Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PDF of Atlas Luminoso Varios Autores Adriano Salvi Full Chapter Ebook
PDF of Atlas Luminoso Varios Autores Adriano Salvi Full Chapter Ebook
PDF of Atlas Luminoso Varios Autores Adriano Salvi Full Chapter Ebook
Salvi
Visit to download the full and correct content document:
https://ebookstep.com/product/atlas-luminoso-varios-autores-adriano-salvi/
More products digital (pdf, epub, mobi) instant
download maybe you interests ...
https://ebookstep.com/download/ebook-11566024/
https://ebookstep.com/product/direito-penal-internacional-carlos-
eduardo-adriano-japiassu/
https://ebookstep.com/product/atlas-six-tome-2-le-paradoxe-d-
atlas-olivie-blake/
https://ebookstep.com/product/filipinas-1st-edition-varios-
autores/
REPI CACD diplomacia internacional 3a Edic a o 3rd
Edition Leonardo Rocha Bento
https://ebookstep.com/product/repi-cacd-diplomacia-
internacional-3a-edic-a-o-3rd-edition-leonardo-rocha-bento/
https://ebookstep.com/product/proyecto-cortazar-1st-edition-
varios-autores/
https://ebookstep.com/product/guia-manga-de-biologia-molecular-
varios-autores/
https://ebookstep.com/product/grays-atlas-danatomie-humaine-
drake/
https://ebookstep.com/product/o-livro-das-religioes-1st-edition-
varios-autores/
Atlas luminoso
Este atlas é sobre escrever, publicar, ler, falhar; e sobre o
percurso que toda história faz antes de encontrar ou não
seus leitores. Mas também sobre Balneário Camboriú e
suas inúmeras idiossincrasias. Todos os movimentos nas-
ceram com as ruas, sentidos, sons e imagens que a cidade
trouxe e em torno de “O romance luminoso” de Mario Le-
vrero, o clássico definitivo sobre procrastinação e escritura.
Um romance de
Adriano Salvi
Amílcar Britz
André Ricardo Coelho
Anna Theresa Schipmann Rebelo
Brianne Lee
Didiê Kinsey
Gabrielle Pilotto
Ká Martin
Leonidas Silva Georgoula
Lucas G. Soares
Luiz Ferreira
Monique Neves
Mylena Gomes Espíndola
Editor
Carlos Henrique Schroeder
Revisão
Renato Capella
Capa
Ayrton Queiroz e Design Editora sobre capa de Brianne Lee
Editoração eletrônica
Marcio Erino Ochner
5
Este livro tem patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura
de Balneário Camboriú (LIC) por meio da
Fundação Cultural de Balneário Camboriú e
Prefeitura de Balneário Camboriú.
6
SUMÁRIO
Um escritor......................................................................11
Uma editora.....................................................................18
Uma revisora...................................................................24
Um capista.......................................................................36
Um livreiro......................................................................50
Uma atriz.........................................................................56
Um amigo........................................................................67
Uma (quase) leitora........................................................86
Uma influencer..............................................................105
Uma jornalista...............................................................115
Uma leitora (de fato)....................................................124
Outro amigo..................................................................134
Primeiro capítulo..........................................................149
Nosotros y nosotras.......................................................160
7
Este romance é resultado da oficina Atlas luminoso, que ocorreu entre
julho e outubro de 2023 de forma presencial e virtual, com mentoria
de Carlos Henrique Schroeder. Todos os capítulos dialogam com “O
romance luminoso” de Mario Levrero e com a cidade de Balneário
Camboriú.
8
“Por algum tempo a Crítica acompanha a Obra, depois a
Crítica se desvanece e são os leitores que a acompanham.
A viagem pode ser comprida ou curta. Depois os leitores
morrem um a um, e a Obra segue sozinha, muito embora
outra Crítica e outros Leitores pouco a pouco se ajustem a
sua singradura. Depois a Crítica morre outra vez, os Leito-
res morrem outra vez, e sobre esse rastro de ossos a Obra
segue sua viagem rumo à solidão. Aproximar-se dela, nave-
gar em sua esteira é um sinal inequívoco de morte segura,
mas outra Crítica e outros Leitores dela se aproximam, in-
cansáveis, e o tempo e a velocidade os devoram. Finalmen-
te a Obra viaja irremediavelmente sozinha na Imensidão. E
um dia a Obra morre, como morrem todas as coisas, como
se extinguirá o Sol e a Terra, o Sistema Solar e a galáxia, e
a mais recôndita memória dos homens. Tudo o que começa
como comédia acaba como tragédia.”
11
vam-se agências de informação, e todos sabiam trocar,
pelo menos, algumas palavras no espanhol corrido dos
vários cantos do continente sul-americano. Mesmo as
pessoas mais informadas não saberiam indicar de qual
parte da fronteira das ruas os números deixavam de
ser ímpares para tornarem-se pares. Com números os
escritores pouco estão habituados. Talvez por isso, se
fosse para se perder, Balneário seria um lugar adequa-
do. Refletiu Leonel sentado no meio-fio da calçada,
olhando para a placa da avenida com o nome do po-
eta mineiro escrito de forma errada. Após um tempo,
retornou a sua casa para se certificar de que mesmo a
falta de uma letra não impediria que algumas coisas
pudessem ter acontecido.
***
Havia desistido de ler Bolaño, quando comecei a ler
O romance luminoso. Não tardei para também desistir.
Guardava isso como um segredo. Achei ser um cami-
nho natural – Chile/Uruguai – e tentei manter o inte-
resse pela obra. Para quem me pergunta eu digo que
li e em seguida costuro uma história que parece ser
muito mais interessante do que a do próprio livro: a
de que Mario Levrero passou por Balnéario Camboriú.
Como um narrador demiurgo, o pescador explica que
havia conversado com um escritor uruguaio nos idos
dos anos 1990. As características fisionômicas e o jeito
peculiar do autor pareciam servir de prova incontes-
12
tável para a veracidade da história. Eu passo a seguir
essas pistas com intuito de emoldurar um cenário que
seja capaz de proporcionar o novelo da história que
pretendo escrever. Há uma história ali, mesmo que la-
tente, só preciso acessá-la.
***
Desde os tempos em que passava um córrego lama-
cento, sua família permanece fincada na rua Jamaica.
E, se não fosse contramão, seu pai poderia descer a rua
em direção à praia para pescar sem precisar contornar
a quadra. Foi seu pai que contou sobre um escritor es-
tranho, cheio de manias, que não parecia estar muito
confortável na cidade do verão. Indicação de uma ami-
ga argentina, disse, que resolveu vir a Balneário com
intuito de mudar os ares, para, talvez assim, conseguir
colocar em ritmo um projeto engavetado há um tempo.
Falaram pouco, mas aquele homem tinha pretensões e
demonstrava estar muito inclinado a escrever um ro-
mance que transporia os círculos habituais e circulasse
livremente na vida de muitas pessoas. Ou algo do tipo
– disse o pai –, meu castelhano pouco mudou desde a
época, talvez ele quisesse dizer outra coisa. Leonel não
pretendia se tornar um investigador, mas naquele mo-
mento ficou claro que para escrever precisaria acom-
panhar os vestígios das histórias que se constroem nas
incertezas.
***
13
Como uma lua crescente a orla da praia parecia
que a qualquer momento encerraria o círculo e assu-
miria para si o Atlântico, incorporando ao continen-
te o apêndice arborizado que serve de referência aos
transeuntes. Foco no movimento do mar e no barulho
das espumas se contorcendo na costa. Será que ou-
tros escritores admiraram esse mar da mesma forma
como faço agora? Mario Levrero não se acostumaria
com esse sentimento de festa constante. Cada esquina
transformada ano após ano. Uma práxis da cidade ape-
gada na repetição de algo novo.
Mario caminharia pela Avenida Atlântica em dire-
ção ao coliseu da construção civil na Barra Norte da
cidade. Receberia com bons olhos o gigante de aço
contorcido apontando para o horizonte. Pensar como
pensaria Mario ao se deparar com o mar. É nesse mapa
invisível que concentro minha atenção. Não seria ne-
cessário exumar uma boate na Barra Sul para encon-
trar possíveis ossadas dos percursos que ele provavel-
mente fez. Estaria ele no outro canto. Com o cigarro
aceso, o filete de fumaça incorporado à atmosfera da
cidade. Faço o mesmo como um ritual. Consigo vi-
sualizá-lo, ora cabisbaixo, ora com atenção aos mui-
tos acontecimentos que ocorrem simultaneamente. A
grande armação preta de seus óculos e a camisa acin-
zentada abotoada até o antepenúltimo botão. O mosai-
co alvinegro da calçada beira-mar, que emula outras
14
calçadas litorâneas do país, serviria de percurso para
seu trajeto. Ele se sentaria próximo ao Marambaia e
fitaria as ondas espumantes do mar que levam consigo
os pequenos siris que não se infiltraram na areia. Um
espécime resistiria e retornaria no compasso desenfre-
ado, como uma respiração constante, das ondas que,
em bumerangue, apagam as pegadas e os pequenos
castelos de areia construídos para serem destruídos. O
diminuto animal resistiria, mesmo sem poder algum,
às investidas pulmonares do vaivém do Atlântico, na-
dando em oposição à maré, chegando definitivamen-
te à borda somente após alguns minutos. Ele cavaria
um pequeno orifício e se plantaria na praia. Os olhos
como antenas colocadas para fora não esboçariam uma
expressão válida. Presenciar esse teatro natural pode-
ria tê-lo proporcionado alguma inspiração. Chegaria
ao hotel com uma ideia singular para um conto ou até
mesmo para o sonhado Luminoso, mas o caminhar de
retorno e as paisagens que se repetem numa sequên-
cia, muito semelhantes às pedras brancas em contraste
com as negras da grande avenida principal, o fariam
refletir com menos entusiasmo sobre o evento recém
ocorrido. Chegaria ao hotel e pediria uma ligação in-
ternacional: Sabe, Chl, não acho que as pessoas vão
compreender uma metáfora com siris. Preciso encon-
trar outro animal.
***
15
Esmerando-se no perfilar das notas destoantes que
se tornara o quebra-cabeça daquela história mal conta-
da, Leonel, encostado em um quiosque, presta atenção
no movimento do mar. O cigarro quase no fim seria a
ampulheta daquele momento. Com o amargor da dú-
vida enrolada na garganta tentaria refazer os passos de
Mario em Balneário. As errâncias de Leonel demons-
travam que a cada quadra atravessada, com dois ou
três restaurantes marcando a passagem com suas pla-
cas promocionais, seria necessária para tentar recons-
truir uma possibilidade, uma representação visual de
uma cidade que não existe mais. Fiar-se numa hipótese
é construir uma cartografia do invisível, uma expres-
são baseada na incerteza. Registrar cada ponto não o
ajudaria a estabelecer uma planificação do evento, mas
inúmeras possibilidades. Mario poderia ou não ter re-
alizado aquele trajeto e isso não importava mais. Le-
onel em seu retorno à casa, com o vento encanado no
corredor de edifícios, chegava a essa conclusão. Não se
tratava de um mapa fidedigno, mas de um agrupamen-
to de representações possíveis.
***
Nas minhas caminhadas eu não encontrei certezas.
É como procurar conchas na praia e achar moedas. In-
vestigar uma pessoa é sair com apenas sua condição
de fantasma. Uma biografia não funcionaria mais. Eu
teria que agrupar a condição geológica deixada pelo
16
seu caminhar. A hidrografia de seus banhos de mar. As
mudanças geográficas de uma cidade em um cacoete
eterno de transformação. Algo que apenas um mapa
não conseguiria comportar. Agora, só me resta colher
os fragmentos flutuantes ao meu redor e colocá-los no
papel. Está aí meu romance. Agora visualizo com mais
matizes esse Atlas luminoso.
17
Uma editora
“Eu me incomodo que um editor me roube, e
os editores com frequência me roubam,
e roubam todos os escritores, de
uma maneira ou de outra."
18
algum valor intelectual à sua história. Diz que um dia,
em vez de destino de políticos e jogadores de futebol,
BC foi palco do ócio criativo de Mario Levrero, um
dos principais escritores latino-americanos. Ficção ou
não, uma história em que decidi acreditar. Que honra
pertencer a um lugar que pôde iluminar mentes bri-
lhantes, em vez de prédios vazios que disputam espaço
da Avenida Atlântica à Avenida do Estado. E então as
ruas da Praia dos Amores que levam nomes de escri-
tores começam a fazer muito mais sentido. Meu sonho
sempre foi morar na Clarice Lispector, mas já ficaria
feliz com a Cecília Meirelles ou a Raquel de Queiroz.
Quem diria que em um desses trabalhos que o Ro-
mero me arranja sob o pretexto de estarmos “fomen-
tando a produção literária local” – e não a conta ban-
cária dele ou seus inúmeros acordos políticos – eu
iria acabar descobrindo uma verdadeira obra de arte.
Quanto será que o Romero está faturando com esse
livro?
Foda é que esse nem é o meu trabalho principal, e
que eu não chego nem perto de ser reconhecida por
ele. O Romero, CEO e Diretor Criativo da agência em
que eu trabalho, é quem fica com o mérito. E com a
grana. Sou eu que edito, mas ele que sai como editor.
Ele rouba até meu nome.
Todo mundo pergunta como ele consegue dar conta
de tanta coisa sendo o cara por trás das maiores cam-
19
panhas do mercado imobiliário da região, e ele sempre
se gaba com um sorrisinho superior e em tom de piada
dizendo que é por causa da “Ritalina”.
(Rita)lina. Me enjoa como ele joga com as palavras.
Sempre que ouço essa resposta, tomo como um reco-
nhecimento velado de todo o meu trabalho e dedica-
ção. A Rita sou eu! Sei que pro mundo é mais fácil
parabenizar um homem. Se fosse eu nos holofotes, não
veriam mérito algum, mas, sim, o normal de uma mu-
lher: fazer o mínimo dando mais que o máximo para
um mundo capitalista regido pelo patriarcado. Cansa-
da. Só sei que não aguento mais me desdobrar em três
para dar conta de um trabalho que mal paga o alu-
guel, mais as demandas do Romero que, enquanto eu
acumulo funções, fica zanzando com seus conversíveis
pela Dubai brasileira. Sem contar os frilas e projetos
que eu tenho que pegar por fora pra conseguir comer
sushi uma vez por mês e dar uns rolês baratos pelo
único bar de esquerda da cidade. Ah, e pagar minha
terapia e comprar petiscos pro Nino, é claro.
Nino, o único macho com quem consigo conviver
por longos períodos de tempo. Um gato magricela que
adotei por insistência da zeladora que me jurou que
era fêmea, mas que diante do veterinário revelou-se
macho. “Descobri que adotei um macho.” Falei isso na
análise e em seguida a Rosana proferiu o fatídico: “Nos
vemos na próxima sessão.” Não entendi. Geralmente
20
consigo pensar rapidamente sobre a matéria contida
nos cortes que a Rosana me dá. Adotar um macho em
pleno século XXI é demais para mim, justo euzinha
que nem quero ser mãe, muito menos de homem al-
gum. Já me basta o Romero. Putaqueopariu será que o
corte foi sobre isso?
Confesso ter um problema com homens, um ódio, uma
raiva, pura questão familiar de uma criança que cresceu
sem conhecer o pai. Minha mãe me teve aos 16 anos. Fru-
to de um romance de verão com um argentino, sei por-
que minha avó me contou. Na época, meus avós tinham
um restaurante de comida caseira a quilo, em que minha
mãe trabalhou desde pequena, principalmente na tem-
porada, que lotava de excursões argentinas. A família
do meu pai vinha religiosamente veranear aqui todos
os anos e ficava hospedada na casa da Dona Dulce, em
frente ao restaurante. É claro que eles almoçavam ali
praticamente todos os dias. Minha mãe e meu pai se
conheceram com 10 anos, eram amigos de temporada.
Já adolescentes, acabaram indo além do que era pra ser
só uns beijos e umas caipirinhas no calçadão. Depois
disso, a família do meu pai nunca mais voltou a Balne-
ário Camboriú.
Hoje está sendo um dia daqueles: trabalhar de res-
saca nunca é fácil, mas depois da chegada desse livro,
tenho trocado os dias pelas noites. Meu trabalho na
agência, que já não tinha graça nenhuma, agora se re-
21
sume a encarar uma tela em branco por horas enquan-
to pisco de sono até me assustar com o solavanco in-
voluntário do peso das minhas ideias. Só quero voltar
pra casa para reler o romance de Leonel e viver aquela
Balneário Camboriú inspiradora e aterradora. Mas o
livro está me dando dor de cabeça também: a revisora
não responde minhas mensagens e já estourou o pra-
zo; e o Romero invocou com o capista e quer que eu
“descontrate” ele, sem motivo algum. Preconceituoso!
O Romero é um escroto mesmo.
Enquanto isso, na agência os prazos voam, os jobs
já chegam com uma urgência tardia, querem pra ante-
ontem posts, stories, anúncios e e-mails perfeitos que
chegam em um briefing capenga com erros de portu-
guês, informações pela metade, nenhuma imagem, da-
dos insuficientes e muita, muita má vontade. Pior que
toda vez que leio não consigo culpar o pessoal do aten-
dimento, que flutua entre a base e o topo da pirâmide.
Quem gostaria de lidar com essas construtoras daqui?
Só quem realmente está fazendo um bom dinheiro.
Levanto pra pegar um café e me sirvo de um líquido
preto e denso. No primeiro gole aquilo me entra mor-
no e com sabor de que foi feito faz uns dias. Olho ao
redor e, ao que parece, todos têm um copo Stanley e
devem pegar café da maquininha. Onde eu estava que
nem percebi que ninguém aqui mais passa um café?
Ouço a voz do Romero me chamando e já sinto um
22
embrulho no estômago. “Rita, vem cá, vamos nos atu-
alizar dos projetos! Não vou tomar muito teu tempo,
sei que a tua pauta está cheia, graças a Deus que temos
muito trabalho por aqui, na verdade graças a mim.”
E sorri confiante com seus olhos claros esbugalhados
esperando a minha aprovação do que eu não entendi
se era ou não pra ser uma piada, enquanto eu me con-
torço por dentro pra não fazer careta. E me passa mais
e mais trabalho.
Agora, além de editar o texto do Leonel e cuidar do
capista, da revisora e da gráfica, fiquei responsável por
organizar o lançamento do livro também. Olha, vou te
falar, ser uma adulta funcional exige responsabilida-
des. E responsabilidade é palavra feminina.
23
Uma revisora
“Escrevo, pois, como escrevi uma época, ou
seja, sem pensar que pudesse haver leitores,
menos ainda um crítico para julgar os
resultados de meus jogos, e acima de tudo
sem o peso determinante de uma trajetória
prévia, esse ‘estilo’ que os demais querem
enxergar, que talvez exista — mas que
prefiro ignorar, para me lançar de
novo na aventura do desconhecido.”
24
Vou sugerir para a editora fazer alterações no for-
mato, pensei pela primeira vez. A investigação sobre
os textos de escritores famosos que por aqui passaram
permite reescrever o nosso passado, dar ritmo e vitali-
dade ao aqui e agora, eleger o ponto futuro.
Eu sei, leio o texto curiosa e com entusiasmo. Ao
lado de minha casa, no Bairro Pioneiros, também má-
quinas, operários e seus donos levantam um e mais ou-
tro prédio com vigor, barulho e agitação, às vezes de
forma bruta.
Tanta dificuldade em fazer o mesmo na literatura.
Mas… esses rastros de “iluminação profana” que re-
metem a Mario Levrero como que energizam os ca-
racteres: o livro estende uma nova camada na realida-
de, e eu, como revisora, pela primeira vez me sinto na
condição de propor algo mais aos detalhes da escrita
no texto. Vou propor um inventário com arquiteturas
possíveis que façam jus aos gatilhos que o livro me
trouxe. Pela primeira vez serei pretensiosa ao sugerir
delineamentos na relação entre as peças, na potência
da mensagem, nas possibilidades do seu uso, mesmo
que de partida não saiba exatamente aonde isso possa
levar.
É provável que a editora me tome por louca ou ex-
cêntrica. Mas algum entusiasmo este trabalho poderia
me dar. Eu encontrei a oportunidade e não vou deixar
de fazer a minha viagem.
25
Começo, então, a redigir o e-mail. Paralelamente,
reúno notas e memórias da repercussão dos escritos
em mim mesma. Deixo-me levar em compasso de ar-
rebatamento:
Prezada editora,
Ao ler e reler as linhas do Atlas luminoso fui levada
a um estado diferente de percepção sobre o arranjo das
palavras e sua manifestação no texto.
Ele abriu muitas possibilidades e me fez chegar à
proposição de formatos distintos que pudessem levar ao
transbordamento da comunicação, necessária, penso eu,
para o encontro com o outro, com o leitor que habita os
espaços cotidianos.
Sei que as proposições excedem em muito aquilo que
se espera de uma revisora. Mas a questão aqui é de como
se ajustar a forma ao conteúdo, de libertar o autor, as
palavras e todos aqueles que se acercam, embarcando-os
no veículo mais e mais apropriado.
Cada formato, e outros que se possam sugerir, não
emerge de uma ordem necessária, mas ajuda a compor o
universo paralelo que a leitura traz.
Tive a sensação, à medida que ia descrevendo, de es-
tar próxima do abismo, da dissolução de meu próprio
papel e o da editoração como eu sempre a conheci. Sei
também que, ao agir com liberdade, ultrapassei o limite
da compreensão. Neste caso, por favor, receba alguma
26
aplicação como experimental ou generativa.
Espero que goste, mesmo diante de toda e qualquer
impossibilidade.
Atenciosamente,
Carol
Primeiro formato
Transpassar o livro
Um buraco virtual entre a capa e a contracapa,
para dar materialidade ao livro sem início
e sem fim, ampliar e contradizer a percepção
irônica de Mario Levrero de que um romance
hoje em dia é qualquer coisa que se possa
colocar entre uma capa e sua contracapa.
Segundo formato
O livro será apenas o epicentro
Uma versão digital para ser mantida,
revisada e reeditada pela comunidade de
autores/editores/leitores, para que o livro
além de se estender para antes do começo
e para depois do fim, também siga quebrando os seus
limites, levando junto os primeiros
autores e outros tantos que se vão agregando
versões através do compartilhamento
colaborativo do arquivo, seja para
enriquecê-lo, destruí-lo ou reinventá-lo.
27
Terceiro formato
Refluxo de Babel
Lançamento com tradução simultânea e
incessante no máximo de idiomas possível
que permitam as máquinas de conversão,
com representação em todos os
continentes. Rompe-se, com a sofisticação
dos recursos de inteligência artificial, a maldição
da separação das línguas que demarcou séculos
de trabalho com a palavra.
Quarto formato
Customização total
Escolha o formato que te ilumine.
Nós abriremos o portal do Atlas luminoso
para compor este Universo. Cada design
será uma estação espacial.
Quinto formato
Acesso pleno
Disponível como livro impresso
convencional, reunindo o maior número de lugares
que sobrevivem da sua venda, como para traçar a
nossa versão descontínua da Avenida
Corrientes, este lugar icônico dos livros em nosso
continente,ligando aqui, entre outros, a Livraria
Catarinense, a Banca da Dany, a Cápsula Livraria, o
28
sebo na feirinha, a Top Livros no camelódromo,
a livraria self-service no shopping, a bolsa
de um tal colombiano que vende livros usados
pelas ruas de BC, e a livraria-sebo do seu Mário.
Também na Biblioteca Pública e nas
bibliotecas de todas as escolas, nas esquecidas caixas
de doação de livros à beira-mar. Como livro digital
nas plataformas digitais, com pretensão de
ubiquidade, instantaneidade, portabilidade,
em toda e qualquer modalidade de acesso,
seja pago ou gratuito.
29
forme a escala da vítima, ou seja,
animais maiores recebem maior
atenção e sensibilidade de nos-
sa parte (também os animais de
forma geral levam vantagem em
relação aos vegetais, porque estes
reagem pouco e não se movem).
Daí sou remetida à imagem de
um recente episódio no qual
matei um cupim com carapaça
negra. Ocorre que o dito cupim
estava próximo à borda de uma
de suas casas quando eu intro-
duzia a agulha do aplicador de
inseticida no local, fazendo com
que eu o atravessasse sem antes
saber, num desses momentos de
repentino acaso, em que ambos
não estávamos preparados para
o acontecimento. O episódio me
marcou como tragédia. Assim,
os eventos alçam distinta pro-
porção à medida em que investi-
go configurações possíveis para
o Atlas luminoso. Dias depois,
esse fenômeno repercute como
uma nuvem de pensamento no
30
qual eu acessava a desgraça e
tristeza nas vias da cidade. Não
era época de temporada em Bal-
neário Camboriú. As ruas, nessa
camada de percepção, eram tris-
tes e desoladas, canais quase se-
cos de despejo a céu aberto, nin-
guém queria passar por ali no
lugar das expectativas frustradas
e sofrimento. Finalmente, veio a
conexão com a Montevidéu de
Mario Levrero. Sou transpor-
tada para as proximidades de
onde residira e concebera seu
Romance luminoso. Especulo so-
bre a companhia do autor nesta
real melancolia ao deparar com
o vazio e a decadência no entor-
no do Palácio Salvo. Esses episó-
dios me aproximam das camadas
para onde o livro também have-
ria de fluir e ali ganhar a rou-
pagem dos submundos. Com o
estremecimento que este ensaio
de exegese me conduz, sigo na
redação do e-mail e no encontro
com os formatos.
31
Sexto formato
Edições múltiplas, versões de estilo e supratemporais
Publicação simultânea em editoras
locais e no portfólio de todas aquelas
que possam chegar ao teu e ao meu mundo (no meu
caso a Ubu, a N-1, a Caja Negra, a Cactus) com
diferentes versões para épocas e
movimentos literários (não dispensada
a versão surrealista, oulipiana e
o cut-up de W. Burroughs),
sendo devidamente editadas para
lançamento também no século
passado e para o século XXII.
Sétimo formato
Obra de arte
Configurado e aberto para uso em
intervenção, ocupação, instalação,
performance ou outra modalidade
de manifestação que liberte
o livro para a arte.
Oitavo formato
Textos de apropriação
Publicação conjunta, com impulsionamento
midiático, de resenhas, críticas
literárias, resumos, mapas mentais,
32
verbetes em dicionários e enciclopédias,
postagens, comentários, artigos,
TCC’s, dissertações, teses,
ensaios, adaptações, plágios,
fake news, metadados, hashtags,
algoritmos, livros sobre o Atlas luminoso
que, de tão interessantes, possam gerar
uma não-ficção delirante, como a de
Benedito Nunes sobre a obra
de Clarice Lispector, a de Lapoujade
e do Carrére sobre Philip K. Dick.
Nono formato
Composição transmídia
Que possa ser cantado, declamado,
ouvido e assistido, inclusive
em todas as telas, com todas
essas infinitas transposições
hoje possíveis de texto para
vídeo, de vídeo para texto,
de texto para imagem, de
imagem para texto, e para música…
e para poesia. Para ser honesta
comigo mesma, também produzidos
os capítulos em formatos de
cânticos, ladainhas, versos
ou outra forma de musicalidade
33
da palavra que possa ser
oralizada em templos de diferentes
crenças, inclusive como hinário do
Santo Daime, canto gregoriano,
mantra indiano ou tibetano.
34
Olá, Carol,
Muito obrigada por todas as sugestões e ideias acerca
do fazer literário e da produção editorial. É realmente
um universo a ser explorado.
Eu gostaria de ouvir isso tudo pessoalmente. Porém,
somente após você me entregar algum trecho revisa-
do do livro. Você não responde minhas mensagens de
Whatsapp e a entrega da revisão FINAL está atrasada
em dois meses.
Você lembra que temos um contrato?
Com carinho,
Rita.
35
Um capista
“No mesmo instante me dei conta de que
será igual a um romance, queira eu ou não,
porque um romance, atualmente, é quase
qualquer coisa que se ponha entre
uma capa e uma contracapa”.
Hoje
36
gosta de mim (já que nem me deu a mão e forçou to-
dos os sorrisos), mas pelo menos aprovou o trabalho.
“Você chegou lá”, complementou a Rita, a editora do
livro. Agora estou capista, mas na verdade me consi-
dero um artista. Pinto, desenho e esculpo em madeira.
Aqueles anos de faculdade de design gráfico até então
de nada têm me servido além de pagar contas. Seriam
anos perdidos se o acaso não tivesse compactuado com
o destino de ter encontrado alguém para compartilhar
meus sonhos por um tempo: Melissa.
Morei durante dez anos na praia do Estaleiro com Me-
lissa e vivemos estes anos como propaganda de margari-
na. Chegamos até a adotar um cão São Bernardo. Para no-
meá-lo, queríamos um nome composto, pois achávamos
que duas sílabas seriam muito pouco para um cachorro
daquele tamanho. Decidimos fazer tentativas com nomes
compostos de artistas famosos, e que ele escolheria o seu
nome quando demonstrasse atenção. Alternamos entre
Fábio Júnior, Roberto Carlos, Lima Duarte, Tony Ramos,
e o cachorro nem aí. Até que Melissa largou um “Carlos
Henrique”. Olhei desconfiado, pois ela foi noiva de um
recepcionista de hotel com este nome. Terminou com ele
por ciúmes de uma amiga travesti. Mesmo assim pergun-
tei quem é Carlos Henrique? Sem resposta, ela me cha-
mou a atenção, pois o cão havia se levantado e finalmente
escolhido seu nome. Por economia, vou me referir a ele
37
como CH, pois já bastam as despesas que ele me causa.
Tudo ia às maravilhas quando certo dia acordamos
com o barulho de máquinas. Ainda sonolento, abro
a cortina, vejo que o asfalto havia chegado ao nosso
portão. Aquilo tinha cheiro de um falso progresso.
Ia contra tudo que sonhamos e desejamos para nossa
nova família. A assombração havia chegado aos pou-
cos. Nossa praia vizinha, Pinho, onde sempre fazíamos
nossa caminhada matinal como viemos ao mundo,
também havia mudado. As pedras daquela praia, sím-
bolo do naturismo nacional, haviam se transformado
em um altar a Baco e assim davam espaço aos falsos
puritanos para querer transformá-la em mais um local
de empreendimentos do concreto. Odeio o concreto.
Dentro de minha arte renunciei ao grafite por abomi-
nar essa tentativa do bicho homem de criar pedras,
como se elas já não existissem aos montes.
Resolvemos vender tudo o que construímos, aban-
donando a praia do Estaleiro e também Balneário
Camboriú para começar uma vida realmente em meio
à natureza. Compramos uma área verde na região de
Macacos, uma área preservada na vizinha Camboriú,
construímos uma casa redonda de hiperadobe e inicia-
mos uma rotina minimalista.
Começamos a plantar boa parte de nossa comida, e
eu a produzir minha arte em um ritmo invejável. Até
38
que os problemas começaram a aparecer. A energia
elétrica era instável, os mosquitos eram muitos, co-
bras e aranhas começaram a dividir a casa conosco,
e Melissa decidiu ir embora. Ela havia recebido uma
proposta irrecusável de uma grande construtora para
vender apartamentos (trabalho de corretagem que
exercia quando me conheceu). Disse que iria para um
apartamento mais próximo do trabalho, onde poderia
ao menos chegar sem parecer que havia saído de um
rally. E se foi. Eu fiquei sem chão, o que restou dela no
sítio foi apenas um nu esculpido em jacarandá e um
cachorro de 75kg que come a metade do que ganho
com minhas obras de arte. Foi então que minha amiza-
de e admiração por CH, o São Bernardo, aumentaram.
Nesses tempos difíceis, ele se tornou um confidente,
um terapeuta e orientador de meus dilemas. Converso
por horas com CH e tenho certeza de que ele comigo
também. Através de seus olhos, encontro respostas e
acalanto para minhas dificuldades. E acredito que ou-
tras pessoas também. Quando vou passear pela orla
com ele, várias pessoas param para conversar. Não se-
riam tantas se ele não tivesse algo a dizer. Aliás, essa
semana ele comentou comigo que sente saudades do
tempo que corríamos na areia da praia, hoje proibido.
Concordo com ele. Quem foi que disse que a praia
é do bicho homem? Os cachorros sempre estão certos!
39
Onze anos atrás
Um dia atrás
42
mente divino. Seu bico tinha várias cores. Azul, verde,
amarelo, laranja, parecia uma paleta. Seria um sinal?
Ele me olhava fixamente e alternava com uma dança
pra lá e pra cá em cima do tronco. Esses pássaros vi-
vem em bando e são temidos por se alimentarem de
frutos, ovos e filhotes de outros pássaros. Sua bele-
za hipnotizava e comecei a entrar em uma espécie de
transe. Meu corpo saía da rede e levantava voo. Com
os olhos do tucano eu via aquela mata de cima. Os ven-
tos me levavam para BC e comecei a ver a cidade de
lá do alto, bem alto. Cada personagem daquele livro
que eu nem lera era um ponto de luz. E até os futuros
leitores brilhavam. Eram muitas luzes, algumas mais
fracas e outras mais fortes, mas eram muitas. A capa
estava ali na minha frente brilhando, chegava a hora de
voltar, sentar-me à frente do computador e terminar o
trabalho.
Quando estava voltando do transe, de repente, CH
aparece e abocanha o tucano. O coitadinho só deu um
grito!!! CH o sacudiu de um lado para o outro e rosnou
furioso. Penas voaram para todos os lados. O cachor-
ro, com sangue nos olhos, olhava para mim como se
quisesse dizer algo. Eu não acreditava no que estava
vendo. Levantei-me da rede, dei um grito e CH saiu
correndo pelo mato com o pássaro na boca como se
tivesse cumprido seu dever. Como meu grande amigo
poderia fazer isso comigo? Aquele tucano havia entre-
43
gado tudo o que eu precisava. Esse trabalho salvaria as
contas de pelo menos três meses, no mínimo. Parecia
uma crise de ciúmes daquelas que Melissa costumava
ter. Mas CH nunca tinha demonstrado essa fraqueza
tipicamente humana. Sempre tivemos uma relação de
parceria. Muitas vezes até achei que minha presença
constante sufocava sua liberdade. Eu não entendi sua
atitude, mas também não podia fazer mais nada. Nem
ao menos oferecer um pedaço de mamão para agrade-
cer ao tucano. Ele estava morto. Na verdade, eu tinha
que terminar aquela capa. Corri para o computador e
fiz o que deveria fazer. Adorei o resultado. Em breve o
dinheiro na conta e a vida segue. Exceto para o tucano.
44
Cada vez que choramos, logo renascemos, desde o par-
to. A vida sempre foi uma trilha sonora. Não conheço
alguém que não goste de pelo menos alguma música. E
quem arriscaria julgar a arte? Somente aqueles que jul-
gam a tudo e a todos. Por fim, o aguardado alarme de
mensagem (que adicionei ao número da editora) toca
como uma música diante da ansiedade. Corro dançan-
do até o celular e vejo a mensagem:
45
Another random document with
no related content on Scribd:
quick! Take a look and see if ye can sight a sail. [Kanaka shins quickly up
the bole of the coco palm to the top and looks out on all sides of him. The
others rise painfully to their feet and gaze up at him with awakened hope.]
Jimmy—[Suddenly, in a glad voice.] I see um—see sail, Captain.
Cates—[Waving his arms frenziedly.] Sail—ho!
Jimmy—Look plenty like trade schooner, Captain. She no change course
she fetch plenty close by here. She make full sail, she got plenty fella wind
out there, she come quick.
Horne—[Clapping Cates on the back.] Headin’ straight for us, Cates,
d’you hear?
Bartlett—How far d’ye reckon she be?
Jimmy—She’s five, six fella mile, Captain.
Bartlett—Come down. [The Islander slides down. Bartlett exclaims
exultantly.] Didn’t I tell ye? In the nick o’ time. When she makes in close
we’ll go down to the reef and yell and wave at her. They’ll see! The luck’s
with us today! [His eyes fall on the treasure and he starts.] But now—
what’s to do with this chest—the gold?
Horne—[Quickly.] You ain’t going to tell them on the schooner about
it?
Cates—They’d claim to share with us.
Horne—More like they’d steal it and knife us in the bargain. I know the
kind on them schooners.
Bartlett—[Scornfully.] D’ye think I’m cracked? No, we’ll bury it here.
Cates—[Regretfully.] Leave it behind for anyone to find?
Bartlett—We’ll bury it deep, where hell itself won’t find it—and we’ll
make a map o’ this island. [He takes a sheet of paper and a stub of pencil
from his pocket—pointing to the foot of the tree.] Dig a hole here—you,
Horne and Jimmy—and dig it deep. [The two head down and commence to
hollow out the sand with their hands. Bartlett draws on the paper.]
There’s the lagoon—and the reef—and here’s this tree—the only one on the
island—’twould be hard to miss. [To Cates, who is peering over his
shoulder.] And here where the tree is, d’ye see, Cates, I’ll make a cross
where the gold is hid.
Horne—[Over his shoulder, without ceasing his work.] How d’ye know
the lay o’ this island—to find it again?
Bartlett—By the last reckonin’ o’ the Triton’s. It’s writ on a page I
tore from the log-book. And from there we headed due north in the boat,
unless the compass lied—four days—a hundred and fifty miles, I reckon.
[Exultantly.] Oh, all hell’d not stop me from findin’ this place again when I
know the gold’s here. Let us once get home and I’ll fit out a small schooner
the four of us can sail, and we’ll come back here to dig it up. It won’t be
long, I swear to ye!
Horne—[Straightening up.] This deep enough, sir?
Bartlett—It looks to be.
Jimmy—[Who has straightened up and is looking off left—suddenly
points excitedly.] He look, Captain! Cook fella, he look here! Boy he look,
too! They look plenty too much, Captain! [All four stand staring off at
Butler and the boy, whose presence on the island they have forgotten in
their mad excitement.]
Cates—[In stupid dismay.] They’ll know where it’s hid, sir!
Horne—They’ll tell ’em on the schooner!
Cates—[Wildly.] We’ve got to do for ’em, Captain! Gimme your knife,
Jimmy—your knife—— [He stumbles toward the Islander, who pushes him
aside brusquely, looking questioningly toward the Captain.]
Bartlett—[Who has been standing motionless, as if stunned by this
forgotten complication—slowly.] There they be watchin’ us, the sneakin’
dogs! Sit down, an’ they won’t see. [They all squat in the sand.] I was
forgettin’ they was here. [Striking his knee with clenched fist.] We’ve got to
do somethin’ damn quick! That schooner’ll be up soon where they kin sight
her—and they’ll wave and yell then—and she’ll see ’em!
Horne—And good-bye to the gold for us!
Jimmy—[Eagerly.] You say fella word, Captain, me kill um quick. They
no make plenty cry for schooner! They keep damn still plenty too much!
Bartlett—[Looking at the Islander with mad cunning but replying only
to Horne.] Aye, it’s good-bye to the gold, Horne. That scum of a cook—
he’s made a mock o’ us—sayin’ it wasn’t gold when he knew it was—he’ll
tell ’em—he’ll get joy o’ tellin’ ’em!
Horne—And that scrub of a boy—he’s no better. He’ll be in with him
neck and crop.
Cates—[Hoarsely.] Knife ’em—and be done with it—I say!
Bartlett—Or, if they don’t tell the schooner’s skipper it’ll only be
because they’re plannin’ to come back themselves—before we kin—and
dig it up. That cook—there’s somethin’ queer in his mind—somethin’ he
was hidin’—pretendin’ not to believe. What d’ye think, Horne?
Horne—I think—time’s gettin’ short—and talkin’ won’t do no good.
[Insinuatingly.] They’d do for us soon enough if they was able.
Bartlett—Aye, murder was plain in his eyes when he looked at me.
Horne—[Lowering his voice to a whisper.] Tell Jimmy—Captain
Bartlett—is what I say!
Bartlett—It’s agin the law, Silas Horne!
Horne—The law don’t reach to this island.
Bartlett—[Monotonously.] It’s against the law a captain’s sworn to
keep wherever he sails. They ain’t refused duty—nor mutinied.
Horne—Who’ll know they ain’t? They’re trying to steal what’s yours—
that’s worse’n mutiny. [As a final persuasion.] And Jimmy’s a nigger—and
under no laws. And he’s stronger’n you are. You couldn’t stop ’im.
Bartlett—Aye—I couldn’t prevent——
Jimmy—[Eagerly.] I fix um, Captain, they no tell! [Bartlett doesn’t
answer, but stares at the treasure. Horne makes violent motions to Jimmy to
go. The Islander stares at his master’s face. Then, seeming to read the direct
command there, he grunts with satisfaction, and pulling his knife from it’s
sheath, he goes stealthily off left. Cates raises himself on his haunches to
watch the Islander’s movements. Horne and Bartlett sit still in a strained
immobility, their eyes on the chest.]
Cates—[In an excited whisper.] I see ’em! They’re sittin’ with their
backs this way! [A slight pause.] There’s Jimmy. He’s crawlin’ on his hands
behind ’em. They don’t notice—he’s right behind—almost atop o’ them. [A
pause. Cates gives a fiendish grunt.] Ugh! [Butler’s muffled cry comes
from the left.] Right in the middle of the back! The cook’s done! The boy’s
runnin’! [There is a succession of quick screams from the boy, the padding
of feet running toward them, the fall of a body, and the boy’s dying groan.]
Horne—[With satisfaction.] It’s done, sir!
Bartlett—[Slowly.] I spoke no word, remember that, Silas Horne!
Horne—[Cunningly.] Nor me neither, sir. Jimmy took it on himself. If
blame there is—and who’d blame him for it?—it’s on him.
Bartlett—[Gloomily.] I spoke no word! [Jimmy returns noiselessly
from the left.]
Jimmy—[Grinning with savage pride.] I fix um fella plenty, Captain.
They no tell. They no open mouth plenty too much!
Cates—[Maudlinly.] You’re a man, Jimmy—a man with guts to him—
even if you’re a—— [He babbles incoherently.]
Jimmy—[As the Captain does not look at him.] I go climb fella tree,
Captain? I make look for schooner?
Bartlett—[Rousing himself with an effort.] Yes—go up. [The Islander
climbs the tree.]
Horne—[Getting to his feet—eagerly.] Where away, Jimmy?
Jimmy—She come, Captain, she come plenty quick.
Horne—[Looking in the direction Jimmy indicates.] I kin see her tops’ls
from here, sir. Look!
Bartlett—[Getting to his feet—stares out to sea.] Aye! There she be—
and makin’ towards us fast. [In a flash his sombre preoccupation is gone,
and he is commander once more. He puts the anklet in his hand into his
coat pocket—harshly.] Come down out o’ that? They’s work to do. [Jimmy
clambers down.] Did ye leave—them—lyin’ in plain sight on the open
sand?
Jimmy—Yes. I no touch um, Captain.
Bartlett—Then ye’ll touch ’em now. Go, bury ’em, cover ’em up with
sand. And mind ye make a good job o’ it that none’ll see. Jump now!
Jimmy—[Obediently.] I go, Captain. [He hurries off left.]
Bartlett—Down to the reef with ye, Horne! [Giving the prostrate
Cates a kick.] Up out o’ that, Cates! Go with Horne, and when ye see the
schooner hull up, wave to ’em, and yell like mad, d’ye hear?
Horne—Aye, aye, sir!
Bartlett—I’ll stay here and bury the gold. It’s best to be quick about it!
They may turn a spyglass on us when they raise the island from deck! Off
with ye! [He gives Cates another kick.]
Cates—[Groaning.] I’m sick! [Incoherently.] Can’t—report for duty—
this watch. [With a shout.] Water!
Bartlett—[Contemptuously.] Ye dog! Give him a hand, Horne.
Horne—[Putting a hand under his shoulder.] Up, man! We’re to signal
the schooner. There’ll be water on board o’ her—barrels of it!
Cates—[Aroused, scrambles to his feet, violently shaking off Horne’s
hand.] Water aboard o’ her! [His staring eyes catch the schooner’s sails on
the horizon. He breaks into a staggering run and disappears down toward
the beach, right rear, waving his arms wildly and shouting.] Ahoy! Ahoy!
Water! [Horne walks out quickly after him.] [Left alone, Bartlett, after a
quick glance around, sinks on his knees beside the chest and shoves both
hands into it. From the chest comes a metallic clink as he fingers the pieces
in his hands gloatingly.] Ye’re safe now! There’s none to tell left livin’!
He’s dead—damn him!—that lied about ye. And ye’ll rest safe here till I
come back for ye! [In a dreaming tone, his eyes fixed before him in an
ecstatic vision.] No more whalin’ on the dirty seas! Rest to home! Gold!
I’ve been dreamin’ o’ it all my life! Aye—we’ll rest now, Sarah! Your father
be a rich man, Nat and Sue! [Shaking himself—savagely.] Ye fool! What
drivel be ye talkin’? Loosin’ your senses, be ye? Time ye was picked up!
Lucky! [He shoves down the lid and places the chest in the hole. He pushes
the sand in on top of it, whispering hoarsely.] Lay safe, d’ye hear. For I’ll
be back for ye! Aye—in spite of hell I’ll dig ye up again! [The voices of
Horne and Jimmy can be heard from the distance shouting as