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CABO FRIO, RJ
2022
TITO MORENNO PONTES E SOUZA
CABO FRIO, RJ
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
CIP – Catalogação na fonte – Preparada pela Biblioteca do IFF campus Cabo Frio
S729e Souza, Tito Morenno Pontes e.
Educação integral no cieps : limites, desafios e possibilidades / Tito
Morenno Pontes e Souza. – Cabo Frio, RJ, 2022.
47 f. : il.
Referências: p. 40-43
CDD- 370.115
TITO MORENNO PONTES E SOUZA
Aprovado em:___/___/___
Banca Avaliadora:
________________________________________
Prof.ª Mônica Machado Neves Ramos (Orientadora)
Mestra em Educação - PUC Rio
Instituto Federal Fluminense campus Cabo Frio
________________________________________
Prof.ª Cátia Cristina de Oliveira Ramos
Mestra em Educação – Universidade Católica de Petrópolis - UCP
Instituto Federal Fluminense campus Cabo Frio
_________________________________________
Prof. Vinícius Teixeira Santos
Doutor em Educação – Universidade Católica de Petrópolis - UCP
Instituto Federal Fluminense campus Cabo Frio
AGRADECIMENTOS
Gabriel o Pensador
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar uma proposta de política pública de educação
integral da década de 1980, os CIEPs, identificando seus limites, desafios e possibilidades
de implementação na época. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica junto ao
registro de relatos de profissionais que trabalhavam ou ainda trabalham nos CIEPs,
verificando a concordância entre as duas fontes de informação. Foi investigada também a
temática da educação integral e educação em tempo integral inerente a essa política
pública, utilizando a base teórica de Bourdieu para compreender a sua eficácia positiva em
uma sociedade de classes, assim como a história da educação integral no Brasil, dos CIEPs
e de seu idealizador, Darcy Ribeiro, para identificar seus limites, desafios e possibilidades
de realização no passado e a motivação, tanto de parte da sociedade, para inicialmente
terem aderido a ela no país, quanto de Darcy, para que tenha se esforçado para colocá-la
em prática mais tarde nos CIEPs, facilitando a compreensão desses aspectos também em
uma possível tentativa futura de realização no contexto atual. Foi concluído que o principal
fator que limitou a realização mais aprofundada dos CIEPs no país foi a falta de motivação
política e social, que provavelmente é o mesmo fator que pode estar limitando a realização
pelo Estado, ainda hoje, de qualquer projeto similar.
This work has the goal to analyze a public policy proposal of integral education of the 1980
decade, the CIEPs, identifying implementation limits, challenges and possibilities at the time.
The methodology applied was a bibliographic review together with report records of
professionals who worked or yet work on CIEPs, verifying the concordance between the two
sources of information. The theme of integral education and full-time education inherent to
this public policy was also investigated, utilizing the Bourdieus’s theoretical basis to
comprehend its positive effectiveness in a class society, as well as the history of the integral
education in Brazil, of the CIEPs and of their idealizer, Darcy Ribeiro, to identify their
realization limits, challenges and possibilities in the past and the motivation, both of part of
the society, to have initially adhered to it in the country, as well as of Darcy, so that he had
strived to put it in practice later in the CIEPs, also facilitating the comprehension of these
aspects in a future possible realization attempt in the current scenário. It was concluded that
the main issue that had limited the further deepened realization of the CIEPs in the country
was the lack of political and social motivation, which probably is the same issue that may be
limiting the realization by the State, yet today, of any similar project.
1 INTRODUÇÃO 10
2 OBJETIVOS 12
2.1 Objetivo geral 12
2.2 Objetivos específicos 12
3 METODOLOGIA 13
4 EDUCAÇÃO INTEGRAL E EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL 14
4.1 Educação Integral 14
4.2 Educação em Tempo Integral 14
5 A TEORIA DE BOURDIEU COMO SUSTENTAÇÃO DA IDEIA DA EDUCAÇÃO
INTEGRAL 16
6 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL: ALGUMAS EXPERIÊNCIAS E
INCENTIVOS 19
7 ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA NO CONTEXTO ATUAL 24
8 A HISTÓRIA DO IDEALIZADOR DOS CIEPS: DARCY RIBEIRO 25
9 O CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PÚBLICA: UMA EXPERIÊNCIA DE
EDUCAÇÃO INTEGRAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 27
9.1 História, motivação e objetivo da proposta 27
9.2 A proposta pedagógica dos CIEPs 30
9.3 Estrutura física e serviços 33
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39
REFERÊNCIAS 40
APÊNDICES
ANEXOS
10
1 INTRODUÇÃO
Desta forma, este trabalho está dividido nas seguintes blocos de seções:
caracterização e definição do conceito de educação integral e educação em tempo integral;
a educação integral na perspectiva de Bourdieu; a história da educação integral no Brasil;
Centro Integrado de Educação Pública como uma experiência de educação integral no
estado do Rio de Janeiro.
12
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
Foi utilizada uma metodologia qualitativa neste trabalho com a leitura e análises de
um considerável número de publicações a respeito do tema educação integral.
Para a construção do arcabouço teórico foram pesquisados artigos que tratam sobre
o tema, o que contribuiu para a compreensão e para a organização dos caminhos da
pesquisa. Com a investigação, chegou-se a uma notícia de que a prefeitura do Rio de
Janeiro lançou um projeto de revitalização dos CIEPs, que contempla 101 unidades que
compõem a rede municipal de educação. Esta notícia gerou novo movimento de
investigação, levando-a agora para o local que foi idealizado e construído para a oferta de
educação (em tempo) integral: o CIEP.
Foram feitas novas leituras e embasamento teórico, buscando informações a
respeito da história do CIEP, ampliando o referencial bibliográfico.
Partindo da primeira notícia da revitalização dos CIEPs, tem-se que duas unidades
da região foram contempladas no projeto de modernização tecnológica do Governo do
Estado, o projeto E-Tec, sendo uma localizada no Bairro Jacaré, na cidade de Cabo Frio, o
CIEP 193 WILSON MENDES, e a outra unidade localizada em São Pedro da Aldeia, no
bairro Porto do Carro, o CIEP 262, o que motivou ainda mais a investigação sobre o tema.
Para ampliar as informações e análises foram registrados no capítulo 9, relatos de
experiências de nove profissionais que atuaram no CIEP entre o fim dos anos 80 até os dias
atuais, que muito contribuíram para a pesquisa. Os registros escritos e os relatos recebidos
por áudio foram transcritos. Vale ressaltar que a transcrição dos áudios apresenta o registro
exato das falas, com as formas características de expressão de cada profissional, que, em
certa medida, revelam os sentimentos e emoções ao relatar as experiências nas escolas. Os
participantes foram orientados a relatar livremente as suas experiências, a partir do que
consideravam mais importante e relevantes para si.
14
Nesta seção são apresentados dois conceitos básicos relacionados a este trabalho
em duas subseções: educação integral e educação em tempo integral.
A educação integral pode ser definida como a que, “[...] considera o sujeito em sua
condição multidimensional, não apenas na sua dimensão cognitiva, como também na
compreensão de um sujeito que é sujeito corpóreo, tem afetos e está inserido num contexto
de relações” (GONÇALVES, 2006, p. 130).
Esse autor acrescenta também que o sujeito multidimensional, além das
necessidades básicas, possui vontades e aspirações, buscando a satisfação de realizar
seus objetivos. Por isso, um aspecto inerente à educação integral é a consideração desses
interesses na prática pedagógica, e esse aspecto torna a prática mais eficiente do que
aquelas que não o possuem.
Gonçalves (2006) diz também que a aprendizagem dos educandos ocorre em vários
espaços, como na família e entre os pares na escola, nos espaços formais e informais.
Sendo assim, para a educação considerar o educando integralmente, ela deve considerar a
aprendizagem nas suas vivências em vários espaços.
Outro aspecto inerente à educação integral é o desenvolvimento da capacidade
reflexiva e crítica dos educandos. Ramaldes, Eras e Lages (2017, p. 27) afirmam que
Ela deve desenvolver a nossa capacidade crítica, mediante a qual
poderemos repensar o legado recebido desde as circunstâncias concretas
de nossa experiência. Dessa forma, ela deve ser colada à vida e àquilo que
pode ser significativo em nosso itinerário histórico. Não devemos apenas
receber, mas recriar o que herdamos.
Essa capacidade reflexiva e crítica não é encontrada nos outros animais, eles são
presos em seu mundo fechado e só conhecem a ordem inflexível do mundo natural (Ibid.).
Para oferecer educação integral em escola pública para pessoas com condições
financeiras e de vida precárias, é necessário que a educação seja também de tempo integral
(PARO et al., 1988).
Para evidenciar que a educação integral pode contribuir para uma melhor resolução
dos problemas educacionais atuais, os aportes teóricos de Pierre Bourdieu são bastante
férteis. Segundo esse autor, a desigualdade social é mantida por meio da diferença de
acessibilidade, entre as classes sociais (classe dominante, pequena burguesia e classes
populares), ao que ele chamou de capital cultural (MONTEIRO, 2018)
Capital cultural é o termo utilizado por Bourdieu para se referir a cultura, como
gostos, estilos, valores e bens culturais materiais possuídos, que são valorizados
socialmente, e que, metaforicamente, é uma moeda na sociedade assim como o capital
financeiro, que as pessoas podem acumular para ascender socialmente ou serem excluídas
desse processo de ascensão caso não o possuam (OLINTO, 1995)
O capital cultural possui algumas subclassificações, dentre as quais o capital cultural
incorporado e o capital cultural institucionalizado (SETTON, 2005).
O capital cultural incorporado se refere ao que fica inscrito no corpo da pessoa que o
adquire e pode ser dividido, também, em duas subclassificações: capital cultural incorporado
como habitus e como conhecimento cultural. A primeira subclassificação é a sobreposição
de parte do conceito de habitus com o de capital cultural e pode ser compreendido por meio
daquele conceito (OLINTO, 1995).
O habitus é um conjunto de aspectos da pessoa, como gostos, estilos, estruturas
psicológicas, maneiras, visões de mundo, formas de linguagem, valores, juízos, afetos,
percepções, comportamentos e condutas (Ibid.), que são construídos ao longo da vida de
acordo com as experiências que vivencia, principalmente na família (COSTA, 2016).
Definindo de uma forma mais ilustrativa, é um conceito teórico que faz a mediação entre a
pessoa e as estruturas a sua volta, como uma camada invisível em volta do corpo da
pessoa, por onde passa qualquer informação do ambiente antes de ser percebida por seus
sentidos, determinando, por exemplo, se a pessoa vai gostar ou não do que viu ou ouviu,
como uma música ou uma obra de arte, ou julgar algo como certo ou errado, influenciando
também a sua forma de se comportar (SETTON, 2002).
A parte do conceito de habitus que pode ser entendida como capital cultural
incorporado é a que pode ser, metaforicamente, uma moeda de valor para ascensão social
como, por exemplo, os comportamentos e gostos que podem facilitar uma pessoa a
ascender socialmente.
A segunda subclassificação do capital cultural incorporado, o conhecimento cultural,
é o conhecimento e as informações sobre determinada cultura, que é adquirido de acordo
17
com o estilo de vida que a pessoa possui. Ele pode ser entendido como capital cultural
porque pode ser um instrumento de ascensão social (OLINTO, 1995) ao oferecer, por
exemplo, vantagens nas escolas ou em provas de vestibular. Se uma pessoa, por exemplo,
tem capacidade financeira para ter a cultura de viajar e conhecer o mundo, ela pode adquirir
mais facilmente informações sobre geografia, história e línguas estrangeiras.
Saindo da subclassificação capital cultural incorporado e definindo o capital cultural
institucionalizado, este é a materialização daquele por meio de certificações, diplomas e
qualquer documento que simbolize a aprovação por alguma instituição educacional
(SCARLATTO; SILVA, 2011) e que represente a sua competência e o seu valor como
recurso humano. Bourdieu diz que o capital cultural institucional é como uma “certidão de
competência cultural” (BOURDIEU, 1998, p.74-79 apud Ibid., p. 460).
O conceito de habitus e de capital cultural podem se parecer muito pela forma como
são definidos, mas esses dois conceitos apenas se sobrepõem em parte, como explica
Olinto (1995, p. 25):
Embora o habitus seja aqui apresentado como um aspecto do capital
cultural, um conceito não parece estar totalmente contido no outro. Na
minha interpretação há apenas uma zona de interseção entre os dois
conceitos. Certos aspectos do habitus de classe que não afetam o acesso a
recursos não teriam a conotação econômica atribuída aos "'capitais". Da
mesma forma, o capital cultural não se restringe ao habitus pois as
credenciais educacionais e a utilização estratégica da informação parecem
escapar ao conceito de habitus.
Villardi (2020), autoras do Projeto Horizontes de pesquisa, que auxiliou estudantes de uma
escola pública da comunidade da Maré, concordam com Costa (2016) e tornam mais claro
como o capital cultural incorporado é relevante na escola, dizendo que
A dificuldade de aprendizado, de articular conhecimentos, recuperar
informações não explícitas, fazer inferências, estabelecer relações entre
textos, fenômenos e circunstâncias, está relacionada à baixa acumulação
de capital cultural das classes menos favorecidas, o que acaba gerando um
círculo vicioso de não superação e certo “determinismo” social, pela
impossibilidade de a escola pública enxergar seu papel basilar e se adaptar
à realidade dos alunos. [...] Sem o capital incorporado pela família, [...] os
estudantes das comunidades pobres não conseguem “entender” as
questões trazidas pela escola, momento em que “fracassam”. O Projeto
Horizontes buscou fazer o que a escola não conseguia: levar os estudantes
para fora da comunidade para que conhecessem não apenas as artes das
exposições, mas também os espaços, os prédios, as “geometrias” das
construções.(MIRANDA; VILLARDI, 2020, p. 18)
Nesse contexto, a educação integral, com tempo integral para oferecer vivências
culturais para as classes populares, pode ter a função de impedir que a segregação social
ocorra nas escolas, como afirma Moll (2009, p. 14 apud MOREIRA, 2013 p. 152)
[…] não se trata de reduzir o debate da educação integral ao campo da
assistência social, e sim de facilitar o acesso a um capital cultural que faça
diferença nos processos de inserção social, na perspectiva da superação da
‘sociedade de castas’ que separa as classes populares das classes médias
e altas do país.
19
A ideia da educação integral ganhou força no Brasil por influência de John Dewey
país, houve também a influência do pedagogo francês Paul Robin (1837-1912), que, no
século XIX, estruturou essa ideia como parte de um movimento operário na França, que
lutava para que o Estado fornecesse um sistema educacional que oferecesse mais
oportunidades e condições de educação para eles e seus filhos. Quando imigrantes
europeus vieram para o Brasil incentivados pelo governo para trabalhar na produção de café
no final do século XIX, eles trouxeram as ideias de educação integral de países que, já
nessa época, tinham a educação como uma forma de ascensão social, se tornando assim
uma força política no país a favor dessa ideia (FERREIRA, 2007).
Na década de 1920 do século XX, a sociedade brasileira estava em uma transição
de oligárquico-tradicional para urbano-industrial, e o sistema econômico estava transitando
de agrário exportador para um de substituição de importações (FERREIRA, 2007). Segundo
Ghiraldelli Jr. (2009), a primeira guerra mundial fez com que os países pudessem verificar o
nível de desenvolvimento industrial de cada um, evidenciando o atraso que o Brasil tinha e
fomentando o seu desenvolvimento.
Os educadores apoiadores da ideia de John Dewey, mencionados acima, defendiam
que a educação tem uma função social e que seus propósitos devem ser definidos em
função das mudanças econômicas e sociais, e por isso deveria ser orientada para o
progresso de uma civilização técnica e industrial, rompendo com sua velha estrutura
tradicional e aderindo a uma nova forma, chamada de Escola Nova, voltada para o
desenvolvimento científico-tecnológico (CARDOSO; OLIVEIRA, 2019).
Com a revolução de 30, Getúlio Vargas se torna presidente. As suas ideias
nacionalistas e de desenvolvimento industrial tiveram uma sinergia com a ideia da Escola
Nova. Entre os dias 13 e 20 de dezembro de 1931, a Associação Brasileira de Educação
(ABE), fundada por Fernando de Azevedo em 1924, realizou a quarta Conferência Nacional
de Educação no Rio de Janeiro. Getúlio Vargas e Francisco Campos, que havia assumido,
neste mesmo ano, o cargo do recém criado Ministério da Educação e Cultura, estavam
presentes nessa conferência (CARVALHO, 2011).
O ministro e o presidente pediram aos participantes da conferência para examinar o
“[...]problema da educação brasileira e de seus rumos na política educacional” (CUNHA,
20
Pode-se inferir, observando a natureza de cada uma dessas atividades, que elas
desenvolvem uma diversidade de aspectos da criança, fundamentadas no ideário da Escola
Nova.
Foi planejada, na época da inauguração, a construção de sete centros educacionais
compostos por três Escolas-Classe e uma Escola-Parque conforme mostra o mapa, mas
apenas um centro foi inaugurado (NASCIMENTO, 2009, p. 20):
tema que lhe interessava. Nessas unidades ocorriam atividades em grupo e pesquisas
relacionadas a esses temas, que davam oportunidade aos alunos de terem contato com os
conteúdos do currículo de forma significativa.
Já a Escola-Parque, era um espaço reservado à educação para a vida, aprender
fazendo e aprender a viver em cooperação por meio de atividades divididas em setores: de
trabalho (artes aplicadas, industriais e plásticas), artístico (teatro, música e dança),
recreativo (ou de educação física), de extensão cultural, biblioteca (leitura, estudo livre ou
dirigido, pesquisa, hora do conto, teatro da sombra e fantoches) e setor socializante (grêmio,
jornal, rádio-escola, banco e loja).
Em um trecho do Manifesto dos Pioneiros da Educação é explicado o modo como
essas atividades contribuem para a aprendizagem:
O que distingue da escola tradicional a escola nova não é, de fato, a
predominância dos trabalhos de base manual e corporal, mas a presença,
em todas suas atividades, do fator psicobiológico do interesse, que é a
primeira condição de uma atividade espontânea e o estímulo constante ao
educando (criança, adolescente ou jovem) a buscar todos os recursos ao
seu alcance, “graças à força de atração das necessidades profundamente
sentidas”. É certo que, deslocando-se, por esta forma, para a criança e para
seus interesses, móveis e transitórios, a fonte de inspiração das atividades
escolares, quebra-se a ordem que apresentavam os programas tradicionais
do ponto de vista da lógica formal dos adultos, para os pôr de acordo com a
“lógica psicológica”, isto é, com a lógica que se baseia na natureza e no
funcionamento do espírito infantil (AZEVEDO et. al., 2009, p. 49).
pesquisa feita pela Fundação Itaú Social em parceria com o Banco Mundial (CARDOSO;
OLIVEIRA, 2019), que não levam em consideração que as escolas atendidas pelo programa
tinham péssimas condições físicas e pedagógicas. Um dos retrocessos do PNME é a sua
principal estratégia, que é aumentar a jornada escolar para melhorar a aprendizagem de
língua portuguesa e matemática em vez de proporcionar uma educação integral
(SAQUELLI, 2018).
24
Outro problema que eles constataram é a não participação dos professores nas
discussões das políticas públicas implementadas, fazendo com que 78% dos professores
entrevistados, conforme seus relatos, não conheçam a proposta de tempo integral. Foi
percebido também que os professores enfrentam instabilidade dos projetos devido a
descontinuidade quando são iniciados por gestões públicas anteriores.
Outra situação relatada foi o desvio da política pública de tempo integral mais para a
proteção social que para proteção integral dos alunos, ou seja, a escola não dá atenção
suficiente para o ensino, focando os investimentos em alimentação e em formas de afastar
as crianças das drogas.
25
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, MG, em 1922, filho de Josefina Augusta da
Silveira, professora primária, apelidada de Dona Fininha, e de Reginaldo Ribeiro dos
Santos, farmacêutico. Foi criado pelo pai até os três anos de idade, quando este faleceu. A
partir de então teve o seu tio como tutor, um fazendeiro. (GOMES, 2010)
Completou a educação primária e secundária na cidade natal. Enquanto isso,
curioso, estudou por conta própria na biblioteca do seu tio na fazenda. Depois foi fazer
faculdade de Medicina em Belo Horizonte para atender o sonho da mãe, enquanto seu tio
queria que ele herdasse a sua fazenda e desse continuidade ao seu trabalho como
fazendeiro (Ibid.).
Darcy não se encontrou no curso de Medicina e foi mau aluno, não realizando assim
o sonho da mãe, mas enquanto cursava, frequentava outros cursos na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras. Ele também não se satisfazia com o comodismo oferecido pelo
seu tio de obter posição social e segurança para o seu sustento, sem sair do meio onde
vivia, não realizando também o sonho do seu tio, que por isso, aborrecido, o deserdou
(Ibid.).
Ele se transferiu então para São Paulo, uma cidade mais cosmopolita que satisfazia
melhor as suas inquietudes e aspirações do que a menor Belo Horizonte. Lá ele ingressou
com uma bolsa de estudos na Escola Livre de Sociologia e Política a convite do diretor, o
Sociólogo Donald Pierson. Cursou ciências sociais com especialização em Antropologia, se
graduando em bacharel em 1945 e terminando o mestrado em 1947 (Ibid.).
Diferentemente de quando estava na faculdade de Medicina, ele foi excelente aluno
nessa escola porque ele havia se encontrado. Saiu da escola com uma bolsa de estudos
para doutoramento em ciências sociais na Universidade de Chicago. Mas ele recusou a
excelente formação de doutorado no exterior, que muitos gostariam de ter acesso e que
daria a ele amplas oportunidades no Brasil com poucos doutores na época, para fazer o
caminho inverso: como antropólogo, foi para o interior do Brasil estudar a cultura indígena
(Ibid.).
Darcy entrou nesse caminho indigenista ao ser admitido em 1947 pelo Marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon na Seção de Estudos do Serviço de Proteção ao Índio
(SPI). Nessa instituição não havia classificação ocupacional de etnólogo ou antropólogo e
por isso ele foi classificado como “naturalista”. Nesse caminho ele concebe um Brasil
aniquilado e desconhecido pela civilização (Ibid.). Sobre a situação das áreas culturais
indígenas, ele conclui em uma de suas pesquisas que
[...] é como uma formação capitalista de caráter neocolonial que a
sociedade brasileira mais afeta os grupos indígenas, pela apropriação de
suas terras para a exploração extrativista ou para formar novas fazendas
26
agrícolas e pastoris e pelo seu aliciamento como mão de obra barata para
ser desgastada na produção de mercadorias (RIBEIRO, 1979, p.445 apud
Ibid., p. 29).
Situação essa que ocorre ainda hoje no país de forma mais complexa devido à
globalização e à mundialização. Nas suas anotações das pesquisas percebe-se que ele
tinha uma relação muito afetiva com os índios, considerados por ele não como objetos de
pesquisa, mas como sujeitos pesquisando-pesquisadores (Ibid.).
Esses trabalhos como indigenista serviram como inspiração para que Darcy
escrevesse diversos romances na literatura. Nesses romances os índios eram retratados em
sua forma real, como o autor tinha observado em suas pesquisas (Ibid.). Um índio “[...] em
aculturação, marginalizado, ‘protegido’ (quer dizer, domesticado), dotado de cultura
riquíssima, porém sofredor do avanço das fronteiras econômicas e das doenças físicas e
morais do homem branco.” (Ibid, p. 30)
Essa forma de representação do índio difere das obras literárias tradicionais da
época, que contribuem para identidade nacional, que mostravam um índio com modos e
atitudes da cultura européia (Ibid.).
Sua fase “naturalista” durou 10 anos, terminando em 1957, devido a conflitos
com o SPI, porque havia um excesso de burocracia nas suas ações, e devido a conflitos
com antropólogos. E então inicia-se a sua fase como educador, ao ser convidado por Anísio
Teixeira para trabalhar como diretor da Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais e colocar os seus conhecimentos de ciências sociais a
serviço da educação (Ibid.).
Nesse cargo, ele organizou um curso de pós-graduação para formar pesquisadores
sociais e de educação. Posteriormente ocupou outros cargos na área de educação e na
política, lutando junto a Anísio pela escola pública, construindo a Universidade de Brasília
(UNB) e implementando a primeira LDB. No exílio durante a ditadura militar, contribuiu para
a construção de diversas universidades fora do país. Ao voltar do exílio, ele continuou a
trabalhar pela educação brasileira ocupando diversos cargos políticos, construindo os
Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), a Universidade Federal do Norte
Fluminense e lutando, como senador federal, pela a implementação da Segunda LDB (Ibid.).
A cronologia da vida de Darcy, incluindo partes das fases como educador e político que não
estão incluídas nesta seção, encontra-se no anexo deste trabalho.
27
Nessa seção serão mostrados alguns aspectos importantes dos CIEPs, que foram
escolas que surgiram na década de 80 como a primeira política pública de educação integral
no Brasil, no contexto de redemocratização, para alunos e professores, lidando com as
desigualdades sociais herdadas da segregação social na época colonial e ampliada durante
a ditadura civil-militar também os pensamentos e as instituições que perpetuavam a pobreza
(VELLOSO, 2018).
Alguns trechos de registros dos relatos recebidos neste trabalho que se relacionam
com as informações encontradas na literatura foram adicionados ao texto.
Leonel Brizola foi eleito governador com Darcy Ribeiro como vice-governador, no
meio do processo de redemocratização do país nas eleições diretas de 1982, depois de 18
anos sem eleições diretas para o cargo. Os CIEPs foram fruto de uma forte política
educacional nesse governo (GOMES, 2010).
Ao ser eleito, Brizola nomeou a Comissão Coordenadora de Educação e Cultura,
colocando Darcy como presidente. A Comissão era composta também pela secretária de
educação do estado e do município, Iara Vargas e Maria Yedda Linhares, respectivamente,
e o reitor da UERJ (VELLOSO, 2018).
Ao ser constatado os dados de reprovação, evasão e desigualdade social dos alunos
de camadas populares, que contrastavam cada vez mais com os alunos das classes mais
abastadas, a Comissão propôs um debate com professores da rede estadual,
administradores educacionais e líderes sindicais para identificar os problemas que estavam
ocorrendo na educação e as possibilidades de mudança, o Encontro de Mendes, que
ocorreu entre os dias 25 e 26 de novembro de 1983 (Ibid.).
O Encontro foi organizado pela professora Rosiska Darcy de Oliveira e por Darcy
Ribeiro. Sobre a organização do encontro, Velloso diz que
Os 52 mil professores do então 1º Grau da Rede Pública de Ensino
debateram em suas escolas a realidade da educação no Brasil, no Estado e
em seus Municípios, apontando os problemas e soluções. A partir disto,
foram sendo escolhidos proporcionalmente, 1000 delegados regionais,
posteriormente, esses delegados escolheram 100 de seu total e que
pudessem representar todas as regiões do Estado e assim, somar
juntamente com os administradores educacionais e líderes sindicais, o
Encontro de Mendes. Além disso, 30 mil cartas de professores foram
encaminhadas para leitura neste encontro educacional (Ibid., p.43).
28
A autora também mostra que os problemas identificados nesse encontro foram que
as escolas públicas eram antipopulares e tiveram o crescimento desconsiderando a
realidade dos locais, que tinham altos índices de reprovação e evasão já nas duas séries
iniciais e que culpavam os alunos, professores e familiares pelo fracasso escolar.
Quanto a essa culpabilização inapropriada dos alunos, Darcy concorda com ideia de
alquimia social apresentada por Costa (2016), descrita no capítulo 5, dizendo que a escola
“Tenta provar ao aluno pobre que ele é pobre porque é burro, quando, na verdade, ela é que
não lhe dá as condições de superar suas dificuldades. Nossa escola atribui o fracasso das
crianças pobres à deficiência que elas trazem de casa.” (RIBEIRO, 1986, p.32 apud Ibid., p.
43).
Ele também diz que
A ilusão principal de nossa escola é a ideia de que ela seleciona e promove
os melhores alunos, através de procedimentos pedagógicos objetivos. De
fato, ela apenas peneira e separa o que recebe da sociedade já
devidamente diferenciado. Ao tratar da mesma maneira crianças
socialmente desiguais, a escola privilegia o aluno já privilegiado e discrimina
crianças que renderiam muito mais se fossem tratadas a partir das suas
próprias características.(RIBEIRO, 1986, p.34 apud Ibid., p. 43).
é… pouco usado, né. Alguns até nem tem mais… é… não usam a sala de
leitura que era original, né, fora do prédio,[...] a gente foi vendo que com o
tempo, é… foi perdendo-se isso. E aí o projeto original… foi por água a
baixo, não se manteve por muito tempo. As questões políticas, né, que a
gente já conhece não… cada vez menos investimento na área da educação,
né, e… quando eu falo menos investimento na área da educação, se refere
(sic) também aos investimentos que dão suporte à educação, né. É um…
como eu falei, é… o psicólogo, é o assistente social, todo uma rede de
apoio que tem que tá trabalhando junto, né, setorial, pra fazer com que esse
aluno aprenda, que essa educação, essa formação seja completa, né,
efetiva
Para que a proposta dessas escolas fosse realizada, a estrutura física e os recursos
humanos foram um aspecto importante planejado para esse fim.
Os CIEPs, tal como projetados por Darcy Ribeiro, são unidades escolares
onde os alunos permanecem das 8 da manhã às 5 da tarde. Cada CIEP
possui três blocos. No bloco principal ficam as salas de aula, centro médico,
cozinha, refeitório e um grande pátio coberto. No segundo bloco fica o
ginásio com vestiário e quadra polivalente (pode ser utilizada também para
apresentações teatrais, shows, etc.). No terceiro bloco fica a biblioteca e
sobre ela as moradias para alunos residentes. Ainda segundo o projeto
original, os CIEPs contariam com professores de educação física, artes,
estudo dirigido, teleducação e animadores culturais. (CAVALIÉRI, 2000, p.
05 apud VELLOSO, 2018, p. 57).
A figura 2 abaixo ilustra a arquitetura padronizada para todos os CIEPs, exceto para
aqueles construídos em locais com espaço insuficiente, para onde era proposto uma versão
mais compacta (RIBEIRO, 1986).
Uma característica da arquitetura nesse sentido é que a escola era cercada por
grades vazadas para se comunicar com o entorno da escola e, para além dos três blocos, a
grande maioria dos CIEPs possuíam um amplo espaço externo (LOBACK, V.; VALENTIM,
2022). Monteiro (2009, p.37), professora que participou da gestão do projeto dos CIEPs no
segundo governo Brizola, diz sobre o espaço amplo que “Tantas atividades exigem um
espaço amplo e aberto – onde se possa vivenciar a liberdade e aprender que as regras são
necessárias para a convivência respeitosa e solidária.”
Outro aspecto da arquitetura nesse mesmo sentido é que as paredes nas salas de
aula eram baixas, não chegando até o teto, mantendo um vão que contribuia para uma boa
ventilação no ambiente e também servia, de certa maneira, como um limitador das vozes
das pessoas no prédio, fazendo com que elas falassem de forma cordial para não atrapalhar
a comunicação nas outras salas ( MOREIRA; GÓIS; SOARES, 2019). Darcy Ribeiro diz que
“as divisórias baixas da sala de aula são recomendadas exatamente porque, ao contrário do
que foi dito, forçam as professoras a não gritar. Se o fizessem seriam ouvidas em toda
escola. A tranquilidade é um ingrediente importante na escola” (Arquivo Fundar DR,
1989.00.00, gbII, Pasta III apud Ibid. p. 14) O trecho abaixo, da fala da Profissional 8 8
registrada neste trabalho, ilustra este aspecto.
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Então, é… eu era muito jovem, né, 18, 19 anos, mas fiquei absolutamente
encantada com toda estrutura, tanto estrutura física, né, do prédio, tamanho
das salas, salas muito amplas, muito arejadas porque tinha janelas muito
amplas, né, e que, como as paredes do corredor eram vazadas, eram
baixas, não iam até o teto, então quando abria todas as janelas circulava um
ar natural fantástico. [...]a… parede até metade tinha um objetivo, tinha uma
finalidade, né. Era de respeitar, das pessoas falarem baixo, falarem de
forma cordial, professores, alunos, alunos com alunos, pra que um não
atrapalhasse o outro. Então a gente tinha que ficar se policiando e se
reeducando pra não berrar, como a gente costuma ver dentro das escolas,
sobretudo as escolas de primeiro, cês tendem a gritar, falar uma frase
simples, mas com tom de grito. E aí, lá, não cabia, se não ninguém
conseguia dar aula. Então era uma forma de reeducar as pessoas pra se
respeitarem naquele espaço.
Mas a arquitetura por si só não era o suficiente para educar professores e alunos
como usar os espaços de uma forma mais eficiente e adequada. Eles traziam em sua
bagagem outras experiências escolares. Como Darcy mencionou, alguns profissionais e
alunos não se adaptaram a essa ideia e se incomodavam com os ruídos que vinham de
outras salas (Ibid.). Os trechos abaixo, do relato da Profissional 3 e do Profissional 7
registrados neste trabalho, corroboram com essa informação.
É… e outra coisa que eu também senti foi um choque cultural, né, de
valores, de comportamento… e lá tinha uma dificuldade também, hoje em
dia não… é… as paredes do CIEP, elas não fechavam, né, elas iam até um
certo ponto. Então o barulho da sala ao lado invadia. Era muito barulhento.
Agora… é… E tinha uma outra questão. Que eles… é… não sei explicar
por quê, eles tinha uma hora que eles não queriam ficar mais dentro de
sala. Então eles colocavam a carteira perto da parede e pulavam pro
corredor. Então isso era uma coisa que me chocava muito, né, no início, né.
O estágio que eu vivenciei não tinha uma relação assim de professor e
aluno, nesse comportamento, então foi uma coisa que me chocou
(PROFISSIONAL 3).
Desde o começo, eu percebia uma certa dificuldade do corpo docente em
adaptar-se à proposta de Darcy. Tinha… tinha que ter sido feita um… uma
consistente reciclagem pra que as professoras pudessem se acostumar a
essa nova proposta. Interessante também, na concepção de Niemeyer, as
paredes de cada sala não iam até o teto, terminavam pela metade. [...] E a
intenção era que as professoras dos CIEPs, elas hã… não gritassem tanto,
não falassem tão alto, a fim de não interferir na sala que estivesse ao lado,
mas é… isso aí… acabou não vingando, pelo menos aqui em Arraial, não
sei se em outros lugares continua sendo assim, mas em Arraial não. Hoje as
paredes vão até o teto porque infelizmente as pessoas não conseguem, né,
parar de gritar (PROFISSIONAL 7).
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Quanto aos alunos residentes na escola, que ficavam nas moradias acima da
biblioteca, eles estavam sob os cuidados de dois funcionários públicos, os chamados “pais
sociais”, um casal selecionado entre os funcionários do Corpo de Bombeiros e da Polícia
Militar, que em troca da moradia na escola com seus filhos, ofereciam aos alunos um
convívio familiar e acompanhamento pedagógico (SANT’ANNA, 2010). Eram crianças em
situação de vulnerabilidade física e social, que teriam sua formação prejudicada se
voltassem para a casa depois da escola (VELLOSO, 2018).
Também com o objetivo de realizar o acompanhamento pedagógico, havia o serviço
de Estudo Dirigido nas salas especiais do prédio principal, que atendiam todos os alunos
para além dos que residiam na escola com os “pais sociais”. Como muitos alunos não
tinham pais disponíveis ou com escolaridade suficiente para ajudá-los em casa, essa
proposta cumpria essa função, evitando a reprovação e a evasão (FERREIRA; MOTA;
SIRINO, 2017). Sobre a proposta, Darcy Ribeiro diz que
O Estudo Dirigido visa possibilitar ao aluno da escola pública um
acompanhamento mais individualizado e mais sistemático de seu processo
de aprendizagem, através da realização de exercícios de aplicação e/ou
fixação do conteúdo ensinado em sala de aula. O estudo dirigido pode
consistir também em jogos pedagógicos que propiciem o desenvolvimento
de habilidades ou de estruturas lógicas, favorecendo a aprendizagem como
um todo. O Estudo Dirigido é realizado com toda a turma (25 a 30 alunos),
estimulando o aproveitamento individual e o coletivo, mediante o incentivo à
cooperação, socialização e solidariedade entre os alunos. O professor, por
sua vez, orienta os trabalhos levando em conta a experiência de vida e a
cultura de origem de cada aluno (1986, p. 127)
Ele diz ainda que todas as turmas participam dessas atividades nas salas especiais
por meio de um sistema de rodízio e que
[...] a definição das atividades fica a critério do professor que estiver
acompanhando a turma no momento, o qual deverá tomar conhecimento,
via coordenação da equipe técnico-pedagógica, das necessidades da turma
e/ou de cada aluno em particular, a fim de planejar as atividades (Ibid., p.
128)
Para ilustrar como a presença dos CIEPs pode ser positiva, pode-se pensar em que,
atualmente, nesses locais abandonados, as igrejas neopentecostais preenchem parte das
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lacunas das políticas públicas que o Estado não oferece (NUNES, 2022), influenciando as
pessoas com uma ideologia ultra liberal que prega o abandono de políticas ambientais,
sociais, inclusivas, além de pregar a meritocracia e o individualismo, colocando a culpa nas
pessoas pela posição de vulnerabilidade social em que se encontram (PINEL, RESES,
2021). Então a proposta dos CIEPs pode ter sido uma política pública que, ao alcançar
esses espaços, atuou evitando essa influência ideológica no local em sua época.
39
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA
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43
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mar 2021
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1946 - Forma-se em Antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.
Nota: observe-se que a vida profissional, a seguir, embora às vezes coincidindo e se
superpondo, corresponde às “peles” referidas pelo próprio biografado.
1957 - Publica os livros Arte plumária dos índios kaapor e Uirá sai à procura de Deus (obra
de ficção baseada na vida indígena)
1957-1961- É nomeado por Anísio Teixeira diretor da Divisão de Estudos Sociais do Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, órgão do Inep; depois subdiretor do Inep (1959).
1963-1964 - Atua como Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, com João
Goulart.
1969 - Publica o livro As américas e a civilização. É preso e absolvido. Apesar disso, deve
deixar o país. Novo exílio. Publica o livro Os brasileiros: 1. Teoria do Brasil
1972 - Exilado no Peru, assessora o presidente Velasco Alvarado. Publica, sob a forma de
livro, Université des sciences humaines d’Alger
1974 - Constata em Paris um câncer de pulmão. Obtém licença do governo militar para vir
ao Brasil, a fim de fazer a cirurgia. Publica o livro La universidad peruana
1976 - Publica o livro Maíra (ficção baseada na pesquisa antropológica, em convívio com os
índios). Retorna do exílio. Fixa residência no Rio de Janeiro
1982 - Publica o livro Utopia selvagem (também obra de ficção baseada na pesquisa
antropológica). Candidata-se a vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, tendo como
cabeça de chapa Leonel Brizola
1986 - Publica O livro dos Cieps. É reintegrado como pesquisador sênior do CNPq,
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
1991 - Assume como senador e fica na função até 1997. Leonel Brizola é novamente
governador
1992 - Envolve-se com o Projeto de Lei de Diretrizes e Bases - LDB (nº 67/92). É eleito para
a Cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras, que tem como Patrono Fagundes Varela.
Predecessor: Deolindo Couto.
1997 - Morre em Brasília, no dia 17 de fevereiro. Seu corpo foi sepultado no Mausoléu da
Academia Brasileira de Letras, no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro