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O que é o Tarô

Constantino K. Riemma

O tarot ou arcanos maiores e menores ou baralho ou cartas de jogar ou naipes e


trunfos, consistem numa única e mesma coisa. Trata-se de um jogo de 78 cartas, que se
difunde a partir da segunda metade do século 14, na Europa cristã, com iconografia cristã.
Não dispomos de registros históricos que indiquem alguma escola ou corporação de ofício
que tenha criado esse conjunto ou feito adaptações de jogos tradicionais anteriores. Tudo
indica que ganhou a forma que hoje conhecemos pelas mãos de artistas e artesões que
tinham conhecimentos e habilidades adquiridas entre os edificadores dos palácios e igrejas
no período pré-renascentista, bem como suas pinturas, imagens e vitrais.
É importante lembrar, do ponto de vista histórico, que existe um exemplar de baralho com
52 cartas, anterior às versões que hoje conhecemos. Trata-se do baralho Mamlûk, utilizado
pelos guerreiros mamelucos e que, evidentemente, tiveram suas cartas copiadas pelos
impressores europeus. Continua uma incógnita, até hoje, quais foram os autores dos 22
trunfos (arcanos maiores) agregados ao modelo do baralho mameluco.

Trunfos ou arcanos maiores. Naipes ou cartas ou arcanos menores.


Tarô de Jacques Viéville - 1650 Baralho de meados do séc. 20

Dada sua origem anônima, isenta de instruções e regras dogmáticas, esse jogo de cartas
deu margem a incontáveis fantasias e re-invenções mais ou menos arbitrárias. Desde seu
aparecimento foi utilizado por nobres e plebeus, para jogos, passatempos e, ao que tudo
indica, como instrumento de mancias.
O cenário imaginativo que cerca o Tarô, profuso e contraditório, confunde o iniciante
interessado em compreender sua linguagem simbólica. Esse jogo maravilhoso, portanto,
representa um real desafio para o estudo.
Se dependêssemos, por exemplo, apenas dos dicionários para saber o significado do Tarô,
teríamos informações muito pobres e distorcidas. O Aurélio é lacônico: "Tarô. Coleção de
78 cartas, maiores que as do baralho, de desenho diverso, usadas sobretudo por
cartomantes". Essa definição revela o desconhecimento de que "tarô" e "baralho" vêm da
mesma fonte e, também, de que as 78 cartas não ficam apenas em mãos de cartomantes e
são objeto de estudos simbólicos e aplicações terapêuticas, de elaborações de pintores e
artistas gráficos.
Os dicionaristas esqueceram, ainda, de informar que a parte do tarô, que constitui o
baralho comum, é também utilizado por cartomantes e, igualmente, como fonte de lazer
nos lares, nos clubes e cassinos. São produzidos no mundo todo e movimentam milhões de
dólares.
O dicionário Houaiss oferece um pouco mais: "Tarô. Conjunto de 78 cartas de baralho
(também ditas lâminas) ilustradas por figuras simbólicas e usado para supostamente
predizer o futuro e conhecer o que, no passado ou no presente, se encontra velado. O
baralho é constituído de 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores". Neste caso, os
dicionaristas desconheciam que, na prática vigente até hoje, grande número de
cartomantes utilizam o baralho comum e não as versões mais caras e variadas conhecidas
como "tarô".

O Louco, 1. O Mágico, 4. O Imperador, 6. Os Enamorados e 19. O Sol.


Arcanos Maiores do Tarô de Marselha, Editora Camoin

Para continuar nessa linha genérica de definição, podemos esclarecer que:


• os 22 trunfos ou arcanos maiores são numerados de 1 a 21 e um deles, O Louco, não
recebe número na maior parte dos baralhos;
• as 56 lâminas, atualmente denominadas arcanos menores, constituem cartas de jogar
do baralho comum e se subdividem em:
– quatro naipes ou
séries: Paus, Ouros, Espadas e Copas –
cada um deles com 10 cartas
numeradas de 1 a 10, com desenhos
que tornam os significados simbólicos
mais abstratos que os dos “arcanos
maiores”, num total de 40 cartas;
Ás, Dois, Três... Nove e Dez de Copas.
Arcanos Menores no Tarô de Marselha, Ed. Grimaud

– quatro figuras: Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete – mais parecidas com as dos “arcanos
maiores”, também repetidas em quatro naipes, num total de 16 cartas. São também
conhecidas como cartas da corte.

Valete, Cavaleiro, Rainha e Rei de Ouros no Tarô Visconti Sforza - 1450

Para acrescentar um simples comentário a essa descrição sumária do Tarô, podemos


lembrar que os quatro naipes – Paus, Ouros, Espadas e Copas – correspondem aos
quatro elementos tradicionais – Fogo, Terra, Ar e Água – representação simbólica das
forças-qualidades constitutivas do universo, que aparecem na Astrologia, na Alquimia, na
Cabala, nos textos sagrados, como é o caso do Gênesis, dos Evangelhos.
Os ases e suas correspondências simbólicas com os quatro elementos:
Copas (água), Espadas (ar), Ouros (terra) e Paus (fogo) no Tarot de Mitelli - 1665

Um sentido esotérico...
O Tarô pode, enfim, ser entendido como uma linguagem simbólica que traduz o cosmo em
sua constituição e eterna mudança, em sua estrutura e dinâmica. Ele aparece na Europa,
num momento em que várias escolas esotéricas e corporações de artistas, buscavam
transmitir conhecimentos, não por palavras, mas por imagens que convidavam à reflexão,
à investigação, para serem corretamente assimiladas. É o caso, por exemplo, dos mestres
e praticantes da Alquimia, que produziram livros de gravuras, sem maiores comentários por
escrito, conhecidos como Mutus Liber, ou seja, Livro Sem Palavras, livro mudo...
Os 22 arcanos maiores, entre outros significados possíveis, descreveriam as 21 etapas
evolutivas que o homem – representado pelo Louco – pode percorrer em sua vida. O
número 21 (= 3 x 7) também resulta da combinação de duas leis fundamentais do
universo: a Lei de Três (“tudo, para existir, necessita de três forças”) e a Lei de Sete, ou
Lei das Oitavas (“tudo se manifesta num processo de sete passos ou fases”).
Do mesmo modo que outros grandes sistemas simbólicos, o Tarô é apreciado como uma
instigante fonte de inspiração e de aplicação em variadas situações e propósitos.

... e um sentido lúdico


Os registros históricos, a partir do século 14, mencionam a utilização das cartas apenas
como fonte de lazer, em jogos e passatempos. Essa função lúdica permanece viva até hoje,
pois o que chamamos de jogos de baralho ou baralho comum, é exatamente o mesmo
conjunto que os escritores modernos denominam arcanos menores.
Para mantermos uma atitude aberta em relação ao Tarô é bom não esquecer que esse
conjunto simbólico sobreviveu até hoje e se difundiu, não em razão do seu sentido mais
profundo, mas pelo interesse que despertou como jogo de lazer ou de apostas a dinheiro e,
também, como instrumento de cartomancia.
Tal como um verdadeiro Mutus Liber, o Tarô não veio acompanhado de normas ou dogmas,
para ser utilizado obrigatoriamente deste ou daquele modo; todas as regras que hoje
conhecemos foram inventadas posteriormente. Portanto, as normas e regras de utilização
que lemos e ouvimos, as afirmações do que é certo ou errado, devem ser compreendidas
de modo muito relativo e flexível. Os verdadeiros autores do Tarô, aqueles que sabiam do
que se tratava, permaneceram anônimos e sem palavras. Ninguém, hoje em dia, pode se
arvorar em autoridade para falar em nome dos mestres originais.
O Tarô permance um desafio em aberto. O que podemos fazer é nos associarmos para
tentar decifrar os símbolos e ensinamentos que se ocultam sob o conjunto das 78 cartas. E
para fugir aos erros da subjetividade, nada melhor que trabalhar em grupo, partilhar,
colocar à prova nossas reflexões. É esse o propósito do Clube do Tarô.
A possível história das cartas de jogar
Bete Torii
Conteúdo apresentado na palestra de abertura da Jornada com os Arcanos
Menores, promovida pelo Clube do Tarô entre agosto e novembro de 2010.

Já foi dito e repetido, inclusive neste site, que não se conhece a origem do tarô. Mas
pretendo compartilhar o que pensei e articulei como a possível história das cartas de
jogar, a partir de algumas pesquisas. Abordarei “a origem das cartas” de dois pontos de
vista:
1 Origem no sentido de por que e para que existem, de que necessidade ou para que
. finalidade surgiram.
2 Origem no sentido de história ou antecedentes: o quando e como de seu surgimento e
. evolução.

1. De que necessidade ou para que finalidade surgiram?


Diz Hélio Schwartsman em coluna na Folha de São Paulo, em 15 de julho (falando da
fascinação do público pelos casos policiais, como o do goleiro Bruno, entre outros):
(...) desde o útero procuramos nos expor a experiências necessárias para o correto funcionamento
das conexões neuronais. ...) Estamos sempre em busca de mais experiências e, de
preferência, experiências extremas, pois é com elas que temos mais a aprender.
O problema é que situações-limite tendem também a ser perigosas. E não faria muito sentido
colocar a vida em risco para adquirir habilidades que só são úteis enquanto estamos vivos. A
solução que a natureza encontrou para esse dilema é a simulação, o jogo.
(...) o mesmo vale para sentimentos e situações sociais. Podemos nos exercitar nessa seara
assistindo a um filme, lendo um romance ou o tabloide sensacionalista. Os detalhes do enredo são
o de menos; o que importa é que sejam situações extremas que possamos "vivenciar" em
segurança.

www.esportesite.com.br www. parana-online.com.br www.es.gov.br

Sabemos que o homem se dedica a jogos há milhares de anos – tanto os jogos e torneios
que preparam fisicamente os jovens para a guerra e a defesa da aldeia, como jogos “de
salão” ou “de azar”, que treinam o raciocínio, a estratégia e a diplomacia.
Creio que as mancias e oráculos compõem uma categoria irmã dos jogos: jogos são uma
forma de treinar habilidades que possivelmente serão necessárias mais adiante na vida,
enquanto oráculos são uma forma de nos anteciparmos aos fatos para termos mais tempo
de preparar uma resposta a eles. Nos jogos há uma situação hipotética, impessoal, padrão:
se um peão adversário barrar o avanço de um cavaleiro, com a cobertura dos arqueiros da
torre, o que o cavaleiro deve fazer? Na mancia, há uma situação prevista especificamente
para mim/meu reino, ou para determinada época; como posso me preparar para ela?
No meu entender, essa é uma explicação bem plausível para a existência de mancias em
todos os povos. E outra coisa que pode ser dita é que nosso interesse pelos acontecimentos
futuros é uma decorrência de nossa inteligência humana, e é provavelmente
uma causa de nosso sucesso como espécie durante milênios.
Observação: assim como os jogos – recreativos ou esportivos – “decaíram” para o vício, a
profissionalização etc., também as mancias decaíram para a morbidez de querer saber “o
que vai me acontecer” e o aproveitamento desse mercado com a comercialização de
leituras de predição.

2. Quando surgiram e como evoluíram?


Devo observar inicialmente que acredito que o deck dos arcanos menores teve origem e
desenvolvimento diferentes dos do deck de arcanos maiores, e ambos foram fundidos num
jogo só, na Europa, provavelmente por volta do século 15. Além dos indícios de história dos
Arcanos Menores que vou citar a seguir, há uma espécie de “prova indireta” disso:
É bastante citado, nos estudos de Tarô, o nome de Johannes, monge alemão que escreveu
em Brefeld, na Suíça, que “um jogo chamado jogo de cartas (ludus cartarum) chegou até
nós neste ano de 1377", mas declara expressamente não saber “em que época, onde e por
quem esse jogo havia sido inventado”. Sobre as cartas utilizadas, diz que os
homens “pintam as cartas de maneiras diferentes, e jogam com elas de um modo ou de
outro. Quanto à forma comum, e ao modo como chegaram até nós, quatro reis são
pintados em quatro cartas, cada um deles sentado num trono real e segurando um símbolo
em sua mão”. Confira em Origens.
Ou seja, o monge Johannes obviamente se referia aos Arcanos Menores! Era esse o jogo
que ele viu, na Suíça, no século 14.
Quanto à sua estrutura de 4 grupos (reinos, exércitos) semelhantes, formados de 4
figuras graduadas (nobres) e um número de soldados (peões, “não-pessoas”) – o deck dos
Arcanos Menores lembra o chaturanga indiano, o antecessor do xadrez.
"O Xadrez teve sua origem no norte da
Índia, durante os séculos V e VI da era
cristã. Nessa época não se chamava xadrez
nem tinha a forma atual. Evoluiu a partir de
um jogo indiano chamado Chaturanga –
que significa quatro angas (exércitos). Era
um jogo para quatro adversários. (...) Cada
oponente possuía um rajah (rei), um carro
de combate (torre), um cavalo, um elefante
(bispo) e 4 soldados a pé (peões)".
(Fonte: www.fgnchico.sites.uol.com.br/
xadrez2.htm)
A propósito dois fatos poderiam ser
apontados para “advogar” a origem indiana
dos Arcanos Menores, segundo Rui Sá Silva
Barros: os 4 naipes, representando as 4
castas hindus, e o número de 10 cartas
Chaturanga numeradas – considerando a importância do
sistema decimal na Índia. Tivesse saído
diretamente da China, o tarô teria decerto 9
cartas numeradas, como veremos adiante.
O Mahjong, um jogo chinês (dos mais populares na China, Japão, Coréia etc.) que hoje é
conhecido no mundo todo, é um “parente” de outros jogos, inclusive o tarô, por certo. Ele
tem há séculos um formato e modo de jogar que o colocam entre o jogo de tabuleiro com
peças, o dominó e as cartas. E também trabalha com naipes e quadruplicidade: tem 4
cópias (4 exemplares) de cada uma de suas 34 diferentes “pedras”, mais dois conjuntos de
4 pedras especiais. Você pode ver esse jogo e seus naipes na Wikipedia, onde há o
interessante texto abaixo, sobre a história da sua origem:
"Segundo parece, o Mahjong moderno é descendente de um
antigo oráculo que há milênios era consultado pelos adivinhos
chineses. Quando seus astrônomos começaram a registrar as
progressões do Sol, da Lua e dos planetas, utilizavam um
tabuleiro de adivinhações para prever a posição dos corpos
celestes".
"Os movimentos destes astros no céu era registrado movendo os
contadores pelas casas do tabuleiro. Este é possivelmente a
origem de muitos jogos difundidos, como o Pachisi e o Mahjong.
Precisamente neste último são verificados sinais desta origem de
oráculo, como a inversão dos pontos cardeais (já que se trata de
uma representação dos céus e não terrestre) e a divisão de treze
pedras, que representam os meses do calendário lunar."
"A palavra Mahjong é a transcrição livre ocidental do nome
original Ma Jiang ou Ma Jiang Pai, onde Pai significa pedra, peça.
Seu antecessor recebia o nome de “Jogo das folhas em tiras”
porque as fichas eram feitas de papel, semelhante ao nosso
baralho comum."
"De todo modo, a história do Mahjong é obscura e existem vários
jogos anteriores, antecedentes, porém pouco documentados."

A foto ao lado mostra os componentes do Mahjong:


as pedras (peças), as fichas de contagem e os dados.

(Fonte: www.pt.wikipedia.org/wiki/Mahjong)
Com isso pretendo dizer que as cartas de jogar provavelmente descendem de jogos
orientais (Índia e China), sendo que pelo menos um deles começara como oráculo.
Continuemos com sua trajetória provável.
Há indícios históricos de que o tarô teria entrado na Europa via Espanha, por mãos dos
árabes. Ou que teria sido trazido da Terra Santa pelos cruzados... De qualquer forma, é
bastante aceito hoje que o tarô chegou ao Ocidente vindo do mundo islâmico – ou através
dele. Existem, no museu Topkapi de Istambul, belas cartas remanescentes de um baralho
sarraceno de aproximadamente 1400, que provam mais do que isso: na verdade, esse
“tarô mameluco” pode preencher uma lacuna da história; já que parece ter funcionado
como elo entre as cartas chinesas e as européias. Leia neste site: Baralho mameluco.
Quanto ao formato – cartas, folhas ou lâminas com figuras pintadas – os baralhos
sugerem constituir uma evolução da tridimensionalidade para a bidimensionalidade, algo
como a migração da escultura para a pintura, do baixo relevo para a gravura... Embora, de
maneira fascinante, o Mahjong tenha aparentemente evoluído na direção contrária.
Runas Búzios Baralho
www. marcosbarros.com.br www.robdm.blog.uol.com.br www.jogosdecartas.hut.com.br

Os jogos de salão (ou mânticos) mais antigos tinham peças feitas de materiais e formatos
que eram acessíveis em cada época para cada povo. Assim, temos os dados de diferentes
materiais em vários locais do mundo, as flechas coreanas com flâmulas, que foram
substituídas por fitas coloridas, as peças de cerâmica ou madeira ou outro material para
jogos de tabuleiro, os búzios, as runas, as pedras de bambu e osso do mahjong, etc. É
natural pensar que os baralhos de cartas sejam uma evolução de peças assim – no sentido
de um jogo mais leve e portátil, e ao mesmo tempo mais bonito e sofisticado. Então, eles
devem ter surgido aonde o papel surgiu – e esse lugar foi o Extremo Oriente,
especificamente a China.
A rota do papel rumo à Europa demorou séculos e passou pela Ásia Central (século VII),
Turquia e Síria (século VIII ou IX), norte da África... para então chegar à Espanha, por
mãos dos árabes, em torno do século X. No entanto, o uso generalizado do papel espanhol
só aconteceu no século XIII. Na Itália se produzia papel desde o século XII. O primeiro
moinho de papel na França surge em Troyes, no século XIV. Ainda assim, até o final do
século XVIII, a fabricação do papel era totalmente artesanal. (Fonte:
www.coladaweb.com/curiosidades/a-historia-do-papel)
Ou seja, a história das cartas de jogar corre parceira à história do papel e das técnicas de
pintura e impressão sobre papel, é claro.
Origens do Tarô: referências históricas do séc. 14
Compilação de
Constantino K. Riemma

É para a Europa, especificamente o norte da Itália, que devemos nos voltar para encontrar
as primeiras manifestações do jogo do 78 cartas que hoje conhecemos pelo nome
de Tarot. E, a julgar pelos mais antigos exemplares conservados, as mudanças sofridas ao
longo do tempo foram muito menores do que se poderia esperar: os quatro naipes
conhecidos hoje são os mesmos dos jogos italianos desde sempre: Copas, Espadas, Paus e
Ouros. Além das dez cartas numéricas, as figuras são em número de quatro, para cada
naipe: um rei, uma rainha (ou dama), um cavaleiro e um valete. Restam ainda 22 cartas
especiais que, de certo modo, formariam um quinto naipe e que os documentos italianos
denominam de trionfi (trunfos) e, os franceses, atouts, com o mesmo sentido de trunfo,
ou seja, de cartas que se sobrepõem às demais.

Cada um dos vinte e dois arcanos maiores do Tarô permitem paralelos com
Alquimia, Astrologia, Sufismo, Cabala, Mística Cristã...

Restaram inúmeras cartas de tarô pintadas à mão, do século XV. São os mais antigos
legados históricos, que estão sob guarda de museus ou em posse de colecionadores.

Registros concretos
Não se sabe ao certo a origem das cartas do baralho tradicional. Nem se pode afirmar, com
certeza, se o conjunto dos 22 trunfos ou Arcanos Maiores – com seus desenhos
emblemáticos – e as muito bem conhecidas 56 cartas dos chamados Arcanos Menores –
com seus quatro naipes – foram criados separadamente e mais tarde combinados num
único baralho, ou se, desde seu nascimento, tiveram a forma de um baralho de setenta e
oito cartas.
Tudo indica que as 56 cartas do baralho comum foram copiadas do jogo difundido entre os
guerreiros mamelucos. Os autores da adição das 22 cartas, hoje denominadas "arcanos
maiores" entre os tarólogos, permanecem desconhecidos.
Existe, no entanto, um ponto de concordância entre a maior parte dos estudiosos: raros
imaginam que se trataria de alguma manifestação ingênua de “cultura popular” ou de
“folclore”. Ao contrário, a abstração das 40 cartas numeradas, bem como as evocações
simbólicas dos trunfos, permitem associações surpreendentes com inúmeras outras
linguagens simbólicas. Sugerem uma produção muito bem elaborada, um trabalho de
Escola.

Entre os mais antigos exemplares, encontra-se o célebre jogo pintado


para a família Visconti-Sforza, de Milão, que pode datar dos anos 1430-50.
De outro conjunto, conhecido por “Tarot de Charles VI”,
restaram 17 cartas, conservadas na Biblioteca Nacional de França,
que parecem datar da segunda metade do séc. XV.

A maior parte dos estudiosos considera os 22 trunfos – atualmente denominados "arcanos


maiores" – uma criação do norte da Itália, como atestam as cartas do Tarot Visconti Sforza.
Já as dúvidas aparecem quando se trata do conjunto das cartas numeradas –
atualmente conhecidas por "arcanos menores" ou "baralho comum" –, que
teriam sido levadas pelos gurreiros mamelucos à Europa durante a Idade
Média. Existem menções às "cartas sarracenas" em registros do séc. 14.
Veja, por exemplo, o artigo: O Tarô Mamlûk.

A carta ao lado é do baralho sarraceno ou Mamlûk,


contemporâneo ou pouco anterior ao Visconti Sforza.
[Museu Topkapi de Istambul, réplica por Aurelia-Carta Mundi, Bélgica]

Anteriores às lâminas apresentadas acima, encontramos apenas referências a


um “jogo de cartas”. É bastante citado, nos estudos de Tarô, o relato de
Johannes, monge alemão de Brefeld, Suíça: “um jogo chamado jogo de
cartas
(ludus cartarum) chegou até nós neste ano de 1377”, mas declara expressamente não
saber “em que época, onde e por quem esse jogo havia sido inventado”. Sobre as cartas
utilizadas, diz que os homens “pintam as cartas de maneiras diferentes, e jogam com elas
de um modo ou de outro. Quanto à forma comum, e ao modo como chegaram até nós,
quatro reis são pintados em quatro cartas, cada um deles sentado num trono real e
segurando um símbolo em sua mão”.
Há outra menção, ainda no século XIV, embora não tenha restado exemplar algum das
referidas cartas: nos livros de contabilidade de Charles Poupart, tesoureiro de Carlos IV, da
França, existe uma passagem que declara que três baralhos em dourado e
variegadamente ornamentados foram pintados por Jacquemin Gringonneur, em 1392,
para divertimento do rei da França.

Variantes
Numa composição diferente, com 50 cartas divididas em 5 séries de 10 cartas cada,
existem vários exemplares do jogo chamado Carte di Baldini (c. 1465), também
conhecido como Tarocchi de Mantegna, nome de um um importante pintor do norte da Itália
no séc. XV.
As 50 lâminas do Tarô de Mantegna (c.1465) têm um fino acabamento gráfico.
Suas 5 séries de 10 cartas, porém, não mantêm equivalência nem com seu
contemporâneo Visconti-Sforza, nem com o que hoje se denomina Tarô Clássico.

Alem de estruturas diferentes, exemplificada com o Tarô de Mantegna, existem inúmeros


exemplos posteriores de acréscimo de cartas – como é o caso do I Tarocchi Classici – e
também de cortes e supressões que acabaram por originar jogos reduzidos que se
tornaram populares: Baralho Petit Lenormand, também conhecido como Baralho Cigano.

As múltiplas faces do Esoterismo e o Tarô


Compilação de
Constantino K. Riemma

O jogo de baralho já circulava por volta de quatro séculos na Europa, com finalidade de
lazer, quando começaram a ser divulgados os primeiros estudos sobre seus aspectos
simbólicos ou esotéricos e suas possíveis ou imaginárias origens ocultas.
Apresentamos, a seguir, uma súmula sobre cada figura marcante nessa nova e crescente
linha de abordagem das cartas, incluindo links para estudos de aprofundamento.

Court de Gebelin
A publicação por Court de Gebelin (1719-1784) de Le Monde Primitif
analysé et comparé avec le monde moderne (O mundo primitivo
analisado e comparado com o mundo moderno), em 1775, constitui
um marco importante na história moderna do Tarô. O baralho passa a
ser considerado não apenas assunto de jogos de lazer ou de
adivinhação e ingressa no rol de interesse dos esotéricos e intelectuais
a partir do final do século 18.
É de Gebelin o primeiro texto de que se tem notícias que oferece
outras informações simbólicas sobre as cartas que vão muito além do
Court de Gebelin receituário para a cartomancia popular.

• O papel de Court de Gebelin na história mais recente do tarô é discutido no tópico sobre as
origens do jogo de cartas : Tarô egípicio? e Hipóteses
• Um bom artigo sobre Gebelin e seu papel na valorização esotérica e simbólica do tarô, foi
elababorado por James W. Revak e traduzido por Alexsander Lepletier em Antoine Court de
Gébelin: pai do tarô esotérico moderno : Antoine Court de Gébelin
• Original, em francês, "Du Jeu des Tarots", p.365-410, vol.8, Monde primitif... no qual Court de
Gebelin sugere uma origem egípcia para o tarô e discute o significado e aplicação das
cartas : http://www.tarock.info/gebelin.htm

Etteilla - Jean-Baptiste Alliette


Etteilla, pseudônimo de Jean-Baptiste Alliette (1738-1791), também
francês e contemporâneo de Gebelin, é outro nome de referência na
história do Tarô, tanto pela divulgação do baralho quanto pelos livros
que escreveu, Manière de se récréer avec le jeu de cartes nommées
tarots (Maneira de se divertir com o jogo de cartas denominadas
tarôs), em 1785, e pelo até hoje reeditado O Livro de Thoth,
acompanhado das 78 cartas.
Etteilla não se prende aos aspectos simbólicos ou eruditos e se limita
a apresentar um texto com indicações práticas que tiveram grande
influência sobre os cartomantes da época, como foi o caso da
Etteilla
conhecida e controversa Mademoisele Lenormand.

• O Livro de Thoth - Tarô de Etteilla. Resenha do historiador Giordano Berti sobre o livro e o jogo
com 78 cartas, agora disponíveis no Brasil: O livro e o baralho
• Etteilla e o seu tarô egípcio é um dos tópicos preparados por Constantino Riemma sobre os
baralhos temáticos surgidos a partir de 1791: “Grande Etteilla”
• Etteilla, o primeiro tarólogo profissional. Biografia de Etteilla, elaborada por James W. Revak e
publicada no site Villa Revak: www.villarevak.org/bio/etteilla_1.html. A tradução ao português foi
feita por Alexsander de Abreu Lepletier: Etteilla, um tarólogo profissional
• Etteilla e seu método divinatório. A primeira integração conhecida entre Tarô e
Astrologia. Elizabeth Hazel e James W. Revak apresentam a técnica de tiragem de cartas segundo
a proposta de Etteilla, traduzida por Alexsander de Abreu Lepletier. Para aqueles que têm alguma
familiaridade com os símbolos astrológicos, oferece muitos estímulos para aprofundar a tiragem
também conhecida por "Mandala astrológica": 1. Histórico, 2. O Método de Etteilla e 3. Exemplo

Mais franceses
Eliphas Levi
Autor respeitado, Eliphas Levi (1810-1875) foi um filósofo, esoterista, que se dedicou ao
estudo dos símbolos e que deixou muitos seguidores. Seminarista da Igreja Católica
Romana, artista plástico, seu nome verdadeiro era Alphonse Louis Constant.
Em seu famoso livro "Dogma e ritual da Alta Magia" (1856),
descreve o Tarô como uma síntese da ciência e chave universal
da Cabala. Estabeleceu a correspondência entre as 22 letras do
alfabeto hebraico, os 22 caminhos da Árvore da Vida – que
ligam os Sephirot entre si – e os 22 trunfos ou Arcanos Maiores.
Ao invocar ao mesmo tempo a Cabala, a alquimia e a astrologia,
bem como a tradição hermética, Eliphas Levi reiterava que o Tarô
oculta os segredos dos antigos conhecimentos.
Eliphas Levi e Court de Gebelin são, de certo modo, dois marcos
da profusão de publicações, irmandades e círculos esotéricos mais
ou menos secretos que se espalhariam por toda Europa durante o
Éliphas Lévi século 19 e seguintes.

• O Iniciado (ou O Recipiendário). Texto de Eliphas Levi em seu Dogma e Ritual da Alta Magia. Cap. I
do 1º volume, em que trata da Unidade do dogma, da Disciplina e das qualidades exigidas do
Adepto: A ciência que nos vem dos Magos
• Éliphas Lévi, sacerdote, radical, mago. Biografia do ocultista francês que ressalta seu papel no
renascimento moderno da magia como caminho espiritual e no desenvolvimento do tarô esotérico.
Elababorada por James W. Revak e traduzida por Alexsander Lepletier: Mago e tarólogo
• Biografia de Éliphas Lévi. Reprodução de texto da Sociedade de Ciências Antigas com ilustrações
recolhidas pelo Clube do Tarô: Eliphas Levi
• Em seu Manifesto para o futuro do Tarô, Nei Naiff focaliza os principais autores envolvidos com o
Tarô, no período em que as cartas ganham novas histórias e um novo status: História do Tarô
• História do esoterismo. Para compreender melhor o clima cultural da Europa nos séculos 18 e 19,
e o surgimento de organizações ocultistas, consulte a tese de Rui Sá Silva Barros sobre esse
período: Tomando o céu de assalto...

Stanilas de Guaita
Outros nomes também se destacam nesse período efervescente, como é o caso
de Stanislas de Guaita (1861-1897), fundador da "Ordem Kabalística da Rosacruz", que
congregou muitos dos assim chamados "ocultistas" e "magos".

Oswald Wirth
Entre os estudiosos franceses desse período, muito próximo de Stanilas
de Guaita, destaca-se Oswald Wirth (1860-1943), de origem suíça,
autor de obras que se tornaram clássicas, como "O simbolismo
hermético em suas relações com a alquimia e a franco-maçonaria", "O
simbolismo astrológico" e, sobretudo, "O Tarô dos santeiros da Idade
Média" (Le Tarot des imagiers du Moyen Âge).
Embora muitos autores queiram atribuir a Wirth a primeira tentativa de
conceber e editar um Tarô especificamente esotérico, conhecido
por Tarô Oswald Wirth, a série que idealizou e desenhou, em 1889, é
visivelmente inspirada no no estilo do Tarô Clássico ou Tarô de
Oswald Wirth
Marselha. Além disso, ele ficou apenas na revisão dos arcanos maiores.
Nesse sentido, embora fosse maçom, seu trabalho não constituiu um "tarô maçônico",
exclusivo, como alguns defendem, a menos que também se considere os desenhos dos
antigos "cartiers" franceses, entre eles o jogo marselhês, como herdeiros dos antigos
construtores das catedrais, o que aí, sim, seria cabível.

• As imagens do Tarot de Oswald Wirth podem ser apreciadas numa das galerias do Clube do Tarô,
onde são oferecidas algumas informações históricas sobre essas cartas: Galeria Wirth
• Oswald Wirth trabalhou os agrupamentos dos arcanos maiores, oferecendo exemplos
estimuladores para o estudo de combinações em pares, grupos e tétrades. Conheça sua visão de
conjunto dos arcanos: Indícios reveladores
• Flávio Alberoni, colaborador do Clube do Tarô, é um dos tarólogos que aplica a indicações dos pares
dos arcanos, tal como proposto por Wirth. Veja exemplos de suas interpretações: Leituras
• Quanto a idéia de um tarô maçônico, além da resenha sobre o Tarô de Marselha, dois textos
de Jean-Claude Flornoy mencionam as vicissitudes das corporações de ofício: O Tarot de Jean Noblet
(1650) e Tarôs de Jean Dodal e Jean-Pierre Payen (1701-15)

Papus - Gérard Encause


Já um outro francês, contemporâneo de Oswald Wirth, inspirado nos
esboços egípcios de Eliphas Levi, arriscou-se num novo desenho do
Tarô. Foi ele Papus, nome ocultista utilizado por Gérard Encause
(1865-1917), médico francês, fundador e líder da "Ordem espiritual e
maçônica dos Martinistas", autor do Tarot des Bohémiens (Paris,
1889), obra até hoje traduzida e publicada em várias línguas,
inclusive em português.
O desenhos originais do Tarô dos Boêmios, elaborados por Jean-
Gabriel Goulinat, apareceram apenas reproduzidas no livro, publicado
em 1889 e revisto em 1911. As estampas ganharam o formato de
Papus
baralho somente quando seus desenhos originais foram reproduzidos
e coloridos, em 1981.
Embora seja muito mais popular que Eliphas Levi e Oswald Wirth, há estudiosos, entre
entre eles P. Ouspensky, que apontam deslizes e generalizações indevidas em seus textos.

• Papus, médico e mago. Um apanhado da vida e obra de Gérard-Anaclet-Vincent Encausse (1868-


1916) e sua influência nos estudos sobre a dimensão simbólica do tarô. Texto de James W.
Revak traduzido por Alesander Lepletier: Sua vida: estudante de medicina e de ocultismo
• Papus e sua versão simbólica das cartas: O Tarô dos Boêmios

• Nei Naiff tem algumas observações pontuais sobre Papus: Manifesto...

René Guénon
Na segunda metade do séc. 19 amplia-se a quantidade de escritores e publicações ligados
ao esoterismo. Proliferam ordens, irmandades, sociedades, lojas, sob várias designações:
rosacruzes, maçônicas, ocultistas, templárias, esotéricas, mágicas, secretas... Joio e trigo
se misturam irremediavelmente.
No cenário contemporâneo e caótico, em que reina uma sintomática
confusão entre o rito sagrado e a magia pessoal, entre o estar a serviço
de algo mais alto e a busca de poder egóico, surge um pensador pontual
e rigoroso diante das fantasias que continuam a proliferar no mundo
moderno: René Guénon (1886-1951).
Sua experiência se diferencia em relação à maioria dos autores de seu
tempo. Participou, durante sua formação, de várias escolas e passou por
diversos ritos existentes na França. Teve, porém, a oportunidade de
encontrar e de reconhecer outras fontes ligadas de modo mais direto aos
ensinamentos tradicionais e soube propor uma clara distinção entre o Capa do livro
de D. Gattegno
sagrado e o profano, resultado de longos anos de trabalho.
René Guénon teve força e coragem para remar contra a maré e dedicou sua vida ao estudo
e à transmissão do saber que se encontra além da ciência moderna.

• A crise do mundo moderno, por René Guénon. Um estudo publicado pela primeira vez em 1927,
mas que mantém uma inquietante atualidade em razão do agravamento dos indicadores apontados
pelo autor: prevalência da quantidade sobre a qualidade, do profano sobre o sagrado, do poder
pessoal sobre o servir. Tradução de Bete Torii: Baixar ou ler
Formato pdf com 495KB. 108 págs. 14x21cm, imprimíveis em 54 folhas tamanho A4.

• Os símbolos da Ciência Sagrada. Quatro textos de René Guénon que tratam dos atributos
fundamentais dos símbolos, que não podem ser confundidos ou reduzidos aos conceitos das ciências
ou das psicologias modernas: Simbolismo tradicional
• Verdadeiros e falsos instutores espirituais. René Guénon oferece indicações para distinguir a
verdadeira transmissão iniciática e os enganos e equívocos crescentes no mundo atual: Instrutores
• René Guénon - dados biográficos, por Antonio Carlos Carvalho, tradutor do livro A crise do mundo
moderno para uma edição portuguesa: Biografia
Os ingleses
Na esteira do que se passa no continente europeu, a Inglaterra é igualmente palco para
personagens que incluem o Tarô em seus estudos.

MacGregor Mathers
MacGregor Mathers (1854-1918) obteve grande notoriedade e está
associado ao ressurgimento do ocultismo e da magia na virada do
século XIX. Ele adotou o nome "MacGregor" alegando ser uma herança
das Highlands escocesas, embora nada confirme tal ligação.
Ligado a lojas maçônicas e a sociedades rosacrucianas, fundou com
William Robert Woodman e William Wynn Westcott uma Ordem própria,
a Golden Dawn ou "Aurora Dourada". Em seu livro "O Tarot: um
pequeno tratado sobre a leitura das cartas", até hoje publicado e
traduzido ao português, MacGregor Mathers propõe-se a dar aos seus
leitores "uma idéia do profundo significado das cartas de Tarot e de
MG Mathers
como ele poderá ser utilizado para fins divinatórios".

Arthur Waite
Entre os ingleses ligados aos estudos esotéricos e que se dedicaram ao
tarô, Arthur Edward Waite (1857-1942) é um dos mais apreciados e
traduzidos. Pesquisou em diversas fontes e escreveu vários livros, entre
eles, The Key to the Tarot e The Holy Kabbalah.
Sob sua iniciativa e supervisão, um baralho de 78 cartas – conhecido
como baralho Rider – foi desenhado por Pamela Colman Smith.
Esse baralho engrossa a tendência moderna de dar figurações aos
Arcanos Menores, como recurso para traduzir de modo factual seus
Waite significados, o que acarreta, por outro lado, o empobrecimento simbólico.

• O baralho de Arthur Waite e Pamela Colman Smith: Galeria das cartas

• O Tarô de Arthur Waite & Pamela Smith é situado por Constantino K. Riemma, que focaliza
alguns aspectos críticos desse baralho que acabou por se tornar uma referência para os re-desenhos
modernos: O Tarô de Waite
• O Tarô Rider-Waite, texto de Lívia Krassuski de apresentação do baralho e menções ao contexto no
qual ele aparece, como é o caso do movimento Aurora Dourada (Golden Dawn): Introdução

Aleister Crowley
Ao lado dos estudiosos e autores que se dedicaram ao propósito de
investigar as correspondências entre o Tarô e demais linguagem
simbólicas, tornou-se conhecido um outro nome bastante
controvertido: Aleister Crowley (1875-1947). Seus dons, embora
reais, foram utilizados segundo seus críticos de modo banal e repleto
de fanfarrices.
Foi ele quem inspirou Lady Frieda Harris a redesenhar as cartas do
Tarô. Esse trabalho, de apreciável valor estético, se afasta por
completo dos desenhos clássicos dos arcanos. O Tarô de Crowley só foi
Aleister Crowley
impresso pela primeira vez em 1971, com o livro The Book of Thoth.
• O baralho de Aleister Crowley e Frieda Harris: Introdução e Galeria

• Galeria das cartas desenhadas por Frieda Harris para o baralho de Aleister Crowley:
Arcanos Maiores | Naipe de Paus | Naipe de Ouros | Naipe de Espadas | Naipe de Copas
• Apresentação do Tarô de Crowley. Valéria Fernandes oferece indicações básicas sobre o Thoth
Tarot desenhado por Frieda Harris: Um baralho com toque surrealista
• O Tarô de Crowley-Harris ou Tarô de Thoth. Cláudio Carvalho, apresenta e discute a história da
elaboração dos desenhos: Explicação do baralho
• Heavy Metal: A Ponte entre Crowley e o mundo da Música. Simone Gomes Omega discute as
relações dos metaleiros com a aura polêmica de Aleister Crowley: Provas das influências
• A própria besta. Colin Wilson conta as peripécias, os poderes e a sombra de Crowley: O Oculto

• Horóscopo de Crowley, análise dos astrólogos Elizabeth Nakata e Douglas Marnei: Mapa astral

Dois russos: estudos em profundidade


Entre os estudos muito importantes sobre os fundamentos simbólicos do tarô, alguns deles
representam um verdadeiro desafio para os iniciantes. É o caso de dois autores russos –
Mebes e Tomberg – produziram obras que vão muito além do esoterismo para consumo em
feiras e bijuterias.

G. O. Mebes
O professor e esoterista russo Gregory Ottonovich Mebes morreu em campo de
concentração do regime comunista.
O que nos restou de seus cursos foram anotações de alunos, portanto sem muitas
explicações de detalhes para aqueles que desconhecem a simbólica da Árvore de Vida e
não participavam diretamente do contexto prático em que Mebes realizava o seu trabalho.
Mebes está longe do papel de personalidade popular, mas deixou para a posteridade
importantes estímulos para novas direções de pesquisa sobre as cartas ao estabelecer
inusitados nexos entre símbolos cabalísticos e os arcanos maiores e menores.

• Enigmas do tarô de G. O. Mebes, trabalho de Constantino K. Riemma que reune referências


obtidas com estudiosos russos: Os tarôs de GOM na Rússia
• Dados biográficos de Mebes, por Martha Pécher, tradutora dos livros de GOM para o português e
publicados pela Editora Pensamento: Biografia
• Galeria das cartas do tarô de Mebes, reúne as ilustrações originais do livro publicado na China,
bem como restaurações e outros jogos por ele inspirados: 1. Cartas originais, 2. O Tarot Cabalistico
de G.O.M. por Yeremyan-Ayvazians, 3. O Arcanos Maiores no Tarô de Vasily Masiutins,
• El Tarot - Curso Contemporáneo de La Quinta Esencia del Ocultismo Hermético. Texto de Mouni
Sadhu, que apresenta os 22 arcanos maiores do tarô tal como foram ensinados por Mebes em suas
aulas. Esse texto está disponível na Biblioteca Digital.

Valentim Tomberg
Outro nome que permanece afastado do espaço circence cultivado por
algumas personalidades, mas que pode ser considerado como o autor mais
consistente na indicação dos vínculos possível do tarô com diferentes
correntes de ensinamento, é o de Valentim Tomberg, contemporâneo de
Mebes e que conseguiu manter-se anônimo por algumas décadas.
Embora também dependamos de muito estudo para compreender todo o
alcance das afirmações de Tomberg, o seu texto Meditações sobre os
Valentin arcanos maiores do Tarô foi especialmente preparado para publicação e,
Tomberg
dentro do possível, ele se mostra bem didático. Pode ser considerado como o
ponto alto dos estudos sobre o Tarô.

• Valentim Tomberg. Apresentação do livro Meditações sobre os 22 arcanos maiores do


Tarô por Constantino K. Riemma: Anonimato e reconhecimento

O cenário nas Américas


Dada a receptividade do tarô nas Américas, muitos livros foram publicados com ampla
diversificação de público e de propósitos. Na maior parte dos casos consistem em manuais
de introdução e estudo prático das cartas. Não vieram à luz pesquisas e tratados como
aqueles que foram elaborados por autores europeus. A notável exceção, nesse sentido, é o
trabalho do argentino J. Iglesias Janeiro, autor de La Cábala de Predición e criador de um
tarô egípcio que obteve grande aceitação e que foi reproduzido inclusive pela USGames, a
importante editora norte-americana de baralhos.
Entre os norte-americanos destaca-se a figura de Paul Foster Case, que se vinculou a
fontes européias de linha rosa-cruz e Golden Down, entre outras. Escreve um livro sobre o
tarô no qual revê e redesenha as cartas de Waite.
Também podem ser encontradas muitas adaptações do baralho tradicional às múltiplas
referências culturais que ganharam espaço no continente, como é o caso das tradições
africanas, indígenas, e do cenário cigano. Tratam-se, porém, na grande maioria dos casos
de edições dos próprios autores, com distribuição limitada.
Indicamos, abaixo, links para artigos, resenhas e produções artísticas produzidos nas
Américas ligados ao tarô:

• La Cabala de Prediccion, de J. Iglesias Janeiro, tratado sobre as práticas mânticas e que inclui o
seu Tarô Egípcio, apresentado por Eduardo Escalante: Resenha da obra
• Textos completos do "O Tarot Egípcio da Kier" de J. Iglesias Janeiro traduzidos e compilados
por Constantino K. Riemma: Arcanos Maiores: 1-22 | Menores: 23-36 | 37-50 | 51-64 | 65-78
• Paul Foster Case, dados biográficos compilados por Frater AEC, sobre o ocultista americano filiado a
diversos movimentos esotéricos: O Tarô – uma chave para a Sabedoria das Idades
• Os Arcanos da Era de Aquário – Henrique José de Souza. Resenha de Alexandre
Domingues sobre os arcanos propostos pelo fundador da Eubiose: O Autor e seus arcanos
• Galeria de jogos e criações artísticas no Brasil. Cartas e obras de arte nacionais

Cartas, lâminas, arcanos


No clima europeu do século XIX, em que o Tarô foi revalorizado pelos estudiosos de temas
esotéricos, torna-se compreensível que seria bem recebida a troca de termos para designar
as cartas e o baralho. De fato foi o que aconteceu a partir da publicação, em 1865, da
obra "L’homme rouge des Tuileries" de Paul Christian, pseudônimo de Jean-Baptiste Pitois
(1811-1877). Discípulo de Eliphas Levi, atribui-se a Paul Christian ter "inventado os
termos lâminas e arcanos para designar as cartas dos Tarots".
A partir da segunda metade do século XIX, tornou-se usual a utilização dos
termos lâmina e, principalmente, arcano em substituição a carta.
Hipoteses e paralelos sobre a origem das cartas
Compilação de
Constantino K. Riemma

A origem do Tarô continua em questão e são muitas as teorias propostas. Na verdade,


porém, nada existe de idêntico em outras culturas, pintado ou impresso em cartões, que
pudesse ter estabelecido um modelo direto para o jogo de 78 cartas que vem à luz, na
Europa, no final do séc. 14. E os desenhos mais antigos de cartas que chegaram até nós
são coerentes com a iconografia cristã dessa época. Se essa afirmação vale em particular
para os 22 arcanos maiores, não cabe inteiramente para o conjunto das 56 ou 52 cartas
do baralho sarraceno, já mencionado no séc. 14.
Apesar desses desses dois indícios mais próximos cabe
investigar a possível influência de outras culturas desse
período histórico e, igualmente, o material resgatado de
civilizações anteriores.
Alguns estudiosos mostram as analogias entre o Tarô e o
antigo jogo indiano do Chaturanga, ou jogo dos Quatro
Reis, que correspondem aos quatro naipes das cartas de
jogar. A quadruplicidade, no entanto, é a representação de
uma realidade universal que transcende os dois jogos em
questão.
O Chaturanga, que data do séc. V ou VI, antecessor do
moderno jogo de xadrez, originalmente tinha o Rei, o
General (a Rainha moderna), seu Cavaleiro e os peões ou
soldados comuns.
Não há, porém, indicações consistentes de como poderia
ter ocorrido um caminho entre esse jogo e o Tarô. Chaturanga
Cruzados ou árabes?
Há estudos que afirmam que as cartas de jogar foram levadas para a Europa
pelos cruzados. Contudo, a última Cruzada terminou mais ou menos em 1291 e não
existem referências que comprovem a presença de cartas de jogar na Europa até pelo
menos cem anos mais tarde.
Uma justificativa para a origem sarracena das cartas é o nome espanhol e
português naipe, que derivaria do árabe naibi. Também a palavra hebraica naibes se
assemelha a naibi, o antigo nome italiano dado às cartas e, em ambas as línguas, a palavra
indica bruxaria, leitura da sorte e predição. No entanto, não se encontram na história dos
árabes e judeus referências ao jogo de cartas, anteriores aos século 15.
Esse tipo de restrição histórica, no entanto, não invalida a hipótese de uma criação ou re-
criação "multi-tradicional" do Tarô. Sabemos que, em especial na Penísula Ibérica, sábios
cristãos, árabes e judeus, mantiveram uma criativa convivência durante o período em
que o Tarô dá sinal de vida.
Do ponto de vista das provas históricas, o que se pode afirmar com segurança é que
os árabes utilizavam, já em meados do séc. 14, um baralho de 52 cartas, com estrutura
idêntica aos que hoje conhecemos como "arcanos menores" ou "baralho", cuja procedência,
contudo, não está esclarecida.
Sobre o baralho sarraceno, veja:

• O Tarô Mamlûk - o baralho árabe: apresentação de Bete Torii.

Origem cigana?
Hipótese muito difundida no Brasil, porém discutível do ponto de vista histórico, é a que
associa a origem das cartas de ler a sorte aos ciganos provenientes do Hindustão.
Os registros disponíveis indicam que apenas no começo
do séc. XV esse povo começou a entrar na Europa.
Sabe-se que em 1417, um bando de ciganos chegou às
proximidades de Hamburgo, na Alemanha; outros
relatos situam os ciganos em Roma, no ano de 1422, e
em Barcelona e Paris, em 1427. Há, porém, claras
evidências de que os grupos ciganos só estenderam
suas peregrinações para o interior da Europa depois que
as cartas já eram conhecidas ali há algum tempo.
Povo nômade, recorria aos mais variados recursos e
talentos para sobreviver. As mulheres particularmente
utilizavam as artes mânticas para "ler a sorte" dos
habitantes das comunidades que visitavam. Nessa área,
a técnica tradicional mais importante parece ter sido a
quiromancia (orientação e predição do futuro segundo
as linhas e sinais das mãos) e, bem mais tarde, a
cartomancia (utilização dos baralhos impressos na
Europa). É esse um dos motivos pelos quais os ciganos
ficam intimamente associados às cartas.
Mulher Cigana
Embora afastados da tradição escrita e da arte de
Tela de Nikolai Yaroshenko, 1886
impressão das cartas os ciganos tiveram um grande
papel na circulação e na difusão da cartomancia.
É importante lembrar que o jogo de cartas comumente denominado Baralho Cigano, no
Brasil, é o Petit Lenormand (O Pequeno Lenormand), jogo com 36 cartas impresso na
França a partir de 1840. Para saber mais a respeito, veja:
• Exemplares mais conhecidos e as peculiaridades brasileiras: Baralho Cigano e seu imaginário.

• História da cartomante francesa, Mademoiselle Lenormand, e de seus baralhos: Lenormand

• A exposição completa das 36 cartas do Baralho Lenormand-Cigano pode ser visitada na: Galeria

• Baralho Gitano Petit Lenormand de Nádia Oliveira e Marcel Mello: Galeria das cartas

• O Jogo da Esperança. Alexsander Lepletier relata a história do jogo de tabuleiro que se


transformou no conhecido Baralho Cigano: Um jogo que virou oráculo
• Como ajuda aos iniciantes do Baralho Cigano-Lenormand Geraldo Spacassassi fez: Resumos

O Clube do Tarô reuniu informações sobre a cultura do povo cigano e sua experiência
tradicional com a cartomancia:

• Ciganos, os intocáveis: informações históricas sobre esse povo nômade (Conhecer).

• A cultura cigana: Sarani Barrios, cigana de origem Dohm, relata suas experiências de vida em
comunidade. O texto reune entrevista dada para Bete Torii e exemplos durante os cursos de tarô.
• Pinturas e gravuras: Galeria de arte sobre ciganos.

• A prática cigana na cartomancia: Registros dos cursos ministrados por Sarani Barrios sobre a
utilização dos arcanos de acordo com a experiência viva do povo cigano.
• Os falsos ciganos e sua propaganda: É o tema que Abelard Gregorian discute em seu artigo
"Fantasias cartomânticas e tarológicas", aberto aos comentários.

Origem egípcia?
A hipótese da origem egípcia do Tarô foi aventada por Court de Gebelin em sua obra, Le
Monde Primitif analysé et comparé avec le monde moderne, publicada a partir de 1775.
Gebelin foi um apaixonado estudioso da mitologia antiga e
estabeleceu inúmeras correlações entre os ensinamentos tradicionais
e as cartas do tarô que, segundo ele, seriam alegorias representadas
em antigos hieróglifos egípcios.
Um ponto, no entanto, não pode ser esquecido: embora existam
necessariamente similaridades entre as linguagens simbólicas mais
consistentes, isso não quer dizer que tenha existido influência direta
de uma sobre a outra.
O significado das correspondências entre linguagens simbólicas
constitui um tema delicado. Nem sempre é possível chegar a uma
conclusão, pois similaridades e correspondências não querem dizer, Court de Gebelin
necessariamente, que tenha havido cópia ou simples adaptação de (1725-1784)
uma cultura nacional para outra.
A favor da correção intelectual de Court de Gebelin, é importante lembrar que as cartas
utilizadas por ele continuaram a ser as do Tarô clássico. Ele não falsificou nem inventou um
"baralho egípcio" para justificar suas hipóteses. Sómente após a publicação de seus
estudos é que começaram a aparecer baralhos desenhados com os motivos egípcios, sem
maiores compromissos com a história comprovável desse desafiador jogo de cartas.
Reprodução das cartas 17-Estrela, 18-Lua e 19-Sol, que acompanharam
o famoso trabalho de Court de Gebelin, publicado em 1781.
Ele próprio não redesenhou o Tarô com motivos egipcios...

Seja como for, é com Gebelin que se inicia a divulgação de textos e de estudos que
assinalam um sentido mais alto para o Tarô, como uma linguagem simbólica, como um
meio de transmissão dos conhecimentos esotéricos, espirituais, que vai muito além de sua
utilização como jogo de baralho.

• Detalhes sobre os baralhos inspirados na iconografia egípcia estão em: Baralhos egípicios

• Um bom artigo sobre Gebelin e seu papel na valorização esotérica e simbólica do tarô, foi
elababorado por James W. Revak e traduzido por Alesander Lepletier em Antoine Court de Gébelin:
pai do tarô esotérico moderno: Pastor, maçom e historiador

Múltiplas influências
Uma boa parte dos estudiosos da origem das cartas jogar e do Tarô reconhecem que não
se trata de uma invenção casual. Indica claramente um fundamento simbólico que, para
muitos, traduziria o significado e as propriedades do Cosmo, bem como o papel do homem
na Criação. Seria produto de uma Escola (escola dos criadores de imagens da Idade
Média, como sugere Oswaldo Wirth). Nessa direção de pensamento, o Tarô seria uma
criação de Escolas francesas e/ou italianas, no final do séc. XII, sem qualquer relação com
indianos ou chineses. A favor desse ponto de vista pesa o fato de não ter sido encontrados
jogos iguais aos arcanos maiores em outras culturas.

Boa parte das imagens do dos arcanos maiores do tarô clássico guarda íntima relação
com a iconografia cristã presente nas catedrais góticas, construídas a partir do séc. XI
[Ilustração da mandorla: www.pitt.edu]

Há muitos estudos que apontam as relações entre o Tarô e Cabala. De fato, as 22 lâminas
dos “trunfos”, ou “Arcanos Maiores”, são em igual número ao das letras do alfabeto
hebraico e ao dos 22 “caminhos” ou conexões entre os sefirot do desenho simbólico
denominado “Árvore da Vida”. As 40 cartas numeradas, dos Arcanos Menores, representam
o mesmo número de sefiroth da "Escada de Jacó", esquema resultante da superposição de
quatro "Árvores da Vida".
Tal constatação, porém, não exclui a hipótese de contribuições árabes, que tiveram um
forte e prolongado impacto, através do sufismo, sobre a mística cristã, em particular na
Península Ibérica.

Um período de ouro
Não é implausível, para alguns autores, imaginar o nascimento do
Tarô por volta de 1180, período de grande força criativa na Europa,
embora as primeiras menções registradas ocorram apenas duzentos
anos após, em 1391. A razão para isso, segundo eles, seria simples:
na origem, o Tarô não tinha a função lúdica de jogo de paciência ou
de apostas em dinheiro, mas desempenhava o papel de estimular a
reflexão pessoal sobre o caminho espiritual. Desse modo, ele não
poderia ser mencionado como jogo de lazer nas crônicas da época.
“A essência do Tarô – escreve Kris Hadar – se funde de modo
maravilho à mística que fez do séc. XII um século de luz, de
liberdade e de profundidade da qual não temos mais lembrança.
Nessa época, a mulher era mais liberada que hoje." Trovadores,
É no correr desse período que são erigidas as catedrais góticas, em porta-vozes do
"Fin'amor"
memória da elevação do espírito, e que aparece igualmente a busca
www.ocmusic.org/
de um ideal cavalheiresco que alcançará sua perfeição graças aos soc_oc/societ_p.htm
trovadores e o Fin’Amor, que colocará em evidência a arte de crescer
no amor.
Para corroborar tal ponto de vista, pode ser lembrado que nesse mesmo período se
desenvolvem os primeiros romances iniciáticos sobre os cavaleiros da Távola Redonda, a
lenda do Rei Artur e a Demanda do Santo Graal.
Contemporâneo dos primeiros romances, o Tarô poderia ser considerado como um dos
livros sem palavras (comuns na alquimia) para a reflexão e a meditação sobre a salvação
eterna e a busca de Si, mesmo para quem não soubesse ler. Era uma porta aberta à
verdade, tal como as catedrais, que permitiam aos pobres e aos ricos crescerem na
comunhão com Deus.
“O Tarô” – afirma Kris Hadar – “é uma catedral na qual cada um pode orar para descobrir,
no labirinto de sua existência, o caminho da Salvação”.

Paralelos do Tarô com outros jogos


Quando deixamos de lado as tentativas – algumas delas forçadas – de encontrar para o
tarô uma origem necessariamente fora da Europa, em outras culturas e povos, abre-se um
outro campo muito atraente para os estudos simbólicos.
Tal como foi mencionado mais acima, a propósito da similaridades entre o Tarô e o jogo
indiano do Chaturanga, os estudos comparativos permitem reconhecer princípios básicos e
universais que estão presentes em diferentes jogos criados em culturas diversas sem que
houvesse um contato próximo entre elas, sem que uma expressão em dado contexto
cultural tenha sido necessariamente copiado de outro. Podemos encontrar provas de que o
conhecimento das leis primordias se revela por caminhos criativos e renovados.
A lenda do Tarô
Alcides de Paula Chagas Neto
'Cyddo de Ignis'

A ‘Antiga Escola do Tarô’, baseando-se na ‘Tradição Antiga do Tarô’, conta-nos uma lenda
sobre as origens do Tarô. Segundo essa tradição, os sábios da antiga Atlântida, cuja
civilização chegou ao seu apogeu, atingindo o mais alto grau de conhecimento a milhares
de anos atrás, perceberam que o povo havia perdido as bases fundamentais dos princípios
espirituais e começou a entrar em decadência. Esses sábios perceberam que a população
estava se degenerando cada vez mais, e em conseqüência disso, seu vasto conhecimento
estava ameaçado de se deturpar. Além disso, esses sábios sabiam que todo o continente
atlante pereceria num cataclismo natural, afundando no mar e, preocupados com o destino
de suas tradições e conhecimentos, resolveram buscar uma forma de preservar sua
sabedoria para as civilizações e gerações futuras. Assim convocaram um concílio de todos
os sábios do continente para debater sobre o futuro do conhecimento atlante e encontrar
uma forma de preservar toda sua sabedoria.
Segundo a lenda, esse concílio durou vários dias e várias hipóteses foram levantadas sobre
a melhor forma de se guardar e preservar seus ensinamentos para que não se perdessem.
Uma dessas hipóteses foi a de se escrever em todas as paredes e muros dos templos e
construções da nação atlante, todos os aspectos de seu conhecimento, assim, quando no
futuro alguém encontrasse suas ruínas, poderiam decifrar sua escrita e recuperar seu
conhecimento. Essa idéia, porém, foi rejeitada, porque, sabendo que o país pereceria num
terremoto seguido da submersão de todo o continente nas águas do oceano, seus muros e
templos seriam destruídos e, conseqüentemente, seus registros seriam perdidos.

Os filhos da Atlântida (I figli di Atlantide)


Pintura de StefanoTulipani (www.stefanotulipani.it)

Outra hipótese foi a de recrutar, entre as nações existentes àquela época, os 10 homens e
mulheres mais inteligentes e dotados de cada uma delas, levá-los para a Atlântida,
ensinando-lhes toda a vasta cultura atlante, e quando esses homens e mulheres
estivessem preparados, devolvê-los às suas nações de origem, acreditando que dessa
forma o conhecimento atlante estaria preservado para ser transmitido às gerações futuras.
Porém, essa idéia foi também rejeitada, porque é sabido que o homem tende a deturpar
tudo aquilo que lhe é confiado, alterando segundo sua conveniência ou mesmo segundo sua
capacidade de entendimento e compreensão, acrescentando ao conhecimento original
aquilo que ele achasse não corresponder à verdade ou que fosse contrária a sua formação
ou índole, ou mesmo ignorância ou ainda por má-fé, e dessa forma, com o passar do
tempo, toda a sabedoria dos atlantes estaria tão deformada, alterada e deturpada que sua
essência se perderia.
E assim, esse concílio e arrastava sem que uma solução para o problema fosse encontrada.
Até que um dia, um dos mais sábios dos anciãos do conselho dos sábios disse ter
encontrado a solução para o impasse. Ao ter todas as atenções voltadas para si, propôs a
todos a seguinte questão: – “O que e que nunca desaparece da face da Terra? Civilizações
surgem e desaparecem; reinos e impérios nascem e perecem, mas uma coisa nunca
desaparece!”.

O Tarô
Os sábios pensaram, e se debateram sobre essa questão, mas também não chegaram a um
consenso obre o que seria essa coisa, que mesmo que civilizações, impérios, reinos e
nações surjam e desapareçam, sucessivamente, na passagem do tempo, nunca desaparece
da face da Terra.
Então, o próprio Sábio Ancião respondeu ao seu enigma: – “O que nunca desaparece da
face da Terra é o vício, principalmente o vício do jogo. Tudo desaparece: nações, reinos,
impérios, civilizações e tradições; mas o vício do jogo nunca desaparece, sendo transmitido
de geração para geração. Então, o que faremos é colocar todo nosso conhecimento em
lâminas, formado com elas um baralho, que poderá ser usado como um jogo. Esse baralho
deverá ser confeccionado de forma que todo nosso conhecimento seja colocado de forma
simbólica, assim, ao invés de ser escrito, será feito com gravuras que contenham símbolos
que poderão ser decifrados pelas gerações futuras, ficando dessa maneira, nosso
conhecimento preservado para os sábios de qualquer época, mas ao mesmo tempo velado
e inacessível a quem não tenha sido Iniciado nos mistérios da sabedoria”.
Dessa forma, foi estruturado o tarô como um livro não escrito, mas que contém toda a
sabedoria dos atlantes. Nos seus desenhos e símbolos estão contidos todos os
ensinamentos desses sábios sobre a jornada da ama humana pelo caminho do
conhecimento; o conhecimento sobre o homem, sobre a vida, sobre o universo e sobre o
Espírito Divino.
Para a confecção das laminas, os atlantes usaram, como contribuição da cultura das outras
nações existentes na época, um aspecto do acervo cultural de cada uma delas. Dos
vermelhos, que usavam muitos símbolos e desenhos geométricos, extraíram a utilização
dessa forma de expressão; dos amarelos, que sempre foram exímios desenhistas, usaram
a arte das delicadas gravuras e desenhos, que até hoje encantam quem quer que veja um
quadro ou um desenho chinês ou japonês, pela harmonia e beleza dos traços; dos Negros,
que sempre apreciaram o uso das cores, sendo todas as suas expressões culturais
marcadas pela profusão do colorido, com harmonia e beleza, usaram a forma de combinar
as cores de forma harmoniosa para realçar aspectos de seus ensinamentos; finalmente,
dos brancos, aproveitaram o uso dos números, já que os brancos haviam aperfeiçoado o
sistema de representar graficamente os conceitos de quantidades e valores numéricos.>
Assim, surgiu o Tarô, como um livro que, além de conter a sabedoria original e milenar da
Atlântida, trás no seu conjunto aspectos culturais de outras nações ou raças, não apenas
como uma contribuição, mas como uma homenagem dos atlantes a essas raças que iriam
sucedê-los no tempo, e esse livro, segundo a tradição, foi, composto de 78 lâminas de
ouro, dividido em dois volumes, sendo o primeiro volume estruturado de forma única,
abrangendo os ‘Arcanos Maiores’, e o segundo volume, dividido e, 4 seções ou naipes, que
são os ‘Arcamos Menores’.
Conta a tradição que, quando começaram os sinais dos acontecimentos que culminaram
com a destruição da Atlântida, um grupo do Conselho de Anciãos, os que guardavam seu
livro sagrado, refugiaram-se na região onde hoje é o Egito, mas que naqueles tempos, era
uma região desértica, habitada por tribos dispersas de pastores nômades e lá fundaram
uma colônia, que posteriormente transformou-se numa poderosa nação, sendo o Tarô,
então guardado pelos sacerdotes do Mênphis, que o redesenharam, em lâminas de papiro e
passaram o baralho para o domínio público, como uma forma de jogo ou diversão, sendo
os segredos da Interpretação da simbologia de suas lâminas reservados apenas para os
iniciados nos mistérios da tradição, que se tornaram os ‘Guardiões do Tarô’.

Os boêmios
Ainda segundo essa tradição, foram os boêmios os responsáveis pela divulgação do tarô em
todas as partes do mundo antigo.
Os boêmios eram um povo que, por rebeldia foram expulsos de sua nação de origem,
chamada Bhárata, que se situava onde hoje é a Índia. Ensina a tradição que os boêmios
eram servidores dos templos dessa nação e que por estarem sempre em contato com os
sacerdotes, auxiliando na execução dos rituais e cerimônias Religiosas, e estudando as suas
escrituras sagradas, adquiriram e desenvolveram um conhecimento profundo dos mistérios
de sua tradição, e passaram a exigir os mesmos direitos dos sacerdotes, que então,
buscando o apoio do poder secular, os expulsou das terras de Bhárata, condenando-os a
vagar pelo mundo com tudo aquilo que lhes pertencia. Segundo a tradição os boêmios são
os precursores dos ciganos. Ao abandonarem seu país, vagando pelo mundo, de um local
para o outro como nômades, chegaram ao Egito, tomaram contato com o tarô, e como
possuíam um conhecimento bem avançado dos mistérios, conseguiram decifrar alguns dos
símbolos e passaram a utilizar o baralho para fins adivinhatórios e, como eram nômades,
viajaram pelo mundo levando essa forma de utilização do tarô, criando variações do
baralho original, até que, na Idade Média, ao chegarem à Europa, causaram sensação com
seu baralho adivinhatório.
O Tarô atraiu a atenção de magos e cabalistas, além de estudantes de ocultismo, que
tentaram decifrar os significados de seus símbolos, originando várias formas de
interpretações dos mesmos, já que cada estudioso analisava os símbolos segundo seus
próprios conceitos e criando posteriormente sua própria versão do tarô.
Aparentemente, a primeira versão ocidental do tarô foi o baralho chamado mamluk,
precursor do famoso Tarô de Marselha, criado na época da Inquisição, pela necessidade dos
tarólogos daqueles tristes dias escaparem das perseguições do Santo Ofício. Dessa forma,
suas gravuras foram redesenhadas utilizando os padrões e costumes daquele tempo,
procurando preservar o máximo possível de detalhes do tarô original.
Assim, o Tarô tem atravessado milênios, chegando à nossa época ao mesmo tempo,
diversificado, mas inalterado e oculto, pois apenas aqueles que forem Iniciados em seus
mistérios serão capazes de decifrar seus símbolos, que são atemporais e tão complexos e
profundos que o espaço de uma existência pode não ser suficiente para se explorar todo o
vasto universo que está contido nesse livro sagrado.

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