Você está na página 1de 44

Revista Procon

A revista da Fundação Procon-SP • no 12

Telefonia
Consumidor já pode trocar
operadora e manter número

Estado de São Paulo cria cadastro para


bloquear chamadas de telemarketing.
Quem quiser aderir terá que
solicitar a inclusão da linha
telefônica em lista do
Procon-SP

Atendimento, consultas
e reclamações
Postos Poupatempo Outros Atendimentos
2ª a 6ª, das 7h às 19h - Sábados, das 7h às 13h Cartas: Caixa Postal 3050
Itaquera: Av. do Contorno, 60 - Metrô Itaquera CEP: 01061-970 - São Paulo/SP
Santo Amaro: Rua Amador Bueno, 176/258 Fax: (11) 3824-0717 - 2ª a 6ª, das 10h às 16h
Sé: Rua do Carmo, sn Cadastro de Reclamações Fundamentadas: (11) 3824-0446
2ª a 6ª, das 8h às 17h
Ouvidoria do Procon-SP Telefone: 151 - 2ª a 6ª, das 8h às 17h
www.procon.sp.gov.br
R. Barra Funda, 930, 4º andar - sala 412 - Barra Funda
CEP: 01152-000 - São Paulo/SP
Telefone/Fax: (11) 3826-1457 Outros Municípios
e-mail: ouvidoria@procon.sp.gov.br Consulte a prefeitura de sua cidade ou o site do Procon-SP

Fiscalização Entrevista Projeto verão


Procon-SP testa qualidade de Jurista português defende Entre em forma sem perder
combustível em postos da capital código complementar ao CDC paciência, tempo e dinheiro
Revista Procon-SP

Sumário
Governo do Estado de São Paulo
1 - EDITORIAL Governador
José Serra
2 - DIRETO AO CONSUMIDOR
4 - ENTREVISTA Secretaria da Justiça
e da Defesa da Cidadania
7 – DIA-A-DIA Secretário
Consumidora briga para interromper débito indevido Luiz Antonio Marrey

8 – FISCALIZAÇÃO Fundação de Proteção e Defesa


Procon-SP e Fazenda realizam operação em postos de combustível do Consumidor (Procon-SP)
Conselho curador
10 - LEGISLAÇÃO
Ângela Simonetti, Antonio Júlio Junqueira Queiroz,
Redação do CDC é alterada, mas consumidor não ganha Antonio Sabóia Barros Jr., Cornélia Nogueira Porto,
Fernando Batolla, José Luiz Souza de Moraes, Marco
12 - PROCON MUNICIPAL Alexandre Davanzo, Marcos Pó, Margaret Cruz, Marilena
Em Santana do Parnaíba, órgão é “coringa” da população Lazzarini, Omar Cassim Neto, Rachelle Amália Agostini
Balbinot, Roberto Grassi Neto, Ronaldo Porto Macedo,
14 - TRIBUTOS Rosana Piccoli dos Santos, Vahan Agopyan e Virgílio
Governo isenta IPVA de veículo roubado ou furtado Bernardes Carbonieri

16 – COLEGUINHAS Diretor-executivo
MDC-MG completa 25 anos e ganha status de Oscip Roberto Augusto Pfeiffer

18 – CAPA Chefe de gabinete


Consumidor ganha opção de bloquear o telemarketing Carlos Augusto Coscarelli

25 – MERCADO Editor-chefe
Francisco Itacarambi - Mtb. 41.327/SP

CURSOS E PALESTRAS DA
Procon-SP fiscaliza serviços de pet shops

26 - EVENTO Edição
Consumismo infantil é tema de workshop para jornalistas Felipe Neves

FUNDAÇÃO PROCON-SP
28 - COMPORTAMENTO Redação
Procon-SP auxilia os consumidores da boa forma Felipe Neves, Gabriela Amatuzzi e Ricardo Lima Camilo

30 – PROJETO DE LEI Capa


Deputado questiona “taxa de inatividade” de cartão de crédito Carlos Damiano

32 – REGULAMENTAÇÃO Colaboraram nesta edição Direitos básicos do consumidor


Lauro Marques, Maria Clara Caram e Patrícia Paz
Portabilidade já beneficia milhões de usuários de telefonia
Editoração, CTP, impressão e acabamento
Orçamento doméstico
35 – COMEMORAÇÃO
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
CDC faz 18 anos e participa de festa dos direitos humanos Direitos do consumidor na terceira idade
36 – LADO A LADO Contato
Rua Barra Funda, 930, 4º andar, sala 412 – Barra Funda Direitos e deveres do consumidor bancário
Ipem-SP intensifica fiscalização de produtos infantis CEP: 01152-000 – São Paulo/SP
38 – PESQUISA imprensaprocon@procon.sp.gov.br Saindo do vermelho
Conheça as demandas da população da periferia da capital Setembro e outubro de 2008 Curso básico do Código de Defesa do Consumidor para fornecedores
39 – BIBLIOTECA Distribuição gratuita
Defesa do consumidor para rede de ensino
40 – DIRETO AO PONTO
Defesa do consumidor na formação de profissionais
Curso educação para o consumo – capacitação para professores

Informações no site: www.procon.sp.gov.br


Editorial

Madeira de lei

A
legislação brasileira possui um emaranhado de normas. Muitas de-
las caíram no esquecimento ou se tornaram obsoletas. Existem ainda
aquelas que pouco agregam à atual realidade do país ou aguardam na
fila para regulamentação. Apesar desse cenário, novas leis chegam a cada dia.
A edição deste mês dedica especial atenção a três novas normas que atingem
diretamente as relações de consumo e ilustram bem esse cenário.
A primeira merece atenção especial por abordar tópicos de uma situação que
merecia um flagrante aperfeiçoamento. Na reportagem de capa, o leitor poderá
conhecer o funcionamento do cadastro para bloqueio de ligações de telema-
rketing. O Estado de São Paulo terá mecanismo para impedir as empresas de
ligarem para consumidores que não têm vontade de receber ofertas de produtos
e serviços em seu telefone pessoal.
O que parece uma restrição é, na verdade, uma reafirmação da liberdade de
escolha do consumidor. Aqueles que gostam ou não se incomodam em receber
as ligações não precisam fazer nada. Continuarão a ter as ofertas em seus telefo-
nes, sem nenhuma dificuldade. A lei só deve entrar em vigor em 2009, pois terá
que ser regulamentada, por contar com vícios de iniciativa em sua origem.
Outra novidade legislativa é a Lei do IPVA, que já está valendo. A regra evi-
ta injustiças com aqueles consumidores que tiveram o infortúnio de ter o carro
roubado ou furtado. Em linhas gerais, significa que o imposto do veículo será
pago proporcionalmente ao período em que o proprietário efetivamente usou o
carro. Se já tiver pago o valor do ano inteiro, por exemplo, a pessoa terá direito
a ressarcimento.
Para equilibrar a balança, destacamos também uma alteração no Código de
Defesa do Consumidor (CDC) que pouco deve agregar. Trata-se da lei que fixa em
corpo doze ou superior o tamanho da fonte de texto nos contratos. A crítica se
faz em virtude de o CDC já prever em sua origem (1990) que os contratos devem
ser redigidos “em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis”.
Por fim, recomendamos a leitura da entrevista com o eminente jurista portu-
guês Mário Frota. Além de ilustrar a perspectiva européia da defesa do consumi-
dor, ele se mostrou bastante familiarizado com o cenário brasileiro. E apresentou
propostas contundentes, como a criação de um código complementar ao CDC.
Em outras palavras, uma nova lei.
Boa leitura a todos.

Francisco Itacarambi
Editor-chefe

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 1


Direto ao consumidor

Caso aprovada, a medida valerá a


Portabilidade em planos de saúde partir de 2009. As regras para uso do
FGTS continuam valendo. Ou seja, só
A Fundação Procon-SP tem parti- é possível usar os recursos para com-
cipado das reuniões da Câmara Téc- pra de imóvel único, para bens de até
nica de Portabilidade de Carências, R$ 350 mil e o mutuário deve ter pelo
criada pela Agência Nacional de Saú- menos três anos de contribuição.
de Suplementar (ANS), para permitir
que consumidores migrem de um Seguro privado
plano para outro com aproveitamen-
to das carências já cumpridas. A 2ª Turma do Superior Tribunal de
A mobilidade, demanda antiga Justiça (STJ) negou o recurso ordinário
do Procon-SP, permitirá ao consu- da Sul América Capitalização e deu pa-
midor sair de um contrato de plano recer que os Procons estaduais podem
de saúde para outro que apresente aplicar sanções administrativas em se-
melhores condições, em termos de guradoras privadas. No entendimento
preço e de prestação de serviço. A do STJ, o órgão é habilitado a multar
ANS já colocou a questão em con- O Procon-SP considera impor- empresas do segmento que descum-
sulta pública a fim de que todos os tante, para a regulamentação e im- prirem os direitos dos consumidores. A
interessados possam participar com plantação do modelo, que alguns empresa defendia que a multa caberia
suas críticas e sugestões. aspectos sejam esclarecidos/defini- apenas à Superintendência de Seguros
No entendimento da fundação, dos: unificação da nomenclatura dos Privados (Susep). A decisão leva em
para que a portabilidade represente, produtos comercializados que permi- conta que qualquer prestação de ser-
de fato, um avanço para o consu- ta ao consumidor identificar e com- viço está atrelada às regras do Sistema
midor, o modelo adotado deve ser parar as características de cada um; Nacional de Defesa do Consumidor,
amplo, contemplando, em especial, prazo de transição entre a saída de do qual os Procons fazem parte.
os segmentos mais vulneráveis do uma operadora e o ingresso na ou-
mercado. É necessário que usuários tra; tempo mínimo para que o con- Dia das Crianças
de contratos firmados antes de ja- sumidor permaneça cliente de uma
neiro de 1999 e de planos coletivos, empresa; condições de elegibilidade Fiscais da Fun-
consumidores idosos e pessoas por- ou pré-requisitos para que o consu- dação Procon-SP
tadoras de doenças pré-existentes midor possa passar de uma operado- visitaram 66 estabe-
também sejam incluídos. ra a outra. lecimentos localiza-
dos em shoppings
e ruas de comércio
Sem diploma  FGTS no consórcio  da capital durante
a operação Dia das
Um ex-aluno de O Senado Federal aprovou mu- Crianças. Ao todo, foram constatadas
direito conseguiu uma danças na regra de consórcios, entre 40 irregularidades relacionadas ao Có-
indenização por danos eles o de imóveis, que pode benefi- digo de Defesa do Consumidor. O prin-
morais de R$ 5 mil da universidade ciar os consumidores que desejam cipal problema encontrado foi quanto
em que se formou. A decisão da 4ª comprar a casa própria. Pelas novas à falta de informação na rotulagem e
Turma do Superior Tribunal de Justiça regras aprovadas pela Casa, que ain- falta de instruções em língua portu-
(STJ) se refere ao fato de a unidade de da dependem de sanção presidencial, guesa nos produtos importados, o que
ensino não ser reconhecida pelo Mi- os créditos do Fundo de Garantia do equivale a 22,5% do total de irregula-
nistério da Educação. O imbróglio co- Tempo de Serviços (FGTS) poderão ridades constatadas. Os fornecedores
meçou quando o bacharel não pôde ser utilizados para quitar o consórcio irão responder processo administrativo,
se inscrever no exame da Ordem dos ou pagar prestações da casa própria. assegurada ampla defesa, podendo ao
Advogados do Brasil (OAB) devido à Atualmente, apenas é possível usar o final deste ser multados, com base no
ausência do documento. FGTS para dar lances no consórcio. artigo 57 da Lei 8.078/90.

2 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Direto ao consumidor

Sonhos de consumo Multa trágica Dívidas e liderança

O Procon do Cresceu o número de mulheres


Rio Grande do Sul que trabalham fora de casa e que são
multou a TAM Li- consideradas chefe da família, segun-
nhas Aéreas por do pesquisa do Instituto Brasileiro de
“recusa injustifi- Geografia e Estatística (IBGE). Entre
cada em prestar 1996 e 2006, houve um crescimento
serviço - defeito na prestação de in- de 79% no número de mulheres nes-
formação” nas horas seguintes após o sa situação. Na outra ponta, no en-
Quais são os sonhos de consumo maior acidente da história da aviação tanto, cresceu também o número de
dos brasileiros? Segundo pesquisa brasileira. O órgão aponta que a em- mulheres inadimplentes. De acordo
realizada pelo Provar/FIA, artigos de presa levou mais de sete horas para com pesquisa da TeleCheque, 52,5%
informática lideram a lista, seguidos divulgar a lista com o nome das víti- das pessoas que não conseguiram
por TVs, máquinas fotográficas digi- mas do vôo JJ 3054, que atravessou deixar o orçamento em dia são do
tais e produtos da linha branca (como a pista do aeroporto de Congonhas e sexo feminino.
geladeiras e fogões). Os pesquisado- colidiu contra um hangar da empre- “Muitas famílias são surpreen-
res apontam o aumento da renda das sa. Ao todo, morreram 199 pessoas didas com alguma conta no final do
classes C e D como determinante na na tragédia. A multa é no valor de R$ mês que não estava prevista como,
ordem dos produtos. Antes “fora” 971 mil. A empresa pode recorrer da por exemplo, uma doença inespe-
do mercado, os novos consumidores sanção administrativa.  rada. Esse é o tipo de situação que
passam a ter acesso aos produtos de acaba afetando o planejamento
informática e vão às compras. Para se Rótulos reprovados familiar e, por vezes, compromete
ter idéia, uma grande rede de super- o pagamento das dívidas”, explica
mercados triplicou a venda de compu- o vice-presidente da TeleCheque,
tadores portáteis nos últimos tempos. José Antonio Neto, em entrevista
ao site “InfoMoney”.
Pnad e os celulares
Banda frouxa
O acesso à
telefonia dis- A internet ban-
parou entre os da larga brasileira é
anos de 2006 e A maioria das embalagens de ali- uma das piores do
2007, segundo a mentos vendidos para crianças de mundo. É o que re-
Pesquisa Nacio- 0 a 3 anos foi reprovada. Estudo do vela pesquisa reali-
nal por Amostra Centro Estadual de Vigilância Sanitá- zada pelas Universidades de Oxford
de Domicílio (Pnad). O levantamento ria de São Paulo “condenou” 76% e de Oviedo, encomendada pela
revela que mais de 2,7 milhões de das amostras analisadas de papinha, Cisco. O estudo analisou 42 países
domicílios passaram a ter algum tipo leite em pó, iogurte, sopa e mingau. do mundo, e o serviço prestado
de telefone (fixo ou celular) entre o Os produtos foram coletados em su- no Brasil ficou à frente apenas de
período. Já o número de domicílios permercados do Estado. O principal Chipre, México, Índia e China. Para
com somente telefone móvel celular problema encontrado foi falta de in- chegar ao resultado, os pesquisado-
alcançou a marca de 17,814 milhões formação e rótulos que incentivam o res analisaram a velocidade do aces-
em 2007, um aumento de 3,9 pontos consumo desnecessário. Em alguns so, a rede e a perda de dados. Em
percentuais em relação ao ano ante- casos, foram encontradas mensagens 100 pontos possíveis, o Brasil fez
rior. Vale destacar que, desde 2002, o como: “leite humanizado” ou “leite 13. “Nós estamos olhando para a
número de domicílios com celular vem maternizado”. É sempre bom lembrar qualidade, não para a penetração”,
crescendo mais de 15% ao ano. As re- que o leite materno é o melhor ali- afirmou a empresa, que estima que
giões Norte e Nordeste apresentaram mento que um bebê de até 6 meses, no Brasil existam 10 milhões de as-
os maiores aumentos. pelo menos, pode ter. sinantes de banda larga.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 3


Entrevista

Eminente jurista português, o professor Mário Fro- criação de um código complementar ao CDC. Di-
ta esteve no Brasil para uma série de palestras e retor da Revista do Consumidor (RC) e da Revista
seminários sobre direito do consumidor. Simpático Portuguesa de Direito do Consumo (RPDC), ambas
e atencioso, ele recebeu a REVISTA PROCON-SP editadas em Coimbra, ele possui vasta bibliografia
no escritório de um amigo, na capital paulista. sobre o tema, além de ter lecionado nas principais
Mostrou acompanhar de perto o cenário jurídico universidades lusitanas, entre elas a de Lisboa,  a
brasileiro e apresentou propostas ousadas, como a de Coimbra e a do Porto.

Fotos: Patrícia Paz/SJDC

Conexão européia Por Felipe Neves

Quais as maiores dificuldades do consumidor europeu? Como funcionam essas diretivas?


Temos para nós que, neste momento, os conflitos que Uma diretiva da União Européia, para vigorar na ordem
maior expressão assumem decorrem das relações entre for- interna, tem de ser transposta para o ordenamento jurídico de
necedores de telecomunicações ou de comunicações ele- cada um dos países. Essa diretiva estabelece ainda um patamar
trônicas e consumidores, sem descurar aspectos inerentes mínimo de salvaguarda de direitos. Patamar esse que pode ser
às relações de consumo entretecidas entre instituições de reforçado por cada um dos Estados-membros, isto é, eles po-
crédito e sociedades financeiras e consumidores. dem oferecer aos consumidores maior grau de proteção.

Do ponto de vista legal, o que tem sido feito na Eu- Qual é a diferença entre diretiva e regulamento?
ropa para aprimorar a defesa do consumidor? No regulamento, a uniformização é imediata, e nem sequer
A diretiva das garantias das coisas novas e duradouras tem que ser introduzido ou publicado no jornal oficial do
reforçou consideravelmente os direitos do consumidor. En- país. É publicado no jornal oficial da União Européia e entra
trou em vigor em 1º de janeiro de 2002, embora nem todos em vigor. A diretiva não, ela carece de transposição.
os Estados-membros tenham-na transposto em devido tem-
po. Mas o fato é que, ainda hoje, não a absorveram, volun- E se o país não transpuser a diretiva?
tária ou involuntariamente, os fornecedores no seu espírito, Se os Estados-membros não transpuserem as diretivas para
e nessa medida denegam direitos aos consumidores. o direto nacional, são objeto de uma ação movida pela Comis-

4 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Entrevista

são Européia no Tribunal de Justiça da Comunidade Européia plo que representou para a generalidade dos povos, fato que
e, conseqüentemente, podem sofrer sanções. Além disso, os é notório e que é louvado em vários matizes e em todos os
particulares que se virem privados da proteção dispensada aos quadrantes, precisaria agora de um rearranque legislativo. O
consumidores podem acionar os Estados-membros que não Brasil precisa tratar, não de reformar o atual Código, mas de
cumpriram os prazos, para obter a recuperação de todos os criar, para responder às necessidades surgidas, um código de
prejuízos causados pela não-transposição. contratos de consumo autônomo e que virá a completar a
atual legislação que se criou em torno do próprio CDC.
Nesse caso, o Estado poderá ser obrigado a ressarcir o
consumidor no lugar da empresa? Poderia exemplificar tais necessidades?
Exato. Por não ter transposto as diretivas e, nessa medi- Os contratos a distância, portanto, os contratos eletrôni-
da, estar a escamotear direitos ao consumidor. Direitos que cos, em qualquer das suas variantes, e os aspectos inerentes
deveriam ser cumpridos por outro particular, o fornecedor, ao comércio eletrônico. E também os aspectos alargados da
mas é ao Estado que cumpre reparar os prejuízos, uma vez garantia das coisas móveis duradouras e, eventualmente, das
que a diretiva, para vigorar na ordem interna, carece sem- garantias dos imóveis, uma vez que caem sob a alçada dos
pre de ser transcrita, pelo direito nacional. contratos de consumo a compra e venda dos imóveis para
habitação. Caso se desenvolvessem esses extensos temas, es-
Na Europa, a política de defesa do consumidor tam- tou em crer que se conseguiria aqui um avanço enorme.
bém é decidida em bloco?
Cumpre à UE estabelecer as regras que passarão a vigorar
em determinados períodos, para depois se iniciar todo o pro-
Quaisquer que sejam os
cesso legislativo, que é penoso, pelo fato de terem que intervir, produtos financeiros e as relações
além do Parlamento do Conselho da União, os 27 Estados-
membros, com suas idiossincrasias, suas peculiaridades e as entretecidas, sob o império de
suas necessidades reais. Neste contrabalançar de interesses, leis específicas ou não, são no
fica-se com a sensação de que, por vezes, para se chegar a um
texto que concilie todas as posições, não é fácil. O simples fato âmbito do direito do consumidor
de se falarem 25 idiomas, sem contar os regionais, é suficiente
para se imaginar que estamos diante de uma verdadeira torre Muitos juristas defendem que o CDC é suficiente para
de babel, em que ninguém se entende. abordar esses temas.
Tenho ouvido em sucessivos eventos que – e paladino
Por outro lado, essas etapas garantem que a definição dessa idéia é o meu amigo professor José Geraldo Brito Fi-
seja criteriosa, certo? lomeno – se melhorar, estraga. Ele entende que não se deve
Nessa perspectiva, pode dizer-se que a definição das mexer no Código porque isso poderia ser pretexto para que
políticas de consumidores passa por um processo muito seus inimigos – não podemos esquecer que está ainda de
mais rigoroso na UE do que eventualmente no Brasil. Mas fresca data a Adin [ação direta de inconstitucionalidade]
o Brasil, depois de um relativo período de apagamento do proposta pelos bancos – desfigurem o Código. Nós somos
próprio Código de Defesa do Consumidor, que foi um ins- de opinião que, para evitar isso, é preciso avançar. Já ouvi
trumento notável de proteção de direitos e salvaguarda de reflexão semelhante da professora Cláudia Lima Marques
interesses, como que pretende renascer de novo, 18 anos e do ministro Herman Benjamin. E creio que a gênese des-
após a publicação. Tenho conversado com personalidades sa necessidade expressa por esses dois vultos do direito do
que viveram os anos de entusiasmo marcante, o final dos consumidor no Brasil é o fato de o Código não dar resposta
anos 80 e começo dos anos 90, que correspondem à im- aos contratos de comércio eletrônico.
plementação do Código no tecido social e empresarial bra-
sileiro, e noto que muitos deles estão em sintonia comigo, Pelo que conhece do Brasil, é viável a criação desse
porque entendem que estão criadas as condições para que código complementar?
haja um relançamento do Código. Nós, ao contrário, não O Brasil, com a dinâmica que tem – um país jovem, do-
temos um código europeu. tado de uma massa crítica considerável, com pessoas com
uma imensa vontade de realizar – pode, em tempo recorde,
O que o senhor quer dizer com relançamento do CDC? fazer um código de contratos de consumo da mesma forma
Entendo que o Brasil, para além dos avanços e do exem- que fez, em tempo impressionante e inimaginável, o CDC.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 5


Entrevista

O Brasil precisa tratar, não de


reformar o atual Código, mas de criar, para
responder às necessidades surgidas, um
código de contratos de consumo autônomo
e que virá a completar a atual legislação

O senhor se referiu aos bancos como inimigos do CDC. do consumidor, de 1996, acionar diretamente os bancos. Su-
Ora, aquilo que me espanta no Brasil é que os bancos cede, porém, que, noutros domínios, particularmente no cré-
continuem a querer derrubar a declaração de inconstituciona- dito ao consumo, em que a responsabilidade das instituições
lidade proferida sobre a Adin pelo Supremo Tribunal Federal, financeiras é enorme, os consumidores são, por via de regra,
já que, nos outros lugares, isto não é contestado sequer. Sabe- lesados, sem terem informações suficientes e não há quem
se, de há muito, que relações deste tipo configuram contratos lhes restitua os montantes indevidamente arrecadados.
de consumo e têm de ser subsumidos pelas leis de defesa do
consumidor. Quaisquer que sejam os produtos financeiros e as O que fazer para melhorar esse quadro?
relações entretecidas, sob o império de leis específicas ou não, O que os consumidores precisam a esse propósito é um
são no âmbito do direito do consumidor. título de educação financeira, que é um segmento que está
a ser explorado neste momento em toda a Europa – a Co-
Por que o consumidor bancário é tão vulnerável? Isso missão Européia está a criar especialistas em vista da pro-
ocorre em todos os países ou é um fenômeno restrito moção de ações de educação financeira em termos curricu-
aos países de terceiro mundo? lares normais e consecutivos. Não bastam ações episódicas,
É vulnerável em toda a parte. Sobretudo pelas posições é necessário que haja ações de educação e de formação
de senhorio econômico dos grandes grupos financeiros in- permanentes. Mas, por outro lado, é indispensável que os
ternacionais e das instituições de crédito. Mas evidente que, contratos sejam perpassados pelo princípio da transparên-
nos países mais evoluídos, os bancos procuram de algum cia. Para que as pessoas saibam qual é o preço do dinheiro.
modo salvaguardar o seu próprio prestígio criando a figura E dêem o seu consentimento de forma esclarecida e válida.
do ombuds – uma espécie de provedor dos consumidores
bancários. Cada banco tem o seu. Seria aquilo que, na tra- Falando em preço do dinheiro, como o senhor vê o
dição jurídica brasileira, vocês chamam ouvidor. Essa figura desenvolvimento do crédito?
do ombuds pode, na realidade, vir a traduzir-se numa forma Com muita preocupação. Afirmava-se, in illo tempore,
expedita de superação de conflitos sempre que os consumi- que só se emprestava um cabrito a quem tinha já um boi,
dores verdadeiramente informados se dêem conta de que que servia de garantia. Hoje, estão emprestando um boi a
seus direitos estão a ser atropelados. quem nem sequer cabrito tem. Esta frase, que é efetiva-
mente recorrida da tradição oral africana, tem um reflexo
Isso ocorre com freqüência na Europa? notável no cotidiano dos países como o vosso [latino-ame-
Ainda agora, em Portugal, se chegou à conclusão de ricanos], como o nosso [europeus] e também nos Estados
que os bancos estavam a enriquecer ilicitamente, pelo fato Unidos e no Japão. Acontece que nós estamos muito longe
de fazerem arredondamentos verdadeiramente insignifi- dos padrões do crédito responsável.
cantes, mas que representavam, no termo de um contrato
de um consumidor, somas verdadeiramente apreciáveis, de A Europa também se preocupa com o endividamento
que estavam privados os consumidores e que contribuíam da população?
para um enriquecimento sem causa dessas instituições. O superendividamento, como vocês o denominam, é um
mal social manifesto. É preciso estabelecer quadros e regras
E o que foi feito? para que as famílias não sejam vítimas, por um lado, da au-
Curiosamente, pela primeira vez, o procurador-geral da sência de educação financeira e, por outro, do acesso fácil
República chamou a si essas responsabilidades e deu a saber [ao crédito], resultado dos artifícios e embustes que impreg-
que iria, nos termos de um dispositivo próprio da lei de defesa nam as estratégias mercadológicas dos bancos.

6 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Dia-a-dia

Pagamento dobrado Por Ricardo Lima Camilo

A
brir o holerite e ver descon- Rosi Palma/Procon-SP BMG ofereceu R$ 3 mil à consumidora,
tado um valor do salário di- que resolveu aceitar o acordo, mesmo
reto para o banco já é bas- sem considerá-lo ideal.
tante doloroso por si só. Os milhões “Me senti pressionada pela me-
de consumidores que, por alguma diadora, pois ela disse que, se eu
necessidade, se utilizaram do crédito não aceitasse a proposta do banco,
consignado que o digam. Mas tudo a decisão final iria demorar e o juiz
bem, desde que tudo seja feito da ma- poderia determinar um valor menor”,
neira correta. Agora, dá para imaginar disse Maria Aparecida, que se sentiu
o desespero de quitar a dívida e ainda mais bem protegida pelo Procon-SP.
assim continuar tendo o dinheiro aba- “Gostaria que tivessem feito o mes-
tido da folha de pagamento? mo por mim no Juizado.”
Foi o caso da enfermeira Maria Apa- Segundo Renata Reis, mesmo que
recida Viana Machado, de 47 anos. Em o acordo feito no Juizado não tenha
março de 2006, ela procurou o banco Consumidora busca auxílio para interromper sido o mais favorável, a consumidora
desconto em folha de dívida já quitada
BMG e tomou emprestado cerca de R$ cumpriu seu papel. “Se ela deixasse
8.000, parcelados em 36 meses. No para lá e não fizesse a reclamação, o
entanto, quando firmou contrato com atrasar, o que gerava multas”, relata prejuízo seria pior e a empresa se sen-
a instituição, Maria não foi informada Maria Aparecida. Vendo parte do sa- tiria no direito de cometer o mesmo
que os valores das prestações ultrapas- lário debitada indevidamente durante abuso contra outros clientes.”
sariam a margem de 30% de seu sa- oito meses e, sem o ressarcimento da
lário mensal, o que não era permitido parcela de maio, a enfermeira buscou
pelas regras do crédito consignado até ajuda do Procon-SP. Dicas
o último 16 de maio – agora as parce- Em audiência, no dia 6 de agosto,
las não podem comprometer 20% do a empresa alegou, sem apresentar do- Antes de contratar o consignado, o
benefício (nos casos de empréstimo em cumentos, que os débitos tinham sido consumidor deve:
dinheiro) e 10% no uso do cartão com cancelados e que não houve cobran- • pesquisar para saber quais bancos ofe­
desconto em folha. Com isso, houve a ças posteriores. Os holerites de Maria recem as melhores taxas e condições
necessidade de um refinanciamento de Aparecida diziam outra coisa. “Nem o
• verificar o impacto que o valor das
R$ 13.500, em 75 vezes. fato de restituir os valores depois de-
No entanto, após 15 meses, em
parcelas irá causar no seu orçamento
sobriga a instituição de devolver em
setembro de 2007, Maria Aparecida já dobro aquilo que foi indevidamente • evitar passar informações sobre
havia conseguido se estabilizar. Mais cobrado, pois trouxe prejuízos à con- seus documentos por telefone
que isso: naquela altura, pôde quitar sumidora”, explica Renata Reis, res- • não entregar seu cartão de banco/
a dívida do empréstimo com o BMG – ponsável pela área de assuntos finan-
beneficiário ou qualquer documen­
direito previsto pelo Código de Defesa ceiros do órgão.
to para desconhecidos ou terceiros
do Consumidor (art. 52). Porém, a cal- Sem acordo, o caso foi enviado à fis-
(amigos, parentes etc.)
maria ainda estava longe. calização do Procon–SP, para averiguar
O banco simplesmente continuou possíveis irregularidades, e a consumi- ATENÇÃO: para obter o crédito, não
debitando parte do seu salário. “Todo dora foi orientada a entrar com uma é necessário adquirir outro produto
mês eu precisava entrar em contato ação na Justiça. No dia 18 de setembro, ou serviço da instituição financeira.
com o BMG para reclamar e eles só foi realizada nova tentativa de concilia- Esta prática, chamada de venda ca­
me ressarciam 15 dias depois. Com ção, desta vez no Juizado Especial Cível sada, é proibida pelo CDC (art. 39).
isso, minhas contas começaram a de Guarulhos (Grande São Paulo). Ali, o

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 7


Fiscalização
Fotos: Felipe Neves/SJDC

Fiscais da Fundação Procon-SP testam quantidade de álcool em gasolina de posto da zona leste de SP

De olho na bomba Por Felipe Neves

“E
u me sinto enganado, lista. Atravessou a avenida e foi ver o gasolina e o carro funcionar legal.
roubado na cara dura. É que estava ocorrendo. E gostou. E aqui é excelente, nunca teve pro-
horrível.” Essa é a sensa- Fiscais da Fundação Procon-SP e da blema. Por isso mesmo eu vim olhar.
ção do consumidor Renato Rodrigues, Secretaria da Fazenda colocavam em Pensei: ‘será que eu tô abastecendo
de 33 anos, quando abastece seu car- prática operação coordenada de fisca- no lugar certo?’.”
ro e, posteriormente, descobre que o lização – uma vistoria em múltiplos as- Em paralelo à fiscalização neste
combustível estava adulterado. Quem pectos, da qualidade do combustível à posto específico, outras duas equipes
nunca ficou literalmente remoído de situação fiscal, passando pela informa- do Procon-SP faziam o mesmo pro-
raiva ao sentir os trancos do carro en- ção clara e ostensiva ao consumidor, cedimento em dois outros estabele-
gasgando? “Dá vontade de parar e ir entre outros. Rodrigues não teve dúvi- cimentos da região. No dia anterior,
a pé. Não tem coisa pior do que o seu da: foi acompanhar o famoso teste da outro posto da zona oeste fora fisca-
carro falhar, dar problema”, resume. pipeta, para saber se o posto em que lizado. Esse conjunto de ações atende
Mas Rodrigues não é apenas um ele costuma abastecer os carros da loja às determinações das leis estaduais
apaixonado por carro. Ele está no age em conformidade com a lei. 12.675 e 12.676, sancionadas pelo
ramo de revenda de veículos. Logo, Quando soube que o teste era governador José Serra no segundo se-
sua preocupação com qualidade de conduzido pelo Procon-SP, ficou mestre do ano passado e cujo objetivo
combustível é ainda mais apurada. Foi bastante satisfeito. “Isso é muito é apertar o cerco contra a adulteração
por isso que ele logo se interessou pela importante para a gente saber o de combustíveis. Passado período de
movimentação fora do comum, no dia produto que está usando”, desta- regulamentação e estruturação, a fun-
4 de setembro, no posto em frente à ca. “Sou muito rigoroso em matéria dação e os demais órgãos envolvidos
sua loja, na zona leste da capital pau- de combustível. Gosto de colocar a – Fazenda, Ipem-SP, ANP, etc. – já po-

8 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Fiscalização

dem colocá-las em prática, em benefí- efetivas, pois o combustível adulterado relativas à informação de preços dos
cio do cidadão paulista. já é apreendido de imediato, ou seja, combustíveis em painéis e faixas na
não vai parar no tanque do consumi- entrada dos estabelecimentos; se
Sanções dor. Além disso, confirmada a adulte- há valores diferentes nas bombas;
Uma das principais novidades da ração, o infrator perde a propriedade se o posto comercializa combustível
legislação é o conceito do perdimen- daquele bem, que passa a incorporar o da marca cuja bandeira ostenta; se
to, que permite ao Estado apreender patrimônio do Estado, e pode até ser é informado na bomba qual a ori-
e confiscar o combustível adulterado. impedido de exercer a atividade. Isso gem do combustível, nos casos de
Em outras palavras, a mercadoria irre- é sem dúvida um forte desestímulo à bandeira branca; se o posto pratica
gular pode ser apropriada, causando fraude. Ganham todos: o consumidor, preço diferenciado e imposição de
enorme prejuízo ao fraudador. Além que adquire um produto de qualidade e limite de valor para pagamento com
disso, o posto com irregularidades não vai ter que gastar com o mecânico; cartão de crédito; publicidade enga-
pode ser multado, conforme o Códi- o Estado, que não é prejudicado pela nosa e prazo de validade.
go de Defesa do Consumidor, e, até, sonegação de impostos; e o próprio Foi constatada irregularidade em
sofrer interdição parcial ou total por fornecedor, que não sofre com a con- dois postos da zona leste, ambos
causa da fraude. corrência desleal”, afirma Paulo Góes, quanto a inadequação na informação
A boa notícia é que, pelo menos diretor de fiscalização do Procon-SP. do preço. Os fornecedores irão res-
neste primeiro momento, não foram ne- Gerente de um dos postos fiscaliza- ponder a processo administrativo, as-
cessárias medidas extremas. Os postos dos, Laércio Frade, de 41 anos, aprova segurada ampla defesa, podendo ao
fiscalizados pelo Procon-SP passaram no a iniciativa. Segundo ele, quanto mais final deste ser multados, com base no
teste: não foi encontrada – ao menos operações houver, mais protegidos artigo 57 do CDC.
nos exames preliminares, realizados com da “concorrência desleal” estarão os
proveta – gasolina com mistura de álco- estabelecimentos honestos. “Na nos-
ol acima do permitido, ou seja, 25%. sa região aqui, há muita concorrência
Mesmo assim, foram coletadas nes- Dicas
desleal. Não sei qual é o produto que
ses estabelecimentos amostras não só de eles usam, mas sei que os preços deles
Antes de abastecer o seu veículo, o con­
gasolina como também de álcool, para são muito abaixo da média. E não têm
sumidor deve ter os seguintes cuidados:
análise laboratorial pelo Instituto de Pes- condições de vender nesse preço que
quisas Tecnológicas da USP (IPT) e, caso • exigir o comprovante de pagamento
eles vendem. Nós que trabalhamos di-
os resultados apontem qualquer descon- reitinho sentimos isso.” (nota fiscal)
formidade dos produtos, serão adotadas • procurar abastecer sempre no mes­
as medidas administrativas cabíveis. Outros aspectos mo posto
“Com as novas normas, as ações Além da qualidade do combustí- • desconfiar dos postos que oferecem
de fiscalização tornam-se ainda mais vel, o Procon-SP verificou questões combustíveis a preços muito abaixo
da média da região
• postos com bandeira só podem vender
combustíveis fornecidos pelo distribuidor
detentor da marca comercial exibida
• se não houver marca comercial (ban­
deira branca), cada bomba abastece­
dora deverá identificar o fornecedor
do respectivo combustível
• é obrigatório também que o esta­
belecimento informe os preços dos
combustíveis em painel de forma ade­
quada, ostensiva e que permita a fácil
visualização à distância tanto de dia
quanto de noite
Gerente de posto acompanha procedimento de fiscalização da Fundação Procon-SP

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 9


Legislação
Joana Croft/SXC

Tamanho não
é documento
Por Francisco Itacarambi

O
aposentado Gilberto An- sua compreensão pelo consumidor”, elaboração do Código do Consumi-
drade não precisará mais diz o inciso 3, do art. 54 da Lei 8.078. dor, o questionamento sobre o tama-
ajeitar os óculos de leitura A novidade está por conta da frase nho da letra dos contratos não pas-
na ponta do nariz quando for assinar “cujo tamanho da fonte não será in- sou despercebido. Mas os autores do
um contrato. Pelo menos é essa a ex- ferior ao corpo doze”, inexistente no Código, acertadamente, preferiram
pectativa que tem ao saber da sanção texto original. Apenas isso. não descer ao detalhismo sobre o
da Lei 11.785, que altera o artigo 54 É de se imaginar que quem já se assunto e optaram apenas por traçar
do Código de Defesa do Consumi- deparou com contratos com letras uma diretriz, a saber: com letras ‘os-
dor. O novo texto, que acrescentou miúdas, como Andrade, considere a tensivas e legíveis’”, escreveu o colu-
11 novas palavras ao CDC, passou a nova redação essencial para as rela- nista do “JT”, Josué Rios.
vigorar em 22 de setembro de 2008 ções de consumo. Nada mais natural. O Código de Defesa do Consumi-
e promete acabar com as letras miú- É, geralmente, nas letras miúdas que dor é o que se chama de lei de caráter
das nos contratos. mora o perigo. Mas como explicar que principiológico. Ou seja, é passado um
“Os contratos de adesão escritos a maioria das pessoas que trabalham conceito/idéia, que pode ser aplicado
serão redigidos em termos claros e diariamente com a defesa do consu- nas mais diversas situações. Ao não
com caracteres ostensivos e legíveis, midor tenha torcido o nariz? A respos- amarrar uma condição, o CDC sobre-
cujo tamanho da fonte não será infe- ta está nos detalhes. vive às mudanças tecnológicas e aten-
rior ao corpo doze, de modo a facilitar “Evidentemente que, quando da de a um maior número de situações. O

10 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Legislação

texto já fixava que os contratos de-


veriam ser escritos com “caracteres Nova redação, em negrito, do artigo 54 da Lei 8.078
ostensivos e legíveis”. Como diz o
3 – “Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ditado, para bom entendedor, meia
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze,
palavra basta.
de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor”.
Justiça seja feita, o caráter prin-
cipiológico nunca agradou parte dos
fornecedores. A falta de uma regra
que amarre a publicidade ou expli- Mas nem sempre as mudanças a modelagem M de uma marca é
que passo a passo como se comunicar servem para dissipar todas as dúvidas. menor ou maior do que o M de ou-
com o público sempre gerou incerte- O fato de o corpo 12 ser fixado como tra marca. A REVISTA PROCON-SP
za. No Procon-SP, não é incomum um tamanho mínimo não necessariamen- fez um teste com algumas fontes,
fornecedor de boa-fé solicitar uma te garante uma leitura confortável e a diferença é brutal (veja box). O
avaliação do órgão para um comuni- (para não citar uma divulgação osten- tamanho da letra por si só também
cado ou informação que irá prestar ao siva) pelo consumidor. Qualquer editor não garante uma leitura adequada
consumidor. Porém, existem aqueles de textos possui mais de uma fonte, pelo consumidor. Imagine um texto
que apelam para o caráter subjetivo como a Times New Roman, Arial, etc. escrito com fundo preto e com uma
da lei para alegar que estão prestando letra da cor cinza? O resultado não
informações claras e ostensivas. O Ju- é dos melhores.
Alteração do CDC nasce
diciário, quando se depara com casos “O Código de Defesa do Con-
assim, tem atuado de forma rígida. de idéia positiva, mas sumidor já prevê que os contratos
esbarra em detalhes devem ser formatados de modo
Mudanças claro, tanto em forma quanto em
Uma prova da atualidade do CDC
que podem prejudicar con­teúdo. Portanto, não adianta
é que em 18 anos de existência (leia o consumidor alguém tentar usar essa lei para en-
mais na pág. 35) o texto sofreu me- ganar os consumidores”, alerta o
nos de dez alterações. Muitas delas, Sem citar que alguns veículos de co- diretor de atendimento da Funda-
mudanças apenas no nome. Um caso municação, por exemplo, possuem ção Procon-SP, Evandro Zuliani. “In-
positivo de alteração, segundo espe- fontes feitas sob medida, como é o dependente do tamanho da letra, a
cialistas, foi a realizada no artigo 52, caso do jornal “The New York Times” legislação é clara: o contrato deve
pela Lei nº 9.289, de 1996. O inciso I e da revista “Veja”. ser totalmente legível”, diz. Letras
ganhou a seguinte redação: “§ 1° Ao submeter um mesmo tex- quase apagadas ou borradas, pelo
As multas de mora decorrentes do to, com tamanho de letra fixado, CDC, também estão longe de facili-
inadimplemento de obrigações no seu às mais variadas fontes disponíveis tar a compreensão do consumidor.
termo não poderão ser superiores a em um computador, é fácil notar a Análise informal das consultas fei-
dois por cento do valor da prestação”. diferença. A “forma” não é a mes- tas por consumidores ao Procon-SP
Antes, o limite era de 10%. ma. Seria o mesmo que dizer que revela o verdadeiro problema. A maio-
ria das queixas se dá pelo conteúdo.
Abusando de linguagens burocráticas
Tamanho igual, mas percepção distinta
e do “juridiquês”, muitos contratos
são obras de difícil interpretação até
Veja teste com quatro fontes. O tamanho utilizado para todas foi 12:
para operadores do direito. Desta for-
ma, o consumidor consegue ler com
Letra com tamanho 12 (Fonte: Times New Roman)
precisão as letras, porém não é capaz
Letra com tamanho 12 (Fonte: Comic Sans MS) de interpretar o que está escrito na fo-
lha de papel. É contra esse mal que o
Letra com tamanho 12 (Fonte: Mistral) CDC determina: “serão redigidos em
termos claros e com caracteres osten-
Letra com tamanho 12 (Fonte: Kunstler Script) sivos e legíveis”. Independente do ta-
manho da letra.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 11


Procon municipal

Fotos: Felipe Neves/SJDC

Consumidora abre reclamação contra operadora de celular no posto do centro de Santana do ParnaÌba

O faz-tudo Por Felipe Neves

S
abe aquele cachorro do vizinho aos risos, Suely Kaunert de Oliveira, mento: antes de qualquer coisa, bus-
que late a noite inteira? O que coordenadora do Procon de Santa- car o diálogo com o proprietário do
fazer para resolver esse proble- na do Parnaíba. Embora inusitado, animal. Se não resolvesse, apelar para
ma de maneira conciliatória? Um cida- o episódio é motivo de orgulho. Um a administração do condomínio e, em
dão de Santana do Paraíba, morador exemplo do aval que a população dá último caso, chamar a Guarda Civil
de um dos luxuosos condomínios de ao trabalho que vem sendo realizado. Metropolitana.
Alphaville, teve uma idéia, no mínimo, “Você vê que, qualquer coisa, eles Esse é apenas um exemplo extre-
original: buscou o Procon. É claro que não sabem onde reclamar e procuram mo. Mas diversos cidadãos de Santa-
as noites sem dormir devem ter contri- o Procon. Eles acham que o Procon é na do Parnaíba procuram o Procon
buído para a confusão. Mas a atitude tão influente que vai resolver qualquer quando têm algum problema a re-
também evidencia outro aspecto in- problema”, comemora. solver. Busca por documentos, recla-
teressante do município: a população No caso, a consulta foi feita por te- mação sobre o valor de um imposto,
confia tanto no órgão que o procura lefone. Do outro lado da linha, em vez etc. “É um pouco serviço social tam-
nas mais diversas situações. de “despachar” o cidadão, os técnicos bém. A gente escuta o consumidor,
“Ligaram aqui para saber que do- o ajudaram. Explicaram, em primeiro percebe que não é relação de consu-
cumentos precisavam trazer para abrir lugar, que a alçada do Procon são as mo. Mas não vamos mandar o sujei-
a reclamação, porque o cachorro es- relações de consumo. Na seqüência, to embora, dizendo: ‘não é aqui’. A
tava latindo e incomodando”, relata, deram algumas sugestões de procedi- gente busca informações adequadas,

12 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Procon municipal

para saber qual é o problema dele e Isto é, das 300 pessoas que pre- Maiores problemas
encaminhá-lo ao setor que ele preci- cisam efetivamente do órgão, 285 Se a TIM e os bancos (em caso
sa”, conta Suely. (95%) têm seus conflitos resolvidos. de saque não reconhecido) tendem a
Os 5% restantes são encaminhados ao não resolver as demandas, pelo me-
Confiança conquistada Juizado Especial Cível, do Poder Judici- nos o número de reclamações contra
A credibilidade não vem à toa. O ário. “Tem casos que não tem jeito. As eles não é tão grande. Seguindo a
Procon já atua na cidade há 11 anos empresas já vêem aqui sem proposta tendência dos dados da capital, o for-
(foi formalizado em 1996, mas come- nenhuma. E o preposto chega sem po- necedor que mais gera conflitos em
çou efetivamente a funcionar no ano der de decisão nenhum”, revela Suely. Santana do Paranaíba (107 mil habi-
seguinte). E conquistou a confiança da A coordenadora cita como exem- tantes) é a Telefônica, disparado. Na
população com trabalho duro e efici- plo a TIM. Segundo ela, a operadora segunda colocação, entretanto, apa-
ência. A sede principal fica no centro, de celular já até está famosa na cidade rece uma novidade – uma questão
onde três técnicos recebem os consu- por não atender às reclamações dos pontual da cidade: a Sabesp.
midores. Desde 2002, o órgão ganhou consumidores, nem mesmo quando “Sempre tivemos problemas de
um segundo posto de atendimento, o Procon entra na jogada. Também água aqui. É um problema do municí-
mais perto dos condomínios residen- não há acordo, com bancos em geral, pio. O Poder Público já entrou diversas
ciais, onde outros três funcionários re- quando o assunto é saque não-reco- vezes com cobranças contra a Sabesp.
cebem as reclamações. nhecido. A postura das instituições é E já melhorou. De 97 para cá, melho-
Os números são bastante anima- de apenas apresentar provas a pedido rou, mas ainda continua com muitos
dores. Em média, o Procon recebe 300 da Justiça. O que deixa o Procon de problemas”, revela Suely.
consumidores (com problemas de con- mãos atadas. Na terceira colocação, aparecem
sumo mesmo) por mês. Deste total, Nos casos em que o problema não os aparelhos de telefone celular. O
em 90% dos casos, a solução é alcan- é resolvido na audiência de conciliação, consumidor compra o produto e, pou-
çada sem a necessidade de audiência o Procon orienta o consumidor e pre- co tempo depois, surgem defeitos ou
de conciliação – apenas com o traba- para toda a documentação necessária a bateria dura muito pouco. E, para
lho do órgão junto ao fornecedor. Dos para que ele abra o processo no JEC. E piorar, as assistências técnicas não
casos que precisam de audiência, a coloca-se à disposição da Justiça para dão conta de solucioná-los no prazo
metade também tem uma resolução fornecer informações e/ou evidências estipulado pelo Código de Defesa do
satisfatória para o consumidor. pertinentes ao caso. Consumidor (30 dias).

Você vê que,
qualquer coisa, eles
não sabem onde
reclamar e procuram
o Procon. Eles acham
que o Procon é tão
influente que vai
resolver qualquer
problema

Suely Kaunert de Oliveira

Consumidora recebe orientação no posto de atendimento de Alphaville

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 13


Tributos

Só paga
o que usa
Por Patrícia Paz

Medida do Governo ameniza prejuízo dos motoristas roubados em São Paulo

P
ara o engenheiro João Vitor Renault Clio 2003 na rua para ir a um que tiverem os veículos roubados ou
Rodrigues Beu, de 26 anos, bar da Vila Madalena com amigos, no furtados em solo paulista. Pela nova
julho não foi, decididamente, dia 1º de setembro. Quando voltou, só regra, a dispensa é proporcional à ra-
um bom mês. Em uma noite de domin- encontrou a vaga. “Eu fiquei inconfor- zão de 1/12 (um doze avos) por mês
go, ao deixar sua namorada em casa, mado, pois já tinha sido roubado na do valor do imposto devido ao Estado.
teve seu carro, um Fiat UNO 0 km, mesma rua no ano anterior”, conta. Ou seja, o IPVA dividido pelo número
roubado no município de Mauá. “Dois Depois de tentar fazer o BO via internet de meses do ano, dispensado ou res-
indivíduos chegaram armados pedindo sem sucesso, devido a um problema tituído a partir do mês seguinte ao da
para sairmos do carro. Não deixaram com a documentação, dirigiu-se a uma ocorrência do roubo/furto.
nem que tirássemos nossos pertences delegacia e registrou queixa do furto. Segundo o diretor-executivo da
pessoais de lá”, relembra. O casal se Mas nem tudo foi notícia ruim para administração tributária da Secretaria
encaminhou à delegacia da cidade os dois. Uma recente medida do Poder da Fazenda, José Clovis Cabrera, o cál-
para registrar o boletim de ocorrência Público os favoreceu – e, sem dúvida, culo é bem simples de ser feito. Para o
(BO). Além de bloquear o veículo junto ajudou a atenuar a raiva que ambos caso de Beu, que pagou, à vista, o va-
ao Departamento Estadual de Trânsito sentiam. Em julho de 2008, o Governo lor de R$ 1.128,00 de IPVA e teve seu
(Detran), Beu precisava do documento do Estado de São Paulo sancionou a Lei carro roubado em julho, a restituição
para dar entrada no seguro. 13.032, que dispensa o pagamento do do imposto será na proporção 5/12
O editor de vídeo Marcel Augusto IPVA (Imposto sobre a Propriedade de (cinco doze avos), referente aos meses
Silva Campos, 24 anos, estacionou seu Veículos Automotores) aos motoristas de agosto a dezembro. “O valor total

14 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Tributos

do IPVA pago é dividido por 12 (refe- ocorrer a devolução, proporcionalmente


rente aos doze meses do ano) e mul- aos meses que restarem até o final do Passo a Passo
tiplicado pelo tempo a ser restituído.“ respectivo ano. “Sempre o mês da ocor-
Como funciona, passo a pas-
Beu terá, portanto, direito à restituição rência será cobrado do motorista, bem
do valor de R$ 470,00. como o mês da possível devolução do so, a dispensa e restituição do
Campos, que teve seu carro fur- veículo”, ressalta o diretor-executivo. IPVA de veículo furtado ou rou-
tado em setembro, e pagou o valor A divulgação da relação dos contri- bado no Estado de São Paulo
de R$ 1.015,84 de IPVA, terá direito buintes com direito ao ressarcimento e o • Passo 1 – Registrar o Boletim
à restituição na proporção de 3/12 respectivo valor da restituição será feita de Ocorrência (BO)
(três doze avos), referente aos meses até o dia 28 de fevereiro do ano seguinte
O BO pode ser feito pela inter­
de outubro a dezembro. Ele receberá ao da ocorrência do furto ou roubo. Os
net, desde que a subtração do veí­
o valor de R$ 253,96 do montante consumidores que tiveram seu veículo
pago antecipadamente à Secretaria roubado/furtado a partir de 1º de janei-
culo não tenha se dado mediante
da Fazenda. “Não sabia dessa lei até ro de 2008 já podem ser beneficiados. uso de violência ou grave ameaça
ter o meu carro roubado e achei muito “A lei atende ao interesse público e tor- (furto). Se houver violência (roubo),
justo, pois não vou usar o carro nesse na menos dolorosa a situação de roubo/ o registro do evento deve ser feito
tempo, apesar de ter pago o imposto furto do veículo”, conclui Cabrera. em unidade policial.
inteiro”, finaliza. Segundo dados da administração • Passo 2 – O BO bloqueia o veí­
tributária da Secretaria da Fazenda, a culo no Detran automaticamente
Automático nova lei beneficiará cerca de 170 mil
Cabrera explica que, como todo o • Passo 3 – Direitos e deveres:
contribuintes. Atualmente, o Estado de
sistema é informatizado, o registro da São Paulo tem cerca de 16 milhões de Se o veículo for furtado ou rou­
ocorrência policial ativa um bloqueio veículos. Desse total, 11 milhões (69%) bado no mês de janeiro (antes do
no Departamento Estadual de Trânsi- são tributáveis – ou seja, recolhem o pagamento de qualquer parcela), o
to (Detran). “A Secretaria da Fazenda IPVA. O restante da frota está isenta, consumidor terá que recolher ape­
autorizará a dispensa do IPVA tão logo por ter mais de 20 anos de fabricação nas 1/12 do IPVA do exercício. Para
receba as informações de automóveis ou por se tratar de veículos pertencen- pagamento do duodécimo, o contri­
bloqueados do Detran.” tes a taxistas, deficientes físicos, par-
buinte entrará no site da Secretaria
A lei determina a dispensa do im- tidos políticos, igrejas, entidades sem
da Fazenda e emitirá a guia de re­
posto no mês seguinte à ocorrência e, fins lucrativos ou veículos oficiais. A Se-
colhimento, conforme as orientações
no caso de recuperação do veículo, volta cretaria da Fazenda prevê arrecadar R$
a ser devido o IPVA no exercício em que que constarem na página, e recolhe­
7 bilhões com o IPVA em 2008.
rá o imposto em agência bancária.
Se o contribuinte tiver pago duas
Fotos: Patrícia Paz/SJDC
parcelas do IPVA (janeiro e fevereiro)
e tiver seu carro furtado ou roubado
em março, por exemplo, ele somente
deve 3/12 do IPVA e terá direito à res­
tituição do valor pago a mais. ATEN­
ÇÃO: cada parcela do IPVA equivale
a quatro meses de imposto.
Se o contribuinte já tiver pago
o IPVA integralmente (à vista ou em
até três parcelas), e tiver seu carro
furtado ou roubado em maio, por
exemplo, deve 5/12 do IPVA e terá
direito à restituição do valor pago a
mais, ou seja, recebe de volta 7/12.
Vítima de roubo, João Vitor será beneficiado por nova legislação

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 15


Coleguinhas
Fotos: Divulgação MDC-MG

O tempo fechou
(para os fornecedores)
Por Felipe Neves

Com o lema “lutar vale a pena”, MDC-MG conquista confiança da população e status de Oscip

O
s mineiros, uai, poderiam cado, surpresas constantes: de manhã estimular o desenvolvimento das asso-
agüentar tudo, com exce- era um preço; à tarde, outro. Ou seja, ciações civis para ampliar o leque de
ção de uma coisa: não saber, organizar o orçamento doméstico era defensores dos consumidores.
ao certo, os preços dos ingredientes um desafio quase impossível. Claro que
do pão de queijo e do doce de leite. os impactos recaíam sobre toda a estru- Cartão de visita
Como poderiam comer (quietinhos e tura familiar, mas quem sentia isso na Logo no seu primeiro ano de atu-
pelas beiradas) esses típicos alimentos? pele? A dona-de-casa. ação, o MDC-MG obteve duas impor-
Brincadeiras à parte, foi justamente a “Era uma situação bastante afliti- tantes conquistas, que serviram para
inflação galopante dos anos 80 que va”, define Lúcia Pacífico, fundadora consolidar sua posição. A primeira
levou um grupo bastante peculiar de e presidente do Movimento das Donas delas foi uma maneira de questionar
cidadãs de Minas Gerais a criar o que de Casa e Consumidores de Minas Ge- o que dona Lúcia chama de “acordo
hoje, 25 anos depois, é uma das prin- rais (MDC-MG), sobre o início da dé- de cavalheiros do governo federal com
cipais associações civis de defesa do cada de 80. “Quer dizer, o orçamento os supermercados”. Na época, os dois
consumidor do país. doméstico não dava mesmo”, acres- haviam elaborado uma lista de produ-
Para os leitores mais jovens, ou com centa. Foi a partir dessa constatação tos (alimentação, higiene e limpeza)
memória curta, vamos recordar: infla- que surgiu o movimento, em setem- que teriam os preços estabilizados. O
ção alta, perda do poder de compra, bro de 1983, com o apoio do Procon- que, teoricamente, era bom.
desarmonia nas famílias. No supermer- MG, que, à época, estava procurando O problema é que, na opinião

16 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Coleguinhas

do MDC-MG, a lista não contempla-


va itens essenciais – era uma medida
“para inglês ver”. O movimento, en-
tão, convocou os supermercadistas, e
conseguiu alterá-la substancialmen-
te. “Onde entrava fósforo, vela, esse
tipo de material de uso, nós pedimos
que entrasse macarrão, ovo, maisena.
Conseguimos 90% das nossas reivin-
dicações, sem nenhuma intervenção
do governo.”
A segunda conquista foi uma ação
civil pública proposta pelo MDC-MG
contra a cobrança do Fundo Nacional
de Telecomunicações (FNT). “Era uma
cobrança ilegal nas contas de telefonia
fixa”, afirma dona Lúcia, para quem a
vitória na Justiça foi “fantástica”. “To-
das as pessoas que guardaram as con- Na pauta do MDC-MG, temas relevantes à sociedade como
tas antigas foram ressarcidas.” transgênicos, genéricos e maquiagem de produtos

Os dois episódios serviram como


cartão de visita da associação. Mos- gava na imprensa, distribuía panfleto, de acertar” passou a ser encarado
traram que as donas-de-casa mineiras ficava na porta do supermercado, da como utilidade pública.
não estavam para brincadeira. Haviam igreja”, conta dona Lúcia. Não à toa. A entidade tem mais
chegado para ficar e brigar pelos direi- A repercussão fez a entidade de 70 ações civis públicas em trâmite
tos do consumidor. Seja junto ao Po- ficar respeitada. Atualmente, três no Poder Judiciário. Milita em batalhas
der Judiciário, seja no dia-a-dia. advogados recebem reclamações de sobre diversos assuntos relevantes à
Sem respaldo de legislação espe- consumidores insatisfeitos. Mesmo sociedade, como alimentos transgê-
cífica – o CDC só entraria em vigor sem a força coercitiva do Estado, nicos, medicamentos genéricos, segu-
no início dos anos 90 –, os consumi- o órgão consegue fazer as empre- rança alimentar, maquiagem de pro-
dores se viam, na opinião de dona sas comparecerem às audiências. O dutos, entre outros. Além disso, edita
Lúcia, em situação de completo des- motivo? “Não é pelos nossos belos e distribui um jornal de educação para
caso. Ela cita como exemplo a carne, olhos, né?”, ironiza dona Lúcia. “É o consumidor, e participa do cotidiano
cujo corte vinha cheio de “pelancas” por causa da boca no trombone. A dos cidadãos de Minas – sendo requi-
para aumentar o peso (e o preço). gente tem até um megafone para ir sitada para palestras, seminários e de-
“De carne mesmo, a gente levava à praça pública.” bates acerca das relações de consumo
pouco. E quando a gente reclamava, e das legislações pertinentes ao dia-a-
eles diziam: ‘a senhora não quer? Aval do Estado dia das donas-de-casa.
Deixa aí, dona’.” Em setembro de 2007, o MDC- E o reconhecimento não poderia
A solução encontrada por essas en- MG foi reconhecido como Organi- vir em melhor hora – às vésperas da
genhosas e voluntariosas (no bom sen- zação da Sociedade Civil de Inte- comemoração do “jubileu de prata”,
tido) donas-de-casa foi, literalmente, a resse Público (Oscip). Com o título, os 25 anos da entidade. De fato, há
“boca no trombone”. Foram a campo obtido a partir de um projeto sobre muito para festejar. A trajetória dessas
pesquisar. O resultado? “Começamos consumo sustentável e educação ao “meninas de fibra” serve de exemplo
a pressionar os supermercados. Ou consumidor, a entidade pôde pleite- para as gerações futuras. E a moral é:
seja, a gente divulgava onde estava ar verba do Estado para implemen- lutar vale a pena. Mesmo que pareça
vendendo mais barato. E tínhamos tar suas iniciativas. Isso serviu para difícil. “É um trabalho de formiguinha,
a ‘lista negra’ dos mais caros. Então, aperfeiçoar sua estrutura. O que mas que vai crescendo porque dá uma
começaram a baixar os preços, porque nasceu e cresceu na base do “as- força de elefante para a gente”, con-
a gente mandava brasa mesmo: divul- sociativismo, da paixão, da vontade clui dona Lúcia.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 17


Capa

Lei do
não
perturbe
Por Francisco Itacarambi e Felipe Neves

Elena Buetler/SXC

“E
ntraria agora.” Assim, de mento de Ligações de Telemarketing da. Sou o tipo de pessoa que gosta de
bate pronto, conforme a no Estado de São Paulo. ir à loja e de ir atrás das informações.
expressão popular, a jorna- O objetivo é proteger os cidadãos Eu procuro o que me interessa. Me
lista Érica Sato, de 28 anos, respondeu que não desejam receber ligações de incomoda bastante alguém que fique
à questão se gostaria de fazer parte de empresas de telemarketing ou de es- me oferecendo coisas”, diz Érica.
uma lista de consumidores que não tabelecimentos que se utilizem deste O que mais a irrita está no cerne
querem mais receber ligações de tele- serviço. A lei beneficiará usuários de da nova legislação: o direito do con-
marketing. “Não gosto nem um pouco. telefonia fixa e celular, com DDD do sumidor de não ser incomodado em
Acho invasivo”, acrescentou. O desejo Estado de São Paulo. Para se cadas- seu âmbito particular. “Eles ligam muito
de Érica pode se tornar realidade nos trar, o titular da linha deverá fazer no meu telefone pessoal, no meu celu-
próximos meses com a Lei 13.226, san- solicitação formal junto à Fundação lar. E o próprio nome já diz: pessoal”,
cionada pelo governador José Serra em Procon-SP – órgão responsável por salienta. “É um número para os meus
meados de outubro. A nova regra cria administrar o cadastro. conhecidos, amigos e família. E eles
um Cadastro para Bloqueio do Recebi- “Para mim, a lei é muito bem-vin- [vendedores] não têm autorização

18 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Capa

para ligar no meu celular e ficar me Regulamentação de matéria de natureza tipicamente


ocupando em horas que não tenho A Lei 13.226/08 entrará efetiva- administrativa, vinculada à organiza-
disponibilidade.” mente em vigor no início de 2009. Por ção e ao funcionamento de órgãos e
Sua colega de trabalho, a também razões de ordem estritamente jurídica, entidades da administração pública.
jornalista Thais Helena Hannuch, de 25 os artigos 2°, 3°, 4º e os §§ 1º, 4º e 5º Segundo a Constituição do Estado,
anos, foi outra que ficou satisfeita com do artigo 5º do projeto foram vetados esse tema é de competência privativa
a nova lei. Com tom mais moderado, pelo governador e serão reescritos no do Executivo. Orientação nesse sen-
ela criticou a abordagem e a estratégia decreto que regulamenta a lei. tido, inclusive, foi objeto de algumas
agressiva de venda das empresas do O principal problema é que o texto decisões do Supremo Tribunal Federal
setor. “Alguns deles me incomodam, inicialmente aprovado pela Assembléia (STF) em Ações Diretas de Inconstitu-
porque são inconvenientes. Ligam em Legislativa do Estado de São Paulo cionalidade (Adin).
horários esdrúxulos e não respeitam se (Alesp), em algumas passagens, cuida “Acolho a iniciativa, na sua es-
você pode ou não falar”, afirma. “Mas sência, em especial no que concerne
eu entendo que esse é o trabalho de- à criação de cadastro para bloque-
les, então, tento ser educada dentro É um número para ar ligações que tenham por objeto a
do que é possível.” oferta de produtos e serviços, porque
os meus conhecidos,
Apesar dessa imagem negativa, considero necessário, sob a ótica da
Thais admite que, às vezes, se interes- amigos e família. E tutela dos direitos do consumidor, es-
sa pelo produto ou serviço oferecido. tabelecer-se regramento que discipline
“É raro, mas oferecem coisas interes-
eles [vendedores] não a prática do telemarketing”, explica o
santes”, diz. “É muito agressivo, mas têm autorização para governador, na exposição de motivos
acho que às vezes tem oportunidades encaminhada ao presidente da Alesp,
que só oferecem ali.” Ela, inclusive, ligar no meu celular e deputado Vaz de Lima.
já foi convencida por um vendedor a
ficar me ocupando em
aderir a uma promoção. Polêmica
Era a assinatura de um jornal, horas que não tenho A lei foi recebida com entusiasmo
apenas nos fins de semana, com por consumeristas. Alguns, no entanto,
“preço especial durante o período
disponibilidade questionaram o fato de os consumido-
de seis meses”. Além disso, por ade- res terem que preencher um cadastro.
rir a partir daquela ligação, ela “foi Érica Sato O argumento utilizado é que todas
premiada” com ingressos para even-
tos culturais como cinema e teatro.
“Como eu fiz a conta do preço do
jornal, e tem a comodidade de eles Como aderir ao cadastro
me entregarem em casa, eu acabei
contratando”, explica.
A inscrição do número da linha de
Apesar dessa experiência, Thais
garante que vai querer fazer parte do
telefone, móvel ou fixa, será realiza­
Cadastro para Bloqueio do Recebi- da somente pelo titular da assinatu­
mento de Ligações de Telemarketing. ra. Ele deverá acessar o site do Pro­
“Eu não gostaria de receber, mesmo con-SP ou ir pessoalmente a um dos
sabendo que posso perder algumas postos de atendimento. É necessário
• Telefone a ser cadastrado;
oportunidades”, destaca. Para ela, fornecer as seguintes informações:
essas raras boas ofertas não compen- • Número de inscrição no Cadastro de
• Nome ou Razão Social (empresa
sam a desagradável insistência dos Pessoas Físicas – CPF ou no Cadastro
privada);
operadores. “É mais incômodo do que Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ;
oportuno. Se eu tivesse a chance de • Número do RG ou Inscrição Estadual;
• Endereço eletrônico – e-mail, quan­
poder optar em não receber esse tipo
de ligação, com certeza optaria.” Pois
• Endereço e CEP do houver.
terá. Muito em breve.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 19


Capa

as ligações teriam que ser proibidas e as empresas. Telemarketing, como pelo governador José Serra. “Trata-se
quem quisesse receber as chamadas se sabe, é uma atividade tipicamen- de regra que desacorda da intenção
que deveria preencher o cadastro. A te privada. Tanto que a lei não se de proteger o assinante de telefonia
crítica mostra a insatisfação de grande aplica às entidades filantrópicas que e dá origem a norma desprovida de
parcela da sociedade com a atividade utilizem da ferramenta para anga- razoabilidade.(...) Se a finalidade da
e reforça a importância da criação de riar recursos próprios. lei é garantir a privacidade dos usuá­
um mecanismo de proteção para quem rios do serviço de telefonia, não se
não deseja receber “chateações” de Bloqueio estrangeiro justifica o limite de três números por
operadores de telemarkentig. Nos Estados Unidos, também há
assinante”, salienta.
Por mais nobre que seja essa von- uma lei que prevê o bloqueio de liga-
A regulamentação da lei corrigi-
tade, ela recai em vício de iniciativa. ções de empresas de telemarketing.
rá esse ponto. O texto irá autorizar
O princípio fundamental da lei é pro- Lá fora, cada consumidor pode ins-
o consumidor a registrar no cadastro
teger os consumidores que se sintam crever até três linhas telefônicas no
do Procon-SP quantas linhas telefôni-
prejudicados. Dessa forma, o Poder sistema. A escolha da limitação se dá
cas desejar. Outra diferença com a lei
Executivo não poderia criar uma lei por um motivo prático. É permitida
norte-americana é a inversão de pa-
que proíbe indiscriminadamente a ati- apenas a compra de três linhas tele-
péis. Nos EUA, o consumidor tem que
vidade de telemarketing. O foco é ou- fônicas por cidadão, utilizando como
tro: proteger a privacidade do cidadão controle o número de um documen- assinalar quais as empresas que não
que se sente desrespeitado. to pessoal, similar ao nosso CPF. deseja que entrem em contato. Em
Outro ponto importante é que, se Ocorre que no Brasil não existe essa São Paulo, o consumidor irá bloquear
fosse do jeito como propõem alguns restrição. É permitido que um cida- todas as chamadas, mas poderá libe-
críticos, o governo estaria trabalhan- dão tenha registrado em seu nome rar o contato, pontualmente, das em-
do de graça para as empresas de quantas linhas telefônicas desejar, presas que não o incomodam.
telemarketing. Ao criar um cadastro entre fixo e celular. Para isso, terá que preencher um
de pessoas que querem receber li- O projeto de lei aprovado na Alesp formulário padrão que será fornecido
gações, o governo estaria, na ver- previa a limitação de até três linhas, pelo Procon-SP aos fornecedores. O
dade, fornecendo um mailling para no inciso I do artigo 5º, que foi vetado número de empresas que ele poderá

Felipe Neves/SJDC
Como funciona o cadastro

Todo consumidor
que não desejar re­
ceber chamadas de
telemarketing po­
derá inscrever o nú­
mero de telefone de
sua titularidade no cadastro. Após
30 dias, os fornecedores e as em­
presas do ramo ficam proibidos de
efetuar ligações para os inscritos,
salvo se comprovarem a existência
de prévia autorização do titular da
linha. Apenas o número do tele­
fone será publicado no cadastro,
protegendo os demais dados pes­
soais do consumidor.
Jornalistas consideram telemarketing inconveniente e planejam aderir ao cadastro

20 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Capa

Divulgação

Unidade da SPCom, empresa especializada em serviço de call center e telemarketing

autorizar é indeterminado, cabendo a Se o número do com relação às multas. O texto origi-


decisão ao próprio usuário. Ao padro- nal fixava multa de 680 Unidades Fis-
nizar a solicitação, o Procon-SP busca telefone do consumidor cais do Estado de São Paulo (Ufesp)
evitar que fornecedores “empurrem” por ligação efetuada de forma inde-
é do Estado de São
cláusulas abusivas nos contratos. Al- vida – cerca de R$ 10 mil. O inciso
guns expedientes conhecidos mostram Paulo, ele estará 5º do artigo 5º também foi vetado
que, em formulários pela internet, tó- por não propiciar a gradação entre a
picos já vêm “ticados” (assinalados)
protegido. Não importa gravidade da infração, o porte econô-
automaticamente, cabendo ao consu- se a empresa é de outro mico do infrator, a sua conduta e o
midor desativá-lo. Em momentos de resultado produzido.
pressa ou falta de atenção, essa es- estado ou tenha feito “Nessa perspectiva, desatende aos
tratégia muitas vezes acaba passando critérios desenhados no artigo 57 do
um interurbano
despercebido pelo usuário. Código de Proteção e Defesa do Con-
O formulário único também traz sumidor (Lei federal nº 8.078, de 11 de
Roberto Pfeiffer
segurança. Por um lado, o consu- setembro de 1990), que se qualifica
midor terá acesso a um documento como norma geral, e incorre em in-
de fácil interpretação e padronizado cadastro, o consumidor autorizou seu constitucionalidade por afronta, nos as-
por todas as empresas com que ele contato do telemarketing. pectos assinalados, às disposições dos
mantém relacionamento. Do outro, §§ 1º e 2º do artigo 24 da Constituição
os fornecedores terão uma prova Punição Federal”, explica o texto do veto.
concreta que, apesar de o número do Outro ponto de discórdia entre o A regulamentação da lei remeterá
telefone do usuário estar inscrito no projeto aprovado e a lei sancionada é ao Código de Defesa do Consumidor

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 21


Capa

os valores e procedimentos para mul-


Aberto a possibilidades ta. O CDC fixa entre R$ 212,00 e R$

Felipe Neves/SJDC
3,1 milhões as multas administrativas.
Desta forma, uma microempresa ten-
de a receber uma multa menor do
que um grande fornecedor. Em caso
de reincidência, a multa será aumen-
tada gradativamente.
O fornecedor e a empresa de tele-
markenting respondem solidariamente
à multa. Assim, quem contrata o ser-
viço terceirizado de uma empresa de
telemarketing tem a obrigação de fis-
calizar os procedimentos adotados sob
o risco de também ser penalizado. O
CDC deixa claro que qualquer uma das
partes envolvidas poderá ser acionada.

Para Bruno, bloquear telemarketing é fechar porta a oportunidades


O consumidor irá bloquear
Consumidor antenado, o administra­ educado, escuto, respondo. Se não pos­ todas as chamadas,
dor de empresas Bruno Gonçalves, so falar, peço para ligar mais tarde.
de 24 anos, não gosta de perder boas
mas poderá liberar o
Você se interessa pelos produtos?
oportunidades. Sempre atento às ofer­ contato, pontualmente,
tas do mercado, ele não vê problemas Na maioria das vezes, não. Mas, in­
em receber chamadas do telemarke­ variavelmente, eu escuto. Sou sempre das empresas que não
aberto a possibilidades. Pode ser que
ting. Para ele, é uma forma de conhe­ o incomodam
cer produtos e serviços que eventual­ eles estejam oferecendo uma coisa
mente possa vir a ter interesse. que me interesse.
Para fazer uma denúncia de desres-
O que vem à sua cabeça quando Alguma vez comprou ou contratou peito à lei, o consumidor terá que procu-
atende ao telefonema e percebe o serviço oferecido? rar um posto de atendimento do Procon
que é um operador de telemarke- Uma vez, depois que a minha com­ da sua cidade, no prazo máximo de até
panhia de telefone celular ligou ofe­ 30 dias após o recebimento da chama-
ting tentando vender um produto?
recendo uma promoção de pacote da. “O ideal é o consumidor anotar o
Que eles são insistentes. Porque eles
nome da pessoa que ligou, qual produto
são bem insistentes. de mensagens.
estava representando, horário e número
Isso é bom ou ruim? Pelo visto, você não vai querer se do telefone que originou a chamada.
Essas informações facilitarão o trabalho
Sou um consumidor que tem muito na inscrever no Cadastro para Blo-
de fiscalização”, explica Roberto Pfeiffer,
cabeça o que quer. Pesquiso, vou atrás queio do Recebimento de Ligações
diretor-executivo do Procon-SP.
de promoções de serviços que me in­ de Telemarketing, certo?
Como o sigilo telefônico é garanti-
teressam. Então, a primeira coisa que Prefiro continuar recebendo. Porque pos­
do por lei, o órgão de defesa do con-
digo ao vendedor é: ‘Você tem dois so ser seletivo, tenho o poder na mão. sumidor estuda criar um instrumento
minutos para tentar me mostrar o que Se for uma oferta que não me interessa, para poder produzir provas contra o
quer’. Quando começa a enrolar, já des­ tenho como selecionar. É muito fácil falar fornecedor que desrespeitar o cadas-
confio. Mas espero sempre para saber ‘não, não quero’ e desligar. Não preciso tro. Pelo projeto, o usuário deverá
o que ele está oferecendo. Sou sempre perder uma eventual oportunidade. autorizar, no ato da reclamação, que
a Fundação Procon-SP possa solicitar,

22 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Capa

em seu nome, à concessionária de


serviços de telefonia fixo ou móvel, a Não me perturbem!
relação das chamadas com identifica- Quando o celular toca e o número não estão me pressionando já me tira a
ção dos números recebidos no dia e
é conhecido, o professor de línguas En­ vontade de até escutar a explicação do
horário da ocorrência.
rique Carretero, de 37 anos, já fica com produto ou serviço.
A lei estadual abrange também
a pulga atrás da orelha. Ao atender e
as empresas que atuam em outros O que você acha da iniciativa de
perceber que sua suspeita se confir­
estados. Assim, se uma empresa de se criar o Cadastro para Bloqueio
mou, sai do sério. Odeia telemarketing.
Minas Gerais contatar um consumi- do Recebimento de Ligações de
Não gosta de se sentir pressionado,
dor que aderiu ao cadastro ela estará Telemarketing?
muito menos do discurso decorado.
desrespeitando a lei paulista. “Se o Eu acho ótimo. Porque o telemarketing é
número do telefone do consumidor O que vem à sua cabeça quando uma invasão à privacidade das pessoas.
é do Estado de São Paulo, ele estará atende ao telefonema e percebe
protegido. Não importa se a empresa Em sua opinião, o telemarketing é
que é um operador de telemarke-
que fez a ligação seja de outro esta- sempre negativo?
ting tentando vender um produto?
do ou que tenha feito um interurba- No telefone de uma empresa, no seu
Que saco! (risos)
no”, explica Pfeiffer. trabalho, talvez seja mais aceitável, por­
Por quê? que é um telefone comercial e, no limite,
Porque eu odeio alguém tentando me público. Mas, no âmbito privado, acho
Não existe prazo limite
convencer a comprar alguma coisa que que é totalmente inaceitável.
para entrar no cadastro, eu não necessariamente quero. Odeio
Você acha que o telemarketing de-
essa pressão.
bem como o usuário veria ser proibido?
poderá solicitar o Você acha que os operadores de Não sei se tem que ser proibido, porque
telemarketing tentam empurrar o eu também vejo o outro lado: uma em­
desligamento a qualquer serviço a qualquer custo? presa tentando vender um produto. Mas
momento Tenho certeza disso. eu não quero. Acho que a lei é boa no
sentido de proteger a pessoa que não
Mas não existe a possibilidade
quer receber. Acho isso uma boa idéia.
Como aderir de existir um produto que lhe
Não existe prazo limite para entrar interesse? Você vai se cadastrar, então?
no cadastro, bem como o usuário po- Talvez. Mas só o fato de eu sentir que Assim que for possível.
derá solicitar o desligamento a qualquer
momento. No entanto, quem quiser se Felipe Neves/SJDC

inscrever no cadastro terá que preencher


um formulário no site do Procon-SP ou
ir até um posto de atendimento pesso-
al do órgão. Apenas o titular da conta
poderá solicitar a inclusão do número
do telefone. Dessa forma, é importante
que as pessoas que utilizam aquele te-
lefone estejam de acordo.
Para preencher o cadastro, será
necessário fornecer: nome ou Razão
Social (no caso de empresa privada);
número do RG ou Inscrição Estadual;
número do CPF ou CNPJ; endereço;
CEP; telefone a ser cadastrado; e Enrique é contra telemarketing porque se sente pressionado
e-mail (quando houver). Após o regis-

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 23


Capa
Carlos Chavez/SXC

Nova lei só deve entrar em vigor no início de 2009, pois ainda precisa ser regulamentada pelo Executivo

tro dos dados, o consumidor receberá marketing não se cadastrar, fica claro ção. A entidade, entretanto, conside-
uma senha para consulta e eventuais que ela não respeita a vontade dos ra que apenas uma lei federal poderá
alterações do cadastro. Concluído o consumidores que não querem ser in- efetivamente trazer a normatização
processo, as empresas não mais pode- comodados”, conclui Pfeiffer. adequada ao segmento do telemarke-
rão acionar o número do telefone após ting. “Acredita-se, pela peculiaridade
o 30º dia da inscrição. Outro lado do setor de atendimento ao consumi-
Para facilitar a consulta pelas A Associação Brasileira das Rela- dor, que somente uma lei federal trará
empresas, o Procon-SP irá disponibi- ções Empresa Cliente (Abrarec) afirma maior segurança, equilíbrio e harmo-
lizar uma lista com os números de que está à disposição do Governo do nia entre consumidores e fornecedo-
telefones que não devem ser inco- Estado e dos órgãos de proteção ao res, permitindo uma proteção mais
modados. Para ter acesso aos dados, consumidor para ajudar o processo efetiva ao próprio consumidor”, diz
de regulamentação da nova legisla- Stan Braz, diretor-executivo.
os fornecedores e as empresas de
telemarketing deverão solicitar uma
senha ao Procon-SP para pesquisar
no banco de dados, que apresenta-
Como denunciar
rá apenas os números de telefones.
Todos os outros dados dos consumi-
Para denunciar uma empresa que des­ ideal é que ele traga anotado o
dores estarão protegidos.
respeitou a lei, o consumidor terá que nome da pessoa que ligou, qual
“Ao fornecer uma senha aos for-
procurar um posto de atendimento do produto estava representando,
necedores, o Procon-SP cria um filtro
Procon, no prazo máximo de até 30 horário e número do telefone
para identificar quais empresas atuam
dias após o recebimento da chamada. O que originou a chamada.
de forma correta e quais estão à mar-
gem da lei. Se uma empresa de tele-

24 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Mercado

Tratamento de rex
Por Redação

H
á muito, eles são os fornecedores estão cumprin-
tratados a pão- do a legislação consumerista.
de-ló. A ração Isto é, se não há venda casada,
adequada, apenas, não é se as informações sobre produ-
mais suficiente para aten- tos e serviços são claras e pre-
der às expectativas desses cisas, se os preços estão visíveis
tão exigentes “quase- ao consumidor, etc.
cidadãos”. Os animais de Os fiscais da fundação encon-
estimação, atualmente, traram 32 irregularidades em 23
exigem uma série de pro- dos 60 estabelecimentos fiscaliza-
dutos e serviços exclusi- dos (38%). O principal problema
vos, que garantam sua encontrado, com 17 infrações
saúde, conforto e (por (53,5%), foi relativo a produtos
que não?) beleza. Assim, com validade vencida.
ao entrar nos já famosos Os demais problemas foram:
pet shops, os proprietá- falta de informação de valida-
rios deparam-se com um de (6), ausência de informação
leque imenso de opções. sobre origem e composição dos
Brinquedos, petiscos, produtos (4), falta de informação
cosméticos, adestra- de preço (3), falta de sinalização
mento, roupas (coleções de leitor óptico (1) e produto sem
verão e inverno), pen- informação em língua portuguesa
teados, banho e tosa, (1). Os fornecedores respondem
ginástica, colônia de fé- processo administrativo, assegu-
rias, hotel, spa... É possí- rada ampla defesa, podendo ao
vel encontrar tudo isso e Serviços para cachorros incluem banho, final ser multados, com base no
muito mais para os fiéis escudeiros! penteados especiais e natação artigo 57 do CDC.
Fica evidente, portanto, que esse é
um mercado em expansão. Como
tal, exige maior atenção por parte Dicas
dos órgãos de proteção à cidada-
nia. Ora, não é porque os serviços • só compre produtos (como shampoos e antipulgas) recomendados pelo veteriná­
são destinados para cães e gatos rio responsável pelo tratamento do animal
que os fornecedores não precisam
respeitar o Código de Defesa do • Verifique os dados da rotulagem/bula, como validade, fabricante, modo de utili­
Consumidor, certo? zação e eventuais restrições e/ou precauções a serem observadas
Pensando nisso, a Fundação
• Antes de contratar serviços de banho e tosa, entre outros, verifique as condições
Procon-SP promoveu ação de fiscali-
do local quanto a higiene, tratadores e contato com outros animais
zação em 60 estabelecimentos loca-
lizados na capital paulista. Foi a Ope- • No caso de hospedagem, o consumidor deve informar sobre hábitos do animal
ração Pet Shop, realizada nos dias (como alimentação e uso de medicamentos). Isso deve ser registrado por escrito
11, 13, 14, 15, 18 e 19 de agosto. O com valor e tipo do serviço, forma de pagamento e identificação do animal
objetivo foi justamente averiguar se

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 25


Evento
Fotos: Murillo Medina/Divulgação Instituto Alana

Em workshop para jornalistas, Susan (esq.) e Cecilia (dir.) trazem ao Brasil experiência internacional no combate ao consumismo infantil

Infância roubada
Por Felipe Neves

J
á que a pauta é publicidade, a é um mercado extremamente rentável de forma alguma. Ao equiparar com
imagem deve ser forte, apela- que se desenvolveu e expandiu nas últi- a mais avançada tecnologia bélica
tiva. Diante de 40 jornalistas mas décadas de forma vertiginosa. dos EUA (a mesma utilizada na Guer-
brasileiros, em workshop promovido Além disso, antigamente, os co- ra do Iraque), não há dúvida sobre o
pelo Instituto Alana, a psicóloga e pes- merciais de TV eram praticamente a que Susan, coordenadora do instituto
quisadora norte-americana Susan Linn única preocupação dos pais. Não é CCFC (Campaign for a Commercial-
não economizou na analogia. Para mais. As inserções ainda existem, mas Free Childhood), pretendia: destacar a
comprovar sua teoria de que o marke- deixaram de ser o principal foco. São capacidade destrutiva da publicidade
ting voltado ao público infantil hoje usadas apenas, pela indústria da pro- que tem como alvo (aproveitando a
é diferente de 20 ou 30 anos atrás, paganda, como “trampolim para insi- metáfora) o público infantil.
quando a platéia era criança, afir- nuar as marcas em todos os aspectos Entre os efeitos nefastos para a
mou: “É como comparar uma arma de da vida das crianças”, explicou Susan. infância, aparecem, com destaque,
chumbinho [BB Gun] com uma bomba Isto é, na internet, no celular, nos a obesidade infantil, a diminuição de
inteligente [smart bomb].” games de computador, DVDs, MP3 brincadeiras criativas, a sexualização
Prova disso é, para ela, o investimen- players, nos produtos ligados a filmes precoce, a violência, o desrespeito ao
to de “quantias enormes e impensáveis e personagens, etc. “Somos [os EUA] meio ambiente. “Crianças não são
de dinheiro”. Em 1983, o gasto com esse líderes desse mercado”, lamentou. adultos pequenos”, salientou Susan,
tipo de propaganda foi de cerca de US$ Fica evidente, portanto, que as cujas pesquisas são desenvolvidas na
100 milhões nos Estados Unidos. Hoje, palavras foram escolhidas a dedo. Universidade de Harvard. Segundo
chega a US$ 17 bilhões ao ano. Ou seja, Não foi uma comparação ingênua, ela, que é autora do livro “Crianças do

26 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Evento

consumo – A infância roubada”, até


12 anos, o indivíduo ainda não desen- Nossa luta é contra a comunicação
volveu inteiramente o senso crítico e,
mercadológica voltada ao público infantil, única e
portanto, não tem como se defender.
Opinião que é compartilhada pela exclusivamente. Que a publicidade continue, mas que
socióloga Cecilia Von Feilitzen, que fale com o público acima dos 12 anos
coordena o International Clearinghou-
se, observatório fundado pela Unesco
Isabella Vieira Machado Henriques
na Suécia que estuda infância, juven-
tude e mídia. “É absolutamente claro
coordenadora do projeto Criança e veículos, como “Folha de S.Paulo”, “O
que as crianças são influenciadas pela
Consumo. “Nessa linha, pensamos Globo”, “TV Cultura”, entre outros. O
violência na mídia”, destacou. “Elas
em trazer os jornalistas para discutir debate, que reuniu as principais figu-
com certeza imitam o que vêem.”
essa temática, porque é através da ras do fórum – Susan e Cecilia –, foi
Para Cecilia, o grande problema
imprensa, que as questões são colo- mediado pelo também sociólogo Gui-
é que a publicidade ensina à criança
cadas para a sociedade.” lherme Canela, coordenador de Rela-
conceitos errôneos da realidade. E o
Para Isabella, a sociedade preci- ções Acadêmicas da Andi (Agência de
principal deles é que, para ser feliz, é
sa encontrar mecanismos e caminhos Notícias dos Direitos da Infância).
necessário ter, comprar. Esse desejo
para conciliar a busca das empresas Assim como Isabella, ele vê neces-
estimulado ao extremo (como ocorre
por lucro com aspectos socioeducati- sidade de a sociedade se envolver no
hoje) vai sempre levar a uma sensação
vos. Nesse sentido, ela faz questão de processo. Mesmo que seja para deci-
de frustração, afinal ninguém pode ter
ressaltar que não faz campanha contra dir deixar tudo como está. “O nosso
tudo. E isso, no limite, será um fator
a publicidade. Sua preocupação é a problema central neste momento é
gerador de violência na juventude – em
criança. “Nossa luta é contra a comuni- que essa discussão é restrita a fó-
países subdesenvolvidos, isso é bem
cação mercadológica voltada ao públi- runs muito fechados. Nós precisamos
evidente, uma vez que os jovens de
co infantil, única e exclusivamente. Que avançar nisso. Ao final das contas, a
classes mais baixas também são induzi-
a publicidade continue, mas que fale gente pode decidir não ter regulação
dos a querer comprar tudo. Faz sentido
com o público acima dos 12 anos.” nenhuma, mas essa decisão precisa ser
alguém matar por um par de tênis?
O workshop foi realizado horas tomada com base nesse conjunto de
Mídia na mídia antes da abertura do fórum, na ma- argumentos que, infelizmente, uma
Susan e Cecilia vieram a São Paulo nhã do dia 23 de setembro, e reuniu parcela muito pequena da sociedade
para participar do II Fórum Internacio- cerca de 40 jornalistas de importantes tem acesso neste momento.”
nal Criança e Consumo, que foi rea-
lizado no fim de setembro, e reuniu
diversos profissionais – psicólogos,
professores, publicitários, pediatras,
sociólogos, entre outros – que, de al-
guma forma, estão ligados ao universo
infantil. A idéia era debater maneiras
de diminuir o impacto do consumismo
sobre as crianças – a principal bandei-
ra do projeto Criança e Consumo, um
braço da ONG Instituto Alana.
Uma das novidades desse ano foi
justamente o workshop para os jorna-
listas. “A idéia surgiu porque, quando
nós pensamos no fórum, nosso prin-
cipal objetivo era justamente chamar
a atenção da sociedade”, explica
Isabella Vieira Machado Henriques, Jornalistas acompanham atentamente exposição de especialistas internacionais

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 27


Comportamento
Vassiliki Koutsothanasi/SXC

Projeto verão Por Maria Clara Caram

O
final do ano se aproxima. E dores de cabeça posteriormente. Afi- “É fundamental ler o contrato e es-
com ele as férias, o verão, nal, uma academia ou uma clínica de clarecer as dúvidas. Se discordar de al-
o calor. Com o aumento da estética são prestadoras de serviço. O guma cláusula ou não gostar de algum
temperatura, as pessoas passam a uti- consumidor precisa se perguntar: as procedimento, procure outro estabele-
lizar cada vez menos roupa, expondo necessidades foram satisfeitas? As ex- cimento. Há inúmeros disponíveis no
seus corpos. Assim, desde meados de pectativas, correspondidas? E o preço mercado. Cabe ao próprio consumidor
setembro, está aberta a época em que combinado foi cumprido? As informa- prestigiar aqueles que respeitam seus
muitos resolvem assumir o chamado ções passadas foram suficientes? Os direitos”, diz Valéria Cunha, assistente
“projeto verão”, procurando academias, encartes e materiais publicitários equi- de direção do Procon-SP.
tratamentos para perder aquelas “gordu- valiam ao real ou davam uma “turbi- Em caso de conflitos posteriores à
rinhas” acumuladas durante o inverno. nada” no estabelecimento? Tudo isso, assinatura do contrato, os consumido-
Ramiro Miranda Jorge, 22, estu- e muito mais, está em jogo. res podem recorrer ao Procon, procu-
dante de Educação Física, já planeja o Assim, a orientação fundamental rando um dos postos de atendimento
recesso escolar de dezembro e janeiro aos “consumidores da boa forma” é da sua cidade (ver lista completa no
com o corpo em forma, para fazer su- para, em primeiro lugar, ler os papéis de site: www.procon.sp.gov.br). As de-
cesso na beira da piscina e na praia. inscrição/matrícula antes de assiná-los. núncias também serão encaminhadas
“Quero entrar em férias e aproveitar. Eles funcionam também como contra- aos respectivos departamentos de fis-
Gosto de ir ao clube e ficar sem cami- to de prestação de serviço, e, por isso, calização, que poderão multar as aca-
seta. Então, vou para a academia pra devem informar os direitos e deveres demias que, de alguma forma, atuem
ficar tranqüilo no verão”, afirma. dos usuários, como preço da taxa de em desacordo com a legislação.
Essa preocupação de entrar no matrícula, valor e época de pagamen-
verão com o “corpo sarado” muitas to da mensalidade, duração do contra- Na pele
vezes faz com que as pessoas não se to, multa por desistência, entre outros, Ramiro já enfrentou alguns proble-
atenham aos contratos que estão as- como determinam os artigos 6º e 31 do mas com desatenção aos papéis que
sinando, o que pode causar muitas Código de Defesa do Consumidor. assina. Ansioso por começar a malhar

28 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Comportamento
Arquivo pessoal
o quanto antes, nem se deu conta de das em prevenir conflitos com seus
uma armadilha. “A gente sempre se consumidores, criaram uma iniciativa
preocupa com o contrato de aluguel interessante. Oferecem aos iniciantes,
ou da compra de um bem, mas para a antes da assinatura do contrato, uma
academia nós não fazemos muita ques- aula de teste, para conhecer a acade-
tão e, no final, acabamos nos surpreen- mia, os professores, as técnicas utiliza-
dendo”, diz. “Há alguns anos, contra- das, etc. “Na academia que freqüento
tei uma academia e, no final do verão, atualmente, a pessoa que me atendeu
resolvi deixar de freqüentá-la. Quando na primeira visita insistiu que eu fizes-
vi, tive que pagar uma multa que nem se uma “aula teste” para que tivesse
sabia que estava no contrato.” o primeiro contato antes de assinar
Escaldado, ele hoje ensina os “gi- o contrato. Com certeza me passou
nastas de primeira viagem”. “Agora, mais segurança”, conta Ramiro.
antes de decidir qual academia vou Uma outra dica ao consumidor
fazer, sempre peço para conhecer os é que faça contratos curtos ou, no
aparelhos, os professores, se haverá caso de longa duração, que se pre-
uma avaliação física, pois essas são mi- ocupe com a localização. O ideal é
nhas primeiras preocupações. Depois, que o estabelecimento seja perto de
leio atentamente o contrato e, caso casa, uma vez que o trabalho pode
tenha dúvida, já peço que o atendente mudar a qualquer momento. E as es-
me esclareça. Não quero ter surpresas tatísticas mostram que, com o tem-
desagradáveis depois de já ter come- po, as pessoas acabam desistindo
çado a freqüentar.” Jovem entra na malhação, para ficar em das academias que ficam longe ou
Algumas academias, preocupa- forma durante o verão têm acesso difícil.

Dicas

Para manter a saúde do corpo e do bolso em ordem, a Fundação Procon-SP recomenda:

• Consulte um médico (cardiologista ou • Avalie a disponibilidade de horários, importante que haja um contrato
ortopedista) para que ele possa ava­ modalidades e níveis técnicos. Assim, especificando obrigações e direitos,
liar sua disponibilidade física para a você pode se planejar tanto no horário condições de pagamento e encargos
prática de exercícios quanto no preparo físico por eventuais atrasos ou rescisão

• Dê preferência para uma academia • Fique atento à ventilação do espaço fí­ • Leia com atenção todas as cláusu­
próxima à sua casa ou local de sico e à higiene do local, principalmen­ las do contrato e, havendo dúvidas,
trabalho. Caso contrário você será te dos banheiros esclareça-as com um funcionário do
facilmente vencido pela preguiça, • Procure informações sobre os professo­ estabelecimento
trânsito, tempo, chuva etc. res: capacitação e atualização em sua
• Como muitas academias trabalham
área de atuação
• Certifique-se da existência de um de­ com planos – trimestrais, semestrais
partamento de avaliação física (ser­ • Visite diversas academias, assistindo a ou anuais – onde se efetua o paga­
viço normalmente cobrado à parte). aulas e perguntando para conhecidos mento com cheques pré-datados, é
Este departamento tem como função que já utilizam os serviços; peça para imprescindível verificar atentamente
montar um programa de exercícios fazer uma “aula teste” as condições de desistência (multa)
baseando-se na necessidade e con­ • Planos e formas de inscrição e paga­ e devolução de valores ou cheques
dição física de cada aluno mento diferem entre as academias. É não descontados

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 29


Projeto de lei

Muitas instituições
financeiras têm
promovido, através
de intensa propaganda
nos meios de
comunicação de massa,
a venda de cartões de
crédito pretensamente
‘isentos de taxas’
ou, pelo menos,
da assim chamada
‘anuidade’. Entretanto,
o que a realidade tem
demonstrado é que
essa pretensa
‘isenção de taxas’
não transcende
o mundo do
marketing
Lotus Head/SXC

Projeto visa a proteger os consumidores de cobrança abusiva no cartão Celso Giglio

Taxa de inatividade
Por Felipe Neves

N
a hora de vender, tudo é lindo tempo estava planejando pedir um blicidade passar e o consumidor se dar
e maravilhoso. O material pu- outro cartão. Pensa: ‘Essa é uma ótima conta de que não tinha a menor ne-
blicitário que chega à casa do oportunidade. Mesmo que não esteja cessidade de ter outro cartão de cré-
consumidor ou o operador de telemar­ precisando muito agora, não terei que dito no momento. Pelo contrário, mal
keting ressaltam as inúmeras vantagens pagar nada por ele’. Decide aderir. Es- consegue pagar a fatura do atual. De-
de se contratar aquele serviço de cartão colhe a bandeira que mais lhe agrada cide, então, guardá-lo na gaveta. Mais
de crédito. Graças a uma “promoção – ou, quem sabe, até as duas. Por que para a frente, quem sabe? É justamen-
exclusiva”, há isenção permanente da não? Afinal, não há cobrança de anui- te aí que vem a surpresa.
taxa de anuidade. Nenhum ônus à vista. dade mesmo. Passam alguns meses e ele recebe
Quem não se interessaria? O cartão chega alguns dias depois. em casa uma fatura daquele mesmo
O consumidor lembra que há um Tempo suficiente para o efeito da pu- cartão, que nunca usou. A adminis-

30 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Projeto de lei

tradora cobra uma tal taxa de inativi- preço da publicidade enganosa: “O ção do nobre legislador traduz rele-
dade. Indignado, ele liga no telefone descumprimento do disposto nesta lei vante preocupação”, salienta a téc-
indicado na conta. Mal-humorada, sujeita o infrator à multa equivalente nica da Fundação Procon-SP Adriana
a pessoa que o atende diz que a ao décuplo do valor anual da tarifa de Cristina Pereira, em manifestação
cobrança é mais que correta. Apa- inatividade ou de manutenção”, de- técnica enviada à Alesp. “A divulga-
rentemente, está prevista em meio termina o artigo 4º. ção dessa modalidade de cartão, tal
àquela papelada que veio junto do “Muitas instituições financeiras como ocorre hoje em dia, constitui-
cartão – tudo dentro do envelope, têm promovido, através de intensa se numa forma oblíqua e dissimula-
enfurnado na gaveta. propaganda nos meios de comuni- da de recusar a plena observância do
Ao que o consumidor lança mão cação de massa, a venda de cartões direito à informação do consumidor,
de seu último recurso: salienta que de crédito pretensamente ‘isentos reconhecido como direito básico no
não foi informado no momento da de taxas’ ou, pelo menos, da assim Código de Proteção e Defesa do
venda. O que é rebatido com um sus- chamada ‘anuidade’. Entretanto, o Consumidor.”
piro de enfado e um argumento irrefu- que a realidade tem demonstrado é Entretanto, esse é justamente
tável: ‘não há nada que eu possa fazer, que essa pretensa ‘isenção de taxas’ seu principal problema: do pon-
meu senhor, o sistema cobra a multa não transcende o mundo do marke- to de vista legislativo, o PL traz
de inatividade automaticamente’, res- ting”, salienta Giglio, na justificati- enorme carga de redundância. Afi-
ponde a atendente. va do PL. nal de contas, como bem destaca
Pois é, as instituições financeiras “Muito embora não exista de Adriana, o direito à informação já
chegaram ao ponto de querer cobrar facto a anuidade tal como a co- está absolutamente garantido. “Os
o consumidor por não usar o serviço. nhecemos, a verdade é que tal mo- artigos 6º, III, 30 e 31, do Código
Não bastasse esse nonsense, ainda dalidade de cartão sujeita os seus de Proteção e Defesa do Consumi-
fazem isso de maneira desleal, isto é, titulares a uma taxa decorrente da dor, asseguram o direito à informa-
sem avisar. Utilizam a isenção de anui- omissão do uso ou do uso pouco ção, que é tratado como um dever,
dade como isca para atrair o consumi- assíduo, ora intitulada de ‘taxa de tendo em vista que somente com
dor e depois cobram uma outra taxa, inatividade’, ora de ‘taxa de manu- as informações corretas e claras
sem qualquer aviso prévio. tenção’”, acrescenta. sobre as características, qualida-
des e composição dos produtos e
Proposta Redundante serviços pode o consumidor saber
Para evitar esse flagrante desres- O PL nasce de uma percepção exatamente o que são, bem como
peito às relações de consumo, o de- positiva do parlamentar. É notória a o que pode esperar deles.”
putado Celso Giglio (PSDB) propôs à relevância do tema para o universo Assim, embora classifique a pro-
Assembléia Legislativa do Estado de da defesa do consumidor. “A inten- posta de “nobre iniciativa”, dada a
São Paulo (Alesp) o Projeto importância do assunto para o con-
de Lei 155/2008. O obje- sumidor, o Procon-SP não vê neces-
tivo é obrigar instituições sidade de nova legislação para
financeiras a informar pre- protegê-lo. “Tendo em vista que
viamente a existência de o direito à informação é ampla-
taxa de inatividade/manu- mente assegurado no Código
tenção ao consumidor de de Defesa do Consumidor, bem
cartão de crédito. como diante das colocações
O artigo 1º do PL é curto e anteriormente destacadas,
grosso: “Todo titular de cartão opinamos desfavoráveis ao
de crédito deverá ser informa- prosseguimento da pre-
do, previamente à aquisição do sente proposta”, con-
mesmo, sobre a cobrança de clui Adriana.
qualquer tarifa de inatividade
ou de manutenção”. E o parla-
mentar quer fazer as instituições
financeiras sentirem no bolso o

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 31


Regulamentação
Scott Snyder/SXC

Portabilidade numérica permite que usuários troquem de operadora, mas mantenham o número

Número da sorte Por Felipe Neves e Patrícia Paz

O
administrador de empresas “Logo que começou, eu fiz a mi- de área que receberam primeiro a
Ítalo de Carvalho, de 26 gração. Eu era da Vivo e fui para a portabilidade numérica no país. Isso
anos, reservou a data de 1º Tim”, conta Carvalho. Ele revelou que porque a habilitação da tecnologia
de setembro de 2008 em sua agenda. estava insatisfeito com o serviço e, por foi escalonada por regiões, para evi-
O compromisso importante, marcado isso, já queria fazer a troca há alguns tar tumultos no sistema. Assim, para
com dois meses de antecedência, era meses. Inclusive, por causa do custo – os usuários de alguns DDDs, a nova
trocar de operadora de telefone celu- era cliente pré-pago, mas, por deman- tecnologia já está disponível desde
lar. Morador de São José do Rio Preto, da do trabalho, começou a usar mais 1º de setembro. A previsão é que
no interior de São Paulo, ele foi um o celular. No entanto, faltava coragem até março de 2009 todo o território
dos primeiros consumidores brasilei- para enfrentar o “transtorno de tro- brasileiro esteja capacitado – veja o
ros a se beneficiar com a portabilidade car o número”. “Por causa de toda quadro com o cronograma completo
numérica – dispositivo que permite ao a agenda e também teria que mudar definido pela Agência Nacional de
usuário de telefonia, fixa ou móvel, todos os cartões.” Telecomunicações (Anatel).
trocar de prestadora de serviço man- Sua sorte foi que a região de Rio Sorte de uns, azar de outros. Em
tendo o número da linha. Preto está no grupo dos oito códigos pé de guerra com sua atual operadora

32 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Regulamentação

de celular, a Claro, a produtora de ví- Na visão do Procon-SP, Pela norma da agência, assim que
deo publicitário Cristiane Marques, de o consumidor formaliza a solicitação
28 anos, está resistindo às tentações a portabilidade traz junto à operadora para a qual preten-
de trocar seu já bastante desatualiza- de migrar (apresentando os documen-
benefícios ao mercado
do aparelho para não ficar amarrada tos pertinentes), cabe a ela enviar os
a contratos de fidelidade. “Meu ce- porque acirra a dados à ABRT, que os repassará à pres-
lular não tem nenhuma ferramenta tadora responsável originalmente pelo
útil, como bluetooth ou câmera, que concorrência e dá maior número. Essa prestadora, então, deve
ajudariam no dia-a-dia da minha pro- poder de negociação liberar o cadastro do usuário para a
fissão, e tenho pontos suficientes para ABRT, que os transferirá de volta para
trocar o meu por um no valor de R$ aos consumidores a nova operadora. Tudo isso envolve
300, só que prefiro aguardar a ativa- um enorme trânsito de dados, com
ção da portabilidade e trocar de vez de base em tecnologia da informação.
operadora”, afirma. sem nenhum incômodo. “Funciona O custo da troca de operadora é de
Como mora na capital paulista bem. Não tive problemas.” R$ 4, que devem ser pagos à ABRT. Se-
(DDD 11), ela terá que esperar até Toda uma logística operacional foi gundo a Anatel, no entanto, as empre-
março do ano que vem. Com um desenvolvida para que o consumidor sas que estão “ganhando” o cliente
volume enorme de usuários, a prin- não tivesse trabalho para solicitar e/ou podem optar por absorver a tarifa – o
cipal metrópole do país ficou na últi- obter a migração. A portabilidade nu- que vem ocorrendo até agora.
ma faixa de adaptação. Mas isso não mérica foi aprovada pelo Conselho Di- No primeiro mês de portabilidade,
desanima a produtora. Ao contrário, retor da Anatel em março de 2007. Na foram feitos 26.260 pedidos de migra-
a perspectiva de se beneficiar com a seqüên­cia, ficou definido que uma en- ção (média de 870 por dia), dos quais
portabilidade a deixa bem satisfeita. tidade deveria atuar como gestora dos 15.772 foram originários de usuários
“Achei ótima essa lei, pois o consu- dados. Foi escolhida a Associação Brasi- de telefones móveis e 10.488, de fi-
midor terá mais poder de negociação leira de Recursos em Tecnologia (ABRT). xos. Deste total, 4.276 solicitações ti-
com as operadoras. Fora que, para o
trabalho, é mais fácil manter o núme-
ro, e não perder tempo com e-mails e
Saiba a partir de quando a portabilidade estará
recados de troca de número”.
disponível na região do seu DDD
Muito simples 01/09/2008 14 (SP), 17 (SP), 27 (ES), 37 (MG), 43 (PR), 62 (GO), 67 (MS), 86 (PI)
O procedimento para a migração é
03/11/2008 28 (ES), 32 (MG), 68 (AC)
muito simples. A única coisa que pode
gerar confusão é quem o consumidor 10/11/2008 33 (MG), 38 (MG), 44 (PR), 49 (SC), 84 (RN)
deve procurar: a operadora atual ou a
17/11/2008 48 (SC), 85 (CE), 88 (CE), 98 (MA), 99 (MA)
futura? Sempre a segunda opção. Foi o
caso de Carvalho. “Eu fui até a central 24/11/2008 47 (SC), 69 (RO), 71 (BA), 73 (BA), 89 (PI)
da Tim no shopping e me informei sobre 01/12/2008 12 (SP), 13 (SP), 82 (AL), 83 (PB)
o procedimento. Tive que apresentar
05/01/2009 18 (SP), 51 (RS), 55 (RS), 63 (GO), 65 (MT), 92 (AM), 97 (AM)
comprovante de residência e documen-
tos pessoais. Em torno de 20 minutos, 12/01/2009 16 (SP), 41 (PR), 34 (MG), 35 (MG), 75 (BA)
meia hora, fizeram a alteração.”
19/01/2009 31 (MG), 42 (PR) , 54 (RS), 75 (BA), 77 (BA), 79 (SE)
Ele saiu da loja com um aparelho
novo, ofertado pela operadora, e um 26/01/2009 15 (SP), 95 (RR), 96 (AP)
número provisório. A nova operadora 02/02/2009 19 (SP), 45 (PR), 46 (PR), 93 (PA), 94 (PA)
deu um prazo de uma semana para
que a migração fosse concluída – o 09/02/2009 21 (RJ) , 22 (RJ), 24 (RJ), 61 (DF)
que ocorreu, efetivamente, em cinco 16/02/2009 81 (PE), 87 (PE)
dias. Desde então, ele vem usando a
23/02/2009 11 (SP) , 53 (RS), 64 (GO), 66 (MT), 91 (PA)
nova conta, com o mesmo número,

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 33


Regulamentação
Arquivo pessoal

Total de solicitações em setembro/2008

DDD/UF Telefone fixo Telefone móvel Total


62 (GO) 4.382 3.805 8.187
43 (PR) 2.411 2.854 5.265
67 (MS) 1.980 2.132 4.112
27 (ES) 797 2.607 3.404
14 (SP) 502 1.379 1.881
17 (SP) 359 1.223 1.582
37 (MG) 22 1.469 1.491
86 (PI) 35 303 338
Consumidora paulistana aguarda chegada da portabilidade
na capital para trocar de operadora TOTAL 10.488 15.772 26.260

veram seu processo interrompido por um grande ganho para os consu- ma é que todos esses benefícios vêm
opção do usuário – ou desistiu ou dei- midores de serviços telefônicos. O acoplados com cláusulas suspeitas e
xou de apresentar algum documento órgão acredita que o dispositivo irá prazos de fidelidade, que muitas vezes
necessário (veja quadro). acentuar a concorrência, o que con- são desvantajosos ao consumidor. “É
“Tendo em vista a complexidade tribuirá para ofertas de maior quali- preciso prestar atenção nos contratos
do processo e o fato de se tratar de dade no mercado. “Muitas vezes, o e lembrar a fidelização”, aconselha Fá-
um novo serviço, o balanço deste pri- consumidor optava por aceitar uma tima. Traduzindo: a venda é uma coi-
meiro mês é positivo para os usuários eventual má prestação de serviço por sa, mas depois...
e para o mercado brasileiro de tele- avaliar que a troca do número seria Os materiais de comunicação das
comunicações”, avalia o presidente- ainda mais prejudicial, além de tra- operadoras comprovam a tese do Pro-
executivo da ABRT, José Moreira. As balhosa. Isso está com os dias con- con-SP. Todos já criaram áreas especiais
regiões abrangidas pelos oito códigos tados. Ou as operadoras se ajustam, em seus sites para a portabilidade. Em
de área têm 17 milhões de linhas tele- ou perderão clientes diariamente”, destaque, ofertas exclusivas para quem
fônicas – no Brasil inteiro, são 178 mi- salienta Fátima Lemos, assistente de quiser sair da concorrente. “Vemos
lhões. Durante o mês de novembro, a direção do Procon-SP. a portabilidade como uma oportuni-
portabilidade será disponibilizada para Nessa linha, ela alerta os consu- dade. Estamos preparados para ela”,
outros 18 DDDs. midores para uma característica desse afirmou Carlos Lupo, diretor territorial
segmento. Já estão pipocando diver- da Tim em São Paulo, em entrevista ao
Consumidor ganha sas promoções relacionadas à porta- jornal “Diário de S.Paulo”.
Na visão da Fundação Procon-SP, bilidade – ofertas de vantagens para Tudo isso é ótimo. Faz parte do
a portabilidade numérica representa quem trocar de operadora. O proble- acirramento da concorrência, que,
no limite, é benéfico ao mercado. O
órgão só torce para que as condutas
Fixo é fixo, móvel é móvel
adotadas, sobretudo no momento da
venda, sejam respeitosas ao Código de
A manutenção do número telefônico, seja fixo ou móvel, somente será possível na
Defesa do Consumidor. “O Procon-SP
mesma localidade. Ou seja, na telefonia fixa, a portabilidade será possível dentro
está acompanhando o processo de
da área local (o município ou conjunto de localidades com continuidade urbana). perto, seja orientando o consumidor,
No caso do serviço móvel, a manutenção do número poderá acontecer dentro da seja fiscalizando os procedimentos.
área de registro (que corresponde ao mesmo DDD). A mudança pode ser realizada Em caso de descumprimento da lei,
entre operadoras de rede fixa entre si e de móvel entre si – isto é, nunca poderá ser não hesitaremos em aplicar multas e
feita de número fixo para móvel ou vice-versa. cobrar respostas da agência regulado-
ra”, conclui Fátima.

34 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Comemoração

A
Constituição Federal de Leonardo Tote/SJDC
1988 alçou a defesa do
consumidor à categoria de
direitos e garantias fundamentais (art.
5º, XXXII) e de princípio da ordem
econômica (art. 170, V). Assim, em se-
tembro de 1990, foi lançado o Código
de Defesa do Consumidor (CDC), mar-
co legal que revolucionou a história da
defesa do consumidor no país, da qual
a Fundação Procon-SP foi a grande
precursora, ainda nos anos 70.
“É uma lei que teve uma pene-
tração muito boa, que ganhou a
simpatia de todo mundo. Na época
[antes do CDC], a gente tinha muitas
aberrações, ninguém respondia por Cidadãos observam banner do Procon-SP na 6ª Conferência Estadual de Direitos Humanos
aquilo”, explica Selma do Amaral,
assistente de direção da Fundação

CDC atinge
Procon-SP. De fato, o CDC surgiu
como um marco legal para oferecer
suporte na defesa do consumidor.
Trata-se de uma lei que estabelece

a maioridade
princípios e regras, com o objetivo
de proteger e defender o consumi-
dor, destacando a informação clara e
precisa como um direito básico.
O principal conceito da norma Da Redação
jurídica é a constatação da vulne-
rabilidade, isto é, fica reconhecido
que o consumidor é a parte mais Educativo e sensível às a melhorar. Diversos setores empresa-
fraca da relação. Para auxiliá-lo, riais precisam reler o código e corrigir
demandas da sociedade, rumos na sua implementação, que até
a norma jurídica determina “ação
governamental no sentido de pro- o CDC coloca o Brasil agora tem sido inadequada ou insufi-
teger efetivamente o consumidor”. entre os países mais ciente, como demonstra o crescimento
E mais: incentiva a criação de enti- das reclamações nos Procons e outros
dades e associações de defesa, bem avançados em legislação canais”, defendem Marilena Lazzarini
como o Sistema Nacional de Defesa consumerista do mundo e Lisa Gunn, em artigo publicado na
do Consumidor (SNDC). “Folha de S. Paulo”.
Ao completar 18 anos, o CDC Em clima de celebração pelos 18
esbanja outra característica que as- anos do CDC e 20 anos da Constitui-
sombra juristas em todo o planeta: a sociedade, o CDC coloca o Brasil entre ção, o Procon-SP participou da 6ª Con-
atualidade do texto. Criado em uma os países mais avançados em legisla- ferência Estadual de Direitos Humanos,
época em que não se falava de inter- ção consumerista do mundo. realizada em agosto, na sede do Par-
net, aparelhos celulares e caos aéreo, O que, infelizmente, não foi su- latino. O evento relembrou, ainda, os
entre outras novidades, a norma jurí- ficiente para equilibrar totalmente o 60 anos da Declaração Universal dos
dica se mantém atual e é instrumento mercado. Por um simples fato: a lei Direitos Humanos, assinada em 1948,
fundamental no combate a práticas não é efetivamente seguida por todos. pela Organização das Nações Unidas.
que atinjam o cidadão-consumidor. “Com o CDC, a relação consumidor- A defesa do consumidor, como se vê,
Educativo e sensível às demandas da empresa avançou, mas ainda há muito é questão de cidadania.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 35


Lado a lado
Fotos: Divulgação Ipem-SP

Fiscal do Ipem-SP mostra embalagem de mamadeira com selo do Inmetro

Mais segurança
para produtos infantis
Por Lauro Marques

O
Instituto Nacional de Me- ras, e as chupetas também deverão ficados do Ipem-SP, Ivete Boldrini,
trologia, Normalização e ganhar um selo de segurança. “o objetivo agora é assegurar que o
Qualidade Industrial (In- Atualmente, o recipiente das conjunto formado por mamadeiras e
metro) irá ampliar a certificação na mamadeiras já passa por certifica- bicos, de modo semelhante ao que
área de itens essenciais para crianças ção pelo Inmetro, visando atender valerá também para as chupetas,
na primeira infância. Os bicos de sili- a níveis adequados de confiança. esteja livre de substâncias impró-
cone, que podem ser vendidos sepa- Segundo a supervisora do Núcleo prias, além de controlar a presença
radamente do corpo das mamadei- de Fiscalização de Produtos Certi- de nitrosamina, composto químico

36 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Lado a lado

potencialmente cancerígeno, usado Certificação compulsória


em produtos de látex”. Os programas de avaliação da
A partir de 6 de fevereiro de 2009, conformidade desenvolvidos pelo
as chupetas, mamadeiras e bicos, fa- Inmetro têm como foco a segu-
bricados ou importados, só poderão rança e a saúde do cidadão e a
ser comercializados no Brasil depois proteção do meio ambiente. Atu-
de passar por ensaios que atendam almente, existem 59 produtos cuja
aos requisitos mínimos de segurança certificação é compulsória – ou
dos novos regulamentos técnicos de seja, só podem ser comercializados
avaliação da conformidade desses pro- com o selo do Inmetro.
dutos: portarias Inmetro n° 274 (ma- É o caso de brinquedos,
madeiras e bicos) e nº. 275 (chupetas), bicicletas para crianças, capacetes,
publicadas em agosto deste ano no preservativos, embalagens de álcool
Conheça o selo obrigatório do Inmetro
Diário Oficial da União. e fósforos, eletrodomésticos, entre
As chupetas, mamadeiras e bicos não outros. A lista completa dos itens
podem conter mais de dez partes por bi- pode ser consultada no site http://
lhão de nenhum tipo de nitrosaminas. dações de uso; na resolução RDC nº. www.inmetro.gov.br/qualidade/
Adicionalmente, o total de nitrosaminas 221/2002, da Agência Nacional de prodCompulsorios.asp#12.
presente na amostra ensaiada não pode Vigilância Sanitária (Anvisa); e na Lei Ao acreditar um organismo certifi-
ultrapassar 20 partes por bilhão. nº. 11265/2006, que regulamenta a cador, o Inmetro reconhece que este é
Os fiscais do Instituto de Pesos e comercialização de alimentos para lac- tecnicamente competente para efetuar
Medidas (Ipem-SP), autarquia vincu- tentes e crianças de primeira infância e a avaliação da conformidade de um
lada à Secretaria da Justiça e órgão produtos de puericultura correlatos. determinado produto obedecendo às
delegado do Inmetro no Estado de No caso de mamadeiras e bicos, os regras estabelecidas. Após a acredita-
São Paulo, irão retirar do comércio os pré-requisitos necessários que os la- ção, o Inmetro acompanha o produto
produtos que não ostentarem o selo boratórios credenciados pelo Inmetro no mercado, realiza verificações perió­
de certificação em conformidade com devem cumprir são definidos pela nor- dicas (retirada de amostras no merca-
as novas regras. O comércio e o for- ma ABNT NBR 13793:2003; pela reso- do seguida da realização de ensaios
necedor serão autuados por vender lução RDC nº. 221/2002, da Anvisa; e em laboratórios) e aperfeiçoa o pro-
produto irregular. pela Lei nº. 11265/2006. grama sempre que necessário.

Regulamentação
A certificação será feita por um or- Dicas
ganismo credenciado pelo Inmetro, inde-
Verifique sempre antes de comprar:
pendente em relação ao fornecedor e ao
consumidor. O selo de identificação da • o selo do Inmetro deve estar impresso na embalagem das mamadeiras e, a partir
conformidade colocado pelo organismo de 6 de fevereiro de 2009, também nas embalagens do bico da mamadeira e das
certificador na embalagem indica que as chupetas
normas ou regulamentos desenvolvidos
• no selo, devem constar a marca do Inmetro, do Organismo Certificador de Produ­
para aquela categoria de produto foram
tos, acompanhado do número de identificação (OCP-XXXX), e da inscrição “Se­
observados na sua concepção, fabricação
e disponibilização no mercado. gurança” (foco do programa de avaliação da conformidade)
Os ensaios para a avaliação da • em caso de dúvidas, reclamações ou denúncias, o consumidor pode recorrer ao
conformidade de chupetas devem ser serviço da ouvidoria do Ipem pelo telefone 0800 0130522 de segunda a sexta,
realizados por laboratórios que pos-
das 8h às 17h, ou enviar e-mail para: ouvidor-ipem@ipem.sp.gov.br
sam atender aos critérios estabelecidos
pela norma ABNT NBR 10334:2003, • no site www.ipem.sp.gov.br, além de informações sobre toda a legislação metrológica
que fixa os requisitos exigíveis para e da qualidade vigentes no país, estatísticas de fiscalização, orientações ao cidadão e
a fabricação de chupetas, incluindo empresários, o interessado pode levantar detalhes das ações diárias do instituto.
formas de embalagem e recomen-

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 37


Pesquisa

Bolsos vulneráveis
Da Redação

R
eceber a conta e ter uma sur- que lhes é muito valioso: o nome”, ex- se concentra na falta de informação
presa: mais caro do que o pre- plica a coordenadora estadual do CIC, no momento da contratação de um
visto. A dor no bolso é o gran- Maria Isabel Lopes Cunha Soares. produto ou serviço, o que demonstra
de problema dos consumidores que Os usuários do CIC têm, em sua a fragilidade do consumidor no merca-
vivem nos extremos Oeste, Leste, Norte maioria, renda familiar de 3 a 6 salários do de consumo”, explica Cristina Ra-
e Sul da capital paulista, segundo pes- mínimos, e estão na faixa de 21 a 30 fael Martinussi, supervisora de Estudos
quisa da Fundação Procon-SP realizada anos. A raça mais declarada na ficha e Pesquisas do Procon-SP.
nos postos dos Centros de Integração de atendimentos dos postos é a parda Outro assunto em destaque mais
da Cidadania (CICs), programa da Se- (43,4%), seguida da branca (34,8%). reclamado por esse público são os apa-
cretaria da Justiça e da Defesa da Cida- “Na maioria das vezes, o problema relhos telefônicos, os quais também
dania que promove acesso à justiça em foram destaque na Área de Produtos
regiões de vulnerabilidade social. da Fundação Procon-SP em 2007.
De acordo com o levantamento, Os usuários do CIC O levantamento tomou como
telefonia (fixa, celular e serviços tele- base 1.452 atendimentos registra-
têm, em sua maioria,
fônicos especiais), cartões (desconto, dos pelo Procon-SP nos CICs (Leste,
crédito e loja) e bancos comerciais são renda familiar de 3 a Oeste, Sul, Norte e Feitiço da Vila), no
os assuntos campeões de reclamações 6 salários mínimos, período de janeiro a junho/08. O CIC
na periferia da cidade. O que salta aos Oeste apresentou o maior número de
olhos é que, em mais de 50% dessas e estão na faixa de atendimentos (30,79%), seguido pe-
queixas registradas nos postos do CIC, 21 a 30 anos. A raça las unidades Norte e Sul.
os problemas referem-se a dúvidas Técnicos do Procon-SP atendem,
mais declarada na
quanto ao contrato/valor/reajuste/or- pessoalmente, em cada um dos cinco
çamento e cobrança indevida/abusiva. ficha de atendimentos postos dos CICs na capital uma vez por
“Trata-se de um dado cruel. Estudos dos postos é a parda semana. Além de reclamações, os con-
indicam que consumidores de baixa ren- sumidores consultam o órgão para tirar
da são os que mais honram com seus
(43,4%), seguida da dúvidas, receber orientações e recebem
compromissos, para preservar um bem branca (34,8%) material de educação ao consumo.

38 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Biblioteca

Relação de consumo e danos morais


A reparação de danos morais está na Segundo a professora Cláudia Lima Marques, trata-se de um
boca do povo. Todo mundo já ouviu falar e dos temas mais essenciais do momento, importante para todos
certamente tem uma opinião contundente a os operadores do direito – juristas, magistrados, advogados, estu-
respeito. Qualquer leigo enche a boca para di- dantes, entre outros. “Efetivamente, a obra de Guilherme Ferreira
zer: ‘vou te processar por danos morais!’. Mas, da Cruz encanta o leitor ao destacar o constitucionalismo cres-
como funciona realmente esse dispositivo? cente no direito privado, com serenidade, ponderação e solidez,
Qual é o seu papel nas relações de consumo? traçando uma visão realista do Código de Defesa do Consumidor,
Em que momento o jurista deve aplicá-lo? de sua prática, de seus problemas e conquistas, em especial no
Essa é muitas outras questões são respondidas pelo professor que tange à indenização dos diferentes tipos de danos”.
de Direito Civil e Direito do Consumidor na Universidade Metro- Além dela, que participa com uma apresentação em-
politana de Santos, Guilherme Ferreira da Cruz, no livro “Princí- polgante, o livro conta com a presença do desembargador
pios Constitucionais das Relações de Consumo e Dano Moral”. Rizzatto Nunes, que assina o prefácio, além de ter sido o
A obra, que é resultado de sua tese de mestrado, faz uma orientador do trabalho de Cruz. “É um trabalho de fôlego
síntese analítica e propõe uma teoria geral das relações de com reflexões apuradas
consumo. Para tanto, após discutir a evolução da sociedade e conclusões adequadas Título: “Princípios Constitucionais
contemporânea, o declínio do voluntarismo e o abandono do e que apresenta os fun- das Relações de Consumo e Dano
Código Civil como fonte normativa única, disseca cada um dos damentos dos principais Moral”
princípios fundamentais da Constituição Federal pertinentes. direitos e garantias con- Autor: Guilherme Ferreira da Cruz
Em seguida, estuda a difícil questão da indenização do dano feridas aos consumido- Editora: RT – Revistas dos Tribunais
material, moral e à imagem, inclusive em relação à pessoa jurí- res no sistema constitu- Preço: R$ 43,00
dica, e faz um resumo do panorama legislativo atual. cional brasileiro”.

Impactos do CDC CDC no tribunal

Professor titular de Direito de Autor Os professores Fabiano Carvalho e


na Faculdade de Direito da Universidade Rodrigo Barioni reúnem no livro “Aspec-
de São Paulo e membro do Conselho Na- tos Processuais do Código de Defesa do
cional de Direito Autoral (CNDA), Carlos Consumidor” uma compilação de artigos
Alberto Bittar propõe, com seu “Direitos escritos por jovens processualistas. Em lin-
do Consumidor”, uma releitura do Códi- guagem simples e objetiva, são debatidas
go de Defesa do Consumidor, levando em relevantes questões sobre formas de tute-
conta a complexidade das relações priva- lar os direitos supra-individuais dos consu-
das e públicas na sociedade moderna. midores de maneira mais célere e efetiva.
No livro, Bittar fornece uma abordagem didática, sem dei- O leitor encontra tópicos como a regra do ônus da prova
xar, no entanto, de ser completa e profunda. Assim, seu exame nas ações coletivas; a influência do direito do consumidor na
parte dos pressupostos para a confecção do CDC – a definição reforma do Código do Processo Civil; a jurisprudência em tor-
de sociedade de consumo; o histórico dos mecanismos ante- no do dano moral na relação de consumo; litigância de má-fé,
riores de defesa do consumidor; entre outros – e chega a uma custas e honorários nas ações coletivas do CDC; e legitimidade
análise crítica de cada artigo. para a propositura de ação rescisória de decisão proferida em
Após examinar os princípios que norteiam a tutela do con- ação coletiva, entre outros.
sumindor no panorama eco- Os artigos não se esgotam Título: “Aspectos
nômico atual, o autor analisa Título: “Direitos do em si mesmos, isto é, o todo Processuais do Código de
o conteúdo e o âmbito jurí- consumidor – Código de produz uma espécie de “con- Defesa do Consumidor”
dico do CDC, a natureza da Defesa do Consumidor” versa” direta para ser apreciada,
Autor: Fabiano Carvalho
responsabilidade por vícios Autor: Carlos Alberto lida e consultada pelos operado-
e Rodrigo Otávio Barioni
de bens ou de serviços, bem Bittar res do direito, além de objeto de
- Coordenadores
como a influência provável da Editora: Forense reflexão para estudiosos. “Nes-
Editora: Revista dos
regulamentação atual sobre o Universitária sa linha de política legislativa, o
Tribunais
comportamento e a estrutura Preço: R$ 48,40 CDC trouxe avanços em diver-
Preço: R$ 59,00
das empresas nacionais. sos aspectos”, afirma Barioni.

setembro e outubro 2008 | Revista Procon-SP 39


Direto ao ponto

Prático e sustentável Por Gabriela Amatuzzi

D
esde o início de 2008, o Pro- Divulgação Procon-SP
con-SP conta com um grupo
de funcionários que se reúne
regularmente para discutir idéias e há-
bitos de consumo sustentável. Ques-
tões como redução do consumo, des-
carte adequado de material, programas
de reciclagem e gasto excessivo de
papel são alguns dos temas centrais.
A meta é sensibilizar os funcionários
do órgão a adequar os hábitos que
a instituição pretende levar ao seu
público-alvo, os consumidores.
O grupo, que é coordenado pela
diretoria de estudos e pesquisas e tem
representantes de cada setor da fun-
dação, formou-se a partir do encontro Grupo conscientiza colegas da importância de praticar e divulgar o consumo sustentável
de funcionários que já tinham em co-
mum práticas conscientes. Em meados
de 2007, a técnica Flávia Gadini pro- necessidade de se reduzir o consumo. um primeiro e importante passo para
moveu oficinas com a apresentação Ela trouxe imagens e depoimentos a conscientização ambiental e efetiva
do filme “Uma verdade inconvenien- para mostrar que o mundo passa por dos funcionários da instituição”.
te”, de Al Gore, e discussões sobre uma crise socioambiental e que, para Atualmente, na sede do Procon-SP,
como atitudes do dia-a-dia podem minimizar essa situação, é necessário foram trocadas as torneiras dos ba-
impactar o meio ambiente. “Quando que cada pessoa reveja suas práticas. nheiros para modelos com fecha-
um indivíduo que tem determinada “O indivíduo é a célula de toda a ins- mento automático, para evitar des-
preocupação encontra outros com tituição. O que é uma instituição? É a perdício. O órgão também substituiu
preocupação semelhante podemos ter soma da ação de cada um.” as lâmpadas tradicionais por outras
como resultado uma ação de grande Um dos participantes, o funcioná- que consomem menos energia, bem
impacto”, diz. rio do Procon-SP Antônio Ruas apro- como faz coleta diferenciada para co-
Em 24 de setembro, o grupo or- vou a iniciativa. Em sua opinião, “foi pos descartáveis e papel.
ganizou o I Encontro sobre Susten-
tabilidade. O evento ofereceu pales-
tras, oficinas, exposições de trabalhos Dicas de consumo consciente no ambiente de trabalho
artesanais com material reciclado, • Antes de ligar o ar-condicionado, verifique • C
 aso exista programa de reciclagem,
apresentação de curtas-metragens e
se as portas e janelas estão fechadas descarte o lixo no lugar apropriado
exposição de banners. As diferentes
• Comunique ao setor de manutenção so­ • Antes de sair, confira se as luzes e de­
atividades propostas destacaram três
bre torneiras e descargas vazando mais equipamentos estão desligados
questões: a importância do descarte
• Antes de imprimir um documento, anali­ • Aproveite a luz natural do dia para
adequado do lixo; a possibilidade da
reutilização dos materiais; e a necessi- se a real necessidade iluminar o ambiente
dade da redução do consumo. • Procure utilizar os papéis sulfite dos • E vite copos plásticos, procure usar cane­
Representante do instituto Kairós, dois lados cas ou copos reutilizáveis
Ana Flávia Borges Badue destacou a

40 Revista Procon-SP | setembro e outubro 2008


Revista Procon-SP

Sumário
Governo do Estado de São Paulo
1 - EDITORIAL Governador
José Serra
2 - DIRETO AO CONSUMIDOR
4 - ENTREVISTA Secretaria da Justiça
e da Defesa da Cidadania
7 – DIA-A-DIA Secretário
Consumidora briga para interromper débito indevido Luiz Antonio Marrey

8 – FISCALIZAÇÃO Fundação de Proteção e Defesa


Procon-SP e Fazenda realizam operação em postos de combustível do Consumidor (Procon-SP)
Conselho curador
10 - LEGISLAÇÃO
Ângela Simonetti, Antonio Júlio Junqueira Queiroz,
Redação do CDC é alterada, mas consumidor não ganha Antonio Sabóia Barros Jr., Cornélia Nogueira Porto,
Fernando Batolla, José Luiz Souza de Moraes, Marco
12 - PROCON MUNICIPAL Alexandre Davanzo, Marcos Pó, Margaret Cruz, Marilena
Em Santana do Parnaíba, órgão é “coringa” da população Lazzarini, Omar Cassim Neto, Rachelle Amália Agostini
Balbinot, Roberto Grassi Neto, Ronaldo Porto Macedo,
14 - TRIBUTOS Rosana Piccoli dos Santos, Vahan Agopyan e Virgílio
Governo isenta IPVA de veículo roubado ou furtado Bernardes Carbonieri

16 – COLEGUINHAS Diretor-executivo
MDC-MG completa 25 anos e ganha status de Oscip Roberto Augusto Pfeiffer

18 – CAPA Chefe de gabinete


Consumidor ganha opção de bloquear o telemarketing Carlos Augusto Coscarelli

25 – MERCADO Editor-chefe
Francisco Itacarambi - Mtb. 41.327/SP

CURSOS E PALESTRAS DA
Procon-SP fiscaliza serviços de pet shops

26 - EVENTO Edição
Consumismo infantil é tema de workshop para jornalistas Felipe Neves

FUNDAÇÃO PROCON-SP
28 - COMPORTAMENTO Redação
Procon-SP auxilia os consumidores da boa forma Felipe Neves, Gabriela Amatuzzi e Ricardo Lima Camilo

30 – PROJETO DE LEI Capa


Deputado questiona “taxa de inatividade” de cartão de crédito Carlos Damiano

32 – REGULAMENTAÇÃO Colaboraram nesta edição Direitos básicos do consumidor


Lauro Marques, Maria Clara Caram e Patrícia Paz
Portabilidade já beneficia milhões de usuários de telefonia
Editoração, CTP, impressão e acabamento
Orçamento doméstico
35 – COMEMORAÇÃO
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
CDC faz 18 anos e participa de festa dos direitos humanos Direitos do consumidor na terceira idade
36 – LADO A LADO Contato
Rua Barra Funda, 930, 4º andar, sala 412 – Barra Funda Direitos e deveres do consumidor bancário
Ipem-SP intensifica fiscalização de produtos infantis CEP: 01152-000 – São Paulo/SP
38 – PESQUISA imprensaprocon@procon.sp.gov.br Saindo do vermelho
Conheça as demandas da população da periferia da capital Setembro e outubro de 2008 Curso básico do Código de Defesa do Consumidor para fornecedores
39 – BIBLIOTECA Distribuição gratuita
Defesa do consumidor para rede de ensino
40 – DIRETO AO PONTO
Defesa do consumidor na formação de profissionais
Curso educação para o consumo – capacitação para professores

Informações no site: www.procon.sp.gov.br


Revista Procon
A revista da Fundação Procon-SP • no 12

Telefonia
Consumidor já pode trocar
operadora e manter número

Estado de São Paulo cria cadastro para


bloquear chamadas de telemarketing.
Quem quiser aderir terá que
solicitar a inclusão da linha
telefônica em lista do
Procon-SP

Atendimento, consultas
e reclamações
Postos Poupatempo Outros Atendimentos
2ª a 6ª, das 7h às 19h - Sábados, das 7h às 13h Cartas: Caixa Postal 3050
Itaquera: Av. do Contorno, 60 - Metrô Itaquera CEP: 01061-970 - São Paulo/SP
Santo Amaro: Rua Amador Bueno, 176/258 Fax: (11) 3824-0717 - 2ª a 6ª, das 10h às 16h
Sé: Rua do Carmo, sn Cadastro de Reclamações Fundamentadas: (11) 3824-0446
2ª a 6ª, das 8h às 17h
Ouvidoria do Procon-SP Telefone: 151 - 2ª a 6ª, das 8h às 17h
www.procon.sp.gov.br
R. Barra Funda, 930, 4º andar - sala 412 - Barra Funda
CEP: 01152-000 - São Paulo/SP
Telefone/Fax: (11) 3826-1457 Outros Municípios
e-mail: ouvidoria@procon.sp.gov.br Consulte a prefeitura de sua cidade ou o site do Procon-SP

Fiscalização Entrevista Projeto verão


Procon-SP testa qualidade de Jurista português defende Entre em forma sem perder
combustível em postos da capital código complementar ao CDC paciência, tempo e dinheiro

Você também pode gostar