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Anais da

1ª Jornada Discente de Pesquisa


da Pós-Graduação da FDUSP
Anais da
1ª Jornada Discente de Pesquisa
da Pós-Graduação da FDUSP

Janaína Dantas Germano Gomes


Lea Vidigal Medeiros
Priscilla Soares de Oliveira
(organizadoras)

São Paulo
LiberArs - 2022
Anais da 1ª Jornada Discente de Pesquisa da Pós-Graduação da FDUSP

© 2022, Editora LiberArs Ltda.

Direitos de edição reservados à


Editora LiberArs Ltda

ISBN 978-65-5953-124-0

Editores
Fransmar Costa Lima
Lauro Fabiano de Souza Carvalho

Revisão técnica
Cesar Lima
André de Melo Araujo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP

A532 Anais da 1ª Jornada Discente de Pesquisa da Pós-Graduação da


FDUSP / organizado por Janaína Dantas Germano Gomes, Lea Vidigal
Medeiros e Priscilla Soares de Oliveira. - São Paulo : LiberArs, 2022.
200 p. : il. ; PDF ; 1,5 MB.

Inclui bibliografia e índice.


ISBN: 978-65-5953-124-0 (Ebook)

1. Direito. I. Gomes, Janaína Dantas Germano. II. Medeiros, Lea


Vidigal. III. Oliveira, Priscilla Soares de. IV. Título.

CDD 340
CDU 340

Todos os direitos reservados. A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio,
das páginas que compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos,
sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação danosa à cultura.
Foi feito o depósito legal.

Editora LiberArs Ltda


www.liberars.com.br
contato@liberars.com.br
Apresentação ............................................................................................................ 11

GT01 Direito, Desigualdades e


Políticas Públicas

Desafio furtadiano e planejamento das cidades: uma análise


do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo
Amanda Luiza da Cunha Souza ................................................................................. 17

A tributação sobre a propriedade imobiliária como fator de


definição dos espaços no Brasil: uma análise desde a época colonial
Anny Heloyse Viana Falcão Schwendler ............................................................... 19

Desmatamento como ação social: uma interpretação jurídico-


sociológica da eficácia do Plano de Ação para Prevenção e
Controle ao Desmatamento da Amazônia Legal (PPCDAm) entre a
política e a economia, 2004-2020
Carolina Stange Azevedo Moulin ............................................................................. 22

Conexão instável, cidadania precária: o papel da Internet


no acesso e no exercício de direitos por grupos vulneráveis
Cecilia Barreto de Almeida ......................................................................................... 24

O giro punitivo brasileiro


Fernando Russano Alemany ...................................................................................... 27

Fraudes em Licitações do Sistema Carcerário Brasileiro


Giulia Oleani Bataglini Benatti .................................................................................. 29
Institucionalidade jurídica e retrocesso nas políticas públicas:
uma análise do Sistema Único de Assistência Social
Isabela Ruiz....................................................................................................................... 31

Direito Econômico e Soberania Alimentar


Lea Vidigal Medeiros..................................................................................................... 33

Empresa Estatal e Desenvolvimento Regional: um estudo


de caso da Refinaria Landulpho Alves-Mataripe
Mariana Rodrigues Oliveira ....................................................................................... 35

A suspensão dos direitos políticos por condenação criminal e


seus impactos sobre a democracia brasileira: uma análise
comparada com ênfase no viés etno-racial
Priscilla Soares de Oliveira ......................................................................................... 37

Autodeclaração e proteção das minorias no sistema carcerário


brasileiro: impacto das resoluções CNJ 287 e 348 do CNJ
Renata Chiarinelli Laurino.......................................................................................... 39

Google Workspace For Education e as Secretarias Estaduais


de Educação: uma análise do princípio constitucional da
gratuidade do ensino público à luz da plataformização da
educação brasileira entre 2017-2021
Stephane Hilda Barbosa Lima ................................................................................... 41

Planos urbanísticos: a solução dos conflitos em sua


elaboração e aplicação no direito brasileiro
Vinícius Monte Custodio .............................................................................................. 43

Aproximações entre Direito Urbanístico e espaço regional


a partir da produção Sócio Espacial do Vale do Jequitinhonha
em Minas Gerais
Virginia Junqueira Rugani Brandão ........................................................................ 45
GT02 Estado, Orçamento
e Administração Pública

Visão Jurídica da Transparência na Atuação do


Banco Central do Brasil
Amanda Gouvêa Toledo Barretto ............................................................................ 52

Liberalismo autoritário?
Ana Paula Manrique Amaral ...................................................................................... 54

Função fiscal e efeitos distributivos: o princípio


da distribuição de rendas
Aristóteles de Queiroz Camara ................................................................................. 56

O (não) tratamento da orientação politica (indirizzo politico)


no ordenamento constitucional brasileiro
Bruno José Queiroz Ceretta ........................................................................................ 58

O novo padrão normativo do câmbio


Gustavo Jorge Silva ........................................................................................................ 62

Separação de poderes em partidos: condicionantes do


controle parlamentar no presidencialismo de coalizão
Maysa Cortez Cortez ..................................................................................................... 64

O regime jurídico dos ativos garantidores dos resseguradores


Pedro Henrique Ricco Verzemiassi ......................................................................... 66

GT03 Inovações Institucionais e Legislativas

O impacto da reciprocidade entre Brasil e Portugal no tratamento dos


trabalhadores imigrantes quanto ao direito fundamental ao trabalho
Daniela Wernecke Padovani ...................................................................................... 70

Resolução on-line de conflitos individuais trabalhistas


Mariana dos Anjos R. Carvalho e Silva ................................................................... 72
Forma jurídica e terceirização no direito do trabalho brasileiro
Thamíris Evaristo Molitor .......................................................................................... 75

Crise do valor, superexploração do trabalho e a


fragilização da forma jurídica
Ticiane Lorena Natale................................................................................................... 77

GT04 Olhares interseccionais sobre o direito:


gênero, classe, raça, discriminação e inclusão

Interseccionalidade nas políticas de educação em sexualidade:


os silêncios da BNCC pela voz dos educandos
Antônio Rodrigues Neto .............................................................................................. 82

As Faculdades de Direito e a Escravidão no Brasil (1827-1888):


direito natural e economia política na fundamentação
teórica do “elemento servil”
Ariel Engel Pesso ............................................................................................................ 84

A não discriminação como uma decorrência do princípio


da igualdade e sua inserção no ordenamento jurídico atual
Cristiano Buoniconti Camargo .................................................................................. 86

Estado social e (des)igualdade de gênero:


perspectivas jurídico-institucionais
Gabriela Biazi Justino da Silva ................................................................................... 88

Intervenção penal em condutas motivadas por


discriminação homotransfóbica
Ian Matozo Especiato .................................................................................................... 92

A sub-representação feminina no corpo docente da


Faculdade de Direito da USP: a docência como gargalo
da trajetória acadêmica das mulheres
Isabelle Oglouyan de Campos .................................................................................... 94
Cuidado e Castigo: Narrativas sobre destituição do Poder
Familiar a partir do Trabalho dos Setores Técnicos das Varas
Janaína Dantas Germano Gomes .............................................................................. 96

Governança de ações afirmativas em direito público:


Metodologias para implementação de cotas para negros no Brasil
Lucas de Santana Módolo............................................................................................ 98

Trabalho reprodutivo e forma jurídica: as novas conformações


da mulher enquanto sujeito de direito no neoliberalismo
Marianna Haug ............................................................................................................. 100

Violência Doméstica e Mulheres Negras: E Eu Não Sou Uma Mulher?


Patrícia Oliveira de Carvalho .................................................................................. 120

Écrire c'est gouverner: ideário político-jurídico


nas obras de Victor Hugo
Rafael Tubone Magdaleno ....................................................................................... 122

Presença de Lacan em Althusser:


Elementos para a crítica da forma jurídica
Renan Santos Ferrão .................................................................................................. 129

Multinormatividade em disputa: elementos para uma teoria


crítica do direito centrada na categoria do reconhecimento
Ricardo Juozepavicius Gonçalves.......................................................................... 131

Bombeiros e bombeiras: todos são iguais perante e lei?


O merecimento na progressão da carreira militar
Sabrina Nerón Balthazar .......................................................................................... 133

Violência, gênero e deficiência: análise da Rede de Enfrentamento


à Violência Doméstica e Familiar de Florianópolis – SC
considerando a realidade de mulheres com deficiência
Thaís Becker Henriques Silveira ........................................................................... 135
GT05 Política Judiciária

Humanização do sistema de justiça: fundamentos para


a construção de políticas públicas
Clio Nudel Radomysler.............................................................................................. 139

A Resilição como Exercício Inadmissível de Posição Jurídica


Eduardo Gomes Cañada ............................................................................................ 144

O Judiciário sob ataque: entre a cooptação e o


aprimoramento institucional na América Latina
Guilherme Balbi ........................................................................................................... 146

O STF é um tribunal de teses?


Julia Wand-Del-Rey Cani .......................................................................................... 148

Saneamento e organização do processo:


funções e técnicas processuais
Lívia Losso Andreatini............................................................................................... 154

Inteligência Artificial no Estudo do Direito Processual:


metodologia de pesquisa empírica na agenda do Acesso à Justiça
Marcel de Souza Hofling ........................................................................................... 156

A atuação individual dos Ministros do STF e suas


consequências institucionais: uma análise a partir das
decisões monocráticas liminares nas ações de controle
Natália Pinheiro Alves Batista ................................................................................ 159

A consciência jurídica japonesa: anotações sobre a


atualidade da tese de Kawashima
Paulo Fernando Nogueira Cunha .......................................................................... 161

GT06 Proteção de direitos em escala transnacional

Os impactos no direito interno das decisões da


Corte Interamericana De Direitos Humanos na garantia do
direito à saúde na América Latina
Ana Carolina Girard Teixeira Cazetta .................................................................. 165
Caminhos além-descolonização: mobilizações transnacionais
entre direitos humanos e insurgência ilegal
Gabriel Antonio Silveira Mantelli .......................................................................... 167

O Estado Islâmico e Nadia Murad


Marcela Bittencourt Brey ......................................................................................... 169

Direitos humanos e empresas no Sistema Interamericano:


o dever estatal de proteger e suas repercussões no Brasil
Viviany Yamaki............................................................................................................. 173

GT07 Práticas Punitivas e de Responsabilização

Ações de reparação de danos decorrentes de cartel:


funções e incentivos – uma questão de política pública
Ana Cristina von Gusseck Kleindienst Buzatto ................................................ 181

Mortes de civis por policiais na cidade de São Paulo:


determinações no tribunal do júri
Debora Nachmanowicz de Lima ............................................................................ 183

Processo Penal e o Depoimento Infantil nos


Crimes Sexuais - Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017
Fausto Luz Lima ........................................................................................................... 185

Desobediência civil e teoria do Direito: uma análise


da autoridade do direito em face de um possível
direito à desobediência
Pedro Gonçalo Ventura Alves de Souza .............................................................. 187

Economia e Crime: uma análise a partir dos crimes patrimoniais


Renato Gomes de Araujo Rocha ............................................................................ 189

Uma análise criminológica da crise financeira de 2007-2008


Ricardo Alves Krug ..................................................................................................... 191
Apresentação

É com grande alegria que apresentamos à comunidade acadêmica do


Largo São Francisco os Anais da 1ª Jornada Discente de Pesquisa da Pós-
Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
A realização deste evento foi uma importante conquista dos
discentes do Programa de Pós Graduação em Direito que, em 2021, passaram
a ser representados por uma gestão exclusivamente feminina, formada por
alunas do Programa, a gestão MovimentA.
A necessidade de criação de um espaço de interlocução entre
discentes do Programa, para dialogar sobre suas pesquisas, já era percebida
e sentida antes mesmo da pandemia. Essa percepção estimulou os esforços
da gestão da Representação Discente para a realização de um evento capaz
de congregar os pesquisadores e pesquisadoras da casa para além dos
espaços de troca de suas disciplinas, departamentos e linhas de pesquisa,
pautado pela interdisciplinaridade e dialógica.
No contexto da pandemia de Covid-19, com a rotina de aulas e
reuniões presenciais prejudicada, o trabalho já solitário de pesquisa
acentuou-se sobremaneira, e o contexto vivenciado mundialmente agravou
o sofrimento físico e mental vivenciado por nossa comunidade acadêmica.
Assim, a importância de conectar-se e conectar trabalhos, discutir ideias e
pesquisas, estabelecer redes de pesquisadoras e pesquisadores e fortalecer
nossa comunidade, ampliou-se de maneira bastante significativa. Atenta a
essas questões, e visando dar respostas concretas aos desafios postos, a
Representação Discente propôs então o evento para as instâncias diretivas
da Faculdade de Direito, como uma forma de promover novos laços e
conexões e potencializar as trocas acadêmicas, sobretudo em um momento
tão particular. Com o decisivo apoio e acolhida da Direção da Faculdade, nas
figuras do Professor Floriano Azevedo Marques e do Professor Celso
Fernandes Campilongo, e da Presidência da Comissão de Pós Graduação,
exercida pelo Professor Fernando Facury Scaff e pela Professora Ana Elisa
Liberatore Bechara e com o financiamento da verba PROEX-CAPES

11
(Programa de Excelência Acadêmica), foi realizada, a 1ª Jornada de Pesquisa
da Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
entre os dias 07 e 09 de Dezembro de 2021.
O resultado dessa mobilização foi formidável. Discentes do
programa, em diferentes momentos de suas pesquisas, inscreveram-se para
apresentar e discutir seus trabalhos e rapidamente todas as vagas
disponibilizadas foram preenchidas. Os resumos submetidos à Jornada,
todos fruto de pesquisas em curso no Programa de Pós Graduação da FDUSP,
são uma promissora amostra de uma comunidade acadêmica vibrante e
dinâmica. Agradecemos a todas e todos que estiveram conosco, seja
apresentando seus trabalhos, seja como ouvintes.
Os trabalhos submetidos foram agrupados para o debate em Grupos
de Trabalho com os seguintes temas: GT01 - Direito, Desigualdades e Políticas
Públicas; GT02 - Estado, Orçamento e Administração Pública; GT03
- Inovações Institucionais e Legislativas; GT04 - Olhares interseccionais sobre
o direito: gênero, classe, raça, discriminação e inclusão; GT05 - Política
Judiciária; GT06- Proteção de direitos em escala transnacional; GT07 -
Práticas Punitivas e de Responsabilização e subdivididos em sessões
temáticas, mediadas por docentes e discentes da casa. Na oportunidade, as
Representantes Discentes Gabriela Biazi e Cecília Barreto formularam um
manual de boas práticas acadêmicas que auxiliou a interação e debate entre
os colegas.
Agradecemos às mediadoras e mediadores, que cederam seu tempo
para a discussão e brindaram os participantes com ricos comentários sobre
os trabalhos: Prof. Alessandro Octavianni, Profa. Ana Elisa Bechara, Profa.
Andressa Loli, Profa. Bibiana Graeff Chagas, Prof. Conrado Hübner Mender,
Prof. Guilherme Almeida, Profa. Heidi Rosa Florêncio Neves, Prof. João
Eberhart, Prof. Jorge Luiz Souto Maior, Profa. Juliana Pela, Prof. Luís
Fernando Massonetto, Profa. Sheila Neder, Prof. Wagner Menezes, e as
discentes Marina Garrote, Anelise Schuler e Tatiana Gasparini. A
Representação Discente acompanhou todos os grupos, apoiando os docentes
e discentes para sua realização e contou também com o apoio de discentes
voluntários, a quem agradecemos imensamente.
O evento foi composto, para além dos Grupos de Trabalho, por mesas
temáticas, todas atualmente disponíveis no canal do YouTube da Faculdade
de Direito, agrupadas e organizadas sob a lista “1a Jornada Discente de
Pesquisa de Pós-Graduação”.
A solenidade de abertura, realizada no dia 07 de dezembro, contou
com a presença do Diretor da Faculdade, Prof. Floriano Azevedo Marques
Neto e do Vice Diretor, Prof. Celso Campilongo, bem como do Presidente da

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Comissão de Pós-Graduação, Prof. Fernando Facury Scaff, e da Vice-
Presidente da CPG, Profa. Ana Elisa Bechara. O Professor Gustavo Mônaco e
a Professora Juliana Pela, que assumiram, respectivamente, a Presidência e a
Vice-Presidência da CPG no ano de 2022, também participaram da mesa. Na
mediação e apresentação das Jornadas estiveram presentes as
Representantes Discentes Janaína Dantas G. Gomes e Lea Vidigal.
Na sequência da solenidade de abertura, realizou-se a primeira Mesa
Temática, tendo como tema “50 anos do Programa de Pós Graduação da
FDUSP: Desafios para o diálogo entre pesquisa, ensino e extensão”, que teve
como palestrantes a Profa. Ana Elisa Bechara, o Prof. Celso Campilongo e a
Profa. Juliana Pela, sob a mediação das Representantes Discentes Priscilla
Soares de Oliveira e Thamiris Evaristo Molitor.
No dia 08 de dezembro realizou-se a segunda Mesa Temática, sobre
“Ciência e Pesquisa em Direito em Tempos de Desinformação”, que teve
como palestrantes o Prof. Lucas Fucci Amato e o Doutor em Direito
Constitucional pela USP Guilherme Klafke, sendo mediada pela apoiadora da
Representante Discente Cecília Barreto.
No dia 09 de dezembro ocorreu a terceira Mesa Temática, com a
discussão “Direitos de quem / para quem? Equações Possíveis para a
pesquisa entre Direito e Discriminação”, que teve como palestrantes o Prof.
Alberto Amaral Jr e a Profa. Nina Stocco Ranieri, e foi mediada pela
Representante Discente Lea Vidigal.
A mesa de encerramento da Jornada teve por tema “Diálogos sobre
Saúde Mental na Pós Graduação” e contou com a presença de Aline da Silva,
Doutora em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo e do Prof.
Guilherme Assis de Almeida, professor do Departamento de Filosofia do Direito,
sendo mediada pela Representante Discente Marina Garrote. Também
participaram da solenidade de encerramento diversas discentes do Programa de
Pós-Graduação e da Representação Discente, com falas que destacaram a
importância das trocas realizadas ao longo dos três dias da Jornada e o prestígio
com que a iniciativa foi recebida em nossa faculdade.
Destacamos que a realização do evento contou com o apoio da Síntese
Eventos; com a atuação diligente da Seção de Convênios da Faculdade, a quem
agradecemos nas pessoas das Sras. Rosemeire Bonoto e Maria de Fátima
Campos Nunes; assim como da equipe de audiovisual da FDUSP, que cuidou da
divulgação do evento e transmissão das mesas nos canais institucionais da
faculdade, a quem agradecemos na pessoa do Kaco e do Eduardo.
Feita a rememoração do evento, convidamos a comunidade
acadêmica a prestigiar os trabalhos que integram os anais ora apresentados.

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Para a organização deste volume, realizamos, junto aos editores, a
padronização dos resumos, respeitando a quantidade de caracteres e
entradas bibliográficas previstas no edital, a fim de garantir que todos os
resumos submetidos e apresentados fossem contemplados, bem como
fossem observadas as regras pré-estabelecidas no edital.
Com a convicção que esta foi a primeira Jornada de muitas que ainda
virão, temos a certeza que esta iniciativa se consolidará como um espaço de
trocas relevante em nossa Faculdade, e como uma tradição de nosso
Programa de Pós-Graduação.

Boa leitura!

Janaína Gomes
Lea Vidigal
Priscilla Soares
(organizadoras)

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Comissão Organizadora do evento

Cecília Barreto de Almeida


Gabriela Biazi
Janaína Dantas G. Gomes
Lea Vidigal
Priscilla Soares
Thamiris Molitor

Compõem a Representação Discente MovimentA

Amanda Melillo
Ana Paula Manrique
Ana Maria Mendonça
Angélica Oliveira
Bianca Figueiredo
Clio Radomysler
Clarissa Viana
Danyelle Reis
Débora Costa
Gabriela Biazi
Janaína Dantas G. Gomes
Karen Pimentel
Lea Vidigal
Marianna Haug
Maraísa Rosa
Mariane Brasil
Marina Garrote
Priscilla Soares
Odara Andrade
Tainã Góis
Thamíris Molitor
Viviane Limongi

Apoiam a Representação Discente MovimentA

Amanda Souza
Cecília Barreto de Almeida
Renata Laurino

Apoio à realização do Evento:

Síntese Eventos
Capes Proex
Faculdade de Direito - USP
Comissão de Pós-graduação - PPGD FDUSP
Desafio furtadiano e planejamento das
cidades: uma análise do Plano Diretor
Estratégico do Município
de São Paulo

Amanda Luiza da Cunha Souza


Mestranda
amandalcsouza@usp.br

Justificativa do tema
Tendo em vista o impacto que o planejamento urbano representa na
qualidade de vida em sociedade, faz-se necessário avaliar a real eficácia de
seus instrumentos, sobretudo no que se refere à diminuição das
desigualdades sociais. Nesse sentido, o Plano Diretor - em especial, o do
Município de São Paulo - foi eleito para ser estudado nesta pesquisa.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O presente trabalho visa pesquisar a possível correlação entre uma das
vertentes do desafio proposto por Celso Furtado em sua obra “Brasil: a
construção interrompida” - consistente na superação do
subdesenvolvimento por este país pela homogeneização social - e o
planejamento urbano levado à cabo pelos planos diretores.

Problema e/ou hipótese


Diante da inserção do plano diretor na Constituição Federal como
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, indaga-se qual o
real alcance desta ferramenta nas melhorias de condição de vida da
sociedade. Seria este um plano meramente formal, cujas diretrizes e regras
nele contidas não produzem efeitos práticos na vida das pessoas? Ou, ao
contrário, este planejamento pode desencadear mudanças significativas, a
ponto de incrementar os índices socioeconômicos da população urbana?

17
Metodologia de pesquisa
Propõe-se, mediante este projeto de pesquisa, a realização de estudos
bibliográficos sobre: (i) o desafio furtadiano, (ii) a competência do município
para dispor sobre direito econômico; e (iii) o plano diretor enquanto
instrumento de ordenação do espaço urbano. Será também realizada
pesquisa documental para analisar o Plano Diretor Estratégico do Município
de São Paulo (PDE-SP) do ano de 2014 e indicadores socioeconômicos antes
e após o início da vigência deste planejamento.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Em razão de ser recente o ingresso no Programa de Pós-graduação da
Faculdade de Direito da USP (junho/2021), até este momento apenas parte
da pesquisa bibliográfica foi realizada. De todo modo, já foi constatada e
compreendida a competência do Município para legislar sobre normas de
direito econômico, de acordo com o interesse local, bem como a considerável
utilidade de se tomar o planejamento urbano sob a perspectiva do direito
econômico.

Principais referências bibliográficas


BERCOVICI, Gilberto. Constituição Econômica e Desenvolvimento: uma leitura a partir da
Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros Editores, 2005.
FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. 2a ed. Rio de janeiro: Paz e Terra,
1992.
GRAU, Eros Roberto. Planejamento e regra jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1978.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 7a ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 6a ed. São
Paulo: LTr, 2005.

18
A tributação sobre a propriedade imobiliária
como fator de definição dos espaços no
Brasil: uma análise desde a época colonial

Anny Heloyse Viana Falcão Schwendler


Doutoranda
annyhvfalcao@usp.br

Justificativa do tema
É por uma proposta cognoscente, que visa investigar a conformação do
tributo sobre a propriedade imóvel na história do direito tributário
brasileiro que objetivamos a compreensão do fenômeno jurídico do imposto
de propriedade urbano. É nesta abordagem que perpassamos desde a
monarquia, através da escolha da décima urbana como tributo até a
atualidade com o imposto predial urbano. Abordaremos, em especial, o
regime de transição de colônia para império, em que no primeiro, era
considerada a legalidade colonial portuguesa em detrimento do pluralismo
jurídico-político nativo, até o surgimento do direito positivo no Brasil, em
que se percebe a coexistência antagônica de documentos legislativos de traço
colonial com a formação político-administrativa do Estado de Direito.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
• traçar o cenário histórico do primeiro imposto incidente sobre a
propriedade imóvel;
• extrair da legislação tributária colonial dados que conformem a
propriedade imobiliária;
• entender o fato gerador da legislação incidente sobre os imóveis na
instituição da décima urbana;
• explicar por que a tributação definia ou não os espaços jurídicos e
políticos na época colonial;

19
Problema e/ou hipótese
A ausência de uma legislação desenvolvida no Brasil, e a dependência das
ordenações portuguesas para que amparasse os direitos de propriedade na
época colonial, resultava para a população um total desconhecimento da
incidência tributária, da arrecadação e da gestão do patrimônio público.
Contudo, os tributos traduziam para a realidade da época, o espaço, se
entendermos o espaço enquanto a materialidade transformada pela
sociedade (prédios, infraestrutura, cidades, campos de cultivo) alvo da
dinâmica jurídica e política. Através da tributação, espaços públicos e
privados eram demarcados, cidades tinham seu território definido, sendo a
tributação o viés definidor dos espaços na época colonial.

Metodologia de pesquisa
Utilizaremos os métodos de abordagem das ciências sociais, a pesquisa
seguirá o método hipotético-dedutivo descrito por (LAKATOS, 1986, p. 106)
“Que se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da
qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a
predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese. ” A partir de
uma análise geral da possibilidade de articulação dos tributos brasileiros
aplicados aos imóveis, desde a época colonial até a atualidade.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A legislação na época colonial era um conjunto de imposições servientes à
metrópole portuguesa que pautava sua legitimidade em dogmas
eclesiásticos e no absolutismo. O caráter centralizador reflete na estrutura
da ocupação do território, expressa pelo sistema de capitanias hereditárias,
em que não figurava a aquisição da propriedade, mas sim uma espécie de
permissão de gestão submetida às ordens da Coroa. Tal sistema não vingou e
reclamou outra centralização administrativa, em que as concessões de
sesmarias, cheias de encargos, permaneceram até os reclames da
independência. É nessa exata coexistência antagônica de um direito colonial,
transposto e incorporado sem ressalvas pelo direito produzido sob um Estado
de Direito na época imperial que pautamos nossa análise para constatar que essa
transição deveria caracterizar um rompimento, porém, não o foi.

Principais referências bibliográficas


BRASIL. Alvará de 27 de junho de 1808. Cria o imposto da décima dos prédios urbanos.
Coleção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, v.1, p. 68,1891. Disponível em:

20
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Atos/alv/1808/alv-27-6-1808.htm Acesso em 01
de julho de 2021.
_______. Alvará de 25 de janeiro de 1809. Sobre a confirmação das sesmarias, forma da
nomeação dos juízes e seus salários. Coleção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, v.1, p.21,
1891. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/internet/infdoc/conteudo/colecoes/legislacao/Legimp-
A3_8.pdf Acesso em 01 de julho de 2021.
_______. Lei nº 99 de 31 de outubro de 1835. Orçando a receita e fixando a despesa para o
ano de 1836 a 1837. Coleção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, v.1,1891. Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/541052/publicacao/15775326
_______. Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850. Dispõe sobre as terras devolutas do
Império. Rio de Janeiro,18 de setembro de 1850. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0601-1850.htm
DOLHNIKOFF, M. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo,
2005.
LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos,
pesquisa bibliográfica, projeto, relatório, publicações e trabalhos científicos. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1986.
MENDES, Candido. Codigo Philippino, ou, Ordenações e leis do Reino de Portugal :
recopiladas por mandado d'El-Rey D. Philippe I. Vol. 3. Rio de Janeiro: Typ. Do Instituto
Philomathico, 1870

21
Desmatamento como
ação social: uma interpretação jurídico-
sociológica da eficácia do Plano de Ação para
Prevenção e Controle ao Desmatamento da
Amazônia Legal (PPCDAm) entre a política e
a economia, 2004-2020

Carolina Stange Azevedo Moulin


Doutoranda
cmoulin@usp.br

Justificativa do tema
De 2004 a 2014 o desmatamento na Amazônia Legal foi reduzido em cerca
de 80%. A partir de 2015 tem sido registrado um aumento crescente no
índice de derrubada da floresta. Parte da literatura relaciona o êxito inicial
às estratégias de ordenamento fundiário e territorial e de aperfeiçoamento
das técnicas de monitoramento e controle implementadas no contexto do
PPCDAm, e aponta a expansão da agropecuária como uma das principais
causas do aumento subsequente do desmatamento.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Objetivo é responder à seguinte pergunta-problema: como as cadeias globais
de valor da soja e do gado, de um lado, e a estrutura e cultura organizacionais
do Ibama, de outro, influenciaram o processo de efetivação do PPCDAm?
Objeto se circunscreve ao PPCDAm em seu entrelaçamento com as cadeias
globais de valor da soja e do gado e a estrutura e cultura organizacionais do
Ibama como instâncias privilegiadas para compreender a diminuição e
subsequente aumento do desmatamento na Amazônia Legal.

Problema e/ou hipótese


A cadeia da soja, em razão do maior grau de internacionalização de seu
controle acionário, alta administração e mercado consumidor suscita nos
atores por ela coordenados maior responsividade à demanda de

22
desassociação do desmatamento de seu processo produtivo do que a cadeia
da carne. A atuação dos atores coordenados em torno do Ibama foi fragilizada
em virtude de sua estrutura organizacional ter sido alterada para desenho
dotado de maior integração de controle e menor complexidade composta.

Metodologia de pesquisa
Entrevistas com pecuaristas e sojistas vinculados a associações de
produtores na Amazônia Legal; representantes de empresas associadas à
Abiove, à Anec, à Abiec e à Abrafrigo; servidores do Ibama e MPF. Análise
documental de relatórios das associações e empresas; relatórios referentes
à Moratória da Soja e aos TACs celebrados entre o MPF e frigoríficos na
Amazônia Legal; leis e atos normativos referentes à estrutura do Ibama.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A simbiose entre a aparência de legalidade de que a soja conseguiu se
revestir e a imagem de ilegalidade de que se vê impregnada a carne reflete a
divisão de funções entre capital internacional e nacional na dinâmica de
apropriação, produção e distribuição do território amazônico. Ibama passou
por processo de empoderamento armado (técnicas de incapacitação
econômica) e limitação de discricionariedade (padronização da atuação dos
agentes) que foi determinante para a eficácia inicial do PPCDAm.

Principais referências bibliográficas


CARPENTER, Daniel. The Forging of Bureaucratic Autonomy: Networks, Reputations and
Policy Innovation in Executive Agencies, 1862- 1928. Princeton University Press, 2001.

GEREFFI, Gary. Global Value Chains and Development: redefining the contours of 21st
century capitalism. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

MELLO, Natália; ARTAXO, Paulo. Evolução do Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 66,
2017, pp. 108-129.

SANTOS, Wanderley Guilherme dos. O ex-leviatã brasileiro: do voto disperso ao


clientelismo concentrado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

WEBER, Max. Economy and Society – A New Translation (trad. Keith Treibe). Harvard
University Press, 2019.

23
Conexão instável, cidadania precária: o papel
da Internet no acesso e no exercício de
direitos por grupos vulneráveis

Cecilia Barreto de Almeida


Doutoranda
cecilia.barreto.almeida@gmail.com

Justificativa do tema
No Brasil, a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2019 destacou aumento na
proporção de órgãos dos governos federais, estaduais e municipais que
disponibilizaram serviços em seus websites e expandiram sua comunicação
em redes sociais (CGI.br, 2020). Com relação às atividades de interação com
autoridades públicas, verifica-se que há desigualdades entre territórios
urbanos e rurais; regiões do país; homens e mulheres; faixas etárias, e,
principalmente, em virtude de grau de instrução, renda e classe social.
Enquanto 41 a 56% das pessoas nas classes AB buscaram informações ou
realizaram serviços públicos online; apenas 9 a 13% das pessoas nas classes
DE o fizeram (CGI.br, 2019, p. 318). A falta de acesso ou o acesso precário à
Internet contribuem para esse cenário como o primeiro nível de clivagem
digital, relacionado à camada de infraestrutura da internet. Há também
pessoas que não possuem habilidades ou letramento digitais, utilizando a
Internet de forma mais limitada, o que corresponde ao segundo nível de
clivagem digital e se relaciona com a camada econômica e social da internet
(RANCHORDAS, 2020a e 2020b; DIJK, 2012; DIMAGGIO et. al., 2004). E já se
fala em um terceiro nível, decorrente da redução de oportunidades e
benefícios para atividades pessoais e profissionais dessas pessoas
(RAGNEDDA, 2017).

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Em continuidade aos meus estudos de mestrado (ALMEIDA, 2020),
relacionados à cidadania e diversidade, este projeto de doutorado objetiva
avaliar os impactos cada vez mais recorrentes e urgentes do governo digital
na cidadania de grupos vulneráveis (HADDAD, OLIVEIRA, CARDOSO, 2016).

24
Problema e/ou hipótese
Por meio desta pesquisa, pretendo responder à seguinte pergunta principal:
Em que medida estratégias de transformação digital de governos
reproduzem ou removem barreiras para o acesso e o exercício da cidadania
por grupos vulneráveis?
Minha hipótese alinha-se às percepções de Ranchordas (2020c), para quem
a tecnologia parece ser uma “faca de dois gumes” para cidadãs vulneráveis. É
possível que prestação de serviços públicos pelo governo por meio da
Internet possa remover algumas barreiras de acesso e exercício da cidadania,
trazendo agilidade, eficiência e comodidade para cidadãs. De todo modo, a
digitização e a digitalização também podem reproduzir desigualdades e criar
novas barreiras, principalmente para grupos vulneráveis.

Metodologia de pesquisa
A fim de responder à pergunta de pesquisa, adotarei abordagem de estudo
de casos múltiplos, com utilização de multimétodos para geração de dados
(análise documental e entrevistas - semiestruturadas/grupo focal).
Segundo Robert Yin (2010, p. 34), o estudo de caso é adequado para responder
perguntas “como/em que medida” e “por que”, realizada sobre um conjunto de
eventos contemporâneos, considerando-se que se trata de algo sobre o qual a
pesquisadora tem pouco ou nenhum controle. O escopo do estudo de caso é uma
investigação empírica sobre um fenômeno contemporâneo em profundidade e
em seu contexto de vida real (YIN, 2010, p. 39).

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A pesquisa está em fase inicial (primeiro semestre). Por isso, não há ainda
resultados ou conclusões parciais.

Principais referências bibliográficas


ALMEIDA, C. B. TRANSCIDADANIA: Trans-formando o cis-tema? A percepção de cidadania
das pessoas trans beneficiadas pelo Programa em São Paulo. Dissertação de mestrado –
Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

DIJK, J. A. G. M. van. The Evolution of the Digital Divide - The Digital Divide Turns to
Inequality of Skills and Usage. In: BUS, J.; CROMPTON, M.; HILDEBRANDT, M.;
METAKIDES, G. (org.). Digital Enlightenment Yearbook 2012. Amsterdam: IOS Press,
2012. p. 57–78. E-book. Disponível em: https://research.utwente.nl/en/publications/
the-evolution-of-the-digital-divide-the-digital-divide-turns-to-i. Acesso em: 1 nov. 2020.

DIMAGGIO, P.; HARGITTAI, E.; CELESTE, C.; SHAFER, S. Digital inequality: From unequal
access to differentiated use. Social Inequality, p. 355–400, 2004.

25
HADDAD, S. R.; OLIVEIRA, A.; CARDOSO, G. Framework for evaluation of digital citizenship
among less favored population in Brazil. In: 2016 11TH IBERIAN CONFERENCE ON
INFORMATION SYSTEMS AND TECHNOLOGIES (CISTI)2016, Gran Canaria, Spain. 2016
11th Iberian Conference on Information Systems and Technologies (CISTI). Gran Canaria,
Spain: IEEE, 2016. p. 1–8. Disponível em: https://doi.org/10.1109/CISTI.2016.7521448.
Acesso em: 1 nov. 2020.

NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR (org.). Pesquisa sobre o uso


das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC domicílios
2018 = Survey on the use of information and communication technologies in brazilian
households: ICT households 2018. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br,
2019.

NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR (org.). Pesquisa sobre o uso


das tecnologias de informação e comunicação no setor público brasileiro: TIC governo
eletrônico 2019 = Survey on the use of information and communication technologies in
the brazilian public sector: ICT electronic government 2019. São Paulo: Comitê Gestor da
Internet no Brasil, 2020. E-book. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/
publicacoes/2/20200707094309/tic_governo_eletronico_2019_livro_eletronico.pdf

RAGNEDDA, M. The third digital divide: a weberian approach to digital inequalities. [S. l.:
s. n.].

RANCHORDAS, S. The Digitalization of Government and Digital Exclusion: Setting the


Scene. Rochester, NY: Social Science Research Network, 2020 b. SSRN Scholarly Paper.
Disponível em: https://doi.org/10.2139/ssrn.3663051. Acesso em: 10 set. 2020.

RANCHORDAS, S. Connected but Still Excluded? Digital Exclusion beyond Internet Access.
Rochester, NY: Social Science Research Network, 2020 c. SSRN Scholarly Paper.
Disponível em: https://doi.org/10.2139/ssrn.3675360. Acesso em: 8 set. 2020.

RANCHORDAS, S. Bureaucracy and Vulnerability in the (Digital) Administrative State. Int’l


J. Const. L. Blog, Sept. 9, 2020 e. Disponível em: http://www.iconnectblog.com/
2020/09/bureaucracy-and-vulnerability-in-the-digital-administrative-state/. Acesso em
10 set. 2020.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Ana Thorell. 4ª ed. Porto Alegre:
Bookman, 2010.

26
O giro punitivo brasileiro

Fernando Russano Alemany


Doutorando
fernando.russano@gmail.com

Justificativa do tema
O giro punitivo brasileiro - cuja evidência mais palpável é o crescimento
consistente da população carcerária desde o início dos anos 1990 - é um dos
fenômenos mais significativos da atualidade. Apesar disso, a criminologia
brasileira (muito influenciada por teorias estrangeiras, nem sempre
adaptáveis às especificidades de nossa formação social dependente e
periférica) ainda não foi capaz de dar uma explicação satisfatória para o seu
advento, o que, por si só, justifica a relevância do tema.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo da pesquisa é descobrir as determinações do giro punitivo
brasileiro, desde o ponto de vista da materialidade da vida social e da luta de
classes. Nesse sentido, são analisadas as transformações recentes do
capitalismo dependente brasileiro e sua influência (respeitadas as devidas
mediações) na dinâmica da assim chamada questão criminal e na elaboração
de estratégias político-criminais de repressão das populações trabalhadoras
excluídas do mercado formal de trabalho.

Problema e/ou hipótese


O caráter dependente da economia brasileira acirra as contradições
inerentes ao capitalismo. O desenvolvimento da lei geral da acumulação
capitalista nas condições da dependência exige do Estado burguês a
intensificação das medidas de controle social. Apesar da redemocratização, a
pressão econômica sobre a classe trabalhadora só aumento nos últimos 30
anos. O giro punitivo funcionaria, assim, como importante instrumento
político de "ajuste" da reprodução do capitalismo brasileiro contemporâneo.

27
Metodologia de pesquisa
A pesquisa é eminentemente teórica e, por isso, depende essencialmente da
leitura e fichamento da bibliografia selecionada. No que diz respeito à análise
factual, faz-se uso de dados oficiais e demais trabalho empíricos sobre temas
correlatos abrangidos no escopo da pesquisa. Não é feito trabalho de campo
ou qualquer outra forma de produção de dados primários.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Atualmente, a pesquisa ainda está em estágio preliminar, não sendo possível
apresentar resultados, ainda que parciais.

Principais referências bibliográficas


- as obras de Marx e Engels sobre a crítica da economia política
- os textos de Ruy Mauro Marini e demais autores da Teoria Marxista da
Dependência
- a obra de Caio Prado Jr.
- os principais autores da criminologia marxista (Rusche e Kirchheimer,
Melossi e Pavarini; no Brasil, a obra de Juarez Cirino dos Santos)
- a obra de Florestan Fernandes (principalmente os seus livros sobre o
racismo e o lugar do negro no capitalismo brasileiro)

28
Fraudes em Licitações do Sistema Carcerário
Brasileiro

Giulia Oleani Bataglini Benatti


Mestranda
giuliabenatti@usp.br

Justificativa do tema
Há pelo menos três décadas, utilizando de teorias importadas, a Criminologia
brasileira se dedica a pesquisas sobre a privatização das prisões. Contudo,
menos de 2% dos presídios nacionais são privatizados, sendo questionável
se o setor privado realmente possui interesse na gestão do sistema
carcerário. Apesar de relativamente ignoradas pela literatura especializada,
existem formas alternativas, aparentemente muito mais interessantes, para
o empresariado explorar o controle do crime.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Compreender os mecanismos causais envolvidos na aquisição de
mercadorias, produzidas no âmbito da iniciativa privada, destinadas ao
sistema carcerário, a fim de verificar os interesses econômicos e políticos por
trás dos processos licitatórios, assim como fornecer uma análise propositiva
dos verdadeiros lucros provenientes do encarceramento em massa no Brasil.
Delimitou-se o objeto às licitações realizadas entre 2010 e 2020 relacionadas
ao setor de alimentação.

Problema e/ou hipótese


O fornecimento de produtos e serviços ao sistema carcerário, a partir de
licitações individualizadas, é mais interessante e vantajoso ao capital, em
comparação à gestão privada, pois possibilita a rentabilidade do setor sem
implicar às empresas responsabilidade pela dinâmica interna dos presídios,
incluindo problemas ínsitos do cárcere. Levanta-se, ainda, a hipótese de que
há maior interesse político nessa modalidade, ante a viabilidade de angariar
um número maior de aliados, esquemas e fraudes.

29
Metodologia de pesquisa
Propõe-se uma análise materialista da exploração comercial do sistema
carcerário brasileiro, dentro de uma perspectiva epistemologicamente
crítica e dialética, que possibilite a conexão entre teoria e prática para definir
novos campos de intervenção.
Utilizar-se-á de fontes e recursos como dados dos Portais da Transparência;
registros de donativos eleitorais; dados administrativos das empresas;
processos criminais; material jornalístico; entrevistas; entre outros.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Em 2018, a empresa Montesinos recebeu cerca de R$ 67,8 mi pela gestão de
três prisões de Santa Catarina. Em 2017, a empresa Risotolândia recebeu
aproximadamente R$ 11,8 mil pelo fornecimento de alimentação a dois
presídios paranaenses, ou seja, 17,4% dos rendimentos da Montesinos –
considerando um montante equivalente de detentos atendidos –, para
fornecer somente alimentação às unidades.

Principais referências bibliográficas


DARKE, Sacha. Conviviality and Survival: Co-Producing Brazilian Prison Order. London:
Palgrave Macmillan, 2018.

FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação


sociológica. São Paulo: Contracorrente, 2020.

FERNANDES, Florestan. Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina. 2ª


ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

LEA, John; FITZGIBOON, Wendy. Privatising Justice: The Security Industry, War and Crime
Control. London: Pluto Press, 2020.

MARX, Karl. O capital: crítica da econômica política: livro I: o processo de produção do


capital. Trad. Rubens Enderle. 2ª ed., São Paulo: Boitempo, 2017.

30
Institucionalidade jurídica e retrocesso nas
políticas públicas: uma análise do Sistema
Único de Assistência Social

Isabela Ruiz
Mestranda
isabelaruiz@usp.br

Justificativa do tema
A pesquisa dedicou-se a examinar a sequência e os tipos de normas que
estruturaram o SUAS, destacando o papel das resoluções emanadas por
instâncias interfederativas e participativas (como CIT e CNAS). Verificou-se
que há uma institucionalidade que independe do Direito, no sentido relativo
ao pacto entre os atores envolvidos e interessados na política. Mas observou-
se que o Direito confere estabilidade ao acordo dos atores, garantindo que as
decisões sejam vinculantes e não facultativas.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa descreve o processo de construção do arranjo jurídico-
institucional da política pública de assistência social no Brasil, no período
compreendido entre 2003 e 2014, que culminou na organização da provisão
sob a forma de um sistema descentralizado e participativo, o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS). O estudo procurou detectar sobre quais
aspectos da organização da política pública incidiram as normas
desestruturantes adotadas especialmente no período de 2016 a 2020.

Problema e/ou hipótese


A pesquisa procurou responder à seguinte questão: qual a capacidade do
arranjo jurídico-institucional de conferir estabilidade a um determinado
desenho de política pública, de modo a evitar retrocessos na provisão de
serviços e benefícios? A hipótese é de que a institucionalidade, materializada
pelo Direito, seja responsável por garantir relativa sustentabilidade para
uma política pública em face dos câmbios políticos no governo, freando
eventuais retrocessos.

31
Metodologia de pesquisa
A investigação se situa no campo da Teoria do Estado e aborda a relação
entre o Direito e a política na análise da política pública de assistência social.
Para a análise do elemento jurídico, adota-se a abordagem Direito e Políticas
Públicas e utiliza-se o quadro de referência de uma política pública (BUCCI,
2015). Para a análise do elemento político, o estudo se beneficia de conceitos
e abordagens da Ciência Política e do Campo de Públicas, constituindo um
trabalho de caráter multidisciplinar.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A investigação, fundamentada nas teorias do institucionalismo jurídico e do
neoinstitucionalismo histórico, identificou que a institucionalidade jurídica
do SUAS pode ser categorizada em seis dimensões: organizacional,
substantiva, participativa, financeira, de articulação e instrumental. A partir
do caso da assistência social, o estudo propõe um quadro analítico para o
estudo jurídico do desmonte de políticas públicas.

Principais referências bibliográficas

BUCCI, Maria Paula Dallari. Quadro de referência de uma política pública: primeiras linhas
de uma visão jurídico-institucional. In: SMANIO, Gianpaolo Poggio; BERTOLIN, Patrícia
Tuma; BRASIL, Patrícia Cristina (org.). O Direito na fronteira das políticas públicas. São
Paulo: Páginas e Letras Editora e Gráfica, 2015. p. 7-11.
COUTINHO, Diogo R. O Direito nas Políticas Públicas. In: MARQUES, Eduardo; PIMENTA
DE FARIA, Carlos Aurélio (org.). A Política Pública como Campo Multidisciplinar. São
Paulo: Ed. UNESP; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2013b, p. 181-206.
HAURIOU, Maurice. A Teoria da Instituição e da Fundação. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris Editor, 2009. Tradução de José Ignacio Coelho Mendes Neto. p. 11-54.
PIRES, Roberto Rocha C.; GOMIDE, Alexandre de Ávila. Burocracia, democracia e políticas
públicas: arranjos institucionais de políticas de desenvolvimento. Texto para Discussão n.
1940. Brasília: Rio de Janeiro: IPEA, mar. 2014. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2939/1/TD_1940.pdf. Acesso em: 6
jun. 2019.
SANTI ROMANO. O Ordenamento Jurídico. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2008.
Tradução de Arno Dal Ri Jr., p. 59-134.

32
Direito Econômico e Soberania Alimentar

Lea Vidigal Medeiros


Doutoranda
lea.medeiros@usp.br

Justificativa do tema
Esta tese analisa, à luz do direito econômico, a economia política, a estrutura
econô mica e a disciplina jurídica do sistema agroalimentar brasileiro.
Infelizmente, nos últimos anos, os temas aqui tratados se tornaram urgentes
e dramáticos, diante do notório fracasso do sistema agroalimentar – e, mais
amplamente, do próprio sistema econômico vigente – em resolver um
problema básico e essencial: a fome. Em pleno século XXI, longe de estar
solucionada, a fome cresce em velocidade alarmante.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Esta tese analisa o sistema agroalimentar brasileiro à luz do Direito
Econômico brasileiro. O Direito Econômico trata da organização jurídica dos
espaços de acumulação, disciplinando as formas de geraçã o, disputa,
apropriação e destinaçã o do excedente, as possibilidades de ampliação ou
redução das desigualdades e, no caso da periferia, a superação do
subdesenvolvimento.

Problema e/ou hipótese


Os Estados desenvolvidos e suas corporações competem e disputam posições
em relaçã o ao controle dos fluxos de recursos naturais e produtos agrícolas
e alimentares, mobilizando variados instrumentos jurídicos para atingir os
seus objetivos de soberania alimentar. O subdesenvolvimento e a questão
agrá ria se situam na raiz do problema da fome, da desigualdade social e da
dependência econô mica brasileiras.

Metodologia de pesquisa
Sob esse prisma e método, a preocupação jurídica com a internalização de
centros decisórios e a soberania econô mica nacional encontram na ideia de

33
soberania alimentar uma chave para a apreensão e concreção do regime
jurídico do sistema agroalimentar.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A Constituição Federal que estrutura a ordem econô mica e o setor
agroalimentar incorpora a superação do subdesenvolvimento como objetivo
fundamental, para o que a soberania alimentar se revela nuclear, em linha
com os comandos constitucionais da soberania econô mica, da prioridade ao
mercado interno, da sustentabilidade, do federalismo cooperativo e da
funcionalidade do Direito Agrário. A soberania alimentar, como critério
jurídico norteador do funcionamento e estrutura do mercado interno, deve
balizar a definição de preços e as estratégias de abastecimento, dando
coerência funcional à disciplina jurídica dos preços e da provisão alimentar.

Principais referências bibliográficas


FURTADO, C. A economia latino-americana: formação histórica e problemas
contemporâneos. Companhia das Letras, 2007.
DELGADO, G. Terra, Trabalho e Dinheiro: regulação e desregulação em três décadas da
Constituição de 1988. Loyola, 2018.
MALUF, R. Segurança Alimentar e Nutricional. Vozes, 2009.
BERCOVICI, G. A ordem econô mica constitucional e a política agrícola. RFDFE. Belo
Horizonte, v. 6, n. 10, 2017.
SODERO, F. Direito Agrário e Reforma Agrá ria. Legislação Brasileira, 1968

34
Empresa Estatal e Desenvolvimento
Regional: um estudo de caso da Refinaria
Landulpho Alves-Mataripe

Mariana Rodrigues Oliveira


Mestranda
marianarodrigueso.16@gmail.com

Justificativa do tema
Em setembro de 2020, a Refinaria Landulpho Alves-Mataripe (RLAM),
localizada na Bahia, completou 70 anos de existência. Neste simbólico
aniversário, a RLAM se coloca como protagonista de um processo histórico:
estima-se que seja uma das primeiras refinarias da Petrobras a ter seu
processo de desestatização concluído. Nesse contexto, destacamos que um
problema a ser investigado é a relação entre a RLAM e os objetivos de
promoção do desenvolvimento regional, consagrados na Constituição
Federal e que devem permear a atuação de empresas estatais.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa busca realizar um estudo de caso visando compreender a relação
entre a constituição e a evolução das atividades da RLAM e a promoção dos
objetivos constitucionais de fomento ao desenvolvimento regional. Este
projeto é instigado por duas perguntas centrais. Primeira, verificar se
estavam contempladas preocupações com o desenvolvimento regional no
período da constituição e expansão da RLAM; e, segunda, se preocupações
com o desenvolvimento regional estão presentes no seu atual processo de
desestatização.

Problema e/ou hipótese


A hipótese do projeto de pesquisa é que, no período de constituição e
expansão da RLAM, preocupações com a promoção do desenvolvimento
regional orientaram a conformação das atividades da refinaria, mesmo
diante dos diferentes perfis de políticas regionais adotadas no país ao longo
do tempo. Ao passo que, no presente processo de desestatização da refinaria,

35
a promoção do desenvolvimento regional parece ser negligenciada diante
das novas diretrizes adotadas pela Petrobras e Governo Federal.

Metodologia de pesquisa
O trabalho terá como estratégia de pesquisa o estudo de caso. Opta-se pela
pesquisa das fontes primárias documentais que informaram a constituição e
expansão da RLAM e a atual desestatização, apoiada por pesquisa
bibliográfica, por relatos biográficos e entrevistas. Entende-se que a
compreensão de se e como as preocupações com desenvolvimento regional
permearam a história da RLAM pode ser feita mediante o contraste entre os
paradigmas jurídico-econômico dos períodos de constituição e expansão da
refinaria (1950-2015) e o atual período de desestatização (2016-2021).

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Dado o estágio inicial da pesquisa, os principais resultados parciais estão
relacionados à seleção de fontes que informam a constituição e expansão da
RLAM e a atual desestatização. Dentre as fontes identificadas, destaca-se, por
exemplo, documentos do CNP; relatórios elaborados pela comissão BNDE-
Cepal, GTDN; relatórios e planos de órgãos de desenvolvimento regional e
estadual; legislação, portarias, decretos e projetos de lei; mensagens do
poder executivo nacional e estadual para o Legislativo; e relatórios técnicos
produzidos para o projeto de desestatização. Além disso, ponderou-se ser
relevante a realização de entrevistas com personalidades como Almino
Afonso, Francisco Petros e José Sérgio Gabrielli.

Principais referências bibliográficas


Preliminarmente, destacam-se como principais referências bibliográficas
para a pesquisa as seguintes obras: BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades
regionais, estado e constituição. Sã o Paulo: Max Limonad, 2003.; BERCOVICI,
Gilberto. Direito econômico do petróleo e dos recursos minerais. São Paulo:
Quartier Latin, 2011.; BIELSHOWSKY, Ricardo. Pensamento Econômico
Brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2004; OCTAVIANI, Alessandro; NOHARA, Irene Patrícia.
Estatais. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019; e UDERMAN, Simone.
Indústria e desenvolvimento regional: uma análise das estratégias de
industrialização na Bahia. Salvador: FIEB, 2008.

36
A suspensão dos direitos políticos por
condenação criminal e seus impactos sobre a
democracia brasileira: uma análise
comparada com ênfase no viés etno-racial

Priscilla Soares de Oliveira


Doutoranda
priscilla.soares.oliveira@usp.br

Justificativa do tema
Dados recentes obtidos pelo InfoPen (dez/2017) revelaram que o total de
pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016 (352,6
presos para cada 100 mil hab.), ocupando o Brasil a terceira nação com maior
número absoluto de presos no mundo. Ainda de acordo com a pesquisa, cerca
de 64% dessa população são negros. Em paralelo, no Brasil sequer temos os
dados de quantas pessoas estão efetivamente privadas do direito de votar
em razão de condenação criminal, tornando fundamental tentar mensurar
referida população e possíveis reflexos desse número.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Objetivo geral: testar a hipótese de que o modelo de suspensão dos direitos
políticos por condenação criminal vigente no Brasil tem impactos na
qualidade e no funcionamento da democracia, no viés da participação e
segundo o critério racial,

Problema e/ou hipótese


No Brasil, a suspensão dos direitos políticos por condenação criminal opera,
tal qual nos EUA, de forma indiscriminada: independe do tipo de crime, da
natureza da pena e do regime; aplica-se inclusive quando o condenado está
em liberdade condicional, sob sursis ou com penas restritivas de direito etc.
Em razão disso, bem como ao tamanho da população carcerária do mundo e
ao racismo estrutural, questiona-se se é possível identificar no sistema
brasileiro igual viés discriminatório por critério étnico-racial no que toca à
suspensão dos direitos políticos àquele existente nos EUA.
37
Metodologia de pesquisa
I) Pesquisa e análise bibliográfica sobre o tema em direito comparado (BR-
EUA-França).
II) Pesquisa empírica: obtenção de dados estatísticos relativos à população
sob condenação penal e privados do exercício dos direitos políticos; (b)
amostragem para análise do lapso temporal para recuperação de direitos.
III) Análise e discussão dos dados e resultados obtidos por meio das
pesquisas empíricas, à luz das teorias a serem escolhidas oportunamente.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Tratar da suspensão dos direitos políticos no Brasil pode render frutos em
outras direções, particularmente no que diz respeito à desigualdade racial e
discriminação no país. Neste sentido, é possível aproveitar a contribuição de
Alexander ("The New Jim Crown"), cuja tese é que existe uma relação entre
o sistema de justiça criminal e a permanência ou preservação do que a autora
chama de "hierarquia racial" (manutenção dos efeitos da segregação através
do sistema prisional e de sua consequente perda/ suspensão dos direitos).

Principais referências bibliográficas


BESSONE, Magali. Sans distinction de race ? Une analyse critique du concept de race et de
ses effets pratiques, Paris, Vrin, « Philosophie concrète », 2013. / CAMPILONGO, Celso.
Política, sistema jurídico e decisão judicial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. / DAHL, Robert
Alan. Sobre a democracia. Brasília: Editora UnB, 2001 / UGGEN, Christopher; MANZA, Jeff.
Democratic Contraction? Political Consequences of Felon Disenfranchisement in the
United States, American Sociological Review. Vol. 67, nº 6 (Dez. 2002). / KEYSSAR,
Alexander. O direito de voto. A controversa história da democracia nos Estados Unidos.
Tradução Márcia Epstein. Edição revisada. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

38
Autodeclaração e proteção das minorias no
sistema carcerário brasileiro: impacto das
resoluções CNJ 287 e 348 do CNJ

Renata Chiarinelli Laurino


Doutoranda
renata.laurino@usp.br

Justificativa do tema
O sistema carcerário brasileiro possui falhas estruturantes (ADPF 347), que
impactam especialmente segmentos sociais vulnerabilizados como a
população indígena, LGBTI, entre outras. Como estratégia de política
judiciária de enfrentamento dessa situação, o Conselho Nacional de Justiça
criou normativos de proteção específica a essas populações, baseados na
autodeclaração e que abrem caminho a políticas específicas de proteção (Res.
287/19 e 348/2020), cuja aplicação e eficácia se busca estudar.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo da pesquisa é analisar os impactos de marcadores sociais da
diferença, notadamente em relação à população indígena e LGBTI, em
espaços da privação de liberdade, questionando se a autodeclaração
informada prevista nas Resoluções mencionadas, que abre caminho a
políticas judiciárias específicas, é suficiente ou impactante para os fins a que
se destina, qual seja, promoção dos direitos das populações afetadas.

Problema e/ou hipótese


O que se busca comprovar como hipótese é que a autodeclaração como
escolha de identificação do pertencimento da pessoa como parte dessas
populações é promovida e percebida na jurisprudência a partir das
Resoluções, resultando na aplicação de todo um leque de direitos próprios e
adequados a tais populações. Como consequência, busca-se analisar a
aplicação da autodeclaração e se as Resoluções CNJ nº 287/2019 e 348/2020
foram suficientes para causarem o impacto para o qual foram desenvolvidas.

39
Metodologia de pesquisa
A metodologia proposta para a pesquisa está em construção e se divide em
levantamento de doutrina aplicável à autodeclaração enquanto forma de
identidade considerando o conceito de marcadores sociais da diferença
aplicados à sistemática penal e carcerária bem como o levantamento da
jurisprudência de aplicação dessas Resoluções pelos Tribunais Superiores,
indicando leading cases para o estudo da aplicação da autodeclaração como
efetivo mecanismo de incentivo à garantia de direitos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Ainda não há resultados a serem compartilhados.

Principais referências bibliográficas


ALMEIDA, Heloísa Buarque de; SZWAKO, José (Orgs.). Diferenças, Igualdade. São Paulo:
Berlendis & Vertecchia Editores, 2012.
ALMEIDA, G. A.; PRADO, Alessandro M. (Org.); SEVERO, T. L. M. (Org.). Constituição do
Sujeito de Direito e Direitos Humanos. 1. ed. Curitiba-Dourados: Editora CRV-Editora
UEMS. v. 1. 328p. 2015
BORGES, Paulo César Corrêa (org.). Marcadores sociais da diferença e repressão penal.
São Paulo: NETPDH; Cultura Acadêmica Editora, 2011.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. A questão criminal; tradução de Sérgio Lamarão – 1ª Edição –
Rio de Janeiro: Editora Revan, 2013.
ZAMBONI, Marcio. Marcadores Sociais da Diferença. Sociologia: grandes temas do
conhecimento (Especial Desigualdades), São Paulo, v. 1, p. 14 - 18, 01 ago. 2014.

40
Google Workspace For Education e as
Secretarias Estaduais de Educação:
uma análise do princípio constitucional da
gratuidade do ensino público à luz da
plataformização da educação brasileira
entre 2017-2021

Stephane Hilda Barbosa Lima


Doutoranda
stephanelima21@gmail.com

Justificativa do tema
O direito à educação se transforma no cenário das novas tecnologias digitais de
informação e comunicação (TICs). As TICS viram objeto de estudo e parte do
conteúdo obrigatório da educação básica, mas também tecnologias são usadas
hoje como meio de prestar a educação. O uso de plataformas tecnológicas na
educação é cada vez mais comum, seja para o gerenciamento administrativo,
seja para o gerenciamento da própria aprendizagem dos estudantes. Essa tese
se situa explorando problemáticas advindas do segundo caso, a partir da
primeira contratação realizada com a Google pela Secretaria de São Paulo em
2017 para implementação de sua plataforma voltada à educação.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A presente tese tem como objetivo compreender como e em que medida a
adoção de plataformas digitais de aprendizagem de empresas privadas na
educação pública brasileira se relaciona ao direito público subjetivo ao
acesso ao ensino obrigatório e gratuito instituído no art. 208, §1º, da
Constituição Federal de 1988.

Problema e/ou hipótese


Busca-se confirmar ou refutar a hipótese de que a contratação realizada
entre Secretarias Estaduais de Educação e Big Techs, tais como a solução
oferecida pela empresa Google, a partir de 2017, fere o direito constitucional
à gratuidade da educação pública.

41
Metodologia de pesquisa
Verificar-se-á no caso concreto a conformidade da contratação do Google
Workspace For Education no âmbito das Secretarias de Educação Brasileira
que o tenham adotado, a partir da documentação obtida via Lei de Acesso à
Informação e publicada por meio do estudo de Amiel, Pezzo, Cruz, Et All
(2021). Analisar-se-á os documentos legais de contratação, bem como os
termos de uso e as políticas de privacidade vigentes à época, a fim de
encontrar dados para subsidiar uma nova interpretação para o princípio da
gratuidade constitucional da educação à luz do funcionamento das
plataformas educacionais adotadas, ofertando congruência entre as diversas
legislações que hoje regem a educação e a tecnologia no Brasil.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O acesso constitucionalmente previsto à educação, especialmente após a
introdução do artigo 26 do Marco Civil da Internet em 2014, passou a exigir
o acesso ao ambiente virtual de aprendizagem como parte do âmbito do
direito à educação. Entretanto, a adoção de plataformas educacionais
oferecidas por Big techs gratuitamente à rede pública fere o direito
constitucional à gratuidade da educação pública, em razão de seu modelo de
negócios estar baseado em uma nova forma de economia, baseada em
datificação; mercantilização e seleção algorítmica. (DIJCK, POELL, WALL,
2018). Exige-se, portanto, repensar uma nova interpretação para o princípio
da gratuidade na educação a luz do direito à capacitação digital, oferecendo-
se meios de efetivação dos princípios da governança no uso da internet
também no tocante ao uso de tecnologias digitais no âmbito da educação
pública brasileira.

Principais referências bibliográficas


AMIEL, Tel et al. Os modos de adesão e a abrangência do capitalismo de vigilância na
educação brasileira. São Paulo: Perspectiva, v. 39, n. 3, p. 1-22, 2021.

EDUCAÇÃO VIGIADA. Relatório Mapeamento, São Paulo, 2020. Disponível em:


https://educacaovigiada.org.br. Acesso em: 21 abr. 2020.

LIMA, Stephane et all. Educação, Dados e Plataformas – análise descritiva dos termos de
uso dos serviços educacionais Google e Microsoft. São Paulo: Iniciativa Educação Aberta,
2020. Disponível em
https://www.aberta.org.br

RANIERI, Nina. O Estado Democrático de Direito e o Sentido da exigência de preparo da


pessoa para o exercício da cidadania, pela via da educação, tese de livre docência,
Universidade de São Paulo. 2009, p. 280.

VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society: Public values
in a connective world. Oxford University Press, 2018.

42
Planos urbanísticos: a solução dos conflitos
em sua elaboração e aplicação no direito
brasileiro

Vinícius Monte Custodio


Doutorando
montecustodio@gmail.com

Justificativa do tema
O déficit normativo atual em matéria de sistematização do planejamento
urbanístico põe dificuldades práticas à função pública de planejar, que
recorrentemente desembocam no Poder Judiciário. É precisamente nesse
contexto lacunoso que a construção dogmática proposta por esta pesquisa
encontra sua justificativa, como uma base teórica para a solução dos conflitos
na elaboração e aplicação dos planos urbanísticos no direito brasileiro.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Pretende-se construir uma tese que consiga apresentar uma solução
dogmática correta para esses conflitos, quer de planos urbanísticos entre si,
quer de planos urbanísticos com outros planos e políticas públicas.

Problema e/ou hipótese


O problema desta pesquisa é a solução dos conflitos na elaboração e
aplicação dos planos urbanísticos no direito brasileiro. A hipótese deste
trabalho é de que os conflitos na elaboração e aplicação dos planos
urbanísticos no direito brasileiro, quer na perspectiva legislativa (em sentido
amplo), quer na perspectiva jurisdicional, são solucionados sem uma base
teórica consistente.

Metodologia de pesquisa
Este trabalho de dogmática jurídica adotará o pós-positivismo jurídico como
método, pelo que se encarará o direito como um fato orientado a valores,
vinculando sua estrutura ao cumprimento de uma função. O marco teórico
desta pesquisa é a obra “Sistema e estrutura no direito” (três volumes), de

43
Mario G. Losano, utilizada para a construção desta tese sob duas perspectivas
sistemáticas complementares e estruturalmente distintas: a do sistema
externo e a do sistema interno.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A tese da prevalência do interesse do ente territorialmente maior sobre o do
ente territorialmente menor é infirmada por diversas decisões judiciais,
sendo demasiadamente reducionista e inviável como regra geral para a
solução desses conflitos. A tese da prevalência da norma mais restritiva não
se presta a resolver o conflito de planos urbanísticos entre si em todos os
casos, embora pontualmente possa trazer uma solução correta.

Principais referências bibliográficas


BOBBIO, Noberto. Teoria da norma jurídica. Tradução Ariani Bueno Sudatti e Fernando
Pavan Baptista, 6. ed. São Paulo: Edipro, 2016.
LOSANO, Mario G. Sistema e estrutura no direito. Tradução Carlo Alberto Dastoli. São
Paulo: WMF Martins Fontes, v. 1 (Das origens à escola histórica), 2008.
LOSANO, Mario G. Sistema e estrutura no direito. Tradução Luca Lamberti. São Paulo:
WMF Martins Fontes, v. 2 (O século XX), 2010.
PINTO, Victor Carvalho. Direito urbanístico: plano diretor e direito de propriedade, 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro, 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.

44
Aproximações entre Direito Urbanístico e
espaço regional a partir da produção Sócio
Espacial do Vale do Jequitinhonha
em Minas Gerais

Virginia Junqueira Rugani Brandão


Doutoranda
vrugani@gmail.com

Justificativa do tema
As articulações entre direito e espacialidade são múltiplas. Contudo, a
aproximação epistemológica entre tais áreas do conhecimento é ainda
relativamente escassa e recente (MILANO, 2016, p.26), se consubstanciando
em um importante campo a ser explorado.
Abordar a produção do espaço no âmbito da pesquisa socioespacial a
partir de estudo e engajamento teórico-prático no campo jurídico permite
contribuir para o “giro espacial no Direito”, o que significa, conforme
FRANZONI (2019, p. 2927), descortinar a espaço-temporalidade pró pria da
escala do fenômeno jurídico.
Pensar de forma situada a gramática jurídica da “despacializaçã o” é
buscar compreendê -la como dispositivo de “ilusão de transparência”, nos
termos de Henri Lefebvre, que reitera e produz no e com o espaço, processos
de dominação. A ilusão se dá a partir do uso pelo Direito do espaço abstrato,
e da produção desse espaço abstrato que silencia dinâmicas sociais concretas
(FRANZONI, 2019, p. 2933).
Abre-se com isso a possibilidade de ultrapassar a análise jurídica
monolítica do espaço, afeita à estabilidade e limitação fixa de fronteiras,
realocando-o na perspectiva de movimento e fluidez, pró pria da dinâmica da
produçã o socioespacial (SANTOS apud MILANO, 2016, p. 27).
Nessa esteira, engaja-se menos em definições estanques sobre "o que
é o espaço, cidade ou região" para trabalhar melhor as possibilidades de sua
constituição em processos a partir de interações múltiplas (MILANO, 2016,
p. 28).

45
A relevância e originalidade da tese estão em trabalhar essa chave no
campo do direito urbanístico, problematizando a sua relação com a produção
socioespacial de uma região considerada periférica (não metropolitana) e
essencialmente rural (considerando as características paisagísticas e
populacionais).
Para além dessa característica, melhor detalhada no capítulo 5 abaixo, a
região intraestatal do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais foi o local eleito
para análise em razão da proximidade da pesquisadora, que mora na
microrregião do Alto do Jequitinhonha desde janeiro de 2018, e ali desenvolve
projetos sociais voltados à redução da desigualdade socioeconômica.
Apesar dos diversos estudos existentes sobre o Vale do Jequitinhonha,
não foi encontrada pesquisa que tenha viés semelhante à proposta da presente
tese.
A região constitui moldura imediata do nível local em que se dão
processos importantes que coincidem com espaços de implementação de
políticas públicas (SOUZA, 2020, p. 208). Contudo, é comum entre os
pesquisadores abordarem essas escalas de análise como dados fixos, como
se existissem por si sós, sem levar em conta como esses conceitos e as ações
sobre eles se constroem historicamente, “um verdadeiro coroamento da
reificação da ideia de escala” (SOUZA, 2020, p. 187).
Perde-se com isso a visão da pluralidade e diversidade das diversas
regiões em que a cidade está circunscrita. E cidades desconectadas da região,
como se estivessem soltas e se interligando apenas em um sentido funcional
de especialização do trabalho ou da atividade econômica, servem à
reprodução das desigualdades regionais brasileiras.
Por outro lado, ao se pensar a cidade como estrutura regional, a partir
de uma pesquisa situada na produçã o socioespacial regional concebida
também como um fenômeno jurídico, descobre-se que existem diversas
regiões possíveis e um mundo se abre à exploração do direito urbanístico.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Objetivo geral: Problematizar a relação do direito urbanístico com o espaço
regional por meio de pesquisa indutiva que estuda a produção socioespacial
do Vale do Jequitinhonha sob a ótica da urbanização e a partir dela identifica
como os dois campos mencionados se aproximam.

Objetivos específicos:
⇒ Situar a tese no âmbito da pesquisa socioespacial
⇒ Mapear teorias sobre a produção socioespacial regional

46
⇒ Compreender a gramática jurídica da produção socioespacial na
regionalização de Minas Gerais
⇒ Identificar como ocorreu a produção socioespacial do Vale do
Jequitinhonha
⇒ Problematizar o processo de urbanização do Vale do Jequitinhonha
⇒ Relacionar a produção socioespacial do Vale do Jequitinhonha com a
legislação e políticas urbanas
⇒ Analisar conflitos territoriais locais no Vale do Jequitinhonha sob a ótica
regional
⇒ Compreender a realidade espacial da interferência recíproca entre
questões urbanas e regionais
⇒ Identificar a relação do direito urbanístico com a produção socioespacial
do Vale do Jequitinhonha
⇒ Analisar a bibliografia do direito urbanístico sobre espaço regional
⇒ Compreender o conteúdo do direito urbanístico no aspecto urbano-
regional
⇒ Elencar as aproximações possíveis entre direito urbanístico e espaço
regional

Problema e/ou hipótese


Como se dá a aproximação entre direito urbanístico e espaço na produção
socioespacial do Vale do Jequitinhonha?
Estuda-se a produção socioespacial regional considerando ser esse também
um fenômeno jurídico que se relaciona diretamente com as cidades que
compõem a região. Nesse sentido, o estudo se volta para o direito urbanístico
problematizando os aparatos jurídicos (des)espacializados, buscando saber
em que medida se relacionam com o entorno e a realidade que se apresenta
na relação entre cidades e região, especialmente em um espaço não
classificado como metrópole. Nesta ótica mais ampliada sobre o direito
urbanístico, percebe-se ainda o fluxo de trocas, influências entre as cidades,
ou ainda, extensões visíveis e invisíveis das cidades para além dos
municípios, saltando aos olhos a questão da função social da cidade e se ela
poderia ser pensada nessa chave regional além da matriz endógena e
metropolitana que comumente cerca o campo.

Metodologia de pesquisa
Pretende-se que os raciocínios desenvolvidos sejam do tipo indutivo
qualitativo-quantitativo, a partir do estudo de caso do Vale do Jequitinhonha;
com levantamento bibliográfico, legislativo, mapeamento de dados
estatísticos e pesquisa empírica, guiados pelo problema, hipótese e objetivos.

47
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
Considerando os reflexos diretos da urbanização em cidades médias a ponto
de pautar o desenvolvimento regional de regiões periféricas, passa-se a
analisar comparativamente o controle da expansão urbana em determinadas
cidades do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais.
Para viabilizar a análise, foram consideradas cidades médias nos termos
mencionados no capítulo anterior, como aquelas com algum nível de
dinamismo entre pequenas e grandes cidades na rede urbana. Para tanto,
utilizou-se da classificação do REGIC (2018): metrópole, capital regional,
centro sub-regional, centro de zona e centro local, sendo selecionadas todas
as cidades do Vale do Jequitinhonha que estejam entre o nível de capital
regional e dentro de zona, inclusive. Dessa forma a pesquisa foi realizada com
as seguintes municipalidades: Almenara, Araçuaí, Capelinha, Coluna,
Diamantina, Itamarandiba, Itaiobim, Jequitinhonha, Minas Novas e Serro,
representando as três microrregiões do Vale do Jequitinhonha. A análise
levantou primeiramente características econômicas, demográficas e
territoriais de cada município para, em seguida, levantar a legislação
pertinente ao estudo da política de expansão urbana. Os dados tabulados
encontram-se na tabela matriz ao final desta seção.
O primeiro dado que salta aos olhos é o maior número de cidades
representativas do Alto do Jequitinhonha (6 das 10), o que já demonstra um
certo privilégio em termos de relevância regional por estarem mais próximas
ao centro metropolitano de Belo Horizonte, mais uma consequência da ideia
tratada no capítulo primeiro.
Apesar de apenas duas delas apresentarem população rural efetivamente
maior do que a população urbana, confirma-se que todas são essencialmente
rurais, apresentando baixa densidade demográfica de ocupação urbana e
atividades econômicas voltadas a agropecuária e mineração. Duas delas
(Serro e Minas Novas) apresentaram apostas no turismo rural/ecológico.
A expectativa seria de que municípios com maior dinamismo agropecuário
apresentassem expansão urbana mais contida. Nesse contexto, o número de
estabelecimentos rurais, pode ser um indicador que também auxilia a
intensidade da dinâmica agropecuária.
A dificuldade em obter dados via internet também foi um indicativo
relevante acerca do próprio controle e transparência dos processos urbanos,
sendo que em apenas quatro municípios foi possível identificar com certeza
aumento do perímetro urbano ao longo dos anos, face à disponibilidade e
acesso às legislações. Interessantemente, são os 4 municípios do maior

48
escalão no REGIC: Almenara, Araçuaí e Diamantina (Centro Sub-regional B)
e Capelinha (Centro de Zona A). Desses, foi possível encontrar apenas uma
justificativa, do Município de Capelinha, para aumentar o perímetro urbano,
porém de forma genérica, em função do crescimento demográfico e
econômico.
Desse resultado chama atenção o fato de Diamantina ter um número
inexpressivo de estabelecimentos agropecuários, o que indica que sua
expansão urbana teve pouca relação com as atividades rurais, mas, talvez,
com a especulação imobiliária.
A identificação das atividades principais auxiliou na percepção sobre as
cidades do agronegócio conforme Elias e Pequeno (2016), cidades essas com
tendência de um crescimento urbano não planejado. Vale mencionar que em
todos os municípios foi possível verificar a existência de um perímetro
urbano descrito, apesar de que, muitas vezes, a área ou perímetro total não
constava da redação legal.
Das cidades pesquisadas, Capelinha e Itamarandiba podem ser consideradas
como cidades do agronegócio, voltado para a silvicultura. Em ambos existe
zona de expansão urbana prevista no Plano Diretor, de maneira a reforçar o
crescimento contíguo, o que vai ao encontro dos estudos que Santoro
realizou no Estado de São Paulo. Por outro lado, a falta de acesso aos mapas
impossibilitou a identificação real dos crescimentos contíguos. Como dito, a
ausência de dados é um dado em si, que necessita atenção dos pesquisadores
da área.
Em termos gerais, a maioria dos municípios possui Plano Diretor ou ao
menos legislação que regulamente a expansão urbana, apesar de quatro
deles não classificarem ou conceituarem a expansão urbana (Coluna,
Jequitinhonha, Almenara e Diamantina). E dos municípios que possuem
Plano Diretor, dois deles não conceituam claramente a expansão urbana
(citando-a de forma aleatória e não sistematizada)são eles Diamantina e
Araçuaí (ambos Centros Sub-regionais B).

Principais referências bibliográficas


SANTOS, Milton. Espaço e método. Sã o Paulo: Nobel. 1985.

SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa Sócio-espacial. Rio de


Janeiro: Bertand Brasil, 2020.

LEFEBVRE, Henri. Urbano (O). Tradução de Margarida Maria de Andrade. [S.l.: s.n., 199-
?]. Versã o preliminar.. In: LEFEBVRE, Henri. Le retour de la dialectique: 12 mots clefs pour
le monde moderne. Paris, França: Messidor/É ditions Sociales, 1986. cap. L, p. 159-173.

FRANZONI, Julia Ávila. Geografia jurídica tropicalista: a crítica do materialismo jurídico-


espacial. Revista Direito e Práxis. Rio de Janeiro, v.10, n.4, 2019, p.2923-2967.

49
MASSONETTO, Luís F.. Direito Urbanístico - Notas Epistemológicas. In: Enzo Bello; Rene
José Keller. (Org.). Curso de direito à cidade: teoria e prática. 2ed.Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2019, v. , p. 273-289.

TAVARES, Jeferson Cristiano. Formação da macrometrópole no Brasil: processo de


urbanização e a constituição de uma região ganhadora. AMBIENTE & SOCIEDADE
(Online), v. 23, p. 1-20, 2020.

50
Visão Jurídica da Transparência na Atuação
do Banco Central do Brasil

Amanda Gouvêa Toledo Barretto


Mestranda
amanda.toledo@usp.br

Justificativa do tema
Atualmente, a maior parte dos bancos centrais divulga os objetivos de sua
atuação, com metas e previsões. A administração de expectativas adquire
importância crescente e a comunicação ganha espaço. Considerando a
autonomia dos bancos centrais, a divulgação de informações mostra-se
essencial para que os cidadãos compreendam da melhor maneira possível as
ações tomadas pelos bancos centrais.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa objetiva analisar os aspectos jurídicos da transparência no âmbito
do Banco Central do Brasil (Bacen), bem como a possibilidade de as
informações divulgadas serem consideradas instrumentos de soft law.
Adicionalmente, será analisada a relação entre transparência e autonomia do
Bacen. Com o objetivo de esclarecer tal ponto, será objeto de estudo a
disciplina jurídica vigente da autonomia de tal entidade, atualizada
recentemente pela Lei Complementar nº 179, de 24 de fevereiro de 2021.

Problema e/ou hipótese


Dentro dos recortes metodológicos adotados, a pesquisa buscará contribuir
para uma maior clareza sobre os aspectos jurídicos envolvendo a atuação do
Bacen, em especial a relação entre transparência, soft law e autonomia.
Trata-se de temas pouco explorados no âmbito jurídico, em especial no
cenário brasileiro.

Metodologia de pesquisa
Buscaremos estabelecer as bases teóricas da pesquisa por meio da revisão
bibliográfica. Recorreremos às obras disponíveis na Biblioteca da

52
Universidade de São Paulo e a outras cujo acesso faça-se possível, bem como
a fontes eletrônicas de qualidade. Será importante o recurso aos relatórios e
às informações divulgadas pelas autoridades monetárias sobre a
transparência em seu âmbito de atuação. Além disso, serão analisadas as
normas legais e regulamentares aplicáveis ao assunto abordado.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A pesquisa ainda se encontra em andamento, não sendo oportuno, no estágio
atual, apontar conclusões.

Principais referências bibliográficas


BLINDER, Alan S. et al. Central Bank Communication and Monetary Policy: A Survey of
Theory and Evidence. European Central Bank Working Paper Series, n. 898. mai. 2008.
Disponível em: <https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1120764>.
Acesso em: 22 ago. 2021.

DRAGHI, Mario. Monetary Policy Communication in Turbulent Times. Discurso de Mario


Draghi, presidente do Banco Central Europeu, na Conferência De Nederlandsche Bank 200
years: Central banking in the Next Two Decades, Amsterdam, 24 abr. 2014.

DURAN, Camila Villard. Monetary Policy: Making Fragmentation Work. In: HALE, Thomas
et al. Beyond Gridlock Cambridge: Polity Press, 2017.

SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito Bancário. Rio de Janeiro: Atlas, 2014.

VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Bancos Centrais no Direito Comparado: O Sistema


Financeiro Nacional e o Banco Central do Brasil (O Regime Vigente e as Propostas de
Reformulação). São Paulo: Malheiros, 2005.

53
Liberalismo autoritário?

Ana Paula Manrique Amaral


Mestranda
anapaulamanrique@usp.br

Justificativa do tema
O movimento denominado constitucionalismo que sucedeu as experiências
autoritárias da Segunda Guerra Mundial ensejou a adoção das regras da
ordem internacional liberal como "opção de governança padrão no fim da
história" e, por isso, esta pesquisa busca analisar as tensões existentes entre
a dimensão econômica do modelo liberal e o constitucionalismo e a
democracia. Até então, a tensão entre os dois últimos conceitos foi bastante
discutida na literatura de estudos constitucionais, ao passo que as dimensões
econômicas e seus impactos ainda são pouco analisadas.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa tem como objeto as tensões existentes entre o modelo
liberal/neoliberal, o constitucionalismo e a democracia. Procura-se explorar,
sob a ótica foucaultiana de expansão do modelo econômico para além de seu
mero espectro, as dimensões político-constitucionais do modelo de mercado
vigente na ordem internacional e, nesse sentido, a possibilidade de constatar
que liberalismo e autoritarismo não são necessariamente conceitos que se
encontram sempre em polos opostos.

Problema e/ou hipótese


Têm-se como hipótese a ideia de que a disposição do modelo liberal para
integrar regimes autoritários é uma possibilidade bastante plausível e não
apenas em razão das distorções de conceitos europeus promovidas em solo
brasileiro, mas porque figuras vinculadas a este pensamento político em
muitos momentos da história estiveram dispostas a barganhar de forma
diferente do que se imaginava com o Estado.

54
Metodologia de pesquisa
A pesquisa possui caráter qualitativo e exploratório e busca, por meio da
revisão de literatura da teoria constitucional, de algumas teorias da
democracia e de autores chave para o liberalismo econômico que ascendeu
após encontros da Sociedade de Mont Pèlerin, analisar as tensões existentes
entre os propósitos a que se atém cada um destes movimentos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Por ora, foi possível constatar a existência da tensão entre os conceitos
propostos e adentrar com maior profundidade na literatura clássica acerca
das dimensões econômicas. Notou-se que a associação entre experiências
autoritárias e o modelo neoliberal são menos raras do que a literatura em
geral parece presumir.

Principais referências bibliográficas


BELLAMY, R. ‘Dethroning Politics’: Liberalism, Constitutionalism and Democracy in the
Thought of F. A. Hayek. British Journal of Political Science, Cambridge, v. 24, n. 4, p. 419–
441, 1994. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S0007123400006943
CHAMAYOU, G. A sociedade ingovernável: Uma genealogia do liberalismo autoritário.
Tradução: Letícia Mei. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
FOUCAULT, M. Nascimento da Biopolítica. Tradução: Pedro Elói Duarte. Lisboa: Edições
70, 2021.
HELLER, H. Authoritarian Liberalism?: European Law Journal, [s. l.], v. 21, n. 3, p. 295–
301, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1111/eulj.12125
WILKINSON, M. A. Authoritarian Liberalism: The Conjuncture Behind the Crisis. Londres,
v. 5, p. 1–22, 2018.

55
Função fiscal e efeitos distributivos:
o princípio da distribuição de rendas

Aristóteles de Queiroz Camara


Doutorando
aristoteles@serur.com.br

Justificativa do tema
A compreensão da justiça fiscal a partir de critérios de repartição dos
encargos da norma tributária permite estudar o objetivo constitucional da
redução das desigualdades não apenas em bases gerais, como as que cuidam
da política fiscal e da matriz tributária resultante, mas de acordo com uma
lógica própria do direito tributário: através da estruturação de critérios que
justifiquem o tratamento de contribuintes com base em direitos
fundamentais.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo central da pesquisa é estruturar o princípio constitucional da
distribuição de rendas (art. 3º, III, da CF) como fundamento de critérios de
repartição dos encargos (progressividade, seletividade e essencialidade) em
atuação na função fiscal da norma tributária.

Problema e/ou hipótese


A tese tem como hipótese postular que a função fiscal da norma tributária
pode contemplar outros critérios de distribuição da carga fiscal distintos da
capacidade contributiva, como progressividade, seletividade e
essencialidade, em decorrência do princípio constitucional da distribuição de
rendas (art. 3º, III, da CF), que justificam a repartição dos encargos entre os
contribuintes.

Metodologia de pesquisa
Método dedutivo a partir de material bibliográfico e documental.

56
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
É possível afirmar que a doutrina nacional avançou para reconhecer que o
art. 3º, III, da CF pode fundamentar critérios de repartição de encargos na
função extrafiscal da norma tributária. A progressividade, seletividade e
essencialidade, assim, seriam critérios que oponíveis ao princípio da
igualdade. A tese conclui que esses critérios são estruturáveis na função fiscal
da norma tributária e atuam ao lado - e não em relação de oposição - ao
princípio da igualdade e à capacidade contributiva.

Principais referências bibliográficas


ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. António de Castro Caeiro. São Paulo:
Atlas, 2009.
ÁVILA, Humberto. Teoria da igualdade tributária. 2ª ed. São Paulo: Malheiros,
2009.
TORRES, Heleno Taveira. Direito Constitucional Tributário e Segurança
Jurídica. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e
Tributário, vol. II. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2012.

57
O (não) tratamento da orientação política
(indirizzo politico) no ordenamento
constitucional brasileiro

Bruno José Queiroz Ceretta


Doutorando
brunoceretta@terra.com.br

Justificativa do tema
O tema demonstra-se atual à luz dos desafios institucionais contemporâneos,
especificamente na órbita das relações entre os Poderes que titularizam as
funções públicas. Constata-se a necessidade de aprimoramento das conexões
estatais. Em particular, o campo governamental se apresenta
insuficientemente desenvolvido no âmbito jurídico-dogmático. Conceitos
presentes e consolidados em realidades políticas externas não estão
assimilados. É o caso da chamada orientação política (indirizzo politico),
constante, hoje, em algumas das democracias consolidadas.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Objetiva-se contribuir à maturação das compreensões dogmático-
constitucionais. Especificamente, almeja-se fortalecer o debate em torno do
conceito de orientação política (indirizzo politico), apresentado, hoje,
sumariamente em muitas das discussões constitucionais.

Problema e/ou hipótese


Tem-se como hipótese que a atual omissão de tratamento da orientação
política (indirizzo politico) enseja problemas multilaterais, posto que
constitui o corolário da função governamental contemporânea, cujas
estruturas são largamente distintas da primitiva função executiva.

Metodologia de pesquisa
Enquanto setor especializado da Ciência Jurídica, o Direito Constitucional
reivindica um tratamento metodologicamente específico. Sua jovialidade
relativa, comparativamente com outros campos, e particular abertura à

58
Ciência Política e à Filosofia Política, pois confinante e dependente
diretamente de ambas, não justificam o desconhecimento ou implicam na
renúncia das singularidades técnicas existentes. O conjunto destes
elementos compõe um sistema coeso de definições. O rigor prossegue como
postulado científico basilar.
Orientado pelos pressupostos, o recurso ao método positivo rege e perpassa
a fenomenologia. O Texto Constitucional, objeto matriz de trabalho, consiste
em norma ordenadora do aparato estatal, da sociedade e regente das
relações públicas e privadas.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Tem-se como conclusão provisória central a necessidade de tratamento
expresso da orientação política (indirizzo politico), uma vez que o conceito
está presente substancialmente na dinâmica interventiva e regulatória da
Constituição de 1988. Equivocadamente, porém, resta omisso sob o aspecto
formal. Como consequência, a perspectiva institucional adjacente resta
largamente prejudicada.

Principais referências bibliográficas


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Federal. Rio de Janeiro: Capital Federal Companhia Impressora, 1893.
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Tomo. II. Torino: Unione Tripografico-Editrice Torinese, 1900.
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ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria Geral do Estado. 2. Ed. Tradução de António Cabral de
Moncada. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.

61
O novo padrão normativo do câmbio

Gustavo Jorge Silva


Doutorando
sguga11@gmail.com

Justificativa do tema
O trabalho se justifica pela intenção de descrever os instrumentos jurídicos
vigentes relacionados ao câmbio como mediadores da relação entre Estado e
particulares, enquadrando-os em um referencial temporal e sistêmico mais
amplo e identificando também sua coerência com as características das
estruturas domésticas de produção, circulação e apropriação do excedente.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A Tese versa sobre o quadro jurídico composto pelas normas que
instrumentalizam o exercício da Política Cambial por parte da autoridade
monetária brasileira, disciplinam a aplicação de capital estrangeiro no país e
as remessas de capital. Trata do desenvolvimento das normas cambiais no
Brasil, chamando a atenção para a adaptação, a partir de 1990, do regime
jurídico do câmbio à expansão financeira do capitalismo no século XX.

Problema e/ou hipótese


A hipótese do trabalho é de que existe uma coerência entre os regimes
jurídicos que subordinam os diferentes aspectos da Política Econômica, que
compreende as políticas fiscal, monetária e cambial. O trabalho se propõe à
compreensão da forma como o padrão normativo vigente do câmbio foi
construído nas últimas décadas e se insere em um determinado contexto, não
sendo um mero conjunto de excentricidades formais que desafia a
criatividade dos operadores do mercado.

Metodologia de pesquisa
O trabalho tem abordagem qualitativa, de caráter descritivo dos fenômenos
e dos fatos ligados a seus objetivos. Do ponto de vista de seus procedimentos,
são utilizadas como técnicas a análise bibliográfica e documental de
literatura dedicada à política cambial no Brasil e no exterior, especialmente

62
em seus aspectos normativos e de conformação histórica, juntamente à busca
e análise da legislação e dos atos administrativos relevantes sobre o tema.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Há, desde a década de 1990, a construção de um padrão normativo concebido
para a Política Cambial que aponta uma tendência de predominância de
considerações de caráter financeiro. O Banco Central do Brasil se tornou o
espaço de conformação dessa ordem, que se estruturou dentro de limites que
observam o padrão regulatório sistêmico e fornece suporte institucional a
atores com maior poder de mercado no mercado de câmbio.

Principais referências bibliográficas


COHEN, Benjamin. A geografia do dinheiro. São Paulo: UNESP. 2014.

DE CHIARA, José Tadeu. Moeda e ordem jurídica. Tese de Doutorado.


Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo. São Paulo. 1986.

PRATES, Daniela Magalhães. O regime de câmbio flutuante no Brasil - 1999 -


2012: especificidades e dilemas. Brasília: IPEA. 2015.

ROSSI, Pedro. Taxa de câmbio e Política Cambial no Brasil: Teoria,


institucionalidade, papel da arbitragem e especulação. Rio de Janeiro: FGV.
2016.

VENTURA, André; GARCIA, Márcio Gomes Pinto. Mercados Futuro e À Vista


de Câmbio no Brasil: O Rabo Abana o Cachorro. Revista Brasileira de
Economia, Rio de Janeiro, v. 66, n. 1, 2012. p. 21-48.

63
Separação de poderes em partidos:
condicionantes do controle parlamentar no
presidencialismo de coalizão

Maysa Cortez Cortez


Doutoranda
maysacortezc@gmail.com

Justificativa do tema
Na relação Executivo-Legislativo, as alianças partidárias formadas pelo(a)
Presidente(a) para obter governabilidade aproximam os interesses dos
atores de ambos os poderes, que também têm, por posição constitucional, o
dever de mútuo contrapeso. O senso comum sugere que, se a governabilidade
funciona, o controle parlamentar tende a ser fraco ou inexistente. Resta saber
se é esse mesmo o comportamento institucional observado.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Compreender como e em que medida as coalizões formadas pelo Governo
interferem no controle exercido pelo Legislativo. Como o Congresso tem
utilizado os mecanismos previstos na Constituição para esse fim? Quando
convém controlar? Para isso, é preciso estudar o que é a função de controle
parlamentar e qual a sua extensão, que atores suscitam atos de controle, em
que circunstâncias o fazem e quais os entraves e incentivos o desenho
institucional do Legislativo oferece ao desempenho da atividade.

Problema e/ou hipótese


A hipótese principal é de que a alternância de poder no comando das casas
legislativas (mesas diretoras, lideranças partidárias e presidências de
comissões) com mudança de posição dos líderes em relação ao governo tem
impacto na iniciativa, no prosseguimento e no direcionamento dos atos de
controle. Isso não significa que o exercício do controle seja tímido, mas sim
uma supervisão latente, cuja dinâmica obedece a uma lógica complexa e
multifacetada raramente estudada no direito constitucional.

64
Metodologia de pesquisa
Pretendo revisar a literatura da ciência política que apresenta fatores que
aumentam ou diminuem a incidência de controle em uma perspectiva
descritiva. Faz sentido, ainda, comparar das agendas de controle executadas
em cada biênio das Presidências da Câmara e do Senado e das lideranças
decorrentes, em um ou dois governos, a fim de perceber as interferências
derivadas do apoio, da oposição ou da abstenção dos titulares em relação ao
Executivo.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O controle parlamentar é explicado a partir da interação de elementos
individuais, conjunturais, institucionais e partidários. Alguns atos são
rotineiros, de iniciativa própria dos parlamentares e têm maior custo
político, outros incidem sobre problemas previamente sinalizados e ocorrem
com menor custo político. Os meios de controle também podem ser usados a
fim de alinhar de preferências entre os próprios partidos da coalizão,
suprindo a assimetria de informações existente entre os poderes.

Principais referências bibliográficas


ABERBACH, Joel. Keeping a Watchful Eye: The Politics of Legislative. Oversight, 1990
FIGUEIREDO, Argelina; LIMONGI, Fernando. Executivo e Legislativo na nova ordem
constitucional. 2001
LEMOS, Leany. Controle legislativo em democracias presidencialistas: Brasil e EUA em
perspectiva comparada. 2005
MCCUBBINS, Mathew; SCHWARTZ Thomas. Congressional Oversight Overlooked: Police
Patrols versus Fire Alarms. 1984.
OGUL, Moris. Congress Oversees the Bureaucracy: Studies in Legislative Supervision.
1976.

65
O regime jurídico dos ativos garantidores
dos resseguradores

Pedro Henrique Ricco Verzemiassi


Mestrando
phricco@usp.br

Justificativa do tema
É raro trabalhos que abordem o resseguro como instrumento de poder que é
e as formas de discipliná-lo juridicamente. A maioria dos trabalhos trata do
assunto sob a perspectiva da internacionalização da atividade e aversão à
presença do Estado. A necessidade de pesquisar o tema é premente, caso
contrário o custo pelo conhecimento incompleto poderá ser uma atuação do
Estado em relação à economia do resseguro desalinhada com a ordem
econômica constitucional.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objeto da pesquisa é a análise da atuação do Estado em relação à economia
do resseguro, especificamente com relação à disciplina jurídica dos ativos
garantidores das companhias resseguradoras. O objetivo da dissertação é
investigar em que medida a disciplina jurídica de tal patrimônio pode
viabilizar o desenvolvimento econômico do Brasil.

Problema e/ou hipótese


A hipótese é que a quebra do monopólio estatal da atividade ressecuritária,
fruto da corrente neoliberalizante da década de 90, e a consequente dinâmica
da formação das estruturas jurídicas para a regulação dessa economia,
replicou a relação centro-periferia inerente ao desenvolvimento brasileiro,
desarticulando, desde então, a estrutura jurídica para a economia do
resseguro pensada na década de 30, com viés claramente
desenvolvimentista.

66
Metodologia de pesquisa
Embora não se proponha uma aderência ortodoxa a apenas um método, a
pesquisa se pautará principalmente pelo método histórico, a fim de respeitar
sempre a observação da realidade (ao invés de pressupostos gerais sobre o
comportamento humano) para então inferir a teoria.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A disciplina jurídica dos ativos garantidores está desalinhada com a ordem
econômica constitucional.

Principais referências bibliográficas


ALVIM, Pedro. Política brasileiras de seguros. São Paulo: Manuais Técnicos
de Seguros. 1980.
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e constituição dirigente. In:
Constituição e democracia: estudos em homenagem ao professor J. J. Gomes
Canotilho. São Paulo: Editora Malheiros, 2006.
COMPARATO, Fábio Konder. O seguro de crédito. São Paulo: São Paulo:
Editora Revistas dos Tribunais, 1968.
NOHARA, I. P.; OCTAVIANI, A. S. Estatais: estatais no mundo; histórico no
Brasil; regime jurídico; licitações; governança; casos:
BNDES, Caixa, Petrobras, Embrapa e Sabesp; setores estratégicos para o
desenvolvimento; funções do Estado capitalista contemporâneo. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019.
PIZA, Paulo. Contrato de resseguro – tipologia, formação e direito
internacional. São Paulo: IBDS-EMTS, 2002.

67
O impacto da reciprocidade entre Brasil e
Portugal no tratamento dos trabalhadores
imigrantes quanto ao direito fundamental ao
trabalho

Daniela Wernecke Padovani


Pós doutoranda
daniela@werneckepadovani.com.br

Justificativa do tema
A emergência e atualidade da questão migratória internacional, dada a
crescente e irreversível circulação de pessoas pelo globo e dadas as
condições laborais e de sobrevivência precárias a que estão submetidos
tantos imigrantes em vulnerabilidade, e, considerando, em particular, o
exponencial crescimento da taxa de imigração brasileira para o território
português na última década, sem que seja reconhecido o direito ao trabalho
a esses imigrantes, justificam a pesquisa.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Trata de reflexão sobre a relação Brasil/Portugal, quanto ao tratamento dado
aos trabalhadores imigrantes em seus respectivos territórios, a partir do
Tratado de Amizade, em que se reconhece a reciprocidade de direitos.
Analisa-se a adequação desse acordo aos instrumentos internacionais de
proteção dos direitos humanos, a partir dos limites da soberania nacional e
a universalidade dos direitos humanos para, ao final, avaliar estratégias e
formular políticas públicas que beneficiem a imigração.

Problema e/ou hipótese


Considerando a tradição histórica de soberania nacional e a inclusão do
direito ao trabalho como algo pertencente à discricionariedade soberana dos
Estados e não como um direito humano universal, persiste a tendência a
excluir esse direito do Tratado de Amizade, deixando-o para o âmbito da
política pública migratória de cada Estado. Isso abre um hiato de

70
desigualdades entre os tratamentos dispensados aos imigrantes e torna
frágil o dever de reciprocidade assumido entre Brasil e Portugal.

Metodologia de pesquisa
A pesquisa é de natureza teórica e a reflexão é subsidiada por dados
empíricos secundários, colhidos de bibliografias jurídicas, sociológicas,
demográficas e filosóficas, além das normativas portuguesa, brasileira e
internacional e dados obtidos em institutos de pesquisa e órgãos oficiais. A
análise é baseada na hermenêutica crítica, em que se propõe discutir o
Direito de forma reflexiva, tendo em vista a formação social e a possibilidade
de outras formas jurídicas diversas das já existentes.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O desafio conta com a superação de obstáculos que poderão ser vencidos
pela incorporação das normas de jus cogens do Direito Internacional como
uma necessária vinculação do Estado, e não mera sugestão de boas práticas
migratórias. A internacionalização das normas de direitos humanos
repercute no reconhecimento e efetividade desses direitos por meio da
execução de políticas públicas consonantes com os compromissos
internacionais assumidos, reverberando no Tratado de Amizade de
Brasil/Portugal.

Principais referências bibliográficas


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sameness and difference. Identities: Global Studies in Culture and Power, 8(4), 2001, pp.
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imigrantes brasileiros em Portugal. In: Jorge Malheiros (org.), Imigração brasileira em
Portugal. Lisboa: ACIDI, 2007.
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Massachusetts Institute of Technology, 1993, vol. 47, issue 3, pp. 411-441.

71
Resolução on-line de conflitos individuais
trabalhistas

Mariana dos Anjos R. Carvalho e Silva


Doutoranda
mariana.ramos@usp.br

Justificativa do tema
As inovações tecnológicas vinculadas à resolução de conflitos estão cada vez
mais presentes em cada relação presente na sociedade moderna. Essa
presença dos meios remotos e tecnológicos foi inclusive apressada por conta
da chegada da pandemia do Covid-19 em cenário mundial no ano de 2020.
Nesse cenário, não apenas as relações de trabalho em si passaram a ser mais
virtualizadas, como se permitiu a expansão de meios para a resolução on-line
de conflitos individuais trabalhistas.
Nesse cenário, surge o questionamento se a doutrina que aborda a ODR,
originariamente aplicável para mediação e conciliação digital, pode ser
harmonizada e expandida para as novas previsões decorrentes do Juízo
100% Digital e demais mecanismos de procedimentos processuais via TICs
resultando em um enquadramento como On-line Court.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O tema versa sobre os conflitos individuais trabalhistas e suas formas de
resolução, especialmente a integração com tecnologias de informação e
comunicação (TICs). Os objetivos estão em avaliar se é possível a
harmonização entre o Poder Judiciário, os meios alternativos de resolução de
conflitos e a “ODR” em sua forma pública (tribunais digitais) ou privada (via
aplicativos ou softwares de empresas), bem como quais os limites dessas
interações baseados na análise jurídica e nas questões econômicas, sociais,
psicológicas e culturais.

Problema e/ou hipótese


A partir do tema proposto e considerações iniciais, as principais perguntas a
serem investigadas são as seguintes:

72
1. A forma tradicional de resolução de conflitos trabalhistas via Poder
Judiciário pode ser conceituada como “ODR” diante do Processo Judicial
Eletrônico (PJE) e “Juízo 100% Digital” em 2021?

2. Quais os limites das interações tecnológicas para a resolução de conflitos


de matéria trabalhista baseados na análise jurídica e nas questões
econômicas, sociais, psicológicas e culturais desse tipo de conflito?

Metodologia de pesquisa
Para desenvolvimento do tema proposto, será realizada, inicialmente, uma
pesquisa bibliográfica sobre: (i) Meios de resolução de conflitos, (ii) “ODR” e
tribunal digital, e (iii) conflito individual trabalhista.
A obtenção de resposta às perguntas propostas dependerá, ainda, da
realização de estudo empírico que se dividirá em duas etapas:
1ª etapa: Utilização de dados da pesquisa empírica estatística no “PJE” da
Justiça Trabalhista a partir do relatório Justiça em Números do CNJ;
2ª etapa: Pesquisa de diagnóstico qualitativa por meio de entrevistas
estruturadas e semiestruturadas com atores envolvidos sobre os limites da
ferramenta de “ODR” e “tribunal digital” nos meios de resolução de conflitos
individuais trabalhistas, indagando sobre critérios para triagem, portas de
entrada e saída, bem como percepções quanto à aspectos econômicos,
jurídicos, sociais, psicológicos e culturais; conforme roteiro trazido abaixo
em formato tabular.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
As conclusões ainda são parciais e definem apenas o marco conceitual. Diante
do quanto visto, há uma evolução do conceito de ODR que amplia sua
abrangência também para disputas resolvidas em meios adjudicatórios,
razão pela qual há um tópico separado para a abordagem da ODR, sendo o
conceito de ODR ampliativo do ponto de vista material, eis que extravasa o
escopo de matérias consumeristas ou conflitos iniciados na internet tal como
inicialmente proposto, bem como sendo o conceito de ODR abrangente em
seus mecanismos porque pode incluir os meios de resolução de conflitos
consensuais, adjudicatórios e mistos.
Atualmente é possível dizer que os tribunais on-line ou digitais, ou seja,
processos judiciais que correm em forma de serviço on-line e não de um local
– espaço físico são ODR. Essa integração ao Poder Judiciário pode se dar de
forma total ou parcial, a depender do interesse de cada tribunal.

73
Existe uma diversidade de mecanismos de ODR de forma que não há como se
distanciar da integração do tema aos processos judiciais, seja pela ampla
litigância brasileira no Judiciário Trabalhista, seja pela dinâmica da ODR
estar presente no Poder Judiciário Trabalhista de forma intensa, por meio do
Processo Eletrônico Judicial, pelas já implementadas audiências virtuais e
também com a implementação do Juízo 100% Digital.

Principais referências bibliográficas


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conflictos. Su comprensión para la eficiencia de las ODR y para su proyección en
Latinoamérica. In: Revista Brasileira de Al. Dispute Resolution. (RBADR), Belo Horizonte,
ano 02, n. 03, p. 51-70, jan-jun. 2020
FREITAS JÚNIOR, Antonio Rodrigues de. Mediação em conflitos individuais de trabalho.
Revista do Advogado, São Paulo: AASP, Ano XXXIII, n. 121, nov. 2013.
GIGLIO, Wagner D. A conciliação nos dissídios individuais do trabalho. Porto Alegre:
Síntese, 1997, 124 p.
KATSH, Ethan. "Bringing On-line Dispute Resolution to Virtual Worlds: Creating Processes
through Code." New York Law School Law Review, vol. 49, no. 1, 2004-2005, p. 271-292.
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KAUFMANN-KOHLER, G., Schultz, T., ‘On-line Dispute Resolution: Challenges for
Contemporary Justice’, Kluwer Law International, 2004.
RABINOVICH-EINY, Orna, and Ethan Katsh. "A New Relationship between Public and
Private Dispute Resolution: Lessons from On-line Dispute Resolution." Ohio State Journal
on Dispute Resolution, vol. 32, no. 4, 2017, p. 695-724. HeinOn-line.

74
Forma jurídica e terceirização no direito do
trabalho brasileiro

Thamíris Evaristo Molitor


Doutoranda
thamiris.evaristo@gmail.com

Justificativa do tema
Considerando a relativa recente edição de norma no direito brasileiro que
permitiu a terceirização no âmbito das relações de trabalho de forma
irrestrita, assim como a decisão da ADPF nº 324-DF que julgou constitucional
a terceirização inclusive antes da reforma trabalhista, além do contexto
mundial de capitalismo flexível em que as cadeias de valor subcontratam
serviços com cada vez maior generalização, justifica-se a investigação do
fenômeno por meio do método materialista histórico dialético.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objeto da pesquisa é a terceirização por meio da chave de leitura marxista.
Inicialmente se fará uma investigação sobre o tema por meio de sua inserção
na produção de valor, utilizando-se dos conceitos de modo de produção,
capitalismo flexível etc., para, após, investigar especificamente a forma
jurídica brasileira e como essa contratação se insere em nosso capitalismo
periférico.

Problema e/ou hipótese


A hipótese levantada pela tese é a de que a terceirização no direito do
trabalho brasileiro se insere em um modelo maior do modo de produção
capitalista que se torna mais “flexível” após a crise da década de 1970, com o
surgimento do Toyotismo (que, de alguma forma, “renova” o modelo
fordista-taylorista de administração do trabalho e acumulação do capital).

Metodologia de pesquisa
O método de pesquisa a ser utilizado será o materialista histórico-dialético,
isto é, utilizar-se-á o método proposto por Karl Marx de análise da realidade

75
social. Assim, os principais materiais a serem analisados são as normas
brasileiras sobre o tema, a decisão na ADPF nº 324-DF, e a revisão
bibliográfica de obras sobre o capitalismo flexível produzida principalmente
por teóricos da economia e ciências sociais.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Os resultados preliminares apontam que a forma jurídica brasileira adotou a
posição de “legalização” da terceirização em virtude da inserção do Brasil no
capitalismo flexível como país da periferia que assumiu, em alguma medida,
o papel de fornecimento de força de trabalho barata e muito flexível.

Principais referências bibliográficas


MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013.
PACHUKANIS, Evgeni. A Teoria Geral do Direito e o Marxismo e Ensaios Escolhidos (1921-
1929). São Paulo: Sundermann, 2017.
PAULANI, Leda Maria. A crise do regime de acumulação com dominância da valorização
financeira e a situação do Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 23, n. 66, p. 25-39, 2009.
ORIONE, Marcus. Às margens do Sena: por uma teoria da história da classe trabalhadora.
In MARTINS, Carla Benitez; BATISTA, Flávio Roberto; SEFERIAN, Gustavo (orgs). Comuna
de Paris, Estado e Direito. Belo Horizonte: RTM, pp. 115-134, 2021.
TRISTÃO, Ellen. A terceirização e a acumulação de capital. In: Anais do Colóquio
Internacional Marx e o Marxismo 2017 - de O capital à Revolução de Outubro (1867 –
1917), Niterói, 2017. Disponível em:
<https://www.niepmarx.blog.br/MManteriores/MM2017/anais2017/MC31/mc313.pdf
>. Acesso em 22 nov. 2021.

76
Crise do valor, superexploração do trabalho
e a fragilização da forma jurídica

Ticiane Lorena Natale


Doutoranda
ticianenatale@gmail.com

Justificativa do tema
Se o direito é a forma jurídica do capital (expressão do valor), entende-se que,
decerto, a atual crise capitalista deva ter impactos estruturais sobre o direito
e, especialmente, sobre os sujeitos de direito. Tal questão merece uma
pesquisa aprofundada não só para melhor caracterização da realidade, mas
para apontar tendências e, mais ainda, possibilidades de intervenção política
nesse contexto.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
i) compreender os impactos da crise do capitalismo sobre o direito, sobre os
sujeitos de direito e sobre a mercadoria força de trabalho; ii) descobrir
fissuras no direito que possibilitem a subversão da própria forma jurídica.

Problema e/ou hipótese


Minha hipótese é de que há uma crise do valor no atual estágio do capitalismo
(financeirização exacerbada e superexploração do trabalho disseminada por
todo o globo) que, consequentemente, se reflete na sua forma social
predominante de regulação social, a forma jurídica.
De fato, os preços praticados no mercado não correspondem ao valor, em
geral, esganando a esfera produtiva do capitalismo com setores parasitários,
pautados basicamente no rentismo da propriedade privada, que têm
crescido de maneira vertiginosa; a superexploração do trabalho ainda
aprofunda esse problema ao vender a mercadoria força de trabalho abaixo
do seu valor (dificultando e/ou inviabilizando a reprodução da classe
trabalhadora e a realização do valor na circulação). No entanto, a reprodução
ampliada do capital ainda está se dá pela extração do mais-valor,
dependendo do trabalho humano abstrato e, consequentemente, da forma

77
jurídica (que estabelece que todos os seres humanos são iguais de modo que
seus trabalhos se equalizem).
Nesse embate, a financeirização da economia pressiona pela dissolução do
Direito do Trabalho (direito da mercadoria força de trabalho) com vistas ao
Direito Civil (direito da propriedade privada), mas, na prática, encontra o
contrário da forma jurídica: a negação do sujeito de direito e o
transbordamento da condição do ser humano da esfera produtiva – objeto de
direito – não só para a esfera da circulação, mas em todos os contextos da
existência da classe trabalhadora.
Isso se expressa pela dificuldade do Direito em regular as relações sociais de
forma predominante, entrando em cena a política e a religião (formas não
equivalentes); e direitos democráticos que são atacados tanto na periferia do
capitalismo como em seu centro.

Metodologia de pesquisa
O método utilizado nesta pesquisa é o do materialismo histórico-dialético; o
referencial teórico adotado é o marxista (tanto para o estudo da economia
como o estudo do direito), utilizando-me, inclusive, da Teoria Marxista da
Dependência.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Tal pesquisa ainda é muito incipiente. Por ora, o que sei é que exploração do
trabalho subverte o sujeito de direito-trabalhador (guardião da mercadoria
força de trabalho) ao consumi-lo enquanto objeto de direito e que o
aprofundamento desse processo, pela superexploração do trabalho, desafia
a ideologia jurídica (pautada no tripé liberdade, igualdade e propriedade); o
capitalismo financeirizado aumenta vertiginosamente o antivalor e,
consequentemente, o antidireito, destruindo as "conquistas civilizatórias" do
capitalismo.

Principais referências bibliográficas


BATISTA, Flávio Roberto. Crítica da tecnologia dos direitos sociais. São Paulo: Outras
Expressões, Dobra Editorial, 2013.
BRAGA, Ruy. A Política do precariado – do populismo à hegemonia lulista. São Paulo:
Boitempo, 2012.
BURAWOY, Michael. Marxismo sociológico. São Paulo: Alameda, 2014.
EDELMAN, Bernard. A legalização da classe operária. São Paulo: Boitempo, 2016.
EDELMAN, Bernard. O direito captado pela fotografia – elementos para uma teoria
marxista do direito. Coimbra: Centelha, 1976.

78
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Books, 1979.
GONZALEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos Alfredo. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco
Zero, 1982.
KLEIN, Naomi. A Doutrina do Choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
LÊNIN, Vladimir Ilich. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1982.
LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação de capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985
LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou revolução? São Paulo: Expressão Popular,
1999.
MARINI, Ruy Mauro. Dialética da dependência. Tradução de Marcelo Dias Carcanholo. In:
STÉDILE, João Pedro; TRASPADINI, Roberta (Orgs.). Ruy Mauro Marini: vida e obra. São
Paulo: Expressão Popular, 2005.
MARTINS, Carlos Eduardo; SOTELO VALENCIA, Adrián (Orgs.). A América Latina e os
desafios da globalização: ensaios dedicados a Ruy Mauro Marini. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2009.
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular,
2008.
MARX, Karl. Grundrisse: Manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da
economia política. São Paulo: Boitempo, 2011.25
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013, 3 v.
MBEMBE, Achile. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte.
São Paulo: n-1 edições, 2018.
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2009.
NAVES, Márcio Bilharinho. A questão do direito em Marx. São Paulo: Outras Expressões;
Dobra Universitário, 2014.
PACHUKANIS, Evgeni. A teoria geral do direito e o marxismo e ensaios escolhidos (1921-
1929). São Paulo: Sundermann, 2017.
PETIT, Mercedes; CARRASCO, Carmen. Mulheres trabalhadoras e marxismo – um debate
sobre opressão. São Paulo: Sundermann, 2012.
POSTONE, Moishe. Tempo, trabalho e dominação social. Uma reinterpretação da teoria
crítica de Marx. São Paulo: Boitempo, 2014.
SILVA, Julia Lenzi. Para uma crítica além da universalidade: forma jurídica e previdência
social no Brasil. 2019. Tese (Doutorado em Direito do Trabalho) - Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. doi:10.11606/T.2.2019.tde-28082020-
030856. Acesso em: 30 out. 2020.
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MOREIRA, Ranúlio Mendes; SEVERO, Valdete Souto. Dumping
social nas relações de trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2014.
STANDING, Guy. O precariado: a nova classe perigosa. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2014.

79
TROTSKY, Leon. A revolução permanente. Disponível em:
http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1929/11/rev-perman.htm. Acesso em:
25/07/2016.
TROTSKY, Leon. A revolução traída. São Paulo: Instituto José Luís e Rosa Sundermann,
2005.
TROTSKY, Leon. O programa de transição para a revolução socialista. São Paulo: Instituto
José Luís e Rosa Sundermann, 2008.

80
Interseccionalidade nas políticas
de educação em sexualidade:
os silêncios da BNCC pela voz
dos educandos

Antônio Rodrigues Neto


Doutorando
antoniorneto@usp.br

Justificativa do tema
Pensar educação em sexualidade em um contexto social e político anti-
gênero e anti-sexualidade, tal como vivenciamos no Brasil a partir dos anos
2010, trouxe a necessidade de que o currículo escolar também se tornasse
tema de interesse jurídico. Teses sobre o direito de crianças e adolescentes
direito à educação democrática e à educação emancipadora têm se
consolidado a partir do STF (RAMOS, 2020). Experiências internacionais,
especialmente as da Latinoamérica, ampliam os horizontes de debate.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Descobrir, com base em entrevista com estudantes concluintes da educação
básica, como a abordagem da sexualidade sugerida pela BNCC poderia ser
formulada a partir de perspectivas marginalizadas no processo de
formulação das políticas educacionais, contemplando-se narrativas
vulnerabilizadas interseccionalmente.

Problema e/ou hipótese


Problema: De que forma a BNCC pode ser modificada para incluir o
ensino/aprendizagem interseccional da sexualidade, a partir das falas
silenciadas dos entrevistados?

Hipótese: A BNCC pode ser modificada para incluir o ensino/aprendizagem


interseccional da sexualidade com a alteração das Competências Gerais da
Educação Básica (especificamente no item 9), bem como nas Competências

82
Específicas das disciplinas, em que há referência a gênero e sexualidade para
incluir raça, classe, entre outros.

Metodologia de pesquisa
A proposta estrutura-se a partir da análise teórica da Interseccionalidade
como mecanismo para elaboração de políticas de Educação em Sexualidade
e da realização de pesquisa empírica voltada à aplicação de pesquisa de
opinião para aferir o grau de concordância ou discordância dos entrevistados
com afirmações que reconhecem a importância da abordagem interseccional
da sexualidade nos currículos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Pensar políticas de educação em sexualidade apenas a partir do viés do
gênero, sem incluir na discussão outros marcadores, significa observar a
realidade da sociedade colonial brasileira (colonizada, dessa forma pós-
colonial) de forma parcial e distorcida. Percebendo tal problemática na
abordagem universalista da sexualidade, que comumente privilegia o centro
em detrimento da margem, propõe-se trazer à discussão das políticas para
educação em sexualidade um viés interseccional e crítico.

Principais referências bibliográficas


COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2020.
COLLINS, Patricia Hill. Intersectionality as Critical Social Theory. Duke University Press,
2019.
HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. 2 Ed. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 7. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
UNESCO. Orientações Técnicas Internacionais de Educação em Sexualidade. Paris, 2019.

83
As Faculdades de Direito e a Escravidão no
Brasil (1827-1888): direito natural e
economia política na fundamentação teórica
do “elemento servil”

Ariel Engel Pesso


Doutoranda
ariel.epesso@gmail.com

Justificativa do tema
No século XIX, existiram no Brasil duas Faculdades de Direito, em São Paulo
e Olinda/Recife. À época, a economia brasileira estava baseada na mão-de-
obra escrava de origem africana e, assim, cabia ao Direito o papel de regular
a escravidão. Os Cursos Jurídicos tinham um papel fundamental, pois era
neles que os futuros magistrados e políticos moldavam sua visão de mundo
e adquiriam o ferramental teórico para a legitimação do então chamado
“elemento servil”.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O principal objetivo do presente projeto de pesquisa é verificar qual o papel
que o ensino jurídico desempenhou na fundamentação teórica da escravidão
africana no Brasil do século XIX. Os objetivos secundários são analisar as
ideias disponíveis e mobilizadas pelos juristas brasileiros do Oitocentos e
mapear o conteúdo ensinado em sala de aula (nos compêndios e livros). Para
tanto, selecionei duas disciplinas: o direito natural e a economia política.

Problema e/ou hipótese


A relação entre Faculdades de Direito e a Escravidão é um tema ainda a ser
explorado. Com efeito, elas que forneciam a fundamentação teórica da
escravidão enquanto “instituto jurídico”. Minha hipótese inicial é a de que,
apesar de algumas inconsistências teóricas, o ensino praticado no âmbito das
Academias de Direito reforçou e justificou a escravidão.

84
Metodologia de pesquisa
Utilização de fontes históricas primárias e secundárias. O método de
pesquisa aplicado será a análise de obras doutrinárias efetivamente
utilizadas em sala de aula – principalmente manuais (de autores nacionais e
estrangeiros) e “compêndios” (livros que reuniam as preleções dos
professores), pois eram utilizados como meio de estudo pelos alunos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Chegamos à conclusão de que nas Faculdades de Direito não havia
fundamentação teórica da escravidão e o tratamento dispensado à
instituição era de condenação, tanto com argumentos de cunho filosófico-
moral (direito natural) quanto econômicos (economia política). Isto traz
duas implicações importantes: (i) acaba com a ideia de uma “ideologia
oficial” a ser transmitida nas e pelas Faculdades de Direito acerca da
escravidão e (ii) promove um novo olhar para a cultura jurídica oitocentista.

Principais referências bibliográficas


"ADORNO, Sérgio. Os Aprendizes do Poder: O Bacharelismo Liberal na Política Brasileira.
2 rev. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2019.
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de
sombras: a política imperial. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
GREMAUD, Amaury Patrick. Das controvérsias teóricas à política econômica: pensamento
econômico e economia Brasileira no segundo reinado e na primeira república. 1997. 265
f. Tese (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 14.08.1997.
PISCIOTTA, Renato Matsui. Sociedade, ideias e compêndios: direito natural no Largo de
São Francisco (1827-1889). 2017. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
doi:10.11606/T.8.2017.tde-31072017-125906. Acesso em: 30 mar. 2021.
VENANCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo: 150 anos de ensino jurídico no
Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2004."

85
A não discriminação como uma decorrência
do princípio da igualdade e sua inserção no
ordenamento jurídico atual

Cristiano Buoniconti Camargo


Doutorando
cristianobc@usp.br

Justificativa do tema
O presente artigo busca estudar como o princípio da igualdade está
diretamente relacionado com a ideia não discriminação, se inserindo na
Constituição Federal de 1988 e demais textos legais com centralidade.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A ideia de não discriminação é uma decorrência do próprio princípio da
igualdade. Historicamente, na modernidade, tivemos primeiramente a
afirmação legal da igualdade formal e posteriormente da igualdade material.
A partir da própria concepção de direitos humanos, segundo a qual todas as
pessoas são intrinsecamente merecedoras de direitos iguais, podemos
extrair a proibição da discriminação injusta. Esta consistente no tratamento
diferenciado com base em discrimen que não justificaria criação de distinção.
A igualdade material, por sua vez, exige a ação do poder público para
combater as desigualdades, que se expressam frequentemente baseadas em
discriminação.
A pesquisa tem por objeto o estudo da relação da ideia de não discriminação
com o princípio da igualdade e como se insere no ordenamento jurídico atual.

Problema e/ou hipótese


Buscamos verificar se podemos afirmar que a não discriminação constitui
um princípio jurídico em si mesmo ou meramente uma decorrência lógica do
princípio da igualdade.

86
Metodologia de pesquisa
Pesquisa bibliográfica, análise legislativa e jurisprudencial.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Como conclusões parciais podemos afirmar que juridicamente passamos a
dar maior importância ao princípio da igualdade e rechaçado todas as formas
de discriminação, ainda que a realidade fática ainda esteja distante do
aspirado legalmente.
Também podemos concluir que a discriminação surge como um produto
histórico-cultural, buscando criar um arcabouço para justificar tratamentos
desiguais. No entanto, diante do princípio universal dos direitos humanos, de
igualdade das pessoas não há como subsistir as desigualdades baseadas em
discriminação. As distinções feitas apenas podem se dar excepcionalmente
para a efetivação da igualdade material.

Principais referências bibliográficas


BITTAR, Eduardo CB. A justiça em Aristóteles. Grupo Almedina, 2021.

BRAGATO, FERNANDA FRIZZO; ADAMATTI, BIANKA. Igualdade, não discriminação e


direitos humanos. Revista de Informação Legislativa, 2014.

BONDO, Pitra António dos Santos. Princípio da não Discriminação. 2015. Tese de
Doutorado.

CHEHAB, Gustavo Carvalho. O princípio da não discriminação e o ônus da prova. Revista


TST, Brasília, vol. 76, no 3, jul/set 2010.

COMPARATO, Fábio Konder. Ensaio sobre o juízo de constitucionalidade de políticas


públicas. Revista dos Tribunais, v. 86, n. 737, 1997.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2003. p.
767

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. L&PM, 2015.

OKUMA, Alessandra de Souza et al. Princípio da não-discriminação internacional no


direito brasileiro. 2005.

RIOS, Roger Raupp. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações


afirmativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008.

SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. Editora Record, 2019.

87
Estado social e (des)igualdade de gênero:
perspectivas jurídico-institucionais

Gabriela Biazi Justino da Silva


Doutoranda
gabriela.justino.silva@usp.br

Justificativa do tema
São cada vez mais evidentes as demandas por justiça relacionadas à equidade
de gênero ou direitos das mulheres, o que se reflete também no volume de
trabalhos jurídicos que têm se dedicado ao tema. Menos abordada, talvez, é
a relação que se estabelece entre a igualdade de gênero e o Estado social.
Partindo desse pressuposto, o trabalho tem como objetivo organizar
reflexões iniciais sobre como o Estado social e a questão de gênero se
entrelaçam, de modo a contribuir para o desenvolvimento de uma agenda de
pesquisa sobre o assunto.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Organizar reflexões exploratórias sobre como o Estado social e a questão de
gênero se entrelaçam, tendo como enfoque a dimensão jurídico-institucional
brasileira.

Problema e/ou hipótese


O Estado social, assim como as relações de gênero, é uma construção
histórica. Por mais banal que esse tipo de afirmação tenha se tornado, parece
especialmente importante, especialmente em momentos de crise, relembrar
e explorar seu alcance e significado. Como se verá adiante, ela significa, ao
mesmo tempo, que o Estado social é fruto de determinados processos
históricos e, ao mesmo tempo, marcado por variações de especificidades de
acordo com contexto nacional, cultural e político. Se por um lado sua
(re)construção envolve conscientizar-se sobre essas bases e os aspectos
jurídico-institucionais que podem viabilizá-la, também é necessário
questionar como ele interage com novas demandas por direitos, exigindo
novos arranjos e coalizões que o sustentem.

88
Seria a igualdade de gênero uma dessas questões a serem consideradas? Não
pretendemos responder aqui essa complexa questão, mas ela é uma das
preocupações de fundo que atravessaram o desenvolvimento deste artigo.
Seu objetivo, no entanto, é menos pretensioso e pretende contribuir
especificamente para a pesquisa jurídica sobre o tema. A pergunta-chave que
guiou sua elaboração foi: tendo como enfoque a dimensão jurídico-
institucional, como o Estado social e a questão de gênero se entrelaçam no
Brasil?

Metodologia de pesquisa
Para investigar tal questão, foi realizada pesquisa bibliográfica sobre o
conceito de Estado social, sobre as relações entre Estado social e gênero e um
mapeamento e análise das principais formas jurídico-institucionais que, de
algum modo, refletem uma incorporação dessa relação no Estado brasileiro.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Considerando as questões expostas, é possível perceber avanços jurídico-
institucionais que entrelaçam perspectivas de gênero e o Estado social no
Brasil não ocorreram logo após a promulgação da Constituição de 1988.
Apesar de alguns avanços em termos de capacidades institucionais, há ainda
desafios e contradições a serem endereçadas, sendo que a teoria jurídica
pode contribuir na sistematização e diagnóstico mais profundo deste quadro
e na formulação de conceitos e estruturação de respostas capazes de
estabelecer sinergias entre políticas sociais e equidade de gênero e, assim,
ampliar sua base de legitimação.

Principais referências bibliográficas


BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cad. Pagu, Campinas, n. 26, p. 329-
376, June 2006. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
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BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres. – Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, 2004. 104 p.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Secretaria Especial de Políticas
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BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Políticas para as Mulheres. III Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres,
2013. 114 p.
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10.1111/1467-8675.00183.
CARVALHO, José Murilo (2001) Cidadania no Brasil. O longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira. Introdução (pp. 7-13); cap. 4 e conclusão (pp. 199-229).
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PIOVESAN, Flávia. Igualdade de gênero na Constituição Federal: os Direitos Civis e
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Acesso em 20 de
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FRASER, Nancy. Mercantilização, proteção social e emancipação: As ambivalências do
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PÉREZ DE. Agenda feminista e serviços de cuidado infantil: Brasil, Argentina e Uruguai.
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MARSHALL, T.H. (1967) Cidadania, classe social e status. Tradução de Meton Porto
Gadelha. Rio de Janeiro: Zahar Editores, cap. 3, Cidadania e classe social, pp. 57-114. 20
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desigualdades nas políticas públicas e desenvolvimento: algumas leituras fundamentais.
Recife: Editora UFPE, 2017. Pp. 17 a 45.

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Pequim, 1995. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp-
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POLANYI, Karl. La Grande Transformation. Paris: Gallimard, 1983, 1ª ed, 1944.
RHODE, Deborah L. 'Feminist Critical Theories,' Stanford Law Review 42, 1990.
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https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3498.005.

91
Intervenção penal em condutas motivadas
por discriminação homotransfóbica

Ian Matozo Especiato


Doutorando
ianespeciato@hotmail.com

Justificativa do tema
Os dados mostram que o Brasil é um país extremamente violento para quem
não se enquadra na heteronormatividade, em razão de sua orientação sexual
e identidade de gênero, sendo o país que mais mata transexuais e travestis
em números absolutos. Refletindo essa temática, o STF decidiu interpretar
conforme a Constituição o termo raça (ADO n. 26), abarcando a
discriminação homotransfóbica. Assim, se faz necessário, refletir sobre o
impacto da intervenção penal nessas condutas discriminatórias.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A questão de pesquisa disposta no presente trabalho diz respeito à
necessidade e idoneidade de se tutelar penalmente a homotransfobia, ou
seja, de se criminalizar condutas motivadas pela discriminação acerca da
orientação sexual e identidade de gênero. Desse modo, tem como objetivo
maior analisar a legitimidade da expansão penal relacionada a condutas de
ódio que vitimem pessoas LGBTI+.

Problema e/ou hipótese


A questão problema pode ser assim sintetizada "Há uma proteção penal
insuficiente em relação a condutas criminosas cujo móvel do agente é a
discriminação baseada na orientação sexual e identidade de gênero da
vítima?" A hipótese principal é a de que, de fato, há uma proteção deficiente
e uma necessidade de criminalização balizada pelo direito penal mínimo. No
entanto, uma criminalização, por si só, impactaria pouco na diminuição da
discriminação ou mesmo no efetivo processamento de ações penais.

92
Metodologia de pesquisa
A pesquisa é teórica e bibliográfica. Além disso, se vale de dados secundários
constantes em relatórios oficiais e daqueles apresentados por organizações
compromissadas com direitos humanos das pessoas LGBTI+. Também tem
como fonte leis e acórdãos (nacionais, de países da América do Sul e de cortes
internacionais), podendo ser classificada também como documental. O
método de confronto dos resultados é descritivo e qualitativo. Por fim, na
análise crítica será utilizado o método dialético.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Somente há resultados parciais, que são: a) a equiparação da proteção penal
quanto aos crimes motivados por homotransfobia é necessária, se não
quisermos tratar os cidadãos LGBTI+ como sujeitos de direito de segunda
classe; b) ela não deve impactar na criação de novos tipos penais; c) não há
um mandado de criminalização que possa ser extraído da Constituição; d)
países da América do Sul que criaram legislação antidiscriminatória
enfrentam dificuldades na sua aplicação.

Principais referências bibliográficas


CARVALHO, S. de. Sobre a criminalização da homofobia: perspectivas desde a criminologia
queer. In: MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de; SCHWARTZ, Germano. (org.). O
Direito da Sociedade. Canoas: Unisale, 2014., p. 257-280.
MASIERO, C. M. Criminalização da homofobia e política criminal brasileira [...]. Sistema
Penal e Violência, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 171-186, jun./dez., 2013.
SARLET, I. W.. Constituição e proporcionalidade [...]. RBCCRIM, São Paulo, v. 47, p. 60-122,
mar./abr., 2004.

93
A sub-representação feminina no corpo
docente da Faculdade de Direito da USP: a
docência como gargalo da trajetória
acadêmica das mulheres

Isabelle Oglouyan de Campos


Mestranda
isabelle.ocampos@gmail.com

Justificativa do tema
Recentes pesquisas realizadas na Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo proporcionaram uma visão geral das dinâmicas de gênero dentro
e fora da sala de aula, relacionadas aos estudantes e professores da
instituição. No entanto, uma lacuna identificada nas pesquisas é a razão pela
qual as mulheres, apesar de serem aproximadamente 40% das estudantes da
instituição, eram apenas 23% das candidatas inscritas nos concursos
públicos para a carreira docente realizados entre 2008 e 2017.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O principal objetivo desse trabalho é compreender por que a docência
representa um gargalo na carreira acadêmica das mulheres no âmbito da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Busca-se oferecer uma
contribuição acerca do tema da desigualdade de gênero no corpo docente das
faculdades de direito brasileiras a partir dos dados observados em relação
aos concursos públicos para o ingresso na carreira docente da instituição, a
exemplo de estudos internacionais realizados sobre o tema.

Problema e/ou hipótese


A pesquisa busca compreender por que as mulheres representaram
aproximadamente 20% do número total de inscritos nos concursos públicos
para a carreira docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
de 2008 a 2017, a despeito de constituírem aproximadamente 40% das
alunas inscritas nos cursos de graduação e pós-graduação da instituição no

94
mesmo período. As hipóteses relacionam-se a (i) condições de trabalho, (ii)
impacto da sub-representação feminina e (iii) regras dos concursos.

Metodologia de pesquisa
A pesquisa será desenvolvida com a aplicação de métodos quantitativos e
qualitativos. O método quantitativo será usado para reunir e analisar dados
sobre os concursos públicos para a carreira docente da Faculdade de Direito
de 2000 a 2020. Esses dados serão complementados pelo método qualitativo,
com entrevistas semiestruturadas com egressas do doutorado e professoras,
para fornecer uma análise mais detalhada das razões pelas quais as mulheres
não escolhem uma carreira docente na instituição.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O trabalho encontra-se em fase inicial de revisão de projeto de pesquisa. Não
há, portanto, resultados ou conclusões parciais. Busca-se discutir a
estruturação da metodologia de pesquisa, principalmente no que diz respeito
à condução de entrevistas semiestruturadas e a coleta de dados dos
concursos públicos para docência na Faculdade de Direito.

Principais referências bibliográficas


CAMPOS, I. O. Mulheres na Academia: Desigualdades de Gênero no Corpo Docente da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo: UNESCO Digital Library,
2020.
EVERS, A.; SIEVERDING, M. Academic career intention beyond the PhD: can the theory of
planned behavior explain gender differences? Journal of Applied Social Psychology, v. 45,
n. 3, p. 158–172, 2015.
MOSCHKOVICH, M. B. F. G. Teto de vidro ou paredes de fogo?: Um estudo sobre gênero na
carreira acadêmica e o caso da UNICAMP. 2013. 159 p. Dissertação (mestrado) -
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP.
NEDER, S. N. et. al. Interações de gênero nas salas de aula da Faculdade de Direito da USP:
um currículo oculto? São Paulo: UNESCO Digital Library, 2019.
ULRIKE, S. Gender and Careers in the Legal Academy. Hart, 2021.

95
Cuidado e Castigo: Narrativas sobre
destituição do Poder Familiar a partir do
Trabalho dos Setores Técnicos das Varas

Janaína Dantas Germano Gomes


Doutoranda
janadgg@gmail.com

Justificativa do tema
Os processos de destituição do poder familiar, regidos pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente e pelo Código Civil, estabelecem a possibilidade de
suspensão ou destituição do poder familiar de pessoas que tenham incorrido
em faltas relativas a seus deveres parentais em relação a seus filhos e filhas.
Tais processos vêm sendo estudados pela psicologia e serviço social. Este
trabalho busca, a partir da antropologia do direito, propor um novo olhar a
estes processos.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa de doutorado em curso busca perquirir as relações, moralidades
e afetividades em jogo nestes processos, que, conforme observamos
empiricamente, se sobrepõem aos debates jurídicos e fáticos acerca de quem
deve ou não ser destituído do poder familiar.

Problema e/ou hipótese


Para tanto, a pesquisa estabeleceu alguns pontos de partida: 1) o estudo da
atuação das profissionais dos setores técnico, e o papel desempenhado por
seus laudos nos processos; 2) o papel dos argumentos vinculados às emoções
nos processos, em detrimento dos argumentos jurídicos; 3) a teoria do
trabalho de cuidado ou care como enlace entre o trabalho desempenhado
pelas profissionais e pelas mães nos cuidados com os filhos; 4) o papel dos
instrumentos jurídicos para justificar as DPF

96
Metodologia de pesquisa
Estudo de autos findos e entrevistas.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Conclusões parciais permitem observar a construção narrativa de uma
mulher "destituível" do poder familiar (como, por exemplo, usuária,
agressiva, negligente) que se sobrepõem aos motivos jurídicos que deveriam
autorizar ou não a DPF (maus tratos, abandono, etc). Essa narrativa se
manifesta nos autos e atuações nos permitindo inferir que a performance da
mulher ao longo do processo, e uma rede de apoio forte, pode ser mais
protetiva ao seu direito do que a existência de leis em sua proteção.

Principais referências bibliográficas


FONSECA, Cláudia. Da circulação de crianças à adoção internacional: questões de
pertencimento e posse. Cadernos Pagu [online]. 2006, n. 26 [Acessado 28 Julho 2021], pp.
11-43. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000100002>. Epub 09
Ago 2006. ISSN 1809-4449. https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000100002.
VIANNA, Adriana (2013). “Introduçã o: fazendo e desfazendo inquietudes no mundo dos
direitos”. in Vianna, Adriana (org). O Fazer e o Desfazer dos Direitos: experiências
etnográ ficas sobre política, administração e moralidades. Rio de Janeiro: Epapers/Laced.
VILLALTA, Carla. Un campo de investigació n: Las té cnicas de gestió n y los dispositivos
jurídicoburocrá ticos destinados a la infancia pobre en la Argentina. Civitas, Porto Alegre
v. 13 n. 2 p. 245-268, maio-ago.,2013.
REIS, Gabriela Maciel dos. MÃES ÓRFÃS: Cartografia Das Tensões E Resistências Ao
Abrigamento Compulsório De Bebês Em Belo Horizonte. 2019.

97
Governança de ações afirmativas em direito
público: Metodologias para implementação
de cotas para negros no Brasil

Lucas de Santana Módolo


Mestranda
lucas.modolo@usp.br

Justificativa do tema
A fraude às cotas, consistente na ocupação irregular das vagas destinadas a
pessoas negras em políticas de ação afirmativa, tornou-se uma dura
realidade no país, sobretudo em vestibulares para ingresso em
universidades. Nesse campo, avalia-se que o direito administrativo tutela os
instrumentos necessários para orientar metodologias de implementação de
controles que tenham como finalidade solucionar o problema da falta de
representatividade negra nos espaços institucionais brasileiros.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Apresentar um diagnóstico a respeito dos institutos de controle antifraude
sob implementação em programas de ação afirmativa para pessoas negras
no Brasil, avaliando sua pertinência, utilidade, métodos e controvérsias.
Adicionalmente, a pesquisa tem como objetivo propor aprimoramentos
metodológicos no âmbito dos referidos programas, no sentido de evitar
novas fraudes e combater aquelas que já se materializaram em dezenas de
órgãos e entidades da administração brasileira.

Problema e/ou hipótese


O problema da pesquisa pode ser compreendido a partir das seguintes
perguntas:

1) Quais são as fontes de risco e os fatores de risco que fundamentam a


materialização de fraudes no âmbito da política brasileira de cotas raciais?

98
2) Quais são os principais controles antifraude implementados no âmbito da
política brasileira de cotas raciais e quais as discussões e controvérsias que
operam sobre eles?

Metodologia de pesquisa
A pesquisa tem a preocupação de catalogar conceitos, revisar bibliografias e
apresentar um sólido diagnóstico a respeito das fontes e fatores de risco para
as fraudes praticadas na política de cotas raciais, bem como sobre os
respectivos institutos de controle. O diagnóstico em questão tem sido
construído a partir do acompanhamento ativo do tema pelo condutor da
pesquisa (requerimentos de informação, matérias jornalísticas, documentos
públicos disponíveis em portais de transparência etc.).

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
1) As fraudes às cotas têm como fonte as questões histórico-sociológicas que
dificultam a definição do beneficiário da política; e a falta de
amadurecimento do debate sobre relações raciais na esfera institucional;

2) Os principais controles antifraude guardam relação com (i) a legislação


definidora da política; (ii) os editais dos programas; (iii) as bancas de
heteroidentificação; (iv) a capacitação dos sujeitos que compõem a banca de
heteroidentificação; (v) mecanismos detectivos de fraude;

Principais referências bibliográficas


BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e políticas públicas. 1. ed., 2. tir., São
Paulo: Saraiva, 2006.

GOMES, Joaquim Benedito Barbosa. Ação afirmativa e princípio da igualdade: O direito


como instrumento de transformação social: a experiência dos EUA. Rio de Janeiro:
Renovar. 2001.

MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 22. ed. São Paulo: Fórum, 2020, 462
pp.

NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem, pp. 287-
308 - Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 1.

PEREZ, Marcos Augusto; SOUZA, Rodrigo Pagani (coords.). Controle da Administração


Pública. Belo Horizonte: Fórum, 2017.

99
Trabalho reprodutivo e forma jurídica: as
novas conformações da mulher enquanto
sujeito de direito no neoliberalismo

Marianna Haug
Mestranda
marianna.haug@usp.br

Justificativa do tema
Partindo das contribuições de Pachukanis (2017) e Edelman (2016) sobre a
crítica marxista do direito, busca-se entender a relação entre forma jurídica
e trabalho reprodutivo, a fim de analisar de que maneira o direito também
garante a manutenção das desigualdades de gênero, vez que o trabalho
doméstico aparece à margem do contrato de trabalho (CORREIA; BIONDI,
2011). Para enfrentar a questão, parte-se da ideia de que há relações
umbilicais entre direito, Estado, divisão por gênero do trabalho e modo de
produção capitalista, teorizando produção e reprodução de maneira conexa,
diante da Teoria Unitária da Reprodução Social.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo da pesquisa é entender de que maneira a forma jurídica garante a
manutenção das desigualdades de gênero no modo de produção capitalista,
partindo das contribuições de Pachukanis no sentido de historicizar a forma
jurídica. Nesse sentido, pretende-se analisar com mais fôlego o contexto
neoliberal, com as mudanças que a transição pós-fordista trouxe para essa
nova etapa de acumulação de capital. No neoliberalismo, a produção e
realização das mercadorias se dá de forma mais acelerada, ao passo que o
capital tem uma necessidade de flexibilizar as relações jurídicas para
acompanhar essas demandas. Com isso vemos novas estratégias de
conformação da mulher enquanto sujeito de direito e de garantir a
continuidade da exploração do trabalho reprodutivo nos arranjos familiares.

100
Problema e/ou hipótese
A hipótese é de que o direito não é apenas acessório para confirmar relações
familiares e matrimoniais anteriores ou naturais, mas é justamente a partir
da consolidação da forma jurídica que o modelo de família burguesa vai ser
imposto e possível, e que haverá a exploração do trabalho reprodutivo - como
aquele que garante a reposição diária e geracional da força de trabalho - de
forma mistificada. Direito e família se articulam para o capital como duas
faces de uma mesma moeda.
Há, assim, uma relação dialética entre esse modelo de família com a
contratualização do casamento e o modo de produção. A consolidação do
modelo de família burguesa no Brasil se deu paralelamente às mudanças
relativas à passagem do escravismo colonial para as relações tipicamente
capitalistas e à expansão da forma jurídica no território.
Ao mesmo tempo que havia incentivo para o casamento de pessoas
que foram escravizadas ao proporem a divisão da morada e organização
monogâmica da linhagem familiar, a lógica contratual do casamento ganhava
contornos no Brasil e se conformava um modelo de maternidade burguesa,
como ideia da mãe devota que deve sempre colocar os interesses dos outros
acima dos seus, da sacralidade materna e do trabalho reprodutivo realizado
dentro da família enquanto algo natural e “para si” e que não é, portanto,
mediado pelo contrato de trabalho. Verifica-se uma relação dialética entre o
surgimento do trabalho assalariado e a separação do trabalho reprodutivo
dentro da família vinculado ao trabalho doméstico e desvinculado de um
contrato de trabalho.
Por mais que já existisse a noção de família anteriormente ao
capitalismo, na Modernidade ela ganha contornos específicos: (i) surge a
noção de espaço privado separado do público e de privacidade associada ao
grupo familiar doméstico em oposição à publicidade e ao trabalho fora de
casa; (ii) há um apagamento do trabalho doméstico enquanto trabalho
quando realizado dentro da própria família; (iii) há a responsabilização
principalmente de mulheres pela reprodução da força de trabalho enquanto
tal e (iv) há uma segurança de que a propriedade privada não irá se diluir no
Estado por estar vinculada à linhagem familiar.
A forma familiar enquanto organização nuclear monogâmica que
garante a reprodução privada da força de trabalho ocupa papel essencial na
produção e reprodução das relações capitalistas. É, inclusive, através da
separação da família do ambiente público e do restante da sociedade que será
possível a dissociação do trabalho doméstico de uma relação de trabalho quando
ele é realizado dentro da própria família. Ora, se é possível que o trabalho

101
reprodutivo seja remunerado sem gerar mais valor – quando se trata de
reprodução simples, como com a contratação de uma empregada doméstica por
uma família – ou gerando mais-valor – quando se trata de reprodução ampliada,
como quando há a contratação de serviços de uma empresa para tanto –, não é a
natureza do trabalho que irá determinar se ele é diretamente assalariado ou não,
mas sim quem realiza esse trabalho e para quem.

Metodologia de pesquisa
Para fazer essa análise, pretende-se adotar o método do materialismo
histórico-dialético, vez que essa metodologia se demonstra adequada para
investigar as contradições não aparentes do direito. Afinal, ao se utilizar este
método de investigação, tem-se como base a realidade material, rompendo
com as antecipações lógicas e idealistas que tanto flertam com as variadas
análises sobre o fenômeno jurídico, como fez Kelsen em sua “teoria pura do
direito”, propondo que o direito é uma esfera autônoma apartada da
realidade social (CORREIA, 2016, p. 183).
Ainda, é essencial localizar historicamente o objeto em análise, a fim
de não naturalizar as relações sociais que estão intimamente relacionadas a
um modo de produção específico. Essa questão será muito importante, uma
vez que o direito se apresenta enquanto a-histórico, natural e eterno, como
algo que acompanhou toda a humanidade. No entanto, como bem
apresentado por Pachukanis (2017), o direito como o conhecemos hoje só
existe enquanto forma jurídica no capitalismo, conforme as determinações
históricas desse momento em que a mercadoria alcança centralidade nas
relações sociais.
Por fim, o método se apresenta enquanto dialético por entender que
as coisas não são exatamente aquilo que parecem ser, podendo, inclusive, no
fundo ser seu avesso, de forma que essa descoberta se faça a partir do
caminho da dialética, da investigação das contradições, já que essência e
aparência podem não coincidir (MARX, 2017, p. 880). Sendo assim, “o
pensamento dialético tende a provocar, em cada um de nós, um estado
constante de dúvida e inconformismo” (CORREIA, 2016, p. 174) de modo que
seja antidogmático por essência.
A dialética, inclusive, nos permite compreender as multiplicidades
da vida social como não autônomas, entendendo que há, por exemplo,
particularidades no que diz respeito às opressões de gênero e raça, mas que
elas não são ontologicamente separadas do modo de produção capitalista,
sendo lidas e relacionadas a partir da ideia de totalidade, já que as opressões
não são apartadas diante das demais relações sociais, pelo contrário: elas
possibilitam a exploração da força de trabalho. Assim, como coloca Bannerji

102
(2005, p. 149), uma pessoa não é primeiro uma mulher, depois negra, depois
LGBTQIA+, ela é tudo ao mesmo tempo, no mesmo sentido de que “o concreto
é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do
diverso” (MARX, 1982, p. 14).
Ainda, será importante trazer para a centralidade da análise a
reprodução da força de trabalho e de como ela se insere enquanto
combustível e condição necessária para a própria existência do modo de
produção capitalista. Assim, o projeto partirá da Teoria da Reprodução Social
que trouxe diversas contribuições analíticas para o campo marxista, já que
resgata a ideia de que o motor do capitalismo não é a mercadoria em si, mas
o trabalho humano, propondo uma visão expandida sobre o processo de
exploração do trabalho, incluindo o olhar sobre aquelas que vão parir e/ou
cuidar de potenciais trabalhadores. Nesse sentido, as opressões são
produzidas simultaneamente à extração de mais-valor, sendo que a
produção e a reprodução não são esferas autônomas, mas relações que
dependem uma da outra.
A fim de entender, então, as relações entre forma jurídica e trabalho
reprodutivo, pretende-se relacionar o momento histórico em que a
contratualização e universalização do casamento com a expansão da forma
jurídica e, portanto, da lógica da mulher enquanto sujeito de direito e de
como isso se vincula à consolidação do modo de produção capitalista no
Brasil e com uma demanda de produção industrial fordista. Para tanto, é
central apresentar como a divisão por gênero do trabalho, especialmente
quando a análise se volta geograficamente para o Brasil, é intrinsecamente
racializada. Mesmo que essas categorias – gênero, raça e classe – apareçam
como analiticamente distintas em certo grau de abstração, elas são
intimamente integradas na totalidade, não podendo ser desarticuladas,
sendo indispensável para a análise da contratualização do trabalho
reprodutivo e de como o neoliberalismo trouxe novas conformações para sua
exploração.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Pachukanis (2017) identificou a relação entre forma jurídica e forma
mercadoria, localizando o direito como conhecemos hoje no modo de
produção capitalista, a fim de garantir a troca de equivalentes.
Nesse sentido, o direito, através de seus elementos centrais da forma
e ideologia jurídicas, apresenta uma ideia de igualdade entre as pessoas que
é mistificada, enquanto aparência necessária das relações sociais no
capitalismo e, assim, dissolve as relações de classe. Edelman (2016)

103
argumenta como o contrato de trabalho é essencial para mascarar as
relações de produção e permitir a exploração de uma classe pela outra,
apresentando patrão e trabalhador como partes equivalentes de um mesmo
contrato: um vendendo sua força de trabalho e o outro pagando pelos seus
serviços, já que também estipula uma relação de equivalência entre o tempo
trabalhado e o salário pago, ocultando o mais-valor.
A partir dessa perspectiva, busca-se entender como a mulher
aparece enquanto sujeito de direito e se a forma jurídica também garante
diretamente a apropriação do trabalho reprodutivo. Com base na Teoria da
Reprodução Social, que visa analisar a reprodução da vida em nível diário e
geracional diante do trabalho físico, psicológico e sexual para a geração de
seres humanos e, portanto, de força de trabalho, defende-se que o contrato
de casamento eleva a mulher a uma relação de equivalência com o homem e
a vincula a obrigações domésticas implicitamente, mascarando também a
exploração de seu trabalho.
Primeiramente, é interessante apontar como os discursos
hegemônicos dos juristas selecionados para justificar a forma jurídica variou
de acordo com a etapa de acumulação de capital no modo de produção
capitalista. Durante o fordismo, é a teoria de Hans Kelsen que ganha força
(1998), propondo uma “Teoria Pura do Direito”, pautada pela lógica do
dogma do direito dentro de sua própria totalidade. Escrito e publicado entre
os anos 1930 e 1940, ele defende uma “ideologia purificada” das
contaminações da política e do mundo material. O autor coloca o direito
enquanto produto de um processo democrático, como forma mais bem
acabada de resolução de conflitos.
Sua teoria ganhou adeptos durante esse período em que o discurso
do liberalismo ainda reinava, no qual se propunha que a economia e o Estado
eram questões separadas, de forma que a economia era algo natural que se
autorregulava. Da mesma forma, Kelsen argumenta que o direito é um campo
autônomo que pode ser purificado, sem que houvesse contradições internas,
já que, segundo o autor, a norma seria produto de uma norma original, que
“não merece questionamentos” (CORREIA, 2016, p. 182), naturalizando o
direito enquanto um processo a-histórico, de modo que o positivismo
jurídico carregue carga ideológica da burguesia já conservadora (CORREIA,
2016, p. 175).
Já o discurso neoliberal, por sua vez, propõe que Estado e economia
não são necessariamente separados, mas que a economia que deve dar forma
ao Estado, de modo que a economia não se regule sozinha, mas precise ser
enfatizada e pautada a toda hora, para garantir, inclusive, que programas
estatais como a previdência social tenham de ser superavitários. Nesse

104
contexto destacam-se outros juristas, como Ronald Dworkin e Robert Alexy,
que propõem um suposto rompimento com Kelsen em seu “pós-positivismo”,
defendendo a ponderação entre princípios e regras, a partir da adequação e
proporcionalidade, para resultar em um exercício lógico que evite a
arbitrariedade e ainda garanta a razão domesticada e a autorreferência
normativa (CORREIA, 2016, p. 183).
Estas teorias ganham adesão e visibilidade por trazer uma suposta
plasticidade demandada da sociedade neoliberal que tem suas relações
sociais mais flexibilizadas no pós-reestruturação produtiva. No entanto,
mesmo a partir da lógica proposta pelos autores, na avaliação da ponderação
entre dois princípios ou direitos conflitantes, quando um juizado escolhe por
um deles, o outro princípio ou direito, em tese, continuaria existindo, mesmo
que tenha “perdido” no caso concreto. Isso propõe uma suposta eternização
dos princípios: mesmo quando não aplicado no caso, ele continua existindo,
agregando aparência de conflito resolvido, já que a “eternidade dos
princípios é a própria naturalização do processo” (CORREIA, 2016, p. 190).
Dessa maneira, a teoria não rompe com a naturalização ou subtração
histórica do fenômeno do direito, mas o defende enquanto algo eterno e
racional, reiterando a lógica positivista, idealista e dogmática.
Sendo assim, as teorias do Direito hegemônicas neoliberais
atualizam a lógica da forma jurídica para as demandas flexíveis e aceleradas
do neoliberalismo sem romper, contudo, com a própria estrutura do direito,
não sendo algo propriamente novo. Diferenças de produção e acumulação
trazidas pela reestruturação produtiva tornaram mais frequentes a
realização do valor da mercadoria e, para isso, a forma jurídica teve que
acompanhar a plasticidade e velocidade para garantir as trocas nos contratos
de compra e venda.
Considerando a apropriação jurídica do trabalho reprodutivo,
podemos verificar o mesmo fenômeno neste âmbito. Um exemplo disto é a
própria extensão dos efeitos do casamento civil para a união estável, no
Código Civil de 2002 que estabelece no Art. 1723 que “é reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família”. É interessante verificar os requisitos do
reconhecimento da união estável já que a publicidade e estabilidade na
relação conjugal é o central, inclusive para a consolidação da estrutura
familiar e da manutenção da reprodução privada da força de trabalho.
Após uma série de ajuizamentos com o tema nas primeiras e
segundas instâncias estaduais, o Supremo Tribunal Federal vem debatendo
sobre situações em que há mais de uma relação afetiva estável

105
concomitantemente. Em decisão de Recursos Extraordinários nº 1045273 e
nº 397762, o STF definiu que amantes não têm status de união estável, não
recebendo parte de pensão por morte, herança ou direitos como partilha de
bens em dissolução da união. Essa decisão é fundada na ideia de que a
bigamia é crime no Brasil, conforme o artigo 235 do Código Penal, o que
corrobora com a necessidade do modo de produção de manutenção em certa
medida da família nuclear.
Por outro lado, houve a descriminalização do adultério pela Lei nº
11.106 de 2005, que revogou o artigo 240 do Código Penal que previa pena
de detenção de 15 dias a 6 meses para o, até então, crime. Ainda assim, todas
as outras tipificações do capítulo “Dos Crimes Contra o Casamento”, do
Código Penal, permanecem intactos, dentre elas a bigamia. É importante
ressaltar que, diante da seletividade intrínseca ao sistema de justiça criminal,
não são todos os crimes que de fato produzem prisões no Brasil, tendo em
vista que pelo menos 70% da população carcerária está presa sob acusação
de crimes patrimoniais ou de tráfico de drogas (INFOPEN, 2019). No entanto,
a tipificação desses crimes produz efeitos como o de impedir
reconhecimento de união estável para amantes.
Também é interessante apontar como a descriminalização do
adultério surge após a popularização dos testes de DNA de paternidade na
década de 1990 (FONSECA, 2004, p.14). Isto também produz alterações no
Código Civil, já que, até 1916 eram considerados filhos do pai aqueles que
nascessem até 180 dias antes do casamento ou até 300 dias depois da
dissolução dele; em 1943, com a Lei 5.860 se flexibilizou esta condição
permitindo o rompimento do vínculo de paternidade caso “provando-se erro
ou falsidade do registro”; e, no atual Código de 2002 ampliou-se as
possibilidades de contestar a paternidade.
Ora, se a monogamia era estratégia de mapear genealogicamente os
descendentes a fim de garantir a perpetuação da propriedade privada
concentrada nos núcleos familiares através das gerações (ENGELS, 1984),
com o advento dos testes de DNA, a criminalização do adultério não cumpre
mais a mesma função de impedir que a linhagem e patrimônios se percam.
Ainda, como bem demonstra Fonseca (2004, p. 29), os testes de DNA nas
disputas judiciais resultam muito mais em rompimentos do que na criação
de laços entre pais e filhos, além do caráter de biologização e da centralidade
do coito para determinação das relações familiares.
No contexto do final do século XX nascem novas tecnologias
reprodutivas: em 1960 se populariza a pílula anticoncepcional (FONSECA,
2004, p. 28) e em 1978 nasce o primeiro bebê fruto de fertilização in vitro
(FISHEL, 2018). Essa chamada “síndrome do nascimento virgem”

106
(STRATHERN, 1995) gerou incômodo em um primeiro momento por supor
a desnecessidade do ato sexual e de um pai para a reprodução humana, além
de afetar o sistema bilateral de parentesco, inclusive com técnicas como
congelamento de embriões e as chamadas “barrigas de aluguel”. No entanto,
a maternidade solo, seja por técnicas de reprodução assistidas ou não, é uma
realidade que vem crescendo no pós-fordismo, de modo que segundo dados
do IBGE, cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai
no registro. Ao mesmo tempo, o aborto segue criminalizado e o Brasil
permanece com o discurso do “direito à vida” como chamado abstrato à
reprodução social, mesmo que se despreze concretamente determinadas
vidas de modo seletivo (COOPER, 2008, p. 153).
É possível verificar, também segundo dados do IBGE, que desde 2010
há certa estabilidade na taxa de fecundidade no Brasil, girando em torno de
1,75 filhos por mulher, índice bem inferior ao das décadas anteriores, ao
passo que, no mesmo período, resta em queda a mortalidade infantil. Nessa
década crescem as preocupações no mundo com a reposição populacional já
que estão em queda as taxas de natalidade em diversos países, a exemplo da
China que abandona a política do filho único em 2015. É interessante analisar
que é justamente neste contexto que é reconhecida pela primeira vez pelo
STF a união homoafetiva com os efeitos do casamento, como direitos à
herança, pensão e plano de saúde, seguindo os mesmos termos de união
entre duas pessoas com vinculação patrimonial, possibilitando a constituição
familiar inclusive pela criação de crianças, seja por adoção ou fertilização in
vitro.
Em reação a isso, observam-se movimentos conservadores e
contraditórios, de descarte da população e reiteração de “valores
tradicionais”, como estratégia de, em meio à flexibilização das relações
familiares, redefinir as responsabilidades do trabalho reprodutivo e os
contornos da estrutura da família nuclear, como propõe Cooper (2017) ao
analisar a compatibilidade entre neoliberalismo e o conservadorismo
evangélico.
Com o exposto, o objetivo não se trata de deslegitimar as lutas que
pautaram a regulamentação desses direitos, mas de apontar como a
formatação jurídica se apropria e determina possibilidades de relações
sociais de acordo com o modo de produção e sua etapa de acumulação. No
âmbito da reprodução diária e geracional, o neoliberalismo atualiza suas
demandas flexíveis de força de trabalho e a forma jurídica confere a
aparência necessária para regulá-las e realizá-las.
De certa forma contraditória, cada vez mais o direito vem sendo a
ferramenta escolhida pelas mais variadas correntes dos movimentos

107
feminista e LGBTQIA+ ao redor do mundo para pautar suas demandas.
Edelman (2016, p. 19) alertou como travar as batalhas da classe trabalhadora
na esfera jurídica não é apenas escolher mais uma arena na qual se tensiona
a luta de classes, mas é um aparelho ideológico capaz de desviar os próprios
resultados dessa batalha já que “[...] as lutas operárias estão, elas mesmas,
enclausuradas nesses aparelhos, elas se desenvolve nessas estruturas e essas
estruturas provocam efeitos sobre o combate da classe operária”. Sendo
assim, o direito enquanto Aparelho Ideológico do Estado é incapaz de
produzir efeitos que realmente beneficiem de forma não pontual a classe
trabalhadora.
No mesmo sentido, Federici (2019, p. 238) argumenta como a ONU
(Organização das Nações Unidas), a partir de sua atuação institucional no
direito internacional, contribuiu para despolitizar e desarticular mulheres
frente à expansão das relações capitalistas, a fim de transformar o
movimento com potencial subversivo em algo domesticado e neutralizado:
É nesse contexto que a ONU se volta para a tarefa de transformar o
movimento pela libertação das mulheres, que abandonaria seu caráter
antissistêmico para dar lugar a um movimento capaz de legitimar e apoiar a
agenda neoliberal. Há aqui uma interessante comparação com o papel
desempenhado pela ONU na década de 1960 em relação à luta anticolonial.
Como apontou Horace Campbell, entre outros, uma vez que foi demonstrado
que a luta anticolonial não poderia ser derrotada, a ONU abraçou a causa,
encabeçando esse movimento ao se declarar como defensora dos
colonizados [...] (FEDERICI, 2019, p 241).
Assim, a estratégia de desviar os movimentos a partir da legalidade,
burocratização e representação deles vêm sendo tendência global. A autora
afirma, ainda, que o velho movimento feminista despenteado foi “substituído
pelo empoderado e bem-vestido feminismo dos anos 1990, que corre pelo
mundo com seu laptop fazendo advocacy [...]” (FEDERICI, 2019, p. 249).
Biondi (2015, p. 185) também expõe como ao submeter estas pautas à ONU,
a forma jurídica é fortalecida no sentido de estabelecer a lógica da
equivalência em um nível global:
A forma jurídica internacional evoluiu o suficiente para que as
Nações Unidas proclamassem a comunidade internacional como uma
comunidade de iguais, festejando a igualdade soberana de seus membros om
a mesma hipocrisia com que os apologistas do capital celebram a igualdade
dos cidadãos em cada país capitalista. Encerrando-se o colonialismo
declarado, desaparecem do globo os últimos vestígios “estamentais”, e o
direito pôde dar cumprimento àquilo a que se destina: legitimar a opressão
entre os Estados por meio da equivalência de suas soberanias.

108
De forma análoga no que diz respeito à institucionalização e
formatação jurídica das demandas, Cisne (2014, p. 143 a 147) argumenta que
no Brasil houve um largo processo de “onguização” do movimento feminista,
que cada vez mais se limitava à atuação das ONGs (Organizações Não
Governamentais) e que abriam mão da autonomia do movimento para
cumprir requisitos de editais de financiamento que muito ditavam seu
funcionamento interno. Com isso, o “financiamento das ONGs conduziu parte
do feminismo para um ativismo ‘bem-comportado’ e ‘dócil’” (CISNE, 2014, p.
147).
Portanto, há uma convergência no pensamento de Edelman (2016)
com os de Federici (2019) e Cisne (2014), vez que os processos de captura e
desvio do movimento feminista pelas ONGs e pela ONU também reproduzem
a legalização da classe descrita por Edelman, cristalizando os potenciais
subversivos das organizações nos limites da legalidade nacional e
internacional.
Cabe apontar, no entanto, que ao redor do mundo há movimentos
organizados por mulheres que buscam construir de fato espaços comuns de
resistência e enfrentamento ao capital “por fora” do direito, que não podem
ser invisibilizados. São eles majoritariamente compostos por mulheres da
periferia das cidades latinas, africanas e asiáticas, além de agricultoras que
lutam pelo acesso à terra não privatizada, da qual elas podem extrair seus
frutos para a subsistência (FEDERICI, 2019, p. 207). Com a mesma
perspectiva, Guimarães (2012, p. 12) demonstra como o direito não é capaz
de romper com a discriminação de gênero, sendo preciso superá-lo e propor
novas formas de enfrentamento à lógica da propriedade privada:
"A luta direta das mulheres por meio de sua auto-organização para a
transformação de sua realidade deve se refletir em uma luta que ultrapasse
a luta por direitos a serem efetivados pelo Estado, deve apontar, portanto, a
necessidade de destruição do modo de organização social vigente como
condição de sua emancipação e libertação. Essa postura teórica tem como
consequência política uma práxis transformadora revolucionária."

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119
Violência Doméstica e Mulheres Negras: E Eu
Não Sou Uma Mulher?

Patrícia Oliveira de Carvalho


Mestranda
patricia_carvalho@usp.br

Justificativa do tema
O enegrecimento do feminismo e das políticas públicas voltadas para
mulheres é há muito objeto de articulações e pesquisas. Quanto à violência
doméstica, observei que, a despeito de dispormos de uma legislação
vanguardista, a sua implementação privilegiou a resposta do sistema de
justiça que, por sua vez, gera assimetria no acesso a essa política pública -
notadamente quando segregamos as mulheres pelo marcador raça.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa objetiva investigar percursos de mulheres negras vítimas de
violência doméstica e as particularidades dos encontros e desencontros
dessas mulheres com o sistema de justiça.

Problema e/ou hipótese


Como o marcador raça molda a experiência de mulheres negras que são
vítimas de violência doméstica?

Metodologia de pesquisa
Pesquisa qualitativa a partir de entrevistas semiestruturadas com mulheres
que já se encontraram em situação de violência doméstica. Pesquisa
quantitativa a partir de dados institucionais da Defensoria Pública de São
Paulo, do Tribunal de Justiça de São Paulo e/ou da Secretaria de Segurança
Pública de São Paulo.

120
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
Identifiquei que tanto a Defensoria quanto o Tribunal de Justiça não indexam
os dados considerando a raça, cor ou etnia das mulheres vítimas de violência
doméstica, contrariando o que está previsto no artigo 8º, II da Lei Maria da
Penha. Considero este o primeiro achado da pesquisa: a invisibilidade das
mulheres negras dentro da Defensoria e Tribunal de Justiça e o
direcionamento obrigatório da pesquisa para os dados de Segurança Pública
para que fosse possível identificar as mulheres negras.

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121
Écrire c'est gouverner: ideário político-
jurídico nas obras de Victor Hugo

Rafael Tubone Magdaleno


Doutorando
rafael.magdaleno@usp.br

Justificativa do tema
A área do "Direito e Literatura" é cada vez mais difundida em estudos
jurídico-literários em nosso país. A partir de um duplo nascimento, uma
dupla ancoragem na tradição jurídica anglófona (James Boyd White, Richard
Posner, entre outros) e francófona (François Ost, Antoine Garapon, entre
outros), o tema investigado em minha pesquisa pretende partir a partir dessa
tradição investigar a obra de Victor Hugo em sua produção romancesca.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O presente projeto pretende investigar é a forma pela qual os combates
políticos-jurídicos de Victor Hugo são representados em algumas de suas
obras romancescas e o modo pelo qual o Direito enquanto instituição aparece
retratado. Trata-se de fazer uma interlocução entre a investigação estética da
obra de arte e a forma como o vocabulário político da época se apresenta.

Problema e/ou hipótese


A hipótese de trabalho é a de que Victor Hugo trabalhou de maneira
articulada a sua obra literária e as suas posições como político-parlamentar,
motivo pelo qual a observação de suas obras históricas e políticas (volumes
3 e 4 de suas obras completas com as quais trabalhamos) será essencial. Para
além disso, desejo discutir os tópicos de Filosofia do Direito que podemos
extrair das obras hugoanas, isto é, as discussões que podemos extrair sobre
as temáticas do Poder e da Justiça em comparação com aquilo que Victor
Hugo denomina Droit (HUGO, 1875).

122
Metodologia de pesquisa
Uma investigação sobre a obra literária hugoana, de enfoque zetético
jurídico, visando testar hipóteses a respeito da forma pela qual os combates
políticos-jurídicos de Victor Hugo são representados em algumas de suas
obras romancísticas e o modo pelo qual o Direito enquanto instituição
aparece retratado, deve ser necessariamente uma pesquisa interdisciplinar,
isto é, incorpora o resultados de várias disciplinas, tomando-lhe de
empréstimo esquemas conceituais de análise a fim de integrá-los

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O resultado parcial atingido é a consideração de que Victor Hugo possui uma
Filosofia do Direito própria, de posições parcialmente jus naturalistas, que
podem ser analisadas a partir da oposição entre Direito e Lei. Essa
consideração deita raízes no texto "Droit et Loi", que introduz o volume I dos
"Actes et Paroles" de Victor Hugo.

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128
Presença de Lacan em Althusser: Elementos
para a crítica da forma jurídica

Renan Santos Ferrão


Mestrando
renansantosferrao@hotmail.com

Justificativa do tema
A minha pesquisa é relevante porque o percurso teórico de investigação da
teoria althusseriana à luz das categorias lacanianas para se aferir elementos
para a crítica do Direito é bastante original, uma vez que os estudos que
temos em e sobre Althusser para a formulação da crítica à forma jurídica
ainda são escassos, e aqueles que existem, embora fundamentais, não fazem
esse retorno à Lacan para a compreensão dessa transferência teórica
empreendidas por Althusser, do movimento realizado nessas categorias.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objeto de estudo se restringe à análise de três categorias assimiladas por
Althusser de Lacan: Nome-do-Pai, Reconhecimento-Desconhecimento e
Relação Especular Dual.

Objetivo geral da pesquisa/hipótese


Desenvolver as potencialidades do entrecruzamento da Psicanálise com a
Crítica marxista ao Direito, testando a hipótese de que as referidas categorias
lacanianas, sob as lentes althusserianas, podem contribuir para a
compreensão da dinâmica dos mecanismos de funcionamento da ideologia
jurídica e do sujeito de direito.

Problema e/ou hipótese


O meu problema de pesquisa é: As referidas categorias lacanianas
assimiladas por Althusser, para a construção da sua teoria da ideologia e do
sujeito, podem ajudar na compreensão da forma jurídica, principalmente no
que se refere à ideologia jurídica e ao sujeito de direito? Se sim, quais são as
limitações e as potencialidades dessa aproximação?

129
Metodologia de pesquisa
A metodologia de minha pesquisa não se trata de uma análise meramente
conceitual, formalista, de compreensão apenas da compatibilidade ou não
das categorias de Lacan e Althusser que serão discutidas ao longo da
pesquisa. Tendo em vista que tenho como finalidade a compreensão dos
mecanismos de funcionamento da ideologia jurídica e da constituição do
sujeito de direito, pretendo adotar o método materialista-histórico-dialético.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Estou escrevendo nesse momento a primeira parte do meu trabalho, que é:
uma apresentação de um quadro maior em que se insere a discussão do meu
objeto de pesquisa. Por isso, estou fazendo um percurso histórico da relação
entre o Marxismo e a Psicanálise na Rússia/URSS, Alemanha e na França
durante os anos 20 e 30. Reputo como necessário essa contextualização para
compreensão do quadro maior da discussão, isto é, do espírito do tempo e do
local que permeia a minha discussão.

Principais referências bibliográficas


Althusser: Écrits sur la Psychanalyse: Freud et Lacan. Textos reunidos e apresentados por
Olivier Corpet e François Matheron. Paris: Stock/IMEC, 1993.

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130
Multinormatividade em disputa: elementos
para uma teoria crítica do direito centrada
na categoria do reconhecimento

Ricardo Juozepavicius Gonçalves


Doutorando
ricardojg90@gmail.com

Justificativa do tema
Esta pesquisa se justifica na medida em que apresenta duas lacunas teóricas
existentes sobre o tema tratado e visa fornecer elementos para saná-las: a
primeira, referente a uma lacuna específica sobre o significado da esfera do
direito e da categoria do reconhecimento jurídico na filosofia social de Axel
Honneth; a segunda, uma lacuna ampla sobre a ausência de uma teoria da
intersubjetividade produtiva para os estudos vinculados à teoria do direito
contemporânea.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O tema desta pesquisa é a categoria do reconhecimento presente na obra do
filósofo e sociólogo Axel Honneth em articulação com concepções teóricas
que adotam uma perspectiva multinormativa do direito. No percurso da
investigação, articulo a categoria do reconhecimento jurídico com teorias do
direito contemporâneas – em especial, com o conceito de nomos e
jurisgênese de Robert Cover. O objetivo é estruturar uma “imagem do
direito” com ênfase nas expectativas normativas morais presentes nas
relações intersubjetivas e nas práticas sociais cotidianas de acordo com a
teoria honnethiana, aproximando-a a estudos em torno do conceito de
multinormatividade, reaproximando a categoria do reconhecimento jurídico
da teoria do direito contemporânea.

Problema e/ou hipótese


A hipótese que orienta a pesquisa é que a compreensão de Honneth sobre o
padrão de reconhecimento intersubjetivo do direito e a categoria do

131
reconhecimento jurídico possuem elementos não explorados que permitem
sua articulação com teorias do direito de perspectiva multinormativa.

Metodologia de pesquisa
A pesquisa se dá em três etapas distintas e conectadas entre si: 1) estruturo
uma interpretação da categoria do reconhecimento jurídico em Axel
Honneth entre os anos 90 e 2000, radicalizando a concepção exposta no livro
Luta por Reconhecimento; 2) apresento um estudo sobre a postura
excludente da teoria do direito tradicional em relação às ordens normativas
sociais, traçando as características do conceito de multinormatividade por
meio das semelhanças e diferenças com as distintas vertentes e “eixos” de
pluralismo jurídico; 3) aproximo a categoria do reconhecimento jurídico
honnethiano com o conceito de nomos e jurisgênese de Robert Cover

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Possibilidade de reunir elementos teóricos que formam uma “imagem do
direito” com ênfase nas expectativas normativas morais presentes nas
relações intersubjetivas e nas práticas sociais cotidianas que podem ser
compreendidas pela estrutura proporcionada pela teoria do reconhecimento
de Honneth, aproximando-a aos estudos em torno do conceito de
multinormatividade, de modo a possibilitar uma reaproximação da categoria
do reconhecimento jurídico da teoria do direito contemporânea.

Principais referências bibliográficas


COVER, Robert. “Nomos and Narrative”. In: MINOW, Martha; RYAN, Michael; SARAT,
Austin(eds.). Narrative, Violence, and the Law. The Essays of Robert Cover. Ann Arbor:
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HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São
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TAMANAHA, Brian. A Realistic Theory of Law. Cambridge: Cambridge University Press,
2017.

132
Bombeiros e bombeiras: todos são iguais
perante e lei? O merecimento na progressão
da carreira militar

Sabrina Nerón Balthazar


Mestranda
sabrinanbalthazar@gmail.com

Justificativa do tema
Com a premissa de que talento e aptidão são igualmente distribuídos entre
homens e mulheres, tem-se a hipótese de que as motivações para seguir a
carreira bombeiro militar, para além dos atrativos inerentes aos cargos
públicos, não motiva a manutenção de mulheres na carreira. As demandas
decorrentes da desigualdade no tratamento entre agentes da Administração
Pública não conseguem encontrar amparo junto ao Judiciário, que tem sua
atuação esbarrada no princípio da discricionariedade da Administração

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Analisar o cumprimento do papel do Estado, na pessoa dos líderes que
gerenciam corporação militar com a flexibilidade da discricionariedade, no
tratamento dado a homens e mulheres ao decidir a promoção por
merecimento de ato de bravura. Verificar o dever constitucional estatal de
prover igualdade de tratamento, direitos e oportunidades; a relevância da
representatividade dos superiores hierárquicos na tomada de decisões; e as
dificuldades encontradas por bombeiros femininos na progressão da
carreira militar

Problema e/ou hipótese


Da perspectiva das mulheres que integram o CBMSC, o Estado cumpre o
dever constitucional de garantir igualdade de tratamento, direitos e
oportunidades entre homens e mulheres nas trajetórias profissionais de
bombeiros militares? A hipótese é a de que existem vieses decorrentes da
discricionariedade da administração na gestão da corporação, que reiteram
comportamentos sexistas, o que prejudica a ascensão de mulheres na

133
carreira militar e, portanto, infringem o dever estatal de tratamento
isonômico.

Metodologia de pesquisa
Método indutivo, no qual as análises das características dos fenômenos
particulares servirão de base a conclusões de caráter genérico. Para tanto, foi
realizada revisão narrativa de literatura, bem como pesquisa bibliográfica, a
partir de documentação direta e indireta, tendo sido verificados processos
administrativos de progressão por ato de bravura (PAAB), fornecidos pelo
CBMSC e, por fim, será realizada pesquisa de campo, com questionários
semiestruturados.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A doutrina feminista ensina que comportamentos machistas são tidos como
regras universais e, por isso, influenciam a tomada de decisão. É o caso das
promoções por atos de bravura, os quais perseguem o mito do herói, na
figura do homem epistêmico, com caráter subjetivo. Os PAAB lidos indicam
que apenas uma mulher foi promovida por bravura em 15 anos de história
do CBMSC.

Principais referências bibliográficas


MOREIRA, A.J. O que é discriminação?. Belo Horizonte – MG: Letramento, 2017

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução


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Bhuvi Libanio. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. Saraiva, 1998

134
Violência, gênero e deficiência: análise da
Rede de Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar de Florianópolis – SC
considerando a realidade de mulheres com
deficiência

Thaís Becker Henriques Silveira


Mestranda
thaisbeckersilveira@gmail.com

Justificativa do tema
A pesquisa parte de um estranhamento com a disparidade entre a
habitualidade de relatos partilhados em grupos que participei de mulheres
com deficiência sobre violências vividas no ambiente familiar e a ausência da
articulação dos marcadores de gênero e deficiência, sobretudo, a partir de
uma perspectiva interseccional, nas discussões jurídicas sobre a Lei Maria da
Penha. A esse contraste, soma-se a falta de dados quantitativos e qualitativos
específicos, o que dificulta a avaliação e reformulação desta política de modo
a contemplar a realidade das mulheres com deficiência.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Esta pesquisa objetiva mapear, a partir da percepção de mulheres com
deficiência e profissionais da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica
e Familiar (VDF) de Florianópolis, quais barreiras são impostas às mulheres
com deficiência em situação de violência doméstica e familiar quando essas
se dirigem à Rede do município ou que impedem essa procura.

Problema e/ou hipótese


Quais são as barreiras – sejam elas atitudinais, urbanísticas, arquitetônicas,
nos transportes, comunicacionais, informacionais e/ou tecnológicas –
impostas às mulheres com deficiência quando essas procuram, ou que as
impedem de procurarem, a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e
Familiar de Florianópolis – SC na percepção das próprias mulheres com
deficiência e das e dos profissionais que compõem a referida rede?

135
Metodologia de pesquisa
A pesquisa será quantitativa e qualitativa. De início, serão compilados dados
estatísticos de boletins de ocorrência e processos judiciais relacionados a
mulheres com deficiência em situação de violência doméstica em
Florianópolis. Na sequência, serão realizadas entrevistas narrativas com
mulheres com deficiência sobre suas histórias de vida, utilizando-se o
método de bola de neve, e entrevistas semiestruturadas com as/os
profissionais da Rede de Enfrentamento à VDF do município. Será feita
análise de conteúdo do material coletado nas entrevistas.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Preliminarmente, aferiu-se que poucas mulheres com deficiência conseguem
acessar a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica, o que se deve a
dificuldade de identificar as situações vividas enquanto violências e as
barreiras externas e estruturais da rede e da sociedade em geral, ponto em
que se evidenciou a intersecção com outros marcadores, como classe e raça.
Por fim, também se evidenciou a ausência de uma política pública do cuidado
como fator de desproteção das mulheres que dependem de terceiros –
habitualmente, seus agressores – para realizarem atividades de vida diária.

Principais referências bibliográficas


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Duke University Press, 2019.

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SEVERI, Fabiana Cristina. Lei Maria da Penha e o projeto jurídico feminista brasileiro. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

136
Humanização do sistema de justiça:
fundamentos para a construção de políticas
públicas

Clio Nudel Radomysler


Doutorando
clio.radomysler@gmail.com

Justificativa do tema
A constatação de que o sistema de justiça precisa ser “humanizado” vem
surgindo em diversos campos do Direito, manifestada por atores do sistema
de justiça de diferentes regiões e instituições do país. A partir de uma
primeira análise desses discursos foi possível perceber que o conceito de
“humanização” compreende uma vasta gama de significados: promover o
bem-estar dos usuários e funcionários, garantir o acesso à justiça, melhorar
o atendimento de grupos em situação de vulnerabilidade, estabelecer uma
nova relação entre profissionais do direito e a sociedade civil. Muitas vezes o
conceito de “humanização” aparece como sinônimo de melhorias em geral,
sem qualquer especificação ou detalhamento. Na área da Saúde há uma
ampla literatura sobre o conceito de “humanização”, a partir da
implementação, em 2003, da Política Nacional de Humanização do Sistema
Único de Saúde, ao passo que, na área do Direito, são poucos os estudos que
abordam a temática. As pesquisas sobre o tema identificados na área do
Direito analisam práticas específicas em instituições do sistema de justiça
sem buscar uma definição do conceito de “humanização”. Dessa forma, a
presente pesquisa busca suprir essa lacuna, assim como discutir o potencial
do conceito de “humanização” para promover transformações sociais
positivas no sistema de justiça.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo central da pesquisa é definir um conceito de “humanização” que
possa fundamentar políticas públicas no sistema de justiça. Como objetivos
específicos destaco: (a) mapear discursos e práticas relacionadas ao conceito
de “humanização” do sistema de justiça; (b) identificar os possíveis

139
significados decorrentes do conceito de “humanização”; e (c) analisar a
relação entre políticas públicas de “humanização” no sistema de justiça e
políticas públicas de “humanização” em outras áreas, especialmente a
Política Nacional de Humanização do Sistema Unificado de Saúde.

Problema e/ou hipótese


Uma primeira hipótese é que há dois problemas com relação ao conceito de
“humanização” no sistema de justiça: a banalização do conceito, sendo
utilizado para justificar diferentes iniciativas sem especificar seu significado,
e a fragmentação das práticas institucionais voltadas para “humanização”,
realizadas de forma pontual em diferentes áreas do sistema de justiça. Com
relação ao objetivo de definição de um conceito de “humanização” que possa
fundamentar políticas públicas, a hipótese da pesquisa é que a ideia de
“humanização” não deve se caracterizar apenas por qualquer ação que
busque melhorias no sistema de justiça, e tampouco pela concepção de que
essas iniciativas foram realizadas por seres humanos imbuídos de bondade.
A principal hipótese é que o conceito de “humanização” para o sistema de
justiça deve englobar uma mudança de paradigma ético-estético e político,
em consonância com os fundamentos do Plano Nacional de Humanização no
campo da Saúde (VERDI, 2015). A dimensão ética seria marcada por novas
atitudes e valores dos profissionais do Direito, e a dimensão estética por uma
abertura para a criação de novas representações de ser, estar e sentir, e
novos modos de produção do Direito; a dimensão política, por fim, seria
associada à nova organização social e institucional no sistema de justiça.

Metodologia de pesquisa
Para atingir os objetivos indicados, pretende-se realizar uma revisão de
literatura sobre a temática pesquisada, além da utilização de métodos de
pesquisa empírica conjugados. Será necessário realizar um mapeamento de
discursos e práticas relacionados à “humanização” do sistema de justiça. O
mapeamento será realizado inicialmente por meio de buscas de notícias na
internet e por meio da leitura de documentos (legislações, ofícios,
recomendações, entre outros) que utilizam o conceito de “humanização” no
campo do Direito. Serão também realizadas entrevistas semiestruturadas
com os atores sociais envolvidos nas iniciativas identificadas no
mapeamento.

140
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
Uma primeira hipótese é que há dois problemas com relação ao conceito de
“humanização” no sistema de justiça: a banalização do conceito, sendo
utilizado para justificar diferentes iniciativas sem especificar seu significado,
e a fragmentação das práticas institucionais voltadas para “humanização”,
realizadas de forma pontual em diferentes áreas do sistema de justiça. Com
relação ao objetivo de definição de um conceito de “humanização” que possa
fundamentar políticas públicas, a hipótese da pesquisa é que a ideia de
“humanização” não deve se caracterizar apenas por qualquer ação que
busque melhorias no sistema de justiça, e tampouco pela concepção de que
essas iniciativas foram realizadas por seres humanos imbuídos de bondade.
A principal hipótese é que o conceito de “humanização” para o sistema de
justiça deve englobar uma mudança de paradigma ético-estético e político,
em consonância com os fundamentos do Plano Nacional de Humanização no
campo da Saúde (VERDI, 2015). A dimensão ética seria marcada por novas
atitudes e valores dos profissionais do Direito, e a dimensão estética por uma
abertura para a criação de novas representações de ser, estar e sentir, e
novos modos de produção do Direito; a dimensão política, por fim, seria
associada à nova organização social e institucional no sistema de justiça.

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143
A Resilição como Exercício Inadmissível
de Posição Jurídica

Eduardo Gomes Cañada


Mestrando
eduardo.canada@usp.br

Justificativa do tema
A resilição é um meio de extinção das relações contratuais por atitude
desconstitutiva dos figurantes. Antes da promulgação do CC/02, o
ordenamento jurídico brasileiro já apresentava previsões esparsas do
instituto. Porém, com a promulgação do referido diploma, a resilição passou
a ter uma previsão e limitações centralizadas no art. 473. Contudo, o texto de
norma ainda apresenta desafios aos interpretes e apresenta riscos para a
segurança jurídica dos contratos.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
i. Definir os fundamentos normativos da resilição, a autonomia privada e a
proporcionalidade; ii. Diferenciar a resilição de outros poderes formativos
extintivos; iii. Estabelecer noções gerais de declaração resilitória (existência,
validade e eficácia); iv. Delimitar o conjunto de hipóteses nas quais resilir é
violação à boa-fé; v. Pesquisar o posicionamento de tribunais, como o STJ e
Tribunais de Justiça Estaduais.

Problema e/ou hipótese


A dissertação se propõe a resolver três problemas diversos, mas
codependentes. O primeiro, é definir exatamente o que é a resilição: o
desligamento unilateral de um contrato com prazo ou espécie de resolução
com efeitos ex tunc. O segundo, oferecer uma proposta de interpretação
sobre quais são as hipóteses explícita ou implicitamente definidas em lei. O
terceiro, delimitar critérios e situações nas quais resilir constitui violação da
boa-fé objetiva.

144
Metodologia de pesquisa
A metodologia do trabalho parte do pressuposto que o direito é irredutível
às normas e aos fatos sociais, porém se manifesta nas comunidades políticas
como uma tarefa, que consiste nas decisões judiciais. Tais decisões não
instrumentalizam a interpretação, mas apenas são possíveis no horizonte da
atribuição de sentido. Logo, a lei, a dogmática e as decisões devem ser
conformadas de modo a estabelecer uma tradição autêntica do direito,
resultando e segurança jurídica e clareza conceitual.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A resilição é o desligamento de uma relação contratual a prazo e se opera
mediante negócio jurídico unilateral e receptício. Para fins de interpretação
do caput do art. 473 CC/02, considerou-se que as hipóteses que permitem
explicitamente a resilição são as que nominalmente citam o instituto, tal
como ocorre no CCom, na Lei do Inquilinato, etc. As hipóteses implícitas são
aquelas nas quais a lei prevê a prerrogativa e efeitos da resilição, mas sem
designar nominalmente (e.g. CDC, Lei das S/A).

Principais referências bibliográficas


DE PAGE, Henri - Traité élémentaire de droit civil belge, t. II, 3ª ed., Bruxelles, Bruylant,
1964

G. GABRIELLI - Vincolo contrattuale e recesso unilaterale, Milano, Giuffrè, 1985;

O GOMES - Contratos, 26ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2008;

R.X. LEONARDO - A denúncia e a resilição - Críticas e propostas hermenêuticas ao art. 473


do CC/2002 Brasileiro, in RDCC 7 (2016);

F.C. PONTES DE MIRANDA - Tratado de direito privado, t. XXV, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2012;

145
O Judiciário sob ataque: entre a cooptação e
o aprimoramento institucional na América
Latina

Guilherme Balbi
Mestrando
guilhermebalbi95@gmail.com

Justificativa do tema
Em um contexto de corrosão democrática, as Cortes Constitucionais se
tornam alvo dos autocratas, que tentam enfraquecer o sistema de freios e
contrapesos forjando maiorias artificiais (court-packing) ou retirando juízes
contrários à sua agenda (principalmente pelo impeachment). Tais iniciativas
se situam na fronteira entre a iniciativa correcional, que busca aprimorar ou
renovar a Corte, e a cooptação autoritária. Esta pesquisa busca entender
quais as características de cada um desses usos.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Esta pesquisa tem o objetivo específico de descrever e analisar os
mecanismos pelos quais governos latino-americanos de variados graus de
democracia, por meio da concertação entre Executivo e Legislativo,
mobilizaram dois institutos previstos nos ordenamentos jurídicos da região:
o impeachment e o court-packing. Esse estudo busca contribuir para o
objetivo geral da pesquisa, que é identificar os sinais que pautam o uso
autoritário de instrumentos legais de ingerência do Executivo no Judiciário.

Problema e/ou hipótese


A pesquisa se pauta na seguinte pergunta: como institutos formais legais de
separação de poderes, como o impeachment e a alteração de número de
membros das Cortes (court-packing), podem ser usados para a concentração
de poderes no Executivo? A hipótese levantada sugere que os elementos
institucionais não impedem a intervenção, mas podem favorece-la, ao prever
condutas excessivamente genéricas ou exigir quóruns baixos para retirada
de um juiz ou alteração do número de membros da Corte.

146
Metodologia de pesquisa
A pesquisa se baseia em um estudo qualitativo dos seguintes casos de
interferência do Executivo sob Cortes Constitucionais: Chile (sob a
presidência de Aylwin, em 1992, e Frei, em 1997) e Argentina (sob a
presidência de Kirchner, em 2003), casos em que a interferência se deu para
renovar a Corte; e Argentina (sob a presidência de Menem, em 1989),
Venezuela (sob Chávez, em 2004) e Peru (sob Fujimori, em 1997), iniciativas
que capturaram as Cortes em prol do Executivo.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A pesquisa analisará os casos selecionados sob duas perspectivas: normativo
legal (abordando o meio jurídico utilizado e o aparato legal de proteção à
independência judicial) e institucional e política (como o desenho dos dois
institutos, a justificativa dada para o impeachment e o court-packing, etc.).
Combinadas, tais dimensões auxiliarão a compreender os mecanismos de
relação entre os poderes usados para desvirtuar a função de separação de
poderes e servir para a concentração de poder.

Principais referências bibliográficas


HELMKE, Gretchen. The origins of institutional crises in Latin America. American Journal
of Political Science, v. 54, n. 3, p. 737-750, 2010.
KECK, Thomas M. Court-packing and democratic erosion. Democratic Resilience: Can the
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literature. Journal of Latin American Studies, v. 16, n. 2, p. 463-506, 1984.

147
O STF é um tribunal de teses?

Julia Wand-Del-Rey Cani


Doutoranda
wdrjulia@gmail.com

Justificativa do tema
O Supremo Tribunal Federal é um tribunal de teses? Algumas evidências
indicam que sim, os próprios ministros dizem que sim. Mas o que é ser um
‘tribunal de teses’, em termos institucionais e decisórios concretos? Em
última análise, essa é uma afirmação sobre sua própria identidade.
Há quem defenda que, para além de revelar um acúmulo dos papeis de
corte constitucional, última instância do Poder Judiciário e instância
originária, falar em um “Tribunal Constitucional à brasileira”, mostra, em
verdade uma “crise de identidade”, na medida em que reformas
constitucionais, legislativas e jurisprudenciais vêm moldando um caminho
com particularismos importantes para transformação de seu desenho
original.
Nesse contexto, algumas práticas decisórias chamam atenção pelo
potencial de acelerar o ritmo de tal transformação. Dentre elas, a
possibilidade de se enfocar a questão de direito a partir da técnica de
julgamento “em tese” ou de uma “tese”.
Por um lado, por meio dessa pesquisa, tem-se a oportunidade de
analisar o comportamento judicial relacionado à opção pelo enfoque nas
especificidades do caso concreto ou na questão abstrata que dele sobressai.
Por outro, um olhar sobre a prática decisória do STF permitirá a análise da
flexibilização das fronteiras originais de cada processo, trazendo a
possibilidade de estimar impactos específicos no desenho do controle de
constitucionalidade que adotamos com a Constituição de 88. Esses cenários
revelam caminhos pouco explorados, que merecem maior atenção.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa tem como objetivo construir um mapa da utilização de teses no
STF para apontar algumas implicações sobre esse cenário. Partindo da
premissa de que existe um dilema entre decidir um “caso” ou uma “tese”,

148
busco responder as seguintes perguntas: Quais seriam as implicações do uso
de “teses” pelo STF? Como isso afeta a configuração do controle abstrato e do
concreto de constitucionalidade?

Problema e/ou hipótese


O alcance de cada decisão do STF pode variar dependendo da via
processual que leva o tema para análise do tribunal. Caso seja por meio de
controle concreto de constitucionalidade, os efeitos das decisões operam
interpartes. Por outro lado, caso seja por meio de controle abstrato de
constitucionalidade, os efeitos são erga omnes.
Até recentemente, era clara a ideia de que decidir um caso concreto
era diferente de decidir uma questão “em tese”. Nesse sentido, o STF poderia
ser chamado a se manifestar repetidas vezes sobre um mesmo tema se a
decisão em controle concreto de constitucionalidade não fosse seguida por
uma súmula vinculando tal entendimento. Nos últimos anos, contudo, a ideia
de separação clara entre o significado de decidir um caso ou decidir uma tese
passou a apresentar contornos mais turvos e oscilantes. O que impõe saber,
para cada julgamento, em que contexto – se em tese, ou se em concreto – uma
questão foi decidida pelo tribunal.
Manter-se como um tribunal que julga tanto casos concretos, como
questões abstratas não é o problema. O problema é não haver previsibilidade
sobre quando se deve julgar uma tese e quando se deve julgar só um caso.
Isto é, o que se tem, hoje, é a utilização de teses com a consequente
flexibilização das fronteiras originais de cada processo, expandindo o alcance
das decisões, sem que essa prática seja devidamente regulamentada. Se o STF
pode discricionariamente escolher quando, em um julgamento concreto,
focar nas especificidades do caso ou focar na questão abstrata que sobressai
do caso, então os ministros estarão determinando o alcance de cada decisão
de acordo com o tema debatido, ou qualquer outro fator conjuntural não
sindicável.
Minha hipótese, assim, é que essa oscilação "tese" versus "caso" pode
ser uma distinção instrumental utilizada pelos ministros para atingir
determinados resultados.

Metodologia de pesquisa
Sendo a intenção justamente analisar práticas decisórias que apresentam
contornos mais turvos e oscilantes, essa pesquisa se utilizará de estudo
empírico qualitativo. A realização de uma pesquisa empírica exaustiva que
mostrasse em cada processo decidido se houve votação de uma tese ou se os
ministros restringiram a decisão às especificidades do caso concreto

149
perderia a oportunidade de analisar nuances não captadas por uma visão
estritamente formal das regras de processo decisório. Desse modo, a seleção
de casos se dará a partir da busca pelas palavras-chave: “teses”, “teses
jurídicas”, “em tese”, “caso concreto”, “casos”, “erga omnes”, “inter partes”,
“vinculantes”, “controle concreto”, “incidental”, “controle abstrato”, “controle
concentrado”, “em abstrato”, “limites subjetivos”, “limites objetivos”,
“objetivação do controle difuso”, “abstrativização”, “eficácia da decisão”,
“vinculação”, “vinculantes”, “eficácia vinculante geral”, "vinculação geral",
“fundamentos determinantes”, motivos determinantes”, "pauta conjunta".
Após a realização dessa primeira seleção, buscarei analisar as decisões
observando se os ministros enfocaram o caso concreto ou se formularam
uma tese mais geral acerca do tema.
A identificação do enfoque em um caso ou uma tese é relevante porque
pode (i) ter repercussão na identidade do tribunal; (ii) restringir o alcance
das decisões envolvendo controle concreto de constitucionalidade aos
limites originais do processo ou expandir esses mesmos limites para alcançar
outros processos sobre o mesmo tema; (iii) modificar o mérito da decisão.
Enquanto o item (i) diz respeito ao aspecto institucional, os itens (ii) e (iii)
abrangem, em alguma medida, o aspecto da dinâmica processual da decisão.
Se (ii) ocorre para manter a separação nítida da eficácia das decisões
proferidas em controle concreto e abstrato, nada muda. Por outro lado, se (ii)
ocorre para expandir os limites originais do processo, dando fluidez ao
desenho do processo decisório, (i) necessariamente se concretiza, ainda que
não se verifique alterações nas normas definidoras do desenho institucional.
Mesmo na hipótese de (i) e (iii) não ocorrerem, é possível inferir
consequências da falta de previsibilidade das fronteiras mencionadas em (ii).
Ou seja, considerando a hipótese mais abrangente possível de realização de
(i), (ii) e (iii), um novo padrão decisório pode ter implicações no desenho do
controle de constitucionalidade e na identidade do tribunal. Na hipótese mais
restrita de essa prática decisória indicar, no mínimo, fronteiras fluídas dos
limites originais do processo, mecanismos decisórios que possibilitam tal
prática merecem maior atenção e regulamentação.
A análise de algumas práticas de julgamentos “em tese” ou de uma
“tese” podem colaborar para o estudo de (i), (ii) e (iii). Dentre elas,
julgamentos que envolvem: (a) Tese em RE com repercussão geral (única
regulamentada), com ou sem inclusão expressa do fundamento
determinante da decisão em sua redação; (b) Tese em outros casos de
controle concreto, como HC e AP; (d) Tese em ADI, com ou sem inclusão
expressa do fundamento determinante da decisão em sua redação; (e) Tese
e pauta conjunta de ação de natureza concreta e ação de natureza abstrata

150
de controle de constitucionalidade; (f) Participação na construção da tese de
ministros vencidos no mérito de decisão; (g) Tese como instrumento de
vinculação geral das decisões. Essas nuances da utilização de teses no
processo decisório não só podem trazer evidências de implicações
institucionais, como também abrem caminho para a realização de outras
pesquisas teóricas e empíricas sobre o funcionamento do STF.
Além disso, três perspectivas podem ser observadas com maior
profundidade. Primeiro, as (a) falhas mais comuns atribuídas pela literatura
à forma como o controle de constitucionalidade é exercido no Brasil;
Segundo, (b) as mudanças na prática decisória do tribunal. Essa perspectiva
de análise se subdivide (b.i) na narrativa adotada pelos ministros durante
debates orais dos julgamentos televisionados; (b.ii) nos argumentos
efetivamente lançados nos acórdãos; (b.iii) na forma de vinculação à decisão
dada “em tese” ou cujo resultado ficou expresso em uma “tese” e (b.iv) nas
mudanças administrativas do STF, o que inclui observar diferenças na
formatação do site do tribunal, seções destinadas à catalogação de
enunciados de teses, mudanças na forma de apresentação dos temas,
processos pautados para julgamento e no informativo de jurisprudência.
Nessa segunda perspectiva de análise, é interessante notar o papel
desenvolvido por cada presidente no seu biênio de administração do
tribunal. Por fim, uma terceira perspectiva de análise permite comparar
mudanças normativas relacionadas com unificação de jurisprudência,
precedentes, recursos repetitivos, repercussão geral, entre outros temas que
impactam na adoção de teses jurídicas - mesmo sem haver uma
regulamentação específica para esse mecanismo decisório.
O olhar sobre a narrativa dos ministros durantes debates orais, que à
primeira vista pode parecer uma variável menos segura de análise em razão
de não necessariamente integrar votos escritos, justifica-se pela
possibilidade de observar um aumento nas referências às teses. É importante
observar a correlação dessa narrativa, que contém a compreensão individual
de cada ministro sobre esse mecanismo decisório, com mudanças práticas do
processo decisório. Espera-se, por fim, que os dados observados sob as
citadas perspectivas de análise possam, senão apontar para uma resposta
definitiva às perguntas que abrem este trabalho, trazer evidências que
fundamentem questionamentos sobre oscilações na dinâmica e no desenho
do processo decisório, bem como um início de diagnóstico sobre o papel que
os ministros entendem que o tribunal e eles próprios deveriam
desempenhar.

151
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
Afinal, o STF é um tribunal de teses? Embora haja evidências de que essa seja
uma direção possível para sua natureza institucional, porque votar teses para
variados tipos de processos não parece ser uma simples escolha de organização
decisória interna, nesse momento, o STF não é um tribunal de teses.
As teses jurídicas são mecanismos decisórios normalmente associados
aos recursos extraordinários com repercussão geral, isto é, aqueles em que
questões constitucionais com relevância social, política, econômica ou
jurídica transcendam os interesses subjetivos da causa. Dentre suas funções
está tornar claro o que foi decidido pelo tribunal, em um esforço para
uniformização da interpretação constitucional, sem que o STF tenha que
decidir múltiplos casos idênticos. Outra função é sobre o alcance da decisão.
Ou seja, a expansão dos efeitos de decisões que, em princípio, deveriam se
manter interpartes, para além das partes envolvidas no processo e, mais
especificamente, a expansão da parte vinculante do julgado para além do
dispositivo.
Inicialmente aplicada para recursos extraordinários – e, nesse caso,
contando com alguma regulamentação da Constituição, do Código de
Processo Civil e do Regimento Interno do STF, essa prática agora também se
estende para as demais ações de controle concreto e as ações de controle
concentrado de constitucionalidade. Nesse sentido, casos exemplificados
mostram que as teses têm sido um mecanismo mais utilizado nos últimos
anos e parecem suprir falhas no desenho decisório que regula o controle de
constitucionalidade.
Essa utilização mais ampla das teses jurídicas é marcada por debates,
imprecisões e oscilações da dinâmica processual decisória. Para além de
mostrar como o conflito ‘caso’ versus ‘tese’ aparece na prática, exemplos
evidenciam nuances de se enfocar a questão de direito que se destaca do caso
concreto. Enquanto decidir “em tese” é decidir o tema de forma abstrata, isto
é, focar na questão de direito independentemente das particularidades do
caso e da espécie processual em julgamento, fixar uma “tese jurídica” é
cristalizar determinado entendimento do tribunal em um enunciado de
texto, após colhidos votos dos ministros quanto à forma final da redação .
Nesse sentido, decidir ‘uma tese’ não é condição necessária de decidir ‘em
tese’. Igualmente, a possibilidade de decidir ‘em tese’ não quer dizer
necessariamente que haverá modificação do mérito da decisão.
Com o desenvolvimento da pesquisa, espera-se saber se a oscilação
entre decidir um “caso” ou uma “tese” se prolonga no tempo, confirmando-

152
se, nesse caso, a hipótese de os ministros a utilizarem como uma distinção
instrumental para atingir determinados resultados. Por outro lado, é possível
perceber que se trata, em verdade, de um aperfeiçoando de seu processo
decisório para se consolidar como um tribunal de teses. Nesse último
cenário, até que esteja estabelecido normativamente o novo desenho
decisório, a oscilação “caso” ou “tese” pode ser encarada como uma
consequência passageira de um processo paulatino.
Enquanto o STF puder escolher qual enfoque dar em cada decisão, a
jurisdição constitucional fica no meio do caminho entre seguir a legislação
processual à risca, garantindo de antemão que seja de conhecimento público
o que foi decidido e quem será atingido por aquela decisão, e aperfeiçoar
falhas do desenho decisório na direção de um desenho institucional ao
mesmo tempo original e eficaz. O ideal seria que, qualquer que seja a escolha,
os efeitos das decisões fiquem claros, sejam conhecidos de antemão, e
permaneçam estáveis ao longo do tempo.

Principais referências bibliográficas


ARANTES, Rogério B. Judiciário e Política no Brasil. 1. ed. São Paulo: Sumaré/Educ, 1997.

ARGUELHES, Diego Werneck; RIBEIRO, Leandro Molhano. Criatura e/ou criador:


transformações do Supremo Tribunal Federal sob a Constituição de 1988. DW Arguelhes,
LM Ribeiro. Revista Direito GV 12 (2), 2016.

PERRONE, Patrícia. O Supremo Tribunal Federal: um Tribunal de Teses. Revista da EMERJ,


Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 443-467, set.-dez., 2019.

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e razão pública. Revista de Direito Administrativo, v. 250, p. 197-227, 2009.

VERÍSSIMO, Marcos Paulo. A Constituição de 1988, Vinte Anos Depois: Suprema Corte e
Ativismo Judicial “à brasileira”. Revista Direito GV, Vol. 4, No. 2, Jul-Dez, 2008.

153
Saneamento e organização do processo:
funções e técnicas processuais

Lívia Losso Andreatini


Mestranda
livialandreatini@gmail.com

Justificativa do tema
O saneamento e organização do processo foi redesenhado no CPC/2015,
recebendo contornos que lhe conferem possibilidades inéditas. Trata-se de
momento processual de ímpar relevância à eficiência e à segurança jurídica,
pois é decisivo à gestão da prova e à prolação de uma sentença devidamente
motivada. Assim, o tema deve ser revisitado à luz dos institutos do CPC/2015
(v.g., negociação processual, fomento dos meios autocompositivos), para que
dele se possa extrair sua máxima potencialidade.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo da pesquisa é analisar a fase compreendida como saneamento e
organização do processo sob dupla perspectiva: por um lado, analisá-la em
relação ao seu conteúdo e às funções que desempenha no processo civil
moderno (análise substancial ou material); de outro vértice, investigar tal
fase na dinâmica do procedimento comum (análise formal ou
procedimental), discernindo as maneiras pelas quais partes e juiz podem
concretizar suas funcionalidades, bem como suas consequências
processuais.

Problema e/ou hipótese


O trabalho possui três principais hipóteses: (i) no CPC/2015, o saneamento
e organização do processo não se exaure em um ato processual único,
constituindo fase do procedimento comum; (ii) tal fase possui ao menos três
funções: sanear o processo, gerenciá-lo e decidir questões já maduras para
julgamento; (iii) o art. 357 do CPC/2015 concebe três modos (ou técnicas
processuais) para organizar o processo: mediante decisão interlocutória, em
audiência ou pela celebração de convenção processual.

154
Metodologia de pesquisa
No tocante à metodologia, utilizar-se-á de revisão bibliográfica pelo método
hipotético-dedutivo. Para além da revisão de literatura, abordar-se-á
também palestras, exposições e eventos sobre o tema que foram realizados
de maneira online (tais exposições constarão em anexo do trabalho,
devidamente referenciadas). Uma vez que a pesquisa ainda se encontra em
andamento (qualificação pendente), cogita-se a realização de pesquisa
empírica mediante questionários (survey) e entrevistas com magistrados.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Dentre as conclusões parciais, destaca-se: (i) a fase autônoma de saneamento
e organização do processo possui funções diversas e pode ser concretizada
por técnicas processuais distintas; (ii) as matérias a serem decididas em tal
fase não se restringem às previstas no art. 357, CPC/2015; (iii) o CPC/2015
concebe diversas técnicas processuais aptas a atribuir maior eficiência ao
gerenciamento processual; e o momento adequado para que sejam
empregadas é no saneamento e organização do processo.

Principais referências bibliográficas


ALVES, Tatiana. Gerenciamento processual no Novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2019

ARAGÃO, Egas Moniz de. Exegese do Código de Processo Civil, vol. IV, t. I. Rio de Janeiro:
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Temas de Direito Processual, Quarta Série. Saraiva: São Paulo, 1989, p. 165-200

DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 15ª. ed. São Paulo:


Malheiros, 2013

LACERDA, Galeno. Despacho Saneador. Porto Alegre: Fabris, 1995

155
Inteligência Artificial no Estudo do Direito
Processual: metodologia de pesquisa
empírica na agenda do Acesso à Justiça

Marcel de Souza Hofling


Mestrando
marcel.hofling@usp.br

Justificativa do tema
Eventual intersecção entre o estudo do Direito e os recursos da Inteligência
Artificial não é uma obviedade, mas precisa ser filosoficamente justificada
considerando as suas respectivas bases epistemológicas. Ademais, a
construção de diretrizes éticas pressupõe a ideia de localidade, isto é, apenas
será possível definir princípios com efetivo caráter normativo caso se
considere o contexto ético específico de sua aplicação. Finalmente, os
sistemas de justiça exercem atualmente funções políticas, de forma que a
incorporação de novas tecnologias ao estudo e aplicação do Direito pode
acabar servindo para a manutenção ou ampliação das desigualdades já
existentes.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo deste trabalho é investigar a possibilidade e as condições
epistemológicas para o emprego das ferramentas da Inteligência Artificial
para a produção de conhecimentos academicamente válidos em Direito
Processual.

Problema e/ou hipótese


A hipótese é a de que essa interdisciplinaridade é possível, mas que, para
tanto, deve se embasar em problemas concretos de decidibilidade da Ciência
Jurídica e a ela retornar de forma contributiva, isto é, potencializando o uso
da razão prática, orientada pelas agendas de pesquisa disponíveis, como a do
Acesso à Justiça.

156
Metodologia de pesquisa
Uso da razão prática (dogmática jurídica)

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Deve-se incentivar, como estratégia para o desenvolvimento e para a
inovação, a criação de uma infraestrutura nacional de dados abertos, por
meio do acesso a informações públicas, para fins acadêmicos, de forma
automatizada. Também se aponta a existência de uma intersecção entre as
diretivas de proteção de dados pessoais e as diretivas de pesquisas com seres
humanos, a qual origina, juntamente com outros marcos normativos, um
microssistema para pesquisas com dados pessoais. Finalmente, conclui-se
que a interdisciplinaridade no estudo do Direito com ferramentas de
Inteligência Artificial é possível, mas que deve se embasar em problemas
concretos de decidibilidade da Ciência Jurídica e a ela retornar de forma
contributiva, isto é, potencializando os usos da razão prática orientados por
agendas de pesquisa adequadas, como a do Acesso à Justiça.

Principais referências bibliográficas


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Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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G. Segurado, Trans.) Rio de Janeiro: Edições 70.

158
A atuação individual dos Ministros do STF e
suas consequências institucionais: uma
análise a partir das decisões monocráticas
liminares nas ações de controle

Natália Pinheiro Alves Batista


Doutoranda
nataliapinheiro.ab@gmail.com

Justificativa do tema
Os Ministros do Supremo protagonizaram, em momentos sensíveis da
política, o exercício de poder individual por meio de decisões liminares que
interferiram decisivamente no estado de coisas, revelando um novo aspecto
da expansão na autoridade do STF. Interessa recortarmos o fenômeno de
“monocratização” e “ministocracia” identificado pela literatura no âmbito
das ações de controle, especialmente se considerarmos a centralidade do
controle de constitucionalidade no diagnóstico de protagonismo.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Analisar como e em que medida a atuação individual dos Ministros do STF
por meio de sua ação decisória, especialmente nas ações de controle, pode
influenciar na alteração das definições normativas e na posição institucional
do Tribunal.

Problema e/ou hipótese


Partindo-se da hipótese inicial de que o padrão de individualização na
atuação decisória do Supremo é gradualmente construído por seus
ministros, em atuação ativa de modificação gradual nos contornos
institucionais coletivamente tolerada, busca-se investigar – com recorte nas
ações de controle – quais as consequências desse padrão decisório no
diagnóstico de protagonismo já identificado pela literatura.

159
Metodologia de pesquisa
Pretende-se analisar as decisões monocráticas liminares, por ser mecanismo
processual que permite a atuação individual e documentada com
discricionariedade e conteúdo decisório, nas ações de controle, com recorte
temporal provisório a partir de 2000, em razão da regulamentação
infraconstitucional do procedimento e da disponibilidade de dados
estatísticos oficiais, analisando variáveis relacionadas aos relatores, à
presidência, ao Plenário e à justificação normativa.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Identifica-se acentuado aumento nas monocráticas em ações de controle
entre os Ministros da composição atual da Corte. Sem descartar questões
relacionadas ao período de exercício da função em referência ao período
analisado (2000 – 2019), o fenômeno identificado como “monocratização” e
“ministocracia” parece estar consideravelmente presente no processo
decisório do controle concentrado apesar de vedações normativas,
indicando um padrão de individualização construído pelos ministros.

Principais referências bibliográficas


ARANTES, Rogério Bastos. Judiciário e Política no Brasil. São Paulo: Idesp: Editora
Sumaré: Fapesp: Educ, 1997
ARGUELHES, Diego Werneck; RIBEIRO, Leandro Molhano. Ministrocracia: o Supremo
Tribunal individual e o processo democrático brasileiro. Novos Estudos - Cebrap, [s.l.], v.
37, n. 1, p.13-32, abr. 2018.
KOERNER, Andrei; FREITAS, Lígia Barros de. O Supremo na Constituinte e a Constituinte
no Supremo. Lua Nova, São Paulo, v. 88, p.141-184, jan. 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ln/n88/a06n88.pdf>. Acesso em: 15 set. 2019.
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MAHONEY, James; THELEN, Kathleen (ed.). Explaining Institutional Change: ambiguity,
agency, and power. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
MENDES, Conrado Hübner. Constitutional Courts and Deliberative Democracy. Oxford:
Oxford University Press, 2013.

160
A consciência jurídica japonesa: anotações
sobre a atualidade da tese de Kawashima

Paulo Fernando Nogueira Cunha


Mestrando
pfncunha@usp.br

Justificativa do tema
Desde os anos 1960, há, pelo menos, três teorias acerca da suposta baixa
litigância no Japão. A teoria cultural, de Takeyoshi Kawashima, defende que
fatores socioculturais do povo japonês explicariam os baixos índices de
litigância. Os conflitos seriam resolvidos pelos meios alternativos, visando à
manutenção da harmonia social. Para a teoria institucional, eles seriam
resolvidos extrajudicialmente, porque as instituições japonesas não
funcionariam bem. Por fim, para a teoria política, as partes prefeririam a
solução extrajudicial, em razão da pouca oferta de serviços judiciais.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa tem como objetivo proceder a uma revisão sistemática sobre
litigância no Japão, a partir do que se discute sobre o tema nos últimos 60
anos, tanto no Japão quanto no cenário internacional (com destaque para os
Estados Unidos, onde o tema tem grande relevância). Assim, este trabalho
busca verificar quais as discussões existentes – principalmente naqueles dois
países – sobre o modelo japonês de litigância. Em outras palavras, pretende-
se investigar acerca do registro bibliográfico sobre a litigância no Japão, a
partir da produção teórica desenvolvida a partir dos anos 1960.

Problema e/ou hipótese


A ideia de consciência jurídica japonesa representa uma enorme
contribuição para o desenvolvimento da sociologia do direito no Japão. No
entanto, é preciso mapear as críticas e os limites dessa teoria, bem como
investigar seu “renascimento” a partir das últimas três décadas. A fim de se
atingir o objetivo deste estudo, tem-se a seguinte pergunta de pesquisa: qual
é a relevância atual da teoria cultural de Kawashima para explicar o

161
(suposto) baixo índice de litigância no Japão? Uma outra pergunta, talvez
anterior, se impõe: de fato ainda existe essa baixa litigância?

Metodologia de pesquisa
Para responder ao problema proposto e a fim de validar ou negar suas
hipóteses, opta-se por utilizar uma metodologia de viés qualitativo e não
quantitativo. Partindo dessa abordagem qualitativa, pretendo valer-me de
dois métodos de pesquisa: a) pesquisa bibliográfica; e b) entrevistas. Para
este segundo método, pretendo realizar um período (entre 30 e 60 dias) de
pesquisa no Japão, sob orientação de um professor japonês que se dedica ao
tema da litigância. As tratativas para a concretização desse objetivo estão em
andamento.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Descobertas recentes mostram que a natureza (ou o tipo) do problema é a
variável mais significativa a levar alguém a buscar o litígio no Japão. Ao
mesmo tempo, concluiu-se que a experiência já vivenciada com um advogado
e a conexão pessoal com um profissional do direito se correlacionam,
significativamente, ao ato de contratar um advogado e/ou procurar
aconselhamento jurídico. E, por fim, que o pequeno número de advogados e
a existência da conciliação parecem ter efeitos significativos sobre o pequeno
número de litígios no Japão.

Principais referências bibliográficas


HALEY, John Owen. The myth of the reluctant litigant. The Journal of Japanese Studies,
Seattle, v.
4, n. 2, 1978.
KAWASHIMA, Takeyoshi. Dispute resolution in contemporary Japan. In: MEHREN,
Arthur Taylor von. Law in Japan: the legal order in a changing society. Cambridge:
Harvard University Press, 1963. p. 41-71.
RAMSEYER, J. Mark. Reluctant litigant revisited: rationality and disputes in Japan. The
Journal of Japanese Studies, Seattle, WA, v. 14, n. 1, 1988. p. 111-123.
TANASE, Takao. The management of disputes: automobile accident compensation in
Japan. Law & Society Review, Amherst, MA, v. 24, n. 3, 1990. p. 651-691.

162
Os impactos no direito interno das decisões
da Corte Interamericana De Direitos
Humanos na garantia do direito à saúde na
América Latina

Ana Carolina Girard Teixeira Cazetta


Mestranda
carol.cazetta@usp.br

Justificativa do tema
A garantia de acesso à saúde é um problema latente na América Latina.
Algumas soluções poderão ser encontradas a nas decisões e medidas de não
repetição ordenadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e é esta
a proposta deste projeto. A origem da problemática tem relação direta com a
diferença de tratamento no entendimento e implementação dos Direitos
Econômicos Sociais, Culturais e Ambientais (no qual está compreendido o
direito à saúde) em oposição aos Direitos Civis e Políticos.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
OBJETIVO GERAL
Identificar quais são os impactos, em termos de políticas públicas, do modelo
de medidas de não repetição e parâmetros mínimos adotados nos casos
envolvendo o direito à saúde da Corte Interamericana.

ESPECÍFICOS
-Verificar quais os parâmetros e as medidas de não repetição adotados pela
Corte Interamericana para entender o direito à saúde;
-Identificar quais foram as práticas efetivas ou não no cumprimento das
decisões a partir dos relatórios emitidos por organismos internacionais.

Problema e/ou hipótese


Os parâmetros estabelecidos para a conceituação deste direito e as medidas
de não repetição proferidas pela Corte Interamericana nas decisões relativas
ao direito à saúde, são suficientes para a solução da deficiência em questão?

165
Metodologia de pesquisa
Com intuito de solucionar a problemática proposta, pretende-se utilizar o
método dedutivo, partindo da premissa de que há falhas nos mecanismos de
não repetição e no monitoramento adotados pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos no que diz respeito a garantia do direito à saúde.
Será utilizado levantamento bibliográfico, bem como mapear as medidas de
não repetição estabelecidas nos casos em que se decidiu sobre o direito à
saúde.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Os parâmetros da Corte estão de acordo com a normativa internacional,
avançando em alguns pontos no que diz respeito às pessoas portadoras de HIV.
Até o momento, acredita-se que o problema central da efetivação está no
sistema de monitoramento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Principais referências bibliográficas


Alberto do Amaral Júnior, Flávia Piovesan, Magdalena Sepúlveda, Victor Abramovich,
Christian Courtis, César Rodríguez Garavito, Cristina Figueiredo Terezo, Amartya Sen,
Onna Hathaway, Soledad García Muñoz, Anne-Marie Slaughter, Courtney Hillebrecht bem
como demais acrescentados à medida do desenvolvimento da pesquisa. A seleção prima
pela qualificação técnica, bem como igualdade de gênero e diversidade geográfica.

166
Caminhos além-descolonização:
mobilizações transnacionais
entre direitos humanos e insurgência ilegal

Gabriel Antonio Silveira Mantelli


Doutorando
gabriel.mantelli@usp.br

Justificativa do tema
A pesquisa se justifica pela necessidade de avançar os estudos jurídicos da
descolonização, assim como pela conjuntura sociopolítica da atualidade em
que são deflagrados diversos processos de desmantelamento institucional
dos direitos humanos por parte de novos autoritarismos.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo principal é, à luz das literaturas críticas de direito internacional
(incluindo direito e desenvolvimento), de antropologia jurídica pós-colonial
e, de modo geral, dos debates anticoloniais, pós-coloniais e decoloniais,
averiguar de que maneira os casos mobilizam as narrativas e os conceitos de
descolonização em suas táticas políticas e quais as eventuais respostas. Há
também intenção de compreender como os movimentos utilizam
mecanismos locais ou internacionais de direitos humanos para tensionar a
própria maquinaria jurídica.

Problema e/ou hipótese


Individualizo três casos de mobilizações transnacionais que tanto se utilizam
dos mecanismos internacionais de proteção de direitos humanos quanto,
eventualmente, atuam política e socialmente de forma insurgente e
eventualmente ilegal (ou são alvos de investigações e/ou constrangimentos
jurídicos por parte de agentes oficiais).

167
Metodologia de pesquisa
A pesquisa adota, em termos metodológicos, o estudo de casos múltiplos
como eixo principal, acompanhado do uso de etnografia, entrevistas
semiestruturadas e pesquisa documental. No âmbito da elaboração teórica,
utiliza-se o método crítico acoplado com uso do material levantado e da
experiência em campo do pesquisador.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A presente pesquisa, ainda em fase inicial, busca compreender como
movimentos sociais e/ou organizações da sociedade civil mobilizam local ou
globalmente o direito, ou deixam de fazê-lo propositalmente, no
enfrentamento às lógicas do colonialismo e da colonialidade no tempo
presente.

Principais referências bibliográficas


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GOODALE, Mark. Toward a critical anthropology of human rights. Current anthropology,
v. 47, n. 3, p. 485-511, 2006.
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2019.
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RAJAGOPAL, Balakrishnan. International law from below: Development, social
movements and third world resistance. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

168
O Estado Islâmico e Nadia Murad

Marcela Bittencourt Brey


Mestranda
marcelabbrey@gmail.com

Justificativa do tema
O estabelecimento de califado no Iraque e na Síria nos anos de 2014 a 2016
pelo Estado Islâmico ganhou grande repercussão no cenário internacional. A
partir de uma ideologia extremista político religiosa, o grupo radical islâmico
perseguiu minorias étnicas e religiosas no norte do Iraque, a exemplo dos
yazidis. A interpretação literal e fundamentalista do Alcorão e da teologia do
Islã justificou a prática de crimes como conversão forçada, tráfico de
mulheres, escravidão sexual, a prática de genocídio, dentre outros. Havendo
negativa a conversão forçada ao islã se justificava o extermínio em massa.
Foram poupadas as vidas: das mulheres jovens e das meninas com o fim de
usá-las como escravas sexuais; e, dos meninos, para usá-los como
combatentes nas guerrilhas, em árabe - mujahidin -. Os homens e as
mulheres idosas foram assassinados e jogados em valas comuns.
Disseminadas pelo grupo a fim de alcançar seu maior intento: o
estabelecimento de uma sociedade islâmica homogênea.
Como parte desse plano, não bastava o grupo radical ser detentor de
uma ideologia extremista. Era necessário atrair novos adeptos para
posteriormente, o alistamento e o recrutamento destes para a jihad. É
característico de qualquer operação insurgente o angariamento de recursos
financeiros. A milícia também expropriava os bens dos yazidis cativos e
mortos. E, as escravas sexuais também serviam a atrair os novos militantes.
Desta feita, o tráfico e o comércio on line de mulheres foram dentre outras,
uma das atividades usadas para financiar as operações do grupo. As
operações cibernéticas - cyber jihad - foi uma das formas encontradas pelo
grupo a disseminar sua ideologia extremista e obter novos recrutas.
Antes de se tornarem escravas sexuais, em árabe - sabaya - as
mulheres yazidis eram obrigadas a se converter ao islã. A fim de salvaguardar
sua própria existência, muitas se converteram forçadamente ao islã.
Enquanto sabaya, poderiam ser vendidas convenientemente a bel-prazer de

169
seu proprietário. Não havia limites nessas transações. Bastava o animus de
seu proprietário e do comprador. As vezes eram dadas somente como prêmio
aos combatentes, como reconhecimento em virtude de algum feito
conquistado.
A comunidade internacional testemunhou: o genocídio, o comércio on
line das escravas sexuais, o uso dos mujahidin, e o recrutamento de inúmeros
voluntários ocidentais, homens e mulheres fascinados com a constituição de
uma utópica sociedade islâmica homogênea.
Essa ideologia política totalitária do Estado Islâmico pautada numa
percepção religiosa deturpada do islã, com foco em Maomé, considerado
profeta e líder militar dos mulçumanos especialmente nos séculos VI e VII,
tem atraído cada vez mais adeptos na contemporaneidade por meio da cyber
jihad, em especial muitos países da Europa como a Suécia e a Alemanha.
Esse recrutamento de homens e mulheres imbuídos da crença que
somente a partir da jihad se alcançaria o ideal utópico de uma sociedade
islâmica homogênea tem sido objeto de estudo e atenção da comunidade
internacional. O extermínio dos considerados infiéis, simplesmente por não
se converterem ao islã ou por professarem crenças e práticas religiosas
distintas, é sem dúvida, uma ameaça ao tema da segurança global.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Demonstrar, se a partir do caso de Nadia Murad, pode ser verificado
influência nas discussões atuais das temáticas ligadas a escravidão sexual e
do tráfico de pessoas, que por sua vez envolvam as mulheres e meninas
yazidis. Considerando, que atualmente, Nadia Murad não é somente uma
vítima. Sua voz não é somente algo que lhe pertence, pois, ao tornar a sua
história pública, a emprestou a toda a coletividade tornando a voz de
inúmeras meninas e mulheres yazidis vítimas de violência sexual relacionada
ao conflito.

Problema e/ou hipótese


O caso de Nadia Murad, se analisado sob à ótica da responsabilização penal
individual e da fragilidade das mulheres e das meninas yazidis, vítimas de
violência sexual relacionada ao conflito, pode se mostrar o conduto de
reanálise em termos de punibilidade e de segurança internacional. A análise
jurídica dessas questões e o impacto do viés punitivo dos membros do Estado
Islâmico se encontra em construção. As repercussões do caso, ainda estão em
andamento. Por tal motivo, como o caso não foi apreciado por um Tribunal
Internacional, a análise e a reprimenda podem se dar de forma não uniforme
entre os países empenhados a punir os membros do Estado Islâmico em face

170
dos crimes cometidos contra a minoria yazidi. O caso de Nadia Murad pode
ser um espectro micro a auxiliar de forma macro. Se a sua voz se tornará
eficiente auxiliando a efetivar a punição dos seus algozes, ainda não é
possível avaliar, especialmente diante da singularidade ímpar desse grupo
radical, composto de indivíduos de diversas nacionalidades.

Metodologia de pesquisa
O artigo será norteado pelo método qualitativo com base nos casos
documentados de vítimas sobreviventes, tal qual, por exemplo, é relatado na
biografia de Nadia Murad. Além disso pautar-se-á nas Resoluções e
documentos produzidos no âmbito do sistema global de proteção dos
Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas, como “They came to
destroy”: ISIS Crimes Against the Yazidis”, de 15 de junho de 2016, apresentado
pela Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, e outros
pronunciamentos do seu Conselho de Segurança. O Relatório do Secretário Geral
das Nações Unidas de 03 de junho de 2020 “Conflict-Related Sexual Violence”,
também será utilizado no andamento dessa pesquisa. Se fará uso também das
Resoluções nº 2379 de 21 de setembro de 2017, nº 2490 de 20 de setembro de
2019 e n.º 2544 de 18 de setembro de 2020. Tais resoluções foram aprovadas a
fim de se constituir o time de investigação e coleta de provas no Iraque. Também
se fará uso da Resolução do Parlamento Europeu de 04 de fevereiro de 2016 que
por sua vez já havia se pronunciado anteriormente ao Conselho de Segurança
das Nações Unidas no sentido de que reconhecer as graves violações de direitos
humanos, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos
membros do Estado Islâmico.
O estudo fará uso também de sites de notícias, plataformas abertas de
pesquisas acadêmicas, sites da Geneneralbundesanwalt da Alemanha, da
Comunidade Europeia, do Estatuto de Roma, além de consultas no seio do
Tribunal Penal Internacional - International Criminal Court - sem prejuízo do
acompanhamento perante o sistema de proteção universal das Nações Unidas,
sites de universidade, coleta de artigos científicos abrangendo doutrinas de
Direito Internacional e Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
O Conselho de Segurança das Nações Unidas exortou os estados membros a
repudiar e agir contra os atos de terrorismo praticados pelo Estado Islâmico
em face da minoria religiosa yazidi, cujo resultado de mortos ainda não é
mensurável. Contudo, há aproximadamente 350.000 pessoas deslocadas em
campos, e ainda mais de 3.200 mulheres desaparecidas. O Iraque julgou um

171
combatente do Estado Islâmico e o condenou à morte por manter em
cativeiro e pela prática da escravidão sexual, uma mulher yazidi. A Alemanha
conduz o primeiro julgamento de membro do grupo radical islâmico sob o
prisma da jurisdição universal, visto que o acusado e tampouco a vítima
sejam cidadãos alemães, e o crime também não tenha ocorrido em solo
alemão. O Iraque promulgou a Lei das Mulheres Yazidis Sobreviventes, em
02 de março de 2021 onde prevê a reparação civil das vítimas, mulheres
yazidis e a outras mulheres pertencentes a diversos grupos minoritários,
além de prever reserva de vagas de emprego em setores da sociedade civil,
além de fomentar a educação e promover ações inclusivas como instrumento
de política pública, com o fim de reabilitar as vítimas de violência sexual
relacionado ao conflito e de gênero à sociedade civil.
Temáticas como a segurança internacional e a violência sexual e de
gênero relacionado ao conflito interessa a comunidade como um todo. Por
meio dos documentos produzidos no seio do sistema de proteção dos
Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas e na Comunidade
Europeia, se verifica que a percepção religiosa do Estado Islâmico e sua
finalidade político utópica de se construir um califado se constitui um perigo
iminente, um retrocesso a tutela da boa convivência, do respeito, da proteção
da pessoa, da pluralidade religiosa, da liberdade e direitos fundamentais.

Principais referências bibliográficas


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172
Direitos humanos e empresas no Sistema
Interamericano: o dever estatal de proteger
e suas repercussões no Brasil

Viviany Yamaki
Mestranda
viviany.yamaki@usp.br

Justificativa do tema
A expansão das atividades das empresas transnacionais, com a globalização
econômica, conferiu grandes prerrogativas a referidos atores em âmbito
internacional, sem a necessária contrapartida de regulação que pudesse
delimitar e atribuir responsabilidade pelas violações de direitos humanos
por elas praticadas. A partir de uma dinâmica de assimetria de poder entre
corporações oriundas das economias centrais e vítimas, em sua maioria, dos
países em desenvolvimento, surgem a discussão e inúmeras tentativas de
estabelecer normas destinadas a preencher lacuna jurídica com a qual a
comunidade global ainda se depara e cujo enfrentamento é indispensável
para a proteção e efetividade dos direitos humanos.
O estudo proposto tem relevância e destaque em âmbito global,
regional e nacional. Nas Organizações das Nações Unidas (ONU), isso é
evidenciado com a criação do grupo de trabalho sobre empresas e direitos
humanos, instituído pelo Conselho de Direitos Humanos em 2011, através da
Resolução n. 17/4, com mandato para promover, disseminar e implementar
os Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos,
marco atual na matéria. O Conselho de Direitos Humanos ainda ampliou o
tratamento da questão através da instituição de grupo de trabalho de
composição intergovernamental com a missão de elaborar instrumento
jurídico vinculante, no direito internacional dos direitos humanos, relativo a
atividades das corporações transnacionais e outras empresas, de acordo com
a Resolução n. 26/9, de 2014, para responsabilização de empresas na ordem
internacional. A atuação deste último grupo de trabalho já alcançou a sétima
sessão de negociação do pretendido tratado, com a elaboração de um draft,
atualmente em sua terceira versão.

173
Em perspectiva regional, o Sistema Interamericano de Proteção dos
Direitos Humanos, também tem envidado esforços para contribuir na
temática. O destaque no âmbito da Comissão Interamericana foi dado pelos
trabalhos da Relatoria de Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais, que em 2019, publicou relatório intitulado Empresas y Derechos
Humanos: estandáres interamericanos . De importância não menos
significativa, vislumbra-se a atuação da Corte Interamericana, pela
incorporação em recentes julgados dos já mencionados Princípios
Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos, enquanto fundamento
das obrigações estatais de proteger os direitos humanos no contexto das
atividades empresariais.
As repercussões da agenda global e da atuação do Sistema
Interamericano quanto aos direitos humanos e empresas sobre os Estados e
seu potencial para orientar ordens jurídicas domésticas na adoção de
mecanismos de fiscalização e políticas de regulação, destinadas a prevenir
transgressões às normas de direitos humanos, podem ser aferidas pelos
recentes Planos Nacionais de Ação sobre Empresas e Direitos Humanos na
América Latina – estes são políticas públicas baseados nos Princípios
Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos.
Colômbia, Chile e Peru já lograram tal tarefa e o Brasil caminha na mesma
direção através de marcos internos como o Decreto n. 9.571, de 17 de
novembro de 2018, que estabelece Diretrizes Nacionais sobre Empresas e
Direitos Humanos e a Resolução n. 5, de 12 de março de 2020, do Conselho
Nacional de Direitos Humanos, que dispõe sobre diretrizes nacionais para
uma política pública sobre direitos humanos e empresas.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A presente pesquisa tem como objetivo geral levantar e analisar as lacunas e
o arcabouço protetivo aos direitos humanos no contexto das atividades
empresariais, com abrangência dos instrumentos e mecanismos
internacionais já estabelecidos, tanto aqueles cujo alcance seja de caráter
global, quanto aqueles que detenham escopo regional de proteção dos
direitos humanos no âmbito das atividades empresariais, com enfoque e
delimitação nas obrigações do Estado para proteger a dignidade humana e
os direitos humanos diante da atuação de empresas.
Os objetivos específicos da presente pesquisa consistem em (i)
analisar o debate doutrinário referente às violações de direitos humanos
perpetradas por empresas, a partir da perspectiva do direito internacional
dos direitos humanos; (ii) averiguar os instrumentos normativos nos
âmbitos onusiano, interamericano e europeu que tratem da proteção aos

174
direitos humanos nas atividades empresariais, correlacionando-os e
comparando o conteúdo, o alcance e os impactos respectivos; (iii) analisar o
contexto de violações de direitos humanos típico da América Latina, seus
principais fatores políticos, econômicos e históricos; (iv) identificar e
analisar as potencialidades e limitações do Sistema Interamericano na
temática direitos humanos e empresas, através da investigação da atuação
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Interamericana
de Direitos Humanos, neste último caso, tanto através de sua jurisdição
contenciosa quanto consultiva; (v) analisar as medidas adotadas pelo Estado
brasileiro para integrar ao âmbito doméstico os parâmetros internacionais
de proteção aos direitos humanos no contexto empresarial, especificamente
no campo legislativo e na construção de uma política pública sobre direitos
humanos e empresas.

Problema e/ou hipótese


O problema que norteará o desenvolvimento da presente pesquisa diz
respeito à compreensão do papel do Sistema Interamericano de Proteção de
Direitos Humanos na garantia dos direitos humanos face às atividades de
empresas. Em última análise, pretende-se examinar se e como o sistema de
proteção mencionado alcança os seus jurisdicionados com medidas
concretas e transformadoras no que se refere a empresas e direitos humanos.
Referida problemática tem suas dificuldades melhor clarificadas quando se
analisam as limitações institucionais do Sistema Interamericano de Direitos
Humanos, uma vez que sua competência não alcança pessoas jurídicas,
conforme já pronunciado na Opinião Consultiva 16/22, da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Desta forma, quando se verifica o alcance da jurisdição do Sistema
Interamericano, que está restrita aos Estados, uma vez que não é possível
haver responsabilização direta das empresas pelas violações de direitos
humanos que venham a cometer, pode-se intuir uma importância reduzida e
limitada dos mecanismos interamericanos para a proteção de vítimas de
violações de direitos humanos decorrentes de ações empresariais.
Entretanto, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos é uma instância
importante para esclarecer sobre o dever que Estados possuem de proteger
direitos humanos face às empresas.
Outro aspecto a ser devidamente sopesado quando se pretende
mensurar as potencialidades e os limites do Sistema Interamericano de
Direitos Humanos refere-se ao aparato normativo do se qual dispõe para
aplicar às questões de empresas e direitos humanos – referido aparato
consiste essencialmente de normas com caráter meramente recomendatório

175
e orientador, dos quais são exemplos os já mencionados Princípios
Orientadores da ONU e resoluções destinadas a promover a chamada
responsabilidade social corporativa no âmbito da Organização dos Estados
Americanos (OEA), da qual é exemplo a Resolução AG/RES. 2887 (XLVI-
O/16), Promoción y protección de derechos humanos, de 14 de junho de
2016. O caráter de soft law de referidas normas também pode resultar em
uma correlação mais imediata de pequena expressividade de referido
conjunto de regras para a produção de impactos positivos sobre os direitos
humanos . Todavia, um contraponto que se pode apresentar a esse
entendimento é o de que a função dessas normas, a despeito de desprovidas
da força da hard law, não pode ser subestimada na conjuntura atual, pois elas
desempenham o papel de legitimadores morais e políticos em relação às
obrigações que Estados e empresas possuem de proteger direitos humanos
de abusos corporativos.

Metodologia de pesquisa
O estudo ora proposto empregará o método de pesquisa bibliográfica e
documental, com o levantamento de doutrina, tratados, resoluções e demais
regras pertinentes ao tema, bem como de casos submetidos ao Sistema
Interamericano de Direitos Humanos, tanto em seu órgão quasi-judicial, a
Comissão Interamericana, quanto na jurisprudência e opiniões consultivas
da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Nos capítulos 1 e 2, que comporão a Parte I deste trabalho, serão
empregados: (i) o método dedutivo para análise das normas referentes à
proteção de direitos humanos no contexto empresarial no plano global; (ii) o
método histórico, ao tratar-se do percurso rumo à construção da
responsabilidade internacional de empresas por violações de direitos
humanos; e, (iii) o método especulativo, para abordar a crítica referente aos
Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos.
Nos capítulos 4, 5, 6 e 7, que comporão a Parte II deste trabalho,
empregar-se-á o método comparativo para analisar as aproximações e
distanciamentos dos sistemas interamericano e europeu de proteção aos
direitos humanos.
No capítulo 8, que integrará a Parte III desta pesquisa, serão
investigadas as ações do Estado brasileiro para integração dos avanços
globais e regionais quanto às corporações e direitos humanos na ordem
interna, buscar-se-á descrever e analisar sob o ponto de vista da efetivação
da proteção de direitos os dois casos mais recentes de violações de direitos
humanos por corporações em território nacional de grande repercussão,
ressaltando-se que para estes tópicos não será empregado o método de

176
análise de caso, mas sim o método indutivo, que permite partir de situações
particulares para alcançar postulados gerais.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
As novas configurações políticas e econômicas do globo atestam a
necessidade de nova estrutura internacional, que contemple as dinâmicas
entre direitos humanos e empresas para proteger indivíduos e
responsabilizar a violação aos seus direitos humanos. Um conjunto de
normas de soft law já fora construído, dos quais são exemplos as Diretrizes
para Empresas Multinacionais da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), 1976, o Pacto Global da ONU, 2000 e
os próprios Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos
Humanos de 2011. É necessário avançar rumo ao instrumento vinculante na
matéria, com mecanismo de acesso à justiça e reparação, fundado na
primazia dos direitos humanos sobre quaisquer outros direitos.
Apesar das críticas ao seu caráter voluntário, os Princípios
Orientadores da ONU representaram marco que, embora não preencha todas
as lacunas na arquitetura de proteção aos direitos humanos, lograram
avanços ao dar inédita visibilidade ao tema. Após uma década de sua
aprovação, considera-se que contribuíram para significativo progresso na
promoção dos direitos humanos pelas empresas, articulando os diferentes,
porém complementares, papéis de Estado e setor privado, na prevenção e
abordagem dos impactos nos direitos humanos provocados por empresas.
Pode-se afirmar que os princípios lembraram os Estados de seus deveres
para proteção dos direitos humanos no contexto dos negócios, esclareceu o
dever de respeito das empresas quanto e ao tratar da necessidade de
remediação eficaz das vítimas de danos ocasionados por empresas,
colaborou para a accountability como característica essencial do negócio
responsável .
O esforço do Sistema Interamericano em incorporar os Princípios
Orientadores, com foco no dever estatal de proteção vem ao encontro de
necessidade pronunciada na América Latina, ainda bastante dependente dos
investimentos estrangeiros e frequentemente negligente na fiscalização das
atividades econômicas de impacto negativo em direitos humanos e meio
ambiente. Especialmente para o Brasil, palco de graves violações de direitos
humanos, como o rompimento de barragens em Mariana e Brumadinho, as
condenações da Corte Interamericana no Caso Trabalhadores da Fazenda
Brasil Verde , e no Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Artifício de Santo
Antonio de Jesus , são relevantes enquanto mecanismos para impelir o

177
Estado a prover transformações estruturais em contextos de acentuada
vulnerabilidade e assimetria entre empresas e pessoas.

Principais referências bibliográficas


COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Empresas y derechos humanos:
estândares interamericanos. 1 nov. 2019. Disponível em:
http://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/ EmpresasDDHH.pdf. Acesso em: 04 abr.
2020.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Trabalhadores da Fazenda


Brasil Verde vs. Brasil. Sentença de 20 de outubro de 2016 (Exceções Preliminares,
Mérito, Reparações e Custas). Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/
docs/casos/articulos/seriec_318_por.pdf. Acesso em: 19 mai. 2021.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Empregados da Fábrica de


Fogos de Santo Antonio de Jesus e seus familiares vs. Brasil. Sentença de 15 de julho de
2020 (Exceções preliminares, mérito, reparação e custas). Disponível em:
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/ articulos/seriec_407_por.pdf. Acesso em: 30
abr. 2021.

UNITED NATIONS. Human Rights Council. Human rights and transnational corporations
and other business enterprises. 6 July 2011. Disponível em: https://documents-dds-
ny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/G11/144/71/PDF/ G1114471.pdf?OpenElement.
Acesso em 22 nov. 2021.

UNITED NATIONS. Working Group on Business and Human Rights. Guiding Principles on
Business and Human Rights At 10: Taking stock of a first decade. Report of the Working
Group on the issue of human rights and transnational corporations and other business
enterprises (A/HRC/47/39). Geneva, jun. 2021. Disponível em:
https://www.ohchr.org/Documents/Issues/Business/UNGPs10/ Stocktaking-reader-
friendly.pdf. Acesso em: 13 out. 2021.

178
Ações de reparação de danos decorrentes de
cartel: funções e incentivos – uma questão
de política pública

Ana Cristina von Gusseck Kleindienst Buzatto


Doutoranda
anacristinavgk@gmail.com

Justificativa do tema
No contexto do PL 11.275/18 (antigo PLS 283/16), que tem por objetivo
estimular o ajuizamento de ações privadas para cessação de cartéis, bem
como ressarcimento dos danos deles decorrentes, esta pesquisa justifica-se
porque o incentivo ao private enforcement na coibição da conduta
anticompetitiva necessariamente alteram os incentivos à celebração de
acordos com o CADE (leniências e termos de compromisso de cessação de
prática) - ferramentas utilizadas pelo public enforcement existente.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Propõe-se, nesta pesquisa, examinar, sob a perspectiva da análise econômica
do direito, todos os possíveis incentivos e desincentivos ao ajuizamento de
ações indenizatórias por danos decorrentes da prática de cartel e suas
implicações sobre os incentivos à celebração de acordos de leniência e
termos de compromisso de cessação de prática, questionando a respectiva
adequação de tais incentivos e desincentivos, no âmbito de propostas de
reforma do ordenamento jurídico brasileiro.

Problema e/ou hipótese


Considerando que o infrator é um agente racional que decide praticar
determinado ato ilícito (os ganhos a serem auferidos com a prática são
superiores ao prejuízo esperado em decorrência da sanção eventualmente
aplicada caso o ato seja descoberto, sobretudo, considerando o sistema
jurídico brasileiro atual), a pesquisa ora proposta pretende realizar uma
avaliação sobre a adequada modulação do private enforcement na coibição
de cartéis no Brasil, sob a perspectiva da análise econômica do direito.

181
Metodologia de pesquisa
O método de abordagem escolhido para desenvolver a pesquisa que se
propõe é o hipotético-dedutivo, sendo que, no âmbito do procedimento,
também serão adotados os métodos histórico, descritivo, sistemático e
comparativo. Quando aplicável, tais métodos adotarão uma perspectiva
qualitativa e quantitativa. No estudo, serão empregadas a análise bibliográfica,
jurisprudencial e documental, com base em legislações, livros, artigos
científicos, periódicos e relatórios publicados por autoridades.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Apesar de ganhar espaço o entendimento de que as ações indenizatórias
ajuizadas por parte dos prejudicados também têm a função de reforçar os
mecanismos de prevenção e dissuasão de condutas anticompetitivas (private
enforcement), o número de ações dessa natureza ainda é muito insignificante
no país, sobretudo quando comparado com o número de condenações
proferidas pelo CADE, que tem a função de investigar tais condutas e aplicar
punições aos infratores (public enforcement).

Principais referências bibliográficas


CASELTA, Daniel Costa. Responsabilidade civil por danos decorrentes da prática de cartel.
São Paulo: Singular, 2016.

FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Direito da Concorrência e Enforcement Privado na


Legislação Brasileira, em Revista de Defesa da Concorrência, n. 2, 2013.

LANDES, William M. Optimal Sanctions for Antitrust Violations. University of Chicago


Law Review, 1983. Disponível em:
https://chicagounbound.uchicago.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=4333&context=uclre
v. Acesso em: 18.10.2019.

MAIA, Mauricio Oscar Bandeira. Elementos das ações reparatórias por danos
concorrenciais decorrentes de cartel. Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional) –
Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, Brasília, 2021.

PEIXOTO, Bruno Lana; SILVA, Ludmila Martins da. Alterações legislativas necessárias e o
futuro das ações reparatórias por danos concorrenciais no Brasil, em DRAGO, Bruno de
Luca; PEIXOTO, Bruno Lana (coord.). A livre concorrência e os tribunais brasileiros:
análise crítica dos julgados no Poder Judiciário envolvendo matéria concorrencial. São
Paulo: Singular, 2018.

182
Mortes de civis por policiais
na cidade de São Paulo: determinações no
tribunal do júri

Debora Nachmanowicz de Lima


Mestranda
deborrrah@gmail.com

Justificativa do tema
O Tribunal do Júri, talvez pelo seu caráter de não motivação das decisões, é
área com menor concentração de pesquisas na área do saber do direito
criminal. Apesar do conhecimento do elevado número de mortes em
decorrência de intervenção policial e de haver pesquisas indicando haver
grande arquivamento dos inquéritos, não se encontrou pesquisa que
aglutine/generalize informações e ofereça respostas às perguntas que
inspiram a presente pesquisa.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa objetiva investigar como se dá o julgamento de policiais militares
em casos de homicídio de civis, buscando identificar quais são as
determinações que permeiam a condenação ou absolvição pelo corpo de
jurados. Pretende-se compilar informações entre 2015-2020 sobre
quantidade de inquéritos sobre morte decorrente de intervenção policial que
tiveram oferecimento de denúncia e posterior desenvolvimento do processo.

Problema e/ou hipótese


possível identificação de uma estrutura ideológica atravessando os jurados.
distanciamento socioeconômico dos jurados em relação à vítima da violência
policial. verificar motivações subjetivas generalizáveis no julgamento, tais
como a influência de questões de classe e a importância da proteção da
propriedade (papel realizado pelo policial, ainda que assassinando alguém)
e compreender como se utilizam e se interpretam percepções morais e
eventual reversão do conceito de vítima.

183
Metodologia de pesquisa
A análise indutiva se norteará pela perspectiva de criminologia crítica, com
bases de método materialista-dialético, eis que processos de criminalização
e de condenação são movimentos pautados em questões socioeconômicas
que se dão de maneiras diferentes a depender do réu e da relação que ele
ocupa no modo de produção capitalista. A metodologia prática será empírica
com técnica de análise quantitativa, com pedidos de dados (LAI) e
qualitativa, com observação participante e entrevistas.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
ainda não foi possível captar os dados pretendidos, contudo em análise
bibliográfica, foi possível verificar a existência de uma homogeneização dos
jurados pelo país, com uma grande parcela de funcionários públicos, o que
pode contaminar o caráter democrático do Tribunal do Júri, principalmente
quando o réu é policial e a vítima tem algum antecedente criminal.

Principais referências bibliográficas


CHEVGNY, Paul. Police Deadly Force As Social Control: Jamaica, Argentina and Brazil. Em:
Criminal Law Forum. Volume:1 Issue:3, 1990, p. 389-425.
CANO, Ignácio e FRAGOSO, José Carlos. Letalidade da ação policial no Rio de Janeiro: a
atuação da Justiça Militar. Revista Brasileira de Ciências Criminais, 2000, p. 207- 233.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São
Paulo. São Paulo, Editora 34/Edusp, 2000
CASTRO, Kátia Duarte de. O júri como instrumento de controle social. Sérgio Antônio
Fabris. Porto Alegre, 1999.
VERANI, Sérgio. Assassinatos em Nome da Lei. Rio de Janeiro: Aldebarã, 2003.

184
Processo Penal e o Depoimento Infantil nos
Crimes Sexuais - Lei nº 13.431, de 4 de abril
de 2017

Fausto Luz Lima


Doutorando
faustomaster1@hotmail.com

Justificativa do tema
Justifica-se o presente, pois, com entrada vigor do depoimento especial
através da Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, notamos que ainda existem
grandes controvérsias, acerca de como este meio de prova é utilizado. E além
disso, remanescem dúvidas da qualidade deste depoimento, para fins de
responsabilização penal. Ademais, o poder da palavra da vítima como única
fonte para se obter a condenação nos crimes sexuais envolvendo infantes,
ainda é tormentoso e carece de atenção dos juristas.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
Objetivo da pesquisa, é investigar alguns aspectos relativos a este meio de
prova que é depoimento infantil, em vista do atual sistema do depoimento
especial. Além disso, apontar alguns pontos de divergências e falhas que
podem surgir quando da utilização desta prova, a luz da legislação,
jurisprudência e doutrina processual.

Problema e/ou hipótese


O principal problema deste tema, é que a testemunha infantil muito embora,
com técnicas adotadas pela psicologia para rememorar sobre assuntos
antigos, relativos ao crime, pode sofrer estímulos indevidos e ser
sugestionada. Não bastando isso, os menores de tenra idade ainda podem
fantasiar criando falsas memórias, que podem levar a um laudo defeituoso e
que não reflete a realidade dos fatos.

185
Metodologia de pesquisa
A metodologia empregada é a de análise da legislação em vigor. A observação
de casos, por meio da pesquisa da jurisprudência dos Tribunais, e ainda
observando a doutrina e artigos científicos que tratam do tema. Analisando
assim, os posicionamentos e os problemas enfrentados no uso depoimento
especial no processo penal frente a outras garantias do acusado.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Verificamos com estudo de casos, que mesmo com avanço da forma de colher
o depoimento infantil, hoje conhecido como depoimento especial nos casos
de violência sexual contra menores. Não podemos dizer que é o meio mais
seguro de prova para se obter uma condenação, tendo em vista que o menor
pode ter problemas no momento de se expressar. E portanto, são necessários
profissionais habilidosos para se evitar injustiças e condenações
precipitadas.

Principais referências bibliográficas


BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da Prova no Processo Penal. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2003
BENTHAM, Jeremías. Tratado de las pruebas judiciales, v. I e II. Trad. Manuel Ossorio
Florit. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa-América, 1959.
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 14ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal – 11. ed. rev. e
atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
RAMOS, Vitor de Paula. Prova testemunhal. Do Subjetivismo ao Objetivismo. Do
isolamento Científico ao Diálogo com a Psicologia e a Epistemologia. São Paulo: RT, 2018.
ROSA, Alexandre Morais da. O Depoimento sem Dano e o Advogado do Diabo. A Violência
“Branda” e o “Quadro Mental Paranóico” (Cordero) no Processo Penal. Revista de Direito
da FESP, v.1, n. 1, 2010.
TARUFFO, Michele. A Prova. Tradução João Gabriel Couto. 1 ed. São Paulo Marcial Pons.
2014.

186
Desobediência civil e teoria do Direito: uma
análise da autoridade do direito em face
de um possível direito à desobediência

Pedro Gonçalo Ventura Alves de Souza


Mestrando
pegoncalovas@gmail.com

Justificativa do tema
Justifica-se a pesquisa pela existência de conflitos jurídicos contemporâneos
advindos da prática da desobediência civil, que mantém viva a questão da
punição da dissidência, i.e., se a prática da desobediência civil demanda
tratamento igual, mais brando ou mais severo do que o devido aos
praticantes de crimes comuns. Ainda, o debate quanto à existência de um
direito à desobediência civil está conectado ao tema da capacidade do Direito
para gerar obrigações, essencial para a teoria do Direito.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
A pesquisa investiga a existência de um direito moral à desobediência civil e
suas consequências jurídicas para avaliar o tratamento devido a duas
reivindicações contemporâneas nacionais. No cenário brasileiro, são
analisadas reivindicações de desobediência civil para o cultivo de maconha
para uso medicinal (ilegal pela ausência de regulamentação da ANVISA,
prevista na Lei de Drogas) e para as medidas restritivas durante a pandemia
de COVID-19 (desobediência civil pregada por bolsonaristas).

Problema e/ou hipótese


A principal hipótese da pesquisa é de que há um direito moral à
desobediência civil e este tem implicações no tratamento devido, tendo
expressão em um direito a não ser punido. Contudo, especula-se que nem
toda reivindicação de desobediência civil dá origem a um direto moral à
desobediência civil. Nesse sentido, apenas a desobediência civil moralmente
plausível, defendida responsavelmente em nome de direitos morais, pode
dar origem a esse direito moral e ao consequente direito de não punição.

187
Metodologia de pesquisa
No prisma teórico, investiga-se, na linha da teoria do Direito analítica pós
hartiana, a contraposição de duas das principais teorias quanto à gênese de
obrigações legítimas: a teoria da autoridade de Raz e o interpretativismo de
Dworkin. A partir desta contraposição, busca-se uma resposta nuançada e
robusta quanto às condições de legitimidade da autoridade, à possibilidade
de um direito à desobediência e suas consequências jurídicas para avaliar o
tratamento devido aos casos contemporâneos.

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
Considero que há um direito moral à desobediência civil, fundamentado em
uma concepção responsável de liberdade. O Direito não pode demandar
sempre que priorizemos a obediência a regras positivas ao invés de nossa
própria interpretação plausível de direitos e da moralidade.
No caso do plantio de maconha, é constituído um direito a não punição. No
caso das medidas restritivas, bolsonaristas não oferecem justificação de seu
conceito ilimitado de liberdade, não constituindo direito a não punição.

Principais referências bibliográficas


BROWNLEE, Kimberley. Conscience and Conviction: The Case for Civil Disobedience.
Oxford: Oxford Press, 2012.

BUSTAMANTE, Thomas; MENDES, Conrado Hübner. Freedom Without Responsibility: the


Promise of Bolsonaro’s COVID-19 Denial. Jus Cogens, Vol. 3 (2), 2021, p.181-207.

DWORKIN, Ronald. Taking Rights Seriously. 2 ed. Cambridge: Harvard Press, 1978.

______. Os sem-terra vistos de fora. O Estado de São Paulo, p. A2, 24 de maio de 1997.

RAZ, Joseph. The Morality of Freedom. Oxford: Oxford University Press, 1986.

188
Economia e Crime: uma análise a partir dos
crimes patrimoniais

Renato Gomes de Araujo Rocha


Doutorando
renatogarocha@gmail.com

Justificativa do tema
Embora pareça haver uma correlação histórica entre a esfera econômica e os
crimes patrimoniais, a causalidade em si está longe de ser comprovada e
precisa ser analisada com uma lente crítica, especialmente pelas limitações
de se estipular causalidades em fenômenos sociais complexos. Há,
adicionalmente, uma lacuna de trabalhos que realizem, de maneira
materialmente fundada, uma ponte entre o acúmulo teórico internacional e
a realidade brasileira.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O objetivo da pesquisa é compreender em que medida a configuração
econômica brasileira dos últimos anos, especialmente por meio dos
marcadores econômicos para desemprego e desigualdade, contribuíram com
as flutuações nos crimes patrimoniais, avaliando a dimensão e o sentido
dessa relação. Além disso, pretende-se estipular como essas relações de nível
“macro” estão associadas às características tipicamente associadas aos
crimes patrimoniais nas pesquisas qualitativas.

Problema e/ou hipótese


Estipula-se como hipótese que uma parte relevante das variações nos crimes
patrimoniais pode ser explicada pela dinâmica econômica, o que pode ser
especificamente avaliado pela relação com variáveis como desemprego e
desigualdade. Isso implica, subsidiariamente, que essa explicação se revela
pertinente não apenas nas análises de tipo "cross-section", como mostra
grande parte da literatura sobre o tema, mas também nas análises
longitudinais.

189
Metodologia de pesquisa
Será realizado: (1) pesquisa bibliográfica, (2) estudo de fontes documentais,
com foco tanto nos documentos e pesquisas produzidas pelas agências
públicas (Ministério da Justiça, IBGE, etc.) quanto por instituições privadas
que se dedicam à segurança pública (como o FBSP); e (3) análise de dados
em painel pelo método de regressão OLS (ordinary least squares),
recorrendo ao programa de análise estatística "R", a fim de verificar a
dimensão e a significância da relação das variáveis independentes com a
variável dependente (relativa aos crimes patrimoniais).

Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em


andamento ou finalizada
A variável relativa ao desemprego se mostrou a mais consistente em termos
de significância dos coeficientes, além de obter um dos efeitos mais intensos.
Um efeito próximo em termos de intensidade foi encontrado apenas em
alguns modelos para a variável "densidade urbana". Essa relação
significativa por parte do desemprego confirma a relevância da dimensão
econômica para modelos longitudinais e aponta, de maneira explícita, que a
desestruturação do mercado de trabalho tem efeitos criminógenos.

Principais referências bibliográficas


BOX, Steven. Recession, Crime and Punishment. London: Palgrave Macmillan, 1987/1992.

BRAITHWAITE, John. Inequality, Crime, and Public Policy. London: Routledge and Kegan
Paul, 1979.

HAGAN, John; PETERSON, Ruth D. Crime and Inequality. Stanford: SUP, 1995.

REINER, Robert. Law and Order: an honest citizen’s guide to crime and control.
Cambridge: Polity, 2007.

WRIGHT, Richard T.; DECKER, Scott H. Armed Robbers in Action: stickups and street
culture. Boston: Northeastern University Press, 1997.

190
Uma análise criminológica da crise
financeira de 2007-2008

Ricardo Alves Krug


Mestrando
ricardoakrug@gmail.com

Justificativa do tema
12 anos após seu desenrolar, os efeitos da crise financeira de 2008 ainda
ecoam em diversos níveis da sociedade contemporânea. De forma particular,
uma pergunta parece ter tomado mentes e corações: por que tais agentes não
foram criminalizados depois de causarem tanto dano? Propõe-se uma análise
criminológica das ilegalidades cometidas pelos agentes responsáveis pela
expansão da economia estadunidense, bem como sobre as possibilidades de
responsabilização desses agentes pela realização da crise.

Objeto/objetivo(s) da pesquisa
O presente trabalho identifica como problema a ser explorado o processo
pelos agentes financeiros encarregada das inovações necessárias para a
contínua absorção da mais-valia influenciaram os processos de
criminalização primária e secundária das ilegalidades cometidas no âmbito
da crise financeira de 2008.

Problema e/ou hipótese


Os agentes pertencentes ao sistema financeiro estadunidense podem ser
responsabilizados pela causação da crise financeira de 2007-2008? Sua
responsabilização criminal possibilitaria uma forma de resposta e luta contra
o modo de produção capitalista?

Metodologia de pesquisa
Pesquisa bibliográfica e documental.

191
Resultados e conclusões, ainda que parciais, de pesquisa em
andamento ou finalizada
Identifica-se, provisoriamente, uma dificuldade em adequar o sistema de
responsabilização individual pertencente à lógica burguesa com as
determinações e mecanismos que deram vida a crise financeira de 2007-2008;
identifica-se, também, uma dificuldade de identificação do cumprimento de
utilidade proposta por segmentos da esquerda ao propor a criminalização dos
grandes banqueiros em razão dos danos causados pela crise.

Principais referências bibliográficas


BARAK, Gregg. Theft of a Nation. Rowman & Littlefield, 2012.

BHASKAR, Roy. Realist theory of science. Harlow: Longman Higher Education, 1978.

MARX, Karl. Theories of surplus value: V. 1, 2 and 3. Amherst: Humanity Books, 2000.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. V. 1, 2 e 3. São Paulo: Boitempo, 2011.

PEARCE, Frank; TOMBS, Steve. Toxic capitalism: Corporate crime and the chemical
industry. London: Routledge, 2020.

TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (eds.). Critical Criminology. London:
Routledge, 1975.

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