Você está na página 1de 16

ENTRE MOLAS, DOBRADIÇAS, ALAVANCAS, ESPIRAIS E ESFERAS: Princípios organizacionais

de movimentos para muganguear, fazer pantim e malassombrar nas Danças Populares


Brasileiras.

Comitê: Dança e(m) Cultura poéticas populares, tradicionais, folclóricas, étnicas e outros atravessamentos

Denny Neves - UFBA


2019
APRESENTAÇÃO

Esta comunicação deriva da pesquisa de Doutorado (PPGDANCA – UFBA)


intitulada “RAPADURA COM URUCUM E DENDÊ: Danças Populares, Culturas
Indígenas e Afro-brasileiras no ensino superior em Dança. Como parte da pesquisa,
apresenta procedimentos prático-teóricos em Danças Populares, instituídas na
proposta curricular da Escola de Dança da UFBA, a partir do ano de 2016.

Pretendo apresentar a itinerância que venho desenvolvendo como aluno do


Doutorado, no grupo de pesquisa UMBIGADA - Grupo de Pesquisa em Dança,
Cultura e Contemporaneidade, que integro juntamente com minha orientadora, Profª
Dra. Daniela Amoroso, desde 2015. 
OBJETIVO(S)

Apresentar ênfase nas danças populares proveniente das manifestações das culturas indígenas
e afro-brasileiras, a partir de conteúdos programáticos dos componentes curriculares, Estudos
do Corpo, Estudos dos Processos Criativos e Estudos Críticos e Analíticos instituídos nos
cursos de Licenciatura em Dança.

Buscar promover uma organização de princípios por meio de sequências de movimentos e


repertórios coreográficos para a composição de estudos e indicadores Motrizes (LIGIÉRO,
2011) presentes nas performances e estudos de Dança, inspirados nas figuras provenientes da
Cultura Popular brasileira.
Para esse fim, apresento como procedimento o “ESTUDO ENTRE MOLAS,
DOBRADIÇAS ALAVANCAS, ESPIRAIS E ESFERAS”. (nomenclaturas provenientes da
Mecânica)

Essas “ferramentas” são organizadas como princípios motrizes, buscando desenvolver


dinâmicas para o referido estudo. Elas dão nome também a passos característicos das
figuras presentes nas manifestações da cultura popular de Pernambuco (Bumba-meu-
boi, Cavalo Marinho, Frevo), bem como nas manifestações presentes na Bahia (Samba
de Roda, Zambiapunga, Nêgo Fugido).
“MUGANGUEAR, FAZER PANTIM E MALASSOMBRAR NAS DANÇAS POPULARES BRASILEIRAS”.

 
São  EXPRESSÕES SINGULARES da região nordeste e aqui servem de motivos para apresentar
questões da pesquisa por meio de processos de Estudos do Corpo que se conectam com os
 
estudos dos Processos Criativos e Processos Críticos Analíticos.

São VERBOS que definem as AÇÕES ou os ESTADOS CORPORAIS apresentados pela operação
de dinâmicas, na elaboração dos referidos princípios, que me interessa problematizar,
considerando a EPISTEMOLOGIA DO CORPO POPULAR, “diferente da ideia de passo, que remete
ao código definido da dança clássica ocidental” (LARANJEIRA, 2013).
nesse contexto:

• MUGANGUEAR é deixar o corpo “falar ao pé do ouvido, arrumadinho com esperteza”.

• FAZER PANTIM é “dar chiliques, fazer frescuras, caretas, brincar com trejeitos, melindres, fazer
fuleragens”.
Para entender a ação de MALASSOMBRAR é preciso, primeiramente, defini-lo. Para um
indivíduo adulto, malassombro, é a alma de uma pessoa que faleceu e que, por algum
motivo, estabelece contato com os vivos porque ainda não tiveram tempo para se
acostumarem com a sua nova condição. Nas manifestações culturais populares existem
figuras associadas aos malassombrados.

São FIGURAS provenientes do imaginário coletivo e ganham formas fantásticas em


diferentes regiões. Os bonecos “o morto-carregando-o-vivo”, “o babau” e “o jaraguá”,
presentes no bumba-meu-boi pernambucano é um bom exemplo para se entender.

Malassombrar aqui também é um estado de corpo associado ao ato de Muganguear e


fazer Pantim nas Danças Populares Brasileiras.
Vale ressaltar que a fim de refletir essas questões trago a atenção para processos de
formação de profissionais em Dança, especialmente no campo das Danças Populares
Brasileiras no ensino superior, sinalizando que o conceito de Cultura Popular se diferencia do
conceito de Folclore.

Desta forma revogo a emergência de revisões epistemológicas atribuídas historicamente ao


termo FOLCLORE por meio da valorização de experiências que defendem traduções, poéticas
e estéticas em novas perspectivas sobre CULTURA POPULAR na contemporaneidade. Para
esse fim, assumo, enquanto conceito-chave, a filosofia da complexidade, os conceitos de
etnoimplicação e de multirreferencialidade, defendidos pelo pesquisador Roberto Sidnei
Macedo (2004-2013).

A afirmativa de que os estudos que defendem o conceito de Folclore não se coadunam com a
filosofia da complexidade, na perspectiva de construção de currículos etnoimplicados e
multirreferenciais, é defendida nos estudos do antropólogo Néstor García Canclini
(CULTURAS HÍBRIDAS, 2015).

Para esse pesquisador o termo Folclore está em desuso academicamente e vem perdendo
força enquanto paradigma, por meio de uma reconversão conceitual entre as áreas de
conhecimentos da antropologia, sociologia, comunicação e artes se debruçando sobre os
estudos dos processos de hibridação e estudos culturais.
Ao elaborar um discurso científico sobre o “popular”, esse autor aponta que essa
concepção é um problema recente no pensamento moderno, em que
pesquisadores vêm se dedicando de forma especifica à defesa de novos
conceitos sobre a Cultura Popular em estudos contemporâneos, considerando
uma teoria complexa e consistente que vem usando procedimentos técnicos
rigorosos como uma novidade nas três últimas décadas.
 
 REFERENCIAS
 
AMOROSO, Daniela Maria. Uma reflexão sobre práticas didáticas de criação a partir das danças populares brasileiras. Seminário Internacional – Universidade Técnica
de Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana - dança-educação e etnocenologia: Atas sidd, 2011.
 
CERTEAU, Michel de; JULIA, Dominique e REVEL, Jacques. A beleza do morto. In: A cultura no plural. Campinas-SP: Papirus, 1995.
 
GARCIA CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. - Néstor García Canclini; tradução: Heloisa Pezza Cintrão; Ana Regina
Lessa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015, 388 p.– (Ensaios Latino-Americanos, 1).
LARANJEIRA, Carolina Dias. Uma dança de estados corporais a partir do samba do Cavalo Marinho: corporalidades e dramaturgias da brincadeira em diálogo com o
processo de criação de cordões / Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Teatro, 2013.
LIGIERO, Zeca. Corpo a corpo: estudo das performances brasileiras. Rio de Janeiro: Ed. Garamond/ FAPERJ, 2011.
MACEDO, Roberto Sidnei. A etnopesquisa implicada – pertencimento, criação de saberes e afirmação. Roberto Sidnei Macedo. Brasília: Líber Livros, 168 p. 2012.
 
MARTINS, Suzana. Danças do Brasil: em busca de um corpo onírico. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas – UFBA - Portal ABRACE. Anais do VI
Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, 2010.
 
NEVES, Denilson F. das. A Dança é um Brinquedo. Instituto MPUMALANGA – Cultura, tecnologia e meio ambiente. (2016).
 
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 2005.
 
UNESCO - CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL. Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, 32ª Sessão, Paris, 2005.
 
VILLAS BOAS, Ático. Comissão Nacional de Folclore – IBECC – UNESCO _ Cinquentenário 1947-1997. (Livro em comemoração aos 50 anos da Comissão Nacional
de Folclore), Sergipe: s/e, 1998.
 
 
Denilson Francisco das Neves – PPGDANCA 2019 (Doutorado)

Orientadora: Daniela Maria Amoroso (UFBA)

BREVE CURRÍCULO

Denilson Francisco das Neves (Denny Neves), é Mestre em Dança no PPGDANÇA - Programa de pós-graduação em
Dança, UFBA - Universidade Federal da Bahia. Doutorando do Curso de Pós-Graduação da escola de Dança da UFBA –
PPGDANÇA, atua como Professor de danças das culturas Indígenas, repertórios populares e afro-brasileiras na Escola de
Dança da UFBA.

SALVADOR 2019

Você também pode gostar