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O ESPAÇO NA GEOGRAFIA DE MILTON SANTOS

Marcos Antonio Pinheiro Marques


Universidade Federal do Piauí
marcos92pinheiro@hotmail.com

Matheus Wallison Bezerra Santos


Universidade Federal do Piauí
matheus.wallison@live.com

RESUMO

O enfoque e amadurecimento teórico-metodológico estabelecido por Milton Santos no


decorrer de sua trajetória mostra o constate e atento olhar para o desenvolvimento do
que para o mesmo seria o objeto geográfico, o espaço. Neste cenário, um conjunto de
obras de sua autoria assume relevância no âmbito da analise e compreensão dos
processos e dinâmicas estabelecidas no espaço geográfico. Na perspectiva de analisar as
discussões tecidas acerca do espaço na obra de Milton Santos, o presente trabalho tem
como objetivo geral analisar o conceito de espaço abordado por Milton Santos nas obras
Por uma Geografia Nova (1978) e a Natureza do Espaço (1996). Buscando assim, de
forma sintética discutir as abordagens conceituais e metodológicas contidas nas
referidas obras. Como procedimento metodológico fora o utilizado revisão bibliográfica
das referidas obras, bem como em publicações de autores referentes à temática
ontológica do espaço. Desse modo, emerge como resultados preliminares a percepção
que após quase duas décadas após a publicação de Por uma Geografia Nova no livro A
Natureza do Espaço Cabe ressaltar o considerável enfoque e amadurecimento
metodológico de Milton Santos e que mais do que uma simples redefinição de termos, o
espaço aparece no livro A Natureza do Espaço, como um objeto solido e completo
conectado por um enorme conjunto de bases físicas e sociais.

INTRODUÇÃO

Na premissa de pensar e contextualizar de forma analítica o espaço geográfico


diante de sua complexidade, Milton Santos representa de acordo com Spósito (2004), o
pioneiro na insistência de que o espaço deve merecer atenção afinada dos geógrafos.
Desse modo, no conjunto de sua obra que desencadeia notoriedade no cenário
nacional e mundial a partir da década de 1970 sobre a consolidação da Geografia
crítica-radical em que deteve influências diretas a partir das obras de Karl Marx, Henri
Lefèbvre, Manuel Castells, Yves Lacoste, Pierre Deffontaines, dentre outros, o autor
propõem elaborar uma estrutura para a compreensão do espaço, indo ao campo
ontológico ao considerar que o espaço impõem a cada coisa um conjunto de relações,
complexidades e dinamicidades.
O enfoque e amadurecimento teórico-metodológico no decorrer de sua trajetória
mostra o constate e atento olhar para o desenvolvimento de uma ciência moderna que
até então vinda a segunda metade do século XX não detinha um objeto delimitado e
padecia de uma natureza interdisciplinar inconsistente ligada à múltiplos fenômenos
(SANTOS, 1978). Desta forma, diante da importância de seus estudos e da constante
busca no desenvolvimento de sua abordagem teórico-metodológica o presente trabalho
tem como objetivo analisar o conceito de espaço abordado por Milton Santos nas obras
Por uma Geografia Nova (1978) e a Natureza do Espaço (1996). Buscando assim, de
forma sintética discutir as abordagens conceituais e metodológicas contidas nas
referidas obras. Como procedimento metodológico fora realizado revisão bibliográfica
nos referidos livros, bem como em obras voltada à temática discutida,
Desse modo, a estrutura do presente trabalho encontra-se dividida em seções,
onde fora breve análise sobre a trajetória do conceito de espaço desenvolvido na
perspectiva do geógrafo Milton Santos em duas de suas principais obras que se
configuram como elementares e condicionantes na maturação das ideias defendidas pelo
autor. Inicialmente a primeira seção: Um breve resgate sobre o espaço no olhar
geográfico, visa apresentar uma breve discussão introdutória sobre a abordagem do
espaço no âmbito geográfico no decorrer do processo de sistematização desta ciência.
Posteriormente, a seção: Espaço: o objeto geográfico, direciona o seu enfoque na obra
Por uma Geografia Nova onde o autor define e caracteriza o objeto da Geografia. E na
ultima seção: A Natureza do Espaço para Milton Santos, seguida das considerações
preliminares, apresenta uma discussão voltada ao livro A Natureza do Espaço sobre o
olhar da restruturação da abordagem teórico-metodológica perante o incremento de
novos vetores e elementos na análise do espaço proposto por Santos.
UM BREVE RESGATE SOBRE O ESPAÇO NO OLHAR GEOGRÁFICO

No decorrer da história ao conceito de espaço diante de sua ampla dimensão e


usabilidade empregaram-se grandes esforços no intuito de analisar e compreender este
complexo conceito. No bojo dos debates geográficos este possuiu distintas acepções,
bem como mútuas intensidades no decorrer da sistematização e evolução do
pensamento geográfico, hora sendo enfocado de forma mais intensa, outrora de forma
menos expressiva resultando assim, no decorrer da história, consideráveis
transformações teórico-metodológica entorno desse conceito chave geográfico.
Para Corrêa (2000), a geografia tradicional de forma geral privilegiou conceitos
como paisagem e região, assim, tecendo discussões sobre o objeto da Geografia, bem
como sua identidade em torno destes conceitos. Desta forma, neste período, as
abordagens espaciais além de não serem trabalhadas como objeto desta ciência, eram
abordadas de forma secundária. Haja vista sua concepção positivista característica por
apresentar uma perspectiva de acumulação de conhecimentos empíricos e descritivos,
sobretudo galgada no “entendimento” da relação entre o homem e a natureza. Porém,
mesmo não constituindo um conceito chave da geografia no período que corresponde de
1870 a 1950, o espaço pode ser presenciado nos enfoques de Ratzel no espaço vital
proposto em sua antropogeografia, bem como na obra de Hartshorne como espaço
absoluto e substrato material.
De acordo com Spósito (2004), na Geografia neopositivista a abordagem do
conceito de espaço torna-se de suma importância para a base dos estudos desenvolvidos
neste período. Assim este conceito apresentando duas conotações a partir dos trabalhos
de Schaefer (1953), Ullman (1954) e Watson (1955), sendo elas: aquela que pode ser
chamada de planície isotrópica, e outra, como de representação matricial (CORRÊA,
2000). Na primeira conotação, o ponto de partida para a compreensão do espaço é a sua
característica de homogeneidade, enquanto ponto de chegada é a sua consequente
diferenciação espacial enfocada como que expressando em equilíbrio espacial (SILVA,
2012). No segundo caso para Spósito (2004, p.68), “o espaço seria representado por
uma matriz e por sua expressão topológica, chamada grafo. Os temas mais
significativos estudados por essa tendência foram movimento, redes, nós, hierarquias e
superfícies”.
Spósito (2004), enfatiza que as contribuições mais contenda para a reformulação
do conceito e abordagem de espaço fora apresentada sobre a intitulada geografia crítica
ou radical, tendo como base epistemológica o materialismo histórico dialético com base
marxista. Para Corrêa (2000, p.23), esta corrente “trata-se de uma revolução que
procura romper, de um lado a geografia tradicional e, de outro, com a geografia
quantitativa”. Assim, intensos debates no âmbito geográfico sobre influência do cunho
marxista e não-marxistas ocorreram de forma intensa a partir da década de 1970.
Assume relevância autores como Henri Lefèbvre, Horácio Capel, Richard Peet, Milton
Santos, entre outros.
O Espaço surge de forma efetiva na análise crítica a partir das abordagens de
Henri Lefèbvre, na obra Espacio y politica (1976). Nesta obra o autor entende o espaço
geográfico como produto da sociedade, fruto da reprodução das relações sociais de
produção em sua totalidade (SILVA, 2012). Lefèbvre trabalha com 4 abordagens do
conceito de espaço, sendo eles: o espaço como forma pura; como produto da sociedade;
como instrumento político e ideológico e o espaço socialmente produzido, apropriado e
transformado pela sociedade. Na obra de Ruy Moreira (1982), o espaço representa
também grande importância na contextualização do espaço geográfico, para o autor, o
espaço é visto como uma estrutura de relações sob determinação social, é a sociedade
vista com sua expressão material visível, através da socialização da natureza pelo
trabalho e uma totalidade estruturada de formas espaciais.
O geógrafo Edward Soja no livro Condição Pós-moderna faz menções
relevantes no resgate do conceito e estrutura do espaço geográfico, para o autor:

A estrutura do espaço organizado não é uma estrutura separada, com


suas leis autônomas de construção de transformação, nem tão pouco é
simplesmente uma expressão de estrutura de classes que emerge das
relações sociais (e, por isso, há traços espaciais?) de produção. Ela
representa, ao contrario, um componente dialeticamente definido das
relações de produção gerais, relações estas que são simultaneamente
socias e espaciais (SOJA, 1993, p.99).
Segundo Soja (1993), o espaço fora formado e moldado a partir de elementos
históricos e naturais. Nesse âmbito, o espaço é político e ideológico tornando-se,
portanto, um produto completo de convicções ideológicas. No âmbito nacional outra
abordagem acerca do espaço geográfico de relevante influência fora proposta por
Corrêa (1982), para este, o espaço geográfico representa a morada do homem e abrange
toda a superfície da Terra. Desse modo, o autor enfatiza em seu estudo 3 abordagens do
espaço. A do espaço absoluto; relativo; e a do espaço relacional. Em um cenário mais
recente sobretudo no final do século XX e início do XXI destaca-se também a busca da
compreensão deste conceito-chave sobre a ótica cultural e humanística. Aonde para
Claval (1999), a cultura é herança da comunicação, com papel fundamental da palavra,
que transforma o espaço cultural em espaço simbólico. Sendo a mediação sociedade-
natureza através das técnicas e devendo ser tomada como um processo em construção.

ESPAÇO: O OBJETO GEOGRÁFICO

Para Santos (1978), a fuga da abordagem sobre o objeto geográfico revelou no


decorrer da história a permanência enfática em discussões tidas como “mais relevantes”,
ou até mesmo, “menos complicada” no centro das discussões de muitos geógrafos. Esta
escolha, desencadeando o processo de fragilidade teórica evidenciado no decorrer da
história desta ciência moderna. Assim, ficando em segundo plano as discussões voltadas
ao seu objeto e método.
No livro Por uma Geografia Nova (1978), Santos diante da constatação de uma
“negligência geográfica” estabelece como preocupação central nesta obra, a definição
do objeto da Geografia, bem como intensas discussões entorno deste, ou seja, entorno
do espaço social. Mesmo diante de uma variedade considerável de objetos e
significações e múltipla usabilidade proferidas desde Platão e Aristóteles permeando o
senso comum e científico o autor busca delimitar o espaço que de fato representa o
objeto desta ciência moderna.
Na Geografia, segundo Santos (1978), o espaço que interessa é o humano ou
social este, sendo, portanto, o objeto da ciência Geográfica. Assim, na busca da
definição do objeto da Geografia, Santos, reconhece que chegar a este objetivo
apresenta uma tarefa árdua e com certo número de riscos. Surge, portanto neste
momento um válido debate, indagado por Santos (1978, p.120), “podemos encontrar
uma definição única dessa categoria de espaço?”. Diante de tal questionamento, o autor
busca analisar tal categoria como categoria permanente, ou seja, um espaço de todos os
tempos, preenchida por mútuas relações permanentes entre elementos lógicos, bem
como analisar o espaço diante de “nós”, nosso espaço, o espaço de nosso tempo.
(SANTOS, 1978).
Posto isto, diante da abordagem tecida na referida obra, o espaço de forma
sintética:

Deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas


através de funções e de formas que se apresentam como testemunho
de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é,
o espaço se define como um conjunto de formas representativas de
relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura
representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos
nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O
espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja a aceleração é
desigual (SANTOS, 1978, p.122).

Desta forma, o espaço geográfico configura-se como um elemento indissociável


do tempo. Haja vista dentre outros, o papel exercido por este tanto na cristalização de
momentos pretéritos e concílio do passado e futuro diante das relações sociais que se
realizam.
Ao discutir se o espaço é um reflexo da sociedade ou fato social, Santos (1978,
p.126), enfatiza que no decorrer da história, “um grande número de autores modernos e
clássicos afirmam que o espaço é apenas um reflexo da sociedade, uma tela de fundo
onde os fatos sociais se inscrevem à vontade, na medida em que acontecem”. O autor
afirma após debates, que o espaço é um fato social, pois é simultaneamente produtor e
produto, e considerar este objeto como um simples reflexo da sociedade, é considera-lo
como um “quadro neutro, vazio, imenso em que o vivento pode produzir-se” (SILVA,
2012).
À vista disso, o espaço diante de sua dinamicidade e complexidade não depende
exclusivamente da estrutura econômica como alguns estudiosos tendem a relevar, logo,
o espaço organizado jamais poderá ser considerado como uma estrutura social
dependendo unicamente da economia haja vista que este espaço é também uma forma,
um resultado da inter-relação de múltiplas variáveis.
De acordo com Santos (1978, p.150), “o espaço [...] não é jamais um produto
terminado, nem fixado, nem congelado para sempre [...] o espaço, sobretudo em nossos
dias, aparece como uma unidade maciça”. Desse modo, através desse objeto, a história
se torna, ela própria estruturada em formas. Segundo Lefèbvre (1974, p.88-89, apud
Santos, 1978), “o espaço não é uma coisa entre as coisas, um produto qualquer entre os
produtos [..] ele é o resultado de uma série, de um conjunto de operações, e não pode ser
reduzido a um simples objeto”.
Portanto, esta abordagem e definição “arriscada” por parte de Milton Santos,
haja vista tamanha complexidade envolvida na delimitação de um objeto de uma ciência
moderna, e portanto, em constante movimentação, representa elementos basilares para o
amadurecimento da abordagem teórico-metodológica em torno deste objeto por parte do
próprio autor, desta forma, sendo perceptível em obras posteriores como o Espaço
Dividido (19791), Economia Espacial (19791), Espaço e Método (19851), Metamorfose
do Espaço Habitado (19881), e sobre tudo nos anos 90 com o livro A Natureza do
Espaço (19961), uma teoria mais elaborada e refinada acerca do espaço geográfico.
Nesta última, a abordagem de espaço será apresentada e abordada na seção posterior.
Portanto, o espaço para Milton Santos neste momento de acordo com Führ
(2011, p. 4), “é visto como matéria por excelência, cuja a relação tempo e espaço a
organização espacial revela, através dos períodos históricos uma sucessão de sistemas
espaciais no qual o valor relativo de cada lugar está sempre mudando no decorrer da
história”. Desse modo, sendo essa a atenção e perspectiva que falta às análises
geográficas no bojo de suas discussões.
Como veremos na próxima seção, diante de intensas reflexões epistemológicas,
bem como o permeio entre distintas ciências humanas e sociais (história, filosofia,
sociologia etc.), no anseio de analisar de forma sistêmica as relações entre a técnica e o
espaço e entre o espaço e o tempo, emerge um novo enfoque sobretudo voltado ao
espaço diante de sua dinâmica e complexidade.

1
Ano da primeira publicação da obra.
A NATUREZA DO ESPAÇO PARA MILTON SANTOS

Durante quase duas décadas após a publicação de Por uma Geografia Nova
ressalta-se o considerável enfoque e amadurecimento metodológico apresentados em
seu livro A Natureza do Espaço no início da segunda metade da década de 1990. Neste
percurso destaca-se dentre outros o livro Espaço e Método (1986), em que o autor trata
que o espaço deve ser estudado por meio de quatro categorias do método geográfico
sendo elas: forma, função, processo e estrutura (SANTOS, 1985). Desse modo:

Forma é o aspecto visível de uma coisa. Refere-se, ademais, ao


arranjo ordenado de objetos, a um padrão. Tomada isoladamente,
temos uma mera descrição de fenômenos ou de seus aspectos num
dado instante do tempo. Função, [...] sugere uma tarefa ou atividade
esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa. Estrutura implica
a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização
ou construção. Processo pode ser definido como uma ação contínua,
desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando
conceitos de tempo (continuidade) e mudança (SANTOS, 1985, p.50,
grifo do autor).

A forma, função, processo e estrutura assim, devem ser analisadas


simultaneamente e consideradas na forma como se inter-relacionam para/na criação e
molde do espaço através do tempo. Assim, a descrição não podendo negligenciar
nenhum dos componentes de uma situação (SANTOS, 1985). Portanto, tais categorias,
precisam ser compreendidas de formas inseparáveis, pois quando se estuda a
organização do espaço, tais conceitos categorias mostram-se de forma necessária para a
análise e entendimento de como o espaço social está estruturado, assim podendo se
entender como os homens organizam sua sociedade no espaço e como a concepção e o
uso que o homem faz do espaço sofrem mudanças.
Desse modo, quase vinte anos depois e após o incremento de novas abordagens
teórica-metodológica, Milton Santos promove um processo de requalificação do
conceito de espaço apresentando uma transição que só foi possível, depois de anos de
dedicação a uma abordagem que permitisse uma clareza metodológica e operacional do
objeto da ciência geográfica, o espaço geográfico.
Como já apresentado, a preocupação da melhor definição acerca o espaço
geográfico, começou a se intensificar no período da década de 1970, quando o processo
de renovação da geografia ganhou corpo e começou a evidenciar abordagens que
permitiam uma fuga, da geografia tradicional e da teorética- quantitativa. Neste período
as abordagens da geografia humanista e crítica, conquistaram um grande número de
adeptos, principalmente dos que buscavam a compreensão do espaço geográfico, como
uma dimensão não estática da realidade.
Compreendendo o contexto histórico do período em que foi escrita as duas
obras, é possível construir um debate que relacione, a transição da abordagem de
espaço, como parte do processo de consolidação da renovação da ciência geográfica do
final do século XX, pois os intensos debates levaram aos geógrafos como Santos,
trabalharem para chegar uma apreensão deste que se tornou o principal conceito da
ciência geográfica, o espaço. O avanço possibilitado, deixou claro a busca incessante de
Santos por um conceito sólido que permitisse aos geógrafos a construção de um objeto
para a Geografia.
Ainda discutindo a ontologia do espaço, no segundo capitulo do livro, Santos
admite que a abordagem da categoria espacial como um conjunto de fixos e fluxos, era
uma construção intelectual primária para o surgimento de uma outra maneira de pensar
o espaço. Em que ele afirma que “Numa primeira hipótese de trabalho, dissemos que a
geografia poderia ser construída a partir da consideração do espaço como um conjunto
de fixos e fluxos” (SANTOS, 2008, p. 62).
A transição que se constata é o aprofundamento da maneira de ver o espaço
social, como uma dimensão dialética da sociedade, formada basicamente por uma
configuração sistêmica, uma fusão inseparável de um sistema de objeto e sistema de
ações. O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. (SANTOS, 2008, p.63)

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Observa-se assim que mais do que uma simples redefinição de termos, o espaço
aparece no livro A Natureza do Espaço, como um objeto solido e completo conectado
por um enorme conjunto de bases físicas e sociais. No mundo globalizado é ainda mais
forte a concepção sistêmica e integradora do espaço. As contradições e as unicidades
apresentadas por essa faceta da globalização estão longe de representarem uma
totalização eterna da sociedade na maneira em que é concebida e do espaço como
dimensão de hegemonia de uma classe sobre outra, o que o autor deixa claro é uma
utopia de que os costumes locais e a reprodução da vida cotidiana, podem ser resistir ao
processo de globalização e reafirmar a força do lugar, nesta redefinição da lógica
societária apresentada pela globalização. É mais uma vez afirmar o potencial das
horizontalidades para concretização da luta contra a perversidade da globalização.

REFERÊNCIAS:

CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. Florianópolis: UFSC, 1999.

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná


Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.).
Geografia: conceitos e temas. 2.ed.- Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2000. p. 15-30.

FÜHR, Joseane de Oliveira Medeiros. Resenha. In: Perspectiva Geográfica, Unioeste,


v.6, n.7 2011.

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da critica da geografia a uma geografia
crítica. São Paulo: HUCITEC, Ed. da Universidade de São Paulo, 1978.

SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.


SANTOS, Milton. A Natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. 8.
reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. - (Coleção Milton
Santos; 1)

SANTOS, Milton. Espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana nos países
subdesenvolvidos. 2.ed, 1 reimpr.-São Paulo: Editora da universidade de São Paulo,
2008.

SILVA, Rodrigo Kuhn. A evolução do conceito de espaço geográfico. In: Geografia


pesquisa e ensino. V.16, n. 3. 2012.
SOJA, Edward W. Geografia pós-moderna: a reformação do espaço na teoria social. 2.
Ed. 1993.

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuições para o ensino do


pensamento geográfico. - São Paulo: Editora UNESP, 2004.

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