assim desconstruir a Alma. E por isso a definição da
experiência desta leitura só podia ser dada pelo próprio Pessoa ao dizer-nos:
"Quero que a leitura deste livro vos deixe a impressão de terdes atravessado um
pesadelo voluptuoso.”

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