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Conflitos de identidades entre

os comunitários de Vila
Franca/Arapiuns
Autor: Reinaldo dos Santos Araújo – discente de História
Co-autor: Diego Marinho de Gois - orientador
Comunidade de Vila Franca - Arapiuns
Localizada na ponta dos Rios Tapajós e
Arapiuns, nas coordenadas 55o 1'
32,64"W 2o 20' 43,64"S, situa-se entre
as comunidades de Maripá, no rio
Tapajós (rio abaixo) e de Vila do Anã
(rio acima), já no Rio Arapiuns A VILA
FRANCA é considerada um ponto
estratégico para quem navega nas
majestosas águas desses dois rios.

A comunidade de “VILA FRANCA, é um


Fonte da Imagem: Google Map
dos pontos mais importantes da RESEX.
Fonte: Reinaldo Araújo
Comunidade de Vila Franca - Arapiuns

As casas, os espaços sociais e igrejas da Comunidade ficam de frente para o Rio Tapajós,
enquanto seus fundos, já no Rio Arapiuns, serve de porto seguro para as embarcações

Na área de Vila Franca residem 74 famílias, somando 298 pessoas no total.

O acesso à Vila Franca é garantido por barcos de linha, que fazem o percurso até
Santarém, tendo um preço de R$30,00 a passagem. Por ser geograficamente situada bem
de frente com a VILA DE ALTER DO CHÃO, pode-se fazer uma rápida travessia das águas
turbulentas dos rios em rabetas, bajaras e lanchas, o que reduz o tempo de navegação
Objetivos
• Objetivo geral
Compreender as dinâmicas que colaboraram para choques e
desentendimentos na Comunidade/Aldeia de Vila Franca, em face
de auto declarações indígenas e não indígenas.
• Objetivos específicos
Analisar os discursos que reverberam em ações discriminatórias e
estereotipadas na Vila Franca/Arapiuns;
Pesquisar as divergências étnicas dentro da Vila Franca que
deflagraram a divisão de Indígenas e não Indígenas.
Relatar os diálogos históricos que combinaram para discriminações
e etnogêneses indígenas
Problemática
➢ Por que houve uma separação na comunidade entre Indígenas e não
indígenas?

➢ Quais os impactos sociais que ocorreram na comunidade/aldeia?

➢ De acordo com as conversas orais esses discursos continuam latentes?

➢ Passado os conflitos maiores sobre a divisão da comunidade, e a


instituição de auto declarações pode-se dizer que a comunidade indígena
da Vila Franca, ressurgiu fortalecida?
METODOLOGIA DA PESQUISA
A metodologia usada para realizar a pesquisa foi de cunho
bibliográfico e de campo ocorridas através de entrevistas orais, no dia
11/06/2022, ouvidas 07 pessoas entre indígenas e não indígenas com
a finalidade de analisar as memórias em torno de disputas por
espaço, recursos e identidades entre indígenas e não indígenas, tendo
como campo de investigação o contexto de Vila Franca no rio
Arapiuns.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• Revisão historiográfica
O aporte historiográfico para esse texto foi formado com base em
conceitos de etnogênese de Oliveira (2010), Vaz Filho (2010), Peixoto,
Arenz e Figueiredo (2012), Identidades étnica, de Cunha (2018)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
[...]vai enraizar na cabeça do seu neto de que ser índio é feio – Há
porque ser índio é feio, índio não presta, porque índio não é gente, índio
era bicho, ai o próprio descedente de índio, que era aquela geração que
morreu por ele que sofreu por ele, começa a ter vergonha de sua
própria imagem. Não sabendo que ele é fruto daquela raiz que tava
dentro do mato[...] (ENTREVISTADO 2)

[...] Para nós melhorou porque nos teve aquele livre arbitrio de viver
mais a vontade levar em frente nossa cultura de permanecer com
nossos filhos nossos netos trabalhando em coletivo e mostrando para
eles que nos somos indigenas[inaudível] brasileiros. (ENTREVISTADA 1)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O conceito de etnogêneses usado por Florêncio Almeida Vaz Filho em
seu livro vai colaborar para elucidar as falas do entrevistado 2, sobre a
historicidade dos processos de emergência social e política dos
grupos tradicionalmente submetidos a relações de dominação.
Manuela Carneiro da Cunha vai tratar também desse processo
histórico em que os indígenas da Amazônia foram transformados
em caboclos e como, nos últimos anos, estão se descaboclizando e
se indianizando.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

“Antes da separação aqui era muito bom, pô porque nós era porção
né, era bastante [...] mas era muito animado, uma época dessa em
julho, São João, [...] eramos unidos. Aí veio a separação aí pronto[...]
“(ENTREVISTADO 3)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ruptura dessa união antes dos conflitos de identidades na
comunidade de Vila Franca é ocasionada em grande medida por
características de relevância que a comunidade tinha nos discursos de
problemática de todas as regiões circundantes. Conforme descreve
Leandro Mahalem de Lima sobre essa rede de comércio e parentesco.

“[...]percorreu junto aos "caboclos do Arapiuns", as estradas


antropogênicas que se abrem às zonas de terras firmes a partir da
zona de confluência entre o rio Arapiuns e seus formadores - Mentai,
Aruá, Maró”. (LIMA, 2015)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos com base nas entrevistas orais denota-se que a
principal origem dos desentendimentos na comunidade culminando
na separação de “parentes”, foi a questão da educação. Onde os não
indígenas não aceitaram a reestruturação metodológica e do corpo
docente para especificidades indígenas, bem como uma “inveja”
pelos direitos adquiridos atualmente.

Os arts. 231 e 232 da CF


RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Veio uma diretora que lutou muito (com a gente) eles tracaram ela dentro
de um quarto da SEMED, ela lutou muito junto com a gente, ia pra lá e
vinha pra cá, ela ajeitava tudo bonitinho (os papéis) ai eles vinham daqui
esbandalhavam tudo [...] Eu acho que pelo poder da Santa, né que nós
temos uma santa aqui, Nossa Senhora de Assunção, mesmo nome da
escola, ai eles viram que iriam ser prejudicados que eles cairam ( em ser
indigena) mais por causa do dinheiro [...] Eles foram indígenas por causa do
dinheiro, [risos]. Olha como vê nossa escola ali, nos temos poucos
funcionários, porque tem pouco alunos também, que nem ali, mais la eles
tem duas serventes, tem secretário, tem vigia, tem diretor, tem professor,
me parece que eles são 12 funcionários lá né, e eu não sei se chega a 30
alunos. Assunção perdeu porquê não tem direito, ai, eles se acham[...]”
(ENTREVISTADO 3)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram vários os impactos sociais e educacionais que ocorreram na
comunidade pós auto declarações, repercussões negativas foram
sentidas em ambas as partes.

Atualmente os discursos depreciativos e as cicatrizes dos conflitos


continuam vivas na memória de muitos.
[...][somos] so uma familia, [falei pra eles] o que eu não gosto é
das coisas que vocês faz, somos todos parentes[...](Entevistada 4)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lutas e resistências indígenas partiram para processos onde cada
comunidade reagiu ao seu modo, Vila Franca/Arapiuns, também começa
a resgatar seu passado e sua história indígena com visões próprias e
autônomas e com vieses atualmente benéficos até aos ditos contrários.
Aquele momento pior passou, hoje eu posso afirmar que [estamos]
tranquilos e com uma paz, porque hoje os filhos dos não indígenas os
que mais lutaram contra a gente, hoje eles também estão todos na
escola indigena cursando o ensino médio, então pra nós foi muito
gratificante[...](ENTREVISTADA 1)
Referências
Caderno Nova Cartografia: Resistência e Mobilização dos Povos Indígenas do
Baixo Tapajós – N. 1 (jun. 2014)– Manaus: UEA Edições, 2014.

FILHO, Florêncio Almeida Vaz. A emergência Ética de povos indígenas no


Baixo Rio Tapajós, Amazônia, Salvador, 2010

IORIS, Edvirges Marta. Uma Floresta de Disputas: Conflitos sobre Espaços,


Recursos e Identidades Sociais da Amazônia, Ed. UFSC, 2014

LIMA, Leandro Mahalem. No Arapiuns, entre verdadeiros e Ranas, São Paulo,


2015

OLIVEIRA, João Pacheco. Narrativas e Imagens sobre Povos Indígenas e


Amazônia: Uma perspectiva Processual da Fronteira. Ibero-Amerikanisches
Institut, Berlin, 2010.
Agradecimentos
Agradeço ao Professor Diego Marinho de Gois pela motivação e
orientação, a todos os professores e colegas de turmas que de uma
forma ou de outra me aconselharam e estenderam a mão amiga e
por último e não menos importante a todas as pessoas indígenas e
não indígenas que acolheram-me em sua comunidade.

A todos meu muito obrigado!

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