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“A VOZ FEMININA NA LITERATURA DO SÉC.

XIX
E XX COM JÚLIA LOPES DE ALMEIDA”
• Ela é a escritora de elite que soube conciliar tradição e vanguarda no
período que se estende entre a abolição da escravatura e a
presidência de Getúlio Vargas.
• A voz feminina da época
• Sem relegar – nem atacar – os papeis de dona de casa, mãe e esposa,
tradicionalmente reservados às mulheres, ela defendeu a
emancipação feminina (via educação e exercício profissional) nos
seus escritos e nas suas atividades de jornalista, cronista, romancista,
contista, novelista, ensaísta, conferencista, tradutora, militante
feminista, dramaturga e escritora infanto-juvenil pioneira.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo


princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja
começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a
adoptar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor,
para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escripto
ficaria assim mais galante e mais novo...”

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta feira do


mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.
Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao
cemitério por onze amigos.
• Nascida na cidade do Rio de Janeiro em 1862, era filha do
médico Valentim José da Silveira Lopes, mais tarde Visconde
de São Valentim, e de Adelina Pereira Lopes, ambos
portugueses emigrados para o Brasil.
• Mudou-se ainda na infância para a cidade de Campinas, no
estado de São Paulo, onde, em 1881, publicou seus primeiros
textos na Gazeta de Campinas, apesar de na época a literatura
não ser vista como uma atividade própria para mulheres.
• 1887 – Casou-se com o poeta Filinto de Almeida
• Morreu no Rio de Janeiro, 30 de maio de 1934) .
Júlia Lopes de
Almeida
Ânsia Eterna
Conto: Os porcos

“Quando a cabocla Umbelina


apareceu grávida, o pai moeu-a de
surras, afirmando que daria o neto
aos porcos para que o comessem.”
Os porcos
Universo insólito: Medo e
Maternidade

Personagens: (Uma única personagem)


Umbelina

Foco Narrativo: 3ª pessoa - Narrador


Onisciente
Narrativa Violenta

Sentimento da maternidade

Sentimentos contraditórios Umbelina Gravidez indesejada

Medo/raiva/nojo Desestruturação familiar Responsável pela gravidez:


filho do patrão
A lua sumia-se, e os primeiros alvores da aurora tingiram dum róseo dourado todo o
horizonte. Em cima o azul carregado da noite mudava para um violeta transparente,
esbranquiçado e diáfano. Foi no meio daquela doce transformação da luz que Umbelina
mal distinguiu um vulto negro, que se aproximava lentamente, arrastando no chão as
mamas pelancosas, com o rabo fino, arqueado sobre as ancas enormes, o pelo hirto,
irrompendo ralo da pele escura e rugosa, e o olhar guloso, estupidamente fixo: era uma
porca.
 
Umbelina sentiu-a grunhir. Viu confusamente os movimentos repetidos do seu focinho
trombudo, gelatinoso, que se arregaçava, mostrando a dentuça amarelada, forte. Um
sopro frio correu por todo o corpo da cabocla, e ela estremeceu ouvindo um gemido
doloroso, dolorosíssimo, que se cravou no seu coração aflito. Era o filho! Quis erguer-se,
apanhá-lo nos braços, defendê-lo, salvá-lo... mas continuava a esvair-se, os olhos mal se
abriam, os membros lassos não tinham vigor, e o espírito mesmo perdia a noção de tudo.

Entretanto, antes de morrer, ainda viu, vaga, indistintamente, o vulto negro e roliço da
porca, que se afastava com um montão de carne perdurado nos dentes, destacando-se
isolada e medonha naquela imensa vastidão cor de rosa.
ALMEIDA, Júlia Lopes de. Ânsia eterna. Florianópolis: Editora Mulheres, 2013
Conto: A Caolha

“O seu aspecto infundia terror às crianças e


repulsão aos adultos; não tanto pela sua altura
e extraordinária magreza, mas porque a
desgraçada tinha um defeito horrível: haviam
lhe extraído o olho esquerdo; a pálpebra
descera mirrada, deixando, contudo, junto ao
lacrimal, uma fístula continuamente porejante.”
A Caolha- Anulação da mulher:
mergulho no universo da
maternidade

Personagens: Caolha
Filho: Antonico
Madrinha

Foco Narrativo: 3ª pessoa Narrador Onisciente:

“Que lhe importava o desprezo dos outros, se o seu


filho adorado lhe pagasse com um beijo todas as
amarguras da existência?”
Narrativa: Maternidade Brutal

Desconstrução da beleza feminina

Guarda um segredo Caolha Vive intensamente a maternidade

Anulação da Mulher Sente-se culpada pela fatalidade


Filho: Na infância a amava

Não é nomeada ao longo da narrativa

Sofre Preconceito na escola/no trabalho


“ Filho da Caolha”
O teu rapaz foi suplicar-me que te viesse pedir perdão
pelo que houve aqui ontem e eu aproveito a ocasião
para, à tua vista, contar-lhe o que já deverias ter-lhe
dito!
– Cala-te! – murmurou com voz apagada a caolha.
– Não me calo! Essa pieguice é que te tem prejudicado!
Olha, rapaz! Quem cegou a tua mãe foste tu!
O afilhado tornou-se lívido; e ela concluiu:
– Ah, não tiveste culpa! Eras muito pequeno quando,
um dia, ao almoço, levantaste na mãozinha um garfo;
ela estava distraída, e antes que eu pudesse evitar a
catástrofe, tu o enterraste pelo olho esquerdo! Ainda
tenho no ouvido o grito de dor que ela deu!
O Antonico caiu pesadamente de bruços, com um
desmaio; a mãe acercou-se rapidamente dele,
murmurando trêmula:
– Pobre filho! Vês? Era por isto que eu não queria dizer
nada!

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