"A oração controla nossos afetos e dirige nossas ações para Deus"
São Bernardo de Claraval
Esta palavra, que vem do Latim initiatio, de initiare,designava entre os romanos, a
admissão nos mistérios de seus Ritos secretos e sagrados.Alinhado com esse pensamento Rizzardo da Camino,em seu dicionário Maçônico,reforça que a Iniciação, embora possa ser definida como "princípio", é a expressão peculiar para as cerimónias e ritos secretos, místicos e espirituais. Chevalier em seu dicionário dos símbolos enfatiza que a Iniciação é, de certo modo, fazer morrer, provocar a morte, ressaltando que a morte é considerada uma saída, a passagem de uma porta que dá acesso a outro lugar, sendo então a "saída" também considerada uma entrada, uma introdução. Cada "Iniciação" tem sua forma particular, em especial a Maçónica é derivada das iniciações operativas e das associações de obreiros, estando então ligada por um lado, à arte de construir, e por outro lado ao mito de Hiram. A "arte de construir " o templo ideal: eis o objetivo proposto pela Maçonaria. Esse templo é primeiro, o homem, em seguida a sociedade, ressaltando que o trabalho é individual e ao mesmo tempo coletivo, e que a reintegração se dará em sua totalidade quando todos estiverem preparados. O processo de admissão procura inicialmente preparar o candidato, denominado inicialmente de demandador, para que ele fique livre dos pensamentos mundanos, se concentrando exclusivamente na cerimónia que irá realizar, procurando de toda a forma eliminar a vã curiosidade do aspirante, bem como estabelecer um cenário de reflexão e de solidão, pois como a ilusão do mundo atual não propicia a vivência de momentos de introspecção, e o profano não possui os meios para colocá-lo em prática,faz-se necessário que se crie uma atmosfera propícia para o profano se harmonize e aquiete os seus sentidos. Imerso no individualismo e envolvido no "sistema" vigente, o profano mas parece estar em um carrossel que gira sem parar e através da própria energia gerada pelo movimento, ele fica ainda mais preso, e somente quando consegue sair e "olhar de fora" ele realmente começa a se tornar apto a receber os ensinamentos e a colocá-los em prática. A iniciação objetiva cumprir o seu papel dando essa tónica, esse pulso, essa centelha inicial que propicia estagnar esse movimento e momentaneamente nos colocar como um espectador, nos permitindo olhar de fora desse carrossel, para com isso percebermos que estamos nesse mundo mas não somos daqui, não devemos nos prender as amarras, as seduções e a tudo que esse "plano" nos propõe, e que somos tomados a todo momento pela ilusão e a ignorância, sendo este mundo o apenas o suporte para a nossa evolução. O RER em especial procura entrar no âmago de cada ser, manifestando a dualidade existente nesse mundo, e nos mostrando que somente com o renascimento precedido de uma morte simbólica será possível acessar novamente nossas lembranças e trazer à tona os fragmentos de um passado que outrora nos proporcionava uma comunhão perfeita com o criador, conforme nos instrui a Prancha de n^ 6 que nos é desvelada, "Acabas de te submeter à morte, a vida estava corrompida, mas a morte resgatou a vida". Observamos nas perguntas propostas ao demandador ( um buscador, alguém que procura ) a vontade em extrair ao máximo os pré-conceitos existentes e propiciar uma reflexão profunda, colocando-o em uma condição de recepção para tudo que lhe será proposto,e sinalizando, através da presença da Bíblia, o caminho lhe será apresentado para obter essa nova tomada de consciência,pois como o RER assenta os seus ensinamentos no cristianismo primitivo, essa via tende a estar latente em seu ritual, estando em consonância com as palavras de João no cap.l4 " Cesse de perturbar-se o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas...". Um Ato importante que também nos é solicitado,é o registro de tudo que pensamos e todas as opiniões que temos sobre os pilares básicos a serem trabalhados, pois esse registro em um tempo futuro irá proporcionar um comparativo, e uma análise apurada da tomada de consciência no decorrer da jornada maçónica. Conforme nos impele a Prancha 4A, segue: "Se deseja sinceramente ser dirigido e esclarecido pelo socorro da Ordem, na qual pede para ser admitido, recolha-te agora em si mesmo e, pelas perguntas que ela lhe apresenta neste retiro, saiba apreciar o trabalho que deve vir a fazer". Na sequência as Pranchas 4B e 4C desvelam uma das primeiras práticas Maçónicas, a meditação.Esta deve ser uma prática diária a ser realizada pelo resto de nossas vidas,pois todos os símbolos apresentados devem ser objetos de profunda análise e reflexão. Longe de ser um trabalho passivo, o demandador deverá por várias vezes confirmar e externar a sua vontade em ser socorrido, devendo chegar com a humildade e a consciência de nada saber, por isso é importante que o "copo" esteja vazio, sem qualquer pré-conceito sobre tudo que lhe será apresentado, devendo nesse primeiro momento ficar livre da interferência de conhecimentos já adquiridos.Todo o seu pretenso saber deverá ser deixado de lado, pois a fonte que está prestes a se banhar possui água limpa e pura, e todo o influxo espiritual que lhe será proposto terá condições de exercer uma profunda modificação em seu ser, e colocá-lo novamente na senda da reintegração, cujo caminho foi perdido.Após a aquisição da maestria, aí sim, o mestre terá condições de traçar os paralelos e terá o discernimento e a capacidade de separar o "joio do trigo". A iniciação nos lembra constantemente o porquê da nossa atual condição, e que sem a vontade necessária, sem o Trabalho voluntário e sem sofrimento, não há esperança de Regeneração.Conforme nos alerta o Ir.'. Proponente: "Foi pela sua falta, senhor, que o homem perdeu a Luz que vindes procurar entre nós ... Porque,por mais sofrível que seja este trabalho, todo o Maçom se lhe deve devotar e brevemente ele lhe será imposto como um dever... Senhor, não poderá ser recebido Maçom se não tiver a vontade nem o desejo ..." Toda a advertência, instrução e zelo dispensado pelo Ir.'. Preparador ao demandador, denota uma preocupação em alertá-lo que muitos já passaram pelas fileiras e sucumbiram, e que a responsabilidade sobre o ato que será realizado tem profundas consequências se não realizado com um coração puro e com uma sincera vontade de mudança. Nesse momento nos deparamos com uma segunda prática que a Iniciação nos proporciona, o exercício de nos tornarmos ensináveis, como afirma o Ir.'. Introd.'. "Ei-lo, senhor, em estado de ser apresentado à L.'. Estou em crer que as disposições do seu coração a isso correspondem e que fez os esforços convenientes para abandonar aqui todos os preconceitos e apegos, contrários aos seus deveres..." . Não será possível trabalhar novos pensamentos mantendo "velhos hábitos",pois é perceptível que ocorre uma preparação em vários planos, objetivando essa tomada de consciência,e para que a cerimónia ocorra de forma Tradicional e cumpra o seu propósito, o demandador deve se prepara para um Renascimento, onde deverá ter a mesma pureza de uma criança,corroborando as palavras do Grande Mestre" Em verdade vos digo, aquele que não receber o reino de Deus como uma criança não entrará nele (Mc 10.13-16)". A preparação física do Demandador para a entrada no templo é objeto de estudo de vários pensadores, alguns traçam um paralelo com a alternância das ações mágicas, outros com um simbolismo astrológico, estabelecendo uma relação com as partes descobertas do corpo e os signos do zodíaco, porém de uma forma geral, segundo Jules Boucher em sua simbólica maçónica, o simbolismo da preparação física é interpretado da seguinte forma : 1- O Coração descoberto - É um sinal de Sinceridade e franqueza, a atenção do demandador é atraída para o coração, considerado como sede da afetividade.Ensina-lhe com isso que ele deverá tomar cuidado com os arroubos sentimentais, aos quais sedem muito facilmente a maioria dos homens; 2- O Joelho direito desnudo - Serve para marcar os sentimentos de humildade que devem ser os do iniciado,pois ele é aquele que se põe em terra na genuflexão, isto é, no ato de submissão a alguém.Desse modo, estando descoberto,o joelho torna-se particularmente sensível e isso incita o demandador a realizar o movimento com circunspeção. 3- O pé esquerdo descalço - É um sinal de respeito,e também uma conotação do racional sobre o sentimental. Novamente é exigido do demandador uma prova de Coragem e confiança, quando ele é vendado e se entrega as orientações do Ir.'. Introd.'.. Impossibilitado de agir sozinho , preso em sua própria cegueira, nada mais o Demandador pode fazer a não ser confiar e ao mesmo tempo aguçar os demais sentidos para uma percepção diferenciada de tudo que acontecerá ao seu redor.O Ir.'. Introd.'., tem a função muito salutar de transmitir segurança e tranquilidade ao demandador, criando uma atmosfera de confiança e ao mesmo tempo de dependência, o que denota a dificuldade de uma caminhada inicial sem um guia. Aos poucos o corpo começa se adaptar à nova condição e limitação, e a sensação inicial de desequilíbrio dá lugar a de confiança, no guia e em si mesmo. Nessa "primeira parte" da iniciação vários ensinamentos e práticas nos são transmitidos veladamente, dentre elas podemos ressaltar a mudança de hábitos, principalmente dos maus hábitos que nos tornam escravos , aniquilando toda e qualquer possibilidade de evolução e mudança, pois possuem a força do tempo e da repetição.Substituir um hábito requer um esforço significativo, e a iniciação proporciona um influxo inicial poderoso, que se "trabalhado" com perseverança e constância, se ampliará gradativamente, criando por fim raízes definitivas, que proporcionarão Sabedoria , Força e Beleza para realização dessa transmutação.