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A CONQUISTA DO ESPAÇO: SERTÃO E FRONTEIRA NO PENSAMENTO

BRASILEIRO / LÚCIA LIPPI OLIVEIRA

 A conquista e a ocupação de terras oferecem uma longa genealogia retomada na


construção da brasilidade.

 O Novo Mundo e o Brasil tiveram no domínio do espaço geográfico o processo


básico que acompanhou a formação da sociedade e do Estado.

 A natureza brasileira é descrita pelos jesuítas portugueses de forma quase oposta


à dos ideólogos de uma natureza tropical edênica

 O lugar geográfico ou social identificado como sertão acompanha o caminho


que recebe ora uma avaliação positiva, ora negativa

 As definições de sertão fazem referência a traços geográficos, demográficos e


culturais: região agreste, semiárida, longe do litoral, distante de povoações ou de
terras cultivadas, pouco povoada e onde predominam tradições e costumes
antigos

 Aparece no imaginário social a ideia de que não há um sertão, mas muitos


sertões e que o sertão pode e deve ser tomado como metáfora do Brasil.

 "Desde o início da História do Brasil, portanto, sertão configurou uma


perspectiva dual, contendo, em seu interior, uma virtualidade: a da inversão.
Inferno ou paraíso, tudo dependeria do lugar de quem falava" (Janaína Amado -
1995)

 Duas perspectivas na conotação de sertão podem ser identificadas com a


tradição romântica e a realista no trato do espaço geográfico e do homem que o
habita. ROMÂNTICA: sertanejo – nacionalidade / REALISTA: sertão –
problema

 O sertão e o sertanejo têm sido apresentados na literatura sob a categoria de


regionalismo

 A segunda forma de lidar com o sertão o associa ao inferno

 O sertão é o purgatório

 Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Taunay, Capistrano de


Abreu
 Euclides da Cunha pode ser considerado como uma das matrizes do olhar sobre
os sertões. Ao procurar transmitir o mundo do sertão para o público leitor,
transmite a sensação de sentir-se estrangeiro em seu próprio país

 Pode-se destacar como o pensamento brasileiro refletiu continuamente sobre as


distinções entre litoral e interior, entre cidade e sertão, demarcando as diferenças
de vida social e de tipos humanos

 No Brasil, diferentemente, há dois espaços simbólicos da conquista do Oeste: o


sertão e a Amazônia. São ambos mitos de caráter regional e não foram capazes
de incluir a nação inteira em uma única narrativa.

 Um dos desdobramentos do mito do sertão é o do bandeirante, responsável pelo


aumento do espaço territorial da colônia portuguesa nos séculos XVII e XVIII.
O movimento das bandeiras constitui a principal experiência de fronteira na
história brasileira.

 Fronteira, assim como sertão, ou nação, não é conceito estático e atemporal. Seu
sentido de delimitação, definição e referência territorial de unidades
sociopolíticas envolveu um longo e múltiplo caminho

 A categoria de fronteira seria resultado da mudança de perspectiva em relação ao


sertão, já que estaria relacionada aos processos econômicos de incorporação e
ocupação de "vazios demográficos

 A noção de fronteira seria capaz de diluir a dicotomia litoral/sertão, já que


significa a oportunidade de chegada da civilizaçãolitoral ao sertão-interior,
conciliando a qualidade positiva do litoral - a civilidade - com a crença de que
no interior/sertão está preservado um Brasil autêntico.

 Confirmando a importância do espaço na construção da identidade nacional,


encontrase a questão do ponto zero da história do país, do evento histórico
original que fez nascer a nação: as bandeiras

 O primeiro momento das bandeiras, caracterizado pelo domínio, destruição e


aprisionamento dos índios, apresenta problemas para a história do Brasil no
século XIX, já que os índios passam a ser identificados com a liberdade e com a
natureza

 Com a Independência, a centralização do poder e o enfraquecimento do poder


das câmaras municipais, a maior autoridade passa a ser das províncias e dos
conselhos gerais de província. Daí o tema do bandeirante - nobre ou mameluco -
ser relegado ao esquecimento ou à omissão.

 O café no final do século XIX fez São Paulo ocupar mais espaço no cenário
político nacional, dando origem ao crescimento do núcleo urbano a partir de
1870
 A entrada de escravos de outras províncias após a proibição do tráfico se esgota,
passando a ser economicamente inviável. Daí o estímulo de entradas de brancos
através da imigração. Com o fluxo imigratório, os negros libertos passam a
ocupar funções mais desclassificadas

 A expansão dos cafezais ocupa terras antes deixadas aos indígenas. Os índios
perderam suas terras para plantadores de café, assim como os posseiros pobres,
que também foram desalojados.

 É na República que acontece a luta por manter São Paulo no controle da vida
política no país, não só pelo progresso e riqueza, mas porque "sempre fora" a
região mais progressista, ativa e conquistadora, que expandiu o território,
enriqueceu a metrópole com o ouro, e por sua tradição de arrojo e vitalidade

 Foi no período entre 1890 e 1930, que a figura do bandeirante foi resgatada
como símbolo da pujança paulista baseada em qualidades individuais de
coragem, determinação e ao mesmo tempo em atributos nacionais, já que fora a
ação destes homens que dera sentido à integração territorial do país.

 A imagem do bandeirante foi retomada por ocasião da Revolução


Constitucionalista de 1932. A visão do homem destemido, da raça privilegiada
que trouxe o progresso e anexou ao Brasil regiões distantes, é retomada na luta

 A expansão territorial conseguida através do movimento das bandeiras foi lida,


relida e reinterpretada em diferentes momentos da história paulista e nacional. O
movimento das bandeiras permite acompanhar uma das vertentes da fronteira do
pensamento brasileiro

 A recuperação da imagem do bandeirante na história brasileira desempenhou


uma função mítica capaz de organizar o mundo simbólico principalmente para
os paulistas que estavam atravessando um processo acelerado de industrialização
e tendo que transformar em brasileiros um enorme contingente de forasteiros,
imigrantes que dele participaram.

 A retomada, a revalorização do bandeirante - de seus atributos - serve não para


dizer quem é o paulista mas para dizer como é o paulista e assim ser possível
socializar, aculturar seus imigrantes e migrantes.

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