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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA - UNINTA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EXATAS - CCHE


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

FERNANDA DA SILVA SANTIAGO

ANÁLISE CRÍTICA DA ADPF 54: UMA PERSPECTIVA CONTRÁRIA À


INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ EM RAZÃO DO DIAGNÓSTICO DE ANENCEFALIA

SOBRAL

2023
FERNANDA DA SILVA SANTIAGO

ANÁLISE CRÍTICA DA ADPF 54: UMA PERSPECTIVA CONTRÁRIA À


INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ EM RAZÃO DO DIAGNÓSTICO DE ANENCEFALIA

Monografia apresentada ao Centro


Universitário INTA – UNINTA como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Prof. Me.(a) Helaine Magalhães Medeiros Ibiapina
Orientador metodológico: Professor Dr.
Francisco Hélio Monteiro Júnior.

SOBRAL
2023
FICHA CATALOGRÁFICA

FERNANDA DA SILVA SANTIAGO


ANÁLISE CRÍTICA DA ADPF 54: UMA PERSPECTIVA CONTRÁRIA À
INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ EM RAZÃO DO DIAGNÓSTICO DE ANENCEFALIA

Monografia apresentada ao Centro


Universitário INTA – UNINTA como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Prof. Me.(a) Helaine
Magalhães Medeiros Ibiapina
Orientador metodológico: Professor Dr.
Francisco Hélio Monteiro Júnior.

Apresentada em
_____/_________/2022

Banca examinadora:

__________________________________________________________
Orientador: Prof. Titulação –Nome do(a) Orientador(a)
Centro Universitário INTA - UNINTA

__________________________________________________________
1º Examinador: Prof. Titulação nome
Filiação institucional

___________________________________________________________
2º Examinador Prof. Titulação nome
Filiação institucional
Dedico à minha família e a todos aqueles
que foram essenciais para a construção
deste texto.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a rocha sólida que sustentou meus passos ao longo de
todos os anos e de maneira especial neste último ano. O ano que imaginei ser o pior
da minha vida transformou-se no melhor, pois Deus me livrou de inúmeras
adversidades, guiando-me com Sua luz.

Aos meus avós, Santiago e Silva, que sempre foram amáveis, decentes e
infalivelmente generosos em sonhar junto comigo cada momento dessa graduação.
São meus alicerces, sem os quais eu não poderia firmar-me. Tenho orgulho de ser
neta de cada um dos senhores.

Aos meus padrinhos, principalmente ao meu padrinho Aderson, cuja


inspiração e incentivo foram a chama inicial que me guiou para o curso de Direito.
Sua confiança em meu potencial foi um farol a iluminar meu caminho, moldando
minha trajetória acadêmica.

À minha tia Micaele, um alicerce emocional incansável. Em cada lágrima de


dúvida, ela estava lá, acreditando em mim quando eu mesma duvidava. Sua fé
constante em meu sucesso foi o impulso que me fez perseverar nos momentos mais
difíceis.

Às minhas primas Júlia e Marisa, companheiras inseparáveis ao longo dessa


jornada árdua. Cada desafio, cada conquista, foi compartilhado, tornando cada
passo mais significativo e fortalecendo os laços familiares que sustentaram meu
percurso.

Ao Sr. João da biblioteca, cujo gesto simples de oferecer um armário alto para
que eu não precisasse ficar no chão tornou meus dias de estudo mais confortáveis.
Seu carinho ao guardar um cafezinho dos colaboradores para mim não apenas
alimentou meu corpo, mas também aqueceu meu coração.

Agradeço do fundo do coração a todos os professores que guiaram minha


trajetória acadêmica. À coordenação do curso de Direito, expresso minha gratidão
especial aos professores Carneiro Neto e Alana Mesquita, cujo apoio foi
fundamental em todos os momentos.
Ao professor Ivson Meireles, meu mentor no caminho do Direito
Constitucional, agradeço por despertar em mim o amor por essa área e por
apresentar o tema da minha monografia desde os primórdios do aprendizado sobre
direitos fundamentais.

Ao professor George Henrique, que vai além do papel de educador e se torna


um guia na vida, agradeço por ser mais do que um professor de Direito, mas um
mestre na essência do viver, não apenas para mim, mas para toda a minha turma.

Ao professor Joshua, meu apoio nos momentos de ansiedade, tanto na


elaboração da monografia quanto na preparação para o exame da ordem, expresso
minha sincera gratidão por seu incentivo e crença em meu potencial.

À minha orientadora, escolhida a dedo por Deus, agradeço por sua


compreensão e bondade ao longo da construção da minha monografia e de todo o
meu percurso acadêmico. Seu olhar singular, atento ao meu bem-estar, sua
habilidade em perceber e acolher foram essenciais em minha jornada. Obrigado por
ser uma luz constante no meu caminho.
À minha querida turma 8M, desde o primeiro momento, vocês foram a luz que
iluminou cada passo da minha jornada. Aos amigos incríveis, em especial àqueles
que dividiram todas as emoções comigo, Geraldo Carvalho, Vitória Massimino,
Vanessa Azevedo, Larisse Moreira, Carlinda Rios, Carlos Daniel, João Gabriel,
Letícia Rodrigues, Lucas Medeiros, Manoel Cordeiro e Yasmin Azevedo, cada um de
vocês trouxe magia a essa trajetória.

À Hillary Mara, que é a amizade descrita em Provérbios 27:9, amizade que vai
além das palavras, compartilhamos sonhos, vitórias, derrotas, choros e alegrias.
Obrigada por estar ao meu lado mesmo quando digo que não quero. Você é um anjo
que o destino me deu, e nossa amizade é um tesouro que vai muito além do Direito.

À Ana Clara, enviada por Deus para trilhar este último ano, estudamos juntas
diariamente para o exame da ordem, descansamos a alma nas quintas de adoração
ao Santíssimo. Sua força e alegria me impulsionaram, e com você, tudo se tornou
mais leve.
A Iasmin e Larissa foram como raios de sol em dias nublados, sempre me
incentivando e trazendo a luz da esperança. Com o apoio delas, superamos desafios
e celebramos conquistas.
Às minhas irmãs, desde o nascimento de vocês, aprendi a compartilhar não
apenas as coisas, mas também o amor, as risadas, as roupas e a cumplicidade.
Obrigada por multiplicarem as alegrias e tornarem nossa família ainda mais especial,
triplicada com a chegada da Maria. Cada momento com vocês é um presente
valioso. Obrigada por tornarem minha jornada acadêmica e minha vida mais
incríveis.
Aos meus pais, não há palavras que possam expressar toda a gratidão que
sinto por vocês. Vocês suspenderam tempo e investiram recursos, financiaram meu
sonho e me deram um suporte inabalável, sempre acreditando em mim. Vocês dois
são a essência da minha conquista, e meu coração transborda de amor e gratidão
por ter pais tão incríveis.
À minha mãe, você não apenas incentivou meu melhor, mas desceu a serra
todos os dias comigo em Tianguá, fez companhia e trilhou um curso de 5 anos ao
meu lado. Sua dedicação e amor moldaram minha jornada.
Ao meu pai, sempre com seus esforços incansáveis em me dar exemplos de
conduta que contribuíram para a formação da minha personalidade. Ao longo
desses incríveis 22 anos, meu pai nunca me limitou, sempre me mostrando que eu
poderia ser quem eu quisesse. Enquanto ele me guiava, talvez não tenha percebido
que a pessoa que mais desejava ser era ele. Obrigado, pai, por ser meu exemplo
em tudo.
Ao final, expresso meu profundo agradecimento a todos que, de alguma
maneira, tocaram e enriqueceram tanto minha jornada profissional quanto pessoal.
"Um sonho é um desejo que seu coração
faz." (Cinderela)
RESUMO

O presente estudo aborda uma temática jurídica e social de grande relevância e


contínua atualidade: o aborto. A discussão persiste quanto aos limites do direito à
vida do feto no ventre materno em contraposição aos direitos da mulher sobre seu
próprio corpo. Muitos defendem a necessidade de um Estado laico na legislação,
embora haja considerações sobre costumes e particularidades de cada sociedade,
as quais não podem ser desconsideradas pelos legisladores. O aborto, quando
realizado voluntariamente, pode ser enquadrado como homicídio, visto que
interrompe a vida de uma criança antes mesmo de seu nascimento. O presente
artigo aborda reflexões sobre esse tema, respaldado por artigos científicos nacionais
e internacionais, por meio de uma revisão bibliográfica-metodológica. Diante disso,
torna-se evidente que o direito à vida está sendo restringido pela interrupção do
nascimento de indivíduos que teriam perspectivas de acesso aos direitos
fundamentais e humanos consagrados na Constituição Federal de 1988,
especialmente no art. 5. Portanto, destaca-se a importância da proteção à vida,
conforme preconizado pela própria Constituição Federal.
Palavras-chave: aborto; vida; anencéfalos; ativismo judiciário.
ABSTRACT

This study addresses a legal and social issue of great relevance and ongoing
relevance: abortion. The discussion persists regarding the limits of the right to life of
the fetus in the mother's womb as opposed to the woman's rights over her own body.
Many defend the need for a secular State in legislation, although there are
considerations about customs and particularities of each society, which cannot be
disregarded by legislators. Abortion, when carried out voluntarily, can be classified as
homicide, as it interrupts the life of a child even before its birth. This article addresses
reflections on this topic, supported by national and international scientific articles,
through a bibliographic-methodological review. In view of this, it becomes evident
that the right to life is being restricted by interrupting the birth of individuals who
would have prospects of access to fundamental and human rights enshrined in the
1988 Federal Constitution, especially in art. 5. Therefore, the importance of
protecting life stands out, as recommended by the Federal Constitution itself.
Keywords: abortion; life; anencephalic; judicial activism.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Incidência de câncer de mama entre 50 e 54 anos versus taxa de aborto


para mulheres na Inglaterra e País de Gales. 32
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................................................................... 1

2 DIREITO À VIDA: UMA GARANTIA CONSTITUCIONAL....................................................................................................................................4

2.1 O DIREITO A VIDA NA LEGISLAÇÃO 5

2.2 PONDERAÇÃO ENTRE O DIREITO À VIDA E A LIBERDADE DE ESCOLHA 5

3 REPERCUSSÕES DO ABORTO NA SAÚDE DA MULHER................................................................................................................................4

3.1 ERRO 1 5

3.2 ERRO 2 5

3.2 ERRO 3 5

4 ATIVISMO JUDICIAL........................................................................................................................................................................................... 4

5 RELATIVIZAÇÃO DA VIDA FRENTE A EUGENIA DO ABORTO4

6 CONCLUSÃO 4

REFERÊNCIAS 4

1 INTRODUÇÃO
Este projeto busca analisar o direito à vida frente à ADPF 54, uma ponderação principiológica de direitos fundamentais basilares da

Constituição Federal versus a mutação da interpretação acerca da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos.

Inicialmente, para o entendimento integral do tema proposto, faz-se necessário entendimentos básicos jurídicos, como o conceito acerca do

direito à vida, a anencefalia e o mencionado na decisão em questão acerca da ADPF 54, que serão definidos no decorrer do presente trabalho de

pesquisa.

Em decisão abordada na ADPF nº 54, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a interpretação que considera a interrupção da gravidez de feto

anencéfalo como aborto é inconstitucional, ao determinar que a gestante possua a liberdade de escolher interromper a gravidez caso seja

comprovada, através de um laudo médico, a anencefalia do feto.

A anencefalia trata-se de uma má formação que acontece durante a gestação e é caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da

calota craniana. Ainda que haja má formação, não se podem considerar esses fetos como fetos sem vida.

A interrupção constitui uma violência contra um ser fragilizado. Diante do exposto, essa pesquisa se debruça a analisar a seguinte

problemática: a interrupção da gravidez justificada pela anencefalia do feto é capaz de abrir prerrogativa para fomentar a intolerância e a

discriminação contra todos os fetos portadores de necessidades especiais e interrompê-los?

A pesquisa em questão analisa os requisitos da ponderação dos princípios fundamentais constitucionais, levando em consideração a

premissa de que todos os seres humanos, desde a sua concepção, estão em constante movimento, nos diferentes ciclos que compõem a vida,

seja ela embrionária, fetal, recém-nascida, infantil, juvenil, adulta ou idosa. Acredita-se que a vida engloba todos esses ciclos vitais.

A relevância social se dá a partir do entendimento de que, ao considerar que a ciência e a tecnologia, enquanto criações humanas,

também possuem suas limitações e imperfeições, não podendo pautar-se como verdade absoluta um diagnóstico que indique má-formação

congênita do feto.

Assim, torna-se relevante juridicamente analisar acerca de que, ainda que ocorra a má-formação, não pressupõe sua perda do direito à

vida. Isso leva ao questionamento da mutação da interpretação acerca da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos, sobre qual o Supremo

Tribunal Federal estabeleceu a inconstitucionalidade na atribuição do ato-fato ao aborto.


2 DIREITO À VIDA: UMA GARANTIA CONSTITUCIONAL

2.1 O DIREITO À VIDA NA LEGISLAÇÃO

O direito à vida encontra-se em vários diplomas legais, como a Constituição da República Federativa do Brasil/1988, leis específicas

de proteção à vida, códigos penais que criminalizam a violação do direito à vida e tratados internacionais de direitos humanos ratificados. Além

disso, pouco se sabe quando de fato se inicia a vida, pois, por sua complexidade, ela se torna sagrada independentemente de religião ou de

convicção filosófica.

Dworkin dispõe sobre a vida humana da seguinte forma:

Quanto à vida humana, será ela subjetiva, instrumental ou intrinsecamente valiosa? É valiosa nos três sentidos, acreditamos quase
todos. Tratamos o valor da vida de uma pessoa como instrumental quando a avaliamos em termos do quanto o fato de ela estar
viva serve aos interesses dos outros: do quanto aquilo que ela produz torna melhor a vida de outras pessoas, por exemplo.
[...]Chamemos de pessoal o valor subjetivo que uma vida tem para a pessoa cuja vida se trata. É um valor pessoal o que temos em
mente quando dizemos que, normalmente, a vida de uma pessoa é a coisa mais importante que ela tem. É valor pessoal aquilo que
um governo tenta proteger, como fundamentalmente importante, quando reconhece e faz revigorar o direito das pessoas à vida. [...]
Se pensarmos, porém, que a vida de qualquer organismo vivo, inclusive a do feto, tem valor intrínseco a despeito de também ter,
ou não, valor instrumental ou pessoal – se tratarmos qualquer forma de vida humana como algo que devemos respeitar, reverenciar
e proteger por ser maravilhosa em si mesma-, teremos então que o aborto é moralmente problemático. [...] (DWORKIN, 2009).

Ainda nesse entendimento, Dworkin (2009) invoca argumentos religiosos, sem fazer menção a Deus em seu argumento, legitimando

seu pensamento pela vertente que, mesmo em um Estado Laico, os direitos das crianças, dos doentes, das mulheres, dos deficientes não devem

ser negligenciados, razão pela qual o feto, que viria a ser uma criança, não poderia ser sacrificado em razão da vontade de outrem.
Na obra intitulada "O Estado Atual do Biodireito", a jurista brasileira Maria
Helena Diniz, especializada em Direito Civil, levanta uma questão fundamental em
relação ao aborto. Com coragem, ela argumenta que é inaceitável permitir que a
sociedade ou o Estado julguem o valor intrínseco de uma vida humana com base em
suas deficiências. Diniz ressalta que, assim como não podemos negar a
humanidade mesmo ao mais bárbaro dos seres, é ainda mais imperativo reconhecer
a humanidade do embrião e do nascituro. (DINIZ, 2017)

A jurista destaca que a Constituição de 1988, em seu artigo quinto, garante a


inviolabilidade do direito à vida desde a concepção, tornando-o um direito
fundamental e básico. Esse direito, de acordo com Diniz, é de uma magnitude tão
significativa que deve ser protegido contra qualquer tendência coletiva que defenda
a legalização do aborto.

A posição de Diniz reflete a importância vital de preservar o valor intrínseco


de cada vida humana desde o momento da concepção, conforme estabelecido pelos
princípios fundamentais da Constituição brasileira e pelos imperativos éticos e
morais que regem a sociedade.

A condição de ser humano garante a todo indivíduo a titularidade de direitos fundamentais que têm como princípios norteadores a sua

irrenunciabilidade, inalienabilidade e vedação ao retrocesso. O direito à vida como garantia constitucional surge como pré-requisito indispensável

à existência dos demais direitos preceituados na Carta Magna. O art. 5° da Constituição/88 expõe o direito à vida como inviolável nos seguintes

termos: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. (BRASIL, 1988)

Muito se discute acerca do momento inicial da proteção desse direito, razão


pela qual é a principal questão no que tange ao referido tema. Essa regra geral trata-
se de uma questão biológica para determinar o marco inicial, sendo a teoria da
concepção adotada pela sistemática legal. Nesse sentido, nada impede que ocorra a
garantia dos embriões da mesma forma que é conferida a proteção aos já vivos,
tratando-se na verdade de uma escolha política, que não deveria ocorrer de forma
integralmente arbitrária, de modo a ser legitimada sua edição de forma justificada
em acordo com os interesses da sociedade. (TAVARES, 2022)
A Igreja Católica é contraria ao aborto em qualquer fase da gestação. Nesse
sentido, a Carta Encíclica EVANGELIUM VITTAE, do Sumo Pontífice João Paulo II,
preceitua que alguns indivíduos tentam justificar o aborto argumentando que o
embrião, pelo menos durante um determinado período de dias após a concepção,
não pode ser considerado uma vida humana pessoal. No entanto, na realidade, a
partir do momento em que o óvulo é fecundado, inicia-se um novo processo de vida
que não pertence nem ao pai nem à mãe, mas sim a um novo ser humano que
começa a se desenvolver de forma independente. (PAULO II, 1998)
A partir disso, esse novo ser humano já possui uma identidade única e distinta
desde o início, pois a ciência genética moderna oferece confirmações fundamentais
para essa perspectiva. Ela demonstrou que, desde o momento da fecundação, o
programa genético que determinará todas as características desse ser vivo já está
estabelecido. Assim, desde o princípio, inicia-se a jornada de uma vida humana,
cujas potencialidades intrínsecas, embora presentes desde o início, necessitam de
tempo para se organizar e se manifestar completamente. (PAULO II, 1998)
É importante notar que a presença de uma alma espiritual não pode ser
identificada por meio de observações experimentais. Entretanto, as conclusões
científicas sobre o embrião humano fornecem uma indicação valiosa para discernir
racionalmente a presença de uma entidade pessoal desde as fases iniciais do
desenvolvimento humano.

Nessa óptica, João Paulo II expressa que o direito à vida é inviolável, sendo o
aborto uma violação direta desse princípio. Nesse contexto, é pertinente questionar:
como poderia um indivíduo humano não ser considerado uma pessoa humana, dado
o evidente processo de desenvolvimento e as características únicas que são
intrínsecas à sua natureza desde o momento inicial de sua existência? (PAULO II,
1998).
No Código Civil, quando se discute a personalidade jurídica, é assegurado pela teoria concepcionista que o ponto inicial da

personalidade ocorre desde a concepção. Então, o direito à vida é inerente à pessoa detentora de si própria, uma vez que, no momento em que

ocorre a união do espermatozoide com o óvulo, no zigoto, todas as características do ser humano já estão definidas e permanecerão presentes

até o fim de sua vida.

A legislação nacional, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente,


estabelece a determinação de dever político que seja capaz de garantir o
desenvolvimento sadio e harmonioso, razão pela qual não existe justificativa para
que não seja tratada a garantia da vida desde a maturação embrionária.
Acrescenta-se ao âmbito de proteção o princípio da concepção do Pacto São
José da Costa Rica, tratado da Convenção Americana de Direitos Humanos, na qual
a República Federativa do Brasil é signatária, conforme se observa pelo Decreto
n°678:
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de
novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser
cumprida tão inteiramente como nela se contém. Art. 2° Ao depositar a carta
de adesão a esse ato internacional, em 25 de setembro de 1992, o Governo
brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa: "O Governo do Brasil
entende que os arts. 43 e 48, alínea d, não incluem o direito automático de
visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado". Art. 3° O
presente decreto entra em vigor na data de sua publicação. (BRASIL, 1992).

Em primeiro ponto, o direito penal geralmente sustenta que a vida tem início com a nidação, ou seja, a vida começa a partir do

momento em que o embrião se fixa na parede uterina, com a implantação do óvulo fecundado no endométrio. (PRADO, 2007)

Em segundo ponto, o aborto é criminalizado em toda a parte especial do Código Penal, que visa a garantir o que há de maior valor

para o ser humano, tal qual a vida e sua integridade física, de forma que tipifica as condutas ilícitas, dispostas da seguinte forma:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o
consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou
se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas
causas, lhe sobrevém a morte. (BRASIL, 1940).

No ordenamento jurídico brasileiro, adota-se o princípio da legalidade, no qual apenas, através de normas elaboradas, conforme as

regras do processo legislativo, poderiam-se criar deveres morais aos cidadãos, evitando que o Estado aja de forma arbitraria, sem garantir a

vontade dos particulares de forma imparcial. Ocorre, todavia, que, no atual quadro normativo, não há lei anterior à decisão da ADPF n° 54 que

verse acerca da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos.

Destarte, ainda no que tange aos princípios constitucionais, o filósofo alemão Immanuel Kant destacou a importância da dignidade da

pessoa humana afirmando que “o homem é um fim em si mesmo”, o que corrobora ainda mais a ideia central de que cada indivíduo possui um

valor intrínseco. (Referência do autor?)

Os princípios servem como norteadores, orientadores para o ordenamento, seja para a aplicação, seja para a elaboração de novas

regras, de forma que, segundo Sarlet:

Os princípios em geral (não apenas os princípios fundamentais) são espécie do gênero normas jurídicas, [...], princípios
correspondem a normas dotadas de um significativo grau de abstração, vagueza e indeterminação [...]. os princípios fundamentais,
na condição de espécie de normas constitucionais, são dotados, portanto, de eficácia e aplicabilidade, sendo normas jurídicas
vinculativas, ainda que sua força jurídica não seja igual (em todos os aspectos) à das regras ou mesmo das normas de direitos
fundamentais que, a despeito de terem uma dimensão objetiva [...], assumem a condição de direitos subjetivos. (SARLET, 2017).
Acerca da questão valorativa dos princípios, Reale afirma acreditarmos que a prática jurídica se fundamenta em valores constantes ou

axiológicos essenciais, tais como o valor intrínseco da dignidade humana. Sem esses princípios, a evolução histórica do Direito perderia sua

substância e significado. Ao aceitar a concepção transcendental do Direito Natural, não estamos simplesmente formulando questões lógicas e

formais, mas, sim, abordando questões de natureza axiológica. Assim, não estabelecemos uma equivalência entre os princípios gerais do direito e

os princípios do Direito Natural. (REALE, 2002)

A experiência histórica evidencia a existência de valores que, quando trazidos à consciência histórica, revelam-se como éticas

constantes e invariáveis. Esses valores éticos, embora ainda não completamente compreendidos intelectualmente, sempre condicionaram e

conferiram significado à prática humana. (REALE, 2002)

Nessa linha, o princípio da dignidade humana é relacionado à vida na visão


de Fernandes pela seguinte afirmação:
No plano da biologia, vida é aquela na qual um determinado organismo seja
capaz de manter suas funções de modo contínuo, como metabolismo,
crescimento, reação a estímulos provindos do ambiente, reprodução, etc.
Porém, temos que a vida, enquanto direito fundamental, não pode e não
deve ser analisada apenas pela ótica biológica. Daí a atual concepção de
que o direito à vida deve ser analisado sob um duplo enfoque, qual seja: o
direito da vida em si mesma (direito de estar vivo) e o direito à vida digna
(com condições mínimas de existência). Portanto, as doutrinas
constitucionais mais recentes desenvolvem uma compreensão diversa do
entendimento biológico, compreendendo a concepção de vida conectada à
de dignidade humana. (FERNANDES, 2017).

Dessa forma, a dignidade da pessoa humana possui valor absoluto, seguindo


os norteadores principiológicos e estabelecendo proteção para todo e qualquer ser,
homem e mulher, sendo inerente por natureza.
Por fim, Garcia aponta que a necessidade de proteção dos direitos
fundamentais pode ser considerada um dever fundamental incontestável em relação
à própria dignidade humana, eliminando qualquer margem para o livre arbítrio
individual. O bem jurídico protegido revela-se totalmente incompatível com a criação
de códigos de conduta paralelos que possam enfraquecer os valores sociais que o
sustentam e asseguram seu respeito. Assim como não é permitido violar a dignidade
dos outros, não se deve violar a própria dignidade com o intuito de encorajar
comportamentos semelhantes. (GARCIA, 2015).
A dignidade humana, por ser intrinsecamente referencial ao próprio indivíduo,
impõe uma obrigação moral sobre o ser humano em relação a si mesmo. A partir
disso, surge a impossibilidade de alienar ou de reduzir sua dignidade a um mero
objeto, uma vez que essa está indissociavelmente ligada à sua própria essência e
integridade. (GARCIA, 2015).
A ADPF 54, no entanto, vincula o princípio da dignidade da pessoa humana
unicamente à mulher e ao seu direito de escolha, sua autonomia reprodutiva, sem
que faça menção alguma entre essa e a vida do feto portador de anomalia.
(SANTOS, 2016)
Em vista disso, é evidente não somente no Magno Texto Federal, bem como
em demais legislações adotadas no ordenamento jurídico brasileiro a defesa da vida
desde o momento da concepção. Nesse contexto, a interpretação que classifica
como constitucional a ADPF 54, ao considerar o aborto como a interrupção de fetos
anencéfalos, não se alinha adequadamente com a legislação, senão pelo
intervencionismo judicial incompatível.
O elemento essencial da justiça abrange aquilo que é permissível, bom,
honesto e lícito, fugindo da norma e do legal aquilo que é ilícito. Isso leva a
questionar-se de que forma a interrupção de uma vida, por decisão de outrem, se
difere do verbo matar descrito no Código Penal, para tornar-se objeto do lícito,
honesto e bom.

2.2 PONDERAÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: O DIREITO À VIDA E A


LIBERDADE DE ESCOLHA
É inquestionável que todos os direitos decorrem da vida. Na questão trazida
pela ADPF 54, existem bens jurídicos diferentes a serem tutelados, de forma que é a
partir daí que são gerados os conflitos entre os direitos fundamentais, observando os
princípios adotados no sistema normativo.
A colisão entre as garantias fundamentais ocorre, segundo Garcia, da
seguinte forma:
Será divisada a colisão de direitos quando o seu exercício por diferentes
titulares gerar uma situação de incompatibilidade (v.g.: liberdade de
expressão e direito à honra; direito do feto à vida e direito à intimidade da
mãe que pretende interromper a gravidez; direito à greve e direito à
continuidade dos serviços públicos etc.). ao contemplar uma série de
direitos potencialmente colidentes e necessariamente coexistentes, a
Constituição anui com a adoção de medidas que permitam a sua
concordância prática. Na generalidade dos casos, as normas constitucionais
que os consagram têm a natureza de princípios, conclusão decorrente das
construções teóricas de Alexy e de Dworkin e que apontam para o seu
conteúdo prima facie, vale dizer, são direitos não definitivos: admitem,
consoante os aspectos circunstanciais do caso, que os poderes constituídos
venham a retrair o seu potencial expansivo. (GARCIA, 2015).
Assim, isso é necessário para resolver a colisão, uma ponderação que
ocorrerá primeiro seguindo uma individualização e depois utilizando a técnica da
ponderação, harmonizando os direitos da maneira que for possível, o que levará à
prevalência daquele que tiver maior valor para o ponderador. (GARCIA,2015)
Acerca da ponderação de direitos fundamentais, advém a aplicação do
princípio da proporcionalidade, na qual Pussi ensina que, no caso de um conflito
entre direitos que gozam de ampla proteção legal, é imperativo que esses interesses
conflitantes sejam cuidadosamente avaliados e ponderados. O resultado dessa
análise determinará os limites de atuação das normas ao verificar o interesse
preponderante. Em outras palavras, diante de interesses opostos, é aconselhável
considerar e comparar os possíveis sacrifícios envolvidos, optando pelo sacrifício de
menor magnitude. (PUSSI, 2012)
Nesse contexto, a aplicação do princípio da proporcionalidade se faz
essencial, garantindo que a decisão tomada seja a mais equitativa possível,
respeitando a hierarquia dos valores em jogo. Isso ocorre, porque, segundo Pussi,
quando a ponderação envolver a vida do nascituro, esse deverá prevalecer dentre
os demais. (PUSSI, 2012).
Todavia, no caso concreto, ao dar prevalência ao direito da mulher, ocorreu a
eliminação do outro, de forma que houve a relativização daquele no qual decorrem a
nossa própria manutenção de vida. Acontece que, por uma lógica calculista, a vida
do embrião foi confrontada e ponderada, unicamente pela liberdade de escolha.
A democracia livre, com tendência ao relativismo ético, como será estudado
nos próximos capítulos, segue sentidos inteiramente diferentes, sem nenhum ponto
de convergência. Nesse sentido, se sobre uma perspectiva defende-se a autonomia
de decisão de cada indivíduo de forma singular, por outra justifica-se a vontade da
gestante acima do feto, em situação de desigualdade, legitimando a eliminação,
mesmo sob certas condições, da vida humana ainda não nascida, assumindo o
controle de uma forma tirânica contra o mais indefeso.
A partir da Segunda Guerra Mundial, a proteção pela vida ganhou destaque,
necessitando-se da proteção e da intervenção dos Estados para uma então
evolução no ordenamento jurídico, preconizando que a toda humanidade cabe
resguardá-la, estabelecendo um núcleo de direitos fundamentais. Regimes
totalitários, como o nazismo e o fascismo foram a representação de governos que
não tinham preocupação com o resguardo aos direitos dos cidadãos, violando e
agindo dentro dos seus ideais, afrontando a existência humana (SILVA, 2014).
Após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se evidente que o modelo clássico
do Estado liberal, caracterizado pela não intervenção, já não era mais aceitável. O
Estado passou a assumir o papel de administrador da sociedade, e, nesse contexto,
tornou-se crucial estabelecer um conjunto essencial de Direitos Humanos
Internacionais, aproveitando as conexões internacionais existentes. Como resultado
dessa necessidade, foi elaborada a Declaração Universal dos Direitos Humanos em
1948 e, posteriormente, a Declaração Americana dos Direitos do Homem em 1969,
em São José da Costa Rica, com o objetivo de universalizar a aplicação dos Direitos
Humanos. (SILVA, 2014).
Nesse período, surgiram organizações não governamentais, como a Anistia
Internacional, a Comissão Internacional dos Juristas e o Instituto Interamericano dos
Direitos Humanos, dedicadas à disseminação de ideias e à educação em Direitos
Humanos. Além disso, houve uma incorporação progressiva dos direitos sociais nos
diversos sistemas jurídicos. Contudo, apesar desses avanços, essas garantias não
são plenamente realizadas nos dias de hoje, principalmente devido à falta de
recursos que permitam ao Estado conferir eficácia a esses direitos. Inicialmente,
eles foram relegados à esfera meramente programática, evidenciando a dificuldade
em sua implementação completa. (SILVA, 2014).
Com o surgimento da ONU (Organização das Nações Unidas), iniciou-se o
questionamento acerca do cenário pós-guerra, orientando as nações a nível global a
respeito da tutela de direitos inerentes, inalienáveis, intransferíveis, inegociáveis,
irrenunciáveis, imprescindíveis, intransferíveis, invioláveis e intrínsecos à vida
humana.
Como início dessa alteração no cenário e evolução dos direitos humanos
resguardando os direitos fundamentais, tem-se a criação da Declaração Universal
dos Direitos Humanos, regida pela Organização das Nações Unidas que foi a base
para diversos outros regramentos. (AMARAL; BORANGA, 2015)
A partir disso, essas garantias fundamentais passaram a assumir maior
visibilidade dentro dos ordenamentos jurídicos, sendo fundamento para construção
de legislações que passaram a dispor sobre a indispensabilidade do direito à vida.
A vida é inquestionavelmente um dos valores mais fundamentais em qualquer
sociedade, sendo a base sobre a qual todos os outros direitos são construídos. No
entanto, mesmo esse valor supremo não está isento de colisões com outros direitos
igualmente essenciais. Nesses momentos de conflito, a ponderação torna-se uma
ferramenta crucial para a tomada de decisões éticas e jurídicas.
É intrigante refletir sobre como é possível atribuir valores relativos a direitos
tão fundamentais. Como sociedade, enfrentamos o desafio de ponderar entre
direitos que são intrinsecamente valiosos e, por vezes, nos deparamos com
situações em que é necessário decidir qual direito deve prevalecer. Ainda mais
intrigante é ponderar sobre a valoração da vida em um contexto em que a pena de
morte não é permitida. Essa reflexão nos leva a questionar profundamente as
nuances éticas e morais envolvidas na tomada de decisões que envolvem o valor
supremo da vida.
A raiz da contradição se dá pela afirmação dos direitos do cidadão e por
seguinte pela sua negativa na prática, residindo em um conceito de liberdade o qual
exalta o indivíduo que pode reivindicar o seu direito, de modo a não predispor de
solidariedade ao mais vulnerável. Não se pode negar que o egoísmo ligado à
cultura de morte, no geral, manifesta um conceito de liberdade repleto de
individualidade do mais forte contra os débeis.
A colisão de direitos fundamentais inicia a partir do momento em que a execução que determinada prerrogativa fundamental acarreta

consequências negativas para outra. A Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n°54 é um exemplo da colisão entre direitos

fundamentais que envolvem a vida. Tal ADPF faz uma ponderação principiológica de direitos fundamentais basilares da Constituição Federal

versus a mutação da interpretação acerca da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos.

Em decisão abordada na ADPF nº 54, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a interpretação que considera a interrupção da

gravidez de feto anencéfalo como aborto trata-se de uma inconstitucionalidade. Isso determina que a gestante possua a liberdade de escolher

interromper a gravidez caso seja comprovada, através de um laudo médico, a anencefalia do feto.

Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são um desdobramento do direito fundamental à liberdade e aos fundamentados em

princípios, como: integridade corporal e autonomia pessoal, visto que os direitos fundamentais tipificados no Art.5° da Constituição Federal/88 não

são taxativos, e, com o decorrer do tempo, demais direitos vão sendo incorporados na sociedade.
Os direitos reprodutivos podem ser conceituados como um conjunto de direitos fundamentais relacionados ao exercício livre da

sexualidade e da reprodução humana. Nesse contexto, é evidente que cabe ao Estado garantir o acesso a serviços de saúde que proporcionem

informações e meios para o controle da natalidade e da procriação, sem comprometer a saúde das pessoas envolvidas. (NASCIMENTO, 2013).

Os direitos reprodutivos têm recebido uma considerável importância por parte do movimento feminista global, uma vez que esses

afetam praticamente todas as mulheres. É geralmente essa parcela social que suporta as principais consequências de suas escolhas na vida

sexual. Isso implica que, seja a decisão relacionada à gravidez ou à contracepção, somente a mulher deve arcar com as responsabilidades

decorrentes dessas decisões, sem qualquer interferência externa em seu direito de escolha. (NASCIMENTO, 2013).

Os direitos reprodutivos surgiram através de temas que debatiam o


planejamento familiar e as questões relacionadas ao controle de natalidade, mas foi,
a partir de movimentos sociais, especificamente os movimentos feministas, que
esses começaram a reivindicar o que concerne ao tema. (SANTOS, 2016).
A autora menciona ainda como através da autonomia reprodutiva a sentença
americana Roe vs Wade reconheceu o direito ao aborto para garantir a
autodeterminação da vontade:
A afirmação da liberdade e da autonomia reprodutiva como direitos
fundamentais tem sido interpretada como gênero, do qual o direito ao aborto
é espécie, por ser entendido como direito vinculado ao princípio da
autodeterminação da vontade. Foi neste sentido que a sentença americana
Roe vs Wade reconheceu o direito da mulher à interrupção da gravidez
como consectário do direito à privacidade e, portanto, uma decisão pessoal,
cabível unicamente à mulher. (SANTOS, 2016).

Reconhecem-se esses litígios representativos por influenciar legislações em


todo o globo para seguir o exemplo. Ocorre que, assim como a ADPF n°54, esse
julgado também decorreu de um ativismo judicial. Soube-se, mais tarde, que,
inclusive, tais decisões fundaram-se em “inverdades admitidas e financiadas” de
forma que um dos financiadores foi Hugh Hefner, fundador da Playboy. (SANTOS,
2016).
O precedente estabelecido no caso Roe vs. Wade, nos Estados Unidos, é
frequentemente equiparado ao caso Dred Scott vs. Sandford, ambos exemplos de
ativismo judicial acentuado. Um paralelo semelhante pode ser observado no Brasil,
especialmente na decisão relacionada à interrupção da gravidez de fetos
anencéfalos, como será discutido posteriormente.
Afastar a proteção do Estado, tornando o aborto uma questão de privacidade,
implica uma relativização de outra vida, bem como ocorreu no nazismo, quando era
defendida a morte de milhares com a justificativa da purificação da espécie de raça
ariana, através da pratica de eugenia, exterminando qualquer ser que não
pertencesse à raça pura, o que não se limitou aos judeus. Com isso os
homossexuais, os pacientes psiquiátricos, os deficientes intelectuais e os
descendentes de demais “raças” poderiam sofrer a prática seletiva de quem deveria,
ou não, estar vivo.
Dessa forma, ainda que seja possível compreender a autonomia reprodutiva
como um direito fundamental para a igualdade de gênero e reconhecimento da
liberdade individual, é mais necessário ainda entender que o feto como ser em
potencial também merece sua liberdade individual, com seus direitos próprios.
Nessa perspectiva, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de
Moraes, em seu livro “Direitos Humanos Fundamentais”, em relação ao aborto,
considera a gestação uma geradora de tertium, que em latim significa a partir de
tertius, “algo terceiro”. Diante disso, apesar de alojado do ventre materno, considera-
o com uma existência distinta da mãe, justamente para que possa ser evitado o
sacrifício de vidas indefesas pela autonomia reprodutiva irresponsável e imprudente.
3 REPERCUSSÕES DO ABORTO NA SAÚDE DA MULHER
A pesquisa conduzida pelo Instituto de Pesquisa Ipec, anteriormente
conhecido como Ibope, a pedido da emissora Globo, revela que uma significativa
parcela da população brasileira, correspondente a 70%, é contrária à legalização do
aborto. (IPEC, 2022).
No entanto, aparentemente, as perspectivas e as opiniões desses cidadãos
não estão sendo adequadamente consideradas ou representadas nas esferas
públicas e midiáticas do país. É observável o aumento do protagonismo da pauta
pró-aborto nos debates públicos, tanto nas plataformas de mídia digital quanto nos
veículos tradicionais de imprensa.
A interrogação que se apresenta é a seguinte: caso a maioria da população
se posicione de maneira contrária à legalização do aborto, qual é a razão pela qual a
agenda abortista continua a encontrar significativo apoio em nosso corpo legislativo?
A resposta a essa indagação reside no fato de que uma maioria dispersa e
mal informada pode ser suplantada por um grupo restrito que utiliza estratégias
retóricas emocionais e convincentes. Esse fenômeno destaca a complexidade do
processo político, em que fatores, além da mera contagem de votos, desempenham
um papel essencial na formação das políticas públicas, incluindo a questão delicada
da legalização do aborto.
Esse grupo, mesmo sendo numericamente menor em comparação à maioria
que se opõe ao aborto, consegue mobilizar recursos persuasivos, como discursos
apaixonados e argumentos emocionais, para influenciar a opinião pública e,
consequentemente, moldar a legislação em vigor ao erro.

3.1 ERRO 1
Um dos principais fundamentos utilizados para justificar a legalização do
aborto no contexto brasileiro diz respeito aos alarmantes números de procedimentos
clandestinos realizados anualmente. Em termos gerais, estima-se que ocorram
aproximadamente um milhão de abortos ilegais a cada ano. Esse dado, por sua vez,
enfatiza a magnitude do problema e aponta para a necessidade de considerar
alternativas legais e seguras para abordar essa prática, visando salvaguardar a
saúde e os direitos das mulheres envolvidas.
O número de abortos provocados constitui um dos dados mais
frequentemente invocados nos debates públicos sobre a legalização ou proibição
dessa prática. Para os defensores da legalização, esses números indicam uma
demanda significativa por parte das mulheres que desejam interromper a gravidez.
Eles argumentam que a legalização se faz necessária para garantir o acesso delas a
serviços regulamentados pelo governo, visando à segurança e à saúde das
mulheres envolvidas. (BRASIL PARALELO, 2022)

Em 2018, o Conselho Federal de Enfermagem divulgou dados, de estimativa


do Ministério da Saúde, nos quais a criminalização do aborto não tem sido eficaz em
impedir a ocorrência de aproximadamente um milhão de abortos induzidos
anualmente no Brasil. (COFEN, 2018)

No entanto, questiona-se como foi possível chegar a essa estimativa de um


milhão de abortos, considerando que o procedimento é clandestino e, portanto, não
registrado oficialmente. As mulheres que decidem pela interrupção da gravidez
clandestinamente não têm motivo para notificar o Ministério da Saúde, dado que o
aborto é considerado crime no país. A origem desses dados, portanto, suscita
questionamentos acerca de sua confiabilidade e validade, levando em consideração
a natureza clandestina do procedimento.

Portanto, a confiabilidade dessas informações é essencial para garantir que


os recursos sejam alocados de maneira eficaz e que as políticas adotadas estejam
fundamentadas em dados sólidos e representativos, o que, de fato, não ocorre.

O Dr. Bernard Nathanson, um ginecologista norte-americano conhecido por


seu ativismo em prol do aborto, teve uma transformação de visão devido ao advento
da nova tecnologia, o ultrassom, que começou a ser utilizado na prática médica. Ao
observar o coração do feto em monitores eletrônicos, ele passou a questionar
profundamente a ética de suas práticas na clínica. Esse momento de reflexão o
levou a reconhecer seu erro anterior.

Posteriormente, Nathanson escreveu um artigo na prestigiada revista médica


The New England Journal of Medicine, no qual compartilhou sua experiência com os
ultrassons e reconheceu a presença de vida humana no feto. (BRASIL PARALELO,
2023)

O Dr. Nathanson expôs as táticas que eram empregadas para influenciar a


opinião pública, enfatizando que uma grande mentira repetida incessantemente
acaba sendo aceita como verdade. Em sua autobiografia, ele revelou que,
juntamente com um grupo pró-aborto, desenvolveu expressões que são utilizadas
como eufemismos para a palavra aborto, tais como "interrupção da gravidez" e
"direito de escolha". Essas expressões foram criadas com o claro objetivo de
promover a legalização do aborto. (BRASIL PARALELO, 2023)

Durante uma conferência em Madrid, o médico compartilhou a estratégia


utilizada por ele e pelos ativistas pró-aborto para manipular a opinião pública, que
envolvia as seguintes ações:

1. Em 1968, dizíamos que na América eram praticados 1 milhão de


abortos clandestinos, quando sabíamos que não passavam de 100 mil. Nós
multiplicamos por dez para chamar a atenção.

2. Também repetíamos constantemente que as mortes maternas por


aborto clandestino se aproximavam de dez mil, quando sabíamos que eram
menos de duzentas, um número pequeno para a nossa propaganda.

3. Espalhamos esses números exagerados nos meios de comunicação,


nos grupos universitários e, sobretudo, entre as feministas. Eles escutavam
tudo o que dizíamos, inclusive as mentiras, e logo divulgavam. Essa era a
base da propaganda pró-aborto. (BRASIL PARALELO, 2023)

A indagação pertinente que se coloca é: a quem beneficiaria a inflação


desses números? É crucial compreender que essas estatísticas desempenham um
papel fundamental na alocação de recursos públicos e na orientação das políticas
voltadas para a saúde reprodutiva da população. Dessa forma, a precisão e a
veracidade dos dados são de extrema importância, uma vez que direcionam não
apenas os investimentos governamentais, mas também influenciam a atenção da
população e moldam as estratégias de saúde pública.

O Jurista Ives Gandra Martins (2008, p.19), em seu livro intitulado “Uma
questão sobre o aborto”, afirma que, em situações como essas, tende a fazer uma
pergunta aos indivíduos que discorrem amplamente sobre a quantidade de abortos
clandestinos de forma que é imprescindível destacar que qualquer afirmação,
independentemente de sua articulação eloquente ou do impacto que possa causar,
deve ser respaldada por uma base real e factual.

Se os abortos são clandestinos, como podem ter a precisão que os seus


divulgadores apresentam?" Relatou a sua própria experiência ao debater
sobre o tema no Congresso Nacional: "Recentemente procurei argumentar
na Câmara dos Deputados quando um dos que discutiam comigo declarou:
"Há um milhão de abortos clandestinos" e eu respondi: "Para mim, pode
haver mil. Se o senhor provar que é um milhão. Eu provo que há mil. Se não
conseguir não provo que há mil. Porque se souber onde são feitos um
milhão de abortos neste país, o senhor é um criminoso porque não
denunciou um crime. Agora se é um palpite, eu também sei palpitar.

Em outras palavras, é vital reconhecer que uma declaração não pode ser
considerada válida ou confiável apenas por sua formulação eloquente ou poder de
persuasão; ela deve estar fundamentada em evidências concretas e fatos
verificáveis para ser considerada legítima e aceitável.

3.2 ERRO 2
Uma questão de saúde pública e o bem-estar da mulher através dos seus
direitos reprodutivos e da sua autonomia são também principais fundamentações
para justificar a interrupção da gravidez, entretanto o que os defensores da
legalização não abordam são as consequências na saúde da mulher, física e mental,
após realizado o procedimento abortivo.
Em 2017 foi publicado um estudo chamado “Abortion and Women’s Health”
publicado pela Society for the Protection of Unborn Children, do Dr Greg Piken, o
qual se tratava de uma revisão baseada em evidências para profissionais médicos
sobre o impacto do aborto na saúde física e mental das mulheres.
O aborto é uma questão complexa que está ligada a uma ampla variedade de
consequências físicas e psicológicas adversas. Embora a pesquisa que estabeleça
uma relação causal seja limitada e ainda haja áreas não exploradas nesse campo,
existe um corpo considerável de evidências que descreve essas consequências
negativas. É crucial que as mulheres tenham o direito de serem plenamente
informadas sobre todos os riscos associados ao procedimento.
A pesquisa demonstra a questão dos abortos terem sido realizados
legalmente em muitos países ao longo das últimas décadas, e consideráveis
pesquisas foram realizadas sobre o impacto físico e psicológico nas mulheres, bem
como sobre as circunstâncias que envolvem o processo de tomada de decisão. As
informações a seguir vêm desse grande conjunto de pesquisas.
O Brasil apresenta uma elevada incidência de nascimentos prematuros. Um
extenso estudo multicêntrico de caso-controle, caracterizado como um estudo
observacional, cujo propósito é identificar a frequência das exposições em diversos
grupos, revelou que o histórico de abortos anteriores constitui um fator de risco para
a prematuridade em gestações futuras.
Uma pesquisa envolvendo 9969 mulheres nulíparas, que compartilharam
suas histórias reprodutivas, revelou que aquelas com antecedentes de aborto
induzido enfrentavam um risco maior de parto prematuro espontâneo e ruptura
prematura de membranas em comparação com aquelas sem histórico de aborto
induzido. Recentes evidências indicam que a lesão no colo do útero resultante da
instrumentação durante procedimentos de aborto cirúrgico pode desempenhar um
papel crucial nos nascimentos prematuros em gestações subsequentes.
Uma análise abrangente apresentada na reunião anual da Sociedade
Europeia de Reprodução Humana e Embriologia em Lisboa, em 2015, avaliou 21
estudos de coorte, englobando quase dois milhões de mulheres. Os pesquisadores
destacaram que o uso de D&C (Dilatação e Curetagem), um dos métodos cirúrgicos
para aborto, aumentou em 29% o risco de parto prematuro em gestações
subsequentes e em 69% o risco de nascimentos muito prematuros. Esse risco foi
ainda mais acentuado para mulheres que passaram por múltiplos abortos. Diante
dessas descobertas, os autores enfatizaram a necessidade de prevenir o trabalho de
parto prematuro, minimizando o recurso à D&C.
Outro ponto de suma importância é o aumento do risco de desenvolver
câncer de mama em mulheres que realizam aborto, sobretudo, no primeiro trimestre
de gestação. Para compreender esse fenômeno, é necessário entender,
primeiramente, como ocorre a mutação gênica.
Todas as células do corpo humano passam por um ciclo de divisão celular,
que envolve a duplicação do DNA durante uma fase chamada interfase. Durante
esse processo, o material genético está suscetível à ação de fatores mutagênicos,
como radiação, hormônios em excesso ou falhas nos mecanismos regulatórios.
Esses fatores podem alterar o resultado da divisão celular, dando origem a células
cancerígenas. Essas células possuem alta capacidade de replicação e metabolismo
acelerado, o que leva à apropriação dos nutrientes que deveriam ser destinados ao
restante do corpo. Como resultado, podem ocorrer complicações graves, podendo
até levar à morte do indivíduo.
Após a compreensão do processo de formação das células cancerígenas, é
importante analisar o processo de maturação mamária e como ele se relaciona ao
aumento do risco de câncer de mama em mulheres que passaram por um aborto,
vejamos a seguir.
A mama feminina é composta por lobos (glândulas produtoras de leite, que
são subdivididas em 4 tipos diferentes a depender do seu grau de maturação), por
ductos (pequenos tubos que transportam o leite dos lobos ao mamilo) e por estroma
(tecido adiposo e tecido conjuntivo que envolve os ductos e lobos além de vasos
sanguíneos e vasos linfáticos). Durante a puberdade, inicia-se o processo de
maturação mamaria, em que ocorre o aumento dos hormônios sexuais femininos
(estrogênio e progesterona), que formam os primeiros lobos mamários, formados por
tipo 1 e tipo 2. Esses possuem inúmeros receptores hormonais e um alto poder de
divisão celular, com isso um risco mais elevado de ocorrer mutações e gerar um
câncer.
O próximo estágio de maturação ocorre no ato da fecundação até o final do
primeiro trimestre de gravidez, quando o bebê secreta o hormônio HCG (hormônio
gonadotrófico coriônico), que estimula a produção de mais estrogênio e
progesterona, com o intuito de começar a preparar a mama para a amamentação,
aumentando o número de lobos do tipo 1 e 2.
Por volta do meio do 2° trimestre, ocorre o aumento de produção do hormônio
lactogênio placentário que promove a maturação dos lobos do tipo 1 e 2 para lobos
do tipo 3 e 4, que são mais maduros e menos suscetíveis a mutações devido a sua
menor replicação celular. Esse predomínio de tipos 3 e 4 acontece até o período de
amamentação. Durante o desmame, os lobos de tipo 4 regridem para de tipo 3,
porém existem evidências as quais mostram ocorrerem alterações genéticas que
nesses lobos de tipo 3 conferem resistência maior ao câncer por toda a vida mesmo
após a menopausa.
GRAFICO 1: Incidência de câncer de mama entre 50 e 54 anos versus taxa
de aborto para mulheres na Inglaterra e no País de Gales.
(CARROLL, 2007)

O gráfico demonstra o aumento na incidência do câncer de mama


proporcional ao aumento do número de abortos com o passar dos anos na Inglaterra
e no País de Gales.
Nesse sentido, ao interromper uma gestação, principalmente durante o
primeiro trimestre, resulta-se na descontinuidade do desenvolvimento dos lóbulos
mamários, interferindo profundamente nos processos hormonais e celulares
envolvidos nesse estágio inicial da gestação, estancando esse processo em lobos
do tipo 1 e 2, que são mais susceptíveis a mutações malignas. Em outras palavras,
o aborto não apenas encerra prematuramente a gravidez, mas também perturba as
intricadas e sensíveis dinâmicas hormonais e celulares que podem culminar com
câncer de mama.
No contexto da saúde mental, estudos indicam a manifestação imediata de
angústia emocional após o aborto e durante os meses que se seguem. Após o
procedimento, as mulheres experimentam uma gama diversificada de emoções,
incluindo tristeza, solidão, vergonha, culpa, dúvida e arrependimento. (CARROLL,
2007)
Em uma pesquisa envolvendo estudantes universitários canadenses, todos os
participantes relataram um processo de luto significativo três anos após terem
passado pelo procedimento de aborto. (CARROLL, 2007)
Em um estudo realizado com estudantes universitários nos Estados Unidos,
incluindo mulheres que passaram pelo procedimento de aborto e homens cujas
parceiras também o fizeram, foi observado que um terço das mulheres e um terço
dos homens experimentaram desconforto e expressaram pesar em relação à
decisão de abortar. Além disso, um terço dos participantes, tanto homens quanto
mulheres, manifestou um sentimento de saudade pelo feto abortado. É notável que
eles frequentemente utilizaram termos como "criança" ou "bebê" para descrever a
perda que sentiram. (CARROLL, 2007).
Ainda no âmbito da saúde mental, os resultados de um estudo realizado na
Nova Zelândia em 2012 intitulado “(Mis) Understanding abortion regret.” do autor
Kimport K, corroborou uma pesquisa anterior que estabeleceu uma associação entre
saúde mental e aborto, intitulada “Depression and unintended pregnancy in the
National Longitudinal Survey of Youth: a cohort study.” dos autores Reardon DC &
Cougle JR para o jornal médico britânico. (CARROLL, 2007).
O estudo da Nova Zelândia revelou que 42% das mulheres que fizeram um
aborto experimentaram depressão grave nos quatro anos anteriores à entrevista.
Isso é quase o dobro da taxa daqueles que nunca estiveram grávidas e 35% maior
do que aqueles que continuaram a gravidez. Esse estudo também mostrou que o
aborto aumentou o risco de transtornos de ansiedade. No estudo mais recente, eles
concluíram que as mulheres que fizeram abortos experimentaram transtornos de
saúde mental com 30% mais frequência em comparação com as mulheres que não
fizeram um aborto.
4 ATIVISMO JUDICIAL

Nos últimos anos e, mais destacadamente, neste século, uma profunda alteração do espaço, até então ocupado no cenário

sociopolítico brasileiro, ocorreu pelo Supremo Tribunal Federal. A harmonia e tudo que caracteriza a tripartição dos poderes se confundem com a

expansão dos poderes da Corte na decisão de temas ainda não orientados na organização jurídica do Estado brasileiro, de forma a ensejar

determinados comportamentos que foram denominados como ativismo judiciário.

Montesquieu formulou a Teoria da Separação dos Poderes, a qual delineia a divisão dos poderes políticos e suas respectivas esferas

de influência em sua obra "O Espírito das Leis". Segundo essa teoria, os três poderes são: Executivo, Legislativo e Judiciário. A concepção

dessas teorias para o Estado revela uma preocupação em evitar governos absolutistas e impedir a promulgação de leis arbitrariamente tirânicas.

Ao dividir os poderes de maneira clara entre diferentes instâncias, permitindo que operem de forma independente e com limites bem

definidos entre si, acredita-se que é impossível estabelecer um regime de caráter tirânico ou autoritário.

Na Carta Magna, o Princípio da Separação dos Poderes é consagrado no artigo 2º, sob o título dos princípios fundamentais, sendo

uma das quatro cláusulas pétreas do ordenamento jurídico brasileiro. Esse princípio estabelece que os Poderes da União, ou seja, o Legislativo, o

Executivo e o Judiciário, são independentes e devem operar de maneira harmoniosa entre si, com o intuito de assegurar o equilíbrio e a

integridade do sistema político e legal.

Embora haja uma unidade subjacente, há uma clara demarcação de atribuições e de responsabilidades dentro do aparato estatal. Seja

na formulação de normas, seja na implementação de políticas econômicas, bem como no julgamento de crimes, o exercício do poder permeia

todas as facetas da vida dos cidadãos. A divisão dessas funções tem como objetivo fundamental assegurar um equilíbrio entre os poderes e

promover a harmonia no funcionamento do Estado.

Isso se traduz na necessidade de cada poder desempenhar suas responsabilidades de maneira independente, sem intromissão

indevida nas atribuição dos outros. No cumprimento de suas atribuições e no respeito estrito dos limites impostos pela legislação, é incumbência

do Legislativo, do Executivo e do Judiciário buscar concretizar os objetivos fundamentais do Estado.

Desse modo, refere-se a ativismo judicial uma postura adotada pelo Poder Judiciário em exercer um papel que ultrapassa os limites na

interpretação e na aplicação do direito, interferindo em políticas públicas já regulamentadas, bem como as que ainda não foram regulamentadas e

na imposição de diretrizes a outros poderes. O que ocorre é uma expansão do real papel que deveria ser desempenhado pela Suprema Corte, isto

é, validar as normas constitucionais, exercendo o controle de constitucionalidade, de forma que não mais cabe ao Poder Legislativo a tomada de

decisões, desrespeitando o princípio da separação de poderes.

Existem várias interpretações do que constitui ativismo judicial. Em resumo, a teoria predominante descreve um comportamento em

que um juiz supostamente vai além de sua função de julgar e começa a criar leis. Nessa abordagem, o magistrado aplica seus próprios pontos de

vista e valores pessoais a um caso específico, muitas vezes em desacordo com a lei e com a Constituição, uma maneira proativa e expansiva da

interpretação Constitucional ao atribuir normativas não criadas pelo legislador.


Outra perspectiva argumenta que o ativismo judicial surge das limitações na atuação do Poder Legislativo. É comum que os

legisladores não cheguem a um consenso em certos assuntos. Para os proponentes dessa visão, existem questões urgentes que não podem

esperar pela lentidão do Legislativo, tornando necessária a intervenção do judiciário.

O Poder Legislativo Federal se organiza de forma bicameral, em duas casas,


sendo essas: Câmara dos Deputados e Senado Federal, as quais são organizadas
de forma que uma das Casas Legislativas deve iniciar o processo legislativo e a
outra revisará. A partir disso, as duas Casas se manifestam a respeito da
elaboração, objetivando o debate e a ponderação pelo equilíbrio de ambas, para que
se possa reduzir os excessos e as escolhas precipitadas na produção normativa da
legislação brasileira. (BRASIL, CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2023)
O rito legislativo ocorre para que a lei seja válida. É o processo formal pelo
qual uma proposta de lei é introduzida, debatida, modificada e finalmente votada
pelos membros de uma legislatura, como um parlamento ou um congresso.
Esse processo envolve várias etapas, incluindo audiências públicas, consultas
públicas, reuniões de comissões e sessões em plenário, nas quais os legisladores
votam a proposta e discutem sobre ela. A realização de audiências ou de consultas
públicas permite que as partes interessadas e o público em geral expressem suas
opiniões e preocupações sobre a proposta de lei. As reuniões de comissões
permitem um debate mais detalhado e a consideração de emendas ou modificações
à proposta. Finalmente, durante as sessões em plenário, os representantes votam
para aprovar ou rejeitar a proposta de lei. Esse processo democrático visa a garantir
que as leis sejam elaboradas de maneira transparente e que as diferentes
perspectivas sejam consideradas antes que uma decisão final seja tomada.
O Poder Judiciário possui a competência exclusiva para processar e julgar
crimes políticos e infrações penais cometidas contra a União, bem como casos
relacionados a violações dos direitos humanos. Sua função principal é interpretar e
aplicar a lei, decidindo sobre casos específicos. Contudo, quando esse limite não é
respeitado, existe o risco de que as decisões judiciais venham a sobrepor-se à
vontade política dos Poderes Executivo e Legislativo.
É relevante notar que tanto o Executivo quanto o Legislativo são órgãos
eleitos diretamente pela população, refletindo, portanto, a vontade do povo. Em
contraste, o Poder Judiciário depende unicamente de nomeações feitas pelo
presidente, o que levanta questões sobre a legitimidade e o equilíbrio entre os
poderes no sistema político.
Considerando a extensão abrangente da Constituição Federal, a qual
contempla diversos direitos passíveis de serem contestados judicialmente, é
estabelecido que todas essas questões podem ser objeto de deliberação pela
instância encarregada de cuidar da Carta Magna e dos assuntos constitucionais, ou
seja, o Supremo Tribunal Federal (STF). A Constituição de 1988 introduziu a
possibilidade de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), permitindo que
parlamentares recorram ao STF para contestar uma lei ou buscar assistência
quando consideram determinada medida inconstitucional. Esse dispositivo criou um
fenômeno conhecido como judicialização da política, caracterizado pelo
encaminhamento ao STF de questões que não encontram consenso político.
O Supremo não tem a incumbência de administrar questões econômicas ou
políticas, nem de reconciliar os interesses divergentes dos partidos de maneira
arbitrária ou literal, ou seja, sem uma base legal específica. A atuação do STF nesse
contexto deriva diretamente dos parâmetros estabelecidos pela Constituição
Federal, que abrange uma ampla gama de leis relacionadas à interpretação
constitucional.
Segundo o jurista e professor Ives Gandra Martins (2018), é preocupante a
competência constitucional do Supremo Tribunal Federal com certo ativismo judicial
permitir que um tribunal eleito por uma só pessoa substitua o Congresso Nacional,
eleito por 140 milhões de brasileiros, sob a alegação de que detém o poder
legiferante sempre que considerar que o Legislativo deixou de cumprir suas funções.
Em consonância com essa concepção, o jurista Luís Roberto Barroso explana
sobre o papel contramajoritário do Supremo Tribunal Federal (STF) e sua
capacidade de controlar a constitucionalidade dos atos do Poder Legislativo. Tal
prerrogativa implica a intervenção do STF, uma instituição que nunca foi submetida
ao sufrágio popular, para interpretar a Constituição de maneira distinta daquela
realizada pelos representantes políticos eleitos democraticamente. Essa situação,
apesar de aparentemente contraditória em um Estado democrático, é descrita como
uma "dificuldade contramajoritária" pela teoria constitucional.
No contexto da ADPF nº 54, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu uma
terceira exceção à punição do aborto, conhecida como aborto eugênico, que não
está contemplada no Código Penal (art. 128). O Código Penal apenas considera o
aborto terapêutico ou sentimental, relacionado a situações de estupro. Nesse
cenário e no caso dos fetos anencéfalos, a permissão para realizar o aborto pode
ser concedida até o último dia da gestação. Essa situação gera uma contradição:
eliminar o feto no útero antes do parto é permitido e não é considerado crime,
enquanto matar o anencéfalo um minuto após o nascimento é proibido e é tratado
como ato criminoso. (MARTINS, 2018)
O Supremo Tribunal introduziu um elemento significativo de insegurança
jurídica ao legislar em lugar do Poder Legislativo. Essa insegurança é ampliada pelo
fato de que, no caso de leis inconstitucionais, as partes afetadas podem contestá-las
nos tribunais. Entretanto, quando o Supremo Tribunal age como legislador, não
existe uma instância superior à qual as partes possam recorrer.
O sistema judicial não deve suportar continuamente o ônus de legislar,
especialmente em questões mais delicadas. É crucial que os três poderes enfrentem
e debatam o assunto do aborto em colaboração com profissionais da saúde e a
sociedade organizada. Assim, dada a inexistência de lacuna legislativa, não
compete ao Poder Judiciário, por um ativismo jurisdicional, inovar a ordem jurídica,
quebrando a harmonia entre os poderes ao violar escolhas atinentes aos outros
poderes.
5 RELATIVIZAÇÃO DA VIDA FRENTE À EUGENIA DO ABORTO

O progresso gradual e sutil pode passar despercebido pelas pessoas, levando-as a aceitar o que, eventualmente, resultará em uma

derrota. A aceitação é conquistada gradualmente até que seja quase impossível reverter as decisões já tomadas relacionadas ao que se

compreende como a eugenia do século, o aborto.

A prática da eugenia remonta aos primórdios da humanidade, persistindo ao longo de toda a sua história. A eliminação de

indivíduos vulneráveis e doentes foi o método mais comum utilizado para implementar essa ideologia.

Inicialmente, esse comportamento era apenas um instinto animal, observado quando os membros mais fracos, doentes ou

idosos eram deixados para trás durante fugas de ataques de predadores. Milênios depois, mesmo com o advento da vida em sociedade e com a

formação de cidades, os seres humanos continuaram a eliminar os membros frágeis e deficientes de suas comunidades.

Com os avanços tecnológicos impressionantes nos exames pré-natais, surge um renovado debate sobre o direito ao

aborto. A capacidade de observar o desenvolvimento do feto desde os estágios iniciais da gestação e diagnosticar precocemente possíveis

anomalias cria um cenário jurídico novo em relação à possibilidade de interrupção da gravidez, especialmente quando são identificadas

deformidades que tornam o feto incompatível com a vida fora do útero.

No livro intitulado "A Questão do Aborto", o autor Ives Gandra Martins faz referência a um trecho do livro "É Razoável Crer?" de Afonso

Açulo (2006). Nesse texto, o psiquiatra austríaco judeu Viktor Frankl, sobrevivente de um campo de concentração nazista, expressou a visão de

que não apenas os seus próprios sofrimentos, mas também os dos seis milhões de seus compatriotas foram atribuídos a uma filosofia que

negligencia a presença de Deus. Frankl concluiu sua exposição com a seguinte observação: "Se um homem não é mais do que um animal

evoluído, assim como você pode colocar um macaco numa jaula, por que não colocar um homem num campo de concentração?".
Testemunha do holocausto, Viktor Frankl escreveu sobre natureza humana e desumanização. Infelizmente, o processo de

desumanização da sociedade que ele descreveu já se encontra adiantado em nosso sistema. Esse comentário ressalta a grave questão levantada

por Frankl sobre as implicações de uma visão de mundo que exclui a espiritualidade e a humanidade dos indivíduos, tratando-os como meros

seres biológicos sem valor intrínseco.

Na Encíclica intitulada "O Evangelho da Vida" de 1995, o Papa João Paulo II enfatizou a preocupação crescente em relação à

tendência cada vez mais frequente de interpretar atos que violam a vida do inocente nascituro como legítimas expressões da liberdade individual e

da autonomia do corpo, a serem reconhecidas e respeitadas como direitos verdadeiros e próprios.

Ele identificou a raiz dessa contradição em um conceito distorcido de liberdade, que coloca o indivíduo de forma absoluta, resultando

na liberdade dos "mais fortes" prevalecendo sobre os "mais fracos".

O Papa João Paulo II argumentou que o direito perde sua verdadeira natureza quando não está fundamentado na inviolável dignidade

da pessoa, tornando-se sujeito à vontade do mais forte. Ele ressaltou que o ideal democrático só pode ser considerado genuíno quando

reconhece e respeita a dignidade de toda pessoa humana, mantendo-se fiel às suas próprias bases.

O respeito pela vida e pela dignidade de cada ser humano é fundamental para a verdadeira compreensão da liberdade e da

democracia, e qualquer desvio desses princípios fundamentais representa uma traição aos valores essenciais que sustentam uma sociedade justa

e equitativa.

Desde 2012, por meio da ADPF 54, que garante às gestantes de fetos anencéfalos o direito de interromper a gravidez, inúmeras

decisões judiciais têm autorizado a interrupção da gravidez em casos de graves anomalias fetais, especialmente na situação de anencefalia.

Os defensores dessa nova forma de aborto, conhecida como aborto eugênico, argumentam que a eliminação do feto deve ser

permitida, pois ele não tem qualquer chance de sobreviver. Alguns chegam a equipará-lo a um natimorto, estabelecendo uma analogia entre a

anencefalia e a morte cerebral. Além disso, afirmam que forçar uma mulher a levar adiante uma gravidez de um filho anencéfalo seria equivalente

a submetê-la a um tratamento cruel ou degradante, considerando que, ao fim de nove meses, seu filho está destinado a falecer, resultando em

uma angústia imensa para ela.

Contudo, é crucial alertar os defensores do aborto eugênico de que o feto anômalo é um ser vivo. Eliminá-lo devido a características

físicas que não atendem às expectativas dos pais não apenas constitui um crime agravado pela motivação preconceituosa, mas também

representa o primeiro passo em direção à implementação de uma política eugênica e racista, que busca a purificação da raça humana. Tal política

é categoricamente rejeitada pela Constituição Federal brasileira.

A problemática em torno da ADPF 54 persiste e se intensifica a cada dia. Além da retórica de liberdade reprodutiva e autonomia da

mulher na tomada de decisões sobre a vida dos fetos, agora surge novamente a ADPF 442, que foi discutida em 2018 e volta à agenda de

discussões em 2023. Isso reforça a percepção de que o objetivo nunca foi realmente proteger os interesses da mulher, mas, sim, abrir caminho

para o aborto em todas as circunstâncias, o que contradiz um dos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição, o direito à vida.

A atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, reintroduz na agenda uma questão crucial relacionada

ao aborto. Ela colocou em pauta para julgamento uma ação que discute a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez.
Inicialmente, a questão da descriminalização do aborto foi levantada no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo Partido Socialismo e

Liberdade (PSOL) em 2017. O partido entrou com uma ação buscando a descriminalização do aborto voluntário até o terceiro mês de gestação.

Este assunto foi discutido em uma audiência pública convocada pela ministra Rosa Weber em 2018, com o propósito de promover um debate

envolvendo especialistas, representantes de entidades governamentais e membros da sociedade civil. (BRASIL, SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL, 2023)

O Partido defende a ineficácia dos artigos do Código Penal relacionados ao aborto nas 12 primeiras semanas de gestação. Eles

argumentam que a proibição viola a dignidade da pessoa humana e os direitos de cidadania das mulheres. A ação que está sendo julgada na

Corte questiona os artigos 124 e 126 do Código Penal, os quais estabelecem penas de 1 a 4 anos de prisão para médicos que realizem o

procedimento e de 1 a 3 anos para mulheres que pratiquem o aborto ilegal. (BRASIL, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2023).

O processo, conhecido como ADPF 442, tem como objetivo assegurar às mulheres o direito constitucional de interromper a gestação,

respeitando sua autonomia e dispensando qualquer forma de permissão estatal. Além disso, visa a garantir aos profissionais de saúde o direito de

realizar o procedimento. O debate em torno dessa questão envolve a definição do termo "interrupção da gestação", sendo considerado por alguns

como um eufemismo para o ato do aborto, que, na prática, envolve a terminação da vida de um feto. (BRASIL, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,

2023)

A mídia frequentemente conduz campanhas extensivas, aproveitando-se da falta de conhecimento da maioria da população sobre um

tema crucial. Por um longo período, a verdadeira natureza do aborto foi obscurecida para torná-lo mais socialmente aceitável. Torna-se essencial,

portanto, retirar o véu que encobre esse tópico e apresentá-lo em toda a sua crueza.

Para influenciar a opinião pública, a mídia utiliza uma estratégia conhecida como Janela de Overton. Segundo esse conceito, se

imaginarmos uma pessoa contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê é delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À

medida que se afasta da janela, o horizonte se amplia. No contexto da opinião pública, emitir opiniões fora da chamada "janela social aceitável"

pode resultar em rejeição. Opinar sobre assuntos além do alcance da janela social pode ser prejudicial para a popularidade de um político ou

figura pública.

Essa estratégia explica por que é crucial para figuras públicas emitirem opiniões que se enquadrem dentro do espectro considerado

aceitável pela sociedade em determinado momento. A manipulação da opinião pública frequentemente envolve gastar recursos governamentais

para vender ideias e conquistar a população. As emoções sociais são identificadas, e, em seguida, é realizado um esforço para neutralizá-las e,

posteriormente, modificá-las. Em alguns casos, isso é alcançado explorando o desespero, o medo, a insegurança e a ignorância das pessoas.

Estamos sujeitos a um governo tão poderoso que muitas pessoas não conseguem mais imaginar instâncias da vida humana que

estejam fora do âmbito político. Quando o valor humano é reduzido ao simples jogo político, a dignidade inerente do ser humano passa a ser uma

mera questão de conveniência política. É por essa razão que, como exemplos frequentes têm demonstrado, a desumanização da sociedade se

torna apenas uma questão de tempo, dando razão à desumanização como uma característica marcante do século XX, servindo como meio pelo

qual regimes totalitários justificaram genocídios e holocaustos.

A afirmação de que a vida, em seus estágios iniciais, é apenas um conjunto de células é análoga à afirmação de que um livro é

apenas uma reunião de palavras. Isso representa uma distorção linguística da realidade, utilizando uma linguagem imprecisa e negligente. Tal
afirmação tem a intenção de reduzir a discussão ao meramente fenomenológico, fragmentando ainda mais o debate público e aumentando a

confusão, enquanto os sistemas jurídicos, políticos e midiáticos continuam a agir e a pressionar pela legalização do aborto.

Por essa razão, é plausível argumentar que a ADPF 54 serviu como uma das
estratégias para que o ativismo judiciário pudesse ser introduzido na agenda política.
Com o tempo, isso poderia levar à aprovação total da causa, conforme foi pleiteado
pela ADPF 442, que busca a legalização do aborto e, apesar da votação pela
legalização do aborto ter sido adiada, a sociedade ainda está longe de colocar um
ponto final nessa questão.
A cultura que aceita a morte como norma só pode gerar mais morte. Por outro
lado, a cultura que celebra a vida promove o amor, ensina responsabilidade,
promove a maturidade e resgata a humanidade. É inegável que lidar com seres
humanos demanda esforço e pode ser inconveniente, mas o valor intrínseco de ser
humano está na garantia da humanidade que cada vida representa. É essa
humanidade que deve ser preservada e valorizada acima de qualquer consideração
política ou conveniência social.

3 CONCLUSÃO

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental N° 54, que trata da


possibilidade de interrupção da gravidez em casos de anencefalia, é um tema de
grande relevância e complexidade, suscitando debates acalorados sobre ética,
direitos fundamentais e valor da vida. Nesse contexto, uma análise crítica da ADPF
54 à luz de uma perspectiva favorável à vida traz à tona importantes considerações.
Ao se adotar uma postura que defende a vida desde o momento da
concepção, destaca-se a preocupação com a preservação do direito à vida do feto
anencéfalo, considerado por alguns como um sujeito de direitos. Essa perspectiva
baseia-se em fundamentos éticos, religiosos e filosóficos que valorizam a
sacralidade da vida humana desde seu início.
Além disso, ao se opor à interrupção da gravidez em casos de anencefalia,
argumenta-se que a vida, mesmo que breve ou marcada por limitações, possui um
valor intrínseco e que a decisão sobre a continuidade da gestação deve respeitar a
dignidade do ser humano em formação. A busca por alternativas de apoio e de
cuidado à gestante, mesmo diante das dificuldades, é destacada como uma
abordagem mais humanizada.
Ademais, a discussão em torno da ADPF 54 revela a importância de se
encontrar um equilíbrio ético e jurídico que contemple as diversas dimensões
envolvidas, assegurando a proteção da vida e respeitando os direitos individuais, em
um exercício constante de reflexão e busca por justiça.
Diante disso, é essencial o conhecimento dos direitos e dos princípios
constitucionais existentes no ordenamento jurídico brasileiro que destoam da
realidade em face do não comprometimento ao direito fundamental e humano à vida.
Por fim, é cristalino que, diante da presente pesquisa, a ADPF 54 é
inconstitucional, razão pela qual influencia negativamente o rol de direitos
fundamentais e sociais dispostos na Constituição Federal de 1988. A vida é um bem
jurídico tutelado e protegido pela norma nacional tanto em âmbito penal quanto em
âmbito constitucional; diante disso, os fetos possuem também o direito de viver bem,
como ter uma vida saudável com garantias sociais asseguradas, tais quais o direito
à educação, ao lazer, à constituição uma família, sem que haja impedimentos ou
discriminação para tanto.

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