Você está na página 1de 35

HUMANISMO Letícia Coleone Pires

Era medieval

Primeira época: Segunda época


trovadorismo (séc. (séc. XV e início do
XII a XIV) séc. XVI)

Lírica: Cantigas de Poesia palaciana:


amigo e de amor Cancioneiro Geral, de
Poesia Satírica: Cantigas de
Garcia de Resende

escárnio e de maldizer

Prosa Novelas de cavalaria


Hagiografias
Crônicas de Fernão
Lopes

Teatro Mistérios, milagres,


moralidades, autos.
O tetro leigo de Gil
Vicente.
O JARDIM DAS DELÍCIAS
TERRENA, DE
HIERONYMUS BOSCH, 1500
- 1505
O QUE É O
HUMANISMO?
• Um sentido amplo
- qualquer conjunto de ideias que valoriza o ser humano em
sua existência.

-PERÍODO DE TRANSIÇÃO entre a cultura medieval e o


Renascimento.
- coexistência entre elementos típico do teocentrismo e o
antropocentrismo.

• Impulsionou a racionalidade e a postura crítica.


• Remontam à Itália do século XIV

• Francesco Petrarca e Dante Alighieri,


incentivaram o interesse pela cultura
clássica.

ORIGE • Independência de ideias em relação à


M visão defendida pela Igreja.

• Os humanistas – colocam o ser


humano no centro de sus reflexões ----
antropocentrismo.
• Desenvolvimento dos idiomas vernáculos, isto
é, dos idiomas nacionais.
- Produção nas línguas modernas
- Publicação de grandes obras literários e,
também, de gramáticas.
-Criou a medida nova --- versos decassílabos.

A -O protagonista do livro A Divina Comédia é o


DIVINA próprio poeta Dante Alighieri que percorre uma
viagem entre três instâncias completamente
COMÉ distintas: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. É
basicamente a história da conversão de um
DIA, pecador ao caminho de Deus. Os versos
sublinham a necessidade de se seguir o caminho

DANTE do bem e da ética.


- O poema possui três personagens principais:
ALIGHI Dante, o protagonista que personifica o homem;
Beatriz, que representa a fé;
ERI Virgílio, que pode ser considerado o símbolo da
razão.

https://www.youtube.com/watch?v=cyQaeVcAfv
I
A cultura do Humanismo impulsionou a racionalidade e a postura
crítica. Na obra A Divina Comédia, por exemplo, Dante Alighieri
imagina papas e padres sendo castigados eternamente no inferno.
Isso não implica que ele fosse contrário à Igreja ou à religião. Na
verdade, como humanista, Dante acreditava que a Igreja era santa
em seus ideais; mas ele tinha, também, plena consciência de que a
Igreja é formada por seres humanos, e que esses são falíveis e
pecadores. Desse modo, Dante não era revolucionário: ele queria
mostrar que os seres humanos (independentemente da posição
social) estão sujeitos ao castigo divino se não agirem de acordo
com a moralidade cristã.
DANTE E SEUS POEMAS, TELA
PINTADA POR DOMENICO DI
MICHELINO EM 1460.
• Soneto italiano: é uma forma fixa, que consiste de 4
estrofes, disposta da seguinte forma: a primeira e a
segunda, com 4 versos; a terceira e a quarta, com 3
versos.

- Amor platônico espiritualizado por Laura.

Se a minha vida do áspero tormento


E tanto afã puder se defender,
Que por força da idade eu chegue a ver
CANCIONE Da luz do vosso olhar o embaciamento,
 
IRO, E o áureo cabelo se tornar de argento,
PETRARCA E os verdes véus e adornos desprender,
E o rosto, que eu adoro, empalecer,
Que em lamentar me faz medroso e lento,
 
E tanta audácia há de me dar o Amor,
Que vos direi dos martírios que guardo,
Dos anos, dias, horas o amargor.
 
Se o tempo é contra este querer em que ardo,
Que não o seja tal que à minha dor
Negue o socorro de um suspiro tardo.
 
• Obra de narrativas curtas e picantes, que
retratavam criticamente a realidade cotidiana.

DECAMER •É um romance que fala sobre 7 mulheres e 3


homens que decidem fugir da peste que
ON, assolava a cidade de Florença, na Itália, no ano
de 1348. Os 10 partem juntos para uma casa
BOCCACC de campo, onde ficam por 10 dias, a fim de se
IO proteger das doenças e celebrar a vida. Todos
os dias, cada um dos integrantes do grupo
contava uma história e os relatos giravam em
torno das paixões, sexo, infidelidades, enfim,
tudo o que havia de proibido e pecaminoso na
sociedade medieval.
CONTEXTO
HISTÓRICO
•No final da Idade Média a estrutura feudal,
desgastada, começou a dar lugar a uma nova ordem
social, econômica, política e cultural. Todas essas
transformações trouxeram mudanças no modo de
pensar de muitas pessoas, principalmente as mais
ricas que residiam nas grandes cidades. Nesse
contexto desenvolveram-se movimentos de caráter
intelectual, científico e artístico.
•Declínio da organização feudal
•Mercantilismo
•Ascensão da Burguesia
•Grandes Navegações
•Renascimento Cultural
• Homem como medida para todas as coisas 
•Consolidação de Portugal como Estado moderno ---- Revolução de
Avis
•Invenção da imprensa mecânica de Gutenberg – livros deixam de ser
manuscritos e passam a ser reproduzidos em grande número.
• Início do século XV

• Expansionismo marítimo

HUMAN
ISMO • Cancioneiro geral: publicado por
Garcia de Resende, em 1516.
EM - Textos escritos em português.
PORTU
GAL • Expressão de uma nobreza ociosa
que perdia seus privilégios feudais e
se tornava cortesã (dependente da
coroa)
PRINCIPAIS
MANIFESTAÇÕES
• Poesia palaciana: maior elaboração do que as cantigas, uso de
redondilhas, de ambiguidade, aliterações e figuras de linguagem
-Pode apresentar tanto certa sensualidade intimidade em relação à
mulher amada, como também uma visão idealizada e platônica de
mulher.
Uma coletânea de poesias chamada Cancioneiro Geral reuniu
2865 autores e foi publicada em 1516. Essa organização foi
realizada pelo poeta português Garcia Resende (1482-1536).
Os principais temas presentes nesse tipo de produção eram os
costumes da corte, temas religiosos, satíricos, líricos e heroicos.
Cantiga, partindo-se (João Roiz de Castelo-Branco)
 
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes 
outros nenhuns por ninguém.
 
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes,


tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Meu amor tanto vos quero,
que deseja o coração
mil cousas contra a razão.
Porque, se vos não quisesse,
como poderia ter
desejo que me viesse
do que nunca pode ser?
Mas conquanto desespero,
e em mim tanta afeição,
que deseja o coração.
(Aires Teles)
• Prosa historiográfica: são crônicas históricas,
voltadas para os acontecimentos de Portugal.

-Fernão Lopes: conciliar as técnicas narrativas com


certa imparcialidade no tratamento dos fatos
históricos.
- Suas obras foram: Crônica de El-Rei D. Pedro
(1434); Crônica de El-Rei D. Fernando (1436);
Crônica de El-Rei D. João I (1443).

-Atribui ao povo importância no processo de


mudança políticas do país.
- Deixou de lado o método consagrado de louvar
cegamente os monarcas, para apresentar várias
versões de um mesmo fato histórico e, também,
mostrar a participação do povo no eventos nacionais.

•Características literárias das crônicas:


• Caráter épico dos temas
• Clima de suspense
• Poder plástico da linguagem
• Dramaticidade (diálogos cheios de tensão)
• Considerado o “pai da prosa portuguesa”
• Teatro: durante a primeira época medieval, o
teatro esteve ligado à Igreja e quase sempre era
realizado em datas religiosas.
-Gil Vicente: teatro leigo, praticado fora da Igreja.
- Processo de laicização da cultura portuguesa.
GIL VICENTE
BIOGRAFIA
Em 1502, Gil Vicente irrompeu na câmara da
Rainha D. Maria de Castela interpretando um
pequeno texto dramático, o Monólogo do
vaqueiro. A peça foi bem recebida, e logo o seu
autor e intérprete foi convidado a participar de
outras festividades do reino.
Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se: O
velho da horta (1512), Trilogia das barcas (1517-
1519), Farsa de Inês Pereira (1523) e Auto da
Lusitânia (1532).
Pai do teatro português
Após o começo de Inquisição não se tem mais
notícia do autor.
• Na Idade Média eram encenados Milagres (peças que
geralmente terminavam com a intervenção da Virgem Maria)
ou Mistérios (passagens da vida de Jesus).

• Gil Vicente escreveu:


-Autos: peça breve com temática religiosa, enredo de caráter
alegórico, pois encenam princípios éticos. É uma forma de
explicar, de maneira leve, valores morais ou religiosos.
-Farsas: peça abertamente cômica, explora o humor em cenas
grotescas, caricatas ou ridícula.
• Tinha para si um missão moralizante e
reformadora, ensinar valores.

•Embora tenha escrito peças de fundo


religioso, elas não almejavam difundir a
religião.
A
OBRA • Crítica conservadora
• Não visava atingir as instituições, mas as
pessoas inescrupulosas que as
compunham.
• Seu objetivo era demonstrar como o ser
humano, independentemente de classe,
social, raça, sexo e religião, é corruptível.
• Alegorias *

•Uso do maniqueísmo (céu/ inferno, anjo/ diabo).

• Ridendo castigt mores: por meio do riso os maus costumes


são castigados.

• Linguagem: registrou diversas variantes linguísticas, as


personagens se expressam de acordo com sua posição social.
• Teatro poético escrito em versos redondilhas menores e
maiores agrupados em estrofes rimadas
Quanto à ação dramática:
 Peças de enredo: histórias de ação contínua , com
começo, meio e fim. O desfecho pode ser cômico
(farsa, de origem popular) ou lírico (auto cavalheiresco
de assunto cortesão: “D. Duardos”)

 Peças de ação fragmentária descontínua: não há


enredo, ou ele é tênue, as cenas transcorrem por
sucessão, sem relação de causalidade, composição
formada por quadros (sketches) independentes,
variações do mesmo tema: “Auto da barca do inferno”
AS PERSONAGENS
VICENTINAS
• Personagem tipo: concretizam o comportamento típico de um
determinado grupo social, isso pode ser acentuado por meio de
elementos concretos como roupas, objetos...

• Personagem alegórico: representam abstrações, ideias, conceitos.


Anjos, por exemplo, estão ligados ao conceito de Bem.

•Suas obras tinham caráter didático, propagar conceitos como


Pecado e Graça, Perdão e Condenação.
Todo mundo e Ninguém – Gil Vicente
Ninguém: Que andas tu aí buscando?
Todo mundo: Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.
Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.
Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Belzebu: Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.
Dinato: Que escreverei, companheiro?
Belzebu: Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro.
AUTO DA BARCA
DO INFERNO
(1517)
• O julgamento das almas após a morte.

• Duas barcas a do Anjo e a do Diabo.

• As almas trazem marcas evidentes de sua


conduta terrena.

• Por exemplo: nobre arrogante, juiz corrupto,

• Únicos que se salvam: os cruzados e um parvo


Fidalgo: um manto e pajem (criado) que transporta uma cadeira de espaldas(costas altas). Estes elementos
simbolizam a opressão dos mais fortes, a tirania e a presunção do moço.

Onzeneiro: bolsão. Este elemento simboliza o apego ao dinheiro, a ambição, a ganância e a usura.

Parvo: não traz símbolos cénicos, pois tudo o que fez na vida não foi por maldade. Esta personagem
representa a inocência e a ingenuidade.

Sapateiro: avental e formas de sapateiro. Estes elementos simbolizam a exploração interesseira, da classe
burguesa comercial.

Frade: uma Moça (Florença), uma espada, um escudo, um capacete e o seu hábito. Estes elementos
representam a vida mundana(dada aos prazeres do mundo) do clero, e a dissolução dos seus costumes.

Alcoviteira: hímenes postiços, arcas de feitiços, armários de mentir, furtos alheios, jóias de seduzir,
guarda-roupa de encobrir, casa movediça, estrado de cortiça, coxins e moças. Estes elementos
representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro e a sua actividade de alcoviteira
ligada à prostituição.

Judeu: bode. Este elemento simboliza a rejeição à fé cristã, pois o bode é o simbolo do Judaísmo.

Corregedor e Procurador: processos, vara da Justiça e livros. Estes elementos simbolizam a


magistratura.

Enforcado: "baraço" (a corda com que fora enforcado) ao pescoço. Este elemento representa a sua vida
terrena vil e corruptível.

Quatro Cavaleiros: cruz de Cristo, que simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica.
As personagens representam tipos da sociedade
portuguesa ( o Fidalgo, o Frade, o Judeu...), elas
também encarnam valores morais (Fidalgo -
opressão, Frade – hipocrisia, Judeu – crença
herética).

Representam a lição católica da glorificação dos


virtuoso e condenação dos pecadores.

Teocentrismo (a moralidade, oposição pecado e


salvação, fé católica) + antropocentrismo (o interesse
pela sociedade humana, elogio do livre-arbítrio)

OBS: Teve duas continuações: o Auto da Barca do


Purgatório e o Auto da Barca da Glória. Formando
assim a Trilogia das barcas.
Muito além de um simples moralizador, Gil Vicente satiriza as
paixões da natureza humana, também previstas pelo projeto
divino.

Com efeito, o dramaturgo não se preocupa apenas em converter


ou moralizar.

As rimas, as agudezas, as metáforas, os trocadilhos, as


ambiguidades, os paradoxos, os símbolos, os balanços rítmicos
— tudo isso conduz ao universo das composições imortais
“FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã:
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Som cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu,
DIABO Fezestes bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...”
•Diz a tradição que alguns sábios
portugueses duvidaram de que Gil Vicente
fosse o verdadeiro autor de suas obras. O
dramaturgo, insultado, desafiou-os a

FARSA propor-lhe um tema, qualquer que fosse,


para uma peça. Eles então propuseram o

DE ditado popular “mais quero um asno que


me carregue, que um cavalo que me

INÊS derrube”. Dessa provocação teria nascido


a Farsa de Inês Pereira.

PEREIR
A (1523) • Inês: plebeia
• Brás da Mata: escudeiro
• Pero Marques: homem rude, inocente e
abastado.
Inês era uma moça plebeia que sonhava em se casar com um homem de
hábitos elegantes, como os nobres. Para se casar com o escudeiro Brás da
Mata, ela desdenhou de uma proposta de casamento feita por Pero Marques,
homem rude e inocente, porém abastado. Acreditava que levaria com o
escudeiro uma vida de ócio e divertimentos. Mas o marido revelou-se perverso:
deixou Inês enclausurada e partiu para uma guerra distante, onde morreu de
forma covarde, fugindo de uma batalha. Viúva, ela alegremente aceitou nova
proposta de casamento feita por Pero Marques. Passou, então, a levar uma
vida folgada e feliz, encontrando-se, às escondidas com um antigo namorado.

INÊS – Andar! Pero Marques seja!


Quero tomar por esposo
Quem se tenha por ditoso
De cada vez que me veja.
Por usar de siso mero
Asno que me leve quero
E não cavalo folão
Antes lebre que leão,
Antes lavrador que Nero.

Você também pode gostar