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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA - UNINTA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EXATAS -


CCHE CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MARIA ISABELLE DA SILVA MESQUITA

A PROTEÇÃO JUSLABORAL AOS PORTADORES DE TEA

SOBRAL

2023
2

MARIA ISABELLE DA SILVA MESQUITA

A PROTEÇÃO JUSLABORAL AOS PORTADORES DE TEA

Monografia apresentada ao Centro


Universitário INTA – UNINTA como
requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Professor Dr. Samuel
Levy Pontes Braga Muniz
Orientador metodológico: Professor Dr.
Francisco Hélio Monteiro Júnior.

SOBRAL

2023
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FICHA CATALOGRÁFICA
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MARIA ISABELLE DA SILVA MESQUITA

A PROTEÇÇÃO JUSLABORAL AOS PORADORES DE TEA

Monografia apresentada ao Centro


Universitário INTA – UNINTA como
requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Professor Dr. Samuel
Levy Pontes Braga Muniz
Orientador metodológico: Professor
Dr. Francisco Hélio Monteiro Júnior.

Apresentada em :____/_____/2023

BANCA EXAMINADORA:

Orientador: Professor Dr. Samuel Levy Pontes Braga Muniz

Centro Universitário INTA - UNINTA

1º Examinador: Prof. Titulação nome

Filiação institucional

2º Examinador Prof. Titulação nome

Filiação institucional
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AGRADECIMENTOS

Cinco anos, uma jornada de desafios, aprendizados e crescimento. Minha


trajetória no curso de direito foi marcada por momentos de superação e
perseverança, moldando não apenas meu conhecimento acadêmico, mas também
minha visão de mundo e valores, cinco anos que me proporcionaram amigos dentro
e fora da universidade e que levarei pra mina vida.
Neste caminho repleto de descobertas, devo expressar minha imensa
gratidão à minha mãe, Cristiana, minha âncora e fonte inesgotável de apoio. Seu
amor incondicional e puxões de orelha foram essenciais durante toda a minha
jornada acadêmica. Seu encorajamento constante e sacrifícios não passaram
despercebidos. Você é meu exemplo de força, determinação e amor, e sou
imensamente grata por ter você ao meu lado em cada passo deste percurso e por
juntas termos superado tantos desacertos entre mãe e filha. Maria, pra você só digo,
eu te amo, espero que sejamos sempre unidas por toda nossa vida, pois eu posso
aguentar muitas coisas, menos lhe perder. Aos meu irmãos João Pedro e João
Gabriel nem toda a distancia superaria o amor e a ligação de irmãos que existe entre
nós, amo vocês.
Ao meu pai, Alex, que infelizmente nos deixou durante a pandemia de
COVID-19, dedico palavras de admiração e saudade. Seu legado de conhecimento
e amor pelo direito ecoa em cada conquista minha. Suas palavras sábias e apoio
inabalável que me salvaram em várias ocasiões durante esses cinco anos, foram
fundamentais nos momentos difíceis. Embora sua ausência física seja dolorosa, sua
presença e ensinamentos permanecerão vivos em minha jornada profissional e
pessoal, te amo pra sempre pai.
Agradeço também a todos os professores, amigos e colegas que compartilharam
conhecimentos, desafios e conquistas comigo ao longo desses cinco anos. Cada
interação contribuiu para a minha formação e crescimento, e levarei as lições
aprendidas para toda a vida. Em especial quero citar algumas pessoas, Ary,
Amanda minha irmã de alma, Carla e Gabriele minhas irmãs de coração, vocês
tornaram esse
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tempo muito mais leve, agradeço por não terem desistido de mim, e por sempre
serem realistas, agradeço por serem malucos que nem eu e por termos nos
encontrado. Aqui quero lembrar também de mais três pessoas Ingrid, Mateus e
Thaisa, o tempo que passei com vocês deveria ter sido trabalhando, pois foi pra isso
que fui contratada, mas eu estudava e ria mais do que qualquer outra coisa, e nunca
faltou apoio, sempre escutava: Bel estuda, é você que vai me defender quando eu
usar meu réu primário, obrigada por cada perola que recebi no CCS.
A trajetória rumo à compreensão e aceitação do autismo tem sido uma
jornada de aprendizado constante. É vital reconhecer a importância de abordar este
tema com empatia e esclarecimento. Cada passo dado para difundir o entendimento
sobre o autismo representa um avanço significativo na construção de uma
sociedade inclusiva e compassiva.
Neste caminho, a fé tem sido meu alicerce, fortalecendo minha determinação
e fornecendo coragem para enfrentar desafios. Acredito firmemente que, por meio
da educação, compreensão mútua e aceitação, podemos criar um ambiente onde
cada pessoa, independentemente de suas diferenças, seja valorizada e acolhida.
Agradeço profundamente a todos que dedicaram tempo, energia e amor para
apoiar não apenas a mim, mas também a causa do autismo. Suas ações generosas
não apenas iluminaram meu caminho, mas também ajudaram a iluminar o caminho
de muitos outros que enfrentam desafios similares.
Que nossos esforços conjuntos e a fé incessante continuem a guiar-nos na
construção de um mundo mais compassivo, inclusivo e repleto de compreensão.
Mais uma vez, meu mais sincero agradecimento a todos que fazem parte desta
jornada transformadora.
Gostaria também de expressar profunda gratidão pela jornada de
autodescoberta, perseverança e superação. Ao longo deste desafiador caminho,
reconheço que para atingir meus objetivos, foi necessário nutrir uma garra
incansável para superar as dificuldades.
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Aprendi que a verdadeira vitória começa dentro, ancorada no respeito e no amor


próprio. É essa força interior que me impulsiona a persistir, mesmo quando os obstáculos
parecem intransponíveis.
Agradeço por cultivar o amor e o respeito por quem sou. Esses valores fundamentais
tornaram-se a base sólida que ajudou a enfrentar desafios, a superar momentos difíceis e a
seguir em frente, mesmo quando tudo parecia incerto.
Obrigado por nutrir a coragem necessária para continuar, por levantar após cada queda
e por manter viva a chama da esperança nos momentos mais desafiadores. Foi meu próprio
apoio e compreensão que me guiaram neste percurso.
Que eu continue a trilhar meu caminho com determinação, lembrando sempre do
poder transformador do amor-próprio. Esta jornada é minha, e cada passo dado é uma
conquista que me leva mais perto dos meus objetivos. Agradeço por fazer parte desta jornada
de autodescoberta e crescimento pessoal.

Com profunda gratidão,


Maria Isabelle da Silva Mesquita
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RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar a inclusão de indivíduos com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) no mercado de trabalho. A pesquisa será realizada considerando a perspectiva
de que o transtorno supracitado pode ser classificado como uma deficiência, e é necessário
examinar como a legislação protege e integra os portadores de TEA nas oportunidades de
emprego existentes, em conformidade com as políticas inclusivas. O conjunto de leis e
princípios que compõem o direito trabalhista brasileiro tem como objetivo salvaguardar os
direitos e garantias dos trabalhadores no país. Ao longo do tempo, tem havido um movimento
crescente em direção à inclusão e diversidade nos locais de trabalho, com o intuito de
promover igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Nesse contexto, um grupo que
tem recebido cada vez mais destaque são os indivíduos com TEA, o qual consiste em uma
condição neurológica que afeta a comunicação, a interação social e apresenta comportamentos
repetitivos e restritos. No entanto, é importante ressaltar que cada indivíduo no espectro é
único, com habilidades e características individuais. O transtorno do espectro autista, pode
não comprometer o desempenho adequado das pessoas no local de trabalho, apesar de serem
condições de saúde mental que podem afetar a vida profissional por impactar no
desenvolvimento social, comprometer a comunicação e a interação com o ambiente. Estes
indivíduos podem encontrar dificuldades em compreender as emoções de outras pessoas, se
comunicar verbal ou não verbalmente, e estabelecer e manter relações interpessoais. No
contexto profissional, isso pode acarretar problemas relacionados à comunicação, interação
social e adaptação a mudanças. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei
no 13.146/2015) é um marco importante nesse contexto. Ela define o que é considerado
deficiência e estabelece diretrizes para a inclusão social e a garantia de direitos das pessoas
com deficiência, incluindo aquelas com TEA. A lei reconhece a necessidade de adaptações
razoáveis no ambiente de trabalho para promover a inclusão, tais como ajustes nas atividades,
no tempo de trabalho e no local de atuação, para da mais respaldo a pessoa com o transtorno
do espectro autista, o brasil criou formas de proteção com a lei 12.764/2012 que institui
políticas de proteção dos direitos da pessoa com TEA. Além disso, o Decreto no 8.368/2014
estabelece a reserva de vagas para pessoas com deficiência em empresas com 100 ou mais
funcionários. Essa medida busca ampliar as oportunidades de inserção no mercado de trabalho
para esse grupo, incluindo pessoas com TEA. Embora haja leis e diretrizes que busquem
promover a inclusão de pessoas com TEA no ambiente de trabalho, ainda existem desafios a
serem enfrentados. Muitas empresas enfrentam dificuldades para implementar as adaptações
necessárias e para promover uma cultura inclusiva. É fundamental que haja um esforço
conjunto entre empresas, trabalhadores, entidades governamentais e a sociedade como um
todo para superar esses obstáculos e garantir que a inclusão seja uma realidade

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Inclusão; Legislação trabalhista.


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ABSTRACT

This study aims to analyze the inclusion of individuals with Autism Spectrum Disorder
(ASD) in the job market. The research will be carried out considering the perspective
that the aforementioned disorder can be classified as a disability, and it is necessary
to examine how legislation protects and integrates people with ASD into existing
employment opportunities, in accordance with inclusive policies. The set of laws and
principles that make up Brazilian labor law aims to safeguard the rights and
guarantees of workers in the country. Over time, there has been a growing
movement towards inclusion and diversity in the workplace, with the aim of promoting
equal opportunities for all people. In this context, a group that has received
increasing attention are individuals with ASD, which consists of a neurological
condition that affects communication, social interaction and presents repetitive and
restricted behaviors.However, it is important to highlight that each individual on the
spectrum is unique, with individual abilities and characteristics. Autism spectrum
disorder may not compromise people's adequate performance in the workplace,
despite being mental health conditions that can affect professional life by impacting
social development, compromising communication and interaction with the
environment. These individuals may find it difficult to understand other people's
emotions, communicate verbally or nonverbally, and establish and maintain
interpersonal relationships. In a professional context, this can lead to problems
related to communication, social interaction and adaptation to changes. The Brazilian
Law on the Inclusion of People with Disabilities (Law no. 13,146/2015) is an
important milestone in this context. It defines what is considered a disability and
establishes guidelines for social inclusion and guaranteeing the rights of people with
disabilities, including those with ASD. The law recognizes the need for reasonable
adaptations in the work environment to promote inclusion, such as adjustments in
activities, working time and place of work, to provide more support to people with
autism spectrum disorder, Brazil has created forms protection with law 12,764/2012,
which establishes policies to protect the rights of people with ASD. Furthermore,
Decree No. 8,368/2014 establishes the reservation of vacancies for people with
disabilities in companies with 100 or more employees. This measure seeks to
expand opportunities for insertion into the job market for this group, including people
with ASD. Although there are laws and guidelines that seek to promote the inclusion
of people with ASD in the workplace, there are still challenges to be faced. Many
companies face difficulties in implementing the necessary adaptations and promoting
an inclusive culture. It is essential that there is a joint effort between companies,
workers, government entities and society as a whole to overcome these obstacles
and ensure that inclusion is a reality.

Keywords: Autism Spectrum Disorder; Inclusion; Labor Legislation.


10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Características do Autismo 10


Figura 2 – Recebendo a CIPTEA 11
11

LISTA DE SIGLAS

TEA Transtorno do Espectro Autista

DSM-5 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,


5ª edição

CIPTEA Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do


Espectro Autista
ABA Análise do Comportamento Aplicada
OIT Organização Internacional do Trabalho

TJDFT Técnico do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios


PCD Pessoa com Deficiência
12

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 AUTISMO: COMPREENDENDO UM ESPECTRO DE POSSIBILIDADES 14
2.1 A História Cronológica do TEA 16
2.2 Diagnóstico do Autismo e tratamento 22

3 LEIS DE PROTEÇÃO AO PORTADORES DE TEA 26


3.1 Desafios e Avanços no Brasil 31
3.2 A Educação Brasileira para Autistas 32
3.3 Mercado de Trabalho: Desafios e Oportunidades 34
3.4 Representatividade Televisionada 36

4 NECESSIDADE DE EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO PARA OS


PORTADORES DE TEA NO AMBIENTE LABORAL 37
4.1 Necessidade de Ações Colaborativas para a Inclusão dos Portadores de
TEA no Ambiente Laboral 38

4.2 Reforçando o Chamado à Ação para a Inclusão Laboral dos Portadores de TEA
39

5 CONCLUSÃO 41
REFERÊNCIAS 44
13

1 INTRODUÇÃO

A inclusão laboral para pessoas com Transtorno do Espectro Autista é de suma


importância na sociedade contemporânea. O motivo para tratar esse assunto com destaque
reside na necessidade de promover a diversidade e a equidade no mercado de trabalho,
assegurando que indivíduos com TEA tenham oportunidades justas e iguais de participar
ativamente da força de trabalho.
Primeiramente, é fundamental compreender que o TEA é um espectro de condições
neurodesenvolvimentais caracterizadas por desafios na comunicação, interação social e
comportamentos repetitivos. Isso pode afetar significativamente a vida profissional dessas
pessoas , tornando essencial a discussão sobre como a sociedade pode melhor apoiar sua
inclusão no ambiente de trabalho e por onde deve iniciar.
Uma das razões cruciais para abordar essa questão é o potencial subexplorado das
pessoas com TEA. Elas frequentemente possuem habilidades únicas, como atenção aos
detalhes, pensamento lógico e comprometimento, que podem ser inestimáveis em muitos
setores profissionais, como tecnologia, ciência e arte. Ignorar esse talento representa uma
perda tanto para os indivíduos com TEA quanto para as empresas que poderiam se
beneficiar de suas habilidades.
Além disso, a inclusão laboral é uma questão de justiça social e direitos humanos.
Negar oportunidades de emprego a pessoas com TEA não apenas perpetua a
discriminação, mas também limita seu acesso a recursos financeiros, independência e
participação na sociedade. Todos os cidadãos têm o direito de contribuir para a economia e
a sociedade, independentemente de suas diferenças.
Outro ponto importante é o enriquecimento do ambiente de trabalho por meio da
diversidade. Empresas que promovem a inclusão de pessoas com TEA demonstram um
compromisso com a diversidade e a responsabilidade social. A variedade de perspectivas e
experiências que esses funcionários trazem pode estimular a criatividade, melhorar a
tomada de decisões e promover um ambiente de trabalho mais
14

inovador. Central a essa proposta é a noção de que a diversidade presente nas organizações
provocará impactos tanto em termos da eficácia organizacional como individual e de que o
contexto organizacional é relevante para determinar se esse impacto será positivo ou
negativo ( Fleury, 2000).
A inclusão laboral também tem implicações econômicas significativas. Quando as
pessoas com TEA são capacitadas e apoiadas para ingressar no mercado de trabalho, elas
se tornam contribuintes fiscais, reduzindo a dependência de benefícios sociais e
aumentando a produtividade econômica. Isso, por sua vez, beneficia a economia como um
todo e reduz a carga sobre os sistemas de apoio governamentais.
É essencial reconhecer que, embora haja progresso na promoção da inclusão
laboral para pessoas com TEA, ainda existem barreiras significativas a serem superadas.
Essas barreiras incluem a falta de compreensão sobre as necessidades específicas dessas
pessoas, a falta de adaptações razoáveis nos locais de trabalho e o estigma persistente
associado ao TEA.
Para superar esses desafios, é crucial sensibilizar a sociedade sobre as habilidades e
capacidades das pessoas com TEA, oferecer treinamento para empregadores e colegas de
trabalho, e implementar políticas de inclusão sólidas que garantam a igualdade de
oportunidades. Além disso, é fundamental que as empresas reconheçam os benefícios
tangíveis da inclusão laboral e assumam um compromisso ativo nesse sentido.

2. AUTISMO: COMPREENDENDO UM ESPECTRO DE POSSIBILIDADES

O autismo, oficialmente conhecido como Transtorno do Espectro Autista, é uma


condição neuropsiquiátrica complexa que afeta o desenvolvimento e o comportamento de
indivíduos em todo o mundo. Ao longo da história, o autismo passou por uma evolução em
nossa compreensão, diagnóstico e tratamento. Este texto explora o autismo, suas
características distintivas e traça sua história ao longo do tempo, o TEA é um espectro, o
que significa que engloba uma ampla variedade de manifestações e
15

níveis de gravidade. No entanto, algumas características comuns são compartilhadas por


pessoas com TEA. Estas incluem desafios na comunicação e interação social,
comportamentos repetitivos e interesses restritos. Na sua quinta edição, o DSM-5 trouxe
importantes mudanças na abordagem diagnóstica do autismo. Em vez de categorizar o
autismo como diferentes distúrbios separados, o DSM-5 reuniu essas condições sob um
termo unificado: Transtorno do Espectro Autista. Isso incluiu o Transtorno Autista, a
Síndrome de Asperger, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Global do
Desenvolvimento Sem Outra Especificação.
As características são muitas, pessoas com autismo têm dificuldade em entender e
expressar emoções, linguagem verbal e não verbal, como contato visual e linguagem
corporal. Atrasos na linguagem são comuns, embora algumas pessoas com TEA tenham
habilidades linguísticas notáveis, frequentemente apresentam interesses intensos e
específicos em tópicos particulares, como matemática, ciência, ou objetos específicos.
Esses interesses podem ser apaixonadamente perseguidos, comportamentos repetitivos,
como bater as mãos, balançar o corpo ou fixar-se em padrões sensoriais, são comuns.
Essas ações podem servir como formas de autorregulação, as interações sociais podem ser
desafiadoras para pessoas com autismo. Isso pode incluir dificuldades em entender as
emoções e intenções dos outros, bem como a falta de interesse em atividades sociais
típicas, muitas pessoas com TEA têm sensibilidades sensoriais ampliadas,
tornando sons, luzes, texturas e cheiros mais intensos. Isso pode afetar seu
ambiente e conforto diário.
De acordo com os médicos, no primeiro nível, aqueles com TEA precisam
de apoio mínimo. Podem enfrentar desafios sociais, apresentar interesses
restritos e comportamentos repetitivos, mas geralmente conseguem funcionar de
maneira independente, embora possam requerer assistência em algumas áreas
sociais mais complexas. O segundo nível é caracterizado por necessidades de
apoio mais substanciais. Indivíduos nesse estágio apresentam dificuldades
significativas na comunicação e interação social, além de comportamentos
repetitivos mais intensos. Precisam de assistência considerável para lidar com as
demandas diárias. Já no terceiro nível, as dificuldades são mais acentuadas. Há
graves deficiências na comunicação, comportamento e flexibilidade. Esses
indivíduos necessitam de um apoio
16

muito substancial, e em alguns casos, cuidados de tempo integral para realizar


atividades cotidianas e lidar com os desafios sociais e comportamentais.
Cada nível reflete uma intensidade variada de sintomas e exigências de
suporte, mas é importante lembrar que cada pessoa no espectro autista é única.
Portanto, o diagnóstico e a abordagem de intervenções devem ser
individualizados, levando em consideração as particularidades e necessidades
específicas de cada indivíduo com TEA.

2.1 A História Cronológica do TEA

O Transtorno do Espectro Autista possui uma história complexa e


multifacetada que se estende ao longo de décadas. O início do reconhecimento
dos comportamentos autistas remonta ao século 18, mas foi apenas no século 20
que o TEA começou a ser formalmente descrito e categorizado como um distúrbio
específico.
Léo Kanner, um psiquiatra pioneiro, ficou conhecido por suas contribuições
na identificação do Transtorno do Espectro Autista. Em seu estudo de 1943,
descreveu o autismo com base em casos clínicos de crianças com
comportamentos peculiares, destacando distanciamento social, dificuldades na
comunicação e comportamentos repetitivos.
No entanto, parte de sua teoria original envolvia a noção de "mães
geladeiras", sugerindo que mães emocionalmente distantes e frias seriam
responsáveis pelo autismo de seus filhos. Essa teoria culpabilizava as mães pelo
desenvolvimento do autismo, gerando um estigma prejudicial e injusto.
Mais tarde, Kanner reconheceu seu erro ao perceber que o autismo não era
causado pela falta de afeto materno, e sim uma condição neurobiológica complexa.
Ele
17

se retratou publicamente, retirando suas afirmações sobre as "mães geladeiras" e


pedindo desculpas pela influência negativa que essa teoria teve sobre as famílias
afetadas pelo autismo. Essa retratação foi crucial para desmistificar a ideia
prejudicial de que mães insensíveis eram a causa do autismo, reforçando a
compreensão de que o autismo é uma condição multifacetada e não resulta de
negligência ou estilo de parentalidade.
A contribuição de Kanner foi significativa na identificação inicial do autismo,
mas sua teoria inicial sobre as "mães geladeiras" foi posteriormente considerada
equivocada e prejudicial. Sua retificação ajudou a mudar o discurso público,
direcionando o foco para uma compreensão mais precisa e empática do autismo,
afastando o estigma injusto associado às famílias afetadas por essa condição.
Em 1943, publicou um estudo seminal delineando os comportamentos
autistas em crianças, identificando padrões distintos de comunicação e interação
social, intitulado de: “Distúrbios autísticos do contato afetivo” (Autistic
disturbances of affective contact) da seguinte forma:

“São chamadas autistas as crianças que têm inaptidão para estabelecer


relações normais com o outro; um atraso na aquisição da linguagem e,
quando ela se desenvolve, uma incapacidade de lhe dar um valor de
comunicação. Essas crianças apresentam igualmente estereotipias gestuais,
uma necessidade imperiosa de manter imutável seu ambiente material, ainda
que dêem provas de uma memória frequentemente notável. Contrastando com
esse quadro, elas têm, a julgar por seu aspecto exterior, um rosto inteligente e
uma aparência física normal”. (kanner apud. Leboyer , 1987:09)

Simultaneamente, o estudo de Hans Asperger sobre o autismo teve um


impacto notável na compreensão e identificação do Transtorno do Espectro Autista.
Em meados do século XX, Asperger, um pediatra austríaco, descreveu crianças que
exibiam comportamentos distintos, porém altamente funcionais, destacando
características como dificuldades sociais, interesses específicos e padrões de
comportamento repetitivos.
Diferentemente das descrições de Léo Kanner, Asperger observou que
algumas crianças no espectro autista eram altamente inteligentes e apresentavam
linguagem desenvolvida, embora enfrentassem desafios na interação social e
exibissem interesses obsessivos em áreas específicas.
18

Seu estudo pioneiro destacou a ampla variação no espectro autista e reconheceu a


importância de reconhecer e valorizar as habilidades únicas desses indivíduos.
O termo "Síndrome de Asperger" foi posteriormente atribuído a uma condição
dentro do espectro autista, caracterizada por habilidades linguísticas desenvolvidas
e interesse intenso em áreas específicas. No entanto, a inclusão dessa síndrome no
DSM-5, em 2013, resultou na sua fusão com o TEA, considerando suas
características como parte integrante do espectro.
O estudo de Hans Asperger, embora inicialmente menos reconhecido,
desempenhou um papel vital na compreensão das variações no autismo,
ressaltando a importância de reconhecer e valorizar as habilidades individuais dos
indivíduos no espectro autista. Suas observações contribuíram significativamente
para a compreensão e aceitação da diversidade dentro do TEA, enfatizando a
necessidade de uma abordagem mais holística e inclusiva no diagnóstico e
tratamento do autismo.
O psiquiatra Michael Rutter também tem sua parcela de contribuição, sua
pesquisa sobre o autismo é de suma importância no campo da psiquiatria e
psicologia do desenvolvimento. Rutter, renomado psiquiatra britânico, contribuiu
significativamente para a compreensão do autismo ao longo de décadas de
pesquisa e estudo.
Em suas investigações, Rutter enfocou não apenas os aspectos genéticos,
mas também os fatores ambientais e sociais que podem influenciar o
desenvolvimento do autismo. Seu trabalho pioneiro ajudou a estabelecer a visão
de que o autismo é um
19

transtorno complexo, multifacetado e influenciado por uma interação complexa


entre fatores genéticos e ambientais.
Rutter também contribuiu para a compreensão das diferentes
manifestações do espectro do autismo. Ele destacou a importância de examinar
as diversas características e sintomas do autismo, desde os mais leves aos mais
graves, a fim de fornecer intervenções e apoio adequados para as pessoas
afetadas. Além disso, seu estudo enfatizou a necessidade de abordagens
holísticas e multidisciplinares no tratamento e na compreensão do autismo. Ele
promoveu a ideia de que uma compreensão abrangente e colaborativa,
envolvendo profissionais de diversas áreas, como psicologia, neurologia, pediatria
e educação, é essencial para oferecer suporte adequado e estratégias de
intervenção eficazes para indivíduos dentro do espectro autista.
As descobertas e contribuições de Michael Rutter forneceram uma base
sólida para o entendimento do autismo, influenciando significativamente não
apenas a pesquisa científica, mas também a prática clínica e as políticas de
saúde mental relacionadas ao autismo em todo o mundo. Seu legado continua a
ser uma fonte crucial de orientação e inspiração para os profissionais e
pesquisadores envolvidos na área do autismo.
O estudo de Michael Rutter sobre o autismo é de suma importância no
campo da psiquiatria e psicologia do desenvolvimento. Rutter, renomado
psiquiatra britânico, contribuiu significativamente para a compreensão do autismo
ao longo de décadas de pesquisa e estudo.
Em suas investigações, Rutter enfocou não apenas os aspectos genéticos,
mas também os fatores ambientais e sociais que podem influenciar o
desenvolvimento do autismo. Seu trabalho pioneiro ajudou a estabelecer a visão
de que o autismo é um transtorno complexo, multifacetado e influenciado por uma
interação complexa entre fatores genéticos e ambientais.
Rutter também contribuiu para a compreensão das diferentes
manifestações do espectro do autismo. Ele destacou a importância de examinar
as diversas
20

características e sintomas do autismo, desde os mais leves aos mais graves, a fim
de fornecer intervenções e apoio adequados para as pessoas afetadas.
Além disso, seu estudo enfatizou a necessidade de abordagens holísticas
e multidisciplinares no tratamento e na compreensão do autismo. Ele promoveu
a ideia de que uma compreensão abrangente e colaborativa, envolvendo
profissionais de diversas áreas, como psicologia, neurologia, pediatria e
educação, é essencial para oferecer suporte adequado e estratégias de
intervenção eficazes para indivíduos dentro do espectro autista.
As descobertas e contribuições de Michael Rutter forneceram uma base
sólida para o entendimento do autismo, influenciando significativamente não
apenas a pesquisa científica, mas também a prática clínica e as políticas de
saúde mental relacionadas ao autismo em todo o mundo. Seu legado continua a
ser uma fonte crucial de orientação e inspiração para os profissionais e
pesquisadores envolvidos na área do autismo.
Lorna Wing foi uma psiquiatra britânica que teve um papel fundamental na
compreensão e na divulgação do conceito de espectro autista. Em meados da
década de 1970, ela introduziu o termo "espectro autista" para descrever a ampla
variedade de condições relacionadas ao autismo, reconhecendo que o autismo
se manifesta de forma diversificada em indivíduos.
O trabalho de Wing ajudou a transformar a percepção do autismo,
destacando a ideia de que o espectro autista inclui diferentes graus de gravidade
e uma variedade de características, comportamentos e habilidades. Ela foi uma
defensora importante da ideia de que o autismo não é uma condição uniforme,
mas sim um espectro complexo de condições, abrangendo desde formas mais
leves (como a Síndrome de Asperger) até formas mais graves.
Além de sua contribuição para a compreensão do espectro autista, Lorna
Wing também desempenhou um papel crucial na sensibilização e na educação do
público sobre o autismo. Ela dedicou sua carreira a aumentar a consciência e o
entendimento sobre essa condição, trabalhando para eliminar o estigma e
promover estratégias de
21

intervenção que abordassem as necessidades individuais das pessoas dentro do


espectro autista.
Seu legado inclui não apenas avanços na definição e compreensão do
autismo como um espectro, mas também um maior apoio e aceitação para
indivíduos e famílias afetadas por essa condição. O trabalho pioneiro de Lorna
Wing continua a ser uma referência fundamental no campo do autismo,
influenciando pesquisadores, profissionais de saúde e educadores em todo o
mundo.
O DSM-5 desempenhou um papel significativo na compreensão e
abordagem do TEA. Sua publicação em 2013 representou uma mudança
importante na forma como o autismo é diagnosticado e entendido.
Este manual introduziu a noção de um espectro para o autismo,
substituindo as categorias separadas de transtornos autistas, como o autismo
infantil, a Síndrome de Asperger e o transtorno desintegrativo da infância. Ao
unificar esses diagnósticos sob o termo "Transtorno do Espectro Autista", o DSM-
5 reconheceu a variabilidade e a diversidade de características apresentadas
pelos indivíduos com TEA.
A contribuição mais marcante do DSM-5 foi a revisão dos critérios
diagnósticos. O manual expandiu e refinou os sintomas que podem ser
associados ao autismo, permitindo diagnósticos mais precisos e abrangentes.
Além disso, a nova abordagem destacou a importância de considerar a
intensidade e o impacto dos sintomas na vida diária do indivíduo.
Outro ponto relevante foi a inclusão de especificadores, que permitem uma
descrição mais detalhada das características individuais de uma pessoa dentro do
espectro autista. Esses especificadores ajudam os profissionais de saúde a
compreender melhor as necessidades específicas de cada pessoa e a
personalizar os tratamentos e intervenções de acordo com suas particularidades.
No entanto, apesar das contribuições positivas do DSM-5, algumas críticas
surgiram em relação à sua abordagem. Algumas pessoas argumentam que a
ênfase nos critérios diagnósticos pode resultar em uma abordagem
excessivamente clínica,
22

reduzindo a compreensão da experiência individual do autismo. Além disso, a


visão do autismo como um espectro pode, em certos casos, obscurecer a ampla
gama de necessidades e capacidades presentes nesses indivíduos.
Em suma, o DSM-5 desempenhou um papel fundamental na evolução da
compreensão do autismo, unificando os diagnósticos sob um espectro e refinando
os critérios diagnósticos. No entanto, é importante considerar que o autismo é
uma condição complexa e variada, e o manual, embora tenha avançado
significativamente na definição e diagnóstico do TEA, continua sendo objeto de
debates e reflexões sobre como abordar essa diversidade de maneira mais
holística e centrada na pessoa.
Esta nova perspectiva oferecida pelo DSM-5 tem sido valiosa para
aprimorar a compreensão do autismo, guiando a prática clínica e possibilitando
intervenções mais eficazes, mas ainda é necessário continuar avançando na
compreensão e na aceitação da diversidade dentro do espectro autista,
valorizando as experiências individuais e promovendo uma abordagem mais
inclusiva e centrada na pessoa.
Avanços na neurociência nas décadas seguintes proporcionaram uma
compreensão mais profunda das bases biológicas do TEA. A descoberta de
fatores genéticos e anormalidades neurobiológicas contribuiu para a visão
contemporânea do autismo como um distúrbio neurodesenvolvimental. Na virada
do século 21, houve um aumento acentuado na conscientização pública sobre o
autismo, acompanhado por uma mudança na linguagem para refletir a
diversidade dentro do espectro. Movimentos de defesa pelos direitos das
pessoas com autismo ganharam força, promovendo a inclusão e desafiando
estigmas.
23

.
2.2 Diagnostico do Autismo e Tratamento

O diagnóstico, transtorno e tratamento do Autismo, é uma área complexa e


em constante evolução na saúde mental e neuropsiquiatria. O diagnóstico é
essencialmente baseado em observações comportamentais e padrões de
desenvolvimento. O processo de diagnóstico começa frequentemente na infância,
quando os sinais iniciais podem se manifestar.
Manifestações iniciais do autismo podem incluir dificuldades na interação
social, atrasos na linguagem, comportamentos repetitivos e interesses restritos. No
entanto, esses sinais podem ser sutis e facilmente confundidos com características
típicas do desenvolvimento infantil. Portanto, a consciência dos pais sobre esses
sinais e a busca por orientação médica especializada são passos fundamentais.
A intervenção precoce é um dos fatores-chave no tratamento do autismo.
Quando detectado cedo, é possível iniciar intervenções específicas que visam
melhorar habilidades sociais, linguísticas e comportamentais. Terapeutas
especializados podem fornecer apoio tanto para a criança quanto para a família,
oferecendo estratégias personalizadas e ferramentas para ajudar no
desenvolvimento da criança.
Além disso, a percepção dos pais desempenha um papel vital na busca de
tratamentos e recursos adequados. O envolvimento ativo dos pais no processo de
tratamento é crucial para promover o progresso e a adaptação às necessidades
individuais da criança.
É importante destacar que, embora não exista uma cura definitiva para o
autismo, a identificação precoce e a intervenção podem ajudar a maximizar o
potencial da criança e melhorar sua qualidade de vida. A percepção atenta e
informada dos pais nos estágios iniciais do desenvolvimento desempenha um
papel crítico na jornada em direção ao diagnóstico e tratamento, abrindo portas
para um futuro mais inclusivo e sustentável para indivíduos dentro do espectro
autista.
24

Quando o autismo não é identificado na infância e é diagnosticado na fase


adulta, isso pode apresentar desafios específicos tanto para o indivíduo quanto
para os profissionais de saúde envolvidos no diagnóstico e tratamento. A
descoberta do autismo na idade adulta pode ocorrer por uma variedade de
razões. Alguns indivíduos podem ter características autistas que não foram
reconhecidas ou diagnosticadas durante a infância devido a uma menor
conscientização sobre o espectro autista ou a uma apresentação menos óbvia
dos sintomas. Outros podem ter aprendido a compensar ou mascarar seus traços
autistas ao longo dos anos, tornando o diagnóstico mais desafiador.
Quando é identificado na fase adulta, pode surgir uma mistura de
emoções, incluindo surpresa, alívio por finalmente entender as diferenças
individuais e, em alguns casos, preocupações sobre como isso afetará a vida
cotidiana e as relações interpessoais. Profissionais de saúde mental e
especialistas em autismo desempenham um papel crucial nesse momento,
oferecendo apoio, compreensão e orientação para o indivíduo recém-
diagnosticado.
O diagnóstico pode trazer consigo a necessidade de reaprender e
compreender as próprias características e padrões comportamentais. Pode
envolver a busca de estratégias para lidar com desafios específicos, como
dificuldades sociais, comunicação e sensibilidades sensoriais, além de explorar
opções de tratamento e suporte, como terapia cognitivo-comportamental e
programas de habilidades sociais.
A compreensão do autismo também pode ajudar a explicar experiências
passadas, proporcionando uma sensação de validação e entendimento pessoal.
Além disso, pode oferecer oportunidades para a construção de uma comunidade
de apoio com outros adultos dentro do espectro autista, permitindo trocas de
experiências e estratégias de enfrentamento.
Embora o diagnóstico na fase adulta possa ser desafiador, ele também
pode abrir portas para uma compreensão mais profunda de si mesmo, fornecer
recursos e apoio para lidar com os desafios diários e criar uma base para uma
abordagem mais adaptativa e inclusiva da vida cotidiana.
25

O TEA é caracterizado por uma ampla variação nos sintomas e na gravidade.


Portanto, a individualização do tratamento é fundamental. Intervenções
comportamentais, como a ABA, têm sido amplamente utilizadas para melhorar
habilidades sociais, de comunicação e comportamentais. Essas abordagens são
frequentemente implementadas em ambientes estruturados, como escolas e clínicas
especializadas. Terapias ocupacionais e de fala também desempenham um papel
26

crucial no tratamento do TEA. Essas terapias visam desenvolver habilidades


motoras finas, comunicação verbal e não verbal, além de promover a independência
funcional. A terapia sensorial é frequentemente incorporada para lidar com questões
relacionadas à sensibilidade sensorial, comuns em indivíduos com TEA.
Alguns casos podem envolver o uso de medicamentos para tratar sintomas
específicos, como hiperatividade, agressividade ou ansiedade. No entanto, a
prescrição de medicamentos é cuidadosamente considerada, avaliando os riscos e
benefícios individuais. Além das abordagens tradicionais, avanços tecnológicos têm
desempenhado um papel crescente no tratamento do TEA. Aplicativos e dispositivos
especializados são frequentemente usados para apoiar o desenvolvimento da
comunicação e habilidades sociais.
É crucial destacar que o tratamento do TEA é um processo contínuo,
adaptando-se às necessidades em evolução do indivíduo ao longo do tempo. A
colaboração entre profissionais de saúde, educadores, pais e cuidadores é
fundamental para proporcionar um ambiente de apoio abrangente.

3 Leis de Proteção ao Portadores de TEA

As leis de proteção para portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA)


no Brasil têm evoluído ao longo do tempo, buscando garantir direitos, inclusão e
acessibilidade para essa população.
Em 2012, foi sancionada a Lei 12.764, conhecida como Lei dos Autistas, que
instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA. Essa
legislação reconhece o autismo como uma deficiência e estabelece diretrizes para o
atendimento especializado, o acesso à educação inclusiva e a promoção da saúde
dessas pessoas:

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da


Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para
sua consecução.
§ 1o Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa com transtorno do
espectro autista aquela portadora de
27

síndrome clínica caracterizada na forma dos seguintes incisos I ou II:


I - deficiência persistente e clinicamente significativa da
comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada
de comunicação verbal e não verbal usada para interação social;
ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter
relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;
II - padrões restritivos e repetitivos de comportamentos,
interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou
verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns;
excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados;
interesses restritos e fixos.
§ 2o A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa
com deficiência, para todos os efeitos legais.

Um aspecto crucial dessa lei é a garantia de vagas em escolas regulares e


especiais, assegurando que crianças e jovens com TEA tenham acesso à educação
inclusiva. Ademais, destaca a importância de medidas de apoio, como a presença
de profissionais especializados, adaptações curriculares e métodos pedagógicos
adequados. No campo da saúde, a Lei dos Autistas também prevê atendimento
especializado, incluindo a oferta de tratamentos e terapias, como psicoterapia e
fonoaudiologia. Essa legislação é um passo significativo na promoção da qualidade
de vida para aqueles com TEA e suas famílias.
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015),
conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, é de extrema importância
para os portadores de Transtorno do Espectro Autista no Brasil. Essa legislação,
representa um avanço significativo ao reconhecer os direitos fundamentais e
promover a inclusão plena dessa parcela da população. Uma das contribuições mais
relevantes é a mudança na concepção legal sobre a deficiência. Anteriormente, a
legislação brasileira adotava uma perspectiva assistencialista, enquanto o estatuto
adota uma abordagem baseada nos direitos humanos, reconhecendo a pessoa com
deficiência como sujeito de direitos e liberdades fundamentais em igualdade de
condições.
28

No caso específico do TEA, a lei amplia as garantias para essa comunidade,


assegurando o pleno exercício de direitos civis, políticos, sociais, culturais e
econômicos. O estatuto enfatiza a necessidade de medidas que assegurem a
autonomia, a integração e a participação efetiva das pessoas com TEA na
sociedade.
No âmbito educacional, a Lei de Inclusão reforça o direito à educação
inclusiva para pessoas com TEA, promovendo o acesso a escolas regulares e
especializadas. Essa disposição visa eliminar barreiras à aprendizagem e estimular
o desenvolvimento desses indivíduos em um ambiente educacional adequado às
suas necessidades. A legislação também aborda questões relacionadas ao mercado
de trabalho, estabelecendo a obrigatoriedade de inclusão de pessoas com
deficiência, incluindo portadores de TEA, no ambiente profissional. As empresas são
incentivadas a adotar práticas inclusivas, proporcionando igualdade de
oportunidades e combatendo a discriminação.
Além disso, o Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê ações afirmativas
para garantir a acessibilidade em diversos setores, como transporte, cultura, esporte
e lazer. Para pessoas com TEA, que podem enfrentar desafios específicos
relacionados à sensibilidade sensorial e comunicação, essas medidas têm um
impacto direto na sua qualidade de vida.
A Lei de Cotas, estabelecida pela Lei 8.213/1991 no Brasil, desempenha um
papel significativo na sociedade para pessoas com Transtorno do Espectro Autista
(TEA). Esta legislação reserva vagas no mercado de trabalho para pessoas com
deficiência, incluindo aquelas que possuem TEA, nas empresas com mais de 100
funcionários. Essa medida visa promover a inclusão social e profissional,
proporcionando oportunidades equitativas para indivíduos com TEA.
A influência da Lei de Cotas na sociedade autista é notável em diversos
aspectos. Primeiramente, ela atua como um instrumento legal que reconhece a
importância da participação ativa das pessoas no ambiente de trabalho. Isso
contribui para combater estigmas e preconceitos, promovendo a valorização das
habilidades e contribuições desses indivíduos. Além disso, a legislação impulsiona
as empresas a adotarem práticas inclusivas, adaptando seus ambientes de
trabalho para atender às
29

necessidades específicas dos portadores de autismo. Essa adaptação inclui


aspectos como acessibilidade física, programas de treinamento para colegas de
trabalho e ajustes razoáveis para garantir a plena participação dos profissionais
A lei também incentiva a conscientização e a aceitação da diversidade no
local de trabalho. Ao integrar pessoas com TEA em equipes diversas, as empresas
estão contribuindo para a construção de ambientes mais inclusivos, nos quais a
variedade de habilidades e perspectivas é valorizada, além dos benefícios sociais e
de inclusão, a legislação tem um impacto direto na qualidade de vida das pessoas,
proporcionando-lhes a oportunidade de desenvolverem suas habilidades
profissionais, alcançarem independência financeira e contribuírem ativamente para a
sociedade.
Entretanto, é importante notar que a efetividade da Lei de Cotas depende da
implementação adequada e do comprometimento tanto das empresas quanto das
instituições governamentais. Desafios podem surgir, como a necessidade de
conscientização contínua, adaptações estruturais nos locais de trabalho e garantia
de oportunidades reais de crescimento profissional para os profissionais com TEA.
A Lei Romeu Mion, oficialmente conhecida como Lei 13.977 e sancionada
em 8 de janeiro de 2020, introduziu a criação da Carteira de Identificação da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea). Esta carteira, emitida gratuitamente, é
de responsabilidade dos estados e municípios.
Essa nova legislação simplifica ainda mais o acesso dos indivíduos autistas
aos direitos estabelecidos pela Lei Berenice Piana (nº 12.764, de 27 de dezembro
de 2012), que estabelece a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista. A lei reconhece o transtorno como uma
deficiência e estende às pessoas com TEA os mesmos direitos já garantidos às
pessoas com deficiência.
A permissão legal para possuir uma carteira de identificação é uma resposta
às dificuldades enfrentadas ao tentar identificar visualmente uma pessoa com
autismo. A complexidade em reconhecer o autismo à primeira vista gera inúmeros
obstáculos no acesso a serviços prioritários, como atendimento preferencial em
filas ou
30

estacionamento em vagas destinadas a pessoas com deficiência. Com


frequência, pessoas com autismo enfrentavam impedimentos ao tentar usufruir
desses espaços.

A cidade de Sobral, localizada no estado do Ceará, tem se destacado pelo


compromisso exemplar na proteção dos direitos das pessoas com autismo através
da implementação da distribuição das carteirinhas de identificação, em consonância
com a Lei 13.977.
A Lei Romeu Mion, sancionada em 2020, estabelece a criação da CIPTEA.
Essa legislação representa um avanço significativo na garantia de direitos para os
autistas, permitindo acesso a serviços prioritários e benefícios assegurados pela Lei
Berenice Piana.
31

Sobral, ao adotar essa iniciativa e distribuir as carteirinhas de identificação


para pessoas com autismo, coloca em prática os princípios e diretrizes
estabelecidos pela Lei 13.977. Essas carteiras desempenham um papel fundamental
ao garantir a identificação e o reconhecimento das necessidades específicas das
pessoas dentro do espectro autista.
Essa ação representa um marco na proteção dos direitos dos autistas na
cidade. A emissão dessas carteirinhas não apenas facilita o acesso a serviços
prioritários, como atendimento preferencial em filas e estabelecimentos comerciais,
mas também promove a inclusão e a conscientização sobre o autismo na
comunidade.
Ao fazer valer a Lei 13.977 e implementar a distribuição das carteirinhas de
identificação para pessoas com autismo, Sobral demonstra um compromisso
genuíno em garantir a igualdade de oportunidades e o respeito aos direitos das
pessoas dentro do espectro autista.
Essa prática exemplar mostra como uma cidade pode efetivamente aplicar
leis em prol da comunidade autista, oferecendo suporte e reconhecimento adequado
às necessidades individuais das pessoas com autismo. Sobral, ao adotar essa
medida, serve como um modelo inspirador para outras localidades no país,
enfatizando a importância da inclusão e do respeito à diversidade em nossa
sociedade.
A Organização Internacional do Trabalho é uma agência especializada das
Nações Unidas fundada em 1919. Seu principal objetivo é promover oportunidades
de trabalho decente e produtivo para todos, em condições de liberdade, equidade,
segurança e dignidade. Ela aborda questões relacionadas aos direitos trabalhistas,
como condições de trabalho, emprego, salários, segurança no trabalho, proteção
social e diálogo entre governos, empregadores e trabalhadores para alcançar um
consenso em questões laborais. A OIT é composta por representantes dos
governos, empregadores e trabalhadores de seus países-membros e desempenha
um papel fundamental na defesa dos direitos humanos no âmbito do trabalho em
escala global.
As convenções da Organização Internacional do Trabalho ratificadas pelo
Brasil, em particular as Convenções nº 111 e 159, desempenham um papel crucial
na promoção da justiça social, da igualdade e da inclusão no ambiente de trabalho.
Essas convenções são fundamentais para assegurar direitos trabalhistas básicos e,
32

ao mesmo tempo, abrir caminho para a inclusão de grupos historicamente


marginalizados, incluindo pessoas com autismo.
A Convenção nº 111 da OIT trata da discriminação no emprego e na
ocupação. Ela proíbe qualquer forma de discriminação em relação ao emprego ou
ocupação, incluindo a discriminação baseada em deficiência. Esse documento é
especialmente relevante quando se considera a inclusão de pessoas com TEA no
mercado de trabalho, garantindo que elas tenham acesso a oportunidades laborais
sem discriminação injusta:

No seu Art. 1, discriminação é definida como: Para os fins da presente


convenção o termo “discriminação” compreende:
a) toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo,
religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha
por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento
em matéria de emprego ou profissão;

Por outro lado, a Convenção nº 159 trata da reabilitação profissional e


emprego de pessoas com deficiência. Essa convenção tem um impacto direto na
inclusão de indivíduos com TEA, pois enfatiza a necessidade de medidas para
facilitar sua inclusão no mercado de trabalho por meio de programas de reabilitação,
treinamento e apoio adequados:

Art. 1. Para efeitos desta Convenção, entende-se por ‘pessoa deficiente’


todas as pessoas cujas possibilidades de obter e conservar um emprego
adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas
devido a uma deficiência de caráter físico ou mental devidamente
comprovada.
2. Para efeitos desta Convenção, todo o País-Membro deverá considerar
que a finalidade da reabilitação profissional é a de permitir que a pessoa
deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mesmo, e que se
promova, assim a integração ou a reintegração dessa pessoa na sociedade.
3. Todo País-Membro aplicará os dispositivos desta Convenção através de
medidas adequadas às condições nacionais e de acordo com a experiência
(costumes, uso e hábitos) nacional.
4. As proposições desta Convenção serão aplicáveis a todas as categorias
de pessoas deficientes.

O Brasil, ao ratificar essas convenções, compromete-se a implementar


políticas e práticas que promovam a igualdade de oportunidades e tratamento justo
para todos os trabalhadores, independentemente de suas condições físicas ou
mentais, incluindo aqueles com TEA. Isso pode envolver a criação de ambientes de
trabalho acessíveis, programas de treinamento adaptados e a promoção de uma
cultura de aceitação e apoio.
33

A inclusão dessas pessoas no contexto laboral não apenas atende aos


princípios fundamentais de justiça e direitos humanos, mas também é benéfica para
as empresas e a sociedade em geral. A diversidade de pensamento e habilidades
trazida por indivíduos com TEA pode gerar inovação, criatividade e perspectivas
únicas no ambiente de trabalho.
Portanto, a aplicação e o cumprimento das Convenções nº 111 e 159 da OIT
pelo Brasil são essenciais para criar um ambiente mais inclusivo e equitativo no
mercado de trabalho, onde pessoas com autismo e outras deficiências possam
contribuir plenamente e ser valorizadas por suas habilidades e talentos únicos.
Essas convenções são um passo significativo em direção a um futuro mais justo e
inclusivo para todos os trabalhadores.

3.1 Desafios e Avanços no Brasil

O cenário do autismo no Brasil é marcado por uma combinação de desafios


persistentes e avanços significativos. Os desafios enfrentados pela comunidade
autista variam desde o diagnóstico precoce até a inclusão social e profissional. No
entanto, ao longo dos anos, têm ocorrido mudanças positivas, incluindo uma maior
conscientização, desenvolvimento de políticas públicas e avanços nas práticas de
intervenção.
34

No que diz respeito ao diagnóstico, um dos principais desafios é a demora no


reconhecimento do autismo. Muitas vezes, as famílias enfrentam dificuldades para
obter avaliações especializadas, o que pode retardar o início de intervenções
cruciais. O acesso limitado a profissionais treinados em diagnóstico de TEA em
diversas regiões do Brasil é um fator contribuinte para essa demora. Outro desafio
significativo é a falta de estrutura adequada na educação. Embora haja legislação
que promova a inclusão, a implementação prática ainda enfrenta obstáculos. A falta
de capacitação de professores para lidar com as necessidades específicas dos
alunos com autismo e a escassez de recursos nas escolas são questões prementes.
No entanto, avanços têm ocorrido na conscientização e entendimento do
autismo no Brasil. A sociedade tem testemunhado uma mudança na percepção, com
esforços para desmistificar estigmas associados ao TEA. Campanhas de
conscientização têm contribuído para disseminar informações e promover a
aceitação da diversidade no espectro autista. No campo legislativo, a criação de leis
específicas, como a Lei dos Autistas (Lei 12.764/2012) e o Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei 13.146/2015), representa um avanço significativo. Essas legislações
reconhecem direitos e estabelecem políticas de inclusão para pessoas com autismo
em diversas áreas, como educação, saúde e trabalho, de acordo com a Dr. Temple
Grandin, autora e ativista diagnosticada com TEA ainda na infância, o autismo é
uma condição, não uma limitação. Nós, como sociedade, devemos focar na
capacidade das pessoas com autismo em vez de suas limitações. Ao criar um
ambiente acolhedor e adaptado, podemos permitir que seus talentos únicos
floresçam.
Outro avanço notável é o investimento em pesquisa e tratamento. O Brasil
tem visto um aumento nas iniciativas de pesquisa sobre o TEA, contribuindo para
uma compreensão mais aprofundada do transtorno. Além disso, há uma expansão
de centros especializados e profissionais capacitados para oferecer intervenções
personalizadas, como terapias comportamentais e ocupacionais.
35

3.2 A Educação Brasileira para Autistas

A história da educação para autistas no Brasil tem passado por


transformações ao longo do tempo, refletindo avanços, desafios e uma busca
contínua por aprimoramento. Historicamente, as crianças com Transtorno do
Espectro Autista enfrentavam obstáculos significativos na educação, com uma falta
de compreensão sobre as necessidades específicas desse grupo.
Nas últimas décadas, houve uma crescente conscientização sobre o autismo,
impulsionada por avanços na pesquisa e por movimentos de defesa. Isso influenciou
positivamente a abordagem educacional, levando a mudanças nas políticas e
práticas para melhor atender às necessidades dos alunos, o legislador brasileiro
seguiu a orientação dos estudiosos, a exemplo de Eugênio Cunha, para quem:

“Enquanto o aluno com autismo não adquire a autonomia necessária, é


importante que ele permaneça sob o auxílio de um profissional capacitado
ou um psicopedagogo para que dê suporte ao professor em sala de aula.
Na escola inclusiva, é demasiadamente difícil para um único educador
atender a uma classe inteira com diferentes níveis educacionais e, ainda,
propiciar uma educação inclusiva adequada. Tudo o que for construído no
ambiente escolar deverá possuir o gene da qualidade” (2014, p. 55).

Um dos avanços mais notáveis foi a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão


da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), que estabeleceu diretrizes para uma
educação inclusiva. Essa legislação reforça o direito à educação para todos, sem
discriminação, e destaca a importância de estratégias pedagógicas diferenciadas
para atender às peculiaridades dos alunos com deficiência, incluindo os autistas,
embora muitas vezes para alcançar essa garantia precise de judiciarização:

EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ESCOLA


PÚBLICA. ALUNO PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS.
MONITOR
36

ESPECIALIZADO. INDISPENSABILIDADE. DEVER DO ESTADO. 1.


Nos termos dos artigos 205, caput, e 206, ambos da Constituição Federal, a
educação constitui direito de todos e dever do Estado, devendo ser
observado a igualdade de condições para o acesso e a permanência na
escola. 2. Da mesma forma, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9394/96) garantem o
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. 3. O aluno portador de
necessidades especiais, cujas limitações restaram devidamente
comprovadas nos autos, por meio de Relatório de Avaliação e Intervenção
Educacional elaborado pelo Serviço Especializado de Apoio à
Aprendizagem da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal,
deve ser acompanhado por monitor, de forma a garantir sua permanência
na escola, bem como seu pleno desenvolvimento. 4. Recurso voluntário e
remessa necessária conhecidos e desprovidos.

Quando não há casos que acabam sendo omissos em relação a educação


autista, a implementação da educação inclusiva trouxe mudanças significativas,
promovendo a presença de crianças com TEA em escolas regulares. Professores
têm recebido treinamento para lidar com a diversidade nas salas de aula, adotando
estratégias que favoreçam a aprendizagem de todos os alunos. Entretanto, desafios
persistem. A falta de estrutura e recursos adequados nas escolas ainda é um
obstáculo. Muitas vezes, a ausência de profissionais especializados e a
necessidade de adaptações específicas para atender às demandas dos alunos com
TEA representam dificuldades práticas.
Além disso, a qualidade da educação pode variar amplamente de acordo com
a região do país. Em áreas urbanas e locais com maior acesso a recursos, a
implementação das práticas inclusivas pode ser mais eficaz, enquanto em regiões
mais remotas ou carentes, os desafios são mais expressivos. Os avanços
tecnológicos têm desempenhado um papel na promoção da educação para autistas.
Aplicativos e ferramentas digitais específicas para o desenvolvimento de
habilidades comunicativas e sociais têm se mostrado úteis
37

3.3 Mercado de Trabalho: Desafios e Oportunidades

O mercado de trabalho brasileiro para pessoas com Transtorno do Espectro


Autista (TEA) apresenta uma série de desafios, mas também oferece oportunidades
significativas. Ao longo dos anos, a conscientização sobre a diversidade no
ambiente de trabalho tem crescido, e as empresas têm buscado criar ambientes
mais inclusivos. No entanto, muitos desafios persistem, desde estigmas sociais até a
necessidade de adaptações específicas para atender às características individuais
dos profissionais autistas.
Um dos principais desafios enfrentados pelos autistas no mercado de trabalho
é a falta de compreensão e aceitação por parte de empregadores e colegas.
Estigmas e preconceitos podem criar barreiras significativas para a contratação e a
ascensão profissional. A falta de conhecimento sobre as habilidades e contribuições
que pessoas com TEA podem oferecer pode limitar suas oportunidades de emprego.
A comunicação é outro desafio importante. Dificuldades na comunicação
social podem ser mal interpretadas, afetando a interação no ambiente de trabalho. A
necessidade de rotinas e ambientes estruturados também pode criar desafios em
setores que valorizam a flexibilidade e a improvisação.
No entanto, a legislação brasileira, como a Lei de Cotas (Lei 8.213/1991), que
reserva vagas para pessoas com deficiência em empresas com mais de 100
funcionários, tem sido um instrumento fundamental para aumentar a inclusão no
mercado de trabalho. Essa lei é uma oportunidade para que empresas promovam
diversidade e superem desafios relacionados à contratação. Outra oportunidade é o
crescente reconhecimento das habilidades específicas dos autistas que podem ser
valiosas em muitos ambientes de trabalho. Muitas pessoas com TEA possuem
38

habilidades analíticas, atenção aos detalhes e foco em tarefas específicas que são
altamente valorizadas em setores como tecnologia da informação, ciência,
matemática e engenharia.
Programas de inclusão e conscientização têm se multiplicado em empresas
que buscam criar ambientes de trabalho mais acolhedores para pessoas com TEA.
Treinamentos e sensibilização para colegas e gestores ajudam a criar uma cultura
organizacional que valoriza a diversidade e reconhece as contribuições únicas de
cada indivíduo. A tecnologia também desempenha um papel crucial, proporcionando
oportunidades para trabalho remoto e ferramentas de comunicação assistiva. Essas
soluções tecnológicas podem ser particularmente benéficas para autistas, permitindo
que eles realizem tarefas de maneira eficaz e se comuniquem de forma mais
acessível.
No entanto, é importante destacar que a adaptação do ambiente de trabalho e
a criação de oportunidades efetivas para os autistas exigem um comprometimento
contínuo. Programas de mentorias, suporte psicossocial e a promoção de uma
cultura de aceitação e respeito são essenciais para maximizar as oportunidades de
sucesso profissional para pessoas com TEA.
Nos sistemas jurídicos ao redor do mundo, há casos em que pessoas com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) precisam recorrer ao sistema judicial para
comprovar sua condição e assegurar seus direitos e garantias legais. Um exemplo
específico disso é ilustrado por um mandado de segurança relacionado a um
concurso público para o cargo de Técnico do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
e Territórios (TJDFT), especialmente para uma vaga reservada a pessoas com
deficiência (PCD).
Neste caso, o impetrante, que havia apresentado autodeclaração de TEA, foi
considerado não enquadrado pela banca examinadora do concurso. Isso se deu
supostamente pela alegação de que ele não apresentava déficit intelectual, um
critério que a banca utilizou para a definição de pessoa com deficiência. Nesse
sentido a jurisprudência diz:
DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. TÉCNICO DO TJDFT. VAGA DESTINADA A PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA (PCD). TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA).
AUTODECLARAÇÃO. PERÍCIA MÉDICA. CANDIDATO CONSIDERADO
NÃO ENQUADRADO POR AUSÊNCIA DE DÉFICT INTELECTUAL.
ILEGALIDADE. REQUISITOS LEGAIS E EDITALÍCIOS CUMPRIDOS.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA E CONTRA LEGEM. LEI Nº 12.764 /2012.
ILEGALIDADE. INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
39

MANUTENÇÃO DO IMPETRANTE NO CONCURSO PÚBLICO NAS


VAGAS RESERVADAS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. O mandado de segurança é remédio constitucionalmente
assegurado a toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade
processual ou universalidade reconhecida por lei, para proteção de direito
individual ou coletivo, líquido e certo ameaçado, não amparado por habeas
corpus ou habeas data. 1.2. Direito líquido e certo é o que resulta de fato
certo, ou seja, aquele capaz de ser comprovado de plano, por
documentação inequívoca. A caracterização de imprecisão e incerteza recai
sobre os fatos, que necessitam de comprovação quando tratar-se de
questão de complexidade. 2. No particular, a violação do direito foi
efetivamente comprovada pelo impetrante. O edital de abertura do concurso
público previu que as pessoas com deficiência, assim entendidas aquelas
que se enquadram nas categorias discriminadas, dentre outros, na Lei nº
12.764 , de 27 de dezembro de 2012 (Transtorno do Espectro Autista -
TEA), têm assegurado o direito de inscrição para concorrerem às vagas
destinadas às pessoas com deficiência (PCD), desde que a deficiência seja
compatível com as atribuições do cargo para o qual concorram. Também
previu que tais candidatos aprovados seriam submetidos à perícia médica.
2.1. O candidato impetrante cumpriu as exigências relacionadas à
apresentação da documentação médica exigida, a qual atesta se tratar de
pessoa com TEA. 2.2. A banca examinadora não considerou o candidato
enquadrado como pessoa com deficiência, para fins de concorrer às vagas
reservadas às PCDs, por reputar que o impetrante não apresenta
impedimentos nas funções e estruturas corporais, limitação do desempenho
de atividades ou restrição de participação, nos termos da Lei nº 13.146
/2015 ou comprometimento funcional para atividades diárias e sociais que o
classifiquem como pessoa portadora de doença mental (PPDM), apesar de
reconhecê-lo portador do TEA. 3. Por outro lado, o art. 1º , § 2º , da Lei nº
12.764 /2012 prevê que a pessoa com TEA é considerada pessoa com
deficiência, para todos os efeitos legais. 3.1. Isto é, a norma que institui a
Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua consecução (Lei nº 12.764
/2012) não faz qualquer distinção entre as diferentes gradações ou formas
de manifestação do TEA para o enquadramento do indivíduo no espectro
como pessoa com deficiência, tampouco restringe os efeitos legais da
classificação do indivíduo como PCD às pessoas que também possuam
enfermidades mentais, com prejuízo intelectual, associadas ao TEA. 4. ?O
tratamento diferenciado em favor de pessoas portadoras de deficiência,
tratando-se, especificamente, de acesso ao serviço público, tem suporte
legitimador no próprio texto constitucional ( CF , art. 37 , VIII ), cuja razão de
ser, nesse tema, objetiva compensar, mediante ações de conteúdo
afirmativo, os desníveis e as dificuldades que afetam os indivíduos que
compõem esse grupo vulnerável. Doutrina. - A vigente Constituição da
Republica , ao proclamar e assegurar a reserva de vagas em concursos
públicos para os portadores de deficiência, consagrou cláusula de proteção
viabilizadora de ações afirmativas em favor de tais pessoas (...) O Poder
Judiciário, no exercício de sua atividade interpretativa, deve prestigiar,
nesse processo hermenêutico, o critério da norma mais favorável (que tanto
pode ser aquela prevista no tratado internacional de direitos humanos como
a que se acha positivada no próprio direito interno do Estado), extraindo, em
função desse postulado básico, a máxima eficácia das declarações
internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, como forma
de viabilizar o acesso dos indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os
mais vulneráveis, a sistemas institucionalizados de proteção aos direitos
fundamentais da pessoa humana. Precedentes: HC XXXXX/SC , Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g..? (STF. RMS 32732 AgR, Relator (a): CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, julgado em 03/06/2014). 5. A eliminação do
impetrante, na fase da perícia médica, da concorrência para o cargo público,
nas vagas reservadas às PCDs, em razão do seu não enquadramento como
40

pessoa portadora de deficiência mental, não possui respaldo legal ou


editalício. Assim, viola o direito líquido e certo do candidato de permanecer
na concorrência especial e justifica a concessão da ordem de segurança.
5.1. A interpretação restritiva que a banca examinadora fez da classificação
de PCD trazida pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 2º) fere os
primados constitucionais da isonomia, da inclusão, da proteção e da não
discriminação das PCDs, além de contrariar disposição legal expressa,
inequívoca e incondicionada que classifica quem possui o TEA como
pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais (Lei nº 12.764 /2012,
art. 1º , § 2º ). 6. SEGURANÇA CONCEDIDA.

É preocupante e revelador da realidade enfrentada por muitos indivíduos com


TEA o fato de que a comprovação da condição autista muitas vezes requer um
processo judicial para a validação dos direitos inerentes a essa condição. Isso
demonstra não apenas a complexidade e subjetividade na interpretação das
definições legais de deficiência, mas também a falta de clareza ou uniformidade na
aplicação dessas leis.
O caso em questão ressalta a necessidade de uma revisão e esclarecimento
das leis e regulamentações relacionadas à definição de deficiência, especialmente
no que diz respeito ao TEA. Deve-se considerar que o TEA é uma condição
neurobiológica complexa que pode se manifestar de maneiras diversas e não se
limita apenas a déficits intelectuais.
A exigência de comprovação judicial para validar a condição autista com o
objetivo de acessar direitos básicos, como a participação em concursos públicos
destinados a pessoas com deficiência, evidencia a necessidade urgente de uma
abordagem mais inclusiva e sensível em relação às condições neurodiversas,
reconhecendo a singularidade e as necessidades individuais de cada pessoa com
TEA.
Dessa forma, é crucial que os sistemas legais e as políticas públicas avancem
na compreensão e aplicação das leis que envolvem o TEA, reconhecendo a
importância de considerar uma gama mais ampla de critérios para definir e validar a
condição autista, garantindo, assim, o pleno acesso aos direitos e oportunidades
para as pessoas com TEA.

3.4 Representatividade Televisionada

As séries de televisão desempenham um papel significativo na representação


e compreensão de várias condições, incluindo o autismo. Tanto "Uma Advogada
41

Extraordinária" quanto "O Bom Doutor" contribuem de maneira positiva para


aumentar a conscientização e a compreensão do público sobre o espectro autista.
"Uma Advogada Extraordinária", uma série da Netflix, apresenta uma
protagonista com autismo, interpretada por uma atriz neurodiversa. Essa
representação é fundamental, pois mostra uma pessoa autista bem-sucedida e
talentosa em sua carreira. A série destaca suas habilidades únicas e demonstra que
o autismo não define suas capacidades profissionais ou pessoais.
42

Por outro lado, "O Bom Doutor" concentra-se em um jovem cirurgião autista e
sua jornada na medicina. A série retrata os desafios que ele enfrenta devido ao
autismo, mas também ressalta suas habilidades excepcionais e sua perspectiva
única ao lidar com casos médicos complexos. Isso oferece ao público uma visão
mais ampla das habilidades e desafios enfrentados por pessoas dentro do espectro
autista.
Ambas as séries são importantes por várias razões. Em primeiro lugar,
contribuem para desmistificar estereótipos em torno do autismo, mostrando a
diversidade e as habilidades das pessoas dentro do espectro. Além disso,
promovem a empatia e a compreensão, oferecendo ao público uma visão mais
abrangente das experiências e desafios enfrentados por indivíduos com autismo.
No entanto, é essencial notar que as séries são obras de ficção e, portanto,
podem simplificar ou exagerar certos aspectos da realidade do autismo para efeitos
dramáticos. Na vida real, as experiências das pessoas no espectro autista são
variadas e não se encaixam necessariamente nos padrões retratados nas séries.
Ainda assim, essas representações na mídia têm um impacto positivo ao
chamar a atenção para o autismo e promover a discussão sobre a inclusão e
aceitação na sociedade. Elas fornecem um ponto de partida para conversas
importantes sobre como a sociedade pode ser mais inclusiva e apoiar melhor as
pessoas dentro do espectro autista em suas jornadas pessoais e profissionais.

4 Necessidade de Educação e Sensibilização para os Portadores de


TEA no Ambiente Laboral
A inclusão dos portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA) no
ambiente de trabalho não se resume apenas à implementação de políticas
inclusivas; requer, em igual medida, um esforço significativo em termos de
educação e sensibilização. A
43

conscientização sobre o TEA é crucial para criar um ambiente laboral mais


acolhedor, que compreenda e valorize as necessidades e habilidades desses
indivíduos.
Primeiramente, é essencial que empregadores, gestores e colegas de
trabalho recebam capacitação específica sobre o TEA. Esta capacitação deve
abordar não apenas os aspectos clínicos do transtorno, mas também fornecer
orientações práticas sobre como interagir, comunicar e apoiar efetivamente os
portadores de TEA no ambiente de trabalho. Compreender as possíveis dificuldades
enfrentadas por esses indivíduos, bem como suas competências únicas, é
fundamental para promover um ambiente inclusivo e respeitoso.
Além disso, a sensibilização da sociedade em geral desempenha um papel
crucial na promoção da igualdade de oportunidades para os portadores de TEA.
Programas educacionais, campanhas de conscientização e eventos públicos podem
desempenhar um papel significativo na redução do estigma associado ao TEA e na
criação de uma cultura mais inclusiva. Ao disseminar informações precisas e
desmistificar equívocos sobre o TEA, é possível promover uma aceitação mais
ampla e um ambiente social mais solidário para esses indivíduos.
No contexto laboral, a educação e a sensibilização não se restringem apenas
aos colegas de trabalho, mas também se estendem aos processos de recrutamento
e seleção. É crucial que os profissionais de recursos humanos possuam
conhecimentos adequados sobre o TEA, garantindo que os processos de
contratação sejam livres de discriminação e estejam adaptados para avaliar as
habilidades e competências dos portadores de TEA de maneira justa e inclusiva.
A educação e a sensibilização desempenham um papel fundamental na
construção de um ambiente laboral que seja acolhedor e inclusivo para os
portadores de TEA. Por meio da disseminação de conhecimento, compreensão e
empatia, é possível criar um espaço onde todos os indivíduos, independentemente
de suas diferenças, tenham a oportunidade de contribuir e prosperar plenamente.
44

4.1 Necessidade de Ações Colaborativas para a Inclusão dos Portadores


de TEA no Ambiente Laboral

A promoção da inclusão dos portadores de Transtorno do Espectro Autista no


ambiente de trabalho requer esforços conjuntos e ações colaborativas de diversos
setores da sociedade. É evidente que a construção de um ambiente laboral
verdadeiramente inclusivo não pode ser alcançada exclusivamente por meio de
iniciativas isoladas; ao contrário, exige um compromisso coletivo para superar
barreiras e promover a igualdade de oportunidades.

Em primeiro lugar, a colaboração entre governos e órgãos reguladores


desempenha um papel fundamental na criação de políticas públicas mais
abrangentes e eficazes. É imperativo que essas políticas não apenas garantam os
direitos dos portadores de TEA, mas também forneçam diretrizes claras para as
empresas e instituições, incentivando a inclusão ativa desses indivíduos no mercado
de trabalho.

Por outro lado, as empresas desempenham um papel essencial na


implementação prática das políticas inclusivas. A colaboração entre o setor
privado e as entidades governamentais pode facilitar o estabelecimento de
programas de capacitação, adaptação de ambientes de trabalho e a criação de
oportunidades de emprego específicas para os portadores de TEA. Além disso,
parcerias com organizações não governamentais e grupos de apoio podem oferecer
recursos adicionais e expertise para melhor apoiar esses indivíduos.

As ações colaborativas também se estendem à sociedade civil. Comunidades


locais, organizações voluntárias e grupos de defesa dos direitos das pessoas com
deficiência podem desempenhar um papel significativo na sensibilização, advocacia
e no fortalecimento de redes de apoio para os portadores de TEA e suas famílias. O
engajamento da sociedade civil é essencial para criar um ambiente mais inclusivo e
acolhedor em todos os aspectos da vida, inclusive no ambiente de trabalho.

Ademais, a colaboração entre diferentes setores não se resume apenas à


implementação de políticas, mas também à criação de uma cultura de respeito
e
45

inclusão. O compartilhamento de boas práticas, experiências e aprendizados entre


empresas, organizações e comunidades pode impulsionar a criação de um ambiente
laboral mais acolhedor e adaptado às necessidades individuais dos portadores de
TEA.

A inclusão efetiva dos portadores de TEA no ambiente de trabalho só será


alcançada por meio de ações colaborativas e coordenadas entre governos,
empresas, sociedade civil e comunidades locais. Somente ao unir esforços e
comprometer-se coletivamente é possível construir um ambiente laboral onde todos
os indivíduos tenham a oportunidade de contribuir e prosperar plenamente.

4.2 Reforçando o Chamado à Ação para a Inclusão Laboral dos


Portadores de TEA

À medida que observamos os avanços na conscientização e na legislação


voltada para a proteção e inclusão dos portadores de Transtorno do Espectro Autista
no ambiente laboral, é crucial reforçar o chamado à ação. O compromisso com a
criação de ambientes de trabalho mais inclusivos e acessíveis para esses indivíduos
não pode ser apenas um discurso retórico; precisa ser convertido em ações
tangíveis e transformadoras.
O primeiro passo para concretizar esse chamado à ação é a implementação
efetiva das políticas existentes. As leis de inclusão laboral precisam ser aplicadas de
maneira consistente e eficaz. Isso requer um esforço conjunto entre os órgãos
reguladores, empresas e a sociedade civil para garantir que essas políticas sejam
cumpridas e que haja responsabilidade por seu cumprimento.
Além disso, é crucial investir em programas de sensibilização e capacitação
continuada para os empregadores, gestores e colaboradores. Esses programas
devem visar não apenas a compreensão do TEA, mas também fornecer orientações
práticas sobre como adaptar o ambiente de trabalho e apoiar os portadores de TEA
de maneira eficaz. A educação é a chave para criar uma cultura empresarial que
valorize a diversidade e promova a inclusão.
46

Outro ponto fundamental é o estabelecimento de parcerias estratégicas entre


empresas, governos e organizações da sociedade civil. A colaboração entre esses
setores é essencial para identificar e implementar melhores práticas, compartilhar
recursos e promover iniciativas que possam ampliar as oportunidades de emprego e
a inclusão dos portadores de TEA.
Ademais, é necessário reconhecer e valorizar as contribuições únicas que os
portadores de TEA podem oferecer ao ambiente de trabalho. A diversidade de
habilidades, pensamento e perspectivas trazida por esses indivíduos pode
impulsionar a inovação e o crescimento das empresas. Destacar essas contribuições
é fundamental para construir uma cultura que valorize e promova a inclusão em
todos os níveis organizacionais.
Cada um de nós tem um papel a desempenhar nesse chamado à ação.
Desde a defesa por políticas inclusivas até a promoção de ambientes mais
acolhedores em nossas esferas individuais, todos podem contribuir para tornar o
ambiente de trabalho mais acessível e justo para os portadores de TEA. É hora de
transformar palavras em ações, comprometendo-nos verdadeiramente com a
criação de um futuro laboral mais inclusivo para todos.

5 CONCLUSÃO

A complexidade e singularidade do Transtorno do Espectro Autista tornam


imperativa a criação e aplicação de leis que ofereçam suporte, proteção e
oportunidades justas para indivíduos dentro desse espectro. No entanto, a jornada
rumo à efetiva inclusão é multifacetada e exige não apenas a promulgação de leis,
mas também um compromisso real com a implementação e garantia dos direitos
estabelecidos.
No cenário brasileiro, as leis voltadas ao autismo desempenham um papel
fundamental na promoção da igualdade e representatividade desses indivíduos. A
Lei Berenice Piana (Lei 12.764/12), por exemplo, foi um marco ao instituir a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA. Essa legislação
estabelece
47

diretrizes para o diagnóstico precoce, acesso a tratamentos e inclusão educacional,


além de reconhecer a necessidade de estratégias específicas para garantir os
direitos dessas pessoas.
No entanto, a eficácia dessas leis muitas vezes esbarra na falta de
implementação e fiscalização adequadas. É fundamental não apenas criar
regulamentações, mas também garantir que sejam aplicadas de forma efetiva em
todos os níveis da sociedade. Isso demanda um esforço conjunto do governo, da
sociedade civil e do setor privado para assegurar que os direitos dos autistas sejam
respeitados e promovidos.
O Brasil tem avançado na construção de uma estrutura legal mais inclusiva,
mas a luta em prol da inclusão vai além da legislação. É necessário um
compromisso contínuo em educar e sensibilizar a sociedade sobre as necessidades,
habilidades e contribuições das pessoas com TEA. O capacitismo, que se manifesta
na forma de preconceitos, estereótipos e discriminação, ainda é um desafio a ser
enfrentado.
No contexto do mercado de trabalho, a inclusão de pessoas com TEA é uma
pauta urgente e necessária. As leis que visam a garantir oportunidades iguais nesse
âmbito são um passo crucial na direção certa. Programas de capacitação
profissional específicos, adaptações nos ambientes laborais e conscientização das
empresas são medidas essenciais para criar espaços de trabalho verdadeiramente
inclusivos.
Além disso, reconhecer as habilidades e potenciais únicos das pessoas com
TEA é fundamental para uma inclusão efetiva. Muitos indivíduos dentro desse
espectro possuem talentos e aptidões valiosas que podem enriquecer o ambiente de
trabalho. Valorizar essas habilidades é não apenas uma questão de justiça social,
mas também uma oportunidade de crescimento e diversificação para as empresas.
Portanto, a atuação do Brasil na luta contra o capacitismo autista, por meio de
leis que protegem e promovem a inclusão de pessoas com TEA, é um passo
relevante na construção de uma sociedade mais justa e acolhedora para todos. No
entanto, é fundamental reforçar a implementação dessas leis, garantindo que elas
não permaneçam apenas como palavras no papel, mas sim se transformem em
ações
48

concretas que promovam a inclusão, o respeito e a valorização das pessoas dentro


do espectro autista em todos os aspectos da vida social, incluindo o mercado de
trabalho.
Portanto, diante do cenário delineado, é imperativo não apenas reconhecer os
desafios, mas também agir. É hora de transformar os conhecimentos adquiridos em
ações concretas. É necessário um compromisso coletivo para avançar na criação
de um ambiente laboral mais acessível, inclusivo e justo para os portadores de TEA.
Este não é apenas um chamado à ação; é um compromisso para com a igualdade
de oportunidades e a valorização da diversidade no mundo do trabalho.
Ao encerrar esta pesquisa, reafirmamos a importância de prosseguir nesse
caminho, trabalhando juntos para criar um futuro onde os portadores de TEA não
apenas tenham acesso ao emprego, mas também sejam valorizados e capacitados
a contribuir plenamente em um ambiente de trabalho que os acolha e reconheça
suas habilidades e talentos únicos.
49

REFERÊNCIAS

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