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Krenak, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. S.P.: Companhia das
Letras, 2019, p. 49.
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA
''O amanhã não está à venda'', em páginas de muita força e beleza, questiona a ideia de "volta à
normalidade", uma "normalidade" em que a humanidade quer se divorciar da natureza, devastar o
planeta e cavar um fosso gigantesco de desigualdade entre povos e sociedades. Depois da terrível
experiência pela qual o mundo está passando, será preciso trabalhar para que haja mudanças
profundas e significativas no modo como vivemos. Desde o início da pandemia da COVID-19, a
comunidade científica vem demonstrando a relação entre a destruição de sistemas ecológicos e o
surgimento de doenças que ameaçam parte da humanidade.
Por crise, compreende-se a chegada a um estágio onde velhas práticas já não são capazes de
solucionar novos problemas. Embora seja tratada costumeiramente como passageira, já que, ao longo
da história, variadas crises foram superadas pela capacidade humana de adaptação, a chamada crise
sanitária atual é mais grave, pois não se restringe ao novo coronavírus. Exige mudança radical para
que novas pandemias não sejam experimentadas num futuro próximo. O modo com que nos
relacionamos com o planeta nos tornou vítimas de pandemias. Se quisermos sobreviver, precisamos
mudar.
Krenak, Ailton. O amanhã não está à venda. S.P.: Companhia das Letras, 2020.
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA
Desde muito tempo, a minha comunhão com tudo o que chamam de
natureza é uma experiência que não vejo ser valorizada por muita gente que
vive na cidade. Já vi pessoas ridicularizando: “ele conversa com árvore, abraça
árvore, conversa com o rio, contempla a montanha”, como se isso fosse uma
espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou
alienado. Há muito tempo não programo atividades para “depois”. Temos de
parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de
parar de vender o amanhã.
Penso naqueles versos do Carlos Drummond de Andrade: “Stop./ A vida
parou/ ou foi o automóvel?”. Essa é uma parada para valer. O ritmo de hoje
não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, de janeiro ou
fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa
experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando
para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa.
Krenak, Ailton. O amanhã não está à venda. S.P.: Companhia das Letras, 2020, PGS. 8-9.
O LUGAR DO SABER
Ir escutar o rio além de se caracterizar como um
momento ritualístico era uma forma de intimidade e
territorialidade com o mundo das águas. Vejo como
uma oração do povo para com a natureza. Não sei se
ainda hoje os Tikuna continuam indo no mesmo
barranco para ver o rio, pois, a dinâmica pode ter
mudado. O que sei é que silenciar é preciso.
Nascimento, Evando. O Pensamento Vegetal: a literatura e as plantas. - 1° ed. - Rio de Janeiro, 2021, p. 20-
21/23.
O PENSAMENTO VEGETAL
O que pensam as plantas? E podem elas realmente pensar? Em O pensamento vegetal, o escritor, crítico,
professor e artista visual Evando Nascimento se propõe a refletir e a imaginar, para além do cogito humano,
zonas de contato entre as plantas e a literatura. As plantas não podem falar, mas a sensibilidade e a
inteligência vegetal emergem nos escritos ao longo dos séculos. Tanto na modernidade clássica, como os de
Alberto Caeiro/Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector; quanto nos
contemporâneos, como os de Ana Martins Marques, Edimilson de Almeida Pereira, e Leonardo Fróes.Para
auxiliar na escuta clorofílica, nos acompanham importantes nomes da filosofia e da crítica cultural. E como
em uma floresta, esses são apenas alguns representantes literários e teóricos em uma infinidade de
singularidades não determinadas e não determináveis, mas em constante floração e descoberta. Evando
Nascimento faz coro com João Cabral de Melo Neto ao afirmar que “Viver/ é ir entre o que vive”. Apenas
admitindo que o humano está dentro de uma complexa rede relacional, é que novos significados para a
existência serão germinados. A literatura, com sua poética, pode ser um jardim privilegiado desses sentidos,
e, assim, o autor nos oferece uma fitoliteratura e uma fitoescrita, como expressões mais exatas do que ele
nomeia como o pensamento vegetal. Organizado em dez ensaios, O pensamento vegetal é um livro
rizomático, não hierarquializado, que preza pelo florescer da reflexão, da palavra e da imaginação, e que se
vale de quatro fontes principais: a filosofia, a literatura, as artes e as “ciências nômades”, as quais procuram
deslocar alguns dos dogmas da tradição positivista. Propondo então novas – e urgentes – maneiras de relação
com o mundo.
Nascimento, Evando. O Pensamento Vegetal: a literatura e as plantas. - 1° ed. - Rio de Janeiro, 2021,
Povos Indígenas em Santa Catarina
A população indígena no Estado de Santa Catarina é composta por
três povos distintos: Kaingang, Xokleng e Guarani. Atualmente os
Guarani ocupam, em sua maioria, pequenas extensões de terras não
regularizadas (a maior parte destas localizadas na região litorânea).
Os Xokleng vivem em apenas duas terras indígenas, na região do
Alto Vale do rio Itajaí e no norte do Estado. E os Kaingang ocupam,
atualmente, cinco terras indígenas na região oeste do Estado.
Registros arqueológicos e etno-históricos demonstram a antiguidade
da ocupação (aproximadamente de 2.000 anos da presença de grupos
Guarani e cerca de 5.000 anos por outras tradições, incluindo as Jê
que dão origem aos Kaingang e Xokleng) nas bacias hidrográficas
dos principais rios das regiões noroeste e sudoeste do Estado do
Paraná, oeste de Santa Catarina e norte e noroeste do Rio Grande do
Sul. Quanto aos Guarani, cabe lembrar que ocupavam também o
litoral sul/sudeste alguns séculos antes da chegada dos primeiros
colonizadores europeus.
Arte Rupestre e Sítios Arqueológicos
em Florianópolis / Santa Catarina.
Sabe-se que pelo menos três povos passaram por aqui até a
chegada dos navegadores europeus. Os registros mais antigos
pertencem à uma civilização pré-histórica conhecida como o
Homem do Sambaqui, que habitou o território catarinense há
pelo menos 5.000 anos atrás. Na praia do Santinho, você
encontrará nos costões que a cercam, os mais importantes sítios
arqueológico deixados por esse povo pré-histórico na ilha de Santa
Catarina. Arte e expressão humana através dos séculos e
milênios... na Ilha da Magia.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL:
LÍNGUAS
Atualmente, mais de 160 línguas e dialetos são falados pelos povos indígenas
no Brasil. Elas integram o acervo de quase sete mil línguas faladas no mundo
contemporâneo (SIL International, 2009). Antes da chegada dos portugueses,
contudo, só no Brasil esse número devia ser próximo de mil.
No processo de colonização, a língua Tupinambá, por ser a mais falada ao
longo da costa atlântica, foi incorporada por grande parte dos colonos e
missionários, sendo ensinada aos índios nas missões e reconhecida como
Língua Geral ou Nheengatu. Até hoje, muitas palavras de origem Tupi fazem
parte do vocabulário dos brasileiros.
Da mesma forma que o Tupi influenciou o português falado no Brasil, o
contato entre povos faz com que suas línguas estejam em constante
modificação. Além de influências mútuas, as línguas guardam entre si origens
comuns, integrando famílias linguísticas, que, por sua vez, podem fazer parte
de divisões mais englobantes - os troncos linguísticos. Se as línguas não são
isoladas, seus falantes tampouco. Há muitos povos e indivíduos indígenas que
falam e/ou entendem mais de uma língua; e, não raro, dentro de uma mesma
aldeia fala-se várias línguas - fenômeno conhecido como multilinguismo.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL:
LÍNGUAS
Em meio a essa diversidade, apenas 25 povos têm mais
de cinco mil falantes de línguas indígenas: Apurinã,
Ashaninka, Baniwa, Baré , Chiquitano, Guajajara,
Guarani( Ñandeva, Kaiowá, Mbya), Galibi do Oiapoque
, Ingarikó, Huni Kuin, Kubeo, Kulina, Kaingang,
Mebêngôkre, Macuxi, Munduruku, Sateré Mawé,
Taurepang, Terena, Ticuna, Timbira, Tukano,
Wapichana, Xavante, Yanomami, e Ye'kwana.
Conhecer esse extenso repertório tem sido um desafio
para os linguistas, assim como mantê-lo vivo e atuante
tem sido o objetivo de muitos projetos de educação
escolar indígena.
Uma chama, uma língua, uma tradução:
Poema traduzido do Guarani ao Português
de Susy Delgado