Idade Média pode-se resumir na discussão medieval dos universais.
Referências: a) Isagogé de Porfírio. b) Comentários à Isagogé de Boécio.
c) Posições: Realismo e nominalismo.
O debate dos universais tinha como motivação a fundamentação dogmática do pecado original, da Santíssima Trindade e das naturezas de Cristo. 1. PORFÍRIO DE TIRO (234-309)
Seus comentários às Categorias de
Aristóteles suscitarão o debate sobre os universais em toda a Idade Média. A sua obra foi comentada Isagoge foi comentada por Boécio, pondo em debate o problema da linguagem: Nomes x coisas. Na Isagoge, Porfírio apresenta uma síntese didática das categorias de Aristóteles. A análise dessas categorias levou ao problema da relação entre nomes e coisas. Antes de mais, no que tange aos gêneros e às espécies, acerca da questão de saber (1) se são realidades subsistentes em si mesmas ou se consistem apenas em simples conceitos mentais, (2) ou, admitindo que sejam realidades subsistentes, se são corpóreas ou incorpóreas, e, (3) neste último caso, se são separadas ou se existem nas coisas sensíveis e dependem delas (PORFÍRIO apud SANTOS, 2011, p. 17). O problema dos universais girou em torno das duas posturas:
1) os universais são entes reais; (?)
2) são apenas nomes e noções do intelecto. (?)
Boécio será o primeiro no contexto medieval a
retormar esse assunto e abrir uma longa discussão. 2. A posição de Severino Boécio
Na obra Comentários a Isagogé de Porfírio,
ele ensaia uma solução para os universais. Boécio (480-527) não vacila a responder que os universais são entes reais. Eles são incorpóreos visto que são predicáveis a vários objetos. I - ARGUMENTOS CONTRA OS UNIVERSAIS
A) Uma coisa que está presente em muitas
outras não pode ser a mesma coisa. B) Se os gêneros e as espécies existissem, eles não formariam uma só coisa. I I - ARGUMENTOS A FAVOR DOS UNIVERSAIS
A) A intelecção não depende somente da
representação da mente, mas também da natureza das coisas. Severino Boécio
Outra q uestão: se eles estão fora das
coisas (ante rem) ou dentro das coisas (in re)? Segundo Boécio, realmente existentes são os objetos concretos, nos quais estão contidos os universais. Os universais são inseparáveis dos objetos. A mente os separa por abstração. Os universais são essências reais imanentes aos objetos concretos. Depois de uma versão aristotélica, Boécio assume também uma posição platônica, ao considerar os universais como ideias de Deus. 3. Século XI: Novo debate
Referências: Pedro Abelardo e Guilherme
Champeaux. Segundo Abelardo, se houvesse realmente uma substância humana, então, ela deveria estar inteiramente em Sócrates e em Platão. Logo, eles seriam idênticos. Nominalismo extremo: reconhece apenas o indivíduo, a coisa concreta. Os universais são apenas nomes. Segundo Abelardo, os termos gerais não podem ser coisas (res), porque a sua função lógica é serem predicados da proposição. Abelardo assume o nominalismo como conceitualismo. Para Abelardo, os universais não são simplesmente nomes, são noções. Essas noções são conteúdo do pensamento e possuem significados lógicos. Roscelino de Compiègne, mestre de Abelardo, assumiu o nominalismo chamado de verbalismo. Guilherme de Champeaux (1070-1121) assumiu o realismo extremo. 4. Século XIV: Guilherme de Ockham Referências: Guilherme de Ockham. Posição: Nominalismo extremo. Guilherme de Ockham (1287-1347) também considerava que os universais não tinham existência real. Os universais são criações mentais com a função de significar, de constituir proposições. As proposições usam termos que substituem os objetos: Suppositio materialis – quando o termo significa a palavra que o constitui. Por exemplo: "homem é uma palavra". Suppositio personalis – nesse caso, o termo exerce a função de significar coisas reais. Por exemplo: "o homem canta". O termo "homem", nesse caso, designa uma pessoa individual. Suppositio simplex: o termo significa algo comum. Por exemplo: "o homem é uma espécie". Aqui, o "homem“ não significa um indivíduo, mas uma comunidade (p. 78). REFERÊNCIAS: FREGE, Gottlob. Sobre o sentido e a referência. In: FREGE, Gottlob. Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Edusp, 2009.
COSTA, Cláudio. Filosofia da linguagem. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.