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Introdução
“Somos uma fronteira. No século XVII, quando soldados de Portugal e Espanha disputavam a
posse definitiva desde então imenso deserto, tivemos de fazer nossa opção: ficar com portugueses ou com os
castelhanos. Pagamos um pesado tributo de sofrimento e sangue para continuar deste lado da fronteira
meridional do Brasil. Como pode você acusar de espanholismo? Fomos desde tempos coloniais até o fim do
século um território cronicamente conflagrado. Em setenta e sete anos tivemos doze conflitos armados,
contadas as revoluções. Vivíamos permanentemente em pé de guerra. Nossas mulheres raramente despiam o
luto. Pense nas duras atividades da vida campeira – alçar, domar e marcar potros, conduzir tropas, sair da
faina diária quebrando a geada nas madrugadas de inverno – e você compreendera a virilidade passou e ser
a qualidade mais exigida e aparecida do gaúcho. Esse tipo de vida é responsável pelas tendências algo
impetuoso que ficaram no inconsciente deste povo e explica a nossa rudeza, a nossa às vezes desconsertantes
franquesas, o nosso hábito de falar alto, como quem grita ordens, dando não raro aos outros a impressão
que vivemos num permanente estado de cavalaria. A verdade, porem, é que nenhum dos heróis autênticos do
Rio Grande que conheci jamais proseou, jamais se gabou de qualquer ato de bravura seu. Os meus
coestaduanos que depois da vitória da revolução de 1930, se tocaram para o Rio, fantasiados e amarraram
seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco – esses não eram gaúchos legítimos, mas parodias de
opereta'.
Como expõe acima Érico Veríssimo, as peculiaridades do Rio Grande são
muitas, a necessidade de garantir fronteiras, manter-se sobre natureza, rebelar contra o
governo central, alem de conflitos internos, esses fatos ocorridos na História Rio Grandense
ajudam a explicar a identidade gaúcha.
A identidade Gaúcha
que tinham desertado das tropas regulares e adotado a vida rude coreadores e ladrões de
gado. Eram vagabundos errantes e contrabandistas de gado numa região onde a fronteira
era bastante móvel.
Para o pensador fluminense, Oliveira Viana “O gaúcho é socialmente um
produto de guerra.” E mais eles têm “a capacidade de mando e a pratica da organização de
grandes massas humanas”.
Ao analisar o campeador gaúcho, Viana lhe atribuiu características especiais e
uma mentalidade especifica que o distinguiram do tipo social dos sertões nordestinos e o
das matas do centro-sul do país.
“Não há, creio, em todo o Brasil, um lugar onde os escravos seja mais felizes que nesta
capitania. Os senhores trabalham tanto quanto os escravos, mantém –se próximos deles, tratam-nos com
menos desprezo. O escravo come à vontade, não é ma vestido, não anda a pé e suas principal ocupação
consiste em galopar pelos campos, cousa mais sadia do que fadigante. Enfim, eles fazem sentir aos animais
que o cercam uma superioridade consoladora de sua condição baixa, elevando-se aos seus próprios olhos.”
A presença do índio
Quando se fala em cultura gaúcha a primeira idéia que se tem são os gaúchos
vestidos com roupas típicas, as pilchas, comendo churrasco e tomando chimarrão, mas a
cultura tradicionalista gaúcha vai muito além desse estigma que se cultua em outros
estados.
Desde o século XVIII até a Revolução Farroupilha (1835-1845), o Rio Grande
do Sul foi inserido no contexto econômico nacional pela Região da Campanha, sendo esta
caracterizada pela proximidade da fronteira com a Argentina e o Uruguai, ficando no
sudoeste do estado. A principal atividade econômica desenvolvida pela região era a
pecuária sendo o charque uns dos motivos da revolta Farroupilha. Neste contexto o gaúcho
adquiriu esta conceituação como homem livre e errante que cavalgava pelas vastas
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planícies dos pampas tocando seu gado com destemor de um povo aguerrido e forte pela
natureza.
Com o inicio da migração do estado consequentemente a melhoria na
produtividade agrícola e a crise na pecuária nos anos de 1870, a região da Campanha vai
perdendo importância política e econômica no estado, sendo que em 1868 em Porto Alegre
foi criado Partenon Literário, uma sociedade de intelectuais e letrados que tinham como
objetivo a exaltação da temática gaúcha inspirados nos modelos positivistas europeus.
Mas em 1898 surge em Porto Alegre a primeira agremiação tradicionalista com
o nome de Grêmio Gaúcho de Porto Alegre, entidade voltado ás tradições com promoções
de festas, desfiles de Cavalaríanos, etc. O fundador foi um soldado que servil como
voluntário na Guerra do Paraguai, de origem humilde o Sr. João Cezimbra Jacques que se
aposentou como major, mesmo era, republicano e positivista.
Logo após a criação do Grêmio Gaúcho, foi fundada outras entidades
tradicionalistas sendo as mesmas consideradas pioneiras, como: União Gaúcha de Pelotas
(1899), Centro Gaúcho Bagé (1899), Grêmio Gaúcha de Sta. Maria (1901), Sociedade
Gaúcha Lombagrandense (1943), todas com o mesmo objetivo de resgatar as tradições
esquecidas ou deixadas de lado e sem dúvida aumentar os laços culturais existentes entre os
participantes.
Um marco histórico ocorrido no Rio Grande para os tradicionalistas foi sem
dúvida à criação do CTG (Centro de Tradições Gaúchas) cujo nome evocava a Revolução
Farroupilha deflagrada em 20 de setembro de 1835, o “35 CTG” surge em 1948 em Porto
Alegre aonde seus fundadores na maioria estudantes secundários vindos do interior,
principalmente de áreas pastoris de grande latifúndio onde predominava a pecuária, apesar
de que quase na sua totalidade eram filhos de pequenos proprietários rurais humildes ou
estancieiros em processo de declinação social que mandava seus filhos para estudar na
capital.
A criação do “35CTG” foi precedida pela fundação em 1947 pelas mesmos
jovens do Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual
Júlio de Castilhos, os mesmos organizaram a primeira Ronda Gaúcha (hoje semana
Farroupilha) que aconteceu entre 7 e 20 de setembro daquele ano.
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Embora não quisesse constituir uma entidade que não refletisse sobre a tradição
e sim um movimento que procura revive-la, era necessário recriar os costumes do campo,
sendo assim usaram nomenclatura diferente de outras associações substituindo o presidente,
o vice- presidente, secretário, tesoureiro, diretor, etc., empregando os títulos de padrão,
capataz, sota-capataz, agregados, posteiros.
Os conselhos Consultivos e Deliberativos foram renomeados de Conselho de
Vaqueanos e os departamentos foram chamados de Invernadas conseguindo assim uma
maior proximidade da cultura do campo.
Estes fatos evidenciam que o tradicionalismo, desde seu início, até os dias
atuais é um movimento urbano que procura resgatar os valores rurais do passado, mesmos
que esses integrantes não fossem ligados a terra.
Após o surgimento do “35 CTG” o Rio Grande do Sul foi contagiada pelo
sentimento tradicionalista, sendo fundado em todo estado mas principalmente no interior
outros CTGs, mas o que causou maior espanto foi o CTG Fogo de Chão em Taquara que
iniciou suas atividades em 1948, este inserido numa região de colonização Alemã
surpreendeu os tradicionalistas conservadores.
O motivo da criação deste CTG esta ligado a II Guerra Mundial, pois com
medo de serem perseguidos os descendentes alemães e italianos queriam estar mais
próximos dos gaúchos e culturalmente ligados.
Os estatutos dos CTGs seguiram de certa forma uma copia do 35 CTG sendo
sua finalidade:
a) Zelar pela tradições do rio Grande do Sul, sua história, suas lendas, canções, costumes,
etc., e consequentemente difundir pelos estados e países vizinhos;
b) Primar por uma maior elevação moral e cultural do Rio Grande;
c) Fomentar a criação de núcleos regionalistas no Estado, dando-lhes todo o apoio
possível.
A expansão dos CTGs fora do Rio Grande do Sul seguiu uma tendência natural
que foi sendo construída com a emigração do povo gaúcho para outras fronteiras agrícolas.
Essa emigração se dá geralmente do interior do Rio Grande para o interior de
outros estados como Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás, entre outros.
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“O CTG daqui é uma coisa gozada, o pessoal quer churrasco barato e baile,
não quer saber de biblioteca, que dizer a parte cultural o pessoal não da muita bola, se
marcar uma reunião para apresentar um filme gaúcho, uma escola de dança, o pessoal
não vai; agora se fala de baile a quarenta paus e mesa, ai vem de montão, churrasco a dez
reais é uma beleza.”1
1-
Entrevista realizada com João Osório em 17 de julho de 2003 .
Na fig.02 acima temos um exemplo claro de como este tipo de evento se torna
importante para a miscigenação de culturas,pois um autentico gaúcho pelo-duro esta
dançando com uma prenda (mulher vestida com trajes típicos )de Belo Horizonte- MG.
O Sinuêlo da Querência adquiriu um terreno no bairro Taiaman que foi doado pela
Prefeitura Municipal de Uberlândia, que além da doação do terreno contribuiu também com
a terraplanagem do local onde funcionara a futura sede do CTG (ver fig.04 em anexo ),
porém o interesse da prefeitura foi atrair gaúchos da região para futuros eventos que iriam
ocorrer no CTG , mas os membros ainda não conseguiram se organizar para o inicio da
construção, sendo assim mais um elemento de desmotivação e desagregação dos gaúchos
da cidade.
A viabilidade econômica do movimento tradicionalista gaúcho consegue
visibilidade quando ocorre eventos como o 10º Rodeio Crioulo Nacional de Campeões que
aconteceu paralelamente com o 6º FENART ( Festival Nacional de Arte Gaúcha ), na
Granja do Torto em Brasilia-DF entre os dias 26-29 de Julho /2001,com o apoio do
governo do Distrito Federal.
Para esta festividade houve mais de 150 mil pessoas entre participantes e turistas
além de contar com grande estrutura ,demonstrada pelas Figs.05-06 em anexo.
Considerações finais
Através desde trabalho percebemos que o Brasil é um país que apresenta diversas
culturas, nas suas diferentes regiões . O Rio Grande do Sul é um exemplo disso,
apresentando uma cultura bastante peculiar, que foi construída ao longo dos anos da
historia brasileira.
Sua cultura é em grande parte influenciada pela cultura européia e indígena, porem
passaram por modificações ate chegar no que temos hoje.
O CTG Sinuêlo da Querência em Uberlândia não segue os mesmos princípios dos
CTGs do Rio Grande do Sul, além de não dispor de boa estrutura, há em grande parte
desinteresse dos gaúchos que aqui vivem.
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Bibliografia
Fig.06 – Vista Aérea da Granja do Torto ( Digitalizado pôr Ana Paula 01/11/03 )
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