Você está na página 1de 57

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

Santo Inácio de Loyola

 Anotações
 Título
 Pressuposto
 Princípio e Fundamento
 Exame Particular
 Exame Geral - Pensamentos, Palavras, Obras
 Modo de fazer o Exame Geral
 Confissão Geral e Comunhão
 Primeira Semana
 Segunda Semana
 Terceira Semana
 Quarta Semana
 Mistérios da Vida de Cristo
 Regras
 Apêndices
1 - Orações Vocais
2 - Outras Referências

1
ANOTAÇÕES

1 - ANOTAÇÕES PARA FACILITAR A COMPREENSÃO DOS EXERCÍCIOS


ESPIRITUAIS QUE SE SEGUEM, E PARA AJUDAR TANTO QUEM OS DÁ COMO
QUEM OS RECEBE
1ª Anotação. Por esta expressão, Exercícios Espirituais, entende-se qualquer modo de examinar a
consciência, meditar, contemplar, orar vocal ou mentalmente, e outras atividades espirituais, de
que adiante falaremos. Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais,
também se chamam exercícios espirituais os diferentes modos de a pessoa se preparar e dispor
para tirar de si todas as afeições desordenadas, e, tendo-as afastado, procurar e encontrar a vontade
de Deus, na disposição da sua vida para o bem da mesma pessoa.
2 - 2ª Anotação. A pessoa que propõe a outra o assunto e o método para meditar ou contemplar
deve narrar fielmente a história de tal contemplação ou meditação, apresentando apenas os pontos
com um comentário breve ou sumário. Porque aquele que faz a contemplação acha nela mais gosto
e fruto espiritual quando, partindo do fundamento verdadeiro da história, refletindo e raciocinando
por si mesmo, encontra como explicar ou sentir um pouco melhor o assunto, seja por sua própria
reflexão, seja pela graça divina que lhe ilumina o entendimento; mais do que se, quem dá os
exercícios tivesse explicado e desenvolvido com pormenores o sentido da história. Porque não é o
muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente.
3 - 3ª Anotação. Em todos os exercícios espirituais seguintes, usamos dos atos do entendimento,
quando raciocinamos e dos atos da vontade, quando despertamos os afetos. Note-se que, nos atos
da vontade, em que falamos vocal ou mentalmente com Deus Nosso Senhor, ou com os seus
santos, se requer da nossa parte maior respeito do que quando usamos simplesmente o
entendimento refletindo.
4 - 4ª Anotação. Os exercícios seguintes dividem-se em quatro partes, a que correspondem quatro
semanas: a primeira destina-se à consideração e contemplação dos pecados; a segunda, à
contemplação da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo até o dia de Ramos inclusive; a terceira, à
contemplação da sua Paixão; a quarta, à contemplação da sua Ressurreição e Ascensão, com os
três modos de orar.
Não se julgue, porém, que cada semana deva necessariamente compor-se de sete ou oito dias. De
fato acontece que na primeira semana uns são mais lentos que outros em achar aquilo que
procuram, isto é, contrição, dor e lágrimas pelos seus pecados; outros são mais diligentes, ou mais
agitados e provados pelos diversos espíritos, e, por isso, algumas vezes torna-se necessário
abreviar, outras, prolongar esta semana. O mesmo se diga das semanas seguintes, procurando
sempre tirar o fruto conforme a matéria que se propõe. Mas os exercícios acabarão todos mais ou
menos em trinta dias.
5 - 5ª Anotação. Muito aproveita ao exercitante entrar neles com grande ânimo e liberalidade para
com seu Criador e Senhor, oferecendo-lhe todo o seu querer e liberdade, para que sua divina
Majestade se sirva de sua pessoa e de tudo quanto possui, conforme a sua santíssima Vontade.
6 - 6ª Anotação. Quando o que dá os Exercícios percebe que ao exercitante não lhe vêm à alma
algumas noções espirituais quer de consolação, quer de desolação, nem é agitado pelos diversos
espíritos, deve interrogá-lo com cuidado sobre os Exercícios, se os faz nos tempos marcados e
como. Assim também a respeito das adições, se as faz com diligência. Indagará sobre cada um

2
destes pontos em particular. Fala-se de consolação e desolação nos números 316-324; e das
adições nos números 73-90.
7 - 7ª Anotação. Se o que dá os Exercícios nota que o exercitante está desolado e tentado, não se
mostre duro e severo com ele, mas bondoso e suave. Dê-lhe coragem e forças para ir adiante;
descubra-lhe as astúcias do inimigo da natureza humana, e leve-o a preparar-se e a dispor-se para a
consolação que há de vir.
8 - 8ª Anotação. O que dá os Exercícios poderá explicar ao que os recebe as regras da primeira e
segunda semanas acerca do discernimento dos vários espíritos , conforme sentir nele a necessidade
de ser instruído sobre as desolações e astúcias do inimigo, ou sobre as consolações.
9 - 9ª Anotação. É de notar que quando o que faz os Exercícios está na primeira semana, se se trata
de pessoa pouco versada em coisas espirituais, e é tentada grosseira e abertamente, por exemplo,
vendo nos trabalhos, na vergonha, no respeito humano etc., outros tantos obstáculos que a
impedirão de avançar no serviço de Deus Nosso Senhor, aquele que os dá não lhe fale das regras
da segunda semana sobre o discernimento dos espíritos; porque tão úteis lhe serão as da primeira
semana como prejudiciais as da segunda, visto estas tratarem de matéria sutil e elevada demais
para que possa compreendê-la.
10 - 10ª Anotação. Quando quem dá os Exercícios nota que o exercitante é tentado sob a aparência
de bem, é então o momento de lhe explicar as regras da segunda semana. Porque ordinariamente o
inimigo da natureza humana tenta mais sob a aparência de bem quando alguém se exercita na via
iluminativa, que corresponde aos exercícios da segunda semana. Na via purgativa, que
corresponde aos exercícios da primeira semana, não costuma tentar tanto.
11 - 11ª Anotação. É bom para o que faz os exercícios da primeira semana não saber cousa alguma
do que fará na segunda. Mas trabalhe na primeira para alcançar aquilo que pretende, como se nada
de bom esperasse encontrar na segunda.
12 - 12ª Anotação. Quem dá os Exercícios há de advertir muito o exercitante de que deve
empregar uma hora em cada um dos cinco exercícios ou contemplações que faz por dia. E assim,
procure sempre que o espírito fique satisfeito com o pensamento de que esteve uma hora inteira no
exercício, e antes mais do que menos. Porque o inimigo costuma sempre fazer com que se abrevie
o tempo da contemplação, meditação ou oração.
13 - 13ª Anotação. É preciso notar ainda que, se no tempo da consolação é coisa fácil e leve estar
na contemplação uma hora inteira, no tempo da desolação, pelo contrário, é muito difícil completá-
la. Portanto o exercitante, a fim de reagir contra a desolação e vencer as tentações, deve prolongar
sempre um pouco a hora marcada, para que se habitue não só a resistir ao adversário, mas ainda a
derrotá-lo.
14 - 14ª Anotação. Se o que dá os Exercícios vê que o exercitante está consolado e com grande
fervor, previna-o para não fazer promessa nem voto algum inconsiderado e precipitado. E quanto
mais reconhecer nele um temperamento instável tanto mais o deve prevenir e acautelar. Porque,
embora tenhamos direito a animar alguém a entrar na vida religiosa, na qual se fazem os votos de
obediência, pobreza e castidade, e embora uma boa ação feita em virtude de um voto seja mais
meritória do que a que se faz sem voto, contudo deve-se considerar atentamente o caráter e a
capacidade da pessoa, a facilidade ou os inconvenientes que poderá encontrar no cumprimento
daquilo que deseja prometer.
15 - 15ª Anotação. O que dá os Exercícios não deve mover quem os recebe a escolher o estado de
pobreza ou a fazer alguma promessa, de preferência a outra, nem a escolher um estado ou gênero

3
de vida em lugar de outro. Porque, ainda que, fora do tempo dos Exercícios, podemos, lícita e
meritoriamente, mover todas as pessoas, que mostrem com probabilidade as disposições
necessárias a escolher a continência, a virgindade, o estado religioso e qualquer outra forma de
perfeição evangélica, contudo, durante os Exercícios, quando o exercitante busca a vontade divina,
é mais conveniente e muito melhor que o Criador e Senhor se comunique por sí mesmo a quem lhe
é todo dedicado, atraindo-o ao seu amor e louvor, e dispondo-o a seguir pelo caminho em que O
poderá servir melhor no futuro. Assim, aquele que dá os Exercícios não se volte nem incline a uma
parte ou a outra, mas se mantenha no meio, como o fiel duma balança, deixando agir diretamente o
Criador com a criatura, e a criatura com o seu Criador e Senhor.
16 - 16ª Anotação. Para este fim, isto é, para que o Criador e Senhor atue mais certamente na sua
criatura, se a pessoa estiver afeiçoada ou inclinada a uma cousa desordenadamente, convém muito
mover-se, empregando todas as suas forças em chegar ao contrário daquilo a que se vê afeiçoada.
Se se inclina, por exemplo, a procurar obter um ofício ou benefício, não pela honra e glória de
Deus Nosso Senhor, nem pelo bem espiritual das almas, mas por seu próprio interesse e vantagens
temporais, deve procurar afeiçoar-se à resolução contrária. Insista em orações e outros exercícios
espirituais, e peça o contrário a Deus Nosso Senhor, a saber, que não quer tal ofício, nem
benefício, nem qualquer outra coisa, a não ser que sua divina Majestade, ordenando-lhe os seus
desejos, mude-lhe as primeiras afeições. De forma que a causa de desejar e conservar uma coisa ou
outra, seja unicamente o serviço, honra e glória da divina Majestade.
17 - 17ª Anotação. É muito proveitoso que aquele que orienta os Exercícios, sem querer perguntar
nem saber os pensamentos ou os pecados do exercitante, seja informado fielmente das moções e
pensamentos que os diferentes espíritos despertam nele. Porque, conforme julgar mais ou menos
proveitoso, pode dar-lhe exercícios espirituais mais apropriados e adaptados às suas necessidades
subjetivas.
18 - 18ª Anotação. É necessário adaptar os Exercícios Espirituais às disposições das pessoas que
os querem fazer, tendo em conta a idade, a ciência, o talento, e não dar ao que é ignorante, ou
mediocremente dotado, coisas que não possa facilmente entender, e de que não possa tirar
proveito. Do mesmo modo se deve dar a cada um aquilo que melhor o poderá ajudar e mais
aproveitará, conforme as suas disposições interiores. Portanto, àquele que está disposto a instruir-
se sobre os seus deveres e a atingir certo grau de paz interior, pode-se propor o exame particular,
depois o exame geral e ao mesmo tempo o método de orar sobre os mandamentos, pecados
mortais, etc. , para meia hora de meditação matutina. Recomenda-se também a confissão de oito
em oito dias, e a comunhão eucarística, a cada quinze dias, se lhe for possível, ou melhor ainda, se
a devoção a isso o levar, de oito em oito dias. Esta maneira de proceder convém mais aos simples e
iletrados. Expliquem-se os mandamentos da lei de Deus, os pecados mortais, os mandamentos da
Igreja, os cinco sentidos , e as obras de misericórdia. Do mesmo modo, se quem orienta os
Exercícios vê que o exercitante é de pouca disposição ou capacidade, e é pessoa de quem não se
pode esperar muito fruto, é mais conveniente dar-lhe alguns destes exercícios fáceis, até fazer a
confissão dos seus pecados. Em seguida, indique-se ao exercitante algum método de exame de
consciência, e algumas regras a seguir para se confessar mais vezes do que costumava, a fim de
conservar o fruto que alcançou. Não se trate das matérias da eleição nem dos outros exercícios que
não são da primeira semana, sobretudo quando de outras pessoas se pode obter maior fruto, e o
tempo não chega para todas.
19 - 19ª Anotação. Quem estiver ocupado em cargos públicos ou negócios importantes, sendo
pessoa culta e inteligente, reserve hora e meia cada dia para fazer os exercícios. Explique-se-lhe
primeiro para que fim o homem foi criado. Pode-se-lhe explicar também durante meia hora o
exame particular, depois o exame geral, e o modo de se confessar e receber o sacramento da

4
Eucaristia. Durante três dias, fará, todas as manhãs, durante uma hora, a meditação sobre o
primeiro, o segundo e o terceiro pecados; depois, nos três dias seguintes, e à mesma hora, a
meditação sobre o processo dos pecados; e enfim, por outros três dias, à mesma hora, a meditação
sobre as penas que correspondem aos pecados. Em cada uma destas três meditações dêem-se-lhe
as dez adições. Para a contemplação dos mistérios de Cristo Nosso Senhor, siga-se o mesmo
método que adiante se explica longamente nestes Exercícios.
20 - 20ª Anotação. Se alguém tem o tempo mais livre e deseja aproveitar o mais possível, dêem-se
a esse exercitante todos os Exercícios espirituais, guardando com exatidão a ordem aqui seguida.
Neles, de ordinário, tanto mais se aproveitará, quanto mais o exercitante se separar de todos os
amigos e conhecidos, e de todas as ocupações temporais. Mudando-se, por exemplo, da casa onde
mora e escolhendo outra, ou outro quarto, para nele viver o mais retirado possível, de maneira que
possa ir todos os dias à missa e às vésperas, sem temor de que os conhecidos o impeçam.
Esta separação oferecer-lhe-á, entre muitas outras, três vantagens principais:
A primeira: ao afastar-se uma pessoa de muitos amigos e conhecidos e de ocupações não bem
ordenadas, para servir e louvar a Deus Nosso Senhor, tem grande merecimento diante da sua
divina Majestade.
A segunda: achando-se assim separado e não tendo o espírito dividido por muitas coisas, o
exercitante põe toda a atenção numa só, a saber, no serviço de seu Criador e no proveito da sua
alma, e usa mais livremente das faculdades naturais para procurar com diligência o que tanto
deseja.
A terceira: quanto mais o exercitante se acha só e retirado, tanto mais apto se torna para se
aproximar de seu Criador, e de unir a Ele. E quanto mais assim se aproxima dele, tanto melhor se
dispõe para receber graças e dons de sua divina e suma Bondade.

5
TÍTULO
21 - EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS PARA O HOMEM SE VENCER A SI MESMO E ORDENAR
A PRÓPRIA VIDA SEM SE DETERMINAR POR NENHUMA AFEIÇÃO DESORDENADA.

PRESSUPOSTO
22 - 22ª Anotação. Para que, tanto o que dá os Exercícios como o que os recebe, se ajudem
mutuamente e tirem maior proveito, deve-se pressupor que todo bom cristão está mais pronto a
justificar uma proposição do próximo do que a condená-la. Se não pode justificá-la, pergunte
como é que ele a entende; se a entende mal, corrija-o com amor; se isso não basta, procure todos
os meios convenientes para que a entenda bem e assim se salve.

PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
23 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua
alma. E as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a
alcançar o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a
atingir o seu fim, e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem. Pelo que é necessário tornar-
nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do
nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. De tal maneira que, de nossa parte, não queiramos mais
saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por
diante em tudo o mais, desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduz ao fim para que
somos criados.

EXAME PARTICULAR
24 - EXAME PARTICULAR E COTIDIANO
Compreende três tempos e dois exames
1º Tempo. Pela manhã, logo ao levantar, deve-se propor evitar com diligência aquele pecado
particular ou defeito que se quer corrigir e emendar.
25 - 2º Tempo. Depois da refeição do meio-dia, pedir a Deus nosso Senhor o que se quer, a saber,
graça para se recordar quantas vezes se caiu naquele pecado particular ou defeito e para se
emendar para o futuro. Em seguida, faça-se o primeiro exame, pedindo conta a si mesmo daquele
ponto particular previsto de que se quer corrigir e emendar. Percorrerá cada uma das horas da
manhã, ou cada espaço de tempo, começando desde o momento de levantar até a hora e instante do
exame atual. E, marque na primeira linha da letra g = tantos pontos quantas forem as vezes que
incorreu naquele pecado particular ou defeito. Depois, proponha de novo emendar-se até fazer o
segundo exame.
26 - 3º Tempo. Depois da refeição da noite, far-se-á o segundo exame, percorrendo-se também
hora por hora, começando desde o primeiro exame até este segundo. E se marcará na segunda
linha da letra g = tantos pontos quantas forem as vezes que incorreu naquele pecado particular ou
defeito.

6
27 - SEGUEM-SE QUATROS ADIÇÕES PARA CORRIGIR MAIS DEPRESSA O
PECADO OU DEFEITO PARTICULAR
1ª adição. Consiste em levar a mão ao peito cada vez que se cai no pecado ou defeito particular,
arrependendo-se de ter caído. Isto pode fazer-se mesmo na presença de muita gente sem se notar.
28 - 2ª adição. Como a primeira linha da letra g indica o primeiro exame e a outra o segundo,
observar, à noite, se houve emenda da primeira linha para a segunda, isto é, do primeiro para o
segundo exame.
29 - 3ª adição. Comparar o segundo dia com o primeiro, isto é, os dois exames do dia presente
com os dois do dia precedente, e ver se houve emenda de um dia para o outro.
30 - 4ª adição. Comparar igualmente uma semana com a outra e ver se emendou na semana
presente, em comparação com a semana anterior.
31 - Note-se no quadro que se segue, a primeira letra maiúscula G indica o domingo; a segunda
minúscula g marca a segunda-feira, a terceira, a terça-feira, e assim por diante.
G
g
g
g
g
g
g

EXAME GERAL - PENSAMENTOS, PALAVRAS E OBRAS


32 - EXAME GERAL DE CONSCIÊNCIA PARA SE PURIFICAR E SE CONFESSAR
MELHOR
Pressuponho haver em mim três espécies de pensamentos, a saber: um que é propriamente meu, e
procede da minha liberdade e querer; e outros dois que vêm de fora, um do bom espírito e outro do
mau.

33 - PENSAMENTOS
Há duas maneiras de merecer num mau pensamento que vem de fora.
1ª - Vem, por exemplo, o pensamento de cometer um pecado mortal. Resisto prontamente a esse
pensamento, e ele fica vencido.
34 - 2ª - Quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu lhe resisto, e torna a vir, uma e
outra vez, e eu resisto sempre, até que o pensamento fica vencido. Esta segunda maneira é de mais
merecimento do que a primeira.

7
35 - Peca-se venialmente, quando vem o mesmo pensamento de pecar mortalmente, e a pessoa lhe
dá atenção, demorando-se algum tempo nele ou recebendo algum deleite sensível, ou havendo
alguma negligência em rejeitar esse pensamento.
36 - Peca-se mortalmente de dois modos. Primeiro, quando se consente num mau pensamento,
com a intenção de agir em seguida conforme consentiu, ou de o realizar se fosse possível.
37 - Segundo, quando se executa, de fato, esse pensamento. Isto é mais grave por três motivos:
primeiro, por causa de sua maior duração; segundo, pela sua maior intensidade; terceiro, pelo
maior dano para as duas pessoas.

38 - PALAVRAS
Não se deve jurar nem pelo Criador, nem pela criatura, a não ser com verdade, por necessidade e
com reverência."Por necessidade" entendo, não quando se afirma com juramento uma verdade
qualquer, mas quando essa verdade é de certa importância para o proveito da alma, ou do corpo ou
dos bens temporais. "Com reverência" entendo, quando ao proferir o nome de seu Criador e
Senhor se considera e se rende a honra e o respeito que lhe são devidos.
39 - Note-se que, embora o juramento em vão seja mais grave quando se jura pelo Criador do que
pela criatura, contudo, é mais difícil jurar pela criatura, com verdade, necessidade e reverência, do
que pelo Criador, pelas razões seguintes:
1ª - Quando queremos jurar por alguma criatura, o fato de querer tomá-la por testemunha não nos
faz estar tão atentos e advertidos para dizer a verdade ou para afirmá-la com necessidade, como ao
querermos ter por testemunha o Criador e Senhor de todas as coisas.
2ª - Ao jurar pela criatura, não é tão fácil mostrar reverência e acatamento ao Criador, como
quando se jura pelo mesmo Criador e Senhor e se profere o seu nome; porque o querer proferir o
nome de Deus nosso Senhor leva a maior acatamento e reverência do que tomar por testemunha
uma simples criatura.
Por isso, aos perfeitos mais facilmente se concede jurar pela criatura do que aos imperfeitos.
Porque os perfeitos, pela contemplação assídua e pela iluminação do entendimento são mais
levados a considerar, meditar e contemplar como Deus nosso Senhor está em todas as criaturas,
por sua própria essência, presença e poder; e assim, quando juram pela criatura estão mais aptos e
melhor preparados que os imperfeitos, para render a seu Criador e Senhor acatamento e reverência.
3ª - No juramento freqüente pelas criaturas há de temer-se mais a idolatria nos imperfeitos do que
nos perfeitos.
40 - Não devemos dizer nenhuma palavra ociosa. Por palavra ociosa entendo aquela que não tem
utilidade nem para mim, nem para outrem, nem se ordena a tal fim. De forma que não é palavra
ociosa falar daquilo que aproveita, ou se diz com intenção de aproveitar à própria alma, ou à de
outro, ao corpo ou aos bens temporais, mesmo que se fale de assuntos estranhos à própria
profissão, como um religioso a tratar de guerras ou de comércio. Em resumo, podemos dizer que
há mérito quando as palavras são inspiradas por uma boa intenção, e pecado quando por uma
intenção repreensível ou se se falar em vão.

8
41 - Nada se deve dizer para difamar ou murmurar, porque se se revela um pecado mortal que não
seja público, peca-se mortalmente; e venialmente, se se revela um pecado venial; e se se descobre
um defeito, mostra-se um defeito próprio.
Se é reta a intenção, em dois casos se pode falar do pecado ou falta de outrem:
1º - Quando o pecado é público, por exemplo, tratando-se de uma pessoa de má vida e conhecida
por tal, ou de uma sentença dada em juízo; ou de um erro público que corrompe as almas daqueles
com quem se trata.
2º - Quando se revela a alguém um pecado oculto, para que ele ajude o pecador a levantar-se,
desde que haja esperança ou razões fundadas de que ele possa ser útil.

42 - OBRAS
Tomando por objeto de exame os dez mandamentos, os preceitos da Igreja e as ordens dos
superiores, tudo o que se faz contra qualquer destas três matérias é pecado mais os menos grave,
conforme for maior ou menor a sua importância.
Por "ordens dos superiores" entendo, por exemplo, as Bulas da Cruzada e outros indultos, como as
indulgências pela paz, concedidas aos fiéis que se confessam e recebem o Santíssimo Sacramento.
Pois não pode ser falta pequena ir contra ou induzir outros a irem contra estas exortações e
disposições tão santas dos nossos Superiores.

MODO DE FAZER O EXAME GERAL


43 - MODO DE FAZER O EXAME GERAL
Consta de cinco pontos
1º ponto: dar graças a Deus nosso Senhor pelos benefícios recebidos;
2º ponto: pedir graças para conhecer os pecados e rejeitá-los;
3º ponto: pedir conta a si mesmo desde a hora em que se levantou até o exame presente, hora por
hora ou tempo por tempo, primeiro dos pensamentos, depois das palavras e em seguida das obras,
pela mesma ordem que se disse no exame particular;
4º ponto: pedir perdão a Deus nosso Senhor das faltas;
5º ponto: propor emendar-se com a sua graça. Pai-nosso.

CONFISSÃO GERAL E COMUNHÃO


44 - CONFISSÃO GERAL E COMUNHÃO
Quem quiser voluntariamente fazer uma confissão geral, encontrará, entre outras, estas três
vantagens:

9
1ª - É certo que aquele que se confessa todos os anos não é obrigado a fazer uma confissão geral;
contudo, se o fizer, colherá dela maior proveito e mérito, pela maior dor atual de todos os pecados
e malícias de toda sua vida.
2ª - No tempo dos Exercícios espirituais, o exercitante adquire um conhecimento mais íntimo dos
pecados e da sua malícia, do que em qualquer outro tempo, em que não se dava assim à vida
interior. Conseguindo agora mais conhecimento e dor deles, obterá maior proveito e mérito do que
antes.
3ª - Estando o exercitante melhor confessado e disposto, acha-se consequentemente mais apto e
mais preparado para receber o Santíssimo Sacramento, cuja recepção ajuda não somente a não
recair em pecado, mas ainda a conserva-se no aumento de graça.
A ocasião mais conveniente para se fazer a confissão geral é logo após os exercícios da primeira
semana.

PRIMEIRA SEMANA

45 - PRIMEIRO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO COM AS TRÊS POTÊNCIAS SOBRE O


PRIMEIRO, O SEGUNDO E O TERCEIRO PECADO.
Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, três pontos principais e um
colóquio.
46 - A oração preparatória consiste em pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas
intenções, ações e operações sejam dirigidas unicamente ao serviço e louvor de sua divina
Majestade.
47 - O primeiro preâmbulo é a composição do lugar. É de notar aqui que, se o assunto da
contemplação ou da meditação for uma coisa visível, como na contemplação de Cristo nosso
Senhor, que é visível, esta "composição" consistirá em representar, com o auxílio da imaginação, o
lugar material onde se encontra o objeto que quero contemplar. Lugar material, digo, como o
templo, ou o monte onde se encontram Jesus Cristo ou Nossa Senhora, conforme o mistério que
escolhi para a contemplação.
Se o assunto da meditação for coisa invisível, como são nesta os pecados, a composição do lugar
consistirá em ver com os olhos da imaginação, e em considerar a minha alma encarcerada neste
corpo corruptível, e a mim mesmo, isto é, o meu corpo e a minha alma neste vale (de lágrimas),
como desterrado entre brutos animais.
48 - O segundo preâmbulo, consiste em pedir a Deus nosso Senhor o que quero e desejo. Esta
petição deve ser conforme o assunto da meditação. Na contemplação da Ressurreição, por
exemplo, pedirei alegria com o Cristo inundado de alegria; na da Paixão pedirei dor, lágrimas,
sofrimentos com Cristo torturado.
Na meditação presente pedirei vergonha e confusão de mim mesmo, vendo quantos têm sido
condenados por um só pecado mortal, e quantas vezes eu mereceria ser condenado para sempre
por meus pecados tão numerosos.

10
49 - Nota. Antes de cada contemplação ou meditação, deve-se fazer a oração preparatória, que será
sempre a mesma, e os dois preâmbulos que variam conforme o assunto.
50 - 1º ponto. O primeiro ponto será aplicar a memória ao primeiro pecado, que foi o dos anjos, e a
seguir o entendimento, que refletirá sobre o mesmo, e finalmente, a vontade. Procurarei recordar e
entender tudo isto, para mais me envergonhar e confundir: comparando com um só pecado dos
anjos, tantos pecados meus. E considerando como eles, por um só pecado, foram para o inferno, e
quantas vezes eu o mereci por tantos pecados.
Trarei, pois, à memória o pecado dos anjos como, tendo sido criados em estado de graça,
recusaram ajudar-se da sua liberdade para render a seu Criador e Senhor a homenagem e a
obediência que lhe eram devidas; encheram-se de soberba, e, por isso, passaram do estado de graça
ao de malícia e do Céu foram precipitados no Inferno.
E assim, em seguida, discorrerei sobre tudo mais em particular com o entendimento, e finalmente
moverei mais os afetos com a vontade.
51 - 2º ponto. Seguir o mesmo processo, isto é, aplicar as três potências ao pecado de Adão e Eva.
Trarei à memória como por este pecado fizeram tão longa penitência e quanta corrupção veio ao
gênero humano, indo tanta gente para o inferno.
Hei de, pois, avivar na memória o segundo pecado: o de nossos primeiros pais. A saber, como
Adão foi criado no campo Damasceno e posto no Paraíso terrestre, e como Eva foi formada de
uma das suas costelas, e como, apesar de lhes ser proibido comer da árvore da ciência, contudo
comeram e por isso pecaram. Depois vestidos de túnicas de peles e expulsos do paraíso, viveram
toda a vida em muitos trabalhos e muita penitência, sem a justiça original, que tinham perdido. A
seguir refletirei com o entendimento mais em particular e exercitarei a vontade, como se explicou
no primeiro ponto.
52 - 3º ponto. Proceder do mesmo modo sobre o terceiro pecado, isto é, o pecado particular de
qualquer pessoa, que por uma só culpa mortal foi para o inferno e de muitas outras, sem conta, que
lá estão por menos pecados dos que eu tenho cometido.
Procederei do mesmo modo sobre o terceiro pecado particular: isto é, trarei à memória a gravidade
e malícia do pecado contra o seu Criador e Senhor. Refletirei com o entendimento, como por pecar
e agir contra a bondade infinita, este homem foi justamente condenado para sempre. Concluirei
pelos atos da vontade, como foi dito.
53 - Colóquio. Imaginando, diante de mim, Cristo nosso Senhor, crucificado, farei um colóquio,
ponderando como Ele sendo Criador veio a fazer-se homem, e como da vida eterna chegou à morte
temporal, e desta forma veio a morrer por meus pecados. Olhando depois para mim mesmo,
perguntar-me-ei o que fiz por Cristo, o que faço por Cristo, e o que devo fazer por Cristo.
E vendo-O assim pregado na cruz, refletirei sobre o que me ocorrer.
54 - O colóquio, propriamente dito, se faz falando, como um amigo fala com outro, ou um servo
com o seu senhor. Ora pedindo alguma graça, ora acusando-se por alguma má ação, ora
comunicando as suas coisas e querendo conselho nelas. E rezar um pai-nosso.

55 - SEGUNDO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO DOS PECADOS.


Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.

11
A oração preparatória seja a mesma.
O 1º preâmbulo será a mesma composição de lugar.
O 2º preâmbulo consiste em pedir o que quero. Nesta meditação será pedir grande e intensa dor e
lágrimas dos meus pecados.
56 - 1º ponto. É o processo dos pecados, a saber, trarei à memória todos os pecados da vida,
considerando ano por ano, ou período por período. Para isto será útil recordar três coisas: 1º) ver o
lugar e a casa onde vivi, 2º) as relações que tive com outras pessoas, 3º) a profissão que exerci.
57 - 2º ponto. Ponderarei os pecados, considerando a fealdade e a malícia que cada pecado mortal
cometido tem em si, ainda que não fosse proibido.
58 - 3º ponto. Olharei quem sou eu, diminuindo-me por meio de comparações. 1º) Que sou eu em
comparação com todos os homens? 2º) Que são os homens em comparação com todos os anjos e
santos do Paraíso? 3º) Que são todas as criaturas em comparação com Deus? E eu só, que posso
ser? 4º)Considerarei toda a minha corrupção e miséria do meu corpo. 5º) Ver-me-ei como uma
chaga e tumor de onde saíram tantos pecados e tantas maldades e veneno tão hediondo.
59 - 4º ponto. Considerarei quem é Deus contra quem pequei, segundo os seus atributos,
comparando-os aos seus contrários em mim: a sua Sabedoria a minha ignorância, a sua
Onipotência a minha fraqueza, a sua Justiça a minha iniqüidade, a sua Bondade a minha maldade.
60 - 5º ponto. Exclamação de admiração com intenso afeto, discorrendo por todas as criaturas.
Como me têm deixado com vida e conservado nela! Os anjos que são a espada da justiça divina,
como me têm suportado, guardado e rezado por mim! Os santos, como têm intercedido e rogado
por mim! E os céus, o sol, a lua, as estrelas, e os elementos, os frutos, as aves, os peixes e os
animais! E a terra como não se abriu para me tragar, criando novos infernos para neles penar para
sempre!
61 - Colóquio. Terminarei com um colóquio de misericórdia, ponderando bem e dando graças a
Deus nosso Senhor, porque me deu vida até agora, e proporei emenda para o futuro com a sua
graça. Pai-nosso.

62 - TERCEIRO EXERCÍCIO - REPETIÇÃO DO PRIMEIRO E SEGUNDO EXERCÍCIO


Com três colóquios.
Depois da oração preparatória e dos dois preâmbulos, repetir o 1º e o 2º exercícios, dando especial
atenção e detendo-se nos pontos em que tenha sentido maior consolação ou desolação ou maior
sentimento espiritual.
Farei, em seguida, três colóquios da seguinte maneira:
63 - 1º colóquio. A nossa Senhora, para que me alcance estas três graças de seu Filho e Senhor: 1ª)
que sinta interno conhecimento de meus pecados e aborrecimento deles; 2ª) que sinta a desordem
das minhas ações, afim de que, aborrecendo-a, emende-me e me ordene; 3ª) pedir conhecimento
do mundo, para que, aborrecendo-o, aparte de mim as coisas mundanas e vãs. Depois disto rezar
uma ave-maria.

12
2º colóquio. Pedirei o mesmo ao Filho para que me alcance do Pai as mesmas três graças. Depois
disto rezar "Alma de Cristo".
3º colóquio. Pedirei o mesmo ao Pai para que o Senhor eterno me conceda. Terminar com um Pai-
nosso.

64 - QUARTO EXERCÍCIO - RESUMO DO TERCEIRO.


Este exercício é um resumo do terceiro, para que a inteligência, sem se afastar do assunto, reflita
atentamente, recordando as verdades contempladas nos exercícios precedentes. Fazer os mesmos
três colóquios.

65 - QUINTO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO DO INFERNO


Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.
A oração preparatória seja a costumeira.
O 1º preâmbulo é a composição de lugar.
Consiste nesta meditação em ver com os olhos da imaginação o comprimento, a largura e a
profundidade do inferno.
O 2º preâmbulo será pedir a graça que quero. Pedirei sentimento interno da pena que padecem os
condenados, para que, se me esquecer, por minhas faltas, do amor do Senhor eterno, ao menos, o
temor das penas me ajude para que não venha a cair em pecado.
66 - 1º Ponto. Verei, com os olhos da imaginação, os grandes fogos e as almas como que em
corpos incandescentes.
67 - 2º Ponto. Escutarei com os ouvidos, prantos, alaridos, gritos, blasfêmias contra Cristo e contra
todos os seus santos.
68 - 3º Ponto. Sentirei com o olfato, o cheiro de fumo, enxofre, imundície e podridão.
69 - 4º Ponto. Procurarei com o gosto saborear coisas amargas, assim como lágrimas, tristezas e o
remorso(l) da consciência.
70 - 5º Ponto. Tocarei com o sentido do tato essas chamas, sentindo como elas envolvem e
abrasam as almas.
71 - Colóquio. Farei um colóquio a Cristo nosso Senhor, trazendo à memória as almas que estão
no inferno; umas porque não creram na sua vinda, outras, porque crendo, não procederam segundo
os seus mandamentos, dividindo-as em três grupos:
1º grupo, antes da vinda de Cristo;
2º grupo, durante a sua vida e
3º grupo, depois da sua vida neste mundo.

13
Dar-lhe-ei graças porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida, e
também porque até agora sempre tem tido tanta piedade e misericórdia para comigo. Concluirei
com um Pai-nosso.
72 - Nota.
O 1º exercício far-se-á à meia-noite.
O 2º, logo ao levantar pela manhã.
O 3º, antes ou depois da Missa, mas que seja, em qualquer caso, antes do almoço.
O 4º, à hora de vésperas.
O 5º, uma hora antes do jantar. Este horário permanece sempre o mesmo durante as quatro
semanas, com mais ou menos rigor, conforme a idade, as disposições e o temperamento
aconselharem os cinco ou menos exercícios.
73 - ADIÇÕES PARA MELHOR FAZER OS EXERCÍCIOS E PARA MELHOR O
EXERCITANTE ENCONTRAR O QUE DESEJA.
1ª Adição. Depois de deitado e antes de adormecer, pensarei pelo espaço de uma Ave-maria, a que
horas tenho de me levantar e para quê, e resumirei o exercício que tenho de fazer.
74 - 2ª Adição. Quando acordar, sem me deter em pensamentos que distraem, pensarei logo no
assunto de contemplação do exercício da meia-noite, exercitando-me à confusão por meus pecados
tão numerosos. Propor-me-ei algumas comparações, como, por exemplo, a de um cavaleiro que se
encontrasse diante do seu rei, e de toda a corte, envergonhado e confundido, por haver ofendido
enormemente aquele de quem antes recebera numerosos benefícios e favores.
Do mesmo modo, no segundo exercício, considerar-me-ei como um grande pecador, carregado de
grilhões, prestes a comparecer diante do Supremo e Eterno Juiz, tal como os encarcerados e já
condenados à morte comparecem diante do seu juiz temporal.
Com estes pensamentos me irei vestindo, ou com outros semelhantes, conforme a matéria a
meditar.
75 - 3ª Adição. A um ou dois passos do lugar onde farei a contemplação ou meditação, ficarei de
pé, por espaço de um Pai-nosso, e levantando ao alto o pensamento, considerarei como Deus nosso
Senhor me vê etc., e farei um ato de reverência ou de humildade.
76 - 4ª Adição. Começarei a contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado, ora
sentado, ora de pé, procurando sempre encontrar aquilo que quero.
Observarei duas coisas:
a 1ª é que se acho o que quero, de joelhos, não mudarei de posição, e, do mesmo modo, se
prostrado etc.
A 2ª, no ponto da meditação em que achar o que quero, aí pararei, sem ter ânsia de passar adiante,
até que me satisfaça.
77 - 5ª Adição. Acabada a contemplação ou meditação, examinarei por espaço de um quarto de
hora, sentado ou passeando, como é que nelas me saí. Se mal, indagarei a causa, e depois de a

14
descobrir, me arrependerei, para me corrigir no futuro. E se bem, darei graças a Deus nosso Senhor
e continuarei a proceder do mesmo modo.
78 - 6ª Adição. Não me deterei em nenhum pensamento capaz de me causar prazer ou alegria,
como a lembrança do céu ou da Ressurreição, porque toda consideração de gozo e alegria me
impediria de sentir pena e dor e de derramar lágrimas pelos meus pecados. Pelo contrário,
procurarei alimentar o desejo de sentir dor e arrependimento, tendo presente na memória a
lembrança da morte e do juízo.
79 - 7ª Adição. Para o mesmo efeito, privar-me-ei inteiramente da luz, fechando janelas e portas,
quando estiver no quarto, a não ser para rezar (o ofício divino), ler ou tomar a refeição.
80 - 8ª Adição. Abster-me-ei de rir ou de proferir qualquer palavra que provoque o riso.
81 - 9ª Adição. Refrearei os olhos, não os levantando senão para receber ou despedir as pessoas
com quem falar.
82 - 10ª Adição. Penitência. Ela pode ser interior e exterior. A penitência interior consiste na dor
dos próprios pecados, com o firme propósito de nunca mais cometer esses, nem quaisquer outros.
A penitência exterior, fruto da primeira, consiste em se castigar pelos pecados cometidos. Pratica-
se principalmente de três modos:
83 - 1º) Com respeito à alimentação. Subtrair o supérfluo não é penitência, mas temperança. Há
penitência quando nos privamos do conveniente. E tanto melhor e maior será a penitência, quanto
mais nos privarmos, contanto que não se prejudique a pessoa, nem se siga nenhuma enfermidade
notável.
84 - 2º) Com respeito ao modo de dormir. Ainda aqui, não é penitência subtrair do supérfluo em
coisas delicadas e moles. Mas há penitência quando, no modo de dormir, tira-se alguma coisa do
que convém. E quanto mais tirarmos tanto melhor é a penitência, contanto que não se prejudique a
pessoa, nem se siga nenhuma doença notável.
Do sono conveniente, porém, não se deve tirar nada, a não ser que se tenha o mau hábito de dormir
demasiado, para assim se chegar a uma justa medida.
85 - 3º) Castigando a carne, isto é, causando-lhe dor sensível, por meio de cilícios ou cadeias de
ferro sobre a pele, flagelando-se, ferindo-se ou praticando outros gêneros de austeridades.
86 - Notas. O que parece mais conveniente e prudente é que a dor seja sensível na carne, mas não
penetre nos ossos, de forma que a penitência cause dor, mas não enfermidade. E assim, parece
preferível flagelar-se com cordas finas que magoem superficialmente, a fazê-lo de outro modo, que
possa produzir lesões internas notáveis.
87 - 1ª nota. As penitências exteriores praticam-se por três motivos principais:
O primeiro, para satisfazer pelos pecados passados. O segundo, para vencer-se a si mesmo, isto é,
para obrigar a sensualidade a obedecer à razão, e as tendências inferiores estarem mais sujeitas às
superiores.
O terceiro, para solicitar e obter de Deus alguma graça ou dom que a pessoa quer e deseja, por
exemplo, a de sentir contrição íntima de seus pecados, de os chorar amargamente, de derramar
lágrimas pelas penas e dores que Cristo nosso Senhor padeceu na sua paixão, ou enfim, para achar
a solução de alguma dúvida em que se encontra.

15
88 - 2ª nota. A primeira e a segunda adições só dizem respeito aos exercícios da meia-noite e da
manhã, e não aos que fazem em outros tempos. E a quarta adição não se fará nunca na igreja, em
presença de outras pessoas, mas unicamente quando se está só, por exemplo, na própria casa, etc.
89 - 3ª nota. Quando o exercitante ainda não obteve o que deseja, como lágrimas, consolações,
etc., é muitas vezes vantajoso introduzir alguma mudança na alimentação, no sono, e em outras
espécies de penitências. Varie, pois, fazendo penitência dois ou três dias, e outros dois ou três, não.
Porque a alguns convém fazer mais penitência, e a outros, menos. Muitas vezes, também,
omitimos as práticas de penitência, por causa do nosso comodismo, ou por um juízo err&orcic;neo
que nos faz crer que não poderemos suportá-las sem dano notável para a saúde.
Outras vezes, pelo contrário, fazemos demasiada penitência, persuadindo-nos de que a podemos
suportar. E como Deus nosso Senhor conhece infinitamente melhor a nossa natureza, muitas vezes,
nas tais mudanças, dá-nos a sentir o que nos convém.
90 - 4ª nota. O exame particular faça-se para corrigir defeitos e negligências nos exercícios e
adições. E do mesmo modo na 2ª, 3ª e 4ª semanas.

SEGUNDA SEMANA

91 - O CHAMAMENTO DO REI TEMPORAL AJUDA A CONTEMPLAR A VIDA DO


REI ETERNO
A oração preparatória como de costume.
O 1º preâmbulo é a composição do lugar.
Consistirá, aqui, em ver, com os olhos da imaginação, as sinagogas, cidades e aldeias que Cristo
nosso Senhor percorreu a pregar.
O 2º preâmbulo consiste em pedir a graça que quero. Será, aqui, pedir a Nosso Senhor a graça de
não ser surdo ao seu chamamento, mas pronto e diligente em cumprir a sua santíssima vontade.

Primeira Parte
92 - 1º ponto. Representar-me-ei um rei humano, escolhido pela mão de Deus nosso Senhor, a
quem prestam reverência e obedecem todos os príncipes e todos os homens cristãos.
93 - 2º ponto. Verei como este rei fala a todos os seus, dizendo: "É minha vontade conquistar toda
a terra de infiéis. Portanto, quem quiser vir comigo, há de contentar-se de comer como eu, e
também com beber e vestir como eu, etc., do mesmo modo há de trabalhar comigo durante o dia, e
vigiar durante a noite, etc., para que depois tenha parte comigo na vitória, assim como a teve nos
trabalhos".
94 - 3º ponto. Considerarei o que devem responder os bons súditos a rei tão generoso e tão
humano. E, por conseguinte, se algum não aceitasse a proposta de um tal rei, quão digno seria de
ser desprezado por todo mundo e tido por perverso cavaleiro.

16
95 - Segunda Parte
A segunda parte deste exercício consiste em aplicar a Cristo nosso Senhor os três pontos da
parábola precedente.
1º ponto. Se considerarmos o chamamento do rei temporal a seus súditos, quanto mais digno de
consideração é contemplar Cristo nosso Senhor, Rei eterno, e diante dEle o universo inteiro e cada
homem em particular, a quem chama com este convite: "A minha vontade é conquistar todo o
mundo e todos os inimigos, e assim entrar na glóa de meu Pai. Portanto, quem quiser vir comigo
deve trabalhar comigo, a fim de que, seguindo-me nos trabalhos, acompanhe-me também na
glória".
96 - 2º ponto. Considerarei que todos os homens dotados de razão e de bom senso se oferecerão
totalmente ao trabalho.
97 - 3º ponto. Os que quiserem aspirar a mais e assinalar-se em todo o serviço do seu Rei eterno e
Senhor universal, não somente oferecerão as suas pessoas ao trabalho, mas ainda, agindo contra a
sua própria sensualidade e contra o seu amor carnal e mundano, farão oblações de maior estima e
valor dizendo:
98 - "Eterno Senhor de todas as coisas, eu faço a minha oblação com o vosso favor e ajuda, diante
da vossa infinita bondade, e diante da vossa Mãe gloriosa e de todos os santos e santas da corte
celestial. Eu quero e desejo e é minha determinação deliberada, contanto que seja vosso maior
serviço e louvor, imitar-Vos em passar por todas as injúrias e todas as humilhações e toda a
pobreza, assim atual como espiritual, se Vossa Santíssima Majestade me quiser escolher e receber
em tal vida e estado".
99 - 1ª nota. Este exercício far-se-á duas vezes neste dia: de manhã depois de levantar, e uma hora
antes do almoço ou do jantar.
100 - 2ª nota. Durante a segunda semana e as seguintes, será muito útil ler, por alguns momentos,
passagens da Imitação de Cristo, ou dos evangelhos e vidas de santos.

101 - PRIMEIRO DIA


PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO - A ENCARNAÇÃO
Compreende a oração preparatória, três preâmbulos, três pontos e um colóquio.
A oração preparatória costumeira.
102 - O 1º preâmbulo consiste em recordar a história do mistério que se deve contemplar.
Aqui recordarei como as Três Pessoas divinas, lançando os olhos sobre toda a redondeza da terra
cheia de homens, e vendo como todos se precipitavam no inferno, decretaram em sua eternidade
que a segunda Pessoa da SS. Trindade se fizesse homem para salvar o gênero humano, e assim,
chegada a plenitude dos tempos, o Arcanjo S. Gabriel foi enviado a N. Senhora (262).
103 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.
Aqui será ver a imensa extensão e redondeza da terra, povoada de tantas e tão diversas gentes.
Depois, em particular a casa e os aposentos de N. Senhora, na cidade de Nazaré, na província da
Galiléia.

17
104 - O 3º preâmbulo é pedir o que quero.
Nesta contemplação pedirei o conhecimento interno do Senhor que por mim se fez homem, para
que mais o ame e o siga.
105 - Nota. Nesta semana e nas seguintes, deve-se fazer a mesma oração preparatória como foi
dito no princípio (46). O mesmo se diga dos três preâmbulos, modificando-os, porém, conforme o
assunto que se medita.
106 - 1º ponto. Verei sucessivamente as pessoas. Primeiramente os homens que vivem na face da
terra, tão diversos nos trajes e nas atitudes: uns brancos, outros negros; uns em paz, outros em
guerra; uns chorando, outros rindo; uns com saúde, outros sem ela; uns nascendo, outros
morrendo, etc.
Em segundo lugar, verei e considerarei como as Pessoas divinas, assentadas no trono de sua divina
Majestade, contemplam na vasta superfície da terra todos os povos mergulhados em tão profunda
cegueira, como morrem e descem ao inferno.
Em terceiro lugar, verei N. Senhora e o Anjo que a saúda.
Depois refletirei, para tirar desta cena algum proveito.
107 - 2º ponto. Escutarei as palavras. Primeiro as dos homens na face da terra, o que dizem uns aos
outros, como juram, blasfemam, etc. Depois o que dizem as Pessoas divinas, a saber: "Façamos a
redenção do gênero humano", etc.
Finalmente as palavras do Anjo e de N. Senhora.
E refletirei para tirar proveito de tudo quanto ouvi.
108 - 3º ponto. Considerarei o que fazem os homens na face da terra, ferindo, matando e caindo no
inferno, etc.
Depois o que fazem as Pessoas divinas, a saber, como realizam a Santíssima Encarnação, etc.
Enfim o que fazem o Anjo e N. Senhora, a saber, como o Anjo se desempenha da sua missão de
embaixador, e N. Senhora se humilha e dá graças à divina Majestade. Em seguida refletirei para
tirar de cada um destes fatos algum proveito.
109 - Colóquio. Por fim farei um colóquio, pensando no que devo dizer às três Pessoas divinas, ou
ao Verbo Encarnado, ou à Sua Mãe e Senhora nossa, pedindo, conforme o que sinto em mim, a
graça de seguir e imitar melhor Nosso Senhor recém-encarnado. Pai-nosso.

110 - SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO - A NATIVIDADE


A oração preparatória habitual.
111 - O 1º preâmbulo é a história do mistério.
Será aqui como N. Senhora, grávida de quase nove meses, partiu de Nazaré, sentada (como se
pode piedosamente meditar) numa burrinha, acompanhada de José e de uma criada, levando um
boi, para ir a Belém pagar o tributo que César lançou por toda aquela região (264).

18
112 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.
Nesta contemplação verei com os olhos da imaginação o caminho de Nazaré a Belém,
considerando a sua extensão e largura, se é plano, se segue por vales ou por encostas. Do mesmo
modo verei o lugar ou a gruta onde nasce o Salvador: se é grande ou pequena, se é alta ou baixa, e
como está preparada.
113 - O 3º preâmbulo será o mesmo, e na mesma forma que na contemplação precedente.
114 - 1º ponto. Verei as pessoas: N. Senhora, S. José, a criada e o Menino Jesus, quando tiver
nascido. Fazendo-me semelhante a um pobrezinho e pequeno escravo indigno, ficarei em sua
presença - como se ali estivesse presente - olhando-os, contemplando-os e servindo-os em suas
necessidades, com todo o acatamento e reverência possível.
Refletirei, sem seguida, para tirar algum proveito.
115 - 2º ponto. Hei de olhar, advertir e contemplar o que dizem. E refletirei para tirar algum
proveito.
116 - 3º ponto. Olharei e considerarei o que fazem, por exemplo, como viajam, como trabalham
para que o Senhor venha a nascer em extrema pobreza, e depois de tantos trabalhos, depois de ter
padecido fome, sede, calor, frio, injúrias e afrontas, venha finalmente a morrer na cruz, e tudo isto
por mim!
Em seguida refletirei para tirar algum proveito espiritual.
117 - Colóquio. Terminarei com um colóquio, como na contemplação precedente, e recitarei um
Pai-nosso.
118 - TERCEIRA CONTEMPLAÇÃO - REPETIÇÃO DO 1º E DO 2º EXERCÍCIO
Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, far-se-á a repetição do primeiro e do segundo
exercício, insistindo sempre nas passagens principais, em cuja meditação o exercitante encontrou
algum conhecimento, consolação ou desolação. E terminará do mesmo modo por um colóquio e
pela recitação do Pai-nosso.
119 - Nesta repetição e em todas as seguintes, guardar-se-á o mesmo método que se observa nas
repetições da primeira semana, mudando a matéria e conservando a forma.
120 - QUARTA CONTEMPLAÇÃO - REPETIÇÃO DO 1º E DO 2º EXERCÍCIO
Como se fez na repetição precedente.
121 - QUINTA - APLICAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS SOBRE A 1ª E A 2ª
CONTEMPLAÇÃO
Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, será útil exercitar os cinco sentidos da
imaginação sobre a 1ª e a 2ª contemplação, da maneira seguinte:
122 - 1º ponto. Verei com os olhos da imaginação, as pessoas, considerando e contemplando em
particular as circunstâncias em que se encontram, procurando tirar algum proveito.
123 - 2º ponto. Pelo sentido da audição escutarei o que dizem ou podem dizer, e refletindo comigo
mesmo, procurarei tirar algum proveito.

19
124 - 3º ponto. Pelo sentido do olfato e do gosto, hei de sentir e saborear a suavidade e doçura
infinitas da divindade, da alma, de suas virtudes e de tudo o mais, conforme for a pessoa que se
contempla. E refletindo comigo mesmo, procurarei tirar algum proveito.
125 - 4º ponto. Exercitarei o sentido do tato, abraçando, por exemplo, e beijando os lugares que
estas pessoas tocaram com os pés, ou onde se detiveram, procurando sempre tirar algum proveito.
126 - Colóquio. Terminarei com um colóquio como na 1ª e na 2ª contemplação, rezando por fim
um Pai-nosso.
127 - 1ª nota. Durante esta semana e as seguintes, devo ler só o mistério que corresponde à
contemplação que no momento tenho de fazer. Não devo ler nenhum outro de que não tenha de me
ocupar neste dia ou nesta hora, para que a consideração de um não venha prejudicar a de outro.
128 - 2ª nota. O primeiro exercício da Encarnação se fará à meia-noite. O segundo, ao amanhecer.
O terceiro, à hora da missa. O quarto, à hora de vésperas. E o quinto, antes da refeição da noite.
Cada um destes cinco exercícios durará uma hora. Esta é a ordem que se seguirá daqui por diante.
129 - 3ª nota. Se o exercitante for idoso ou fraco de saúde, ou embora robusto, tenha-se debilitado
de qualquer forma pelos exercícios da primeira semana, é melhor que, nesta segunda semana, não
se levante, ao menos algumas vezes, à meia-noite. Faça então uma contemplação pela manhã,
outra à hora da missa, outra antes do almoço, uma repetição destes três exercícios à hora de
vésperas e a aplicação dos sentidos antes da ceia.
130 - 4ª nota. Nesta segunda semana, entre as dez adições indicadas na primeira semana, devem
modificar-se a 2ª, a 6ª, a 7ª e em parte a 10ª.
Quanto à segunda: assim que despertar, porei diante dos olhos a contemplação que vou fazer,
desejando conhecer melhor o Verbo eterno encarnado, para mais fielmente o servir e seguir.
Quanto à sexta: repassarei freqüentemente pela memória a vida e os mistérios de Jesus Cristo
nosso Senhor, desde a Encarnação até o mistério que presentemente contemplo.
Quanto à sétima: escolherei a luz ou a escuridão, aproveitar-me-ei do bom ou do mau tempo,
conforme sentir que isso me aproveitará e ajudará a encontrar o que desejo.
Quanto à décima: o exercitante deve conformar-se com a natureza dos mistérios que contempla.
Porque uns pedem penitência e outros não.
As dez adições serão, pois, observadas com muito cuidado.
131 - 5ª nota. Em todos os exercícios, exceto no da meia-noite e no da manhã, far-se-á o
equivalente da segunda adição (74) desta maneira: chegada a hora do exercício que tenho de fazer,
antes de o começar, considerarei onde vou e diante de quem vou comparecer, e recordarei
brevemente o exercício. Em seguida, depois de cumprida a terceira adição (75), começarei o
exercício.

132 - SEGUNDO DIA


TOMAR PARA 1ª E 2ª CONTEMPLAÇÃO A APRESENTAÇÃO NO TEMPLO (268) E A
FUGA PARA O EGITO, COMO PARA O EXÍLIO (269)

20
Sobre estas duas contemplações far-se-ão duas repetições, e a aplicação dos sentidos, como no dia
precedente.
133 - Nota. Embora o exercitante se sinta forte e bem-disposto, ser-lhe-á útil algumas vezes, para
mais eficazmente encontrar o que deseja, modificar o seu horário, desde o segundo dia até o quarto
inclusive. Poderá fazer só uma contemplação ao amanhecer, e outra à hora da missa. Repeti-las-á à
hora de vésperas, e antes do jantar fará uma aplicação dos sentidos.

134 - TERCEIRO DIA


COMO O MENINO JESUS ERA OBEDIENTE A SEUS PAIS EM NAZARÉ (271) E COMO
DEPOIS O ACHARAM NO TEMPLO (272)
Far-se-ão do mesmo modo as duas repetições e a aplicação dos cinco sentidos.
135 - PREÂMBULO PARA CONSIDERAR OS ESTADOS DE VIDA
Acabamos de considerar o exemplo que Cristo nosso Senhor nos deu para o primeiro estado, que
consiste na observância dos mandamentos, quando vivia na obediência a seus pais. Do mesmo
modo, o exemplo para o segundo estado, o da perfeição evangélica, quando ficou no Templo,
deixando seu pai adotivo e sua mãe para se ocupar no serviço de seu eterno Pai. Começaremos
agora, ao mesmo tempo que contemplamos a sua vida, a procurar e a perguntar-lhe em que estado
ou gênero de vida quer sua divina Majestade servir-se de nós.
Como introdução, veremos no primeiro dos exercícios seguintes, de um lado, a intenção de Cristo
nosso Senhor, e do outro, a do inimigo da natureza humana, e como nos devemos dispor para
chegar à perfeição em qualquer estado ou gênero de vida que Deus nosso Senhor oferecer à nossa
escolha.
136 - QUARTO DIA
MEDITAÇÃO DAS DUAS BANDEIRAS UMA DE CRISTO, CHEFE SUPREMO E SENHOR
DE TODOS NÓS, A OUTRA DE LÚCIFER, INIMIGO MORTAL DE NOSSA NATUREZA
HUMANA
A oração preparatória habitual.
137 - O 1º preâmbulo é recordar a história. Será aqui como Cristo chama e quer a todos os homens
sob a sua bandeira. E Lúcifer, ao contrário, debaixo da sua.
138 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.
Será aqui ver um grande campo em toda aquela região de Jerusalém, onde o supremo chefe dos
bons é Cristo, nosso Senhor. Outro campo, na região de Babilônia, onde o caudilho dos inimigos é
Lúcifer.
139 - O 3º preâmbulo consiste em pedir o que quero.
Neste exercício, será pedir conhecimento dos enganos do mau caudilho e auxílio para deles me
defender; e conhecimento da verdadeira vida que revela o Supremo e o verdadeiro chefe, com a
graça de o imitar.

21
Primeira Parte
140 - 1º ponto. Imaginarei o caudilho de todos os inimigos nesse vasto campo de Babilônia, como
que sentado num grande trono de fogo e de fumo, com aspecto hediondo e terrível.
141 - 2º ponto. Considerarei como convoca inumeráveis demônios e os dispersa, uns por uma
cidade, outros por outra, e assim por todo o mundo, sem esquecer províncias, nem lugar algum,
nem estado de vida, nem pessoa alguma em particular.
142 - 3º ponto. Considerarei o discurso que lhes faz. Como os admoesta a lançar redes e correntes.
Primeiro, hão de tentar com cobiça de riquezas, como costuma fazer ordinariamente, para que
cheguem à honra vã do mundo, e depois à grande soberba. De maneira que o 1º grau de tentação
seja de riquezas, o 2º de honra, o 3º de soberba, e destes três graus induz a todos os outros vícios.

Segunda Parte
143 - Do mesmo modo, em contraposição se há de imaginar a respeito do supremo e verdadeiro
chefe que é Cristo nosso Senhor.
144 - 1º ponto. Considerarei como Cristo nosso Senhor se apresenta numa grande planície dessa
região de Jerusalém, num lugar humilde, belo e gracioso.
145 - 2º ponto. Considerarei como o Senhor do mundo inteiro escolhe tantas pessoas, apóstolos,
discípulos, etc., e como os envia por todo o universo a espalhar a sua sagrada doutrina entre os
homens de todos os estados e condições.
146 - 3º ponto. Escutarei o discurso que Cristo nosso Senhor dirige a todos os seus servos e
amigos, que envia a esta empresa. Recomenda-lhes que queiram ajudar a todos os homens,
trazendo-os primeiro à luz suma pobreza espiritual, e não menos à pobreza atual, se sua divina
Majestade aprouver elegê-los para esse estado. Segundo, ao desejo de opróbios e desprezos,
porque destas duas coisas nasce a humildade. Há pois, três graus:
1º) a pobreza oposta às riquezas,
2º) os opróbios ou desprezos opostos à honra mundana,
3º) a humildade oposta à soberba. Por estes três graus induzirão os homens a todas as outras
virtudes.
147 - 1º Colóquio. Um colóquio com N. Senhora para me alcançar graça de seu Filho e Senhor,
para que eu seja recebido sob a sua bandeira:
1º) em suma pobreza espiritual, e, se sua divina Majestade for servida e me quiser escolher,
também em pobreza atual;
2º) em passar opróbios e injúrias para nelas mais o imitar, contanto que as possa levar, sem pecado
de nenhuma pessoa nem desprazer de sua divina Majestade. A seguir, uma Ave-maria.

2º Colóquio. Pedir a mesma graça ao Filho, para que ma alcance do Pai. Depois rezar Alma de
Cristo.
3º Colóquio. Pedir a mesma graça ao Pai, para que ele ma conceda. Dizer um Pai-nosso.
148 - Nota. Este exercício se fará à meia-noite, e depois, outra vez, pela manhã. E se farão duas
repetições deste mesmo exercício, à hora da missa e à hora de vésperas, acabando sempre com os
três colóquios, a Nossa Senhora, ao Filho e ao Pai.
O exercício seguinte das "três classes" se fará antes do jantar.

22
149 - NO MESMO QUARTO DIA MEDITAÇÃO DAS TRÊS CLASSES DE HOMENS
PARA ABRAÇAR O QUE É MELHOR
A oração preparatória habitual.
150 - O 1º preâmbulo é a história de três classes de homens. Cada uma delas adquiriu dez mil
ducados não pura e devidamente por amor de Deus. Querem todos eles salvar-se e achar em paz a
Deus nosso Senhor, tirando de si o peso e impedimento que têm para isso na afeição à quantia
adquirida.
151 - O 2º preâmbulo é a composição vendo o lugar.
Será aqui ver-me a mim mesmo, como estou na presença de Deus nosso Senhor, e de todos os seus
Santos, para desejar e conhecer o que for mais agradável à sua divina Bondade.
152 - O 3º preâmbulo consiste em pedir o que quero.
Aqui suplicarei a graça para escolher o que mais contribuir para a glória de sua divina Majestade e
salvação de minha alma.
153 - A primeira classe quereria deixar o afeto que tem pela cousa adquirida, para achar em paz a
Deus nosso Senhor, e poder assim se salvar. Mas não emprega meio algum até a hora da morte.
154 - A segunda classe quer acabar com este apego, mas com a condição de conservar consigo a
cousa adquirida de modo que Deus se conforme com o que ela quer. E não se resolve a abandonar
o que possui para ir a Deus, embora este fosse para ela o melhor estado.
155 - A terceira classe quer também libertar-se deste apego. E de tal modo o quer que não se
importa com conservar ou não a quantia adquirida. Deseja unicamente guardá-la ou não, conforme
o querer que Deus nosso Senhor lhe der, e conforme o que lhe parecer preferível para o serviço e
louvor de sua divina Majestade. Entretanto determina fazer conta de que tudo abandona de
coração, esforçando-se por não desejar nem uma coisa nem outra se não a mover unicamente o
serviço de Deus nosso Senhor. Assim somente o desejo de melhor poder servir a Deus nosso
Senhor a poderá decidir a reter este dinheiro ou a despojar-se dele.
156 - Três colóquios. Fazer os mesmos três colóquios, que se fizeram na contemplação precedente
das duas bandeiras.
157 - Nota. É de notar que, quando nós sentimos afeição ou repugnância contra a pobreza atual,
quando não estamos indiferentes à pobreza ou à riqueza, muito ajuda, para extinguir essa afeição
desordenada, pedir nos colóquios, apesar da repugnância da natureza, que o Senhor nos escolha
para a pobreza atual. Que nós assim queremos, pedimos e suplicamos, contanto que isso seja
serviço e louvor de sua divina Bondade.

158 - QUINTO DIA


CONTEMPLAÇÃO A PARTIR DE CRISTO NOSSO SENHOR DE NAZARÉ PARA O
RIO JORDÃO, E O SEU BATISMO

23
159 - 1ª nota. Esta contemplação se fará a primeira vez à meia-noite, a segunda pela manhã. Far-
se-ão depois duas repetições, uma à hora da missa, outra à hora de vésperas. E por fim a aplicação
dos sentidos antes do jantar.
Antes de cada um destes exercícios se há de fazer a oração preparatória habitual, e os três
preâmbulos, conforme se explicou na contemplação da Encarnação e do Nascimento . E terminar
com os três colóquios como nas três classes, observando-se a nota que segue aquele exercício.
160 - 2ª nota. O exame particular, depois do almoço e depois do jantar, se fará sobre as faltas e
negligências e adições deste dia, e assim também nos dias seguintes.

161 - SEXTO DIA


CONTEMPLAÇÃO NOSSO SENHOR INDO AO RIO JORDÃO ATÉ O DESERTO,
INCLUSIVE.
Seguir em tudo a mesma forma do quinto dia.
SÉTIMO DIA - SANTO ANDRÉ E OUTROS SEGUIRAM A CRISTO NOSSO SENHOR
OITAVO DIA - O SERMÃO DA MONTANHA - AS OITO BEM-AVENTURANÇAS
NONO DIA - A APARIÇÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR A SEUS DISCÍPULOS SOBRE
AS ONDAS DO MAR
DÉCIMO DIA - PREGAÇÃO DO SENHOR NO TEMPLO
UNDÉCIMO DIA - A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
DUODÉCIMO DIA - O DIA DE RAMOS
162 - 1ª nota. Nesta segunda semana, conforme o tempo que cada um quiser empregar nas
contemplações ou conforme o proveito que tirar, pode-se prolongar ou abreviar [a semana].
Se prolongar, tome os mistérios da Visitação de N. Senhora a Santa Isabel, os pastores, a
circuncisão do Menino Jesus e os três reis, e ainda outros.
E se abreviar, poderá ainda omitir dos que estão assinalados. Porque isto foi só para dar uma
introdução e método, para depois contemplar melhor e mais completamente.
163 - 2ª nota. A matéria das eleições começará a tratar-se desde a contemplação de Nazaré ao
Jordão, isto é, desde o quinto dia, inclusive, conforme se diz a seguir.
164 - 3ª nota. Antes de entrar nas eleições, para o exercitante se afeiçoar bem à doutrina de Cristo
nosso Senhor, será muito útil considerar atentamente os seguintes "três graus de humildade",
refletindo sobre eles, de tempos em tempos, por todo o dia, e fazendo os colóquios, como a seguir
se dirá.

TRÊS GRAUS DE HUMILDADE


165 - O primeiro grau de humildade é necessário para a salvação eterna.

24
Consiste em me abater e humilhar o mais possível para obedecer em tudo à lei de Deus nosso
Senhor. Ainda que me fizessem senhor de todas as coisas criadas neste mundo, ou tivesse de
perder a vida temporal, eu não pensaria em transgredir um mandamento divino ou humano que me
obrigasse sob pecado mortal.
166 - O segundo grau de humildade é mais perfeito que o primeiro.
Consiste num grau de indiferença tal da minha vontade, que não quero nem me inclino mais às
riquezas do que à pobreza, às honras do que à desonra, a desejar uma vida longa do que uma vida
breve, supondo que tudo isto seja de igual glória para Deus nosso Senhor e de igual vantagem para
a salvação da minha alma. E que assim, nem para ganhar todo o mundo, nem para salvar a própria
vida, eu tenha a deliberar se cometerei ou não um pecado venial.
167 - O terceiro grau de humildade é o mais perfeito.
Inclui os dois primeiros e consiste no seguinte: sendo igual o louvor e glória da divina Majestade,
para imitar e parecer-me mais atualmente com Cristo nosso Senhor, eu quero e escolho mais
pobreza com Cristo pobre que riqueza; injúrias com Cristo cheio delas que honras; e desejo mais
ser estimado por ignorante e louco por Cristo, que primeiro foi tratado assim, do que por sábio ou
prudente neste mundo.
168 - Nota. Para quem deseja alcançar o terceiro grau de humildade será muito útil fazer os três
colóquios da meditação das duas bandeiras (147), pedindo a Nosso Senhor queira chamá-lo a esta
terceira humildade, maior e melhor, para mais fielmente o imitar e servir, se isso for igual ou
maior serviço e louvor de sua divina Majestade.

169 - PARA FAZER ELEIÇÃO


PREÂMBULO
Em toda boa eleição, quanto de nós dependa, a nossa intenção deve ser simples, olhando somente
o fim para que fui criado, a saber, o louvor de Deus nosso Senhor e a salvação da minha alma.
Portanto, qualquer que seja o objeto da minha eleição, deve ser tal que me ajude a obter este fim,
não subordinando ou ordenando o fim ao meio, mas o meio ao fim.
Acontece que muitos elegem primeiro casar-se, o que é um meio, e depois servir nesse estado a
Deus nosso Senhor, o que é o fim. Assim também há outros que primeiro querem ter benefícios
eclesiásticos e depois servir a Deus neles. Tais pessoas não vão diretamente a Deus, mas querem
que Ele venha diretamente às suas afeições desordenadas. E por conseguinte fazem do fim meio, e
daquilo que é meio fim. Põem em último lugar aquilo que primeiramente deveriam ter vista.
Porque o primeiro objetivo das nossas intenções deve ser servir a Deus, que é o nosso fim, e só
depois aceitar um benefício ou casar-se, se mais nos convém, como meios para o fim.
Nenhum motivo deve portanto determinar-me a escolher ou rejeitar tais meios, senão o serviço e
louvor de Deus nosso Senhor e a salvação eterna da minha alma.

170 - ESCLARECIMENTOS SOBRE AS MATÉRIAS DE QUE SE DEVE FAZER A


ELEIÇÃO
Compreende quatro pontos e uma nota.

25
1º ponto. Todas as coisas, sobre as quais pretendemos fazer uma eleição, devem ser indiferentes ou
boas em si mesmas e conformes à santa Madre Igreja hierárquica e não más nem contrárias a ela.
171 - 2º ponto. Há certas coisas que caem sob o âmbito de uma eleição imutável, como o são o
sacerdócio ou o casamento, etc. E há outras que podem ser objeto de uma eleição mutável, como
aceitar ou renunciar a benefícios eclesiásticos ou a bens temporais.
172 - 3º ponto. Quando se fez uma eleição de natureza imutável como exemplo para o sacerdócio
ou matrimônio, etc., não há mais que escolher, porque é irrevogável.
Note-se apenas que se alguém não fez uma eleição como devia, por motivos retos, sem se mover
por motivos desordenados, deve, arrependido, procurar viver bem a sua eleição. Esta eleição não
foi ao que parece uma vocação divina, porque foi desordenada e oblíqua. Há muitas pessoas que se
enganam tomando como vocação divina uma eleição oblíqua e defeituosa. A vocação divina é
sempre pura e limpa, sem mistura de motivos naturais nem de afeição desordenada alguma.
173 - 4º ponto. Se alguém, devida e ordenadamente, fez eleição de coisas que são objeto de eleição
mutável, sem ceder à carne e ao mundo, não tem motivo para fazer nova eleição, mas deve
aperfeiçoar-se quanto puder na que escolheu.
174 - Nota. Se a eleição mutável não se fez com intenção reta e de maneira bem-ordenada, será de
proveito fazê-la agora devidamente, se o exercitante deseja produzir frutos insignes e agradáveis a
Deus nosso Senhor.
175 - TRÊS TEMPOS EM QUE SE PODE FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO
O 1º tempo é aquele em que Deus nosso Senhor move e atrai de tal modo a vontade, que, sem
duvidar, nem poder duvidar, a alma fiel segue o caminho que Ele lhe mostra. Assim fizeram a S.
Paulo e S. Mateus ao seguirem a Cristo nosso Senhor.
176 - O 2º tempo é aquele em que se adquire bastante clareza e conhecimento através da
experiência de consolações e desolações, bem como experiência do discernimento dos vários
espíritos (313-336).
177 - O 3º tempo é um tempo tranqüilo.
O homem considerando, primeiro, para que é que nasceu, isto é, para louvar a Deus nosso Senhor
e salvar a sua alma, e desejando isto, escolhe, como meio, um estado ou gênero de vida entre os
aprovados pela Igreja a fim de ser ajudado no serviço a seu Senhor e na salvação de sua alma.
Chamo tempo tranqüilo àquele em que a alma não é agitada por diversos espíritos, e usa das suas
portências naturais livre e tranqüilamente.
178 - Se no 1º ou 2º tempo não se fez eleição, seguem-se dois modos para fazê-la, conforme este
3º tempo.

PRIMEIRO MODO
PARA FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO
Compreende seis pontos
1º ponto. Consiste em pôr diante de mim o objeto da eleição que pretendo fazer, por exemplo, um
emprego ou benefício que posso aceitar ou recusar, ou qualquer outra coisa que caia sob o âmbito
de uma eleição mutável.

26
179 - 2º ponto. Devo ter bem presente o fim para que fui criado, a saber: louvar a Deus nosso
Senhor e salvar a minha alma. Devo além disso permanecer numa inteira indiferença, sem
nenhuma afeição desordenada, de forma que não esteja mais inclinado ou afeiçoado a escolher o
objeto proposto do que a deixá-lo, ou mais a deixá-lo do que a escolhê-lo, achando-me em
equilíbrio, como o fiel de uma balança, a fim de seguir aquilo que sentir ser para maior glória e
louvor de Deus nosso Senhor e a salvação da minha alma.
180 - 3º ponto. Pedirei a Deus nosso Senhor se digne mover-me a vontade e pôr na minha alma o
que devo fazer quanto ao objeto proposto para sua maior glória e louvor, discorrendo bem e
fielmente com o meu entendimento e escolhendo conforme à sua santíssima vontade e beneplácito.
181 - 4º ponto. Considerarei, refletindo, por uma parte, quantas vantagens ou utilidades devem
resultar para mim da aceitação deste emprego ou deste benefício, com relação unicamente ao
louvor de Deus nosso Senhor e à salvação da minha alma. Por outra, os inconvenientes e riscos a
que me exporei com essa mesma aceitação.
Procederei do mesmo modo quanto à hipótese contrária, examinando as vantagens e utilidades,
bem como os inconvenientes em não os aceitar.
182 - 5º ponto. Depois de ter assim refletido e considerado o objeto proposto, sob todos os seus
aspectos, examinarei para que lado mais se inclina a razão. E assim, guiado pela moção da razão e
não por qualquer moção da sensibilidade, farei a escolha sobre o objeto proposto.
183 - 6º ponto. Terminada assim a eleição ou deliberação, deve o que a fez colocar-se com toda a
diligência em oração diante de Deus nosso Senhor, e oferecer-lhe a decisão tomada, para que sua
divina Majestade se digne aceitá-la e confirmá-la, se ela for para seu maior serviço e louvor.

184 - SEGUNDO MODO


PARA FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO
Compreende quatro regras e uma nota
1ª regra. O amor que me leva e determina a escolher tal coisa deve vir do alto, do amor do mesmo
Deus. Devo portanto, antes da eleição, verificar se o amor maior ou menor que sinto por ela tem
por único motivo o meu Criador e Senhor.
185 - 2ª regra. Imaginarei diante de mim um homem a quem nunca vi, nem conheci e a quem
desejo toda a perfeição. E pensarei que conselho lhe daria que fizesse ou escolhesse para maior
glória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma. E procedendo do mesmo modo no
meu caso, tomarei para mim a regra que fixei para o outro.
186 - 3ª regra. Considerarei, como se estivesse no momento da morte, de que maneira e com que
cuidado eu desejaria ter então feito esta eleição. E fá-la-ei agora, regulando-me pelo que naquela
hora quereria ter feito.
187 - 4ª regra. Considerarei atentamente como estarei no dia do juízo. E pensarei o que é que eu
desejaria então ter deliberado acerca deste assunto. Que eu siga agora a regra que desejaria então
ter seguido, para que naquele dia possa inundar-me de gozo e contentamento.
188 - Nota. Observadas as mencionadas regras para minha salvação e tranqüilidade eterna, farei a
minha eleição e oblação a Deus nosso Senhor, conforme ao 6º ponto do primeiro modo de eleição.

27
189 - PARA CORRIGIR E REFORMAR A PRÓPRIA VIDA E ESTADO
Com referência aos que ocupam cargo eclesiástico ou estão casados (quer possuam muitos bens
temporais, quer não), deve-se notar o seguinte: quando não houver oportunidade ou vontade bem
firme para eleger as coisas possíveis de eleição mutável, aproveita muito, em lugar de fazer
eleição, indicar a maneira e o método para corrigir e reformar a própria vida e estado, a saber,
ordenando o seu ser, vida e estado, para glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de sua
alma.
Para chegar a este fim, deve-se, com o auxílio dos exercícios e modos de eleição, expostos acima,
considerar diligentemente que tipo de casa e número de empregados deve ter, como a deve reger e
governar, como os deve ensinar com a palavra e exemplo. Do mesmo modo, de seus bens, quanto
deve tomar para sua casa e familiares e quanto para distribuir aos pobres e outras obras pias, não
querendo nem buscando outra coisa, senão em tudo e por tudo, o maior louvor e glória de Deus
nosso Senhor. Porque cada um deve persuadir-se que na vida espiritual tanto mais aproveitará
quanto mais sair do seu próprio amor, querer e interesse.

TERCEIRA SEMANA

190 - PRIMEIRO DIA


PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO
À MEIA-NOITE
CRISTO NOSSO SENHOR VAI DE BETÂNIA A JERUSALÉM PARA A ÚLTIMA CEIA,
INCLUSIVE
Compreende a oração preparatória, três preâmbulos, seis pontos e um colóquio.
A oração preparatória habitual.
191 - O 1º preâmbulo consiste em recordar a história.
Aqui hei de lembrar como Cristo nosso Senhor enviou de Betânia a Jerusalém dois dos seus
discípulos a preparar a ceia. Como para lá se dirigiu Ele mesmo, depois, com os outros discípulos.
Como, depois de comerem o cordeiro pascal e terminada a ceia, lhes lavou os pés e lhes deu o seu
Santíssimo Corpo e Precioso Sangue. E como finalmente lhes falou, depois de Judas sair para
vender o seu Senhor.
192 - O 2º preâmbulo é a composição de lugar.
Aqui consistirá em considerar o caminho de Betânia a Jerusalém. É largo ou estreito? Plano? etc.
Do mesmo modo ver o lugar da ceia. Amplo ou pequeno? Disposto desta ou daquela maneira?
193 - O 3º preâmbulo é a petição do que quero.
Aqui pedirei dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados é que o Senhor vai à Paixão.

28
194 - 1º ponto. Verei as pessoas da ceia. Depois refletindo comigo mesmo procurarei tirar algum
proveito.
2º ponto. Ouvirei o que elas dizem e procurarei igualmente tirar algum proveito disso.
3º ponto. Olharei para o que fazem a fim de tirar disso algum proveito.
195 - 4º ponto. Considerarei o que Cristo nosso Senhor sofre ou quer sofrer em sua humanidade,
conforme a cena da Paixão que contemplo. E aqui começarei a esforçar-me com muito empenho
por chegar à dor, à tristeza e às lágrimas. Trabalharei assim nos outros pontos que se seguem.
196 - 5º ponto. Considerarei como a Divindade se esconde, a saber, como ela poderia aniquilar os
seus inimigos e não o faz. E como deixa a sacratíssima humanidade sofrer tão cruelmente.
197 - 6º ponto. Considerarei que padece tudo isto por meus pecados, etc. E o que devo eu fazer e
padecer por Ele.
198 - Colóquio. Terminarei com um colóquio a Cristo nosso Senhor e um Pai-nosso.
199 - Nota. É de notar, como já em parte ficou dito, que nos colóquios devemos ponderar e pedir
segundo a matéria proposta. A saber, conforme me acho tentado ou consolado, e conforme desejo
adquirir uma virtude ou outra, conforme quero tomar uma resolução ou outra, conforme quero
sentir dor ou gozo da coisa que contemplo, pedindo aquilo que mais eficazmente desejo acerca de
alguns pontos particulares.
Desta maneira, pode-se fazer um só colóquio a Cristo nosso Senhor, ou se, a matéria o convida ou
a devoção o move, pode-se fazer três colóquios: um à Mãe, outro ao Filho, outro ao Pai, pelo
mesmo método indicado na segunda semana, na meditação das duas bandeiras com a nota que se
segue às três classes.

200 - SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO


PELA MANHÃ - DA CEIA AO HORTO, INCLUSIVE
A oração preparatória habitual.
201 - O 1º preâmbulo é a história.
Aqui recordarei como Cristo nosso Senhor desceu com os doze discípulos do monte Sião, onde
acabara de celebrar a ceia, ao vale de Josafá. Deixou lá oito deles e os outros três ficaram numa
parte do jardim. E pondo-se em oração, começou a transpirar um suor como gotas de sangue.
Depois de ter, por três vezes, orado ao Pai, desperta os três discípulos. Os seus inimigos caem por
terra ao som da sua voz. Judas dá-lhe o beijo da paz. São Pedro corta uma orelha a Malco e Cristo
a repõe curada no seu lugar. É preso como um malfeitor, arrastam-no descendo o vale, e depois
subindo a encosta, até a casa de Anás.
202 - O 2º preâmbulo. Ver o lugar.
Aqui considerarei o caminho desde o monte Sião até o vale de Josafá, e o jardim, a sua extensão, a
sua largura, e a sua configuração.
203 - O 3º preâmbulo é pedir o que quero.

29
Na Paixão trata-se de pedir dor com Cristo doloroso, angústia com Cristo angustiado, lágrimas,
pena interna de tanto sofrimento que Cristo passou por mim.
204 - 1ª nota. Nesta segunda contemplação, depois da oração preparatória e dos três preâmbulos já
ditos, conserva-se nos pontos e colóquio a mesma forma de proceder que se teve na primeira
contemplação da ceia.
E à hora da Missa e vésperas se farão duas repetições sobre a 1ª e a 2ª contemplação. E antes do
jantar se aplicarão os sentidos sobre essas contemplações, começando sempre pela oração
preparatória e os três preâmbulos, conforme o assunto da contemplação, como se disse e explicou
na segunda semana.
205 - 2ª nota. Conforme a idade, as disposições e o temperamento, o exercitante fará cada dia
cinco exercícios ou menos.
206 - 3ª nota. Nesta terceira semana modificar-se-ão, em parte, a segunda e a sexta adição.
Segunda adição: logo ao despertar, pensarei onde vou e para que, e resumirei brevemente o
assunto da contemplação conforme o mistério que me propus. Ao levantar-me e vestir-me,
esforçar-me-ei por me entristecer e doer diante das dores e sofrimentos tão grandes de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
A sexta adição mudar-se-á deste modo: procurarei não me ocupar em pensamentos de alegria,
embora santos e bons, como seriam os da Ressurreição e da Glória. Procurarei antes a dor, a
tristeza, a aflição, recordando muitas vezes as penas, as fadigas e dores que Nosso Senhor Jesus
Cristo padeceu, desde o seu nascimento até o mistério da Paixão, em que agora me encontro.
207 - 4ª nota. O exame particular deve ser feito, como na semana passada, sobre os exercícios e
sobre as presentes adições.

208 - SEGUNDO DIA


À MEIA-NOITE - CONTEMPLAÇÃO DO HORTO À CASA DE ANÁS, INCLUSIVE
PELA MANHÃ - DA CASA DE ANÁS ATÉ A DE CAIFÁS, INCLUSIVE
Em seguida, as duas repetições e a aplicação dos sentidos, como se disse.

TERCEIRO DIA
À MEIA-NOITE - DA CASA DE CAIFÁS ATÉ O PRETÓRIO DE PILATOS, INCLUSIVE
PELA MANHÃ - DE PILATOS A HERODES, INCLUSIVE
Depois, as repetições e a aplicação dos sentidos, do mesmo modo.

QUARTO DIA
À MEIA-NOITE - DE HERODES A PILATOS CONTEMPLANDO A METADE DOS
MISTÉRIOS QUE SE PASSARAM NO PRETÓRIO

30
PELA MANHÃ - OS OUTROS MISTÉRIOS QUE ALI SE REALIZARAM
E do mesmo modo, as repetições e a aplicação dos sentidos.

QUINTO DIA
À MEIA-NOITE - DA CASA DE PILATOS ATÉ A CRUCIFICAXÃO
PELA MANHÃ - DA ELEVAÇÃO SOBRE A CRUZ ATÓ QUE EXPIROU
Depois as duas repetições e a aplicação dos sentidos.

SEXTO DIA
À MEIA-NOITE - DO DESCENDIMENTO DA CRUZ ATÉ A SEPULTURA, EXCLUSIVE
PELA MANHÃ - DA SEPULTURA, INCLUSIVE ATÉ A CASA PARA ONDE FOI NOSSA
SENHORA DEPOIS DO ENTERRO DE SEU FILHO

SÉTIMO DIA
À MEIA-NOITE E PELA MANHÃ - CONTEMPLAÇÃO DE TODA A PAIXÃO
Em vez das duas repetições e da aplicação dos sentidos, considerar-se-á por todo o dia, o mais
freqüentemente possível, como o sagrado corpo de Cristo nosso Senhor ficou separado da alma, e
onde e como foi sepultado. Considerar-se-á também a soledade de Nossa Senhora, em tão grande
dor e aflição. E finalmente também a dos discípulos.
209 - Nota. Se alguém quiser demorar-se mais na contemplação da Paixão, tomará menos
mistérios para cada exercício. Por exemplo, para a primeira contemplação somente a ceia. Para a
segunda, o lava-pés. Para a terceira, o dom do Santíssimo Sacramento. Para a quarta, o discurso
que Cristo fez aos seus discípulos. E assim das outras contemplações e mistérios.
Do mesmo modo, terminada a meditação da Paixão, poderá o exercitante gastar um dia inteiro a
repassar a primeira parte dela, e mais outro para a segunda parte, e um terceiro para toda a Paixão.
Quem, pelo contrário, quiser abreviar, poderá tomar para o exercício da meia-noite os mistérios da
ceia. Para os da manhã, os do jardim das Oliveiras. À hora da Missa, os da casa de Anás. À hora
de vésperas, os da casa de Caifás. Antes do jantar, os do pretório de Pilatos. Assim, omitindo as
repetições e as aplicações dos sentidos fará cada dia cinco exercícios distintos, tomando de cada
vez um novo mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meditada assim toda a Paixão, poder-se-á ter uma contemplação de conjunto em um só dia, num
exercício ou em vários, como parecer de maior proveito.

210 - REGRAS PARA ORDENAR-SE DORAVANTE NA ALIMENTAÇÃO

31
1ª regra. De pão não há tanta conveniência de abster-nos, porque não é alimento para o qual o
apetite se costuma inclinar tão desordenadamente como para outros manjares, nem é ocasião das
mesmas tentações.
211 - 2ª regra. Parece mais conveniente a abstinência na bebida do que no pão. Deve, portanto,
cada um considerar cuidadosamente o que lhe é útil para tomar, e o que lhe é prejudicial para se
abster dele.
212 - 3ª regra. A respeito de outros alimentos, deve-se guardar a maior e mais inteira abstinência,
porque neste ponto o apetite é mais fácil em se desordenar, como a tentação mais pronta em
instigar. E assim a abstinência nos outros alimentos pode, para evitar a desordem, ser praticada de
duas maneiras: primeiro, habituando-se a tomar alimentos triviais; em seguida, se eles forem
delicados, em pequena quantidade.
213 - 4ª regra. Contanto que não se prejudique a saúde, quanto mais o homem se abstiver do
conveniente, tanto mais depressa virá a achar o meio-termo que se deve guardar na comida e na
bebida. E isto por dois motivos: primeiro, porque ajudando-se e dispondo-se assim, sentirá muitas
vezes mais luzes interiores, consolações e inspirações divinas que lhe mostrarão o meio-termo.
Segundo, porque se em tal regime de abstinência não sentir forças corporais nem disposição para
se dar aos exercícios espirituais, facilmente virá a encontrar a medida da alimentação que mais
convém ao sustento do corpo.
214 - 5ª regra. Enquanto a pessoa come, veja a Cristo nosso Senhor comendo com os seus
apóstolos, e considere como bebe, como olha, como fala; e procure imitá-lo. De maneira que a
parte principal do entendimento se ocupe na consideração de nosso Senhor e a secundária, na
sustentação corporal; e assim alcance mais dignidade e ordem sobre a maneira de se comportar no
comer.
215 - 6ª regra. Poderemos também durante a refeição ocupar-nos em alguma outra consideração,
como da vida dos santos ou de alguma piedosa contemplação, ou de algum assunto espiritual que
temos em vista. Porque estando ocupados nestes pensamentos, teremos menos prazer e satisfação
sensível na alimentação do corpo.
216 - 7ª regra. Importa, sobretudo, que o espírito não se ocupe totalmente no que comemos e que
se evite a sofreguidão do apetite, mas seja senhor de si, tanto na maneira de comer como na
quantidade que se toma.
217 - 8ª regra. Para corrigir qualquer desordem, muito aproveita, depois do almoço ou depois do
jantar ou em outra hora em que não sinta apetite, determinar consigo para o almoço ou para o
jantar seguintes, e assim sucessivamente cada dia, a quantidade que convirá comer. E esta não se
exceda por nenhum apetite ou tentação. Ao contrário, para melhor vencer qualquer apetite
desordenado e tentação do inimigo, se é tentado a comer mais, comer menos.

QUARTA SEMANA

218 - PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO COMO CRISTO NOSSO SENHOR APARECEU A


NOSSA SENHORA
A oração preparatória habitual.

32
219 - O 1º preâmbulo é a história.
Recordarei aqui como, tendo Cristo expirado na cruz, seu corpo ficou separado de sua alma, mas
sempre unido à Divindade, e como sua alma bem-aventurada desceu à mansão dos mortos
igualmente unida à Divindade. E como, tendo libertado as almas dos justos, voltado ao sepulcro e
ressuscitado, apareceu em corpo e alma à sua bendita Mãe.
220 - O 2º preâmbulo é a composição de lugar.
Nesta contemplação representar-me-ei a disposição do santo sepulcro e o lugar ou a casa onde se
encontra Nossa Senhora, considerando em particular as suas diversas partes, o seu quarto, oratório,
etc.
221 - O 3º preâmbulo: pedir o que quero.
Aqui pedirei graça para me alegrar e gozar intensamente por tanta glória e gozo de Cristo nosso
Senhor.
222 - 1º, 2º e 3º pontos. Serão os mesmos que os da contemplação da ceia de Cristo nosso Senhor
(194).
223 - 4º ponto. Considerarei como a Divindade, que parecia ocultar-se na Paixão, aparece agora e
se manifesta em sua Santíssima Ressurreição, de uma maneira tão miraculosa, por seus próprios e
santíssimos efeitos.
224 - 5º ponto. Considerarei como Nosso Senhor Jesus Cristo exerce o ofício de consolador, à
maneira como os amigos costumam consolar-se uns aos outros.
225 - Colóquio. Terminarei por um ou vários colóquios conformes com o assunto da meditação e
recitarei um Pai-nosso.
226 - 1ª nota. Nas contemplações seguintes, da Ressurreição até a Ascensão inclusive, proceda-se
em todos os mistérios da maneira indicada abaixo, seguindo o observando em toda a semana da
Ressurreição a mesma forma e método que em toda a semana da Paixão.
Nesta primeira contemplação sobre a Ressurreição, o exercitante procederá, quanto aos
preâmbulos, conforme o assunto proposto. Quanto aos cinco pontos, que sejam os mesmos As
adições que a seguir se indicam sejam também as mesmas.
E assim para todo o resto, como para as repetições, aplicação dos sentidos, contemplação mais
breve ou prolongada dos mistérios, etc., proceda-se como na semana da Paixão.
227 - 2ª nota. Como regra geral, nesta semana, mais que nas três precedentes, é mais conveniente
contentar-se o exercitante com quatro exercícios em vez de cinco. O primeiro, pela manhã,
imediatamente depois de levantar. O segundo, à hora da Missa ou antes do almoço, em vez da
primeira repetição. O terceiro, à hora de vésperas, em lugar da segunda repetição. O quarto, que
será uma aplicação dos sentidos sobre os três exercícios do mesmo dia, antes do jantar, notando e
fazendo pausa nos pontos mais importantes e onde tenha sentido maiores moções e gostos
espirituais.
228 - 3ª nota. Embora em todas as contemplações se tenha proposto um determinado número de
pontos, três, cinco, etc., o exercitante poderá tomar mais ou menos conforme se sentir melhor. Para
isso, ser-lhe-á muito útil, antes de começar a contemplação, prever e fixar o número preciso de
pontos que percorrerá.

33
229 - 4ª nota. Nesta quarta semana modificar-se-ão a segunda, a sexta, a sétima e a décima das dez
adições.
Segunda adição: logo ao despertar porei diante de mim a contemplação que irei fazer, querendo
comover-me e alegrar-me com tanto gozo e alegria de Cristo nosso Senhor.
Sexta adição: entreter-me-ei com pensamentos de prazer, alegria e gozo espiritual, como, por
exemplo, da glória do céu.
Sétima adição: aproveitar-me-ei da claridade ou do agradável da estação, como da sombra no
verão, do calor do sol ou do fogo no inverno, conforme julgar ou me parecer ser de ajuda para me
regozijar em meu Criador e Senhor.
Décima adição: em vez de me dar à penitência, procurarei observar a temperança e a justa medida
em todas as coisas, a não ser que ocorram dias de jejum ou abstinência de preceito impostos pela
Igreja, porque estes só por legítimo impedimento podem deixar de ser guardados.

CONTEMPLAÇÃO
PARA ALCANÇAR O AMOR

Nota: Convém, em primeiro lugar, notar duas coisas:


A primeira, que o amor deve consistir mais em obras do que em palavras.
231 - A segunda, que o amor consiste na comunhão mútua, a saber, a pessoa que ama dá e
comunica à pessoa amada aquilo que tem ou parte do que tem, e o que pode. E esta procede do
mesmo modo com relação àquela que a ama. Deste modo, se uma possui ciência, comunica-a
àquela que não a tem; e se dispõe de honras e riquezas, do mesmo modo. E assim reciprocamente
uma para com a outra.
A oração preparatória habitual.
232 - O 1º preâmbulo é a composição do lugar.
Considerar-me diante de Deus nosso Senhor, dos Anjos e dos Santos que intercedem por mim.
233 - O 2º preâmbulo: pedir a graça que quero.
Aqui pedirei um conhecimento interno de tantos benefícios que recebi de Deus a fim de que,
reconhecendo-os inteiramente, possa amar e servir em tudo a sua divina Majestade.
234 - 1º ponto. Passarei pela memória os benefícios recebidos como a Criação, a Redenção e os
dons particulares, ponderando com muito afeto quanto Deus nosso Senhor fez por mim, quanto me
deu daquilo que tem, e conseqüentemente como este mesmo Senhor deseja dar-se a si mesmo,
quanto dele depender, conforme os seus divinos desígnios. E em seguida, refletindo comigo
mesmo, considerarei como é de toda a razão e justiça que eu ofereça a dê à sua divina Majestade
todos os meus bens e a mim mesmo com eles, como quem oferece um presente, com toda a
afeição:

34
 "Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, a minha inteligência
e toda a minha vontade, tudo que tenho e tudo o que possuo. Vós mo destes; a Vós, Senhor,
o restituo. Tudo é vosso; de tudo disponde segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor
e a vossa graça, que isso me basta".
235 - 2º ponto. Considerarei como Deus está presente nas criaturas. Nos elementos, dando-lhes o
ser. Nas plantas, dando-lhes a vida vegetativa. Nos animais, a vida sensitiva. Nos homens, a vida
intelectual. Em mim, dando-me a existência, a vida, a sensibilidade e a inteligência: e tendo-me
criado à imagem e semelhança de sua divina Majestade, fez de mim um templo seu.
E aqui refletirei de novo comigo mesmo, como se disse no primeiro ponto, ou de qualquer outro
modo que me parecer preferível.
O mesmo se fará em cada um dos pontos seguintes.
236 - 3º ponto. Considerarei como Deus age e trabalha por mim em todas as coisas criadas sobre a
terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalha. E isso nos céus, nos elementos, nas plantas,
nos frutos, nos animais etc., dando-lhes e conservando-lhes o ser vegetativo, sensitivo etc.
Depois refletirei comigo mesmo.
237 - 4º ponto. Considerarei como todos os bens e todos os dons vêm do alto: a minha potência
limitada, por exemplo, da potência soberana e infinita do alto. E do mesmo modo a justiça, a
bondade, a piedade, a misericórdia etc., assim como os raios derivam do sol e as águas, de sua
fonte etc.
Terminarei depois refletindo comigo mesmo, como se disse.
Colóquio. Por fim o colóquio e um Pai-nosso.

238 -TRÊS MODOS DE ORAR.


PRIMEIRO MODO
O primeiro modo de orar consiste em refletir sobre os dez mandamentos, os sete pecados capitais,
as três potências da alma e os cinco sentidos corporais. Esta maneira de orar não constitui tanto um
modelo ou método de oração, mas apenas oferece uma fórmula, método e exercícios com os quais
o exercitante se disponha e aproveite e a sua oração seja aceita.
239 - Em primeiro lugar, far-se-á o equivalente à segunda adição da segunda semana (131), a
saber: antes de começar a orar, repousar um pouco o espírito, sentado ou passeando como melhor
lhe parecer, considerando aonde se vai e a quê.
Esta mesma adição se fará em todos os modos de orar.
240 - Em seguida, uma oração preparatória.
Pedirei, por exemplo, a Deus nosso Senhor a graça de conhecer em que é que faltei aos dez
mandamentos. Suplicarei também a graça e o Socorro necessários para me corrigir no futuro, e o
conhecimento perfeito dos seus preceitos para os guardar mais fielmente, para maior glória e
louvor de sua divina Majestade.

35
241 - 1. SOBRE OS MANDAMENTOS
Quanto ao primeiro mandamento, hei de considerar e examinar como é que o observei e em que o
transgredi.
Este exame durará, como regra geral, por espaço de três Pais-nossos e três Ave-marias.
Se neste tempo descubro faltas, pedirei perdão por elas e recitarei a oração dominical.
O mesmo farei em cada um dos dez mandamentos.
242 - 1ª nota. Quando me examino sobre um mandamento em que não costuma cair, não é
necessário deter-me nele por tanto tempo. Mas em geral gastarei mais ou menos tempo na
consideração e exame das culpas sobre um mandamento, conforme me encontrar mais ou menos
culpado.
O mesmo se diga dos pecados capitais.
243 - 2ª nota. Depois de acabar a consideração de todos os mandamentos e de me ter acusado a
mim mesmo, pedirei a graça e o auxílio necessários para me corrigir para o futuro.
E terminarei com um colóquio a Deus nosso Senhor, conforme o exercício que acabo de fazer.
244 - 2. SOBRE OS PECADOS CAPITAIS
Depois da adição, far-se-á a oração preparatória, como acaba de se explicar.
A única diferença é que aqui se trata de pecados que se devem evitar e antes se tratava de
mandamentos que se devem observar.
De resto, seguir-se-ão a ordem e as regras já indicadas.
Terminar com um colóquio.
245 - Nota. Para obter um conhecimento mais claro das culpas cometidas, considerem-se as
virtudes opostas aos pecados capitais. E para melhor os evitar proponha e procure o exercitante,
com santos exercícios, alcançar e possuir as sete virtudes a eles contrárias.
246 - 3. SOBRE AS FACULDADES DA ALMA
Para as três faculdades da alma, seguir-se-ão a mesma ordem e as mesmas regras que para os
mandamentos: fazendo a adição, a oração preparatória e o colóquio.
247 - 4. SOBRE OS CINCO SENTIDOS
Para os cinco sentidos corporais, o método é sempre o mesmo. Só muda a matéria.
248 - Nota. Aquele que no uso dos seus sentidos quer imitar a Jesus Cristo nosso Senhor,
encomendar-se-á na oração preparatória à sua divina Majestade. Depois de se ter examinado sobre
cada um dos cinco sentidos dirá uma Ave-Maria ou um Pai-nosso.
E o que no uso dos seus sentidos deseja imitar a Nossa Senhora, pedir-lhe-á na oração preparatória
que lhe obtenha esta graça de seu divino Filho e Senhor. E depois do exame de cada sentido
recitará uma Ave-Maria.

36
249 - SEGUNDO MODO DE ORAR CONTEMPLAR O SENTIDO DE CADA PALAVRA
DE UMA ORAÇÃO
250 - Adição. Neste segundo modo de orar, a adição será a mesma que no primeiro modo.
251 - A oração preparatória será conforme a pessoa a quem se dirige a oração.
252 - De joelhos ou sentado, conforme a disposição do corpo ou a devoção do espírito, com os
olhos fechados ou fixos no mesmo lugar, sem os deixar vagar um lado para o outro, direi a
primeira palavra do Pai-nosso e deter-me-ei nela por todo o tempo em que achar pensamentos,
comparações, gosto e consolação interior na consideração do título de Pai.
O mesmo farei para cada palavra da oração dominical ou de qualquer outra fórmula que tiver
escolhido para orar deste modo.
253 - 1ª regra. Empregarei uma hora em meditar assim todo o Pai-nosso. Terminando esse,
recitarei vocal ou mentalmente, da maneira ordinária, a Ave-Maria, o Credo, a Alma de Cristo e a
Salve-Rainha.
254 - 2ª regra. Se ao contemplar o Pai-nosso eu achar, numa só ou em duas palavras, suficiente
matéria para refletir e gosto e consolações, não tenho que preocupar-me de passar adiante, ainda
que fique nelas toda a hora. Terminado o tempo, recitarei da maneira habitual o resto do Pai-nosso.
255 - 3ª regra. Se me detive a hora inteira numa ou duas palavras do Pai-nosso, no dia seguinte,
quando quiser retomar a mesma oração, direi da maneira ordinária a palavra ou as duas palavras já
meditadas e começarei a contemplar sobre a palavra que segue imediatamente, como se disse na
segunda regra.
256 - 1ª nota. Acabado o Pai-nosso em um ou em muitos dias, farei o mesmo com a Ave-Maria. E
depois com as outras orações, de modo que por algum tempo sempre me exercite numa delas.
257 - 2ª nota. No fim da oração, dirigir-me-ei à pessoa a quem orei e pedir-lhe-ei, em poucas
palavras, as virtudes ou graças de que mais necessitado me sinta.

258 - TERCEIRO MODO DE ORAR POR COMPASSO


A adição será a mesma que no primeiro e no segundo modo de orar.
A oração preparatória como no segundo.
O terceiro modo consiste em orar mentalmente dizendo a cada respiração(t) uma palavra do Pai-
nosso ou de qualquer outra oração, de forma a pronunciar uma só palavra entre uma respiração e
outra. E durante o tempo decorrido entre duas respirações atenda-se especialmente à significação
desta palavra ou à pessoa a quem a oração se dirige, ou à própria indignidade, ou à diferença entre
tanta grandeza de um lado e tanta baixeza do outro. Pronunciar-se-ão, do mesmo modo e conforme
as mesmas regras, todas as palavras do Pai-nosso. E depois hão de recitar-se, na forma ordinária de
orar, as outras orações, isto é, a Ave-maria, a Alma de Cristo, o Credo e a Salve-Rainha.
259 - 1ª regra. No dia seguinte ou em outra hora em que se queira orar deste modo, recitar-se-á a
Ave-maria compassadamente, e as outras orações como de costume. Do mesmo modo se
procederá depois com elas.

37
260 - 2ª regra. Se alguém quisesse orar mais longamente por este terceiro modo, poderia recitar
em seguida várias das orações indicadas ou todas elas, seguindo o mesmo modo de respiração
compassada, como foi explicado.

MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO


261 - OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO NOSSO SENHOR
Nota. Nos mistérios seguintes, só as palavras entre aspas são do próprio Evangelho. A maior parte
dos mistérios terão três pontos para com maior facilidade se poder meditar e contemplá-los.
262 - A ANUNCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA. Lc 1,26-38
1º ponto. O anjo S. Gabriel, saudando Nossa Senhora, anunciou-lhe que havia de conceber a Cristo
Nosso Senhor: - "E entrando o Anjo onde ela estava, saudou-a, dizendo: - Deus te salve, cheia de
graça; eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho".
2º ponto. O Anjo confirma o que tinha dito, anunciando-lhe a conceição de S. João Batista,
dizendo: - "Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice".
3º ponto. Nossa Senhora respondeu ao Anjo: - "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra".
263 - VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA À SUA PRIMA SANTA ISABEL. Lc 1,39-56
1º. Quando Nossa Senhora visitou Isabel, sentiu-lhe a presença S. João Batista, ainda no ventre de
sua mãe: - "E aconteceu que apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou no seu
ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; e exclamou em alta voz, dizendo: - "Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre".
2º. Nossa Senhora entoa um cântico, dizendo: - "A minha alma glorifica ao Senhor".
3º. -"Ficou Maria com Isabel cerca de três meses e depois voltou, para sua casa".
264 - NASCIMENTO DE CRISTO SENHOR NOSSO. Lc 2,1-14
1º. Nossa Senhora e José, seu esposo, vão de Nazaré a Belém. "E José subiu da Galiléia para
prestar sujeição a César juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida".
2º. "E deu à luz seu filho primogênito e enfaixou-o e reclinou-o numa manjedoura".
3º. "Apareceu uma multidão da milícia celeste que dizia: - "Glória a Deus no mais alto dos céus".
265 - A ADORAÇÃO DOS PASTORES. Lc 2,8-20
1º. O Anjo anuncia aos pastores o nascimento de Cristo Nosso Senhor: - "Dou-vos uma grande
nova, porque nasceu hoje o Salvador do mundo".
2º. Os pastores foram a Belém: - "E foram com grande pressa e encontraram Maria, José e o
menino deitado numa manjedoura".
3º. "Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus".

38
266 - A CIRCUNCISÃO DO SENHOR. Lc 2,21
1º. Circuncidaram o Menino Jesus.
2º. "Foi-lhe posto o nome de Jesus, como o tinha chamado o Anjo, antes que fosse concebido no
ventre materno".
3º. Restituem o Menino a sua Mãe, compadecida do sangue que seu Filho derramava.
267 - OS TRÊS REIS MAGOS. Mt 2,1-12
1º. Os três Reis Magos, guiados pela estrela, vieram adorar Jesus, dizendo: - "Vimos a sua estrela
no Oriente e viemos adorá-lo".
2º. Adoraram-no e ofereceram-lhe presentes: - "Prostrados por terra adoraram-no e ofereceram-lhe
presentes, ouro, incenso e mirra".
3º. "Tendo sido avisados em sonhos para não voltarem a Herodes, regressaram por outro caminho
para o seu país".
268 - PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA E APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS.
Lc 2,22-39
1º. Trazem o Menino Jesus ao Templo, para ser apresentado ao Senhor como primogênito, e
oferecem por ele "um par de rolas ou dois pombinhos".
2º. Simeão tendo vindo ao templo "tomou-o em seus braços", dizendo: "Agora, Senhor, deixa
partir o teu servo em paz".
3º. Ana "sobrevindo em seguida, louvava ao Senhor e falava dele a todos os que esperavam a
Redenção de Israel".
269 - FUGA PARA O EGITO. Mt 2,13-18
1º. Herodes que queria matar o Menino Jesus mandou matar os inocentes; porém, antes da morte
deles, um Anjo avisou a S. José, que fugisse para o Egito: - "Levanta-te, toma o menino e sua mãe
e foge para o Egito".
2º. Partiu para o Egito: - "E ele levantando-se de noite partiu para o Egito".
3º. "E esteve lá até a morte de Herodes".
270 - CRISTO NOSSO SENHOR VOLTA DO EGITO. Mt 2,19-23
1º. O Anjo avisa a S. José que volte a Israel: - "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a
terra de Israel".
2º. "Levantando-se, veio para a terra de Israel".
3º. Retirou-se para Nazaré, porque reinava Arquelau, filho de Herodes, na Judéia.
271 - VIDA DE CRISTO NOSSO SENHOR DESDE OS 12 AOS 30 ANOS. Lc 2,51-52
1º. Era obediente a seus pais: - "Crescia em sabedoria, em idade e graça".

39
2º. Parece que exercia a arte de carpinteiro, como o dá a entender S. Marcos no cap. 6,
3:"Porventura não é este o carpinteiro?"
272 - IDA DE CRISTO AO TEMPLO, QUANDO TINHA 12 ANOS. Lc 2,41-50
1º. Cristo Nosso Senhor, na idade de 12 anos, subiu de Nazaré a Jerusalém.
2º. Cristo Senhor nosso ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem.
3º. Passados três dias, encontraram-no no Templo, sentado no meio dos doutores da Lei,
discutindo com eles, e perguntando-lhe seus pais onde tinha estado, respondeu: - "Não sabeis que
me devo ocupar das coisas que são do meu Pai?"
273 - BATISMO DE CRISTO. Mt 3,13-17
1º. Cristo Nosso Senhor, tendo-se despedido de sua bendita Mãe, foi de Nazaré para o rio Jordão,
onde estava S. João Batista.
2º. S. João batizou Cristo Nosso Senhor, mas tendo-se antes escusado, por se considerar indigno de
o batizar, respondeu-lhe Cristo: - "Deixa por agora, porque é necessário que cumpramos assim
toda a justiça".
3º. O Espírito Santo desceu sobre Ele e do Céu ouviu-se a voz do Pai que dizia: - "Este é o meu
Filho muito amado em quem pus as minhas complacências".
274 - TENTAÇÃO DE CRISTO. Lc 4,1-13; Mt 4,1-11
1º. Depois de batizado foi Jesus para o deserto, onde esteve jejuando quarenta dias e quarenta
noites.
2º. Ali foi tentado por três vezes pelo inimigo: - "Chegando-se a Ele o tentador, disse-lhe: - Se és o
Filho de Deus manda que estas pedras se transformem em pão: lança-te daqui para baixo; tudo o
que vês te darei, se, prostrado em terra, me adorares".
3º. "Vieram os Anjos e serviram-no".
275 - CHAMAMENTO DOS APÓSTOLOS
1º. Três vezes parecem ter sido chamados S. Pedro e Santo André: - a primeira a um certo
conhecimento de Jesus (Jo 1,35-42); a segunda a seguir de alguma forma a Cristo com intenção de
voltar ao que tinham deixado (Lc 5, 1-11.27-32); a terceira, enfim, para seguirem a Cristo Nosso
Senhor (Mt 4,18-20; Mc 1,16-18).
2º. Chamou os outros apóstolos de cuja vocação especial não faz menção o Evangelho. Considerar
também estas três coisas: primeira, a condição rude e humilde dos apóstolos; segunda, a dignidade
a que foram tão suavemente chamados; terceira, os dons e graças pelos quais foram elevados
acima de todos os Padres do Novo e Velho Testamentos.
276 - PRIMEIRO MILAGRE DE JESUS NAS BODAS DE CANÁ, DA GALILÉIA. Jo 2,1-
11
1º. Cristo Nosso Senhor foi convidado com os seus discípulos para as bodas.
2º. A Mãe de Jesus avisou-o da falta de vinho, dizendo-lhe: - "Não tem vinho", e mandou aos
criados: - "Fazei tudo o que Ele vos disser".

40
3º. "Converteu Jesus a água em vinho manifestando assim a sua glória, e os seus creram nEle".
277 - CRISTO EXPULSA OS VENDILHÕES DO TEMPLO. Jo 2,13-22
1º. Com um chicote de cordas Jesus expulsou do Templo todos os vendilhões.
2º. Lançou por terra as mesas e o dinheiro dos banqueiros que estavam no Templo.
3º. Aos pobres que vendiam pombas disse mansamente: - "Tirai daqui isto e não façais da minha
casa uma casa de comércio".
278 - SERMÃO DA MONTANHA. Mt 5
1º. Falou à parte com os seus discípulos prediletos acerca das bem-aventuranças: "Bem-
aventurados os pobres de espírito, os mansos, os misericordiosos, os que choram, os que têm fome
e sede de justiça, os limpos de coração, os pacíficos e os que sofrem perseguição".
2º. Exortou-os a que usassem bem os seus talentos: - "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus".
3º. Cristo mostrou que não transgredia a Lei, mas que a completava, declarando os preceitos de
não matar, guardar castidade, não levantar falsos testemunhos e de amar os inimigos: - "Eu vos
digo que ameis os vossos inimigos e façais bem aos que vos odeiam".
279 - CRISTO NOSSO SENHOR SERENA A TEMPESTADE NO MAR. Mt 8,23-27
1º. Estando Cristo Nosso Senhor dormindo no mar, levantou-se uma grande tempestade.
2º. Os seus discípulos, aterrorizados, despertaram-no e Ele repreendeu-os pela falta de fé, dizendo-
lhes: - "Porque temeis, homens de pouca fé?"
3º. Mandou aos ventos e ao mar que se acalmassem e cessou o vento, e o mar tornou-se calmo;
pelo que, os homens ficaram maravilhados e diziam: - "Quem é este a quem os ventos e o mar
obedecem?"
280 - CRISTO ANDA SOBRE AS ÁGUAS. Mt 14,22-33
1º. Estando Cristo Nosso Senhor no monte fez embarcar os seus discípulos, e, tendo despedido a
multidão, começou a orar sozinho.
2º. A barca era batida pelas ondas, e Jesus Cristo dirigiu-se a ela caminhando sobre o mar; e os
discípulos pensaram que fosse um fantasma.
3º. E Jesus disse-lhes: - "Sou eu, não temais". Então S. Pedro, por sua ordem, foi ter com Ele,
andando sobre as águas e, porque duvidou, começou a afundar-se; mas Cristo Nosso Senhor
salvou-o e repreendeu-o pela sua pouca fé. Depois entrando ambos na barca, cessou o vento.
281 - OS APÓSTOLOS FORAM ENVIADOS A PREGAR. Mt 10,1-16
1º. Cristo chama os seus amados discípulos e dá-lhes poder para expulsar os demônios dos corpos
humanos e curar todas as enfermidades.
2º. Ensina-lhes a prudência e a paciência: - "Eis que vos mando como ovelhas para o meio de
lobos. Sede, pois, prudentes como serpentes e simples como pombas".

41
3º. Ensina-lhes o modo como devem ir: - "Não queirais possuir ouro nem prata. Dai de graça o que
de graça recebestes". E deu-lhes o assunto da pregação: - "E pregai dizendo: Já está próximo o
Reino dos Céus".
282 - CONVERSÃO DE MADALENA. Lc 7,36-50
1º. Estando Cristo Nosso Senhor sentado à mesa em casa do fariseu, entra Madalena trazendo um
vaso de alabastro, cheio de perfume.
2º. Pondo-se atrás do Senhor, a seus pés, começou a banhá-los com lágrimas, a enxugá-los com os
cabelos, a beijá-los e a ungi-los com perfumes.
3º. Como o fariseu acusasse Madalena, Jesus saiu em sua defesa, dizendo: - "Muitos pecados lhe
são perdoados, porque amou muito. E disse à mulher: - a tua fé te salvou, vai em paz".
283 - COMO CRISTO NOSSO SENHOR DEU DE COMER A CINCO MIL HOMENS. Mt
14,13-21
1º. Os discípulos, vendo que se fazia tarde, pedem a Jesus que despeça a multidão que com Ele
estava.
2º. Cristo Nosso Senhor mandou que lhe trouxessem os pães, abençoou-os, partiu-os, e ordenando
à multidão que se sentasse, deu-os a seus discípulos para os distribuírem a todos.
3º. Comeram, até a saciedade, e sobraram ainda doze cestos de pães.
284 - TRANSFIGURAÇÃO DE CRISTO. Mt 17,1-9
1º. Cristo Nosso Senhor, tendo tomado consigo os seus queridos discípulos Pedro, Tiago e João,
transfigurou-se, ficando o seu rosto resplandecente como o sol, e as suas vestes brancas como a
neve.
2º. Falava com Moisés e Elias.
3º. Dizendo S. Pedro que se fizessem três tendas, ouviu-se uma voz do Céu que dizia: - "Este é o
meu filho muito amado, ouvi-o ". Ao ouvirem esta voz, os discípulos caíram de bruços com medo,
porém Cristo Nosso Senhor tocou-os e disse: - "Levantai-vos e não temais. Não digais a ninguém
o que vistes, até o Filho do Homem ressuscitar dos mortos".
285 - A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO. Jo 11,1-45
1º. Marta e Maria mandam dizer a Cristo Nosso Senhor que Lázaro está enfermo. Sabendo isto,
Jesus ficou ainda dois dias no mesmo lugar, para que o milagre fosse mais evidente.
2º. Antes de o ressuscitar pede a uma e a outra que tenham fé, dizendo: - "Eu sou a Ressurreição e
a Vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá".
3º. Depois de ter chorado e orado, ressuscitou-o, ordenando-lhe: "Lázaro, vem para fora".
286 - CEIA EM BETÂNIA. Mt 26,6-10
1º. O Senhor ceia em casa de Simão, o leproso, juntamente com Lázaro.
2º. Maria derrama perfumes sobre a cabeça de Jesus.

42
3º. Judas murmura, dizendo: - "Para que este desperdício de perfumes?" Mas Jesus defende-a de
novo, dizendo: - "Por que molestais esta mulher? Ela faz-me verdadeiramente uma boa obra".
287 - DOMINGO DE RAMOS. Mt 21,1-17
1º. O Senhor manda buscar a burra e o jumento, dizendo: - "Desatai-os e trazei-mos, e se alguém
vos disser alguma coisa respondei que o Senhor precisa deles e logo os devolverá".
2º. Montou sobre a jumenta, coberta com as vestes dos apóstolos.
3º. As multidões saem para recebê-lo, estendendo sobre o caminho os seus mantos e ramos de
árvores, clamando: - "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana
no mais alto dos Céus!"
288 - PREGAÇÃO NO TEMPLO. Lc 19,47-48
1º. E todos os dias ensinava no Templo.
2º. Acabada a pregação, voltava a Betânia, por não não haver quem o recebesse em Jerusalém.
289 - ÚLTIMA CEIA. Mt 26,20-30; Jo 13,1-30
1º. Comeu o cordeiro pascal com os doze apóstolos aos quais predisse a sua morte: - "Em verdade
vos digo que um de vós me há de vender".
2º. Lavou os pés aos discípulos, mesmo a Judas, começando por S. Pedro; este, considerando a
majestade do Senhor e a sua própria baixeza, não o podendo consentir, dizia: - "Tu Senhor,
lavares-me os pés a mim?" E como S. Pedro não visse naquela ação um exemplo de humildade,
disse-lhe Jesus: - "Dei-vos o exemplo para que façais como eu fiz".
3º. Instituiu o Santíssimo Sacrifício da Eucaristia numa prova suprema do seu amor, dizendo: -
"Tomai e comei". Acabada a Ceia, Judas sai para vender Cristo Nosso Senhor.
290 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CEIA AO HORTO, INCLUSIVE. Mt 26,30-
46; Mc 14,26-42
1º. Acabada a ceia e cantado o hino, foi o Senhor com os seus discípulos, cheios de medo, para o
monte das Oliveiras. Deixou oito no Getsêmani, dizendo-lhes: - "Sentai-vos aqui enquanto vou
orar".
2º. Acompanhado de S. Pedro, S. Tiago e S. João, orou três vezes ao Senhor, desta maneira: - "Pai,
se é possível, que passe de mim este cálice; porém não se faça a minha vontade, mas sim a tua". E
estando em agonia, orava ainda com mais instância.
3º. Foi invadido de tão grande temor que dizia: - "A minha alma está triste até à morte". E suou
sangue tão copiosamente, que diz S. Lucas: - "O seu suor era como gotas de sangue que corre até à
terra. Fato este que já supõe estarem as suas vestes ensopadas em sangue.
291 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE O HORTO ATÉ À CASA DE ANÁS,
INCLUSIVE. Mt. 26,47-58.69-70; Lc 22,47-57; Mc 14,43-68
1º. Nosso Senhor deixa-se beijar por Judas e prender, como se fosse um ladrão, pelos soldados, a
quem disse: - "Viestes com armas e varapaus para me prender como se fosse um ladrão. Todos os
dias estava no meio de vós, ensinando no Templo, e não me prendestes". E perguntando "a quem
buscais" os inimigos caíram por terra.

43
2º. S. Pedro feriu um servo do Pontífice, mas Jesus disse-lhe com mansidão: - "Mete a espada na
bainha", e curou a ferida do criado.
3º. Abandonado pelos discípulos, Cristo foi levado a Anás, onde S. Pedro, que o tinha seguido de
longe, negou-o uma vez. (Um criado) deu uma bofetada em Jesus, dizendo: - "Assim respondes ao
Pontífice?"
292 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE ANÁS À DE CAIFÁS,
INCLUSIVE. Mt 26; Mc 14; Lc 22; Jo 18
1º. Levam-no atado da casa de Anás à de Caifás, onde S. Pedro o negou duas vezes. Mas, tendo-
lhe o Senhor lançado um olhar, o apóstolo saiu e chorou amargamente.
2º. Jesus esteve atado durante toda aquela noite.
3º. Além disso, os que o tinham prendido, zombavam dEle, feriam-no e, vendando-lhe o rosto,
davam-lhe bofetadas, dizendo: - "Profetiza quem te bateu, e proferiam contra Ele blasfêmias
semelhantes".
293 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE CAIFÁS À DE PILATOS,
INCLUSIVE. Mt 27,1-2.11-26; Lc 23,1-5.13-25; Mc 15,1-15
1º. Foi levado por toda a multidão dos judeus a Pilatos, diante do qual o acusavam, dizendo: -
"Encontramos este homem deitando a perder a nação e proibindo pagar o tributo a César".
2º. Pilatos depois de o ter examinado uma e outra vez, disse: - "Não encontro (neste homem) crime
algum".
3º. A Cristo foi preferido Barrabás, um ladrão: - "Todo o povo gritava: 'Não soltes a este, mas a
Barrabás'".
294 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ À DE HERODES.
Lc 23,6-11
1º. Pilatos enviou Jesus Galileu a Herodes, Tetrarca da Galiléia.
2º. Herodes, por curiosidade, interrogou-o largamente, porém Ele nada respondia, apesar de os
escribas e sacerdotes continuamente o acusarem.
3º. Herodes, com a sua guarda, desprezou-o, mandando-lhe vestirem uma túnica branca.
295 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE HERODES À DE PILATOS. Mt
27, 26-30; Lc 23, 11-26; Mc 15, 15-20; Jo 19, 1-6
1º. Herodes reenviou Jesus a Pilatos e desde esse momento ambos ficaram amigos, de inimigos
que eram antes.
2º. Pilatos tomou Jesus e mandou-o açoitar. Os soldados fazendo uma coroa de espinhos, puseram-
lhe na cabeça, vestiram-no de púrpura e chegavam-se a Ele e diziam: "Deus te salve, Rei dos
Judeus. E davam-lhe bofetadas".
3º. Trouxe-o fora diante de todo o povo: - "Saiu pois Jesus coroado de espinhos e vestido de
púrpura. Disse-lhes Pilatos: - Eis aqui o Homem. E ao vê-lo os Pontífices vociferavam: -
Crucifica-o, crucifica-o".

44
296 - MISTÉRIOS SUCEDIDOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A CRUCIFIXÃO,
INCLUSIVE. Jo 19,13-22
1º. Pilatos, sentado como juiz no tribunal, entregou Jesus aos judeus para o crucificarem, depois de
eles o terem negado por seu rei, dizendo: - "Não temos outro rei senão César".
2º. Caminhava com a cruz às costas; e não a podendo levar, obrigaram Simão Cirineu a levá-la
após Jesus.
3º. Crucificaram-no em meio a dois ladrões, com esta inscrição (sobre a cruz): - "Jesus de Nazaré,
Rei dos Judeus".
297 - MISTÉRIOS SUCEDIDOS NA CRUZ. Jo 19,23-37
1º. As sete palavras que Jesus disse na Cruz: - Rogou pelos que o crucificaram. Perdoou o ladrão.
Encomendou S. João a sua Mãe e sua Mãe a S. João. Bradou em alta voz: - "Tenho sede". E
deram-lhe fel e vinagre. Disse que estava desamparado. "Tudo está consumado". "Pai, em tuas
mãos encomendo o meu espírito".
2º. O sol escureceu-se, as rochas fenderam-se, as sepulturas abriram-se e o véu do Templo rasgou-
se de alto a baixo em duas partes.
3º. Blasfemavam, dizendo: - "Tu que destróis o Templo de Deus desce da cruz". Dividiram as suas
vestes. Aberto o lado com a lança, dele brotou água e sangue.
298 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CRUZ ATÉ O SEPULCRO, INCLUSIVE. Jo
19,38-42
1º. Foi descido da cruz por José e Nicodemos em presença de sua Mãe, amargurada de dor.
2º. O seu corpo foi levado ao sepulcro, ungido e sepultado.
3º. Puseram guardas (junto ao sepulcro).
299 RESSURREIÇÃO DE CRISTO SENHOR NOSSO E PRIMEIRA APARIÇÃO
1º. Apareceu primeiro à Virgem Maria, o que embora não esteja expresso na Sagrada Escritura, se
subentende quando diz que apareceu a muitos outros. Porque a Escritura supõe que somos
inteligentes, como está escrito: - "Também vós não tendes ainda entendimento?"
300 - SEGUNDA APARIÇÃO. Mc 16,1-11
1º. Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, e Salomé vão bem de madrugada ao túmulo, dizendo: -
"Quem removerá a pedra da boca do sepulcro?"
2º. Vêem a pedra removida e um Anjo que lhes diz: - "Buscais a Jesus de Nazaré? Ressuscitou,
não está aqui".
3º. Apareceu a Maria que ficara perto do sepulcro, depois das outras se terem ido.
301 - TERCEIRA APARIÇÃO. Mt 28,8-10
1º. Retiram-se as Marias do sepulcro com medo e grande alegria, desejosas de anunciar aos
discípulos a Ressurreição do Senhor.

45
2º. Cristo Senhor Nosso apareceu-lhes no caminho, dizendo: - "Deus vos salve". Elas,
aproximando-se, prostraram-se a seus pés e adoraram-no.
3º. Disse-lhes Jesus: - "Não temais. Ide, avisai meus irmãos para que vão à Galiléia. É lá que me
verão".
302 - QUARTA APARIÇÃO. Lc 24,9-12.33-34
1º. Tendo São Pedro sabido pelas mulheres que Cristo ressuscitara, correu apressadamente ao
sepulcro.
2º. Entrando nele, viu somente os panos com que tinha sido coberto o corpo de Cristo Nosso
Senhor e mais nada.
3º. Estando S. Pedro a refletir nestas coisas, apareceu-lhe Cristo, e por isso os Apóstolos diziam: -
"Verdadeiramente o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão".
303 - QUINTA APARIÇÃO. Lc 24,13-35
1º. Apareceu aos discípulos que iam a Emaús falando dele.
2º. Repreendeu-os, mostrando pelas Escrituras que Cristo tinha de morrer e ressuscitar: - "Ó
estultos e tardos de coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era
necessário que Cristo sofresse e assim entrasse na sua glória?"
3º. A seu pedido ficou com eles até lhes dar a comunhão, e em seguida desapareceu. E eles,
regressando (a Jerusalém), contaram aos discípulos como o tinham reconhecido na comunhão.
304 - SEXTA APARIÇÃO. Jo 20,19-23
1º. Os discípulos estavam todos reunidos "por medo dos judeus", menos S. Tomé.
2º. Apareceu-lhes Jesus apesar das portas estarem fechadas, e pondo-se no meio deles, disse-lhes: -
"A paz esteja convosco!"
3º. Comunicou-lhe o Espírito Santo, dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem
perdoares os pecados, ser-lhes-ão perdoados".
305 - SÉTIMA APARIÇÃO. Jo 20,24-29
1º. S. Tomé, que não acreditava, por ter estado ausente na aparição anterior, disse: - "Se não o vir,
não acreditarei".
2º. Daí a oito dias, apareceu-lhes Jesus, estando as portas fechadas, e disse a S. Tomé: - "Mete aqui
o dedo, vê a verdade, e não sejas incrédulo, mas fiel".
3º. S. Tomé acreditou e disse: - "Meu Senhor e meu Deus!" Ao que Cristo respondeu: - "Bem-
aventurados os que não viram e creram".
306 - OITAVA APARIÇÃO. Jo 21,1-17
1º. Apareceu Jesus a sete dos seus discípulos que estavam a pescar e não tinham apanhado nada
durante toda a noite. Lançando a rede por ordem de Jesus, "não podiam tirá-la por causa da grande
abundância de peixes".

46
2º. Por este milagre, S. João reconheceu Jesus e disse a S. Pedro: - "É o Senhor". Pedro lançou-se
ao mar e veio ter com Cristo.
3º. Cristo deu-lhes a comer uma posta de peixe assado e um favo de mel, e encomendou as suas
ovelhas a S. Pedro, tendo-lhe antes perguntado por três vezes se o amava, dizendo: - "Apascenta as
minhas ovelhas".
307 - NONA APARIÇÃO. Mt 28,16-20
1º. Os discípulos vão ao monte Tabor por ordem do Senhor.
2º. Cristo aparece-lhes e diz: - "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra".
3º. Enviou-os a pregar por toda a terra, dizendo: - "Ide, e ensinai todas as gentes, batizando-as em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
308 - DÉCIMA APARIÇÃO. 1 Cor 15,6
"Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos".
309 - DÉCIMA PRIMEIRA APARIÇÃO. 1 Cor 15,7
"Depois apareceu a S. Tiago".
310 - DÉCIMA SEGUNDA APARIÇÃO
"Apareceu a José de Arimatéia como piamente se medita e se lê na vida dos santos."
311 - DÉCIMA TERCEIRA APARIÇÃO. 1 Cor 15,8
Apareceu a S. Paulo, depois da Ascensão. "Finalmente apareceu-me a mim como a um aborto."
Apareceu também na sua alma aos Santos Padres do Limbo e, depois de os ter tirado de lá,
voltando a revestir-se do seu corpo, apareceu muitas vezes aos discípulos e conversava com eles.
312 - ASCENSÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR. At 1,1-12
1º. Depois de ter aparecido aos apóstolos durante quarenta dias, dando-lhes muitas provas e sinais,
e falando-lhes do Reino de Deus, mandou-lhes que esperassem em Jerusalém o Espírito Santo que
lhes tinha prometido.
2º. Levou-os ao monte das Oliveiras e "elevou-se nos ares à vista deles e uma nuvem o ocultou aos
seus olhos".
3º. E estando eles a olhar para o céu, dizem-lhes os Anjos: - "Homens da Galiléia, por que estais a
olhar para o céu? Este Jesus, que do meio de vós foi arrebatado ao céu, virá um dia, do mesmo
modo que agora o vistes subir".

47
REGRAS

313 - REGRAS PARA DE ALGUM MODO SENTIR E CONHECER AS VÁRIAS


MOÇÕES QUE SE PRODUZEM NA ALMA:
AS BOAS PARA AS ACEITAR E AS MÁS PARA AS REJEITAR.
São mais próprias para a primeira semana.
314 - 1ª regra. Às pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma normalmente o
inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo com que imaginem deleites e prazeres sensuais
para que mais se conservem e cresçam nos seus vícios e pecados.
Com tais pessoas o bom espírito usa de um método oposto: punge-lhes e remorde-lhes a
consciência pela sindérese da razão.
315 - 2ª regra. Nas pessoas que se vão purificando intensamente dos seus pecados e caminham no
serviço de Deus nosso Senhor de bem a melhor, o bom e o mau espírito operam em sentido inverso
ao da regra precedente. Porque neste caso é próprio do mau espírito causar tristeza e remorsos de
consciência, levantar obstáculos e perturbá-las com falsas razões para as deter no seu progresso.
E é próprio do bom espírito dar-lhes coragem, forças, consolações e lágrimas, inspirações e paz,
facilitando-lhes o caminho e desembaraçando-o de todos os obstáculos, para as fazer avançar na
prática do bem.
316 - 3ª regra. A consolação espiritual. Chamo consolação quando na alma se produz alguma
moção interior, pela qual ela vem a se inflamar no amor do seu Criador e Senhor e,
conseqüentemente, quando a nenhuma cousa criada sobre a face da terra, pode amar em si, senão
no Criador de todas elas.
Do mesmo modo, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, seja pela dor
dos seus pecados ou por causa da Paixão de Cristo nosso Senhor ou por outras coisas diretamente
ordenadas ao serviço e louvor dEle.
Finalmente, chamo consolação a todo aumento de esperança, fé e caridade e a toda alegria interior
que eleva e atrai a alma para as coisas celestiais e para sua salvação, tranqüilizando-a e
pacificando-a em seu Criador e Senhor.
317 - 4ª regra. A desolação espiritual. Chamo desolação todo o contrário da terceira regra: como
escuridão da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de
várias agitações e tentações que levam à falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a alma
toda preguiçosa, tíbia, triste e como se separada do seu Criador e Senhor.
Porque, assim como a consolação é contrária à desolação, assim os pensamentos provenientes da
consolação são opostos aos provenientes da desolação.
318 - 5ª regra. No tempo da desolação não se deve fazer mudança alguma, mas permanecer firme
e constante nos propósitos e determinações em que se estava no dia anterior a esta desolação, ou
nas resoluções tomadas antes, no tempo da consolação.

48
Porque, assim como na consolação é o bom espírito que nos guia e aconselha mais eficazmente,
assim na desolação nos procura conduzir o mau espírito, sob cuja inspiração é impossível achar o
caminho que nos leve a acertar.
319 - 6ª regra. Uma vez que na desolação não devemos mudar os primeiros propósitos, muito
aproveita reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo, insistindo mais na oração,
na meditação, em examinar-se muito e em aplicar-se nalgum modo conveniente de fazer
penitência.
320 - 7ª regra. O que está em desolação considere como o Senhor, para o provar, o deixou
entregue às suas potências naturais, a fim de resistir aos diversos impulsos e tentações do inimigo.
Porque pode resistir-lhes com o auxílio divino, que nunca lhe falta, embora não o sinta
distintamente, por lhe ter tirado o Senhor o seu muito fervor, o grande amor e a graça intensa,
restando-lhe contudo a graça suficiente para a salvação eterna.
321 - 8ª regra. O que está em desolação esforce-se por se manter na paciência, virtude oposta às
aflições que lhe sobrevêm. E pense que bem depressa será consolado, empregando contra tal
desolação as diligências explicadas na sexta regra.
322 - 9ª regra. Três são as causas principais da desolação:
Primeiramente, a nossa tibieza, preguiça e negligência nos exercícios de piedade afastam de nós,
por culpa própria, a consolação espiritual.
Em segundo lugar, para mostrar-nos quanto valemos e até que ponto somos capazes de avançar no
serviço e louvor de Deus, sem tanta recompensa de consolações e maiores graças.
Em terceiro lugar, para nos ensinar e fazer conhecer em verdade, sentindo-o interiormente, que não
depende de nós conseguir ou conservar uma grande devoção, um intenso amor, lágrimas, nem
qualquer outra consolação espiritual, mas que tudo isso é um dom e uma graça de Deus nosso
Senhor. E também para que não façamos ninho em casa alheia, permitindo que o nosso espírito se
exalte com qualquer movimento de orgulho ou vanglória, atribuindo-nos a nós os sentimentos da
devoção ou os outros efeitos da consolação espiritual.
323 - 10ª regra. Quem está em consolação preveja como se há de portar no tempo de desolação,
que depois virá, tomando novas forças para esse tempo.
324 - 11ª regra. Quem está em consolação procure humilhar-se e abater-se tanto quanto possível,
lembrando-se de quão pouco é capaz no tempo da desolação, quando privado dessa graça ou
consolação.
Pelo contrário, quem está desolado lembre-se que muito pode com a graça que lhe basta para
resistir a todos os seus inimigos, procurando forças em seu Criador e Senhor.
325 - 12ª regra. O inimigo procede como uma mulher, sendo fraco quando lhe resistimos, e forte
no caso contrário.
Pois é próprio da mulher, quando disputa com algum homem, perder a coragem e pôr-se em fuga,
quando este lhe resiste francamente. Pelo Contrário, se o homem começa a temer e a recuar,
crescem sem medida a cólera, a vingança e a ferocidade dela.

49
Do mesmo modo, é próprio do inimigo enfraquecer-se e perder o ânimo, retirando suas tentações,
quando a pessoa que se exercita nas coisas espirituais enfrenta sem medo as suas tentações,
fazendo diametralmente o oposto.
Ao invés, se a pessoa que se exercita começa a ter medo e a perder o ânimo ao sofrer tentações,
não há animal tão feroz sobre a face da terra como o inimigo da natureza humana, na consecução
de sua perversa intenção com tão grande malícia.
326 - 13ª regra. Também age como um sedutor, em querer ficar oculto e não ser descoberto.
Pois o homem corrupto, quando solicita por palavras para um fim mau a filha de um pai honrado
ou a mulher de um bom marido, quer que suas palavras e insinuações fiquem em segredo. Ao
contrário muito se descontenta, quando a filha revela ao pai ou a mulher ao marido suas palavras
sedutoras e intenção depravada, pois facilmente conclui que não poderá levar a termo o
empreendimento começado.
Da mesma forma, quando o inimigo da natureza humana apresenta suas astúcias e insinuações à
alma justa, quer e deseja que sejam recebidas e guardadas em segredo. Mas, quando a pessoa
tentada as descobre a seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual, que conheça seus enganos e
malícias, isso lhe causa grande pesar, porque conclui que não poderá realizar o mal que começara,
uma vez que foram descobertos seus enganos evidentes.
327 - 14ª regra. Procede também como um caudilho, para vencer e roubar o que deseja.
Pois assim como um capitão ou comandante de uma tropa, acampando e examinando as forças ou
disposição de um castelo, ataca-o pelo lado mais fraco, da mesma maneira, o inimigo da natureza
humana, rondando à volta de nós, observa de todos os lados nossas virtudes teologais, cardeais e
morais. Onde nos encontra mais fracos e mais necessitados quanto à nossa salvação eterna, por ali
nos combate e procura tomar-nos.
328 - REGRAS PARA O MESMO FIM COM MAIOR DISCERNIMENTO DE ESPIRITOS
São mais próprias para a segunda semana.
329 - 1ª regra. É próprio de Deus e de seus anjos, em suas moções, dar verdadeira alegria e gozo
espiritual, tirando toda tristeza e perturbação que o inimigo costuma causar. Deste é próprio
combater esta alegria e consolação espiritual com razões aparentes, sutilezas e freqüentes ilusões.
330 - 2ª regra. Somente Deus pode dar consolação à alma sem causa precedente. Porque é próprio
do Criador entrar, sair, causar nela moções, levando-a toda ao amor de sua divina Majestade. Digo
"sem causa", isto é, sem nenhum prévio sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qual
venha tal consolação, mediante seus atos de entendimento e vontade.
331 - 3ª regra. "Com causa", podem consolar a alma tanto o bom espírito como o mau, mas para
fins contrários. O bom espírito para proveito da alma, para que cresça e suba de bem a melhor. O
mau, para o contrário, e posteriormente para arrastá-la à sua perversa intenção e malícia.
332 - 4ª regra. É próprio do espírito mau, que se disfarça em anjo de luz, introduzir-se em
conformidade com a alma devota e sair com proveito dele, isto é, suscitar pensamentos bons e
santos, conforme com a tal alma justa, e depois procurar pouco a pouco atingir seus objetivos,
atraindo a alma a seus enganos secretos e perversas intenções.
333 - 5ª regra. Devemos atender muito ao curso dos pensamentos. Se o princípio, o meio e o fim
são todos bons, inclinados inteiramente para o bem, é sinal do bom espírito. Mas se a seqüência

50
dos pensamentos sugeridos termina em alguma coisa má ou que distrai ou que é menos boa do que
a que a pessoa se propusera anteriormente fazer, ou a enfraquece ou inquieta e conturba tirando-
lhe a paz, tranqüilidade e quietude que antes possuía, então é sinal claro de que provém de mau
espírito, inimigo do nosso proveito e salvação eterna.
334 - 6ª regra. Quando o inimigo da natureza humana for sentido e reconhecido por sua cauda de
serpente e pelo mau fim a que induz, é útil para a pessoa que foi por ele tentada observar logo a
sucessão dos pensamentos bons que lhe trouxe e o princípio deles. E como, pouco a pouco,
procurou fazê-la descer da suavidade e gozo espiritual em que se encontrava, até levá-la à sua
intenção depravada, para que, com essa experiência conhecida e notada, a pessoa se guarde para o
futuro de seus costumeiros enganos.
335 - 7ª regra. Nos que progridem de bem para melhor, o bom espírito toca a alma doce, leve e
suavemente, como a gota de água que penetra numa esponja. O mau toca-a com dureza, ruído e
inquietação, como a gota de água que cai na pedra.
Aos que procedem de mal a pior, os mesmos espíritos os tocam de maneira inversa. A causa disso
está em ser a disposição da alma contrária ou semelhante a estes espíritos. Pois, quando é
contrária, entram com estrépito, sendo bem notados e sentidos. E quando é semelhante, entram em
silêncio, como em sua própria casa de porta aberta.
336 - 8ª regra. Quando a consolação é "sem causa", embora não exista nela engano, por proceder
unicamente de Deus nosso Senhor, como se disse, contudo a pessoa espiritual, a quem Deus dá tal
consolação, deve com muita vigilância e atenção considerar e distinguir o tempo propriamente dito
da atual consolação, do tempo seguinte, em que a pessoa continua ardente e favorecida com o
benefício da consolação anterior. Pois muitas vezes, neste segundo tempo, a pessoa, por efeito dos
próprios hábitos e em conseqüência das suas idéias e seus juízos, ou sob a inspiração do bom ou do
mau espírito, é levada a diversas resoluções e opiniões, que não são dadas imediatamente por Deus
nosso Senhor. Por isso, é necessário que sejam muito bem examinados, antes de se lhes dar inteiro
crédito ou de serem postos em prática.
337 - REGRAS NO MINISTÉRIO DE DISTRIBUIR ESMOLAS
338 - 1ª regra. Se distribuo esmolas a parentes, amigos ou pessoas às quais me sinto afeiçoado,
tenho de observar quatro coisas, já mencionadas na matéria da eleição (184-187).
A primeira é que o amor que me leva a dar esmolas a essas pessoas desça do alto, do amor de Deus
nosso Senhor, de forma que eu sinta antes em mim que o amor mais ou menos vivo que lhes tenho
é por Deus, e que Deus resplandeça no motivo que me leva a amá-las mais.
339 - 2ª regra. Imaginarei um homem que nunca vi nem conheci e a quem desejo toda a perfeição
no seu ministério e no seu estado. Farei, nem mais nem menos, aquilo que desejaria que ele fizesse
na distribuição das esmolas, tomando para mim a regra e a medida que desejaria que ele adotasse e
que considero meio mais conforme à maior glória de Deus e à maior perfeição de sua alma.
340 - 3ª regra. Examinarei, como se estivesse na hora da morte, que maneira de proceder e que
medida desejaria ter adotado no exercício da minha administração. E em conformidade com isto,
guardarei a mesma medida na distribuição das minhas esmolas.
341 - 4ª regra. Considerando como me acharei no dia do juízo, examinarei bem como desejaria
então ter usado deste ofício e ter desempenhado este ministério. E seguirei agora a mesma regra
que quereria ter seguido, no dia do juízo.

51
342 - 5ª regra. Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas às quais quer
distribuir esmolas, detenha-se e reflita bem as quatro regras precedentes, examinando e
verificando, à luz delas, a sua afeição. E não dê a esmola até que tenha totalmente tirado de si,
conforme a estas regras, a sua afeição desordenada.
343 - 6ª regra. Ainda que não haja culpa em aceitar os bens de Deus nosso Senhor para os
distribuir, quando a pessoa é chamada para este ministério, contudo no determinar a proporção e a
quantidade do que deve tomar e reservar para si mesmo ou dar a outros pode haver dúvida de falta
ou de excesso. Por isso, pode-se reformar em sua vida e estado pelas regras precdentes.
344 - 7ª regra. Pelas razões acima expostas, e por muitas outras, no que concerne à própria pessoa
e ao regime da casa procedermos sempre de uma maneira, tanto melhor e mais segura, quanto mais
restringirmos e reduzirmos os gastos e quanto mais nos parecermos com o pontífice supremo,
nossa regra e nosso modelo que é Cristo nosso Senhor.
Foi em conformidade com esta regra que o 3º concílio de Cartago, ao qual assistiu Santo
Agostinho, determinou e ordenou que a mobília do bispo fosse comum e pobre. Isto deve aplicar-
se a todos os estados, guardadas as proporções e tendo em conta a condição e nível das pessoas.
Assim no estado matrimonial temos o exemplo de S. Joaquim e Sta. Ana que dividiam os bens em
três partes: uma, davam-na aos pobres; outra, ao culto e ao serviço do Templo; e a terceira
reservavam-na para a manutenção de si mesmos e de sua família.
345 - NOTAS PARA ENTENDER E SE ORIENTAR A RESPEITO DE ESCRÚPULOS E
INSINUAÇÕES DO INIMIGO
246 - - 1ª nota. Chamam vulgarmente escrúpulo o que procede do nosso próprio juízo e liberdade,
a saber: quando eu livremente julgo que é pecado o que não é pecado. Assim, por exemplo,
acontece que alguém, depois de ter pisado casualmente uma cruz de palha, julga que pecou. Isto
propriamente é juízo errôneo e não verdadeiro escrúpulo.
347 - 2ª nota. Depois de eu ter pisado aquela cruz, ou depois de ter pensado ou dito ou feito
alguma outra coisa, vem-me de fora o pensamento de que pequei. E, por outra parte, parece-me
não ter pecado. No entanto sinto com isso perturbação, a saber, enquanto duvido e não duvido. Isto
é propriamente escrúpulo e tentação do inimigo.
348 - 3ª nota. A primeira espécie de escrúpulo mencionada na primeira nota deve ser detestada,
porque ela é falsidade.
Quanto ao outro escrúpulo, indicado na segunda nota, durante algum tempo não é de pequena
utilidade para a pessoa que se dá a exercícios espirituais. Ajuda-a até mesmo muito a limpar-se e a
purificar-se, separando-a inteiramente de toda a aparência de pecado, conforme esta palavra de S.
Gregório: "É próprio das almas boas ver faltas onde as não há" (Bonarum mentium est ibi culpam
agnoscere ubi culpa nulla est).
349 - 4ª nota. O inimigo observa muito se a pessoa é relaxada ou delicada. Se é delicada procura
torná-la ainda mais delicada para mais a perturbar e prejudicar. Por exemplo, se vê que uma pessoa
não consente em pecado mortal nem venial nem aparência alguma de pecado deliberado, então o
inimigo, que não pode fazê-la cair em coisa que pareça pecado, procura fazê-la imaginar pecado
onde não há, por exemplo, numa palavra ou num pensamento sem importância.
Se a pessoa é relaxada, o inimigo procura relaxá-la mais. E assim, se antes não fazia caso de
pecados veniais, procurará que dos mortais faça pouco caso. E se antes fazia algum caso, procurará
que agora faça muito menos ou nenhum.

52
350 - 5ª nota. A pessoa que deseja aproveitar na vida espiritual, sempre deve proceder de modo
contrário ao do inimigo. Se o inimigo quer relaxar a consciência, procure torná-la delicada. Do
mesmo modo, se o inimigo procura torná-la delicada até ao excesso, a pessoa procure firmar-se
solidamente no meio-termo para tranqüilizar-se totalmente.
351 - 6ª nota. Quando uma pessoa boa quer dizer ou fazer alguma coisa dentro das normas da
Igreja e das tradições dos nossos maiores, para a glória de Deus nosso Senhor, se lhe vem um
pensamento ou tentação de fora, para que não diga nem faça essa coisa, trazendo-lhe razões
aparentes de vanglória ou de outra coisa, então deve levantar o pensamento a seu Criador e
Senhor. E se vê ser um serviço que lhe é devido, ou ao menos, não lhe é contrário, deve agir de
maneira diametralmente oposta contra essa tentação, respondendo-lhe como S. Bernardo: "Nem
por ti comecei, nem por ti acabarei" (Nec propter te incepi, nec propter te finiam).
352 - REGRAS PARA SENTIR VERDADEIRAMENTE COMO SE DEVE NA IGREJA
MILITANTE
353 - 1ª regra. Renunciando a todo juízo próprio, devemos estar dispostos e prontos a obedecer em
tudo á verdadeira esposa de Cristo Nosso Senhor, isto é, à santa Igreja hierárquica, nossa mãe.
354 - 2ª regra. Louvar a confissão sacramental e a recepção do Santíssimo Sacramento pelo menos
uma vez por ano, muito mais todos os meses, melhor ainda cada semana, com as disposições
devidas que se requerem (18).
355 - 3ª regra. Louvar a assistência freqüente à missa, como também os cantos, salmos e longas
orações dentro e fora da igreja. Da mesma forma, as horas ordenadas no tempo designado para
todo o ofício divino e para todas as orações e todas as horas canônicas.
356 - 4ª regra. Louvar muito as ordens religiosas, a virgindade e a continência. E não tanto o
matrimônio, como qualquer destas.
357 - 5ª regra. Louvar os votos religiosos de obediência, pobreza e castidade e os outros votos de
perfeição voluntária.
É de notar que o voto, tendo por matéria coisas que conduzem à perfeição evangélica, não se pode
fazer de coisas que afastam dela, como de ser comerciante ou de abraçar o estado matrimonial, etc.
358 - 6ª regra. Louvar relíquias dos Santos, venerando aquelas e rezando a estes, louvar as
estações, as peregrinações, as indulgências, os jubileus, as bulas da cruzada, o costume de acender
velas nos templos.
359 - 7ª regra. Louvar as leis a respeito dos jejuns e abstinências da quaresma, dos quatro tempos,
das vigílias, da sexta-feira e do sábado, assim como as penitências, não só interiores, mas mesmo
exteriores.
360 - 8ª regra. Louvar o zelo pela construção e ornamentação das igrejas. Louvar o uso das
imagens, e venerá-las conforme o que representam.
361 - 9ª regra. Louvar finalmente todos os preceitos da santa Igreja, e estar disposto para procurar
razões em sua defesa, e nunca para os criticar.
362 - 10ª regra. Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar as diretrizes, recomendações e
comportamento dos nossos superiores (do que para os criticar). Porque, supondo que algumas das
suas disposições não sejam, ou não tenham sido tais (que mereçam elogio), falar contra elas, quer
em sermões ao público, quer em conversas com os simples fiéis, originaria mais críticas e

53
escândalo do que proveito: o povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer
espirituais. Todavia, assim como é prejudicial falar mal dos superiores na sua ausência diante do
povo humilde, assim pode ser útil falar dos maus costumes às pessoas que podem remediá-los.
363 - 11ª regra. Louvar a teologia positiva e a teologia escolástica. Porque, como é mais próprio
dos doutores positivos, tais como S. Jerônimo, Sto. Agostinho, S. Gregório e outros mover os
afetos e levar os homens a amar e a servir em tudo a Deus nosso Senhor, assim é mais próprio dos
escolásticos como Sto. Tomás, S. Boaventura, o Mestre das Sentenças e outros definir e explicar,
conforme as necessidades dos tempos modernos as coisas necessárias à salvação eterna, e refutar e
explicar melhor todos os erros e todas as falácias. Com efeito, os doutores escolásticos, mais
recentes que os primeiros, não somente se servem do conhecimento da Sagrada Escritura e dos
escritos dos santos doutores positivos, mas, esclarecidos e ensinados pela virtude divina, ajudam-
se também dos concílios, dos cânones e constituições da nossa santa Mãe Igreja.
364 - 12ª regra. Evitemos fazer comparações entre pessoas ainda vivas e os santos que estão no
céu. Porque há muito perigo de nos enganarmos neste ponto; quando dizemos, por exemplo, que
este homem é mais sábio do que Sto. Agostinho, que é um outro S. Francisco ou maior ainda, que
é um outro S. Paulo na bondade, na santidade, etc.
365 - 13ª regra. Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a crer que o que nos parece
branco é negro, se assim o determina a Igreja hierárquica; persuadidos de que entre Cristo Nosso
Senhor - o Esposo - e a Igreja - sua Esposa - não há senão um mesmo Espírito, que nos governa e
dirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e mesmo Senhor, autor dos
dez mandamentos, que se dirige e governa a santa Igreja, nossa Mãe.
366 - 14ª regra. Embora seja muito verdade que ninguém se pode salvar sem estar predestinado e
sem ter a fé e a graça, contudo precisamos ter muito cuidado na maneira de falar e discorrer sobre
este assunto.
367 - 15ª regra. Habitualmente não devemos falar muito de predestinação. Mas se em alguma
ocasião se falar disso, faça-se de maneira que os simples fiéis não caiam em algum erro. Algumas
vezes isso acontece, quando concluem: "Se já está determinado que me vou condenar ou salvar,
não são as minhas ações boas ou más que hão de mudar esta determinação". E com este raciocínio
tornam-se negligentes e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual das
suas almas.
368 - 16ª regra. Da mesma forma é de advertir que, por falar muito de fé e com muita insistência,
sem nenhuma distinção e explicação, não se dê ocasião ao povo de vir a ser negligente e
preguiçoso do obrar, e isso... quer antes de a fé estar informada pela caridade, quer depois.
369 - 17ª regra. Igualmente não devemos insistir tanto na graça a ponto de se produzir o veneno
que nega a liberdade. Pode-se com certeza falar da fé e da graça, mediante o auxílio divino, para
maior louvor de sua divina Majestade, mas não de tal forma nem por tais modos, mormente em
nossos tempos tão perigosos, que as obras e o livre-arbítrio sejam prejudicados ou mesmo
negados.
370 - 18ª regra. Embora devamos estimar acima de tudo o serviço de Deus nosso Senhor por puro
amor, devemos contudo louvar muito o temor da divina Majestade. Porque não somente é piedoso
e santíssimo o temor filial, mas até o mesmo temor servil, o qual ajuda muito a sair do pecado
mortal, quando o homem não alcança coisa melhor ou mais útil. E quando sai dele, facilmente o
ajuda a alcançar o temor filial, que é totalmente querido e agradável a Deus, por ser inseparável do
divino amor.

54
APÊNDICE 1

ORAÇÕES VOCAIS

No nº 253, Santo Inácio propõe cinco orações vocais para a meditação do exercitante segundo
diversos "modos de orar". São colocadas aqui na ordem em que são enumeradas. Três delas, a
Ave-maria, a Anima Christi e o Pai-nosso são freqüentemente utilizadas nos colóquios dos
Exercícios.

PAI-NOSSO

Pai nosso,
que estais no céu,
santificado seja o vosso nome,
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
Não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal. Amém.

AVE-MARIA

Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o
fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria. Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

CREDO

Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu
sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou
ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir
a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja católica, na comunhão dos
santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.

ALMA DE CRISTO (ANIMA CHRISTI)

Alma de Cristo, santificai-me.


Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Nas vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de vós.
Do inimigo maligno, defendei-me.

55
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para vós.
Para que vos louve com os vossos santos
Pelos séculos dos séculos.
Amém.

SALVE-RAINHA

Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!


A vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste
desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre.
Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.

APÊNDICE 2

OUTRAS REFERÊNCIAS

Em diversos lugares dos "Exercícios" se faz referência aos mandamentos (238-243), às obras de
misericórdia (351), aos pecados capitais (244-245), às faculdades da alma (246), aos sentidos do
corpo (247-248), como objeto da meditação do exercitante, segundo os diversos "modos de orar".
São colocados aqui, como ajuda para a memória do exercitante.

OS MANDAMENTOS 4º - Jejuar e abster-se de carne, quando


manda a santa Mãe Igreja.
Os dez mandamentos da lei de Deus: 5º - Pagar o dízimo, segundo o costume.
1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não tomar o seu santo nome em vão.
3º - Guardar domingos e festas. AS OBRAS DE MISERICÓRDIA
4º - Honrar pai e mãe.
As obras de misericórdia espirituais:
5º - Não matar.
6º - Não pecar contra a castidade. 1ª - Dar bom conselho.
7º - Não furtar. 2ª - Ensinar os ignorantes.
8º - Não levantar falso testemunho. 3ª - Corrigir os que erram.
9º - Não desejar a mulher do próximo. 4ª - Consolar os aflitos.
10º - Não cobiçar as coisas alheias. 5ª - Perdoar as injúrias.
6ª - Sofrer com paciência as fraquezas do
Os cinco mandamentos da Igreja: próximo.
7ª - Rogar a Deus pelos vivos e defuntos.
1º - Ouvir missa inteira nos domingos e festas
de guarda. As obras de misericórdia corporais:
2º - Confessar-se ao menos uma vez cada 1ª - Dar de comer a quem tem fome.
ano. 2ª - Dar de beber a quem tem sede.
3º - Comungar pela Páscoa da Ressurreição. 3ª - Vestir os nus.
4ª - Dar pousada aos peregrinos.

56
5ª - Visitar os encarcerados. AS VIRTUDES
6ª - Remir os cativos. As virtudes teologais:
7ª - Enterrar os mortos. Fé.
Esperança.
Caridade.
OS SETE PECADOS CAPITAIS E AS
VIRTUDES OPOSTAS As virtudes cardeais:
Prudência.
Os sete pecados capitais: Justiça.
Fortaleza.
1º - Orgulho. Temperança.
2º - Inveja.
3º - Ira.
4º - Avareza.
5º - Luxúria. AS FACULDADES DA ALMA
6º - Gula. Memória.
7º - Preguiça. Inteligência.
As sete virtudes opostas: Vontade.

1ª - Humildade.
2ª - Caridade para com o próximo. OS CINCO SENTIDOS DO CORPO
3ª - Mansidão.
4ª - Generosidade. Visão.
5ª - Castidade. Audição.
6ª - Temperança. Olfato.
7ª - Zelo. Paladar.
Tato.

* * *

57

Você também pode gostar