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iSSN 1807-1058
psicologia
PSiqUiaTRia | PSicOSSOMáTica | PSicOPEdagOgia | NEUROPSicOLOgia | PSicOTERaPia
13 anos
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neuroYciências
psicologia
Sumário
Volume 7 número 3 - julho/setembro de 2011
EDITORIAL
Cognição, Imunologia, Música e Psicologia, Jean-Louis Peytavin ................................... 139
OPINIÃO
Immunology and intentionality - Observing immunologists,
Nelson Monteiro Vaz ................................................................................................... 140
ARTIGOS
Psicofármacos para aprimoramento das funções cognitivas,
José Luiz Martins do Nascimento,
Gilmara de Nazareth Tavares Bastos ............................................................................ 147
Plasticidade sináptica como substrato da cognição neural,
Ricardo Augusto de Melo Reis, Mário C. N. Bevilaqua,
Clarissa S. Schitine ..................................................................................................... 156
REVISÕES
Fundamentos neurobiológicos da música e suas implicações para a saúde,
Paulo Estêvão Andrade, Elisabete Castelon Konkiewitz................................................... 171
Meu filho é autista e agora?
Sílvia Aparecida Santos de Santana .............................................................................. 184
neuroYciências
psicologia ISSN 1807-1058
Conselho editorial
Álvaro Machado Dias, UNIFESP (Psicologia experimental)
Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística)
Bruno Duarte Gomes UFPA (Fisiologia)
Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia)
Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento)
Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento)
Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia)
Eliane Volchan, UFRJ (Cognição)
João Santos Pereira, UERJ (Neurologia)
Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional)
Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística)
Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição)
Marcelo Fernandes Costa, USP (Psicologia Experimental)
Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação)
Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia)
Marco Antônio Prado, UFMG (Neuroquímica)
Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética)
Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia)
Stevens Kastrup Rehen, UFRJ (Neurobiologia Celular)
Vera Lemgruber, Santa Casa do Rio de Janeiro (Neuropsiquiatria)
Wilson Savino, FIOCRUZ (Neuroimunologia)
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Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 139
Editorial
Temos o prazer de publicar nesta edição a de novos circuitos nos nichos neurogênicos.
primeira parte dos trabalhos apresentados na Agradecemos Nelson Monteiro Vaz para sua
2ª Jornada Fluminense sobre Cognição Imune reflexão sobre o papel da cognição na imuno-
e Neural, promovida pelo Instituo Oswaldo logia, onde ele conta seus trabalhos (e dis-
Cruz e pela Academia Nacional de Medicina, cussões) com grandes nomes da neurociência
e organizada pelos Dr. Cláudio Tadeu Daniel- contemporânea, como Humberto Maturana e
-Ribeiro (IOC/Fiocruz) e Dr. José Luiz Martins Francisco Varela.
do Nascimento (ICB/UFPA) na sede da Acade- Completamos esta edição com uma
mia Nacional de Medicina no dia 11 de Agosto grande apresentação de Paulo Estêvão An-
de 2011. A segunda parte será publicada na drade e Elisabete Castelon Konkiewitz sobre
próxima edição. os fundamentos neurobiológicos da música.
Nas páginas seguintes, apresentamos o Paul Estevão Andrade é um especialista desse
trabalho de José Luiz Martins do Nascimento e tema, que já abordou várias vezes em nossa
Gilmara de Nazareth Tavares Bastos sobre as revista nesses últimos anos.
drogas “inteligentes”, cujo objetivo é melhorar Enfim, agradecemos Sílvia Aparecida
as performances cognitivas, e o de Ricardo Santos de Santana por sua valiosa tentativa
Augusto de Melo Reis, Mário C. N. Bevilaqua de nos fazer entender o autista e sua difícil
e Clarissa S. Schitine sobre a elaboração relação com o mundo e sua família.
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Opinião
Abstract
When we consider the immune system as a cognitive system, as most immunologists do, our questions
and the criteria we use to validate the answers to these questions, will inevitably follow what we understand
as cognition. An alternative is to ascribe cognition to what immunologists do when they operate as human
observers and generate descriptions of immunological activities. In this uncommon way of seeing, which
I prefer, we ascribe the specificity of immunological observations to what we do as humans observers
operating in human language, rather than to what cells and molecules, such as lymphocytes and immuno-
globulins, do as components of the immune system. In this alternative way of seeing, we, immunologists,
are the true cognitive entities in immunology.
Médico, Doutor em Bioquímica e Imunologia, Professor emérito de Imunologia, Instituto de Ciências Bio-
lógicas (ICB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Position paper to: II Jornada Fluminense
de Cognição Imune e Neural, Academia Nacional de Medicina, Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2011
Francisco and I wrote a paper arguing ance”, or the drastic inhibition of immune
that Jerne’s paper, although utterly impor- responsiveness to previously ingested
tant, was incomplete, exactly because it proteins. The analysis of “oral tolerance”
lacked the notion of “closure” (systemic turned out to be a lifelong objective in my
organization), which Francisco deemed own laboratory, but was abandoned by
as essential in the description of any Varela in his future association with im-
system [10]. We sent the paper to Jerne, munological research, in Antonio Coutin-
who praised it. Actually, Jerne himself, ho’s laboratory at the Institute Pasteur,
had formerly claimed that: “...we must in Paris (more on this below).
now accept that the immune system is In retrospect, then, I had stumbled on
essentially “closed” or self-sufficient in a surprising phenomenon that nobody un-
this respect” (in its recognitions and ac- derstands (“oral tolerance”) through which
tivations) [11]. This statement appeared immune responses to foreign proteins is
in Jerne’s internal report as Director of drastically reduced. We could transfer this
the Basel Institute for Immunology but, “tolerance” from “tolerant” mice to normal
to my knowledge, was never published mice with T-lymphocytes [12]. Thus, rather
elsewhere. than being a selective subtraction of im-
Actually, Jerne’s main paper lacked mune responsiveness, oral tolerance add-
this idea of “self-sufficiency”I [9]; he ed to the immune system something we
refers to “a revolutionary new idea that didn’t understand. Concomitantly, through
would change immunology as a whole”, the arguments of Francisco Varela, I was
but fails to describe this idea explicitly. convinced that the immune system oper-
It could not be the idea of (anti-idiotypic) ated as a “closed” network of lymphocyte
anti-antibodies - the links in the immune and antibody interactions. Immunologists
network -, because these connections are mainly concerned with self/nonself
could not be all equal. I believe, as Varela discrimination, but our paper described
also did, that this missing idea was actu- the immune system as a “closed” network
ally the idea of “closure”, or, more simply, of interactions, such that whatever fell
the idea of the inner organization which outside this “closed” domain, was simply
embodies the wholeness of systems. nonsensical. Moreover, the very notion of
Without the idea of an invariant organiza- anti-antibodies (anti-idiotypic antibodies)
tion (of a “closure” onto itself) the idea of [9], that provides an abundant internal con-
anti-antibodies is confusing, rather than nectivity of antibodies and lymphocytes,
clarifying. Thus, we wrote “Self and non- denied in itself the idea of self/nonself
sense: an organism-centered approach discrimination - although Jerne was never
to immunology”. It was rejected by the clear on this point. We also claimed that,
European Journal of Immunology as “too in “oral tolerance”, the immune network
theoretical” - which, of course, it indeed assimilates proteins encountered as food
was - and we published it in Medical Hy- or as products of the gut flora. Thus, in
potheses [10]. addition to the attempt to add the notion
In addition to its network aspect, our of organizational “closure” to Jerne’s
paper was also devoted to “oral toler- (idiotypic) network [9], we proposed that
physiological contacts with potential anti-
I Which is not the idea of organizational “closure”,
but rather a step in a similar direction. gens involved an assimilation, rather than
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a rejection of these materials [10,13]. This can only ascribe the conciliation of these
was a second very important point. opposing views to Varela’s great personal
talent in establishing associations with
Varela, Coutinho & Stewart other scientists.
Here we touch a delicate point be-
In his subsequent association with cause, in his collaboration with Coutinho
immunologists, Varela totally neglected and Stewart, Varela added an important
the relevance of “oral tolerance” [14]. collection of new findings to immune ne-
Curiously enough, he was also able to tworks, but his ideas on organizational
maintain a close collaboration with Couti- closure remained in a low key. What was
nho for many years, in spite of Coutinho’s at stake then? What was behind the titles
explicitly denial of the concept of closure: of Varela’s papers, such as: “What is the
immune network for?” [16]; or, “Immukno-
“I did not agree (and I still do not agree today, wledge: The immune system as a learning
despite many discussions with Nelson Vaz) process of somatic individuation” [17]? A
that their (Vaz-Varela) central claim was right. hint to what might have happened derives
I continue to think that a ‘decision-making from their proposal to divide immune res-
behavior’ naturally emerges from the immune ponsiveness into two immune systems,
system’s development, structure and opera- called CIS and PIS [18]. A central immune
tion, allowing for the differential treatment of system (CIS) would roughly correspond
molecular shapes it identifies either as ‘self’ to Jerne’s idiotypic network, i.e., to a
or ‘nonself.’” [15]. systemic description; and a peripheral
immune system (PIS) was responsible for
However, in our paper we explicitly lymphocyte clonal expansions in specific
claimed that: immune responses, as traditionally stu-
died in immunology - actually, a separation
“... the transformations of the cognitive do- between “local” and “global” events as
main of the immune network in an organism’s is common in connectionist approaches
ontogeny are a combination of its recursivity to cognitive sciences [19].
(its closure) and the fact that it is exposed to In our way of seeing, there is only
random perturbations or fluctuations from the one immune system, but different ways
environment (its openness). In other words, it of seeing and describing its activity. But,
exhibits self-organization, the transformation as it was standard in Varela’s approach
of environmental noise into adaptive functio- to cognition, the human observer, its ope-
nal order, in a manner similar to many other ration in language and its way of seeing
biological systems such as cells, nervous remained hidden. This is in sharp contrast
systems, and animal populations.” [10]. with Maturana’s attitude, who always tries
to make explicit the different phenomenal
Coutinho confounded the idea of “clo- domains which may be described by the
sure” with solipsism and insisted to ‘put observer in his actions in human langua-
the network back into the body’ although ging [20,21].
Varela himself was careful in explaining As almost everybody else, Varela con-
that, although ‘closed’ in its organization, ceived the immune system as a cognitive
the system is ‘open’ for intractions [8]. I system, a self with a defined identity [22].
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In his own words, his main interest was immunologists and has been treated as
the emergence of cognition, which he “degeneracy” [27] or “polyspecificity”
saw emerging everywhere [23]. On the [28]. But, to my knowledge, no one has
other hand, for Maturana, cells, organs, ascribed immunological specificity to what
etc. are totally blind (in cognitive terms) we do, as languaging humans, because
to their respective media; only organis- this may be understood as solipsism and
ms, as wholes, are capable of “effective scientists insist to be dealing with an
actions” that we identify as cognitive objective observer-independent reality.
actions [20]. In Maturana’s publications Maturana advise us about a reality [in
and presentations, the presence of the parentheses] that depends on the history
human observer and the importance of of the human observer, a kind of ‘inter-
human languaging in the construction of -subjectivity” we can build among oursel-
what is experienced as real, are always ves with our actions and beliefs [21].
made explicit. The characterization of
separate domains of description, which Demise and resurrection of immune
are typical of the context established by networks
Maturana in his Biology of Cognition and
Language, which is minimized in Varela’s The prolonged association of Varela
work, is totally absent from current immu- with frontier reasearch in immunology in
nological literature. Coutinho’s laboratory brought forth truly
systemic ideas, mathematical formalism
Enters the immunologist as an and computer modelings to the idiotypic
observer network, which were all lacking in Jerne’s
proposal [9] almost two decades before.
Describing a cognitive immune sys- Coutinho had been an important collabo-
tem is quite different from claiming that rator of Jerne at the Basel Institute and
the immunologist arbitrates which phe- produced an impressive array of experi-
nomena are specific and which are not, mental evidence in favor of the network
tracing a boundary between antibodies model both before, during and after the
and unspecific immunoglobulins, as Jerne association with Varela [29]. The 1980s
[24] and Talmage [25] did in the not so coincided with abundant experimental
distant past. As a consequence, descrip- and theoretical investigations on immune
tions of immunological activities based on networks, leading to the publication of
Varela’s ideas, or based on Maturana’s about five thousand papers. This, howe-
ideas, are significantly different. I have ver, had a negligible impact on the main
recently expanded this discussion and questions of immunology and the interest
argued that the specificity of immuno- in networks gradually waned and disappe-
logical activity resides in immunological ared from sight [30]. Why this happened?
observations, i.e. that the specificity Because only the wrong questions were
derives from what we immunologists do made, i.e. anti-idiotypic antibodies were
as human observers, operating in human seen as subsidiary means to “regula-
languaging [26]. That this specificity is not te” immune responses, when actually
inherent to lymphocytes of antibody mole- the idea of circular networks (systems)
cules is (or should be) consensual among should totally replace ‘cause/effect’ (sti-
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Revisão
Resumo
A neurociência moderna tem começado a identificar alguns dos circuitos neurais e os eventos moleculares
e neurotransmissores relacionados à performance cognitiva. Alterações moleculares e celulares são as
bases do entendimento de muitas desordens neurológicas e psiquiátricas. Esse conhecimento é importante
para o desenvolvimento de terapias direcionadas a alvos moleculares. Drogas inteligentes ou também
chamadas de nootrópicas, que incluem modafinil, metilfenidato, propanolol e ampacinas, tornaram-se
populares, porque elas podem aumentar atenção, sociabilidade, habilidade de lembrar eventos e perfor-
mance cognitiva. Essas drogas podem variar em suas ações, propriedades fisiológicas e psicológicas e
outras consequências imprevisíveis.
Abstract
Modern neuroscience has begun to identify neuronal circuits and molecular/ neurotransmitter events
on synapse formation related to cognitive performance. Molecular and cellular changes are the basis to
understanding many neurological and psychiatric disorders. This knowledge is important to development
of molecular therapies. Smart or nootropic drugs which included modafinil, methylphenidate, propanolol
and ampakines, have become popular, because they enhance attention, sociability, ability to remember
events and cognitive performance. These drugs may differ in their pharmacological properties, physiologi-
cal and psychological effects and unpredictable consequences.
Revisão
Resumo
O cérebro humano é formado por quase cem bilhões de neurônios cuja organização em redes permite
a execução de inúmeras funções comportamentais. Estímulos ambientais modificam a estrutura dos
circuitos neurais, refinando e tornando as sinapses mais eficientes. O tamanho e a área de superfície
do cérebro de primatas superiores, portadores de cérebros girencefálicos, são fatores determinantes
nas habilidades intelectuais. Neste ensaio serão discutidos como as mudanças plásticas nas sinapses
ocorrem (os pontos de contato entre as células na ordem de centenas de milhares por neurônio) e como
se dá a transferência de informações no sistema nervoso, que tem um papel essencial nos processos
cognitivos. A plasticidade sináptica é discutida do ponto de vista de moléculas (glutamato e seus recep-
tores), células e suas protuberâncias (espinhas dendríticas) e de redes elaboradas a partir da geração
de novos neurônios nos chamados nichos neurogênicos.
Palavras-chave: plasticidade, Hebb, cálcio, cognição, glutamato, sinapse, memória, neurogênese, epi-
genética
Correspondência: Ricardo Augusto de Melo Reis, Laboratório de Neuroquímica, Instituto de Biofísica Carlos
Chagas Filho, CCS, UFRJ, 21949-900 Rio de Janeiro, Tel: (21) 2562-6594, E-mail: ramreis@biof.ufrj.br
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 157
Abstract
The human brain is constituted by almost a hundred billion neurons organized in neuronal-glial networks
that allow a great number of behavioral outputs. The interaction of the environment with the genetic con-
tents of neural cells modifies the structure of neural circuits, refining the synapses into a more efficient
structure. Here we discuss how plastic changes at the molecular, cellular and network levels target the
synapses (the space between neuronal-glial cells that might reach up to 104 per neuron) and how infor-
mation is exchanged in the nervous system, an essential role in cognition. Synaptic plasticity might be
related to distinct mechanisms such as the traffic of glutamatergic receptors, spine volume modification,
integration of novel neurons in established networks and potentiation or depression of synaptic pathways.
Key-words: plasticity, Hebb, calcium, cognition, glutamate, synapse, memory, neurogenesis, epigenetics.
200.000 anos atrás na Africa; porém, com nico Charles Sherrington. Num trecho de
o surgimento do Homo sapiens durante sua obra de 1897, Sherrington atribui aos
o Paleolítico superior, houve um salto na espaços observados entre os neurônios
criatividade por volta de 50.000 anos atrás (visualizados na época por Santiago Ra-
[8]. É possível que substituições de ami- mon y Cajal e outros usando a técnica
noácidos em alguns genes, como do fator de impregnação de prata nos neurônios
de transcrição Forkhead box p2 (Foxp2) desenvolvida por Camilo Golgi), uma im-
envolvido na evolução da linguagem, pos- portante função na troca de informações
sam ter acarretado mudanças cognitivas elétricas no sistema nervoso.
substanciais em nossos ancestrais [9]. A resposta da sinapse é modificável,
É no mínimo tentador correlacionar as o que gera uma plasticidade, que é uma
consequências neurológicas com a pos- propriedade essencial do desenvolvimen-
sibilidade de como a fala, a linguagem to e uma das principais funções cerebrais
e a capacidade cognitiva diferenciaram [11]. É sabido que o cérebro é sensível
os humanos dos demais hominídeos no aos fatores ambientais, seguindo inicial-
passado remoto. Nesse sentido, camun- mente um plano genético durante a fase
dongos com um gene Foxp2 de humanos pré-natal, com a elaboração de gradientes
apresentam maior plasticidade sináptica moleculares especificados no eixo dorso-
e comprimentos dendríticos, pelo menos ventral no embrião. A rápida proliferação
nos circuitos entre o córtex e os núcleos da de células progenitoras gera múltiplos
base analisados. A introdução da versão neurônios e células gliais, através de uma
humana de Foxp2 em camundongos levam orquestração de genes pró-neurogênicos
a alterações na vocalização ultrassônica e gliogênicos [4]. Estímulos ambientais
e no comportamento exploratório desses modificam a estrutura dos circuitos neu-
animais, assim como nas concentrações rais, refinando e tornando as sinapses,
de dopamina cerebral [10]. alvo de ação dos neurotransmissores,
Neste ensaio, discutiremos como as mais eficientes por meio de atividade
mudanças plásticas nas sinapses ocorrem elétrica e mensageiros químicos. Essa
(os pontos de contato entre as células na plasticidade resulta na modificação da
ordem de centenas de milhares por neurô- estrutura e da função do sistema ner-
nio) e como se dá a transferência de infor- voso. A questão de quanto e de como o
mações no sistema nervoso, que tem um ambiente influencia no desenvolvimento
papel essencial nos processos cognitivos. do cérebro é de grande interesse geral,
Abordaremos a plasticidade sináptica do com particular atenção nos campos
ponto de vista de moléculas (glutamato e da neurobiologia do desenvolvimento,
seus receptores), células e suas protube- desenvolvimento infantil, educação e
râncias (espinhas dendríticas) e de redes psicopatologia infantil.
com a geração de novos neurônios nos Inúmeros modelos de plasticidade
chamados nichos neurogênicos. sináptica são observados em diversos
circuitos cerebrais [11]. Nesse sentido,
A sinapse podem ser citadas estruturas como o
hipocampo e a amigdala que estão envol-
O termo sinapse surgiu por volta de vidas com processos de consolidação de
110 anos atrás com o fisiologista britâ- memória espacial e emocional, proces-
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citoplasma) pode ser o primeiro passo nas redes neurais, o que induz uma
para que estas subunidades atinjam a grande interatividade entre as células
região sináptica e aumentem a densidade e consequente aumento do número de
de receptores, e que uma vez ativados, sinapses. Estudos realizados na década
induzam despolarização, fluxo de Ca2+ e de 1970 em cerca de 2600 cérebros
modificações estruturais com base na autopsiados de um banco de órgãos em
polimerização de filamentos de actina. Washington, EUA, mostrou que durante o
Isso leva a transformação de estruturas desenvolvimento, o crescimento cerebral
imaturas (filopódios) presentes durante aumenta rapidamente entre os primeiros
o desenvolvimento a se transformarem meses e os primeiros anos de vida, e que
em protuberâncias compartimentalizadas a curva (no formato de U invertido) e se
(espinhas) volumosas na forma de co- estabiliza na adolescência [19-20]. Essa
gumelo e em cálice, ricas nos estoques análise foi revisitada recentemente com
intracelulares de cálcio, e que uma vez o imageamento de centenas de cérebros
ativadas, se tornam funcionais (e deixam de crianças, adolescentes e adultos (3-27
de ser silenciosas) [18]. Nesse contexto, anos), com o emprego de uma técnica
é sabido que modelos de plasticidade não invasiva (ressonância magnética
como a LTP (potencialização de longo funcional) e que confirmou a curva em U
termo, discutido em seguida) e a LTD invertida para diversos parâmetros. Po-
(depressão de longo termo) podem ser rém, o estudo mostra que diferentes áre-
expressos com a inserção e a remoção de as cerebrais amadurecem em momentos
subunidades de receptores AMPA, respec- distintos, e que os circuitos neurais têm
tivamente [18] e esse modelo pode ser a diferentes trajetórias durante o desenvol-
base para o estudo de funções cognitivas vimento no que concerne ao volume de
e de disfunção sináptica. massa cinzenta (onde estão os corpos
celulares dos neurônios e astrócitos) e a
Crescimento cerebral pós natal e branca (conjunto de fibras que conectam
plasticidade sináptica as regiões) [6].
Os bilhões de células no cérebro es-
Entre os primeiros dias após o nas- tão conectados de forma a permitir um
cimento e a infância (por volta dos 6 grande repertório de respostas compor-
anos de idade), uma criança sadia está tamentais, desde a execução de padrões
em um período em que apresenta a sua básicos de movimento até na elaborada
maior plasticidade e interatividade com o tarefa de improvisar um longo discurso.
meio e o seu cérebro passa de cerca de Para que os circuitos cerebrais controlem
350 para 1200 gramas, e que chega até essa diversidade de respostas, foram
1400 gramas no pico da adolescência necessárias a proliferação e a diferen-
(um pouco maior nos garotos em função ciação de progenitores no embrião em
do peso corporal e influência hormonal) uma diversidade de neurônios, células
[19]. A atividade neural relacionada gliais e outros tipos, e que atingissem os
com a experiência nos mais diversos locais corretos. No pico da embriogênese,
níveis (sensorial, motora, emotiva e estima-se que cerca de 250 mil neurônios
social) é talvez o principal substrato são gerados por minuto [19] – processo
para o grande aumento dos processos controlado por fatores que se difundem
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 161
ao longo do tubo neural e que ativam ge- psicólogo canadense Donald Hebb. Es-
nes responsáveis por diversas proteínas, sas sinapses hoje são conhecidas como
que regulam a produção da neurogênese. hebbianas, e as regras hebbianas são
Se a produção dos neurônios sofrer uma aplicadas a modelos de aprendizagem no
interferência nessa fase da ação de dro- neocórtex e em estruturas plásticas [22].
gas (canabinóides ou do álcool), de toxi- Estudos recentes mostram que as es-
nas ambientais (como o metil-mercúrio), pinhas dendríticas (em média, com cerca
ou ainda de um particular defeito genéti- de 0,5-2 μm de comprimento, chegando
co, pode ocorrer a formação incorreta da a 6 μm na região CA3 do hipocampo)
estrutura do sistema nervoso. Hoje é acei- são muito dinâmicas, heterogêneas em
ta a ideia que os circuitos cerebrais se forma e estrutura, e modificadas por ex-
transformam através de uma combinação periência e por atividade (alvo de LTP), e
de influências genéticas e ambientais, e que poderia ser o substrato morfológico
que o ambiente e a genética contribuem da plasticidade sináptica. Um neurônio
para a construção cerebral. Os primeiros maduro apresenta de 1–10 espinhas/
eventos no desenvolvimento cerebral (no μm num dendrito, sendo esse o local de
embrião) são grandemente dependentes chegada das informações excitatórias no
dos genes, seus produtos, e do milieu no SNC. Embora o imageamento dessas es-
qual isso ocorre. Em resumo, a interação truturas mostrando a motilidade evidencie
entre a genética e o ambiente conectando o possível impacto funcional no neocórtex
as sinapses mostra-se necessária para a e no hipocampo em neurônios vivos, o
formação dos substratos neurais neces- siginificado da plasticidade das espinhas
sários para a riqueza do comportamento ainda é um assunto polêmico [23].
humano [2].
Plasticidade via novos neurônios no
LTP, Hebb e memória cérebro adulto
por sinalização via ativação de receptores cérebro adulto e as etapas que seguem a
de serotonina, dopamina e acetilcolina. geração desses novos neurônios são bem
Diversas moléculas como hormônio tireoi- conhecidas. Milhares de novos neurônios
diano, prolactina, polipeptídeo de ativa- são diariamente gerados no hipocampo
ção da adenil ciclase pituitária (PACAP), de ratos adultos [58]. No giro denteado,
além de fatores de crescimento como o novos neurônios são originados a partir
fator de crescimento epidérmico (EGF), fa- de progenitores ou precursores locali-
tor de crescimento de fibroblastos (FGF), zados na própria estrutura. As células
fator neurotrófico derivado de gânglio progenitoras hipocampais têm caracte-
ciliar (CNTF) e fator neurotrófico derivado rísticas astrocitárias e são concentradas
de cérebro (BDNF), entre outros, também na chamada “camada de células granu-
atuam modulando a neurogênese na ZSV. lares”. A camada de células granulares
Durante a migração na rota migratória ros- fica localizada entre o hilus e a camada
tral e no bulbo olfatório, a própria migra- molecular, sendo o sítio neurogênico en-
ção e diferenciação celular é regulada via contrado especificamente, na camada de
sinalização GABAérgica e interação com células subgranulares, região adjacente
componentes do microambiente, como ao hilus (Figura 1).
PSA-NCAM, efrinas e neuroregulinas. A No sítio neurogênico, mais especifica-
sobrevivência e a integração dos novos mente na zona subgranular, três tipos de
neurônios no bulbo olfatório podem ser células podem ser identificados: células
afetadas ainda pela ação da acetilcolina, B, células D e células G. As células B são
e de fatores ambientais como atividade astrócitos que são fortemente marcados
sensorial, e a exposição do animal a no- com anticorpos anti-GFAP. Tais astrócitos
vos odores [revisado em 56]. emitem prolongamentos radiais para o
A integração contínua de novos neu- interior da camada de células granulares.
rônios no bulbo olfatório parece ter papel As células B sofrem mitose e podem
importante na plasticidade da discrimi- gerar novas células B ou células D. As
nação de novos odores. Em um estudo células D são amplificadoras e proliferam
realizado com animais com expressão rapidamente, gerando novas células D
deficiente da proteína NCAM (necessária que amadurecem e dão origem a novos
para a migração celular), foi demonstrado neurônios granulares. As células G são
que o número de interneurônios no bulbo neurônios granulares maduros (figura 1)
olfatório foi drasticamente reduzido e que [59].
o animal apresentava dificuldades em Os neurônios imaturos (células D)
discriminar odores semelhantes [57]. estendem um prolongamento apical em
Este estudo sugere que a neurogênese direção a camada molecular, ao mesmo
na ZSV adulta pode ser importante para tempo em que migram para o interior
a função olfativa. da camada de células granulares. Além
disso, estendem axônios em direção aos
Neurogênese no hipocampo adulto neurônios piramidais de CA3 [36]. As cé-
lulas que não são integradas aos circuitos
O giro denteado do hipocampo é são eliminadas por apoptose. A maior
uma das duas regiões cerebrais onde a parte da morte celular parece ocorrer
neurogênese é largamente verificada num quando as células saem do ciclo celular
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 165
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Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 171
Revisão
Resumo
Este artigo apresenta evidências dos fundamentos neurobiológicos e evolucionários da música e suas
implicações terapêuticas. Primeiro, a música é um comportamento universal, presente em toda cultura.
Segundo, apesar de evidências de alguns mecanismos músico-específicos, estudos de lesão e de neu-
roimagem revelam que a música é também altamente supramodal e interage com múltiplos domínios
cerebrais, recrutando ativação bilateral em regiões envolvidas com o processamento linguístico, motor e
espacial. Terceiro, os padrões básicos de organização melódica e temporal da música são compartilhados
entre as culturas, uma propriedade análoga às regras universais da sintaxe compartilhadas por diferentes
línguas. Quarto, as respostas dos ouvintes à música também são universais através das culturas. Quinto,
estudos de neurodesenvolvimento mostram que bebês processam padrões musicais semelhantemente
aos adultos, fornecendo evidências de mecanismos transcendentes à cultura. Sexto, a música evoca
emoções genuínas e fortes, ativando estruturas cerebrais filogeneticamente antigas do sistema límbico.
Finalmente, consideramos uma redefinição da música como uma forma de comunicação baseada no som,
corporificada, não-referencial e polissêmica, cujo conteúdo é essencialmente emocional. Como a música
ativa áreas cerebrais envolvidas no processamento linguístico, espacial, motor e emocional básico, in-
duzindo neuroplasticidade, ela representa uma possibilidade terapêutica de baixo risco e de baixo custo.
Correspondência: Paulo Estevão de Andrade, Rua Sperêndio Cabrini, 231, Jardim Maria Izabel II 17516-
300 Marília SP, E-mail: paulo_sustain@yahoo.com, Tel: (14) 3301-7944
172 Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011
Abstract
This article presents evidence for the neurobiological and evolutionary foundations of music and its
therapeutic implications. First, music is a universal behavior present in every culture. Second, despite
evidence for some music-specific mechanisms, studies by lesioning and neuroimaging reveal that music is
also highly supramodal and interacts with multiple brain domains, recruiting bilateral activation in regions
involved in language, motor and spatial processing. Third, the basic patterns of melodic and temporal
organization of music are shared among cultures, a property that is analogous to the universal rules of
syntax that are shared among different languages. Fourth, the responses of listeners to music are also
universal across cultures. Fifth, neurodevelopmental studies show that infants process musical patterns
in a way similar to that of adults, providing evidence for culture-transcendent mechanisms. Sixth, music
elicits genuine and strong emotions, activating phylogenetically old brain structures of the limbic system.
Finally, we consider a re-definition of music as a sound-based, embodied, non-referential and polysemic
form of communication whose content is essentially emotional. Since music activates brain areas involved
in language, spatial, motor, and basic emotional processing, inducing neuroplasticity, it represents a low
risk and low cost therapeutic possibility.
nação dos sons linguísticos e, conse- envolvendo a audição ativa para a discri-
quentemente, para o desenvolvimento minação de padrões melódicos revelam
das representações morfossintáticas ativação de estruturas cerebrais classica-
da linguagem [11,31]. Análises mais mente tidas como envolvidas na lingua-
detalhadas demonstram que lesões no gem, na motricidade e no processamento
HD também afetam as entonações da lin- visuo-espacial, consistentemente com os
guagem e que os indivíduos com amusia comportamentos musicais universais pre-
congênita também têm dificuldades na viamente descritos. Dentre estas regiões
discriminação tonal fina (capacidade de destacamos a área de Broca e o córtex
discriminar sutis diferenças de frequência parietal inferior esquerdo, conhecidas por
como entre duas teclas adjacentes do seu envolvimento na memória de trabalho
piano) tanto da música, quanto das en- verbal e na sintaxe linguística, os córtices
tonações linguísticas. Entretanto, déficits premotores, e áreas visuo-espaciais como
na percepção tonal fina não prejudicam cúneo e precúneo, dentre outras [11,12].
significativamente a percepção das en- Finalmente, as respostas emocionais
tonações da fala, particularmente a dis- à música são acompanhadas por altera-
tinção entre perguntas e afirmações que ções psicofisiológicas ou autonômicas,
na maioria são variações da ordem de 6 tais como alterações na circulação san-
semitons (a distância entre a primeira e a guínea, na condutividade elétrica da pele,
sexta de seis teclas adjacentes do piano), na temperatura corporal, dentre outras
nem tampouco a percepção fonêmica. [37,46). Essas respostas são geralmente
Se na dimensão tonal a música e lin- descritas pelas pessoas como arrepios,
guagem possuem relativa independência, calafrios, lacrimejamento, etc e estão
na dimensão temporal, particularmente relacionadas a ativações de áreas sub-
no ritmo, há claros indícios de que ambos corticais envolvidas no comportamento
os domínios compartilham mecanismos aversivo (de fuga), tal como o giro pa-
cognitivos e recursos neurais. Déficits rahipocampal e a amígdala, ou de áreas
seletivos no ritmo com preservação da que compõem o circuito de recompensa,
percepção tonal e reconhecimento mu- como o sistema mesolímbico e o córtex
sical, normalmente decorrem de lesões orbitofrontal [47].
ou alterações genético-neurológicas que Argumenta-se que, a despeito de pos-
envolvem áreas parietais e/ou frontais suir alguns aspectos modulares ou domí-
inferiores do HE envolvidas na sintaxe lin- nio-específicos, é a natureza supramodal
guística e na memória verbal de trabalho, e interativa da música, envolvendo muitos
respectivamente, e, além disso, também domínios biologicamente relevantes tais
estão frequentemente associados a sin- como linguagem, motricidade, espaço e
tomas afásicos [11,12]. emoção, que representa sua maior força
Se os estudos de lesão revelam as evolutiva. E não há dúvidas de que são
áreas que parecem ser cruciais para cer- estes os principais aspectos que fizeram
tas tarefas, tais como os córtices perissil- com que a música fosse universalmente
vianos do HD para o processamento tonal, usada pelas diversas culturas como ins-
os estudos de neuroimagem mostram as trumento de cura [1,48], e que atualmente
áreas que estão envolvidas nestas tarefas, suportam uma abordagem musicoterapêu-
não apenas as áreas cruciais. Tarefas tica baseada em evidência [49,50].
180 Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011
Revisão
Resumo
Este estudo analisou como se encontra a noção de percepção da criança autista, e a iteração parental.
Realizado por meio de pesquisa bibliográfica exploratória em livros e artigos científicos e relatos clíni-
cos. Para isso, primeiramente busquemos conhecer o autismo, suas características e as dificuldades
apresentadas pelo autista. Em seguida, fizemos um breve estudo sobre como a relação parental lida
com essa realidade. Baseando-se nos dados coletados percebe-se uma grande dificuldade de aceitação
das limitações apresentadas e reestruturação da dinâmica familiar para a inclusão dessa criança no seu
próprio contexto familiar sem contar a culpa apresentada pelos pais, uma vez que pais acreditam que são
culpados ou que fizeram um filho com defeito. Assim sendo, é possível afirmar é essa lida inadequada
pode ser uma dentre tantas razões que muitas vezes inviabiliza a relação do Autista com o mundo externo.
Sílvia Aparecida Santos de Santana é Doutoranda em Psicologia pela Universidad de Ciencias Empre-
sariales y Sociales – UCES, Buenos Aires, Argentina, Psicanalista, Psicopedagoga com Licenciatura em
Filosofia, Professora do e Coordenadora geral do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise e Psico-
pedadogia do CEAPP - Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico, Espe-
cialista em Psicopedagogia, Psicanálise Clínica e Didata, Psicanalista Infantil e Forense, Conferencista
sobre temas ligados à Família e Comportamento da Sociedade.e Presidenta da SOPPHI – Sociedade de
Psicanálise Psicopedagogia e Hipnoterapia
Correspondência: Sílvia Aparecida Santos de Santana, Diretoria Geral do CEAPP - Centro de Estudo e
Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico, Av Paulo VI, 1709 Ed Racional Canter, sala 202/207
Pituba 41810-000 Salvador BA, Tel: (71) 3495 5360, E-mail: ceappcomvc@yahoo.com.br, site: www.
ceapponline.net
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 185
Abstract
This study examined the notion of awareness of the autistic child, and parental iteration. This was a litera-
ture review based in books, articles and clinical reports. Firstly it sought to know autism, its characteristics
and the difficulties presented by autism. Then we did a brief study on how the parental relationship deals
with this reality. Based on data collected it was observed a great difficulty to accept the limitations pre-
sented and the restructuration of family dynamics to include that child in their own family context, without
to mentionning the guilt presented by the parents, because parents believe that they are guilty to have a
child with defects. Therefore we can say this fact is one of the inadequate among many reasons that often
undermines the relationship of autistic patient with the outside world.
mundo, como até hoje se acredita sobre esta ponte e entrar na vida social nor-
o comportamento autista. mal, ficando presa na fase autística do
Kanner [1] estudou com mais aten- desenvolvimento. Em 1960, no entanto,
ção 11 pacientes com diagnóstico de a psicanalista Francis Tustin publica um
esquizofrenia. Observou neles o autismo artigo no qual desfaz a idéia da fase au-
como característica mais marcante; nes- tística do desenvolvimento.
te momento, teve origem a expressão Naquela época a busca pelo trata-
“Distúrbio Autístico do Contato Afetivo” mento psicanalítico era muito intensa.
para se referir a estas crianças. Kanner Muitas vezes as crianças passavam por
chegou a dizer que as crianças autistas sessões diárias, inclusive no domingo. O
já nasciam assim, dado o fato de que o preço pago era muito alto. Muitas famílias
aparecimento da síndrome era muito pre- vendiam seus bens na esperança de que
coce. A medida em que foi tendo contato aquele método as ajudasse a corrigir o
com o universo parental destas crianças erro que haviam cometido na criação de
ele foi mudando de opinião. Começou seus filhos.
a observar que os pais destas crianças Com o advento da década do cérebro,
estabeleciam um contato afetivo muito no entanto, estas idéias começaram a
frio com elas, desenvolvendo então o ser deixadas de lado – além de não es-
termo “mãe geladeira” para referir-se tarem satisfazendo as expectativas dos
as mães de autistas, que com seu jeito pais. A partir de 1980 foram surgindo no-
frio e distante de se relacionar com os vas tecnologias de estudo, as quais per-
filhos promoveu neles uma hostilidade mitiam investigação mais minuciosa do
inconsciente a qual seria direcionada para funcionamento do cérebro da pessoa com
situações de demanda social. exames como tomografia por emissão
Kanner com suas hipóteses penetrou de pósitrons ou ressonância magnética.
com forte influência no referencial psica- Doenças que anteriormente eram estuda-
nalítico da síndrome que pressupunha das apenas a partir de uma perspectiva
uma causa emocional ou psicológica psicodinâmica passaram a ser estudadas
para o fenômeno, a qual teve como seus de maneiras mais cuidadosas, deixando
principais precursores os psicanalistas de lado o cogito cartesiano.
Bruno Bettelheim e Francis Tustin. Ivar Lovaas na década de 60 trouxe
Bettelheim em sua terapêutica, in- seus métodos analítico-comportamentais
citava as crianças a baterem, xingarem que começaram a ganhar espaço no tra-
e morderem em uma estátua que, pelo tamento da síndrome. Seus resultados
menos para ele, simbolizava a mãe de- apresentavam-se de maneira mais efetiva
las. Tustin, por outro lado, acreditava em do que as tradicionais terapias psicodinâ-
uma fase autística do desenvolvimento micas. E já naquela época as psicologias
normal, na qual a criança ainda não ti- comportamentais sofriam forte precon-
nha aprendido comportamentos sociais ceito por parte dos psicólogos de outras
e era chamada por ela de fase do afeto abordagens. Durante as décadas de 60
materno, funcionando como uma ponte e 70 os psicólogos comportamentais
entre este estado e a vida social. Se a eram consultados quase que apenas de-
mãe fosse fria e suprimisse este afeto, pois que todas as outras possibilidades
a criança não conseguiria atravessar haviam se esgotado e o comportamento
Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011 187
Nem sempre o autismo está asso- não tem habilidade de interagir, ele até
ciado à deficiência mental. Às vezes tem vontade, mas não sabe como!
ele ocorre em crianças com inteligência Tem como objetivo apoiar o portador
classificada como normal. O chamado de autismo a chegar à idade adulta com o
“déficit intelectual” é mais intenso nas máximo de autonomia possível. Ajudando-
habilidades verbais e menos evidente -o a adquirir habilidades de comunicação
em habilidades viso-espaciais. É muito para que possam se relacionar com ou-
comum, no entanto, crianças com este tras pessoas e, dentro do possível dar
diagnóstico apresentarem desempenho condições de escolha para a criança [2].
além do normal em tarefas que exigem O Autismo pode acometer qualquer
apenas atividades mecânicas ou me- criança, porém não é qualquer relação
morização, ao contrário das tarefas nas parental que consegue lidar bem com um
quais é exigido algum tipo de abstração, filho autista.
conceituação, sequenciação por cores, O autismo impacta toda a família de
tamanhos ou sentido. muitas formas, afetando tanto à criança
Segundo Baron-Cohen, um dos sub- como toda a família, e principalmente o
componentes mentais imprescindível casal parental que na grande maioria das
para a existência da teoria da mente vezes acabam acreditando que erraram
seria a Atenção Compartilhada, que são em algum ponto. Os pais estão expostos a
comportamentos revestidos de propósito múltiplos desafios que têm uma verdadei-
declarativo. ra cisão na dinâmica familiar envolvendo
Seria a capacidade que a criança tem todos os pontos emocional, econômico
de compartilhar a atenção e o interesse e cultural. Em muitos casais a relação
com outra pessoa, através de gestos, de culpa fica tão evidente que muitos ca-
como apontar e direcionar o olhar do outro sais acabam separando por isso o apoio
para aquilo do seu interesse. Primeiro profissional pode ajudar a lidar tanto com
ponto observado pelo casal parental. uma criança autista quanto para ajudar
No bebê normal, os pais percebem os pais a aprenderem a forma de manejar
esta atitude no segundo semestre de as condutas e superarem as frustrações.
vida, já em crianças portadoras de autis- O cuidado de uma criança com au-
mo, este comportamento é mais tardio. tismo pode ser exaustivo e frustrante.
Sendo assim, Cleonice Bosa [6] conclui, Infelizmente, nem todas as famílias têm
considerando este fator como um im- acesso a esses serviços profissionais.
portante indicador precoce do autismo. Seja por falta de conhecimento ou de
Outra área de grande comprometimento recursos financeiros.
no autismo são as habilidades sociais,
que são determinadas dentro de um Descoberta do autismo na família
contexto cultural. É um conjunto de com-
portamentos emitidos em um contexto, “Diagnosticar uma criança com au-
que expressam sentimentos, opiniões do tismo significa para os pais, a entrada
indivíduo, de modo adequado á situação. violenta de um mundo que está cheio
No autismo, essas habilidades ou tão de angústia. Um mundo que depende da
gravemente debilitadas, ou não existem! suposição de que a criança ignora os sen-
O problema do autismo é que o indivíduo timentos de seus pais, que não entendem
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como eles interagem com ele e que sofre percebe a diferença entre um indivíduo
de uma doença incurável” Kaufmann L. que pensa e tem desejos e um objeto
Os distúrbios na interação social dos inanimado. O portador de autismo enxer-
autistas podem ser observados desde o ga todos os seres vivos como objetos.
início da vida. Com autistas típicos, o contato As crianças autistas não compreen-
‘olho a olho’ já se apresenta anormal antes dem como se estabelecem as relações
do final do primeiro ano de vida. Muitas de amor e amizade.
crianças olham de canto de olho ou muito A indiferença em dividir atividades e
brevemente. Um grande número de crianças interesses com outras pessoas também
não demonstra postura antecipatória ao se- é um sintoma marcante (a habilidade
rem pegos pelos seus pais, podendo resistir em mostrar objetos de interesse para
ao toque ou ao abraço. Essa conduta muitas outras pessoas ocorre no primeiro ano
vezes começam a chamar atenção dos pais de vida, e a ausência desse sinal é um
que nos primeiros meses de vida já pode ser dos sintomas mais precoces do autismo
identificado. Dificuldades em se aconchegar infantil). A partir desse comportamento
moldando-se ao corpo dos pais, quando no a relação parental começa a perceber e
colo, são observadas precocemente. Crian- sofrer com a diferença apresentada pelo
ças que, posteriormente, receberam o diag- seu filho quando comparado aos irmãos,
nóstico de autismo, demonstravam falta de parentes ou outras crianças da mesma
iniciativa, de curiosidade ou comportamento idade de convívio social próximo.
exploratório, quando bebês. Os autistas apresentam dificuldades
Frequentemente, seus pais as descre- em manter um contato social inicial, de-
vem como: “felizes quando deixadas sozi- monstrando problemas para sustentar
nhas”, “como se estivessem dentro de uma esse contato, com frequência interrom-
concha”, “sempre em seu próprio mundo”. pido prematuramente.
Os autistas têm um estilo ‘instrumen- Com o passar dos anos, as anorma-
tal ou objetal’ de se relacionar, utilizando- lidades de relacionamento social tornam-
-se dos pais para conseguirem o que -se menos evidentes, principalmente se a
desejam. Um exemplo de modo instru- criança é vista próxima de seus familiares.
mental de relacionamento ocorre quando A resistência em ser tocado ou abra-
a criança autista pega a mão de sua mãe çado bem como o evitamento no contato
e a utiliza para abrir uma porta em vez de visual tendem também a diminuir quando
abrir a porta com sua própria mão. a relação parental reconhece a patologia
Frith sugere que a falha básica nos e conseguem trabalhar na dinâmica fami-
autistas é a incapacidade de atribuir aos liar sem culpas e sem fugas da realidade.
outros indivíduos sentimentos e pontos Baseando-se na percepção clínica de
de vista diferentes do seu próprio, con- Ornitz e Leboyer, foi possível elaborar um
cluindo que falta a essas crianças uma quadro para pais e educadores poderem
“teoria da mente”. Esse fato faz com que observar as principais características de
a empatia da criança seja falha, afetando crianças autistas de acordo com sua idade.
sentimentos básicos, como medo, raiva O fato de uma criança possuir a maio-
ou alegria. As pessoas, os animais e os ria dos aspectos desta tabela ainda não
objetos acabam sendo tratados de um será suficiente para considerarmos um
mesmo modo, visto que a criança não diagnóstico fechado de Autismo.
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cava e não tinha contato com o seu ambiente. porta e disse: escuro. Klein novamente in-
Na maior parte do tempo, articulava sons terpretou: “está escuro dentro da mamãe,
ininteligíveis, e repetia constantemente certos Dick está entrando na mamãe escura”.
ruídos; quando falava, utilizava erroneamente Outras interpretações foram realizadas
seu escasso vocabulário. Klein M. [7]. nessa primeira sessão. Já na terceira
sessão de tratamento, Klein relatou os
Para Klein, o pequeno garoto era primeiros sinais de angústia e dependên-
diferente de todas as outras crianças cia de Dick. Naquela oportunidade, Dick
que ela já havia tratado (somente muitos demonstrou ansiedade ao deixar a babá
anos depois, Dick foi diagnosticado como e entrar no consultório, e também ao
autista). sair, quando a abraçou de forma afetiva.
Na primeira sessão, Dick acompa- Segundo Klein, justamente quando se
nhou a analista, sem demonstrar ne- deu essa expressão de afetividade, Dick
nhuma angústia ao se separar da babá. passou a se interessar pelas palavras
No consultório, não se interessou pelos tranquilizadoras e pelos brinquedos.A
brinquedos: ficou correndo de um lado partir dos sinais de surgimento de angús-
para outro, sem qualquer propósito. Klein tia, decorrente da relação afetiva com a
assim descreveu o seu sentimento inicial: babá e com a analista, como também do
“... ele correu em volta de mim como se interesse pelos brinquedos, Klein relatou
eu fosse um móvel; a expressão de seus ter ultrapassado o obstáculo fundamen-
olhos e de seu rosto era fixa, ausente e tal da análise de Dick. E, assim, podia
de desinteresse (...) e não tinha relação continuar analisando aquele pequeno por
com nenhum afeto ou angústia” meio da técnica do jogo, como fazia com
O obstáculo fundamental para o co- as demais crianças em sua clínica.
meço da análise de Dick foi, segundo a A técnica do jogo foi descrita por
analista, sua falta de interesse pelo am- Melanie Klein, em 1932, no seu primei-
biente e a ausência de relação simbólica ro livro, The Psychoanalysis of Children
com as coisas. Segundo Klein, como o [8], que marcou, segundo Hanna Segal,
pequeno Dick não brincava e não tinha o apogeu da primeira fase de sua obra.
capacidade para se expressar verbalmen- Klein acreditou ter tornado plenamente
te, o material para análise deveria ser “... viável uma efetiva análise infantil com
extraído do simbolismo revelado por de- o uso da interpretação da relação trans-
talhes do seu comportamento em geral” ferencial, desde o início do tratamento.
Klein criou, inicialmente, um jogo Essa concepção era oposta às idéias de
a ser compartilhado com Dick. Pegou Anna Freud.
dois trens e disse que o maior era o Klein enfatizava o contato com o
“trem-papai”, o outro, o “trem-Dick”. A inconsciente, a ser realizado com as
pequena criança pegou o trem que levava crianças pela via da interpretação da
seu nome, levou-o até a janela e disse: transferência e do conteúdo simbólico do
estação. jogo, desde o início do tratamento psica-
Klein assim interpretou Dick: “a es- nalítico. Segundo ela, um dos primeiros
tação é a mamãe; Dick está entrando na efeitos da interpretação no tratamento se-
mamãe”. Após essa interpretação, Dick ria o alívio da angústia e o aparecimento
largou o trem e se escondeu atrás da das fantasias, que conduzem a novas an-
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gústias a serem interpretadas. Trata-se, que pus a girar. (...) John corouviolentamente,
assim, de um circuito que, considerado inclinou-se todo para frente a olhá-lo, ao mes-
do ponto de vista quantitativo, é reduzido mo tempo em que rodava o pênis por cima da
e permite o conhecimento progressivo da calça e com a outra mão fazia movimentos
realidade pela criança [7-9]. circulares à volta da boca – quase um girar.”
Em resumo, com Dick, Klein realizou
uma transformação da técnica psica- Essa sequência me fez imediatamente
nalítica, tendo em vista a ausência da suspeitar de que era tênue a diferença
linguagem lúdica da criança. Ela propôs, que estabelecia entre os movimentos do
para o início do tratamento, um jogo pião e os de seu próprio corpo, o que,
simbólico (o “carro-pai” e o “carro-Dick com a excitação sensual, apaixonada
“) visando criar uma relação analítica mesmo, que dele se desprendia, me fez
com o pequeno garoto e tornar possível concluir que essa seria importante no
a análise, tal como fazia com as outras trabalho futuro, para que eu tentasse
crianças tratadas por ela. Ou seja, se o manter o clima analítico e interpretasse,
pequeno paciente não trouxe, a princípio, se quisesse vê-lo conseguir gradualmente
o material clínico usual à interpretação (o distinguir-me de suas ilusões primitivas
jogo e a transferência), Klein se incumbiu e ajudá-lo, dessa forma, a chegar a um
de apresentar o jogo simbólico à criança: acordo com os sentimentos provocados
uma inversão de papéis, em que a analis- pela desilusão [10].
ta propôs o jogo simbólico a ser seguido Tustin relatou que utilizava poucas
pelo pequeno paciente. Nesse sentido, o palavras para interpretar o pequeno John
princípio teórico-clínico deixado por Klein, e que repetia várias vezes a mesma
em sua clínica com as crianças autistas, interpretação, às vezes acompanhadas
foi o de criar um jogo simbólico (com base por gestos. Na nona sessão com John,
nos conhecimentos teóricos do analista) Tustin, ao observar que o garoto utilizava
para propiciar as interpretações usuais repetidamente o pião, interpretou: “... ele
e criar a relação transferencial com o pe- estava usando sua mão para fazer girar
queno paciente, no início do tratamento. o pião Tustin, porque queria sentir que
Na década de 1960, Frances Tustin, psi- John seria Tustin e Tustin seria John. En-
canalista inglesa de formação kleiniana, tão poderia sentir que ficaríamos sempre
iniciou sua clínica com crianças autistas juntos” (p.18). Em uma outra situação,
com o garoto John, quando ele tinha três John retirou uma boneca que representava
anos e sete meses. Em seu primeiro livro, a mãe e começou a girar a conta que servia
Autism and Childhood Psychosis, publica- de fecho à carteira na qual ela apoiava
do em 1972, a autora assim descreveu a mão, fazendo um movimento em tudo
o caso de John na primeira sessão de semelhante ao de rodar o pênis. Depois
tratamento [10]: ele a jogou no chão, dizendo: “embora”.
Tustin, então, fez nova interpretação:
“John intrigou-me com sua quase total ausên-
cia e qualquer forma de expressão: passou “John girava a conta da mamã como se fosse
por mim como se eu não existisse e só no o xixi dele, para sentir que podia ir direitinho
consultório deu mostras de algo um pouco di- para dentro da carteira da mamã, mas isso o
ferente, quando me puxou a mão para o pião, fazia sentirque a mamã era ‘embora’” (p.19).
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mitiu que... o trabalho com uma criança Halil e sua mãe, três vezes por semana,
autista se faz ao avesso da cura analítica a autora também tinha a companhia de
clássica: o objetivo do analista não é o uma residente, a Dra Marie-Annick Se-
de interpretar os fantasmas de um sujei- neschal, encarregada por anotar tudo nas
to no inconsciente já constituído, mas o sessões. As anotações dessa senhora,
de permitir o advento do sujeito. Faz-se segundo Laznik-Penot, foram importantes
aqui intérprete, no sentido de tradutor de não apenas para permitir a transcrição
língua estrangeira e, ao mesmo tempo, das sessões, como também para ajudar
tradutor em relação à criança e aos pais a analista a reter os enunciados da mãe
[12]. de Halil, realizados em uma outra língua:
Ao fazer essa proposição, Laznik- “... tinha necessidade de um indício dos
-Penot trouxe uma outra transformação da significantes da mãe e da criança que,
técnica: no lugar da “interpretação do jogo logo, começou a proferir palavras – uma,
de Klein” e da “interpretação das figuras duas, por vezes três, em uma sessão”.
e objetos autistas de Tustin”, apresentou Nos quatro primeiros meses do tra-
a “técnica de tradução”, dirigida à criança tamento de Halil, Laznik-Penot observou
e aos pais, desde o início do tratamento que ele sempre pegava, do armário, um
psicanalítico com as crianças autistas. brinquedo de encaixe com peças de
Já possuindo experiência com criança plástico. Ele também fazia muito barulho
autista estrangeira, Laznik-Penot recebeu com a porta metálica do armário. Quando
para tratamento psicanalítico o pequeno assim procedia, sua mãe ficava com raiva
Halil, um garoto turco com quase dois e dizia: “Anne atta”, o que significa, “ma-
anos de idade. Com ele, pôde vivenciar o mãe vai embora”. Essa cena se repetiu
“quanto este laço exclusivo com a língua várias vezes. Um certo dia, depois de
do analista vinha separá-lo das fontes fazer o barulho costumeiro, Halil escolheu
vivas dos significantes de seu ambiente um brinquedo de encaixe com peças de
familiar” plástico. Ele o sacudiu e as peças se
Halil já apresentava um quadro nítido soltaram. A mãe retirou o brinquedo das
de autismo infantil, apesar de sua pouca mãos dele e os atarraxou com força para
idade, conforme descrição da analista: que as peças não se soltassem mais –
as peças eram presas por um parafuso.
Ele não apenas não emitia nenhum chama- Halil começou a protestar, jogando vários
mento, nem respondia, como também seus objetos no chão. A mãe retirou a caixa de
olhos estavam sempre baixos, e seu olhar, brinquedos de perto dele, quando, então,
muito oblíquo, quase nunca encontrava Halil avançou para bater na analista e na
alguém. Podia ficar por muito tempo deitado mãe. Naquele momento, Laznik-Penot
no chão, em um canto, contemplando seus traduziu os motivos da raiva de Halil
dedos e suas mãos (p.14). para a mãe: “Trata-se de uma tentativa
de representar a separação, uma sepa-
O enquadre do tratamento de Halil ração que não destrói, já que é possível
foi distinto daquele no qual Dick e John reencontrar-se, como as duas peças do
foram inseridos. Laznik-Penot recebia brinquedo que podem se desparafusar e
não apenas a criança, mas também os se parafusar”. A mãe passou a aceitar
pais dela. Em sessões conjuntas com melhor o comportamento de Halil, ao ver
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Milgram e Atzil [29], também des- entre o grupo da Califórnia (Santa Bárba-
crevem o papel dos pais, que em con- ra e São Diego) e o grupo da Alemanha
traposição às expectativas das mães, foi de 0,931. Para o grupo da Califórnia
consideram justa sua menor participação versus o grupo Apalache (Kentucky, West
nos cuidados gerais da criança, devido ao Virginia e Ohio) a correlação foi de 0,957.
peso de suas responsabilidades financei- Por último, entre o grupo da Alemanha e o
ras e ocupacionais já desempenhadas grupo Apalache a correlação foi de 0,886.
junto à família. Porém, outros estudos Os resultados sugerem a existência de
revelam que estas responsabilidades um perfil característico de estresse para
tendem a acarretar tensão emocional e pais de crianças com autismo, mostrando
financeira significativas, consequente- uma constância relativa entre famílias
mente dificultando a contribuição destes de diferentes localidades geográficas.
para com os cuidados da criança [28-31]. Dentre os itens avaliados, o que mostrou
No início da década de 80, Bristol maior consistência quanto ao estresse
e Schopler [23] relataram os achados em pais e mães foram as preocupações
de uma pesquisa não publicada de Bris- relativas ao bem-estar de seus filhos,
tol, em que reafirmam que o grau de quando os mesmos não puderem mais
dependência, incapacidades cognitivas prover seus cuidados. Estas preocupa-
e as dificuldades nas características de ções subdividem-se em:
comportamento da criança com autismo
resultavam em maior estresse parental. 1) preocupação com o futuro de seu filho;
Conforme Konstantareas e Homatidis 2) dificuldades cognitivas e habilidades
[26], tais dados conduzem mais a tenta- de funcionamento independente da
tivas explicativas do que a informações criança;
conclusivas sobre a questão do estresse 3) aceitação em sua comunidade.
em familiares de sujeitos com autismo.
No início dos anos 1990, levantou-se As relações do casal parental pas-
a hipótese de que pudesse existir um sam por duras provas, alto índice de
padrão particular de áreas que influen- divórcios. Autismo traz às famílias lições
ciasse o estresse em pais de crianças importantes sobre como aprender a
com autismo. Koegel et al. [32] buscaram levar as duras demandas da vida com
explorar melhor este tema. Para avaliar a tolerância e humor. Isso não faz todos
consistência destes padrões de estresse, famílias especiais. O autismo, mais que
50 famílias oriundas de várias regiões ge- um problema que afeta a uma pessoa, é
ográficas dos Estados Unidos e Alemanha um transtorno de incapacidade que afeta
preencheram o QRS - Questionnaire on à toda a família.
Resources and Stress [33], levando em Quando os pais tratam de descrever
conta também o nível de funcionamento o viver com um filho com autismo, usam
(QI) e a idade dos indivíduos (entre 3 e 31 termos bem diferentes como: doloroso, in-
anos). A correlação para mães de crian- cômodo, difícil, normal, complicado, muito
ças com autismo, em cada uma das três satisfatório, faz amadurecer, traumático, e
localidades geográficas, mostrou-se bas- outros muitos. O certo é que cada família,
tante alta e estatisticamente significativa e dentro desta, cada membro da família é
(p < 0,001). O coeficiente de correlação afetado pelo membro autista de maneira
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uma lei não garante infelizmente que os do Brasil em grandes capitais, as turmas
direitos estejam sendo assegurados na especiais oferecem apenas 50 minutos
prática do dia-a-dia. diários de atividades, com professores
Os preceitos constitucionais deter- especializados em educação inclusiva.
minam que o direito à educação das Já nas escolas privadas esse trabalho
pessoas portadoras de deficiência deverá é quase inexistente e em algumas total-
ser garantido pelo Estado, conforme o Art. mente nulo.
208, que diz que o dever do Estado com Para os pais que buscam uma escola
a Educação será efetivado mediante a ga- privada esbarram em outro grande buraco
rantia de, em seu inciso III, atendimento negro: existem poucos centros de reabili-
educacional especializado aos portadores tação para autistas em nossas grandes
de deficiência, preferencialmente na rede capitais, em contratos os valores sempre
regular de ensino. são muito altos e as famílias passam
Esse direito é ratificado em vários por muitas limitações para conseguirem
outros documentos como a Lei de Diretri- manter a aquele filho em um espaço
zes e Bases da Educação nº. 9395/96, adequado a sua condição.
a Declaração de Salamanca, bem como Além das aulas na escola regular a
o Parecer 17/2001 e Resolução N. 2 do criança precisa de sessões de fonoaudio-
Conselho Nacional de Educação, entre logia, responsáveis pela dicção, de psico-
tantos outros que poderiam ser citados pedagogia, para exercitar as habilidades
aqui, inclusive alguns Documentos de cognitivas e de sessões de psicoterapia
importância Internacional. Consideran- familiar e muitas vezes praticar algum
do não ser nosso objetivo analisar a esporte e como a natação que costuma
legislação e sim, desafiar e pontuar as ser o mais indicado. Para estimular a con-
necessidades que emergem a cada dia centração ainda é importante ter aulas de
da escola no processo da inclusão, reto- música em casa com professor particular
mamos nosso pensar sobre a questão em
nosso país, que infelizmente, foi elabo- Autismo tem cura?
rada e começou a “valer” antes mesmo
do importante processo de estudos das Profissionais do Serviço de Neurolo-
realidades regionais e das democráticas gia do Instituto Fernandes Figueira, uma
discussões em diversas estâncias da unidade da Fundação Oswaldo Cruz, pre-
sociedade. tendem mudar a forma de diagnosticar o
Depois de aceitar o diagnóstico e autismo, que atualmente é feito a partir
reconhecer as limitações da criança os da observação clínica de comportamento.
pais entram em outro stresse que seria O objetivo é desenvolver uma forma de
chamado de inclusão escolar bem di- detectar precocemente a doença.
ferente dos portadores da síndrome de Para isso, entre 2002 e 2003, eles
Down. Os autistas são frequentemente acompanharam 13 crianças autistas e
confundidos com portadores de outros 16 normais, do sexo masculino, entre 6
transtornos, como a esquizofrenia. A e 14 anos. Elas foram submetidas à es-
maioria das escolas, até as particulares, timulação luminosa rítmica, enquanto as
recusa a matrícula, contrariando um direi- respostas eram captadas por eletrodos
to constitucional. Nas escolas públicas aplicados em suas cabeças.
210 Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011
as respostas dos neurônios pela frequên- não falam nada com demora do diagnós-
cia e determinar a área, ainda que não tico para uma atuação terapêutica eficaz,
tão precisa, afetada no cérebro. dificilmente desenvolverão a linguagem.
Segundo Pontes, o autismo não Uma grande forma de constatação é
pode ser encarado como uma raridade. perceber a diferença desse bebê ainda
A prevalência da doença é de um caso a nos primeiros meses de vida. Os autistas
cada mil habitantes, o que a torna relati- apresentam uma disfunção principalmente
vamente frequente. O pesquisador traba- no hemisfério direito do cérebro, respon-
lha com a definição de autismo utilizada sável pelas emoções e o convívio social.
na Academia Americana de Neurologia e
pelo Manual de diagnóstico e estatística “Eles vêem as pessoas fazendo as
das perturbações mentais (DSM IV), que coisas,mas os gestos e a linguagem não fa-
caracteriza a enfermidade por prejuízos zem sentido. A subjetividade da entonação de
nas habilidades de interação social, co- um frase, por exemplo, que para nós parece
municação, comportamentos repetitivos, simples, eles não são capazes de reconhe-
interesses e atividades restritas. cer”. Pontes A. 2010
O espectro de autismo viria das for-
mas mais leves até as gravíssimas. Os Como o cérebro das crianças tem
autistas não têm pragmática, uso social mais facilidade de se recuperar, o diag-
da linguagem. Não dá para manter um nóstico precoce seguido pelo tratamento
diálogo com eles porque lhes falta a pode fazer que elas conquistem elemen-
intersubjetividade de perceber o outro. tos para seguir uma vida próxima do
Esses são aspectos sócio-emocionais normal.
relacionados ao hemisfério direito do cé- Surgem assim, exemplos recorrentes
rebro. Além disso, 75% dos pacientes têm de autistas que são, por sua objetivida-
retardo mental”, explica o pesquisador. de, experts em ciências exatas, como a
Pontes coloca a medicina como uma matemática, e conseguem até chegar à
procura constante de provas definitiva. universidade. Infelizmente, esse é um
Além disso, o diagnóstico tardio é da- grupo muito pequeno. Devido à forma
noso tanto para a criança quanto para a precária de diagnóstico e tratamento no
família, Quanto mais cedo o diagnóstico, país tão grande como o Brasil.
melhor. O que buscamos é detectar logo
no primeiro ano de vida. O ideal é antes Conclusão
dos 3 anos, quando o tratamento produz
resultados melhores. A criança que chega O impacto da criança portadora de au-
depois dos 5anos tem um prognóstico tismo na família tem sido foco de investi-
diferente. Assim é de suma importância gações há quase três décadas, revelando
trabalhar na busca rápida do prognóstico intenso interesse científico pelo tema. As
e adaptar a relação parental o quanto pesquisas que inicialmente enfatizavam
antes para a nova realidade desse grupo os efeitos dos pais sobre a criança, pas-
familiar. saram a estudar os efeitos da criança
De um modo geral, quando mais com Autismo sobre os pais. De acordo
tardio, maiores serão os obstáculos a com esta mudança, estudos atuais têm
serem vencido e para aquelas que ainda considerado aspectos como a natureza
212 Neurociências • Volume 7 • Nº 3 • julho/setembro de 2011
Eventos
2012
Abril www.congressoconvergencia.com
12 a 14 de abril Julho
IX Congresso da Associação Latino-Americana 7 a 9 de julho
de Psicoterapias Cognitivas (ALAPCO) International Symposium on Ion Channels
Rio de Janeiro, RJ Valencia, Espanha
Informações: (21) 2178-2515,
http://migre.me/70GPm 9 a 20 de julho
II Curso de Inverno em Neurologia e Neuroci-
16 a 18 de abril ências FMRP-USP (CIneuro2012)
I Encontro Brasileiro de Psicanálise e Sedução Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP
Generalizada “Sofrimento Psíquico” Informações: http://neurorede.com/index.php/
Maringá, PR Eventos/events/viewevent.html?eventid=55
Informações: (44) 3011 4291/3011 3871,
www.ppi.uem.br 14 a 18 de julho
8th FENS Forum Neuroscience - Barcelona
20 e 21 de abril Barcelona, Espanha
IV Congresso Paulista de Psicossomática
São Paulo, SP 25 a 28 de junho
Informações: (11) 3188-4281, X Congresso de Terapia de Família
www.apm.org.br/congressopsicossomatica Curitiba, PR
Informações: (51) 3395-5222,
22 a 28 de abril www.abratef.org.br/congresso2012
LXIV American Neurology Annual Meeting
New Orleans, Louisiana Agosto
Informações: memberservices@aan.com 4 a 8 de agosto
Maio XXV Congresso Brasileiro de Neurologia
Goiânia, GO
2 a 5 de maio Informações: (62) 3086-9217,
VIII Congresso Brasileiro de Cérebro, Compor- www.neurogoiania2012.com.br
tamento e Emoções
São Paulo, SP Setembro
Informações: (51) 3028 3878, 7 a 12 de setembro
www.cbcce.com.br XXXIX Congresso Brasileiro de Neurocirurgia
4 e 5 de maio Rio de Janeiro, RJ
II Jornada de Psicanálise da Criança e do Informações: (11) 3051-6075,
Adolescente www.neurocirurgia2012.com.br
São Paulo, SP 19 a 22 de setembro
Informações: (11) 2125-3701, VI Congresso Latino-Americano de Psicolo-
www.sbpsp.org.br gia Junguiana
23 a 26 de maio Florianópolis, SC
II Jornada de Terapias Cognitivo-Comporta- Informações: (11) 5012-7966,
mentais www.clapj.com.br
Ribeirão Preto, SP Outubro
Informações: (16) 3602 3838, 10 a 13 de outubro
http://sites.ffclrp.usp.br/lapicc/ XXX Congresso Brasileiro de Psiquiatria
28 a 30 de maio Natal, RN
VII Congreso Argentino de Salud Mental “Diag- Informações: (21) 2199-7500,
nostico o estigma? Encrucijadas eticas” www.cbpabp.org.br
Buenos Aires, Argentina 11 a 14 de outubro
Informações: administracion@aasm.org.ar XI Congresso Brasileiro de Psicologia Hos-
Junho pitalar
7 a 10 de junho São Paulo, SP
XIX Congresso do Círculo Brasileiro de Psica- Informações: (11) 4485-0407,
nálise www.psicoexistencial.com.br
Recife, PE Novembro
Informações: (81) 3242-2352, www.cbp.org.br 24 e 25 de novembro
22 a 24 de junho XIX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano
V Congresso Internacional de Convergência – Salvador, BA
O Ato Psicanalítico: Suas Incidências Clínicas, Informações: (71) 3235-0080, www.ebp.org.br
Políticas e Sociais
Porto Alegre, RS
Informações: info@congressoconvergencia.com,