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Papel das instituições

tradicionais
O Papel das Estruturas Tradicionais e suas
Influências na Administração Pública

• A Autoridade tradicional é uma instituição sócio-política


tradicional que faz parte da cultura e tradição africana. A
Autoridade Tradicional inclui os chefes tradicionais, os
curandeiros, os adivinhos, os ervanários, os oficiantes de
rituais e os transmissores de cultura. A chefia tradicional é
mais notória nas zonas rurais e ele é responsável pelo
território linhageiro (CUEHELA).
• A autoridade tradicional possui uma legitimidade que lhe é
dada pela comunidade, e somente pela comunidade. Só a
comunidade pode-lhe retirar esta legitimidade, segundo a
tradição. Aqueles que assumem o poder tradicional tornam-
se chefes legítimos porque, simbolicamente, estabelecem
uma relação entre os vivos e os mortos.
• São os Chefes Tradicionais que, por simbolismo, presidem ou
solicitam as cerimónias que reforçam e tornam mais legítima
a sua autoridade.
• A estrutura tradicional muitas vezes funcionam
com Leis não escritas, que se chama de Direito
Consuetudinário, que vem da prática ou da
experiência tradicional, e tem muita força ou
validade nas comunidades rurais. Ele está
baseado na tradição.
• Na maioria das comunidades moçambicanas, o Direito
costumeiro é o mais funcional e prático. Assume,
muitas vezes, um lugar de igualdade com Direito
Moderno. Aliás, o Direito Consuetudinário ou
costumeiro é, em muitos países, como na Inglaterra, a
base para a elaboração de Leis escritas, porque ele
reflecte as normas e regras específicas de cada
comunidade Idem.
• São as autoridades tradicionais a quem se reserva o
direito de solicitar, realizar ou dirigir cerimónias. As
cerimónias são práticas que contribuem para a
manutenção do equilíbrio nas comunidades. As
cerimónias variam no tipo e na forma da sua
realização. Cada linhagem ou família pode realizar
cerimónias, fazendo seus cultos
• específicos mas quando o assunto é do interesse do
território linhageiro, este direito cabe ao chefe da linhagem
real. Para a realização e direcção de cerimónias a condição
principal é a legitimidade, porque sem ela, nenhuma
cerimónia pode ter validade ou surtir efeito, segundo a
tradição.
• Portanto, o mais importante não são os resultados dessas
cerimónias, mas sim o seu significado simbólico para as
comunidades.
• Entre outros deveres, os Chefes Tradicionais devem velar
pelo bom ambiente e harmonia da comunidade; velar pelos
limites do território linhageiro; intervir na resolução de
certos conflitos da comunidade, quando não tenham solução
nos níveis familiares e linhageiro;
• promover e orientar cerimónias de interesse geral da
comunidade; requerer a colaboração do concelho de
anciãos; assegurar que a terra seja património da
comunidade, um bem de todos para o uso de todos.
• Em qualquer sociedade, encontramos mudanças, havendo
elementos culturais que se perdem e outros que persistem e
continuam. Isso caracterizou igualmente a autoridade
tradicional, em cada fase de desenvolvimento social, cultural
e económico das comunidades e do Estado. Nesta
conformidade, pelas mudanças sociais dentro da sociedade
africana, e principalmente pelo colonialismo, a autoridade
tradicional viu alterado o seu mecanismo de inserção na
comunidade, quando passou a colaborar com as autoridades
coloniais.
• Os Chefes Tradicionais, voluntária ou
involuntariamente, passaram a trabalhar para a
Administração colonial e transformaram-se em
subalternos do regime colonial, uma espécie de
auxiliares da Administração, fazendo a ligação entre a
Administração colonial e a comunidade e passaram a
usar a designação de Régulos.
• Este processo de colaboração das autoridades tradicionais
com o regime colonial é deliberadamente designado de
instrumentalização, porque efectivamente muitos Chefes
Tradicionais passaram a perder aquele prestígio que as
comunidades lhes conferiam. ibidem
• Aparentemente, não há diferença entre Chefe Tradicional e Régulo,
uma vez que eles são pessoas locais que assumem um poder
tradicional dentro das comunidades. A diferença maior está na
legitimidade e na legalidade do poder de um e do outro. Quem
confere legitimidade ao Chefe Tradicional é a própria comunidade.
Quem confere a legalidade ao Régulo era a administração colonial.
• Um verdadeiro Chefe Tradicional tem a colaboração de um Concelho
de anciãos e de outros membros da elite da autoridade tradicional
mas os Régulos rodeavam-se por corpo de polícias locais (os Cipaios e
Cabos de Terra), chefes de grupos e de povoações e isto não fazia
parte da tradição; daí muitas vezes, a sua violência de conduta, e não
aceitação das suas acções pelos membros da comunidade.
• Os Chefes Tradicionais foram relegados a um plano secundário depois
da Independência, ou seja, perderam o elo de ligação com a
Administração. Alguns ex-Régulos foram mesmo perseguidos devido a
sua ligação com a opressão às comunidades.
• Quando eclode a guerra dos 16 anos, uma das partes da contenda,
usou os Régulos de forma a melhor poder dominar o seu adversário,
reconhecido que é o papel destes na mobilização das comunidades.
• Hoje, depois de estudos efectuados, concluiu-se por bem fazer uma
reflexão mais profunda e entender que de facto o papel do Chefe
Tradicional é de líder comunitário e papel do Régulo foi uma criação
da Administração colonial. Já existem dispositivos legais que
valorizam o papel da estrutura tradicional na dinamização das
comunidades e em várias outras actividades de carácter público com
vista a criação de uma harmonia dentro das comunidades.
• Actualmente a autoridade tradicional é reconhecida pelos
vários dispositivos legais em Moçambique, contribuindo
desta forma para a dinamização das relações entre estes e as
comunidades.
• As estruturas tradicionais complementam as actividades da
Administração Pública na medida em que estas procuram
dentro do seus territórios satisfazer as necessidades das
comunidades.

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