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03 Estrututuras de Aco 2017
03 Estrututuras de Aco 2017
03 Estrututuras de Aco 2017
Mestrado Integrado em
Arquitetura
CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO
DE ESTRUTURAS
Estruturas de Aço
Maio 2017
ÍNDICE
3.2.2 Sistema estático – Ligação à fundação e entre elementos dos pórticos ......... 12
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 72
Estruturas de Aço
Em Portugal, a construção em aço tem, desde há longa data, uma expressão muito
significativa em determinados domínios, tais como em edifícios industriais (oficinas e
armazéns), coberturas de grande vão (pavilhões desportivos, por exemplo), pórticos
rolantes, comportas de eclusas e barragens, na construção naval e na produção de material
ferroviário circulante. Em relação a outros domínios, por exemplo em edifícios de escritórios
e de espaços comerciais, a utilização de estruturas de aço ou mistas aço-betão também é
relevante e, em termos relativos, tem vindo a aumentar.
Os edifícios com estrutura de aço podem ser agrupados em duas tipologias básicas:
1) edifícios de um piso; e 2) edifícios multipiso. Na primeira, incluem-se edifícios destinados
a instalações industriais, espaços comerciais, pavilhões desportivos (em particular, as
coberturas), armazéns, edifícios de exposições, hangares e aerogares. Na tipologia dos
edifícios multipiso incluem-se alguns edifícios de habitação e edifícios de escritórios e
ensino, bem como numerosos espaços comerciais e parques de estacionamento. Em
diversos casos, trata-se de estruturas porticadas com pilares de aço (eventualmente
complementados por caixas de escadas/elevadores em betão armado) e pavimentos mistos
aço-betão.
Existem contudo dois aspetos que são normalmente identificados como desvantagens das
estruturas de aço, merecendo uma atenção específica no projeto:
O projeto de qualquer estrutura tem como objetivo central dar uma resposta adequada à
utilização pretendida, o que envolve sempre a verificação das condições apropriadas
relativas a estados limites últimos e de serviço. Para atingir eficazmente estes objetivos, é
necessário considerar no processo de conceção duma estrutura todas as condicionantes de
projeto aplicáveis, destacando-se:
1)
Podem ser utilizados aços que não requerem proteção contra a corrosão, como é o caso de aços inoxidáveis
ou de aços tipo Corten; contudo, o seu custo e algumas especificidades do dimensionamento tornam a sua
utilização pouco corrente no domínio das estruturas de edifícios.
s [MPa]
800 S 690
fu
S 460
600
fy
S 355
S 235
400
200
Es
1
0
1 5 10 15 20 25 30 e [%]
Aço
[MPa]
Figura 2.2 – Tensão de cedência dos aços de construção utilizados em perfis e chapas
laminados a quente (adaptado da norma EN 10025-2:2004)
O sistema estrutural de um edifício porticado de aço do tipo industrial é constituído por três
componentes principais (Figura 3.1):
Revestimento
da cobertura
Travessa
Contraventamento
da cobertura
Madre da
cobertura
Madre da
fachada Revestimento
da fachada
Contraventamento
da fachada
Montante
de topo Montante
Fac al
had er
a de t lat
opo da
cha
Fa
Montante
Reacção na Travessa
fundação
RV
Reacção na a)
fundação Montante
RV
Cargas horizontais no
revestimento da fachada
Pressão
do vento
Madres da
fachada
RH
RV
RV
Contraventamento Reacções na
da cobertura fundação
Contraventamento
da fachada
RH b)
RV
RV
4 5 7 8 6 2 9 1 3
10
11
14
13
· 1 – Pórtico principal
· 2 – Madres da fachada
· 3 – Madres da cobertura
· 4 – Portão · 10 – Sistema de contraventamento
· 5 – Revestimento 12 · 11 – Tirantes das madres da cobertura
· 6 – Isolamento térmico 15
· 12 – Tirantes das fachadas
· 7 – Chapa translucida para iluminação · 13 – Escoras de travamento
· 8 – Ventiladores · 14 – Montantes secundários
· 9 – Caleira de drenagem · 15 – Fundações
Figura 3.3 – Elementos constituintes de um edifício industrial com estrutura porticada de aço
Se bem que a solução com montantes intermédios seja frequente em estruturas com grande
área coberta, as vigas treliçadas planas são uma opção importante a considerar quando é
necessário adotar vãos elevados (reduzindo o número de apoios interiores).
No caso de pórticos planos com a travessa em viga treliçada, é possível definir uma
cobertura sem desníveis (Figura 3.4.a), ou, em alternativa, utilizar a altura das treliças para
criar uma cobertura desnivelada do tipo “shed”, a qual permite a iluminação natural do
interior (Figura 3.4.b). Neste caso, as madres apoiam-se alternadamente na corda inferior e
superior de treliças consecutivas. Se bem que as ligações das madres às cordas favoreçam o
travamento destas para movimentos fora do seu plano, esta disposição requer ainda a
utilização de um sistema geral de contraventamento da cobertura.
a)
c)
d)
Um sistema de vigas treliçadas em grelha ortogonal (Figura 3.4.d) permite vencer vãos
elevados nas duas direções com um número reduzido de apoios, pelo que, frequentemente,
revela-se uma boa solução, simples e económica, para edifícios com uma grande área
coberta.
A forma dos pórticos depende da tipologia estrutural adotada, do sistema estático utilizado
e do modo de construção, bem como de dados constantes do projeto de Arquitetura.
As travessas dos pórticos podem ter formas diversas (vd. Figura 3.5), designadamente:
planas, ou
em “shed”.
A opção por uma destas soluções articula-se também com questões não estruturais,
nomeadamente a inserção de áreas envidraçadas de iluminação, condutas de ar
condicionado e/ou apoios da iluminação interior, e especialmente a altura livre que é
requerida no interior, a qual depende da utilização pretendida.
Em geral, deve ser assegurada uma inclinação mínima nas vertentes (na ordem de 1%) para
garantir a drenagem da cobertura.
A escolha do sistema estático dos pórticos, que envolve a definição dos tipos de ligação
entre os elementos estruturais e destes à fundação, é igualmente outra das opções de base
a tomar num projeto.
It = I m It = I m It = I m It = Im
3.6 m 3.6 m
Im Im Im Im Im Im
6m 6m 6m 6m
a) Momentos fletores
P e deslocamentos P
M 0,11M
d 0,22M
0,05d
b) Rotura de um montante
c) Assentamento de apoio
A opção por um determinado sistema estático, tal como os ilustrados na Figura 3.7, deve ter
em atenção as vantagens e desvantagens atrás referidas e, também, o tipo de fundação.
Isostática
Ligação articulada
Isostática
Ligação articulada
Hiperestática ‒ 1o grau
Ligação rígida
Hiperestática ‒ 2o grau
Ligação rígida
Hiperestática ‒ 3o grau
Ligação rígida
Na maioria dos casos, as fundações dos pórticos metálicos de um piso são diretas, dado o
valor geralmente reduzido das cargas verticais transmitidas; no entanto, existem situações
em que se revela necessário adotar fundações indiretas, por estacas ou micro-estacas.
Nessas situações, normalmente é suficiente adotar uma ou no máximo duas estacas por
montante (ou, em alternativa, um número reduzido de micro-estacas). Nos casos em que é
adotada apenas uma estaca ou uma solução com micro-estacas, geralmente é preferível
evitar a transmissão de momentos fletores. Deste modo, justifica-se que a ligação rotulada
na base dos montantes seja a opção mais corrente quando as fundações são indiretas
(Figura 3.8.a).
M M
H H H H
H H
Tirante
H H
Tirante
V V V V
b)
De entre estas duas possibilidades, a opção de colocar tirantes ligando as bases das colunas
é a menos utilizada na medida em que, em geral, a rigidez axial dos tirantes é muito inferior
à rigidez para deslocamentos laterais dos elementos de fundação, o que reduz a sua
eficiência na absorção das forças horizontais.
As travessas são geralmente constituídas por vigas tipo I ou vigas treliçadas. A escolha de
uma ou outra solução é basicamente uma opção de conceção, embora o vão e o
espaçamento entre pórticos tenha influência no custo associado a cada solução. Em geral, a
solução mais económica corresponde a pórticos com vãos não superiores a 30 m, como
ordem de grandeza. Contudo, existem diversas situações – coberturas de recintos
desportivos, por exemplo – que requerem vãos superiores, pela impossibilidade de colocar
apoios no interior.
Para vãos até cerca de 30 m, a solução mais económica consiste em adotar travessas
constituídas por perfis laminados do tipo IPE, HEA ou eventualmente HEB;
Para vãos até 35-40 m é possível utilizar os mesmos tipos de perfis laminados mas
reforçados com esquadros nas zonas de ligação aos montantes, essencialmente para
aumentar a resistência à flexão da travessa nessas zonas;
A partir de vãos da ordem de 30-35 m, as soluções com vigas de secção soldada (em
que existe a possibilidade de ajustar as dimensões dos banzos e das almas ao longo
do vão) revelam-se económicas para vãos até 45-50 m, como ordem de grandeza;
Contudo, para vãos acima de 50-60 m as vigas treliçadas são geralmente a opção
mais económica; na verdade, esta solução é muito flexível a apresenta um domínio
de aplicação eficaz muito extenso (vãos a partir de 20-25 m).
Treliça
Tipo de travessa
Viga alveolar
Viga de secção
soldada
Vão [m]
10 20 30 40 50 60 70 80
Por fim, refere-se que também é possível definir estruturas de cobertura em arco, com
atirantamento, com redes de cabos e membranas ou utilizando treliças espaciais,
nomeadamente para grandes vãos (Figura 3.10). Embora sejam importantes, estas soluções
apresentam características particulares que as tornam de complexa tipificação, estando a
sua análise para além dos objetivos do presente documento.
Tirante Tirante
Tirante Tirante
Mastro Mastro
Travessa
Montante Montante Viga
Pilar da de retenção treliçada
Tirante
bancada
de
retenção
Figura 3.10 – Exemplos de coberturas com vigas treliçadas espaciais, vigas atirantadas e
coberturas com membranas e cabos [R12]
o sistema de drenagem.
As placas de fibrocimento deixaram de ser utilizadas devido aos efeitos nocivos do amianto,
e as chapas de alumínio ou de zinco são utilizadas, normalmente, apenas em acessórios e
pequenas coberturas. Deste modo, a opção mais frequente para o sistema de revestimento
consiste em adotar painéis de policarbonato ou chapas de aço perfiladas (Figura 3.11).
Assim, as chapas de aço perfiladas constituem a solução mais utilizada, atualmente, nas
coberturas. São diversos os tipos de perfilados das chapas, em geral com espessuras muito
reduzidas (de 0,5 a 1 mm).
As principais vantagens desta solução são a sua leveza, o bom acabamento (galvanizado ou
com variadas cores de lacagem), a sua durabilidade e a possibilidade de, tirando partido da
sua resistência, admitir que funcionam como um diafragma, repartindo as cargas atuantes
"no plano" e auxiliando na estabilidade lateral das madres.
Para efeitos de isolamento térmico e acústico, a solução de chapas de aço perfiladas pode
incluir uma camada isolante (poliestireno ou poliuretano expandido, resina fenólica)
colocada entre uma chapa superior perfilada e uma chapa inferior, por vezes microperfurada
para melhorar o isolamento acústico (Figura 3.12).
As madres têm como principal função o apoio dos revestimentos das coberturas e fachadas,
transmitindo as cargas aplicadas nos revestimentos à estrutura principal. Contudo, as
madres desempenham igualmente outras funções (Figura 3.15):
Solução de revestimento de uma cobertura com duas chapas, e isolamento, dispensando as madres
Solução de revestimento de uma cobertura com duas chapas, e isolamento, apoiada entre madres
Figura 3.14 – Soluções integradas de cobertura com chapas perfiladas em dupla camada [R4]
Compressão
Vento na fachada
de topo
Instabilidade dos
pórticos “fora do plano”
Com soluções correntes de revestimento, é comum adotar para a distância entre madres um
valor entre 1 a 2 m, embora este espaçamento dependa do valor das cargas locais do vento
e da neve. São possíveis espaçamentos entre madres até 4 m quando se utilizam painéis
“sandwich” ou chapas com perfilado de maior altura. Em zonas localizadas junto aos bordos
da cobertura ou nas cumeeiras, é possível reduzir os espaçamentos das madres para ter em
conta as ações localizadas do vento.
A escolha do tipo de madres é função do seu vão (que corresponde à distância entre
pórticos), tendo-se que:
Para vãos entre 5 a 9 m, como ordem de grandeza, são normalmente utilizados perfis
comerciais do tipo I ou U (Figura 3.16.a), ou eventualmente perfis H ou RHS
(tubulares retangulares); a utilização de perfis enformados a frio do tipo C, U
invertido, ou Z também é uma solução adotada frequentemente, sobretudo devido
à economia que proporciona pela redução do peso total de aço (Figura 3.16.b);
Para vãos entre 10 a 15 m é corrente utilizar madres em treliça, realizadas a partir de
perfis laminados de pequena secção (Figura 3.16.c).
c) Madres em treliça
a) b)
Em relação à flexão, as madres constituem, normalmente, vigas com dois tramos, dado que
os perfis comerciais têm entre 12 e 15 m e a solução estrutural mais económica, para muitas
situações correntes, corresponde a um espaçamento entre pórticos na ordem de 6 a 7 m,
conforme foi referido. Embora a opção de madres simplesmente apoiadas possa ser
considerada, a elevada deformabilidade desta solução condiciona, geralmente, a sua
aplicação (Figura 3.18).
De facto, para vigas com um mesmo vão sujeitas a uma carga uniforme , em termos do
momento fletor condicionante não existe diferença entre uma viga simplesmente apoiada e
uma viga contínua com dois tramos iguais (o momento fletor extremo é igual, em ambos os
casos, a ). Contudo, existe uma diferença substancial em termos da flecha máxima: na
viga simplesmente apoiada , enquanto que na viga com dois tramos
. A redução de flecha na viga com dois tramos é, portanto, significativa.
A opção de utilizar madres contínuas (i.e., com três ou mais tramos) também pode ser
considerada (Figura 3.18.c). Nesse caso, obtém-se uma redução do máximo momento fletor
elástico (o qual, para uma carga uniforme, é cerca de 2/3 do máximo momento nos sistemas
estáticos atrás referidos) e, sobretudo, da deformabilidade (cerca de 1/2 em relação à
Detalhe 1 Detalhe 1
Detalhe 2
Detalhe 3 Detalhe 3
d) Vigas “Gerber”
Uma opção a considerar para madres contínuas, e que contorna esta dificuldade, consiste
em adotar vigas do tipo “Gerber”, em que as distribuições de esforços elásticos devidos a
cargas uniformes são próximas das de uma viga contínua se as ligações rotuladas forem
posicionadas aproximadamente a 1/5 dos vãos (Figura 3.18.c).
Em qualquer caso, na escolha do sistema estático das madres também devem ser
considerados os efeitos das variações térmicas uniformes, pois é preferível que esta ação
não introduza esforços normais nas madres (em especial se a conceção da estrutura não
requerer às madres a missão de transmitir forças horizontais devidas à ação do vento ou de
estabilização das travessas). Para tal, torna-se necessário que o conjunto dos apoios de cada
a) Viga simplesmente apoiada b) Viga contínua – vão interior c) Viga contínua com dois vãos
q q q
Sistema estático
Diagrama de
momentos M
Mecanismo de
colapso e carga
última
Mpl Mpl Mpl
Rótula plástica Mpl Mpl
Figura 3.19 – Esforços elásticos, flechas máximas e mecanismos de colapso para diferentes
sistemas estáticos das madres (adaptado de [R12])
Em madres com um ou dois tramos, é possível materializar esta condição adotando um dos
apoios fixo às travessas e os restantes apoios móveis; no caso de madres contínuas, revela-
se menos exequível definir apoios móveis nas travessas, em virtude dos maiores
deslocamentos que é necessário acomodar. Este facto constitui uma desvantagem das
madres contínuas em relação aos sistemas de madres com um ou dois tramos.
‒ ELS de deformação 2)
Importa referir que a verificação da segurança de madres com perfil de secção aberta pode
ser condicionada pela resistência à encurvadura lateral (este fenómeno é referido adiante
com maior detalhe, a propósito do dimensionamento das travessas). De facto, o banzo
ligado à chapa de revestimento pode geralmente considerar-se travado lateralmente pela
própria chapa (a qual funciona como um diafragma rígido, para este efeito), mas o mesmo
não sucede, à partida, com o outro banzo.
Nas madres de cobertura, em particular, a situação em que a ação do vento tem sentido
ascendente é especialmente relevante neste contexto, em virtude dos momentos fletores
“negativos” que introduz na zona central do vão das madres (de que resulta uma situação de
compressão instalada no banzo inferior, não travado à partida pela chapa de revestimento).
Nesses casos, uma solução eficiente consiste em definir apoios laterais ao banzo inferior das
madres, entre os pórticos, para reduzir o “comprimento de encurvadura lateral” e, desta
forma, aumentar a capacidade resistente das madres à encurvadura (Figura 3.20.a).
2)
Nas expressões apresentadas, e são, respetivamente, as flechas devidas às ações permanentes e à
combinação mais desfavorável das ações variáveis (com valores característicos ), de acordo com o
formato ; quanto a , representa uma eventual contraflecha inicial.
Madre
Tirante Detalhe A
Travessa Madre de
CORTE cumeeira
Cantoneira
Travessa Detalhe C
Alma da
Detalhe B
madre
Detalhe B
Detalhe D
Cantoneira
Detalhe A
Madre de cumeeira
Alternativa
Tirante
Tir Detalhe C
an
Madre
te
Travessa
PLANTA
Detalhe D
Hipótese 1 Hipótese 2
Figura 3.20 – Apoios intermédios das madres com tirantes no plano da cobertura
As madres podem estar sujeitas não apenas aos esforços já referidos como também a
momentos torsores, em resultado de cargas aplicadas com excentricidade em relação ao
centro de corte da secção transversal. Esta excentricidade é geralmente reduzida no caso de
perfis bissimétricos, mas no caso de perfis laminados U ou de perfis C e enformados a frio,
os efeitos da torção podem ser importantes para o dimensionamento. Em geral, os apoios
das madres nas travessas devem impedir a torção, minimizando os seus efeitos no
dimensionamento.
Nas Figuras 3.21 e 3.22 são apresentados exemplos de apoio nas travessas e de ligação entre
madres; para este último caso, distinguem-se as soluções seguintes:
(ii) ligação rígida, com recurso a cobre-juntas ou a chapas de topo (estes tipos de ligação
são menos frequentes, pelo custo de mão-de-obra envolvido na sua execução).
B B
Corte AA Corte AA
h/2 h/2
B B
Corte BB Corte BB
A A
A A
Ligação articulada
Ligação rígida
O sistema de drenagem.
A fixação da chapa aos perfis deve ser realizada com um grampo, ligado preferencialmente
ao banzo inferior das madres (Figura 3.23.a). Desta forma, para a ação de sucção do vento as
cargas são transmitidas à totalidade das madres e não apenas ao nível do banzo superior.
Para evitar o punçoamento da chapa (o que é relevante para a ação de sucção do vento), os
grampos devem ser ligados a um “capacete”, de forma a envolver uma área significativa da
chapa no processo de transmissão às madres das pressões atuantes. Entre a chapa e o
“capacete” deve ser colocada uma anilha de estanqueidade. As fixações devem ser
realizadas nas partes elevadas do perfil da chapa, para reduzir o risco de passagem de água.
O sistema de drenagem nos pontos baixos da cobertura deve assegurar boas condições de
escoamento, transmitindo a água recebida do revestimento aos tubos de queda. As caleiras
devem ter uma inclinação adequada (a título indicativo, não inferior a 1%).
Uma forma simples de concretizar a inclinação desejada para as caleiras consiste em manter
a sua secção transversal e fazer variar a altura dos respetivos suportes (Figura 3.23.c). Em
alternativa, a secção da caleira pode ter uma altura variável, aumentando a capacidade de
vazão no sentido do escoamento e permitindo obter, assim, a inclinação desejada.
Os tubos de queda devem ser localizados nos pontos baixos das caleiras, sendo fixados,
geralmente, a montantes de pórticos da estrutura.
b) c)
Conforme foi referido, as vigas em perfil I ou vigas treliçadas são as opções mais correntes
para as travessas de pórticos (Figura 3.24.a). A solução mais simples consiste em executar as
travessas com perfis laminados de secção I ou H. Contudo, para vãos elevados pode ser
mais económico adotar vigas I, de altura constante ou variável, executadas com chapas
soldadas. Uma solução alternativa, em geral económica para vãos numa gama intermédia,
consiste em adotar vigas alveolares, realizadas a partir de perfis comerciais (Figura 3.24.b).
As travessas têm como primeira função receber as cargas transmitidas pelas madres e
encaminhá-las para os montantes. Para este efeito o seu funcionamento é o de vigas
integradas em pórticos, pelo que, à partida, os principais esforços instalados são o momento
fletor e esforço transverso; não obstante, o esforço normal (resultante do funcionamento de
pórtico) não deve ser desprezado, não só pelo efeito de forças horizontais aplicadas mas
também, para cargas verticais, no caso de travessas com inclinação acentuada.
A altura das travessas em perfil I está em geral contida entre e , sendo o vão
da viga simplesmente apoiada equivalente (i.e., a distância entre secções com momento
fletor nulo para uma carga vertical uniformemente distribuída). 3)
ELU de Flexão
3)
Em situações correntes, ; com esta ordem de grandeza para , os dois limites indicados
correspondem a e .
Travessa em perfil
laminado
Travessa em viga
treliçada
Montante em perfil
laminado
a)
Travessa em viga de
Travessa em perfil laminado Travessa em viga alveolar
secção soldada
b)
Considere-se o exemplo ilustrado na Figura 3.25, de uma viga com secção constante e
bissimétrica, em forma de I, simplesmente apoiada e travada lateralmente apenas nas
extremidades, sujeita "apenas" a um momento fletor constante em torno do eixo (ou
seja, o eixo baricêntrico de maior inércia da secção transversal).
Mcr x
z
Mcr
ø
a) b)
Figura 3.25 – a) Encurvadura lateral duma viga simplesmente apoiada, com secção I, sujeita a
momento fletor constante; b) Detalhe da posição encurvada
De facto, o banzo comprimido funciona como uma coluna sobre "fundação elástica" e tende
a encurvar devido à compressão nele instalada, sendo que o modo de encurvadura
associado ao menor valor do parâmetro de carga, de entre os modos possíveis, é geralmente
o modo que envolve flexão em torno do eixo (que é designada, neste contexto, por “flexão
lateral”).
a
Secções em I laminadas
b
c
Secções em I soldadas
d
Considere-se a situação ilustrada na Figura 3.26.a). Na zona central da travessa (zona com
momentos fletores positivos) o banzo superior está comprimido mas admite-se que está
travado para deslocamentos “fora do plano” pelas madres. Nesse caso, o “vão” da travessa
para efeitos de verificação da segurança à encurvadura lateral, , pode ser tomado igual à
distância entre as madres, o que, em geral, conduz a um valor de elevado.
Na mesma situação o banzo inferior está comprimido apenas junto da ligação aos montantes
(Figura 3.26.a). Considerando que o banzo inferior da travessa está travado "fora do plano"
na secção do topo dos montantes, então o comprimento pode ser tomado igual à
distância entre o início da travessa e a secção de momento fletor nulo (ou, de forma mais
conservativa, até à primeira madre na zona de momento positivo, ou seja, até à primeira
secção que tem o banzo comprimido travado lateralmente).
Embora este valor de seja maior que o correspondente à zona central da travessa (isto é,
a distância entre madres), trata-se duma zona com uma variação significativa de momento
fletor (em correspondência com o diagrama de esforço transverso) e, portanto, o valor de
também resulta, em geral, elevado.
A melhor opção de projeto consiste, neste caso, em travar o banzo inferior para aumentar o
momento fletor crítico. Esse travamento pode ser realizado com elementos diagonais
ligados às madres ou com elementos entre os diversos banzos inferiores e ligados ao sistema
de contraventamento geral da estrutura, por exemplo a uma parede de betão (Figura
3.26.c).
madre A
Travamento do travessa
Banzo
banzo inferior
A comprimido
MEd
MEd,min
MEd,max
Madre de travamento
do banzo superior
Alçado A
Travamento do
banzo inferior
Banzo inferior
Planta do Banzo Inferior LLT
da travessa
b)
Travessa
Figura 3.26 – a) Esforços e travamentos em travessas sujeitas a carga uniforme dirigida "do
exterior para o interior" do edifício; b) Esforços e travamentos em travessas sujeitas a carga
uniforme dirigida "do interior para o exterior"; c) Soluções de travamento do banzo inferior
Para situações de vigas com secção uniforme em I ou H sujeitas a esforço normal de valor
reduzido ( ), o regulamento Suíço SIA263 [R19] apresenta a seguinte
expressão para avaliar o comprimento máximo entre travamentos ) que permite
dispensar uma verificação explícita da estabilidade lateral das travessas:
em que:
Desta forma, se forem utilizados travamentos dos banzos com distância inferior a este
comprimento crítico, i.e. , é dispensável calcular o momento elástico de
encurvadura lateral, . Esta condição corresponde, na prática, a adotar os seguintes
limites de espaçamento para os travamentos em travessas:
No caso de travessas de pórticos com vãos acima de 25-30 m em que sejam adotados os
travamentos suficientes para que a resistência não seja afetada pelos efeitos da encurvadura
lateral, o dimensionamento é condicionado pela verificação da resistência à flexão das
secções nas zonas próximas dos apoios, sujeitas a momentos fletores locais elevados.
Adotando esquadros realizados a partir do mesmo perfil laminado que é escolhido para as
travessas, o momento fletor resistente da travessa na secção de ligação a um montante
pode ser estimado tomando , sendo a área de cada banzo e a
distância entre as linhas médias dos banzos extremos. Comparando esta resistência com o
valor de cálculo do momento fletor atuante (calculado, numa primeira iteração, sem
considerar esquadros na travessa), obtém-se uma estimativa da altura necessária para o
esquadro (note-se que, em rigor, o momento fletor atuante depende da altura do esquadro).
A limitação da deformabilidade das travessas é uma condição importante e que pode ser
condicionante no dimensionamento, em particular para vãos acima de 25-30 m. Tal como
para as madres, é possível adotar contraflechas para compensar a deformação devida às
cargas permanentes; nesse caso, a condição de limitação da deformabilidade envolve
apenas os efeitos das ações variáveis (Figura 3.28).
d o = contraflecha
d cp
dQ
Figura 3.28 – Contraflecha inicial e flechas resultantes das ações permanentes e variáveis
A flecha elástica máxima numa travessa ou numa viga de um piso, sujeita a carga distribuída
uniforme, pode ser avaliada a partir do gráfico da Figura 3.29. Este gráfico tem em conta não
só o efeito da carga uniformemente distribuída no vão, , como o efeito dos momentos
fletores e nas extremidades, os quais traduzem o grau de encastramento parcial da
viga nos apoios. Para uma situação com 0,050 e 0,075 , por
exemplo, tem-se que .
5 d max
qL4 q
384 EI
4 A B
L
MB
MA
3
MB
qL2
0.0
2
00
0.0
2
0.0
5
50
0.0
75
0.1
1
00
0.1
2
0.1
5
0.2
05
MA
00
0.2
qL2
25
0
0.000
0 0.050
0,05 0.100
0,1 0.150
0,15 0.200
0,2 0.250
0,25
No caso dos pisos é igualmente necessário verificar o estado limite de vibração, para evitar
que se tornem sensíveis a fenómenos de ressonância provocados pelas solicitações
dinâmicas normais em serviço. Esta verificação é feita garantido que a frequência própria
fundamental do modo de vibração vertical do piso é superior em geral a 3 Hz.
Nos casos especiais de pisos em que é possível uma solicitação sincronizada de peões ou
máquinas (como por exemplo pisos de ginásios ou salões de dança), deve considerar-se que
a frequência fundamental do piso é superior a 5 Hz.
As vigas alveolares constituem uma forma eficiente de tirar partido das propriedades dos
perfis laminados, definindo vigas cuja secção tem uma capacidade resistente acrescida em
relação à do perfil inicial.
As vigas alveolares utilizam-se tanto em coberturas como em pisos de edifícios (Figura 3.31),
sendo que, neste último caso, geralmente integram estruturas mistas aço-betão. A solução
de vigas alveolares apresenta diversas vantagens, tais como:
Vigas com aspeto ligeiro associado a uma importante economia de aço;
Possibilidade de passagem dos “serviços técnicos” na altura das vigas (como o caso
das condutas de ar condicionado, cuja colocação é normalmente problemática sob
pavimentos em laje vigada de betão armado ou pavimentos suportados por vigas de
alma cheia) (Figura 3.32);
Chapa ho
e1 adicional
h h-a e1
e1 e1
a
Figura 3.30 – Geometria de vigas alveolares obtidas a partir do corte de perfis laminados
H d»h/2 H<Htot
Htot
Figura 3.32 – Passagem dos “serviços técnicos” sob vigas de alma cheia e em vigas alveolares
M
d
a
V
Troço de viga
qa/2 qa qa qa
V1= V/2
d/2 N1=M/d
d
a/2 a/2 d/2 N1 Figura 3.33 – Modelo de viga Vierendeel
a para simular o funcionamento de uma
V1
Modelo de cálculo viga alveolar
No domínio das estruturas de aço, a capacidade resistente que é exigida aos elementos
estruturais conduz, por vezes, a soluções claramente pouco económicas se forem utilizados
perfis comerciais, ou até a situações em que os perfis comerciais disponíveis não têm
capacidade resistente suficiente. A ocorrência deste tipo de situações é possível, por
exemplo, no projecto de estruturas de edifícios com grandes vãos e/ou sujeitos a cargas
particularmente elevadas (tais como pavilhões industriais ou desportivos).
Para ultrapassar esta limitação, é possível definir elementos estruturais através da soldadura
de chapas de aço. Tipicamente, esta solução é usada em vigas com a definição de secções
transversais em I ou em caixão (vd. Figura 3.34), designando-se os elementos assim
formados por "vigas de secção soldada" (ou, também, por "vigas compostas de alma cheia")
Com esta solução é possível definir a geometria pretendida para a viga em cada secção.
Trata-se assim duma solução muito flexível em termos de conceção, na medida em que as
travessas dos pórticos podem ter uma secção transversal variável e ajustada, de forma
eficiente, à situação em causa.
A secção transversal duma viga em I de secção soldada é formada por dois banzos, com
largura e espessura não necessariamente iguais, ligados por uma chapa de alma com altura
eventualmente variável. As três chapas são soldadas continuamente em ambos os lados da
alma (através de cordões de ângulo ou, mais raramente, cordões com penetração parcial ou
total) (Figura 3.35.a).
Nos apoios é necessário colocar reforços verticais em cada lado da alma (ou, no caso de
apoios de extremidade, um perfil laminado ligado à extremidade da chapa de alma); ao
longo do vão poderá ser necessário também definir reforços verticais da alma, dispostos
apenas num ou em ambos os lados da alma.
Figura 3.34 – Estruturas porticadas e coberturas realizadas com vigas de secção soldada [R9]
O momento fletor atuante é resistido pelos banzos, que funcionam como tirantes
(tração) ou colunas (compressão) e mobilizam um binário interno;
O esforço transverso atuante é resistido pela alma, que funciona como uma placa
fina sujeita ao corte.
c2 c2
CEd CEd
tf 2
VEd MEd MEd VEd
= + d
d
tw tw
tf
tf 1
TEd b TEd
c1 c1
a) b) { MEd + VEd }VIGA < MRd, BANZOS + VRd, ALMA
Reforços Reforços
de vão de apoio
Reforço com Reforço com Reforço com Reforço com Reforço com U em
chapa soldada ½ IPE, HEA cantoneira cantoneira chapa quinada C)
Considere-se uma viga de secção soldada bissimétrica sujeita a cargas aplicadas no centro de
corte da secção. Neste caso, o momento crítico elástico para a encurvadura lateral pode ser
estimado, conservativamente, através da seguinte expressão simplificada: 4)
ou seja, o momento crítico elástico numa viga com secção soldada, nas condições
enunciadas, é aproximadamente igual ao momento do binário constituído por forças
longitudinais, aplicadas na linha média de cada banzo, com valor igual a ( , sendo
a "carga crítica de Euler" do banzo relativamente à flexão em torno do eixo (isto é, a carga
crítica de encurvadura elástica duma coluna com comprimento , simplesmente apoiada,
com secção transversal igual à dos banzos, idealizados como placas retangulares com
dimensões ) (Figura 3.36.a).
1.0 b
Coeficiente de redução cLT
0.8
C1NE Curva c h/b<2 h
0.6
Curva d
Mcr 0.4
h-tf h/b>2
0.2
C1 N E
a) 0.0
0.2 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Esbelteza normalizada lLT b)
4) Esta expressão pode ser utilizada para obter uma estimativa conservativa do momento crítico de
instabilidade lateral duma viga realizada com um perfil laminado.
Adotar vigas com esbelteza moderada; como ordem de grandeza da altura , para
um dado vão , considerar a gama de valores expressa por .
Permite eliminar os travamentos laterais das vigas ou, pelo menos, aumentar
substancialmente o seu espaçamento.
As almas das vigas de secção soldada são geralmente placas muito esbeltas, tipicamente
com uma relação entre a altura ( ) e a espessura ( ) da ordem de = 100 a 200
(espessuras correntes de 8 a 10 mm, no caso de coberturas). Com esbeltezas desta ordem de
grandeza, os efeitos da instabilidade local ganham importância e devem ser devidamente
considerados.
No modelo simplificado atrás referido, admite-se que a alma resiste apenas ao corte, sendo
a resistência à flexão assegurada unicamente pelos banzos. A questão da resistência à
encurvadura por esforço transverso é remetida para literatura específica, por exemplo [R18];
contudo, importa ter presente que, em associação com as esbeltezas elevadas atrás
referidas, ocorre uma redução em relação à resistência “plástica” ao esforço transverso.
De acordo com o EC3-1-5 [R9], a resistência ao esforço transverso de vigas com secção de
placas soldadas é determinada através da expressão
Uma treliça é tipicamente constituída por duas cordas ligadas entre si por diagonais e
montantes (Figura 3.38.a) ou apenas por diagonais (Figura 3.39.a); em ambos os casos, a
configuração das vigas é definida por triangulação, de que resulta um comportamento
estrutural baseado na distribuição de esforços axiais nos elementos (barras) constituintes.
Nó
sup erior
Corda
Montante
Dia
go
na
l
Corda inferior
a)
C1
D1 V1
M1 h
V1 α
V T1
M D1 = V1/sin α
M1 C1 = T1 » M1/h
b)
c)
d)
Numa viga de alma cheia, os esforços internos associados à flexão são o momento fletor e o
esforço transverso; numa treliça, aqueles esforços internos têm por contrapartida,
respetivamente, um binário correspondente aos esforços axiais instalados nas cordas e, no
caso duma treliça de altura constante, "apenas" a componente transversal (i.e., na direção
perpendicular à do vão) do esforço axial nas diagonais (Figura 3.38.b).
Assim, a altura da treliça é fundamental para controlar o nível do esforço axial nas cordas;
quanto às diagonais, o controlo do esforço axial resulta essencialmente da sua inclinação
(pelo que, indiretamente, também a altura da treliça é relevante). Se bem que as travessas
em viga treliçada possam ter altura constante ou variável, na situação – aliás, corrente – de
treliças simplesmente apoiadas é frequente adotar uma configuração de altura variável, com
maior altura na zona central (em que o “momento fletor” é máximo) Figura 3.38.c).
Para coberturas correntes, com travessas em viga treliçada simplesmente apoiada, de vão ,
o valor da altura pode ser pré-dimensionado utilizando as regras seguintes:
Para além da altura, um outro conjunto de decisões a tomar na definição geométrica duma
treliça diz respeito à inclinação das diagonais e à existência ou não de montantes.
Pelo contrário, em treliças sujeitas a cargas mais elevadas é importante utilizar montantes,
como forma de controlar a resistência à encurvadura da corda comprimida (em relação a
uma treliça do tipo Warren com diagonais igualmente inclinadas, a utilização de montantes
reduz para metade o comprimento de encurvadura da corda no plano da treliça). Este tipo
de geometria corresponde às treliças “tipo Pratt“ (Figura 3.39.b).
Figura 3.39 – Treliças tipo Warren e tipo Pratt de altura constante [R9]
Uma outra decisão a tomar consiste na escolha do tipo de perfis a utilizar na construção da
treliça, a qual deve ser tomada em articulação com a forma como os perfis serão ligados
entre si. Saliente-se, a este respeito, que uma parte significativa do custo das vigas treliçadas
resulta da mão-de-obra necessária para a sua construção, o qual depende fortemente da
complexidade da execução dos nós de ligação. Considerem-se as três hipóteses seguintes, de
entre as diversas soluções possíveis (Figura 3.40):
Geralmente não é possível fabricar as treliças em oficina com o seu comprimento final, dado
que é necessário considerar o seu transporte para a obra e os comprimentos máximos
transportáveis, em condições normais, são da ordem de 15 a 20 m. Assim, torna-se
necessário realizar em obra ligações entre os segmentos das treliças fabricados em oficina.
Para o efeito, as ligações aparafusadas, por exemplo com chapas de cobrejunta, são uma
solução corrente; também é possível recorrer a ligações soldadas caso sejam asseguradas,
em obra, as devidas condições de controlo da qualidade das soldaduras realizadas.
As treliças tubulares têm vindo progressivamente a ser mais utilizadas, devido ao seu bom
desempenho estético e às vantagens inerentes a perfis tubulares, designadamente em
termos de resistência e do custo associado à proteção contra a corrosão (note-se que, em
relação a perfis de secção aberta, os perfis tubulares apresentam muito menor superfície
exterior por unidade de peso de aço).
As ligações entre elementos tubulares, embora complexas, são suportadas atualmente por
meios computacionais para realizar o corte e a soldadura, o que simplifica muito a sua
execução. O dimensionamento destas ligações tem diversas especificidades, as quais são
objeto de documentação específica ([R10],[R16],[R20]). Com perfis tubulares é possível
Outro aspeto que merece referência consiste na verificação do estado limite de deformação
em vigas treliçadas. Em geral, esta condição não é tão importante no dimensionamento
como no caso das soluções atrás referidas para as travessas (i.e., com secção em perfil, de
alma cheia ou alveolares), pois as vigas treliçadas têm secções com um “momento de inércia
equivalente” elevado (em resultado de a distância entre as cordas ser significativa).
Por fim, uma referência às vigas treliçadas sem diagonais – as “vigas Vierendeel” (Figura
3.42). Na realidade, o funcionamento deste tipo de vigas treliçadas difere bastante do
funcionamento das vigas trianguladas, pois a eliminação das diagonais altera o mecanismo
de transmissão das cargas, ao longo do vão, até aos apoios.
Neste caso, a transmissão do esforço transverso global aos apoios só é possível através das
cordas, pelo que estes elementos, além dos esforços normais resultantes dos momentos
fletores globais, passam a ter também instalados momentos fletores e esforços transversos,
em resultado do funcionamento local “como viga” entre nós consecutivos (Figura 3.43).
Estes esforços de flexão “local” das cordas respeitam a condição de equilíbrio com as cargas
aplicadas e os esforços instalados nos montantes, os quais asseguram o funcionamento
conjunto das cordas.
Em relação ao modelo de cálculo, é usual admitir que a deformada das cordas e dos
montantes apresenta pontos de inflexão a meia distância entre nós consecutivos e a meia
altura da viga, respetivamente, o que corresponde a admitir que existem rótulas nesses
pontos.
h V M
a
Troço de viga
qa/2 qa qa qa
V1= V/2
h/2 N1=M/h
h
a/2 a/2 h/2 N1
a
V1 Figura 3.43 – Viga Vierendeel –
Modelo de cálculo Funcionamento estrutural e
modelo de cálculo
Os montantes dos pórticos de aço são normalmente constituídos por perfis laminados de
secção I ou H. Contudo, também são adotadas soluções com perfis tubulares, circulares ou
retangulares, ou colunas compostas a partir de perfis laminados (Figura 4.1.a).
A conceção dos montantes deve ter em conta as solicitações e o tipo de apoio lateral.
Relativamente às solicitações, deve ter-se em consideração que os esforços axiais de
compressão devidos às ações gravíticas têm valores geralmente moderados em pórticos do
tipo analisado neste Capítulo (exceto em casos particulares – por exemplo, como suporte da
viga de rolamento duma ponte rolante “pesada”), mas que devido a ações horizontais, por
exemplo a ação do vento lateral, ou a situações particulares, como uma descarga excêntrica
duma viga de caminho de rolamento, os montantes podem ser sujeitos a momentos fletores
elevados (Figura 4.1.b).
Efeitos transmitidos
pela ponte rolante
l1
l di
l1
Cachorro
ag
Vento h
h1
Montante do pórtico
b
z z t
y y y y
z z
Reações de apoio
a) b)
Loz
Loz
Madres da
fachada
Loy
Loy
y
z
z
y
c)
A orientação dos perfis dos montantes exteriores de pórticos deve ter em conta esta
diferença entre os comprimentos de encurvadura; em geral, os perfis são orientados de
modo a funcionar segundo o “eixo de maior inércia” para a flexão no plano do pórtico, ou
seja, o eixo de maior inércia ( ) é associado ao maior comprimento de encurvadura.
Cada uma das curvas é função da esbelteza normalizada da coluna , o que permite que as
curvas de encurvadura sejam independentes do tipo de aço utilizado. Esta esbelteza
normalizada é definida por
0,9
a
0,8
b
0,7
2
c Coluna perfeita c = 1/ l
0,6
d
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Esbelteza normalizada l
Le = L
Le = 0.7L
Le = L Le = 0.5L
Le = 2L
Le = L Le = 0.7L Le = 0.5L Le = L Le = 2L
Nas estruturas porticadas de pavilhões industriais, por exemplo, identificam-se dois sistemas
de contraventamento distintos (Figura 4.5):
Figura 4.5 – Transmissão das forças do vento nas fachadas até à fundação através de:
a) contraventamento transversal; e b) contraventamento longitudinal (adaptado de [R12])
Note-se ainda que as diagonais comprimidas sob o efeito da ação do vento atuando
normalmente a uma fachada funcionam em tração para a ação do vento atuando sobre a
fachada oposta. Neste caso, a disposição das diagonais em X é também designada por
contraventamento em “cruz de Santo André”.
Para o caso da ação do vento na fachada de topo oposta, torna-se necessário conduzir as
forças até ao sistema de contraventamento; esta função pode ser desempenhada pelas
madres, que devem ser dimensionadas tendo em conta este esforço de compressão, ou por
barras adicionais colocadas sob o plano das madres.
Note-se que as diagonais funcionam em tração para a ação do vento numa das fachadas de
topo e em compressão para a ação do vento na fachada oposta, razão pela qual as treliças
(de cobertura e de fachada) dum contraventamento transversal único devem ter uma
configuração de diagonais em X. Não obstante, e tal como já foi referido, é usual considerar
apenas as diagonais tracionadas no modelo de cálculo deste tipo de treliças.
LLT
madre
Encurvadura lateral da travessa
Madre da
fachada Lo
Pórtico h
vento
b)
vento
vento
c)
Figura 4.6 – Funcionamento do contraventamento transversal: a) na estabilidade de travessas e
montantes; b) e c) na transmissão à fundação das forças do vento nas fachadas de topo
Conforme é ilustrado na Figura 4.6.c), a ação do vento numa fachada de topo traciona
apenas as diagonais indicadas a traço cheio nas treliças (de cobertura e de fachada)
adjacentes a esse topo, pelo que, sob este ponto de vista, será dispensável colocar as outras
diagonais (indicadas a pontilhado).
a) d)
Junta de dilatação
b) e)
c)
Sem junta de dilatação Com junta de dilatação
Por último, refere-se a possibilidade de introduzir uma junta de dilatação na zona central da
estrutura (Figura 4.7.d-e). Esta solução, utilizada frequentemente em estruturas com
comprimentos superiores a 50-60 m, resolve inconvenientes que foram apontados às
soluções anteriores (compressão nas madres devido à ação do vento, deslocamentos
elevados nos pórticos de extremidade ou compressões elevadas nos elementos de ligação
dos montantes por efeito da ação térmica), mas tem a desvantagem de, em princípio,
implicar a duplicação do pórtico central.
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