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COGNIÇÃO E LINGUAGEM

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O que é o PENSAMENTO?

Manipulação das representações


mentais da informação (e.g. para
resolver um problema);
O pensamento constrói-se
através de:
i) imagens mentais e
ii) conceitos.

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Imagens mentais

1. Quando pensamos (vemos, ouvimos, etc.) representamos mentalmente


o objecto ou situação (inclusive o movimento).

2. A representação mental pode ajudar a melhorar o desempenho das


várias competências (e.g. correr representando mentalmente a meta).

3. Resultados de investigações demonstram que a prática da


representação mental de dado exercício coloca em igualdade com a
prática real os indivíduos (e.g. tocar piano).

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Conceitos

1. Implica categorização de objectos, acontecimentos e pessoas que


possuem propriedades comuns (e.g. estudantes, professores, etc.).
2. Podemos inclusive categorizar objectos que nunca vimos (e.g. um
automóvel é sempre um veículo mesmo que nunca se tenha visto
aquele modelo).
3. Os protótipos são exemplos típicos altamente representativos de
um conceito.
4. O seu funcionamento é baseado na experiência passiva.

→ Os conceitos permitem-nos pensar sobre algo e compreender.

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Raciocínio
Processo através do qual a informação é utilizada para
retirar conclusões e tomar decisões.

RACIOCÍNIO DEDUTIVO: RACIOCÍNIO INDUTIVO:


(parte de permissas que são Raciocínio através do qual se
aplicadas a casos específicos) infere de casos específicos
(recorrendo à observação,
E.g. A > B
conhecimentos, experiências e
C < B…logo A > C crenças) para uma regra geral.
(Se a premissa for verdadeira a E.g. inferir sobre um determinado
conclusão também o será com grande indivíduo apenas baseando-se no
probabilidade. Mas se partirmos de modo como estes se veste
uma premissa falsa é duvidoso que a
conclusão seja verdadeira) (As conclusões podem ser parciais ou
incorrectas quando as provas são
insuficientes ou inválidas) 5
LINGUAGEM

Porque é que estão a olhar para mim


com essa cara? Nunca viram??
Coscuvilheiros, é o que vocês são....

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TIPOS DE COMUNICAÇÃO

Comunicação reflexiva: padrões estereotipados (e.g. chorar → estar


triste). São gestos (ou sinais) que transmitem informação, embora não
tenham sido concebidos para esse fim.

Comunicação intencional: tem o objectivo de levar informação ao


receptor, dependendo o seu seguimento da resposta deste (e.g. gestos,
expressões faciais, movimentos, etc.).

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A linguagem é o tipo de comunicação intencional mais
sofisticado

1. A linguagem relaciona símbolos (sons, letras e sinais) dando-lhes


significado.

2. A linguagem proporciona regras para combinar esses símbolos de


modo a podermos expressar-nos (e.g. não escrevemos “asac” mas sim “casa”
ou não dizemos que o “— Frio está dia” mas sim que “— O dia está frio”).

3. Para a espécie humana não só é fácil como é provável a aprendizagem da


linguagem: aos 2/3 anos a criança aprende as bases, aos 5 usa a linguagem
dos adultos do seu meio.

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Processo de aquisição da linguagem:

i) Pouco após o nascimento o bebé já possui as capacidades


necessárias à aprendizagem da linguagem (e.g. é capaz de
distinguir sons semelhantes).

ii) Durante
os primeiros 6 meses todos os bebés produzem
vocalizações semelhantes.

iii) Dos
6 aos 12 meses: as vocalizações começam a
variar e são lhe associados gestos (e.g. estender os
braços).

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Processo de aquisição da linguagem:

iv) Depois dos 12 meses:


• os bebés imitam os sons à sua volta;
• começam a compreender o significado de algumas palavras.
•Usam uma linguagem simples: em que uma palavra transmite uma ideia
completa (e.g. papa=quero comer); uma só palavra designa vários
objectos ou pessoas.
•A maioria das palavras usadas nesta idade começa por ser as que
facilitam a interacção com os outros. (PASSAGEM DOS SONS ÀS
PALAVRAS).

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Processo de aquisição da linguagem:

v) Dos 18 aos 24 meses (crianças movem-se sozinhas e


sentem a necessidade de comunicar as suas descobertas):
começa a combinar palavras (PASSAGEM DAS PALAVRAS
ÀS FRASES).
•As primeiras frases são telegráficas, sem ligar substantivos, verbos
e adjectivos (e.g. Zé quer papa).

vi) O processo de construção de frases vai sendo gradual


mas todas as crianças perto dos 4 anos já conseguem
formar frases complexas.

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A aquisição da linguagem não é um simples processo de
memorização e reprodução do que se ouve.

A linguagem implica o uso de regras e é um processo extremamente


criativo onde se têm constantemente que se usar frases nunca usadas
anteriormente, adequar palavras a contextos e situações, etc.

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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO DA LINGUAGEM?

I) Chomsky coloca ênfase na genética – para este autor todos os seres


humanos têm uma propensão automática para desenvolver linguagem
ou seja, estão pré-programados para compreender as regras de
linguagem. Só assim se compreende a existência de princípios
universais tão profundos e abstractos como os da gramática.

Provas que confirmam esta ideia:


a) A linguagem está presente em todas as culturas humanas (é universal
independentemente das culturas, hábitos, alimentação, etc.)
b) Os estágios de aquisição de linguagem tendem a ser semelhantes no mundo
inteiro.
c) Desde muito cedo o bebé é sensível à linguagem.
d) Mesmo os bebés surdos apresentam capacidades relacionadas com a
linguagem.
e) A especialização (fisiologia) da fala, do aparelho respiratório e do cérebro
apresentando este características essenciais ao desenvolvimento da linguagem
(e.g. regiões cerebrais de associação do córtex, como as áreas de Broca ou
Wernika, que coordenam as actividades motoras e auditivas necessárias à fala).
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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO DA
LINGUAGEM?
Provas que confirmam esta ideia (continuação):

f) Os próprios esforços das crianças em dominar a linguagem parecem


apoiar a ideia de que a genética está ligada à aquisição da linguagem.

• A experiência levada a cabo por Ruth Weir (1962)

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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO DA LINGUAGEM?

II) Há alguns autores que colocam o ênfase na importância do ambiente


para a aquisição da linguagem.
A aprendizagem é muito importante para a aquisição da linguagem embora
seja difícil determinar com exactidão as influências específicas do
ambiente.

Provas que confirmam esta ideia:

a) As crianças com uma audição normal falam normalmente a linguagem da sua


família e cultura.
b) As crianças que por algum motivo vivam isoladas não escutando ninguém
normalmente não falam.
• Estudo de caso realizado com uma criança que estava sempre em casa
com pais (surdos-mudos) que lhe ligavam a televisão só falava por sinais.
Assim:
• Para adquirir linguagem é necessário ouvir e falar desde cedo.
• Mesmo as crianças surdas quanto mais cedo começam a exercitar a
linguagem mais facilmente a adquirem
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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO DA
LINGUAGEM?
Provas que confirmam esta ideia:

c) Existe um período sensível para a aquisição da linguagem.


– Assim:
– Para adquirir linguagem é necessário ouvir e falar desde cedo.
– Mesmo as crianças surdas quanto mais cedo começam a
exercitar a linguagem mais facilmente a adquirem.
• Logo: a aprendizagem de uma segunda língua (estrangeira) é
tanto mais fácil e eficaz quanto mais cedo se aprende.

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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO
DA LINGUAGEM?
Provas que confirmam esta ideia:

d) De acordo com os diferentes estudos raramente os pais


se preocupam em ensinar de modo activo e sistemático
a linguagem aos seus filhos. Estes aprendem sobretudo
através das interacções que estabelecem.

• É usada por exemplo a resolução de problemas (E.g. a


criança diz o nome de um objecto que quer ou pede
água e a mãe dá-lhe água (ou o objecto) o que constitui
um reforço positivo).
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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO
DA LINGUAGEM?
• Mesmo sem se aperceberem as pessoas tendem a usar
determinadas estratégias nas conversas com os bébés.
Estudos demonstram o recurso às seguintes estratégias:
– vocabulário simples,
– fases curtas e simples,
– muitas perguntas,
– entoação alta e exagerada (sobretudo para chamar a atenção
ou marcar o que é novo e importante).

Esta constância e simplicidade de linguagem ajudam a criança a


extrair as regras da linguagem.

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COMO SE EXPLICA O APARECIMENTO
DA LINGUAGEM?
• À medida que a criança vai adquirindo a linguagem esta
vai sendo progressivamente mais complexa.

• A criança vai aprendendo a linguagem por


condicionamento e por observação.
Daí a importância das interacções familiares (embora os
pais não estejam preocupados em ensinar activa e
sistematicamente a linguagem e.g. preocupam-se mais
com a veracidade das afirmações do que com questões
de gramática).

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Será a linguagem uma característica especificamente humana?

As opiniões dividem-se.

De acordo com as diferentes experiências realizadas não há dúvidas que os


chimpanzés (e outros grandes primatas como os gorilas e os orangotangos) são
capazes de usar símbolos.

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Na década de 70 um casal de
psicólogos (os Premack) resolveu
ensinar a uma chimpanzé (a
Sarah) língua gestual (ASL:
american sign language utilizada
pelos surdos mudos) e a
chimpanzé aprendeu a utilizar 130
palavras com frequência. O
método usado foi o
condicionamento: associavam-se
certos objectos com as
palavras/gestos. A Sarah obedecia
a ordens (e.g. pôr banana em
balde e maçã no prato) e se se
apresentava o símbolo da maçã
(um triângulo azul) ela ia buscar a
maçã (associava um símbolo que
nada tinha a ver com maçã a esse
fruto).

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Chimpanzé Washoe assinalando a
palavra “chapéu” com a psicóloga
Beatrice Gardner

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O bonobo Kanzi e a utilização de combinações de símbolos
A chimpanzé Ai e a noção de economia (troca de tokens por objectos ou24
alimentos)
Francine Patterson e a gorila Koko: invenção de novas palavras (“cisne” vs.
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“pássaro da água”- combinação de palavras)
Apesar destas experiências as opiniões sobre as capacidades dos
grandes primatas dividem-se:

1. Há aqueles que consideram que os grandes primatas possuem uma


verdadeira linguagem e que esta se assemelha à linguagem das
crianças humanas:

● citam objectos e acontecimentos que os rodeiam (mas as crianças


humanas com 5 anos usam cerca de 5000 palavras e a gorila Koko utiliza
aproximadamente cerca de 1750, com 7 anos de idade);

● o conteúdo da fala é semelhante:

•notam o aparecimento de pessoas e objectos;


• citam localizações;
• falam de acções;
•pedem que se atenda às suas necessidades;

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● são capazes de apreender abstracções;

● combinam palavras e comunicam utilizando frases o que denota a existência


de certas regras gramaticais;

● mostram sinais de criatividade ao transferirem palavras antigas para novos


contextos: e.g. Washoe, uma chimpanzé, chamou “sujo” ao psicólogo quando
este não fez o que ela lhe pediu;

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2. Há também aqueles que são críticos sobre estas capacidades dos
grandes primatas usarem linguagem real:

● afirmam que há diferenças qualitativas entre a linguagem destes primatas e


a das crianças;

● enquanto que as crianças aprendem quase que inevitavelmente uma


linguagem, os grandes primatas necessitam de a aprender sistemática e
activamente;

● enquanto que a linguagem humana é extremamente flexível, os grandes


primatas não usam tantas frases e em contextos específicos tão diversos
como os humanos;

● É difícil saber se o primata em questão compreende toda a frase que utiliza


do mesmo modo que os humanos quando as utilizam. As capacidades mentais
dos humanos são diferentes das dos outros primatas.

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● Não se compreende totalmente o tipo de capacidade que os grandes
primatas têm.
A Koko nos testes de inteligência obteve uma classificação que se situa no
nível médio de uma criança da sua idade.

● Acredita-se que estes primatas não-humanos não atingem mais do que nível
mental pré-operacional o que, no caso de se provar, significará que não
apresentarão um nível de sofisticação superior ao de uma criança de 7 anos.

Estes estudos são importantes porque permitem estabelecer


comparações e daí compreender melhor o que é
especificamente humano (para além de nos ajudar a melhor
compreender a natureza e as capacidades dos outros primatas
com os quais partilhamos um ancestral comum).

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