Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 57

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E


TECNOLÓGICA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

ADÃO JOSÉ BOURGUIGNON VEDOVA

O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A PESQUISA COMO


FUNDAMENTO DA FORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS COM
FONTES HISTÓRICAS PARA A FORMAÇÃO DE DISCENTES DO CURSO
TÉCNICO EM GUIA DE TURISMO/PROEJA

Vitória
2019
ADÃO JOSÉ BOURGUIGNON VEDOVA

O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A PESQUISA COMO


FUNDAMENTO DA FORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS COM
FONTES HISTÓRICAS PARA A FORMAÇÃO DE DISCENTES DO CURSO
TÉCNICO EM GUIA DE TURISMO/PROEJA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Educação Profissional e
Tecnológica do Instituto Federal do Espírito Santo
campus Vitória, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Educação
Profissional e Tecnológica.

Orientador: Prof. Dr. Alex Jordane

Coorientadora: Prof. Drª Maria de José de


Resende Ferreira

Vitória
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

V416t Vedova, Adão José Bourguignon.


O trabalho como princípio educativo e a pesquisa como fundamento
da formação : contribuições de pesquisas com fontes históricas para a
formação de discentes do Curso Técnico em Guia de Turismo/PROEJA /
Adão José Bourguignon Vedova. – 2019.
55 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Alex Jordane de Oliveira.


Coorientadora: Maria José de Resende Ferreira.

Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica,
Vitória, 2019.

1. Ensino profissional – Formação. 2. Educação de jovens e adultos.


3. Educação para o trabalho. 4. Turismo – História – Fontes. 5. Guias de
turismo – Formação. 6. Historiografia. I. Oliveira, Alex Jordane de. II.
Ferreira, Maria José de Resende. III. Instituto Federal do Espírito Santo.
IV. Título.
CDD 21 – 373.24
Elaborada por Marcileia Seibert de Barcellos – CRB-6/ES - 656
AGRADECIMENTOS

Desejo exprimir os meus agradecimentos a todos aqueles que, de alguma forma,


permitiram que esta dissertação se concretizasse. Em especial, agradeço:

Aos meus professores orientadores Alex Jordane e Maria José de Resende Ferreira,
assim como aos demais professores membros da banca: Antônio Henrique Pinto e
Edna Castro de Oliveira por dividiram comigo seus saberes e, principalmente, por
acreditar que seria possível a realização deste trabalho.

A todos os professores do Programa do ProfEPT/Ifes, de modo especial àqueles que


ministraram aulas na primeira turma desse mestrado em Educação, pelas
contribuições e amizade durante este caminho.

Aos colegas da primeira turma do mestrado ProfEPT/Ifes pela amizade e


companheirismo.

Ao Ifes, pelo apoio institucional e aos educandos e educadores do Proeja, meu


agradecimento por compartilhar comigo suas experiências. Em especial, ao
professor Bruno Prado dos Santos Moura pelo apoio durante a pesquisa e a turma
N33 – (5º período) do curso Técnico em Guia de Turismo pelo acolhimento e
compreensão durante a realização da intervenção pedagógica.

Aos amigos da Coordenação de Gestão Pedagógica (CGP), pelo apoio e


companheirismo.

A minha esposa Leidyane, aos meus filhos José Benício e Lucca por todo o apoio,
carinho e compreensão pela ausência.

Aos meus pais, Martin e Nilcea, às minhas irmãs e sobrinhos por todo apoio ao
longo da minha vida.

Muito obrigado!!!
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Estes que-fazeres se encontram um no
corpo do outro. Enquanto ensino continuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco,
porque indaguei, porque indago e me indago.
Pesquiso para constatar constatando, intervenho,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para
conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade.

(PAULO FREIRE, 2017, p.30-31)


RESUMO

Os estudiosos do campo de educação de jovens e adultos (EJA), defendem uma


educação problematizadora e contextualizada, por meio de uma postura ativa e
participativa dos estudantes e da vinculação do conhecimento científico com o
contexto social do educando. A partir dessa perspectiva, os estudantes são
constantemente incentivados a realizarem pesquisas, no intuito de produzirem
conhecimentos e progredirem na compreensão da realidade. A presente
investigação, de natureza qualitativa com abordagem da pesquisa intervenção,
dialoga sobre o trabalho como princípio educativo e a pesquisa como seu eixo
formativo. As atividades de intervenção foram realizadas com 17 (dezessete)
educandos do 5º período do curso técnico em Guia de turismo integrado ao ensino
médio de jovens e adultos (Proeja) do Ifes Campus Vitória e com o professor da
disciplina Patrimônio Histórico e Cultural. Objetivou-se investigar as contribuições de
oficinas de práticas de pesquisas de fontes históricas, para a formação e atuação
profissional dos discentes desse curso. Para a produção de dados foram utilizados
questionários, observação participante e análise documental. Os registros desses
instrumentos foram feitos a partir de anotações no diário de campo, fotografias e em
gravações de vídeo e em áudio de todos os momentos das práticas educativas
desenvolvidas e foram sistematizadas em um material educativo. Verificou-se que as
atividades dessa intervenção contribuíram na formação dos discentes do curso
técnico em Guia de Turismo, no que diz respeito aos procedimentos da pesquisa
histórica para a produção de conhecimentos relevantes para auxiliar a atuação
profissional. Constatou-se que as oficinas auxiliaram também, na melhor
compreensão de conteúdos e temáticas relativas ao curso e no protagonismo dos
estudantes no âmbito da vida estudantil, profissional e pessoal.
.
Palavras-chave: Educação profissional e tecnológica. Educação de jovens e adultos
– Proeja. Pesquisa como princípio educativo. Pesquisas de fontes históricas.
ABSTRACT

Researchers in the field of youth and adult education (EJA) defend a problematizing
and contextualized education, through an active and participatory attitude of the
students and linking scientific knowledge with the social context of the student. From
this perspective, students are constantly encouraged to conduct research in order to
produce knowledge and progress in understanding reality. This investigation, of
qualitative nature with the intervention approach, dialogues about the work as
educational principle and a research as its formative axis. The intervention activities
were carried out with 17 (seventeen) students from the 5th period of the technical
course in Tourism Guide integrated with the high school of young people and adults
(Proeja) from Ifes Campus Vitória and with the teacher of the discipline Historical and
Cultural Heritage. The objective was to investigate the contributions of research
practice workshops from historical sources to the training and professional
performance of the students of this course. For data production, questionnaires,
participant observation and document analysis were used. The records of these
instruments were made from notes in the field diary, photographs and video and
audio recordings of all the moments of the educational workshops and were
systematized in an educational material. It is estimated that the activities of this
intervention contributed to the formation of students of the technical course in
Tourism Guide, regarding the procedures of historical research for the production of
relevant knowledge to assist professional performance. It is believed that the
workshops also helped to better understand the contents and themes related to the
course and the protagonism of students in the student, professional and personal life.

Keywords: Professional and technological education. Youth and adult education –


Proeja. Research as an educational principle. Searches from historical sources.
LISTA DE SIGLAS

ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

APEES - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CGP – Coordenação de Gestão Pedagógica

EJA – Educação de Jovens e Adultos

EMJAT - Ensino Médio para Jovens e Adultos Trabalhadores

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Ifes – Instituto Federal Do Espírito Santo

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PPP – Projeto Político Pedagógico

PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a


Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

ProfEPT – Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................10
2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DAS
BASES CONCEITUAIS EM DISCUSSÃO......................................................12
2.1 A EJA, O EPT E O PROEJA NO IFES............................................................12
2.2 TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A PESQUISA COMO
FUNDAMENTO DA FORMAÇÃO ..................................................................17
2.3 PESQUISAS EM FONTES HISTÓRICAS.......................................................22
3 PASSOS METODOLÓGICOS........................................................................29
4 ANÁLISE DOS DADOS DA INTERVENÇÃO................................................32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................45
CONSIDERAÇÕES.........................................................................................47
ANEXO A – Termo de anuência.....................................................................50
APÊNDICE A – Produto educacional.............................................................51
APÊNDICE B – Questionário discente...........................................................52
APÊNDICE C – Questionário docente............................................................54
10

1 INTRODUÇÃO1

A ideia dessa pesquisa nasceu a partir do amadurecimento das minhas experiências


acadêmicas e profissionais. Sou formado em Bacharelado e Licenciatura Plena em
História pela Universidade Federal do Espírito Santo e servidor efetivo do Instituto
Federal do Espírito Santo (Ifes), no cargo de Técnico em Assuntos Educacionais.
Trabalho na Coordenadoria de Gestão pedagógica do campus Vitória, fazendo o
acompanhamento pedagógico de cursos do Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos (Proeja).

A partir da aprovação no Mestrado Profissional em Educação Profissional e


Tecnológica (ProfEPT), comecei a pensar nas possibilidades de pesquisa. A
dificuldade principal, não era propriamente a escolha do tema, mas principalmente a
necessidade da criação de um produto educacional vinculado ao tema, garantindo a
característica de um mestrado profissional. A única certeza que tinha, era a vontade
de articular a minha formação acadêmica em História com a atuação profissional no
Proeja.

Diante disso, depois de um longo caminho de amadurecimento acadêmico, resolvi


fazer essa articulação no curso Técnico em Guia de Turismo/Proeja, no intuito de
investigar as contribuições de oficinas de práticas de pesquisas de fontes
históricas, para a formação profissional dos discentes desse curso. Para
alcançar tal intento foram propostos os seguintes objetivos específicos: articular
práticas de pesquisas, fontes documentais e conteúdos programáticos do curso;
planejar e executar atividades de pesquisa por meio de oficinas de formação junto
aos estudantes do curso; e sistematizar o roteiro de oficinas de formação.

Teoricamente, nos fundamentamos especialmente em Antônio Gramsci, Paulo Freire

1
Essa dissertação seguiu o regulamento da 1ª turma do Mestrado Profissional e Tecnológica
(ProfEPT) do Ifes – Campus Vitória (2017). De acordo com esse regulamento, a dissertação final
seria com o limite máximo de 70.000 (setenta mil) caracteres.
11

e Pedro Demo, assim como em vários autores do Grupo: Trabalho e Educação da


Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), tendo
como pressupostos o trabalho como princípio educativo e a pesquisa como seu eixo
formativo. Esses autores defendem uma educação problematizadora, que propicia
aos discentes tornarem-se investigadores críticos, em busca de seu próprio
movimento de libertação, descobertas e desafios. Com esse entendimento,
acreditamos na necessidade do educando, pensar e problematizar sobre o seu
redor, como também pesquisar e selecionar as informações, para, e a partir delas e,
da própria experiência, construir conhecimentos relevantes para a atuação
profissional e para a participação ativa em todos os aspectos da vida social.

Considerando isso, partimos para uma busca de pesquisas produzidas sobre esse
tema. Ao analisar o catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), infelizmente, percebemos
a pequena quantidade de trabalhos acadêmicos que analisam a formação e a
profissão do técnico em Guia de Turismo de nível médio. Não foi encontrado
nenhum trabalho que articulasse especificamente o ensino de História, assim como
o uso de fontes históricas, com essa área de atuação profissional. Também não foi
encontrado nenhum trabalho, relacionando aspectos profissionais do curso técnico
em guia de turismo com o Proeja ou EJA.

Partindo dessa perspectiva, a proposta de intervenção didática pode fomentar no


educando e futuro técnico em Guia de Turismo a possibilidade da pesquisa em
fontes históricas como uma forma de auxiliar a construção de conhecimentos mais
autênticos e inovadores. Também pode proporcionar benefícios para a sociedade,
ao ajudar na formação de profissionais técnicos em Guia de Turismo, capazes de
realizarem pesquisas mais consistentes para subsidiar a atuação profissional,
podendo assim, potencializar a criação de narrativas que possibilitem inovações no
segmento de turismo.
12

2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DAS BASES


CONCEITUAIS EM DISCUSSÃO

2.1 A EJA, A EPT E O PROEJA NO IFES

Nessa primeira seção é realizada uma discussão e articulação entre algumas bases
conceituais que envolvem a educação de jovens e adultos (EJA), a educação
profissional e tecnológica (EPT), o Proeja e a inserção desse Programa no Ifes –
Campus Vitória.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de


analfabetismo das pessoas acima dos 15 anos em 2017 era de aproximadamente
7% da população, o equivalente a 12,0 milhões de brasileiros. O problema é ainda
maior se considerarmos as taxas de analfabetismo funcional, visto que na mesma
pesquisa citada acima, foi constatado que 17% da população não tinham
completado uma escolaridade mínima de 4 anos. Também foi constatado nessa
pesquisa que 51% da população de 25 anos ou mais de idade estavam
concentradas nos níveis de instrução até o ensino fundamental completo (PNAD,
2016).

Dessa maneira, para acelerarmos o crescimento da alfabetização em nosso país,


temos que, além de garantir e efetivar na prática o direito social de educação básica
obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade para todos os
brasileiros como preconiza a Constituição Federal, assegurar “[...] a oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988).

Um aspecto interessante é que, ao longo da história do nosso país, tanto a


educação de jovens e adultos, quanto a educação profissional foram destinadas
para as classes mais pobres e marginalizadas socialmente. A relação entre a
educação básica e profissional no Brasil está marcada por uma dualidade. De um
lado, uma educação geral, destinada aos filhos da elite, como preparação para os
estudos superiores e de outro uma educação profissional, voltada aos mais pobres,
como uma preparação imediata para o mercado de trabalho (CIAVATTA e RAMOS,
2011).
13

A partir das lutas históricas dos trabalhadores e dos segmentos acadêmicos e


profissionais na defesa de uma formação que objetivasse romper com essa ênfase
dual da escola brasileira (OLIVEIRA e FERREIRA, 2018), foi criado em 2005, criado
pelo governo Federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional
com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja)
no intuito de integrar a educação básica de jovens e adultos com a educação
profissional.

Conforme o Documento Base do Proeja (BRASIL, 2007) esse programa contempla a


elevação da escolaridade com profissionalização no sentido de contribuir para a
integração sociolaboral desse grande contingente de cidadãos cerceados do direito
de concluir a educação básica e de ter acesso a uma formação profissional de
qualidade.

Moura (2017) destaca duas finalidades presentes nos documentos oficiais, para
justificar a criação desse programa: enfrentar as descontinuidades e o voluntarismo
que marcam a EJA no Brasil; e integrar a Educação Básica a uma formação
profissional que contribua para a integração socioeconômica de qualidade dos
jovens e adultos. O grande desafio é integrar esses três campos de educação:
educação básica, educação profissional e educação de jovens e adultos, e
conseguir que a formação proporcionada contribua para a melhoria das condições
de participação social, política, cultural e econômica do público da EJA, passando de
programa para política pública de estado, em vez de produzir mais uma ação de
contenção social (MOURA, 2017).

Diante disso, o Proeja além de proporcionar o acesso aos conhecimentos científicos


e tecnológicos produzidos e acumulados pela humanidade, precisa promover o

[...] pensamento crítico sobre os códigos de cultura manifestados pelos


grupos sociais ao longo da história, como forma de compreender as
concepções, os problemas, as crises e os potenciais de uma sociedade,
contribuindo para a construção de novos padrões de trabalho, de ciência e
de tecnologia, voltados para os interesses sociais e coletivos (MOURA,
2017, p.12).
14

Esse autor constata dois problemas que prejudicaram em 2005, a implementação do


Proeja. Primeiro, foi implementado (inicialmente) somente na rede federal, que
embora estivesse passando por um processo de expansão, possuía um quantitativo
de matrículas muito pequena comparada à matriz educacional brasileira. Outro
problema, foi a falta de experiência da rede federal na oferta de cursos integrados
envolvendo educação básica, educação profissional e EJA. Por conta do decreto
2208/972, as poucas experiências de EJA existentes na rede federal naquele
período, não contemplava a integração com a educação profissional (MOURA,
2017).

Em 2006, foi permitido a adoção do Proeja pelas redes públicas estaduais,


municipais e por entidades privadas, assim como, foi estimulado pelo Ministério da
Educação (MEC) a oferta de cursos de especialização voltados à formação de
profissionais do ensino público para atuar nesse programa.

Oliveira e Scopel (2016) ao fazerem um balanço de uma década da implementação


do Proeja, destacaram que em função da disputa entre projetos societários e
correlação de forças na sociedade, o Proeja ainda não se materializou como política
pública nos Institutos Federais. Para as autoras, existem evidências que a efetivação
do programa se faz a partir de ações individuais e não decorrente de ação política
institucional.

O grande desafio para essas instituições federais, segundo as autoras, é

[...] de romper com as barreiras de preconceito, e de se abrir para trabalhar


a formação preconizada pelo Proeja, mesmo diante das contradições
impostas por um modelo de sociedade liberal que produz a desigualdade e
necessita dela para se manter (OLIVEIRA e SCOPEL, 2016, p.140).

O Ifes Campus Vitória, iniciou a oferta da escolarização para o público de jovens e


adultos em 2001 com o curso denominado Ensino Médio para Jovens e Adultos
Trabalhadores (EMJAT), período sob vigência do Decreto nº 2.208/97, que

2Promoveu uma separação obrigatória entre a formação geral e a profissionalizante, extinguindo,


dessa forma, os cursos técnicos integrados ao ensino médio, sendo permitido somente a articulação
dos cursos técnicos de nível médio apenas às formas concomitante e sequencial à educação básica.
15

sustentava a separação entre a educação básica e a educação profissional. Esse


programa surgiu da

[...] experiência voluntária de um grupo de professores, com o objetivo de


formar cidadãos conscientes do seu papel social, capazes de promover
melhorias nas próprias vidas e de contribuírem para o crescimento da
sociedade em que vivem. Para tanto, o curso proporciona aos jovens e
adultos trabalhadores, excluídos do processo educacional na “faixa etária
regular”, a conclusão do Ensino Médio e o ingresso opcional em um curso
técnico do CEFETES (FERREIRA; FERREIRA; RAGGI; 2007, p.07).

A partir dessa experiência o Proeja foi implementado na instituição no ano de 2005.


Entretanto, nesse processo de transição para o Proeja, continuava o grande desafio
da integração curricular, envolvendo conhecimentos gerais e conhecimentos
necessários à profissionalização. Scopel (2012) destaca que a proposta curricular
dos cursos Proeja de Edificações, Metalurgia e Segurança do trabalho na instituição,
foram organizados inicialmente, em dois ciclos: um básico com disciplinas
propedêuticas e outro com disciplinas técnicas, desconsiderando os preceitos de
integração.

Em 2010, após um processo de dois anos de revisão, houve uma mudança na


estrutura organizacional e didático-pedagógica dos Projetos Político Pedagógicos
dos cursos de Segurança do Trabalho e Edificações, numa perspectiva de uma
maior integração entre os conteúdos.

Ao longo do ano de 2014, ocorreram mudanças na oferta dos cursos do Proeja na


instituição, com o fim da oferta do curso de Edificações e a criação dos cursos de
Qualificação Profissional em Cadista para a Construção Civil e o curso Técnico em
Guia de Turismo.

O curso Técnico em Guia de Turismo Integrado ao Ensino Médio na modalidade de


Jovens e Adultos é ofertado semestralmente com 40 (quarenta) vagas desde 2015/1.
O curso contempla o eixo tecnológico turismo, hospitalidade e lazer, e possui uma
carga horária de 2400 horas, distribuídas em 7 (sete) semestres, totalizando três
anos e meio de duração. Esse foi o primeiro curso do Proeja ofertado pela
instituição, totalmente vinculado a coordenadoria do Proeja, o que pressupõe
16

professores especializados em EJA em todos os componentes curriculares3.

Depreende-se por meio dos objetivos do Projeto Político Pedagógico do curso (PPP)
a busca de uma integração epistemológica de conteúdo, de metodologias e de
práticas educativas e avaliativas, que possam proporcionar um integração teoria-
prática, entre o saber e o saber-fazer, integrando uma formação humana mais geral,
uma formação para o ensino médio e para a formação profissional (IFES, 2014).

O PPP deste curso, baseia-se no Documento Base do Proeja (2007), ao defender


uma formação humana com acesso ao universo de saberes e conhecimentos
científicos e tecnológicos produzidos historicamente pela humanidade, integrada a
uma formação profissional que permita compreender o mundo, compreender-se no
mundo e nele atuar na busca de melhoria das próprias condições de vida e da
construção de uma sociedade socialmente justa (IFES, 2014).

Outrossim, o currículo integrado é uma possibilidade de inovar pedagogicamente na


concepção de ensino médio, em resposta aos diferentes sujeitos sociais para os
quais se destina, por meio de uma concepção que considera o mundo do trabalho e
que leva em conta os mais diversos saberes produzidos em diferentes espaços
sociais. Abandona-se a perspectiva estreita de formação para o mercado de trabalho
para assumir a formação integral dos sujeitos, como forma de compreender e se
compreender no mundo (IFES, 2014).

Diante disso, percebemos no projeto do curso uma grande ênfase no estudo


interdisciplinar e multidisciplinar envolvendo componentes curriculares da formação
geral e da formação profissional, dos conteúdos locais de geografia, das artes, da
cultura e história do estado do Espírito Santo. A metodologia dessas disciplinas
envolve a integração de conteúdos teóricos com atividades práticas, por meio de
visitas e aulas em monumentos históricos e culturais, museus e locais de expressão
da cultura e arte popular (IFES, 2014).

3A partir de 2019/1 começou a oferta de outro curso na área de serviços, o curso Técnico em
Hospedagem integrado ao ensino médio de jovens e adultos, que também é totalmente vinculado a
coordenadoria do Proeja. Os cursos de Metalurgia e Segurança do Trabalho continuam sendo
ofertados em parcerias com as coordenadorias técnicas.
17

2.2 TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A PESQUISA COMO


FUNDAMENTO DA FORMAÇÃO

O Documento Base do Proeja (BRASIL, 2007), propõe princípios e concepções que


devem fundamentar o programa. Dentre eles, destacamos os eixos do trabalho
como princípio educativo e a pesquisa como fundamento da formação. O trabalho
como princípio educativo visa resgatar a perspectiva ontológica do trabalho em
relação ao homem. Saviani (2007) destaca que a atividade vital dos seres humanos
é o trabalho, que ocorre quando ele passar a transformar a natureza, ajustando-a às
suas necessidades. Então, a essência do homem, o que o distingue dos demais
animais é o trabalho.

A existência humana não é garantida pela natureza, mas tem de ser produzida pelos
próprios homens, ou seja, necessitamos aprender a ser homem. Portanto, a
produção do homem, e ao mesmo tempo, a formação do homem é um processo
educativo. Nas comunidades primitivas, como tudo era comum, não havia a divisão
em classes, o processo de educação coincidia totalmente com o processo do
trabalho. O advento da propriedade privada e a divisão dos homens em classes
sociais distintas provocaram uma divisão também na educação. A partir desse
momento, passamos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação:
uma voltada para a elite dirigente, geralmente realizada em escolas, centrada nas
atividades intelectuais, na oratória e nos exercícios de caráter lúdico ou militar e a
outra, para o restante da população, assimilada ao próprio processo do trabalho
(SAVIANI, 2007).

A Revolução Industrial pôs em questão essa separação entre instrução e trabalho


produtivo, forçando a escola a ligar-se de alguma maneira ao mundo da produção.
No entanto, essa educação escolar que a burguesia concebeu, manteve a divisão
dos homens em dois grandes grupos: aquele das profissões manuais para os quais
se requeria uma formação prática limitada à execução de tarefas e aqueles das
profissões intelectuais para os quais se requeria domínio teórico amplo a fim de
preparar as elites (SAVIANI, 2007).
18

Essa situação foi percebida pelo importante teórico italiano Antonio Grasmci ao
analisar a situação educacional italiana no início do século XX. Segundo esse autor,

[...] verifica-se um processo de progressiva degenerescência: as escolas de


tipo profissional, isto é, preocupadas em satisfazer interesses práticos
imediatos, predominam sobre a escola formativa, imediatamente
desinteressada. O aspecto paradoxal reside em que este novo tipo de
escola aparece e é louvado como democrático, quando na realidade, não só
é destinado a perpetuar as diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las
em formas chinesas (GRAMSCI, 2001, p. 49).

Gramsci (1982), defendia uma “escola unitária” no intuito de superar essa dicotomia
entre uma educação “desinteressada” propedêutica e humanista de um lado, voltada
para os filhos das elites e de formação da classe dirigente, e do outro lado, uma
educação mais “interessada”, mais prática e manual, voltada para os filhos das
camadas populares, para atender as necessidades do mercado de trabalho.

Segundo esse autor, a solução é

[...] uma escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que
equilibre equanimente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar
manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das
capacidades de trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de
repetidas experiências de orientação profissional, passar-se-á a uma das
escolas especializadas ou ao trabalho produtivo (GRAMSCI, 1982, p.118).

Ainda segundo esse autor, todos precisam ter acesso à cultura dominante
socialmente construída e apropriada de maneira privada, visto que a educação

[...] não pode consistir apenas em que um operário manual se torne


qualificado, mas em que cada “cidadão” possa se tornar “governante” e que
a sociedade o coloque, ainda que “abstratamente”, nas condições gerais de
poder fazê-lo; a democracia política tende a fazer coincidir governantes e
governados (no sentido de governo com o consentimento dos governados),
assegurando a cada governo a aprendizagem gratuita das capacidades e
da preparação técnicas gerais necessárias ao fim de governar. (GRAMSCI,
1982, p.137).

Pensar o trabalho como princípio educativo é resgatar essa perspectiva original de


criação do homem através do trabalho. Segundo Marise Ramos (2010) o trabalho
como princípio educativo

[...] está na base de uma concepção epistemológica e pedagógica, que visa


a proporcionar aos sujeitos a compreensão do processo histórico de
19

produção científica, tecnológica e cultural dos grupos sociais, considerada


como conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente, para a
transformação das condições naturais da vida e para a ampliação das
capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. Ao mesmo
tempo, é pela apreensão dos conteúdos históricos do trabalho,
determinados pelo modo de produção no qual este se realiza, que se pode
compreender as relações sociais e, no interior dessas, as condições de
exploração do trabalho humano, assim como de sua relação com o modo de
ser da educação (RAMOS, 2010, p.69).

Moura (2007), baseado em Gramsci e em outros autores marxistas, como


Manacorda e Saviani, defende uma escola que atenda aos interesses da classe
trabalhadora, sendo voltada para a formação humana integral, omnilateral e
politécnica. Segundo esse autor, há um entendimento entre vários pesquisadores,
que uma solução transitória e viável, é um tipo de

[...] ensino médio que garanta a integralidade de uma educação básica, ou


seja, que inclua os conhecimentos científicos produzidos e acumulados
historicamente pela sociedade, como também objetivos adicionais de
formação profissional numa perspectiva da integração dessas dimensões.
Essa perspectiva, ao adotar a ciência, a tecnologia, a cultura e o trabalho
como eixos estruturantes, contempla as bases em que se pode desenvolver
uma educação tecnológica ou politécnica e, ao mesmo tempo, uma
formação profissional stricto sensu exigida pela dura realidade da sociedade
brasileira (MOURA, 2007, p.19).

Daí a importância de uma educação profissional que supere essa dualidade entre
formação específica e formação geral, deslocando o foco dos seus objetivos do
mercado de trabalho para a pessoa humana, tendo como dimensões indissociáveis
o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia (BRASIL, 2007).

Um outro princípio do Documento Base do Proeja, e muito importante no presente


trabalho, é a perspectiva da pesquisa como fundamento da formação. A pesquisa é
compreendida como modo de produzir conhecimentos e fazer avançar a
compreensão da realidade, além de contribuir para a construção da autonomia
intelectual desses sujeitos (BRASIL, 2007).

Nessa direção, Freire (2017) enfatiza que os educandos devem ser sujeitos da
produção do saber. Ensinar exige pesquisa e não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Conforme
Freire,
20

[...] não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Estes que-fazeres
se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar constatando, intervenho, intervindo educo
e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade (FREIRE, 2017, p.30).

De acordo com essa perspectiva problematizadora, professores e educandos, por


meio do diálogo, tornam-se investigadores críticos, propiciando um constante ato de
desvelamento da realidade e de compreensão do mundo (FREIRE, 2016). Nessa
lógica, o principal objetivo da educação é a conscientização da realidade, por meio
de uma atitude crítica, de reflexão, que comprometa a ação. Para isso, é preciso que

[...] a educação esteja - em seu conteúdo, em seus programas e em seus


métodos - adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a
ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer
com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história
[...] uma educação que liberte, que não adapte, domestique ou subjugue
(FREIRE, 1979, p. 21-22).

Scocuglia (2014) enfatiza que o alicerce central das propostas educacionais de


Paulo Freire, é a pedagogia da pesquisa, por meio da pergunta ou da
problematização, pela via dialógica entre professores e educandos. Para esse autor,
tendo como base as obras de Paulo Freire, o processo de ensino e aprendizagem, a
aquisição de conhecimento e de conscientização são produzidas pela
problematização em torno do conteúdo pesquisado, levando em consideração
também o currículo educacional e o contexto social, político e cultural vivenciado
pelos educandos. Essa pedagogia da pesquisa é o oposto da pedagogia tradicional,
chamada pelo autor de pedagogia da resposta, e por Paulo Freire de educação
bancária, onde os saberes são “depositados” pelos professores, sem o estímulo
para uma participação ativa dos educandos (SCOCUGLIA, 2014).

Pereira (2015), destaca que Paulo Freire em suas obras, realiza uma síntese, cujo
núcleo que aglutina as diversas correntes e categorias, é a ideia de transformação
social, com o objetivo de superar o sistema social do capital e efetivar a plena
realização da emancipação humana.
21

Influenciado por essa pedagogia da transformação de Paulo Freire, Demo (2011)


concebe o conceito de pesquisa como indissociável do processo educativo ao
colocar que a pesquisa é um princípio científico e educativo, base da educação
escolar e deve ser uma atitude cotidiana do professor e do educando. O objetivo é
repensar a educação guiada pela simples reprodução do conhecimento, na aula
ministrada pelo professor e copiada passivamente pelo discente.

Esse autor, questiona, o poder transformador da educação, que se mantido nessa


perspectiva tradicional, impede o estudante da construção da sua própria história.
Destaca ainda que a educação não é só ensinar, instruir, treinar e domesticar, mas
sobretudo formar a autonomia crítica e criativa do sujeito histórico competente
(DEMO, 2011, p.20). Para esse autor,

[...] não é possível sair da condição de objeto (massa de manobra), sem


formar consciência crítica desta situação e contestá-la com iniciativa
própria, fazendo desse questionamento o caminho de mudança. Aí surge o
sujeito, que o será tanto mais se, pela vida afora, andar sempre de olhos
abertos, reconstruindo-se permanentemente pelo questionamento. Nesse
horizonte, pesquisa e educação coincidem, ainda que, no todo, uma não
pode reduzir-se à outra. Nenhum fenômeno histórico é mais característico
do questionamento reconstrutivo do que o processo emancipatório, não
apenas em seu ponto de partida, mas principalmente como marca
permanente do processo (DEMO, 2011, p.10).

A característica emancipatória da educação, exige a pesquisa como seu método


formativo, pela razão principal de que somente um ambiente de sujeitos gera
sujeitos (DEMO, 2011). O educar e o pesquisar são processos coincidentes, visto
que ambas se postam contra a ignorância, valorizam o questionamento, se dedicam
ao processo reconstrutivo, incluem a confluência teoria e pratica, se opõe a condição
do sujeito como objeto, condenam a manipulação e a mera cópia (DEMO, 2011).

Percebe-se, que a construção do conhecimento é realizada diariamente pelo ato de


pesquisar, por meio de um processo de descoberta, criação e questionamento que
nunca se esgota. Nesse sentido, Demo (2011) coloca que educar pela pesquisa é
também, estimular o estudante a curiosidade pelo desconhecido, incitá-lo a procurar
respostas, a ter iniciativa, a compreender e iniciar a elaboração de suas próprias
ideias.
22

Esse autor, destaca que não se trata de fazer de cada estudante um pesquisador
profissional, mas

[...] um profissional pesquisador, quer dizer, que sabe manejar as virtudes


metodológicas e sobretudo pedagógicas da pesquisa. Para renovar
adequadamente os reptos profissionais num mercado escorregadio e
submetido a processos violentes e geralmente muito dúbios de inovação, é
fundamental saber reconstruir a proposta profissional. Os conteúdos se
consomem no tempo, enquanto a habilidade de saber pensar necessita
manter-se viva, mais que nunca. Se não sabe pesquisar, não sabe
questionar. Não sabendo questionar, não sabe ultrapassar os impasses
inevitáveis que toda profissão encontra em sua prática. Assim, o mais
importante hoje na pesquisa não é o manejo de instrumentos
metodológicos, mas o manejo dos desafios inovadores e por vezes
surpreendentes da vida. Saber pensar é ótimo para o mercado, mas é ainda
mais essencial para a vida (DEMO, 2001, p.9-10).

2.2 PESQUISAS EM FONTES HISTÓRICAS

De acordo com o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, o técnico em Guia de


Turismo tem, dentre outras funções profissionais, informar e traduzir para os
visitantes os aspectos socioculturais, históricos, ambientais, geográficos e o
patrimônio material e imaterial da região (BRASIL, 2016).

O documento base do Proeja (BRASIL, 2007) destaca alguns fundamentos político-


pedagógicos que devem nortear a organização curricular, tais como: a escola
vinculada à realidade dos sujeitos; a valorização dos diferentes saberes no processo
educativo e a escola formadora de sujeitos articulada a um projeto coletivo de
emancipação humana.

De forma paralela, o Ministério da Educação através da Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional (LDB), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nas
Orientações Curriculares para o Ensino Médio, defende o estudo de temas
transversais, como patrimônio histórico e cultural na educação básica. Segundo as
diretrizes do PCN, é necessário

Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e


monumentos comemorativos, de museus, arquivos e áreas preservadas
permite a compreensão do papel da memória na vida da população, dos
23

vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes
culturais e históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os
alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e crítico com
ruas, praças, edifícios públicos, festas e outras manifestações imateriais da
cultura constituem excelente oportunidade para o desenvolvimento de uma
aprendizagem significativa e crítica de preservação e manutenção da
memória (BRASIL, 1998, p.27).

Esse trabalho educacional a partir da experiência e do contato direto do educando


com as evidências e manifestações da cultura, busca levá-los a um processo ativo
de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os
para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de
novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural (HORTA;
GRUNBERG; MONTEIRO, 1999).

Nesse sentido, é importante que o discente e futuro profissional, seja capaz de


compreender os procedimentos históricos de análise das diferentes fontes. A partir
dessa compreensão, o discente pode utilizar fontes históricas no seu cotidiano de
trabalho, tornando-se um protagonista da construção de conhecimentos relevantes
para a sua formação e atuação profissional.

As fontes históricas são o material que os historiadores se apropriam por meio de


abordagens específicas, métodos diferentes, técnicas variadas para produzirem
seus discursos históricos (PINSK, 2008). Segundo Karnal e Tatsch (2015),
documento histórico é qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou
deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo diálogos entre a
subjetividade atual e a subjetividade pretérita.

Barros (2012), conceitua fonte histórica, como tudo aquilo que produzido pelo
homem ou trazendo vestígios de sua interferência, pode ajudar na compreensão do
passado humano. Nesse sentido, são fontes históricas,

[...] tanto os já tradicionais documentos textuais (crônicas, memórias,


registros cartoriais, processos criminais, cartas legislativas, obras de
literatura, correspondências públicas e privadas e tantos mais) como
também quaisquer outros que possam nos fornecer um testemunho ou um
discurso proveniente do passado humano, da realidade um dia vivida e que
se apresenta como relevante para o Presente do historiador. Incluem-se
24

como possibilidades documentais desde os vestígios arqueológicos e outras


fontes de cultura material (a arquitetura de um prédio, uma igreja, as ruas
de uma cidade, monumentos, cerâmicas, utensílios da vida cotidiana) até
representações pictóricas e fontes da cultura oral (testemunhos colhidos ou
provocados pelo historiador) (BARROS, 2012, p.130).

A corrente historiográfica dos Annales4, criticou a “história historizante” predominante


no século XIX e início do século XX, caracterizada por um predomínio do uso de
fontes escritas oficiais nas pesquisas históricas, narrando os grandes
acontecimentos políticos dos Estados Nacionais e monarquias, por meio de uma
sucessão cronológica de fatos e datas. Jacques Le Goff importante historiador dessa
corrente, desmitifica o documento histórico como uma verdade inquestionável do
passado. Para esse pesquisador, o documento histórico

[...] não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma montagem,


consciente ou inconsciente, das sociedades que o produziram, mas também
das épocas sucessivas durantes as quais continuou a viver, talvez
esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo
silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o
ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro
lugar analisados, desmitificando-lhe o seu significado aparente. O
documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas
para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada
imagem de si próprias. No limite, não existe um documento verdade. Todo
documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo (LE
GOFF, 1990, p.472).

Le Goff (1990) defende a importância de valorizarmos todo material histórico como


documento, não privilegiando somente os registros escritos. Diante disso, os
historiadores devem levar em consideração os vestígios da cultura material, os
objetos de coleção, os tipos de habitação, a paisagem, os fósseis e, em particular,
os restos ósseos dos animais e dos homens. (LE GOFF, 1990, p.476).

Todo documento histórico é fruto da intencionalidade – mais ou menos consciente –


de quem o estuda ou produz. Cabe ao historiador desmontar o documento a partir

4 A chamada escola dos Annales é um movimento historiográfico do século XX que se constitui em


torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et sociale, tendo se destacado
por incorporar métodos das Ciências Sociais à História. Essa corrente historiográfica renovou e
ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo da História para o estudo de atividades
humanas até então pouco investigadas, rompendo com a compartimentação das Ciências
Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante) e
privilegiando os métodos pluridisciplinares (BURKE, 1992).
25

de várias perspectivas diferentes, como por exemplo “[...] um cartulário deve ser
estudado numa perspectiva econômica, social, jurídica, política, cultural, espiritual,
mas sobretudo enquanto instrumento de poder” (LE GOFF, 1990, p.473).

A utilização de pesquisas em fontes históricas por estudantes em sala de aula,


propicia práticas pedagógicas diferenciadas para o processo de ensino e
aprendizagem de jovens adultos, com o intuito de transformar o educando em
sujeito, colocando a problematização e o questionamento como algo importante na
produção do conhecimento.

O próprio documento Base do Proeja, defende a formação de um sujeito com


autonomia intelectual, ética, política e humana, não para adaptar e prepará-lo de
forma passiva e subordinada ao processo de acumulação da economia capitalista,
mas voltada para a perspectiva da vivência de um processo crítico, emancipador de
um outro mundo possível. A participação ativa dos estudantes na produção de
conhecimentos pressupõe o estímulo cotidiano para os muitos possíveis
aprendizados, na perspectiva de constante superação, desenvolvendo sua
consciência do valor da escolarização e da qualificação profissional (BRASIL, 2007).

Bittencourt (2008) destaca a importância da utilização de fontes históricas pelos


discentes, sendo um instrumento pedagógico eficiente, por possibilitar o contato com
situações concretas de um passado abstrato e por favorecer um desenvolvimento
intelectual, em substituição de uma pedagogia limitada à simples acumulação de
fatos e de uma história linear e global elaborada pelos manuais didáticos. O objetivo
é desenvolver uma maior autonomia intelectual capaz de propiciar análises críticas
da sociedade em uma perspectiva temporal.

As fontes históricas mais relevantes para a atuação profissional do guia de turismo,


são aquelas articuladas com o patrimônio histórico e cultural do local de atuação do
profissional. Essas pesquisas podem ser realizadas em museus, monumentos,
bibliotecas, arquivos públicos, dentre outros locais.
26

Martins (2015) destaca uma grande diversificação de tipos de fontes históricas


relacionadas com o patrimônio histórico e cultural. Primeiro, temos toda a
documentação escrita presente nos acervos públicos: arquivos do poder executivo,
legislativo, judiciário, arquivos cartoriais, acervos institucionais, arquivos
eclesiásticos, arquivos privados e museus.

Além dessas fontes documentais mais tradicionais, também é bastante utilizado no


estudo de patrimônios históricos e culturais, a iconografia: estudo de imagens,
pintura, desenhos, mapas e principalmente, para estudos que retratam a partir do
século XIX, documentos fotográficos antigos. A documentação fotográfica figura
como fonte preferencial do patrimônio, pelo seu caráter de fixar imagens físicas reais
de cenários e personagens, contudo, é necessário, o exercício de análise e crítica
do documento para decodificar seus vários significados e mensagens (MARTINS,
2015).

Também são fontes riquíssimas para o pesquisador dessa área, a fonte impressa
periódica, composta de almanaques, anuários, jornais e revistas de época, sendo
extremamente importantes para a recuperação de imagens, cotidiano e
mentalidades de outras épocas. Por fim, também podem ser úteis para o
pesquisador, a fonte literária em suas tantas manifestações, como em prosa e verso,
memórias, diários, ficção, assim como, para estudos de épocas mais recentes, as
fontes audiovisuais, documentários, filmes e gravações sonoras (MARTINS, 2015).

Segundo Bittencourt (2008) ao analisar um documento histórico, deve-se levar em


consideração a articulação entre os métodos do historiador e os pedagógicos, de
acordo com as seguintes etapas: 1) mobilizar os saberes e conhecimentos prévios,
2) descrever o documento, destacando e indicando as informações que ele contém;
3) situar o documento no contexto e em relação ao seu autor; 4) identificar a
natureza desse documento e também explorar essa característica; 5) explicar o
documento, isto é, associar essas informações aos saberes anteriores. Depois de
concluído essas etapas, o educando estará apto a identificar os limites e o interesse
do documento, isto é, criticá-lo.
27

De forma parecida, a professora Isabel Barca, durantes seus estudos de utilização


de fontes históricas em sala de aula, elaborou o conceito de "aula-oficina" onde
propõe que:

[...] o professor selecione um conteúdo, pergunte aos alunos o que eles


sabem a respeito e, então, selecione as fontes históricas pertinentes para a
aula. Em seguida, ele deve orientar os estudantes a analisar os materiais,
fazer inferências e comparações. Todos se envolvem no processo e
produzem conclusões históricas, que podem ser mais ou menos válidas e
mais ou menos próximas às dos historiadores. No entanto, elas devem
sempre ser valorizadas, avaliadas e reconceitualizadas com a ajuda do
educador. Assim, os educandos tomam consciência do que aprenderam, do
que falta saber e do que mais gostariam de conhecer (BARCA, 2013, p.01).

Essa autora defende a realização de algumas etapas para a realização de


intervenção de fontes históricas em sala de aula, tais como: definição de temática;
preparação da investigação dos conhecimentos prévios; intervenção pedagógica do
professor (interpretação e contextualização de fontes) e produção de comunicação
pelos educandos (BARCA, 2004).

O Estado do Espírito Santo possui inúmeras instituições públicas e privadas com


acervos de fontes históricas relevantes para a pesquisa do patrimônio histórico e
cultural capixaba, com destaque para o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
(APEES), Arquivo Municipal de Vitória, Arquivo do Poder Legislativo, Arquivo da
Arquidiocese de Vitória, Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), além de arquivos
de empresas privadas, como o Centro de Documentação e Memória Garoto e o
Centro da Memória da Estrada de Ferro Vitória a Minas.

O mais importante é o acervo do APEES, localizado no centro de Vitória, possuindo


um número considerável de documentos públicos e de coleções privadas sobre
políticos, personalidades, e instituições que foram consideradas relevantes para o
estado. Também consta no acervo dessa instituição um banco com 50.000
(cinquenta mil) imagens, com registros de atos oficiais de governadores do estado,
paisagens, arquitetura urbana, festa populares, dentre outros, assim como um
acervo de 73 periódicos diferentes (jornais, revistas) do século XIX e XX.
28

Portanto, o embasamento nos eixos do trabalho como princípio educativo e da


pesquisa como fundamento da formação, por meio da análise e crítica de
documentos históricos, permite aos educandos, uma melhor compreensão de
aspectos da cultura, da história e da memória dos capixabas e dos monumentos
históricos e culturais desse Estado, propiciando uma inserção mais ativa no âmbito
profissional e na sociedade.
29

3 PASSOS METODOLÓGICOS

Considerando que esta pesquisa tem o objetivo de investigar as contribuições de


oficinas de práticas de pesquisas de fontes históricas, para a formação e atuação
profissional dos discentes do curso, ela caracteriza-se por sua natureza qualitativa
subsidiada pela pesquisa intervenção.

Bogdan e Biklen (1994) colocam que na investigação qualitativa, o objetivo principal


do investigador é o de construir conhecimentos no intuito de compreender como os
agentes entrevistados constroem significados sobre o tema a ser investigado. Esses
autores destacam como principais características da pesquisa qualitativa: a) a fonte
direta dos dados desse tipo de pesquisa é o ambiente natural, constituindo o
investigador o instrumento principal; b) é descritiva; c) interessa-se mais pelo
processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; d) tendem a analisar
os dados de forma indutiva e e) o significado é de importância vital na abordagem
qualitativa (BOGDAN e BIKLEN, 1994).

A pesquisa intervenção, conforme Damiani (2013, p.58), trata-se de:

[...] uma pesquisa que envolve o planejamento e a implementação de


interferências (mudanças, inovações pedagógicas) – destinadas a produzir
avanços, melhorias, nos processos de aprendizagem dos sujeitos que delas
participam – e a posterior avaliação dos efeitos dessas interferências.

Essa intervenção foi realizada por meio de uma oficina e outras atividades
organizadas de forma integrada com as aulas da Disciplina de Patrimônio Histórico e
Cultural. O pesquisador participou de todas as aulas dessa disciplina no semestre
2019/1, no intuito de interagir com a turma e aproximar o conteúdo e exemplos da
oficina com conteúdo e experiências realizadas na disciplina pelo professor.

O objetivo da oficina foi problematizar o que são fontes históricas, onde esses
documentos são encontrados, mostrar o acervo de fontes históricas do APEES e de
outras instituições e principalmente, articular essa temática, com as disciplinas
técnicas e com a área de atuação profissional dos discentes do curso. Ao longo da
oficina, foi proposto atividades e dinâmicas, estimulando a participação e
30

questionamento dos estudantes com essa temática. No final, os educandos


produziram uma narrativa utilizando fontes históricas sobre alguns espaços da
cidade de Vitória.

A intervenção utilizou as contribuições teóricas de autores já citados neste trabalho,


assim como, as contribuições pedagógicas da historiadora Circe Bittencourt (2008) e
a metodologia de intervenção pedagógica do uso de fontes históricas idealizada pela
pesquisadora Isabel Barca (2004; 2013).

Os conteúdos foram retirados das vivências cotidianas dos educandos e expressos


na problematização da realidade imediata. A prática social é importante, devendo
ocorrer de maneira constante durante todo o processo educacional, possibilitando
que o sujeito faça reflexões de tudo que ocorre ao seu redor, no intuito de realizar
ações transformadoras da realidade e da prática social.

Para a produção de dados foram utilizados questionários, observação participante e


análise documental. Os registros desses instrumentos foram feitos a partir de
anotações no diário de campo, fotografias e em gravações de vídeo e em áudio.

O questionário é um instrumento de elaboração de dados constituído por uma série


ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença
do pesquisador, objetivando conferir aos estudantes total liberdade para
responderem aos questionamentos, segundo suas próprias linguagens e sem
limitações para expressão de opiniões (MARCONI & LAKATOS, 2000, p.100). Na
presente pesquisa, o questionário foi utilizado para avaliar a oficina realizada, pontos
positivos e possíveis sugestões para melhorar, assim como, saber a opinião sobre
possíveis contribuições dessa intervenção para a atuação profissional.

Na observação participante, o pesquisador pretendeu compreender algum fenômeno


de um meio social, através da participação e interação nas atividades e nas
vivências das pessoas desse local. Essa interação dos investigadores qualitativos
com os sujeitos aconteceu de forma natural, não intrusiva e não ameaçadora,
tentando agir de modo que as atividades que ocorreram na sua presença não
31

diferissem significativamente daquilo que se passa na sua ausência (BOGDAN e


BIKLEN, 1994). O pesquisador manteve um diário de campo atualizado, com
informações sobre as atividades desenvolvidas ao longo do semestre.

Por fim, foi analisado documentos e informações institucionais, como o projeto de


curso, assim como, documentos produzidos pelos sujeitos participantes no decorrer
da oficina, como atividades, relatórios de dinâmicas e principalmente, análise da
atividade final, de produção de narrativas pelos educandos utilizando documentos
históricos. Foram produzidas pelos discentes, narrativas sobre os seguintes bens
patrimoniais e paisagem urbana da cidade de Vitória: Praça Oito, Praça Costa
Pereira, Praia de Camburi e Porto de Tubarão, e por fim, Assembleia Legislativa.
32

4 ANÁLISE DOS DADOS DA INTERVENÇÃO

A intervenção pedagógica realizada com a turma, foi uma oficina de pesquisa em


fontes históricas para estudantes do curso técnico em Guia de Turismo. Essa
intervenção consistiu em diversas atividades, tais como: 1) problematização e
realização de atividade sobre patrimônio; histórico e cultural; 2) realização de
atividade diagnóstica sobre a vida na cidade; 3) exibição, problematização e
realização de atividade sobre o filme Narradores de Javé (2003); 4) discussão,
problematização e realização de atividades sobre os conceitos de história e fontes
históricas; 5) discussão dos principais locais de guarda de documentos históricos na
cidade de Vitória; 6) construção em conjunto com os alunos, de uma narrativa sobre
as transformações ocorridas na cidade de Vitória no século XX, e por fim, 6) a
realização da atividade final, de produção de narrativas pelos educandos, sobre
alguns espaços da cidade de Vitória, utilizando a análise de documentos históricos.

Depreende-se pelo gráfico abaixo, que a turma é bem heterogênea, contendo


discentes de idades e experiências profissionais variadas. Desse grupo, composto
por 17 (dezessete) educandos, 11 (onze) são do sexo feminino e 6 (seis) do sexo
masculino. Alguns nunca tiveram uma experiência profissional, enquanto outros
estão aposentados. Vale destacar, que 29% dos estudantes que responderam ao
questionário, informaram que trabalham ou trabalharam na área do turismo, em
emprego formal, como estagiário ou como monitor.
33

Gráfico 1 - Idade dos discentes participantes

Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

A primeira atividade de destaque realizada5 foi diagnóstica com o intuito de explorar


os saberes e experiências prévias dos discentes sobre a vida na cidade. Nessa
atividade, os estudantes foram induzidos a relatar alguns aspectos de como eles
veem a cidade, quais as experiências deles na cidade e quais possibilidades eles
visualizam a partir dessa experiência na cidade.

As respostas dos discentes foram bem diversificadas. Por um lado, alguns


estudantes destacaram alguns problemas decorrentes na vida na cidade, como por
exemplo, violência, poluição e trânsito congestionado. Por outro, a maior parte dos
educandos destacou a cidade com um local de crescimento social, profissional e
espiritual. Muitos vieram do interior e de outros estados e encontraram na cidade,
possibilidades de trabalho e de viver uma vida melhor. Foi muito interessante a
associação feita por vários discentes entre a cidade e perspectivas profissionais do
curso técnico em Guia de Turismo, ao associarem o trabalho e a vivência na cidade,
como algo educativo, como uma formação para exercer a profissão no futuro.

Destacam-se nesses relatos dos educandos, uma aproximação com a perspectiva


dos eixos do trabalho como princípio educativo e da pesquisa como fundamento da
formação, presentes no documento base do Proeja (BRASIL, 2007) e no projeto do

5
Todas as atividades realizadas na intervenção foram disponibilizados no produto educacional
vinculado a esta dissertação: “Oficina de fontes histórica: uma proposta para o Proeja” (VEDOVA et
al, 2019). Segue o link desse produto educacional:
http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/553343
34

curso técnico em Guia de Turismo (IFES, 2014). Isso fica evidenciado, no relato do
educando Mateus, que enfatizou “um novo olhar sobre a cidade de Vitória”, a partir
do momento que entrou no curso Técnico em Guia de Turismo. Citou como
exemplo, que não dava muita importância ao Parque Gruta da Onça, mesmo sendo
ao lado da sua casa. Hoje, ele já visualiza esse parque e outros da cidade como
local de trabalho, de crescimento profissional na área do turismo.

No relato do discente Ricardo, também verificamos de forma nítida, a aproximação


desses dois eixos. Esse estudante colocou que

[...] cada local da cidade me leva a uma reflexão diferenciada, pois cada
pedacinho desse lugar mágico, é onde observo fatos históricos, onde faço
comparações e onde me encaixo nesse agito turbulento do dia a dia
(RICARDO, estudante de Turismo).

Nessa mesma perspectiva, o educando Francisco apontou a possibilidade do


enriquecimento do saber a partir de sua experiência na cidade. A estudante Joana,
destacou que vê a cidade como algo a ser explorado, principalmente o patrimônio
histórico e cultural. A educanda Paula, observou que os lugares históricos atraem
muitos turistas e que isso é uma boa oportunidade para os técnicos em guia de
turismo. O estudante Marcelo, também destacou a importância da valorização da
parte histórica e da cultura capixaba, pois o centro da cidade é um grande ponto de
circulação de turistas.

Diante desses depoimentos, entendemos que por meio da realização dessa


atividade, muitos discentes fizeram uma associação das experiências oriundas do
trabalho e vivência na cidade, como algo que pode ajudar a construir conhecimentos
sobre esses espaços, e principalmente, que isso pode ser útil para a formação e a
atuação profissional futura. As autoras Barca (2004; 2013) e Bittencourt (2008)
enfatizam a importância de os educandos partirem sempre da mobilização dos
saberes e conhecimentos prévios, como uma das primeiras etapas da análise de
documentos históricos.
35

Uma outra atividade introdutória realizada com os discentes foi a exibição e posterior
discussão do filme “Narradores de Javé” (2003) da diretora Eliane Caffé. Esse filme
conta a história dos moradores do vilarejo de Javé ameaçados pela construção de
uma usina hidrelétrica nas proximidades da cidade. Para evitar o desaparecimento
da cidade, um de seus moradores propõe que se escreva a história de Javé de
modo a provar para as autoridades a sua importância e valor histórico. O filme
propõe algumas reflexões sobre memória, patrimônio cultural e sobre relatos orais
para a construção de narrativas históricas.

A utilização desse filme possibilitou a problematização com os discentes de temas


complexos, provocando o deslocamento dos estudantes da noção de uma verdade
histórica inquestionável, permitindo abordar o relato histórico como uma
interpretação (entre outras) do passado. Ao analisar o filme, verificamos que foram
relatadas várias versões sobre a origem de Javé, de acordo com as vivências e
memórias de cada personagem.

Na realização da atividade, foi proposto que os discentes indicassem qual a história


daquela cidade relatada no filme que era verdadeira. Constatamos que inicialmente,
os estudantes se identificaram mais com uma ou outra versão da história da cidade.
Somente depois da problematização, que os discentes perceberam que não havia
uma história verdadeira ou falsa da cidade, todas as histórias poderiam se
complementar, pois representavam um relato oral de cada família sobre aquela
cidade.

A partir dessa problematização, os educandos descobriram que o relato oral, quando


analisado criticamente, pode ser utilizado como base para construção de narrativas
sobre um monumento ou local, ou seja, eles perceberam a possibilidade de também
produzir conhecimentos relevantes, por meio da análise das memórias pessoais e
de familiares ou amigos. Inclusive, em outras atividades realizadas na intervenção,
foi utilizado pelos discentes, relatos orais no embasamento de narrativas.

Posteriormente, foi realizada a oficina de fontes históricas, por meio de uma


discussão com os discentes sobre história, fontes históricas, tipos de fontes
36

históricas e locais de guarda desses documentos na cidade de Vitória. Para facilitar


a participação e interação dos estudantes foi utilizado exclusivamente, fontes
históricas (documentos institucionais, jornais, revistas, literatura, legislações,
pinturas, fotografias, mapas, dentre outros) da cidade de Vitória, articulando o saber
popular e a vivência concreta desses educandos na cidade com a formação e
atuação profissional, numa perspectiva de diálogo constante entre os pesquisadores
e os estudantes.

Depois dessa discussão teórica foi construída em conjunto com os discentes uma
narrativa, envolvendo toda a turma, sobre as transformações ocorridas na cidade de
Vitória, ES durante o século XX, tendo como base, documentos históricos
selecionados pelos pesquisadores. Por meio da análise e problematização de
pinturas, fotografias, mapas, jornais, revistas, crónicas, documentos institucionais,
dentre outros, os educandos compreenderam as diversas transformações ocorridas
nessa cidade no século passado e as possibilidades de utilização de análise e crítica
de fontes históricas para a construção de narrativas históricas.

A participação dos discentes foi muito intensa ao longo da realização dessa


atividade. Alguns educandos fizeram relatos orais relacionados com as fontes
históricas apresentadas. Na discussão do aterro na região da Vila Rubim e Ilha do
Príncipe, a estudante Fabíola explicou para a turma como que era aquela região
antes do aterro. A discente Bianca destacou a antiga localização da rodoviária de
Vitória, antes da construção da nova rodoviária. O educando José também fez um
relato oral, explicando as transformações realizadas no bairro Praia do Suá,
explicando que o mar chegava próximo ao atual Pronto Atendimento.

A partir das experiências obtidas com a construção dessa narrativa sobre as


transformações de Vitória ao longo do século XX foi proposto aos discentes uma
pesquisa de alguns patrimônios e espaços urbanos da cidade de Vitória, utilizando
fontes históricas. A turma foi dividida em 4 (quatro) grupos e cada grupo pesquisou
um espaço diferente: Praça Costa Pereira, Praça Oito, Assembleia Legislativa e por
fim, Praia de Camburi e Porto de Tubarão.
37

Constatamos ao longo da realização dessa atividade e depois, com a apresentação


e entrega das produções das narrativas, que, conforme preconizado por Paulo Freire
(2017; 2016), Pedro Demo (2001; 2011) e pelo Documento Base do Proeja (2007),
os discentes foram sujeitos da produção do saber, foram capazes de construir
conhecimentos relevantes para a formação e atuação profissional, a partir da análise
e crítica de documentos históricos.

A metodologia da construção dessas narrativas foi baseada em Barca (2004; 2013)


e Bittencourt (2008), por meio de uma articulação inicial dos saberes e
conhecimentos prévios com a literatura existente sobre os espaços escolhidos. Com
essa etapa concluída, os educandos tornaram-se aptos para analisar os diversos
documentos históricos disponibilizados.

Figura 1 - Discentes participantes da pesquisa

Fonte: Acervo do autor (2019).

O grupo Praça Oito por exemplo, por meio uma análise crítica de inúmeros
documentos (imagens, matérias de jornais, crónicas, mapas) fez um resgate
histórico do local da praça do período colonial até a atualidade. Utilizando uma fonte
38

jornalística, do jornal A Gazeta6 da edição de 21/11/1979, que mostrava um canhão


encontrado enterrado na praça, o grupo enfatizou que o local da praça foi palco de
invasões holandesas, contidas por figuras icônicas, como a Maria Ortiz e também
local de instalação de um forte, chamado de “Forte São Maurício”. Inclusive, na
apresentação para a turma, foi destacado, que é provável que tenha outros canhões
enterrados na praça.

Figura 2 - Trecho da Narrativa da Praça Oito produzida pelos educandos

Fonte: Acervo do autor com base em Vedova et al (2019).

Utilizando uma outra edição do Jornal A Gazeta, do dia 02/04/1984, os discentes


puderam resgatar um duelo realizado naquele local no século XIX, envolvendo um
capitão do exército e João do Pontão, um dos moradores mais populares da cidade
na época. Na apresentação realizada para a turma, os estudantes explicaram todas
as etapas desse duelo, até a derrota e morte de João do Pontão, algo que marcou a
cidade de Vitória naquele período. Vale ressaltar, que os educandos desse grupo,
fizeram várias pesquisas em livros de História do Espírito Santo e da cidade de
Vitória e não encontraram nenhuma informação sobre esse duelo. Nesse momento,
os próprios estudantes constataram e passaram para a turma, o ineditismo dessa
história, e que ela poderia ser usada profissionalmente, como um aspecto curioso,
de um dos principais monumentos históricos da Cidade de Vitória.

6 Todos os documentos históricos utilizados pelos educandos na construção das narrativas foram
disponibilizados no produto educacional vinculado a esta dissertação: “Oficina de fontes histórica:
uma proposta para o Proeja” (VEDOVA et al, 2019). Segue o link desse produto educacional:
http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/553343
39

Figura 3 - Trecho da Narrativa da Praça Oito produzida pelos educandos

Fonte Acervo do autor com base em Vedova et al (2019).

O grupo da Praça Costa Pereira também se preocupou em produzir um


conhecimento novo sobre esse importante espaço da cidade de Vitória. Ao
analisarem matérias de jornais da década de 1970, principalmente, uma edição do
jornal A Tribuna de 29/07/1977, conheceram uma técnica de paquera realizada no
local, chamada de “footing”, no qual homens e mulheres flertavam, ao circularem em
sentidos opostos. Vale destacar, que alguns estudantes do grupo foram na praça
entrevistar comerciantes mais antigos no intuito de entender melhor o funcionamento
dessa prática. Na apresentação realizada pelo grupo, verificamos que essa
narrativa foi tão marcante, que foi destacado a possibilidade de utilizar
profissionalmente no guiamento de turistas, essa narrativa para explicar como era a
paquera naquele local em épocas passadas.

Figura 4 - Trecho da Narrativa da Praça Costa pereira produzida pelos educandos

Fonte: Acervo do autor com base em Vedova et al (2019).

O grupo Praia de Camburi e Porto de Tubarão, também baseados em inúmeros


documentos históricos, destacou na apresentação vários danos causados pela ação
humana na Praia de Camburi e na construção do porto. Utilizando algumas fontes
jornalísticas da década de 1970 e 1980, o grupo inovou, ao enfatizar danos sociais,
como a vinda para a Grande Vitória de milhares de retirantes em busca de emprego
nos grandes projetos industriais. Esses retirantes viviam em condições de miséria
total na periferia da região, citando como exemplo, a construção de palafitas no
40

mangue do bairro São Pedro nas décadas de 1970/80. O grupo destacou na


apresentação a luta e a resistência desse povo em busca de melhorias para essa
região.

Figura 5 - Trecho da Narrativa da Narrativa da Praia de Camburi e Porto de Tubarão


produzida pelos educandos

Fonte: Acervo do autor com base em Vedova et al (2019).

O grupo Assembleia Legislativa, baseado em vários documentos históricos, dentre


eles, várias imagens fotográficas do início do século XX e uma crônica publicada no
Jornal A Tribuna na edição de 25/10/1987, apresentou uma postura crítica, ao
reprovar a demolição da centenária Igreja da Misericórdia em 1911, para construir
em seu lugar o congresso legislativo. O grupo destacou que nesse processo, foi
destruído um patrimônio histórico da cidade de mais de 300 (trezentos) anos, para
construir um prédio que em poucas décadas já era insuficiente para atender as
necessidades do legislativo capixaba.
41

Figura 6 - Trecho da Narrativa da Narrativa da Assembleia Legislativa produzida


pelos educandos

Fonte: Acervo do autor com base em Vedova et al (2019).

Depreende-se nessa atividade realizada, a concretização do princípio da pesquisa


como fundamento da formação, ao permitir que os próprios educandos produzissem
conhecimentos úteis para a formação e atuação profissional. Com isso, houve uma
transformação do educando em sujeito ativo, com autonomia intelectual e crítica,
assemelhando-se das concepções de Paulo Freire (2017), que enfatiza que ensinar
não é somente transferir conhecimentos, mas criar a possibilidade de produção
pelos próprios estudantes.

Depois da realização dessa intervenção em sala de aula, os discentes responderam


a um questionário de avaliação da intervenção. O objetivo desse questionário era
avaliar a oficina realizada com os estudantes, pontos positivos e possíveis
sugestões para melhorar, assim como, saber a opinião dos discentes sobre
possíveis contribuições dessa intervenção para a atuação profissional e se os
discentes pretendem utilizar a pesquisa em fontes históricas para auxiliar no
desempenho profissional futuro.

A primeira questão do questionário feita com os estudantes é como eles avaliaram a


realização da oficina de prática de pesquisa de documentos históricos. Todos os
discentes destacaram a importância desse tipo de atividade para o curso e para o
desempenho profissional futuro.

O discente Mariano destacou que a pesquisa em fontes históricas permite que o


guia “[...] desenvolva uma narrativa com mais credibilidade”. O educando Paulo
42

enfatizou que através desse tipo de pesquisa o guia pode narrar “[...] fatos que não
estão na internet”.

A estudante Margareth considerou a intervenção importante, pois é necessário ao


técnico em Guia de Turismo “[...] adquirir conhecimentos e isso acontece através de
pesquisas”. Ainda segunda essa discente, a pesquisa também serve para dirimir
dúvidas sobre a existência de mais de uma versão de uma história. Boa parte dos
demais educandos, também enfatizaram essa possibilidade de o guia produzir uma
narrativa nova a ser apresentada aos turistas.

A segunda pergunta, foi para os discentes apresentar pontos positivos e possíveis


sugestões para melhorar a realização da atividade. O principal ponto positivo
apresentado pelos estudantes foi o contato com inúmeros documentos históricos
trazidos pelos pesquisadores. A principal sugestão para melhorar essa intervenção,
foi articular essa atividade com visitas técnicas ao Patrimônio Histórico e Cultural da
cidade de Vitória. Por fim, o discente Paulo ainda destacou, que seria importante,
que os principais arquivos públicos e locais de guarda de documentos históricos
disponibilizassem mais documentos pela internet, facilitando a pesquisa dos
estudantes e dos guias de turismo.

A terceira indagação direcionada aos discentes é se a realização de pesquisas


utilizando documentos históricos pode contribuir para a atuação profissional do
técnico em Guia de Turismo. Todos os estudantes entrevistados apontaram que
esse tipo de pesquisa pode contribuir para o aperfeiçoamento profissional. Nas
justificativas os discentes enfatizaram a importância desse tipo de pesquisa para o
embasamento teórico do técnico, aprofundando os conhecimentos sobre a cidade e
os diversos patrimônios.

Por fim, a última pergunta dirigida aos discentes é se eles pretendem utilizar a
pesquisa em fontes históricas para auxiliar no desempenho profissional futuro. A
maioria dos educandos responderam que tem interesse em utilizar esse tipo de
pesquisa. A justificativa foi semelhante das respostas anteriores, no intuito de
garantir uma melhor preparação profissional, conquistando mais conhecimentos e
43

produzindo uma narrativa mais autêntica sobre os locais de trabalho, podendo


inclusive, ser um diferencial no mercado de trabalho.

Merece destaque o seguinte relato do discente Juliano:

Figura 7 - Relato do estudante Juliano

Fonte: Acervo do autor (2019).

Verifica-se nesse relato, que o educando entende que esse tipo de pesquisa, pode
proporcionar, além de benefícios para o próprio profissional, benefícios para a
sociedade, ajudando inclusive, a revitalizar a cultura regional.

O professor Bruno da disciplina Patrimônio Histórico e Cultural também respondeu


um questionário sobre as percepções dele sobre a intervenção realizada com a
turma. O docente destacou que a experiência foi proveitosa, sobretudo no que se
refere a “[...] motivação dos estudantes para produzirem conhecimentos, abrindo a
possibilidade da reflexão e problematização sobre os espaços da cidade e ela
própria como um bem cultural”.

Também destacou que a produção de conhecimento sobre o destino, assim como,


“[...] aprender a lidar com fontes, exercer o olhar crítico e o tino para a pesquisa são
aspectos extremamente relevantes para o técnico em guia de turismo”. Por fim,
destacou que pretende utilizar essa experiência com os estudantes das próximas
turmas, por meio de “[...] uma nova roupagem, mais voltada para uma inserção na
cidade”.

Por fim, vale destacar um relato oral do estudante Mário, monitor do projeto Visitar
da Prefeitura Municipal de Vitória, e que trabalha atendendo turistas em vários
monumentos históricos do centro histórico de Vitória. Esse estudante expôs que
essa intervenção o estimulou a pesquisar no Arquivo Público do Estado do Espírito
44

Santo e no arquivo da Arquidiocese de Vitória, documentos históricos, relacionados


com os locais de trabalho desse projeto, principalmente, as igrejas históricas do
centro de Vitória. Por meio dessas pesquisas, ele conseguiu entender algumas
lacunas, por exemplo, sobre as diversas reformas realizadas no Convento de São
Francisco.

Segundo ele, os visitantes faziam perguntas sobre aspectos dessas reformas e ele
não conseguia encontrar respostas no material de apoio fornecido pela Prefeitura
para uso dos monitores. Diante disso, ele passou a utilizar na atuação profissional,
como monitor turístico desse espaço, narrativas que ele próprio pesquisou e
produziu.

Depreende-se nesse exemplo do educando Mário, uma materialização prática dos


eixos do trabalho como princípio educativo e da pesquisa como fundamento da
formação por meio da pesquisa e análise de documentos históricos. O educando
partiu de sua realidade concreta e de saberes prévios do ambiente de trabalho, para
pesquisar informações úteis para melhorar a formação teórica sobre o espaço e o
desempenho profissional.
45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A origem dessa pesquisa foi a vontade em articular a formação acadêmica em


História com a atuação profissional no Proeja. A proposta tinha o intuito de investigar
as possíveis contribuições de oficinas de práticas de pesquisas de fontes históricas,
para a formação profissional dos estudantes do curso técnico em Guia de Turismo
integrado ao ensino médio de jovens e adultos.

Ao planejar, acompanhar e executar atividades de ensino com a turma do quinto


módulo do curso técnico em Guia de Turismo, procuramos, conforme preconizado
por Paulo Freire (2016; 2017) e Pedro Demo (2001; 2011) estimular uma postura
mais ativa e investigadora dos discentes.

Partimos do pressuposto, que o discente deve participar ativamente do processo de


construção de conhecimentos relacionados com a área de atuação profissional.
Diante disso, essa dissertação foi embasada pelos eixos do trabalho como princípio
educativo e da pesquisa como fundamento da formação, conceitos presentes no
Documento Base do Proeja (BRASIL, 2007).

Constatamos por meio da análise das diversas atividades desenvolvidas com a


turma na intervenção pedagógica, um novo olhar dos estudantes sobre as
possibilidades de atuação profissional. Vários educandos destacaram contribuições
desse tipo de pesquisa, não somente para o desempenho profissional, mas também
para a sociedade, ao ajudar na produção de conhecimentos sobre um determinado
local.

As narrativas produzidas pelos discentes, mostraram-se autênticas e inovadoras,


podendo inclusive, serem utilizadas profissionalmente no segmento de turismo,
assim como, servirem de referências, para novas pesquisas do Patrimônio Histórico
e Cultural do Espírito Santo.

Por fim, os próprios sujeitos da pesquisa, propuseram algumas medidas para


aperfeiçoar a intervenção realizada em sala de aula, ao sugerirem a importância da
46

realização de visitas técnicas e atividades práticas nos locais de guarda de


documentos históricos, assim como, a importância de cobrar do Poder Público, a
disponibilização de uma quantidade maior de documentos por meio da internet,
facilitando o acesso e a pesquisa de fontes históricas.
47

REFERÊNCIAS

BARCA, Isabel. Aula oficina: do projeto à avaliação. In: BARCA, Isabel (Org.)
Para uma educação histórica de qualidade: actas da quarta Jornada Internacional de
Educação Histórica. Braga: Centro de Investigação em Educação/ Instituto de
Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004. p.131-144.

BARCA, Isabel. Isabel Barca fala sobre o ensino de História. 2013.


Entrevistada concedida a Bruna Nicolielo para edição da revista Nova Escola.
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/930/isabel-barca-fala-sobre-o-
ensino-de-historia>. Acesso em: 05 abril 2019.

BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas: revisitando alguns aspectos


primordiais para a pesquisa histórica. Mouseion Revista do Museu e Arquivo
Histórico La salle, Canoas/RS, v. 12, p.129-159, 2012.

BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2. ed.


São Paulo: Cortez, 2008.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma


introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional. Proeja :


programa nacional de integração da educação profissional com a educação
básica na modalidade da educação de jovens e adultos. Brasília: MEC, 2007.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros curriculares nacionais: História. Brasília: MEC, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Catalogo nacional de cursos técnicos. Brasília:


MEC, 2016. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/docman/novembro-2017-
pdf/77451-cnct-3a-edicao-pdf-1/file>. Acesso em: 21 ago. 19.

BURKE, Peter. A escola dos annales, 1929-1989: revolução francesa da


historiografia. São Paulo: UNESP, 1992.

CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino médio e educação profissional no Brasil:


dualidade e fragmentação. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 5, n. 8, p. 27-
41, jan./jun. 2011.

DAMIANI, M. F. et.al. Discutindo pesquisas do tipo intervenção pedagógica.


Cadernos de educação, Pelotas, n. 45, p. 57 -67, maio/ago. 2013.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 9. ed. Campinas: Autores Associados, 2011.
48

DEMO, Pedro. Professor/conhecimento. Brasília: UNB, 2001.

FERREIRA, E.B.; FERREIRA, M.J.R.; RAGGI, D.G. A EJA integrada à educação


profissional no CEFET: avanços e contradições. Cadernos ANPED, 1-18, 2007.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao


pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 55. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 60. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

GRAMSCI. Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


2001. v. 2

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane


Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional / Museu Imperial, 1999.

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Projeto pedagógico de curso


técnico em guia de turismo integrado ao ensino médio na modalidade de
educação de jovens e adultos. Vitória: Ifes, 2014.

KARNAL, Leandro; TATSH; Flávia Galli. A memória evanescente. In: PINSKY, Carla
Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo:
Contexto, 2015.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas/SP: Editora da UNICAMP, 1990.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E.M. Metodologia científica. São Paulo: Atlas. 2000.

MARTINS, Ana Luiza. Fontes para o patrimônio cultural: uma construção


permanente. In: PINSKY, Carla B.; LUCA, Tania R. O historiador e suas fontes. 1.
ed. 4. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2015.

MOURA, Dante Henrique. Educação básica e educação profissional e tecnológica:


dualidade história e perspectivas de integração. Holos, Natal, a. 23, v. 2, 1-30,
2007. Disponível em:< http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/11>.
Acesso em: 20 dez. 2018.

MOURA, Dante Henrique. Programa Nacional de Integração da Educação


Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos? PROEJA: Entre potencialidades e entraves diante de projetos societários
em disputa. Educação Profissional e Tecnológica em Revista, Vitória, v.1, n. 1,
2017.
49

OLIVEIRA, Edna Castro; FERREIRA, M.J.R. Politicas de EJA no IFES: percursos de


escolarização, de profissionalização e de resistência no Proeja. Trabalho
Necessário, Niterói, v. 16, n. 30, p. 43-66, 2018. Disponível em:
http://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/view/10086/7017>. Acesso em: 10 out. 2018.

OLIVEIRA, Edna Castro; SCOPEL, Edna Graça. Uma década do Proeja: sua
gênese, balanço e perspectivas. Holos, Natal, a. 32, v.6, p.120-144, 2016.

PEREIRA, Dirlei de Azambuja. Fontes filosóficas da pedagogia de Paulo Freire: a


transformação social radical inspirada em Karl Marx como núcleo sintético. 2015.
119f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação,
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2015.

PINSK, Carla Bassanezi. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008.

PNAD Contínua 2016: 51% da população com 25 anos ou mais do Brasil possuíam
no máximo o ensino fundamental completo. Agência IBGE notícias, Rio de Janeiro,
2017. Disponível em:<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18992-pnad-continua-2016-51-da-
populacao-com-25-anos-ou-mais-do-brasil-possuiam-no-maximo-o-ensino-
fundamental-completo>. Acesso em 21 jul. 2019.

RAMOS, Marise. Implicações políticas e pedagógicas da EJA integrada à educação


profissional. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 35, p. 65-85, 2010.

SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista


Brasileira de Educação, Campinas, v. 12, n. 32, p. 52-180, jan./abr. 2007.

SCOCUGLIA, Afonso Celso Caldeira. Paulo Freire e a pedagogia da pesquisa.


Revista EJA em debate, Florianópolis, a.3, n. 4, p.29-44, 2014.

SCOPEL, Edna Graça. Olhares acerca do processo de construção dos Projetos


Políticos Pedagógicos dos cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio de
Jovens e Adultos no contexto do Ifes campus Vitória. 2012. 148 f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal do Espírito Santo, 2012.

VEDOVA, Adão José Bourguignon; JORDANE, Alex.; MOURA, Bruno Prado Santos;
FERREIRA, Maria José Resende. Oficina de fontes histórica: uma proposta para o
Proeja. Vitória: Ifes, 2019.
50

ANEXO A – Termo de anuência


51

APÊNDICE A – Produto educacional

O produto educacional criado em conjunto com essa dissertação de mestrado é uma


intervenção pedagógica, realizada por meio de uma oficina. Trata-se de um material
destinado, principalmente, a professores de cursos técnicos em Guia de Turismo
que pretendem desenvolver atividades relacionadas à pesquisa em fontes históricas
em sala de aula. Esse material também pode ser utilizado por professores da
educação básica interessados em trabalhar com essa temática e por estudantes de
cursos técnicos em Guia de Turismo que queiram realizar pesquisas em documentos
históricos durante sua formação e, posteriormente, na atuação profissional.

Essa proposta de intervenção, mediante oficinas de práticas de pesquisas de fontes


históricas, pode fomentar no estudante e futuro técnico em Guia de Turismo a
possibilidade da pesquisa em fontes históricas como uma forma de auxiliar a
construção de conhecimentos mais autênticos e inovadores relacionados com o
patrimônio histórico e cultural de um determinado local. Também pode proporcionar
benefícios para a sociedade, ao ajudar na formação de profissionais técnicos em
Guia de Turismo capazes de realizar pesquisas mais consistentes para subsidiar a
atuação profissional, podendo assim, potencializar a criação de inovações no
segmento de turismo.

Foi sugerido para a realização dessa intervenção, além das contribuições teóricas
dos autores citados na dissertação, as contribuições pedagógicas da historiadora
Circe Bittencourt (2008), a metodologia de intervenção pedagógica do uso de fontes
históricas idealizada pela pesquisadora portuguesa Isabel Barca (2004;2013).

Esse material pedagógico foi dividido em duas partes: na primeira, foi apresentado
todo o conteúdo e todas as atividades realizadas na intervenção de fontes históricas
com a turma do 5º período do curso técnico em Guia de Turismo integrado ao ensino
médio de jovens e adultos do Ifes - Campus Vitória. Na segunda, foi disponibilizado
as narrativas da Praça Oito, Praça Costa Pereira, Assembleia Legislativa, Porto de
Tubarão e Praia de Camburi, construídas pelos discentes a partir dos conhecimentos
e experiências obtidas durante a participação na intervenção.
52

APÊNDICE B – Questionário discente

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


CAMPUS VITÓRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Idade: ______________

Já teve alguma experiência profissional na área de turismo? (estágio, monitoria, trabalho...)

( )Sim x ( ) Não

Se sim, onde?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

Pretende trabalhar na área de turismo? (__) Sim x ( ) Não

Como você avalia a realização da oficina de prática de pesquisa de documentos históricos


para alunos do curso técnico em Guia de Turismo?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
53

Apresente pontos positivos e possíveis sugestões para melhorar a realização dessa


atividade.

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

A realização de pesquisas utilizando documentos históricos, pode contribuir para a atuação


profissional do técnico em Guia de Turismo?

(__) Sim x (__) Não.

Se sim, quais seriam essas contribuições?


__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

Você pretende utilizar a pesquisa em fontes históricas para auxiliar no desempenho


profissional futuro?

(__) Sim x (__) Não

Justifique.

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
54

APÊNDICE C – Questionário docente

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


CAMPUS VITÓRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Como você avalia a realização da oficina de prática de pesquisa de documentos históricos


para estudantes do curso técnico em Guia de Turismo?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

A utilização de pesquisas utilizando documentos históricos pode contribuir para a atuação


profissional do técnico em Guia de Turismo?

(___) Sim x (___) Não. Justifique.

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________________________________
55

Pretende utilizar a pesquisa em fontes históricas nas atividades das próximas turmas
da disciplina de Patrimônio Histórico e Cultural? Justifique.

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

Você também pode gostar