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HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENAS

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS


(E.R.E.R.)
LÍNGUA E LITERATURAS EM PORTUGUÊS
PROFESSORA: JULIANA IMPALÉA
SOBRE A E.R.E.R.
Segundo a Política de Educação para as Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultural Afro-brasileira e Africana
(SANTA CATARINA, 2018) articulada ao Plano Nacional de
Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2016), os conteúdos
relacionados à História e Cultura Afro-brasileira e Indígena devem
ser ministrados pelos componentes curriculares ligados a todas as
áreas do conhecimento, visando o processo inclusivo pela
diversidade através da educação formal.
A grande diferença que existe do pensamento dos
índios e do pensamento dos brancos é que os brancos
acham que o ambiente é "recurso natural", como se
fosse um almoxarifado onde você vai e tira as coisas,
tira as coisas, tira as coisas. Pro pensamento do índio,
se é que existe algum lugar onde você pode transitar
por ele, é um lugar que você tem que pisar nele
suavemente, andar com cuidado nele, porque ele está
cheio de outras presenças.

Ailton Krenak - líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro.


AILTON KRENAK nasceu em 1953. Ativista do movimento socioambiental e
de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta,
que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É comendador
da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris
causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Autor de
Ideias para adiar o fim do mundo.
IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO
Quando nós falamos que o nosso rio é sagrado, as pessoas
dizem: "Isso é algum folclore deles"; quando dizemos que
a montanha está mostrando que vai chover e que esse dia
vai ser um dia próspero, um dia bom, eles dizem: "Não,
uma montanha não fala nada". Quando
despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos
deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo
exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para
que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativa.

Krenak, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. S.P.: Companhia das
Letras, 2019, p. 49.
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA
''O amanhã não está à venda'', em páginas de muita força e beleza, questiona a ideia de "volta à
normalidade", uma "normalidade" em que a humanidade quer se divorciar da natureza, devastar o
planeta e cavar um fosso gigantesco de desigualdade entre povos e sociedades. Depois da terrível
experiência pela qual o mundo está passando, será preciso trabalhar para que haja mudanças
profundas e significativas no modo como vivemos. Desde o início da pandemia da COVID-19, a
comunidade científica vem demonstrando a relação entre a destruição de sistemas ecológicos e o
surgimento de doenças que ameaçam parte da humanidade.
Por crise, compreende-se a chegada a um estágio onde velhas práticas já não são capazes de
solucionar novos problemas. Embora seja tratada costumeiramente como passageira, já que, ao longo
da história, variadas crises foram superadas pela capacidade humana de adaptação, a chamada crise
sanitária atual é mais grave, pois não se restringe ao novo coronavírus. Exige mudança radical para
que novas pandemias não sejam experimentadas num futuro próximo. O modo com que nos
relacionamos com o planeta nos tornou vítimas de pandemias. Se quisermos sobreviver, precisamos
mudar.

Krenak, Ailton. O amanhã não está à venda. S.P.: Companhia das Letras, 2020.
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA
Desde muito tempo, a minha comunhão com tudo o que chamam de
natureza é uma experiência que não vejo ser valorizada por muita gente que
vive na cidade. Já vi pessoas ridicularizando: “ele conversa com árvore, abraça
árvore, conversa com o rio, contempla a montanha”, como se isso fosse uma
espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou
alienado. Há muito tempo não programo atividades para “depois”. Temos de
parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de
parar de vender o amanhã.
Penso naqueles versos do Carlos Drummond de Andrade: “Stop./ A vida
parou/ ou foi o automóvel?”. Essa é uma parada para valer. O ritmo de hoje
não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, de janeiro ou
fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa
experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando
para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa.

Krenak, Ailton. O amanhã não está à venda. S.P.: Companhia das Letras, 2020, PGS. 8-9.
O LUGAR DO SABER
Ir escutar o rio além de se caracterizar como um
momento ritualístico era uma forma de intimidade e
territorialidade com o mundo das águas. Vejo como
uma oração do povo para com a natureza. Não sei se
ainda hoje os Tikuna continuam indo no mesmo
barranco para ver o rio, pois, a dinâmica pode ter
mudado. O que sei é que silenciar é preciso.

Kambeba, Márcia Wayna. O lugar do saber. São Leopoldo: Casa Leiria,


2020, p. 13.
Pertencente a etnia Omágua/Kambeba, a poeta e geógrafa Marcia Wayna Kambeba nasceu na
aldeia ticuna, em Belém do Solimões (1979). Aos oito anos, mudou-se com a família para São
Paulo de Olivença, onde estudou até o ensino médio. Por influência da avó, que era professora
e poeta e lecionou por mais de 40 anos na aldeia onde nasceu, compartilhando toda sua
vivência ribeirinha, Marcia Kambeba começou a escrever seus primeiros versos aos 14 anos.
Mais tarde, Marcia Kambeba fez nova mudança para Tabatinga, também no Amazonas, onde
se graduou em Geografia pela UEA.
Atualmente, reside no Pará e tem investido na carreira artística e em suas poesias, que têm
semelhanças com o cordel e repercute sobre a violência contra os povos indígenas, além dos
conflitos gerados pela vida na cidade.
SILÊNCIO GUERREIRO
No território indígena
O silêncio é sabedoria milenar
O canto da mãe d’água
Aprendemos com os mais velhos
Que na dança com o vento
A ouvir, mais que falar.
Pede que a respeite
Pois é fonte de sustento.
No silêncio da minha flecha
Resisti, não fui vencido
É preciso silenciar
Fiz do silêncio a minha arma
Para pensar na solução
Pra lutar contra o inimigo.
De frear o homem branco
E defender o nosso lar
Silêncio é preciso,
Fonte de vida e beleza
Para ouvir o coração,
Para nós, para a nação!
A voz da natureza
O choro do nosso chão.

- Marcia Wayna Kambeba.


PENSAR/ESCREVER O ANIMAL :
ENSAIOS DE ZOOPOÉTICA E BIOPOLÍTICA
PENSAR/ESCREVER O ANIMAL : ENSAIOS DE
ZOOPOÉTICA E BIOPOLÍTICA
À animalidade foram atribuídas características comuns a todos
os animais, exceto ao ser humano. Por que eliminar o ser
humano? Será porque ele é um animal muito particular? Um
animal que possui alguma coisa a mais que o animal? Um
animal humano? Esse raciocínio poderia muito bem ser
invertido: o animal, não teria ele também, qualidades que
faltam ao ser humano? Esse não seria um animal desprovido
de instinto?

Pensar/escrever o animal : ensaios de zoopoética e biopolítica. Maria


Esther Maciel, org. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2011, p. 23.
ELIANE BRUM
Banzeiro Òkòtó: Uma Viagem À Amazônia Centro Do Mundo
Eliane Brum mescla relato pessoal e investigação jornalística para escrever um
livro urgente em defesa da Amazônia, lugar que adotou como casa e de cuja
luta pela sobrevivência participa ativamente. Escritora, jornalista e
documentarista, Eliane Brum faz um mergulho profundo nas múltiplas
realidades da maior floresta tropical do planeta. Com quase 35 anos de
experiência como repórter, há mais de vinte ela percorre diferentes
Amazônias. Em 2017, adotou a floresta como casa ao se mudar de São Paulo
para Altamira, epicentro de destruição desde que a hidrelétrica de Belo Monte
foi implantada. A partir de rigorosa pesquisa, Brum denuncia a escalada de
devastação que leva a floresta aceleradamente ao ponto de não retorno. E vai
mais além ao refletir sobre o impacto das ações da minoria dominante que
levaram o mundo ao colapso climático e à sexta extinção em massa de
espécies. Neste percurso às vezes fascinante, às vezes aterrador, a autora cruza
com vários seres da floresta e mostra como raça, classe e gênero estão
implicados no destino da Amazônia e da Terra. Um livro imprescindível para
quem tem a coragem de buscar respostas para o tempo de urgência que
vivemos, escrito por quem não teme se arriscar para buscá-las.
Evando Nascimento é escritor, ensaísta, artista visual & professor universitário.
Sua vidobra se move principalmente entre Literatura, Filosofia & Artes. Em
função de sua pesquisa sobre o pensamento vegetal, foi convidado, em 2021, pelo
antropólogo Hermano Vianna a participar de uma curadoria coletiva para
realização da Festa Literária de Paraty (FLIP), a mais importante no Brasil, junto
com Pedro Meira, professor na Universidade de Princeton, Anna Dantes,
editora, e João Paulo Barreto, indígena da etnia Tukano e antropólogo.
Participou também como palestrante, junto com o botânico italiano Stefano
Mancuso, da segunda mesa de abertura nessa FLIP, que se intitulou “Nhe’éry,
plantas & literatura”. Título da mesa: “A Literatura e as plantas”.
O PENSAMENTO VEGETAL
No momento em que o que chamo de holocausto vegetal se materializa em
diversas partes do mundo, em particular nos incêndios voluntários ou aleatórios
na Califórnia, na Amazônia brasileira, na Austrália, em Portugal e na Espanha,
entre outros locais, redimensionar o lugar do humano em sua relação ao mesmo
tempo amorosa e conflitual com as alteridades que o cercam e o constituem
como de fato humano me parece uma tarefa decisiva para o escritor, professor,
intelectual e artista visual que me tornei, mas também para qualquer indivíduo
do século XXI.
[...] Ressalto, entretanto, que, acima de tudo, são as próprias plantas que têm
algo a nos dizer, com suas vozes e escritas vegetais. É nesse sentido que se pode
falar de fitoliteratura e de fitoescrita: a escrita e a literatura diretamente
inspiradas nos rastros clorofílicos que as próprias plantas deixam todos os dias
na superfície da Terra.

Nascimento, Evando. O Pensamento Vegetal: a literatura e as plantas. - 1° ed. - Rio de Janeiro, 2021, p. 20-
21/23.
O PENSAMENTO VEGETAL
O que pensam as plantas? E podem elas realmente pensar? Em O pensamento vegetal, o escritor, crítico,
professor e artista visual Evando Nascimento se propõe a refletir e a imaginar, para além do cogito humano,
zonas de contato entre as plantas e a literatura. As plantas não podem falar, mas a sensibilidade e a
inteligência vegetal emergem nos escritos ao longo dos séculos. Tanto na modernidade clássica, como os de
Alberto Caeiro/Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector; quanto nos
contemporâneos, como os de Ana Martins Marques, Edimilson de Almeida Pereira, e Leonardo Fróes.Para
auxiliar na escuta clorofílica, nos acompanham importantes nomes da filosofia e da crítica cultural. E como
em uma floresta, esses são apenas alguns representantes literários e teóricos em uma infinidade de
singularidades não determinadas e não determináveis, mas em constante floração e descoberta. Evando
Nascimento faz coro com João Cabral de Melo Neto ao afirmar que “Viver/ é ir entre o que vive”. Apenas
admitindo que o humano está dentro de uma complexa rede relacional, é que novos significados para a
existência serão germinados. A literatura, com sua poética, pode ser um jardim privilegiado desses sentidos,
e, assim, o autor nos oferece uma fitoliteratura e uma fitoescrita, como expressões mais exatas do que ele
nomeia como o pensamento vegetal. Organizado em dez ensaios, O pensamento vegetal é um livro
rizomático, não hierarquializado, que preza pelo florescer da reflexão, da palavra e da imaginação, e que se
vale de quatro fontes principais: a filosofia, a literatura, as artes e as “ciências nômades”, as quais procuram
deslocar alguns dos dogmas da tradição positivista. Propondo então novas – e urgentes – maneiras de relação
com o mundo.

Nascimento, Evando. O Pensamento Vegetal: a literatura e as plantas. - 1° ed. - Rio de Janeiro, 2021,
Povos Indígenas em Santa Catarina
A população indígena no Estado de Santa Catarina é composta por
três povos distintos: Kaingang, Xokleng e Guarani. Atualmente os
Guarani ocupam, em sua maioria, pequenas extensões de terras não
regularizadas (a maior parte destas localizadas na região litorânea).
Os Xokleng vivem em apenas duas terras indígenas, na região do
Alto Vale do rio Itajaí e no norte do Estado. E os Kaingang ocupam,
atualmente, cinco terras indígenas na região oeste do Estado.
Registros arqueológicos e etno-históricos demonstram a antiguidade
da ocupação (aproximadamente de 2.000 anos da presença de grupos
Guarani e cerca de 5.000 anos por outras tradições, incluindo as Jê
que dão origem aos Kaingang e Xokleng) nas bacias hidrográficas
dos principais rios das regiões noroeste e sudoeste do Estado do
Paraná, oeste de Santa Catarina e norte e noroeste do Rio Grande do
Sul. Quanto aos Guarani, cabe lembrar que ocupavam também o
litoral sul/sudeste alguns séculos antes da chegada dos primeiros
colonizadores europeus.
Arte Rupestre e Sítios Arqueológicos
em Florianópolis / Santa Catarina.
Sabe-se que pelo menos três povos passaram por aqui até a
chegada dos navegadores europeus. Os registros mais antigos
pertencem à uma civilização pré-histórica conhecida como o
Homem do Sambaqui, que habitou o território catarinense há
pelo menos 5.000 anos atrás. Na praia do Santinho, você
encontrará nos costões que a cercam, os mais importantes sítios
arqueológico deixados por esse povo pré-histórico na ilha de Santa
Catarina. Arte e expressão humana através dos séculos e
milênios... na Ilha da Magia.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL:
LÍNGUAS
Atualmente, mais de 160 línguas e dialetos são falados pelos povos indígenas
no Brasil. Elas integram o acervo de quase sete mil línguas faladas no mundo
contemporâneo (SIL International, 2009). Antes da chegada dos portugueses,
contudo, só no Brasil esse número devia ser próximo de mil.
No processo de colonização, a língua Tupinambá, por ser a mais falada ao
longo da costa atlântica, foi incorporada por grande parte dos colonos e
missionários, sendo ensinada aos índios nas missões e reconhecida como
Língua Geral ou Nheengatu. Até hoje, muitas palavras de origem Tupi fazem
parte do vocabulário dos brasileiros.
Da mesma forma que o Tupi influenciou o português falado no Brasil, o
contato entre povos faz com que suas línguas estejam em constante
modificação. Além de influências mútuas, as línguas guardam entre si origens
comuns, integrando famílias linguísticas, que, por sua vez, podem fazer parte
de divisões mais englobantes - os troncos linguísticos. Se as línguas não são
isoladas, seus falantes tampouco. Há muitos povos e indivíduos indígenas que
falam e/ou entendem mais de uma língua; e, não raro, dentro de uma mesma
aldeia fala-se várias línguas - fenômeno conhecido como multilinguismo.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL:
LÍNGUAS
Em meio a essa diversidade, apenas 25 povos têm mais
de cinco mil falantes de línguas indígenas: Apurinã,
Ashaninka, Baniwa, Baré , Chiquitano, Guajajara,
Guarani( Ñandeva, Kaiowá, Mbya), Galibi do Oiapoque
, Ingarikó, Huni Kuin, Kubeo, Kulina, Kaingang,
Mebêngôkre, Macuxi, Munduruku, Sateré Mawé,
Taurepang, Terena, Ticuna, Timbira, Tukano,
Wapichana, Xavante, Yanomami, e Ye'kwana.
Conhecer esse extenso repertório tem sido um desafio
para os linguistas, assim como mantê-lo vivo e atuante
tem sido o objetivo de muitos projetos de educação
escolar indígena.
Uma chama, uma língua, uma tradução:
Poema traduzido do Guarani ao Português
de Susy Delgado

Jepe’e puku Longo ritual


tataypýpe... junto ao fogo…
Mbeguekatuete Que vagarosamente
omombia vaekue foi apartando
ro’y ha pytũ, o frio e a noite,
mbeguekatuete que lentamente
chemombáy vaekue. foi me despertando.
Jepe’e puku Longo ritual
mombyry guive, que de longe,
tesarái keguýpe no sonho do esquecimento,
hendýva. se acende.
Jepe’e yma, Rito do fogo
mandu’a rugua, leito da lembrança,
epáy ha emondýi desperta e espanta
tesarái. o esquecimento.

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