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Coração-Sozinho

O Leão e a Leoa tiveram três filhos; um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho;


o outro, escolheu o de Coração-com-a-Mãe; e o terceiro, de Coração-com-o-Pai.
Coração-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse,
porque o seu nome era Coração-Sozinho. Coração-com-a-Mãe encontrou um porco,
apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o
porco e comeram os dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas não o conseguiu matar.
Ninguém foi em seu auxílio. Coração-Sozinho continuou nas suas caçadas, sem ajuda de
ninguém. Começou a emagrecer, a emagrecer, até que um dia morreu. Os outros
continuaram cheios de saúde por não terem um coração sozinho.
Conto de origem moçambicana (1979).

O Porco e o Milhafre
O Porco e o Milhafre eram dois amigos inseparáveis. O porco invejava as asas do
Milhafre e insistia continuamente com o amigo para que lhe arranjasse umas iguais para
voar também. O Milhafre se dispôs a fazer-lhe a vontade. Conseguiu arranjar penas de
outra ave e, com cera, colou-as nos ombros e nas pernas do seu amigo Porco.
Este ficou radiante e começou a voar ao lado do seu amigo Milhafre. Quis acompanhá-
lo às grandes alturas, mas a cera começou a derreter-se com o calor e as penas foram
caindo uma a uma. À medida que as penas se despegavam, ia o porco descendo,
contrariado. Quando as penas acabaram de se soltar, o porco caiu e bateu no chão com o
focinho. E com tanta força bateu, que este, ficou achatado.
Zangou-se o Porco com o Milhafre dizendo que tinha querido matá-lo, porque grudara
mal as asas. Desde essa ocasião deixou de ser amigo do Milhafre e, quando o vê pairar
no alto, dá um grunhido e olha para ele desconfiado. E aqui está a razão porque o porco
tem o focinho achatado e nunca mais quis voar.
Conto de origem desconhecida.
A gazela e o caracol
Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
– Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
– Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu:
“Quando vier a gazela e disser: caracol, tu respondes com estas palavras: “Eu
sou o caracol“. Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
– Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto,
este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde
ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
– Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
– Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
– Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O
caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.

A onça e a raposa
A onça estava cansada de ser enganada pela raposa, e mais irritada ainda por
não conseguir pegá-la para poder fazer um bom guisado.
Um dia teve uma idéia: deitou-se na sua toca e fingiu-se de morta.
Quando os bichos da floresta souberam da novidade, ficaram tão felizes, mas
tão felizes que correram na toca da onça para ver se a sua morte era mesmo
verdade.
Afinal de contas, a onça era uma bicho danado! Vivia dado sustos nos outros
animais! Por isso estavam todos muitos felizes com a noticia de sua morte.
A raposa porém, ficou desconfiada e como não é boba nem nada,ficou de longe,
apreciando a cena. Atrás de todos os animais, ela gritou:
– Minha avó quando morreu, espirrou três vezes. Quem tá morto de verdade,
tem que espirrar.
A onça ouviu aquilo e para demonstrar para todos que estava mesmo mortinha
da silva, espirrou três vezes.
– É mentira gente! Ela tá viva! – Gritou a raposa.
Os bichos correram assustados, enquanto a onça levantava furiosa. A raposa
fugiu rindo á beça da cara da sua adversária. Mas a onça não desistiu de apanhar a
raposa e pensou num plano.
Havia uma grande seca na floresta, e os bichos para beber água tinham que ir
num lago perto da sua toca. Então ela resolveu ficar ali.
Deitada.Quieta.Esperando…
Espreitando a raposa dia e noite, sem parar.
Um dia, irritada e com muita sede, a raposa resolveu dar basta naquela situação.
E também elaborou um plano. Lambuzou-se de mel e espalhou um monte de folha
seca por seu corpo cobrindo-o todo. Chegando ao lago encontrou a onça. Sua
adversária, olhou-a bem e perguntou:
– Que bicho é você que eu não conheço?
Cheia de astúcia, a raposa respondeu:
– Sou o bicho folharal!
– Então, pode beber água.
Vendo que a raposa bebia água como se tivesse muita sede, a onça perguntou
desconfiada;
– Está com muita sede hein!
Nisso, a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo do corpo da raposa.
Quando a última folha caiu, a onça descobrindo que foi enganada, pulou sobre
ela. Mas nisso, a esperta raposa já tinha fugido rindo às gargalhadas.

Lenda dos tambores africanos


Conta a lenda que certo dia alguns macacos de nariz branco da região de Guiné
Bissau, na África, planejaram trazer a lua até a Terra.
Porém não sabiam como fazer para chegar até a Lua e trazê-la para baixo, até
que o mais pequenino dos macacos teve uma ideia: o plano era subir uns nos outros
até a alcançarem.
Colocaram o plano em prática, subiram uns sobre os outros e chegaram até o
céu e por fim o pequeno macaco conseguiu tocar na Lua. Mas antes que
conseguissem puxar a Lua para a Terra, a pilha de macaquinhos não suportou o
peso e cedeu.
Todos caíram, menos o macaco pequenino, que ficou agarrado à Lua.
A Lua então segurou-o pela mão e achou a cena muito engraçada. Tornaram-
se amigos e a Lua deu-lhe de presente um tambor branco, que logo o macaquinho
aprende a tocar.
O tempo passou, e o macaquinho começou a sentir cada vez mais saudade de
sua família e amigos lá embaixo na Terra. Sentia falta também das árvores e
bananeiras que deixara para trás.
Assim, resolveu pedir à Lua para que o ajudasse a voltar para a Terra.
Com uma expressão intrigada, a Lua lhe perguntou:
-Porque você quer retornar para lá? Não está feliz aqui? Não gosta do tambor
que lhe dei de presente?
O macaquinho então explicou que amava seu presente e que apreciava a
companhia da Lua, mas que sentia muita falta de sua família e amigos e das árvores
lá da Terra.
A Lua então ficou com muita pena do macaquinho e lhe prometeu ajudar, mas
com uma condição:
-Não toque o seu tambor antes que chegue lá embaixo. Mas quando tiver
chegado à Terra e seus pés tiverem tocado o chão, toque o tambor com toda força
para eu ouvir e então cortar a corda. Assim você estará livre.
O macaquinho prometeu à Lua que faria conforme ela lhe dissera. Prometeu
que apenas tocaria o tambor quando chegasse à Terra.
A Lua começou a descer o macaquinho, sentado sobre o tambor e amarrado
numa corda. Mas no meio do caminho, ele olhava para seu tambor e não pôde
resistir: começou a tocar bem de leve para que a Lua não o ouvisse.
Mas acontece que o som do tambor, mesmo que muito baixo, chegou até a Lua,
e ao ouvi-lo ela pensou: “O som do tambor. O macaquinho já chegou à Terra.” E
assim cortou a corda.
O macaquinho começou a cair, e cair até que atingiu o chão. Uma menina que
cantava e dançava o viu caindo e correu para ajudar.
A queda havia sido muito alta e o macaquinho, em suas últimas palavras, disse
à menina:
-Isso é um tambor. Prometa que entregará aos homens de seu país.
-Eu prometo! – Disse a menina.
Ela passou as mãos pelos olhos cheios de lágrimas e correu o mais rápido que
suas pernas permitiam para contar aos homens de sua terra o que havia acontecido
e lhes entregou o tambor.
Começaram a tocar o curioso instrumento e aos poucos mais e mais pessoas
chegaram para conhecer o que fazia aquele som tão diferente. A partir desse dia, os
homens começaram a construir seus próprios tambores e o instrumento se espalhou
por toda a África.
Até hoje o tambor africano é tão tradicional e querido entre o povo que é usado
em todas as ocasiões.

A tromba do elefante
Antigamente, Ajanaku, o elefante, tinha focinho curto como todos os animais.
Não possuía a grande tromba que tem agora e que lhe é muito útil, servindo de braço
e mão, além de nariz. Quando não tinha tromba, o elefante era muito curioso e
gostava de saber tudo o que acontecia na floresta.
Certo dia, encontrou um buraco entre as raízes de uma grande árvore e, curioso
como era, enfiou o nariz nele para saber do que se tratava. Acontece que aquele
buraco era a entrada da casa de uma cobra muito grande que, vendo aquele nariz
fuçando sua casa, abocanhou-o, tentando engolir nosso pobre Ajanaku. Lamentando
sua curiosidade, Ajanaku andava para trás, para não ser engolido pela cobra, que o
puxava para dentro do buraco.
– Socorro! – gritava Ajanaku desesperado, sentindo que não ia conseguir se
livrar da grande cobra.
Ouvindo seus gritos, muitos animais vieram em seu socorro. Veio primeiro o
rinoceronte que segurando em seu rabo do elefante puxou… puxou e não conseguiu.
Depois veio a zebra para ajudar o rinoceronte e os dois puxaram… puxaram e não
conseguiram. Depois veio a girafa para ajudar a zebra e o rinoceronte e os três
puxaram… puxaram e não conseguiram. Por último veio o leão para ajudar a girafa,
a zebra e o rinoceronte e todos puxaram… puxaram… puxaram com força. Não foi
fácil mas, finalmente, conseguiram salvar nosso amigo, que, de tanto puxar, teve seu
nariz esticado e transformado na tromba que agora possui.
No início, Ajanaku, envergonhado de sua nova e estranha aparência, ficou
escondido dentro da floresta. Com o tempo, aprendeu a usar a tromba com muita
habilidade, da forma como fazem todos os elefantes atualmente. Satisfeito, voltou
ao convívio dos outros bichos.
Um dia, o macaco, que gosta de imitar todo mundo, foi enfiar o nariz no buraco,
para ver se criava uma tromba igual à do elefante. A cobra, que ainda morava no
mesmo lugar, engoliu o macaco inteirinho, com muita facilidade.
É por isso que, mesmo sentindo inveja, nenhum bicho nunca mais tentou imitar
o elefante para ficar com uma tromba igual a dele.

A hiena e o gala-gala
A Hiena estabeleceu relações de amizade com o Gala-Gala.
Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi chamar o seu amigo lagarto:
– Vamos beber cerveja.
Foram. O Gala-Gala embriagou-se. Perguntou à sua amiga Hiena:
– Amiga, tu que gostas tanto de carne, se me encontrares morto no caminho, és
capaz de me comer?
– Não, isso nunca. Eu quero ser tua amiga.
O lagarto embriagou-se muito e despediu-se:
– Amiga, vou para minha casa.
– Está bem.
O Gala-Gala partiu. A meio do caminho, deitou-se a dormir. A Hiena pensou: “O
meu amigo bebeu muito. É melhor ir ver se ele chega bem a casa”.
Encontrou-o no caminho, deitado. Levantou-o:
– É sono, amigo? É embriaguez?
Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se, sem respirar. A Hiena agarrou nele e
atirou-o para o mato. Depois saiu do caminho, foi ver onde é que o Gala-Gala tinha
caído e encontrou-o.
– O meu amigo morreu.
Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no lagarto para o assar na fogueira. O Gala-
Gala, sentindo o calor do fogo, bateu com a cauda nos olhos da Hiena e subiu,
depressa, para uma árvore.
A amizade entre eles acabou ali. O Gala-Gala passou a viver nas árvores e a
Hiena continuou a andar no chão, para nunca mais se encontrarem.

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